mÉtodos alternativos no ensino da tÉcnica cirÚrgica

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP CÂMPUS DE JABOTICABAL MÉTODOS ALTERNATIVOS NO ENSINO DA TÉCNICA CIRÚRGICA VETERINÁRIA Emanoel Ferreira Martins Filho Médico Veterinário 2015 Jaboticabal - SP

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP

CÂMPUS DE JABOTICABAL

MÉTODOS ALTERNATIVOS NO ENSINO DA TÉCNICA

CIRÚRGICA VETERINÁRIA

Emanoel Ferreira Martins Filho

Médico Veterinário

2015

Jaboticabal - SP

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP

CÂMPUS DE JABOTICABAL

MÉTODOS ALTERNATIVOS NO ENSINO DA TÉCNICA CIRÚRGICA VETERINÁRIA

Emanoel Ferreira Martins Filho

Orientador: Prof. Dr. Carlos Roberto Daleck

Coorientador: Prof. Dr. João Moreira da Costa Neto

Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp, Câmpus de Jaboticabal, como parte das exigências para obtenção do título de Doutor em Cirurgia Veterinária.

DADOS CURRICULARES DO AUTOR

Emanoel Ferreira Martins Filho – nascido na cidade de Salvador – Ba; em 10

de fevereiro de 1977, filho de Safira dos Santos Martins e Emanoel Ferreira Martins.

Médico Veterinário formado pela Universidade Federal da Bahia, no ano de 2007. Em

2010 obteve o título de mestre junto ao Programa de Pós-graduação em Ciência

Animal nos Trópicos da Universidade Federal da Bahia - UFBA, sob orientação do

Prof. Dr. João Moreira da Costa Neto. Em março de 2011 iniciou o curso de doutorado

em Cirurgia Veterinária, sob Orientação do Prof. Dr. Carlos Roberto Daleck, e

Coorientação do Prof. Dr. João Moreira da Costa Neto. Professor temporário da Área

de Cirurgia Veterinária do Departamento de Anatomia, Patologia e Clínicas

Veterinárias – UFBA no período dezembro de 2012 à março de 2014.

EPÍGRAFE

“Quando tudo nos parece dar errado

acontecem coisas boas que não teriam acontecido

se tudo tivesse dado certo.”

Renato Russo

AGRADECIMENTOS

Ao meu Deus, por estar sempre ao meu lado guiando-me nas escolhas e dando

força e discernimento para enfrentar todos os obstáculos. Além disso, agradeço por

ter colocado no meu caminho pessoas com as quais eu pude verdadeiramente contar.

À minha família por ser, na minha vida, alicerce e referência. Agradeço em

especial a minha mãe Safira por sempre acreditar e apoiar incondicionalmente minhas

decisões... Sou eternamente grato!

Ao meu Irmão Samuel pela capacidade de resolver as pendências familiares,

enquanto estive ausente... Muito obrigado!

À Andressa Moraes Amâncio, mais uma vez, pela atenção e paciência... Só

posso dizer, todo esforço e renúncia não serão em vão... Eu te amo muito!

Ao meu orientador Prof. Dr. Carlos Roberto Daleck, que me acolheu, acreditou

em meu potencial e por ter compartilhado suas experiências ao longo da vida que

certamente tornou-me uma pessoa muito melhor do que aquela quando iniciou o

doutorado.

Ao amigo e coorientador Prof. Dr. João Moreira da Costa Neto, pela confiança,

pelos desafios e por ter abraçado este projeto. Sei que os momentos de alegria,

tristeza, discussões e conselhos ficarão guardados na minha memória e certamente

contribuirão para minha formação profissional. Agradeço por tudo e que continue

sempre assim.... Uma pessoa iluminada!

Aos Amigos Deusdete Conceição Gomes Junior, Rodrigo Lima Carneiro; Tiago

Caparica Módolo; Vinícius de Jesus Moraes; Roberto D’avila Fernandez; Manuela

Rocha Franco; Claudênia Ferreira da Silva; Hilda Palma; Anderson Dallastra; Carlos

Henrique Rabelo; Patrick Hainfellner; Robson Rondini; Vitor Cibiac Sartori; Samuel

Santos Sousa; Diego Mendes; Carlos Alberto; Alison Barbosa; Daiane Becker Scalez;

Gabriela Bueno; Danielle Zanerato Damasceno; Débora Lunardi; Renata Andrade e

Virgínia Rodrigues... estes fizeram meus dias mais felizes em Jaboticabal, diminuído

a saudade por estar longe de casa! Agradeço em especial a Deusdete e Tiago pela

paciência e atenção durante todo o período em que convivemos. Reconheço e serei

eternamente grato por abdicarem dos seus afazeres para me auxiliar nos momentos

finais do doutorado... sem a ajuda de vocês certamente não conseguiria!

Não posso esquecer Srª. Rosa Yaegashi Hainfellner que me acolheu tão bem,

fazendo me sentir em casa! Muito obrigado por tudo!

Aos alunos e monitores da disciplina de técnica cirúrgica veterinária da

Universidade Federal da Bahia (UFBA) por participarem e auxiliarem no

desenvolvimento do projeto de pesquisa. Especialmente aos monitores Vladmir Lênin;

Joelma Silva; Verena Martinez Andrade; Nestor Soto Blanco; Tainah Dorado; Lucas

Fontoura e Daiane dos Santos que se empenharam ao máximo para o êxito deste

trabalho. Vocês foram fundamentais!

Aos colegas professores do Departamento de Anatomia, Patologia e Clinicas

Veterinárias (DEAPAC/UFBA) e os funcionários da Hospital de Medicina Veterinária

(HOSPMEV/UFBA) por cada palavra de entusiasmo, fazendo-me seguir em frente,

especialmente as profas. Dras. Arianne Oriá, Alessandra Estrela e Maria José

Batatinha pela ajuda inestimável. Não posso esquecer das profas. Dras. Karina Médici

Madureira, Vivian Fernanda Barbosa e Maristela Seudo Lopes por cada momento em

que precisei de uma palavra de apoio ou de várias "carolinas"!

Ao amigo e diretor do HOSPMEV-UFBA, Prof. Dr. Carlos Humberto Ribeiro

Filho pelo apoio e por ceder as instalações para execução deste projeto... Nossos

intervalos antes do almoço e no final do expediente permitiram compartilhar de sua

inesgotável experiência profissional e de vida.

Às amigas Raquel Graça Teixeira, Julia Toríbio e Ilka Gonçalves pelos

sequestros gastronômicos que certamente compensou cada quilo perdido durante os

momentos de estresse!

Meus respeitosos agradecimentos pela contribuição da banca do exame de

qualificação e pela participação dos membros da banca examinadora da defesa.

Ao Programa de Pós-graduação em Cirurgia Veterinária (UNESP/Jaboticabal)

pela oportunidade e pela bolsa de estudos.

i

SUMÁRIO

Página

RESUMO .......................................................................................... iii

ABSTRACT ....................................................................................... iv

LISTA DE TABELAS ......................................................................... v

LISTA DE QUADROS ....................................................................... vi

LISTA DE FIGURAS ......................................................................... vii

CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS ................................... 1

1. Introdução .................................................................................. 1

2. Revisão da literatura .................................................................. 2

2.1 A experimentação animal .................................................... 2

2.2 O ensino da cirurgia ............................................................. 5

2.3 Métodos substitutivos e alternativos .................................... 8

3. Objetivos .................................................................................... 14

3.1 Objetivo geral ....................................................................... 14

3.2 Objetivo específico .............................................................. 14

4. Referências ................................................................................ 16

CAPÍTULO 2 – USO DO VÍDEO DIDÁTICO COMO INSTRUMENTO

PARA O ENSINO/APRENDIZADO DA ASSEPSIA DA EQUIPE

CIRÚRGICA ...................................................................................... 22

Resumo ......................................................................................... 22

Abstract .......................................................................................... 23

1. Introdução .................................................................................. 24

2. Material e métodos .................................................................... 25

3. Resultados ................................................................................. 39

4. Discussão .................................................................................. 40

5. Conclusão .................................................................................. 42

6. Referências ................................................................................ 43

ii

Página

CAPÍTULO 3 – SIMULADOR APLICADO AO ENSINO DA

TÉCNICA CIRÚRGICA VETERINÁRIA - ASSEPSIA E

PREPARAÇÃO DO CAMPO OPERATÓRIO .................................... 45

Resumo ......................................................................................... 45

Abstract .......................................................................................... 46

1. Introdução .................................................................................. 47

2. Material e métodos .................................................................... 48

3. Resultados e discussão ............................................................. 55

4. Conclusão .................................................................................. 59

5. Referências ................................................................................ 60

CAPÍTULO 4 – SIMULADOR APLICADO AO ENSINO DA

TÉCNICA CIRÚRGICA VETERINÁRIA – HEMOSTASIA

CIRÚRGICA ...................................................................................... 62

Resumo ......................................................................................... 62

Abstract .......................................................................................... 63

1. Introdução .................................................................................. 64

2. Material e métodos .................................................................... 65

3. Resultados e discussão ............................................................. 77

4. Conclusão .................................................................................. 80

5. Referências ................................................................................ 82

CAPÍTULO 5 – BASTIDOR APLICADO AO ENSINO DA TÉCNICA

CIRÚRGICA VETERINÁRIA – SÍNTESE DOS TECIDOS ................. 84

Resumo ......................................................................................... 84

Abstract .......................................................................................... 85

1. Introdução .................................................................................. 86

2. Material e métodos .................................................................... 87

3. Resultados e discussão ............................................................. 93

4. Conclusão .................................................................................. 95

5. Referências ................................................................................ 96

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 98

iii

MÉTODOS ALTERNATIVOS DE ENSINO APLICADO A TÉCNICA CIRÚRGICA VETERINÁRIA

RESUMO – A formação cirúrgica envolve conceitos complexos teóricos e práticos, particularmente relacionados à técnica cirúrgica e suas bases, dentre as quais o desenvolvimento de habilidades é considerado essencial. As cirurgias experimentais, outrora realizadas para este fim, atualmente são conflitantes com os conceitos de bem estar animal e gradualmente vem sendo desestimuladas. Os métodos alternativos à vivissecção, além de auxiliarem no desenvolvimento de habilidades, fundamentam o pensamento crítico e cumprem a função educacional requerida sem causar prejuízo aos animais. Fundamentados na doutrina dos 3R’s que evocam a redução, a substituição de animais e o refinamento de técnicas empregadas na experimentação, buscou-se desenvolver, avaliar e padronizar recursos alternativos de ensino que visem reduzir ou substituir o uso de animais na didática cirúrgica, e que permitam a aquisição de habilidades e conhecimentos práticos necessários para condução de manobras inerentes aos princípios da assepsia cirúrgica e as fases fundamentais da técnica cirúrgica, proporcionando ao aluno a autoconfiança e a competência necessárias à realização de um procedimento cirúrgico com risco mínimo operatório e, finalmente, a primazia da ética e do bem estar animal.

Palavras-chave: técnicas alternativas, modelos didáticos, vivissecção, cirurgia.

iv

ALTERNATIVE METHODS IN TEACHING SURGICAL TECHNIQUE VETERINARY

ABSTRACT Surgical training involves complex theoretical and practical concepts, particularly related to operative technique and its basic concepts, among them the development of skills is considered essential. Experimental surgeries, performed once for this purpose, are currently conflicting with current concepts of animal welfare and has been gradually discouraged. The alternative to vivisection methods, as well as helping to develop skills, establish critical thinking and meet the required educational function without harming the animals. Grounded in the doctrine of the 3Rs that evoke the reduction and replacement of animals and refinement of techniques employed in the experiment, we seek to develop, evaluate and standardize alternative teaching resources that reduce or replace the use of animals in surgical teaching and to enable acquisition of skills and practical knowledge needed to conduct maneuvers accordingly to the principles of surgical asepsis and fundamental stages of surgical technique, giving Students the confidence and skills necessary to performing a surgical procedure with minimal operative risk, and finally, the primacy of ethics and animal welfare.

Keywords: alternative techniques, didactic models, vivisection, surgery

v

LISTA DE TABELAS

Página

Capítulo 2

Tabela 1. Relação de vídeos produzidos sobre paramentação cirúrgica, tempo de reprodução individual e total. ..................................... 39

Capítulo 3

Tabela 1. Comparação das médias entre os semestres em função da média mínima (7,0) para aprovação na disciplina com relação a preparação do campo operatório principal – acessório – ortopédico ................................................................................. 58

Capítulo 4

Tabela 1. Comparação das médias entre os semestres em função da média mínima (7,0) para aprovação na disciplina com relação as manobras da hemostasia cirúrgica ....................................... 79

vi

LISTA DE QUADROS

Página

Capítulo 2

Quadro 1. Sistematização das etapas e descrição dos procedimentos empregados na paramentação cirúrgica. Fonte: Adaptado de Verwilghen et al. (2011); Schulz (2013) e Duarte; Leite (2013) 26

Quadro 2. Relação de itens empregados para avaliação da prática de paramentação cirúrgica aos alunos da disciplina de técnica cirúrgica veterinária da Universidade Federal da Bahia............ 38

Capítulo 3

Quadro 1. Relação de itens empregados para avaliação da prática de preparação do campo operatório aos alunos da disciplina de técnica cirúrgica veterinária da Universidade Federal da Bahia. 53

Quadro 2. Questionário de análises psicométricas para avaliação dos índices de aceitação quanto à apresentação e o desenvolvimento das habilidades psicomotoras durante o manuseio do manequim ........................................................... 54

Capítulo 4

Quadro 1. Relação quantitativa dos componentes necessários para montagem do simulador de hemostasia .................................... 66

Quadro 2. Relação de itens empregados para avaliação da prática de hemostasia cirúrgica aos alunos da disciplina de técnica cirúrgica veterinária da Universidade Federal da Bahia. 75

Quadro 3. Questionário de análises psicométricas para avaliação dos índices de aceitação quanto à apresentação e o desenvolvimento das habilidades psicomotoras durante o manuseio do simulador de hemostasia cirúrgica ....................... 76

Capítulo 5

Quadro 1. Questionário de análises psicométricas para avaliação dos índices de aceitação quanto à apresentação e o desenvolvimento das habilidades psicomotoras durante o manuseio do bastidor aplicado a síntese cirúrgica .................... 92

vii

LISTA DE FIGURAS Página Capítulo 2 Figura 1. Sequência de imagens estáticas extraídas do vídeo

demonstrativo do procedimento para a colocação dos equipamentos de proteção individual. Em A, remoção dos adereços; colocação da touca descartável (B); Aspecto final após a fixação da touca e máscara cirúrgica (C); calçamento do pro-pé com o ajuste na barra da calça (D) ............................ 28

Figura 2. Sequência de imagens estáticas extraídas do vídeo

demonstrativo de desinquinação cirúrgica. A- Umedecimento das mãos e antebraços; B- Aplicação do degermante tópico solução de Digliconato de Clorexidina 2% com tensoativos sobre as áreas de desinquinação; C, D e E – Manobras para escovação das unhas, mãos e antebraços. F- Enxague com água corrente com inclinação dos antebraços .......................... 29

Figura 3. Sequência de imagens estáticas extraídas do vídeo

demonstrativo da secagem das mãos e antebraços e colocação do avental cirúrgico. Em A, Abertura e entrega do kit cirúrgico; Secagem das mãos (B); Colocação das mãos e manobra para o desdobramento do avental (C e D); assistência do auxiliar no fechamento do avental cirúrgico (E e F) .............................................................................................. 31

Figura 4. Sequência de imagens estáticas extraídas do vídeo demonstrativo das três técnicas de colocação de luvas cirúrgicas. Em (A e B) demonstração do Método Aberto, (C e D) Método Fechado; Calçamento das luvas assistido (E e F) ... 32

Figura 5. Imagem fotográfica de aula demonstrativa de paramentação

cirúrgica para os alunos da disciplina de técnica cirúrgica veterinária na Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia. Em A: Grupo Aula Professor e em B: Grupo Vídeo Apoio .............................................................................. 33

Figura 6. Representação esquemática do posicionamento de cada

webcam e as etapas do circuito destinadas a paramentação cirúrgica .................................................................................... 35

Figura 7. Notar em A microcomputador com programa de

gerenciamento de webcan em funcionamento. Em B, observar macrofotografias obtidas pelo programa de gerenciamento das webcan´s com exemplificação de algumas da etapas de paramentação avaliadas ........................................................... 36

viii

Capítulo 3

Figura 1. Imagens fotográficas do simulador aplicado ao ensino da técnica cirúrgica veterinária – Assepsia e preparação do campo operatório. Em A manequim mimetizando um cão posicionado em decúbito dorsal, com um membro torácico articulado. Em B, antissepsia do abdome ventral. Em C e D colocação da cobertura cirúrgica para laparotomia (panos de campo principais). Em E, simulador mimetizando campo operatório com cobertura cirúrgica para laparotomia e incisão dérmica com exposição do tecido celular subcutâneo e linha alba, para execução da colocação dos panos acessórios (F) .. 50

Figura 2. Simulador aplicado ao ensino da técnica cirúrgica veterinária – assepsia e preparação do campo operatório. Em A e B, antissepsia do membro torácico direito. Em C, colocação de cobertura cirúrgica (malha tubular) da extremidade do membro. Em D, E e F, colocação da cobertura cirúrgica (panos de campo principais) ................................................................. 51

Capítulo 4

Figura 1. A -Esquema de montagem do simulador para treinamento de hemostasia cirúrgica. Em I subsistema propulsor de fluido formado por 1. Reservatório plástico de 5 L, 2. Válvula de pé para sucção do fluido, 3. Bomba Peristáltica com dois roletes; 4. Emenda de mangueira tipo “T” 3/16”; Em II, subsistema de mimetização vascular formado por 5. Emenda reta para mangueira 3/16”, 6. Bexiga Látex tipo “canudo” e 7. Caixa mimetizadora vascular. Em III, subsistema de reciclagem do fluido/ monitoramento de pressão composto por 8. Válvulas de 3 vias, 9. Válvula de alivio de pressão, 10. Manômetro de pressão. B Aspecto final da montagem do protótipo sem a caixa mimetizadora vascular ..................................................... 68

Figura 2. Mimetizador de tecidos do simulador: 1. Primeira lâmina de espuma, 2. Canal de acomodação da bexiga, 3. Bexiga látex tipo “canudo”, 4. Segunda lâmina de espuma. 5. Bexiga exteriorizada pela abertura da segunda lâmina, 6. Bexiga posicionada em profundidade visibilizada mediante abertura nas segunda lâmina de espuma, 7. Furos laterais para acoplamento dos vasos à caixa mimetizadora, 8. Modificação da tampa mediante a remoção parcial da tampa da caixa, 9. Orifício feito na tampa para fixação da tampa ao conjunto ........ 70

1

CAPÍTULO 1 – Considerações gerais

1. Introdução

A formação cirúrgica abrange complexos conceitos teóricos e práticos,

particularmente os relacionados à técnica cirúrgica e suas fases fundamentais, dentre

as quais destaca-se o desenvolvimento de habilidades é considerado essencial na

formação do profissional.

As cirurgias experimentais, outrora realizadas com esta finalidade, atualmente

são conflitantes com os atuais conceitos de bem estar animal e gradualmente vem

sendo desestimuladas.

Como garantir aos alunos de graduação e pós-graduação o desenvolvimento

da habilidade cirúrgica?

É sabido que a destreza cirúrgica advém da prática constante, e somente assim

cada manobra será efetuada inconsciente e espontaneamente, permitindo o bom e

eficiente resultado operatório.

Na atualidade, em meio a conceitos éticos e de cunho educacional, no âmbito

da sistemática operatória, imperam inúmeros questionamentos:

É correto empregar animais, que juramos cuidar e proteger, para essa

finalidade?

A vivissecção é mesmo necessária?

Existem outras maneiras de garantir esse aprendizado?

Em respeito às inúmeras eutanásias praticadas em prol do ensino cirúrgico e

cientes da necessidade de mudanças, buscam-se alternativas.

Fundamentados nos conceitos dos 3 R’s que evocam a redução e substituição

de animais e o refinamento de técnicas empregadas na experimentação (PAIXÃO;

SCHRAMM, 2008), procura-se fomentar recursos alternativos, que visem reduzir e

substituir o uso de animais na didática cirúrgica e que permitam a aquisição de

habilidades e os conhecimentos práticos necessários para condução de manobras

inerentes aos princípios da assepsia e das fases fundamentais da técnica cirúrgica,

garantindo o aprimoramento dos alunos em suas habilidades e destrezas cirúrgicas,

e consequentemente o refinamento do procedimento posteriormente empregado no

modelo experimental.

2

Mediante a necessidade da experiência cirúrgica, somente conseguida em

procedimentos cirúrgicos reais, muitos autores advogam o uso de animais para esta

finalidade, porém somente após exaustivo condicionamento das manobras cirúrgicas

por meio de recursos alternativos. O aluno quando apto poderá, sob restrita

supervisão, realizar procedimentos em ordem gradativa de complexidade. Neste

contexto, o aprendizado inicia por meio de procedimentos cirúrgicos relacionados à

esterilização cirúrgica de animais de companhia. Estas intervenções cirúrgicas são

indicadas em virtude da simplicidade da técnica e do baixo grau de risco para o

paciente, tal fato reduz os transtornos psicológicos para os alunos durante o

treinamento com animais vivos, Além de contribuir para o controle populacional de

cães e gatos.

2. Revisão da literatura

2.1 A experimentação animal

Na visão antropocêntrica de organização de uma escala zoológica, o Homo

sapiens destinou para si o topo da evolução das espécies, criando um equívoco

linguístico e científico com distinção entre animais e homem, como se ele não fosse

um animal (FAGUNDES; TAHA, 2004). A experimentação animal relata o

procedimento visando descobrir o princípio ou efeito desconhecido, pesquisar a

hipótese ou confirmar o fato conhecido por meio do uso de seres do reino Animalia,

excluindo-se os animais humanos (SCHNAIDER; SOUZA, 2003; PAIXÃO;

SCHRAMM, 2008).

As narrativas históricas da utilização dos animais pelo homem para as mais

diversas finalidades são conhecidas desde os primórdios da humanidade. A Bíblia

documentou para todos os séculos, o sacrifício de animais, desde que fossem por

sacerdotes e em louvor ao Criador (BÍBLIA, 2002; PIMENTA; SILVA, 2001). A lei

judaica adverte sobre a crueldade para com os animais, e que estes devem ser

tratados humanamente, com bondade e compaixão. Conforme esta lei as experiências

com animais são permitidas somente se forem realizadas para o bem da humanidade

e não para satisfazer desejos individuais (GOLDENBERG, 2000; SCHNAIDER;

SOUZA, 2003).

3

Na escola de Alexandria, na primeira metade do século III a.C., Herófilo foi o

primeiro a dissecar animais em público e Erasístratus, o pioneiro em realizar

experimentos com animais vivos, o que possibilitou a sua descrição de que as artérias,

quando cortadas durante a vida, contém sangue (PAIXÃO, 2001). O filósofo realizava

vivissecções em animais com o objetivo de observar estruturas e formular hipóteses

sobre o funcionamento associado a estas (RAYMUNDO; GOLDIM, 2002).

A primeira pesquisa científica que utilizou animais pode ter sido a realizada por

William Harvey em 1638, publicada com o título Exercitatio anatomica de motu cordis

et sanguinis in animalibus. O autor apresentou os resultados obtidos em estudos

experimentais sobre a fisiologia da circulação sanguínea realizados em mais de 80

diferentes espécies animais. René Raumur, biólogo francês cujos estudos

contribuíram para muitas áreas da ciência, também utilizava animais para seus

experimentos. Dentre suas contribuições está a demonstração, em 1752, de que o

estômago atua quimicamente sobre os alimentos (RAYMUNDO; GOLDIM, 2002).

Posteriormente, Stephen Hales, um famoso cientista britânico, realizou uma

série de experimentos sobre a circulação sanguínea. Suas investigações sobre o

sistema arterial dos animais foram publicadas em 1733, sob o título Haemastaticks

(RAYMUNDO; GOLDIM, 2002).

Já no século XVIII, Edward Jenner testou a hipótese da vacinação a partir de

seus conhecimentos da doença no gado leiteiro e Louis Pasteur testou a sua teoria

da imunização contra raiva a partir de macerado do cérebro de um cão raivoso. Robert

Kock estabeleceu de forma cabal a relação causal entre um agente microbiológico e

uma doença, estudando o carbúnculo que afetava o gado (FAGUNDES; TAHA, 2004).

Por esses acontecimentos, filósofos e pensadores questionaram ou

endossaram a utilização de animais como modelos experimentais. O filósofo francês

Michel Montaigne considerava, em essência, a igualdade entre os animais e os seres

humanos. Seu posicionamento ia de encontro à ideia de que os animais viviam de

ações mecânicas e sem raciocínio, diferentemente dos seres humanos (PAIXÃO,

2001; RAYMUNDO; GOLDIM, 2002).

Já o filósofo francês René Descartes, acreditava que somente os homens

possuíam alma racional e que os animais eram como máquinas, cujos movimento e a

vida eram consequência de uma “alma sensitiva”. Outros, como David Hume

postulavam que tanto os animais como os homens aprendem muitas coisas por meio

de experiências (RAYMUNDO; GOLDIM, 2002) e Jeremy Bentham dizia que o

4

importante não são as semelhanças e diferenças: a questão é deixar ou não que os

animais sofram (RAYMUNDO; GOLDIM, 2002; LEVAI, 2004). Provavelmente, as

ideias de René Descartes sobre as diferenças entre os homens e os animais tenham

influenciado os cientistas do século XVII a realizarem seus experimentos sem

questionar o uso de animais (LEVAI, 2004).

Somente em 1876, na Inglaterra, foram elaborados os princípios de ética

aplicados em benefício da experimentação animal, que vigoram até os dias atuais

(PIMENTA; SILVA, 2001; SCHNAIDER; SOUZA, 2003). Em 1824, na Inglaterra foi

criada a Society for the Preservation of Cruelty to Animals e em 1845, na França,

surgiu a primeira sociedade protetora dos animais (RAYMUNDO; GOLDIM, 2002). No

Brasil, em 1925, implantou-se em Minas Gerais a "Sociedade Protetora dos Animais”,

órgão responsável pela regulamentação e fiscalização das atividades relacionadas ao

uso de animais (PIMENTA; SILVA, 2001).

Existem diferentes formas de utilização de animais como modelo experimental,

sendo divididas em diversas categorias: a pesquisa básica, que formula e testa

hipóteses sobre questões teóricas fundamentais; a pesquisa aplicada, que formula e

testa hipóteses sobre doenças, disfunções, defeitos genéticos, entre outros. Inclui-se

nesta categoria os testes de novas terapias; o desenvolvimento de substâncias

químicas e fármacos; as pesquisas voltadas para o aumento da produtividade e

eficiência dos animais na prática agropecuária; os testes de segurança, potencial de

irritação e grau de toxicidade de algumas substâncias; o teste de fármacos para uso

veterinário ou humano; o uso de animais em instituições educacionais e o uso de

animais para extração de fármacos e produtos biológicos (PAIXÃO; SCHRAMM,

2008).

As discussões acerca da experimentação animal fomentaram o conceito dos 3

R’s (replacement, reduction and refinement) (PAIXÃO; SCHRAMM, 2008). Este

conceito foi sugerido pelos pesquisadores William Russel e o Rex Burch, em 1959, no

seu livro intitulado “The Principles os Humane Experimental Technique” e foi

empregado para nortear as pesquisas que envolvessem animais de tal forma que as

tornassem mais humanitárias (PIMENTA; SILVA, 2001; RAYMUNDO; GOLDIM, 2002;

LEVAI, 2004; PAIXÃO, 2004; PAIXÃO; SCHRAMM, 2008).

O 1º “R” ou replacement (substituição), indica que se deve procurar substituir a

utilização de vertebrados em pesquisa por outros modelos experimentais, que podem

incluir plantas e microorganismos, entre outros. O 2º “R” ou reduction (redução),

5

sugere que se deve procurar reduzir o número de animais utilizados em um

experimento. O 3º “R” ou refinement (refinamento ou aprimoramento), indica que se

deve procurar reduzir ao máximo o desconforto ou sofrimento animal (PAIXÃO, 2001;

LEVAI, 2004). Esta proposta não contraindica a utilização de modelos animais em

experimentação, mas indica uma adequação no sentido de humanizá-la

(RAYMUNDO; GOLDIM, 2002; PAIXÃO 2004).

Ainda hoje os 3 R’s da experimentação animal são citados como devida

necessidade para a adequação da pesquisa em modelos animais e é medida adotada

nos melhores biotérios mundiais (PIMENTA; SILVA, 2001; RAYMUNDO; GOLDIM,

2002).

Muitas são as razões para as instituições de ensino e pesquisa considerarem

alternativas para a substituição do uso de animais em aulas práticas, incluindo

considerações éticas, riscos de zoonoses, higiene do ambiente de trabalho, eficácia

no ensino, pressões econômicas, além de uso ilegal de animais e publicidade adversa.

Segundo Arluke (2004), as práticas com animais vão contra pressupostos éticos e

morais de muitos dos acadêmicos e pesquisadores, causando conflitos internos

desnecessários, além dos problemas de ordem psicológica gerados por tal ação. O

debate acerca desse assunto tem aumentado muito nos últimos anos, enquanto

grupos de proteção aos animais tem obtido sucesso em persuadir muitas instituições,

em âmbito global, a abolirem a utilização de animais de laboratório com fins didáticos

e de pesquisa (JUKES, 2004).

2.2 O ensino da cirurgia

A prática da cirurgia tem registro desde os primórdios das civilizações

conhecidas. Inicialmente foi praticada de maneira empírica, em indivíduos

traumatizados, sendo realizada por aqueles que dispunham apenas do bom senso e

da vontade em ajudar. O conhecimento disponível resumia-se a noções de anatomia

humana comparada com os animais e a relatos de experiências vividas em situações

de intervenções semelhantes, dando início à formação dos primeiros Barbeiro-

cirurgião, assim denominados de Barbeiros (MARQUES, 2005).

Relatos sobre médicos-cirurgiões existem desde o período de 1600 a.C., no

Antigo Egito, porém, foi na Grécia nos séculos IV e V, a.C. a medicina se organizou

com Hipócrates por meio da compilação de 72 livros intitulado “Corpus hippocraticum”.

6

Esta obra influenciou a medicina e a cirurgia (CONFORTI; MAGALHÃES, 1983;

MARQUES, 2005).

No Renascimento, Ambroise Paré foi o grande precursor da cirurgia moderna.

Escreveu livros em francês e em latim difundindo conhecimentos e facilitando o

aprendizado dos “cirurgiões-barbeiros”. Este filósofo elevou rapidamente a condição

da classe cirúrgica, e a cirurgia passou a ser admitida pela classe médica como forma

de terapêutica sendo incluída como cátedra nas Faculdades de Ciências Médicas.

Com a possibilidade da impressão de livros com ilustrações, o interesse pela anatomia

ressurgiu de vez, enriquecendo os conhecimentos médicos sobre o tema

(CONFORTI; MAGALHÃES, 1983).

No Brasil, o Ministério da Educação incluiu nas diretrizes curriculares destes

cursos, o ensino das “Bases Técnicas da Cirurgia” que correspondem à “Técnica

Cirúrgica Fundamental, Básica ou Geral”, oferecida ao término do ciclo básico de cada

curso, buscando-se propiciar a preparação dos alunos para a Técnica Cirúrgica

Especial ou Especializada, geralmente ministrada no ciclo profissional (MARQUES,

2005).

A técnica cirúrgica é o conjunto de processos da arte operatória, constituindo-

se de sequência de movimentos ou atos harmônicos, executados manualmente ou

por meio de instrumentos, materiais e aparelhos, para a realização de determinado

ato operatório, com pleno conhecimento anatômico e funcional da região operatória

(CONFORTI; MAGALHÃES, 1983).

A técnica cirúrgica fundamental, básica ou geral estuda as manobras cirúrgicas

básicas, relacionadas às técnicas assépticas, precauções universais no centro

cirúrgico, tempos operatórios e fases fundamentais da técnica cirúrgica. Desta forma,

não se refere a qualquer intervenção cirúrgica especializada, mas ao conhecimento

das manobras que, de um modo geral, são executadas em todos os procedimentos

cirúrgicos (GOFFI, 2000).

Segundo Marques (2005), somente após compreensão desses conceitos

gerais, existirá perfeita condição para estudo da técnica cirúrgica especial ou

especializada, que compreende a ordenação do conjunto de manobras realizadas

para executar um tratamento operatório sobre determinada região anatômica, ou, de

outra forma, o estudo dos tempos operatórios inerentes a cada operação, em

particular.

7

A complexidade dos conhecimentos cirúrgicos também envolve fundamentos

nas áreas de biologia, anatomia, fisiologia e farmacologia. Essas informações devem

ser apresentadas de forma gradativa e interligadas, permitindo a consolidação dos

conhecimentos, sem os quais tornam-se fator impeditivo ao aluno ingressar no

ambiente clínico-cirúrgico (SABBATINI; BARBOSA, 1993; TSUDA et al., 2009). O

domínio da anatomia, fisiologia, patologia e dos princípios cirúrgicos, bem como

quando aplicar esses conhecimentos, não caracteriza o aluno em cirurgião (TSUDA

et al., 2009), para tanto, além da informação teórica, é imperativo o desenvolvimento

da destreza cirúrgica (MARQUES et al., 2005; MATERA, 2008; TSUDA et al., 2009).

Em geral, o treinamento acadêmico para aquisição de competências

psicomotoras ainda se faz pelo modelo observacional, conhecido como “ver, fazer e

repetir” no qual o aluno além de acompanhar a rotina cirúrgica com a devida

supervisão do professor, realiza procedimentos cirúrgicos experimentais em animais

vivos e durante sua execução adquire competências cirúrgicas fundamentais, por

tentativa e erro (SMEAK, 2006).

A formação cirúrgica bem balizada, sedimentada com boa compilação teórica

de conhecimento e no desenvolvimento de competências psicomotoras contribui para

a correta execução de diversas manobras, minimizando assim erros e influenciando,

sobremaneira, o resultado do procedimento cirúrgico (MARQUES, 2005).

De acordo com Oliveira (2008), a metodologia de ensino, ao longo dos anos,

tem requerido adaptações curriculares com a adoção de alternativas, que visam o

bem-estar animal, principalmente no que se diz respeito à técnica operatória.

Inicialmente a Europa e os Estados Unidos adotaram normas muito rígidas para o uso

de animais no ensino da cirurgia veterinária e promoveram o incentivo ao uso de

recursos audiovisuais; modelos para simulação de procedimentos ou mesmo

cadáveres de animais não necessariamente sacrificados para esse fim. Por

conseguinte, para garantir a aquisição de habilidades, diversos métodos alternativos

também denominados “substitutivos” têm sido desenvolvidos, buscando-se cumprir a

função educacional/científica sem causar prejuízo aos animais (CAMPOS; ROCHA,

1996; BUYUKMIHCI, 2007).

A maioria dos recursos alternativos propostos para o ensino da técnica

cirúrgica, guiam-se pelos conceitos dos 3R’s e frequentemente empregam artifícios

que mimetizam situações necessárias as manobras básicas da cirurgia, a exemplo

8

das técnicas assépticas e fases fundamentais: diérese, hemostasia e síntese

(MATERA, 2008, COSTA NETO; MARTINS FILHO, 2009).

Positivamente, os métodos alternativos, além de duradouros, quando

comparados ao ciclo de vida dos animais de laboratório, e econômicos, quando

considerados os gastos com alimento e tratadores, ainda podem ser usados repetidas

vezes. Além disso, permitem aos alunos aprender no seu próprio ritmo, sem o estresse

das aulas que empregam a vivissecção. E talvez a característica mais relevante incida

sobre o caráter humanitário desta alternativa, sendo capaz de permitir que educadores

e alunos ensinem e aprendam sem a necessidade de machucar ou matar outros seres

(GREIF; TRÉZ, 2000).

2.3 Métodos substitutivos e alternativos

Entende-se por métodos substitutivos, aqueles que substituem totalmente o

uso de animais, seja no ensino ou na pesquisa, estes podem ser simulações

computadorizadas ou ensaios físico-químicos. Já os métodos alternativos e

complementares são todos os outros procedimentos nos quais não se tenham um

animal vivo. Contudo, atualmente, é comum uma definição na qual métodos

alternativos são todos os procedimentos capazes de diminuir ou substituir o uso de

animais vivos no ensino e pesquisa, minimizando a dor e/ou sofrimento dos mesmos

(COSTA, 2006; TUDURY; POTIER; FERNANDES, 2009).

Métodos alternativos e substitutivos, ou ambos, são empregados visando à

integração do aluno para com as práticas das disciplinas e ao mesmo tempo objetiva

construir o conhecimento científico e o pensamento ético sobre o uso de animais

(TUDURY; POTIER; FERNANDES, 2009).

Estes métodos são capazes de perpetuar o conhecimento, melhorando o

aprendizado dos alunos, além de excluir problemas de ordem psicológica que o uso

de animais pode ocasionar. Palestras, cursos, encontros internacionais e debates

sobre o assunto estão ganhando força pelo mundo e fazendo com que a maioria das

universidades passe a adotá-los (MAGALHÃES; ORTÊNCIO FILHO, 2006).

Dentre os métodos alternativos disponíveis para o ensino cirúrgico na medicina

veterinária podemos relacionar: a utilização de cadáveres preservados (MATERA,

2008); o emprego de artefatos confeccionados a partir de espuma, látex e outros

materiais sintéticos (BUYUKMIHCI, 2007; ANDRADE, 2009); utilização de órgãos e

9

tecidos obtidos em matadouros (BUYUKMIHCI, 2007, TUDURY; POTIER, 2008) e o

uso de manequins anatômicos em resina emborrachada (1RNET, 2011). Vale porém,

considerar que apesar de contribuírem para consolidação do pensamento ético e

serem bastante difundidos, ainda são poucos os métodos que possuem comprovação

de sua eficácia e padronização (COSTA NETO; MARTINS FILHO, 2009).

Novas tendências também se adequam a essa realidade como o uso de

plataformas de mundos virtuais (LEONG et al., 2008; WIECHA et al., 2010), bem como

o uso de “games” voltados ao ensino (DE BIE; LIPMAN, 2012; BALOGH, 2014).

Cadáveres humanos e de espécies domésticas, tradicionalmente, tem sido

empregados para o ensino da anatomia humana e veterinária, quando os alunos

praticam atividades de dissecação visando a visibilização de detalhes acerca de

órgãos e estruturas (TIPLADY; LLOYD; MORTON, 2011). Outra aplicabilidade para

este recurso encontra-se no treinamento cirúrgico ou no desenvolvimento de novas

intervenções cirúrgicas (MATHEWS et al., 2010; GILBODY et al., 2011).

Ressalta-se que para seu emprego, os cadáveres necessitam de meios de

fixação e conservação, uma vez que após a morte há o processo de putrefação, que

inviabiliza seu uso em aulas e impede sua presença em ambientes cirúrgicos. Na

medicina veterinária, são considerados os cadáveres obtidos eticamente a partir do

óbito de cães e gatos em hospitais veterinários, abrigos ou centros de zoonoses

(SILVA et al., 2011).

Segundo Silva et al. (2011) a fixação é a parte mais importante da conservação,

e fará com que os tecidos se mantenham firmes, insolúveis e protegidos da

putrefação. Para isso são necessárias substâncias que possuam capacidade de evitar

o processo de crescimento bacteriano preservando as estruturas anatômicas para o

treinamento e aprendizado dos alunos.

Silva; Matera; Maciel Ribeiro (2003) visando o treinamento cirúrgico,

propuseram nova formulação para conservação química de cadáveres animais. A

solução de Larssen modificada foi assim denominada por ser o resultado de pequenas

alterações na solução original desenvolvida na Universidade René Descartes, no setor

de anatomia patológica do Hospital de Cochim em Paris, que aprimorou suas

propriedades de conservação de cadáveres. Esta solução tem como grande vantagem

o fato de preservar os tecidos animais de forma que suas características teciduais

(textura, coloração e odor) permanecem bastante similares às de um animal vivo.

10

Adicionalmente, o cadáver tem a flexibilidade de seus membros e articulações

conservados.

A partir deste estudo, a solução de Larssen modificada foi largamente testada

em cães, mostrando-se capaz de impedir a proliferação bacteriana e preservar

cadáveres com mínimas alterações de características teciduais (SILVA; MATERA;

MACIEL RIBEIRO, 2003). Os cadáveres de cães conservados por esta solução

tiveram boa aceitação por parte de alunos e professores ao serem utilizados nas

atividades práticas da disciplina de técnica cirúrgica da Faculdade de Medicina

Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (SILVA; MATERA; MACIEL

RIBEIRO, 2003; 2007).

Considerando que a ausência de sangramento durante o treinamento cirúrgico

com cadáveres é fator limitante, Inglez de Souza (2012) buscou superar esta

limitação, por meio da realização da simulação de circulação sanguínea em cadáveres

adequadamente preservados, permitindo aos usuários do sistema a possibilidade de

treinamento cirúrgico em um modelo mais próximo do animal vivo, viabilizando

também o aprendizado e a prática da hemostasia.

Buscando-se melhores técnicas de conservação de cadáveres tem se difundido

a técnica anatômica de plastinação. A plastinação é um método de preservação de

espécimes biológicas, deixando-as o mais próximo de sua aparência em vida, criado

pelo Dr. Gunther von Hagens, da Universidade de Heidelberg, Alemanha, em 1977. O

procedimento consiste em trocar a água e a gordura dos tecidos por polímeros, por

resinas, podendo ser o silicone, epóxi ou poliéster, privando assim das bactérias o que

elas precisariam para sobreviver. Com esta técnica, evita-se o uso de soluções

conservantes tóxicas e de odor desagradável, como o formaldeído, bem como eleva

a durabilidade das peças, característica útil para as atividades de pesquisa, ensino e

expositivas em anatomia (ANDREOLI; SILVA; SEREN, 2012).

Por meio do emprego de modelos, manequins e outros artefatos, que

mimetizam corpos, órgãos e tecidos, também é possível garantir ao acadêmico, o

conhecimento e a destreza necessários à condução do procedimento cirúrgico, sem

a necessidade do emprego da vivissecção para esta formação. Modelos e manequins

são uma representação estática de um objeto de estudo utilizando materiais não

biológicos como resinas plásticas, látex, EVA e espuma de poliuretano para o

treinamento cirúrgico. São considerados de baixa fidelidade por representar visão

simplificada da situação. Quando sua composição utiliza materiais biológicos, como

11

órgão de cobaias ou de animais provenientes de abatedouros, denomina-se de

modelos de bancada em alta fidelidade e garantem maior riqueza de detalhes e

funcionalidades objetivando simular situações complexas (TUDURY; POTIER;

FERNANDES, 2009; BASTOS; SILVA, 2011; COSTA NETO et al., 2011; DENADAI;

OSHIIWA; SAAD-HOSSNE, 2012).

Assim como os cadáveres plastinados, modelos de animais produzidos em

resinas plásticas são empregados para demonstrar aspectos morfológicos de vários

órgãos e tecidos. Em práticas ortopédicas na medicina e veterinária, ossos

confeccionados a partir de polietileno são amplamente utilizados para ilustrar as

fraturas e demonstrar técnicas de osteossintese (JUKES; CHIUIA, 2006).

Para o treinamento de técnicas hemostáticas, são empregados simuladores

que mimetizam hemorragia e permitem que os alunos desenvolvam suas habilidades

sem o estresse relacionado à presença de sangue, proporcionando assim a

autoconfiança necessária para que a hemostasia definitiva seja feita com segurança

em um procedimento cirúrgico real. O POP (Pulsanting Organ Perfusion) modelo de

bancada de alta fidelidade adotado pelo Hospital Bregenz, na Áustria é considerado

um simulador para uso em técnicas cirúrgicas que permite que órgãos de abatedouros

sejam perfundidos constantemente com um líquido corado num sistema fechado, cuja

pressão é mantida por bomba eletronicamente controlada, de forma que a circulação

de cada órgão ocorre de maneira semelhante ao que ocorreria em um órgão

fisiologicamente ativo. Com esse modelo conduz-se cirurgias abdominais, torácicas,

urogenitais, ginecológicas, e vasculares e ensaios de várias técnicas hemostáticas

(GREIF; TRÉZ, 2000).

Relacionado ao ensino da síntese cirúrgica e aos respectivos padrões de

sutura, poucos são os artefatos descritos na literatura e disponíveis para

comercialização e utilização. Destaca-se como opção viável o DASIE (Dog Abdominal

Surrogate for Instructional Exercises) divulgado pela Rede Internacional de Educação

Humanitária INTERNICHE. Trata-se de um artefato de formato cilíndrico, composto

por várias camadas de diferentes tecidos e materiais, que de acordo com sua textura

e consistência, mimetizam os mais variados planos anatômicos (1RNET, 2011).

O uso de tecidos, apoiados ou não em bastidores circulares para bordado, tem

sido descritos (TUDURY; POTIER, 2008) e são frequentemente utilizados em vários

cursos de medicina veterinária do Brasil. Porém, assim como a maioria dos recursos

alternativos empregados para o ensino médico, a falta de padronização e avaliação

12

desse recurso comprometem sua adoção como material didático (GREENHALGH,

2001).

Com o avanço tecnológico, os recursos audiovisuais, particularmente os

vídeos, passaram a ser considerados viáveis para dinamizar as atividades

pedagógicas. No ensino médico cirúrgico, vídeos didáticos têm sido amplamente

empregados para demonstrar inúmeras manobras técnicas e procedimentos

cirúrgicos com o intuito de reforçar o aprendizado (FARQUHARSON et al., 2013),

buscando-se evitar a repetição desnecessária de procedimentos didáticos em animais

(CARPENTER et al., 1991; BONELLA, 2009).

O emprego desse recurso permite a formação de banco de imagens de

procedimentos cirúrgicos, possibilitando a utilização independente da sua casuística

(TIELLET; LIMA; REATEGUI, 2008; COSTA NETO; MARTINS FILHO, 2009;

FARQUHARSON et al., 2013). Podem ser utilizados de diversas formas, dentre elas,

vídeo lição quando o vídeo é utilizado como ferramenta de aula expositiva e dispensa

a presença do professor; ou vídeo apoio, quando imagens veiculadas pelo vídeo são

empregadas para reforçar o discurso do professor ou dos alunos; vídeo interativo,

quando associado à outra mídia, na forma de informática interativa, por exemplo

(VICENTINI; DOMINGUES, 2008).

Desempenham importante papel como método alternativo a vivissecção, sendo

recurso de baixo custo, o que, para instituições com recursos financeiros limitados,

pode ser alternativa realista à dissecção e experimentação com animais,

especialmente quando combinados com outras abordagens visando os objetivos do

ensino (JUKES; CHIUIA, 2006).

As câmeras digitais, os recursos de animação, desenhos e simulações, bem

como as facilidades de edição não-linear, trouxeram novas possibilidades de

desenvolvimento de materiais audiovisuais, que, supostamente podem servir para

potencializar a aprendizagem por meio da visualização de conceitos complexos, da

interatividade e da motivação dos alunos, buscando assim, associar recursos e

linguagens de mídia às necessidades educacionais para o ensino presencial e a

distância (ZARO; TIMM, 2001 ; SCHNAID; SOUZA, 2003; CABRAL JUNIOR et al.,

2005).

Desenvolveram-se assim, os recursos multimídia ou sistemas educacionais

hipermídia, cujo objetivo para a transferência de informações, não é necessariamente

uma mudança de material, mas sim a reorganização do modo de apresentação. A

13

intenção é a de transmitir em um adequado período de tempo, informações

necessárias para satisfatória formação profissional, maximizando assim o

aprendizado (MEHRABI et al., 2000; FRANÇA et al., 2006).

Estas ferramentas auxiliam o processo de aprendizagem por organizar grandes

quantidades de informação de forma não-linear, as quais acessadas de acordo com

as experiências dos usuários, permite a construção do conhecimento respeitando a

capacidade de cada indivíduo. Resultam em formas de aprendizado mais atrativas

quando comparados aos métodos tradicionais de ensino (COSTA NETO; MARTINS

FILHO, 2010).

Com os atuais avanços tecnológicos, pode-se disponibilizar tais informações

na rede de alcance mundial – internet ou em mídias de armazenamento óptico de

dados (CD e DVD-ROMs), para que as mesmas sejam utilizadas pelo aluno em

qualquer horário e local, com total liberdade de revisão do assunto (ZUBAS; HEISS;

PEDERSEN, 2006; FONSECA et al., 2008; JENKINS et al., 2008).

Neste contexto a educação baseada na “Web” vem sendo frequentemente

requisitada por instituições de ensino, por permitir que a informação esteja agregada

a um único veículo (navegador web) e acessível a qualquer horário e momento que

for conveniente (GIGLIO, 2007; TIELLET; LIMA; REATEGUI, 2008; TIELLET, 2010)

A simulação envolve a reprodução de comportamento, fenômenos e sensações

que não estão acontecendo na realidade, estes são mediados por aparelhos e/ou

“softwares” cujo o objetivo é prever determinada situação sem oferecer risco ao

usuário. Recurso bastante utilizado e priorizado no treinamento de pilotos de

aeronaves por permitir maior segurança aos pilotos quando submetidos a situação

real (DE MONTBRUN; MACRAE, 2012).

Os simuladores tem sido empregados no ensino médico cirúrgico como

alternativa à dificuldade em utilização de cadáveres humanos e tem como objetivo

complementar a fase cognitiva do aprendizado permitindo que o aluno possa chegar

a fase de treinamento com o paciente, mais preparado e consciente acerca dos

instrumentais e do arsenal de técnicas que estão disponíveis (SOUSA; OKADA;

SUZUKI, 2011).

O uso de simuladores não influencia na aquisição de habilidades cirúrgicas

quando comparados com os métodos tradicionais de ensino, entretanto observa-se

maior sensação de confiança por parte dos alunos quando submetidos ao

procedimento real (SMEAK et al., 1994; SUTHERLAND et al., 2006). Dessa forma é

14

considerado alternativa segura para o desenvolvimento de habilidades, atendendo os

preceitos éticos e bem-estar animal (SCALESE; ISSENBERG, 2005)

A união dos simuladores com as redes sociais permitiu a formação de “mundos”

paralelos às realidades. O ambiente permite a troca de informações e sensações que

só seriam possíveis na vida real. Nestas plataformas o usuário assume uma

identidade, também conhecida como avatar, que permite sua visibilidade e interação

com os demais membros dessa comunidade. Essa tecnologia já está em uso para a

simulação de conferências médico-cirúrgicas com interatividade muito maior que uma

vídeo conferência (LEONG et al., 2008).

É possível também aliar esses ambientes virtuais aos jogos interativos e

educativos, assim como recriar ambientes acadêmicos e hospitalares, onde é possível

reproduzir grande diversidade de situações de atendimento clínico-cirúrgico que

ajudará na tomada de decisões quando posto em situações reais (DE BIE; LIPMAN,

2012; BALOGH, 2014).

3. Objetivos

3.1 Objetivo geral

Idealizar e desenvolver métodos alternativos que auxiliem e favoreçam o ensino

da disciplina Técnica Cirúrgica Veterinária, buscando a redução, a substituição do uso

de animais, ou ambos, assim como o aprimoramento técnico para o desenvolvimento

de práticas éticas voltadas ao bem-estar animal.

3.2 Objetivo específico

Idealizar e desenvolver recurso didático empregando o vídeo, na modalidade

de instrumento de apoio, para o ensino das técnicas assépticas da equipe cirúrgica.

Paralelamente avaliar o seu uso e eficácia pedagógica;

Idealizar e desenvolver recurso didático alternativo ao uso de animais destinado

ao ensino de técnicas assépticas relacionadas a preparação do campo operatório,

bem como avaliar seu uso e sua eficácia pedagógica;

15

Idealizar e desenvolver recurso didático alternativo ao uso de animais,

destinado ao ensino de técnicas hemostáticas. Paralelamente avaliar o seu uso e

eficácia pedagógica;

Idealizar e desenvolver recurso didático alternativo ao uso de animais,

destinado ao ensino da síntese dos tecidos particularmente relacionados aos padrões

de sutura, bem como avaliar seu uso e sua eficácia pedagógica.

16

4. Referências1

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17

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22

CAPÍTULO 2 - Uso do vídeo didático como instrumento para o ensino/

aprendizado da paramentação cirúrgica

Resumo

Os vídeos didáticos vêm sendo utilizados para reforçar o aprendizado em

diversas áreas de ensino notadamente para formação de indivíduos que necessitam

do desenvolvimento de habilidades práticas. Desta forma, objetivou-se desenvolver e

avaliar o uso do vídeo, como instrumento didático, para o ensino da assepsia -

paramentação cirúrgica. Respeitando-se a sistematização das condutas de um centro

cirúrgico padrão, foram elaborados e editados sete vídeos, tipo apoio, relacionados a

paramentação da equipe cirúrgica. O recurso didático sob a forma de vídeo apoio

(Grupo GVA) foi comparado ao método tradicional de ensino presencial (Grupo

GMTE) por meio de avaliação do desempenho de 65 e 28 alunos para cada grupo,

respectivamente. Ao analisar o desempenho dos alunos entre grupos, para o

procedimento de desinquinação das mãos e antebraços, os resultados indicaram que

o grupo GVA obteve desempenho 40% maior do que o grupo GMTE. Considerando-

se a execução de todas as etapas inerentes à paramentação, foi observado

incremento de desempenho dos alunos em aproximadamente 24% com a inclusão do

vídeo apoio, sem alterar o tempo de execução das atividades práticas. Conclui-se que

a implementação dos vídeos permitiu a consolidação do conhecimento de forma mais

efetiva e com diminuição do tempo de ensino de manobras básicas, o que tornou as

aulas mais dinâmicas mesmo com número maior de alunos. Adicionalmente a adoção

desta metodologia e tecnologia por centros de saúde e instituições de ensino poderá

proporcionar maior êxito no controle biológico de infecções.

Palavras Chaves: vídeo apoio; paramentação cirúrgica; metodologia de ensino

23

The use of vídeo as educational toll for surgical scrubbing in learning

Abstract

Educational videos are used to enhance learning in several areas of education

especially for individuals who need training in the development of practical skills. Thus,

the objective was to develop and evaluate the use of video as an educational support

tool applied to the teaching of Asepsis – Surgical Scrub.Obeying the systematization

of behaviors in a standard operating room, particularly related to the preparation of the

surgical team, were produced and edited seven support videos related to the scrubbing

of surgical team. The teaching resource in the form of support video (Group GVA) was

compared to the traditional method of classroom teaching (Group GMTE) by assessing

the performance of 65 and 28 Students for each group, respectively. Analyzing

intergroup progress of the Students for scrubbing procedure of hands and forearms,

results indicated that GVA group has an evolution 40% better than GMTE group.

Considering all procedures of scrubbing, an increment of 24% of Student´s progress

was noticed, only with inclusion of support video without changes in duration time of

practical activities. We conclude that the implementation of the videos allowed

consolidation of knowledge more effectively, decreasing time of learning basic

maneuvers which made classes most dynamic even with a greater number of

Students. The adoption of this technology by health centers and educational

institutions may provide greater success in the biological control of infections.

Keywords: support video; Scrubbing In; teaching methodology

24

1. Introdução

Com o avanço tecnológico, os recursos audiovisuais, particularmente os vídeos

didáticos, passaram a ser considerados viáveis para dinamizar as atividades

pedagógicas. Podendo ser usados de várias maneiras. Na modalidade de vídeo lição,

quando é considerado uma ferramenta de aula expositiva e substitui o professor.

Como vídeo apoio, quando imagens veiculadas pelo vídeo são empregadas para

reforçar o discurso do professor ou dos alunos. Vídeo interativo quando as imagens

são associadas à outra mídia, sob a forma de informática interativa, por exemplo. E

de forma monoconceitual, quando o vídeo gira em torno de um tema específico

(VICENTINI, DOMINGUES, 2008).

Os vídeos no ensino médico cirúrgico tem sido amplamente empregados para

demonstrar inúmeras manobras técnicas e procedimentos cirúrgicos

(FARQUHARSON et al., 2013), de maneira a evitar a repetição desnecessária de

procedimentos em animais (BALLS, 2009; BONELLA, 2009; TRÉZ, 2010). Além disso,

seu uso permite a formação de banco de imagens dos procedimentos cirúrgicos

possibilitando a utilização independente da sua casuística (TIELLET; LIMA;

REATEGUI, 2008; COSTA NETO; MARTINS FILHO, 2010; FARQUHARSON et al.,

2013).

O sucesso ou o infortúnio do ato operatório depende de vários fatores, dentre

os quais destaca-se o controle da infecção. A antissepsia cirúrgica é considerada

método eficaz na prevenção de infecções na ferida operatória. Entretanto, negligência

nestes procedimentos, em virtude de sua simplicidade na execução, permitem a

quebra da técnica asséptica, gerando altos índices de infecção pós-operatória

(GONÇALVES, GRAZIANO; KAWAGOE, 2012). Neste âmbito, as técnicas assépticas

aplicadas aos cirurgiões, auxiliares e volantes são fundamentais para o êxito da

cirurgia e consequentemente, extremamente relevantes na formação cirúrgica.

No aprendizado dos “Princípios da Assepsia Cirúrgica”, além de conceitos

básicos de higiene pessoal, são abordados conhecimentos de procedimentos técnicos

relacionados a antissepsia e ao emprego de vestuários e coberturas cirúrgicas

estéreis. Geralmente, tais conceitos, no método tradicional de ensino empregam o

modelo de aprendizagem observacional, conhecido como “ver, fazer e repetir”

(MATERA, 2008). A limitação do tempo destinado para desenvolvimento de aulas

práticas, o grande número de alunos e deficiências em equipamentos, muitas vezes,

25

são fatores impeditivos para o aprendizado e o para o ganho de habilidades,

particularmente sobre este tema. Desta forma, objetivou-se avaliar o uso do vídeo,

tipo apoio, como instrumento didático de suporte ao ensino da Assepsia -

Paramentação cirúrgica, comparando-o com o método tradicional de ensino.

2. Material e métodos

Para alcançar o objetivo proposto foram realizadas as seguintes etapas:

Levantamento Bibliográfico sobre os Princípios da Assepsia Cirúrgica; Adequação e

desenvolvimento de roteiro didático para elaboração e edição dos vídeos apoio;

Inclusão destes na disciplina de Técnica Cirúrgica Veterinária; Avaliação do

desempenho prático dos alunos; Coleta dos resultados e análise estatística.

2.1 Levantamento bibliográfico

Livros didáticos de Técnica Cirúrgica e publicações científicas na área foram

utilizados para abordagem da temática “Princípios da Assepsia Cirúrgica”. Os

assuntos envolvidos neste projeto foram: vestimentas e coberturas cirúrgicas; agentes

antissépticos; paramentação cirúrgica e controle de infecção hospitalar.

2.2 Adequação e desenvolvimento de roteiro didático

Os assuntos abordados foram roteirizados a partir da sistematização das

condutas de um centro cirúrgico padrão, particularmente relacionadas à preparação

da equipe cirúrgica preconizadas pela literatura consultada (VERWILGHEN et al.,

2011; DUARTE; LEITE, 2013; SCHULZ, 2013), e descritos no quadro abaixo (Quadro

1).

26

ETAPAS PROCEDIMENTOS

Vestimentas e coberturas cirúrgicas

Remoção de acessórios, substituição de roupas externas pelo pijama cirúrgico, colocação de gorro, máscaras e propés.

Preparação da pele da equipe cirúrgica

Desinquinação das unhas, mãos e antebraços pelas técnicas direta e alternada, enxague em fluxo de água, colocação de antisséptico tópico e secagem das áreas com toalha estéril

Proteção física da equipe cirúrgica

Vestimenta do avental cirúrgico e calçamento das luvas cirúrgicas pelas técnicas aberta, fechada e assistida

Quadro 1: Sistematização das etapas e descrição dos procedimentos empregados na paramentação cirúrgica. Fonte: Adaptado de Verwilghen et al. (2011); Schulz (2013) e Duarte; Leite (2013)

2.3 Elaboração dos vídeos apoio

Local e captura das imagens: As imagens, capturadas com o auxílio de câmera

digital1, foram obtidas nas instalações de um centro cirúrgico padrão com alunos

modelo (AM), respeitando-se roteiro pré-estabelecido e suas etapas. Na primeira

etapa o AM, após vestir o pijama cirúrgico, demonstrou a maneira correta de se

colocar: gorro ou touca; máscara cirúrgica e propé, todos de uso descartável2.

Na segunda etapa (preparação da pele da equipe cirúrgica), o AM demonstrou

nas pias de preparação cutânea as manobras relativas a desinquinação cirúrgica,

pelas técnicas direta e alternada. Seguiu-se o enxague das mãos e aplicação tópica

alcoólica de digluconato de clorexidina a 0,5%3 sobre as partes enxaguadas.

Na terceira etapa (Proteção física da equipe cirúrgica), o AM realizou a

secagem das mãos/antebraços e a vestimenta do avental cirúrgico4. Ato contínuo,

demonstrou os métodos exemplificados para o calçamento de luvas, a técnica aberta,

fechada e a assistida, o que compreendeu a finalização do procedimento de

paramentação cirúrgica.

1 NEX-1, Sony Electronics Inc, San Diego, USA 2 Descarpack, São Paulo – SP, Brazil 3 Marclorhex®, Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda, Itapira, SP, Brazil 4 Avental Cirúrgico Kimberly-Clark ref. 78012-00, Quality Central de Esterilização LTDA - Araçoiaba da Serra, SP, Brasil

27

2.4 Edição dos vídeos apoio

Para edição e adequação ao propósito pedagógico as gravações foram

encaminhadas para um microcomputador5, equipado com programa de editoração6

onde foram feitas a seleção, corte das cenas e produção do vídeo apoio, estes tinham

a duração máxima de 10 minutos cada. Também foi feita a eliminação do áudio,

controle de cores e saturação das imagens. Foram produzidos sete arquivos de vídeos

com formato Áudio Vídeo Interleave (AVI) em alta resolução com dimensões 720p

(1.280 x 720 pixels).

2.4.1 Vídeo 1 - Demonstração do processo de colocação de vestimenta e

coberturas cirúrgicas para ambiente de baixos índices de contaminação. As atividades

executadas foram remoção de acessórios como relógios, anéis, e brincos (Figura. 1A),

colocação da touca cirúrgica com a cobertura total dos cabelos (Figura. 1B), colocação

da máscara cirúrgica recobrindo boca e narinas, em sua totalidade (Figura. 1C) e o

calçamento dos pro-pés (Figura. 1D). O tempo de duração foi de 2,15 minutos.

2.4.2 Vídeo 2 - Execução da escarificação cirúrgica com utilização da técnica

direta. As manobras foram executadas empregando-se água corrente e

escova/esponja plástica com dupla face, embebida em solução degermante de

digluconato de clorexidina 0,5%, tendo início com o umedecimento das mãos e

antebraços (Figura 2A); aplicação do degermante tópico sobre as áreas de

desinquinação (Figura 2B); e por meio de movimentos sequenciados unidirecionais a

escovação das unhas (Figura 2C), faces dos dedos (Figura 2D); antebraços e

cotovelos (Figura 2E). Após a desinquinação ocorreu o enxague com água corrente

com inclinação dos antebraços (Figura 2F). O tempo total deste vídeo foi de 6,15 min.

5 Inspiron DT Série 3000, Dell Inc, Eldorado do Sul, RS, Brazil 6 Lightworks®, EditShare Incorporated, Boston, MA, EUA

28

Figura 1. Sequência de imagens estáticas extraídas do vídeo demonstrativo do procedimento

para a colocação dos equipamentos de proteção individual. Em A, remoção dos adereços; colocação da touca descartável (B); Aspecto final após a fixar o touca e máscara cirúrgica (C); e o calçamento do pro-pé com o ajuste na barra da calça (D).

29

Figura 2. Sequência de imagens estáticas extraídas do vídeo demonstrativo de

desinquinação cirúrgica. A- Umedecimento das mãos e antebraços; B- Aplicação do degermante tópico solução de Digliconato de Clorexidina 2% com tensoativos sobre as áreas de desinquinação; C, D e E – Manobras para escovação das unhas, mãos e antebraços. F- Enxague com água corrente com inclinação dos antebraços

30

2.4.3 Vídeo 3 - Apresentação da técnica alternada que divergiu da direta

apenas pela alternância entre desinquinação das duas mãos e depois a

desinquinação dos antebraços 7,02 min.

2.4.5 Vídeo 4 - Demonstração da técnica para secagem das mãos e colocação

do avental cirúrgico, com duração de 3,23 min. As etapas desenvolvidas foram o

fornecimento do kit cirúrgico por um auxiliar (Figura 3A), a secagem das mãos e

antebraços (Figura 3B); a colocação das mãos na manga do avental cirúrgico (Figura

3C e D) e o fechamento do avental com auxílio de um auxiliar (Figura 3 E e F)

2.4.6 Vídeos 5, 6 e 7 - As três maneiras para a colocação das luvas cirúrgicas

foram demonstradas nos vídeos 5, 6 e7 e foram consignadas como técnica aberta

(Figura 4A e B), fechada (Figura 4C e D) e assistida pelo auxiliar previamente

paramentado (Figura 4E e F). Estes vídeos tiveram tempo aproximado de 1,12; 2,05

e 1,25 min, respectivamente.

Os sete vídeos foram incorporados às aulas práticas da disciplina de Técnica

Cirúrgica Veterinária na Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da

Bahia para um público alvo formado por 93 alunos inscritos na disciplina nos

semestres 2013.2 e 2014.1, sendo 42 e 51 alunos, respectivamente.

2.5 Inclusão dos vídeos apoio na disciplina de técnica cirúrgica veterinária

A cada semestre havia a formação de dois grupos para realização da atividade

prática. No primeiro grupo o docente realizou a explanação simultânea a

demonstração prática do procedimento de paramentação denominado Grupo Aula

Professor (GAP) (Figura 5A). No segundo grupo a explanação foi realizada de forma

interativa alternando entre a demonstração prática, a explanação textual e a exibição

do vídeo apoio de cada etapa da paramentação, pausando-se, adiantando-se ou

retrocedendo-se a cena, em tempo real, de acordo com a necessidade (Figura 5B)

31

Figura 3. Sequência de imagens estáticas extraidas do vídeo demonstrativo da secagem

das mãos e antebraços e colocação do avental cirúrgico. Em A, Abertura e entrega do kit cirúrgico; Secagem das mãos (B); Colocação das mãos e manobra para o desdobramento do avental (C e D) e a assistência do auxiliar no fechamento do avental cirúrgico (E e F)

32

Figura 4. Sequência de imagens estáticas extraídas do vídeo demonstrativo das três

técnicas de colocação de luvas cirúrgicas. Em (A e B) demonstração do Método Aberto, (C e D) Método Fechado; Calçamento das luvas assistido (E e F).

33

Figura 5. Imagem fotográfica de aula demonstrativa de paramentação cirúrgica para os

alunos da disciplina de Técnica Cirúrgica Veterinária na Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia. Em A: Grupo Aula Professor e em B: Grupo Vídeo Apoio.

34

2.6 Treinamento dos alunos

Foram realizadas duas aulas práticas, com intervalo de sete dias entre elas

para o treinamento dos alunos. Em cada aula os mesmos foram subdivididos em

duplas e assim executaram as manobras relativas à paramentação cirúrgica. No GAP

os alunos executaram o procedimento de paramentação com intervenção do

professor, apenas quando realizavam alguma manobra inadequada ou quebra da

técnica. Já os alunos do GVA antes de iniciarem o treinamento prático assistiram ao

vídeo apoio novamente e tiveram livre acesso a este a qualquer momento durante o

exercício de paramentação. Em adição também tiveram a intervenção do professor

quando realizavam alguma manobra inadequada ou quebra da técnica à similitude do

GAP.

2.7 Avaliação do desempenho prático dos alunos.

Uma semana após a última atividade prática de treinamento todos os alunos

dos dois grupos executaram os procedimentos relacionados a paramentação cirúrgica

e foram avaliados nas seguintes etapas: colocação de EPI´s (equipamentos de

proteção individual), desinquinação cirúrgica, calçamento de aventais e luvas

cirúrgicas. Todas as atividades foram registradas por softwares de vigilância adaptado

para esse propósito.

O sistema de captura foi formado por cinco webcam7 que foram instaladas e

distribuídas em setores do centro cirúrgico de forma a permitirem ampla observação

dos procedimentos (Figura 6).

Todas as câmeras foram conectadas a um microcomputador e para o

gerenciamento destas, foi utilizado o software próprio (Figura 7A). Esse sistema gerou

quatro arquivos de vídeo, no formato Áudio Vídeo Interleaved (AVI), para cada aluno

(Figura 7B).

7 Vision WC044, Multilaser, Jardim Paulistano, SP, Brazil

35

Figura 6. Representação esquemática do posicionamento de cada webcam e as etapas do

circuito destinadas a paramentação cirúrgica

36

Figura 7. Notar em A microcomputador com programa de gerenciamento de webcams em

funcionamento. Em B, observar macrofotografias obtidas pelo programa de gerenciamento das webcams com exemplificação de algumas da etapas de paramentação avaliadas.

37

2.8 Coleta dos resultados e análise estatística

Os arquivos de vídeo relativos a todas as etapas executadas pelos alunos

foram avaliados pelo professor com auxílio de lista de checagem (Figura 8), que era

marcada a medida que o aluno executava a manobra corretamente. O número total

de acertos eram 32 e estes foram convertidos numa nota utilizando regra de três

simples.

As notas variaram de zero a dez. Sendo considerado zero quando o aluno não

conseguiu cumprir corretamente nenhuma das etapas estabelecidas na listagem e a

nota máxima quando o mesmo concluiu todas as atividades sem erros. O intervalo de

tempo foi cronometrado do início da atividade até o momento em que o aluno

declarava como encerrada a atividade prática.

Os dados foram encaminhados para o tratamento estatístico e verificação de

normalidade com a utilização do teste de Shapiro-Wilk. Para a comparação entre os

grupos foi utilizado o teste estatístico de Mann Whitney para dados não pareados. O

nível de significância adotado foi de 5%.

38

Quadro 2. Relação de itens empregados para avaliação da prática de paramentação cirúrgica

aos alunos da disciplina de técnica cirúrgica veterinária da Universidade Federal da Bahia.

39

3. Resultados

Os vídeos resultantes tiveram imagens com boa qualidade utilizando

equipamentos de médio porte (semi-profissional).

O programa de edição utilizado possui versão de distribuição livre com diversos

tutoriais para seu uso disponíveis na internet.

A duração dos vídeos desenvolvidos, em número de sete, foram inferiores a 10

minutos (Tabela 01) e o tempo total para sua exibição durante a explanação do

docente foi de aproximadamente 23 min.

Tabela 01. Relação de vídeos produzidos sobre paramentação cirúrgica, tempo de reprodução individual e total.

ETAPAS TEMPO (min) Colocação das vestimentas e coberturas cirúrgicas 2,13 Preparação da pele da equipe cirúrgica Técnica direta 6,15 Técnica alternada 7,02 Secagem das mãos/antebraços e colocação do

avental cirúrgico 3,23

Calçamento das luvas cirúrgicas Técnica Aberta 1,12 Técnica Fechada 2,05 Técnica Assistida 1,25

A adaptação do software de vigilância permitiu a captura de imagens das cinco

câmeras simultaneamente e o registro das atividades para avaliação posterior pelo

docente. O uso deste software permitiu a visibilização sincronizada de dois alunos por

procedimento em cada etapa de avaliação e tal fato não impediu a dinâmica normal

da aula prática.

Ao analisar as notas e desempenho para o procedimento de escovação das

mãos e antebraços foi observado diferença significativa com relação ao desempenho

mediano (± semi intervalo entre quartil) obtidas em cada grupo (p<0,001). Os grupos

atingiram as seguintes notas 6,82 (± 0,68) e 9,54 (± 0,45) para os grupos GAP e GAV,

respectivamente. Tal resultado indicou que a inclusão dos vídeos nas aulas práticas

gerou incremento de aproximadamente 40% nos valores medianos apresentados pelo

grupo tradicional de ensino.

40

Com relação ao tempo de execução do procedimento de escovação das mãos

e antebraços não houve diferença significativa entre os grupos (p-value=0,83) o tempo

mediano para esta atividade foi de 6,65 (± 0,50) minutos.

O mesmo padrão se repete ao analisar todas as etapas relacionadas a

desinquinação, calçamento do avental cirúrgico e luvas. O que indica superioridade

representativa e significante (p<0,001) entre o GAV com desempenho mediano de

9,39 ± 0,30 comparativamente a 7,58 ± 0,61 obtido pelo GAP. Em relação aos tempos

totais de execução não foram encontradas diferenças significativas (p= 0,1119), o

tempo mediano para esta atividade foi de 9,83 (± 0,68) minutos.

Em aspectos gerais foi observado incremento de desempenho dos alunos em

aproximadamente 24% com a inclusão do vídeo apoio sem alterar o tempo de

execução das atividades práticas.

4. Discussão

O vídeo é uma das tecnologias que mais tem se destacado nos últimos anos.

Embora seja de fácil elaboração, ainda é pouco empregado como recurso didático

(VICENTINI; DOMINGUES, 2008). Desta forma, a comparação entre métodos de

ensino forneceu informações para nortear seu uso e fundamentar sua aplicação em

outras práticas e áreas de ensino.

A diversidade e a complexidade do conhecimento cirúrgico requerem

orientação direcionada ao ensino por meio de meios inovadores para a transferência

de conteúdo (CAMPOS; ROCHA, 1996; MEHRABI et al., 2000). A intenção deve ser

a de transmitir em adequado período de tempo, informações necessárias para a

satisfatória formação profissional, maximizando, assim o aprendizado. Com esse

intuito, baseando-se nos princípios dos “3Rs” (BALLS, 2009), particularmente no

"refinement" (aprimoramento), buscou-se como uso do vídeo, maximizar o

aprendizado do aluno, que bem treinado, executará corretamente as manobras

quando da realização de procedimentos cirúrgicos, minimizando assim, os riscos ao

paciente. Ressalta-se que essas novas tecnologias são desenvolvidas para

complementar e não substituir a educação tradicional preservando-se os valores dos

métodos de ensino, com a máxima oportunidade de inovação (BUYUKMIHCI, 2007).

Com a popularização da internet e das máquinas digitais e “smartphones”, os

recursos audiovisuais passaram a ser considerados uma opção viável para dinamizar

41

as atividades didático-pedagógicas. Os custos de produção, outrora considerados

dispendiosos, particularmente para instituições públicas de ensino, tornaram-se

acessíveis. Com adequado planejamento pedagógico e financeiro foi possível

desenvolver os vídeos didáticos empregados neste estudo, praticamente sem custos

e mão de obra especializada, para tanto empregamos software e tutoriais específicos

para edição de vídeos que estão disponíveis para “download” na internet de forma

gratuita.

A utilização de vídeo apoio com áudio suprimido permitiu a perfeita visibilização

e a compreensão das manobras inerentes ao tema. A possibilidade de se pausar,

adiantar ou retroceder a cena em tempo real, mediado pelo docente, e do aluno

realizar a mesma manobra sequencialmente, favoreceu o melhor entendimento das

técnicas e permitiu o desenvolvimento de habilidades, até que se adquirisse

satisfatória destreza manual (COSTA NETO; MARTINS FILHO, 2010). A

repetitividade de uma manobra técnica eleva a carga cognitiva e consolida a

informação (MATERA, 2008; FARQUHARSON et al., 2013).

Os vídeos têm se mostrado viáveis no desenvolvimento de habilidades por

permitir o feedback positivo, favorecendo a construção do conhecimento. A partir das

visibilizações repetitivas, o aluno pode analisar os momentos passíveis de erro e

corrigi-los na próxima tentativa. A implementação dos vídeos, tipo apoio, permitiu a

consolidação do conhecimento de forma mais efetiva quando comparado ao sistema

tradicional de ensino (FARQUHARSON et al., 2013), fato este verificado pelo

incremento em aproximadamente 40% nos valores medianos apresentados quando

comparado o GVA ao GMTE.

O tempo destinado ao procedimento de desinquinação das mãos e antebraço

é de suma importância no controle da infecção do sítio cirúrgico, neste estudo, esta

atividade para ambos os grupos foi superior ao tempo médio de cinco minutos

preconizados por Verwilghen et al. (2011).

Dificuldades em equalizar o ensino do conteúdo teórico e a posterior aplicação

prática em virtude do número limitado de carga horária destinado a disciplina são

fatores comumente notados pelos docentes (BUYUKMIHCI, 2007; MEHRABI et al.,

2000). A inclusão dos vídeos na disciplina permitiu a diminuição do tempo no ensino

das manobras básicas o que tornou as aulas mais dinâmicas mesmo com um número

maior de alunos. Vídeos complementares as aulas vem sendo cada vez mais

utilizados pelos docentes objetivando o reforço no aprendizado. A possibilidade de

42

rever os procedimentos permite a retroação baseada no construtivo pedagógico dos

alunos e por conseguinte consolidação do conteúdo. O uso de vídeos didáticos

complementares ao ensino da paramentação cirúrgica mostrou-se uma estratégia

didática eficaz gerando incremento significativo no desempenho dos alunos, sem

influenciar no tempo destinado a execução das práticas.

5. Conclusão

A implementação dos vídeos nas aulas tradicionais permitiu a consolidação do

conhecimento de forma mais efetiva e com diminuição do tempo de ensino das

manobras básicas o que tornou as aulas mais dinâmicas mesmo com grande número

de alunos.

Agradecimento

O presente trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo

Brasileiro voltada para a formação de recursos humanos

43

6. Referências

BALLS, M. The origins and early days of the Three Rs concept. Alternatives to laboratory animals (ATLA), London, v. 37, n. 3, p. 255–65, 2009.

BONELLA, A. E. Animais em laboratórios e a lei Arouca. Scientiae Studia, São Paulo, v. 7, n. 3, p. 507–514, 2009.

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CAMPOS, G. H. B.; ROCHA, A. R. C. Dez etapas para o desenvolvimento desoftware educacional do tipo hipermídia. In: CONGRESSOIBERAMERICANO DE INFORMATICA EDUCATIVA, 3., 1996, Barranquilla. Anais eletrônicos... Barranquilla: Rede Iberoamericana de Informática Educativa – RiBiE,1996. Disponível em: <http://lsm.dei.uc.pt/ribie/pt/textos/doc.asp ?txtid=35>.

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GONÇALVES, K. de J.; GRAZIANO, K. U.; KAWAGOE, J. Y. Revisão sistemática sobre antissepsia cirúrgica das mãos com preparação alcoólica em comparação aos produtos tradicionais. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 46, n. 6, 2012.

MATERA, J. M. O ensino de cirurgia: da teoria à prática. Ciência Veterinária nos Trópicos, Recife, v. 11, n. 1, p. 96–101, 2008. Suplemento

MEHRABI, A.; GLÜCKSTEIN, C.; BENNER, A.; HASHEMI, B.; HERFARTH, C.; KALLINOWSKI, F. A new way for surgical education--development and evaluation of a computer-based training module. Computers in biology and medicine, Elmsford, v. 30, n. 2, p. 97–109, 2000.

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44

TRÉZ, T. DE A. E. Refining animal experiments: the first Brazilian regulation on animal experimentation. Alternatives to laboratory animals (ATLA), London, v. 38, n. 3, p. 239–44, 2010.

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VICENTINI, G. W.; DOMINGUES, M. J. C. DE S. O uso do vídeo como instrumento didático e educativo em sala de aula. Encontro anual da Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração. 19. 2008, Curitiba. Anais... Curitiba: Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração – ANGRAD, 2008. Disponível em: <http://home.furb.br/mariadomingues/artigos/article_443.pdf>.

45

CAPÍTULO 3 - Simulador aplicado ao ensino da técnica cirúrgica veterinária -

antissepsia e preparação do campo operatório

Resumo

No exercício da docência e diante da necessidade de transmissão de

conhecimentos e treinamento prático sobre o tema “assepsia cirúrgica”, buscamos

desenvolver um simulador que substituísse o uso de animais e que permitisse a

aquisição de habilidades e os conhecimentos práticos necessários para a condução

de manobras assépticas em procedimentos cirúrgicos reais, minimizando assim o

risco operatório, e consequentemente o refinamento em procedimentos cirúrgicos

posteriores. Este trabalho descreve a utilização do simulador cujo público-alvo foram

alunos de graduação da Disciplina Técnica Cirúrgica do Curso Medicina Veterinária

da Universidade Federal da Bahia. Conclui-se que o simulador apresentado, ao tempo

que substitui o uso de animais, promove o adequado suporte para o ensino e

treinamento das técnicas de antissepsia e preparação do campo operatório,

colaborando com o desenvolvimento de habilidades cirúrgicas e sedimentação do

conhecimento.

Palavras chave: métodos alternativos, cirurgia, ensino

46

Simulator applied to the teaching of veterinary surgical technique - Antisepsis

and preparation of the operative field

Abstract

In the teaching profession and of the necessity of imparting knowledge and

practical training on the topic “surgical asepsis”, we develop a simulator to replace

animal use and to allow the acquisition of practical skills and knowledge required to

conduct maneuvers in surgical procedures aseptic real, thus minimizing the operative

risk, and subsequently. The present study describes and evaluate the use of an

alternative method as an educational tool for veterinary graduate Students at Federal

University of Bahia. It follows that simulation shown, the time to replace the use of

animals, promotes adequate support for teaching and training of antisepsis techniques

and preparation of the operative field, collaborating with the development of surgical

skills and knowledge consolidation. Additionally, it provides the further improvement of

the surgical procedure used in subject animals.

Keywords: alternative methods, surgery, education.

47

1. Introdução

As infecções hospitalares representam sério problema para a saúde pública,

sendo indicado como um dos fatores responsáveis pelo aumento das taxas de

morbidade e mortalidade entre os pacientes, bem como pela elevação dos custos

operacionais. Não obstante, na Medicina Veterinária, embora existam poucas

evidências científicas sobre o problema, acredita-se que a ocorrência da infecção

hospitalar seja representativa, culminando com graves consequências ao paciente e

ao seu bem-estar, acarretando aos proprietários sérios danos psicológicos e

financeiros (BRAGA, 2008).

Durante o procedimento cirúrgico perde-se a superfície da pele, barreira

importante contra infecções e doenças. Sua remoção favorece a invasão imediata de

microrganismos nos tecidos internos e a subsequente proliferação. Dentre as técnicas

assépticas que visam minimizar os fatores de risco inerentes ao ato operatório,

destacam-se a preparação do paciente e do campo operatório, este conjunto de

manobras e métodos quando efetuados corretamente, reduzem consideravelmente o

risco da infecção cirúrgica (SCHULZ, 2013; FOSSUM, 2013 a, b).

A formação cirúrgica bem fundamentada, alicerçada na boa conceituação

teórica e no desenvolvimento de competências psicomotoras contribui para a correta

execução de diversas manobras, minimizando assim os riscos operatórios. Em geral,

essas competências são adquiridas por tentativa e erro, em procedimentos cirúrgicos

experimentais em animais vivos (SMEAK, 2006). Entretanto, a aquisição de

habilidades por meio da vivissecção, além de questionáveis, vão de encontro com os

modernos conceitos de bem estar animal e, pouco a pouco, vem sendo

desestimuladas (COSTA NETO; MARTINS FILHO, 2010).

Atividades com recursos substitutivos permite, ao aluno, o conhecimento e a

capacidade essenciais para a condução do procedimento cirúrgico, sem a

necessidade do emprego de animais como recurso didático para esta formação

(COSTA NETO; MARTINS FILHO, 2010). Tal prática favorece o aprendizado e resulta

no aumento da autoconfiança do cirurgião iniciante (SMEAK, 2006).

A maioria dos recursos didáticos alternativos propostos para o ensino da

técnica cirúrgica, frequentemente abordam as fases fundamentais da cirurgia, onde

mimetizam situações necessárias à diérese, hemostasia e síntese, destacando-se a

utilização de sistemas educacionais hipermídia (COSTA NETO; MARTINS FILHO,

48

2010), órgãos e tecidos obtidos em matadouros (BUYUKMIHCI, 2007; TUDURY;

POTIER, 2008) manequins anatômicos em resina emborrachada (1RNET, 2011),

artefatos confeccionados a partir de espuma, látex e outros materiais sintéticos

(EBRAM NETO et al., 1998; ANDRADE, 2009; 1RNET, 2011) e modelos substitutivos

para treinamento de hemostasia cirúrgica (LIMA, 2011).

Descreve-se também a utilização de cadáveres quimicamente preservados que

adicionalmente permitem a execução de manobras assépticas, anteriores a execução

do procedimento cirúrgico (MATERA, 2008). Além desse, não foi encontrado

referências sobre o emprego de recursos alternativos para o ensino de quaisquer

manobras destinadas a preparação do campo operatório. Por conseguinte, este

trabalho teve como objetivo descrever a utilização de simulador para o ensino de

técnicas assépticas destinadas a preparação do campo operatório, bem como avaliar

sua eficácia como instrumento pedagógico para alunos de graduação em Medicina

Veterinária.

2. Material e métodos

O simulador apresentado, resultado de pesquisas que envolveram a

elaboração de vários protótipos, foi constituído por dois artefatos: o primeiro formado

por um manequim confeccionado a partir de courvin couríssimo1, espuma laminada

de poliuretano2 e pelúcia marrom3, mimetizou o tronco de um cão posicionado em

decúbito dorsal, com um membro torácico articulado.

O segundo, confeccionado a partir de courvin couríssimo, emborrachado

escolar colorido 48 x 40cm de EVA4 e tecido verde em brim Solasol®5, simulou um

campo operatório com cobertura cirúrgica de laparotomia (panos de campo principais)

e incisão dérmica com exposição do tecido celular subcutâneo e linha alba.

Para avaliar o desempenho e os índices de aceitação do recurso alternativo foi

necessário a sua implantação na disciplina de Técnica Cirúrgica Veterinária da Escola

de Medicina de Veterinária da Universidade Federal da Bahia, envolvendo um total de

1 Courvin Couríssimo Bege Oceano C 213, Espumabraz, Diadema - SP 2 Espuma laminada D33 - PVTEC Indústria e Comércio de Polímeros - Nova Veneza - SP 3 Velboa coloração Marron 3mm – Pele Bell - São Paulo - SP 4 Placas de EVA (Etil Vinil Acetato) liso coloração bege pele – EVAMAX - Ouro Fino - MG 5 Tecido sarjado Solasol® REF: 5005 coloração n.616 – Santista Textil – Concórdia - SC

49

93 alunos inscritos na disciplina nos semestres 2013.2 e 2014.1, sendo 42 e 51 alunos,

respectivamente.

Após a finalização do conteúdo teórico sobre o tema “Princípios da Assepsia

Cirúrgica” os alunos foram submetidos à aula prática empregando-se o simulador para

ensino, treinamento e aprendizagem da preparação do campo operatório, tendo-se

como referência procedimentos cirúrgicos como laparotomia e artrotomia úmero-

rádio-ulnar.

Para aprendizagem dos métodos de assepsia cirúrgica, os manequins foram

colocados em duas mesas dispostas paralelamente em sala cirúrgica. Duas duplas

de alunos, devidamente paramentados, iniciaram o treinamento exercendo as funções

de cirurgião e auxiliar, e alternando-se entre os dois manequins, simulando os

procedimentos cirúrgicos anteriormente citados, sob supervisão do professor e de

monitores da disciplina. O monitor presente, fazia o papel de instrumentador da equipe

cirúrgica.

No primeiro manequim, mimetizando uma laparotomia mediana ventral,

executaram a preparação cirúrgica da pele da região abdominal ventral (Figura 1A e

B) através dos métodos: paralelo, escama de peixe e circular. Após a antissepsia,

realizaram a aplicação de coberturas cirúrgicas (Figura 1C e D). Em seguida passaram

para o segundo simulador, onde executaram a colocação dos panos acessórios

(Figura 1E e F).

Ato contínuo retornaram ao primeiro manequim e simularam a preparação do

membro torácico para cirurgia asséptica, tendo-se como base uma artrotomia úmero-

rádio-ulnar (Figura 2). Todos os integrantes, utilizando-se da alternância de funções,

realizaram os procedimentos técnicos, sendo continuamente supervisionados pelo

docente e monitores.

50

Figura 1. Imagens fotográficas do simulador aplicado ao ensino da técnica cirúrgica veterinária

antissepsia e preparação do campo operatório. Em A, manequim mimetizando um cão posicionado em decúbito dorsal, com um membro torácico articulado. Em B, antissepsia do abdome ventral. Em C e D colocação da cobertura cirúrgica para laparotomia (panos de campo principais). Em E, simulador mimetizando campo operatório com cobertura cirúrgica para laparotomia e incisão dérmica com exposição do tecido celular subcutâneo e linha alba, para execução da colocação dos panos acessórios, em F.

51

Figura 2.Simulador aplicado ao ensino da técnica cirúrgica veterinária – Antissepsia e preparação

do campo operatório. Em A e B, antissepsia do membro torácico esquerdo. Em C, colocação de cobertura cirúrgica (malha tubular) da extremidade do membro. Em D, E e F, colocação da cobertura cirúrgica (panos de campo principais).

52

Foram realizadas duas aulas práticas, com intervalo de sete dias entre elas

para o treinamento dos alunos. Uma semana após a última atividade prática, os alunos

executaram os procedimentos relacionados as técnicas de antissepsia e foram

avaliados nas seguintes etapas: manipulação e apresentação da pinça de Sheron e

pinças de Backhaus, antissepsia do abdome ventral, colocação da cobertura cirúrgica

para laparotomia (panos de campo principais), colocação dos panos acessórios,

antissepsia do membro, colocação de cobertura cirúrgica (malha tubular) na

extremidade do membro, colocação da cobertura cirúrgica (panos de campo

principais). Todas as atividades foram registradas por “softwares” de vigilância

adaptado para esse propósito.

O sistema de captura foi formado por duas webcams6 que foram instaladas

focalizando os alunos e cada uma das mesas onde foram instalados os mimetizadores

de tecidos, de forma a permitirem ampla observação dos procedimentos.

As câmeras foram conectadas a um microcomputador7 e para o gerenciamento

destas, foi utilizado o “software”8 próprio. Esse sistema gerou quatro arquivos de

vídeo, no formato Áudio Vídeo Interleaved (AVI), para cada aluno.

Os arquivos de vídeo relativos a todas as etapas executadas pelos alunos

foram avaliados pelo professor com auxílio de lista de checagem (Figura 3), que era

marcada a medida que o aluno executava a manobra corretamente. Os números totais

de acertos foram convertidos numa nota utilizando uma regra de três simples. As notas

variaram de zero a dez. Sendo considerado zero quando o aluno não conseguiu

cumprir corretamente nenhuma das etapas estabelecidas na listagem e a nota

máxima quando o mesmo concluiu todas as atividades sem erros. O intervalo de

tempo foi cronometrado do início da atividade até o momento em que o aluno

declarava como encerrada a atividade prática.

Foram computadas todas as notas e verificadas as porcentagens de erros e

acertos, levando-se em conta a média acadêmica de sete pontos (7,0), mínima

necessária para aprovação na disciplina.

6 Vision WC044, Multilaser, Jardim Paulistano, SP, Brazil 7 Inspiron DT Série 3000, Dell Inc, Eldorado do Sul, RS, Brasil 8 Active WebCam Vídeo Surveillance® v.11.4, PY Software, Etobicoke, Canada

53

Quadro 1. Relação de itens empregados para avaliação da prática de preparação do

campo operatório aos alunos da disciplina de técnica cirúrgica veterinária da Universidade Federal da Bahia

Os dados foram encaminhados para o tratamento estatístico e verificação de

normalidade com a utilização do teste de Shapiro-Wilk. A média alcançada pelo grupo

de alunos submetido ao treinamento com o simulador foi comparada com a nota valor

mínima para aprovação na disciplina utilizando o teste “t” de Student para uma

amostra.

54

Após a conclusão do treinamento, os alunos foram solicitados a preencher o

formulário para avaliação subjetiva do recurso alternativo (Figura 4) em questão

utilizando a escala de resposta psicométrica tipo Likert proposta por Roberts e

Bilderback (1980), objetivando verificar o índice de satisfação do usuário em relação

ao recurso alternativo, considerando aspectos relacionados ao emprego do recurso

substitutivo, a execução das manobras cirúrgicas e quanto ao desenvolvimento das

habilidades psicomotoras com o uso do simulador. A coleta de dados se baseou nos

conceitos atribuídos pelos usuários (discordo plenamente, discordo, não discordo e

nem concordo, concordo, concordo plenamente / ótimo, muito bom, bom, regular,

ruim).

As variáveis qualitativas coletadas foram encaminhadas para o tratamento

estatístico descritivo onde foram analisados os índices de aceitação e rejeição do

método proposto, em concordância com a metodologia proposta por Goldenberg

(2004) para elaboração de pesquisas qualitativas.

Quadro 2 Questionário de análises psicométricas para avaliação dos índices de

aceitação quanto à apresentação e o desenvolvimento das habilidades psicomotoras durante o manuseio do manequim.

55

3. Resultados e discussão

A preparação do campo operatório, assim como o controle micro bacteriano

durante o transoperatório são fatores considerados essenciais para o bom

desempenho cirúrgico, pois é notório saber que a exposição percutânea inadequada,

tanto da equipe cirúrgica quanto do paciente, favorece a ocorrência de invasão

bacteriana e propicia a infecção.

A utilização de cadáveres quimicamente preservados, como descrito por

Guimarães da Silva, Matera e Ribeiro (2004) embora seja considerado excelente

método de ensino para a prática cirúrgica, possui logística complexa que muitas vezes

inviabiliza seu uso, a exemplo da obtenção e origem dos cadáveres, custos dos

fármacos e solução fixadora e infra-estrutura para criopreservação e estocagem dos

mesmos.

Tradicionalmente, o adestramento cirúrgico das manobras inerentes a

preparação do paciente e campo operatório tem sido realizado por meio do método

de tentativa e erro, em procedimentos cirúrgicos reais, conforme preconizam Conforti

e Magalhães (1983) e Marques (2005). Tais práticas, podem refletir negativamente no

desempenho cirúrgico e trazer riscos ao paciente, uma vez que as falhas cometidas

nesta fase, podem favorecer a infecção cirúrgica. De acordo com os atuais conceitos

de ética e bem estar animal, os métodos de ensino tradicionais que empregam a

vivissecção como ferramenta pedagógica para a aquisição de competências cirúrgicas

são questionáveis e prejudicam a formação do aluno (GREIF; TRÉZ, 2000).

No exercício da docência e diante da necessidade de transmissão de

conhecimentos e treinamento prático sobre o tema “assepsia cirúrgica”;

fundamentados na doutrina dos 3R’s que evocam a substituição, a redução de animais

e o refinamento de técnicas de experimentação (PAIXÃO, 2001), buscou-se

desenvolver um simulador que substituísse o uso de animais e que permitisse a

aquisição de habilidades e os conhecimentos práticos necessários para a condução

de manobras assépticas em procedimentos cirúrgicos reais, minimizando assim o

risco operatório, e consequentemente o refinamento do procedimento posteriormente

empregado no animal de experimentação.

Um dos principais desafios para criação e emprego de métodos alternativos

para o ensino da cirurgia, além do adequado planejamento educacional, é conseguir

56

simular artificialmente situações próprias de um procedimento cirúrgico (MARTINS

FILHO, 2010). Dessa forma, consideramos o êxito do simulador apresentado, pois o

mesmo mimetizou adequadamente o paciente e o campo cirúrgico.

Da maneira que foi empregado, possibilitou de forma verosímil a execução das

mais variadas manobras de antissepsia e de preparação do campo operatório,

permitindo a adequada sistemática de trabalho de um procedimento cirúrgico e a

percepção espacial do aluno no ambiente, além da consolidação do conhecimento

teórico-prático.

Assim como também empregado por Silva, Matera, Ribeiro (2004), quando

empregaram cadáveres quimicamente preservados com esta finalidade, buscou-se

maior realismo e assimilação de conceitos, associando-se ao exercício protocolos

assépticos relacionados a paramentação e condutas da equipe cirúrgica que

permitiram aos acadêmicos a confluência de práticas.

Diante da impossibilidade, por razões éticas, de se efetuar estudo comparativo

com método tradicional de ensino, empregando-se a vivissecção (MARQUES, 2005),

adotou-se a combinação de aspectos qualitativos e quantitativos para

desenvolvimento da metodologia e da avaliação do aprendizado.

A metodologia desenvolvida para este estudo mostrou-se satisfatória, mesmo

sendo empregada para significativo número de alunos (média de 46 alunos por turma).

Distribuídos em duplas, quatro alunos alternando o uso dos manequins, puderam

executar em tempo hábil, o treinamento, podendo desenvolver tanto manobras de

responsabilidade do cirurgião, como aquelas inerentes ao auxiliar. A manipulação de

instrumentos, o emprego de coberturas cirúrgicas, a percepção espacial e o

sincronismo de ações entre membros da equipe cirúrgica pode ser empreendido

repetidas vezes, até a total destreza das técnicas exercitadas.

No caso de falhas técnicas, o aluno teve possibilidade de repetir o exercício até

o perfeito domínio da técnica, igualmente ao observado por Silva, Matera, Ribeiro

(2004) quando empregaram cadáveres conservados em solução modificada de

Larsen para o treinamento de diversas técnicas cirúrgicas especializadas. Esse perfil

qualitativo baseia-se nos princípios psicopedagógicos, particularmente relacionados à

psicologia cognitiva, da qual faz parte a filosofia construtivista, citada por Pusic (2007)

e que se caracteriza pela atividade exploratória, onde o usuário passa a construir seu

conhecimento, interagindo com o material a ser aprendido, compreendendo-o ao invés

de memorizá-lo.

57

Para a avaliação do aprendizado, conforme recomendou Darsie (1996),

buscou-se implementar uma metodologia que levasse o aluno angariar a consciência

do próprio processo de aprendizagem, e a partir dessa aquisição de consciência, a

possibilidade de avançar nesse processo. Para tanto, a captura e o registro das

imagens do adestramento cirúrgico, foram fundamentais. As imagens captadas pelas

“webcams” e registradas pelo “software” de vigilância permitiram a visibilização

sincronizada dos alunos e dos respectivos procedimentos.

O registro das imagens obtidas durante a realização do adestramento cirúrgico,

além de não interferir na dinâmica da aula, possibilitou a precisa avaliação quantitativa

do aprendizado por meio da contagem de pontos relacionados aos erros e acertos

cometidos e posterior expressão desses acertos em forma de notas. Sabe-se que

quando se registra, em forma de nota, o resultado obtido pelo aluno, fragmenta-

se o processo de avaliação e introduz-se a burocratização que leva à perda do

sentido do processo e da dinâmica da aprendizagem (WACHOWIZ; ROMANOWSKI,

2002), porém diante da impossibilidade de estudo comparativo, essa forma de

avaliação, complementada pela análise qualitativa, mostrou-se suficientemente

adequada, para a finalidade proposta, pois foi associada a análise qualitativa.

Quase a totalidade dos alunos (99%) atingiram, nos dois semestres analisados,

média superior a média acadêmica para aprovação. Nos semestres 2013.2 e 2014.1

as médias das notas foram semelhantes, de 9,28 e 9,32 respectivamente (Tabela 01).

Desta forma, pode-se concluir, após avaliação com essa intencionalidade, que o aluno

com nota superior a esta, está perfeitamente apto para execução das manobras.

58

Tabela 1. Comparação das médias entre os semestres em função da média mínima (7,0) para aprovação na disciplina técnica cirúrgica veterinária com relação a preparação do campo operatório principal – acessório - ortopédico

Média IC 95% p-value

Semestre 2013.2 9,28* 8,98 - 9,59 < 0,0001

Semestre 2014.1 9,32* 9,06 - 9,59 < 0,0001

* Diferenças significativas aplicando teste “t” de Student para uma amostra – Nível de significância 5%; IC 95% - Intervalo de confiança com 95%

Neste estudo, apenas um aluno não alcançou a média acadêmica, tendo obtido

a nota seis (6,0). Averiguado o fato, constatou-se através dos diários de classe, que o

mesmo não compareceu a segunda aula, e consequentemente, realizou a avaliação

com o intervalo de 15 dias. Tal situação, dentro do processo educacional empregado,

pode ser facilmente revertido. De acordo com Darsie (1996), essa quantificação

informa ao professor que o aluno domina as competências básicas e operacionais,

porém que sua performance precisa ser melhorada.

Especificamente, nesse caso, o aluno, analisando o registro das imagens de

seu treinamento e conferindo a pontuação obtida, pode reconhecer os erros

cometidos, corrigi-los e superar suas deficiências, e consequentemente acompanhar

seu próprio processo de aprendizado, caracterizando a avaliação como atividade de

metacognição, ou seja como instrumento de aprendizagem (DARSIE, 1996).

Em relação ao número de aulas e ao intervalo de realizações, tendo-se como

base a metodologia empregada e a carga horária da disciplina técnica cirúrgica

veterinária que na escola de medicina veterinária e zootecnia da UFBA, é de 102

horas, considerou-se que esses fatores foram adequados ao dinamismo da aula, e

que representaram apenas 10% da carga horária total da disciplina. Dessa forma,

buscou-se transmitir em adequado período de tempo, informações necessárias para

a satisfatória formação profissional, maximizando, assim o aprendizado

(BUYUKMIHCI, 2007).

Analisando subjetivamente os dados obtidos no questionário aplicado aos

alunos foi possível verificar que 100% (93/93 alunos) concordam com seu uso e o

consideram apropriado para o desenvolvimento de habilidades relativas à preparação

do campo operatório; 88% (82/93) consideraram que sua utilização permitiu a perfeita

compreensão dos protocolos assépticos empregados; 93% (86/93) obtiveram a

percepção espacial necessária para condução de um procedimento cirúrgico real.

59

Além disso 97,8% (91/93) mostraram-se confiantes para executar tais manobras

quando fossem fazer o treinamento com animais vivos.

Estes fatores estão fortemente ligados a filosofia dos 3R`s que promovem a

substituição animal por métodos alternativos (PAIXÃO, 2001), o que faz deste artefato

uma alternativa viável ao uso de animais para a função requerida.

4. Conclusão

O simulador apresentado, ao tempo que substitui o uso de animais, promove o

suporte adequado para o ensino e treinamento das técnicas de assepsia e preparação

do campo operatório, colaborando com o desenvolvimento de habilidades cirúrgicas

e sedimentação do conhecimento.

Agradecimento - Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do

Governo Brasileiro voltada para a formação de recursos humanos

60

5. Referências

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62

CAPÍTULO 4 - Simulador aplicado ao ensino da técnica cirúrgica veterinária –

Hemostasia cirúrgica

Resumo

A hemostasia cirúrgica é considerada uma das etapas cruciais da cirurgia, uma

vez que visa prevenir a perda sanguínea e suas consequências. Sua prática

necessita, além de conhecimento, notável competência psicomotora. Com o uso de

métodos alternativos há a possibilidade de garantir ao acadêmico, o conhecimento e

a destreza necessários para a condução do procedimento cirúrgico, sem a

necessidade do emprego da vivissecção para esta formação. O treinamento de

técnicas hemostáticas em equipamentos que mimetizem hemorragia possibilita que

os alunos desenvolvam suas habilidades sem o estresse relacionado à presença de

sangue, proporcionando assim a autoconfiança necessária para que a hemostasia

definitiva seja feita com segurança numa situação real. Este trabalho descreve a

manufatura de um simulador de hemostasia voltado para o ensino da técnica cirúrgica

veterinária, bem como avaliar sua eficácia tendo-se como público alvo acadêmicos da

disciplina técnica cirúrgica do curso Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade

Federal da Bahia. Concluiu-se que o simulador como método alternativo, apresentou

excelente grau de aceitação, possibilitando o adequado suporte para o treinamento

de técnicas hemostáticas, colaborando com o desenvolvimento de habilidades

cirúrgicas ao tempo que auxilia na sedimentação do conhecimento.

Palavras chave: métodos alternativos, cirurgia, ensino, medicina veterinária

63

A simulator applied to the teaching of veterinary surgical technique - surgical

hemostasis

Abstract

Surgical hemostasis is considered one of the crucial steps of the surgery, since

it seeks to prevent blood loss and its consequences. Its practice needs, in addition to

knowledge, remarkable psychomotor skills. Using alternative methods, it´s possible to

ensure to the academic Student knowledge and skill necessary to conduct the surgical

procedure without the need of employment of vivisection for this training. The training

of hemostatic techniques in equipment that mimic bleeding enables Students to

develop their skills without the presence of blood-related stress, thus providing the

confidence needed for the final hemostasis is done safely in a real situation. This study

aimed to describe the manufacture of a simulator for teaching hemostasis of Veterinary

Surgical Technique and evaluate its effectiveness taking as academic target audience

of the discipline of surgical technique of the course of veterinary medicine, Federal

University of Bahia. It was concluded that the simulator as an alternative method

showed excellent degree of acceptance, allowing proper support for the training of

hemostatic techniques, collaborating with the development of the surgical time helps

in settling the knowledge skills.

Keyword: alternative methods, surgery, education, veterinary medicine

64

1. Introdução

A formação cirúrgica envolve complexos conceitos teóricos e práticos,

particularmente relacionados à Técnica Operatória e suas fases fundamentais, dentre

os quais o desenvolvimento de habilidades é considerado indispensável. As cirurgias

experimentais, outrora realizadas com esta finalidade, atualmente são conflitantes

com os conceitos de bem estar animal e gradualmente vem sendo desestimuladas

(COSTA NETO; MARTINS FILHO, 2010).

Nesse contexto, uma série de recursos alternativos à vivissecção tem sido

propostos para o ensino de práticas cirúrgicas, porém, poucos possuem

características semelhantes àquelas encontradas em um animal vivo durante o ato

cirúrgico, essenciais para mimetizar algumas situações e manobras, a exemplo da

hemorragia e hemostasia.

Com esse intuito, Olsen et al. (1996) desenvolveram um simulador para o

treinamento de práticas de hemostasia composto por um circuito arteriovenoso

artesanal, formado por tubos de látex conectados a bomba peristáltica de fluxo

contínuo e pulsátil. Avaliaram seu uso, comparativamente a um procedimento

cirúrgico real e concluíram que o mesmo mostrou eficácia equivalente no que se refere

à aquisição de habilidades cirúrgicas básicas.

Descreve-se também o “POP Trainer”, método alternativo que permite a

perfusão de órgãos de abatedouros em sistema fechado, com sangue artificial; cuja

pressão é mantida por bomba eletronicamente controlada, de forma que a circulação

de cada órgão ocorra de maneira semelhante ao que ocorreria em um órgão

fisiologicamente ativo (SZINICZ et al., 1994). Com esse modelo, adotado pelo Hospital

Bregenz, na Áustria conduz-se cirurgias abdominais, torácicas, urogenitais,

ginecológicas, e vasculares (GREIF; TRÉZ, 2000).

Estudos similares foram conduzidos por Aboud, Suarez e Yassargil (2004) que

permitiram a perfusão do sistema circulatório de cadáveres humanos usando sangue

artificial. Empregando-se pressão pulsátil para artérias e pressão estática para veias,

mimetizaram situações como complacência tecidual, preenchimento vascular e a

ocorrência de hemorragia, próximas aquelas encontradas em procedimento cirúrgico

real.

Mais recentemente, também buscando a possibilidade de treinamento cirúrgico

em um modelo mais próximo da realidade possível, Inglez de Souza (2012) realizou

65

estudo semelhante em cadáveres de cães preservados pela solução de Larssen

modificada. O recurso foi utilizado e avaliado por aluno de Medicina Veterinária com

distintos níveis de experiência cirúrgica. Constatando-se que é possível a simulação

de hemorragias em cadáveres quimicamente preservados, e que tal sistema foi bem

aceito por quem o utilizou, sendo mais uma alternativa para o adestramento cirúrgico.

Avaliando-se as perspectivas de uso, logística e custos, e inspirados nos

recursos desenvolvidos por Szinicz et al. (1994) e Olsen et al. (1996), buscou-se

idealizar e desenvolver recurso alternativo destinado ao ensino de técnicas

hemostáticas, bem como avaliar seu uso e eficácia como instrumento pedagógico

2. Material e métodos

Para alcançar o objetivo proposto foram realizadas em 3 etapas: Elaboração

do simulador, inclusão do protótipo na disciplina de técnica cirúrgica veterinária e

avaliação do desempenho e satisfação dos alunos perante ao equipamento.

2.1 Elaboração do simulador

A construção do simulador envolveu inicialmente o desenvolvimento de dois

protótipos que utilizavam diferentes formas de impulsionar o fluido para o sistema, o

primeiro utilizava ar comprimido e o segundo, bomba peristáltica. Este último

apresentou o comportamento mais fidedigno ao frêmito vascular, servindo de base

para o desenvolvimento do simulador. Após a definição do sistema de propulsão do

fluido ocorreu a padronização dos materiais e dos acessórios necessários para a

manufatura do simulador (Quadro1).

66

Relação dos materiais necessários para montagem do simulador de hemostasia

COMPONENTE QUANTIDADE

Recipiente plástico com capacidade para 5 litros1 1 un.

Válvula de sucção 1/4 de polegada2 1 un.

Tubo de látex natural3 2 m.

Bomba peristáltica de dois roletes4 1 un.

Válvula de três via5 1 un.

Válvula de alívio de pressão acionada por mola6 1 un.

Manômetro para aparelho de pressão 7 1 un.

Conexões tipo “T” 3/16 de polegada8 4 un.

Emenda reta para mangueira 3/16 de polegada9 4 un.

Caixa plástica organizadora (40 X 27 X 13,3 cm)10 2 un.

Espuma laminada cinza (34 X 22 X 5 cm)11 4 un.

Bexiga tipo Canudo12 4 un.

Água filtrada 3,5 l

Corante vermelho13 20 mL

Quadro 1 Relação quantitativa dos componentes necessários para montagem do simulador de hemostasia

A construção do simulador foi dividida em 3 subsistemas: I subsistema

propulsor de fluido, II subsistema de mimetização vascular e III subsistemas de

reciclagem do fluido e monitoramento de pressão (Figura 1).

O subsistema propulsor do fluido (I) possui reservatório plástico com

capacidade de 5 l (1) no qual foi depositado o líquido mimetizador, composto por água

1 Milkan 05 L, UNIPAC – Pompéia – SP 2 Válvula de Pé com Crivo, Tigre Tubos e Conexões – Joinville – SC 3 Tubo de látex natural Nº 204, BIOSANI – Arapoti - PR 4 Bomba Peristaltica ADB 307 - ADB Bombas e Equipamentos Ltda – São Paulo - SP 5 Torneirinha 3 vias luer lock e luer slip – Descarpack São Paulo - SP 6 Válvula de retenção de mola 1,6 PSI – Nepin – São Paulo – SP 7 Manômetro aneróide para esfigmomanômetro - Bicmed – Itupeva - SP 8 Rosca "T" para mangueira 5/16" REF.:0856-B. HALTBAR Ltda - Apucarana - PR 9 Emenda reta para mangueira 5/16" REF.:0756-B HALTBAR Ltda - Apucarana - PR 10 Organizador Baixo 8,6L Top Stock REF.:960 - San Remo- Esteio - SC 11 Espuma laminada D33 - PVTEC Indústria e Comércio de Polímeros - Nova Veneza - SP 12 Balões canudo 260SR. Latex São Roque, São Roque - SP 13 Corante alimentício vermelho bordô VB – ARCOLOR, São Paulo - SP

67

filtrada (3,5 l) com adição de corante alimentício vermelho (20 mL). Para aspirar o

líquido foi utilizada bomba peristáltica de dois roletes (3) conectada, por meio de tubo

de látex de 5 mm de diâmetro, a uma válvula de pé para tubulações hidráulicas

verticais (2) a qual não permite o retorno do fluido ao recipiente e nem a entrada de ar

no sistema. O fluido após a passagem pela bomba peristáltica se deslocava, por tubo

látex, para uma conexão tipo “T” (4) para a distribuição do fluido para o subsistema de

mimetização vascular (II) e para a unidade de reciclagem do fluido/ monitoramento de

pressão do sistema (II).

O subsistema de mimetização vascular tem início em uma das extremidade da

conexão tipo “T”. Nesta extremidade foi acoplada tubo de látex a nova emenda tipo

“T”, possibilitando a divisão do fluido para compor duas caixas mimetizadoras vascular

(7). Uma nova subdivisão do fluido é feita por outra emenda do tipo “T”, também

conectada a tubo de látex formando dois ramos e em cada ramo foi feita a interligação

a uma bexiga tipo “canudo” (6) por meio de emenda reta para mangueira 5/16" (5). O

mesmo procedimento também foi feito na outra extremidade da emenda “T” formado

assim dois vasos sanguíneos que compõem uma das caixas mimetizadoras vascular.

A segunda caixa segue os mesmos procedimentos descritos anteriormente.

A outra extremidade da emenda “T” após a saída unidade propulsora formou a

subsistema de reciclagem do fluido/monitoramento de pressão (III). Neste, também

ocorre nova subdivisão do fluxo do fluido em dois ramos por meio de torneira de 3 vias

(8). A primeira saída permite o retorno do fluido para o recipiente (1) mantendo a

pressão uniforme em todo o conjunto em virtude de uma válvula de alívio de pressão

(8), colocada neste ramo. O outro ramo possui manômetro (10) para o monitoramento

da pressão dentro do sistema.

68

Figura 1 A -Esquema de montagem do simulador para treinamento de hemostasia

cirúrgica. Em I subsistema propulsor de fluido formado por 1. Reservatório plástico de 5 L, 2. Válvula de pé para sucção do fluido, 3. Bomba Peristáltica com dois roletes; 4. Emenda de mangueira tipo “T” 3/16”; Em II, subsistema de mimetização vascular formado por 5. Emenda reta para mangueira 3/16”, 6. Bexiga Látex tipo “canudo” e 7. Caixa mimetizadora vascular. Em III, subsistema de reciclagem do fluido/ monitoramento de pressão composto por 8. Válvulas de 3 vias, 9. Válvula de alivio de pressão, 10. Manômetro de pressão. B Aspecto final da montagem do protótipo sem a caixa mimetizadora vascular

69

Na região interna da caixa mimetizadora vascular (Figura 2) foi colocada em

sua base uma almofada de areia que preenchia a metade do volume total do

recipiente, cuja a finalidade foi aumentar o peso e conferir estabilidade ao conjunto.

Sobre esta almofada de areia, foi acomodada uma primeira lâmina de espuma (1) com

as dimensões de 37 X 25 X 5 cm, permitindo o isolamento do peso de areia. Superfície

externa desta primeira lâmina foram feitos 3 canais rasos (2) de 1 x 25 x 0,5 cm,

possibilitando a acomodação das bexigas tipo “canudo” (3), assim evitando o

colabamento da bexiga.

A segunda lamina de espuma (4) recobriu a primeira lâmina que continha os

vasos sanguíneos, permitindo o preenchimento de todo o interior da caixa. Esta

camada possuíam aberturas que permitiram a exteriorização de uma das bexigas (5),

e do outro lado a observação da segunda bexiga em profundidade (6). Para o

acoplamento das bexigas a foram necessários três furos (7) nas laterais da caixa que

possuíam 40 cm de comprimento. Cada furo possuía 12 mm de diâmetro posicionados

2 cm abaixo da borda de abertura da caixa. O furo central foi posicionado a 20 cm das

bordas laterais e os demais furos equidistantes 10 cm este, tanto para a direita quanto

a esquerda. Para melhorar a fixação das lâminas de espuma, foram feitas

modificações na tampa da caixa plástica que resultaram na retirada completa da parte

de cobertura da tampa (8) restando apenas as bordas. Além desta modificação foram

criados quatro furos (9) nas bordas da tampa de tal forma que permitisse o fechamento

da tampa na posição invertida com as presilhas de fixação da caixa.

O simulador funcionou a partir do acionamento da bomba peristáltica que sugou

o líquido contido no recipiente de armazenamento e a partir daí estabeleceu fluxo para

o preenchimento do sistema de descarga. A pressão foi mantida por meio do

acionamento da válvula de alívio e indicada pelo manômetro. Uma vez aberto o

sistema, com o extravasamento do líquido, se estabeleceu fluxo pulsátil, promovido

pela bomba peristáltica que mimetizou o frêmito de um vaso sanguíneo de um animal

vivo.

70

Figura 2 Mimetizador de tecidos do simulador: 1. Primeira lâmina de espuma, 2. Canal de

acomodação da bexiga, 3. Bexiga látex tipo “canudo”, 4. Segunda lâmina de espuma. 5. Bexiga exteriorizada pela abertura da segunda lâmina, 6. Bexiga posicionada em profundidade visibilizada mediante abertura nas segunda lâmina de espuma, 7. Furos laterais para acoplamento dos vasos a caixa mimetizadora, 8. Modificação da tampa mediante a remoção parcial da tampa da caixa, 9. Orifício feito na tampa para fixação da tampa ao conjunto.

71

2.2 Inclusão do protótipo na disciplina de técnica cirúrgica veterinária

Para avaliação do protótipo foi necessário a sua implantação na disciplina de

técnica cirúrgica veterinária da escola de Medicina Veterinária e Zootecnia da

Universidade Federal da Bahia envolvendo um total de 93 alunos matriculados na

disciplina nos semestres 2013.2 e 2014.1, sendo 42 e 51 alunos, respectivamente.

Após a finalização do conteúdo teórico sobre o tema “Fases fundamentais da

técnica cirúrgica: Diérese, hemostasia e síntese” ministrou-se duas aulas práticas

empregando-se o equipamento e com quatro horas semanais para cada treinamento,

com intervalo de sete dias.

O equipamento foi montado em três mesas, em uma posicionada na área

central, foram colocados o reservatório de armazenamento e a bomba peristáltica, e

nas duas mesas laterais as caixas plásticas simuladoras de tecidos.

Quatro alunos, em duas duplas, representando as funções de cirurgião e

auxiliar, devidamente acompanhados pelo professor e pelos monitores da disciplina,

iniciaram o treinamento.

O treinamento teve início pela técnica de ligadura sobre pinças em superfície

(Figura 3), foi utilizada a extremidade da bexiga de látex exposta sobre a espuma. Sua

extremidade foi seccionada com auxílio de tesoura cirúrgica e o cirurgião procedeu à

fixação da extremidade do “vaso hemorrágico” com emprego de pinça hemostática de

Crile curva. Ato contínuo procedeu-se a ligadura simples sob a pinça, apresentada

pelo auxiliar. Posteriormente, trocaram-se as funções e a manobra foi repetida.

Finalizada a primeira etapa, deu-se início as manobras para obliteração de

vasos sanguíneos em profundidade (Figura 4). Uma incisão na espuma foi feita

transversalmente ao sentido da bexiga de látex, expondo o corpo da mesma, “o vaso

sanguíneo” foi visibilizado, e duplamente pinçado pela colocação de pinças

hemostáticas de Crile curvas, seu corpo foi seccionado entre as pinças e em seguida

procedeu-se a confecção de ligadura simples com seminó deslizante em

profundidade, o procedimento foi realizado tanto pelo auxiliar como pelo cirurgião, que

alternaram suas funções. Concluído o treino, as bexigas de látex foram trocadas e

novas turmas de alunos realizaram novamente o procedimento.

72

Figura 3 Sequência fotográfica demonstrando as etapas para treinamento da técnica de

hemostasia “ligadura sobre pinças” em superfície. Em A, acomodação do fio cirúrgico abaixo da superfície inferior da pinça hemostática; confecção do primeiro semi-nó com o afrouxamento da pinça hemostática pelo auxiliar (B); encerramento do primeiro semi-nó e remoção da pinça hemostática (C); confecção do segundo semi-nó (D); manobra de rotacionamento em 45° da tesoura cirúrgica para a seção do fio cirúrgico (E); e aspecto final do vaso após a execução da ligadura (F).

73

Figura 4 Sequência fotográfica mostrando manobras para treinamento da técnica de

hemostasia “ligadura sobre pinças” em profundidade. Em A, diérese da espuma e acesso ao vaso profundo; Isolamento do vaso após aplicação de duas pinças hemostáticas (B); Diérese do vaso (C); Momento após a seção, notar derramamento de conteúdo para o meio externo (D); Manobra para acomodação do fio cirúrgico sob pinça (E); confecção da ligadura cirúrgica (F e G) e seção do fio cirúrgico após ligadura (H).

74

Foram realizadas duas aulas práticas, com intervalo de sete dias entre elas para

o treinamento dos alunos. Uma semana após a última atividade prática, os alunos

executaram os procedimentos relacionados as técnicas hemostáticas para avaliação

de desempenho.

2.3 Avaliação do desempenho dos alunos quanto ao uso do equipamento

O alunos foram avaliados nas seguintes etapas: Ligadura sobre pinças em

superfície, ligadura sobre pinças em profundidade, manipulação e apresentação da

pinça hemostática, pinçamento de vasos, confecção do nó manual, corte do fio. Todas

as atividades foram registradas por “softwares” de vigilância adaptado para esse

propósito.

O sistema de captura foi formado por duas “webcams” que foram instaladas

focalizando os alunos e cada uma das mesas onde foram instalados os mimetizadores

de tecidos, de forma a permitirem ampla observação dos procedimentos.

As câmeras foram conectadas a um microcomputador14 e para o

gerenciamento destas, foi utilizado o “software”15 próprio. Esse sistema gerou quatro

arquivos de vídeo, no formato Áudio Vídeo Interleaved (AVI), para cada aluno.

Os arquivos de vídeo relativos a todas as etapas executadas pelos alunos

foram avaliados pelo professor com auxílio de lista de checagem (Figura 5), que era

marcada a medida que o aluno executava a manobra corretamente. O número total

de acertos foram convertidos numa nota utilizando regra de três simples. As notas

variaram de zero a dez. Sendo considerado zero quando o aluno não conseguiu

cumprir corretamente nenhuma das etapas estabelecidas na listagem e a nota

máxima quando o mesmo concluiu todas as atividades sem erros. O intervalo de

tempo foi cronometrado do início da atividade até o momento em que o aluno

declarava como encerrada a atividade prática.

Foram computados todas as notas e verificadas as porcentagens de erros e

acertos, levando-se em conta a média acadêmica de nota sete.

14 Inspiron DT Série 3000, Dell Inc, Eldorado do Sul, RS, Brazil 15 Active WebCam Vídeo Surveillance® v.11.4, PY Software, Etobicoke, Canada

75

Quadro 2. Relação de itens empregados para avaliação da prática de hemostasia

cirúrgica aos alunos da disciplina de técnica cirúrgica veterinária da Universidade Federal da Bahia.

Os dados foram encaminhados para o tratamento estatístico e verificação de

normalidade com a utilização do teste de Shapiro-Wilk. A média alcançada pelo grupo

de alunos submetido ao treinamento com o simulador foi comparada com a nota valor

mínima para aprovação na disciplina utilizando o teste “t” de Student para uma média

populacional conhecida. Outra forma seria comparar com as notas das médias da

disciplina nos semestres sem o protótipo. Além disso o tempo de execução do

procedimento foi comparado com um grupo de ex-alunos que tiveram um contato

76

prévio com o protótipo utilizando o teste “t” para amostras não pareadas. O nível de

significância adotado neste estudo foi de 5%.

Após a conclusão do conteúdo teórico-prático sobre o tema padrões de suturas,

os graduandos foram solicitados a preencher o formulário (Figura 6) utilizando a

escala de Likert para análises psicométricas proposta por Roberts e Bilderback (1980),

onde por meio de atribuições qualitativas pré-estabelecidas em diversos níveis,

fossem estas favoráveis ou desfavoráveis, refletissem as opiniões dos usuários

relacionadas ao uso do recurso alternativo, quanto à apresentação e ao

desenvolvimento das habilidades psicomotoras durante o seu manuseio.

Quadro 3 Questionário de analises psicométricas para avaliação dos índices de aceitação

quanto à apresentação e o desenvolvimento das habilidades psicomotoras durante o seu manuseio.

77

3. Resultados e discussão

A hemostasia cirúrgica é considerada uma das etapas mais cruciais da cirurgia,

uma vez que visa prevenir a perda sanguínea. Sua prática, além de conhecimento,

requer habilidade psicomotora. Uma obliteração vascular mal feita pode trazer

inúmeros danos ao paciente cirúrgico, desde a invisibilidade do campo operatório até

o óbito.

Oliveira (2008) defendeu que o condicionamento emocional dos acadêmicos

deve ser alcançado por meio do contato com situações estressantes, como no caso

de hemorragias, vivenciadas em procedimentos cirúrgicos reais. Acreditamos,

entretanto, que os indivíduos que ainda não tiveram suas competências psicomotoras

totalmente desenvolvidas podem, em virtude da imaturidade emocional, apresentar

dificuldades ou relutância em adquirir tais conceitos com este tipo de metodologia. O

estresse da situação pode levar à frustrações, ao aprendizado ineficiente ou ainda à

perpetuação de erros (INGLEZ DE SOUZA, 2012). Segundo Ferreira Filho (2000),

este é um dos motivos frequentes de direito à objeção de consciência

De acordo com Smeak (2006) técnicas de hemostasia relacionadas à definitiva

oclusão vascular por meio de ligaduras e nós manuais tem sido notadamente difícil de

serem dominadas por alunos e que treinamento prévio adequado poderia orientar o

aluno a realizar corretamente essas técnicas, melhorando assim a habilidade do

cirurgião e a precisão do procedimento cirúrgico.

Um dos principais desafios para criação e emprego de métodos alternativos

para o ensino da cirurgia, além de um adequado planejamento técnico-educacional,

como citado por Martins Filho (2010), é conseguir simular artificialmente situações

próprias de um procedimento cirúrgico, a exemplo da hemorragia, ocorrência

transoperatória grave que deve ser imediatamente controlada e para tanto requer do

cirurgião tranquilidade e habilidade cirúrgica.

Tais recursos alternativos favoreceram o aprendizado e proporcionaram a

autoconfiança necessária para que a hemostasia definitiva fosse feita com segurança

em procedimentos cirúrgicos reais (SZINICZ et al., 1994; OLSEN et al.,1996; ABOUD,

SUAREZ; YASSARGIL, 2004; INGLEZ DE SOUZA, 2012).

Igualmente ao observado pelos autores anteriormente citados, que também

avaliaram o efeito pedagógico de seus recursos alternativos, comparativamente ou

não, à vivissecção, observamos que durante a utilização do simulador desenvolvido

78

neste estudo, o efeito pulsátil produzido pelo fluxo do sangue artificial do sistema, foi

capaz de mimetizar com realismo, uma hemorragia, causando níveis semelhantes de

estresse a aquele observado durante uma hemorragia transoperatória, fato

comprovado pelas opiniões declaradas pelos alunos. Porém, em virtude da

consciência do não risco de vida para o paciente, as técnicas hemostáticas realizadas

no simulador objeto de estudo podem ser devidamente exercitadas pelo aluno até que

o mesmo tenha a autoconfiança e o conhecimento necessários para executar com

segurança as mesmas manobras em procedimento cirúrgico real.

Igualmente ao verificado por Inglez de Souza (2012), considerando-se a

diferenças de metodologia empregadas para cada estudo, evidenciamos que o aluno

em seu treinamento pode desenvolver tanto, manobras de responsabilidade do

cirurgião, como aquelas inerentes ao auxiliar, bem como manobras de síntese. A

manipulação correta de instrumentos cirúrgicos, a confecção de diversos tipos de

ligaduras e nós cirúrgicos e principalmente, o sincronismo de ações entre membros

da equipe cirúrgica pode ser empreendido repetidas vezes, até a total destreza das

técnicas exercitadas.

Silva, Matera, Ribeiro (2003), durante o treinamento de diversas técnicas

cirúrgicas especializadas com uso de cadáveres conservados associaram a estas

atividades o exercício protocolos assépticos relacionados a paramentação e condutas

da equipe cirúrgica que permitiram aos acadêmicos a confluência de práticas e a

mimetização da sistemática de trabalho de um centro cirúrgico e consequentemente

obteve maior realismo e assimilação de conceitos

A metodologia, relacionada a logística da aula, desenvolvida para este estudo

mostrou-se satisfatória, mesmo sendo empregada para significativo número de alunos

(média de 46 alunos por turma).

Diante da impossibilidade, por razões éticas, de se efetuar estudo comparativo

com método tradicional de ensino, empregando-se a vivissecção (MARQUES et al.,

2005), adotamos combinação de aspectos qualitativos e quantitativos para

desenvolvimento da metodologia e da avaliação do aprendizado.

Para a avaliação do aprendizado, conforme recomendou Darsie (1996) buscou-

se implementar uma metodologia que levasse o aluno a tomar consciência do próprio

processo de aprendizagem, e a partir dessa tomada de consciência, a possibilidade

de avançar nesse processo. Esse perfil qualitativo baseia-se nos princípios

psicopedagógicos, particularmente relacionados à psicologia cognitiva, da qual faz

79

parte a filosofia construtivista, citada por Pusic (2007) e que se caracteriza pela

atividade exploratória, onde o usuário passa a construir seu conhecimento, interagindo

com o material a ser aprendido, compreendendo-o ao invés de memorizá-lo.

Para análise qualitativa e quantitativa, a captura e o registro das imagens

durante a realização do adestramento cirúrgico foram fundamentais. As imagens

captadas pelas webcams e registradas pelo “software” de vigilância, permitiram a

visibilização sincronizada dos alunos e das respectivas manobras exercitadas, além

não interferir na dinâmica da aula. Possibilitou a precisa avaliação quantitativa do

aprendizado por meio da contagem de pontos relacionados aos erros e acertos

cometidos e posterior expressão desses acertos em forma de notas.

Sabe-se que quando se registra, em forma de nota, o resultado obtido pelo

aluno, fragmenta-se o processo de avaliação e introduz-se burocratização que leva à

perda do sentido do processo e da dinâmica da aprendizagem (WACHOWICZ;

ROMANOWSKI, 2002), porém diante da impossibilidade de estudo comparativo, essa

forma de avaliação, complementada pela análise qualitativa, mostrou-se adequada.

Nos dois semestres analisados a média global foi de setenta e oito por cento

(78%) de alunos que atingiram média superior à média acadêmica para aprovação

(Tabela 01). Comparando-se os dois semestres, não há diferenças entre as médias

(p-value = 0,1896). Desta forma, pode-se concluir, após avaliação com essa

intencionalidade, que o aluno com nota superior à média acadêmica, está

perfeitamente apto para execução das manobras.

Tabela 01. Comparação das médias entre os semestres em função da média mínima (7,0) para aprovação na disciplina com relação as manobras da hemostasia cirúrgica

Média IC 95% p-value

Semestre 2013.2 8,28* 7,35 – 9,08 0,045

Semestre 2014.1 7,92* 7,35 – 8,38 0,039

* Diferenças significativas aplicando teste “t” de Student para uma amostra – Nível de significância 5% IC 95% - Intervalo de confiança com 95%

Aqueles que obtiveram média inferior à média acadêmica para aprovação, não

se distanciaram da mesma, apresentaram média geral de 6,07 pontos. Tal situação,

dentro do processo educacional empregado, pode ser facilmente revertido. De acordo

com Darsie (1996), essa quantificação informa ao professor que o aluno apesar de

80

dominar as competências básicas e operacionais, precisa ter sua performance

melhorada.

Especificamente, nesse caso, o aluno, analisando o registro das imagens de

seu treinamento e conferindo a pontuação obtida, pode reconhecer os erros

cometidos, corrigi-los e superar suas deficiências, e consequentemente acompanhar

seu próprio processo de aprendizado, caracterizando a avaliação como atividade de

metacognição, ou seja como instrumento de aprendizagem (DARSIE, 1996).

Em relação ao número de aulas e ao intervalo de realizações, tendo-se como

base a metodologia empregada e a carga horária da disciplina técnica cirúrgica

veterinária que na escola de Medicina Veterinária e Zootecnia da UFBA, é de 102

horas, considerou-se que esses fatores foram adequados ao dinamismo da aula, e

que representaram apenas 10% da carga horária total da disciplina. Dessa forma,

buscou-se transmitir em adequado período de tempo, informações necessárias para

a satisfatória formação profissional, maximizando, assim o aprendizado

(BUYUKMIHCI, 2007).

Analisando subjetivamente os dados obtidos no questionário aplicado aos

alunos foi possível verificar que 96,8% (90/93 alunos) concordam com seu uso e o

consideram apropriado para o desenvolvimento de habilidades relativas à hemostasia

cirúrgica, porém com ressalva de (37,6% - 35/93) que, “desde que possam

posteriormente realizar um procedimento cirúrgico real”; 77,4% (72/93) sentiram

determinado grau de estresse com a simulação de hemorragia durante a execução

das manobras; 93% (86/93) obtiveram a percepção espacial necessária para

condução de um procedimento cirúrgico real. Além disso 97,8% (91/93) mostraram-

se confiantes para executar as devidas manobras em procedimentos que envolvam

animais vivos.

Estes fatores estão fortemente ligados a filosofia dos 3R`s que promovem a

substituição animal por métodos alternativos (PAIXÃO, 2001), o que faz deste artefato

uma alternativa viável ao uso de animais em aulas práticas.

4. Conclusão

Concluiu-se que o simulador como método alternativo, apresentou excelente

grau de aceitação e mostrou-se apropriado para o ensino de técnicas hemostáticas.

O efeito pulsátil produzido pelo fluxo do sangue artificial no sistema, foi capaz de

81

mimetizar com realismo, uma hemorragia, causando níveis de estresse compatíveis

com o observado em uma situação real, colaborando com o desenvolvimento de

habilidades cirúrgicas ao tempo que auxilia na sedimentação do conhecimento.

Agradecimento

Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES, entidade do Governo Brasileiro

voltada para a formação de recursos humanos

82

5. Referências

ABOUD, E.; SUAREZ, C.E.; Y ASSARGIL, G. New alternative to animal models for surgical training. Fourth World Congress, Alternatives to Laboratory Animals, London, v. 32, n. 1, p. 501-507, 2004.

BUYUKMIHCI, N. C. Non-violence in surgical training. Revista electrónica de Veterinaria, v. 8, n. 12B, p. 1–35, 2007.

COSTA NETO, J. M. DA; MARTINS FILHO, E. F. Sistemas Educacionais Hipermídia como ferramenta de apoio ao ensino da Medicina Veterinária. Ciência Veterinária nos Trópicos, Recife, v. 13, n. 1, p. 126–130, 2010. Suplemento

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FERREIRA FILHO, M. G. Comentários à Constituição brasileira de 1988. 3.ed São Paulo: Saraiva, v. 1, 2000.

GREIF, S.; TRÉZ, T. Pesquisa sem animais: métodos alternativos na educação. In: ______. (Ed.). A verdadeira face da experimentação animal: a sua saúde em perigo. Rio de Janeiro: Sociedade Educacional “Fala Bicho,” 2000. p. 55- 66.

INGLEZ DE SOUZA, M. C. C. M. Desenvolvimento e avaliação de método substitutivo para a prática da hemostasia em cadáveres quimicamente preservados. 2012. 81 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.

MARQUES, R. G.; MIRANDA, M.L. DE; CAETANO, C.E.R.; BIONDO-SIMÕES, M. DE L.P. Rumo à regulamentação da utilização de animais no ensino e na pesquisa científica no Brasil. Acta Cirurgica Brasileira, São Paulo, v. 20, n. 3, p. 262–267, 2005.

MARTINS FILHO, E. F. Sistema Educacional Hipermídia Aplicado ao Ensino da Técnica Cirúrgica Veterinária – Síntese dos Tecidos. 2010. 60 f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal nos Trópicos) – Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2010.

OLIVEIRA, H. P. Situação atual do ensino da técnica cirúrgica e da clínica cirúrgica. Ciência Veterinária nos Trópicos, Recife, v. 11, n.1, p. 93–94, 2008. Suplemento

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PAIXÃO, R. L. Experimentação animal: razões e emoções para uma ética. 2001. 151 f. Tese (Doutorado em Saúde Pública) - Instituto Biomédico (Departamento de Fisiologia e Farmacologia), Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2001.

83

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SZINICZ, G.; BELLER, S.; ZERZ, A.; BODNER, W. Die pulsierende organ-perfusion als möglichkeit zur reduktion von tierversuchen in der ausbildung in minimal invasiven operationstechniken. Alternativen zu Tierexperimenten, Heidelberg, v. 11, n. 1, p. 40–43, 1994.

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84

CAPÍTULO 5 - Bastidor aplicado ao ensino da técnica cirúrgica veterinária –

síntese dos tecidos 1

Resumo

A síntese cirúrgica é uma das principais etapas da cirurgia, uma vez que

favorece a efetiva regeneração dos tecidos incisados. Sua prática além de

conhecimento, requer considerável competência psicomotora. Por meio de métodos

alternativos é possível garantir ao jovem cirurgião, a habilidade cirúrgica necessária

para a condução do procedimento cirúrgico, sem a necessidade do emprego da

vivissecção para esta formação. O presente trabalho teve como objetivo descrever a

confecção de bastidor aplicado ao ensino da síntese dos tecidos, na Cirurgia

Veterinária, bem como quantificar os índices de aceitação dos acadêmicos da

Disciplina Técnica Cirúrgica do Curso Medicina Veterinária da Universidade Federal

da Bahia em relação ao artefato disponibilizado. Conclui-se que o bastidor como

método alternativo, apresentou excelente grau de aceitação. Foi de fácil confecção e

ao tempo que mimetiza satisfatoriamente os planos anatômicos promove o adequado

suporte para a confecção de padrões de sutura, colaborando com o desenvolvimento

de habilidades cirúrgicas e auxiliando na sedimentação do conhecimento.

Palavras chave: alternativas ao uso de animais, ensino, cirurgia.

1 Artigo publicado em Medvep - Revista Científica de Medicina Veterinária Neto JMC, Filho EFM, Junior DCG, Moraes VJ, Teixeira DM, Silva JJ, Silva VSC, Resende LS. 2011; 10(32); 1-6 (ISSN 1678-1430)

85

A frame applied to the teaching of veterinary surgical techniques - summary of tissues

Abstract

Synthesis is a major fundamental of the surgery, since it favors the effective

regeneration of tissues incised. Its knowledge and practice, requires considerable

psychomotor skill. We believe that it is possible to guarantee to the young surgeon the

surgical skill necessary to conduct the surgical procedure without the need for the use

of vivisection for this training through alternative methods. This study aimed to describe

a device created for training of suture applied to the teaching of Veterinary Surgical

Technique - Synthesis of tissues and to evaluate its effectiveness, having as

evaluators scholars attending at the discipline of Surgical Technique - Veterinary

Medicine, Federal University of Bahia. We conclude that the device as an alternative

method showed excellent acceptance by the academics. It was easily constructed and

simulated anatomical planes satisfactorily. It promotes adequate support for making

suture patterns, contributing to the development of surgical skills to the time it helps in

the learning of the synthesis techniques.

Keywords: alternatives to using animals, teaching, surgical.

86

1. Introdução

A formação cirúrgica envolve complexos conceitos teóricos e práticos,

particularmente relacionados à técnica operatória e suas fases fundamentais, dentre

os quais o desenvolvimento de habilidades é considerado essencial. As cirurgias

experimentais, outrora realizadas com esta finalidade, atualmente são conflitantes

com os conceitos de bem estar animal e gradualmente vem sendo desestimuladas

(COSTA NETO; MARTINS FILHO, 2010).

Neste âmbito, a síntese cirúrgica é uma das etapas mais importantes da

cirurgia, uma vez que favorece a efetiva regeneração dos tecidos incisados. Sua

prática, além de conhecimento, requer habilidades psicomotoras, considerando-se a

falta de agilidade e destreza do cirurgião, prejudiciais para reconstrução tecidual e

consequentemente, fator de risco para qualquer procedimento cirúrgico.

Por meio de métodos alternativos é possível garantir ao acadêmico, o

conhecimento e a destreza necessários para a condução do procedimento cirúrgico,

sem a necessidade do emprego da vivissecção para esta formação (COSTA NETO;

MARTINS FILHO, 2010). O eficaz ensino de competências psicomotoras por meio de

recursos alternativos permite que os acadêmicos portadores de competências

cirúrgicas básicas realizem, sem receio, procedimentos com a devida supervisão de

seus preceptores. Tal prática favorece o aprendizado e resulta no aumento da

autoconfiança do cirurgião iniciante (SEMAK, 2003).

Para garantir a aquisição de habilidades psicomotoras relacionadas à cirurgia,

diversos métodos alternativos têm sido desenvolvidos, dentre os quais se destacam:

a utilização de cadáveres quimicamente preservados (MATERA, 2008); órgãos e

tecidos obtidos em matadouros (BUYUKMIHCI, 2007; TUDURY; POTIER, 2008);

manequins anatômicos constituídos de resina emborrachada (1RNET, 2011);

artefatos confeccionados a partir de espuma, látex e outros materiais sintéticos

(1RNET, 2011; EBRAM NETO et al., 1998; ANDRADE, 2009; LIMA; BERNARDINO,

2010); e sistemas educacionais hipermídia (MARTINS FILHO, 2010).

Particularmente relacionado ao ensino da síntese cirúrgica e aos respectivos

padrões de sutura, poucos são os artefatos descritos na literatura e disponíveis para

comercialização e utilização. Destaca-se o DASIE (Dog Abdominal Surrogate for

Instructional Exercises) divulgado pela Rede Internacional de Educação Humanitária

INTERNICHE. Trata-se de artefato de formato cilíndrico, composto por várias

87

camadas de diferentes tecidos e materiais, que de acordo com sua textura e

consistência, mimetizam os mais variados planos anatômicos (1RNET, 2011).

O uso de tecidos, apoiados ou não em bastidores circulares para bordado, tem

sido descritos (TUDURY; POTIER, 2008) e são frequentemente utilizados em vários

cursos de Medicina Veterinária do Brasil. Porém, assim como a maioria dos recursos

alternativos empregados para o ensino médico, a falta de padronização e avaliação

desses recursos comprometem sua adoção como material didático (GREENHALGH,

2001).

Um Sistema Educacional Hipermídia sobre os padrões de sutura na cirurgia

veterinária empregou este artefato, como recurso auxiliar pedagógico, para que

fossem executadas os diversos padrões de suturas previamente visualizados em

vídeos (MARTINS FILHO, 2010).

O bastidor empregado para o ensino da técnica cirúrgica veterinária, embora

não seja descrito na literatura, pelo conhecimento deste autor, vem sendo empregado

para o ensino de padrões de suturas em algumas escolas de Medicina Veterinária, a

exemplo da Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia, da

Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista -

Jaboticabal e da Universidade Federal de Campina Grande.

Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo descrever a confecção do

bastidor, bem como avaliar sua eficácia como instrumento pedagógico para alunos de

graduação em Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal da Bahia.

2. Material e métodos

Para confecção do bastidor, foram empregados as ferramentas e os seguintes

itens: martelo de unha2; alicate universal3; grampeador para tapeceiro4 e grampos de

8 mm5 ou taxas tipo percevejo6; uma tesoura de costura de 21 cm7; oito pregos (2,70

cm X 0,48 mm)8; quatro hastes de madeira (Pinus caribea ou outra madeira de baixa

2 Martelo de unha REF. 40200020 – TRAMONTINA - Belém - PA 3 Alicate universal 8" REF. 41001018 – TRAMONTINA - Belém - PA 4 Grampeador 51/A – ROCAMA Grampos e grampeadores – São Paulo - SP 5 Grampos ROCAMA 106/8 - ROCAMA Grampos e grampeadores – São Paulo - SP 6 Percevejo 10mm dourado 311011ZC -Maped do Brasil – São Paulo - SP 7 Tesoura para costureira REF. 25936107 - TRAMONTINA - Belém - PA 8 Prego Galvanizado REF. 814 – GERDAU Usiba - Simões Filho – BA

88

densidade) de dois por dois cm de espessura, sendo duas hastes de 56 cm de

comprimento e duas de 40 cm; tecido brim de cor verde escuro9, medindo 50 cm de

comprimento por 1,40 cm de largura (Figura 1A).

As hastes de menor comprimento (40 cm) foram fixadas por meio de pregos às

extremidades das hastes de maior comprimento (56 cm), em ângulo reto (90º),

formando um chassi retangular de 240 cm2 (Figura 1B).

Com o tecido de brim sobre uma superfície plana, o chassi foi disposto sobre o

mesmo, respeitando-se o eixo de maior comprimento e mantendo-se sobra de cinco

cm em cada um de seus lados. Em seguida, com auxílio de grampos ou tachas, a

extremidade do retalho de tecido em sua largura, foi fixada à haste lateral do chassi

(Figura 1 C e D). O conjunto foi virado mantendo-se o brim sobre o chassi (Figura 1E).

Utilizando-se retalho de papelão de dez cm de largura para delimitar a largura das

pregas, o tecido foi dobrado em seu avesso e então esticado e temporariamente fixado

ao chassi, formando uma dobra de tecido (Figura 1F e G). Em retroflexão, uma

segunda prega foi feita, de modo a formar uma fenda de aproximadamente dois mm

entre os vincos formados pelas bordas das dobras (Figura 1 H).

9 Tecido sarjado Solasol® REF: 5005 coloração n.616 – Santista Textil – Concórdia - SC

89

Figura 1 Sequência fotográfica mostrando manobras para confecção do bastidor para

ensino de padrões de sutura Em A, ferramentas empregadas para a confecção do bastidor. Em B, chassi de madeira (40x60 cm), disposto sobre retalho de brim sol a sol (1,40 x 0,50 mt) e posterior fixação da extremidade do retalho à haste lateral do chassi com auxílio de grampos (C e D). Em E, com o conjunto virado, mantendo o brim sobre o chassi, foi feita uma primeira dobra no avesso do tecido com auxílio de um retalho de papelão (10x10 cm) (F), com posterior fixação temporária do tecido ao chassi (G). Em retroflexão, uma segunda prega foi feita, de modo a formar uma fenda de aproximadamente dois mm entre os vincos formados pelas bordas das dobras (H).

90

A partir daí, deu-se início a formação de subsequentes pregas de tecido,

respeitando-se a largura de dez cm para cada uma (Figura 2 A). Ao tempo que foram

formadas, as pregas foram temporariamente fixadas no chassi com uso de grampos

de pressão ou tachas. Dobras consecutivas em progressão e retroflexão foram feitas,

formando cinco fendas, alinhadas paralelamente a cada dez cm de tecido com dobras

internas medindo aproximadamente dez cm de largura (Figura 2 B, C e D).

Confeccionadas as pregas (Figura 2 E), o conjunto (chassi e pano) foi virado sobre a

superfície plana e as sobras excedentes de tecido sob o chassi foram então fixadas

definitivamente ao seu verso de forma a emoldurar todo chassi (Figura 2 F). Os

grampos temporários foram retirados, finalizando-se o bastidor (Figura 2G e H).

Para quantificar os índices de aceitação do protótipo foi necessário a sua

implantação na Disciplina de Técnica Cirúrgica Veterinária da escola de Medicina

Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal da Bahia, envolvendo um total de 60

alunos do segundo semestre de 2010. Após a finalização do conteúdo teórico sobre o

tema “Fases fundamentais da técnica operatória: síntese dos tecidos/ padrões de

suturas” os alunos foram submetidos à aula prática empregando-se o bastidor para

confecção e aprendizagem dos padrões de sutura ministrados. Para aprendizagem

dos diversos tipos de padrões de suturas relacionados a síntese dos tecidos, cada

aluno confeccionou seu próprio bastidor, seguindo especificações técnicas fornecidas

pelo professor. Para confecção das suturas empregou-se agulhas cirúrgicas do tipo

semicircular atraumática acoplada a fio de algodão tipo “Urso” n.110.

Após a conclusão do conteúdo teórico-prático sobre o tema padrões de suturas

os graduandos foram solicitados a preencher o formulário (Figura 3) utilizando a

escala de Likert para análises psicométricas proposta por Roberts e Bilderback,

(1980), onde por meio de atribuições qualitativas pré-estabelecidas em diversos

níveis, sejam estas favoráveis ou desfavoráveis, refletissem as opiniões dos usuários

relacionadas ao uso do bastidor, quanto à apresentação e ao desenvolvimento das

habilidades psicomotoras durante o seu manuseio.

10 Linha Urso n.1 REF. 2504 – WalMur – Instrumentos veterinários Ltda - Porto Alegre - RS

91

Figura 2 Sequência fotográfica mostrando manobras para confecção do bastidor para

ensino de padrões de sutura. Dobras consecutivas em progressão e retroflexão foram feitas, respeitando-se a largura de 10 cm para cada uma (A), sendo temporariamente fixadas ao chassi com uso de grampos de pressão (B, C e D) ao tempo que foram formadas cinco fendas, alinhadas paralelamente a cada dez cm de tecido (E). Confeccionadas as dobras, o conjunto (chassi e pano) foi virado sobre a superfície plana e as sobras excedentes de tecido sob o chassi foram então fixadas ao seu verso de forma a emoldurar todo chassi (F). Os grampos temporários foram retirados, finalizando-se o bastidor (G e H).

92

Quadro 1 Questionário de análises psicométricas para avaliação dos índices de aceitação quanto

à apresentação e o desenvolvimento das habilidades psicomotoras durante o manuseio do bastidor aplicado a síntese cirúrgica.

93

3. Resultados e discussão

O bastidor convencional é um apetrecho para costura e bordado formado por

dois anéis, um exterior e outro interior com bordo que são usados para fixar o tecido

tensionado. Para tanto, encaixa-se a parte maior do bastidor sob o tecido, estica-se o

mesmo e encaixa-se a parte menor do bastidor sobre o tecido. O tecido é então

tracionado em toda a volta para permitir a adequada tensão. Apesar de ser

opcionalmente empregado para ensino de padrões de sutura, não mimetiza

satisfatoriamente os planos anatômicos, além de não possuir padronização e

avaliação para esse uso.

O bastidor, objeto de estudo, diferencia-se do convencional por possuir maiores

dimensões e permitir a confecção de pregas que mimetizam os diversos planos

anatômicos, fornecendo também adequado suporte para a confecção dos padrões de

sutura.

O artefato mostrou-se de fácil confecção, podendo ser confeccionado pelo

próprio aluno. As ferramentas e os itens empregados na sua elaboração foram de fácil

aquisição em lojas comerciais. O grampeador de tapeceiro, item mais incomum no

cotidiano doméstico e seus grampos de oito mm mostraram-se adequados para

fixação do brim ao chassi. No caso de impossibilidade de uso pode ser facilmente

substituído por tachas tipo percevejo, de fácil aquisição.

O brim sol a sol, em virtude de sua textura e cor, mostrou-se adequado à

utilização. Sua textura grossa e entrelaçamento de filamentos permite a inserção

continuada da agulha sem comprometimento de sua estrutura. Sendo comercializado

de acordo com especificação do fabricante, apresenta medidas de 1,40 ou 1,60 m de

largura. Dessa forma o retalho de 50 cm de comprimento, possui a quantidade de

tecido necessária tanto para confecção das pregas, como para emoldurar o chassi. A

coloração verde escura, verde oliva ou azul marinho, permite o contraste adequado

com o fio de algodão branco empregado para confecção dos padrões de sutura.

As pregas de tecidos com duplas faces e seu vinco, associadas à face interna

da dobra do tecido, permitiram mimetizar as bordas de uma ferida e seu leito cirúrgico

para os mais diversos tipos de padrões de suturas. Possibilitaram confeccionar com

precisão, padrões de suturas continuados ou interrompidos, de confrontamento,

sobreposição, eversão ou inversão. Neste último tipo, tanto para padrões

contaminantes como para não contaminantes.

94

Assim como também observado com outros modelos descritos na literatura

(LIMA; BERNARDINO, 2010; 1RNET, 2011) devido à facilidade de transporte, não

necessita de ambiente apropriado e pode ser usado em vários locais como hospital,

salas de aula e domicílio, possibilitando o treinamento de competências psicomotoras,

atendendo aos princípios da filosofia construtivista (PUSIC; LEBLANC; MILLER,

2007), pois os alunos podem executar os principais padrões de suturas repetidas

vezes aumentando a possibilidade de compreensão dos conceitos. Seu uso, também

possibilitou a aquisição de habilidades relacionadas ao manuseio do instrumental

cirúrgico, igualmente ao observado por Lima e Bernardo (2010) quando empregaram

modelo experimental similar para o treinamento de suturas. Adicionalmente, se

enquadra ao conceito dos "3Rs" quando substitui e reduz o número de animais

utilizados nas aulas práticas (PAIXÃO, 2011).

Analisando subjetivamente os dados obtidos no questionário aplicado aos

alunos foi possível verificar quanto ao uso do bastidor que 68,3% concordam na

facilidade de manusear, é agradável 83,9%, é possível aplicar o conhecimento teórico

na prática 78,3% e, além disso, 95% dos entrevistados demonstraram interesse em

ter outros dispositivos para o ensino da cirurgia. Níveis de aceitação foram

semelhantes com outros recursos voltados para o ensino da técnica operatória

(EBRAM NETO, 1998; OLIVEIRA; AZEVEDO; AZEVEDO, 2007; MARTINS FILHO,

2010)

Quanto à apresentação do bastidor os índices de satisfação atingiram os

valores de 80% nos aspectos apresentação, material e facilidade de confecção do

artefato. Este fato deve-se a facilidade de aquisição dos materiais utilizados para a

confecção do bastidor. Além de permitir a iniciativa das instituições de ensino em

aquisição deste instrumento facilitador de ensino a um baixo custo e sem a

necessidade de utilizar animais vivos em práticas.

No aspecto desenvolvimento de habilidades psicomotoras com o uso de

bastidores foram obtidos índices de aceitações superiores a 70%. Dessa forma 81,7%

dos entrevistados acreditam que o artefato é apropriado no desenvolvimento de

habilidades, possibilita a repetição dos procedimentos (78,3%) e permite associação

da teoria com a prática (80%). Estes fatores estão fortemente ligados a filosofia dos

3R`s que promovem a substituição animal por métodos alternativos (1RNET, 2011), o

que faz deste artefato uma alternativa viável ao uso de animais em aulas práticas.

95

4. Conclusão

O bastidor empregado para o ensino da síntese cirúrgica apresentou excelente

grau de aceitação. Foi de fácil confecção e ao tempo que mimetiza satisfatoriamente

os planos anatômicos promove o adequado suporte para a confecção de padrões de

sutura, colaborando com o desenvolvimento de habilidades cirúrgicas e auxiliando na

sedimentação do conhecimento.

Agradecimentos:

Este trabalho foi realizado com o apoio da CAPES (ProcadNF08), entidade do

Governo Brasileiro voltada para a formação de recursos humanos

96

Referências

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97

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98

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ensino médico cirúrgico tradicional, fundamentado na prática da vivissecção

e na experimentação animal, embora ainda em uso, tornou-se anacrônico.

À parte o conservadorismo educacional, é consenso que o uso de animais na

educação e pesquisa médica seja questionável e controverso. Muitos foram os

avanços, porém muitas são as razões para o não uso, incluindo considerações éticas,

riscos de zoonoses, higiene do ambiente de trabalho, eficácia no ensino, pressões

econômicas, além de uso ilegal de animais e publicidade adversa1.

As práticas com animais vão contra fundamentos éticos e morais de muitos dos

acadêmicos e pesquisadores, causando conflitos internos desnecessários, além dos

problemas de ordem psicológica gerados por tal ação2.

Questão premente, é o desenvolvimento de novas ferramentas didáticas e

metodológicas para redefinir conceitos e extinguir ou minimizar o uso de animais. Os

recursos alternativos também denominados “substitutivos são ferramentas

inovadoras, para uso didático ou em pesquisa, que buscam alcançar três conceitos

fundamentais relacionados ao uso de animais: redução, refinamento e substituição,

ou seja, visam reduzir o número de animais necessários para executar um

procedimento; refinar as técnicas utilizadas, a fim de diminuir o sofrimento animal

durante o procedimento e, se possível, substituir completamente o uso de animais.

Porém, além dessa inovação, faz-se necessário a mudança de consciência dos

personagens envolvidos neste processo. Ter conhecimentos sobre ética e bem estar

animal, não necessariamente implica em ter consciência, pois a tomada da

consciência implica em mudança de comportamento, e não apenas em

conhecimento intelectual. O processo de mudança e evolução pelo qual todo ser

humano passa, envolve obrigatoriamente mudanças comportamentais. Desta forma,

1 MORAES, G. C. O uso didático de animais vivos e os métodos alternativos em medicina veterinária. 2005. 96 f. Monografia (Graduação em Medicina Veterinária) – Universidade Anhembi Morumbi –, São Paulo, 2005. 2 ARLUKE, A. The use of dogs in medical and veterinary training: understanding and approaching student uneasiness. Journal of Applied Animal Welfare Science, London, v. 7, n. 3, p. 197–204, 2004. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.1207/ s15327604jaws0703_6>.

99

quanto maior for a consciência em agilizar este processo, rapidamente

transformações ocorrerão neste âmbito.

Infelizmente, ainda são escassos estudos sobre a aplicabilidade e validação de

métodos alternativos que possam atender não somente as necessidades didáticas

relacionadas ao ensino cirúrgico na Medicina e na Medicina Veterinária, como também

em outras áreas de atuação. Além destes fatores podem ser incluídas as dificuldades

de padronização, divulgação e comercialização que certamente contribui na objeção

dos docentes e, consequentemente, as Instituições de ensino por estas alternativas.

Nesta perspectiva, buscou-se desenvolver, avaliar e padronizar os recursos

alternativos didáticos ora apresentados. Os mesmos foram idealizados com o intuito

de garantir a aquisição de habilidades cirúrgicas relacionadas a bases da técnica

cirúrgica veterinária, disciplina primordial para o desenvolvimento de habilidades

cirúrgicas.

Inicialmente, respeitando-se o conteúdo programático da disciplina, abordou-

se o Tema “princípios da assepsia cirúrgica”, onde objetivou-se desenvolver recursos

que auxiliassem o ensino aprendizado da assepsia cirúrgica.

No primeiro ensaio, a implementação dos vídeos apoio, sobre o as manobras

inerentes a paramentação cirúrgica permitiu a consolidação do conhecimento de

forma mais efetiva e com diminuição do tempo de ensino das manobras básicas, o

que tornou as aulas mais dinâmicas mesmo com grande número de alunos.

Proporcionou também maior êxito no controle biológico de infecções, corroborando

assim com o aprimoramento da equipe cirúrgica, melhor aptidão cirúrgica e menor

risco cirúrgico e sofrimento animal.

Complementarmente, o simulador apresentado para assepsia e preparação do

campo operatório, ao tempo que substituiu o uso de animais, promoveu o adequado

suporte para o ensino e treinamento das técnicas assépticas relacionadas a

preparação do campo cirúrgico em suas variadas formas, colaborando com o

desenvolvimento de habilidades cirúrgicas e sedimentação do conhecimento. O uso

desse recurso precedendo as práticas em animais vivos, substituiu o uso dos mesmos

e favoreceu a confiança do aluno, minimizando erros intercorrentes devido a falta da

habilidade durante o aprendizado. Adicionalmente, proporcionou o aprimoramento de

procedimentos cirúrgicos posteriormente executados, particularmente no que se

refere à agilidade e eficácia na preparação do campo operatório e consequente

100

controle da infecção cirúrgica, minimizando o risco cirúrgico e preservação da saúde

do animal.

No que se refere as fases fundamentais da técnica cirúrgica, foram abordadas

duas fases relevantes no transoperatório, a hemostasia e a síntese dos tecidos.

Um dos principais desafios para criação e emprego de métodos alternativos

para o ensino da cirurgia é conseguir simular artificialmente situações próprias de um

procedimento cirúrgico, a exemplo da hemorragia, ocorrência transoperatória grave

que deve ser imediatamente controlada e para tanto requer do cirurgião tranquilidade

e habilidade cirúrgica.

O treinamento de técnicas hemostáticas em equipamentos que mimetizem

hemorragia possibilita que os alunos desenvolvam suas habilidades sem o estresse

relacionado à presença de sangue, proporcionando assim a autoconfiança necessária

para que a hemostasia definitiva seja feita com segurança numa situação real.

O simulador idealizado e empregado neste estudo apresentou excelente grau

de aceitação e mostrou-se apropriado para o objetivo proposto. O efeito pulsátil

produzido pelo fluxo do sangue artificial no sistema, foi capaz de mimetizar com

realismo, uma hemorragia, causando níveis semelhantes de estresse aquele

observado durante uma cirurgia real, e possibilitando o suporte adequado para o

treinamento de técnicas hemostáticas, colaborando com o desenvolvimento de

habilidades cirúrgicas ao tempo que auxilia na sedimentação do conhecimento.

Em continuidade aos recursos idealizados, o bastidor empregado para o ensino

da síntese cirúrgica mostrou-se de fácil confecção, ao tempo que mimetizou

satisfatoriamente os planos anatômicos e promoveu o adequado suporte para a

confecção de diversos padrões de sutura, favorecendo assim a prática da síntese

cirúrgica, que além de conhecimento, requer considerável competência psicomotora.

Considerando a análise dos resultados obtidos nesta pesquisa, acredita-se que

nas condições em que foram empregados e avaliados, os recursos alternativos

possibilitaram, em curto período de tempo, maior transmissão de conhecimento, para

significativo número de alunos. Os conhecimentos teóricos e práticos que permitam a

aquisição de habilidades e competência cirúrgica necessárias para condução de

manobras inerentes aos princípios da assepsia cirúrgica e as fases fundamentais da

técnica cirúrgica veterinária, proporcionando ao aluno a autoconfiança e a

101

competência necessárias a posterior realização de um procedimento cirúrgico com

mínimo risco operatório, e finalmente, a primazia da ética e do bem estar animal.