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Metodologia da pesquisa para o professor pesquisador Herivelto Moreira; Luiz Gonzaga CaleffeI. ed. (2006). Rio de Janeiro: DP&A. Lamparina editora Herivelto Moreira Luiz Gonzaga Caleffe

Reviso de provas Paulo Telles FerreiraProjeto grfico e capa Maria Gabriela Delgado

Proibida a reproduo, total ou parcial, por qualquer meio ou processo, seja reprogrfico, fotogrfico, grfico, microfilmagem, etc. Estas proibies aplicam-se tambm s caractersticas grficas e/ou editoriais. A violao dos direitos autorais punvel como crime (Cdigo Penal art. 184 e ; Lei 6.895/ 80), com busca, apreenso e indenizaes diversas (Lei 9.610/98 - Lei dos Direitos Autorais - arts. 122, 123, 124 e 126).Metodologia da pesquisa para o professor pesquisador

Catalogao-na-foiite do Sindicato Nacional dos Editores de LivrosM837m 2.ed.Moreira, HeriveltoMetodologia da pesquisa para o professor pesquisador / Herivelto Moreira, Luiz Gonzaga Caleffe. - 2.ed. - Rio de Janeiro : Lamparina, 2008.Inclui bibliografiaISBN 978-85-98271-64-41. Pesquisa educacional. 2. Pesquisa - Metodologia. I. Caleffe, Luiz Gonzaga. II. Ttulo

08-4298.CDD: 370.78CDU: 37.015.4

2a edio

Lamparina editoraRua Joaquim Silva, 98, 2" andar, LapaCEP 20241-110 Rio de Janeiro RJ BrasilTel./Fax: (21) 2232-1768 www.lamparina.com.br lamparina

Sumrio

Prefcio IntroduoCAPTULO I0 planejamento da pesquisa:do problema reviso da literaturaCAPTULO IIAbordagens pesquisaCAPTULO IIIClassificao da pesquisaCAPTULO IVElaborao e uso de questionriosCAPTULO VAnlise de dados quantitativosCAPTULO VIColeta e anlise de dados qualitativos: a entrevista

CAPTULO VIIColeta e anlise de dados qualitativos: a observao

CAPTULO VIIIEscrevendo os resultados da pesquisa Comentrios finaisReferncias e bibliografia complementar

Introduo

As escolas e as salas de aula so ambientes sociais complexos em iiue interagem, de vrias maneiras, grupos de pessoas que tm suas histrias pessoais, identidades, personalidades, crenas, valores, interesses e experincias. Estas caractersticas afetam naturalmente o ensino e a aprendizagem, pois a maioria das aes desses indivduos determinada pelo passado, gnero, idade e etnia, que tm um papel a desempenhar na maneira como o professor conduz o seu trabalho na escola. Assim, o entendimento deste papel pelas pessoas que convivem neste ambiente torna-se um grande desafio.Apesar de a maioria dos professores j terem tido contato com a pesquisa - por meio dos conhecimentos produzidos nas suas disciplinas ou conhecimentos produzidos por pesquisadores da educao nas diversas reas do currculo, novas metodologias de ensino ou opes pedaggicas - o trabalho pedaggico do professor raramente baseado na pesquisa de sua prpria prtica pedaggica. Embora os professores sejam considerados como indivduos que normalmente tomam decises em suas salas de aula, raramente estas decises so baseadas em conhecimentos gerados na pesquisa de sua prpria prtica.A literatura existente na rea, ainda que escassa, sugere que muitos professores consideram a pesquisa como uma atividade esotrica tendo muito pouco a ver com as suas preocupaes do dia-a-dia. Podemos argumentar que a escola de hoje ainda no est preocupada e nem preparada para estimular o professor a desenvolver pesquisas, pois enfatiza o trabalho docente como o ato de ensinar e desenvolver atividades Correlatas, no considerando a pesquisa como uma atividade valiosa no desenvolvimento profissional do professor e dos alunos.12Introduo13Metodologa da pesquisa para o professor pesquisadorA reflexo, a prtica reflexiva e a pesquisa so consideradas elementos fundamentais no desenvolvimento profissional dos professores. O planejamento e a realizao de pesquisas de pequena escala ou a avaliao de resultados de pesquisas, assim como o engajamento na reflexo crtica trazem muitas vantagens para o desenvolvimento profissional. Embora consuma tempo e no se aplique a todos os professores, a pesquisa torna o ato de ensinar mais do que a simples aplicao de conhecimento e de habilidades tcnicas.

Reflexo e prtica reflexivaA reflexo a capacidade de ir alm da lgica do senso comum, e freqentemente expressa em termos do raciocnio prtico para a ao, que tem origem no pensamento crtico fundamentado no revisitar os fenmenos aplicando-se a eles o olhar do investigador, tornando o familiar estranho e no aceitando como certo o que conhecido. Isso sugere que o professor v alm da rotina do senso comum e da ao habitual para uma ao que caracterizada por auto-avaliao, flexibilidade, criatividade, conscincia social, cultural e poltica.Segundo Fullan e I largreaves (2000), este conceito popularizou-se rapidamente na educao como fundamentao capaz de levar professores e formadores de professores para alm dos cursos peridicos de capacitao, atualizao e reciclagem. Mas com esta idia surgiram riscos e confuses e, em muitos casos, ela tornou-se um slogan ou um modismo, o que torna importante discutir o que os proponentes desta perspectiva entendem por reflexo e prtica reflexiva.A prtica reflexiva no um processo solitrio e muito menos a prtica de meditao. Ao contrrio, a prtica reflexiva um processo desafiador, exigente e penoso, que mais exitosa quando o esforo colaborativo. A prtica reflexiva vista como um meio pelo qual os professores podem desenvolver um nvel maior de autoconscincia sobre a natureza e o impacto de sua prtica, conscincia esta que oferece oportunidades para o desenvolvimento profissional.A prtica reflexiva est situada na tradio da aprendizagem pela experincia e tambm na perspectiva mais recente que pode ser definida como cognio contextualizada. Os tericos desta perspectiva, incluindo Dewey, Lewin e Piaget, mantm que a aprendizagem mais efetiva, e provavelmente leva a uma mudana de comportamento, quando comea com a experincia, especialmente a experincia problematizada, e quando as pessoas se tornam diretamente engajadas no processo, e isso s acontece quando h uma necessidade de aprender. A cognio contextualizada enfoca o processo e o contexto da aprendizagem, isto , a aprendizagem mais efetiva quando o indivduo est ativamente envolvido no processo e quando a mesma acontece em um contexto relevante.A teoria da aprendizagem pela experincia mantm que a aprendizagem um processo dialtico e cclico. A experincia a base para a aprendizagem e esta no acontece sem a reflexo, essencial ao processo e integralmente ligada ao. A prtica reflexiva, ento, integra dialogicamente teoria e prtica, pensamento e ao.Neste processo cclico, o aprender ou o processo de investigar comea com o que Dewey (1933) descreveu como uma situao problemtica ou indeterminada, um evento ou experincia perturbadora que no pode ser resolvida pelo uso de procedimentos operacionais padronizados.Estimulado por um sentimento de incerteza ou desconforto, o prtico reflexivo reexamina suas experincias. Qual a natureza do problema? Quais eram as minhas intenes? O que eu fiz? O que aconteceu? No processo de observar e analisar estas experincias emergem os problemas. O problema-uma discrepncia entre o ideal e o real, entre a inteno e a ao ou entre ao e efeito - estimula a investigao e motiva a absoro da nova informao como parte de uma busca ativa por melhores respostas e estratgias mais efetivas. Em resumo, ao ser questionada a prtica, tem incio um processo de aprendizagem que leva a uma mudana comportamental.Fullan e Hargreaves (2000) argumentam que h vrias tcnicas para o desenvolvimento de formas eficientes de prtica reflexiva, como a evocao de imagens mentais positivas, leituras associadas profisso, dilogo profissional, grupo de apoio de professores, autobiografias e histrias de vida, cursos e qualificaes e a pesquisa desenvolvida pelo professor da qual trataremos com mais profundidade na prxima seo.

A pesquisa com o professor e a pesquisa pelo professorSegundo Cochran-Smith e Lytle (1993), os professores tm sido utilizados nas pesquisas realizadas pelos pesquisadores das universidades como objeto destes estudos. As escolas e as salas de aulas tm servido como locais para a coleta de dados sobre padres de comportamento dos alunos, interao professor/aluno, aluno/aluno, atributos pessoais de alunos e professores, metodologias de ensino etc.Recentemente, a pesquisa na educao tem se voltado explicitamente para o professor e a complexa relao entre o conhecimento do contedo e o conhecimento pedaggico do professor e as maneiras como eles so usados em vrias situaes nas salas de aula. Este reconhecimento do conhecimento e do pensamento do professor como componentes crticos do ensino continua a enfatizar o ensino e ignorar o papel do professor como terico, intrprete e crtico de sua prpria prtica.Espera-se que os professores sejam receptivos ao conhecimento produzido por pesquisadores profissionais. Isto , que reconheam o valor do trabalho do pesquisador para a sua prtica profissional e aceitem a validade do mesmo para as decises do dia-a-dia.Conseqentemente, tanto os programas de formao inicial como os programas de qualificao de professores em servio so tipicamente organizados para disseminar um conhecimento construdo quase exclusivamente por especialistas que se encontram fora da escola. Isso significa que se espera que o professor aprenda sobre seu ofcio ao longo da carreira, no por meio do estudo de suas prprias experincias, mas pelo estudo dos resultados de pesquisas daqueles que no so nem mesmo professores nas escolas.Todas estas questes tm como justificativas pressupostos sobre a vivncia do professor na escola. Esses pressupostos ressaltam que os professores tm pouca considerao pelos resultados da pesquisa educacional convencional e do muito pouco valor a eles, pois os consideram abstratos, estranhos e muitas vezes distantes da realidade da escola e da sala de aula. Isso tem levado algumas pessoas a argumentar que, considerando que os professores deveriam se ocupar da investigao sistemtica de suas prprias prticas, tal pesquisa deveria ser estritamente pedaggica e os professores no precisariam se envolver muito com as questes metodolgicas da cincia social.Porm, ainda que a pesquisa em educao, especialmente aquela pesquisa conduzida pelos professores, tenha o seu prprio enfoque individual, as escolas no fazem parte do mesmo mundo social explorado por todos os cientistas sociais? Portanto, o professor no pode alienar-se das questes metodolgicas que so discutidas na pesquisa nas cincias sociais e nem pode deixar de entender a linguagem que ela utiliza.E importante que os professores considerem a realizao de pesquisas nas suas prprias prticas (em qualquer nvel) para entender os modelos a partir dos quais a pesquisa discutida e praticada nas cincias sociais. Qualquer pesquisa social ou educacional desenvolvida com base em suposies subjacentes bsicas e emprega procedimentos determinados. Portanto, vital saber quais so essas suposies e esses procedimentos para levar a cabo pesquisas e avaliar de maneira significativa os resultados dessas pesquisas.Outro pressuposto, tambm muito discutido, que os professores no so pesquisadores profissionais e, assim, levantam-se algumas d-vidas sobre a base terica e metodolgica do conhecimento que eles tm para conduzir pesquisas. Freqentemente, o que se discute que o trabalho docente exige muito e que os professores no tm tempo para fazer pesquisa. Alm disso, eles no tiveram a formao necessria a respeito das habilidades exigidas para a pesquisa e, em razo disso, falta-lhes a objetividade apropriada. Embora muitos argumentem, de uma maneira correta, que os professores deveriam tornar-se mais familiarizados com os princpios da pesquisa educacional de modo a poder avaliar melhor os seus resultados, a pesquisa permanece domnio dos investigadores profissionais.Em contraste, temos uma viso bastante diferente da relao entre ensinar e pesquisar, pois enfatizamos o valor positivo desta atividade como crtica, reflexiva e orientada para o prprio desenvolvimento do professor. Isso no deve ter como resultado apenas a elevao do status profissional do professor, mas a gerao do conhecimento e o desenvolvimento pessoal de tal modo que a prtica pedaggica seja melhorada, muito embora no possamos menosprezar as dificuldades encontradas com o envolvimento dos professores no processo da pesquisa.A pesquisa desenvolvida pelo professor tem a vantagem adicional de aumentar o status intelectual dos professores medida que os mesmos possam demonstrar estas habilidades em vrias situaes no contexto do seu trabalho. Porm, no estamos querendo dizer que os professores tenham que se transformar em pesquisadores, mas enfatizar que o engajamento dos mesmos com o processo e os resultados da pesquisa pode ajud-los consideravelmente na prtica do dia-a-dia, embora saibamos que no h em curto prazo maneiras simples e bvias de se criar um apoio sistmico para a pesquisa realizada pelo professor, pelo fato de a mesma exigir esforos significativos para alm de suas rotinas dirias.No entanto, a pesquisa realizada pelo professor a que nos referimos a pesquisa que o professor pode conduzir no contexto da prtica profissional imediata, com o objetivo de melhorar sua prtica pedaggica, desenvolver novas estratgias de ensino e buscar solues para os problemas que afetam a aprendizagem do aluno, ajudando os gestores da educao a entender melhor o contexto em que ocorrem o ensino e a aprendizagem.A pesquisa realizada pelo professor pode desafiar as noes tradicionais sobre conhecedores, conhecimento e o que pode ser conhecido sobre a educao, pois tem potencial para redefinir a noo de um conhecimento de base para a educao e tambm desafiar a hegemonia da universidade na gerao de conhecimento na rea, tendo em mente que os pesquisadores profissionais no detm o monoplio da pesquisa (Cochran-Smith e Lytle, 1993).Esta perspectiva tambm tem o potencial de reconstruir o desenvolvimento do professor ao longo de sua vida profissional e tornar visveis as maneiras pelas quais os professores e alunos constroem o conhecimento e o currculo, ainda que a pesquisa se constitua em atividade que demande muito tempo, s vezes exigente e mesmo invivel em termos de alcance de todo um sistema ou de toda a escola.Contudo, essa atividade pode assumir muitos contornos, desde o uso de anotaes em salas de aula at a pesquisa com o uso de instrumentos de coleta de dados como questionrios, escalas, entrevistas e observao. Pesquisa realizada no Brasil evidencia essa diversidade de entendimentos (Ldke, 2001).Por esta razo, muito importante neste momento apresentarmos qual o nosso entendimento do termo "pesquisa", no a partir de uma definio, mas das caractersticas e do processo da pesquisa aplicveis a qualquer pesquisa, no importando o tipo.A pesquisa supe a investigao sistemtica, crtica e autocrtica com o objetivo de contribuir para o avano do conhecimento (Bassey, 1990, p. 27). Uma anlise mais aprofundada de cada uma destas caractersticas mostra que a investigao caracterizada por um conjunto de princpios e orientaes para procedimentos e que est sujeita avaliao em termos de critrios de validade, confiabilidade e representatividade. Deve ser conduzida com propsitos claros e definidos e nao um amontoado aleatrio de dados.A pesquisa sistemtica porque a coleta e a anlise dos dados so sustentadas por uma razo ou uma teoria. Ela crtica porque os dados coletados devem estar submetidos a um exame cuidadoso pelo pesquisador com o propsito de assegurar que sejam precisos e que representem o que se pretende. Ela autocrtica porque se espera que os pesquisadores usem a autocrtica nas decises que tomam sobre a investigao. Da mesma forma, espera-se que tambm sejam crticos de seus mtodos de coletar, analisar e apresentar os dados.Por ltimo, uma caracterstica essencial da pesquisa que ela deve objetivar o avano do conhecimento, aqui entendido como a compreenso dos eventos e processos, o que inclui descries, explanaes, interpretaes, orientaes, como tambm os mtodos para se chegar a esse conhecimento.O processo que deve ser empregado nas investigaes realizadas por professores nas escolas precisamente o mesmo enfatizado no contexto das pesquisas educacionais mais amplas, isto , formular problemas, buscar os antecedentes, definir uma metodologia, coletar os dados, analisar dados e socializar o conhecimento.Freqentemente, solicitado ao professor que elabore um projeto de pesquisa. Este projeto deve incluir no mnimo o problema, a justificativa, a reviso da literatura, os objetivos e os procedimentos. Um roteiro sucinto para a elaborao do projeto de pesquisa pode ser encontrado no Final do Captulo 1.Um exame mais detalhado desse processo indica que a formulao do problema (ver Captulo 11) um estgio importantssimo na pesquisa, pois no h pesquisa sem um problema. No entanto, o primeiro estgio do processo da pesquisa consiste em um exame dos antecedentes conceptuais e tericos do assunto que se pretende investigar. Qual o estado do conhecimento existente na rea?Em segundo lugar vem a considerao metodologia da investigao. Que metodologia ser escolhida e por que essa metodologia e no outra? Quais as vantagens e as desvantagens?O terceiro estgio no processo da pesquisa a coleta dos dados, isto , o uso de mtodos de investigao para acumular dados relevantes, para colet-los sistematicamente e analis-los criticamente.O quarto estgio a anlise de dados que tem por objetivo condensar os dados em pores manuseveis, com o intuito de encontrar padres, interpret-los e refletir sobre o significado desses dados.O quinto estgio diz despeito a expressar-se lcida e eficazmente tendo em vista uma audincia, mostrar o que encontrou e porque acredita que isto contribui para o conhecimento na rea.Nesse sentido, a pesquisa educacional ou a pesquisa na sala de aula est baseada no mundo da educao e diz respeito ao processo de obter informaes e de analisar dados. Os resultados da pesquisa referem-se aos produtos da pesquisa. Tanto o processo quanto os resultados da pesquisa devem ser vistos criticamente e com um certo grau de precauo.O vnculo entre o ensino e a pesquisa complexo. Na nossa opinio a pesquisa sempre contribuiu e continua contribuindo muito para o nosso entendimento do processo educacional. A pesquisa pode gerar perguntas sobre como ensinar e como aprender, explorar, testar teorias e explicaes existentes, como pode tambm ser usada para desvelar reas difceis e problemticas na sala de aula e na escola.A pesquisa em pequena escala conduzida pelos professores no proporcionar respostas definitivas para melhorar a escola, mas poder ajudar a entender porque as coisas so como so e tornar o pesquisador melhor informado sobre as implicaes de agir de determinadas maneiras e no de outras. O conhecimento revelado pela pesquisa inevitavelmente incompleto, mas ele pode e deve levar a uma melhora da qualidade de ensino nas escolas.

CAPTULO IO planejamento da pesquisa: do problema reviso da literatura

O propsito deste captulo discutir algumas questes que antecedem o trabalho de campo em qualquer tipo de pesquisa e proporcionar ao professor oportunidades para entender a importncia da definio e delimitao do problema de pesquisa e o papel da reviso da literatura.Toda pesquisa comea com uma dvida, uma inquietao ou um problema e sustentada por alguns pressupostos bsicos. As pesquisas apresentam uma tipologia variada de delineamentos c maneiras diferentes de serem realizadas. O planejamento da pesquisa muito importante, pois determinar o que pesquisar, como coletar os dados e como analis-los.1 Essa fase de qualquer pesquisa envolve um conjunto de questes e etapas. muito importante atentar especialmente para as questes relativas definio do problema e reviso da literatura. Dentre muitas questes que o professor/pesquisador ter de enfrentai', a principal a identificao de um tema de pesquisa. A escolha de um tema para efeitos de pesquisa poder surgir do seu contexto de trabalho ou de modelos tericos, elaborados a partir da pesquisa na rea da educao. Na pesquisa de pequena escala conduzida por professores no contexto da escola os temas devem surgir da prpria experincia do professor.

O leitor encontrar no final do captulo uma sugesto de roteiro para a elaborao de um projeto de pesquisa.Metodologia da pesquisa para o professor pesquisador227O planejamento da pesquisa: do problema reviso da literaturaA escolha do temaOs temas, problemas e questes podem algumas vezes ser muito ambiciosos. Os professores/pesquisadores tendem, em um primeiro momento, a ficar entusiasmados com a possibilidade de logo iniciar o trabalho de campo e assim caem na armadilha de no considerar algumas fases do processo da pesquisa. A fase do planejamento da pesquisa serve para identificar claramente as limitaes do estudo. Trs questes ajudaro a esclarecer os propsitos e a melhorar o enfoque na escolha de um tema.a)Por que realizar a pesquisa no contexto da escola?

b)Como o resultado da pesquisa ajudar o professor a melhorar o entendimento do problema e, conseqentemente, sua prpria prtica pedaggica?

c)O tema poder ser explorado no tempo e com os recursos disponveis?

Mas a extenso de possveis temas para a pesquisa pode ser muito ampla, embora isso no seja to assustador quanto possa parecer primeira vista. I l dois fatores que podem ajudar a definir o problema de pesquisa. O primeiro o contexto profissional imediato do professor que apresenta um problema ou uma questo contempornea, que poder ir da anlise da implementao do projeto pedaggico observao da natureza e tipos de interao professor/aluno. O segundo fator o amplo contexto da comunidade de pesquisa na rea da educao.Identificado o lema e realizada a escolha realista da rea a ser explorada, o professor/pesquisador ter que delimit-lo consideravelmente, identificando uma srie de perguntas de pesquisa.

O problema de pesquisaUma vez definido o tema, o prximo passo formular um problema de pesquisa. O problema de pesquisa um termo usado para um tema que foi convenientemente delimitado. um pargrafo ou uma sentena que explica o propsito da investigao. O problema apresentado no presente ou futuro nas propostas de pesquisa e no passado nos relatrios de pesquisa.E muito tentador querer "pesquisar o mundo", ou seja, muito fcil elaborar um problema to amplo que muitas vezes se torna um problema de difcil soluo. Por exemplo, O que uma escola eficiente? Tal questo seria um bom tema para um livro, mas muito ampla para ser um problema de pesquisa. Da mesma forma, possvel formular um problema que seja suficientemente especfico, mas que possa no ter nenhuma relevncia para a pesquisa. O desafio elaborar um problema no nvel correto de abstrao.E relativamente fcil elaborar problemas de pesquisa, mas no to fcil elabor-los no nvel correto de abstrao que contemple os recursos e as habilidades do pesquisador. Como ento escolher um problema com o nvel correto de abstrao?O velho clich de que um problema bem formulado j est parcialmente resolvido aplica-se perfeitamente pesquisa educacional e pesquisa de pequena escala. fcil optar por uma rea geral de pesquisa ou ter alguma idia em relao extenso geral do estudo, mas no to simples formular o problema em termos de sua delimitao, sem reduzir sua importncia. A tarefa de definir um problema de pesquisa exige uma combinao de experincia e intuio, e os esforos gastos para desenvolver tais habilidades so teis mesmo que o problema venha a ser abandonado.Ao pensarmos em problemas de pesquisa pode ser til examinar uma escada de abstraes como a resumida na Figura 1. A ilustrao mostra que uma determinada rea de interesse pode ser expressa em um contnuo do geral para o especfico. Ao se definir o problema de pesquisa, sempre til aprender como alterar o nvel de abstrao.O planejamento da pesquisa: do problema A revisAo da literatura824Metodologia da pesquisa para o professor pesquisadorA habilidade de elaborar um modelo terico e metodolgico slido paia um determinado estudo depende da maneira como o problema de pesquisa formulado. A abordagem pode se dar por meio de um processo contnuo de questionar e de responder, em que o professor/ pesquisador possa desenvolver um dilogo interno e, talvez, um dilogo externo com os colegas de trabalho.Dessa maneira, um enfoque amplo pode ser delimitado e idias vagas esclarecidas, podendo se chegar a um conjunto de perguntas de pesquisa. Isso pode ser feito seguindo-se os passos abaixo:1)Resumir o contexto pedaggico geral do tema.

2)Enfatizar as teorias, conceitos e idias atuais na rea.

3)Esclarecer a importncia dos temas e questes identificadas.

4)Comear a identificar a literatura relevante ao tema da pesquisa.

5)Procurar localizar o problema de pesquisa: a) no amplo cenrio da pesquisa educacional, b) nos debates contemporneos e c) nas teorias da rea escolhida.

Aps fazer isso, o professor/pesquisador poder iniciar a formulao de uma srie de perguntas de pesquisa que orientaro as

1.O problema deve ser formulado de maneira clara e concisa. A melhor forma de testar a formulao de um problema escrev-lo em uma sentena ou pargrafo conciso e discuti-lo com outras pessoas. claro que no fcil expressar questes complexas em termos simples. S aps muitas tentativas e discusses o problema estar formulado de maneira satisfatria.

2.O problema deve gerar perguntas de pesquisa. O problema dever possibilitar a proposio de perguntas de pesquisa mais especficas. As perguntas de pesquisa tornam o problema geral mais fcil de ser entendido e fornecem uma estrutura para a pesquisa. A formulao destas questes pode ser desafiadora, particularmente a especificao de questes no nvel correto de abstrao.Figura 1. Perguntas de pesquisa em diferentes nveis de abstrao.

1.Quais os principais fatores que ajudam na melhoria da aprendizagem na escola?2.Quais os principais fatores que melhoram a aprendizagem deuma lngua estrangeira?3.Quais os principais fatores que melhoram a aprendizagem dalngua inglesa como segunda lngua?4.Quais os principais fatores que contribuem para o uso corretodo tempo subjuntivo na lngua inglesa?5.Quais os principais fatores que contribuem para o uso corretodo tempo subjuntivo do verbo ser na lngua inglesa?

decises sobre a metodologia, os instrumentos e tcnicas de coleta de dados.A Figura 2 resume as caractersticas mais importantes de um bom problema de pesquisa. Certamente, poucos problemas apresentaro todas as caractersticas, mas bons problemas preenchem a maioria das exigncias.

Figura 2. Caractersticas de um bom problema de pesquisa.1.Deve ser formulado de maneira clara e concisa.

2.Deve gerar perguntas de pesquisa.

3. baseado em teoria.

4.Relaciona-se com uma ou mais disciplinas acadmicas.

5.Est fundamentado na literatura de pesquisa.

6. importante para o professor e para a escola.

7.A pesquisa pode ser realizada no tempo e com o oramento previstos.

8.Os dados necessrios esto disponveis e podem ser obtidos.

1.Metodologa da pesquisa para o professor pesquisador

2710O planejamento da pesquisa: do problema reviso da literatura

9.O problema baseado em teoria. Bons problemas tm urna estrutura ou um modelo terico e/ou conceituai para a sua anlise. Eles relacionam o especfico do que est sendo investigado com uma teoria que ajuda a interpretar os resultados e associa-os ao trabalho de campo.

10.O problema est relacionado a uma ou mais disciplinas acadmicas. Bons problemas relacionam-se com disciplinas acadmicas. As disciplinas podem ser sociologia, psicologia, administrao ou qualquer outra. Se o problema no estiver associado a uma disciplina, torna-se difcil determinar onde ele se situa no universo do conhecimento.

11.O problema tem como base a literatura de pesquisa. Um problema bem formulado relacionar-se- com a literatura de pesquisa. Bons problemas relacionam-se com um corpo bem definido de literatura.

12.O problema importante para o professor e para a escola. No mnimo, o problema dever ter importncia para o professor/pesquisador, mas o ideal que ele traga conseqncias para os alunos, para a escola e para os colegas de trabalho.

13.A pesquisa pode ser realizada no tempo e com os recursos previstos? Existem fatores logsticos que podem inviabilizar a realizao da pesquisa? No existe razo de investigar um problema cuja pesquisa no seja executvel.

14.Os dados so suficientes, esto disponveis ou podem ser obtidos. Em alguns casos, os dados so insuficientes para a formulao do problema.

O aspecto mais difcil desse processo partir da generalidade do tema de pesquisa para a delimitao do problema de pesquisa. O professor/pesquisador precisa considerar trs aspectos importantes. Primeiro, deve expressar claramente o problema de pesquisa, o que poder ser feito em forma de uma pergunta de pesquisa, que subseqentemente estabelecer as bases para o delineamento da pesquisa.Segundo, deve entender o vnculo entre as perguntas de pesquisa e a metodologia. Terceiro, deve aprender com o trabalho de outros para elaborar, melhorar e contextualizaras prprias idias. Esse o objetivo da reviso da literatura que ser discutida na prxima seo. No entanto, o que deve ficar bem claro como cada um dos estgios da pesquisa ajuda o professor/pesquisador a ter maior entendimento do processo cada vez que uma pea do quebra-cabea adicionada.

A reviso da literaturaTodo trabalho de pesquisa exige uma reviso de literatura relacionada com o que j foi produzido na rea. Na verdade, a reviso da literatura parte central de qualquer estudo, pois ela demonstra a familiaridade do pesquisador com a literatura contempornea e a sua capacidade de avaliar criticamente as pesquisas j realizadas.A reviso da literatura ajuda a enfocar mais diretamente e a melhorar, se for o caso, o problema de pesquisa. Com a reviso da literatura possvel identificar as principais tendncias de pesquisa na rea de interesse, as eventuais lacunas e os conceitos importantes que esto sendo usados. Alm do mais, uma boa reviso de literatura ajuda o professor/pesquisador a contextualizar o seu problema de pesquisa em um modelo terico mais amplo. Muitas vezes, aps a reviso da literatura, o enfoque da pesquisa pode mudar. Ento, o mesmo fenmeno pode ser investigado sob um ngulo diferente. Portanto, o professor/ pesquisador deve ser capaz de identificar na literatura temas comuns e relacion-los com o seu problema.Para efeito da pesquisa de pequena escala, considera-se principalmente o material publicado, incluindo livros, artigos em peridicos, monografias, dissertaes e teses. Uma das exigncias bsicas de qualquer pesquisa que seja relatada na forma de um relatrio de pesquisa, freqentemente como artigo de peridico, monografia, dissertao ou tese. necessrio, claro, encontrar, cotejar e avaliar esse material. muito importante considerar os quatro aspectos abaixo antes de iniciar a reviso de literatura no contexto da escola.1.Os objetivos da reviso de literatura.

2.Os tipos de reviso de literatura.

3.Os principais estgios da reviso da literatura.

4.Onde o professor/pesquisador poder obter a literatura relevante.

Objetivos da reviso da literaturaAs revises de literatura servem a muitos propsitos. O pesquisador pode precisar localizar e sintetizar toda a literatura relevante sobre um tema especfico para desenvolver uma explanao mais geral ou sobre uma teoria para explicar certos fenmenos. O maior problema da reviso da literatura estabelecer como estes estudos podem relacionar-se uns aos outros de maneira efetiva. Alguns pesquisadores procuram relacion-los por meio das diferenas e similaridades entre modelos tericos, problemas, metodologias (sujeitos, instrumentos, tratamentos, delineamentos, anlise estatstica) e resultados.A reviso de literatura til para identificar problemas especficos. Aps localizar uma srie de estudos para revisar, ser preciso decidir quais os estudos que esto relacionados com a rea em questo. Isso poder ser feito pela leitura do resumo e, se necessrio, de algumas partes especficas dos estudos selecionados.Os objetivos fundamentais de uma reviso de literatura so:1.Identificai' as tendncias da pesquisa.

2.Ajudar a conceber o problema, melhor-lo e se necessrio delimitar sua amplitude.

3.Identificar as lacunas nas pesquisas na rea de interesse.

4.Ampliar e aperfeioar o conhecimento existente.

5.Desenvolver hipteses de pesquisa.

6.Obter sugestes sobre como realizar o estudo, como evitar erros cometidos por outros pesquisadores e quais mtodos poderiam ser mais efetivos.

7.Identificar os debates e as controvrsias na rea de estudo.

8.Colocar o problema no contexto de pesquisas prvias, mostrando como ele se relaciona com as pesquisas e como pode ir alm delas. A reviso de literatura til em vrias etapas do estudo. Uma das

maneiras de tornar isso mais claro considerar os vrios tipos de revises de literatura e os objetivos dessas revises.As revises tericas so aquelas em que o pesquisador analisa as teorias para explicar um fenmeno em particular e para compar-las em termos de alcance, consistncia interna e a natureza de suas predies (Cooper, 1984, p. II). Em outras palavras, a reviso dirigida claramente para teorias conhecidas ou para as perspectivas tericas e tentativas de integrar estudos que tenham testado uma teoria em particular. Uma reviso terica poder buscar:-Debates filosficos em uma determinada rea.

-Debates filosficos e controvrsias em relao s abordagens de pesquisa.

-Diferentes pontos de vista sobre a natureza das evidncia: apresentadas.

-Debates relacionados pertinncia das estratgias de pesquisa.

A reviso metodolgica tem como objetivo examinar os mtodos de pesquisa e as definies operacionais que tenham sido aplicados em uma rea. O aspecto central deste tipo de reviso analisar a metodologia que o pesquisador selecionou luz dos debates sobre a metodologia de pesquisa. Embora este tipo de reviso possa variar de estudo para estudo, essencial que o pesquisador use a reviso para desenvolver uma justificativa e um argumento para a sua prpria opo metodolgica. Alm do mais, uma reviso metodolgica ajudar o pesquisador a identificar as virtudes e as fraquezas e as questes de ordem prtica em relao s tcnicas ou instrumentos utilizados na coleta dos dados.Segundo Cooper (1984, p. 11), "as revises integrativas resumem pesquisas passadas extraindo concluses gerais de muitos estudos isolados que trabalharam hipteses idnticas ou relacionadas". A noo de uma reviso integrativa, em que todas estas formas de reviso so associadas, tanto no processo como no relatrio de pesquisa, pode ser muito til ao pesquisador. Revisar a literatura na rea um aspecto crucial para o desenvolvimento de um trabalho acadmico profissional e muitas revises contero elementos dos trs tipos.

Estgios na conduo de uma reviso de literaturaCooper (1984) identificou cinco estgios na reviso da literatura. Estes estgios, com algumas alteraes, esto apresentados no diagrama abaixo.

FORMULAO DO PROBLEMA SELEO DOS TEXTOSIAVALIAO DOS TEXTOSIANLISE E INTERPRETAO

REDAONa contextualizao do problema, o aspecto fundamental distinguir o relevante do irrelevante. Isso importante para produzir uma reviso adequada e enfocada no fenmeno que se deseja pesquisar. Geralmente, as revises movem-se do geral para o especfico, com o especfico sendo enfocado na rea mais relevante do prprio problema de pesquisa. A formulao clara de um problema evita uma deficincia comum a muitas revises, a de serem muito amplas e abrangentes.A seleo dos textos envolve a busca das vrias fontes de informaes disponveis, desde livros e peridicos at a internet. Alm do mais, o estgio da seleo dos textos inclui a identificao da pesquisa apropriada a ser includa na reviso, com base nas decises feitas durante o estgio da formulao do problema.A avaliao dos textos implica a anlise de cada estudo ou artigo para determinar a convenincia ou no de sua incluso. O texto relevante ao problema que est sendo tratado? Os trabalhos no publicados (dissertaes, teses etc.) devem ser includos?Textos em lngua estrangeira que apenas eu entendo devem ser includos?O estgio da anlise e interpretao o mais importante e pode determinar o sucesso e a qualidade da reviso. necessrio fazer uma reviso crtica na qual as informaes apresentadas nas vrias fontes sejam analisadas cuidadosamente.Finalmente, para a redao do relatrio necessrio usar um manual de estilo como por exemplo as normas da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT). No que diz respeito aos aspectos formais da redao, a reviso da literatura tende a conter trs sees:1. A introduo - A seo de introduo da reviso muito importante, pois nela que o pesquisador estabelece o cenrio e delimita a abrangncia da reviso. Se esses pargrafos iniciais no forem bem escritos e interessantes, o leitor poder ignorar a seo inteira. A inteno atrair a ateno do leitor, identificando-se de uma maneira provocativa os pontos principais.

32 Metodologa da pesquisa para o professor pesquisador U PLMNEJAMLNIU UA PtbCJUliA. UU PKUbLtMA A KtVIVIU UA UltKAIUKA

2.O corpo principal do texto - O corpo da reviso da literatura exige uma considervel ateno. Os textos relevantes precisam ser organizados e a sntese deve ser escrita de maneira clara, concisa e interessante. A reviso deve ser organizada a partir de temas importantes. Esses temas servem como subttulos para direcionar a ateno do leitor. Uma boa regra sempre partir do geral para o especfico.

3.O resumo e as concluses - Finalmente, a reviso deve ser concluda com um resumo, implicaes importantes e sugestes para futuras pesquisas, conduzindo o leitor para o prximo captulo ou seo. O propsito da reviso demonstrar que o problema necessita serinvestigado e que o pesquisador considerou o valor das pesquisas j realizadas para desenvolver as hipteses e mtodos, isto , o pesquisador conhece e entende os estudos que outros pesquisadores j fizeram, como eles se relacionam e neles procura apoio para a pesquisa que planeja realizar.

As principais fontes de textos para a reviso da literaturaA expectativa de iniciar uma reviso de literatura pode algumas vezes se apresentar como uma tarefa assustadora e deprimente para algumas pessoas. Como e onde encontro a literatura? Que tipo de seqncia ou estratgia deve ser usada para localizar a literatura relevante? Quais os servios que a biblioteca oferece? Alguns autores de livros de metodologia de pesquisa sugerem vrias estratgias para localizar informaes pertinentes sobre um determinado assunto, mas o processo de busca depende da familiaridade do pesquisador com o tema. A seguir, apresentada uma seqncia para auxiliar a busca inicial: a) Bola-de-neve - A partir de um texto importante na rea de estudo, so consultadas as referncias nele citadas e listadas. A partir dessas, outros textos aparecero e o processo se repete at que o pesquisador se d por satisfeito. Esse um mtodo muito utilizado; porm, no se deve confiar demais nas referncias que esto sendo citadasporque muitas vezes os ttulos podem ser enganosos e referncias fundamentais podem no estar includas.b)Livros-textos importantes - Esses proporcionam referncias fundamentais na rea de interesse, mas possivelmente podero estar desatualizados em virtude do tempo despendido para serem escritos e impressos.

c)Peridicos - muito importante manter-se em contato regular com peridicos relevantes na rea de interesse, pois eles so uma fonte valiosa de literatura. Contudo, um peridico uma gota de gua no oceano da literatura em pesquisa. Esse mtodo recomendado para que o pesquisador mantenha-se atualizado com relao s pesquisas que esto sendo desenvolvidas. Mas no se deve confiar somente em peridicos para uma reviso abrangente da literatura.

d)Internet - A internet representa atualmente uma fonte indispensvel de consulta, principalmente pela variedade de assuntos e pela praticamente infinita capacidade de armazenar dados e informaes.

Outras questes que devem ser consideradas ao escrever a reviso da literaturaUm escritor de sucesso convida o leitor a ler, incentiva-o a continuar e torna a tarefa do leitor agradvel, conduzindo-o de pensamento a pensamento de uma maneira que evolua e sinta o desenvolvimento lgico do estudo.Pontos importantes para se desenvolver um bom estilo de escrever:-usar sempre a palavra certa;

-evitar a ambigidade;

-apresentar as idias ordenadamente;

-ter considerao para com o leitor;

-pensar sempre que crticas ajudam a melhorar.

-Metodologia da pesquisa para o professor pesquisador

3412u planejamento da pesquisa: do problema a reviso da literatura

Plgio e crdito - Escrever uma reviso de literatura envolve o uso do trabalho de outras pessoas, na forma de informao direta, citaes, ou citaes de referncia. Qualquer que seja a forma de informao, deve-se atribuir crdito fonte.Outro aspecto importante a ser considerado pelo professor/ pesquisador est relacionado aos erros que devem ser evitados quando se inicia o trabalho de reviso. Muitas vezes o pesquisador pode: a) realizar apressadamente a reviso da literatura para iniciar logo o trabalho de coleta de dados; b) confiar somente em fontes secundrias; c) concentrar-se somente nos resultados, deixando de lado informaes valiosas como os mtodos, mensuraes, amostras etc; d) no consultar fontes como jornais, peridicos e revistas populares; e) no definir satisfatoriamente os limites do tpico da reviso de literatura; f) fazer uma reviso muito ampla ou muito restrita; e g) anotar os dados bibliogrficos incorretamente.

A leitura dos textosPara que os resultados de pesquisas sejam teis ao pesquisador para melhorar suas prticas ou para nortear suas prprias pesquisas, ele deve preparar-se para ler os textos de uma forma eficiente e critica. Um bom comeo observar as questes abaixo.Para revisar livros, artigos em peridicos e outros textos preciso: (1) entender o que o autor escreveu e (2) ser capaz de avaliar as concluses do pesquisador. Os itens de 1 a 9 especificam as tarefas relacionadas com estas habilidades.

1)Informao bibliogrficaIdentificar o texto selecionado para a reviso (autor, ttulo, peridico, volume, data, local de publicao, nmero de pginas etc).

2)Problema de pesquisaO professor/pesquisador deve inicialmente identificar o problema de pesquisa e escrev-lo na forma de uma sentena ou pergunta. Para fazer isso necessrio escrever novamente o problema de pesquisa elaborado pelo pesquisador ou mesmo resumir uma longa seo do texto. Quando o problema de pesquisa no estiver claro, o leitor poder tentar desenvolv-lo por si prprio. Em ambos os casos, o leitor dever ser capaz de fazer a citao do problema diretamente do artigo fazendo uso do estilo citao. Em seguida, deve avaliar o problema quanto a validade e relevncia.

3)Conceitos bsicosConceitos so idias e so normalmente expressos em palavras simples ou em sentenas curtas. Por exemplo, os pesquisadores educacionais podem conceituar criatividade, percepo, motivao etc. Tais conceitos freqentemente tm significados diferentes para diferentes pessoas. necessrio identificar no texto os conceitos que possam estar contidos no problema e, aps identific-los, avaliar a clareza com que o autor define ou explica esses conceitos.

4)HiptesesAs hipteses so suposies nas quais o autor fundamenta a pesquisa; elas so normalmente expressas em sentenas completas. Se o leitor achar que estas suposies no so plausveis e no as aceita, mesmo provisoriamente, provavelmente descartar a leitura do resto do texto. O autor escreveu as hipteses explicitamente? O autor forneceu evidncias para fundamentar suas hipteses?

5)A seleo dos textosA razo para que os pesquisadores examinem cuidadosamente o que os outros escreveram com a finalidade de sustentar sua prpria pesquisa procurar descobrir quem j pesquisou o mesmo problema ou um problema relacionado com o seu. Em outras palavras, o pesquisador mostra que no est abordando o problema de pesquisa de uma forma ingnua.Algumas vezes, ao revisar a literatura, os pesquisadores estabelecem fronteiras para definir e delimitar a literatura que examinaro. O objetivo tentar identificar qualquer limitao que o autor do texto examinado estabeleceu na reviso da literatura. A partir desta identificao, avaliar se ela foi suficiente. O pesquisador ignorou reas que possam parecer importantes ou relevantes para o estudo? O autor tratou o trabalho de outros de uma forma justa? Ele dedicou mais ateno a alguns textos em detrimento de outros?

6)MetodologiaA leitura dos textos deve incluir a identificao da metodologia que o pesquisador usou no estudo, por exemplo, levantamento, narrativa, experimento, estudo de caso, etnografia etc. Em seguida, o professor/ pesquisador deve avaliar se a metodologia foi apropriada ao problema. Ser que uma metodologia diferente teria produzido um conhecimento mais conclusivo e til? (O professor/pesquisador poder elaborar o problema novamente tentando relacion-lo com uma metodologia diferente.)

7)ProcedimentosOs passos especficos dados pelo pesquisador para investigar o problema devem ser identificados. Os pesquisadores empricos normalmente esboam estes passos de uma forma mais explcita e abrangente do que os pesquisadores que trabalham em outros paradigmas. Se o texto que est sendo revisado sinalizar esses passos em detalhes, coloque esses procedimentos em termos mais gerais. O prximo passo avaliar a validade do procedimento. Os mtodos de coleta e relato de dados que o pesquisador utilizou apresentam alguma deficincia? Estas deficincias impem alguma dvida na confiabilidade do estudo?

8)ConclusesAs principais concluses a que o pesquisador chegou devem ser analisadas. Avaliar se a lgica das concluses do pesquisador procede dos dados, evidncias ou argumentos. A interpretao dos dados falaciosa? O pesquisador enganou-se em alguma interpretao ou explanao?

9) Implicaes para a prticaNotar as implicaes que a pesquisa implcita ou explicitamente identificou para a prtica. Em outras palavras, como o estudo afetar a educao? O estudo mudar a maneira de os professores ensinarem? Ele mudar o comportamento dos administradores, professores etc? Avaliar a importncia dessas implicaes para a educao. Os resultados do estudo afetaro a educao de uma forma significativa?

Roteiro para a elaborao do projeto de pesquisa

1.TtuloO ttulo deve expressar, o mais fielmente possvel, o contedo temtico da pesquisa. Poder, eventualmente, ser metafrico, mas nesses casos dever-se- acrescentar um subttulo tematicamente expressivo.2.JustificativaA justificativa deve expressar os interesses pessoais do pesquisador e a necessidade do estudo no cenrio especfico. A anlise da literatura pode auxiliar na argumentao a respeito da relevncia do estudo.

3.Reviso da literaturaNeste tpico, o pesquisador poder estabelecer os fundamentos tericos que justificam a abordagem no tratamento do problema de pesquisa e incorporar uma breve reviso da literatura.

4.ProblemaEscrever o problema em forma de pergunta torna-o mais diretivo, por demandar uma resposta clara. No caso de trabalhar com hipteses, estabelec-las de maneira clara e precisa. As hipteses so declaraes38Metodologa da pesquisa para o professor pesquisador

sucintas sobre resultados antecipados do estudo. Elas normalmente predizem eventos, diferenas entre grupos ou relaes entre variveis. Os resultados da pesquisa podero corroborar com a hiptese ou refut-la.

5.ObjetivosOs objetivos representam os resultados que precisam ser alcanados. Nesse tpico, o pesquisador estar se referindo aos objetivos intrnsecos da pesquisa, pertinentes ao tema e vinculados ao desenvolvimento do raciocinio.

6.Metodologia e procedimentosDiscutir a opo metodolgica. A metodologia dever ser apropriada ao problema da pesquisa, sua viso do mundo e particularmente s condies materiais/temporais para a execuo da pesquisa. Os mtodos propostos com vistas coleta e anlise de dados devem ser descritos detalhadamente. Se a pesquisa especificar a seleo de uma ou mais amostras, a caracterizao do universo de dados e os mtodos de amostragem devem ser relatados.

7.CronogramaNo cronograma, as varias etapas da pesquisa devem ser distribuidas no tempo disponvel, includa a redao final do relatrio. No se deve confundir as etapas cronolgicas com as etapas da investigao.

8.RefernciasAs referncias incluem somente as obras consultadas pelo pesquisador para a elaborao do projeto e citadas no texto do projeto. Essas referncias devem ser elaboradas com base nas recomendaes das normas tcnicas.

CAPTULO IIAbordagens pesquisa

A pesquisa educacional sempre teve vnculos muito fortes com as tradies da pesquisa nas cincias sociais. Na verdade, psiclogos, socilogos e antroplogos tm contribudo de uma forma muito efetiva para a melhoria das prticas educacionais. muito importante que os professores/pesquisadores estejam conscientes da complexidade dos aspectos filosficos que fundamentam a pesquisa social, pois o objeto da investigao - o mundo social- o mesmo tanto para os pesquisadores das cincias sociais, quanto para os professores. A maior diferena reside no porqu de o indivduo desejar fazer pesquisa. preciso, portanto, que os professores reflitam sobre os principais paradigmas que estruturam e organizam a pesquisa contempornea e desenvolvam a sensibilidade para o fato de que diferentes abordagens provavelmente produziro diferentes formas de conhecimento. A pesquisa e seus resultados facilitam a reflexo, a crtica e a maior compreenso do processo educacional, que por sua vez ajudam a melhorar a prtica pedaggica. Essa reflexo crucial, uma vez que os pressupostos do pesquisador em relao natureza da realidade, verdade e ao mundo fsico e social tm uma influncia muito grande na realizao da pesquisa.De fato, para se tornar um membro competente e ser aceito em uma comunidade de pesquisadores no basta apenas aprender o contedo de uma determinada rea, mas tambm desenvolver uma maneira ou maneiras particulares de ver o mundo, para procurar, por meio da pesquisa, melhorar a prtica nas escolas.Infelizmente a pesquisa social no simples e nem isenta de controvrsias. A pesquisa social e, por conseguinte, a pesquisa educacional tm sido objeto de muitos debates que, embora filosficos por natureza, so muitas vezes considerados irrelevantes, mas que na verdade so muito importantes para a pesquisa educacional. Os problemas levantados nestes debates tratam das maneiras pelas quais os pesquisadores produzem o conhecimento do mundo social e os mtodos e procedimentos mais apropriados para investigar este conhecimento.O objetivo deste captulo discutir a natureza do termo "paradigma" com base na concepo de Thomas Kuhn, para quem o termo "paradigma" um compromisso difundido, no expresso verbalmente e implcito de uma comunidade de pesquisadores a respeito de um modelo conceituai. Em particular, pretende-se discutir os dois importantes paradigmas contemporneos da pesquisa educacional, mostrando seus principais pressupostos e as diferenas entre os mesmos e os tipos de pesquisa inerentes a cada paradigma.Na primeira parte do captulo procura-se esclarecer que um paradigma contm trs elementos: uma ontologia, uma epistemologia e uma metodologia. A ontologia levanta questes bsicas com relao natureza da realidade. A epistemologia pergunta: como ns conhecemos o mundo? Qual a relao entre o investigador e o investigado? A metodologia enfoca a maneira como ns apreendemos o conhecimento a respeito do mundo. A resposta a estas questes define o que os investigadores so e o que est dentro ou fora dos limites de uma investigao autntica.Na segunda parte so examinados os dois paradigmas (positivista, interpretativo). Esta seo um pouco mais longa, pois muitos dos professores podero estar tendo contato com este debate pela primeira vez. Isso exigir uma anlise mais extensa de algumas questes-chave para ilustrar a posio dos diferentes paradigmas de pesquisa. So tambm considerados os pressupostos que fundamentam cada um desses paradigmas e os tipos de pesquisa associados a cada um deles.Pode-se afirmar que toda pesquisa guiada por pressupostos e compromissos filosficos que determinam a maneira pela qual os indivduos e grupos de indivduos concebem a natureza e o propsito da pesquisa. Cada uma destas perspectivas do estudo do comportamento humano tem profundas implicaes para o pesquisador na sala de aula, nas escolas e nas universidades. A escolha do problema, a formulao das questes a serem respondidas, a caracterizao dos alunos e professores, as preocupaes metodolgicas, o tipo de dados e o modo de analis-los - tudo isso influenciado ou determinado pela viso de mundo assumida pelo pesquisador.

A natureza dos paradigmasO ato individual da pesquisa no acontece em um vcuo, mas em um contexto social, isto , ele acontece em uma comunidade de pesquisadores que possui ou compartilha de concepes similares em determinadas questes, mtodos, tcnicas e formas de explanaes (Sparkes, 1992, p. 11).Shulman (1986, p. 3-4) observou que o termo "paradigma" o termo mais utilizado para descrever tais comunidades e as concepes do problema e dos mtodos que elas compartilham. Esse termo mais freqentemente associado ao trabalho de Thomas Kuhn em seu livro A estrutura das revolues cientficas, em que ele apresenta uma viso histrica do desenvolvimento cientfico. impossvel neste texto abordar todas as questes levantadas por Kuhn, mas uma discusso mais detalhada pode ser encontrada em outras fontes.2Para os propsitos deste livro necessrio reconhecer que existem vrias formas de definir o que um paradigma e, cie acordo com Masterman (1970, p. 59), Kuhn usou o termo em mais de vinte maneiras em seu livro.

Para aprofundar um pouco mais a questo do trabalho de Kuhn verificar Barbosa (1993), Barnes (1992) e Metzler, Machado e Forster (1994).Todavia, Patton (1978, p. 203) sugere uma definio que nos parece a mais til para analisar o termo "paradigma".Um paradigma uma viso de mundo, urna perspectiva geral, uma maneira de analisar a complexidade do mundo real. Como tal, os paradigmas esto profundamente embutidos na socializao de seus praticantes. Os paradigmas nos dizem o que importante, legtimo e razovel. Os paradigmas tambm so normativos, dizendo a seus praticantes o que fazer sem a necessidade de longas consideraes existenciais ou epistemolgicas. Mas esses so os aspectos que constituem a virtude e a fraqueza dos paradigmas. A virtude que ele torna a ao possvel, a fraqueza 6 que a mesma razo para a ao est escondida nos pressupostos inquestionveis do paradigma.Diferentes paradigmas proporcionam conjuntos de lentes para ver o mundo e dar-lhe sentido. Fies agem para determinar como ns pensamos e atuamos, porque na maioria das vezes ns no estamos nem mesmo conscientes de que estamos usando um determinado conjunto de lentes.As premissas que definem os paradigmas de investigao podem ser resumidas pelas respostas dadas pelos proponentes de qualquer paradigma a trs questes fundamentais que so de tal maneira interrelacionadas que a resposta dada a uma questo, em qualquer ordem, determina as respostas s outras questes.A questo ontolgica diz respeito natureza ou essncia do fenmeno social investigado. Os cientistas sociais se defrontam com questes ontolgicas bsicas, como: a "realidade" a ser investigada externa ao indivduo - impondo-se na sua conscincia de fora para dentro - ou o produto da conscincia do indivduo; a "realidade" est "l fora" no mundo, ou criada na mente do prprio indivduo" (Burrell e Morgan, 1979, p. 1).A primeira pode ser classificada como uma viso externo-realista, enquanto a segunda uma posio interno-idealista. Vinculado s questes ontolgicas est um segundo conjunto de pressupostos epistemolgicos que se referem s questes do saber e a natureza do conhecimento (Sparkes, 1992, p. 13).A questo epistemolgica refere-se s bases do conhecimento - sua natureza e formas, como pode ser adquirido e como pode ser comunicado a outros seres humanos. A pergunta sobre a possibilidade de "identificar e comunicar a natureza do conhecimento como sendo rgido, real e capaz de ser transmitido de uma forma tangvel, ou se o conhecimento suave, mais subjetivo, espiritual ou mesmo transcendental, baseado na experincia e insiglii, de uma natureza pessoal essencialmente nica" (Burrell e Morgan, 1979, p. 1).Os pressupostos epistemolgicos nesses casos determinam posies extremas sobre as seguintes questes: a) se o conhecimento algo que possa ser adquirido, ou b) algo que tem de ser pessoalmente experimentado. Por exemplo, a resposta que pode ser dada a essa questo limitada pela resposta dada questo ontolgica; isto , no qualquer relao que pode ser postulada.A maneira como o indivduo se alinha nesse debate afeta profundamente a maneira de ele propagar os resultados do conhecimento sobre comportamento social. A viso de que o conhecimento rgido, objetivo e tangvel exigir do pesquisador o papel de observador leal aos mtodos das cincias naturais; a viso do conhecimento como pessoal, subjetivo e nico, no entanto, impe ao pesquisador um envolvimento com os sujeitos da pesquisa e uma rejeio s maneiras do cientista natural. Subscrevera primeira, significa ser classificado como objetivista e, portanto, como positivista; subscrever a segunda, ser classificado como subjetivista ou antipositivista.A questo metodolgica diz respeito metodologia que o pesqui-'.ador ir utilizar, mesmo porque ontologias e epistemologas contrastantes demandaro diferentes mtodos de pesquisa. Os pesquisadores que adotarem uma abordagem objetiva (positivismo) do mundo social que trata o fenmeno natural como sendo rgido, real e externo ao indivduo, escolhero as opes tradicionais da pesquisa-levantamentos, experimentos etc. Outros que postularem uma abordagem mais subjetiva (antipositivismo), que vm o mundo social como mais suave, pessoal e criado pelo homem, selecionaro tcnicas como observao participante, histria de vida etc.A resposta dada a esta questo determinada pelas respostas dadas s duas primeiras questes; isto , no qualquer metodologia que apropriada. A questo metodolgica no pode ser reduzida questo de mtodos; os mtodos precisam ajustar-se a uma metodologia predeterminada.Quando o indivduo subscreve a viso que trata o mundo como natural, como se ele fosse rgido, com uma realidade externa e objetiva, a investigao cientfica ser direcionada para a anlise das relaes entre fatores selecionados nesse mundo. Ela ser predominantemente quantitativa. A preocupao com a identificao e definio destes elementos e com a descoberta de maneiras pelas quais estas relaes podem ser expressas. As questes metodolgicas de importncia so assim os conceitos, a medio destes conceitos e a identificao dos temas que esto por trs destes conceitos. Esta perspectiva se expressa na busca de leis universais que explicam e governam a realidade que est sendo observada. Uma abordagem caracterizada por mtodos e procedimentos planejados para descobrir leis gerais pode ser chamada de Nomottica.Contudo, se o indivduo adota uma viso alternativa da realidade social que enfatiza a importncia da experincia subjetiva dos indivduos na criao do mundo social, a busca pelo entendimento concentra-se em questes e abordagens diferentes. A principal preocupao do pesquisador com um entendimento da maneira pela qual o indivduo cria, modifica e interpreta o mundo em que ele se encontra. A abordagem agora toma um aspecto qualitativo como tambm quantitativo.Como Burrell e Morgan (1979, p. 2) ressaltam, "a nfase em casos extremos tende a ser colocada na explanao e no entendimento do que nico e particular ao indivduo ao invs do que geral e universal". Em termos metodolgicos uma abordagem que enfatiza a natureza relativista do mundo social. Esta abordagem enfatiza o particular e o individual e pode ser chamada de Idiogrdfica.Ao chamar a ateno para os tipos de pressupostos adotados pelos vrios pesquisadores, desejamos enfatizar que todos os pesquisadores estabelecem pressupostos de algum tipo em relao s questes ontolgicas, epistemolgicas e metodolgicas e que estes pressupostos tendem a agrupar-se e ter coerncia no mbito de um determinado paradigma.Os pressupostos ontolgicos do origem aos pressupostos epistemolgicos, que tero implicaes metodolgicas em relao escolha das tcnicas de coleta de dados, interpretao dos resultados e a maneira de escrever e apresentar estes resultados (Hitchcock e Hughes, 1989, p. 15). A relao entre estes conjuntos de pressupostos e as implicaes pode ser expressa no diagrama abaixo:PRESSUPOSTOS ONTOLGICOS - do origem aos PRESSUPOSTOS EPISTEMOLGICOS - que tero IMPLICAES METODOLGICAS - para a escolha das

TCNICAS DE COLETA DE DADOSEssa forma de entendimento crucial no debate paradigmtico, uma vez que os pressupostos do pesquisador em relao natureza da realidade, verdade e ao mundo fsico e social influenciam todos os aspectos do processo investigativo.Portanto, a afirmao de que o "problema" determina a abordagem e os mtodos de investigao muitas vezes enganoso e um exemplo da confuso que prevalece entre questes filosficas e tcnicas. A questo filosfica diz respeito s bases apropriadas para o estudo da sociedade e suas manifestaes, enquanto a questo tcnica diz respeito adequao ou superioridade de certos mtodos de pesquisa em relao a outros mtodos. Por exemplo, a observao participante versus o levantamento, o questionrio versus a entrevista.Em termos de significados relativos a qualquer mtodo e interpretao destes significados, concordamos com Sparkes (1992, p. 16) quando sugere que "no o problema que determina o mtodo, mas sim um compromisso intelectual, emocional e poltico anterior a uma posio filosfica que orienta o pesquisador a conceber e formular o problema dentro do contexto desses compromissos" (grifo nosso).O debate paradigmtico no aborda simplesmente tcnicas de pesquisa, embora ele tenha implicaes na escolha e uso das mesmas. Por exemplo, aqueles que aderem a uma ontologia realista e a uma epistemologia objetiva provavelmente iro preferir tcnicas que diferem daqueles que sustentam uma ontologia idealista e uma epistemologia subjetiva.Convm destacar que os paradigmas no so homogneos ou monolticos e h muitas tradies contrastantes dentro dos vrios paradigmas, isto , existem diversidades dentro deles. Um paradigma de pesquisa uma rede de idias coerentes a respeito da natureza do mundo e das funes dos pesquisadores que, uma vez aceito por um grupo de pesquisadores, condiciona os padres de seus pensamentos e sustenta suas aes de pesquisa (Denzin e Lincoln, 1994; Hitchcocke Hughes, 1989; Miles e Huberman, 1994; Sparkes, 1992).Algumas vezes os pressupostos de um paradigma so to fortes na mente dos praticantes que esses negam a validade de outros paradigmas. Devido a essa negao torna-se problemtico discutir os diferentes paradigmas, quando os pesquisadores no concordam com o paradigma de outros pesquisadores.Aps esta discusso sobre a natureza dos paradigmas, possvel discutir com mais propriedade as duas perspectivas contrastantes resultantes destes debates, bastante evidenciadas na prtica dos pesquisadores educacionais.

O paradigma positivistaA partir do sculo XIX, o modelo cientfico empregado nas cincias naturais como a biologia, a fsica e a qumica rapidamente se tornou o modelo mais empregado para investigar o mundo social. Os principais pensadores associados com o desenvolvimento e a aplicao dessa viso nas cincias sociais, neste caso a sociologia, foram o filsofo francs Auguste Comte e o socilogo francs Emile Durkheim (Hitchcocke Hughes, 1989, p. 18).Para Comte, a nica maneira de desenvolver o verdadeiro conhecimento do mundo era por meio das experincias vividas. Isso pode ser descrito como uma posio emprica. O empirismo sugere que a nica fonte confivel de conhecimento a experincia, literalmente vendi) e ouvindo, o que tomou a forma de algum tipo de observao ou situao experimental controlada, em que o pesquisador poderia efetivamente exercer algum controle sobre o experimento.Uma das implicaes dessa posio era que as formas de conhecimento baseadas na religio ou na superstio eram altamente especulativas e certamente inferiores ao conhecimento adquirido por meio da investigao emprica. Na verdade, Comte iria descrever a sociologia como a "fsica social".As idias de Comte foram tomadas por Durkheim. Durkheim e Comte estavam preocupados em desenvolver uma cincia social autnoma, adotando a filosofia e a metodologia da ento nova e emergente cincia natural. Durkheim delineou um conjunto de regras para a metodologia sociolgica, regras essas que deveriam ser seguidas em todas as pesquisas sociolgicas. Essas regras eram centradas tanto quanto possvel nos procedimentos das cincias naturais, e isso tambm envolvia o princpio da objetividade. Isto , o pesquisador poderia e deveria ser objetivo. Ao assegurar esta distncia dos sujeitos da pesquisa evitar-se-ia a tendenciosidade do pesquisador.Durkheim desenvolveu o que tem sido descrito como a perspectiva funcionalista na sociologia. Essa perspectiva via a sociedade como sendo similar ao organismo biolgico. A sociedade era como uma planta constituda de uma srie de partes cada uma executando uma funo importante. As necessidades da sociedade eram, portanto, preenchidas pelas funes executadas por estas vrias partes ou instituies como a famlia, a igreja, a escola etc. Para Durkheim, a investigao da sociedade teria que adotar este modelo funcionalista e desenvolver procedimentos objetivos para a coleta e interpretao de dados.A abordagem de Comte e Durkheim e outros desenvolveu-se no que a maioria dos cientistas sociais descrevem como positivismo, que encontra sua maior expresso no mtodo cientfico emprico. Embora existam muitas questes filosficas que podem ser discutidas a respeito do positivismo, qualquer definio de positivismo conter dois elementos, a viso de que as cincias naturais proporcionam a nica base para o verdadeiro conhecimento e que os mtodos, as tcnicas e os modos de operao das cincias naturais oferecem o melhor modelo para investigar o mundo social. Assim, positivismo seria aquela posio, nas cincias sociais, que busca a objetividade na investigao cientfica adotando os mtodos e procedimentos das cincias naturais.O termo "positivismo" pode ser associado viso comum que dominou o discurso formal nas cincias fsicas e sociais por uns 400 anos, enquanto o ps-positivismo,:i que no ser objeto de discusso neste livro, representa os esforos das ltimas dcadas para responder, de uma forma limitada, s crticas ao positivismo.Para o pesquisador positivista existe uma realidade "l fora" no mundo, independente das pessoas. Essa realidade descoberta pelas pessoas por meio do uso dos sentidos e das observaes. As descobertas em relao realidade do mundo podem ser expressas como afirmaes factuais - afirmaes a respeito das coisas, dos acontecimentos e as relaes entre elas. Para o positivista o mundo racional;

' Neste estgio seria possvel discutir o paradigma ps-positivista que emergiu como uma reao s numerosas crticas ao positivismo nos ltimos anos. Decidiu-se no o fazer porque concordamos com o que Guba (1990) sugeriu. O ps-positivismo pode ser visto como uma verso modificada do positivismo. Por exemplo, com relao ontologia h uma mudana de um realismo ingnuo para um realismo crtico. O segundo sustenta que o mundo real na verdade impulsionado por causas reais e naturais, mas que os seres humanos, devido os seus sentidos imperfeitos, capacidades perceptuais e de cognio, so incapazes de domin-lo como ele . Embora seja aceito que a realidade nunca pode ser conhecida pelo que ela realmente , h pouca dvida de que a verdade definitiva (realidade) est l fora alm do indivduo. Portanto, o realismo permanece como conceito central e a maior preocupao com a predio e o controle. Em termos epistemolgicos adota-se um objetivismo modificado. Aceita-se que impossvel para os pesquisadores ver o mundo de qualquer lugar em particular, uma vez que a objetividade no pode ser atingida em um sentido absoluto. Ele agora um ideal regulatrio pelo qual o pesquisador tenta permanecer o mais neutro possvel e suspender suas prprias tendenciosidades, para um escrutnio crtico da comunidade de pesquisa. Alm disso, os positivistas gostavam de trabalhar no ambiente fortemente controlado do laboratrio e muitos ps-positivistas so a favor de conduzir as investigaes no ambiente natural no qual as pessoas vivem e trabalham. Isto , uma grande ateno est sendo dada ao contexto. Em relao a isso, enquanto se preferem tcnicas que proporcionam altos nveis de preciso, os ps-positivistas esto preparados para utilizar tcnicas interpretativas no estgio de coleta de dados de seus trabalhos. Contudo, o uso de tais tcnicas freqentemente visto como uma etapa preliminar na conduo de formas mais rigorosas de investigao (nos seus termos) em um prximo estgio. Mais importante, essas tcnicas so usadas em um modelo que contm os pressupostos associados ao positivismo/ps-positivismo. Conseqentemente, quando so utilizadas, elas o so de uma maneira modificada, de modo que possa ser aplicada proteo metodolgica da cincia natural.ele tem sentido e, dado o devido tempo e o esforo suficiente, ser possvel entend-lo por meio da pesquisa. O pesquisador pode ento explicar aos outros a realidade que ele descobriu, porque a linguagem um sistema simblico admitido para descrever a realidade.Os pesquisadores positivistas no aceitam que eles possam ser variveis significantes na pesquisa; assim, ao testar hipteses, eles esperam que outros pesquisadores cheguem s mesmas concluses a que eles chegaram. Devido a isso, a forma preferida para relatar as pesquisas evitar o uso de pronomes pessoais. Por exemplo, o uso de "eu" e "meu" no considerado adequado.Para o positivista (assim como tambm para o pesquisador interpretativo) o propsito da pesquisa descrever e entender o fenmeno do mundo e compartilhar este entendimento. Este entendimento capacita o pesquisador a explicar como acontecimentos particulares ocorrem e a predizer quais sero os resultados de futuros acontecimentos. Os positivistas usualmente buscam expressar suas compreenses na forma de generalizaes. Os dados coletados pelos positivistas tendem a ser numricos e apropriados anlise estatstica; portanto, a metodologia que eles usam sempre descrita como quantitativa.A palavra "positivismo" nem sempre reconhecida por aqueles que trabalham com esse paradigma e muitas vezes usada pejorativamente por aqueles que advogam paradigmas alternativos. Por seu lado, algumas vezes os pesquisadores positivistas rejeitam a idia de que uma investigao de particularidades, como as conduzidas por pesquisadores interpretativos, possa ser considerada til.Em resumo, o positivismo adota uma ontologia externo-realista, uma epistemologia objetiva e prefere uma metodologia nomottica. Com relao ontologia, o positivismo postula que o mundo social externo cognio do indivduo, um mundo real constitudo de fatos rgidos, tangveis e relativamente imutveis que podem ser observados, medidos e conhecidos pelo que eles realmente so.Avaliao do positivismoEsse paradigma apenas um dos modelos de pesquisa social, embora tenha sido o mais influente e tem desempenhado um papel crucial em proporcionar as bases para a grande maioria das pesquisas educacionais. At recentemente, a pesquisa educacional baseou-se principalmente nas tradies psicolgicas que operam segundo a abordagem positivista (Jacob, 1988). Alguns dos termos associados a essa abordagem incluem o empirismo, emprico-analtico, behaviorismo, behaviorismo radical e quantitativo.Algumas dvidas pairam sobre o paradigma positivista como j foi descrito. A partir disso, algumas crticas tm sido manifestadas a partir de outras perspectivas ou tradies nas cincias sociais. Algumas dessas crticas parecem, at aqui, concordar que o termo "antipositivismo" seja aplicvel a alguns destes pesquisadores. muito importante considerai-os tipos de crticas que tm sido feitas ao positivismo. Essas crticas so aqui abordadas sob dois grandes ttulos, (1) a natureza do objeto de estudo do cientista social e (2) formas de explicaes e a convenincia da metodologia positivista.A natureza do objeto de estudo do cientista socialTalvez nenhum outro aspecto do debate sobre o positivismo tenha recebido mais ateno do que a distino que feita entre o objeto de estudo das cincias naturais e o das cincias sociais. Nas cincias sociais o positivismo est baseado no pressuposto implcito de que no existe diferena qualitativa entre os mundos natural e social de modo que os mtodos e procedimentos do cientista natural podem ser diretamente aplicados investigao do mundo social.A diferena qualitativa entre o mundo social e o natural a plataforma central da posio antipositivista e dos que trabalham com a tradio interpretativa. Estes pesquisadores argumentam que a viso da pesquisa como rgida, freqentemente mecanicista e calculista no pode ser harmonizada com o fato de que os seres humanos so capazes de exercitar a escolha e expressar suas prprias individualidades de maneiras diferentes. Os antipositivistas e os pesquisadores sociais interpretativos, alguns dos quais sero discutidos mais frente, fazem objeo tendncia do positivismo e dos pressupostos implcitos no mtodo cientfico que colocam nfase na correlao, leis e objetividade paia fazer com que os seres humanos sejam "coisas" cujas aes no tm problemas evidentes, quantificveis e capazes de serem objetivamente investigados.O mundo social um mundo significativo em que os atores constantemente constroem e reconstroem as realidades de suas vidas. Qualquer ordem encontrada criada pelos prprios atores que para isto lanam mo de conceitos, regras e interpretaes.Os problemas associados falta de distino entre os mundos natural e social para os propsitos da pesquisa contaminam outras reas, notavelmente as formas de explicaes e o valor da metodologia quantitativa.As crticas que estamos discutindo tm implicaes para as formas de explanaes que os pesquisadores sociais podem adotar de uma maneira legtima e as tcnicas de coleta de dados que eles utilizam para serem capazes de fazer explanaes.Formas de explicaes e a convenincia da metodologia positivistaO mtodo cientfico envolve uma abordagem especfica quanto coleta e anlise dos dados. O pesquisador que utiliza esse mtodo e adota os pressupostos que foram resumidos at aqui busca relaes entre acontecimentos que possam ser observados. Os dados so examinados luz de hipteses pr-formuladas e expostos a procedimentos de verificao de modo que a hiptese original seja confirmada ou rejeitada. Dados quantificveis tais como resultados de levantamentos {surveys) sociais, respostas a questionrios ou as estatsticas oficiais parecem ser os mais adequados para esses tipos de procedimentos. As formas tpicas de explanao que tm sido utilizadas por esses pesquisadores e o tipo de dados e tcnicas de coleta de dados empregadas tm gerado considerveis discusses. Trs aspectos bsicos emergem: (1) a diferena entre causas e significados, (2) as diferenas entre dados quantitativos e qualitativos, e (3) a questo da generalizao dos resultados.Causas e significados muito comum a argumentao de que a busca por vnculos causais objetivos entre conjuntos de eventos leva a uma posio em que certos fatores so vistos como eventos causais. Por exemplo, as diferenas entre escores em testes de inteligncia (Q.I.) poderiam ser apontadas como causas do sucesso (ou fracasso) educacional de diferentes grupos de crianas. Na verdade, os pesquisadores educacionais tm usado o Q.I. e outros escores obtidos em testes de desempenho como indicadores de diferenas na habilidade inata que influencia diretamente o sucesso na escola.Embora muitas pessoas possam concordar com que o fracasso escolar seja certamente um fenmeno multifacetado, apenas recentemente os pesquisadores comearam a desafiar muitas das pesquisas positivistas que sugerem o contrrio. O problema repousa na distino entre causas e significados.A relao causa-efeito funciona muito bem no mundo natural. Por exemplo, o calor causa a fervura da gua, que tem como efeito liberao do vapor. Por seu turno, o mundo social composto de significados e interpretaes que resultam em uma relao significativa que descrita como ao. Uma relao significativa acontece quando a relao pode ser demonstrada entre o estado subjetivo do ator e a ao, como, por exemplo, um motivo particular por um lado, e um comportamento observvel por outro. Os crticos argumentam que o que est faltando na explicao positivista uma demonstrao de como a ao em questo justificada e explicada pela pessoa ou pessoas envolvidas. Isso exigiria uma explicao das regras, significados compartilhados e interpretaes que os seres humanos fazem rotineiramente para conduzir suas vidas. O mundo social, portanto, necessita ser investigado em termos de significados e aes ao invs de causas e efeitos.Dados quantitativos e qualitativosA aceitao dos pressupostos que sustentam o mtodo cientfico significa que a pesquisa quantitativa a norma. Assim, os levantamentos sociais, as entrevistas estruturadas, os questionrios e o uso de estatsticas so as tcnicas de coleta de dados e mtodos que predominam. Os dados quantitativos podem ser medidos mais facilmente, padres podem ser estabelecidos de uma forma mais clara e, portanto, qualquer padro que venha a ser descoberto e as generalizaes feitas sero precisas desde que localizadas em um amplo corpo de evidncias. O uso de modelos matemticos e a noo de correlao, isto , o estabelecimento de concordncia ou associao entre os vrios fatores ou variveis em uma pesquisa funciona melhor quando h grandes nmeros ou uma amostragem muito grande envolvida. Por exemplo, ao tentar examinar o desempenho do professor, levando em considerao o sucesso dos alunos em lestes ou exames, quanto mais dados o pesquisador tiver mais fcil ser para ele estabelecer qualquer vnculo causal e fazer observaes a respeito de outros casos.Os dados quantitativos apresentados em estudos correlacionais, levantamentos sociais, estatsticas ou nos relatos de interao na sala de aula tm sido uma caracterstica da pesquisa educacional. Para muitas pessoas, quanto maior for a amostra, quanto maior for o nmero de pessoas respondendo um questionrio, ou quanto mais prximo forem os intervalos de codificao de uma determinada interao na sala de aula, melhores sero a explicao e a teoria subseqente. O nmero de sujeitos envolvidos em uma pesquisa traz um ar de respeitabilidade para muitas pessoas. A confiana nos dados quantitativos no mbito do positivismo e o uso do mtodo cientfico suscitaram muitas crticas. Na verdade, esta tem sido provavelmente uma das reas de maior disputa no debate na pesquisa social nos ltimos anos. Vamos examinar as principais linhas destas crticas.As crticas com relao ao uso de dados quantitativos como exclusivo e a melhor fonte de dados para a pesquisa social provm de duas fontes. Primeiro, os pesquisadores chamaram a ateno para as limitaes e os problemas das tcnicas de pesquisa que so planejadas para a coleta de dados quantitativos. Segundo, os pesquisadores tm indicado os problemas envolvidos quando se confia somente em medidas ou ndices objetivos e quantificveis dos fenmenos sociais sem prestar ateno s interpretaes e significados que os indivduos do aos eventos e situaes de uma forma qualitativa. Os levantamentos sociais podem capturar uma ampla rea ou populao, permitindo assim uma medida descritiva da extenso de uma preocupao em particular, como a pobreza, e so muito importantes no estabelecimento da natureza da sociedade.Contudo, os crticos tm indicado muitos problemas com os levantamentos sociais, mais notadamente na confiana que depositada em questionrios fechados e estruturados. Esses questionrios podem no ser suficientemente flexveis para permitir que as verdadeiras emoes e sentimentos apaream. As pessoas normalmente tratam estes tipos de instrumentos com uma certa desconfiana. As perguntas podem estruturar muito as respostas ou podem levar quem vai respond-las a responder de uma forma particular que afete a preciso do levantamento. Portanto, a redao e a apresentao do questionrio merecem dos pesquisadores os maiores cuidados. H ambigidade ou impreciso nas perguntas? A maneira como esto formuladas as perguntas elimina as respostas de certos tipos de pessoas? Como as perguntas lidam com certas reas sensveis? O pressuposto que sustenta a grande maioria dos levantamentos sociais e o uso de questionrios fechados que as pessoas no apenas dizem o que pensam, mas tambm fazem o que dizem.Com base nesse pressuposto, argumenta-se que ao coletar dados quantificveis o pesquisador destri ou ignora o contexto qualitativo de que emergem todos os dados, ou seja, a vida cotidiana das pessoas. As crticas ao positivismo sugerem que tanto importante olhar em detalhe um nmero pequeno de casos quanto importante olhar um grande nmero de casos tpicos.A principal diviso emerge dentro da cincia social no eixo quantita-tivo-qualitativo. Embora no se negue o valor e significado da viso ampla e geral desenvolvida pelas abordagens quantitativas, alguns grupos de pesquisadores tm enfatizado a necessidade de reconhecimento detalhado das circunstncias interacionais imediatas dos eventos no mundo social e do contexto histrico e cultural em que esses eventos acontecem. Isso tem levado um certo nmero de socilogos e antroplogos em particular a examinar em detalhes os eventos do cotidiano usando uma srie das assim chamadas tcnicas de pesquisa introspectiva, biogrfica, subjetivas ou qualitativas, com o objetivo de desvelar o ponto de vista dos atores no interior das situaes sociais que eles ocupam. Em vez de coletar dados quantitativos por meio de tcnicas quantitativas tais como levantamentos e questionrios fechados, argumenta-se que os pesquisadores sociais deveriam coletar dados qualitativos por intermdio de tcnicas projetadas para revelaras perspectivas dos atores. Na pesquisa educacional o debate sobre as tcnicas quantitativas e qualitativas est refletido no movimento nas ltimas duas dcadas em considerar o que est acontecendo nas escolas e nas salas de aula em particular.Essas crticas na confiana depositada nos dados quantitativos tm sido tambm dirigidas para o uso excessivo das estatsticas oficiais. Embora os pontos sejam bem especficos, a questo geral bem clara. As estatsticas oficiais so coletadas por organismos oficiais com propsitos especficos.GeneralizaoA generalizao refere-se ao processo pelo qual um conjunto particular de observaes ou resultados pode ser aplicado para um conjunto de circunstncias mais amplas ou a uma populao. A generalizao refere-se quele tipo de afirmao que busca incluir sob um termo geral, ttulo, ou classe de eventos um conjunto de casos particulares. Isso feito para ressaltar certos temas comuns ou aspectos dos casos em questo e estabelecer conexes entre fenmenos que possam ser observados diretamente, para que possam ser feitas declaraes a respeito das situaes que no sejam observadas na totalidade, por impossibilidade ou inviabilidade prtica.A completa utilizao da generalizao no mtodo comparativo usada tanto por cientistas sociais como por historiadores. A comparao de situaes est no centro de qualquer investigao sistemtica e sempre importante que o pesquisador seja capaz de comparar os resultados com os de outras pesquisas. O mtodo comparativo envolve a comparao de dados coletados em diferentes sociedades ou culturas em termos do fenmeno a ser comparado. Os cientistas sociais tm buscado descobrir padres gerais ou regulares de comportamento humano traando comparaes entre muitas formas sociais e culturais diferentes e indicando os elementos comuns. A produo de generalizaes de alto nvel um elemento integral desse tipo de abordagem e um aspecto central do mtodo cientfico.As cincias humanas fazem uso extensivo da generalizao e, na verdade, poderia parecer impossvel realizar pesquisa sem usar afirmaes generalizadas. Imagine a discusso educacional sem referncia s crianas da classe trabalhadora, crianas da classe mdia, crianas mal-ajustadas, minorias, crianas com dificuldades de aprendizagem, crianas brilhantes e assim por diante. Sempre encontramos pessoas discutindo os valores da classe trabalhadora e tipos de classe mdia. Os socilogos rotineiramente se referem a classes e status dos grupos para designarem o arranjo hierrquico de um vasto nmero de indivduos em uma sociedade. Os psiquiatras falam de categorias de doenas como psicoses e neuroses para se referir a padres de comportamentos associados a doenas mentais. Esses termos gerais so aplicados, aps uma verificao em circunstncias particidares, a uma categoria maior de eventos que provavelmente demonstraro as mesmas caractersticas das observadas originalmente.A generalizao uma questo que tem recebido considervel ateno na pesquisa social e educacional. Os cientistas sociais diferem nas suas vises de generalizao. H aqueles, influenciados por uma metodologia quantitativa e pelo mtodo cientfico, que argumentam que a generalizao essencial. Aqueles que podem ser descritos como antipositivistas, influenciados por uma metodologia interpretativa, argumentam que ela no essencial. E ainda h muitos pesquisadores que ocupam uma posio intermediria e que utilizam diferentes tcnicas de pesquisa em um estudo e que argumentam que algumas vezes a generalizao necessria.A questo da generalizao e a sua incorporao como a principal meta no mtodo cientfico apresentou-se para muitos pesquisadores como a questo-chave em relao pesquisa conduzida por professores. Dadas as circunstncias e as restries prticas colocadas ao professor, questionvel se a generalizao - no sentido com que ela vista na cincia - poderia ser conseguida devido confiana que os professores tm de depositarem casos ou circunstncias individuais, limitado nmero de pessoas, ou at mesmo no uso de apenas um informante. Todavia, se a generalizao percebida como elemento central do mtodo cientfico, a pesquisa conduzida por professores e outros pesquisadores da educao com pequenos grupos, local e particular, seria de menor valor?Muitos pesquisadores tm evitado a formulao de generalizaes em grande escala e, na verdade, tais generalizaes no so mais vistas por muitos deles como a meta final e nica da pesquisa social. Corno foi observado, a tentativa de produzir generalizaes cada vez mais abrangentes pode resultar no exame inadequado da ao social. H certamente uma tenso entre se concentrar em grandes nmeros de casos em geral e em poucos casos em particular. O paradigma interpretativo de pesquisa social sugere que qualquer movimento em direo generalizao precisa comear das circunstncias particulares dos indivduos e dos grupos. Alm disto, altamente improvvel que, em qualquer pesquisa que o professor realize a amostra seja grande o suficiente para garantir o tipo de generalizao de alto nvel que visto como crucial no mtodo cientfico.Nesta seo foi examinado o paradigma de pesquisa social predominante e a lgica que o sustenta. Por um certo nmero de anos uma insatisfao crescente com o positivismo tem sido uma caracterstica do debate nas cincias humanas. Na pesquisa educacional esse paradigma tem sido considerado como tendo um efeito de camisa-de-fora para a prtica da pesquisa. A pesquisa educacional teria que ser feita por pesquisadores acadmicos profissionais que utilizariam procedimentos e princpios testados. Para muitos pesquisadores e professores esse paradigma cria restries desnecessrias sobre quais aspectos da escola e da vida na sala de aula poderiam ser pesquisados. O modelo cientfico est progressivamente sendo visto como um modelo incapaz de capturar a fluidez, espontaneidade e criatividade da vida na sala de aula.Os crticos mais vigorosos sugerem que o positivismo funciona com uma viso mecnica e desumana dos seres humanos. Estas reaes ao positivismo e ao mtodo cientfico causaram impacto na comunidade cientfica e os seus efeitos foram sentidos na pesquisa educacional.

O paradigma interpretativoSempre houve formas alternativas para investigar a realidade social e, em contraste com o positivismo, h o paradigma interpretativo. Para alguns autores (Erickson, 1986; Creswell, 1998; Hitchcock e Hughes, 1989; Sparkes, 1992) o termo "interpretativo" refere-se a uma famlia de abordagens e muito til por trs razes bsicas: a) ele mais inclusivo do que outros termos (por exemplo, "etnografia", "estudo de caso"); b) ele evita que essas abordagens tenham a conotao de essencialmente no-quantitativas (uma conotao que sugerida pelo termo"qualitativo"), uma vez que algum tipo de quantificao pode ser utilizado no estudo; e c) ele aponta para caractersticas comuns s vrias abordagens - o interesse central de todas as pesquisas nesse paradigma o significado humano da vida social e a sua elucidao e exposio pelo pesquisador.Portanto, um conjunto de tradies pode ser situado no paradigma interpretativo, conhecidas por vrios nomes como: etnografia, hermenutica, naturalismo, fenomenologia, interacionismo simblico, construtivismo, etnometodologia, estudo de caso e pesquisa qualitativa. Embora haja diferenas entre essas tradies, h tambm muitas similaridades, e o termo "interpretativo" ser usado aqui como um termo "guarda-chuva" para a discusso de questes gerais.Da mesma forma que o positivismo, o paradigma interpretativo tem profundas razes histricas que emergiram com muita fora no sculo dezenove como uma reao crtica ao positivismo. Uma figura influente nessa reao foi Wilhelm Dilthey que argumentou que, enquanto as cincias naturais lidavam com uma srie de objetos inanimados que podiam servistes como existindo fora de ns, isso no poderia acontecer de forma alguma nas cincias sociais. O enfoque das cincias sociais deveria ser nos produtos da mente humana, incluindo subjetividade, interesses, emoes e valores.Ess