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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE ODONTOLOGIA
MIGUEL VANDRÉ LIKES DA CRUZ
MIRELLA SILVEIRA CAVALCANTI
AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIREÇÃO DA FONTE
POLIMERIZADORA NA INFILTRAÇÃO MARGINAL EM CAVIDADE
CLASSE V – ESTUDO IN VITRO
Itajaí (SC) 2007
MIGUEL VANDRÉ LIKES DA CRUZ
MIRELLA SILVEIRA CAVALCANTI
AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIREÇÃO DA FONTE
POLIMERIZADORA NA INFILTRAÇÃO MARGINAL EM CAVIDADE
CLASSE V – ESTUDO IN VITRO
Itajaí (SC) 2007
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção do título de cirurgião-dentista do Curso de Odontologia da Universidade do Vale do Itajaí Orientador: prof. Nivaldo Murilo Diegoli
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AVALIAÇÃO DA INFLUÊNCIA DA DIREÇÃO DA FONTE POLIMERIZADORA NA INFILTRAÇÃO MARGINAL EM CAVIDADE CLASSE V – ESTUDO IN VITRO Miguel Vandré Likes da CRUZ e Mirella Silveira CAVALCANTI Orientador: Prof. Nivaldo Murilo DIEGOLI Data de defesa: setembro de 2007 Resumo: O objetivo desta pesquisa foi verificar a influência da direção da fonte polimerizadora na infiltração marginal em cavidade classe v restaurada com compósito. Foram confeccionados 50 corpos-de-prova em forma de discos com 10mm de diâmetro e 2mm de espessura, sendo 1mm de esmalte e 1mm de dentina. Sobre o esmalte foram confeccionadas cavidades em forma de oito, com 1mm de largura, 3mm de comprimento e 1,5mm de profundidade. Todas as cavidades foram tratadas com o sistema de união SingleBond, de acordo com as recomendações do fabricante e restauradas, em incremento único com o compósito Z 100. No grupo 1 a ponta do fotopolimerizador foi aplicada sobre o esmalte e compósito e no grupo 2 foi aplicado sobre a dentina. Após isso, o disco foi isolado com verniz de unha exceto a restauração e 1mm ao seu redor. Após 24 horas em azul de metileno foi feito o corte com disco diamantado dupla-face. A análise da microinfiltração foi feita em lupa estereoscópica por três examinadores por consenso. Foi usado o teste de Wilcoxon da verificação de ranking, isto é, quantas vezes cada escore (0 ,1, 2 e 3) apareceu em cada grupo. Os resultados foram: grupo 1 – 36,6 (média 2,7) e grupo 2 – 24,4 (média 1,7). De acordo com os resultados foi observado que houve maior infiltração do corante no grupo em que a ponta do fotoativador foi colocado sobre o esmalte evidenciando que, provavelmente, a contração de polimerização acontece em direção da fonte luminosa. Palavras-chave: dentística, materiais dentários, resinas compostas.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 05
2 REVISÃO DE LITERATURA........................................................................ 07
3 MATERIAIS E MÉTODOS........................................................................... 23
4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS..................................................... 28
5 DISCUSSÃO................................................................................................ 30
6 CONCLUSÃO.............................................................................................. 35
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1 INTRODUÇÃO
Em odontologia podemos considerar que não há material restaurador
definitivo. Toda restauração, seja direta ou indireta, algum dia, provavelmente,
necessitará de substituição. Mesmo o amálgama, material restaurador usado há
mais de cem anos e que chega a suportar técnicas incorretas e desleixos aplicados
pelos profissionais da odontologia, necessita de substituição periódica. Este mesmo
material, devido à sua cor bastante diferente da cor do dente natural, gerou muitas
pesquisas no sentido de se descobrir um substituto, com suas qualidades, mas
diferente quanto à sua estética, principalmente para ser utilizado em dentes
posteriores.
Um primeiro e verdadeiro material restaurador posterior substituto para o
amálgama foi a resina composta, surgida na década dos anos sessenta do século
passado a qual, no início, não era compatível com as estruturas dentais no que se
refere às propriedades físicas, químicas e mecânicas. No entanto, com o passar do
tempo, a concorrência entre os fabricantes, fez com que pesquisas fossem
realizadas no sentido da melhoria do material.
Com o advento da técnica do condicionamento ácido e, com o conseqüente
surgimento da técnica de adesividade, com os sistemas de união ao esmalte e à
dentina, a resina composta foi definitivamente enquadrada como material
restaurador para dentes posteriores.
No entanto, a sua aplicação é uma técnica detalhista e, para se conseguir o
máximo resultado de seu uso, faz-se necessária a observação de uma série de
procedimentos dentro da tática operatória a ser aplicada.
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Um dos problemas que sempre desafiaram os pesquisadores e fabricantes é
a contração de polimerização que ocorre durante a passagem da fase pré-gel para a
fase gel. Baratieri et al., em 1989, afirmaram que a contração de polimerização das
resinas compostas fotopolimerizáveis “ocorre sempre em direção à fonte luminosa”.
(p.492) Por este motivo, para minimizar as conseqüências da contração de
polimerização, dever-se-ia deixar a estrutura dental, entre a resina composta e a
fonte luminosa, ao se fotopolimerizar uma restauração. Os autores citados acima
sugerem, inclusive, que para minimizar a contração de polimerização deve-se usar a
técnica incremental descrita por Pollack, em 1988 e que foi preconizada por Lutz et
al., em 1986.
Na última década do século XX, surgiram algumas pesquisas tentando
explicar que a contração de polimerização das resinas compostas fotopolimerizáveis
dava-se em direção ao calor das paredes cavitárias e não em direção à fonte de luz
do fotopolimerizador.
Pelo exposto, o objetivo desta pesquisa é verificar a influência da direção da
fonte de luz polimerizadora na infiltração marginal de restauração classe V.
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2 REVISÃO DE LITERATURA
Baratieri et al. (1989) salientaram que as resinas compostas fotoativadas
quando sofrem polimerização contraem em direção à fonte luminosa e quando
inseridas em um bloco único geram uma grande tensão em conseqüência da
contração, provocando a formação de uma fenda na interface dente-material
restaurador. O processo de polimerização inicia na superfície do bloco, junto à fonte
de luz do fotopolimerizador, propagando-se para o interior da restauração. Para
minimizar esta contração de polimerização, os autores sugerem o uso da técnica
incremental de Lutz et al. (1986) modificada por Pollack, em 1988, na qual o material
restaurador deve ser colocado em incrementos obliquamente, sendo que a fonte
luminosa deve ser aplicada de maneira a deixar a estrutura dental entre ela e o
material restaurador afim de que a contração de polimerização aconteça contra a
parede dentária. Esta técnica pode ser usada nas caixas proximais de dentes
posteriores, com matriz transparente e cunha refletiva e a polimerização feita ora por
vestibular ora por lingual.
O objetivo do trabalho de Eick et al. (1993) foi apresentar um componente
para ser incluído no polímero desenvolvido para ter alta performance não contrátil
para uso como matriz em compósitos. São os chamados espiroortocarbonatos
(spiroorthocarbonates – SOC) que se expandem durante a polimerização e que, em
combinação com um comonômero de resina epóxi, apresentam propriedades
mecânicas, sorpção de água, solubilidade e grau de polimerização aceitáveis para
uso dental. A expansão dos espiroortocarbonatos na polimerização foi inicialmente
descrito por Bailey que demonstrou sua utilidade para algumas resinas industriais de
alta resistência. Um SOC alicíclico consiste de um total de quatro anéis, dois em
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cada lado do espirocarbono. A expansão do SOC na polimerização é atribuída à
abertura do anel duplo desta espiromolécula, ou seja, duas ligações covalentes
quebram-se para formar uma nova ligação. O uso do SOC como componente de um
compósito apresentou incompatibilidade com o material restaurador, principalmente
com o bis-GMA. Tentativas de formar uma matriz homogênea de polímero
resultaram na incompleta polimerização do SOC detectável pela presença de SOC
cristalino não reativo na resina polimerizada. Mais recentemente foram estudados
SOCs com ponto de fusão mais baixo e cujas variações estruturais permitiam várias
formulações diferentes de mistura compatíveis entre o próprio SOC, o bil-GMA e o
TEGDMA. Estas formulações apresentaram menores contrações que as resinas
controle, porém, sua contração ainda era apreciável. Um SOC estudado pelos
pesquisadores, compatível com resina epóxi e cationicamente iniciado por luz, foi o
trans/trans-2, 3, 8, 9-di (tetrametileno)- 1, 5, 7, 11 – tetraoxospiro (5.5) undecano. A
força de tensão para a matriz resinosa convencional é relatada como sendo entre 15
e 25MPa e para o módulo de elasticidade variando entre 2 e 3GPa. O grupo controle
epóxi e as três formulações SOC-epoxi apresentaram valores de força de tensão e
módulo de elasticidade comparáveis aos da matriz resinosa convencional. O grupo
controle epóxi e o SOC-epoxi a 5% passaram pelo teste ISSO de sorpção de água e
solubilidade, enquanto que os SOCs experimentais de 15 e 30% falharam em ambos
os testes, provavelmente devido à incompleta polimerização. No entanto, o
trans/trans SOC oligômero expandiu 3,5% durante a conversão do monômero em
polímero Os autores concluíram que os monômeros trans/trans SOC produziram
copolímeros expandidos, que as propriedades mecânicas do SOC/epoxicopolímero
foram comparáveis às dos materiais de matriz resinosa atuais, que o material SOC a
5% foi aprovado nos testes ISSO 4049 de sorpção de água e solubilidade e que
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resinas de matriz expansível para compósitos com propriedades mecânicas e físicas
adequadas podem ser desenvolvidas com monômero de SOC.
Em 1996, Goracci et al. testaram um método alternativo de fotopolimerização,
no qual um dispositivo acoplado ao aparelho fotopolimerizador, permitiu uma
graduação de 30 a 250 mW/cm² em um tempo de quatro minutos na tentativa de
obter uma melhor adaptação entre o compósito em fase de endurecimento e a
parede cavitária. Este estudo in vitro comparou a adaptação de restaurações
realizadas com fotopolimerização convencional e alternativa. Para isso foram
utilizados 20 pré-molares, com preparos classe V e restaurados com o sistema de
união Scotchbond MP e compósito Z100. Para observação e mensuração em
microscopia eletrônica de varredura das fendas, foram feitas réplicas em resina
epóxi dos dentes seccionados longitudinalmente. Os resultados revelaram que foi
possível melhorar a adaptação entre o compósito e a parede dentinária pela redução
da velocidade de polimerização. Os autores afirmaram que a contração resultante da
polimerização convencional exerce um estresse de contração, que se concentra na
área de menor resistência (a junção entre a camada híbrida e o compósito),
causando ruptura.
O objetivo do trabalho de Versluis et al. (1996) foi utilizar um método híbrido
experimental-numérico para a avaliação do estresse da contração de polimerização
desenvolvido em uma restauração pela técnica incremental. Para isso, uma
cavidade MOD com o assoalho em dentina de um pré-molar superior foi digitalizada
em um corte vestibulolingual. Sobre a dentina e o esmalte da coroa foi digitalizada
uma malha fina e a distribuição dos estresses foi feita com o auxílio do programa de
computador MARC. Para demonstrar seu efeito no estresse de contração residual
foram utilizadas quatro técnicas incrementais para restaurar a cavidade MOD. Cada
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técnica restauradora consistiu de quatro incrementos colocados na cavidade de
maneiras diferentes: tipo 1.- faciolingual – duas camadas retas no fundo da
cavidade, a terceira na parede lingual e a última na parede vestibular; tipo 2.-
gengivooclusal – quatro camadas uma sobre a outra com centro inclinado para o
fundo; tipo 3.- oblíqua – uma camada linguopulpar, outra vestibulopulpar, a terceira
por lingual e a quarta por vestibular; tipo 4.- combinação das técnicas em forma de U
e oblíqua. Além disso, uma restauração foi realizada pelo tipo 5 - técnica de bloco
único. Cada incremento foi totalmente polimerizado antes da colocação do
incremento seguinte. Para verificar os efeitos da contração de polimerização da
restauração dental MOD foi usado a medida da alteração da distância intercuspídea
a qual apresentou os seguintes resultados: tipo 1 – 29,9µm; tipo 2 – 36,0µm ; tipo 3
– 25,6µm; tipo 4 – 27,6µm e tipo 5 – 18,4µm. Pode-se concluir que há muitos fatores
envolvidos durante o processo de polimerização que podem afetar os resultados dos
estresses da contração. Este estudo mostra claramente que as restaurações em
incrementos revelam efeitos relativos à alta contração de polimerização e, talvez
muito significativamente, maiores concentrações de tensões de estresse na interface
esmalte-restauração em relação à técnica de bloco único. Os clínicos podem alegar
que há outros fatores a favor da técnica incremental sobre a de bloco único (por
exemplo, densificação, adaptação, polimerização incompleta e adesividade), mas
este estudo mostra que há muita dificuldade em provar que uma efetiva redução do
estresse de contração e conseqüente deformação das paredes dos tecidos duros
remanescentes são razões para preferir o uso de técnicas incrementais em vez da
técnica de bloco único.
Souza Júnior (1998) relatou que a contração de polimerização dos
compósitos, pode causar o rompimento da união do sistema adesivo às estruturas
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dentárias, pois é um fator desencadeante de tensão nesta interface. Embora não
seja possível eliminar completamente este problema haveria a possibilidade de
minimizá-lo, direcionando a contração a favor das paredes cavitárias através do
posicionamento da ponta do fotopolimerizador, segundo Lutz et al. (1986) No
entanto, o autor diz que não é somente este fato que influi nas conseqüências da
contração de polimerização. Há que se considerar o volume do bloco de material
restaurador que vai ser colocado na cavidade, pois quanto menor a quantidade de
material menor é a tensão gerada e vice-versa. Outro fato que se deve levar em
consideração é a relação paredes aderidas versus paredes livres, isto é, o fator da
configuração cavitária. Quanto maior a superfície de paredes aderidas em relação às
paredes livres maior é a quantidade de tensão gerada. O autor também salienta a
necessidade de se usar a técnica de fotopolimerização escalonada, ou seja, iniciar
com intensidade de luz mais baixa aumentando gradativamente, com o uso de
unidades fotopolimerizadoras que possuem este sistema, ou com aparelhos
convencionais aumentando a distância luz-restauração ou deixando a estrutura
dentária entre a luz e o material.
Em 1998, Versluis et al. fizeram uma análise do campo de vetor de contração
de compósitos auto e fotopolimerizáveis e, principalmente, para fazer um
questionamento, com o auxílio da técnica do elemento finito, sobre a afirmação de
que a contração de polimerização dos compósitos ocorre em direção da fonte de luz,
considerando o fato de que técnicas estavam sendo usadas para otimizar o
selamento da interface dente-restauração, baseadas no princípio acima citado. Os
autores analisaram os itens: profundidade de penetração da luz, de polimerização e
mensuração da contração pós-gel. Os autores afirmaram que o estresse de
contração incluído em uma restauração de compósito pode ser diminuído pela
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capacidade de escoamento do material na fase pré-gel. Afirmaram, também, que os
vetores de contração de polimerização dependem de vários fatores, entre os quais
se incluem a forma do preparo cavitário, a velocidade que o compósito leva para
passar da fase de monômero para polímero (grau de conversão polimérica) bem
como certas “condições limitantes” que são impostas pelas paredes cavitárias e pelo
escoamento do material pelas superfícies livres da estrutura dental. Os autores
verificaram que a direção da contração de polimerização dos compósitos não foi
influenciada de maneira significativa pela direção dada à fonte luminosa, mas sofreu
a influência da quantidade das paredes nas quais a restauração foi aderida e pelas
superfícies livres. Os autores concluíram que um bom selamento marginal deve ser
procurado através da melhoria do processo de polimerização (com maior tempo de
passagem da fase pré-gel para pós-gel) e da qualidade da união dente-restauração.
Concluíram, também, que a direção da fonte luminosa não parece ser um critério
para se conseguir um bom selamento marginal.
Em 1999, Asmussen e Peutzfeldt, realizaram uma pesquisa com a finalidade
de investigar a direção de contração de polimerização de um compósito
fotopolimerizável em relação à adesão e à espessura do material, considerando a
hipótese de que uma pequena espessura de material não sofreria a influência da
direção da fonte luminosa no que se refere à contração de polimerização. Um molde
metálico em forma de anel colocado sobre uma matriz transparente foi preenchido
com compósito. Na parte superior foi colocada uma matriz transparente e sobre ela
uma placa metálica sob pressão, a qual foi retirada para a fotopolimerização, por 40
segundos. O compósito foi aplicado no molde cilíndrico de tal maneira que o excesso
de material, servindo para prender o bloco, foi produzido em um dos lados do molde
enquanto o compósito fluía do molde no outro lado. As amostras foram
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polimerizadas em um ou no outro lado e a convexidade ou concavidade das
amostras foram medidas. Com a espessura de material de 3mm, a contração deu-se
em direção da fonte luminosa, independente da posição do excesso. Com a
espessura de 4 e 5mm a direção da contração pode ser em direção à luz ou para
longe dela, dependendo da posição do excesso. A quantidade de luz emitida da
fonte luminosa e que passa através do material foi comparada com o número de
moléculas de canforoquinona presente no compósito de 3, 4 ou 5mm de espessura.
Os autores concluíram que nas condições em que o presente estudo foi realizado, a
direção da contração de polimerização foi o resultado da interação entre a direção
da fonte luminosa, do excesso de material que o prendeu ao molde e a espessura
da amostra de compósito.
Lösche (1999) fez uma investigação para saber se o efeito da melhoria da
adaptação do material restaurador às paredes cavitárias, atribuído à colocação da
luz fotopolimerizadora em direção a essas paredes, pode ser devido à diminuição do
estresse de polimerização resultante da diminuição da intensidade de luz quando
aplicada através das estruturas dentárias. Foram confeccionadas cavidades classe
II em molares humanos extraídos, restauradas com o compósito Herculite XR, em
três incrementos. Em dois grupos (n=10) a fotoativação foi feita por oclusal; nos
restantes foi feita lateralmente com cunhas refletivas. Alguns corpos-de-prova foram
armazenados em água por 21 dias e termociclados 2000 vezes (5 e 55 graus C) A
adaptação marginal foi verificado em microscopia eletrônica de varredura com
aumento de 200 vezes. Os autores concluíram que não houve diferença significativa
entre as técnicas de fotopolimerização com mesma intensidade de luz; os efeitos
verificados não podem ser atribuídos às técnicas com diferentes locais de aplicação
da luz, mas sim, à redução da intensidade da luz fotoativadora.
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Conceição et al. (2000) afirmaram que, devido ao grande número de sistemas
de união disponíveis para o cirurgião-dentista, há uma necessidade muito grande
que ele esteja atento às orientações de manipulação destes produtos, que ele tenha
um treinamento prévio, para obter sucesso em seu trabalho clínico. Os mesmos
autores citam que estudos de Prati et al. demonstraram que a inabilidade do
profissional, em alguns casos, restringiu de maneira significativa o desempenho de
produtos utilizados em restaurações adesivas.
Franco e Lopes (2000) através de uma revisão de literatura realizaram um
estudo do mecanismo da contração de polimerização e sua relação direta com a
manutenção do selamento marginal. A contração de polimerização é de natureza
molecular e resultante da aproximação dos monômeros na formação da cadeia
polimérica. Dependendo da magnitude da contração de polimerização, pode ocorrer
a formação de fendas marginais e subseqüente infiltração, aumentando a
possibilidade do aparecimento de cárie secundária e degradação marginal. Para que
ocorra um adequado selamento marginal, a resina deve aliviar as tensões
desenvolvidas durante a polimerização. A relação entre a forma do preparo cavitário
e a capacidade de alívio das tensões oriundas da contração de polimerização é
determinada pelo fator C, que se expressa pela razão entre a área de superfície
aderida e a superfície livre. Uma maneira de se conseguir reduzir o fator C é fazendo
uso da técnica incremental, proporcionando mais superfícies livres para que haja um
escoamento significativo e alívio das tensões. Dados clínicos e laboratoriais mais
relevantes ressaltam o uso da técnica incremental, em particular para cavidades com
alto fator C. Outra técnica importante na redução do fator C e das tensões
proporcionadas pela contração de polimerização é a realização de uma
polimerização gradual, iniciando com uma intensidade de luz menor nos primeiros
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segundos e ir aumentando a intensidade gradativamente. Ou ainda, a utilização de
bases com baixo módulo de elasticidade, principalmente em cavidades amplas e
com margens em dentina.
Em 2001, Calábria e Cabral testaram as diferentes técnicas de inserção e
artifícios de polimerização da resina composta na caixa proximal de cavidades
classe II, com o objetivo de tentar verificar in vitro, quais das técnicas é mais eficaz
em relação à diminuição da microinfiltração marginal, com margem cervical em
esmalte. Foram selecionados 25 molares íntegros e mais 2 molares para formarem
ponto de contato entre eles. Em cada dente íntegro foram executadas duas
cavidades classe II com término 1mm aquém do colo cervical. Após os preparos
cavitários, os dentes foram submetidos a uma profilaxia e depois foi realizado o
condicionamento ácido e aplicação do sistema adesivo, tudo de acordo com as
especificações do fabricante. Os dentes foram divididos em 5 grupos iguais. O grupo
1 foi restaurado com apenas um incremento de resina composta, o grupo 2 foi
restaurado com três incrementos de resina composta, o grupo 3 foi restaurado
utilizando-se uma cunha reflexiva interproximal para a polimerização indireta do
primeiro incremento de resina composta, no grupo 4 foi utilizado o Contact Pro (C. E.
J. Dental) para inserção da primeira camada de material, onde a polimerização foi
feita através do instrumento durante 40 segundos e, o grupo 5, foi restaurado com
bolinhas pré-polimerizadas por 40 segundos. As restaurações foram submetidas ao
acabamento e polimento, o forame apical foi isolado com cola e os dentes foram
pintados com esmalte para unha, respeitando-se a distância de 1mm aquém das
margens da restauração. Foi feito o armazenamento dos dentes em soro fisiológico,
para posterior ciclagem térmica. Após este processo os espécimes foram
mergulhados em corante de fuccina básica por 48 horas, lavados em água corrente
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por 2 horas, incluídos em resina de poliéster e foram então cortados no sentido
mesiodistal para serem analisados em lupa estereoscópica por meio de três
examinadores. Apesar de não ter havido diferença estatística significativa, concluiu-
se que a técnica de inserção da resina composta em incremento único na cavidade,
e aquela que emprega o Contact Pro (C. E. J. Dental), para a polimerização da
primeira camada de material junto à parede gengival, provocam uma maior fenda
marginal cervical.
Pereira et al. (2001) apresentaram um trabalho com o objetivo de investigar a
influência de diferentes métodos de fotopolimerização, com as variáveis, diferentes
aparelhos com diferentes tempos de exposição, cores de compósitos diferentes e
diferentes profundidades de polimerização. Com o compósito Charisma, cores A1 e
C4, foram confeccionados corpos-de-prova com 7mm por 4mm por 3mm. Os
métodos de fotopolimerização usados foram: método convencional com 700mW/cm2
, durante 40 e 60 segundos; método escalonado, com 450mW/cm2 por 5 segundos
e 600mW/cm2 durante 40 e 60 segundos; método Kuring Light , durante 10
segundos, dividido em três: normal – luz contínua - 700mW/cm2 ; Boost – 20% acima
da intensidade de luz normal - 920mW/cm2 ; Ramp - intensidade gradual ou
progressiva – 0 a 700mW/cm2.. Os autores concluíram que os melhores resultados
de dureza foram observados nos dois primeiros métodos aplicados por 60 segundos
e a menor dureza foi no terceiro método Ramp por 10 segundos, não havendo
completa polimerização neste método.
Santos et al. (2002) propuseram através de uma revisão de literatura, a
discutir os fatores relacionados à contração de polimerização, tais como intensidade
de luz, métodos de fotoativação, fontes de energia e configuração cavitária. Todas
as resinas compostas são formadas a partir do metacrilato de metila e a contração
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de polimerização é resultado da movimentação e aproximação dos monômeros entre
si, durante a formação da cadeia polimérica. Quanto maior o grau de conversão do
monômero em polímero, maior será a contração de polimerização. O momento em
que a resina passa do estado fluido para o estado viscoso é denominado ponto gel;
a partir dele a resina adquire um alto módulo de elasticidade, perde a capacidade de
escoar e começa a transferir o estresse gerado na contração de polimerização para
a interface dente-restauração. A contração de polimerização que ocorre antes do
ponto gel é denominada de contração pré-gel, na fase pré-gel, as moléculas podem
deslizar e adquirir novas posições e orientações, compensando o estresse da
contração de polimerização. Nesta fase, o estresse de contração gerado não é
transferido para a interface da união devido à capacidade de escoamento das
moléculas. A capacidade de escoamento da resina fica restrita, devido ao número de
ligações cruzadas já estabelecidas na matriz na fase pós-gel e quanto menor a
capacidade de escoamento da resina, maior o estresse de contração, o que é
decisivo para o processo adesivo. Recentemente, tem sido proposto como forma de
minimizar o estresse de contração de polimerização o prolongamento da fase pré-gel
da resina composta, mediante o uso de uma fotoativação inicial com uma baixa
intensidade de luz, seguida por alta intensidade. Quando se utiliza uma baixa
intensidade de luz, um menor número de radicais livres estarão disponíveis
reduzindo ou limitando a quantidade de grupos de monômeros de metacrilatos que
serão convertidos em polímeros. Isto fará com que a reação de polimerização se
processe mais lentamente, permitindo o alívio do estresse, mediante o escoamento
das moléculas (fase pré-gel), pela superfície não aderida. Quando a resina alcançar
o ponto gel, o máximo de escoamento já terá ocorrido e então uma alta intensidade
de luz será usada para complementar a reação de polimerização. Inúmeros fatores
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são responsáveis pelo estresse gerado na contração de polimerização, tais como
módulo de elasticidade, composição da resina composta, fator de configuração da
cavidade e intensidade de luz emitida pelo aparelho. Como forma de minimizar esta
contração de polimerização salienta-se o uso de intensidades mais baixas de luz,
com o intuito de prolongar a fase pré-gel e o uso da técnica incremental.
O objetivo de Amore et al. (2003) foi investigar a contração de polimerização
de três diferentes compósitos condensáveis variando a distância entre a fonte de luz
e a superfície do material restaurador, com auxílio de um picnômetro a gás. Para
padronizar a quantidade de cada compósito a ser usada no teste foi utilizada uma
matriz metálica. A quantidade de compósito foi medida com o auxílio de um
picnômetro a gás. A seguir foi feita a fotopolimerização em duas distâncias
diferentes: 2 e 10mm por 20 segundos, para o Filtek P60 e Prodigy e 40 segundos
para o Surefil. As amostras foram novamente colocadas na câmara de medição do
picnômetro.A diferença entre as duas primeiras medições, constituiu delta V (∆V) A
seguir, uma terceira medição foi feita com o compósito fotopolimerizado fora da
matriz metálica. (constituindo v) As três medições forneceram o total da contração de
polimerização, depois de ser aplicada a fórmula: C= ∆V dividido por v + (∆V). Os
valores foram submetidos ao teste de análise de variância (ANOVA) e ao teste t. Os
resultados foram, em valores percentuais, respectivamente para 2 e 10mm - Filtek
P60: - 1,84% e –1,62%; Prodigy: -1,69% e –1,14%; Surefil: -1,98% e -1,45%.
Considerando que o valor de p= 0,65 do Filtek P60, 0,1398 do Prodigy e 0,1175 do
Surefil foram superiores a 0,05 as diferenças entre as distâncias de 2 e 10mm não
são estatisticamente diferentes entre si para cada compósito testado
Mazur et al. (2004) realizaram uma pesquisa com a finalidade de avaliar a
intensidade de luz de aparelhos fotopolimerizadores e fornecer dados para os
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profissionais quanto ao cuidado com os aparelhos. A medição foi feita com duas
aferições de 20 segundos cada, com intervalo de 10 segundos, com o uso da escala
da Demetron Research Corporation: grupo 1 – 0 a 299mW/cm2 (inadequado); grupo
2 – 300 a 599mW/cm2 (adequado); grupo 3 - 600mW/cm2 ou acima. (excessivo) Os
resultados mostraram que os valores de intensidade de luz variaram entre 100 e
1000mW/cm2 , sendo a média de 567,43mW/cm2. Dentre os 153 aparelhos avaliados
7 aparelhos (4,55%) representavam o grupo 1; 68 aparelhos (44,8%) representavam
o grupo 2; 77 aparelhos (50,7%) representavam o grupo 3. Os autores concluíram
que 55,25% dos aparelhos testados estavam com a intensidade de luz fora dos
padrões considerados ideais.
Barbosa et al. (2005) realizaram uma revisão das técnicas e aparelhos de
polimerização, enfatizando o estresse de contração e a eficácia de conversão das
resinas compostas. O objetivo da polimerização é alcançar uma conversão alta,
uniforme, extensa e profunda da resina composta, acompanhada por um baixo
estresse de polimerização, e preferencialmente com um tempo de irradiação
diminuído, obtendo adequadas propriedades mecânicas e durabilidade da
restauração como resultado. Acreditava-se na década de 80, que a contração da
resina ocorria em direção à luz, surgindo então técnicas para minimizar esse
estresse, como o posicionamento da fonte polimerizadora em direção à parede
cavitária, tentando fazer assim com que a resina contraísse em direção a estrutura
dentária. Alguns anos mais tarde, foi observado que a contração não é alterada pela
fonte de luz, mas sim pela configuração cavitária e qualidade de adesão, mudando o
conceito da contração. O emprego de bases cavitárias, a alteração da configuração
cavitária e o uso da técnica incremental, foram novos conceitos propostos para
minimizar a contração de polimerização. A polimerização ocorre pela conversão dos
20
monômeros resinosos em cadeias poliméricas, sempre acompanhada por uma
contração, provocando a transformação da matriz resinosa de viscosa para rígida.
Durante a contração de polimerização ocorre a fase pré-gel, onde a resina dispõe de
escoamento viscoso, onde este pode minimizar a contração, permitindo um maior
arranjo e acomodação da resina na cavidade. Já na fase pós-gel, a resina não
dispõe mais do escoamento viscoso, e a contração é compensada apenas pelo
modo de elasticidade da resina. Uma maneira de se prolongar a fase pré-gel é
através da redução da intensidade de luz nos primeiros segundos da polimerização,
denominada de polimerização modulada, gradual ou por dois passos. Desta forma, o
tempo de escoamento da resina é aumentado, minimizando o estresse de contração.
Embora essa redução inicial favoreça a adaptação marginal da restauração, é
necessário um período de alta intensidade para garantir adequada polimerização da
resina composta. O emprego de baixa intensidade de luz inicial seguido de uma alta
intensidade final é a melhor escolha para se alcançar uma alta conversão da resina
com uma melhor integridade marginal.
Susin et al. (2006) avaliaram a presença de fendas resultantes da contração
de polimerização da resina composta sobre o cimento de ionômero de vidro
convencional e modificado por resina. Foram utilizados terceiros molares humanos,
hígidos, com preparos cavitários realizados na altura do terço cervical na superfície
vestibular e lingual de todos os dentes. Na região central desse preparo, foi
realizado um preparo de menor diâmetro para acomodação do material de proteção
do complexo dentina-polpa. As técnicas restauradoras aplicadas seguiram as
orientações dos fabricantes, e depois de restaurados, foram seccionados e
preparados para observação em microscopia eletrônica de varredura. Os resultados
demonstraram presença e ausência de fendas, que variaram de acordo com a
21
utilização ou não, de um material de proteção pulpar e também com o tipo de
material protetor utilizado. As restaurações de resina composta, ainda que
associadas a sistemas adesivos atuais, não proporcionam o perfeito selamento das
paredes cavitárias, tanto em esmalte quanto em dentina. Quando a resina composta
foi aplicada diretamente sobre o substrato dentinário, a percentagem de fendas foi
menor. Entende-se com isso, que os materiais de proteção continuarão a ser
deslocados enquanto a resina composta contrair durante a polimerização e os
materiais protetores não apresentarem resistência de união satisfatória no substrato
dental.
Em 2006, Yamamoto et al., realizaram um estudo com o propósito de avaliar
a influência de três técnicas de transferência de planos guia para a boca, a influência
da experiência do operador, da região (anterior e posterior), da arcada (inferior e
superior) e a interação destas quanto ao preparo de planos de guia confeccionados
nas faces proximais de dentes suportes para prótese parcial removível. Foram
instruídos 10 operadores, 5 cirurgiões dentistas com mais de 5 anos de experiência
e 5 alunos do último ano de graduação da Faculdade de Odontologia de São José
dos Campos. Cada operador utilizou três técnicas que foram: método à mão livre,
método com pino guia e método com delineador intrabucal (ParalAB), em manequins
simulando classe três de Kennedy. A análise estatística ANOVA e o teste de Tukey
foram os métodos utilizados para a interpretação dos resultados. Concluiu-se que a
técnica que empregou o delineador intrabucal ParalAB obteve melhor paralelismo,
seguido pela técnica com pino guia e pela técnica à mão livre. De acordo com a
metodologia aplicada, foi possível concluir que a técnica empregada na realização
dos preparos de planos de guia para a boca influencia na inclinação das superfícies
produzidas, e que a experiência do operador interfere no grau de paralelismo
22
executado por qualquer técnica, exceto os resultados obtidos pela técnica com
ParalAB que usou um delineador intrabucal. A arcada superior e a região anterior
tiveram melhores resultados em ambos os operadores.
O objetivo do trabalho de Zanchi et al. (2006) foi fazer a avaliação do estresse
da contração de polimerização de três compósitos fotopolimerizáveis (Z100, Filtek
Z250 e Solitaire) tendo como variáveis três diferentes métodos de fotoativação:
grupo 1 - convencional com luz halógena (507mW/cm2); grupo 2 - aumento
gradativo de intensidade com luz halógena ( 166mW/cm2 nos primeiros segundos) e
grupo 3 – uso do LED (Light Emission by Diode - 125mW/cm2 . O compósito foi
colocado entre duas matrizes de metal com um espaço de 1mm entre elas e a
máquina de ensaio usada foi o EMIC DL2000. O estresse da contração de
polimerização foi verificado nos tempos 10, 20, 40, 60, 90 e 120 segundos. Foi
observado um aumento linear significante quanto ao estresse com relação aos
tempos, exceto para o compósito Z100 no grupo 2. De uma maneira geral no grupo
3, fotoativação por LED, houve redução do estresse gerado quando comparado
com o grupo 1, fotoativação convencional por luz halógena. No grupo 3 (LED) o
compósito Solitaire com um co-iniciador de polimerização em sua composição
mostrou menor quantidade de estresse em comparação com os outros materiais.
Houve diferentes padrões de estresse quando foram combinados os materiais com
os métodos de fotoativação. Os autores concluíram que o uso de LED (grupo 3)
reduziu os estresses de contração de polimerização nos períodos iniciais em todos
os materiais testados e houve influência do componente co-iniciador em um material.
23
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Para a confecção dos corpos-de-prova foram utilizados dentes incisivos
bovinos desgastados para formarem discos com 10mm de diâmetro (fotografia 1)
compostos de esmalte e dentina com espessura de aproximadamente 2mm cada
um.
Fotografia 1 – dente incisivo bovino hígido e desgastados formando disco com aproximadamente 10mm de diâmetro
Com uma broca cilíndrica com ponta em torpedo foi confeccionada uma
cavidade sobre a face do esmalte do corpo-de-prova. A cavidade (em forma de 8) foi
confeccionada com 3mm de comprimento, por 1mm de largura e 1,5mm de
profundidade ultrapassando a espessura do esmalte e atingindo a metade da
camada de dentina. (fotografia 2) Foi realizado o condicionamento ácido por 15
segundos, lavagem por 30 segundos e secagem com jato de ar por 2 segundos. As
paredes cavitárias foram tratadas de acordo com as recomendações do fabricante
do sistema de união SingleBond (3M) e a restauração foi feita, em incremento único,
com a resina composta Z100 (3M). Com discos Softlex foi realizado o acabamento e
polimento das restaurações.
24
Neste momento, os 50 corpos-de-prova foram divididos em dois grupos. Com
a utilização de um aparelho fotopolimerizador convencional, no grupo 1, a
fotopolimerização foi feita sobre a restauração, com a ponta do fotopolimerizador
próximo ao compósito. No grupo 2, a fonte luminosa foi colocada sobre a dentina.
Após 24 horas submersos em água, todo o corpo-de-prova, com exceção da face da
restauração e mais 1mm ao seu redor, foi isolado com esmalte de unha para evitar
que o agente pigmentante penetrasse por outro local que não a interface dente-
restauração. Após o endurecimento do esmalte, os corpos-de-prova foram
mergulhados em azul de metileno por 24 horas e depois lavados em água corrente.
A seguir, com o auxílio de um disco metálico diamantado de dupla-face, foi feito o
corte do corpo-de-prova perpendicularmente à forma de oito da cavidade. As duas
faces cortadas foram examinadas em lupa estereoscópica, com aumento de 20
vezes, por três examinadores para verificar a profundidade de penetração do
corante, tendo havido consenso entre os três. As avaliações foram anotadas em
ficha própria. (apêndice A) Para as duas metades de cada corpo-de-prova foi feita à
média dos valores dos três examinadores. Para a avaliação foi usado o escore
preconizado pela ISO (1994) que consta do seguinte: escore 0 – sem infiltração
(fotografia 3); escore 1 – com infiltração até o limite amelodentinário (fotografia 4);
escore 2 – com infiltração na parede de dentina (fotografia 5); escore 3 – com
infiltração atingindo a parede axial. (fotografia 6) Com os valores dos 25 corpos-de-
prova foi calculada a média de cada grupo e feita a análise estatística pelo teste de
Wilcoxon. A hipótese é que o grupo cuja fotopolimerização foi feita sobre a resina
composta apresente maior média de microinfiltração na interface dente-restauração.
25
Fotografia 2 – cavidade em forma de 8 confeccionada com broca cilíndrica com ponta em torpedo sobre a face de esmalte do corpo-de-prova atingindo a metade da camada de dentina.
Fotografia 3 – corpo-de-prova com escore 0 (sem infiltração)
26
Fotografia 4 – corpo-de-prova com escore 1 (com infiltração até o limite amelodentinário).
Fotografia 5 – corpo-de-prova com escore 2 (com infiltração na parede de dentina).
27
Fotografia 6 – corpo-de-prova com escore 3 (com infiltração atingindo a parede axial).
28
4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Como é uma pesquisa qualitativa (os escores não têm unidade para serem
medidos) optou-se por um teste não paramétrico, o de Wilcoxon, no qual os escores
forma ranqueados em maiores e menores. Por este motivo, o grupo 1, no qual a
fotopolimerização foi realizada sobre a face externa da restauração e que
apresentou o maior número de escores 3 e o menor número de escores 0
apresentou a média de 36,6. Por outro lado, o grupo 2, em que a fotopolimerização
foi feita através da dentina e que apresentou a menor quantidade de escores 3 e a
maior de escores 0 mostrou a média de 24,4. A confiabilidade foi de 90% e,
portanto, a probabilidade de erro foi de 10%. O teste de Wilcoxon mostrou que as
duas médias são estatisticamente diferentes, o que foi confirmado pelos testes T e
de Kruskal-Wallis.
O ranking das médias de infiltração dos dois grupos testados está mostrado
na tabela 1.
Tabela 1 – Ranking das médias de infiltração marginal nos grupos fotopolimerizados sobre a restauração de compósito e através da dentina.
Grupos Ranking das médias Médias dos escores Grupo 1 (esmalte) 36,6a 2,7ª Grupo 2 ( dentina) 24,4 b 1,7b
Obs.: médias seguidas de letras distintas são estatisticamente diferentes entre si.
29
O mesmo ranking das médias apresentado na tabela 1 pode ser visualizado
no gráfico 1.
36,6
24,4
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Gr 1 - E Gr 2 - D
Gráfico 1 – Ilustração gráfica do ranking das médias de infiltração marginal nos grupos fotopolimerizados sobre a restauração (E) e através da dentina (D)
30
5 DISCUSSÃO
A hipótese desta pesquisa cuja veracidade deveria ser comprovada é que a
direção da fonte de luz polimerizadora tenha influência na infiltração marginal,
sugerindo que a contração de polimerização dos compósitos aconteça em direção
da fonte luminosa. Todas as variáveis, exceto uma, que poderiam influir em uma
restauração adesiva de compósito foram eliminadas pela padronização dos
procedimentos restauradores. A única variável que permaneceu foi o local de
aplicação da ponta do fotopolimerizador: em um grupo de corpos-de-prova a
aplicação foi feita sobre a restauração, no sentido do esmalte, e no outro grupo a
aplicação foi realizada sobre a dentina, sobre o fundo da cavidade restaurada.
De acordo com Zanchi et al. (2006) o método de fotopolimerização (técnica
convencional com luz halógena, aplicação do LED (Light Emission by Diode) ou
técnica de aumento gradual da intensidade com luz halógena) tem influência no
estresse provocado pela contração de polimerização de um compósito. Além disso,
também influem à composição de cada material, o tipo e a quantidade da matriz
orgânica; o tipo, o tamanho e a quantidade de carga inorgânica; a quantidade e o
tipo de iniciadores, co-iniciadores e inibidores da reação de polimerização.
Segundo Souza Júnior (1998) os compósitos se contraem durante a
polimerização devido ao fato de que quando as moléculas de monômeros se unem
durante a conversão em polímero, elas se aproximam umas das outras e esta
aproximação faz com que haja a contração. Quanto mais rápida for esta
transformação de monômero em polímero, isto é, a passagem da fase pré-gel para a
fase gel, maior é a amplitude da contração de polimerização. Este fato é corroborado
pelas afirmações de Mazur et al. (2004) de que as técnicas descontínuas de
31
aplicação de luz fotopolimerizadora sobre os compósitos (aumento gradual de
intensidade) utilizam baixa intensidade de luz no início do processo, promovendo um
aumento do tempo de duração da fase pré-gel, fazendo com que haja um melhor
escoamento das moléculas do compósito pelas superfícies, permitindo diminuição do
estresse da contração de polimerização e melhor adaptação marginal. Também
Zanchi et al. (2006) confirmam os relatos anteriores, dizendo que a manutenção da
fase pré-gel por um tempo maior permite que as moléculas modifiquem sua
organização liberando o estresse gerado durante a polimerização.
No caso de a contração de polimerização dar-se em direção da luz
catalisadora do fotopolimerizador, no grupo no qual a luz foi aplicada sobre a
restauração, a contração deveria, sob a ótica microscópica, fazer a restauração
“sair” da cavidade evidenciando no exame à lupa estereoscópica, maior grau de
infiltração marginal. No caso do segundo grupo, no qual a luz foi aplicada sobre a
dentina, a contração deveria fazer a restauração “colar” mais nas paredes cavitárias,
evidenciando menor grau de infiltração marginal.
Em 1989, Baratieri et al. afirmaram que os compósitos fotopolimerizáveis
apresentam sempre contração de polimerização em direção à fonte luminosa e, por
este motivo, preconizaram a colocação do material restaurador na cavidade de
acordo com a técnica de Lutz et al. (1986) modificada por Pollack (1988) de maneira
incremental salientando que o somatório de contrações de cada incremento seria
inferior à contração caso o material restaurador fosse colocado em incremento único.
Segundo os mesmos autores, quando a cavidade é preenchida em incremento
único, a polimerização iniciar-se-á na parte oclusal próximo à ponta de luz do
fotopolimerizador e, gradualmente, irá estender-se para toda restauração, fazendo
com que haja a formação de uma fenda na interface dente-material restaurador.
32
Se uma restauração com espaços vazios na interface com os tecidos dentais,
mesmo que sejam microscópicos, for imersa em uma solução contrastante, tal como,
o azul de metileno e nela for deixada por algum tempo, haverá a infiltração da
solução nesta fenda evidenciada pelo exame em lupa estereoscópica em um corte
ao longo da restauração.
Na análise em lupa estereoscópica dos cortes dos dentes que foram
submetidos ao corante pôde-se observar que, em um mesmo grupo, isto é, tanto no
grupo no qual a fotoativação foi feita diretamente sobre o compósito como no grupo
no qual a fotoativação foi feita sobre a dentina, houve corpos-de-prova que
apresentaram escore 0 ( ausência de infiltração) bem como escore 3. ( máxima
infiltração) Além disso, também os escores 1 e 2 estiveram presentes em ambos os
grupos.
Uma provável explicação para este fato pode ser encontrada no relato de
Yamamoto et al. (2006) que realizaram uma pesquisa comparando corpos-de-prova
confeccionados por estudantes de odontologia e profissionais formados há mais
tempo. Os autores verificaram que a experiência do operador influencia na qualidade
dos corpos-de-prova. Na presente pesquisa, considerando a pouca experiência dos
acadêmicos, tanto no preparo cavitário quanto na manipulação dos materiais
usados, pode ter havido diferença entre os corpos-de-prova quanto à secagem da
cavidade, à aplicação do sistema de união e do compósito, ao uso da unidade
fotopolimerizadora etc.
Da mesma maneira, Conceição et al. (2000) relataram que é indispensável
para o sucesso de uma restauração adesiva e, podemos afirmar, também na
confecção de corpos-de-prova usados em testes de adesividade, que o
profissional/operador tenha prática no manuseio dos produtos bem como dos
33
procedimentos de preparo da cavidade onde serão aplicados os sistemas de união e
compósitos.
A análise da tabela 1 mostra o valor de 36,6 para o grupo 1, no qual a luz do
fotopolimerizador foi colocado sobre a restauração em comparação com o valor do
grupo 2, no qual a luz foi colocada sobre a dentina. De acordo com as
considerações anteriores, deve ter havido uma contração em direção da luz no
primeiro grupo, formação de fendas e evidenciação da infiltração da solução corante.
Concordando com esta afirmação existe o fato de que, no primeiro grupo, houve
muito mais escores 3 ( com infiltração até à parede axial da cavidade) do que
escores 0 ( sem infiltração). No grupo 2 aconteceu exatamente o contrário, mais
escores 0 e menos escores 3.
A formação das fendas na interface dente-restauração está também relatada
no trabalho de Souza Júnior (1998), no qual afirmou que a contração de
polimerização dos compósitos que faz parte da etiologia das tensões observadas
nas interfaces citadas pode provocar o rompimento das ligações de união entre o
sistema de união e as estruturas dentárias condicionadas, isto é, uma espécie de
desmantelamento da camada híbrida. O mesmo autor citou também Lutz et al.
(1986) afirmando que estes autores preconizaram uma maneira de direcionar a
contração de polimerização dos compósitos pelo modo de colocar a ponta do
fotopolimerizador, visto que, segundo eles, a luz provoca a contração em sua
direção e deixando-se a parede cavitária entre a luz e o material restaurador, a
contração seria em direção a essa parede, não havendo formação das fendas.
No entanto, Souza Júnior (1998) no mesmo trabalho, afirmou que não é isso
que acontece na realidade, salientando que há dois fatores muito importantes para
controlar a contração de polimerização e suas tensões; um é a quantidade de
34
material restaurador de uma cavidade, sendo que há uma relação direta entre a
quantidade de material e a tensão criada pela contração de polimerização, isto é, a
segunda é diretamente proporcional à primeira.
O segundo é a relação íntima que existe entre o número de superfícies livres
de uma cavidade e o de superfícies ou de paredes cavitárias que fazem a união com
o adesivo: quanto menor o número de paredes livres da união e maior o de paredes
unidas, maior será a dificuldade de haver liberação das tensões provocadas pela
contração de polimerização.
Parece que atualmente os pesquisadores não estão mais muito preocupados
em saber se realmente a contração de polimerização se dá em direção da fonte
luminosa, pois, já em 1998, Souza Júnior relatou que se deve usar aparelhos
fotopolimerizadores nos quais puder ser usado a técnica gradativa de intensidade de
luz, isto é, o próprio aparelho inicia a fotopolimerização com uma intensidade de luz
mais fraca e vai gradativamente aumentando-a. Se forem usados aparelhos
convencionais pode-se usar a ponta de luz mais distante do material nos primeiros
segundos, aproximando-a depois. Outra alternativa, seria usar a luz deixando a
estrutura dentária entre o luz e o material, ou seja, usando-a como escudo com a
finalidade de reduzir a intensidade de luz aplicada sobre o material nos primeiros
segundos.
Segundo Lösche 1999, a adaptação do material restaurador às paredes
cavitárias apresenta melhores resultados com o uso da aplicação da fonte luminosa
através da técnica das cunhas interproximais reflexivas e das paredes da estrutura
dentária e que estes resultados devem ser atribuídos à polimerização do compósito
feita pela técnica do aumento gradual de intensidade de luz aplicada e não
simplesmente ao direcionamento da fonte de luz ativadora.
35
6 CONCLUSÃO
Da análise dos resultados pode-se concluir que o grupo no qual a
fotopolimerização foi realizada diretamente sobre o compósito apresentou maior
microinfiltração marginal. A partir desta afirmação pode-se supor que a contração de
polimerização do compósito tenha se dado em direção da fonte ativadora.
36
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38
8 APÊNDICE A
Ficha de avaliação da microinfiltração na interface dente-restauração
Amostra Avaliador 1 Avaliador 2 Avaliador 3 Média 1 2 3
4 5 6 7 8 9
10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
Média do grupo: