n°4

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  • A N T R O P O L T I C AN 4 1 semestre 1998

    Antropoltica Niteri n. 4 p. 1-92 1. sem. 1998

    ISSN 1414-7378

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  • Copyright 1998 by Programa de Ps-Graduao em Antropologia e Cincia Poltica da UFF

    Direitos desta edio reservados EdUFF - Editora da Universidade Federal Fluminense -Rua Miguel de Frias, 9 - anexo - sobreloja - Icara - CEP 24220-000 - Niteri, RJ - Brasil -Tel.: (021) 620-8080 - ramais 200, 353 e 356 - Fax: (021) 621-6426

    proibida a reproduo total ou parcial desta obra sem autorizao expressa da Editora.

    Edio de texto: Mario NewmanProjeto grfico e editorao eletrnica: Jos Luiz Stalleiken MartinsCapa: Marcio Andr de OliveiraDigitao: Khtia M. P. MacedoReviso: Rita GodoySuperviso Grfica: Kthia M. P. MacedoCoordenao editorial: Damio Nascimento

    Catalogao-na-fonte

    A636 Antropoltica : revista contempornea de Antropologia e Cincia Poltica. n. 1(1. sem. 95) - Niteri : EdUFF, 1997.383v. : il. ; 23 cm.Semestral.Publicao do Programa de Ps-Graduao em Antropologia e Cincia Poltica da

    Universidade Federal Fluminense.ISSN 1414-73781. Antropologia Social. 2. Cincia Poltica. I. Universidade Federal Fluminense.

    Programa de Ps-Graduao em Antropologia e Cincia Poltica.CDD 300

    UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    Reitor

    Luiz Pedro Antunes

    Vice-ReitorFabiano da Costa Carvalho

    Diretora da EdUFFEliana da Silva e Souza

    Comisso EditorialAdonia Antunes PradoAnamaria da Costa CruzGilda Helena Rocha BatistaHeraldo Silva da Costa MattosMaria Guadalupe C. Piragibe

    da FonsecaRoberto Kant de LimaRoberto dos Santos AlmeidaTerezinha Pereira dos SantosVera Lucia dos Reis

    Comit editorial da Antropoltica

    Delma Pessanha Neves (PPGACP / UFF)Eduardo R. Gomes (PPGACP / UFF)Marco Antnio da S. Mello (PPGACP / UFF)

    Secretria:Inez Almeida Vieira

    Conselho editorial da Antropoltica

    Alberto Carlos de Almeida (PPGACP / UFF)Argelina Figueiredo (Unicamp / Cebrap)Ari de Abreu Silva (PPGACP / UFF)Ary Minella (UFSC)Charles Pessanha (IFCS / UFRJ)Cludia Fonseca (UFRGS)Delma Pessanha Neves (PPGACP / UFF)Eduardo Diatahy B. de Meneses (UFCE)Eduardo R. Gomes (PPGACP / UFF)Eduardo Viola (UnB)Eliane Cantarino ODwyer (PPGACP / UFF)Gislio Cerqueira Filho (PPGACP / UFF)Glucia Oliveira da Silva (PPGACP / UFF)Isabel Assis Ribeiro de Oliveira (IFCS / UFRJ)Jos Augusto Drummond (PPGACP / UFF)

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    (PPGACP / UFF - University of Notre Dame)Roberto Kant de Lima (PPGACP / UFF)Roberto Mota (UFPE)Simoni Lahud Guedes (PPGACP / UFF)Tnia Stolze Lima (PPGACP / UFF)Zairo Cheibub (PPGACP / UFF)

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  • SUMRIO

    ARTIGOS

    COMUNICAO DE MASSA, CULTURA E PODER ........................................ 7Jos Carlos Rodrigues

    A SOCIOLOGIA DIANTE DA GLOBALIZAO: POSSIBILIDADESE PERSPECTIVAS DA SOCIOLOGIA DA EMPRESA ................................... 19

    Ana Maria Kirschner

    TEMPO E CONFLITO: UM ESBOO DAS RELAESENTRE AS CRONOSOFIAS DE MAQUIAVEL E ARISTTELES ................... 31

    Raul Francisco Magalhes

    O EMBATE DAS INTERPRETAES: O CONFLITO DE 1858E A LEI DE TERRAS ............................................................................... 49

    Mrcia Maria Menendes Motta

    OS TERAPEUTAS ALTERNATIVOS NOS ANOS 90:UMA NOVA PROFISSO? .................................................................... 63

    Ftima Regina Gomes Tavares

    RESENHA

    AUTO-SUBVERSO .................................................................................. 87Gislio Cerqueira Filho

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    ARTIGOS

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    COMUNICAO DE MASSA,CULTURA E PODER

    JOS CARLOS RODRIGUES*

    As diferentes tecnologias e estratgias de comunicao e suas im-plicaes tericas e polticas. Relaes entre globalizao eindividualizao dos meios de comunicao de massa. Avaliaodos conceitos de cultura e de cultura de massa em suas relaes coma cultura popular e com a sociedade industrial.

    Palavras-chave: comunicao de massa, cultura, poder.

    Talvez no seja mais possvel examinar aquesto da democracia dos meios de co-municao como problema interno s so-ciedades modernas. Tambm no maisaceitvel considerar esse assunto comouma exclusividade das sociedades indus-triais. To relevantes so as dimenses ti-cas envolvidas por sua disseminao, queos meios de comunicao no podem mais

    ser provincianamente considerados ape-nas como coisas de burgueses e trabalha-dores, como foi hbito entre socilogos,cientistas polticos e militantes. Da mesmaforma, esses meios no podem continuara ser reduzidos a assunto de um ou deoutro dos sistemas polticos que em nossotempo tristemente configuram o que seconvencionou chamar de modernidade.

    EXTENSO OU INTENSIDADE?Um olhar antropolgico sobre a trajetriados meios de comunicao na sociedadeindustrial depara-se imediatamente coma seguinte constatao: restam poucos pro-gressos extenso desses meios. Como emmuitos outros domnios dessa sociedade(agresso ao meio ambiente, individua-

    lizao, armamentos...), no possvel irmuito alm de onde j fomos, pois os limi-tes se revelam ameaadoramente prxi-mos. O panorama que descortinamos nosrevela que quase todos os pontos da su-perfcie fsica ou humana do planeta hojeatingvel por um ou por vrios meios de

    * Professor titular do Departamento de Antropologia da UFF.

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    comunicao. O espetculo que se abre aosnossos olhos o de uma rede cerrada deinformaes a envolver e controlar quasetudo e quase todos.

    Encontramo-nos hoje em posio de po-der afirmar que as possibilidades de no-vos progressos nos meios de comunicaofazem fronteira com o mtico. Sonha-seagora com a extenso interplanetria, coma intruso dos meios de comunicao almdas galxias. Isto depois de terem sidopraticamente superadas as barreiras ter-restres dos oceanos, das montanhas e dasculturas. Falou-se outrora em aldeia glo-bal, mas hoje o termo tornou-se demasi-adamente tmido para retratar com fideli-dade os novos devaneios expansionistas dasociedade ocidental. A monocultura queesta sociedade est espalhando sobre o pla-neta requer com ansiedade cada vez maisintensa a descoberta ou a inveno de no-vos outros, de nova alteridade para aqual olhar, de uma alteridade contrastivapor relao qual se definir e identificar.

    Esto a os filmes documentrios, os qua-drinhos, os romances de fico cientfica,a povoar nossos imaginrios com territ-rios e povos extra-terrestres, monstros ali-ados ou hostis. Tais personagens de certaforma so novssimos indgenas, novosoutros a nos fornecerem artificialmenteum rosto de ns mesmos. Tudo isso, para-doxalmente, depois que o assassinato cul-tural que o Ocidente promoveu sistemati-camente sobre o planeta nos deixou naiminncia de sermos ss e, em conseqn-cia, incapazes de nos identificarmos comons. Lembro aqui Lvi-Strauss em Raa eHistria, com sua sbia advertncia de que

    estar s a nica doena de que uma cul-tura pode verdadeiramente ser acometida.

    Diante dos sonhos de extenso dos meiosde comunicao, os progressos que se po-dem tangivelmente realizar so na verda-de inexpressivos. Por isso, deslocam-separa outras paragens as ambies realis-tas de progresso comunicacional. Em vezde extenso, visa-se agora a metas palp-veis. Tais metas se materializam em maiorcontrole e maior intensidade das redes deinformao. Enquanto a extenso cadavez mais matria de sonhos e pesadelos, aracionalidade pragmtica dedica-se aoscomputadores, s linguagens, ao refina-mento das malhas, dos modelos de previ-so e das tcnicas de esquadrinhamento.Em lugar, ou ao lado, do infinitamenteextenso, o infinitesimalmente pequeno, adisseco da informao, a microscopia dosagires e sentires.

    O privilgio dado ao movimento de ex-panso dos meios de comunicao condu-ziu os estudiosos provenientes das cinci-as sociais a resultados apenas parciais. Fo-ram justas e compreensveis, em determi-nado momento histrico da sociedade in-dustrial em geral e dos meios de comuni-cao em particular, as preocupaes comas conseqncias homogeneizadoras,massificadoras, alienantes, etc... dosprogressos extensionistas dos meios decomunicao. Todavia, a desconsideraoda outra vertente destes progressos levoua conceitos e teorizaes simplistas, poucosutis e por isso incapazes de perceber overdadeiro alcance dos mecanismos depoder que os meios de comunicao pemem ao em escala microscpica.

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    MASSA OU INDIVDUO?Talvez seja incisivo comear pelo conceitode cultura de massa, esta primeira resul-tante do fascnio dos tericos pela verten-te extensionista dos meios de comunica-o. O suposto fundamental desse concei-to que, estendendo-se, esses meios ani-quilariam as diferenas de culturas, denacionalidades, de grupos e classes soci-ais. Sendo, ao ver de grande parte dos te-ricos da cultura de massa, onipotentes,esses meios imporiam ideologias e cultu-ras hegemnicas, de interesse daquelesque, exercendo poder sobre os meios, fa-riam o mesmo sobre o conjunto da huma-nidade.

    O princpio em que se baseia este racioc-nio perfeitamente compreensvel e emgrande parte aceitvel. Afinal de contas,solidrios com o sistema industrial, os mei-os de comunicao so como mquinas deproduzir e distribuir mensagens. Estasmensagens, em princpio, tm as mesmascaractersticas de tudo o que jorra das usi-nas: elas so padronizadas e se destinam aum pblico indiferenciado. Este pblico,por sua vez, necessariamente como umconsumidor padronizado: tanto de mer-cadorias-mensagens expelidas pelas fbri-cas quanto de mensagens-produtos gera-das pelas indstrias de smbolos.

    Sendo o mximo de consumo um corolrioindispensvel do mximo de produo esabendo-se que este binmio a premissade todo desenvolvimento industrial, com-preende-se perfeitamente que a produoem massa de bens e de mensagens acarre-te necessariamente (em teoria, pelo me-

    nos) a massificao do consumidor-recep-tor. A idia de uma cultura de massa de-correria, desse modo, quase espontanea-mente; fluiria como atributo automtico deuma sociedade industrial e de consumo.Nos limites de tal perspectiva e levando-se ao extremo lgico esta tendncia atin-gir-se-ia por conseguinte um momento emque as diferenas e desigualdades sociais,culturais e mesmo individuais seriam comoque laminadas e aplainadas.

    Assim, para a grande alegria dos idelogosburgueses e para o espanto irnico das es-querdas, algo muito parecido com a de-mocracia com que as utopias sonharamdesde a Antiguidade estaria prestes a setornar historicamente vivel, pela simplesao dos meios industriais de comunica-o. Fictcia democracia: mas os apologistasdos meios de comunicao a vem e apre-goam como universal, uma vez que clas-ses sociais, etnias, nacionalidades e mes-mo manipuladores (proprietrios ou tra-balhadores) dos meios de comunicaodela seriam beneficirios, visto que igual-mente expostos homogeneizao. Poreste caminho, a era dos meios eletrnicosnos aproxima da utopia: nunca antes ter-amos chegado to prximo da abolio dasdiferenas, da concretizao do antiqs-simo sonho ocidental de megacivilizao.

    Acontece que esta considerao unilateraldo lado extensionista dos meios de comu-nicao deixa descobertos alguns proble-mas tericos relevantes. Embora ressaltan-do uma tendncia histrica cuja importn-cia no pode ser desprezada, esta aborda-

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    gem deixa de compreender sutilezas doprocesso:

    a) ao basear-se em uma concepo incom-pleta de cultura;

    b) ao esquecer que a sociedade de mas-sa tambm uma sociedade indivi-dualista; e

    c) ao incidir em uma definio excessiva-mente estreita e mecanicista de poder.

    SEMELHANA OU DIFERENA?Seria totalmente ocioso falar da importn-cia terica do conceito de cultura e doquanto de luz ele trouxe ao raciocnio nocampo das cincias sociais. No obstante,no podemos esquecer que este conceitofoi plasmado para colocar em evidnciasobretudo as dimenses de semelhanaobservveis em um determinado conjun-to social. Pode-se falar, assim, de culturaoriental, industrial, francesa, bororo, jo-vem atribuindo-se a cada uma delas umaespcie de homogeneidade interna. A ope-rao intelectual implcita nos raciocniospresididos pelo conceito de cultura aprovisria desconsiderao das diferenasinternas aos conjuntos humanos, com amencionada hiperenfatizao dos traosde semelhana.

    No difcil, entretanto, perceber que esteconceito no nada neutro e que ele con-tm armadilhas extremamente perigosas espreita da distrao do analista. Faa-mos neste ponto uma pequena digressoterica, para lembrar que uma sociedade um sistema de trocas e de comunicao.Estas trocas, para terem sentido, pressu-pem semelhanas, mas tambm diferen-as: distncias, que so a razo de ser dacomunicao (pois o mesmo no se comu-nica e no troca com o mesmo). Uma

    dialtica interessante e complicada estaqui contida, entre semelhana e diferen-a: por um lado, diferenas excessivas tor-nam a comunicao impossvel e, por con-seqncia, a prpria sociedade; mas, poroutro, o excesso de semelhanas deveracarretar o mesmo resultado.

    Ora, este segundo resultado terico queencontramos implicado no conceito decultura de massa. Ao ressaltar as dimen-ses de semelhana da sociedade indus-trial e ao projet-las exageradamente nadireo da homogeneizao, da demo-cracia e da aldeia global, o conceito fazda prpria sociedade, no limite, uma enti-dade teoricamente impossvel: a socieda-de passaria a ser uma multido (ou mas-sa) de mesmos. De mesmos que sequerpoderiam se comunicar, por serem idnti-cos, massificados nada tendo a trocar,portanto. Nesta altura do raciocnio, seriainteressante observar enfaticamente que,de um ponto de vista prospectivo, no setem excludo a possibilidade de que, comoum dos terrores de nosso tempo, este re-sultado terico venha a se verificarapocalipticamente tambm na prtica,desenhando no horizonte um dos espec-tros da finitude de nosso modelocivilizacional.

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    Deve-se considerar, por outro lado, que achamada sociedade de massa tambmuma sociedade individualista. Sabemosque historicamente o individualismo umdos aspectos de um processo amplo deautonomia, separao e fragmentao deesferas da vida social. Progressivamente,na formao do mundo ocidental moder-no, separam-se cidade e campo, Estado esociedade, trabalho e lazer, natural e so-brenatural, vivos e mortos, indivduo ecomunidade Mais ainda, este processo,sempre em curso, estipula para cada esfe-ra lgicas especficas e fragmentaes sem-pre mais e mais apuradas. O indivduo,uma dessas esferas, tambm se autonomizae tambm se fragmenta incessantemente.

    O ponto interessante para os nossos pro-psitos que se, raciocinando por tipo ex-tremo, supusermos que esta tendnciapossa ser deixada evoluir livremente atsuas ltimas conseqncias, seramos obri-gados a admitir um ponto em que, porexcesso de diferenciao, a integrao dasociedade no seria mais possvel, pulve-rizando-se esta e se volatilizando nos ele-mentos que a deveriam compor. Obvia-mente, embora na prtica esta tendnciaterica possa servir de alerta para outrodos terrores, dos fantasmas que rondamos horizontes da sociedade industrial, possvel admitir que o prprio sistema tra-te de gerenciar estas contradies, ao me-nos agenciando para que estas tendncias pulverizao se conservem dentro de cer-tos limites como, alis, tem acontecidorecentemente em outros domnios crticosda expanso da sociedade industrial (eco-logia, ou utilizao de armamentos nucle-ares, por exemplo).

    Surge aqui aquela que sem dvida umadas funes dos meios de comunicaoditos de massa: a de ser uma espcie deantdoto (ilusrio) contra esta tendncia desagregao. Uma espcie de calota, acobrir os movimentos autnomos das par-tculas cada vez mais fragmentares quecompem o fluxo da vida social. A culturade massa uma espcie de territrio co-mum, algo como um idioma partilhadoentre os diversificados indivduos, grupos,classes sociais, nacionalidades, realidadesregionais Contra a desagregao indus-trialmente induzida, a cultura de massafornece a iluso de uma solidariedade pro-duzida em bases tambm industriais.

    Resulta desse antagonismo, entre a mortepor cristalizao e a morte por esfuma-amento, uma sntese simultaneamentetotalizadora e individualizadora. As novastendncias dos meios de comunicao ailustram: multiplicao das emissoras derdio, de televiso e dos veculos impres-sos; popularizao de aparelhos de vdeoe cmera; diversificao das programa-es; segmentao e mesmo individua-lizao dos pblicos; privatizao das op-es de escolha dos receptores, etc. Enfim,todo um movimento de diversificao emesmo de individualizao de emisso ede recepo de mensagens, movimentoque deixa supor que em algum lugar de-ver necessariamente acontecer uma es-pcie de rigidificao dos cdigos.

    Aqui, a exemplo do que acontece no do-mnio poltico (em que o individualismo ea dedicao aos interesses privados acar-retam a necessria hipertrofia dessainstncia artificial que o Estado), a

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    privatizao dos meios e das mensagensfavorece o superdesenvolvimento de ummodelo social baseado na interposio demeios artificiais de comunicao, que fun-cionam como uma espcie de cimento aconectar relaes sociais que tendem a seesfacelar.

    Paradoxalmente e contra tudo o que emgeral afirma o senso comum esses meiosde comunicao exprimem, mais ou me-nos como um sintoma, uma extrema difi-culdade de natureza comunicacional. Econtra esta carncia de comunicao dasociedade contempornea, os meios deinformao fornecem apenas o consolo deuma comunicao artificial. Mais ainda, taismeios, pelo simples fato de serem mqui-nas, favorecem radicalmente a civilizaoindustrial: eles a representam e lhe trans-mitem as mensagens por mera presenafsica. So ativos mesmo quando esto des-ligados, mesmo quando se encontram forade funcionamento.

    De modo mais especfico, os socilogossempre se viram desnecessariamente de-sorientados por um duplo aspecto, apa-rentemente contraditrio e inconcilivel,das mensagens dos meios de comunicaode massa: so sociedades individualistas,ou de massa? De um ponto de vista antro-

    polgico, possvel fornecer alternativa aodilema.

    a) Em uma sociedade que tem o individu-alismo como uma de suas dimenses desemelhana, isto , que o tem como umpadro cultural, favorecer a individua-lizao o mesmo que favorecer a massi-ficao (homogeneizao). Dito de outraforma: ser indivduo em uma sociedadeindividualista o caminho mais curto paraser homogneo, quer dizer, idntico atodos.

    b) Toda mensagem dos meios de massaapresenta simultaneamente ao menos doisregistros integrados de interpretao: umprimeiro, de semelhana, expressando ospropsitos abrangentes do sistema indus-trial; um segundo, localizando as diferen-as como componentes especficos, nonecessariamente contestadores do primei-ro. Em outras palavras: por esta dupla ca-racterstica pode-se explicar que, apesarde expostos aos meios de comunicao demassa, camponeses continuam campone-ses, banqueiros no deixam de ser ban-queiros, burgueses permanecem burgue-ses... e assim por diante. Todos em seusdevidos lugares, compondo, contraditriaou acumpliciadamente, a totalidade do sis-tema social.

    POPULAR OU INDUSTRIAL?Deixemos, pois, de lado a considerao dacultura de massa em termos que lhe soalheios. No h contradio alguma em seruma sociedade ao mesmo tempo individu-alista e de massa. Complementarmente, osdois aspectos fazem o verso e o reverso da

    mesma medalha. Na mesma linha, deixamde ter sentido noes tradicionais a quefreqentemente se recorreu para se con-trapor cultura de massa, entre elas, es-pecialmente, a de cultura popular. Estaltima tambm costuma ser incorporada

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    como alimento a sustentar a vida da novacultura, muito pouco, de fato, a ela seopondo. Assim, individualizao, socializa-o ou popularizao, absolutamente, norepresentam alternativas para enfrentar odesafio antropolgico que os modernosmeios de comunicao comportam.

    A chamada cultura popular, na verdade, um resduo histrico que permaneceapenas ainda, isto , enquanto o sistemaindustrial no se instala totalmente; ou quecumpre, aqui e ali, a misso de fornecer cultura industrial um outro, nostgicoou inimigo o que faz dela uma parte in-tegrante dessa ltima. Com todas as suascaractersticas de artificialidade e deimpositividade, a cultura de massa a cul-tura especfica da sociedade industrial.Neste ponto encontramos o equvoco demuitos movimentos de contestao cul-tura de massa: ao contrrio do que estespretendem, no h como compatibilizar aaceitao do modo de vida industrial e arejeio de sua cultura.

    Cuidemo-nos, portanto, contra a precipi-tao de ver uma esperana mais do querelativa em medidas meramente distri-butivas ou facilitadoras de acesso aos mei-os industriais de comunicao (rdios li-vres, democratizao propiciada pelanova parafernlia tecnolgica, possibilida-de de veiculao de contedos popula-res, etc.). Elas no revolucionam absolu-tamente nada das bases do sistema indus-trial. Pelo contrrio, as confirmam, asmultiplicam e as reforam. Estas demo-cratizaes representam apenas a novssi-ma extenso do sistema, estabelecendo-oagora no mais por introjeo, isto , a

    partir de fora, mas por submergi-lo nas al-mas. Depois disso, passaro a fazer de cadaum, a partir de dentro, do mago de si, aomesmo tempo um consumidor e um pro-dutor dessa forma de comunicao, bemcomo do modo de vida que lhe est asso-ciado.

    No mais possvel considerar a significa-o poltica dos modernos meios de comu-nicao separadamente de uma compre-enso da sociedade que os gerou. Estesmeios no so apenas expresso dessa so-ciedade, um resultado da sociedade indus-trial; eles so a prpria condio de exis-tncia dela. Eliminem-se os meios de co-municao e a sociedade industrial desa-bar, combalida pela corroso de seus pi-lares. Acontece, entretanto, que boa parteda discusso sobre os meios de comunica-o se esquece desta relao visceral, limi-tando-se considerao de aspectos peri-fricos e fugindo radicalidade da mesma.

    Constata-se, relativamente questo pol-tica dos meios de comunicao, algo an-logo ao que acontece com a proble-matizao do dilema ecolgico em que seencontra a sociedade industrial: boa par-te dos posicionamentos crticos se limita proposio de solues gerenciais (umfiltro aqui, uma lei ali, a maior vigilnciaacol), esquecendo-se de que nestes ter-mos o problema ecolgico ser radical-mente insolvel, pois jamais ser possvelconciliar a velocidade industrial de explo-rao e de destruio dos recursos natu-rais com a cadncia natural de regenera-o. Capitalistas ou socialistas, so mino-ria os contestadores ecolgicos que pemna berlinda o prprio sistema industrial.

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    Pelo contrrio: as tais solues gerenciais(relatrios, planos, racionalizaes, etc.)no fazem mais que retificar e ratificar oesprito e o estilo do sistema de destruio.

    Do mesmo modo, privatizar, estatizar ousocializar os meios industriais de produ-o e consumo de mensagens, rechear osveculos com contedos e linguagens po-pulares ou elitistas, coibir ou incentivar

    veculos livres, alternativos ou piratas,nada disso muda as coisas. Soluesgerenciais para o problema das comuni-caes, na verdade tudo isso apenas au-menta a intensidade do mesmo, alm deincorporar mais e mais atores sobre o pal-co da sociedade industrial e de lhe propi-ciar desempenhar melhor e melhor, comcompetncia maior e maior, o seu absur-do destino geno, etno e ecocida.

    CONTESTAO OU CONFORMISMO?Com freqncia temos sido vtimas de umardil poltico implacvel, representado poruma equivocada concepo de poder.Como procurei desenvolver em trabalhoespecialmente dedicado a este tema(RODRIGUES, 1992), tal concepo nosfez acreditar que o poder fosse uma subs-tncia localizada em determinada fraoou instncia especfica da sociedade. Le-vou-nos a supor que o poder fosse algocomo uma substncia que alguns detm,que se pode ganhar ou perder e que semanifesta unidirecionalmente pela impo-sio mecnica da vontade de uns (por issomesmo imunes ao do poder) sobre oresto da sociedade.

    Semelhante concepo terica de podertem suas imediatas conseqncias prticas.Acarreta, do ponto de vista dos exclu-dos do poder, contestaes especficasque, longe de pretenderem emborcar otabuleiro no qual se desenvolve o jogo dopoder, levam os marginalizados a dese-jar participar do mesmo, tom-lo ouassumi-lo. Acabam estes, assim, ironica-mente, incluindo-se no palco do poder.

    Mas em geral como personagens a quemest destinado o desempenho do papelsocial de dominados.

    Excessivamente estreita, esta concepono permite comprender que o poder nose d no vcuo, que ele tem uma composi-o cultural extraordinariamente comple-xa, que totalmente irredutvel a deter-minismos mecanicistas ou a antagonismossimplistas, como se o poder fosse questode meras foras fsicas que se contrapu-sessem. Tal composio cultural exige queos dominados dominem os cdigos depensamento, sentimento e comportamen-to que lhes permitam (ou obriguem, tantofaz) a desempenhar o papel social de do-minados.

    Esta concepo faz pouco caso do carterrecproco do poder, apresentando-o comouma via de mo-nica, sem considerar queo dominado tambm age sobre o dominan-te, forando-o a procurar uns caminhosde preferncia a outros, a exercer deter-minado estilo de dominao, a adotar cer-ta estratgia de comportamento ou ttica

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    na manipulao de smbolos. Introduzin-do na relao de poder um mecanicismoinexistente, superestimando romntica,quase ingenuamente, o alcance dos atosde insubordinao, e presumindo muitoequivocadamente a passividade dos domi-nados, tal concepo de poder esquece o que fatal para qualquer anlise de re-laes de poder que se pode ser ativopelo prprio ato por que se obedece e quese pode ser conformista inclusive atravsdo ato de se rebelar.

    Ainda mais, esta maneira de conceber opoder supe que interesses e vontades dedominantes e dominados sejam necessa-riamente contraditrios e incompatveis.Acontece entretanto que este um a prioriingnuo, algo que raramente pode serconfirmado. No nem um pouco difcilcompreender isto, simplesmente porqueaquilo que parece outro, quando obser-vado de um ponto de vista interior soci-edade, facilmente pode-se transformar emmesmo, se o observador for um antro-plogo ou, particularmente, se for mem-bro de outra cultura. Em outras palavras,se o analista se situar em ponto de obser-vao exterior sociedade observada, ou-tro pode perfeitamente significar mes-mo.

    Nessa linha de raciocnio (mas correndosempre o risco de cairmos na mencionadaarmadilha que nos prepara o conceito decultura), no impossvel supor que, aopleitearem o desenvolvimento do indivi-dualismo, maiores salrios, diminuio dasjornadas de trabalho, ampliao das fri-as remuneradas, participao na vida po-ltica... os proletrios estariam atingindo

    objetivos que so tambm metas do siste-ma industrial e de consumo. De modoanlogo, nada teria de absurdo conjecturarque, ao saquearem a natureza, ao exigi-rem ampliao do consumo, ao procede-rem destruio das outras culturas, aose deleitarem com as mensagens dos mei-os de comunicao de massa os prolet-rios estariam realizando conquistas queso tambm conquistas de seus explora-dores. Afinal de contas, estas so as vit-rias que constroem no tempo a socieda-de industrial e de consumo, de que bur-gueses e trabalhadores so, embora demodo ilusrio, os beneficirios. No sepoder dizer, ento, diante de pondera-es como estas, que burgueses e prolet-rios so como scios na concretizao des-se projeto mortfero, a sociedade indus-trial e de consumo, de que as demais cul-turas e o prprio planeta pagam o preo?

    Em vez de ver pessoas, instituies, gru-pos, classes, etc. como espcies de canaispor onde o poder circula na sociedadepara a irrigar e manter, esta concepo depoder prefere v-lo como uma coisa quealgum possui, que pode ser dada, toma-da, conquistada. Inspirada nos chamadosjogos de soma-zero, esta concepo depoder opta por apresent-lo como algoque s se possa possuir s custas de ou-trem, logicamente desprovido dele. Pon-to importantssimo, esta abordagem con-cebe o poder como algo que os homensdominam, no como algo que domina oshomens. Fora-nos sutilmente, por vias deconseqncia, a abandonar a grande ques-to tica e poltica de nosso tempo, a fugirdo maior dos dilemas existentes nas nos-sas megassociedades industriais-militares

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    apoiadas nos meios de comunicao e dedestruio em massa: dominar o domnio,muito mais urgentemente do que desalo-jar os dominantes.

    De um ponto de vista antropolgico, porconseguinte, a questo da democracia dosmeios de comunicao de massa transcen-de em muito os parmetros habituais dediscusso do problema. No possvel dis-cutir este tema sem incluir no problema aprpria sociedade industrial e o que estarepresenta para as outras culturas e parao planeta. No possvel debater estagravssima questo colocando-a apenas emtermos de um gerenciamento de foro nti-mo, em que os protagonistas seriam pro-vincianamente burgueses e trabalhadores,Estado e sociedade. Esta tem sido umaabordagem extremamente pfia. Chegouo momento de reconhecer que no maispossvel nos contentar, de modo confor-mista, com os limites estreitssimos de umaconcepo de poder que o prprio poderforjou para se fazer pensar.

    Essencialmente, preciso recusar com ve-emncia a idia de que, para neutralizar aameaa de desigualdade e de destruioque comportam, bastaria assumir o podersobre os meios de comunicao, introdu-zir-lhes novos contedos e censurar-lhesos antigos. Isto corresponderia a muitoingenuamente absolver e consagrar o sis-tema industrial, supondo que a tecnologiafosse, por si s, tica e politicamente neu-tra. Isto equivaleria a esquecer que o po-der se produz e se reproduz atravs datecnologia, mas tambm e talvez princi-palmente como tecnologia. Isto seria re-legar que o poder se regenera continua-

    mente como poder, mesmo que esta rege-nerao se d como contrapoder ou atra-vs de contrapoder.

    A lio que a histria do Ocidente tem for-necido ao antroplogo que a vitria dosdominados pouco provvel, emboraconjecturalmente possvel absolutamen-te no significa que o tabuleiro em que sejoga a peleja do poder venha a ser revira-do. Pelo contrrio, as tomadas de podersomente abrem oportunidades pararevanches seguidas de revanches e, con-seqentemente, para a continuidade dosistema de poder.

    Esta tem sido nossa experincia histrica,inclusive muito recente, na qual se temsubstitudo tirania por tirania e na qualopressores sempre mais sutis (que chegamao cmulo de tambm apregoarem a ne-cessidade de mudanas no sistema de po-der) acabam por dar aos dominados a im-presso, evidentemente falsa, de que pro-gressivamente a liberdade esteja sendoconquistada e de que seja agradvel edesejvel aquilo que em verdade estrita-mente obrigatrio.

    Talvez seja necessrio estabelecer uma rup-tura profunda com este modo de pensar,analisando de maneira sacrlega certasnoes ungidas que tm direcionado nos-sas bem-intencionadas reflexes e aespolticas, mas cujos pressupostos no sesustentam antropologicamente:

    1. A idia da onipotncia dos meios de co-municao de massa, que, por sua vez, sefundamenta em uma concepo unilate-ral de poder. preciso ter sempre em

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    mente que o poder necessariamente seexerce sobre seres livres, sobre seres quevirtualmente podero vir a ser outros. Estaliberdade intrnseca e virtual do domina-do a prpria razo de ser do poder. Adominao consiste sempre em uma esp-cie de negociao, ou acordo, entre pode-rosos e dominados. Esquecer que a liber-dade (mesmo a de se submeter) um com-ponente estrutural e inabstravel da rela-o de poder leva inevitavelmente a equ-vocos tericos e prticos.

    2. A idia de que os dominados sejam in-conscientes de sua condio, precisandoser esclarecidos e conscientizados. pre-ciso se perguntar sempre de onde vm osconscientizadores e quem conscientizouestes conscientizadores. Muito do que sechamou resistncia das pessoas incons-cientes e alienadas pode correspondera uma saudvel desconfiana, prpria dasabedoria de quem j se fez e j respon-deu a esta indagao. Nenhuma democra-cia autntica pode partir da desqua-lificao do outro enquanto ser humano,supondo que no seja profundamenteconsciente de seus reais interesses e que

    deva alienar essa conscincia a algum pri-vilegiado crebro iluminista.

    3. A idia de participao, segundo aqual tacitamente se aceita o fundamentaldo modo de vida do qual se quer que par-ticipem os excludos. Se houve um tem-po (improvvel) em que o poder se nutriuda excluso, tudo indica no ser mais esteo da sociedade moderna. Nesta, a partici-pao, ao contrrio, exigida e obrigat-ria: que se participe da vida poltica, doconsumo, da produo, da recepo dosmeios de comunicao de massa, das asso-ciaes profissionais, das aulas, das mo-das tudo isso menos optativo do queusualmente pensamos. A negativa de par-ticipar pode no ser puramente negativa.Situando-se estas manifestaes de no-participao, como observou JeanBaudrillard, em seu A sombra das maio-rias silenciosas, no aqum, mas alm dapoltica, por que razo desconsiderar detodo a hiptese de que elas representemalgo de recusa afirmativa, de rejeio po-sitiva, contra um sistema de poder quesolicita a nossa participao apenas para,atravs desta, se constituir e se legitimar?

    ABSTRACT

    Theoretical and political implications of the different technologiesand strategies of communication. Relationship between globalizationand the individualization of the mass media. Evaluation of theconcepts of culture and mass culture in its relations to popularculture and industrial society.

    Keywords: mass communication, culture, power.

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICASBAUDRILLARD, Jean. sombra das maiorias silenciosas. So Paulo : Brasiliense, 1985.

    LVI-STRAUSS, Claude. Raa e histria. Lisboa : Editorial Presena, [s.d.].

    RODRIGUES, Jos Carlos. Ensaios em antropologia do poder. Rio de Janeiro : Terra Nova,1992. p. 11-55 : Reflexes sobre a liberdade, a morte e o poder.

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    ARTIGOS

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    COMUNICAO DE MASSA,CULTURA E PODER

    JOS CARLOS RODRIGUES*

    As diferentes tecnologias e estratgias de comunicao e suas im-plicaes tericas e polticas. Relaes entre globalizao eindividualizao dos meios de comunicao de massa. Avaliaodos conceitos de cultura e de cultura de massa em suas relaes coma cultura popular e com a sociedade industrial.

    Palavras-chave: comunicao de massa, cultura, poder.

    Talvez no seja mais possvel examinar aquesto da democracia dos meios de co-municao como problema interno s so-ciedades modernas. Tambm no maisaceitvel considerar esse assunto comouma exclusividade das sociedades indus-triais. To relevantes so as dimenses ti-cas envolvidas por sua disseminao, queos meios de comunicao no podem mais

    ser provincianamente considerados ape-nas como coisas de burgueses e trabalha-dores, como foi hbito entre socilogos,cientistas polticos e militantes. Da mesmaforma, esses meios no podem continuara ser reduzidos a assunto de um ou deoutro dos sistemas polticos que em nossotempo tristemente configuram o que seconvencionou chamar de modernidade.

    EXTENSO OU INTENSIDADE?Um olhar antropolgico sobre a trajetriados meios de comunicao na sociedadeindustrial depara-se imediatamente coma seguinte constatao: restam poucos pro-gressos extenso desses meios. Como emmuitos outros domnios dessa sociedade(agresso ao meio ambiente, individua-

    lizao, armamentos...), no possvel irmuito alm de onde j fomos, pois os limi-tes se revelam ameaadoramente prxi-mos. O panorama que descortinamos nosrevela que quase todos os pontos da su-perfcie fsica ou humana do planeta hojeatingvel por um ou por vrios meios de

    * Professor titular do Departamento de Antropologia da UFF.

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    comunicao. O espetculo que se abre aosnossos olhos o de uma rede cerrada deinformaes a envolver e controlar quasetudo e quase todos.

    Encontramo-nos hoje em posio de po-der afirmar que as possibilidades de no-vos progressos nos meios de comunicaofazem fronteira com o mtico. Sonha-seagora com a extenso interplanetria, coma intruso dos meios de comunicao almdas galxias. Isto depois de terem sidopraticamente superadas as barreiras ter-restres dos oceanos, das montanhas e dasculturas. Falou-se outrora em aldeia glo-bal, mas hoje o termo tornou-se demasi-adamente tmido para retratar com fideli-dade os novos devaneios expansionistas dasociedade ocidental. A monocultura queesta sociedade est espalhando sobre o pla-neta requer com ansiedade cada vez maisintensa a descoberta ou a inveno de no-vos outros, de nova alteridade para aqual olhar, de uma alteridade contrastivapor relao qual se definir e identificar.

    Esto a os filmes documentrios, os qua-drinhos, os romances de fico cientfica,a povoar nossos imaginrios com territ-rios e povos extra-terrestres, monstros ali-ados ou hostis. Tais personagens de certaforma so novssimos indgenas, novosoutros a nos fornecerem artificialmenteum rosto de ns mesmos. Tudo isso, para-doxalmente, depois que o assassinato cul-tural que o Ocidente promoveu sistemati-camente sobre o planeta nos deixou naiminncia de sermos ss e, em conseqn-cia, incapazes de nos identificarmos comons. Lembro aqui Lvi-Strauss em Raa eHistria, com sua sbia advertncia de que

    estar s a nica doena de que uma cul-tura pode verdadeiramente ser acometida.

    Diante dos sonhos de extenso dos meiosde comunicao, os progressos que se po-dem tangivelmente realizar so na verda-de inexpressivos. Por isso, deslocam-separa outras paragens as ambies realis-tas de progresso comunicacional. Em vezde extenso, visa-se agora a metas palp-veis. Tais metas se materializam em maiorcontrole e maior intensidade das redes deinformao. Enquanto a extenso cadavez mais matria de sonhos e pesadelos, aracionalidade pragmtica dedica-se aoscomputadores, s linguagens, ao refina-mento das malhas, dos modelos de previ-so e das tcnicas de esquadrinhamento.Em lugar, ou ao lado, do infinitamenteextenso, o infinitesimalmente pequeno, adisseco da informao, a microscopia dosagires e sentires.

    O privilgio dado ao movimento de ex-panso dos meios de comunicao condu-ziu os estudiosos provenientes das cinci-as sociais a resultados apenas parciais. Fo-ram justas e compreensveis, em determi-nado momento histrico da sociedade in-dustrial em geral e dos meios de comuni-cao em particular, as preocupaes comas conseqncias homogeneizadoras,massificadoras, alienantes, etc... dosprogressos extensionistas dos meios decomunicao. Todavia, a desconsideraoda outra vertente destes progressos levoua conceitos e teorizaes simplistas, poucosutis e por isso incapazes de perceber overdadeiro alcance dos mecanismos depoder que os meios de comunicao pemem ao em escala microscpica.

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    MASSA OU INDIVDUO?Talvez seja incisivo comear pelo conceitode cultura de massa, esta primeira resul-tante do fascnio dos tericos pela verten-te extensionista dos meios de comunica-o. O suposto fundamental desse concei-to que, estendendo-se, esses meios ani-quilariam as diferenas de culturas, denacionalidades, de grupos e classes soci-ais. Sendo, ao ver de grande parte dos te-ricos da cultura de massa, onipotentes,esses meios imporiam ideologias e cultu-ras hegemnicas, de interesse daquelesque, exercendo poder sobre os meios, fa-riam o mesmo sobre o conjunto da huma-nidade.

    O princpio em que se baseia este racioc-nio perfeitamente compreensvel e emgrande parte aceitvel. Afinal de contas,solidrios com o sistema industrial, os mei-os de comunicao so como mquinas deproduzir e distribuir mensagens. Estasmensagens, em princpio, tm as mesmascaractersticas de tudo o que jorra das usi-nas: elas so padronizadas e se destinam aum pblico indiferenciado. Este pblico,por sua vez, necessariamente como umconsumidor padronizado: tanto de mer-cadorias-mensagens expelidas pelas fbri-cas quanto de mensagens-produtos gera-das pelas indstrias de smbolos.

    Sendo o mximo de consumo um corolrioindispensvel do mximo de produo esabendo-se que este binmio a premissade todo desenvolvimento industrial, com-preende-se perfeitamente que a produoem massa de bens e de mensagens acarre-te necessariamente (em teoria, pelo me-

    nos) a massificao do consumidor-recep-tor. A idia de uma cultura de massa de-correria, desse modo, quase espontanea-mente; fluiria como atributo automtico deuma sociedade industrial e de consumo.Nos limites de tal perspectiva e levando-se ao extremo lgico esta tendncia atin-gir-se-ia por conseguinte um momento emque as diferenas e desigualdades sociais,culturais e mesmo individuais seriam comoque laminadas e aplainadas.

    Assim, para a grande alegria dos idelogosburgueses e para o espanto irnico das es-querdas, algo muito parecido com a de-mocracia com que as utopias sonharamdesde a Antiguidade estaria prestes a setornar historicamente vivel, pela simplesao dos meios industriais de comunica-o. Fictcia democracia: mas os apologistasdos meios de comunicao a vem e apre-goam como universal, uma vez que clas-ses sociais, etnias, nacionalidades e mes-mo manipuladores (proprietrios ou tra-balhadores) dos meios de comunicaodela seriam beneficirios, visto que igual-mente expostos homogeneizao. Poreste caminho, a era dos meios eletrnicosnos aproxima da utopia: nunca antes ter-amos chegado to prximo da abolio dasdiferenas, da concretizao do antiqs-simo sonho ocidental de megacivilizao.

    Acontece que esta considerao unilateraldo lado extensionista dos meios de comu-nicao deixa descobertos alguns proble-mas tericos relevantes. Embora ressaltan-do uma tendncia histrica cuja importn-cia no pode ser desprezada, esta aborda-

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    gem deixa de compreender sutilezas doprocesso:

    a) ao basear-se em uma concepo incom-pleta de cultura;

    b) ao esquecer que a sociedade de mas-sa tambm uma sociedade indivi-dualista; e

    c) ao incidir em uma definio excessiva-mente estreita e mecanicista de poder.

    SEMELHANA OU DIFERENA?Seria totalmente ocioso falar da importn-cia terica do conceito de cultura e doquanto de luz ele trouxe ao raciocnio nocampo das cincias sociais. No obstante,no podemos esquecer que este conceitofoi plasmado para colocar em evidnciasobretudo as dimenses de semelhanaobservveis em um determinado conjun-to social. Pode-se falar, assim, de culturaoriental, industrial, francesa, bororo, jo-vem atribuindo-se a cada uma delas umaespcie de homogeneidade interna. A ope-rao intelectual implcita nos raciocniospresididos pelo conceito de cultura aprovisria desconsiderao das diferenasinternas aos conjuntos humanos, com amencionada hiperenfatizao dos traosde semelhana.

    No difcil, entretanto, perceber que esteconceito no nada neutro e que ele con-tm armadilhas extremamente perigosas espreita da distrao do analista. Faa-mos neste ponto uma pequena digressoterica, para lembrar que uma sociedade um sistema de trocas e de comunicao.Estas trocas, para terem sentido, pressu-pem semelhanas, mas tambm diferen-as: distncias, que so a razo de ser dacomunicao (pois o mesmo no se comu-nica e no troca com o mesmo). Uma

    dialtica interessante e complicada estaqui contida, entre semelhana e diferen-a: por um lado, diferenas excessivas tor-nam a comunicao impossvel e, por con-seqncia, a prpria sociedade; mas, poroutro, o excesso de semelhanas deveracarretar o mesmo resultado.

    Ora, este segundo resultado terico queencontramos implicado no conceito decultura de massa. Ao ressaltar as dimen-ses de semelhana da sociedade indus-trial e ao projet-las exageradamente nadireo da homogeneizao, da demo-cracia e da aldeia global, o conceito fazda prpria sociedade, no limite, uma enti-dade teoricamente impossvel: a socieda-de passaria a ser uma multido (ou mas-sa) de mesmos. De mesmos que sequerpoderiam se comunicar, por serem idnti-cos, massificados nada tendo a trocar,portanto. Nesta altura do raciocnio, seriainteressante observar enfaticamente que,de um ponto de vista prospectivo, no setem excludo a possibilidade de que, comoum dos terrores de nosso tempo, este re-sultado terico venha a se verificarapocalipticamente tambm na prtica,desenhando no horizonte um dos espec-tros da finitude de nosso modelocivilizacional.

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    Deve-se considerar, por outro lado, que achamada sociedade de massa tambmuma sociedade individualista. Sabemosque historicamente o individualismo umdos aspectos de um processo amplo deautonomia, separao e fragmentao deesferas da vida social. Progressivamente,na formao do mundo ocidental moder-no, separam-se cidade e campo, Estado esociedade, trabalho e lazer, natural e so-brenatural, vivos e mortos, indivduo ecomunidade Mais ainda, este processo,sempre em curso, estipula para cada esfe-ra lgicas especficas e fragmentaes sem-pre mais e mais apuradas. O indivduo,uma dessas esferas, tambm se autonomizae tambm se fragmenta incessantemente.

    O ponto interessante para os nossos pro-psitos que se, raciocinando por tipo ex-tremo, supusermos que esta tendnciapossa ser deixada evoluir livremente atsuas ltimas conseqncias, seramos obri-gados a admitir um ponto em que, porexcesso de diferenciao, a integrao dasociedade no seria mais possvel, pulve-rizando-se esta e se volatilizando nos ele-mentos que a deveriam compor. Obvia-mente, embora na prtica esta tendnciaterica possa servir de alerta para outrodos terrores, dos fantasmas que rondamos horizontes da sociedade industrial, possvel admitir que o prprio sistema tra-te de gerenciar estas contradies, ao me-nos agenciando para que estas tendncias pulverizao se conservem dentro de cer-tos limites como, alis, tem acontecidorecentemente em outros domnios crticosda expanso da sociedade industrial (eco-logia, ou utilizao de armamentos nucle-ares, por exemplo).

    Surge aqui aquela que sem dvida umadas funes dos meios de comunicaoditos de massa: a de ser uma espcie deantdoto (ilusrio) contra esta tendncia desagregao. Uma espcie de calota, acobrir os movimentos autnomos das par-tculas cada vez mais fragmentares quecompem o fluxo da vida social. A culturade massa uma espcie de territrio co-mum, algo como um idioma partilhadoentre os diversificados indivduos, grupos,classes sociais, nacionalidades, realidadesregionais Contra a desagregao indus-trialmente induzida, a cultura de massafornece a iluso de uma solidariedade pro-duzida em bases tambm industriais.

    Resulta desse antagonismo, entre a mortepor cristalizao e a morte por esfuma-amento, uma sntese simultaneamentetotalizadora e individualizadora. As novastendncias dos meios de comunicao ailustram: multiplicao das emissoras derdio, de televiso e dos veculos impres-sos; popularizao de aparelhos de vdeoe cmera; diversificao das programa-es; segmentao e mesmo individua-lizao dos pblicos; privatizao das op-es de escolha dos receptores, etc. Enfim,todo um movimento de diversificao emesmo de individualizao de emisso ede recepo de mensagens, movimentoque deixa supor que em algum lugar de-ver necessariamente acontecer uma es-pcie de rigidificao dos cdigos.

    Aqui, a exemplo do que acontece no do-mnio poltico (em que o individualismo ea dedicao aos interesses privados acar-retam a necessria hipertrofia dessainstncia artificial que o Estado), a

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    privatizao dos meios e das mensagensfavorece o superdesenvolvimento de ummodelo social baseado na interposio demeios artificiais de comunicao, que fun-cionam como uma espcie de cimento aconectar relaes sociais que tendem a seesfacelar.

    Paradoxalmente e contra tudo o que emgeral afirma o senso comum esses meiosde comunicao exprimem, mais ou me-nos como um sintoma, uma extrema difi-culdade de natureza comunicacional. Econtra esta carncia de comunicao dasociedade contempornea, os meios deinformao fornecem apenas o consolo deuma comunicao artificial. Mais ainda, taismeios, pelo simples fato de serem mqui-nas, favorecem radicalmente a civilizaoindustrial: eles a representam e lhe trans-mitem as mensagens por mera presenafsica. So ativos mesmo quando esto des-ligados, mesmo quando se encontram forade funcionamento.

    De modo mais especfico, os socilogossempre se viram desnecessariamente de-sorientados por um duplo aspecto, apa-rentemente contraditrio e inconcilivel,das mensagens dos meios de comunicaode massa: so sociedades individualistas,ou de massa? De um ponto de vista antro-

    polgico, possvel fornecer alternativa aodilema.

    a) Em uma sociedade que tem o individu-alismo como uma de suas dimenses desemelhana, isto , que o tem como umpadro cultural, favorecer a individua-lizao o mesmo que favorecer a massi-ficao (homogeneizao). Dito de outraforma: ser indivduo em uma sociedadeindividualista o caminho mais curto paraser homogneo, quer dizer, idntico atodos.

    b) Toda mensagem dos meios de massaapresenta simultaneamente ao menos doisregistros integrados de interpretao: umprimeiro, de semelhana, expressando ospropsitos abrangentes do sistema indus-trial; um segundo, localizando as diferen-as como componentes especficos, nonecessariamente contestadores do primei-ro. Em outras palavras: por esta dupla ca-racterstica pode-se explicar que, apesarde expostos aos meios de comunicao demassa, camponeses continuam campone-ses, banqueiros no deixam de ser ban-queiros, burgueses permanecem burgue-ses... e assim por diante. Todos em seusdevidos lugares, compondo, contraditriaou acumpliciadamente, a totalidade do sis-tema social.

    POPULAR OU INDUSTRIAL?Deixemos, pois, de lado a considerao dacultura de massa em termos que lhe soalheios. No h contradio alguma em seruma sociedade ao mesmo tempo individu-alista e de massa. Complementarmente, osdois aspectos fazem o verso e o reverso da

    mesma medalha. Na mesma linha, deixamde ter sentido noes tradicionais a quefreqentemente se recorreu para se con-trapor cultura de massa, entre elas, es-pecialmente, a de cultura popular. Estaltima tambm costuma ser incorporada

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    como alimento a sustentar a vida da novacultura, muito pouco, de fato, a ela seopondo. Assim, individualizao, socializa-o ou popularizao, absolutamente, norepresentam alternativas para enfrentar odesafio antropolgico que os modernosmeios de comunicao comportam.

    A chamada cultura popular, na verdade, um resduo histrico que permaneceapenas ainda, isto , enquanto o sistemaindustrial no se instala totalmente; ou quecumpre, aqui e ali, a misso de fornecer cultura industrial um outro, nostgicoou inimigo o que faz dela uma parte in-tegrante dessa ltima. Com todas as suascaractersticas de artificialidade e deimpositividade, a cultura de massa a cul-tura especfica da sociedade industrial.Neste ponto encontramos o equvoco demuitos movimentos de contestao cul-tura de massa: ao contrrio do que estespretendem, no h como compatibilizar aaceitao do modo de vida industrial e arejeio de sua cultura.

    Cuidemo-nos, portanto, contra a precipi-tao de ver uma esperana mais do querelativa em medidas meramente distri-butivas ou facilitadoras de acesso aos mei-os industriais de comunicao (rdios li-vres, democratizao propiciada pelanova parafernlia tecnolgica, possibilida-de de veiculao de contedos popula-res, etc.). Elas no revolucionam absolu-tamente nada das bases do sistema indus-trial. Pelo contrrio, as confirmam, asmultiplicam e as reforam. Estas demo-cratizaes representam apenas a novssi-ma extenso do sistema, estabelecendo-oagora no mais por introjeo, isto , a

    partir de fora, mas por submergi-lo nas al-mas. Depois disso, passaro a fazer de cadaum, a partir de dentro, do mago de si, aomesmo tempo um consumidor e um pro-dutor dessa forma de comunicao, bemcomo do modo de vida que lhe est asso-ciado.

    No mais possvel considerar a significa-o poltica dos modernos meios de comu-nicao separadamente de uma compre-enso da sociedade que os gerou. Estesmeios no so apenas expresso dessa so-ciedade, um resultado da sociedade indus-trial; eles so a prpria condio de exis-tncia dela. Eliminem-se os meios de co-municao e a sociedade industrial desa-bar, combalida pela corroso de seus pi-lares. Acontece, entretanto, que boa parteda discusso sobre os meios de comunica-o se esquece desta relao visceral, limi-tando-se considerao de aspectos peri-fricos e fugindo radicalidade da mesma.

    Constata-se, relativamente questo pol-tica dos meios de comunicao, algo an-logo ao que acontece com a proble-matizao do dilema ecolgico em que seencontra a sociedade industrial: boa par-te dos posicionamentos crticos se limita proposio de solues gerenciais (umfiltro aqui, uma lei ali, a maior vigilnciaacol), esquecendo-se de que nestes ter-mos o problema ecolgico ser radical-mente insolvel, pois jamais ser possvelconciliar a velocidade industrial de explo-rao e de destruio dos recursos natu-rais com a cadncia natural de regenera-o. Capitalistas ou socialistas, so mino-ria os contestadores ecolgicos que pemna berlinda o prprio sistema industrial.

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    Pelo contrrio: as tais solues gerenciais(relatrios, planos, racionalizaes, etc.)no fazem mais que retificar e ratificar oesprito e o estilo do sistema de destruio.

    Do mesmo modo, privatizar, estatizar ousocializar os meios industriais de produ-o e consumo de mensagens, rechear osveculos com contedos e linguagens po-pulares ou elitistas, coibir ou incentivar

    veculos livres, alternativos ou piratas,nada disso muda as coisas. Soluesgerenciais para o problema das comuni-caes, na verdade tudo isso apenas au-menta a intensidade do mesmo, alm deincorporar mais e mais atores sobre o pal-co da sociedade industrial e de lhe propi-ciar desempenhar melhor e melhor, comcompetncia maior e maior, o seu absur-do destino geno, etno e ecocida.

    CONTESTAO OU CONFORMISMO?Com freqncia temos sido vtimas de umardil poltico implacvel, representado poruma equivocada concepo de poder.Como procurei desenvolver em trabalhoespecialmente dedicado a este tema(RODRIGUES, 1992), tal concepo nosfez acreditar que o poder fosse uma subs-tncia localizada em determinada fraoou instncia especfica da sociedade. Le-vou-nos a supor que o poder fosse algocomo uma substncia que alguns detm,que se pode ganhar ou perder e que semanifesta unidirecionalmente pela impo-sio mecnica da vontade de uns (por issomesmo imunes ao do poder) sobre oresto da sociedade.

    Semelhante concepo terica de podertem suas imediatas conseqncias prticas.Acarreta, do ponto de vista dos exclu-dos do poder, contestaes especficasque, longe de pretenderem emborcar otabuleiro no qual se desenvolve o jogo dopoder, levam os marginalizados a dese-jar participar do mesmo, tom-lo ouassumi-lo. Acabam estes, assim, ironica-mente, incluindo-se no palco do poder.

    Mas em geral como personagens a quemest destinado o desempenho do papelsocial de dominados.

    Excessivamente estreita, esta concepono permite comprender que o poder nose d no vcuo, que ele tem uma composi-o cultural extraordinariamente comple-xa, que totalmente irredutvel a deter-minismos mecanicistas ou a antagonismossimplistas, como se o poder fosse questode meras foras fsicas que se contrapu-sessem. Tal composio cultural exige queos dominados dominem os cdigos depensamento, sentimento e comportamen-to que lhes permitam (ou obriguem, tantofaz) a desempenhar o papel social de do-minados.

    Esta concepo faz pouco caso do carterrecproco do poder, apresentando-o comouma via de mo-nica, sem considerar queo dominado tambm age sobre o dominan-te, forando-o a procurar uns caminhosde preferncia a outros, a exercer deter-minado estilo de dominao, a adotar cer-ta estratgia de comportamento ou ttica

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    na manipulao de smbolos. Introduzin-do na relao de poder um mecanicismoinexistente, superestimando romntica,quase ingenuamente, o alcance dos atosde insubordinao, e presumindo muitoequivocadamente a passividade dos domi-nados, tal concepo de poder esquece o que fatal para qualquer anlise de re-laes de poder que se pode ser ativopelo prprio ato por que se obedece e quese pode ser conformista inclusive atravsdo ato de se rebelar.

    Ainda mais, esta maneira de conceber opoder supe que interesses e vontades dedominantes e dominados sejam necessa-riamente contraditrios e incompatveis.Acontece entretanto que este um a prioriingnuo, algo que raramente pode serconfirmado. No nem um pouco difcilcompreender isto, simplesmente porqueaquilo que parece outro, quando obser-vado de um ponto de vista interior soci-edade, facilmente pode-se transformar emmesmo, se o observador for um antro-plogo ou, particularmente, se for mem-bro de outra cultura. Em outras palavras,se o analista se situar em ponto de obser-vao exterior sociedade observada, ou-tro pode perfeitamente significar mes-mo.

    Nessa linha de raciocnio (mas correndosempre o risco de cairmos na mencionadaarmadilha que nos prepara o conceito decultura), no impossvel supor que, aopleitearem o desenvolvimento do indivi-dualismo, maiores salrios, diminuio dasjornadas de trabalho, ampliao das fri-as remuneradas, participao na vida po-ltica... os proletrios estariam atingindo

    objetivos que so tambm metas do siste-ma industrial e de consumo. De modoanlogo, nada teria de absurdo conjecturarque, ao saquearem a natureza, ao exigi-rem ampliao do consumo, ao procede-rem destruio das outras culturas, aose deleitarem com as mensagens dos mei-os de comunicao de massa os prolet-rios estariam realizando conquistas queso tambm conquistas de seus explora-dores. Afinal de contas, estas so as vit-rias que constroem no tempo a socieda-de industrial e de consumo, de que bur-gueses e trabalhadores so, embora demodo ilusrio, os beneficirios. No sepoder dizer, ento, diante de pondera-es como estas, que burgueses e prolet-rios so como scios na concretizao des-se projeto mortfero, a sociedade indus-trial e de consumo, de que as demais cul-turas e o prprio planeta pagam o preo?

    Em vez de ver pessoas, instituies, gru-pos, classes, etc. como espcies de canaispor onde o poder circula na sociedadepara a irrigar e manter, esta concepo depoder prefere v-lo como uma coisa quealgum possui, que pode ser dada, toma-da, conquistada. Inspirada nos chamadosjogos de soma-zero, esta concepo depoder opta por apresent-lo como algoque s se possa possuir s custas de ou-trem, logicamente desprovido dele. Pon-to importantssimo, esta abordagem con-cebe o poder como algo que os homensdominam, no como algo que domina oshomens. Fora-nos sutilmente, por vias deconseqncia, a abandonar a grande ques-to tica e poltica de nosso tempo, a fugirdo maior dos dilemas existentes nas nos-sas megassociedades industriais-militares

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    apoiadas nos meios de comunicao e dedestruio em massa: dominar o domnio,muito mais urgentemente do que desalo-jar os dominantes.

    De um ponto de vista antropolgico, porconseguinte, a questo da democracia dosmeios de comunicao de massa transcen-de em muito os parmetros habituais dediscusso do problema. No possvel dis-cutir este tema sem incluir no problema aprpria sociedade industrial e o que estarepresenta para as outras culturas e parao planeta. No possvel debater estagravssima questo colocando-a apenas emtermos de um gerenciamento de foro nti-mo, em que os protagonistas seriam pro-vincianamente burgueses e trabalhadores,Estado e sociedade. Esta tem sido umaabordagem extremamente pfia. Chegouo momento de reconhecer que no maispossvel nos contentar, de modo confor-mista, com os limites estreitssimos de umaconcepo de poder que o prprio poderforjou para se fazer pensar.

    Essencialmente, preciso recusar com ve-emncia a idia de que, para neutralizar aameaa de desigualdade e de destruioque comportam, bastaria assumir o podersobre os meios de comunicao, introdu-zir-lhes novos contedos e censurar-lhesos antigos. Isto corresponderia a muitoingenuamente absolver e consagrar o sis-tema industrial, supondo que a tecnologiafosse, por si s, tica e politicamente neu-tra. Isto equivaleria a esquecer que o po-der se produz e se reproduz atravs datecnologia, mas tambm e talvez princi-palmente como tecnologia. Isto seria re-legar que o poder se regenera continua-

    mente como poder, mesmo que esta rege-nerao se d como contrapoder ou atra-vs de contrapoder.

    A lio que a histria do Ocidente tem for-necido ao antroplogo que a vitria dosdominados pouco provvel, emboraconjecturalmente possvel absolutamen-te no significa que o tabuleiro em que sejoga a peleja do poder venha a ser revira-do. Pelo contrrio, as tomadas de podersomente abrem oportunidades pararevanches seguidas de revanches e, con-seqentemente, para a continuidade dosistema de poder.

    Esta tem sido nossa experincia histrica,inclusive muito recente, na qual se temsubstitudo tirania por tirania e na qualopressores sempre mais sutis (que chegamao cmulo de tambm apregoarem a ne-cessidade de mudanas no sistema de po-der) acabam por dar aos dominados a im-presso, evidentemente falsa, de que pro-gressivamente a liberdade esteja sendoconquistada e de que seja agradvel edesejvel aquilo que em verdade estrita-mente obrigatrio.

    Talvez seja necessrio estabelecer uma rup-tura profunda com este modo de pensar,analisando de maneira sacrlega certasnoes ungidas que tm direcionado nos-sas bem-intencionadas reflexes e aespolticas, mas cujos pressupostos no sesustentam antropologicamente:

    1. A idia da onipotncia dos meios de co-municao de massa, que, por sua vez, sefundamenta em uma concepo unilate-ral de poder. preciso ter sempre em

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    mente que o poder necessariamente seexerce sobre seres livres, sobre seres quevirtualmente podero vir a ser outros. Estaliberdade intrnseca e virtual do domina-do a prpria razo de ser do poder. Adominao consiste sempre em uma esp-cie de negociao, ou acordo, entre pode-rosos e dominados. Esquecer que a liber-dade (mesmo a de se submeter) um com-ponente estrutural e inabstravel da rela-o de poder leva inevitavelmente a equ-vocos tericos e prticos.

    2. A idia de que os dominados sejam in-conscientes de sua condio, precisandoser esclarecidos e conscientizados. pre-ciso se perguntar sempre de onde vm osconscientizadores e quem conscientizouestes conscientizadores. Muito do que sechamou resistncia das pessoas incons-cientes e alienadas pode correspondera uma saudvel desconfiana, prpria dasabedoria de quem j se fez e j respon-deu a esta indagao. Nenhuma democra-cia autntica pode partir da desqua-lificao do outro enquanto ser humano,supondo que no seja profundamenteconsciente de seus reais interesses e que

    deva alienar essa conscincia a algum pri-vilegiado crebro iluminista.

    3. A idia de participao, segundo aqual tacitamente se aceita o fundamentaldo modo de vida do qual se quer que par-ticipem os excludos. Se houve um tem-po (improvvel) em que o poder se nutriuda excluso, tudo indica no ser mais esteo da sociedade moderna. Nesta, a partici-pao, ao contrrio, exigida e obrigat-ria: que se participe da vida poltica, doconsumo, da produo, da recepo dosmeios de comunicao de massa, das asso-ciaes profissionais, das aulas, das mo-das tudo isso menos optativo do queusualmente pensamos. A negativa de par-ticipar pode no ser puramente negativa.Situando-se estas manifestaes de no-participao, como observou JeanBaudrillard, em seu A sombra das maio-rias silenciosas, no aqum, mas alm dapoltica, por que razo desconsiderar detodo a hiptese de que elas representemalgo de recusa afirmativa, de rejeio po-sitiva, contra um sistema de poder quesolicita a nossa participao apenas para,atravs desta, se constituir e se legitimar?

    ABSTRACT

    Theoretical and political implications of the different technologiesand strategies of communication. Relationship between globalizationand the individualization of the mass media. Evaluation of theconcepts of culture and mass culture in its relations to popularculture and industrial society.

    Keywords: mass communication, culture, power.

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICASBAUDRILLARD, Jean. sombra das maiorias silenciosas. So Paulo : Brasiliense, 1985.

    LVI-STRAUSS, Claude. Raa e histria. Lisboa : Editorial Presena, [s.d.].

    RODRIGUES, Jos Carlos. Ensaios em antropologia do poder. Rio de Janeiro : Terra Nova,1992. p. 11-55 : Reflexes sobre a liberdade, a morte e o poder.

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    A empresa, um dos fenmenos mais caractersticos e marcantes da sociedade industrial, se tra-duz pela apario e adoo de um novo modelo de organizao social. Seu nascimento supeuma ruptura com a ordem social anterior e a apario de formas particulares que encontramuma nova legitimidade. Um de seus componentes fortes, em gestao desde o incio da Revolu-o Industrial, surgido no sc. XIX, a separao radical dos aspectos econmicos do tecidosocial e sua construo num domnio autnomo. Esta separao, inovao sem precedentes, dconta de um dos aspectos da Sociologia da Empresa.

    Karl Polanyi- The Great Transformation, 1944

    A SOCIOLOGIA DIANTE DA GLOBALIZAO:

    POSSIBILIDADES E PERSPECTIVAS DASOCIOLOGIA DA EMPRESA

    ANA MARIA KIRSCHNER *

    Em um ambiente econmico em que o mercado estabelece as carac-tersticas fundamentais das economias nacionais, as empresas setornam alvo de ateno de socilogos, pela sua expressiva partici-pao no desempenho econmico de um pas.

    Este trabalho uma sucinta discusso sobre as possibilidades e pers-pectivas abertas pela Sociologia da Empresa. A anlise busca mos-trar, atravs da relao empiria e teoria, que elementos permitiramque a empresa ressurgisse como objeto sociolgico. A exposio dealguns aspectos tericos e metodolgicos pretende mostrar as possi-bilidades da anlise sociolgica das empresas para a compreensode dimenses importantes do mundo contemporneo.

    Palavras-chave: empresa, sociologia da empresa, teoria.

    * Professora adjunta do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.Este trabalho contou com a colaborao de Gisele Lopes Machado.Agradeo as crticas e sugestes da Professora Wally Chan Pereira que, sem dvida, contriburammuito para deixar este texto mais claro.

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    INTRODUOA compreenso do mundo atual apresen-ta muitos desafios para a Sociologia. Aglobalizao nos d a impresso de viverde fato numa nova poca, em que osparmetros conhecidos esto sendo ques-tionados: o papel do Estado, o emprego ea qualificao dos trabalhadores, assimcomo a diminuio de seu poder de nego-ciao devem ser analisados sob outratica.

    A retirada progressiva do Estado das ati-vidades econmicas e o enfraquecimentode sua funo reguladora evidenciam quedeixar as foras do mercado atuarem li-vremente deixou de ser apenas um re-curso de retrica ou uma tendncia ape-nas percebida para se tornar uma fortepoltica econmica adotada por diversospases.

    compreensvel, portanto, que num am-biente econmico em que o mercado esta-

    belece as caractersticas fundamentais daseconomias nacionais, as empresas se tor-nem alvo de ateno de socilogos, pelasua expressiva participao no desempe-nho econmico de um pas. Entretanto,pouco adiantaria fazer esta afirmao seno dispusssemos de instrumentossatisfatrios para compreender e explicaras empresas sob uma tica sociolgica.

    Este trabalho uma sucinta discusso so-bre as possibilidades e perspectivas aber-tas pela Sociologia da Empresa. Esta an-lise busca mostrar, atravs da relaoempiria e teoria, que elementos permiti-ram que a empresa ressurgisse como ob-jeto sociolgico. A exposio de alguns as-pectos tericos e metodolgicos pretendemostrar as possibilidades da anlise socio-lgica das empresas para a compreensode dimenses importantes do mundo con-temporneo.

    AS RESPOSTAS TERICAS S MUDANAS SOCIAISE ECONMICAS A PARTIR DA DCADA DE 80A empresa nasce da separao do crculofamiliar do lugar de trabalho. Autores cls-sicos da sociologia e da economia, comoMax Weber e Karl Marx, fizeram traba-lhos memorveis. Weber mostra que as ofi-cinas surgiram das comunidades domsti-cas e de vizinhana, que conheceram dife-rentes formas de desenvolvimento at che-garem grande indstria, com uma orga-nizao racional do trabalho (WEBER,1977, 1967). Marx analisa o surgimento

    do capitalismo a partir das transformaesna organizao do trabalho das corpo-raes de artesos grande indstria(MARX, 1971).

    A crise econmica e o crescimento do de-semprego que atingiram a Europa, nadcada de 80, contriburam para que aempresa comeasse a ser valorizada pelasua capacidade de salvaguardar o empre-go valor essencial da socializao na so-

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    ciedade contempornea. O papel da em-presa vai alm do econmico: ademais deprovedora de emprego, tambm agentede estabilizao social.

    Pesquisas de campo analisaram as prti-cas dos trabalhadores em seu ambiente detrabalho e temas ligados cultura deempresa emergiram na sociologia(SAINSAULIEU, 1987). Tais aportes te-ricos e empricos fizeram a empresa apa-recer como um lugar em que se tece umateia social particular, onde se desenvolveuma criao social autnoma.

    Paralelamente, desenvolveu-se a Sociolo-gia da Organizao que, a partir dos anos60, tornou-se referncia obrigatria nomundo da empresa. Dentre os diferentesramos da Sociologia, foi a Sociologia daOrganizao que ficou mais conhecida forado ambiente acadmico. Tal sucesso deve-se a alguns fatores, dentre os quais desta-camos:

    a) os instrumentos da Sociologia da Orga-nizao se revelaram eficazes para a com-preenso dos comportamentos e das aesdos atores nas empresas;

    b) os atores das empresas perceberam aimportncia da organizao sobre o fun-cionamento e sobre os resultados das em-presas;

    c) a distncia entre pesquisadores e res-ponsveis nas empresas diminuiu muito,pois o avano deste conhecimento s foipossvel graas a profundos mergulhosde acadmicos em empresas. A conseqn-

    cia foi uma modificao do olhar do soci-logo e dos atores envolvidos com a firma.

    As imposies incontornveis sofridaspela empresa foram revistas, a partir domomento em que se passou a admitir aexistncia de racionalidades e lgicas di-ferentes no seio da empresa. A tcnica, oeconmico e a cultura comearam a serconsiderados como elementos determi-nantes da organizao, e esta passou a servista como um construto, resultado da agre-gao de decises individuais. Bernoux(1995) lembra que a Sociologia da Empre-sa no poderia se desenvolver enquantose pensasse que certas limitaes impu-nham um determinado tipo de organiza-o, por exemplo, enquanto o sistemataylorista predominasse. At se admitir alegitimidade de lgicas diferentes na em-presa o que a Sociologia da Organizaoevidenciou no era possvel conhecer aempresa atravs de uma abordagem soci-olgica.

    Ao se desenvolver completamente parteda Sociologia do Trabalho, o instrumentalterico da Sociologia da Organizao nopermitiu pensar a empresa como um su-jeito que combinasse trabalho e organiza-o. Preenchendo este vazio, nos anos 80,muitas pesquisas foram realizadas sobre acultura e identidade das empresas e trou-xeram tona a existncia de redes formaise informais (SAINSAULIEU, 1987 ; LIU,1992 ; ROMANTSOA, 1992).

    A partir destas evidncias, a empresa podeser tratada como construto social e objetosociolgico, capaz de autonomia e criado-

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    ra do social no sentido literal do termo,isto , daquilo que une os indivduos econstitui uma sociedade. Segundo Ber-noux, uma empresa no existe sem o re-conhecimento mtuo, sem affectio societatis,sem uma certa comunidade, sem relaesprivilegiadas entre seus membros, aindaque permeadas pelo conflito; a violnciado conflito traduz a esperana decepcio-nada de uma relao privilegiada. Assimdefinida, a empresa pode ser vista comoum lugar de aprendizado e de coopera-o, mesmo quando palco de aes ouatitudes conflitantes.

    A Sociologia das Organizaes comea aser contestada nos anos 80, quando a em-presa passa por transformaes to pro-fundas que modificam substancialmente arelao empresa/sociedade. Verificou-se anecessidade de outros instrumentos teri-cos para explicar a mudana que est sobnossos olhos: hoje o modelo burocrticoque serviu de campo de observao paraa Sociologia das Organizaes deixou deser considerado um modelo de sucesso.

    As grandes organizaes permitiram a ela-borao de conceitos centrais como siste-ma, poder, incerteza, racionalidade limi-tada. Estes conceitos passam a ser questio-nados porque esse tipo de grande empre-

    sa pesada, burocrtica e de difcil ma-nejo mostrou seus limites. A prpriapertinncia da teoria construda sobre asgrandes organizaes posta em questo.As mudanas na organizao do trabalho,a externalizao de funes, a economiade rede, as mudanas rpidas de direoe/ou proprietrio levam a que no se te-nha mais certeza do que est dentro oufora da empresa. Entretanto, o aporte daanlise estratgica permanece importan-te; seus conceitos principais ator, incer-teza, poder permanecem teis; todaempresa pode ser estudada sob esteaspecto.

    A anlise estratgica (CROZIER, 1977 ;ROMANTSOA, 1992 ; PORTER, 1986) vaise esforar para quebrar esta idia de mo-delo e tenta introduzir a idia de ator, deautonomia, de contingncia dos modelosorganizacionais e incerteza. Ela mantm oconceito de racionalizao, fazendo-o evo-luir para o conceito de racionalidade limi-tada.

    Esta mudana terica coincide com asmudanas no modelo de produo, queevidenciam a importncia das comunica-es entre servios e entre nveis hierr-quicos na empresa, pensada como um sis-tema de interaes.

    POSSIBILIDADES DA ANLISE SOCIOLGICA DAS EMPRESASO campo da Sociologia das Empresas diferente do campo de anlise dos soci-logos do trabalho. Parte dos seguintes te-mas: indivduo, poder, estratgia e siste-ma. Saliente-se que estes temas fundamen-

    tais j foram desenvolvidos ao longo destaanlise. Neste ponto, convm ressaltaroutras categorias e seu respectivo alcanceanaltico.1

    1 Seria interessante pensar o operariado, as organizaes sindicais e suas lideranas utilizandoalgumas destas categorias empregadas na Sociologia das Empresas.

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    1 A empresa como construtosocial

    Na dcada de 80, Sainsaulieu, em seu li-vro Sociologie de lOrganisation et delEntreprise (SAINSAULIEU, 1987), anali-sa as estruturas e o desenvolvimento dossistemas sociais, assim como os jogos de po-der que ocorrem no interior das empre-sas, abrindo espao para que elas recebamtratamento de objeto sociolgico. A empre-sa tratada como construto social: conside-rada como lugar autnomo de criao eregulao de relaes sociais, tambmlugar de identidade, cultura e convenes.Ela apresenta uma certa autonomia emrelao aos meio ambientes econmico,sociopoltico e institucional em que se in-sere. Os diferentes meio ambientes cons-tituem a realidade qual a empresa nos se adapta, como tambm transforma.

    J na dcada de 90, seguindo a mesma li-nha, Bernoux (1995) aprofunda o proble-ma das relaes formais e informais nointerior da empresa. O autor trata os jo-gos de poder a partir das prprias ques-tes que os atores colocam e mostra queelas esto longe de se esgotar pela lgicado interesse econmico. Diz, por exemplo:

    O projeto da empresa pode ser lido numextremo como a fria busca do lucro, e nooutro, como uma histria de amor, commuitos parceiros. ... Sob outro ngulo, aempresa pode ser considerada como umasoma de indivduos ou como um corposocial, s vezes autnomo, s vezes repro-duzindo traos da sociedade em que selocaliza (BERNOUX, 1995).

    2 A empresa como sistemaaberto

    Durante muito tempo, as regras nas em-presas foram definidas a partir da tica deseu meio ambiente externo: tcnico, eco-nmico, cultural e sociopoltico. Os estu-diosos de empresas consideravam que osdiferentes meio ambientes estabeleciampadres de funcionamento to impositivosque o espao de liberdade reservado aogrupo humano reunido na empresa eramuito limitado. A perspectiva adotada ex-plicava a construo das regras pela influ-ncia direta das imposies, e no pela re-composio destas mesmas regras atravsde um agregado de aes individuais. Talconsiderao remetia a um impasse teri-co-metodolgico: como fazer da empresaum objeto sociolgico se ela vive ao sabordas circunstncias externas? Ou, de outraforma, um objeto sociolgico pode ser con-siderado como tal se no dispe de auto-nomia?

    Desde que a empresa comeou a ser con-siderada como fonte autnoma de cons-truo de relaes sociais, ela passou a sercompreendida atravs do modelo de sis-tema aberto, que associa as noes de au-tonomia e dependncia na relao empresa/meio ambiente (LIU, 1992). Um sistemaaberto faz constantes trocas com seu meio;tem necessidade destas trocas para existir.Entretanto, estas trocas no dependemapenas do meio. Um sistema no abertoa qualquer tipo de influncia, possui umafronteira seletiva que filtra o que deixapassar. Em contrapartida, exporta paraseu meio ambiente produtos muito con-trolados.

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    possvel questionar outra dimenso destaautonomia: uma empresa pode realizarum projeto apesar das circunstncias des-favorveis de seu meio, ou ela s pode con-ceber e realizar projetos que respondam auma demanda deste meio?

    Uma empresa no cria um projeto socialex nihilo. Atravs de seus trabalhadores, elaimporta as caractersticas socioculturais deseu meio ambiente. Entretanto,

    ... ela forma um meio social originalque imprime sua marca sobre os indi-vduos. Esta transformao no se li-mita a seu espao interior, porque aempresa no retm seus membros demaneira permanente. Eles se reinte-gram sociedade onde agem, utilizan-do tambm os comportamentos apren-didos na empresa que vo influenciara sociedade inteira (BERNOUX, 1995,p. 125).

    3 Empresa e seumeio ambiente

    Os efeitos sociais diretos da empresa aqueles ligados produo, aquisio deconhecimentos, mudana de comporta-mentos acabam sendo menos importan-tes que os efeitos indiretos, ou seja, astransformaes que no esto explicita-mente inscritas nos objetivos do empres-rio. A histria nos mostra que as modifica-es sociais mais importantes e de maiordurao apareceram como efeitos inespe-rados ou perversos de objetivos econmi-cos ou tcnicos da empresa. Se os indiv-duos foram reunidos por necessidades daproduo, esta reunio teve um papel im-portante na propagao de idias e nastransformaes sociais.

    A noo de transformao social apro-priada para representar os efeitos sociaisda empresa. Mostra que a empresa modi-fica seu meio escolhendo o que lhe inte-ressa. Apropria-se destes elementos, im-pondo a marca de sua especificidade. Estatransformao conjuga mltiplos aspectosda situao, tcnicos, jurdicos, econmi-cos e humanos, cujas conseqncias soinseparveis. Estas conseqncias, a curtoprazo, geram efeitos perversos ou inespe-rados em relao aos objetivos proclama-dos; a longo prazo, contribuem para mo-dificar o meio ambiente, o que pode acar-retar evolues ou ruptura macroeco-nmicas para toda a sociedade.

    Quando vrios aspectos (econmico, tc-nico, social) esto presentes num projeto,os efeitos acarretados so potencializados.Isso faz com que a influncia da empresaaumente, assim como sua autonomia.

    A autonomia da empresa tem aspectosmuito complexos. No se pode separar adimenso social da empresa de suas di-menses tcnica e econmica, o que tornamais difcil definir e explicar seus efeitos.A autonomia social aparece como uma re-presentao necessria para a anlise, masque no pode ser observada no cotidianoda empresa.

    A autonomia social no se caracteriza sim-plesmente em termos de distino e de-pendncia em relao ao meio ambiente.Ela exige a noo de abertura seletiva, queassocia a necessidade de trocas contnuasentre a empresa e seu meio ambiente coma noo de escolha no seio destas trocas.Ela se apia na noo de transformao.

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    ... a empresa um poderoso ator no cam-po social pela razo paradoxal que elamistura os fatos sociais, os projetos econ-micos e as realizaes tcnicas. Esta reali-dade multidisciplinar deveria se imporcada vez mais a todos que querem agir nasempresas ou estud-las (BERNOUX, 1995,p. 130).

    4 O sistema social daempresa e relaesde poder

    O diagnstico das relaes de poder de-pende da compreenso da dinmica intrae interservios, o que exige uma leituraextensiva dos sistemas de ao que, de co-alizes a alianas durveis, podem ir almdas fronteiras formais do organograma eincluir os atores no meio ambiente sindi-cal, institucional e educacional.

    O sistema social na empresa um conjun-to de interaes, ou de relaes entre ato-res, que se reproduzem e estabelecem re-laes coletivas durveis que mediatizame transformam os efeitos previstos pelaregra da organizao formal. Quando sedesvenda este sistema social, pode-se co-nhecer melhor os grupos humanos ativose passivos, seus objetivos mobilizadores esuas modalidades de interaes conflituaisou consensuais.

    5 Os indivduos e a empresaUma das maiores dificuldades da explica-o sociolgica das empresas o lugar atri-budo aos indivduos. O senso comum va-loriza o papel dos indivduos, enquantogrande parte dos socilogos prefere silen-

    ciar sobre os indivduos e buscar explica-es atravs do social, das regras e do co-letivo.

    Assume-se aqui uma postura prxima doindividualismo metodolgico, ou seja, osfatos coletivos so considerados como oproduto, a combinao, a agregao de umconjunto de aes individuais. Recusa-sea idia de um fato social coletivo, impostode fora aos indivduos. Tal mtodo exigeque se passe pelos indivduos para se che-gar ao composto que o fato social, vistocomo algo construdo, que se deve emparte agregao dos comportamentosindividuais. Para os socilogos da empre-sa, esta uma construo social, cujo co-nhecimento deve ter como base uma in-terpretao que considere o conjunto indivduos e imposies ligado a um cor-po social.

    absurdo pensar que o sucesso ou o fra-casso de uma empresa dependa, exclusi-vamente, da ao ou da personalidade deum indivduo, ainda que ele seja um ator-chave.2 Claro que h configuraes indi-viduais que desempenham um papel mai-or ou menor em situaes particulares. Oproblema a ser resolvido exatamente estaequao.

    Conhecer o indivduo importante, des-de que no se considere seu comporta-mento resultante somente dos componen-tes de sua psiqu. Trata-se de apreend-lona sua relao com o grupo onde ele age.Como qualquer grupo humano, a empre-sa um lugar de articulao do individuale do social. Sem esta articulao, impos-svel conhecer a empresa (BERNOUX,1995, p. 70).

    2 Categoria que ser analisada mais adiante.

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    6 Sistema social: relaesformais e informais

    Segundo Michel Crozier (1977), os trsprincpios que norteiam o sistema de or-ganizao burocrtica esto na origem dasregras formais da empresa. So os seguin-tes:

    um princpio igualitrio, que corres-ponde aplicao do regulamento daantigidade;

    um princpio hierrquico fechado: ascategorias dos trabalhadores so bemdelimitadas e pouco sujeitas smudanas; e

    um princpio de impessoalidade dasregras e dos procedimentos, que per-mite eliminar ao mximo o arbtrio dadireo.

    Um desequilbrio deste sistema em umaempresa pode acarretar mudanas quedem lugar a uma rede particular de rela-es. Criam-se, paralelamente, regras erelaes informais, conhecidas apenas poraqueles que esto diretamente envolvidosnas atividades concernidas.

    de extrema importncia conhecer estasregras informais, pois os administradoresencontram srias resistncias quando ten-tam implementar mudanas que as con-trariem. fundamental detectar os pon-tos-chave de articulao entre os diversosgrupos.

    7 Ator e ator-chaveA literatura sobre administrao de em-presas atribui uma importncia muitogrande ao agente capaz de implementarmudanas numa organizao. Este agen-te chamado ator-chave, pois dispe depoder e autoridade ou influncia suficien-tes para tomar decises importantes parao futuro do grupo no qual est inserido,ou mesmo da empresa.

    Para a Sociologia, os indivduos no somilagrosos. Nem os mais competentes con-seguem sozinhos mudar radicalmenteuma empresa, conduzindo-a ao sucesso ouao fracasso.

    Bernoux comenta:

    O tema do ator-chave e de seu papel meiomilagroso se baseia na experincia que al-gumas pessoas tiveram ao vivenciar suaprpria autonomia, ao desfrutar de liber-dade individual; experincia, portanto, li-mitada queles que tiveram condies deviver tais situaes (BERNOUX, 1995,p. 79).

    Em empresas, s dirigentes, gerentes oualguns lderes tm condies de viver es-tas situaes. A questo que se coloca :em que medida se pode reduzir a mudan-a em uma empresa ao de alguns ato-res-chave?

    Esta questo supe que a relao do ldercom o grupo unilateral, excluindo a ex-pectativa dos membros do grupo. Quan-do trabalhamos com a noo de legitimi-

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    dade, tal como Weber a concebe, esta ques-to se amplia e diz respeito ao grupo todo.Um lder bem-sucedido na medida emque sua ao corresponde s aspiraes dogrupo, e no apenas a seu carisma indivi-dual. exatamente esta correspondnciaque lhe confere legitimidade e que faz ogrupo aceitar sua liderana. O ator-chaveno , portanto, independente do grupodo qual ele lder. Convm examinar arelao que ele estabelece com seu grupo:para agir sobre um grupo, o lder devecompreender suas expectativas e ex-press-las.

    Podemos nos perguntar sobre quais aspossibilidades que um ator-chave dispepara mudar uma organizao ou para fa-zer uma empresa evoluir.

    O estabelecimento de novos objetivos emuma empresa implica estabelecer novasregras formais. Chamamos ateno paraum ponto: a mudana nas regras formaisno implica necessariamente mudana nasregras informais.

    O ator-chave ser capaz de modificar osprojetos da empresa e os objetivos de umgrupo se levar em considerao a culturae os mitos (SAINSAULIEU, 1988) quepermitiro m