medicina tradicional chinesa: os efeitos benéficos da erva ... · o chá verde, branco, oolong e...
TRANSCRIPT
Medicina Tradicional Chinesa: Os efeitos benéficos da erva Camellia sinensis na
redução do conteúdo da gordura corporal
Anne Selenia de Souza Borges1
Dayana Priscilla Maia Mejia2
Pós-graduação em Acupuntura – Faculdade FAIPE
Resumo
Este artigo aborda a medicina tradicional chinesa e enfatiza a terapia fitoterápica,
reconhecida no tratamento de doenças internas, cujo funcionamento ocorre por meio da
ingestão de ervas. E umas dessas ervas é a Camellia sinensis, uma planta de origem asiática,
cultivada no Brasil, bem adaptada e reconhecida pelo seu efeito benéfico na redução do
conteúdo da gordura corporal. Como questionamento fez a seguinte indagação: quais são os
principais benefícios oferecidos pela erva Camellia sinensis para a redução do conteúdo de
gordura? Teve como objetivo principal investigar na literatura os prováveis benefícios
atribuídos à erva Camellia sinensis para a redução do conteúdo de gordura. A metodologia
utilizada consistiu em pesquisa bibliográfica com finalidade descritiva e método dedutivo.
Os resultados obtidos evidenciaram que os principais benefícios oferecidos pela erva
Camellia sinensis para a redução do conteúdo de gordura são redução do apetite e aumento
do catabolismo de gorduras.
Palavras-chave: Medicina Tradicional Chinesa; Terapia Fitoterápica; Erva Camellia
sinensis.
1 Introdução
A medicina tradicional chinesa oferece elementos para a promoção da saúde e bem
estar, sua utilização no ocidente cresce a cada dia e ganha novos adeptos em busca da
longevidade e qualidade de vida, uma vez que, é utilizada no tratamento das mais variadas
patologias.
Entre estas patologias está a obesidade, uma doença multifatorial e de difícil
tratamento que vem causado muita preocupação e tornando-se um dos grandes desafios para
os profissionais da área de saúde. Nesse cenário, a medicina tradicional chinesa surge como
uma forma de contribuir para amenizar esse quadro preocupante.
1 Pós-graduanda em Acupuntura 2 Orientadora. Mestre em Bioética.
2
Os alimentos funcionais fazem parte da medicina tradicional chinesa e oferecem
diversos vegetais, e entre estes está o chá, uma das bebidas mais populares do mundo, cujo
consumo está associado a hábitos nutricionais saudáveis.
A erva Camellia sinensis está na classe dos tipos de chás, sua planta de origem
asiática é cultivada e bem adaptada no Brasil. Esse vegetal tem como principais categorias
o chá verde, branco, oolong e preto, que se diferenciam de acordo com seu processamento.
Buscando compreender um pouco mais sobre esse assunto, fez-se o seguinte
questionamento: quais são os principais benefícios oferecidos pela erva Camellia sinensis
para a redução do conteúdo de gordura?
Como objetivo, foi proposto investigar na literatura os prováveis benefícios
atribuídos à erva Camellia sinensis para a redução do conteúdo de gordura.
A relevância da temática abordada se encontra na preocupação com o nível de
obesidade da população brasileira, revelado pelo Ministério da Saúde e publicado nas
mídias, apesar da reeducação alimentar ser recomendada e estimulada por órgãos
competentes. Logo, a contribuição da medicina tradicional chinesa para amenizar esse
quadro se torna relevante, devido oferecer o uso de novas práticas terapêuticas. Sendo assim,
compreender o assunto, de forma científica, sobre a relação entre a ingestão do chá da erva
Camellia sinensis e a redução do conteúdo de gordura, pode esclarecer dúvidas de outros
profissionais da área de nutrição, como também, espera-se contribuir para a população na
busca por uma melhor qualidade de vida.
A metodologia utilizada para o desenvolvimento desse estudo consistiu em pesquisa
bibliográfica com fins descritivos e método dedutivo.
2 Um olhar sobre a Medicina Tradicional Chinesa
A medicina tradicional chinesa envolve um vasto campo de saberes e práticas que
vem se desenvolvendo no ocidente desde os anos 60. Dentre suas práticas, algumas foram
incorporadas de forma mais estruturada, como a acupuntura, uma das práticas terapêuticas
mais difundidas com fortes raízes nos países ocidentais (SOUZA; LUZ, 2011).
De acordo com Cintra e Pereira (2012), a medicina chinesa foi desenvolvida há
milênios por uma população geograficamente, socialmente e culturalmente distinta do
mundo ocidental. Sua atuação é diferente da biomedicina e inclui do diagnóstico ao
3
tratamento, intervenções diretas no corpo humano fundamentada na ideia de que a energia
organiza a matéria orgânica.
Cintra e Figueiredo (2010) explicam que na medicina chinesa o organismo é visto
como um sistema energético e funcional e as doenças são desequilíbrios energéticos ou
desarmonia das funções orgânicas. Os fenômenos que ocorrem nos órgãos são explicados
por meio de um conjunto de fatores patológicos de origem interna ou externa ao organismo
que revelam como a base energética da existência e a expressão da matéria.
A medicina tradicional chinesa conforme Maciocia (2007), enfatiza o equilíbrio
como uma questão chave da saúde: o equilíbrio entre repouso e o exercício, na dieta, nas
atividades sexuais e no clima. Qualquer desarmonia contínua pode tornar uma causa para a
patologia.
Um dos pilares da medicina tradicional chinesa de acordo com Souza e Mejia (2012),
é a fitoterapia, considerada como a principal modalidade no tratamento de doenças internas,
pois regulariza a energia presente no corpo e introduz energia no sistema. A Terapia
fitoterápica funciona por intermédio da ingestão de ervas as quais exercem uma influência
interna direta, na fisiologia e na patologia do corpo.
2.1 Alimentos Funcionais – Definição e Composição Química
De acordo com Moraes e Colla (2006), o termo alimentos funcionais surgiu no Japão
na década 80, são processados e nutritivos, e seus ingredientes auxiliam diversas funções
específicas do corpo. O Comitê de Alimentos e Nutrição do Instituto de Medicina da FNB
(Federação Náutica de Brasília) afirma que os alimentos funcionais são aqueles que podem
proporcionar benefício à saúde, além dos nutrientes tradicionais que eles contêm.
Conforme Lamarão e Fialho (2009), o International Food Information Council
(IFIC) define os alimentos funcionais como aqueles que provêm benefícios adicionais à
saúde, mesmo contendo os nutrientes já atribuídos a eles. Conforme a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA), a resolução nº 18, de 30 de abril de 1999 estabelece que a
propriedade funcional está relacionada com o papel metabólico ou fisiológico que o nutriente
ou não nutriente tem no crescimento, desenvolvimento, manutenção e em outras funções
normais do organismo humano.
4
Os alimentos funcionais são a terceira geração de alimentos colocados no mercado
com a finalidade de promover a saúde ou gerar e manter uma condição de saúde nos
indivíduos (VIDAL et al., 2012). O quadro 1 mostra a composição química dos alimentos
envolvidos em alguns mecanismos de ações benéficas causadas pela ingestão de alimentos
funcionais.
Mecanismo de ação Componente químico
Atividades antioxidantes e proteção de órgãos
vitais (fígado, cérebro, rins, sistema
cardiovascular, etc...)
Vitaminas antioxidantes (A, C, E), ácido fólico,
ubiquinona, flavonoides, isoflavonas, catequinas,
antocianinas, carotenoides, licopeno e fenólicos.
Modulação de enzimas de detoxificação de
xenobióticos (compostos tóxicos)
Isoflavonas, flavonoides, isotiocianatos, indol-3-
carbinol e compostos sulfurados.
Diminuição da agregação plaquetária e do risco de
trombose e aterosclerose
Compostos sulfurados e polifenólicos.
Alterações no metabolismo do colesterol e
diminuição do risco de aterosclerose
Antocianinas, polifenólicos, compostos sulfurados e
curcumina.
Controle nas concentrações de hormônios
esteróides e do metabolismo endócrino
Isoflavonóides são uma alternativa para a terapia de
reposição hormonal, tendo como efeitos benéficos a
diminuição do risco de câncer, de doenças
cardiovasculares e da osteoporose (inibem a atividade
dos osteoclastos, células ósseas responsáveis pela
reabsorção óssea)
Redução da pressão sanguínea
Compostos sulfurados, potássio e dietas ricas em
minerais e fibras.
Efeitos antibacterianos e antivirais
Compostos sulfurados, especialmente a alicina
(bactericida) e terpenóides.
Atividades anti-inflamatórias Polifenólicos; inibem a produção de prostanóides,
mediadores do processo inflamatório.
Efeitos anticancerígenos
Licopeno (câncer de próstata), resveratrol (potente
indutor da morte de células tumorais), tocotrienóis
(indutor da morte de células neoplásicas), fibras
vegetais (diminuem a absorção de agentes indutores
do câncer e aumentam a velocidade de digestão e
excreção do bolo fecal.
Proteção da visão contra a ação dos radicais livres,
catarata e degeneração macular.
Luteína
Diminuição da absorção da glicose Beta-D-glucanas (fibra alimentar)
Fonte: Vidal et al. (2012, p. 47).
Quadro 1 – Mecanismos de ação de alguns componentes químicos encontrados nos alimentos funcionais
Os benefícios proporcionados pelos alimentos funcionais decorrem de diversos
efeitos metabólicos e fisiológicos que contribuem para um melhor desempenho do
organismo.
Matsubara e Rodriguez-Amaya (2006) afirmam que o chá é uma das fontes mais ricas
em flavonoides que são polifenóis que ocorrem naturalmente em alimentos de origem
vegetal. Os flavonoides consistem em metabólitos secundários de plantas subdivididos em
5
seis classes: flavonas, flavanonas, isoflavonas, flavonóis, flavanóis e antocianinas. Os chás
são considerados alimentos funcionais devido a presença de flavonoides.
Para Senger et al. (2010), os alimentos funcionais são considerados promotores de
saúde, pois contêm substâncias que contribuem para a redução dos riscos de algumas
doenças crônicas, devido a seus componentes ativos, podendo influenciar na qualidade e
expectativa de vida das pessoas. Essas substâncias bioativas devem possuir algumas
características como: – ação metabólica ou fisiológica específica; – alegação de propriedade
de saúde; – relação entre o alimento ou ingrediente com doença ou condição relacionada à
saúde; – alegação de propriedade funcional, relativa ao papel metabólico ou fisiológico em
funções normais do organismo humano.
2.2 Composição das Folhas da Erva Camellia sinensis
A erva Camellia sinensis (Figura 1) de acordo com Silva e Pereira (2013), é de
origem asiática e faz parte da família Theaceae. É uma árvore de pequeno porte cultivada no
Brasil, no Vale do Ribeira no Estado de São Paulo, e bem adaptada. Seus principais tipos de
chás se diferenciam pelo seu processamento. As folhas de chá, não fermentadas, apresentam
um teor de cerca de 15 a 20% em proteínas, 5% em glicídios, de 1 a 4% em ácido ascórbico,
vitaminas do complexo B, sais minerais, principalmente o flúor e bases púricas e 30% em
proantocianidinas, como as procianidinas, prodelfinidina e derivados, teasinensinas,
asamicaínas, ácidos fenólicos, principalmente o gálico e cafeico, polifenóis,
monoglicosídeos de flavonóis e flavonas, catecóis, epicatecóis livres e epigalocatecóis
esterificados pelo ácido gálico e de 10 a 24% em taninos.
Fonte: Silva e Pereira (2013)
Figura 1 – Árvore Camellia sinensis
6
Nishiyama (2010) cita três tipos básicos de chás de Camellia sinensis, o preto, verde
e oolong ou amarelo, que se diferenciam pela forma de beneficiamento das folhas. Conforme
Santos (2014), além dos 3 tipos de chás citados por Nishiyama, existe o chá branco, que é
proveniente dos brotos e flores da Camellia sinensis.
O chá verde é constituído de folhas secas colhidas de diferentes partes da planta,
o que determina os vários tipos de chás disponíveis. Já o chá preto passa por
diversas etapas de processamento, dentre elas a de “fermentação”, que consiste,
na verdade, de uma oxidação enzimática dos flavanóis a teaflavinas, que
constituem um grupo característico deste tipo de chá (MATSUBARA;
RODRIGUEZ-AMAYA, 2006, p. 380).
Conforme Schmitz et al. (2009), o chá-verde proveniente da Camellia sinensis tem
como principais componentes terapêuticos os polifenóis, flavonoides e catequinas. Entre
suas ações biológicas tem-se a antioxidante, quimioprotetora, anticarcinogênico e anti-
inflamatória. Sua ação antioxidante se destaca contra os radicais livres que tem importante
papel em processos patológicos.
Duarte et al. (2014) afirmam que além das catequinas, o chá verde tem outros
compostos orgânicos, como a cafeína e aminoácidos. O mesmo se diferencia do chá preto
durante o seu processamento, na produção do chá verde as enzimas foliares são inativadas
imediatamente após a colheita das folhas, e na fabricação do chá preto, as catequinas são
oxidadas enzimaticamente, gerando uma mistura complexa de polifenóis, constituída de
teaflavinas, teasinensinas e tearubiginas.
Lamarão e Fialho (2009) explicam que a composição das folhas do chá depende de
diversos fatores, como clima, estação, processo utilizado na horticultura, como também o
tipo e idade da planta. A maioria dos polifenóis do chá verde se apresenta como flavanóis, e
entre estes, as catequinas são predominantes, e as quatro principais são (-)-epicatequina
(EC), (-)-3-galato de epicatequina (GEC), (-)-epigalocatequina (EGC) e 3-galato de
epigalocatequina (GEGC).
2.3 Os Efeitos Benéficos da Erva Camellia sinensis no Conteúdo de Gordura
Vários estudos, segundo Duarte et al. (2014), evidenciam que o chá obtido da planta
Camellia sinensis tem alta quantidade de flavonoides e são capazes de promover a
7
diminuição do peso e gordura corporal, reduzir o apetite e auxiliar no tratamento da
obesidade e diminuir a concentração de colesterol total.
Miranda (2014) ensina que o efeito cardioprotetor do chá da erva Camellia sinensis
tem relação com a ação de seus compostos fenólicos, cujas propriedades tem a capacidade
de diminuir as gorduras no sangue, uma vez que aumenta a oxidação de gorduras e o gasto
calórico, com isso, contribui para a perda de peso e diminuição de massa gorda, além de
ajudar a manter o peso adquirido após a perda.
De acordo com Lamarão e Fialho (2009), entre os efeitos benéficos do chá verde, a
redução da gordura corporal tem recebido grande atenção. Evidências apontam que o extrato
do chá verde contendo 25% de 3-galato de epigalocatequina (GEGC) pode reduzir o apetite
e aumentar o catabolismo de gorduras se for ingerido em torno de 3 copos diários,
equivalente 240 e 320mg de polifenóis.
Conforme Vera-Cruz et al. (2010), após pesquisar as ações e os mecanismos
moleculares do chá verde da erva Camellia sinensis em ratos da linhagem Wistar-Hannover
machos, com obesidade induzida por dieta hipercalórica, os resultados evidenciaram uma
perda do peso corporal significativa nesses animais.
Segundo Senger et al. (2010), os compostos bioativos do chá verde tem potencial
para promover benefícios a saúde, fato demonstrado por meio de diversos estudos como
mostra o quadro 1.
Tipos de Doenças
Tipo de
estudo
Principais
População
Período de
Intervenção e
Dosagem
Resultados
Doenças
cardiovasculares
Caso
controle
520 pacientes
(379 homens e
141 mulheres)
1 mês (125-
249 g/mês
de folhas secas
do chá verde)
Redução do risco de doença arterial
coronariana em homens, odds ratio
de 0.62 (95%CI 0.38-1.01)
comparados com aqueles que não
bebiam o chá verde (p<0.001). Nas
mulheres não foi encontrado o efeito
protetor.
Ensaio
clínico
14 mulheres
5 semanas
(350 mg de
catequinas,
equivalente a
8,4 g de chá
verde)
Melhora na função vascular. A
resposta da artéria braquial a
compressão aumentou de forma
significativa (p<0,0001) após o
tratamento com extrato de chá
verde. Significativa redução
(37,4%) na concentração de LDL
oxidada. Redução significativa na
concentração de triglicérides
(p=0,04).
8
Estudo
transversal
711 homens e
796 mulheres
com histórico
de hipertensão
Consumo
regular diário
de 120-599 mL
de chá verde
durante pelo
menos um ano
Reduziu em 46% o risco de
desenvolver hipertensão e o
consumo de mais de 600 mL por dia
reduziu o risco em 65%.
Câncer
Caso
controle
130 casos de
câncer de
próstata e
274 controles
Consumo
habitual
de chá verde a
longo
prazo
O risco de câncer de próstata foi
inversamente proporcional ao
consumo de chá verde. A odds ratio,
em relação aos não consumidores de
chá, foi 0,28 (IC 95%=0,17-0,47)
para consumidores, 0,12 (IC
95%=0,06-0,26), para consumo há
mais de 40 anos e 0,09 (95%
CI=0,04-0,21) para os que
consumiam mais de 1,5 kg de folhas
por ano.
Caso
controle
501 casos de
câncer de
mama e 594
controles
Consumo
regular de
chá verde
Redução significativa do risco de
câncer de mama em consumidoras
do chá verde, mantida após o ajuste
de potenciais fatores de confusão.
Peso corporal
Estudo
transversal
1103
indivíduos
adultos
Consumo
habitual
de chá verde a
longo prazo (10
anos ou mais)
O hábito de consumo de chá verde a
longo prazo mostrou relação direta
com a diminuição da gordura
corporal e da relação cintura-
quadril.
Fonte: Senger et al. (2010, p. 294)
Quadro 1 - Alguns estudos epidemiológicos envolvendo a administração de chá verde
Duarte el al. (2014, p. 32) também citam que o chá verde, obtido da planta Camellia
sinensis vem recebendo atenção por meio de vários estudos que demonstram sua eficácia na
redução da gordura corporal, na prevenção da obesidade e das doenças à ela associadas.
“Atua na prevenção da obesidade devido ao seu efeito termogênico e a capacidade de oxidar
a gordura corporal”.
O efeito termogênico do chá verde, conforme Floriano e Rios (2012), consiste na
interação entre catequinas, cafeína e noradrenalina. A epigallocatequina galato (EGCG)
regula várias enzimas relacionadas ao anabolismo e catabolismo lipídico, como a acetil Coa
carboxilase, ácidos graxos sintetase, lipase pancreática, lípase gástrica e lipooxigenase,
modula a mitogênese e faz a estimulação endócrina e a função metabólica nas células de
gordura.
Na ótica de Oliveira e Mendes (2014), um potencial tratamento para a obesidade
pode ocorrer por meio de substâncias que atuam sobre o sistema ou o seu neurotransmissor,
noradrenalina. Nesses grupos de substâncias com efeitos sobre o peso corporal, fazem parte
alguns componentes do chá da erva Camellia sinensis.
9
Batista et al. (2009) assevera que os componentes do chá verde, responsáveis pela
redução nas concentrações sanguíneas do colesterol total e do LDL-colesterol, têm sido
evidenciados por meio de vários estudos. Entretanto, os responsáveis por essas alterações
ainda não foram totalmente esclarecidos. Alguns estudos apontam os flavonoides
(catequinas) como responsáveis, em especial a epigalocatequina gallate (EGCG), devido à
sua alta concentração de polifenóis antioxidantes.
Os flavonoides da planta parecem inibir a catecol-O-metiltransferase (COMT),
enzima responsável pela degradação de norepinefrina, um neurotransmissor
envolvido no aumento da termogênese e na oxidação de gorduras. Devido à
inibição desta enzima, há um prolongamento da atuação na norepinefrina, com
consequente aumento dos seus efeitos no gasto energético e oxidação de lipídios
(DUARTE et al., 2014, p. 36).
Beltran et al. (2014) explicam que devido a sua composição, o chá verde tem a
capacidade de promover inúmeros benefícios à saúde, o que justifica os diversos estudos
sobre seu consumo. Entretanto, embora ainda haja resultados que apontem dados
controversos, a maioria das pesquisas é satisfatória, o que indica que a bebida pode oferecer
benefícios ao tratamento de diversas patologias, especialmente da obesidade e do sobrepeso.
Cardoso et al. (2010) compactuam com a mesma opinião de que o mecanismo pelo
qual o chá verde possa diminuir o percentual de gordura corporal ainda não está bem
elucidado. E explicam que, em relação à dose e ao modo de administração do chá, a
American Dietetic Association sugere o consumo de 4-6 xícaras de chá verde ao dia para
obtenção dos efeitos benéficos do chá verde.
Ainda sob a ótica de Cardoso et al. (2010), quanto ao modo de preparo, para cada
litro de água é recomendado utilizar quatro colheres de sopa de erva fresca ou duas colheres
de erva seca, esquentar a água até pouco antes da ebulição e despejá-la nas folhas de chá
bem devagar e do alto, desse modo, ocorre redução do processo oxidativo e abafa a infusão
por cerca de 2 a 3 minutos. O chá deve ser consumido entre as refeições para não interferir
na biodisponibilidade de nutrientes provenientes das refeições principais.
3 Metodologia
Este artigo consiste em uma revisão do conhecimento disponível na literatura sobre
o tema, utilizando-se os descritores: Medicina tradicional chinesa; alimentos funcionais;
10
características da erva Camellia sinensis; efeitos e benefícios da erva Camellia sinensis para
o emagrecimento.
Constituiu-se em pesquisa bibliográfica com finalidade descritiva e método dedutivo.
Conforme Gil (2007), a pesquisa bibliográfica é embasada a partir de material já elaborado,
constituído principalmente de livros e artigos. O método dedutivo, de acordo com Prestes
(2007), parte de conceitos mais abrangentes até chegar ao tema especificamente proposto.
Os dados para a construção da revisão de literatura foram coletados em acervos
literários que incluiu artigos e periódicos pesquisados na base de dados Scientific Electronic
Library Online (Scielo) e sites especializados, cuja busca ocorreu nas produções científicas
publicadas no período entre 2006 e 2014.
4 Resultados e Discussão
A medicina tradicional chinesa envolve saberes e práticas (SOUZA; LUZ, 2011).
Atua diferente da biomedicina e inclui do diagnóstico ao tratamento, intervenções diretas no
corpo humano fundamentada na ideia de que a energia organiza a matéria orgânica
(CINTRA e PEREIRA, 2012). Um dos pilares da medicina tradicional chinesa é a fitoterapia
e funciona por intermédio da ingestão de ervas as quais exercem uma influência interna
direta, na fisiologia e na patologia do corpo (SOUZA e MEJIA, 2012).
Uma das ervas que faz parte da fitoterapia é a Camellia sinensis, planta de origem
asiática e faz parte da família Theaceae. Suas folhas, não fermentadas, apresentam um teor
de cerca de 15 a 20% em proteínas, 5% em glicídios, de 1 a 4% em ácido ascórbico, vitaminas
do complexo B, sais minerais, principalmente o flúor e bases púricas e 30% em
proantocianidinas, como as procianidinas, prodelfinidina e derivados, teasinensinas,
asamicaínas, ácidos fenólicos, principalmente o gálico e cafeico, polifenóis,
monoglicosídeos de flavonóis e flavonas, catecóis, epicatecóis livres e epigalocatecóis
esterificados pelo ácido gálico e de 10 a 24% em taninos (SILVA e PEREIRA, 2013).Os três
tipos básicos de chás da Camellia sinensis são o preto, verde e oolong ou amarelo, que se
distinguem pela forma de beneficiamento das folhas (NISHIYAMA, 2010). Conforme o chá-
verde proveniente da Camellia sinensis tem como principais componentes terapêuticos os
polifenóis, flavonoides e catequinas (SCHMITZ et al. (2009). A maioria dos polifenóis do
chá verde se apresenta como flavanóis, e entre estes, as catequinas são predominantes, e as
11
quatro principais são (-)-epicatequina (EC), (-)-3-galato de epicatequina (GEC), (-)-
epigalocatequina (EGC) e 3-galato de epigalocatequina (GEGC) (LAMARÃO e FIALHO,
2009).
O chá verde, obtido da planta Camellia sinensis vem recebendo atenção por meio de
vários estudos que demonstram sua eficácia na redução da gordura corporal, na prevenção
da obesidade e das doenças à ela associadas (DUARTE et al. (2014). A ação de seus
compostos fenólicos, cujas propriedades tem a capacidade de diminuir as gorduras no
sangue, uma vez que aumenta a oxidação de gorduras e o gasto calórico, contribui para a
perda de peso e redução de massa gorda, além de ajudar a manter o peso adquirido após a
perda (MIRANDA, 2014). Evidências apontam que o extrato do chá verde contendo 25% de
3-galato de epigalocatequina (GEGC) pode reduzir o apetite e aumentar o catabolismo de
gorduras se for ingerido em torno de 3 copos diários, equivalente 240 e 320mg de polifenóis
(LAMARÃO e FIALHO,2009). Entretanto, Batista et al. (2009) asseveram que essas
propriedades do chá verde ainda não foram totalmente esclarecidas. Embora ainda haja
resultados que apontem dados controversos, a maioria das pesquisas é satisfatória, o que
indica que a bebida pode oferecer benefícios ao tratamento de diversas patologias,
especialmente da obesidade e do sobrepeso (BELTRAN et al., 2014).
Considerações Finais
A medicina tradicional chinesa atua diferente da biomedicina e tem entre seus pilares
a fitoterapia, que por meio da ingestão de ervas influencia diretamente o organismo humano.
Entre as ervas está a Camellia sinensis, uma planta de origem asiática, que oferece
três tipos de chás, o preto, verde e oolon.ou amarelo, que se diferenciam pela forma de
beneficiamento de suas folhas.
As folhas da erva Camellia sinensis, não fermentadas, apresentam aproximadamente
de 15 a 20% de proteínas, 5% de glicídios, de 1 a 4% de ácido ascórbico, vitaminas do
complexo B, sais minerais, principalmente o flúor e bases púricas e 30% em
proantocianidinas, como as procianidinas, prodelfinidina e derivados, teasinensinas,
asamicaínas, ácidos fenólicos, principalmente o gálico e cafeico, polifenóis,
monoglicosídeos de flavonóis e flavonas, catecóis, epicatecóis livres e epigalocatecóis
esterificados pelo ácido gálico e de 10 a 24% em taninos.
12
Os prováveis benefícios atribuídos à erva Camellia sinensis para a redução do
conteúdo de gordura ocorre por meio da ação de seus compostos fenólicos, que possuem
propriedades que aumenta a oxidação de gorduras e do gasto calórico, com isso, reduz a
massa gorda.
Referências
BATISTA, Gesiani de Almeida Pierin; CUNHA, Cláudio L. Pereira da; SCARTEZINI,
Mariléia; HEYDE, Raul von der; BITENCOURT, Murílo G; MELO, Sandra Fabrício de.
Estudo prospectivo, duplo cego e cruzado da Camellia sinensis (chá verde) nas
dislipidemias. Arq. Bras. Cardiol. 2009, vol.93, n.2, p. 128-134. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2009000800010.>
Acesso em: 07 jul.2015.
BELTRAN, Carolina Carvalho; SILVA, Naiara Andressa da; GRIGNOLI, Laura Cristina
Esquisatto; SIMIONATO, Maria Inês Vilhena; GRIGNOLI, Carlos Roberto Escrivão. Os
benefícios do chá verde no metabolismo da gordura corporal. Revista Científica da
FHO|UNIARARAS. 2014; v.2; n.1; p. 41-49.
CARDOSO, Jéssica; MARTINS Jéssica; Júlia Benites; CONTI, Tássia; SOHN, Viviane.
Uso de alimentos termogênicos no tratamento da obesidade. 2010. Monografia
(Graduação em Nutrição) Universidade Federal do Rio de Janeiro. Centro de Ciências da
Saúde. Instituto de Nutrição Josué de Castro. Rio de Janeiro, 2010.
CINTRA, Maria Elisa Rizzi; FIGUEIREDO, Regina. Acupuntura e promoção de saúde:
possibilidades no serviço público de saúde. Interface (Botucatu). 2010; vol.14; n.32; p.
139-154. Disponível em: <http://www.scielosp.org/pdf/icse/v14n32/12.pdf.> Acesso em: 17
jul. 2015.
CINTRA, Maria Elisa Rizzi; PEREIRA, Pedro Paulo Gomes. Percepções de corpo
identificadas entre pacientes e profissionais de medicina tradicional chinesa do Centro
de Saúde Escola do Butantã. Saude soc. 2012; vol.21; n.1; p. 193-205. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v21n1/19.pdf.> Acesso em: 17 jul. 2015.
DUARTE, Juliane Lucas Guastuci; PRETTO, Alessandra Doumid Borges; NÖRNBERG,
Fabrícia Rehbein; CONTER, Leila Fagundes. A relação entre o consumo de chá verde e a
obesidade: revisão. Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento. São
Paulo. 2014, jan./fev.; v.8. n.43. p. 31-39. Disponível em:
<http://vufind.uniovi.es/Record/oai:doaj.org.article:f80a2104deed45a693aac3787145387d.
> Acesso em: 07 jul. 2015.
FLORIANO, Gabriela Paranhos; RIOS, Karina Ribeiro. Uso do chá verde e da
eletrolipólise sobre a gordura corporal. 2012. Disponível em:
<http://bibliodigital.unijui.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/834/.> Acesso
em: 28 jul. 2015.
13
GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2007.
LAMARAO, Renata da Costa; FIALHO, Eliane. Aspectos funcionais das catequinas do chá
verde no metabolismo celular e sua relação com a redução da gordura corporal. Rev. Nutr.
Campinas. 2009, vol.22, n.2, p. 257-269. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-52732009000200008.>
Acesso em: 07 jul. 2015.
MACIOCIA, Giovanni. Os Fundamentos da Medicina Tradicional Chinesa: Um texto
abrangente para Acupunturistas e Fisioterapeutas – São Paulo: Roca, 2007.
MATSUBARA, Simara; RODRIGUEZ-AMAYA, Delia B. Conteúdo de miricetina,
quercetina e kaempferol em chás comercializados no Brasil. Ciênc. Tecnol. Aliment.
2006, vol.26, n.2, pp. 380-385. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010120612006000200021&script=sci_abstract&tln
g=pt.> Acesso em: 07 jul. 2015.
MORAES, Fernanda P.; COLLA, Luciane M. Alimentos funcionais e nutracêuticos:
definições, legislação e benefícios à saúde. Revista Eletrônica de Farmácia. 2006; vol.3;
n.2; p. 99-112. Disponível em:
<http://www.revistas.ufg.br/index.php/REF/article/download/2082/2024.> Acesso em: 17
jul. 2015.
MIRANDA, Adriana Fernandes. Os benefícios do chá. Rio de Janeiro. 2014. Disponível
em: <http://www.anutricionista.com/beneficios-do-cha.html.> Acesso em: 26 jul. 2015.
NISHIYAMA, Márcia Fernandes et al. Chá verde brasileiro (Camellia sinensis var
assamica): efeitos do tempo de infusão, acondicionamento da erva e forma de preparo sobre
a eficiência de extração dos bioativos e sobre a estabilidade da bebida. Ciênc. Tecnol.
Aliment. 2010, vol.30, suppl.1, p. 191-196. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-20612010000500029&script=sci_arttext.>
Acesso em: 07 jul. 2015.
OLIVEIRA, Nayara Carla de; MENDES, Daniella Ribeiro G. As propriedades da Camellia
sinensis (Chá verde). 2014. Disponível em:
http://www.senaaires.com.br/Biblioteca/tcfacesa/farm2014/AS%20PROPRIEDADES%20
DA%20CAMELLIA%20SINENSIS%20(Ch%C3%A1%20verde).pdf.> Acesso em: 07 jul.
2015.
PRESTES, Maria Lucia M. A pesquisa e a construção do conhecimento científico do
planejamento aos textos, da escola à academia. 3 ed. São Paulo: Respel, 2007.
SCHMITZ, Wanderlei Onofre; CECCHINI, Rubens; ESTEVAO, Dirceu; SARIDAKIS,
Halha Ostrensky. Atividade hepatoprotetora do extrato alcoólico da Camellia sinensis (L.)
Kuntze (chá-verde) em ratos Wistar tratados com dietilnitrosamina. Rev. bras. farmacogn.
2009, vol.19, n.3, p. 702-709. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-695X2009000500009.>
Acesso em: 22 jun. 2015.
14
SENGER, Ana Elisa Vieira; SCHWANKE, Carla H. A; GOTTLIEB, Maria Gabriela Valle.
Chá verde (Camellia sinensis) e suas propriedades funcionais nas doenças crônicas não
transmissíveis. Scientia Medica. Porto Alegre. 2010; v.20, n.4, p. 292-300. Disponível em:
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/scientiamedica/article/viewFile/7051/5938.
> Acesso em: 07 jul. 2015.
SILVA, A. M.; PEREIRA, K. C. O. Os benefícios do chá verde. 53o Congresso Brasileiro
de Química. Rio de Janeiro. 2013, out. Disponível em:
<http://www.abq.org.br/cbq/2013/trabalhos/7/3393-13380.html.> Acesso em: 30 jul. 2015.
SOUZA, Eduardo Frederico Alexander Amaral de; LUZ, Madel Therezinha. Análise crítica
das diretrizes de pesquisa em medicina chinesa. Hist. cienc. saude-Manguinhos. 2011;
v.18; n.1; p. 155-174. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v18n1/10.pdf.>
Acesso em: 17 jul. 2015.
SOUZA, José Neres da Silva; MEJIA, Dayana Priscila Maia. A medicina tradicional
chinesa no tratamento da obesidade. 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br.>
Acesso em: 23 jul. 2015.
VERA-CRUZ, Marta; NUNES, Elaine; MENDONÇA, Lívia; CHAVES, Érika;
FERNANDES, Maria Luiza de Lima Aguilar. Efeito do chá verde (Camellia sinensis) em
ratos com obesidade induzida por dieta hipercalórica. J. Bras. Patol. Med. Lab. 2010,
vol.46, n.5, p. 407-441. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1676-
24442010000500010&script=sci_arttext.> Acesso em: 25 jun. 2015.
VIDAL, Andressa Meirelles; DIAS, Danielle Oliveira; MARTINS, Emanuelle Santana
Melo; OLIVEIRA, Rafaela Santos; NASCIMENTO, Raphael Mattheus Santos; CORREIA,
Maria das Graças da Silva. A ingestão de alimentos funcionais e sua contribuição para a
diminuição da incidência de doenças. Ciências Biológicas e da Saúde. Aracaju. 2012, out.;
v.1; n.15; p. 43-52. Disponível em:
<https://periodicos.set.edu.br/index.php/cadernobiologicas/article.> Acesso em: 17 jul.
2015.