livro 2010 manejo conservação solo agua
TRANSCRIPT
-
Organizadores:
Rachel Bardy Prado
Ana Paula Dias Turetta
Alusio Granato de Andrade
Manejo e Conservao do
SOLO e da
GUAno Contexto das
Mudanas Ambientais
-
Embrapa Solos
Rio de Janeiro, RJ
2010
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria
Embrapa Solos
Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento
Organizadores
Rachel Bardy Prado
Ana Paula Dias Turetta
Alusio Granato de Andrade
Manejo e Conservao do
SOLO e da
GUAno Contexto das
Mudanas Ambientais
-
Embrapa 2010
Exemplares desta publicao podem ser adquiridos na:
Superviso editorial - Eduardo Guedes de Godoy e Jacqueline Silva Rezende Mattos
Normalizao bibliogrfica - Cludia Regina Delaia e Ricardo Arcanjo de Lima
Reviso de Lngua Portuguesa - Andr Luiz da Silva Lopes
Capa - Felipe Ilrio Muruci e Eduardo Guedes de Godoy
Editorao eletrnica - Felipe Ilrio Muruci - FIM Design
Assessoria da organizao - Guilherme Nogueira de Souza.
1 edio
1 impresso (2010): tiragem 1.000 exemplares
Todos os direitos reservados.
A reproduo no autorizada desta publicao, no todo ou em parte,
constitui violao dos direitos autorais (Lei n 9.610).
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)
Embrapa Solos
P896m Prado, Rachel Bardy.
Manejo e conservao do solo e da gua no contexto das
mudanas ambientais / organizado por Rachel Bardy Prado,
Ana Paula Dias Turetta e Alusio Granato de Andrade - Rio
de Janeiro: Embrapa Solos, 2010.
486 p.: il.
ISBN 978-85-85864-32-3
1. Manejo do solo. 2. Uso da gua. 3. Servio ambiental.
4. Sustentabilidade na agricultura. I. Turetta, Ana Paula Dias.
II. Andrade, Alusio Granato de. III. Ttulo
CDD (21.ed.) 631.4
Sociedade Brasileira de Cincia do Solo
Edifcio Silvio Brando, S/N
Campus Universitrio
CEP 36570-000 Viosa, MG
Cx. Postal 231
Tel: (31) 3899-2471
www.sbcs.solos.ufv.br
Embrapa Solos
Rua Jardim Botnico, 1024
CEP 22.460-000 Rio de Janeiro, RJ
Tel: (21) 2179-4500
Fax: (21) 2274-5291
www.cnps.embrapa.br
9 788585 864323
-
Rachel Bardy Prado
Biloga, doutora em cincias da engenharia ambiental e
pesquisadora em geotecnologias e
monitoramento ambiental da Embrapa Solos RJ.
Ana Paula Dias Turetta
Gegrafa, doutora em agronomia (Cincia do Solo) e
pesquisadora em planejamento ambiental da Embrapa
Solos RJ.
Alusio Granato de Andrade
Engenheiro Agrnomo, doutor em agronomia (Cincia do
Solo) e diretor tcnico da Empresa de Pesquisa
Agropecuria do Estado do Rio de Janeiro, RJ.
Organizadores
-
Agradecimentos
Os organizadores agradecem a contribuio dos pesquisadores
e professores responsveis pela organizao das partes que compe
esse livro e aos autores de captulos. Agradecimento especial a todos
aqueles que participaram da comisso organizadora da XVIIRBMCSA,
bem como seus patrocinadores e colaboradores, com destaque para o
apoio irrestrito da Sociedade Brasileira de Cincia do Solo, da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuria e da Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro.
-
Biografia dos Autores
Ademir Calegari
Doutor em agronomia, pesquisador nas reas de adubos verdes, plantio
direto e rotao de culturas do Instituto Agronmico do Paran PR
Adriana Maria de Aquino
Doutora em agronomia, pesquisadora em biologia do solo da Embrapa
Agrobiologia e professora da Universidade Federal Rural do Rio de
Janeiro RJ
Alex Vladimir Krusche
Doutor em ecologia e recursos naturais, pesquisador em biogeoqumica
de bacias hidrogrficas do Centro de Energia Nuclear na Agricultura
SP
Alusio Granato de Andrade
Doutor em agronomia (Cincia do Solo), diretor tcnico da Empresa de
Pesquisa Agropecuria do Estado do Rio de Janeiro - RJ
Ana Paula Dias Turetta
Doutora em agronomia (Cincia do Solo), pesquisadora em
planejamento ambiental da Embrapa Solos RJ
Angel Filiberto Mansilla Baca
Tecnlogo em gesto ambiental, economista e bolsista do projeto ZAE-
Cana - RJ
Antnio Costa
Doutor em Agronomia, pesquisador em manejo do solo do Instituto
Agronmico do Paran - PR
Antnio Felix Domingues
Engenheiro agrnomo especializado em economia rural, coordenador
-
de articulao e comunicao da Agncia Nacional de guas DF
tila Torres Calvente
Economista, diretor de desenvolvimento agropecurio da Prefeitura
Municipal de Petrpolis RJ
Azeneth Eufrausino Schuler
Ps-doutora pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amaznia (IPAM),
doutora em energia nuclear na agricultura, pesquisadora em manejo de
bacias hidrogrficas da Embrapa Solos RJ
Beata Emoke Madari
Doutora em cincia do solo e nutrio de plantas, pesquisadora em
matria orgnica do solo da Embrapa Arroz e Feijo GO
Bruno Jos Rodrigues Alves
Doutor em agronomia (Cincia do Solo), pesquisador em dinmica e
quantificao de N no solo da Embrapa Agrobiologia e professor da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - RJ
Celso Vainer Manzatto
Doutor em produo vegetal, chefe geral da Embrapa Meio Ambiente
SP
Cludia Pozzi Jantalia
Doutora e ps-doutora em fitotecnia, pesquisadora em manejo e tratos
culturais da Embrapa Agrobiologia RJ
Cristianny Villela Teixeira Gisler
Doutora em cincias biolgica, especialista em recursos hdricos da
Agncia Nacional de guas DF
Daniel Vidal Prez
Doutor em qumica analtica inorgnica, chefe de P&D da Embrapa
Solos - RJ
Devanir Garcia dos Santos
Mestre em gesto econmica do meio ambiente, gerente de uso
sustentvel da gua e do solo da Agncia Nacional de guas DF
Doracy Pessoa Ramos
Doutor em Agronomia, professor titular da Universidade Estadual do
Norte Fluminense Darcy Ribeiro RJ
Edson Alves de Arajo
Doutor em solos e nutrio de plantas, assessor tcnico da Secretaria
Estadual de Meio Ambiente do Estado do Acre - AC
-
Eduardo Delgado Assad
Doutor em hidrologia e especialista em sensoriamento remoto,
membro do Comit Cientfico do Painel Brasileiro de Mudanas
Climticas e pesquisador em mudanas climticas e seus impactos na
agricultura da Embrapa Informtica Agropecuria - SP
Eduardo de S Mendona
Ps-doutor em bioqumica do solo e em modelagem da matria
orgnica do solo, professor associado da Universidade Federal do
Esprito Santo - ES
Elemar Antonino Cassol
Doutor em agronomia , professor associado em cincia do solo da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - RS
Fabiano de Carvalho Balieiro
Doutor em agronomia, pesquisador em ciclagem de nutrientes da
Embrapa Solos RJ
Falberni de Souza Costa
Doutor em cincia do solo, pesquisador em uso sustentvel dos
recursos naturais do centro de Pesquisa Agroflorestal do Acre
Embrapa Acre - AC
Gerson Cardoso da Silva Jnior
Doutor em hidrogeologia, professor adjunto do departamento de
geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - RJ
Guilherme Montandon Chaer
Doutor em cincia do solo, pesquisador em qualidade do solo da
Embrapa Agrobiologia RJ
Gustavo Henrique Merten
Doutor em recursos hdricos e saneamento ambiental e professor
adjunto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - RS
Isabella Clerici De Maria
Doutora em solos e nutrio de plantas, pesquisadora em solos e
recursos agroambientais do Instituto Agronmico de Campinas SP
Jean Paolo Gomes Minella
Doutor em recursos hdricos e saneamento ambiental, professor
adjunto do departamento de Solos da Universidade Federal de Santa
Maria - RS
Jesus Fernando Mansilla Baca
Doutor em geografia, pesquisador em cartografia da Embrapa Solos e
professor do Centro Federal de Educao Tecnolgica Celso Suckov da
-
Fonseca RJ
John Landers
Mestre em irrigao, consultor internacional em agricultura
conservacionista e coordenador para assuntos internacionais e novos
projetos da Associao de Plantio Direto no Cerrado MG
Jos Miguel Reichert
Ps-doutor em fsica do solo, professor titular do departamento de
solos da Universidade Federal de Santa Maria RS
Julian Dumanski
Cientista snior do Department of Agriculture and Agri-Food, Membro-
consultivo do Agricultural Institute of Canada e Canadian Society of Soil
Science e consultor para o Banco Mundial e vrias agncias da ONU -
Canad
Juliana Magalhes Menezes
Doutora em geologia e professora da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro RJ
Jlio Csar de Lucena Arajo
Mestre em agronomia (Cincia do Solo) pela Universidade Federal
Rural do Rio de Janeiro - RJ
Ktia Leite Mansur
Mestre especializada em gesto ambiental, geloga do Servio
Geolgico do Estado do Rio de Janeiro -RJ
Leonardo Ciuffo Faver
Engenheiro, secretrio municipal de agricultura, abastecimento e
produo da Prefeitura Municipal de Petrpolis RJ
Lcia Helena Cunha dos Anjos
Ps-doutora em cincia do solo, professora associada no departamento
de solos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - RJ
Lucieta Guerreiro Martorano
Doutora em agrometeorologia, pesquisadora em agrometeorologia da
Embrapa Amaznia Oriental PA
Lus Henrique de Barros Soares
Doutor em biologia celular e molecular, pesquisador biotecnologia e
microbiologia industrial da Embrapa Agrobiologia - RJ
Luiz de Morais Rgo Filho
Ps-doutor em favorabilidades de terras, doutor em cincia e produo
vegetal e, pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuria do Estado
do Rio de Janeiro - RJ
-
Marcos Gervsio Pereira
Doutor em agronomia (Cincia do Solo), professor associado do
departamento de solos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
- RJ
Margareth Simes Penello Meirelles
Doutora em geoinformtica e planejamento ambiental, pesquisadora
da Embrapa Labex Europe e professora de geomtica da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro RJ
Maria Victoria Ramos Ballester
Ps-doutora pela universidade de So Paulo, doutora em ecologia e
recursos Naturais, pesquisadora e professora associada do CENA
ESALQ - Universidade de So Paulo - SP
Mateus Rosas Ribeiro
Doutor em cincia do solo, professor associado do departamento de
solos da Universidade Federal Rural de Pernambuco - PE
Mnica Regina da Costa Marques
Doutora em qumica orgnica, professora adjunta do instituto de
qumica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro -RJ
Nestor Bragagnolo
Mestre em agronomia, funcionrio da EMATER-PR e chefe na Diviso de
Projetos e Aes Estratgicas da Secretaria do Estado do Planejamento
e Coordenao Geral do Paran - PR
Paulo Emilio Ferreira da Motta
Doutor em cincia do solo, pesquisador em pedologia e zoneamento da
Embrapa Solos - RJ
Paulo Guilherme Salvador Wadt
Doutor em solos e nutrio de plantas, pesquisador da Embrapa Acre e
professor permanente em agronomia e produo vegetal da
Universidade Federal do Acre - AC
Pedro Luiz de Freitas
Ps-doutor pelo IRD/Frana, doutor em cincia do solo, pesquisador
em manejo de solos em sistema plantio direto da Embrapa Solos RJ
Pedro Luiz Oliveira de Almeida Machado
Ps-doutor pela Rothamsted Research, doutor em solos e nutrio de
plantas, pesquisador em manejo do solo em sistema plantio direto da
Embrapa Arroz e Feijo - GO
-
Rachel Bardy Prado
Doutora em cincias da engenharia ambiental (Recursos Hdricos),
pesquisadora em geotecnologias e monitoramento ambiental da
Embrapa Solos RJ
Raphael Bragana Alves Fernandes
Ps-doutor pela Wageningen University, doutor em solos e nutrio de
plantas, professor adjunto do departamento de solos da Universidade
Federal de Viosa MG
Renato Linhares de Assis
Doutor em economia aplicada, pesquisador da Embrapa Agrobiologia e
professor colaborador da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
RJ
Reynaldo Luiz Victoria
Ps-doutor pela University of Washington, doutor em agronomia,
pesquisador e professor titular do CENA - ESALQ - Universidade de So
Paulo - SP
Robert Michael Boddey
Doutor em agricultura, pesquisador em cincia do solo e microbiologia
da Embrapa Agrobiologia e professor credenciado da Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro - RJ
Rodrigo Tavares dos Santos
Economista, especialista em gesto e integrante do grupo de pesquisa
ndices e indicadores na anlise ambiental da Universidade Estadual
do Rio de Janeiro e analista de normativos do Banco do Brasil - RJ
Sandro Eduardo Marschhausen Pereira
Mestre em geomtica, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente - SP
Segundo Sacramento Urquiaga Caballero
Doutor em solos e nutrio de plantas, consultor/acessor tcnico-
cientfico da Fundao de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de
Janeiro e consultor ad hoc do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Cientfico e Tecnolgico, pesquisador em fixao biolgica do N da
Embrapa Agrobiologia - RJ
Selmo de Oliveira Santos
Zootecnista, secretrio municipal de agricultura de Nova Friburgo RJ
Uebi Jaime Naime
Engenheiro agrnomo, pesquisador aposentado em pedologia e
zoneamento da Embrapa Solos RJ
-
Prefcio
A dcima stima edio da reunio Brasileira de Manejo e
Conservao do Solo e da gua teve como tema Manejo e conservao
do solo e da gua no contexto das mudanas ambientais e estava
inserida nas atividades do Ano Internacional do Planeta Terra. Mais do
que isso, a insero e a compreenso do solo no contexto das mudanas
ambientais foi de suma importncia para a definio das diretrizes e
estratgias necessrias para a manuteno do solo e de suas
propriedades, e em ltima anlise, o futuro da nossa sociedade e do
nosso pas.
O evento tambm foi uma oportunidade especial para a
Sociedade Brasileira de Cincia do Solo (SBCS) reconhecer e agradecer
a comunidade de cientistas de solo que exercem suas atividades no
Estado do Rio de Janeiro. Alm das contribuies cientficas e da nossa
sociedade ter sido aqui fundada em 1847, estes colegas tm nos
agraciado nos ltimos anos com o empenho na organizao de um
congresso brasileiro, uma FertBio e outros eventos relacionados, com
uma clara demonstrao do respeito com que lidam com a Cincia do
Solo e a importncia desta cincia no desenvolvimento cientfico e
social deste pas.
Nossa sociedade tem se renovado com a juventude, mantendo o
respeito e a admirao pelo trabalho desenvolvido pelos nossos
mestres, evoluindo e inovando na busca de solues para um mundo
novo que se apresenta a cada dia. A presente publicao uma clara
demonstrao de como a nossa cincia pode ser til e atual. Alm dos
-
assuntos relacionados ao tema geral, este livro apresenta a opinio de
cientistas respeitados e consagrados pelas suas idias, com destaque
para assuntos como o potencial da expanso agrcola e da agroenergia
no pas, em face s novas mudanas ambientais e do mercado, gesto
do solo e da gua no mbito dos servios ambientais e transferncia de
tecnologia, entre outros. Com 27 captulos, o livro mais uma
demonstrao de competncia desta valorosa equipe, que organizou
este encontro to produtivo e pertinente, e que soube com maestria
escolher seus palestrantes, que so os principais autores desta obra. A
todos, e em especial a balzaquiana Embrapa Solos, o sincero
agradecimento e o reconhecimento da SBCS pelo excelente trabalho
realizado.
I have gathered a garland of other men's flowers, and nothing is mine but
the cord that binds them (Michel de Montaigne, 1533-1592)
Flvio Anastcio de Oliveira Camargo
Presidente da SBCS
-
Neste livro sero apresentadas as principais consideraes
abordadas durante a XVII Reunio Brasileira de Manejo e Conservao
do Solo e da gua - RBMCSA. O presente volume inclui quase todas as
palestras apresentadas durante o evento com o diferencial de que a
maioria dos captulos foi atualizada pelos autores, alm de terem sido
includos captulos inditos sobre os grandes temas.
Desde sua origem, h mais de 25 anos, as diferentes edies da
Reunio Brasileira de Manejo e Conservao do Solo e da gua foram
marcadas pela busca de solues alternativas e mobilizao da
sociedade para o desenvolvimento de sistemas agrcolas
conservacionistas.
A questo inicial era conter a eroso que vinha crescendo
fortemente com o advento da revoluo verde na dcada de 70,
principalmente na regio Sul do Brasil, devido intensa mecanizao,
excessivo uso de agroqumicos e ausncia de rotao de culturas. Para
combater esse grave problema foi desenvolvido o sistema de plantio
direto e o planejamento de uso das terras em microbacias hidrogrficas.
Hoje, temos antigos e novos desafios a vencer, pois o Brasil
possui aproximadamente, 65% do seu territrio com potencial 2
agrcola, com mais de 5,5 milhes de km podendo ser utilizados para a
produo agropecuria. No entanto, novas fronteiras agrcolas
continuam sendo abertas, pressionando remanescentes florestais e
reservas naturais em todos os biomas brasileiros. Por exemplo, a
expanso acelerada da pecuria bovina nas regies Norte e Centro-
Apresentao
-
Oeste foram a grande responsvel pela abertura de novas terras. A
expanso da criao de bovinos ocorreu, em especial, pela
disponibilidade de terras para formao de pastos plantados e de
pastos naturais; pelas polticas de incentivos fiscais na dcada de 1970
(crdito rural, abertura de rodovias) e pela simbiose com a extrao
madeireira.
No que se refere produo agrcola importante destacar o
desempenho das lavouras temporrias no uso e ocupao do solo. Ao se
comparar reas ocupadas com as pastagens (naturais e plantadas) e as
dez principais culturas de lavouras temporrias e permanentes,
observa-se que a ocupao de lavouras permanentes (5,9 Mha) quase
que 100 vezes inferior rea ocupada por lavouras temporrias (46,9
Mha), que por sua vez cerca de 3,6 vezes inferior rea ocupada por
pastagens (172 Mha), considerando os dados do Censo Agropecurio
do IBGE de 2006.
No contexto do agronegcio, a soja, o milho e a cana-de-acar
se destacam tanto pela rea ocupada, como pela sua participao no PIB
nacional. Projees recentes realizadas pelo MAPA apontam para a
continuidade da expanso de novas reas destinadas a essas culturas,
alm de acentuado dinamismo da exportao dos seguintes produtos
nos prximos anos: algodo, milho, soja, acar e etanol. Indicam ainda
que o pas ser, em pouco tempo, o principal plo mundial de produo
de biocombustveis, com destaque para a liderana na ocupao de
novas reas com cana-de-acar, cujo aumento esperado de cerca
66% em rea plantada at 2017. Este quadro aponta para uma intensa
utilizao dos solos brasileiros, com mudanas significativas na
dinmica de uso e cobertura das terras.
Dessa forma, o uso intensivo da terra em reas frgeis promove
tanto a desertificao no Nordeste como o assoreamento do Pantanal e
a arenizao na regio Sul. No entanto, o manejo sustentvel do
ambiente vem sendo discutido, considerando as premissas sugeridas
pela FAO, que as prticas usadas no devem implicar em perda de
produtividade e de qualidade do solo e da gua, assim como o sistema
de manejo alternativo deve ser economicamente vivel e socialmente
aceitvel.
Uma dessas alternativas podem ser os sistemas agroflorestais,
capazes de promover a gerao de renda e a recuperao ambiental.
-
Neste balano entre degradao, recuperao, uso e conservao temos
regies onde o saldo positivo, mas tambm temos muitas outras onde
os impactos negativos vem causando misria, xodo rural e degradao
dos recursos naturais.
O ano de 2008 foi escolhido pela ONU como o Ano Internacional
do Planeta Terra, na tentativa de sensibilizar a populao mundial para
a necessidade de se reverter as mudanas ambientais que estamos
vivendo. Neste sentido, o tema escolhido para a XVIIRBMCSA foi:
MANEJO DO SOLO E DA GUA NO CONTEXTO DAS MUDANAS
AMBIENTAIS, que refora a responsabilidade dos cientistas que
estudam o solo e sua ambincia, na medida em que a demanda por
alimentos, fibras e agroenergia tambm cresce, exercendo forte
presso sobre o meio ambiente.
Entre os principais desafios da comunidade cientifica,
relacionada ao tema do presente livro, est o de contribuir para o
manejo sustentvel do solo e da gua, gerando e transferindo
sociedade conhecimento e tecnologia capazes de suprir as demandas
advindas das mudanas climticas, alm de promover a prestao de
servios ambientais, assegurando a preservao do solo, da gua e da
biodiversidade.
Os organizadores
-
Sumrio
PARTE I
Manejo e conservao do solo e da gua e das mudanas
ambientais..........................................................................................................
Captulo 1
Aspectos gerais sobre o manejo e conservao do solo e da gua e
as mudanas ambientais - Alusio Granato de Andrade, Pedro Luiz
de Freitas e John Landers..................................................................................
Captulo 2
Manejo e conservao do solo e da gua no contexto das
mudanas ambientais Panorama Brasil - Pedro Luiz Oliveira de
Almeida Machado, Beta Emoke Madari e Luiz Carlos Balbino..........
Captulo 3
Soil conservation in a changing world - Julian Dumanski....................
Captulo1 - Aspectos gerais relacionados expanso da
agricultura brasileira - Lcia Helena Cunha dos Anjos e Marcos
Gervasio Pereira..................................................................................................
Captulo 2 - Pedologia e Interpretaes para o Manejo e a
Conservao do Solo e da gua - Doracy Pessoa Ramos e Luiz de
Morais Rego Filho...............................................................................................
Captulo 3 - Geotecnologias e modelos aplicados ao manejo e
conservao do solo e da gua - Isabella Clerici De Maria....................
Captulo 4 - Processos e modelagem da eroso: da parcela bacia
hidrogrfica - Jean Paolo Gomes Minella, Gustavo Henrique
Merten, Jos Miguel Reichert e Elemar Antonino Cassol........................
PARTE II
Expanso da agricultura brasileira e relaes com as
mudanas ambientais.........................................................................
23
25
41
53
79
81
85
95
105
-
Captulo 5 - Remediao do solo e da gua: aspectos gerais -
Daniel Vidal Prez e Mnica Regina Marques Palermo de Aguiar......
Captulo 6 - Planejamento de uso da terra em microbacias
hidrogrficas - Nestor Bragagnolo...............................................................
Captulo 7 - Manejo de fertilizantes e resduos na Amaznia Sul-
Ocidental - Paulo Wadt, Edson Alves de Arajo e Falberni de Souza
Costa........................................................................................................................
Captulo 8 - Manejo do solo e da gua em permetros irrigados da
regio Nordeste do Brasil - Mateus Rosas Ribeiro...................................
Captulo1 - Reflexes sobre a produo de biocombustveis e a
conservao dos biomas brasileiros - Fabiano de Carvalho
Balieiro e Lucieta Guerreiro Martorano......................................................
Captulo 2 - Zoneamento agroecolgico da cana-de-acar:
abordagem metodolgica para integrao temtica de grandes
reas territoriais - Celso Vainer Manzatto, Jesus Fernando
Mansilla Bacca, Sandro Eduardo Marschhausen Pereira, Eduardo
Delgado Assad, Margareth Simes Penello Meirelles, Angel
Filiberto Mansilla Baca, Uebi Jaime Naime e Paulo Emlio Ferreira
da Motta................................................................................................................
Captulo 3 - Agroeneria e sustentabilidade do solo e da gua -
Maria Victoria Ramos Ballester, Reynaldo Luiz Victoria e Alex
Vladimir Krusche.................................................................................................
Captulo 1 - Servios ambientais no Brasil: do conceito prtica -
Ana Paula Dias Turetta, Rachel Bardy Prado e Azeneth Eufrausino
Schuler....................................................................................................................
PARTE III - Novos cenrios com a expanso da agroenergia......
PARTE IV - Manejo e conservao do solo e da gua no
contexto dos servios ambientais...........................................................
123
137
141
171
181
183
193
215
237
239
-
Captulo 2 - Manejo e conservao de solos no contexto dos
servios ambientais - Eduardo de S Mendona e Raphael
Bragana Alves Fernandes...............................................................................
Captulo 3 - Sistemas conservacionistas de uso do solo - Ademir
Calegari e Antnio Costa...................................................................................
Captulo 4 - Mtodos de integrao de indicadores para avaliao
da qualidade do solo - Guilherme Montandon Chaer.............................
Captulo 5 - ndices de qualidade de gua: mtodos e
aplicabilidade - Juliana Magalhes Menezes, Rachel Bardy Prado,
Gerson Cardoso da Silva Jnior e Rodrigo Tavares dos
Santos......................................................................................................................
Captulo 6 - Gesto de recursos hdricos na agricultura: O
Programa Produtor de gua - Devanir Garcia dos Santos, Antnio
Flix Domingues e Cristianny Villela Teixeira Gisler................................
Captulo 7 - Mudanas ambientais: sequestro de carbono e
emisso de gases de efeito estufa pelo solo - Segundo Urquiaga,
Bruno Jos Rodrigues Alves, Claudia Pozzi Jantalia, Luis Henrique
de Barros Soares e Robert Michael Boddey.................................................
Captulo 1 - Divulgao do conhecimento cientfico e a
sensibilizao da sociedade em relao ao manejo e conservao
do solo e da gua - Ktia Leite Mansur.........................................................
Captulo 2 - Abordagem etnopedolgica no auxlio de aes
socioambientais: proposta de diagnstico e gesto participativa
dos recursos naturalizados na terra indgena Kraholndia - Jlio
Csar de Lucena Arajo, Lcia Helena Cunha dos Anjos e Marcos
Gervasio Pereira..................................................................................................
PARTE V - Difuso do conhecimento e envolvimento da
sociedade em manejo e conservao do solo e da
gua..........................................................................................................
397
391
389
377
353
325
309
279
255
-
Captulo 3 - Popularizao das cincias da terra como estratgia
para conservao de solo e gua: o caso do Estado do Rio de
Janeiro - Ktia Leite Mansur............................................................................
Captulo 4 - Pesquisa participativa na regio Serrana Fluminense
experincia do Ncleo de Pesquisa e Treinamento para
Agricultores da Embrapa em Nova Friburgo - Renato Linhares de
Assis e Adriana Maria de Aquino...................................................................
Captulo 5 - Programa Associar - associativismo e
desenvolvimento rural sustentvel - Selmo de Oliveira Santos.........
Captulo 6 - Polticas pblicas, preservao e desenvolvimento do
setor agropecurio: uma experincia em Petrpolis RJ - tila
Torres Calvente e Leonardo Ciuffo Faver.....................................................
415
431
451
461
-
Pa
rte
I
Manejo e conservao do
solo e da gua e as
mudanas ambientais
-
Foto: Vinicius de Melo Benites
EMBRAPA SOLOS
-
01
Introduo
O solo e a gua so elementos fundamentais de sustentao dos
sistemas agrcolas e naturais. Reverter o quadro de degradao de
extensas reas; otimizar o uso dos solos e da gua, com potencial para
aumentar a produo agrcola; contribuir para a mitigao de impactos
ambientais e desenvolver novos insumos e sistemas de produo,
capazes de promover a sustentabilidade ambiental, social e econmica
pelas geraes presentes e futuras so alguns dos desafios para o
manejo e a conservao do solo e da gua para os diversos ambientes,
usos e estado de degradao das terras.
Os primeiros esforos voltados conservao do solo e da gua,
especialmente no Brasil, se concentraram nas prticas mecnicas de
terraceamento, construo de curvas de nvel e de canais escoadouros,
plantio em nvel ou em faixas e outros (SOBRAL FILHO et al., 1982).
Durante algumas dcadas, as prticas mecnicas adotadas no controle
da eroso se mostraram insuficientes, especialmente na regio sul do
pais (VIEIRA, 1994). Somente no incio da dcada de 70 que se
percebeu a importncia de manejar adequadamente o solo, evitando
exp-lo aos efeitos das chuvas intensas do clima tropical e subtropical
que predominam no Brasil, assim como a relevncia da microbacia
hidrogrfica como unidade de planejamento conservacionista.
Compreendeu-se que a sustentabilidade da produo agrosilvipastoril,
garantindo a segurana alimentar e a preservao ambiental, esto
associadas ao planejamento do uso da terra e do manejo do solo e da
gua, com a adoo de sistemas conservacionistas. Igualmente, as
Aspectos gerais do manejo e
conservao do solo e da gua
e as mudanas ambientais
Alusio Granato de Andrade
Pedro Luiz de Freitas
John Landers
25
-
perdas econmicas e ambientais, causadas pela eroso hdrica, foram
os fatores motivadores da viabilizao do Sistema Plantio Direto
SPD(FREITAS, 2002).
A evoluo da conservao do solo e da gua por meio do
manejo ocorreu de forma a viabilizar a agricultura brasileira, dando
sustentabilidade aos sistemas de produo agrosilvipastoris. Mas,
somente a partir do incio deste sculo, tcnicos e agricultores se deram
conta de que, alm de minimizar o impacto ambiental da agricultura,
mitigando as perdas de solo, gua, nutrientes e matria orgnica,
estariam tambm contribuindo para o sequestro de carbono e
reduzindo a emisso de Gases de Efeito Estufa (GEEs). Sendo assim,
necessrio tambm desenvolver sistemas de produo capazes de se
adaptar s mudanas climticas, garantindo a produo de alimentos,
fibras e agroenergia e a manuteno de servios ambientais. Neste
sentido, o captulo 2 desta parte apresentar, de forma mais
aprofundada, o panorama brasileiro em relao ao Manejo e
Conservao do Solo e da gua no Contexto das Mudanas Ambientais.
Como as alteraes ambientais vm ocorrendo globalmente,
seja em funo das aes antrpicas ou naturalmente, preciso que as
alternativas de mitigao dos problemas enfrentados sejam discutidas
no mbito internacional, at porqu a populao mundial demanda
recursos naturais e alimentos continuamente, que os pases de forma
isolada, no conseguem ser autosuficientes, recorrendo importao
de vrios produtos para suprirem esta demanda. Como exemplo da
interdependncia entre os pases, no caso do setor agrcola, o mercado
exterior que rege, muitas vezes, a forma de produo agrcola, pois o
produto poder ter maior ou menor valor agregado ou aceitabilidade na
exportao em funo do sistema de produo praticado. E as questes
ambientais e sociais tm sido consideradas de forma crescente neste
processo. Desta forma, o captulo 3 desta parte abordar o panorama
internacional do Manejo e Conservao do Solo e da gua no Contexto
das Mudanas Ambientais, apresentando iniciativas, programas e
agendas que vm discutindo recentemente este tema, contribuindo de
forma definitiva para a sustentabilidade do planeta.
26
-
Sustentabilidade do solo
O aumento de reas degradadas em regies anteriormente
produtivas tem sido constatado em diferentes regies do Brasil. A
eroso tem se apresentado sob todas as suas formas (laminar, sulcos e
voorocas), levando solo, sementes, adubos e agrotxicos para os lagos,
os rios at atingir o mar. O resultado a perda de produo e o
empobrecimento dos agricultores; o assoreamento e a contaminao
dos corpos hdricos e o desmatamento para abertura de novas reas de
produo, causando perda da biodiversidade nos diferentes biomas
brasileiros. Para evitar esta degradao necessrio planejar as
atividades de produo agropecuria de acordo com a aptido agrcola
das terras, manejando o solo de acordo com suas fragilidades e
potencialidades. Atravs de dados provenientes das mais diversas
fontes do meio fsico e bitico e de sistemas de informao capazes de
integrar estes dados, possvel separar a paisagem em zonas,
possibilitando planejar adequadamente o uso, a conservao e a
recuperao das terras. Esta abordagem tem sido utilizada como
importante instrumento de ordenamento territorial e planejamento de
uso das terras. Exemplos como a incluso do Zoneamento Agrcola na
Poltica Agrcola Brasileira, do Programa do Zoneamento Ecolgico-
Econmico e a crescente demanda para realizao de Zoneamentos
Agroecolgicos Estaduais vm confirmando a importncia de se
desenvolver aes de planejamento em todas as regies brasileiras.
Para o desenvolvimento de sistemas sustentveis nas
diferentes zonas agroecolgicas necessrio a aplicao de tcnicas
conservacionistas adaptadas aos diferentes ambientes e sistemas de
produo agropecuria, protegendo o solo e garantindo sua
funcionalidade, como a troca de ar e calor, o armazenamento e a
ciclagem de nutrientes, a decomposio da matria orgnica, a
regulao do fluxo de gua, o movimento de materiais solveis,
servindo de filtro ou de tampo para elementos e compostos txicos.
Os sistemas conservacionistas associam a reduo drstica do
revolvimento do solo rotao de diferentes usos e culturas;
manuteno permanente da cobertura do solo; ao manejo integrado de
pragas, doenas e de plantas daninhas; seleo de espcies vegetais e
ao desenvolvimento de variedades e cultivares mais produtivas e
27
-
adaptadas; aos sistemas de adubao mais racionais; e muitas outras
tecnologias adaptadas aos diferentes sistemas de produo. Por serem
desenvolvidos para as condies de solo e clima existentes em cada
regio, os sistemas conservacionistas vm se tornando mais frequentes
na paisagem, recuperando reas degradadas e dando renda aos
agricultores. Destacam-se, entre outros, os sistemas agroflorestais, a
integrao lavoura-pecuria-floresta e o sistema de plantio direto.
O manejo agroecolgico desses sistemas privilegia prticas que
garantem um fornecimento constante de matria orgnica,
fundamental para a construo da fertilidade do solo em seu sentido
mais amplo. Ou seja, maneja-se o solo para estimular as atividades
biolgicas e para que cresam plantas bem nutridas que forneam
alimentos balanceados e saudveis. Este tipo de manejo procura
priorizar o uso de recursos naturais renovveis, localmente
disponveis, diminuir a dependncia do produtor por insumos externos
e poupar recursos naturais no renovveis. Nesse contexto, o processo
de fixao biolgica de N uma estratgia importante para o 2
fornecimento de nitrognio, favorecendo a produo das culturas sem a
necessidade de aplicao de fertilizante qumico. Estas prticas
agrcolas sustentveis sero expostas e aprofundadas ao longo do
presente livro.
A ampliao de pesquisas e do uso de prticas agroecolgicas,
considerando o planejamento regional e local, de forma participativa,
permitir, cada vez mais, que pequenos e grandes agricultores, em
sistemas de produo familiar e empresarial, produzam alimentos e
matrias primas de qualidade, e ainda promovam a conservao dos
recursos naturais e se mantenham em suas regies de origem.
Perspectivas globais de mudanas climticas
A degradao ambiental, expressa como um declnio na
qualidade da terra solo, gua, fauna e flora, ou na reduo da
produtividade potencial do solo, representa, especialmente atravs da
reduo do carbono total e da biomassa, uma preocupao importante
sobre as emisses de GEEs para a atmosfera (ESWARAN et al., 2001).
No entanto, a grande variabilidade espacial e temporal do uso
da terra e manejo do solo em diferentes ecossistemas, dificulta a
28
-
estimativa das emisses de GEEs reais (VERCHOT, 2007). Isto
especialmente problemtico para a estimativa dos GEEs que no o CO 2
como o xido nitroso (N O) e o metano (CH ) (VERCHOT et al., 1999; 2 4
VERCHOT et al., 2000; DAVIDSON et al., 2000).
A valorizao do preo das commodities contribuem para
aumentar as presses para o desmatamento, principalmente devido s
atividades com pecuria, o que est promovendo o avano da fronteira
agrcola para regies como a Amaznia (BANCO MUNDIAL, 2003). O
desmatamento provoca alm da perda da biodiversidade, eroso do
solo, diminuio das taxas de infiltrao da gua e a consequente
recarga dos aquferos, contribuindo para agravar o aquecimento global
(INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 2007). Entre
60% a 75% das emisses brasileiras de gs carbnico e metano na
atmosfera so provenientes dos desmatamentos da floresta tropical,
valores que colocam o pas entre os cinco maiores emissores do mundo.
Este padro de emisses de gases do efeito estufa (GEEs) diferente dos
pases mais industrializados, nos quais a queima de combustvel fssil
a principal fonte do gs. Tecnologias e maior conhecimento sobre os
sistemas de produo agropecuria para os trpicos, ao lado de
polticas pblicas adequadas e o cumprimento da legislao ambiental,
contribuem para a reduo do desmatamento.
Outra fonte de preocupao a quantidade e qualidade dos
recursos hdricos, uma vez que a gua constitui tanto um bem essencial
vida quanto um precioso insumo para diversas atividades
econmicas. Entre os diversos usos econmicos e sociais que
competem pela apropriao ou utilizao dos recursos hdricos no
Brasil, a agricultura consome a maior parte da gua, seguida do setor
industrial e depois pelas residncias. Tais usos apresentam
caractersticas bastante diferenciadas quanto aos efeitos que
produzem sobre o ciclo hidrolgico, bem como em relao aos
mananciais utilizados e forma de interveno sobre eles.
Em relao diminuio das reservas de petrleo e
possibilidade da escassez, aliada crescente preocupao com a
preservao do meio ambiente, os governos e organismos
internacionais tm direcionado esforos na substituio dos
combustveis fsseis. A Unio Europia, por exemplo, convocou os 27
pases membros a trocar pelo menos 10% do volume de combustveis
29
-
fsseis usados em veculos por biocombustveis at 2020. Mais do que
isso, os lderes europeus se comprometeram a diminuir as emisses de
dixido de carbono (CO ) em 20% em relao aos nveis de 1990 no 2
mesmo prazo. No programa de metas energticas anunciadas no incio
de 2007, os EUA estabeleceram a substituio da gasolina consumida
por biocombustveis, podendo chegar a 20% em dez anos, como 1
noticiado pela imprensa . Com o uso crescente de recursos renovveis,
abrem-se oportunidades da participao do Brasil no mercado de
bioenergia.
Associe-se a isso, ainda, a demanda crescente pela produo de
bioenergia. Dessa forma, tem havido uma expanso do consumo
mundial de gros, carne e leite que impactou diretamente os preos
internacionais dos principais produtos e a rentabilidade do mercado
agrcola. Assim, nos ltimos anos, a importncia do agronegcio para a
gerao de renda na economia mundial foi intensificada. Dados da
United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD)
mostram que o preo das commodities agrcolas cresceram 50% entre
2000 e 2006. Observando-se o panorama mundial com aumentos
significativos da demanda por alimentos, agroenergia e outras matrias
primas, identificam-se grandes oportunidades para o desenvolvimento
da agricultura tropical.
O papel do Sistema Plantio Direto na mitigao da emisso dos
GEEs
Como um sistema de manejo do solo, o Sistema Plantio Direto
incorpora uma mudana radical nas prticas agronmicas, eliminando
o revolvimento do solo e promovendo a agrobiodiversidade, atravs da
rotao de culturas e de diferentes usos da terra, alm de manter o solo
coberto com culturas em crescimento ou com resduos vegetais. A esses
requisitos so associados, ainda, o manejo integrado de pragas, doenas
e plantas invasoras (SALTON et al., 1999; FREITAS, 2002). Atende assim
os princpios essenciais de sustentabilidade da agricultura nos trpicos
e sub-tropicos (MACHADO; FREITAS, 2004; LANDERS et al., 2001). O
manejo conservacionista visa a otimizao do potencial produtivo das
30
DO 'ouro negro' a uma nova matriz energtica. Disponvel em:
. Acesso em: 11 jun.
2010
1
-
plantas cultivadas com a melhoria das condies ambientais
(BERNARDI et al., 2003).
Com base em dados obtidos em diferentes condies
brasileiras, Bayer et al. (2006) estimaram, nas lavouras de gros
cultivadas em SPD, um acmulo de carbono no solo da ordem de 350
kg/ha/ano, em uma profundidade de 20 cm, na regio dos cerrados.
Esse acmulo pode chegar a 480 kg/ha/ano no Sul do Brasil. Aplicando
os resultados na rea da adoo do SPD no Brasil, Freitas et al. (2007)
estimaram uma remoo de CO da atmosfera da ordem de 29 a 40 2
milhes t/ano, o que os autores consideram insignificante em
comparao com as emisses anuais totais do planeta, na ordem de 29
bilhes de toneladas de CO . Considerando o potencial de crescimento 2
da agricultura brasileira, especialmente com a produo de etanol e
biodiesel, razovel projetar uma rea de 100 milhes de ha com a
adoo de SPD, com um sequestro de carbono da ordem de 128-176
milhes de toneladas de CO por ano, o que corresponde a 3 a 13% de 2
todo o CO emitido atualmente pelo desmatamento e pela mudana do 2
uso da terra, estimada em 1,4 a 4,4 bilhes de toneladas de CO por Lal 2
(2004).
Em 2004, o SPD era adotado em mais de 95 milhes de ha em
todo o mundo (DERPSCH, 2005). Cerca de 50% desta rea era
concentrada na Amrica do Sul, principalmente no Brasil, Argentina e
Paraguai. Nos EUA e Canad eram encontrados 40% desta adoo,
restando apenas 10% no resto do mundo. No Brasil a rea ocupada com
culturas anuais, especialmente gros, onde houve a adoo total ou
parcial do SPD era estimada em 25,5 milhes de ha no ano agrcola
2005/2006, dos quais 38% eram no Bioma Cerrado (FEDERAO
BRASILEIRA DE PLANTIO DIRETO NA PALHA, 2010). A evoluo da
rea de adoo do SPD apresentada na Figura 1. Um balano de
emisso e sequestro dos GEEs nestas reas indica uma expressiva
reduo na emisso de GEEs.
A principal contribuio da adoo do SPD para a mitigao da
emisso de GEEs ocorre devido ao menor uso de fertilizantes,
pesticidas e de leo diesel (associado ao uso mais eficiente de
mquinas, com menor manuteno). Soma-se a isto as condies
sociais mais favorveis encontradas e os menores ndices de poluio
do ar e da gua.
31
-
O efeito da adoo do SPD na mitigao das emisses de GEEs,
no somente de CO , reconhecido. Assim, alm da menor emisso de 2
CO pelo sequestro de carbono no solo e na cobertura viva ou morta do 2
solo, ocorre a reduo no consumo de combustvel, que pode chegar, em
mdia a 60% bem como a preservao da vegetao nativa, pela
mitigao do desmatamento. Tem-se ainda uma menor emisso de
metano, pela gesto mais racional do gado e do arroz irrigado, e de
xido nitroso, pelo aumento da eficincia de fertilizantes,
especialmente aqueles base de nitrognio. Neste caso, existem alguns
trabalhos cientficos publicados que relatam o aumento das emisses
de N O no SPD, especialmente nos Estados Unidos e na Europa. 2
Entretanto, as emisses de N O esto relacionadas com o manejo e o 2
tipo de solo, especialmente com as propriedades relacionadas ao
comportamento hdrico e capacidade de reduo de N O (HNAULT et 2
al., 1998). Sendo necessrio tambm o desenvolvimento de tecnologias
e produtos condizentes com as particularidades dos solos tropicais, das
quais se destacam, de forma geral, a baixa fertilidade natural, baixos
teores de matria orgnica, baixa capacidade de reteno de gua e
nutrientes para as plantas e a alta capacidade de imobilizao de
fsforo.
32
Figura 1. Evoluo da rea de adoo do Sistema Plantio Direto nos Cerrados e no Brasil
(safras 1972/73 a 2005/2006)
Fontes: FEBRAPDP, 2010 e APDC dados no divulgados.
-
Estima-se que a queima de resduos responsvel pela emisso
anual de 26 Tg de NOx; 0,8 (0,3-1,6) Tg de N O e 40 (20-80) Tg de CH e 2 4
300-700 Tg de CO (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE
CHANGE, 1995). No Brasil, a adoo de princpios SPD na agricultura
tem mitigado a maior parte das emisses de GEEs, estimada em 2,9 Tg,
em 1990. 95% desta emisso devido queima da biomassa de cana-
de-acar na produo de etanol e acar. Os esforos para mitigar a
queima de biomassa atravs da adoo de colheita mecanizada
(estimada em mais de 60% da rea de plantio de cana-de-acar no
Estado de So Paulo), associada rotao com culturas anuais ou
pastagens na reforma do canavial e ao preparo reduzido em plantao
de cana, so formas eficazes de mitigao das emisses de GEEs
(SEGNINI et al., 2004; LA SCALA et al., 2006; LUCA et al., 2008).
Para a pecuria, as emisses de metano a partir de processos
digestivos de todos os animais (especialmente ruminantes), tm sido
estimada pela Agencia de Proteo Ambiental dos EUA (US-EPA) como
sendo de 15% das emisses de metano ou total em todas as fontes. H
tambm uma importante contribuio de resduos de animais em
confinamento. No Brasil, as emisses de metano, representam mais de
95% das emisses totais de metano do pas. H uma grande variedade
de prticas associadas ao manejo de pastagens, manejo do estrume e da
alimentao, que podem reduzir as emisses e aumentar o sequestro de
carbono (PRIMAVESI, 2007).
H tambm o potencial de mitigao das emisses de GEEs
atravs da mudana do uso da terra e da adoo de sistemas
conservacionistas, tais como sistemas agroflorestais, integrao
lavoura - pecuria - floresta, entre outros, a serem apresentados e
discutidos neste livro. Os sistemas baseados em SPD tm sido
desenvolvidos e existe um grande esforo de difuso. A adoo de
sistemas de recuperao de terras degradadas, principalmente
pastagens de baixa capacidade de suporte e rotorno produo, so
temas da atual politica agrcola (BRASIL, 2008). Dados do final do
sculo XX indicavam que, entre a Amaznia e o Cerrado, existiam
aproximadamente 80 milhes de ha de pastagens quase todas
degradadas ou em fase de degradao (SANO et al., 1999). Landers e
Freitas (2001) propuseram um cenrio onde a integrao lavoura-
pecuria, utilizando os princpios do SPD, tornam possvel o aumento
33
-
de produo de gros, fibras e de carne nas pastagens degradadas, com
desmatamento zero, acomodando toda a expanso da demanda atual
fronteira agrcola para os prximos 20 anos ou mais.
Landers et al. (2001) estimaram os valores econmicos dos
mltiplos impactos positivos gerados pela adoo de SPD. Os impactos
econmicos considerados referem-se aos benefcios diretos aos
agricultores (aumento de produtividade das culturas devido adoo do
SPD e economia de energia de bombeamento em reas irrigadas), bem
como os benefcios indiretos em relao reduo das despesas
pblicas, decorrentes da reduo dos efeitos da explorao agrcola ou
da eroso do solo e do assoreamento (manuteno de estradas,
tratamento de gua, tempo e custos de dragagem do reservatrios e
outros.). Os impactos ambientais tambm foram avaliados, incluindo a
recarga de aquferos, devido ao aumento da infiltrao de gua no solo,
menor emisso de CO pela economia de leo diesel, e sequestro de 2
carbono no solo e em resduos mantidos na superfcie. Os autores
estimaram que, se o Brasil utilizasse corretamente o SPD nos 15
milhes de hectares em que a tcnica ocupava quando dos estudos, o
sequestro de carbono representaria um incremento de US$ 1,5 bilho
por ano na economia nacional, a custo zero.
H outros benefcios indiretos, tais como o aumento da
variedade e do nmero de meso e micro-fauna do solo; a melhoria da
estrutura, permeabilidade, capacidade de reteno de umidade e da
estabilidade do solo e o aumento da ciclagem de matria orgnica no
solo; bem como o armazenamento de nutrientes, liberando-os
gradualmente para as culturas. Dentro de alguns anos, essas prticas
resultaro em um significativo aumento da produtividade do solo e
aumento da eficiencia de fertilizantes, implicando em uma reduo
substancial das emisses de GEEs em toda cadeia de produo de
fertilizantes.
A adoo de princpios de agricultura conservacionista
contribui para o aumento da biodiversidade e est ligada fertilidade
do solo e ao sequestro de carbono. A biodiversidade acima e no solo
varia com as mudanas de uso da terra ao longo do tempo. Cerca de 1,6-
2,0 bilhes de toneladas por ano so atribudas ao desmatamento, mal
manejo do solo e degradao da terra. Esta fonte de emisso pode ser
mitigada pela intensificao da agricultura em terras j desmatadas,
34
-
reduzindo o desmatamento e melhorando as prticas agrcolas e
florestais pela adoo de SPD.
Um fator chave para promover o aumento do estoque de
carbono no solo a forma como o SPD realizado integrando as
melhores prticas de manejo disponveis para atingir um eficaz
controle da eroso, de uma forma sustentvel e competitiva (FREITAS
et al., 2002).
Considerando a agricultura brasileira, um cenrio otimista foi
apresentado por Freitas e Manzatto (2002), com uma taxa anual de
adoo de SPD de 21%, permitindo chegar a 100% da rea total anual
em cinco anos. Para alcanar esse objetivo, as seguintes assunes
foram feitas:
aceitao pela sociedade e governo da importncia dos pagamentos
de servios ambientais aos agricultores e / ou os incentivos ao trabalho
de pesquisa, servios de extenso e de crdito agrcola;
decodificao de conhecimentos de investigao existentes para uso
por tcnicos e agricultores;
criao de unidades de demonstrao participativa;
incentivos para reflorestamento de reas frgeis, identificados pela
avaliao do risco de eroso e;
zoneamento agroecolgico para determinar o uso da terra aceitvel,
de acordo com classes de aptido agrcola das terras, utilizando
parmetros modificados para incorporar SPD sustentvel e sistemas de
gesto da conservao.
Complementando este cenrio, existe a possibilidade de
garantir a segurana alimentar com a renovao de pastagens
degradadas, estimadas em mais de 80 milhes de ha somente na rea
tropical do Brasil (SANO et al., 1999; CASSALES; MANZATTO, 2002).
No que tange ao desempenho do Brasil perante tratados
internacionais, os quais esto entrando em fase de maior rigor para os
pases em desenvolvimento, fica clara a necessidade de
reconhecimento financeiro de aes conservacionistas executadas
pelos agricultores. Tecnologias j existentes e validadas, passveis de
serem adotadas e geradoras de impactos positivos, com nfase
mitigao do aquecimento global e perda de biodiversidade, teriam
sua adoo muito mais desejvel e factvel. Para isto, necessrio o
35
-
estabelecimento de protocolos para o sequestro de carbono em solos
agrcolas e, preparando para o futuro, os balanos de CO equivalentes. 2
Isto exige a formao de grupos de trabalho para a formulao de
posies para cada um dos cinco biomas brasileiros. Outros servios
ambientais a serem considerados so: (a) controle de eroso e seus
impactos; e, (b) o desmatamento evitado pela intensificao do uso da
terra.
Referncias bibliogrficas
BANCO MUNDIAL. Causas do desmatamento da amaznia
brasileira. Braslia: Banco Mundial, 2003. 100 p.
BAYER, C.; MARTIN-NETO, L.; MIELNICZUK, J.; PAVINATO, A.; DIECKOW,
J. Carbon sequestration in two brazilian cerrado soils under no-till. Soil
and Tillage Research, v. 86, n. 2, p. 237-245, apr. 2006.
BERNARDI et al. Correo do solo e adubao no sistema de plantio
direto nos cerrados. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2003. 22 p.
(Embrapa Solos. Documentos, 46).
BRASIL. Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento. Plano
Agrcola e Pecurio 2008-2009. Braslia: MAPA, 2008. Disponvel em:
. Acesso em: 16 mai 2010.
CASSALES, F. L. G.; MANZATTO, C. V. Aspectos gerais da dinmica de uso
da terra. In.: EROSO em terras agrcolas. Rio de Janeiro: Embrapa
Solos, 2002. p. 31-45.
DAVIDSON, E. A.; KELLER, M.; ERICKSON, H. E.; VERCHOT, L. V;
VELDKAMP, E. A cross-site test of a conceptual model of nitrous oxide
and nitric oxide emissions from soils. BioScience, v. 50, p. 667-680,
2000.
DERPSCH, R. The extent of Conservation Agriculture adoption
worldwide: Implications and impact. In: WORLD CONGRESS ON
36
-
CONSERVATION AGRICULTURE, 3., 2005, Nairobi, KY. Proceedings.
Nairobi: [WOCAT], 2005.
ESWARAN, H.; LAL, R.; REICH, P. F. Land degradation: an overview. In:
BRIDGES, E. M.; HANNAM, I. D.; OLDEMAN, L. R.; PENING DE VRIES, F. W.
T.; SCHERR, S. J.; SOMPATPANIT, S. (Ed.). Responses to land degradation.
In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON LAND DEGRADATION AND
DESERTIFICATION, 2., 2001, Khon Kaen. Proceedings. New Delhi:
Oxford Press, 2001.
FEDERAO BRASILEIRA DE PLANTIO DIRETO NA PALHA. Disponvel
em: . Acesso em: 18 mai. 2010.
FREITAS P. L. de; KLIEMANN, H. J.; BENITES, V. de M. Indicadores de
qualidade do solo no sistema plantio direto. In: ENCONTRO NACIONAL
DE PLANTIO DIRETO NA PALHA, 8., 2002, guas de Lindia. [Anais...]
guas de Lindia. : FEBRAPDP: SAA-SP, 2002. p. 101-103.
FREITAS, P. L. de; MARTIN-NETO, L.; MANZATTO, C. V. Solos: alm de
tudo, sequestro de carbono. Agroanalysis, v. 27, n. 4, p. E15-E16, abr.
2007.
FREITAS, P. L. de; MANZATTO, C. V. Cenrios sobre a adoo de prticas
conservacionistas baseadas no plantio direto e seus reflexos na
produo agrcola e na expanso do uso da terra. In: USO agrcola dos
solos brasileiros. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2002.
HRNAULT, C.; DEVIS, X.; PAGE, S.; JUSTES, E. REAU, R.; GERMON, J. C.
Nitrous oxide emission under different soil and land management
conditions. Biol. Fertil. Soils, v. 26, p.199207, 1998.
INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE. Second
assessment: climate change report. [Bracknell]: IPCC, 1995.
Disponivel em: . Acesso em 18
mai. 2010.
37
-
INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE. Climate
Change 2007: mitigation. Cambridge: Cambridge Press, 2007.
Contribution of Working Group III to the Fourth Assessment Report of
the IntergovernmentalPanel on Climate Change.
LA SCALA, N.; BOLONHEZI, D.; PEREIRA, G. T. Short-term soil CO2
emission after conventional and reduced tillage of a no-till sugar cane
area in southern Brazil. Soil & Tillage Research, v. 91, p. 244-248,
2006.
LAL, R. Soil Carbon Sequestration Impacts on Global Climate Change
and Food Security. Science, v. 304, p. 1623-1627, 2004.
LANDERS, J. N.; BARROS, G. S.; ROCHA, M. T. de; MANFRINATO, W. A.;
WEISS, J. Environ-mental impacts of zero tillage in Brazil: a first
approximation. In: WORLD CONGRESS ON CONSERVATION
AGRICULTURE, 1., 2001, Madrid. Conservation agriculture: a
worldwide challenge: proceedings. Madrid: FAO: ECAF, 2001a. p. 317-
26.
LANDERS, J. L.; FREITAS, P. L. de. Preservao da vegetao nativa nos
trpicos brasileiros por incentivos econmicos aos sistemas de
integrao lavoura x pecuria com plantio direto. In: SIMPSIO SOBRE
ECONOMIA E ECOLOGIA, 2001, Belm, PA. [Anais...]. Belm, PA: [s. n.],
2001b.
LUCA, E. F. de; FELLER, C.; CERRI, C. C.; BARTHS, B.; CHAPLOT, V.;
CAMPOS, D. C.; MANECHINI, C. Avaliao de atributos fsicos e estoques
de carbono e nitrognio em solos com queima e sem queima de
canavial. Rev. Bras. Cinc. Solo. Viosa, v. 32, n. 2, 2008.
MACHADO, P. L. O. de A., FREITAS, P. L. de. No till farming in Brazil and its
impact on food security and environmental quality. In: LAL, R.; HOBBS,
P.; UPHOFF, N.; HANSEN, D. Sustainable Agriculture and the Rice-
Wheat System. New York: Marcel Dekker Inc., 2004. p. 291-310.
38
-
PRIMAVESI, O. A pecuria de corte brasileira e o aquecimento
global. So Carlos: Embrapa Pecuria Sudeste, 2007. 43 p. (Embrapa
Pecuria Sudeste. Documentos, 72).
RAMALHO FILHO, A.; PEREIRA, L. C. Aptido agrcola das terras do
Brasil: potencial de terras e anlise dos principais mtodos de
avaliao. Rio de Janeiro: EMBRAPA-CNPS, 1999. 36 p. (EMBRAPA-
CNPS. Documentos, 1).
SALTON, J. C.; FABRCIO, A. C.; MACHADO, L. A. Z.; URCHEI, M. A.;
OLIVEIRA, H.; MELO FILHO, G.; HERNANI, L. C.; BROCH, D. L.; FREITAS, P.
L. de; MUSSURY, R. M.; RICHETTI, A. Environmental impact of intensive
grain and beef production systems in the brazilian western region. In:
KEATING, B. A.; MCCOWN, R. L. INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON
SYSTEMS APPROACHES FOR AGRICULTURAL DEVELOPMENT, 3., 1999,
Lima. Advances in farming systems analysis: proceedings. Lima: IPC,
2001. 1 CD-ROM.
SANO, E. E.; BARCELLOS, A. O., BEZERRA, H. S. rea e distribuio
espacial de pastagens cultivadas no cerrado brasileiro. Planaltina:
Embrapa Cerrados, 1999. (Embrapa Cerrados. Boletim de Pesquisa e
Desenvolvimento, 3).
SEGNINI, A.; MILORI, D. M. B. P.; GALETI, H. V. A.; SIMOES, M. L.; SILVA, W.
T. L.; CERDEIRA, A. L.; BOLONHEZI, D.; MARTIN-NETO, L. Evaluation of
carbon sequestration in brazilian area sugar cane under different tillage
systems. In: INTERNATIONAL MEETINGS OF IHSS, 12., 2004, guas de
So Pedro. Humic substances and Soil and Water Environment:
Anais. So Carlos: Embrapa Instrumentao Agropecuria, 2004. p. 14-
16.
SOBRAL, F. R. M.; MADEIRA NETTO, J. S.; FREITAS, P. L. de; SOUZA, R. L. P.
de. Prticas de conservao de solos. Rio de Janeiro: EMBRAPA-
SNLCS, 1980. 88 p. (EMBRAPA-SNLCS. Miscelnea, 3).
VERCHOT, L. V. DAVIDSON, E. A; CATTNIO, J. H; ACKERMAN, I L. Land-
use change and biogeochemical controls of methane fluxes in soils of
39
-
eastern Amazonia. Ecosystems, v. 3, p. 41-56, 2000.
VERCHOT, L. V. Opportunities for climate change mitigation in
agriculture: a report to the UNFCCC Secretariat: Financial and
Technical Support Programme. Nairobi: World Agroforestry Centre,
2007. 69 p. Disponvel em:
. Acesso em 20 mar. 2010.
VERCHOT, L. V. DAVIDSON, E. A; CATTNIO, J. H; ACKERMAN, I L.;
ERICKSON, H. E.; KELLER, M. Land-use change and biogeochemical
controls of nitrogen oxide emissions from soils in eastern Amazonia.
Global Biogeochemical Cycles. v. 13, p. 31-46, 1999.
VIEIRA, M. J. Embasamento tcnico do sub-programa de manejo e
conservao dos solo-Paran Rural. In: PARAN. Secretaria da
Agricultura e do Abastecimento. Manual tcnico do subprograma de
manejo e conservao do solo. 2. ed. Curitiba: IAPAR: SEAB, 1994.
40
-
02
Introduo
No Brasil, apesar dos sucessivos decretos e cartas rgias do
governo colonial iniciadas em 1713 com o objetivo de pr fim ao
indiscriminado desmatamento por meio do fogo que facilitava a busca
de ouro e prata ou a implatao da agricultura, a devastao no foi
interrompida e, em 1791-1792, houve a lendria grande seca da Bahia
ao Cear (CUNHA, 2001). O ano de 1824 foi, talvez, o ano da primeira
grande constatao de problema de conservao do solo no Brasil com
srias consequncias para a populao rural e urbana, particularmente
para a capital do pas. Foi neste ano que se registrou a primeira grande
seca na cidade do Rio de Janeiro (SILVA et al., 2008). O uso agrcola para
produo de caf continuou sem ateno para a conservao do solo e
gua resultando em deslizamentos de encostas e assoreamento de rios.
Em 1844, aps outra grande seca inciciaram-se as aes de conservao
e restaurao nas bacias dos Rios Carioca e Maracan propostas pelo
Ministro Almeida Torres. Entre 1861 e 1873, Major Manuel Gomes
Archer foi o grande responsvel pelas aes de recuperao das reas
degradadas e a proteo de mananciais com a revegetao do
Corcovado, Silvestre e Paineiras que resultaram no abastecimento de
chafarizes da Carioca. A cidade do Rio de Janeiro, atualmente, apesar de
ainda apresentar problemas quanto ao uso do solo, possui a Floresta da 2
Tijuca, rica em biodiversidade com cerca de 30 mil km .
A situao anteriormente descrita destaca o histrico conflito
entre o uso do solo para a agricultura e os servios ambientais. A prtica
agrcola sem preocupao com a conservao do solo e da gua gera
Manejo e conservao do solo e gua
no contexto das mudanas ambientais
Panorama Brasil
Pedro Luiz Oliveira de Almeida Machado
Beta Emoke Madari
Luiz Carlos Balbino
41
-
terrveis consequncias na qualidade de vida. Dois sculos mais tarde a
agricultura, especialmente o agronegcio, vem tendo relevante
participao no produto interno bruto (PIB) nacional e no perodo
entre 2000 e 2007 os valores do PIB do agronegcio ficaram na faixa de
R$ 2,2 2,5 trilhes, ou seja, com participao entre 22,8 e 28,8% do PIB
nacional (CEPEA, 2008). Dadas as perspectivas de aumento da
participao deste setor no PIB nacional para os prximos anos,
especialmente pela maior ateno para a produo de energia de
biomassa e pela necessidade da produo de alimentos e fibras para
uma populao mundial crescente, aumenta a preocupao para o
incremento da capacidade de intervenes antrpicas em causar
degradao do ecossistema.
A rea plantada com lavouras temporrias (ex. soja, milho,
feijo, arroz) totalizam 46,7 milhes de hectares (CONAB, 2008).
Entretanto, a principal ocupao do solo a pecuria com 21% do
territrio brasileiro. Dos quase 178 milhes de hectares sob pastagem,
cerca de 100 milhes de hectares so de pastagens plantadas
predominantemente com gramneas braquirias. Segundo o Ministrio
do Desenvolvimento Agrrio, a agricultura familiar, definida como
aquela cuja renda bruta anual no ultrapassa R$ 110.000,00 e no pode
possuir mais de dois empregados registrados, responsvel por 70%
da produo de feijo e mais de 50% da produo de trigo. A agricultura
empresarial, por sua vez, responsvel por 70% da produo de
bovinos, arroz e soja e 51% da produo de milho. O acrscimo na
produtividade mdia das culturas alcanado no perodo de 1970-1998
resultou no impedimento ao desmatamento de cerca de 60 milhes de
hectares de florestas nativas (Figura 1). O aumento da produo nesse
perodo decorrente da disponibilidade de crdito, do incremento de
produtividade na maioria dos cultivos pela adoo de variedades mais
produtivas, de sementes de qualidade, desenvolvimento da fixao
simbitica do nitrognio, pesticidas especficos e pelo uso de adubos
corretivos e fertilizantes, apesar deste ltimo estar ainda abaixo do
desejvel (LOPES; GUILHERME, 2001; ALVES et al., 2005; GASQUES et
al., 2007).
42
-
Questiona-se, contudo, se o conjunto de tecnologias
atualmente em uso pela maioria dos produtores envolve prticas
conservacionistas. Pode-se definir conservao do solo como uma
combinao de todos os procedimentos de uso e manejo do solo que
resultem na sua proteo contra a deteriorao por fatores naturais ou
antrpicos. Atualmente, as aes de conservao do solo e da gua
remetem o ecossistema agrcola a ser no apenas um provedor de
alimentos e fibras para gerar, de modo sustentvel, renda ao produtor e
segurana alimentar, mas tambm ser um provedor de servios
ambientais.
Se considerarmos o ecossistema como um complexo dinmico
de comunidades vegetais, animais e microrganismos e o ambiente
interagindo como uma unidade funcional, servios ambientais so os
benefcios que a sociedade como um todo pode obter do ecossistema
(MILLENIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT, 2005). Cabe destacar que a
definio de servios ambientais (EGs) um dos temas mais relevantes
das negociaes internacionais e um estudo do Programa da ONU para
Comrcio e Desenvolvimento (UNCTAD) constatou que o tamanho do
atual mercado de EGs de aproximadamente US$ 550 bilhes (OLIVA;
MIRANDA, 2008). As causas para as recentes restries a produtos
agrcolas brasileiros por parte da Unio Europia podem ser, em parte,
devido presso de consumidores por alimentos produzidos em
43
Figura 1. Economia de uso de rea agrcola no Brasil no perodo de 1970-1998, em funo
do acrscimo da produtividade mdia das culturas.
Fonte: Lopes; Guilherme (2001).
-
condies socialmente justas, menos impactantes ou que tenham efeito
benigno ao ambiente, mas, segundo Latacz-Lohmann e Hodge (2003),
as preferncias da sociedade europia por reas rurais tendem a
enfatizar mais as questes de paisagem e vida selvagem que questes
de poluio. Mais recentemente, a Organizao para a Cooperao
Econmica e Desenvolvimento, instituio que rene pases
industrializados, afirmou que as negociaes de bens e servios
ambientais so essenciais para a proteo do meio ambiente (OECD,
2005). Alm de alimentos, gua, madeira e fibra, o sistema de produo
pode gerar servios ambientais reguladores que afetam o clima,
inundaes e qualidade da gua e servios culturais que oferecem
benefcios estticos e de recreao. Finalmente, h os servios de apoio
que consistem na formao do solo, na fotossntese e na ciclagem de
nutrientes.
H no Brasil prticas agrcolas que, se considerarem todas as
prticas conservacionistas, podem oferecer os diversos servios
ambientais acima descritos:
Sistema Plantio Direto Contnuo na Palha (SPD): Trata-se do
procedimento mais eficiente e eficaz de produzir alimentos,
especialmente gros, com simultnea conservao do solo e da gua
(MACHADO; FREITAS, 2004). A ausncia de duas operaes de preparo
do solo resulta em economia de combustvel e menor risco na produo.
A presena da palha na superfcie do solo mantm o solo mido por
perodos mais longos resultando em economia de gua e bombeamento
para irrigao. reas com terraos em nvel, a superfcie do solo
protegida pela cobertura morta proporciona maior infiltrao de gua
(RESCK, 2001) oferecendo recarga de aquferos e economia no
tratamento de gua das cidades pela menor sedimentao de rios. Um
solo com boa agregao sob SPD proporciona menor emisso lquida de
gases de efeito estufa que aquele sob arao e gradagens, pois
possibilita maior acmulo de matria orgnica protegida em agregados
do solo (MADARI et al., 2005). Com a manuteno dos agregados
intactos o carbono pode ser mantido no solo evitando sua emisso na
forma de CO para a atmosfera. No caso de um Latossolo Vermelho 2
distrofrrico, muito argiloso, do sul do Brasil, o uso do SPD resultou, nas -1
primeiras 8 horas de emisso, que 79,4 kg C-CO ha no fossem 2
emitidos para a atmosfera, aps simulao de destruio dos
44
-
agregados. Sob preparo convencional, por ter menor agregao, evitou--1
se que 29,1 kg C-CO ha fossem emitidos para atmosfera (BARRETO et 2
al., 2009);
Sistema Integrao Lavoura-Pecuria em Plantio Direto (ILP): Um
aperfeioamento do sistema anterior pela incluso da pecuria de corte
ou leiteira integrada produo de gros. Este sistema tem sido
bastante adequado para o bioma Cerrado que, apesar de produtores
neste bioma terem carncia de plantas de cobertura adequadas para a
produo duradoura de palha, a gramnea forrageira braquiria tem
possibilitado produo animal a pasto na entressafra do inverno seco e
cobertura morta para o cultivo de gros no vero mido. Alm dos
benefcios descritos para o SPD, gera-se menos gs de efeito estufa (gs
metano) por quilograma de carne ou leite produzido (PRIMAVESI et al,
2007);
Sistema Integrao Lavoura-Pecuria-Floresta em Plantio Direto
(ILPF): Sistema de produo mais complexo que propicia a produo de
alimento e energia por envolver gros, carne ou leite e madeira
(mveis/papel) ou energia de biomassa. Isto porque, alm do eucalipto,
h possibilidades para uso de teca (Tectona grandis), bracatinga
(Mimosa scabrella, Benth) e accia (Acacia mangium). A combinao da
adoo do plantio de florestas em ILP ou apenas a uma lavoura em SPD
pode promover a umidificao do ar e contribuir para a formao de
chuvas locais e amenizao do calor (SAMPAIO et al., 2007; PRIMAVESI
et al., 2007).
Estas diferentes formas de produo, particularmente ILP e
ILPF, vem sendo adotadas por produtores nos diferentes biomas,
apesar de ainda demandarem pesquisas cientficas para o melhor
arranjo de culturas comerciais com plantas de cobertura e espcies
arbreas, alm de treinamento de tcnicos para que produtores,
especialmente pecuaristas, se familiarizem com o complexo esquema
de rotao e planejamento de uso da terra.
Motivao para harmonizar produtividade com conservao
Preocupa-nos, porm, constatar que a conservao do solo e da
gua, fundamental para o ecossistema agrcola oferecer servios
45
-
ambientais, no tenha ainda ampla adoo por parte dos produtores
rurais. So vrios os motivos. Acredita-se que pelo fato de ser de difcil
percepo pelo produtor como essencial para o sucesso do
empreendimento, as prticas conservacionistas, mesmo adotadas,
correm o risco de serem esquecidas. A conscientizao dos problemas
da falta de conservao do solo e da transferncia de tecnologias so
ainda problemticas no Brasil. Segundo Olinger (1997) e Cogo (2004)
no apenas o ensino, mas tambm a assistncia tcnica e extenso rural
em conservao do solo se fragilizaram e perderam espao nos ltimos
anos. Ademais, documentos recentes de informao ou recomendao
tcnica para importantes lavouras temporrias contm pouca
informao sobre como executar um planejamento conservacionista.
H orientao para o sistema plantio direto apenas (SARAIVA et al.,
2006; SILVA; DEL PELOSO, 2006). Constata-se ainda o fato do plantio
direto ser conduzido com pouca adoo de rotao de cultura com
plantas de cobertura (Tabela 1).
46
Regio* N
visitas rea soja
(M ha) Adoo PD
(%) PD com palha**
(%) Tipo de palha***
1 150 5,5 100 71 Trigo/triticale, aveia e milho2 215 4,2 100 41 Milho e trigo/triticale3 506
9,4
100
28
Milho e milheto
4 218
2,2
93
27
Milho e milheto
Tabela 1. Qualidade do sistema plantio direto no Brasil Visitas a lavouras de janeiro a
maro.
Legenda: *1: RS, SC e Sul do PR; 2: Norte PR, Sul MS e Sudoeste SP; 3: Norte MS, MT, RO,
Sudoeste GO e Tring. MG; 4: GO, TO, Sul PA, Oeste BA, Sudoeste PI e MA.
**Cobertura do solo > 40%;
***Em ordem de frequncia;
Fonte: Pessa (2009).
Tm sido frequentes os relatos de reas sob plantio direto nas
quais os terraos foram eliminados e a semeadura feita no sentido do
declive do terreno, acreditando-se que a grande quantidade de palha
que cobre a superfcie do solo seja suficiente para combater a eroso
hdrica (RAIJ, 2008). Alm disto, estradas rurais apresentam problemas
de adequao aos sistemas conservacionistas das lavouras e se
constituem em fator desencadeador ou agravador dos problemas com
eroso (MORAES et al., 2004).Para se ter uma idia da magnitude deste
problema, o sistema rodovirio nacional composto por 1.724.929 km
de estradas pblicas e estima-se que, aproximadamente, 90% destas
vias apresentam-se sem revestimento ou com revestimento primrio.
-
Grande parte destas vias mantida e conservada por municpios e, na
estao chuvosa, o fluxo superficial das guas pelas estradas, sem
nenhum controle, tem provocado o surgimento de voorocas laterais ao
leito delas (GRIEBLER et al., 2005; OLIVEIRA, 2005).
Quanto legislao ambiental e o uso do solo, depara-se com
problemas de desatualizao das leis (FREITAS et al., 2004) ou de
carncia de regras consistentes de condicionamento ambiental do uso
do solo (SOUZA, 2004). Todavia, mesmo com o aperfeioamento da
legislao ambiental j foi relatado que o Brasil tem tradio na difcil
aplicao das leis. Apesar de ser de natureza voluntria, o Brasil, em
recente note verbale Conveno Quadro da ONU de Mudanas
Climticas (UNFCCC), apresentou metas de reduo de emisso de CO 2
em 2020, que incluem SPD (16 a 20 milhes de t de equivalentes de
CO ), ILP (18 a 22 milhes de t de equivalentes de CO ), recuperao de 2 2
pastagens (83 a 104 milhes de t de equivalentes de CO em 2020) e 2
fixao biolgica de nitrogenio (16 a 20 milhes de t de equivalentes de
CO ), numa expectativa de reduo de 36,1% a 38,9% das emisses 2
projetadas para o Brasil em 2020 (UNFCCC, 2010).
Perspectivas futuras
Qual caminho tomar para que haja efetiva adoo de prticas
conservacionistas do solo? Esta pergunta tambm motivada pela
necessidade de evento nacional como a Reunio Brasileira de Manejo e
Conservao do Solo e da gua (RBMCSA) incluir assuntos mais
abrangentes e associados ao tema (COGO, 2004). Neste sentido,
considerando-se que os servios ambientais de ecossistemas agrcolas
vm sendo tema de negociaes internacionais, h uma possibilidade
de profissionais com experincia em conservao do solo convencerem
os produtores em adotar prticas conservacionistas no mbito da
oportunidade de mercado. Um caminho a Produo Integrada de
alimentos, carnes e fibras coordenada pelo Ministrio da Agricultura,
Pecuria e Abastecimento. Trata-se de um sistema de produo que
gera alimentos e demais produtos de alta qualidade enfatizando a
preservao e o desenvolvimento da fertilidade do solo e a diversidade
ambiental como componentes essenciais, levando-se em conta a
proteo ambiental, o retorno econmico e os requisitos sociais
(ANDRIGUETTO, 2002).
47
-
H oportunidades para participarmos em diferentes foruns
internacionais, conforme apontado por Dumanski (2006), de modo a
integrar a conservao do solo a atividades lucrativas e oportunidades
de mercado. Sabe-se que as certificaes socioambientais, ou selos-
verdes, esto deixando de ser um diferencial voltado a nichos de
mercado para se tornar exigncia de mercado, especialmente para
commodities e biocombustveis (CONROY, 2007). As certificaes
normalmente so emitidas por entidades independentes ou
organizaes no-governamentais. Tudo comeou em 1995 com o
estabelecimento de critrios para o manejo sustentvel de florestas da
FSC (sigla em ingles para Forest Stewardship Council) que conta hoje
com 827 organizaes e indivduos associados (CHASEK et al., 2010).
No Brasil, j h certificao para produtos agrcolas com menor
impacto ambiental oferecidos, por exemplo, pela Imaflora, parte de
rede em que participa a Rainforest Alliance e pela Comrcio Justo
(Fairtrade) com sede na Alemanha. Segundo Conroy (2007), somente
com produtos com o selo Comrcio Justo, j foram comercializados 4,5
bilhes de euros em 2007. Os critrios para certificao abrangem a
conservao do solo e, apesar de no incluir o uso de plantas de
cobertura, elas oferecem oportunidades para aperfeioamento dos
critrios para certificao. Apesar dos procedimentos para a seleo
dos critrios serem, em alguns casos, pouco transparentes ou gerarem
suspeitas de barreiras no-tarifrias de mercados (CHASEK et al.,
2010), eles poderiam ser aperfeioados por meio de regimentos
internos j descritos em reunies de pesquisa para informaes
tcnicas de diferentes culturas no Brasil (REUNIO DA COMISSO
CENTRO-SUL BRASILEIRA DE PESQUISA DE TRIGO E TRITICALE,
2006; SARAIVA et al., 2006). Constata-se que h espao para uma
efetiva contribuio de especialistas em conservao do solo e da gua
de ecossistemas agrcolas num contexto de mercado ambientalmente
seguro e socialmente justo. Quem tomar a iniciativa?
Referncias bibliogrficas
ALVES, E.; CONTINI, E.; HAINZELIN, E. Transformaes da agricultura
brasileira e pesquisa agropecuria. Cadernos de Cincia e
Tecnologia, Braslia, DF, v. 22, p. 37-51, 2005.
48
-
ANDRIGUETTO, J. R., KOSOSKI, A. R. Marco legal da produo
integrada de frutas no Brasil. Brasilia: MAPA, 2002, 60 p.
BARRETO, R. C.; MADARI, B. E.; MADDOCK, J. E. L.; MACHADO, P. L. O. A.;
TORRES, E.; FRANCHINI, J. C.; COSTA, A. R. The impact of soil
management on aggregation, carbon stabilization, and carbon loss as
CO in the surface layer of a Rhodic Ferralsol in Southern Brazil. Agric. 2
Ecosystems Envir., Dordrecht, v. 132, p. 243-251, 2009.
CHASEK, P. S.; DOWNIE, D. L.; BROWN, J. W. Global environmental
politics. 5 ed. Boulder, CO: Westview Press, 2010. 473 p.
CONAB. Acompanhamento da safra brasileira: gros. stimo
l e v a n t a m e n t o . D i s p o n v e l e m : <
http://www.conab.gov.br/conabweb/download/safra/estudo_safra.p
df >. Acesso em: 16 abr. 2008.
C E P E A . P I B d o a g r o n e g c i o . D i s p o n v e l e m :
. Acesso em: 16 abr 2008.
COGO, N. P. XV RBMCSA: um bom evento, mas continuou faltando a
abordagem de temas essenciais da alada da Cincia do Solo. Bol.
Informativo da Soc. Bras. Ci. do Solo, v. 29, n. 2, p. 10-13, 2004.
CONROY, M. Branded!: how the certification revolution is transforming
global corporations. Gabriola Island, Canada: New Society Publishers,
2007. 320 p.
CUNHA, E. Os Sertes: campanha de Canudos. So Paulo: Ateli
Editorial, 2001. 901 p.
DUMANSKI, J. Changing course: soil conservation in a changing world.
Newsletter of the Eur. Soc. Soil Cons., v. 3, p.11-16, 2006.
FREITAS, H. R.; CARDOSO, I. M.; JUCKSCH, I. Legislao ambiental e uso
da terra: o caso da zona da mata de Minas Gerais. Bol. Inf. Soc. Bras. Ci.
Solo, v. 29, p. 22-27, 2004.
49
-
GASQUES, J. G.; BASTOS, E. T.; BACCH, M. R. P. Receita para crescer.
A g r o a n a l y s i s . v . 2 7 , 2 0 0 7 . D i s p o n v e l e m :
. Acesso em: 22 abr 2008.
GRIEBLER, N. P.; PRUSKI, F. F.; SILVA, J. M. A.; RAMOS, M. M.; SILVA, D. D.
Modelo para a determinao do espaamento entre desaguadouros em
estradas no-pavimentadas. R. Bras. Ci. Solo, v. 29, p. 397-405, 2005.
LATACZ-LOHMANN, U.; HODGE, I. European agri-environmental policy
for the 21st century. The Australian J. Agric. Res. Econ., v. 47, p.123-
139, 2003.
LOPES, A. S.; GUILHERME, L. R. G. Preservao ambiental e produo
de alimentos. So Paulo: ANDA, 1991. 14 p.
MACHADO, P. L. O. A.; FREITAS, P. L. No-till farming in Brazil and its
impact on food security and environmental quality. In: LAL, R.; HOBBS,
P. R.;UPHOFF, N.; HANSEN, D. O. (Ed.). Sustainable Agriculture and the
International Rice-Wheat System. New York, Marcel Dekker 2004.
p.291-310.
MADARI, B.; MACHADO, P.L.O.A.; TORRES, E.; ANDRADE, A.G. de;
VALENCIA, L.I.O. No tillage and crop rotation effects on soil aggregation
and organic carbon in a Rhodic Ferralsol from southern Brazil. Soil Till.
Res., 80: 185-200, 2005
MILLENIUM ECOSYSTEM ASSESSMENT. Ecosystems and Human
Well-being: Synthesis. Washington, DC: Island Press, 2005. 155 p.
MORAES, O., MENDES, R. B., BUBLITZ, U., LOYOLA, G. P. Adequao de
estradas rurais integradas aos sistemas conservacionistas.
Curitiba: EMATER, 2004. 74 p.
OECD. Opening markets for environmental goods and services.
Paris: OECD Policy Brief, 2005. 8 p.
50
-
OLINGER, G. Asceno e decadncia da extenso rural no Brasil.
Florianpolis, EPAGRI: 1996. 523 p.
OLIVA, F.; MIRANDA, S. Definio de bens e servios ambientais
( E g s ) p a u t a d a Ro d a d a d e D o h a . D i s p o n ve l e m :
. Acesso em: 16 abr 2008.
OLIVEIRA, M. J. G. Hierarquizao para orientar a manuteno de
rodovias no-pavimentadas. 2005. 126 f. Tese (Doutorado) - Escola
de Engenharia de So Carlos. Universidade de So Paulo, So Carlos.
PESSA, A. S. M. Rally da safra 2009: estado da arte e divulgao do
plantio direto em 2009. Florianpolis: Agroconsult, 2009. 45 p.
PRIMAVESI, O.; ARZABE, C.; PEDREIRA, M. S. Mudanas climticas:
Viso tropical integrada das causas, dos impactos e de possveis
solues para ambientes rurais e urbanos. So Carlos, Embrapa
Pecuria Sudeste, 2007. 200 p. (Embrapa Pecuria Sudeste.
Documentos, 70).
RESCK, D. V. S. Uso e ocupao do solo e a crise energtica no Brasil. Bol.
Inf. da Soc. Bras. Ci. Solo, v. 26, p. 14-18, 2001.
REUNIO DA COMISSO CENTRO-SUL BRASILEIRA DE PESQUISA DE
TRIGO E TRITICALE, 38., 2006, Passo Fundo. [Anais...] Passo Fundo:
E m b r a p a T r i g o , 2 0 0 6 . D i s p o n v e l e m : <
http://www.cnpt.embrapa.br/eventos/2006/38rcsbptt/index.html >.
Acesso em: 16 abr. 2008.
SAMPAIO, G.; NOBRE, C.; COSTA, M. H.; SATYAMURTY, P.; SOARES-
FILHO, B. S.; CARDOSO, M. Regional climate change over eastern
Amazonia caused by pasture and soybean cropland expansion.
Geophys. Res. Lett., v. 34, n. 7. 2007. doi:10.1029/2007GL030612.
SARAIVA, O. F.; CASTRO, C.; LEITE, R .M. V. B. C.; GROSSKOPF, S. E.
Reunio de Pesquisa de Soja da Regio Central do Brasil: ata da
XXVIII reunio de pesquisa de soja da regio central do Brasil. Londrina:
Embrapa Soja, 2006. 249 p.(Embrapa Soja. Documentos, 275).
51
-
SILVA, C. C., DEL PELOSO, M. J. Informaes tcnicas para o cultivo do
feijoeiro comum na Regio Central-brasileira 2005-2007. Santo
Antonio de Gois: Embrapa Arroz e Feijo, 2006. 139 p.
SOUSA, M. E. Atividade agrcola, legislao ambiental e
desenvolvimento sustentvel. Bol. Inf. da Soc. Bras. Ci. Solo, v. 29, p.
28-31. 2004.
UNFCCC. Nationally appropriate mitigation actions of developing
c o u n t r y P a r t i e s . D i s p o n v e l e m : <
http://unfccc.int/files/meetings/application/pdf/brazilcphaccord_a
pp2.pdf >. Acesso em: 28 mar. 2010.
RAIJ, B. van. Plantio direto e o desenvolvimento sustentvel.
Disponvel em: < http://www.agrisus.org.br/artigos.asp?cod=4 >.
Acesso em: 10 abr. 2008.
52
-
Although food security is reasonably assured, about 2 M people go hungry every day, due more to
problems of internal security and distribution. 3
Discussions on global environmental degradation include dimensions of land degradation. Although the
terms have different meaning, in most cases, environmental degradation cannot occur without
considerable degradation of land resources.
2
Introduction
Soil conservation has its roots in historical antiquity, but the
institutionalization of the movement began with the major droughts
and environmental devastations which occurred in the early part of the
20th century. The approaches to soil conservation that emerged from
these experiences focused on prescriptive technological and
engineering approaches to prevent or mitigate the impacts of soil
erosion on crop yields, farmer income, and food security. However, after
almost a century of soil conservation, the world has changed.
Agriculture is now less natural resource based, and more strongly
affected by global events, production subsidies, and other safety nets.
Over the past decades, new land management technologies have
progressively improved crop yields, and until very recently, the 2
accepted evidence was that food security was no longer a concern .
However, events of the past year bring this into question.
Although the importance of soil conservation to national
agricultural GDP varies from country to country, the global importanc