mãe agripina - uma história no candomblé do brasil

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MÃE AGRIPINA Ed Machado Ìyálórìsà nílé Àse Òpó Àfònjá Uma História no Candomblé do Brasil

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Este livro registra um dos capítulos marcantes da História dos Candomblés no Rio de Janeiro, através de umadas mais representativas iyalorixás, Agripina de Souza Soares, Oba Déyí, do Ilé Àse Òpó Àfònjá.Fatos e histórias de suma importância são lembrados com carinho e emoção por aqueles que conviveramdiretamente com Mãe Agripina, e que o autor soube registrar com muita felicidade.Será consulta obrigatória por revelar uma documentação escrita que não ficará presa a uma simplesmemória que o tempo costuma fazer esquecer. É o resgate a ser estudado, de um Axé que foi mantido com muita vontade ededicação, e que certamente, dará maior motivação aos atuais e futuros herdeiros desta rica herança.José Benistewww.metanoiaeditora.com

TRANSCRIPT

MÃE AGRIPINAEd Machado

Ìyálórìsà nílé Àse Òpó Àfònjá

Uma História no Candomblé do Brasil

MÃE AGRIPINA

Ed Machado

Ìyálórìsà nílé Àse Òpó Àfònjá

Uma História no Candomblé do Brasil

COPYRIGHT © 2011, ED MACHADO

EDITORA

LÉA CARVALHO

PROJETO GRÁFICO

MALU SANTOS

CAPA

ANDRÉ SEVERIANO E MALU SANTOS

REVISÃO ORTOGRÁFICA E GRAMATICAL

CRISTIANA MONTEIRO TEIXEIRA MENDES

REVISÃO E TRADUÇÃO DO YOURUBÁ

JOSÉ BENISTE

DADOS INTERNACIONAIS DA CATALOGAÇÃO (CIP)

M149m MACHADO, ED, 1970- MÃE AGRIPINA : ÌYÁLÓRÌS À NÍLÉ ÀS E ÒPÓ ÀFÒ NJÁ : UMA HISTÓ-

RIA NO CANDOMBLÉ DO BRASIL / ED MACHADO. - RIO DE JANEIRO : METANOIA, 2011.

112 P. ; 21 CM.

INCLUI GLOSSÁRIO.

ISBN 978-85-63439-09-3

1. SOUZA, AGRIPINA DE, 1890-1966. 2. MÃES DE SANTO – BAHIA - BIOGRAFIA. 3. CANDOMBLÉ. I. TÍTULO. CDD – 920.9299673

CATALOGAÇÃO ELABORADA PELA BIBLIOTECÁRIA LIOARA MANDOJU – CRB-7 5331

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS E PROTEGIDOS PELA LEI 9.610 DE 19/02/1998. NENHUMA PARTE DESTE LIVRO, SEM AUTORIZAÇÃO PRÉVIA POR ESCRITO DA EDITORA, PODERÁ SER RE-PRODUZIDA OU TRANSMITIDA SEJAM QUAIS FOREM OS MEIOS EMPREGADOS: ELETRÔNICOS, MECÂNICOS, FOTOGRÁFICOS, GRAVAÇÃO OU QUAISQUER OUTROS.

WWW.METANOIAEDITORA.COM

RUA SANTIAGO, 319, 102 | PENHA | RIO DE JANEIRO

TELEFONE: 21 4106-5024 | E-MAIL: [email protected]

Prefácio

Ed Machado

er convidada pelo Ed Machado para escrever o prefácio desta Obra foi para mim uma honra e

muito gratifi cante. A honra e gratifi cação a que me refi ro se deve não somente ao fato de prefaciar o livro escrito por um amigo, mas também em razão da importância da história prefaciada que é um marco e enaltece uma mulher forte, guerreira, que contra as difi culdades vence e torna-se refe-rência de família, fé e religião, símbolo de uma verdadeira Ìyálórìsà.

Dizem que prefácio é algo que se escreve após o livro concluído, publicado no seu início, mas que quase ninguém lê, nem antes, muito menos depois. Se assim for, sinto-me aliviada, pois os leitores não se darão conta de que sou suspeita. Sem dúvida, não posso deixar de dizer que falar de Mãe Agripina sem a ter conhecido pessoalmente foi um grande desafi o, pois tive que mergulhar na memória e buscar lembranças, falar de pessoas tão queridas que hoje vejo retratada nesta Obra.

O livro que ora prefacio traz a marca do autor que o elaborou. Edmilson ou simplesmente Ed, como é conhecido, usa uma linguagem acessível, sem deixar de lado a precisão essencial das características e tradições de nossa religião.

Obrigo-me a registrar que não tive o prazer de conhecer mãe Agripina em vida, mas tenho a grande felicidade de conhecê-la através de alguns fi lhos que foram iniciados por ela, para cultuar Sàngó e os Òrìs à.

MÃE AGRIPINA - Ìyálórìsà nílé Àse Òpó Àfò njá

Eu sempre fi cava curiosa olhando o retrato daquela senhora, tão franzina de estatura baixa. Conversava com meu Pai Reinaldo que era fi lho espiritual de Mãe Agripina (Aira Dewe) perguntando-lhe sobre ela, ao que ele me respondia:

– Pequena e Franzina, mas de grande sabedoria. Sempre preocupada com o bem estar dos fi lhos, amigos e sempre discreta.

Pai Reinaldo dizia que Mãe Agripina era uma pessoa afável, muito carinhosa e uma boa ouvinte, ela aconselhava e quando o problema era difícil, sempre consultava S àngó, pedia ajuda e sempre cumpria com as determinações que lhe eram passadas, tornando-se a verdadeira voz de S àngó.

Sempre havia aos pés de Sàngó Orogbò e água fresca. Costumava pedir aos seus fi lhos que comessem e bebessem, pedindo ao Òrìs à da justiça força e sabedoria para tomar decisões certas para solução de problemas.

Era uma grande Líder, bastava um olhar, quer fosse para repreender ou até mesmo consentir. Era uma pessoa alegre, permitia que os fi lhos se reunissem para comemorações civis regadas com farto almoço. Muitas vezes, uma deliciosa moqueca.

Tio Amauri de Òs àlá tinha por ela uma grande admiração, ele dizia que era como sua mãe biológica, pois muitas vezes falamos com nossa Ìyálórìsà o que não dizemos a nossa mãe carnal. Quantos conselhos ela lhe dava, pois se dizia ser bem levado.

Ed Machado

Fico admirada a ouvir Tia Raílda de Ò s un falar de Mãe Agripina, voz embargada pela emoção e olhos lacrimejados pela saudade, nota-se pelo seu semblante, o seu amor e gratidão.

O reconhecimento do Ogãn João, sua luta na preservação da memória do Àse e também a Biografi a de Ìyá Agripina, divulgando suas correspondências com Ìyá Aninha.

Não poderia me esquecer da Ebomy Helena ou Tia Helena como a chamava, um exemplo de dedicação ao Àse e a Sàngó.

Tio Edgar, Ogãn que era um “Lorde” de tanta educação, um verdadeiro mestre na arte de receber a todos que chegavam ao Àse.

Ogãn Bila, sábio da arte de toques e cânticos, Tio Joaquim Motta, Tio Nilson, Tia Clarice, Tia Julia de O ya e Dulce de Ò s un, cuja Ò s un se encontra como Herança no Ilê Omon Oya Legí. Filhos que sempre enalteceram Mãe Agripina, por seu jeito carinhoso de se dirigir aos fi lhos, com muito respeito e carinho, tratando a todos com igualdade.

Não posso deixar de comentar sobre Tio Miguel: alegre, teimoso e brincalhão, porém, quando o assunto é a religião, os ensinamentos, deixados sobre as folhas e a tradição passada por sua Ìyálórìsà, transformam todas suas espon-taneidades em seriedade extrema. Ele mesmo diz: “sou teimoso igual a minha mãe”.

O que mais me toca são as palavras de Tia Maria, quando uma lágrima silenciosa rola na face, balbuciando que queria Mãe Agripina aqui.

MÃE AGRIPINA - Ìyálórìsà nílé Àse Òpó Àfò njá

O aspecto particular desse desejo regrado pela própria essência do Candomblé nos permite dizer que Mãe Agripina está entre nós, pois a evocamos em todos os rituais e tenho certeza de que ela continua olhando por seus fi lhos, bem como por seus netos e bisnetos.

Agradecemos a Olórun por sermos descendentes de Mãe Agripina e por termos seus fi lhos para nos orientar. Esperamos que este livro sirva de refl exão para que a tradição deixada por ela nunca se perca, apesar de todas as difi culdades com que lidam os adeptos da religião tão passível de modifi cação ao sabor dos ventos e de seus praticantes, pois Mãe Agripina continuará a viver em espírito junto a todos nós, na memória e tradição oral.

Mãe Agripina é cultuada como Mãe Ancestral dos segui-dores do Àse Òpó Àfònjá do Rio de Janeiro.

Obrigada, Obrigada, Mãe Agripina por a Senhora existir em nossas vidas.

Ìyá Palmira de Yánsàn.

Ìyálórìsà Ilê Omon Oya Legí.

“Não foi o martelo que deixou perfeitas as pedras, mas a água, com sua doçura, sua dança, e sua canção. Onde a dure-za só faz destruir, a suavidade consegue esculpir”.

Tagore, prêmio Nobel deliteratura de 1913

Nota do Autor

MÃE AGRIPINA - Ìyálórìsà nílé Àse Òpó Àfò njá

onrado em apresentar este trabalho, procurei empreender todos os esforços na árdua tarefa

de contar a história de Mãe Agripina, utilizando relatos so-bre sua vida.

Procurei abordar de forma objetiva os depoimentos que ouvimos, realçando aspectos contemporâneos da religião, porém sem olvidar os ensinamentos que nos foram legados pelas gerações que nos antecederam, assim como as orien-tações e experiências que encontramos dentro do Ilé Àse Òpó Àfò njá. Inspirei-me na religião que, apesar da diver-sidade das culturas e civilizações, se encontra sempre presente, o mais das vezes como marco cultural.

Por necessidade lógica, abordamos expressões como o Sagrado – Mitos – Ritos – Profano:

O Sagrado é venerado pela humanidade e representa o valor Supremo. A ele se subordinam todos os outros valores.

Os mitos, por sua natureza, são complexos (mitos da vida, da morte, da criação do mundo, da origem do ser humano, da religião, etc) e até mesmo obscuros. Por sua importância estrutural, consideramos os mitos como um dos elementos de interpretação da religião.

Os ritos no Candomblé são expressões religiosas dinâmicas em que a dança ocupa lugar de honra. O bailar dos fi lhos

Ed Machado

de Òrìsà no barracão de festas com o uso de indumen-tárias próprias identifi cam os dançarinos com as forças da natureza e, em ocasiões especiais, com os espíritos dos antepassados.

Já o Profano advém de manifestações artísticas não vincu-ladas a valores religiosos, como, por exemplo, as baianas das escolas de samba, que nada têm a ver com as fi lhas de Òrìs à vestidas para uma festa no terreiro de Candomblé.

O Autor.

Sumário

Introdução, 14

Amigas de um tempo, de outro tempo, 23

Os Frutos de Mãe Agripina, 33

Ìyálórìsà falando de Mãe Agripina, 64

Quem não conheceu Mãe Agripina, também se fascina, 80

Mãe Agripina, o início, 95

Mãe Agripina e sua infl uência no Às e de hoje , 98

Iniciados por Mãe Agripina, 100

Registro de Fatos, Fazendo memória escrita, 103

Glossário, 108

o