luzilene_tese_unesp
TRANSCRIPT
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
1/186
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JLIO DE MESQUISTA FILHO
FACULDADE DE CINCIAS HUMANAS E SOCIAIS
LUZILENE DE ALMEIDA MARTINIANO
DIMENSES E LIMITES DA SUPERVISO ACADMICA DEESTGIO EM SERVIO SOCIAL
FRANCA2011
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
2/186
LUZILENE DE ALMEIDA MARTINIANO
DIMENSES E LIMITES DA SUPERVISO ACADMICA DE
ESTGIO EM SERVIO SOCIAL
Tese apresentada Faculdade de Cincias Humanase Sociais, Universidade Estadual Jlio de MesquitaFilho como pr-requisito para obteno do ttulo deDoutor em Servio Social. rea de Concentrao:Servio Social: Trabalho e Sociedade.
Orientador: Prof. Dr. Jos Walter Canas
FRANCA2011
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
3/186
2
Martiniano, Luzilene de AlmeidaDimenses e limites da superviso acadmica de estgio em
Servio Social / Luzilene de Almeida Martiniano. Franca : [s.n.],2011
185 f.
Tese (Doutorado em Servio Social). Universidade Estadual
Paulista. Faculdade de Cincias Humanas e Sociais.Orientador: Jos Walter Canas
1. Servio Social Histria Brasil. 2. Estgio supervisionado.3. Servio Social Estudo e ensino. 4. Superviso. I. Ttulo
CDD 361.007
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
4/186
3
LUZILENE DE ALMEIDA MARTINIANO
DIMENSES E LIMITES DA SUPERVISO ACADMICA DE
ESTGIO EM SERVIO SOCIAL
Tese apresentada Faculdade de Cincias Humanas e Sociais, Universidade EstadualJlio de Mesquita Filho como pr-requisito para obteno do ttulo de Doutor emServio Social. rea de Concentrao: Servio Social: Trabalho e Sociedade.
BANCA EXAMINADORA
Presidente:_________________________________________________________________Prof. Dr. Jos Walter Canas
2 Examinador: _____________________________________________________________
3 Examinador: _____________________________________________________________
4 Examinador: _____________________________________________________________
5 Examinador: _____________________________________________________________
Franca, ______ de _______________ de 2011.
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
5/186
4
Dedico ao meu grande parceiro e marido Marco Antnio que me acompanhou nos momentos
difceis, pela parceria, pelo apoio.
Aos meus filhos Carol, Marco e Juju pelo incentivo e pela pacincia em agentar os
momentos de mau humor e tenso
minha irm Maria Aparecida que esteve sempre pronta para me apoiar nas atividades
extra tese.
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
6/186
5
AGRADECIMENTOS
Agradeo a Deus, por me dar foras para no desistir.
minha famlia pelo apoio incondicional e por acreditar que eu seria capaz, e pelas
horas ausentes.
Ao meu querido orientador Prof. Dr. Jos Walter Canoas que com seu exemplo de
dedicao, empenho me impulsionou para que eu finalizasse o trabalho. Obrigado pela
tolerncia, pelo respeito e apoio nos momentos difceis.
s minhas queridas amigas e companheiras Maria Jos e Glucia pela amizade, pelas
horas alegres que compartilhamos, e principalmente por partilhar um pouco de suas vidascomigo.
Aos meus ex-colegas do Curso de Servio Social do UNIFEB que de alguma forma
me incentivaram na construo da investigao.
minha companheira e amiga Soraia pela pacincia em escutar minhas reclamaes
sobre a tese, pelas informaes e dicas, e tambm por estar compartilhando uma nova
realidade em Ituiutaba.
Rosamlia, Flander, Eliane, Camila e Ricardo meus colegas de trabalho da FACIPpelo apoio na reta final do trabalho.
Laura da Biblioteca/UNESP pela ateno e pelo apoio nas correes e
normatizaes da tese, sempre colaborando apesar dos atrasos de percurso.
Enfim, agradeo s pessoas que participaram como sujeitos de pesquisa, por
possibilitar alguns momentos de sua agenda para realizar a entrevista e, tambm todos aqueles
que colaboraram de alguma para que eu conseguisse finalizar o trabalho.
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
7/186
6
No sei se a vida curta ou longa para ns, mas sei que nada do que vivemos tem sentido,se no tocarmos o corao das pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, brao que envolve, palavra que conforta, silncioque respeita, alegria que contagia, lgrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia,
amor que promove.E isso no coisa de outro mundo, o que d sentido vida. o que faz com que ela no
seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar.Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.
Cora Coralina
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
8/186
7
MARTINIANO, Luzilene de Almeida. Dimenses e limites da superviso acadmica deestgio em Servio Social.2011. 185 f. Tese (Doutorado em Servio Social) Faculdade deCincias Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho,Franca, 2011.
RESUMO
O presente projeto pretende contribuir e investigar a relevncia, dimenso e limites daSuperviso Acadmica no Curso de Servio Social a partir das mudanas oriundas da ltimareviso curricular. O objeto de Estudo a Superviso Acadmica de Estgio. Partiu-se do
pressuposto que a partir das novas diretrizes curriculares, o estgio dever ser o espaoprivilegiado de contato do aluno-estagirio com a realidade social quando o Servio Social seconcretiza, sendo a superviso acadmica o espao apropriado para que este resgate eentendimento da realidade se efetive. A nova lgica curricular, traz consigo propostasinovadoras de ao profissional, onde o estgio considerado uma das atividades integradorasdo novo currculo. Os supervisores acadmicos estaro presentes em todo o processo deformao profissional, desta forma pretende-se no presente projeto analisar as dimenses elimites de seu trabalho, ou seja, estabelecer e destacar sua importncia, assim como verificarcom est se efetivando sua ao nos diferentes Cursos de Servio Social. O objetivo geral do
projeto analisar as Dimenses e Limites presentes na ao dos supervisores acadmicos, ouseja, estabelecer sua importncia e suas limitaes. Para a realizao da investigao foi
realizado uma pesquisa exploratria, foi utilizado a pesquisa bibliogrfica e de campo. Oinstrumento utilizado para a aplicao da pesquisa de campo foi a entrevista. O universo daPesquisa foi composto pelas Escolas de Servio Social do estado de So Paulo, tendo comocenrio, cinco unidades de ensino presencial. Os sujeitos foram os coordenadores de estgioe/ou supervisores acadmicos que participam do setor de estgio da instituio. A anlise dosdados coletados foi feita na perspectiva da abordagem qualitativa, por oferecer uma maior
possibilidade de interpretaes dos significados, possibilitando uma anlise da totalidade darealidade.
Palavras-chave: servio social. Formao profissional. estgio supervisionado. superviso.
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
9/186
8
MARTINIANO, Luzilene de Almeida. Dimensions and limits of academic probationsupervision in Social Work. 2011. 185 p. Thesis (Doctorate in Social Work) - Faculty ofHumanities and Social Sciences, Universidade Estadual Paulista "Jlio de Mesquita Filho,Franca, 2011.
ABSTRACT
This project aims to contribute and to investigate the relevance, extent and limits ofSupervisors Academic Course in Social Work from the changes arising from the lastcurriculum revision. The object of study is the Academic Internship Supervision. This started
from the assumption that from the new curriculum guidelines, the stage would be the idealopportunity for the student-trainee contact with social reality when the Social Servicematerializes, and the academic supervision appropriate for the space and understand that thisrescue the reality is efetive. A new logic curriculum brings innovative proposals for
professional action, where the stage is considered one of the integrative activities of the newcurriculum. The academic supervisors will be present throughout the training process, thus itis intended in this project to analyze the dimensions and boundaries of your job, or establishand emphasize their importance, as is checking with its action in effecting different Courses inSocial Work. The project's overall objective is to analyze the dimensions and limits the action
of the present academic supervisors, namely to establish its importance and its limitations. Tocarry out the research was conducted an exploratory study, we used a literature search andfield. The instrument used for the implementation of field research was the interview. Theuniverse was composed of the Research School of Social Service of So Paulo state, againstthe backdrop of five units of classroom teaching. The subjects were the coordinators oftraining and/or supervisors who participate in the academic sector training institution. Thedata analysis was made in view of the qualitative approach, it offers a greater possibility ofinterpretations of meanings, enabling an analysis of the totality of reality.
Keywords: social service. professional formation. supervised period of training. supervision.
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
10/186
9
MARTINIANO, Luzilene de Almeida. Dimensions et limites de la surveillance de laprobationuniversitaires en Travail Social. 2011. 185 p. Thse (Doctorat en Travail Social) - Facult dessciences humaines et sociales, Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho, Franca,2011.
RSUM
Ce projet vise contribuer et tudier la pertinence, l'tendue et les limites des Responsablesacadmiques cours en travail social de l'volution dcoulant de la rvision des programmesdernire. L'objet d'tude est l'enseignement de stages de surveillance. Ce parti de l'hypothseque des lignes directrices nouveau curriculum, la scne serait l'occasion idale pour le contactavec les tudiants-stagiaires la ralit sociale lorsque le service social se concrtise, et lasupervision acadmique approprie pour l'espace et de comprendre que ce sauvetage la ralitest efetive.A curriculum nouvelle logique, apporte des propositions novatrices pour l'action
professionnelle, o la scne est considre comme l'une des activits d'intgration du nouveaucurriculum. Les superviseurs universitaires seront prsents tout au long du processus deformation, il est donc prvu dans ce projet pour analyser les dimensions et les limites de votretravail, ou d'tablir et de souligner leur importance, est que le contrle de son action eneffectuant diffrents Cours en travail social. L'objectif global du projet est d'analyser lesdimensions et les limites de l'action des superviseurs prsents universitaires, savoirl'tablissement de son importance et ses limites. Pour effectuer la recherche a t mene une
tude exploratoire, nous avons utilis une recherche documentaire et de terrain. L'instrumentutilis pour la mise en uvre des recherches sur le terrain a t l'entrevue. L'univers taitcompos de l'cole de recherche du service social de l'tat de So Paulo, dans le contexte descinq units d'enseignement en classe. Les sujets taient les coordonnateurs de la formation et /ou des superviseurs qui participent l'tablissement de formation du secteur universitaire.Lanalyse des donnes a t faite en vue de lapproche qualitative, il offre une plus grande
possibilit dinterprtations de la signification. Permettant une analyse de la totalit de laralit.
Mots-cls:services sociaux. formation professionnelle. supervision scne. surveillance.
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
11/186
10
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Caracterizao dos cenrios da pesquisa................................................. 125
TABELA 2 Grade Curricular n. 1.............................................................................. 127
TABELA 3 Grade Curricular n. 2............................................................................... 127
TABELA 4 Grade Curricular n. 3............................................................................... 128
TABELA 5 Grade curricular n 4................................................................................ 128
TABELA 6 Grade curricular 1 Perodo..................................................................... 130
TABELA 7 Grade curricular 2 Perodo..................................................................... 130
TABELA 8 Grade curricular 3 Perodo..................................................................... 130TABELA 9 Grade curricular 4 Perodo..................................................................... 131
TABELA 10 Grade curricular 5 Perodo..................................................................... 131
TABELA 11 Grade curricular 6 Perodo..................................................................... 131
TABELA 12 Grade curricular 7 Perodo..................................................................... 132
TABELA 13 Grade curricular 8 Perodo..................................................................... 132
TABELA 14 Disciplinas do 1 Semestre...................................................................... 137
TABELA 15 Disciplinas do 2 Semestre...................................................................... 138TABELA 16 Disciplinas do 3 Semestre...................................................................... 138
TABELA 17 Disciplinas do 4 Semestre...................................................................... 139
TABELA 18 Disciplinas do 5 Semestre...................................................................... 139
TABELA 19 Disciplinas do 6 Semestre...................................................................... 140
TABELA 20 Disciplinas do 7 Semestre...................................................................... 140
TABELA 21 Disciplinas do 8 Semestre...................................................................... 141
TABELA 22 Resumo da horas/aulas dos Ncleos Temticos...................................... 141TABELA 23 Perfil Lrio............................................................................................... 142
TABELA 24 Perfil Rosa............................................................................................... 146
TABELA 25 Perfil Hortncia........................................................................................ 146
TABELA 26 Perfil Roxo............................................................................................... 146
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
12/186
11
LISTA DE SIGLAS
ABEPSS Associao Brasileira de Ensino e Pesquisa em Servio Social
ABESS Associao Brasileira de Ensino de Servio Social
CEAS Centro de Estudo e Ao Social de So Paulo
CEFESS Centro de Documentao e Pesquisa em Polticas Sociais e Servio Social
CFESS Conselho Federal de Servio Social
CISS Conferncia Internacional de Servio Social
COS Charity Organization Society
CPEUSS Centro de Planejamento e Extenso Universitria em Servio SocialCRAS Conselho Regional de Assistentes Sociais
CRESS Conselho Regional de Servio Social
EaD Ensino a Distncia
ENESSP Executiva Nacional dos Estudantes de Servio Social
FADA Faculdades de Direito e Administrao
FAPSS Faculdade Paulista de Servio Social
FEB Faculdades Unificadas da Fundao Educacional de BarretosFET Fundao Educacional de Fernandpolis
FFCL Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras
IES Instituio de Ensino Superior
JUC Juventude Universitria Catlica
LDB Lei das Diretrizes Bsicas
LOAS Lei Orgnica da Assistncia Social
MEC Ministrio da Educao e CulturaOAB Ordem dos Advogados do Brasil
OIT Organizao Internacional do Trabalho
ONU Organizao das Naes Unidas
PNE Poltica Nacional de Estgio
PUC Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo
SUS Sistema nico de Sade
TCC Trabalho de Concluso de Curso
UCISS Unio Internacional Catlica de Servio Social
UFAs Unidades de Formao Acadmicas
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
13/186
12
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
UNESCO Organizao das Naes Unidas para Educao Cincia e Cultura
UNESP Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho
UNIFEB Centro Universitrio da Fundao Educacional de Barretos
UNIJALES Centro Universitrio de Jales
UNILAGO Universidade dos Grandes Lagos
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
14/186
13
SUMRIO
INTRODUO................................................................................................................ 15
CAPTULO 1 SERVIO SOCIAL: DAS ORIGENS
CONTEMPORANEIDADE........................................................... 24
1.1Trajetria Histrica do Servio Social Brasileiro: Avanos e Retrocessos.......... 25
1.2 As Condies Histricas da Gnese do Servio Social na Amrica Latina.......... 31
1.3 As Primeiras Tentativas para a Construo da Metodologia e Teoria do
Servio Social............................................................................................................. 331.4 O Servio Social no Brasil: Gnese.......................................................................... 36
1.5 As Matrizes Tericas Metodolgicas do Servio Social......................................... 43
1.6 O Servio Social e a Formao Profissional na Contemporaneidade................... 48
CAPTULO 2 O ESTGIO SUPERVISIONADO EM SERVIO SOCIAL:
ELEMENTOS INFLUENCIADORES E LIMITES QUE SE
COLOCAM PRTICA PROFISSIONAL.................................. 542.1 A Construo das Diretrizes Curriculares do Servio Social............................... 55
2.2 Os elementos Constitutivos do Estgio Supervisionado em Servio Social na
Atualidade................................................................................................................. 69
2.3 A Construo da Poltica Nacional de Estgio em Servio Social......................... 79
2.4 Os Novos Desenhos da Concepo de Superviso em Servio Social:
Supervisor de Campo e Supervisor Acadmico................................................... 82
2.5 A Operacionalizao do Estgio............................................................................... 103
CAPTULO 3 DIMENSES E LIMITES DA SUPERVISO ACADMICA........ 118
3.1 A Construo da Pesquisa e Seus Desdobramentos............................................... 119
3.2 Procedimentos Metodolgicos.................................................................................. 121
3.3 Universo da Pesquisa: Cenrios............................................................................... 124
3.3.1 Caracterizao dos cenrios da Pesquisa............................................................... 124
3.3.1.1 Faculdade de Cincias Humanas e Sociais (FCHS/Unesp SP)........................... 124
3.3.1.2 Pontifcia Universidade Catlica (PUCSP)........................................................ 128
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
15/186
14
3.3.1.3 Faculdade Paulista de Servio Social (FAPSS).................................................... 132
3.3.1.4 Centro Universitrio da Fundao Educacional de Barretos (UNIFEB).............. 134
3.4 Interpretao e Anlise dos Dados Coletados......................................................... 140
3.4.1 Perfil dos Sujeitos..................................................................................................... 141
3.5 Estgio Supervisionado e Superviso Acadmica - Condies Objetivas e
Subjetivas................................................................................................................... 143
3.5.1 Metodologia de Trabalho do Setor de Estgio......................................................... 143
CAPTULO 4 PERSPECTIVAS E ELEMENTOS PARA UMA CONCLUSO.... 150
4.1 Repensando a Formao Profissional a Partir da Superviso Acadmica.......... 151
4.2 Categorias Empricas................................................................................................ 153
4.2.1 O conhecimento onde est?...................................................................................... 154
4.2.2 Mediao como instrumento terico-metodolgico da Formao Profissional...... 156
CONSIDERAES FINAIS.......................................................................................... 161
REFERNCIAS.............................................................................................................. 166
ANEXOS
ANEXO A - RESOLUO CFESS N 533, de 29 de setembro de 2008.................... 172
ANEXO B - LEI N 11.788 DE 25/09/2008.................................................................... 178
ANEXO C - FORMULRIO SEMI-ESTRUTURADO.............................................. 185
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
16/186
15
INTRODUO
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
17/186
16
A pesquisa sempre um desafio, diante de nossas convices, indagaes, utopias,
quando decidimos por um tema de nosso interesse, que faz parte do nosso cotidiano
profissional ela torna-se gratificante.
Considero que tive o privilgio de vivenciar isto na construo desta investigao, pois
ao iniciar minha profisso como docente fui aos poucos me aproximando e me apaixonando
pelo tema Estgio e Formao Profissional, e me encantou as possibilidades que na realidade
atual os estudantes tem para discutir o estgio e tudo o que nele est inserido. Ressalto ainda,
que durante o processo investigativo, iniciaram-se as discusses na categoria, chanceladas
pela Associao Brasileira de Ensino e Pesquisa em Servio Social (ABEPSS0, sobre a
questo do estgio supervisionado na nova proposta curricular, o que posteriormente resultou
na Poltica Nacional de Estgio, da qual pude participar dos encontros realizados pararealizao das propostas para a construo do documento.
O presente projeto pretende investigar a relevncia, dimenso e limites da Superviso
Acadmica no curso de Servio Social a partir das mudanas oriundas da ltima reviso
curricular.
O interesse pelo tema surgiu a partir da vivncia prtica inicialmente como supervisora
de campo de estgio em 2003, na Universidade Catlica de Gois, e em 2006 na Centro
Universitrio da Fundao Educacional de Barretos (UNIFEB) de Barretos, e, tambm naUNESP- Franca como supervisora de campo voluntria do Projeto Centro de Planejamento e
Extenso Universitria em Servio Social (CPEUSS). Atravs destes primeiros contatos
estabelecidos com outras supervisoras, campos de estgio e estagirios, fui percebendo a
complexidade das relaes e tambm sua relevncia, j que foi uma experincia totalmente
nova, pois durante meu perodo de graduao no tive o suporte da superviso Acadmica,
pois ela no existia, e o setor de estgio era algo distante onde entregvamos nossos planos e
relatrios de estgio.No ano de 2006, j como docente das Faculdades Unificadas da Fundao
Educacional de Barretos (FEB), passei a ser integrante da Comisso de Estgio e a partir da,
pude ter uma viso mais abrangente da importncia, da dimenso e dos limites do estgio
Supervisionado na formao profissional dos futuros assistentes sociais, e foi quando decidi
realizar o presente projeto selecionando como objeto de estudo a superviso acadmica de
estgio.
Para tanto, partiu-se do pressuposto que apartir das novas diretrizes curriculares, o
estgio dever ser o espao privilegiado de contato do aluno-estagirio com a realidade social
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
18/186
17
quando o Servio Social se concretiza, sendo a superviso acadmica o espao apropriado
para que este resgate e para o entendimento da realidade se efetive.
A nova lgica curricular, traz consigo propostas inovadoras de ao profissional, onde
o estgio considerado uma das atividades que integram o currculo. Dentro da proposta
bsica da ABEPSS concebido como: [...] uma atividade curricular obrigatria que se
configura a partir da insero do aluno no espao profissional o que pressupe superviso
sistemtica. (OLIVEIRA, 2004, p. 21).
Segundo Buriolla (1996, p.13), o estgio concebido como um campo de treinamento,
um espao de aprendizagem do fazer concreto do Servio Social, onde um leque de situaes,
de atividades de aprendizagem profissional se manifestam para o estagirio, tendo em vista a
sua formao.Desta forma, torna-se um lcus onde o aluno iniciar a construo de sua identidade
profissional, sendo primordial que ele seja bem organizado e planejado, pois quando o aluno
tem a possibilidade de reflexo crtica sobre a ao profissional, sendo desta forma essencial
formao do aluno.
Contudo, apesar de ser obrigatrio e essencial se reveste de algumas dificuldades para
sua operacionalizao, entre elas, podemos citar: instituio sem as condies mnimas de
estgio, ausncia da superviso do campo, desinformao e desinteresse entre as Unidades deEnsino e Unidades de Campo de Estgio, entre outras.
No tempo histrico em que vivemos, no espao institucional onde acontece aprtica, onde vive-se a lgica do mercado(cuja preocupao garantir que o estgioatenda as demandas profissionais) e onde tambm se vive a precarizao do trabalhoem suas mais sutis e variadas formas, ignorando-se a proposta pedaggica daformao acadmica. (CONEXO, 2004, p.8).
Alm disso, a questo da superviso uma tarefa rdua, complexa e polmica, pois
encontramos realizando o estgio, alunos sem supervisores de campo; supervisores de campo
desinteressados, desinformados, e que muitas vezes j se formaram h bastante tempo no
querendo ser incomodados e questionados pelos alunos, que chegam munidos de dvidas,
idias, crticas, e, apesar de estar regulamentado na Lei n. 8.662/93 em seu artigo 5 par. VI,
como atribuies privativas dos Assistentes Sociais treinamento, avaliao e superviso
direta de estagirios de Servio Social.
Esta superviso ser feita pelo professor supervisor e pelo profissional do campo,atravs da reflexo, acompanhamento e sistematizao com base em planos deestgio, elaborados em conjunto entre unidade de ensino e unidade campo deestgio. (PASSAURA, 2005, p. 5).
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
19/186
18
A Superviso em Servio Social uma atividade inerente ao exerccio profissional,
porm nem sempre a categoria profissional e as Instituies de ensino dos cursos de Servio
Social percebem sua importncia e seu significado, comprometendo desta forma a formao
dos Assistentes Sociais.
Outro fator agravante e que prejudica a formao profissional a questo do estgio
considerado como trabalho onde aos estagirios so atribudas tarefas que no compreendem
a ao profissional do Assistente Social, como: tarefas burocrticas, digitao de documentos,
servios de office-boys/girls, marcao de consultas, fornecimento de variados tipos de vales,
etc.
Outro ponto de fragilizao do estgio supervisionado a alta tendncia do mercadode trabalho captao de mo-de-obra de baixo custo, fruto da precarizao dotrabalho e da crise do capital, exacerbando ainda a mesma concepo capitalista dolucro pelo lucro.(CONEXO, 2004, p. 8 .)
Os estagirios ao iniciar seu estgio j possuem uma respeitvel bagagem terica e
buscam um local onde eles possam exercitar e apreender uma prtica profissional, chegam
repletos de idias, sonhos, e procurando um local de estgio perfeito, esquecendo-se que as
instituies tem seus limites, objetivos prprios, etc. Cabe ao Supervisor proporcionar-lhes o
devido respaldo terico e prtico, mostrar-lhes os objetivos, limites organizacionais, bem
como aproxim-los da realidade, estreitar os vnculos, desprovidos de preconceitos, de
prticas no-democrticas,
Segundo Buriolla (1996):
O desempenho de papis fruto da concretizao da prtica profissional e o que setem desvelado sobre o concreto real da prtica da ao supervisora dos alunos emServio Social, dolorido e agravante, pois em uma grande maioria dos casos ela se
configura setorizada, com experincias pulverizadas, com tessitura artificial e nosocializada, onde se percebe um discurso diferente da atuao tanto da parte dosupervisor quanto pela Instituio campo de estgio.
So atribuies do supervisor de campo:
- acompanhar, refletir e apoiar o aluno, sistematizando e planejando as atividadesjunto ao discente, atravs da elaborao de um plano de estgio;- integrar o aluno ao campo de trabalho;- determinar e acompanhar as atividades do acadmico desenvolvidas no campo deestgio;
- acompanhar o aprendizado em servio;- zelar pelo desempenho tico do acadmico;- participar das reunies, cursos e atividades de capacitao desenvolvidas pelaUnidade de ensino. (IAMAMOTO, 2004, p. 287)
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
20/186
19
Assim, percebemos que a ao supervisora pressupe o desenvolvimento de diferentes
papis. que esto situados em diferentes contextos scio-econmico, poltico e cultural dentro
de realidades institucionais distintas. Podemos salientar como papis do supervisor de campo
hoje: educador, transmissor de conhecimentos/experincias e de informaes, autoridade e
avaliador.
Como atividade curricular obrigatria o estgio implica em acompanhamento e
orientao profissional, atravs da superviso acadmica e de campo, sendo indissociveis o
estgio e a superviso. Desta forma, a superviso adquire duas dimenses distintas uma
superviso acadmica tida como uma prtica docente, e, portanto o responsvel o professor-
supervisor no contexto do curso, e a superviso de campo que de responsabilidade doassistente social presente no campo de estgio.
[...] sua operacionalizao envolve um conjunto de sujeitos o aluno, o professor-supervisor acadmico, o assistente social-supervisor de campo, os demais
profissionais e pessoas envolvidas no cotidiano do campo de estgio diretamenteenvolvido no processo de ensino-aprendizagem, e que desempenham diferentes
papis e funes na efetivao das atividades didtico-pedaggicas. (OLIVEIRA,2004, p. 15)
Como supervisor acadmico, o professor responsvel pela reflexo terico-metodolgica das questes pertinentes ao campo de estgio e na formao dos alunos,
destacando-se entre suas atribuies segundo Iamamoto (2004, p. 285):
- acompanhar o desempenho do aluno de acordo com o plano de estgio,estabelecido de comum acordo com a instituio;- identificar carncias terico-metodolgicas e tcnico-operativas do aluno de acordocom o plano de estgio e contribuir para sua superao;- desenvolver com o aluno um exerccio de reflexo crtica sobre seu processo deformao profissional.
- estimular a curiosidade cientfica e a atitude investigativa no exerccio profissional;- atribuir clareza ao papel do profissional;- contribuir para a identificao das singularidades do trabalho do Servio Social;- atualizar o aluno ao nvel da bibliografia e conhecimentos necessrios s atividades
profissionais e pesquisa;- Orientar o aluno sobre valores, posturas e comportamentos identificados nodesempenho de seu trabalho como estagirio;- Desenvolver o esprito crtico no trato terico e na formao do cidado.
Contudo, como j citamos acima so variadas as dificuldades que perpassam as
relaes e o cotidiano do aluno e do supervisor de campo no campo de estgio, sendo
primordial que o supervisor de campo e supervisor acadmico tenha uma ao integrada que
lhe permita discutir as diretrizes e os caminhos que orientam o processo de ensino.
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
21/186
20
So atribuies do supervisor acadmico:
- realizar reunies sistemticas;
- promover cursos/oficinas para atualizao profissional;
- realizar visitas aos campos de estgio para maior aproximao unidade de Ensino-
Instituio campo de estgio, etc.
O estagirio tambm acompanhado por um professor de Servio Social, a quemcumpre a superviso acadmica realizada na Universidade, por meio de disciplinae/ou oficina concernente. A informao necessariamente completada com umadimenso formativa, envolvendo a reflexo sobre valores, posturas e atitudesobservadas em seu desempenho. (IAMAMOTO, 2004, p.285)
O estgio dever ser o espao privilegiado de contato do aluno-estagirio com a
realidade social quando o Servio Social se concretiza. Desta forma, as aulas de superviso
acadmica sero o espao apropriado para que este resgate e entendimento da realidade.
Contudo, muitos campos de estgios no garantem nem mesmo as condies mnimas
para a formao do futuro profissional, tais como espao e tempo, muitos profissionais
supervisores de campo encontram-se em um cotidiano repleto de tarefas onde mal conseguem
desempenhar suas mltiplas funes, fazendo com que a superviso fique relegada a segundo
plano, no existindo desta forma o dilogo, a reflexo e a troca de conhecimento entre outras
coisas.
Alm disso, muitos supervisores so oriundos de cursos de formao deficitrios e/ou
desconectados com a prtica e a realidade social mais ampla. Somando-se a estes fatores
encontramos supervisores que no conseguem se atualizar por diferentes razes alm da falta
de tempo, tambm por desinteresse, acomodao e limitaes geogrficas.
Faz-se necessrio que entendamos todas estas questes terico-prticas da Superviso
em sua totalidade, ou seja, situ-la no contexto atual do Servio Social, dentro de uma nova
ordem mundial excludente, em que o profissional de Servio Social est respaldado por um
projeto tico-poltico contundente que atua na garantia dos direitos do cidado, e isto muito
significativo, pois durante dcadas trabalhamos na perspectiva do assistencialismo, da
doutrina crist, da caridade onde se prestava ajuda aos mais necessitados, aos pobres
coitados.
Na ltima dcada, o debate sobre formao profissional colocou o ensino da prtica
em segundo plano, ocupando durante as diversas revises uma posio residual e de pouca
relevncia na produo acadmica especializada. Contudo dentro da nova lgica curricular oestgio foi resgatado, e tem sua importncia ressaltada dentro do Ncleo Temtico de
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
22/186
21
Pesquisa e Prtica, objetivando funcionar como [...] catalizador e antecipador de demandas
no campo de conhecimento e da ao profissional (IAMAMOTO, 2004, p. 279). Diante
disto, o ensino, a pesquisa e a extenso devero estar integradas e caminhar juntas.
Para alcanarmos nossos objetivos selecionamos empiricamente quatro Unidades de
ensino do estado de So Paulo, os dados foram obtidos na pgina eletrnica do Cress-SP,
onde na ocasio de formulao do projeto constavam 54 unidades de ensino de Servio Social
presenciais e EaD, definindo atravs de amostragem no probabilstica quatro unidades de
ensino sendo trs privadas e uma pblica.
Partiu-se das seguintes indagaes:
As diretrizes curriculares do Servio Social pressupem que o Estgio
supervisionado seja composto pela superviso de campo e superviso acadmica, assim comoestar sendo desenvolvido nas diferentes instituies de ensino, diante da ausncia de uma
fiscalizao mais direta?
A disciplina Superviso Acadmica est presente na grade curricular dos cursos?
Vrias so as metodologias de trabalho, que as diferentes unidades de ensino
desenvolvem, assim como estar a questo da qualidade na formao profissional?
Diante da escassez de recursos agravadas pela crescente evaso de alunos das
instituies privadas em sua grande maioria, estaro os cursos contratando professoressupervisores Acadmicos suficientes?
Nosso objetivo geral foi analisar as dimenses e limites presentes na ao dos
supervisores acadmicos, ou seja, estabelecer sua importncia e suas limitaes.
Alm disso, tivemos como objetivos especficos:
- verificar a ao do supervisor acadmico nos diferentes cursos de Servio Social do
Estado de So Paulo;
- identificar carncias terico-metodolgicas e tcnico-operativas do aluno presentesno cotidiano do campo de estgio;
- ampliar os estudos e pesquisa sobre superviso de estgio;
- estimular a produo acadmica acerca de assuntos relacionados ao estgio;
- refletir sobre as posturas, identidades do futuro profissional;
- incentivar os supervisores de campo a retornar academia buscando uma melhor
qualidade na superviso de campo.
- identificar onde est o conhecimento?
Para alcanarmos nossos objetivos realizamos uma pesquisa bibliogrfica acerca dos
vrios aspectos e significados que permearam as relaes nos campos de estgio, na trajetria
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
23/186
22
histrica de lutas e conquistas dos Assistentes Sociais, bem como com a categoria
profissional, o estgio busca sua afirmao e destaque como capacitador da insero do aluno
na realidade social, pois durante dcadas permaneceu relegado e escondido em prticas de
estgio de faz de conta, ou seja, no era considerado um lcus como hoje dentro da nova
lgica curricular.
Assim, esta foi realizada a partir de alguns estudiosos como Iamamoto, Buriolla,
Oliveira, entre outros autores para nos aproximarmos da realidade dos estgios, foi realizada
em livros, revistas, internet, jornais, etc. Alm disso, no podemos deixar de destacar os
vrios cadernos da ABESS/ABEPSS que foram os catalizadores das conquistas e reformas de
nossa categoria profissional. Tambm utilizamos meios tecnolgicos (INTERNET) para
complementar e buscar dados estatsticos, artigos publicados, etc.Assim, aps anlise das diversas opes metodolgicas que se apresentam Pesquisa
Social, utilizaremos a Pesquisa exploratria, pois segundo Gil (1999, p. 43) [...] trata-se de
um tipo de pesquisa que tem como principal objetivo desenvolver, esclarecer e modificar
conceitos e idias proporcionando uma viso geral e uma aproximao da realidade.
O recorte temporal ficou determinado a partir de 1996, pois corresponde
determinao das novas diretrizes curriculares at o ano de 2010 quando foi realizada a
aplicao da pesquisa.O universo da pesquisa foi composto por quatro unidades de ensino de Servio Social
do estado de So Paulo, tendo como cenrio as seguintes Unidades de Formao Acadmicas
(UFAs): Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho (UNESP); Faculdade
Paulista de Servio Social (FAPSS); Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC);
Centro Universitrio da Fundao Educacional de Barretos (UNIFEB).
Os sujeitos da pesquisa foram quatro supervisores e/ou coordenadores de estgio que
responderam atravs da entrevista a um formulrio semi-estruturado, que continha questesfechadas e abertas.
A tese foi estruturada em quatro captulos, no primeiro captulo realizamos uma breve
contextualizao do Servio Social no mundo e posteriormente seu surgimento no Brasil,
destacando aspectos histricos, sociais e do desenvolvimento do Servio Social no Brasil.
No segundo captulo, buscou-se fazer uma breve contextualizao das propostas
curriculares do curso de Servio Social, com o objetivo de destacar o estgio na atual proposta
curricular.
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
24/186
23
O Terceiro captulo composto pelos procedimentos metodolgicos da construo da
pesquisa, e tambm da anlise dos dados coletados que foram analisados na perspectiva da
abordagem quali-quantitativa.
A partir da anlise dos dados coletados, construram-se as categorias empricas que
resultaram nas consideraes finais.
O trabalho permitiu uma reflexo sobre a temtica sobre Estgio e Superviso,
contudo no se esgota, mas traz novas indagaes e possibilidades de novas investigaes.
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
25/186
24
CAPTULO 1SERVIO SOCIAL: DAS ORIGENS CONTEMPORANEIDADE
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
26/186
25
O presente captulo tem como objetivo fazer uma breve reflexo sobre as origens do
Servio Social, destacando a influncia da Doutrina Social Catlica em sua gnese,
perpassando a influncia norte-americana.
Alm disso, pretende-se a partir desta contextualizao compreender a construo da
sua teoria, mtodos e sua legitimao profissional.
Para a oportunizao destas anlises, faz-se necessrio percorrer o processo de
formao profissional que se inicia a partir da criao das primeiras escolas de Servio Social,
compreendida como uma profisso que surge a partir de uma necessidade da classe burguesa,
demandada para atender seus interesses de ajustamento do indivduo nova ordem social.
Posteriormente, a profisso aps perodos longos de questionamentos rompe com o
conservadorismo, dando continuidade ao seu projeto de legitimao profissional, voltando suaprtica aos interesses da classe trabalhadora, acentuando as contradies dentro da prpria
categoria profissional.
Tornou-se relevante destacar as matrizes terico-metodolgicas adotadas at ento,
para compreender a formao profissional na contemporaneidade.
1.1Trajetria Histrica do Servio Social Brasileiro: Avanos e Retrocessos
De acordo com Vieira (1978), o Servio Social como fato social e interveno do
homem no mundo com esta denominao s foi conhecido no sculo XX. Contudo, ao
analisar os diferentes perodos histricos percebe-se que o ato de ajudar ao prximo, de
corrigir ou prevenir os males sociais, impulsionar o homem para a construo de sua vida
positivamente, sempre existiu. Desde o aparecimento dos seres humanos na Terra, realizou-sede diferentes formas e nominaes, sendo quase sempre influenciadas pelas idias, costumes,
tradies de cada momento histrico.
Os pobres e miserveis sempre existiram, na antiguidade se manifestava naqueles que
no possuam os meios de subsistncia, como os velhos e doentes, vivas e crianas rfs
e/ou abandonadas.
O sistema socioeconmico da poca, baseado na pecuria e agricultura de subsistncia
oferecia trabalho a todos, sendo que a misria s aparecia em perodos de invaso, guerras que
traziam destruio total das casas, lavouras, e tambm, pelas catstrofes ocasionadas pela
natureza.
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
27/186
26
Em sua grande maioria, a assistncia aos necessitados, principalmente aos idosos e
crianas era realizada pela famlia, cl ou tribo.
Segundo Vieira (1978, p. 22):
A idia de preveno ou reabilitao era quase desconhecida apesar de encontrar-senos escritos de Aristtoles uma referncia sobre a necessidade de ajudar aos pobresdando-lhes material necessrio para que se tornem artesos.
Na Idade Mdia, posteriormente ao Decreto do Imperador Constantino que
estabeleceu o Cristianismo como religio oficial, ocasionou em uma nova viso do conceito
de caridade, pois a partir deste momento todos os homens foram considerados irmos, ser
pobre ou doente no era castigo de Deus, mas consequncia da imprevidncia do prprioindivduo ou da circunstancial, nos casos de doenas, pestes que vitimizavam milhares de
pessoas.
A economia na Idade Mdia, rural e artesanal, era instvel e vulnervel, apresentando
crises locais, depresses, inflaes, ocasionadas tanto pelas guerras e/ou catstrofes (peste
bubnica em Londres).
A parcela da populao mais atingida pelas guerras, invases e epidemias foi a
populao que vivia na rea rural. Tudo isto acarretou um expressivo contingente de pessoas
desamparadas, sem meios para sobreviver, que passaram a engrossar a multido de mendigos
que percorriam os pases em busca de oportunidades, e tambm uma expressiva parcela
migrou para o mundo do crime, aumentando o nmero de assaltos, roubos e mortes.
A caridade conseqncia do amor a Deus (I, Jo 4-16), resposta do homem a esteamor [...] manifesta-se sobretudo nas boas obras (Lucas, 7-47); [...] o amor ao
prximo o segundo maior mandamento (Mt, 7-12). (VIEIRA, 1978, p. 30).
Percebe-se que ressaltavam atravs da F Crist, a necessidade de ajudar famlia, aoprximo, agregados etc., sendo a Igreja a principal administradora da caridade na Idade
Mdia, j que junto aos mosteiros e igrejas funcionavam hospitais, leprosrios, orfanatos e
escolas.
Contudo, com a crescente demanda de miserveis e necessitados, tornou-se necessrio
a criao de outras congregaes religiosas, dedicadas especialmente assistncia social,
auxlios materiais, visitao domiciliar, assistncia hospitalar.
Por outro lado, algumas corporaes de ofcios e algumas confrarias instituramsistemas de ajuda mtua para os necessitados que se proliferaram no Mundo Novo, sob a
influncia de Portugal e Espanha.
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
28/186
27
Deve-se ressaltar que durante este perodo, h uma ausncia da presena estatal nas
obras de caridade e de assistncia, pois a funo governamental era garantir a defesa do
territrio (diante das intensas invases) e manter a ordem interna.
O Sculo XV marcou o fim da Idade Mdia e o incio dos tempos modernos que se
caracterizaram pelo desenvolvimento da cincia, do comrcio, pela modernizao das tcnicas
artesanais que resultaram na criao das primeiras pequenas indstrias, e, intenso processo de
colonizao, resultantes das descobertas dos novos continentes.
Alm disso, o Sistema Feudal demonstrava h algum tempo sinais de enfraquecimento
extinto gradativamente, resultando em um grande fluxo migratrio para os centros urbanos.
Os servos livres das obrigaes com os senhores feudais buscavam novas alternativas de
sobrevivncia, representando estes centros uma excelente oportunidade.Outro fato significante deste incio de sculo que tambm transformou o conceito de
caridade foi a Reforma Protestante, que ao romper com a unidade religiosa, divide o poder
com a Igreja Catlica.
Nos pases conquistados por protestantes, os bens da Igreja e dos catlicos foram
confiscados, e as obras assistenciais passaram a ser desenvolvidas pelo Estado, o que resultou
na necessidade de sistematizao do trabalho assistencial, conforme destacado em vrias
obras de filsofos, legisladores, em especial Ivan Luis Vives (1492) e So Vicente de Paula.Segundo Vieira (1978, p. 32):
[...] instaura-se a era da secularizao, do humanismo e mais tarde, do racionalismo.Secularizao como a libertao do homem em primeiro lugar, do controlereligioso, do controle metafsico sobre sua razo e sua linguagem. Percebe-se umatentativa de romper com concepes fechadas do mundo e tambm ruptura com osmitos e smbolos sagrados, permitindo desta forma que cada instituio faa o quelhe atribudo, permitindo o pluralismo e uma certa tolerncia.
A pobreza se expande tornando-se um fenmeno social natural, aceita pela sociedade aquem cabia o dever de ajudar aos pobres. Torna-se uma atividade normal os senhores
distriburem esmolas cientes de estar fazendo o bem, enquanto que as senhoras realizavam
visitas s famlias, levando alm de bens materiais, orientaes e conselhos, priorizando os
velhos, doentes e crianas rfs que no possuam famlia, e aos desempregados ajudavam
arrumando-lhes trabalho.
Outros segmentos populacionais, que possuam boas condies de sade e no
trabalhavam, bem como alcoolistas, mes solteiras, ladres, prostitutas eram consideradoscriminosos.
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
29/186
28
As primeiras intervenes de assistncia aos necessitados do Estado foram no sculo
XVI, at ento as atribuies eram da esfera privada e religiosa, contudo com o agravamento
da questo social e das desigualdades houve um aumento significativo da mendicncia.
Vrias aes em diferentes pases foram institudas como exemplos, podemos citar: O
Po dos Pobres em Nuremberg (Alemanha), a Aumne Generale em Lyon (Frana), o
levantamento do nmero de pobres, o encaminhamento dos doentes aos hospitais, a
distribuio de bilhetes de auxlio em dias fixos.
Alm disso, grandes aes foram organizadas em Paris em 1944, como Bureax ds
Pauvres que posteriormente, em 1955, tornou-se Grand Buerau, uma atividade
filantrpica que funcionava como um Conselho de obras sociais, realizando seu trabalho junto
s companhias de caridade, instituies privadas encarregadas de recolher donativos e querecebiam incentivo governamental.
A primeira legislao social referente Assistncia Social foi promulgada pela Rainha
Elizabeth I na Inglaterra, em 1601. Tinha como pretenso restringir a circulao de pobres
entre as cidades, estabelecendo aos municpios a responsabilidade de cuidar destes indivduos
alm de facilitar e fiscalizar a distribuio de esmolas. Logo em seguida, pases como
Dinamarca e Blgica, adotaram Cdigos de Assistncia com o mesmo objetivo.
Posteriormente no sculo XIX, o advento da industrializao vem transformardrasticamente o contexto social, pois modifica o cenrio econmico e social com a criao das
indstrias e desenvolvimento dos centros urbanos. Agrava-se a questo social com a insero
das mulheres e das crianas no Mundo do Trabalho. A busca de lucros cada vez maiores, faz
com que as empresas exijam cada vez mais dos trabalhadores que se submetem a exaustivas
jornadas de trabalho de at 14 horas dirias, sem quaisquer garantias ou direitos, surgindo
desta forma, uma nova classe social de pobres: os assalariados.
Formou-se um enorme contingente de mo-de-obra barata e sem especializao, o quefez com que os abusos s aumentassem, j que para a indstria havia um grande nmero de
trabalhadores ansiosos em ter uma ocupao que submetiam-se ao trabalho sem fazer
exigncias.
Proliferam-se as fundaes religiosas, consolidando principalmente as idias de So
Vicente de Paula e de Vives. Outro fato que influencia o modo de se praticar a caridade a
Revoluo Francesa, havendo uma emergncia de sistematizar esta assistncia aos pobres.
Destaca-se neste perodo, o movimento que surgiu na Frana liderado por Frederico
Ozanan que reunia jovens estudantes catlicos. Com um objetivo comum praticar o bem,
inovava-se por ser constitudo por rapazes e homens de qualquer classe ou profisso que
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
30/186
29
visitavam os pobres em suas residncias, tarefa exercida at ento quase que exclusivamente
pelas mulheres. De acordo com Vieira (1978, p. 40), A prtica da caridade, a visitao aos
pobres, o contato com a misria seriam, portanto, uma escola e treinamento para uma ao
mais ampla da sociedade.
H uma expanso destas manifestaes Vicentinas, no s nos pases europeus, como
tambm, nos Estados Unidos, originando as Catholic Charities.
Em quase todos os pases estas fundaes existiam, o que ocasionou assistncia
dplice e abusos de toda sorte, principalmente pela falta de entrosamento entre elas. Estas
organizaes denominadas Charity Organization Society (COS), reconheciam que era
necessrio investigar as causas da pobreza, sendo assim, passaram a remunerar pessoal
especializado para desempenhar tal tarefa, que era realizada principalmente por estudantes dasescolas de Cincias Sociais.
Gradativamente, percebe-se a necessidade de treinamento tanto para o investigador
remunerado como para o voluntrio, deste modo que aps ampla discusso desta questo em
1897 no ano seguinte foi criado o primeiro Curso de Servio Social na Universidade de
Columbia, em Nova York.
Surgem ento, as primeiras aes no campo da ao social que se estenderam aos
problemas de habitao, de higiene, de crianas abandonadas ou mal tratadas, e de luta contraa tuberculose. Contudo, os grupos divergiam-se quanto ao direcionamento das aes, se estas
deveriam ser estendidas aos indivduos ou transformao do ambiente.
Estas indagaes fizeram com que se realizasse uma investigao in loco, ou seja, da
misria e de suas causas, a fim de que se chegasse soluo para a mudana do ambiente.
Em 1824, surge em Londres o primeiro Centro Social, fundado por Cannon Barret, um
ministro anglicano e por Arnold Toynbee, um jovem universitrio.
Em 1891, foi promulgada pelo Papa Leo XII, a primeira encclica social, a RerumNovarum, a qual destacava os princpios de Justia social. Segundo Yasbeck (2009, p. 3),
este documento representou[...] o incio do magistrio social da Igreja no contexto de busca
de restaurao de seu papel social na sociedade moderna.
No sculo XX, com as diversas transformaes decorridas na sociedade, modificam-se
os papis e funes da famlia que passa a ser considerada a clula bsica da sociedade,
conservando as funes de procriao, educao moral e afetiva. Contudo, delegou-se as
funes de instruo, assistncia, recreao, etc. Igreja, ao Estado e comunidade.
As aes sociais neste momento so voltadas famlia, o indivduo no mais visto
individualmente, mas em harmonia com os demais membros. H uma tentativa de se
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
31/186
30
preservar os laos sanguneos e afetivos, buscando no separar seus membros, salvo os em
casos que esta no tinha condies fsicas e morais de permanecer juntos. Criou-se diferentes
tipos de servios voltados famlia, buscando sempre a garantia dos direitos, e tambm a
ajuda financeira, material, moral.
Por outro lado, a Igreja apesar das dificuldades enfrentadas em diversos pases,
continua mantendo vrias aes sociais, porm continuam grandes os nmeros de aes
leigas, principalmente de senhoras catlicas das classes mdia e alta, que se dedicavam seu
tempo livre ao trabalho voluntrio.
Em 1931, quarenta anos aps a primeira encclica, a Igreja promulgou a
Quadragsimo Anno, contendo verdadeiros tratados de justia social, que inspiraram aes
sociais das elites em numerosos pases.O Estado, por sua vez, vai sendo impelido a intervir progressivamente nas aes
assistenciais, inicialmente adotando uma postura repressiva que se amplia para uma postura
preventiva, reconhecendo seu papel na promoo do bem-estar social.
Desta forma, as aes estatais se do em dois nveis: na legislao e na atuao. Na
Legislao, se desenvolveu na questo da seguridade social, surgindo em vrios pases os
sistemas de seguros sociais. Inicialmente eram estendidos a algumas reas de riscos e a
algumas categorias de trabalhadores, e vai progressivamente se estendendo a toda populao.Houve tambm a proliferao das leis que aos poucos foram aperfeioando as obras
sociais, e na Frana em 1936 era necessrio que estas fossem filiadas Unio Nacional de
Instituies Privadas para que recebessem subvenes do governo. Posteriormente, em 1950,
com a sistematizao dos servios sociais, criou-se um cadastro central dos assistidos, que
foram divididos por regies administrativas.
Alm disso, o ensino de Servio Social foi regulamentado em vrios pases, sendo que
em alguns inicialmente em nvel secundrio ou tcnico, para depois passarem ao nveluniversitrio.
Concluindo, verifica-se ao longo dos sculos, que a transformao da sociedade,
inicialmente era mtica e pag, tornou-se religiosa e posteriormente secularizada e racional. A
ajuda prestada era material em natureza e em espcie, e assim, a pobreza que era reduzida na
antiguidade, passou a ser considerada normal com a modernizao da sociedade na Idade
Mdia, e nas pocas seguintes passou a ser um mal social.
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
32/186
31
1.2 As Condies Histricas da Gnese do Servio Social na Amrica Latina
A profisso de assistente social surgiu no Brasil na dcada de 1930. Ocurso superior de Servio Social foi oficializado no pas pela lei n1889 de 1953. Em 27 de agosto de 1957, a Lei 3252, juntamente como Decreto 994 de 15 de maio de 1962, regulamentou a profisso.(CRESS, 2009, online)
Como relatado acima, percebe-se que at o sculo XIX, as instituies Igreja, famlia e
Estado foram assumindo e personalizando a assistncia aos pobres e desvalidos. Contudo, a
partir do sculo XX, em uma tentativa de institucionalizar a Assistncia Social surgiram as
entidades internacionais com o objetivo de sistematizar as diferentes intervenes ou ajudaaos pobres, sendo a partir da denominadas Servio Social.
Destacam-se neste perodo trs instituies que foram fundamentais para a evoluo
do Servio Social mundial: a Unio Internacional Catlica de Servio Social (UCISS), a
Conferncia Internacional de Servio Social (CISS) e a Organizao das Naes Unidas
(ONU).
A UCISS foi criada em 1922, por Mademoiselle Marie Baers em Bruxelas (Blgica),
reunia escolas catlicas de Servio Social, associaes catlicas de Assistentes Sociais emembros individuais. Seu objetivo era [...] levar aos trabalhos do Servio Social a
contribuio da doutrina catlica e do humanismo cristo (VIEIRA, 1978, p. 50).
Em 1925, Realizou-se o primeiro Congresso Internacional de Servio Social em
Milo, com o tema Organizao da U.C.I.S.S. e o Planejamento de suas Atividades.
Posteriormente, realizou at 1967 onze congressos internacionais, vinte e um seminrios ou
encontros regionais e dez reunies de estudo, sendo a maioria realizados na Europa, mas
algumas aconteceram em outros continentes como Amrica do Norte, frica e sia (na
ndia).
Na Amrica do Sul, a primeira escola de Servio Social surgiu no Chile em 1925,
chamava-se Alejandro Del Rio, e representou a primeira tentativa de profissionalizao do
Servio Social, mesmo que subordinada profisso mdica.
As primeiras conferncias focalizavam os campos do Servio Social, como habitao,
famlia, industrializao e comunidade.
Com a criao da Organizao das Naes Unidas (ONU) em 1946, foi elaborada a
Carta dos Direitos do Homem, organizando agncias especializadas como a Organizao
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
33/186
32
das Naes Unidas para Educao Cincia e Cultura (UNESCO) e a Organizao
Internacional do Trabalho (OIT).
A partir de 1950, h participao dos Assistentes Sociais em variados contextos:
programas nacionais, elevao do nvel de vida e novo papel em um mundo de mudana.
Dava-se nfase aos estudos sobre: Desenvolvimento de Comunidade, Planejamento Social,
Direitos do Homem, Progresso Social e Estratgias de Desenvolvimento Social.
O Servio Social desenvolveu-se de formas diferentes, adotando diversificadas
concepes e conceituaes.
Nos pases europeus de lngua francesa adotou-se o nome de Servio Social, enquanto
que nos pases de lngua anglo-germnica o nome adotado foi Social Work ou Trabalho
Social. Segundo Vieira (1978, p.580) [...] o Servio Social um servio prestado sociedadee o Trabalho Social ou Social Work atividade realizada em servio da sociedade.
Na Europa, segundo Pusid (apud VIEIRA, 1978, p. 582) O Servio Social
desenvolveu-se a partir de duas fontes ambivalentes, por um lado a caridade e de outro a
noo que os problemas sociais eram uma espcie de doena social. Adotava-se uma
abordagem autoritria na qual em pases como a Frana, os pobres, os necessitados eram
considerados incapazes de resolver seus problemas, desta forma necessitavam de ajuda, pois
estariam prejudicando o andamento normal da sociedade.Nos Estados Unidos, o processo de colonizao ocasionou novas formas de ajuda aos
pobres, aos imigrantes trabalhavam para a sobrevivncia, contudo todos trabalhavam
buscando no s a sobrevivncia, mas tambm uma defesa s interpres da natureza e dos
ataques dos ndios.
Desde o incio da colonizao enfatizava-se a competitividade como um trao
marcante, sendo os que no trabalhavam eram considerados incapazes, uma vergonha.
Assim, dentro deste contexto o Social Work, possua dois objetivos: criar condiespara uma vida melhor e desenvolver nos indivduos capacidade para uma vida melhor.
Percebe-se nestes dois contextos diferentes abordagens, ou seja, enquanto que nos
pases em que a concepo em Servio Social era predominantemente assistencialista, a ajuda
aos pobres era uma virtude da condio humana. Por outro lado, o Social Workbuscava a
transformao da natureza para tornar todos capazes de exercer seus direitos e deveres. Isto
era evidenciado tambm na denominao do profissional trabalhador social e Assistente
Social respectivamente. Em 1953, a Unio Pan-americana analisou o desenvolvimento de
aes de caridade e a assistncia, concluindo que houve evoluo (VIEIRA, 1978, p. 61):
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
34/186
33
- Da assistncia paleativa e curativa para uma assistncia preventiva e construtiva;- Da assistncia mtua aos programas de bem-estar;- Da beneficncia assistncia por direito;- Da assistncia imposta participao ativa;- Da assistncia em massa individualizao;
- Do isolamento proteo da unidade familiar;- Da assistncia intuitiva aos servios tcnicos;- Do auxlio dado por leigos ao trabalho profissional;- Da assistncia privada ao dos governos;- Do ataque de problemas isolados ao reconhecimento da inter-relao de todos os
problemas da sociedade.
1.3 As Primeiras Tentativas para a Construo da Metodologia e Teoria do Servio
Social
Mary Richmmond j havia demonstrado desde 1917 a abordagem individual em trs
momentos consecutivos: estudo, diagnstico e tratamento. Este mtodo era empregado em
todos os campos de trabalho.
Em 1922, Mary Richmmond definiu o Servio Social de Casos [...] como um
processo de desenvolvimento de personalidades do cliente atravs de ajustamentos
conscientemente efetuadas ao indivduo e do homem para com seu meio social(RICHMMOND, 1974, p. 2 apud VIEIRA, 1978, p. 68).
Em 1928, vrios pases compareceram Primeira Conferncia Interna de Servio
Social, que posteriormente enviaram seus relatores, foram analisados por Ren Sand (1932
apud VIEIRA, 1978, p. 71) que chegou a diversas concluses. Primeiramente, a de que o
Servio Social em suas variadas formas, nas diversas partes do mundo enfrentava os mesmos
problemas em relao aos mtodos empregados. Tambm observou que trs fatores
contriburam para seu desenvolvimento: o progresso das idias de solidariedade, oaperfeioamento da cincia e das tcnicas sociais, e a industrializao e a urbanizao.
No primeiro quarto do sculo XX, o Servio Social no se distinguia da Ao Social
diante disto, Ren Sand apresentou uma proposta com alguns modelos: esquematizado,
coordenado, generalizado, sistematizado, nacionalizado e individualizado. Estes modelos
foram implementados em vrios pases, sendo utilizados respectivamente ao modelo acima
citado nos seguintes pases: Frana, Inglaterra, Itlia, Alemanha, antiga Unio Sovitica e os
Estados Unidos. Esta classificao tinha como finalidade a descrio das funes e formas
administrativas, o Servio Social considerado no uma atividade ou mtodo.
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
35/186
34
Outra classificao, mais comumente usada, at a metade do Sc. XX, dividia o
Servio Social por campos de aplicao, ou seja: famlia, menores, escola, sade, empresa,
delinquncias, meio rural. A discusso da aplicabilidade deste eram discutida nos Congressos
Internacionais. Assim eram atribuies dos campos:
Famlia inclua ajuda individual e unidade familiar;
Menores inclua a assistncia s crianas abandonadas ou rfs, mes solteiras e
colocao em lares substitutivos, entre outras coisas;
Escolar- designavam visitadores para estabelecer uma ligao com as escolas do
bairro, buscando verificar os motivos que determinavam a evaso escolar, o baixo rendimento
escolar;
Sade objetivava conhecer melhor os antecedentes e o ambiente onde viviam ospacientes, ale, do atendimento nos hospitais e ambulatrios, tambm faziam a preparao das
famlias para o retorno ao lar;
Psiquitrico iniciou-se nos EUA, tinha como funo ajudar o paciente a se reajustar
vida social;
Correlacional ocupavam-se de jovens delinquentes, durante o processo, na priso e
ao serem libertados;
Empresa (Europa) - ocupava-se das medidas necessrias ao bem-estar dos operrios.Percebe-se que em todos estes campos, o tratamento adotado era individual, ou seja, o
indivduo e sua famlia, o paciente, o delinquente, o doente mental, o trabalhador, sendo o
Servio Social familiar a base de todos.
Os trabalhos com grupos e comunidades so mencionados a partir de 1940 como
campos de grupos e comunidade.
At a Segunda Guerra Mundial, o Servio Social caracterizava-se por:
- abordagem individual em relao aos problemas dos clientes;- abordagem comunitria ou de ao social em relao s distores da sociedade;
- emprego de pessoal sem remunerao, de preferncia voluntrios;
- completa disponibilidade dos Assistentes Sociais, o Servio Social constitua uma
vocao, em ministrios;
- atividade imediata, em que a Assistente Social era considerada boa quando ajudava
sua clientela a resolver suas dificuldades pelo menos a seu alcance.
Percebe-se que o Servio Social percorreu desde seu incio uma longa trajetria para a
construo de sua metodologia, por muito tempo acreditou-se que cada campo tinha suas
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
36/186
35
particularidades, devendo somente especificar os problemas e os tipos de clientela.
Utilizavam-se como instrumentais de trabalho a entrevista, a visitao e os encaminhamentos.
Posteriormente em 1941, Gordon Hamilton caracterizou o Servio Social de Casos
[...] como a arte de ajudar as pessoas a se ajudarem a si mesmas, cooperando com elas, a fim
de benefici-las e ao mesmo tempo a sociedade em geral (GORDON apud VIEIRA, 1978, p.
78).
Por outro lado, a abordagem comunitria surgiu quase que concomitantemente ao
Servio Social de Casos, na Frana era denominada Ao Social, e nos Estados Unidos
Organizao de Comunidade.
De acordo com Dunham (1948, p. 3 apud VIEIRA, 1978, p. 80):
[...] a organizao de comunidade no campo do Servio Social o processo peloqual se promove e se mantm um equilbrio constante entre os recursos e asnecessidades dentro de uma rea geogrfica ou de campo de Servio Social.
Diante do reconhecimento da necessidade de um processo de Servio Social e
objetivando o desenvolvimento comum, criam-se mecanismos que fazem com este faa parte
das grades curriculares e da Teoria do Servio Social das primeiras escolas, principalmente
nos Estados Unidos.
A partir de 1956, este mtodo que propaga-se para outros pases foi denominado
Desenvolvimento de Comunidade.
Finalizando, a abordagem grupal foi o ltimo processo ou mtodo largamente
discutido pelo Servio Social em sua fase inicial. Primeiramente no era visto como
importante, contudo buscando atrair alguns grupos especficos, criaram-se atividades e
programas que se utilizavam da tcnica grupal. Diante disto, surgiram variados programas de
diversas naturezas, tais como: recreao, lazer e desenvolvimento de habilidades. O trabalho
com grupo, s foi aceito como mtodo de trabalho do Servio Social aps a Segunda Guerra
Mundial, sendo publicados vrios livros com esta temtica.
O Servio Social desde o seu surgimento se desenvolveu de maneiras diferentes, em
pocas distintas em cada local, sendo sempre fortemente influenciado pelo contexto histrico,
cultural, econmico e poltico de cada sociedade.
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
37/186
36
1.4 O Servio Social no Brasil: Gnese
O Servio Social no Brasil surge a partir de uma emergncia da classe burguesa, com
o forte apoio da Igreja e Estado, objetivando buscar medidas paliativas que fizessem com que
a classe trabalhadora se acalmasse e continuasse contribuindo com o desenvolvimento
capitalista.
Desde o perodo colonial as obras de caridade mantidas pelo clero possuam uma
longa tradio, buscando uma forma de controlar o movimento operrio.
Em fins do sculo XIX, o clero j estava presente dentro das unidades industriais,
buscando controlar estes trabalhadores, onde existiam dentro destes centros industriaispequenas capelas que celebravam missas para os trabalhadores diariamente, sendo os mesmos
obrigados a assisti-las.
Sua presena era constante tambm nas Vilas Operrias, onde tentavam organizar as
famlias, atravs da Doutrina Social da Igreja, alm da presena no Movimento Sindical, no
qual tinham apoio da classe patronal para desenvolver atividades educativas, assistenciais e
organizacionais, numa tentativa de coibir qualquer idia consideradas por eles subversivas.
Aps a Primeira Guerra Mundial, surgem as primeiras instituies sociais das quais oServio Social tem sua origem.
No mundo, neste perodo acontecem fatos marcantes que influenciam as origens do
Servio Social Brasileiro, estes fatos foram:
surge a primeira Nao Socialista;
o movimento popular operrio reivindica seus direitos;
o Tratado de Versalhes institui uma nova poltica social voltada aos direitos
humanos.No Brasil, os movimentos operrios de 1917 a 1921 tornaram a questo social
evidente e a necessidade de buscar formas de enfrentamento.
Desta forma, surgem as primeiras instituies sociais, sendo em 1920 aAssociaodas Senhoras Brasileiras no Rio de Janeiro, e em 1923 a Liga das Senhoras Catlicas em
So Paulo, obras marcadas pela participao das famlias burguesas paulistas e cariocas,
apoiadas pelo Estado e pela Igreja.
Em 1923, surgiu a Confederao Catlica, precursora da Ao Catlica
posteriormente, sendo que estas instituies criaram as bases assistenciais e humanas que a
partir da dcada 1930 com a forte expanso da Ao Catlica deram origem ao Servio Social
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
38/186
37
brasileiro, apesar de cunho paternalista e assistencialista. Pode-se afirmar que a partir do
movimento laico, as iniciativas embrionrias se multiplicam dentro da Ao Catlica e
constituem a base para a criao do Servio Social. Neste perodo merecem destaque as
associaes da juventude catlica destinadas a intervir junto classe operria e tambm a
outros setores.
Pode-se perceber que a base organizacional e o fator humano que viabilizaram o
surgimento do Servio Social partiram das antigas obras sociais e das novas iniciativas
oriundas do movimento catlico.
Em 1932, criou-se o Centro de Estudo e Ao Social de So Paulo (CEAS), a partir
da sentiu-se a necessidade de uma especializao do trabalho desenvolvido, buscando uma
sistematizao do trabalho que proporcionasse uma maior abrangncia e eficincia dostrabalhos j desenvolvidos pela classe burguesa. Diante do grave quadro social que se
apresentava, ocorria um crescente descontentamento da classe operria diante das precrias
condies de vida e de trabalho, j que estes viviam em lugares insalubres, sem possuir as
condies mnimas de higiene, sem infra-estrutura de servio bsicos de gua, luz, esgoto, e
tambm pelas prprias condies de trabalho, e neste perodo a jornada de trabalho era de 10
a 12 horas dirias. A mo de obra infantil e feminina era largamente utilizada, sendo que estes
realizavam o mesmo trabalho do trabalhador adulto masculino, mas recebiam em mdia umtero do total do trabalhador do sexo masculino.
O incio oficial do Servio Social conforme Iamamoto (1982, p. 172), aconteceu com
um curso intensivo para moas promovidas pelas Cnegas de Santo Agostinho, tinha como
objetivos orientar, esclarecer idias e formar um julgamento acertado sobre os problemas
sociais da atualidade.Foi convidada para ministrar o cursoMlle Adle Loneuxda Escola deServio Social de Bruxelas. As primeiras alunas foram jovens formadas nos
estabelecimentos religiosos de ensino, sendo neste perodo j predominante o sexo feminino,provindas de famlias das classes dominantes.
Conforme Iamamoto (1982, p. 173), o CEAS tinha como objetivo: promover a
formao de seus membros pelo estudo da doutrina social da Igreja e fundamentar sua ao
nessa formao doutrinria e no conhecimento aprofundado dos problemas sociais, visando
tornar mais eficiente a atuao das trabalhadoras sociais e adotar uma orientao definida em
relao aos problemas a resolver, favorecendo a coordenao de esforos dispersos nas
diferentes atividades e obras de carter social.
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
39/186
38
Foram fundados, durante o ano de 1932, quatro Centros Operrios, idealizados
como etapas intermedirias que deveriam ceder lugar a associaes de classe que as elites
operrias iriam formar e dirigir.
Os primeiros cursos promovidos foram: Filosofia, Moral, Legislao do Trabalho,
Doutrina Social e Enfermagem de Emergncia.
Em 1933, houve uma intensificao das atividades do CEAS, sendo que passaram a
participar da Liga Eleitoral Catlica; promoveram a Primeira Semana de Ao Catlica;
organizaram a formao dos quadros da Juventude Feminina Catlica (Centros Operrios
e Crculo de Formao para moas), a fim de intervir diretamente junto ao proletariado para
afast-lo das influncias subversivas.
Em 1936 houve a fundao da Primeira Escola de Servio Social no Brasil, aPontifcia Universidade Catlica, surgindo novas demandas para o Servio Social, entre
elas, os cargos de fiscais femininos para o trabalho de mulheres e menores no Servio
Estadual do Trabalho.
Em So Paulo, um ano antes deste ocorrido, foi criado o Departamento de Servio
Social do Estado, Lei n 2.497 de 24-12-1935, que tinha como competncias:
a) superintender todo o servio de assistncia e proteo social;b) celebrar, para realizar seu programa, acordos com as instituies particulares decaridade, assistncia e ensino profissional;c) harmonizar a ao social do Estado, articulando-a com a dos particulares;d) distribuir subvenes e matricular as instituies particulares realizando seucadastramento;e) estruturao dos Servios Sociais de Menores, desvalidos, trabalhadores eegressos de reformatrios, penitencirias e hospitais e da consultoria jurdica doServio Social. (IAMAMOTO, 1982, p. 182).
Em 1937, o CEAS passa a atuar no Servio de Proteo ao Migrante. Em 1938,
houve uma reorganizao da Seo de Assistncia Social, quando buscava-se delinear o
conjunto de trabalhos necessrios ao reajustamento de certos indivduos e grupos s condies
normais de vida. Assim, organizou o Servio Social para Casos Individuais, a Orientao
Tcnica das Obras Sociais, o Setor de Investigao e Estatstica e o Fichrio Central de
Obras e Necessitados. Neste perodo, o mtodo central utilizado era o Servio Social de
Casos Individuais, e a nomenclatura foi mudada para Departamento de Servio Social.
[...] estimular o necessitado, fazendo-o participar ativamente de todos os projetos
que se relacionam com seu tratamento [...] utilizar todos os elementos do meio socialque possam influenci-lo no sentido desejado, facilitando sua readaptao epropiciar um auxlio material reduzido ao mnimo indispensvel para no prejudicaro tratamento. (IAMAMOTO, 1982, p. 187).
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
40/186
39
O Estado ultrapassa o marco de sua primeira rea de interveno, para superintender a
Gesto da Assistncia Social. Alm disso, procurou racionalizar a assistncia, reforando e
centralizando sua participao prpria e regulando as iniciativas particulares, que se tornam
cada vez mais dependentes da burocracia estatal, e voltadas para as demandas de servios para
o estado, estabelecendo diversos convnios com as instituies particulares.
Alm disso, figuras de destaque sadas das instituies particulares so cooptadas para
integrar os quadros tcnicos e conselhos consultivos das instituies estatais de coordenao e
execuo. Desta forma, percebe-se que a formao tcnica especializada ser demandada
fortemente pelo Estado, que ao mesmo tempo a regulamenta e incentiva sua legitimao como
profisso dentro da diviso social do trabalho.
Em 1939, realizado um convnio entre o CEAS e o Departamento de Servio Socialdo Estado. Posteriormente em 1940, criou-se o Instituto de Servio Social em So Paulo,
sendo este um desmembramento da Escola de Servio Social e que destinava-se formao
de trabalhadores sociais especializados para o Servio Social do Trabalho.
Logo aps, em 1944, diante da emergncia do trabalho do profissional de Servio
Social no Brasil, as escolas especializadas mudam seus programas buscando um atendimento
da demanda crescente.
No que refere-se demanda, devemos salientar
a importncia quantitativa de alunos
bolsistas e dos cursos intensivos de formao de auxiliares sociais.
As bolsas eram subsidiadas pelo (a):
Estado;
Grandes instituies estatais ou para-estatais;
Departamento Nacional da Previdncia;
Legio Brasileira da Assistncia;
Servio Social da Indstria; Servio Social de Aprendizagem Industrial;
Escolas de Servio Social (campos particulares).
De acordo com Iamamoto (1982, p. 219), no devemos subestimar a importncia das
pioneiras do Servio Social, nem tampouco a influncia doutrinria na formao profissional.
NoRio de Janeiro, a formao tcnica especializada se desenvolveu dentro de umaforma mais variada de iniciativas, devido a alguns fatores: o Estado o mais antigo plo
industrial da Regio Sudeste, representava um grande centro de servios (transporte, portos,
etc.), possua um numeroso proletariado, era a maior cidade do Pas, alm de ser a Capital
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
41/186
40
Federal, era onde se encontrava os principais aparatos da Igreja Catlica, os grandes bancos e
a direo poltica e econmica.
Desta forma, a capital federal foi cidade onde mais se desenvolveu a infra-estrutura
de servios bsicos e assistenciais, com participao intensa do Estado que reafirmou o
princpio da cooperao, teorizado em torno de uma sistematizao da atividade social, sendo
complementado com o apoio da Igreja. Neste incio, as principais aes desenvolvidas eram
destinadas construo de habitaes populares.
Podemos afirmar que a necessidade de formao tcnica especializada vista no
apenas como uma necessidade particular ao movimento catlico. Tem-se presente essa
necessidade, enquanto necessidade social que no apenas o aparato religioso, mas tambm o
estado e o empresariado.Percebe-se que houve uma emergncia em criar uma formao profissional
especializada no trabalho social, diante do quadro de insatisfao crescente na populao
pobre e do intenso movimento sindical que se organizava.
Assim, esta iniciativa parte de um setor especfico que foi o Juzo de Menores, com
apoio institucional federal do Ministrio da Justia, sendo o trabalhador social solicitado para
a assistncia ao menor. Em 1936, fundou-se a Fundao do Laboratrio de Patologia Infantil,
composta por intelectuais e especialistas catlicos leigos. Tambm neste ano, realizou-se oprimeiro curso intensivo de Servio Social com durao de trs meses, e paralelamente
realizou-se um curso prtico com duas assistentes sociais paulistas formadas na Blgica.
Em 1938, iniciou-se um curso regular de Servio Social, que diplomou a primeira
turma em 1941. Um ano antes, foi realizado um curso preparatrio em Trabalho Social, que
deu origem Escola de Servio Social da Universidade do Brasil. Surgem no decorrer da
dcada de 1940 diversas escolas nas capitais dos estados.
Em 1947, aconteceu o I Congresso Brasileiro de Servio Social, com a participaodas 15 das escolas de Servio Social, sendo 13 exclusivas ao sexo feminino e duas para
homens.
At 1947, as escolas catlicas de Servio Social do Rio de Janeiro haviam diplomado
40 assistentes sociais, as escolas de So Paulo 196, e as Escolas de Trabalhadores Sociais
nove profissionais. Assim, no final da dcada j havia pouco mais de 300 assistentes sociais,
sendo a maioria das Escolas de So Paulo e Distrito Federal, com predomnio de mulheres.
Pode-se afirmar que os mecanismos de cursos extensivos para auxiliares sociais e as
bolsas mantidas pelas grandes instituies, que comearam a surgir a partir de 1942, foram a
forma encontrada para acelerar a formao de assistentes sociais. Contudo, neste momento
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
42/186
41
no se coloca um problema de mercado de trabalho, mas sim um de luta pelo reconhecimento
da profisso e pela exclusividade para diplomados, das inmeras vagas que foram se abrindo
no servio pblico e/ou instituies. Buscava-se o reconhecimento da profisso, atravs de um
trabalho voltado questo social que comeou a ser reconhecida, mas percebeu-se nos
programas e projetos existentes uma ausncia e uma emergncia da criao de mtodo para o
Servio Social.
Conforme Iamamoto (1982, p. 193), os campos de trabalho eram bem limitados at a
implantao e o desenvolvimento das grandes instituies, a profisso se desenvolve de forma
lenta e paulatina, sendo os campos de trabalho bem limitados
Em So Paulo no setor pblico, as demandas maiores eram do Departamento de
Servio Social do Estado, sendo que trabalhavam 17 Assistentes Sociais das 27 assistentessociais em exerccio, realizando funes especializadas, como inspetoras do trabalho de
mulheres e menores e do juzo de menores. Nos campos particulares atuavam em obras
assistenciais do CEAS, como os centros familiares organizados a partir do convnio com o
Departamento de Servio Social do Estado.
No Rio de Janeiro no setor pblico, atuavam junto ao juzo de menores e o Servio de
Assistncia ao Menor da Prefeitura Municipal. Nos campos particulares, o exerccio da
prtica se dava em instituies sociais mais slidas, porm as atividades desenvolvidas erambastante restritas, em funo da abrangncia de atuao dos rgos pblicos de Servio Social
e tambm pelas prprias restries da instituies particulares para tornar vivel a poltica de
encaminhamentos.
Contudo, nos dois estados a atuao dos assistentes sociais tinha predomnio de aes
doutrinrias e assistencialistas, fortemente influenciadas pela Doutrina Social Crist da Igreja
Catlica, com apoio do Estado e do empresariado.
Proliferaram neste perodo os Centros Familiares, que se instalaram nos bairrosoperrios e tinham como finalidade separar as famlias das classes operrias, prevenindo
assim sua desorganizao e decadncia, procurando elevar seu nvel econmico e cultural.
Tentativas de organizao da classe operria ou formao de grupos eram consideradas
atitudes subversivas que comprometiam a ordem social e que deveriam ser extinguidas.
Os servios oferecidos eram: planto para atendimento de interessados, visitas
domiciliares, bibliotecas infantis, reunies educativas para adultos, curso primrio para
crianas, cursos de formao familiar, alm de tratamento de casos encaminhamentos,
colocao em empregos, abrigos provisrios para necessitados etc.
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
43/186
42
Em 1939, surgiu no Rio de Janeiro a Associao Lar Proletrio, representando a
primeira grande obra particular carioca. Neste perodo, tambm destacou-se a Imprensa
Nacional, que com atuao junto aos empregados, promoviam cursos de formao
profissional, organizao de lazeres educativos, servio mdico e servio de casos individuais.
Tambm merecem destaque pela amplitude de suas atuaes a Juventude Catlica da
Unio Social Feminina e a Associao das Senhoras Brasileiras, com trabalho junto s
comercirias atravs de restaurantes populares, procuravam formar associaes de classe de
tendncia religiosa.
Entre os anos de 1937-1940, havia 9.130 interessados nos diversos servios prestados.
Os profissionais atuavam como pesquisadores Sociais, realizavam inquritos familiares e
levantamentos nos bairros operrios, pesquisando as condies de moradia, situao sanitria,econmica e moradia do proletariado.
Tambm neste perodo surgiu o Servio Social de empresa, a 1 experincia de
interveno nos servios exteriores unidade de produo, junto s atividades ligadas
legislao do trabalho. A atuao geralmente era junto s mulheres e crianas, direo de
creches, articulao dos servios anexos, visitas domiciliares, articulao e encaminhamentos
para os servios da comunidade e contatos com os movimentos de aperfeioamento moral e
profissional.Alm disso, realizava-se concesso de benefcios, licena-maternidade, acidentes de
trabalho, aposentadoria, seguros de vida etc. Contudo, a atuao era voltada para o controle
dos empregados: seleo profissional, preveno de acidentes, vigilncia sobre sade dos
funcionrios, vigilncia sanitria e assistncia s gestantes e nutrizes, etc. Nestas primeiras
experincias em Servio Social de empresa, percebe-se que os assistentes sociais atuavam em
geral, na racionalizao dos servios assistenciais ou em sua implantao, assim como as
atividades de cooperativismo, ajuda mtua e organizao de lazeres educativos.Outro setor que desenvolveu-se neste incio da profisso foi o Servio Social Mdico,
com iniciativas extremamente embrionrias, ligadas puericultura e profilaxia de doenas
transmissveis e hereditrias.
Em sua fase embrionria, a profisso sempre refletiu o pensamento da Ao Social
Catlica, constituindo-se no veculo de doutrinao e divulgao do pensamento social da
Igreja, isto se evidencia nas primeiras tentativas de sistematizao da prtica e do ensino do
Servio Social, atravs dos encontros e conferncias promovidos pelo movimento catlico.
Posteriormente em sua segunda fase, h uma forte influncia dos iderios europeus e
norte-americanos.
-
7/21/2019 LUZILENE_Tese_Unesp
44/186
43
Em sua fase embrionria, o objeto do Servio Social era remediar as deficincias do
indivduo e das coletividades. O Servio Social junto da coletividade vem remediar certas
deficincias generalizadas, como exemplo utilizava-se os cursos de economia domstica nos
quais se procurava formas de ajustamento dos indivduos ordem social.
Deve-se destacar que os Campos do Servio Social eram bem delimitados, pois as
reformas e as adaptaes que eram necessrias eram campos da Ao Social, sendo destinado
aos assistentes sociais trabalharem com os indivduos fracos, denominao dada s pessoas
das classes mais pobres, procuravam-se formas de ajust-los vida social normal.
Em suas bases, o Servio Social influenciado pelopensamento catlico europeu,
encclicas papais, ordenao social do liberalismo, contrapondo ao pensamento comunista, o
trabalho realizado era de carter educativo e pedaggico.
1.5 As Matrizes Tericas Metodolgicas do Servio Social
Pretende-se realizar uma breve contextualizao das matrizes tericas metodolgicas
que foram se desenvolvendo e que fundamentam o Servio Social brasileiro, ou seja, oconhecimento do processo histrico de constituio e da construo das principais matrizes do
conhecimento, da complexidade do movimento histrico da sociedade brasileira, e do Servio
Social que incorpora e elabora anlises em que esto inseridas a sua prpria interveno.
So mltiplas as mediaes que constituem o tecido de relaes sociais queenvolvem esse processo de produo e reproduo social da vida em suas expressesmateriais e espirituais. Essas relaes que constituem a sociabilidade humana,implicam mbitos diferenciados e uma trama que envolve o social, o poltico, o
econmico, o