nagisa migita

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unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Campus de Rosana - SP NAGISA MIGITA IMAGENS DO BRASIL NO CINEMA: Paraíso, Sensual e Selvagem, a Visão Norte-Americana ROSANASÃO PAULO 2011

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Page 1: Nagisa migita

unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

Campus de Rosana - SP

NAGISA MIGITA

IMAGENS DO BRASIL NO CINEMA: Paraíso, Sensual

e Selvagem, a Visão Norte-Americana

ROSANA– SÃO PAULO

2011

Page 2: Nagisa migita

NAGISA MIGITA

IMAGENS DO BRASIL NO CINEMA: Paraíso, Sensual

e Selvagem, a Visão Norte-Americana

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso

de Turismo – Unesp/Rosana, como requisito parcial

para obtenção do título de Bacharel em Turismo.

Orientadora: FABIANE NAGABE

ROSANA – SÃO PAULO

2011

Page 3: Nagisa migita

Migita, Nagisa

Imagens do Brasil no Cinema: Paraíso, Sensual e Selvagem,

a visão Norte Americana / Nagisa Migita. – Rosana - SP xxx f : il. ; xx cm

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (Graduação) ––

Universidade Estadual Paulista, Rosana, 2011.

1 Descritor. 2. Descritor.3 . Descritor. I. Autor II. Título

Page 4: Nagisa migita

ERRATA

Página Linha Onde se lê Leia-se

Page 5: Nagisa migita

Nagisa Migita

IMAGENS DO BRASIL NO CINEMA: Paraíso, Sensual

e Selvagem, a Visão Norte-Americana

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso

de Turismo – Unesp/Rosana, como requisito parcial

para obtenção do título de Bacharel em Turismo.

Orientador: FABIANE NAGABE

Data de aprovação: ___/___/____

MEMBROS COMPONENTES DA BANCA EXAMINADORA:

Presidente e Orientador: Profa Ms. Fabiane Nagabe

Unesp.

Membro Titular: Profa Dr

a Patrícia Alves Ramiro

Unesp.

Membro Titular: Prof.ª Ms. Savanna da Rosa Ramos

Unesp.

Local: Universidade Estadual Paulista

UNESP – Campus Experimental de Rosana

Page 6: Nagisa migita

À minha família e aos seus sacrifícios que tornaram real o meu sonho.

Page 7: Nagisa migita

AGRADECIMENTOS

Meus agradecimentos vão para os atores de minha vida Hollywoodiana,

Ao grande e melhor ator, meu pai Mitsutomo Migita,

A grande atriz e mulher da minha vida, minha avó Teruyo Migita,

A atriz coadjuvante e amiga para todas as horas, minha irmã Natacha Azussa Migita,

Ao atores coadjuvantes e símbolos do sucesso, meus irmãos Rogério Tsukassa Migita e Eduardo

Yutaka Migita,

Ao melhor roteiro de amizade: Polyana Cristina Paro, Damaris Ribeiro de Paula, Glaucia Pedroso

Arruda, Renata Barros de Melo, Gabriel Marchioli, Débora Faria, Marcela Manhani, Eric Kooro,

Felipe Bastos Maranezzi, Renata (Latina), Flávia (Poia), Renan (Zé), Hatus, Felipe (Chicken),

Rafael (Palmito), André Miranda, Bruno (da Gal), Karoline, Tiago, Lucas (Crécia), Mei,

Zacarias, Vitiligo, Mariana Souza e Miriam (Nina)

Ao melhor filme de curta metragem, aos moradores de Primavera,

Ao melhor efeito especial, Kyon,

A melhor direção, a minha orientadora Fabiane Nagabe,

A melhor direção de arte, aos professores Serginho, Patrícia Ramiro, Rosângela, Claudinha,

Eduardo Romero, Fernando Protti Bueno, Vagner, Danielle e Savanna.

A melhor assistência, Nilson, Nielson, Tiago, Val, Silvanira, Dallan, Gilnei, Ivani, Mônica, Sr.

Gama, Éder, Cinthya, Júlios, Jefferson, Alan, Luiz, Fábio, Edimilson e aos guardinhas.

Page 8: Nagisa migita

“[...] a arte nada mais é que a materialização do anseio humano pela imortalidade, pois a grande

angústia existencial do homem é a morte, que a fotografia e depois o cinema lograriam vencer”

(MANNONI, 2003, p.12).

Page 9: Nagisa migita

RESUMO

O presente trabalho advém de uma preocupação pautada na relação cinema e imagens turísticas,

procurando depreender mais a fundo o objeto de estudo desta pesquisa, o cinema. Os motivos que

norteiam nossa inquietação giram em torno, da necessidade de se entender quais são as imagens

turísticas expostas em cinco produções cinematográficas norte-americanas a respeito do Brasil.

Para tal, vimos à necessidade de analisarmos algumas das produções americanas para

constatarmos as principais imagens que representam o Brasil. E utilizando bibliografias de

autores como Bignami Sá, Tunico Amâncio, Laurant Mannoni, Jonni Langer entre outros que

tratam a respeito de cinema, imagens, turismo e a metodologia de análise de filmes conseguimos

obter base referencial para a compreensão da importância das imagens para os destinos turísticos,

uma vez que, a imagem é uma característica importante do produto turístico para atração de

fluxos turísticos; captação de negócios e capitais no exterior e expansão das exportações

(ITUASSU; OLIVEIRA, 2004). Estas referências também colaboraram para realizarmos uma

melhor análise dos filmes selecionados para esta pesquisa. E por meio da análise individual dos

cinco filmes selecionados, “Lambada a dança proibida”, “Anaconda”, “Sabor da Paixão”,

“Turistas” e Velozes e Furiosos 5: operação Rio”, produções cinematográficas presentes no

recorte temporal de 1990 a 2011 e tomando por base a narrativa do filme, à dinâmica dos

personagens no quadro, as interações da banda sonora e as articulações dos pontos de vista e a

análise composta destas películas conseguimos sintetizar as imagens presentes nestes filmes em

algumas palavras: o Brasil paraíso, sensual e selvagem.

Palavras – chave: Cinema e Imagens Turísticas

Page 10: Nagisa migita

ABSTRACT

This work stems from a concern based in the movies and pictures regarding tourist, seeking to

understand more fully the object of this research, the cinema. The reasons that guide our concerns

revolve around, the need to understand what are the tourist images exhibited in five U.S. film

productions about Brazil. To this end, we saw the need to review some of the American

productions only to find the key images that represent Brazil. And using bibliographies of writers

such as Sá Bignami, Tunico Amancio, Laurent Mannoni, Jonni Langer and others that deal about

movies, pictures, tourism and film analysis methodology able to obtain basic framework for

understanding the importance of images for tourist destinations , since the image is an important

feature of the tourism product to attract tourism; attracting business and capital abroad and

expanding exports (ITUASSU; OLIVEIRA, 2004). These references also collaborated to conduct

a better analysis of the films selected for this research. And through the individual analysis of five

selected films, "Lambada the forbidden dance," "Anaconda", "Woman on Top", "Paradise Lost"

and “Fast and Furious 5: Operation Rio”, filmmaking present in the time frame of 1990 2011 and

building on the film's narrative, the dynamics of the characters in the picture, the interactions in

the soundtrack and the joints of the views and analysis of these composite films can synthesize

images present in these films in a few words: Brazil paradise, sensual and wild.

Keywords: Film and Tourism Images.

Page 11: Nagisa migita

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Características dos filmes ........................................................................................ 99

Page 12: Nagisa migita

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BR – Brasil

ECO 92 – Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento

EMBRATUR – Instituto Brasileiro de Turismo

EUA – Estados Unidos da América

FBI – Federal Bureau of Investigation

FR - França

ING – Inglaterra

OMT – Organização Mundial de Turismo

PCC – Primeiro Comando da Capital

Page 13: Nagisa migita

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Taumatrópio ............................................................................................................... 24 Figura 2 - Taumatrópio ............................................................................................................... 25 Figura 3 - Fenaquistiscópio ......................................................................................................... 26

Figura 5 - Zootrópio .................................................................................................................... 27 Figura 4 - Zootrópio .................................................................................................................... 27 Figura 6 - Praxinoscópio ............................................................................................................. 28

Figura 7 - Cinetoscópio ............................................................................................................... 30 Figura 8 - Lambada a dança proibida ....................................................................................... 74 Figura 9 - Anaconda .................................................................................................................... 78 Figura 10 - Sabor da Paixão ....................................................................................................... 82

Figura 12 - Turistas ..................................................................................................................... 86 Figura 14 - Velozes e furiosos 5: Operação Rio ........................................................................ 93

Page 14: Nagisa migita

ÍNDICE FILMOGRÁFICO

007 CONTRA O FOGUETE DA MORTE 51

A LISTA DE SCHINDLER 43

ALÔ AMIGOS 47,69

AMANHECER 49

A MISSÃO 51

ANACONDA 51,69,71,78,99,100

AS AVENTURAS DE DOLIIE 37

A SERENATA TROPICAL 47,69

A SAGA 51

BANANA DA TERRA 46

BRENDA STARR 47,48

CASABLANCA 41

CIDADÃO KANE 40

CONTATOS IMEDIATOS DO TERCEIRO GRAU 42

E O VENTO LEVOU 40

EXTERMINADOR DO FUTURO 43

FEITIÇO NO RIO 49,53,69

GUERRA NAS ESTRELAS 42

INDIANA JONES E O REINO DA CAVEIRA DE CRISTAL 51

INFERNO NA TORRE 42

JURASSIC PARK 43

LAMBADA A DANÇA PROIBIDA 49,69,71,74,99,100

MATRIX 43

O CANTOR DE JAZZ 39

O DESTINO DO POSEIDON 42

O GRANDE ROUBO DO TREM 37

O GORDO E O MAGRO 38

O INCRÍVEL HULK 49,69

O MISTÉRIO DA ILHA DE VÊNUS 48,69

Page 15: Nagisa migita

O MORRO DOS VENTOS UIVANTES 40

ORQUÍDEA SELVAGEM 49,50,69

OS MERCENÁRIOS 49,69

PRÓXIMA PARADA, WONDERLAND 48,50,69

RAMBO 42

RIO 49,69

SABOR DA PAIXÃO 49,51,69,71,72,82,99,100

SALVO DE UM NINHO DE ÁGUIA 37

SE VOCÊ VAI AO RIO 82

SUPERMAN 42

TEMPO DE VIOLÊNCIA 40,43

TITANIC 42

PRIMAVERA PARA HITLER 51

TURISTAS 49,69,71,72,86,99,100

VELOZES E FURIOSOS 5: OPERAÇÃO RIO 49,69,71,72,93,99,100

VOANDO PARA O RIO 46,49,69

VOCÊ JÁ FOI A BAHIA? 47,69

X- MEN 43

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SUMARIO

INTRODUÇÃO 16

I CAPÍTULO – CINEMA 19

1.1 História do surgimento do cinema 19 1.2 A Pré-História do Cinema 20 1.3 A indústria Cinematográfica 34

1.4 American Way of Life: A importância da indústria cinematográfica norte-americana 36 1.5 O cenário brasileiro em filmes norte-americanos 45

II CAPÍTULO – CLAQUETE, AÇÃO!: METODOLOGIA E CONSTRUÇÃO TEÓRICA 57

2.1 Imagem e Turismo 57

III METODOLOGIA: CAMINHOS SEGUIDOS 69

3.1 Análise dos filmes: contextos de produção e cenários 73 3.1.1 Lambada a dança proibida - “The Forbidden dance” 73 3.1.2 Anaconda 77 3.1.3 Sabor da paixão – “Woman Top” 81 3.1.4 Turistas – “Paradise Lost” 86 3.1.5 Velozes e furiosos 5: operação Rio – “Fast and Furious 5 – Rio Heist”. 92

3.2 Visão geral 98

CONSIDERAÇÕES FINAIS 102

REFERÊNCIAS 105

REFERÊNCIAS FILMOGRÁFICAS 110

ANEXOS 114

Lambada a dança proibida - “The Forbidden dance” 114 Anaconda 114 Sabor da paixão – “Woman Top” 115 Turistas – “Tourists” 115 Velozes e furiosos 5: operação Rio – “Fast and Furious 5 – Rio Heist”. 115

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16

INTRODUÇÃO

Atualmente vivemos um período no qual a tecnologia tornou-se indispensável, na saúde,

hospedagem, transporte, comunicação, e o seu rápido desenvolvimento garante e reforça a

divulgação da informação, por meio dos progressos técnicos nos sistemas de reprodução gráfica,

através de um vasto material, livros, mapas, periódicos, guias, que facilitam o deslocamento dos

viajantes e, sobretudo, incentivam a imaginação e o desejo do potencial turista (RODRIGUES,

2002). Desta forma, a publicidade invade cada interstício da sociedade e do território. Cria-se,

assim, uma vocação de consumo que antecede à produção material e imaterial e que, ressaltando

a oposição entre trabalho e não trabalho busca despertar a necessidade de lazer (SILVEIRA,

2002). No entanto, as pessoas não mais se contentam em conseguir apenas o lazer, pois,

As pessoas não querem apenas ser felizes, querem curtir essa felicidade. E no centro

desse propósito espera-se que as empresas que habitam o mercado de turismo estejam

aptas, não apenas a fornecer produtos e serviços para satisfazer as necessidades, mas que

sejam capazes de ir além, surpreendendo; realizando desejos, sonhos e fantasias

(COBRA, 2001, p.68).

Verificamos, portanto, que as pessoas buscam por meio dos produtos e serviços

turísticos satisfazer suas necessidades mais profundas, aquelas em que envolvem a realização de

desejos, sonhos e fantasias. No entanto, a realidade jamais poderá propiciar os prazeres

aperfeiçoados dos devaneios de cada individuo, tornando cada compra uma desilusão ou um

maior anseio por produtos mais novos (URRY apud CORIOLANO, 2002, p. 120). Dentro deste

contexto onde o consumidor se torna cada vez mais exigente e refinado, o marketing vem se

aprimorando, utilizando de diversas ferramentas para continuar neste mercado competitivo

(SILVA, 2007) e dentre estas ferramentas está o cinema.

O cinema é considerado uma ferramenta sofisticada e inovadora no marketing turístico,

pois é um meio de comunicação em massa, que traz importantes elementos para a criação, a

divulgação e a consolidação de uma imagem turística local, uma vez que, principalmente por

atingir um maior número de pessoas, passa a ser um dos maiores divulgadores e consolidadores

de imagens (ALFONSO, 2006). É ainda, uma ferramenta muito útil à estratégia de recuperação

de um destino, pois estimula o interesse do turista, uma vez que os filmes são as ferramentas

eficientes para influenciar a percepção das pessoas (GLAESSER, 2008). O cinema também pode

funcionar como reforço de poderosos símbolos que influenciam a escolha dos destinos de

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17

turistas, individual ou coletivamente, e, por meio de grandes produções, sejam estas televisivas

ou cinematográficas, o telespectador pode incorporar em seu imaginário pessoal os cenários onde

se desenvolveram suas tramas favoritas (BRASIL, 2007). Considerando a importância do cinema

para a divulgação das imagens turísticas, utilizamos esta ferramenta como nosso objeto de estudo.

O presente trabalho advém, então, de uma preocupação pautada na relação cinema e

imagens turísticas. Os motivos que norteiam nossa inquietação, além da grande paixão pelo tema,

giram em torno da necessidade de se entender a seguinte problemática: As imagens veiculadas

pelo cinema podem influenciar na formatação e promoção de um destino turístico? Para

chegarmos a uma resposta a respeito desta questão, observamos que teríamos grandes

dificuldades, uma vez que a indústria cinematográfica é muito ampla. Desta forma, vimos à

necessidade de focalizar em uma única indústria cinematográfica: a norte-americana. A escolha

pela indústria cinematográfica norte-americana se deu primordialmente, por apresentar-se como o

mais robusto mercado de audiovisual do mundo, “sendo a produção de programas de televisão e

filmes de longa-metragem considerado um dos mais vitais e valorizados recursos da nação”

(BRASIL, Ministério do Turismo, 2011, p.24).

Neste trabalho, portanto, temos como objetivo geral pesquisar quais imagens turísticas

são expostas nas cinco produções cinematográficas norte-americanas analisadas, cujo recorte

temporal se dá de 1990 a 2011. Para alcançarmos este objetivo verificamos a necessidade de

inicialmente compreendermos o cinema e a indústria cinematográfica norte-americana, para então

descrevermos e analisarmos seus filmes, e finalmente, constatar as imagens turísticas presentes

nestas produções. No entanto, é importante salientarmos que em vista da vasta quantidade de

produções norte-americanas que possuem imagens turísticas a respeito do Brasil tivemos que

escolher certo número de produções para serem analisados e ainda delimitar um recorte temporal,

no qual se inserem as produções cinematográficas norte-americanas lançadas entre os anos 1990

e 2011. Analisamos, especificamente, cinco produções americanas: “Lambada a dança proibida”

(EUA, 1990), “Anaconda” (EUA, 1997), “Sabor da paixão” (EUA, 2000), “Turistas” (EUA,

2006) e “Velozes e Furiosos 5: operação Rio” (EUA, 2011). Selecionamos estes cinco filmes

dentre 43 filmes citados nesta pesquisa, uma vez que estas apresentavam o conteúdo narrativo a

respeito do Brasil e imagens representativas, além de que estas produções cinematográficas se

encontravam dentro do recorte temporal estabelecido. Outra justificativa para a seleção destas

películas foi, devido, a estas pertencerem a gêneros cinematográficos dos quais os norte-

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18

americanos são especialistas e por serem estes os gêneros de maior arrecadação de bilheteria,

como ação, aventura, comédia romântica e suspense/terror. Com a verificação individual dos

filmes foi possível à identificação de algumas imagens já presentes na formação histórica do

continente, e, desta forma percebemos a necessidade da análise dos elementos filmográficos de

cada produção conjuntamente, ao qual denominamos visão geral, pois trata-se de um processo

comparativo.

Vislumbrando uma resposta fidedigna a esta problemática utilizamos na pesquisa os

seguintes procedimentos: o estado da arte e a pesquisa documental (DENCKER, 1998), onde

foram realizadas a revisão da literatura de publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros,

pesquisas, monografias, teses e audiovisuais como filmes e documentários. A bibliografia em que

nos embasamos foi basicamente a respeito de assuntos relacionados a imagem, imagem turística,

imagem do Brasil no turismo, o cinema e a indústria cinematográfica norte-americana. Também

foram utilizados audiovisuais como o documentário de Lúcia Murat: “Olhar estrangeiro: um

personagem chamado Brasil” para melhor compreensão das imagens a respeito do país.

Nesta pesquisa, portanto, estudamos as imagens turísticas veiculadas pelo cinema, que

segundo Alexandre Busko Valim (2006) é um fenômeno complexo, mas que ganhou importância

nos últimos anos. Neste contexto, esta pesquisa busca investigar o cinema, observando o quanto

ela pode contribuir para a formatação da imagem de um destino turístico, exportando imagens e

valores positivos do Brasil. Vislumbramos ainda com este trabalho somar dados, ampliar visões e

discussões a respeito do tema para que se possa auxiliar no desenvolvimento de diversas outras

pesquisas.

Page 21: Nagisa migita

19

I CAPÍTULO – CINEMA

Neste capítulo discutiremos algumas questões necessárias para a compreensão das

imagens turísticas do Brasil no cinema: a visão norte-americana. Objetivamos, inicialmente,

entender o nosso objeto de estudo. Vimos também à importância da reflexão e estudo da indústria

cinematográfica norte-americana e como a mesma apresenta e representa o Brasil em seus filmes.

Nesse sentido dividimos o capítulo em três partes: a história do surgimento do cinema, a indústria

cinematográfica norte-americana e o cenário brasileiro em filmes norte-americanos. Essa

digressão é realizada com intuito de se compreender que as imagens focalizadas serão aquelas a

respeito do Brasil transmitidas pela indústria cinematográfica norte-americana.

1.1 HISTÓRIA DO SURGIMENTO DO CINEMA

Para a reflexão das questões a respeito do cinema, é necessário primeiramente

compreender como foi o processo histórico de seu surgimento. Portanto, pretendemos abordar

nesta primeira parte, a história do surgimento do cinema, dividida em duas partes: a pré-história

do cinema e a indústria cinematográfica. Observaremos que para a formação desta história foram

necessários milênios de desenvolvimento mental e técnico para pretendermos, tentarmos e

conseguirmos captar a imagem em movimento.

Inicialmente relataremos brevemente a pré-história do cinema, que se inicia com os

homens da era paleolítica1 que tentavam fixar em cavernas, pedras, madeira, entre outros, o seu

cotidiano com rabiscos e desenhos. Séculos mais tarde filósofos como Aristóteles realizaram

estudos de grande importância, constatando a aparição de imagens por meio de feixes de luz. Tais

descobertas possibilitaram que inventores dos séculos seguintes desenvolvessem instrumentos

onde poderiam visualizar as imagens em diferentes formas e tamanhos. Muitos inventores

1 Conforme o dicionário Michaelis a era paleolítica é o primeiro período da Idade da Pedra, também denominada

Idade da Pedra Lascada.

Page 22: Nagisa migita

20

iluministas2 foram aperfeiçoando as invenções realizadas pelos seus antecessores. De

aperfeiçoamentos e descobertas desde os feixes de luz de Aristóteles, passaram invenções como a

Câmara Escura, a Lanterna Mágica, entre outros para finalmente a criação do aparelho

cinematográfico. Verificamos que após uma longa cadeia de pesquisadores, foi finalmente nas

mãos de três personagens, o americano Thomas Alva Edison e os dois irmãos franceses Lumiére,

que o aparelho cinematográfico conseguiu dar seus primeiros passos para a sua comercialização.

A partir da comercialização dos filmes cinematográficos, vimos à importância da

compreensão do cinema como indústria. Descrevemos, portanto na segunda parte da história do

surgimento do cinema, a respeito da indústria cinematográfica. Destacaremos nesta parte as

empresas de cinema que ganharam notoriedade, da evolução da indústria cinematográfica e como

é a produção de uma película. É importante ressaltarmos que neste último item não abordaremos

em sua totalidade, pois é algo muito além das possibilidades deste trabalho.

1.2 A PRÉ-HISTÓRIA DO CINEMA

Os homens paleolíticos registravam em suas cavernas com rabiscos e gravuras o seu

cotidiano sequencialmente. Da mesma forma, os egípcios também desenhavam sequencias de

suas ações nos muros de templos e nas paredes de túmulos. Segundo Sarmento Hayata e Marília

Madril (2009) esses seriam os primeiros indícios da intenção do movimento, que em grego

significa Kínema.

O cinema teve em sua Pré-História, antes de ser e fazer História séculos de descobertas e

invenções que abrangeram os campos da Física, Química e Biologia (HAYATA; MADRIL,

2009). Foi devido aos estudos de filósofos gregos como Aristóteles (384-322 a.C) que

conseguimos criar uma imagem. Aristóteles estudou o fenômeno da projeção dos raios

luminosos, conhecido desde a Antiguidade. Observou primeiramente a passagem de um feixe de

luz através de uma abertura qualquer. Em seguida observou que a projeção dos raios solares

2 Denominação concedida às pessoas que viveram a partir do século XVIII, devido ao movimento filosófico

chamado Iluminismo ocorrido na França.

Page 23: Nagisa migita

21

através de uma abertura quadrada, redonda ou triangular produz sempre uma imagem circular,

contudo o filósofo não conseguiu decifrar o fenômeno (MANNONI, 2003).

Anos mais tarde utilizando esses estudos dos filósofos gregos, a respeito dos raios

luminosos criou-se na França no século XIII, a Câmara Escura. O princípio da Câmara Escura é

explicado por Laurent Mannoni (2003) no seu livro “A grande arte da luz e da sombra”. Segundo

o autor, a técnica segue a utilização do seguinte processo:

[...] em um pequeno orifício na parede ou na janela de uma sala mergulhada na

escuridão, a paisagem ou qualquer objeto exterior serão projetados no interior da sala, na

parede oposta ao orifício. Se a tela for feita com um pedaço de papel ou um pano branco,

a imagem fica ainda melhor. Se a tela estiver perto da abertura, a imagem fica pequena,

porém nítida; se estiver distante, ela aumenta, mas perde em definição e colorido. De

qualquer forma, ela é projetada de cabeça para baixo, porque os raios que partem dos

pontos mais altos e mais baixos da cena exterior, propagando-se em linha reta, cruzam-

se ao passar pelo orifício. O resultado é uma dupla inversão da imagem, de cima para

baixo e da esquerda para a direita (MANNONI, 2003, p.32).

Esse processo foi um recurso simples e prático, pois são utilizados apenas uma sala

escura, uma abertura improvisada em uma parede ou em uma janela para deixar os raios

luminosos atravessarem, projetando as imagens da paisagem de fora da sala escura em uma tela

de papel ou pano branco. No entanto, havia problemas quanto à imagem ser sempre invertida, ou

seja, a paisagem ou os objetos eram ainda sempre projetados de cabeça para baixo.

O princípio e a construção da câmara escura não mudaram do século XIII ao começo do

século XVI: a abertura era feita numa parede ou numa janela, era só o que variava. Com os

princípios da Câmara Escura, abertura em uma das paredes, sala escura e tela branca, criou-se no

século XVII a Lanterna Mágica. A Lanterna Mágica, criada por Christiaan Huygens, foi segundo

Mannoni (2003) a ideia-mestra que antecedeu o nascimento do cinema, uma vez que,

diferentemente da Câmara Escura este instrumento possibilitava o movimento do assunto

representado. Este aparelho

[...] Trata-se de uma caixa óptica de madeira, folha de ferro, cobre ou cartão, de forma

cúbica, esférica ou cilíndrica, que projeta sobre uma tela branca (tecido, parede caiada

ou mesmo couro branco, no século XVIII), numa sala escurecida, imagens pintadas

sobre uma placa de vidro. [...] A imagem é “fixa” ou “animada”, pois a placa comporta

um sistema mecânico que permite dar movimento ao assunto representado (MANNONI,

2003, p.58).

A Lanterna Mágica representava imagens pintadas sobre uma placa de vidro, ou seja,

diferentemente da Câmara Escura que representava a paisagem imposta pelo lado de fora da sala

Page 24: Nagisa migita

22

escura, a Lanterna disponibilizava a escolha pela paisagem a ser vista, de acordo com a placa a

qual instalássemos. E por possuir um sistema mecânico a Lanterna possibilitava ao espectador

visualizar as sequencia das ações apresentado, oferecendo consequentemente, o movimento. O

seu princípio permaneceu o mesmo, com algumas modificações do século XVII ao fim do século

XIX.

No século XVIII com o aprimoramento da Lanterna Mágica foi criado um novo gênero

de espetáculo luminoso, a Fantasmagoria. Étienne – Gaspard Robert, ou mais conhecido como

Robertson, e Léonard André Clisorius pugnavam pela exclusividade da exploração da

fantasmagoria. A Lanterna Mágica aperfeiçoada do século XVIII possuía a retroprojeção mais

nítida, devido ao aprimoramento do seu tubo óptico. O instrumento também era equipado com

um diafragma que permitia o ajuste da posição das lentes. Para permitir o deslocamento da

lanterna ao longo de trilhos ou sobre rodas os inventores utilizaram uma barra dentada

(MANNONI, 2003).

No começo do século XIX, ainda utilizando os princípios da Câmara Escura o inventor

francês Joseph-Nicéphore Nièpce (1765 – 1833) deu início às pesquisas3 acerca da fixação das

imagens observadas dentro de uma Câmara Escura. Por meio dos estudos do professor de

Medicina da Universidade de Halle, Johamnn H. Schulze, no século XVIII, onde nota que os sais

de prata 4eram sensíveis à luz, Nièpce consegue criar uma Câmara que apreende imagens

imobilizadas fixando-as em uma placa de vidro impregnada de Colódio Úmido5. Obtendo seu

primeiro negativo em cinco de maio de 1816 (MANNONI, 2003). E após tirar sua primeira

fotografia registra no ano de 1822, a patente de seu invento, denominado Heliógrafo. Foi a partir

destas constatações que surge a fotografia e consequentemente os fotógrafos (HAYATA;

MADRIL, 2009).

Apesar do nascimento da fotografia, muitos pesquisadores continuaram no decorrer do

século XIX, com suas tentativas de projetar figuras animadas, pintadas à mão, outros, porém,

sonhavam obter imagens fotográficas Movimentadas. Por fim, as técnicas da Lanterna

desenvolvida por Huygens fundiram-se às da Câmera Fotográfica (MANNONI, 2003).

3 Essas pesquisas realizadas pelo inventor francês Joseph-Nicéphore Nièpce (1765 – 1833) foram iniciadas

precisamente no ano de 1816, segundo o autor Mannoni (2003). 4 Tais sais mais tarde nas mãos de Nièpce tornaria se elemento base para a fotografia (HAYATA; MADRIL, 2009).

5 O Colódio Úmido foi um elemento importante para unir os sais de prata nas placas de vidro, uma vez que, para se

obter os negativos era necessário algo que contivesse, numa massa uniforme, os sais de prata sensíveis à luz, para

que não dissolvessem durante a revelação (PROCESSO FOTOGRÁFICO, 2011).

Page 25: Nagisa migita

23

Os pesquisadores do século XIX estudavam o fenômeno da Persistência Retiniana, ou

Persistência da Visão. Este fenômeno foi inicialmente verificado no século XVII, pelo religioso

Nollet. Ele constatou que “os olhos humanos são capazes de reter imagem no fundo da retina”

(HAYATA; MADRIL, 2009). Isto significava que poderíamos trocar uma figura por outra sem

que nossos olhos percebessem, desde que a troca fosse realizada rapidamente. A averiguação de

Nollet instigou a curiosidade dos pesquisadores do século XIX que persistiram nos estudos, e

chegaram a compreender que ao captar uma imagem o olho humano levaria uma fracção de

tempo para esquecê-la, pois a imagem persistiria na retina por uma fração de segundo após a sua

percepção. Porém, as imagens projetadas a um ritmo superior a 16 por segundo, associam-se na

retina sem interrupção (PERSISTÊNCIA DA VISÃO, WIKIPÉDIA). Ou seja, ao apresentarmos

imagens diferentes rapidamente criaríamos a ilusão de movimento.

Estudos a respeito da Persistência da Visão, e, os das impressões luminosas deram

alicerce para muitas invenções dos anos de 1820 e 1830. A grande maioria dessas invenções era

fundamentada em Discos com figuras para se obter a ilusão do movimento. Foram realizados

uma série de Discos experimentais: a Roda de Faraday, o Estroboscópio6 de Simon Stampfer e o

Fenaquistiscópio7de Joseph Plateau. Esses dois últimos Discos, datados do final de 1832, davam

ao olho a ilusão perfeita do movimento (MANNONI, 2003).

Outros Discos foram construídos ao longo do século XIX, no entanto, aqui destacamos o

invento do Dr. John Ayrton Paris, que construiu, por volta de 1825, o seu Taumatrópio (Figuras 1

e 2). O instrumento era feito de um disco com figuras diferentes e invertidas desenhadas em cada

lado que, girando com velocidade suficiente, dava a impressão de que as duas figuras estavam em

um mesmo plano (HAYATA; MADRIL, 2009).

6 Conforme Mannoni (2003) a palavra Estroboscópio é originário do grego Strobos, “rotação”.

7 Ibidem a palavra Fenaquistiscópio é originário do grego Phenas, “enganador”, “ilusório”, e Skopêo, “eu olho”.

Page 26: Nagisa migita

24

Figura 1 - Taumatrópio

Fonte: Disponível em http://courses.ncssm.edu/gallery/collections/toys/images/dogbirds.jpg

Na figura acima John Paris utiliza duas imagens a de um cachorro e a de dois pássaros.

Na imagem que possui o cachorro há uma frase que considera: Why is a pointer dog like a

highwayman 8 a resposta parece surgir na frase que contém a imagem dos pássaros: Because he is

in quest of pres9. Na segunda figura do Taumatrópio, o Disco de Paris apresenta de um lado a

imagem de uma gaiola e do outro lado a de um pássaro. Ao girarmos o Disco perceberíamos que

o pássaro se encontraria dentro da gaiola.

8 A tradução da frase:Why is a pointer dog like a high way man em português seria “Por que um cão ponteiro é

como um salteador”. 9 A tradução da frase: Because he is in quest of pres em português seria “Porque ele está em busca de mais”.

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25

Figura 2 - Taumatrópio

Fonte: Disponível em http://www.precinemahistory.net/images/thaumatrope_1825.gif

Da mesma forma que o Dr. John Ayrton Paris, Joseph Antoine Ferdinand Plateau ficou

fascinado pelo fenômeno da Persistência da Visão. Arquitetou então, a partir de 1827, uma série

de dispositivos a discos destinados a esclarecer e testar o fenômeno da Persistência das

impressões luminosas. Apenas dois deles foram comercializados: o Anortoscópio10

, concebido

em 1828 e posto à venda no começo de 1836, e o Fenaquistiscópio, idealizado em dezembro de

1832 e entregue ao público no ano seguinte (MANNONI, 2003).

O Fenaquistiscópio (figura 3) de Plateau foi o primeiro disco que reproduzia

perfeitamente a ilusão do movimento. O instrumento era constituído por dois discos de papelão

preso no centro por um arame que, girando em direções diferentes, enganavam o olho do

espectador criando-lhe a miragem do movimento das figuras impressas nas rodas do disco

(HAYATA; MADRIL, 2009). Na figura a seguir Plateau apresenta desenhos de uma mulher e um

homem, em diferentes posições, no intuito de simular o movimento de dança.

10

Conforme Mannoni (2003) a palavra Anortoscópio surgiu do grego anorthô, “eu corrijo”, e skopêo, “eu olho”.

Page 28: Nagisa migita

26

Figura 3 - Fenaquistiscópio

Fonte: Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Phenakistoscope_3g07690u.jpg

Mannoni explica a ilusão criada pelo Fenaquistiscópio da seguinte forma:

[...] se várias figuras, separadas regularmente e diferindo ligeiramente entre si em forma

e posição, forem sucessivamente mostradas ao olho, a intervalos de tempo muito curtos e

próximos, as impressões sucessivas que produzem no cérebro (na “retina”, pensava

Plateau) conectam-se sem se fundir. Resultado: cremos ver um único objeto

gradualmente mudando de forma e posição (2003, p.223).

No Disco de Plateau, portanto, as figuras estão em um mesmo plano, no entanto, a uma

distância relativa uma da outra, para que quando iniciado o movimento do Disco as imagens

pareçam estar mudando de posição. O autor anteriormente citado observa ainda que, o aparelho

de Plateau ganhou grande destaque entre as pessoas da sua época. Colaborando intensamente na

história do cinema, uma vez que “Esse avanço intermitente de uma imagem e sua obturação

durante a mudança de posição constitui o princípio fundamental da técnica cinematográfica”

(2003, p.238).

Como tínhamos dito anteriormente, o Fenaquistiscópio de Plateau e outro Disco, o

Zootrópio de William George Horner, foram os instrumentos que melhor representavam a ilusão

do movimento. O Zootrópio (Figuras 4 e 5) foi criado em 1834, por William George Horner. O

aparelho que aperfeiçoava o invento de Plateau proporcionava a “observação do espetáculo” a

várias pessoas ao mesmo tempo. O Zootrópio possuía uma forma cilíndrica que girava em torno

Page 29: Nagisa migita

27

de um eixo vertical. O cilindro era perfurado e, em seu interior havia imagens representando fases

contínuas de um movimento (HAYATA; MADRIL, 2009). Nas duas figuras do Zootrópio

podemos visualizar que o instrumento utiliza de uma imagem em diferentes posições, como o

Fenaquistiscópio de Plateau. O Zootrópio se diferencia do Disco de Plateau, em forma e

apresentação, uma vez que o instrumento possibilitava a visualização da atração a várias pessoas

ao mesmo tempo.

Figura 5 - Zootrópio

Fonte: Disponível em http://www.earlycinema.com/images/technology/zoetrope_large.jpg

Alguns anos mais tarde o cientista inglês Charles Wheatstone (1802 – 1875) inventou o

Estereoscópio11

. O Estereoscópio se compunha de duas imagens planas, desenhadas ou

fotografadas, mas ligeiramente diferentes justapostas verticalmente na caixa, em oposição a duas

lentes. O usuário olhava através de ambas as lentes e via as duas imagens reunidas em uma só,

superpostas pela visão binocular (MANNONI, 2003). “A fotografia movimentada finalmente

saíra do limbo”, como afirma Mannoni (2003), e embora alguns engenheiros e ópticos houvessem

tomado o rumo da estereoscopia individual animada, outros persistiam no sonho de um

espetáculo coletivo e popular, como foi o caso do francês Émile Reynald e do americano Thomas

Alva Edison.

11

O Estereoscópio inventado pelo inglês Charles Wheatstone (1802 – 1875) consistia basicamente em uma Caixa

Óptica que oferecia certa sensação de tridimensionalidade (MANNONI, 2003).

Figura 4 - Zootrópio

Page 30: Nagisa migita

28

Émile Reynald, fotógrafo de Paris, criou em 1877 o Praxinoscópio (Figura 6).

Fundamentado no Zoótropo, o Praxinoscópio se diferenciava pelos seus jogos de espelhos por

onde se observam as imagens animadas (HAYATA; MADRIL, 2009). Como podemos observar

o Praxinoscópio de Reynald possuía um formato quadrado, criado de madeira e com uma

abertura de metal por onde visualizávamos as imagens.

Figura 6 - Praxinoscópio

Fonte: Disponível em http://abelhudos.files.wordpress.com/2008/08/photo.jpg

Ainda no século XIX, já nos prelúdios da cinematografia, percebemos que os

pesquisadores continuam na expectativa de captar a ilusão perfeita do movimento. Foi

procurando captar a imagem perfeita da realidade que no inverno de 1881-1882 o fisiologista

Étienne – Jules Marey criou o Rifle Fotográfico. Marey tinha a intenção de captar a imagem de

um pombo. O Rifle Fotográfico é descrito da seguinte forma, por Mannoni.

[...] A lente ajustável ficava alojada no cano. Na parte de trás, montada na coronha, uma

larga culatra cilíndrica abrigava uma engrenagem de relojoaria. A mira era feita através

de um visor preso à coronha. Quando se pressionava o gatilho, a engrenagem começava

a girar, acionando um eixo central, que fazia 12 rotações por segundo e movimentava

todas as demais partes móveis. Primeiro utilizou-se um disco opaco, com uma estreita

janela que deixava passar a luz a 720 centésimos de segundo aproximadamente, 12 vezes

por segundo. Atrás desse obturador, e sobre o mesmo eixo, havia um segundo disco com

12 pequenas aberturas e com dentes regularmente espaçados À volta de sua

circunferência. Finalmente, uma “caixa de mudança” contendo 25 chapas fotográficas

ficava alojada sobre o rifle, deixando cair às chapas, uma a uma, no interior do

dispositivo, prontas para serem expostas à luz (MANNONI, 2003, p330).

Page 31: Nagisa migita

29

Conforme a citação de Mannoni o instrumento tinha, portanto o formato e elementos de

um rifle, visor e gatilho. Quando acionado o gatilho, a engrenagem de relojoaria permitia que, ao

invés de disparar balas o aparelho registrasse imagens. Marey continuou suas pesquisas na área

fotográfica. Pouco tempo depois nomeou seu assistente, Georges Demeny (1850 – 1917) seu

discípulo.

Com a assistência de Demeny, Marey iniciava o verdadeiro período fílmico de sua obra,

criando o Cronofotógrafo de filme em celuloide no ano de 1890. Nesse mesmo ano, Marey

rompeu os trabalhos que realizara com Demeny, devido a muitos problemas, em especial ao

espírito mercantilista de Demeny.

Em 27 de julho de 1891 Demeny apresenta o Fonoscópio. Este aparelho se propunha

“reproduzir a ilusão do movimento das palavras e da fisionomia de uma pessoa falando”

(MANNONI, 2003). No ano anterior, em 1890, o fisiologista Étienne – Jules Marey apontou a

objetiva de sua câmera Cronofotográfica para uma cena animada e obteve uma série de imagens

sucessivas em uma película de celuloide (com significativas ajuda de seu ex- assistente,

Demeny). Finalmente, o movimento real da vida havia sido captado e fixado, em todas as suas

fases, num suporte transparente, flexível e sensível: o filme. Estava inventada a técnica

cinematográfica. É verdade que, ainda lhe faltavam alguns aperfeiçoamentos para a criação do

verdadeiro aparelho cinematográfico, que viriam mais tarde, ainda no mesmo século, por meio

das invenções de Thomas Alva Edison e os irmãos Lumiére (MANNONI, 2003). Foi então que

nos Estados Unidos a cronofotografia de Marey deixou de ser puramente científica para tornar-se

um verdadeiro espetáculo popular. Isso só foi possível, devido à invenção de Thomas Edison, o

Quinetoscópio (MANNONI, 2003).

Thomas Alva Edison (1847 – 1931) registrou em 1892, uma longa série de imagens

fotográficas em uma fita de celuloide dotada de perfurações marginais, que corria por meio de

roldanas no interior de uma caixa, alta e estreita. Essas imagens surgiam através de uma “janela

iluminada” colocada no alto da caixa, proporcionando a observação para uma pessoa de cada vez

(HAYATA; MADRIL, 2009). O Quinetoscópio ou Cinetoscópio (Figura 7), cujo nome aparece

nos escritos de Edison em 1888, só foi explorado comercialmente em 1894 (MANNONI, 2003).

Na figura a seguir, visualizamos um homem utilizando o Cinetoscópio. Percebemos que o

instrumento pode somente ser utilizado por uma pessoa por vez.

Page 32: Nagisa migita

30

Figura 7 - Cinetoscópio

Fonte: Disponível em

http://2.bp.blogspot.com/_1uxxN0nZjLY/ReCUrACyvI/AAAAAAAAAB0/usm3O7qNd7E/s400/kinetophone.jpg

No final do ano de 1894, todos os elementos estavam reunidos para levar o espetáculo

cronofotográfico para a tela grande: fitas de ficção estavam sendo elaboradas, as películas já eram

perfuradas e diversos sistemas de tração do filme davam resultados satisfatórios, como era o caso

do Quinetógrafo de Edison (MANNONI, 2003). E novos pesquisadores vinham aperfeiçoando

diversos tipos de projetores de filme, com maior ou menor êxito, a partir dos modelos do

Cronofotógrafo de Marey e do Quinetoscópio de Edison, todavia, não caberá a eles o mérito da

primeira projeção pública de fotografias animadas. Personalidades como os Lumiére e Meliés que

serão os responsáveis pelo surgimento da indústria e do espetáculo cinematográfico (MANNONI,

2003). Segundo Mannoni (2003) foram os Lumiére que encontraram a solução para o problema

da projeção de filmes cronofotográficos, pois ninguém na Europa e nos Estados Unidos havia

conseguido o intento com tamanha eficiência antes da sessão histórica de 22 de março de 1895.

Em 1895, os filhos de um industrial de Lyon na França, Auguste Lumiére e Louis

Lumiére combinaram as invenções de Étienne J. Marey o Rifle Fotográfico, uma espécie de

metralhadora que era capaz de produzir um conjunto de imagens consecutivas por segundo, e o

quinetoscópio de Thomas Edison, registrando em cartório a patente do Cinematographo,

conforme a escrita da época (HAYATA; MADRIL, 2009). O mecanismo do aparelho Lumiére,

Page 33: Nagisa migita

31

que era uma caixa de madeira, movia-se por uma manivela ligada a uma árvore central, operada

manualmente, que fazia avançar uma fita de celuloide onde se sucediam uma série de fotogramas

(como os slides), projetados a uma velocidade de 16 a 18 destes quadrinhos por segundo

(HAYATA; MADRIL, 2009). Os dois irmãos costumavam requerer suas patentes conjuntamente,

mas fora Louis Lumiére o idealizador do engenhoso mecanismo do Cinematógrafo (MANNONI,

2003).

O Cinematógrafo, um instrumento capaz de reproduzir a realidade em movimento,

inicialmente foi considerado pelos irmãos Lumiére como um entretenimento científico, que não

teria nenhum futuro (ESPINAL, 1976). No entanto, os irmãos perceberam que o instrumento que

os divertia também poderia entreter outras pessoas. Então, no dia 28 de dezembro de 1895, os

irmãos Lumiére realizam a primeira sessão pública do Cinematógrafo. O evento reuniu somente

33 espectadores e a apresentação durou 20 minutos, onde foram projetados num quadro branco de

tecido dez filmes curtos, cada um com a duração de aproximadamente um minuto (HAYATA;

MADRIL, 2009). Nos dias seguintes, as sessões apresentaram um significativo aumento no

número de espectadores, o que levou aos irmãos Lumiére a abrirem franquias nas cidades

Francesas e em países como: Inglaterra, Bélgica, Itália, Alemanha, Espanha, Rússia e nos Estados

Unidos (HAYATA; MADRIL, 2009).

Georges Meliés, conhecedor no assunto de mágicas, propõe a compra da invenção criada

pelos irmãos, no entanto recebeu a recusa da venda. Tendo uma resposta negativa à sua oferta,

George Meliés mandou construir um projetor, instalando no seu teatro com o intuito de expor as

cenas animadas de Thomas Edison. Após um tempo começa a filmar os seus primeiros filmes,

utilizando em algumas cenas truques de mágica. Meliés foi então consagrado pai dos efeitos

especiais, visto que, criou sobre um fundo preto, uma enorme variedade de truques, tais como as

fusões, câmera lenta, fazer pessoas aparecer e desaparecer, feiticeiras a voar, tornar pessoas

transparentes ou invisíveis, cortar-lhes membros do corpo etc. Meliés construiu tempos depois o

seu primeiro estúdio cinematográfico, que também seria o primeiro da Europa. Por ser um

homem de muitas habilidades, Meliés foi produtor, diretor, cenarista e ator da maioria dos seus

filmes (HAYATA; MADRIL, 2009).

Após os filmes de Thomas Edison e de Meliés muitas outras pessoas, da Europa e

Estados Unidos começaram a realizar seus próprios filmes. Do período de Edison até o início do

Page 34: Nagisa migita

32

século XX, a indústria do cinema já registrava em 1903, um catálogo de 2.113 títulos, cerca de 20

metros cada um. Essa metragem era o máximo que uma câmera poderia conter na época.

Inicialmente, os filmes eram projetados em lugares inadequados, como salões

comunitários, feiras, circos e garagens, entre outros. No entanto, devida, a boa frequência do

público os exibidores começaram a construção de prédios maiores e luxuosos, verdadeiros

palácios que estimulavam a imaginação do espectador ao penetrar no mundo mágico da fantasia

(HAYATA; MADRIL, 2009).

No inicio do século XX, as rendas criadas pelo cinema caíram e alguns estúdios norte-

americanos estavam com a economia abalada. Foi então que em fevereiro de 1913 que Thomas

Edison projetou para poucos espectadores uma fita onde as imagens estavam sincronizadas ao

disco de um Fonógrafo. Assim não só os personagens moviam os lábios, como podia se ouvir o

que falavam. Segundo Hayata e Madril, no ano de 1926,

[...] os grandes estúdios como a Paramount, Fox, Metro, United e Universal rejeitaram a

proposta da Bell Telephone Co. para adoção de aparelhos para registro e reprodução do

som sincronizado com as imagens. Mas, o mesmo felizmente não aconteceu com a

Companhia dos irmãos Warner. Estando próximos da falência eles arriscaram,

empregando os últimos recursos e créditos na produção de filmes sonoros, adquirindo a

patente Vitaphone, da Bell, com direitos e exclusividade. Depois de terem realizado três

experiências, em 06 de Outubro de 1927, a Warner Brothers apresenta “O Cantor de

Jazz”, de Alain Crosland. Com o grande sucesso obtido, a Warner compra salas

exibidoras. Enfim, o cinema que começou mudo se tornou falado (2009, p.40).

Conforme a citação das autoras grandes estúdios como a Paramount, Fox, Metro, United

e Universal negaram a adoção do Fonógrafo. O único estúdio que aceitou o uso do aparelho foi a

dos irmãos Warner que estavam entrando em falência. Com o aparelho os irmãos produziram o

musical o Cantor de Jazz, filme que ofereceu grande sucesso, uma vez que, naquela época os

filmes eram todos mudos, ou seja, não escutávamos em nenhum momento a fala dos personagens.

É importante lembrarmos que na época do cinema mudo as películas não possuíam som,

os espectadores apenas observavam as cenas. Para que os filmes não fossem tediosos os

proprietários de cinema recorriam a pianistas e também a orquestras, para que tocassem durante

as sessões. A música também auxiliava a disfarçar o ruído desagradável gerado pelo projetor.

Mas com a adoção de aparelhos para registro e reprodução do som sincronizado e

consequentemente a produção de filmes sonoros, como o Cantor de Jazz, em 1930 veio à queda

definitiva do filme mudo, trazendo consequências trágicas para muitos músicos especializados e

Page 35: Nagisa migita

33

alguns astros do cinema mudo, como por exemplo, Charlie Chaplin (HAYATA; MADRIL,

2009).

A música continuou a fazer parte do cinema após algumas modificações de

planejamento, visto que, nos primeiros filmes sonoros as composições musicais não

acompanhavam o contexto do filme, ou seja, não havia lógica na música composta pelos músicos

e os enredos do filme. Posteriormente, com o objetivo de facilitar o preparo de uma adaptação do

programa musical ao enredo eram fornecidos aos músicos aspectos gerais do filme. A partir,

desta ação viam-se as primeiras tentativas de uma sincronização entre a obra visual e o

acompanhamento acústico. Os editores de música se interessaram por esse novo campo de

atividades e logo se especializaram na criação de uma música de fundo padronizada, capaz de se

encaixar as diversas cenas: terror, angústia, amor, paixão, violência, ciúme, irritação etc.

Por fim, o cinema artesanal se converte em comércio e indústria. Uma indústria que

rapidamente torna-se arrecadadora de muitos milhões de dólares. E ao se industrializar o cinema

é obrigada a encontrar padronizações, buscando técnicas homogêneas, unificando patentes e

criando uma unidade de passo, formando, portanto, as grandes companhias produtoras

(ESPINAL, 1976).

Após entendermos a história do cinema que passou por séculos de descobertas,

realizações, inúmeros aperfeiçoamentos e aplicações e, ao deslumbrarmos com este espetáculo,

que mais parece uma fábrica de sonhos, proporcionado por diretores, atores entre outros,

precisamos compreender também o outro lado da sétima arte12

, o lado comercial. Pois o objetivo

e finalidade do cinema segundo Guido Bilharinho (2003) é meramente comercial, desta forma

vimos à importância de compreendermos quem são os responsáveis por essa fábrica de sonhos

que estão ao alcance de nossas mãos e como são realizados. A resposta para essas questões serão

tratadas no tópico a seguir.

12

No século XVII iniciaram-se os estudos das manifestações criativas, estas foram classificadas em dois grupos:

belas artes e belas letras. As belas artes eram até então seis: arquitetura, escultura, pintura, gravura, música e

coreografia. Somente no início do século XIX o cinema recebeu o título se sétima arte, uma manifestação de

criatividade (WIKIPÉDIA, 2011).

Page 36: Nagisa migita

34

1.3 A INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA

Entretenimento, curiosidade, meio de comunicação social, uma indústria que fatura

milhões, o Cinema é, além de um meio de informação e lazer, uma ferramenta inovadora na

disseminação e afirmação das identidades culturais (SANTOS, 2009). Um audiovisual de grande

importância, que mesmo após sua descoberta passa ainda por modificações, possibilitando ao

espectador fantasia e emoções diferenciadas. Neste tópico, a indústria cinematográfica,

abordaremos esta indústria crescente que permite ao espectador essas fantasias e emoções.

Tentaremos de forma breve apresentar os responsáveis por essa fábrica de sonhos. Trataremos

também a respeito do processo da produção de uma película.

Após o cinema artesanal se converter em indústria, já no século XX, houve uma

ampliação do mercado exibidor de cinema e aumento significativo no número de espectadores.

Surgiram então, vários estúdios cinematográficos pelo mundo. Com o advento da primeira

Guerra Mundial (1914-1918) alguns desses estúdios ficaram enfraquecidos ou mesmo foram à

falência. Na Europa, por exemplo, a indústria cinematográfica ficou enfraquecida em todos os

aspectos, sobretudo, na etapa da produção. Os reflexos desta situação incidiram também na

América Latina, pois foram impossibilitados de comprar filmes virgens e equipamentos com

preços acessíveis no mercado europeu, consequentemente afetando a produção de filmes em seu

país (MACHADO, 2009).

Esse cenário proporcionado pela Segunda Guerra Mundial possibilitou aos Estados

Unidos monopolizar a produção, a distribuição e a exibição de filmes, expandindo a sua indústria

cinematográfica, uma vez que seu principal concorrente e até então dominadora da indústria

cinematográfica, a Europa, estava enfraquecida na produção de filmes. Outro fato que colaborou

para a ascensão da indústria de cinema norte-americana foi à descoberta do cinema sonoro, no

final dos anos de 1920. Com esse fato o orçamento dos filmes foi elevado, ocasionando a falência

dos pequenos estúdios de produção e, assim, abrindo caminho para as grandes corporações de

Hollywood (MACHADO, 2009). Logo depois da guerra, a alta rentabilidade do setor

cinematográfico norte-americano foi comparada à da indústria automobilística, estimulando os

investidores à criação de grandes grupos (BENHAMOU, 2007). No final da década de 1940, por

exemplo, aproximadamente 90% das receitas da indústria do cinema eram controlados por

Page 37: Nagisa migita

35

grandes empresas como a: Paramount, Metro Goldwyn Mayer, 20th Century Fox, Warner Bross,

RKO, Universal, Columbia e United Artists (BENHAMOU, 2007).

Nos início dos anos 1950, chega ao cinema à tela em formato 3D, onde a visão

reproduzida aparentava estar em forma de relevo. Mas esse formato não persistiu por muito

tempo. Com a chegada da televisão, para garantir a continuação dos espetáculos, a indústria

cinematográfica realizou mais uma modificação: inaugurou os formatos panorâmicos, que

funcionavam com uma câmera, um projetor e um filme padrão de 35 mm (SCIEN, 2008). E com

o decorrer dos anos e com o avanço da tecnologia ocorreram várias outras mudanças na

cinematografia, tornando o cinema uma arte com inúmeras possibilidades. Criação de mundos

diversos, de seres inimagináveis, cenas que nos levam a épocas diferentes, que nos fazem crer

que haverá o fim do mundo. E toda essa proeza só é possível, devido a um grande elenco de

diretores, produtores, roteiristas, produtores executivos, artistas, músicos, entre outros e a um

processo intenso de produção da obra fílmica.

Conforme a Cartilha Cinematográfica (2007), criada pelo Ministério do Turismo

Brasileiro, o cinema é uma das obras audiovisuais que exige maior grau de elaboração. Uma vez

que o processo de realização de um filme é demorado e só a fase de pesquisa e preparação pode

durar meses ou até anos. A etapa de produção inicia-se com a ideia, e a explicação simplificada

dessa ideia, é chamada no meio audiovisual de Sinopse ou Argumento. Em seguida, é necessário

decidir como contar essa história: o estilo, a abordagem e a narrativa adotada. Esse

desenvolvimento é chamado de Tratamento e já pressupõe haver uma pesquisa mais extensa,

muitas vezes de campo (BRASIL, 2007).

A etapa posterior é o Roteiro, que contém uma descrição mais precisa de cenas e mesmo

onde a ação irá ocorrer. Em alguns casos é criado o Storyboard , o desenho do filme cena a cena

que facilita a visualização do estilo narrativo apontado pelo roteiro (BRASIL, 2007). Depois do

roteiro pronto, segue-se uma análise técnica, que nada mais é do que um planejamento de tudo

que o roteiro demanda em termos de produção. Tais como: quantos dias de filmagem, quantas

locações diferentes, quantos técnicos e figurantes necessários, enfim, é um grande raio-x

estrutural do filme. Para que, enfim, se realize um orçamento dos recursos necessários para

viabilizar a obra economicamente (BRASIL, 2007).

Com o capital em mãos, iniciam-se a preparação, conhecida como pré-produção, e a

filmagem propriamente dita. A finalização, também chamada de pós-produção, é quando

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36

acontece a montagem das cenas, onde os efeitos especiais são criados, o som e a trilha sonora

aplicada, ou seja, quando o filme realmente ganha um contorno definido. A etapa final é a

distribuição das cópias nas salas de cinema e a comercialização nas demais janelas de exibição

(BRASIL, 2007).

Com efeito, “a invenção do cinema constitui uma verdadeira jornada nas estrelas”,

como narra Mannoni (2003), pois, como dito anteriormente foram necessários milênios de

desenvolvimento mental e técnico, em recíproco influenciamento, para pretendermos, tentarmos e

conseguirmos captar a imagem em movimento (BILHARINHO, 2003). Todavia, após essa

conquista, seu domínio e utilização, observamos que a cada um e a cada geração surgem novas

possibilidades de descobertas e realizações.

1.4 AMERICAN WAY OF LIFE: A IMPORTÂNCIA DA INDÚSTRIA CINEMATOGRÁFICA

NORTE-AMERICANA

No que diz respeito ao cinema, podemos afirmar que, a maior indústria cinematográfica

é a norte-americana. Isso ocorreu depois da Primeira Guerra Mundial, quando os europeus, até

então dominadores desta indústria, tiveram de restringir suas produções filmográficas. Depois da

ascensão dos Estados Unidos na sétima arte, na época da guerra, o país tem controle da indústria

do cinema até os dias atuais. Nesse sentido apontaremos nesta parte do trabalho a importância da

indústria cinematográfica norte-americana. Retrataremos como os americanos conseguiram o

controle sobre essa indústria, quais foram às obras fílmicas de importância produzidas durante a

sua ascensão e como seus filmes demonstraram o estilo de vida do americano.

Os Estados Unidos apresentam-se como o mais robusto mercado de audiovisual do

mundo, “sendo a produção de programas de televisão e filmes de longa-metragem considerado

um dos mais vitais e valorizados recursos da nação” (BRASIL, Ministério do Turismo, 2011,

p.24). De acordo com Mariângela Machado (2009) o cinema, nos Estados Unidos desenvolveu

diversos aspectos, derivados de uma cultura popular, que, em algumas décadas, consagrariam o

veículo como a mais poderosa arma da indústria do entretenimento. E foi por meio do cinema que

os norte-americanos difundem e transmitem sua cultura e estilo de vida, o american way of life

(HAYATA; MADRIL, 2009).

Page 39: Nagisa migita

37

Nos primeiros anos da cinematografia norte-americana, ainda quando o cinema era

mudo e a Europa controlava a indústria, a maioria dos filmes produzidos nos Estados Unidos

foram realizados pelo inventor Thomas Alva Edison. Esses filmes não tiveram grande

notoriedade, pois foram apresentadas a um público pequeno. Ao contrário das produções de

Edison, a produção do diretor americano Edwin S. Porter, O “Grande Roubo do Trem” (EUA,

1903), de 1903, ganhou destaque entre o público americano, uma vez que o filme apresentava

cenas cotidianas, porém que espantavam seus espectadores, devido, a fidelidade com a realidade.

Nos anos seguintes foram realizados outros filmes, mas que não ganharam muito destaque, esses

foram: “Salvo de um Ninho de Águia” (EUA, 1907) também de “Porter e As Aventuras de

Doliie” (EUA, 1908), de David Wark Griffth, do ano de 1908 (CINEMA AMERICANO, 2011).

A indústria cinematográfica norte-americana ganhará força e prestígio somente em 1912,

nos prelúdios da primeira Guerra Mundial. Com o recesso do cinema europeu, até então

dominadores do mercado cinematográfico, os americanos concentraram as produções de filmes

em Hollywood, principalmente na Califórnia, porque tinha sol o ano inteiro e podiam-se filmar a

qualquer hora do dia, surgindo, portanto, os primeiros grandes estúdios (MACHADO, 2009)

como a Famous Players, futura Paramount e a Keystone Company, criada por Mack Sennett

(CINEMA AMERICANO, 2011).

No ano de 1913, Thomas Edison torna possível que o cinema mudo seja falado

utilizando o Fonógrafo, aparelho que sincronizava o som com as imagens. Este fato colaborou

para a produção de filmes sonoros e consequentemente para a ascensão da indústria de cinema

norte-americana. Nos anos seguintes, a invenção forneceu o aumento do orçamento de filmes

(HAYATA; MADRIL, 2009), levando a atores como Charles Chaplin, Douglas Fairbanks, Mary

Pickford e David Wark Griffth criarem em 1919 a United Artists, com o objetivo de enfrentar os

altos salários e custos de produção.

O início da década de 1920 marca a abertura da consolidação da indústria

cinematográfica americana e os grandes gêneros como: faroeste (western), policial, musical e,

principalmente, a comédia, todos ligados diretamente ao estrelismo (Star System) (CINEMA

AMERICANO, 2011). O Star System foi o conhecido sistema de "fabricação" de estrelas, ou seja,

[...] o instrumento utilizado para promover o produto ‘cinema americano’, divulgando

atores e diretores para torná-los importantes para a sociedade. A ideia era transformá-los

em estrelas, em mitos adorados pelo público, colocá-los acima dos cidadãos comuns. Já

Page 40: Nagisa migita

38

os gêneros cinematográficos bem específicos, como o policial, o musical e o western,

característicos da década de 30 e 40, quando o sistema foi instituído, foram uma forma

de contentar todo o tipo de público (SELIGMAN IN KOVARICK et al. apud

MACHADO, 2009, p.81).

Conforme a citação os filmes americanos dessa época, 1920, privilegiavam produções

em que os personagens tivessem aspectos admiráveis, para que fossem futuramente adorados

pelos seus espectadores. Os filmes também deveriam ser produzidos para almejar um público

grande. Foram então que os gêneros como o faroeste, o policial e o musical ganharam destaque.

Hollywood em 1920, já havia superado em definitivo os franceses, italianos,

escandinavos e alemães produzindo grandes filmes de ação, faroeste, policial e comédia. Neste

último gênero, a comédia, o cinema americano apresentou grandes atores, ainda hoje conhecidos,

como é o caso do britânico Charles Chaplin e dos atores Oliver Hardy e Stan Laurel, que

representavam “O Gordo e o Magro” (CINEMA AMERICANO, 2011). De acordo com José

Arbex Júnior (1993) a indústria cinematográfica cresceu com velocidade vertiginosa, com

potencial para monopolizar a produção, a distribuição e a exibição, de forma que no final dos

anos 1920 aproximadamente 100 milhões de americanos frequentavam o cinema todas as

semanas. Um dos fatores que colaborou para o sucesso do cinema americano foi o público para

qual se voltou à atividade.

[...] o cinema estadunidense desde o começo puseram-se a buscar públicos amplos;

enquanto nas sociedades europeias as artes e a literatura concentravam-se mais nas elites

e nas tradições nacionais, nos Estados Unidos absorveram as contribuições de migrantes

de todos os continentes para forjar uma cultura popular e de massas, capaz de seduzir

amplos setores de outros países (CANCLINI apud MACHADO, 2009, p.81).

Segundo Canclini, um dos fatores que ajudou no sucesso dos americanos na indústria de

cinema é dado, devido à criação de filmes que alcançassem, atingissem o desejo de um público

maior, um público massificado. Em contraponto a indústria europeia distribuía seus filmes para

uma minoria elitizada.

No final dessa mesma década, 1920, ainda observávamos as consequências do cinema

sonoro, uma vez que os altos custos de produção ocasionavam a falência de pequenos estúdios de

produção. A partir dai criou se o Studio System, que racionalizava significativamente os custos

(MACHADO, 2009). Segundo Françoise Benhamou (2007) o Studio System obteve inspirações

na indústria manufatureira e possuía algumas características fordistas, como, por exemplo, o

Page 41: Nagisa migita

39

extremo cuidado na preparação das tarefas e a estrita divisão do trabalho entre concepção e

execução.

Apesar da criação do sistema sonoro, ainda muitas empresas rejeitavam a sua

implantação. No entanto, os irmãos Warner, próximos à falência apostaram seu futuro neste

arriscado sistema, adquirindo a patente da Vitaphone, da Bell. Assim em 06 de outubro de 1927 a

Warner Brothers apresenta o filme “O Cantor de Jazz” (EUA, 1927), que consagraria o chamado

cinema falado, logo cantado e dançado em prosas e versos por toda a América (HAYATA;

MADRIL, 2009). Dos Estados Unidos, os filmes sonoros se estenderam por todo o mundo, em

luta com a estética muda. O cinema se converteu num espetáculo visual e sonoro, destinado a um

público maior, e passou a dar mais importância aos elementos narrativos (CINEMA

AMERICANO, 2011). O sistema sonoro com certeza foi uma grande evolução para o cinema, no

entanto, ao oferecer maior importância aos elementos narrativos, podemos compreender que a

arte cinematográfica perdeu sua essência, uma vez que, o movimento das imagens representa a

síntese do cinema. Em contraparte, também concordamos com a visão de Machado (2009) de que

com a sonorização foram eliminados os extensos letreiros e efeitos visuais fornecendo ao

espectador maior nível de realismo e compreensão.

Segundo Novaes (2006), a indústria de cinema de Hollywood, que encontra seu apogeu

nos anos de 1930, é responsável pela afirmação da vocação do cinema como uma arte

direcionada para os olhos e para o subconsciente do espectador, e não voltada “para a razão ou

explanação verbal” (NOVAES apud MACHADO, 2009, p.83). A respeito desta questão

concordaríamos com Novaes, uma vez que, principalmente, nos filmes estadunidenses de ação,

ficção e suspense as cenas e cenários são compostos por imagens que atraem e hipnotizam o

olhar do espectador, no entanto, muitos destes filmes são fracos quanto ao seu conteúdo

narrativo.

Observamos que a década de 1930 é marcada pela grande depressão dos Estados

Unidos. Nesta época, os EUA era o país mais rico do planeta. Além das fábricas de automóveis,

os norte-americanos também eram os maiores produtores de aço, comida enlatada, máquinas,

petróleo, carvão e cinema (BENHAMOU, 2007). Porém, em 24 de outubro de 1929 a Bolsa de

Nova York sofreu a sua maior baixa, até então, levando o país a sua pior crise financeira da

história. Este fato ficou conhecido como Quinta-Feira Negra (BRASIL ESCOLA, 2011).

Compreendemos pela citação, que realmente os Estados Unidos, naquela época estavam no auge

Page 42: Nagisa migita

40

da produção, seja esta de automóveis, de comida ou de máquinas, mas devemos nos situar que a

crise financeira do país foi justamente ocasionada, devido a essa produção contínua e acelerada.

A crise, no entanto, não afetou a indústria cinematográfica americana, ao contrário disso,

como Sklar (apud MACHADO, 2009, p.83) mesmo afirma, a grande depressão da década de

1930 favoreceu a indústria de cinema norte-americana, uma vez que Hollywood fez maiores

investimentos nas suas produções com o intuito de apaziguar os americanos a respeito da

economia do país. Não sabemos exatamente, quais foram essas produções realizadas, para

acalmar os americanos quanto à economia, ou mesmo se elas alcançaram o seu objetivo. O que

podemos realmente afirmar é que a produção de filmes, mesmo na crise não diminuiu.

O cinema americano em fins da década de 1930 e início da de 1940 demonstravam sua

potencialidade por meio de grandes produções, que contrastavam com a atual situação do país,

cercados pela crise. A época favoreceu a produção de enredos com dilemas morais e supremacia

feminina, representado em filmes de grande sucesso como “E o Vento Levou” (EUA, 1939) e “O

Morro dos Ventos Uivantes” (EUA, 1939) do diretor William Wyler, grande nome da época no

gênero romântico (CINEMA AMERICANO, 2011).

Na década de 1940, os Estados Unidos ainda movidos por perspectivas de uma mudança

progressista, anunciavam uma medida mais clara onde o objetivo inicial era a de sustentar a

liderança norte-americana sobre a cinematografia, minimizando a influência europeia e

promovendo a estabilidade política no continente. Foi então, a partir dessa época que, mais

insistentemente, com as produções filmográficas, o país vendeu e difundiu o estilo americano de

vida. Tal fato seduzia seus espectadores do mundo a consumirem seus produtos e/ou marcas,

como por exemplo, a Coca-Cola (AMANCIO, 2000).

A década de 1940 é a chamada era do Cinema Moderno Americano, pois além dos

melodramas, e gêneros como o faroeste, terror, musicais, comédias e outros, surge uma nova

tendência, o modernista. Os filmes de gênero modernista possuem um enredo não linear, uma

narrativa cronológica, profundidade de campo13

, tomadas de câmera do solo, filmagens do teto

dos ambientes, entre outros aspectos. Filmes como “Cidadão Kane” (EUA, 1941) de Orson

Welles e “Tempo de Violência” (EUA, 1994) de Quentin Tarantino possuem esta estética

(CINEMA AMERICANO, 2011).

13

A profundidade de campo é apresentada quando são postas em evidência não somente o primeiro, mas o segundo e

terceiro plano de uma cena.

Page 43: Nagisa migita

41

São vários, portanto, os gêneros Hollywoodianos desde faroeste ao modernista, porém,

todos eles ensinam que o dinheiro e o sucesso são importantes valores e que o estado, a polícia, e

o sistema legal são legitimadores do sistema. Nesses gêneros também aprendemos que os valores

estadunidenses e instituições são basicamente leais, benevolentes, e ofertam benefícios para a

sociedade de modo geral. Mas há um gênero que se difere destas características, o gênero noir. O

Film Noir ou Filme Negro é um termo “cunhado em 1946 por críticos franceses que identificaram

em filmes estadunidenses produzidos a partir do início da década de 1940 características

estéticas, temáticas e técnicas comuns que os distinguiam dos feitos antes da Segunda Guerra

Mundial” (VALIM, 2006, p.48). Este gênero, o Film Noir trouxe para as telas do cinema um

mundo repleto de medos, paranoias, corrupção, personagens violentos e amorais, policiais e

marginais de toda espécie (KELLNER apud VALIM, 2006, p.48), ou seja, o gênero apresentava

características até então não avistadas nos filmes americanos.

Alguns anos mais tarde, depois da crise iniciada em 1930, deu início em 1945, a corrida

armamentista que ofereceu benefícios à economia dos Estados Unidos em seu conjunto. O setor

civil incorporou muitas das tecnologias utilizadas pela indústria bélica e as converteu em

máquinas de tecnologia altamente sofisticada para uso no cotidiano das pessoas. Com o advento

dessas tecnologias aumentaram-se ainda mais as produções de Hollywood, década de clássicos

consagrados como “Casablanca” (EUA, 1942) de Michael Curtiz, e de produções que

“exportavam para o mundo a ideia de que a felicidade está num carrinho de supermercado”

(ARBEX, 1993, p.36).

Cinco anos depois, em 1950 pensamentos a respeito da liberação sexual, a propaganda

do uso das drogas, a difusão do rock’ roll e as ideologias pacifistas começaram a ser abordadas.

Esses ideais irão persistir na década de 1960 (ARBEX, 1993).

Na década de 1960 o cinema americano cada vez mais se voltava para a crítica social e

os problemas humanos.

No cinema, o jovem ator “rebelde sem causa” James Dean e o produtor “vagabundo”

Dennis Hoper, no filme Easy rider (Sem destino), expunham o mal-estar de uma cultura

rica, mas preconceituosa, imensa, mas asfixiada por uma insuportável estratificação de

valores. Poucas cenas poderiam representar melhor essa época do que o momento em

que, em Easy rider, um interiorano atira contra um motoqueiro, simplesmente por

considera-lo um estrangeiro e, por isso, desprezível (ARBEX, 1993, p.55).

Por meio da citação de Arbex observamos que os filmes americanos desta época

Page 44: Nagisa migita

42

demonstravam e focalizavam problemas como os enfrentados por imigrantes e estrangeiros a

respeito do seu modo de vida. Compreendemos também que na época havia choque de culturas, a

do norte-americano com seu esplendor e superioridade em contraste com a do estrangeiro fraco e

oprimido.

Na década de 1970 a reprodução em massa toma conta da indústria hollywoodiana, visto

que, o cinema americano passa a produzir superproduções com efeitos especiais, proporcionados

pela tecnologia da época, a fim de seduzir o espectador, no geral crianças e adolescentes. Alguns

exemplos dessas produções, voltadas para um público juvenil são: “O destino do Poseidon”

(EUA, 1972) de Ronald Neame, “Inferno na torre” (EUA, 1974) de John Guillermin e Irvin

Allen, “Guerra nas estrelas” (EUA, 1977) de George Lucas, “Contatos Imediatos do Terceiro

Grau” (EUA, 1977) de Steven Spielberg e “Superman” (EUA, 1978) de Richard Donner (SCIEN,

2008).

Na era de Ronald Reagan, presidente estadunidense eleito em 1980, o personagem

cinematográfico de Sylvester Stallone, “Rambo” (EUA, 1980), tornou-se a imagem da América,

uma imagem forte e sempre vencedora. Rambo foi um filme idealizado no intuito, de animar o

ego dos americanos que perderam a Guerra para o Vietnã, ou seja, era um modo de vingança dos

que foram feridos e/ou derrotados no Vietnã (ARBEX, 1993, p.72). No filme “Rambo” (EUA,

1980) observa-se basicamente

[...] um guerreiro destemido, um guerrilheiro armado até os dentes, com metralhadoras,

pistolas, morteiros e tudo o que havia de mais sofisticado no arsenal americano. Odiava

os comunistas, mas odiava também os “malditos políticos” do Congresso dos Estados

Unidos que impunham freios à sua ação justiceira. Rambo queria entrar

clandestinamente em lugares como o Vietnã e a Nicarágua para combater os comunistas

e fazer justiça com suas próprias mãos. Desgraçadamente, os “janotas de Washington”,

isto é, os congressistas, impunham certos limites derivados das relações estabelecidas

pelo Direito Internacional (ARBEX, 1993, p.72).

Como Arbex (1993) relata, Rambo é um personagem justiceiro que sozinho, utilizando

um variado arsenal de armas enfrenta e tenta vencer os comunistas. O personagem entra

clandestinamente em países como o Vietnã e Nicarágua para acabar com os comunistas que tanto

odeia e consegue sozinho acabar com todos eles. Fábio Cristian Davi (2010) atribui ao governo

americano da época, a grande influência na narração, na estética e nas imagens do filme. E

concordamos com o autor quando afirma que, o filme tinha como intuito restabelecer a imagem

de um país, que mesmo após a derrota pelos vietnamitas, continuam dominantes.

Page 45: Nagisa migita

43

O filme também abordava o ideal de parte da classe média que estava encolhendo como

consequência da crise dos anos de 1980 (ARBEX, 1993). A crise desta época é justificada pela

incapacidade dos americanos de responder aos novos concorrentes do mercado internacional,

vindos da Europa Ocidental e Ásia (Alemanha e Japão), que fixavam seus produtos a um custo

mínimo de produção com um maior valor tecnológico agregado, o que levou os norte-americanos

a perder espaço nos seus mercados interno e externo para esses concorrentes (DAVI, 2010).

Nas décadas seguintes 1990 e 2000 foram produzidas grandes obras como A “Lista de

Schindler” (EUA, 1993) de Steven Spielberg e “Tempo de Violência” (EUA,1994) de Quentin

Tarantino, mas, entretanto, são os filmes de ficção e ação que obtiveram mais espaço nas

produções, na mídia e na preferência do público, principalmente o infantil (CINEMA

AMERICANO, 2011). Alguns exemplos que podemos citar são: “Exterminador do Futuro”

(EUA, 1990), “Jurassic Park” (EUA, 1993), “Titanic” (EUA, 1998), “Matrix” (EUA, 1999), “X-

Men” (EUA, 2000) entre outros. Devemos compreender que filmes como Exterminador do

Futuro e Matrix foram muito divulgados na mídia, porém temos que ressaltar que foram mais

destacados, não pelo seu conteúdo narrativo, ou questões filosóficas, uma vez que, o

Exterminador aborda pela primeira vez a questão de até onde podemos ir com a tecnologia e

Matrix aborda questões filosóficas e existencialistas, mas sim pela sua fotografia, pelo cenário,

suas imagens que atraíam o olhar do espectador.

Apesar de nas últimas três décadas, o cinema americano ter se caracterizado pelo

fenômeno Blockbuster, ou, “arrasa quarteirão”, que atingem um público massificado e

caracterizado por serem divertidos e levarem a alienação de seu espectador (SCIEN, 2008), todos

os outros filmes, dos mais variados gêneros também demonstram a imponência do mercado

cinematográfico americano. É inegável a força do cinema americano em todos os gêneros de

filmes, no entanto, percebemos que para a produção de filmes Blockbuster os Estados Unidos são

especialistas. Desta forma, segundo João Guilherme Barone (2008) é possível verificar que o

mercado nacional de cinema é dominado pelas distribuidoras norte-americanas que formam o

segmento mais capitalizado da indústria em escala global. São elas ainda, as detentoras dos

direitos de comercialização14

dos filmes e que atuam também no financiamento à produção.

Ainda segundo o autor,

14

Os direitos de comercialização são referentes às licenças que toda a produção cinematográfica necessita para

circular, ser apresentado dentro de um país.

Page 46: Nagisa migita

44

Em 2005, as chamadas majors, Warner Bros., BuenaVista, Columbia Tristar, Fox,

Universal (UIP) e Sony controlavam 86% do mercado de distribuição. [...] São as

grandes produtoras do cinema global e são também as principais coprodutoras do cinema

brasileiro. E em seu mercado doméstico, constituído por mais de 39 mil salas no

território norte-americano, as major arrecadam meros 35% das receitas dos filmes que

distribuem. Os 65% restantes são arrecadados numa operação planetária de lançamentos

de grande porte, o que explica a hegemonia do audiovisual norte-americano (BARONE,

2008, p.09).

Conforme aponta Barone as empresas de cinema majoritárias são a Warner Bros.,

BuenaVista, Columbia Tristar, Fox, Universal e a Sony. São elas as grandes produtoras do

cinema mundial e as responsáveis pela grande percentagem da renda de cinema mundial. E foi

devido, a sua potencialidade em produções de audiovisuais que o cinema norte-americano,

apresentado principalmente por Hollywood, tornou-se fonte inesgotável de mitos e modas

(ARBEX, 1993) e impôs um formato de filmes quase único com produções de mais de 10

milhões de dólares - nas quais mais da metade destina-se ao marketing, principalmente

representado pelos gêneros de ação, promovendo temas de fácil repercussão em todos os

continentes (CANCLINI apud MACHADO, 2009, p.85).

A trajetória construída pelo cinema norte-americano ao longo do século XX influenciou

as cinematografias de diversos países, os hábitos de percepção de filmes no mundo todo

(MACHADO, 2009). Esta trajetória da história do cinema americano, que se tornou esta forte e

dominante indústria, ocorreu, porém, devido a anos de produções, inovações e crises. Mas

devemos lembrar ainda que aspectos como o enfraquecimento da produção filmográfica de seus

concorrentes, principalmente a Europa, e a influência do governo na produção dos seus filmes

também colaboraram para que os Estados Unidos se tornassem o mais robusto mercado de

audiovisual do mundo, difundindo sua cultura, seus produtos e marcas em escala global como

observamos nesta parte do trabalho.

Ao estudarmos a indústria de cinema norte-americana, descrita de forma breve,

obtivemos a percepção do valor do cinema americano. Conseguimos então, verificar a veemência

das suas produções que criam e difundem imagens, símbolos e mitos em seu país e em outros

países como Japão, França, Itália, Brasil entre outros países, oferecendo-nos base referencial para

a compreensão e afirmação da importância do estudo realizado no próximo tópico: O cenário

brasileiro em filmes norte-americanos.

Page 47: Nagisa migita

45

1.5 O CENÁRIO BRASILEIRO EM FILMES NORTE-AMERICANOS

Como anteriormente apontado, o cinema americano é uma indústria forte e dominante

que difunde por meio de suas produções aspectos culturais, sociais e políticos do seu país.

Também cria imagens, símbolos e mitos que são muito aceitos pelo mundo, mesmo que estas não

sejam verídicas. Detentoras das maiores distribuidoras de cinema, os Estados Unidos produzem

filmes que são vistas e apreciadas por todo o mundo. Desta forma, verificamos a importância de

entendermos qual a imagem passada pelos filmes norte-americanos a respeito do Brasil.

Neste tópico: O cenário brasileiro em filmes norte-americanos, observaremos e

discutiremos a imagem turística transmitida pelos filmes estadunidenses a respeito do Brasil.

Consultando principalmente a bibliografia de autores como Bignami Sá (2002), Tunico Amancio

(2000), o documentário de Lúcia Murat (2005), e algumas produções filmográficas norte-

americanas, tentaremos compreender quais são as imagens turísticas atribuídas como

representativas do Brasil.

O Brasil, desde a sua descoberta até o século XIX teve sua imagem associada à grandeza

de território, abundância de vida selvagem e sensualidade como dotes naturais, graças aos relatos

descritos pela carta de Pero Vaz de Caminha e outros tantos viajantes e colonizadores que por

aqui passaram (NOVA, 2008). Segundo Bignami Sá tais relatos foram importantes para a

formação da identidade nacional, pois,

[...] alguns dos enunciados que hoje identificam a nação nada mais são do que cópias de

falas já presentes no descobrimento do País. Na realidade, se pode afirmar que algo

mudou, fundamentalmente, foram os sentidos dados às categorias que representam o

Brasil. Ou seja, de País selvagem do século XVI, devido à crença de populações canibais

no território, passou-se a acreditar no País selvagem, devido, à violência urbana; de Éden

primordial e natural, dos primeiros relatos, o País passou a ser reconhecido como lugar

sensual, pelas belezas naturais e pelas mulheres e cultura exótica (SÁ, 2002, p.37).

Conforme salienta Sá, as imagens existentes a respeito do país não mudaram, elas

apenas ganharam uma nova versão, um sentido diferente da época dos colonizadores associada

Page 48: Nagisa migita

46

com a nova realidade. Por exemplo, quando afirmam que o Brasil é o Éden, a metáfora não mais

se relaciona a beleza da natureza, mas a da sensualidade da mulher brasileira.

Nos discursos a respeito do Brasil produzidos durante o período do século XIX e início

do século XX, a imagem do país irá gradualmente modificar-se para um país cada vez mais

relacionado com o lugar do exótico na cidade e na cultura, da floresta e das paisagens naturais e

das urbanas, da fertilidade e fecundidade, representadas tanto pela natureza como pela população.

Verificamos que, até o início do século XX, as artes e os relatos de viajantes correspondem

praticamente à totalidade de opiniões a respeito do País no exterior. Somente com o cinema e

com a introdução do rádio e da televisão, é que o País iniciou sua trajetória de difusão da sua

cultura, objetivando a divulgação do Brasil para o mundo (SÁ, 2002).

Na década de 1930, por meio do rádio, criou-se uma das personalidades que durante

muitos anos, atuou e ainda atua como símbolo do Brasil no exterior: Carmen Miranda conhecida

como “A pequena notável” (SÁ, 2002), um ícone do período. Em 1939, no filme “Banana da

Terra” (BRA, 1939), onde se vestia de baiana, interpretou com o Bando da Lua, “O que é que a

Baiana tem?” de Dorival Caymmi (SÁ, 2002). A artista saltou do teatro para o cinema, estreando

a produção norte-americana “A Serenata Tropical” (EUA, 1940) (NOVA, 2008).

Elementos como: Carmen Miranda, a publicação do livro O país do Carnaval de Jorge

Amado (1931) e o acontecimento do primeiro concurso de Escolas de Samba, no Rio de Janeiro

(1932) levaram a nação brasileira a ser conhecida pela sua sensualidade, sua musicalidade e pelo

seu carnaval. Essas representações foram exacerbadas, por intermédio de clichês veiculados

principalmente no cinema e nos meios de comunicação, como o rádio e televisão (SÁ, 2002).

Durante décadas, Hollywood promoveu imagens equivocadas do Brasil. No início da

década de 1930, filmes como “Voando para o Rio” (EUA, 1933) protagonizado pela mexicana

Dolores del Rio retrataram o país de maneira tão sedutora e exótica que a América Latina, como

um todo tornou-se sinônimo de objetos sexuais tentadores (KOTLER et al., 2006). Nessa mesma

época o Rio de Janeiro, muito presente nos filmes estrangeiros, “já fazia parte das cidades

turísticas visitadas no mundo, sendo a sua paisagem, sem dúvida alguma, uma das mais

representativas do País” (SÁ, 2002, p. 97).

Durante a Segunda Guerra Mundial, quando Franklin Delano Roosevelt era presidente

dos Estados Unidos (1933- 1945) foi criada a “política da boa vizinhança”. Esta significava o fim

da política de intervenção, o big stick de Theodore Roosevelt. Tal política reconhecia a igualdade

Page 49: Nagisa migita

47

jurídica entre as nações do continente, além de propor a cooperação por todos os meios para o

bem-estar dos povos da América (AMANCIO, 2000). O principal objetivo norte-americano por

meio dessa política era a de conseguir o apoio latino-americano para as Forças Aliadas na

Segunda Guerra Mundial.

Em 1942, depois da visita de Walt Disney ao Brasil foi criado o personagem animado

“Zé Carioca”, um papagaio verde do Rio de Janeiro, fruto da “política de boa vizinhança”

instaurada entre o Brasil e os EUA que tinha por objetivo, segundo o governo brasileiro, dar

visibilidade ao país (BRASIL, 2006). Contudo, o personagem criado por Disney é caracterizado

como “malandro, folgado, golpista querendo enganar a todo mundo, passar cheques sem fundos”,

formando uma imagem negativa que aos poucos foi se impondo ao brasileiro de um modo geral

(SÁ, 2002).

Nesse período, o da Segunda Guerra Mundial, Hollywood produziu vários filmes

focalizando a América Latina, em razão da mesma política. No Brasil foram produzidos filmes

como os desenhos animados de Walt Disney “Alô Amigos” (EUA, 1941) e “Você já foi a

Bahia?” (EUA, 1944). A produção desses filmes foi a única intervenção direta conhecida, embora

na grande indústria houvesse uma promessa concreta de estímulo à cooperação interamericana

por meio de filmes (AMANCIO, 2000, p.55).

Segundo Bignami Sá, as artes e o cinema contribuíram para a difusão da América Latina

e para a proximidade com a América do Norte. No entanto,

[...]Não faltam, às representações da época, erros ou imprecisões que viriam a abrir os

precedentes para toda uma série de “gafes” a respeito de lugares, países ou fatos

relacionados à América do Sul, como confundir o Brasil com a Argentina, afirmar que

Buenos Aires é a capital do Brasil, ou que rumba é nossa (SÁ, 2002, p.97).

Como afirma Sá, podemos observar que países da América do Sul, como o Brasil

passam a ser conhecidos principalmente por meio dos audiovisuais. No entanto, as representações

criadas pelos filmes, a respeito dos países da America do Sul, são em muitos casos errôneas, pois

agregam em um só país representações que caracterizam vários, como, por exemplo, afirmar que

Buenos Aires é a capital do Brasil, ou considerar que a língua falada no Brasil é o espanhol.

Outro exemplo de imagem equivocada transmitida pelo cinema é constatado no filme americano

“Brenda Starr” (EUA, 1988). O filme dirigido por Robert Ellis Miller e protagonizado por

Brooke Shields conta a história de uma heroína de quadrinhos que vem para o Brasil. O filme

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48

contextualizado no Brasil possui personagens brasileiros que falam espanhol ao invés de

português e mostra cenas onde capoeiristas ajudam a heroína a fugir dos antagonistas em plena

selva amazônica montada em jacarés (AMANCIO, 2000). Segundo Miller, “Brenda Starr” (EUA,

1988) é baseada numa história em quadrinhos de jornal, por esse motivo pode ser visto absurdos

como o relatado acima (OLHAR, 2005). Apesar de ser um filme de fantasia, o filme pode levar

aos espectadores a acreditarem que essas são imagens reais do Brasil, por mais que seja baseado

em uma história de quadrinhos.

Em “Próxima parada, Wonderland” (EUA, 1998), do diretor Brad Anderson, também se

observam alguns equívocos a respeito do Brasil. O filme protagonizado pela atriz Hope Davis

possui uma cena onde aparecem mulheres fazendo topless como se fosse normal no país. Outro

aspecto enganoso é constatado em uma cena onde a protagonista é convidada pelo suposto

brasileiro para ir à praia dentro da cidade de São Paulo (OLHAR, 2005). Percebemos que a

imagem aqui apresentada pelo diretor demonstra o seu desconhecimento a respeito da cultura

brasileira e principalmente da cidade de São Paulo, uma vez que, é inimaginável a existência de

uma praia, em um centro urbano como São Paulo.

Antonio Carlos Amâncio da Silva analisou em sua tese de doutorado: “Em busca de um

clichê: Panorama e paisagem do Brasil no cinema estrangeiro”, vários filmes, entre eles 88 filmes

americanos, 43 franceses, 19 italianos, 16 ingleses, 8 alemães, 4 espanhóis e 3 argentinos entre

outros. Segundo a análise de Silva, as imagens mais presentes nos filmes são:

[...] o de um Brasil sensual e o de um Brasil exótico. O exótico se revela quase sempre

por meio de rituais do tipo ancestral. Em “O Mistério da Ilha de Vênus” (EUA, Douglas

Fowley, 1960), por exemplo, observam-se estranhas cerimônias de possessão, princesas

vodu que se transformam em cobra, rituais afro-brasileiros como balé moderno e

sacrifício humano. No título original, “Macumba Love”, já se encontra expresso o desejo

do exotismo. Muitos outros filmes irão concorrer na apresentação de cerimoniais de

antropofagia, barbarismo, demonismo, com cenas de mutilações, castrações e sadismo.

Há também uma predominância da imagem do Rio de Janeiro como representação

urbana do Brasil, em cuja caracterização é valorizada a paisagem, seus recursos naturais

(praias, floresta tropical etc.) e alguns aspectos culturais, sobretudo o carnaval (apud SÁ,

2002, p.99).

Conforme a citação, podemos concordar que o Brasil é apresentado de uma forma

sensual, representado pela mulher brasileira, e exótica, que sempre se alia ao excêntrico, com

rituais de barbarismo, cenas de mutilações entre outros. Concordamos também com a afirmação

de que o Rio de Janeiro é muito representado nos filmes como uma cidade de grandes belezas

Page 51: Nagisa migita

49

naturais. Mas também devemos lembrar que o Rio de Janeiro também é apresentado por uma

imagem de um Brasil urbano e violento.

O Rio de Janeiro é cenário de muitos filmes norte-americanos, alguns exemplos são:

“Voando para o Rio” (EUA, 1933), “Feitiço no Rio” (EUA, 1984), “Orquídea Selvagem” (EUA,

1990), (EUA, 2001), “Turistas” (EUA, 2006), “O Incrível Hulk (EUA, 2008), “Os Mercenários”

(EUA, 2010), “Velozes e Furiosos 5” (EUA, 2011), “Amanhecer” (EUA, 2011) da saga

“Crepúsculo” e a animação “Rio” (EUA, 2011) (SANTOS, 2011). Em algumas destas películas a

cidade do Rio de Janeiro faz parte do contexto da história do filme, como é o caso de “Velozes e

Furiosos 5” (EUA, 2011). Em outros, porém, o Rio é utilizado somente como cenário, por

exemplo em “Mercenários” (EUA, 2010).

Sá (2002) afirma que durante a década de 1960, vários filmes estrangeiros utilizam

paisagens ou cenas brasileiras e que na maioria desses filmes o que vemos são imagens vulgares

como as praias, o carnaval, a floresta amazônica e mulheres nuas. E essas imagens continuam a

aparecer nos filmes das décadas posteriores. No cinema norte-americano, também observamos a

apresentação dessas imagens, praias, carnaval, floresta amazônica e mulheres sempre bonitas e

sensuais. Este último item podemos avistar e exemplificar no filme “Feitiço no Rio” (EUA,

1984).

“Feitiço no Rio” (EUA, 1984) do roteirista Larry Gelbart, conta a história de um

homem que viaja a passeio para o Rio de Janeiro e se apaixona pela filha do seu melhor amigo.

No filme, que possui no elenco a atriz Demi Moore e o ator Michael Caine, há exposição de

clichês abordados em muitos outros filmes norte-americanos como: a sensualidade das mulheres

brasileiras, fazendo topless na maioria das vezes, e o exotismo do país. Este último aspecto o

exótico, podemos constatar em duas cenas: na primeira onde aparece uma mulher se bronzeando

na praia do Rio de Janeiro com um macaco em seus ombros, e na outra onde há a demonstração

de um ritual de casamento, onde uma baiana queima o véu de uma noiva e joga-a no mar.

Precisamos nos atentar que as duas cenas fatos incomuns, como se estes fossem hábitos comuns

entre os brasileiros (OLHAR, 2005).

A imagem da mulher brasileira também é muito presente nos filmes norte-americanos.

Sempre apresentada de forma sensual, às mulheres brasileiras são destaque pelas suas belas

formas corporais. Alguns exemplos que explicitam este aspecto da sensualidade feminina são

encontrados nos filmes “Lambada a dança proibida” (EUA, 1990) e “Sabor da Paixão” (EUA,

Page 52: Nagisa migita

50

2000), abordados na íntegra no próximo capítulo, e de forma mais erótica no filme “Orquídea

Selvagem” (EUA, 1990). Neste o diretor Zalman King utiliza-se de elementos da cultura africana

para dar sensualidade aos seus personagens. O filme narra à história de uma jovem contratada por

uma importante corretora de Nova York que em uma viagem de negócios para o Rio de Janeiro,

conhece um homem enigmático que a envolve em um jogo de sedução. O filme que apresenta

ritos orgiásticos teve locações no Brasil, e tem como contexto o Rio de Janeiro com elementos da

Bahia (SANTOS, 2011). Zalman King justifica a mescla dos elementos baianos no Rio de Janeiro

da seguinte forma: “[...] Eu queria fazer um Rio imaginário, é verdade. O Rio mostrou ser outra

cidade, não a que estava na minha imaginação. Mas quando fui à Bahia vi elementos que eu

achava que deveriam estar no Rio. O Rio da minha cabeça combinava essas duas cidades15

”.

Compreendemos a justificativa de Zalman King (2005), no entanto, precisamos observar

que alguns elementos são determinantes da imagem de uma cidade, ou seja, caracterizam a

imagem de um local, como por exemplo, o Cristo Redentor que nos remete a imagem da cidade

do Rio de Janeiro. Desta forma, entendemos que tal filme elimina os aspectos culturais que

diferenciam as cidades tornando confusa a imagem do Brasil e muitas vezes criando um lugar

ilusório, neste caso um lugar que satisfaça os desejos sexuais podendo atrair um determinado tipo

de turismo, como o turismo sexual.

Observando as produções filmográficas norte-americanas percebemos ainda que poucas

são as cidades conhecidas e representadas em seus filmes. A cidade do Rio de Janeiro, por

exemplo, foi cenário de grande parte das obras citadas. Da mesma forma são muito representados

nos filmes americanos a região Nordeste e o estado da Bahia. Podemos descrever então as

principais cidades que aparecem nos filmes norte-americanos e como são apresentadas suas

imagens.

O Rio de Janeiro é a cidade que mais aparece nas películas norte-americanas e é

apresentada na maioria das vezes de forma sensual e maravilhosa, porém onde se encontram

inúmeras favelas e um grau de violência elevada. São Paulo é conhecido como a grande

metrópole, no entanto, em muitos casos são confusos as imagens que os americanos possuem

desta cidade. Como observamos em “Próxima parada, Wonderland” (EUA, 1998), onde o

personagem que representa um brasileiro malandro convida a protagonista para ir a São Paulo

15

Cf. OLHAR estrangeiro: um personagem chamado Brasil, Dir. Lúcia Murat, Rio de Janeiro, 2005, Flash 29. M 70.

Informação verbal: Zalman King.

Page 53: Nagisa migita

51

“pegar uma praia”. A Bahia possui uma imagem mística e religiosa, especialmente Salvador,

conhecida pelos orixás, deuses da água e do fogo. A paisagem baiana é cenário do filme “Sabor

da Paixão” (EUA, 2000) protagonizado pela atriz Penélope Cruz, com participações de

brasileiros como Murilo Benício, Wagner Moura e Lázaro Ramos. A Amazônia é paisagem para

os filmes americanos, pois remete imagens exóticas com seus mitos, grandiosidade e descrições

bizarras como: “[…] árvores que caminham, plantas e animais monstruosos e sobrenaturais […]

Pássaros que podem levar à loucura, vampiros que adormentam suas vítimas com o bater das asas

[…] Cobras gigantes entre outros”. “Anaconda” (EUA, 1997) protagonizada pela atriz e cantora

Jennifer Lopez é um dos filmes que se utilizam da paisagem Amazônica (NOVA, 2008). Outra

cidade muito utilizada nas produções Hollywoodianas é Foz do Iguaçu. Por ser sede das Cataratas

do Iguaçu16

, esse local já foi utilizada como cenário para diversos filmes como “007 Contra o

Foguete da Morte” (ING, 1979), “A Missão” (ING, 1986), “A Saga” (EUA, 2003), “Indiana

Jones e o Reino da Caveira de Cristal de Steven Spielberg” (EUA, 2007) entre outros

(ALFONSO, 2006). A maioria desses filmes utilizou a imagem das Cataratas apenas como

cenário de seus filmes.

Entre as imagens reforçadas pelo cinema encontramos ainda aquele de um Brasil

“localidade de fuga”, associada à figura histórica de Afonso Ribeiro, que seria a síntese alegórica

de todos os degradados que vieram para o Brasil, por opção ou necessidade de fuga. Afonso

Ribeiro foi um jovem camareiro português condenado à morte em sua pátria que foge para o

Brasil em busca de salvação (AMANCIO, 2000). Portanto, nos filmes americanos os degradados

ou bandidos fogem para o Brasil, mais especificamente para o Rio de Janeiro, capital que tem a

imagem de abrigo da contravenção internacional, uma cidade que é a representação urbana do

Brasil com: a mulata, o sambista, a mãe de santo e o malandro, permeados de problemas sociais

como drogas, prostituição, violência, a polícia e delinquência infantil (SILVA apud SÁ, 2002).

A diretora do documentário “Olhar estrangeiro: um personagem chamado Brasil” Lúcia

Murat comenta que em mais de 40 filmes estrangeiros, os bandidos fogem para o Brasil. Em

“Primavera para Hitler” (EUA, 1968), por exemplo, há a seguinte citação de um dos personagens

16

As Cataratas são formadas pelas quedas do Rio Iguaçú. O Rio Iguaçú mede 1200 metros de largura acima das

Cataratas (CATARATAS DO IGUAÇÚ, 2011). As Cataratas possuem 275 quedas d´àgua ao longo do Rio. Uma das

quedas em forma de U tem 82 metros de altura, 150 metros de largura e 700 metros de comprimento. Atualmente

(2011) as Cataratas estão participando da campanha mundial das Sete Novas Maravilhas da Natureza, organizada

pela Fundação Wonders e estão entre as 28 finalistas (WIKIPÉDIA, 2011).

Page 54: Nagisa migita

52

da trama: “Pegamos o nosso milhão de dólares e voamos para o Rio de Janeiro” 17

(OLHAR,

2005).

Segundo Sá (2002) o Brasil possui uma imagem impresumível devido principalmente à

imprensa estrangeira, que se limita a divulgar aspectos negativos da sociedade brasileira, uma

representação clichê a respeito do país que por consequência diminui o número de turistas que

chegam ao país. A respeito da imprensa estrangeira, John Swarbrooke observa que nos guias de

turismo podemos encontrar informações a respeito da violência no Brasil e que isso acaba

gerando uma imagem negativa do país. Ainda segundo o autor alguns guias alertam aos turistas

que o Rio de Janeiro é uma cidade violenta, por isso deve ser evitada (apud NOVA, 2008).

Concordamos com os dois autores a respeito da imagem que a imprensa transmite do país, que

em muitos casos são somente, as imagens negativas, mas não podemos generalizar, pois também

notamos que algumas imprensas, principalmente as especializadas em turismo, revelam aspectos

positivos da cultura brasileira.

Conforme o ator Michael Caine esses clichês a respeito do país são, devidamente

merecidos, pois,

[...] O Brasil [...] Produz mais pessoas bonitas que qualquer outro país. São clichês e, se

vocês querem ser tratados mais seriamente, deviam dançar menos e ficar mais feios. Aí

todo mundo vai tratá-los seriamente. Afinal, não dançamos assim e somos muito feios

no meu país [...] E todos nos tratam muito seriamente18

.

Segundo Louise Prado Alfonso (2006) a imagem dos norte-americanos na década de

1970, a respeito do Brasil pode ser constatado na pesquisa reproduzida pela EMBRATUR e

divulgada pelo Jornal do Brasil, onde

[...] Os resultados, além de importantes, pois nortearam as campanhas publicitárias dos

anos seguintes, são interessantes: quando questionados acerca das primeiras imagens que

vinham à mente quando se falava em Brasil, os norte-americanos responderam que, em

primeiro lugar, estaria o café, seguido das grandes fazendas e outros produtos agrícolas

(castanhas, banana, cacau etc.). Em terceiro lugar ficaria a musicalidade brasileira

(Carnaval, samba, Bossa Nova), seguida da natureza (florestas virgens, rio Amazonas,

17

Cf. OLHAR estrangeiro: um personagem chamado Brasil, Dir. Lúcia Murat, Rio de Janeiro, 2005, Flash63. M70. 18

Cf. OLHAR estrangeiro: um personagem chamado Brasil, Dir. Lúcia Murat, Rio de Janeiro, 2005, Flash14.

M70min. Informação Verbal: ator Michael Caine.

Page 55: Nagisa migita

53

flores exóticas, animais selvagens), e por último, estaria Brasília, cidade moderna,

construída no meio da floresta (ALFONSO, 2006, p. 84).

Compreendemos que nos resultados das imagens captadas pelo americano conste

primeiramente a imagem do café, visto que o Brasil ficou conhecido internacionalmente pela sua

grande produção de café, desde 1885 e pela crise do café ocorrida em 1929 e 1930. A imagem da

musicalidade, representada pelo carnaval, devido a grande difusão na mídia tanto nacional quanto

na estrangeira. A imagem da natureza sempre foi muito difundida. E o conhecimento da imagem

de Brasília pode ter aparecido na pesquisa, devido, a cidade ainda ser recente naquela época, pois

a cidade havia sido inaugurada em 1960.

Ainda segundo a pesquisa, 73% dos entrevistados não souberam citar qualquer nome de

brasileiro famoso a outra parcela citaram primeiramente Carmem Miranda e Sérgio Mendes, que

eram sucessos nos EUA. Pelé já era, na década de 1970, um nome que merecia destaque mundial,

por conta de seu desempenho no futebol internacional; o quarto “brasileiro” mais conhecido seria

Simon Bolívar, o que demonstrava o grau de desconhecimento dos norte-americanos

(ALFONSO, 2006).

Com o passar dos anos além das imagens muito difundidas, carnaval, mulher, Rio de

Janeiro, também foi se intensificando a imagem de um Brasil violento. O Brasil foi apresentado

por algumas imprensas de 1990, como sendo um país violento, corrupto, economicamente

dependente e inadequado nas suas políticas. Em contraposição a imprensa especializada no

turismo, busca retratar uma imagem atrativa fundamentada nas categorias que ao longo dos

séculos foram sendo determinadas. Muito embora exista uma tendência de retratar o País por

meio de contrastes, com imagem repulsiva ou imagens atrativas, algumas categorias irão permear

todos os tipos de discursos, como é o caso da sensualidade, do elemento exótico ou místico e do

carnaval (SÁ, 2002). Em filmes Hollywoodianos, por exemplo, é perceptível como o Brasil

possui poucas variações de representações (sempre a sensualidade das mulheres, carnaval, Rio de

Janeiro, futebol, violência e pobreza). Como afirma o roteirista do filme “Feitiço no Rio” (EUA,

1984) Larry Gelbart:

Por um lado, as pessoas ficam felizes se o país delas é representado de alguma maneira.

Por outro lado, quando se torna um clichê, uma única nota, o mesmo papel em todos os

Page 56: Nagisa migita

54

filmes, ou seja, franceses são maitrês, aquele é sempre nazista, acaba se tornando

prejudicial ao ator e a cultura que ele representa 19

.

Conforme as palavras de Larry Gelbart, qualquer representação do país seria motivo de

felicidade para seus habitantes, no entanto, quando a imagem representada for sempre à mesma

pode se tornar um empecilho para o desenvolvimento do país. Compreendemos, porém que se a

imagem apresentada forem imagens verídicas e/ou positivas, acerca de um país esta será mais

uma forma de divulgação da cultura e, portanto, motivo de felicidade para seus habitantes.

Devemos aqui enfatizar que as imagens representadas nos filmes americanos são sempre

as mesmas, mas poderiam ser retratadas de forma diferente, de modo a compreender os aspectos

culturais, sociais e políticos mais a fundo. No entanto, esta não seria exatamente a intenção do

cinema americano, ou de outras indústrias cinematográficas, uma vez que, o cinema é uma

“atividade que trabalha com a distribuição e a exibição e que privilegia, prioritariamente, o

atendimento a um público imenso e heterogêneo” (SILVA, 1998, p.242-243). Ou seja, é uma

atividade com objetivo meramente comercial, que produz filmes com o intuito de maximizar a

rentabilidade do capital investido. Desta forma, compreendemos que provavelmente os filmes

americanos retratam o Brasil com imagens sempre conhecidas devido à necessidade de atuar com

a repetição de fórmulas de sucesso. Preferem, portanto, produzir filmes que alcancem uma maior

demanda de espectadores e consequentemente maior lucro de bilheteria.

Observamos no percurso deste texto que o cinema pode fornecer a imagem de um lugar,

em geral bem definida na mente da maioria dos consumidores. Alguns exemplos podem ser aqui

citados: a África que é associada a safáris, a Argentina ao tango, a Austrália aos cangurus e o

Brasil ao carnaval. No entanto, na África não existe somente os safáris, tampouco o Brasil é um

lugar somente com carnaval, mas a imagem, neste caso, é aquela que coincide com a maioria das

representações na mente dos indivíduos. Observamos então que as imagens contidas nos filmes

americanos, a respeito do Brasil são geralmente as mesmas, muitas vezes equivocadas, negativas

e/ou clichês.

Constatamos, porém que o Brasil é de uma diversidade e de uma adversidade espantosa,

de altos e baixos e extremos radicais. Riqueza, exuberância e miséria. São tantos os aspectos

19

Cf. OLHAR estrangeiro: um personagem chamado Brasil, Dir. Lúcia Murat, Rio de Janeiro, 2005, Flash55. M70.

Informação Verbal: roteirista Larry Gelbart.

Page 57: Nagisa migita

55

culturais e sociais que circundam o país que falar sobre o país parece ser fácil, ou seja,

entendemos quando Tom Jobim afirma, que “o Brasil não era para principiantes” justamente

porque os ingênuos “conheciam” o país superficialmente quando, de fato, nossa sociedade é

muito mais complexa, requerendo uma orquestração de muitos domínios para ser mais bem

entendida (MATTA, 2004).

Observamos as imagens apresentadas pelo cinema americano a respeito do Brasil e

concluímos que poderíamos sintetizá-las em algumas palavras: paraíso, sensual e selvagem. O

paraíso estaria ligado primeiramente às belezas da fauna e flora, também poderia ser apresentado

na forma cultural com o samba e o carnaval. O sensual apresentado sempre na figura feminina, na

da mulher brasileira. E o selvagem estabelecido pela violência. Essas imagens não são imagens

errôneas, uma vez que o Brasil realmente possui uma fauna e flora exuberante, festejamos o

carnaval, dançamos samba, temos mulheres bonitas e também convivemos com a violência. No

entanto, não são apenas essas imagens que definem os aspectos culturais, econômicos, sociais e

políticos do país, não podemos generalizar que essas são as únicas representações acerca do país,

pois não é só no Brasil que vimos violência e/ou mulheres sensuais.

Devemos lembrar ainda que essa imagem a respeito do país não foi inserida de um dia

para o outro, nem mesmo construída em um pequeno espaço de tempo. Não foi difundida

somente pela mídia, televisão, rádio. Não são somente os americanos que possuem essas imagens

do Brasil. Essas imagens foram formadas, reformuladas e recebem novas versões de acordo com

o passar dos anos, são representações criadas pelos portugueses, espanhóis, franceses, americanos

entre outros até mesmo por nós brasileiros. Sim, em parte essas imagens reveladas são

responsabilidade dos próprios brasileiros, pois, basta olharmos para as nossas televisões e para o

conteúdo dos programas e percebermos que nós mesmos idealizamos um povo sensual e festeiro.

O povo da “Lei de Gerson”20

, criada pelos próprios brasileiros. O que resulta na dificuldade de

promover alterações na imagem quando de fato algumas características compõem o quadro

cultural. Desse modo é necessário admitirmos que essa imagem está atrelada a nossa identidade

e que as mudanças nessas imagens só ocorreram a partir do momento que valorizarmos mais os

aspetos positivos.

20

Quando afirmamos a respeito da“ Lei de Gerson” a autora quer se referir ao jeitinho brasileiro, ou seja, que para

tudo o brasileiro se encontra um caminho.

Page 58: Nagisa migita

56

Compreendemos ainda que, essas imagens negativas, equivocadas e/ou mesmo clichês

podem prejudicar a imagem do país, tendo como consequência a diminuição da demanda de

entrada de turistas no país e atraindo outras indesejáveis, como aqueles que procuram o turismo

sexual. Desta forma, entendemos a necessidade de um estudo a respeito da imagem turística de

um local, visto a importância desta para a promoção de uma localidade e difusão de sua cultura.

Considerando a importância da imagem para um destino abordaremos no segundo capítulo o

estudo a respeito da imagem e da imagem turística de um local, como fator de valor para a

promoção de um destino turístico.

Page 59: Nagisa migita

57

II CAPÍTULO – CLAQUETE, AÇÃO!: Metodologia e Construção teórica

No capítulo anterior abordamos os aspectos históricos do cinema, tentamos compreender

a indústria cinematográfica norte-americana e sua importância, e ainda qual a imagem que esta

indústria retrata em suas produções a respeito do Brasil. A partir, destes estudos observamos o

quão importante são as imagens transmitidas por audiovisuais como o cinema. Verificamos,

portanto, a necessidade de entendermos inicialmente a importância da imagem para a promoção

de um destino turístico. Tentaremos ainda, neste capítulo estabelecer a relação da imagem como

promoção de um local com as imagens de turismo evidenciado nos filmes norte-americanos

escolhidos para este trabalho. Com esses estudos objetivamos discutir e compreender por meio

das imagens representadas nos filmes norte-americanos quais as imagens turísticas positivas,

quais as imagens que podem denigrir a imagem do Brasil ou mesmo atrair um turismo

indesejável.

2.1 IMAGEM E TURISMO

Iniciamos o segundo capítulo discutindo questões referentes à imagem e sua abordagem

no âmbito do turismo, procurando entender seus conceitos e a sua importância como

influenciadora dos fluxos turísticos em direção a um destino. Procuramos colaborar para a

reflexão teórica ligada ao estudo das imagens veiculadas pelo cinema norte-americano.

O interesse pela pesquisa e compreensão do construto imagem remonta aos mais antigos

estudos filosóficos. Segundo Machado (2001), o filósofo Platão é quem inaugura a visão que

diferencia o mundo real de sua aparência, ou seja, a verdade da forma como se mostra ou, ainda,

os fatos de sua apresentação (apud ITUASSU; OLIVEIRA, 2004, p.1). A imagem se situa,

portanto, no campo da percepção e envolve aspectos abstratos e subjetivos, o que o torna ainda

mais intrigante. Apesar de o assunto ser objeto de estudo de muitos pesquisadores, ainda possui

lacunas para as quais se faz necessários estudos adicionais. Diante disso, a imagem é pesquisada

sob a perspectiva das mais diferentes áreas do conhecimento, como filosofia, sociologia,

antropologia, semiótica, teologia, comunicação, economia, marketing entre outros (ITUASSU;

Page 60: Nagisa migita

58

OLIVEIRA, 2004, p.01). Neste caso o estudo da imagem é abordado no âmbito do turismo, mas

para a melhor compreensão a respeito da imagem, apesar da dificuldade em definirmos o termo, é

imprescindível que compreendamos o seu significado. Segundo o Dicionário Michaelis, imagem

seria um [...]

1.Reflexo de um objeto na água, num espelho etc. 2. Representação de uma pessoa ou

coisa, obtida por meio de desenho, gravura ou escultura. 3. Estampa ou escultura que

representa personagem santificada para ser exposta à veneração dos fiéis. 4.

Representação mental de qualquer forma. 5. Aquilo que imita ou representa pessoa ou

coisa (2000, p.321-322).

A imagem segundo o dicionário possui cinco definições, em uma delas a imagem

significa o reflexo de um objeto qualquer enquanto que, as outras definições apresentam a

imagem como representações, de pessoas, de objetos, da mente, é uma definição um pouco vaga

e que não nos faz compreender ao certo a respeito da imagem, por isso vimos à necessidade de

procurar outras definições como a de Morgan e Pritchard (1998), que definem a imagem como

[...] às representações organizadas de um objeto, uma pessoa ou um lugar a partir de um

sistema cognitivo de um indivíduo e compreende tanto a definição deste objeto, pessoa

ou lugar quanto o reconhecimento de seus atributos. Consequentemente, as imagens

representam constructos mentais, e objetos, povos e lugares estão todos sujeitos a

diferentes imagens. (MORGAN & PRITCHARD apud KAJIHARA, 2008, p.18).

Segundo os autores a imagem é a representação organizada na mente de uma pessoa a

respeito de uma outra pessoa ou de si próprio, de um objeto ou lugar. As imagens, portanto,

seriam as representações construídas na mente de uma pessoa acerca de objetos, povos e lugares,

e devido, a esta representação ocorrer na mente de cada indivíduo, as imagens são distintas uma

das outras. Entendemos desta forma que a imagem é subjetiva e por isso talvez, vemos uma

variedade de imagens a respeito do Brasil, ou seja, para uns o país é um paraíso enquanto que

para outros um local violento. Com outras palavras, mas com o mesmo sentido a autora Bignami

Sá também define a imagem associando-a

[...] a um conjunto de percepções a respeito de algo, uma representação de um objeto ou

ser, uma projeção futura, uma lembrança ou recordação passada. Essas múltiplas

explicações a respeito da imagem nos levam a considerar o quanto ela pode ser dinâmica

e ampla no que se refere a conceito e prática (2002, p. 12-13).

Page 61: Nagisa migita

59

Sá também associa a imagem a um conjunto de percepções a respeito de algo, e essas

percepções podem ser do presente, do passado ou do futuro, por esse motivo, a autora afirma que

o conceito e a prática da imagem são amplos e dinâmicos. E é por esse motivo que as pessoas

associam a imagem do país de acordo com aquela ao qual ela viu ou presenciou, por exemplo, se

a pessoa obteve a informação da imagem do Brasil por meio das cartas dos primeiros

colonizadores são essas as imagens que ela associará ao país.

Ainda a respeito do significado de imagem, Barich e Kotler (in Seixas apud

KAJIHARA, 2008) definem-na como a soma de crenças, atitudes e impressões que uma pessoa

ou grupo tem de um objeto, que pode ser uma empresa, produto, marca, lugar ou pessoa.

Contudo, essas impressões podem ser verdadeiras ou falsas; reais ou imaginárias. Ou seja, trata-

se de uma representação subjetiva da realidade, que possui dinamicidade, “pode se alterar no

tempo e no espaço” (SÁ, 2002), ainda que resistente à mudança. E possui importância por

consistir na base a partir da qual atitudes se formarão. E essas atitudes direcionarão a maneira

como o sujeito se comporta em relação ao objeto que originou a imagem. Porém, conhecer a

imagem que alguém tem de um objeto não garante uma previsão de seu comportamento, mas

indica caminhos prováveis de como ele deve agir com relação a esse objeto (ITUASSU;

OLIVEIRA, 2004). Podemos então exemplificar, que se a imagem transmitida pelo cinema

americano a respeito do Brasil tiver somente imagens de mulheres nuas, poderemos atrair um

turismo indesejável, como o turismo sexual, no entanto, não podemos prever que as pessoas que

verificaram essa imagem pratiquem o turismo sexual.

Segundo as informações anteriores podemos entender que a imagem seria uma

percepção, representação ou uma soma de crenças e atitudes a respeito de algo que pode

modificar-se no tempo e no espaço. É uma representação subjetiva da realidade e que

[...] pode ser elaborada ou projetada, de forma intencional, por meio do marketing. O

marketing empresarial foi um dos setores que em primeiro lugar se ocupou da criação ou

da projeção de imagens de produtos de forma declarada, sobretudo com os meios de

comunicação, utilizando recursos como a associação de ideias, ícones, mitos e

estereótipos21

. Uma campanha publicitária pode fazer de um produto novo e

21

Segundo a professora Marina Martinez (2010) define-se estereótipo como sendo generalizações, ou pressupostos,

que as pessoas fazem sobre as características ou comportamentos de grupos sociais específicos ou tipos de

indivíduos. O estereótipo é geralmente imposto, segundo as características externas, tais como a aparência (cabelos,

olhos, pele), roupas, condição financeira, comportamentos, cultura, sexualidade, sendo estas classificações

(rotulagens) nem sempre positivas que podem muitas vezes causar certos impactos negativos nas pessoas. Para a

Wikipédia estereótipo é a “imagem preconcebida de determinada pessoa, coisa ou situação”. É fonte de inspiração de

Page 62: Nagisa migita

60

desconhecido, um produto apreciado por um determinado público por lhe terem sido

incorporadas algumas características por meio da repetição de imagens na televisão, na

revista, no jornal e por frases que lhe conferem atributos (SÁ, 2002, p.15).

A imagem, portanto, pode ser criada e difundida para determinados fins, por meio do

marketing. O marketing se ocupa da criação ou da projeção de imagens de produtos, que podem

ser associados a ideias, ícones e mitos com a colaboração dos meios de comunicação. As

campanhas publicitárias utilizam os meios de comunicação para a repetição de imagens do

produto para que a tornem de um produto desconhecido a um apreciado por um determinado

público. Podemos afirmar que meios como este colaboraram na formatação de uma imagem do

Brasil associada ao carnaval e a sensualidade das mulheres, pois muitas campanhas publicitárias

apresentam o país, por meio desta festividade e incentivam o norte-americano pelas belezas das

mulheres brasileiras, muitas vezes apresentadas com biquínis.

Como apontado anteriormente, o conceito de imagem pode ser estendido a diferentes

objetos, produtos, marcas, empresas, pessoas, dentre os quais um país. De acordo com Sá (2002)

a imagem de um lugar é mais complexa, uma vez que não se encontra inserida em um contexto

limitado, social e historicamente. O processo de construção da imagem de uma nação envolve a

assimilação de informações, verdadeiras ou não, geradas e difundidas pelas mais diversas fontes,

neste caso o cinema, a respeito de crenças, figuras nacionais, fatos históricos entre outros, por

meio de diferentes processos. A autora ainda afirma que a imagem consiste, então, numa síntese

das ideias que se repetem nas falas de diferentes interlocutores e que, por acúmulo, irão

caracterizar uma localidade. Por exemplo, ao observarmos nos filmes americanos as imagens que

aparecem a respeito do Brasil, verificamos que em muitos casos são imagens de mulheres

sensuais, carnaval, Rio de Janeiro e a beleza da natureza, consequentemente poderão ser essas as

imagens que identificarão o país.

A imagem de países recebeu significativa importância com a globalização e o aumento

da competitividade no âmbito internacional, ocorrido nos últimos anos (PAPADOPOULOS;

HESLOP apud ITUASSU; OLIVEIRA, 2004, p.06). Kotler afirma a esse respeito que

muitas piadas, sendo algumas de conteúdo racista, como as que relacionam os judeus à avareza, os negros à

malandragem e os portugueses à falta de inteligência. O estereótipo, então, pode estar ligado diretamente ao

preconceito e não deixa de andar lado a lado muitas vezes com o clichê.

Page 63: Nagisa migita

61

[...] as localidades estão concorrendo cada vez mais entre si para atrair turistas, negócios

e investimentos externos, além de promover os produtos que exportam. Além disso, o

crescente número de empresas multinacionais e a proliferação do comércio internacional

indicam que essa competição continuará se intensificando, o que torna necessário aos

profissionais de marketing ampliar seu repertório de instrumentos que lhes possibilitem

colocar seus países e produtos numa posição mais favorável em termos mundiais (apud

ITUASSU; OLIVEIRA, 2004, p.06).

Com a globalização os destinos turísticos estão concorrendo cada vez mais entre si e

futuramente essa concorrência será mais acirrada, devido ao aumento no comércio internacional.

Portanto, é necessário que os destinos realizem cada vez mais ações, por meio do marketing, para

que atraiam os turistas para seus países e fazendo- os consumir seus produtos.

Verificamos então que a imagem exerce importante impacto no desenvolvimento de uma

localidade, visto que, ela é uma característica do produto turístico determinante no processo de

decisão de compra do consumidor (SÁ, 2002), pois a imagem é um dos fatores que diferenciam

as destinações de um turista para outro. Desta forma, o estudo da imagem de países, logo é de

extrema relevância, uma vez que podemos por meio dela constatar aspectos como: a atração de

fluxos turísticos, a captação de negócios e capitais no exterior e a expansão das exportações

(ITUASSU; OLIVEIRA, 2004). A imagem é ainda considerada uma das variáveis que

influenciam os fluxos turísticos em direção a um destino, ou seja, imagens turísticas positivas

atrairão turistas, por outro lado, imagens negativas ou mesmo mal planejadas podem trazer sérias

consequências, atraindo turistas indesejáveis, como, por exemplo, aqueles que buscam o turismo

sexual (KAJIHARA, 2008).

Ainda a respeito da imagem de um país ou destino, Cooper afirma que existe dois níveis

de imagem,

O primeiro é a imagem orgânica, que é a soma de toda a informação que tem sido

deliberadamente dirigida pela publicidade ou promoção de um país ou destino. O

segundo nível é a imagem induzida, que se forma mediante uma descrição deliberada e

uma promoção por parte de várias organizações envolvidas no turismo. É importante

distinguir estes dois níveis, já que a imagem induzida é controlável, enquanto que a

imagem orgânica é menos fácil de influir (apud GÂNDARA, 2008, p. 4).

Gândara afirma que a imagem de um país ou destino possui dois níveis: a imagem

orgânica e a imagem induzida. A imagem orgânica seria uma imagem mais ampla, aquela que

possui várias informações a respeito do destino, e é veiculada pela mídia. Entendemos que esta

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62

imagem pode trazer representações de um país imaginário, uma vez que muitas vezes a mídia

trabalha para criar uma localidade onde o turista ou consumidor possa sonhar ou fantasiar, desse

modo, vemos que há mais possibilidades da criação de uma imagem prejudicial à localidade.

Enquanto que a imagem induzida, aquela produzida por várias organizações envolvidas no

turismo, a respeito de uma determinada imagem, por ser algo mais centralizado, sem maiores

preocupações em conquistar uma grande demanda de turistas, nos demonstra maior realidade.

Esta imagem pode muitas vezes ser menos atrativa que a formulada pela mídia, porém, serão

constituídas de representações que atraiam determinados tipos de turistas vistos as informações

oferecidas. E a partir da formulação dessas imagens ou mesmo por meio de como é realizada a

divulgação delas que o turista/ consumidor obterá uma imagem positiva, negativa ou mesmo

equivocada dos destinos turísticos.

E a respeito da imagem que o turista pode assimilar de um destino Gândara (2008)

afirma que esta pode ser

[...] uma imagem positiva, uma imagem débil (pouco conhecida, por ser pequena,

carecer de atrativos ou não promover-se), uma imagem negativa, uma imagem mista

(mistura de elementos negativos e positivos), uma imagem contraditória (com pontos de

vista opostos sobre alguns aspectos por parte dos visitantes) ou uma imagem demasiado

atrativa (que possa criar excessiva visitação e expectativas) (GÂNDARA, 2008, p.16).

Conforme Gândara são seis os tipos de imagens que os destinos podem ter: a positiva, a

negativa, a mista, a contraditória e a demasiado atrativa. E a escolha por um destino será avaliado

pelo consumidor a partir de informações que adquiriu nos variados processos de conhecimento e

irá se decidir tomando por base suas necessidades, desejos e possibilidades. Verificamos,

portanto, que são várias as imagens que um turista pode ter de uma localidade e precisamos

observar que da mesma forma que são diversificadas os pontos de vista do turista também são

várias as formas que o turista pode ter adquirido essas imagens, uma vez que a imagem deste

consumidor poderá ser formulada a partir de comentários de amigos, pela leitura de folheteria,

por meio de anúncios publicitários, artigos de reportagens, narrativas em livros ou no cinema

(SÁ, 2002). Convém lembrarmos que os meios de comunicação, como o cinema e a televisão tem

tido uma influência notável no processo de formação das imagens nas sociedades pós-modernas

ou globalizadas (SÁ, 2000), devido talvez a estas estarem mais acessíveis ao público, e terem se

tornado importantes para a vida em sociedade. Percebemos então que dificilmente uma pessoa

Page 65: Nagisa migita

63

não terá contato com esses meios de comunicação, uma vez que na maioria das casas observamos

a presença desses meios de comunicação como a televisão.

Segundo Alfonso (2006) esses meios de comunicação em massa, como televisão, cinema

trazem importantes elementos para a criação, a divulgação e a consolidação de uma imagem

turística local, uma vez que, principalmente por atingirem um maior número de pessoas, passam a

serem os maiores divulgadores e consolidadores de imagens. “A imagem tornou-se então,

sinônimo de televisão e publicidade” (JOLY apud BARBOSA, 2001); e a atividade turística não

foge deste contexto, pois se usa, com certa frequência, a imagem mental, aquela que envolve a

criação de uma fantasia ou de um sonho. Logo no caso do turismo a imagem é o principal

instrumento para as vendas, e a decisão de compra do possível turista irá se basear nessas

expectativas, sonhos, fantasias ou em uma imagem construída anteriormente à decisão de

compra, imagens que possui a respeito dos possíveis destinos, ou seja, a imagem turística.

Verificamos ainda que por meio destes meios de comunicação muitas pessoas se inspiram nos

personagens representados nas tramas televisivas ou cinematográficas, procurando muitas vezes

os cenários onde foram gravados essas tramas para comporem suas possíveis aventuras turísticas,

ou seja, no imaginário do potencial turista já existe a imagem turística.

A respeito dessa imagem turística a Organização Mundial do Turismo, OMT (apud

ALFONSO, 2006, p.77) define-a como

[...] apenas uma parte da imagem total de um local, seria a percepção que um turista tem

dos atrativos turísticos locais, desde o patrimônio histórico-cultural, o ambiente físico e

as riquezas naturais até a infraestrutura básica e turística. A imagem turística de um local

seria uma projeção mais ou menos fiel da realidade, “Uma aura, um ângulo, uma

construção subjetiva”, formada por várias representações, muitas vezes pré-existentes,

selecionadas pelo divulgador da imagem em questão, por sua vez, não apenas definida,

avaliada e comparada, mas também manipulada, modelada e alterada por seu divulgador

(OMT apud ALFONSO, 2006, p.77).

Entendemos que em alguns casos a imagem turística pode estar inserida no imaginário

do potencial turista antes mesmo de ele ter consumido o produto, uma vez que este consumidor

pode ter procurado informações nos meios de comunicação, como o cinema. Em outros casos a

imagem turística só será formulada durante e após o consumo do produto, já que o produto

turístico abarca um sistema onde envolve produtos tangíveis como hospedagem, meios de

transporte, o clima, a vegetação e produtos intangíveis no caso os serviços prestados. A imagem

Page 66: Nagisa migita

64

que o potencial turista possui dos destinos se diferenciará da imagem do real turista, visto que a

imagem do real turista será a representação do que ele realmente experimentou e não a

reprodução das experiências de outros.

Para Gândara (2008) a imagem é um elemento fundamental na estratégia de marketing

de qualquer destino turístico. E para se produzir um destino turístico competitivo é necessário

considerar aspectos como a qualidade do destino, sua distribuição, sua comunicação e o preço. E

ao se estabelecer a imagem do destino turístico carecemos colocar em destaque características

que o diferencie da concorrência, pois a unicidade trará à localidade maiores possibilidades de

atrair mais visitantes, visto que, estará mais protegido das tendências globalizadoras. Deste modo,

“os diferenciais servirão tanto como componentes da imagem do destino como da identidade da

população local, o que sem dúvida, fortalecerá a imagem e consequentemente a comercialização

do mesmo” (GÂNDARA, 2008, p.10 - 11). Observamos que em alguns casos os profissionais de

marketing trabalham com imagens irreais, por exemplo, paisagens que não constam com a

realidade dos destinos, de modo a atrair os potenciais turistas, esquecendo-se das características

que tornam as localidades distintas umas das outras. Desta forma, verificamos que em muitos

casos o marketing cria elementos que compõem a tendência do período e não elementos

característicos dos destinos.

Alfonso (2006) lembra ainda que a imagem que os cidadãos possuem de seu país

também é um componente importante na escolha dos elementos que formarão a imagem turística

nacional, uma vez que, o emprego de traços de uma identidade já existente torna mais imediato a

identificação do local, tanto pelo visitante como pela própria população, o que,

consequentemente, facilita o processo de consolidação, manutenção e divulgação da imagem

turística. Devemos enfatizar que “a imagem é a causa da decisão de compra, da satisfação e da

possível repetição do destino turístico” (GÂNDARA, 2008, p.06), portanto é de grande

importância ressaltar que existem algumas características da imagem que podem levar a

simplificação e generalização das localidades, estas são as imagens denominadas estereótipos.

Kotler e Gertner (apud KAJIHARA, 2008, p.19) acreditam que tais características muitas vezes

não passam de simplificações que não necessariamente correspondam à realidade do local. Pois,

“geralmente são informações desatualizadas, baseadas em exceções ao invés de padrões e

interpretações ao invés de fatos. Essas imagens podem vir à tona pela simples menção do nome”

(KAJIHARA, 2008, p.19).

Page 67: Nagisa migita

65

A autora Bignami Sá (2002) tenta explicar como surge essa imagem estereotipada no

seguinte trecho.

[...] o olhar do observador irá reproduzir o objeto observado de maneira como ele

entendeu e aprendeu, mediante suas imagens já constituídas e memorizadas em seu

processo de aprendizagem. Reconhecerá, também, partes do objeto, selecionando-as e

tomando o objeto completo pelas partes que ele consegue verificar. Assim sendo,

podemos supor que se em determinado momento histórico houve a difusão de uma ideia,

de um fato, ou mesmo a repercussão de um produto cultural, entre uma nação e outra

pode existir a possibilidade dos indivíduos na nação receptora tomarem tal fato pela

maioria, nesse caso, pode estar surgindo um estereotipo (SÁ, 2002, p.16).

Conforme Sá, as pessoas reproduzem os objetos que observaram, da forma como

compreenderam e aprenderam e reconhecem somente algumas partes que conseguiram assimilar

dos objetos que observaram. O estereótipo seria então essa difusão de uma ideia, de um fato de

um indivíduo tomado pela maioria. Antônio Carlos Amâncio da Silva (1998) expõe que o

estereótipo desempenha para um Leitor - Modelo, “o papel de um cenário pré-existente, comum,

no sentido de partilhado socialmente e intertextual, um dicionário de base que estabelece uma

competência para decifrar tais cenários” (SILVA, 1998, p. 235- 236). Essa linha de raciocínio

explica, de certa forma, como alguns eventos nacionais acabam se tornando símbolos de toda

uma nação. A propósito o carnaval brasileiro, que não é o único fato cultural existente no país,

no entanto, é uma das mais conhecidas mundialmente e a que denominou a nação como o “país

do carnaval” (SÁ, 2002). No caso brasileiro, é mais simples referenciar aspectos já significativos

e representativos, como o samba, a feijoada, o carnaval, a mulher, do que a outros não tão

conhecidos e divulgados (ALFONSO, 2006).

Devemos compreender ainda, que o Estado é um importante elemento que colabora na

formatação da imagem turística da nação por meio de elementos já disponíveis e criando novos,

por sua vez, também reutilizados por outros agentes (ALFONSO, 2006) como a televisão, a

literatura, a música e o cinema, que são consideradas as principais fontes que definem a imagem

de um destino (SÁ, 2002). Precisamos entender que o Estado também pode ser responsável pela

difusão de uma imagem negativa ou equivocada do país, isto ocorrerá no caso de um

planejamento ineficaz, como foi o caso das primeiras imagens apresentadas pelo Estado brasileiro

a respeito do país. Algumas dessas imagens apresentadas pelo governo brasileiro foram

difundidas em outros países tornando-se imagens estereotipadas. A indústria cinematográfica, por

Page 68: Nagisa migita

66

exemplo, foi uma das ferramentas que colaborou na difusão de imagens a respeito do Brasil. E a

respeito da imagem transmitida pelo cinema, Silva (1998) afirma que, os filmes representam o

país de forma,

Atravessada pela banalidade, pelo lugar-comum e pelo preconceito, a imagem do Brasil

e dos brasileiros nos filmes de ficção estrangeiros se ordena segundo articulações

históricas, procedimentos retóricos, simplificações socioculturais. Alguns olhares com

matrizes localizadas (o visitante, o emigrante, o exilado) se expandem e se ramificam em

tipificações redutoras (a mulher sensual, o travesti – sempre ligados a um

transbordamento da sexualidade e a uma regressão patológica ao nível da saciedade dos

instintos primários no contexto de uma provocação social) uma cristalização de um

modelo de comportamento social transgressor (o carnaval e o recurso a práticas

religiosas não tradicionais no ocidente). Do ponto de vista geopolítico, a Amazônia é a

única região que sobrevive no cinema estrangeiro enquanto renovação temática e

singular (SILVA, 1998, p. 237).

Ou seja, o Brasil e os brasileiros são representados nos filmes de ficção estrangeiros,

muitas vezes de forma banal e preconceituosa. São imagens que inicialmente eram apresentadas

na forma do visitante, emigrante e exilado ampliando-se para imagens redutoras da cultura

brasileira, imagens da mulher de forma sensual, do carnaval e das práticas religiosas. Segundo

Silva (1998) a imagem da Amazônia é a única que continua a ser apresentada com o mesmo

sentido. Neste sentido a OMT ressalta a importância do reconhecimento do limite da imagem

turística, pois esta nos recorda que devemos considerar que estas imagens apresentadas pelos

filmes são apenas um aspecto da imagem da nação. E o consentimento do limite dessa imagem

turística possui grande importância, visto que,

[...] ao mesmo tempo em que o turismo tenta passar uma imagem positiva do país, a

mídia, por exemplo, poderá veicular outras imagens, nem sempre positivas. O Rio de

Janeiro pode ser tomado como importante exemplo: sua imagem turística vem sendo

divulgada há décadas, pela exibição e divulgação de belezas naturais, do Carnaval etc.

Porém, concomitantemente vem sendo veiculada uma imagem negativa da cidade, com

destaque para a violência, o que pode influenciar a imagem turística da “cidade

maravilhosa” (ALFONSO, 2006, p.80-81).

Assim sempre haverá um embate a respeito das imagens turísticas, uma vez que poderão

ser divulgadas imagens tanto positivas como negativas acerca de um destino. A mídia possui em

grande parte, responsabilidade pelas imagens transmitidas, desta forma, a imagem que se forma

na mente do potencial turista pode vir em grande parte do material promocional, da opinião de

Page 69: Nagisa migita

67

outras pessoas e da mídia em geral. Verificamos, portanto, a importância de um plano de

marketing bem estruturado e que divulgue o país de forma adequada para atrair turistas muito

diferentes daqueles que se sentem atraídos apenas pela sensualidade feminina, por exemplo. Por

esses motivos, observamos a necessidade que os órgãos responsáveis pelo turismo desempenhem

maior esforço no planejamento na transmissão de imagens para seus consumidores (KAJIHARA,

2008).

Observamos que tratar da imagem de um lugar, cidade, estado, país é difícil, uma vez

que esta se resulta de um processo bastante amplo em que entram variáveis como: relações

internacionais, identidade nacional, linguagem, conhecimento, história e meios de comunicação,

entre outros (ITUASSU; OLIVEIRA, 2004). Mas com o trabalho coordenado entre as iniciativas

pública e privada e a comunidade local, baseado no efetivo conhecimento do mercado e do

destino, vemos a possibilidade de se fortalecer e gerir uma imagem capaz de identificar o destino

da maneira desejada por seus habitantes (GÂNDARA, 2008).

Compreendemos no decorrer do texto que a imagem é um termo complexo, por isso

muito estudado nas diferentes áreas do conhecimento, sendo que neste caso a imagem é estudada

no contexto do turismo. Verificamos então que a imagem é uma característica determinante no

processo de decisão de compra do consumidor, do turista é também um dos fatores que

distinguem as destinações de um turista para outro.

Concordamos que com a globalização as localidades estão concorrendo cada vez mais

entre si tornando necessária a ampliação dos repertórios de instrumentos que possibilitem colocar

seus destinos e produtos em uma posição favorável no mercado. Neste contexto os meios de

comunicação como o cinema ganharam uma grande importância, uma vez que meios como este,

colaboram na criação, divulgação e consolidação de uma imagem turística. Entendemos ainda

que a imagem, principal causa da compra e da repetição do destino, pode ser transmitida de

várias formas, positiva, negativa, equivocada, estereotipada, podendo implicar na atração ou

retração na demanda turística. Desta forma, observamos a necessidade de um planejamento

coordenado entre as iniciativas pública e privada e a comunidade local para a criação, formulação

ou modificação das imagens das localidades em vista a atrair potenciais turistas, obviamente

aqueles desejados. Apontamos aqui novamente, que o cinema, seria um bom instrumento para a

divulgação dos destinos turísticos, seja de forma positiva ou negativa. Diante disso, vemos a

Page 70: Nagisa migita

68

necessidade de identificar e entender melhor as imagens turísticas do Brasil apresentadas pelo

cinema norte-americano, para verificar como o país é representado.

Page 71: Nagisa migita

69

III METODOLOGIA: caminhos seguidos

Após a reflexão teórica da importância da imagem para o turismo iremos neste tópico

então, discutir e analisar algumas questões necessárias para compreender como foram analisados

os filmes norte-americanos que apresentam imagens do Brasil. Devemos entender, porém que são

muitas as produções de cinema que relatam algo a respeito do país, por isso, tentamos estabelecer

um número de filmes a serem analisados e um recorte temporal. Alguns exemplos dos filmes que

tratam a respeito do Brasil são: “Voando para o Rio” (EUA, 1933), “Serenata Tropical” (EUA,

1940), “Alô Amigos” (EUA, 1943), “Você já foi a Bahia?” (EUA, 1945), “O Mistério da ilha de

Vênus” (EUA, 1960), “Feitiço no Rio” (EUA, 1984), “Orquídea Selvagem” (EUA, 1990),

“Próxima parada Wonderland” (EUA, 1998), “O Incrível Hulk” (EUA, 2008), “Os Mercenários”

(EUA, 2010), “Rio” (EUA, 2011) entre outros. Dentre esses e outros filmes que retratam o país

foram analisados apenas cinco filmes: “Lambada a dança proibida” (EUA, 1990), “Anaconda”

(EUA, 1997), “Sabor da Paixão” (EUA, 2000), “Turistas” (EUA, 2006) e o mais recente

“Velozes e Furiosos 5: Operação Rio” (EUA, 2011). O recorte temporal estipulado entre os anos

1990 e 2011, foi em decorrência da necessidade de se entender as imagens mais recentes a

respeito do país. Essas produções foram selecionadas, em vista, destas se encontrarem no recorte

temporal estabelecido e por apresentarem de forma enfática no seu conteúdo narrativo e visual

imagens do Brasil. Outro motivo ao qual escolhemos estas produções foi, devido, ao seu gênero,

pois estas pertencem a gêneros cinematográficos aos quais os norte-americanos são especialistas,

ou seja, gêneros que entram no fenômeno Blockbuster ou “arrasa quarteirão”, estes gêneros são:

drama/ romance, ação, aventura, comédia romântica e terror/suspense. Devemos relatar ainda,

que uma das causas que nos levou a escolha destes filmes foi a facilidade de obtermos esses

audiovisuais.

Na metodologia das ciências naturais os cientistas lidam com objetos externos passíveis

de serem conhecidos de forma objetiva, enquanto nas ciências sociais/ humanas os pesquisadores

devem lidar com emoções, valores, subjetividades. Tal diferença se traduz em diferenças nos

objetivos e métodos de pesquisa (GOLDENBERG, 2009).

Para Max Weber, pesquisador da metodologia científica aplicada ao estudo da

comunicação, o principal interesse da ciência social é o comportamento significativo dos

Page 72: Nagisa migita

70

indivíduos engajados na ação social, ou seja, o comportamento ao quais os indivíduos agregam

significados considerando o comportamento de outros indivíduos (GOLDENBERG, 2009). Neste

caso, trata-se, portanto, de entendermos como somos percebidos por outros indivíduos e de

problematizar, numa cadeia de representação audiovisual, por meio do cinema, alguns elementos

recorrentes, que fixam uma determinada imagem do Brasil (SILVA, 1998).

Nas ciências humanas, o homem é, ao mesmo tempo, sujeito e objeto de estudo, o que

torna a pesquisa complexa, desta forma, faz se necessário, o uso de técnicas indiretas de

observação e a construção de métodos próprios, adequados ao objeto a ser estudado (DENCKER;

VIÁ, 2001). Ou seja, nesta pesquisa estudamos o cinema e abordamos as imagens que são as

representações que ocorrem na mente de cada indivíduo a respeito de lugares, objetos e pessoas,

esses são aspectos que possuem grande subjetividade e por isso vimos à necessidade de

procurarmos nossa própria forma de estudo. Desta forma entendemos que para abordarmos o

conhecimento científico a respeito dessa temática é necessário abordar dois conceitos

fundamentais: os métodos e as técnicas.

Segundo Dencker e Viá (2001) os métodos podem ser indutivos; descritivos,

observação sistemática, experimentação de laboratório ou de campo, histórico, diagnóstico entre

outros. No entanto, nesta pesquisa trabalharemos com o método indutivo, aquele que parte de

questões particulares até chegar a conclusões generalizadas. Desta forma partimos da seguinte

questão, a de que em alguns filmes americanos a imagem do país é estereotipada, equivocada e/

ou negativa, mas precisávamos entender se essa questão era uma dúvida particular, o que nos fez

verificar se existiam outros estudos a esse respeito. E por meio de leituras de teses, dissertações e

documentários foi possível identificar que esta questão é realmente ocorrente no país. Para

melhor compreensão a respeito do assunto observamos a importância de analisarmos alguns

filmes, e para a sua realização utilizamos o método descritivo, pois com este método foi possível

revelar de maneira bem próxima a articulação textual dos filmes, nos delegando o mais possível à

tarefa de compor uma análise mais crítica dos filmes abordados.

Dencker e Viá (2001) também afirmam que o emprego do método científico implica na

existência dos seguintes elementos: a hipótese, a observação e registro de dados e a classificação

e organização dos dados que viabilizam a interpretação. Na hipótese operante, que é a proposição

que deve ser demonstrada, propomos que o cinema pode ser utilizado para promover um destino,

uma vez que trabalha com imagens, principal ferramenta do marketing turístico e onde se

Page 73: Nagisa migita

71

cristalizam mais eficazmente as imagens que hoje se repetem no vídeo e na televisão. Pensando a

observação e registro de dados, que é realizada por meio de critérios definidos e precisos,

investigamos inicialmente o cinema, a indústria cinematográfica americana, para então

investigarmos as imagens turísticas a respeito do Brasil abordado pelo cinema norte – americano.

Para a Classificação e organização dos dados que viabilizassem a interpretação, escolhemos para

reflexão a respeito das imagens turísticas do país, uma análise mais detalhada de sua ocorrência

em cinco filmes norte-americanos: “Lambada a dança proibida” (EUA, Greydon Clark, 1990),

“Anaconda” (EUA, Luis Llosa, 1997)”, “Sabor da Paixão” (EUA, Fina Torres, 2000), “Turistas”

(EUA, John Stockwell, 2006) e “Velozes e Furiosos 5 – Operação Rio” (EUA, Justin Lin, 2011)

(DENCKER; VIÁ, 2001).

Estabelecemos ainda, um recorte temporal que contempla a produção cinematográfica

norte-americana lançada entre os anos 1990 e 2011, pois reforça um caráter de

contemporaneidade, ao mesmo tempo em que corresponde a um período marcado por mudanças

políticas, mudanças econômicas e mudanças sociais. Desta forma apresentamos a seguir algumas

das principais mudanças que podem ter refletido na imagem do país. Elementos como a maior

intervenção econômica do país: o confisco da poupança no ano de 1990 e consequentemente o

impeachment do até então presidente Fernando Collor de Melo podem ter proporcionado à

imagem de um país politicamente corrupto e desorganizado para os outros países. A mudança da

sede da EMBRATUR do Rio de Janeiro para Brasília em fins da década de 1990 colaborou na

divulgação da imagem da cidade de Brasília, uma vez que em muitos filmes estrangeiros o

cenário mais utilizado até então era o Rio de Janeiro. A respeito das mudanças sociais podemos

afirmar que um dos principais elementos que acentuou a imagem de um país cercado por fauna e

flora exótica, como a vista no filme “Anaconda” (EUA, 1997), além de ressaltar a imagem da

floresta amazônica foi em vista da realização da Segunda Conferência Mundial para o Meio

Ambiente, a Eco 92. Essa conferência trouxe a tona uma maior preocupação pelas florestas

tropicais, e podemos observar essa preocupação em uma das produções analisadas, como foi o

caso de “Lambada a dança proibida” (EUA, 1990). Nos anos seguintes o país passou pela

implantação do Plano Real em 1994, comemorou no ano de 2000 os 500 anos do Descobrimento

do Brasil e vimos ainda a candidatura do país para grandes eventos como a Copa de 2014 e a

Olimpíada de 2016. Tais elementos podem ter enfatizado a imagem de um país de variedade

cultural, de intensa mestiçagem e de belezas naturais, principalmente caracterizados pela beleza

Page 74: Nagisa migita

72

feminina, como demonstrado no filme “Sabor da Paixão” (EUA, 2000). Outros fatores que

colaboraram de alguma forma para a imagem do país foram os grandes atentados terroristas e

violência urbana como o acontecido em São Paulo comandado pelo Primeiro Comando da

Capital (PCC) e a invasão do Morro do Alemão no Rio de Janeiro. Os aspectos a respeito dessa

violência no Brasil são verificados, principalmente nos filmes mais recentes, como é o caso de

“Turistas” (EUA, 2006) e “Velozes e furiosos 5: operação Rio” (EUA, 2011).

Após a compreensão do conceito fundamental a respeito do método, que são

procedimentos de pesquisa a serem seguidos, necessitamos entender o conceito de técnicas.

Explicado por Dencker e Viá as técnicas, “referem-se aos procedimentos concretos empregados

pelo pesquisador para levantar os dados e as informações necessárias para esclarecer o problema

que está se pesquisando” (DENCKER; VIÁ, 2001, p. 37-38). Desta forma os procedimentos

utilizados para que entendêssemos a problemática foram: a pesquisa bibliográfica, pesquisa

documental e a análise e observação dos filmes. Devemos destacar que a pesquisa bibliográfica

abrange toda a bibliografia já tornada pública, desde publicações avulsas, boletins, jornais,

revistas, livros, pesquisas, monografias, teses e audiovisuais como filmes e televisão

(MARCONI, 2008).

A bibliografia em que embasamos na nossa pesquisa tratou de assuntos referentes à

imagem, imagem turística, o cinema, a indústria cinematográfica norte-americana. Também

tivemos o auxílio de audiovisuais, a exemplo do documentário de Lúcia Murat: “Olhar

estrangeiro: um personagem chamado Brasil” que foram utilizados para melhor compreendermos

as imagens a respeito do país. Para o tratamento analítico (Marconi, 2008), foram utilizadas cinco

produções cinematográficas norte-americanas. Por fim, devemos elucidar que para a realização

da pesquisa foram coletadas as bibliografias no acervo da biblioteca da Universidade Estadual

“Júlio de Mesquita Filho” - Campus Experimental de Rosana e em outras bibliotecas, Araraquara,

Assis, Bauru e São Paulo do mesmo órgão e em meio eletrônico, a Internet.

Apresentaremos aqui ainda como foram realizadas as análises das imagens turísticas nos

filmes, visto que é de extrema importância compreender as etapas de análise de um filme.

Salientamos que as análises dos filmes foram baseadas nas orientações retiradas do texto:

Metodologia para análise de estereótipos em filmes históricos de Johnni Langer (2004).

Na primeira etapa realizamos a seleção de filmes que estivessem atreladas ao nosso

recorte temporal, depois definimos o número de produções a serem analisadas, neste caso

Page 75: Nagisa migita

73

apresentado na quantia de cinco filmes. Observamos a ficha técnica dos filmes, analisamos o

cartaz dos filmes e escolhemos personagens e cenas específicas que poderiam nos revelar

aspectos ideológicos dos produtores, dos patrocinadores ou mesmo dos norte-americanos em

geral. Na segunda e última etapa observamos a crítica interna do filme, ou seja, o seu conteúdo

objetivo, por meio de diálogos, do enredo, dos cenários e a sonoplastia abordada.

3.1 ANÁLISE DOS FILMES: CONTEXTOS DE PRODUÇÃO E CENÁRIOS

Para análise, tomaremos por base a narrativa do filme, apresentada de forma breve, à

dinâmica dos personagens no quadro, as interações da banda sonora e as articulações dos pontos

de vista. É a partir do estudo de tais elementos formais que poderemos verificar a recorrência de

princípios, modelos ou motivos capazes de caracterizar e conceituar uma função de imagens

turísticas positivas ou negativas a respeito do Brasil no campo do cinema. Função que podem ter

raízes históricas, respaldo iconográfico e implicações ideológicas, e que será verificada em

sequências- chaves dos filmes selecionados. É importante ressaltarmos que abordaremos somente

algumas cenas, as cenas que apresentam imagens do Brasil ou do povo brasileiro.

3.1.1 Lambada a dança proibida - “The Forbidden dance”

Page 76: Nagisa migita

74

Fonte: Disponível em http://osreformados.com/index.php?topic=50403.0

No cartaz do filme “Lambada a dança proibida” (EUA, 1990), podemos constatar a

sensualidade apresentada no contexto do filme, por meio da posição dos dois personagens e

principalmente, pela vestimenta feminina. As cores das vestimentas dos personagens no cartaz,

cores quentes como o amarelo, também oferecem ao leitor uma sensação de tropicalidade e

sensualidade.

O filme apresenta dois cenários. A história se inicia no Brasil, Amazônia, porém seu

desenvolvimento e desfecho narrativo são apresentados nos Estados Unidos. Nos primeiros

minutos do filme nos deparamos com a frase “Brazil, Amazônia, a humanidade está destruindo a

Floresta tropical” 22

. Em seguida, as primeiras cenas se passam na floresta tropical da Amazônia,

dentro de uma tribo indígena, onde ocorre uma cerimônia em que todos estão dançando

sensualmente, inclusive a personagem principal, Nisa, uma princesa indígena. Nisa, protagonista

do enredo, representa uma indígena brasileira com grande senso de justiça. Sua personalidade é

apresentada com dois aspectos: inocente, pois se trata de uma indígena que não conhece a

22

Cf. LAMBADA a dança proibida, Dir. Greydom Clark, EUA, 1990, Flash008. M97.

Figura 8 - Lambada a dança proibida

Page 77: Nagisa migita

75

sociedade americana e a sensual, representada pela sua beleza e pela forma como dança. Diante

de seus amigos indígenas Nisa é a única que possui características físicas norte-americanas e fala

inglês. Devemos lembrar que apesar de encontrarmos personagens que representam os

brasileiros, como no caso de Nisa e Joa, os atores que representam essas personagens não são

brasileiros. Ainda no contexto brasileiro é que ocorre o primeiro encontro dos vilões com os

indígenas, que são interrompidos com a presença dos homens brancos que ameaçam devastar a

floresta e consequentemente destruir a tribo. Acaba aqui a história narrada no Brasil e inicia-se o

contexto nos Estados Unidos. Podemos verificar que a visão do norte-americano a respeito do

Brasil, demonstrada nesta parte do filme, baseia-se na floresta amazônica e na vida indígena,

como se todos os brasileiros vivessem naquela realidade. Observamos ainda que o país é

representado como atrasado em seu desenvolvimento, uma vez que as imagens presentes no filme

apresenta o cotidiano americano em volto de máquinas e equipamentos, como carros, aviões

enquanto os brasileiros são representados apenas com suas danças e rituais de feitiçaria. Devemos

ressaltar também que o país é apresentado de forma frágil, desprovida de recursos e carente de

ajuda, visto que a protagonista precisa procurar a salvação da sua tribo e da floresta nos Estados

Unidos. Questionamos nesta cena se somos um país capaz de garantir a preservação da fauna e

flora.

Frente às ameaças, juntamente com o pajé, Nisa vai denunciar publicamente a

devastação da floresta encetada pela multinacional Petramco. Nisa possui a companhia do xamã

Joa, personagem que representa um feiticeiro que utiliza de artimanhas mágicas de simples

execução e de forte resultado para ajudar sua princesa a realizar seu objetivo.

Em território americano os dois indígenas passam por dificuldades, Joa é preso e Nisa

procurada pela polícia. Em seguida, Nisa, sem documentação, consegue trabalho como

empregada em uma mansão. Verificamos que nestas cenas há uma imagem negativa não somente

do brasileiro como dos estrangeiros em sua maioria, uma representação do americano rico e dos

latinos pobres, uma vez que, quem apresenta o emprego à índia é outra empregada, Carmen, uma

personagem latina. A imagem de superioridade do homem branco, neste caso representado pelo

americano, ocorre em outra cena, onde já empregada Nisa conhece o dono da casa que se espanta

com suas características: “Vou ficar de olho. Será que toma banho?” 23

. Constatamos por meio

desta frase que o brasileiro é visto com um olhar de desconfiança, uma vez que o país possui a

Page 78: Nagisa migita

76

imagem de malandragem, sujo e pobre, no filme ainda verificamos que a maioria dos americanos

é representada como pessoas de classe social alta, demonstrando sua superioridade.

No decorrer da história Nisa se apaixona pelo filho dos patrões Jason, que gosta de

dançar. Quando Jason a leva para dançar pela primeira vez, Nisa o ensina a dançar lambada:

“mexa só daqui para baixo, imagine que é uma árvore com raízes profundas!” 24

. E explica a

Jason que há 50 anos a lambada era proibida porque era muito sensual. Verificamos então, em

algumas cenas do filme a imagem de um Brasil com cultura exótica, com misticismo apresentado

pelo personagem de Joa, e musical, este último apresentado no formato de dança, a lambada. Em

outra cena, fica implícita a musicalidade do brasileiro: “Todos os brasileiros sabem dançar” 25

afirma a dona de um night club para Nisa. Nestas duas cenas constatamos a representação de um

país da musicalidade por meio da dança e observamos que o país é apresentado pela sua cultura

exótica ainda baseada na vida selvagem. Podemos entender por meio destas imagens que os

americanos atribuem o atraso do desenvolvimento econômico do país devido à presença dessas

características, ou seja, imaginam que os brasileiros dançam muito bem, pois só sabem fazer isto,

possuem a imagem de um país festeiro.

Após encontros e desencontros Nisa e Jason decidem entrar em um concurso de dança

para juntos denunciarem a devastação da floresta tropical causada pela Petramco. Nas cenas em

que mostram os treinos de dança de Niza e Jason, seus figurinos são sempre apresentados com

tonalidades fortes, vermelho e amarelo, representando sensualidade e tropicalidade.

Ao som de Kid Creole e as Coconuts Jason e Nisa competem com a ex-namorada de

Jason e embora os jornais locais exibam a manchete “Brazil burning!”, embora sua dança quase

seja considerada antiamericana para competir na televisão, o casal consegue alcançar seu

objetivo, vencendo a competição de dança e denunciando a Petramco, que no final desiste de seus

projetos destrutivos na Amazônia. E “No trenzinho final, rebolando aos pares, cantando em

português, o filme será dedicado à preservação da floresta tropical” (AMANCIO, 2000, p.98).

Observamos que no filme foram destacadas as seguintes imagens: a floresta tropical

amazônico, a cultura exótica demonstrada nas primeiras cenas, onde aparecem os índios e

principalmente caracterizado na personagem de Joa, um feiticeiro, a sensualidade da mulher

brasileira, apresentado na figura de Nisa e a musicalidade do brasileiro, formatado pela dança

23

Cf. LAMBADA a dança proibida, Dir. Greydom Clark, EUA, 1990, Flash15. M97. 24

Cf. Ibidem, Flash21. M97.

Page 79: Nagisa migita

77

lambada. Constatamos ainda que a imagem do país é apresentada como economicamente e

socialmente atrasado. Apesar de o filme ter como enredo uma dança supostamente brasileira,

observamos que a maioria das músicas presente no filme são norte-americanas. Porém, devemos

apontar um ponto positivo no filme que é o fato dos personagens brasileiros falarem o português

e não o espanhol como muitas vezes era apresentado nos filmes norte-americanos ou mesmo em

filmes estrangeiros. Esta visão do norte-americano a respeito do país, a visão de um paraíso

caracterizado pela dança e pela mulher brasileira pode influenciar a demanda de turistas a procura

de festas como o carnaval, uma vez que o filme foca de uma maneira intensa a musicalidade do

brasileiro e o gosto pelos festejos e pela procura de uma aventura sexual, pois a mulher brasileira

é apresentada de forma sensual, o que pode atrair a demanda pelo turismo sexual. Essas imagens

apresentadas neste filme podem ser classificadas como uma imagem contraditória, ou seja, com

pontos de vista opostos sobre alguns aspectos por parte dos visitantes, uma vez que, a

sensualidade feminina, pode ser vista como aspecto negativo, pois pode instigar a prostituição,

como também demosntra um aspecto cultural, em vista do tropicalismo do país, que caracteriza

as poucas vestimentas utilizadas pela personagem brasileira, ou seja, não podemos generalizar a

sensualidade da mulher brasileira como aspecto negativo.

3.1.2 Anaconda 25

Cf. Ibidem, Flash31. M97.

Page 80: Nagisa migita

78

Fonte: Disponível em http://www.adorocinema.com

“Anaconda” (EUA, 1997) de gênero aventura possui em seu cartaz a imagem de uma

cobra negra com o olhar amarelado. A palavra anaconda está escrita em vermelho o que remete a

perigo, da mesma forma pode ser compreendida a frase que compõe o cartaz: “Quando não se

consegue respirar é impossível gritar”.

O filme retrata a história da diretora Terri Flores, Jennifer Lopez, que juntamente com

seus companheiros de trabalho adentram na floresta tropical da Amazônia para filmar um

documentário a respeito da tribo Shirishama, um grupo de indígenas ainda desconhecidos pelo

homem branco que vivem perto de Manaus, Amazonas. A película possui como cenário o Brasil,

mais especificamente, a Amazônia. Os fatos ocorrem no barco denominado Micaela I e em

alguns momentos na floresta, e as principais imagens são em decorrência do ataque da anaconda.

Seu conteúdo narrativo possui inicialmente foco na produção de um documentário a respeito de

uma tribo indígena que vive escondido no percurso do Rio Amazonas, “o povo da bruma”, os

Figura 9 - Anaconda

Page 81: Nagisa migita

79

Shirishamas, e ao desenrolar da história torna-se uma aventura de sobrevivencia contra o ataque

de cobras. Devemos observar que neste filme os protagonistas não são brasileiros, no entanto, há

a presença de um personagem brasileiro de sotaque duvidoso, pois ouvimos em algumas cenas

palavras originárias do espanhol, cabelos compridos e de aparência suja, o personagem se chama

Mateo. Porém, o ator que representa a personagem de Mateo não é brasileiro e sim é americano.

Verificamos que a representação do brasileiro neste filme é aparentemente indesejável e pouco

agradável para a imagem de um país como um todo. Avistamos ainda que o exótico é assumido

como categoria de nossa identidade, uma vez que o filme apresenta no seu conteúdo narrativo a

procura de uma tribo indígena ainda desconhecida e a presença de animais inimagináveis.

Os primeiros minutos do filme foram dedicados para chamar a atenção do espectador

quanto à história das anacondas: “Histórias de anacondas que comem gente são contadas pelas

tribos da Amazônia. Dizem que muitas dessas tribos veneram essas cobras. Anacondas são

criaturas enormes e vorazes que podem chegar a 12 metros. Elas não se satisfazem em engolir a

presa, regurgitando-a para comê-la novamente” 26

. A história irreal prepara o espectador para as

imagens das próximas cenas, onde podemos acompanhar o suicídio de um brasileiro que foge de

algo que o aterroriza, em meio à sua coleção de animais capturados, aves e macacos.

Visualizamos nesta cena a imagem de um país que está atrelado há situações ilícitas, como o

contrabando de animais extintos e caça predatória. Devemos salientar que em alguns casos

realmente ocorrem essas práticas no país, mas não ocorre somente o contrabando existem

também práticas de preservação da fauna e flora que em muitos casos não são citados nestas

películas, o que acaba caracterizando o brasileiro somente com aspectos negativos.

Durante o percurso em busca da tribo, em meio a uma tempestade salvam e conhecem

Paul Sarone, John Voight, que mais tarde se revela um insano caçador, que deseja capturar viva

uma sucuri, no filme chamada de anaconda, uma serpente gigantesca, muito rara, que pode

atingir 12 metros de comprimento. A primeira vítima da Anaconda é o barqueiro brasileiro

Mateo, que é sufocado até a morte. Após a morte de Mateo, Paul fica no comando do barco, e

força a todos a ajudarem-no a capturar a anaconda. Com mais algumas mortes causadas pela

cobra gigante restam somente Terri, Danny representado por Ice Cube, Paul Sarone e o Dr.

Steven Cale, personagem de Eric Stoltz, que acaba ferido durante a viagem. Em um barracão

vellho, Paul usa Terri e Danny como iscas para a anaconda. Supreendidos pela anaconda, os dois

Page 82: Nagisa migita

80

são sufocados pelo corpo da cobra, mas quando Paul tenta capturá-la a cobra se solta e se volta

contra Paul devorando-o ainda vivo. Terry e Danny conseguem se soltar enquanto a cobra devora

Paul, Danny então com uma marreta consegue matar a cobra gigante. Livres da anaconda os três

sobreviventes Terri, Danny e o Dr. Cale continuam a viagem pelo Rio Amazonas, e por

coincidência, encontram a tribo desconhecida Shirishama, conseguindo realizar seu

documentário.

Verificamos no decorrer do filme a presença de animais exóticos na fauna brasileira,

como a pantera negra, a vespa mortífera e a sucuri gigante que se alimenta de pessoas, aqui

denominada de anaconda. Outros animais também aparecem ou são citadas em algumas cenas do

filme, como o porco selvagem, araras, macacos, vaga-lumes, piranhas e o candiru, que segundo a

película seria um pequeno peixe que entra pela uretra, se instala em um ponto mostrando seus

espinhos fixando-se para nunca mais se soltar, é importante ressaltarmos que a história do candiru

é verídica.

A película possui também cenas que unem o exótico apresentado pela floresta

amazônica e o erotismo dos personagens do filme: “Sou eu, ou a floresta excita a gente”27

. E em

outra cena a explicação do acasalamento de vaga-lumes por parte de Dr. Calle leva a Terri Flores

e o mesmo a se beijarem. A tropicalidade do cenário brasileiro caracterizado na produção norte-

americana também instiga cenas de sensualidade, por meio das vestimentas das personagens

femininas, regatas quase transparente e bermudas curtas, apesar de serem normais na Amazônia.

Observamos que o filme possui várias tomadas com imagens do Rio Amazonas e da sua

fauna e flora, no entanto, essas imagens são minimizadas ao contrastar-se com as imagens da

anaconda e com os fatos assustadores que ocorrem no decorrer da trama. Percebemos que a

excurssão realizada no filme pode ser comparada aos primeiros colonizadores do país, pois é a

procura do desconhecido, no caso a tribo, e a imposição da cultura do branco, aqui representado

pelos personagens sobreviventes que objetivam realizar um documentário a respeito da tribo que

até então não tinham conhecimento do homem branco.

Verificamos também que neste filme são acentuadas as imagens de uma Amazônia

exótica, representada pela floresta, pelos animais: peixes que se alojam na uretra, porcos

selvagens que comem olhos humanos, vespas mortíferas e cobras gigantes que comem pessoas, e

26

Cf. ANACONDA, Dir. Luis Llosa, EUA, 1997, Flash0028. M90. 27

Cf. ANACONDA, Dir. Luis Llosa, EUA, 1997, Flash9. M90.

Page 83: Nagisa migita

81

pelas suas histórias míticas: “Shirishamas veneram cobras gigantes, anacondas como suas

protetoras. Há uma lenda sobre uma viagem a um lago sagrado, onde há uma cachoeira protegida

por cobras guerreiras. Passe pelos guardiãos e ande pela terra dos Shirishamas, até chegar a um

muro tão alto que bloqueia o Sol, siga por cinco dias, até o seu final: a cabeça de uma anaconda

gigante [...]” 28

. Essas caracterísicas exóticas e o tropicalismo brasileiro, acompanhado de uma

sonoplastia do regg norte-americano também colaboram para que o filme, além de trabalhar com

o imaginário aventureiro trabalhe com o imaginário erótico dos espectadores.

Constatamos que a leitura contemporânea da Amazônia desempenha um papel de

manutenção de uma mitologia baseada em alternativas potencialmente ambíguas, de transito

simbólico entre o real e o maravilhoso, como o dos Shirishamas. E os temas que mais

encontramos são a de um paraíso terrestre representado pela fauna e flora em contraponto com as

monstruosidades como a anaconda. Verificamos que as imagens condizentes ao desconhecido

podem levar ao turista a procurar por essas regiões, pois o turista procura cada vez mais lugares e

povos desconhecidos e exóticos, no entanto, também pode afastar o potencial turista que pode

temer encontrar algo ao qual não pode enfrentar, como as anacondas. Seguindo a tipologia de

Gândara (2008) podemos afirmar que a imagem do país apresentada neste filme pode ser

classificada como demasiado atrativa, uma vez que pode apresentar uma excessiva expectativa ao

turista não existente, como a presença de animais exóticos muitas vezes não presentes na fauna

brasileira.

3.1.3 Sabor da paixão – “Woman Top”

28

Cf. Ibidem Flash17. M90.

Page 84: Nagisa migita

82

Fonte: Disponível em http://www.malaguetacomunicacao.com.br/2010/07/sabor-da-paixao/

O filme “Sabor da Paixão” (EUA, 2000) protagonizado pela atriz Penélope Cruz traz em

seu cartaz a imagem da atriz com uma pimenta malagueta perto de sua boca. O contraste do

vermelho dos lábios e o vermelho da pimenta remete a sensualidade feminina. O título do filme e

a imagem da pimenta colaboram para que o espectador imagine um filme com um contexto

narrativo envolvendo culinária com romance.

A comédia romântica “Sabor da Paixão” (EUA, 2000), possui dois contextos: a que se

passa na Bahia, Brasil e a que se passa em São Francisco, Estados Unidos. O filme tem início no

Brasil, mas logo mostra ao espectador a mudança de cenário, representado pela cena em que a

protagonista, Isabela, está em um avião, e com a chegada dela ao aeroporto de São Francisco,

Estados Unidos.

A película focaliza na personagem de Isabela, uma brasileira bonita, sensual e que

possui dotes culinários. O filme também apresenta outros personagens brasileiros além de

Isabela. Toninho, marido de Isabela, representa a imagem de um brasileiro: malandro, safado,

folgado, que seduz as mulheres pela sua masculinidade e pelo seu canto. Mônica, amiga de

Isabela, personagem que representa um travesti, negro que sai da Bahia por motivos familiares e

Figura 10 - Sabor da Paixão

Page 85: Nagisa migita

83

acaba por morar em São Francisco, Estados Unidos. Podemos verificar em muitas produções

estrangeiras a presença de personagens de travestis brasileiros, outro exemplo é presenciado no

filme francês “Se você vai ao Rio” (FR, 1987), onde é apresentado a imagem da transsexual

Roberta Close como travesti. No caso de Sabor da Paixão o personagem afeminado é

representado por um negro que apresenta características que lembram Carmem Miranda, pois

utiliza de extravagantes vestimentas, brincos, correntes, saias coloridas e com muitas

gesticulações. E por último os trovadores, três amigos músicos de Toninho, personagens que

representam a musicalidade do país. Devemos salientar que neste filme podemos verificar que a

maioria dos personagens brasileiros são representados por atores brasileiros, com exceção de

Isabela, representada pela atriz espanhola Penélope Cruz e Mônica representado por um ator

americano. Desta forma podemos constatar que os brasileiros no exterior são vistos assim:

malandros, charlatões, mulheres sedutoras e travestis.

Podemos verificar ainda, que o filme focaliza a imagem da cultura baiana,

caracterizando-a de forma exótica e mística, mostrando cenas com imagens de baianas, rituais de

candomblé, dança de capoeira, a culinária, veneração de deuses, neste caso Iemanjá e rituais de

macumba. Devemos afirmar que realmente o país possui religiões, doutrinas e rituais diversos, é

um país laico, mas ainda com grande presença do catolicismo. Apresenta também a mestiçagem e

os níveis sociais que circundam o Brasil, verificados em cenas onde aparece o negro, a garota

japonesa, o branco, o rico e o pobre.

O filme tem início no contexto brasileiro, na Bahia que é representado pelo misticismo,

pela sua culinária exótica, pelos rituais religiosos e apresenta a cidade pelo colorido das casas.

Nesta cena há apresentação da protagonista, Isabela, a respeito de seu nascimento, seus

problemas de saúde, o encontro com Toninho, admissão como cozinheira, seu casamento com

Toninho e por fim, a traição de Toninho, fato que faz o conteúdo narrativo modificar-se para o

contexto americano. A personagem de Isabela nessas primeiras cenas, após o casamento com

Toninho, mostra a personalidade de uma mulher dedicada, mas sem encanto, com caracaterísticas

físicas de uma mulher cansada e que desiste de seus sonhos. Suas vestimentas são apresentadas

com cores frias como branco e o azul, e a maquiagem apagada ressaltando essas características de

uma mulher submissa.

A mudança de contexto para os Estados Unidos ocorre com o aviso da aeromoça a

respeito da aterrissagem e com a chegada de Isabela no aeroporto de São Francisco. Ao som de

Page 86: Nagisa migita

84

“aquarela do Brasil” (BR, Ary Barroso) Isabela suborna uma taxista para lhe entregar as chaves

do carro, para que dirija até o seu destino. Enquanto Isabela chega aos Estados Unidos, Toninho

amaldiçoa Iemanjá, durante um ritual realizado pelos pescadores e pelas religiosas baianas.

Observamos aqui os aspectos da malandragem brasileira e da veneração da religião por parte dos

brasileiros. Temos também a comparação do cotidiano do brasileiro, representado de forma

sofredora, a exemplo dos pescadores que não conseguem peixes, e de forma alegres e festeiros, e

do norte-americano carcaterizado na forma de empresários sempre ocupados.

Com a sonoplastia “Berekekê” (BR, Geraldo Azevedo) observamos a passagem das

cenas de Toninho procurando Isabela, no Brasil, e a de Isabela procurando trabalho de cozinheira,

nos Estados Unidos. Em seguida, nos é mostrada a cena em que Isabela após conseguir um

trabalho como professora de culinária explica aos seus alunos como os brasileiros lidam com a

culinária: “Eu vim de um lugar chamado Bahia, no nordeste do Brasil. Lá temos um jeito muito

especial de cozinhar, então eu não vou dar as minhas receitas, eu vou mostrar o que me inspira. E

espero que vocês encontrem a sua própria inspiração. Acho que para cozinhar bem vocês tem que

trazer seus sentimentos e experiências para o ato da criação”.29

Vimos aqui que o brasileiro é

caracterizado por aspectos mais emocionais e sentimentais do que racionais.

Na próxima cena, Isabela reencontra sua amiga Mônica, que estava presa por atitudes

inadequadas. Como afirmamos anteriormente verificamos em muitas produções a representação

dos travestis brasileiros de forma afeminado e agressivo ou mesmo marginalizado. Isabela

confessa à sua amiga Mônica que quer esquecer Toninho, pois quer recomeçar a sua vida.

Mônica, então, recomenda à Isabela efetuar uma oferenda à Iemanjá para que a deusa do mar

possa retirar o amor que ela sente por Toninho. As duas consultam então uma macumbeira

baiana, que lhes oferece uma receita de macumba “Pegue quatro siris de refestófolis, um miolo de

alcachofra, duas mangas maduras, doze gotas da chuva da meia-noite, pena de galo preto, os

olhos de dois bagres cozidos e finalmente regue com as cinzas da foto dele”.30

Constatamos nesta

cena a imagem de um país místico, que abrange rituais exóticos e possuidora de crenças muitas

vezes fantasiosas. Após o feitiço, na manhã seguinte, o anel de casamento sai do dedo de Isabela,

e a brasileira torna-se outra mulher, sensual e vaidosa. A partir desta cena a personagem de

Isabela passa a possuir outras características, mais determinada e sensual. Podemos verificar esta

29

Cf. SABOR da paixão, Dir. Fina Torres, EUA, 2000, Flash14. M97. 30

Cf. Ibidem, Flash24. M97.

Page 87: Nagisa migita

85

mudança por meio de suas vestimentas, que passam a ser mais sedutoras e com cores fortes,

como o vermelho. A maquiagem da personagem também identifica essa mudança, pois a

personagem passa a utilizar batons de tonalidades mais fortes.

Com a mudança, Isabela conhece Cliff, um produtor de TV, que lhe oferece um

programa de culinária na televisão. Isabela então começa a apresentar o programa “Cozinhando

com amor” onde promete aos telespectadores “Vão aprender a transformar ingredientes simples

em pratos sensuais e deliciosos, que temperam o sangue e satisfazem o coração!” 31

. Esta cena

representa a mulher brasileira de uma forma sensual, mas excessivamente, o que pode

proporcionar a vulgarização da imagem da mulher. Enquanto Isabela apresenta o programa,

Toninho, que agora está nos Estados Unidos à procura de Isabela, indigna-se com o

comportamento e novo trabalho de sua esposa.

Após algumas brigas, cenas de ciúmes e cantorias, Isabela percebe que sua vida saiu de

seu controle. Percebe que o programa não era o que queria, percebe também que não quer se

apaixonar por mais ninguém a não ser Toninho. Isabela então pede à Iemanjá que desfaça o

feitiço, no entanto, a deusa do mar não concede esse pedido. Enquanto isso, Toninho ao perceber

que Isabela não mais o ama, decide voltar para o Brasil, mas antes pede para que Isabela cozinhe

ao seu lado pela última vez. E ao som de “Obsessão – Não me diga adeus” (BR, Mirabeau e

Milton de Oliveira) os dois preparam um prato à moda baiana, com peixe e muita pimenta. O

cheiro do prato preparado por Isabela e Toninho atravessa a cidade de São Francisco chegando

até o mar, fazendo Iemanjá desfazer a macumba. Por fim, Isabela e Toninho voltam à Bahia e

reconstroem seu restaurante.

“O Brasil é mais do que um país. O Brasil é uma sensação. É um estado de espírito

indescritível. [...] começa no sul em Porto Alegre e vai subindo até Recife. [...] são os tambores

do candomblé, é o samba a tocar naval, é o batuque forte de Ouro urbano. [...] Isabela é o Brasil e

o Brasil é Isabela” 32

. Observamos que a citação apresenta a imagem do Brasil, uma imagem que

o filme tentou retratar a respeito do país. Desta forma, encontramos no filme vários aspectos que

representam a imagem do Brasil, dentre eles podemos citar: a sensualidade da mulher brasileira,

o aspecto malandro do brasileiro, o misticismo e a musicalidade. Devemos salientar que o

31

Cf. Ibidem, Flash36. M97. 32

Cf. Ibidem, Flash51. M97.

Page 88: Nagisa migita

86

aspecto malandro do brasileiro é apresentado no filme de duas formas: o brasileiro galanteador,

sedutor e o brasileiro que “para tudo se dá um jeito”, visto em algumas cenas.

O misticismo também é muito presente no filme, como observamos em cenas das quais

se utilizam de rituais de adoração à Iemanjá ou mesmo quando Isabela e Mônica preparam uma

macumba. A musicalidade foi apresentada na forma dos três trovadores brasileiros e pelo

personagem de Toninho, personagens que durante todo o filme estavam cantando e tocando

músicas brasileiras. É importante ressaltarmos que neste filme toda a sonoplastia é de músicas

brasileiras. Salientamos ainda que o filme aborda algumas características da cultura brasileira de

forma positiva, uma imagem de tipologia positiva (GÂNDARA, 2008) oferecendo ao possível

turista o encantamento pela cidade baiana, no entanto, com a repetição, principalmente da

musicalidade e da sensualidade da mulher brasileira, e a caracterização pelo excesso tornam a

produção uma imitação grotesca e uma reprodução simplificada de uma cultura vasta como a do

Brasil.

3.1.4 Turistas – “Paradise Lost”

Fonte: Disponível em http://www.cinepop.com.br/especial/turistas.htm

Figura 11 - Turistas

Page 89: Nagisa migita

87

“Turistas” (EUA, 2006) filme de gênero terror e suspense, apresenta em seu cartaz a

imagem de um corpo prestes a ser cortado por um bisturi. Com a frase “Existem alguns lugares

que turistas nunca devem ir: turistas vão para casa” remete ao espectador um alerta de perigo. Ao

apresentar a frase “Turistas go home”, em vermelho, também podemos entender como alerta de

perigo e prever que o filme trará cenas com morte. As frases também enfatizam aos turistas que

não visitem a localidade apresentada pelo filme.

O filme possui como cenário o Brasil, mais especificamente, algum lugar do Rio de

Janeiro. Os personagens principais são representados por dois norte-americanos, Alex e Bea, a

austríaca Pru e os dois britânicos Liam e Finn. Os brasileiros neste filme são personagens

secundários e são, na maioria, apresentados de forma negativa. A imagem do brasileiro nesta

película pode ser descrita da seguinte forma: drogados, violentos, selvagens, pobres, sujos,

irresponsáveis, ladrões. Poucas são as imagens que mostram uma representação positiva do

brasileiro. Devemos salientar, porém, que os personagens brasileiros são todos representados por

atores brasileiros, oferecendo ao espectador maior impressão da realidade.

O espectador visualiza nos primeiros minutos do filme cenas de uma mulher suplicando

pela sua vida em um suposto laboratório. Aparecem nesta cena imagens que podem ser

relacionadas com instrumentos médicos, pois observamos a presença de bisturis, gazes e sangue.

Sequencialmente com o fundo musical “Re-batucada/ Do jeito que o rei mandou” (BR, Marcelo

D2, David Corcos, João Bogueira e Zé Katimba) observamos imagens que remetem aspectos do

Brasil: a moeda brasileira, carnaval, bandeira do país, mulheres, Cristo Redentor, imagens da

favela e imagens de crianças armadas. Também aparece junto com essas imagens frases cortadas

“departamento de estado [...] crimes violentos [...] desaparecimento de turistas americanos [...]

junta de turismo [...] crime violento”.33

Remetendo ao espectador como se esses fatos fossem

acontecimentos cotidianos. Percebemos que o Brasil se constitui no imaginário cinematográfico,

de um pequeno número de imagens folclóricas como o carnaval e o samba, além de certos ícones

paisagísticos como o Cristo Redentor e, mais recentemente, o cinema norte-americano visualiza e

trabalha com a violência urbana do país. Não podemos afirmar que essas imagens são

equivocadas, pois realmente são fatos que ocorrem no país, no entanto, a exibição excessiva de

aspectos como a violência transmite ao telespectador como se aquela imagem fosse à

representativa do país, o que não é verídico.

Page 90: Nagisa migita

88

Na cena seguinte surge um ônibus chamado “Rapidão”, lotado de passageiros brasileiros

e turistas. São apresentadas aqui imagens do motorista brasileiro: moreno, barbudo, cabelo

bagunçado, vestido com uniforme azul desabotoado e com os dedos no nariz, essas são as

primeiras imagens do motorista que podemos classificar como sujo e irresponsável, uma vez que

suas atitudes levam o ônibus a capotar ribanceira abaixo. Todos os passageiros saem ilesos do

acidente, no entanto, precisam esperar a chegada de outro ônibus que os levem para Belém,

destino em que o ônibus capotado chegaria. Com o acontecimento, os turistas, personagens

principais, se conhecem. Durante a espera de outro ônibus, Bea tenta tirar uma foto de uma

criança brasileira, deixando o pai da criança furioso e levando aos seus companheiros turistas a se

envolverem em uma discussão com os brasileiros. “Segundo a imprensa sensacionalista, os

estrangeiros vem para cá, para sequestrar crianças e vender seus órgãos. Isso criou muita

hostilidade com os turistas”34

explica Pru aos seus companheiros. Nesta cena mostra a hostilidade

do brasileiro e ao mesmo tempo a imagem de um país atrasado, uma vez que é necessário

representar neste contexto do filme o porquê dos futuros acontecimentos.

Com a situação desagradável os turistas perdem o ânimo para esperar outro ônibus. É,

neste momento, que surgem duas brasileiras com coco nas mãos. Pru então lhes pergunta onde

haviam arranjado a bebida e as moças lhe respondem que havia um bar ali próximo. Os turistas

decidem então procurar este bar. Saindo da estrada para entrar na floresta à procura do bar, os

turistas encontram além do bar uma praia. E ao som de “Vai vendo” (BR, Marcelo D2 e Mário

Caldato) os turistas entram e se divertem no mar. Observamos uma visão norte-americana a

respeito do Brasil dividida entre o inferno e o paraíso, o primeiro representado na figura de um

país economicamente atrasado e socialmente pobre, que de fato é a relaidade do país, e o segundo

representado nas belezas naturais do país, praias e florestas.

Os turistas fazem amizade com os moradores locais e encontram com mais dois turistas

de nacionalidade sueca. “Os brasileiros são as pessoas mais amigáveis que eu já conheci [...] as

bebidas são baratas [...] inclusive podemos dormir em uma barraca na areia, por apenas quatro

reais”35

afirma a sueca. Com a informação dada pelos turistas suecos Alex, Bea e os outros

decidem passar o restante da viagem na praia. Enquanto isso em uma cena oposta, um médico

brasileiro examaminando crianças carentes recebe uma ligação onde é avisado a respeito da

33

Cf. TURISTAS, Dir. John Stockwell, EUA, 2006, Flash001. M95. 34

Cf. Ibidem, Flash009. M95.

Page 91: Nagisa migita

89

chegada dos turistas. Vemos, portanto, aqui um Brasil cenografado por um olhar americano que

promove o valor comercial de sua paisagem, consagra a receptividade em seu território e atesta

em imagens e sons um país sem muitas contradições, apto a acolher com vantagem os

aventureiros internacionais.

Bea, Alex, Pru e os outros estrangeiros passam o dia se divertindo na praia e jogando

futebol com os moradores locais. Pru conhece Kiko, um brasileiro que quer treinar o inglês. Ao

anoitecer, os turistas se divertem em uma festa brasileira. Nesta cena a sonoplastia é apresentada

por “Qual é” (BR, Marcelo D2, David Corcos, Antonio Carlos e Jocafi) e “Fume” (BR, MC

TAM). Todos os estrangeiros começam a dançar, exceto Finn, que escapa da vista de seus

companheiros para paquerar uma brasileira. “Bendito seja o Brasil”36

afirma Finn após ver a

brasileira nua. Verificamos a partir desta e em outras cenas que a mulher brasileira é apresentada

de forma sensual, uma vez que muitas das cenas onde estão presentes as mulheres brasileiras

estas se apresentam com vestimentas curtas, na maioria das vezes, de biquinis, e, em alguns

casos, a mulher brasileira se prostituindo, como ocorre nesta cena, onde após deitar-se ccom o

britânico a brasileira usurpa de sua carteira uma quantia em dinheiro. Durante a festa os turistas

são drogados, o que os faz se sentirem mal até desmaiarem, acordando somente no dia seguinte

na praia.

Roubados e sem documentação os irmãos Alex e Bea e seus companheiros decidem

procurar a polícia, “[...] a polícia? Soube que são piores que os criminosos!”37

argumenta Alex

antes de decidir procurar a polícia. Observamos com esta frase que os turistas possuem uma

imagem negativa em relação à polícia, pois segundo o filme os policiais são em sua maioria

corruptos. A procura de alguém que os ajude os turistas começam a caminhar chegando até uma

favela e encontram alguns de seus pertences com as crianças que moram na localidade.

Desesperados e com raiva os turistas perseguem pelos becos da favela as crianças que roubaram

seus pertences e acabam ferindo uma destas. Os turistas acabam se envolvendo, outra vez, em

uma discussão com os moradores locais. Mas kiko, o adolescente brasileiro que conheceram na

praia, consegue evitar que os turistas fossem machucados pelos moradores locais. Cabe aqui

ressaltar que a partir destas cenas mostram um contraste da busca pelo prazer versus a

impunidade, visto que observamos as imagens de um país pobre e sem lei. O cenário aqui

35

Cf. Ibidem, Flash15. M95. 36

Cf. Ibidem, Flash24. M95.

Page 92: Nagisa migita

90

representado também demonstra uma realidade precária, uma vez que são apresentados nestas

cenas ruas sem asfalto, becos cheios de lixo, casas construídas em barrancos, essas imagens

acabam se opondo a realidade até então avistada pelos turistas, belas praias e festas. Esta também

é uma realidade do país, no entanto, o modo como desencadeia a narração torna a imagem das

favelas e da pobreza mais aguçada.

Na cena seguinte Kiko afirma aos turistas que teme pelas suas vidas e aconselha-os a

seguirem-no. O adolescente relata aos estrangeiros que somente estarão a salvo na casa de caça

do tio, Zamorra, então começa a encaminhá-los até essa casa. Passando pela floresta, descalços e

apenas com roupas de banho, os turistas seguem Kiko até a casa de Zamorra, personagem

brasileiro que representa um xenófobo, assassino e contrabandista. “Eu queria vim para o Brasil,

porque eu gosto das mulheres, das praias e gosto de beber. E quando dizem: venham para o

Brasil. Querem dizer: temos mulheres, temos praias e bebidas. O que não dizem, e que nem

sequer mencionam é que você vai ser perseguido por um povo irritado na selva”38

afirma Finn

durante o percurso até a casa de Zamorra. Percebemos nesta frase que, em muitos casos, a

imagem do país é representada, principalmente pela imagem das mulheres brasileiras, o que pode

atrair turistas indesejados, como aqueles que buscam o turismo sexual. Percebemos esta visão da

atração do estrangeiro pelo corpo feminino em outras partes do filme: no início ainda dentro do

ônibus, onde o britânico Finn observa os peitos de uma brasileira, na cena quando os turistas

chegam a praia onde avistam brasileiras seminuas tomando banho de sol e no encontro amoroso

de Finn com a brasileira.

Durante o percurso na floresta para se chegar à casa de caça do tio de Kiko, os turistas se

espantam com a beleza das cavernas que Kiko lhes apresenta. Os irmãos e seus companheiros

decidem se divertir um pouco dentro da caverna apresentada por Kiko. O adolescente brasileiro

cria um vínculo de amizade com os americanos, o que o faz se arrepender de tentar levá-los até a

casa de Zamorra, pois sabe que o tio irá matá-los, no entanto, não consegue contar a verdade para

os turistas, pois antes disso acaba se ferindo, o que o faz desmaiar. Os turistas sem saída levam

Kiko até a casa onde ele havia dito. Chegando à moradia os turistas conseguem arrumar roupas e

37

Cf. TURISTAS, Dir. John Stockwell, EUA, 2006, Flash30. M95. 38

Cf. Ibidem, Flash37. M95.

Page 93: Nagisa migita

91

comida, mas quando Zamorra chega à casa, os turistas são surpreendidos pela agressividade dos

ajudantes do tio de Kiko.

Nas cenas seguintes, os turistas são levados um a um para uma sala de operação onde

Zamorra retira seus òrgãos para entregá-los a um hospital do Rio de Janeiro. Percebemos que a

cidade do Rio de Janeiro é utilizada no conteúdo narrativo do filme, pois é uma cidade clichê,

suas paisagens já estão bem presentes no imaginário do norte-americano e facilitam a assimilação

do cenário em que ocorrem os fatos. Essas imagens desencadeiam a cidade uma representação

negativa, uma vez que pode ser palco de acontecimentos inimaginavelmente que contradizem a

realidade. É importante observarmos que realmente existe tráfico de órgãos no país, e que para tal

há também uma comissão brasileira que trabalha na investigação, tentando evitar e minimizar

essas ações. Amy, amiga dos irmãos morre com a retirada dos órgãos, Finn e Liam também são

mortos. Alex, Bea e Pru conseguem escapar com a ajuda de Kiko que também morre durante a

fuga. Podemos afirmar que essa repetição dos fatos relacionados à violência leva ao turista a

perder e esquecer as primeiras imagens a respeito do país que demonstravam aspectos positivos,

como a beleza da flora brasileira. Zamorra e um de seus ajudantes, o único que sobrevive,

perseguem os três turistas na caverna. Os turistas são encurralados dentro da caverna, mas Alex

consegue machucar Zamorra, que mesmo ferido ordena ao seu ajudante para que mate os turistas.

Com jogo psicológico, Pru consegue que o ajudante não os mate, pois ele atira em Zamorra e

deixa o local. Os três sobreviventes caminham pelo rio em busca de ajuda e se deparam com uma

família que os ajudam, oferecendo-lhes comida e abrigo. Parece que esta cena foi apresentada

para demonstrar que não há somente personagens ruins no país, que ainda existem pessoas

caridosas e honestas. No final do filme, com a sonoplastia “Fico assim sem você” (BR, Adriana

Calcanhoto) os turistas sobreviventes embarcam em um avião com destino à Salvador.

Podemos por meio, do filme identificar mais imagens negativas do que imagens

positivas,ou seja, como Gândara (2008) classificaria uma imagem mista, uma mistura de

elementos positivos e negativos, uma vez que a película representa o país da seguinte forma: um

Brasil pobre e sem lei, um país que possui grandes atrativos representados principalmente na

figura feminina “[...] Não é Belém que é conhecida por ter 10 mulheres para cada homem, e até

as mulheres feias parecem modelos? [...] Todas são ninfomaníacas, espertas e divertidas, com

Page 94: Nagisa migita

92

fraqueza por turistas encantadores, mesmo sujos!”39

afirma um dos personagens do filme. Um

país com muita violência, o que pode ser constatado pelas atitudes dos personagens brasileiros

durante a narrativa do filme. Um país que exalta seu erotismo pelas suas músicas e danças.

Devemos, porém lembrar que o filme apresenta também imagens positivas a respeito do Brasil.

Essas imagens que representam o lado positivo do país são verificadas nas paisagens do Rio de

Janeiro, ressaltadas pelas belezas naturais de suas praias. É importante salientarmos que o filme

possui uma narrativa em que inicialmente apresenta as imagens de um Brasil paraíso e exótico

para mais tarde apresentar as imagens de um país decadente e violento. Esta sequência narrativa

pode fazer com que os espectadores guardem essas últimas imagens, ou seja, pode levar ao

espectador ter uma visão focalizado para as imagens de violência e atraso esquecendo-se dos

aspectos positivos vistos anteriormente. É importante salientarmos aqui, que após a distribuição

deste filme, os norte-americanos criaram um site onde apresentavam aos potenciais turistas as

imagens negativas do país, afirmando-lhes a periculosidade de se visitar o país. Realizaram ainda

uma cartilha informando aos turistas quais perigos encontrariam no país, como roubos. Somente

após um tempo as autoridades brasileiras em contato com o governo norte-americano

conseguiram impedir o funcionamente do site.

3.1.5 Velozes e furiosos 5: operação Rio – “Fast and Furious 5 – Rio Heist”.

39

Cf. TURISTAS, Dir. John Stockwell, EUA, 2006, Flash008. M95.

Page 95: Nagisa migita

93

Fonte: Disponível em

http://1.bp.blogspot.com/_YO9GNns4TKw/S6GHe7J2JaI/AAAAAAAACZM/FMl6_hipXBI/s640/velozes_furiosos

_br.jpg

“Velozes e Furiosos 5: operação Rio” (EUA, 2011) é o quinto filme da franquia e

apresenta em seu cartaz a imagem de um carro verde e a imagem do Rio de Janeiro, na presença

do Cristo Redentor e do Corcovado. A cor do carro, verde, intensifica a imagem do país, frente às

imagens do Rio de Janeiro. Ao focalizar a imagem do automóvel remete ao espectador que o

enredo discutirá questões a respeito de carros.

O Brasil, especificamente o Rio de Janeiro, é o cenário do filme “Velozes e Furiosos 5:

operação Rio” (EUA, 2011). O conteúdo narrativo da película se inicia nos Estados Unidos, mas

logo se volta para o cenário brasileiro, onde a trama será desenvolvida. As personagens do filme

são formadas por americanos e brasileiros, e as personagens que representam os brasileiros são,

na sua maioria, representada por atores latinos, com exceção da personagem Mia, representada

pela atriz brasileira Jordana Brewster. Não há uma personificação dos brasileiros nesta película,

porém, encontramos uma imagem geral a respeito do país, com imagens focalizadas de um país

Figura 12 - Velozes e furiosos 5: Operação Rio

Page 96: Nagisa migita

94

pobre, corrupto, violento e com impunidade penal.

Nas primeiras cenas do filme encontramos os personagens principais Dom, Brian e Mia

em um tribunal dos Estados Unidos, onde Dom está sendo julgado pelos seus crimes de roubo de

carros. Dom acaba sendo acusado e condenado a 25 anos de prisão, sem a possibilidade de

condicional. Na cena seguinte avistamos um ônibus com prisioneiros, dentre eles está Dom,

sendo perseguido por dois carros, onde estão Mia e Brian. Com algumas manobras Mia e Brian

conseguem que o ônibus capote, oferecendo chance para que Dom possa fugir. Nos noticiários, os

americanos são informados à respeito da fuga dos prisioneiros. São focalizadas as imagens de

Dom, Mia e Brian como bandidos perigosos e procurados pelo FBI. Procurados no país inteiro,

os três fugitivos ficam sem alternativa, levando-os a sair dos Estados Unidos: “[...] apesar de

todos no país estarem atentos, o paradeiro de Toretto e O’Conner é desconhecido”40

Na cena seguinte são mostradas as imagens do Rio de Janeiro, do Cristo Redentor, das

favelas e logo em seguida, as imagens de Mia e Brian, que aparecem em um carro dirigindo em

direção a favela do Rio de Janeiro, para se encontrarem com Vince, amigo de infância de Dom.

Verificamos que essas imagens do Rio de Janeiro, planos aéreos que circundam o Cristo Redentor

e a imagem das favelas se repetem fornecendo-nos uma visão de clichê paisagístico e oferecendo

ao espectador referência para a absorção da narrativa e consequentemente orientando-o dentro do

contexto. Observamos ainda a imagem de um país localidade de fuga para bandidos, neste caso

Brian, Mia e Dom, no entanto, não há explicações pelo motivo do local de fuga ser o Brasil.

Subindo a favela Mia e Brian se deparam com moradores locais armados, mas logo

depois aparece a imagem de Vince. Constatamos aqui a representação de um país violento e sem

impunidade penal, por meio desta cena. Estes aspectos da violência urbana foram recentemente

trabalhados pelas produções americanas, uma vez que esses fatos podem ser reflexos da imagem

que o país apresentou nos últimos anos. Outro aspecto presente nesta cena é o da pobreza,

caracterizado nas vestimentas e características físicas dos personagens brasileiros e pela

apresentação da alimentação dos mesmos. Mia e Brian conhecem a mulher e o filho de Vince,

ambos brasileiros. Vince relata para Mia e Brian, a respeito de um trabalho, em que precisa

roubar três carros de dentro de um trem. Brian e Mia aceitam o trabalho, visto que necessitam de

dinheiro para continuarem a fugir do FBI e também porque Dom participará.

Em outra cena em algum lugar do deserto brasileiro, avistamos a imagem do trem, e já

Page 97: Nagisa migita

95

dentro dele Mia e Brian. Precisamos ressaltar aqui que a paisagem demonstrada nesta cena é

totalmente irreal para o contexto brasileiro, uma vez que o país não possui ferrovias em meio a

um deserto. Ressaltamos ainda o salto no espaço geográfico do país, ou seja, a diminuição das

distâncias entre as cidades e a presença de aspectos geográficos inexistentes no local focalizado,

neste caso o Rio de Janeiro. Vince, Dom, Mia e Brian se juntam aos ajudantes de Reyes para

roubarem os três carros. Vince consegue pegar o primeiro carro. Mia entra em outro carro, no

qual os ajudantes de Reyes se mostraram obcecados, criando uma discussão entre os ajudantes de

Reyes e Brian. Após terminarem a discussão Mia neste mesmo carro sai do trem e começa a

dirigir. Quando o grupo tenta pegar o terceiro e último carro, agentes do Departamento de Justiça

Norte-americano aparecem tentando impedí-los, no entanto os ajudantes de Reyes acabam por

matá-los deixando a responsabilidade para Dom, Brian e Mia, que fogem com os carros. Neste

momento eles percebem que o empresário corrupto que comanda o Rio, Hernan Reyes, quer

silenciá-los. À procura de descobrir o motivo da obsessão de Reyes pelos carros, eles desmontam

um dos carros roubados, aquele em que Mia estava, e descobrem a existência de um chip

contendo todas as informações a respeito de uma grande quantia em dinheiro contrabandeado.

Neste mesmo instante, em outra cena, chegam ao Brasil os agentes do FBI encarregados de

prender Dom e o casal. A equipe do FBI comandada por Lucas Hobbs contrata a policial

brasileira e novata Elena Neves para que ela ajude nas investigações. O superior da policial

pergunta ao agente o porquê, dela ter sido a escolhida para ajudá-lo nas investigações, Hobbs

então lhe responde que é devido a ela ter um sorriso bonito. Mas a verdadeira justificativa é

explicada por Hobbs para Elena: “Acho que é a única no Rio que não se vende”41

. Verificamos

com esta cena do filme uma imagem negativa do país que representa um país corruptível, uma

vez que na película todos os policiais participam dos assuntos ilegais que circundam a cidade do

Rio. Visualizamos que essa imagem negativa a respeito da polícia brasileira também está presente

nas produções norte-americanas mais recentes.

Os agentes com a juda da policial conseguem pistas do paradeiro de Dom e do casal, o

que os faz imediatamente irem ao local. Para que o espectador entenda a localidade para o qual os

agentes estão indo, são mostrados, novamente as imagens do Cristo Redentor e das favelas. Nas

cenas seguintes ocorre o conflito entre os ajudantes de Reyes, procurando o chip roubado e os

40

Cf. VELOZES e furiosos 5: operação Rio, Dir. Justin Lin , EUA, 2011, Flash2. M130. 41

Cf. Ibidem, Flash27. M130.

Page 98: Nagisa migita

96

agentes federais, procurando Dom e o casal. Nestas cenas são apresentadas com ênfase as

imagens das favelas e das armas. Podemos verificar que as representações das favelas são

apresentadas de forma a caracterizar a pobreza vinculada às dificuldades de acesso a bens de

consumo e às condições do lugar onde se vivem, mas assumem, sobretudo, uma natureza

defensiva, uma vez que o aglomerado de pessoas reforça a defesa contra algo externo.

Constatamos ainda que a representação das favelas em conjunto com a grande quantia de

armamentos representa a marginalidade em que o povo brasileiro vive. Devemos aqui ressaltar

que as representações das favelas no filme só abordam aspectos negativos, pobreza e

marginalidade, não observamos aspectos positivos como, por exemplo, a presença de ONGS que

colaboram para a educação da população local. São representações como a maioria das outras

imagens a respeito do Brasil, estereotipadas.

Brian, Dom e Mia, conseguem escapar dos ajudantes de Reyes e dos agentes federais.

Com a situação os três decidem roubar os 100 milhões de dólares do empresário e com isso

comprarem sua liberdade. Com a decisão de roubar Reyes, Dom e o casal precisam de uma

equipe maior, pois o empresário influente possui também o comando da polícia carioca. Dom,

Brian e Mia convocam antigos companheiros para formar a equipe: Han, Roman Pearce, Tej

Parker, Gisele Gal , Tego e Rico.

Com o plano pronto e a equipe formada Dom começa a agir contra Reyes, queimando

uma pequena parte de seu dinheiro para assustar o empresário. O empresário fica sabendo a

respeito da queima do dinheiro e pede a um de seus ajudantes para que junte todo o seu dinheiro,

que está espalhado em vários pontos da cidade do Rio de Janeiro, e guarde em um local seguro.

Dom e sua equipe ficam surpresos ao descobrirem que Reyes esconde todo o seu dinheiro na

delegacia de polícia militar do Rio de Janeiro. Verificamos neste contexto as diferenças radicais

abordadas na película, de um lado as áreas perigosas, os guetos e as zonas à margem da lei que

compõem o ambiente de uma maioria pobre que convive com a marginalidade e de outro as áreas

superprotegidas, isoladas na riqueza comandadas por uma minoria, neste caso o empresário

Reyes, esses aspectos são vistas na realidade brasileira, uma vez que temos uma população

fragmentada em muitos pobres e poucos ricos. Observamos por meio desta cena a enfatização da

corrupção no país, no caso a corrupção envolve somente os policiais, e podemos destacar que

essa representação é atual, talvez, devido, a acontecimentos históricos recentes, como o da

corrupção na política brasileira, intensamente divulgado pela imprensa nos últimos anos.

Page 99: Nagisa migita

97

Nas cenas seguintes Dom e sua equipe se preparam para roubar todo o dinheiro do

empresário. Roubam viaturas de policia, pegam as digitais de Reyes, para abrir o cofre e fazem

simulações do roubo. Em outro lugar Hobbs tenta descobrir o que Dom e sua equipe estão

pretendendo fazer contra Reyes. E novamente com a ajuda da policial brasileira os agentes

federais descobrem o que Dom e sua equipe estão planejando contra Reyes. Essas informações

ajudam os federais a se aproximarem da equipe de Dom. Porém, Dom ao perceber as ações de

Hobbs, armou-lhe uma armadilha, para que ele entendesse que suas ações seriam somente contra

Reyes. Na cena onde Dom prepara a emboscada para Hobbs, podemos constatar a imagem de um

Brasil violento, pois a cena apresenta a maioria dos brasileiros armados. “E o seu erro? É pensar

que está nos Estados Unidos. Você está bem longe de casa. Estamos no Brasil!”42

afirma Dom à

Hobbs e seus agentes. E logo em seguida todos os brasileiros apontam armas em direção à Hobbs

e sua equipe. “Hobbs tem muita arma envolvida”43

confirma um dos agentes à Hobbs. É a

imagem de um país marginalizado que visualizamos na cena apresentada, de um país que não há

justiça, uma representação da selva urbana, onde a luta não é pela sobrevivência e sim de quem

mata mais.

A narrativa do filme se desenvolve em torno do roubo do cofre. E nas próximas cenas

ocorrem: corridas de carros, conflitos entre a equipe de Dom e os ajudantes de Reyes e a equipe

de Hobbs, emboscadas, tiroteios e mortes. No desfecho do filme Dom e sua equipe conseguem

roubar o cofre, enganando o agente federal Hobbs.

É importante salientarmos que o filme possui cenas onde representam o país como

corrupto, pobre, violento e localidade de fuga para bandidos. Realmente o país possui grandes

problemas com a violência, com o aumento das favelas, com a corrupção destacado neste filme

pelo favorecimento pessoal e lavagem de dinheiro, no entanto, é preciso destacar que todos estes

problemas não estão isolados da conjuntura global da sociedade contemporânea e por isso não

podem ser atrelados como uma imagem representativa de um único país, no caso o Brasil.

Observamos ainda que a imagem do Cristo Redentor e das favelas do Rio de Janeiro também

foram muito apresentados. Nesta película não conseguimos identificar a presença de um enredo

musical que representasse a cultura brasileira, apesar de constar nos títulos finais algumas

músicas brasileiras. Segundo Gândara (2008) as imagens apresentadas neste filme ocupariam a

42

Cf. VELOZES e furiosos 5: operação Rio, Dir. Justin Lin , EUA, 2011, Flash73. M130. 43

Cf. Ibidem, Flash74. M130.

Page 100: Nagisa migita

98

tipologia de uma imagem negativa.

3.2 VISÃO GERAL

A ação de se analisar os filmes e interpretar seus cartazes e suas cenas mais

significativas a respeito da imagem turística do Brasil possibilitou a identificação de algumas

matrizes já cristalizadas, que refletem a atualização ou o deslocamento de elementos ligados à

formação histórica do continente, o paraíso perdido, a mulher sensual, a democracia racial, a

transgressão sexual, o transe místico e mesmo a uma redução jurídica, a impunidade penal. Este

conjunto de referências observadas nos cinco filmes precisam também ser analisados em um

contexto geral. Portanto, nesta parte do trabalho apresentaremos todas as características

observadas nos cinco filmes, tentando comparar as imagens turísticas apresentadas em cada filme

com o intuito de verificar, se houve mudança das representações das imagens com o decorrer do

tempo e verificar quais as imagens mais representativas a respeito do Brasil.

A seguir apresentaremos em forma de quadro os filmes, o cenário em que se

contextualizou o filme, as principais imagens turísticas a respeito do Brasil, a existência ou não

de personagens brasileiros, a existência de atores brasileiros representando os personagens

brasileiros e, finalmente, se havia ou não enredo musical brasileiro.

Page 101: Nagisa migita

99

Quadro 1 - Características dos filmes

Filmes Lambada a

dança

proibida

Anaconda Sabor da

paixão

Turistas Velozes e

furiosos 5:

operação

Rio

Cenário Brasil EUA Brasil Brasil EUA Brasil EUA Brasil

Principais

imagens

Floresta

Amazônica,

sensualidade

feminina,

musicalidade e

misticismo

Floresta

Amazônica,

fauna e flora

exóticos

Sensualidade

feminina,

misticismo,

musicalidade,

malandro e

Bahia

Sensualidade

feminina, Rio

de Janeiro,

violência,

pobreza e praias

Violência,

corrupção,

pobreza e

localidade de

fuga, Rio de

Janeiro

Personagem

brasileiro

Principais Secundários Principais Secundários Secundários

Ator

brasileiro

Nenhum Nenhum As personagens

brasileiras são

representados

por brasileiros

em exceção da

protagonista e

de Mônica

As personagens

brasileiras são

representados

por brasileiros

um

Sonoplastia Nenhuma

brasileira

Algumas

brasileiras

Toda brasileira Toda brasileira Algumas

brasileiras,

mas não

identificadas

Fonte: a autora

Nos filmes “Lambada a dança proibida” (EUA, 1990) e “Anaconda” (EUA, 1997)

constatamos a imagem da Floresta Amazônica. No primeiro filme, a floresta é base para o início

da história do filme, mas não são mostradas imagens a seu respeito, uma vez que as gravações

não foram realizadas na Amazônia. A produção, porém, é dedicada a preservação da floresta

amazônica. Enquanto isso, em “Anaconda” (EUA, 1997) a floresta amazônica torna-se pano de

fundo para o conteúdo narrativo do filme. O filme também se utiliza das imagens do Rio

Amazonas, da fauna e flora. Apresentando ao espectador imagens de animais exóticos como a

Anaconda. Nos dois filmes verificamos a presença de histórias míticas: a da lambada, dança

proibida por ser muito sensual e a da tribo Shirishama, que veneram cobras gigantes como suas

protetoras. Desta forma, percebemos que a Amazônia “desempenha um papel de especial

relevância para a manutenção de uma mitologia baseada em alternativas potencialmente

ambíguas, de transito simbólico entre o real e o maravilhoso” (AMANCIO, 2000, p.83).

Observamos ainda que as produções cinematográficas que retratam a Amazônia abordam em

Page 102: Nagisa migita

100

muitos casos antigos mitos, como o dos animais exóticos, da natureza exuberante e dos grupos

indígenas ainda não contaminados pela civilização ocidental.

Em “Lambada a dança proibida” (EUA, 1990), “Sabor da paixão” (EUA, 2000) e

“Turistas” (EUA, 2006) podemos constatar a imagem da mulher brasileira de forma sedutora. São

imagens de uma mulher que sabe dançar e rebolar, uma mulher com dom da culinária e que

encanta o paladar dos homens, uma mulher que seduz pelos contornos de seu corpo e que pode

oferecer prazer para os homens que pagarem, essas são as imagens da mulher brasileira que

podemos verificar nestas películas. A mulher brasileira também ganha uma imagem de sofredora,

uma vez que pode ser casada com um brasileiro malandro e galanteador, como Toninho de

“Sabor da paixão” (EUA, 2000).

No entanto, a imagem do brasileiro Toninho, malandro e galanteador é melhor que a

imagem de Zamorra, personagem que representa a imagem de um brasileiro violento, assassino,

como visto em “Turistas” (EUA, 2006). Essa representação da violência do povo brasileiro

também é observada no filme “Velozes e Furiosos 5: operação Rio” (EUA, 2011). A violência é

demonstrada de várias formas nos dois filmes: com armas, facões, tiroteios, cirurgias

clandestinas, mas sempre com a mesma consequência, muitas mortes. São tantas as mortes que

mesmo as cobras gigantes inimagináveis de “Anaconda” (EUA, 1997) não aguentariam comer.

Mas se na Amazônia representada pelo filme “Anaconda” (EUA, 1997) precisamos fugir

de animais exóticos como as vespas mortíferas, porcos selvagens que comem olhos e das cobras

gigantes que podem nos comer, e na área urbana, representada sempre pela imagem do Rio de

Janeiro, precisamos fugir do cotidiano de violência, pobreza, assassinatos, como vimos nos

filmes “Turistas” (EUA, 2006) e “Velozes e Furiosos 5: operação Rio” (EUA, 2011) nos

perguntamos porque os procurados do FBI Brian O’Conner, Mia e Dom fugiram para o Brasil,

especificamente para o Rio de Janeiro. Poderiam eles ter escolhido a Bahia, “terra da bossa nova”

e da poderosa Iemanjá. A Bahia do filme “Sabor da paixão” (EUA, 2000) ressalta o misticismo

por meio dos rituais de candomblé, das oferendas à Iemanjá, das receitas de macumba, como a

realizada pelas personagens Isabela e Mônica.

Não podemos nos esquecer da imagem de musicalidade dos brasileiros: representados na

forma de dança, como é o caso da lambada do filme “Lambada a dança proibida” (EUA, 1990) e

da música brasileira, com grandes compositores como Ary Barroso e Vinícius de Moraes

apresentados no filme “Sabor da paixão” (EUA, 2000). Portanto, são várias as imagens

Page 103: Nagisa migita

101

apresentadas pelos cinco filmes: mulheres, floresta amazônica, misticismo, musicalidade,

pobreza, violência, corrupção, localidade de fuga, Rio de Janeiro, Bahia. E algumas dessas

imagens são apresentadas em mais de uma produção: misticismo, musicalidade, violência,

floresta amazônica e mulheres. Ao observarmos essas imagens representadas e apresentadas

pelos filmes, verificamos que as imagens a respeito do Brasil não foram modificadas ou mesmo

extintas, elas continuam a existir. Podemos afirmar que algumas imagens ganharam ênfase nesses

últimos anos, como é o caso da violência, corrupção e pobreza muito presente nas representações

da cidade do Rio de Janeiro. Por fim, devemos salientar que as imagens turísticas a respeito do

Brasil nessas produções foram constatadas em sua maioria, como negativas, pois podem atrair

turistas indesejáveis com imagens da mulher brasileira, como é o caso do turismo sexual, ou

retrair a demanda de turistas com imagens da violência, corrupção e pobreza.

Page 104: Nagisa migita

102

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observamos que em matéria de cinema necessitou-se de milênios de desenvolvimento

mental e técnico, em recíproco influenciamento, para se pretender, tentar e conseguir captar a

imagem em movimento (BILHARINHO, 2003). E foram necessários mais alguns anos para que

esta ferramenta se tornasse de mero instrumento de diversão a uma importante indústria, como

avistamos na atualidade. Podemos visualizar e acompanhar essas etapas do surgimento e do

desenvolvimento do cinema no primeiro capítulo deste trabalho, onde estudamos o cinema antes

mesmo de seu surgimento, na sua pré-história. Caminhamos em nossos estudos procurando

entender a trajetória do cinema até esta tornar-se indústria, constatamos então que o cinema é um

meio de comunicação que trabalha com ideias e imagens aceitas e reproduz isso em larga escala,

sendo um elemento influenciador da demanda turística, pois está entre as principais fontes de

informações que definem as imagens turísticas (SÁ, 2002). É ainda, uma ferramenta muito útil à

estratégia de recuperação de um destino, pois estimula o interesse do turista, uma vez que os

filmes são a ferramentas mais eficientes para influenciar a percepção das pessoas (GLAESSER,

2008). Esta observação da importância do cinema para as imagens dos destinos nos ofereceu base

para investigar e compreender esta ferramenta do marketing.

No entanto, estudar a indústria cinematográfica em sua totalidade, seria quase que

impossível e despenderia muito tempo. Desta forma, verificamos que poderíamos estudar uma

única indústria cinematográfica, poderíamos então estudarmos qualquer indústria

cinematográfica, a francesa, a italiana, a japonesa, mas queríamos por meio do cinema enfatizar a

importância das imagens para um destino turístico, no caso aqui, verificando a imagem turística

do Brasil frente a outros países, constatamos então que deveríamos escolher uma indústria

cinematográfica de grande repercussão não só no Brasil como em outros países, identificando

então a indústria cinematográfica norte-americana.

Com os estudos a respeito da indústria cinematográfica norte-americana, realizada no

primeiro capítulo, compreendemos que o cinema americano é realmente uma indústria forte e

dominante, uma vez que produzem filmes que são vistos e apreciados por todo o mundo. E ao

analisar a sua indústria conseguimos identificar a apresentação de algumas imagens turísticas a

respeito do Brasil em suas produções, o que nos levou a efetuar uma melhor análise a esse

respeito.

Page 105: Nagisa migita

103

Ao verificarmos as questões relacionadas ao estudo do cinema norte-americano sob a

imagem turística a respeito do Brasil, vimos à necessidade de depreendermos primeiramente a

importância do conceito imagem para o turismo, desta forma coube ao nosso segundo capítulo

extinguir essas dúvidas desta terminologia. Constatado o estudo a respeito do conceito imagem,

deparamo-nos então em analisar as produções cinematográficas norte-americanas, com o intuito

de verificar as imagens que expunham representações a respeito do Brasil. E com base na análise

de cinco filmes norte-americanos, com um recorte temporal entre 1990 e 2011, escolhidos para o

presente estudo, e enfocando aspectos da narrativa do filme, à dinâmica dos personagens no

quadro, as interações da banda sonora e as articulações dos nossos pontos de vista, podemos

concluir que as imagens transmitidas por essas produções americanas intensificam imagens como

a sensualidade da mulher brasileira, a violência, a corrupção, a impunidade penal, a pobreza e o

misticismo.

É importante salientarmos que com os estudos realizados no primeiro e segundo capítulo

e as análises dos filmes, individualmente e de forma composta, realizadas no terceiro capítulo

podemos concluir que as imagens a respeito do país continuam a existir no imaginário do

indivíduo norte-americano. Essas imagens não foram extintas ou modificadas, apenas receberam

novos sentidos e visões, pois se adequaram a nova realidade. Desta forma, podemos ainda

expressar e apresentar essas imagens em três palavras: paraíso, sensual e selvagem. A imagem do

Brasil paraíso continua representar a fauna e flora exuberante do país e dos animais exóticos. A

sensualidade ainda continua a ser apresentado na forma da mulher brasileira e o selvagem antes

representado pelo desconhecido, pelos locais inabitados e povos canibais tornam-se na atualidade

símbolo da violência urbana, da corrupção, da pobreza e da impunidade penal.

Podemos afirmar que a perpetuação de tais imagens geram sérias consequências ao país,

como por exemplo, o interesse dos turistas estrangeiros por sexo fácil no país. Além disso, as

imagens associadas à sensualidade também geram consequências sociais, como a depreciação da

mulher brasileira que é vista no exterior como “fácil” e provocante. E as imagens associadas a um

país violento podem retrair a demanda de turistas, vimos então que todas essas imagens possuem

grande efeito nos fluxos turísticos do país.

Verificamos também que nos cinco filmes norte-americanos analisados os aspectos

negativos a respeito do Brasil, como a violência, a corrupção, a impunidade penal e em alguns

casos a exploração sexual subtendida pela aparição da sensualidade feminina, têm uma maior

Page 106: Nagisa migita

104

repercussão, pois observamos que na maioria destes filmes possuem também imagens positivas a

respeito do país, no entanto, são as imagens negativas que ressaltam ao olhar do espectador.

Devemos ainda aqui salientar que esses estereótipos a respeito do país não são totalmente falsas

ou equivocadas, uma vez que, realmente o país possui uma grande parcela da população vivendo

na pobreza, vivenciamos muito de perto a violência, temos deficiência em nossos governos e

instituições e quanto às mulheres, sim, muitas vezes estas se apresentam com poucas vestimentas

e de forma bastante sensual, mas isso se deve ao tropicalismo do Brasil. E não é apenas por essas

imagens, também existentes em outros países, que devemos ser representados, devemos

apresentar para os estrangeiros e nos orgulharmos de termos aspectos socioculturais

diversificados, como Matta (2004) mesmo afirma mostrar os vários “Brasis”, demonstrarmos o

ufanismo, exaltando as qualidades do povo brasileiro. Podemos então afirmar que com as análises

dos filmes, os estudos a respeito de cinema e imagens turísticas, nos oferece base para uma maior

reflexão a respeito da imagem que outros países possuem do Brasil.

Aqui também vimos a importância de retomarmos a problemática desta pesquisa: As

imagens veiculadas pelo cinema podem influenciar na formatação e promoção de um destino

turístico? Essa questão não pôde ser confirmada ao certo nesta pesquisa, o que podemos afirmar é

que as imagens são realmente importantes elementos para o produto turístico e que a imagem que

o cinema difunde e transmite é assimilado por um grande público, o que pode vir, com o decorrer

do tempo, influenciar nas destinações, neste caso, no Brasil.

Por último, vale ressaltar que o presente estudo não teve o propósito de ser conclusivo

em relação à imagem do Brasil. O tema é bastante abrangente e o estudo pode servir como base e

incentivo aos pesquisadores que desejem realizar outros estudos relacionados, como a imagem da

mulher brasileira no exterior, a influência da imagem do país para o aumento de eventos, turismo

cinematográfico entre outros.

Page 107: Nagisa migita

105

REFERÊNCIAS

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ALÔ AMIGOS (Saludos amigos, EUA, 1943) dir.: Wilfred Jackson, Jack Kinney, Hamlton Luske

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AMANHECER (The Twilight Saga: Breaking Dawn, EUA, 2011) dir.: Bill Condon

A MISSÃO (The Mission, ING, 1986) dir.: Roland Joffé

ANACONDA (Anaconda, EUA, 1997) dir.: Luis Llosa

AS AVENTURAS DE DOLIIE 1908 (The Adventures Dollie, EUA,1908) dir.: D.W. Griffth

A SERENATA TROPICAL (Donwn Argentine Way, EUA, 1940) dir.: Irving Cummings

BANANA DA TERRA (Banana da Terra, BR, 1939) dir.: Ruy Costa

BRENDA STARR (Brenda Starr, EUA, 1989) dir.: Robert Ellis Miller

CASABLANCA (Casablanca, EUA, 1942) dir.: Michael Curtiz

CIDADÃO KANE (Ctizen Kane, EUA, 1941) dir.: Orson Welles

CONTATOS IMEDIATOS DO TERCEIRO GRAU (Close Encounters of The Third King, 1977)

dir.: Steven Spielberg

E O VENTO LEVOU (Gone With the Wind, EUA, 1939) dir.: Victor Fleming

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O EXTERMINADOR DO FUTURO (Terminator, EUA,1984) dir.: James Cameron

FEITIÇO NO RIO (Blame it on Rio, EUA, 1984) dir.: Stanley Donen

GUERRA NAS ESTRELAS (Star Wars, EUA,1977) dir.: George Lucas

INDIANA JONES E O REINO DA CAVEIRA DE CRISTAL (Indiana Jones and the Kingdon

Crystal, EUA, 2007)dir.: Steven Spielberg

INFERNO NA TORRE (The Towering Inferno, 1974) dir.: John Guillermin e Irvin Allen

JURASSIC PARK (Jurassic Park, EUA, 1993) dir.: Steven Spielberg

LAMBADA A DANÇA PROIBIDA (The Forbbiden Dance, EUA, 1990) dir.: Greydon Clark

MATRIX (The Matrix, EUA,1999) dir.: Andy Wachowski e Larry Wachowski

O CANTOR DE JAZZ (The Jazz Singer, EUA, 1927) dir.: Alan Crosland

O DESTINO DO POSEIDON (The Poseidon Adventure, 1972) dir.: Ronald Neame

O GRANDE ROUBO DO TREM (The Great Train Robbery, EUA, 1903) dir.: Edwin S.

O GORDO E O MAGRO

O INCRÍVEL HULK (The Incredible Hulk, EUA, 2008) dir.: Louis Leterrier

O MISTÉRIO DA ILHA DE VÊNUS (The Voodoo Island, EUA, 1960) dir.: Douglas Fowley

O MORRO DOS VENTOS UIVANTES (Wuthering Heights, EUA, 1939) dir.: William Wyler

Page 114: Nagisa migita

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O NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO (The Birth of a Nation, EUA, 1915) dir.: D.W. Griffth

ORQUÍDEA SELVAGEM (Wild Orchid, EUA, 1990) dir.: Zalman King

OS MERCENÁRIOS (The Expendables, EUA, 2010) dir.: Sylvester Stallone

PRIMAVERA PARA HITLER (The Producers, EUA,1968) dir.: Mel Brooks

PRÓXIMA PARADA, WONDERLAND (Next Stop Wonderland, EUA, 1998) dir.: Brad

Anderson

RAMBO (First Blood, EUA,1980) dir.: Ted Kotcheff

RIO (Rio, EUA, 2011) dir.: Carlos Saldanha

SABOR DA PAIXÃO (Woman on Top, EUA, 2000) dir.: Fina Torres

SALVO DE UM NINHO DE ÁGUIA (Rescued from na Eagle’s Nest, EUA,1907) dir.: Edwin S.

Porter

SE VOCÊ VAI AO RIO (Si tu vas à Rio, Tu meurs, FR, 1987) dir.: Philippe Clair

SUPERMAN (Superman, EUA, 1978) dir.: Richard Donner

TEMPO DE VIOLÊNCIA (Pulp Fiction, EUA, 1994) dir.: Quentin Tarantino

TITANIC (Titanic, EUA, 1998) dir.: James Cameron

TURISTAS (Paradise Lost, EUA, 2006) dir.: John Stockwell

VELOZES E FURIOSOS 5: OPERAÇÃO RIO (Fast and Furious 5, EUA, 2011) dir.: Justin Lin

Page 115: Nagisa migita

113

VOANDO PARA O RIO (Flying down to Rio, EUA, 1933) dir.: Thornton Freeland

VOCÊ JÁ FOI A BAHIA? (The Three Caballeros, EUA, 1945) dir.: Norman Ferguson

X- MEN (X-men, EUA, 2000) dir.: Bryan Singer

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114

ANEXOS

Fichas Técnicas dos Filmes

LAMBADA A DANÇA PROIBIDA - “THE FORBIDDEN DANCE”

Ficha técnica: Estúdio: Columbia Pictures; Distribuição: Columbia Pictures; Diretor: Greydon

Clark; Roteiro: Menahem Golan (baseado na história de Joseph Goldman); Assistentes de

Direção: Paul Martin, Jeff Shiffman e Jessica Levin; Produtores: Marc S. Fischer e Richard L.

Albert; Coreografos: Miranda Garrison e Felix Chavez; Edição: Robert Edwards e Earl Watson;

Supervisão Musical: Jackie Krost e Joe Lamont; Score Musical: Vladmir Horuinzhy; Screenplay:

John Platt e Roy Langsdon; Coordenador de Produção: Tina L. Van Hooser; Supervisor de

Script: Dana Kinonen; Diretor de Elenco: Gennett Tondino e Ted Warren; Elenco Principal:

Laura Harring, Sid Haig, Jeff James e Barbara Brighton; Mixagem de Som: Jan Eric Brodin;

Diretor de Arte: Frank Bertolino; Coreografa do Kid Creole & The Coconuts: Adriana Kaegi;

Gênero: Drama / Romance; Duração: 97 Minutos; Ano: 1990.

ANACONDA

Ficha técnica: Estúdio: Columbia Pictures; Distribuição: Columbia Pictures; Diretor: Luis Llosa;

Roteiro: Randy Bostic; Produtor: Andy Fickman; Elenco Principal: Jennifer Lopez, John Voight,

Ice Cube, Eric Stoltz, Jonathan Hyde, Owen Wilson, Kari Wuhrer, Vincent Castellanos e Danny

Trejo; Gênero: Aventura; Idioma: Inglês; Edição: Jeff McEvoy; Música: Paul Haslinger;

Duração: 90 Minutos; Ano: 1997.

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115

SABOR DA PAIXÃO – “WOMAN TOP”

Ficha técnica: Estúdio: Twentieth Century Fox - Searchlight Pictures; Distribuição: Twentieth

Century Fox; Diretor: Fina Torres; Roteiro: Liz Barton e Bridgette Kelley; Produtor: Alan Poul;

Elenco Principal: Penélope Cruz, Murilo Benício, Harold Perrineau Jr. e Mark Feuerstein;

Gênero: Comédia Romântica; Idioma: Inglês; Música: Heitor Pereira, Monique Gandenberg e

Paulo Albuquerque; Edição de Música: Sharon Heather Smith; Duração: 92 Minutos; Ano: 2000.

TURISTAS – “PARADISE LOST”

Ficha técnica: Estúdio: Twentieth Century Fox; Distribuição: Fox Films e Paris Films; Diretor:

John Stockwell; Roteiro: Michael Arlen Ross; Produtores: John Stockwell, Todd Wagner e Mark

Cuban; Elenco Principal: Olivia Wilde, Melissa George, Josh Duhamel, Desmond Askew e Beau

Garrett; Gênero: Terror / Suspense; Idioma: Inglês; Edição: Jeff McEvoy; Música: Paul

Haslinger; Duração: 95 Minutos; Ano: 2006.

VELOZES E FURIOSOS 5: OPERAÇÃO RIO – “FAST AND FURIOUS 5 – RIO HEIST”.

Ficha técnica: Estúdio: Universal Pictures; Distribuição: Universal Pictures; Diretor: Justin Lin;

Roteiro: Chris Morgan; Produtores: Vin Diesel, Michael Fottrell e Neal. H. Moritz; Elenco

Principal: Paul Walker, Vin Diesel, Jordana Brewster, Tyrese Gibson e Dwayne Johnson;

Gênero: Ação; Idioma: Inglês; Compositor: Brian Tyler; Duração: 130 Minutos; Ano: 2011.