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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO FACULDADE DE EDUCAÇÃO CAMPUS UNIVERSITÁRIO JANE VANINI MESTRADO EM EDUCAÇÃO IRTON MILANESI O CURRÍCULO ESCOLAR: DO FORMAL AO REAL NA PRÁXIS DE GESTORES E DOCENTES DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL Cáceres-MT 2013

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

CAMPUS UNIVERSITÁRIO JANE VANINI

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

IRTON MILANESI

O CURRÍCULO ESCOLAR: DO FORMAL AO REAL NA PRÁXIS DE GESTORES E DOCENTES DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL

Cáceres-MT

2013

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

CAMPUS UNIVERSITÁRIO JANE VANINI

DEPARTAMENTO DE PEDAGOGIA

IRTON MILANESI

O CURRÍCULO ESCOLAR: DO FORMAL AO REAL NA PRÁXIS DE GESTORES E DOCENTES DOS ANOS INICIAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL

Projeto de pesquisa apresentado ao curso de Pedagogia e ao Mestrado em Educação da UNEMAT, Campus Jane Vanini, Cáceres-MT.

Cáceres-MT

2013

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1. Título:

O currículo escolar: do formal ao real na práxis de gestores e docentes dos anos

iniciais do ensino fundamental.

2. Área (s)/Linha (s) de Pesquisa contempladas (homologadas no CONEPE):

Grande Área: 70000000 Ciências Humanas

Área de Conhecimento: 70800006 Educação

Sub-área de conhecimento: 70805008 Currículo

Linha de Pesquisa: Formação de professores, políticas e práticas pedagógicas.

3. Resumo (no máximo 300 palavras):

A pesquisa será desenvolvida numa perspectiva qualitativa, tendo como objetivo:

compreender, a partir das atividades de pesquisa do Estágio Supervisionado, como

gestores e professores dos anos iniciais do ensino fundamental de duas escolas

públicas de Cáceres-MT (uma municipal e outra estadual) concebem, elaboram e

desenvolvem o currículo escolar. Partiremos da revisão da literatura relativa ao campo

do currículo, especialmente o currículo escolar, a qual se estenderá até o final da

investigação. Na sequência, para a coleta dos dados de campo, aplicaremos um

questionário a 14 (quatorze) sujeitos, sendo: 4 (quatro) gestores e 10 (dez) professores

dos anos iniciais de duas escolas da rede pública de Cáceres, sendo uma municipal e

outra estadual. Finalmente, para aprofundar o conhecimento sobre as questões

curriculares, faremos a observação in loco nas duas escolas, para perceber a maneira

como os seus gestores e professores sujeitos da pesquisa lidam com as questões

curriculares. No processo de análise dos dados de campo trabalharemos com classes e

categorias. Embasados no enfoque da pesquisa etnográfica, esperamos como

resultado, fazer um levantamento do real significado que os sujeitos dão ao currículo

em suas elaborações teórico práticas em seus cotidianos escolares.

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4. Palavras-chave (no mínimo 3; no máximo 5):

Currículo Formal; Currículo Real; Gestores e Professores.

5. Introdução:

Entendemos que é preciso compreender, por meio das atividades investigativas do

Estágio Supervisionado, como os gestores e educadores dos anos iniciais do ensino

fundamental das escolas públicas de Cáceres-MT concebem, elaboram e desenvolvem

o currículo escolar.

Por meio desta pesquisa, pretendemos explorar tanto a literatura relativa ao currículo

quanto a práxis de gestores e professores do ensino fundamental em relação aos

elementos que constituem o currículo de uma maneira geral, com ênfase especial no

currículo escolar. Quanto à revisão da literatura desse campo, pretendemos fazer um

levantamento desde a gênese do termo currículo, com Franklin Bobitt, Ralf W. Tyler e

John Dewey no início do século XX, acompanhando o seu desenrolar na evolução dos

tempos em suas diferentes concepções, conforme o posicionamento dos teóricos desse

campo, até chegar ao contexto atual em que vivemos em nosso trabalho hoje nos

espaços escolares. Assim, pretendemos obter um conhecimento de mundo mais

aberto, para além da cultura de grupos dominantes que operaram e operam

hegemonicamente na elaboração e desenvolvimento do currículo escolar, trazendo,

assim, a nossa contribuição para o meio científico em que vivemos atualmente.

Sabemos que o currículo está presente e interferindo diretamente na vida de todos nós:

gestores, educadores, estudantes e a comunidade mais ampla. Mas nem sempre essa

temática é bem compreendida. A sociedade brasileira, como um todo, é formada em

seus valores tomando como referência a política educacional do país, sendo

influenciada pela presença de um rico patrimônio cultural, constituído de

conhecimentos advindos de diversas culturas que acabam desembocando nos

currículos escolares por meio de livros didáticos, políticas educacionais, leis etc. No

entanto, o campo do currículo que opera esses conhecimentos nos ambientes escolares

nem sempre é tranqüilo, há um conflito contínuo e lutas entre grupos culturais para

fazer valer os seus interesses, conhecimentos e valores no currículo que se desenvolve

nas escolas.

Page 5: irton_milanesi

É necessário lembrar que nem sempre esse rico patrimônio cultural presente no seio

da sociedade tem sido valorizado e incluído no currículo escolar de uma maneira

equilibrada. Podemos ver, por meio dos estudos desse campo, que sempre houve ao

longo dos tempos o domínio de uma cultura sobre outra, com a imposição de uma

monocultura no currículo escolar, mais especificamente a europeia enquanto

colonizadora, a qual tem exercido uma supremacia sobre outras culturas, provocando

uma relação desigual e conflito de identidade às colonizadas.

A sociedade contemporânea não aceita mais essa imposição de uma cultura sobre

outra. Nesse sentido, entendemos que o currículo deve ser uma construção

permanente, em que o multiculturalismo esteja nele presente. Mas como as escolas,

por meio de seus gestores e professores estão lidando com essa questão? Isso é o que

pretendemos investigar no decorrer dessa pesquisa que ora iniciamos com a

proposição deste projeto.

Problematização:

Buscamos compreender, através da revisão da literatura desse campo e da aplicação

de instrumentos de coleta de dados a gestores e professores, como eles abordam o

currículo no planejamento e desenvolvimento escolar. Entendemos que através da

valorização dos conhecimentos relativos ao currículo, os profissionais da educação

terão novas posturas frente à elaboração e o desenvolvimento dele nas escolas.

Para avançar no conhecimento sobre esse campo, entendemos que é preciso fazer um

levantamento da literatura relativa ao currículo, desde a sua gênese no início do

Século XX, como um campo epistemológico, até compreendê-lo em nossas

elaborações na contemporaneidade.

Fala-se muito hoje em currículo, mas parece que esse termo não está bem

compreendido nas escolas. Nesse sentido, a questão-problema que se coloca é a

seguinte: Como os gestores e professores das escolas públicas conceituam, elaboram e

desenvolvem o currículo escolar?

Entendemos que essa pesquisa se justifica na atual conjuntura escolar, tendo em vista

a necessidade de avanço rumo à melhoria da qualidade do ensino ofertado às crianças

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e adolescentes que circulam por nossas instituições educativas – basta olharmos

atentamente para o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2011

das escolas públicas do município de Cáceres-MT (Informações disponíveis em:

ideb.inep.gov.br).

Questões Norteadoras

A pesquisa a ser desenvolvida será de natureza mista, bibliográfica e de campo. Os

dados de campo serão coletados durante as atividades de Estágio Supervisionado que

realizaremos nas escolas, por meio dos quais buscaremos a compreensão que têm

gestores e professores dos anos iniciais do ensino fundamental na elaboração e

desenvolvimento do currículo das escolas públicas da cidade de Cáceres-MT.

Nessa perspectiva, algumas questões nortearão a pesquisa: Qual a concepção de

currículo está presente no pensamento de gestores e educadores? Eles abordam o

currículo com clareza, ou simplesmente utilizam esse termo sem uma compreensão

maior do seu real significado, especialmente, no meio escolar.

6. Objetivo Geral:

- Compreender como gestores e professores dos anos iniciais do ensino fundamental

das escolas públicas de Cáceres-MT concebem, elaboram e desenvolvem o currículo

escolar.

7. Objetivos Específicos:

- Levantar a concepção que gestores e professores têm de currículo escolar;

- Descrever a forma em que a comunidade escolar participa (ou não) do processo de

elaboração e desenvolvimento curricular;

- Verificar a maneira como os professores desenvolvem as ações propostas pelo

currículo escolar ao executarem seus trabalhos pedagógicos em salas de aula.

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8. Justificativa:

Entendemos que o estudo sobre o currículo é altamente relevante no meio científico e

educacional, uma vez que a maioria dos educadores, ou mesmo gestores e políticos,

utiliza esse termo sem saber o real significado dele. Assim, procuraremos estudar

como o currículo é concebido e implementado no meio escolar, com ênfase específica

em seus desdobramentos nas ações que são desenvolvidas e que chegam ao processo

ensino-aprendizagem. Estamos convictos de que para a educação básica avançar em

qualidade, é preciso compreender como gestores escolares e professores introduzem

os elementos culturais dos diversos grupos no currículo durante os trabalhos que são

desenvolvidos nas escolas, especialmente, nas salas de aula. Esses educadores

abordam o currículo com clareza? Ou simplesmente utilizam esse termo sem uma

compreensão maior do seu significado, especialmente, no meio escolar? Assim, é

preciso saber como gestores e docentes empregam o uso desse termo na construção de

novas maneiras de ser das pessoas ao lidarem com o conhecimento que é veiculado e

(re)construído por meio do currículo escolar.

É no início da escolarização que começa a formação dos valores culturais para as

crianças e adolescentes. Assim, é importante que desde cedo os alunos tenham acesso

ao conhecimento de uma maneira organizada, em que o currículo seja compreendido e

organizado claramente pela comunidade escolar, especialmente por gestores e

professores. Entendemos que sem o domínio sobre o conhecimento desse campo,

dificilmente as instituições escolares avançam em relação à qualidade do ensino que

oferecem aos seus alunos.

9. Resultados Esperados:

Esperamos ao final da pesquisa compreender a maneira como gestores e professores

dos anos iniciais do ensino fundamental das escolas públicas de Cáceres-MT

concebem, elaboram e desenvolvem o currículo escolar.

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10. Hipóteses ou Questões Problemas:

Temos como hipótese que o termo Currículo vem sendo utilizado por gestores e

professores sem precisão terminológica, e desgarrado das reais necessidades das

comunidades escolares.

11. Materiais e Métodos:

Esta investigação será conduzida com base nos pressupostos teórico metodológicos da

pesquisa qualitativa. Teremos como interlocutores 14 (quatorze) sujeitos, sendo: 4

(quatro) gestores e 10 (dez) professores dos anos iniciais de duas escolas da rede

pública de Cáceres, sendo uma municipal e outra estadual. Observaremos como os

seus sujeitos lidam com as questões relacionadas aos conhecimentos dos diferentes

grupos culturais no planejamento e execução do currículo escolar.

A técnica de coleta de dados a ser utilizada será a da aplicação de questionário com

questões relacionadas ao tema, sendo um destinado aos gestores e outro para os

professores dos anos iniciais do ensino fundamental. Além do questionário, como

professor orientador de estágio, aproveitaremos os contatos com as escolas para

desenvolver a observação in loco, dialogando com os gestores escolares e professores

sobre a maneira como tratam as questões relacionadas ao currículo escolar.

A partir do momento em que o pesquisador define seu objeto de estudo, ele deixa

evidenciado que a pesquisa possui uma pretensão analítica que, na verdade, se

configura no interior de uma discussão teórica, a partir de um estudo amplo sobre o

tema escolhido, aqui no caso, as questões relacionadas ao Currículo Escolar. Assim,

realizar uma pesquisa de abordagem qualitativa como esta, implica em escolher um

objeto de estudo, cujo foco de investigação deve estar centrado na compreensão de

significados atribuídos pelos sujeitos às suas ações.

Segundo Bogdan e Bicklen (1994), a perspectiva teórica fala de um modo de

entendimento de mundo, ou seja, o que as pessoas sabem sobre o que é importante e o

que faz o mundo funcionar. Assim, entende-se que a apropriação de qualquer ideia

por parte do pesquisador estará influenciada pela sua concepção de mundo, e o modo

como utiliza o conceito está influenciado pelos paradigmas que lhe servem de apoio

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para o estudo dos fenômenos sociais.

Na perspectiva de Ludke e André (1986), o conceito de pesquisa qualitativa tem sido

pouco discutido entre os estudiosos da área, o que tem resultado em algumas críticas,

como por exemplo, que qualitativo é sinônimo de não quantitativo. Contrapondo essa

posição, as autoras salientam que quantitativo e qualitativo estão intimamente

relacionados. Nessa visão, ao fazer uma pesquisa podemos utilizar dados

quantitativos, mas que, na análise desses dados, estarão sempre presentes os quadros

de referência, os valores, a visão de mundo do pesquisador e dos pesquisados,

portanto, a dimensão qualitativa.

Justificamos a opção pela escolha da pesquisa qualitativa por entender que:

a) os sujeitos são compreendidos com base nos seus pontos de vista;

b) numa descrição dos fenômenos, tem-se claro que estes contêm o significado que o

ambiente lhes confere;

c) no diálogo onde o pesquisador tenta aprender algo através do sujeito, mas não tenta

ser necessariamente como ele e;

d) na pesquisa qualitativa os investigadores, mesmo tendo uma hipótese formulada e

um objetivo definido, entendem que tudo pode ser modificado e/ou reformulado à

medida que vão avançando os trabalhos de campo e as análises de dados.

Por meio da revisão da literatura (a qual se estenderá durante todo o processo da

pesquisa) ampliaremos nossos referenciais a respeito das questões curriculares,

levantando dados das principais discussões que perpassam esse campo.

Na pesquisa de campo, contataremos com os gestores e professores de duas escolas

públicas de ensino fundamental (anos iniciais), sendo uma municipal e outra estadual.

Levantaremos a opinião desses sujeitos em relação à elaboração e desenvolvimento do

currículo escolar. Vale lembrar que pela natureza constitutiva da disciplina que

desenvolvemos na universidade (Estágio Supervisionado), já teremos o contato direto

com esses sujeitos, assim, faremos a observação das práticas ali realizadas, bem como

a análise documental do currículo formal das escolas.

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Para atingir os nossos propósitos utilizaremos os alguns instrumentais, conforme duas

fases, uma de coleta dos dados e outra de análise.

Na coleta de dados utilizaremos os seguintes recursos ou técnicas:

Aplicação de questionário: será constituído com questões fechadas e abertas, o qual

será aplicado aos gestores e professores regentes das duas escolas públicas da cidade

de Cáceres-MT, sendo uma municipal e a outra estadual, nas quais atuarão estagiários

do curso de Pedagogia, os quais estarão sob nossa orientação. Esse instrumento nos

possibilitará compreender a concepção de currículo presente no pensamento dos

gestores e professores, bem como, servirá para avaliarmos a práxis empregada por

esses sujeitos ao elaborarem e executarem o currículo escolar.

A observação: será utilizada como recurso complementar, de aprofundamento das

questões relacionadas à elaboração e ao desenvolvimento curricular nas respectivas

escolas. A observação in loco será realizada durante o momento em que estivermos

acompanhando os estagiários de Pedagogia junto às escolas de ensino fundamental

(anos iniciais). Nessa fase será elaborado um roteiro com as unidades de observação a

priori , para que possamos nos concentrar nas questões mais relevantes do currículo.

Para o registro das informações utilizaremos um caderno de campo.

Após a aplicação dos questionários e da realização das observações, transcreveremos

os depoimentos e fatos observados na íntegra para posterior classificação, análise e

categorização.

No processo de análise dos dados, trabalharemos com classes e categorias. As classes

e categorias surgirão no curso da investigação, a partir dos depoimentos e observações

que realizaremos. Entendemos por classe, uma primeira apartação dos dados brutos

(com base nas suas similaridades), os quais serão oriundos dos depoimentos dos

investigados e das observações a serem feitas. Por categoria, entendemos os conceitos

fundamentais extraídos pelo pesquisador dos depoimentos e observações da práxis

estabelecidas pelos sujeitos nas escolas pesquisadas, que refletem os aspectos mais

gerais e essenciais da realidade estudada sobre o currículo escolar.

Optamos por trabalhar com categorias, por concordar com o pensamento de Gomes

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(apud MINAYO 1993, p. 70), o qual faz a seguinte conceituação:

A palavra categoria, em geral, se refere a um conceito que abrange elementos ou aspectos com características comuns ou que se relacionam entre si. Essa palavra está ligada à idéia de classe ou série. As categorias são empregadas para se estabelecer classificações.

Atividades a serem realizadas:

1) Revisão da literatura referente ao campo do currículo escolar. Essa atividade se

estenderá ao longo da pesquisa.

2) Primeiros contatos que teremos com os gestores e professores das escolas campo

do estágio, nas quais atuarão os estagiários do 6º semestre do curso de Pedagogia

(turma de estagiários a ser orientada por nós enquanto docente na universidade).

3) Elaboração dos instrumentais da pesquisa (questionários e roteiro de observação).

4) Aplicação de questionário aos gestores e professores regentes das escolas

pesquisadas.

5) Tabulação dos dados do questionário e das observações empreendidas.

6) Análise dos dados com classificação e categorização das respostas, levando-se em

consideração os dois instrumentos utilizados: o questionário e a observação.

7) Elaboração do relatório final de pesquisa.

8) Participação dos pesquisadores em congressos da área. Essa atividade se estenderá

ao longo da pesquisa, um exercício de atualização dos pesquisadores em relação às

teorias que sustentam as questões ao currículo escolar.

9) Elaboração de artigo científico, avaliação final e divulgação do resultado.

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12. Referencial Teórico:

De acordo com Pacheco (1996), no meio educacional o termo currículo é proveniente

do vocábulo latino currere, que significa caminho, jornada, trajetória, percurso a

seguir, e que pressupõe duas ideias principais, uma de seqüência ordenada, e a outra,

de noção de totalidade de estudos.

Nos últimos tempos esse currículo ganhou relevância no campo educacional em nível

de produção científica, sendo disseminado por programas, planos de intenções, dentre

outras formas de aplicação. Vale ressaltar que o currículo foi também se afirmando

nas experiências educativas de gestores e professores nas escolas, e com isso, muitas

definições lhe foram dadas, constituindo-se: para alguns teóricos como um termo

polissêmico (por existir várias definições sobre ele), e para outros, não (por

entenderem que o currículo ganhou diferentes definições, mas em épocas diferentes).

Não havendo uma única definição para esse termo, duas perspectivas são as mais

compartilhadas pelos estudiosos desse campo: a do currículo formal e a do informal –

ou currículo oficial e em ação. O primeiro constituído enquanto atividade de

planejamento a priori, que é realizada na preparação das políticas educacionais e na

implementação dessas nas instituições de ensino, tendo como objetivo, atingir

finalidades previamente estabelecidas. O segundo, compreendido como o conjunto de

ações ou de conhecimentos que mesmo não estando implícitos no currículo oficial,

são veiculados e aparecem na ação, no momento de execução da práxis pedagógica de

gestores e docentes aos lidarem com as questões do ensino.

Na primeira perspectiva, trata-se do currículo formal, prescrito ou oficial, por

exemplo, o de uma unidade escolar, que obedece a propósitos definidos a priori para

atingir determinados fins ou objetivos quanto ao tipo de educação que se pretende

empreender, privilegiando-se, geralmente, os conteúdos do ensino e as atividades ou

projetos que visem à formação dos seus alunos.

Na segunda perspectiva, temos o currículo informal, ou currículo em ação, como

materialização ou o desenvolvimento do currículo prescrito/formal/oficial. Nessa

perspectiva informal o currículo ganha vida, e muitas questões não previstas no

currículo formal aparecem.

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A partir da incorporação dessas duas perspectivas acordadas entre os autores desse

campo, o currículo é compreendido como o conjunto de experiências educativas

desenvolvidas que incorporam tanto aquelas ações ou atividades previstas como

outras não previstas, mas que surgem no curso do desenvolvimento curricular.

Nesse sentido, a nosso ver, faz-se necessária uma investigação científica, ou pelo

menos uma avaliação desse campo, para percebermos se está ocorrendo a apreensão

dos conhecimentos empregados no currículo escolar pelos alunos. Assim, a pesquisa

ou a avaliação se constitui no termômetro escolar, para observar se os objetivos

curriculares estão sendo alcançados ou não. Assim como o currículo, a avaliação

também se define como formal e informal como já mencionamos em outra produção

(MILANESI, 2005 p. 63):

FORMAL – Tem por finalidade medir e testar o quantitativo de conhecimento em face de objetivos pré-estabelecidos por especialistas ‘iluminados’ em planejamento educacional, os quais ‘sabem’ o que se faz necessário para uma formação ‘adequada’ dos alunos frente às exigências do mercado de trabalho [...].

INFORMAL – Ocorre com mais freqüência. Se ao nível formal da avaliação há a presença controladora do professor [...] com o nível informal da avaliação, ocorre todo o processo do trabalho pedagógico: são os olhares e palavras que censuram e reprimem determinados comportamentos dos alunos.

Mas, o que a avaliação tem a ver com o estudo de currículo? Tudo a ver, pois, para

saber se o conhecimento que se deseja construir para os alunos está bem elaborado,

bem planejado, pautado na proposta curricular da instituição escolar, e se esses alunos

estão avançando em termos de aprendizado. É necessário aplicar a avaliação que,

aliás, ela é parte integrante de toda e qualquer proposta curricular de um

estabelecimento de ensino. O estabelecimento de ensino, por sua vez, tem a função de

preparar sujeitos autônomos para a sociedade. Dessa forma, a elaboração e o

desenvolvimento do currículo poderão estar dando suporte favorável ou não à

formação almejada para os alunos de um determinado estabelecimento de ensino.

A exemplo de alguns autores, entendemos o currículo como um termo polissêmico, ou

seja, ele é carregado de ambigüidade, e por isso, provoca, muitas vezes, certa

confusão terminológica em gestores e educadores. A palavra currículo aponta para

uma diversidade de funções e conceitos, em função das perspectivas que se adota

Page 14: irton_milanesi

acerca da sua natureza e do seu âmbito. Assim, o currículo pode ser comparado a um

jogo de regras, a programa, a projeto ou programa político. Enquanto programa

político ele é repleto de intenções nada neutrais, ou seja, por trás do político que

inspirou o programa, existe a intenção de defender os interesses de determinados

grupos culturais.

Trazendo o estudo de currículo para o campo pedagógico das instituições

educacionais, conforme já salientamos anteriormente, ele também aponta para duas

definições mais comuns que se integram. A primeira refere-se ao currículo planejado

antes de ser executado, e a segunda, diz respeito à ação do que foi planejado. Nessa

visão, o currículo formal é compreendido como um plano previamente planificado a

partir de fins e finalidades, e o currículo informal, como o processo que decorre do

referido plano, ou seja, é a ação ou desenvolvimento do currículo formal.

Na primeira perspectiva, do currículo formal, suas definições apontam para o

currículo como conjunto de conteúdos a ensinar, organizado por disciplinas, ou áreas

de estudos e como plano de ação pedagógico fundamentado e implementado num

sistema tecnológico. No entanto, é preciso salientar que esse currículo formal nem

sempre atende as necessidades dos estudantes e professores, principalmente quando

ele é elaborado de maneira fragmentada:

O currículo escolar é mínimo e fragmentado. Na maioria das vezes, deixa a desejar tanto quantitativa como qualitativamente. Não oferece, através de suas de suas disciplinas, a visão do todo, do curso e do conhecimento uno, nem oferece a comunicação e o diálogo entre os saberes; dito de outra forma, as disciplinas com seus programas e conteúdos não se integram ou complementam, dificultando a perspectiva de conjunto, que favorece a aprendizagem. (MORIN apud PETRAGLIA, 2008, p. 79).

Com base no pensamento de Morin, a autora citada nos deixa claro que há um

distanciamento da unificação dos saberes e que os mesmos não se integram de

maneira tranquila. Através dessa reflexão que a autora faz acerca do currículo escolar,

podemos entender que, em parte, as dificuldades do ensino-aprendizagem para as

crianças e o seu insucesso escolar, são, muitas vezes, ocasionadas por determinados

elementos do currículo. A falta de uma visão macro do conhecimento sobre ele pode

ser um dos fatores que contribuem para o insucesso escolar de muitas crianças que se

encontram na escola pública brasileira.

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Na perspectiva de integração entre o currículo formal e o informal existe lugar para as

definições de currículo como um conjunto de experiências educativas, como um

sistema dinâmico, complexo e probabilístico, sem uma estrutura totalmente

predeterminada. Para Tanner & Tanner (apud PACHECO, 1996), nessa visão, o

currículo enquanto projeto educativo e didático sustenta três ideias-chave: a de um

propósito educativo em função de finalidades; a de um processo de ensino-

aprendizagem com referência a conteúdos e atividades e; a de um contexto específico,

o escolar ou da organização formativa.

Nos estudos que efetivamos até aqui e que pretendemos prosseguir com esta pesquisa,

podemos perceber que existem autores que pensam o currículo como um plano de

estudo fechado, ou a um programa de estudo muito estruturado: com objetivos,

conteúdos e atividades de acordo com as disciplinas. Por outro lado, há autores que

defendem uma perspectiva mais aberta de currículo, a qual incorpora as experiências e

as narrativas cotidianas dos sujeitos envolvidos no processo educacional, tanto na

reelaborarão do currículo formal/oficial quanto no desenvolvimento do currículo em

ação/informal.

O campo do currículo é composto por vários elementos, os que mais se destacam são:

o da cultura, da política e do poder. Segundo Moreira (2002), no campo da cultura, o

estudo de currículo ressalta a importância do multiculturalismo e também nos

apresenta algumas definições acerca do mesmo. Dessa forma, o multiculturalismo tem

sido empregado para indicar o caráter plural das sociedades ocidentais

contemporâneas, sendo uma condição inescapável do mundo atual e que não se pode

ignorar. Nessa definição estão presentes os conflitos de visão do mundo social,

decorrentes dos interesses econômicos e políticos. Esse pensar nos remete a

centralidade da cultura nos fenômenos sociais contemporâneos. Ela não só é vista

como reflexo de uma estrutura econômica, mas é parte integrante da estrutura e da

vida social como todo. Vivemos hoje uma “revolução cultural”, na qual a cultura

deixa de corresponder a uma esfera separada da vida social, material e passa a ser um

processo social em continua constituição. O multiculturalismo define a diversidade

cultural, pois ela existe de fato na formação social em nosso país, inclusive

ultrapassando a barreira do universal em tempos de globalização econômico-cultural.

Mas, apesar do reconhecimento da importância do multiculturalismo, atualmente,

Page 16: irton_milanesi

ainda se vive uma tendência cultural de homogeneização cultural, ou seja, o desejo de

grupos hegemônicos tornarem como padrão universal certos costumes ou valores; os

veículos de comunicação de massa cuidam dessa tarefa.

Sendo assim, podemos destacar dois tipos de multiculturalismo que podem ser

materializados por meio do currículo escolar: o multiculturalismo benigno e

multiculturalismo crítico.

Por meio do multiculturalismo benigno as pessoas identificam ou reconhecem as

diferenças culturais e estimulam o respeito, a tolerância e a convivência entre as

diferenças, mas nada se faz de real para desestabilizar as relações de desigualdade

entre grupos culturais. Alguns países, incluindo o Brasil, vivem este modelo de

multiculturalismo, pois, fala-se muito em igualdade e solidariedade como forma de

atenuar os problemas e os preconceitos contra grupos minoritários, mas muito pouco

se faz para corrigir distorções.

No multiculturalismo crítico as pessoas tentam enfatizar uma nova forma de

responder as condições do mundo contemporâneo e multicultural. Essa resposta

geralmente vem sendo empreendida por meio do conhecimento-emancipação, um

conhecimento que se dirige do colonialismo para a solidariedade, em que grupos

explorados saem dessa condição com seus esforços e a solidariedade de outros grupos,

no qual todos saem com suas identidades fortalecidas. Para Moreira (2002), a

solidariedade é uma forma de conhecimento obtida a partir do reconhecimento do

outro, nesse sentido, todo conhecimento-emancipação tem uma vocação multicultural.

No entanto, precisamos estar atentos, pois conforme salienta Bhabha (apud

MACEDO, 2006, p 106): “não podem ser desprezadas as tentativas do poder colonial

de aniquilação das culturas subalternas, com seus procedimentos para marcar as

diferenças, fechando classes de coisas e expelindo os elementos não classificáveis”.

É evidente hoje a necessidade de uma postura multicultural por parte de gestores e

professores, bem como, dos cursos propiciarem a temática do multiculturalismo na

formação inicial. Não basta reconhecer as diferenças, é preciso estabelecer relações

entre as pessoas, trata-se de reconhecer o outro como pessoa e não a outra cultura

como matéria a ser estudada.

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Segundo Sousa Santos (apud MOREIRA, 2002): busca-se uma forma multicultural

para emancipação das pessoas, mas que esteja fundamentalmente assentada numa

política da igualdade da diferença, pois há a ideia ilusória de que sendo todos iguais já

há uma redistribuição social ao nível econômico. É através da redistribuição dos bens

econômico-culturais que assumimos a igualdade como princípio e prática.

É bom lembrar que a política da igualdade com base na luta contra a diferenciação de

classe não esclareceu outras formas de discriminação, como: étnica, de orientação

sexual, etária, sócio-econômica e muitas outras. É a urgência das lutas contra essas

formas de discriminação que trouxe a política da diferença e esta política não se

resolve somente pela redistribuição, mas sim, pelo reconhecimento do outro, como

pessoa humana.

13. Cronograma de Atividades:

ATIVIDADES

2013 Meses

2014 Meses

2015 Meses

08

09

10

11

12

01

02

03

04

05

06

07

08

09

10

11

12

01

02

03

04

05

06

07

Revisão da literatura relativa ao currículo escolar

x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x

Primeiros contatos que teremos com os gestores e professores das duas escolas campo do estágio

x x

Elaboração dos instrumentais da pesquisa

x x x

Aplicação de questionário aos gestores e professores regentes das escolas pesquisadas e observação in loco

x x x

Tabulação dos dados do questionário e das observações empreendidas

x x x x

Análise dos dados com classificação e categorização das respostas

x x x x x x x

Elaboração do relatório final de pesquisa

x x x

Participação dos pesquisadores em congressos da área

x x x

Elaboração de artigo científico, avaliação final e divulgação do resultado.

x x x x

Page 18: irton_milanesi

14. Referências (Conforme Normas da ABNT):

BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari. Investigação Qualitativa em Educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto, Porto Editora, 1994.

LUDKE, Menga; ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

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15. Orçamento:

Equipamentos/Material bibliográfico Descrição Quant. Valor unitário Total Notebook Dual Core (2.1 GHZ 3GB HD320GB 15.5 prata Windows 7 e; Office 2007 Home & Student.

01 R$ 3.000,00

R$ 3.000,00

Impressora HP- 1668 01 R$ 747,00 R$ 747,00 Material Bibliográfico 20 R$ 35,00 R$ 700,00 TOTAL R$ 4.447,00

Custeio Descrição Quantidade Valor

Unitário Total

Resma de papel 04 R$ 15,00 R$ 60,00 Toner impressora HP preto CB436A 01 R$ 199,90 R$ 199,90 TOTAL R$ 259,90

Todas as despesas ficarão a cargo do responsável pela pesquisa, uma vez que o material do orçamento já existe em seu grupo de pesquisa na UNEMAT.