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NARRATIVAS E PRÁTICAS DE LEITURA NA CRECHE: RELATOS

SOBRE A IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA BEBÊS. Uma expe riência

com mães.

Autores: DILMA ANTUNES SILVA1; MARCELO NASCIMENTO2.

Modalidade: Relato de experiência.

Palavras-chave: Leitura. Leitura para bebês. Hábito de ler. Histórias.

Resumo.

Esse trabalho busca uma reflexão sobre a importância do ato de ler para

as crianças desde a mais tenra idade. O mesmo surgiu de uma proposta de

intervenção didática voltada para o incentivo à leitura, realizada com crianças

de berçário de uma creche pública municipal. A questão que se colocava para

os familiares era se eles tinham o hábito de ler para e ou com seu filho, A partir

das intervenções e atividades desenvolvidas ao longo do projeto almejou –se

estimular o gosto pela leitura e incentivar práticas de leitura no ambiente

doméstico.

1- Introdução.

Meu primeiro contato com o mundo mágico das histórias aconteceu

quando eu era muito pequenina, ouvindo minha mãe contar algo bonito todas

1 Pedagoga, Especialista em Alfabetização e Letramento, Mestranda em Psicologia da Educação –PUCSP,

professora de Educação Infantil da rede municipal e professora- auxiliar no curso de Pedagogia da

Universidade Camilo Castelo Branco- UNICASTELO. 2 (Professor responsável pela pesquisa.) Mestre em Educação e Saúde- UNIFESP, diretor de escola na

rede municipal e Professor na Universidade Camilo Castelo Branco. UNICASTELO.

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as noites, antes de eu adormecer, como se fosse um ritual, (...) diz

ABRAMOVICH (1997; p.10).

Geralmente, o primeiro contato da criança com as histórias é mediado

pela mãe, pelo pai, avós ou irmãos mais velhos.

Esse trabalho busca uma reflexão sobre a importância do ato de ler. O

mesmo surgiu de uma proposta de intervenção didática voltada para o

incentivo à leitura, realizada com crianças de berçário de uma creche pública

municipal.

Em 2012 o Instituto Pró-livro divulgou uma pesquisa3 realizada em 315

municípios brasileiros, na qual foram entrevistadas 5.012 pessoas em

domicílio. Para 64% desses entrevistados, a leitura é a fonte de conhecimento

para a vida e 18% a considera uma atividade prazerosa.

Se a leitura é fonte de conhecimento, porque lemos tão pouco? Segundo

essa mesma pesquisa apenas 28% dos brasileiros dedicam seu tempo livre à

leitura. Não estariam os brasileiros interessados nessa forma de prazer? E

quando o assunto é ler para os filhos, como temos nos saído?

Sendo prazerosa, essa atividade deveria tornar-se um hábito. Mas, a

verdade é que a maioria dos brasileiros considera a leitura uma atividade

obrigatória. Para as crianças essa é mais uma imposição dos adultos.

Se deve ser um hábito, o contato com a literatura deveria iniciar o quanto

antes, pois acreditamos que quanto mais cedo uma criança tiver contato com

livros e histórias, maiores serão suas chances de se tornar um leitor assíduo.

2.1 A importância da leitura.

Ler ou contar um a história para a criança pequena é despertar nela o

imaginário, é provocar sua curiosidade e direcioná-la a um caminho de

descobertas, de compreensão do mundo. É permitir-lhe ouvir, sentir e enxergar

com os olhos do imaginário! (ABRAMOVICH, 1997).

Ouvir histórias e folhear livros é importante para o bebê, pois por meio

da leitura a criança desenvolve a imaginação, internaliza elementos da sua

cultura, ademais, o contato com livros insere a criança no universo das letras. A

3 Disponível em: http://www.prolivro.org.br/ipl/publier4.0/dados/anexos/2834_10.pdf

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leitura possibilita um estreitamento dos laços afetivos entre leitor e ouvinte, e

quando realizada pelos pais, fortalece o vínculo familiar.

Essa pesquisa foi desenvolvida com 17 crianças na faixa etária de 1 a 2

ano de idade e contou com participação da família. Além das atividades

inerentes à rotina da instituição de educação infantil, foram propostas situações

cotidianas de leitura feita pelas educadoras, contação de história por adultos e

por outras crianças mais velhas, teatro de fantoches e manuseio de livros, etc.

As crianças também levavam, semanalmente, para casa um kit contendo: livros

de contos populares e um caderno de registro, no qual os familiares relatavam

como foi a experiência de ler para seu filho bebê. Teve duração de um ano

letivo e objetivava estimular o gosto pela leitura e incentivar práticas de leitura

no ambiente doméstico. Para isso, perguntamos aos familiares se tinham o

hábito de ler para seu filho pequeno.

A hipótese subjacente era a de que famílias, (de baixo nível

socioeconômico) residentes numa região periférica da capital paulista não

cultivavam o hábito de ler para e com seus filhos, pois, de acordo com a

afirmação de CARVALHO (2012, p. 13) as experiências das pessoas com a

leitura e a escrita variam muito conforme a classe social a que pertencem.

Segundo a autora, em grande parte das famílias pobres, as situações

que envolvem a leitura são raras devido as suas condições de vida e de

trabalho.

Os dados coletados revelaram-nos que das famílias participantes, a

maioria, um total de 11, dizia não ter o hábito de ler para seu filho, sobretudo,

porque os consideravam muito pequenos e por isso não seriam capazes de

compreender a narrativa. O pouco tempo diário com os filhos e o excesso de

afazeres domésticos também foram alegados.

“A gente trabalha tanto, tem que enfrentar conduções lotadas e, quando

finalmente, chega em casa, mau dá para descansar. Tem que lavar, passar, cozinhar, às

vezes o nenê está doente”. (Relato MÃE I).

Observou-se que a iniciativa de ler para os bebês partiu das mães o que

justifica a escolha do nosso título. Em apenas dois casos a leitura ou contação

de história foi realizada por outro membro da família, e/ou na companhia do

pai. Também não houve variação do local escolhido para a leitura visto que, em

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apenas um dos casos o ato aconteceu fora do ambiente doméstico e na

presença de outras crianças.

Uma história, especialmente quando narrada pela mãe, tem um

significado importante tanto para ela como para o bebê.

“Eu nunca tinha lido para ele. O “R”. ficou impressionado quando comecei a

ler”. (Relato MÃE V).

O recorte acima, permeado de satisfação pessoal anuncia, sobretudo, o

impacto que este simples gesto, que na prática durou apenas alguns minutos,

causou na vida de ambos.

De acordo com SANDRONI& MACHADO (1986), até os segundo ano de

vida as palavras estão muito mais ligadas ao sentimento e à emoção do que a

um significado preciso. Os bebês gostam do som e do ritmo das palavras, e

logo tentam imitar o leitor (mãe, pai, professora, etc.). Desse modo, o som das

palavras é muito importante, pois é falando e ouvindo em situações prazerosas

que a criança nutre o gosto pela linguagem, que lhe servirá de base para

experiências futuras envolvendo a escuta e a leitura de outras histórias.

Quando a mãe narra uma história para seu filho há uma significação

pessoal que é muito importante para o bebê. Cada momento torna-se especial

e marcante na vida da criança e também da mãe.

21.1 Os contos de fadas.

Sabemos que os contos de fadas há muitos séculos ocupa lugar de

destaque na vida das crianças, há neles um significado especial e profundo.

Para BETTELHEIM (2012) os contos têm um valor inigualável, pois oferecem

de um modo bastante real, novas dimensões à imaginação infantil.

Nessa perspectiva, afirma CARVALHO (2010, p. 23-24) que quando o

leitor diz, com a voz pausada, “era uma vez...” é como se ligasse uma chave

para penetrar num ilusório mundo de faz -de -conta.

No relato que segue, a mãe comenta que durante a leitura sua filha

“parecia estar dentro da história”.

“Quando comecei a ler (...), ela ficou encantada, parecia estar dentro da

historinha (...) ela se mostrou admirada”. (Relato MÃE VI).

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Escutar histórias é o princípio de grandes descobertas para o bebê, por

isso, lê-las é uma prática fundamental seja na escola de educação infantil ou

em casa. (ABRAMOVICH 1997).

Em outro relato, outra mãe destaca a importância de cultivar o hábito de

ler e de ouvir histórias desde cedo.

“É muito interessante começar a ler para eles desde cedo isso incentiva nossas

crianças a usar a imaginação. É incrível cada coisa que eles falam.” (Mãe IV).

As mães participantes assinalam que, embora não tenham o hábito,

consideram importante a leitura para crianças desde a mais tenra idade e

afirmam que continuarão incentivando seus filhos.

Como apontamos anteriormente, do grupo participante, apenas 06

afirmavam ler com frequência para os filhos e em alguns casos, isto somente

acontecia quando a criança demonstrava aos pais algum interesse pelos livros.

“Na verdade, só [leio] quando ele pega os livros me mostrando. Mas não é

sempre”. (Relato MÃE II).

Esse mesmo interesse da criança é citado por outra mãe, que ainda

acrescenta:

“Eu tentei contar a história para ela, mas ela fica falando do lobo mau. (...) Ela

adora histórias”. (Relato MÃE III).

A criança a quem nos referimos demonstra que gosta de ouvir histórias,

que já as conhece bem ao ponto de informar para a mãe qual o personagem

mais a fascina ao passo que, ao fazê-lo a (re) conta a história.

Personagens como bruxas, lobos, anões, príncipes, porquinhos, etc.

ainda provocam fascínio nas crianças pequenas. Ao ouvi-las a criança tende a

enfrentar o medo que sente e isto a ajuda a lidar com seus próprios

sentimentos e emoções. Ao tratar das vantagens dos contos de fadas,

BETTELHEIM (2012) afirma que eles são importantes na vida da criança não

apenas por ser um estimulante da imaginação, mas por direcioná-la para a

descoberta de sua identidade e do mundo a sua volta.

De acordo com LERNER, (2002) pela leitura, adentramos outros mundos

possíveis. Enquanto lê ou ouve uma história, a criança embarca numa viagem

divertida, assustadora, cheia de suspense e emoção, explora universos

diferentes e experimenta papéis diversificados. É rei, é rainha, príncipe,

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princesa, é herói e vilão. Ao narrarmos uma história convidamos a criança a

embarcar num mundo cheio de fantasia.

Algumas considerações.

Ler para a criança quando ela ainda é um bebê constitui o primeiro e

importante passo para formamos uma sociedade de leitores.

A execução deste projeto promoveu uma conscientização sobre a

importância da leitura para a vida das pessoas e sobre a necessidade de

cultivarmos o hábito de ler desde muito pequenos.

Para finalizar, concebemos a leitura para bebês um ato de grande

importância e, valendo-nos das palavras de ABRAMOVICH (1997) acreditamos

que quando as crianças ouvem histórias, seu interesse, seu olhar atento, sua

expressão de contentamento e/ou de medo e, sobretudo, o prazer que se

revela, despertam o interesse dos/nos outros, sejam eles adultos ou crianças,

independente da idade.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: gostosuras e bobices . 4. ed. São

Paulo: Scipione, 1997

BETELLHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. São Paulo: Paz e

Terra, 2012.

CARVALHO, Marlene. Guia prático do alfabetizador. 5. ed. São Paulo: Ática,

2004.

LERNER, Delia. Ler e escrever na escola. O real, o possível e o ne cessário.

Porto Alegre. Artmed, 2002.

SANDRONI, Laura C.& MACHADO, Luiz Raul. (Orgs.) A criança e o livro:

Guia prático de estímulo à leitura. São Paulo: Ática 1986.

Sites:

http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/importancia-leitura-521213.shtml.

http://educarparacrescer.abril.com.br/leitura/materias_295478.shtml.

http://www.prolivro.org.br/ipl/publier4.0/dados/anexos/2834_10.pdf.