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LIvro do GT ensino de história

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G892 GT Ensino de História e Educação - ANPUH/ RS:Memórias - 20 anos / Carla Beatriz Meinerz, Katani M. Nascimento Monteiro, Nilton Mullet Pereira e Véra Lucia Maciel Barroso, (Organizadores).- - Porto Alegre: EST Edições: ANPUH/RS, 2014. 71 p. ISBN: 978-85-68569-00-9 História da Educação. 2. Associação Nacional de História – Seção Rio Grande do Sul. I. Meinerz, Carla Beatriz. II.Monteiro, Katani Maria Nascimento. III. Pereira, Nilton Mullet. IV. Barroso, Véra Lucia M. CDU: 37(816.5)(091)

CIP – BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃOBIBLIOTECÁRIA RESPONSÁVEL: Denise Selbach Machado CRB-10/720

© dos autores – 1ª edição: 2014Direitos reservados desta edição:

GT Ensino de História e Educação – ANPUH/RS

Revisão: os organizadores

Revisão linguística: Maria Luci Mesquita Prestes

Projeto gráfico: Joana Oliveira de Oliveira

Impressão: Gráfica da UFRGS

Editora & Livraria Frei Rovílio Ltda.R. Veríssimo Rosa, 311

90610-280 - Porto Alegre, RS - f. (51) 3336.1166www.esteditora.com.br - [email protected]

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APRESENTAÇÃO

MEMÓRIAS

Adolar KochOS PRIMEIROS TEMPOS DA ANPUH/RS – ENSINO: A PEDRA FUNDAMENTAL

Alessandra Gasparotto 20 ANOS DO GT ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO:HISTÓRIAS DE PROCURA E BONITEZA

Carla Beatriz Meinerz ESTILHAÇOS DE MEMÓRIA SOBRE O GT ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO DA ANPUH/RS: MILITÂNCIAS E INQUIETAÇÕES DE PROFESSORA

Dália Tavares Leindecker UMA EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO ATRAVÉS DO GT ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO DA ANPUH/RS (1996 A 2001)

Enrique Serra Padrós GT ENSINO DE HISTÓRIA: 20 ANOS SEMEANDO CONSCIÊNCIA E SOCIALIZANDO EXPERIÊNCIAS

Fernando Seffner OS VENTOS, O LEME E A DIREÇÃO DA TRAJETÓRIA: LEMBRANÇAS ACERCA DO COMEÇO DA ARTICULAÇÃO DOS PROFESSORES DE HISTÓRIA JUNTO À ANPUH/RS

Flávia Eloisa Caimi GT ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO DO RS: 20 ANOS DE TRABALHO COLETIVO

SUMÁRIO

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Gerson Wasen Fraga É PRECISO ACREDITAR NA RAPAZIADA: PEQUENAS REFLEXÕES MEMORIALÍSTICAS SOBRE O GT ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO DA ANPUH/RS

José Alberto Baldissera MEMÓRIAS DE ALGUÉM QUE GOSTA DE ENSINAR E APRENDER

Katani Maria Nascimento Monteiro O GT COMO ESPAÇO GERADOR DE CERTEZAS E INQUIETAÇÕES

Luís Guilherme Ritta Duque GRUPO DE TRABALHO ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO DA ANPUH/RS: DUAS DÉCADAS DE INOVAÇÃO E PLURALIDADE

Maria Aparecida Bergamaschi LEMBRANÇAS E AFETOS QUE ME LIGAM AO GT

Nilton Mullet Pereira SOBRE A INSUSPEITÁVEL ALEGRIA DE CONVIVER

Paulo Zarth MEMÓRIAS E JORNADAS DE ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO EM IJUÍ

Sirlei Teresinha Gedoz MEMÓRIAS DE UMA MILITANTE DO GT ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO

Susana Maria Reggiani Huerga HISTÓRIAS: INVENTADAS E VERDADEIRAS

Véra Lucia Maciel Barroso GT ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO – ANPUH/RS: TRAJETÓRIA DE ENGAJAMENTO – 20 ANOS DE LUTAS, PERSISTÊNCIA E COMPROMISSO

Zita Rosane Possamai A ANPUH/RS E O GT ENSINO DE HISTÓRIA: UMA HISTÓRIA VITORIOSA

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GT ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO - ANPUH/RS 05

APRESENTAÇÃO

Caminante, son tus huellasel camino, y nada más;

caminante, no hay camino, se hace camino al andar.Al andar se hace camino,

y al volver la vista atrásse ve la senda que nunca

se ha de volver pisar.Caminante, no hay camino, sino estrelas em la mar.

Antonio Machado. Campos de Castilla. Poesía.

Porto Alegre, São Leopoldo, Santa Cruz do Sul, Lajeado, Passo Fundo, Ijuí, Santa Maria, Caxias do Sul, Novo Hamburgo, Jaguarão e Rio Grande: lugares para onde nos dirigimos nesses vinte anos de reuniões, encontros e jornadas do Grupo de Trabalho Ensino de His-tória e Educação, seção Rio Grande do Sul – ANPUH/RS. São tantos anos cruzando trajetórias em diferentes tempos e espaços, promoven-do e divulgando a produção do conhecimento histórico e educacional, povoando de marcas, pegadas e rastros os caminhos do Ensino de História no Rio Grande do Sul.

Com a publicação Memórias do Grupo de Trabalho Ensino de História e Educação da Associação Nacional de História, seção Rio Grande do Sul – ANPUH/RS queremos celebrar esses vinte anos de caminhos coletivos no GT. O objetivo da singela compilação de depoimentos é reunir o máximo de narrativas escritas por sujeitos representativos da consolidação de um Grupo com funcionamento contínuo durante tanto tempo. O GT constituiu-se por diferentes componentes em distintos momentos, caracterizando-se pelo emble-mático compromisso de manter a realização anual de jornadas capa-zes de congregar em diálogos os professores da Educação Básica e Superior, assim como os graduandos vinculados aos cursos de His-tória e de Pedagogia.

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MEMÓRIAS 20 anos06

Para a publicação que ora apresentamos, estendemos o convite ao máximo de militantes que alcançamos lembrar e contatar. Reu-nimos esse possível montante de depoimentos, com o desejo sincero de registrar um pouco do vivido e, nesse processo, aprendemos que poucos vestígios estão de fato guardados em nosso acervo grupal – uma pasta preta generosamente mantida na sede da Associação a que pertencemos. Os registros estão, sobretudo, nas lembranças de cada um, evocadas agora nesse lampejo de comemoração. Ao buscar as narrativas aqui presentes, convidamos sinteticamente que cada um escrevesse algo sobre o GT, com a liberdade da evocação do pas-sado pelo afeto e pela militância em comum. Foi um pedido por e-mail - reforçado por outras buscas e telefonemas, o detonador das escritas aqui compiladas, uma simples solicitação para que se pudesse lem-brar de acontecimentos, episódios, enfim, boas lembranças de ligação com o GT. As memórias dos autores que integram essa coletânea representam a incursão de cada um como praticante do GT e de-monstram a energia e repertório pessoal dos membros na formação e consolidação do Grupo.

O resultado é belíssimo. O GT Ensino de História e Educação da ANPUH/RS ao completar 20 anos de trajetória convida para uma nova andança através da leitura, reconhecendo rastros, voltando a pisar e desvendando caminhos talvez desconhecidos.

Seguimos!

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GT ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO - ANPUH/RS 07

Ano Instituições Local Evento/Tema Enquanto isso...

1987UFRGS e ANPUH/

RS

Porto Alegre – Instituto

de Educação

I Jornada de debates sobre o Ensino de História

Debates nas Conferências Nacionais de Educação (principalmente, em 1986 em Goiânia) e muitas mo-bilizações para a Consti-tuinte.

1988UFRGS e ANPUH/

RSPorto Alegre

II Jornada de debates sobre o ensino de His-tória e III En-contro Regional de História da ANPUH/RS

Primeira edição do Encon-tro Nacional Perspectivas do Ensino de História (USP). Promulgação da Constituição Federal.

1995-1996

GT Ensino de História e Educação

Porto Alegre

Formação do GT Ensino de História como parte da ANPUH/RS

Época de debates sobre a nova LDB e sobre desafios para o ensino de histó-ria, que enfrentara uma década de combates pela democracia, nos anos de 1980.

1996

GT Ensino de História e Educa-

ção

Porto Alegre

II Jornada de Ensino de História do Rio Grande do Sul.

Ano de promulgação da nova LDB e de preocu-pações quanto aos seus desdobramentos. Novo currículo? Avanços na formação de professores? Realização do II Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de História (USP).

1997 UNISINOS e GT

São Leopoldo

III Jornada de Ensino de História e Educação: Qual História? Qual Ensino? Qual Cidada-nia?

Publicam-se os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamen-tal. O tema da cidadania, também debatido nas Jornadas do GT, é uma das palavras-chave mais importantes dos PCN, principalmente pela ênfase no trabalho com temas transversais.Acontece, na Unicamp, o III Encontro Nacional dos Pesquisado-res do Ensino de História.

JORNADAS DE ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO

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MEMÓRIAS 20 anos08

Ano Instituições Local Evento/Tema Enquanto isso...

1998 UNISC e GT

Santa Cruz do Sul

IV Jornada de Ensino de His-tória e Edu-cação: Qual História? Qual Currículo?

Publicam-se as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, pre-ocupação que novamente se reflete no tema das Jornadas, pois uma das principais questões é a di-luição da História, incluída na grande área “Ciências Humanas e Suas Tecnolo-gias”. Primeiras discussões para criação da Associação Brasileira de Ensino de História, no III Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de História (UFPR). Implementação do Fundef.

1999 UNIVATES e GT Lajeado

V Jornada de Ensino de História e Educação: A memória e o ensino da História.

Em Ijuí acontece o IV Encontro Nacional Pes-quisadores do Ensino de História. Publicação do livro “Memória e Ensino de História”, por parte do GT Ensino de História da ANPUH/RS.

2000FAPA/

UFRGS e GT

Porto Alegre

VI Jornada de Ensino de História e Educação - 500 Anos: Qual História? Qual Ensino?

O tema da jornada acompanha uma série de projetos e eventos. Um exemplo é o livro“500 anos de educação no Brasil”, de Veiga, Faria Filho e Lopes (Autêntica).

2001 UPF e GT Passo Fundo

VII Jornada de Ensino de História e Educação - História: Qual ensino? Qual conhecimento?

Publicação do Plano Na-cional de Educação, que orientaria por dez anos a educação nacional. Realiza-ção do IV Encontro Nacio-nal Perspectivas do Ensino de História na UFOP.

2002 UNISINOS e GT São Leopoldo

VIII Jornada de Ensino de História e Educação: Os desafios teórico-meto-dológicos.

Publicam-se as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de profes-sores da Educação Básica (licenciaturas), por meio da Resolução CNE 01/2002. A crítica à dualidade conser-vada pelas Diretrizes se re-flete no tema escolhido para as Jornadas deste ano.

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GT ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO - ANPUH/RS 09

Ano Instituições Local Evento/Tema Enquanto isso...

2003 UNIJUÍ e GT Ijuí

IX Jornada de Ensino de His-tória e Educa-ção - O ensino de História no continente americano: as novas rela-ções entre as nações e suas repercussões na educação.

Promulgação da Lei 10.639/2003, que obriga ao ensino de história e cultura africana e afro--brasileira. Novamente, o tema da Jornada reflete preocupações nacionais. Realização do IV Encontro Nacional Pesquisadores do Ensino de História (UEL).

2004

Centro Univer-sitário

Francisca-no e GT

Santa Maria

X Jornada de Ensino de História e Educação - Brasil tempo presente: os desafios do ensino de His-tória.

Período marcado pelo deba-te sobre os 40 anos do Re-gime Militar. Acontece o V Encontro Nacional Perspec-tivas do Ensino de História (UFRJ) e, neste mesmo ano, publicam-se as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais.

2005 UNISINOS e GT São Leopoldo

XI Jornada de Ensino - Histó-ria e Educa-ção: diálogos em constru-ção.

Em clima de ampliação dos debates e diálogos sobre o ensino de história no Brasil, realizou-se a assembleia de fundação da Associação Brasileira de Ensino de História no V Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de História (UFMG).

2006 UFRGS e GT Porto Alegre

XII Jornada de Ensino de His-tória e Educa-ção: questões étnico-raciais e exclusão-in-clusão social.

Publicadas a lei 11.096/2006, que cria o Prouni e o Decreto n.5800/2006, que cria a UAB.

2007 UNISC e GT

Santa Cruz do Sul

XIII Jornada de Ensino de História e Educa-ção - Ensino de História: Identidade e Diversidade.

Realização do Encontro Nacional da ANPUH em São Leopoldo e do VI En-contro Nacional Perspecti-vas do Ensino de História (UFRN), que mostram a articulação da ANPUH por diversas regiões do país. Em 2007 é criado o Fun-deb (Lei 11.494/2007).

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MEMÓRIAS 20 anos10

Ano Instituições Local Evento/Tema Enquanto isso...

2008 FAPA e GT Porto Alegre

XIV Jornada de Ensino de História e Educação - Movimentos Sociais e Ensi-no de História.

Promulgação da Lei 11.645/2008, tema que o GT Ensino de História da ANPUH/RS debateu em suas duas últimas edições e que voltaria a tratar em 2008. Acontece o VII Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensi-no de História (USP) e é promulgada a Lei do Piso Nacional do Magistério (11.748/2008).

2009 UCS e GT Caxias do Sul

XV Jornada de Ensino de His-tória e Educa-ção – Fontes e o Ensino de História.

Neste ano, é apresentado ao Senado o PL 369/2009 (regulamenta profissão historiador) e realiza-se o VII Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de História (UFU). Publicado o decreto 6.861/2009, que regulamenta a Educação Indígena no Brasil.

2010 FEEVALE e GT

Novo Hamburgo

XVI Jornada de Ensino de História e Educação e IX Seminário de Estudos Históricos: po-líticas públicas e desafios para o ensino de História.

Publicados os Decretos 7219/2010 e 7.083/2003, que criam o Programa Nacional de Bolsas de Ini-ciação à Docência (Pibid) e o Mais Educação, respec-tivamente. O tema da XVI Jornada, políticas públi-cas, acompanha essas inovações.

2011 UNIPAMPA e GT Jaguarão

XVII Jornada de Ensino de História e Educação – Ensino de His-tória no Cone Sul: patrimô-nio cultural, territórios e fronteiras.

Em 2011, também na região Sul, outro fórum de-batia o ensino de história na América Latina: o IX Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de História (UFSC).

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GT ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO - ANPUH/RS 11

Ano Instituições Local Evento/Tema Enquanto isso...

2012 UNISINOS e GT São Leopoldo

XVIII Jorna-da de Ensino de História e Educação - Ensino de His-tória, Imagens e Mídias.

A regulamentação da pro-fissão do historiador segue seu caminho e é apresen-tado o PL4699/2012 à Câmara dos Deputados.São publicadas novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensi-no Médio pelo Conselho Nacional de Educação (Resolução CNE 02/2012). Realiza-se o VIII Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de História (Uni-camp), com a participação de vários membros do GT de Ensino/RS.

2013 UFSM e GT

Santa Maria

XIX Jornada de Ensino de História e Educação / III Seminário Internacional de Educação Histórica - Professores de História: o que somos? O que desejamos ser?

Criação do Laboratório de Ensino de História e Educação (Lhiste) na Uni-versidade Federal do Rio Grande do Sul. Acontece o X Encontro Nacional dos Pesquisadores do Ensino de História (UFS) e multiplicam-se os debates sobre as exigências para concursos públicos na área de ensino de história: doutorado em história ou em educação?

2014 FURG e GT Rio Grande

XX Jornada de Ensino de História e Educação – 20 anos de pes-quisa e ensino de História.

Há, pelo Brasil, debates sobre os 50 anos do Golpe de 1964 e divulgam-se resultados preliminares da Comissão Nacional da Ver-dade.É aprovado o novo Plano Nacional de Educa-ção e ampliam-se os deba-tes sobre a permanência e legitimidade da disciplina História no Ensino Médio. Os desafios continuam.

Fonte: Quadro sistematizado por Flávia Eloisa Caimi e ampliado pela Comis-são Organizadora da Exposição dos 20 anos do GT Ensino de História e Educação, seção ANPUH/RS, 2014.

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MEMÓRIAS

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GT ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO - ANPUH/RS 13

Por Adolar Koch

OS PRIMEIROS TEMPOS DA ANPUH/RS – ENSINO: A PEDRA FUNDAMENTAL

Nós começamos a discutir a criação oficial do Núcleo da ANPUH no Rio Grande do Sul, em 1983,1984; tempos depois da fase inicial liderada pela intermediação da Sandra Pesavento com o Núcleo Na-cional em São Paulo. O nosso grupo formador foi criando uma liga, cimentando a ideia de que a gente teria que fazer um encontro regional e que nele fosse feita a eleição de uma diretoria regional. E o tema do encontro foi o ensino. O nosso grupo achava que a questão do ensino era muito importante para a ANPUH em termos de discussão e expan-são da Associação. E uma das coisas pelo que se batalhou, naquela época, foi de que a ANPUH não deveria ser mais só de professores uni-versitários, mas de todos os professores de História. Eu realmente não me lembro bem, mas foi chamado de Encontro de História e Ensino. Veja que a nossa Regional nasceu focando o ensino; ele foi a nossa pedra fundamental.

De fato, desde esse início, o ensino de história para nós era im-portante. Era uma forma de chegar aos professores da rede estadual e das escolas particulares; não só aos professores universitários. Era essa a proposta do núcleo na nossa gestão. Eu me lembro que a Nilse ajudava sempre na área de ensino. Nós fomos nas Delegacias de En-sino para fazer a divulgação junto aos professores de História. O que se sabia é que tinha muitos professores de História, mas eles não se conheciam e nunca se encontravam para discutir as questões da His-tória.

O objetivo de se aproximar da Escola Básica, do Ensino Funda-mental e Médio, era para fortalecer a Associação. E também foi uma forma mais ampla de focar a problemática do ensino de História. Nós

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MEMÓRIAS 20 anos14

realmente queríamos, através de encontros e jornadas, crescer em tor-no da dificuldade que era a área das ciências humanas naquela época da ditadura militar.

Sobre o processo da redemocratização de 1984, 1985, naquela conjuntura, em que se vinha lá de uma Reforma de Ensino em que a História não era valorizada, pelo contrário, havia a censura, tinha as disciplinas de Moral e Cívica e OSPB (Organização Social e Política Brasileira), a ANPUH tinha uma posição crítica perante a ditadura. O que fazíamos eram discussões, jornadas e encontros. Era até para mostrar realmente a história que estávamos vivendo naquela época de ditadura. Então, a nossa posição era essa. Tanto nós, do Rio Grande do Sul, quanto a ANPUH Nacional tivemos uma posição crítica com a fal-ta de democracia que se tinha. Lutamos pela valorização das ciências humanas, pois a Reforma do Ensino acabou com a área das Humanas. E todas as nossas programações eram no sentido de resgatar e con-seguir mais espaço para o ensino de História no 1º e 2º graus (atuais ensinos fundamental e médio). A rebeldia dos profissionais de História também era por ter que dar aula de Geografia; Moral e Cívica e OSPB, da forma como era imposta. Então, na nossa luta, estava aquela crítica contra a Reforma do Ensino que desvalorizou a História como ensino, e como uma área muito importante para os profissionais que procu-ravam a ANPUH. Nesse sentido, acho que a ANPUH sempre teve uma posição muito firme e clara. Era uma bandeira nossa naquela época. Daí a própria importância de fazer Jornadas de Ensino, que tinham essa preocupação. “O que nós podemos fazer?” Bom, inicialmente, fo-mos discutir e identificar a nossa realidade, para encaminhar, enfim, a possibilidade de valorização do professor e do profissional de História. Era por aí que definíamos nossas ações.

Num primeiro momento, não se tinha a Comissão de Ensino, formalmente. Nós trabalhávamos com os membros do Conselho Con-sultivo. Uns se dedicavam mais ao ensino, outros se dedicavam mais a outras tarefas. A gente convocava os conselheiros para isso. Aí foi for-mada uma comissão para fazer a Jornada de Ensino, aquela de 1987. A data eu descobri: foi em 21 de outubro de 1987. Eu atuava em dois lados. Quando se fez o relatório do projeto GTL – Grupo de Trabalho das Licenciaturas, em 1988, da PROGRAD da UFRGS, eu juntei essa programação aqui na Jornada, com o relatório, porque esse projeto foi

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GT ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO - ANPUH/RS 15

discutido na Jornada de História. Ela foi resultado da Comissão de Ensino. Assim, foi realizada a Primeira Jornada de Debates sobre o Ensino de História. Mas houve, como disse, um encontro anterior sobre a questão de ensino, que nós fizemos em 1984. Foi quando veio a Elza Nadai, e o evento foi no Instituto de Educação. O alvo, naquela altura, também foi articular a universidade com o ensino de 1º e 2º graus. Esse foi o tom da nossa ANPUH Regional, desde o início, porque nós queríamos realmente que a Associação deixasse, como destaquei, de ser só de professores universitários. Essa Jornada, então, foi o resulta-do daquele primeiro encontro que não teve o nome de primeiro. Havia uma preocupação em torno de um tema. Qual seria o tema para fazer o Encontro Regional de História que pudesse agregar as pessoas? Aí chegamos à conclusão de que seria o ensino, e assim foi feito.

Sobre os primeiros tempos da nossa Associação, digo, com con-vicção, que a problemática do ensino de História foi a mola propulsora da ANPUH aqui do Rio Grande do Sul. Através da ANPUH, via-se o cam-po do profissional da História, na condição de professor. A ANPUH, na-quela época, se preocupou com o professor de História, e não só com o pesquisador, embora também trabalhasse com a profissionalização do historiador. Mas o campo do ensino era o campo profissional do profes-sor de História, do licenciado na área. E a área era vista dessa forma: a História vista para a construção de um cidadão consciente. Quer dizer, o ensino de História serve para a conscientização do cidadão.

Essa foi uma história muito bonita...

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MEMÓRIAS 20 anos16

Por Alessandra Gasparotto

20 ANOS DO GT ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO:HISTÓRIAS DE PROCURA E BONITEZA

Ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.

Paulo Freire

Foi numa tarde de agosto de 2006. Numa das mesas-redondas da XII Jornada de Ensino de História e Educação: questões etnorra-ciais e exclusão-inclusão social, eu assistia a um debate sobre diversi-dade etnorracial e ensino de História. Na mesa, uma das palestrantes era a professora Berenice Corsetti, que, em algum momento de sua fala, historicizou a implementação de políticas afirmativas no Brasil, problematizando suas vinculações com projetos elaborados por orga-nismos internacionais como o FMI e o Banco Mundial. Ao final das falas, no “momento das perguntas”, surgiram vários questionamentos. Lembro que, da platéia, sob uma perspectiva diferente, a professora Maria Aparecida Bergamaschi, a Cida, enfatizava a necessidade dessas políticas, especialmente a de cotas para o ingresso no ensino superior. Não consigo lembrar com precisão os argumentos e o enredo do debate, mas guardo tal imagem até hoje; talvez pela diferença entre os pontos de vista, talvez pela qualidade das intervenções ou pela paixão que ambas revelavam sobre aquele tema tão complexo e sobre o qual não havia respostas fáceis.

Essa é uma das tantas memórias que guardo de nossos encon-tros nas Jornadas de Ensino e nos demais espaços de debate oportu-

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GT ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO - ANPUH/RS 17

nizados pelo GT Ensino de História e Educação da ANPUH/RS, que foram tão importantes em minha trajetória docente.

Faço parte de uma geração de licenciados(as) em História que, ao longo de sua formação, encontrou poucos espaços para as discussões sobre a sala de aula. A própria carga horária reservada às disciplinas pedagógicas e de prática de ensino era menor do que é hoje. Essas disciplinas eram, por vezes, olhadas com desconfiança e preconceito de nossa parte. Não havia grandes projetos de iniciação à docência, e a oferta de seminários ou cursos de formação continuada era exígua.

Ainda assim, muitos de nós tínhamos muita vontade de conver-sar e aprender mais sobre o universo da sala de aula. Foi assim que, em 2004, terminei a graduação: entusiasmada, cheia de convicções e certezas. Foi um encontro com uma turma de 5ª série do Ensino Fundamental, no ano seguinte, que me colocou em meu devido lugar: o entusiasmo se misturou com medos e insegurança; as certezas não estavam tão certas assim. Era minha primeira experiência como pro-fessora de História: lá estava eu, diante de uma turma de aproximada-mente 30 crianças, uma escola com um projeto pedagógico alternativo, currículo inovador e uma imensidão de possibilidades, inclusive de um desastre [risos].

Para minha sorte, o final de minha história com essa turma foi feliz. E foi ali, naquele “lugar” de professora iniciante, que percebi a ne-cessidade de partilhar as experiências da docência e problematizá-las. Levada pelo Prof. Enrique Padrós, um constante incentivador de nosso envolvimento com as questões da sala de aula, comecei a participar das reuniões do GT e a oferecer, com ele e outras colegas (Ananda, Caro-line, Graciene e Marla), nas Jornadas de Ensino de História e Educa-ção, oficinas voltadas a discutir sobre o ensino da ditadura civil-militar brasileira e direitos humanos. Desde então, todos os anos oferecemos tais oficinas, que são “sucesso de público”, especialmente devido ao trabalho e carisma do Enrique.

O GT se constitui, para mim, neste espaço que faltava: espaço de escuta, aprendizado, horizonte, afeto. Desde que comecei a participar do grupo, segui trabalhando na área: primeiro em escolas de ensino fundamental e médio, depois como professora do ensino superior, mi-nistrando disciplinas vinculadas ao ensino de História e ao estágio su-pervisionado. Nessas disciplinas, que me permitem acompanhar pro-

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MEMÓRIAS 20 anos18

fessores(as) em formação em seu primeiro contato com a sala de aula, percebo cada vez mais a importância que as questões que envolvem o ensino e a escola têm nos cursos de Licenciatura. Ao partilhar com os(as) estagiários(as) suas alegrias, dúvidas e “crises”, ao aprender com sua criatividade, quando erram ou acertam em cheio, é impossível não se afetar com os dilemas que arrebatam todos(as) os(as) que se aventu-ram na tarefa de ensinar na educação básica.

São tantas as dúvidas e as urgências de um(a) professor(a) brasi-leiro(a) neste início de século XXI: da falta de estrutura das escolas aos baixos salários; dos desafios que as novas tecnologias da comunicação e da informação nos impõem às novas percepções sobre as diferenças e a desigualdade; do desprestígio da profissão ao sentimento de soli-dão e impotência no qual tantas vezes nos descobrimos imersos; das dificuldades de aprendizagem às dificuldades de relacionar-se com o(a) outro(a); da violência nas escolas à necessidade de decifrar as dife-rentes culturas juvenis que tem-se forjado (de forma tão assustadora-mente rápida); das hierarquias e espaços de poder que se cristalizam nos espaços escolares (e que, tantas vezes, engessam o trabalho e a criatividade de professores e estudantes) à falta de momentos e tempo de formação e construção coletiva. Assim, é essencial pensar sobre tais questões, ouvir professores(as) e pesquisadores(as) que se debruçam sobre as mesmas, encontrar colegas e dialogar com quem tem partilha-do esses desafios, conhecer o que tem sido realizado nas escolas (e tan-tas coisas lindas têm sido realizadas!), discutir sobre as políticas públi-cas vinculadas à educação e como elas se refletem em nosso trabalho.

A sala de aula, suas transformações e desafios − e a premência de pensar sobre os mesmos (sem receitas ou milagres) − é o que, para mim, dá sentido a esse GT e o torna tão necessário. Talvez isso explique sua longevidade: cá está ele, vinte anos de atuação. Eu, que sou tribu-tária dessa história, não posso encerrar este texto senão agradecendo aos seus protagonistas. Minha gratidão aos professores que deram iní-cio a esse trabalho, permaneceram juntos, construíram o GT. Gratidão aos que, como eu, chegaram depois e têm partilhado dessa construção. Aos que virão: bem-vindos, ainda há muito por fazer...

Que possamos seguir juntos, com alegria e boniteza, nas nossas procuras e caminhos.

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GT ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO - ANPUH/RS 19

Por Carla Beatriz Meinerz

ESTILHAÇOS DE MEMÓRIA SOBRE O GT ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO DA ANPUH/RS: MILITÂNCIAS E INQUIETAÇÕES DE PROFESSORA

Temos, todos que vivemos,Uma vida que é vivida

E outra vida que é pensada,E a única vida que temos

É essa que é divididaEntre a verdadeira e a errada.

Qual porém é a verdadeiraE qual errada, ninguém

Nos saberá explicar;E vivemos de maneira

Que a vida que a gente temÉ a que tem que pensar.

Fernando Pessoa

Quem de nós, instigados a escrever um depoimento sobre as me-mórias do GT Ensino de História e Educação da ANPUH/RS, não ficou um tempo considerando uma certa mistura de sentimentos e pensa-mentos expressos em lembranças pessoais e grupais? Como selecio-nar? O que registrar? Comigo foi assim: por um lado, a vontade de es-crever sobre o quanto de afinidade tenho nesse coletivo e em suas ações e, por outro lado, a tentativa de eleger episódios que contribuam para a memória grupal, uma história ainda por escrever. Nesse processo de construir uma pequena narrativa, parece que dois estilhaços de memó-ria sobressaíram-se sobre outros, e é sobre eles que vou tratar a seguir.

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MEMÓRIAS 20 anos20

ESTILHAÇO DE MEMÓRIA 1: uma roda de gente sentada no espaço senzala do Museu Joaquim José Felizardo, em Porto Alegre, e a possibilidade de uma nova militância

Quando penso no nosso GT de Ensino, termo que usualmente

empregamos, sinto esse espaço de encontro, de desejo de troca, im-pulsionado pela necessidade de dividir experiências que fazemos como professores. Igualmente lembro cenas em que de fato vivi essas possi-bilidades de escuta, diálogo, conflito construtivo, mas também de en-frentamento de minha própria timidez, assim como das dificuldades e inseguranças para expor inquietações e situações do meu cotidiano de práticas pedagógicas.

A vontade de estudar História para ensinar História, na minha trajetória, nasceu da militância política em grupos de jovens vincula-dos à teologia da libertação e, na sequência, em núcleos de base do Partido dos Trabalhadores. Comecei a licenciatura em 1987, na UFR-GS, e minhas primeiras experiências como professora da Educação Bá-sica foram em escolas particulares, no início dos anos 1990. Em 1996, reencontrei meu orientador de estágio docente, o Professor Fernando Seffner, numa atividade de formação na escola onde eu estava traba-lhando. Foi ali que surgiu o convite para participar do GT. Lembro-me de chegar numa reunião em que estava um grupo sentado na forma de roda, no espaço senzala do Museu José Joaquim Felizardo, e de sentir que aquele coletivo poderia possibilitar uma nova militância em mi-nha vida. Eram, na sua maioria, professores universitários, e estavam engajados na preparação da III Jornada de Ensino de História, que aconteceria em maio de 1997, na UNISINOS, em São Leopoldo. O tema dessa Jornada, que foi a primeira de que participei, era formado por perguntas que faziam muito sentido para mim: “Qual História? Qual Cidadania?”. Segui como professora de Educação Básica engajada no GT, e, ao mesmo tempo, comecei meus estudos de mestrado no campo da Educação, especificamente pensando a construção do conhecimen-to histórico realizada por estudantes nos anos finais do ensino funda-mental. Lembro de querer que meus alunos aprendessem criticamente a História. Nesse processo, projetei no GT o sentido de pertencimento a um grupo cuja afinidade era o vínculo entre a História e a Educação, tendo nas jornadas anuais espaços para expressar e pensar minhas

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práticas pedagógicas e minhas inquietações de educadora. A Jornada de 2001, em Passo Fundo, com o tema “História: Qual ensino? Qual conhecimento?”, foi outro momento marcado por lembranças, como tratarei a seguir.

ESTILHAÇO DE MEMÓRIA 2: uma plateia e um microfone em algum auditório da Universidade de Passo Fundo

Em 2000 comecei a trabalhar numa escola municipal, em região de extrema pobreza, da cidade de Porto Alegre e paralelamente fui mo-rar numa zona rural da região metropolitana, além de começar a lecio-nar em instituições particulares de educação superior. As militâncias de outrora, inclusive o GT, começaram a ganhar um espaço menor em meu cotidiano. Porém, as inquietações de professora só fizeram cres-cer. Eu não me lembro de sofrer tanto porque os alunos pareciam não aprender História, leitura e escrita, mas penava muito com suas traje-tórias sociais marcadas pela vulnerabilidade social. Foi uma reviravolta de sentimentos e pensamentos que não encontraram, ao menos por um tempo, lugar para debate em coletivo que não fosse o dos colegas próximos da escola, aqueles que viviam comigo as afinidades desse cotidiano escolar. Recordo que, naquela jornada de 2001, em Passo Fundo, levei comigo o livro de minha dissertação, mas ele mesmo já não respondia minhas inquietações do momento. Eu tinha o coração e a mente estilhaçados pelas histórias dos meus alunos, empobrecidos, distanciados da formalidade do conhecimento, seja ele acadêmico, seja escolar. É nesse turbilhão de lembranças que se sobressaltam conver-sas de então com a Professora Maria Aparecida Bergamaschi (Cida) do GT, em que tentava contar os meus descompassos, e recebia seu incen-tivo para tornar isso uma proposta de tema para um próximo encontro. A Cida dizia: “Quem sabe tu propõe algo nesse sentido...” No final da jornada, havia um momento em que se projetava o próximo encontro, a escolha da sede e do provável tema. Lembro que me custou pegar aquele microfone e dizer as minhas angústias, ainda pouco formuladas e experimentadas na relação com os jovens da periferia urbana. Mas venci a timidez, peguei o microfone diante daquele auditório e propus algo como “Ensino de História e classes populares”. Não foi o tema da jornada do ano seguinte; porém, foi o início de um amadurecimento

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pessoal na busca por estudos que ampliassem a compreensão de mi-nhas práticas como professora, a partir de referenciais da sociologia e da antropologia. O tempo passou, retornei à militância no GT a partir de 2010, ano em que assumi uma nova função como professora da Faculdade de Educação da UFRGS, formando um grupo com quem aprendo e partilho muito nos dias de hoje: a área de ensino de História do Departamento de Ensino e Currículo. A jornada de 2010 foi na Fee-vale, em Novo Hamburgo, e propus um bate-papo intitulado “Tem aula de História hoje? Jovens, periferia e ensino de História”. Desde então, estou auxiliando na coordenação do GT − como professora e com mi-nhas inquietações −, grata por ter um grupo de afinidades para pensar sobre as mesmas e projetar novas trajetórias e sonhos, pois “de toda la memoria, sólo vale el don preclaro de evocar los sueños” (MACHADO, 2000).

Que muitas novas histórias, memórias e sonhos se desenvolvam nos próximos anos em nosso GT!

REFERÊNCIAS

MACHADO, Antonio. Poesia. Barcelona: Vicens Vives, 2000.PESSOA, Fernando. Poemas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

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Por Dália Tavares Leindecker

UMA EXPERIÊNCIA DE EDUCAÇÃO ATRAVÉS DO

GT ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO DA ANPUH/RS

(1996 A 2001)

No dia 24 de agosto de 1954, em uma sala de aula do Colégio Nossa Senhora do Monte Calvário, na Av. do Contorno, em Belo Ho-rizonte, capital mineira, uma turma de alunas da segunda série do ginásio comemorava alegremente a morte do Presidente Getúlio Var-gas, ocorrida naquele dia. Em uma época de matinês nas quais se via predominantemente lutas entre bandidos e “mocinhos” nos filmes sobre a conquista do Oeste americano, aquela história protagonizada por Getúlio e Carlos Lacerda não passava de mais um desses filmes. Como seguíamos o discurso de Carlos Lacerda através da Tribuna da Imprensa, nós estávamos convencidas de que o bandido era Getúlio, e por isso merecia morrer.

Quando a Madre Superiora ouviu aquela algazarra, entrou sala de aula a dentro e nos passou um grande sermão. Nós ficamos sem entender nada.

Pois bem, nós matamos Getúlio!!! Afinal ouvíamos dizer que seu governo era um mar de lama, que havia tentado matar o Lacerda e acertado o Major Vaz, da Aeronáutica. Mas isso não era coisa de ban-dido? Para “mocinho” é que ele não servia.

Anos depois, morando no Rio Grande do Sul desde 1959, partici-pei, como professora de História do curso de Licenciatura em História na Faculdade Cenecista de Osório, do Grupo de Trabalho Ensino de História e Educação da ANPUH/RS, nos anos de 1996 a 2001. Reali-zando um trabalho de reflexão sobre o papel do Ensino e da História

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nas escolas de ensino fundamental, pude reavaliar aquele acontecido. Afinal, o que sabíamos daquele momento brasileiro? Estávamos foca-dos em outros conteúdos, e a vida real não entrava no Currículo.

Aquela escola parecia estar fora do mundo, não nos havia dado nenhum conhecimento de nossa história e nem do papel dos meios de comunicação existentes naquele momento histórico. Fica muito evi-dente o divórcio entre a realidade vivida e o currículo escolar praticado na escola. Nas pesquisas do primeiro livro publicado com os trabalhos do grupo apresentados na II e III Jornadas de Ensino de História, de 1996 e 1997, pudemos constatar o despreparo de professores sobre teorias da História e da Educação e mesmo relacionados aos conteúdos de História. Constatava-se nas pesquisas com professores uma grande lacuna entre as discussões acadêmicas e a prática dos profissionais de História nas escolas de ensino público do ensino fundamental.

Recentemente, em viagem à cidade de Santa Maria, pude cons-tatar o sentimento de tristeza de vários moradores, principalmente os mais velhos, diante da situação de abandono em que se encontra a antiga Estação Férrea da cidade. Inúmeras famílias tiveram pessoas que trabalharam ali ou em outras funções ligadas à Ferrovia. Ali estava um dos mais importantes centros ferroviários do Estado. Fiquei me perguntando pelos profissionais de Educação e de História que nada fazem para evitar a perda de tão importante patrimônio Cultural gaú-cho. O que pensam os integrantes dos cursos superiores de História da cidade? Acabamos de ver surgir grandes estádios de futebol num abrir e fechar de olhos para atender a Copa Mundial de Futebol. Seria a falta de consciência histórica da população? Será a falta de cidadania? Não podemos imaginar que só o prefeito seja responsável pela cidade. Pude constatar a revitalização da “Vila Belga”, espaço onde habitaram os funcionários belgas da mesma ferrovia, por iniciativa do último pre-feito. Mas esses cuidados devem ser da população toda no exercício de sua cidadania. Estão deixando morrer a memória da cidade. A cidade está perdendo sua alma. A nossa História está perdendo sua matéria--prima.

Participei como representante da FACOS, de Osório-RS, do GT Ensino de História e Educação da ANPUH/RS, de 1996 a 2001. Aquele grupo se dedicou, naqueles anos, à construção de uma relação mais próxima entre a Academia e as Escolas Públicas do Estado. Nessa di-

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reção, foram realizados importantes Seminários, na UNISINOS, de São Leopoldo; na UNIVATES, de Lajeado; na Unijuí, de Ijuí; e em Santa Cruz, na UNISC.

Os temas tratados focavam o papel da História na Educação num momento de grande transformação política do mundo Ocidental, o avanço do Liberalismo após o término da experiência socialista na União Soviética e no Leste Europeu. Diante do fim da Guerra Fria, a globalização capitalista parecia ter chegado ao Fim da História. Era hora de refletir sobre Qual História, Qual Ensino e Qual cidadania. No Brasil, a abertura democrática criou espaço para a análise do que havia sido o período de exceção e tratar de identificar as importantes sequelas deixadas pela Educação voltada para a questão da Segurança Nacional e o desenvolvimento econômico. Há um deslocamento do pas-sado e passamos a levitar num presente absoluto de novas tecnologias. Perdemos, por outro lado, o caminho das certezas das teorias até então tidas como libertadoras, mas que, na prática, não deram os resultados esperados de libertação das estruturas opressivas. Além desses novos cenários, vimos, de um momento para outro, os saberes antigos serem superados pela revolução trazida pela Informática e deixarem toda uma geração perplexa diante da competência das novas gerações para esses domínios. Vimos a velha geração perder sua autoridade perante os jo-vens de um dia para o outro. Passamos a viver uma profunda crise da civilização.

O segundo livro, de 2000, realizado a partir dos trabalhos apre-sentados na V Jornada de Ensino de História e Educação na Univer-sidade de Santa Cruz do Sul – UNISC, teve como foco a Globalização e o discurso do “Pensamento único” e Neoliberalismo em relação à con-vivência com a memória. Tentamos, naquele momento, identificar o cenário e traçar caminhos na busca de um novo norte para a ação educativa, através do conhecimento da História. A grande dificuldade era alcançar o público o qual essas reflexões contemplavam. Poucas escolas e poucas pessoas tomaram conhecimento desses esforços.

Atualmente não estou a par das atividades do GT Ensino de His-tória e Educação da ANPUH/RS, mas o que escuto de queixas, tanto de alunos como de professores, é que ainda não conseguimos estabelecer novos modos de tratar tanto a Educação como a História de forma a contribuir para a construção dessa nova cidadania neste contexto his-

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tórico atual, de maneira que nos conduza a uma sociedade democrá-tica em que a memória seja valorizada e a cidadania seja fortalecida. Só assim poderemos compreender a necessidade de políticas públicas que buscam corrigir as injustiças e a exclusão de parte importante do nosso povo, e que a nossa prática cotidiana se aproxime cada vez mais das leis que hoje garantem igualdade e respeito às diferenças.

Avançamos muito na aprovação de leis fundamentais para a garantia dos Direitos Humanos e até dos animais. Estamos mais civi-lizados no que diz respeito á legislação, o que é ótimo. Porém, estamos longe de praticarmos estas leis.

Em minha avaliação, continua faltando-nos consciência histó-rica. O trabalho de construção dessa consciência deve ser contínuo e permanente. O dinamismo que caracteriza o processo histórico exige um trabalho constante de reflexão das condições históricas e das so-ciedades nelas contidas. Se não houver esse cuidado, essa atenção às constantes mudanças e ao surgimento de novas necessidades, repeti-remos os erros do passado. Outras gerações matarão outros Getúlios e perderemos, por certo, as oportunidades de dar o melhor voto e eleger a melhor alternativa para garantir uma cidadania plena, no presente e para o futuro. Precisamos fazer planos e metas de maior duração para a Educação e para outros setores da vida em sociedade. E nessa tarefa a História pode ser um ótimo instrumento. O trabalho dos GTs Ensino de História e Educação continua necessário para a construção da cida-dania nos dias de hoje, e certamente no amanhã.

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Por Enrique Serra Padrós

GT ENSINO DE HISTÓRIA: 20 ANOS SEMEANDO

CONSCIÊNCIA E SOCIALIZANDO EXPERIÊNCIAS

Quixotesco. Talvez pareça estranho, mas essa expressão, no seu sentido mais humano, ajuda a compreender o esforço incessante de dezenas de colegas dando voz, forma e substância ao nosso querido GT Ensino de História e Educação. Muito trabalho, seriedade, relações valiosas, propostas instigantes e voluntarismo abnegado constituem o fundamento de uma experiência carregada de muitos afetos, aprendi-zados, tolerância, semeaduras e posturas concretas diante de desafios coetâneos. Aliás, nesse sentido, o GT é um coletivo que sempre procura estar em sintonia com o Tempo Presente, o qual, muito mais do que objeto de estudo, se constitui na dimensão da sua intervenção social por excelência.

Muitas são as marcas da longa caminhada, começando pelas Jornadas anuais e itinerantes que circulam por todo o Rio Grande do Sul e conectam, ouvem, conhecem e abrem espaço para novos interlo-cutores, mediante participação horizontal; Jornadas que ciclicamente se reinventam e adéquam às condições da região e dos parceiros en-volvidos, mas sempre mantendo um alto padrão de qualidade. Inega-velmente, são eventos acolhedores de inquietações, disseminadores de práticas pedagógicas, fomentadores de discussões e reflexões, proble-matizadores de situações e potencializadores de novos docentes.

Na sua longa e expressiva experiência, o coletivo assumiu características muito próprias, constitutivas do seu DNA e que per-sistem no tempo, como sinal de identidade. Assim, destaco algumas delas, pautado por estrita opção pessoal: 1) a constituição de um espa-

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ço aberto e acolhedor, com vínculos de fraternal pertencimento, onde egos, estrelismos e projetos pessoais se subordinam ante uma sau-dável e respeitosa convivência; 2) uma constante preocupação com a democratização da participação no GT e nas Jornadas, minimizando os entraves regimentais da entidade-mãe ou econômicos, estimulando persistentemente a participação ativa de graduandos de Licenciaturas de História e professores da rede escolar − em última instância, a sua própria razão de ser; 3) uma militância concreta vinculada a tudo que diz respeito ao ensino de História, que transpira pelos poros do GT e que não se restringe à apresentação de produtos formais (eventos e livros), mas está presente nas relações orgânicas que lhe dão suporte e garantem sua existência e continuidade. Trata-se de uma militância que extrapola questões político-pedagógicas e não refuga diante de re-lações de poder, intolerância ou políticas estatais para o ensino, etc.

São muitas as lembranças memoráveis das Jornadas. Um con-junto de belas recordações se relaciona com algo completamente se-cundário aos encontros: os deslocamentos de carro até as cidades hos-pedeiras, com grupos de alunos. Tentando ajudar alunos que viviam fase chinelona, oferecia carona, carregando-os como verdadeiras malas humanas (e que malas!!! Rodrigo Weimer, Valeska, Marisa, Zé Ernesto, Gabriela, Eliana, Carol, Quinsani e tantos outros). Às vezes, formáva-mos pequenos comboios com o Sergião Cunha, o Gersão Fraga, os guris da Folha e o povo da pré-história. Transportar esses seres “quase hu-manos” pelas ruas de cidades desconhecidas se constituiu em motivo de envelhecimento precoce. São muitas as uruguayadas acumuladas – na época usávamos outra expressão, até que um dia a Cida, nossa companheirona, nos convenceu pedagogicamente (e de machadinha na mão) como éramos politicamente (e absurdamente) incorretos. Dessas situações há quem lembre, embora eu negue que isso tenha ocorrido, certa dificuldade do motorista oriental em acertar a saída de uma mal-dita rótula que alguém mandou construir no meio da rua que levava do hotel à UNISC, em Santa Cruz do Sul. Oito vezes passei por aquela miserável rótula em uma semana... nunca acertei a saída!!! Pior, houve ocasião em que cheguei a fazer três ou quatro tentativas seguidas... er-

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rando todas! Da última vez, enquanto os caroneiros debochados − Ga-briela, Zé Ernesto, Weimer, Marisa e Valeska – se contorciam de tanto gargalhar duas quadras antes de me aproximar do meu ”triângulo das Bermudas”, acabamos girando no peculiar círculo ininterruptamente durante uns cinco minutos, até que um dos acompanhantes teve dó do motorista e ajudou com um mapa da cidade que devia ser do tempo da Regência!

Outro fato curioso aconteceu na volta de uma jornada na UNI-VATES (Lajeado). Naquele ano, a Comissão da Jornada convidou para uma mesa sobre Globalização, Pensamento Único e Ensino, o inclo-nável professor Luiz Dario Teixeira Ribeiro – popular Doutor Teixeira Ribeiro na academia, e Dadá Maravilha na banca do Mauro. Sabedores de que carregaria tão ilustre caroneiro, o banco traseiro do meu carro foi alvo de forte disputa, com formação de várias listas de espera na expectativa de alguma desistência. Após o evento, a viagem de volta foi marcada por constante bullying contra o esforçado condutor; o copiloto gabrielense não parou um segundo de questionar o pouco conheci-mento rodoviário e a técnica de condução do primeiro, contando com a cúmplice aprovação do bando de bajuladoras que não parava de caca-rejar no banco traseiro − Valeska, Zé Ernesto e Gabriela. Constrangido, o motorista decidiu acatar as indicações do GPS humano sentado ao seu lado. Ao chegar ao entroncamento da Tabaí-Canoas com a BR 116, estressado com as conversas inúteis e comentários irônicos do plati-nado guru e o puxa-saquismo primitivo e fundamentalista, o motorista pediu ajuda diante de uma placa que apontava várias opções: a BR, a avenida lateral ou a rua interna ao lado do metrô. A resposta veio rápi-da, segura, com a profundidade das palavras de um griot, com a certeza de quem leu centenas de bulas de remédio, com a sabedoria ancestral produto de anos de acúmulo de leitura de todos os manuais trotskistas, leninistas e situacionistas: “Vira à direita.” E, sem questionar tamanha autoridade, virei à direita. Após segundos de perplexidade e estupor, os puxa-sacos e eu procuramos entender onde estávamos: a nossa frente, nada de BR, rodovia secundária, via vicinal, freeway, avenida, rua de paralelepípedos, ruela, caminho de chão batido, uma prosaica calle, Corrientes 348 ou uma rota de tropeiros. Nada disso! Consternados, motorista e puxa-sacos de plantão comprovamos o conhecimento cien-tífico e enciclopédico do monumental profeta!!! “Vira à direita.” − disse

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o grande timoneiro e porta-voz das luzes... e, quando nos demos conta, estávamos no meio de um agitado estacionamento de supermercado de Canoas, comprimidos entre carrinhos de compras, automóveis estacio-nados e senhoras e senhores de média idade carregando suas sacolas de mantimentos: @#$%$#@”!!!!!! [Grande Dario, tão grande professor quanto inútil copiloto!!!].

Sendo um GT de marcadas características femininas, quero ho-menagear a todas as colegas que dele fizeram e fazem parte na pessoa de três companheiras que, de certa forma, são emblemáticas do que tem sido esse coletivo e a minha relação com ele. Por essa preferência me desculpo, de antemão, do Nilton, Paulo, Fernando, Baldissera, Ger-son, Marcos, Luiz Guilherme, Sérgio e demais companheiros.

Em primeiro lugar, cito a Véra Barroso, grande amiga e admira-da profissional. Pelas suas mãos, ingressei no GT, quando da retoma-da da existência do mesmo, em meados dos anos 1990, no encontro sediado no Instituto de Educação. Nesse momento, conhecia a Véra de atividades de extensão e docência que, com certa regularidade, de-senvolvia na FAPA. Companheira de rota, Véra foi e continua sendo referência permanente. Sua enorme capacidade de trabalho, as incan-sáveis iniciativas e a defesa contundente das suas opções são motivo de respeito e estímulo permanente. Embora o GT sempre tenha tido um perfil coletivo, guardo singular recordação de uma Jornada FAPA-UFR-GS e da posterior organização do livro resultante, com Cida, Berenice e Gabriela. De certa forma, a Véra me fisgou e cooptou para o GT, não dando a mínima bola para meus argumentos contrários pelo fato de não trabalhar formalmente com ensino de História. Com ela aprendi o significado de fazer com seriedade e qualidade “mil tarefas simultâne-as” e o não ter medo de assumir engajamentos ou externar posições. Sou grato a ela pelo exemplo de dedicação permanente, por todas as palavras generosas e solidárias e por tantas e tantas lições. Sem dú-vida, a Véra guerreira, fundadora do GT, de tantas lutas pelo ensino, pelo patrimônio histórico, pela FAPA, pela Santa Casa, pela ANPUH, pelo Projeto Raízes e por sei lá quantas outras coisas mais, é, e sempre

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será, uma das pessoas imprescindíveis das quais tanto falava Bertold Brecht.

Em segundo lugar, lembro-me da pequena e querida Gabriela, uma dessas pessoas diante das quais não se é indiferente. Destacada entre aqueles da sua geração, fez do magistério verdadeira profissão de fé. Jornada após jornada, foi adquirindo certeza da opção realizada; a escola pública acabou na sua mira. Questionando quase tudo, des-concertando com seus sólidos argumentos, incomodando com a sua veemência, pentelhando os pós-modernos e antimarxistas, Gabriela foi construindo uma sólida trajetória rumo a uma docência por excelên-cia. Desdenhou uma carreira acadêmica que certamente teria realizado com brilhantismo, bem como optou por não lecionar em instituições privadas. No GT e nas Jornadas, durante o tempo que dele participou, se destacou pela sua juventude, pelo vigor e empenho nas tarefas, pela proposição de novas formas de discussão (caso dos populares “Bate--papos”). Com seu brado de guerra Pelo amor de Marx! e um enorme compromisso político no seu fazer, Gabriela se transformou, há mui-to tempo, em professora excepcional, que incomoda, que cativa, que emociona, que briga pelos seus alunos e que forma professores. Ain-da muito jovem, criou escola entre muitos ex-alunos, hoje brilhantes professores e pesquisadores na área da História, casos de Graciene e Marla. Compartilho com ela a paixão pela sala de aula e o tesão pela história contemporânea, história imediata e pelo tempo presente; tenho orgulho de ter sido seu coautor em vários textos, particularmente sobre o ensino de História. E temos paixões compartidas: Mafalda, Montevi-déu, a grande Mercedes, o Chico, Galeano e Saramago. Com certeza, guardamos na gaveta dos recuerdos, com enorme saudade, incontáveis histórias. Essa é a Gabriela, a pequena rebelde de muitas e muitas uruguayadas, a Gabriela de gargalhada estrondosa, a Gabriela mere-cedora de muitas frases daquele 68 libertário das quais sempre escolho a que sintetizou e sintetiza meu enorme carinho por ela: Ah, as jovens vermelhas... cada vez mais bonitas.

Finalmente, seguindo uma diretriz cronológica, saliento a pre-sença de Alessandra Gasparotto. Desde bem guria, no curso, já era perceptível seu enorme potencial para o exercício da função de edu-cadora. Alessandra sempre mostrou, além de qualidades inatas para pensar e atuar na área do ensino, enorme facilidade para o trabalho em

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grupo, sem pretender protagonismo, com uma vitalidade e predisposi-ção de causar inveja. Nos últimos anos, o GT tem sido um cenário onde Alessandra se move com total desenvoltura; só a sua presença já é ca-paz de transmitir altíssimo astral. A gentileza com que se relaciona com o mundo é qualidade inerente, e a capacidade de resolver problemas é um dos seus maiores aportes ao coletivo. Sabendo que seu sorriso generoso é a expressão dos seus mais autênticos sentimentos, é fácil afirmar que conviver com ela é um presente dos deuses. E tudo isso não basta; falta lembrar ainda a dimensão militante da sua atuação e a eterna solidariedade com toda causa justa. Muito me orgulho de tantas parcerias conjuntas, denunciando impunidade, exigindo abertura de arquivos, cobrando ações concretas das comissões da verdade, ma-nifestando indignação contra a desmemoria e o terrorismo de Estado. Tudo isso está presente no que fazemos no âmbito do GT, nas nossas clássicas Oficinas de Ensino e Ditadura (sozinhos ou com outras par-cerias), nos textos escritos a quatro mãos (e as duas da Marlita), nas conversas intermináveis com alunos, ex-alunos, futuro alunos, alunos de outros, não alunos, futuros ex-alunos, etc. E, acima de tudo, tam-bém com ela compartilho esse querer vivenciar a sala de aula, o gostar do que fazemos, a boniteza de ver nossos alunos crescendo, acontecen-do, voando... Alessandra é o nome desta sora, sim, a Sana dos amigos, a amiga e companheirona que todos queremos e precisamos ter por perto... a amiga que nunca falha! Tomara que, quando cresça possa ser metade do que ela é. [Orgulhoso da minha primeira e inesquecível doutoranda.]

Fica aqui esta singela homenagem a todas as companheiras e a todos os companheiros de rota, com a alegria de fazer parte dessa história e de saber estar muito bem acompanhado. Sinto, tantos anos depois, que, desde que entrei no GT, ficou muito mais fácil e divertido viver a docência. Um GT construído como coletivo onde se combinam, com a mesma intensidade e consequência, posturas políticas, sensibi-lidades, afetos e ativismo. Sou imensamente grato por ser acolhido e acarinhado por esse coletivo e fazer parte dessa história. É uma HON-RA que, felizmente, Lattes algum consegue mensurar.

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Por Fernando Seffner

OS VENTOS, O LEME E A DIREÇÃO DA TRAJETÓRIA: LEMBRANÇAS ACERCA DO COMEÇO DA ARTICULAÇÃO

DOS PROFESSORES DE HISTÓRIA JUNTO À ANPUH/RS

No início não era exatamente o caos, mas havia muita dispersão, como se fosse o resultado de um vento que soprasse para todos os lados, levando cada um por diferentes caminhos, com poucas possi-bilidades de bons encontros. Ou seja, havia poucos afetos, e, se havia poucos afetos, havia poucas possibilidades de cada um afetar e ser afetado pelos demais. Eu comecei a lecionar em 1979, em escolas da rede privada em Porto Alegre. Era professor em disciplinas de ensino religioso, cidadania, projetos políticos e Geografia. Eu ainda cursava Geologia na UFRGS, mas era militante, e esta foi a principal razão de ser contratado pelas escolas: eu era um jovem “engajado” politica-mente. Vivia-se um clima de abertura, e diversas escolas particulares católicas apostavam em um ensino que dialogava com os valores da teologia da libertação. Eu sempre gostei de História, e, quando come-cei minha carreira de professor, logo percebi que essa disciplina podia ajudar a “fazer a revolução”, como se dizia e como eu acreditava. Em 1983 comecei a cursar disciplinas do curso de História na UFRGS, mas ainda era aluno de outro curso. Em 1984, por transferência, me tornei aluno do curso de História. Nesse mesmo ano comecei minha carrei-ra de professor de História, com um contrato de emergência em uma escola estadual em Cachoeirinha, lá nos fundos da Vila Fátima, em um loteamento que começava a ser conhecido pelo nome de Vila Nova Cachoeirinha. A escola não tinha nome de ninguém. Seu nome oficial

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era este mesmo, Escola Estadual da Vila Nova Cachoeirinha. Depois de alguns anos, foi batizada com o nome de um político da ARENA. Os ventos da redemocratização, mais a militância católica, haviam em-purrado eu e um grupo a viver e militar nesta mesma Vila Fátima, pois a gente identificava que ali era o solo da revolução, um lugar em que os homens eram trabalhadores metalúrgicos, e as mulheres, operárias da indústria têxtil. Eu nem sonhava em ser professor universitário, e muito menos em ser docente do Programa de Pós-Graduação em Edu-cação da UFRGS, mas fui naqueles anos “objeto” de uma dissertação de mestrado desse Programa que investigava o terreno da militância política, das comunidades de base e da chamada educação popular. Parte do que eu pensava naqueles anos pode ser encontrado na dis-sertação intitulada “Do Agente ao Educador Popular: Reflexões Sobre um Trabalho Popular”, defendida em 1987, de autoria de Maria Clara Bueno Fischer, hoje minha colega de trabalho, orientada pelo saudoso professor Nilton Fischer, e depositada na biblioteca da Faculdade de Educação da UFRGS. Embora o cuidado com o anonimato das fontes, não é difícil encontrar os excertos das entrevistas feitas comigo, pois nossa comunidade era formada por três mulheres e um homem, e as-sim a minha identificação é possível.

Eu comecei a conhecer outros professores de História, que fa-ziam também um trabalho “engajado” e “de esquerda”, em geral em escolas públicas. Cursei todos os anos da licenciatura em História já como professor de História, o que me possibilitou muitos contatos no curso, aliado ao fato de que eu era mais velho do que a média dos co-legas. Na faculdade, organizamos um grupo de estudos sobre ensino de História, e existiu, por um curto período, uma cooperativa de pro-fessores de História, que a gente batizou de COOPHIST, inspirado no COOJORNAL, e que era um fórum para troca de materiais, textos e, em especial, roteiros de atividades produzidos por nós para uso em sala de aula. Quase não havia livro didático, e, além do mais, a gente descon-fiava de todos os que existiam. A solução então era produzir material próprio, imprimir em mimeógrafo e distribuir aos alunos.

Principiando a lecionar na rede estadual, eu logo comecei a co-nhecer mais colegas que eram também professores de História “en-gajados”. Vez por outra, nos encontrávamos, por conta de reuniões de professores nas escolas ou nas regionais, de greves, de atividades

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partidárias, pois na época quase todos nós ingressamos ou nos apro-ximamos do Partido dos Trabalhadores, o PT. Vale lembrar que, por volta de 1980, iniciou um ciclo grevista no magistério estadual gaúcho, e praticamente havia greve todo ano − a greve já fazia parte do calen-dário letivo. Esse vigor grevista afrouxou apenas no meio da década de 1990, mas não se extinguiu. Com as greves, a militância partidária e uma profusão de outras iniciativas associativas, cada vez mais comecei a descobrir professores de História que estavam dispostos a refletir so-bre essa prática e que viam a aula de História como local que ajudava a mudar o mundo.

Foi nesse contexto que os ventos começaram a soprar em di-reções mais definidas, e eu me vi encontrando-me com regularidade outros colegas. Para isso contribuíram certas sincronias, todas elas do final da década de 1980: me formei na licenciatura em História em 1987, passei no concurso para professor efetivo do magistério estadual do Rio Grande do Sul em 1988. No mesmo ano, ingressei a lecionar no curso superior, dando aulas na licenciatura em História na FAPA Faculdade Porto-Alegrense, e em 1989 comecei a trabalhar também na Prefeitura de Porto Alegre, governada pela Administração Popular e com Olívio Dutra prefeito. O final da década de 1980 foi, de fato, de muitas alegrias e vitórias. A gente acreditava mesmo que ia mudar o mundo, que essa mudança ia acontecer em breve tempo, e isso conta-minava o ensino de História de maneira muito otimista.

Ao começar a década de 1990, outro episódio associativo im-portante aconteceu, a reestruturação da ANPUH/RS, em 1994. Essa trama de acontecimentos explica os encontros cada vez mais regulares, que possibilitaram a organização de um grupo de ensino de História, em torno da ANPUH/RS, e, em seguida, a realização daquela que foi a 2ª Jornada de Ensino de História, acontecida no auditório do Instituto de Educação General Flores da Cunha, em Porto Alegre, em 1996. Ela foi a primeira jornada realizada pelo nosso grupo, mas sabíamos que em 1987 a ANPUH/RS já havia organizado um primeiro evento, e por conta disso continuamos a sequência. Para esta jornada convidamos como palestrante principal a professora Alzira Batalha Alcântara, do Rio de Janeiro. Em 12 de setembro de 1996, nosso grupo, naquele momento com a participação regular de onze professores, redigiu uma carta à ANPUH/RS, pedindo o reconhecimento como grupo de trabalho

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em ensino de História, vinculado de modo efetivo a nossa associação. Dessa forma, nos inseríamos na proposta de organização da ANPUH/RS em grupos de trabalho − experiência exitosa que, em parte, explica seu vigoroso crescimento nas últimas décadas, com forte vida acadê-mica.

Uma marca importante dos professores e professoras que nessa época formavam o grupo de trabalho em ensino de História era o duplo pertencimento: em sua maioria, eram simultaneamente professores em escolas públicas ou privadas de 1º e 2º graus (conforme a nomencla-tura da época) e eram também professores em cursos de licenciatura em História, em Porto Alegre ou no interior do estado. Os que estavam apenas atuando no ensino superior vinham de longos anos de docência na escola básica.

A década de 1990 foi assinalada também pela realização de sim-pósios, seminários e congressos que visavam discutir os rumos da edu-cação nacional, tema cada vez mais politizado e inserido nos debates eleitorais. Foi a partir de um desses eventos, ocorrido na FEEVALE, que eu publiquei meu primeiro artigo sobre ensino de História, intitu-lado “Reflexões a respeito de três estratégias para o ensino de História e Estudos Sociais”. O título traduz bem a preocupação, minha e de ou-tros colegas, naquela época: refletir sobre estratégias pedagógicas que estávamos aplicando na docência em ensino de História na escola bá-sica, e com isso dividir as experiências, estimulando a criatividade dos professores. O acúmulo de reflexões sobre experiências localizadas na sala de aula de cada professor, trazidas ao debate nas jornadas, tam-bém ajuda a explicar o espírito de busca de caminhos das primeiras jornadas, e em particular do primeiro livro que organizamos, que teve por título “Qual História? Qual Ensino? Qual Cidadania?”, e do qual sou um dos organizadores, junto com o colega José Alberto Baldissera, da UNISINOS. Saindo do relato das experiências em sala de aula, nos defrontávamos com um processo de politização crescente da docência e do ensino de História em particular, o que explica nossas questões acerca dos caminhos a seguir, vinculando o ensino na sala de aula com questões como cidadania e democracia, políticas públicas, luta contra o entulho da ditadura e contra o autoritarismo da vida em sociedade − conexão cada vez maior entre o ensino de História e as tendências da historiografia, impasses quanto ao formato tradicional do livro di-

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dático, desacordos com a tradição de uma História ensinada centrada nas figuras políticas, acesa polêmica sobre os rumos do neoliberalismo de então, percepção dos limites do trabalho disciplinar e tentativa de entender a interdisciplinaridade, etc.

O grupo de trabalho em ensino de História, posteriormente no-meado GT Ensino de História e Educação, atuou como um leme para orientar coletivamente o conjunto de professores que se agregou, e que desejava trilhar novos caminhos no ensino de História, mas estava um tanto atônito frente a tantas aberturas políticas e possibilidades. Penso que desde essa época nos equilibrávamos entre dois polos: praticar uma docência criativa, com estratégias pedagógicas que implicassem aprendizagens significativas no ensino de História e trouxessem para a figura do professor a construção de um estilo pessoal; e praticar uma História ensinada que respondesse a desafios políticos maiores, por vezes em sintonia com a noção de emancipação de Paulo Freire, refe-rência certamente muito forte na formação docente de todos nós.

E quando menos a gente se dá conta, dezenove jornadas se pas-saram, e chegamos na vigésima em 2014! É gratificante perceber que o GT Ensino de História e Educação, nesses anos todos, tem servido para dar rumo a essa disposição de lutar pela qualidade do ensino de História, e ao mesmo tempo ajudou a dar corpo à ANPUH/RS. Parte do que penso e no que acredito em relação ao ensino de História está vin-culado, de forma muito estreita, com essa trajetória, e com os colegas que dela participaram. Vida longa ao nosso GT e à ANPUH/RS!

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Por Flávia Eloisa Caimi

GT ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO DO RS:

20 ANOS DE TRABALHO COLETIVO

Em 2005, quando o GT Ensino de História e Educação do Rio Grande do Sul completava seu primeiro decênio, comemoramos a data na XI Jornada, recepcionados, em São Leopoldo, pela UNISINOS. Na-quela oportunidade, ao compor uma mesa-redonda destinada a apre-sentar um balanço das pesquisas e estudos que até então nos agrega-ra, festejávamos o sucesso do trabalho coletivo anunciando o diálogo profícuo estabelecido entre os professores da educação básica – sempre presentes nas jornadas –, os professores formadores de professores e os professores pesquisadores (da História e do ensino de História). A marca mais importante do nosso GT sempre foi a sua potência para reunir, aglutinar, articular diferentes profissionais, de diversos níveis e âmbitos de ensino, não só em torno de um objeto comum de estudo, como é o ensino de História, mas, sobretudo, em torno de uma militân-cia, uma causa em comum, que é a qualificação das práticas acadêmi-cas e escolares de ensinar, aprender e pesquisar História.

As comemorações são marcos temporais importantes, funcio-nam como sinalizadores do trabalho que já realizamos e também como indicadores dos caminhos que se pretende percorrer doravante. O GT Ensino de História e Educação constitui hoje um dos vinte e seis gru-pos de trabalho da ANPUH/RS. Sua constituição formal remonta ao ano de 1995, devendo-se à iniciativa de professores vinculados às dis-ciplinas de Didática, Metodologia e Prática de Ensino de História de algumas instituições de ensino superior da região metropolitana.

Desde sua origem, o GT definiu como estratégia principal de arti-

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culação dos seus membros a organização de jornadas anuais de ensino de História, em parceria com as Instituições de Ensino Superior do Rio Grande do Sul. Nesses vinte anos, as Jornadas foram sediadas por di-ferentes IES gaúchas e organizadas juntamente com a direção colegia-da do GT. O sucesso dessa estratégia pode ser visualizado no quadro a seguir, que sistematiza a instalação do GT, bem como as datas, locais e temáticas das Jornadas até então realizadas.

GT E JORNADAS DE ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO (1995-2014)

Ano Instituições Local Evento/Tema

1995 ANPUH/RS Porto Alegre Formação do GT Ensino de História da Anpuh/RS, no segundo semestre.

1996GT Ensino

de História e Educação

Porto Alegre II Jornada de Ensino de História do Rio Grande do Sul.

1997 UNISINOS e GT São Leopoldo

III Jornada de Ensino de História e Educação: Qual História? Qual Ensino? Qual Cidadania?

1998 UNISC e GT Santa Cruz do Sul

IV Jornada de Ensino de História e Edu-cação: Qual História? Qual Currículo?

1999 UNIVATES e GT Lajeado V Jornada de Ensino de História e Edu-

cação: A memória e o ensino da História.

2000 FAPA/UFRGS e GT Porto Alegre

VI Jornada de Ensino de História e Edu-cação - 500 Anos: Qual História? Qual Ensino?

2001 UPF e GT Passo FundoVII Jornada de Ensino de História e Educação - História: Qual ensino? Qual conhecimento?

2002 UNISINOS e GT São Leopoldo

VIII Jornada de Ensino de História e Educação: Os desafios teórico-metodo-lógicos.

2003 UNIJUÍ e GT Ijuí

IX Jornada de Ensino de História e Educação - O ensino de História no continente americano: as novas relações entre as nações e suas repercussões na educação.

2004

Centro Universitário Franciscano

e GT

Santa MariaX Jornada de Ensino de História e Educação - Brasil tempo presente: os desafios do ensino de História.

2005 UNISINOS e GT São Leopoldo XI Jornada de Ensino - História e Edu-

cação: diálogos em construção.

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Ano Instituições Local Evento/Tema

2006 UFRGS e GT Porto AlegreXII Jornada de Ensino de História e Educação: questões étnico-raciais e exclusão-inclusão social.

2007 UNISC e GT Santa Cruz do Sul

XIII Jornada de Ensino de História e Educação - Ensino de História: Identida-de e Diversidade.

2008 FAPA e GT Porto AlegreXIV Jornada de Ensino de História e Educação - Movimentos Sociais e Ensino de História.

2009 UCS e GT Caxias do Sul

XV Jornada de Ensino de História e Edu-cação – Fontes e o Ensino de História.

2010 FEEVALE e GT

Novo Hamburgo

XVI Jornada de Ensino de História e Educação e IX Seminário de Estudos Históricos: políticas públicas e desafios para o ensino de História.

2011 UNIPAMPA e GT Jaguarão

XVII Jornada de Ensino de História e Educação – Ensino de História no Cone Sul: patrimônio cultural, territórios e fronteiras.

2012 UNISINOS e GT São Leopoldo

XVIII Jornada de Ensino de História e Educação - Ensino de História, Imagens e Mídias.

2013 UFSM e GT Santa Maria

XIX Jornada de Ensino de História e Educação / III Seminário Internacional de Educação Histórica - Professores de História: o que somos? O que desejamos ser?

2014 FURG e GT Rio GrandeXX Jornada de Ensino de História e Educação – 20 anos de pesquisa e ensi-no de História.

Fonte: Sistematização da autora.

As discussões capitaneadas pelo GT Ensino de História e Edu-cação e formalizadas com maior visibilidade nas vinte Jornadas já re-alizadas mostram consonância com os debates que vêm ocorrendo no campo do ensino de História em diversas partes do mundo. As propos-tas centrais das jornadas, ao longo desses vinte anos, focalizaram as preocupações em temáticas importantes, como cidadania, currículo, memória, conhecimento, nacionalidades e transnacionalidades, tempo presente, diálogos entre História e Educação, questões etnorraciais,

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inclusão/exclusão, diversidade, identidade, movimentos sociais, fontes históricas, políticas públicas, patrimônio cultural, imagens e mídias, formação de professores, dentre outras.

A minha história de professora universitária se funde com a trajetória do GT Ensino de História e Educação, visto que o meu in-gresso na universidade se deu no ano de 1995, tal como a criação do GT. Acredito que, assim como eu, outros colegas tiveram sua iniciação como pesquisadores dentro das Jornadas. As primeiras comunicações de trabalho, as primeiras publicações, as primeiras experiências de organização de evento da minha carreira deram-se no âmbito do GT. Mais importante que esses itens computáveis (no Lattes), são os laços de amizade e os vínculos profissionais que se fortaleceram com deze-nas de colegas, de diversas regiões do Rio Grande do Sul, de diferentes escolas, secretarias, universidades.

Esse convívio tão diverso com colegas, instituições, experiências alimenta nosso cotidiano profissional, impulsiona para a construção de novas práticas, ensina a lidar com as diferenças, fortalece a convicção de que a qualificação do ensino e da aprendizagem da História escolar requer a participação de todos e a contribuição de cada um. Espero que as novas gerações de professores e pesquisadores do ensino de História levem adiante o GT e que continuemos a comemorar as próximas déca-das com a mesma vitalidade que festejamos esses 20 anos.

Vamos em frente, o trabalho continua!!!

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Por Gerson Wasen Fraga

É PRECISO ACREDITAR NA RAPAZIADA:

PEQUENAS REFLEXÕES MEMORIALÍSTICAS SOBRE

O GT ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO DA ANPUH/RS

Acredito que a primeira vez que ouvi falar do GT Ensino de His-tória e Educação da ANPUH/RS tenha sido em 1998. Naquela época eu estava no terceiro dos dez semestres do curso noturno de licenciatura em História da UFRGS, e, talvez, um tanto empolgado com a ideia de vir a ser professor no futuro, me matriculei em uma disciplina eletiva oferecida sob a forma de seminário, que tinha como tema “O ensino de História Contemporânea”, oferecida pelos professores Fernando Sef-fner e Enrique Padrós. Nada demais, não fosse o fato de sequer haver cursado então a cadeira de Idade Média Ocidental, quanto mais as Contemporâneas! Isto para não falar das disciplinas da área da edu-cação.

A empolgação teve seu preço. Passei batido por boa parte das discussões, uma vez que parte dos colegas ali eram professores re-cém-formados que estavam iniciando sua trajetória no magistério e haviam pedido o reingresso de diplomado. Outros estavam em vias de se diplomar e passavam naquele momento pela experiência do estágio. Quanto a mim, ouvia muito, tentava acompanhar as discussões a par-tir das leituras e ficava sonhando com os dias vindouros em que teria também meus alunos, meus cadernos de chamada e todo o fel e todo o mel que vêm junto no pacote. Como recompensa, o trabalho final para a disciplina (feito junto com outro colega que me acompanhava nessa

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empreitada) rendeu uma experiência marcante: entrar em um presídio para conhecer, in loco, as condições do ensino ministrado aos detentos.

Foi em algum momento daqueles dias que tomei conhecimento da existência do GT, através dos professores que ministravam o dito seminário. Logo, o professor Padrós convidaria para assistir às reuni-ões, e, assim como quem não quer nada, fui “ficando por ali”, tomando conhecimento das discussões, vendo, ouvindo e aprendendo com os que haviam chegado antes. Para mim, que ainda via o chão da sala de aula como uma realidade que demoraria a chegar, era uma experiência no mínimo enriquecedora, que me levava a refletir sobre algo que ainda viria, mas que também me dava a certeza quanto ao acerto da escolha pela licenciatura em História. Talvez os mais velhos no grupo não sou-bessem ou não percebessem isto, mas, naqueles dias, estavam dando sua contribuição para forjar em mim parte do que hoje sou.

Havia ainda um outro detalhe que me atraia naquelas discus-sões: debatia-se não somente a teoria, mas também a prática, e ambas andavam juntas, conferindo sentido uma à outra. E isso porque havia uma clara percepção de que o trabalho junto à educação envolvia ações com uma evidente finalidade social. Em tempos onde o discurso da vi-tória neoliberal se queria onipotente, desqualificando a priori qualquer manifestação em contrário – preconizando, inclusive, a privatização das universidades federais brasileiras –, aquilo era algo que conferia um profundo sentido social para meus planos de vida. Em outras pa-lavras, era da identidade do grupo nadar contra a corrente. E isso me encantava.

Essa experiência, acredito, acentuou-me o espírito de autocrítica quando finalmente ingressei em sala de aula, nos idos de 2003. O cho-que entre os sonhos e as teorias por um lado, e, por outro, a realidade de uma escola pública de periferia da Grande Porto Alegre proporciona-ria noites mal-dormidas e muitas histórias que não cabem nos limites deste texto. Tudo somado às experiências e erros talvez inerentes a quem está iniciando a carreira docente. Mas, ao lado de cada experi-ência, de cada erro e de cada nova experiência, tinha comigo uma lem-brança das reuniões e dos eventos organizados pelo grupo. Por vezes, uma conferência ou um trabalho assistido em algum dos encontros organizados pelo GT vinham me revisitar a mente, como um arquivo onde eu pudesse procurar respostas para as novas agonias que então

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me assaltavam. Ou, simplesmente, como muitas vezes acontecia, re-cordava uma sugestão ou de uma confidência recebida diante de uma xícara de café. Assim, o processo anterior de “ver, ouvir e aprender” servia agora como suporte à atividade profissional, e, vejo hoje, me foi algo fundamental quando do meu ingresso no magistério.

Dito isso, chego aos dois objetivos últimos deste pequeno texto memorialístico. Em primeiro lugar, afirmar que a experiência daqueles anos mostrou-me algo que, transposto em palavras, pode parecer ób-vio, ingênuo, populista ou talvez piegas, mas do qual estou convicto: tal qual diria Gonzaguinha, é preciso acreditar “na rapaziada”, naque-les que hoje estão nos bancos universitários e, ainda contra as marés, afirmam sua opção pela carreira docente. Isso, evidentemente, significa colocar os licenciandos em História em contato com discussões e tra-balhos voltados ao ensino de sua disciplina, incentivando sua partici-pação em seminários, congressos e encontros (eventos esses de caráter cada vez mais elitizado e restrito), onde possam refletir, ainda em sua fase de formação, acerca do papel social do educador. Significa tam-bém não perder de vista que a formação de professores não tem como fim último os alunos que estão à nossa frente, mas sim os alunos que nossos alunos terão à sua frente, o que representa também um prolon-gamento de nossa responsabilidade. Mas, mais do que tudo, significa que a aposta na formação de novos professores é também uma aposta no futuro, uma vez que só fará sentido se associada no combate aos preconceitos e fascismos de toda ordem, à lógica que nos leva a trocar o conceito de cidadão pelo de consumidor ou que, pior, nos faz sarama-guianamente cegos e passivos ante a injustiça e o esquecimento.

Por fim, uma vez que as reflexões do parágrafo acima são, ao seu modo, fruto de uma trajetória que se iniciou vinculada ao GT Ensino de História e Educação da ANPUH/RS e expressam muito dos ensina-mentos que ali recebi, este texto tem também a singela pretensão de um agradecimento tardio.

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Por José Alberto Baldissera

MEMÓRIAS DE ALGUÉM QUE GOSTA DE

ENSINAR E APRENDER

Comecei a lecionar no início da década de 60 (do século XX!). Es-tava cursando Filosofia nessa ocasião. Depois estudei História e tam-bém concluí o curso de Letras. Então me convidaram para ser profes-sor alfabetizador numa escola estadual, as famosas brizoletas. Éramos eu e mais uma professora de origem alemã, mais velha, aquelas de uma grande formação humanística. Posso dizer que equivaleu ao meu primeiro GT Ensino de História. Aprendi muito com ela − inclusive, pasmem, a ser alfabetizador −, e aplicando um dos métodos antigos para alfabetizar: “O vovô viu a uva...”. As crianças, ao final do primeiro ano, reconheciam letras e números, já ensaiavam frases curtas e liam − devagar, mas liam. O que hoje nem sempre acontece.

A escola se localizava na área rural de São Leopoldo, o que significa que vários alunos, além de chegarem à escola com laranjas, bergamotas, goiabas, aipim etc., para nós professores, também traziam seus animais de estimação, como a cabrita que ficava amarrada na porta da sala de aula e o porquinho que ficava correndo no pátio. Ao todo eram pouco mais do que trinta alunos, divididos nos cinco anos que então compunham o ensino primário. As provas vinham lacradas da Secretaria de Educação. Os alunos davam conta do que era solici-tado, e ninguém, que eu saiba, ficou “traumatizado” por causa disso. Hoje, em geral, não se pode falar em provas, quanto mais aplicá-las. A prova pode não ser um tipo de avaliação ideal; porém, até hoje, se procura, se pesquisa, se discute como pode ser uma avaliação que se considere desejável e que funcione.

Bem, lecionei em todas as etapas da educação básica em es-colas estaduais e particulares e ao mesmo tempo iniciei no ensino su-

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perior, em 1976, onde continuo até hoje. E de muito me ajudou eu ter entrado no GT Ensino de História, já na segunda edição. Com a troca de experiências, as conversas informais com colegas, a participação nas decisões da organização das jornadas, que envolve pensar os te-mas e na relevância dos mesmos, aprendi muito, o que, aliás, foi uma verdadeira escola de metodologia para mim.

Nos anos 1980 e em alguns da década de 1990, até a aposen-tadoria, fui convidado a trabalhar primeiro na então Primeira Delegacia de Educação de Porto Alegre, ocasião em que participei, com colegas de outras áreas de ensino, de grupo de estudos que realizava encon-tros com professores para debater o ensino e a aprendizagem de cada área em específico. Após trabalhei na Secretaria da Cultura do Estado do Rio Grande do Sul, participando, principalmente, de um projeto de teatro e escola e no festival de teatro de Canela. Exerci funções na Se-cretaria de Educação que também envolviam trabalho pedagógico com escolas.

No meio de tanta diversidade, a participação no GT Ensino de História me oportunizou a prática de vários aspectos ligados ao ensino e à aprendizagem em História. Colaborou para solidificar aspectos im-portantes quanto à metodologia de ensino − e, mais especificamente, de História. Artigos de minha autoria fazem parte do livro “Qual história? Qual ensino? Qual cidadania?”, de 1997. Livro este organizado junto com o colega Fernando Seffner. Além dos artigos desse livro, em espe-cial, também escrevi um artigo sobre Imagem e História no livro da XIV Jornada de Ensino de História – desafios contemporâneos, em 2010. E outros mais que não lembro no momento!

Sobre a participação no GT e nas jornadas, foram fundamen-tais as falas e oficinas que ministrei sobre imagem e teatro, relaciona-das ao ensino e à aprendizagem em História. Com vários estudantes e professores que participaram dessas oficinas, tive oportunidade de trocar ideias, ocasião em que também aprendi, a partir das experiên-cias deles. Isso é muito importante, e sempre reforço aos estudantes que, felizmente, ainda continuo aprendendo. Creio que isso, além de enriquecer o nosso conhecimento, nos torna mais tolerantes e abertos a outras respostas, possíveis e viáveis, que não só as nossas.

Aproveito para comentar a estudantes e colegas que, também fruto das perguntas e preocupações suscitadas no GT e no exercício da

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docência, desenvolvo, desde 1998, e agora junto a um ex-aluno e hoje professor, pesquisa sobre como a História é vista pelo cinema, suas relações com o tempo histórico abordado e também com o tempo his-tórico da produção do filme em questão. A pesquisa contempla ainda a reflexão sobre a validade do cinema como fonte para a História, uma preocupação sempre presente nos debates relacionados às jornadas e reuniões do GT. Dessa pesquisa resultou um primeiro volume, dos quatro que fazem parte do projeto “A história vista pelo cinema”, pu-blicado pela Escritos, Editora de Porto Alegre, em 2014. Esse primeiro volume aborda filmes que tratam das civilizações antigas, do período intitulado Antiguidade.

No mais, agradeço aos colegas do GT a oportunidade de par-ticipar de um grupo tão interessado e preocupado com os destinos da História em sala de aula. Espero que o GT Ensino de História e Edu-cação continue organizando reuniões e jornadas como tem feito até o presente.

Um grande abraço a todos que gostam e ensinam história.

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Por Katani Maria Nascimento Monteiro

O GT COMO ESPAÇO GERADOR DE CERTEZAS

E INQUIETAÇÕES

Minha relação com o Grupo de Trabalho Ensino de História e Educação da ANPUH/RS iniciou por volta de 2004. Desde 2002 já atu-ava como professora do curso de História da Universidade de Caxias do Sul, e uma das disciplinas que lecionava era o Estágio Docente. Em função disso, tínhamos (e ainda temos) na UCS um grupo bastante articulado de professores bem engajados nessa etapa da formação dos estudantes de História. Formatamos um seminário de final de semes-tre no qual pequenos grupos de estagiários apresentavam um painel problematizando suas experiências, de acordo com uma temática es-pecífica. O seminário deveria contar também com a presença de um profissional da área da História vindo de outra instituição, necessa-riamente. Os alunos apresentavam seus painéis; depois, o palestran-te tecia considerações sobre as apresentações; e, em seguida, havia o debate. Na época, minha colega da UCS Eliana Rela já participava do GT, e seguidamente comentava sobre os encontros, trazia novidades, demonstrava muita empolgação e aquilo foi me empolgando também. Através da participação da Eliana Rela no GT, surgiu o nome da pri-meira convidada para o seminário dos estágios: Flavia Caimi. Na se-gunda edição do seminário, convidamos o Fernando Seffner, e depois vieram o Nilton Pereira, a Maria Aparecida Bergamaschi; enfim, conti-nuamos, ainda hoje, contando com a postura engajada e generosa do pessoal do GT.

Efetivamente, minha participação no GT se deu a partir desse contato, e comecei a ir a Porto Alegre para os encontros. Lembro que, além das discussões, havia o momento da descontração. Na primeira vez em que fui numa reunião, no canto da sala tinha bolo, cuca, sukita

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e outras guloseimas − uma delícia: os estudos, o debate e o lanchinho da tarde.

A partir do contato com o grupo de trabalho, comecei a participar da Jornada − evento organizado pelo GT −, a qual este ano completa vinte anos! Uma distinção, sem dúvida. Das jornadas de que já partici-pei, carrego boas lembranças, das cidades e de seus lugares, das pes-soas de suas ideias e atitudes materializadas em pesquisa, em conhe-cimento histórico. Conheci outras instituições, algumas longínquas, e seus profissionais, alguns bastante envolvidos, de diferentes formas, na luta pela qualidade do ensino de História.

Em 2009, a UCS sediou a XV Jornada de Ensino de História e Educação, com o tema Fontes e ensino de História. Tenho para mim a convicção de que esse foi o momento em que minha relação com o GT se tornou mais intensa; afinal, é uma baita responsabilidade fazer a Jornada “acontecer” na “casa” da gente. Foi um momento muito impor-tante, especialmente para os estudantes do curso de História da UCS. Houve integração com os demais estudantes de outras instituições, e a troca de experiências entre eles foi expressa por muitos nos dias que se seguiram ao término do evento. Sediar e participar de um evento como a Jornada possibilita essa retroalimentação de saberes e práticas entre professores, seja da rede de educação básica, seja do ensino superior. Licenciandos, palestrantes, bolsistas, monitores, gestores, enfim, todos que participam saem arejados, às vezes, de forma positiva; perturba-dos; mexidos com alguma discussão mais polêmica.

O espírito do GT, portanto, segue essa característica, de retroali-mentação pelas experiências cotidianas dos que atuam no ensino e na pesquisa do ensino de História. Não tem como sair de uma reunião do GT ou de uma Jornada sem uma inquietação, no sentido mais amplo do termo.

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MEMÓRIAS 20 anos50

Por Luís Guilherme Ritta Duque

GRUPO DE TRABALHO ENSINO DE HISTÓRIA

E EDUCAÇÃO DA ANPUH/RS: DUAS DÉCADAS DE

INOVAÇÃO E PLURALIDADE

Na minha memória, neste momento incerta e mal-acompanhada de algum tipo de documentação comprobatória, daquela que no pas-sado era a prova da afirmação da verdade, acredito que iniciei a minha participação no Grupo de Trabalho Ensino de História e Educação no ano de 2000, numa reunião ocorrida durante um Encontro Estadual de História na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Professor recém-formado, cheio de dúvidas, vontades e necessi-dades, vi, num cartaz que informava sobre uma reunião do GT, uma possibilidade de me inteirar sobre o que se estava fazendo no ensino de História, além de ter a oportunidade de participar de um grupo que discutisse a História em sala de aula. Ideias, alternativas, discussões, novidades e, quem sabe, até soluções, era aquilo de que eu precisava naquele momento.

Nesses quatorze anos de participação (sem prova documental), de tudo que eu listei no parágrafo acima, só não encontrei soluções para os meus problemas em sala de aula (que ainda existem, sem dú-vida, só que felizmente em número e intensidade bem menores do que naquela época; idade e tempo de serviço não servem apenas para prova de títulos em concursos públicos). Inclusive, o GT me ajudou muito no entendimento que somos nós que encontramos (ou não...) soluções para os nossos problemas profissionais.

A participação no Grupo de Trabalho Ensino de História e Edu-cação rendeu excelentes referências. As reuniões e as mais variadas

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atividades promovidas pelo GT permitiram uma rica troca de ideias e a socialização de uma diversidade de experiências em sala de aula, trazendo consigo um enorme leque de possibilidades metodológicas. As jornadas anuais organizadas pelo GT possibilitaram sempre uma imer-são no universo da metodologia do ensino de História.

Além de tudo isso, a participação no GT me disponibilizou espa-ço para publicar e para apresentar as minhas pesquisas e, acima de tudo, me possibilitou manter contato com velhos e novos amigos. Bons amigos, sempre solidários e solícitos para aceitar, discutir ou compar-tilhar ideias.

Se não bastasse ser o GT o grande espaço, no Rio Grande do Sul, de discussão e divulgação do ensino de História, acredito que, acima de tudo, ele se constitua num dos grupos mais democráticos de que eu já participei, sempre buscando dar oportunidade, a todos os seus integrantes, nas suas jornadas e publicações, além de também sempre estar aberto para a inclusão de novos membros, professores de História das mais diferentes idades, origens e titulações. O GT tem-se mostrado, em todos esses anos, um local privilegiado de debate, com a mais plu-ral participação possível.

Foi por meio das Jornadas de Ensino de História e Educação promovidas pelo GT que eu pude apresentar e debater as minhas pes-quisas na área de Música e História, através de oficinas nas mais di-versas cidades do Rio Grande do Sul que sediaram edições anuais do evento. Porto Alegre, São Leopoldo, Passo Fundo, Santa Maria, Santa Cruz do Sul, Ijuí, Novo Hamburgo, Jaguarão e tantas outras cidades. Nesses vinte anos, o GT correu o estado, debatendo e socializando o conhecimento no ensino de História, apresentando e ouvindo novas ideias, promovendo o encontro dos seus participantes e agregando no-vos integrantes para o seu meio.

Nesses anos de participação, o GT foi extremamente importan-te no meu processo de conscientização como educador, dando espaço para a diversidade de questões presentes no processo de ensino-apren-dizagem, além de apresentar e possibilitar a discussão de um variado leque de recursos metodológicos no ensino de História.

Por tudo isso, vida longa para o Grupo de Trabalho Ensino de História da ANPUH/RS. Que ele continue exercendo com sucesso o seu papel de espaço de debate e divulgação de novas ideias, auxiliando os professores na sua aventura diária no ensino de História.

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Por Maria Aparecida Bergamaschi

LEMBRANÇAS E AFETOS QUE

ME LIGAM AO GT

Afeto. Para mim, essa é a marca primeira do GT, que agrega pessoas envolvidas e dispostas a pensar educação e ensino de história, mas, acima de tudo, pessoas que se dispõem a uma com-vivência fra-terna, alegre, comprometida e despojada. Até o nome, Grupo de Traba-lho Ensino de História e Educação da ANPUH/RS, tem reconhecimento em sua forma reduzida: GT, duas letras, para caber a simplicidade e a grandiosidade dos significados desse grupo nos processos de formação de professores, nas políticas de ensino, nos rumos das pesquisas em ensino de História e, principalmente, na formação das pessoas que o constitui ou o constituiu nas duas décadas de existência. Fico feliz e honrada em participar da história do GT e ter muitas lembranças de nossas convivências, desde o ano de 1996, numa manhã de sábado, em que, a convite do Fernando participei da minha primeira reunião, no Museu Joaquim José Felizardo, na Cidade Baixa, onde, por muitos anos fazíamos – e por vezes ainda fazemos − nossos sistemáticos en-contros, em geral aos sábados pela manhã, quando não expandidos também para a parte da tarde.

Lembro a motivação para acordar cedo nesses sábados de reu-nião e me dirigir ao museu. Pensava que colegas que viajavam de muito longe, como o Paulo Zarth e o Marcos Gerhardt, que vinham de Ijuí, já estavam a caminho há muitas horas e que chegar cedo para rece-bê-los como moradora de Porto Alegre seria uma delicadeza necessá-ria. Outros vinham de Passo Fundo, como a Flávia, mas a maioria do grupo sempre foi de Porto Alegre e região metropolitana. Hoje temos a presença de colegas de outras universidades, também distantes: o Gerson, de Erechim; a Hilda Jaqueline, de Jaguarão; a Alessandra, de Pelotas; o Júlio e o Iran, de Santa Maria; a Catani, de Caxias. E sempre

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é um prazer a gente se encontrar, em geral com um chimarrão, espe-cialmente nas manhãs frias de nossa cidade. Várias vezes pensamos em “descentralizar” as reuniões para outras cidades do estado, mas, enfim, predomina o centralismo da capital. No entanto, vários locais de Porto Alegre já sediaram nossas reuniões: o museu, como dito acima; a Faculdade de Educação da UFRGS, local bem central de Porto Alegre; a FAPA – Faculdade Porto-Alegrense. Mais recentemente, a sede própria da ANPUH/RS. Ao longo desses anos, também realizamos atividades em escolas e ou outras universidades, atuando como uma rede. Eu, por exemplo, já fui trabalhar com uma turma de alunos da Carla em sua instituição anterior e lá fizemos e ensinamos História, tratando das diversidades e, inclusive, envolvendo professores guarani.

Não dá para lembrar o GT sem uma porção de sentimentalis-mo, pois as vivências que nos constituem no grupo são de muitos afe-tos. Encontrar cada um é uma alegria e também um conforto, pois há um sentimento de acolhimento e de pertencimento muito próprio. As pessoas se afastam em alguns momentos, por diferentes motivos, mas continuam pertencendo ao grupo e, em geral, retornam. E o grande encontro anual, sempre digo, é tão sagrado quanto aniversário de filho: a Jornada de Ensino de História e Educação, que nesse ano completa a 20ª edição. Lembro as noites gélidas do inverno gaúcho na UNISC, na UNISINOS, na UNIVATES, na UPF, na UNIJUI, pois as Jornadas, em tempos idos, eram realizadas no início do mês de junho, no feriado de Corpus Christi, aproveitando assim a quinta-feira e, em geral, a sex-ta-feira sem aulas nas escolas e universidades. Depois revisamos essa tradição, e começamos a realizar o evento anual nos dias letivos. Com isso, surgiram outras datas, adequadas aos calendários acadêmicos repletos de eventos que começaram a surgir mais recentemente.

Preparar uma jornada é motivo de muitas reuniões, algumas inclusive no local do evento, mesmo quando são distantes, como em Jaguarão, na UNIPAMPA, ou na FEEVALE, onde nos reunimos, com Nilton e Sirlei, em pleno período de férias. Os temas das jornadas, em sua maioria, inauguram debates, como, por exemplo, ensino de histó-ria e diversidade, colocando em pauta o ensino da História dos povos indígenas e afro-brasileiros. Além de pensarmos em outros temas “en-gajados”, como ensino de História e os movimentos sociais e ensino de História e ditadura civil-militar. Aliás, este, em especial, tem propiciado as oficinas mais demandadas de todas as jornadas, iniciando outras

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pessoas na condução de reflexões e ações que afirmam a necessidade da memória, da história e do ensino das ditaduras na América do Sul. Criamos formatos mais informais para as Jornadas, sempre com o in-tuito de aproximar as pessoas e tornar o evento mais participativo. As-sim surgiu o “bate-papo”, sessão que já faz escola para outros eventos.

As viagens para as jornadas fazíamos – e ainda fazemos, quando realizadas em cidades mais distantes de Porto Alegre – em “comboio”, com nossos carros, às vezes levando e trazendo palestrantes, colegas convidados de outras universidades brasileiras e/ou uruguaias e ar-gentinas. Conhecemos − e com eles convivemos − pesquisadores do en-sino de História que admiramos e que hoje também reconhecem nosso trabalho. Isso tudo faz parte das lembranças que me constituem como integrante do GT.

Amadurecemos como profissionais e, visivelmente, como pesso-as. Acompanhamos namoros e casamentos, filhos nascendo e crescen-do, netos; formaturas, primeiras experiências de docência, concursos, novas escolas, novas universidades, novos colegas. Realizamos vários encontros especialmente para que nossos alunos, já profissionais, rela-tassem suas estreantes experiências profissionais de ensino de História.

Produzimos muitos livros. Em especial participei da organização de três publicações, em que o sobretrabalho nem pesa tanto assim, pois há uma atuação colaborativa. As apresentações dos livros são ver-dadeiros textos coletivos. A Véra, com uma experiência ímpar no setor gráfico, abre os caminhos, tem suas revisoras a postos para agilizar o trabalho. Várias reuniões-almoço são realizadas nos intervalos de trabalho para a comissão organizadora encaminhar a publicação. Va-lorizamos muito os textos dos estudantes, uma condição sempre de-fendida por Enrique e aceita no grupo. Para muita gente, a primeira publicação foi no livro do GT. Lembro com afeto os lançamentos de nossos livros, sempre celebrados com o destaque que merecem, rega-dos a vinho e muita alegria.

Poderia falar das aprendizagens que me produziram intelectual-mente, pois foram muitas situações desafiadoras, coordenando mesas, oficinas, palestras, que demandam muito estudo, muita preparação, muita coragem e ousadia. Porém, decidi, nestas páginas que me ca-bem, falar dos afetos que afloram quando me lembro do GT, da alegria que sinto ao lembrar cada pessoa que conheci e que permanecem na minha história, partilhando de uma cumplicidade que é própria do GT.

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Por Nilton Mullet Pereira

SOBRE A INSUSPEITÁVEL ALEGRIA

DE CONVIVER

Por certo minha relação com a memória do GT é íntima, não certamente tão antiga quanto seus fundadores e colaboradores mais antigos. Trata-se de uma intimidade que tenho me permitido, por força mais da intuição do que da inteligência. O GT tem sido, sem dúvidas, um espaço de um belo trabalho intelectual que nos desafia, nos instiga e nos leva a produzir pensamento na área do ensino de História. Mas, quando falo de uma intimidade com a memória do GT, quero me referir mesmo a uma simpatia. Mais adiante volto a esse ponto.

Foi com o objetivo de criar inteligência sobre os problemas da sala de aula de História que me aproximei do GT, no ano 2000, em uma reunião, por convite da professora Berenice Corsetti. Daí para diante, me envolvi aqui e ali diretamente nas jornadas, às vezes lon-ge, as vezes muito mais perto mesmo. Desde 2005, na Jornada da UNISINOS, quando era Coordenador daquele curso de História, estive sempre envolvido com a Coordenação do GT e tive o privilégio de auxi-liar na construção de cada jornada e de outros eventos menores. Essa participação rendeu muito o que pensar e muito o que escrever sobre o ensino de História. Passei a me dar conta de que há um pensamento na área de que as pessoas não ministram apenas aulas de História, mas refletem sobre o que fazem, e de que os professores da universidade envolvidos com o ensino têm uma farta produção intelectual. Esse é o ponto. Diferente do que alguém, nos confins do universo, possa supor, há reflexão na área do ensino de História, mas há, sobretudo, criação e pensamento. Eis o fator que me prende pela inteligência ao GT: a possibilidade de me expor intelectualmente, a possibilidade de ter em abertura as experiências diversas de professores da escola básica e poder pensar a partir de tais experiências. Não apenas o GT prova que

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há pensamento no campo do ensino de História, quanto prova que há belas experiências pedagógicas dos professores da escola básica.

Mas minha ligação com a memória do GT é uma espécie de simpatia, pela via da intuição. Há uma simpatia que compartilho com as durações das pessoas que convivem em cada jornada, em cada reu-nião. Eis a razão absoluta da minha passagem e constância no GT: as pessoas, uma profunda simpatia com as pessoas. Gostaria de nomear todas elas, mas corro riscos; por isso, deixo aqui, neste lugar de memó-ria, um gigantesco abraço carinhoso em cada uma dessas pessoas que se abrigam no GT por inteligência e por intuição, por gosto de discutir ensino de História e pela “insuspeitável alegria de conviver”.

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Por Paulo Zarth

MEMÓRIAS E JORNADAS DE ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO EM IJUÍ

Pido a los Santos del Cielo que ayuden mi pensamiento

les pido en este momento que voy a cantar mi historia

me refresquen la memoria y aclaren mi entendimiento

(José Hernández – Martin Fierro)

A melhor lembrança que podemos ter de um grupo de trabalho é seu ambiente amigável e solidário. É essa imagem que tenho do GT Ensino de História e Educação, ao longo de mais de vinte anos de con-vivência com colegas de todos os rincões do Rio Grande do Sul e de diversas instituições universitárias e escolares. Além das jornadas, te-nho boas recordações das reuniões administrativas ou de estudos rea-lizadas periodicamente no Museu Joaquim Felizardo, em Porto Alegre. Talvez esse ambiente favorável explique, em parte, a regularidade e o sucesso das Jornadas de Ensino de História e Educação realizadas, de-liberadamente, em diversos locais do estado, como uma forma de che-gar sempre mais perto dos professores e professoras das redes escolar e universitária.

A estreita relação e colaboração entre professores universitários, estudantes, pesquisadores e professores da rede de ensino básico sem-pre foi um dos pontos altos das Jornadas. Acredito que sempre pairou um espírito igualitário, talvez anárquico − no bom sentido político da

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palavra −, aberto a todo mundo com disposição para pensar o ensino de História. Essa é a razão, imagino eu, pela qual, em algum momento, alguém inventou a sessão “bate-papo” nas Jornadas, sugerindo uma conversa descontraída, mas produtiva, sobre os temas em pauta.

Do ponto de vista político e acadêmico, as jornadas sempre foram ricas em debates sobre a educação e o ensino de História em particular. Nos anos 1990, a intensa polêmica sobre os PCNs e sobre “o aligeira-mento” da formação de professores ocupou nossas atenções. Os PCNs sobreviveram aos debates sem grandes transtornos aparentes, mas as nefastas consequências da formação apressada realizada por empresas de educação já são visíveis, e o pior ainda está por vir.

O pano de fundo dos debates daqueles anos era a política educa-cional do governo brasileiro, comandado por Fernando Henrique Car-doso, orientado pelo chamado projeto neoliberal. A ingerência do Banco Mundial na educação era evidente, e, por isso mesmo, alvo de forte oposição por parte da ANPUH e da AGB. As palavras fortes daquele momento eram globalização, pensamento único e neoliberalismo. Como contraponto, Milton Santos escrevia que uma “Outra globalização” era possível e milhares de pessoas de todos os cantos do mundo vieram a Porto Alegre para o Fórum Social Mundial. As críticas da ANPUH e do nosso GT estavam, em boa medida, corretas, se pensarmos na situação atual da educação brasileira. Tais debates revelam a seriedade, a res-ponsabilidade e o engajamento do grupo.

Além da dimensão política, as jornadas sempre enfatizaram me-todologias e linguagens novas. Lembro que nosso grupo ofereceu várias oficinas sobre o uso da Internet em sala de aula, o que era novidade nos primeiros anos do século XXI.

Um dos fatos mais marcantes foi a organização do IV Encontro Nacional de Pesquisadores do Ensino de História, realizado em Ijuí, em outubro de 1999. Foi um trabalho enorme para a pequena equipe lo-cal, capitaneado pelos professores Marcos Gerhardt, Jaeme Callai e por mim, pois não imaginávamos a grande presença de colegas de todo o Brasil. Os Anais, que resultaram em um livro de quase mil páginas de textos, indicam a importância e o tamanho do evento. A ideia de orga-nizar o evento no Rio Grande do Sul surgiu no III Encontro de Pesqui-sadores, realizado na UNICAMP, do qual participaram vários colegas do nosso GT.

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Em maio de 2003, organizamos, em Ijuí, a IX Jornada de En-sino de História e Educação, com a temática “Ensino de História no continente americano: As novas relações entre as nações e suas reper-cussões na educação”. Na época estava em pauta discutir o que se en-tendia como uma nova realidade do mundo, a qual se estaria impondo ao ensino de História. A tendência de integração econômica entre os diversos países do continente teria enormes implicações no exercício profissional das pessoas que se dedicam ao ensino de História, consi-derando a importância dessa área do saber para a integração cultural e educacional. Pouca coisa nesse sentido aconteceu, mas, de qualquer forma, a troca de experiências com colegas argentinos que comparece-ram no evento foi produtiva. É digno de nota a presença do professor Edgar De Decca, então presidente da ANPUH Nacional, que prestigiou o evento participando como conferencista. Todos os debates e as comuni-cações apresentadas foram registradas numa publicação em forma de CD-ROM. Além dos Anais eletrônicos, a jornada rendeu a publicação de um importante livro – Ensino de História e Educação −, contendo textos das principais conferências realizadas nas Jornadas de Passo Fundo (2001), UNISINOS (2002); e de Ijuí (2003).

A história do nosso GT − permitam-me chamá-lo assim − já é longa e rica a ponto de merecer uma dissertação de mestrado ou uma tese de doutorado. Por fim, fecho minhas lembranças com as palavras oportunas do velho e bom Martin Fierro, do José Hernández, que real-mente entendia de memória:

Es la memoria un gran don,calidá muy meritoria-

Y aquellos que en esta historiasospechen que les doy palo

sepan que olvidar lo malotambién es tener memoria

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MEMÓRIAS 20 anos60

Por Sirlei Teresinha Gedoz

MEMÓRIAS DE UMA MILITANTE DO GT

ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO

Quando iniciamos os primeiros passos da organização da XX Jornada de Ensino de História e Educação, muitas ideias foram lança-das, ou uma explosão de pequenas insanidades que, após pensadas e repensadas, se constituíram na programação. Programação que procu-ra equilibrar a própria caminhada do GT e o olhar para frente − vinte anos de pesquisa e ensino de História. Também foi proposta a constru-ção de memórias do GT. Então fiz parte dessa decisão. Mas, confesso, escrever sobre o GT e escrever sobre minhas e nossas aventuras, por dentro dele, é um pouco difícil. Tenho algo a contribuir? Serei capaz de buscar o que é relevante?

Tangida pelo companheiro de muitas jornadas, o Nilton Pereira, e pela delicadeza amorosa da Carla Meinerz, estou aqui, a desafiar meus limites. Começo apontando que me considero um animal polí-tico, e é desse horizonte que pauto minha vida profissional, social e particular. Para falar em trajetórias, também é imprescindível saber dos atravessamentos do feminino na constituição profissional e na mi-litância. Sim, considero a participação no GT Ensino de História e Edu-cação um ato político por excelência. O GT entrou na minha vida como parte da militância política. Sim, sou militante política no sentido geral da política sindical e partidária, e da política como elemento constituti-vo de toda ação e de formação educacional e profissional.

Apressando os passos que me levaram ao GT, cursei minha facul-dade na UNISINOS. Na faculdade, fui uma trabalhadora que estudava, e isso me constitui como professora. Tive a oportunidade também de começar como bolsista de iniciação científica, haja vista a UNISINOS

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ter implantado o mestrado em História em 1987. Foi uma oportunidade fundamental, e fora das universidades públicas. Enquanto estudava, sempre trabalhei, desde a escola elementar, como a maioria dos bra-sileiros.

Quanto à trajetória como professora da escola básica, tive a oportunidade de trabalhar na rede estadual, na rede privada regular, no supletivo privado, hoje denominado de EJA, e em cursos pré-vesti-bulares. Leciono há vinte anos na UNISINOS, e paralelamente lecionei por doze anos na UNIVATES. Nesta última coordenei o projeto e fui a primeira coordenadora do Curso de Licenciatura em História, implan-tado em 1999. Ainda coordenei o Curso de História na UNISINOS, entre 2006-2010. Há 14 anos, trabalho diretamente com estágios.

Na Universidade, por ter uma trajetória anterior na educação básica, logo fui atraída para a área do Ensino. Nessa trajetória, acom-panhada pelo Professor José Baldissera e pela Professora Eloísa Ca-povilla, tive acesso ao GT de Ensino, participei da II Jornada realizada no Instituto de Educação. Essa jornada foi meu ritual de entrada, que, com pequenos desencontros, cá estou, presente, até hoje. E o que é participar desse GT? Num primeiro momento, ia para ouvir os mestres, saber o que de mais novo estava se propondo. Algumas vezes saía das reuniões e Jornadas, estas sempre muito tão esperadas, com muito mais dúvidas do que chegara. Pensava: “Nossa, o que estou fazendo? Estou fazendo tudo errado?” Ou: “De que adianta participar, se nada de concreto ocorreu, se não me responderam sobre a minha angústia de como organizar uma prova? E a questão do sentido de ensinar His-tória? E a receita para fazer os alunos prestarem atenção?”

Se, no início, a grande questão era a de ouvir e colocar pequenas contribuições ou trocas, também chegou a hora de uma colaboração mais efetiva, tanto na contribuição para o debate, como na participa-ção em diversas coordenações. Fui coordenadora do GT por cinco anos consecutivos, que foram divididos com valiosos companheiros e com-panheiras de militância, a Tatiana Lenskij, a Maria Aparecida, o Nilton Pereira. Como coordenadora, trabalhei de forma efetiva na organização de vários eventos e estive na coordenação das quatro Jornadas reali-zadas em São Leopoldo, na UNISINOS, e na de Lajeado, na UNIVATES. Participar do GT é uma questão relevante da minha profissão. O GT e os companheiros me fortalecem, amparam, cobram, congregam. Existe

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nesse GT uma troca efetiva e afetiva entre o ensino superior e a educa-ção básica e seus componentes.

Se, inicialmente, as angústias e o idealismo foram compartilha-dos entre um pequeno grupo de professores militantes, além da Eloísa Capovilla e do José Baldissera, a Dália Leindecker, a Nadir Helfer, o Paulo Zarth, o Fernando Seffner, a Véra Barroso, o Enrique Padrós, a Maria Aparecida Bergamaschi, a Flávia Caimi, aos poucos e ao sabor das Jornadas e do trabalho compartilhado, muitos jovens foram “aparecendo” e construindo, renovando sua identidade. E por falar na identidade do GT, a proposta básica deste sempre foi a oportunidade do compartilhamento, o qual se estruturou nas próprias jornadas que socializam as experiências de ensino e pesquisa. A outra característica central do GT, seu mote constitutivo, são as rodas de conversa. As nossas reuniões são marcadas por essas rodas de conversa. As jor-nadas dão grande espaço para trocas nessas rodas. Elas ocorrem no espaço das comunicações, nos temas livres, no bate-papo e na própria tradição da primeira mesa que abre as jornadas e que é, ao mesmo tempo, uma reflexão e uma troca de experiência entre a educação bá-sica e superior.

As rodas de conversa são, para mim, a espinha dorsal do sucesso e da longevidade desse GT, pois tornam as relações e decisões do Gru-po horizontais, não hierárquicas.

Nessas conversas centrais e laterais, ou paralelas, foram consti-tuídas as grandes perguntas e também as respostas. Horizontalmente foi forjada a identidade do GT e dos que cedo se preocuparam com o ensino e com o que ensinam, num universo em que a pesquisa em PPGs foi e é o objetivo máximo das universidades e centros universi-tários. Pesquisa essa que pouco estava relacionada com a formação inicial do professor de História e com o ensino de História na educação básica. Pelo contrário, essa concentração de interesses nos PPGs tor-nou o exercício da docência, na educação básica e nas disciplinas de formação de professores no ensino superior, um campo secundário, pouco atrativo. O ensino de História, com seu campo próprio de sabe-res, práticas e conhecimentos, foi, por muito nos, pouco prestigiado pela própria associação que nos representa, a ANPUH.

Nesses tempos de pouco crédito do campo do ensino, o GT En-sino de História e Educação foi a base em que se agruparam e se re-

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alimentarem, intelectual e identitariamente, o grupo inicial de profes-sores, que cresceu e se fortaleceu a ponto de chegar à XX Jornada. Grupo que sempre percebeu que o ato de ensinar exige competências próprias, exige um campo específico de pesquisa. Hoje, em vista de as políticas públicas federais investirem massivamente na área de forma-ção de professores, disponibilizando bolsas, intercâmbios internacio-nais e linhas de pesquisa e a consequente visibilidade política, isso fez com que departamentos e direções universitários repensassem o lugar da formação, assim como a própria ANPUH, que passou a valorizar o campo da formação de professores. Mas me parece que ainda não com-preendeu, totalmente, a horizontalidade que sempre nos constituiu.

Por fim, nesses anos todos, as perguntas clássicas da terceira jornada, “Qual história? Qual ensino? Qual cidadania?” Está viva, atra-vessou todos os nossos vinte anos, teve metamorfoses e complemen-taridades em todas as Jornadas. Chegamos a ter respostas, mas as repostas que são válidas para hoje, em pouco tempo se constituem em novas perguntas, em novos desafios. Perguntas que cabem ao GT, hoje? “Qual História? Qual ensino? Qual pesquisa para fazer frentes às necessidades de formação do professor deste início de século? Suas respostas podem responder às perguntas e necessidades dos estudan-tes de hoje? Podemos desdobrá-las em “Quem são esses estudantes que acorrem às nossas universidades e a nossas escolas? Ou quem são os jovens que abandonam nossas escolas e nossas universidades?” As perguntas permanecem para que possamos construir, temporariamen-te, respostas efetivas, que logo se transformarão em novos desafios, novas perguntas. Perguntas e desafios que sempre encontrarão o GT Ensino de História e Educação aberto, solidário, companheiro. Sempre pronto a partilhar e compartilhar em tantas rodas de conversa, quanto forem necessárias. Abraço.

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Por Susana Maria Reggiani Huerga

HISTÓRIAS: INVENTADAS E VERDADEIRAS

Há histórias tão verdadeiras que às vezes parecem que foram inventadas.

Manoel de Barros

Verdadeiras. Inventadas. Sempre gostei de histórias. Desde criança. Acho que foi por isso que fui fazer o curso de História. Anos 1970, última turma de licenciatura plena na PUCRS. Depois, inicia-vam-se as licenciaturas curtas de Estudos Sociais. Era uma época de cursos rápidos em todas as áreas, pois havia urgência de professores. O curso de licenciatura em História era carregado de “história política”, com uma carga grande de “história europeizada”. Brasil? Rio Grande do Sul? Pouco. África? Nem pensar! Cotidiano? Mentalidades? Que é isso?

Comecei a trabalhar faltando um ano para me formar. Consegui um contrato de trabalho em uma escola estadual, em Charqueadas. Chama-se “Mineiro Nicácio Machado”, e, da porta da minha sala de aula, via-se a boca de fogo da Aços Finos Piratini. Ia e voltava quatro vezes por semana. Pegava ônibus na rodoviária de Porto Alegre para Charqueadas, às 6 horas da manhã, para chegar às 7 horas e esperar até as 7h40min, quando começavam as aulas. Só havia ônibus em hora inteira. Quatro sextas séries. Disciplina: Geografia. É, comecei dando aula de Geografia, do Brasil. Conteúdo: as regiões brasileiras. No curso: dois semestres de Geografia Humana. Um pavor! Toca estudar.

Quando me formei, a professora Délcia Enricone, da Faculdade de Educação da PUCRS, me convidou para trabalhar com Didática no curso de História. E assim começou a minha vida na academia: Didáti-

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cas, Metodologias, Práticas de Ensino... nos cursos de Ciências Sociais, Geografia, Estudos Sociais. Didática nos Cursos de Letras, Ciências, Química... e, por fim, na Pedagogia.

Voltei para Porto Alegre, e a vida do trabalho seguiu, simultanea-mente, com aulas no ensino fundamental e na universidade. Por conta disso, chegou o convite para participar do Grupo de Trabalho (GT) Ensi-no de História da ANPUH, Associação Nacional dos Professores Univer-sitários de História, aqui do Rio Grande do Sul.

Éramos menos de dez professores − cada um de nós vindos de diferentes instituições de ensino, privadas e públicas. Todos muito ocu-pados. Aulas em diferentes estabelecimentos, em diversos níveis de en-sino, nos três turnos. Por isso, participar de uma associação para for-talecer a importância do nosso ofício, divulgar trabalhos e pesquisas na área, não foi tarefa fácil. Mas havia o principal: o desejo. O desejo, aliado à crença na importância do ensino de História na formação de cidadãos conscientes e críticos, fizeram, do GT Ensino de História, um coletivo de trabalho produtivo e bem sucedido nos anos 90 em Porto Alegre.

O que produzimos juntos? Em 1996, inicialmente, organizamos a II Jornada de Ensino de História, com o título “Qual ensino? Qual His-tória?”. Reuniões, organização, divisão do trabalho; cada um com sua tarefa e todos correndo muito para que tudo desse certo. Deu certo! Ano seguinte, fomos para São Leopoldo. A UNISINOS nos acolheu para con-tinuar o trabalho. Daí resultou um livro. O trabalho do GT foi seguindo, mas eu me afastei por conta de também me afastar do ensino de Histó-ria. Fui assumindo novas funções, mais administrativas e pedagógicas, e novas experiências se apresentaram para mim. E eu vou vivê-las, com muita satisfação, como as vivi no GT Ensino de História.

Quais foram os resultados do GT? Pessoalmente? Conhecer no-vos colegas. Trabalhar juntos para promover o ofício do professor de História. Fazer circular os conhecimentos e saberes históricos produzi-dos pela pesquisa de professores. Conviver com pessoas bacanas. Cada uma com seu estilo pessoal e profissional, mas todos se respeitando. Hoje, mesmo que não nos encontremos mais, ao lembrar cada um dos colegas do grupo, um sorriso me vem aos lábios e o meu coração se en-che de alegria. Foi um bom tempo!

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MEMÓRIAS 20 anos66

Por Véra Lucia Maciel Barroso

GT ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO – ANPUH/RS:

TRAJETÓRIA DE ENGAJAMENTO – 20 ANOS DE LUTAS, PERSISTÊNCIA

E COMPROMISSO

Anos 1980...O país ingressava em um novo tempo, após uma ditadura que

deixara marcas e rasgos de negação da cidadania. Mas a sociedade brasileira dava mostras de sua força. Vivia-se um clima de movimen-tação intensa, com as massas nas ruas, com a força dos trabalhadores em organização sindical, os professores reivindicando e se posicionan-do, e outras tantas categorias lutando por seus direitos e melhores condições no cenário social. Enfim, no Brasil colhia-se, pela resistência em ação, a esperança, em construção democrática, em várias frentes.

Paralelamente, no Rio Grande do Sul, a comemoração do Ses-quicentenário da Revolução Farroupilha, amplamente divulgada pela mídia, articulou manifestações e posicionamentos contundentes, aca-lorando debates, sacudindo inclusive a academia, entre as posições contraditórias de um movimento regional, que passou a ser foco inten-sivo de pesquisas e estudos em nosso meio e no âmbito nacional, inclu-sive. Aliás, alguns anos antes, o regionalismo já tinha sido avivado com a ampla comemoração promovida no estado e no Brasil, quando do cin-quentenário da Revolução de 1930 − só aqui em Porto Alegre ocorreram dois grandes eventos de nomeada importantes, alusivos ao movimento.

Foi nesse contexto que, em 1986, iniciara, com a Luíza Klie-mann, um trabalho de salvamento e organização do Arquivo da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, juntamente com a Gessy Duque

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GT ENSINO DE HISTÓRIA E EDUCAÇÃO - ANPUH/RS 67

César, também historiadora. E já desde agosto de 1985, atuava na FAPA (Faculdade Porto-Alegrense), como professora do Curso de Pós--Graduação em História do Rio Grande do Sul; onde aliás, fizera entre 1979 e 1980, uma Especialização que foi fundamental na minha for-mação, dada a perspectiva trabalhada por seus professores.

Em meio a essa movimentação, foi, então, que ouvi falar sobre a ANPUH. A Luíza, engajada na diretoria regional, me incentivou a par-ticipar da agremiação, iniciando, então, uma trajetória na Associação, da qual nunca me separei, deste então, mesmo não estando presente em todos os Simpósios Nacionais. Aliás, o meu primeiro Simpósio foi aquele que ocorreu em 1979, na Universidade Federal Fluminense. O Professor Astrogildo Fernandes, também meu grande amigo, que par-ticipara da fundação da ANPUH, em Marília, lá no final da década de 1960, me estimulava na participação regional da Associação.

Nesse tempo é que conheci o Adolar Koch, à frente da nossa ANPUH. Passei a participar de reuniões − aos sábados, às vezes, pela manhã, às vezes à tarde − da Comissão de Ensino que se reunia, na sede do CPERS, na Av. Alberto Bins, no Centro Histórico de Porto Ale-gre. Vinham, da Federal de Santa Maria, a Berenice Corsetti e a Tere-sinha Belinazzo. Daqui lembro muito bem da Nilse Ostermann, pro-fessora de História Contemporânea da UFRGS e à frente da Prática de Ensino, na mesma Universidade, juntamente com o Adolar.

Assim, agreguei-me à Associação, tendo como líder o Adolar, aju-dando-o na organização de evento sobre ensino no Instituto de Edu-cação. Foi quando veio a Elza Nadai. Era o nome! Afinal, ela e a Joana Neves tinham na praça um livro didático de História do Brasil que era, no momento, o manual mais usado nas escolas.

Eu, como professora estadual desde 29 de setembro de 1969, preocupava-me muito com o livro didático que nos chegava às mãos. Não poucos textos produzi, inconformada com livros que não traziam uma perspectiva crítica da História para trabalhar com os alunos. Já fizera uma ginástica de grande movimentação, desdobrando-me com as aulas de Moral e Cívica e OSPB (Organização Social e Política Brasi-leira), valendo-me das revistas Mundo Jovem, editadas pela PUCRS. Os artigos nela publicados rendiam debates acalorados com meus alunos da escola pública. Portanto, tinha muito forte uma relação de compro-misso com o meu fazer como professora.

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MEMÓRIAS 20 anos68

Eis que um dia, na Livraria Palmarinca, ali na Rua Vigário José Inácio com a General Vitorino, percorrendo as prateleiras de livros da área da Educação, me caiu nas mãos, a obra “Educação e Poder”, de Moacir Gadotti, discípulo de Paulo Freire. Foi então que me engajei na pedagogia do conflito – de perspectiva dialética −, a qual passou a balizar minha conduta como educadora, através do ensino de História.

Foi no calor de uma militância, via educação, que, após o período de interrupção da ANPUH no Rio Grande do Sul, quando da retomada com o chamamento da Loiva Otero Félix aos profissionais de História no estado, que uma nova fase iniciou, sendo então formado um Grupo de Trabalho de Ensino de História.

Ocorreu certo dia uma reunião, logo após o chamamento da Loi-va, e a escolha do Marcos Tramontini para presidir a nossa Regional. O local foi o porão do Museu de Porto Alegre. A pauta era iniciar a re-organização da entidade, com a criação de grupos de trabalho. Lembro que a Zita Possamai ficou encarregada do Boletim para divulgar nossas ações e movimentação. E assim a reunião transcorria, e nada de se falar em grupo de trabalho de Ensino de História. Foi então que contei do papel da Comissão de Ensino – era esse o nome –, na primeira fase da ANPUH/RS. Foi o que bastou para o Tramontini dizer: “Essa tarefa então fica contigo. Falou! Pegou!”

Bem, logo em seguida, comecei a verificar quais eram os profes-sores que ministravam a disciplina de Prática de Ensino nos cursos de História existentes em Porto Alegre e em sua área metropolitana. Foi então que colegas de diferentes IES se aproximaram, e começamos a trabalhar. Os nomes: Enrique Padrós, pela UFRGS – que na altura não trabalhava diretamente com as Práticas de Ensino, mas já se mostrava extremamente preocupado com o ensino, com a formação do professor de História; Susana Maria Reggiani Huerga, pelo Curso de História da PUCRS; Carmem Rangel, pela FACED/UFRGS e Prefeitura de Por-to Alegre; Fernando Seffner, pela FAPA e UFRGS; Elza Avancini, pela FAPA e UFRGS; Nilse Ostermann, pela UFRGS; e eu, pela FAPA, onde trabalhava, naquela altura, com a Metodologia do Ensino de História e com a Prática de Ensino do mesmo curso. De Santa Maria vinham a Gláucia Konrad e o Diorge Konrad. De Cachoeira do Sul comparecia o Henrique La Flor, de uma escola pública, assim como o André Au-gusto da Fonseca, também de uma escola pública, em Estância Velha

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(tenho as atas desse tempo, com as respectivas assinaturas). A movi-mentação era de entusiasmo. Foi então que retomamos as jornadas. Programamos o primeiro evento dessa segunda fase e definimos o local: o auditório do Instituto de Educação, onde acontecera o primeiro da fase inicial. A editora FTD deu a faixa para ser colocada em frente ao Instituto e a folheteria: cartazes e fôlderes com o programa. Bombou! A Jornada foi um sucesso.

Dali para frente, o GT foi ampliando sua atuação, ganhando mais adeptos, publicando os anais da maioria das suas jornadas.

No ano 2000, quando se comemoraram os 500 anos do descobri-mento do Brasil, a Cida e o Padrós, pela UFRGS, e Berenice e eu, pela FAPA, lideramos a organização da Jornada naquela ocasião. Lembro que meu ex-colega do curso de História na UNISINOS, com quem me formei em 1985, o Leandro Karnal, veio de São Paulo para fazer uma palestra nesse evento.

Curti muito a organização coletiva de duas obras, com parceiros de nosso GT. Com o Padrós, a Berenice Corsetti, a Gabriela Rodrigues e a Cida, passei alguns sábados de trabalho muito fraterno; alguns em minha residência, quando nasceu o livro: “Ensino de História: forma-ção de professores e cotidiano escolar”, lançado em 2002. Para outra obra, juntaram-se a Sirlei Gedoz, a Cida, o Padrós, o Nilton Pereira e eu. Intitulada “Ensino de História: desafios contemporâneos”, sua edi-ção, em 2010, foi outro desafio!

Neste ano de 2014, recordando essa “corajosa e incessante luta” em defesa do ensino de História, nos diferentes âmbitos – da escola básica à universidade – como espaço e campo de discussão e busca de alternativas para uma “prática consciente de educação”, pessoalmente regozijo-me com os colegas – tanto aqueles que estiveram na primeira hora, como com aqueles que foram se juntando e deixando rastros de participação e parceria no que acreditamos. As questões em pauta continuam sendo estas: Qual educação? Qual História? Qual ensino? Em meio ao alvoroço dos tempos que estamos vivendo. E assim, a luta continua!

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MEMÓRIAS 20 anos70

Por Zita Rosane Possamai

A ANPUH/RS E O GT ENSINO DE HISTÓRIA:

UMA HISTÓRIA VITORIOSA

Eram os anos 1990. Uma reunião num sábado de manhã, numa das faculdades do Campus Central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Não mais que vinte historiadores e historiadoras com o desejo de reavivar a Associação Nacional de História no estado. Após um debate onde todos convergiam para esse objetivo, a escolha de no-mes para compor uma diretoria que teria como responsabilidade fazer fênix ressurgir das cinzas. O saudoso professor Marcos Tramontini da UNISINOS, como presidente, a professora Regina Weber da UFRGS, como vice-presidente, além de Ademar Lourenço, Elisabete Leal e tal-vez outros nomes que a memória não me ajuda a lembrar. Entrei no rol por indicação da querida professora Loiva Otero Felix, que avaliava ser importante haver alguém na nominata fora do meio acadêmico e pertencente à Secretaria Municipal da Cultura, onde eu, na ocasião, atuava como diretora do Museu de Porto Alegre. Prontamente, coloquei à disposição da diretoria da renascida ANPUH/RS os espaços do mu-seu para as futuras reuniões, que passaram a ocorrer de tempos em tempos no famigerado “Espaço Senzala”.

Daqueles momentos de calorosos debates, como todo processo democrático deve ser, surgiram os GTs, como o GT Ensino de História e Educação, e a iniciativa de realizar o nosso primeiro Encontro Estadu-al, na fase de retomada da Associação, que teve como sede a Pontifícia Universidade Católica.

Desse tempo, a principal lembrança que guardo no coração é a pessoa de Marcos Tramontini. Sua paciência com os colegas, cuja juventude mantinha acesa uma boa dose de radicalidade e intempesti-vidade; seu profundo respeito pelas diferenças de opiniões, sem jamais levar para o campo pessoal, o que eram, afinal de contas, atitudes afoi-

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tas em prol de um objetivo comum. Passados mais de vinte anos, a ANPUH/RS aí está com o sucesso

dos seus encontros estaduais, que reúnem bienalmente mais de mil participantes, suas dezenas de GTs, entre os quais o GT Ensino de His-tória e Educação e o GT Acervos surgiram, levando as preocupações da nossa área para muito além da seara acadêmica, fazendo nossa voz ser ouvida nas esferas da educação e do patrimônio cultural. O ressurgi-mento da ANPUH/RS e do GT Ensino de História, entre tantas agruras do passado, é, sem dúvida, uma história vitoriosa.

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