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Manual Secreto de Rapsodomancia Jayro Luna São Paulo 2004

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Manual Secreto de Rapsodomancia

Jayro Luna

São Paulo 2004

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Copyright 2004 © Jayro Luna (Jairo Nogueira Luna) Capa: Wilson Babaçu Revisão: Epsilon Volantis Ilustração da capa: Albrecht Dürer, São Jerônimo em seu escritório Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução integral ou parcial do texto sem prévia autorização do autor. Impressão e Acabamento: Signos Editora SIGNOS / Epsilon Volantis LUNA, Jayro. (Jairo Nogueira Luna), 1960 - Manual Secreto de Rapsodomancia / Jayro Luna - São Paulo: SIGNOS / Epsilon Volantis, 2004. 1. LUNA, Jayro, 1960 - Poesia Brasileira - Teoria Literária. I. Título CDD - 869.915 801.95 Índices para catálogo sistemático: 1. Poesia: Literatura Brasileira: Século XXI - 869.915 2. Teoria Literária - 801.95

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Sumário - O Segredo da Rapsodomancia e a Poesia Metamoderna, 7 Parte I : Aralu, 11 1. Prelúdio, 11 Seção I: Cérbero, 12 2.Intróito: Lira dos Vinte aos Cinqüenta Anos, 12 3 - A Polêmica, 14 Seção II: Namtar, 15 IIa. A Coroa, 15 4. São Paulo Futurista, 15 IIb.Brincos, 16 5. Simbolismo Decadente, 16 IIc.Colares, 17 6. Saturnália, 17 IId.Porta-seios dourados, 18 7. Soneto Esquecido, 18 8. A Chama, 19 IIe. Cinta de Amuletos, 20 9. Nevoeiro, 20 10. As Palavras e as Coisas, 21 III. Nergal ou os Braceletes, 22 11. Intróito, 22 IIIa. Primeiro Giro, 23 12. Da Impossibilidade do Reparo, 23 IIIb. Segundo Giro, 24 13. Até logo Companheiro..., 24 IIIc. Terceiro Giro, 24 14. Meta-Satanismo, 24 15. Poesia na Fogueira, 25 16. Banco de Versos, 26 17. In God We Trust, 27 IV. Eresquigal ou as Vestes, 27 18.Barca 1: Retórica da Sedução, 27 I- Políminia, 27 II- Érato, 28 19. Barca 2: Melpomêne e o Destino, 29 20. Barca 3: Urânia ou Os Astros, 29 21. Barca 4: Clio e O Tráfico da História, 30 22. Intervalo Metapoético, 30 23. Barca 5: Tália ou A Hipocrisia do Baixo Clero, 33 24. Barca 6: Calíope ou o Grande Golpe, 33

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I, 33 25.II, 34 26. Barca 7: Mnemosina ou Os Maus Conselhos, 34 I, 34 27.II, 35 28. Barca 8: Euterpe ou A Música Cismática, 35 29. Barca 9: Terpsícore ou A Dança da Farsa, 36 I, 36 30.II, 36 V. Traição ou A Nudez de Ishtar, 37 31. Intróito: A Peleja de Nemrod-Baal e Tiamat, Príncipe do Mar, 37 32.Melencolia Si..., 38 I – Caína ou Zu e as tabuinhas do destino 38 32.II – Antenora ou Dabu, o dragão riscado, 38 33. Ptoloméia ou As Hierodulas de Ishtar, 39 34. Lúcifer ou as três bocas de Nergal, 40 Parte II: Reino de Uruk, 41 II.I. Intróito, 41 1. O Censor, 41 2. Canção do Carnaval Malogrado, 41 II.II. Portões de Uruk, 42 3. Canção dos Exilados, 42 4. Antes Tarde do Que Nunca..., 43 5. Fim da Estrada, 43 6. Ritmo Moderno, 43 7. Sordello Pós-Moderno, 44 8. Poeta No Exílio, 45 II.III. O Elder Guardião, 46 9. A Espada de Fogo, 46 III. Enquidu, o Selvagem, 46 III.I.Aruru, 46 10. O Orgulho e o Gorgulho, 46 11. Argumentos Insólitos e Desconexos Para A Manutenção da Paz, 47 12. Cartazes e Anúncios, 49 III.II.A peleja de Gilgamés e Enquidu, 50 13. Iluminismo Moderno, 50 14. Folhas Soltas: Memória de um Povo, 50 15. A Rosa do Poeta Engajado, 51 III.III. A ira de Humbaba para com o Sol, 52 16. Humbaba, 52 17. Samas, 52

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IV. Vitória sobre Humbaba, 53 18. Sonetos da Fuga Suicida, 53 V. Gilgamés e Ishtar, 54 V.I. O Assédio da Rainha, 54 19. O Carro de Lápis-Lazúli, 54 20. Gloria In Excelsis Deo, 54 21. O Reconhecimento, 55 V.II. A Peleja de Gilgamés e Enquidu contra o Touro Celeste, 55 22. Nova Tebaida, 55 23. Os Chifres do Touro Celeste, 56 24. A febre de Enquidu, 57 V.III.Lembrança de Umnapisti, 57 25. A Luxúria, 57 26. Na Taberna de Siduri, 59 VI. Ursanábi ou a Travessia, 59 27. Paredes de Fogo, 59 28.Terra das Uvas Negras, 60 29. Bibliotequinha Básica do Estudante de Poesia Rapsodomântica, 61 30. O Canto Das Musas: Entre o Céu e o Inferno, 63 31. Confissão do Poeta à Musa, 63 32. O Carro da Besta do Apocalipse, 66 33. Os 72 Magos: Anagramas Poéticos do Psalmus 78 de Asaph, 67 Parte III: Merodac, 70 1. Céu e Fogo, 70 2. Luna, 70 3.Hermes, 70 4. Afrodite, 71 5. Hélios, 71 6.Ares, 73 7. Zeus, 74 8.Cronos, 74 9. Urano, 75 10. Poseidon, 76 11. Plutão e Caronte, 76 12. Nuvem de Cometas, 77 13. Planeta X, 77 I.Varuna, 77 II. Quaoar, 78 III.Sedna, 78 14. Alpha Centauri, 79 15.Estrela de Barnard, 79

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16. Sírius, 80 17. Canis Major, 80 18. Procyon, 81 19. Spica, 81 20.Canopus, 82 21.Hydra, 82 22.Scorpius, 83 23. Triangulum Australe, 84 24. Cruzeiro do Sul, 84 25.Sigma do Octante, 85 26. SO-2 em Sagitarius A, 86 27. Andrômeda (M31; NGC224), 87 28. Grupo Local, 93 29. Virgo Supercluster, 94 30.Horologium Reticulum Supercluster, 94 31.O Grande Atrator, 95 32. O Raio de Schwarzschild e o Horizonte de Eventos, 95 33. O Alphômega, 96

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O Segredo da Rapsodomancia e a Poesia Metamoderna A Rapsodomancia é a arte mágica de fazer prognósticos e adivinhações a partir da leitura casual de versos de poemas. O Rapsodomântico abre ao acaso um livro de poesias, escolhe um verso de olhos fechados, apenas apontando com o dedo indicador, feito isso, lê o verso e o interpreta em razão de uma pergunta anteriormente feita acerca de um negócio, um relacionamento amoroso, um caso qualquer. Na Idade Média a Rapsodomancia tinha predileção pelos poemas de Homero em versão latina, por Virgílio e por Ovídio. Dentre as artes mágicas foi a que menos se desenvolveu tendo em vista a dificuldade de interpretação dos poemas, uma vez que o aspecto mágico, muitas vezes se misturava ao aspecto literário. Pouca documentação restou acerca dos procedimentos da Rapsodomancia e quase nenhum praticante desta arte mágica ganhou notoriedade comparável à dos astrólogos, cabalistas e alquimistas. No entanto, pesquisas por mim desenvolvidas ao cabo de vários anos me permitiram desenterrar um pouco do tesouro escondido que envolve essa prática mágica. A Rapsodomancia, muitas vezes, é também conhecida por Bibliomancia, porém, o Bibliomântico tem predileção por textos de caráter religioso, e a Bíblia é o grande livro de trabalho. De certo modo, o I Ching tem princípios rapsodomânticos, no entanto, a diferença está no texto, a Rapsodomância faz uso de textos que, em princípio, não tinham qualquer função ou intenção adivinhatória ou prognóstica. Este é precisamente o grande segredo do praticante desta arte, saber transcender o texto poético para a esfera mágica. O princípio que fundamenta esta arte é a de que o poeta, no momento da composição, atinge um estado mental especial em que o sensitivo se aproxima do intelectual e, muitas vezes, por processos que a arte literária não consegue dominar ou compreender de pleno, o poema se faz. E é

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justamente essa independência ou rebeldia do verso diante de normas, técnicas, usos que faz com que muitas vezes uma obra se apresente com uma riqueza inovadora e inventiva que surpreende e enriquece o espírito. O bom método deve ser aquele que garante a possibilidade de que qualquer página e qualquer verso tenha, em princípio, igual probabilidade de leitura. A idéia original de que o rapsodomântico deva abrir uma página ao acaso, de olhos fechados passar o dedo indicador pela página e assim escolher o verso indicado é na verdade uma visão simplória do processo aplicado. Primeiro, porque por essa técnica existe uma maior probabilidade de que as páginas mais centrais e os versos mais ao meio da página sejam os escolhidos, isto é comprovado estatisticamente. O último ou o primeiro verso de um poema colocado nas páginas iniciais ou finais de um livro têm uma taxa de leitura casual bem menor nesse processo. Na Idade Média, por volta do século XIII, um grande rapsodomântico, De La Rioja, desenvolveu um método simples e eficaz para garantir a eqüidade estatística entre as partes do livro e dos versos. Ele fazia um sorteio do número da página e do número do verso por meio de uma espécie de roleta. Depois, De La Rioja desenvolveu também uma classificação dos livros e dos poetas, quais eram os mais indicados para esse ou aquilo tipo de consulta. Casos de amor, de herança, feitiços, negócios de dinheiro, duelos, batalhas, desavenças familiares, possessões, tudo foi classificado de acordo com uma lista de obras que se mostravam mais ou menos pertinentes a cada caso. Athanasius Kircher sugeria que a Rapsodomancia não se baseava na leitura de um único verso, escolhido ao acaso, mas na junção de vários versos escolhidos ao acaso de diferentes obras. O conjunto formava um novo texto, este sim, objeto da análise interpretativa adivinhatória. Novalis via na Rapsodomancia uma prática poética que tinha correlações com sua idéia de matemática poética. Afinal,

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o texto formado envolvia conceitos como probabilidade, ordem, caos. Modernamente, podemos entender nesse aspecto a inferência ao conceito de hipertexto. Mas podemos imaginar o caso de que o poeta se utilize da Rapsodomancia como parte de seu processo de composição. Se pensarmos nas questões de intertextualidade, se imaginarmos a existência de uma memória poética que se forma com o conjunto de todos os livros e poemas já publicados, cada novo poema acaba por instaurar um diálogo com essa memória, em certo sentido, existe a possibilidade da Rapsodomancia, basta que o poeta substitua o verso a ser escrito com aquele com o qual o seu verso mantém referência e encontre um processo pelo qual o seu verso, agora oculto, torne-se a interpretação rapsodomântica em si. De certa forma é o que faço nesse livro. Fruto de intensa leitura e pesquisa os poemas aqui inseridos foram produzidos segundo um processo rapsodomântico, e é na interação de cada verso com o seguinte que surge o novo poema. Este livro de poemas é, pois, um livro de poemas que une três esferas distintas, distantes e, no entanto, próximas paradoxalmente, uma vez que se utilizam do texto poético. A primeira é a própria arte mágica. Nesse sentido, este é um livro mágico, iniciático, que contém inúmeras possibilidades de interpretação adivinhatória, bem como indica seu título, é um manual de rapsodomancia. O primeiro que se publica em língua portuguesa. A segunda esfera é a intertextualidade. Os poemas aqui compostos remetem verso a verso a outros poemas, que mantém com o poema aqui composto um diálogo. A terceira esfera é a noção de hipertexto. Existe uma estrutura dominante na organização das partes desse livro. Ela pode ser entrevista nas correlações das epígrafes que abrem quase todos os poemas: A Divina Comédia de Dante Alighieri, O Paraíso Perdido de John Milton, Avalovara de Osman Lins, Macunaíma de Mário de Andrade e ainda, Ovídio e Virgílio,

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compõem um panorama paideumático que envolve uma suposição, apenas entrevista de narrativa, de um herói que passa pelas instâncias do paraíso, do purgatório e do inferno, mas não no sentido cristão, e sim, numa readaptação desses conceitos via mitologia babilônica. Ao fim e ao cabo, a grande metáfora: a torre de babel da poesia, em que as vozes – inúmeras, polifônicas – de poetas misturam-se num momento dramático. Pode-se ainda observar que as referências – alusórias, parafrásicas ou paródicas – aos poetas simbolistas, barrocos e modernos dominam a primeira parte, equivalente em Dante ao Inferno. A segunda parte, construída analogamente à estrutura de purgatório é dominada por referências aos poetas neo-realistas, realistas, positivistas e engajados em alguma causa sócio-política. A máscara do herói aqui é a de Gilgamés. A terceira parte foi construída segundo uma analogia com o paraíso, mas não um paraíso dominado pelo Deus cristão, mas por Merodac ou Marduc, a principal divindade do panteão babilônico. Nela encontramos constantes referências aos poetas parnasianos e aos concretistas. Em Dante, o paraíso contém uma descrição dos conhecimentos astronômicos da época: os planetas, as constelações, o movimento dos astros segundo a ciência do tempo de Dante. Atualizamos esse conhecimento, os planetas posteriormente a Dante descobertos, as estrelas mais próximas, a Via-Láctea (e nesse caso, a referência ao livro homônimo de Olavo Bilac é dominante na estrutura), as galáxias, os aglomerados, os buracos negros, as outras dimensões segundo a astrofísica... tudo comparece de forma citatória e estrutural para redimensionar a visão que permitiria unir o científico ao sagrado, via aventura poético-estelar. Boa viagem...

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Parte I : Aralu

“E eu, solitário, volto a face, e tremo, vendo o teu vulto que desaparece

Na extrema curva do caminho extremo” Olavo Bilac

“Nunca me esquecerei desses acontecimento

nas minhas retinas tão fatigadas” Carlos Drummond de Andrade

1. Prelúdio Vós que escutais em rimas espalhado Minha escritura a algum juízo isento; Escureceu o engenho co’o tormento O incerto estilo por que eu hei variado. Que mofem, pois, deste papel fanado Tanto arroio espantoso, rio violento Mal vadeado pelo pensamento, E a meu verso exageros do passado Então a angústia se calou secreta, Olhava para a linha, indiferente, A noite que tomou minha alma inquieta... De boca em boca a fama num momento, Quando de seu alcáçar prepotente, Mágoa será do próprio entendimento.

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Seção I: Cerbero 2.Intróito: Lira dos Vinte aos Cinqüenta Anos

“Dinanzi a me non fuor create se non etterne, e io etterna duro.

Lasciate ogne speranza, voi ch’intrate” Dante.

(...) XX Sonhando no mar, Ai Jesus! Cismar... Anjinho, anjos do mar... Tenho um seio que delira A cantiga do sertanejo O poeta quando à noite o céu enegreceu no leito perfumado... Fui um doudo em sonhar tantos amores lá no ocidente, Eu nada lhe pedi – ousei apenas! Foi mais uma ilusão de Minha Fronte! A harmonia – anima mea – Pálida Inocência Ao caminho rasgou-se em mil torrentes! Amo a voz da tempestade quando falo contigo! No meu peito – crepúsculo do mar – crepúsculo das montanhas!- desalento! Lembrança de morrer... Na minha terra – Itália – esperanças e saudades! A tempestade de lágrimas de sangue no túmulo de meu amigo Numa tarde de outono é cantiga de virgem morta Ou hinos de profeta – um canto do século dum pastor moribundo! At... C... (...)

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L A estrela é Mozart no céu de Ouro Preto! O martelo é poema desentranhado de uma prosa! Desafio o exemplo das rosas Com uma canção – cantar de amor! Canção! Última Canção do vento do beco e da minha vida! Canção de muitas Marias da parada de Lucas Com dedicatória dum soneto plagiado do Augusto! Eu vi uma rosa cossante – gazal em louvor de Hafiz! E a peregrinação dum pardalzinho à piscina, Fiz dois sonetos ingleses, Ao rei das sereias uma balada, Ao John Talgot um acalanto, Ao Augusto um soneto de louvor, À ubiqüidade do capitão, um rondó; Um haicai tirado duma falsa lira de Gonzaga... Um belo soneto italiano, Belos versos de Natal! A morte absoluta pousa a mão na minha testa... Testamento: Ao Alphonsus a velha chácara, a água-forte de maçã e a carta de brasão...

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3 - A Polêmica “ ‘Or discendiam qua giú nel cieco mondo’,

cominciò il poeta tutto smorto. ‘Io sarò primo, e tu sarai secondo.’”

Dante. “Stava escrito! Não foram vossas armas

que meu trono abateram; foi o fado!” Manuel de Araújo Porto-Alegre

Oh Sol! Astro propício... Era o tempo em que o sol abrasa tudo Guardando consigo a ponta farpada, Oh duros corações! Esta é a indústria... É o silêncio do rio quando passa nos lugares profundos e sombrios... Assim fugiste, oh cara liberdade... Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte... Entre essa gente sáfia não se acharam O rio onde crescia o coqueiro, e os campos onde serpeja o rio... Descamba o Sol!

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Seção II: Namtar “Comme je descendais des Fleuves impassibles,

Je ne me sentis plus guidé par les haleurs” Rimbaud

IIa. A Coroa

“Ell’ è Semiramis, di cui si legge Che succedette a Nino e fu sua sposa;

Tenne la terra che’l Soldan corregge.” Dante

4. São Paulo Futurista

“Pourtant, j’étais fort mauvais poete. Je ne savais pas aller jusqu’au bout.

J’avais faim” Blaise Cendrars

Alguns dados. Nem todos. Sem conclusões. Amor de Anacronismo... São Paulo! Casas, torres e pontes... Intermitentemente... O oceano, aquele amor, o feliz nascimento na latrina... Horríveis as cidades! Juros hipotecas prazos amortização E as imensidões das escadarias!... A cidade progredia Entre estas duas ondas plúmbeas de casas plúmbeas... A mijada da moça aos heróis de meu estado amado! A sua habilidade consistia em matar de longe A santificação da morte! Jogando prenda passa um São Bobo, Era o deserdado, o homem-curva! No futuro As gerações

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Ninguém os assistirá... Nunca nos encontramos... Eu já morei foragido Sob o arlequinal do céu oiro-rosa-verde... Não sou bravo meu querido palimpsesto sem valor! Faze as pazes, Terá o amparo de todos os desamparos Anoitece sobre os jardins Todos embarcam na Alameda dos Beijos da Aventura! Era uma vez este sonho medonho!... Todos os passarinhos da Praça da República Esvoaçam entre os dedos da garoa... Há patriotas no Brás, Higienópolis!... Babilônias! Entre duas metralhadoras, Deus! Sobre a cidade A vitória de todos os sozinhos! IIb.Brincos

“-Palud pâle, où la lune avale

de Gros vers pour passe la nuit.” Tristan Corbiére

5. Simbolismo Decadente

“Ed elli a me: ‘Ritorna a tua scienza, Che vuol, quanto la cosa è piú perfetta, Piú senta il bene, e cosi la doglienza.”

Dante

Nas invisíveis asas de uma prece, Mares infindos, deslumbrantes mares, Que de lauréis a fronte me entretece, Umas, da cor dos lírios estelares. E a alma entrando no vácuo, ouve, absorta

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Flechas de luz do sol que ao longe assoma Na harmonia feral da carne morta!... Em derredor espalha-se da coma Cheia de luz, alvíssima, sonora; A minha alma levanta-te o sudário E vai subindo ao céu, espaço em fora; Hoje, ao fitar-te, ó velho campanário, Que importa o céu? A terra e o céu? Do pó Mudo, abstrato, sem temor e só... IIc.Colares

“Oui, ce monde est bien plat: quant à l’autre, sornettes.” Jules Laforgue

6. Saturnália

“In la palide va c’ha nome Stige questo tristo ruscel, quand’è disceso

al piè de le maligne piagge grige.” Dante

. A lua chora um pranto magoado E então eu penso que o mundo inteiro Ao fulgor dos seus olhos abrasados Triste, exalou o alento derradeiro. Abrem-se então as portas, e ligeiro, Do éter em branca luz transubstanciado Seria eu um velho deus guerreiro? -“Dentro do Inferno estou!” grito assombrado. Vertendo em prantos, desde nem sei quando A esta mentira de celebridade, Sombras da Cor, do Som, da Luz chorando...

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Se é indiferença ou se é perplexidade, Olhos de olhar tão místico, tão brando Que um mar de praias negras cinge e invade! IId.Porta-seios dourados

“Was für Urteil, soll ich fällen? Welt ist Wind, ist Blum und Wellen.”

Martin Opitz 7. Soneto Esquecido

“Lo buon maestro disse: ‘Figlio, or vedi l’anime di color cui vinse l’ira”

Dante Da ciência na imagem mais divina, Mudou o Sol o berço refulgente; Sobre os astros o sábio só domina, Com luz no Ocaso, e sombras no Oriente. Hoje, que remontado ao firmamento Fúnebre Caos sepulta o ser brilhante, Sacudindo os carvões do esquecimento, Esse do dia escândalo flamante. Tu no Sol tens o objeto, o alívio, a Sorte, Que já um Astro lhe dá luz de abundância, Com impulso cruel, com rigor forte; Se vence a si quem nunca foi vencido, Das trevas superiores da ignorância, Deixa-se a si de si mesmo rendido.

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8. A Chama “Ed ei mi disse: ‘Il foco etterno

ch’entro l’affoca lê dimostra rosse, come tu vedi in questo basso inferno’”.

Dante Que pretende essa estranha fantasia? Intrincada questão, se não me engano, Com mostras de devida cortesia Pode um lustre causar mais soberano? Mostra Roma que em si já não podia A sorte com os obséquios de Adriano, Quando o Sol na mais alta pira ardia As armas que lhe foram timbre ufano; Nos está convidando ao fogo ardente, Tanto sobe que passa a metafísico, Transplantada do Ocaso ao Oriente; Voe da fama, ao sempre merecido, Com o ofusco licor do lago estígico, Ardor em firme coração nascido.

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IIe. Cinta de Amuletos

“O artista uma comoção profunda no seu espírito sofre,

sob um novo aspecto olha o modelo” Raul Enoch Leal

9. Nevoeiro

“ ‘O cacciati del ciel, gente disperta’,

cominciò elli in su l’orribil soglia, ‘ond’esta oltracotanza in voi s’aletta?”

Dante

“é que a língua não tem setas e para falar de Deus

este idioma não presta” João Cabral de Melo Neto.

-Desde há 4.004 anos... Feito um balanço das relações, Não me tenho dado mal, uma vez que Me tomam a sério... =Satisfeito? -Estou e não estou, isto é, estaria, se não fosse este inquieto coração que todos os dias me diz: “Bonito fado arranjaste, jamais pagarão!” =Então, servi-vos dos homens – Sim, filho! Serás a colher qu’eu mergulharei Na humanidade para retirar Os que no deus novo acreditarão! Deus é deus, sem remorsos...=É preciso Ser deus para gostar de tanto sangue!

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10. As Palavras e as Coisas “Noi veggiam, come quei c’ha mala luce”

Dante “Agora não vá dizer que El Rei contará as luas

que decorrerem desde a noite do voto ao dia em que nascer o infante, e as achará completas.

Não sae diga mais do que ficou dito.” José Saramago, Memorial do Convento.

O mar e o canavial na morte dos rios... Rios sem discurso os rios de um dia! O sol de Pernambuco na baixa Andaluzia A luz de Sevilha de uma praia no Atlântico! A lição de poesia: O vento no canavial! A rede ou o que Sevilha não conhece: Os vazios do homem, chuvas do Recife em Marraquech, Formas do nu, o nada que é pequena ode mineral...

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III. Nergal ou os Braceletes

“Nada podemos admirar hoje, a não ser as formidáveis sinfonias shrapnels

e as loucas esculturas que nossa inspirada artilharia molda nas massas inimigas.”

Marinetti. 11. Intróito

“In su l’estremità d’un’alta ripa Che facevan gran pietre rotte in cerchio,

Venimmo sopra piú crudele stipa” Dante.

É noite – pelos céus a lua branca Esparge-se ao longo da barranca, Em frio e duro solo ensangüentado Pavoroso sussurro emaranhado, Arde e esbraveja o incêndio furioso Retroa ao longe o eco pavoroso, Estragos derramando em toda parte Na barbacã do horrendo baluarte...

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IIIa. Primeiro Giro

“Mas zombo de tudo, de Deus, De Satanás, da Santa Ceia”

C. Baudelaire 12. Da Impossibilidade do Reparo

“Ma ficca li occhi a valle, che s’approccia la riviera del sangue, in la qual bolle

qual che per violenza in altrui noccia”. Dante

O que considerei inexcusável no rigor da sua justiça foi a morte de dois infelizes um era valão viu-se forçado a vender sua roupas para conseguir pão ficou nu vagando pelas ruas o outro era inglês a necessidade o levou a pegar em armas... -Somos criminosos nós pelo fato do inimigo mais forte ser em maior número? Ou morreríamos de fome ou pegávamos em armas... E desde que nos encontramos entre todos vós Em lugar de sermos festejados Somos por vós sacrificados!? Deles vieram à meia-noite quinhentos, Tiraram-nos da forca E ao pé dela os enterraram E sobre os túmulos dispararam Três salvas de mosquete Reparando assim a injustiça...

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IIIb. Segundo Giro “Viram-na, um momento, bracejar,

não para resistir à morte, mas para abraçar-se ao cadáver de Simão, que uma onda

lhe atirou aos braços.” Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição.

13. Até logo Companheiro... “Io fei gibetto a me de le mie case”

Dante. Adeus, amigo, sem mãos nem palavras, Eu joguei nas damas de espadas e só me veio ás de ouro... O álcool desfolha o meu cérebro... Ninguém pode mais do que Deus Modulando na lira de Orfeu constelada A flor que tanto amava min’alma desolada... Eu estou aqui... ainda tenho algum tempo? IIIc. Terceiro Giro

“Rei do inferno, senhor absoluto da treva; Espírito que o mal domina e que o ódio leva”

Orlando Teixeira 14. Meta-Satanismo

“Letè vedrai, ma fuor di questa fossa, là dove vanno l’anime a lavarsi

quando la colpa pentuta è rimosa” Dante

Estava eu, aqui, um dia neste quarto Lembrava de Satã a imensa queda Ao fundo da eterna sombra que me veda Dessa tragédia para rir já farto... O que há de fazer Deus do fluxo de heresias? Foi num momento de saudade e tédio Que o Diabo, já das culpas sem remédio Deus pode expulsar do paraíso um dia!

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O coração lembra idades históricas Eu rezarei vesperalmente a loa Na anti-luz das estrelas simbólicas... Guarda o portal de alabastro tristonho -Já o seu tropel estrepitoso atroa- em que fulge o brasão lunar do sonho. 15. Poesia na Fogueira

“ ‘La sú di sopra, in la vita serena’, rispuos’io lui, ‘mi smarri’ in uma Valle,

avanti Che l’età mia fosse piena.” Dante

Tudo o que vejo são assombrações Tudo pasmos! Tudo admirações! -Pois estais vencido, mando-vos que Não tomeis armas por espaço de anos... =É lastima que cativo quem seja tendo livre o juízo pra discorrer... -Grande peso tenho sobre estas costas! ...e se ponha, pois, perpétuo silêncio nesta matéria! =Oh, sim, que desgraça! Venho a concluir a minha história, Ai de mim! À vista desta confusão (Mata o dragão que se meterá com urros prum buraco do tablado): -Hei-de vencer quantos poetas no mundo?

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16. Banco de Versos “ma qui tacer nol posso; e per la note

di questa comedia, lettor, ti giuro, s’elle non sien di lunga grazia vote”

Dante. -Siga com o negócio que fez comigo (E com o seu crédito esvaziou Veneza de dinheiro...) =Uma guerra contra os índios custa U$ 20,000 por cabeça! (Faturas descontadas em taxas exorbitantes!) =150 milhões por ano somente em descontos usuários... -Veneza seja luogo di contrato 9 % de entrada, 9 % na saída! (Balanço de 4 a 5 milhões do tesouro nacional Entradas de 31.000.000 a 32.000.000 Renda de 32.000.000 a 33.000.000 O Banco, 341.000.000, e em depósitos 6 milhões de dinheiro do governo...) =Vendeu ao governo as armas do governo! -Mas o que farão com esse dinheiro? =Mas! Mas! Signore, não se pergunta a um homem O que ele fará com seu dinheiro, É um assunto pessoal! (Adamo me fecit.) =Usura oxida o cinzel, Roubando o público para lucro individual, Todo banco de descontos é vileza inequívoca! E se o roubo é a norma prima do governo, Haverá roubalheira em menor escala: E o banco pode ser da nação...

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17. In God We Trust “Ecco la fiera con la coda aguzza,

che passa i monti e rompe i muri e l’armi! Ecco colei che tutto ‘l mondo appuzza!”

Dante Fora a canalha de vazios bolsos! E os fregueses do banco: Bisões! Águias! Ursos! Gorilas! Se houvesse o Deus-vintém no paraíso, Se o Diretor tivesse a minha imaginação, Num dia... ai dólares! E altares! Cruz ao credor! Ao leilão! IV. Eresquigal ou as Vestes

“It is night, I am alone, Forlorn on the hill of storms.

The wind is heard on the mountain. The torrent pours down the rock.

No hut receives me form the rain; Forlorn on the hill of winds!”

James Macpherson 18.Barca 1: Retórica da Sedução

“Nel fondo erano ignudi i pecattori” Dante.

I- Políminia Conheci uma mulher da escola rebuscada, Num hálito de amor a vida bela, Linda, casta, a melhor – mas tola rematada, E que pálida face de donzela! -Acabei um excelente jantar...- Formosa, qual pincel em tela fina! Jamais ou nunca ousara debuxar “Eu para você, você para mim”. Abraços e beijinhos e carinhos

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O coração se agita no meu peito... (E também não perder esse jeitinho) Se brilha o amor ao som dos violinos E ris cheia de graça, mal te vejo... E nos amaldiçoa, é o sino do destino! II- Érato

“Aos âmbitos de Juno subis com tanta pompa,

que vos aclama a sussurrante trompa” Simão Pereira de Sá

Monarca augusto da ciência amante Tanto puderam tantos; mas vós tanto, Pois quando vos escuto, encontro espanto, Que elevais a Hemisfério dominante Ó César sem igual, sem paralelo! Que já um astro lhe dá luz de abundância, Das trevas superiores da ignorância, Que do Etna de Amor mais se faz belo! Voe da fama, ao sempre merecido -Minha musa afirmar já não receia- Clamor perpétuo de eco enobrecido! Do modulante Orfeu invicto e raro Um prato que as potências se recreia, Tem sido luz do rio e seu amparo!

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19. Barca 2: Melpomêne e o Destino “per oro e per argento avolterate,

or convien che per voi suoni la tromba, però che ne la terza bolgia state.”

Dante Qual em babel o povo, que atrevido Ilustra o vosso nome e vosso estado Cujo idioma próprio pervertido Ao povo português pelo Céu dado! Será nobre colônia, rica, forte, Na vasta divisão que ao luso veio, Fecunda em gênios, que assim quis a sorte! País das gentes e prodígios cheio! Mas só vos pode amar o que vos sabe, Que alcançaste com isto? Liberdade! Pois tudo quanto há, tudo em Vós cabe. Quando a luz nasce e a sombra principia, Que ostentas nas ações? Felicidade, Que fazem o prado céu e a noite dia! 20. Barca 3: Urânia ou Os Astros

“O somma sapïenza, quanta è l’arte Che mostri in cielo, in terra e nel mal mondo”

Dante. Vênus pagã, olhos de sete-estrelo! Quando virás, ó Encoberto? O Número do limite possível anima-se d’indefinido! Quando as estrelas despediram seus raios? Quando já as cifras e figuras Ponte se fará prontamente de barcas... Cada homem e cada mulher é uma estrela Cujas gotas pintam o chão de vermelho ao cair do alto!

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21. Barca 4: Clio e O Tráfico da História “a quella terra, Che n’è bem fornita:

ogn’ uom v’è barattier” Dante.

Cheguei a visitar as Floridas perdidas, Também tenho fumado muito, O ópio aumenta o que não mais tem contornos, E na extremidade final do Universo a Aranha sem nome com milhões de olhos tecendo-se interminavelmente... Meus olhos entornados num ligeiro sonho automático! 22. Intervalo Metapoético

“Noi andavam com li diece demoni. Ahi fiera compagnia! Ma n ela chiesa Coi santi, e in taverna coi ghiottoni.”

Dante PROF. DR. BARBARICCIA (da Universidade Federal): - Então quer dizer que V.Sa. se calcou em Dante para compor sua estrutura e roteiro? POETA METAMODERNO: - Sim e não, quer dizer, talvez, o caminho de Dante é o do paraíso cristão, o meu é profano, babilônico, neobarroco, porra-louquíssimo, da hora! PROF. DR. GAFFIACANE (da Universidade Estadual): - Mas essa referência a Dante caracteriza um processo intertextual ou de literatura comparativista? POETA METAMODERNO: - Bem, creio, pelo que sei e supondo o que o que não sei seja muito mais, que é algo de comparativismo intertextual, quer dizer, uma atitude assim de intertextualidade comparativista, só que mais metamoderna, entende? É isso aí... acho que é, né?! PROF.ª DR.ª RUBICANTE (da Universidade Municipal): - Mas essa atitude metamoderna em que se baseia, isto é, quais seus prolegômenos? POETA METAMODERNO: - Bem, ao que me parece aos sentidos, o mundo moderno deglutiu o poeta e o transformou em produto

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de consumo, o sangue de poeta diluído pode estar numa lata de refrigerante ou numa goma de mascar ou mesmo num maço de cigarros ou num cardápio de fast-food... PH.D. CIRIATTO (Livre-docente em Filosofia da Universidade da Califórnia): - E o mundo moderno é objeto de sua poesia, mesmo com esse processo de reciclagem pós-moderna de Dante, da mitologia babilônica, do paideuma literário? POETA METAMODERNO: - Ah, oh, quer dizer, penso que sim, a atualização do mito é um processo moderno, foi utilizado até por Joyce, por Oswald... PROF. DR. LIBICOCCO (da Universidade Católica): - Assim você está se filiando a uma linha evolutiva das formas que vem dar no Concretismo e nas Vanguardas poéticas da segunda metade do século XX, é isto mesmo? POETA METAMODERNO: -Acho que sim, não tenho certeza, bem, sobre as vanguardas formalistas tenho um pensamento um pouco de caráter histórico social, mas por outro lado, o engajamento também me fornece elementos estruturalistas! PROF. DR. DRAGHIGNAZZO (professor convidado da Universidade Federal): - Mas não existe nesse procedimento uma contradição de caráter metodológico e estético? POETA METAMODERNO: - Não sei, não penso assim, acho que o que é continua sendo até que a gente possa mostrar que não é, e assim, o real é sempre uma forma relativa... PROF. DR. FARFARELLO (do Instituto de Pesquisas da Cultura Brasileira): - Essa relativização não é no fundo um procedimento descontrustivista ao modo de Derrida? POETA METAMODERNO: -Talvez, é possível esta abordagem, mas eu acho que o também é um processo construtivista, no sentido, de que a poesia é sempre construção de um outro mundo! SR. CAGNAZZO (editor da Revista Estudos Literários): - Tudo isto me parece muito etéreo, você não pode ser mais claro e nos

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explicar qual o sentido dessa poesia que você chama de metamoderna? POETA METAMODERNO: - Bem, o que eu quero dizer é que... Veja, se não conseguimos mais pensar em termos de escola ou de movimento ou de fórmulas estéticas nos dias de hoje é porque, penso eu, que só é aplicável uma nova poética que saiba absorver as estéticas diversas, pois estéticas são, antes de mais nada, fórmulas, ao passo que uma poética é um ser estar no mundo na condição de poeta, mesmo não o sendo... Fiz-me claro o suficiente? PROF. MS. ALICCHINO (pesquisador e doutorando em Estudos de Teoria Literária da Universidade Federal, sob orientação do Prof. Dr. Barbariccia): - Mas essa visão me parece de caráter muito ligado ao formalismo dos anos 60, e sabidamente isso caracteriza uma atitude alienante em relação à visão crítica da literatura em sentido histórico! POETA METAMODERNO: - Bem, sabe de uma coisa, a verdade é que a poesia hoje é uma coisa ultrapassada. O poeta bom e o poeta morto e a poesia moribunda... Poesia viva não tem valor! O sentido histórico é um sentido mutante e o formalismo do passado é o do passado, minhas formas são rapsodomânticas, tanto quanto o pode ser uma traça de alfarrábio. PROF.ª DR.ª CALCABRINA (da FUBÁ - Fundação de Bolsas de Apoio para Pesquisa): - Meu parecer é que seu projeto ressente-se de maior clareza e que, apesar de sua atitude de se colocar diante do mundo, sua poesia não consegue resolver-se ante os impasses que ela mesmo propõe. POETA METAMODERNO: Isto é fato, e se é fato é foto!(nesse momento tocou o sinal, terminou o intervalo e meu café já estava frio, tomei-o de um gole e voltamos à mesa de debates do Congresso Internacional do Medo do Poeta).

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23. Barca 5: Tália ou A Hipocrisia do Baixo Clero “La giù trovammo una gente dipinta

Che giva intorno assai con lenti passi, Piangendo e nel sembiante stanca e vinta.”

Dante Despertei de um sono profundo E notei que todas as minhas máscaras Tinham sido roubadas! Oh! A vida é uma grande renúncia Partida em pequenos fragmentos! É por isso que se há de ver que o amor não é ócio, E compreender que o amor não é vício, O amor é, em verdade, um grande sacrifício, O amor é, simplesmente, dedicado sacerdócio! Eu fiquei para o amor, quando é preciso ficar! 24. Barca 6: Calíope ou o Grande Golpe

“E detto l’ho perchè doler ti debbia!” Dante.

I E depois de infensas geografias Não procuro ninguém e até me escondo! Quando o sereno da lua eu bebia Reiventamos o mar com seus colombos! Mas nunca o meu reflexo na água (basca patrona de los pescadores) Um afogado existe em sua mágoa (touro peleando com picadores) A água é azul, e não turquesa, Um vale alcançará os quatro mares, Mas os quatro TUAN são da natureza!

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E da vizinhança pelos seus pares De bonecas drogadas e duquesas Mitradas no tempo dos reis lunares! 25.II

“Al fine de le sue parole il ladro le mani alzò com amendue le fiche”

Dante. Nas plúmbeas praias de deserta ronda Dos trópicos na noite tenebrosa Do seu banho noturno agora da onda Qual se abatesse a abóbada estrelosa! Último Odisseu Multiardiloso, O Não desatino, o não mapeado No lugar da aventura o aventuroso O Deslugar: tentar o não tentado! Cicatriz de âncora enferrujada, O musgo gangrenoso arrancaram, Os bicos de suas proas separadas; Sob os pés depois as ondas passaram, Paralelos à tumba das amuradas Sob o machado os cedros tombaram... 26. Barca 7: Mnemosina ou Os Maus Conselhos

“Io stava sovra’l ponte a veder surto, si Che s’io non avessi um rochion preso,

caduto sarei giù sanz’esser urto.” Dante

I É manifesto que a missão do poeta Consiste mais em fabricar fábulas que versos, Se não posso nem sei respeitar o domínio e o tom de cada gênero literário, por que saudar em mim o poeta?

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Todos esses desaires, seja como for, nascem na literatura apenas por uma causa, a busca da novidade nas idéias! Mas, muitas vezes, um versificador em apuros nesse estilo, Joga fora por despeito a flauta e o oboé. 27.II

“Già era dritta in sù la fiamma e queta per non dir più, e già da noi sen gia

con la licenza del dolce poeta.” Dante.

A linguagem do poeta é vitalmente metafórica, Isto é, assinala as relações das coisas antes inapreendidas; As músicas acariciantes e lânguidas, as mobílias estranhas, as pinturas singulares são o acompanhamento obrigatório de seus pensamentos melancólicos. Quando sinto a impulsão lírica escrevo sem pensar, Somente uma palavra é tudo o que ainda me exalta: liberdade! -Ai de vós todos são insensatos! Paixão! Embriaguez! Loucura! 28. Barca 8: Euterpe ou A Música Cismática

“Ogne língua per certo veria meno

per lo nostro sermone e per la mente c’hanno a tanto compreender poço seno.”

Dante. O amor vem por princípio, a ordem por base, Desprezaste esta lei de Auguste Comte, Com amor no coração preparamos a invasão, Alto astral, altas transas, lindas canções! Abrir o ângulo, fechar o foco sobre a vida, Sair do cético, encontrar um beco sem saída! Fascina-me a tua força, muito embora, Não consiga resistir à frágil aurora! Estou acordado e todos dormem!

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Agora vejo em parte, mas então veremos face a face! Meu partido é um coração partido, Os meus sonhos foram todos vendidos!

Que cantam os poetas mais delirantes? Por que desceste ao meu porão sombrio?

29. Barca 9: Terpsícore ou A Dança da Farsa

“E già l aluna è sotto i nostri piedi”

Dante I

Entre flores, e, em roda, em torno dançaremos! Esvaindo-te em sonho musicado, numa auréola de luz e alegria! Tão fria... tão casta... dir-se-ia uma moeda que estivesse gasta! E dar mau passo pode provir de outra coisa que do não saber dançar? Liberdade! Liberdade! Se há algum bem no mundo, este é a Liberdade! Sois dona de um olhar misterioso e atraente! Veja, a boneca Copélia dança no lago dos cisnes... E o Maillot de La Sallé com a filha de Taglioni... 30.II

“elas a esta hora tremulariam violentamente no vendaval criador”

Tasso da Silveira Eis o figurino do diabo de A Princesa dos Sapatos de Ferro... Ó Bailarina, ó bailarina! Deusa da estricta geometria! Gente de sonho entrelaçada nos salões de esperança e dúvida! Onde a alma pode descrever suas mais divinas parábolas? A dança já não soa e a música deixou de ser palavra! Sou o que não pude decorar!

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Bebo das fúrias a taça, meu coração se despedaça! Eu tenho duas espadas de aço cortando todo embaraço! Cavalo Marinho, peito de brilhante, dança bonitinho! V. Traição ou A Nudez de Ishtar

“Grandes jogos são jogados Entre a terra e o firmamento”

Cecília Meireles 31. Intróito: A Peleja de Nemrod-Baal e Tiamat, Príncipe do Mar

“questi è Nembrotto per lo cui mal coto pur un linguaggio nel mondo non s’usa”

Dante Esta noite – era a lua já morta, Outro espírito espalha a luz tremenda, Já o meu sangue gelou-se nas veias, Bate-se o vento em hórrida contenda! Da mística vidência vi teu vulto, Aquele Império que nasceu do mar, Que há de seu nome dar ao Novo Mundo, Havemos nosso Ocaso de encontrar! Mas cá onde mais se alarga, ali tereis -Para o Atlântico à procura da Noite - De Santa Cruz o nome lhe poreis, Deste mundo do Diabo se apossou, Ao longo desta costa que poreis Dom Cabral que desde então se bailou!

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32.Melencolia Si... “S’io avessi le rime aspre e chiocce, como si converrebbe al tristo buco”

Dante. I – Caína ou Zu e as tabuinhas do destino

“É tempo de murici Cada um cuide de si...”

Coronel Tamarindo, Os Sertões, Euclides da Cunha Perto do inferno existe uma paragem, Uma torrente enregelada e dura... Tumultua o recinto ante o ato formidável: César vacila, o peito em sangue e a fronte fria... E a lágrima em lava, ó pálidos heróis!.. Há muito que tombou, mas inquebrável! Passou... Deixou na história um rastro cheio! Rompe as idades, lúgubre, tremente... -Que autor é esse? De uns versos tão mal feitos e tão tristes!... Quando à tribuna ele se ergue rugindo À luminosa solidão dos astros? E em cada vaga uma canção estoura: =Não sei metrificar, medir, separa pés... 32.II – Antenora ou Dabu, o dragão riscado

“Ma quelle done aiutino il mio verso ch’aiutaro Anfione a chiuder Tebe”

Dante O traiçoeiro invejoso junto às ambições a astúcia! Monótona a bater, a bater agoureira E a sentença se anuncia bruta, Meditando traições, tecendo enganos... -Escuta o brado meu lá no infinito!

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Não tem, não tem recreios vossa pátria? Ouço no meio do martírio o chacoalhar sacrílego dos dados! Eternamente caluniados bebendo o vinho e fel dos desgraçados! Saio do meu poema, como quem lava as mãos! Eu sou o supremo herói! Choquei a Revolução! Traição, traição, onde encontrar azul fidelidade? Satanás, rei do inferno, a quem só prazem Crimes, destruições e bárbaras usanças! Se eu não tivesse traído, morreria cercado de luz... 33. Ptoloméia ou As Hierodulas de Ishtar

“ ‘Io credo’, diss’io lui, ‘che tu m’inganni’” Dante.

Conheces o país onde florescem as laranjeiras? Nosso céu tem mais flores e nossas várzeas mais estrelas... Oh, meu país, sois meus amores... Sempre! Aqueles céus de safira que se miram nos cristais! E onde irei? Deus o sabe, Deus somente. O Sabiá vem sobre a verdejante laranjeira; Ouro terra amor e rosas, eu quero tudo de lá... Os poetas de minha terra vivem em torre de ametista! Apaguei a luz da sala, um dia segui viagem... Não permita Deus que eu morra de susto, de bala ou vício!

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34. Lúcifer ou as três bocas de Nergal

“S’el fu si bel com’elli è ora brutto” Dante.

Povo, mártir eterno, Tu és do cativeiro o Prometeu moderno! Há muita coisa a recalcar e esquecer... Caminho em ritmo diferente com pernas elásticas, A paisagem enfeiou-se com borrões de fumaça, Ah! Toda a alma num cárcere anda presa! Porém eu não me abalo, Vou tangendo o meu badalo Para fazer homens livres, Para arrancá-los do abismo, Canto de saudade e pena Nas brandas cordas da lira.

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Parte II: Reino de Uruk II.I. Intróito 1. O Censor

“Índole vária as leis hão dado os dias” Ovídio, Os Fastos, Livro I

Inventor do pecado, do estado e da escuridão, Sim, eu poderia abrir as portas que dão para dentro Observando amigos sumindo assim pra nunca mais; E aqui eu abriria um parêntesis: (Nossa geração começou pelo fim, Nos revistaram, nos vestiram, nos revestiram de oco) Antes da revolução eu era professor: Campo de tantas outras batalhas perdidas... Sem paranóia, amizade, os caras hoje não virão! 2. Canção do Carnaval Malogrado

“No entrar de fevereiro, aponta a fama” Ovídio, Os Fastos, Livro II

i Roda Pela vida Afora E põe Pra fora Essa alegria ii Aqui Passaram Sambas Imortais Aqui sambaram Nossos ancestrais

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iii Nossa Senhora Dos Cordões Evoé! Para que proteja o cortejo do riso e da loucura! II.II. Portões de Uruk

“E a estrada me dava as canções” Salvatore Quasímodo

3. Canção dos Exilados

“Rudes canções, e egresso das florestas, Fiz”

Virgílio Por ti, na arena trágica, Podem sofrer e não se abatem... -Amei e fui amado! =Amei os homens e sonhei ventura! =Amei a Deus e em Deus pus tudo! Muitos anos levarei de jornada, Altas montanhas, Vamos nos dissolver, Mortos Entre os mortos!

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4. Antes Tarde do Que Nunca... “-Ai que preguiça!”

Macunaíma “Prontos à escuta, emudeceram todos”

Virgílio

Esta saudade de Pasárgada É um veneno dentro de meu coração! Billie Holiday, Continue cantando sempre, no teu jeito magoado Da luta continuada desta gente Que encharca de suor os dias da semana! 5. Fim da Estrada

“Completo o sacrifício, expendo alegre” Virgílio

Outros serão os poetas da força e da ousadia Todos têm para mim o desprezo dos fortes... A mim próprio me libertei dos fantasmas! Que eu era um ídolo de pés de barro, Trago notícias da fome que corre nos campos tristes! As lágrimas comuns é que fazem os versos verdadeiros! Não as dores metafísicas que alguns suam nas estrelas! Nós, os poetas que estrangulamos todos os pássaros... O tempo é um velho corvo de olhos turvos, cinzentos... 6. Ritmo Moderno

“Ai! Que exaustas batalhas decantava!” Virgílio

i Aquelas linhas Ilógicas Aquelas manchas De cor Inexplicáveis

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Sãos as chaves Misteriosas De nossos quadros! ii vidro quebrado minha alma esfarrapada... A hora É de febre! Os espíritos Tateiam Na dúvida... iii Marinetti & Meneghetti Futuristas Na arte Do Crime! Com toda sinceridade Do cérebro enfermo! 7. Sordello Pós-Moderno

“De arco sonoro e de arte gloriando” Virgílio

Um tiro explode em pássaros Não foi nada demais! O operário não cabe no poema... Digo adeus à ilusão! A bomba-relógio... O poeta depõe no inquérito, Detrás da flor o subjugam! A Noite latina entre interrogatórios...

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Uma Bomba para acabar com tudo! Sou um homem comum, A luta comum me acende O motor da vida que gira ao contrário... 8. Poeta No Exílio

“Muda a Sibila, mas quieta a sanha” Virgílio

Cidade sem leme, cidade do refugiado! Línguas desconhecidas, Coladas como ponta de cigarro apagado nos lábios! O meu amor morreu de sede na cisterna, O meu companheiro enterrou-se sob o cascalho, A minha amizade enferruja na serra fria. Nós que saímos de madrugada por este mundo, Nós que sentamos à borda da pedra do Hélicon, Oh Musas! Quem diria que nos atirassem tal epíteto! A nada mais aspiramos de grande e impossível, Somente queremos encontrar o nosso próprio coração... Consola-te, também, meu coração Enfim terás sossego num leito, um ataúde...

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II.III. O Elder Guardião 9. A Espada de Fogo

“Verei soltar a vela esse pirata?” Virgílio

Enquanto houver palavra Todo o país está em armas! Aos que lutaram contra o óxido e o bolor! Poesia, minha voz enrouquece De juras para ti! Não é à toa que eu ando despenteado, Tudo gira em contradança, Tudo voa e desconjunta um gentleman de cartola! Enquanto houver palavra Todo o país está em armas! III. Enquidu, o Selvagem

“Minhas sentenças são máscaras” Canção Para Guitarra, Andrei Biéli

“O que vale o que o século faz?

A morte logo tudo desfaz!” Hélinand de Froidmont

III.I.Aruru 10. O Orgulho e o Gorgulho

“E os brutos afogueia e incita às armas” Virgílio

Leve-me as folhas, América, Quero fazer poemas materiais! Não ando pelo mundo a lastimar, Canto o canto da expansão e do orgulho! Minhas palavras Eram o orgulho da raça! Gerações me indicaram o caminho!

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Escuto e vejo a Deus em todos os objetos... Eu vejo minha alma refletida através de um nevoeiro... Acham então que a matéria se faz coesa? Nesta cabeça, o cérebro, a argamassa, Lá dentro corre o sangue Sagrado do corpo humano... Do inquieto oceano da multidão Eu compartilho as orgias da meia-noite E venho correndo para o meio de vocês! O caminho é suspeito e o resultado, incerto! Pois a estas folhas e a mim Dificilmente você há de compreender... Hei de plantar arvoredos a margear todos os rios da América! Pela cabeça nunca lhe passou que tudo isso possa ser ilusão? Eu vi um carvalho crescendo às alturas inteiramente só... Aquele que eu andava procurando, Aí então é que eu me ponho pensativo E agora eu penso que não pode haver amor Em meio à multidão de homens e mulheres E no cantarolar destas canções... Que pessoas e cidades aqui se encontram? Dentro de mim longitudes e latitudes se alargam e se estendem! A vocês todos, em nome da América, A pé e de coração leve, As palavras e os poemas de verdade! 11. Argumentos Insólitos e Desconexos Para A Manutenção da Paz

“Então a mesma porta ambos velavam” Virgílio

Agora que conheces Avalon Que tal navegarmos até o Japão? -Sim, vamos navegar com grandes navios sob o nascer do Sol até podermos ver

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as grandes pontes de liberdade! Na choremos mais em Avalon Pela tristeza que envolve a coroa do rei Artur! -Vamos, que o rumor das naus envolva o mundo! Já a manhã pinta o céu em tom avermelhado, E já vejo nossa bandeira dar novos tons à aurora, Nossa história de liberdade envolve os continentes, Marchemos agora com nossos pés incontinentes! O coro dos demônios ainda canta antigos versos de pecado Monstrengos ensangüentados perseguem todas as raças, Já nossa bandeira se ergue nas hostes dos resignados Bandeira que amamos e que brilhará nas variadas praças! Damas da Luz e Musas Lindas e Rainhas, Fiquemos agora a ouvir nossos corações pela paz! Damas da Luz, falem o que seus sonhos vos contam, Por suas vozes posso entender o vôo da pomba branca... Tolstoi já está arando. Nuvens altas prenunciam a chuva, Tolstoi já está arando o caminho de estrelas Que devemos plantar no campo vasto, sigamos seus cavalos! São Francisco, Buda, Tolstoi e São João, os 4 cavaleiros! Quem disse que o rei está maluco? Isto é pecado contra o Anjo Guardião! Vivemos a esperar Cristo Para construirmos as nações da misericórdia Místicas, ardentes, dotadas de beleza, Ouço as canções entoadas no Mississipi e no Jordão, Eu ouço dez mil sinos plangentes, Vamos nos dar as mãos, amigos, poetas, camaradas!

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12. Cartazes e Anúncios “A sentença imprimi. Já que é defeso

Teucros e Ausónios consagrar” Virgílio

Os pecados São mais atraentes Que nossas mais doces virtudes! Oh! Money, dollars, dinheiro, dinheiro! Sou um anarquista, sou um idiota, Sou um rei deposto, nunca o entronado, Sempre apodrecendo, fétido já, sempre um tolo! Ah, os megalomaníacos, Esplendorosos e gloriosos valores do Mundo! Águia das águias, rei dos pavões! Leão, Urso, força, poder... Do Amazonas até Saskatoon Nós amamos os grandes espaços Dos grandes heróis: Whitman, Lincoln, George Washington, Roosevelt, Simon Bolívar, Zapata, Fidel Castro, Perón, Getúlio Vargas! Babilônia Babilônia Babilônia! Eu já posso ver a queda dos jardins suspensos! Trovadores cantam e marcham Com seus hinos contra Babilônia... Eis a guerra que começaram contra a cidade da música...

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III.II.A peleja de Gilgamés e Enquidu 13. Iluminismo Moderno

“Quedo o alvoroço e plácido o sussurro” Virgílio

-Bem vindo sejas, irmão brasileiro! =Saúdo-te, Walt, saúdo-te, meu irmão em Universo! -Tu, constelação brilhante! =Faço um pacto com você, Whitman, já te detestei o bastante! -Aqui no oeste todo homem tem seu preço! =Jean-Jacques Rousseau do mundo das máquinas! -Tu compreendeste a verdadeira lição? =Toma e não diz a ninguém da infinita decisão de escrever um livro! 14. Folhas Soltas: Memória de um Povo

“Quando em brio te excelsas, mais me cumpre temer por ti”

Virgílio Saúdo ao Mundo Com o canto da Estrada Aberta, Com o canto do Machado Grande, Com o canto das Ocupações E com o canto da Terra Girando! Aves de arribação beirando a estrada aos repiques do tambor, Adeus, minha fantasia! Meus cantos de despedida à margem do lago azul São suspiros da morte celestial, Recordações de regatos de outono, Do sol a pino à noite estrelada... Canto, enfim, a mim mesmo, filho de Adão!

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15. A Rosa do Poeta Engajado

“Do homem primeiro canta, empírea Musa A rebeldia – e o fruto, que vedado,

Com seu mortal sabor nos trouxe ao Mundo” John Milton

Faço considerações do poema à procura da poesia! Carrego comigo a flor e a náusea, Vejo o medo anoitecer no nosso tempo, A passagem da Noite na passagem do Ano, Uma hora e mais outra, Lembro que nos áureos tempos, -Ontem- Fazia versos à boca da noite, Escrevia uma carta a Stalingrado E recebia um telegrama de Moscou! Mas viveremos com o russo em Berlim Onde há pouco falávamos do episódio Do poeta que escolhe seu túmulo E de que Mário de Andrade desce aos infernos E vemos o desfile da morte: A morte do leiteiro, a morte no avião, O assalto no edifício São Borja... No país dos Andrades ouço notícias da América... Rola o Mundo na economia dos mares terrestres, Os últimos dias serão de desfile Serão de equívoco, Serão de interpretação de retrato de família em dezembro, Serão de ouvir a nova canção do exílio, O mito do homem que canta ao povo, como Chaplin, E o movimento da espada Como um presente na rua da madrugada Cortará o anúncio da rosa pisada pelo elefante Na cidade prevista da fragilidade da vida menor...

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III.III. A ira de Humbaba para com o Sol 16. Humbaba

“Dest’arte Belzebu explana e afirma” John Milton

Destruir o mundo inteiro dá o que fazer, Não quero admitir Que a festa tropical acabou! Destroços, Escombros de frases, Caixas vazias, Lembranças turbilhonantes Como era na realidade? Como está em meu poema? A libertação se consegue apenas com as forças unidas! A luta de todos contra todos Será uma guerra civil com armas desiguais! Porque as palavras chegam ou tarde ou cedo demais! E este é um homem que imita Dante! 17. Samas

“Satã no entanto dele se aproxima Porém dizer da esfera luminosa”

John Milton O mito do século XX: sangue e honra! Antes: Os fundamentos do século XIX... O Triunfo do testamento e a bandeira dos que procuram Os pioneiros do terceiro império... Aquele que ajuda nesta tarefa, Ajuda a exterminar o diabo! Vida longa ao eterno império! Teozoologia... Misticismo racial... Física sexual... Eu acreditei neles...

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IV. Vitória sobre Humbaba 18. Sonetos da Fuga Suicida

“Quando o Eterno formou as coisas todas” John Milton.

Tira-me ao tempo a que escapaste brusco, Única luz na perturbada via, Transfigurado e venturoso o dia Como a rosa vermelha ao lusco-fusco. Como o ladrão que vai na treva à toa Se não entras comigo na floresta, Faísca o sol nos ramos negros, resta A tímida canção que Amor entoa... Meu amor em teu corpo se cinzela, No mundo dos espelhos desbotado Sangram exposta ao mundo que flagela... Vibra o passado em tudo o que palpita, Num excesso de luz sobre os telhados, A bem da noite negra e infinita...

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V. Gilgamés e Ishtar V.I. O Assédio da Rainha 19. O Carro de Lápis-Lazúli

“Recolhe-se a Razão em seu retiro” John Milton

Nunca se deixem seduzir, Não há caminho de regresso... Vistes o Rei Salomão? Algum dia verão que tudo isto é inútil... Os poemas épicos nos dão notícia Dos grandes heróis do mundo... E a injustiça passeia pelas ruas Com passos firmes e seguros! 20. Gloria In Excelsis Deo

“Várias ações de perdurável fama, Nesse dia brilharam infinitas”

John Milton Se arrasta sobre mim uma letra acesa, Nas calçadas ásperas de minh’alma Frases pisadas... Desatarei a fantasia Do enxame de rimas imprevistas! Parai agora. Mudou-se o Creatio Dei... Tantas histórias... Tantas perguntas... Sim. Eu revelo segredos! Nada deve parecer impossível de mudar!

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21. O Reconhecimento “Projetos contra ti executados

Só servem de realçar teus atributos” John Milton

Vou tentar a desistência... Drama tanto mais duro Que andar descalço. Hoje não relaciono, Não me comprometo, Quem alcançará o culpado? O poeta não fugiu ao poema, Sei agora que não sou pássaro, Inútil a insistência Com o mesmo método! Ao vôo se necessita Ter a consciência dos muros... V.II. A Peleja de Gilgamés e Enquidu contra o Touro Celeste 22. Nova Tebaida

“Eu sou quem buscas, sou o Autor de tudo” John Milton

Ouviste, ouviste acaso Um rumor de vento Da primavera destroçada? E para não tombar, Deixa-me o vinho errante E o pão de tua doçura... Espreitei os segredos do penhasco, Arranhei as pétalas de fogo, Queimei-me nas primaveras frias,

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Depois de terras e oceanos, Cidades, templos e livros Tudo em meus olhos se guardava... Fecha os olhos, dorme, Sonha um pouco, Hoje o Sol e a Lua Os Ventos grandes Maduram a singela composição Onde morreu afogada uma palavra... Fuzis fizeram nascer O amor desmoronado, O povo levante o martírio Com sua ferroviária grandeza; Nossas bandeiras eram apenas Nascidas como o amor proibido! 23. Os Chifres do Touro Celeste

“Quando tão livre se concede aos brutos?” John Milton

O preço do feijão O preço do arroz... A arma da fome Que mata mais do que bala de fuzil... As pêras, no prato, apodrecem... A mentira não me alimenta... Terra bonita com a vida tão feia, A fome matando gente... Se tem gente com fome, Dá de comer!

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24. A febre de Enquidu “Sincera dor, humilhação profunda”

John Milton. Reintroduzo na poesia A palavra diarréia... Poesia, te escrevia: fezes! Como quem sai Duma longa doença, Mas tu, miséria, ficaste... A terra é uma azinheira raquítica, O sol distante, como a cabeça de um boi, Ergue os chifres coroados de sangue negro... V.III.Lembrança de Umnapisti 25. A Luxúria (transcriação poética de letra de música dos Rolling Stones, Luxury)

“O homem primeiro dos deleites gosta” John Milton

Eu quero um carro luxuoso, voar a Miami me faz bem, Todo o rum, eu quero beber, todo o uísque também, A mulher quer um vestido novo, a filha quer o bom colégio, Eu trabalho duro, eu trabalho na Grande Companhia É um trabalho árduo pra me manter meus privilégios! Não podem me imputar o vício do ócio Nos sete dias da semana; De U$ 1,000.000 aos texanos, U$ 20 pra mim; Sim, quero anel de ouro, adoro roteiro de limusine, Eu trabalho duro, eu trabalho na Grande Companhia,

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É um trabalho beócio pra manter a luxúria! Veja bem, sou um sujeito orgulhoso, Jamais me verás na mendicância das ruas, Eu trabalho duro pra evitar a penúria, É um trabalho tenso pra me manter na luxúria, oh sim! Eu trabalhando duro, é um moto contínuo, Árduo, incessante, fatigante, maçante, estressante... Eu acho tudo estranho e desconexo, tudo me aborrece, Meio mundo não tem nada, A outra metade, ao que parece, tem dinheiro pra torrar! A mulher quer um vestido novo, a filha quer o bom colégio, Eu trabalho duro, eu trabalho na Grande Companhia, É um trabalho tenso pra me manter meus privilégios! Trabalho até de domingo numa refinaria Faço U$ 1,000.000 para os texanos, U$ 20 pra mim! Todo o rum eu quero beber, mas eu bebo com parcimônia, Eu trabalho tanto pra fugir da pobreza, tenho até insônia... Eu trabalho duro, eu trabalho na Grande Companhia, oh, sim! É um trabalho duro, oh, sim! Árduo, incessante, fatigante, maçante, estressante...

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26. Na Taberna de Siduri “Vagarosos lá vão com passo errante

Afastando-se do Éden solitários.” John Milton

Só me resta a cachaça e o amô... Eu amo o belo sexo de você! Em teu crespo jardim, Anêmonas castanhas detêm a mão ansiosa... Onde o teu corpo, amante-amiga? Se duvidas que teu corpo Tange a canção do amor E ardes como desejei arder de santidade... -Mulheres minhas, infiéis, adoro amá-las!- Eu não tenho vergonha de dizer palavrões... Prefiro as ricas, as putas, letradas taradas... Se sádica ou sábia, quem saberá?

Teu corpo é canoa procurando o naufrágio, Seu rosto belo como que lembra um templo...

VI. Ursanábi ou a Travessia 27. Paredes de Fogo

“Faze, entretanto, que por mares e por terras, tranqüilos se aplaquem os feros trabalhos militares”

Lucrécio A tua carta escrita com palavras invisíveis, A tua poesia, rosa literal, cacho biselado, Estes graves sons molhados de silêncio! Ah, mas de teu nome sai música, E encontrei em mim não o pranto, mas as armas Dos que amo e me deram suas mãos! Ataco as paredes do tormento,

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Como um barco no mar escuro... Vou errante, os punhos contra o vento! Com toda a minha paixão, como uma ferida, Por estas terras forasteiras andei em outro tempo, Eu quero terra, fogo, pão, mar, livros para todos! 28.Terra das Uvas Negras

‘É bom, quando os ventos revolvem a superfície do grande mar”

Lucrécio. Cupido, se tens dó de um triste amante, Ora vejam se há mágoa mais veemente, Abraço a sombra vã; só nesse instante, O mesmo engano o Céu me não consente... Ao mundo esconde o Sol seus resplandores; Do teu Pastor, ó Ninfa, alegra os olhos! Não fala Pã na boca dos pastores... Vejam flores, não vejam só abrolhos! Chegai, Ninfas, chegai, chegai pastores, Suspirem de ternura neste prado! Debaixo dos seus pés brotam as flores! O vício de um poeta, pois o priva A causa de um martírio tão cansado, Pois te encontro, Musa, tão vingativa!

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29. Bibliotequinha Básica do Estudante de Poesia Rapsodomântica

“Ó tu, que primeiro pudeste, de tão grandes trevas, fazer sair um tão claro esplendor”

Lucrécio. I Grau – série única

“Sob tanto céu – da minha descrição – Vinte e quatro senhores, co’a prescrita

Coroa de lírios como galardão” Dante

Mito-Alegoria-Símbo, do Almada; Do Pessoa é preciso ler Mensagem; Ver, também é obra do Almada; O Antecristo e a Glória do Espírito Santo, Do paracletiano Raul , e Sá-Carneiro de passagem, Leia do Ezra Pound, leia The Cantos. O Que Sabe (Qohelét), tradução do Haroldo; Poemas no Tempo de Arnaldo Santos; Leia o livro do Cesário olhando pro Arcimboldo; Do Gelbcke ouça seus Acordes; Se engaje na poesia do Bertolto Brecht – e viva como o D.Juan do Lord... A Lira Moderna do Péthion de Vilar, O Kilkerry também aborde, Do Artur Sales, Poema do Mar. Do Maranhão Sobrinho: Papéis Velhos Roídos Pela Traça do Símbolo...Escute as Odes de Ronsard De Vírgilio a Garção atente na morte de Dido...

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Julgue O Conquistador do Archibald, Do Perneta, entre outros, o poema d“Os Vencidos”; A radicalidade do verso do Oswald... Estude o método intuitivo de De Sanctis, E os hieróglifos de Lindsay, aplaude... Aplique tudo na Comédia de Dante. II Grau 1.ª Série

“como a estrela outra estrela corresponde, surgiam, a seguir, quatro animais

coroados, cada um, de verde fronde” Dante.

Pregue com O Evangelho nas Selvas do Varela; Do José Elói, O Livro de Jó; Do Garrett, faça uma leitura da “Barca Bela” E aplique o lirismo no António Nobre de Só... 2.ª Série

“Desses sete o vestir era parelho ao dos primeiros, mas, à testa teso,

sem lírios, seu diadema era vermelho” Dante

Verifique o vocabulário do Gregório; Regue as Flores do Baudelaire, Cante versos de Novalis num ofertório E dê vida aos desenhos de Apollinaire... Copie à noite sonetos de Gonçalves Dias E complete com Mário o nosso empório, Por fim, com Alphonsus cante à Maria...

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30. O Canto Das Musas: Entre o Céu e o Inferno “É bom ir às fontes virgens e beber, é bom colher flores desconhecidas”

Lucrécio Perdoa Dinamene a Camões; Entende Nise a Bocage, Márcia, escute o pranto de Filinto; Inês, ouça as pedras do Cláudio; Anarda, brilhe sobre a tristeza do Botelho; Glaura, reveja as inscrições do Alvarenga; Marília, seu Dirceu sofre na África; Maria Antonieta Dalckimin, Oswald já não é mais moço; Ana Amélia, não diga “Adeus” ao Gonçalves; Eugênia, vá de gôndola com o Castro Alves; Lília. não traia o seu Lereno; Laura, cante feliz os sonetos de Petrarca; Ressurja, Beatriz, nos sonhos de Dante; Você, a quem chamo aqui Roxane, decifre-me ao verso enfim! 31. Confissão do Poeta à Musa

“Quantas preocupações bem duras não despedaçam o homem que a paixão solicita?

Quantos temores não vêm daí!” Lucrécio

O Amor está no verso 15 de “O Cristianismo” de Gonçalves de Magalhães; No episódio da fala de Boabdil de O Colombo de Manuel de Araújo Porto-Alegre; O Amor está no verso 73 da “Nênia” do Firmino Rodrigues Silva; Na 6.ª estância do “Canto do Marinheiro” do Joaquim Norberto; O Amor é uma palavra que ressoa no verso 14 de “Uma Palavra” do Dutra e Melo; No verso final da estância XVIII de “Ainda Uma Vez – Adeus!” do Gonçalves Dias;

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O Amor repete-se questionante em “Formosa” de Maciel Monteiro; A palavra Amor é o Amor no verso final do soneto “Ver...E do que se vê...” de Francisco Moniz Barreto? Que filtros tem o Amor no verso final da segunda estância de “A Bela Encantada” do Joaquim Manuel de Macedo? Há o Amor no primeiro verso da terceira estância de “Desejos de Doente” do Francisco Otaviano; O Amor leva à loucura no primeiro verso da terceira estância de “Enleio” do moço José Bonifácio? Quem ignora o Amor no verso 10 de “A Pensativa” do Almeida Freitas? O Amor é idealizado já no título de o “Amor Ideal” de Bernardo Guimarães! O Amor é causa da “Pálida Inocência”, verso 2, estrofe 2, de Álvares de Azevedo? O Amor já surge no primeiro verso da “Tristeza” de Aureliano Lessa! Quão terríveis são os “Estragos de Amor” de Laurindo Rabelo; O Amor é o martírio no verso 3 da 5.ª estrofe de “Martírio” de Junqueira Freire; Um olhar é capaz de fazer morrer de Amor no verso 68 de “Não Ser” de Pedro de Calasãs! O Amor em verso alexandrino está na poesia que Bruno Seabra fez “A Elas” (verso 2, est. 2)... O Amor causa medo no verso 60 de “Amor e Medo” do Casimiro de Abreu; O Amor é venerado em “Eu Não Te Encaro, Donzela” de Franco de Sá; O Primeiro Amor é o tema da poesia homônima de Juvenal Galeno... Sousândrade no Canto V do Guesa, verso 117, fala também do Primeiro Amor...

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Compara a distância do Amor com o Sol, Teixeira de Melo no verso 20 do poema dedicado “À M.”...(Quem será? Amor proibido, talvez?) Franklin Dória comenta o Amor Fútil e intenso da “Namoradeira” no verso final da primeira estância; Bittencourt Sampaio dá mil beijos de Amor no verso segundo do seu “Pranto Matutino”! O Amor profano em “Festim de Baltazar” de Elzeário da Lapa Pinto(verso 2, estrofe 12); O Amor é doce como o fruto do cajueiro no final da oitava estância de poema que fala do “Cajueiro Pequenino” do Gentil Homem; Luís Gama denuncia o Amor sofrido na cor da pele em “Minha Mãe” (estrofe 3, verso 6); Marques Rodrigues nota saudade que causa a distância do Amor em “Saudades”, verso 8; Joaquim Serra atenta na voz do seu Amor no primeiro verso do seu poema de número VI... Conjuga o verbo Amar e cita a gramática do Amor, Fagundes Varela em sua “Canção Lógica” (verso 2, terceira estrofe)! Paulo Eiró observa os fantasmas dos sonhos vindos do Amor em “Noite Feliz” (verso 24); Em “Todo Y Nada”, Quirino dos Santos relaciona o Amor à Glória (verso 5); O Amor é patriótico em “Terribilis Dea” (verso 48) de Pedro Luís; O Amor sobrenatural vaga à noite em “O Baile das Múmias” de Carlos Ferreira (verso 20)! Lastima-se do Amor, Vitorino Palhares em “Negro Adeus” (verso 5)... Castro Alves descobre “O Derradeiro Amor de Byron” E “Amemos todos”, diz Tobias Barreto “A Um Juiz Da Escada” (verso 13);

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Rita Barém de Melo nos diz que não há um único Perfeito Amor em “Bogari” (verso 4 da 4.ª estância)! Adélia Fonseca nos canta num “Soneto” que ninguém Amou como ela amou... O Amor é traficado em “A Lágrima de Um Caeté” de Nísia Floresta Brasileira Augusta (esse nome é poesia!...); E confessa que sente o Amor Ana Eurídice no derradeiro verso de um seu Soneto...(Como eu, agora faço-o nesse poema-bibliográfico a ti!) 32. O Carro da Besta do Apocalipse

“Primeiro abala-se com o estrondo do trovão o azul do céu” Lucrécio

I E Gilgamés disse a Urchanabi: -“Vem e vê esta planta maravilhosa! Vou levá-la a Uruc, E seu nome será “Erythroxylum Coca”! Gilgamés viu um tanque de água fresca, Mas no fundo da piscina estava a Serpente, A Cobra ergueu-se entre as águas e roubou a planta... II -Ó Urchanabi, Foi por isto que arranquei o sangue de meu coração? Para mim mesmo, nada ganhei! E agora a besta da terra a desfruta agora... III -Urchanabi, vê Uruc, 1/3 do todo é cidade, 1/3 do todo é jardim, 1/3 do todo é campo com o recinto da deusa Ishtar. Isto tudo é Uruc!”

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33. Os 72 Magos: Anagramas Poéticos do Psalmus 78 de Asaph

“Voi ch’ascoltate in rime sparse il suono Di quei sospiri ond’ io nudriva’l core”

Petrarca 1. MURILO ME(ndes); 2. PÉRICLES EU(g)ÊNIO (da Silva Ramos); 3. (Giambattista) VICO; 4. GONÇALVES DIAS; 5. CARLOS (D)RUMON(d de Andrade); 6. NO(v)ALIS; 7. EMERSON; 8. O PARAÍSO PERDIDO; 9. FILINTO ELÍSI(o) 10. LUD(w)IG UHLAND; 11. FAUSTO; 12. ANTÓNIO PATRÍCIO; 13. SA(lv)AT(o)RE QUASÍMOD(o); 14. ILÍADA, ODORICO MENDES; 15. PETRARCA; 16. FLEURS DU MAL; 17. APPOLINAIRE; 18. RAIMUND(o) COr(r)EIA; 19. LOCUS AMENUS; 20. PETRÔNIO; 21. ASCENSO (Ferreira); 22. SALÚSTIO; 23. CESÁRI(o) VERDE; 24. PLÉIADE; 25. ARCHANGELUS DE (G)UIMARAENS; 26. AUSTRA(g)ÉSILO DE AT(h)AÍDE; 27. EMILIANO PERNETA; 28. CÍCERO; 29. MACUNÍMA, MÁRIO DE ANDR(a)DE; 30. DOM DINIS;

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31. GRE(g)ÓRIO DE MATOS; 32. (Memórias Sentimentais de) JOÃO MIRAMAR; 33. F. T. MARINETTI; 34. LUCANO; 35. MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE (B)RÁS CU(b)AS; 36. ARIANO SUASSUN(a); 37. (H)ENR(y) FIELDING; 38. PROPÉRCIO; 39. RICARDO REIS; 40. SARA TEASDA(l)E; 41. SANTISTEBAN (y Osório); 42. SANTOS C(h)OCANO; 43. AUGUSTO DE CAMPOS; 44. FERREIRA GULLAR; 45. DI(v)INA COMÉDIA, DANTE; 46. CALDERÓN DE LA BARC(a); 47. GUIMARÃES ROSA; 48. GEORG TRA(k)L; 49. ANGÚSTIA, GRACILIANO RAMOS; 50. VITA NUOVA; 51. NOITE NA TABERNA; 52. GRA(h)AM GREENE; 53. TERÊNCIO; 54. (Jorge) MONTEMAYOR; 55. GENTIL HOMEM; 56. TASSO DA SILVEIRA; 57. SOARES (de) PASSOS; 58. MAIAKÓVSKI; 59. PAUL VALÉRY; 60. SINCLAIR LE(w)IS; 61. ÁLVARO VIANA; 62. GILKA MACHADO; 63. RENÉ DESCARTES; 64. SABAT ERCASTY;

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65.(H)ART CRANE; 66. DIDEROT; 67. EPHRAIM LES(s)ING; 68. IGNA(z)IO SILONE; 69. ALFRED DU MUSSET; 70. STE(f)AN GEORGE; 71. SHAKESPEARE; 72. PESSOA.

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Parte III: Merodac 1. Céu e Fogo

“O Sol, a Lua, a Interferência, a Treva, a Convergência, o Percurso, a Cadência o Equilíbrio.”

Osman Lins, Avalovara. Esbraseia o Ocidente Em tons suaves de melancolia Nesta página Se desdobra o firmamento Em letras se erguendo à Lua. 2. Luna

“Concluída com êxito missão da Gêmini XII” Osman Lins, Avalovara.

Aos raios do luar, iluminada seu disco argêneo n’alma imprimi cosmograficamente... 3.Hermes

“como vibra a cidade na hora tumultuosa da tarde, contemplo-a”

Osman Lins, Avalovara. Correr o espaço em fúria arrebatado ao vento... A fúria nos ofusca!

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4. Afrodite “Hoje, ressoa de longe, de um mundo impenetrável

e nos atinge sem significar, evocando a presença e a visão do mistério.”

Osman Lins, Avalovara. Ilumina o degredo E perfuma o deserto! Sente o culto Da forma E da beleza! Vênus De gesto altivo e augusto! Nada mais Vejo em ti, Vênus! 5. Hélios (Tradução metamoderna de fragmentos do poema “Ode ao Sol” de Alberto de Oliveira)

“O Sol cai a pino sobre o canavial” Osman Lins, Avalovara.

Te vi em leito de plasma, da fotosfera à coroa, Amanhecer. Depois, te vi na linha do horizonte Entre os mais altos montes. Sol: 4,5 bilhões de anos! Qhéphri! Teu núcleo arde a 10 milhões °C! A cada segundo da manhã queima 4,4 milhões de toneladas de matéria! A cada segundo 652 milhões de toneladas de Hélio! A luz solar atinge a terra depois de 8 minutos! O Sol brilha entre biquínis, seios e pernas de musas! O cactus cresce, o talco protege, a pedra rola E eu vejo como a luz da manhã

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Tateia a pele da moça num doce afã... Já é meio-dia, o Sol a pino, Rah! Tudo se acha envolvido por sua luz. Amor? Bem, não existe dúvida poética De que o amor é quente... Só as plantas transformam a luz em matéria: A fotossíntese! As asas dos pássaros fazem sombra sobre o solo... O Sol é evocado nos mais diversos poemas: Confederação dos Tamoios, Guesa Errante, Mas o Sr. Alberto tanto se ufana Que incomoda o Mário de Andrade Com suas Hendíadis e Helenismos: -“Puxa! Até que enfim conseguiu dominar com brilho estupendo!” Sólio excelso é o trono sublime! O Rei Sol já é quase uma catacrese Depois de Luís XIV! E “armadura espelhante” Já é do estilo Luís XVI! Ainda mais com “raios dardando”! E a “trovoada de coros esquilianos” Já é uma coisa kitsch, diria o professor Abraham Moles! Bem, eis Athon! Enquanto discutíamos poética e estilos A tarde foi passando e o rosicler Já se anuncia como um fecho-ecler Zipando o dia e abrindo a noite! Nada se “estrui” nem se apaga, De tudo a gente se instrui, e a luz se propaga...

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6.Ares (tradução metamoderna do soneto de Olavo Bilac, “O Incêndio de Roma”)

“(...) desarticula os limites físicos da peça, torna os móveis ocos,

estiola as rosas dos festões, oxida as pratas,

desgasta as porcelanas, apaga o que resta das imagens nas molduras.”

Osman Lins, Avalovara. O Fogo é fogo! A ruir, soltas, desconjuntadas As 14 linhas do soneto como se fossem pedras Atiradas ao espaço e o eco ecoa, ressoa, abalroa Como o choque de um cometa fatal rasgando o vale Marineris! E os templos, os museus, Cydonia erguida Em mármor de Hellas, o Forte, as linhas das pirâmides, Tudo se revolve entre águas e fogo, Tudo esbroa-se e uma civilização desaparece... Longe, reverberando o clarão purpurino, Arde em chamas o Chryse, e acende-se o horizonte... -Porém, incólume, no centro de Cydonia. A Face, com um olhar pétreo, firme, reto, contrito Observa o brilho tênue, azulado, De Gaia: esperança de reconstrução do mito.

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7. Zeus “Onde quer que andássemos,

fossem quais fossem enganos e acertos nossos, agora estamos um em frente ao outro”.

Osman Lins, Avalovara. -Que céus habita Deus? O céu daquele dia: infindo páramo azulado! Foram-se os deuses, foram-se, em verdade; Existem sim, mas nós não os alcançamos! Reino perdido! Glória loucamente dissipada! Um agarra o céu, outro o globo! E tu reinas, tu só! Na saudosa visão de um momento de glória! 8.Cronos (tradução metamoderna do soneto “O Relógio” de Gonçalves Crespo)

“Os coros arcaicos e os verso latinos do long-play, o compasso do relógio, nossas palavras gastas

e mesmo assim verdadeiras” Osman Lins, Avalovara.

No álbum de uma bruxa ninfa Cartier, Rollex, Seiko, Citizen? Horas de aço inoxidável, Mostrador dourado anota: Friday, 0:00! Bússola, GPM, Fases da Lua, tudo conjugado! Um quadro dinâmico de números e ícones! Repara: Eis o salão onde se desenvolverá o sabá! Saturnália! Pantáculo tecnológico a compor-se Com as vozes metálicas do ritual que se realiza Ao tempo presente! Uma bruxa escuta o tempo!

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Rasga-se os limites do cone de luz!... O satânico jardim e o parque assombrado e ruidoso... As nuvens no alto céu flutuam como súcubos! No fundo da paisagem, num lago escuro Se espelha a luz da Lua e as árvores negras, Um espectro estende os braços e tudo se apaga... 9. Urano (tradução metamoderna do soneto “Crepúsculo” de Luís Carlos)

“Ocorre que nesta versão do Paraíso, as árvores, todas carregadas de flores,

não frutificam”. Osman Lins, Avalovara.

No melancólico ambiente do pudor A paz de asilo dissolve o Céu, O azul desvanecente serenando De berilo entre ametistas... O Longe sutilmente fluidifica-se, As rosas tranqüilas e crepusculares No vitral transparente do poente, Um sigilo de feição seráfica Vaga numa cousa litúrgica, Naves de lousas de silêncio, A sombra da luz entretece-se, enleia-se... O horizonte da profunda angústia Vem trazendo a fronte da noite E a coroa de estrelas-espinhos!

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10. Poseidon “Os olhos tornam ao fundo de onde emergem”

Osman Lins, Avalovara. Mar, belo mar selvagem... Chega na beira da praia! Calcar as ondas, rompê-las E a cismadora lua em meio delas!... Longe o céu intérmino se azula... De onda em onda a vagar... Ao longe, de repente assomando Mutuamente histórias de hediondas lutas... E vão perder-se em meio de estrelas! Mar ermo, perdido nos confins do horizonte! Perdição de minha vida! Sei que a ventura existe: Sonho-a! 11. Plutão e Caronte

“Armistício algum, aqui, com as iniqüidades que o meu olho constantemente acusa. Insubmisso e colérico, sem que a cólera me envenene

ou deprede.” Osman Lins, Avalovara.

Via Láctea: Alma Inquieta! Panóplias em Sarças de Fogo! Nas Viagens à Tarde Os Primeiros Sonhos em Versos E Versões de Poesias... Poesias Avulsas... Mais Poesias Avulsas!... Aleluias! As Canções Românticas Meridionais Por Amor de Uma Lágrima...

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12. Nuvem de Cometas “Reinas através desta hora como um astro”

Osman Lins, Avalovara. O Sarcófago Antigo de Beijos Mortos! Amar é desejar o sofrimento... Que importa que o final é Crespúsculo, É Renúncia, É Loucura Verde em Jardins Fechados ! De amor e ciúmes desatino no Íntimo... A Voz Interior é a das Trevas: A Sutilização de Minha Sombra! 13. Planeta X

“textos de prestígio prometem a volta dos legendários reinos submersos” Osman Lins, Avalovara.

I.Varuna O olhar celeste para o meu baixando; Um coração que foge, e eterno buscando Achar na treva aquele que buscava. Não atravessa nunca a luz do dia, Dizem. Mas no silêncio e na cautela, Andar chorando na maior alegria. Penso apenas que amo como um louco A noite, a luz dos límpidos luares, E que a voz levanto... Falo-te com fogo! Quase revelo, no final de um verso, Meu coração, que triste palpitava, E sonhando, sonhei que me esperavas...

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II. Quaoar E abro as janelas, pálido de espanto, Senti duro castigo aos meus desejos; De luz tão viva que abrasasse tanto! Dorme aos raios de prata do luar! Nem uma estrela pálida perdida... São meus versos, palpita a minha vida! É como se uma sílfide passasse, As estrelas acendem-se, radiando, Minh’alma na tua alma repousando!... Vejo o céu; vejo às serras coroadas Buscando a extinta chama do passado Que amaste e de teus braços arrancados! III.Sedna E enquanto houver num canto do universo Altas esferas de ouro, e acima delas, Já não creio em nenhuma das estrelas... Porque, com os olhos rasos d’água, as vejo! A Via-Láctea se desenrolava Nem só desejo o teu amor, desejo A eterna luz da terra abençoada! Lendo comigo a página que leio, E chora às vidas antigas recordadas... Em fogo as faces, apareces sorrindo... E decerto será esse o meu público... Como um bando de sombras sumindo...

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14. Alpha Centauri ”O processo dos eventos é longo e alguns sinais os prenunciam”. Osman

Lins, Avalovara. soa o acorde do uni verso um sol e soa limalha vibrada pó de luz 15.Estrela de Barnard

“O isolamento absoluto em que me vejo, sob o Sol a pino, é o primeiro grande prodígio.” Osman Lins, Avalovara.

ficar na linha seguir no espaço deixar o espaço ficar na linha deixada a linha ficar no espaço deixado sem linha seguir pelo espaço deixado pelo espaço chegar e .

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16. Sírius “girassóis que pendem pétalas ouro

a chuva estronda pesada”. Osman Lins, Avalovara.

* ** *** ** ** * * * * * *** *** 17. Canis Major (paródia de fragmento do poema “Lobisomem” de Décio Pignatari)

“Nos motivos vegetais e zoomórficos dos pórticos e frontões lavrados, nos tetos glaucos da faiança

e onde o Sol se reflete.” Osman Lins, Avalovara. “No fundo da mata virgem nasceu Macunaíma, herói da nossa gente”

Mário de Andrade, Macunaíma. O Amor: Minha pele Arrancada! Minha pele de nervos! Encontrei um cão vadio: Pedi-lhe seu couro com pelos E o cão ingênuo me cedeu sua pele malhada E se foi para os campos da lua Sou poeta? Sou cão vadio? Sou o lobisomem?

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18. Procyon (tradução metamoderna do poema de Augusto de Campos, “Oeil”)

“-Mãe, sonhei que caiu meu dente.” Mário de Andrade, Macunaíma.

OlhO fOgO jOgO

LoGRo 19. Spica (versão metamoderna do poema “terra” de Décio Pignatari)

“O herói vivia sossegado. Passava os dias marupiara na rede matando formigas taiocas”

Mário de Andrade, Macunaíma. terra cara ter terrac ara ter ter raça rater t erra carater ter racara ter terr a caráter terra car ater terracara ter ter ter terra carater

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20.Canopus (paródia metamoderna do poema “ovonovelo” de Augusto de Campos)

“Dito isto o passarinho uirapuru executou uma letra no ar e desapareceu”. Mário de Andrade, Macunaíma.

n

n o v e l h o n o v o n o v o e l h o

21.Hydra (interferência metamoderna sobre dois poemas de José Lino Grünewald: “credo/cedro” e “cesse”)

“Muitos casos sucederam nessa viagem por caatingas rios corredeiras, gerais, corgos,

corredores de tabatinga matos-virgens e milagres do sertão.” Mário de Andrade, Macunaíma.

e s s e---------------c r e d o e s s e----s o l------m a n h ã e s s e----v e r d e--a r d o r e s s e----s o l o----c r e d o c e s s e----t o d o--s o n e t o

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22.Scorpius (paródia metamoderna do poema “topogramas” de Haroldo de Campos)

“Então Macunaíma emprestou da patroa da pensão uns pares de bonitezas, a máquina ruge, a máquina meia-de-seda, a máquina combinação”. Mário

de Andrade, Macunaíma. 1 2 3 recife salvador fortaleza cana calor praia céu sal sol céu sal fortaleza verde salvador jangada cana calor praia açúcar salvador ensolarada verde salvador sol branca negra fortaleza recife alva fortaleza negra salvador ensolarada céu sal sol cana calor praia recife salvador fortaleza

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23. Triangulum Australe (tradução metamoderna do poema “Exercício Findo”, de Décio Pignatari)

“Era junho e o tempo estava inteiramente frio”. Mário de Andrade, Macunaíma.

mão dedo indica chave pênis cachimbo barrete pena tinteiro canhão conjunção bolhas ar dados 24. Cruzeiro do Sul (interferência metamoderna no poema “Cidade” de Augusto de Campos)

“Pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são!” Mário de Andrade, Macunaíma.

a troca caduca capa pacaus ti dupli(ca) elas ti (ferem) felífer(a) fuga história loquaz qual lubri(ficante) mendi(go) multipli(ca o) orgânico períod(o) de plásti(co) públi(co) rapa pareci(do) pro(blema) rústi(co) saga simpl(es)

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lite(ratura) na velo(cidade) vera viva unívora voracidade cite 25.Sigma do Octante (reprocessamento metamoderno do poema processo “A Ave” de Wlademir Dias-Pino com interferência do poema “Sólida” do mesmo autor)

“E o Palácio do Governo é todo de oiro, à feição dos da Rainha do Adriático”

Mário de Andrade, Macunaíma. a ave________________voa sólida |\ /] | | \ / [ ô | \ _____/ ] | | \ / [ ô | \ / ] | | \ / [ ô | \/ ] | | \----------------/ dentro_____ do seu centro *** °\ *** ° \ *** ° \ ° *** \ ° *** \ ° *** \ ° ***\ a ave__________ só_________lida

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26. SO-2 em Sagitarius A “Olhou pra altura. Que Cruzeiro nada!

Era pauí-Pódole se percebia bem daqui...” Mário de Andrade, Macuanaíma.

d m u s io qu vão romp ndo a tr va

nch r t us sonhos pomba adorm cida!

deme use io eque vã or om pendo at reva enc her te uss on hosp omb aa dor mec ida!

de me usei oeq uevã orom pend o atreva

en chert eu ss on hos pom baad or meci da!

demeu se ioeq uev ão rompend oatre va e nc hert eus son hos pom ba ad ormec

ida

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27. Andrômeda (M31; NGC224) “A filha expulsa corre no céu, batendo perna de déu em deu.”

Mário de Andrade, Macunaíma. aqui meço começo recomeço

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arremesso

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a mente

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quase-íris

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se

emparadisa

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neste multilivro

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28. Grupo Local “Não me olhe de banda que eu não sou quitanda.

Não me olhe de lado que eu não sou melado.” Mário de Andrade, Macunaíma.

e começo aqui: reza calla y trabaja no jornalário mire usted multidinous seas: a liberdade sob o chapéu isto não é um livro na coroa de arestas esta é uma álealenda apsara ou uma borboleta neckarstrasse ma non dove como quem escreve circulado de violeta -circuladô de fulô- um depois um

uma volta inteira como quem está num navio mais uma vez tudo isto tem que ver cadavrescirto vista dall’interno eu sei que este papel cheiro de urina açafrão amorini e brancusi cheiro velho sazamegoto mármore ístrio aquele como se chamava poeta sem lira -hier liegt ach lass sie quatschen augenblick- um avô da história principiava a encadear-se um epos o que mais vejo aqui: pulverulenda esta mulher-livro a criatura de ouro não tiravam o chapéu calças cor de abóbora nudez: a dream that hath no bottom passatempos e matatempos fecho encerro: o ó a palavra ó

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29. Virgo Supercluster “Água do céu

Vem nesta cuia, Paticl vem nesta água,

Moposêru vem nesta água, Sivuoímo vem nesta água,

Omaispopo vem nesta água” Mário de Andrade, Macunaíma.

Tim Finnegan bateu a cabeça, quebrou o coco! Todos no velório antropofágico de Tim Staden Sardinha! HCE chegou de navio! Homero Cristo EUA! Ana Lívia Plurabelle! ALP! América Latina Prometida! rio Amazonas, cidade de Lima, rio da Prata! Isabel! Shaun & Shem! Jerry & Kevin! Castro & Chê JK & GV! Fox & Perón! O carteiro e o poeta! 30.Horologium Reticulum Supercluster

“Muiraquitã, muiraquitã de minha bela, vejo você mas não vejo ela!...”

Mário de Andrade, Macunaíma. Thomas Jefferson Building - Library of Congress Vatican Library BnF-Bibliothèque Nationale de France Torre do Tombo Biblioteca Nacional Sebo Paulista

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31.O Grande Atrator “As canindés amarelinhas também viraram estrelas.

É o Setestrelo!” Mário de Andrade, Macunaíma.

Historia Universal De La Infâmia Otras Inquisiciones Al Kitab Sefer Yetsirah La Biblioteca de Babel A Bíblia Mil e Uma Noites As Centúrias Trovas de Bandarra Dom Bosco 32. O Raio de Schwarzschild e o Horizonte de Eventos

“Oh... êh bumba, Folga meu boi!

Oh... êh bumba, Folga meu boi!”

Mário de Andrade, Macunaíma.

war war war schwarz schwarz schwarz schwarz child schwarz schwarz Schwarz Schwarz

war war war

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33. O Alphômega “É mesmo o herói capenga que tanto de penar na terra sem saúde e com

muita saúva, se aborreceu de tudo, foi-se embora e banza solitário no campo vasto do céu”. Mário de Andrade, Macunaíma.

101 101 101

kísar

111 101 101 101 101 111

lahmu lahamu

111 101

101 yes 111

111 no 101 merodac eha

111 101 111 111 101 111 enlil apsu

111 111 111

anshar

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FIM