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LElitIA-FÁTIMfi Órgão Oficial da DiocClsCl

Ano VIII • N. D 22 • Janeiro-Abri/1999

DIRECTOR AMÉRICO FERREIRA

CHEFE DE REDACÇÃO JOSÉ ALMEIDA SOUSA

ADMINISTRADOR HENRIQUE DIAS DA SILVA

CONSELHO DE REDACÇÃO BELMIRA DE SOUSA

JORGE GUARDA LUCIANO CRISTINO

MANUEL MELQUÍADES SAULGOMES

PERIODICIDADE QUADRIMESTRAL

PROPRIEDADE E EDIÇÃO DIOCESE DE LEIRIA-FÁTIMA

REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO SEMINÁRIO DIOCESANO DE LEIRIA

2410 LEIRIA • TELEF. 244832760

ASSINATURA ANUAL - 2.000$00

Mensagem de Ano Novo .. " .... """,' .. '""""' .. ' .. '""' .. " ...... , .... ,' .. ',,,, 3

Exortação Sinodal .. ", .. """""""""", .. "", .. ", .. " .. ", .. ","",' .. ,' ...... , 5

Santuário de Fátima abriu Ano Jubilar com Bênção do Pórtico 15

Nota Episcopal sobre a Quaresma 2000.................. ......... ........... 17

O Jubileu na Diocese de Leiria,Fátima ...................................... , 19

A Beatificação dos Pastorinhos de Fátima Francisco e Jacinta

Marto .. " , ... " .. , ........ " .. , .. , .. '",' .. , .... " , ...... ", .... , .. " .... , .. , .. ",........ 2 1

Vida Eclesial " ", .. , .... , .. ", .. """"" " "", """" " " , .... " " , .... " " " " " " " " , 29

Ajuda à Igreja que Sofre ............................ , .......... ,...................... 33

Centro de Preparação para o Matrimónio (Diocese de Leiria·Fá·

tima)", .. , ...... , .... , .... ", .. , .. , .... "" ............. ", .. " .. , .... ",.................. 35

Comunicado do Conselho Presbiteral.......................................... 43

A Acção Sócio· Caritativa na Diocese de Leirin·Fátima .............. 45

Crianças ensinam a adorar ....... ..... , .......... , .............. , ...... , .......... , 51

Congregação dos Bispos comenta Relatório Quinquenal Dioce·

sano ............. " ............ ....... ............... , ............. , .................... O" 53

Prolegómenos a uma História da Igreja Medieval em Portugal

(continuação do n,' anterior) ...................... , .......................... 57

Carta ao Clero, .. , .... , .... , .. , .. , .... , .... , . . ", ...... , ...... ", ...... , .. " .. ,."" ...... " 69

ESpiritualidade do Francisco e da Jacinta Marto . ..................... 71

Propostas para a Mudança de Atitudes e Práticas Pastorais .... , 75

O Património Cultural da Igreja ................................................ , 77

MENSAGEM DE ANO NOVO Há 2000 anos começou a era cristã com uma mensagem que se

repete: glória a Deus e paz aos homens! Nojá longo itinerário de dois milénios a mesma palavra de ordem

continua a ecoar, na quebrada dos séculos, por entre ruídos de violên­cia e explosões de guerras".Todos nós precisamos de Alguém que nos ama, e ansiamos pela paz.

Para o 33.' dia mundial da paz o Papa escolheu o anúncio dos An­jos (Le. 2,14) e acrescenta: "o Grande Jubileu está indissoluvelmente ligado com esta mensagem de amor e reconciliação, que traduz as mais autênticas aspirações da humanidade do nosso tempo".

A palavr� de ordem é, pois, o perdão mútuo, para a reconciliação e para a paz. E também o voto da ONU de uma "cultura para a paz".

Hoje mesmo, festa de Natal, na igreja da Sé de Leiria e no san­tuário de Fátima, na abertura solene do Ano Santo Jubilar da nossa Diocese de Leiria-Fátima, foi contado e foi cantado um apelo veemen­te ao perdão. Todos reconhecemos e testemunhamos que na peregri­nação da nossa vida surgem, muitas vezes, pequenos e grandes atritos, e até as tentações de retaliação ou vingança batem à nossa porta e en­tram. E a paz fica de fora . . .

Por isso, recomendo, como pastor, aos sacerdotes e dirigentes de apostolado/ministério na nossa Diocese, em renovação sinodal, que purifiquemos a memória do passado e os diferentes projectos de vida.

A quantos devem servir as comunidades também ouso lembrar que a polftica pode intoxicar e corromper o bom relacionamento de pro­gresso e de paz.

Aos empregadores e empregados não precisarei de dizer que a colaboração competente é capital que produz benefícios.

Por sua vez, os competidores no comércio ou no desporto apren­derão que o desportivismo educado é sempre salutar.

A todos em geral e às famílias em particular, assim como a mim mesmo, recordo e proclamo que o saber perdoar e pedir perdão é pro­va de inteligência e sacramento de paz.

A todos os Diocesanos de Leiria-Fátima formulo votos e preces de perdão e de paz. Em Cristo

Leiria, 25 de Dezembro de 1999

t SERAFrM DE SOUSA FERREIRA E SILVA Bispo de Leiria-Fátima

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ORAÇÃO DO PAPA NO CENÁCULO

Na sua Viagem Apostólica à Terra Santa, o Papa escreveu aos Sacerdotes uma carta por motivo da 5.ª- feira Santa.

Terminou assim com uma oração da Didaqué:

«Apraz-me concluir esta reflexão, que afectuosamente deponho no vosso coração, com as palavras de uma antiga prece:

"Nós Vos damos graças, Pai nosso, pela vida e conhecimen to que nos revelastes através de Jesus vosso servo. A Vós, glória pelos séculos. Como este pão partido estava espalhado aqui e além pelas colinas e recolhido tornou-se uma só coisa, assim se reúna dos confins da terra [ . . . ] a vossa Igreja no vosso reino. Vós, Senhor omnipotente, criastes o universo, para glória do vosso nome; destes aos homens o alimento e a bebida para seu conforto, para que Vos dêem graças; mas, a nós, destes um alimento e uma bebida espiritual e a vida eterna por meio do vosso Filho [ . . . ] A Vós, glória pelos séculos"

(Didaqué 9, 3-4; 10, 3-4).

Daqui do Cenáculo, a todos vós, caríssimos Irmãos no sacerdó­cio, espiritualmente vos abraço e do fundo do coração vos abenço."

Jerusalém, 23 de Março de 2000.

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EXORTAÇÃO SINODAL

VAMOS CELEBRAR A FÉ

COM CORPO E ALMA I

1. Nos dias 1-3 de Outubro 1999 realizou-se a 3ª sessão da As­sembleia Sinodal da nossa Diocese de Leiria-Fátima. A todos os De­legados sinodais foi enviado oportunamente o "instrumento de trabalho" (IT) intitulado "Fazer das Celebrações Fonte de Vida", que era o resultado da reflexão de grupos e que serviu de base para as pro­postas da assembleia plenária. Este caderno de 25 páginas foi elabo­rado pela Comissão Central do Sínodo, tendo presentes as conclusões dos grupos. O objectivo era e é "incentivar os animadores pastorais e cada uma das comunidades da Diocese a empenharem-se na reno­vação das celebrações da fé, desde a preparação até à sua frutifica­ção na vida cristã".

O IT era composto de duas partes, que se conjugavam "do pas­sado rumo ao futuro", a fim de que as celebrações da fé sejam mani­festação e fonte da vida cristã.

2. A 3.ª sessão da Assembleia Sinodal decorreu na Aula Magna do Seminário de Leiria e começou com um cortejo para a igreja, on­de foi feita uma pausa de interiorização. Cada Delegado escreveu três "mensagens", que foram distribuídas aos participantes na Mis­sa de encerramento na Sé.

Os três dias foram muito ricos e dialogais; as votações e inter­venções ficaram registadas em acta, que recebi no Natal de 99 e da qual vou colher o que julgar mais oportuno para oferecer como "Exor­tação Sinodal" a todos os Diocesanos de Leiria-Fátima.

II

L Para a 3ª etapa da caminhada sinodal foi distribuído um Guião sobre o tema ''Fontes de vida para caminhar - As celebrações da fé".

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EXORTAÇÃO SINODAL

Ajudados pelo guião e seus animadores, trabalharam mais de 250 grupos, que mandaram as suas reflexões para a Comissão Cen­tral; foram recebidas 1 106 folhas de conclusões. Foram também dis­tribuídos 2 200 cadernos sinodais da criança com 1 250 guiões pedagógicos e 400 cassetes.

Entretanto a vida da Diocese continuou e foi prosseguindo o es­forço colectivo e programado de renovação das estruturas e institui­ções, bem como da criação de novos serviços, como foi o "centro de acolhimento aos sem abrigo" na paróquia de Leiria; outras iniciati­vas foram tomadas a nível das paróquias, vigararias, movimentos e obras.

2. Na revisão do passado, que é presente, foi afirmado e reconhe­cido que não se apagou a luz da esperança, embora se note certo alheamento e se sinta algum cansaço. Foi dito que muitas vezes a ro­tina vence a criatividade e que "são raros os projectos pastorais ino­vadores",

Que fazer? Ponderando a situação da Diocese e o itinerário si­nodal já percorrido, pareceu à Comissão Central e à Assembleia Si­nodal que será bom e aconselhável preparar mais uma sessão, sobre a "presença e relação dos cristãos no meio social em que vivem",

A par da temática geral enunciada será feita uma "reflexão so­bre a presença e missão da vida religiosa na Igreja Diocesana", que já se encontra em curso, especialmente nas muitas comunidades que existem na Diocese.

III

L Muitos grupos sinodais sublinharam que as celebrações da fé, nomeadamente dos sacramentos e sacramentais, são "momen­tos privilegiados da vivência cristã das comunidades". E todos con­cordaram que, corrigindo dinamicamente algumas habituações e abrindo-se mais à dimensão comunitária, os cristãos, os agregados familiares, os grupos e associações carecem de energia nova e de formação permanente. Para que as celebrações da fé sejam festi­vas e irradiantes de vida.

Não deixou de ser salientado, na perspectiva mais pastoral e concreta, que toda a pedagogia da comunicação e da mudança tem re-

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EXORTAÇÃO SINODAL

gras próprias e que as "exigências" devem ser bem aplicadas "com acolhimento amigo". Além da vida interior de cada um, que deve ser respeitada, cuide-se atentamente da preparação "dos agentes e do próprio presidente" de todas as celebrações. O rito e o ritmo, as pes­soas e os sinais devem enquadrar-se e harmonizar-se na unidade da celebração e do ambiente.

2. Testemunharam também os grupos de reflexão que "as cele­brações não podem ser actos isolados do todo que é a vida concreta". A celebração da fé será "ponto de chegada e de partida" da vida e pa­ra a vida. Como quem respira.

Da consideração dos factos e da doutrina conclui-se que "as ce­lebrações da fé são actos da Igreja, de que a comunidade é parcela vi­va e não isolada". Por isso, "é indispensável ter o sentido da Igreja e da comunhão com Ela",

Em síntese e conclusão, devemos proclamar que a celebração comunitária da fé corresponde melhor ao projecto de Deus e é fonte mais rica de dons e de graças.

IV

L Assumindo as diversas propostas analisadas e sujeitas a vo­tação pela Assembleia Sinodal, achamos por bem explicitar e subli­nhar as recomendações seguintes:

- seja intensificada e desenvolvida a catequese, a todos os níveis e por meios adequados ao destinatário, seja criança, jovem ou adul­to, seja velho cristão ou não baptizado; para acções especiais de for­mação que se aproveite bem a verba de cinco milhões de escudos que a Diocese disponibilizou;

- todas as celebrações da fé, sacramentais ou não, sejam porta­doras de beleza e de mensagem;

- nos centros de culto público e especialmente nas igrejas paro­quiais haja, quanto e quando possível, equipas de evangelização, de animação e de liturgia, assim como "equipas de preparação para ca­da um dos sacramentos", desde o baptismo até ao matrimónio e a santa unção; sejam os fiéis sensibilizados para a "importância da vo­cação ao ministério ordenado", sem o qual não há Eucaristia nem Pe­nitência sacramental.

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EXORTAÇÃO SINODAL

Além destes apelos/desafios, a Assembleia Sinodal lembrou a especificidade de cada sacramento com a sua riqueza espiritual e ex­pressou o voto, a propósito da Missa, que seja revista a quantidade de celebrações eucarísticas.

2. Com as propostas e os votos da Assembleia Sinodal diante de mim, também faço minhas mais as exortações que seguem:

- que as vigararias se entreajudem e pratiquem de maneira mais visível a pastoral de conjunto, criando alguns "serviços vica­riais" comuns às diferentes paróquias;

- que o secretariado da Liturgia estude a hipótese de um "cate­cumenado" para os adultos que desejem receber o baptismo e que ela­bore um "manual" que explique os requisitos para uma correcta celebração sacramental; sobre a liturgia foi emitido o voto de que al­guém se especialize na matéria para serviço da Diocese;

- que o secretariado da Educação Cristã da Infãncia e Adoles­cência não descuide a formação litúrgica dos catequistas e que toda a catequese faça viver a relação com Deus e com os outros; os crisma­dos não vejam na celebração do sacramento "uma etapa final da ca­minhada catequética";

- que o secretariado da Juventude intensifique a participação activa e convicta dos mais novos nas celebrações da fé, investindo na boa qualidade dos animadores; entre todos os sacramentos, que são da vida, merecerá especial cuidado a preparação para o sacramento do matrimónio;

- que os mais secretariados e serviços, cada um no seu âmbito e objectivo precisos, e integrado no conjunto da Igreja una, nunca dei­xem de ser eficazes instrumentos da missão da Igreja, tanto na sua acção profética e sacerdotal, como no seu agir socio--caritativo.

v

A Assembleia Sinodal foi também exemplo de celebração da fé. Em diálogo. Com festa. Na esperança. Os tempos de oração foram vi­taminas de vida espiritual na Igreja de Cristo. No final dos longos tra­balhos da 3' sessão, os cerca de 160 Delegados dirigiram-se para a igreja da sé e aí, na Missa solene de encerramento, foi proclamada a seguinte Mensagem:

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EXORTAÇÃO SINODAL

"Abertos ao Espírito que renova e impele à caminhada; em res­posta à interpelação de Jesus Cristo para que passemos fazendo o bem, anunciemos a libertação aos cativos e a Boa Nova aos pobres; solidários com os homens feridos na sua dignidade . . .

Os membros da Assembleia Sinodal, em comunhão com o Bis­po que os convocou, reunidos nesta 3" sessão, saúdam -toda a Igreja de Leiria-Fátima, neste dia da Diocese.

Descobrindo nas celebrações da Fé, especialmente na Eucaris­tia, fontes autênticas de vida e de comunhão com Deus e com cada pessoa, enviamos uma mensagem de gratidão pelo empenho de to­dos aqueles que, nos grupos sinodais e no trabalho apostólico nas suas comunidades, vão permitindo a descoberta dos caminhos que levam ao encontro com Deus.

A caminho das celebrações do Jubileu do ano 2000 do nascimen­to de Cristo, o Sínodo Diocesano afirma-se como a disponibilidade do Povo de Deus para a missão profética que lhe foi confiada: 'ide por todo o mundo'.

A nós, a Igreja de Leiria-Fátima, resta-nos a ordem divina. Em sessão solene respondemos: - Eis-nos aqui, Senhor!"

O Bispo agradeceu a todos, particularmente às Comissões, le­vantou a Luz da Esperança, e exortou a que se fechasse a janela à ilusão e que todos alargassem os umbrais e levantassem os lintéis ao Espírito

VI

L Das actas e dos apontamentos fluem muitos outros sopros do mesmo Espírito. Ganha evidência a convicção vivida de que toda a celebração da fé deve ser um hino da liturgia (SC 2,6,7 e 10). Medi­temos a Revelação e o Magistério.

Abunda a bibliografia ao nosso alcance. Para citar apenas um Teólogo, escolho Luís Maldonado que é Pastor e da minha idade e maneira de ser. Depois de advertir que a celebração sacramental não pode ser nada de materialista ou mágico, apela à dimensão cósmica da vida e declara: "Toda a actividade humana, boa e livre, é uma rea­lização da graça divina".

Sim, os sacramentos e as celebrações eclesiais não monopoli­zam a liberdade do homem e a acção do Espírito. O Espírito prepa-

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EXORTAÇÃO SINODAL

ra a Igreja. Basta recordar que o primeiro Papa baptizou Cornélia, quejá tinha recebido o Espírito Santo (cfr. Actos, 10, 44-48). Na pró­xima etapa sinodal, focando áreas descobertas e mundos diferentes, vamos proclamar que a IgTeja se torna visível e activa em todos os tempos e lugares.

2. O Concílio Vaticano II, depois de declarar que a Igreja é sa­cramento, ou "sinal e instrumento da íntima união com Deus e da uni­dade de todo o género humano" (LG 1), diz que todas as celebrações da fé manifestam a IgTeja (cfr. SC 6). E o citado Teólogo, a fim de ar­gumentar que toda a assembleia celebrante deve ser muito activa e sensível, escreve: "Jesus toca os seus discípulos para lhes inspirar con­fiança (MaL 17 ,7); Jesus toca o leproso para o curar e reintegTar na co­munidade (Lc. 5,3); Jesus toca o cego para lhe transmitir a luz (Me. 8,22); Jesus tocava as crianças (Lc. 18,15); Jesus toca o corpo morto da viúva de Naim (LC. 7,14)" (Sacramentalità, Sacramenti e Azione Liturgica, 1997,124). Os erros e os problemas podem ser "tocados" pe­la graça através de nós. Os elementos da celebração como a saudação da paz, o gesto de louvar e oferecer, o inclinar-se, ou benzer-se, ou ajoelhar, são sinais que ajudam a vivência participativa, que tem mo­mentos antes e depois, no adro da igTeja e nos meandros da vida.

VII

Pressupondo princípios da teologia e da eclesiologia, poderemos salientar mais alguns pontos ou critérios da acção pastoral da nossa Diocese em via de Sínodo. Assim:

- toda a celebração da fé deve ser encontro de festa; a assembleia celebran te alegra-se, como o pai do filho pródigo; a celebração da fé mostra a vida dos ressuscitados;

- toda a celebração deve ser palavra e alimento; a Bíblia e a vi­da conjugam-se; o magistério e o ministério fazem comunhão; vamos preparar melhor os leitores e os acólitos, as homilias e as liturgias, para descobrirmos com nitidez o Salvador, como os discípulos de Emaús;

- toda a celebração da fé deve ser bênção e gTaça; a assembleia reflecte, vê, ouve e canta; os sinais sacramentais são instrumentos transmissores de graça; que as bênçãos não fiquem estéreis;

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EXORTAÇÃO SINODAL

- toda a celebração da fé deve ser contemplar e agir, receber e dar, ir e voltar, pensar em si e nos outros, pedir e oferecer perdão . . . ; vamos conseguir que as nossas celebrações tenham harmonia e pro­duzam a paz; daremos mais atenção ao rito da distribuição da comu­nhão, para que não haja tempos mortos, aos avisos, para que não haja agressões e atropelos, ao grupo coral, para que não seja corpo estranho, a todos os participantes, para que não haja ruídos nem per­turbações de uma vivência estética e que fale à inteligência do cora­ção;

- toda a celebração deve ser uma reunião de amigos, como em Betãnia, uma refeição e um pentecostes como no Cenáculo ou em qualquer ermida de uma aldeia, mas sempre um ir e regressar, ao ritmo da sístole e diástole, da convergência e irradiação, da consagra­ção e da comunhão . . . Celebrar é aquecer a fé para viver melhor.

VIII

L A Assembleia Sinodal, fazendo--se eco dos grupos e da opinião geral, recordou, de maneira real e de corresponsabilidade, que osjo­vens se afastam das igrejas e da própria Igreja; é um fenómeno já velho e complexo, embora com mais acuidade nos tempos de hoje; por isso é que os Bispos portugueses decidiram dar atenção preferen­cial aos jovens neste ano 2000; entretanto, surgem por toda a parte jovens muito empenhados e movimentos novos inspirados pelo Es­pírito.

Em consonãncia verifica também que a prática pastoral é pou­co criativa e mais de manutenção; alguns ritos sacramentais deixam que a rotina e até que a magia batam à porta; por isso apela aos res­ponsáveis e animadores pastorais que optem corajosamente pela re­novação sinodal.

Por sua vez a família, que é a célula vital da Sociedade e da Igre­ja, perdeu força anímica, deixou de rezar em comum e cedeu às múl­tiplas ten tações de consumismo e às agressões do materialismo; por todas as razões e causas, bem à vista, solicita mais apoio à pastoral familiar na Diocese.

2_ A mesma Assembleia também constatou, pela positiva, que nas mudanças aceleradas e nas expressões legítimas da liberda-

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EXORTAÇÃO SINODAL

de plural surgem sinais promissores de reevangelização e de vida cristã.

Muitos jovens e adultos, desencantados dos ídolos enlouquece­dores do ter e do prazer, buscam o ser e regressam, como filhos pró­digos, à casa do Pai.

Igualmente reconheceu a Assembleia que muita gente nova par­ticipa nos vários grupos de cantores, de acólitos, de leitores, de cate­quistas, de ministros da comunhão, e de espiritualidade; jovens e adultos oferecem-se como voluntários para a visita aos doentes e en­carcerados, para a assistência aos pobres e marginalizados . . .

Congratulamo-nos pelos fecundos sintomas de vida sempre em renovação e prometemos mais coerência e acção, sabendo experimen­talmente que a vida interior é o bom combustível para o diálogo tes­temunhal e para o progressivo crescimento em Cristo e na Sua Igreja.

IX

A sessão da Assembleia não abrangeu todas as áreas e acções da vida diocesana. Muitos programas estão em curso e projecto. Os Conselhos Pastoral e Presbiteral estudam um plano alargado; está a ser reanalisada a difícil questão das festas religiosas; o secretaria­do da catequese e todos os outros, com espírito sinodal e jubilar, ten­tam corresponder mais e melhor às exigências dos tempos e das pessoas; a Escola de Fonnação Teológica prossegue activa e prepa­ra-se o Centro de Cultura; encontram-se em estudo o ãmbito das vi­gararias e a hipótese de novas paróquias; com as dioceses mais vizinhas prepara-se um directório para as celebrações penitenciais e as celebrações dominicais sem a presença de presbítero; não serão esquecidos a pastoral vocacional, a animação missionária, os Conse­lhos pastorais, os seminários, a formação permanente e o tempo sa­bático do Clero .. .

Na próxima etapa do itinerário sinodal vamos prestar mais atenção à doutrina social da Igreja, à vida tal qual, aos não pratican­tes e não crentes.

O documento conclusivo do nosso Sínodo será um progra­ma/compromisso mais abrangente da vida e para a vida.

E a sinodalidade será um dado adquirido e de valor acrescentado.

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EXORTAÇÃO SINODAL

x

L A presente Exortação, na sequência da Carta Pastoral "Uni­dos no Caminho da Esperança" (2/4/95), da primeira Exortação Si­nodal "Unidos em Cristo, na renovação permanente" (28/1/97) e da segunda Exortação Sinodal "Nós podemos e devemos ser melhores" (10/8/98), é dirigida a todos os Diocesanos e pode ser uma fonte ou um vaso de água viva para quem quiser. Vamos todos beber a Revelação e viver a Vida, à luz de Cristo e do outro Paráclito.

2. Neste ano da beatificação de Francisco e Jacinta Marto e do Grande Jubileu do Ano 2000, rogamos aos Padroeiros da nos­sa Diocese de Leiria-Fátima, Santo Agostinho e Nossa Senhora de Fátima, que nos auxiliem a celebrar sempre a Vida, com alegria e esperança, sem olvidar os que estão no adro ou mais à distân­cia.

E neste sentido escolho, para terminar, palavras proféticas do Papa aos Bispos portugueses na sua recente visita ad limina: "Se na multiplicação dos pães (cfr. Lc. 9,12-17) os discípulos não tivessem feito chegar à multidão os pedaços resultantes dos cinco pães e dois peixes abençoados pelo divino Mestre, certamente não se poderia di­zer que todos puderam alimentar-se" (30/11/99). Para a vida . . .

Deus quer precisar de nós. E há muitos irmãos nossos, que es­peram por Alguém.

Queridos Diocesanos:

A exortação que acabamos de apresentar destina-se a todos vós. Faço-me eco de Deus para lembrar em voz alta que Ele muito

nos ama. Como Pai carinhoso, pede-nos conversão permanente. Pa­ra que vivamos em família. Para que haja paz.

Como Bispo de Leiria-Fátima acrescentarei que deveis confiar nos vossos Pastores. Estão ao vosso serviço; precisais deles, que tam­bém precisam de vós.

Nós, os Padres da Diocese, encontrarno-nos muitas vezes para estudar e para rezar, a fim de servirmos melhor. Os Sacerdotes reu­nem-se todos os meses em grupo restrito e participam todos os anos numa semana de actualização teológico-pastoral e no retiro espiri­tual.

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EXORTAÇÃO SINODAL

Muitas vezes o Bispo se encontra com os seus Presbíteros, em assembleia ou em particular; tem ocasião e solicitude para lembrar princípios ou questões mais pontuais e pessoais. Como irmão.

A propósito do imperativo de fraternidade, ocorre--me a estória do prior que disse um dia aos seus paroquianos: apareceu-me um anjo e revelou que na nossa paróquia vive Jesus disfarçado!. . . Toda a gente começou a respeitar mais o outro, vizinho ou desconhecido, pois bem podia ser Jesus ou seu parente.

Não é lirismo repetir que Jesus reencarna nos cristãos e se po· de ocultar em qualquer ser humano. E nesta perspectiva podemos sentir e ver que a educação recíproca ganha foros de cidadania e que as obras de misericórdia fazem milagres.

Louvando quantos têm trabalhado e caminhado neste percurso de renovação, faço votos para que a 4' etapa complete e robusteça os objectivos e os modos da nossa Igreja sinodal.

Leiria, 13 de Janeiro de 2000

t SERAFIM DE SOUSA FERREIRA E SILVA Bispo de Leiria-Fátima

N. R. - O sínodo continua. O boletim e o semanário dioce­sano têm dado notícias das comissões e dos grupos.

Prepara·se a 4. g etapa. O espírito sinodal vai crescendo. Nem sempre serão visíveis as renovações, mas a caminhada prossegue. Os conselhos pastorais, o RABI, a formação do Clero e dos Animadores estão na lista das prioridades. Entretanto outros sinais se vislumbram e outras áreas vão acolhendo a luz profética da nossa Igreja.

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SANTUÁRIO DE FÁTIMA ABRIU ANO JUBILAR COM BÊNÇÃO

DO PÓRTICO A bênção e inauguração do pórtico do Jubileu, no passado dia

25 de Dezembro, constituiu o momento de abertura solene do Ano Santo 2000, no Santuário de Fátima. Presidiu à cerimónia O Senhor Bispo de Leiria-Fátima, D. Serafim Ferreira e Silva, e participaram dezenas de sacerdotes e centenas de fiéis.

Durante o ritual da bênção, D. Serafim proferiu o seguinte de­sejo, que expressa bem o sentido e finalidade do pórtico: "Possam to­dos os peregrinos, ao chegarem a este átrio, saborear a alegria de uma nova etapa de suas vidas. Renove-se-lhes, nas águas deste pór­tico, a memória misteriosa do baptismo. E a rugosidade destes pe­dras, marcadas pela sombra da Cruz Alta, os convide à oferta sacrificial de suas vidas. Respondam assim, como os pastorinhos, aos apelos do Anjo e de Maria. Fazei deste pórtico um grande sinal des­te Ano Santo, das suas graças, e das suas exigências, de modo que, ao avistarem a Capelinha das Aparições, se sintam atraídos pela luz brilhante e a voz doce de Maria, e se decidam a seguir mais de per­to as pegadas de vosso filho Jesus Cristo, caminho, verdade e vida, por cuja graça podemos inaugurar este tempo santo de alegria, de perdão e de paz."

Por sua vez, Mons. Luciano Guerra, Reitor do Santuário de Fá­tima, explicou que o pórtico diferenciará melhor o átrio de acolhi­mento (Praça Pio XII) em relação ao recinto de oração, marcando o local exacto da passagem do profano para a intimidade com Deus. A obra surge ainda como um retorno às origens, urna vez que no mes­mo local houve, em tempos, um pórtico de entrada.

o actual pórtico é constituído por dois muros, cada um com 23 metros de comprimento por três de altura, e afastados entre si 16 metros. Esta rugosa abertura, com pavimento em paralelepípedos, é a "passagem". Sobre o muro, do lado da entrada, foi inscrita a frase, em catorze línguas, "Eu sou a porta. Se alguém entrar por Mim, se-

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SANTUÁRIO DE FÁTIMA ABRIU ANO JUBILAR

rá salvo"; do outro lado, foi inscrita a frase "Deus é amor". Junto aos muros, do lado da entrada, foram criados dois planos de água, com iluminação submersa, que simbolizam a purificação.

Depois da cerimónia da bênção, seguiu-se um cortejo litúr­gico para a Capelinha das Aparições, onde foi celebrada a Euca­ristia.

Durante o ano 2000, repetir-se-á um ritual de entrada no Re­cinto de Oração, em todos os dias com programa jubilar, nomeada­mente aos sábados, domingos, dias santos de guarda, feriados e outros dias de peregrinações especiais.

N. R. -- Têm sido muitas as peregrinações e actividades jubilares no Santuário de Fátima. Destacamos a peregrinação das crianças, nos dias 9·10 de Junho. O lema é: "Crianças em Jubileu, Paz para Angola". Está em curso uma campanha que pretende sensibilizar para a situação em Angola e prestar algu­ma ajuda.

Todos os sábados e Domingos, desde a Páscoa, há cele­brações jubilares, com entrada pelo pórtico às 10 horas e Missa às 11 horas.

No dia 8 de Julho será celebrado o Jubileu dos Esposos que fizeram o seu Casamento no Santuário de Fátima. Nos dias 25-26 de Julho será o Jubileu dos Avós e no dia 14 de Outubro será o Jubileu das Bandas e Coros.

A Semana Santa teve o programa habitual e a partici­pação de muitos fiéis.

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NOTA EPISCOPAL SOBRE A QUARESMA 2000

L Vamos viver mais uma Quaresma. Depois do carnaval, seguem­-se quarenta dias penitenciais, a começar pelo rito das cinzas.

A Quaresma é um tempo especial, na perspectiva da Primavera, de preparação da Páscoa da Ressurreição.

É tempo de exame de consciência, de conversão e de reconciliação. É tempo de ascese, de mais disciplina, de alguma privação ... Pa­

ra bem próprio, e a favor dos outros. " É tempo de encontro de cada um consigo mesmo e com os outros.

E tempo de busca e de partilha dos valores. A Quaresma é também tempo de libertação. Muitas vezes deixa­

mo-nos dominar pelo egoísmo e outras vezes é a maldade que se apo­dera dos nossos sentimentos. Na Quaresma devemos purificar a memória e os projectos de vida. E recuperar a energia do bem e da paz.

O Salvador veio libertar-nos (cf. Rom. 3,25) e nós deixamo-nos prender pelos ídolos, comprometemos a nossa dignidade, corrompemos a liberdade e hipotecamos a paz.

A Quaresma é, para quem quiser, tempo litúrgico e providencial para o perdão e amizade. Com Cristo e por Cristo.

2. Durante a Quaresma, os cristãos reflectem, com mais tensão e atenção, sobre o mistério da vida e da morte. À luz da Ressurreição.

No tempo da Quaresma todos os cristãos são convidados a reana­lisar as situações de pecado individual ou colectivo. Perante a consta­tação de erros, como o relativismo ou o consumismo, e de graves agressões, como a violência e a injustiça, todos seremos impelidos a aplicar, sem demora, os remédios mais adequados.

Respeitando a pluralidade da vivência cristã, devemos procurar sempre a Verdade. Na comunhão corresponsável e salvífica!

Mais dentro da sua Igreja, cada baptizado celebra a sua fé, na li­turgia dos sacramentos e sacramentais. Privilegia a celebração euca­rística, que é fonte e centro de toda a vida cristã. E a penitência é o certificado da Eucaristia.

No tempo quaresmal, o cristão é convidado a examinar atenta­mente os seus compromissos, como cidadão e como cristão. Dentro de si mesmo e em família. Na Igreja e na sociedade.

Da salutar caminhada quaresmal resultará mais aceitação/ade­são à Pessoa e à Mensagem de Jesus Cristo.

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NOTA EPISCOPAL

3. Neste ano 2000, a Quaresma reveste--se de um carácter muito particular. Diz o Papa na sua Mensagem: " O tempo quaresmal cons­titui o ponto culminante do caminho da conversão e reconciliação que o Jubileu, ano de graça do Senhor, propõe a todos os crentes, para re­novarem a sua adesão a Cristo e anunciarem com mais ardor o seu mis­tério da salvação no novo milénio".

Acrescenta João Paulo II: "Por ocasião da Quaresma, todos­ricos ou pobres - são convidados a tornar presente o amor de Cristo, através de generosas obras de caridade. Neste ano jubilar, a nossa ca­ridade é chamada de modo especial a manifestar o amor de Cristo aos irmãos carecidos do necessário para viver, a quantos são vítimas da fo­me, da violência e da injustiça. Esta é a forma de actualizar as exigên­cias de libertação e fraternidade, já indicadas na Sagrada Escritura, e que a celebração de Ano Santo impõe". Será nas coordenadas do per­dão e da justiça social que manifestamos o amor e a salvação, e nos dei­xamos "reconciliar com Deus" (2 Cor. 5,20). E explica Sua Santidade: "Cansado da mediocridade e das falsas ilusões, ao homem actual é da­da a possibilidade de iniciar uma vida em plenitude".

Que o Jubileu 2000 seja, de facto, tempo de encontro e de vida.

4. Durante a Quaresma 99 a soma da chamada "renúncia quares­mal" foi de 9 613 225 escudos, que em parte foi destinada ao "fundo de apoio aos meios de comunicação social da Igreja nos países africanos de expressão oficial portuguesa".

Para esta Quaresma 2000 exortamos todos os Diocesanos de Lei­ria-Fátima a que façam generosamente actos de renúncia e partilha. Na mesma proporção, o resultado do ofertório deste ano será destina­do à anunciada "Domus Fraternitas", unidade para-hospitalar da Or­dem dos Frades Menores (Franciscanos), que vai recolher pessoas atingidas pelo HIV-Sida e seus familiares, para uma justa integração fraternal. Na sociedade e na Igreja.

A nossa 69' peregrinação diocesana a Fátima (9 de Abril), na pers­pectiva da Beatificação de duas crianças portuguesas, será também um sinal/apelo de fraternidade e de paz.

Que na caminhada quaresmal 2000 ninguém queira ficar de fora, alheio ao chamamento do Salvador Jesus Cristo.

Leiria, 28 de Fevereiro de 2000

t SERAFIM DE SOUSA FERREIRA E SILVA Bispo de Leiria-Fátima

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o JUBILEU NA DIOCESE DE LEIRIA-FÁTIMA

D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva, Bispo de Leiria-Fátima, em sintonia com toda a Igreja que vive o Grande Jubileu do Ano 2000, tem­-se dirigido à Diocese recordando-lhe que este é um ano de júbilo, duma alegria que nos vem pela reconciliação, pelo encontro com o Senhor e pe­la renovação que o encontro com Ele provoca nos cristãos e na Igreja.

O Ano Santo é, sobretudo, uma experiência pessoal de fé que ca­da cristão faz até se deixar transformar no seu ser e na vida pelo en­contro profundo com Jesus Cristo. Contudo, o Jubileu é também uma autêntica experiência de Igreja, vivida em comunidade e na comunhão. As paróquias, vigararias e as Comissões e Serviços Diocesanos hão--de vivê--lo profundamente, tendo sempre presentes que somos uma Dio­cese em Sínodo, à procura de novos caminhos. Múltiplas acções e ini­ciativas devem despertar na Igreja Diocesana ao longo deste Ano Santo. Mas, é necessário investir na promoção de acções pontuais e de inicia­tivas marcantes dirigidas aos sectores da Igreja ou da sociedade habi­tualmente mais esquecidos ou menos favorecidos na habitual acção eclesial.

Tendo entrado em funções, o Presidente da Comissão participou em algumas reuniões que, periodicamente, juntaram em Fátima os res­ponsáveis das dioceses portuguesas para a dinamização do Jubileu. Houve também a presença, em nome da Diocese de Leiria-Fátima, nas Jornadas que, tendo em vista a realização do Jubileu, se realizaram em Fátima.

Entretanto, organizou-se a Peregrinação Diocesana Oficial à Ter­ra Santa, que decorreu de 6 a 13 de Dezembro, presidida pelo Bispo Diocesano e na qual participaram cerca de 190 pessoas. A peregrina­ção decorreu com grande êxito e, diariamente, os peregrinos foram to­mando consciência que ali estavam em nome e representação da Diocese de Leiria-Fátima.

Já nos finais de Dezembro de 1999, pediu-se a todas as paróquias que, na celebração do Natal do Senhor, fosse solenemente proclamado o Ano Santo. Oportunamente, foi distribuída a documentação necessá­ria para a proclamação do Jubileu.

À Diocese foi também feita a proposta do "Jubileu das Crianças e Adolescentes", iniciativa que o Secretariado Diocesano da Educação Cristã da Infància e Adolescência sugeriu às paróquias para o dia 9 de Janeiro de 2000. Este Jubileu realizou-se em várias comunidades com

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o JUBILEU NA DIOCESE DE LEIRIA-FÁTIMA

bons resultados, algumas conseguiram mesmo ter eco nos meios de co­municação social dado o relevo e a festa de que se revestiu este Jubileu.

Assinalando o Dia Mundial do Doente, a 11 de Fevereiro, a Cape­lania do Hospital de Santo André publicou e entregou a cada doente do Hospital uma Carta, onde o P. João Trindade, Capelão, manifesta in­teira disponibilidade para os doentes e deseja que "todos se sintam bem durante o tempo de internamento" naquela unidade hospitalar.

Estão já calendarizadas as Peregrinações Jubilares Vicariais à Sé de Leiria. Foi publicado um caderno com subsídios litúrgicos para es­sas peregrinações e uma estampa de recordação que será distribuída aos peregrinos. No entanto, cada vigararia, dada a sua especificidade, tem de preparar com a máxima criatividade e vida a sua vinda em pe­regrinação jubilar à "Igreja Mãe".

As datas das Peregrinações Jubilares Vicariais à Sé são: Batalha - 12 de Março; Marinha Grande - 1 de Outubro; Fátima - 15 de Outu­bro; Colmeias - 22 de Outubro; Porto de Mós - 5 de Novembro; Caxa­rias/Ourém - 12 de Novembro; Monte Real - 19 de Novembro; Milagres - 10 de Dezembro de 2000.

Está a ser organizada a Peregrinação Diocesana Oficial a Roma, que se realizará, possivelmente, de 27 a 31 de Julho.

Outras iniciativas surgirão ao longo do ano. Haverá, certamente, um dia de Jubileu para os sacerdotes e os Serviços Diocesanos não dei­xarão de promover o seu "Dia Jubilar" para os sectores que abrangem a sua acção. A Pastoral do Desporto está também a preparar o Jubileu dos Desportistas, caracterizado pela criatividade e acção.

Por ocasião da celebração do Dia Anual da Diocese, procurar-se­-à que se realize uma "Semana Jubilar" que envolverá os diversos qua­drantes e sectores da Igreja e sociedade, iniciativa que tem necessariamente que "mexer" com a vida da Diocese de Leiria-Fátima.

Faz-se ou renova-se o apelo a toda a Diocese para que se mo­tive verdadeiramente para a vivência activa do Grande Jubileu. Nin­guém pode ficar parado à espera que outros venham fazer o nosso trabalho.

Recomenda-se com especial cuidado a atenção a dar aos sinais. Há muitas publicações, cartazes, bandeiras e outros símbolos em que as co­munidades podem investir para salientar a importância e despertar para a vivência do acontecimento jubilar que celebramos.

Comissão Diocesana do Jubileu

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A BEATIFICAÇÃO DOS PASTORINHOS DE FÁTIMA

FRANCISCO E JACINTA MARTO Nota Pastoral

da Conferência Episcopal Portuguesa

L A beatificação dos Pastorinhos Francisco e Jacinta Marta, que ocorrerá no dia 13 de Maio de 2000, em Fátima, é para todos nós, bis­pos e demais fiéis da Igreja em Portugal, motivo de grande alegria e de louvor a Deus.

É uma grande honra para todos os portugueses termos mais uma vez no Santuário de Fátima o Papa João Paulo II.

Este acontecimento vem enriquecer as nossas celebrações do Jubileu do ano 2000, que, no dizer do Santo Padre João Paulo II, "pre­tende ser uma grande oração de louvor e agradeciTTU!nto sobre­tudo pelo dom da Encarnação do Filho de Deus e da Redenção por Ele operada" ('). Entre os motivos jubilares para a Igreja dar gra­ças a Deus, o Santo Padre coloca os "frutos de santidade, amadure­cidos na vida de tantos homens e mulheres". Adultos e Crianças!

O reconhecimento da santidade das duas crianças de Fátima há-de levar-nos a glorificar a Deus e viver com mais empenho a fé cristã. Os dois Pastorinhos enriqueceram o tesouro espiritual da Igre­ja, do qual todos beneficiamos.

Ousamos convidar todos os portugueses a considerarem, com in­teresse, a vida e o testemunho dos pequenos Francisco e Jacinta Mar­ta. O caminho que percorreram, a fé que demonstraram e o amor com que viveram, sobretudo depois das Aparições, não pode deixar de nos interpelar fortemente. Em tempos adversos à prática da fé, a sua vi­da testemunha o Mistério e a força dele emanada. O que neles e por eles se manifesta deixa-nos maravilhados: a força de Deus transfor­ma a fragilidade humana, levando-a a ultrapassar-se a si mesma.

Em 1992, a propósito dos 75 anos das aparições de Fátima, es-

1. JoÃo PAULO II, Carta Apostólica Tertio Millennio Adveniente (TMA), nº 32.

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A BEATIFICAÇÃO DOS PASTORINHOS

crevemos uma Carta sobre "Fátima na Missão da Igreja" e apon­távamos os Pastorinhos como um sinal ('). Neste momento queremos pôr em relevo o significado da beatificação dos Pastorinhos Francis­co e Jacinta Marto.

A vida e experiência cristã dos Pastorinhos

2. A Congregação das Causas dos Santos resume assim a biogra­fia dos videntes de Fátima: "Os veneráveis servos de Deus Francisco e Jacinta Marto nasceram em Aljustrel, aldeia da paróquia de Fáti­ma, na diocese de Leiria-Fátima. Francisco nasceu no dia 11 de Ju­nho de 1908 e sua irmã Jacinta no dia 11 de Março de 1910. Na sua humilde família, aprenderam a conhecer e a louver a Deus e a Virgem Maria. No ano de 1917, enquanto pastoreavam o rebanho,juntamen­te com a prima, Lúcia dos Santos, tiveram a graça singular de ver vá­rias vezes a Santíssima Mãe de Deus, na Cova da Iria. Desde então, os servos de Deus não tiveram outro desejo a não ser fazer em tudo a vontade de Deus e contribuir para a salvação das almas e para a paz no mundo, pela oração e penitência. Em pouco tempo alcançaram uma extraordinária perfeição cristã. Francisco adormeceu no Senhor no dia 4 de Abril de 1919 e Jacinta no dia 20 de Fevereiro de 1920" (').

A vidente Lúcia dos Santos, nas suas Memórias ('), relata e tes­temunha como, após as aparições, os seus primos, Francisco e Jacin­ta, procuram viver segundo os dons que receberam de Deus. Muito mais do que antes, a vida deles centra-se em Deus, de uma for­ma extraordinária. O seu primeiro objectivo passa a ser amar a Deus e agradar-lhe em tudo. Por isso dedicam longo tempo à oração e acei­tam sacrifícios e sofrimentos, que oferecem pelos pecadores. A força

2. CONFERÊNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA, Fátima na Missão da Igre­ja. Carta Pastoral no 75º aniversário das Aparições, Fátima, 30 de Abril de 1992, n' 26.

3. O Decreto tem a data de 28 de Junho de 1999 e é assinado pelo Prefeito da Congregação da Causa dos Santos, D. José Saraiva Martins.

4. Cfr Memórias da Irmã Lúcia, Fátima 19906. Daqui em diante, a obra será indicada no texto com o nome Memórias, seguida do número da página.

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A BEATIFICAÇÃO DOS PASTORINHOS

divina e o encanto por Deus e por Nossa Senhora são tais que, mesmo perante as ameaças de morte, demonstram fortaleza extraor­dinária, continuando a afirmar e a defender as aparições que presen­ciaram. O amor pelos pecadores, os doentes e os pobres era permanente e exprimia-se em atitudes e iniciativas: a oração, a ofer­ta de alimentos, visitas e palavras de consolação e mesmo conselhos.

Impressiona o modo como as duas crianças vivem a doença que as atinge e como encaram a morte, que antecipadamente sabem vir em breve. O Francisco despede--se da Lúcia dizendo-lhe: "Adeus, até ao Céu! . . . " (Memórias, 148). E a Jacinta, já muito doente, consola a mãe com estas palavras: "Não se aflija, minha Mãe: vou para o Céu. Lá hei--<ie pedir muito por si" (Memórias, 46).

A Lúcia testemunha que, junto da prima, sentia "o que, de or­dinário, se sente junto duma pessoa santa que em tudo parece comu· nicar Deus", E acrescenta: ''A Jacinta tinha um porte sempre sério, modesto e amável, que parecia traduzir a presença de Deus em todos os seus actos, próprio de pessoas já avançadas em idade e de grande virtude" (Memórias, 183).

A vida destas duas crianças testemunha de forma convincente como a graça divina pode transformar as pessoas, mesmo crianças, exercendo nelas o seu poder e comunicando a bondade. O que ao ser humano parece impossível não o é a Deus.

A mensagem das Aparições

3. Seja nas aparições do Anjo, seja nas da Virgem Maria, a men­sagem e a experiência da presença amorosa de Deus são insepará­veis. Os videntes são envolvidos pela luz divina que lhes é comunicada por aquela Senhora. E eles mesmos se vêem em Deus, como relata a Lúcia sobre o que lhes aconteceu no dia 13 de Maio:"Foi ao pronunciar estas últimas palavras ('a graça de Deus será o vosso conforto') que abriu pela primeira vez as mãos, comunicando-nos uma luz tão intensa, . . . fazendo-nos ver a nós mesmos em Deus" (Me­mórias, 158).

É a luz divina que grava nos corações das crianças a mensagem que recebem. Assim o entende o Francisco, que) perante o interesse das pessoas, comenta para a prima: "Esta gente fica tão contente s6

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A BEATIFICAÇÃO DOS PASTORINHOS

por a gente lhe dizer que Nossa Senhora mandou rezar o terço e que aprendesses a ler! O que seria, se soubessem o que Ela nos mostrou em Deus, no Seu Imaculado Coração, nessa luz tão grande!" (Memó­rias, 127).

Da Mensagem das aparições faz parte integrante a experiência divina que viveram as crianças. O elemento central é um apelo à mudança de vida, à conversão, seguindo os caminhos de Deus. Nas palavras de Maria, manifesta-se o rosto misericordioso de Deus, que quer a salvação de todos.

Deus confia às crianças uma missão em favor dos homens: in­terceder diante de Deus pelos pecadores e implorar a paz para o mun­do. Lúcia continua no mundo para dar a conhecer Maria e incentivar a devoção ao seu Coração Imaculado.

A Mensagem inclui ainda o anúncio da paz para o mundo. O Anjo intitula-se da paz e convida a não ter medo (cfr Memórias, 152). Nossa Senhora anuncia a possibilidade e os meios para obter o bem da paz para os homens. Um dos meios, porventura o mais potente, é a oração, alimento indispensável da vida cristã.

A Igreja não pode ficar alheia a Fátima. Assim declarou o San­to Padre, na sua peregrinação ao Santuário em 1982: "o conteúdo do apelo de Nossa Senhora de Fátima está tão profundamente radicado no Evangelho e em toda a Tradição que a Igreja se sente interpe­lada por essa Mensagem". (')

o significado da beatificação

4. A beatificação destas duas crianças traz uma confirmação, por parte da Igreja, da credibilidade das aparições de Fátima. Se, co­mo diz Jesus, pelos frutos se conhece a árvore (cfr Mt 12,33), a san­tidade dos pastorinhos, reconhecida e declarada pela Igreja, atesta que Deus interveio fortemente nas suas vidas e eles se empenha­ram a viver de forma mais autêntica a fé cristã.

5. JOÃO PAULO II, Homilia em Fátima, 13 de Maio de 1982, nº 10, "Discur­sos do Papa João Paulo II em Portugal", edição da Conferência Episcopal, Lisboa 1982, p.74.

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A BEATIFICAÇÃO DOS PASTORINHOS

Dado que se trata de crianças, esta beatificação vem reconhe­cer que também elas podem viver heroicamente as virtudes cristãs e constituir exemplo para os membros da Igreja. E mais, também elas podem desempenhar tarefas na Igreja. É o próprio Santo Padre que o afirma: "Como no Evangelho Jesus deposita par· ticular confiança nas crianças, assim também a sua Mãe, Maria, não deixou de reservar aos pequenos, ao longo da história, o seu cari� nho materno. Pensai em Santa Bernardette de Lourdes, nas crian­ças de La SaleUe e, em nosso século, nos pastorinhos de Fátima( . . . ). É bem verdade: Jesus e a sua Mãe escolhem frequentemente crianças a fim de lhes confiar tarefas grandes para a vida da Igreja e da hu· manidade. (. . .) O Redentor da humanidade parece partilhar com elas a solicitude pelos outros" (').

Os fiéis de hoje, crianças, jovens e adultos, podem encontrar no Francisco e na Jacinta Marta exemplos admiráveis de vida de fé integral, responsável e heróica (') que serão estímulo a uma vida cristã melhor. Com a beatificação, a Igreja "propõe à imitação, à ve· neração e à invocação dos fiéis homens e mulheres que sobressaíram pelo fulgor da caridade e de outras virtudes evangélicas" ('). É o ca­so do Francisco e da Jacinta. Estas crianças tornam-se interces­soras.

A capacidade e o poder de intercessão junto de Deus são reco­nhecidos pela Igreja às crianças já em vida. Na verdade, assim escre­ve o Papa João Paulo II: "Que poder enorme tem a oração das crianças! Ela torna-se modelo para os próprios adultos: rezar com confiança simples e total, quer dizer rezar como sabem rezar as crian­ças. ( . . . ) É à vossa oração, queridos amigos, - escreve o Santo Padre às crianças - que desejo confiar os problemas da vossa família e de

6. JOÃO PAULO II, Carta do Papa às Crianças no Ano da Família, (1311211994), Secretariado Geral do Episcopado, p.28-29. CfrJOÃO PAULO II, Exortação apostólica Christifideles Laici sobre a vocação e missão dos lei­gos na Igreja e no Mundo (ChL), n247.

7. Cfr CONFERÊNCIA EPISCOPAL PORTUGUESA, Fátima na Missão da Igreja, n2 10.

8. JOÃO PAULO II, Constituição Apostólica Diuinus Perfectionis Magister, "L'Osservatore Romano", edição em português, (1983), p. 116.

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A BEATIFICAÇÃO DOS PASTORINHOS

todas as famílias do mundo" ('). Se um tal reconhecimento se faz às crianças em vida, quanto mais não podemos esperar da intercessão de crianças a quem a Igreja declara santas!

Apelos deste acontecimento para a Igreja em Portugal

5. A beatificação dos dois pastorinhos de Fátima constitui, co­mo já se disse, um dom para a Igreja, que motiva nela o louvor e a acção de graças. Mas este acontecimento é também um sinal divi­no portador de alguns apelos que requerem o empenho de todo o Po­vo de Deus, a começar por nós, bispos.

O primeiro apelo é que, à semelhança dos videntes, reconheça­mos e aceitemos as Aparições e a Mensagem da Virgem Maria em Fátima como um estímulo à vivência mais intensa da fé, da esperan­ça e da caridade cristãs, que se radicam no nosso baptismo.

O segundo apelo é o reconhecimento de que as crianças são mo­delo para os mais novos e para os adultos. Diz o Santo Padre: "Por­ventura não apresenta Jesus a criança como modelo também para os adultos? Na criança, há algo que nunca poderá faltar em quem dese­ja entrar no Reino dos Céus" (10).

A missão dos Pastorinhos vem lembrar-nos que também as crianças têm a sua tarefa a desempenhar na Igreja e na sociedade. Isto é tanto mais importante quanto, nos dias de hoje, a criança foi valorizada na afectividade com que é tratada, nos cuidados e aten­ções, nos direitos que se lhes reconhecem, nas possibilidades educa­tivas que se lhes oferecem. "Deve reconhecer-se, exorta o Santo Padre João Paulo II, que também à idade da infância e da adolescência se abrem preciosas possibilidades operativas, tanto para a edificação da Igreja, como para a humanização da sociedade" (U).

9. JOÃO PAULO II, Carta às Crianças, p. 29.

10. Ibidem, p. 22. Cfr ChL, 47.

11. ChL, n' 47.

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A BEATIFICAÇÃO DOS PASTORINHOS

A beatificação vem lembrar aos membros da Igreja que a san­tidade é vocação comum a todos e nota característica do povo de Deus. Por isso, é importante acolher o estímulo que este acontecimento nos vem dar no sentido de cada um se empenhar na santificação da pró­pria vida, na abertura e cooperação com O Espírito que actua em to­dos os fiéis.

O exemplo dos novos beatos há-de levar-nos a viver o amor à Igreja e a solidariedade activa para com todos os homens. A comu­nhão eclesial manifestar-se-á constantemente no sentido de unida­de, de partilha, de participação na vida e na celebração comunitária, na colaboração com os outros, na obediência aos pastores e ao sentir eclesial. A caridade para com os homens empenhará cada fiel e cada comunidade cristã na abertura e no dar a mão aos mais necessitados.

Fátima e os Pastorinhos são porta-vozes do convite materno de Maria ao acolhimento, ao amor gratuito, à confiança, à pureza de vi­da e de coração e à entrega de si mesmo a Deus e aos outros, em ati­tude de solidariedade e de fé inquebrantável.

Esta beatificação lembra-nos ainda a vocação última da Igreja e a comunhão dos santos. E aviva em nós o desejo de nos prepararmos, durante a caminhada temporal, para esse encontro de vida sem ocaso.

6. A terminar esta nossa Nota, desejamos formular o convite à participação nas celebrações da beatificação dos Pastorinhos, em Fá­tima, e na pastoral dos mais novos, que também são chamados à san­tidade e ao apostolado.

Em cada comunidade, os responsáveis pastorais tomem as iniciativas que acharem oportunas para darem a conhecer os novos beatos e promoverem a imitação das suas virtudes. A adoração e a contemplação devem figurar entre as actividades a promover, já que nelas se distinguiram os dois Pastorinhos.

Admirando o testemunho de Francisco e Jacinta, empenhemo­-nos em seguir Cristo com mais fidelidade.

À "Senhora da Mensagem", que comunicou aos videntes de Fá­tima os apelos divinos, confiamos todos os fiéis, a quem dirigimos es­ta Nota. Para todos invocamos a intercessão de Maria Santíssima e dos beatos Francisco e Jacinta Marto.

Lisboa, 25 de Março de 2000

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A CASA DE FRANCISCO E JACINTA MARTO

No dia 4 de Abril foi reaberta a casa natal de Francisco e Jacin­ta Mano, em Aljustrel. É propriedade do Santuário. O restauro esteve ao cuidado do Arq. º Gastão da Cunha Ferreira e custou 16.630 contos. Todo o recheio corresponde à época.

No quarto ao fundo da porta de entrada da casa da família Mano nasceram Francisco e Jacinta, respectivamente a 11 de Junho de 1908 e 11 de Março de 1910.

Esta casa e a da Lúcia são dois significativos pontos de referên­cia no pólo de Aljustrel que forma com o pólo da Cova da fria o con­junto do Santuário de Fátima. O projecto do restauro foi aprovado pelo IPPAR, pois que se trata de um edifício classificado. A casa da família Marto foi adquirida pelo Santuário em Novembro de 1996.

A inauguração teve a presença de muita gente e continua aberta aos visitantes.

No dia 28 de Abril de 2000 faleceu o João Marto, que aí nascera em 1906 e era irmão de Francisco e Jacinta Mano.

Aljustrel, com as casas das videntes, a Loca do Cabeço, o Poço do Arneiro e o Calvário Húngaro, representa um pulmão que ajuda a res­pirar e a purificar.

Nota da Administração: Lembramos que está em pagamento a assinatura do ano 2000 e que a anuidade é de 2.000$00.

Toda a correspondência deve ser dirigida para o Seminário Dioce­sano.

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VIDA ECLESIAL

ENCONTRO DIOCESANO DE CATEQUISTAS

No dia 28 de Novembro do ano transacto, realizou-se o 30º en­contro diocesano de catequistas da diocese, em que participaram cer­ca de 350 catequistas das diversas paróquias.

Foi um encontro de formação, partilha, convívio e festa, que te­ve como pano de fundo o tema "Catequistas em Renovação, com Je­sus Cristo". O director do secretariado, P. Augusto Gomes Gonçalves, saudou os catequistas e introduziu o tema, ajudando a reflectir so­bre a realidade sócio-cultural em que a Igreja vive e onde o agir dos catequistas é de suma importância.

A partilha do essencial na vida dos catequistas e as suas dificul­dades, em trabalho dinâmico e participativo, ajudou a rever com mais coragem muitos comportamentos e a buscar as respostas pedagógicas para todas as dificuldades encontradas no percurso, das catequeses. Salientou-se a necessidade de formação e o testemunho de fé e de vi­da, proclamou-se como muito importante a alegria de ser catequista e referiu-se a falta de interesse por este serviço, quer da parte dos pais quer das comunidades, bem como a falta de catequistas.

Por fim, o P. Jorge Guarda, vigário-geral da Diocese, que re­presentou o senhor Bispo, ausente em Roma, fez uma comunicação sobre a caminhada sinodal e os catequistas, em ligação com o tema. Salientou que a Igreja existe para o mundo, para servir as pessoas e responder à sociedade. Ser Igreja depende muito da catequese que se faz. Apontou ainda algumas propostas sugeridas nos catecismos, que ajudarâo na caminhada sinodal.

O encontro terminou com a oração do compromisso e do envio. Os catequistas simbolicamente foram enviados para todas as comu­nidades das dez vigararias da diocese, onde continuarão a prestar um serviço dos mais im portan tes para o crescimen to do Povo de Deus.

ORDENAÇÕES EM FÁTIMA Sua Ex.cia Rev.ma o Senhor Bispo da Diocese de Leiria-Fáti­

ma, D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva conferiu o Sacramento da

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VIDA ECLES1AL

Ordem no grau do Presbiterado aos Reverendos Diáconos LUÍS PE­DRO ASSUNÇÃO JACINTO e JOÃO MIGUEL MENDES RODRI­GUES dos Missionários do Verbo Divino, no passado dia 12 de Março.

A cerimómia decorreu em Fátima, na igreja dos Missionários do Verbo Divino, na presença dos pais, de alguns benfeitores vindos da Alemanha e Austria e de centenas de outros cristãos clérigos e leigos.

O novo presbítero Luís Jacinto é natural de Oleiros e vai ini­ciar a sua missão em terras de Moçambique. Por sua vez o João Mi­guel Rodrigues, natural do Feijó, vai ter como primeiro destino a Roménia.

P. PAULINO SOARES FERREIRA No dia 23 de Novembro p2.p2. faleceu, na África do Sul, quando

regressava de uma acção de formação à Tanzânia, onde missionava, o Rev. P. Pauli no Soares Ferreira. Este sacerdote, missionário da Consolata e que tinha apenas 33 anos de idade, era natural de Mon­te Redondo e fora ordenado sacerdote pelo nosso Bispo, D. Serafim, em 3 1 de Julho de 1993.

FREI CIRILO ALLEMAN, O. Carmo Faleceu a 28 de Fevereiro p2. p'., em Fátima, o Rev' P. Frei Ci­

rilo Alleman. As exéquias, em que participaram numerosos membros do cle­

ro secular e religioso, além de muito povo, foram presididas pelo Bis­po diocesano, D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva.

Arend Nicolaas Marie Alleman - Frei Cirilo Alleman - nasceu em Noordwijk, na Holanda, a 24 de Agosto de 1911.

Frequentou o seminário menor em Zenderen, Holanda, de 1928 a 1932, tendo partido para o Brasil em Novembro desse ano. Em Fe­vereiro de 1937 fez a sua profissão solene, em S. Paulo, na Ordem dos Carmelitas. Em Dezembro de 1938 foi ordenado sacerdote em Santa Efigénia (S. Paulo) depois de ter estudado Filosofia e Teologia.

Até 1954 viveu no Brasil onde foi Prior e Perfeito de clérigos. Nesse ano chega a Lisboa, sendo o primeiro Comissário Provincial dos Carmelitas, em Portugal. Foi ele o dinamizador da construção

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VIDA ECLESIAL

da Casa Beato Nuno de Fátima. Ainda esteve no Brasil, de 1960 a 1964, onde foi Prior e Director da Escola de San to Alberto no Rio de Janeiro.

Em 1964 regressou a Portugal e à Falperra, Braga, onde foi pro­fessor no Seminário Menor. Em 1966 veio para Fátima, onde foi Prior, Director da Casa Beato Nuno e Ecónomo, exercendo este car­go no Comissariado durante vários anos.

SEMANA MISSIONÁRIA NA VIGARARIA DE PORTO DE MÓS

Decorreu de 11 a 19 de Março uma semana de animação mis­sionária nas paróquias da Vigararia de Porto de Mós.

Tratou-se de uma iniciativa do Secretariado Diocesano da Ani­mação Missionária em coordenação com o IMAG: Institutos Missio­nários Ad Gentes.

O objectivo desta semana, como de outras que já se têm reali­zado com o mesmo cariz, foi o de despertar nas comunidades a sua vocação missionária. Também significa abrir-se à solidariedade quer na partilha de bens quer da própria vida na convicção de que Cristo é o único e verdadeiro libertador de toda a injustiça e o caminho da plena realização humana.

Os missionários transmitiram este espírito no contacto directo com as populações, ficando hospedados den tro da própria comunida­de e tomando as suas refeições em contacto com diversas famílias. Mas também através da visita a doentes e idosos, de visita às escolas dos diversos níveis. Outra das formas foi o contacto com os grupos di­versos: famílias forças vivas das comunidades, jovens, movimentos eclesiais e outros grupos organizados.

Esta semana terminou em festa. O seu encerramento decorreu no salão paroquial de Alcaria na tarde de Domingo, 19 de Março. To­das as paróquias estiveram representadas tanto por leigos como pe­los seus párocos, contando-se os participantes por bastantes dezenas.

P. Vítor Mira

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JOVENS DE LEIRIA-FÁTIMA EM ANGOLA

Um grupo de Jovens da nossa Diocese prestarão serviço mis­sionário em Angola (Gabela e Sumbe) durante o verão deste ano 2000.

São jovens entre os 20-25 anos que fazem parte de um grupo mais alargado, assistido pelo Pe. Vítor Mira, e que dará apoio e con­tinuidade a este projecto, que se chama ASA (Acção de Solidariedade em Angola).

JIPE PARA IRMÃS DE GUADALUPE

As irmãs de Santa Maria de Guadalupe que desenvolvem a sua actividade missionária no Sumbe, Angola, (e que também estão pre­sentes na diocese de Leiria-Fátima, exercendo o seu trabalho na Ma­rinha Grande) deverão receber um jipe novo para lhes facilitar o trabalho. O padre Vítor Mira iniciou uma campanha de angariação de fundos, com o apoio da Cáritas Diocesana de Leiria, com vista à aquisição daquele veículo.

O jipe pretendido é do tipo "pick-up", com cabina dupla e caixa aberta, que é o carro "que melhor se adapta às necessidades das iITIlãs"" Para o seu trabalho, sobretudo na área da educação, "é de fun­damental im portância possuir um meio de transporte, pois as distân­cias são enormes",

As Filhas de Santa Maria de Guadalupe (Rossio, Nanci, Henri­queta e Judite) vivem na Rua das Hortinhas, 8 - 2430-302 MARINHA GRANDE, telef. 244 553 200. Trabalham na Catequese e no apoio domi­ciliário a idosos e doentes.

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AJUDA À IGREJA QUE SOFRE A Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), organização pública univer­

sal dependente da Santa Sé (Decreto da Sagrada Congregação do Clero, Prot. N.º 186652/1, de 14 de Novembro de 1989), dedica-se prioritariamente, a promover o anúncio da palavra de Deus nas cin­co partidas do mundo, ajudando as populações vitimas de catástro­fes, aonde procura ajudar material, espiritualmente e também sob a forma de estipêndios de Missas.

O Secretário Nacional, de que é responsável o P. Luis Rocha e Melo., S.J., recebe tedos os pedidos de intenções de Missas e trintários gregorianos, e o Secretariado Internacional na Alemanha manda ce­lebrar tedas as missas confiadas, e distribui depois os pedidos pelos padres do Leste Europeu e pelos países de língua oficial portuguesa.

Por via de regra, as Missas são entregues a Bispos e superio­res maiores das Congregações Religiosas. Cada um recebe da AIS um testimonium, que deve assinar. Nesse testimonium é muito cla­ramente referido quantas missas devem ser celebradas e o montan­te do estipêndio referente a cada uma delas. A AIS só considera a questão resolvida quando lhe é reenviado o testimonium, assinado pelo Bispo ou superior maior da Congregação Religiosa. Procura res­peitar, com muita exactidão, as determinações do Código de Direi­to Canónico, especialmente as do capítulo De Oblata ad MisSEE Celebrationem Stipe.

O Secretariado Nacional da AIS garante que todas as Missas por ele recebidas são celebradas segundo as regras e de acordo com as intenções das pessoas. E sublinha que cada Missa representa ver­dadeiramente uma ajuda capital para a sobrevivência de numerosos sacerdotes em países de missão.

FESTA DO CORPO DE DEUS

Neste ano do Grande Jubileu, a solenidade do Corpo e Sangue de Criste (22 de Junho) está a ser programada sob o tema: "Teste­munhar Deus como o Francisco e a Jacinta."

Estão previstas algumas novidades, nomeadamente a partici­pação mais activa e significativa das crianças.

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PEREGRINAÇÕES JUBILARES DAS VIGARIARIAS DE LEIRIA-FÁTIMA

À IGREJA JUBILAR DA SÉ DE LEIRIA NO ANO 2000

12 de Março: VIGARARIA DA BATLHA

1 de Outubro: VIGARARIA DE MARINHA GRANDE

15 de Outubro: VIGARARIA DE FÁTIMA

22 de Outubro: VIGARARIA DE COLMEIAS

29 de Outubro VIGARARIA DE LEIRIA

5 de Novembro: VIGARARIA DE PORTO DE MÓS

12 de Novembro: VIGARARIA DE OURÉM I CAXARIAS

19 de Novembro: VIGARARIA DE MONTE REAL

3 de Dezembro: VIGARARIA DE MILAGRES

PEREGRINAÇÃO DIOCESANA A ROMA

Na sequência das celebrações jubilares do ANO 2000, a DIO­CESE DE LEIRIA-FÁTIMA vai organizar a sua PEREGRINAÇÃO OFICIAL A ROMA, de 27 a 31 de Julho próximo. A peregrinação será presidida pelo Senhor Bispo.

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CENTRO DE PREPARAÇÃO PARA O MATRIMÓNIO

(DIOCESE DE LEIRIA-FÁTIMA) ESTATUTOS

Artigo 1.2 Denominação

1 - A Associação denomina-se Centro de PreparaçãO-para o Ma­trimónio da Diocese de Leiria-Fátima, pode usar a sigla "C.P.M. -Leiria-Fátima" e a sua duração é ilimitada.

Artigo 2.2 Sede

1 - O C.P.M . . tem a sua sede no Seminário de Leiria e esta po­de ser mudada para outro local dentro da mesma Diocese, por deci­são do Conselho Diocesano.

Artigo 3.2 Natureza e Fins

1 - O C.P.M. é uma associação de leigos católicos, assistidos por sacerdotes, que se colocam ao serviço da Igreja para ajudar os noivos a prepararem o seu casamento, segundo uma pedagogia e metodolo­gia próprias, baseadas na revisão de vida e no testemunho vivencial dos casais membros.

2 - O C.P.M. tem por finalidade:

a) Incentivar, promover e organizar na Diocese a preparação dos noivos para o matrimónio;

b) Estabelecer relações com a Federação Portuguesa dos C.P.M., com o Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar e com os movi­mentos e associações do âmbito da Pastoral Familiar e Juvenil da Diocese;

c) Promover a formação dos membros do C.P.M.

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CENTRO DE PREPARAÇÃO PARA O MATRIMÓNIO

Artigo 4.º Estrutura

1 - Existem os seguintes níveis de estrutura do C.P.M.:

a) diocesano;

b) vicaria!.

2 - O nível básico da estrutura é o Centro Vicarial, composto pelas equipas de base da Vigararia.

Artigo 5.º Membros

1 - São membros do C.P.M. os casais que trabalham na Asso­ciação.

2 - A admissão de novos membros é sempre da competéncia da Equipa Responsável Diocesana e deve ser ratificada pelo Conselho Diocesano.

Artigo 6.º Direitos e deveres dos membros

São direitos e deveres dos membros:

1 - Participar nos trabalhos do C.P.M. quer na preparação dos noivos para ° matrimónio, quer nas acções da própria formação ou outras.

2 - Eleger os responsáveis e serem eleitos.

3 - Exercer as funções para que tenham sido designados.

Artigo 7.º Órgãos

O C.P.M. desenvolve as suas actividades através dos seguintes órgãos:

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CENTRO DE PREPARAÇÃO PARA O MATRIMÓNIO

1 - Conselho Diocesano: 2 - Equipa Responsável Diocesana; 3 - Conselho do Cen tro; 4 - Responsável da Equipa de Base.

Artigo 8.º Composição dos órgãos

1 - O Conselho Diocesano é composto por:

a) Equipa responsável Diocesana; b) Casal responsável de cada Centro Vicarial e respectivo assis­

tente.

2 - A Equipa Responsável Diocesana é composta por:

a) Casal Presidente, eleito segundo o Regulamento Eleitoral; b) Assistente Diocesano, nomeado pelo Bispo da Diocese; c) Casal Secretário e Casal Tesoureiro, segundo a alínea c, nú­

mero 2. do artigo 9º.

3 - O Conselho do Centro Vicarial é composto por:

a) Casal Responsável Vicarial; b) Assistente Vicarial; c) Casal responsável de cada Equipa de base.

Arti$O 9.º Atribuições dos Orgãos Diocesanos

1 - Compete ao Conselho Diocesano:

a) Deliberar sobre as formas de acção do C.P.M. em toda a Dio­cese, quer quanto à preparaçào para o matrimónio, quer quanto às acções de formação dos membros do C.P.M.;

b) Eleger o Casal Presidente, nos termos do Regulamento Elei­toral;

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CENTRO DE PREPARAÇÃO PARA O MATRIMÓNIO

c) Aprovar os relatórios e contas, bem como o orçamento do C.P.M.; d) Fazer alterações aos Estatutos do C.P.M.; e) Ratificar a admissão de novos membros, segundo o número 1

do artigo 52.

2 - Compete à Equipa Responsável Diocesana:

a) Coordenar toda acção do C.P.M. na Diocese; b) Promover e organizar as reuniões do Conselho Diocesano; c) Colaborar com o Secretariado da Pastoral Familiar da Diocese; d) Indicar casais animadores para as novas equipas; e) Elaborar e submeter à aprovação do Conselho Diocesano o re­

latório de contas e o orçamento do C.P.M.; D Promover o lançamento de novos centros e revitalizar os já

existentes; g) Admitir novos membros, segundo a cláusula consignada no

artigo 52.

3 - Compete ao Casal Presidente:

a) Representar o C.P.M. no Conselho Nacional, em conjunto com o Assistente Diocesano;

b) Representar o C.P.M. no Secretariado da Pastoral Familiar da Diocese e em outros organismos da Igreja Diocesana;

c) Nomear os outros membros da Equipa Responsável Diocesa­na, previstos na alínea c, número 2, do artigo 8Qj

d) Convocar e presidir ao Conselho Diocesano e à Equipa Res­ponsável Diocesana.

Artigo 1O.º Atribuições dos Órgãos do Centro Vicarial

1 - Compete ao Conselho de Centro:

a) Decidir sobre as actividades do C.P.M. na sua área vicarial: b) Eleger o Casal Responsável de Centro, de harmonia com o

Regulamento Eleitoral; c) Aprovar o relatório e contas do Centro.

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CENTRO DE PREPARAÇÃO PARA O MATRIMÓNIO

2 - Compete ao Casal Responsável do Centro:

a) Representar o Centro no Conselho Diocesano, em conjunto com o respectivo Assistente;

b) Estabelecer a ligação entre as diversas Equipas do Centro;

c) Presidir ao Conselho do Centro.

Artigo 11.º Dos Assistentes

1 - Ao Assistente Diocesano, nomeado pelo Bispo da Diocese, compete:

a) Orientar espiritualmente a Equipa Responsável e o Conse­lho Diocesano;

b) Colaborar com a Equipa Responsável Diocesana nos contac­tos com a hierarquia da Igreja.

2 - Ao Assistente do Centro, escolhido pelos padres da vigara­ria, compete assistir e orientar espiritualmente a Equipa do Centro;

3 - Ao Assistente em cada Equipa compete orientar espiritual­mente e auxiliar a equipa nos trabalhos do C.P.M.

Artigo 12.º Reuniões e deliberações do Conselho Diocesano

1 - O Conselho Diocesano reúne ordinariamente três vezes por ano e extraordinariamente quando a Equipa Responsável Diocesa­na o julgar necessário, ou um terço dos conselheiros o solicitar.

2 - Além da Equipa Responsável Diocesana e representantes dos Centros e respectivos Assistentes, podem estar presentes nas reuniões outros casais membros, como observadores.

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CENTRO DE PREPARAÇÃO PARA O MATRIMÓNIO

3 - Sempre que um casal responsável do Centro esteja impedi­do, deve justificar a ausência e nomear um casal delegado, membro do mesmo Centro.

4 - Ai; deliberações do Conselho Diocesano são tomadas cole­gialmente, sempre por maioria dos votos dos conselheiros, ou de­legados, presentes, com excepção da deliberação relativa a alteração dos estatutos, que exigirá, no mínimo, 3/4 dos votos dos mesmos.

5 - Será contado um voto por cada Centro e um voto pelo Casal Presidente, que tem voto de qualidade, em caso de empate.

Artigo 13.!! Mandatos

1 - O mandato do Casal Presidente é de três anos, e este não po­de ser eleito por mais que dois mandatos consecutivos

2 - O disposto no número anterior é válido é válido para todos os outros órgãos constituídos por meio de eleição.

3 - Os mandatos do Casal Secretário e do Casal Tesoureiro coin­cidem com o do Casal Presidente.

Artigo 14.!! Casos Omissos

1 -A resolução dos casos omissos é da responsabilidade da Equi­pa Responsável Diocesana.

ANEXO

Regulamento Eleitoral

1 - Um ano antes do termo do mandato do Casal Presidente em exercício, o Conselho Diocesano nomeia uma Comissão Eleitoral com-

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CENTRO DE PREPARAÇÃO PARA O MATRIMÓNIO

posta por dois casais, que não poderão ser eleitos, e pelo Assistente Diocesano, a qual promoverá o processo eleitoral.

2 - A Comissão Eleitoral consultará todos os casais do C.P.M., solicitando nomes de entre eles, a serem propostos para eleição do Ca­sal Presiden te.

3 - A Comissão Eleitoral contactará directamente os casais pro­postos, de modo a obter a aceitação da sua candidatura.

4 - O acto eleitoral será realizado no último Conselho Diocesa­no do ano pastoral que antecede o termo do mandato do Casal Pre­sidente, e a eleição será feita por escrutínio secreto.

5 - São eleitores os casais responsáveis de cada Cen tro Vicarial presentes ou seus delegados, bem como os casais da Equipa Dioce­sana.

6 - É eleito o Casal Candidato que obtenha o maior número de votos. Em caso de empate haverá nova votação entre os Casais Can­didatos em situação de empate.

7 - O Casal Presidente entrará em funções no 12 Conselho Diocesano após a homologação do acto eleitoral pelo Prelado Dio­cesano.

Aprovamos, com louvor, por cinco anos, os Estatutos do Centro de Preparação para o Matrimónio na Diocese de Leiria­-Fátima com o anexo "Regulamento Eleitoral". São 14 artigos dos Estatutos e 7 números do Regulamento nas 8 páginas numeradas e rubricadas.

Leiria, 4 de Fevereiro de 2000

t SERAFIM DE SOUSA FERREIRA E SILVA

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OS PRIMEIROS MENSAGEIROS DE FÁTIMA

o Movimento da Mensagem de Fátima da nossa Diocese pro­move nos dias 27-30 de Setembro 2000 jornadas de estudo sobre os Pastorinhos.

Os temas a tratar versam o perfil psicológico dos 3 Pastorinhos, a santidade das crianças na Biblia, Fátima e Caridade, Fátima e Paz.

JUBILEU DOS JOVENS

Durante uma semana, de 14 a 20 de Agosto, Roma será a cidade mais jovem do mundo. Segundo os organizadores, nos momentos principais da celebração estarão presentes no centro da cristandade, um milhão e meio de jovens: um terço será alojado em estruturas públicas (escolas, universidades) e 15.000 em organismos católicos (paróquias, institutos religiosos); para os restantes serão preparadas outras estruturas de acolhimento, talvez mais precárias, mas sem­pre dignas e suficientes. Ao seu serviço estarão outros 25.000 jovens, todos voluntários: espera-se também que os romanos saibam estar à altura do acontecimento e que em cada uma das 330 paróquias da dio­cese do Papa haja pelo menos cem famílias que abram as suas casas aos jovens.

João Paulo II encontrar-se-á com os jovens três vezes: logo no dia 15, ao fim da tarde, dando-lhes as boas-vindas na Praça de S. Pedro; no sábado dia 19, durante a Vigília de oração, que terá lugar numa esplanada fora da cidade, na zona junto da Universidade de Tor Vergata e, finalmente, no dia 20, presidindo à Celebração eucarís­tica de encerramento do Encontro e do Jubileu dos Jovens.

Portugal está entre os 120 países quejá anunciaram a sua pre­sença, apontando as previsões para uma deslocação a Roma de 7 mil jovens portugueses. Lá estarão muitos jovens de Leiria-Fátima.

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COMUNICADO DO CONSELHO PRESBITERAL o Conselho Presbiteral da Diocese de Leiria-Fátima, reuniu-se

a vinte e um de Fevereiro, sob a presidência do Bispo Diocesano, D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva.

Na refiexão inicial, o Senhor Bispo, salientou a grande impor­tãncia da beatificação dos videntes de Fátima, Jacinta e Francisco Marto, aquando da visita papal a Fátima, no próximo dia 13 de Maio. Na perspectiva deste acontecimento, o Conselho reflectiu sobre algu­mas das suas consequências pastorais, nomeadamente sobre a im­portância do trabalho de acolhimento e acompanhamento do número cada vez maior de crianças que são vítimas do abandono familiar, devido ã separação dos pais ou à sua demasiada ocupação. As atitu­des destas duas crianças foram evocadas como um hino de sinceri­dade ao amor a Deus, que a Igreja pode propor ainda hoje.

Referindo--se às festas religiosas, o Conselho manifestou a ne­cessidade de se fazer uma revisão da legislação diocesana, pois o do­cumento que regulamenta a sua realização caiu já em desuso e precisa de ser reformulado. Concluiu-se que cada ano se celebra grande número de festas religiosas nas diferentes paróquias, e que precisam de ser purificadas para que se tornem verdadeiras celebra­ções da fé do povo de Deus. Este assunto será objecto de estudo nu­ma futura sessão.

A reflexão deteve-se depois na sociedade actual, que coloca grandes desafios à Igreja, com a sua crescente laicização. Continua a preocupar o facto de muita gente se aproximar dos sacramentos da Igreja, sem conhecer o pleno sentido e por outros motivos que não o desejo de viver a fé cristã. Sentiu-se a necessidade de fazer uma re­flexão aprofundada sobre as razões que levam muitos não crentes e não praticantes a pedir a celebração do baptismo, das exéquias ou do matrimónio na Igreja.

O Conselho tomou conhecimento da campanha que o Santuário de Fátima está a organizar em favor da paz em Angola e que virá a envolver muitas crianças em Portugal. Haverá uma recolha de ma­terial escolar feita pelas crianças portuguesas no sentido de estabe­leceram a paz concreta. O ponto alta desta campanha será no dia da peregrinação nacional das crianças a Fátima, a dez de Junho.

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COMUNICADO DO CONSELHO PRESBITERAL

Ao entrar nos assuntos agendados para a sessão, o Conselho fez uma reflexão alargada sobre a vivência do Jubileu do Nascimento de Cristo a nível diocesano; sublinhou a ideia do perdão e da solidarie­dade como linhas mestras a concretizar na diocese .. Para além do in­centivo às acções já calendarizadas, pela Comissão Diocesana do Jubileu, como são as peregrinações vicariais à catedral, o Conselho decidiu apresentar a esta Comissão algumas propostas: a realização de umas jornadas jubilares diocesanas, com a duração de uma sema­na, a ter lugar por ocasião da Dia da Igreja Diocesana, em Outubro; a calendarização de alguns dias jubilares dedicados a diferentes sec­tores humanos; o desenvolvimento de algumas acções concretas de solidariedade; a marcação e organização de um dia jubilar para o cle­ro diocesano.

A próxima reunião deste órgão consultivo do Bispo Diocesano fi­cou marcada para o dia 19 de Junho.

SACERDOTES DIOCESANOS FALECIDOS DESDE A PÁSCOA 1999

À PÁSCOA 2000

Pe. José Domingues Heleno - 5/5 Pe. António Carreira Bonifácio - 8/5 Pe. Armindo da Cruz Valente - 28/6 Pe. António Marques Simão - 5/9 Pe. António Ferreira Júnior - 7/9 Pe. José Gaspar da Silva - 10/9

SACERDOTES JUBILÁRIOS NO ANO 2000

• Pe. Manuel Antunes Messias (9.7.1950) • Pe. Mário Marques dos Anjos (9.7.1950)

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A ACÇÃO SÓCIO-CARITATIVA

NA DIOCESE DE LEIRIA-FÁTIMA

Na Bula do Ano Santo, o Papa João Paulo II afirma que "um si­nai da misericórdia de Deus, particulanuente necessário hoje, é a ca­ridade, que abre os nossos olhos às carências daqueles que vivem pobres e marginalizados" e que "o Jubileu é um novo apelo à conver­são do coração, através da mudança de vida".

A consciência da Igreja em geral está bem ciente da sua obri­gação de se dirigir aos maios pobres, como destinatários privilegia­dos da sua mensagem e do amor de Deus que pretendem dar a conhecer, à maneira de Jesus Cristo. Essa mesma intenção reflec­te-se na Instrução Pastoral intitulada "A Acção Social da Igreja", publicada pelos Bispos portugueses em 1997, quando diz, no núme­ro 11, que "o amor preferencial dos pobres deve estar sempre inte­grado na missão evangelizadora da Igreja e deverá sempre reflectir-se no compromisso e na acção social dos cristãos", Já na encíclica "Sollicitudo Rei Socialis", João Paulo II clarificava que "o exercício do ministério da evangelização no campo social, que é um aspecto do múnus profético da Igreja, compreende também a denún­cia dos males e das injustiças".

Neste sentido, em reunião no passado dia 19 de Fevereiro de 2000, o Conselho Pastoral da Diocese de Leiria-Fátima analisou a pastoral sócio-caritativa das 74 paróquias. Constatou-se que, de acordo com números fornecidos pela Cáritas Diocesana de Leiria, existem ainda 2 1 paróquias que não têm representantes específicos - os chamados grupos de acção social - para esta área da pastoral. Estes números representam quase um terço da diocese que não dá a atenção devida aos seus pobres.

Por outro lado é de enaltecer a actividade que a maior parte das paróquias tem neste campo. Entre conferências de S. Vicente de Pau­lo e grupos de acção social sem designação específica, são muitos os cristãos que vivem a sua fé de uma fonua muito concreta e integram pequenos núcleos que se dedicam à pastoral social nas comunidades de origem.

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A ACÇÃO SÓCIO-CARITATIVA

o Conselho Pastoral alertou para o facto de dever existir na Dio­cese uma instância típica que coordene e anime toda a actividade deste sector que, por enquanto, está a receber da parte da Cáritas Diocesana um alento que se reconhece, nomeadamente nos esforços que ela tem envidado no sentido de criar grupos de acção social on­de estes não existem.

Na mesa estiveram ainda alguns assuntos, nomeadamente al­guns que dizem respeito à celebração da ano jubilar. Para além de se retomar o seu significado original, deu-se um relevo especial à pro­posta do Papa, que sugere o perdão das dívidas e deverá merecer de cada cristão uma atenção muito especial.

A revisão da Concordata também foi motivo de debate, sendo de salientar a abertura que a Igreja, na pessoa de alguns dos seus bispos, tem mostrado no sentido de tal vir a ser concretizado. O Conselho Pas­toral, em sintonia com toda a Igreja Portuguesa, também mostra-se de acordo com a revisão de um documento que carece de actualidade, desde que seja respeitada a instituição e promovida ajustiça entre os cidadãos. Propõe, para isso, que sejam criados espaços de debate a fim de esclarecer melhor a opinião pública acerca deste tema que tem pro­vocado algumas divergências nalguns sectores da sociedade.

o Secretariado Permanente do Conselho Pastoral Diocesano

INSTITUIÇÕES E GRUPOS DE ACÇÃO SOCIAL

Com base num estudo feito em 1995 e 1998 a pedido da Confe­rência Episcopal Portuguesa com vista a conhecer com o possível ri­gor a realidade da acção social da Igreja em Portugal e do conhecimento que a acção diária da Cáritas de Leiria também foi ob­servando e recolhendo, esta organização apresentou um estudo sobre o sector da pastoral sócio-caritativa.

Nesse trabalho, a Cáritas faz uma distinção fundamental entre as Instituições e os Grupos de Acção Social, sendo que as primeiras compreendem as organizações com uma estrutura mais ou menos

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A ACÇÃO SÓCIO-CARITATIVA

completa e que são reconhecidas como pessoas colectivas. Nesta ca­tegoria estão incluídos os Centros Sociais Paroquiais e/ou Centros de Bem Estar Social, Santas Casas da Misericórdia, as Cáritas Diocesa­nas, entre outras. Do segundo grupo fazem parte as Conferências de S. Vicente de Paulo, Grupos sócio-caritativos, Cáritas Paroquiais e ou­tros grupos.

As instituições de acção social

o grupo das instituições, tal como é entendido, aparece repre­sentado em 23 paróquias, correspondendo a 32% do total da diocese. A sua acção atinge sobretudo os sectores da intància e terceira ida­de, são as valências mais comuns. A pluralidade de acções que desen­volvem constitui uma presença de elevado alcance social cujo mérito é reconhecido. No entanto, admite-se que, pelo menos em alguns ca­sos, é pouco visível a sua ligação à vida das comunidades cristãs e só com muita dificuldade podem ser vistas como instrumento de uma pastoral de evangelização consequente e integradora.

A reflexão dos bispos na sua instrução pastoral sobre a acção social da Igreja diz que nessas instituições "se deverão reflectir, per­manentemente, a partilha e o compromisso social das comunidades cristãs, muito embora possam celebrar acordos com o Estado e com outras entidades públicas e privadas. Tais acordos, no entanto, nun­ca poderão significar uma relação de dependência perante o Estado, nem a transferência, para ele, da solicitude da comunidade pelas pes­soas, sobretudo as mais pobres".

Os grupos de acção social

Quanto aos grupos de acção social, a presença mais marcante na Diocese é a das Conferências de S. Vicente de Paulo. Estas últi­mas serão a grande fatia de cristãos que se dedicam à área pastoral em causa. Apesar de possuírem um estatuto próprio de associação de fiéis, têm vindo a desempenhar, nos últimas anos, um papel bas­tante activo nas comunidades de que fazem parte. Devido à sua ac­ção, têm vindo a ser reconhecidas e a assumir-se como "agentes

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A ACÇÃO SÓCIO·CARITATIVA

intermédios" privilegiados das comunidades cristãs. Sem prejuízo da autonomia e identidade próprias, têm registado com a Cáritas um estreitamento de relações recíprocas, concretizado na realiza­ção de acções comuns a que outros organismos diocesanos afins se têm também associado. Estão implantadas em 35 paróquias da Dio­cese o que corresponde a quase metade da Diocese coberta por esta associação - 49%.

Os grupos de Acção Sócio-Caritativa abrangem todas as asso­ciações de pessoas que, embora nalguns casos com designações es­peciais (Cáritas Paroquial, Núcleo de Acção Social, Serviço de Apoio à Família, etc.), surgiram de modo informal e não se encontram de­pendentes de nenhum organismo ou instituição que tenha estatu­tos próprios. São considerados grupos genuinamente paroquiais, já que, regra geral, partiram da vontade da comunidade de origem em manter vivo um trabalho que reflicta "a expressão eclesial do amor de Deus aos homens". É através destes grupos de cristãos que a Igre­ja cumpre integralmente a sua missão evangelizadora e chega até ao grupo de pessoas que "só pelos sinais concretos do amor media­do pela Igreja" podem ter a percepção do amor de Deus. Dezassete paróquias têm um grupo com este cariz, correspondendo a 24% da diocese.

Do conjunto dos dois tipos de grupos - Conferências de São Vi­cente de Paulo e Grupos de Acção Social - se conclui que 71% das pa­róquias (51) estão relativamente bem encaminhadas no que toca à sua pastoral social. Ou seja, 2 1 paróquias estão desprovidas de agen­tes que as representem nesta área - 29% - o que reflecte bem o ca­minho que ainda falta percorrer. Neste aspecto dirige grande parte dos seus esforços no sentido se surgirem novos grupos e os mais an­tigos terem formação adequada.

De acordo com a Cáritas, estes números espelham a realidade diocesana. No entanto, a dificuldade na caracterização de alguns gru­pos, a pouca visibilidade de outros e a inexistência de canais de co­municação que permitam a actualização dos dados recolhidos são dificuldades que limitam uma análise mais pormenorizada. No caso da nossa Diocese, a circunstância de estar sediada uma tão grande pluralidade de instituições em Fátima acentua as dificuldades em saber quem são e o que faz cada uma. Todavia, ainda que estivesse garantido o absoluto rigor dos números, estes nada dizem acerca do

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A ACÇÃO SÓCIO-CARITATIVA

que realmente fazem os diferentes grupos e instituições, que pessoas servem, com que meios, que tipo de relações privilegiam com uten­tes e pessoal trabalhador, ou do modo como são expressões de vida das comunidades cristãs, ou apenas produto do voluntarismo de uma ou outra pessoa, etc . .

Importa ainda salientar que o desencanto e o cansaço coabitam no mesmo espaço diocesano com a motivação generosa e com a von­tade assumida da presença da Igreja junto dos mais pobres. No tra­balho que a Cáritas tem vindo a desenvolver pelas vigararias juntamente com as Conferências de S.- Vicente de Paulo, Comissão da Pastoral da Saúde e Movimento da Mensagem de Fátima, são per­ceptíveis ritmos diferentes: presença generosa e actuante, vontade de começar aqui e ali e apatia total noutros casos.

Sem prejuízo do reconhecimento da evidente necessidade de a formação, o conhecimento da realidade social e a vivência da comu­nhão deverem conduzir à promoção da caridade com detenninação e mais perseverança fica a percepção de que a esperança supera o desencanto e que o despertar recente de algumas comunidades pa­roquiais para esta dimensão da vida cristã constitui sinal inequí­voco de renovação. Também na Diocese de Leiria-Fátima é verificável o que refere o mesmo documento "o imenso rasto de amor que permeia a sociedade portuguesa, por acção directa de uma plu­ralidade de pessoas, instituições e grupos que se identificam com a Igreja".

Papel da Cáritas de Leiria

No ãmbito da Acção Social da Igreja, os Bispos de Portugal confiam à Cáritas missões especfficas concretamente enunciadas: "Pede--se, nomeadamente, que a Cáritas exerça o seu papel na ani­mação da pastoral social, contribuindo, em especial, para o conhe­cimento dos problemas e a sua leitura à luz da doutrina social da Igreja; o apoio à criação e funcionamento de serviços paroquiais de acção social; a intervenção social, com empenhamento directo na prevenção e solução dos problemas; o contributo possível para a transfonnação social em profundidade, nomeadamente no domínio das relações sociais, dos valores e do ambiente, em ordem ao de-

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A ACÇÃO SÓCIO-CARITATIVA

senvolvimento solidário; a formação de agentes .. . ". A Cáritas é de­signada instância típica e oficial da Igreja, embora não sendo exclu­siva já que a realizaçâo compromete toda a Igreja diocesana: na indicação das prioridades, na disponibilização de pessoas e sua qua­lificação adequada, etc . .

No quadro actual e como pano de fundo para uma reflexão ne­cessária, parece inevitável deixar claro duas coisas: por um lado a Cáritas goza de uma credibilidade e de um capital de confiança, mes­mo fora da Igreja, que surpreende; por outro, as esperanças e as ex­pectativas das pessoas e das organizações, mesmo da sociedade civil, em relação à Cáritas excedem largamente o tipo de respostas que es­ta pode actualmente oferecer, sabendo que os meios materiais, mas, sobretudo, os humanos, o amadorismo voluntarioso e voluntarista não pode substituir os saberes específicos da qualificação profissio­nal exigida pela complexidade dos problemas. É por isso que a orga­nização quer assegurar novas formas de presença como resposta a problemas novos.

Paulo Adriano Quarta-feira, Fevereiro 23, 2000

ORDENAÇÕES EM LEIRIA

• Haverá Ordenações na igreja da Sé de Leiria no dia 9 de Julho às 15.30 horas .

• No dia 17 de Setembro, haverá uma ordenação presbiteral na igreja paroquial de Santa Eufémia.

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CRIANÇAS ENSINAM A ADORAR

Na peregrinação diocesana de Leiria-Fátima ao Santuário da Cova da Iria, que teve lugar no passado Domingo, dia 9 de Abril, as crianças ensinaram a assembleia dos fiéis a adorar Jesus presente na Eucaristia, como O faziam os pastorinhos Francisco e Jacinta. Foi no final da Missa que um grupo de crianças rodeou o altar e ali se prostrou em adoração, enquanto outras se deslocaram para a colu­nata para visitarem os doentes e lhes oferecerem flores. O gesto das crianças impressionou quer os padres concelebrantes quer a assem­bleia dos fiéis leigos, chegando algumas pessoas a comoverem-se e a ajoelhar-se para também elas adorarem.

O bispo da diocese, D. Serafim presidiu à Eucaristia e a esta pe­regrinação jubilar. À homilia dirigiu uma palavra encorajadora aos jovens e apelou a todos para perdoarem. "E no perdão recíproco que encontramos a alegria de viver", afirmou D. Serafim. No final convi­dou ao silêncio para escutar de Nossa Senhora a palavra que ela ti­nha a dizer a cada um dos peregrinos.

Foram mais de cinquenta mil os peregrinos que passaram pelo "Pórtico do Jubileu" depois de terem percorrido as estações da via­-sacra pelas ruas da cidade de Fátima.

Na parte da tarde, teve lugar uma festa de mensagem na qual foram apresentadas as canções vencedoras do 9. o Festival diocesano da cançào jovem, pelos alunos dos colégios de N.- Sr.ª de Fátima e de S. Miguel, de Leiria e Fátima, respectivamente, permitiram à assem­bleia que enchia o anfi-teatro do Centro Paulo VI momentos de re­flexão sobre a vida dos pastorinhos Jacinta e Francisco e a presença e acção da Igreja no mundo actual.

No final, a satisfação dos peregrinos era visível pela jornada de espiritualidade que viveram. Esta foi já a 69.- peregrinação anual da Diocese no Seu Santuário que é também chamado "altar do mundo".

Pe. Jorge Guarda

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RECOLECÇÕES PARA O CLERO EM FÁTIMA NO ANO 2000

3 de Janeiro - Pe. Dr. Manuel Morujão, S. J.

7 de Fevereiro - Pe. Abílio Domingues Fernandes Lisboa

6 de Março - Mons. Dr. Joaquim Moisés R. Quinteiro

3 de Abril - Pe. Dr. Domingos da Costa M. Oliveira

1 de Maio - Mons. Dr. Spiteri Joseph

5 de Junho - Pe. Dr. Manuel Armindo Pereira Janeiro

3 de Julho - Pe. Dr. Manuel Durães Barbosa, C. S. Sp.

7 de Agosto - Pe. Dr. Manuel dos Santos José

4 de Setembro - Pe. Dr. Albino da Luz carreira

2 de Outubro - Pe. Dr. João Maria Félix da Costa Seabra

6 de Novembro - Pe. Dr. Virgílio do Nascimento Antunes

4 de Dezembro - Pe. Dr. José Jacinto Ferreira Farias, S. C. J.

RETIROS PARA O CLERO EM FÁTIMA NO ANO 2000

17-21 de Julho - Pe. Dr. José Pereira das Neves, O.F.M. Tema principal: Os Sinais do Jubileu.

21-25 de Agosto - Pe. Dr. Virgílio de Míranda Neves Tema principal: Minist. pastoral e Santidade.

18-22 de Serembro - Fr. Miguel Martins dos Santos, O. P. Tema principal: Os Presbíteros são consagrados para pregar o Evangelho, apascentar os fiéis e cele­brar o culto divino (La, 28).

13-17 de Novembro - Pe. Dr. Manuel Morujão, S. J. Tema principal: O Sacerdote em renovação jubi· lar.

20-24 de Novembro - D. Manuel da Silva Martins Tema principal: Uma pastoral que retrate o rosto de Deus-Amor.

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CONGREGAÇÃO DOS BISPOS COMENTA RELATÓRIO

QUINQUENAL DIOCESANO o Relatório da nossa Diocese referente ao quinquénio 1992 -

1998 enviado pelo Senhor Bispo à Santa Sé no ano transacto, e que foi apreciado na visita "ad Limina", que decorreu de 20 a 30 de No­vembro do ano que findou, mereceu da Sagrada Congregação "Pro Episcopis" o seguinte comentário que transcrevemos na integra:

"Vaticano, 29 de março de 2000

Prot. N. 692/99

Excelência Reverendíssima Dom Serafim de Sousa Ferreira e Silva Bispo de Leiria-Fátima

Este Dicastério examinou com interesse o Relatório quinquenal, que Vossa Excelência enviou à Santa Sé em preparação à Visita "ad Limina" do ano passado, e apreciou as informaçães muito ilustrado­ras sobre o estado da diocese de Leiria-Fátima. Peço a sua generosa compreensão se, por motivos alheios à nossa vontade1 não lhe foi res· pondido antes.

Esta breve resposta, que tenho a honra de enviar-lhe, quer ser uma expressão da solicitude paterna do Papa e da Sua caridade e serviço em relação a todas as dioceses. De facto, o Relatório, que é par­te integrante da Visita ffad Límina", não somente representa um meio significativo da comunhão entre a diocese de Leiria-Fátima e a San­ta Sé, mas também ajuda o Santo Padre e os seus mais estreitos co­laboradores no serviço à Igreja universal a compreenderem e a acompanharem as situações, os problemas e as iniciativas pastorais da sua Igreja particular.

Graças a Deus, a população de sua diocese goza de um relativo bem-estar e o crescimento económico, industrial e cultural ajudou a superar alguns problemas sociais preocupantes, como o desemprego, a pobreza e a emigração. Também noto, com alegria, que a diocese entrou num processo de renovação de suas estruturas pastorais e ad·

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CONGREGAÇÃO DOS BISPOS

ministrativas, mas sobretudo da vida eclesial e religiosa do clero e dos fiéis. E isto se deve principalmente ao Sínodo Diocesano que Vos­sa Excelência convocou em 1996 depois de longa preparação, e que está propiciando o despertar de um grande e efectivo interesse das for­ças vivas das paróquias e dos movimentos eclesiais pela vida da Igre­ja; cresce a participação dos leigos, dos grupos e movimentos apostólicos nas actividades pastorais e não faltam iniciativas desti­nadas à sua formação. O Santuário de Nossa Senhora de Fátima con­tinua a ser um ponto de referência importante para a Igreja em sua diocese e em Portugal, e um centro previlegiado de irradiação da evan­gelização e da piedade mariana.

Graças a Deus, os sacerdotes ainda são tantos e são animados de bom espírito e de zelo apostólico: há numerosas religiosas e as vo­cações sacerdotais e à vida consagrada estão até mesmo a aumentar. Isto certamente é uma graça especial e um motivo de alegria e confor­to para o Pastor diocesano.

O Slnodo ajudou a destacar alguns aspectos da vida diocesana, que deverão continuar a merecer a atenção pastoral prioritária nos próximos anos: a pastoral das vocações, a formação permanente do clero e dos leigos, em especial das famílias e dos jovens; e a liturgia deverá promover sempre mais a integração da fé com a vida quotidia­na. Evidentemente, a evangelização aprofundada e a constante cate­quese, para esclarecer e reforçar a fé e as convicções cristãs dos fiéis, são necessárias para fazer frente a uma certa mentalidade seculari­zada, que leva à indiferença religiosa e ao relativismo moral.

Caro Dom Serafim, desejo que Deus sustente e conforte O seu co­ração de Pastor neste tempo abençoado que a igreja está a atravessar. Faço votos para que também em sua diocese a celebração do Grande Jubileu do ano 2000 seja um tempo de graça, um "tempo favorável" para tomar consciência dos dons recebidos e agradecer à Santíssima Trindade; seja igualmente um tempo propício para promover a "no­va evangelização", para a qual o Santo Padre, tão ardorosamente e com tão grande e belo exemplo pessoal, convoca toda a Igreja. Tanto mais essa diocese é convidada a fazê-lo com generosidade, pois terá em breve o privilégio receber novamente a visita do Sucessor de São Pedro, que beatificará os pastorinhos da Cova da Iria.

Tenho a satisfação de comunicar-lhe que o Santo Padre, ao qual relatei sobre o estado da diocese de Leiria-Fátima, abençoa Vossa Ex-

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CONGREGAÇÃO DOS BISPOS

celência e o encoraja paternalmente a continuar com generosidade e com confiança o caminho pastoral que a sua comunidade diocesana já faz, estendendo a Sua Bênção Apostólica também ao clero, aos re­ligiosos, às religiosas, aos seminaristas e a todos os fiéis.

Ao mesmo tempo que invoco a bênção do Deus Trindade e a es­pecial protecção de Nossa Senhora de Fátima sobre sua pessoa e so­bre toda a sua Igreja particular, também aproveito a oportunidade para manifestar-lhe os meus sentimentos de fraterna e sincera esti­ma e para confirmar-me seu, em Cristo,

irmão e servidor,

t Lucas Cardo Moreira Neves, OP Pref"

SEMANA DA VIDA 2000

21-28 de Maio

Tema: "OS FILHOS, PRIMAVERA DA FAMÍLIA E DA SOCIEDADE"

A SEMANA DA VIDA foi iniciada na Igreja em Portugal há seis anos, em resposta a um apelo do Santo Padre para que em cada país se tomasse anualmente uma iniciativa em favor da cultura da vida.

Neste Ano Jubilar, o tema do III Encontro Mundial das Famí­lias e do seu Jubileu, em Roma, nos dias 14 e 15 de Outubro, é: "Os Filhos, Primavera da Família e da Sociedade".

Neste mesmo ano, a acrescentar à alegria pelos 2000 anos do nascimento de Jesus Cristo, acolhemos o dom da beatificação dos dois pastorinhos de Fátima, Jacinta e Francisco: duas crianças portuguesas que a Igreja reconhece como santos e propõe como tais à veneração de todos os cristãos como modelos a seguir no caminho para Cristo.

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CO�CAÇÕES SOCUUS

A Comissão Episcopal das Comunicações Sociais vai promover, em Lisboa, um encontro com osjornalistas no dia 30 de Maio, ãs 17.30 horas, para o lançamento do Dia Mundial das Comunicações Sociais. Nesse encontro ser-lhes-á facultado material de apoio para o Dia Mundial - 4 de Junho -, que coincide com o Jubileu dos Jornalis­tas. Será um momento de troca de impressões entre a Comissão Epis­copal, que neste momento é composta por quatro membros: D. João Alves, D. Manuel Falcão, D. António Vitalino e D. Manuel Clemente.

Asjornadas Nacionais das Comunicações Sociais serão na Casa da Senhora do Carmo, na Fátima, nos dias 21 e 22 de Setembro, e con­tam com comunicações do eng. Roberto Carneiro, Jorge Wemans, D. Manuel Clemente e cónego António Rego.

PRÁTICA FORENSE CANÓNICA

Destinado a advogados, irá realizar-se, de 14 a 17 de Setembro, um curso de introdução à prática forense canónica, na Fátima, Casa de Nossa Senhora do Carmo. Esta actividade formativa é organizada pela Associação Portuguesa de Canonistas e tem o objectivo de pro­porcionar aos participantes uma análise das características do matri­mónio canónico, na sua relação com a vida social e jurídica do país.

18.!! SEMANA NACIONAL DE PASTORAL SOCIAL

Nos dias 5-9 de Setembro de 2000 será a IS" Semana Nacional de Pastoral Social, em Fátima. O tema geral é: O JUBILEU DA CARI­DADE. Haverá 3 painéis sobre: purificação da memória, da justiça à paz, solidariedade e evangelização.

Esta Semana sobre Pastoral Social é diferente da Semana Social. Projecta-se que a 4 .. Semana Social seja na Marinha Grande àcerca do seguinte tema: Cidadania pessoal, responsabilidade colectiva.

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PROLEGÓMENOS A UMA HISTÓRIA DA IGREJA

MEDIEVAL EM PORTUGAL

(Continuação do número anterior)

Saul António Gomes

(Universidade de Coimbra)

Baptismo e morte, eis dois tempos aparentemente opostos na vi­da do fiel, mas que à luz da doutrina da Igreja não são mais do que uma passagem na caminhada para a Eternidade divina. Baptismo e morte, eis dois tempos solenes na liturgia católica cristã que pressu­põem condutas ritualizadas e iniciáticas. Liturgia que se queria uni­ficada e se procurava ver uniformizada em toda a Cristandade. Desejo que um certo clero dirigente alimentaria durante séculos pa­ra só triunfar, e, ainda assim, não de forma totalmente conseguida, à roda do primeiro milénio do Cristianismo, debaixo das orientações de Gregório VII e dos seus braços de apoio em que se tornaram os bis­pos e os mosteiros da reforma cluniacense.

Bem o tentara, precocemente, Profuturo, arcebispo de Bracara Augusta, que, em 538, recebe instruções de Vigílio, bispo de Roma, em que lhe fornece orientação pastoral sobre as posições a adoptar no problema do priscilianismo, no baptismo com tripla imersão, na invocacão trinitária, na dedicação de igrejas restauradas e sobre a missa. Sobretudo o ordo da missa, que deveria traduzir sempre a uni­dade da Igreja "ex apostolica traditione", para o que lhe remetia o respectivo cãnone e as orações próprias da festa pascal. De resto, os Concílios de Braga de 561 e de 572 insistem explicitamente na ne­cessidade dessa uniformização litúrgica, reconhecendo Roma como a Igreja modelo e canónica.

Mas a uniformização litúrgica do povo cristão é uma atitude pro­curada desde sempre. Os textos de S. Paulo e os Actos dos Apóstolos bem o revelam. Contudo, O Império onde germina o Cristianismo tem pluralidades culturais estruturais ao nfvel das práticas religiosas dos seus povos. Por outro lado, a grelha latina seria para muitos indese­jável, dada a sua essência profana e pagã. Os cristãos mais intelec-

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PROLEGÓMENOS A UMA HISTÓRIA DA IGREJA

tualizados dos primeiros séculos necessitam de optar pela construção de um discurso autonomizador das tradições religiosas romanas. Aca­barão por conciliar, no entanto, aspectos de foro institucional com a sua vivência eclesial. Não podiam os cristãos recorrer ao vocabulário latino-pagão para designarem os seus próprios rituais. O que obri­gou a uma renovação sinonímica dos vocábulos pagãos. À oratio ro­mana, própria dos rituais cívicos e académicos, foram os cristãos retirar o sinónimo da sua oração, evitando assim a permanência do vocábulo preces dos sacerdotes e aurigas romanos. De um verbo tran­sitivo, retiraram os cristãos latinos o vocábulo para a sua missa que é, por extensão, vocábulo significante de missão e de missionação.

Ao latim jurídico dos tribunais romanos, como aos vocábulos do seu quotidiano civilizacional, vão buscar-se étimos de profundo senti­do ministerial como absolvição (absolutio eJou absolvere um inocente), confissão (confiteor que entre os cristãos significava confessar a Fé ou, mais tarde, a própria culpa, posto que nos tribunais romanos signifi­casse confessar-se culpado de se ser cristão; daqui, ainda, o costume de chamar aos primeiros mártires também confessores), comunhão (communio, o que é comum), unção (unctio dos defuntos), procissão (processio, acção de avançar ou marcha) ou baptistério (baptisterium, piscina que evolui para pia e casa de baptizar). Outros vocábulos ro­mano-pagãos adquirem uma coloração cristã, nomeadamente na área do cerimonial católico, como sucede com as alfaias litúrgicas ou os pa­ramentos que passam a ter utilização religiosa perdendo o seu signi­ficado profano corrente. Uma parte significativa do dicionário cristão latino, contudo, será inspirado na língua grega e também hebraica (Ec­clesia, eucaristia, cristão, cânone, evangelho, epístola, profeta, litur­gia, penitência (paenitentia para traduzir o grego metanoia), dalmática, casula, manípulo, túnica, pálio). Os seus significados simbólicos ocu­parão numerosas páginas de códices gramaticais ou de glossários es­critos e reflectidos longamente por teólogos e mestres cristãos, recolhidos nas suas escolas, academias e claustros monásticos, que vêem neles reflexo micro-cósmico e uma possibilidade de deslindar pe­rante a credulidade humana os insondáveis desígnios do Senhor.

Noutros territórios, como o português, a cristianização dos espa­ços culturais foi bastante profunda, a ponto de interferir e alterar a relação do homem com o tempo semanal. Ao dia comemorativo de Cris­to, chamam Domingo (Dominici, o dia do Senhor), vindo depois a su-

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PROLEGÓMENOS A UMA HISTÓRIA DA IGREJA

cessão racional e numérica do segundo, terceiro, quarto, quinto e sex­to dias, a que sobrevem o Sábado, bebido da etimologia hebraica, lon­ge, por isso, das tradições milenares que os enunciavam como "dia do sol", "dia da lua", ou de um qualquer outro deus pagão. Já quanto aos nomes dos meses ou ao conhecimento dos ciclos solares, lunares e de­mais cosmos, os cristãos contentaram-se com a bolsa de conhecimen­tos mais ou menos científicos legados pela Antiguidade helénica.

Em muitos calendários das igrejas cristãs - caso da bracaren­se, como se demonstra no conhecido Breviário de Soeiro, de finais do século XIV ou inícios do XV, cujo calendário abre expondo todos os doze meses com a respectiva nomenclatura em grego e em hebraico, apresentando de imediato versos indicando os dias nefastos, os sig­nos do zodíaco, os dias egipcíacos, a que associa piedosas indicações sobre dias de observância e dejejuns que deveriam ser tidos em con­ta pelos sacerdotes dessa catedral - mantém-se os hábitos de con­tagem romana e regressiva dos dias (Calendas, Idos e Nonas), a exposição das "letras dominicais", os dias áureos ou "solares", as epac­tas, as indicções, as lunações . . .

Por outro lado, a recuperação para o Cristianismo de muitas po­pulações pagãs ou gentias pressupõe a contemporização com os ritos iniciáticos, abundantes nos seus antigos costumes religiosos, e mes­mo alguma tolerância para com comportamentos herdados de há mui­tas gerações atrás. O espírito do Cristianismo é contemporizador, inculturante e, neste sentido, tolerante de uma forma geral mas nem sempre. É conhecido o radicalismo de S. Martinho de Dume, no sécu­lo VI, para com os seus "rústicos" diocesanos, fazendo demolir comple­tamente os seus templos pagãos e edificar, longe desses espaços demoníacos, as novas e puras basílicas e ermidas cristãs. Atitude mui­to diferente teria quatro séculos mais tarde o Papa Gregório VII que recomendaria aos missionários da Inglaterra que não destruíssem os "templos dos ídolos" desses ingleses. Que antes fossem aspergidos com água benta, por dentro e por fora, que neles se erguessem altares e se colocassem santas relíquias, ali passando a celebrar os sacerdotes pa­ra que o povo pagão, vendo que os templos não eram destruídos, com­preendesse verdadeiramente o significado da adoração do verdadeiro Deus e ali acorresse de boa vontade. Recomendava também que nas festas, onde costumavam sacrificar bois aos ídolos, se passasse a co­memorar os mártires cristãos, armando-se altares cobertos de ramos

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PROLEGÓMENOS A UMA HISTÓRIA DA IGREJA

de árvores, no exterior dessas igrejas, celebrando-se então festiva­mente as solenidades dos santos confessores sem que se permitisse a imolação de animais aos deuses diabólicos (6).

Há que integrar na simbólica católica rituais iniciáticos outros que se revelavam indispensáveis à sobrevivência da ordem social e ideológica, como o matrimónio ou as cerimónias fúnebres, actos es­tes carregados de uma complexa herança pagã ou judaica, por exem­plo, que a Igreja respeitará, apropriando-os para si habilmente, durante muitos séculos. Mas não apenas esses rituais simbólicos de integração social e de linhagem familiar, pois que a Igreja possui também uma pastoral de assimilação das ancestrais comemorações de renovação da Natura e do Cosmos, como acontece com esse verda­deiro fenómeno de inculturação do solstício de Inverno, na liturgia cristã, como o grande dia do nascimento de Cristo, o natalis Solis in­victi; ou a celebração da Páscoa, festa móvel essencial no ciclo do ano litúrgico católico, de acordo com a herança hebraica, no primeiro Do­mingo imediatamente a seguir ao primeiro plenilúnio após o equinó­cio da Primavera. E como não integrar neste complexo equilíbrio profano-cristão as festas agrárias solsticiais como a de S. João Bap­tista, a da Assunção de Nossa Senhora e mesmo a festividade da San­tíssima Trindade ou do Espírito Santo?

Assim se compreende a pluralidade das orações que as Igrejas diocesanas vão elaborando para a sua vivência quotidiana em comu­nidade, o afecto que revelam para com a memória dos seus mortos cu­jos cadáveres recebem sepultura própria, na esperança da ressurreição e do dia do Juízo Final -- e que, por isso, são especial­mente enterrados junto das campas dos mártires e santos que ha­viam perdido a vida não abjurando a sua Fé, recebendo culto e reverência enquanto intercessores privilegiados junto de Cristo e en­quanto protectores dos familiares já finados --. Fé que cedo se defi­nirá como virtude essencial, a par com a Esperança e a Caridade, verdadeira tríade ontológica da doutrina cristã.

Uma Igreja cujos fiéis saem do mundo latino-romano, dos seus quadros quotidianos, não pode esquecer, como vimos, hábitos e rituais

6. Aspectos explorados por Pierre-Marie Gy, La Liturgie dans I'Histoire, Pa­ris, CERF, 1990, pp. 60-68.

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PROLEGÓMENOS A UMA HISTÓRIA DA IGREJA

enraizados de há muito. Há que integrá-los, posto que transformados no seu significado e sentido. Permanecem com novas roupagens as procissões aos túmulos, às igrejas e aos altares, tais reproduções em pequena escala dos antigos cortejos triunfais romanos. Permanecem os velhos hábitos das assembleias legisladoras, (reladaptadas nas as­sembleias sinodais ou conciliares dos cristãos ou mesmo, em micro­-escala, nas reuniões capitulares que quotidianamente se praticarão nos cabidos das catedrais, das colegiadas e dos mosteiros.

Nesse fenómeno de inculturação cristã e de sobrevivência de le­gados civilizacionais clássicos se insere o nascimento de uma outra cultura humanística. Que é uma cultura teocêntrica, propícia à cris­talização em códigos, em sumas ou em enciclopédias assinadas pe­las maiores auctoritates e mestres universitários do tempo. Que é, também uma cultura do conservador e do tradicional, apegada à ideia da estabilidade e da permanência. Que é, finalmente, uma cultura que interfere na vida laical, dando aos fiéis os modelos comporta­mentais legítimos, as normas de acção e de socialização, a moral da vivência segundo a tradição judaica carregada de interditos e de ob­servãncias, de deveres e de pecados rigorosamente compulsados nos penitenciais que todos os confessores deveriam conhecer.

A cultura cristã pode ser tomada, ainda, como uma via de per­feição, de libertação, de amor a Deus que só os grandes místicos con­seguem possuir e que não hesitam em revelar à comunidade religiosa a que se acolheram ou que eles próprios fundavam, para depois se transformarem em exempla sagrados propostos à admiração e vene­ração dos leigos no seu mundo exterior. Os modelos éticos e espiri­tuais, aperfeiçoados pela exegese bíblica, pela leitura magistral dos Padres da Igreja e pela interpretação autorizada dos bispos e dos seus presbíteros (quando não afectam também e sobretudo a estes mes­mos, como tantos cânones de sínodos medievais insistem em referir não raras vezes) propõem-se e impõem-se aos restantes grupos so­ciais. Antes de mais aos bellatores, aos senhores da guerra e do poder - a Igreja criará o modelo de cavaleiro puro e virtuoso, de combaten­te pela Fé que receberá o galardão da Vida Eterna e que, na lenda, conquistará o conhecimento do Santo Graal, enquanto na vida real se lançará nas Cruzadas ou ingressará numa qualquer Ordem Militar - mas logo depois, e fundamentalmente, aos laboratores, ao povo em toda a sua extrema diversidade económica e social.

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PROLEGÓMENOS A UMA HISTÓRIA DA IGREJA

o caracterização deste processo histórico secular e estrutura­dor, que fez da Christianitas um corpo eclesial, pressupõe o conheci­mento dos mecanismos que consagraram esse esquema orgânico de sobrevivência milenar, com capacidades de renovação mas também com momentos de anquilosamento - como aconteceu com atitudes laxistas perante problemas que desencadearam os movimentos refor­mistas filo-protestantes - de ganhos e de perdas. Esquema que pas­sa pela selecção de um corpo clerical apto e funcional para a missão que se esperava dele: a sua individualização do seio dos leigos pela assunção de um estatuto sacramental e ministerial. Mas para o atin­gir, havia que percorrer todo o processo de aprendizagem e de estu­do - nem sempre, aliás, na Igreja medieva com resultados muito notórios ao nível sobretudo do clero paroquial e particularmente dos párocos rurais - de selecção, de cursus honorum que desembocaria na promoção aos cargos de comando somente dos melhores, sob um ponto de vista intelectual e espiritual, mas também, em diversos mo­mentos históricos, dos mais protegidos pelo berço de nascimento ou dos mais apadrinhados em termos de serviço curial.

O clero, de resto, estava longe de ser sobretudo um espaço de as­censão social. Foi-o para muitos, sobretudo para esses contingentes imensos de clérigos in minoribus, os ordenados de prima tonsura que se reservavam, no entanto, a uma vida familiar que passava pelo ma­trimónio, mas que necessitavam do suporte eclesial para alcançar um posicionamento social compensador. Suporte que a Igreja gene­rosamente lhes proporcionava, facilitando muitas vezes as provas do candidato admitido à celebração, fechando os olhos ao mau domínio da doutrina ou do latim básico para a celebração litúrgica. Mas pa­ra muitos outros, igualmente, entrar na clericatura correspondia a uma vocação e a uma opção de estreita pobreza, de uma vida pauta­da pela obediência ao superior e pelo serviço abnegado ao próximo. Assim, seguiam o exemplo de Cristo e procuravam pela ascese, pela oração e pela contemplação alcançar, um dia, a sua visão.

Mas uma grande parte do clero, na verdade, não O era por voca­ção, antes pela circunstancialidade que marcava as vidas de muitos jovens pertencentes sobretudo aos grupos sociais de algum nível e ri­queza. A Igreja, ela própria governada por um clero filho do seu tem­po e sociedade, disponibilizava-se em pleno como palco desses comportamentos, tanto quanto era pelo seu esforço que sobrevivia,

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PROLEGÓMENOS A UMA HISTÓRIA DA IGREJA

no Ocidente, o essencial das matrizes civilizacionais clássicas trans­feridas, então, para o domínio da consideração do homem enquanto ser racional único, imbuído de um destino salvífico que lhe cumpria assegurar e para cujo conhecimento deveriam convergir todas as se­te artes liberais e todas as ciências que perfaziam o quadro cultural erudito da medievalidade.

Em Portugal, a Igreja integra-se neste quadro evolutivo estrutu­ral, assumindo, no entanto, alguma originalidade de âmbito cultural. O latim mantém-se durante muitos e longos anos como língua unifi­cadora da liturgia, da obra apologética e teológica, das chancelarias eclesiásticas. Durante muito tempo, a atracção dos clérigos e intelec­tuais portugueses pelas escolas francesas, sobretudo parisienses, foi uma tendência estrutural. Durante um certo período de tempo, a so­ciedade laical recorreria aos escribas eclesiásticos para obter a docu­mentação escrita de que tinha necessidade. Por esses diplomas se vê o quanto a linguagem corrente romance, galego-portuguesa ou a já plenamente portuguesa, vai invadindo as suas frases e o respectivo vocabulário. O esforço para a evitar era necessariamente grande (,l.

Quer a Igreja, quer a Monarquia cedo coincidiram na decisão de retirar aos escribas eclesiásticos as funções de escrivães públicos e seculares. O clérigo não seria notário público nem privado porque is­so se considerava "officium inhonestum". Para essa função surgiram os tabeliães e os escrivães que o rei nomeava para os concelhos, vi­las e cidades que deles tinham necessidade. Nas catedrais, nas cole­giadas, nos mosteiros e onde quer que funcionasse uma oficina de escrita debaixo de um tecto sagrado reservava-se a escrita para os assuntos do múnus próprio da Igreja e para a cópia e redacção da pa­lavra de Deus.

Cópia e redacção cuja escrita se vê evoluir, segura e lentamen­te, no território português, passando das grafias visigóticas (redonda

7. Sobre este assunto veja-se a síntese de Maria José Azevedo Santos, "A Evolução da Língua e da Escrita", Portugal em Definição de Fronteiras. Do Condado Portucalense à Crise do Século XIV (Coord. de Maria Hele­na da Cruz Coelho e Armando Luís de Carvalho Homem), Vol. III de No­va História de Portugal (Dir. Joel Serrão e de A. H. de Oliveira Marques), Lisboa, Presença, 1996, pp. 606-613.

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PROLEGÓMENOS A UMA HISTÓRIA DA IGREJA

e cursiva) à carolina, à carolino-gótica e à gótica, abrindo-se de per­meio um género a que se convencionou designar de minúscula diplo­mática. A geografia da inovação neste sector cultural fez-se do Norte para o Sul, sempre no sentido da actualização e da procura de pari­dade com as novas modas além-pirenaicas. Com resistências e com atrasos, sobretudo com a originalidade histórica do caso português.

Catedrais e mosteiros existiam que se revelavam mais entronca­dos na tradição paleográfica como Braga ou Moreira da Maia. Cerca de 1100, 25% dos centros de escrita portugueses ainda se mantinham apegados às formas visigóticas. Desde a década de 1050, contudo, que os escribas iam recorrendo à medida carolina, de há muito praticada no centro da Europa e que, desde aquela data, começara finalmente a atrair as escolas de escrita do território. O Mosteiro de Pendorada é o primeiro, logo seguido por Cete, S. Simão da Junqueira, a Colegiada de Guimarães, a Sé de Braga, o Mosteiro de Pedroso, em 1079, para atingir o scriptorium da Sé de Coimbra por 1083. Em todos os arqui­vos dessas instituições se revela essa nova escrita, elegante, acentua­damente clara e redonda, de traços cheios, com racionalidade de meios de abreviação, patrocinada pelos novos quadros francos que ascen­diam aos sólios episcopais portugueses, apondo os seus autógrafos, em letra carolina, em documentos redigidos ainda na velha escrita. Como fizeram Maurício Burdino, Geraldo e Hugo nos respectivos bispados. Braga, Porto, Coimbra centralizam a inovação da escrita de que se serve a Igreja, depois levada aos bispados meridionais, já em pleno sé­culo XII.

Junto da inovação, contudo, permaneciam focos de tradição e de resistência. O Mosteiro de Pendorada, no qual se manifesta mais cedo a luminária carolina, um século mais tarde ainda tinha ao seu serviço escribas enfeudados aos modelos gráficos tardo-visigóticos. Em San ta Cruz de Coimbra, ainda na década de 1130 se copiavam manuscritos em visigótica de transição nuns fólios, logo seguidos dou­tros em escrita plenamente carolina. E com a escrita carolina,já ma­dura, vai penetrando uma sua herdeira, a escrita gótica, geométrica, angulosa, carregada de esquemas abreviativos, reclamando inova­ção no tradicional instrumento de escrita, mais agradável a estudan­tes universitários, ao notariato público ou privado e também aos copistas de scriptoria como os de Lorvão, Santa Cruz, Alcobaça ou das Sés de Braga e de Coimbra. O modelo paleográfico gótico reve-

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PROLEGÓMENOS A UMA HISTÓRIA DA IGREJA

lar-se-ia O mais estável de toda a Idade Média portuguesa, encon­trando-se ainda bem entrado o século XVI (').

Em simultâneo, o latim, recordemo--lo, cada vez mais se via des­tronado pelo português. As resistências foram certamente grandes, mas não muito intransigentes. Desde meados do século XIII que a do­cumentação eclesiástica em Portugal recorre ao português. O pró­prio clero, de um modo geral, sobretudo o clero paroquial rural mas também o regular, revelava um profundo desconhecimento do latim, mesmo o latim de apreensão relativamente imediata da liturgia que se encontrava exposto nos livros que se guardavam, com maior ou menor sucesso, em praticamente todas as igrejas.

Compreender-se-á, assim, a tendência de uma grande parte do clero para utilizar a língua corrente nas suas tarefas sacerdotais. Que as orações se fossem proferindo em português, entre Padres Nossos, Avé Marias, ladainhas, responsórios, cânticos processionais, hagio­grafias ou narrativas de milagres (9). Com isso, sobreveio, também, a necessidade de encontrar as palavras próprias para as traduções dos étimos latinos autorizados da liturgia e de todo o espaço religioso.

O português afirma-se, de facto, ao longo do século XIII, como língua corrente nos actos escritos de todo o clero, especialmente do secular, como podemos observar, por exemplo, na respectiva testa­mentaria. Domingos Peres, clérigo e criado de D. Egas, ex-bispo de

8. Leiam-se sobre este assunto as profícuas páginas de Maria José Azeve­do Santos, Da Visigótica à Carolina - A Escrita em Portugal de 882 a 1172 (aspectos técnicos e culturais), Lisboa, JNICT - Fund, Calouste Gul­benkian, 1994; Eadem, "A Evolução da Língua e da Escrita", Nova Histó­ria de Portugal, VaI. III, pp. 613-632.

9. O tema é vasto e mereceu as atenções eruditas de Mário Martins, nomea­damente no estudo "O Pai-Nosso na Idade Média Portuguesa até Gil Vicen­te", Estudos de Cultura Medieval. VoI. II, Lisboa, Brotéria, 1985, pp. 289-320. Mas em toda a restante colectânea, como também nos volumes I e II desses mesmos Estudos de Cultura Medieval (Lisboa, Verbo, 1969 e Brotéria, 1980, respectivamente), bem como em Estudos de Literatura Me­dieval, Braga, 1956, entre outros, o assunto é explorado. É também impor­tante o estudo de Avelino de Jesus da Costa, "Os mais antigos documentos escritos em português. Revisão de um problema histórico-lingufstico", Es­tudos de Cronologia, Diplomática, paleografia e Histórico-Linguísticos, Por­to, Sociedade Portuguesa de Estudos Medievais, 1992, pp. 167-257.

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PROLEGÓMENOS A UMA HISTÓRIA DA IGREJA

Coimbra promovido ao arcebispado de Compostela, faz redigir as suas disposições testamentárias, em 1279, em português:

"En nome de Deus e da beeyta virgem saneta Maria sa madre, e de toda a corte dos ceus ameno Eu Domingos Martynz Raçoeyro da See de Coymbra e criado do honrrado padre e senhor dom Egas pela graça de Deus arcebispo de Santiago; temho o dia de mha morte, e soom certo que ey de morrer, e nom sei o dia nem a hora; em meu si­so conprido e en mha saude; faço meu testamento de meu corpo e de mha alma e de todolos meus beens asy movis come de rrayz em esta maneyra. Primeyramente mando a mha alma a Deus que mha rre­ceba a seu serviço e que mha leve a gloria do paraiso amen ( . . . )" (").

Num outro testamento, de D. Pedro Pais, cónego das Sés de Coimbra e da Guarda, elaborado em 1295, não são só os consideran­dos espirituais introdutórios que surgem em português. É o próprio Credo que é evocado, ainda que parcelarmente, enunciando-se tam­bém as afirmações fundamentais da profissão de fé e da doutrina:

"ln nome do Padre e do Filho e de Sancta Trindade e do Spirito Sancto ameno Porque naturalmente todalos que nacem am de morrer e non sabem quando chegara a ora da morte nen o tenpo nem o logar hu seera ca esto nom pode saber senom o verdadeyro Deus, e nom po­dem fazer sa manda nem ordinar feyto de sa alma asy como devem e como manda a sancta Egreja; porende eu Pedro Pãaez coonigo de Coym­bra e da Guarda por essa eu cum meu siso conprido e cum meu enten­dimento no melhor que nunca foy faço mha manda e meu testamento en prol de mha alma pera huu senpre ei de viver, de mha bõa e livre voontade a serviço de Deus e aa ssa honrra e da groriosa sa madre sanc­ta Maria e de toda a corte celestial, que elJes roguem a Deus por mim.

ln primeiramente sey e creo bem verdadeyramente que huum soo he Deus verdadeyramente que encarnou en a Virgem sancta Ma­ria e que foy virgem ante parto e virgem pos parto, e que avemos per ela a seer salvos, e creo verdadeyramente que a ostia e o vinho que con­sagra o sacerdote que é carne e sangui de Deus verdadeyro per que avemos de seer salvos. E rogo aaquel Deus verdadeyro e a gloriosa sancta Maria sa madre e a toda a corte celestial e aos angos [anjos] e aos que son no sancto paraysso que roguem a Deus por mim que mi

10. TI - Sé de Coimbra, 2', M' 33, 1387.

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PROLEGÓMENOS A UMA HISTÓRIA DA IGREJA

perdoem os meus pecados que fiz muytos e maaos e per muytas ma­neyras, en tal maneyra que quando mi a alma sayr da carne, que mha leve pera a groria de parayso hu avemos de viver senpre e que nom cate aos meus pecados, senom aa ssa feytura que me nom leyxe per­der. Item mando mha alma a Deus e a gloriosa sancta Maria sa ma­dre e a toda a corte dos ceeos e aos sanctos do parayso C .. )" (").

O latim, evidentemente, não é esquecido, continuando a ser uti­lizado por muitos raçoeiros, cónegos, bispos e abades para os actos que marcam os momentos mais importantes de uma carreira ou de uma vida de qualquer eclesiástico, seja nas relações com Roma, seja na preparação das últimas vontades: "timens diem inevitabilem mor­tis mee desideranque diem mee peregrinationis extremum dispositio· ne testamentaria peruenire", como se lê no testamento do bispo de Coimbra D. Pedro Martins (1301) (").

Nos séculos XIV e XV é sem estranheza que vemos os centros mais tradicionais da cultura eclesial portuguesa optarem, eles pró­prios, por desenvolver programas profundos de tradução para portu­guês de obras das suas bibliotecas. A par disso, cresce o gosto pela leitura e tradução de textos franceses, italianos e castelhanos. Santa

11. TI - Sé de Coimbra, 2', M' 36, 1548.

12. TI-Sé de Coimbra, 2ª, Mº6, 309 e M228, 1154. Muito interessante é a enun· ciação do Credo feita no testamento do cónego conimbricense D. Martim Fer· nandes, redigido em 15 de Novembro de 1325, em latim, de que citamos o excerto seguinte: "(, .. ) ineuitabili mortis actum gladium panescens ex ins­perto irruentem subita, timens itaque coram diuina Magestate erubecere in die illa Judicii terribili magna ei amara ualde dia etiam calamitatis in qua gloriosus ille unigenitus filZius Dei saluator mundi tanquam leo fortissimus ueniet incarnalus seculum iudicaturus siue bonum siue malum prout in suo corpore geserit, firmiter credo et sinpliciter confiteor, Vnum esse Deum Pa­trem omnipotentem criatorem celli et tere visibilium omnium et invisibilium. Patrem et Filium et Spiritus Sanctum tres quidem personas et una deitatis essenciam. Credo itaque ueraciteret confi,teor quod ipse Patri est generans Fi­lius nacens et Spiritus Sanctus procedens pariter ab utroque, ita quod est unitas in diuinitate distercio in personis et unigenitus Dei Fillius Jesus eh­ristus a tota trinitate·incarnatus. Natus ex Maria uirgine uerU$ homo factus ex Anima Racionali et humana carne compositus inmortalis inpasibilis se­cundum diuinitatem secundum humanitatem pasibilis et mortalis in lino crucis pro Redempcione humani generis passus est. Mortuus humanaliter et

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PROLEGÓMENOS A UMA HISTÓRIA DA IGREJA

Cruz de Coimbra e Alcobaça são dois casos extremamen te claros sobre esse aspecto. Os cónegos e os monges já só entendiam a sua própria re­gra desde que lida em português ... O fenómeno atingiu beneditinos, Cistercienses e o próprio clero secular (especialmente o paroquial ... ) como se atesta para as dioceses de Braga, Coimbra ou Lisboa.

Nos alvores de Trezentos, a título de exemplo, os bispos de Coim­bra, então quase todos de origem linguística occitãnica, fazem publi­car as suas sentenças, cartas e indulgências em língua portuguesa. Para que o povo e o clero entendessem perfeitamente. Subsistia, no en­tanto, uma memória latina na língua portuguesa que, em muito, faci­litava essa transmissão de vocabulário, de ideias, de significados precisos. Como precisa foi a tradução da festividade do Corpus Chris­ti para Corpo de Deus, bem pouco literal, é certo, mas correcta quan­to ao conteúdo doutrinário e ao seu significado litúrgico. Justamente uma das festividades que maior êxito revelou possuir no Portugal me­dieval, nela confluindo todos os poderes sociais e todas as representa­ções institucionais hierarquicamente dispostas em torno do bispo e da custódia resplandecente onde se via e adorava a "hostia salutaris".

sepultus, descendit ad inffernos et ibidem portas hereas confregit dans Lu­men hiis ut eum uiderint qui erant in penis tenebrarum, tercia die Resurgens a mortuis adcendens ad cellos sedet ad dexteram Dei Patris lnde uenturus est iudieare vivos et mortuos et seculum per ignem. Credo etiam firmiter sanc­tam eatholieam et apostolieam Eeclesiam tota orbe diffusam prout Christi fi­deles eredunt et ueraeiter eon(itentur. Comendo igitur spiritum meum omnipotenti Deo altissimo lesu Christo qui de nichilo cunca creauit ut cum a corpore exierit in sinu Abrahel collocare dignetur, et eum in sanctam lucem eum Angelis faeiet peruenire. Et ad honorem omnipotentis Dei et eius Matris Virginis gloriosse ae toeius Curie cellestis in Remissione pecatorum meorum et ad salutem anime mee et ut super bonis meis inter heredos meos nulla con­tendo oriatur, in hiis scriptis meum {faeio et ardina testamentumn• (TT -Sé de Coimbra, 2!, 6, 295). Mais sincrético, mas ainda assim testemunho des­te Credo, é o intróito do testamento do bispo de Évora, D. Fernando Martins, de 1305: "Cum iuxta verbum santi nichil cercius morte et nichil incercius ora mortis. ldcirco nos ( ... ) cum nesciamus quando Dominus est venturus, in nos­tro bano sensu et discrecione credentes Sanetam Trinitatem Patrem et Fi­lium et Spiritum Sanctum, non tres deos set unum Deum et articulas sanete fidei, secundum quod credit et credere debet bonus catholicus, et credit et te­net Saneta Romana Ecclesia ( ... )". (Pub. Por Isaías da Rosa Pereira, "Livros de Direito na Idade Média", Lusitania Sacra, VII (1964-66), p. 27).

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CARTA AO CLERO

Publicamos, a seguir, uma carta escrita por Sua Ex.cia Rev.ma o Senhor Bispo D. Serafim ao clero diocesano.

Reverendíssimo Senhor

Com respeitosos e fraternais cumprimentos, venho pôr em co­mum algumas questões/informações, a saber:

L Com data de 3.12.99 a Penitenciaria Apostólica publicou uma instrução sobre o Sacramento da Penitência no Ano do Grande Ju­bileu. Em conformidade, declaro que todos os Sacerdotes no exercí­cio do ministério na nossa Diocese podem usar, durante o ano jubilar, das faculdades do Penitenciário, tal como consta do cân. 508 §1 do CDC.

2. A Congregação do Culto Divino e Disciplina dos Sacramen­tos concedeu em 01.02.2000 ao Ordinário Diocesano faculdade pa­ra que um presbítero na Diocese de Leiria-Fátima possa celebrar quatro missas nos Domingos e festas de preceito. Em consequên­cia, cada presbítero, e caso a caso, poderá requerer ao Ordinário essa autorização, de maneira habitual ou ocasional. Concedo vir­tuosamente esta faculdade alargada para casos de emergência/ur­gência, com legítimas razões pastorais, e obrigação de informar do facto o Ordinário, durante a semana seguinte.

3. Inclui-se o calendário das recolecções mensais e dos retiros anuais em Fátima. Recomendo mais adesão/presença.

4. O Congresso Eucarístico Internacional em Roma, nos dias 18--25 de Junho 2000 terá uma delegação nacional em que partici­parão 10 representantes da nossa Diocese, orientados pelos Srs. Cónego Manuel da Silva Gaspar e Padre Adelino Rodrigues Fer­reira.

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CARTA AO CLERO

5. O Jubileu na nossa Diocese, que tem uma Comissão própria, está em curso. Depois da peregrinação à Terra Santa está a ser pre· parada outra a Roma. As peregrinações jubilares à Sé de Leiria, aI· gumas já se fizeram e outras estão programadas, devem ser sinais festivos de Renovação e Esperança. A fortiori a peregrinação jubilar do Clero.

6. Continua em bom curso o esforço de aplicação do RABI, in· clusive o capítulo VII, que integra o projecto do tempo sabático e a revisão dos estatutos da Casa do Clero.

7. A beatificação dos Pastorinhos Francisco e Jacinta Marto, com a presença do Papa, e toda a Pastoral de Fátima são um desa· fio/apelo a toda a Diocese e ao Clero.

8. Foi mandada para as comunicações sociais uma carta pasto­ral sobre a Quaresma 2000. Devemos esclarecer pedagogicamente as pessoas da "penitência" quaresmal e o sentido da "renúncia", Tam­bém na perspectiva do Jubileu, devemos, nas comunidades paro­quiais e nas casas ou residências de pessoas idosas, cuidar, em relação a essas pessoas, as celebrações do crisma e da santa unção, sem esquecer as celebrações específicas e comunitárias do sacramen­to da Peniténcia.

Bem haja por tudo e que o Grande Jubileu do Ano 2000 ajude a nossa renovação sinodal.

ln J.C.

Leiria, 28 de Fevereiro de 2000.

t SERAFIM DE SOUSA FERREIRA E SILVA

Bispo de Leiria-Fátimá

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ESPIRITUALIDADE

DO FRANCISCO

E DA JACINTA MARTO

Que é a beatificação?

L Na perspectiva da Beatificação de Francisco e Jacinta Mar­to, vou esboçar ou delinear o perfil espiritual destas 2 crianças, que juntaram na sua vida e para nós a Mensagem da Senhora e a sua pró­pria mensagem. Efectivamente Francisco e Jacinta foram testemu­nhas e continuam' a ser sinais do Sobrenatural. pelo que viram e ouviram. Pelo que foram e são. Por isso, a Igreja processou e decla­rou a sua Beatificação. Porquê e para quê?

"Desde tempos imemoriais - diz-se na Constituição Divinus Redemptionis Magister de 25.1.1983 - a Sé Apostólica propõe à imi­tação, à veneração e à invocação alguns cristãos que sobressaíram pe­lo fulgor das virtudes". São, por conseguinte, três os motivos e os efeitos, a saber:

a) a imitação; os beatos e santos são apresentados como mode­los a imitar; o Francisco e a Jacinta, portadores de mensagem que flui da sua vida para os mais novos e para todos, podem ser exemplo.

b) a veneração; os beatos podem ter culto público na sua pá­tria, com estátuas no altar e festas de comemoração; os santos, na Igreja universal;

c) a invocação; a Igreja reconhece que as duas crianças podem ser intermediárias junto de Deus e a favor de quem as invoca.

Que significa esta beatificação?

2. A beatificação de Francisco e Jacinta Marto confirma ou ro­bustece o reconhecimento da autenticidade de todo o acontecimento de Fátima, no seu conjunto, desde as aparições do Anjo até aos tem­pos de hoje. E apresenta os dois pastorinhos como intercessores de graças e bênçãos para os que ainda peregrinam ou se purificam.

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ESPIRITUALIDADE DO FRANCISCO E DA JACINTA MARTO _ ______ _

Dignos de veneração e intercessão, dizemos que podem ser imi­tados. Que têm para nos comunicar hoje? Viveram na convulsão da L" república em Portugal, como podem ser, agora, um ponto de refe­rência?

Antes das aparições, as crianças, absolutamente nonnais e bem inculturadas na aldeia de Aljustrel, aspiravam e transpiravam a es­piritualidade cristã que auferiam da família, em toda a atmosfera da comunidade paroquial. É natural e sabido que as catequese e as "missões" ou a "missão abreviada" tivessem influência na religiosi­dade e na espiritualidade do Francisco e da Jacinta, filhos mais no­vos de uma família grande, e duas crianças de uma vizinhança muito plural.

Depois das aparições, na Loca do Cabeço, no Arneiro, na Cova da Iria e nos Valinhos, o Francisco e a sua irmã purificaram-se e cresceram mais na fé e na vivência espiritual.

Família séria e normal

3. Dos "interrogatórios" e das "memórias" podemos colher mui­tos exemplos e episódios que documentam a mudança. O Francisco, que tinha dado dois vinténs para soltar um passarinho e ajudava a Ti Maria ajuntar-lhe o rebanho, após as aparições repete as orações e atitudes do Anjo, reza as contas inteiras, visita o Santíssimo . ..

Sobretudo dá testemunho de viver os Dons do Espírito Santo, desde a sabedoria e a fortaleza até à piedade e o temor de Deus. Já muito doente, confidenciava: "sofro para consolar Nosso Senhor".

Por sua vez a Jacintinha, que gostava tanto de cantar e bailar, perante a ameaça da caldeira de azeite a ferver, diz que sofre "pelos pecadores e pelo Santo Padre". Sem mais!

Em síntese, vemos que, antes das aparições o Francisco e a Ja­cinta testemunharam a siriedade ética e eclesial ou social dentro da normalidade de uma família e de uma aldeia de raízes profundamen­te cristãs. Depois das aparições a espiritualidade do Francisco carac­terizou-se mais pelo amor a Deus, enquanto que a Jacinta se especializou e intensificou no amor aos pecadores. Ambos se aperfei­çoaram!

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ESPIRITUALIDADE DO FRANCISCO E DA JACINTA MARTO

Irmãos diferentes!

4. O Francisco e a Jacinta eram irmãos e amigos, mas diferen­tes entre si. O Francisco era meditativo e desprendido; a Jacinta era mais comunicativa e possessiva; o menino refugiava-se a tocar o seu pífaro ou a rezar; a menina gostava mais de dançar, nem que fosse ao colo do preso ...

Os dois irmãos também se distinguiram na participação das aparições. Com alguma graça e muita sabedoria, o irmão mais ve­lho, João, que estivera nos Valinhos aquando da aparição de 19 de Agosto de 1917, comenta com frequência:

- A Lúcia viu, ouviu e falou;

- a Jacinta viu e ouviu, mas não falou;

- o Francisco só viu, mas não ouviu nem falou;

- eu nem vi, nem ouvi, nem falei.

Não aconteceu algo de semelhante, na estrada de Damasco, com Paulo e seus companheiros?

o mesmo amor

5. Na espiritualidade dos pastorinhos Francisco e Jacinta Mar­ta, quer antes, quer depois das aparições, a fidelidade cristã e co­mum. Após os inesperados acontecimentos que os interpelaram, veio mais ao de cima o que diz o Sínodo dos Bispos de 1987: "Todos os cris­tãos devem aprender a assumir o sofrimento e as contradições, unin­do-se à cruz de Cristo, a qual dá sentido a toda a vida cristã" (5.' proposição).

De facto e com afecto, a espiritualidade dos pastorinhos Fran­cisco e Jacinta uniu-os bem à "cruz de Cristo". Viveram corajosa­mente o "martírio" da incompreensão, da doença e da morte.

Qualquer das duas crianças seria, hoje, mais diferente consigo e entre si, neste tempo pós-conciliar e pós-moderno. As renúncias se­riam e não se cingiram com a corda.

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ESPIRITUALIDADE DO FRANCISCO E DA JACINTA MARTO

Mas seria o mesmo amor. É que os valores são de sempre ou eternos, ainda que possam variar os enquadramentos circunstancia­dos nos tempos e lugares, assim como as expressões subjectivas, se­gundo a maneira e a idade de cada um, como aquela criança que diz ao pai: gosto tanto de ti, como de uma estrada, porque a estrada não acaba! Sim, eu tennino com uma oração ao Francisco, o Consolador, para que interceda por nós junto de Jesus, e uma outra prece à Ja­cintinha, a Amiga dos pecadores, que nos obtenha mais força de con­versão, na justiça e na paz.

Leiria, 21 de Agosto 1999, Mo de S. Pio X.

t SERAFIM DE SOUSA FERREIRA E SILVA Bispo de Leiria-Fátima

PROGRAMA OFICIAL DA VISITA DO PAPA PARA A BEATIFICAÇÃO DE FRANCISCO E JACINTA

Sexta-Feira, dia 12 de Maio

19.25 h - Chegada ao heliporto preparado no Campo de Futebol João Paulo II do Centro Desportivo da Fátima.

19.45 h - Oração na Capelinha das Aparições do Santuário de Nos-sa Senhora do Rosário da Fátima.

Sábado, dia 13 de Maio

09.30 h - Santa Missa e Beatificação dos Veneráveis Jacinta e Fran-cisco, pastorinhos da Fátima, na esplanada do Santuário de Nossa Senhora do Rosário da Fátima, diante da Basíli-ca da Cova da Iria. Homilia do Santo Padre.

15.50 h - Partida de helicóptero do heliporto preparado no Campo de Futebol João Paulo II do Centro Desportivo da Fátima.

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PROPOSTAS PARA A MUDANÇA DE ATITUDES

E PRÁTICAS PASTORAIS Conclusões dos cursos de Formação Permanente do

Clero em 1999

I. O ACONTECIMENTO

Em 1999, nas duas sessões da formação permanente do clero, foi abordado o tema "A Igreja na Sociedade de hoje em mudança". A análise da história da Igreja, universal e em Portugal, permitiu verifi­car que as comunidades cristãs em cada época reagiram com uma estra­tégia ofensiva ou defensiva, combativa ou de acomodação, consoante as circunstâncias internas e externas. A perspectiva da teologia trouxe a consciência de que, à luz da fé, a Igreja é, no seu próprio ser, sacramen­to, isto é, sinal e instrumento de Jesus Cristo para os homens e fermen­to da presença e acção de Deus que ama e oferece a cada pessoa a participação na Sua própria vida.

A análise da sociedade complexa em que vivemos permitiu a clari­ficação de que nela a Igreja precisa de assumir um papel profético: teste­munhar e anunciar, por obras e palavras, os horizontes de vida e de esperança patentes no Evangelho. A figura do padre, nas presentes cir­cunstâncias sociais e eclesiais, deverá enriquecer-se com novas dimensões e dinamismo. O padre não poderá ser um homem só, nem na vida nem no exercício do ministério. A comunhão com Deus, com os outros padres e com os leigos, e a abertura e diálogo com todos, fazem dele um homem eclesial mediante o qual Deus se comunica abundantemente aos outros.

A quase totalidade do clero participou nos dois turnos de formação. O primeiro ocorreu no final de Outubro, no Porto. O segundo teve lugar em Fátima, de 15 a 19 de Novembro. O Bispo da Diocese, D. Serafim de Sousa Ferreira e Silva, acompanhou pessoalmente ambos os cursos. Do programa, além do estudo, fizeram parte a oração e celebração comuni­tária, um passeio cultural e o convívio, tornando o curso uma rica expe­riência de vida em presbitério, que muito animou os padres, dando-lhes um entusiasmo renovado para continuar a sua missão.

II. AS CONCLUSÕES

L O desejo e a disponibilidade para a mudança de atitudes e de práticas pastorais são condições indispensáveis, para tornar mais fru-

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PROPOSTAS PARA A MUDANÇA DE ATITUDES ___________ _

tuoso O serviço da Igreja aos homens e mulheres de hoje. A mudança, pa­ra ser verdadeiramente construtiva, requer um equilíbrio entre a fideli­dade à Tradição e a audácia para inovar. Tal empenho não se faz sem pessoas revestidas de esperança.

2. A urgência da planiflcação, na diocese, na paróquia e nos mo­vimentos e serviços, e do empenho prioritário na evangelização e na catequese de adultos está também entre as principais conclusões.

3. Para operar as mudanças, os padres reconhecem a necessidade de se renovarem, pelo cultivo da vida espiritual, a abertura à cultura ac­tual, a promoção da corresponsabilidade e colaboração dos fiéis leigos e no pensar e avaliar a acção pastoral com os colaboradores.

4. É importante o encontro mais frequente entre os padres, pa­ra reforçar os laços de amizade e de comunhão dentro do mesmo presbi­tério. Para isso, constituem ocasiões propícias as ordenações, a missa crismal, as assembleias do clero e outros momentos, desde que se de o tempo devido para estar com os outros e participar na refeição comum, sem se deixar dominar pela preocupação com as tarefas por fazer.

5. Aproveitem-se as tardes de recolecção mensal e as reuniões vicariais para a formação e reflexão pastoral. Além da assembleia do clero que se faz em Maio, realize-se mais uma ou duas, por ano, para a reflexão pastoral e/ou sacerdotal.

6. É preciso mais coragem, a nível paroquial e diocesano, para mu­dar o que está mal oujá não é eficaz, e melhorar os serviços e iniciativas pastorais. Importa que cada padre ponha mais coração no que faz e te­nha a coragem de assumir uma vida mais simples, com uma espiritua­lidade mais profunda. Igualmente enriquece dor e pastoralmente frutuoso é o maior convívio e comunhão com os fiéis leigos e a entreaju­da pessoal e pastoral dos presbíteros entre si.

Ao longo do ano, conforme desejo expresso pelos participantes, as conclusões deverão ser retomadas, em reuniões vicariais e assembleias do clero, para aprofundamento e concretização na vida pastoral da Igre­ja diocesana.

Leiria, 6 de Abril de 2000.

Redigiu estas conclusões o Pe. Jorge Gurda

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o PATRIMÓNIO CULTURAL DA IGREJA

A Comissão Pontificia para os Bens Culturais da Igreja publi­cou uma Carta Circular (8. 12.1999) sobre a Catalogação do Patrimó­nio Cultural da Igreja. Salientamos:

"Cuidar do património histórico-artfstico eclesiástico é uma res­ponsabilidade cultural, que atinge a Igreja em primeiro plano. Ten­do-se sempre declarado "perita em humanidade", (') a Igreja promoveu em cada época o desenvolvimento das artes liberais, bem como o cuidado daquilo que foi criando para cumprir a sua missão evangelizadora. Na verdade, "quando a Igreja chama a arte a apoiar a própria missão, não é só por razões de estética, mas para obedecer à "lógica" mesma da revelação e da encarnação". (')

Neste contexto o inventário-catálogo apresenta-se como ins­trumento de defesa e de valorização do património cultural da Igre­ja. A estruturação científica e a sucessiva utilização dos resultados das investigações definem-se como momentos complementares do inventário-catálogo. Da ordenacão lógica do material reunido segue­-se assim a interpretação crítica dos dados, a contextualização do património, a manutenção do seu uso religioso e cultural.

A concepção do trabalho de colecta das informações como um mero recenseamento do património, com o objectivo de aceder a sua tutela jurídica, pode-se considerar, por isso, superada. As exigências actuais requerem conhecimentos que garantam uma credibilidade científica, uma actualização continua e, sobretudo, a valorizacão cul­tural e eclesial dos dados reunidos.

A inventariação-catalogação e, pois, entendida como um con­junto de actividades orientadas para a organizacão dos conheci-

1. Paolo VI, Carta Encíclica Populorum progressio, n. 13: "Christi Eeelesia, iam rerum humana rum peritissima", em: AAS 59 (1967), pág. 263.

2) João Paulo II, Alocução A importancia do património artístico na expressão e na inculturação da fé, 12 de Outubro de 1995, em: ed. quot. de L'Osserva· tore Romano de 28 de Outubro de 1995, pág. 5.

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o PATRIMÓNIO CULTURAL DA IGREJA

mentos, destinadas a objectivos de salvaguarda, gestão, valoriza­ção do património cultural, segundo metodologias que não excluam as soluções informáticas e as ligações com outros sistemas. A ideia de um arquivo como simples depósito de fichas, rapidamente dete­rioráveis e de difícil consulta, está sendo substituída pela imagem de um arquivo dinâmico, internamente ligado através de campos definidos, susceptível de se relacionar ao mesmo tempo com a inu­merável série de arquivos difundidos no espaço eclesial, nacional e internacional.

Neste sector da inventariação-catalogação, a Igreja é chamada a um esforço de renovação, a fim de poder tutelar o seu próprio pa­trimónio, regulamentar o acesso aos dados e dar um valor espiritual a tudo o que o mesmo património encerra em si. Dado que o patrimó­nio cultural de natureza religiosa também depende de outras áreas de competência, o compromisso da inventariação--catalogação não se pode reduzir a responsabilidade eclesiástica; deverá envolver tam­bém, quando as circunstâncias o permitirem, as autoridades civis e particulares.

Com uma eficiente estruturacão dos seus inventários--catálogos a Igreja entra na cultura da "globalização", dando um significado eclesial às informações dos documentos da sua competência e de­monstrando a própria universalidade através da informação acessí­vel acerca do ingente património que ela mesma criou e continua a criar em todos os lugares onde está presente com a sua obra de evan­gelização. Tudo isto acerca da inventariação-catalogação informáti­ca é para que se realize o desejo de João Paulo II: "Dos parques arqueológicos às mais modernas expressões da arte cristã, o homem contemporâneo deve poder reler a história da Igreja, para poder ser assim ajudado a reconhecer o fascínio misterioso do desígnio salvífi­co de Deus". (')

3) João Paulo II, Mensagem A valorização dos bens culturais da Igreja postos ao servica da obra de evangelização, 25 de Setembro de 1997, em: ed. quot. de L'Osservatore Romano de 28 de Setembro de 1997, pág. 7.

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o PATRIMÓNIO CULTURAL DA IGREJA

Este trabalho, que compromete todas as Igrejas locais, tanto as de antiga como as de recente evangelização, e certamente obstaculi­zado pelo problema dos recursos, de modo especial nos países em vias de desenvolvimento, onde a superação da indigência constitui O pri­meiro problema da comunidade cristã. Todavia, para incrementar o progresso, e importante também criar a consciência da própria cul­tura. Com efeito, "a Igreja, mestra de vida, não pode deixar de assu­mir também o ministério de ajudar o homem contemporãneo a encontrar o assombro religioso ante o fascínio da beleza e da sapien­cia, que emana de tudo o que a história nos entregou". (')

Por isso, ° conhecimento do património histórico e artístico, mesmo que seja mínimo, torna-se um factor não indiferente ao pro­gresso. Neste caso, deverá ser tarefa dos Pastores solicitar a solida­riedade nacional e internacional, devendo também as Igrejas dos países mais ricos ter o zelo de apoiar iniciativas de tutela das cultu­ras das minorias e dos povos que atravessam graves dificuldades económicas.

Desejando que o vosso ministério pastoral una intimamente a obra da evangelização a promoção humana, aproveito a ocasião pa­ra vos exprimir a minha deferente e cordial saudação, com que me confirmo

de Vossa Excelência Reverendissima devotíssimo em Jesus Cristo

D. FRANCESCO MARCHISANO Presidente

CARLO CHENIS, S.D.B. Secretário

Vaticano, 8 de Dezembro de 1999."

4) Ibidem.

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LEIRIA-FÁTIMA, publicação quadri­mestral, que arquiva decretos e pro­visões, divulga critérios e normas de acção pastoral e recorda etapas im­portantes da vida da Diocese.

Impresso na GRÁFICA DE LEIRIA

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