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FEAD-MINAS – CENTRO DE GESTÃO EMPREENDEDORA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO MODALIDADE: PROFISSIONALIZANTE MODERNIDADE ORGANIZACIONAL EM GESTÃO DE PESSOAS COMO BASE PARA A INCORPORAÇÃO DE UM MODELO DE COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS José Henrique Motta de Castro Belo Horizonte 2005

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FEAD-MINAS – CENTRO DE GESTÃO EMPREENDEDORA NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO MODALIDADE: PROFISSIONALIZANTE

MODERNIDADE ORGANIZACIONAL EM GESTÃO DE PESSOAS

COMO BASE PARA A INCORPORAÇÃO DE UM MODELO DE

COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS

José Henrique Motta de Castro

Belo Horizonte 2005

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JOSÉ HENRIQUE MOTTA DE CASTRO

MODERNIDADE ORGANIZACIONAL EM GESTÃO DE PESSOAS

COMO BASE PARA A INCORPORAÇÃO DE UM MODELO DE

COMPETÊNCIAS PROFISSIONAIS

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em

Administração: Modalidade Profissionalizante da FEAD-Minas –

Centro de Gestão Empreendedora, como requisito parcial à

obtenção do título de Mestre em Administração.

Área de Concentração: Gestão Estratégica de Organizações

Orientadora: Profa. Dra. Zélia Miranda Kilimnik

Belo Horizonte FEAD-MINAS

2005

Ficha catalográfica

C346m Castro, José Henrique Motta de 2005

Modernidade organizacional em gestão de pessoas como base para a incorporação de um modelo de competências profissionais. Belo Horizonte: FEAD-Minas, 2005.

150 f.

Orientadora: Profa. Dra. Zélia Miranda Kilimnik Dissertação (Mestrado) – FEAD-Minas – Centro de Gestão

Empreendedora. 1. Administração 2. Gestão Organizacional – Recursos Humanos

I. Título. CDD: 658.3

Aos meus pais, Jerônymo e Martha.

AGRADECIMENTOS À Profa. Zélia, minha orientadora incansável, incentivadora, excelente profissional,

que sempre me direcionou nas encruzilhadas desta pesquisa.

À minha esposa, Claudia, pela paciência, carinho e sabedoria demonstrados durante

todo o período do mestrado.

À minha filha, Ana Laura, pela compreensão por tantos momentos de ausência na

família. Espero, filha, logo, logo, poder voltar a levá-la aos parques nos finais de

semana, viajar com você, contar histórias para você dormir, ajudá-la no “para casa”,

enfim, estar mais ao seu lado, pois isso é muito importante para mim.

Ao meu pai e à minha mãe, os primeiros que me ensinaram a gostar de ler, escrever

e refletir. À minha família, em geral, pelo incentivo nessa jornada de estudos.

À Beth Clark (in memoriam), Ana Lúcia Pimenta e Cláudia Maia, profissionais que

me deram suporte emocional e espiritual para superar o desafio que representou

este trabalho na minha vida.

Aos colegas da instituição investigada, que se prontificaram a comunicar suas

experiências profissionais, lutas e anseios, contribuindo enormemente para o

alcance dos objetivos deste trabalho.

À amiga Denise, por compartilhar alegrias, dificuldades e angústias nessa

caminhada do mestrado.

Aos colegas da área em que trabalho na Caixa Econômica Federal, que me

acompanharam, de uma forma ou de outra, nessa trajetória de estudos. Em

especial, ao gerente Newton Miranda Siqueira, cuja compreensão e solidariedade,

decisivamente, facilitaram o andamento da pesquisa.

À Érica Freitas, funcionária da FEAD, pela simpatia e pelo apoio necessário.

Aos professores e mestrandos que conheci na FEAD, pelo tanto que me tornaram

uma pessoa melhor.

A Deus, pela minha saúde e por me mostrar o sentido da perseverança e da

humildade.

É pela relação ao outro como sujeito que o indivíduo deixa de ser um elemento de funcionamento do sistema social e se torna criador de si mesmo e produtor da sociedade.

(Alain Touraine)

RESUMO Esta dissertação teve por objetivo comprovar se a gestão de pessoas da instituição

Caixa Econômica Federal revela-se com características de modernidade suficientes

para viabilizar e sustentar um modelo de competências profissionais. Em termos de

referencial teórico, fez-se uso de uma adaptação feita por Sant’anna (2002) de um

modelo de padrões de modernidade organizacional elaborado por Eboli (1996), um

modelo de gestão de pessoas de Brabet (1993) e outro de Ulrich (2003). Também,

procedeu-se a uma revisão de conceitos e abordagens, essencial e necessária à

compreensão de um modelo de competências. A metodologia consistiu em um

estudo exploratório de caso, com enfoque predominantemente qualitativo, utilizando-

se de entrevistas. A partir de concepções de funcionários entrevistados, foram

analisadas cinco práticas de gestão de pessoas: recompensas, avaliação de

desempenho, educação corporativa, promoção/carreira e orientação estratégica.

Aplicou-se, ainda, um questionário sobre o papel da gestão de pessoas, adaptado

de Ulrich (2003) e enriquecido com contribuições do modelo político de Brabet

(1993), para auxiliar nas constatações decorrentes das análises empreendidas. Tal

estratégia mostrou que as ações praticadas pela empresa parecem funcionar mais

como instrumentos que buscam a previsibilidade e o controle da dimensão humana

na instituição do que a construção de canais de interlocução efetiva entre direção e

empregados à altura do seu porte e relevância. Desse modo, a gestão de pessoas

em questão revelou-se não promotora de um diálogo autêntico entre empregados e

gestores capaz de possibilitar maior participação daqueles na definição de

estratégias e de mudanças na empresa. Sendo assim, a conclusão a que se chegou,

até onde foi possível investigar, indica uma gestão de pessoas não suficientemente

preparada, em termos de características de modernidade, para incorporar um

modelo de competências profissionais. Espera-se que este estudo possa contribuir

com o delineamento de estratégias que a coloquem no caminho da modernidade

organizacional e que lhe confiram maiores chances de sucesso na implantação do

referido modelo.

Palavras-chave: gestão de pessoas; competências profissionais; modernidade

organizacional.

ABSTRACT The objective of this work was to prove if Caixa Econômica Federal people

management reveals itself with sufficient modern characteristics to make practicable

and to hold up the professional habilities. As theorical reference it was based upon a

Sant’anna’s adaptation (2002) of an organizational pattern of modern standard

elaborated by Eboli (1996), a Brabet’s (1993) people management model and one of

Ulrich (2003). Besides, concepts and approaches essential to the comprehension of

competence models were reviewed. The methodology consisted in an exploratory

case study, with a mainly qualitative focusing by means of interviews. Based upon

the conceptions of employee’s interviews, five practices of employees’ management

practices have been analyzed: awards, performance evaluation, corporative

education, promotion/career and strategic orientation. A series of questions about the

role of people management, adapted from Ulrich (2003) and enlarged by the Brabet’s

(1993) with political model contributions, were also applied, in order to help in the

confirmation of the undertaken analysis. That approach showed that the actions

practiced by the company seemed to act more as tools that looked for the foresee

ability and the control of the company’s human dimension than to the construction of

effective dialogue channels between the administration and the employees,

compatible with its size and relevance. Thus, the people management in question

revealed itself not to be a promoter of an authentic dialogue between employees and

managers capable of promoting a greater participation of them in the company’s

strategy‘s definition and changes. In such case, the conclusion we reached, as far as

we could search into, demonstrates a management that is not sufficiently prepared,

in its modernity characteristics to incorporate professional competence models. We

have the hope that this study may contribute to the drawing of strategies that will

place the company in the organizational modernity way and that will grant it greater

success chances in the referred model implantation.

Key-words: people management, professional competences, organizational

modernity.

LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – Modelo de múltiplos papéis de Ulrich. ..................................................30

FIGURA 2 – Múltiplos papéis de Ulrich (modelo adaptado). .....................................35

FIGURA 3 – Organograma da Área de Gestão de Pessoas da CEF. .......................60

FIGURA 4 – Etapas de “fazer gestão de pessoas por competências”. .....................74

GRÁFICO 1 – Escores referentes aos papéis desempenhados pela gestão de

pessoas. ..................................................................................................................110

QUADRO 1 – Estrutura organizacional – três subsistemas ......................................53

QUADRO 2 – Missão e valores oficiais da CEF........................................................55

QUADRO 3 – Vantagens do modelo de competências.............................................73

QUADRO 4 – Indicadores da pesquisa e estado atual das práticas de gestão de

pessoas...................................................................................................................117

LISTA DE SÍMBOLOS E SIGLAS CEF − Caixa Econômica Federal

CEPLE − Centralizadora de Gestão do Plano de Saúde

CERHU − Centralizadora de Recursos Humanos

EMGEA − Empresa Gestora de Ativos

FGTS − Fundo de Garantia do Tempo de Serviço

GEINP − Gerência Nacional de Integração das Políticas da Gestão de Pessoas

GENEC − Gerência Nacional de Educação Corporativa

GENEP − Gerência Nacional de Negociações Trabalhistas e Previdência Privada

GEPES − Gerência Nacional de Quadro de Pessoas e de Terceirização

GERET − Gerência Nacional de Relações de Trabalho e Provimento

GESAD − Gerência Nacional de Saúde e Ambiência Corporativa

PRC − Programa de Racionalização e Competitividade

RERHI − Representações de Relacionamento Integrado de Recursos Humanos

SUREH − Superintendência Nacional de Recursos Humanos

PDI − Plano de Desenvolvimento Individual

PDC − Plano de Desenvolvimento Corporativo

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................13

1.1 Problema de pesquisa...................................................................................16

1.2 Justificativa.....................................................................................................18

1.3 Objetivos ........................................................................................................21

1.3.1 Objetivo geral .................................................................................................21

1.3.2 Objetivos específicos......................................................................................22

2 REFERENCIAL TEÓRICO.............................................................................23

2.1 Modernidade organizacional ..........................................................................23

2.2 Modelo de múltiplos papéis da gestão de pessoas ........................................28

2.3 Modelo político de gestão de pessoas ...........................................................33

2.4 Modelo de competências................................................................................36

2. 4.1 As noções de evento, serviço e comunicação................................................38

2.5 Modernidade organizacional e as competências profissionais.......................45

3 A ORGANIZAÇÃO PESQUISADA ................................................................48

3.1 Histórico .........................................................................................................48

3.2 Aspectos legais e estrutura organizacional ....................................................56

3.3 A Área de Gestão de Pessoas .......................................................................59

4 METODOLOGIA ............................................................................................63

4.1 Tipo de pesquisa .............................................................................................63

4.2 Universo da pesquisa e amostra .....................................................................67

4.3 Coleta de dados ..............................................................................................68

4.4 Análise dos dados ...........................................................................................68

SUMÁRIO 5 ANÁLISE DOS RESULTADOS .....................................................................70

5.1 A gestão por competências da Caixa Econômica Federal ..............................70

5.2 Práticas de gestão de pessoas investigadas...................................................79

5.2.1 Modernidade administrativa em recompensas ................................................79

5.2.2 Modernidade administrativa em promoção e carreira......................................86

5.2.3 Modernidade administrativa em educação corporativa ...................................92

5.2.4 Modernidade administrativa em avaliação de desempenho............................98

5.2.5 Modernidade administrativa em orientação estratégica ................................103

5.3 Resultados da aplicação do questionário adaptado de Ulrich .......................108

5.4 Composição das análises: práticas e papéis da gestão de pessoas.............116

6 CONCLUSÃO ................................................................................................122

REFERÊNCIAS.......................................................................................................137

ANEXOS

Anexo A – Roteiro de entrevistas ............................................................................144

Anexo B – Questionário ..........................................................................................146

13

1 INTRODUÇÃO

Conforme Veloso et al. (1999), o modelo de produção em massa, com crescimento

econômico estruturalmente estável, juntamente com a política do Estado-Previdência

keynesiano (Welfare State)1, iniciados em meados da década de 40, começam, no

final dos anos 60, a mostrar sinais de esgotamento nos países centrais, em

decorrência da incapacidade do sistema fordista de continuar gerando ganhos de

produtividade. Essa incapacidade, de acordo com Ferreira (1993), manifestou-se via

limitações de ordem tanto técnica (rigidez da linha de produção) quanto de ordem

socioeconômica (resistência dos trabalhadores ao tipo de organização do trabalho

ao qual se encontravam submetidos nas unidades fabris e escritórios), ambas

manifestadas em relação a um contexto do qual emergiam novas normas de

concorrência intercapitalista. Nesse sentido, Harvey (1992) pontua como um dos

aspectos relevantes para a compreensão dessa conjuntura histórica a reconstrução

e recuperação pós-guerra da Europa e Japão, países que, já com seus mercados

internos saturados, necessitavam exportar seus produtos excedentes. Os mercados,

de acordo com Ferreira (1993), vão se tornando mais exigentes, e acentua-se, além

da capacidade de contenção de custos, a importância da qualidade e da

diferenciação de produtos.

Os sistemas flexíveis de produção em massa, adaptados à produção de bens e

serviços diferenciados, com qualidade e custos competitivos, surgidos a partir da

utilização de avançadas tecnologias e acompanhados de inovações organizacionais,

1 A instauração do Estado-Previdência (Welfare State) tem como suporte a teoria de John Maynard Keynes, surgida na Grã Bretanha, logo após a crise de 1929. Postulava que o Estado devia funcionar como alavanca para a economia por meio de gastos e investimentos.

14

de acordo com Ferreira (1995), afirmam-se como alternativa ao paradigma fordista.

Acentua, ainda, Ferreira (1995) que se destaca no contexto dessas transformações

uma evolução no sentido da adoção de uma racionalidade completamente diferente

à do sistema fordista, no que tange ao uso da força de trabalho no processo

produtivo, vislumbrando-se aí uma nova concepção de trabalhador e uma

complexificação da função gestão de pessoas, que passa a servir, conforme

pontuam Veloso et al. (1999), como forma de canalização dos processos produtivos

e da energia dos trabalhadores para a construção de organizações mais

competitivas.

O Brasil, por sua vez, a partir da década de 90, com a abertura econômica

promovida pelo governo Collor, começa a experienciar, efetivamente, os impactos

dessa “revolução” técnico-produtiva. Segundo Veloso et. al. (1999), desde então as

empresas brasileiras iniciam a reestruturação de seus processos de produção.

Desse modo, apesar de nossas condições peculiares ainda de país periférico,

embora dito emergente, o mundo do trabalho em nosso país, em conteúdo e forma,

vem se reconfigurando e merecendo, cada vez mais, estudos que esclareçam e

aprofundem esse movimento em suas diversas facetas.

O presente estudo pretendeu embrenhar-se por algumas dessas facetas, enfocando

a complexificação do processo de gerir pessoas, tradicionalmente definido como

uma simples extensão das demais funções administrativas da organização para o

âmbito das relações humanas (FISCHER, 2001). Segundo autores como Dutra

15

(2001), Fleury & Fleury (2004), Fischer (2001) e Zarifian (2001), desenham-se,

contemporaneamente, as seguintes tendências gerais na transformação da gestão

de pessoas:

− deslocamento do foco de atuação via controle dos trabalhadores para o foco via

do desenvolvimento humano;

− estímulo à participação nas questões estratégicas organizacionais; e

− ênfase na necessidade de uma comunicação autêntica, em todas as direções e

sentidos, na organização.

Nesse contexto, poderíamos chamar de empresa que apresenta características de

modernidade organizacional aquela que, sobretudo, valoriza seus empregados não

mais como “recursos”, numa visão de gestão de pessoas que se resume a “um

conjunto de procedimentos de ajuste do indivíduo a um estereótipo de eficiência já

estabelecido pela empresa” (FISCHER, 2001: 13). Tal valorização, de outro modo,

realiza-se numa visão de resgate do ser humano integral, com todo o seu potencial

de conhecimentos, habilidades, atitudes e interesses passíveis de agregar valor a

ele mesmo, aos processos produtivos e à sociedade. Essa lógica tende a deslocar a

atenção do sistema formal de cargos ocupados pelos trabalhadores para aquilo que,

efetivamente, os trabalhadores podem assumir e entregar responsavelmente para a

organização. Essa lógica implica considerar menos o arcabouço tradicional de

tarefas ou atividades já prescritas a serem realizadas e mais a compreensão de que

o universo produtivo encontra-se fortemente influenciado e/ou condicionado por

fatores altamente imprevisíveis.

16

Uma verdadeira mutação na natureza do trabalho humano vem consolidando-se e

revela-se, com cada vez com mais vigor no cerne desse movimento: a importância

de incorporar os avanços no processo de gerir pessoas, a ponto de mostrar-se apto

para valorizar a aquisição e o desenvolvimento de competências profissionais,

necessárias para lidar com o contexto no qual estão inseridas as organizações

contemporâneas. Essa questão, o presente estudo assume como sendo seu foco.

1.1 Problema de pesquisa

O problema foi investigado na Caixa Econômica Federal, uma empresa com atuação

em todo o território nacional, possuindo 60.082 empregados2. Colaboraram

decisivamente como subsídios à formulação da pergunta central da presente

pesquisa os aspectos ligados a sua estrutura de funcionamento predominantemente

burocrática e fatores relacionados a sua dimensão política.

Segundo Kwasnicka (1989), o funcionamento burocrático se traduz, essencialmente,

na existência dos aspectos abaixo, os quais, por sua vez, são passíveis de

constatação na empresa pesquisada:

− conjunto de normas em que são especificados deveres, responsabilidades e

autoridade para cada cargo;

− princípio da hierarquia: os cargos obedecem a uma hierarquia marcada pelos

elementos poder de mando e valor da remuneração atribuída a cada cargo; e

− divisão formal de tarefas, para que cada um possa desempenhá-las segundo

padrões esperados.

2 De acordo com relatório de informações gerenciais, referente ao mês de janeiro de 2005, da Superintendência Nacional de Recursos Humanos da referida organização.

17

Ao lado dos aspectos burocráticos, a empresa apresenta expressiva dimensão

política, decorrente do papel a ela conferido pelo governo federal enquanto agente

viabilizador de diversas iniciativas governamentais, de âmbito nacional, tanto no

campo social (nas áreas habitacional, infra-estrutura urbana, saneamento,

programas sociais, etc) como no campo comercial (onde, por sinal, a competição

com a iniciativa privada se mostra cada vez mais acirrada).

No entanto, essa faceta política, em algumas ocasiões (processos eleitorais,

vacância de cargos politicamente importantes com a acomodação de políticos,

redistribuições de papéis e de poder na cúpula governamental federal, etc.), adquire

outras feições, na medida em que abre flancos que vulnerabilizam a instituição no

sentido de proporcionar sua utilização como “moeda de troca” em negociações e

“troca de favores” entre partidos da situação e da oposição, na esfera do poder

federal.

Em face da estrutura burocrática e da dimensão política apontadas, como também

partindo de uma perspectiva dinâmica e não prescritiva, o que envolve procurar

compreender a Caixa Econômica Federal como uma entidade extremamente

complexa, em constante movimento, a presente pesquisa visou responder ao

seguinte problema:

− A gestão de pessoas da instituição em estudo revela-se com características de

modernidade, no que se refere ao trato com os seus colaboradores, de tal modo

que viabilize e sustente um modelo de competências profissionais?

18

1.2 Justificativa

O processo de acumulação flexível, marca do atual modelo de desenvolvimento

capitalista, ainda se confronta diretamente com a rigidez da concepção taylorista-

fordista. A pesada herança da administração dita científica se faz ainda presente,

levando a uma confusão latente ou, mesmo, explícita entre algo semelhante a um

adestramento do corpo funcional e um genuíno processo de tornar acessível ao

empregado meios para seu efetivo desenvolvimento enquanto pessoa e profissional.

Ao mesmo tempo em que se evidenciam inovações, as quais podem significar a

possibilidade de um trabalho mais rico, autônomo e criativo, constroem-se as

condições de aprisionamento do trabalhador a um trabalho mais pobre, destituído de

conteúdo, como também mais precário. Como acentua Fischer (2001), as

organizações nunca precisaram tanto do que há de mais humano no indivíduo, o

chamado fator intangível: conhecimento, criatividade, emoção e sensibilidade. Por

outro lado, contraditoriamente, as mesmas organizações criam um ambiente de

trabalho em que esse caráter humano tem encontrado escassas condições de

prosperidade, tendo em vista o acirramento da competição entre as pessoas, a

intensificação do ritmo de trabalho e o estreitamento dos vínculos entre desempenho

e resultados.

Vê-se, portanto, a partir desse cenário, que a atual era baseada na flexibilidade dos

processos e mercados de trabalho, dos produtos e dos padrões de consumo, bem

como na eficiência coletiva comporta desafios relevantes no que tange ao como

lidar, nos dias de hoje, com a dimensão humana nas organizações. O caminho

escolhido pela presente pesquisa para tratar dessa problemática consiste em uma

19

investigação sobre práticas de gestão de pessoas, no sentido de verificar se

representam bases adequadas para a implantação de um modelo de competências

profissionais.

Concretamente, essa investigação se deu no contexto da Caixa Econômica Federal,

uma organização bancária estatal de grande porte, com quase um século e meio de

existência, que necessita, com urgência crescente, posicionar-se em um mercado

muito competitivo e que afirma, via discurso corporativo, que “competências

organizacionais são alcançadas a partir de competências pessoais manifestadas

pelos empregados na forma de conhecimentos, habilidades e atitudes” e que “a

empresa tem como papel fundamental apoiar, estimular e orientar o empregado,

propiciando ou favorecendo as condições para enfrentar os novos desafios”.3

É visível nas organizações bancárias uma veloz e abrangente assimilação das

operações de trabalho e do conhecimento disponível por processos automatizados e

pelas próprias máquinas (softwares). Em vista disso, o trabalho dos profissionais que

atuam nessas empresas tem demandado uma reconfiguração que, segundo Zarifian

(2001), coloca em jogo a noção de competência profissional.

De acordo com Ruas (2001), a noção de competência profissional, em sua dimensão

individual, tem surgido como uma forma de repensar as interações entre as pessoas

e seus saberes/capacidades, em articulação com as demandas dos processos

técnicos e relacionais de trabalho nas organizações. Competência, assim, não se

restringiria a ter uma formação educacional ou profissional e nem se reduziria a ter

3 Partes de texto sobre Gestão de Pessoas por Competências, utilizado em treinamento interno da Caixa Econômica Federal. 1o de junho de 2004.

20

um saber ou saber-fazer. Nessa concepção, competência se manifestaria,

efetivamente, na ação; ou seja, quando em situações específicas de trabalho, se

colocasse em prática um repertório de recursos – conhecimentos (saber),

habilidades (saber-fazer) e atitudes (saber ser/agir) – com o fim de resolver

problemas e enfrentar desafios. O que desponta dessa perspectiva, segundo Ruas

(2001), é que não existiria competência sem ação. Assim, competência seria sempre

“competência no ato”. Outro autor, Le Boterf (2003: 40), define-a como “uma

disposição para agir de modo pertinente em relação a uma situação específica”.

Essa mutação de uma lógica centrada no ter (ter uma formação educacional ou

profissional, ter um saber ou saber-fazer) para uma lógica centrada no ser (ser

competente numa situação específica) aponta para um novo patamar de

compreensão da natureza humana no seio das organizações, problematizando o

tradicional modelo de gestão de pessoas ou de “recursos humanos”, enquanto

mobilizador de somente uma “parcialidade” do trabalhador, ou seja, sua capacidade

“física” ou visível de execução, tal como prescrito no paradigma taylorista-fordista. O

que se demanda atualmente são modelos de gestão de pessoas suficientemente

avançados para não conceber o trabalhador somente como um “insumo”. Ou seja, o

cenário dos processos relacionais e produtivos nas organizações modernas está a

exigir, enfaticamente, também, a consideração da dimensão da subjetividade dos

trabalhadores, o que significa ter em conta a experiência humana em toda sua

complexidade, riqueza e profundidade, reconhecendo a interioridade, a

singularidade e a espontaneidade das pessoas (DAVEL & VERGARA, 2001).

21

Sendo assim, a “objetividade” dos modelos tradicionais dos chamados “recursos

humanos” seria acrescida da gestão da subjetividade, o que configuraria, de maneira

figurativa, uma tentativa de apreensão do ser humano “total”. O movimento atual de

valorização da necessidade de aquisição e desenvolvimento de competências tem

revelado essa tendência. Porém, deve-se ter em mente que a instauração dessa

lógica centrada no ser ainda continua inscrita na lógica histórico-mundial do capital,

não constituindo, propriamente, uma metamorfose da racionalidade instrumental

(ANTUNES, 2003). Como pontua Manfredi (1999), há, sem dúvida, um movimento

inovador para dar conta dos desafios que a realidade concreta dos processos

produtivos propõe; contudo, prisioneiro de uma lógica ancorada na perspectiva do

capital, e não do trabalho. Mesmo assim, em que pese a essa inescapável questão,

o que instiga é saber se os traços autoritários, utilitaristas e economicistas da

relação empresa/empregado, característicos da tradicional organização brasileira,

segundo Barros (2003), Freitas (1997), Motta e Caldas (1997), Prates e Barros

(1997) e Sales (1994), já estão sendo substituídos por indicadores de uma gestão

mais moderna e estratégica, de modo a viabilizar e sustentar a aquisição e o

desenvolvimento de competências.

1.3 Objetivos

1.3.1 Objetivo geral

Verificar até que ponto a gestão de pessoas da Caixa Econômica Federal está apta

a adotar e manter um modelo de competências profissionais.

22

1.3.2 Objetivos específicos

− Descrever e analisar o modelo de gestão por competências da Caixa Econômica

Federal.

− Analisar práticas correntes da atual gestão de pessoas da empresa, verificando

sua aderência a um modelo de competências profissionais.

− Elaborar uma caracterização da gestão de pessoas da organização, a partir das

análises das práticas acima e de acordo com modelo proposto por Ulrich (2003),

adaptado com base em contribuições de Brabet (1993).

− Estabelecer um paralelo crítico entre discurso e ações efetivas da atual gestão de

pessoas, principalmente no que se refere ao desenvolvimento de competências;

e

− Contribuir com a organização, clarificando os pontos fortes e fracos em sua atual

gestão de pessoas.

A estrutura desta dissertação é composta de seis seções, incluindo esta Introdução.

A seção 2 aborda o referencial teórico adotado no desenvolvimento do trabalho. A

seção 3 descreve a organização pesquisada. A seção 4 trata da metodologia

utilizada. A seção 5 analisa os resultados, incluindo uma abordagem da gestão por

competências da empresa investigada, bem como uma análise crítica das práticas e

dos papéis da gestão de pessoas da organização estudada. A seção 6 apresenta as

conclusões, limitações e recomendações.

23

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Modernidade organizacional

Historicamente, segundo Zajdsznajder (1993), o conceito de modernidade pode ser

delineado a partir de certas caracterizações, como o mito da tecnologia, o domínio

da razão científica, a idéia de progresso e a exaltação da democracia. Incorpora, de

acordo com Harvey (1992), um interminável processo de rupturas e fragmentações

em relação a períodos anteriores da história da humanidade, tais como o “mundo

primitivo”, o “mundo antigo” ou o “mundo medieval”. Segundo Motta (1998: 4), “a

modernidade alcançou escala mundial, alterou rotinas de vida e do trabalho e

resultou em transformações profundas e novas referências valorativas”. Motta (1998)

afirma, ainda, que ela tem o seu início em momentos históricos, tais como o

Iluminismo, a Renascença, a descoberta do Novo Mundo, a Reforma e a Revolução

Industrial, sendo que as épocas definidoras da modernidade foram marcadas por

alguma característica de grande criatividade: nas ciências, o invento e a descoberta;

nas artes, a originalidade e o inconformismo; e na gestão de empresas, a novidade

na produção.

Eboli (1996) aborda algumas idéias essenciais a respeito do conceito de

modernidade:

− é marcado pelo relativismo de modelos;

− envolve as noções de ética e de valorização do ser humano;

− preocupa-se com a distinção entre o bem e o mal;

24

− significa revolução e instabilidade e mudança e desestabilização alimentam seu

processo;

− rejeita o ideal de conformidade;

− envolve a noção de sujeito (indivíduo enquanto ator social);

− contempla senso de continuidade histórica, já que o indivíduo não vive preso ao

presente;

− não se distancia do passado e possui projetos para o futuro;

− evidencia a interdependência, inter-relação e a coerência entre aspectos

econômicos, políticos e culturais; e

− é dialética – o paradoxo e a contradição fazem parte de sua dinâmica.

De acordo com Touraine (1994), modernidade definida somente pela eficácia da

racionalidade instrumental ignora o homem enquanto ser de liberdade e criação,

colocando-o, assim, à margem de acontecimentos como o desenvolvimento

industrial desenfreado e sem ética, a destruição do meio ambiente e o aumento

desordenado das populações urbanas. Essa visão reducionista do ser humano,

como sendo mero coadjuvante de um discutível progresso da humanidade, gerou os

próprios fundamentos de uma crise que desembocou no estabelecimento de uma

nova modernidade, trazendo o ser humano de volta ao centro da sociedade e

contemplando-o em suas várias dimensões: a tecnológica (combinando

racionalidade e subjetivação); a social (na medida em que a subjetivação só é

possível mediante o movimento social); a política (tendo em vista que a democracia

é o regime que permite a expressão política da pessoa); e a cultural. Pelo exposto,

portanto, modernidade é um processo complexo que traz em seu bojo uma

multidimensionalidade. (EBOLI, 1996).

25

Modernidade, segundo Faoro4, é distinta de modernização. Podem-se fazer as

seguintes diferenciações básicas em relação aos dois conceitos.

Modernidade:

− compromete toda a sociedade, ampliando o raio de expansão de todas as

classes, revitalizando ou renovando seus papéis sociais;

− pressupõe que as classes dirigentes coordenem e organizem um movimento, mas

não que o dirijam, conduzam ou promovam;

− pressupõe o exercício da cidadania; e

− pressupõe um movimento próprio, endógeno.

Modernização:

− significa queimar etapas no processo de desenvolvimento, sepultando uma

modernização anterior;

− mantém a maioria da população alijada de benefícios sociais elementares,

significando negação da cidadania;

− chega à sociedade por intermédio de um grupo condutor, privilegiando os setores

dominantes;

− procura moldar pela ideologia ou pela coação uma certa política de mudança; e

− as classes dominantes conduzem e promovem um movimento, não refletindo na

sociedade sobre a qual atuam.

De acordo com Eboli (1996), tais diferenciações entre modernidade e modernização

evidenciam a idéia de que a coerência e a integração entre os fatores econômicos,

políticos e culturais devem estar presentes nos processos de modernização para

4 Citado por EBOLI, 1996.

26

que, assim, esses possam conduzir a sociedade na direção da real modernidade.

No contexto das organizações brasileiras, em especial no que tange à gestão de

pessoas, a modernidade é bastante enfatizada atualmente pela necessidade que

elas têm de se prepararem para a competição no mundo dos negócios. Apesar de

não se poder generalizar para todas as organizações do país, tendo em vista que,

conforme Fleury & Fleury (2004), a grande maioria das empresas brasileiras ainda

se defronta com modelos bem tradicionais no que concerne à função de gerir

pessoas, algumas tendências gerais de mudanças nos desenhos organizacionais e

sistemas de gestão de pessoas são, segundo os mesmos autores, identificáveis, tais

como:

− estruturas mais enxutas (matriciais, por células ou por processos), com múltiplas

linhas de comando, propiciando maior integração e comunicação;

− valorização da função comercial e de manufatura, com o desenvolvimento de

competências específicas para atendimento às novas demandas do mercado;

− assunção da função de recursos humanos (RH) a um papel relevante na definição

das estratégias do negócio e definição de políticas e práticas mais modernas

para atrair, reter e desenvolver talentos; e

− elevação do nível educacional do corpo de empregados.

Thévenet (1994)5, apud Davel e Vergara (2001), identifica também mudanças

consideráveis na essência do trabalho humano, as quais estão, sobremaneira,

afetando a gestão de pessoas. São elas: interações entre trabalho e tecnologia,

mudanças na definição de cargos, integração de novas categorias de trabalhadores,

5 THÉVENET, M. Le retour du travail et la fin de la gestion de ressources humanines. Revue Française.

27

importância crescente da aprendizagem contínua, controle do trabalho pelos

consumidores, transformação nas funções de liderança e supervisão, e passagem

de uma abordagem individual de trabalho para uma coletiva, em equipe. De acordo

com Davel e Vergara (2001), em decorrência dessas transformações, a pessoa

torna-se fonte primeira de performance.

Pode-se, portanto, vislumbrar que a construção da modernidade no interior das

organizações, por meio da gestão da dimensão humana, demandará um

aprendizado (ou, mesmo, um reaprendizado) por parte de todos os segmentos da

empresa de práticas que manifestem uma concepção dos trabalhadores como

atores indispensáveis à criação e articulação de formas mais avançadas de lidar

com a natureza humana enquanto força de trabalho. Tais práticas constituem-se em

suportes oportunos para o desenvolvimento de competências profissionais

requeridas em um ambiente competitivo, marcado por aceleradas inovações

tecnológicas, globalização da economia e extrema agilização das comunicações,

elementos nuclearmente constituintes de transformações importantes que se operam

nos processos produtivos da atualidade.

Considerando o exposto, modernidade nas organizações faz supor a necessidade

de uma mediação inteligente, dinâmica e estratégica entre as exigências de

competitividade e uma correspondente consideração dos empregados para além do

reduzido homo economicus e racional, incluindo-se, agora, conforme Vergara

(2003), o homo interior, o homo subjectivus e o homo coletivus, com vistas à

sustentabilidade competitiva das empresas.

28

Para os objetivos da presente pesquisa, buscou-se encontrar, a partir da adaptação

feita por Sant’anna (2002) de um modelo de padrões de modernidade organizacional

elaborado por Eboli (1996), indicadores que nos informassem sobre avanços e

anacronismos da gestão de pessoas da instituição Caixa Econômica Federal. Para

tanto, foram contempladas a dimensão administrativa e as práticas de gestão de

pessoas constantes do modelo adaptado acima referido, objetivando-se detectar

como a gestão de pessoas da citada instituição vem efetivando uma mediação entre

as exigências corporativas e os interesses e necessidades dos bancários que nela

trabalham. Para se verificar as características de modernidade relacionadas à

mencionada dimensão, foram focalizadas práticas de gestão de pessoas, a saber:

orientação estratégica, recompensas, avaliação de desempenho, educação

corporativa e promoção/carreira.

Procurou-se, adicionalmente, com a análise dessas práticas e com base em

modelos de gestão de pessoas que serão apresentados nos tópicos seguintes,

detectar congruências e incongruências entre os discursos corporativos e as

referidas práticas da gestão, averiguando com esse procedimento se a empresa tem

procurado gerir pessoas com uma mentalidade estratégica ou se ainda atua, na lida

com seus trabalhadores, concebendo-os, predominantemente, como insumos, e não

como atores organizacionais.

2.2 Modelo de múltiplos papéis da gestão de pessoas

De acordo com Ulrich (2003), a nova realidade competitiva demandará uma nova

maneira de ver a gestão de pessoas. Afirma o referido autor que nos últimos anos os

papéis dos profissionais responsáveis pelas funções de gerir pessoas oscilou de um

modo simplista entre:

29

− qualitativo para o quantitativo;

− policiamento para a parceria;

− foco no curto prazo para o longo prazo;

− administrativo para o consultivo;

− foco interno para foco externo e concentrado no consumidor;

− posturas reativas para preventivas; e

− foco na atividade para o foco nas soluções.

Na verdade, conforme Ulrich (2003), os papéis da gestão de pessoas são todos os

acima apresentados, numa atuação simultânea e sinérgica, porém só fazendo

sentido na medida em que a área corporativa responsável direta por esses papéis

definir metas, em conjunto com os gerentes de linha, que se mostrem indispensáveis

e relevantes para a organização como um todo, consolidando e visibilizando a

função de gerir pessoas como parceria empresarial em realidade, numa visão

estratégica ampla. Sendo assim, a gestão de pessoas não se apresentaria mais

prisioneira, na concepção de Fisher (2001), de um sistema, área ou setor específico

e monopolizador de instrumentos e práticas normatizadas para direcionar o

comportamento humano no ambiente de trabalho.

A partir desse ângulo de visão, Fischer (2001) e Ulrich (2003) afirmam ainda que a

gestão de pessoas ganha um espaço significativamente maior, pois passa,

proativamente, a interferir na maneira como a organização estimula determinados

tipos de relação com clientes, na imagem veiculada internamente sobre os produtos

(endomarketing), no desenvolvimento tecnológico, no desafio de alcançar o

30

crescimento sem aumentar custos e em outros temas organizacionais importantes

para uma inserção competitiva da empresa no mercado.

Diante dessa perspectiva de ampliação simultânea de funções, Ulrich (2003) propôs

um modelo de múltiplos papéis para a gestão de pessoas (FIG. 1).

FUTURO/ESTRATÉGICO

FOCO

PROCESSOS

Administração de

estratégias

Administração da

mudança PESSOAL

Administração da

infra-estrutura

Administração da

contribuição dos funcionários

FOCO

COTIDIANO/OPERACIONAL

FIGURA 1 – Modelo de múltiplos papéis de Ulrich. Fonte: ULRICH, 2003: 39.

Trata-se de um modelo no qual os dois eixos representam o foco e as atividades da

área corporativa de gestão de pessoas. O foco vai do estratégico (longo prazo) ao

operacional do cotidiano (curto prazo), implicando que o profissional gestor de

pessoas deve aprender a ser, simultaneamente, estratégico e operacional,

concentrando-se no longo e no curto prazo. Por sua vez, as atividades se estendem

da administração de processos (ferramentas e sistemas específicos da gestão de

pessoas) à administração de pessoal (captação de pessoas, remuneração,

demissão, etc). Os eixos delineiam ainda quatro papéis principais da gestão de

pessoas:

31

− administração de estratégias – trata do ajuste e da integração das estratégias de

gestão de pessoas à estratégia empresarial. O resultado desse esforço é a

criação de uma arquitetura para incorporar as práticas de gestão de pessoas às

decisões empresariais, no sentido de garantir o alcance de resultados

organizacionais;

− administração da mudança – implica projetar e facilitar sistemas de mudança,

mediante ajustes da cultura interna à desejada pelo mercado e a compreensão

do processo de mudança para a criação de uma mentalidade comum na

organização;

− administração da infra-estrutura – significa a busca de eficiência em processos

administrativos específicos da gestão de pessoas que impactam toda a

organização (terceirização de serviços, processamento de

benefícios/remuneração, treinamentos, promoção, etc.) e contribuições para

melhoria de processos pertinentes a outras áreas; e

− administração da contribuição dos funcionários – implica o descobrimento do

equilíbrio correto entre as demandas da empresa ao trabalhador e os recursos ou

condições (possibilidade de controle sobre as tarefas, trabalho desafiador,

remuneração, tecnologias, etc) disponibilizados pela organização para que o

funcionário possa assumir as mencionadas demandas e respondê-las, à altura,

por meio do seu trabalho. Esse último papel é considerado pelo autor como

sendo equivalente a ser “defensor dos funcionários”, e a sua especificação o

diferencia dos demais papéis, no sentido de estar mais relacionado a uma

postura autoritário-paternalista do que a uma perspectiva verdadeiramente

estratégica. A título de exemplo, transcrevem-se algumas questões do

32

questionário proposto por Ulrich (2003) para caracterizar esse papel de “defensor

dos empregados”:

a) O setor de RH deve ajudar a organização a cuidar das necessidades pessoais

dos funcionários?

b) O setor de RH participa no aumento de dedicação dos funcionários?

c) A eficácia de RH é medida pela capacidade de ajudar os funcionários a

satisfazer/atender necessidades pessoais?

d) O RH dedica tempo a ouvir e responder aos funcionários?

e) O setor de RH trabalha para oferecer assistência para ajudar os funcionários a

satisfazer necessidades familiares e pessoais?

De acordo com Ulrich (2003), o papel de “defensor dos funcionários” implica um RH

capaz de reconhecer, de envolver-se e de atender às demandas, preocupações,

anseios e necessidades dos funcionários, bem como de prover meios e condições

propícias que levem as pessoas a dar sua máxima contribuição para o sucesso da

organização. Porém, acrescentamos que, a nosso ver, também caracteriza uma

gestão autoritário-paternalista, no sentido de posicionar os indivíduos muito mais

como receptores de benefícios, recompensas e incentivos do que como sujeitos

ativos que possam, até mesmo, reivindicar e negociar, diretamente com a gerência,

melhores condições de trabalho.

Para os objetivos do presente estudo, o último papel apresentado foi, então,

reconfigurado pelo modelo político de gestão de pessoas, uma contribuição de

Brabet (1993), a seguir descrita.

33

2.3 Modelo político de gestão de pessoas

Segundo Davel e Vergara (2001), a abordagem política do processo de gerir

pessoas considera as zonas de convergências e divergências entre elas e a

organização, bem como entre as próprias pessoas. Vê as questões sociais,

organizacionais e individuais como potencialmente conflituosas, devendo a gestão

de pessoas arbitrar e integrar os interesses desses níveis diferentes.

Nessa perspectiva, o modelo político de gestão de pessoas ou da arbitragem

administrativa proposto por Brabet (1993)6, citado por Gouveia e Mascarenhas

(2003), absorve e ressignifica o papel de administrar a contribuição dos funcionários,

partindo, sobretudo, da incorporação da idéia de conflito e divergência, considerando

os diversos interesses dos atores organizacionais. Reconhece-se, portanto, que a

busca da mediação entre as exigências da empresa e os recursos ou condições que

ela disponibiliza ao funcionário para a consecução do seu trabalho pode se

apresentar como um processo de negociação e ajustes conflituosos, justamente

porque, nesse momento, confrontam-se percepções, valores e crenças diferentes

por parte tanto da empresa como do empregado.

O modelo político associa-se a uma concepção diferente dos modelos instrumentais

de gestão de pessoas, o qual se baseia no argumento de que a sociabilidade

harmônica gera eficiência econômica, e vice-versa, considerando o conflito como

disfuncional e prejudicial ao sistema social. O credo básico, então, é que um

ambiente harmônico, sem contestações ou resistências e com alto grau de

conformidade é que favorece a produtividade.

6 BRABET, J. Repenser la gestion des ressources humaines? Paris: Econômica, 1993.

34

Alternativamente aos modelos instrumentais, o modelo político reconhece a

existência de várias lógicas e critérios de ação válidos. Apesar de reconhecerem a

existência de conflitos na organização, os dirigentes tentariam superá-los por meio

da negociação, obtendo a coesão entre as partes envolvidas nos processos

decisórios. Segundo Davel e Vergara (2001), nesse modelo, “a ação gerencial é,

prioritariamente, de arbitragem racional e ética” entre a gestão de pessoas e os

indivíduos, envolvendo uma partilha de poder. Essa interlocução gerencial tem como

objetivo tentar obter uma integração dos interesses de cada ator social, com vistas

ao alcance de acordos.

Sendo assim, as principais características do modelo político são:

− eficiência econômica negociada, buscando-se resolver os conflitos por meio da

negociação política;

− construção de uma harmonia social a longo prazo, a despeito de conflitos e

divergências;

− avaliação de resultados feita pelos grupos organizacionais envolvidos nos

processos de decisão;

− a direção geral da empresa é o ator-chave da gestão de pessoas;

− a ação política dos diversos grupos organizacionais constroem socialmente a

empresa;

− a resolução de conflitos, a obtenção de consensos e as questões pertinentes ao

poder são mediadas por decisões racionais e éticas; e

− os trabalhadores são vistos como atores políticos válidos, com potencial de

desenvolvimento positivo, buscando concretizar ativamente seus interesses,

numa ótica de cidadania organizacional.

35

Retomando o modelo de múltiplos papéis de Ulrich (2003), pode-se, agora, adaptá-

lo, tendo como referência o modelo político de Brabet (1993), já descrito. Desta

maneira, substituir-se-á o papel “Administração da contribuição dos funcionários”

pelo de “interlocução política” (FIG. 2).

FUTURO/ESTRATÉGICO

FOCO

PROCESSOS

Administração de

estratégias

Administração da

mudança PESSOAL

Administração da

infra-estrutura

Interlocução

política

FOCO

COTIDIANO/OPERACIONAL

FIGURA 2 – Múltiplos papéis de Ulrich (modelo adaptado). Fonte: ULRICH, 2003.

“Enquanto o papel de administração da contribuição dos funcionários proposto por

Ulrich (2003) caracteriza-se por uma postura tradicional e autoritário-paternalista, a

ponto de ser denominado pelo autor como ”defensor dos funcionários”, o papel

proposto para substituí-lo neste modelo – o de interlocução política – pressupõe o

constante diálogo e a negociação, assim como um papel mais ativo do empregado (FIG.1).

O presente trabalho parte do pressuposto de que a modernidade em gestão de

pessoas, associada a uma atuação estratégica e de interlocução política dessa

gestão, constitui importantes pilares, talvez até mesmo pré-requisitos, para o

estabelecimento de um modelo de competências.

36

2.4 Modelo de competências

O conceito de competência não é recente. Na verdade, constitui uma idéia

consideravelmente antiga, porém (re)conceituada e (re)valorizada no presente em

decorrência de fatores como os processos de reestruturação produtiva em curso, a

intensificação das descontinuidades e imprevisibilidades das situações econômicas,

organizacionais e de mercado, e as sensíveis mudanças nas características do

mercado de trabalho, resultantes, em especial, dos processos de globalização

(FLEURY e FLEURY, 2004).

Diversas, no entanto, têm sido as definições atribuídas ao termo competência. A

inexistência de um consenso quanto a seu conceito, além de divergências de caráter

filosófico e ideológico, pode, também, ser atribuída à adoção da expressão com

diferentes enfoques, em diferentes áreas do conhecimento (MANFREDI, 1998).

Não obstante a ausência de unanimidade quanto ao seu conceito, Barato (1998)

destaca a prevalência de duas correntes principais. A primeira, de origem anglo-

americana, toma como referência o mercado de trabalho, centrando-se em fatores

ou aspectos ligados a descritores de desempenho requeridos pelas organizações. A

segunda, originária da França, enfatiza o vínculo entre trabalho e educação,

indicando as competências como resultantes de processos sistemáticos de

aprendizagem.

De modo similar, Steffen (1999), ao analisar a competência de acordo com diversas

correntes teórico-filosóficas, identifica modelos que seguem a concepção

comportamentalista, típica do sistema norte-americano, centrada na definição de

37

atributos individuais capazes de resultar em desempenhos organizacionais

superiores; a concepção funcionalista, originada na Inglaterra, que enfatiza a

definição de perfis ocupacionais que servirão de apoio para a certificação de

competências e a concepção construtivista, desenvolvida na França, a qual destaca

o processo de aprendizagem como mecanismo central para o desenvolvimento de

competências profissionais, enfocando a relevância de programas de formação

profissional orientados, sobretudo, à qualificação das populações menos dotadas

das novas competências requeridas e, portanto, mais susceptíveis de exclusão do

mercado de trabalho.

Apesar das diferentes perspectivas e abordagens existentes em torno do construto

da competência, alguns pontos comuns em relação a essa noção podem, todavia,

ser identificados.

Em primeiro lugar, a competência é comumente apresentada como uma

característica ou um conjunto de características ou requisitos – saberes,

conhecimentos, aptidões e habilidades – indicados como condição capaz de

produzir efeitos de resultados e/ou solução de problemas (SPENCER e SPENCER,

1993; BOYATZIS, 1982; MCCLELLAND e DAILEY, 1972).

Outro ponto comum às diversas acepções contemporâneas de competência é a

elevada conformidade desse conceito com o discurso empresarial vigente e com as

demandas advindas dos processos de reestruturação e de modernização produtiva

em voga (DESAULNIERS, 1997; HIRATA, 1992; STROOBANTS, 1997).

38

2. 4.1 As noções de evento, serviço e comunicação

Segundo Zarifian (2001), a passagem do modelo do posto de trabalho para o

modelo de competência implica, inevitavelmente, levar em consideração as noções

de evento, serviço e comunicação. Em torno das mesmas, o mencionado autor

explicita o que há de essencial nas mutações atuais no mundo do trabalho e

apropria-as como elementos viscerais na elaboração da noção de competência.

A noção de evento pode ser entendida como aquilo que ocorre de maneira

parcialmente imprevista, aleatória, inesperada, surpreendente, vindo a perturbar o

percurso normal do sistema de produção, ultrapassando a capacidade normal da

máquina de assegurar sua auto-regulagem. Por exemplo: panes, desvios da

qualidade, falta de matérias-primas, mudanças inusitadas no programa de

fabricação, demanda repentina de um cliente e outras circunstâncias inéditas postas

pelo ambiente e que mobilizam as atividades de inovação. Trabalhar assim

implicaria vigilância e tomada de medidas antecipatórias em relação a tais possíveis

conjunturas, a partir das quais se recolocariam as intervenções humanas mais

complexas e mais essenciais. Trabalhar consistiria em estar em expectação atenta

aos eventos e em dominá-los com sucesso, tanto aqueles que ocorrem no interior de

um sistema de produção como aqueles intimamente ligados aos novos problemas

colocados pelo ambiente, os quais mobilizam as atividades de inovação (novos usos

potenciais dos produtos, novas expectativas da clientela, etc).

A noção de serviço, ou de prestar um serviço, delineia-se como sendo uma

intervenção causadora de uma modificação no estado ou nas atividades de outro ser

humano ou instituição destinatários. Portanto, não se trata mais de se conceber

39

serviços bancários, de transporte, de hotelaria e outros em oposição clássica aos

setores secundário (industrial) e primário (agricultura), e sim percebê-los como

concernente ao trabalho moderno. Trabalhar seria sempre gerar um serviço, o que

se distingue da simples venda de um produto. O que importa é, antecipadamente,

saber captar e levar em conta a singularidade da transformação a ser efetivada, a

partir do trabalho realizado, nas condições de atividade do destinatário (pessoa

física ou jurídica).

A introdução desse significado de serviço tem como conseqüência, de acordo com

Zarifian (2001), os seguintes pontos, em especial:

− A qualidade do serviço não se prende ao “invólucro” do produto. Não é apenas o

prazo de entrega, a embalagem, os gastos feitos com publicidade para promovê-

lo. O essencial na qualidade do serviço reside na relação que o produto – seja ele

material ou imaterial – mantém com os usos que o cliente poderá fazer dele.

− O destinatário pode participar da definição do serviço que lhe é proposto.

− A qualidade do serviço é fruto da contribuição de um coletivo composto de

equipes profissionais.

Por último, mas não menos importante, a noção de comunicação envolve, enlaçando

dinamicamente, as duas noções anteriores. Refere-se a um processo pelo qual se

instaura uma compreensão recíproca e se constrói um sentido compartilhado daquilo

que cada trabalhador é levado a assumir, agindo coletivamente ou de maneira

convergente, em face de um evento ou diante de um serviço a produzir (ZARIFIAN,

2001). Sendo assim, a liberdade para se comunicar coloca-se, não só como um

direito de todos, em termos de uma abordagem legalista do assunto, mas como,

40

principalmente, uma necessidade imperiosa que emerge do próprio interior das

evoluções dos sistemas de produção atuais.

Conectando as duas noções de evento e serviço, apresenta-se a noção da

comunicação como “um entendimento recíproco e bases de compromisso que serão

a garantia do sucesso das ações desenvolvidas em conjunto”. (ZARIFIAN, 2001: 45).

Em face dessa colocação, o mesmo autor afirma que a qualidade das interações no

trabalho é fundamental para melhorar o desempenho das organizações em vários

campos:

− no interior de uma equipe de trabalho, entre oficinas, entre oficinas e serviços

conexos, entre ocupações diferentes, entre uma empresa e sua rede de

subcontratados, etc; e

− nos diferentes aspectos de desempenho da organização, como na qualidade dos

produtos e serviços oferecidos, nos prazos e nos esforços de inovação.

Fica aqui subentendida a necessidade de uma comunicação suficientemente

compreensiva entre o produtor do serviço e o “comprador”, a partir de diversos

eventos, para que a “solução”, fruto do trabalho, seja a mais condizente possível

com a expectativa do usuário ou cliente.

Fundamentalmente, essas três noções (evento, serviço e comunicação) concorrem

em conjunto para o questionamento do modelo prescrito de cargo tradicional, o qual

parte de uma análise dita objetiva do posto de trabalho, inferindo as capacidades

físicas, os conhecimentos técnicos e uma disciplina social, aos quais o trabalhador

deve se adequar. É nesse questionamento do modelo prescrito de cargos que se

41

encontra o cerne da problematização representada pelo debate entre o modelo de

qualificação e o de competência.

Conforme Zarifian (1996), não se pode negar que o modelo de qualificação

possibilitou:

− massiva integração na indústria de pessoas sem experiência industrial, mediante

sua formação profissional e sua inserção no processo de produção, em função

das capacidades necessárias para os postos de trabalho;

− objetivação da qualificação, tornando-a relativamente independente das

características particulares das pessoas (a pessoa representa, assim, um grupo

socioprofissional, e dessa forma os referenciais do emprego são supostamente

estáveis no tempo e transmissíveis, na medida em que independem das

características pessoais dos indivíduos); e

− permissão da circulação do conhecimento profissional, graças aos referenciais de

formação e aos manuais de treinamento correspondentes.

Trata-se de um modelo, no entanto, que acaba por privilegiar a especialização, a

fragmentação de tarefas, enfim, a conformidade com uma tradição taylorista-fordista,

como também com uma organização burocrática, mostrando-se, de certa forma,

anacrônico em relação às atuais exigências originadas da transformação do mundo

do trabalho (ZARIFIAN, 1996).

A crescente complexidade dos processos produtivos (e aqui, necessariamente,

devem-se contemplar as noções de evento, serviço e comunicação explicitadas

acima) está a impor ao sujeito trabalhador o resgate ou o reconhecimento de que ele

42

é um ser que pensa, sente e percebe o cenário no qual vive; enfim um ser que

possui uma subjetividade capaz de abstrair, criar e comunicar, o que traz à baila a

urgência de modelos de gestão de pessoas que levem em conta, em seu arcabouço,

essa subjetividade. Nesse sentido, o modelo de gestão por competências propõe-se

a considerar o indivíduo em sua singularidade e em sua confrontação com a

dimensão dos eventos, bem como em seu “diálogo” com os públicos internos e

externos à organização envolvidos em sua prestação de serviço. Porém, a

assimilação dessa lógica da competência (no singular) não é possível sem a

aquisição de competências (no plural).

Esse processo de aquisição de competências, entretanto, tem enfrentado

obstáculos, considerando duas grandes concepções de formas de aprendizagem,

atualmente em crise, segundo Zarifian (1996):

− Modelo escolar – construído a partir do princípio de transferência de

conhecimentos e de comportamentos. Supõe-se, nesse paradigma, que os bons

conhecimentos e os bons comportamentos existem e que o essencial da

formação consiste na assimilação desses conhecimentos e comportamentos

pelos treinandos, para poder, em seguida, reproduzi-los e aplicá-los nas

situações profissionais reais.

− Modelo da experiência – baseia-se no princípio da aquisição de conhecimentos

no próprio exercício do trabalho, on the job, muitas vezes, a partir da

transferência de experiência dos mais velhos para os mais jovens. Porém, isso

supõe que a situação profissional permaneça estável e que os conhecimentos

assim adquiridos sejam duráveis e transmissíveis ao longo de toda a vida

profissional.

43

Este autor afirma que um primeiro obstáculo decorrente desses modelos relaciona-

se à questão de que uma parte dos mencionados conhecimentos não existe,

particularmente os “saberes” contextuais, que permitem tratar os eventos

imprevistos, conduzir as inovações ou realizar novas arbitragens entre

performances. Esses conhecimentos não podem ser produzidos senão no momento

das situações reais de trabalho ou a partir de um re-exame próximo dessas

situações.

O segundo obstáculo, de acordo com o citado autor, refere-se à constatação de que

mobilizar conhecimentos, em situações em que se requer assumir responsabilidade

e atuar com reflexividade, não é o mesmo que aplicá-los conforme um modelo

escolar de reprodução. Na verdade, essa mobilização consiste em fazer uso dos

conhecimentos para encontrar, de modo singular e, muitas vezes não recorrente, as

boas soluções. “É na possibilidade de relacionar, pertinentemente, os

conhecimentos prévios e os problemas que se reconhece uma competência”.

(PERRENOUD, 1999: 32).

Em outro enfoque a respeito do modelo de competências, Dutra (2001) introduz o

conceito de “entrega”, afirmando ser mais adequado orientar o desenvolvimento das

pessoas, bem como avaliá-las e recompensá-las em razão do que elas oferecem

responsavelmente à organização. Sendo assim, o sistema formal de cargos impacta

negativamente nesse ponto, pois privilegia apenas o que as pessoas fazem de

acordo com o que permite a descrição formal dos seus cargos.

44

A abordagem da competência vinculada ao que o sujeito entrega para a organização

considera que se dois funcionários que ocupam os mesmos cargos formais são

avaliados e remunerados por parâmetros idênticos, mas somente um deles é que

efetivamente resolve um problema apresentado aos dois no prazo e segundo as

condições previamente estabelecidos, este, com certeza, é mais valioso, tendo-se

como parâmetro de análise o conceito de entrega. Entrega, portanto, refere-se à

capacidade da pessoa de saber agir de modo responsável, devendo ser reconhecido

por isso.

Dutra ainda traz à cena o conceito de “complexidade”, intrinsecamente vinculado ao

de “entrega”, que permite avaliar o nível de agregação de valor à empresa ou a um

negócio.

No passado, podia-se dizer que um supervisor de produção agregava mais valor que

um ajudante de produção. Hoje, não existe mais o ajudante de produção, mas um

operário multifuncional e polivalente. No lugar do supervisor, encontram-se grupos

semi-autônomos e autogeridos.

Antes, podia-se afirmar que um diretor agregava mais valor à empresa do que um

gerente. Atualmente, o gerente de uma unidade de negócio que fatura 500 milhões

de reais por ano agrega mais valor à organização do um diretor de outra unidade

que fatura 50 milhões de reais por ano (DUTRA, 2001: 29).

Pelo contemplado acima, desde que se verifique a falência do sistema de cargos

como arcabouço diferenciador dos trabalhadores, torna-se imprescindível dispor de

45

um outro referencial, mais moderno, que incorpore a complexidade das novas

atribuições e responsabilidades de cada pessoa no contexto organizacional, sendo

este, portanto, constituído pelo modelo de competências. A presente pesquisa

pressupõe que um modelo de competências possui chances de se consolidar

efetivamente quando o lidar com o elemento humano na empresa calca-se em

práticas de gestão de pessoas com características de modernidade, sem descartar,

por outro lado, a possibilidade de uma relação circular, de modo a que a gestão por

competências possa também alavancar processos de modernização da gestão de

pessoas e da própria organização como um todo.

2.5 Modernidade organizacional e as competências profissionais

Sant’anna e Kilimnik (2004) têm realizado diversos estudos nos últimos anos, acerca

da relação entre modernidade organizacional e competências profissionais. A

presente dissertação pretende enquadrar-se nesta mesma linha de pesquisa.

Estes pesquisadores, partindo da compreensão da competência como uma

resultante da combinação de múltiplos saberes – saber-fazer, saber-agir, saber-ser –

capazes de propiciarem respostas efetivas aos desafios advindos do atual contexto

dos negócios, adotaram para a identificação das competências profissionais mais

enfaticamente requeridas pelas organizações uma extensa revisão da abordagem

anglo-americana, destacando-se trabalhos de autores como Spencer e Spencer

(1993), Boyatzis (1982) e Mcclelland e Dailey (1972), bem como francesa,

considerando, dentre outros, os estudos de Zarifian (2001), Perrenoud (2001), Dubar

(1998), Stroobants (1997) e Le Bortef (1994).

46

Foi elaborado e validado um questionário aplicado em pós-graduandos de

Administração e de Telecomunicações. A partir do conjunto dos dados obtidos, tem

sido possível confirmar indicações prévias de uma elevada demanda, por parte das

organizações, das competências avaliadas vis-à-vis graus moderados de

modernidade de suas políticas e práticas de gestão.

Vale salientar, não obstante a percepção dos respondentes quanto à significativa

demanda pelo conjunto das competências pesquisadas, um elevado grau de

concordância em suas respostas no que se refere a uma maior ênfase naquelas

relacionadas à performance organizacional, como a capacidade de gerar resultados,

o que vem ao encontro da própria noção de competência, entendida como a

capacidade de mobilizar múltiplos saberes, com vistas à geração de resultados

efetivos (PERRENOUD, 2001).

Já em relação à modernidade organizacional, os resultados confirmaram também

indicações de menores graus de modernidade em comparação com os índices de

competências requeridas. Cabe ressaltar, nesse sentido, percepções quanto à

prevalência de processos de tomada de decisões pouco participativos, transparentes

e descentralizados, bem como de baixos graus de autonomia conferida aos

trabalhadores. Dessa forma, apesar de terem sido constatados incentivos

organizacionais à aprendizagem contínua, ao trabalho em equipes e ao

compartilhamento de informações (LEITE, 1993; WEIL, 1991), ainda prevalecem

práticas autoritárias e centralizadoras. Tais achados, somados aos baixos graus de

modernidade verificados na dimensão política, reforçam tese defendida por Leite

(1996) de que a modernização em voga no país compreende um processo que

47

ainda hoje pode ser definido como de modernização conservadora, sugerindo a

necessidade de adoção por parte das organizações de políticas e práticas de gestão

mais aderentes aos novos perfis profissionais requeridos. Nessa direção, a análise

comparativa das pesquisas realizadas por Sant’anna e Kilimnik (2004) mostrou que

os seus resultados se fortalecem mutuamente, propiciando-nos afirmar com maior

segurança que as exigências quanto a um novo perfil de trabalhador não têm sido

acompanhadas, no grau preconizado por tais autores, por um novo conjunto de

princípios, calcados na autonomia e participação dos trabalhadores nos processos

decisórios.

Concomitantemente, os resultados apontam contradições entre discurso e prática de

modelos de gestão em voga. Fica, todavia, a expectativa de que, como em um

círculo virtuoso, a presença de profissionais dotados de competências cada vez mais

abrangentes e sofisticadas, porém insatisfeitos com a defasagem entre o que lhes é

exigido e as contrapartidas em termos de suporte ou modernidade organizacional,

possa redundar em pressões por mudanças capazes de conduzir a uma real

modernidade, favorecedora de uma efetiva atração, desenvolvimento e retenção de

talentos.

Este estudo, cujo problema de pesquisa foi identificado a partir de observações e

experiência do autor na instituição pesquisada, associadas às constatações das

pesquisas acima descritas, propôs-se a avaliar a modernidade em gestão de

pessoas com base no modelo de Eboli (1996), adaptado por Sant´anna (2002),

acrescido das contribuições do modelo de Ulrich (2003), por sua vez, adaptado pelo

autor da presente dissertação com elementos do modelo político de gestão de

pessoas de Brabet (1993).

48

3 A ORGANIZAÇÃO PESQUISADA

O presente capítulo compreende uma visão geral da empresa investigada, de sua

história e de alguns aspectos legais, assim como da sua atual estrutura. Aborda,

também, as políticas de gestão de pessoas e o funcionamento da respectiva área

nessa organização.

Foram utilizadas para tal, informações obtidas por meio de consultas, contemplando:

uma apostila de treinamento7 da organização estudada, livro que descreve a história

da instituição8, dissertação (RIBEIRO, 1999)9 e monografia (REGO, 2002)10, ambas

realizadas por funcionárias da empresa, reportagem da revista “Isto É11, o atual

estatuto da empresa12, relatório gerencial da instituição13, várias publicações de

âmbito interno da instituição (citadas ao longo do texto) relativas aos principais e

mais abrangentes programas e modelos de gestão implementados na organização a

partir da década de 90 e outros documentos disponibilizados ao público interno, via

intranet.

3.1 Histórico

A criação de instituições financeiras voltadas para a captação de poupanças

populares efetivou-se em fins do século XVIII, em Hamburgo, Alemanha, tendo em

vista a necessidade de uma nascente classe operária garantir, de alguma forma, sua

7 Apostila intitulada “Histórico da CEF”. 8 BUENO, Eduardo. Caixa: uma história brasileira. Porto Alegre: Buenas Idéias, 2002. 9 RIBEIRO, Lore Margarete Mânica. Remuneração por competências: percepção dos gestores da área negocial de uma empresa financeira estatal. 1999. 10 REGO, Miriam Ataíde Silva. Gestão de Pessoas por Competências: o caso Caixa. 2002. 11 Entrevista concedida pelo atual presidente da Caixa, Jorge Mattoso, à “Revista Isto é”, em 02.06.2004. 12 Conforme decreto 5.056 de 29.04.04 da presidência da república. 13 Portfólio de Informações Gerenciais da Superintendência de Nacional de Recursos Humanos. Jan./2005.

49

segurança futura, numa época em que não havia qualquer tipo de seguridade social.

Posteriormente, criaram-se também as instituições denominadas “caixas

econômicas” na França, Holanda, Áustria, Finlândia, Itália, Portugal e Inglaterra,

todas nas primeiras décadas do século XIX e com a finalidade de absorver

pequenas economias da classe trabalhadora. Em 1818, já entravam em

funcionamento nos Estados Unidos.

No Brasil, foi na vigência da primeira Constituição brasileira, outorgada por D. Pedro

I, em 1824, e por meio da Lei 1.083, de 22.8.1860, chamada “Lei dos Entraves”, que

iniciou-se a história da Caixa Econômica Federal. A citada lei, entre outras

providências, deu amparo à criação de instituições ligadas ao setor público e

dedicadas à captação de poupanças populares. Sua regulamentação viria logo

depois, em 12 de janeiro de 1861, pelo decreto 2.723, pelo qual foram aprovados os

regulamentos que estabeleceram uma Caixa Econômica e um Monte de Socorro na

cidade do Rio de Janeiro.

Concebida como entidade de “dupla personalidade”, os títulos da Caixa Econômica

Federal e do Monte de Socorro designavam atividades distintas até nos respectivos

regulamentos, embora possuíssem uma só administração. A Caixa Econômica

recebia os depósitos populares e o Monte de Socorro trabalhava com empréstimos

sob penhor de garantias reais, ou seja, ouro e pedras preciosas. É dessa época o

fato de os negros escravos depositarem na Caixa seus poucos tostões, à espera de

acumular o suficiente para a compra da alforria ao senhor, seu amo, conforme o

aceno da legislação daquele tempo.

50

Rapidamente, a nova instituição obteve grande êxito no desempenho de suas

atribuições no campo social, ampliando sua abrangência de atuação a partir da

promulgação do decreto 5.594, de 18 de abril de 1874, que deu condições para a

instalação de Caixas Econômicas em quase todas as províncias do império.

Até 1934, já no período republicano, a estrutura das Caixas Econômicas/Monte de

Socorro, herdadas do Império, era bastante inflexível: não era permitido outro tipo de

atividade financeira que não fosse a captação da poupança popular e a concessão

de empréstimos sob garantia de jóias e pedras preciosas, como já mencionado.

A partir do decreto 24.427, de 19 de junho de 1934, a empresa ampliou seu leque de

atividades, passando a conceder empréstimos sob caução de títulos da dívida

pública, sob consignação de salários de funcionários públicos e sob garantia

hipotecária. Além disso, todas as Caixas Econômicas espalhadas pelo país

transformaram-se em autarquias (entidades autônomas), coordenadas por um

Conselho Superior, o qual passou a orientar o desenvolvimento das operações

dessas instituições nos estados e a fiscalizar a execução de leis e atos

regulamentares a elas pertinentes.

A instituição funcionou com essa estrutura até 1970, quando, com respaldo no

decreto-lei 759, de 12 de agosto de 1969, as 22 Caixas Econômicas localizadas nos

estados se unificaram, passando a atuar de forma padronizada e constituindo-se em

uma só empresa pública. Tal organização é a Caixa Econômica Federal, como hoje

a identificamos.

51

Após a unificação, a Caixa passa a consolidar sua posição no conjunto de entidades

financeiras públicas. Desde então, vem ampliando significativamente sua atuação

tradicional no campo social, via fomento ao desenvolvimento urbano (habitação,

saneamento e infra-estrutura urbana) e a administração de diversos fundos,

programas e serviços.

A forte tradição de atuação no âmbito social, por outro lado, não imuniza a empresa

no que diz respeito ao acirramento da concorrência no setor financeiro, em especial

a partir da década de 90. Desde essa época, portanto, sua inclinação para uma

atuação forte no campo social tem sido questionada pela realidade de um mercado

bancário intensamente competitivo, no qual principalmente os bancos privados

ampliam seus espaços. Em face desse cenário, iniciam-se esforços institucionais

objetivando a uma reinserção estratégica da empresa nesse mercado,

consubstanciados em vários programas de gestão. A idéia que vai prevalecendo a

partir de então é a de que uma dimensão comercial sólida e competitiva (uma “nova”

Caixa mais ágil, eficiente, eficaz e lucrativa) é suporte indispensável para que a

dimensão social se sustente e se perpetue.

A primeira iniciativa importante no sentido de a organização buscar um novo

posicionamento no mercado data do começo da década de 90 e refere-se a um

programa de “Qualidade total”. De acordo com publicação interna, os quatro

princípios norteadores desse programa (chamado “Qualidade Caixa”) são: satisfação

do cliente, melhoria contínua, gerência participativa e valorização do ser humano.

52

Em 1995, surge um outro programa, denominado Programa de Racionalização e

Competitividade (PRC)14.

De acordo com o Boletim Interno que divulgou o PRC, as suas diretrizes são:

− centralizar na matriz a formulação das políticas e diretrizes de caráter estratégico,

bem como a coordenação das atividades de acompanhamento, avaliação e

controle;

− descentralizar as ações operacionais, permitindo maior agilidade para decisão e

execução;

− desenvolver de forma integrada os três segmentos de negócios: comercial,

fomento e prestação de serviços;

− aumentar a eficiência operacional global da Caixa, em especial do segmento

comercial;

− melhorar a qualidade e a eficiência da empresa, notadamente nos segmentos de

prestação de serviços e fomento;

− racionalizar a estrutura organizacional, com a eliminação de níveis hierárquicos,

tornando-a ágil e competitiva;

− privilegiar as atividades voltadas para o negócio da empresa;

− fortalecer as funções gerenciais e as instâncias decisórias; e

− reduzir as despesas operacionais.

14 O programa denominado PRC foi instituído pela Administração da Caixa para repensar a estrutura organizacional e funcional da empresa. A implementação plena do Programa objetiva harmonizar a Caixa com as atuais e futuras necessidades do mercado, buscando o desenvolvimento de suas principais atividades – fomento, prestação de serviços e comercial, com redução de custos e elevação da qualidade (PRC: nasce uma nova Caixa, 1995).

53

Em consonância com o Programa de Racionalização e Competitividade, formalizou-

se uma estrutura organizacional ancorada em três subsistemas, descritos no

QUADRO 1.

QUADRO 1

Estrutura organizacional – três subsistemas

SUBSISTEMAS RESPONSABILIDADES

Central

(Diretoria Colegiada)

− Formulação de políticas e diretrizes estratégicas; − Coordenação global das atividades de controle,

acompanhamento e avaliação; − Integração e articulação dos demais subsistemas.

Logístico

(Unidades Administrativas de Apoio)

− Execução de atividades e processos necessários à operacionalização de produtos e serviços;

− Desenvolvimento de estudos/ações que visem à otimização do processo produtivo.

Negocial

(Escritórios de Negócios/Agências)

− Desenvolvimento de ações táticas destinadas ao cumprimento

das metas; − Operacionalização e comercialização de produtos e serviços.

Fonte: CEF, 1995.15

Em setembro de 1998, implanta-se o “Modelo de gestão por resultados”, baseado na

identificação da “rede” dos processos que sustentam os negócios da organização.

Com base neste modelo, descrevem-se os processos, produtos e clientes da

empresa, estabelecendo a malha de relacionamentos internos e buscando uma

visão horizontalizada do trabalho. Um boletim interno pesquisado assim expressa

esse outro momento:

Qualidade Total. Racionalização e Competitividade. Rede de Processos. Indicadores de Performance. Gestão por Resultados. Nos últimos cinco anos, você se familiarizou com diferentes terminologias, que representaram as principais mudanças ocorridas no modelo de gestão da Caixa durante esse período. (GESTÃO POR RESULTADOS. Brasília: Caixa, 1999: 1)

15 Boletim Interno Caixa, Brasília, 1995.

54

De acordo com este boletim, tal modelo de gestão é um aprimoramento do PRC e

funciona procurando eliminar a superposição ou indefinição de responsabilidades,

estabelecendo claramente a relação entre clientes e fornecedores internos, e

acompanhando, avaliando e controlando processos organizados em rede, por meio

de índices numéricos chamados de “indicadores de performance”.

Conforme Ribeiro (1999), em diagnóstico realizado em 1999, percebeu-se a

necessidade de, novamente, redirecionar a estratégia da empresa em três eixos de

sustentação: foco no cliente, nivelamento econômico e melhoria dos mecanismos de

controle. Tal proposta de mudanças começou a ser implantada em outubro do

mesmo ano.

Nas atividades negociais, propõe-se a segmentação das atividades relacionadas a

produto, canal e cliente, juntamente com ações de fortalecimento dessas mesmas

áreas, criando processos voltados para o desenvolvimento e gestão de produtos,

com horizontalização da estrutura.

Nas atividades de suporte ao negócio, propõe-se a segmentação das atividades de

manutenção e cobrança, redimensionamento das atividades de retaguarda, redução

de custos operacionais, melhoria dos níveis de controle e automação e

verticalização da estrutura, com maior amplitude de supervisão.

Ainda no ano de 1999, formaliza-se a missão e valores oficiais da empresa,

conforme QUADRO 2.

55

QUADRO 2

Missão e valores oficiais da CEF

MISSÃO VALORES

Promover a melhoria contínua da qualidade de vida da sociedade, intermediando recursos e negócios financeiros de qualquer natureza, atuando prioritariamente no fomento ao desenvolvimento urbano, nos segmentos de habitação, saneamento e infra-estrutura e na administração de fundos, programas e serviços de caráter social” (Caixa, 1999:3).

− Direcionamento das ações para o atendimento da sociedade e dos clientes;

− Busca permanente de excelência na qualidade dos serviços;

− Equilíbrio econômico-financeiro em todos os negócios;

− Conduta ética pautada exclusivamente nos valores da sociedade;

− Respeito e valorização do ser humano” (CAIXA,1999: 3).

Fonte: CEF, 1999.16

Em 2001, a questão habitacional ganha ênfase. Efetiva-se um plano de

reestruturação patrimonial de grande envergadura (BUENO, 2002).17 Dentre os

aspectos mais relevantes, destaca-se um repasse de R$ 26,7 bilhões a título de

ativos desequilibrados, referentes a financiamentos imobiliários com prestações

defasadas, para uma empresa criada pelo Tesouro Nacional, denominada Empresa

Gestora de Ativos (EMGEA).

Com essa medida, busca-se imprimir a modernização dos processos de crédito

imobiliário para reduzir custos, aumentar a rentabilidade, diminuir os riscos e

restaurar um equilíbrio financeiro-operacional da organização, na época, seriamente

comprometido.

16 Plano de Ação Anual, Brasília, 1999. 17 BUENO Eduardo. “Caixa: uma história Brasileira”. Porto Alegre: Bueno & Bueno, 2002.

56

O momento vivido pela empresa a partir de 2003 (governo Lula)18 pode ser retratado

por meio de depoimentos colhidos pela revista “Isto é”, em entrevista com o seu

presidente, Jorge Mattoso.19

Conforme revela a reportagem, a direção da empresa tem como meta conciliar os

tradicionais valores da cartilha ideológica esquerdista (igualdade e justiça social)

com a busca de maior competitividade no mercado bancário, almejando o lucro em

suas atividades. De acordo com o presidente da organização, a imagem da

empresa, num passado recente, era a de um banco público desempenhando

atividades nas áreas de habitação, saneamento e patrocínio de programas sociais,

mas sem um bom desempenho na área comercial. No entender do citado dirigente,

não se deve aceitar a idéia de que a Caixa é um banco somente dos pobres e que,

em sendo assim, não é para ter lucro. Afirma o presidente que a instituição é um

banco de todo o povo brasileiro, incluindo pobres, classe média e empresas,

devendo suas atribuições na área comercial, na área do desenvolvimento urbano

(habitação, saneamento e infra-estrutura urbana) e na área de transferência de

benefícios (pagamento de programas sociais) existirem de forma integrada uma com

a outra.

3.2 Aspectos legais e estrutura organizacional

De acordo com seu atual estatuto, a Caixa Econômica Federal é uma instituição

financeira, constituída sob a forma de empresa pública, vinculada ao Ministério da

Fazenda e sujeita à fiscalização do Banco Central do Brasil. Tem sede e foro na

capital da República, prazo de duração indeterminado e atuação em todo o território

18 Luís Inácio Lula da Silva, atual presidente do Brasil. 19 Revista ISTO É. São Paulo, n. 1808, 2004.

57

nacional. Em linhas gerais, tem por finalidade receber depósitos, prestar serviços

bancários de qualquer natureza, explorar com exclusividade as loterias e operações

de penhor, atuar como principal órgão de execução da política habitacional e de

saneamento do Governo Federal, atuar como agente operador e financeiro do

Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), administrar fundos e programas

delegados pelo Governo Federal e conceder empréstimos e financiamentos de

natureza social.

O estatuto da empresa prevê, ainda, como órgãos centrais de gestão:

− um Conselho de Administração, órgão de orientação superior da Caixa, com

atribuições estratégicas, orientadoras e fiscalizadoras do desempenho da

empresa, sendo composto por sete membros: cinco indicados pelo ministro de

Estado da Fazenda, dentre eles, o presidente do Conselho, o presidente da

Caixa (que exerce a vice-presidência do Conselho) e um membro indicado pelo

ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão. Os membros do

conselho de administração são nomeados pelo presidente da república, com

mandato de três anos, podendo ser reconduzidos por igual período;

− um Conselho Diretor, órgão colegiado de deliberação da empresa, responsável

pela aprovação e apresentação ao Conselho de Administração de políticas, de

estratégias corporativas, do plano geral de negócios, dos programas de atuação

de longo prazo, do plano diretor e do orçamento global. É composto pelo

presidente da Caixa e vice-presidentes;

− uma Diretoria Executiva, órgão colegiado responsável por executar e fazer

executar as deliberações do Conselho de Administração e as decisões do

Conselho Diretor. É composto pelo presidente da Caixa e por diretores.

58

Atualmente, a estrutura organizacional por onde fluem os processos da empresa é

constituída, basicamente, pela Matriz (composta pela Presidência, Diretorias,

Superintendências Nacionais e Gerências Nacionais), por Unidades-Meio,

representadas por Filiais, Representações e Centrais, e por Escritórios de Negócios

com suas redes de agências. A Matriz é responsável pela definição de diretrizes e

pelo controle dos resultados de todos os processos da organização. As Unidades-

Meio são extensões dos processos de apoio administrativo e/ou negociais existentes

na Matriz, caracterizando-se por serem unidades que operacionalizam as atividades

referentes àqueles processos, no âmbito das respectivas abrangências regionais. Os

Escritórios de Negócios e as redes de agências são extensões dos processos

especificamente negociais da Matriz.

A Caixa possui atualmente 2.100 agências20, contando com um quadro de 60.082

empregados (relatório de informações gerenciais de jan/2005), além de estagiários e

prestadores de serviços. O patrimônio líquido da instituição, conforme dados do

balanço do primeiro semestre de 2004, é da ordem de R$ 6.158,8 milhões. De

acordo com a Revista “Valor 1000”21, a Caixa ocupa a segunda posição, em total de

ativos (R$ 150.495,5 milhões) entre os 100 maiores bancos do país.

Em Belo Horizonte, onde a presente pesquisa foi realizada, a Caixa conta com três

Escritórios de Negócios, aos quais se vinculam aproximadamente 95 agências,

localizadas tanto na capital do estado como em diversas cidades do interior de

Minas Gerais. Belo Horizonte abriga ainda cerca de 32 unidades-meio, entre Filiais,

Representações e Centrais.

20 Revista ISTO É. São Paulo, n. 1808, 2004. 21 Edição do mês de julho/2004. Esta revista é uma publicação anual do jornal “Valor Econômico”.

59

3.3 A área de gestão de pessoas

A estrutura organizacional da Área de Gestão de Pessoas é composta por:

− 1 Superintendência Nacional de Recursos Humanos (SUREH);

− 6 Gerências Nacionais, a saber:

− Gerência Nacional de Integração das Políticas da Gestão de Pessoas

(GEINP);

− Gerência Nacional de Educação Corporativa (GENEC);

− Gerência Nacional de Relações de Trabalho e Provimento (GERET);

− Gerência Nacional de Negociações Trabalhistas e Previdência Privada

(GENEP);

− Gerência Nacional de Saúde e Ambiência Corporativa (GESAD);

− Gerência Nacional de Quadro de Pessoas e de Terceirização (GEPES); e

− 1 Centralizadora de Gestão do Plano de Saúde (CEPLE), vinculada à Gerência

Nacional de Saúde e Ambiência Corporativa;

− 14 Representações de Matriz, denominadas Representações de Relacionamento

Integrado de Recursos Humanos (RERHI), vinculadas à Gerência Nacional de

Integração das Políticas da Gestão de Pessoas;

− 1 Centralizadora de Recursos Humanos (CERHU), vinculada à Gerência Nacional

de Relações do Trabalho e Provimento; e

− 2 Representações de filial de Recursos Humanos (RERHU), vinculadas à

Gerência Nacional de Relações de Trabalho e Provimento.

A FIG. 3 mostra o organograma da estrutura organizacional da Área de Gestão de

Pessoas.

60

FIGURA 3 – Organograma da Área de Gestão de Pessoas da CEF. Fonte: CEF, 2003.

A política básica de atuação da área22 visa concentrar esforços na construção de um

pensamento comum em relação à gestão de pessoas na organização, na orientação

para o futuro e na busca de transparência interna e externa.

Ainda de acordo com o documento acima referido, a missão da Área é viabilizar

políticas, diretrizes e instrumentos que orientem a gestão de pessoas para a

realização das estratégias da instituição e a transformação dessas estratégias em

capacidades organizacionais colocadas a serviço da sociedade.

Descrevemos a seguir alguns pontos do regulamento interno de pessoal da empresa

investigada, os quais consideramos mais afins ao desenvolvimento da presente

pesquisa:

− O quadro de empregados da empresa é formado por cargos efetivos, funções de

confiança e cargos em comissão, sendo estruturado segundo o Plano de Cargos

22 Estas informações estão disponibilizadas na rede interna (intranet) da instituição, podendo ser acessados por todos os funcionários.

61

e Salários. Cargo efetivo, segundo o citado regulamento, é o agrupamento de

atividades correlatas, que envolvem o mesmo grau de complexidade e

responsabilidade, escalonado em níveis salariais, para ocupação em caráter

permanente. Por sua vez, tanto a função de confiança como o cargo em

comissão compreendem o conjunto de atividades específicas, que se diferenciam

das atribuições inerentes aos cargos efetivos quanto à natureza e ao nível de

responsabilidade e complexidade, tendo ocupação em caráter provisório.

Alterações no mencionado quadro de empregados deverão ser aprovadas pelo

Conselho Diretor e submetido à decisão do Ministério ao qual a instituição estiver

vinculada.

− Quanto ao processo de provimento de pessoal, os cargos efetivos deverão ser

providos mediante processo seletivo externo (concurso público); e as funções de

confiança e cargos em comissão, mediante designação da autoridade

competente. A admissão dos candidatos aprovados em concurso público deverá

ocorrer por ordem de classificação, de acordo com as necessidades de serviço e

o número de vagas disponíveis.

− A promoção do empregado dar-se-á por merecimento, com base em critérios de

mérito, apurados por meio de instrumento de avaliação de desempenho e

também por antiguidade, concedida com base no tempo de serviço prestado à

empresa;

− a remuneração mensal do empregados poderá compreender, basicamente, as

parcelas relacionadas a salário-padrão, função de confiança, gratificação por

exercício de cargo em comissão e, se necessário, um complemento temporário

variável de ajuste a valores de piso de mercado.

62

Encontra-se, por fim, em vias de implantação em toda a empresa um modelo de

competências profissionais, sob a responsabilidade da Área de Gestão de Pessoas.

[...] trata-se de um modelo dinâmico que toma como referência a estratégia da empresas para direcionar as ações de recrutamento e seleção, treinamento e formação, gestão de carreira, desempenho e estabelecimento de parcerias, mediante a captação, retenção e o desenvolvimento de competências necessárias ao alcance dos objetivos estratégicos. (Guia de atuação no modelo de Gestão de Pessoas por Competências, 2003).

Segundo a mesma publicação, a necessidade de compatibilizar desempenho com

objetivos organizacionais, num contexto marcado pela velocidade das mudanças,

pelas exigências da clientela e pelo alto nível de complexidade no ambiente de

trabalho, está a exigir do corpo funcional competências que vão além da execução

de tarefas, levando a empresa a buscar fortalecer a capacidade de aprender-

reaprender dos funcionários.

Considera-se oportuno esclarecer neste momento que a presente investigação se

propôs, essencialmente, a verificar se a gestão de pessoas da organização

estudada encontra-se preparada para a incorporação do modelo de competências.

Nesse sentido, entendemos que o referido modelo, para efetivamente se implantar,

não pode prescindir de alguns suportes. Tais suportes, no presente trabalho, foram

representados por práticas de gerir pessoas, que serão, mais à frente, analisadas à

luz dos referenciais teóricos considerados pertinentes e relevantes para os objetivos

do presente estudo.

63

4 METODOLOGIA

4.1 Tipo de pesquisa

a) Quanto à abordagem

A presente pesquisa pode ser considerada do tipo aplicada, com abordagem

predominantemente qualitativa.

De acordo com Alves-Mazzotti e Gewansdsznajder (1999), pesquisa qualitativa

implica conceber o pesquisador como o principal instrumento de investigação.

Partindo desse pressuposto, a escolha da abordagem qualitativa fez-se pertinente,

haja vista que a investigação se desenvolveu a partir de uma ótica compreensiva e

interpretativa, o que exigiu do pesquisador uma postura crítica no que tange à

percepção e assimilação dos indicadores23 que o auxiliaram na clarificação das

várias facetas do problema de pesquisa.

Um aspecto essencial do trabalho e, provavelmente, vital para sua eficácia consistiu

numa apreensão simultânea da subjetividade individual (constituição subjetiva da

própria história da pessoa), bem como da subjetivação da realidade social

proveniente da vivência de cada sujeito. Embora o pesquisador “qualitativo” objetive

compreender as interpretações dos atores sociais, são necessárias algumas

23 Conforme Rey (2002), o conceito de indicador remete a uma representação do processo de construção do conhecimento, diferente daquele baseado em dados, próprio da pesquisa quantitativa. O dado é adotado em pesquisa quantitativa como entidade abstrata suscetível de converter-se em unidade de comparação. Na linha proposta por Rey, indicador se integra como um momento da construção teórica, não se servindo como unidade quantitativa de comparação, mas enaltecendo condições qualitativas de singularidade dos sujeitos da pesquisa.

64

considerações, apontadas por Bauer et al. (2002), no sentido de que não se deve

concluir, no entanto, que o resultado dessa compreensão seja acertadamente uma

produção crítica do pesquisador.

Nesse ponto, asseveram Bauer et al. (2002) que uma crítica pertinente ao problema

de pesquisa é a que consegue explicar os fenômenos desafiando pressupostos

aceitos acriticamente até o momento. Em termos de prática investigatória, isso faz

sentido, na medida em que adverte que devemos ter o cuidado de não substituir

mecanicamente nossos referenciais pelos de nossos informantes. Torna-se

indispensável, então, um processo auto-reflexivo por parte do pesquisador, o qual

possibilitará, em tese, a identificação de estruturas condicionadoras, as quais se

mostram como “naturais”, mas que podem ser, na verdade, uma distorção da

comunicação.

Por se mostrar coerente com a abordagem qualitativa, adotou-se na presente

pesquisa a chamada “lógica configuracional” (REY, 2002), mediante a qual, sendo o

pesquisador um sujeito ativo, e não somente um seguidor de regras, espera-se que,

pela auto-reflexão crítica, sistematicamente (como tendência, e não como

“esgotamento” da realidade) e dialogicamente possa construir o curso da

investigação. Esse processo é essencialmente personalizado, dinâmico,

interpretativo e irregular.

Escreve Rey (2002) que a lógica configuracional se diferencia da indução e da

dedução, ambos os processos lógicos tradicionais, supra-individuais e objetivados

em sistemas externos ao sujeito. O mencionado autor argumenta que a construção

65

do conhecimento científico não se faz unicamente por meio de um caminho puro e

ascético de uma lógica programada nos fatos ou na mente do pesquisador, mas se

apresenta como um processo complexo que envolve o investigador,

simultaneamente, em diferentes dinâmicas contraditórias, das quais só se pode sair

via elaboração de opções que permitam a atribuição de sentidos a determinadas

áreas dessas dinâmicas, cujo desenvolvimento conduzirá progressivamente a outras

dimensões do estudado.

Em face ao exposto, justificou-se o paradigma qualitativo como o mais condizente

para o alcance dos objetivos do presente estudo, considerando-se que a exploração

dos fatores que informaram sobre anacronismos e avanços da gestão de pessoas da

Caixa Econômica Federal, no sentido de verificar se ela revela-se com

características de modernidade para possibilitar a aquisição e o desenvolvimento de

competências gerenciais, demanda a apreensão das percepções de diversos atores

organizacionais. Tais percepções são vistas não como dados aprioristicamente

conclusivos, mas suscetíveis de, numa articulação conjunta, originarem

compreensões do problema de pesquisa garantidoras da construção de um

conhecimento capaz de responder objetivamente, mas não necessariamente em

uma única direção, às questões levantadas pela investigação empreendida.

b) Quanto aos fins

A presente pesquisa caracterizou-se, conforme Triviños (1987), por ser do tipo

descritiva, objetivando, por meio de uma análise qualitativa, aprofundar a descrição

de determinada realidade, via “levantamentos de opinião, atitudes e crenças de

determinada população” (GOULART, 2002: 162). Sendo assim, buscou-se lidar

com a complexidade da organização em estudo, almejando-se chegar a formulações

66

mais aprimoradas acerca dos problemas existentes na empresa investigada, por

meio da percepção das pessoas que nela atuam.

Pretendeu-se, ainda, manejar as teorias organizacionais como ponto de apoio e, a

partir delas, avançar para se compreender melhor a realidade singular que se

apresentou (TRIVIÑOS, 1987).

c) Quanto aos meios

Como delineamento da pesquisa, adotou-se o estudo de caso único, de acordo com

a classificação de Yin (2001), tendo sido desenvolvida uma investigação empírica

sobre um determinado fenômeno, inserido no contexto de uma realidade específica

e singular, na qual variáveis não estão a priori delimitadas.

Outro aspecto a salientar é que a pertinência da escolha do estudo de caso reporta-

se ao caráter multifacetado do tema/problemática da pesquisa. Conforme ressaltam

Lüdke e André (1986: 20), “estudos de caso procuram representar os diferentes e às

vezes conflitantes pontos de vista presentes numa situação social”. Esse ponto,

amalgamado a um outro, também citado por esses últimos autores, relativo ao fato

de que os estudos de caso procuram enfatizar a multiplicidade de dimensões

presentes em determinada realidade, evidenciou a necessidade de se tentar

focalizar o objeto de pesquisa interpretando-o de forma contextualizada e sob

diversos ângulos.

Tendo em vista o desvendar de diferentes interpretações e/ou percepções a partir da

coleta de dados, o que era esperado, dada a complexidade e o porte da

organização, revelou-se o estudo de caso como a estratégia mais adequada para os

67

propósitos da presente investigação, pois, segundo Lüdke e André (1986), tal

estratégia favorece “uma apreensão mais completa do objeto”.

4.2 Seleção dos entrevistados

Foi pesquisado um grupo de funcionários ocupantes de cargos comissionados de

gerência e funcionários não ocupantes desses cargos (analistas, assessores e

escriturários) que trabalham em unidades de apoio administrativo e negociais

(agências) da Caixa Econômica Federal localizadas em Belo Horizonte/MG.

Esse grupo constitui uma amostra não-probabilística, selecionada mediante critério

de tipicidade, tendo em vista o objetivo de captar as percepções de funcionários com

diferentes níveis de atuação, atribuições e responsabilidades na empresa. Desse

modo, a amostra foi composta de empregados lotados em duas unidades de apoio

administrativo a processos de gestão de pessoas, em duas unidades de apoio

administrativo a outros processos da empresa e em duas unidades negociais,

totalizando seis unidades da empresa, da seguinte forma:

Segmento gerencial:

− unidades de apoio administrativo a processos de gestão de pessoas: dois

gerentes de unidades distintas;

− unidades de apoio administrativo a outros processos da empresa: dois gerentes

de unidades distintas;

− unidades negociais: dois gerentes de unidades distintas.

Segmento não gerencial:

− unidades de apoio administrativo a processos de gestão de pessoas: dois

empregados de unidades distintas;

68

− unidades de apoio administrativo a outros processos da empresa: dois

empregados de unidades distintas;

− unidades negociais: dois empregados de unidades distintas.

Foram acrescidos, ainda, à amostra 18 empregados, escolhidos aleatoriamente,

divididos igualmente pelas seis unidades. Ou seja, três de cada unidade.

4.3 Coleta de dados

Entrevista semi-estruturada (ANEXO A), pesquisa bibliográfica, pesquisa documental

e questionário (ANEXO B) foram os instrumentos de coleta de dados adotados na

presente pesquisa. As entrevistas foram conduzidas pelo autor do presente trabalho,

o qual é funcionário da instituição pesquisada e duraram, em média, 30 minutos.

Foram realizadas no próprio local de trabalho dos entrevistados. Por sua vez, os

questionários foram aplicados nos 12 entrevistados (sendo um gerente e um

empregado sem função gerencial de cada uma das seis unidades) após cada

entrevista e em mais 18 empregados (três de cada unidade), escolhidos

aleatoriamente como já dito. Cabe salientar que o questionário (aplicado, portanto,

num total de 30 empregados) visou aprofundar e contextualizar melhor as questões

levantadas pelo conteúdo proveniente das entrevistas semi-estruturadas, bem como

contribuir para o alcance, de modo mais consistente, dos objetivos da pesquisa.

4.4 Análise dos dados

Os dados foram tratados de forma qualitativa, por meio da análise de conteúdo.

Utilizou-se como técnica de análise de conteúdo a análise temática do material

coletado (CAPPELLE et al., 2003: 77), tendo em vista que tal procedimento se

adequa ao tipo de problema de pesquisa explicitado, aos objetivos geral e

69

específicos, bem como, de acordo com Triviños (1987), aos balizamentos erigidos

pelos referenciais teóricos.

Segundo Bardin24 (1979), citado por Cappelle et al. (2003), a análise de conteúdo é:

Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens (BARDIN, 1979, citado por CAPPELLE et al., 2003: 72).

Tal via de análise, por outras palavras, de acordo com o mencionado autor, abrange

a explicitação, sistematização e expressão do conteúdo das mensagens (dados),

com a finalidade de se efetuarem deduções lógicas e justificadas sobre a origem das

mesmas e seu contexto. Nesse enfoque, a análise de conteúdo apresentou-se

pertinente ao caráter da investigação empreendida ao propiciar um meio apropriado

para evitar-se o “vale tudo” de leituras equivocadas, como alude Bauer (2002). De

acordo com Cappelle et al. (2003), o fruto da leitura do material textual vem substituir

o resultado de uma leitura dita “normal” por parte do leigo, revelando o que se

encontra escondido, latente ou subentendido, tais como motivações, valores,

crenças, tendências, e até, segundo Triviños (1987), ideologias. Isso foi relevante

para o desenvolvimento da pesquisa, que se propôs a lidar com a dimensão

subjetiva dos sujeitos dela participantes, bem assim com aspectos ideológicos

relacionados, por exemplo, a princípios, dispositivos legais, diretrizes e políticas.

Tendo exposto a estratégia metodológica da pesquisa, na próxima seção serão

apresentadas as análises dos dados obtidos com a realização das entrevistas semi-

estruturadas e, também, com a aplicação do questionário adaptado de Ulrich (2003),

em um esforço de combinar técnicas qualitativas com quantitativas para ampliar o

conhecimento sobre a instituição pesquisada, bem como para atingir os objetivos

delineados para o estudo.

24 BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1979. 229 p.

70

5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

5.1 A gestão por competências da Caixa Econômica Federal

No presente trabalho, embora se tenha como foco a análise da adequação de

práticas da gestão de pessoas da organização pesquisada, do ponto de vista da

modernidade organizacional, a um modelo de gestão baseado em competências,

considera-se oportuno apresentar as principais proposições do referido modelo da

empresa investigada e analisá-las à luz do referencial teórico.

Os aspectos mais centrais do modelo de competências em implantação na empresa

pesquisada foram coletados de norma interna específica intitulada “Gestão de

Pessoas por Competências”, de uma publicação da instituição denominada "Guia de

Atuação – Gestão de Pessoas por Competências” e de registros de uma entrevista

que o autor deste trabalho realizou com representante da área de Gestão de

Pessoas, responsável, juntamente com uma equipe de profissionais da empresa,

pelo repasse do modelo para o corpo funcional. Após a apresentação de cada

aspecto ou conjunto de aspectos, serão retomados os referenciais teóricos desta

dissertação, com a finalidade de subsidiar uma análise conclusiva a respeito do

estágio em que se encontra assimilado o conceito de competência pela gestão de

pessoas da organização investigada.

Pode-se iniciar salientando que o interesse pela noção de competência surgiu na

instituição em decorrência da complexificação do trabalho, bem como das exigências

de competitividade do mercado. Tencionava-se ver o trabalho não mais de uma

71

forma fragmentada, mas de uma forma mais “aglutinada” e o bancário de uma forma

mais “inteira”. A preocupação com resultados também se fez presente, em nível de

agregação de valor tanto para a pessoa como para a organização. Confirma-se

nesse interesse da empresa uma observação de Dutra (2001) relativa à questão de

que conceitos e ferramentas tradicionais para gerir pessoas mostram-se limitadas

para acompanhar grandes transformações no mundo do trabalho ocorridas nos

últimos vinte anos, as quais trazem à tona um sentido de oposição a polivalência do

empregado mais ligado à maneira de “saturar” o tempo de ocupação do que de

fornecer um “sentido profissional unificado” (ZARIFIAN, 2001: 139). No que tange à

preocupação com resultados pode-se dizer que se coaduna com definição Fleury &

Fleury (2004: 30), segundo a qual competência é “um saber agir responsável e

reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos,

habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao

indivíduo”.

Segundo definição da empresa, o modelo de competências adotado é dinâmico e

pretende sempre adotar a estratégia corporativa como referencial para os processos

de recrutar e selecionar, treinar e formar, gerir a carreira e o desempenho dos

empregados e, ainda, orientar o estabelecimento de parcerias. Le Boterf (1994),

apoiando-se na tríade saberes, saber-fazer e saber-ser, promove um minucioso

estudo sobre competência que propicia a importante consideração de que este tema

não é apenas um construto operatório, mas também um construto social. Assim

sendo, o autor reconhece que o indivíduo envolvido no processo de conhecimento

ou de compreensão é guiado por sistemas de valores e de significações, e por

modelos que são socialmente compartilhados. Em decorrência, a competência não

72

está dissociada das políticas e práticas organizacionais, havendo, portanto, políticas

e práticas que podem favorecer a competência, enquanto outras podem dificultá-la

ou, mesmo, destruí-la. Zarifian (2001: 126) reforça tal posicionamento afirmando que

“qualquer que seja o ângulo pelo qual se comece, a lógica competência leva a

revisitar o conjunto das práticas de gestão dos recursos humanos, passando a

ocupar o papel principal desempenhado até então pelo posto de trabalho”. Observa-

se aqui que as formulações de autores como Zarifian e Le Boterf, ao mesmo tempo

em que validam as proposições do modelo de competências ora estudado, no que

se refere a sua conexão com práticas de gestão de pessoas, sinalizam claramente a

necessária base que deve existir para que haja sucesso em sua implantação.

No que diz respeito ao modelo de competências na organização pesquisada, sua

implantação se deu no nível estratégico (superintendentes nacionais e de negócios,

gerentes nacionais e consultores técnicos), a partir do ano 2000, sendo que,

gradativamente, pretende alcançar todos os níveis da empresa. Os conceitos de

competência adotados são:

− Competências corporativas: conjunto de qualificações e tecnologias da

empresa necessárias ao alcance dos objetivos estratégicos, os quais são de

difícil imitação pelos concorrentes, permitem acesso aos mercados específicos e

futuros, e são percebidas pelo cliente.

− Competências das pessoas: conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes

que geram resultados para a organização e agregam valor à pessoa. De acordo

com a empresa, são identificadas a partir das competências corporativas, sendo,

assim relacionadas aos objetivos estratégicos da instituição.

73

Importante frisar que o modelo pressupõe que as estratégias organizacionais

definem tanto as competências corporativas quanto as das pessoas e que é por

meio de um processo de aprendizagem que as competências pessoais são

desenvolvidas. Como vantagens para a empresa/empregado, o modelo propõe os

itens do QUADRO 3.

QUADRO 3

Vantagens do modelo de competências

PARA A EMPRESA PARA O EMPREGADO

− Alinhamento das competências individuais às estratégias organizacionais

− Gestão com foco em resultados e desenvolvimento.

− Visão de futuro da empresa traduzida em ações das pessoas.

− Eliminação das lacunas entre o que pode fazer a organização e o que os clientes esperam que seja realizado.

− Aproveitamento dos talentos existentes na empresa.

− Preparação do empregado para funções futuras.

− Transparência nos critérios de provimento, seleção, sucessão e gestão de desempenho.

− Elaboração de planejamento das ações de desenvolvimento com vistas ao encarreiramento.

− Desenvolvimento de competências que agreguem valor profissional e reconhecimento.

− Construção de seu próprio desenvolvimento. − Maior apoio da empresa para o

autodesenvolvimento. − Preparação do empregado para funções

atuais e futuras.

Fonte: CEF, 2000.25

No que tange à metodologia utilizada pela organização para “fazer gestão de

pessoas por competências” (expressão usada no Guia de atuação – Gestão de

pessoas por competências), prescreveram-se seis etapas, apresentadas na FIG. 4.

25 Guia de atuação – Gestão de pessoas por competências (publicação interna da empresa).

74

Etapa 1 Etapa 2 Etapa 3

Identificação das competências corporativas

Identificação das competências das

pessoas

Seleção das competências que compõem os perfis

dos cargos

Etapa 4 Etapa 5 Etapa 6

Mapeamento de competências

Certificação de competências

− Planos de desenvolvi-mento Individual (PDI) e corporativo (PDC)

− Banco de competências

FIGURA 4 – Etapas de “fazer gestão de pessoas por competências”.

Fonte: CEF, 1999.26

Na etapa 1, foram identificadas as competências já instaladas e as competências a

serem desenvolvidas, num total de 17. O meio para essa identificação foram o

diagnóstico organizacional (análise de forças e fraquezas da empresa, bem como de

oportunidades e ameaças para a realização da estratégia corporativa), documentos

estratégicos, pesquisas com a clientela e mercado concorrente, e benchmarking.

Na etapa 2, foram identificadas, a partir das competências corporativas, 14

competências das pessoas, na forma de comportamentos que permitem a

concretização das competências corporativas, escalonados em até cinco graus,

conforme sua complexidade. São elas: orientação ao cliente, orientação estratégica,

orientação a resultados, negociação, trabalho em equipe, gestão de clientes,

especialização, gestão da mudança, gestão da informação, inovação, gestão de

negócios, gestão de pessoas, controle de gestão e gestão social.

26 Guia de atuação – Gestão de pessoas por competências, da CEF.

75

Na etapa 3, dentre as 14 competências acima, foram selecionadas até 6 para

compor os perfis de competências de cargos ou grupo de cargos.

Sendo assim, cada cargo possui um conjunto de competências (até 6) priorizadas,

num grau mínimo exigido pelas atribuições e responsabilidades do mesmo.

Importante salientar que cada competência selecionada para compor um cargo pode

encontrar-se em determinado grau de complexidade (de 1 a 5). Como exemplo, o

perfil do cargo de superintendente nacional é composto por 5 competências, nos

seguintes graus, a saber:

− orientação ao cliente: grau 4;

− orientação estratégica: grau 3;

− negociação: grau 4;

− gestão da mudança: grau 4; e

− gestão de pessoas: grau 3.

Portanto, o gestor superintendente nacional deve apresentar os comportamentos

previstos nos graus 1, 2, 3 e 4 da competência orientação ao cliente, nos graus 1, 2

e 3 da competência orientação estratégica, e assim por diante.

A etapa 4, de acordo com as normas da organização, caracteriza o momento formal

de analisar se o empregado apresenta comportamentos esperados pela empresa,

de acordo com as exigências das várias situações de trabalho. Nesse momento,

compara-se o perfil de competências formal do grupo de cargos (no qual está

inserido o cargo do empregado) com o perfil de competências real do empregado

ocupante do cargo. A não apresentação de determinado(s) comportamento(s) no

76

grau definido formalmente para o cargo indica a necessidade de ações de

desenvolvimento. O modelo de competências da empresa prevê cinco tipos de

mapeamento:

− automapeamento;

− pelo gestor imediato;

− pela equipe;

− por vinculação técnica; e

− por profissional especializado.

A certificação de competências, etapa 5, tem por objetivo identificar os gaps

(lacunas) de competências, a fim de direcionar o desenvolvimento do empregado.

De acordo com a organização estudada, gap se define como a diferença entre o

grau mínimo recomendado da competência para o cargo e o grau certificado para o

empregado. A certificação deverá retratar o consenso a que chegaram gestor

imediato e empregado sobre o real perfil de competências do funcionário. Podem

servir como subsídios ao consenso os resultados do mapeamento, bem como as

anotações a respeito do comportamento do empregado, feitos pela gerência.

Constituem a 6a etapa:

− o Plano de Desenvolvimento Individual (PDI), que é o conjunto de ações

planejadas de desenvolvimento para o empregado, em particular, como resultado

da certificação;

− o banco de competências: banco de dados informatizado que contém o registro

das certificações das competências nos graus obtidos pelos empregados;

77

− o Plano de Desenvolvimento Corporativo (PDC), que congrega as ações

planejadas de desenvolvimento corporativo. Permitirá à organização suprir gaps

corporativos, pois possibilitará o alcance rápido de grandes grupos e segmentos

de cargos da organização.

Faz-se oportuno salientar que as três primeiras etapas já foram cumpridas

integralmente. Dando continuidade à operacionalização do modelo, a empresa

optou, para primeiro mapeamento, em 2004, o nível gerencial, focalizando somente

a competência “gestão de pessoas”. Não se tem, até o momento, o resultado de tal

mapeamento.

Percebe-se, pela apresentação das proposições da gestão por competências, que a

organização estudada ainda centra o conceito de competência em cargos ou grupos

de cargos, o oposto do que poderia significar um salto qualitativo no sentido da

focalização do próprio indivíduo em sua relação com o trabalho. A gestão por

competências, de acordo com a revisão da literatura, vincula-se mais ao indivíduo,

focando o que se espera dele em termos da capacidade de reflexibilidade perante as

complexas situações de trabalho e da capacidade de lidar com fatos novos e

inusitados, e não apenas da capacidade de cumprir o que está especificado em seu

cargo. (ZARIFIAN, 2001; LE BOTERF, 2003). Competência, assim, significa

“assumir responsabilidades frente a situações de trabalho complexas [em

associação] ao exercício sistemático de uma reflexividade no trabalho” (ZARIFIAN,

1996: 5) que permita ao profissional lidar com eventos inéditos, surpreendentes e de

natureza singular.

78

Por outro lado, a adoção da análise dos diferentes níveis de complexidade mostra-

se como um aspecto positivo da gestão ora proposta, haja vista que, segundo Dutra

(2004), possibilita que as pessoas sejam avaliadas a partir de suas entregas

(resultados obtidos pelos funcionários), agregando, com isso, valor para a

organização e para si mesmas e minimizando a ênfase no perfil do cargo. No

entanto, mesmo com a utilização de níveis diferenciados de complexidade, o fato de

se privilegiar para mapeamento somente a competência “gestão de pessoas”, como

informado acima, pode indicar que a empresa não se apercebeu de que assim opta

por uma via redutora do conceito de competência a uma capacidade isolada, já que

não operacionaliza um mapeamento simultâneo com as outras competências das

pessoas, no sentido de abarcar um desempenho global dos empregados. Com isso,

decide por um procedimento que pode vir a suprimir a vinculação dinâmica e

contingente de saberes a um contexto específico (ZARIFIAN, 2001), voltando a ver o

empregado como detentor de conhecimentos, habilidades e atitudes, mas sem

integração e mobilização desses fatores num contexto de trabalho. Dessa forma,

não se implementa uma gestão de pessoas por competências em sua plenitude, e

sim reforçam-se práticas de uma ainda tradicional gestão de pessoas, sob a nova

roupagem de um modelo de competências profissionais.

Finalmente, questiona-se a própria denominação de competências aos fatores

considerados relevantes para cada cargo, pois, de acordo com a literatura

consultada, seria mais adequado chamá-los de habilidades, conhecimentos ou

valores. Isso porque, de acordo com a “escola francesa,” a competência individual

não seria um estado de formação educacional ou profissional, e tampouco um

conjunto de conhecimentos adquiridos ou de capacidades apreendidas. Seria, isso

79

sim, a mobilização e aplicação de conhecimentos e capacidades numa situação

específica (ZARIFIAN, 2001). A experiência quotidiana nos revela que pessoas que

dispõem de conhecimentos e capacidades nem sempre sabem mobilizá-los em

situações de trabalho ou momentos oportunos. A competência se realiza na ação,

não residindo, portanto, em recursos como habilidades e conhecimentos, mas na

mobilização dos mesmos. Este é um grande desafio para as organizações, dada a

tradição de centrar as políticas de gestão de pessoas em requisitos dos cargos, que

se traduziam em fatores de avaliação, e não na capacidade de a pessoa mobilizar

seus saberes e colocar suas capacidades em ação para produzir resultados para si

e para a organização, como proposto atualmente (ZARIFIAN, 2001; LE BOTERF,

2003).

5.2 Práticas de gestão de pessoas investigadas

5.2.1 Modernidade administrativa em recompensas

Para avaliar a modernidade administrativa, no que se refere à prática de

recompensas na instituição investigada, foi feita a seguinte pergunta aos

entrevistados: De que formas a organização o(a) recompensa pelas suas

contribuições?

De acordo com Dutra (2002), uma recompensa pode ser entendida como o

atendimento de expectativas e necessidades dos funcionários, tais como:

econômicas, crescimento pessoal/profissional, reconhecimento social, auto-

expressão por meio do próprio trabalho, etc.

80

Nas respostas fornecidas, é bastante enfatizada a recompensa salarial,

correspondente ao que Wood e Filho (1996) denominam de “remuneração

funcional”, ou seja, remuneração determinada pela função ocupada. Esse tipo de

recompensa é mais valorizado pelos funcionários entrevistados em comparação com

outros tipos de recompensas sociais, simbólicas ou relacionadas ao próprio trabalho

(CHIAVENATO, 1995) e varia de acordo com o cargo ocupado e o tempo de casa.

Eu acho que a recompensa financeira considerando a situação do nosso País, é uma recompensa bem significativa (informação verbal, R8).

Porque quando você contribui, claro que você quer alguma outra coisa além do dinheiro. Quer uma satisfação ou uma idéia que você deu, e se foi implementada, e se deu algum lucro para a empresa. Alguma coisa desse tipo. Nunca tive, não. Só o dinheiro mesmo (informação verbal, R7).

A primeira coisa é a questão financeira. Pelo meu cargo e pelo meu tempo, estou satisfeita (informação verbal, R13).

Também, no que diz respeito à própria remuneração funcional, transparece

insatisfação, associada a certa expectativa de recuperação salarial nos anos

vindouros, haja vista que no período do governo do presidente Fernando Henrique

Cardoso (1995-2002) não houve qualquer reajuste ou aumento salarial.

A situação de compensação salarial não está havendo. Está havendo uma desvalorização, uma desmotivação no quadro de gestores por força dessa questão salarial (informação verbal, 1.2).

Eu acho que a gente de um tempo para cá, de 8, 9 anos, ficamos com o salário defasado. E a gente espera agora que isso seja recuperado. Pelo menos esse ano teve um avanço nas negociações (informação verbal, R13).

No que se refere ao salário indireto, que, segundo Wood e Filho (1996),

compreende, essencialmente, benefícios oferecidos pela organização, alguns

componentes dessa remuneração são ressaltados, tais como o complemento da

aposentadoria, tíquete alimentação e o plano de saúde corporativo, sendo que este

81

último é percebido como uma contraposição positiva e até elogiosa a um contexto de

remuneração funcional desconfortável.

Compensação salarial não está havendo. Por outro lado, tem outras coisas que compensam, que é a questão do plano de saúde (informação verbal, R2).

Tem recompensa de plano de saúde, que é uma recompensa importante. É um plano de saúde muito bom. É um dos melhores, que oferece mais coisas. E tira a gente do sufoco no momento de grande dificuldade (informação verbal, R8).

Recompensas em relação ao próprio trabalho são manifestadas, relacionando-as a

promoção, realização profissional, oportunidades de qualificação, vivências

profissionais gratificantes e participação em projetos. Verifica-se, no entanto, que a

organização revela-se como não fornecendo o suporte suficiente em relação à

participação em projetos. Ou seja, em que pese a oportunidade de participar em

projetos ser percebida como uma recompensa de fato (às vezes, até mais

importante que um reconhecimento salarial), é, simultaneamente, vista como

dependente e carente de mais apoio por parte da organização.

Participo de alguns projetos de melhorias. Eu vejo que, às vezes, as pessoas me buscam para pedir opiniões, participar de projetos de desenvolvimento da área. E isso, às vezes, é mais importante do que um aumento de salário. Você se sentir valorizada e sentir o seu trabalho reconhecido. Só assim que, às vezes, eu acho que isso não é o suficiente. Porque a atividade que eu desenvolvo ela é de alto risco. Assim, a gente se expõe muito e, às vezes, eu me sinto fragilizada, sem ter o apoio devido da empresa (informação verbal, R3).

Percepções relacionadas a recompensas sociais e simbólicas foram também

explicitadas na forma abaixo.

Olha, de vez em quando a gente tem reuniões, e nessas reuniões as pessoas são assim, elogiadas, estimuladas. A coisa é muito assim, a nível de agradecimento. Os prêmios, às vezes, são folgas, emendam feriados (informação verbal, R11).

Uma única resposta aponta para recompensas ligadas à remuneração por

desempenho ou variável, a qual é vinculada a metas atingidas (WOOD e FILHO,

82

1996). Em que pese ao fato de a empresa já ter adotado formalmente a

remuneração por lucros e resultados, a percepção manifestada não exprime um

posicionamento claro sobre a existência de diretrizes organizacionais informando

sobre quais objetivos deverão ser alcançados, quais desempenhos serão

recompensados, quais serão os critérios para se delinear o valor da recompensa e

quanto tempo levará entre o cumprimento dos objetivos e o reconhecimento (WOOD

e FILHO, 1996).

Formal, eu acho que não tem umas coisas assim, de produtividade. Porque eu entendo essa recompensa como se tivesse alguma coisa assim: você produziu, você ganhou alguma coisa, e isso a Caixa não tem. E, informalmente, a Caixa como instituição, eu não percebo isso, não (informação verbal, R12).

A dimensão remuneratória, com base nos relatos apresentados, evidencia uma

tendência à focalização numa remuneração mais tradicional, principalmente

centrada na função e no cargo ocupados. Não se clarifica uma perspectiva que

avance no caminho da valorização de uma remuneração mais estratégica, a qual é

uma forma de ligação com a nova realidade vivida pelas organizações modernas,

atuantes num mercado globalizado e competitivo (WOOD e FILHO, 1996). Dessa

forma, o horizonte de alternativas de recompensas pecuniárias limita-se fortemente

às expectativas de melhorias em termos de reajustes salariais na remuneração

funcional, baseados em índices governamentais.

Reforçando o dito acima, no que diz respeito à remuneração variável em vigor na

instituição (no caso, a participação nos lucros e resultados), não se cogita em

nenhum momento sobre a razão por que contribuir e sobre o modo como fazê-lo

para o alcance de metas e objetivos estratégicos da empresa, por meio de

desempenhos devidamente negociados com a organização. Passa-se a impressão

83

de que a empresa ainda não conseguiu dialogar com o funcionário, num processo

de comunicação autêntica (ZARIFIAN, 2001) e num nível de fácil e recíproca

compreensão, sobre que tipo de colaboração necessita de seus empregados. Existe

aí um vácuo que é preenchido por incertezas e por desmotivação do corpo funcional

e, mesmo, por um incentivo a uma relação puramente instrumental do empregado

em relação à empresa (Claro que você quer alguma outra coisa além do dinheiro.

Nunca tive, não. Só o dinheiro mesmo) (informação verbal, R7).

Apesar dessa conjuntura de práticas remuneratórias com inclinações tradicionais e

de reais e potenciais dificuldades para o alcance de formas de remuneração mais

condizentes com a contemporaneidade do mundo competitivo das organizações, os

funcionários apontam outros fatores que representam também fontes de

recompensas pelo trabalho que executam na instituição. Nessa linha são lembrados

o salário indireto (complemento da aposentadoria, tíquete alimentação e,

especialmente, o plano de saúde), recompensas vinculadas ao próprio trabalho

(promoção, realização profissional, oportunidades de qualificação, vivências

profissionais gratificantes e participação em projetos) e recompensas sociais e

simbólicas (elogios, agradecimentos, folgas). Uma das referências ao plano de

saúde aponta-o como uma espécie de “escora” para a motivação do quadro de

gestores e, de certa forma, denuncia um imobilismo reinante nas práticas de

remuneração da empresa, conforme o relato seguinte.

A situação de compensação salarial não está havendo. Está havendo uma desvalorização, uma desmotivação no quadro de gestores por força dessa questão salarial. Por outro lado, tem outras coisas que compensam, que é a questão do plano de saúde (informação verbal, R2).

Em face do exposto, mostra-se, portanto, remota a possibilidade do surgimento de

um sistema de recompensas de cunho mais estratégico que combine envolvimento e

84

motivação dos empregados (WOOD e FILHO, 1996) e que possua características

tais como transparência, clareza, flexibilidade e vínculo real com as intenções

estratégicas da organização (HIPÓLITO, 2001).

Dessa forma, a forte tendência de privilegiar uma remuneração funcional, centrada

em cargos como parâmetro de diferenciações salariais, estaria delatando o quanto a

organização ainda precisa desenvolver para encontrar-se mais preparada para

absorver uma lógica que desafie e supere concepções taylorista-fordistas

estabelecidas na empresa, já que, conforme ressalta Wood e Filho (1996), a

remuneração funcional foi desenvolvida segundo os princípios de divisão rígida de

tarefas, linhas de autoridade com responsabilidades bem definidas e foco no

controle.

Tais princípios estão desaparecendo nas empresas modernas, dando lugar a

modelos flexíveis, focados no constante rearranjo de tarefas entre trabalhadores e

no partilhamento de responsabilidades (WOOD e FILHO, 1996; HIPÓLITO, 2001),

aspectos fundamentais, dentre outros, do chamado “modelo de competências

profissionais”, no momento, em implantação na empresa investigada.

Afigura-se, assim, uma incompatibilidade entre o sistema de recompensas em vigor

na organização estudada, o qual pressupõe a padronização, a repetição e a

simplificação de atividades, pilares já ultrapassados de eficientização organizacional,

tendo em vista que fizeram sentido em outro cenário, balizado pela estabilidade e

previsibilidade (HIPÓLITO, 2001), e o modelo de competências em processo de

implantação na organização em estudo.

85

Conforme esclarece um boletim interno da própria empresa pesquisada – e

especificamente destinado a orientar a atuação da gestão de pessoas em

conformidade com o modelo de competências –, uma gestão de pessoas por

competências é fruto de um contexto de velocidade das mudanças, de exigências

atuais da clientela da instituição, de alto nível de complexidade no ambiente de

trabalho e de necessidade de compatibilizar desempenho com objetivos

organizacionais. Sendo assim, entende-se que o modelo de competências que está

sendo adotado é muito mais para dar conta de conjunturas turbulentas, desafiantes

e complexas do que de conjunturas estáveis e previsíveis, como já mencionado,

especialmente quando se focaliza o altamente competitivo mercado bancário no qual

a organização investigada está inserida. Desse modo, pelo menos em nível de

discurso, a empresa, por meio da implantação do modelo de competências, tem

esperado que seu funcionário contribua para além de um simples executor de

tarefas, circunscrito a um cargo previamente designado. Portanto, a instituição de

uma gestão por competências profissionais objetiva criar um ambiente em que as

pessoas, agindo, sobretudo, reflexivamente e utilizando capacidades de gerarem

resultados, viabilizem o alcance dos objetivos estratégicos da organização.

Conclui-se, enfim, até onde foi possível investigar, que as atuais práticas de

recompensas vigentes na empresa delimitam uma base que parece frágil para

incentivar outros tipos de contribuições dos empregados não previamente definidos

na descrição dos cargos constantes no plano de cargos e salários corporativo. Isso

vem colocar para a empresa o desafio de criar outros lastros que forneçam

reconhecimentos válidos e compatíveis com a prática e o espírito de uma gestão

baseada nas competências a serem adquiridas e desenvolvidas pelas pessoas.

86

5.2.2 Modernidade administrativa em promoção e carreira

Para avaliar a modernidade administrativa, em termos de práticas de promoção e de

gestão de carreiras na instituição investigada, foi feita a seguinte pergunta aos

entrevistados: Caso seja indicado para alguma promoção, por quais critérios a

organização se norteia para efetuar essa indicação?

Tendo em vista que a instituição pesquisada é uma empresa pública, da esfera do

governo federal, percebe-se nas respostas fornecidas uma tendência à presença de

critérios políticos, não explicitados claramente, misturados a critérios mais

transparentes (currículo do empregado e/ou comportamentais), ambos influenciando

na designação de pessoas para ocuparem cargos dentro na empresa.

Você sabe que pelo fato da Caixa ser do governo, a gente é muito sujeito a ter critérios políticos. A gente convive muito com esse tipo de coisa dentro da empresa. Mas eles estão tentando nos níveis médios que a gente seja avaliado pelo próprio histórico, pela aceitação da liderança junto aos empregados, esses fatores hoje estão sendo olhados (informação verbal, R.10).

Por critérios de desempenho, pela minha capacidade de gerir pessoas, pela minha capacidade de propor novas formas de trabalho e até por política. Política mesmo, né, infelizmente. Lamentavelmente, a gente sabe que acontece isso (informação verbal, R.5).

As indicações, elas estão sendo feitas mais ou menos na situação. Não é que eu vou falar de amizade, mas elas são... norteando um interesse maior,e aí eu acho que é político. A mesma coisa que tinha antigamente (informação verbal, R.12).

Às vezes, você vê num processo seletivo gerencial um monte de gente boa, e se escolhe uma pessoa. Será por que essa pessoa foi escolhida? Eu acho falho isso. Os processos, às vezes, não são muito transparentes (informação verbal, R.13).

No que se refere ao currículo do empregado, em especial, um critério de promoção

apontado diz respeito ao alcance de resultados.

87

Em princípio, eu acho que é a questão de números, de alcance de metas, objetivos (informação verbal, R.2).

Olha, no meu caso, eu acho que é assim, pelos resultados. Eu senti que a minha ascensão foi por esse critério, e eu não vejo de forma diferente daqui para a frente, não (informação verbal, R.3).

Contrapondo-se à valorização do currículo, com ênfase em resultados atingidos pelo

empregado, uma perspectiva direcionada para o futuro, para o potencial do

empregado, e não somente sua experiência passada, foi delineada, conforme

depoimento abaixo.

Eu acho que tem uma coisa de perfil. Não basta ter somente um currículo perfeito. Tem que ter no dia-a-dia um jogo de cintura, para poder enfrentar as mínimas e variadas situações que podem surgir. Eu acho que tem que ter um perfil mesmo, e isso aí é difícil de medir (informação verbal, R.11).

Observa-se ainda uma variabilidade na definição de critérios de promoção, em

função de sua dependência à área ou gestor incumbidos de decidir sobre que

pessoa será promovida.

Esses critérios, eles são diferentes, dependendo do gestor que detém a vaga de provimento. O que eu posso observar é que, na maioria deles,existe a questão da instrução formal dos cursos realizados e outros requisitos de natureza individual como iniciativa, criatividade, resistência a pressões. É sempre colocado resistência a pressões. Possibilidade de aceitação de mudanças também sempre é um critério colocado nos processos seletivos (informação verbal, R.4).

A grande variedade de critérios de mobilidade entre cargos e funções na empresa

investigada – sem conexões entre si institucionalmente e logicamente estruturados,

sejam eles baseados em currículos (instrução formal, cursos realizados, histórico do

empregado na empresa, resultados alcançados) comportamentais (liderança,

iniciativa, criatividade, resistência a pressões) ou denominados de “políticos” pelos

entrevistados – conduz à idéia de que a organização dá mostras da falta de um

sistema de administração de carreiras consolidado e que a possibilite, segundo

Dutra (2002), estimular e oferecer condições mais consistentes para que seus

88

funcionários possam planejar suas trajetórias profissionais, almejando alcançar, de

forma articulada com as necessidades da organização, postos de trabalho com os

quais mais se identifiquem.

Especialmente as percepções relacionadas à existência de critérios “políticos”

informam sobre essa lacuna institucional, na medida em que tais percepções

revelam um mal-estar dos empregados no que tange à confiabilidade dos resultados

dos processos seletivos internos. Dessa forma, constroem-se barreiras à formação

de canais que viabilizem uma parceria efetiva e contínua entre os trabalhadores e a

organização no que diz respeito às opções de trajetórias individuais de carreira dos

funcionários. Assim, reportando-nos a Dutra (2002), a presente pesquisa indica uma

situação na qual uma relação permanente entre o corpo funcional e a empresa não

se revela devidamente munida de instrumentos corporativos de gestão de carreiras,

que, por sua vez, sejam alicerçados em:

− transparência – os empregados devem ter acesso às informações que lhes digam

respeito, assim como a organização deve estar ciente acerca das expectativas de

ascensão profissional das pessoas;

− honestidade de intenções – relacionamento empresa/empregado baseado em

confiança mútua; e

− clareza de regras – regras básicas das relações empresa/empregado no que se

refere aos processos de negociação de objetivos de carreira, acordadas entre

ambas as partes.

Apesar de todo esse quadro confuso e variável de critérios deter um elevado

potencial de desestímulo ao auto-investimento dos empregados em suas próprias

89

carreiras, detectou-se que tal contexto não chega a ponto de causar uma alienação

ou indiferença dos funcionários em relação à carência de diretrizes institucionais de

apoio às opções de carreira. Pelo contrário, até onde se conseguiu averiguar,

percebe-se que os empregados sentem-se incomodados por esse cenário,

possuem, mesmo, idéias avançadas de desenvolvimento e aproveitamento das

pessoas e questionam a falta de uma gestão compartilhada de carreiras com a

direção da empresa.

No entanto, essa inquietação do corpo funcional ainda não se fez presente a ponto

de mobilizar os escalões mais altos da organização para a criação de um sistema de

administração de carreiras (DUTRA, 2002). O que vem prevalecendo é uma

imposição de critérios diversos, dependendo da área ou do gestor detentor de

determinada função ou cargo a ser preenchido. Esse contexto obstaculiza o

surgimento de um ambiente em que as pessoas se sintam condutoras de seu

aprimoramento profissional, ao mesmo tempo em que conectam esse desejo de

aprimoramento ao desenvolvimento da organização (DUTRA, 2002). Não existindo

referenciais claros e organizados que dêem suporte a opções individuais dos

empregados sobre carreira e ao gerenciamento de carreira pela empresa, vigora em

seu lugar uma gama de processos seletivos que oferecem chances de se chegar a

assumir cargos e funções, mas que não são articulados a ponto de se

transformarem em instrumentos efetivos de acompanhamento e de desenvolvimento

de carreiras.

O quadro exposto, portanto, vem revelar incompatibilidades entre, de um lado, o

cenário de promoção e carreiras da empresa e, de outro, o modelo de competências.

90

Os critérios de ascensão profissional aplicados são fortemente característicos ainda

de uma gestão de pessoas tradicional, principalmente os voltados para a experiência

(visão do passado) (MARRAS, 2002), ao passo que um modelo de competências

privilegia o potencial do empregado (visão de futuro) e é focado nos objetivos de

tomar iniciativas e de assumir responsabilidades (ZARIFIAN, 2001) diante de

situações profissionais inesperadas, desafiadoras e diferentes de outras situações já

vividas, objetivando dar conta de um mundo do trabalho crescentemente volátil e

complexo.

Faz-se necessário frisar, ainda, outro ponto dessa discrepância entre uma gestão

baseada em competências e o atual patamar das práticas de promoção e gestão de

carreiras na organização: a acentuada carência de uniformidade de critérios de

acesso a postos de trabalho adotados pela empresa, podendo deduzir-se daí que

cada área da instituição atua de acordo com pressupostos de desenvolvimento

profissional, não interligados entre si e não convergindo em direção à estratégia de

atuação corporativa. Desse modo, transparece a existência de várias empresas

dentro de uma só, focalizando seus próprios objetivos particulares de curto prazo e

não os articulando com os objetivos institucionais mais amplos. As pessoas

desenvolvem-se sim mas numa perspectiva de desenvolvimento profissional limitada

a concepções circunscritas somente àquela área em que estão trabalhando no

momento. Por outro lado, a proposta do modelo de competências implica um avanço

nessa ótica. Conforme Zarifian (2001), em vez de os empregados se desenvolverem

unicamente para as unidades ou para a “empresa” na qual trabalham, como

apontado acima, eles acabam por extrapolar para o contexto mais amplo

91

organizacional. Na linguagem de uma gestão por competências, desenvolvem

competências não só “na” organização, como também “sobre” a organização.

Avançam, assim, para uma relação mais ativa com a empresa, auto-organizando-se

conscientemente e reconhecendo a necessidade de um comprometimento crítico

que desemboque no sucesso dos negócios primordiais da empresa.

Por fim, entende-se que merece destaque a questão da adoção de critérios

chamados de “políticos”. Esses, na presente pesquisa, adquirem um significado

pejorativo de encobridor de interesses que não podem ser claramente comunicados.

Portanto, a acepção da expressão “critérios políticos” revela-se ligada à idéia de falta

de transparência, de honestidade, de confiabilidade aliada à perpetuação da crença

de que certos postos de trabalho da empresa, inevitavelmente, estarão sempre

disponíveis para serem utilizados em “costuras políticas” e troca de favores

vinculados aos mais diversos interesses que trafegam no âmbito da esfera da

política governamental. Sendo assim, pode-se vislumbrar que um modelo de

competências somente se implantaria com êxito se houvesse uma efetiva auto-

organização dos empregados para fazer frente à utilização da empresa como objeto

de favorecimentos políticos obscuros e como “moeda de troca” do governo federal.

Porém, mesmo que a empresa venha a reconhecer a legitimidade dessa auto-

organização, como fundamento indispensável para se levar adiante uma gestão

baseada em competências profissionais, criando condições para que seus

empregados desenvolvam competências “sobre” a organização, como já assinalado

na presente análise, “toca-se aqui em uma prerrogativa hierárquica e em uma

92

relação de poder que continuam difíceis de mudar” (ZARIFIAN, 2001). Sem querer,

portanto, avizinharmo-nos de uma opinião que considere esse contexto da empresa

pesquisada como impossibilitador definitivo da implantação de um modelo de

competências, no mínimo, um pré-requisito importante para tal implantação parece

existir: uma imprescindível, mas difícil mudança nas relações de poder entre os

empregados e a empresa que, por sua vez, pode resultar no estabelecimento de

parâmetros efetivamente compartilhados de orientação de carreira e de processos

de promoção.

5.2.3 Modernidade administrativa em educação corporativa

Para avaliar a modernidade administrativa no que se refere a práticas de educação

corporativa na instituição investigada, foi feita a seguinte pergunta aos entrevistados:

− A organização valoriza processos formalizados de aprendizagem contínua em

prol do seu desenvolvimento pessoal/profissional? Justifique.

Um dos tópicos especialmente salientados pelos empregados entrevistados refere-

se ao papel e à importância de treinamentos oferecidos pela universidade

corporativa da organização.27 Parecer haver, contudo, maior preocupação com o

registro dessas atividades no currículo das pessoas do que, propriamente, com o

aproveitamento inteligente de seus conteúdos no dia-a-dia de trabalho na empresa.

Porque hoje ela insere, a própria Caixa insere, no currículo da gente os cursos de iniciativa pessoal, os cursos de iniciativa Caixa. A empresa disponibiliza, via universidade caixa, vários cursos para você se aperfeiçoar, e tem alguns cursos que hoje são até obrigatórios (informação verbal, R10).

Eu acho que a Caixa está sendo modelo com a universidade Caixa. É um instrumento riquíssimo. Lamento aproveitar pouco. Mas toda vez que eu posso, trabalho isso, faço a minha parte. Quero enriquecer o meu currículo (informação verbal, R11).

27 Veiculados pela intranet.

93

E voltando na Universidade Caixa, se eu quiser, eu fico com um currículo enorme (informação verbal, R5).

Além dessa ênfase no registro dos treinamentos nos currículos em detrimento de

uma apropriação útil de seus conteúdos, o depoimento seguinte menciona um

empecilho relevante para tal apropriação: a falta de um planejamento que possibilite

ter clareza do que priorizar na formação profissional das pessoas.

Eu vejo assim: muitos anos, chega no final do ano, sobra recurso de treinamento, e ninguém usou. É muito dinheiro, e ninguém fez nada. Sabe, é um desperdício de recursos. Então, eu acho que o ponto básico é esse, é planejar e ter clareza do que se espera para investir nas pessoas (informação verbal, R3).

Em decorrência, a empresa parece não ter mecanismos e instrumentos

suficientemente elaborados capazes de propiciar um diálogo com o corpo funcional,

detectando e acompanhando os seus anseios e práticas de autodesenvolvimento,

bem como articulando, estrategicamente, esses mesmos anseios e práticas com as

metas e objetivos organizacionais.

Durante muito tempo, a gente não teve nada direcionado para a formação do psicólogo, não. É lógico que a gente se desenvolve por iniciativa própria, por necessidade de estar atualizando, pesquisando, reciclando pelo gosto de estar aprendendo coisas novas, que é natural em uma pessoa que gosta do que faz. Então, a gente busca o autodesenvolvimento espontaneamente. Agora, da empresa mesmo, tem muito tempo que eu não recebo subsídios direcionados para a formação do psicólogo (informação verbal, R8).

Se você conversar com o pessoal lá de Brasília sobre essa questão de valorização da aprendizagem contínua, dirão que há um plano para continuidade de curso superior, e tal, tal, tal. Mas o alcance disso é muito limitado. A Caixa não procura viabilizar a coisa. É tipo ”ela oferece uma coisa para você”, mas para você chegar a essa coisa tem uma distância, e a empresa não quer facilitar essa distância para você (informação verbal, R2).

Olha, a universidade Caixa foi um avanço fabuloso. Os cursos, sempre que eu posso fazer, eu faço, mas eu não tenho um retorno da empresa me dizendo: que bom que você está aprendendo! Não tem a outra ponta, não. Eu não sinto isso, não. Eu acho a universidade Caixa fantástica, existem excelentes cursos. Mas eu acho que teria que ter um trabalho de conscientização. Até na semana passada eles mudaram o site lá, mas não tem uma coisa muito envolvente (informação verbal, R13).

94

Outro aspecto abordado pelos entrevistados relaciona-se aos incentivos financeiros

da empresa para que empregados concluam o curso superior ou pós-graduação.

Trata-se de um auxílio da organização mediante a análise de determinados critérios

definidos pela empresa visando elevar o nível de escolaridade dos seus

funcionários.

Agora, recentemente, o colega que trabalha comigo, ele ficou até surpreso, porque naquele incentivo à graduação, no último dia eu me lembro que eu falei com ele: faz a sua inscrição e quem sabe a Caixa não vai te ajudar, aquela bolsa. Aí, ele fez correndo, e agora, nessa semana, chegou a resposta que a Caixa acatou o pedido dele (informação verbal, R5).

Em que pese tratar-se de uma contribuição necessária ao autodesenvolvimento do

corpo funcional, podendo expressar uma preocupação relativa ao fornecimento de

condições para que as pessoas fiquem mais comprometidas com o negócio da

empresa (FLEURY e FLEURY, 2004), observa-se, porém, nas entrelinhas do relato

acima apresentado a face fortemente supridora do paternalismo organizacional (“e

quem sabe a Caixa não vai te ajudar”). Ou seja, se por um lado pode-se notar que a

empresa tenta criar bases de conhecimentos formais imprescindíveis à construção

de competências profissionais, por outro faz isso restringindo a participação dos

empregados nesse processo reduzindo-os à condição de simples consumidores do

incentivo à formação superior ou, mesmo pós-graduada. Não se evidencia, assim, o

incremento de uma consciência crítica nos funcionários em relação a essa decisão

empresarial, mantendo-os numa posição de meros recebedores passivos de uma

dádiva da empresa.

A face paternalista acima mencionada revela-se ainda num modelo de transmissão

de conhecimentos via treinamentos oferecidos pela universidade corporativa.

95

Nesse modelo, a empresa investigada é a fornecedora do produto de aprendizagem

treinamento, sendo que cada empregado, em particular, é um consumidor desse

produto como uma atividade exógena ao trabalho executado cotidianamente. De tal

forma, os treinamentos parecem que não são vistos como um recurso de geração,

assimilação, difusão e aplicação de conhecimentos específicos às atribuições do dia-

a-dia (EBOLI, 2001). Não se verifica, assim, uma integração sistemática da

aprendizagem do conteúdo dos treinamentos com as práticas correntes de trabalho.

Essa desconexão contribui para que a educação profissional dos trabalhadores da

empresa se empobreça em sua razão de ser, a qual é fundamental ao processo de

formação de uma cultura empresarial de competência e resultado, e geradora de

sujeitos modernos e reflexivos (EBOLI, 2001).

Evidencia-se, em relação aos aspectos do processo de educação corporativa

apresentados, o quanto a organização ainda está distante do chamado “paradigma

do aprendizado”, caracterizado pela criação de ambientes que estimulem e

promovam valores relacionados ao crescimento pessoal, numa perspectiva de

conceber os resultados dos treinamentos, em especial, de maneira mais “holística”,

avaliando-se a contribuição global dos funcionários para o alcance dos objetivos da

organização (TERRA, 2000).

Como apontado, prevalece uma imagem das iniciativas organizacionais de educação

corporativa restrita aos esforços individuais para aproveitá-las, segundo uma

perspectiva imediatista. Não se evidencia uma consciência crítica desenvolvida

institucionalmente no que diz respeito a conectar a dimensão individual do

96

aproveitamento dos recursos educacionais à dimensão estratégica da organização

como um todo. Vale dizer que não há mecanismos desenvolvidos na empresa para

transformar a aprendizagem individual em aprendizagem de equipe, e daí em

aprendizagem organizacional (FLEURY, 2001).

Essa apropriação de cunho individualista dos recursos construídos para o

aperfeiçoamento profissional dos empregados (universidade corporativa,

treinamentos, incentivos à graduação e pós-graduação, para ficar nos mais

salientados nas entrevistas) parece ser empecilho ao que Zarifian (2001) denomina

de “lógica competência”, na medida em que os funcionários só se comunicarão entre

si e só disponibilizarão suas competências se experimentarem o sentimento de

participar das mesmas implicações de uma situação. Isso nos leva a reconhecer que

a implantação de uma gestão de pessoas por competências exige pré-requisitos de

compartilhamento consciente dos recursos disponíveis de educação corporativa,

enquanto meios para a aquisição e o desenvolvimento de competências

profissionais, e não uma concepção desses meios como objetos consumíveis de

âmbito individual desvinculados de uma assimilação coletiva na organização.

Vale notar, por fim, que a educação corporativa vigente no seio da instituição

estudada leva a crer, ainda, que carrega como uma de suas feições essenciais

resquícios acentuados da concepção e funcionamento do obsoleto “centro de

treinamento e desenvolvimento” (EBOLI, 2001), enquanto fornecedor de “pacotes”

de atividades de desenvolvimento profissional, distantes de um planejamento

compartilhado com o corpo funcional que possibilite uma visualização prévia de reais

necessidades dos empregados e da organização.

97

Após todas as considerações acima, compreendemos que uma gestão de pessoas

por competências terá dificuldades para se desenvolver em tal contexto, marcado

por uma entrega paternalista de recursos de educação corporativa e incitadora do

que poderíamos chamar de uma “apropriação de caráter consumista individual

acrítico” desses mesmos recursos por parte dos potenciais aprendizes. Isso porque

a “lógica competência” depende para sua efetivação de um arcabouço de valores

éticos profissionais consensados e compartilhados que orientem os comportamentos

profissionais para a comunicação autêntica e o entendimento recíproco (ZARIFIAN,

2001), o que não se compatibiliza com o cenário da educação corporativa vigente na

organização estudada, permeado por relações sustentadas por valores

paternalistas.

Portanto, a implantação de uma gestão de pessoas por competências exigiria como

premissa, no presente caso, a existência de processos e produtos de educação

corporativa respaldados numa busca, por parte de dirigentes e subordinados, da

construção de relações profissionais mais cooperativas que impusessem barreiras

ao paternalismo reinante, alimentado tanto por líderes como liderados, numa dupla

dependência, já que, conforme Prates e Barros (1997), “organizações serão

lideradas tão paternalisticamente quanto permitirem seus membros [e] o

paternalismo existe tanto nos liderados quanto nos líderes, sendo o sistema de

valores dos dois grupos, geralmente, complementares.”

Entendemos que uma educação corporativa elaborada com base nesses termos de

responsabilidade mútua poderia se tornar menos suscetível a ser instrumentalizada

pelos empregados com o fim único de simplesmente atender a objetivos imediatistas

98

e individualistas, como ficaria também mais conectada às reais necessidades

organizacionais, as quais, por sua vez, estariam associadas a um melhor

direcionamento dos desempenhos do corpo funcional em direção ao alcance dos

objetivos empresariais. Conforme Eboli (2001), os empregados, ao invés de se

comportarem como aprendizes passivos, passariam a atuar como gestores ativos.

Desse modo, um aprender estático e distante da realidade empresarial daria lugar a

um aprender dinâmico e engajado com as complexidades da organização em

estudo.

5.2.4 Modernidade administrativa em avaliação de desempenho

Para avaliar a modernidade administrativa no que se refere à prática da avaliação de

desempenho na instituição investigada, foi feita a seguinte pergunta aos

entrevistados: Por quais critérios a organização avalia seu desempenho em suas

atividades?

Verificou-se que, atualmente, não há na empresa um sistema formal consolidado e

abrangente que avalie o desempenho de todos os empregados individualmente, em

todas as áreas da instituição, no sentido de estimular o seu desenvolvimento

profissional no âmbito da equipe da qual faz parte e no contexto mais amplo, o da

organização. No entanto, os empregados percebem que, por outros meios, até

mesmo informais, não deixam de ser avaliados, sendo bem enfatizado o critério de

resultados numéricos e o de objetivos alcançados.

O único critério que eu vejo hoje e que a gente vê ao longo do tempo claramente é a questão de metas, de objetivos numéricos (informação verbal, R.2).

Hoje essa avaliação, ela está mais voltada, mais baseada em resultados da empresa. A avaliação no momento, ela é por equipes. Mais voltada para

99

resultados atingidos pela empresa num todo e dividido de acordo com critérios de contribuição das unidades para o resultado final da empresa (informação verbal, R.4).

Muito do que se avalia é em função dos resultados práticos. Destaca-se mais aquele empregado que vendeu (informação verbal, R.11).

A ênfase nos resultados numéricos, por outro lado, não impede que a administração

da empresa seja interpelada para que sejam criados também critérios que levem em

conta a qualidade do serviço executado.

Se você guiou, gerenciou, trabalhou bem a questão, conduziu bem a situação, isso não é medido. E, de repente, se não aparecer lá no sistema de vendas, é como se você passasse o dia sem fazer nada. Isso eu acho que acontece. Eu tive uma perda de função porque não bati meta numérica. Eu nunca fiz venda “empurrada”. Eu vendo menos, é pouco, mas eu vendo bem, com qualidade. E eu acho que a empresa está demorando muito para enxergar isso, e não é somente no meu caso (informação verbal, R.11).

Critérios comportamentais também são percebidos como utilizados em avaliações

de desempenho gerencial, conforme aponta o depoimento seguinte.

Se você cumpre o planejamento estratégico da empresa, se você motiva a sua equipe para o crescimento, se você estimula o crescimento não só da equipe, como o crescimento profissional do empregado (informação verbal, R.10).

Outro aspecto da avaliação de desempenho refere-se à percepção de que ela se

baseia única e exclusivamente em critérios subjetivos da chefia imediata.

Então, é assim, é um critério subjetivo gerencial. Eu galguei o posto em que eu estou hoje por um critério subjetivo da gerente. Mas nenhuma avaliação estruturada, com feedback, nenhuma (informação verbal, R.7).

Atualmente, a nossa empresa ela não tem um critério de avaliação amplo, né? Ela é mais diretamente com a chefia, a sua chefia com você (informação verbal, R.9).

Os nossos gerentes avaliam o desempenho das pessoas, mas isso não é uma coisa assim, codificada, estabelecida assim, formalmente (informação verbal, R.12).

Existe uma demanda implícita relativa à necessidade de se definir na empresa uma

sistemática geral de avaliação individual de desempenho de seus profissionais que

100

seja transparente e criteriosa. Pode-se inferir dos depoimentos abaixo que a falta

dessa sistemática tem gerado dúvidas e questionamentos quanto à coerência de

retiradas repentinas de funções de confiança pela administração da empresa e

quanto à manutenção de pessoas nessas mesmas funções. Sentimentos de

frustração e injustiça, frutos dessa situação, foram exteriorizados.

Existem critérios objetivos e critérios subjetivos. Nesses critérios subjetivos não deixa de ter uma questão até pessoal. O que a gente vê mais... Gerente, por exemplo, a gente tem casos de gerentes que perderam a função. Eu sou gerente hoje, e amanhã eu não sou mais. Mas, aí, que critérios que foram utilizados para eu deixar de ser gerente? Algum motivo político (informação verbal, R.5).

Eu vejo muitas pessoas competentes e vejo muitas pessoas incompetentes na função. Vejo isso no dia-a-dia. Vejo pessoas fazendo o que eu considero absurdo, e essas pessoas são tidas no mais alto conceito. E isso ainda acontece muito e perto de nós (informação verbal, R.11).

De acordo com Marras (2002),

A avaliação de desempenho foi criada, basicamente para acompanhar o desenvolvimento cognitivo dos empregados durante sua permanência na organização e especificamente para medir seu nível de conhecimentos, habilidades e atitudes. (MARRAS, 2002: 174)

Ainda para o mesmo autor essa prática continua existindo nas organizações

modernas, porém com um nível de abrangência modificado e ampliado. Dentre as

atuais utilidades da avaliação de desempenho, podem-se citar:

− identificar empregados que necessitam de aperfeiçoamento;

− definir o grau de contribuição de cada empregado e equipes para os resultados da

organização;

− descobrir o surgimento de novos talentos;

− facilitar o autodesenvolvimento dos empregados;

− fornecer feedback aos empregados; e

− subsidiar programas de mérito, promoções e transferências.

101

Baseando-nos nas finalidades acima elencadas, podemos concluir que a avaliação

de desempenho, fundamentalmente, direciona-se, contemporaneamente, para o

investimento nas pessoas como, no dizer de Fleury e Fleury (2004), cidadãos

organizacionais. Assim, pode servir como um esteio válido e consistente para o

desenvolvimento de competências profissionais.

Nas entrevistas realizadas, percebe-se, segundo Marras (2002) e Robbins (1998), a

avaliação de desempenho calcada em critérios que contemplam o campo de

resultados expressos quantitativamente e o campo do comportamento. Porém, há

um complicador na aplicação desses critérios: a possibilidade de manipulação e,

mesmo, distorção deles, de acordo com a subjetividade gerencial, o que, segundo

Marras (2002), reveste o processo de avaliação de desempenho de uma

ambigüidade discutível. No caso da organização investigada, tal vulnerabilidade do

processo avaliativo manifesta-se por posturas e falas que demandam claramente e,

por vezes, veladamente a construção séria e consistente de uma avaliação de

desempenho que realmente seja uma prática administrativa que forneça aos

empregados referenciais seguros e confiáveis de como direcionar melhor suas

carreiras na empresa.

Nesse sentido e baseando-nos em depoimentos da presente pesquisa que refletem

uma postura dos empregados como simples recebedores de feedback e

expectadores de injustiças, entendemos que a avaliação de desempenho nos

moldes como percebido na instituição pesquisada ainda não se mostra como um

suporte robusto e adequado para a implantação de um modelo de competências.

102

Para tanto e atendo-se ao que pode ser inferido das respostas fornecidas pelos

entrevistados, faz-se necessário o estabelecimento de critérios, sejam eles

quantitativos, qualitativos, focados em conhecimentos ou comportamentos

(MARRAS, 2002), que concebam o desempenho profissional não como um

problema somente administrativo ou técnico, particular de cada empregado, tomado

individualmente, mas também como um problema que concerne à sustentabilidade

econômica de toda a empresa. Entendemos que a definição de critérios desse porte

propiciará aos empregados fazerem, ativamente, uma conexão de seus

desempenhos particulares com o contexto organizacional de criação de valor no

qual estão inseridos (ZARIFIAN, 2001), incrementando sua capacidade crítica para

questionar e aprimorar os próprios critérios de desempenho já anteriormente

definidos e, se pertinente, construir outros com a direção da empresa, num processo

de negociação permanente com os escalões mais altos.

Desse modo, cria-se uma conjuntura em que o funcionário tem a oportunidade de

apropriar-se cada vez mais do sentido estratégico dos parâmetros de desempenho,

aos quais se ajustará conscientemente, e não de modo forçado. Sendo assim,

extrairá do contexto global da empresa, reflexivamente, o “porquê” e o “para que”

desempenhar suas funções num quadro de determinadas exigências de qualidade,

quantidade, prazos, etc. Alcança-se, portanto, o que Zarifian (2001) denomina de

“dimensão gerencial da qualificação”, coerente, segundo o mesmo autor, com o

modelo da competência, pois o empregado passa a compreender e articular melhor

seu desempenho com a estratégia organizacional, fazendo emergir condições de

escape crescente de uma atuação profissional alienada e autômata, superando,

como verificado na presente pesquisa, o simples acatamento mecânico de critérios

103

de desempenho impostos, insuficientemente claros e, mesmo, desconhecidos das

pessoas que trabalham na instituição.

5.2.5 Modernidade administrativa em orientação estratégica

Para avaliar a modernidade administrativa no que se refere à orientação estratégica

fornecida pela empresa aos seus empregados, foi feita a seguinte pergunta aos

entrevistados: A organização fornece orientações sobre como você deve colaborar

para o alcance dos objetivos organizacionais? Justifique.

As respostas obtidas foram:

Não, nenhuma. Você que busque na intranet, na internet, nos manuais. Não, não. Ela não te fornece esse...onde que a Caixa quer chegar. Quais são os objetivos da Caixa para o próximo ano. Ela não dá. A gente não sabe disso (informação verbal, R.7).

Eu acho que isso é pouco. Eu acho que isso não fica muito claro, não, assim, para essa consciência geral. A grande missão da Caixa são poucos empregados que conhecem. Eu acho que não fica muito claro o comprometimento de cada um nessa atuação (informação verbal, R.11).

Não. Eu não sei se é porque eu sou muito intuitivo. Mas eu não percebo isso, não. Eu ajo muito por intuição (informação verbal, R.2).

Um primeiro problema detectado pela presente pesquisa refere-se a uma deficiência

de comunicação da empresa com os empregados sobre as orientações, a forma

como devem colaborar para o alcance dos objetivos organizacionais.

Conseqüentemente, fica a cargo de cada funcionário descobrir por contra própria

como atuar de forma efetivamente produtiva, segundo a visão da direção geral da

organização.

Outro feixe de respostas coletado remete a uma flagrante ambigüidade da

organização no que diz respeito à tarefa institucional de comunicar aos empregados

104

orientações estratégicas. Percebe-se pelos depoimentos a carência de orientações

corporativas claras, precisas, consistentes e permanentes no tempo. Tal conjuntura

tem gerado sentimentos de menos valia, como se os empregados fossem pagos

somente para fazer, e não para pensar (distância entre o nível estratégico e

operacional), de insegurança (ocasionados por mudanças inesperadas de rota por

parte da empresa) e de exclusão (significando impossibilidade de participação numa

construção das linhas de atuação estratégica da organização).

Nem sempre. Eu sinto ainda uma distância entre o nível estratégico e o operacional. As diretrizes, às vezes, não são claras, não são suficientes. As orientações também não são claras. Às vezes, fica muito aquela coisa assim que você tem que fazer e se vira. Isso é operacional. Você se vira (informação verbal, R.3).

A empresa sinaliza, muitas vezes, uma coisa não tão clara. A coisa vai para um caminho, e depois muda. Porque, às vezes, a gente pensa que a empresa quer uma coisa, e daí a pouco ela já muda. E o que é importante hoje, amanhã já não é mais. Às vezes, a gente fica muito perdido aí, sem saber para onde a gente está indo, o que a empresa quer da gente (informação verbal, R.8).

Eu acho que a empresa até oferece uma orientação estratégica, mas muitas das vezes a gente nem se inteira disso. A gente fica meio fora do processo. A empresa te dá esse norte, mas não existe uma participação, por que ele já vem muito pronto (informação verbal, R.9).

Tais sentimentos de menos valia, de insegurança e de exclusão, suscitados pela

forma ambígua da organização em comunicar suas diretrizes estratégicas, podem

ser sintetizados, de forma bem densa, no depoimento seguinte. Pôde-se perceber

que, apesar de existir um discurso relativo a uma orientação estratégica aos

empregados, ele não é aderente à realidade vivida pelo corpo funcional. Em outras

palavras, existe um discurso, mas de caráter opressor, “opaco” e autoritário, fechado

à participação e aos questionamentos dos empregados.

Eu acho que não é suficiente, porque eu não percebo transparência nisso. Eu acho que é uma coisa assim, muito dirigida. Eu acho que o discurso está sendo um, mas a idéia é outra. Eu sinto que é uma coisa falsa, que é de pisar. A sensação que eu tenho é daquele salto 15 assim, que você pisa em

105

cima. Eu acho que eles têm um discurso que eles querem que a gente acredite que a coisa está sendo feita com transparência e nesses moldes de valorização do empregado e tudo. Mas, na realidade, eu percebo e sinto que a coisa está muito de rivalidade: eu (a direção da empresa) posso mais, então, eu é que mando e você vai fazer da forma que eu quero.(informação verbal, R.12).

No que tange ao entendimento de que a empresa tem conseguido transmitir aos

funcionários sua estratégia, esperando deles uma contribuição realmente

agregadora de valor aos negócios da organização, pôde-se inferir que ela tem obtido

um sucesso parcial neste aspecto.

Fornece. Isso é muito divulgado. A gente atualmente está esbarrando, principalmente nas agências com relação a tempo. Os processos da Caixa são muito complexos, são muitos produtos. E o que eu sinto é que a maioria das pessoas não tem tempo para ler tudo, para se inteirar de tudo que tem na empresa. Eu acho assim, que a empresa fornece sim, mas a gente não tem tempo. A empresa fornece, mas eu acho que estamos muito atribulados, muita coisa (informação verbal, R.13).

Verifica-se ainda certo elitismo no que se refere à participação da estratégia

corporativa da organização, implicando a exclusão de determinados segmentos

funcionais no processo de assimilação das diretrizes norteadoras da inserção da

empresa no mercado.

A gente fica meio fora do processo. E a participação é de nível gerencial pra cima. Dificilmente um escriturário ou um cargo comissionado de escala inferior participa desse processo como um todo (informação verbal, R.9).

Um aspecto positivo no processo de comunicação das diretrizes estratégicas

também foi detectado. Foram dados depoimentos indicadores de que a direção

geral, efetivamente, consegue fornecer ao corpo funcional o modo como cada um

deve colaborar e a razão para fazê-lo para o alcance de resultados esperados

institucionalmente.

Fornece sim. A empresa tem utilizado instrumentos cada dia melhores para isso. E, a cada dia que passa, ela tem nos mostrado a razão daqueles números. E a cada dia, com instrumentos mais eficientes (informação verbal, R. 5).

106

Fornece através das nossas reuniões em Brasília: o repasse dos objetivos que se pretende, qual que é a nossa colaboração (informação verbal, R.6).

Sim, a gente tem as metas que a gente tem para atingir e o que a Caixa espera da gente, os objetivos dela (informação verbal, R. 10).

Conforme Zarifian (2001), é importante que os empregados conheçam a estratégia

da empresa em que trabalham, de um lado, porque esta estratégia condiciona a

estabilidade de seu emprego, de outro, porque lhes é solicitado um envolvimento

cotidiano na utilização dessa estratégia.

O mesmo autor assevera que para garantir um vínculo entre implicações

estratégicas e mobilização de competências profissionais é necessário que seja

proporcionado aos empregados uma visão dessas mesmas implicações

estratégicas. Tal visibilidade é que possibilitará ao funcionário situar sua contribuição

no contexto empresarial, dando, assim, um sentido para seu trabalho. Zarifian (2001)

observa ainda que é mais difícil conseguir a mencionada visibilidade em grandes

empresas, sendo tal o caso da empresa ora investigada. Afirma o autor que a

tradição taylorista de tratar os empregados como simples executores de tarefas e as

rígidas separações entre funções impedem que as orientações de cunho estratégico

cheguem efetivamente na base da pirâmide organizacional. O que continua

chegando às bases são as prescrições, não o porquê dessas prescrições.

O observado pelo estudioso acima se confirmou, em parte, por meio dos

depoimentos registrados na presente investigação. Percebe-se na empresa uma

divisão entre os que devem pensar e os que devem fazer. Desse modo, há um

caminho a ser construído no sentido de tornar os empregados autênticos gestores

107

de processo, ao invés de simples executantes de tarefas prescritas

(GOUSSEVSKAIA et al., 1999).

Entendemos, ainda, que esse caminho precisa ser construído evitando-se, além da

cisão entre os que só devem fazer e os que só devem pensar, a cisão entre os

ocupantes e os não ocupantes de cargos gerenciais. Essa última cisão implica que

somente os detentores de cargos gerenciais é que estariam aptos a conhecerem e

discutirem sobre as decisões estratégicas com a alta direção da empresa. De acordo

com Zarifian (2001), dar visibilidade à estratégia organizacional significa que todos

os segmentos funcionais da empresa devem ter pleno conhecimento dela. Essencial

frisar que não se trata, conforme o mencionado autor, de simplesmente informar

mecanicamente as diretrizes estratégicas a todo o corpo funcional. Trata-se de um

trabalho mais complexo, capaz de reelaborar constantemente o sentido do trabalho

humano na empresa e de reconhecer as ações conscientes e automotivadas das

pessoas como um grande diferencial competitivo (DUTRA, 2002).

Podemos concluir, portanto, com base no que foi possível captar dos depoimentos

dos empregados, que ainda não há uma compreensão firme e generalizada por

parte de todo o corpo funcional acerca do tipo de contribuição estratégica que

podem fornecer à organização. Isso impacta um aspecto central voltado para a

aquisição e o desenvolvimento de competências, chamado de “núcleo duro” por

Zarifian (2001: 121): “as competências só são utilizadas e se desenvolvem como

conseqüência de uma automobilização do indivíduo”. Por sua vez, entendemos

como sendo um dos elementos constituintes centrais da automobilização dos

empregados uma real tomada de consciência da contribuição estratégica que podem

108

fornecer à empresa. Já que essa consciência não predomina no cenário

apresentado na atual pesquisa, a gestão de competências na organização

investigada pode revelar-se sem uma base adequada para um bem-sucedido

desenvolvimento.

5.3 Resultados da aplicação do questionário adaptado de Ulrich

Como já mencionado no presente trabalho, Ulrich (2003) identificou quatro principais

e simultâneos papéis da gestão de pessoas que se impõem para os profissionais de

RH e gerentes de linha no gerenciamento contemporâneo da dimensão humana nas

organizações. São eles: administração de estratégias, administração da infra-

estrutura, administração da mudança e administração da contribuição dos

funcionários.Tais papéis estão associados a metáforas ou imagens visuais da gestão

de pessoas concebidas, cada uma, respectivamente, como parceira estratégica,

especialista administrativo, agente da mudança e defensor dos funcionários.

Levando em consideração essas metáforas, Ulrich (2003: 70) elaborou um

questionário passível de ser utilizado para avaliá-las concretamente em contextos

reais de trabalho.

Baseando-se na proposta acima, o autor desta dissertação refez o citado

questionário, substituindo todas as questões que se remetiam à metáfora de

“defensor dos funcionários” pela de “interlocutor político”, inspirada no modelo

político de gestão de pessoas de Brabet (1993). O motivo dessa alteração é que a

associação da administração da contribuição dos funcionários ao papel de defensor

do empregado diz respeito a uma fase paternalista e autoritária da gestão

estruturada de pessoas no Brasil, compreendida entre a década de 30 e o início dos

anos 90, marcada por uma relação legalista com os funcionários, como também

109

baseada no paradigma taylorista/fordista (DUTRA, 2002). Embora tal tipo de gestão

possa ainda ser praticada em empresas brasileiras, pois, conforme Dutra (2002),

dirigentes empresariais formaram-se com esse pano de fundo, ela não condiz com

propostas de modelo avançadas para a função de gerir pessoas.

Foi solicitado, então, a 30 empregados da organização investigada que

respondessem ao questionário adaptado, compreendendo os 12 entrevistados, mais

18 empregados escolhidos aleatoriamente, sendo que esses 18 empregados estão

distribuídos em iguais quantidades pelas seis áreas em que os funcionários

entrevistados estão lotados, ou seja, três funcionários por área. Objetivou-se captar

percepções sobre a qualidade corrente dos quatro papéis da gestão de pessoas,

respeitando uma escala de cinco pontos (sendo 1 ponto para baixa qualidade e 5

pontos para alta). Os resultados obtidos (GRÁF. 1) indicam que o papel prevalente

na instituição é o de agente da mudança (escore: 34, 63), seguido pelo de parceiro

estratégico (escore: 34,17). Vale observar que o papel de interlocutor político foi o

que obteve um escore mais baixo, o que se coaduna com as análises efetuadas a

partir das entrevistas sobre a modernidade administrativa da instituição pesquisada,

principalmente no que se refere ao pouco envolvimento dos funcionários nas

decisões e programas estratégicos da empresa, sobre os quais não se observaram a

transparência e a comunicação necessárias.

110

GRÁFICO 1 – Escores referentes aos papéis desempenhados pela gestão de pessoas. Fonte: CEF, 2003. Pesquisa direta.

Obs.: De acordo com o questionário adaptado de Ulrich (2003).

34,17

31,60

30,80

34,63

28

29

30

31

32

33

34

35

Parce iro estratégico Especialis taadm inis trativo

Interlocutor político Agente da m udança

Papéis desem penhados

Tota

l

Entendeu-se apropriado, para os objetivos da presente pesquisa, analisar a

discrepância entre a pontuação das metáforas agente da mudança e interlocutor

político, bem como a discrepância entre a pontuação das metáforas interlocutor

político e parceiro estratégico. Em seguida, a partir do contexto apresentado pelas

duas análises, foi traçado o cenário considerado mais pertinente para caracterizar o

momento atual da função gestão de pessoas na organização estudada.

Segundo Ulrich (2003), a gestão de pessoas, como agente da mudança, auxilia as

organizações, capacitando-as a garantir que programas e procedimentos sejam

definidos, desenvolvidos e liberados de maneira oportuna, que processos sejam

interrompidos, iniciados e simplificados e que valores culturais sejam debatidos e

devidamente adaptados às condições dos negócios. Para a formação dessa

capacidade de mudança, o mesmo autor enumera sete fatores críticos de sucesso:

111

− condução da mudança: existência de um líder ou patrocinador da mudança;

− criação de uma necessidade comum: garantia de que os empregados saibam o

porquê da mudança e que, assim, reconheçam sua necessidade;

− modelagem de uma visão: formulação do resultado almejado depois da mudança;

− mobilização do envolvimento: identificação, envolvimento e comprometimento das

pessoas-chave para o cumprimento da mudança;

− mudança de sistemas e estruturas: reajuste das ferramentas de gestão de

pessoas (desenvolvimento, avaliação, recompensas, comunicação, etc.) aos

resultados desejados pela mudança;

− monitoração do progresso: definição de parâmetros para medir e evidenciar o

andamento do processo de mudança; e

− manutenção da mudança: garantia de que a mudança se realize mediante planos

de implementação, acompanhamento e compromissos assumidos.

Analisando os sete itens acima, podemos inferir que se trata de fatores que

manifestam em seu bojo uma indispensável exigência implícita de se considerar a

empresa como um lugar em que convivem diversos grupos de interesse e que a

obtenção de consensos não se consegue automaticamente. Haverá, nessa

perspectiva, pertinente ao modelo político de Brabet (1993), sempre um processo de

negociação e convencimento, liderado por uma pessoa ou grupo, os quais

favorecerão ou não a criação de determinados espaços necessários para que

transformações organizacionais aconteçam em níveis tanto de procedimentos e

processos como cultural.

112

Mudanças efetivas implicam o enfrentamento da mentalidade comum consolidada ao

longo do tempo no ambiente organizacional, representada por atos e pensamentos

automáticos, encravados em fluxos de comunicação/informação, decisão/autoridade

e na maneira como as pessoas são tratadas na organização (ULRICH, 2003). Tal

enfrentamento, numa visão da empresa como também sendo uma entidade política,

pode implicar ter de quebrar pretensas sociabilidades harmônicas, não significando

com isso, de acordo com o modelo político de Brabet (1993), que os possíveis

conflitos gerados sejam necessariamente nocivos à organização. Pelo contrário, no

mencionado modelo eventos que manifestam uma situação conflituosa marcam a

possibilidade da inserção dos empregados como atores políticos válidos que buscam

ativamente alcançar seus interesses. Cabe, principalmente, às lideranças na

empresa criarem condições para que esse movimento seja integrado de modo

funcional à dinâmica empresarial, numa atitude gerencial de arbitragem racional e

ética (DAVEL e VERGARA, 2001).

Em face do exposto, a diferença entre a pontuação das metáforas agente da

mudança e interlocutor político pode ser inferida como resultante de um processo de

compensação. Ou seja, não havendo uma percepção clara e consistente da gestão

de pessoas como interlocutora política entre empregados e direção da empresa,

pelo menos na visão daqueles que responderam ao questionário, ela promove,

mesmo assim, a mudança, de certa forma, “adivinhando” os anseios de seu corpo

funcional ou por outros meios que escapam ao conhecimento dos funcionários. Isso

evidencia um traço cultural de concentração de poder nas empresas brasileiras

(PRATES e BARROS, 1997). Especificamente no caso da empresa investigada, a

falta de compatibilidade das pontuações das duas metáforas no momento

113

consideradas (agente da mudança e interlocutor político) pode evidenciar um

aspecto de uma cultura organizacional baseada no poder racional-legal e na

hierarquia/subordinação, que combinada a uma “postura de espectador” por parte

dos empregados (PRATES e BARROS, 1997) conduz a que se imputem, como

responsabilidade exclusiva somente dos profissionais com atribuições de gerir

pessoas (sejam eles os pertencentes à área corporativa de gestão de pessoas ou os

gerentes de linha) iniciativas de transformação da e na instituição. Numa situação de

maior equilíbrio de poder (o que não se mostra ser o caso da organização

investigada), a responsabilidade por mudanças na empresa deveria ser vista como

distribuída por todo o corpo funcional, implicando que os responsáveis diretos por

gestão de pessoas e empregados, em conjunto, buscariam construir os já citados

fatores críticos para o sucesso de mudanças, num movimento de constante

promoção da autodeterminação dos funcionários e da co-participação desses nos

destinos da instituição.

A segunda vertente de análise, como já dito, refere-se à relação entre as pontuações

das metáforas interlocutor político e parceiro estratégico.

A gestão de pessoas, de acordo com Ulrich (2003), é parceira estratégica quando

participa do processo de definição da estratégia empresarial. Essa participação

implica a criação e o desenvolvimento de práticas de gerenciamento do corpo

funcional ajustadas à dinâmica da estratégia global da empresa, o que significa que

a gestão de pessoas, desse modo, torna-se um braço da estratégia da organização.

Para tanto, questões relacionadas à gestão do corpo funcional não podem vir a ser

uma reflexão tardia, um pós-escrito, um acessório ao processo de planejamento

114

organizacional, como também não devem se restringir somente ao âmbito da área

corporativa da gestão de pessoas. Devem, por outro lado, transformar-se em

práticas que constantemente se integrem no processo decisório da empresa, no

sentido de garantir o alcance dos objetivos organizacionais (ULRICH, 2003).

Desse modo, sobressai-se a importância da interlocução da gestão de pessoas com

outras áreas e direção de uma organização. Tal interlocução contrapõe-se à idéia de

que questões de RH devem ser simples apêndices aos esforços reais de

planejamento empresarial ou à idéia de que planejamentos de RH devem mais visar

à estruturação interna dos próprios departamentos de RH do que levar em conta

prioridades globais da empresa (ULRICH, 2003).

No entanto, a diferença de pontuações entre as metáforas interlocutor político e

parceiro estratégico parece indicar que a gestão de pessoas, para ser condutora e

concretizadora da estratégia empresarial, não necessita, simultaneamente, ser uma

interlocutora política, num processo de comunicação efetiva com as várias esferas

da organização. Ao contrário disso, de acordo com Ulrich (2003), ser parceiro

estratégico implica, fundamentalmente, criar e fomentar esse diálogo, mediante as

práticas de RH espalhadas por toda a organização. Ou seja, as próprias práticas de

RH, depois de um trabalho sistemático de diagnóstico organizacional, realizado por

profissionais que atuam como gestores de pessoas, seriam meios para se efetivar a

estratégia empresarial.

Sendo assim, a discrepância entre as pontuações das metáforas interlocutor político

e parceiro estratégico pode fazer supor a existência de uma visão da gestão de

115

pessoas como, desde sempre, integrada à intenção estratégica da organização,

abstraindo-se da concepção crítica e dinâmica segundo a qual gerir pessoas é gerir

conflitos e diversos grupos de interesse (BRABET, 1993) e que a estratégia

organizacional é um produto construído na história da empresa, fruto desses

embates, não algo, necessariamente, a priori, já dado e definitivo.

A partir das considerações acima, a gestão de pessoas parece ser uma entidade à

parte, não suficientemente atuante pelos e com os funcionários, enquanto atores

políticos válidos (BRABET, 1993), na proporção que demanda uma empresa do

porte da investigada. Nesse contexto, resultados relacionados à consecução da

estratégia empresarial ampla e a criação de uma organização renovada (ULRICH,

2003), por meio de práticas de RH, parecem se efetivar num nível em que os

empregados não se reconhecem interagindo com a instituição e, simultaneamente,

apropriando-se de canais que poderiam conduzi-los a avaliar os mencionados

resultados, numa ótica de cidadania organizacional (BRABET, 1993). Desse modo,

pode-se supor que ganha relevância, nesse contexto de distância entre o corpo

funcional e a instância de poder ora representada pelos que têm a atribuição de gerir

pessoas, o peso de uma visão tradicional e formal dessa atribuição, a qual é ligado à

necessidade de continuidade, disciplina, estabilidade, controle e melhoria de

processos (ULRICH, 2003), representada pela metáfora especialista administrativo.

Apresenta-se, portanto, como uma das facetas do resultado do questionário aplicado

a percepção da gestão de pessoas com foco na eficiência e na eficácia de

processos tradicionais de infra-estrutura em RH, tais como: contratação de pessoal,

treinamento/desenvolvimento, avaliação, premiação e promoção. (ULRICH, 2003).

116

Nessa perspectiva, a função de RH atua como uma extensão das demais funções

administrativas da empresa, só que no âmbito das relações humanas (FISCHER,

2001).

Ressaltamos, por fim, em que pese à característica acima mencionada, que não se

pode deixar, ao mesmo tempo, de reconhecer, com base nos escores apresentados,

que a gestão de pessoas atua também como agente da mudança e como parceiro

estratégico. Entretanto, essa atuação ocorre sem a devida articulação com os

interesses dos funcionários, o que explica o escore mais baixo encontrado para o

papel de interlocutor político, o que, por sua vez, vai ao encontro das análises

efetuadas a partir dos dados de entrevista.

5.4 Composição das análises: práticas e papéis da gestão de pessoas

Objetiva-se articular nesta parte da dissertação as análises das cinco práticas de

gestão de pessoas investigadas (recompensas, promoção/carreira, educação

corporativa, avaliação de desempenho e orientação estratégica) com a análise

realizada sobre os dados obtidos por meio das aplicações do questionário de Ulrich

(2003) adaptado.

Para tanto, apresenta-se, inicialmente, o QUADRO 4, no intuito de fornecer uma

visualização resumida dos temas oriundos das entrevistas realizadas com os

funcionários da instituição sobre as práticas acima mencionadas. Realiza-se,

também, no mesmo quadro, em termos sucintos, uma avaliação do estado atual de

cada prática de gestão de pessoas. Vale salientar que os referidos temas serviram

de base para delinear, no contexto da organização estudada, como se configuram

atualmente as suas práticas de gestão de pessoas.

117

QUADRO 4

Indicadores da pesquisa e estado atual das práticas de gestão de pessoas

(Continua)

PRÁTICA TEMA ESTADO ATUAL DAS PRÁTICAS

Rec

ompe

nsas

− Ênfase na remuneração funcional. − Insatisfação associada à expectativa

de recuperação do valor real da remuneração funcional.

− Valorização de benefícios (salário indireto), de recompensas ligadas ao próprio trabalho e de recompensas sociais e simbólicas.

− Falta da clarificação de uma perspectiva relativa ao surgimento de um sistema de recompensas de cunho estratégico na empresa.

− As práticas de recompensas apresentam-se como uma base frágil para incentivar um tipo de contribuição do corpo funcional que extrapole os limites de atribuições e responsabilidades estabelecidos pelo plano de cargos e salários corporativo.

Pro

moç

ão /

carr

eira

− Critérios políticos misturados a critérios mais transparentes (currículos ou comportamentais).

− Ênfase no alcance de resultados. − Valorização do potencial do

empregado. − Variabilidade de critérios de

promoção, de acordo com cada área.

− As práticas de promoção e carreira não se mostram como um instrumento consolidado de gestão de pessoas, tendo em vista a profusão de critérios (inclusive políticos), com a contrapartida da falta de referenciais claros e organizados que dêem suporte a opções individuais dos empregados sobre carreira e ao gerenciamento de carreira pela empresa, embora já apresentem alguns indicadores de modernidade, tais como a ênfase em resultados e a valorização do potencial do empregado.

118

QUADRO 4

Indicadores da pesquisa e estado atual das práticas de gestão de pessoas

(Conclusão)

PRÁTICA TEMA ESTADO ATUAL DAS PRÁTICAS

Edu

caçã

o co

rpor

ativ

a

− Ênfase na importância de treinamentos oferecidos pela universidade corporativa, como também no registro deles no currículo.

− Falta de um planejamento que articule a formação profissional do empregado com os objetivos organizacionais.

− Incentivo financeiro da empresa para elevar o nível de escolaridade dos empregados.

− Postura paternalista da instituição, manifestada por meio da redução do corpo funcional à condição de meros consumidores de incentivos e produtos de educação corporativa.

− Falta de uma integração sistemática do conteúdo dos treinamentos com as práticas correntes de trabalho.

− As práticas de educação corporativa mostram-se, por um lado, presas a uma postura paternalista da organização e, por outro, a uma postura individualista e consumista por parte dos funcionários em relação às iniciativas da instituição em prol do desenvolvimento profissional de seu corpo funcional.

Ava

liaçã

o de

des

empe

nho − Ênfase em critérios de resultados

numéricos e objetivos alcançados. − Falta de critérios que levem em conta

a qualidade do serviço executado. − Existência de critérios

comportamentais e subjetivos. − Explicitação de sentimentos de

frustração e injustiça diante da falta de uma sistemática geral de avaliação individual de desempenho.

− As práticas de avaliação de desempenho apresentam-se como não fornecedoras aos funcionários de referenciais confiáveis de como melhor direcionar suas carreiras na empresa e de como conectar seus desempenhos com a estratégia organizacional.

Orie

ntaç

ão e

stra

tégi

ca

− Comunicação deficiente da empresa com os empregados sobre a forma como o corpo funcional deve colaborar para o alcance dos objetivos organizacionais.

− Explicitação pelos funcionários de sentimentos de menos valia, de insegurança e de exclusão diante da falta de possibilidade de participar da definição de estratégias.

− Exclusão de segmentos funcionais no processo de definição da estratégia corporativa.

− As práticas de orientação estratégica não se mostram como um processo de diálogo autêntico com todos os segmentos funcionais, no sentido de, efetivamente, comunicar aos empregados a importância do alcance de resultados institucionais, tendo-os, assim, como parceiros conscientes do valor de suas contribuições.

Fonte: CEF, 2003. Pesquisa direta.

119

Como exposto nas considerações finais, relativas aos resultados das aplicações do

questionário de Ulrich (2003), a gestão de pessoas da organização pesquisada pode

ser caracterizada, de acordo com as percepções de seus funcionários, como atuante

nos papéis de agente da mudança e de parceiro estratégico. No entanto, foi

observado que o exercício de tais papéis não se articula devidamente com os

interesses do corpo funcional, tendo em vista que há uma carência, de modo geral,

de um envolvimento mais crítico e propositivo dos funcionários na criação e

aperfeiçoamento desses papéis, que se mostram limitados enquanto instrumentos

de reconhecimento dos empregados como cidadãos organizacionais (BRABET,

1993). Ou seja, a construção, pela gestão de pessoas, de condições para uma

participação mais efetiva do corpo funcional nas esferas da estratégia e da

realização de mudanças na empresa parece relegada a segundo plano. Tal cenário

indica que, pelas limitações atuais das citadas práticas, elas acabam por funcionar

mais como instrumentos que buscam a previsibilidade e o controle do processo de

gerir pessoas (FISCHER, 2001).

Dessa forma, as práticas investigadas estão a promover, no dizer de Leite (1996),

uma modernização conservadora, uma vez que mostram-se incentivadoras de uma

centralização de poder nas mãos de uns poucos responsáveis pela gestão de

pessoas, e não de um compartilhamento desse poder com todo o corpo funcional,

de modo que os empregados se identifiquem como influenciando verdadeiramente

processos decisórios relevantes da empresa.

Torna-se também oportuno pontuar, no que tange à análise dos resultados da

aplicação do questionário de Ulrich (2003), a proeminência que adquiriu, a partir do

120

contexto acima delineado, a atuação da gestão de pessoas como especialista

administrativo, sobressaindo-se a faceta tradicional de prestação de serviços da

função de RH (contratação, seleção, treinamento, etc.). Pode-se ponderar, com base

em Fischer (2001), que é inegável que as empresas dependam desses mecanismos

prescritos para regular e direcionar ações que impactem as relações humanas, no

sentido de estimular padrões de comportamento coerentes com os objetivos

organizacionais. Porém, segundo o mesmo autor, uma priorização, pela gestão de

pessoas, desses serviços institucionalizados de RH admite a idéia de que há apenas

a direção da empresa como agente consciente na dinâmica complexa que se

estabelece nas relações entre pessoas e organização. Sendo assim, apesar de ser

indispensável e importante o papel da gestão de pessoas como especialista

administrativo, ele é limitado para suportar as exigências contemporâneas

relacionadas às novas formas de lidar com a dimensão humana nas organizações.

Vale dizer, ainda, que na empresa pesquisada há indícios de numa gestão por vezes

carregada da concepção que focaliza os funcionários como um “recurso” a mais,

igualando-os, nessa perspectiva, a qualquer outro recurso corporativo, sejam eles

financeiros, máquinas, equipamentos, etc (FISCHER, 2001), haja vista a carência de

canais de diálogo e reconhecimento real dos anseios do corpo funcional. Nesse

sentido, a organização em questão dá mostras de que, no momento, não possui

firmemente integrada ao seu cotidiano uma visão de que gerir pessoas implica

incumbir-se, primordialmente, de relações interpessoais caracterizadas por

interesses de diversos tipos. Entende-se que uma autêntica consideração desses

interesses pela direção da empresa seja um dos pré-requisitos indispensáveis para

suplantar gradativamente os anacronismos e falhas detectados, por meio da

121

presente pesquisa, nas práticas de gestão do corpo funcional. Supõe-se, ainda, que

tal consideração dos interesses dos funcionários precisará concretizar-se por meio

de mediações corporativas oportunas e que construam um sentido de cidadania

organizacional, de acordo com o modelo político de Brabet (1993), já apresentado

na presente dissertação.

Sendo assim, considera-se que é possível chegar-se à consolidação de uma gestão

mais avançada de pessoas na organização pesquisada contando com a atuação

ativa e consciente dos empregados para o aperfeiçoamento das práticas

investigadas ou, talvez, até para a criação de outras novas. Desse modo, pode-se

dizer que, concretamente, evoluir-se-ia para uma maior participação dos funcionários

nos destinos da instituição, bem como para uma autopercepção dos empregados

como gestores de sua relação com a empresa (DUTRA, 2001). E a gestão de

pessoas passaria a exercer, efetiva e legitimamente, o papel de interlocutora entre a

organização e o seu corpo de funcionários, o que certamente levaria a uma condição

de maior competência e de modernidade organizacional.

122

6 CONCLUSÃO

O presente trabalho de pesquisa almejou, fundamentalmente, verificar se na

instituição investigada existem bases suficientemente consolidadas – as quais

denominamos de “características de modernidade” – para a adoção e sustentação

de um modelo de competências profissionais.

Após a análise e interpretação de fatores e itens de uma escala para mensuração de

modernidade organizacional elaborada por Sant`anna (2002) a partir de estudos de

Eboli (1996), foram extraídas cinco práticas específicas de gestão de pessoas para

serem avaliadas quanto a sua capacidade de adequação a um modelo de

competências profissionais em processo de implantação na Caixa Econômica

Federal. Sendo assim, foram examinadas, com respaldo em percepções de

funcionários da referida empresa, as seguintes práticas do fator “modernidade

administrativa e das práticas de gestão de pessoas”: recompensas, promoção e

carreira, educação corporativa, avaliação de desempenho e orientação estratégica.

Como visto no decorrer da presente pesquisa, a forma como essas práticas se

configuram, a partir das análises, mostrou-se singular e espelha um pouco da

complexidade da organização investigada. Nesta parte de conclusões finais,

entende-se como relevante retomar, em termos consolidados, as principais

limitações de cada uma dessas práticas, embora tenham sido detectados alguns

avanços em termos de modernidade organizacional, o que será também apontado

mais adiante nesta seção.

123

No intuito de proporcionar uma visão geral sobre as limitações de cada prática no

que se refere a sua consonância e capacidade de oferecer respaldo ao modelo de

competências, consideramos importante ter em vista, como mais um subsídio

orientador, os balizamentos seguintes, propostos por Dutra (2002), que considera

que as práticas efetivas de gestão de pessoas existentes em organizações de

sucesso e citadas pelos principais estudiosos dessa área nos anos 80 e 90 contêm

“idéias-força” ou valores, que podem ser sintetizadas em:

− desenvolvimento mútuo – a gestão de pessoas deve criar condições necessárias

para que empresa e pessoas possam desenvolver-se mutuamente, permitindo a

ambas atuarem em contextos cada vez mais complexos;

− satisfação mútua – a gestão de pessoas deve alinhar, a um só tempo, os

objetivos estratégicos e negociais da organização e o projeto profissional das

pessoas;

− consistência no tempo – a gestão de pessoas deve oferecer parâmetros estáveis

no tempo para que, a partir de uma realidade cada vez mais turbulenta, seja

possível, tanto para a empresa como para o corpo funcional se posicionarem

flexivelmente em diferentes contextos e momentos da realidade.

Para cada prática analisada foi feita uma síntese de sua configuração atual e de

limitações no que se refere ao seu alinhamento em relação às proposições de um

modelo de competências profissionais, de acordo com literatura pesquisada.

a) Práticas de recompensas

− Estado atual: base frágil para estimular contribuições do corpo funcional que

não estejam explicitadas no plano de cargos e salários.

124

− Limitações: um modelo de competências não se fixa em padronização,

repetição e simplificação de atividades. Sendo assim, contribuições que

extrapolem o que está descrito em cargos poderão acarretar choques de

expectativas entre a empresa e o corpo funcional, já que a organização não

estará suficientemente preparada para recompensar aqueles empregados

que mais se destacarem por tipos de contribuições não previamente definidos

formalmente. Vale lembrar Zarifian (1996) que, ao definir competência, faz

alusão à metacognição e às atitudes relacionadas ao trabalho, baseando-se

na premissa de que em ambiente dinâmico e competitivo não é possível

considerar o trabalho como um conjunto de tarefas ou atividades predefinidas

e estáticas.

b) Práticas de promoção e carreira

− Estado atual: grande variedade de critérios, causando dificuldades para que

os empregados orientem suas carreiras individuais e para que a organização

gerencie as carreiras do corpo funcional como um todo, de acordo com as

necessidades da própria empresa. Essas últimas, segundo Dutra (2002),

podem ser: previsão de demanda por profissionais, escolha de programas de

desenvolvimento profissional, opção por determinados processos de

acompanhamento de desempenho, etc.

− Limitações: percebe-se como não compatível com a abordagem por

competência, a qual pressupõe uma valorização da trajetória das pessoas

(DUTRA, 2004), a grande variedade de critérios de promoção, que são

aplicados nas diversas áreas da empresa, não imputando, como seria de se

esperar, a devida importância à trajetória dos empregados na organização,

125

causando dificuldades quanto ao planejamento individual de carreiras. Essa

prática, tal como se encontra hoje delineada, poderá gerar lacuna no sentido

de não oferecer critérios claros e objetivos acerca do que se espera de cada

funcionário, assim como de suas perspectivas de desenvolvimento na

instituição, características essas centrais em uma gestão por competências.

c) Práticas de educação corporativa

− Estado atual: vinculada a uma postura paternalista da organização,

simultaneamente a uma postura individualista e consumista dos funcionários

nas suas relações com os produtos disponibilizados pela empresa para o

desenvolvimento profissional.

− Limitações: a implantação de uma gestão de pessoas por competências

exige pré-requisitos de compartilhamento consciente dos recursos disponíveis

de educação corporativa, enquanto meios para a aquisição e o

desenvolvimento de competências profissionais. Descarta, portanto, uma

concepção desses meios como objetos de doação paternalista por parte da

organização e seu complementar “consumo” individualista por parte dos

funcionários, desvinculados de uma assimilação coletiva na empresa. Nesse

sentido, um modelo de competências poderia exigir uma mudança

significativa no quadro das práticas de educação corporativa apresentado.

Sendo assim, tal modelo estaria a impor como necessidade indispensável a

sua implantação a construção de valores entre dirigentes e empregados que,

fundamentalmente, transformassem a educação profissional atual dos

trabalhadores da empresa investigada em um processo de formação de uma

126

cultura empresarial de competência, de resultado e geradora de sujeitos

modernos e reflexivos (EBOLI, 2001).

d) Avaliação de desempenho

− Estado atual: ausência de referenciais confiáveis para que os funcionários

melhor direcionem suas carreiras, ao mesmo tempo, conectando seus

desempenhos com a estratégia organizacional.

− Limitações: segundo Dutra (2004), devem-se utilizar ferramentas e

processos distintos para se avaliar três dimensões diferentes que integram o

desempenho de uma pessoa: seu desenvolvimento, seu esforço e seu

comportamento. Normalmente, segundo o mesmo autor, as empresas

misturam essas três dimensões, valorizando mais o esforço (foco em

resultados de curto prazo) e o comportamento. Relegam, assim, para

segundo plano a dimensão do desenvolvimento dos empregados (foco em

resultados duradouros, de médio e longo prazos), que é a mais importante no

presente, devendo, portanto, receber atenção especial, tendo em vista que

esta dimensão possibilita melhores condições para que a organização se

adapte às exigências do ambiente em que se insere (DUTRA, 2004). O foco

no esforço, e não no desenvolvimento, parece ser o caso da empresa

pesquisada, já que seus funcionários sentem falta de uma sistemática geral

de avaliação individual de desempenho que seja transparente e criteriosa,

estimulando e valorizando o desenvolvimento profissional no âmbito da

equipe de trabalho e no contexto mais amplo: o da organização. Havendo

foco no desenvolvimento da pessoa, parece ser pertinente falar-se sobre o

que Zarifian (2001) denomina de “dimensão gerencial da qualificação”,

127

coerente com o modelo de competência, sendo assim concernente com a

possibilidade concreta de o empregado dar sentido aos parâmetros de

desempenho individuais, na medida em que consegue compreendê-los, num

processo de desenvolvimento constante (não de esforços fortuitos para dar

conta de suas atribuições), inserido num contexto profissional mais amplo,

representado por metas e objetivos organizacionais.

Portanto, a prática de avaliação de desempenho estudada, caracterizada pela

ausência de parâmetros confiáveis de desempenho, que enfatizem a

dimensão do desenvolvimento do funcionário e possibilitem a conexão com

metas e objetivos organizacionais, mostra-se como uma base imprópria para

aquisição e o desenvolvimento de competências profissionais agregadoras de

valor para empresa.

e) Orientação estratégica

− Estado atual: falta de um diálogo autêntico da Direção da empresa com

todos os segmentos do corpo funcional, no sentido de comunicar aos

empregados a importância do alcance de resultados empresariais,

construindo com eles uma relação na qual se percebam como parceiros

conscientes do valor do trabalho que executam.

− Limitações: segundo Zarifian (2001), para assegurar-se um vínculo entre

implicações estratégicas e mobilização de competências profissionais, é

necessário que seja proporcionado aos empregados uma compreensão

dessas mesmas implicações estratégicas. Não se percebe na instituição

estudada uma real tomada de consciência pelos empregados da contribuição

128

estratégica que podem oferecer. Portanto, é de se esperar, segundo a

afirmação do mencionado autor, que isso se constitua em empecilho para a

mobilização das competências do indivíduo. Nesse sentido, o cenário

apresentado pela configuração atual da prática de orientação estratégica não

se mostra como um terreno adequado para uma bem-sucedida implantação

de uma gestão por competências.

Em face ao exposto, baseando-se na opinião e na percepção dos próprios

funcionários da instituição acerca das práticas investigadas, conclui-se que,

atualmente, a organização não se encontra preparada para implantar um modelo de

competências profissionais tal como proposto pelos seus idealizadores, a não ser

que no decorrer de tal processo sejam efetuadas as devidas reformulações nas

políticas, processos e práticas de gestão. As limitações evidenciadas pela tradição

taylorista de fixação em cargos, pela grande variedade de critérios desarticulados de

promoção, pela postura paternalista da empresa e consumista dos funcionários

relacionadas a produtos de educação corporativa, pela ausência de referenciais

confiáveis de avaliação de desempenho e pela falta de um diálogo autêntico da

empresa com seus empregados para comunicar sua estratégia, configuram um

cenário revelador de uma base não suficientemente adequada para a adoção de

uma gestão de pessoas por competências. Questiona-se, então, se tal base já não

deveria ter sido cuidadosamente analisada na fase de proposição do referido modelo

e contingentemente reformulada.

De outra forma, pode-se dizer, conforme os quesitos de uma avançada gestão de

pessoas, expostos por Dutra (2002), já anteriormente apresentados, que não se

129

evidenciaram na organização estudada os indicadores de desenvolvimento mútuo e

de satisfação mútua de empresa/empregado, como também aqueles concernentes a

parâmetros estáveis no tempo para que a organização e seus funcionários se

orientem em uma realidade crescentemente turbulenta.

Por sua vez, num reforço ao quadro acima, a caracterização atual da gestão de

pessoas, consolidada a partir das referências do modelo de Ulrich (2003), adaptado

com base em contribuições de Brabet (1993), não revelou um equilíbrio dinâmico

dos papéis de parceiro estratégico, especialista administrativo, interlocutor político e

agente da mudança, indicando com isso que o processo de gerir pessoas pode não

estar agregando valor à empresa na proporção que seria de se esperar (ULRICH,

2003). A partir dos dados obtidos do questionário aplicado, a gestão de pessoas da

organização não consegue lidar tão efetivamente com os processos estratégicos

nem com os operacionais. Também, revela-se um agente despreparado de

mudanças, parafraseando Hanashiro, Teixeira e Zebinato (2001), tendo em vista a

constatada falta de esforços em prol do alinhamento das políticas e práticas vigentes

de gestão de pessoas com as proposições de uma gestão por competências que já

se encontra em fase de implantação. Além disso, ao que tudo indica, ainda não há

um reconhecimento do desafiante papel que a gestão de pessoas deve exercer,

aceitando a responsabilidade pela obtenção de resultados e construindo, com a

colaboração do corpo funcional como ator político válido, um compromisso

duradouro para o alcance de objetivos organizacionais (BRABET, 1993; ULRICH,

2003).

130

No que tange ao envolvimento do corpo funcional, como ator político agindo em prol

do alcance de resultados, considera-se como de importância fundamental no

desenvolvimento do presente trabalho os referenciais trazidos pelo modelo político

de Brabet (1993), uma vez que pôde-se perceber nos contatos com os empregados,

principalmente em entrevistas, a falta de canais efetivos e confiáveis de participação

cidadã nas práticas focalizadas e, em extensão, nos destinos da empresa. Até o

ponto em que a pesquisa avançou, não foi possível verificar se a organização

intenciona abrir espaços de envolvimento cidadão para seu corpo funcional. É

importante reconhecer, entretanto, que a instituição tem se esforçado em prol da

criação e desenvolvimento de recursos e instrumentos avançados de gestão de

pessoas, bem como tem tomado algumas iniciativas de vulto que impactam

positivamente o trato com seus colaboradores, promovendo a construção de uma

empresa em moldes mais modernos. Os ditos recursos e iniciativas, tais como

relatados em entrevistas, são a universidade corporativa, os incentivos financeiros à

conclusão do curso superior ou pós-graduação, a ênfase no alcance de resultados e

a valorização do potencial dos empregados.

Os mencionados pontos positivos, que poderiam vir a se constituir em facilitadores

ao desenvolvimento de competências profissionais, de outra forma, afiguram-se

como obscurecidos em sua importância, de acordo com indicadores da pesquisa,

por aspectos como: deficiente comunicação empresa/empregados; sentimentos de

frustração e injustiça dos funcionários; e distância de poder entre os escalões

dirigentes e os níveis inferiores da hierarquia da empresa. Enfim, diversos são os

tipos de limitações apresentadas nas práticas estudadas, que também se configuram

131

como possíveis obstáculos a uma exitosa implementação da gestão por

competências.

Vê-se, portanto, que o discurso de valorização da aquisição e desenvolvimento de

competências em voga na organização investigada, pelos entraves acima

delineados, pode estar comprometido em sua eficácia em relação ao público interno.

Conforme preconiza Zarifian (2001),

Um aspecto sensível da lógica competência é que a mobilização das competências de um indivíduo não pode ser imposta ou prescrita. O que a empresa pode fazer é requerer competências, criar condições favoráveis a seu desenvolvimento, validá-las” (ZARIFIAN, 2001: 121, grifo nosso).

Afigura-se, assim, um panorama que desafia a gestão de pessoas da organização a

encontrar vias de sustentabilidade interna a seu discurso em prol do modelo de

competências. Nesse sentido, consideramos que a percepção dos funcionários a

respeito dos pontos fortes ou falhas do processo atual de gerir pessoas precisará ser

levada cada vez mais em conta. Apesar das limitações à implantação de uma gestão

por competências na organização, percebemos que a gestão de pessoas ora

focalizada pela pesquisa empreendida, devido às importantes medidas que já

implementou, possui condições de aperfeiçoar e colocar em ação, de maneira

efetivamente sinérgica, os papéis de parceiro estratégico, especialista administrativo

e agente de mudança, desde que se tenha presente como elemento essencial nesse

processo o próprio empregado, num caminho autêntico de cidadania corporativa e

se reformulem os seus processos e práticas de gestão, no sentido do alinhamento

às proposições de modernidade e de competência institucionais.

De acordo com Zarifian (2001), a lógica da competência privilegia uma atitude social

e funcionamentos organizacionais novos, sendo que isso pode ser apreendido da

132

posição da empresa, postulando a conexão entre estratégia e competências

corporativas/pessoais, afirmação coerente com o que preconizam Fleury & Fleury

(2004). Porém, a pouca participação dos empregados na estratégia da empresa,

evidenciada por esta pesquisa, dificulta que se adquiram e se desenvolvam novas

competências pessoais a partir da estratégia empresarial, assim como dificulta que

as competências pessoais existentes possam influenciar novas formulações

estratégicas (FLEURY & FLEURY, 2004). Esse cenário também vem impor

empecilhos, em conformidade com os achados da presente investigação, à

transparência nos critérios de provimento, seleção, sucessão e gestão de

desempenho, à elaboração de planejamento das ações de desenvolvimento com

vistas ao encarreiramento e ao desenvolvimento de competências que agreguem

valor profissional e reconhecimento, aspectos esses abordados pela organização

como vantagens do modelo de competências para o empregado.

Limitações

Tendo em vista a afirmação de Triviños (1987:109) de que “estudos exploratórios

permitem ao investigador aumentar sua experiência em torno de determinado

problema”, pretendeu-se, por meio desta pesquisa exploratória, chegar a uma

compreensão mais clara a respeito de determinadas condições básicas para a

implantação de um modelo de competências profissionais na instituição Caixa

Econômica Federal.

No entanto, uma compreensão mais ampliada e, talvez, mais sutil, relativa ao

contexto da área de gestão de pessoas da organização investigada poderia ter sido

obtida se se dispusesse de um tempo mais dilatado para a finalização da pesquisa

que viabilizasse a consideração e aprofundamento das outras duas dimensões de

133

modernidade constantes da escala de modernidade organizacional de Sant`Anna

(2002), representadas pelos fatores e itens de modernidade política e modernidade

cultural. Nesse alargamento das fronteiras da investigação, outras práticas da gestão

de pessoas também poderiam ser contempladas, favorecendo o alcance de uma

visão mais acurada do momento pelo qual passa a empresa na relação que mantém

com seus funcionários.

Outro ponto a salientar no que tange às limitações do estudo refere-se à opção

metodológica de aplicar o questionário adaptado de Ulrich (2003) em uma amostra

intencional e de conveniência não representativa de todos os funcionários da

empresa pesquisada. Objetivou-se com essa iniciativa somente recolher subsídios

que dessem suporte às análises provenientes do material obtido nas entrevistas

realizadas com os empregados. Não se intentou com esse procedimento, firmar

convicção sobre qualquer aspecto quantitativo da pesquisa, e sim, com a devida

pertinência, fornecer respaldo possível à análise qualitativa que já tinha sido

realizada anteriormente, num enfoque também qualitativo dos resultados numéricos

do questionário.

Com essas ponderações, não se quer dizer que não traria ganhos para a pesquisa

um tratamento estatístico desses resultados numéricos, encadeado com as análises

qualitativas realizadas e exigindo um trabalho com uma amostra maior e mais

representativa. Apenas faz-se oportuno esclarecer o sentido da escolha do

tratamento qualitativo das relações entre os escores (obtidos pela aplicação dos

questionários) dos papéis da gestão de pessoas, pois esperava-se que tal

tratamento pudesse enriquecer as análises qualitativas das práticas.

134

Recomendações

a) Recomendações para futuros estudos

A presente pesquisa teve como ponto de partida para a análise das práticas

percepções de funcionários do quadro efetivo de pessoal. Sugere-se que sejam

consideradas em futuros trabalhos com objetivos semelhantes percepções de outras

pessoas que não fazem parte do referido quadro, mas que prestam serviços

importantes na e para a organização e que, por força dessas mesmas atividades,

encontram-se inseridas no campo de influências e determinações da gestão de

pessoas corporativa.

Ainda no que diz respeito às análises empreendidas, o pesquisador, seguindo o

referencial teórico adotado, debruçou-se nas práticas de recompensas, promoção e

carreira, educação corporativa, avaliação de desempenho e orientação estratégica.

Outros estudos em organizações diferentes poderiam contemplar novamente as

mesmas práticas, o que, por sua vez, poderia vir a se tornar ocasião oportuna para

fazer comparações frutíferas com o que foi constatado na presente investigação.

Outra alternativa seria trabalhar com outras práticas de gestão de pessoas. Como

exemplos, citaremos algumas, conforme Dutra (2002, 2004):

− captação – visa encontrar e estabelecer uma relação de trabalho com pessoas

capazes de atender às necessidades presentes e futuras da organização;

− internalização – visa construir uma relação pessoa/organização, integrando a

pessoa ao ambiente organizacional; e

− expatriação – movimentação de pessoas para outros países.

135

Desse modo, supõe-se que tais achados enriqueceriam de maneira relevante essa

linha de pesquisa em suas tentativas de melhor compreender as relações entre

modernidade organizacional e competências profissionais, provocando reflexos

positivos na consolidação da ciência administrativa como um todo.

b) Recomendações para a empresa pesquisada

Voltando aos resultados obtidos por esta pesquisa e considerando como constante

pano de fundo a tônica na constatação da falta de uma participação significativa dos

funcionários nos destinos da empresa, sugere-se que se priorize, a partir de uma

decisão e atuação conjunta de gestores e empregados, a busca de soluções

compartilhadas para o aperfeiçoamento das práticas de gestão de pessoas

examinadas. Nessa priorização, perseguir-se-iam soluções específicas para:

− a valorização de iniciativas dos funcionários que extrapolassem as atribuições

definidas no plano de cargos e salários;

− a articulação e coerência de critérios relacionados à promoção;

− o efetivo gerenciamento de suas carreiras pelos funcionários;

− a utilização crítica dos produtos de educação corporativa pelos empregados;

− a escolha de referenciais confiáveis de avaliação de desempenho, conectados

com a estratégia organizacional; e

− uma comunicação autêntica da estratégia organizacional pela direção da empresa

aos empregados.

Sugere-se, ainda, que as discussões de tal priorização sejam feitas e encaminhadas

em encontros ou seminários planejados e organizados, tanto nas próprias unidades

como em níveis regionais, e, se possível, até em nível nacional. Além disso,

recomenda-se que se estabeleçam cursos de ação factíveis, por meio dos quais,

136

não se perdendo de vista as discussões acumuladas, implementem-se, também de

forma compartilhada, direção e funcionários, as decisões de melhorias nas práticas.

Supõe-se que iniciativas desse tipo, realizadas com simplicidade e objetividade,

auxiliariam no resgate ou, mesmo, resgatariam efetivamente um sentido de

cidadania na empresa, indispensável, coerentemente ao que se verificou por meio

da presente investigação, para que a instituição avance no caminho da modernidade

organizacional e para que a implantação da gestão por competências seja bem

sucedida.

137

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144

ANEXOS

Anexo A – Roteiro de entrevistas

145

Roteiro de entrevista28

Modernidade administrativa e práticas de gestão de pessoas (conjunto de estratégias internas organizacionais viabilizadoras de um adequado desempenho, concomitantemente a uma maior satisfação no trabalho).

1. De que formas a organização o recompensa pelas suas contribuições?

(Recompensas) 2. Por quais critérios a organização avalia seu desempenho em suas atividades?

(Avaliação de desempenho) 3. A organização valoriza processos formalizados de aprendizagem contínua em

prol do seu desenvolvimento pessoal/profissional? Justifique. (Educação Corporativa)

4. Caso seja indicado para alguma promoção, por quais critérios a organização se

norteia para efetuar essa indicação? (Promoção/carreira) 5. A organização fornece orientações sobre como você deve colaborar para o

alcance dos objetivos organizacionais? Justifique. (Orientação estratégica)

28 Roteiro adaptado por KILIMNIK e CASTRO (2004) do roteiro de SANT’ANNA, A. S. 2002.

146

Anexo B – Questionário

147

Avaliação de papéis da Gestão de Pessoas

Prezado (a) Colega, A pesquisa abaixo explora quatro diferentes papéis que a função de Gestão de Pessoas (RH) pode

desempenhar na sua empresa. Pontue, por favor, a qualidade corrente de cada uma das atividades

listadas utilizando uma escala de cinco pontos (1 para baixa; 5 para alta). Ou seja, você deverá

indicar o nível de qualidade alcançado por essas atividades no dia-a-dia organizacional.

Agradecemos sua contribuição.

1-------------------------------2-------------------------------3-------------------------------4-------------------------------5

Baixa Alta

A Gestão de Pessoas ajuda a organização a... Qualidade corrente (1 a 5)

1. alcançar metas empresariais. 2. melhorar a eficiência operacional. 3. resolver conflitos valorizando a negociação de interesses.

4. adaptar-se às mudanças.

A Gestão de Pessoas participa no(a)... Qualidade corrente (1 a 5)

5. processo de definição das estratégias empresariais. 6. desenvolvimento dos seus próprios processos. 7. construção de uma harmonia social a longo prazo. 8. modelagem de mudança de cultura para renovação e transformação.

A Gestão de Pessoas garante que... Qualidade corrente (1 a 5)

9. as estratégias de RH estejam ajustadas à estratégia empresarial. 10. os processos de RH sejam administrados com eficiência. 11. a avaliação de resultados seja feita por todos os envolvidos no alcance dos

mesmos.

12. os processos e programas de RH aumentem a capacidade de mudança da organização.

A eficácia da Gestão de Pessoas é medida por sua capacidade de ... Qualidade corrente (1 a 5)

13. ajudar a fazer com que a estratégia empresarial aconteça. 14. liberar com eficiência os processos de RH. 15. sustentar e aprimorar o diálogo empregado/organização. 16. ajudar a organização a antecipar-se e adaptar-se a questões futuras.

148

A Gestão de Pessoas é vista como... Qualidade corrente (1 a 5)

17. parceira estratégica. 18. especialista administrativo. 19. interlocutora entre o empregado e a direção geral da organização. 20. agente de mudança.

A Gestão de Pessoas dedica tempo a... Qualidade corrente (1 a 5)

21. questões estratégicas. 22. questões operacionais. 23. mediar conflitos através de decisões racionais e éticas. 24. apoiar novos comportamentos para manter a empresa competitiva.

A Gestão de Pessoas participa ativamente em... Qualidade corrente (1 a 5)

25. planejamento empresarial. 26. conceber e facilitar a execução dos processos do setor de RH. 27. processo de considerar as convergências e divergências entre os interesses dos

empregados e da organização.

28. renovação, mudança ou transformação da organização.

A Gestão de Pessoas trabalha para... Qualidade corrente (1 a 5)

29. ajustar as estratégias de RH à estratégia empresarial. 30. monitorar os processos administrativos. 31. que os empregados sejam vistos como atores políticos válidos. 32. remodelar comportamentos para a mudança organizacional.

A Gestão de Pessoas desenvolve processos e programas para... Qualidade corrente (1 a 5)

33. encadear estratégias de RH para realizar a estratégia empresarial. 34. processar eficientemente documentos e transações. 35. cuidar, em parceria com os empregados, de suas necessidades pessoais e

coletivas.

36. ajudar a organização a se transformar.

A credibilidade da Gestão de Pessoas provém de... Qualidade corrente (1 a 5)

37. ajudar a cumprir metas estratégicas. 38. aumentar a produtividade dos funcionários. 39. reconhecer os empregados como cidadãos. 40. fazer com que a mudança aconteça.

149

Dados pessoais e funcionais

Este bloco do questionário tem por objetivo traçar um perfil do conjunto dos participantes da

pesquisa. Por favor, marque com um (X) a alternativa mais adequada ao seu caso.

1. Sexo: 1. ( ) Masculino 2. ( ) Feminino

2. Faixa etária

1. ( ) Até 25 anos 4. ( ) De 36 a 40 anos 2. ( ) De 26 a 30 anos 5. ( ) De 41 a 45 anos 3. ( ) De 31 a 35 anos 6. ( ) Mais de 45 anos

3. Estado civil:

1. ( ) Solteiro(a) 3. ( ) Casado(a) 4. ( ) Outro: 2. ( ) Desquitado(a) / Divorciado(a) 4. ( ) Viúvo(a)

4. Escolaridade:

1. ( ) 2º. Grau 4. ( ) Mestrado 2. ( ) Superior 5. ( ) Doutorado 3. ( ) Superior e Especialização 6. ( ) Outro:

5. Área de atuação:

1. ( ) Financeira 4. ( ) Planejamento 7. ( ) Suporte/Administrativa 2. ( ) Marketing 5. ( ) Produção 8. ( ) Tecnologia 3. ( ) Negócios/Vendas 6. ( ) Recursos Humanos 9. ( ) Outra:

6. Cargo comissionado ocupado:

1. ( ) Analista 3. ( ) Outro: 2. ( ) Gestor 4. ( ) Não ocupante no momento

7. Há quanto tempo você atua neste cargo comissionado?

1. ( ) Há menos de 1 ano 3. ( ) De 6 a 10 anos 5. ( ) De 16 a 20 anos 2. ( ) De 1 a 5 anos 4. ( ) De 11 a 15 anos 6. ( ) Mais de 20 anos

8. Há quanto tempo você trabalha na atual empresa?

1. ( ) Há menos de 1 ano 3. ( ) De 6 a 10 anos 5. ( ) De 16 a 20 anos 2. ( ) De 1 a 5 anos 4. ( ) De 11 a 15 anos 6. ( ) Mais de 20 anos

150

Considerações sobre o questionário29

Reservamos o espaço abaixo caso você deseje fazer algum comentário sobre o tema abordado neste

questionário.

29 Questionário adaptado por KILIMNIK e CASTRO (2004) de ULRICH, D., 2003: 39-72.

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