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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ ESPECIALIZAÇÃO EM POÉTICAS VISUAIS Poéticas da Natureza Relatório de aula Professor: Hugo Fortes Curitiba- Paraná 2015

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Relatório de aula

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARAN

    ESPECIALIZAO EM POTICAS VISUAIS

    Poticas da Natureza

    Relatrio de aula

    Professor: Hugo Fortes

    Curitiba- Paran2015

  • 1. INTRODUO:

    O mdulo Vises da natureza: potica, artificialismo e cincia ministrado por

    Hugo Fortes1 discutia caminhos possveis entre arte e natureza. Foram

    mencionados diversos temas referentes ao assunto, como poieses, mimeses,

    a relao entre natureza e cultura, a paisagem e o sublime, os artistas

    naturalistas, a ilustraco cientfica e a potica dos jardins. Alm disso,

    discutimos tambm sobre alguns textos presentes no livro Natural: mente de

    Villem Flusserl. Por fim, tivemos uma vivncia prtica no Parque Tingui, onde

    pudemos criar uma proposio e avaliar conjuntamente. Durante as

    exposies das poticas acima citadas, o professor Hugo Fortes apresentou

    diversos artistas que se encaixavam naqueles temas.

    2. FUNDAMENTAO TERICA

    O curso iniciou com a compreenso da ideia de mmesis, a partir de Plato e

    Aristteles. Para Aristteles, como sentido de imitao, para Plato o valor

    est na relao que estabelece com a realidade. Um exemplo desta relao

    a histria de Zeuxis, que foi convidado para pintar um afresco em Pompia,

    no templo de Juno. O artista desejava tanto que a imagem representasse o

    ideal de perfeio que no conseguiu escolher uma nica mulher que

    representasse o ideal desejado, escolheu cinco mulheres para reunir as

    partes perfeitas entre elas e pintou uvas to perfeitas que passarinhas vinham

    bic-las.

    A techn seria o que compreendemos por tcnica, uma atividade humana

    fundada em um conhecimento orientado para a produo correta de algo.

    Poises seria o conhecimento criativo e techn o conhecimento tcnico para a

    execuo dessa criao. A arte como tcnica de representao no s arte

    visual mas tambm as artes aplicadas. A distino entre physis e poises

    seria algo entre a diferena entre a natureza e cultura. Physis como aquilo

    que cria a si mesmo e poisis como prtica de produo.

    A filosofia especula sobre o princpio de realidade e com a especulao

    metafsica como desvelamento da finalidade de toda realidade enquanto

    1no Curso de Especializao em Poticas Visuais da EMBAP/2015

  • sensvel. Ocorre uma oposio aos mitos e essa busca pelo sensvel baseia

    o pensamento de vrios filsofos, como Descartes e Kant. Para Plato, a arte

    no ajudava a alcanar o mundo das formas puras, ou das ideias. Para ele, o

    conhecimento do mundo sensvel o conhecimento dado pela experincia.O

    verdadeiro conhecimento dado pelas formas puras pode ser alcanado for a

    das experincias. A alegoria da caverna uma metfora para a distino

    entre o mundo das ideias e o mundo sensvel. A carverna seria o mundo das

    experincias, onde tomamos como verdade as aparncias. Ainda hoje em

    mitas disciplinas, esta discusso gerada. Na antropologia, a dicotomia

    natureza e cultura foi muito evidenciada. Na arte, at o modernismo, a

    preocupao era chegar prximo da imitao.

    2.1 Stilleven natureza em pose

    A natureza morta foi um gnero que era considerado menor que os religiosos

    ou histricos. Os holandeses, a partir do sec. XVII influenciados pelo

    protestantismo, desenvolvem pinturas retratando a vida burguesa, os

    comerciantes e pessoas comuns, vida domstica e o mundo do trabalho.

    A Grande Odalisca, 1814. Jean August D. Ingres, no sec. XIX, defendia a escola neoclssica,

    influenciada pelo racionalismo e retorno natureza propagado por Rousseau

    e que era um enfrentamento ao rococ e barroco ligado aristocracia e

    emoo. A tese de Rousseau era a de que o homem nasce bom e vai se

    corrompendo.

    Jean- Baptiste Debret foi um pintor francs que viveu 15 anos no Brasil.

    Considerado intermedirio entre neoclassicismo e romantismo, retratou

    indgenas e escravos (o que ia contra seus ideias neoclssicos) e na volta

    para seu pas, lanou Viagem Pitoresca.

  • 2.2 Arte x Artifcio, Natureza e Cultura

    Leonardo da Vinci, inventor, artista e cientista antes da diviso dos saberes e

    especializaes, era observador e catalogou diversos aspectos cientficos,

    principalmente antomia.

    Albrecht Durer ( 1471- 1528), artista renascentista, matemtico, fsico,

    botnico, zologo, desenhista e pintor profissional alemo, ilustrou um

    rinoceronte trazido da India para Lisboa, o que se tornou o primeiro

    rinoceronte visto na Europa (1955) e o fez seguindo descries.

    No renascimento surgiram os gabinetes de curiosidades, na poca das

    grandes exploraes e descobrimentos, onde expunham objetos raros e

    realizaes humanas, separados em trs ramos da biologia, animal, mineral e

    vegetal e so precursores dos museus. No era raro conter chifres de

    unicrnio, sangue de drago entre outras ideias fabulosas.

  • O Gabinete de curiosidades de Cornelis van der Geest, de Willem van Haecht

    (Amberes, 1593-1637).

    Os artistas naturalistas e a ilustrao cientfica, a partir do sculo XX, atraram

    artistas para a regio da Amaznia, como Carl Friedrish von Martius, mdico,

    botnico e antroplogo.

    Von Martius

    Albert Eckhout produziu retratos etnogrficos dos habitantes do Brasil no

    sculo XVII. Na poca eram considerados retratos reais da realidade

    brasileira, porm h um idealismo no retrato dos indgenas. Ernst Haeckel

    (1834- 1919), era bilogo, naturalista e artista alemo foi um dos cientistas

    positivistas que mapeou em uma rvore todas as formas de vida2.

    A importncia da fotografia botnica no registro de espcies uma das

    caractersticas do interesse pela catalogao e colecionismo. Karl Blossfeldt

    (1865 1932), retrava a natureza com objetividade, prpria das artes dos

    anos 20.

    2 http://pt.wikipedia.org/wiki/Ernst_Haeckel

  • Karl Blossfeldt

    Dos artistas contemporneos que tem esse apreo pelo colecionismo Mark

    Dion, que examina como as ideologias dominantes moldamo conhecimento e

    a histria.

    Mark DION - Mandrillus Sphinx/ 2012

    Alberto Baraya questiona o que motiva a racionalidade cientfica e osprocessos artificiais de representar a realidade nas expedies cientficas nosculo

    Herbrio de plantas artificiales (2009, presente)

  • 2.3 Paisagem como artificialidade construdaDiscutir o conceito de paisagem desde o final do sculo XX e as noes da

    relao entre arte e natureza sob influncia do conhecimento cientfico na arte

    contempornea. Anne Cauquelin escreve A inveno da paisagem1 (2007)

    onde percebe que a noo de paisagem e a sua realidade apreendida so

    de facto uma inveno - um objecto cultural sedimentado, tendo a sua funo

    prpria, a de garantir permanentemente os quadros da percepo do tempo e

    do espao. Ela foi pensada e construda como um equivalente da natureza;

    assim, graas paisagem, teramos um olhar verdadeiro sobre as

    propriedades da natureza.

    A paisagem uma inveno dos holandeses no Sculo XVII, discorrendo

    sobre as prticas da populao nas cidades que comearam a se formar. A

    paisagem anteriormente era retratada como corpo da terra.

    Franz Post( 1612-1680), era um pintor dos pases baixos. Enviado para as

    Amricas, ficou encarregado de pintar paisagens, batalhas e edificaes,

    pura representao do domnio holands na Amrica. Durante os sete anos

    esteve no Brasil, retratou a topografia e as belezas naturais das provncias3.

    Rio So Francisco, 1864/ Franz Post

    Claude Lorrain (1600-1682), seguia o Arcadismo, inspirando-se nos ideais

    romanos e gregos em torno do conceito de polis.

    1 Sinopse cedida pela editora

    CAUQUELIN, Anne. A inveno da paisagem. So Paulo: Martins, 2007

    3 http://www.areliquia.com.br/artigos%20anteriores/42frans.htm

  • Landscape with Aeneas at Delos, 1672, Claude Lorrain

    As pinturas pictricas marcam a diferena entre os jardins franceses,

    simtricos e ingleses, orgnicos mas nem por isso menos controlados. Um

    dos maiores paisagistas do movimento romntico, o ingls John Constable

    (1776 1837) interessava-se pelo buclico e de pintar na natureza.

    Willy Lott's Cottage

    O sublime surge quando os pintores romnticos passam a no apenas

    retratar a beleza da natureza mas tambm a produzir a exaltao da alma, o

    espanto e a grandiosidade da natureza. O sublime como experincia. As

    paisagens so devastadoras e do conta da fragilidade do ser humano.

    Joseph Anton Koch (1768-1839), austraco que pintava especialmentes os

    alpes.

  • Cacatas de Subiaco- 1813/ Joseph Anton Koch

    A teoria do Sublime foi criada por Edmund Burke (1729-1797) no livro Uma

    investigao filosfica sobre a origem de nossas ideias do Sublime e do Belo

    (1757). Em 1790, Emmanuel Kant define o sublime como "aquilo que

    absolutamente grande, e notando que a beleza se liga forma do objeto,

    tendo, assim, limites, e que o sublime caracterizado pelo informe e pelo

    ilimitado4.

    Caspar David Friedrich

    Roberth Smithson (1938-1973,) Land Art e a crtica ecolgica na arte em

    escalas gigantescas. 4 http://abstracaocoletiva.com.br/2012/11/06/o-romantismo-e-a-teoria-do-sublime/

  • Roberth Smithson/ Spiral Getty -1970

    O artista contemporneo mediado por esse conhecimento cientfico em

    sua relao com a natureza e paisagem. Herman de Vries coleciona plantas e

    faz performances em jardins, brincando com as formas de colecionismo e

    catalogao.

    Herman de Vries

    2012

    Crescem as conscincias ecolgicas e as intervenes de controle das

    paisagens naturais, causando mal estar presente na quebra de paradigmas

    cientficos e criando novas perspectivas de uma relao homem e natureza

    menos invasiva e mais poltica. Olafur Eliassom investe na paisagem como

    artificialidade construda, criando sol e cachoeiras dentro dos museus.

    Eduardo Kac pesquisa o artista como cientista, se apropriando de outros

    conhecimentos cientficos para criar arte. Bioarte experimenta com matria-

    viva e questiona os limites ticos da cincia e da arte. Abaixo a coelha que

    recebeu genes de fluorescncia e sob luz azul, transmitia luz verde.

  • GFP Bunny -2000/ Eduardo Kac

    Michael Heizer (1944), esculpiu paisagens em desertos, onde morou desde

    os anos 60. City uma cidade que ele esculpe desde 1972 e recentemente

    levou Nova Iorque. City, Michael Heizer.

    Michael Heizer (1944), esculpiu paisagens em montanhas e brincou com os

    limites impostos pela natureza. Piero Manzoni com a obra Base do Mundo

    (1961), inverteu a lgica e props que o globo tivesse uma base.

    Base do mundo, 1961/ Piero Manzoni

    Walter de Maria (1953) um dos maiores nomes da Land Art, ao lado de

    Smithson, Heizer e Richard Long. Suas obras brindam a efemeridade e a

    passagem do tempo, o tempo e o controle do que no controlvel, como

  • invocar raios do cu nos limites do sublime. Ele construiu um campo de raios,

    com quatrocentas estacas de sete metros de altura, chamado Campo de

    Foras, no Novo Mxico entre 1971 e 19775. At hoje est disponvel para

    visitao.

    Richard Long, ingls, nascido em 1945, faz das caminhadas uma proposio

    artstica. Nelas ele decide se anda em linha reta, coleta materiais pelo

    caminho e os reordena.

    South bank circle, Richard Long.

    Andy Goldsworth tenta extrair a fora que os materiais encontrados na

    natureza possuem, sem deixar que a prpria vontade exera controle sobre

    esses materiais.

    5 http://www.infopedia.pt/$walter-de-maria

  • 2.4 Jardim e Arte Em muitas culturas os jardins representavam poder. A partir do sculo XVI,

    com o crescimento das cidades, o jardim passa a ser ponto de encontro de

    estranhos. De forte influncia crist, jardins que representavam pureza e

    virgindade, passaram a representar o poder do estado.

    Joseph Beyus foi um dos artistas mais interessantes, que ampliou os limites

    da arte/vida, tornando esse hbrido um conceito poltico contnuo do cotidiano

    passveis ao cidado comum.

    Ian Hamilton transporta para os jardins questes estticas relacionadas

    filosofia e arte. Na obra Apolo terrrorista, questiona de forma bem

    Nietzschniana a relao da ideologia apolnea idealizante e o seu impacto na

    civilizao ocidental, no conhecimento e na arte.

    Apolo terrorista

  • 2.4 Villem FlusserNo livro Natural:mente o filsofo discute a dicotomia natureza e cultura

    analisando a relao que temos construdo das coisas. No texto A chuva, ele

    descreve como a sensao de proteo, dentro de nossas casas, olhando a

    chuva pela janela. Para ele essa uma vitria da cultura contra a natureza ou

    seja, a cultura como forma de contemplao distanciada da natureza.

    A natureza seria a chuva, que provoca a sensao de impotncia e a cultura

    o abrigo. Cultura ento seria um propsito, transformar algo que bom para

    nada em algo que bom para alguma coisa.

    Cultura como injeo de valores no caldo isento chamado natureza...coisas

    so naturais quando quando no permitem que sejam julgadas, como

    cincias da natureza. Quem est isento de valor seria a tecnologia, a tcnica

    seria boa pois um engajamento contra a natureza.

    No texto A lua, Flusser discute como a lua era natureza quando civilizaes

    antigas dependiam dela para explicaes do que acontecia na realidade. A lua

    representava o sublime e quando o homem pisa na lua, o sensvel da lua dos

    poetas sofre controle.

    3. Atividade PrticaA visita do grupo ao Parque Tingui teve o objetivo de produzir alguma

    proposio artstica no lugar. Eu levei algumas bolas que eu havia produzido

    no dia anterior assim como levei em mim a discusso recente de Flusser

    sobre natureza e cultura. Chegando l encontrei o ovo Pessanka, que da

    cultura ucraniana e que representa um ritual pago, de celebrao

    primavera, com o calor e as promessas de fartura. Esse ritual foi apropriado

    pelos cristos como a Pscoa catlica. Ao lembrar da Pscoa, lembrei dos

    jardins onde minha me escondia a cesta do coelho, cestas com po de mel e

    alguns bombons caseiros. Pensei em organizar as bolas como uma cesta

    oferecida, um ninho de ovos sobre as pinhas espetantes que as protegeriam.

    O cerco de ios em volta foi pensando em impedir o acesso de visitantes, que

    antes eu queria, mas depois, pensando em pblico e privado, quis causar um

    mal estar, protegendo os ovos e celebrando a vitria da cultura sobre a

    natureza.

    Esta seria tambm uma experincia num espao ps-moderno. Peter

    Sloterdijk no texto Espumas, mundo poliesfrico e cincia ampliada dos

  • invernadeiros, descreve como os sujeitos se juntam em espumas, de onde se

    estabelecem completas e frgeis interrelaes carentes de outro mundo

    poliesfrico. Cultura seria uma transmisso de hbitos, a memria (da minha

    inncia, um devir.

  • Landscape with Aeneas at Delos, 1672, Claude Lorrain