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Isabele Camargo Brindo da Cruz
Efeito terapêutico da administração de células tronco mesenquimais
estimuladas com colágeno V na cartilagem articular de coelhos com
osteoartrite
Dissertação apresentada à Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo
para obtenção do título de Mestre em
Ciências
Programa de Ciências Médicas
Área de Concentração: Processos Imunes e
Infecciosos
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Walcy Paganelli
Rosolia Teodoro
São Paulo
2017
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Preparada pela Biblioteca da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
reprodução autorizada pelo autor
Cruz, Isabele Camargo Brindo da
Efeito terapêutico da administração de células tronco mesenquimais estimuladas
com colágeno V na cartilagem articular de coelhos com osteoartrite / Isabele Camargo
Brindo da Cruz . -- São Paulo, 2017.
Dissertação(mestrado)--Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Programa de Ciências Médicas.
Orientador: Walcy Paganelli Rosolia Teodoro.
Descritores: 1.Células-tronco 2.Colágeno tipo V 3.Osteoartrite 4.Coelhos
5.Cartilagem 6.Técnicas de cultura de células
USP/FM/DBD-096/17
Aos meus pais, Valéria de Camargo Brindo da Cruz e Mauricio Brindo da Cruz, pela
orientação, por acreditarem em mim e proporcionarem sempre o melhor a mim e aos
meus irmãos. Vocês são minha eterna admiração.
Aos meus irmãos, Daniel Camargo Brindo da Cruz e Maria Clara Vieira Cruz (in
memoria), por me apoiarem, pelas risadas e confissões em todos os momentos de minha
vida.
Ao meu namorado Rafael Rinaldini Rodrigues, por seu companheirismo, compreensão
e suporte nos momentos mais frágeis.
À minha tia Nenê, Márcia de Camargo, pelo amor que me acompanha desde o anúncio
da minha existência e por acreditar no meu melhor.
Às minhas irmãs de coração, Nalim, Lilo e Marie, a quem sou eternamente grata pelo
companheirismo e pela felicidade mesmo nos momentos mais difíceis.
AGRADECIMENTOS
À minha querida orientadora Profa. Dra. Walcy Paganelli Rosolia Teodoro por sempre
ter acreditado no meu potencial, por ter me dado a oportunidade de crescimento
profissional, pela confiança e amizade ao longo da minha jornada.
À Dra Ana Paula Pereira Velosa pela sua paciência, participação e auxílio constantes,
por estar sempre disposta a esclarecer dúvidas e a clarear minha mente, além da de sua
humildade e amizade em todo esse período.
À Ms. Solange Carrasco por ter me ensinado os princípios de cultura de células, pela
amizade e por ter se tornado alguém de grande confiança.
Ao Dr Ricardo Fuller por suas incríveis considerações, pela visão ampla sobre o
trabalho e por acreditar no potencial deste estudo.
À Professora Dra Vera Luiza Capelozzi pela sua atenção, disponibilidade, carisma e
conhecimento que foram essenciais para o aperfeiçoamento deste trabalho.
Ao Dr Samuel Katsuyuki Shinjo pelas suas considerações bastante importantes para a
melhora deste trabalho e pelo apoio prestado além do laboratório, à quem sou
imensamente grata.
Às professoras Dra Eloisa Bonfá e Dra Rosa Maria Rodrigues Pereira pela oportunidade
dada a mim para a realização deste trabalho e pelo meu crescimento profissional.
Aos funcionários do Biotério da Disciplina de Reumatologia, Pesquisador Antonio dos
Santos Filho, Valter Marques da Silva e Valdeci Francisco da Silva e, aos funcionários
do Centro de Bioterismo da FMUSP, Dr Eduardo Pompeu, Vicente de Paula Silveira e
Claudionor Donizete Vidotti pelo grande auxílio na manutenção, manipulação e
experimentação animal, que foram fundamentais para a realização desse trabalho.
À Dra Denise Frediane Barbeiro, por dedicar seu tempo a me auxiliar na Biologia
Molecular e ser sempre prestativa.
Aos amigos pesquisadores dos laboratórios de Matriz Extracelular e Imunologia
Celular, Silvana Ramos Atayde, Tatiana Vasconcelos Peixoto, Lais Araújo dos Santos,
Vanessa Martins, Marcelo Antunes, Isadora Begalli Mendes, Natasha Ugriumov,
Priscila Cristina Andrade, Jurandir Tomaz, Verônica Protocevich Toledo, Sara Xavier,
Jackeline Couto Alvarenga, Marilda Guimarães, pelo companheirismo, pela amizade e
pelo suporte sempre prestados.
Às queridas Maria Aparecida A. Ferraz, Juraci Pereira e Ângela Maria de Souza por
toda ajuda.
A todos meus familiares e amigos,
“A tarefa não é tanto ver aquilo que ninguém viu, mas pensar o que ninguém ainda
pensou sobre aquilo que todo mundo vê”.
(Artur Schopenhauer)
SUMÁRIO
Lista de Figuras
Lista de Tabelas
Lista de Gráficos
Lista de Símbolos
Lista de Siglas
Resumo
Summary
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 1
1.1 ASPECTOS GERAIS DA OSTEOARTRITE .............................................. 1
1.2 CARTILAGEM ARTICULAR ...................................................................... 4
1.2.1 Constituição da cartilagem articular ........................................................... 4
1.2.2 Colágeno ..................................................................................................... 7
1.2.3 Colágeno na cartilagem articular .............................................................. 12
1.2.4 Proteoglicanos na cartilagem articular ..................................................... 15
1.2.5 Histoarquitetura e homeostase da cartilagem articular ............................. 18
1.3 CARTILAGEM OSTEOARTRÍTICA ........................................................ 21
1.4 ASPECTOS GERAIS DA TERAPEUTICA NA OSTEOARTRITE ....... 25
1.5 CÉLULAS TRONCO MESENQUIMAIS ................................................... 27
1.5.1 Células tronco mesenquimais e osteoartrite ............................................. 31
1.6 COLÁGENO TIPO V ................................................................................... 33
2 OBJETIVO ............................................................................................................ 37
3 MÉTODOS ............................................................................................................ 38
3.1 ANIMAIS ........................................................................................................ 38
3.2 COLETA DO TECIDO ADIPOSO .............................................................. 38
3.2.1 Obtenção das células tronco mesenquimais de coelhos ........................... 39
3.2.2 Caracterização das células tronco mesenquimais de coelhos ................... 40
3.3 CARACTERIZAÇÃO DO COLÁGENO TIPO V ..................................... 42
3.3.1 Padronização da concentração de colágeno tipo V em cultura de células
tronco mesenquimais de coelhos ............................................................................. 44
3.3.2 Avaliação do potencial condrogênico das células tronco mesenquimais de
coelhos estimuladas com colágeno V em cultura ................................................... 45
3.4 INDUÇÃO DA OSTEOARTRITE ............................................................... 50
3.4.1 Protocolo terapêutico ................................................................................ 51
3.4.2 Coleta das articulações ............................................................................. 53
3.4.3 Avaliação da espessura da cartilagem ...................................................... 53
3.4.4 Avaliação da densidade de condrócitos .................................................... 54
3.4.5 Avaliação dos proteoglicanos ................................................................... 55
3.4.6 Avaliação do processo de apoptose celular na cartilagem ....................... 58
3.4.7 Avaliação do colágeno tipo II na cartilagem ............................................ 59
3.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA ............................................................................ 61
4 RESULTADOS ...................................................................................................... 63
4.1 CARACTERIZAÇÃO DAS ADSCs DE COELHOS ................................. 63
4.1.1 Análise do Potencial de Diferenciação ..................................................... 63
4.1.2 Caracterização por Microscopia Eletrônica de Transmissão e
Imunofluorescência ................................................................................................. 65
4.2 ANÁLISE DA DOSE/RESPOSTA PARA COLÁGENO V EM
CULTURA DE ADSCs ............................................................................................. 67
4.3 AVALIAÇÃO DO POTENCIAL CONDROGÊNICO DAS ADSCS DE
COELHOS ESTIMULADAS COM COLÁGENO V ........................................... 69
4.4 AVALIAÇÃO DA EXPRESSÃO DE COLÁGENO DO TIPO II PELAS
ADSCs DE COELHOS ESTIMULADAS COM COLÁGENO V, COMPARADA
A OUTROS ESTÍMULOS ....................................................................................... 71
4.5 ANÁLISE HISTOMORFOMÉTRICA DO COLÁGENO DO TIPO II
NAS ADSCS DE COELHOS ................................................................................... 73
4.6 ANÁLISE DA EXPRESSÃO DOS GENES COL2A1, ACAN E POU5F1
NAS ADSCS ESTIMULADAS COM COLÁGENO DO TIPO V ....................... 73
4.7 ANÁLISE MORFOLÓGICA DO EFEITO DA TERAPÊUTICA
CELULAR NA CARTILAGEM OSTEOARTRÍTICA ....................................... 76
4.8 ANÁLISE QUANTITATIVA DOS PARAMETROS MORFOLÓGICOS
APÓS A TERAPÊUTICA CELULAR NA CARTILAGEM
OSTEOARTRÍTICA ................................................................................................ 78
4.8.1 Aumento da Espessura Cartilaginosa Após a Terapia Celular ................. 78
4.8.2 Aumento da Celularidade Após a Terapia Celular ................................... 80
4.9 ANÁLISE MORFOLÓGICA DA TERAPIA CELULAR NOS
PROTEOGLICANOS DA CARTILAGEM OSTEOARTRÍTICA ..................... 82
4.9.1 Terapia com ADSCs estimuladas com colágeno V induz o aumento de
proteoglicanos na cartilagem osteoartrítica ............................................................. 82
4.10 ANÁLISE DA TERAPIA CELULAR NA SÍNTESE DO COLÁGENO
DO TIPO II NA CARTILAGEM OSTEOARTRÍTICA POR
IMUNOFLUORESCÊNCIA .................................................................................... 85
4.10.1 Terapia com ADSCs estimuladas com colágeno V induz a síntese de
colágeno II na cartilagem osteoartrítica .................................................................. 85
4.11 ANÁLISE DA TERAPIA CELULAR NO MECANISMO DE APOPTOSE
DA CARTILAGEM OSTEOARTRÍTICA POR IMUNOHISTOQUÍMICA .... 87
4.11.1 Terapia com ADSCs estimuladas com colágeno V diminui a expressão de
Fas-L na cartilagem osteoartrítica ........................................................................... 87
5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 89
6 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 95
7 ANEXO .................................................................................................................. 96
8 REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA .................................................................... 97
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Representação esquemática da cartilagem articular. ...................................... 6
Figura 2 – Representação tridimensional da cartilagem articular e divisão histológica. 6
Figura 3 – Esquema ilustrativo da estrutura molecular de colágeno fibrilar. ................ 11
Figura 4 – Diagrama esquemático da biossíntese dos colágenos fibrilares................... 11
Figura 5 – Ilustração da estrutura molecular do colágeno do tipo IX. .......................... 14
Figura 6 – Modelo da fibrila heterotípica de colágeno na cartilagem. .......................... 15
Figura 7 – Ilustração do agregado de agrecano. ............................................................ 17
Figura 8 – Tipos de matriz e seus componentes. ........................................................... 20
Figura 9 – Cartilagem hialina corada com Hematoxilina-Eosina (H&E) e esquema
representativo da morfologia e estrutura nas suas diferentes zonas. .............................. 21
Figura 10 – Ilustração da cartilagem articular saudável e afetada pela Osteoartrite. .... 25
Figura 11 – Imagem ilustrativa dos tipos de células tronco e suas principais fontes de
obtenção. ......................................................................................................................... 28
Figura 12 – Desenho esquemático da constituição do colágeno tipo V. ....................... 34
Figura 13 – Tricotomia (A) e lipectomia (B) na região interescapular de coelho Nova
Zelândia Branco, para a obtenção de células tronco mesenquimais............................... 39
Figura 14 – Imunoblot para colágeno V padrão comercial. .......................................... 44
Figura 15 – Imagem representativa da análise de imagens pelo software Image-Pro
Plus 6.0, mostrando a imunomarcação do colágeno do tipo II no precipitado celular
(verde fluorescente) e delimitação da área imunomarcada (vermelho) para
quantificação. .................................................................................................................. 47
Figura 16 – Indução de osteoartrite em coelho por meniscectomia parcial na região
lateral do joelho direito. .................................................................................................. 51
Figura 17 – Injeção intra-articular administrada nos grupos tratados com ADSCs e
ADSCs/ColV, após a cirurgia de indução de osteoartrite com reforços mensais por 22
semanas. .......................................................................................................................... 52
Figura 18 – Esquema do delineamento do estudo. ........................................................ 52
Figura 19 – Esquema da coleta de material. .................................................................. 53
Figura 20 – Ilustração da análise da espessura da cartilagem pelo Software Image-Pro
Plus 6.0. .......................................................................................................................... 54
Figura 21 – Ilustração da contagem de condrócitos pelo Software Image-Pro Plus 6.0,
pelo método estereológico de contagem de pontos (point-counting method). ............... 55
Figura 22 – Ilustração da análise dos proteoglicanos da cartilagem pelo Software
Image-Pro Plus 6.0, utilizando os recursos de seleção de cores. ................................... 57
Figura 23 – Ilustração da contagem de condrócitos em apoptose, marcados pelo FasL,
através do Software Image-Pro Plus 6.0, pelo método estereológico de contagem de
pontos (point-counting method)...................................................................................... 59
Figura 24 – Ilustração da imunomarcação do Colágeno II e quantificação através do
Software Image-Pro Plus 6.0. ........................................................................................ 61
Figura 25 – Caracterização de células tronco mesenquimais derivadas do tecido
adiposo através da diferenciação em linhagens adipogênica, condrogênica e
osteogênica. .................................................................................................................... 64
Figura 26 – Micrografias eletrônicas (A-H) e imunomarcação (I-L) de cultura de
células tronco mesenquimais. ......................................................................................... 66
Figura 27 – Imunofluorescência para vimentina, CD34, colágenos I, II e III em ADSCs
controle e após estímulo com colágeno V. ..................................................................... 68
Figura 28 – Coloração para proteoglicanos e colágeno e, imunofluorescência para
proteína de formação óssea em ADSCs controle e após estímulo com colágeno V. ..... 70
Figura 29 – Imunofluorescência para colágeno do tipo II em ADSCs controle e
estimuladas com ColV, ColV+TGF-β1, TGF-β1, ColI e ColI+ TGF-β1. ...................... 72
Figura 30 – Representação gráfica da quantidade relativa da expressão dos genes
COL2A1, POU5F1 e ACAN de ADSCs sem estímulo e cultivadas com TGF-β1 e ColV
por qRT-PCR. ................................................................................................................. 75
Figura 31 – Fotos representativas do côndilo do joelho direito dos grupos OA,
OA/ADSCs e OA/ADSCs/V, corados em H&E e avaliados por microscopia óptica. ... 77
Figura 32 – Fotos representativas da cartilagem articular do côndilo direito dos grupos
OA, OA/ADSCs e OA/ADSCs/V corados com Safranina-O/fast green. ....................... 84
Figura 33 – Imunofluorescência para colágeno do tipo II da cartilagem articular do
côndilo direito dos grupos OA, OA/ADSCs e OA/ADSCs/V. ...................................... 86
Figura 34 – Imumohistoquímica da cartilagem articular do côndilo direito dos grupos
OA, OA/ADSCs e OA/ADSCs/V imunomarcados com Fas-L. ..................................... 88
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Tipos de colágenos, genes e estrutura molecular. .......................................... 9
Tabela 2 – Classificação dos tipos de colágenos e estrutura supramolecular................ 10
Tabela 3 - Sequência de oligonucleotídeos. .................................................................. 49
Tabela 4 - Quantificação relativa da expressão dos genes COL2A1, POU5F1 e ACAN
e em ADSCs cultivadas sem estímulo (controle), estimuladas com TGF-β1 e com
colágeno V. ..................................................................................................................... 76
Tabela 5 - Medida da espessura da cartilagem expressa em % de células/µm² no côndilo
e platô dos joelhos direito (JD) e esquerdo (JE) dos grupos OA, OA/ADSCs e
OA/ADSCs/V avaliados através da coloração de H&E. ................................................ 78
Tabela 6 - Contagem de condrócitos na cartilagem expressos em % de células/µm² no
côndilo e platô dos joelhos direito (JD) e esquerdo (JE) dos grupos OA, OA/ADSCs e
OA/ADSCs/V avaliados através da coloração de H&E. ................................................ 80
Tabela 7 - Quantificação da perda de proteoglicanos na cartilagem articular no côndilo
e platô dos joelhos direito (JD) e esquerdo (JE) dos grupos OA, OA/ADSCs e
OA/ADSCs/V, avaliados através da coloração de Safranina O/fast green e expressos em
fração de área (%) ........................................................................................................... 83
Tabela 8 - Analise quantitativa da síntese colágeno do tipo II no côndilo do joelho
direito (JD) dos grupos OA, OA/ADSCs e OA/ADSCs/V por imunofluorescência...... 85
Tabela 9 - Quantificação da expressão de Fas-L no côndilo do joelho direito (JD) dos
grupos OA, OA/ADSCs e OA/ADSCs/V por imunohistoquímica. ............................... 87
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Análise gráfica da quantificação do colágeno do tipo II por
imunofluorescência das ADSCs cultivadas com DMEM suplementado e estimuladas
com Col V ....................................................................................................................... 73
Gráfico 2 - Representação gráfica da espessura da cartilagem articular dos grupos OA,
OA/ADSCs e OA/ADSCs/V. ......................................................................................... 79
Gráfico 3 - Representação gráfica da porcentagem de condrócitos da cartilagem
articular dos grupos OA, OA/ADSCs e OA/ADSCs/V. ................................................. 81
LISTA DE SÍMBOLOS
% porcentagem
< menor que
± mais ou menos
°C grau Celsius
µg micrograma
µl microlitro
µm micrômetro
µm² micrômetro quadrado
cm centímetro
cm² centímetro quadrado
g grama
h hora
kD quilodalton
kg quilograma
kV quilovolt
M Molar
mg miligrama
mL mililitro
mM Milimolar
N Normalidade
Na+ Sódio
ng nanograma
nm nanômetro
rcf força centrífuga relativa
rpm rotação por minuto
v/v volume por volume
α alfa
β beta
LISTA DE SIGLAS
ACAN Gene do agrecano
ADAMTS a disintegrin and metalloproteinase with thrombospondin motifs
ADSCs Adipose Derived Stem/Stromal Cells
AH Ácido hialurônico
AINE Anti-inflamatórios não esteroidais
ANOVA Análise de variância
ASCs Adult Stem Cells
BAT Brown Adipose Tissue
BCIP 5-Bromo-4-cloro-3-indolil fosfato
BMP Bone morphogenetic protein
BSA Albumina sérica bovina
Ca2+ Cálcio
CD Cluster of Differentiation
CDMPs Cartilage-derived morphogenic proteins
cDNA DNA complementar
CEUA Comissão de Ética no Uso de Animais
CO2 Dióxido de carbono
COBEA Colégio Brasileiro de Experimentação Animal
Col V Colágeno tipo V
Col Colágeno
COL11A2 Gene da cadeia alfa 2 do colágeno do tipo XI
COL2A1 Gene da cadeia alfa 1 do colágeno do tipo II
COMP Proteína oligomérica da matriz cartilaginosa
COPCORD Community Oriented Program for the Control of Rheumatic Diseases
CTGF Connective tissue growth factor
DAPI 4,6-diamino-2-fenilindole
DC Domínio colagenoso
DEPC Dietilpirocarbonato
DMEM Dulbecco’s Modified Eagle’s Medium
DMOAD Disease-modifying osteoarthritis drug
DMSO Dimetilsulfóxido
DNA Ácido desoxirribonucleico
ESCs Embryonic Stem Cells
FACIT Colágeno associado à fibrilas com tripla hélice interrompida
FasL Fas ligante
FGF Fibroblast growth factor
FMUSP Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
GAG Glicosaminoglicanos
GAPDH Gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase
GLUT4 Transportador de glicose tipo 4
H&E Hematoxilina & Eosina
HCl Ácido clorídrico
HGF Hepatocyte growth factor
HSCs Hematopoietic Stem Cells
Hyl Hidroxilisina
IBMX 3-isobutil-1-metilxantina
IGF Insulin-like growth factor
IgG Imunoglobulina G
IL Interleucina
IM Intramuscular
iPSCs Induced pluripotent stem cells
ISCT International Society for Cellular Therapy
JD Joelho direito
JE Joelho esquerdo
K+ Potássio
KCl Cloreto de potássio
LIM Laboratório de Investigação Médica
MAGP-1 Microfibril-associated glycoprotein-1
M-CSF Macrophage colony-stimulating factor
MEC Matriz Extracelular
MHC-II Major histocompatibility complex class II
Mi Mitocôndria
MMPs Metaloproteinases
MSCs Mesenchymal Stem Cells
N Núcleo
NBT Nitro-blue tetrazolium chloride
NC Não colagenoso
Nu Nucléolo
OA Osteoartrite
OARSI Osteoarthritis Research Society International
PAS Periodic acid-Schiff
pb Pares de base
PBS Tampão fosfato salino
PG Proteoglicanos
pH potencial hidrogeniônico
POU5F1 POU domain, class 5, transcription factor 1
PRP Plasma rico em plaqueta
qRT-PCR Reação em cadeia da polimerase quantitativo em tempo real
RE Retículo Endoplasmático
RGD Arginylglycylaspartic acid
RNA Ácido ribonucleico
RNAm RNA mensageiro
RUNX Runt-related transcription factor
SDS Dodecil sulfato de sódio
SFB Soro fetal bovino
SOX9 SRY-related high mobility group-box gene 9
TGF-β Transforming growth factor beta
TIMPs Tissue inhibitor of metalloproteinases
TNF-α Fator de necrose tumoral alfa
VEGF Vascular endotelial growth factor
VP Vesículas pinocíticas
WAT White Adipose Tissue
β-TCP Beta fosfato tricálcio
RESUMO
Cruz ICB. Efeito terapêutico da administração de células tronco mesenquimais
estimuladas com colágeno V na cartilagem articular de coelhos com osteoartrite
[Dissertação]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo; 2017.
Introdução: As células-tronco são células indiferenciadas que apresentam capacidade
de auto renovação, ou seja, são capazes de se multiplicar, mantendo seu estado
indiferenciado, o que proporciona uma reposição ativa de sua população de maneira
constante nos tecidos; e, possui também, a capacidade de se diferenciar em diversos
tipos celulares. Desta forma, acredita-se que células tronco presentes nos diferentes
tecidos tenham papel regenerativo quando estes sofrem uma lesão ou injúria.
Atualmente tem aumentado o número de estudos que envolvem a utilização de células
tronco mesenquimais de tecido adiposo (ADSCs) na medicina regenerativa e curativa,
estando o avanço desta terapia ligado à identificação de mecanismos e de moléculas que
controlam e mediam a diferenciação de uma linhagem específica. Entre estas moléculas
está o colágeno, proteína estrutural responsável pelas propriedades mecânicas, forma e
organização tecidual. Dentre os 28 tipos de colágeno, o tipo V (Col V) e o XI são
considerados nucleadores da fibrilogênese e modulam a adesão e proliferação celular.
Além disso, o Col V é altamente expresso em tecido embrionário, sugerindo que ele
possa atuar na interação célula-matriz no remodelamento e reparo de tecidos lesados,
como a cartilagem. Dentre as doenças com acometimento articular, a osteoartrite (OA) é
considerada a artropatia mais comum e, ainda, sem tratamento eficaz, culminando, em
casos avançados, em intervenção cirúrgica. Estudos recentes mostram que as ADSCs
seriam uma alternativa no restabelecimento do tecido cartilaginoso. Por esta razão a
proposta do estudo foi avaliar a resposta das ADSCs, frente ao estímulo com Col V in
vitro, e se o transplante autólogo dessas células poderia apresentar um efeito na
regeneração da cartilagem articular na OA induzida em coelhos. Métodos: Foram
cultivadas ADSCs, derivadas do tecido adiposo de coelhos (CEUA 123/14), estimuladas
com Col V, para a avaliação da síntese dos principais componentes da matriz
cartilaginosa: proteoglicanos e colágeno II. A preservação do fenótipo celular frente ao
estímulo com Col V foi avaliada através da expressão do colágeno dos tipos I, II, III,
CD34 e vimentina e dos genes COL2A1, ACAN e POU5F1. Os animais (n=24) foram
submetidos à indução de OA, por meniscectomia parcial, e divididos nos grupos: OA
(n=8), sem tratamento; OA/ADSCs (n=8), tratado com injeções mensais de ADSCs, e
OA/ADSCs/V (n=8), tratado com injeções mensais de ADSCs, estimuladas
previamente com Col V. As articulações foram coletadas após 22 semanas,
descalcificadas e coradas com Hematoxilina e Eosina para histomorfometria da
celularidade e espessura da cartilagem, perda de proteoglicanos pela Safranina O/Fast
green e imunomarcação para colágeno II e Fas-L, usando o software Image Pro-Plus
6.0®. Resultados: As células estimuladas com Col V apresentaram-se negativas para
colágeno I, III e CD34 e positivas para vimentina, colágeno total e proteoglicanos in
vitro. Ainda, foi obtido um aumento significativo da expressão de colágeno II e dos
genes COL2A1 e ACAN e a expressão de POU5F1 não foi significativa após estímulo.
A análise morfológica da cartilagem indicou aumento da quantidade de condrócitos, da
espessura da cartilagem e diminuição da perda de proteoglicanos nos grupos
OA/ADSCs/V e OA/ADSCs, em relação ao grupo OA. Também foi observado um
aumento da quantidade de colágeno II e diminuição de condrócitos apoptóticos no
grupo OA/ADSCs/V. Conclusão: O Col V atua como mediador da condrogênese in
vitro, estimulando colágeno II e proteoglicanos, além de aumentar a expressão dos
genes COL2A1 e ACAN. A terapia com ADSCs estimuladas com Col V atenuou
significativamente o processo osteoartrítico em coelhos, sugerindo uma nova
perspectiva para o tratamento da OA.
Descritores: células-tronco; colágeno tipo V; osteoartrite; coelhos; cartilagem;
técnicas de cultura de células.
ABSTRACT
Cruz ICB. Therapeutic effect of the administration of mesenchymal stem cells
stimulated with collagen V in the articular cartilage of rabbits with osteoarthritis
[Dissertation]. São Paulo: "Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo"; 2017.
Introduction: Stem cells are undifferentiated cells that are capable of self-renewal, that
is, they are capable of multiplying maintaining their undifferentiated state, which
provides an active replacement of their population in a constant way in the tissues; stem
cells also have the ability to differentiate into several cell types. Thus, it is believed that
stem cells present in tissues have a regenerative role when they suffer an injury. The
number of studies involving the use of adipose-derived stem cells (ADSCs) in
regenerative medicine has increased and the progress of this therapy is link to the
identification of mechanisms and molecules that control and mediate the specific
lineage’s differentiation. Collagen is among these molecules and it is a structural protein
responsible for the mechanical properties, shape and tissue organization. Among 28
types of collagen, type V (Col V) and XI are considered nucleators of fibrillogenesis
and they modulate cell adhesion and cell proliferation. In addition, Col V is highly
expressed in embryonic tissue, suggesting that it may act on cell-matrix interaction in
remodeling and repair of damaged tissues such as cartilage. Osteoarthritis (OA) is the
most common arthropathy among the diseases with joint involvement and, it has no
effective treatment that results in surgical intervention in advanced cases. Recent studies
show that ADSCs would be an alternative in restoring cartilaginous tissue. Therefore,
the aim of this study was to evaluate the response of ADSCs to the Col V stimulus in
vitro and the effect of these autologous cells on the regeneration of articular cartilage of
rabbits with OA. Methods: ADSCs from rabbit (CEUA 123/14) were cultured with
Col V to evaluate the synthesis of the main components of the cartilaginous tissue as
proteoglycans, collagen type II. The preservation of the cellular phenotype was
evaluated through the collagen I, II, III, CD34 and vimentin expression and COL2A1,
ACAN and POU5F1 genes. Rabbits (n=24) were submitted to OA induction though
partial meniscectomy and divided into the following groups: OA (n=8), without
treatment; OA/ADSCs (n=8), treated with monthly injections of ADSCs and
OA/ADSCs/V (n=8), monthly injections of ADSCs previously treated with Col V.
Joints were collected after 22 weeks, decalcified and stained with H&E for cellular
histomorphometry and cartilage thickness. Safranin O/fast green staining was used for
proteoglycan evaluation and immunostaining for collagen type II and Fas-L expression
using Image Pro Plus 6.0 software. Results: ADSCs stimulated with Col V were
negative for collagen I, III and CD34 and positive for vimentin, total collagen and
proteoglycans in vitro. Furthermore, a significant increase in the expression of collagen
II, COL2A1 and, ACAN genes was obtained, but the POU5F1 gene expression was not
significant after stimulation. Morphological analysis of cartilage indicated increased in
the number of chondrocytes, cartilage thickness, and decrease in loss of proteoglycans
in the OA/ADSCs/V and OA/ADSCs groups, compared to the OA group. In addition,
an increase in the amount of collagen II and decrease of apoptotic chondrocytes in the
OA/ADSCs/V group was observed. Conclusion: Col V acts as a mediator of
chondrogenesis in vitro stimulating collagen II, proteoglycans and COL2A1, ACAN
genes expression. Therapy with Col V-stimulated ADSCs significantly attenuate the
osteoarthritic process in rabbits, suggesting a new perspective for the treatment of OA.
Descriptors: stem cells; collagen type V; osteoarthritis; rabbits; cartilage; cell
culture techniques.
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1 INTRODUÇÃO
1.1 ASPECTOS GERAIS DA OSTEOARTRITE
A osteoartrite (OA) é uma enfermidade que envolve as articulações móveis e
é caracterizada por estresse celular e degradação da matriz extracelular (MEC). O
acometimento das articulações é gerado por micro e macro-lesões, que ativam respostas
de reparação mal adaptativas, incluindo vias pró-inflamatórias da imunidade inata. A
doença manifesta-se pela primeira vez como um desarranjo molecular (metabolismo do
tecido articular anormal) seguido por anatômico, e/ou de distúrbios fisiológicos,
caracterizada pela degradação da cartilagem, remodelação do osso, formação de
osteófitos, inflamação das articulações e perda de função articular normal. Este processo
resulta em danos ou total perda do tecido cartilaginoso, comprometendo suas
propriedades biomecânicas, podendo ser acompanhado de alterações em outras
estruturas articulares, como a sinóvia, menisco, ligamentos, gordura de Hoffa e
músculos periarticulares (1) (2) (3) (4) (5).
Segundo Burgos-Vargas e colaboradores (2014) e estudos feitos de acordo com a
World Health Organization/International League Associations for Rheumatology
Community Oriented Program for the Control of Rheumatic Diseases (COPCORD), a
prevalência da OA no Brasil é de 4,1% (1). Segundo a Sociedade Brasileira de
Reumatologia, 2008, a OA é a artropatia mais frequente, correspondendo a 30-40% dos
casos em ambulatórios de Reumatologia no Brasil, representando 7,5% dos casos totais
de afastamento profissional e com 6,2% é a quarta doença determinante para
aposentadoria.
Clinicamente, o sintoma mais comum da OA é a dor articular e está associada
com a redução da qualidade de vida do paciente, provocando grande impacto na vida
social e em atividades diárias, devido à morbidade decorrente da doença. Com o
aumento da expectativa de vida, há a preocupação de investimento em pesquisas, visto
que esta doença resulta na diminuição da força de trabalho e aumento da aposentadoria
precoce pois compromete, em sua maioria, idosos e pessoas de meia idade (6) (7). Pode-se
ainda mencionar os grandes custos direcionados à reabilitação pela utilização de
próteses, tratamento médico e/ou cirúrgico, hospitalização, incapacitação profissional,
entre outros, caracterizando um impacto socioeconômico significante (8) (9) (10).
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O joelho é a articulação mais comumente afetada pela doença, sendo que a
prevalência é de 1770/100 mil homens e 2693/100 mil mulheres (1). Segundo Palmer e
Goodson (2015), a OA – de joelho - afeta mundialmente cerca de 2,5-7% indivíduos,
com idade entre 45-59 anos e, 7-15% indivíduos com faixa etária entre 60-69 anos (7).
Embora a etiologia da OA seja desconhecida, existem alguns fatores que podem
interferir negativamente para o desencadeamento da doença, sendo considerada uma
condição multifatorial, sistêmica ou local. Os principais fatores sistêmicos incluem pré-
disposição genética, predileção pelo sexo feminino, idade avançada, etnia, fatores
hormonais, metabólicos e nutricionais. Estudos sugerem que a hiperglicemia e a
hipercolesterolemia estão relacionadas ao aumento da frequência e da gravidade da
doença, além disso, a falta de vitaminas C e D também podem contribuir para a
progressão da OA (2) (8) (9) (10) (11) (12). Apesar da predileção pelo sexo feminino, a
prevalência das articulações acometidas, varia de acordo com o sexo, como por
exemplo: o quadril é mais acometido em homens e, em mulheres, observa-se maior
frequência de comprometimento isolado nas mãos e joelhos. A prevalência aumenta
com o avanço da idade, sendo um risco tanto para a OA sintomática quanto radiográfica
(> 40 anos em mulheres e > 50 anos em homens). Adicionalmente, existem estudos
controversos a respeito de fatores hormonais, onde a maioria dos trabalhos sugere que a
osteoporose, doença caracterizada pela perda de massa óssea, apresente efeito protetor
no desencadeamento da OA, visto que, possivelmente, uma maior densidade mineral
óssea está relacionada com o aumento da doença em joelhos, quadril e mãos e, que a
reposição estrogênica não apresenta significância estatística na proteção de joelhos
sobre o desenvolvimento da OA (8) (13)(14).
A obesidade, fraqueza muscular, lesões e sobrecarga articular são fatores
biomecânicos locais que interferem no funcionamento efetivo da articulação.
Considerando-se que a OA de joelho possui uma prevalência de quatro a cinco vezes
maior em indivíduos obesos, além do desenvolvimento precoce de sintomas clínicos e
avanço de OA radiográfica mais grave, muitas vezes por lesões como ruptura do
ligamento cruzado anterior e deformidades adquiridas (ex. displasia acetabular,
displasia do desenvolvimento do quadril, doença de Legg-Calvé-Perthes, entre outras).
Ainda, a ausência de prática de exercícios ou dano articular causado por intensa
atividade física pode levar ao aumento da pressão nas articulações (2) (8) (9) (11) (12) (14).
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A OA pode ser classificada como uma doença primária ou idiopática, quando não
há a identificação de fatores predisponentes ou, secundária, quando existem agentes
locais ou sistêmicos que alteram as características biomecânicas da articulação que
favorecem a perda da função articular, comprometendo seu funcionamento adequado.
Ainda, a OA, primária ou secundária, pode ocorrer de maneira localizada ou
generalizada. A forma localizada corresponde ao acometimento de até dois grupos
articulares, como por exemplo, na OA idiopática localizada pode-se ter o acometimento
de articulações periféricas, como mãos e pés. A forma generalizada se caracteriza pelo
acometimento de três ou mais grupos articulares, sendo que na OA idiopática
generalizada há denominações próprias como, por exemplo, osteoartrose nodal (doença
de Kellegren) e hiperostose esquelética difusa idiopática. A forma secundária da doença
geralmente acomete poucas articulações, como as que suportam carga, entre elas:
joelhos, coxofemorais e coluna vertebral (8) (11) (14).
Além da dor, é bastante comum o paciente apresentar rigidez matinal de curta
duração, limitação de movimento e, em estágio avançado da doença, instabilidade da
articulação acometida (8).
O padrão de dor, conhecido como mecânico-desencadeado pelo uso da articulação,
é utilizado como diagnóstico diferencial, pois ao contrário do observado em doenças
articulares inflamatórias (ex. artrite reumatoide), a dor aparece com o início do
movimento e tende a melhorar com o repouso. Entretanto, em alguns casos de OA há
inflamação sinovial aguda ou subaguda, caracterizando, eventualmente, dor inflamatória
(8) (14).
Os mecanismos de dor na OA podem ser causados por diversos fatores como
periostite nos locais de remodelamento ósseo, inflamação da sinóvia, microfraturas
subcondrais, aumento da pressão vascular no osso subcondral, compressão de nervos
por osteófitos, distensão da cápsula articular, entre outros (8) (14).
A rigidez matinal de curta duração (menor que 15 minutos) também é um fator que
auxilia no diagnóstico, pois enquanto que na OA ela dura alguns minutos, em doenças
inflamatórias sua duração pode ultrapassar o período de uma hora (8) (14).
Com a progressão da OA, pode haver a limitação de movimento e instabilidade
articular, decorrente de fatores como bloqueio mecânico, causado pela presença de
osteófitos ou corpos livres intra-articulares (8) (14).
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Geralmente, é possível notar o aumento do volume articular, crepitações das
articulações à mobilização, limitação de movimento e atrofia muscular durante o exame
físico do paciente. A alteração do volume articular pode estar associada ao aumento na
quantidade de líquido sinovial (derrame), caracterizando uma sinovite secundária ou,
pela presença de osteófitos. As crepitações são presentes em mais de 90% dos pacientes
com OA de joelhos e resultam da perda do tecido cartilaginoso e da irregularidade das
superfícies articulares opostas; adicionalmente, estas características, junto com a
formação de osteófitos e espasmo ou contratura da musculatura periarticular
comprometem a amplitude de movimento articular. Ainda, o enfraquecimento muscular
está associado às formas mais graves de acometimento de joelho, devido à redução de
mecanismos protetores musculares e instabilidade da articulação (8).
A presença de sinais inflamatórios durante o exame físico é menos frequente, com
pouco edema local e calor e, em alguns casos, acompanhado de derrame intra-articular.
Nas formas mais graves da doença, nota-se a presença de deformidades e subluxação,
resultante da perda do tecido cartilaginoso, colapso do osso subcondral, formação de
cistos/calos ósseos etc (8).
1.2 CARTILAGEM ARTICULAR
1.2.1 Constituição da cartilagem articular
A cartilagem articular, ou cartilagem hialina, é um tecido denso e avascular, cuja
principal função é absorver e dissipar as cargas mecânicas nas articulações. Sua nutrição
é mediada por forças mecânicas (movimento), que permitem a passagem de substâncias,
por difusão, do líquido sinovial. Este tecido é constituído por aproximadamente 5% de
células, denominadas condrócitos, que são responsáveis pela síntese e manutenção da
MEC intersticial, sendo considerado, por esta razão, o centro metabólico deste tecido
(Figura 1) (10) (11) (15).
A MEC intersticial é abundante e basicamente composta por colágeno e
proteoglicanos, as principais macromoléculas, outras proteínas não colagenosas e água.
O colágeno e proteoglicanos representam aproximadamente 10-30% e 5-10%,
respectivamente, do peso seco do tecido. A água representa cerca de 65-85% e, é nela
que estão adsorvidos sais inorgânicos, como o Na+, Ca2+, KCl (Figura 1) (11) (15).
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A cartilagem articular morfologicamente é dividida em zonas: superficial, de
transição, profunda e calcificada, que diferem entre si na orientação e densidade celular,
assim como na distribuição dos proteoglicanos e na organização espacial da rede fibrilar
de colágeno (4) (10) (Figura 2).
A zona superficial ou tangencial é a região periférica, onde ocorre o deslizamento
da articulação e apresenta condrócitos alongados, pequena quantidade de proteoglicanos
e, ao contrário, elevada quantidade de fibras de colágeno, densamente compactadas e
distribuídas paralelamente à superfície. Embora essa região apresente maior quantidade
de condrócitos do que as outras, estes parecem estar metabolicamente inativos, tornando
o reparo tecidual mais difícil neste local (Figura 2) (4) (10) (15).
A zona de transição é caracterizada pela disposição das fibras de colágeno em rede,
com direção oblíqua em relação à superfície, aumento da quantidade de proteoglicanos,
distribuídos de forma homogênea, e por poucos condrócitos, com fenótipo arredondado,
e organelas celulares metabolicamente ativas (ex. retículo endoplasmático granular,
mitocôndria, complexo de Golgi), sugerindo maior capacidade de reparo tecidual
(Figura 2) (4) (10) (15).
A zona profunda possui menor quantidade de condrócitos, uma malha de fibras de
colágeno, perpendicular à superfície articular e com distribuição variável de
proteoglicanos, e pouca quantidade de água. Já a zona calcificada é constituída por uma
matriz mineralizada com cristais de sais de cálcio, condrócitos escassos e hipertróficos
e, uma quantidade reduzida de proteoglicanos. A zona calcificada é separada da
profunda por uma zona ou linha basófila, denominada linha de crescimento, limite entre
o osso subcondral e a cartilagem hialina, ancorando-a firmemente ao osso e
contribuindo para a resistência da interface cartilagem/osso (Figura 2) (4) (10) (15).
6
Figura 1 – Representação esquemática da cartilagem articular.
(A) Organização dos principais componentes da cartilagem articular da superfície à
interface com o osso subcondral. (B) Articulação de joelho, mostrando a cartilagem
articular recobrindo o osso subcondral do fêmur e da tíbia.
Figura 2 – Representação tridimensional da cartilagem articular e divisão histológica.
Imagem tridimensional (à esquerda) das zonas da cartilagem articular (superficial,
transição, profunda e calcificada) e da linha de crescimento. À direita esquema
representativo da organização dos condrócitos, colágeno e proteoglicanos nas diferentes
zonas da cartilagem articular hialina. Adaptado de Hardin e col., 2015 (16).
7
1.2.2 Colágeno
O colágeno inclui uma família de glicoproteínas constituintes da MEC, importantes
na manutenção da integridade estrutural e funcional dos tecidos, conferindo resistência
aos mesmos, além de interagir e regular a proliferação, migração e diferenciação celular
(17).
Atualmente são descritos 28 tipos de colágeno (Tabela 1), nomeados com
algarismos romanos (I-XXVIII) em ordem cronológica de descoberta. De acordo com a
sua estrutura molecular e função, o colágeno é classificados em vários grupos: fibrilar,
reúne os tipos de colágeno formadores de fibrilas (I, II, III, V, XI, XXIV, XXVII);
associados a fibrilas, com tripla-hélice-interrompida (FACIT) (IX, XII, XIV, XVI, XIX,
XX, XXI, XXII); formadores de rede (IV, VIII, X); filamentos frisados (VI, XXVI,
XXVIII); de ancoragem (VII); transmembrana (XIII, XVII, XXIII, XXV) e tríplice
hélice com múltiplos domínios (MULTIPLEXINS) (XV, XVIII) (Tabela 2) (17) (18) (19).
As moléculas de colágeno apresentam três cadeias polipeptídicas, denominadas
cadeias α, com tamanho variável entre 662 até 3152 aminoácidos, entrelaçadas em
forma de tripla hélice. Estas cadeias são formadas por uma série de repetições da
sequência de Gly-X-Y, sendo Gly, glicina e X e Y geralmente prolina e 4-
hidroxiprolina, respectivamente, que atribuem alto grau de estabilidade à molécula. As
cadeias polipeptídicas podem ser homotrímeras, quando as três cadeias α são idênticas
ou heterotrímeras, quando a composição das cadeias α diferem entre si, sendo estas as
mais frequentes (17) (19) (20).
As pontes de hidrogênio intercadeia conferem às moléculas de colágeno uma
alta estabilidade, rigidez e aspecto em forma de bastão. Ainda, o colágeno apresenta em
sua composição duas regiões: uma fibrilar ou domínio colagenoso (DC), caracterizada
pelo arranjo helicoidal das três cadeias polipeptídicas, e a não fibrilar ou domínio não
colagenoso (NC), que não possui o arranjo tripla hélice helicoidal, podendo apresentar-
se com disposição globular em alguns tipos de colágeno (Figura 3). As extensões
terminais NC, definidas por sequências adicionais de 15 a 20 aminoácidos, são
denominadas N (amino, NH2) -propeptideo e C (carboxi, COOH) -propeptideo. O N-
propeptideo exibe dados importantes para a regulação final do diâmetro das fibrilas de
colágeno e, o domínio C-propeptideo apresenta informações essenciais para a formação
da tríplice hélice (11) (19).
8
A biossíntese do colágeno é mais estudada nos colágenos fibrilares. Estes são
sintetizados no retículo endoplasmático granular na forma de moléculas de pró-
colágeno, formadas por um N-propeptídeo terminal, seguido por um curto N-
telopeptídeo não helicoidal, uma tripla hélice central, um C-telopeptídeo e um C-
propeptídeo terminal. Essas moléculas de pró-colágeno são alinhadas no complexo de
Golgi e secretadas na MEC. Em geral, após secreção na matriz extracelular, os N-
propeptídeos e C-propeptídeos terminais são removidos das cadeias alfa pelas N- e C-
procolagenases, resultando em uma molécula nativa de tripla hélice, com dimensões
aproximadas de 300nm de comprimento e 1.5nm de diâmetro (Figura 3; Figura 4). No
processo de fibrilogênese, as moléculas de colágeno agregam-se segundo uma
orientação cabeça-cauda, formando as fibrilas de colágeno (18) (21) (22). Essas apresentam
um padrão de bandeamento com uma periodicidade (D) que varia de 64nm a 67nm e,
quando analisadas por microscopia eletrônica de transmissão, revelam a presença
característica de bandas claras e escuras (Figura 4) (23).
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Tabela 1 - Tipos de colágenos, genes e estrutura molecular.
Tipos de colágeno Genes Estrutura molecular Outros
Tipo I COL1A1, COL1A2 α1(I)2α2(I)
α1(I)3
Tipo II COL2A1 (A, B) α1(II)3 Splicing alternativo
Tipo III COL3A1 α1(III)3
Tipo IV COL4A1, COL4A2,
COL4A3, COL4A4,
COL4A5, COL4A6
α1(IV)2α2(IV)
α3(IV)α4(IV)α5(IV)
α5(IV)2α6(IV)
Tipo V COL5A1, COL5A2,
COL5A3
α1(V)2α2(V)ª
α1(V)3
α1(V)α2(V)α3(V)
Splicing alternativo
Tipo VI COL6A1, COL6A2,
COL6A3, COL6A4,
COL6A5, COL6A6
α1(VI)α2(VI)α3(VI)
α1(VI)α2(VI)α4(VI)
α1(VI)α2(VI)α5(VI)
α1(VI)α2(VI)α6(VI)
Splicing alternativo
Tipo VII COL7A1 α1(VII)3
Tipo VIII COL8A1, COL8A2 α1(VIII)α2(VIII)
α1(VIII)3
α2(VIII)3
Tipo IX COL9A1, COL9A2,
COL9A3
α1(IX)α2(IX)α3(IX)3 Splicing alternativo
Tipo X COL10A1 α1(X)3
Tipo XI COL11A1(A,B,C),
COL11A2,
COL2A1(A)b
α1(XI)α2(XI)α3(XI) Splicing alternativo
Tipo XII COL12A1 α1(XII)3 Splicing alternativo
Tipo XIII COL13A1 α1(XIII)3 Splicing alternativo
Tipo XIV COL14A1 α1(XIV)3 Splicing alternativo
Tipo XV COL15A1 α1(XV)3
Tipo XVI COL16A1 α1(XVI)3
Tipo VXII COL17A1 α1(XVII)3
Tipo XVIII COL18A1 α1(XVIII)3 Splicing alternativo
Tipo XIX COL19A1 α1(XIX)3
Tipo XX COL20A1c α1(XX)3
Tipo XXI COL21A1 α1(XXI)3
Tipo XXII COL22A1 α1(XXII)3
Tipo XXIII COL23A1 α1(XXIII)3
Tipo XXIV COL24A1 α1(XXIV)3
Tipo XXV COL25A1 α1(XXV)3 Splicing alternativo
Tipo XXVI COL26A1 α1(XXVI)3
Tipo XXVII COL27A1 α1(XXVII)3
Tipo XXVIII COL28A1 α1(XXVIII)3
Adaptado de Mecham, 2011 (24).
a α1(XI) e α2(V) tem sido mostrados como formas heterotrímeras b A cadeia alfa é conhecida como α3(XI) quando montado como colágeno tipo XI c Frango, humano não foi descrito
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Tabela 2 – Classificação dos tipos de colágenos e estrutura supramolecular.
Classificação Tipos de colágeno Estrutura supramolecular
Colágenos fibrilares I, II, III Fibrilas estriadas
Reguladores de diâmetro
de colágenos fibrilares
V, XI
XXIV, XXVII
Fibrilas estriadas, retem o
domínio N-terminal, não
colagenoso, regulatório
Desconhecida
Colágenos FACITª IX, XII, XIV Associados à fibrilas, outras
interações
Colágenos similares a
FACIT
XVI, XIX, XXI, XXII Região interfacial, zonas de
membrana basal
Colágenos de membrana
basal
IV Rede em forma de arame
com associação lateral
Colágenos que formam
filamentos
VI Filamentos anelados, rede
Fibrilas de Ancoragem VII Dímeros antiparalelos
associados lateralmente
Colágenos formadores de
rede
VIII, X Reticulados hexagonais
Colágenos transmembrana XIII, XVII, XXIII, XXV
Gliomedinas, ectodisplasina
Transmembrana e domínios
ecto solúveis
Colágenos múltiplos
(endostatina-XV e XVIII)
XV, XVIII Proteoglicanos de membrana
basal, domínios C-terminal
clivados influenciadores da
angiogênese
Outras moléculas com
domínios colagenosos
XXVI, XXVIII
C1q, colectinas,
acetilcolinesterase,
adiponectina, proteína
surfactante e outros
Domínios colagenosos em
moléculas não colagenosas
Adaptado de Mecham, 2011 (24)
a Colágenos associados à fibrilas com tripla hélice interrompida
11
Figura 3 – Esquema ilustrativo da estrutura molecular de colágeno fibrilar. Estrutura molecular de um colágeno fibrilar, mostrando a região fibrilar em tripla hélice e as
porções terminais amina (N)- e carboxi (C)-propeptideos. Após secreção na matriz extracelular,
a maioria dos colágenos fibrilares perde os domínios terminais, devido à ação das enzimas N- e
C-procolagenases. Adaptado de Gelse, 2003 (18).
Figura 4 – Diagrama esquemático da biossíntese dos colágenos fibrilares.
Biossíntese de colágeno fibrilar, como os tipos I, II e III. Esquema (à esquerda)
mostrando a síntese do pró-colágeno no retículo endoplasmático granular, o
alinhamento no aparelho de Golgi e secreção no espaço extracelular, onde os N- e C-
propeptídeos terminais são clivados, formando as moléculas de colágeno. No processo
de fibrilogênese, as moléculas de colágeno agregam-se segundo uma orientação cabeça-
cauda (à direita), formando fibrilas de colágeno com dimensões aproximadas de 300nm
de comprimento e 1.5nm de diâmetro e um padrão de bandeamento com periodicidade
que varia de cerca de 67nm. Adaptado de Brückner , 2010 (23).
12
1.2.3 Colágeno na cartilagem articular
Na matriz cartilaginosa, o colágeno é produzido pelos condrócitos e corresponde
a cerca de 60% do peso seco tecidual. O colágeno dos tipos II, IX e XI são os principais
constituintes das fibrilas heterotípicas na cartilagem articular; no entanto, outros tipos
de colágeno podem ser encontrados, como III, VI, X, XII e XIV (4) (10) (15) (25).
O tipo II é um colágeno fibrilar, apresenta-se na forma homotrímera, com três
cadeias α1(II), com cerca de 300nm de comprimento e, é o mais abundante na
cartilagem articular, correspondendo a cerca de 75% do colágeno total na cartilagem
fetal e 80-95% no adulto (Figura 5). O colágeno do tipo II interage com proteoglicanos
presentes na MEC, através das suas cadeias α, que possuem maior quantidade de
hidroxilisina (Hyl) e resíduos glucosil-galactose (18).
O tipo IX é do grupo dos FACIT e heterotrímero, constituído de três cadeias α
diferentes: α1(IX),α2(IX),α3(IX). Todas as cadeias contêm três domínios colagenosos
tripla hélice (COL1, COL2, COL3), separados por domínios não colagenosos (NC1,
NC2, NC3 e NC4), que formam uma estrutura retilínea com cerca de 190 nm de
comprimento (26) (Figura 5). Este colágeno apresenta-se associado à superfície das
moléculas de colágeno II e XI, através de ligações covalentes. Sugere-se que o colágeno
IX auxilie na ligação das fibrilas de colágeno II com outros componentes da MEC,
particularmente os glicosaminoglicanos que possuem carga negativa, através de seu
domínio catiônico NC4 da cadeia α1(IX). Em alguns tecidos este domínio é ausente e
seu domínio NC3 da cadeia α2(IX) pode ser substituído por sulfato de condroitina,
propondo-se desta forma, que o colágeno IX poderia ser considerado um proteoglicano
(Figura 5). Na cartilagem embrionária o colágeno IX representa aproximadamente 10%
do colágeno total, enquanto que na adulta apenas de 1-5% (4) (15) (19) (27).
O colágeno do tipo XI é fibrilar e heterotrímero, com as três cadeias α diferentes
[α1(XI),α2(XI),α3(XI)]. Na cartilagem embrionária encontra-se numa proporção de
cerca de 10% e na cartilagem adulta aproximadamente 3%. Durante a biossíntese, o
colágeno XI difere de outros colágenos fibrilares, pois preserva o domínio globular
amino-terminal (-NH2 terminal). Este se localiza no interior das fibrilas de colágeno II e
regula o diâmetro da fibrila heterotípica da cartilagem, através do domínio -NH2
terminal que se encontra voltado para o exterior, impedindo fisicamente a ligação
adicional de outras moléculas de colágeno II (Figura 6). Esta característica do colágeno
13
XI é muito importante, pois assegura a formação de fibrilas de colágeno finas no tecido
cartilaginoso (4) (11) (15) (19).
Os outros colágenos presentes na cartilagem articular, embora não específicos
deste tecido, estão em menor proporção, mas não são menos importantes. O colágeno
do tipo VI não é fibrilar, possui três cadeias α distintas [α1(VI),α2(VI),α3(VI)], e é o
mais caracterizado. Este encontra-se predominantemente em fibrocartilagem (ex.
menisco), na matriz pericelular ao redor dos condrócitos e interage com diversas
moléculas, como colágeno dos tipos I, II, IV, XIV, glicoproteínas associadas à
microfibrilas (MAGP-1), decorina, heparina, fibronectina, entre outros, além de
associar-se à fibrilas formando filamentos (18) (24) (25). O colágeno do tipo X,
homotrímero, com três cadeias α1(X), foi identificado em filamentos e associado às
fibrilas de colágeno do tipo II na cartilagem embrionária. Ainda, o tipo X é considerado
um colágeno cartilagem-específico, devido à sua localização estar restrita a cartilagens
hipertróficas adultas; desta forma, apesar de sua função não estar bem estabelecida, ele
parece estar relacionado ao processo de calcificação na parte inferior da zona
hipertrófica (15) (24). Adicionalmente, pouca quantidade de colágeno do tipo III,
homotrímero [α1(III)3], também foi identificado na cartilagem articular em associação
às fibrilas de colágeno do tipo II (4).
14
Figura 5 – Ilustração da estrutura molecular do colágeno do tipo IX.
Esquema mostrando a estrutura molecular do colágeno tipo IX. Este colágeno apresenta
três cadeias alfa diferentes [α1(IX),α2(IX),α3(IX)], as quais apresentam domínios
colagenosos tripla hélice (COL1, COL2, COL3), separados por domínios não
colagenosos (NC1, NC2, NC3 e NC4), que formam uma estrutura retilínea com cerca
de 190 nm de comprimento. No domínio NC3 da cadeia α2(IX) encontra-se um sulfato
de condroitina. O colágeno IX liga-se à superfície de moléculas de colágeno tipo II,
através de ligações covalentes. Adaptado de Mwale e col, 2001 (28).
15
Figura 6 – Modelo da fibrila heterotípica de colágeno na cartilagem.
(A) Esquema mostrando o colágeno tipo XI (em azul) no interior das fibrilas de
colágeno II. Diferentemente de outros colágenos fibrilares, o tipo XI retém o domínio
N-propeptideo terminal, que durante a fibrilogênese encontra-se voltado para o exterior.
O colágeno IX, na superfície da fibrila está representado em verde. (B) Esquema
tridimensional da fibrila heterotípica de colágeno II/XI/IX. Adaptado de Fang e col.,
2012 (29).
1.2.4 Proteoglicanos na cartilagem articular
Na cartilagem articular o proteoglicano prevalente é o agrecano. Este, forma os
agregados de agrecanos, os quais são complexos de glicosaminoglicanos (GAG) e
proteínas, com peso molecular de aproximadamente 2,5 milhões de daltons. O agregado
é constituído de um filamento central de ácido hialurônico (AH) no qual, proteínas de
baixo peso molecular, denominadas proteínas de ligação, permitem a ligação covalente
entre o AH e monômeros de agrecano (Figura 7 A) (11) (15). Por sua vez, cada monômero
de agrecano é formado por GAG, polímeros lineares de dissacarídeos com resíduos
sulfato, altamente aniônicos, os quais se ligam perpendicularmente ao eixo de uma
proteína central (Figura 7 A). No tecido cartilaginoso os GAG sulfatados mais
frequentes são o sulfato de condroitina (60-90% do volume total de GAG na cartilagem
articular) e o sulfato de queratano (5-20%) (4) (11).
16
Os GAG altamente sulfatados são os responsáveis pelas propriedades
hidrofílicas dos agregados de agrecano. A grande quantidade de grupos carregados
negativamente (sulfato e carboxilato) nos GAG tende a repelir um ao outro e expandir o
agregado. Ainda, estas cargas aniônicas atraem íons com carga positiva, como Na+, K+,
Ca2+, e consequentemente, o grande número de íons cria uma pressão osmótica, a qual
permite a entrada de fluido no tecido (Figura 7 B). O volume distendido dos
proteoglicanos exerce uma força de tensão sobre a rede de colágeno, portanto o grau de
hidratação da cartilagem é dependente de duas forças opostas: a pressão osmótica total
(inchaço) exercida pelos proteoglicanos e a força restritiva à tração da rede de colágeno.
Considerando que a cartilagem articular é um tecido avascular, o fluxo de água é
importante para carregar nutrientes através da matriz até os condrócitos e eliminar
metabólitos celulares.
Na cartilagem articular também estão presentes proteoglicanos de baixo peso
molecular, não agregados, como o biglicano, decorina, fibromodulina e lumicano que
participam na adesão, estabilização e modulam o metabolismo do tecido (15).
17
Figura 7 – Ilustração do agregado de agrecano.
(A) Esquema mostrando a organização de um agregado de agrecano. Os agrecanos são
formados por glicosaminoglicanos sulfatados (sulfato de condroitina e sulfato de
queratano) ligados a uma proteína central. Os agrecanos ligam-se a uma longa molécula
de ácido hialurônico por proteínas de ligação. (B) A grande quantidade de cargas
negativas dos agrecanos geram uma força de repulsão entre eles. Ainda, o grande
número de cargas negativas atrai cátions, como Na+, Ca2 e K+, que por sua vez
impulsionam a entrada de fluido para o interior da cartilagem.
18
1.2.5 Histoarquitetura e homeostase da cartilagem articular
A organização, distribuição e proporção das macromoléculas e micromoléculas
são os responsáveis pelas características e propriedades da cartilagem articular. A matriz
que circunda os condrócitos é organizada em regiões definidas pela sua distância da
célula. A pericelular, imediatamente ao redor da célula, é a região onde as moléculas
interagem imediatamente com os receptores celulares, como por exemplo o ácido
hialurônico que se liga ao CD44 da célula. Esta região é constituída principalmente por
colágeno XIII, fibrilas heterotípicas de colágeno II e XI, moléculas com função adesiva,
como fibronectina, sindecano e condroaderina. Próximo à matriz pericelular, mas
ligeiramente mais distante da célula encontra-se a matriz territorial, constituída
principalmente por grandes agregados de agrecanos, colágeno tipo VI, pró-colágeno
tipo II, e outras moléculas como matrilina tipo 1 e matrilina 3, biglicano, decorina e
fibulina. Na região mais distante da célula, encontra-se a região interterritorial,
composta basicamente por fibrilas heterotípicas de colágeno II, XI e IX e grandes
agregados de agrecanos; e, nesta região as moléculas com função adesiva são
basicamente as proteínas oligoméricas da matriz cartilaginosa (COMP), fibromodulina e
matrilina tipo 3 (Figura 8). Os tipos de colágeno e as moléculas que se ligam ao
colágeno são diferentes em cada região (30).
A organização celular, das fibrilas de colágeno e composição dos constituintes
da MEC apresentam distribuição diferentes nas regiões da cartilagem, de modo a
garantir a integridade, estabilidade e propriedades do tecido cartilaginoso (Figura 9).
As fibrilas de colágeno são as principais responsáveis pela forma e resistência do
tecido cartilaginoso e os agregados de proteoglicanos pela auto-lubrificação. Ainda, as
características hidrofílicas dos agregados de proteoglicanos, junto com a resistência
exercida pela malha de fibras de colágeno, asseguram as propriedades biomecânicas da
cartilagem articular de compressibilidade, elasticidade e resiliência, as quais promovem
a resistência tecidual para dispersar e atenuar as forças de impacto sofridas nas
articulações móveis (4) (11).
A carga mecânica é necessária para a homeostase da cartilagem. O movimento
entre a cartilagem e o fluido sinovial, desempenha um papel importante na difusão de
moléculas através da cartilagem e facilita sua nutrição (31).
19
A integridade do tecido cartilaginoso depende de uma lenta reposição dos
componentes da MEC, que ocorre de modo a garantir adequada homeostase tecidual. O
condrócito é dotado de um arsenal enzimático que age sobre o colágeno e os
proteoglicanos, de modo a promover uma degradação tecidual localizada e controlada,
para dar lugar à síntese de novas moléculas quantitativa e qualitativamente adequadas às
necessidades biomecânicas do momento. Trata-se de um mecanismo fisiológico de
adaptação e renovação tecidual.
O condrócito sofre a ação reguladora de dois tipos de mediadores: os pró-
catabólicos (citocinas) e os pró-anabólicos (fatores de crescimento) que, através de
liberação parácrina e/ou autócrina, podem promover junto ao condrócito a ativação de
mecanismos para a degradação tecidual, mediada por enzimas e seus inibidores, e para a
regeneração da cartilagem, via multiplicação celular e síntese dos elementos da MEC
(32).
A estimulação mecânica captada pelos receptores dos condrócitos, que inclui
integrinas, sindecans e canais iônicos, tem efeitos sobre o anabolismo e catabolismo,
aumentando a quantidade de agrecanos e diminuindo a expressão de enzimas de
degradação (33). Além disso, a carga mecânica cíclica de baixa intensidade nos
condrócitos inibe as citocinas pró-inflamatórias, a interleucina 1 (IL-1) e o fator de
necrose tumoral alfa (TNF-α) (34).
20
Figura 8 – Tipos de matriz e seus componentes.
A matriz cartilaginosa ao redor condrócitos na cartilagem nomal está organizada em
zonas definidas, de acordo com a distância do condrócito. A matriz pericelular localiza-
se imediatamente ao redor da célula. Após a matriz pericelular encontra-se a territoreal e
depois a interterritoreal. Os tipos de colágeno e as proteínas que se ligam ao colágeno
formam matrizes diferentes em cada zona. Adaptado de Heinegård D e Saxne T, 2011 (30).
21
Figura 9 – Cartilagem hialina corada com Hematoxilina-Eosina (H&E) e esquema
representativo da morfologia e estrutura nas suas diferentes zonas.
Adaptado de Di Bella, 2015 (35).
1.3 CARTILAGEM OSTEOARTRÍTICA
Embora a etiologia da OA não seja conhecida, sabe-se que ocorre uma
disparidade do processo de síntese e degradação dos elementos da MEC causando um
comprometimento das propriedades físico-químicas do tecido cartilaginoso (14).
Entende-se que a resposta à injúria tecidual é uma tentativa de reparo ineficiente,
em que os condrócitos, responsáveis pelo turnover da cartilagem, por meio de
mediadores pró-catabólicos (citocinas) e pró-anabólicos (fatores de crescimento),
sintetizam e secretam enzimas que degradam componentes da MEC, principalmente
colágenos e proteoglicanos (14) (36).
Na fase inicial da OA há uma proliferação dos condrócitos assim como uma
produção aumentada de componentes da MEC e de citocinas catabólicas, numa tentativa
inicial de reparo tecidual. Consequentemente, ocorre a degradação de colágeno do tipo
II e proteoglicanos na zona superficial, ocasionando a dissociação de moléculas de água
dos proteoglicanos, diminuição da resistência à tração, que caracteriza o aumento do
22
volume de água tecidual. Apesar de ocorrer um aumento na síntese de colágeno II, o
reparo tecidual é limitado e ineficiente, pois os condrócitos não conseguem reestruturar
a histoarquitetura da cartilagem articular e alteram o padrão de expressão gênica de
constituintes da MEC (15) (36).
Posteriormente, na tentativa de restaurar o tecido lesionado, os condrócitos
aumentam a síntese de colágeno do tipo II; entretanto, a histoarquitetura das fibrilas de
colágeno não é restaurada de modo adequado a manter as características biomecânicas
do tecido. Desta forma, a rede de colágeno não resiste ao aumento do volume dos
proteoglicanos, contribuindo para a hiper-hidratação da cartilagem articular.
Concomitantemente os proteoglicanos, principalmente o agrecano, são degradados por
agrecanases e metaloproteinases (MMPs – matrix metalloproteinases). Quando isso
ocorre, o tecido cartilaginoso sofre com a compressão e, consequentemente, os
condrócitos sintetizam altos níveis de proteases, agravando o quadro de degeneração.
Em consequência destes processos ocorre a perda de água da MEC, alteração da
membrana sinovial, remodelação do osso subcondral e formação de osteófitos, pois a
degradação do tecido cartilaginoso é constante e, os condrócitos, responsáveis pela
síntese, secreção e manutenção da mesma, não conseguem restabelecer as condições
normais na mesma proporção (4) (15).
O processo contínuo de degradação causado por uma desproporção entre síntese
e degradação da MEC é reforçado pelo desequilíbrio entre MMPs e seus respectivos
inibidores (TIMPs – tissue inhibitor of metalloproteinases) já que esses também
encontram-se aumentados no líquido sinovial e no tecido cartilaginoso em pacientes
com OA (36).
O catabolismo aumentado da MEC, característico do processo degenerativo
articular, é mediado por diversos fatores como proteases e fatores inflamatórios (Figura
10). As MMPs são consideradas enzimas importantes envolvidas na evolução da OA e
são classificadas de acordo com sua localização celular e especificidade para o
substrato. Na OA a MMP-1 e MMP-13 são altamente expressas, sendo a primeira
localizada na zona superficial e relacionada à fase inflamatória e, a última na zona
profunda, associada à fase de remodelamento degradando colágeno do tipo II e
proteoglicanos. Além disso, a MMP-13, considerada importante no turnover da
cartilagem, age no colágeno do tipo IX e ativa a proMMP-1 (15) (12) (36). As agrecanases
23
são expressas na zona superficial e embora ocorra síntese de mais agrecanos, estes são
posteriormente encontrados no líquido sinovial com a evolução da OA (15).
A MMP-9 (gelatinase B) é encontrada somente na cartilagem osteoartrítica e age em
colágeno IV e V e gelatins (colágenos previamente digeridos por MMPs) (15).
A IL-1β, sintetizada pelos condrócitos e fibroblastos da sinóvia, é considerada o
mais importante fator inflamatório associado ao processo catabólico da OA, pois possui
a propriedade de estimular sua própria produção e de aumentar a síntese de MMPs,
assim como bloquear a ação dos inibidores de MMPs, as TIMPs e inibir a síntese de
colágeno e proteoglicanos. Em condições normais, a IL-1β é importante no turnover da
MEC. Dentre outras citocinas pró-inflamatórias, o TNF-α, sintetizado pelos condrócitos
e membrana sinovial, também é importante no mecanismo da OA e tem seu potencial de
degeneração aumentado quando associado a IL-1 (12) (14) (15) (36) (37).
Adicionalmente, também estão envolvidos no processo catabólico de degradação
tecidual os fatores de crescimento. Embora eles sejam polipeptídeos que atuam na
manutenção do tecido cartilaginoso, protegendo-o de danos causados por movimentos
repetitivos, lesões e/ou inflamação e estão presentes em baixos níveis na cartilagem
articular saudável, eles apresentam um efeito dúbio. Os mais caracterizados e
relacionados à manutenção e formação do tecido cartilaginoso são TGF-β (transforming
growth factor beta), BMPs (bone morphogenic proteins), HGF (hepatocyte growth
factor), FGF (fibroblast growth factor), CTGF (connective-tissue growth factor), IGFs
(insuline-like growth factors) e CDMPs (cartilage-derived morphogenic proteins) (15).
O TGF-β é um fator de crescimento versátil, com desempenho pró e anti-
inflamatório, relacionado à síntese de MEC e proliferação celular, além de aumentar a
síntese de proteoglicanos e anular a ação da IL-1β na supressão da síntese de
proteoglicanos. Sabe-se que o TGF-β pode mediar a proteção do tecido cartilaginoso,
via inibição de MMP-9 e MMP-1 e atuar no processo de degradação, via condrócitos
pela síntese de MMP-13 e ADAMTS-4, sendo considerado um fator importante no
desencadeamento da OA. Durante a formação óssea e cartilaginosa o TGF-β, assim
como a BMP-2, estimula a diferenciação de células mesenquimais em linhagens
condrogênica e osteogênica. Já foi evidenciado in vitro que o TGF-β estimula e inibe a
produção de colágeno do tipo II e de proteoglicanos, assim como ele pode atuar na
inibição de proteases e estimular a produção de TIMPs e, ter uma ação contrária,
estimulando a produção de MMP-13. Altos níveis de TGF-β foram constatados no
24
líquido sinovial de pacientes com OA e com artrite reumatoide e estudos in vivo
mostraram que injeções intra-articulares de TGF-β promoveram a síntese de
proteoglicanos e tiveram ação protetora contra a ação da IL-1 mas levaram à formação
de osteófitos e, após muitas aplicações desse polipeptídeo houve diminuição
significativa de proteoglicanos na zona profunda da cartilagem (12) (15) (36).
As BMPs favorecem a síntese de MEC e crescimento dos condrócitos, atuando no
reparo de manutenção tecidual e, também estão presentes em pouca quantidade na
cartilagem normal. As BMPs dos tipos 2, 4, 6, 7, 9 e 13 parecem aumentar a síntese de
colágeno do tipo II e agrecanos. Com o desenvolvimento da OA, a BMP-2 apresenta-se
aumentada e, assim como o TGF-β, a BMP predispõe a formação de osteófitos, mas por
vias diferentes (15).
Embora a OA não seja considerada uma doença inflamatória propriamente dita,
sabe-se que existe uma relação entre o processo inflamatório e alterações estruturais da
doença. Avaliações imunohistoquímicas mostram que há infiltrado inflamatório na
sinóvia, com a presença, principalmente, de TNFα e IL-1 e que, os macrófagos e
fibroblastos sinoviais em associação com os condrócitos ativados, medeiam a
fisiopatologia da OA (12) (36). Sabe-se que os condrócitos sintetizam diversos mediadores
inflamatórios e esta ação catabólica parece estar relacionada com à influência de fatores
presentes no líquido sinovial (12).
25
Figura 10 – Ilustração da cartilagem articular saudável e afetada pela Osteoartrite.
Degradação da cartilagem articular. Desenho esquemático (à esquerda) de uma
articulação com cartilagem, sinóvia e osso subcondral normais e com OA. Em maior
aumento, observa-se as alterações nas estruturas da cartilagem com OA, como erosão da
cartilagem, esclerose do osso subcondral e formação de osteófitos decorrentes da
ativação dos condrócitos por citocinas, produção de MMPs, e outros fatores catabólicos,
além da ação de fatores pró-inflamatórios provenientes das células da sinóvia e citocinas
e fragmentos da MEC cartilaginosa que liberados no fluido sinovial aumentam a
sinovite. Adaptado de Lee e col, 2013 (9).
1.4 ASPECTOS GERAIS DA TERAPEUTICA NA OSTEOARTRITE
O tratamento da osteoartrite ainda é consideravelmente limitado. A
Osteoarthritis Research Society International (OARSI), uma das principais agências
mundiais para o estudo e estabelecimento de recomendações relativas a OA, assinala
que existe fraca evidência de que os medicamentos atualmente utilizados tenham
atuação efetiva na progressão da doença. O tratamento consiste em aliviar a dor,
preservar e melhorar a capacidade funcional da articulação, desacelerar o avanço da OA
e possivelmente, regenerar o tecido lesionado, reduzindo a invalidez e aumentando a
qualidade de vida. Tais tratamentos envolvem-se desde a simples orientação
educacional do paciente até o uso de drogas não-farmacológicas, anti-inflamatórias e
analgésicas, modificadoras da doença osteoartrítica (DMOAD), viscossuplementação,
fisioterapia, exercícios, órteses e cirurgia em casos extremos (5).
26
No tratamento da osteoartrite é fundamental que o paciente compreenda a
doença, e aprenda o que deve fazer para evitar danos à articulação. É importante que o
indivíduo elimine os fatores de risco, especialmente o excesso de peso, reduzindo a
sobrecarga mecânica sobre a articulação, exercite-se e, acima de tudo, reconheça a sua
própria responsabilidade no controle do tratamento (8) (14) (37).
Como tratamento sintomático são utilizados medicamentos analgésicos e anti-
inflamatórios não esteroidais (AINE), para alívio da dor e da inflamação articular.
Ainda, medicamentos de uso tópico (cremes, pomadas, spray, etc.) com propriedades
analgésicas e/ou anti-inflamatórias, também são muito utilizados (37).
A infiltração intra-articular com corticóides, ou seja, injeção local dentro da
própria articulação como potente agente anti-inflamatório, pode ser prescrita para alívio
dos sintomas. A administração de corticoide intra-articular (ex. metilprednisolona) é
eficiente quando o paciente apresenta dor aguda, com sinais de derrame intra-articular e
inflamação; no entanto, sua utilização é restrita por comprometer o tecido cartilaginoso
em longo prazo (8) (14) (37).
Fármacos de ação lenta, também são utilizados na terapia medicamentosa, são
fármacos sintomáticos que têm efeito residual após a sua suspensão como: sulfato de
glicosamina e condroitina, cloroquina, entre outros, e, fármacos modificadores de
doença, também conhecidos como condroprotetores, como a diacereína, e ácido
hialurônico intra-articular, cujo propósito é evitar, desacelerar ou reverter a progressão
da OA. Por outro lado, a viscossuplementação com ácido hialurônico é bastante eficaz
no alívio da dor e estimula a produção de ácido hialurônico pela própria articulação,
além de perdurar por até seis meses após sua aplicação (8) (14) (37).
Adicionalmente pode-se associar terapia física, que consiste na aplicação de
calor profundo ou superficial, utilização de gelo/bolsa térmica, estímulo elétrico e/ou
acupuntura ou órteses, que são quaisquer dispositivos que facilitem e auxiliem o
paciente a realizar suas atividades diárias, como: calçados apropriados, palmilhas,
calçadeiras e outros recursos para o realinhamento do eixo mecânico e mudança do
padrão de transferência de carga (8) (14).
Em casos selecionados, refratários ao tratamento clínico, é possível a realização
de procedimentos minimamente invasivos atroscópicos, como a sinovectomia, que
apresenta como objetivo a ressecção de fragmentos livres articulares, podendo também
ser associado a osteotomias, que são procedimentos corretivos do eixo mecânico.
27
Finalmente são prescritas as artroplastias com implantes metálicos, que são reservadas
somente para os casos mais avançados da doença (8) (14) (37).
Devido às dificuldades terapêuticas citadas acima, o baixo potencial de
regeneração da cartilagem articular e a progressão das lesões articulares, as células
tronco mesenquimais (MSCs – Mesenchymal stem cells) estão atualmente sob
investigação clínica para indicação como tratamento alternativo da OA (3) (38) (39).
1.5 CÉLULAS TRONCO MESENQUIMAIS
As células tronco são células indiferenciadas que possuem duas importantes
características: a de auto renovação e a de diferenciação celular; sendo esta última,
determinante para a sua classificação em células tronco totipotentes, pluripotentes,
multipotentes, oligopotentes ou onipotentes (Figura 11). As células tronco totipotentes
são derivadas do zigoto, capazes de formar todos os tecidos, inclusive
extraembrionários (ex. placenta). As células derivadas da massa celular interna do
blastocisto são pluripotentes, com potencial de se diferenciar em células dos três
folhetos embrionários (ectoderma, mesoderma e endoderma), exceto placenta e cordão
umbilical e são conhecidas como células tronco embrionárias (ESCs – Embryonic stem
cells). As multipotentes possuem habilidade de se diferenciar em vários tipos celulares
do mesmo folheto germinativo. As oligopotentes são células tronco cuja capacidade de
diferenciação é reduzida em células de um mesmo folheto embrionário. Por fim, as
unipotentes limitam-se a um único tipo celular de um determinado folheto embrionário
(40) (41) (42) (43).
28
Figura 11 – Imagem ilustrativa dos tipos de células tronco e suas principais fontes de
obtenção.
Classificação das células tronco em tronco totipotentes, pluripotentes, multipotentes,
oligopotentes ou unipotentes e suas principais fontes de obtenção.
Em 2006, Yamanaka e Takahashi reprogramaram células somáticas
(fibroblastos) com a inserção dos genes Oct3/4, Sox2, c-Myc e Klf4, que passaram a
exibir morfologia e propriedades semelhantes às ESCs, além de expressar marcadores
genéticos de células tronco e capacidade de formar teratomas quando transplantadas, via
subcutânea, em camundongo nude. Adicionalmente, estas células também auxiliaram no
desenvolvimento de um embrião de camundongo após sua inserção em blastocisto. Por
esta razão, essas células são conhecidas como células de pluripotência induzida (iPSCs
– induced pluripotent stem cells) (44).
Quanto à sua origem, as células tronco podem ser de origem embrionária (ESCs)
ou adulta (ASCs– Adult stem cells) quando derivadas de tecido adulto como medula
óssea, gordura, pele e outros. As ASCs, por sua vez, são subdivididas em
hematopoiéticas (HSCs – Hematopoietic stem cells) que originam células do sistema
sanguíneo e, mesenquimais (MSCs) que podem se diferenciar em condrócitos,
adipócitos, células musculares entre outros (40) (45).
29
As MSCs podem ser isoladas a partir de diversos tecidos (ex. cordão umbilical,
tecido adiposo, medula óssea, placenta, membrana sinovial, pele, etc), no entanto, as
principais fontes de obtenção são a medula óssea e o tecido adiposo, sendo este,
considerado o mais apropriado por apresentar facilidade de obtenção, pois consiste num
procedimento menos invasivo e doloroso ao paciente, além de possuir maior quantidade
de células tronco quando comparado à quantidade obtida da medula óssea (~1x106
células tronco/200mL de gordura, Walenko 2011; 2-6x108 células tronco /300mL de
tecido adiposo Okamoto, 2010) (40) (41) (43) (46) (47) (48).
O tecido adiposo é derivado do mesênquima e compreende pelo menos 4% da
massa corpórea do adulto, com distribuição subcutânea e visceral. Pode ser classificado
em tecido adiposo branco (WAT – White adipose tissue), caracterizado pelo
armazenamento de triglicérides na região central da célula, que resulta no deslocamento
das organelas celulares para a periferia e, tecido adiposo marrom (BAT – Brown
adipose tissue), situado em coração, rins, aorta e gônadas em recém-nascidos, que
regula a produção de calor pelos seus adipócitos, cujo citoplasma é abundante, com
bastante gotículas de triglicérides e grande quantidade de mitocôndrias. O tecido
adiposo secreta polipeptídios, hormônios e citocinas, além de apresentar em sua
constituição bastante ASCs. Essas características tornam o tecido adiposo uma fonte
atrativa de MSCs para ser utilizado na engenharia de tecidos e medicina regenerativa (40)
(47).
Desde 2006, as MSCs derivadas do tecido adiposo, nomeadas ADSCs (Adipose
derived stem/stromal cells), são definidas por três características estabelecidas pela
Sociedade Internacional para Terapia Celular (ISCT – International Society for Cellular
Therapy). Estas características referem-se a capacidade de adesão ao plástico, sob
condições de cultura; a diferenciação destas células em linhagens osteogênica,
adipogênica e condrogênica; além da expressão das seguintes moléculas de superfície
(CD – Cluster of differentiation): CD105, CD 70, CD90, CD73 e CD44 e, a ausência de
CD45, CD34, CD14 ou CD11b, CD79 ou CD19 e HLA-DR) (3) (40) (46) (47) (48) (49) (50) (51).
Ainda, as ADSCs expressam Oct3/4, Nanog e Sox2, que são fatores de
transcrição típicos de ESCs. Estudos mostram que elas são capazes de se diferenciar em
linhagens não mesenquimais (ex. célula neuronal, epitelial, endotelial e outros). Ao
contrário das ESCs e iPSCs, as ADSCs possuem baixa propensão a induzir resposta
imunológica após transplante alogênico, inibindo a ativação de linfócitos T; embora
30
haja a possibilidade dessas células após sua diferenciação, passarem a expressar
moléculas MHC-II, o que mostra a predileção pelo uso autólogo (3) (41) (47) (48) (50).
As ADSCs secretam diversas citocinas e fatores de crescimento como VEGF
(vascular endotelial growth factor), HGF (hepatocyte growth factor), IL-6 (interleukin-
6), IL-7, TNFα (tumor necrosis factor-alpha), M-CSF (macrophage colony-stimulating
factor) e TGF-β (transforming growth factor), responsáveis pela angiogênese,
diferenciação celular, controle e manutenção de células vizinhas, remodelamento
tecidual, efeito anti-apoptótico e imunossupressor (47) (50) (52).
Diversas substâncias indutoras são utilizadas para a diferenciação das ADSCs, in
vitro, em células do tecido conjuntivo. As ADSCs têm um potencial excepcional para se
diferenciarem em adipócitos maduros, o que é bastante importante para reconstruções
cirúrgicas, como por exemplo, a reconstrução da mama após mastectomia. In vitro essa
diferenciação ocorre com a presença de insulina, 3-isobutil-1-metilxantina (IBMX),
dexametasona, rosiglitasona e indometacina. Após o estímulo com esses fatores, as
ADSCs diferenciadas apresentam vacúolos lipídicos em sua constituição, além de
expressar leptina, GLUT4 (Glucose transporter type 4) e outros genes e proteínas
característicos de adipócitos (40) (46) (47). Ainda, com a utilização de meio de cultura
suplementado com glicerofosfato-β, ácido ascórbico, ácido valpróico, dexametasona,
vitamina D3, BMP-2 (Bone morphogenetic protein 2), as ADSCs expressam genes
como o RUNX2 (Runt-related transcription factor 2) e proteínas como fosfatase
alcalina, colágeno do tipo I, osteopontina, osteonectina, associados ao fenótipo de
osteoblasto. Após estes estímulos, a associação das ADSCs com scaffolds (suportes
feitos de materiais inertes) mostra-se efetiva na regeneração óssea (40) (46) (47).
Para a indução da condrogênese são utilizados fatores de diferenciação, como
TGF-β, FGF-2 (Basic fibroblast growth factor 2) e IGF-1. Durante esse processo,
observa-se alteração na morfologia das ADSCs, que passam de uma forma semelhante a
fibroblastos para um aspecto arredondado, além da identificação de componentes da
MEC da cartilagem, como colágeno do tipo II, IX, X, XI, agrecano e genes como SOX9
(SRY-related high mobility group-box gene 9). O SOX9 é o principal fator de
transcrição atuante na diferenciação condrogênica, sendo fundamental no controle da
expressão de genes essenciais para esta diferenciação, como o colágeno dos tipos II
(COL2A1) e XI (COL11A2), entre outros componentes da MEC. Durante o processo de
condrogênese no desenvolvimento embrionário, ocorre o recrutamento, migração e
31
proliferação de células progenitoras que produzem e secretam componentes da MEC.
Interações celulares e com componentes da MEC (microambiente), tais como
proteoglicanos, membros da família do fator de crescimento do tecido conectivo
(CTGF), domínio de metaloproteinase e desintegrina A (ADAM) e integrinas, resultam
em uma sinalização intracelular, que culmina na diferenciação das células progenitoras
em condrócitos, alterando sua morfologia esférica e iniciando a síntese de moléculas
específicas da MEC cartilaginosa, como colágeno tipo IIB, IX, XI e agrecano (40) (42) (46)
(52).
A utilização das ADSCs associadas a diversos fatores de diferenciação tem se
tornado frequente em estudos da área de engenharia tecidual e de medicina regenerativa
tendo em vista sua capacidade de diferenciação em células especializadas, auto
renovação, plasticidade e atividades imunossupressora e anti-inflamatória(53). Diferentes
estudos mostram que as MSCs são eficazes no reparo ósseo e cartilaginoso, além de
possuírem efeito parácrino, secretando moléculas bioativas, importantes na
imunomodulação, angiogênese, quimioatração, no crescimento e diferenciação celular,
entre outros (54).
1.5.1 Células tronco mesenquimais e osteoartrite
Filardo e col. (2016) realizaram uma revisão sistemática na base de dados do
PubMed sobre tratamento de cartilagem e células tronco mesenquimais no período de
2000 até 2015 e, nessa análise, incluíram 60 estudos relacionados a esse tema. Dentre os
trabalhos com ADSCs, eles destacaram a utilização dessas células aplicadas em
pacientes com OA, em diferentes doses cujo impacto foi positivo após 6 meses de
aplicação, evidenciado por exame de ressonância magnética e ausência de efeitos
adversos (53).
Foi descrito que a utilização de scaffolds de ácido hialurônico auxiliam na
diferenciação condrogênica de ADSCs (43), assim como a combinação das ADSCs com
hidroxiapatita atua na regeneração do tecido ósseo em coelhos (38).
Trabalhos recentes demonstraram que o tratamento de OA experimental, em
ratos, com injeções intra-articulares semanais de MSCs da medula óssea, durante três
semanas, têm efeito protetor no desencadeamento da doença, com diminuição de
fissuras no tecido e da apoptose de condrócitos (55). Complementarmente à ação das
32
MSCs sabe-se que estas possuem uma ação trófica que atua na redução da inflamação
sinovial e, consequentemente, na proteção do tecido cartilaginoso (56). Toghraie e col.
em 2011 demonstraram uma diminuição na degradação do tecido cartilaginoso em
coelhos, na formação de osteófitos e esclerose do osso subcondral, após o tratamento
com injeção intra-articular de MSCs em modelo animal de OA (57).
Centeno e col. em 2008 demonstraram que na OA humana, a avaliação por
ressonância magnética, aumento do tecido cartilaginoso e do menisco após seis meses
do tratamento de tecido cartilaginoso lesionado do joelho, com injeção intra-articular de
MSCs, provenientes da medula óssea (58).
Injeções de MSCs com ácido hialurônico em OA experimental, induzida por
meniscetomia total medial e ressecção do ligamento cruzado anterior, diminuíram a
degeneração do tecido cartilaginoso, remodelamento ósseo e esclerose do osso
subcondral (59).
Em 2007, Yan e Yu, avaliaram o efeito de diferentes tipos celulares
(condrócitos, MSCs, fibroblastos de coelhos e, células tronco de cordão umbilical
humano), no tratamento de lesão cartilaginosa em coelhos Nova Zelândia, mostrando
que, embora os condrócitos também tenham apresentado bons resultados, a utilização de
MSCs é a mais apropriada visto que o grupo que recebeu esse tratamento obteve melhor
rearranjo celular (60).
Masuoka e col em 2006 demonstraram aumento de cartilagem hialina e alta
expressão de colágeno do tipo II, após a utilização de ADSCs associadas à solução
aquosa de colágeno, em coelhos com alterações osteocondrais (61). Adicionalmente,
Zscahrnack e col. em 2010 tiveram resultados morfológicos positivos, quando
associaram fatores de crescimento ao meio de cultura para a pré-diferenciação das
MSCs de medula óssea em linhagem condrogênica (62).
Além da aplicação das MSCs em modelos animais, outros autores mostram
estudos iniciais em humanos, como Pak em 2011 que trataram dois pacientes que
apresentaram OA nos joelhos com injeção de ADSCs, ácido hialurônico, dexametasona
e plasma rico em plaquetas (PRP). Após três meses, estes pacientes apresentaram
aumento da cartilagem, evidenciados pela ressonância magnética, melhora funcional e
redução da dor (63).
Embora o número de estudos com ADSCs esteja aumentando, eles ainda são
poucos quando comparados às MSC derivadas da medula óssea. Segundo Dai e col.
33
(2016) estudos clínicos registrados no site: http://clinicaltrials.gov/, com palavra-chave:
adipose derived stem cells (ADSCs), totalizam 125, sendo 35 estudos clínicos
finalizados. Ainda, foi demonstrado que o transplante autólogos de ADSCs associado ao
beta fosfato tricálcio (β-TCP – beta tricalcium phosphate), um material sintético de
cerâmica porosa e, BMP-2 foi eficaz no reparo do tecido ósseo, reforçando a utilização
dessa terapêutica na engenharia de tecidos (43). Em 2011, foi realizado um estudo com 4
pacientes com OA moderada a severa que receberam MSC autólogas derivadas da
medula óssea, em que houve melhora sintomática e diminuição de crepitações nos
pacientes, porém, sem melhora radiográfica (64). Outro estudo em 18 pacientes com OA,
mostrou que a injeção intra-articular de ADSCs auxiliou na melhora funcional da
articulação, acompanhada da redução da dor e da degeneração tecidual (48).
Ainda, Koh e col. em 2013, observaram que pacientes com OA de joelho
tiveram redução da dor e melhora da função articular, após receberam injeções intra-
articulares de MSC autólogas, isoladas do tecido sinovial em combinação com PRP (65).
Já foi descrito na literatura que a pré-incubação de ADSCs com PRP para
aplicação em camundongo com lesão cartilaginosa, mostrou melhora tecidual e aumento
da expressão in vitro de agrecano, colágeno II e SOX9 (66). A associação de MSCs com
outras substâncias a fim de proporcionar a melhora funcional do tecido cartilaginoso é
bem aceita. Dentre essas substâncias, destaca-se o colágeno, um componente essencial
da MEC cartilaginosa, considerado a proteína mais comumente encontrada no
organismo, que atua na organização celular e estimula a síntese e organização da MEC.
À vista dessas propriedades do colágeno e, especialmente do colágeno tipo V (ColV),
que está presente na cartilagem embrionária e em desenvolvimento, além de apresentar
propriedades singulares, considera-se que a associação do ColV às MSCs no transplante
autólogo, como estratégia terapêutica no tratamento de lesões cartilaginosas, cujo tecido
possui baixo potencial de regeneração, poderia proporcionar resultados promissores (54)
(67).
1.6 COLÁGENO TIPO V
Além dos colágenos típicos do tecido cartilaginoso como os colágenos do tipo
IX, II e XI, são encontrados outros tipos de colágeno em pequenas proporções na matriz
cartilaginosa adulta, tais como os colágenos III, V, VI, X e XII (4). O colágeno tipo V
34
destaca-se por possuir estrutura molecular e propriedades bioquímicas semelhantes ao
tipo XI, que é próprio da cartilagem. Analogamente ao tipo XI, o ColV é fibrilar e
encontrado em pequena proporção no interior das fibrilas heterotípicas, associado ao
colágeno dos tipos I e III na maioria dos tecidos conjuntivos, como pele, pulmão,
placenta, entre outros. Ainda, o ColV, similarmente ao tipo XI, tem a função de regular
o diâmetro das fibrilas heterotípicas, uma vez que durante a sua síntese, também, retém
um domínio globular amino terminal, que se projeta para a região externa da fibrila,
impedindo fisicamente que um grande número de moléculas de outros colágenos (ex.
fibrilas heterotípicas I/III/V, na pele, pulmão e outros tecidos, e II/XI na cartilagem) se
agreguem à mesma. Visto que os colágenos V e XI apresentam uma importante função
no dimensionamento do diâmetro das fibrilas heterotípicas, eles têm sido considerados
nucleadores da fibrilogênese (18) (67) (68) (69) (70) (71).
Porém, ao contrário do colágeno tipo XI, o tipo V possui 3 isoformas diferentes
de acordo com a combinação molecular das suas cadeias α: as heterotrímeras [α1(V),
α2(V), α3(V)], encontrada em placenta, e [α1(V)2, α2(V)] (Figura 12), ubiquamente
distribuída na maioria dos tecidos conjuntivos, e a isoforma homotrímera [α1(V)3]
encontrada em cultura de células de tecidos embrionários e na região da membrana
basal do epitélio da pele (18) (72). Ademais, o colágeno V é uma proteína preservada entre
diferentes espécies de animais, tendo como característica imunogênica a conservação
dos telepeptídeos NH2 e COOH terminais (67).
Figura 12 – Desenho esquemático da constituição do colágeno tipo V. (A) Representação esquemática das cadeias pro-α1(V) e pro-α2(V) do colágeno V, com os domínios
colagenosos (COL1 e COL2) e não colagenosos da cadeia pro-α1(V) (NC2 e NC3) e da cadeia pro-α2(V)
(NC2). Visão esquemática da isoforma heterotrímera [α1(V)2, α2(V)]. Os N-propeptídeo da cadeia pro-
α1(V) e C-propeptídeo da pro-α2(V) são processados pela BMP-1 e o C-propeptídeo da pro-α1(V) é
processado pela furina e/ou BMP-1. Adaptado de Symoens e col, 2011 (73).
35
O ColV também está presente na cartilagem embrionária e em desenvolvimento,
em maiores proporções que na cartilagem adulta, participa do processo funcional do
tecido conjuntivo, além de participar na osteogênese e na renovação de células do
estroma da córnea (74) (75) (76). Ainda, Ruggiero e col. em 1994 já descreviam que o ColV
é capaz de promover a adesão celular, tanto na sua forma nativa como na denaturada em
diferentes linhagens celulares. Foi descrito por esses autores que grande parte desta
importante propriedade está relacionada às suas sequências RGD, presentes em maior
quantidade na cadeia α2(V) da sua molécula e que a sinalização nuclear seria
principalmente via integrinas (72). A adesão do Col V pode ocorrer também
independente das sequências RGD, através de um fragmento presente na cadeia α1(V)
de 30 Kd que contém um agrupamento de resíduos de aminoácidos básicos com
afinidade à heparina e sulfato de heparina, que poderia reforçar a sua interação com as
moléculas de heparina aniônica. Deste modo, o sítio do Col V ligante da heparina,
interage com os proteoglicanos (PG) de sulfato de heparina na superfície das células,
desencadeando sinais de estimulação celular; e, ainda interage com PG de sulfato de
heparina na MEC dos tecidos (73) (77).
Sendo o colágeno V altamente expresso em ampla variedade de tecidos
embrionários, inclusive na cartilagem em desenvolvimento, e considerando as suas
propriedades de adesão e proliferação celular, aceita-se que essa proteína tenha um
papel importante no reparo do tecido cartilaginoso, através do estímulo da diferenciação
condrogênica das células tronco mesenquimais (67).
A estratégia de estimulação das ADSCs com o ColV, para utilização na
terapêutica em OA baseia-se principalmente em duas características: em primeiro lugar,
na capacidade de ADSCs se diferenciarem em condrócitos, bem como de secretar uma
grande variedade de fatores biologicamente ativos que auxiliam na proliferação de
células de apoio e formação dos tecidos (3). Em segundo, nas propriedades singulares da
molécula de ColV e sua capacidade de interação célula-matriz que são de grande
relevância na associação e estimulação das ADSCs, para que possamos desenvolver
novas estratégias terapêuticas na regeneração do tecido cartilaginoso.
Considerando a fácil obtenção de tecido adiposo e a dificuldade de obter
medicamentos que atuem na regeneração da cartilagem osteoartrítica, torna-se
imprescindível verificar se ADSCs estimuladas com ColV in vitro têm potencial
condrogênico. Baseados nos resultados obtidos neste estudo, novas estratégias
36
terapêuticas podem ser desenvolvidas para auxiliar na regeneração do tecido
cartilaginoso.
37
2 OBJETIVO
2.1. OBJETIVO GERAL
A proposta deste estudo foi analisar se ADSCs seriam capazes de aumentar a
síntese dos componentes da MEC cartilaginosa in vitro, após o estímulo com ColV e
avaliar seu potencial terapêutico no tratamento de coelhos com osteoartrite.
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1. Avaliação da síntese de componentes da MEC pelas ADSCs de coelhos estimuladas
com Col V in vitro.
2. Análise do efeito das ADSCs, estimuladas Col V, na cartilagem articular de coelhos
com OA experimental induzida por meniscectomia parcial.
38
3 MÉTODOS
O presente estudo é uma pesquisa experimental prospectiva, aprovada pela
Comissão de Ética para Estudo de Animais (CEUA) da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (FMUSP), sob o número 123/14.
3.1 ANIMAIS
Foram incluídos neste estudo 24 coelhos da linhagem Nova Zelândia Branco,
machos, com cerca de dois meses e 2.100-2.500g de peso. Os animais foram mantidos
no Biotério de Manutenção e Experimentação da Clínica Médica da FMUSP –
Laboratório de Investigação Médica (LIM 17), Disciplina de Reumatologia, em gaiolas
individuais apropriadas, à temperatura de 22 ± 2°C, com iluminação controlada
claro/escuro (12/12h) e fornecimento de água e ração padronizada ad libitum, de acordo
com os Princípios Éticos na Experimentação Animal, adotados pelo Colégio Brasileiro
de Experimentação Animal (COBEA). Os procedimentos cirúrgicos também foram
realizados no Biotério de Manutenção e Experimentação da Clínica Médica da FMUSP.
3.2 COLETA DO TECIDO ADIPOSO
Para coleta do tecido adiposo um grupo de animais (n=16) foi anestesiado com
Rompun® (Xilazin, Bayer HealthCare) (5mg/Kg) e Ketamina® (Ketalar, Park-Davis)
(50mg/Kg), por via intramuscular (IM). Após tricotomia e antissepsia da linha dorso
medial, os animais foram submetidos à lipectomia por uma incisão longitudinal de 2 a 3
cm na região interescapular, seguida de sutura da pele com fio mononylon 4,0, em
pontos separados simples.
Após o procedimento cirúrgico, os animais receberam, por um período de três dias,
antibiótico (enrofloxacina 5mg/kg, uma vez ao dia) e anti-inflamatório (cetoprofeno
10mg/kg, 12/12 horas) por via subcutânea. Aproximadamente 2g de tecido adiposo
coletado foi imerso em meio de cultura Dulbecco’s modified Eagle’s medium (Gibco
Life Technologies; Invitrogen, Paisley, U.K.) (DMEM) para cultivo celular.
39
Figura 13 – Tricotomia (A) e lipectomia (B) na região interescapular de coelho Nova
Zelândia Branco, para a obtenção de células tronco mesenquimais.
3.2.1 Obtenção das células tronco mesenquimais de coelhos
Sob condições estéreis, as amostras de tecido adiposo coletadas foram lavadas
com solução fisiológica abundante, para a retirada de sangue. Posteriormente, foram
submetidas à digestão enzimática com Liberase 2,5mg/mL (Roche Diagnostics GmbH,
Mannheim; Germany) em banho-Maria a 37°C, sob agitação em intervalos de 5
minutos, durante 40 minutos.
Após esse período foram realizadas duas centrifugações de 2.000 rpm a 4°C, por
5 minutos cada. O sobrenadante obtido foi descartado e o precipitado transferido para
garrafas de cultura de 25cm² contendo DMEM, com 10% de soro fetal bovino (SFB) e
1% de Penicilina/Estreptomicina.
A cultura foi mantida em estufa a 37°C, em atmosfera de CO2 a 5%, sendo o
meio de cultura trocado após as primeiras 72h e, posteriormente, a cada 48h até a
confluência. Subsequentemente, as células foram dissociadas com a solução de
Tripsina-EDTA 0,05% (Sigma Chemical Co, St. Louis, MO, USA) e expandidas para
garrafas de 75cm2. Após confluência, parte das células foram utilizadas para os ensaios
de imunofluorescência e expressão gênica e, parte foi congelada em tubos criogênicos,
contendo 1mL de solução de DMEM suplementado e 10% de dimetilsulfóxido (DMSO;
A B
40
Sigma Chemical Co, St. Louis, MO, USA), em freezer -80°C, por 48h, e após em
nitrogênio líquido.
Para avaliar a viabilidade celular foi utilizado o corante Azul de Tripan, que
identifica as células inviáveis, coradas em azul pela impregnação do corante, através da
membrana celular desintegrada, e as células viáveis, sem coloração. Desta forma, as
células viáveis foram contadas em Câmara de Neubauer, nos quadrantes laterais. O
resultado foi correspondente à média de células por quadrante, multiplicado pelo fator
de diluição e pelo fator de correção da câmara de 10.000 ou 104.
3.2.2 Caracterização das células tronco mesenquimais de coelhos
Devido à dificuldade de se encontrar no mercado nacional e internacional
anticorpos específicos para células tronco mesenquimais de coelhos, para caracterização
por citometria de fluxo, de acordo com a Sociedade Internacional para Terapia Celular,
a multipotência destas células foi caracterizada pelo potencial de diferenciação em
linhagens adipogênica, condrogênica e osteogênica.
Para a diferenciação celular, as ADSCs foram cultivadas em meio DMEM,
suplementado com 10% SFB e 1% de Penicilina/Estreptomicina até confluência.
Posteriormente, as células foram transferidas para placas de 6 orifícios e cultivadas com
os kits de diferenciação específicos, conforme descrito abaixo.
Diferenciação adipogênica das células tronco mesenquimais de coelhos
As ADSCs foram submetidas à diferenciação adipogênica utilizando o Kit de
diferenciação StemPro® Adipogenesis Differentiation (Gibco®, Life technologies™),
contendo Gentamicina (10 mg/mL), durante duas semanas, de acordo com as
recomendações do fabricante. As células foram fixadas em paraformaldeído a 4%
durante 30 minutos, lavadas com água destilada, desidratadas em isopropanol 60% por
2 a 5 minutos e coradas com Oil Red-O (Sigma Chemical Co, St. Louis, MO, USA)
0,5% em isopropanol 100%, seguido de lavagem com água destilada. Por fim, as células
foram observadas em microscópio óptico de contraste de fase (Nikon Eclipse TS100,
Japan).
41
Diferenciação condrogênica das células tronco mesenquimais de coelhos
Para a diferenciação condrogênica, as células foram cultivadas com o Kit de
diferenciação StemPro® Chondrogenesis Differentiation (Gibco®, Life
technologies™), contendo Gentamicina (10 mg/mL), durante duas semanas, de acordo
com as recomendações do fabricante. As células foram fixadas em paraformaldeído 4%,
durante 30 minutos, lavadas com PBS e coradas com Alcian Blue 1% em HCl 0,1N, por
30 minutos, seguido de três lavagens com HCl 0,1N e água destilada, para neutralizar a
acidez. Por fim, as células foram observadas em microscópio óptico de contraste de fase
(Nikon Eclipse TS100, Japan).
Diferenciação osteogênica das células tronco mesenquimais de coelhos
As ADSCs foram submetidas à diferenciação osteogênica utilizando o Kit de
diferenciação StemPro® Osteogenesis Differentiation (Gibco®, Life technologies™),
contendo Gentamicina (10mg/mL), durante três semanas, de acordo com as
recomendações do fabricante. As células foram fixadas em paraformaldeído 4%,
durante 30 minutos, lavadas com água destilada, coradas com vermelho de alizarina
(Sigma Chemical Co, St. Louis, MO, USA) 2% em pH 4,2, durante 5 a 10 minutos,
cuidadosamente lavadas e observadas em microscópio óptico de contraste de fase
(Nikon Phase Contrast-2 ELWS 0.3 – Japan).
Adicionalmente, as ADSCs foram analisadas por microscopia eletrônica de
transmissão e por imumomarcação para CD34 e vimentina.
Microscopia Eletrônica de Transmissão
A Microscopia Eletrônica de Transmissão foi realizada em precipitado celular
para avaliar o fenótipo das ADSCs. Com esse intuito, após confluência, as células foram
submetidas à etapa de tripsinização, sendo lavadas com meio DMEM, suplementado
com 10% SFB e 1% de Penicilina/Estreptomicina. Logo após, foram centrifugadas a
2.000 rpm, por 5 minutos, em tubo cônico (Falcon) de 50 mL, fixadas em solução de
glutaraldeído 2% e embebidas em resina Araldite, para a realização dos cortes
ultrafinos, com uma faca de diamante em micrótomo LKB Ultratome (Leica, Deerfield,
42
IL, EUA). Posteriormente, foram colocadas em grelha de cobre (200-mesh; Ladd
Research Industries, Burlington, VT., EUA) e contrastadas com acetato de uranila e
citrato de chumbo. Os espécimes foram observados em Microscópio Eletrônico de
Transmissão JEOL 100cx 100KW (Philips, Munich, Alemanha) operando a 80 kV.
Imunomarcação para CD34 e vimentina
No momento da confluência em garrafas de cultura de 75cm2, as células foram
desprendidas das garrafas por digestão com tripsina 0,2% e Versene 0,02% (Sigma
Chemical Co, St. Louis, MO, USA) em meio de cultura DMEM, suplementado com
10% de SFB e 1% de Penicilina/Estreptomicina e lavadas com DMEM por
centrifugação (1.200rpm), durante 10 minutos a 4°C. Após centrifugação, 2,5x105
células foram transferidas para lamínulas em placas de 24 orifícios, e mantidas em
DMEM, suplementado com 10% SFB e 1% de Penicilina/Estreptomicina.
Posteriormente, as lamínulas foram lavadas três vezes com tampão fosfato (PBS)
pH=7,2 e fixadas com paraformaldeído 4%, por 1h a 4°C. Após esse período, elas foram
submetidas novamente à três lavagens com PBS e incubadas com albumina bovina
(BSA) 5% por trinta minutos à temperatura ambiente. Foram utilizados anticorpos
monoclonais de camundongo anti-vimentina (1:80) e anti CD34 (1:20) para incubação a
4°C, durante a noite. Posteriormente, as lamínulas foram lavadas em PBS com Tween20
0,05% e incubadas com anticorpo anti IgG de camundongo conjugado ALEXA FLUOR
488 (1:200; Thermo Fisher Scientifc, Rockford, IL) e DAPI (4,6- diamino-2-
fenilindole) (1:200; Molecular Probes, Thermo Fisher Scientifc, Rockford, IL) por 60
minutos. Após sucessivas lavagens em PBS com Tween20 0,05%, as lamínulas foram
montadas em glicerina tamponada e analisadas em microscópio de fluorescência
(Olympus BX-51, Olympus Co, Tokyo, Japan) e confocal (ZEISS LSM 510 Meta/UV).
3.3 CARACTERIZAÇÃO DO COLÁGENO TIPO V
Eletroforese em gel de poliacrilamida
A identificação das cadeias do colágeno V comercial (Sigma Chemical Co, St.
Louis, MO, USA) foi realizada através da técnica de eletroforese em gel de
poliacrilamida a 7,5%.
43
As frações do colágeno V liofilizadas foram diluídas em ácido acético 0,01N, na
proporção de 1mg de proteína para 200µl de ácido acético 0,01N. O tampão de amostra
(SDS 10%, glicerina 10%, azul de bromofenol 20% e 2-mercaptoetanol) foi adicionado
às amostras para posterior aquecimento a 96°C, por cinco minutos. Em cada “poço” do
gel de poliacrilamida foi acrescentado 30µg das frações do colágeno V. A eletroforese
procedeu-se em tampão de corrida tris glicina 0,19 M em pH 8,5 e SDS 0,1%, a 4°C,
sob corrente elétrica constante de 100 volts por uma hora e meia.
Imunoblot do colágeno tipo V
As frações de colágeno foram eletrotransferidas para uma membrana de
nitrocelulose (Sigma Chemical Co, St. Louis, MO, USA) em tampão tris 25mM, glicina
192mM e metanol 10%, por uma hora a 100 volts. A eficiência da transferência foi
confirmada pela coloração com solução de Ponceau S (Sigma Chemical Co, St. Louis,
MO, USA) 0,5% em água.
As fitas de nitrocelulose foram incubadas com leite desnatado 5% em PBS pH
7,4, por 90 minutos, sob agitação constante, para bloqueio de sítios inespecíficos. Após
este procedimento foi feita uma lavagem de 10 minutos com PBS.
Para verificar a especificidade do colágeno, as fitas de nitrocelulose foram
incubadas por 1 hora, a temperatura ambiente, com o anticorpo de coelho anti-colágeno
V (1:200), diluído em leite desnatado 1% em PBS. Posteriormente, as fitas de
nitrocelulose foram lavadas três vezes de 10 minutos com PBS Tween20 e incubadas por
1 hora, a temperatura ambiente, com o anticorpo de cabra anti IgG de coelho, conjugado
com fosfatase alcalina (Nitro-blue tetrazolium chloride; Sigma Chemical Co, St. Louis,
MO, USA), diluído 1:1000 em leite desnatado 1% em PBS. Após outro ciclo de
lavagens, a reação foi revelada com N BT (Nitro-blue tetrazolium chloride; Sigma
Chemical Co, St. Louis, MO, USA) 0,0005% e BCIP (5-Bromo-4-chloro-3’-
indolyphosphate p-toluidine; Sigma Chemical Co, St. Louis, MO, USA) 0,0005%,
diluídos em tampão Tris 0,03M e Cloreto de magnésio 1M, pH=9,5.
A figura 14 mostra as cadeias α1(V), α2(V) e α3(V) do padrão de colágeno tipo
V comercial de placenta humana (Sigma Chemical Co, St. Louis, MO, USA).
44
Figura 14 – Imunoblot para colágeno V padrão comercial.
Imunoblot mostrando as cadeias α1(V), α2(V) e α3(V) do padrão de colágeno tipo V
comercial de placenta humana (Sigma Chemical Co, St. Louis, MO, USA).
3.3.1 Padronização da concentração de colágeno tipo V em cultura de
células tronco mesenquimais de coelhos
Para a avaliação da ação do colágeno tipo V na cultura de ADSCs foi realizado
um teste inicial, com diferentes concentrações desta proteína, em diferentes tempos.
No momento da confluência em garrafas de cultura de 75cm2, as células foram
desprendidas das garrafas por digestão com tripsina 0,2% e Versene 0,02% (Sigma
Chemical Co, St. Louis, MO, USA) e lavadas com DMEM por centrifugação
(1.200rpm), durante 10 minutos a 4°C. Posteriormente, 2,5x105 células foram
transferidas para lamínulas em placas de 24 orifícios, e mantidas em DMEM,
suplementado com 10% SFB e 1% de Penicilina/Estreptomicina. Para estabelecer a
concentração ideal de Col V, as ADSCs foram estimuladas com o Col V comercial
(Sigma Chemical Co, St. Louis, MO, USA) nas seguintes concentrações: 12,5µg/mL;
25µg/mL; 50µg/mL; 100µg/mL; 200µg/mL e 400µg/mL. As células foram incubadas
com o colágeno V, diluído nas diferentes proporções, por períodos de 24h, 48h, 72h,
7dias, 14 dias e 21 dias, sendo o meio de cultura substituído a cada três dias, para os
períodos mais longos. Células cultivadas apenas com o meio de cultura, nos mesmos
períodos, serviram como controle do experimento.
As lamínulas foram lavadas três vezes com PBS pH=7,2 e fixadas com
paraformaldeído 4%, por 1h a 4°C. Após esse período, elas foram submetidas
45
novamente à três lavagens com PBS e incubadas com BSA 5% por trinta minutos à
temperatura ambiente. Foram utilizados anticorpos policlonais, produzidos em
camundongo, anti-colágeno do tipo I e II (1:10 e 1:20, respectivamente), anticorpos
monoclonais de camundongo anti-colágeno do tipo III (Oncogene) (1:100), anti-
vimentina (1:80) e anti CD34 (1:20), diluídos em PBS e incubados a 4°C, durante a
noite. Posteriormente, as lamínulas foram lavadas em PBS com Tween20 0,05% e
incubadas com anticorpo anti-IgG de camundongo conjugado ALEXA FLUOR 488
(1:200; Thermo Fisher Scientifc, Rockford, IL) e DAPI (1:200; Molecular Probes,
Thermo Fisher Scientifc, Rockford, IL) por 90 minutos. Após sucessivas lavagens em
PBS com Tween20 0,05%, as lamínulas foram montadas em glicerina tamponada e
analisadas em microscópio de fluorescência (Olympus BX-51, Olympus Co, Tokyo,
Japan). O critério utilizado para a escolha do tempo de estímulo e da concentração de
colágeno tipo V a ser utilizado in vitro foi a expressão de colágeno do tipo II e
vimentina e a ausência/baixa expressão de colágeno dos tipos I e III e CD34.
3.3.2 Avaliação do potencial condrogênico das células tronco mesenquimais
de coelhos estimuladas com colágeno V em cultura
O potencial condrogênico das ADSCs foi avaliado através das colorações com
Alcian Blue/PAS e Picrosirius, para a avaliação de proteoglicanos e colágeno total,
respectivamente, e por imunofluorescência para Colágeno II, um dos principais
componentes da matriz extracelular da cartilagem. As colorações específicas para
proteoglicanos e colágeno total foram realizadas em precipitados celulares e a
imunofluorescência para o Colágeno II foi realizada em lamínulas e em precipitados
celulares. O potencial condrogênico das ADSCs foi também avaliado pela expressão do
gene de pluripotência POU5F1 (Oct4), para o agrecano (ACAN) e para o colágeno tipo
II (COL2A1).
Após o terceiro repique, as ADSCs foram cultivadas com ColV (50µg/mL) por
72h (dose de ColV e período de estímulo estabelecidos para a diferenciação das
ADSCs, como mostrado no item resultados) em garrafas de 75cm2, para o precipitado
celular e biologia molecular e em lamínulas de vidro para imunofluorescência. Como
controle positivo de diferenciação condrogênica, as ADSCs foram cultivadas com TGF-
β1 (10ng/mL) (R&D Systems, Tools for Cell Biology Research ™).
46
Complementarmente, também utilizamos os seguintes estímulos: colágeno do tipo I
(Col I), Col I associado ao TGF-β1 e ColV com TGF-β1, para compararmos a síntese de
Col II entre as ADSCs cultivadas com diferentes estímulos.
Para o precipitado celular, as ADSCs confluídas foram submetidas à etapa de
tripsinização, sendo lavadas com meio DMEM, suplementado com 10% SFB e 1% de
Penicilina/Estreptomicina. As células foram centrifugadas a 2.000 rpm por 5 minutos
em tubo cônico (Falcon) de 50 mL e fixadas em paraformaldeído 4% e, posteriormente,
em álcool 70%. Após uma semana o precipitado foi embebido em parafina, e cortes de
5µm foram aderidos a lâminas de microscopia e corados com Alcian Blue/PAS e
Picrosirius.
Imunofluorescência para colágeno tipo II
Após 72h de estímulo com ColV (50µg/mL) as ADSCs em lamínulas foram
fixadas com paraformaldeído 4%, como descrito anteriormente. Posteriormente, as
lamínulas foram incubadas com o anticorpo policlonal de coelho anti-colágeno tipo II
(1:20) e, em seguida, com anti-IgG de camundongo conjugado ALEXA FLUOR 488
(1:200; Thermo Fisher Scientifc, Rockford, IL).
Para a imunomarcação do Col II em precipitados de ADSCs, previamente
estimulados com ColV (50µg/mL) por 72h, cortes de 5µm, aderidos a lâminas tratadas
com 3-dimetilaminosilane, foram desparafinizados em xilol e reidratados com banhos
de álcool, com concentrações decrescentes, água corrente e destilada e PBS. Após
bloqueio dos sítios inespecíficos com BSA 5%, os cortes foram submetidos a digestão
com pepsina (Sigma Aldrich Co.) 4mg/mL em ácido acético 0,5N, por 30 min a 37ºC.
Em seguida, foram lavados com PBS e incubados com anticorpo policlonal de
camundongo anti-colágeno II (1:50) durante a noite, a 4°C. Posteriormente, as lâminas
de precipitados de ADSCs foram lavadas em PBS com Tween20 0,05% e incubadas por
60 minutos com anticorpo secundário anti-IgG de camundongo ALEXA FLUOR 488
(1:200; Thermo Fisher Scientifc, Rockford, IL). O DAPI (1:200) foi adicionado à
reação para corar o núcleo das células. Após sucessivas lavagens em PBS com Tween20,
as lâminas foram montadas em glicerina tamponada e analisadas em microscópio de
fluorescência (Olympus BX-51 Center Valley, Pennsylvania) e quantificada por análise
de imagem, com o Software Image Pro Plus 6.0®. O sistema de análise de imagem
47
consiste em uma câmera CCD Sony, acoplada ao microscópio Olympus BX-51, a qual
captura as imagens e as envia para o monitor por um sistema de digitalização (Oculus
TCX, Coreco, Inc, St. Laurent, Quebec, Canada). As imagens foram digitalizadas em
aumento de 400X e processadas pelo Software Image-Pro Plus 6.0®. A área de cada
campo analisado foi medida em µm2 e utilizando-se os recursos do software Image
ProPlus 6.0 de seleção de cores; a tonalidade verde fluorescente, que identifica o
colágeno II (Figura 15, verde fluorescente) nos precipitados de ADSCs foi demarcada
(Figura 15, em vermelho) e quantificada. A média da área imunomarcada,
correspondente ao colágeno II, foi dividida pela média da área total analisada e o
resultado final expresso em porcentagem.
Figura 15 – Imagem representativa da análise de imagens pelo software Image-Pro
Plus 6.0, mostrando a imunomarcação do colágeno do tipo II no precipitado celular
(verde fluorescente) e delimitação da área imunomarcada (vermelho) para
quantificação.
48
Análise da expressão gênica de POU5F1, ACAN e COL2A1 em células
tronco mesenquimais por qRT-PCR
Extração de RNAm de células tronco mesenquimais
Para a análise da expressão do gene de agrecano (ACAN), do colágeno do tipo II
(COL2A1) e de um dos fatores de transcrição essencial na manutenção da pluripotência
característico de ESC, mas também presente em ADSCs, (POU5F1), as ADSCs foram
cultivadas em garrafas de cultura de 75cm² e divididas em três grupos. Um grupo foi
estimulado com Col V (50µg/mL por 72h), outro foi estimulado com TGF-β1 (10ng/mL
por 72h) servindo como controle positivo ou indicador de potencial estímulo
condrogênico, enquanto o terceiro grupo não recebeu estímulo, sendo cultivado somente
com DMEM suplementado com 10%SFB e 1% de antibiótico. Após confluência de
100%, o RNA total foi extraído pelo método de Chomczynski e Sacchi, 1987,
utilizando-se o reagente Trizol® (uma solução monofásica de fenol e isoticianato de
guanidina; Invitrogen, Life Technologies, Carlsbad, CA), de acordo com as instruções
do fabricante (78).
Para a separação do RNA, após adição de 200µl de clorofórmio, as amostras
foram rapidamente agitadas, mantidas à temperatura ambiente por 10 minutos e
submetidas à centrifugação (12.000g), por 15 minutos a 4°C. A fase aquosa
(sobrenadante) foi transferida para um tubo novo. Para a precipitação do RNA foram
adicionados 500µl de álcool isopropílico às amostras, as quais foram homogeneizadas
por inversão e mantidas à temperatura ambiente por 5 minutos e centrifugadas (12.000
g) por 15 minutos a 4ºC. O sobrenadante foi descartado e o RNA lavado em 1mL de
etanol (75% em água deionizada tratada com dietilpirocarbonato - DEPC) e
centrifugado por 10 minutos, 12.000g a 4ºC. Por fim, o RNA foi dissolvido em 25μl de
água DEPC (Merck, Alemanha), que constitui um forte inibidor de ribonuclease.
Tratamento das amostras de RNA com DNase
A fim de diminuir a contaminação com DNA genômico, as amostras de RNA
foram submetidas ao tratamento com DNase, Kit RQ1 RNase-Free DNase (Promega®,
Thermo Fisher Scientifc, Rockford, IL), de acordo com as instruções do fabricante.
49
A avaliação da concentração e grau de pureza das amostras de RNA foi feita em
espectrofotômetro (Nano Vueplus; GE), a partir de 2μl das amostras de RNA
dissolvidas em água DEPC. Para obtenção de RNA com alto grau de pureza, a relação
entre as leituras obtidas nos comprimentos de onda 260nm e 280nm deve estar entre 1,7
e 2,0.
Análise da expressão gênica por qRT-PCR
Para a reação de qRT-PCR foram selecionados os genes de interesse POU5F1,
ACAN e COL2A1 e o gene endógeno GAPDH, específicos para coelho (Tabela 3). As
sequências dos genes foram adquiridas pelo site www.ncbi.nem.nih.gov/nucleotide.
Para a montagem do mapa gênico da sequência escolhida foi utilizado o software
localizado no endereço eletrônico:
http://blast.ncbi.nlm.nih.gov/Blast.cgi?PROGRAM=blastn&PAGE_TYPE=BlastS
earch&LINK_LOC=blasthome.
Tabela 3 - Sequência de oligonucleotídeos.
Gene Sense Reverse Pares de base
(pb)
GAPDH AGGTCATCCACGACCACTTC GTGAGTTTCCCGTTCAGCTC 202
POU5F1 GCCGACAACAATGAGAACCT ACACGGACCACGTCTTTCTC 197
ACAN GTGACCGAGGTCAGTGGATT CCAGGTCAGGGATTCTGTGT 175
COL2A1 GAGACCTGAACTGGGCAGAC GACACGGAGTAGCACCATCG 192
A expressão dos genes foi avaliada por PCR em tempo real utilizando o
equipamento Step One (Applied Biosystems; Foster City, CA, USA) com o kit Super
Script III Platinum SYBR® Green One-Step qRT-PCR (Life Technologies). Cada
reação foi realizada com 15 µl de solução, contendo 1,75 µl de água deionizada estéril;
7,5 µl da mistura de reação 2XSYBER® Green; 0,15 µl de cada primer a 10nM; 0,3 µl
de Super Script III RT/Platinum Taq Mix; 0,15 µl de ROX Refence Dye e 5 µl de RNA
total a 20ng/µl. Todas as reações foram acompanhadas de um controle negativo (todos
os reagentes, exceto a amostra). A análise da expressão gênica foi realizada pelo método
2-ΔΔCT, usando o gene da GAPDH como controle interno.
50
As reações de qRT-PCR foram padronizadas com a finalidade de encontrar a
melhor temperatura de anelamento para cada gene em estudo. Desta forma um único
pico de fluorescência foi detectado para cada gene. Os tamanhos dos fragmentos
gerados pelo qRT-PCR foram conferidos em gel de agarose 1,5%, corados com brometo
de etídeo. As condições de ciclagem para os genes foram as seguintes: 50°C por 10
minutos (para síntese de cDNA), seguido de 35 ciclos de 95°C por 15 segundos, 60°C
para GAPDH e COL2A1, 59°C para ACAN e 57°C para o gene POU5F1 por 30
segundos e 72°C por 30 segundos. Foi realizada curva de melting (fusão) para cada gene
para verificação e certificação de um único pico de fluorescência para cada amostra
analisada.
3.4 INDUÇÃO DA OSTEOARTRITE
Os animais (n=24) foram submetidos à indução de OA através de meniscectomia
parcial no joelho direito, modelo estabelecido por Moskowitz (1972) (79) e modificado
por Velosa e colaboradores em 2001 (11). A anestesia foi ministrada via intramuscular
(Xilazina 5mg/Kg e Ketamina 50mg/Kg) e os procedimentos realizados em condições
assépticas.
A indução de OA experimental foi realizada através de uma incisão parapatelar
lateral no joelho direito, seguido da remoção de um quarto anterior do menisco lateral,
preservando os ligamentos (Figura 16). Para a sutura foi utilizado fio mononylon 4,0 em
pontos separados simples.
Todos os animais receberam por um período de três dias, antibiótico
(Enrofloxacina 5mg/kg, uma vez ao dia) e anti-inflamatório (Cetoprofeno 10mg/kg,
12/12 horas), por via subcutânea.
Os animais submetidos anteriormente à lipectomia, para isolamento das ADSCs,
foram divididos randomicamente em dois grupos:
OA/ADSCs (n=8): Grupo com indução de OA, por meniscectomia parcial e
com tratamento mensal de injeção intra-articular de ADSCs autólogas na
concentração de 1x106 células em 0,3mL de solução fisiológica.
OA/ADSCs/V (n=8): Grupo com indução de OA, por meniscectomia parcial e
com tratamento mensal de ADSCs autólogas, previamente estimuladas com Col
51
V (50µg/mL) em cultura por 72 horas, na concentração de 1x106 células em
0,3mL de solução fisiológica.
Os animais não submetidos à lipectomia, para isolamento de ADSCs, e com
osteoartrite induzida por meniscectomia parcial serviram como grupo controle de OA.
OA (n=8): Grupo com indução da OA, por meniscectomia parcial, sem
tratamento.
Figura 16 – Indução de osteoartrite em coelho por meniscectomia parcial na região
lateral do joelho direito.
3.4.1 Protocolo terapêutico
Após o procedimento de indução de OA e antissepsia do joelho direito com álcool
iodado, o grupo OA/ADSCs foi tratado com uma injeção intra-articular (Figura 17) de
0,3mL de 1x106 de ADSCs e o grupo OA/ADSCs/V foi tratado com uma injeção intra-
articular de 0,3mL de 1x106 de ADSCs, cultivadas previamente com Col V (50µg/mL),
em cultura, por 72 horas. Este tratamento foi realizado mensalmente, por um período de
22 semanas (Figura 18), de acordo com cada grupo e, após cada aplicação intra-
articular, foram feitos movimentos de extensão e flexão na articulação do joelho a fim
de dispersar a suspensão no espaço intra-articular. Depois deste período, os animais
foram anestesiados com xilazina (5mg/Kg) e ketamina (50 mg/Kg) via intramuscular e
submetidos a eutanásia, através de uma dose extra de 50 mg/Kg de ketamina e propofol,
aplicada na veia marginal da orelha. As articulações dos joelhos direito e esquerdo
foram coletadas para o estudo e, o restante das carcaças dos animais foram armazenadas
em sacos plásticos (branco leitoso), padrão para materiais biológicos, devidamente
52
identificados e mantidos em freezer a -20°C, até o momento do descarte, conforme as
normas de biossegurança estabelecidas pela FMUSP.
Figura 17 – Injeção intra-articular administrada nos grupos tratados com ADSCs e
ADSCs/ColV, após a cirurgia de indução de osteoartrite com reforços mensais por 22
semanas.
Figura 18 – Esquema do delineamento do estudo.
Lipectomia nos grupos OA/ADSCs e OA/ADSCs/V (n=16) para obtenção das células
tronco mesenquimais e sua utilização no tratamento autólogo. Indução de OA por
meniscectomia parcial do joelho direito nos grupos OA, OA/ADSCs e OA/ADSCs/V
(n=24), seguido de seus respectivos tratamentos e eutanásia após um período de 22
semanas.
53
3.4.2 Coleta das articulações
As articulações dos joelhos direito (JD) e esquerdo (JE) de todos os animais
foram coletadas e, parte do tecido cartilaginoso foi mantido em tubos criogênicos livres
de RNase em nitrogênio líquido e, posteriormente, armazenado em freezer -80°C para
biologia molecular (Figura 19). A porção restante das articulações foi fixada em formol
tamponado 10%, por cerca de 24 horas, seguido de descalcificação com ácido nítrico
7% em meio aquoso. A seguir foram submetidas aos procedimentos histológicos de
rotina, para a avaliação morfológica.
Com este intuito, foram realizados cortes histológicos de 4 a 5µm de espessura
com um espaço de 50µm entre eles e, corados com hematoxilina-eosina (H&E) e
Safranina-O/Fast-green.
Figura 19 – Esquema da coleta de material.
3.4.3 Avaliação da espessura da cartilagem
Foram utilizados cortes histológicos transversais (4-5µm) dos côndilos femoral
lateral e medial e platôs lateral e medial da tíbia, corados com H&E, para a avaliação da
espessura da cartilagem através de análise de imagem. O sistema de análise de imagem
54
consiste em uma câmera CCD Sony, acoplada ao microscópio Olympus BX-51, a qual
captura as imagens e as envia para o monitor por um sistema de digitalização (Oculus
TCX, Coreco, Inc, St. Laurent, Quebec, Canada). As imagens foram digitalizadas em
aumento de 200X e processadas pelo software Image-Pro Plus 6.0®. Seis linhas
verticais foram traçadas entre a superfície da cartilagem até a linha de crescimento,
partindo de um ponto central do tecido e 250µm e 500µm à direita e à esquerda. A partir
da média aritmética das linhas traçadas foi calculada a espessura da cartilagem em µm².
Figura 20 – Ilustração da análise da espessura da cartilagem pelo Software Image-Pro
Plus 6.0.
3.4.4 Avaliação da densidade de condrócitos
Para a avaliação dos condrócitos na cartilagem corada por H&E foi utilizado o
método estereológico de contagem de pontos, de acordo com Gundersen e col. 1988,
com modificações (80). Novamente, foi utilizado o sistema de análise de imagem Image-
Pro Plus 6.0, no qual a captura das imagens foi realizada como descrito anteriormente.
Utilizando-se os recursos de medidas do Image-Pro Plus 6.0 foi construído um retículo
com 100 pontos, distribuídos ortogonalmente sobre a imagem adquirida (Figura 21). A
avaliação foi realizada por observador, às cegas, em 10 campos randomizados da
55
cartilagem em aumento de 400X. A porcentagem de células (C%), corresponde à relação
do número de pontos que incidem sobre as células coradas em H&E, pelo número total
de pontos que incidem na região da superfície da cartilagem até a linha de crescimento
do tecido cartilaginoso, multiplicado por 100:
C%= (Pi / Ptc)x100
Sendo Pi, o número de pontos que incidem sobre as células coradas em H&E e
Ptc, o número total de pontos na área delimitada do tecido cartilaginoso. A porcentagem
total de células por amostra foi calculada a partir da média de todos os 10 campos
analisados. O resultado foi dado em porcentagem de condrócitos por µm².
Figura 21 – Ilustração da contagem de condrócitos pelo Software Image-Pro Plus 6.0,
pelo método estereológico de contagem de pontos (point-counting method).
3.4.5 Avaliação dos proteoglicanos
A análise histomorfométrica foi realizada para avaliação dos proteoglicanos, na
cartilagem corada com Safranina-0/fast-green, por meio de análise de imagem. A
captura das imagens foi realizada como descrito anteriormente, e, o software Image-Pro
Plus 6.0, permitiu quantificar a perda dos proteoglicanos, através da densidade de
56
impregnação do corante no tecido cartilaginoso. Todos os campos microscópicos foram
analisados, por observador, às cegas, sendo adquiridas aleatoriamente 10 imagens de
cada caso, em aumento de 400X. A área correspondente à superfície da cartilagem até a
linha de crescimento, de cada imagem adquirida, foi medida em μm2 e utilizando-se os
recursos do software Image-Pro Plus 6.0, de seleção de cores, a tonalidade azul, que
sinaliza a perda de proteoglicanos, foi quantificada (Figura 22). A média da área corada
em azul foi dividida pela média da área total analisada e o resultado final expresso em
porcentagem.
57
Figura 22 – Ilustração da análise dos proteoglicanos da cartilagem pelo Software
Image-Pro Plus 6.0, utilizando os recursos de seleção de cores.
(A) Demarcação da área da cartilagem a ser analisada (em verde). (B) A tonalidade
azul, que sinaliza a perda de proteoglicanos, foi marcada (em vermelho) na área
delimitada da cartilagem e quantificada pelo Software Image-Pro Plus 6.0.
58
3.4.6 Avaliação do processo de apoptose celular na cartilagem
Para avaliação da apoptose de condrócitos na cartilagem foi realizada reação de
imunohistoquímica, para a imunomarcação de FasL (Fas ligante) com o anticorpo
monoclocal de camundongo anti-FasL (1:20) (Neomarkers, Fremont, CA) e o kit de
revelação Novolink (Leica Biosystems. New Castle Ltd, UK), de acordo com as
especificações do fabricante. As células positivas para FasL foram quantificadas
utilizando-se o método estereológico de contagem de pontos, de acordo com Gundersen
e col., 1988, com modificações (80). Novamente, foi utilizado o sistema de análise de
imagem Image-Pro Plus 6.0, no qual a captura das imagens foi realizada como descrito
anteriormente. Utilizando-se os recursos de medidas do Image-Pro Plus 6.0 foi
construído um retículo com 100 pontos, distribuídos ortogonalmente sobre a imagem
adquirida (Figura 23). A avaliação foi realizada por observador, às cegas, em 10 campos
randomizados da cartilagem em aumento de 400X. A porcentagem de pontos que
incidem nas células marcadas com FasL (FL%) (apoptose), na região compreendendo a
superfície da cartilagem até a linha de crescimento do tecido cartilaginoso, foi expressa
conforme a fórmula:
FL%= (Pi / Ptc)x100
Sendo Pi, o número de pontos que incidem sobre as células marcadas para FasL
e Ptc, o número total de pontos na região da superfície até a linha de crescimento do
tecido cartilaginoso. A porcentagem (FL%) de células marcadas por amostra foi
calculada a partir da média de todos os 10 campos analisados. O resultado foi dado em
número de condrócitos marcados com FasL por µm².
59
Figura 23 – Ilustração da contagem de condrócitos em apoptose, marcados pelo FasL,
através do Software Image-Pro Plus 6.0, pelo método estereológico de contagem de
pontos (point-counting method).
3.4.7 Avaliação do colágeno tipo II na cartilagem
Imunofluorescência do colágeno tipo II na cartilagem
Para imunomarcação do colágeno tipo II, os cortes de 4µm de espessura do
côndilo do joelho direito (meniscectomizado) foram aderidos em lâminas, previamente
tratadas com 3-aminopropiltriethoxy Silano (Sigma Chemical Co., St. Louis, MO,
USA). A reação foi iniciada pela desparafinização dos cortes, através da imersão das
lâminas em xilol aquecido a 60°C, por 30 minutos, seguida de dois banhos de 10
minutos em xilol, à temperatura ambiente. A reidratação dos cortes foi realizada por
sucessivas lavagens em álcool etílico em concentrações decrescentes (100%-75%),
seguida de lavagem com água corrente por 10 minutos, água destilada e PBS por 15
minutos.
Para a exposição e recuperação de sítios antigênicos, os cortes foram submetidos
à digestão enzimática com condroitinase ABC 2UN (Sigma Chemical Co., St. Louis,
60
MO, USA), em tampão contendo Tris 50mM, pH=8,0, acetato de sódio 60mM e BSA
0,02%, por três horas a 37°C. Posteriormente, as lâminas foram lavadas três vezes por 5
minutos e, submetidas à digestão enzimática com pepsina gástrica de porco (Sigma
Chemical Co., St. Louis, MO, USA, 10000 UTI/mL) 8mg/mL, diluída em ácido acético
0,5N, por 30 minutos, a 37°C. Após a recuperação antigênica, os cortes foram
submetidos a um ciclo de três lavagens com PBS, por 10 minutos. Para bloqueio de
sítios inespecíficos, os cortes foram incubados com BSA 5% diluído em PBS, durante
30 minutos. Posteriormente, as lâminas foram incubadas, por uma noite, a 4°C, com o
anticorpo policlonal de camundongo anti colágeno II, numa diluição de 1:20 em PBS.
Após esse período, os cortes foram submetidos a um ciclo de lavagens com PBS
Tween20 0,05%, por três vezes de 10 minutos, e incubados por 60 minutos, a
temperatura ambiente, com o anticorpo de cabra anti-IgG de camundongo (ALEXA
FLUOR 488, Invitrogen, Life Technology), diluído 1:150 em PBS, contendo azul de
Evans 0,006%. Os cortes foram novamente lavados com PBS Tween20 0,05% e as
lâminas montadas com glicerina em PBS (v/v), para a análise no microscópio de
fluorescência Olympus BX51 (Olympus Co, Tokyo, Japan).
Análise da expressão de colágeno tipo II na cartilagem
A expressão de colágeno tipo II no côndilo do joelho direito foi avaliada através
de análise de imagem, pelo software Image Pro-Plus 6.0, onde a captura das imagens
foi realizada como descrito anteriormente. A análise foi realizada por observador, às
cegas, sendo adquiridas imagens de cada caso num aumento de 400 vezes. A área de
cada campo analisado foi medida em µm2 (Figura 24A). Ainda, utilizando-se os
recursos do software Image ProPlus 6.0 de seleção de cores; a tonalidade verde
fluorescente, que identifica o colágeno II foi quantificada (Figura 24B, delimitado em
vermelho). A média da área imunomarcada, correspondente ao colágeno II foi dividida
pela média da área total analisada e o resultado final expresso em porcentagem.
61
Figura 24 – Ilustração da imunomarcação do Colágeno II e quantificação através do
Software Image-Pro Plus 6.0.
(A) Área total avaliada em µm2 (vermelho). (B) Identificação da imunoexpressão de
Colágeno II, utilizando os recursos de seleção de cores (vermelho).
3.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA
Todos os dados obtidos foram analisados mediante testes estatísticos para
comparação, baseados nos tipos de distribuição das variáveis (paramétricas ou não
paramétricas) utilizando o programa estatístico Graphpad prism 4.1 (CA 92037 USA).
Os valores obtidos pelos estudos de cada variável contínua foram organizados e
descritos pela média e desvio padrão. Para a comparação entre as médias dos grupos
62
amostrais foi utilizado o teste One-way ANOVA, utilizando como pós- teste o método de
Tukey. Para que fosse considerada diferença entre médias e frequências ou a presença de
correlação entre variáveis, foi utilizado o valor de significância estatística menor a 5%
(p<0,05).
63
4 RESULTADOS
4.1 CARACTERIZAÇÃO DAS ADSCs DE COELHOS
4.1.1 Análise do Potencial de Diferenciação
A avaliação do potencial de diferenciação das ADSCs de coelhos em linhagens
adipogênica, condrogênica e osteogênica, através das colorações histológicas de Oil
Red-O, Alcian Blue e vermelho de Alizarina, mostrou que as ADSCs, dos grupos de
coelhos analisados neste estudo, obedeceram aos critérios para a caracterização de
células tronco mesenquimais, de acordo com a Sociedade Internacional para Terapia
Celular. Assim sendo, foi observado na Figura 25 (painéis, A-C) que as ADSCs,
cultivadas em meio DMEM suplementado com 10% SFB e 1%
Penicilina/Estreptomicina estavam indiferenciadas, pois apresentaram coloração
negativa para lipídeos (A), proteoglicanos (B) e sais de cálcio (C), indicando que as
ADSCs que não foram cultivadas com meios específicos de diferenciação não
produziram proteínas específicas de células somáticas.
Por outro lado, as ADSCs que foram cultivadas com meio adipogênico,
apresentaram diferenciação para adipócitos, caracterizadas pela coloração positiva para
gotículas lipídicas citoplasmáticas, coradas com Oil Red-O 0,5% em isopropanol
(Figura 25D). Ainda nas ADSCs cultivadas em meio condrogênico, também foi obtido
positividade para a síntese de proteoglicanos, identificados através da coloração de
Alcian Blue 1% em HCl 0,1N, mostrando que estas células apresentaram diferenciação
condrocitária (Figura 25 E). Do mesmo modo, quando cultivamos as ADSCs em meio
osteogênico, pôde-se observar sinais de diferenciação pela presença de agregados de
sais de cálcio que foram caracterizados pela intensa coloração do vermelho de alizarina.
64
Figura 25 – Caracterização de células tronco mesenquimais derivadas do tecido
adiposo através da diferenciação em linhagens adipogênica, condrogênica e
osteogênica.
Células tronco mesenquimais do tecido adiposo de coelhos observadas em contraste de
fase cultivadas em placa de cultura com DMEM, suplementado com 10% SFB e 1%
Penicilina/Estreptomicina e coradas com Oil Red-O 0,5% em isopropanol (A), Alcian
Blue 1% em HCl 0,1N (B) e em vermelho de alizarina 2% (C). As ADSCs cultivadas
com meio adipogênico, por 14 dias, e coradas com Oil Red 0,5% em isopropanol,
mostraram diferenciação adipogênica, pela identificação das gotículas lipídicas no
citoplasma (D, seta); as ADSCs cultivadas em meio condrogênico, por 14 dias, e
coradas com Alcian Blue 1% em HCl 0,1N, mostram a síntese de proteoglicanos em
azul (E, seta) e as cultivadas com meio osteogênico, por 21 dias, mostram a síntese de
sais de cálcio, corada com o vermelho de Alizarina 2% (F, seta).
65
4.1.2 Caracterização por Microscopia Eletrônica de Transmissão e
Imunofluorescência
Na Figura 26 A-L observa-se o resultado da caracterização da cultura de ADSCs
analisadas por microscopia eletrônica de transmissão, imunofluorescência e microscopia
confocal. Pode-se evidenciar nas micrografias eletrônicas da cultura de ADSCs (Figura
26, A-H), em menor aumento, as células cultivadas viáveis, dispostas em blocos
levemente coesos, com vesículas eletrondensas, resultantes da adaptação das células em
cultura (Figura 26A). Em grande aumento, observa-se as células tronco mesenquimais
frequentemente binucleadas, exibindo núcleos chanfrados com membrana nuclear
eletrondensa, nucleoplasma e cromatina uniforme, com discreta eletrondensidade
(Figura 26B), mas com nucléolo evidente (Figura 26C). No citoplasma, as células
mesenquimais apresentam vesículas pinocíticas com localização perinuclear ou junto à
membrana citoplasmática (Figura 26, D-G). As ADSCs também apresentam grande
quantidade de retículo endoplasmático granular (Figura 26F), mitocôndrias esparsas
(Figura 26F) e é evidente a presença de uma rede rica de filamentos intracitoplasmáticos
(Figura 26, G-H). Por outro lado, a análise da imunofluorescência para vimentina da
cultura de ADSCs apresentou intensa expressão desta proteína, assinalada pela forte
fluorescência no citoplasma dessas células (Figura 26I). As ADSCs apresentaram uma
expressão negativa para CD34, indicando que a linhagem não estava diferenciada em
células endoteliais ou hematopoiéticas (Figura 26L). Ainda, a análise em 3D em
microscópio confocal foi tênue para colágeno II (Figura 26J), assim como a co-
localização de vimentina (Figura 26K, asterisco) e colágeno II (Figura 26K, seta),
confirmando a linhagem mesenquimal.
66
Figura 26 – Micrografias eletrônicas (A-H) e imunomarcação (I-L) de cultura de
células tronco mesenquimais.
Pode-se notar em visão panorâmica das células tronco mesenquimais exibindo coesividade
(A). Em grande aumento, as ADSCs são frequentemente binucleadas e exibem núcleos (N)
chanfrados com membrana nuclear eletrondensa, nucleoplasma e cromatina uniforme com
discreta eletrondensidade (B) e nucléolo evidente (Nu) (C). No citoplasma, notamos
vesículas pinocíticas (VP) localizadas na região perinuclear ou junto à membrana
citoplasmática (D-G). Retículo endoplasmático granular (RE) ativo (F) e mitocôndrias
(Mi) esparsas (F). Notar rede rica de filamentos intracitoplasmáticos (G-H).
Imunofluorescência da cultura de ADSCs (I-L). No painel I, nota-se forte expressão de
vimentina na região citoplasmática em verde. Em J, observa-se a expressão positiva para
colágeno II (verde), que é confirmada pela microscopia confocal com co-localização de
vimentina (asterisco, verde) / colágeno II (seta, alaranjado) (K). No painel L, não se
observa imunomarcação para CD34 nestas células.
67
4.2 ANÁLISE DA DOSE/RESPOSTA PARA COLÁGENO V EM CULTURA
DE ADSCs
A análise da resposta para os estímulos das ADSCs in vitro com Col V, nas
concentrações 12,5µg/mL, 25µg/mL, 50µg/mL, 100µg/mL, 200µg/mL e 400µg/mL em
24h, 48h, 72h, 7 dias, 14 dias e 21 dias, mostrou que o colágeno do tipo II, produzido
por estas células, esteve mais expresso na concentração de 50µg/mL de Col V por 72h
(dados não mostrados). A Figura 27, A-J demonstra os resultados da
imunofluorescência após o estímulo com Col V (50µg/mL por 72h), onde observa-se
que tanto as ADSCs, cultivadas somente com DMEM suplementado (cultura controle),
como as ADSCs cultivadas previamente com Col V, exibiram marcação positiva para
vimentina (Figura 27, A-B) e negativa para CD34 (Figura 27, C-D), caracterizando a
linhagem de células tronco e mostrando que essas células, mesmo após estímulo,
mantiveram o padrão de expressão característico da linhagem mesenquimal. Tanto a
cultura controle como a estimulada com colágeno V mostrou uma expressão tênue para
os colágenos fibrilares dos tipos I e III (Figura 27, E-H). Por outro lado, a
imunomarcação para colágeno do tipo II (diferenciação condrocitária) mostrou-se muito
intensa na cultura estimulada com Col V, em relação às células sem estímulo (Figura
27, I-J).
68
Figura 27 – Imunofluorescência para vimentina, CD34, colágenos I, II e III em ADSCs
controle e após estímulo com colágeno V.
Precipitado de ADSCs (E-F e I-J) e lamínulas com ADSCs (A-D e G-H), cultivadas em DMEM
suplementado (controle) e cultivadas com estímulo com Col V. As ADSCs controle (A) e
estimuladas com Col V (B), mostraram imunomarcação positiva para vimentina e negativa para
CD34 (C e D). Notar uma tênue expressão na imunofluorescência para os colágenos I (E-F) e III
(G-H), nas células controle e nas estimuladas com Col V. As ADSCs sem estímulo, mostraram
imunoexpressão negativa para o colágeno II (I) e, ao contrário, as ADSCs estimuladas com Col
V, mostram intensamente expressão do colágeno II (J).
69
4.3 AVALIAÇÃO DO POTENCIAL CONDROGÊNICO DAS ADSCS DE
COELHOS ESTIMULADAS COM COLÁGENO V
A figura 28 (painéis A-F) ilustra os resultados das características condrogênicas
das ADSCs, cultivadas com DMEM suplementado com 10% SFB e 1% de
Penicilina/Estreptomicina e estimuladas com Col V. No que se refere à avaliação da
síntese de proteoglicanos, nos precipitados celulares da cultura das ADSCs coradas pelo
Alcian Blue/PAS (Figura 28, A-B), nota-se um aumento na expressão de proteoglicanos
após o estímulo com Col V, indicado pela impregnação azul do corante (Figura 28B),
quando comparado ao precipitado celular sem estímulo (Figura 28A). A avaliação da
síntese de colágeno total pela coloração do Picrosírius, por microscopia de polarização
(Figura 28, C-D), também foi mais intensa após o estímulo com Col V, indicada pelo
aumento de pontos birrefringentes róseo-avermelhados no precipitado celular da cultura
(Figura 28D), quando comparada com as ADSCs sem estímulo (Figura 28C). Ainda foi
demonstrado na Figura 28 (E-F), que a expressão para osteocalcina apresentou-se
negativa no precipitado celular da cultura das ADSCs estimuladas com Col V, quando
comparado às ADSCs sem estímulo.
70
Figura 28 – Coloração para proteoglicanos e colágeno e, imunofluorescência para
proteína de formação óssea em ADSCs controle e após estímulo com colágeno V.
Os painéis A e B representam os precipitados celulares das culturas de ADSCs corados
pelo Alcian Blue/PAS. Nota-se um aumento expressivo dos proteoglicanos após o
estímulo com Col V, indicado pela impregnação azul do corante (B) quando comparado
ao precipitado celular sem estímulo (A). Nos painéis (C) e (D) observamos os
precipitados celulares corados pelo Picrosírius analisados em microscópio de
polarização. Nota-se o aumento da síntese de colágeno, caracterizada pela
birrefringência rosa-avermelhada de padrão estrelado no precipitado celular que foi
estimulado com Col V (D), quando comparado com o controle sem estímulo (C). A
imunomarcação para osteocalcina foi negativa no precipitado de ADSCs estimuladas
com Col V (F) em relação às ADSCs controle (E).
71
4.4 AVALIAÇÃO DA EXPRESSÃO DE COLÁGENO DO TIPO II PELAS
ADSCs DE COELHOS ESTIMULADAS COM COLÁGENO V,
COMPARADA A OUTROS ESTÍMULOS
Nossos resultados mostram que a expressão para o colágeno do tipo II através da
microscopia confocal, corroborou com os dados observados em microscópio de
fluorescência, afirmando a intensa expressão deste marcador condrogênico após o
estímulo com colágeno do tipo V (Figura 29B), em relação às cultivadas com DMEM
suplementado com 10% SFB e 1% de Penicilina/Estreptomicina (Figura 29A) e também
nas ADSCs estimuladas com TGF-β1 (Figura 29C).
Ainda a associação com TGFβ-1 ao estímulo com colágeno do tipo V, mostrou
diminuição na expressão de colágeno II (Figura 29D) em relação ao estímulo com
colágeno V (Figura 29B) e, uma maior expressão em relação às ADSCs cultivadas sem
estímulo (Figura 29A). Adicionalmente, observamos que as ADSCs quando estimuladas
com colágeno do tipo I (Figura 29E), a expressão colágeno do tipo II é semelhante às
ADSCs cultivadas sem estímulo (Figura 29A). Quando associamos o estímulo com
colágeno do tipo I e TGFβ-1(Figura 29F), a expressão foi semelhante ao estímulo do
colágeno V mais TGFβ-1 (Figura 29D) e, maior em relação às ADSCs cultivadas sem
estímulo (Figura 29A).
72
Figura 29 – Imunofluorescência para colágeno do tipo II em ADSCs controle e estimuladas
com ColV, ColV+TGF-β1, TGF-β1, ColI e ColI+ TGF-β1. Notar a intensa fluorescência (verde) da expressão de colágeno do tipo II na cultura de células
estimuladas com colágeno V (B) comparadas com as sem estímulo (A) e comparadas ao controle positivo
TGF-β1 (C). Em contraste após o estímulo com colágeno do tipo I (E) as ADSCs não apresentaram
alteração no padrão de síntese do colágeno do tipo II em relação ao controle sem estímulo (A). Observar
em (F) um pequeno aumento na expressão do colágeno do tipo I, quando o colágeno I foi associado ao
TGF-β1. Em (D) observamos uma menor expressão de colágeno II quando TGF-β1 é associado ao
colágeno V, quando comparamos com as ADSCs estimulada somente com colágeno V (B).
E
50 µm
50 µm
50 µm
COL I COL I + TGF-β1
COL V + TGF-β1
F
D
A
50 µm 50 µm
DMEM COL V
Anti col-II/DAPI
B
TGF-β1
50 µm
C
73
4.5 ANÁLISE HISTOMORFOMÉTRICA DO COLÁGENO DO TIPO II NAS
ADSCS DE COELHOS
A análise quantitativa da imunomarcação para colágeno do tipo II em pellet das
ADSCs cultivadas com e sem estímulo com colágeno do tipo V, confirma a avaliação
morfológica e ultraestrutural desta proteína, onde foi observado um aumento
significante do colágeno do tipo II nas células estimuladas com colágeno do tipo V em
relação à cultura controle, respectivamente (73,7±2,9% vs 8,7±1,1%, p<0,0001)
demonstrado no gráfico 1.
Gráfico 1 - Análise gráfica da quantificação do colágeno do tipo II por
imunofluorescência das ADSCs cultivadas com DMEM suplementado e estimuladas
com Col V Valor expresso por fração de área (%). Análise pelo GraphPad Prism-versão 5.0 (*p<0,0001)
4.6 ANÁLISE DA EXPRESSÃO DOS GENES COL2A1, ACAN E POU5F1
NAS ADSCS ESTIMULADAS COM COLÁGENO DO TIPO V
A avaliação da expressão do gene COL2A1 a partir do RNAm das ADSCs
estimuladas com colágeno V e controles, corroboram com os nossos resultados
morfológicos e histomorfométricos da expressão proteica do colágeno do tipo II. Foi
observado que a expressão do gene COL2A1 apresentou-se significativamente
aumentada nas ADSCs estimuladas com colágeno V, quando comparado com a cultura
74
controle e no controle positivo com TGF-β1 (p<0,05) como mostra a Figura 30 e Tabela
4. Estes resultados demonstram mais uma vez que o estímulo com colágeno V induz a
síntese do colágeno do tipo II nas ADSCs, justificando a expressão proteica aumentada.
Adicionalmente, os resultados para a expressão do gene ACAN também
demonstraram um aumento significativo para a síntese deste gene nas ADSCs
estimuladas com colágeno V, quando comparamos com a cultura controle (p<0,05)
(Figura 30 e Tabela 4), o que confirma nossos resultados morfológicos através da
coloração com Alcian-Blue/PAS (Figura 28 A-B). Em contraste à expressão do POU5F1
não apresentou diferença estatística, mas esteve expresso em todos os estímulos
celulares estudados (Figura 30 e Tabela 4). Este resultado confirma que as ADSCs
mesmo depois de serem submetidas ao estímulo com colágeno do tipo V e TGF-β1 não
perderam seu fenótipo celular, apesar de haver uma diferença numérica para a
diminuição deste marcador após os estímulos.
75
Figura 30 – Representação gráfica da quantidade relativa da expressão dos genes
COL2A1, POU5F1 e ACAN de ADSCs sem estímulo e cultivadas com TGF-β1 e ColV
por qRT-PCR.
Significância estatística com teste de comparação múltipla de Tukey (p<0,05)
76
Tabela 4 - Quantificação relativa da expressão dos genes COL2A1, POU5F1 e ACAN
e em ADSCs cultivadas sem estímulo (controle), estimuladas com TGF-β1 e com
colágeno V.
Gene ADSCs/Controle ADSCs/TGF-β1 ADSCs/ColV
COL2A1 1,0±0,6 2,4±0,1* 2,5±0,2*
POU5F1 1,0±0,4 0,6±0,4 0,4±0,4
ACAN 1,0±0,2 2,4±0,4 3,1±0,7*
Valores representam a média ± erro padrão da média. Significância estatística com teste
de comparação múltipla de Tukey (*p<0,05)
4.7 ANÁLISE MORFOLÓGICA DO EFEITO DA TERAPÊUTICA
CELULAR NA CARTILAGEM OSTEOARTRÍTICA
A figura 31, painéis A D, G, mostra a análise morfológica do côndilo direito no
grupo OA. Neste grupo de animais observa-se a solução de continuidade na forma de
fissuras lineares sobre a superfície da cartilagem articular, redução na espessura das
trabéculas ósseas como mostra a Figura 31 A. Ainda no grupo OA, na junção
osteocartilaginosa, em maior aumento são observadas linhas de aposição azuis,
mostrando o intenso remodelamento do tecido ósseo (Figura 31 D) e desorganização
dos condrócitos com formação de “clusters” celulares sólidos característicos de uma
cartilagem osteoartrítica (Figura 31 G).
Após o tratamento, a continuidade da superfície articular foi restabelecida,
principalmente no grupo OA/ADSCs/V que apresentou menos fibrilações (Figura 31 C,
F, I) e, a espessura das traves ósseas (Figura 31 B, E, H) foi similar entre os grupos
tratados. Em grande aumento, o desarranjo espacial dos condrócitos dispostos em
“clusters” celulares coesos na osteoartrite (Figura 31 G) apresenta-se de forma ordenada
no grupo após o tratamento OA/ADSCs/V (Figura 31 I) quando comparamos com os
grupos OA (Figura 31 C) e OA/ADSCs (Figura 31 H).
77
Figura 31 – Fotos representativas do côndilo do joelho direito dos grupos OA,
OA/ADSCs e OA/ADSCs/V, corados em H&E e avaliados por microscopia óptica.
Microscopia óptica da articulação do joelho côndilo direito após indução de osteoartrite
(A, D, G), diminuição do processo osteoartrítico após tratamento com células tronco
mesenquimais de tecido adiposo (B, E, H) e após o tratamento com células tronco
mesenquimais estimuladas com colágeno V (C, F, I). O côndilo direito apresenta
fissuras lineares sobre a superfície da cartilagem articular e redução na espessura das
trabéculas ósseas (D, G); há desorganização dos condrócitos com formação de
“clusters” (G, seta). Em contraste, o tratamento reestabeleceu grande extensão da
continuidade da superfície articular e a espessura da cartilagem (E, H) similar ao tratado
com células tronco mesenquimais estimuladas com colágeno V (F, I). Em grande
aumento, nota-se que os condrócitos dispostos em “clusters” (G) estão mais orientados
na superfície cartilaginosa, após os tratamentos (H) (I), embora o último grupo tenha
apresentado menor quantidade de fibrilações (I).
78
4.8 ANÁLISE QUANTITATIVA DOS PARAMETROS MORFOLÓGICOS
APÓS A TERAPÊUTICA CELULAR NA CARTILAGEM
OSTEOARTRÍTICA
4.8.1 Aumento da Espessura Cartilaginosa Após a Terapia Celular
Na tabela 5 observa-se os resultados obtidos da análise histomorfométrica da
espessura na cartilagem articular após a terapia com ADSCs e ADSCs estimuladas com
colágeno do tipo V. Nota-se um efeito positivo no que se refere ao ganho tecidual nos
animais dos grupos tratados. O côndilo direito e o platô da tíbia do grupo OA/ADSCs/V
apresentaram aumento significativo da espessura cartilaginosa quando comparado aos
grupos OA e OA/ADSCs (p<0,05). No platô do joelho direito nos animais do grupo
OA/ADSCs foi obtido uma resposta intensa e estatisticamente significativa para terapia
celular, quando relacionamos com o côndilo do joelho direito (Côndilo JD) (Tabela 5 e
Gráfico 2A). No joelho contralateral (Côndilo JE e Platô JE) a terapia celular também
foi positiva nos grupos OA/ADSCs e OA/ADSCs/V, quando comparado com o grupo
OA (Tabela 5 e Gráfico 2B). Estes dados mais uma vez corroboram com os resultados
obtidos através avaliação morfológica em H&E e comprovam um ganho significativo de
tecido após a terapêutica celular (Figura 31-A-I).
Tabela 5 - Medida da espessura da cartilagem expressa em % de células/µm² no côndilo
e platô dos joelhos direito (JD) e esquerdo (JE) dos grupos OA, OA/ADSCs e
OA/ADSCs/V avaliados através da coloração de H&E.
Espessura da
cartilagem JD Côndilo JD Platô JE Côndilo JE Platô
OA 25,5±6,4 25,1±7,1 24,2±7,0 29,6±12,1
OA/ADSCs 29,7±7,0 31,0±7,5 35,7±10,8* 43,0±13,4*
OA/ADSCs/V 38,8±7,0* 56,6±8,0* 39,0±6,4* 43,7±10,6*
Valores representam a média ± desvio padrão. Teste de Comparação Múltipla de
Bonferroni: *p<0,05
79
Gráfico 2 - Representação gráfica da espessura da cartilagem articular dos grupos OA,
OA/ADSCs e OA/ADSCs/V.
80
4.8.2 Aumento da Celularidade Após a Terapia Celular
A tabela 6 evidencia os resultados provenientes da análise histomorfométrica
dos condrócitos após a terapia com ADSCs e ADSCs estimuladas com colágeno do tipo
V. Observa-se que a terapia celular conseguiu auxiliar o aumento no número de
condrócitos em todos os animais tratados (Tabela 6 e Gráfico 3). Entretanto somente
foram significativos os dados obtidos do côndilo do JD do grupo OA/ADSCs/V, quando
comparado com o grupo OA (p<0,05) (Tabela 6 Gráfico 3A). Os resultados referentes à
celularidade, mostram que apesar das ADSCs estimularem o aumento de condrócitos na
cartilagem osteoartrítica, somente as ADSCs/ColV conseguiram interferir positivamente
no processo degenerativo. Estes resultados complementam e corroboram com os
achados da análise morfológica da distribuição dos condrócitos nos grupos OA,
OA/ADSCs e OA/ADSCs/V que observamos através da coloração de H&E (Figura 31
A-I).
Tabela 6 - Contagem de condrócitos na cartilagem expressos em % de células/µm² no
côndilo e platô dos joelhos direito (JD) e esquerdo (JE) dos grupos OA, OA/ADSCs e
OA/ADSCs/V avaliados através da coloração de H&E.
Celularidade JD Côndilo JD Platô JE Côndilo JE Platô
AO 28,3±4,9 22,7±4,9 40,0±8,1 32,2±9,7
OA/ADSCs 31,5±6,8 26,3±5,5 37±5,3 28,2±7,5
OA/ADSCs/V 43,0±5,3* 30,3±5,6 39,0±13,9 37,0±5,2
Valores representam a média ± desvio padrão. Teste de Comparação Múltipla de
Bonferroni: *p<0,05
81
Gráfico 3 - Representação gráfica da porcentagem de condrócitos da cartilagem
articular dos grupos OA, OA/ADSCs e OA/ADSCs/V.
82
4.9 ANÁLISE MORFOLÓGICA DA TERAPIA CELULAR NOS
PROTEOGLICANOS DA CARTILAGEM OSTEOARTRÍTICA
4.9.1 Terapia com ADSCs estimuladas com colágeno V induz o aumento de
proteoglicanos na cartilagem osteoartrítica
Na figura 32 pode-se observar o resultado da análise morfológica e
histomorfométrica do conteúdo de proteoglicanos na articulação do joelho dos grupos
OA, OA/ADSCs e OA/ADSCs/V corados com Safranina-O/fast green. Na figura 32 A,
representativa do grupo OA é possível observar a perda expressiva de proteoglicanos no
côndilo do JD, caracterizada pela diminuição da coloração avermelhada resultante da
coloração metacromática, principalmente perto das fissuras lineares da superfície da
cartilagem articular. Ainda neste mesmo grupo nota-se a presença de proteoglicanos
principalmente ao redor dos condrócitos com perda significativa na matriz cartilaginosa.
A diminuição do conteúdo de proteoglicanos nesse grupo é presente tanto no côndilo do
JD como no côndilo do JE, como mostra as figuras 32 D e E (p<0,05). Em contraste,
nos grupos OA/ADSCs e OA/ADSCs/V observa-se aumento da coloração avermelhada
de padrão homogêneo da matriz cartilaginosa, que é identificada principalmente na zona
mais profunda da cartilagem, rodeando a matriz pericondrocitária como observamos na
Figura 32 B e C, respectivamente e comparadas ao padrão da coloração do grupo OA
(Figura 32 A).
No grupo OA/ADSCs observa-se a coloração avermelhada de forma mais tênue, com
padrão heterogêneo da matriz cartilaginosa (Figura 32 B) em relação ao grupo OA
como mostra a Tabela 7 e Figura 32 D e E. Por outro lado no grupo OA/ADSCs/V
(Figura 32 C) a perda de proteoglicanos foi menor e homogêneo, identificada pela
coloração avermelhada resultante do corante Safranina-O/fast green. Estes dados foram
confirmados pela análise histomorfométrica, que demonstrou diminuição da perda de
proteoglicanos no côndilo do JD em relação ao grupo OA/ADSCs (p<0,05), indicando
que o estímulo com colágeno V foi mais eficaz do que o tratamento com ADSCs.
Ainda, o grupo OA/ADSCs/V revelou uma importante diminuição da perda de
proteoglicanos no côndilo do JD e do JE (p<0,05), quando comparado com o grupo OA
(Figura 32 D). A análise histomorfométrica da expressão de proteoglicanos confirmam
83
os resultados obtidos através do H&E (Figura 31) e da Safranina-O/fast green,
mostrando mais uma vez o ganho dos componentes da matriz da cartilagem.
Tabela 7 - Quantificação da perda de proteoglicanos na cartilagem articular no côndilo
e platô dos joelhos direito (JD) e esquerdo (JE) dos grupos OA, OA/ADSCs e
OA/ADSCs/V, avaliados através da coloração de Safranina O/fast green e expressos em
fração de área (%)
Perda de Proteoglicanos JD Côndilo JD Platô JE Côndilo JE Platô
OA 41,6±11,4 20,2±8,8 22,8±2,4 14,4±3,4
OA/ADSCs 31,8±8,3* 21,4±8,3 17,0±5,0 14,1±3,7
OA/ADSCs/V 17,7±6,1* 11,0±5,1 9,0±1,9* 4,4±1,2
Valores representam a média ± desvio padrão. Teste de Comparação Múltipla de Tukey
*p<0,05
84
Figura 32 – Fotos representativas da cartilagem articular do côndilo direito dos grupos
OA, OA/ADSCs e OA/ADSCs/V corados com Safranina-O/fast green.
Notar em (A) a região lesionada do côndilo direito com perda expressiva de
proteoglicanos (diminuição da coloração avermelhada) principalmente perto das fissuras
lineares da superfície da cartilagem articular. Notar a presença de proteoglicanos
somente ao redor dos condrócitos e com perda significativa na matriz cartilaginosa. Em
(B) aumento da coloração avermelhada no grupo OA/ADSCs, porém heterogênea na
matriz cartilaginosa e na superfície da cartilagem caracterizando aumento da perda de
proteoglicanos (diminuição do vermelho). Nota-se no grupo OA/ADSCs/V o aumento
dos proteoglicanos, de padrão homogêneo na matriz cartilaginosa, indicada pela intensa
coloração avermelhada (C). Gráficos representam a porcentagem de perda de
proteoglicanos no joelho direito (D) e joelho esquerdo (E).
85
4.10 ANÁLISE DA TERAPIA CELULAR NA SÍNTESE DO
COLÁGENO DO TIPO II NA CARTILAGEM OSTEOARTRÍTICA POR
IMUNOFLUORESCÊNCIA
4.10.1 Terapia com ADSCs estimuladas com colágeno V induz a síntese de
colágeno II na cartilagem osteoartrítica
Na Figura 33 A-D e Tabela 8 observa-se os resultados da análise morfológica e
histomorfométrica da imunofluorescência para colágeno do tipo II, na articulação do
joelho dos grupos OA, OA/ADSCs e OA/ADSCs/V. No grupo OA (Figura 33 A) nota-
se a intensa diminuição de colágeno II no côndilo do JD (p<0,05) (Figura 33 A e Tabela
8), caracterizada pela diminuição da intensidade da imunofluorescência resultante da
imunomarcação para colágeno do tipo II na superfície da cartilagem articular e
expressão aumentada na região pericondrocitária. Em contraste, no grupo OA/ADSCs
foi identificado aumento na síntese de colágeno II, principalmente ao redor da região
pericondrocitária, mas com uma tênue expressão desta proteína na matriz cartilaginosa,
quando comparadas ao grupo OA/ADSCs/V (Figura 33 B). No entanto, no grupo
OA/ADSCs/V a síntese do colágeno do tipo II apresenta-se intensamente aumentada,
tanto na região pericondrocitária como na matriz cartilaginosa, indicando um aumento
intenso da síntese desta proteína pelos condrócitos da cartilagem osteoartrítica (p<0,05),
(Figura 33 C e Tabela 8).
Tabela 8 - Analise quantitativa da síntese colágeno do tipo II no côndilo do joelho
direito (JD) dos grupos OA, OA/ADSCs e OA/ADSCs/V por imunofluorescência.
Resultados expressos em porcentagem (%).
Colágeno II JD Côndilo
OA 3,3±1,9
OA/ADSCs 4,5±1,0
OA/ADSCs/V 9,4±2,1*
Valores representam a média ± desvio padrão. Teste de Comparação Múltipla de Tukey
*p<0,05
86
Figura 33 – Imunofluorescência para colágeno do tipo II da cartilagem articular do
côndilo direito dos grupos OA, OA/ADSCs e OA/ADSCs/V.
Notar em (A) na região lesionada do côndilo direito perda da expressão de colágeno II e
ausência da imunomarcação na matriz cartilaginosa. Notar a síntese de colágeno II
somente ao redor dos condrócitos e com perda significativa na matriz cartilaginosa. Em
(B) no grupo OA/ADSCs, observamos aumento da expressão de colágeno II na região
pericondrocitária, mas ausente na matriz cartilaginosa. No grupo OA/ADSCs/V é
observado intensa fluorescência na região pericondrocitária e na matriz cartilaginosa
(C). Em (D) observamos a representação gráfica da fração de área imunomarcada para
colágeno II nos grupos estudados.
87
4.11 ANÁLISE DA TERAPIA CELULAR NO MECANISMO DE
APOPTOSE DA CARTILAGEM OSTEOARTRÍTICA POR
IMUNOHISTOQUÍMICA
4.11.1 Terapia com ADSCs estimuladas com colágeno V diminui a expressão
de Fas-L na cartilagem osteoartrítica
Na Figura 34 A-D observa-se fotos representativas dos resultados da análise
morfológica e histomorfométrica da imunohistoquímica para Fas-L, na articulação do
joelho dos grupos OA, OA/ADSCs e OA/ADSCs/V. A Figura 34 A ilustra a intensa
expressão do Fas-L no côndilo do JD no grupo OA (p<0,05), caracterizada pelo
aumento da imunomarcação para Fas-L na superfície da cartilagem articular e na região
pericondrocitária. Em contraste, no grupo OA/ADSCs foi observado uma tênue
diminuição da expressão deste marcador na região pericondrocitária, quando
comparadas ao grupo OA (Figura 34 B). No entanto, no grupo OA/ADSCs/V a
expressão do Fas-L apresenta-se diminuída na região pericondrocitária (p<0,05),
indicando diminuição da apoptose dos condrócitos e recuperação da celularidade na
cartilagem osteoartrítica, corroborando com nossos dados morfológicos e
histomorfométricos em H&E (Figura 31 e Tabela 9).
Tabela 9 - Quantificação da expressão de Fas-L no côndilo do joelho direito (JD) dos
grupos OA, OA/ADSCs e OA/ADSCs/V por imunohistoquímica.
Resultados expressos em porcentagem (%) de células positivas/µm²
Fas-L JD Côndilo
OA 19,1±3,6
OA/ADSCs 14,7±4,0
OA/ADSCs/V 11,0±3,1*
Valores representam a média ± desvio padrão. Teste de Comparação Múltipla de
Tukey *p<0,05
88
Figura 34 – Imumohistoquímica da cartilagem articular do côndilo direito dos grupos
OA, OA/ADSCs e OA/ADSCs/V imunomarcados com Fas-L.
Notar em (A) na região lesionada do côndilo direito a intensa expressão desta proteína
nos condrócitos perto das fissuras da superfície da cartilagem articular. Em (B) nota-se
uma pequena diminuição da imunomarcação do Fas-L nos condrócitos da região
superficial no grupo OA/ADSCs. No grupo OA/ADSCs/V foi observado grande
diminuição da expressão deste marcador nas regiões superficial e profunda da
cartilagem (C). Em D, gráfico expressando a marcação positiva para Fas-L por µm².
89
5 DISCUSSÃO
As ADSCs estimuladas com colágeno V aumentam a expressão de componentes
da matriz cartilaginosa como proteoglicanos e colágeno tipo II in vitro e a administração
mensal intra-articular destas células após estímulo foi capaz de atenuar o processo
osteoartrítico, com diminuição das alterações teciduais, sugerindo uma possível ação
condrogênica desta proteína nas ADSCs.
É consenso na literatura que as ADSCs possuem capacidade de auto-renovação e
diferenciação celular, além de secretarem fatores importantes para a homeostase (40) (47).
Dentre outras fontes de obtenção, o tecido adiposo torna-se mais viável devido à maior
facilidade e quantidade de MSCs isoladas. Ainda, a associação de substâncias como
PRP, ácido hialurônico, e outros, às ADSCs para posterior avaliação in vitro e in vivo
tem se tornado frequente em pesquisas básicas e clínicas para o tratamento da OA (52).
Embora o colágeno V seja encontrado na cartilagem em desenvolvimento não há
relatos na literatura científica sobre sua importância na cartilagem adulta, bem como sua
utilização no estímulo de ADSCs para tratamento da OA.
No presente estudo optamos pelo transplante autólogo de ADSCs no modelo
experimental de OA em coelhos Nova Zelândia, submetidos a meniscectomia parcial. É
importante salientar que a identificação da expressão dos marcadores para ADSCs,
como CD73+, CD90+, CD105+, CD45-, CD34-, CD14-, CD 19-, CD79, CD11b e
HLA-DR (43) torna-se difícil em células provenientes de coelhos, devido à falta de
anticorpos específicos disponíveis para esta espécie. Deste modo, realizamos a
caracterização morfológica das células por microscopia eletrônica de transmissão, a
qual demonstrou pela disposição e a forma das organelas, grande quantidade de retículo
endoplasmático granular, que estas células apresentam fenótipo mesenquimal. Ainda,
demonstramos que as células obtidas da lipectomia da região interescapular de coelhos
foram positivas para vimentina e negativas para CD34, além da capacidade de
diferenciação em linhagens condrogênica, osteogênica e adipogênica, conforme
estabelecido pela Sociedade Internacional de Terapia Celular (49).
Após estabelecimento da cultura de ADSCs, foi realizado estímulo com Col V
para avaliação da expressão de vimentina, CD34, colágenos I, II e III, osteocalcina,
síntese de proteoglicanos e colágeno total. Foi observado que após o estímulo com Col
V, as ADSCs mantiveram a positividade para vimentina e CD34 manteve-se negativo e,
90
que, embora as ADSCs tenham uma expressão basal de colágenos fibrilares I e III, essa
expressão se manteve após o estímulo com Col V. Por outro lado, o colágeno II, um
importante constituinte do tecido cartilaginoso, foi altamente expresso pelas ADSCs
com Col V, sugerindo que esse estímulo foi eficaz podendo tornar-se um potencial fator
condrogênico.
Outro fator consagrado na comunidade científica para diferenciação
condrogênica in vitro em ADSCs é o TGF-β1 (40). Este é considerado um importante
fator anabólico para o crescimento e manutenção do tecido cartilaginoso, estimulando a
proliferação celular e síntese de componentes da MEC, como os glicosaminoglicanos,
além da expressão de genes específicos, como o do agrecano e do colágeno II e, do fator
de transcrição SOX-9 (regulador da condrogênese e da formação da cartilagem) (36).
Além da utilização desse fator de crescimento nas ADSCs, foi descrito na literatura a
sua associação em cultura de condrócitos humanos, cuja resposta foi o aumento de
colágeno do tipo II, quando comparado à cultura sem TGF-β (81) (82) (83) (84) (85). Por essa
razão, utilizamos esse fator condrogênico como um controle positivo, para avaliar a
expressão dos genes COL2A1 e ACAN e comparar com a resposta das ADSCs,
promovida pelo estímulo com o Col V. Demonstramos que o Col V na cultura de
ADSCs gerou uma resposta similar à do TGF-β1 na expressão do gene COL2A1 em
relação à cultura controle, não havendo diferença estatística entre os dois estímulos e,
apresentou uma expressão significante do gene ACAN em relação às ADSCs controle,
sugerindo mais uma vez que ele possa atuar como mediador condrogênico.
Ademais, a comparação da imunomarcação para colágeno do tipo II, um típico
marcador condrogênico, nas ADSCs com diferentes estímulos permitiu concluir que o
colágeno V foi eficiente no aumento da expressão do colágeno II in vitro, mesmo
quando comparado ao estímulo com TGF-β1 e, surpreendentemente, ao associarmos o
Col V com o TGF-β1, a expressão de colágeno II diminuiu. Embora não tenhamos
estudado os mecanismos envolvidos na diferenciação destas células, fica evidente que
Col V tenha um efeito similar ao TGF-β1. Além disso, considera-se que quando Col V e
TGF-β1 são acrescidos simultaneamente à cultura de ADSCs ocorra um feedback
negativo, um inibindo a ação do outro, mesmo não disputando pelos mesmos receptores
nas ADSCs.
Embora o TGF-β seja amplamente utilizado para a diferenciação de ADSCs na
linhagem condrogênica in vitro, foi demonstrado que a utilização prolongada deste fator
91
de crescimento, pode ocasionar diminuição no conteúdo de proteoglicanos e propiciar a
formação de osteófitos (36).
Por outro lado, neste modelo celular ficou demostrado que o estímulo das
ADSCs, provenientes do tecido adiposo de coelhos, estimuladas com o Col V,
produzem uma quantidade expressiva de colágeno do tipo II e proteoglicanos; tais
resultados estão de acordo com a expressão de RNAm para colágeno tipo II, obtida em
análise molecular, que foi maior em ADSCs estimuladas com Col V, em relação às não
estimuladas com esta proteína. Ainda, demonstramos que as ADSCs quando
estimuladas por TGF-β1, um dos principais fatores de crescimento, apresentaram
expressão similar das proteínas estudadas, em relação ao estímulo com Col V.
Outro resultado de grande importância em nosso estudo foi que o colágeno V
não apresentou expressão de proteínas de formação óssea pelas ADSCs indicado pela
expressão negativa para osteocalcina. Nosso resultado vai de encontro com o trabalho
de Longo e col (2014) que demonstraram que o colágeno tipo V não atuou na
diferenciação osteogênica de MSCs humanas (86). Porém, baseados em nossos dados
consideramos que ele tenha um potencial de diferenciação condrogênica in vitro e um
potencial de reparo tecidual in vivo (67).
Na primeira etapa do nosso estudo, mostramos que o estímulo com colágeno V é
importante, nunca foi descrito na literatura para diferenciação condrogênica e que,
eventualmente, pode ser mais seguro que outros fatores lábeis ou de função antagônica.
Tivemos então, o interesse de avaliar como seria a ação terapêutica das ADSCs,
estimuladas previamente com Col V, em coelhos com OA induzida por meniscectomia
parcial.
Apesar de existirem diferentes modelos experimentais de osteoartrite, inclusive
com secção de ligamento cruzado anterior, nós utilizamos o modelo experimental de
OA por meniscetomia parcial, estabelecido por Moskowitz e cols. (1972) e modificado
por Velosa e col. (79) que reproduz de forma gradativa as alterações morfológicas
encontradas na OA humana, considerado equivalente a um período avançado de doença,
com lesões macroscópicas da cartilagem e histologia apresentando desorganização
celular, presença de clones celulares, fibrilações e fissuras, além de perda de colágeno e
proteoglicanos. Ainda, na divisão dos grupos experimentais, a fim de diminuir o número
de animais utilizados na pesquisa, não foi constituído o grupo Sham, pois em um
92
trabalho anterior do nosso grupo foi verificado que não houve alteração articular nesses
animais.
Nossos resultados do grupo de animais com OA, tratados com injeções intra-
articulares de ADSCs demonstraram que a terapia celular com estímulo com ColV foi
eficaz, aumentou a espessura da cartilagem, principalmente na região visivelmente
fibrilada, além de aumentar o número de condrócitos e proteínas da matriz extracelular,
em relação ao grupo de animais com OA não submetidos a terapia.
Embora não haja um consenso na literatura em relação ao tempo de tratamento,
quantidade de células administradas e via de administração, nós trabalhamos com uma
administração mensal de ADSCs (1x106) durante o período de 22 semanas com o
objetivo de avaliar o efeito protetor da terapia, assim como a administração via intra-
articular, tendo em vista que desta forma há uma garantia da viabilidade das células
aplicadas no local da lesão, não ocasionando a perda de um determinado número de
células, além de se aproximar do que seria viável na prática clínica. Ainda, não foi
realizado estudo com menor intervalo de tratamento pois isso implicaria em maior
manipulação do animal e consequentemente, maior estresse, além de parecer inviável ao
transpor esse tratamento aos humanos.
Era de nosso interesse avaliar a expressão dos genes POU5F1, NANOG, MMP1,
MMP9, MMP13, TNFA, IL1A, ACAN, SOX9 e COL2A1 após o tratamento com
ADSCs estimuladas previamente com colágeno V, no entanto o material foi bastante
limitado e não obtivemos concentração e pureza de RNA adequados para a análise.
Desta forma, foi realizada a avaliação pelos parâmetros histomorfométricos da
cartilagem após os respectivos tratamentos.
Grande parte dos estudos feitos em animais, avaliam o tratamento mediante
Score, no entanto, essa forma de avaliação não informa quantitativamente o conteúdo
das proteínas constituintes da MEC, sendo assim, decidimos avaliar o efeito do
tratamento através de parâmetros histomorfométricos.
Outros autores têm estudado a ação das MSCs na regeneração articular e,
também, utilizando estímulos diversos. Centeno e col. em 2008 trataram com injeção
intra-articular de MSCs autólogas, provenientes da medula óssea, um tecido
cartilaginoso lesionado do joelho e após seis meses, a ressonância magnética indicou
aumento da cartilagem e do menisco (58). Adicionalmente, Zscahrnack e col. em 2010
obtiveram resultados morfológicos positivos, quando associaram fatores de crescimento
93
ao meio de cultura para a pré-diferenciação das MSCs de medula óssea em linhagem
condrogênica (62). Toghraie e col. em 2011 também demonstraram uma diminuição na
degeneração do tecido cartilaginoso em coelhos, na formação de osteófitos e esclerose
do osso subcondral, após o tratamento com injeção intra-articular de MSCs em modelo
animal de OA (57).
Além da aplicação das MSCs em modelos animais, outros autores mostram
estudos iniciais em humanos, como Pak e col. em 2011 que trataram dois pacientes que
apresentaram OA nos joelhos com injeção de MSCs de tecido adiposo, ácido
hialurônico, dexametasona e PRP. Após três meses, estes pacientes apresentaram
aumento da cartilagem, evidenciado pela ressonância magnética, melhora funcional e
redução da dor (63).
Koh e col. em 2013 avaliaram pacientes com OA de joelho que receberam
injeções intra-articulares de MSCs autólogas, isoladas do tecido sinovial em
combinação com PRP. Após o tratamento, verificou-se uma redução da dor e melhora
da função articular (65).
Ainda não sabemos o possível mecanismo da ação do Col V no estímulo
condrogênico, porém os resultados encontrados poderiam ser explicados pela biologia e
função do Col V, uma vez que foi demonstrado que uma das suas principais funções é a
de induzir proliferação e diferenciação celular (67). Este processo poderia ser explicado
por sua capacidade de ligação com as integrinas, que são glicoproteínas heterodiméricas
localizadas na superfície das células que medeiam diversos eventos biológicos
envolvendo interações célula-célula e célula-matriz. As integrinas consistem numa
subunidade α e uma β que são importantes para a adesão celular e na transdução de
sinais. Estas glicoproteínas apresentam uma sequência tripeptídica que consiste em Arg-
Gly-Asp (RGD), que tem sido identificada como um sítio de reconhecimento usado
como ligante pelas proteínas da MEC como a vitronectina, fibrinogênio, laminina e
colágeno (67) (72).
Outra característica importante que ficou evidenciada no presente estudo foi que
as ADSCs, também, favorecem o aumento da síntese de colágeno II e diminuição de
condrócitos apoptóticos quando administramos uma dose mensal destas células
previamente cultivadas com Col V intra-articular. Estes achados podem resultar no
estabelecimento de novos modelos terapêuticos de intervenção em processos
degenerativos, como a osteoartrite.
94
É sabido que o remodelamento do colágeno na cartilagem osteoartrítica se
processa a custa da substituição inadequada dos tipos de colágeno, dificultando a
recuperação da função biomecânica da cartilagem articular. Desta forma, devido às
propriedades singulares da molécula de Col V, além da maior expressão em tecidos
embrionários e capacidade de interação célula-matriz, e, pela similaridade ao colágeno
XI (colágeno constituinte da cartilagem articular), é de grande relevância sua associação
com as ADSCs autólogas, para que possamos desenvolver novas estratégias terapêuticas
na regeneração do tecido cartilaginoso osteoartrítico.
95
6 CONCLUSÃO
In vitro, o Col V estimulou a síntese de colágeno total, colágeno do tipo II,
proteoglicanos, além da expressão dos genes COL2A1 e ACAN, sugerindo que
possa atuar como um mediador da condrogênese.
A avaliação estrutural e bioquímica da cartilagem articular de coelhos com OA,
submetidos ao tratamento autólogo com ADSCs, estimuladas com Col V,
demonstrou aumento da espessura, manutenção da celularidade, dos
proteoglicanos e de colágeno tipo II na cartilagem articular, sugerindo uma
perspectiva da utilização desta terapêutica no tratamento da doença.
96
7 ANEXO
97
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