nagisa migita
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unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
Campus de Rosana - SP
NAGISA MIGITA
IMAGENS DO BRASIL NO CINEMA: Paraíso, Sensual
e Selvagem, a Visão Norte-Americana
ROSANA– SÃO PAULO
2011
NAGISA MIGITA
IMAGENS DO BRASIL NO CINEMA: Paraíso, Sensual
e Selvagem, a Visão Norte-Americana
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso
de Turismo – Unesp/Rosana, como requisito parcial
para obtenção do título de Bacharel em Turismo.
Orientadora: FABIANE NAGABE
ROSANA – SÃO PAULO
2011
Migita, Nagisa
Imagens do Brasil no Cinema: Paraíso, Sensual e Selvagem,
a visão Norte Americana / Nagisa Migita. – Rosana - SP xxx f : il. ; xx cm
Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (Graduação) ––
Universidade Estadual Paulista, Rosana, 2011.
1 Descritor. 2. Descritor.3 . Descritor. I. Autor II. Título
ERRATA
Página Linha Onde se lê Leia-se
Nagisa Migita
IMAGENS DO BRASIL NO CINEMA: Paraíso, Sensual
e Selvagem, a Visão Norte-Americana
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso
de Turismo – Unesp/Rosana, como requisito parcial
para obtenção do título de Bacharel em Turismo.
Orientador: FABIANE NAGABE
Data de aprovação: ___/___/____
MEMBROS COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA:
Presidente e Orientador: Profa Ms. Fabiane Nagabe
Unesp.
Membro Titular: Profa Dr
a Patrícia Alves Ramiro
Unesp.
Membro Titular: Prof.ª Ms. Savanna da Rosa Ramos
Unesp.
Local: Universidade Estadual Paulista
UNESP – Campus Experimental de Rosana
À minha família e aos seus sacrifícios que tornaram real o meu sonho.
AGRADECIMENTOS
Meus agradecimentos vão para os atores de minha vida Hollywoodiana,
Ao grande e melhor ator, meu pai Mitsutomo Migita,
A grande atriz e mulher da minha vida, minha avó Teruyo Migita,
A atriz coadjuvante e amiga para todas as horas, minha irmã Natacha Azussa Migita,
Ao atores coadjuvantes e símbolos do sucesso, meus irmãos Rogério Tsukassa Migita e Eduardo
Yutaka Migita,
Ao melhor roteiro de amizade: Polyana Cristina Paro, Damaris Ribeiro de Paula, Glaucia Pedroso
Arruda, Renata Barros de Melo, Gabriel Marchioli, Débora Faria, Marcela Manhani, Eric Kooro,
Felipe Bastos Maranezzi, Renata (Latina), Flávia (Poia), Renan (Zé), Hatus, Felipe (Chicken),
Rafael (Palmito), André Miranda, Bruno (da Gal), Karoline, Tiago, Lucas (Crécia), Mei,
Zacarias, Vitiligo, Mariana Souza e Miriam (Nina)
Ao melhor filme de curta metragem, aos moradores de Primavera,
Ao melhor efeito especial, Kyon,
A melhor direção, a minha orientadora Fabiane Nagabe,
A melhor direção de arte, aos professores Serginho, Patrícia Ramiro, Rosângela, Claudinha,
Eduardo Romero, Fernando Protti Bueno, Vagner, Danielle e Savanna.
A melhor assistência, Nilson, Nielson, Tiago, Val, Silvanira, Dallan, Gilnei, Ivani, Mônica, Sr.
Gama, Éder, Cinthya, Júlios, Jefferson, Alan, Luiz, Fábio, Edimilson e aos guardinhas.
“[...] a arte nada mais é que a materialização do anseio humano pela imortalidade, pois a grande
angústia existencial do homem é a morte, que a fotografia e depois o cinema lograriam vencer”
(MANNONI, 2003, p.12).
RESUMO
O presente trabalho advém de uma preocupação pautada na relação cinema e imagens turísticas,
procurando depreender mais a fundo o objeto de estudo desta pesquisa, o cinema. Os motivos que
norteiam nossa inquietação giram em torno, da necessidade de se entender quais são as imagens
turísticas expostas em cinco produções cinematográficas norte-americanas a respeito do Brasil.
Para tal, vimos à necessidade de analisarmos algumas das produções americanas para
constatarmos as principais imagens que representam o Brasil. E utilizando bibliografias de
autores como Bignami Sá, Tunico Amâncio, Laurant Mannoni, Jonni Langer entre outros que
tratam a respeito de cinema, imagens, turismo e a metodologia de análise de filmes conseguimos
obter base referencial para a compreensão da importância das imagens para os destinos turísticos,
uma vez que, a imagem é uma característica importante do produto turístico para atração de
fluxos turísticos; captação de negócios e capitais no exterior e expansão das exportações
(ITUASSU; OLIVEIRA, 2004). Estas referências também colaboraram para realizarmos uma
melhor análise dos filmes selecionados para esta pesquisa. E por meio da análise individual dos
cinco filmes selecionados, “Lambada a dança proibida”, “Anaconda”, “Sabor da Paixão”,
“Turistas” e Velozes e Furiosos 5: operação Rio”, produções cinematográficas presentes no
recorte temporal de 1990 a 2011 e tomando por base a narrativa do filme, à dinâmica dos
personagens no quadro, as interações da banda sonora e as articulações dos pontos de vista e a
análise composta destas películas conseguimos sintetizar as imagens presentes nestes filmes em
algumas palavras: o Brasil paraíso, sensual e selvagem.
Palavras – chave: Cinema e Imagens Turísticas
ABSTRACT
This work stems from a concern based in the movies and pictures regarding tourist, seeking to
understand more fully the object of this research, the cinema. The reasons that guide our concerns
revolve around, the need to understand what are the tourist images exhibited in five U.S. film
productions about Brazil. To this end, we saw the need to review some of the American
productions only to find the key images that represent Brazil. And using bibliographies of writers
such as Sá Bignami, Tunico Amancio, Laurent Mannoni, Jonni Langer and others that deal about
movies, pictures, tourism and film analysis methodology able to obtain basic framework for
understanding the importance of images for tourist destinations , since the image is an important
feature of the tourism product to attract tourism; attracting business and capital abroad and
expanding exports (ITUASSU; OLIVEIRA, 2004). These references also collaborated to conduct
a better analysis of the films selected for this research. And through the individual analysis of five
selected films, "Lambada the forbidden dance," "Anaconda", "Woman on Top", "Paradise Lost"
and “Fast and Furious 5: Operation Rio”, filmmaking present in the time frame of 1990 2011 and
building on the film's narrative, the dynamics of the characters in the picture, the interactions in
the soundtrack and the joints of the views and analysis of these composite films can synthesize
images present in these films in a few words: Brazil paradise, sensual and wild.
Keywords: Film and Tourism Images.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Características dos filmes ........................................................................................ 99
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BR – Brasil
ECO 92 – Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo
EUA – Estados Unidos da América
FBI – Federal Bureau of Investigation
FR - França
ING – Inglaterra
OMT – Organização Mundial de Turismo
PCC – Primeiro Comando da Capital
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Taumatrópio ............................................................................................................... 24 Figura 2 - Taumatrópio ............................................................................................................... 25 Figura 3 - Fenaquistiscópio ......................................................................................................... 26
Figura 5 - Zootrópio .................................................................................................................... 27 Figura 4 - Zootrópio .................................................................................................................... 27 Figura 6 - Praxinoscópio ............................................................................................................. 28
Figura 7 - Cinetoscópio ............................................................................................................... 30 Figura 8 - Lambada a dança proibida ....................................................................................... 74 Figura 9 - Anaconda .................................................................................................................... 78 Figura 10 - Sabor da Paixão ....................................................................................................... 82
Figura 12 - Turistas ..................................................................................................................... 86 Figura 14 - Velozes e furiosos 5: Operação Rio ........................................................................ 93
ÍNDICE FILMOGRÁFICO
007 CONTRA O FOGUETE DA MORTE 51
A LISTA DE SCHINDLER 43
ALÔ AMIGOS 47,69
AMANHECER 49
A MISSÃO 51
ANACONDA 51,69,71,78,99,100
AS AVENTURAS DE DOLIIE 37
A SERENATA TROPICAL 47,69
A SAGA 51
BANANA DA TERRA 46
BRENDA STARR 47,48
CASABLANCA 41
CIDADÃO KANE 40
CONTATOS IMEDIATOS DO TERCEIRO GRAU 42
E O VENTO LEVOU 40
EXTERMINADOR DO FUTURO 43
FEITIÇO NO RIO 49,53,69
GUERRA NAS ESTRELAS 42
INDIANA JONES E O REINO DA CAVEIRA DE CRISTAL 51
INFERNO NA TORRE 42
JURASSIC PARK 43
LAMBADA A DANÇA PROIBIDA 49,69,71,74,99,100
MATRIX 43
O CANTOR DE JAZZ 39
O DESTINO DO POSEIDON 42
O GRANDE ROUBO DO TREM 37
O GORDO E O MAGRO 38
O INCRÍVEL HULK 49,69
O MISTÉRIO DA ILHA DE VÊNUS 48,69
O MORRO DOS VENTOS UIVANTES 40
ORQUÍDEA SELVAGEM 49,50,69
OS MERCENÁRIOS 49,69
PRÓXIMA PARADA, WONDERLAND 48,50,69
RAMBO 42
RIO 49,69
SABOR DA PAIXÃO 49,51,69,71,72,82,99,100
SALVO DE UM NINHO DE ÁGUIA 37
SE VOCÊ VAI AO RIO 82
SUPERMAN 42
TEMPO DE VIOLÊNCIA 40,43
TITANIC 42
PRIMAVERA PARA HITLER 51
TURISTAS 49,69,71,72,86,99,100
VELOZES E FURIOSOS 5: OPERAÇÃO RIO 49,69,71,72,93,99,100
VOANDO PARA O RIO 46,49,69
VOCÊ JÁ FOI A BAHIA? 47,69
X- MEN 43
SUMARIO
INTRODUÇÃO 16
I CAPÍTULO – CINEMA 19
1.1 História do surgimento do cinema 19 1.2 A Pré-História do Cinema 20 1.3 A indústria Cinematográfica 34
1.4 American Way of Life: A importância da indústria cinematográfica norte-americana 36 1.5 O cenário brasileiro em filmes norte-americanos 45
II CAPÍTULO – CLAQUETE, AÇÃO!: METODOLOGIA E CONSTRUÇÃO TEÓRICA 57
2.1 Imagem e Turismo 57
III METODOLOGIA: CAMINHOS SEGUIDOS 69
3.1 Análise dos filmes: contextos de produção e cenários 73 3.1.1 Lambada a dança proibida - “The Forbidden dance” 73 3.1.2 Anaconda 77 3.1.3 Sabor da paixão – “Woman Top” 81 3.1.4 Turistas – “Paradise Lost” 86 3.1.5 Velozes e furiosos 5: operação Rio – “Fast and Furious 5 – Rio Heist”. 92
3.2 Visão geral 98
CONSIDERAÇÕES FINAIS 102
REFERÊNCIAS 105
REFERÊNCIAS FILMOGRÁFICAS 110
ANEXOS 114
Lambada a dança proibida - “The Forbidden dance” 114 Anaconda 114 Sabor da paixão – “Woman Top” 115 Turistas – “Tourists” 115 Velozes e furiosos 5: operação Rio – “Fast and Furious 5 – Rio Heist”. 115
16
INTRODUÇÃO
Atualmente vivemos um período no qual a tecnologia tornou-se indispensável, na saúde,
hospedagem, transporte, comunicação, e o seu rápido desenvolvimento garante e reforça a
divulgação da informação, por meio dos progressos técnicos nos sistemas de reprodução gráfica,
através de um vasto material, livros, mapas, periódicos, guias, que facilitam o deslocamento dos
viajantes e, sobretudo, incentivam a imaginação e o desejo do potencial turista (RODRIGUES,
2002). Desta forma, a publicidade invade cada interstício da sociedade e do território. Cria-se,
assim, uma vocação de consumo que antecede à produção material e imaterial e que, ressaltando
a oposição entre trabalho e não trabalho busca despertar a necessidade de lazer (SILVEIRA,
2002). No entanto, as pessoas não mais se contentam em conseguir apenas o lazer, pois,
As pessoas não querem apenas ser felizes, querem curtir essa felicidade. E no centro
desse propósito espera-se que as empresas que habitam o mercado de turismo estejam
aptas, não apenas a fornecer produtos e serviços para satisfazer as necessidades, mas que
sejam capazes de ir além, surpreendendo; realizando desejos, sonhos e fantasias
(COBRA, 2001, p.68).
Verificamos, portanto, que as pessoas buscam por meio dos produtos e serviços
turísticos satisfazer suas necessidades mais profundas, aquelas em que envolvem a realização de
desejos, sonhos e fantasias. No entanto, a realidade jamais poderá propiciar os prazeres
aperfeiçoados dos devaneios de cada individuo, tornando cada compra uma desilusão ou um
maior anseio por produtos mais novos (URRY apud CORIOLANO, 2002, p. 120). Dentro deste
contexto onde o consumidor se torna cada vez mais exigente e refinado, o marketing vem se
aprimorando, utilizando de diversas ferramentas para continuar neste mercado competitivo
(SILVA, 2007) e dentre estas ferramentas está o cinema.
O cinema é considerado uma ferramenta sofisticada e inovadora no marketing turístico,
pois é um meio de comunicação em massa, que traz importantes elementos para a criação, a
divulgação e a consolidação de uma imagem turística local, uma vez que, principalmente por
atingir um maior número de pessoas, passa a ser um dos maiores divulgadores e consolidadores
de imagens (ALFONSO, 2006). É ainda, uma ferramenta muito útil à estratégia de recuperação
de um destino, pois estimula o interesse do turista, uma vez que os filmes são as ferramentas
eficientes para influenciar a percepção das pessoas (GLAESSER, 2008). O cinema também pode
funcionar como reforço de poderosos símbolos que influenciam a escolha dos destinos de
17
turistas, individual ou coletivamente, e, por meio de grandes produções, sejam estas televisivas
ou cinematográficas, o telespectador pode incorporar em seu imaginário pessoal os cenários onde
se desenvolveram suas tramas favoritas (BRASIL, 2007). Considerando a importância do cinema
para a divulgação das imagens turísticas, utilizamos esta ferramenta como nosso objeto de estudo.
O presente trabalho advém, então, de uma preocupação pautada na relação cinema e
imagens turísticas. Os motivos que norteiam nossa inquietação, além da grande paixão pelo tema,
giram em torno da necessidade de se entender a seguinte problemática: As imagens veiculadas
pelo cinema podem influenciar na formatação e promoção de um destino turístico? Para
chegarmos a uma resposta a respeito desta questão, observamos que teríamos grandes
dificuldades, uma vez que a indústria cinematográfica é muito ampla. Desta forma, vimos à
necessidade de focalizar em uma única indústria cinematográfica: a norte-americana. A escolha
pela indústria cinematográfica norte-americana se deu primordialmente, por apresentar-se como o
mais robusto mercado de audiovisual do mundo, “sendo a produção de programas de televisão e
filmes de longa-metragem considerado um dos mais vitais e valorizados recursos da nação”
(BRASIL, Ministério do Turismo, 2011, p.24).
Neste trabalho, portanto, temos como objetivo geral pesquisar quais imagens turísticas
são expostas nas cinco produções cinematográficas norte-americanas analisadas, cujo recorte
temporal se dá de 1990 a 2011. Para alcançarmos este objetivo verificamos a necessidade de
inicialmente compreendermos o cinema e a indústria cinematográfica norte-americana, para então
descrevermos e analisarmos seus filmes, e finalmente, constatar as imagens turísticas presentes
nestas produções. No entanto, é importante salientarmos que em vista da vasta quantidade de
produções norte-americanas que possuem imagens turísticas a respeito do Brasil tivemos que
escolher certo número de produções para serem analisados e ainda delimitar um recorte temporal,
no qual se inserem as produções cinematográficas norte-americanas lançadas entre os anos 1990
e 2011. Analisamos, especificamente, cinco produções americanas: “Lambada a dança proibida”
(EUA, 1990), “Anaconda” (EUA, 1997), “Sabor da paixão” (EUA, 2000), “Turistas” (EUA,
2006) e “Velozes e Furiosos 5: operação Rio” (EUA, 2011). Selecionamos estes cinco filmes
dentre 43 filmes citados nesta pesquisa, uma vez que estas apresentavam o conteúdo narrativo a
respeito do Brasil e imagens representativas, além de que estas produções cinematográficas se
encontravam dentro do recorte temporal estabelecido. Outra justificativa para a seleção destas
películas foi, devido, a estas pertencerem a gêneros cinematográficos dos quais os norte-
18
americanos são especialistas e por serem estes os gêneros de maior arrecadação de bilheteria,
como ação, aventura, comédia romântica e suspense/terror. Com a verificação individual dos
filmes foi possível à identificação de algumas imagens já presentes na formação histórica do
continente, e, desta forma percebemos a necessidade da análise dos elementos filmográficos de
cada produção conjuntamente, ao qual denominamos visão geral, pois trata-se de um processo
comparativo.
Vislumbrando uma resposta fidedigna a esta problemática utilizamos na pesquisa os
seguintes procedimentos: o estado da arte e a pesquisa documental (DENCKER, 1998), onde
foram realizadas a revisão da literatura de publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros,
pesquisas, monografias, teses e audiovisuais como filmes e documentários. A bibliografia em que
nos embasamos foi basicamente a respeito de assuntos relacionados a imagem, imagem turística,
imagem do Brasil no turismo, o cinema e a indústria cinematográfica norte-americana. Também
foram utilizados audiovisuais como o documentário de Lúcia Murat: “Olhar estrangeiro: um
personagem chamado Brasil” para melhor compreensão das imagens a respeito do país.
Nesta pesquisa, portanto, estudamos as imagens turísticas veiculadas pelo cinema, que
segundo Alexandre Busko Valim (2006) é um fenômeno complexo, mas que ganhou importância
nos últimos anos. Neste contexto, esta pesquisa busca investigar o cinema, observando o quanto
ela pode contribuir para a formatação da imagem de um destino turístico, exportando imagens e
valores positivos do Brasil. Vislumbramos ainda com este trabalho somar dados, ampliar visões e
discussões a respeito do tema para que se possa auxiliar no desenvolvimento de diversas outras
pesquisas.
19
I CAPÍTULO – CINEMA
Neste capítulo discutiremos algumas questões necessárias para a compreensão das
imagens turísticas do Brasil no cinema: a visão norte-americana. Objetivamos, inicialmente,
entender o nosso objeto de estudo. Vimos também à importância da reflexão e estudo da indústria
cinematográfica norte-americana e como a mesma apresenta e representa o Brasil em seus filmes.
Nesse sentido dividimos o capítulo em três partes: a história do surgimento do cinema, a indústria
cinematográfica norte-americana e o cenário brasileiro em filmes norte-americanos. Essa
digressão é realizada com intuito de se compreender que as imagens focalizadas serão aquelas a
respeito do Brasil transmitidas pela indústria cinematográfica norte-americana.
1.1 HISTÓRIA DO SURGIMENTO DO CINEMA
Para a reflexão das questões a respeito do cinema, é necessário primeiramente
compreender como foi o processo histórico de seu surgimento. Portanto, pretendemos abordar
nesta primeira parte, a história do surgimento do cinema, dividida em duas partes: a pré-história
do cinema e a indústria cinematográfica. Observaremos que para a formação desta história foram
necessários milênios de desenvolvimento mental e técnico para pretendermos, tentarmos e
conseguirmos captar a imagem em movimento.
Inicialmente relataremos brevemente a pré-história do cinema, que se inicia com os
homens da era paleolítica1 que tentavam fixar em cavernas, pedras, madeira, entre outros, o seu
cotidiano com rabiscos e desenhos. Séculos mais tarde filósofos como Aristóteles realizaram
estudos de grande importância, constatando a aparição de imagens por meio de feixes de luz. Tais
descobertas possibilitaram que inventores dos séculos seguintes desenvolvessem instrumentos
onde poderiam visualizar as imagens em diferentes formas e tamanhos. Muitos inventores
1 Conforme o dicionário Michaelis a era paleolítica é o primeiro período da Idade da Pedra, também denominada
Idade da Pedra Lascada.
20
iluministas2 foram aperfeiçoando as invenções realizadas pelos seus antecessores. De
aperfeiçoamentos e descobertas desde os feixes de luz de Aristóteles, passaram invenções como a
Câmara Escura, a Lanterna Mágica, entre outros para finalmente a criação do aparelho
cinematográfico. Verificamos que após uma longa cadeia de pesquisadores, foi finalmente nas
mãos de três personagens, o americano Thomas Alva Edison e os dois irmãos franceses Lumiére,
que o aparelho cinematográfico conseguiu dar seus primeiros passos para a sua comercialização.
A partir da comercialização dos filmes cinematográficos, vimos à importância da
compreensão do cinema como indústria. Descrevemos, portanto na segunda parte da história do
surgimento do cinema, a respeito da indústria cinematográfica. Destacaremos nesta parte as
empresas de cinema que ganharam notoriedade, da evolução da indústria cinematográfica e como
é a produção de uma película. É importante ressaltarmos que neste último item não abordaremos
em sua totalidade, pois é algo muito além das possibilidades deste trabalho.
1.2 A PRÉ-HISTÓRIA DO CINEMA
Os homens paleolíticos registravam em suas cavernas com rabiscos e gravuras o seu
cotidiano sequencialmente. Da mesma forma, os egípcios também desenhavam sequencias de
suas ações nos muros de templos e nas paredes de túmulos. Segundo Sarmento Hayata e Marília
Madril (2009) esses seriam os primeiros indícios da intenção do movimento, que em grego
significa Kínema.
O cinema teve em sua Pré-História, antes de ser e fazer História séculos de descobertas e
invenções que abrangeram os campos da Física, Química e Biologia (HAYATA; MADRIL,
2009). Foi devido aos estudos de filósofos gregos como Aristóteles (384-322 a.C) que
conseguimos criar uma imagem. Aristóteles estudou o fenômeno da projeção dos raios
luminosos, conhecido desde a Antiguidade. Observou primeiramente a passagem de um feixe de
luz através de uma abertura qualquer. Em seguida observou que a projeção dos raios solares
2 Denominação concedida às pessoas que viveram a partir do século XVIII, devido ao movimento filosófico
chamado Iluminismo ocorrido na França.
21
através de uma abertura quadrada, redonda ou triangular produz sempre uma imagem circular,
contudo o filósofo não conseguiu decifrar o fenômeno (MANNONI, 2003).
Anos mais tarde utilizando esses estudos dos filósofos gregos, a respeito dos raios
luminosos criou-se na França no século XIII, a Câmara Escura. O princípio da Câmara Escura é
explicado por Laurent Mannoni (2003) no seu livro “A grande arte da luz e da sombra”. Segundo
o autor, a técnica segue a utilização do seguinte processo:
[...] em um pequeno orifício na parede ou na janela de uma sala mergulhada na
escuridão, a paisagem ou qualquer objeto exterior serão projetados no interior da sala, na
parede oposta ao orifício. Se a tela for feita com um pedaço de papel ou um pano branco,
a imagem fica ainda melhor. Se a tela estiver perto da abertura, a imagem fica pequena,
porém nítida; se estiver distante, ela aumenta, mas perde em definição e colorido. De
qualquer forma, ela é projetada de cabeça para baixo, porque os raios que partem dos
pontos mais altos e mais baixos da cena exterior, propagando-se em linha reta, cruzam-
se ao passar pelo orifício. O resultado é uma dupla inversão da imagem, de cima para
baixo e da esquerda para a direita (MANNONI, 2003, p.32).
Esse processo foi um recurso simples e prático, pois são utilizados apenas uma sala
escura, uma abertura improvisada em uma parede ou em uma janela para deixar os raios
luminosos atravessarem, projetando as imagens da paisagem de fora da sala escura em uma tela
de papel ou pano branco. No entanto, havia problemas quanto à imagem ser sempre invertida, ou
seja, a paisagem ou os objetos eram ainda sempre projetados de cabeça para baixo.
O princípio e a construção da câmara escura não mudaram do século XIII ao começo do
século XVI: a abertura era feita numa parede ou numa janela, era só o que variava. Com os
princípios da Câmara Escura, abertura em uma das paredes, sala escura e tela branca, criou-se no
século XVII a Lanterna Mágica. A Lanterna Mágica, criada por Christiaan Huygens, foi segundo
Mannoni (2003) a ideia-mestra que antecedeu o nascimento do cinema, uma vez que,
diferentemente da Câmara Escura este instrumento possibilitava o movimento do assunto
representado. Este aparelho
[...] Trata-se de uma caixa óptica de madeira, folha de ferro, cobre ou cartão, de forma
cúbica, esférica ou cilíndrica, que projeta sobre uma tela branca (tecido, parede caiada
ou mesmo couro branco, no século XVIII), numa sala escurecida, imagens pintadas
sobre uma placa de vidro. [...] A imagem é “fixa” ou “animada”, pois a placa comporta
um sistema mecânico que permite dar movimento ao assunto representado (MANNONI,
2003, p.58).
A Lanterna Mágica representava imagens pintadas sobre uma placa de vidro, ou seja,
diferentemente da Câmara Escura que representava a paisagem imposta pelo lado de fora da sala
22
escura, a Lanterna disponibilizava a escolha pela paisagem a ser vista, de acordo com a placa a
qual instalássemos. E por possuir um sistema mecânico a Lanterna possibilitava ao espectador
visualizar as sequencia das ações apresentado, oferecendo consequentemente, o movimento. O
seu princípio permaneceu o mesmo, com algumas modificações do século XVII ao fim do século
XIX.
No século XVIII com o aprimoramento da Lanterna Mágica foi criado um novo gênero
de espetáculo luminoso, a Fantasmagoria. Étienne – Gaspard Robert, ou mais conhecido como
Robertson, e Léonard André Clisorius pugnavam pela exclusividade da exploração da
fantasmagoria. A Lanterna Mágica aperfeiçoada do século XVIII possuía a retroprojeção mais
nítida, devido ao aprimoramento do seu tubo óptico. O instrumento também era equipado com
um diafragma que permitia o ajuste da posição das lentes. Para permitir o deslocamento da
lanterna ao longo de trilhos ou sobre rodas os inventores utilizaram uma barra dentada
(MANNONI, 2003).
No começo do século XIX, ainda utilizando os princípios da Câmara Escura o inventor
francês Joseph-Nicéphore Nièpce (1765 – 1833) deu início às pesquisas3 acerca da fixação das
imagens observadas dentro de uma Câmara Escura. Por meio dos estudos do professor de
Medicina da Universidade de Halle, Johamnn H. Schulze, no século XVIII, onde nota que os sais
de prata 4eram sensíveis à luz, Nièpce consegue criar uma Câmara que apreende imagens
imobilizadas fixando-as em uma placa de vidro impregnada de Colódio Úmido5. Obtendo seu
primeiro negativo em cinco de maio de 1816 (MANNONI, 2003). E após tirar sua primeira
fotografia registra no ano de 1822, a patente de seu invento, denominado Heliógrafo. Foi a partir
destas constatações que surge a fotografia e consequentemente os fotógrafos (HAYATA;
MADRIL, 2009).
Apesar do nascimento da fotografia, muitos pesquisadores continuaram no decorrer do
século XIX, com suas tentativas de projetar figuras animadas, pintadas à mão, outros, porém,
sonhavam obter imagens fotográficas Movimentadas. Por fim, as técnicas da Lanterna
desenvolvida por Huygens fundiram-se às da Câmera Fotográfica (MANNONI, 2003).
3 Essas pesquisas realizadas pelo inventor francês Joseph-Nicéphore Nièpce (1765 – 1833) foram iniciadas
precisamente no ano de 1816, segundo o autor Mannoni (2003). 4 Tais sais mais tarde nas mãos de Nièpce tornaria se elemento base para a fotografia (HAYATA; MADRIL, 2009).
5 O Colódio Úmido foi um elemento importante para unir os sais de prata nas placas de vidro, uma vez que, para se
obter os negativos era necessário algo que contivesse, numa massa uniforme, os sais de prata sensíveis à luz, para
que não dissolvessem durante a revelação (PROCESSO FOTOGRÁFICO, 2011).
23
Os pesquisadores do século XIX estudavam o fenômeno da Persistência Retiniana, ou
Persistência da Visão. Este fenômeno foi inicialmente verificado no século XVII, pelo religioso
Nollet. Ele constatou que “os olhos humanos são capazes de reter imagem no fundo da retina”
(HAYATA; MADRIL, 2009). Isto significava que poderíamos trocar uma figura por outra sem
que nossos olhos percebessem, desde que a troca fosse realizada rapidamente. A averiguação de
Nollet instigou a curiosidade dos pesquisadores do século XIX que persistiram nos estudos, e
chegaram a compreender que ao captar uma imagem o olho humano levaria uma fracção de
tempo para esquecê-la, pois a imagem persistiria na retina por uma fração de segundo após a sua
percepção. Porém, as imagens projetadas a um ritmo superior a 16 por segundo, associam-se na
retina sem interrupção (PERSISTÊNCIA DA VISÃO, WIKIPÉDIA). Ou seja, ao apresentarmos
imagens diferentes rapidamente criaríamos a ilusão de movimento.
Estudos a respeito da Persistência da Visão, e, os das impressões luminosas deram
alicerce para muitas invenções dos anos de 1820 e 1830. A grande maioria dessas invenções era
fundamentada em Discos com figuras para se obter a ilusão do movimento. Foram realizados
uma série de Discos experimentais: a Roda de Faraday, o Estroboscópio6 de Simon Stampfer e o
Fenaquistiscópio7de Joseph Plateau. Esses dois últimos Discos, datados do final de 1832, davam
ao olho a ilusão perfeita do movimento (MANNONI, 2003).
Outros Discos foram construídos ao longo do século XIX, no entanto, aqui destacamos o
invento do Dr. John Ayrton Paris, que construiu, por volta de 1825, o seu Taumatrópio (Figuras 1
e 2). O instrumento era feito de um disco com figuras diferentes e invertidas desenhadas em cada
lado que, girando com velocidade suficiente, dava a impressão de que as duas figuras estavam em
um mesmo plano (HAYATA; MADRIL, 2009).
6 Conforme Mannoni (2003) a palavra Estroboscópio é originário do grego Strobos, “rotação”.
7 Ibidem a palavra Fenaquistiscópio é originário do grego Phenas, “enganador”, “ilusório”, e Skopêo, “eu olho”.
24
Figura 1 - Taumatrópio
Fonte: Disponível em http://courses.ncssm.edu/gallery/collections/toys/images/dogbirds.jpg
Na figura acima John Paris utiliza duas imagens a de um cachorro e a de dois pássaros.
Na imagem que possui o cachorro há uma frase que considera: Why is a pointer dog like a
highwayman 8 a resposta parece surgir na frase que contém a imagem dos pássaros: Because he is
in quest of pres9. Na segunda figura do Taumatrópio, o Disco de Paris apresenta de um lado a
imagem de uma gaiola e do outro lado a de um pássaro. Ao girarmos o Disco perceberíamos que
o pássaro se encontraria dentro da gaiola.
8 A tradução da frase:Why is a pointer dog like a high way man em português seria “Por que um cão ponteiro é
como um salteador”. 9 A tradução da frase: Because he is in quest of pres em português seria “Porque ele está em busca de mais”.
25
Figura 2 - Taumatrópio
Fonte: Disponível em http://www.precinemahistory.net/images/thaumatrope_1825.gif
Da mesma forma que o Dr. John Ayrton Paris, Joseph Antoine Ferdinand Plateau ficou
fascinado pelo fenômeno da Persistência da Visão. Arquitetou então, a partir de 1827, uma série
de dispositivos a discos destinados a esclarecer e testar o fenômeno da Persistência das
impressões luminosas. Apenas dois deles foram comercializados: o Anortoscópio10
, concebido
em 1828 e posto à venda no começo de 1836, e o Fenaquistiscópio, idealizado em dezembro de
1832 e entregue ao público no ano seguinte (MANNONI, 2003).
O Fenaquistiscópio (figura 3) de Plateau foi o primeiro disco que reproduzia
perfeitamente a ilusão do movimento. O instrumento era constituído por dois discos de papelão
preso no centro por um arame que, girando em direções diferentes, enganavam o olho do
espectador criando-lhe a miragem do movimento das figuras impressas nas rodas do disco
(HAYATA; MADRIL, 2009). Na figura a seguir Plateau apresenta desenhos de uma mulher e um
homem, em diferentes posições, no intuito de simular o movimento de dança.
10
Conforme Mannoni (2003) a palavra Anortoscópio surgiu do grego anorthô, “eu corrijo”, e skopêo, “eu olho”.
26
Figura 3 - Fenaquistiscópio
Fonte: Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Phenakistoscope_3g07690u.jpg
Mannoni explica a ilusão criada pelo Fenaquistiscópio da seguinte forma:
[...] se várias figuras, separadas regularmente e diferindo ligeiramente entre si em forma
e posição, forem sucessivamente mostradas ao olho, a intervalos de tempo muito curtos e
próximos, as impressões sucessivas que produzem no cérebro (na “retina”, pensava
Plateau) conectam-se sem se fundir. Resultado: cremos ver um único objeto
gradualmente mudando de forma e posição (2003, p.223).
No Disco de Plateau, portanto, as figuras estão em um mesmo plano, no entanto, a uma
distância relativa uma da outra, para que quando iniciado o movimento do Disco as imagens
pareçam estar mudando de posição. O autor anteriormente citado observa ainda que, o aparelho
de Plateau ganhou grande destaque entre as pessoas da sua época. Colaborando intensamente na
história do cinema, uma vez que “Esse avanço intermitente de uma imagem e sua obturação
durante a mudança de posição constitui o princípio fundamental da técnica cinematográfica”
(2003, p.238).
Como tínhamos dito anteriormente, o Fenaquistiscópio de Plateau e outro Disco, o
Zootrópio de William George Horner, foram os instrumentos que melhor representavam a ilusão
do movimento. O Zootrópio (Figuras 4 e 5) foi criado em 1834, por William George Horner. O
aparelho que aperfeiçoava o invento de Plateau proporcionava a “observação do espetáculo” a
várias pessoas ao mesmo tempo. O Zootrópio possuía uma forma cilíndrica que girava em torno
27
de um eixo vertical. O cilindro era perfurado e, em seu interior havia imagens representando fases
contínuas de um movimento (HAYATA; MADRIL, 2009). Nas duas figuras do Zootrópio
podemos visualizar que o instrumento utiliza de uma imagem em diferentes posições, como o
Fenaquistiscópio de Plateau. O Zootrópio se diferencia do Disco de Plateau, em forma e
apresentação, uma vez que o instrumento possibilitava a visualização da atração a várias pessoas
ao mesmo tempo.
Figura 5 - Zootrópio
Fonte: Disponível em http://www.earlycinema.com/images/technology/zoetrope_large.jpg
Alguns anos mais tarde o cientista inglês Charles Wheatstone (1802 – 1875) inventou o
Estereoscópio11
. O Estereoscópio se compunha de duas imagens planas, desenhadas ou
fotografadas, mas ligeiramente diferentes justapostas verticalmente na caixa, em oposição a duas
lentes. O usuário olhava através de ambas as lentes e via as duas imagens reunidas em uma só,
superpostas pela visão binocular (MANNONI, 2003). “A fotografia movimentada finalmente
saíra do limbo”, como afirma Mannoni (2003), e embora alguns engenheiros e ópticos houvessem
tomado o rumo da estereoscopia individual animada, outros persistiam no sonho de um
espetáculo coletivo e popular, como foi o caso do francês Émile Reynald e do americano Thomas
Alva Edison.
11
O Estereoscópio inventado pelo inglês Charles Wheatstone (1802 – 1875) consistia basicamente em uma Caixa
Óptica que oferecia certa sensação de tridimensionalidade (MANNONI, 2003).
Figura 4 - Zootrópio
28
Émile Reynald, fotógrafo de Paris, criou em 1877 o Praxinoscópio (Figura 6).
Fundamentado no Zoótropo, o Praxinoscópio se diferenciava pelos seus jogos de espelhos por
onde se observam as imagens animadas (HAYATA; MADRIL, 2009). Como podemos observar
o Praxinoscópio de Reynald possuía um formato quadrado, criado de madeira e com uma
abertura de metal por onde visualizávamos as imagens.
Figura 6 - Praxinoscópio
Fonte: Disponível em http://abelhudos.files.wordpress.com/2008/08/photo.jpg
Ainda no século XIX, já nos prelúdios da cinematografia, percebemos que os
pesquisadores continuam na expectativa de captar a ilusão perfeita do movimento. Foi
procurando captar a imagem perfeita da realidade que no inverno de 1881-1882 o fisiologista
Étienne – Jules Marey criou o Rifle Fotográfico. Marey tinha a intenção de captar a imagem de
um pombo. O Rifle Fotográfico é descrito da seguinte forma, por Mannoni.
[...] A lente ajustável ficava alojada no cano. Na parte de trás, montada na coronha, uma
larga culatra cilíndrica abrigava uma engrenagem de relojoaria. A mira era feita através
de um visor preso à coronha. Quando se pressionava o gatilho, a engrenagem começava
a girar, acionando um eixo central, que fazia 12 rotações por segundo e movimentava
todas as demais partes móveis. Primeiro utilizou-se um disco opaco, com uma estreita
janela que deixava passar a luz a 720 centésimos de segundo aproximadamente, 12 vezes
por segundo. Atrás desse obturador, e sobre o mesmo eixo, havia um segundo disco com
12 pequenas aberturas e com dentes regularmente espaçados À volta de sua
circunferência. Finalmente, uma “caixa de mudança” contendo 25 chapas fotográficas
ficava alojada sobre o rifle, deixando cair às chapas, uma a uma, no interior do
dispositivo, prontas para serem expostas à luz (MANNONI, 2003, p330).
29
Conforme a citação de Mannoni o instrumento tinha, portanto o formato e elementos de
um rifle, visor e gatilho. Quando acionado o gatilho, a engrenagem de relojoaria permitia que, ao
invés de disparar balas o aparelho registrasse imagens. Marey continuou suas pesquisas na área
fotográfica. Pouco tempo depois nomeou seu assistente, Georges Demeny (1850 – 1917) seu
discípulo.
Com a assistência de Demeny, Marey iniciava o verdadeiro período fílmico de sua obra,
criando o Cronofotógrafo de filme em celuloide no ano de 1890. Nesse mesmo ano, Marey
rompeu os trabalhos que realizara com Demeny, devido a muitos problemas, em especial ao
espírito mercantilista de Demeny.
Em 27 de julho de 1891 Demeny apresenta o Fonoscópio. Este aparelho se propunha
“reproduzir a ilusão do movimento das palavras e da fisionomia de uma pessoa falando”
(MANNONI, 2003). No ano anterior, em 1890, o fisiologista Étienne – Jules Marey apontou a
objetiva de sua câmera Cronofotográfica para uma cena animada e obteve uma série de imagens
sucessivas em uma película de celuloide (com significativas ajuda de seu ex- assistente,
Demeny). Finalmente, o movimento real da vida havia sido captado e fixado, em todas as suas
fases, num suporte transparente, flexível e sensível: o filme. Estava inventada a técnica
cinematográfica. É verdade que, ainda lhe faltavam alguns aperfeiçoamentos para a criação do
verdadeiro aparelho cinematográfico, que viriam mais tarde, ainda no mesmo século, por meio
das invenções de Thomas Alva Edison e os irmãos Lumiére (MANNONI, 2003). Foi então que
nos Estados Unidos a cronofotografia de Marey deixou de ser puramente científica para tornar-se
um verdadeiro espetáculo popular. Isso só foi possível, devido à invenção de Thomas Edison, o
Quinetoscópio (MANNONI, 2003).
Thomas Alva Edison (1847 – 1931) registrou em 1892, uma longa série de imagens
fotográficas em uma fita de celuloide dotada de perfurações marginais, que corria por meio de
roldanas no interior de uma caixa, alta e estreita. Essas imagens surgiam através de uma “janela
iluminada” colocada no alto da caixa, proporcionando a observação para uma pessoa de cada vez
(HAYATA; MADRIL, 2009). O Quinetoscópio ou Cinetoscópio (Figura 7), cujo nome aparece
nos escritos de Edison em 1888, só foi explorado comercialmente em 1894 (MANNONI, 2003).
Na figura a seguir, visualizamos um homem utilizando o Cinetoscópio. Percebemos que o
instrumento pode somente ser utilizado por uma pessoa por vez.
30
Figura 7 - Cinetoscópio
Fonte: Disponível em
http://2.bp.blogspot.com/_1uxxN0nZjLY/ReCUrACyvI/AAAAAAAAAB0/usm3O7qNd7E/s400/kinetophone.jpg
No final do ano de 1894, todos os elementos estavam reunidos para levar o espetáculo
cronofotográfico para a tela grande: fitas de ficção estavam sendo elaboradas, as películas já eram
perfuradas e diversos sistemas de tração do filme davam resultados satisfatórios, como era o caso
do Quinetógrafo de Edison (MANNONI, 2003). E novos pesquisadores vinham aperfeiçoando
diversos tipos de projetores de filme, com maior ou menor êxito, a partir dos modelos do
Cronofotógrafo de Marey e do Quinetoscópio de Edison, todavia, não caberá a eles o mérito da
primeira projeção pública de fotografias animadas. Personalidades como os Lumiére e Meliés que
serão os responsáveis pelo surgimento da indústria e do espetáculo cinematográfico (MANNONI,
2003). Segundo Mannoni (2003) foram os Lumiére que encontraram a solução para o problema
da projeção de filmes cronofotográficos, pois ninguém na Europa e nos Estados Unidos havia
conseguido o intento com tamanha eficiência antes da sessão histórica de 22 de março de 1895.
Em 1895, os filhos de um industrial de Lyon na França, Auguste Lumiére e Louis
Lumiére combinaram as invenções de Étienne J. Marey o Rifle Fotográfico, uma espécie de
metralhadora que era capaz de produzir um conjunto de imagens consecutivas por segundo, e o
quinetoscópio de Thomas Edison, registrando em cartório a patente do Cinematographo,
conforme a escrita da época (HAYATA; MADRIL, 2009). O mecanismo do aparelho Lumiére,
31
que era uma caixa de madeira, movia-se por uma manivela ligada a uma árvore central, operada
manualmente, que fazia avançar uma fita de celuloide onde se sucediam uma série de fotogramas
(como os slides), projetados a uma velocidade de 16 a 18 destes quadrinhos por segundo
(HAYATA; MADRIL, 2009). Os dois irmãos costumavam requerer suas patentes conjuntamente,
mas fora Louis Lumiére o idealizador do engenhoso mecanismo do Cinematógrafo (MANNONI,
2003).
O Cinematógrafo, um instrumento capaz de reproduzir a realidade em movimento,
inicialmente foi considerado pelos irmãos Lumiére como um entretenimento científico, que não
teria nenhum futuro (ESPINAL, 1976). No entanto, os irmãos perceberam que o instrumento que
os divertia também poderia entreter outras pessoas. Então, no dia 28 de dezembro de 1895, os
irmãos Lumiére realizam a primeira sessão pública do Cinematógrafo. O evento reuniu somente
33 espectadores e a apresentação durou 20 minutos, onde foram projetados num quadro branco de
tecido dez filmes curtos, cada um com a duração de aproximadamente um minuto (HAYATA;
MADRIL, 2009). Nos dias seguintes, as sessões apresentaram um significativo aumento no
número de espectadores, o que levou aos irmãos Lumiére a abrirem franquias nas cidades
Francesas e em países como: Inglaterra, Bélgica, Itália, Alemanha, Espanha, Rússia e nos Estados
Unidos (HAYATA; MADRIL, 2009).
Georges Meliés, conhecedor no assunto de mágicas, propõe a compra da invenção criada
pelos irmãos, no entanto recebeu a recusa da venda. Tendo uma resposta negativa à sua oferta,
George Meliés mandou construir um projetor, instalando no seu teatro com o intuito de expor as
cenas animadas de Thomas Edison. Após um tempo começa a filmar os seus primeiros filmes,
utilizando em algumas cenas truques de mágica. Meliés foi então consagrado pai dos efeitos
especiais, visto que, criou sobre um fundo preto, uma enorme variedade de truques, tais como as
fusões, câmera lenta, fazer pessoas aparecer e desaparecer, feiticeiras a voar, tornar pessoas
transparentes ou invisíveis, cortar-lhes membros do corpo etc. Meliés construiu tempos depois o
seu primeiro estúdio cinematográfico, que também seria o primeiro da Europa. Por ser um
homem de muitas habilidades, Meliés foi produtor, diretor, cenarista e ator da maioria dos seus
filmes (HAYATA; MADRIL, 2009).
Após os filmes de Thomas Edison e de Meliés muitas outras pessoas, da Europa e
Estados Unidos começaram a realizar seus próprios filmes. Do período de Edison até o início do
32
século XX, a indústria do cinema já registrava em 1903, um catálogo de 2.113 títulos, cerca de 20
metros cada um. Essa metragem era o máximo que uma câmera poderia conter na época.
Inicialmente, os filmes eram projetados em lugares inadequados, como salões
comunitários, feiras, circos e garagens, entre outros. No entanto, devida, a boa frequência do
público os exibidores começaram a construção de prédios maiores e luxuosos, verdadeiros
palácios que estimulavam a imaginação do espectador ao penetrar no mundo mágico da fantasia
(HAYATA; MADRIL, 2009).
No inicio do século XX, as rendas criadas pelo cinema caíram e alguns estúdios norte-
americanos estavam com a economia abalada. Foi então que em fevereiro de 1913 que Thomas
Edison projetou para poucos espectadores uma fita onde as imagens estavam sincronizadas ao
disco de um Fonógrafo. Assim não só os personagens moviam os lábios, como podia se ouvir o
que falavam. Segundo Hayata e Madril, no ano de 1926,
[...] os grandes estúdios como a Paramount, Fox, Metro, United e Universal rejeitaram a
proposta da Bell Telephone Co. para adoção de aparelhos para registro e reprodução do
som sincronizado com as imagens. Mas, o mesmo felizmente não aconteceu com a
Companhia dos irmãos Warner. Estando próximos da falência eles arriscaram,
empregando os últimos recursos e créditos na produção de filmes sonoros, adquirindo a
patente Vitaphone, da Bell, com direitos e exclusividade. Depois de terem realizado três
experiências, em 06 de Outubro de 1927, a Warner Brothers apresenta “O Cantor de
Jazz”, de Alain Crosland. Com o grande sucesso obtido, a Warner compra salas
exibidoras. Enfim, o cinema que começou mudo se tornou falado (2009, p.40).
Conforme a citação das autoras grandes estúdios como a Paramount, Fox, Metro, United
e Universal negaram a adoção do Fonógrafo. O único estúdio que aceitou o uso do aparelho foi a
dos irmãos Warner que estavam entrando em falência. Com o aparelho os irmãos produziram o
musical o Cantor de Jazz, filme que ofereceu grande sucesso, uma vez que, naquela época os
filmes eram todos mudos, ou seja, não escutávamos em nenhum momento a fala dos personagens.
É importante lembrarmos que na época do cinema mudo as películas não possuíam som,
os espectadores apenas observavam as cenas. Para que os filmes não fossem tediosos os
proprietários de cinema recorriam a pianistas e também a orquestras, para que tocassem durante
as sessões. A música também auxiliava a disfarçar o ruído desagradável gerado pelo projetor.
Mas com a adoção de aparelhos para registro e reprodução do som sincronizado e
consequentemente a produção de filmes sonoros, como o Cantor de Jazz, em 1930 veio à queda
definitiva do filme mudo, trazendo consequências trágicas para muitos músicos especializados e
33
alguns astros do cinema mudo, como por exemplo, Charlie Chaplin (HAYATA; MADRIL,
2009).
A música continuou a fazer parte do cinema após algumas modificações de
planejamento, visto que, nos primeiros filmes sonoros as composições musicais não
acompanhavam o contexto do filme, ou seja, não havia lógica na música composta pelos músicos
e os enredos do filme. Posteriormente, com o objetivo de facilitar o preparo de uma adaptação do
programa musical ao enredo eram fornecidos aos músicos aspectos gerais do filme. A partir,
desta ação viam-se as primeiras tentativas de uma sincronização entre a obra visual e o
acompanhamento acústico. Os editores de música se interessaram por esse novo campo de
atividades e logo se especializaram na criação de uma música de fundo padronizada, capaz de se
encaixar as diversas cenas: terror, angústia, amor, paixão, violência, ciúme, irritação etc.
Por fim, o cinema artesanal se converte em comércio e indústria. Uma indústria que
rapidamente torna-se arrecadadora de muitos milhões de dólares. E ao se industrializar o cinema
é obrigada a encontrar padronizações, buscando técnicas homogêneas, unificando patentes e
criando uma unidade de passo, formando, portanto, as grandes companhias produtoras
(ESPINAL, 1976).
Após entendermos a história do cinema que passou por séculos de descobertas,
realizações, inúmeros aperfeiçoamentos e aplicações e, ao deslumbrarmos com este espetáculo,
que mais parece uma fábrica de sonhos, proporcionado por diretores, atores entre outros,
precisamos compreender também o outro lado da sétima arte12
, o lado comercial. Pois o objetivo
e finalidade do cinema segundo Guido Bilharinho (2003) é meramente comercial, desta forma
vimos à importância de compreendermos quem são os responsáveis por essa fábrica de sonhos
que estão ao alcance de nossas mãos e como são realizados. A resposta para essas questões serão
tratadas no tópico a seguir.
12
No século XVII iniciaram-se os estudos das manifestações criativas, estas foram classificadas em dois grupos:
belas artes e belas letras. As belas artes eram até então seis: arquitetura, escultura, pintura, gravura, música e
coreografia. Somente no início do século XIX o cinema recebeu o título se sétima arte, uma manifestação de
criatividade (WIKIPÉDIA, 2011).
34
1.3 A INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA
Entretenimento, curiosidade, meio de comunicação social, uma indústria que fatura
milhões, o Cinema é, além de um meio de informação e lazer, uma ferramenta inovadora na
disseminação e afirmação das identidades culturais (SANTOS, 2009). Um audiovisual de grande
importância, que mesmo após sua descoberta passa ainda por modificações, possibilitando ao
espectador fantasia e emoções diferenciadas. Neste tópico, a indústria cinematográfica,
abordaremos esta indústria crescente que permite ao espectador essas fantasias e emoções.
Tentaremos de forma breve apresentar os responsáveis por essa fábrica de sonhos. Trataremos
também a respeito do processo da produção de uma película.
Após o cinema artesanal se converter em indústria, já no século XX, houve uma
ampliação do mercado exibidor de cinema e aumento significativo no número de espectadores.
Surgiram então, vários estúdios cinematográficos pelo mundo. Com o advento da primeira
Guerra Mundial (1914-1918) alguns desses estúdios ficaram enfraquecidos ou mesmo foram à
falência. Na Europa, por exemplo, a indústria cinematográfica ficou enfraquecida em todos os
aspectos, sobretudo, na etapa da produção. Os reflexos desta situação incidiram também na
América Latina, pois foram impossibilitados de comprar filmes virgens e equipamentos com
preços acessíveis no mercado europeu, consequentemente afetando a produção de filmes em seu
país (MACHADO, 2009).
Esse cenário proporcionado pela Segunda Guerra Mundial possibilitou aos Estados
Unidos monopolizar a produção, a distribuição e a exibição de filmes, expandindo a sua indústria
cinematográfica, uma vez que seu principal concorrente e até então dominadora da indústria
cinematográfica, a Europa, estava enfraquecida na produção de filmes. Outro fato que colaborou
para a ascensão da indústria de cinema norte-americana foi à descoberta do cinema sonoro, no
final dos anos de 1920. Com esse fato o orçamento dos filmes foi elevado, ocasionando a falência
dos pequenos estúdios de produção e, assim, abrindo caminho para as grandes corporações de
Hollywood (MACHADO, 2009). Logo depois da guerra, a alta rentabilidade do setor
cinematográfico norte-americano foi comparada à da indústria automobilística, estimulando os
investidores à criação de grandes grupos (BENHAMOU, 2007). No final da década de 1940, por
exemplo, aproximadamente 90% das receitas da indústria do cinema eram controlados por
35
grandes empresas como a: Paramount, Metro Goldwyn Mayer, 20th Century Fox, Warner Bross,
RKO, Universal, Columbia e United Artists (BENHAMOU, 2007).
Nos início dos anos 1950, chega ao cinema à tela em formato 3D, onde a visão
reproduzida aparentava estar em forma de relevo. Mas esse formato não persistiu por muito
tempo. Com a chegada da televisão, para garantir a continuação dos espetáculos, a indústria
cinematográfica realizou mais uma modificação: inaugurou os formatos panorâmicos, que
funcionavam com uma câmera, um projetor e um filme padrão de 35 mm (SCIEN, 2008). E com
o decorrer dos anos e com o avanço da tecnologia ocorreram várias outras mudanças na
cinematografia, tornando o cinema uma arte com inúmeras possibilidades. Criação de mundos
diversos, de seres inimagináveis, cenas que nos levam a épocas diferentes, que nos fazem crer
que haverá o fim do mundo. E toda essa proeza só é possível, devido a um grande elenco de
diretores, produtores, roteiristas, produtores executivos, artistas, músicos, entre outros e a um
processo intenso de produção da obra fílmica.
Conforme a Cartilha Cinematográfica (2007), criada pelo Ministério do Turismo
Brasileiro, o cinema é uma das obras audiovisuais que exige maior grau de elaboração. Uma vez
que o processo de realização de um filme é demorado e só a fase de pesquisa e preparação pode
durar meses ou até anos. A etapa de produção inicia-se com a ideia, e a explicação simplificada
dessa ideia, é chamada no meio audiovisual de Sinopse ou Argumento. Em seguida, é necessário
decidir como contar essa história: o estilo, a abordagem e a narrativa adotada. Esse
desenvolvimento é chamado de Tratamento e já pressupõe haver uma pesquisa mais extensa,
muitas vezes de campo (BRASIL, 2007).
A etapa posterior é o Roteiro, que contém uma descrição mais precisa de cenas e mesmo
onde a ação irá ocorrer. Em alguns casos é criado o Storyboard , o desenho do filme cena a cena
que facilita a visualização do estilo narrativo apontado pelo roteiro (BRASIL, 2007). Depois do
roteiro pronto, segue-se uma análise técnica, que nada mais é do que um planejamento de tudo
que o roteiro demanda em termos de produção. Tais como: quantos dias de filmagem, quantas
locações diferentes, quantos técnicos e figurantes necessários, enfim, é um grande raio-x
estrutural do filme. Para que, enfim, se realize um orçamento dos recursos necessários para
viabilizar a obra economicamente (BRASIL, 2007).
Com o capital em mãos, iniciam-se a preparação, conhecida como pré-produção, e a
filmagem propriamente dita. A finalização, também chamada de pós-produção, é quando
36
acontece a montagem das cenas, onde os efeitos especiais são criados, o som e a trilha sonora
aplicada, ou seja, quando o filme realmente ganha um contorno definido. A etapa final é a
distribuição das cópias nas salas de cinema e a comercialização nas demais janelas de exibição
(BRASIL, 2007).
Com efeito, “a invenção do cinema constitui uma verdadeira jornada nas estrelas”,
como narra Mannoni (2003), pois, como dito anteriormente foram necessários milênios de
desenvolvimento mental e técnico, em recíproco influenciamento, para pretendermos, tentarmos e
conseguirmos captar a imagem em movimento (BILHARINHO, 2003). Todavia, após essa
conquista, seu domínio e utilização, observamos que a cada um e a cada geração surgem novas
possibilidades de descobertas e realizações.
1.4 AMERICAN WAY OF LIFE: A IMPORTÂNCIA DA INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA
NORTE-AMERICANA
No que diz respeito ao cinema, podemos afirmar que, a maior indústria cinematográfica
é a norte-americana. Isso ocorreu depois da Primeira Guerra Mundial, quando os europeus, até
então dominadores desta indústria, tiveram de restringir suas produções filmográficas. Depois da
ascensão dos Estados Unidos na sétima arte, na época da guerra, o país tem controle da indústria
do cinema até os dias atuais. Nesse sentido apontaremos nesta parte do trabalho a importância da
indústria cinematográfica norte-americana. Retrataremos como os americanos conseguiram o
controle sobre essa indústria, quais foram às obras fílmicas de importância produzidas durante a
sua ascensão e como seus filmes demonstraram o estilo de vida do americano.
Os Estados Unidos apresentam-se como o mais robusto mercado de audiovisual do
mundo, “sendo a produção de programas de televisão e filmes de longa-metragem considerado
um dos mais vitais e valorizados recursos da nação” (BRASIL, Ministério do Turismo, 2011,
p.24). De acordo com Mariângela Machado (2009) o cinema, nos Estados Unidos desenvolveu
diversos aspectos, derivados de uma cultura popular, que, em algumas décadas, consagrariam o
veículo como a mais poderosa arma da indústria do entretenimento. E foi por meio do cinema que
os norte-americanos difundem e transmitem sua cultura e estilo de vida, o american way of life
(HAYATA; MADRIL, 2009).
37
Nos primeiros anos da cinematografia norte-americana, ainda quando o cinema era
mudo e a Europa controlava a indústria, a maioria dos filmes produzidos nos Estados Unidos
foram realizados pelo inventor Thomas Alva Edison. Esses filmes não tiveram grande
notoriedade, pois foram apresentadas a um público pequeno. Ao contrário das produções de
Edison, a produção do diretor americano Edwin S. Porter, O “Grande Roubo do Trem” (EUA,
1903), de 1903, ganhou destaque entre o público americano, uma vez que o filme apresentava
cenas cotidianas, porém que espantavam seus espectadores, devido, a fidelidade com a realidade.
Nos anos seguintes foram realizados outros filmes, mas que não ganharam muito destaque, esses
foram: “Salvo de um Ninho de Águia” (EUA, 1907) também de “Porter e As Aventuras de
Doliie” (EUA, 1908), de David Wark Griffth, do ano de 1908 (CINEMA AMERICANO, 2011).
A indústria cinematográfica norte-americana ganhará força e prestígio somente em 1912,
nos prelúdios da primeira Guerra Mundial. Com o recesso do cinema europeu, até então
dominadores do mercado cinematográfico, os americanos concentraram as produções de filmes
em Hollywood, principalmente na Califórnia, porque tinha sol o ano inteiro e podiam-se filmar a
qualquer hora do dia, surgindo, portanto, os primeiros grandes estúdios (MACHADO, 2009)
como a Famous Players, futura Paramount e a Keystone Company, criada por Mack Sennett
(CINEMA AMERICANO, 2011).
No ano de 1913, Thomas Edison torna possível que o cinema mudo seja falado
utilizando o Fonógrafo, aparelho que sincronizava o som com as imagens. Este fato colaborou
para a produção de filmes sonoros e consequentemente para a ascensão da indústria de cinema
norte-americana. Nos anos seguintes, a invenção forneceu o aumento do orçamento de filmes
(HAYATA; MADRIL, 2009), levando a atores como Charles Chaplin, Douglas Fairbanks, Mary
Pickford e David Wark Griffth criarem em 1919 a United Artists, com o objetivo de enfrentar os
altos salários e custos de produção.
O início da década de 1920 marca a abertura da consolidação da indústria
cinematográfica americana e os grandes gêneros como: faroeste (western), policial, musical e,
principalmente, a comédia, todos ligados diretamente ao estrelismo (Star System) (CINEMA
AMERICANO, 2011). O Star System foi o conhecido sistema de "fabricação" de estrelas, ou seja,
[...] o instrumento utilizado para promover o produto ‘cinema americano’, divulgando
atores e diretores para torná-los importantes para a sociedade. A ideia era transformá-los
em estrelas, em mitos adorados pelo público, colocá-los acima dos cidadãos comuns. Já
38
os gêneros cinematográficos bem específicos, como o policial, o musical e o western,
característicos da década de 30 e 40, quando o sistema foi instituído, foram uma forma
de contentar todo o tipo de público (SELIGMAN IN KOVARICK et al. apud
MACHADO, 2009, p.81).
Conforme a citação os filmes americanos dessa época, 1920, privilegiavam produções
em que os personagens tivessem aspectos admiráveis, para que fossem futuramente adorados
pelos seus espectadores. Os filmes também deveriam ser produzidos para almejar um público
grande. Foram então que os gêneros como o faroeste, o policial e o musical ganharam destaque.
Hollywood em 1920, já havia superado em definitivo os franceses, italianos,
escandinavos e alemães produzindo grandes filmes de ação, faroeste, policial e comédia. Neste
último gênero, a comédia, o cinema americano apresentou grandes atores, ainda hoje conhecidos,
como é o caso do britânico Charles Chaplin e dos atores Oliver Hardy e Stan Laurel, que
representavam “O Gordo e o Magro” (CINEMA AMERICANO, 2011). De acordo com José
Arbex Júnior (1993) a indústria cinematográfica cresceu com velocidade vertiginosa, com
potencial para monopolizar a produção, a distribuição e a exibição, de forma que no final dos
anos 1920 aproximadamente 100 milhões de americanos frequentavam o cinema todas as
semanas. Um dos fatores que colaborou para o sucesso do cinema americano foi o público para
qual se voltou à atividade.
[...] o cinema estadunidense desde o começo puseram-se a buscar públicos amplos;
enquanto nas sociedades europeias as artes e a literatura concentravam-se mais nas elites
e nas tradições nacionais, nos Estados Unidos absorveram as contribuições de migrantes
de todos os continentes para forjar uma cultura popular e de massas, capaz de seduzir
amplos setores de outros países (CANCLINI apud MACHADO, 2009, p.81).
Segundo Canclini, um dos fatores que ajudou no sucesso dos americanos na indústria de
cinema é dado, devido à criação de filmes que alcançassem, atingissem o desejo de um público
maior, um público massificado. Em contraponto a indústria europeia distribuía seus filmes para
uma minoria elitizada.
No final dessa mesma década, 1920, ainda observávamos as consequências do cinema
sonoro, uma vez que os altos custos de produção ocasionavam a falência de pequenos estúdios de
produção. A partir dai criou se o Studio System, que racionalizava significativamente os custos
(MACHADO, 2009). Segundo Françoise Benhamou (2007) o Studio System obteve inspirações
na indústria manufatureira e possuía algumas características fordistas, como, por exemplo, o
39
extremo cuidado na preparação das tarefas e a estrita divisão do trabalho entre concepção e
execução.
Apesar da criação do sistema sonoro, ainda muitas empresas rejeitavam a sua
implantação. No entanto, os irmãos Warner, próximos à falência apostaram seu futuro neste
arriscado sistema, adquirindo a patente da Vitaphone, da Bell. Assim em 06 de outubro de 1927 a
Warner Brothers apresenta o filme “O Cantor de Jazz” (EUA, 1927), que consagraria o chamado
cinema falado, logo cantado e dançado em prosas e versos por toda a América (HAYATA;
MADRIL, 2009). Dos Estados Unidos, os filmes sonoros se estenderam por todo o mundo, em
luta com a estética muda. O cinema se converteu num espetáculo visual e sonoro, destinado a um
público maior, e passou a dar mais importância aos elementos narrativos (CINEMA
AMERICANO, 2011). O sistema sonoro com certeza foi uma grande evolução para o cinema, no
entanto, ao oferecer maior importância aos elementos narrativos, podemos compreender que a
arte cinematográfica perdeu sua essência, uma vez que, o movimento das imagens representa a
síntese do cinema. Em contraparte, também concordamos com a visão de Machado (2009) de que
com a sonorização foram eliminados os extensos letreiros e efeitos visuais fornecendo ao
espectador maior nível de realismo e compreensão.
Segundo Novaes (2006), a indústria de cinema de Hollywood, que encontra seu apogeu
nos anos de 1930, é responsável pela afirmação da vocação do cinema como uma arte
direcionada para os olhos e para o subconsciente do espectador, e não voltada “para a razão ou
explanação verbal” (NOVAES apud MACHADO, 2009, p.83). A respeito desta questão
concordaríamos com Novaes, uma vez que, principalmente, nos filmes estadunidenses de ação,
ficção e suspense as cenas e cenários são compostos por imagens que atraem e hipnotizam o
olhar do espectador, no entanto, muitos destes filmes são fracos quanto ao seu conteúdo
narrativo.
Observamos que a década de 1930 é marcada pela grande depressão dos Estados
Unidos. Nesta época, os EUA era o país mais rico do planeta. Além das fábricas de automóveis,
os norte-americanos também eram os maiores produtores de aço, comida enlatada, máquinas,
petróleo, carvão e cinema (BENHAMOU, 2007). Porém, em 24 de outubro de 1929 a Bolsa de
Nova York sofreu a sua maior baixa, até então, levando o país a sua pior crise financeira da
história. Este fato ficou conhecido como Quinta-Feira Negra (BRASIL ESCOLA, 2011).
Compreendemos pela citação, que realmente os Estados Unidos, naquela época estavam no auge
40
da produção, seja esta de automóveis, de comida ou de máquinas, mas devemos nos situar que a
crise financeira do país foi justamente ocasionada, devido a essa produção contínua e acelerada.
A crise, no entanto, não afetou a indústria cinematográfica americana, ao contrário disso,
como Sklar (apud MACHADO, 2009, p.83) mesmo afirma, a grande depressão da década de
1930 favoreceu a indústria de cinema norte-americana, uma vez que Hollywood fez maiores
investimentos nas suas produções com o intuito de apaziguar os americanos a respeito da
economia do país. Não sabemos exatamente, quais foram essas produções realizadas, para
acalmar os americanos quanto à economia, ou mesmo se elas alcançaram o seu objetivo. O que
podemos realmente afirmar é que a produção de filmes, mesmo na crise não diminuiu.
O cinema americano em fins da década de 1930 e início da de 1940 demonstravam sua
potencialidade por meio de grandes produções, que contrastavam com a atual situação do país,
cercados pela crise. A época favoreceu a produção de enredos com dilemas morais e supremacia
feminina, representado em filmes de grande sucesso como “E o Vento Levou” (EUA, 1939) e “O
Morro dos Ventos Uivantes” (EUA, 1939) do diretor William Wyler, grande nome da época no
gênero romântico (CINEMA AMERICANO, 2011).
Na década de 1940, os Estados Unidos ainda movidos por perspectivas de uma mudança
progressista, anunciavam uma medida mais clara onde o objetivo inicial era a de sustentar a
liderança norte-americana sobre a cinematografia, minimizando a influência europeia e
promovendo a estabilidade política no continente. Foi então, a partir dessa época que, mais
insistentemente, com as produções filmográficas, o país vendeu e difundiu o estilo americano de
vida. Tal fato seduzia seus espectadores do mundo a consumirem seus produtos e/ou marcas,
como por exemplo, a Coca-Cola (AMANCIO, 2000).
A década de 1940 é a chamada era do Cinema Moderno Americano, pois além dos
melodramas, e gêneros como o faroeste, terror, musicais, comédias e outros, surge uma nova
tendência, o modernista. Os filmes de gênero modernista possuem um enredo não linear, uma
narrativa cronológica, profundidade de campo13
, tomadas de câmera do solo, filmagens do teto
dos ambientes, entre outros aspectos. Filmes como “Cidadão Kane” (EUA, 1941) de Orson
Welles e “Tempo de Violência” (EUA, 1994) de Quentin Tarantino possuem esta estética
(CINEMA AMERICANO, 2011).
13
A profundidade de campo é apresentada quando são postas em evidência não somente o primeiro, mas o segundo e
terceiro plano de uma cena.
41
São vários, portanto, os gêneros Hollywoodianos desde faroeste ao modernista, porém,
todos eles ensinam que o dinheiro e o sucesso são importantes valores e que o estado, a polícia, e
o sistema legal são legitimadores do sistema. Nesses gêneros também aprendemos que os valores
estadunidenses e instituições são basicamente leais, benevolentes, e ofertam benefícios para a
sociedade de modo geral. Mas há um gênero que se difere destas características, o gênero noir. O
Film Noir ou Filme Negro é um termo “cunhado em 1946 por críticos franceses que identificaram
em filmes estadunidenses produzidos a partir do início da década de 1940 características
estéticas, temáticas e técnicas comuns que os distinguiam dos feitos antes da Segunda Guerra
Mundial” (VALIM, 2006, p.48). Este gênero, o Film Noir trouxe para as telas do cinema um
mundo repleto de medos, paranoias, corrupção, personagens violentos e amorais, policiais e
marginais de toda espécie (KELLNER apud VALIM, 2006, p.48), ou seja, o gênero apresentava
características até então não avistadas nos filmes americanos.
Alguns anos mais tarde, depois da crise iniciada em 1930, deu início em 1945, a corrida
armamentista que ofereceu benefícios à economia dos Estados Unidos em seu conjunto. O setor
civil incorporou muitas das tecnologias utilizadas pela indústria bélica e as converteu em
máquinas de tecnologia altamente sofisticada para uso no cotidiano das pessoas. Com o advento
dessas tecnologias aumentaram-se ainda mais as produções de Hollywood, década de clássicos
consagrados como “Casablanca” (EUA, 1942) de Michael Curtiz, e de produções que
“exportavam para o mundo a ideia de que a felicidade está num carrinho de supermercado”
(ARBEX, 1993, p.36).
Cinco anos depois, em 1950 pensamentos a respeito da liberação sexual, a propaganda
do uso das drogas, a difusão do rock’ roll e as ideologias pacifistas começaram a ser abordadas.
Esses ideais irão persistir na década de 1960 (ARBEX, 1993).
Na década de 1960 o cinema americano cada vez mais se voltava para a crítica social e
os problemas humanos.
No cinema, o jovem ator “rebelde sem causa” James Dean e o produtor “vagabundo”
Dennis Hoper, no filme Easy rider (Sem destino), expunham o mal-estar de uma cultura
rica, mas preconceituosa, imensa, mas asfixiada por uma insuportável estratificação de
valores. Poucas cenas poderiam representar melhor essa época do que o momento em
que, em Easy rider, um interiorano atira contra um motoqueiro, simplesmente por
considera-lo um estrangeiro e, por isso, desprezível (ARBEX, 1993, p.55).
Por meio da citação de Arbex observamos que os filmes americanos desta época
42
demonstravam e focalizavam problemas como os enfrentados por imigrantes e estrangeiros a
respeito do seu modo de vida. Compreendemos também que na época havia choque de culturas, a
do norte-americano com seu esplendor e superioridade em contraste com a do estrangeiro fraco e
oprimido.
Na década de 1970 a reprodução em massa toma conta da indústria hollywoodiana, visto
que, o cinema americano passa a produzir superproduções com efeitos especiais, proporcionados
pela tecnologia da época, a fim de seduzir o espectador, no geral crianças e adolescentes. Alguns
exemplos dessas produções, voltadas para um público juvenil são: “O destino do Poseidon”
(EUA, 1972) de Ronald Neame, “Inferno na torre” (EUA, 1974) de John Guillermin e Irvin
Allen, “Guerra nas estrelas” (EUA, 1977) de George Lucas, “Contatos Imediatos do Terceiro
Grau” (EUA, 1977) de Steven Spielberg e “Superman” (EUA, 1978) de Richard Donner (SCIEN,
2008).
Na era de Ronald Reagan, presidente estadunidense eleito em 1980, o personagem
cinematográfico de Sylvester Stallone, “Rambo” (EUA, 1980), tornou-se a imagem da América,
uma imagem forte e sempre vencedora. Rambo foi um filme idealizado no intuito, de animar o
ego dos americanos que perderam a Guerra para o Vietnã, ou seja, era um modo de vingança dos
que foram feridos e/ou derrotados no Vietnã (ARBEX, 1993, p.72). No filme “Rambo” (EUA,
1980) observa-se basicamente
[...] um guerreiro destemido, um guerrilheiro armado até os dentes, com metralhadoras,
pistolas, morteiros e tudo o que havia de mais sofisticado no arsenal americano. Odiava
os comunistas, mas odiava também os “malditos políticos” do Congresso dos Estados
Unidos que impunham freios à sua ação justiceira. Rambo queria entrar
clandestinamente em lugares como o Vietnã e a Nicarágua para combater os comunistas
e fazer justiça com suas próprias mãos. Desgraçadamente, os “janotas de Washington”,
isto é, os congressistas, impunham certos limites derivados das relações estabelecidas
pelo Direito Internacional (ARBEX, 1993, p.72).
Como Arbex (1993) relata, Rambo é um personagem justiceiro que sozinho, utilizando
um variado arsenal de armas enfrenta e tenta vencer os comunistas. O personagem entra
clandestinamente em países como o Vietnã e Nicarágua para acabar com os comunistas que tanto
odeia e consegue sozinho acabar com todos eles. Fábio Cristian Davi (2010) atribui ao governo
americano da época, a grande influência na narração, na estética e nas imagens do filme. E
concordamos com o autor quando afirma que, o filme tinha como intuito restabelecer a imagem
de um país, que mesmo após a derrota pelos vietnamitas, continuam dominantes.
43
O filme também abordava o ideal de parte da classe média que estava encolhendo como
consequência da crise dos anos de 1980 (ARBEX, 1993). A crise desta época é justificada pela
incapacidade dos americanos de responder aos novos concorrentes do mercado internacional,
vindos da Europa Ocidental e Ásia (Alemanha e Japão), que fixavam seus produtos a um custo
mínimo de produção com um maior valor tecnológico agregado, o que levou os norte-americanos
a perder espaço nos seus mercados interno e externo para esses concorrentes (DAVI, 2010).
Nas décadas seguintes 1990 e 2000 foram produzidas grandes obras como A “Lista de
Schindler” (EUA, 1993) de Steven Spielberg e “Tempo de Violência” (EUA,1994) de Quentin
Tarantino, mas, entretanto, são os filmes de ficção e ação que obtiveram mais espaço nas
produções, na mídia e na preferência do público, principalmente o infantil (CINEMA
AMERICANO, 2011). Alguns exemplos que podemos citar são: “Exterminador do Futuro”
(EUA, 1990), “Jurassic Park” (EUA, 1993), “Titanic” (EUA, 1998), “Matrix” (EUA, 1999), “X-
Men” (EUA, 2000) entre outros. Devemos compreender que filmes como Exterminador do
Futuro e Matrix foram muito divulgados na mídia, porém temos que ressaltar que foram mais
destacados, não pelo seu conteúdo narrativo, ou questões filosóficas, uma vez que, o
Exterminador aborda pela primeira vez a questão de até onde podemos ir com a tecnologia e
Matrix aborda questões filosóficas e existencialistas, mas sim pela sua fotografia, pelo cenário,
suas imagens que atraíam o olhar do espectador.
Apesar de nas últimas três décadas, o cinema americano ter se caracterizado pelo
fenômeno Blockbuster, ou, “arrasa quarteirão”, que atingem um público massificado e
caracterizado por serem divertidos e levarem a alienação de seu espectador (SCIEN, 2008), todos
os outros filmes, dos mais variados gêneros também demonstram a imponência do mercado
cinematográfico americano. É inegável a força do cinema americano em todos os gêneros de
filmes, no entanto, percebemos que para a produção de filmes Blockbuster os Estados Unidos são
especialistas. Desta forma, segundo João Guilherme Barone (2008) é possível verificar que o
mercado nacional de cinema é dominado pelas distribuidoras norte-americanas que formam o
segmento mais capitalizado da indústria em escala global. São elas ainda, as detentoras dos
direitos de comercialização14
dos filmes e que atuam também no financiamento à produção.
Ainda segundo o autor,
14
Os direitos de comercialização são referentes às licenças que toda a produção cinematográfica necessita para
circular, ser apresentado dentro de um país.
44
Em 2005, as chamadas majors, Warner Bros., BuenaVista, Columbia Tristar, Fox,
Universal (UIP) e Sony controlavam 86% do mercado de distribuição. [...] São as
grandes produtoras do cinema global e são também as principais coprodutoras do cinema
brasileiro. E em seu mercado doméstico, constituído por mais de 39 mil salas no
território norte-americano, as major arrecadam meros 35% das receitas dos filmes que
distribuem. Os 65% restantes são arrecadados numa operação planetária de lançamentos
de grande porte, o que explica a hegemonia do audiovisual norte-americano (BARONE,
2008, p.09).
Conforme aponta Barone as empresas de cinema majoritárias são a Warner Bros.,
BuenaVista, Columbia Tristar, Fox, Universal e a Sony. São elas as grandes produtoras do
cinema mundial e as responsáveis pela grande percentagem da renda de cinema mundial. E foi
devido, a sua potencialidade em produções de audiovisuais que o cinema norte-americano,
apresentado principalmente por Hollywood, tornou-se fonte inesgotável de mitos e modas
(ARBEX, 1993) e impôs um formato de filmes quase único com produções de mais de 10
milhões de dólares - nas quais mais da metade destina-se ao marketing, principalmente
representado pelos gêneros de ação, promovendo temas de fácil repercussão em todos os
continentes (CANCLINI apud MACHADO, 2009, p.85).
A trajetória construída pelo cinema norte-americano ao longo do século XX influenciou
as cinematografias de diversos países, os hábitos de percepção de filmes no mundo todo
(MACHADO, 2009). Esta trajetória da história do cinema americano, que se tornou esta forte e
dominante indústria, ocorreu, porém, devido a anos de produções, inovações e crises. Mas
devemos lembrar ainda que aspectos como o enfraquecimento da produção filmográfica de seus
concorrentes, principalmente a Europa, e a influência do governo na produção dos seus filmes
também colaboraram para que os Estados Unidos se tornassem o mais robusto mercado de
audiovisual do mundo, difundindo sua cultura, seus produtos e marcas em escala global como
observamos nesta parte do trabalho.
Ao estudarmos a indústria de cinema norte-americana, descrita de forma breve,
obtivemos a percepção do valor do cinema americano. Conseguimos então, verificar a veemência
das suas produções que criam e difundem imagens, símbolos e mitos em seu país e em outros
países como Japão, França, Itália, Brasil entre outros países, oferecendo-nos base referencial para
a compreensão e afirmação da importância do estudo realizado no próximo tópico: O cenário
brasileiro em filmes norte-americanos.
45
1.5 O CENÁRIO BRASILEIRO EM FILMES NORTE-AMERICANOS
Como anteriormente apontado, o cinema americano é uma indústria forte e dominante
que difunde por meio de suas produções aspectos culturais, sociais e políticos do seu país.
Também cria imagens, símbolos e mitos que são muito aceitos pelo mundo, mesmo que estas não
sejam verídicas. Detentoras das maiores distribuidoras de cinema, os Estados Unidos produzem
filmes que são vistas e apreciadas por todo o mundo. Desta forma, verificamos a importância de
entendermos qual a imagem passada pelos filmes norte-americanos a respeito do Brasil.
Neste tópico: O cenário brasileiro em filmes norte-americanos, observaremos e
discutiremos a imagem turística transmitida pelos filmes estadunidenses a respeito do Brasil.
Consultando principalmente a bibliografia de autores como Bignami Sá (2002), Tunico Amancio
(2000), o documentário de Lúcia Murat (2005), e algumas produções filmográficas norte-
americanas, tentaremos compreender quais são as imagens turísticas atribuídas como
representativas do Brasil.
O Brasil, desde a sua descoberta até o século XIX teve sua imagem associada à grandeza
de território, abundância de vida selvagem e sensualidade como dotes naturais, graças aos relatos
descritos pela carta de Pero Vaz de Caminha e outros tantos viajantes e colonizadores que por
aqui passaram (NOVA, 2008). Segundo Bignami Sá tais relatos foram importantes para a
formação da identidade nacional, pois,
[...] alguns dos enunciados que hoje identificam a nação nada mais são do que cópias de
falas já presentes no descobrimento do País. Na realidade, se pode afirmar que algo
mudou, fundamentalmente, foram os sentidos dados às categorias que representam o
Brasil. Ou seja, de País selvagem do século XVI, devido à crença de populações canibais
no território, passou-se a acreditar no País selvagem, devido, à violência urbana; de Éden
primordial e natural, dos primeiros relatos, o País passou a ser reconhecido como lugar
sensual, pelas belezas naturais e pelas mulheres e cultura exótica (SÁ, 2002, p.37).
Conforme salienta Sá, as imagens existentes a respeito do país não mudaram, elas
apenas ganharam uma nova versão, um sentido diferente da época dos colonizadores associada
46
com a nova realidade. Por exemplo, quando afirmam que o Brasil é o Éden, a metáfora não mais
se relaciona a beleza da natureza, mas a da sensualidade da mulher brasileira.
Nos discursos a respeito do Brasil produzidos durante o período do século XIX e início
do século XX, a imagem do país irá gradualmente modificar-se para um país cada vez mais
relacionado com o lugar do exótico na cidade e na cultura, da floresta e das paisagens naturais e
das urbanas, da fertilidade e fecundidade, representadas tanto pela natureza como pela população.
Verificamos que, até o início do século XX, as artes e os relatos de viajantes correspondem
praticamente à totalidade de opiniões a respeito do País no exterior. Somente com o cinema e
com a introdução do rádio e da televisão, é que o País iniciou sua trajetória de difusão da sua
cultura, objetivando a divulgação do Brasil para o mundo (SÁ, 2002).
Na década de 1930, por meio do rádio, criou-se uma das personalidades que durante
muitos anos, atuou e ainda atua como símbolo do Brasil no exterior: Carmen Miranda conhecida
como “A pequena notável” (SÁ, 2002), um ícone do período. Em 1939, no filme “Banana da
Terra” (BRA, 1939), onde se vestia de baiana, interpretou com o Bando da Lua, “O que é que a
Baiana tem?” de Dorival Caymmi (SÁ, 2002). A artista saltou do teatro para o cinema, estreando
a produção norte-americana “A Serenata Tropical” (EUA, 1940) (NOVA, 2008).
Elementos como: Carmen Miranda, a publicação do livro O país do Carnaval de Jorge
Amado (1931) e o acontecimento do primeiro concurso de Escolas de Samba, no Rio de Janeiro
(1932) levaram a nação brasileira a ser conhecida pela sua sensualidade, sua musicalidade e pelo
seu carnaval. Essas representações foram exacerbadas, por intermédio de clichês veiculados
principalmente no cinema e nos meios de comunicação, como o rádio e televisão (SÁ, 2002).
Durante décadas, Hollywood promoveu imagens equivocadas do Brasil. No início da
década de 1930, filmes como “Voando para o Rio” (EUA, 1933) protagonizado pela mexicana
Dolores del Rio retrataram o país de maneira tão sedutora e exótica que a América Latina, como
um todo tornou-se sinônimo de objetos sexuais tentadores (KOTLER et al., 2006). Nessa mesma
época o Rio de Janeiro, muito presente nos filmes estrangeiros, “já fazia parte das cidades
turísticas visitadas no mundo, sendo a sua paisagem, sem dúvida alguma, uma das mais
representativas do País” (SÁ, 2002, p. 97).
Durante a Segunda Guerra Mundial, quando Franklin Delano Roosevelt era presidente
dos Estados Unidos (1933- 1945) foi criada a “política da boa vizinhança”. Esta significava o fim
da política de intervenção, o big stick de Theodore Roosevelt. Tal política reconhecia a igualdade
47
jurídica entre as nações do continente, além de propor a cooperação por todos os meios para o
bem-estar dos povos da América (AMANCIO, 2000). O principal objetivo norte-americano por
meio dessa política era a de conseguir o apoio latino-americano para as Forças Aliadas na
Segunda Guerra Mundial.
Em 1942, depois da visita de Walt Disney ao Brasil foi criado o personagem animado
“Zé Carioca”, um papagaio verde do Rio de Janeiro, fruto da “política de boa vizinhança”
instaurada entre o Brasil e os EUA que tinha por objetivo, segundo o governo brasileiro, dar
visibilidade ao país (BRASIL, 2006). Contudo, o personagem criado por Disney é caracterizado
como “malandro, folgado, golpista querendo enganar a todo mundo, passar cheques sem fundos”,
formando uma imagem negativa que aos poucos foi se impondo ao brasileiro de um modo geral
(SÁ, 2002).
Nesse período, o da Segunda Guerra Mundial, Hollywood produziu vários filmes
focalizando a América Latina, em razão da mesma política. No Brasil foram produzidos filmes
como os desenhos animados de Walt Disney “Alô Amigos” (EUA, 1941) e “Você já foi a
Bahia?” (EUA, 1944). A produção desses filmes foi a única intervenção direta conhecida, embora
na grande indústria houvesse uma promessa concreta de estímulo à cooperação interamericana
por meio de filmes (AMANCIO, 2000, p.55).
Segundo Bignami Sá, as artes e o cinema contribuíram para a difusão da América Latina
e para a proximidade com a América do Norte. No entanto,
[...]Não faltam, às representações da época, erros ou imprecisões que viriam a abrir os
precedentes para toda uma série de “gafes” a respeito de lugares, países ou fatos
relacionados à América do Sul, como confundir o Brasil com a Argentina, afirmar que
Buenos Aires é a capital do Brasil, ou que rumba é nossa (SÁ, 2002, p.97).
Como afirma Sá, podemos observar que países da América do Sul, como o Brasil
passam a ser conhecidos principalmente por meio dos audiovisuais. No entanto, as representações
criadas pelos filmes, a respeito dos países da America do Sul, são em muitos casos errôneas, pois
agregam em um só país representações que caracterizam vários, como, por exemplo, afirmar que
Buenos Aires é a capital do Brasil, ou considerar que a língua falada no Brasil é o espanhol.
Outro exemplo de imagem equivocada transmitida pelo cinema é constatado no filme americano
“Brenda Starr” (EUA, 1988). O filme dirigido por Robert Ellis Miller e protagonizado por
Brooke Shields conta a história de uma heroína de quadrinhos que vem para o Brasil. O filme
48
contextualizado no Brasil possui personagens brasileiros que falam espanhol ao invés de
português e mostra cenas onde capoeiristas ajudam a heroína a fugir dos antagonistas em plena
selva amazônica montada em jacarés (AMANCIO, 2000). Segundo Miller, “Brenda Starr” (EUA,
1988) é baseada numa história em quadrinhos de jornal, por esse motivo pode ser visto absurdos
como o relatado acima (OLHAR, 2005). Apesar de ser um filme de fantasia, o filme pode levar
aos espectadores a acreditarem que essas são imagens reais do Brasil, por mais que seja baseado
em uma história de quadrinhos.
Em “Próxima parada, Wonderland” (EUA, 1998), do diretor Brad Anderson, também se
observam alguns equívocos a respeito do Brasil. O filme protagonizado pela atriz Hope Davis
possui uma cena onde aparecem mulheres fazendo topless como se fosse normal no país. Outro
aspecto enganoso é constatado em uma cena onde a protagonista é convidada pelo suposto
brasileiro para ir à praia dentro da cidade de São Paulo (OLHAR, 2005). Percebemos que a
imagem aqui apresentada pelo diretor demonstra o seu desconhecimento a respeito da cultura
brasileira e principalmente da cidade de São Paulo, uma vez que, é inimaginável a existência de
uma praia, em um centro urbano como São Paulo.
Antonio Carlos Amâncio da Silva analisou em sua tese de doutorado: “Em busca de um
clichê: Panorama e paisagem do Brasil no cinema estrangeiro”, vários filmes, entre eles 88 filmes
americanos, 43 franceses, 19 italianos, 16 ingleses, 8 alemães, 4 espanhóis e 3 argentinos entre
outros. Segundo a análise de Silva, as imagens mais presentes nos filmes são:
[...] o de um Brasil sensual e o de um Brasil exótico. O exótico se revela quase sempre
por meio de rituais do tipo ancestral. Em “O Mistério da Ilha de Vênus” (EUA, Douglas
Fowley, 1960), por exemplo, observam-se estranhas cerimônias de possessão, princesas
vodu que se transformam em cobra, rituais afro-brasileiros como balé moderno e
sacrifício humano. No título original, “Macumba Love”, já se encontra expresso o desejo
do exotismo. Muitos outros filmes irão concorrer na apresentação de cerimoniais de
antropofagia, barbarismo, demonismo, com cenas de mutilações, castrações e sadismo.
Há também uma predominância da imagem do Rio de Janeiro como representação
urbana do Brasil, em cuja caracterização é valorizada a paisagem, seus recursos naturais
(praias, floresta tropical etc.) e alguns aspectos culturais, sobretudo o carnaval (apud SÁ,
2002, p.99).
Conforme a citação, podemos concordar que o Brasil é apresentado de uma forma
sensual, representado pela mulher brasileira, e exótica, que sempre se alia ao excêntrico, com
rituais de barbarismo, cenas de mutilações entre outros. Concordamos também com a afirmação
de que o Rio de Janeiro é muito representado nos filmes como uma cidade de grandes belezas
49
naturais. Mas também devemos lembrar que o Rio de Janeiro também é apresentado por uma
imagem de um Brasil urbano e violento.
O Rio de Janeiro é cenário de muitos filmes norte-americanos, alguns exemplos são:
“Voando para o Rio” (EUA, 1933), “Feitiço no Rio” (EUA, 1984), “Orquídea Selvagem” (EUA,
1990), (EUA, 2001), “Turistas” (EUA, 2006), “O Incrível Hulk (EUA, 2008), “Os Mercenários”
(EUA, 2010), “Velozes e Furiosos 5” (EUA, 2011), “Amanhecer” (EUA, 2011) da saga
“Crepúsculo” e a animação “Rio” (EUA, 2011) (SANTOS, 2011). Em algumas destas películas a
cidade do Rio de Janeiro faz parte do contexto da história do filme, como é o caso de “Velozes e
Furiosos 5” (EUA, 2011). Em outros, porém, o Rio é utilizado somente como cenário, por
exemplo em “Mercenários” (EUA, 2010).
Sá (2002) afirma que durante a década de 1960, vários filmes estrangeiros utilizam
paisagens ou cenas brasileiras e que na maioria desses filmes o que vemos são imagens vulgares
como as praias, o carnaval, a floresta amazônica e mulheres nuas. E essas imagens continuam a
aparecer nos filmes das décadas posteriores. No cinema norte-americano, também observamos a
apresentação dessas imagens, praias, carnaval, floresta amazônica e mulheres sempre bonitas e
sensuais. Este último item podemos avistar e exemplificar no filme “Feitiço no Rio” (EUA,
1984).
“Feitiço no Rio” (EUA, 1984) do roteirista Larry Gelbart, conta a história de um
homem que viaja a passeio para o Rio de Janeiro e se apaixona pela filha do seu melhor amigo.
No filme, que possui no elenco a atriz Demi Moore e o ator Michael Caine, há exposição de
clichês abordados em muitos outros filmes norte-americanos como: a sensualidade das mulheres
brasileiras, fazendo topless na maioria das vezes, e o exotismo do país. Este último aspecto o
exótico, podemos constatar em duas cenas: na primeira onde aparece uma mulher se bronzeando
na praia do Rio de Janeiro com um macaco em seus ombros, e na outra onde há a demonstração
de um ritual de casamento, onde uma baiana queima o véu de uma noiva e joga-a no mar.
Precisamos nos atentar que as duas cenas fatos incomuns, como se estes fossem hábitos comuns
entre os brasileiros (OLHAR, 2005).
A imagem da mulher brasileira também é muito presente nos filmes norte-americanos.
Sempre apresentada de forma sensual, às mulheres brasileiras são destaque pelas suas belas
formas corporais. Alguns exemplos que explicitam este aspecto da sensualidade feminina são
encontrados nos filmes “Lambada a dança proibida” (EUA, 1990) e “Sabor da Paixão” (EUA,
50
2000), abordados na íntegra no próximo capítulo, e de forma mais erótica no filme “Orquídea
Selvagem” (EUA, 1990). Neste o diretor Zalman King utiliza-se de elementos da cultura africana
para dar sensualidade aos seus personagens. O filme narra à história de uma jovem contratada por
uma importante corretora de Nova York que em uma viagem de negócios para o Rio de Janeiro,
conhece um homem enigmático que a envolve em um jogo de sedução. O filme que apresenta
ritos orgiásticos teve locações no Brasil, e tem como contexto o Rio de Janeiro com elementos da
Bahia (SANTOS, 2011). Zalman King justifica a mescla dos elementos baianos no Rio de Janeiro
da seguinte forma: “[...] Eu queria fazer um Rio imaginário, é verdade. O Rio mostrou ser outra
cidade, não a que estava na minha imaginação. Mas quando fui à Bahia vi elementos que eu
achava que deveriam estar no Rio. O Rio da minha cabeça combinava essas duas cidades15
”.
Compreendemos a justificativa de Zalman King (2005), no entanto, precisamos observar
que alguns elementos são determinantes da imagem de uma cidade, ou seja, caracterizam a
imagem de um local, como por exemplo, o Cristo Redentor que nos remete a imagem da cidade
do Rio de Janeiro. Desta forma, entendemos que tal filme elimina os aspectos culturais que
diferenciam as cidades tornando confusa a imagem do Brasil e muitas vezes criando um lugar
ilusório, neste caso um lugar que satisfaça os desejos sexuais podendo atrair um determinado tipo
de turismo, como o turismo sexual.
Observando as produções filmográficas norte-americanas percebemos ainda que poucas
são as cidades conhecidas e representadas em seus filmes. A cidade do Rio de Janeiro, por
exemplo, foi cenário de grande parte das obras citadas. Da mesma forma são muito representados
nos filmes americanos a região Nordeste e o estado da Bahia. Podemos descrever então as
principais cidades que aparecem nos filmes norte-americanos e como são apresentadas suas
imagens.
O Rio de Janeiro é a cidade que mais aparece nas películas norte-americanas e é
apresentada na maioria das vezes de forma sensual e maravilhosa, porém onde se encontram
inúmeras favelas e um grau de violência elevada. São Paulo é conhecido como a grande
metrópole, no entanto, em muitos casos são confusos as imagens que os americanos possuem
desta cidade. Como observamos em “Próxima parada, Wonderland” (EUA, 1998), onde o
personagem que representa um brasileiro malandro convida a protagonista para ir a São Paulo
15
Cf. OLHAR estrangeiro: um personagem chamado Brasil, Dir. Lúcia Murat, Rio de Janeiro, 2005, Flash 29. M 70.
Informação verbal: Zalman King.
51
“pegar uma praia”. A Bahia possui uma imagem mística e religiosa, especialmente Salvador,
conhecida pelos orixás, deuses da água e do fogo. A paisagem baiana é cenário do filme “Sabor
da Paixão” (EUA, 2000) protagonizado pela atriz Penélope Cruz, com participações de
brasileiros como Murilo Benício, Wagner Moura e Lázaro Ramos. A Amazônia é paisagem para
os filmes americanos, pois remete imagens exóticas com seus mitos, grandiosidade e descrições
bizarras como: “[…] árvores que caminham, plantas e animais monstruosos e sobrenaturais […]
Pássaros que podem levar à loucura, vampiros que adormentam suas vítimas com o bater das asas
[…] Cobras gigantes entre outros”. “Anaconda” (EUA, 1997) protagonizada pela atriz e cantora
Jennifer Lopez é um dos filmes que se utilizam da paisagem Amazônica (NOVA, 2008). Outra
cidade muito utilizada nas produções Hollywoodianas é Foz do Iguaçu. Por ser sede das Cataratas
do Iguaçu16
, esse local já foi utilizada como cenário para diversos filmes como “007 Contra o
Foguete da Morte” (ING, 1979), “A Missão” (ING, 1986), “A Saga” (EUA, 2003), “Indiana
Jones e o Reino da Caveira de Cristal de Steven Spielberg” (EUA, 2007) entre outros
(ALFONSO, 2006). A maioria desses filmes utilizou a imagem das Cataratas apenas como
cenário de seus filmes.
Entre as imagens reforçadas pelo cinema encontramos ainda aquele de um Brasil
“localidade de fuga”, associada à figura histórica de Afonso Ribeiro, que seria a síntese alegórica
de todos os degradados que vieram para o Brasil, por opção ou necessidade de fuga. Afonso
Ribeiro foi um jovem camareiro português condenado à morte em sua pátria que foge para o
Brasil em busca de salvação (AMANCIO, 2000). Portanto, nos filmes americanos os degradados
ou bandidos fogem para o Brasil, mais especificamente para o Rio de Janeiro, capital que tem a
imagem de abrigo da contravenção internacional, uma cidade que é a representação urbana do
Brasil com: a mulata, o sambista, a mãe de santo e o malandro, permeados de problemas sociais
como drogas, prostituição, violência, a polícia e delinquência infantil (SILVA apud SÁ, 2002).
A diretora do documentário “Olhar estrangeiro: um personagem chamado Brasil” Lúcia
Murat comenta que em mais de 40 filmes estrangeiros, os bandidos fogem para o Brasil. Em
“Primavera para Hitler” (EUA, 1968), por exemplo, há a seguinte citação de um dos personagens
16
As Cataratas são formadas pelas quedas do Rio Iguaçú. O Rio Iguaçú mede 1200 metros de largura acima das
Cataratas (CATARATAS DO IGUAÇÚ, 2011). As Cataratas possuem 275 quedas d´àgua ao longo do Rio. Uma das
quedas em forma de U tem 82 metros de altura, 150 metros de largura e 700 metros de comprimento. Atualmente
(2011) as Cataratas estão participando da campanha mundial das Sete Novas Maravilhas da Natureza, organizada
pela Fundação Wonders e estão entre as 28 finalistas (WIKIPÉDIA, 2011).
52
da trama: “Pegamos o nosso milhão de dólares e voamos para o Rio de Janeiro” 17
(OLHAR,
2005).
Segundo Sá (2002) o Brasil possui uma imagem impresumível devido principalmente à
imprensa estrangeira, que se limita a divulgar aspectos negativos da sociedade brasileira, uma
representação clichê a respeito do país que por consequência diminui o número de turistas que
chegam ao país. A respeito da imprensa estrangeira, John Swarbrooke observa que nos guias de
turismo podemos encontrar informações a respeito da violência no Brasil e que isso acaba
gerando uma imagem negativa do país. Ainda segundo o autor alguns guias alertam aos turistas
que o Rio de Janeiro é uma cidade violenta, por isso deve ser evitada (apud NOVA, 2008).
Concordamos com os dois autores a respeito da imagem que a imprensa transmite do país, que
em muitos casos são somente, as imagens negativas, mas não podemos generalizar, pois também
notamos que algumas imprensas, principalmente as especializadas em turismo, revelam aspectos
positivos da cultura brasileira.
Conforme o ator Michael Caine esses clichês a respeito do país são, devidamente
merecidos, pois,
[...] O Brasil [...] Produz mais pessoas bonitas que qualquer outro país. São clichês e, se
vocês querem ser tratados mais seriamente, deviam dançar menos e ficar mais feios. Aí
todo mundo vai tratá-los seriamente. Afinal, não dançamos assim e somos muito feios
no meu país [...] E todos nos tratam muito seriamente18
.
Segundo Louise Prado Alfonso (2006) a imagem dos norte-americanos na década de
1970, a respeito do Brasil pode ser constatado na pesquisa reproduzida pela EMBRATUR e
divulgada pelo Jornal do Brasil, onde
[...] Os resultados, além de importantes, pois nortearam as campanhas publicitárias dos
anos seguintes, são interessantes: quando questionados acerca das primeiras imagens que
vinham à mente quando se falava em Brasil, os norte-americanos responderam que, em
primeiro lugar, estaria o café, seguido das grandes fazendas e outros produtos agrícolas
(castanhas, banana, cacau etc.). Em terceiro lugar ficaria a musicalidade brasileira
(Carnaval, samba, Bossa Nova), seguida da natureza (florestas virgens, rio Amazonas,
17
Cf. OLHAR estrangeiro: um personagem chamado Brasil, Dir. Lúcia Murat, Rio de Janeiro, 2005, Flash63. M70. 18
Cf. OLHAR estrangeiro: um personagem chamado Brasil, Dir. Lúcia Murat, Rio de Janeiro, 2005, Flash14.
M70min. Informação Verbal: ator Michael Caine.
53
flores exóticas, animais selvagens), e por último, estaria Brasília, cidade moderna,
construída no meio da floresta (ALFONSO, 2006, p. 84).
Compreendemos que nos resultados das imagens captadas pelo americano conste
primeiramente a imagem do café, visto que o Brasil ficou conhecido internacionalmente pela sua
grande produção de café, desde 1885 e pela crise do café ocorrida em 1929 e 1930. A imagem da
musicalidade, representada pelo carnaval, devido a grande difusão na mídia tanto nacional quanto
na estrangeira. A imagem da natureza sempre foi muito difundida. E o conhecimento da imagem
de Brasília pode ter aparecido na pesquisa, devido, a cidade ainda ser recente naquela época, pois
a cidade havia sido inaugurada em 1960.
Ainda segundo a pesquisa, 73% dos entrevistados não souberam citar qualquer nome de
brasileiro famoso a outra parcela citaram primeiramente Carmem Miranda e Sérgio Mendes, que
eram sucessos nos EUA. Pelé já era, na década de 1970, um nome que merecia destaque mundial,
por conta de seu desempenho no futebol internacional; o quarto “brasileiro” mais conhecido seria
Simon Bolívar, o que demonstrava o grau de desconhecimento dos norte-americanos
(ALFONSO, 2006).
Com o passar dos anos além das imagens muito difundidas, carnaval, mulher, Rio de
Janeiro, também foi se intensificando a imagem de um Brasil violento. O Brasil foi apresentado
por algumas imprensas de 1990, como sendo um país violento, corrupto, economicamente
dependente e inadequado nas suas políticas. Em contraposição a imprensa especializada no
turismo, busca retratar uma imagem atrativa fundamentada nas categorias que ao longo dos
séculos foram sendo determinadas. Muito embora exista uma tendência de retratar o País por
meio de contrastes, com imagem repulsiva ou imagens atrativas, algumas categorias irão permear
todos os tipos de discursos, como é o caso da sensualidade, do elemento exótico ou místico e do
carnaval (SÁ, 2002). Em filmes Hollywoodianos, por exemplo, é perceptível como o Brasil
possui poucas variações de representações (sempre a sensualidade das mulheres, carnaval, Rio de
Janeiro, futebol, violência e pobreza). Como afirma o roteirista do filme “Feitiço no Rio” (EUA,
1984) Larry Gelbart:
Por um lado, as pessoas ficam felizes se o país delas é representado de alguma maneira.
Por outro lado, quando se torna um clichê, uma única nota, o mesmo papel em todos os
54
filmes, ou seja, franceses são maitrês, aquele é sempre nazista, acaba se tornando
prejudicial ao ator e a cultura que ele representa 19
.
Conforme as palavras de Larry Gelbart, qualquer representação do país seria motivo de
felicidade para seus habitantes, no entanto, quando a imagem representada for sempre à mesma
pode se tornar um empecilho para o desenvolvimento do país. Compreendemos, porém que se a
imagem apresentada forem imagens verídicas e/ou positivas, acerca de um país esta será mais
uma forma de divulgação da cultura e, portanto, motivo de felicidade para seus habitantes.
Devemos aqui enfatizar que as imagens representadas nos filmes americanos são sempre
as mesmas, mas poderiam ser retratadas de forma diferente, de modo a compreender os aspectos
culturais, sociais e políticos mais a fundo. No entanto, esta não seria exatamente a intenção do
cinema americano, ou de outras indústrias cinematográficas, uma vez que, o cinema é uma
“atividade que trabalha com a distribuição e a exibição e que privilegia, prioritariamente, o
atendimento a um público imenso e heterogêneo” (SILVA, 1998, p.242-243). Ou seja, é uma
atividade com objetivo meramente comercial, que produz filmes com o intuito de maximizar a
rentabilidade do capital investido. Desta forma, compreendemos que provavelmente os filmes
americanos retratam o Brasil com imagens sempre conhecidas devido à necessidade de atuar com
a repetição de fórmulas de sucesso. Preferem, portanto, produzir filmes que alcancem uma maior
demanda de espectadores e consequentemente maior lucro de bilheteria.
Observamos no percurso deste texto que o cinema pode fornecer a imagem de um lugar,
em geral bem definida na mente da maioria dos consumidores. Alguns exemplos podem ser aqui
citados: a África que é associada a safáris, a Argentina ao tango, a Austrália aos cangurus e o
Brasil ao carnaval. No entanto, na África não existe somente os safáris, tampouco o Brasil é um
lugar somente com carnaval, mas a imagem, neste caso, é aquela que coincide com a maioria das
representações na mente dos indivíduos. Observamos então que as imagens contidas nos filmes
americanos, a respeito do Brasil são geralmente as mesmas, muitas vezes equivocadas, negativas
e/ou clichês.
Constatamos, porém que o Brasil é de uma diversidade e de uma adversidade espantosa,
de altos e baixos e extremos radicais. Riqueza, exuberância e miséria. São tantos os aspectos
19
Cf. OLHAR estrangeiro: um personagem chamado Brasil, Dir. Lúcia Murat, Rio de Janeiro, 2005, Flash55. M70.
Informação Verbal: roteirista Larry Gelbart.
55
culturais e sociais que circundam o país que falar sobre o país parece ser fácil, ou seja,
entendemos quando Tom Jobim afirma, que “o Brasil não era para principiantes” justamente
porque os ingênuos “conheciam” o país superficialmente quando, de fato, nossa sociedade é
muito mais complexa, requerendo uma orquestração de muitos domínios para ser mais bem
entendida (MATTA, 2004).
Observamos as imagens apresentadas pelo cinema americano a respeito do Brasil e
concluímos que poderíamos sintetizá-las em algumas palavras: paraíso, sensual e selvagem. O
paraíso estaria ligado primeiramente às belezas da fauna e flora, também poderia ser apresentado
na forma cultural com o samba e o carnaval. O sensual apresentado sempre na figura feminina, na
da mulher brasileira. E o selvagem estabelecido pela violência. Essas imagens não são imagens
errôneas, uma vez que o Brasil realmente possui uma fauna e flora exuberante, festejamos o
carnaval, dançamos samba, temos mulheres bonitas e também convivemos com a violência. No
entanto, não são apenas essas imagens que definem os aspectos culturais, econômicos, sociais e
políticos do país, não podemos generalizar que essas são as únicas representações acerca do país,
pois não é só no Brasil que vimos violência e/ou mulheres sensuais.
Devemos lembrar ainda que essa imagem a respeito do país não foi inserida de um dia
para o outro, nem mesmo construída em um pequeno espaço de tempo. Não foi difundida
somente pela mídia, televisão, rádio. Não são somente os americanos que possuem essas imagens
do Brasil. Essas imagens foram formadas, reformuladas e recebem novas versões de acordo com
o passar dos anos, são representações criadas pelos portugueses, espanhóis, franceses, americanos
entre outros até mesmo por nós brasileiros. Sim, em parte essas imagens reveladas são
responsabilidade dos próprios brasileiros, pois, basta olharmos para as nossas televisões e para o
conteúdo dos programas e percebermos que nós mesmos idealizamos um povo sensual e festeiro.
O povo da “Lei de Gerson”20
, criada pelos próprios brasileiros. O que resulta na dificuldade de
promover alterações na imagem quando de fato algumas características compõem o quadro
cultural. Desse modo é necessário admitirmos que essa imagem está atrelada a nossa identidade
e que as mudanças nessas imagens só ocorreram a partir do momento que valorizarmos mais os
aspetos positivos.
20
Quando afirmamos a respeito da“ Lei de Gerson” a autora quer se referir ao jeitinho brasileiro, ou seja, que para
tudo o brasileiro se encontra um caminho.
56
Compreendemos ainda que, essas imagens negativas, equivocadas e/ou mesmo clichês
podem prejudicar a imagem do país, tendo como consequência a diminuição da demanda de
entrada de turistas no país e atraindo outras indesejáveis, como aqueles que procuram o turismo
sexual. Desta forma, entendemos a necessidade de um estudo a respeito da imagem turística de
um local, visto a importância desta para a promoção de uma localidade e difusão de sua cultura.
Considerando a importância da imagem para um destino abordaremos no segundo capítulo o
estudo a respeito da imagem e da imagem turística de um local, como fator de valor para a
promoção de um destino turístico.
57
II CAPÍTULO – CLAQUETE, AÇÃO!: Metodologia e Construção teórica
No capítulo anterior abordamos os aspectos históricos do cinema, tentamos compreender
a indústria cinematográfica norte-americana e sua importância, e ainda qual a imagem que esta
indústria retrata em suas produções a respeito do Brasil. A partir, destes estudos observamos o
quão importante são as imagens transmitidas por audiovisuais como o cinema. Verificamos,
portanto, a necessidade de entendermos inicialmente a importância da imagem para a promoção
de um destino turístico. Tentaremos ainda, neste capítulo estabelecer a relação da imagem como
promoção de um local com as imagens de turismo evidenciado nos filmes norte-americanos
escolhidos para este trabalho. Com esses estudos objetivamos discutir e compreender por meio
das imagens representadas nos filmes norte-americanos quais as imagens turísticas positivas,
quais as imagens que podem denigrir a imagem do Brasil ou mesmo atrair um turismo
indesejável.
2.1 IMAGEM E TURISMO
Iniciamos o segundo capítulo discutindo questões referentes à imagem e sua abordagem
no âmbito do turismo, procurando entender seus conceitos e a sua importância como
influenciadora dos fluxos turísticos em direção a um destino. Procuramos colaborar para a
reflexão teórica ligada ao estudo das imagens veiculadas pelo cinema norte-americano.
O interesse pela pesquisa e compreensão do construto imagem remonta aos mais antigos
estudos filosóficos. Segundo Machado (2001), o filósofo Platão é quem inaugura a visão que
diferencia o mundo real de sua aparência, ou seja, a verdade da forma como se mostra ou, ainda,
os fatos de sua apresentação (apud ITUASSU; OLIVEIRA, 2004, p.1). A imagem se situa,
portanto, no campo da percepção e envolve aspectos abstratos e subjetivos, o que o torna ainda
mais intrigante. Apesar de o assunto ser objeto de estudo de muitos pesquisadores, ainda possui
lacunas para as quais se faz necessários estudos adicionais. Diante disso, a imagem é pesquisada
sob a perspectiva das mais diferentes áreas do conhecimento, como filosofia, sociologia,
antropologia, semiótica, teologia, comunicação, economia, marketing entre outros (ITUASSU;
58
OLIVEIRA, 2004, p.01). Neste caso o estudo da imagem é abordado no âmbito do turismo, mas
para a melhor compreensão a respeito da imagem, apesar da dificuldade em definirmos o termo, é
imprescindível que compreendamos o seu significado. Segundo o Dicionário Michaelis, imagem
seria um [...]
1.Reflexo de um objeto na água, num espelho etc. 2. Representação de uma pessoa ou
coisa, obtida por meio de desenho, gravura ou escultura. 3. Estampa ou escultura que
representa personagem santificada para ser exposta à veneração dos fiéis. 4.
Representação mental de qualquer forma. 5. Aquilo que imita ou representa pessoa ou
coisa (2000, p.321-322).
A imagem segundo o dicionário possui cinco definições, em uma delas a imagem
significa o reflexo de um objeto qualquer enquanto que, as outras definições apresentam a
imagem como representações, de pessoas, de objetos, da mente, é uma definição um pouco vaga
e que não nos faz compreender ao certo a respeito da imagem, por isso vimos à necessidade de
procurar outras definições como a de Morgan e Pritchard (1998), que definem a imagem como
[...] às representações organizadas de um objeto, uma pessoa ou um lugar a partir de um
sistema cognitivo de um indivíduo e compreende tanto a definição deste objeto, pessoa
ou lugar quanto o reconhecimento de seus atributos. Consequentemente, as imagens
representam constructos mentais, e objetos, povos e lugares estão todos sujeitos a
diferentes imagens. (MORGAN & PRITCHARD apud KAJIHARA, 2008, p.18).
Segundo os autores a imagem é a representação organizada na mente de uma pessoa a
respeito de uma outra pessoa ou de si próprio, de um objeto ou lugar. As imagens, portanto,
seriam as representações construídas na mente de uma pessoa acerca de objetos, povos e lugares,
e devido, a esta representação ocorrer na mente de cada indivíduo, as imagens são distintas uma
das outras. Entendemos desta forma que a imagem é subjetiva e por isso talvez, vemos uma
variedade de imagens a respeito do Brasil, ou seja, para uns o país é um paraíso enquanto que
para outros um local violento. Com outras palavras, mas com o mesmo sentido a autora Bignami
Sá também define a imagem associando-a
[...] a um conjunto de percepções a respeito de algo, uma representação de um objeto ou
ser, uma projeção futura, uma lembrança ou recordação passada. Essas múltiplas
explicações a respeito da imagem nos levam a considerar o quanto ela pode ser dinâmica
e ampla no que se refere a conceito e prática (2002, p. 12-13).
59
Sá também associa a imagem a um conjunto de percepções a respeito de algo, e essas
percepções podem ser do presente, do passado ou do futuro, por esse motivo, a autora afirma que
o conceito e a prática da imagem são amplos e dinâmicos. E é por esse motivo que as pessoas
associam a imagem do país de acordo com aquela ao qual ela viu ou presenciou, por exemplo, se
a pessoa obteve a informação da imagem do Brasil por meio das cartas dos primeiros
colonizadores são essas as imagens que ela associará ao país.
Ainda a respeito do significado de imagem, Barich e Kotler (in Seixas apud
KAJIHARA, 2008) definem-na como a soma de crenças, atitudes e impressões que uma pessoa
ou grupo tem de um objeto, que pode ser uma empresa, produto, marca, lugar ou pessoa.
Contudo, essas impressões podem ser verdadeiras ou falsas; reais ou imaginárias. Ou seja, trata-
se de uma representação subjetiva da realidade, que possui dinamicidade, “pode se alterar no
tempo e no espaço” (SÁ, 2002), ainda que resistente à mudança. E possui importância por
consistir na base a partir da qual atitudes se formarão. E essas atitudes direcionarão a maneira
como o sujeito se comporta em relação ao objeto que originou a imagem. Porém, conhecer a
imagem que alguém tem de um objeto não garante uma previsão de seu comportamento, mas
indica caminhos prováveis de como ele deve agir com relação a esse objeto (ITUASSU;
OLIVEIRA, 2004). Podemos então exemplificar, que se a imagem transmitida pelo cinema
americano a respeito do Brasil tiver somente imagens de mulheres nuas, poderemos atrair um
turismo indesejável, como o turismo sexual, no entanto, não podemos prever que as pessoas que
verificaram essa imagem pratiquem o turismo sexual.
Segundo as informações anteriores podemos entender que a imagem seria uma
percepção, representação ou uma soma de crenças e atitudes a respeito de algo que pode
modificar-se no tempo e no espaço. É uma representação subjetiva da realidade e que
[...] pode ser elaborada ou projetada, de forma intencional, por meio do marketing. O
marketing empresarial foi um dos setores que em primeiro lugar se ocupou da criação ou
da projeção de imagens de produtos de forma declarada, sobretudo com os meios de
comunicação, utilizando recursos como a associação de ideias, ícones, mitos e
estereótipos21
. Uma campanha publicitária pode fazer de um produto novo e
21
Segundo a professora Marina Martinez (2010) define-se estereótipo como sendo generalizações, ou pressupostos,
que as pessoas fazem sobre as características ou comportamentos de grupos sociais específicos ou tipos de
indivíduos. O estereótipo é geralmente imposto, segundo as características externas, tais como a aparência (cabelos,
olhos, pele), roupas, condição financeira, comportamentos, cultura, sexualidade, sendo estas classificações
(rotulagens) nem sempre positivas que podem muitas vezes causar certos impactos negativos nas pessoas. Para a
Wikipédia estereótipo é a “imagem preconcebida de determinada pessoa, coisa ou situação”. É fonte de inspiração de
60
desconhecido, um produto apreciado por um determinado público por lhe terem sido
incorporadas algumas características por meio da repetição de imagens na televisão, na
revista, no jornal e por frases que lhe conferem atributos (SÁ, 2002, p.15).
A imagem, portanto, pode ser criada e difundida para determinados fins, por meio do
marketing. O marketing se ocupa da criação ou da projeção de imagens de produtos, que podem
ser associados a ideias, ícones e mitos com a colaboração dos meios de comunicação. As
campanhas publicitárias utilizam os meios de comunicação para a repetição de imagens do
produto para que a tornem de um produto desconhecido a um apreciado por um determinado
público. Podemos afirmar que meios como este colaboraram na formatação de uma imagem do
Brasil associada ao carnaval e a sensualidade das mulheres, pois muitas campanhas publicitárias
apresentam o país, por meio desta festividade e incentivam o norte-americano pelas belezas das
mulheres brasileiras, muitas vezes apresentadas com biquínis.
Como apontado anteriormente, o conceito de imagem pode ser estendido a diferentes
objetos, produtos, marcas, empresas, pessoas, dentre os quais um país. De acordo com Sá (2002)
a imagem de um lugar é mais complexa, uma vez que não se encontra inserida em um contexto
limitado, social e historicamente. O processo de construção da imagem de uma nação envolve a
assimilação de informações, verdadeiras ou não, geradas e difundidas pelas mais diversas fontes,
neste caso o cinema, a respeito de crenças, figuras nacionais, fatos históricos entre outros, por
meio de diferentes processos. A autora ainda afirma que a imagem consiste, então, numa síntese
das ideias que se repetem nas falas de diferentes interlocutores e que, por acúmulo, irão
caracterizar uma localidade. Por exemplo, ao observarmos nos filmes americanos as imagens que
aparecem a respeito do Brasil, verificamos que em muitos casos são imagens de mulheres
sensuais, carnaval, Rio de Janeiro e a beleza da natureza, consequentemente poderão ser essas as
imagens que identificarão o país.
A imagem de países recebeu significativa importância com a globalização e o aumento
da competitividade no âmbito internacional, ocorrido nos últimos anos (PAPADOPOULOS;
HESLOP apud ITUASSU; OLIVEIRA, 2004, p.06). Kotler afirma a esse respeito que
muitas piadas, sendo algumas de conteúdo racista, como as que relacionam os judeus à avareza, os negros à
malandragem e os portugueses à falta de inteligência. O estereótipo, então, pode estar ligado diretamente ao
preconceito e não deixa de andar lado a lado muitas vezes com o clichê.
61
[...] as localidades estão concorrendo cada vez mais entre si para atrair turistas, negócios
e investimentos externos, além de promover os produtos que exportam. Além disso, o
crescente número de empresas multinacionais e a proliferação do comércio internacional
indicam que essa competição continuará se intensificando, o que torna necessário aos
profissionais de marketing ampliar seu repertório de instrumentos que lhes possibilitem
colocar seus países e produtos numa posição mais favorável em termos mundiais (apud
ITUASSU; OLIVEIRA, 2004, p.06).
Com a globalização os destinos turísticos estão concorrendo cada vez mais entre si e
futuramente essa concorrência será mais acirrada, devido ao aumento no comércio internacional.
Portanto, é necessário que os destinos realizem cada vez mais ações, por meio do marketing, para
que atraiam os turistas para seus países e fazendo- os consumir seus produtos.
Verificamos então que a imagem exerce importante impacto no desenvolvimento de uma
localidade, visto que, ela é uma característica do produto turístico determinante no processo de
decisão de compra do consumidor (SÁ, 2002), pois a imagem é um dos fatores que diferenciam
as destinações de um turista para outro. Desta forma, o estudo da imagem de países, logo é de
extrema relevância, uma vez que podemos por meio dela constatar aspectos como: a atração de
fluxos turísticos, a captação de negócios e capitais no exterior e a expansão das exportações
(ITUASSU; OLIVEIRA, 2004). A imagem é ainda considerada uma das variáveis que
influenciam os fluxos turísticos em direção a um destino, ou seja, imagens turísticas positivas
atrairão turistas, por outro lado, imagens negativas ou mesmo mal planejadas podem trazer sérias
consequências, atraindo turistas indesejáveis, como, por exemplo, aqueles que buscam o turismo
sexual (KAJIHARA, 2008).
Ainda a respeito da imagem de um país ou destino, Cooper afirma que existe dois níveis
de imagem,
O primeiro é a imagem orgânica, que é a soma de toda a informação que tem sido
deliberadamente dirigida pela publicidade ou promoção de um país ou destino. O
segundo nível é a imagem induzida, que se forma mediante uma descrição deliberada e
uma promoção por parte de várias organizações envolvidas no turismo. É importante
distinguir estes dois níveis, já que a imagem induzida é controlável, enquanto que a
imagem orgânica é menos fácil de influir (apud GÂNDARA, 2008, p. 4).
Gândara afirma que a imagem de um país ou destino possui dois níveis: a imagem
orgânica e a imagem induzida. A imagem orgânica seria uma imagem mais ampla, aquela que
possui várias informações a respeito do destino, e é veiculada pela mídia. Entendemos que esta
62
imagem pode trazer representações de um país imaginário, uma vez que muitas vezes a mídia
trabalha para criar uma localidade onde o turista ou consumidor possa sonhar ou fantasiar, desse
modo, vemos que há mais possibilidades da criação de uma imagem prejudicial à localidade.
Enquanto que a imagem induzida, aquela produzida por várias organizações envolvidas no
turismo, a respeito de uma determinada imagem, por ser algo mais centralizado, sem maiores
preocupações em conquistar uma grande demanda de turistas, nos demonstra maior realidade.
Esta imagem pode muitas vezes ser menos atrativa que a formulada pela mídia, porém, serão
constituídas de representações que atraiam determinados tipos de turistas vistos as informações
oferecidas. E a partir da formulação dessas imagens ou mesmo por meio de como é realizada a
divulgação delas que o turista/ consumidor obterá uma imagem positiva, negativa ou mesmo
equivocada dos destinos turísticos.
E a respeito da imagem que o turista pode assimilar de um destino Gândara (2008)
afirma que esta pode ser
[...] uma imagem positiva, uma imagem débil (pouco conhecida, por ser pequena,
carecer de atrativos ou não promover-se), uma imagem negativa, uma imagem mista
(mistura de elementos negativos e positivos), uma imagem contraditória (com pontos de
vista opostos sobre alguns aspectos por parte dos visitantes) ou uma imagem demasiado
atrativa (que possa criar excessiva visitação e expectativas) (GÂNDARA, 2008, p.16).
Conforme Gândara são seis os tipos de imagens que os destinos podem ter: a positiva, a
negativa, a mista, a contraditória e a demasiado atrativa. E a escolha por um destino será avaliado
pelo consumidor a partir de informações que adquiriu nos variados processos de conhecimento e
irá se decidir tomando por base suas necessidades, desejos e possibilidades. Verificamos,
portanto, que são várias as imagens que um turista pode ter de uma localidade e precisamos
observar que da mesma forma que são diversificadas os pontos de vista do turista também são
várias as formas que o turista pode ter adquirido essas imagens, uma vez que a imagem deste
consumidor poderá ser formulada a partir de comentários de amigos, pela leitura de folheteria,
por meio de anúncios publicitários, artigos de reportagens, narrativas em livros ou no cinema
(SÁ, 2002). Convém lembrarmos que os meios de comunicação, como o cinema e a televisão tem
tido uma influência notável no processo de formação das imagens nas sociedades pós-modernas
ou globalizadas (SÁ, 2000), devido talvez a estas estarem mais acessíveis ao público, e terem se
tornado importantes para a vida em sociedade. Percebemos então que dificilmente uma pessoa
63
não terá contato com esses meios de comunicação, uma vez que na maioria das casas observamos
a presença desses meios de comunicação como a televisão.
Segundo Alfonso (2006) esses meios de comunicação em massa, como televisão, cinema
trazem importantes elementos para a criação, a divulgação e a consolidação de uma imagem
turística local, uma vez que, principalmente por atingirem um maior número de pessoas, passam a
serem os maiores divulgadores e consolidadores de imagens. “A imagem tornou-se então,
sinônimo de televisão e publicidade” (JOLY apud BARBOSA, 2001); e a atividade turística não
foge deste contexto, pois se usa, com certa frequência, a imagem mental, aquela que envolve a
criação de uma fantasia ou de um sonho. Logo no caso do turismo a imagem é o principal
instrumento para as vendas, e a decisão de compra do possível turista irá se basear nessas
expectativas, sonhos, fantasias ou em uma imagem construída anteriormente à decisão de
compra, imagens que possui a respeito dos possíveis destinos, ou seja, a imagem turística.
Verificamos ainda que por meio destes meios de comunicação muitas pessoas se inspiram nos
personagens representados nas tramas televisivas ou cinematográficas, procurando muitas vezes
os cenários onde foram gravados essas tramas para comporem suas possíveis aventuras turísticas,
ou seja, no imaginário do potencial turista já existe a imagem turística.
A respeito dessa imagem turística a Organização Mundial do Turismo, OMT (apud
ALFONSO, 2006, p.77) define-a como
[...] apenas uma parte da imagem total de um local, seria a percepção que um turista tem
dos atrativos turísticos locais, desde o patrimônio histórico-cultural, o ambiente físico e
as riquezas naturais até a infraestrutura básica e turística. A imagem turística de um local
seria uma projeção mais ou menos fiel da realidade, “Uma aura, um ângulo, uma
construção subjetiva”, formada por várias representações, muitas vezes pré-existentes,
selecionadas pelo divulgador da imagem em questão, por sua vez, não apenas definida,
avaliada e comparada, mas também manipulada, modelada e alterada por seu divulgador
(OMT apud ALFONSO, 2006, p.77).
Entendemos que em alguns casos a imagem turística pode estar inserida no imaginário
do potencial turista antes mesmo de ele ter consumido o produto, uma vez que este consumidor
pode ter procurado informações nos meios de comunicação, como o cinema. Em outros casos a
imagem turística só será formulada durante e após o consumo do produto, já que o produto
turístico abarca um sistema onde envolve produtos tangíveis como hospedagem, meios de
transporte, o clima, a vegetação e produtos intangíveis no caso os serviços prestados. A imagem
64
que o potencial turista possui dos destinos se diferenciará da imagem do real turista, visto que a
imagem do real turista será a representação do que ele realmente experimentou e não a
reprodução das experiências de outros.
Para Gândara (2008) a imagem é um elemento fundamental na estratégia de marketing
de qualquer destino turístico. E para se produzir um destino turístico competitivo é necessário
considerar aspectos como a qualidade do destino, sua distribuição, sua comunicação e o preço. E
ao se estabelecer a imagem do destino turístico carecemos colocar em destaque características
que o diferencie da concorrência, pois a unicidade trará à localidade maiores possibilidades de
atrair mais visitantes, visto que, estará mais protegido das tendências globalizadoras. Deste modo,
“os diferenciais servirão tanto como componentes da imagem do destino como da identidade da
população local, o que sem dúvida, fortalecerá a imagem e consequentemente a comercialização
do mesmo” (GÂNDARA, 2008, p.10 - 11). Observamos que em alguns casos os profissionais de
marketing trabalham com imagens irreais, por exemplo, paisagens que não constam com a
realidade dos destinos, de modo a atrair os potenciais turistas, esquecendo-se das características
que tornam as localidades distintas umas das outras. Desta forma, verificamos que em muitos
casos o marketing cria elementos que compõem a tendência do período e não elementos
característicos dos destinos.
Alfonso (2006) lembra ainda que a imagem que os cidadãos possuem de seu país
também é um componente importante na escolha dos elementos que formarão a imagem turística
nacional, uma vez que, o emprego de traços de uma identidade já existente torna mais imediato a
identificação do local, tanto pelo visitante como pela própria população, o que,
consequentemente, facilita o processo de consolidação, manutenção e divulgação da imagem
turística. Devemos enfatizar que “a imagem é a causa da decisão de compra, da satisfação e da
possível repetição do destino turístico” (GÂNDARA, 2008, p.06), portanto é de grande
importância ressaltar que existem algumas características da imagem que podem levar a
simplificação e generalização das localidades, estas são as imagens denominadas estereótipos.
Kotler e Gertner (apud KAJIHARA, 2008, p.19) acreditam que tais características muitas vezes
não passam de simplificações que não necessariamente correspondam à realidade do local. Pois,
“geralmente são informações desatualizadas, baseadas em exceções ao invés de padrões e
interpretações ao invés de fatos. Essas imagens podem vir à tona pela simples menção do nome”
(KAJIHARA, 2008, p.19).
65
A autora Bignami Sá (2002) tenta explicar como surge essa imagem estereotipada no
seguinte trecho.
[...] o olhar do observador irá reproduzir o objeto observado de maneira como ele
entendeu e aprendeu, mediante suas imagens já constituídas e memorizadas em seu
processo de aprendizagem. Reconhecerá, também, partes do objeto, selecionando-as e
tomando o objeto completo pelas partes que ele consegue verificar. Assim sendo,
podemos supor que se em determinado momento histórico houve a difusão de uma ideia,
de um fato, ou mesmo a repercussão de um produto cultural, entre uma nação e outra
pode existir a possibilidade dos indivíduos na nação receptora tomarem tal fato pela
maioria, nesse caso, pode estar surgindo um estereotipo (SÁ, 2002, p.16).
Conforme Sá, as pessoas reproduzem os objetos que observaram, da forma como
compreenderam e aprenderam e reconhecem somente algumas partes que conseguiram assimilar
dos objetos que observaram. O estereótipo seria então essa difusão de uma ideia, de um fato de
um indivíduo tomado pela maioria. Antônio Carlos Amâncio da Silva (1998) expõe que o
estereótipo desempenha para um Leitor - Modelo, “o papel de um cenário pré-existente, comum,
no sentido de partilhado socialmente e intertextual, um dicionário de base que estabelece uma
competência para decifrar tais cenários” (SILVA, 1998, p. 235- 236). Essa linha de raciocínio
explica, de certa forma, como alguns eventos nacionais acabam se tornando símbolos de toda
uma nação. A propósito o carnaval brasileiro, que não é o único fato cultural existente no país,
no entanto, é uma das mais conhecidas mundialmente e a que denominou a nação como o “país
do carnaval” (SÁ, 2002). No caso brasileiro, é mais simples referenciar aspectos já significativos
e representativos, como o samba, a feijoada, o carnaval, a mulher, do que a outros não tão
conhecidos e divulgados (ALFONSO, 2006).
Devemos compreender ainda, que o Estado é um importante elemento que colabora na
formatação da imagem turística da nação por meio de elementos já disponíveis e criando novos,
por sua vez, também reutilizados por outros agentes (ALFONSO, 2006) como a televisão, a
literatura, a música e o cinema, que são consideradas as principais fontes que definem a imagem
de um destino (SÁ, 2002). Precisamos entender que o Estado também pode ser responsável pela
difusão de uma imagem negativa ou equivocada do país, isto ocorrerá no caso de um
planejamento ineficaz, como foi o caso das primeiras imagens apresentadas pelo Estado brasileiro
a respeito do país. Algumas dessas imagens apresentadas pelo governo brasileiro foram
difundidas em outros países tornando-se imagens estereotipadas. A indústria cinematográfica, por
66
exemplo, foi uma das ferramentas que colaborou na difusão de imagens a respeito do Brasil. E a
respeito da imagem transmitida pelo cinema, Silva (1998) afirma que, os filmes representam o
país de forma,
Atravessada pela banalidade, pelo lugar-comum e pelo preconceito, a imagem do Brasil
e dos brasileiros nos filmes de ficção estrangeiros se ordena segundo articulações
históricas, procedimentos retóricos, simplificações socioculturais. Alguns olhares com
matrizes localizadas (o visitante, o emigrante, o exilado) se expandem e se ramificam em
tipificações redutoras (a mulher sensual, o travesti – sempre ligados a um
transbordamento da sexualidade e a uma regressão patológica ao nível da saciedade dos
instintos primários no contexto de uma provocação social) uma cristalização de um
modelo de comportamento social transgressor (o carnaval e o recurso a práticas
religiosas não tradicionais no ocidente). Do ponto de vista geopolítico, a Amazônia é a
única região que sobrevive no cinema estrangeiro enquanto renovação temática e
singular (SILVA, 1998, p. 237).
Ou seja, o Brasil e os brasileiros são representados nos filmes de ficção estrangeiros,
muitas vezes de forma banal e preconceituosa. São imagens que inicialmente eram apresentadas
na forma do visitante, emigrante e exilado ampliando-se para imagens redutoras da cultura
brasileira, imagens da mulher de forma sensual, do carnaval e das práticas religiosas. Segundo
Silva (1998) a imagem da Amazônia é a única que continua a ser apresentada com o mesmo
sentido. Neste sentido a OMT ressalta a importância do reconhecimento do limite da imagem
turística, pois esta nos recorda que devemos considerar que estas imagens apresentadas pelos
filmes são apenas um aspecto da imagem da nação. E o consentimento do limite dessa imagem
turística possui grande importância, visto que,
[...] ao mesmo tempo em que o turismo tenta passar uma imagem positiva do país, a
mídia, por exemplo, poderá veicular outras imagens, nem sempre positivas. O Rio de
Janeiro pode ser tomado como importante exemplo: sua imagem turística vem sendo
divulgada há décadas, pela exibição e divulgação de belezas naturais, do Carnaval etc.
Porém, concomitantemente vem sendo veiculada uma imagem negativa da cidade, com
destaque para a violência, o que pode influenciar a imagem turística da “cidade
maravilhosa” (ALFONSO, 2006, p.80-81).
Assim sempre haverá um embate a respeito das imagens turísticas, uma vez que poderão
ser divulgadas imagens tanto positivas como negativas acerca de um destino. A mídia possui em
grande parte, responsabilidade pelas imagens transmitidas, desta forma, a imagem que se forma
na mente do potencial turista pode vir em grande parte do material promocional, da opinião de
67
outras pessoas e da mídia em geral. Verificamos, portanto, a importância de um plano de
marketing bem estruturado e que divulgue o país de forma adequada para atrair turistas muito
diferentes daqueles que se sentem atraídos apenas pela sensualidade feminina, por exemplo. Por
esses motivos, observamos a necessidade que os órgãos responsáveis pelo turismo desempenhem
maior esforço no planejamento na transmissão de imagens para seus consumidores (KAJIHARA,
2008).
Observamos que tratar da imagem de um lugar, cidade, estado, país é difícil, uma vez
que esta se resulta de um processo bastante amplo em que entram variáveis como: relações
internacionais, identidade nacional, linguagem, conhecimento, história e meios de comunicação,
entre outros (ITUASSU; OLIVEIRA, 2004). Mas com o trabalho coordenado entre as iniciativas
pública e privada e a comunidade local, baseado no efetivo conhecimento do mercado e do
destino, vemos a possibilidade de se fortalecer e gerir uma imagem capaz de identificar o destino
da maneira desejada por seus habitantes (GÂNDARA, 2008).
Compreendemos no decorrer do texto que a imagem é um termo complexo, por isso
muito estudado nas diferentes áreas do conhecimento, sendo que neste caso a imagem é estudada
no contexto do turismo. Verificamos então que a imagem é uma característica determinante no
processo de decisão de compra do consumidor, do turista é também um dos fatores que
distinguem as destinações de um turista para outro.
Concordamos que com a globalização as localidades estão concorrendo cada vez mais
entre si tornando necessária a ampliação dos repertórios de instrumentos que possibilitem colocar
seus destinos e produtos em uma posição favorável no mercado. Neste contexto os meios de
comunicação como o cinema ganharam uma grande importância, uma vez que meios como este,
colaboram na criação, divulgação e consolidação de uma imagem turística. Entendemos ainda
que a imagem, principal causa da compra e da repetição do destino, pode ser transmitida de
várias formas, positiva, negativa, equivocada, estereotipada, podendo implicar na atração ou
retração na demanda turística. Desta forma, observamos a necessidade de um planejamento
coordenado entre as iniciativas pública e privada e a comunidade local para a criação, formulação
ou modificação das imagens das localidades em vista a atrair potenciais turistas, obviamente
aqueles desejados. Apontamos aqui novamente, que o cinema, seria um bom instrumento para a
divulgação dos destinos turísticos, seja de forma positiva ou negativa. Diante disso, vemos a
68
necessidade de identificar e entender melhor as imagens turísticas do Brasil apresentadas pelo
cinema norte-americano, para verificar como o país é representado.
69
III METODOLOGIA: caminhos seguidos
Após a reflexão teórica da importância da imagem para o turismo iremos neste tópico
então, discutir e analisar algumas questões necessárias para compreender como foram analisados
os filmes norte-americanos que apresentam imagens do Brasil. Devemos entender, porém que são
muitas as produções de cinema que relatam algo a respeito do país, por isso, tentamos estabelecer
um número de filmes a serem analisados e um recorte temporal. Alguns exemplos dos filmes que
tratam a respeito do Brasil são: “Voando para o Rio” (EUA, 1933), “Serenata Tropical” (EUA,
1940), “Alô Amigos” (EUA, 1943), “Você já foi a Bahia?” (EUA, 1945), “O Mistério da ilha de
Vênus” (EUA, 1960), “Feitiço no Rio” (EUA, 1984), “Orquídea Selvagem” (EUA, 1990),
“Próxima parada Wonderland” (EUA, 1998), “O Incrível Hulk” (EUA, 2008), “Os Mercenários”
(EUA, 2010), “Rio” (EUA, 2011) entre outros. Dentre esses e outros filmes que retratam o país
foram analisados apenas cinco filmes: “Lambada a dança proibida” (EUA, 1990), “Anaconda”
(EUA, 1997), “Sabor da Paixão” (EUA, 2000), “Turistas” (EUA, 2006) e o mais recente
“Velozes e Furiosos 5: Operação Rio” (EUA, 2011). O recorte temporal estipulado entre os anos
1990 e 2011, foi em decorrência da necessidade de se entender as imagens mais recentes a
respeito do país. Essas produções foram selecionadas, em vista, destas se encontrarem no recorte
temporal estabelecido e por apresentarem de forma enfática no seu conteúdo narrativo e visual
imagens do Brasil. Outro motivo ao qual escolhemos estas produções foi, devido, ao seu gênero,
pois estas pertencem a gêneros cinematográficos aos quais os norte-americanos são especialistas,
ou seja, gêneros que entram no fenômeno Blockbuster ou “arrasa quarteirão”, estes gêneros são:
drama/ romance, ação, aventura, comédia romântica e terror/suspense. Devemos relatar ainda,
que uma das causas que nos levou a escolha destes filmes foi a facilidade de obtermos esses
audiovisuais.
Na metodologia das ciências naturais os cientistas lidam com objetos externos passíveis
de serem conhecidos de forma objetiva, enquanto nas ciências sociais/ humanas os pesquisadores
devem lidar com emoções, valores, subjetividades. Tal diferença se traduz em diferenças nos
objetivos e métodos de pesquisa (GOLDENBERG, 2009).
Para Max Weber, pesquisador da metodologia científica aplicada ao estudo da
comunicação, o principal interesse da ciência social é o comportamento significativo dos
70
indivíduos engajados na ação social, ou seja, o comportamento ao quais os indivíduos agregam
significados considerando o comportamento de outros indivíduos (GOLDENBERG, 2009). Neste
caso, trata-se, portanto, de entendermos como somos percebidos por outros indivíduos e de
problematizar, numa cadeia de representação audiovisual, por meio do cinema, alguns elementos
recorrentes, que fixam uma determinada imagem do Brasil (SILVA, 1998).
Nas ciências humanas, o homem é, ao mesmo tempo, sujeito e objeto de estudo, o que
torna a pesquisa complexa, desta forma, faz se necessário, o uso de técnicas indiretas de
observação e a construção de métodos próprios, adequados ao objeto a ser estudado (DENCKER;
VIÁ, 2001). Ou seja, nesta pesquisa estudamos o cinema e abordamos as imagens que são as
representações que ocorrem na mente de cada indivíduo a respeito de lugares, objetos e pessoas,
esses são aspectos que possuem grande subjetividade e por isso vimos à necessidade de
procurarmos nossa própria forma de estudo. Desta forma entendemos que para abordarmos o
conhecimento científico a respeito dessa temática é necessário abordar dois conceitos
fundamentais: os métodos e as técnicas.
Segundo Dencker e Viá (2001) os métodos podem ser indutivos; descritivos,
observação sistemática, experimentação de laboratório ou de campo, histórico, diagnóstico entre
outros. No entanto, nesta pesquisa trabalharemos com o método indutivo, aquele que parte de
questões particulares até chegar a conclusões generalizadas. Desta forma partimos da seguinte
questão, a de que em alguns filmes americanos a imagem do país é estereotipada, equivocada e/
ou negativa, mas precisávamos entender se essa questão era uma dúvida particular, o que nos fez
verificar se existiam outros estudos a esse respeito. E por meio de leituras de teses, dissertações e
documentários foi possível identificar que esta questão é realmente ocorrente no país. Para
melhor compreensão a respeito do assunto observamos a importância de analisarmos alguns
filmes, e para a sua realização utilizamos o método descritivo, pois com este método foi possível
revelar de maneira bem próxima a articulação textual dos filmes, nos delegando o mais possível à
tarefa de compor uma análise mais crítica dos filmes abordados.
Dencker e Viá (2001) também afirmam que o emprego do método científico implica na
existência dos seguintes elementos: a hipótese, a observação e registro de dados e a classificação
e organização dos dados que viabilizam a interpretação. Na hipótese operante, que é a proposição
que deve ser demonstrada, propomos que o cinema pode ser utilizado para promover um destino,
uma vez que trabalha com imagens, principal ferramenta do marketing turístico e onde se
71
cristalizam mais eficazmente as imagens que hoje se repetem no vídeo e na televisão. Pensando a
observação e registro de dados, que é realizada por meio de critérios definidos e precisos,
investigamos inicialmente o cinema, a indústria cinematográfica americana, para então
investigarmos as imagens turísticas a respeito do Brasil abordado pelo cinema norte – americano.
Para a Classificação e organização dos dados que viabilizassem a interpretação, escolhemos para
reflexão a respeito das imagens turísticas do país, uma análise mais detalhada de sua ocorrência
em cinco filmes norte-americanos: “Lambada a dança proibida” (EUA, Greydon Clark, 1990),
“Anaconda” (EUA, Luis Llosa, 1997)”, “Sabor da Paixão” (EUA, Fina Torres, 2000), “Turistas”
(EUA, John Stockwell, 2006) e “Velozes e Furiosos 5 – Operação Rio” (EUA, Justin Lin, 2011)
(DENCKER; VIÁ, 2001).
Estabelecemos ainda, um recorte temporal que contempla a produção cinematográfica
norte-americana lançada entre os anos 1990 e 2011, pois reforça um caráter de
contemporaneidade, ao mesmo tempo em que corresponde a um período marcado por mudanças
políticas, mudanças econômicas e mudanças sociais. Desta forma apresentamos a seguir algumas
das principais mudanças que podem ter refletido na imagem do país. Elementos como a maior
intervenção econômica do país: o confisco da poupança no ano de 1990 e consequentemente o
impeachment do até então presidente Fernando Collor de Melo podem ter proporcionado à
imagem de um país politicamente corrupto e desorganizado para os outros países. A mudança da
sede da EMBRATUR do Rio de Janeiro para Brasília em fins da década de 1990 colaborou na
divulgação da imagem da cidade de Brasília, uma vez que em muitos filmes estrangeiros o
cenário mais utilizado até então era o Rio de Janeiro. A respeito das mudanças sociais podemos
afirmar que um dos principais elementos que acentuou a imagem de um país cercado por fauna e
flora exótica, como a vista no filme “Anaconda” (EUA, 1997), além de ressaltar a imagem da
floresta amazônica foi em vista da realização da Segunda Conferência Mundial para o Meio
Ambiente, a Eco 92. Essa conferência trouxe a tona uma maior preocupação pelas florestas
tropicais, e podemos observar essa preocupação em uma das produções analisadas, como foi o
caso de “Lambada a dança proibida” (EUA, 1990). Nos anos seguintes o país passou pela
implantação do Plano Real em 1994, comemorou no ano de 2000 os 500 anos do Descobrimento
do Brasil e vimos ainda a candidatura do país para grandes eventos como a Copa de 2014 e a
Olimpíada de 2016. Tais elementos podem ter enfatizado a imagem de um país de variedade
cultural, de intensa mestiçagem e de belezas naturais, principalmente caracterizados pela beleza
72
feminina, como demonstrado no filme “Sabor da Paixão” (EUA, 2000). Outros fatores que
colaboraram de alguma forma para a imagem do país foram os grandes atentados terroristas e
violência urbana como o acontecido em São Paulo comandado pelo Primeiro Comando da
Capital (PCC) e a invasão do Morro do Alemão no Rio de Janeiro. Os aspectos a respeito dessa
violência no Brasil são verificados, principalmente nos filmes mais recentes, como é o caso de
“Turistas” (EUA, 2006) e “Velozes e furiosos 5: operação Rio” (EUA, 2011).
Após a compreensão do conceito fundamental a respeito do método, que são
procedimentos de pesquisa a serem seguidos, necessitamos entender o conceito de técnicas.
Explicado por Dencker e Viá as técnicas, “referem-se aos procedimentos concretos empregados
pelo pesquisador para levantar os dados e as informações necessárias para esclarecer o problema
que está se pesquisando” (DENCKER; VIÁ, 2001, p. 37-38). Desta forma os procedimentos
utilizados para que entendêssemos a problemática foram: a pesquisa bibliográfica, pesquisa
documental e a análise e observação dos filmes. Devemos destacar que a pesquisa bibliográfica
abrange toda a bibliografia já tornada pública, desde publicações avulsas, boletins, jornais,
revistas, livros, pesquisas, monografias, teses e audiovisuais como filmes e televisão
(MARCONI, 2008).
A bibliografia em que embasamos na nossa pesquisa tratou de assuntos referentes à
imagem, imagem turística, o cinema, a indústria cinematográfica norte-americana. Também
tivemos o auxílio de audiovisuais, a exemplo do documentário de Lúcia Murat: “Olhar
estrangeiro: um personagem chamado Brasil” que foram utilizados para melhor compreendermos
as imagens a respeito do país. Para o tratamento analítico (Marconi, 2008), foram utilizadas cinco
produções cinematográficas norte-americanas. Por fim, devemos elucidar que para a realização
da pesquisa foram coletadas as bibliografias no acervo da biblioteca da Universidade Estadual
“Júlio de Mesquita Filho” - Campus Experimental de Rosana e em outras bibliotecas, Araraquara,
Assis, Bauru e São Paulo do mesmo órgão e em meio eletrônico, a Internet.
Apresentaremos aqui ainda como foram realizadas as análises das imagens turísticas nos
filmes, visto que é de extrema importância compreender as etapas de análise de um filme.
Salientamos que as análises dos filmes foram baseadas nas orientações retiradas do texto:
Metodologia para análise de estereótipos em filmes históricos de Johnni Langer (2004).
Na primeira etapa realizamos a seleção de filmes que estivessem atreladas ao nosso
recorte temporal, depois definimos o número de produções a serem analisadas, neste caso
73
apresentado na quantia de cinco filmes. Observamos a ficha técnica dos filmes, analisamos o
cartaz dos filmes e escolhemos personagens e cenas específicas que poderiam nos revelar
aspectos ideológicos dos produtores, dos patrocinadores ou mesmo dos norte-americanos em
geral. Na segunda e última etapa observamos a crítica interna do filme, ou seja, o seu conteúdo
objetivo, por meio de diálogos, do enredo, dos cenários e a sonoplastia abordada.
3.1 ANÁLISE DOS FILMES: CONTEXTOS DE PRODUÇÃO E CENÁRIOS
Para análise, tomaremos por base a narrativa do filme, apresentada de forma breve, à
dinâmica dos personagens no quadro, as interações da banda sonora e as articulações dos pontos
de vista. É a partir do estudo de tais elementos formais que poderemos verificar a recorrência de
princípios, modelos ou motivos capazes de caracterizar e conceituar uma função de imagens
turísticas positivas ou negativas a respeito do Brasil no campo do cinema. Função que podem ter
raízes históricas, respaldo iconográfico e implicações ideológicas, e que será verificada em
sequências- chaves dos filmes selecionados. É importante ressaltarmos que abordaremos somente
algumas cenas, as cenas que apresentam imagens do Brasil ou do povo brasileiro.
3.1.1 Lambada a dança proibida - “The Forbidden dance”
74
Fonte: Disponível em http://osreformados.com/index.php?topic=50403.0
No cartaz do filme “Lambada a dança proibida” (EUA, 1990), podemos constatar a
sensualidade apresentada no contexto do filme, por meio da posição dos dois personagens e
principalmente, pela vestimenta feminina. As cores das vestimentas dos personagens no cartaz,
cores quentes como o amarelo, também oferecem ao leitor uma sensação de tropicalidade e
sensualidade.
O filme apresenta dois cenários. A história se inicia no Brasil, Amazônia, porém seu
desenvolvimento e desfecho narrativo são apresentados nos Estados Unidos. Nos primeiros
minutos do filme nos deparamos com a frase “Brazil, Amazônia, a humanidade está destruindo a
Floresta tropical” 22
. Em seguida, as primeiras cenas se passam na floresta tropical da Amazônia,
dentro de uma tribo indígena, onde ocorre uma cerimônia em que todos estão dançando
sensualmente, inclusive a personagem principal, Nisa, uma princesa indígena. Nisa, protagonista
do enredo, representa uma indígena brasileira com grande senso de justiça. Sua personalidade é
apresentada com dois aspectos: inocente, pois se trata de uma indígena que não conhece a
22
Cf. LAMBADA a dança proibida, Dir. Greydom Clark, EUA, 1990, Flash008. M97.
Figura 8 - Lambada a dança proibida
75
sociedade americana e a sensual, representada pela sua beleza e pela forma como dança. Diante
de seus amigos indígenas Nisa é a única que possui características físicas norte-americanas e fala
inglês. Devemos lembrar que apesar de encontrarmos personagens que representam os
brasileiros, como no caso de Nisa e Joa, os atores que representam essas personagens não são
brasileiros. Ainda no contexto brasileiro é que ocorre o primeiro encontro dos vilões com os
indígenas, que são interrompidos com a presença dos homens brancos que ameaçam devastar a
floresta e consequentemente destruir a tribo. Acaba aqui a história narrada no Brasil e inicia-se o
contexto nos Estados Unidos. Podemos verificar que a visão do norte-americano a respeito do
Brasil, demonstrada nesta parte do filme, baseia-se na floresta amazônica e na vida indígena,
como se todos os brasileiros vivessem naquela realidade. Observamos ainda que o país é
representado como atrasado em seu desenvolvimento, uma vez que as imagens presentes no filme
apresenta o cotidiano americano em volto de máquinas e equipamentos, como carros, aviões
enquanto os brasileiros são representados apenas com suas danças e rituais de feitiçaria. Devemos
ressaltar também que o país é apresentado de forma frágil, desprovida de recursos e carente de
ajuda, visto que a protagonista precisa procurar a salvação da sua tribo e da floresta nos Estados
Unidos. Questionamos nesta cena se somos um país capaz de garantir a preservação da fauna e
flora.
Frente às ameaças, juntamente com o pajé, Nisa vai denunciar publicamente a
devastação da floresta encetada pela multinacional Petramco. Nisa possui a companhia do xamã
Joa, personagem que representa um feiticeiro que utiliza de artimanhas mágicas de simples
execução e de forte resultado para ajudar sua princesa a realizar seu objetivo.
Em território americano os dois indígenas passam por dificuldades, Joa é preso e Nisa
procurada pela polícia. Em seguida, Nisa, sem documentação, consegue trabalho como
empregada em uma mansão. Verificamos que nestas cenas há uma imagem negativa não somente
do brasileiro como dos estrangeiros em sua maioria, uma representação do americano rico e dos
latinos pobres, uma vez que, quem apresenta o emprego à índia é outra empregada, Carmen, uma
personagem latina. A imagem de superioridade do homem branco, neste caso representado pelo
americano, ocorre em outra cena, onde já empregada Nisa conhece o dono da casa que se espanta
com suas características: “Vou ficar de olho. Será que toma banho?” 23
. Constatamos por meio
desta frase que o brasileiro é visto com um olhar de desconfiança, uma vez que o país possui a
76
imagem de malandragem, sujo e pobre, no filme ainda verificamos que a maioria dos americanos
é representada como pessoas de classe social alta, demonstrando sua superioridade.
No decorrer da história Nisa se apaixona pelo filho dos patrões Jason, que gosta de
dançar. Quando Jason a leva para dançar pela primeira vez, Nisa o ensina a dançar lambada:
“mexa só daqui para baixo, imagine que é uma árvore com raízes profundas!” 24
. E explica a
Jason que há 50 anos a lambada era proibida porque era muito sensual. Verificamos então, em
algumas cenas do filme a imagem de um Brasil com cultura exótica, com misticismo apresentado
pelo personagem de Joa, e musical, este último apresentado no formato de dança, a lambada. Em
outra cena, fica implícita a musicalidade do brasileiro: “Todos os brasileiros sabem dançar” 25
afirma a dona de um night club para Nisa. Nestas duas cenas constatamos a representação de um
país da musicalidade por meio da dança e observamos que o país é apresentado pela sua cultura
exótica ainda baseada na vida selvagem. Podemos entender por meio destas imagens que os
americanos atribuem o atraso do desenvolvimento econômico do país devido à presença dessas
características, ou seja, imaginam que os brasileiros dançam muito bem, pois só sabem fazer isto,
possuem a imagem de um país festeiro.
Após encontros e desencontros Nisa e Jason decidem entrar em um concurso de dança
para juntos denunciarem a devastação da floresta tropical causada pela Petramco. Nas cenas em
que mostram os treinos de dança de Niza e Jason, seus figurinos são sempre apresentados com
tonalidades fortes, vermelho e amarelo, representando sensualidade e tropicalidade.
Ao som de Kid Creole e as Coconuts Jason e Nisa competem com a ex-namorada de
Jason e embora os jornais locais exibam a manchete “Brazil burning!”, embora sua dança quase
seja considerada antiamericana para competir na televisão, o casal consegue alcançar seu
objetivo, vencendo a competição de dança e denunciando a Petramco, que no final desiste de seus
projetos destrutivos na Amazônia. E “No trenzinho final, rebolando aos pares, cantando em
português, o filme será dedicado à preservação da floresta tropical” (AMANCIO, 2000, p.98).
Observamos que no filme foram destacadas as seguintes imagens: a floresta tropical
amazônico, a cultura exótica demonstrada nas primeiras cenas, onde aparecem os índios e
principalmente caracterizado na personagem de Joa, um feiticeiro, a sensualidade da mulher
brasileira, apresentado na figura de Nisa e a musicalidade do brasileiro, formatado pela dança
23
Cf. LAMBADA a dança proibida, Dir. Greydom Clark, EUA, 1990, Flash15. M97. 24
Cf. Ibidem, Flash21. M97.
77
lambada. Constatamos ainda que a imagem do país é apresentada como economicamente e
socialmente atrasado. Apesar de o filme ter como enredo uma dança supostamente brasileira,
observamos que a maioria das músicas presente no filme são norte-americanas. Porém, devemos
apontar um ponto positivo no filme que é o fato dos personagens brasileiros falarem o português
e não o espanhol como muitas vezes era apresentado nos filmes norte-americanos ou mesmo em
filmes estrangeiros. Esta visão do norte-americano a respeito do país, a visão de um paraíso
caracterizado pela dança e pela mulher brasileira pode influenciar a demanda de turistas a procura
de festas como o carnaval, uma vez que o filme foca de uma maneira intensa a musicalidade do
brasileiro e o gosto pelos festejos e pela procura de uma aventura sexual, pois a mulher brasileira
é apresentada de forma sensual, o que pode atrair a demanda pelo turismo sexual. Essas imagens
apresentadas neste filme podem ser classificadas como uma imagem contraditória, ou seja, com
pontos de vista opostos sobre alguns aspectos por parte dos visitantes, uma vez que, a
sensualidade feminina, pode ser vista como aspecto negativo, pois pode instigar a prostituição,
como também demosntra um aspecto cultural, em vista do tropicalismo do país, que caracteriza
as poucas vestimentas utilizadas pela personagem brasileira, ou seja, não podemos generalizar a
sensualidade da mulher brasileira como aspecto negativo.
3.1.2 Anaconda 25
Cf. Ibidem, Flash31. M97.
78
Fonte: Disponível em http://www.adorocinema.com
“Anaconda” (EUA, 1997) de gênero aventura possui em seu cartaz a imagem de uma
cobra negra com o olhar amarelado. A palavra anaconda está escrita em vermelho o que remete a
perigo, da mesma forma pode ser compreendida a frase que compõe o cartaz: “Quando não se
consegue respirar é impossível gritar”.
O filme retrata a história da diretora Terri Flores, Jennifer Lopez, que juntamente com
seus companheiros de trabalho adentram na floresta tropical da Amazônia para filmar um
documentário a respeito da tribo Shirishama, um grupo de indígenas ainda desconhecidos pelo
homem branco que vivem perto de Manaus, Amazonas. A película possui como cenário o Brasil,
mais especificamente, a Amazônia. Os fatos ocorrem no barco denominado Micaela I e em
alguns momentos na floresta, e as principais imagens são em decorrência do ataque da anaconda.
Seu conteúdo narrativo possui inicialmente foco na produção de um documentário a respeito de
uma tribo indígena que vive escondido no percurso do Rio Amazonas, “o povo da bruma”, os
Figura 9 - Anaconda
79
Shirishamas, e ao desenrolar da história torna-se uma aventura de sobrevivencia contra o ataque
de cobras. Devemos observar que neste filme os protagonistas não são brasileiros, no entanto, há
a presença de um personagem brasileiro de sotaque duvidoso, pois ouvimos em algumas cenas
palavras originárias do espanhol, cabelos compridos e de aparência suja, o personagem se chama
Mateo. Porém, o ator que representa a personagem de Mateo não é brasileiro e sim é americano.
Verificamos que a representação do brasileiro neste filme é aparentemente indesejável e pouco
agradável para a imagem de um país como um todo. Avistamos ainda que o exótico é assumido
como categoria de nossa identidade, uma vez que o filme apresenta no seu conteúdo narrativo a
procura de uma tribo indígena ainda desconhecida e a presença de animais inimagináveis.
Os primeiros minutos do filme foram dedicados para chamar a atenção do espectador
quanto à história das anacondas: “Histórias de anacondas que comem gente são contadas pelas
tribos da Amazônia. Dizem que muitas dessas tribos veneram essas cobras. Anacondas são
criaturas enormes e vorazes que podem chegar a 12 metros. Elas não se satisfazem em engolir a
presa, regurgitando-a para comê-la novamente” 26
. A história irreal prepara o espectador para as
imagens das próximas cenas, onde podemos acompanhar o suicídio de um brasileiro que foge de
algo que o aterroriza, em meio à sua coleção de animais capturados, aves e macacos.
Visualizamos nesta cena a imagem de um país que está atrelado há situações ilícitas, como o
contrabando de animais extintos e caça predatória. Devemos salientar que em alguns casos
realmente ocorrem essas práticas no país, mas não ocorre somente o contrabando existem
também práticas de preservação da fauna e flora que em muitos casos não são citados nestas
películas, o que acaba caracterizando o brasileiro somente com aspectos negativos.
Durante o percurso em busca da tribo, em meio a uma tempestade salvam e conhecem
Paul Sarone, John Voight, que mais tarde se revela um insano caçador, que deseja capturar viva
uma sucuri, no filme chamada de anaconda, uma serpente gigantesca, muito rara, que pode
atingir 12 metros de comprimento. A primeira vítima da Anaconda é o barqueiro brasileiro
Mateo, que é sufocado até a morte. Após a morte de Mateo, Paul fica no comando do barco, e
força a todos a ajudarem-no a capturar a anaconda. Com mais algumas mortes causadas pela
cobra gigante restam somente Terri, Danny representado por Ice Cube, Paul Sarone e o Dr.
Steven Cale, personagem de Eric Stoltz, que acaba ferido durante a viagem. Em um barracão
vellho, Paul usa Terri e Danny como iscas para a anaconda. Supreendidos pela anaconda, os dois
80
são sufocados pelo corpo da cobra, mas quando Paul tenta capturá-la a cobra se solta e se volta
contra Paul devorando-o ainda vivo. Terry e Danny conseguem se soltar enquanto a cobra devora
Paul, Danny então com uma marreta consegue matar a cobra gigante. Livres da anaconda os três
sobreviventes Terri, Danny e o Dr. Cale continuam a viagem pelo Rio Amazonas, e por
coincidência, encontram a tribo desconhecida Shirishama, conseguindo realizar seu
documentário.
Verificamos no decorrer do filme a presença de animais exóticos na fauna brasileira,
como a pantera negra, a vespa mortífera e a sucuri gigante que se alimenta de pessoas, aqui
denominada de anaconda. Outros animais também aparecem ou são citadas em algumas cenas do
filme, como o porco selvagem, araras, macacos, vaga-lumes, piranhas e o candiru, que segundo a
película seria um pequeno peixe que entra pela uretra, se instala em um ponto mostrando seus
espinhos fixando-se para nunca mais se soltar, é importante ressaltarmos que a história do candiru
é verídica.
A película possui também cenas que unem o exótico apresentado pela floresta
amazônica e o erotismo dos personagens do filme: “Sou eu, ou a floresta excita a gente”27
. E em
outra cena a explicação do acasalamento de vaga-lumes por parte de Dr. Calle leva a Terri Flores
e o mesmo a se beijarem. A tropicalidade do cenário brasileiro caracterizado na produção norte-
americana também instiga cenas de sensualidade, por meio das vestimentas das personagens
femininas, regatas quase transparente e bermudas curtas, apesar de serem normais na Amazônia.
Observamos que o filme possui várias tomadas com imagens do Rio Amazonas e da sua
fauna e flora, no entanto, essas imagens são minimizadas ao contrastar-se com as imagens da
anaconda e com os fatos assustadores que ocorrem no decorrer da trama. Percebemos que a
excurssão realizada no filme pode ser comparada aos primeiros colonizadores do país, pois é a
procura do desconhecido, no caso a tribo, e a imposição da cultura do branco, aqui representado
pelos personagens sobreviventes que objetivam realizar um documentário a respeito da tribo que
até então não tinham conhecimento do homem branco.
Verificamos também que neste filme são acentuadas as imagens de uma Amazônia
exótica, representada pela floresta, pelos animais: peixes que se alojam na uretra, porcos
selvagens que comem olhos humanos, vespas mortíferas e cobras gigantes que comem pessoas, e
26
Cf. ANACONDA, Dir. Luis Llosa, EUA, 1997, Flash0028. M90. 27
Cf. ANACONDA, Dir. Luis Llosa, EUA, 1997, Flash9. M90.
81
pelas suas histórias míticas: “Shirishamas veneram cobras gigantes, anacondas como suas
protetoras. Há uma lenda sobre uma viagem a um lago sagrado, onde há uma cachoeira protegida
por cobras guerreiras. Passe pelos guardiãos e ande pela terra dos Shirishamas, até chegar a um
muro tão alto que bloqueia o Sol, siga por cinco dias, até o seu final: a cabeça de uma anaconda
gigante [...]” 28
. Essas caracterísicas exóticas e o tropicalismo brasileiro, acompanhado de uma
sonoplastia do regg norte-americano também colaboram para que o filme, além de trabalhar com
o imaginário aventureiro trabalhe com o imaginário erótico dos espectadores.
Constatamos que a leitura contemporânea da Amazônia desempenha um papel de
manutenção de uma mitologia baseada em alternativas potencialmente ambíguas, de transito
simbólico entre o real e o maravilhoso, como o dos Shirishamas. E os temas que mais
encontramos são a de um paraíso terrestre representado pela fauna e flora em contraponto com as
monstruosidades como a anaconda. Verificamos que as imagens condizentes ao desconhecido
podem levar ao turista a procurar por essas regiões, pois o turista procura cada vez mais lugares e
povos desconhecidos e exóticos, no entanto, também pode afastar o potencial turista que pode
temer encontrar algo ao qual não pode enfrentar, como as anacondas. Seguindo a tipologia de
Gândara (2008) podemos afirmar que a imagem do país apresentada neste filme pode ser
classificada como demasiado atrativa, uma vez que pode apresentar uma excessiva expectativa ao
turista não existente, como a presença de animais exóticos muitas vezes não presentes na fauna
brasileira.
3.1.3 Sabor da paixão – “Woman Top”
28
Cf. Ibidem Flash17. M90.
82
Fonte: Disponível em http://www.malaguetacomunicacao.com.br/2010/07/sabor-da-paixao/
O filme “Sabor da Paixão” (EUA, 2000) protagonizado pela atriz Penélope Cruz traz em
seu cartaz a imagem da atriz com uma pimenta malagueta perto de sua boca. O contraste do
vermelho dos lábios e o vermelho da pimenta remete a sensualidade feminina. O título do filme e
a imagem da pimenta colaboram para que o espectador imagine um filme com um contexto
narrativo envolvendo culinária com romance.
A comédia romântica “Sabor da Paixão” (EUA, 2000), possui dois contextos: a que se
passa na Bahia, Brasil e a que se passa em São Francisco, Estados Unidos. O filme tem início no
Brasil, mas logo mostra ao espectador a mudança de cenário, representado pela cena em que a
protagonista, Isabela, está em um avião, e com a chegada dela ao aeroporto de São Francisco,
Estados Unidos.
A película focaliza na personagem de Isabela, uma brasileira bonita, sensual e que
possui dotes culinários. O filme também apresenta outros personagens brasileiros além de
Isabela. Toninho, marido de Isabela, representa a imagem de um brasileiro: malandro, safado,
folgado, que seduz as mulheres pela sua masculinidade e pelo seu canto. Mônica, amiga de
Isabela, personagem que representa um travesti, negro que sai da Bahia por motivos familiares e
Figura 10 - Sabor da Paixão
83
acaba por morar em São Francisco, Estados Unidos. Podemos verificar em muitas produções
estrangeiras a presença de personagens de travestis brasileiros, outro exemplo é presenciado no
filme francês “Se você vai ao Rio” (FR, 1987), onde é apresentado a imagem da transsexual
Roberta Close como travesti. No caso de Sabor da Paixão o personagem afeminado é
representado por um negro que apresenta características que lembram Carmem Miranda, pois
utiliza de extravagantes vestimentas, brincos, correntes, saias coloridas e com muitas
gesticulações. E por último os trovadores, três amigos músicos de Toninho, personagens que
representam a musicalidade do país. Devemos salientar que neste filme podemos verificar que a
maioria dos personagens brasileiros são representados por atores brasileiros, com exceção de
Isabela, representada pela atriz espanhola Penélope Cruz e Mônica representado por um ator
americano. Desta forma podemos constatar que os brasileiros no exterior são vistos assim:
malandros, charlatões, mulheres sedutoras e travestis.
Podemos verificar ainda, que o filme focaliza a imagem da cultura baiana,
caracterizando-a de forma exótica e mística, mostrando cenas com imagens de baianas, rituais de
candomblé, dança de capoeira, a culinária, veneração de deuses, neste caso Iemanjá e rituais de
macumba. Devemos afirmar que realmente o país possui religiões, doutrinas e rituais diversos, é
um país laico, mas ainda com grande presença do catolicismo. Apresenta também a mestiçagem e
os níveis sociais que circundam o Brasil, verificados em cenas onde aparece o negro, a garota
japonesa, o branco, o rico e o pobre.
O filme tem início no contexto brasileiro, na Bahia que é representado pelo misticismo,
pela sua culinária exótica, pelos rituais religiosos e apresenta a cidade pelo colorido das casas.
Nesta cena há apresentação da protagonista, Isabela, a respeito de seu nascimento, seus
problemas de saúde, o encontro com Toninho, admissão como cozinheira, seu casamento com
Toninho e por fim, a traição de Toninho, fato que faz o conteúdo narrativo modificar-se para o
contexto americano. A personagem de Isabela nessas primeiras cenas, após o casamento com
Toninho, mostra a personalidade de uma mulher dedicada, mas sem encanto, com caracaterísticas
físicas de uma mulher cansada e que desiste de seus sonhos. Suas vestimentas são apresentadas
com cores frias como branco e o azul, e a maquiagem apagada ressaltando essas características de
uma mulher submissa.
A mudança de contexto para os Estados Unidos ocorre com o aviso da aeromoça a
respeito da aterrissagem e com a chegada de Isabela no aeroporto de São Francisco. Ao som de
84
“aquarela do Brasil” (BR, Ary Barroso) Isabela suborna uma taxista para lhe entregar as chaves
do carro, para que dirija até o seu destino. Enquanto Isabela chega aos Estados Unidos, Toninho
amaldiçoa Iemanjá, durante um ritual realizado pelos pescadores e pelas religiosas baianas.
Observamos aqui os aspectos da malandragem brasileira e da veneração da religião por parte dos
brasileiros. Temos também a comparação do cotidiano do brasileiro, representado de forma
sofredora, a exemplo dos pescadores que não conseguem peixes, e de forma alegres e festeiros, e
do norte-americano carcaterizado na forma de empresários sempre ocupados.
Com a sonoplastia “Berekekê” (BR, Geraldo Azevedo) observamos a passagem das
cenas de Toninho procurando Isabela, no Brasil, e a de Isabela procurando trabalho de cozinheira,
nos Estados Unidos. Em seguida, nos é mostrada a cena em que Isabela após conseguir um
trabalho como professora de culinária explica aos seus alunos como os brasileiros lidam com a
culinária: “Eu vim de um lugar chamado Bahia, no nordeste do Brasil. Lá temos um jeito muito
especial de cozinhar, então eu não vou dar as minhas receitas, eu vou mostrar o que me inspira. E
espero que vocês encontrem a sua própria inspiração. Acho que para cozinhar bem vocês tem que
trazer seus sentimentos e experiências para o ato da criação”.29
Vimos aqui que o brasileiro é
caracterizado por aspectos mais emocionais e sentimentais do que racionais.
Na próxima cena, Isabela reencontra sua amiga Mônica, que estava presa por atitudes
inadequadas. Como afirmamos anteriormente verificamos em muitas produções a representação
dos travestis brasileiros de forma afeminado e agressivo ou mesmo marginalizado. Isabela
confessa à sua amiga Mônica que quer esquecer Toninho, pois quer recomeçar a sua vida.
Mônica, então, recomenda à Isabela efetuar uma oferenda à Iemanjá para que a deusa do mar
possa retirar o amor que ela sente por Toninho. As duas consultam então uma macumbeira
baiana, que lhes oferece uma receita de macumba “Pegue quatro siris de refestófolis, um miolo de
alcachofra, duas mangas maduras, doze gotas da chuva da meia-noite, pena de galo preto, os
olhos de dois bagres cozidos e finalmente regue com as cinzas da foto dele”.30
Constatamos nesta
cena a imagem de um país místico, que abrange rituais exóticos e possuidora de crenças muitas
vezes fantasiosas. Após o feitiço, na manhã seguinte, o anel de casamento sai do dedo de Isabela,
e a brasileira torna-se outra mulher, sensual e vaidosa. A partir desta cena a personagem de
Isabela passa a possuir outras características, mais determinada e sensual. Podemos verificar esta
29
Cf. SABOR da paixão, Dir. Fina Torres, EUA, 2000, Flash14. M97. 30
Cf. Ibidem, Flash24. M97.
85
mudança por meio de suas vestimentas, que passam a ser mais sedutoras e com cores fortes,
como o vermelho. A maquiagem da personagem também identifica essa mudança, pois a
personagem passa a utilizar batons de tonalidades mais fortes.
Com a mudança, Isabela conhece Cliff, um produtor de TV, que lhe oferece um
programa de culinária na televisão. Isabela então começa a apresentar o programa “Cozinhando
com amor” onde promete aos telespectadores “Vão aprender a transformar ingredientes simples
em pratos sensuais e deliciosos, que temperam o sangue e satisfazem o coração!” 31
. Esta cena
representa a mulher brasileira de uma forma sensual, mas excessivamente, o que pode
proporcionar a vulgarização da imagem da mulher. Enquanto Isabela apresenta o programa,
Toninho, que agora está nos Estados Unidos à procura de Isabela, indigna-se com o
comportamento e novo trabalho de sua esposa.
Após algumas brigas, cenas de ciúmes e cantorias, Isabela percebe que sua vida saiu de
seu controle. Percebe que o programa não era o que queria, percebe também que não quer se
apaixonar por mais ninguém a não ser Toninho. Isabela então pede à Iemanjá que desfaça o
feitiço, no entanto, a deusa do mar não concede esse pedido. Enquanto isso, Toninho ao perceber
que Isabela não mais o ama, decide voltar para o Brasil, mas antes pede para que Isabela cozinhe
ao seu lado pela última vez. E ao som de “Obsessão – Não me diga adeus” (BR, Mirabeau e
Milton de Oliveira) os dois preparam um prato à moda baiana, com peixe e muita pimenta. O
cheiro do prato preparado por Isabela e Toninho atravessa a cidade de São Francisco chegando
até o mar, fazendo Iemanjá desfazer a macumba. Por fim, Isabela e Toninho voltam à Bahia e
reconstroem seu restaurante.
“O Brasil é mais do que um país. O Brasil é uma sensação. É um estado de espírito
indescritível. [...] começa no sul em Porto Alegre e vai subindo até Recife. [...] são os tambores
do candomblé, é o samba a tocar naval, é o batuque forte de Ouro urbano. [...] Isabela é o Brasil e
o Brasil é Isabela” 32
. Observamos que a citação apresenta a imagem do Brasil, uma imagem que
o filme tentou retratar a respeito do país. Desta forma, encontramos no filme vários aspectos que
representam a imagem do Brasil, dentre eles podemos citar: a sensualidade da mulher brasileira,
o aspecto malandro do brasileiro, o misticismo e a musicalidade. Devemos salientar que o
31
Cf. Ibidem, Flash36. M97. 32
Cf. Ibidem, Flash51. M97.
86
aspecto malandro do brasileiro é apresentado no filme de duas formas: o brasileiro galanteador,
sedutor e o brasileiro que “para tudo se dá um jeito”, visto em algumas cenas.
O misticismo também é muito presente no filme, como observamos em cenas das quais
se utilizam de rituais de adoração à Iemanjá ou mesmo quando Isabela e Mônica preparam uma
macumba. A musicalidade foi apresentada na forma dos três trovadores brasileiros e pelo
personagem de Toninho, personagens que durante todo o filme estavam cantando e tocando
músicas brasileiras. É importante ressaltarmos que neste filme toda a sonoplastia é de músicas
brasileiras. Salientamos ainda que o filme aborda algumas características da cultura brasileira de
forma positiva, uma imagem de tipologia positiva (GÂNDARA, 2008) oferecendo ao possível
turista o encantamento pela cidade baiana, no entanto, com a repetição, principalmente da
musicalidade e da sensualidade da mulher brasileira, e a caracterização pelo excesso tornam a
produção uma imitação grotesca e uma reprodução simplificada de uma cultura vasta como a do
Brasil.
3.1.4 Turistas – “Paradise Lost”
Fonte: Disponível em http://www.cinepop.com.br/especial/turistas.htm
Figura 11 - Turistas
87
“Turistas” (EUA, 2006) filme de gênero terror e suspense, apresenta em seu cartaz a
imagem de um corpo prestes a ser cortado por um bisturi. Com a frase “Existem alguns lugares
que turistas nunca devem ir: turistas vão para casa” remete ao espectador um alerta de perigo. Ao
apresentar a frase “Turistas go home”, em vermelho, também podemos entender como alerta de
perigo e prever que o filme trará cenas com morte. As frases também enfatizam aos turistas que
não visitem a localidade apresentada pelo filme.
O filme possui como cenário o Brasil, mais especificamente, algum lugar do Rio de
Janeiro. Os personagens principais são representados por dois norte-americanos, Alex e Bea, a
austríaca Pru e os dois britânicos Liam e Finn. Os brasileiros neste filme são personagens
secundários e são, na maioria, apresentados de forma negativa. A imagem do brasileiro nesta
película pode ser descrita da seguinte forma: drogados, violentos, selvagens, pobres, sujos,
irresponsáveis, ladrões. Poucas são as imagens que mostram uma representação positiva do
brasileiro. Devemos salientar, porém, que os personagens brasileiros são todos representados por
atores brasileiros, oferecendo ao espectador maior impressão da realidade.
O espectador visualiza nos primeiros minutos do filme cenas de uma mulher suplicando
pela sua vida em um suposto laboratório. Aparecem nesta cena imagens que podem ser
relacionadas com instrumentos médicos, pois observamos a presença de bisturis, gazes e sangue.
Sequencialmente com o fundo musical “Re-batucada/ Do jeito que o rei mandou” (BR, Marcelo
D2, David Corcos, João Bogueira e Zé Katimba) observamos imagens que remetem aspectos do
Brasil: a moeda brasileira, carnaval, bandeira do país, mulheres, Cristo Redentor, imagens da
favela e imagens de crianças armadas. Também aparece junto com essas imagens frases cortadas
“departamento de estado [...] crimes violentos [...] desaparecimento de turistas americanos [...]
junta de turismo [...] crime violento”.33
Remetendo ao espectador como se esses fatos fossem
acontecimentos cotidianos. Percebemos que o Brasil se constitui no imaginário cinematográfico,
de um pequeno número de imagens folclóricas como o carnaval e o samba, além de certos ícones
paisagísticos como o Cristo Redentor e, mais recentemente, o cinema norte-americano visualiza e
trabalha com a violência urbana do país. Não podemos afirmar que essas imagens são
equivocadas, pois realmente são fatos que ocorrem no país, no entanto, a exibição excessiva de
aspectos como a violência transmite ao telespectador como se aquela imagem fosse à
representativa do país, o que não é verídico.
88
Na cena seguinte surge um ônibus chamado “Rapidão”, lotado de passageiros brasileiros
e turistas. São apresentadas aqui imagens do motorista brasileiro: moreno, barbudo, cabelo
bagunçado, vestido com uniforme azul desabotoado e com os dedos no nariz, essas são as
primeiras imagens do motorista que podemos classificar como sujo e irresponsável, uma vez que
suas atitudes levam o ônibus a capotar ribanceira abaixo. Todos os passageiros saem ilesos do
acidente, no entanto, precisam esperar a chegada de outro ônibus que os levem para Belém,
destino em que o ônibus capotado chegaria. Com o acontecimento, os turistas, personagens
principais, se conhecem. Durante a espera de outro ônibus, Bea tenta tirar uma foto de uma
criança brasileira, deixando o pai da criança furioso e levando aos seus companheiros turistas a se
envolverem em uma discussão com os brasileiros. “Segundo a imprensa sensacionalista, os
estrangeiros vem para cá, para sequestrar crianças e vender seus órgãos. Isso criou muita
hostilidade com os turistas”34
explica Pru aos seus companheiros. Nesta cena mostra a hostilidade
do brasileiro e ao mesmo tempo a imagem de um país atrasado, uma vez que é necessário
representar neste contexto do filme o porquê dos futuros acontecimentos.
Com a situação desagradável os turistas perdem o ânimo para esperar outro ônibus. É,
neste momento, que surgem duas brasileiras com coco nas mãos. Pru então lhes pergunta onde
haviam arranjado a bebida e as moças lhe respondem que havia um bar ali próximo. Os turistas
decidem então procurar este bar. Saindo da estrada para entrar na floresta à procura do bar, os
turistas encontram além do bar uma praia. E ao som de “Vai vendo” (BR, Marcelo D2 e Mário
Caldato) os turistas entram e se divertem no mar. Observamos uma visão norte-americana a
respeito do Brasil dividida entre o inferno e o paraíso, o primeiro representado na figura de um
país economicamente atrasado e socialmente pobre, que de fato é a relaidade do país, e o segundo
representado nas belezas naturais do país, praias e florestas.
Os turistas fazem amizade com os moradores locais e encontram com mais dois turistas
de nacionalidade sueca. “Os brasileiros são as pessoas mais amigáveis que eu já conheci [...] as
bebidas são baratas [...] inclusive podemos dormir em uma barraca na areia, por apenas quatro
reais”35
afirma a sueca. Com a informação dada pelos turistas suecos Alex, Bea e os outros
decidem passar o restante da viagem na praia. Enquanto isso em uma cena oposta, um médico
brasileiro examaminando crianças carentes recebe uma ligação onde é avisado a respeito da
33
Cf. TURISTAS, Dir. John Stockwell, EUA, 2006, Flash001. M95. 34
Cf. Ibidem, Flash009. M95.
89
chegada dos turistas. Vemos, portanto, aqui um Brasil cenografado por um olhar americano que
promove o valor comercial de sua paisagem, consagra a receptividade em seu território e atesta
em imagens e sons um país sem muitas contradições, apto a acolher com vantagem os
aventureiros internacionais.
Bea, Alex, Pru e os outros estrangeiros passam o dia se divertindo na praia e jogando
futebol com os moradores locais. Pru conhece Kiko, um brasileiro que quer treinar o inglês. Ao
anoitecer, os turistas se divertem em uma festa brasileira. Nesta cena a sonoplastia é apresentada
por “Qual é” (BR, Marcelo D2, David Corcos, Antonio Carlos e Jocafi) e “Fume” (BR, MC
TAM). Todos os estrangeiros começam a dançar, exceto Finn, que escapa da vista de seus
companheiros para paquerar uma brasileira. “Bendito seja o Brasil”36
afirma Finn após ver a
brasileira nua. Verificamos a partir desta e em outras cenas que a mulher brasileira é apresentada
de forma sensual, uma vez que muitas das cenas onde estão presentes as mulheres brasileiras
estas se apresentam com vestimentas curtas, na maioria das vezes, de biquinis, e, em alguns
casos, a mulher brasileira se prostituindo, como ocorre nesta cena, onde após deitar-se ccom o
britânico a brasileira usurpa de sua carteira uma quantia em dinheiro. Durante a festa os turistas
são drogados, o que os faz se sentirem mal até desmaiarem, acordando somente no dia seguinte
na praia.
Roubados e sem documentação os irmãos Alex e Bea e seus companheiros decidem
procurar a polícia, “[...] a polícia? Soube que são piores que os criminosos!”37
argumenta Alex
antes de decidir procurar a polícia. Observamos com esta frase que os turistas possuem uma
imagem negativa em relação à polícia, pois segundo o filme os policiais são em sua maioria
corruptos. A procura de alguém que os ajude os turistas começam a caminhar chegando até uma
favela e encontram alguns de seus pertences com as crianças que moram na localidade.
Desesperados e com raiva os turistas perseguem pelos becos da favela as crianças que roubaram
seus pertences e acabam ferindo uma destas. Os turistas acabam se envolvendo, outra vez, em
uma discussão com os moradores locais. Mas kiko, o adolescente brasileiro que conheceram na
praia, consegue evitar que os turistas fossem machucados pelos moradores locais. Cabe aqui
ressaltar que a partir destas cenas mostram um contraste da busca pelo prazer versus a
impunidade, visto que observamos as imagens de um país pobre e sem lei. O cenário aqui
35
Cf. Ibidem, Flash15. M95. 36
Cf. Ibidem, Flash24. M95.
90
representado também demonstra uma realidade precária, uma vez que são apresentados nestas
cenas ruas sem asfalto, becos cheios de lixo, casas construídas em barrancos, essas imagens
acabam se opondo a realidade até então avistada pelos turistas, belas praias e festas. Esta também
é uma realidade do país, no entanto, o modo como desencadeia a narração torna a imagem das
favelas e da pobreza mais aguçada.
Na cena seguinte Kiko afirma aos turistas que teme pelas suas vidas e aconselha-os a
seguirem-no. O adolescente relata aos estrangeiros que somente estarão a salvo na casa de caça
do tio, Zamorra, então começa a encaminhá-los até essa casa. Passando pela floresta, descalços e
apenas com roupas de banho, os turistas seguem Kiko até a casa de Zamorra, personagem
brasileiro que representa um xenófobo, assassino e contrabandista. “Eu queria vim para o Brasil,
porque eu gosto das mulheres, das praias e gosto de beber. E quando dizem: venham para o
Brasil. Querem dizer: temos mulheres, temos praias e bebidas. O que não dizem, e que nem
sequer mencionam é que você vai ser perseguido por um povo irritado na selva”38
afirma Finn
durante o percurso até a casa de Zamorra. Percebemos nesta frase que, em muitos casos, a
imagem do país é representada, principalmente pela imagem das mulheres brasileiras, o que pode
atrair turistas indesejados, como aqueles que buscam o turismo sexual. Percebemos esta visão da
atração do estrangeiro pelo corpo feminino em outras partes do filme: no início ainda dentro do
ônibus, onde o britânico Finn observa os peitos de uma brasileira, na cena quando os turistas
chegam a praia onde avistam brasileiras seminuas tomando banho de sol e no encontro amoroso
de Finn com a brasileira.
Durante o percurso na floresta para se chegar à casa de caça do tio de Kiko, os turistas se
espantam com a beleza das cavernas que Kiko lhes apresenta. Os irmãos e seus companheiros
decidem se divertir um pouco dentro da caverna apresentada por Kiko. O adolescente brasileiro
cria um vínculo de amizade com os americanos, o que o faz se arrepender de tentar levá-los até a
casa de Zamorra, pois sabe que o tio irá matá-los, no entanto, não consegue contar a verdade para
os turistas, pois antes disso acaba se ferindo, o que o faz desmaiar. Os turistas sem saída levam
Kiko até a casa onde ele havia dito. Chegando à moradia os turistas conseguem arrumar roupas e
37
Cf. TURISTAS, Dir. John Stockwell, EUA, 2006, Flash30. M95. 38
Cf. Ibidem, Flash37. M95.
91
comida, mas quando Zamorra chega à casa, os turistas são surpreendidos pela agressividade dos
ajudantes do tio de Kiko.
Nas cenas seguintes, os turistas são levados um a um para uma sala de operação onde
Zamorra retira seus òrgãos para entregá-los a um hospital do Rio de Janeiro. Percebemos que a
cidade do Rio de Janeiro é utilizada no conteúdo narrativo do filme, pois é uma cidade clichê,
suas paisagens já estão bem presentes no imaginário do norte-americano e facilitam a assimilação
do cenário em que ocorrem os fatos. Essas imagens desencadeiam a cidade uma representação
negativa, uma vez que pode ser palco de acontecimentos inimaginavelmente que contradizem a
realidade. É importante observarmos que realmente existe tráfico de órgãos no país, e que para tal
há também uma comissão brasileira que trabalha na investigação, tentando evitar e minimizar
essas ações. Amy, amiga dos irmãos morre com a retirada dos órgãos, Finn e Liam também são
mortos. Alex, Bea e Pru conseguem escapar com a ajuda de Kiko que também morre durante a
fuga. Podemos afirmar que essa repetição dos fatos relacionados à violência leva ao turista a
perder e esquecer as primeiras imagens a respeito do país que demonstravam aspectos positivos,
como a beleza da flora brasileira. Zamorra e um de seus ajudantes, o único que sobrevive,
perseguem os três turistas na caverna. Os turistas são encurralados dentro da caverna, mas Alex
consegue machucar Zamorra, que mesmo ferido ordena ao seu ajudante para que mate os turistas.
Com jogo psicológico, Pru consegue que o ajudante não os mate, pois ele atira em Zamorra e
deixa o local. Os três sobreviventes caminham pelo rio em busca de ajuda e se deparam com uma
família que os ajudam, oferecendo-lhes comida e abrigo. Parece que esta cena foi apresentada
para demonstrar que não há somente personagens ruins no país, que ainda existem pessoas
caridosas e honestas. No final do filme, com a sonoplastia “Fico assim sem você” (BR, Adriana
Calcanhoto) os turistas sobreviventes embarcam em um avião com destino à Salvador.
Podemos por meio, do filme identificar mais imagens negativas do que imagens
positivas,ou seja, como Gândara (2008) classificaria uma imagem mista, uma mistura de
elementos positivos e negativos, uma vez que a película representa o país da seguinte forma: um
Brasil pobre e sem lei, um país que possui grandes atrativos representados principalmente na
figura feminina “[...] Não é Belém que é conhecida por ter 10 mulheres para cada homem, e até
as mulheres feias parecem modelos? [...] Todas são ninfomaníacas, espertas e divertidas, com
92
fraqueza por turistas encantadores, mesmo sujos!”39
afirma um dos personagens do filme. Um
país com muita violência, o que pode ser constatado pelas atitudes dos personagens brasileiros
durante a narrativa do filme. Um país que exalta seu erotismo pelas suas músicas e danças.
Devemos, porém lembrar que o filme apresenta também imagens positivas a respeito do Brasil.
Essas imagens que representam o lado positivo do país são verificadas nas paisagens do Rio de
Janeiro, ressaltadas pelas belezas naturais de suas praias. É importante salientarmos que o filme
possui uma narrativa em que inicialmente apresenta as imagens de um Brasil paraíso e exótico
para mais tarde apresentar as imagens de um país decadente e violento. Esta sequência narrativa
pode fazer com que os espectadores guardem essas últimas imagens, ou seja, pode levar ao
espectador ter uma visão focalizado para as imagens de violência e atraso esquecendo-se dos
aspectos positivos vistos anteriormente. É importante salientarmos aqui, que após a distribuição
deste filme, os norte-americanos criaram um site onde apresentavam aos potenciais turistas as
imagens negativas do país, afirmando-lhes a periculosidade de se visitar o país. Realizaram ainda
uma cartilha informando aos turistas quais perigos encontrariam no país, como roubos. Somente
após um tempo as autoridades brasileiras em contato com o governo norte-americano
conseguiram impedir o funcionamente do site.
3.1.5 Velozes e furiosos 5: operação Rio – “Fast and Furious 5 – Rio Heist”.
39
Cf. TURISTAS, Dir. John Stockwell, EUA, 2006, Flash008. M95.
93
Fonte: Disponível em
http://1.bp.blogspot.com/_YO9GNns4TKw/S6GHe7J2JaI/AAAAAAAACZM/FMl6_hipXBI/s640/velozes_furiosos
_br.jpg
“Velozes e Furiosos 5: operação Rio” (EUA, 2011) é o quinto filme da franquia e
apresenta em seu cartaz a imagem de um carro verde e a imagem do Rio de Janeiro, na presença
do Cristo Redentor e do Corcovado. A cor do carro, verde, intensifica a imagem do país, frente às
imagens do Rio de Janeiro. Ao focalizar a imagem do automóvel remete ao espectador que o
enredo discutirá questões a respeito de carros.
O Brasil, especificamente o Rio de Janeiro, é o cenário do filme “Velozes e Furiosos 5:
operação Rio” (EUA, 2011). O conteúdo narrativo da película se inicia nos Estados Unidos, mas
logo se volta para o cenário brasileiro, onde a trama será desenvolvida. As personagens do filme
são formadas por americanos e brasileiros, e as personagens que representam os brasileiros são,
na sua maioria, representada por atores latinos, com exceção da personagem Mia, representada
pela atriz brasileira Jordana Brewster. Não há uma personificação dos brasileiros nesta película,
porém, encontramos uma imagem geral a respeito do país, com imagens focalizadas de um país
Figura 12 - Velozes e furiosos 5: Operação Rio
94
pobre, corrupto, violento e com impunidade penal.
Nas primeiras cenas do filme encontramos os personagens principais Dom, Brian e Mia
em um tribunal dos Estados Unidos, onde Dom está sendo julgado pelos seus crimes de roubo de
carros. Dom acaba sendo acusado e condenado a 25 anos de prisão, sem a possibilidade de
condicional. Na cena seguinte avistamos um ônibus com prisioneiros, dentre eles está Dom,
sendo perseguido por dois carros, onde estão Mia e Brian. Com algumas manobras Mia e Brian
conseguem que o ônibus capote, oferecendo chance para que Dom possa fugir. Nos noticiários, os
americanos são informados à respeito da fuga dos prisioneiros. São focalizadas as imagens de
Dom, Mia e Brian como bandidos perigosos e procurados pelo FBI. Procurados no país inteiro,
os três fugitivos ficam sem alternativa, levando-os a sair dos Estados Unidos: “[...] apesar de
todos no país estarem atentos, o paradeiro de Toretto e O’Conner é desconhecido”40
Na cena seguinte são mostradas as imagens do Rio de Janeiro, do Cristo Redentor, das
favelas e logo em seguida, as imagens de Mia e Brian, que aparecem em um carro dirigindo em
direção a favela do Rio de Janeiro, para se encontrarem com Vince, amigo de infância de Dom.
Verificamos que essas imagens do Rio de Janeiro, planos aéreos que circundam o Cristo Redentor
e a imagem das favelas se repetem fornecendo-nos uma visão de clichê paisagístico e oferecendo
ao espectador referência para a absorção da narrativa e consequentemente orientando-o dentro do
contexto. Observamos ainda a imagem de um país localidade de fuga para bandidos, neste caso
Brian, Mia e Dom, no entanto, não há explicações pelo motivo do local de fuga ser o Brasil.
Subindo a favela Mia e Brian se deparam com moradores locais armados, mas logo
depois aparece a imagem de Vince. Constatamos aqui a representação de um país violento e sem
impunidade penal, por meio desta cena. Estes aspectos da violência urbana foram recentemente
trabalhados pelas produções americanas, uma vez que esses fatos podem ser reflexos da imagem
que o país apresentou nos últimos anos. Outro aspecto presente nesta cena é o da pobreza,
caracterizado nas vestimentas e características físicas dos personagens brasileiros e pela
apresentação da alimentação dos mesmos. Mia e Brian conhecem a mulher e o filho de Vince,
ambos brasileiros. Vince relata para Mia e Brian, a respeito de um trabalho, em que precisa
roubar três carros de dentro de um trem. Brian e Mia aceitam o trabalho, visto que necessitam de
dinheiro para continuarem a fugir do FBI e também porque Dom participará.
Em outra cena em algum lugar do deserto brasileiro, avistamos a imagem do trem, e já
95
dentro dele Mia e Brian. Precisamos ressaltar aqui que a paisagem demonstrada nesta cena é
totalmente irreal para o contexto brasileiro, uma vez que o país não possui ferrovias em meio a
um deserto. Ressaltamos ainda o salto no espaço geográfico do país, ou seja, a diminuição das
distâncias entre as cidades e a presença de aspectos geográficos inexistentes no local focalizado,
neste caso o Rio de Janeiro. Vince, Dom, Mia e Brian se juntam aos ajudantes de Reyes para
roubarem os três carros. Vince consegue pegar o primeiro carro. Mia entra em outro carro, no
qual os ajudantes de Reyes se mostraram obcecados, criando uma discussão entre os ajudantes de
Reyes e Brian. Após terminarem a discussão Mia neste mesmo carro sai do trem e começa a
dirigir. Quando o grupo tenta pegar o terceiro e último carro, agentes do Departamento de Justiça
Norte-americano aparecem tentando impedí-los, no entanto os ajudantes de Reyes acabam por
matá-los deixando a responsabilidade para Dom, Brian e Mia, que fogem com os carros. Neste
momento eles percebem que o empresário corrupto que comanda o Rio, Hernan Reyes, quer
silenciá-los. À procura de descobrir o motivo da obsessão de Reyes pelos carros, eles desmontam
um dos carros roubados, aquele em que Mia estava, e descobrem a existência de um chip
contendo todas as informações a respeito de uma grande quantia em dinheiro contrabandeado.
Neste mesmo instante, em outra cena, chegam ao Brasil os agentes do FBI encarregados de
prender Dom e o casal. A equipe do FBI comandada por Lucas Hobbs contrata a policial
brasileira e novata Elena Neves para que ela ajude nas investigações. O superior da policial
pergunta ao agente o porquê, dela ter sido a escolhida para ajudá-lo nas investigações, Hobbs
então lhe responde que é devido a ela ter um sorriso bonito. Mas a verdadeira justificativa é
explicada por Hobbs para Elena: “Acho que é a única no Rio que não se vende”41
. Verificamos
com esta cena do filme uma imagem negativa do país que representa um país corruptível, uma
vez que na película todos os policiais participam dos assuntos ilegais que circundam a cidade do
Rio. Visualizamos que essa imagem negativa a respeito da polícia brasileira também está presente
nas produções norte-americanas mais recentes.
Os agentes com a juda da policial conseguem pistas do paradeiro de Dom e do casal, o
que os faz imediatamente irem ao local. Para que o espectador entenda a localidade para o qual os
agentes estão indo, são mostrados, novamente as imagens do Cristo Redentor e das favelas. Nas
cenas seguintes ocorre o conflito entre os ajudantes de Reyes, procurando o chip roubado e os
40
Cf. VELOZES e furiosos 5: operação Rio, Dir. Justin Lin , EUA, 2011, Flash2. M130. 41
Cf. Ibidem, Flash27. M130.
96
agentes federais, procurando Dom e o casal. Nestas cenas são apresentadas com ênfase as
imagens das favelas e das armas. Podemos verificar que as representações das favelas são
apresentadas de forma a caracterizar a pobreza vinculada às dificuldades de acesso a bens de
consumo e às condições do lugar onde se vivem, mas assumem, sobretudo, uma natureza
defensiva, uma vez que o aglomerado de pessoas reforça a defesa contra algo externo.
Constatamos ainda que a representação das favelas em conjunto com a grande quantia de
armamentos representa a marginalidade em que o povo brasileiro vive. Devemos aqui ressaltar
que as representações das favelas no filme só abordam aspectos negativos, pobreza e
marginalidade, não observamos aspectos positivos como, por exemplo, a presença de ONGS que
colaboram para a educação da população local. São representações como a maioria das outras
imagens a respeito do Brasil, estereotipadas.
Brian, Dom e Mia, conseguem escapar dos ajudantes de Reyes e dos agentes federais.
Com a situação os três decidem roubar os 100 milhões de dólares do empresário e com isso
comprarem sua liberdade. Com a decisão de roubar Reyes, Dom e o casal precisam de uma
equipe maior, pois o empresário influente possui também o comando da polícia carioca. Dom,
Brian e Mia convocam antigos companheiros para formar a equipe: Han, Roman Pearce, Tej
Parker, Gisele Gal , Tego e Rico.
Com o plano pronto e a equipe formada Dom começa a agir contra Reyes, queimando
uma pequena parte de seu dinheiro para assustar o empresário. O empresário fica sabendo a
respeito da queima do dinheiro e pede a um de seus ajudantes para que junte todo o seu dinheiro,
que está espalhado em vários pontos da cidade do Rio de Janeiro, e guarde em um local seguro.
Dom e sua equipe ficam surpresos ao descobrirem que Reyes esconde todo o seu dinheiro na
delegacia de polícia militar do Rio de Janeiro. Verificamos neste contexto as diferenças radicais
abordadas na película, de um lado as áreas perigosas, os guetos e as zonas à margem da lei que
compõem o ambiente de uma maioria pobre que convive com a marginalidade e de outro as áreas
superprotegidas, isoladas na riqueza comandadas por uma minoria, neste caso o empresário
Reyes, esses aspectos são vistas na realidade brasileira, uma vez que temos uma população
fragmentada em muitos pobres e poucos ricos. Observamos por meio desta cena a enfatização da
corrupção no país, no caso a corrupção envolve somente os policiais, e podemos destacar que
essa representação é atual, talvez, devido, a acontecimentos históricos recentes, como o da
corrupção na política brasileira, intensamente divulgado pela imprensa nos últimos anos.
97
Nas cenas seguintes Dom e sua equipe se preparam para roubar todo o dinheiro do
empresário. Roubam viaturas de policia, pegam as digitais de Reyes, para abrir o cofre e fazem
simulações do roubo. Em outro lugar Hobbs tenta descobrir o que Dom e sua equipe estão
pretendendo fazer contra Reyes. E novamente com a ajuda da policial brasileira os agentes
federais descobrem o que Dom e sua equipe estão planejando contra Reyes. Essas informações
ajudam os federais a se aproximarem da equipe de Dom. Porém, Dom ao perceber as ações de
Hobbs, armou-lhe uma armadilha, para que ele entendesse que suas ações seriam somente contra
Reyes. Na cena onde Dom prepara a emboscada para Hobbs, podemos constatar a imagem de um
Brasil violento, pois a cena apresenta a maioria dos brasileiros armados. “E o seu erro? É pensar
que está nos Estados Unidos. Você está bem longe de casa. Estamos no Brasil!”42
afirma Dom à
Hobbs e seus agentes. E logo em seguida todos os brasileiros apontam armas em direção à Hobbs
e sua equipe. “Hobbs tem muita arma envolvida”43
confirma um dos agentes à Hobbs. É a
imagem de um país marginalizado que visualizamos na cena apresentada, de um país que não há
justiça, uma representação da selva urbana, onde a luta não é pela sobrevivência e sim de quem
mata mais.
A narrativa do filme se desenvolve em torno do roubo do cofre. E nas próximas cenas
ocorrem: corridas de carros, conflitos entre a equipe de Dom e os ajudantes de Reyes e a equipe
de Hobbs, emboscadas, tiroteios e mortes. No desfecho do filme Dom e sua equipe conseguem
roubar o cofre, enganando o agente federal Hobbs.
É importante salientarmos que o filme possui cenas onde representam o país como
corrupto, pobre, violento e localidade de fuga para bandidos. Realmente o país possui grandes
problemas com a violência, com o aumento das favelas, com a corrupção destacado neste filme
pelo favorecimento pessoal e lavagem de dinheiro, no entanto, é preciso destacar que todos estes
problemas não estão isolados da conjuntura global da sociedade contemporânea e por isso não
podem ser atrelados como uma imagem representativa de um único país, no caso o Brasil.
Observamos ainda que a imagem do Cristo Redentor e das favelas do Rio de Janeiro também
foram muito apresentados. Nesta película não conseguimos identificar a presença de um enredo
musical que representasse a cultura brasileira, apesar de constar nos títulos finais algumas
músicas brasileiras. Segundo Gândara (2008) as imagens apresentadas neste filme ocupariam a
42
Cf. VELOZES e furiosos 5: operação Rio, Dir. Justin Lin , EUA, 2011, Flash73. M130. 43
Cf. Ibidem, Flash74. M130.
98
tipologia de uma imagem negativa.
3.2 VISÃO GERAL
A ação de se analisar os filmes e interpretar seus cartazes e suas cenas mais
significativas a respeito da imagem turística do Brasil possibilitou a identificação de algumas
matrizes já cristalizadas, que refletem a atualização ou o deslocamento de elementos ligados à
formação histórica do continente, o paraíso perdido, a mulher sensual, a democracia racial, a
transgressão sexual, o transe místico e mesmo a uma redução jurídica, a impunidade penal. Este
conjunto de referências observadas nos cinco filmes precisam também ser analisados em um
contexto geral. Portanto, nesta parte do trabalho apresentaremos todas as características
observadas nos cinco filmes, tentando comparar as imagens turísticas apresentadas em cada filme
com o intuito de verificar, se houve mudança das representações das imagens com o decorrer do
tempo e verificar quais as imagens mais representativas a respeito do Brasil.
A seguir apresentaremos em forma de quadro os filmes, o cenário em que se
contextualizou o filme, as principais imagens turísticas a respeito do Brasil, a existência ou não
de personagens brasileiros, a existência de atores brasileiros representando os personagens
brasileiros e, finalmente, se havia ou não enredo musical brasileiro.
99
Quadro 1 - Características dos filmes
Filmes Lambada a
dança
proibida
Anaconda Sabor da
paixão
Turistas Velozes e
furiosos 5:
operação
Rio
Cenário Brasil EUA Brasil Brasil EUA Brasil EUA Brasil
Principais
imagens
Floresta
Amazônica,
sensualidade
feminina,
musicalidade e
misticismo
Floresta
Amazônica,
fauna e flora
exóticos
Sensualidade
feminina,
misticismo,
musicalidade,
malandro e
Bahia
Sensualidade
feminina, Rio
de Janeiro,
violência,
pobreza e praias
Violência,
corrupção,
pobreza e
localidade de
fuga, Rio de
Janeiro
Personagem
brasileiro
Principais Secundários Principais Secundários Secundários
Ator
brasileiro
Nenhum Nenhum As personagens
brasileiras são
representados
por brasileiros
em exceção da
protagonista e
de Mônica
As personagens
brasileiras são
representados
por brasileiros
um
Sonoplastia Nenhuma
brasileira
Algumas
brasileiras
Toda brasileira Toda brasileira Algumas
brasileiras,
mas não
identificadas
Fonte: a autora
Nos filmes “Lambada a dança proibida” (EUA, 1990) e “Anaconda” (EUA, 1997)
constatamos a imagem da Floresta Amazônica. No primeiro filme, a floresta é base para o início
da história do filme, mas não são mostradas imagens a seu respeito, uma vez que as gravações
não foram realizadas na Amazônia. A produção, porém, é dedicada a preservação da floresta
amazônica. Enquanto isso, em “Anaconda” (EUA, 1997) a floresta amazônica torna-se pano de
fundo para o conteúdo narrativo do filme. O filme também se utiliza das imagens do Rio
Amazonas, da fauna e flora. Apresentando ao espectador imagens de animais exóticos como a
Anaconda. Nos dois filmes verificamos a presença de histórias míticas: a da lambada, dança
proibida por ser muito sensual e a da tribo Shirishama, que veneram cobras gigantes como suas
protetoras. Desta forma, percebemos que a Amazônia “desempenha um papel de especial
relevância para a manutenção de uma mitologia baseada em alternativas potencialmente
ambíguas, de transito simbólico entre o real e o maravilhoso” (AMANCIO, 2000, p.83).
Observamos ainda que as produções cinematográficas que retratam a Amazônia abordam em
100
muitos casos antigos mitos, como o dos animais exóticos, da natureza exuberante e dos grupos
indígenas ainda não contaminados pela civilização ocidental.
Em “Lambada a dança proibida” (EUA, 1990), “Sabor da paixão” (EUA, 2000) e
“Turistas” (EUA, 2006) podemos constatar a imagem da mulher brasileira de forma sedutora. São
imagens de uma mulher que sabe dançar e rebolar, uma mulher com dom da culinária e que
encanta o paladar dos homens, uma mulher que seduz pelos contornos de seu corpo e que pode
oferecer prazer para os homens que pagarem, essas são as imagens da mulher brasileira que
podemos verificar nestas películas. A mulher brasileira também ganha uma imagem de sofredora,
uma vez que pode ser casada com um brasileiro malandro e galanteador, como Toninho de
“Sabor da paixão” (EUA, 2000).
No entanto, a imagem do brasileiro Toninho, malandro e galanteador é melhor que a
imagem de Zamorra, personagem que representa a imagem de um brasileiro violento, assassino,
como visto em “Turistas” (EUA, 2006). Essa representação da violência do povo brasileiro
também é observada no filme “Velozes e Furiosos 5: operação Rio” (EUA, 2011). A violência é
demonstrada de várias formas nos dois filmes: com armas, facões, tiroteios, cirurgias
clandestinas, mas sempre com a mesma consequência, muitas mortes. São tantas as mortes que
mesmo as cobras gigantes inimagináveis de “Anaconda” (EUA, 1997) não aguentariam comer.
Mas se na Amazônia representada pelo filme “Anaconda” (EUA, 1997) precisamos fugir
de animais exóticos como as vespas mortíferas, porcos selvagens que comem olhos e das cobras
gigantes que podem nos comer, e na área urbana, representada sempre pela imagem do Rio de
Janeiro, precisamos fugir do cotidiano de violência, pobreza, assassinatos, como vimos nos
filmes “Turistas” (EUA, 2006) e “Velozes e Furiosos 5: operação Rio” (EUA, 2011) nos
perguntamos porque os procurados do FBI Brian O’Conner, Mia e Dom fugiram para o Brasil,
especificamente para o Rio de Janeiro. Poderiam eles ter escolhido a Bahia, “terra da bossa nova”
e da poderosa Iemanjá. A Bahia do filme “Sabor da paixão” (EUA, 2000) ressalta o misticismo
por meio dos rituais de candomblé, das oferendas à Iemanjá, das receitas de macumba, como a
realizada pelas personagens Isabela e Mônica.
Não podemos nos esquecer da imagem de musicalidade dos brasileiros: representados na
forma de dança, como é o caso da lambada do filme “Lambada a dança proibida” (EUA, 1990) e
da música brasileira, com grandes compositores como Ary Barroso e Vinícius de Moraes
apresentados no filme “Sabor da paixão” (EUA, 2000). Portanto, são várias as imagens
101
apresentadas pelos cinco filmes: mulheres, floresta amazônica, misticismo, musicalidade,
pobreza, violência, corrupção, localidade de fuga, Rio de Janeiro, Bahia. E algumas dessas
imagens são apresentadas em mais de uma produção: misticismo, musicalidade, violência,
floresta amazônica e mulheres. Ao observarmos essas imagens representadas e apresentadas
pelos filmes, verificamos que as imagens a respeito do Brasil não foram modificadas ou mesmo
extintas, elas continuam a existir. Podemos afirmar que algumas imagens ganharam ênfase nesses
últimos anos, como é o caso da violência, corrupção e pobreza muito presente nas representações
da cidade do Rio de Janeiro. Por fim, devemos salientar que as imagens turísticas a respeito do
Brasil nessas produções foram constatadas em sua maioria, como negativas, pois podem atrair
turistas indesejáveis com imagens da mulher brasileira, como é o caso do turismo sexual, ou
retrair a demanda de turistas com imagens da violência, corrupção e pobreza.
102
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observamos que em matéria de cinema necessitou-se de milênios de desenvolvimento
mental e técnico, em recíproco influenciamento, para se pretender, tentar e conseguir captar a
imagem em movimento (BILHARINHO, 2003). E foram necessários mais alguns anos para que
esta ferramenta se tornasse de mero instrumento de diversão a uma importante indústria, como
avistamos na atualidade. Podemos visualizar e acompanhar essas etapas do surgimento e do
desenvolvimento do cinema no primeiro capítulo deste trabalho, onde estudamos o cinema antes
mesmo de seu surgimento, na sua pré-história. Caminhamos em nossos estudos procurando
entender a trajetória do cinema até esta tornar-se indústria, constatamos então que o cinema é um
meio de comunicação que trabalha com ideias e imagens aceitas e reproduz isso em larga escala,
sendo um elemento influenciador da demanda turística, pois está entre as principais fontes de
informações que definem as imagens turísticas (SÁ, 2002). É ainda, uma ferramenta muito útil à
estratégia de recuperação de um destino, pois estimula o interesse do turista, uma vez que os
filmes são a ferramentas mais eficientes para influenciar a percepção das pessoas (GLAESSER,
2008). Esta observação da importância do cinema para as imagens dos destinos nos ofereceu base
para investigar e compreender esta ferramenta do marketing.
No entanto, estudar a indústria cinematográfica em sua totalidade, seria quase que
impossível e despenderia muito tempo. Desta forma, verificamos que poderíamos estudar uma
única indústria cinematográfica, poderíamos então estudarmos qualquer indústria
cinematográfica, a francesa, a italiana, a japonesa, mas queríamos por meio do cinema enfatizar a
importância das imagens para um destino turístico, no caso aqui, verificando a imagem turística
do Brasil frente a outros países, constatamos então que deveríamos escolher uma indústria
cinematográfica de grande repercussão não só no Brasil como em outros países, identificando
então a indústria cinematográfica norte-americana.
Com os estudos a respeito da indústria cinematográfica norte-americana, realizada no
primeiro capítulo, compreendemos que o cinema americano é realmente uma indústria forte e
dominante, uma vez que produzem filmes que são vistos e apreciados por todo o mundo. E ao
analisar a sua indústria conseguimos identificar a apresentação de algumas imagens turísticas a
respeito do Brasil em suas produções, o que nos levou a efetuar uma melhor análise a esse
respeito.
103
Ao verificarmos as questões relacionadas ao estudo do cinema norte-americano sob a
imagem turística a respeito do Brasil, vimos à necessidade de depreendermos primeiramente a
importância do conceito imagem para o turismo, desta forma coube ao nosso segundo capítulo
extinguir essas dúvidas desta terminologia. Constatado o estudo a respeito do conceito imagem,
deparamo-nos então em analisar as produções cinematográficas norte-americanas, com o intuito
de verificar as imagens que expunham representações a respeito do Brasil. E com base na análise
de cinco filmes norte-americanos, com um recorte temporal entre 1990 e 2011, escolhidos para o
presente estudo, e enfocando aspectos da narrativa do filme, à dinâmica dos personagens no
quadro, as interações da banda sonora e as articulações dos nossos pontos de vista, podemos
concluir que as imagens transmitidas por essas produções americanas intensificam imagens como
a sensualidade da mulher brasileira, a violência, a corrupção, a impunidade penal, a pobreza e o
misticismo.
É importante salientarmos que com os estudos realizados no primeiro e segundo capítulo
e as análises dos filmes, individualmente e de forma composta, realizadas no terceiro capítulo
podemos concluir que as imagens a respeito do país continuam a existir no imaginário do
indivíduo norte-americano. Essas imagens não foram extintas ou modificadas, apenas receberam
novos sentidos e visões, pois se adequaram a nova realidade. Desta forma, podemos ainda
expressar e apresentar essas imagens em três palavras: paraíso, sensual e selvagem. A imagem do
Brasil paraíso continua representar a fauna e flora exuberante do país e dos animais exóticos. A
sensualidade ainda continua a ser apresentado na forma da mulher brasileira e o selvagem antes
representado pelo desconhecido, pelos locais inabitados e povos canibais tornam-se na atualidade
símbolo da violência urbana, da corrupção, da pobreza e da impunidade penal.
Podemos afirmar que a perpetuação de tais imagens geram sérias consequências ao país,
como por exemplo, o interesse dos turistas estrangeiros por sexo fácil no país. Além disso, as
imagens associadas à sensualidade também geram consequências sociais, como a depreciação da
mulher brasileira que é vista no exterior como “fácil” e provocante. E as imagens associadas a um
país violento podem retrair a demanda de turistas, vimos então que todas essas imagens possuem
grande efeito nos fluxos turísticos do país.
Verificamos também que nos cinco filmes norte-americanos analisados os aspectos
negativos a respeito do Brasil, como a violência, a corrupção, a impunidade penal e em alguns
casos a exploração sexual subtendida pela aparição da sensualidade feminina, têm uma maior
104
repercussão, pois observamos que na maioria destes filmes possuem também imagens positivas a
respeito do país, no entanto, são as imagens negativas que ressaltam ao olhar do espectador.
Devemos ainda aqui salientar que esses estereótipos a respeito do país não são totalmente falsas
ou equivocadas, uma vez que, realmente o país possui uma grande parcela da população vivendo
na pobreza, vivenciamos muito de perto a violência, temos deficiência em nossos governos e
instituições e quanto às mulheres, sim, muitas vezes estas se apresentam com poucas vestimentas
e de forma bastante sensual, mas isso se deve ao tropicalismo do Brasil. E não é apenas por essas
imagens, também existentes em outros países, que devemos ser representados, devemos
apresentar para os estrangeiros e nos orgulharmos de termos aspectos socioculturais
diversificados, como Matta (2004) mesmo afirma mostrar os vários “Brasis”, demonstrarmos o
ufanismo, exaltando as qualidades do povo brasileiro. Podemos então afirmar que com as análises
dos filmes, os estudos a respeito de cinema e imagens turísticas, nos oferece base para uma maior
reflexão a respeito da imagem que outros países possuem do Brasil.
Aqui também vimos a importância de retomarmos a problemática desta pesquisa: As
imagens veiculadas pelo cinema podem influenciar na formatação e promoção de um destino
turístico? Essa questão não pôde ser confirmada ao certo nesta pesquisa, o que podemos afirmar é
que as imagens são realmente importantes elementos para o produto turístico e que a imagem que
o cinema difunde e transmite é assimilado por um grande público, o que pode vir, com o decorrer
do tempo, influenciar nas destinações, neste caso, no Brasil.
Por último, vale ressaltar que o presente estudo não teve o propósito de ser conclusivo
em relação à imagem do Brasil. O tema é bastante abrangente e o estudo pode servir como base e
incentivo aos pesquisadores que desejem realizar outros estudos relacionados, como a imagem da
mulher brasileira no exterior, a influência da imagem do país para o aumento de eventos, turismo
cinematográfico entre outros.
105
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110
REFERÊNCIAS FILMOGRÁFICAS
007 CONTRA O FOGUETE DA MORTE (Moonraker,ING, 1979) dir.: Lewis Gilbe
A LISTA DE SCHINDLER (The schindler’s list, EUA,1993) dir.: Steven Spielberg
ALÔ AMIGOS (Saludos amigos, EUA, 1943) dir.: Wilfred Jackson, Jack Kinney, Hamlton Luske
e Bill Roberts
AMANHECER (The Twilight Saga: Breaking Dawn, EUA, 2011) dir.: Bill Condon
A MISSÃO (The Mission, ING, 1986) dir.: Roland Joffé
ANACONDA (Anaconda, EUA, 1997) dir.: Luis Llosa
AS AVENTURAS DE DOLIIE 1908 (The Adventures Dollie, EUA,1908) dir.: D.W. Griffth
A SERENATA TROPICAL (Donwn Argentine Way, EUA, 1940) dir.: Irving Cummings
BANANA DA TERRA (Banana da Terra, BR, 1939) dir.: Ruy Costa
BRENDA STARR (Brenda Starr, EUA, 1989) dir.: Robert Ellis Miller
CASABLANCA (Casablanca, EUA, 1942) dir.: Michael Curtiz
CIDADÃO KANE (Ctizen Kane, EUA, 1941) dir.: Orson Welles
CONTATOS IMEDIATOS DO TERCEIRO GRAU (Close Encounters of The Third King, 1977)
dir.: Steven Spielberg
E O VENTO LEVOU (Gone With the Wind, EUA, 1939) dir.: Victor Fleming
111
O EXTERMINADOR DO FUTURO (Terminator, EUA,1984) dir.: James Cameron
FEITIÇO NO RIO (Blame it on Rio, EUA, 1984) dir.: Stanley Donen
GUERRA NAS ESTRELAS (Star Wars, EUA,1977) dir.: George Lucas
INDIANA JONES E O REINO DA CAVEIRA DE CRISTAL (Indiana Jones and the Kingdon
Crystal, EUA, 2007)dir.: Steven Spielberg
INFERNO NA TORRE (The Towering Inferno, 1974) dir.: John Guillermin e Irvin Allen
JURASSIC PARK (Jurassic Park, EUA, 1993) dir.: Steven Spielberg
LAMBADA A DANÇA PROIBIDA (The Forbbiden Dance, EUA, 1990) dir.: Greydon Clark
MATRIX (The Matrix, EUA,1999) dir.: Andy Wachowski e Larry Wachowski
O CANTOR DE JAZZ (The Jazz Singer, EUA, 1927) dir.: Alan Crosland
O DESTINO DO POSEIDON (The Poseidon Adventure, 1972) dir.: Ronald Neame
O GRANDE ROUBO DO TREM (The Great Train Robbery, EUA, 1903) dir.: Edwin S.
O GORDO E O MAGRO
O INCRÍVEL HULK (The Incredible Hulk, EUA, 2008) dir.: Louis Leterrier
O MISTÉRIO DA ILHA DE VÊNUS (The Voodoo Island, EUA, 1960) dir.: Douglas Fowley
O MORRO DOS VENTOS UIVANTES (Wuthering Heights, EUA, 1939) dir.: William Wyler
112
O NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO (The Birth of a Nation, EUA, 1915) dir.: D.W. Griffth
ORQUÍDEA SELVAGEM (Wild Orchid, EUA, 1990) dir.: Zalman King
OS MERCENÁRIOS (The Expendables, EUA, 2010) dir.: Sylvester Stallone
PRIMAVERA PARA HITLER (The Producers, EUA,1968) dir.: Mel Brooks
PRÓXIMA PARADA, WONDERLAND (Next Stop Wonderland, EUA, 1998) dir.: Brad
Anderson
RAMBO (First Blood, EUA,1980) dir.: Ted Kotcheff
RIO (Rio, EUA, 2011) dir.: Carlos Saldanha
SABOR DA PAIXÃO (Woman on Top, EUA, 2000) dir.: Fina Torres
SALVO DE UM NINHO DE ÁGUIA (Rescued from na Eagle’s Nest, EUA,1907) dir.: Edwin S.
Porter
SE VOCÊ VAI AO RIO (Si tu vas à Rio, Tu meurs, FR, 1987) dir.: Philippe Clair
SUPERMAN (Superman, EUA, 1978) dir.: Richard Donner
TEMPO DE VIOLÊNCIA (Pulp Fiction, EUA, 1994) dir.: Quentin Tarantino
TITANIC (Titanic, EUA, 1998) dir.: James Cameron
TURISTAS (Paradise Lost, EUA, 2006) dir.: John Stockwell
VELOZES E FURIOSOS 5: OPERAÇÃO RIO (Fast and Furious 5, EUA, 2011) dir.: Justin Lin
113
VOANDO PARA O RIO (Flying down to Rio, EUA, 1933) dir.: Thornton Freeland
VOCÊ JÁ FOI A BAHIA? (The Three Caballeros, EUA, 1945) dir.: Norman Ferguson
X- MEN (X-men, EUA, 2000) dir.: Bryan Singer
114
ANEXOS
Fichas Técnicas dos Filmes
LAMBADA A DANÇA PROIBIDA - “THE FORBIDDEN DANCE”
Ficha técnica: Estúdio: Columbia Pictures; Distribuição: Columbia Pictures; Diretor: Greydon
Clark; Roteiro: Menahem Golan (baseado na história de Joseph Goldman); Assistentes de
Direção: Paul Martin, Jeff Shiffman e Jessica Levin; Produtores: Marc S. Fischer e Richard L.
Albert; Coreografos: Miranda Garrison e Felix Chavez; Edição: Robert Edwards e Earl Watson;
Supervisão Musical: Jackie Krost e Joe Lamont; Score Musical: Vladmir Horuinzhy; Screenplay:
John Platt e Roy Langsdon; Coordenador de Produção: Tina L. Van Hooser; Supervisor de
Script: Dana Kinonen; Diretor de Elenco: Gennett Tondino e Ted Warren; Elenco Principal:
Laura Harring, Sid Haig, Jeff James e Barbara Brighton; Mixagem de Som: Jan Eric Brodin;
Diretor de Arte: Frank Bertolino; Coreografa do Kid Creole & The Coconuts: Adriana Kaegi;
Gênero: Drama / Romance; Duração: 97 Minutos; Ano: 1990.
ANACONDA
Ficha técnica: Estúdio: Columbia Pictures; Distribuição: Columbia Pictures; Diretor: Luis Llosa;
Roteiro: Randy Bostic; Produtor: Andy Fickman; Elenco Principal: Jennifer Lopez, John Voight,
Ice Cube, Eric Stoltz, Jonathan Hyde, Owen Wilson, Kari Wuhrer, Vincent Castellanos e Danny
Trejo; Gênero: Aventura; Idioma: Inglês; Edição: Jeff McEvoy; Música: Paul Haslinger;
Duração: 90 Minutos; Ano: 1997.
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SABOR DA PAIXÃO – “WOMAN TOP”
Ficha técnica: Estúdio: Twentieth Century Fox - Searchlight Pictures; Distribuição: Twentieth
Century Fox; Diretor: Fina Torres; Roteiro: Liz Barton e Bridgette Kelley; Produtor: Alan Poul;
Elenco Principal: Penélope Cruz, Murilo Benício, Harold Perrineau Jr. e Mark Feuerstein;
Gênero: Comédia Romântica; Idioma: Inglês; Música: Heitor Pereira, Monique Gandenberg e
Paulo Albuquerque; Edição de Música: Sharon Heather Smith; Duração: 92 Minutos; Ano: 2000.
TURISTAS – “PARADISE LOST”
Ficha técnica: Estúdio: Twentieth Century Fox; Distribuição: Fox Films e Paris Films; Diretor:
John Stockwell; Roteiro: Michael Arlen Ross; Produtores: John Stockwell, Todd Wagner e Mark
Cuban; Elenco Principal: Olivia Wilde, Melissa George, Josh Duhamel, Desmond Askew e Beau
Garrett; Gênero: Terror / Suspense; Idioma: Inglês; Edição: Jeff McEvoy; Música: Paul
Haslinger; Duração: 95 Minutos; Ano: 2006.
VELOZES E FURIOSOS 5: OPERAÇÃO RIO – “FAST AND FURIOUS 5 – RIO HEIST”.
Ficha técnica: Estúdio: Universal Pictures; Distribuição: Universal Pictures; Diretor: Justin Lin;
Roteiro: Chris Morgan; Produtores: Vin Diesel, Michael Fottrell e Neal. H. Moritz; Elenco
Principal: Paul Walker, Vin Diesel, Jordana Brewster, Tyrese Gibson e Dwayne Johnson;
Gênero: Ação; Idioma: Inglês; Compositor: Brian Tyler; Duração: 130 Minutos; Ano: 2011.