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[REVISTA CONTEMPORÂNEA – DOSSIÊ GUERRAS E REVOLUÇÕES NO SÉCULO XX] Ano 5, n° 8 | 2015, vol.2 ISSN [22364846] 1 A Organização Armada Secreta: a participação da extrema direita francesa na luta armada durante a guerra da Argélia (1954 - 1962) Guilherme Ignácio Franco de Andrade * INTRODUÇÃO O conflito argelino aparentemente, deu a extrema direita a melhor oportunidade de rearticulação desde o final da guerra, foi uma grande oportunidade para recrutar simpatizantes e mobilizar seus “aparelhos privados de hegemonia” para tentar influenciar os acontecimentos políticos nacionais. Esse retorno da extrema direita fica evidente na variedade de pequenos grupos e associações que se formaram para fazer campanha a favor do movimento Algérie Française. A discussão sobre as colônias francesas tomou a sociedade e reacendeu os sentimentos de paixão pela pátria e ativou o sentimento de nacionalismo que não aparecia desde a 2ª Guerra Mundial (MARCUS, 1995, pg.15). A disputa da Argélia enquanto colônia francesa, permitiu o retorno de vários debates dentro da sociedade francesa e a extrema direita dirigia o debate, pautando as questões que deveriam ser discutidas. Esse período colaborou para uma crescente hostilidade de alguns setores aos partidos de esquerda que defendiam a independência das colônias (DAVIES, 2002, pg.122). A extrema direita proclamava sua preocupação com a diminuição do status do país enquanto potência mundial, visto que a França se encontrava em processo de reconstrução devido as consequentes destruições durante a guerra. O país passava por um processo de restruturação, de desenvolvimento industrial, patrocinado pelos Estados Unidos através do plano Marshall (MARCUS, 1995, pg.16). * Doutorando em História na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUC/RS, na

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Page 1: INTRODUÇÃO · garantia de sucesso. Para o desenvolvimento do imperialismo na África, ... nova mentalidade, a implementação da religião católica-cristão, métodos para que

[REVISTA  CONTEMPORÂNEA  –  DOSSIÊ  GUERRAS  E  REVOLUÇÕES  NO  SÉCULO  XX]  

Ano  5,  n°  8  |  2015,  vol.2      ISSN  [2236-­‐4846]  

 

1  

A Organização Armada Secreta: a participação da extrema direita francesa na

luta armada durante a guerra da Argélia (1954 - 1962)

Guilherme Ignácio Franco de Andrade*

INTRODUÇÃO

O conflito argelino aparentemente, deu a extrema direita a melhor

oportunidade de rearticulação desde o final da guerra, foi uma grande oportunidade

para recrutar simpatizantes e mobilizar seus “aparelhos privados de hegemonia” para

tentar influenciar os acontecimentos políticos nacionais. Esse retorno da extrema

direita fica evidente na variedade de pequenos grupos e associações que se formaram

para fazer campanha a favor do movimento Algérie Française. A discussão sobre as

colônias francesas tomou a sociedade e reacendeu os sentimentos de paixão pela

pátria e ativou o sentimento de nacionalismo que não aparecia desde a 2ª Guerra

Mundial (MARCUS, 1995, pg.15). A disputa da Argélia enquanto colônia francesa,

permitiu o retorno de vários debates dentro da sociedade francesa e a extrema direita

dirigia o debate, pautando as questões que deveriam ser discutidas. Esse período

colaborou para uma crescente hostilidade de alguns setores aos partidos de esquerda

que defendiam a independência das colônias (DAVIES, 2002, pg.122). A extrema

direita proclamava sua preocupação com a diminuição do status do país enquanto

potência mundial, visto que a França se encontrava em processo de reconstrução

devido as consequentes destruições durante a guerra. O país passava por um processo

de restruturação, de desenvolvimento industrial, patrocinado pelos Estados Unidos

através do plano Marshall (MARCUS, 1995, pg.16).

* Doutorando em História na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUC/RS, na

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O primeiro movimento foi a Algérie Française que surgiu na década de 50,

durante as revoltas que insurgiram nas colônias francesas, em busca da

independência. Ela foi providencial para que a extrema direita conseguisse se

rearticular e se mobilizar no cenário político. O conflito da Argéria se mostrou a

melhor oportunidade para o renascimento da extrema direita, procurando apagar o

legado de Vichy e incorporar novas questões e criar uma nova identidade. Essa

mobilização da extrema direita influenciou uma variedade de associações e

organizações que foram criadas para fazer campanhas contra a independência da

Argélia e das outras colônias francesas na África. Para Davies (2002, pg.124) esse

movimento foi capaz de recriar um sentimento de paixão e nacionalismo que havia se

perdido depois da 2ª Guerra, gerando um grande debate entre os partidos, já que o

partido socialista era a favor da independência das colônias. Para a direita, a perda

das colônias seria determinante para o rebaixamento da França como potencial

mundial, perdendo mais espaço para outras potencias como Estados Unidos, União

Soviética e Inglaterra.

O movimento Algérie Française atraiu muitos rótulos, mais notavelmente,

"ultranacionalista", "fascista" e "ultradireitista”. Ele incorporou forças intransigentes

no exército: Militantes do movimento Argélia, descendentes de franceses que

nasceram na Argélia, mas lutavam a favor da França e pequenos grupos neofacistas.

Tal mistura gerava muita tensão dentro do exército francês, mas os três grupos

trabalharam para os mesmos fins, manter a Argélia como território francês. Durante o

conflito, segundo os historiadores, morrem em torno de um milhão de pessoas, o

exército francês foi acusado de ter utilizado métodos barbáros de tortura, dignos da

Gestapo (SIMMOS, 1996, pg.37).

Para o historiador Robert Gildea (2002, pg.21) a II Guerra Mundial trouxe

diversas consequências para a França, dentre essas implicações, podemos destacar

algumas questões importantíssimas. A questão econômica era uma das questões que

pesam no orçamento francês, que buscava se equilibrar devido aos gastos na 2ª

Guerra Mundial, pois atravessava um período financeiro complicado, existia a

necessidade de reconstruir o país destruído durante o conflito, desde a construção de

casas, locais para o comércio, assim como obras de infraestrutura, como usinas

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geradoras de energia, reconstrução dos portos, estradas, escolas, universidades e

investir nas industrias para o desenvolvimento completo do capitalismo (GILDEA,

2002, pg.21). A política interna precisava ser reconstruída, com o fim da 3ª República

havia a necessidade de uma nova constituição, repensar o modelo republicano

existente no país. O período em que a sociedade passava, o nascimento da IV

República (1946 - 1958), representava o retorno do processo democrático no país e

era necessário o desenvolvimento de um processo eleitoral e de criar uma nova

constituição. E por último o desenrolar da crise no império francês e suas colônias

(GILDEA, 2002, pg.21). O processo de reconstrução do país, e o enfraquecimento

político da França, que já não possuía o mesmo prestigio e poder internacional, como

grande potência, aceitou o papel de coadjuvante na política internacional, deixando

para os EUA e a Inglaterra o papel de liderança do bloco capitalista, a ascensão dos

movimentos de esquerda no país também colaboraram para que os políticos se

voltassem para resolver os problemas internos, não se envolvendo diretamente no

combate ideológico á União Soviética. Esses fatores, de reconstrução do país e

reestruturação nacional, colaboraram para que as colônias se mobilizassem para lutar

pelo seu processo de independência. Dentre esses processos podemos colocar a guerra

na Argélia como o início da crise do império francês.

A COLONIZAÇÃO DA ARGÉLIA

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Durante o século XIX, principalmente em sua segunda metade, as potências

europeias alcançavam um grande nível de desenvolvimento industrial e comercial,

processo resultante da segunda revolução industrial. Tal desenvolvimento econômico,

resultou em uma necessidade dos capitalistas em expandir seu mercado consumidor e

também buscar formas de ampliação das forças produtivas e da obtenção de mais

valia, conseguindo reduzir drasticamente os custos produtivos e aumentar

potencialmente seus lucros. A saída encontrada pelos industriais europeus e por seus

representantes políticos, foi buscar novos lugares a serem explorados, resultando em

um novo processo de colonização. Assim deu-se início a um novo processo de

disputas por conquistas na África e Ásia, denominado Neocolonialismo, onde

praticamente todo o continente africano foi partilhado entre as principais potências

europeias (HOBSBAWM, 2003).

Segundo Eric Hobsbawm (2003, p. 88.), o processo do Neocolonialismo foi

resultado de uma expansão do capitalismo, devido a superprodução e a necessidade de

ampliação do mercado, o imperialismo foi uma nova forma encontrada pelo capital,

para resolver os problemas de acumulo de produção e de encontrar novas formas de

obtenção de lucro, barateamento dos custos produtivos e de desenvolvimento

tecnológico. O processo de colonização na África não ocorreu de forma simples, foi

necessário desenvolver um projeto de conquista e de dominação das regiões, pois

havia muita resistência a dominação e ocupação francesa nos territórios escolhidos

para serem colonizados e isso não aconteceu de forma pacífica. Foi necessário um

projeto que conseguisse sucumbir os territórios conquistados a vontade máxima das

potencias europeias, porque apenas a criação da indústria nas colônias não era uma

garantia de sucesso.

Para o desenvolvimento do imperialismo na África, era necessário implantar

uma nova cultura nos territórios conquistados, porque existiam diferenças culturas,

linguísticas e religiosas que constituíam barreiras no processo de desenvolvimento do

capitalismo. Para que o novo formato de produção capitalista fosse consolidado nas

colônias, se exigia um nível de força de trabalho adequado aos padrões tecnológicos

da época, ou seja, forçar os povos conquistados a aprenderem a uma nova lógica de

trabalho, que consistia em práticas diferentes, alta jornada de trabalho e em escala

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industrial. Para que esse desenvolvimento produtivo se consolidasse, o processo de

colonização não poderia ser basicamente forjado na exploração econômica da região,

ele deveria ser ampliado para um projeto civilizatório, ou seja, a imposição de uma

nova mentalidade, a implementação da religião católica-cristão, métodos para que a

dominação fosse apresentada como um processo benéfico a população local, visto que

para desenvolver um projeto de desenvolvimento do capitalismo nessas regiões, seria

necessário enquadrar a população local a uma nova lógica de trabalho, de ritmo de

vida, mudanças nos hábitos cotidianos. E para garantir a implementação desse novo

modelo nas colônias, foi utilizado diversos aparatos repressivos, a violência foi uma

das práticas utilizadas para garantir a manutenção da ordem nas colônias. Nesse

mesmo sentido, a dominação das colônias africanas foi justificada pelas metrópoles,

como sendo necessário para o desenvolvimento dessas regiões, que segundo o posto

de vista dos europeus, as nações africanas não eram capazes de se desenvolverem

sozinhas, cabendo a Europa ser a responsável por levar o progresso e o

desenvolvimento. (HOBSBAWM, 2003, p. 89-90).

O plano de conquista da Argélia, pela França, teve início no ano de 1830,

quando os franceses invadiram a costa do país até conseguirem chegar a capital do

país, a cidade de Argel. Mesmo a resistência dos argelinos não foi suficiente para

expulsar os franceses, visto que o poder bélico da França era muito superior as forças

militares existentes na Argélia na época. Entre os anos de 1830 a 1847, haviam duas

forças de resistência na Argélia, o primeiro grupo sob comando de Ahmed Bey em

Constantina e as forças nacionalistas lideradas por Adb El-Kader. Durante os

conflitos políticos e militares na ocupação da Argélia, os políticos franceses enviaram

diversas vezes novos contingentes militares e investiram em alguns setores do país

para trazer aliados argelinos para sua causa(GILDEA, 2002, pg.25).

As forças de resistência argelinas aos poucos foram sufocadas pelo exército

francês, que era numericamente maior e dispunha de tecnologia militar que superava

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os esforços da resistência. Com o investimento militar da França no conflito franco-

argelino, não demoraria para que o país fosse conquistado. Em 1842 em uma grande

ação militar do exército francês conseguiu quase dizimar as forças de resistência e

praticamente conquistaram quase que a totalidade do país, sobrando pequenos focos

de resistência em locais pontuais que atuavam como milícias. Em 1847 a Argélia

finalmente foi anexada ao território francês, dando fim ao conflito armado e início da

exploração total da colônia (GILDEA, 2002, pg.25).

Em 1848 o Império Francês deu início a criação de departamentos oficias na

Argélia e criou um plano de colonização do país, em primeiro momento os soldados

franceses que participaram do conflito, se estabeleceram na colônia com seus

familiares, parte das terras foram divididas e entregues nas mãos dos novos

colonizadores. O processo de assentamento na Argélia foi um dos principais fatores

que desencadeariam as insurreições na Argélia, que futuramente seriam relevantes

para gerar insatisfação dos argelinos, sendo uma das principais questões reivindicadas

pelas lideranças dos movimentos nacionalistas que buscavam a independência do país

no século XX. O processo de partilha das terras argelinas, ocorreram de forma injusta,

privilegiando as famílias francesas que migraram para a Argélia, elas recebiam

grandes porções de terras e grandes quantidades de recursos para o desenvolvimento

da região, as terras pouco produtivas ficaram para poucas famílias argelinas. O

trabalho de servidão nas fazendas dos novos colonos, e o trabalho pesado foram as

únicas formas de sobrevivência para os argelinos. (PERVILLÉ, 2002, p.132)

O processo de dominação da Argélia não se deu apenas no viés econômico e

na exploração territorial, o governo francês impôs sua língua como oficial na colônia

e o catolicismo como religião principal. Tal processo de dominação tinha como

proposito “civilizar” a população argelina, impor língua, cultura e religião aos povos

conquistados, para facilitar a exploração da mão de obra argelina e também como

forma de manutenção do controle social. Os grupos argelinos que procuraram se

integrar, receberam como incentivo do governo francês alguns investimentos,

pequenos pedaços de terra e também a construção de escolas nos moldes educacionais

da França, aqueles que permaneciam resistentes a dominação sofriam com a coerção e

repressão pelo aparato militar que era responsável pela segurança da colônia, para

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aqueles que resistiam à integração foram obrigados a trabalhos forçados. Durante o

período de ocupação francesa na Argélia, foram criadas diversas leis para favorecer a

metrópole, como leis de controle social, onde se reprimia os argelinos em benefício

dos colonos franceses.(PERVILLÉ, 2002, p.133)

A Argélia esteve sobre domínio francês por mais de 1 século, a colônia foi

administrada pelos franceses como se fosse parte integral de seu território. A

importância da Argélia enquanto colônia, deve à enorme extensão marítima argelina,

que passou a ser controlada pela França, podendo controlar o fluxo do comércio entre

o continente europeu e, assim conseguindo aumentar sua influência política, já que

parte das rotas de importação dos produtos das colônias asiáticas e africanas usavam o

espaço marítimo francês. Nos primeiros anos de dominação a Argélia foi o principal

fluxo de imigração dentre as colônias francesas, o país recebeu mais de 100 mil

franceses em seu território. Os imigrantes que se mudavam para a colônia recebiam

incentivos do governo, recebendo terras expropriadas das comunidades indígenas e

com diversos recursos concedidos pelo Estado Francês para o desenvolvimento da

agricultura (JAUFFRET; VAÏSSE, 2012, p.21).

A Argélia dentre as colônias francesas, tinha um tratamento diferenciado, a

Argélia era considerada uma extensão do território nacional, como parte integrante da

França. Para James Shields (2007, pg.90) essa colônia tinha maior importância para a

França, por ter uma parcela significativa de franceses que habitavam esse país, em

torno de 1 milhão, conhecidos como pied-noir1. Essa população mantinha relações

econômicas estreitas com a França, pois a grande maioria dos franceses na Argélia

representavam as classes dominantes da região, eles atuavam em setores da

agricultura, exploração de minérios e no comércio. Outro ponto importante e muito

significativo para que parte dos políticos franceses, defendessem a permanência da

1 Pés Negros era como se chamava a população francesa que vivia na Argélia. A referência dos pés negros vem do calçado utilizado por essa parcela da população.

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Argélia enquanto território, foi a descoberta de grande quantidade de petróleo na

colônia, que colocava a França como uma das grandes potencias petrolíferas o que a

deixava em posição de privilégio por poder controlar o valor do produto e também

controlar o mercado, podendo escolher para quem fornecer ou não.

O NACIONALISMO PÓS GUERRA

O estudo sobre os fenômenos do nacionalismo na Europa, é visto como um

produto das transformações da sociedade capitalista, assim como o desenvolvimento e

ampliação do Estado, como órgão responsável pelo principal controle das sociedades.

O nacionalismo também é analisado como um produto da construção histórica das

nações modernas. A importância em estudar o ultranacionalismo não deriva somente

do ponto de vista das relações humanas com seu meio, e principalmente dos riscos

que o ultranacionalismo propiciou no Continente Europeu nos séculos XIX e XX, mas

também pela urgência e atualidade, visto que observamos que o continente europeu

tem sido palco de levantes sociais e de demonstrações extremistas de grupos

nacionalistas. O agravamento da crise econômica, o enfraquecimento da política dos

partidos tradicionais e dos conflitos de identidade nacional, nos permite perceber uma

maior aceitação do discurso ultranacionalista e abre espaço para partidos e grupos

extremistas no cenário político europeu e ganham força eleitoral em países com

instituições de cunho liberal-democrática historicamente estabelecidas.

O desenvolvimento da nação é portanto, objeto crucial do ideal nacionalista,

sua materialidade, a sua expansão territorial – ou manutenção das fronteiras – a

política voltada para seus membros, onde uma única comunidade política é

beneficiada e a mesma, aspira os mesmos pressupostos e sentimentos nacionais.

Devemos lembrar que existe uma importante separação no que é nação enquanto

federação e seu significado, e o que é o Estado e suas funções burocráticas e

administrativas, sendo portanto dois lados de uma mesma moeda. Nesse sentido o

nacionalismo funciona como uma engrenagem que consegue desenvolver sentimentos

de amor à pátria e buscar estabelecer projetos que buscam o desenvolvimento

nacional e dos cidadãos, seja inserido dentro da estrutura do Estado.

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A diferença do significado objetivo entre Estado e nação fica mais evidente

quando conseguimos enxergar as diferenças entre ambas: o Estado em sua

composição é formado por instituições públicas, por estruturas hierárquicas e é

detentor exclusivo do monopólio da força e da coerção. A nação em sentido estrito é

uma comunidade “imaginada”, política, composta por indivíduos com aproximações

culturais, detentora de singularidades linguísticas, semelhanças étnicas e pelo

sentimento de pertencimento a um mesmo território comum.

Ainda sobre o conceito de nação, segundo Hans-JurgenPuhle (1994, p. 13.),

para se estudar o desenvolvimento das nações modernas europeias faz-se necessário

compreender diversos fatores que contribuíram para seu desenvolvimento. Para Puhle,

o continente europeu é um produto de sua história, pois sua formação vai além das

suas fronteiras, regiões, estados e nações, sendo que não teria como sobrepor uma

ordem de importância, ou maior relevância em uma característica sobre a outra,

investigar como se deu essas transformações é o que ajuda a se aproximar do processo

real de construção das nações europeias (PUHLE, 1994, p. 13).

Além das questões da formação das fronteiras e regiões europeias, Puhle

também elucida a importância de outros fatores que contribuíram para o

desenvolvimento das nações modernas, como as questões de ordem econômica, social

e política, que apresentam questões especificas, que resultaram em construções,

invenções das “Identidades” locais e regionais, que são resultado também do mercado

e da sociedade civil (PUHLE, 1994, p. 14).Dessa forma uma nação é resultado da

construção de diferentes regiões, de diferentes estados, com indivíduos de diferentes

nações, portanto devido à enorme riqueza cultural e da diversidade existente em toda

a Europa. Para Puhle tais características do continente europeu, implica que o

pesquisador deve ter o cuidado e se preocupar com duas questões de extrema

relevância. A primeira é que existe um amplo material a ser moldado, investigado,

explorado. A segunda é que existem processos históricos complexos de interações,

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interferências de instituições, até mesmo as formas de violência - em que são

moldadas identidades, que são igualmente importantes e não devem ser esquecidos

(PUHLE, 1994, p. 13).

Para alguns pesquisadores os movimentos ultranacionalistas tiveram seu auge

no final do século XIX e início do século XX, com o final da Segunda Guerra

Mundial, que marcou a derrota do nazismo e do fascismo, principais modelos

políticos nacionalistas, o nacionalismo perdeu sua emergência e significado para as

massas. No plano político europeu o discurso nacional foi substituído pela defesa do

sistema capitalista, devido a intensificação do conflito do Ocidente frente o

comunismo da União Soviética. Os discursos nacionalistas só iriam voltar a entrar em

destaque na década de 1990, com o fim da União Soviética e do início dos processos

separatistas na Europa, África e Ásia (BRUBAKER, 1996.).

Para Hroch, cabe ao historiador em primeiro lugar, buscar fazer considerações

sobre o conceito “nacionalismo”, visto que o mesmo é utilizado diversas áreas das

ciências humanas, que tem lhe atribuído diversos significados, empobrecendo o

conceito e o tornando generalizante, dessa forma afastando a discussão do significado

real do conceito. A ampla exploração do nacionalismo, para caracterizar diferentes

processos históricos torna difícil a compreensão do mesmo (HROCH, 1996, p. 37).

Para o autor, o uso do conceito de nacionalismo deve ser restrito apenas a sua

formação original, ou seja, não como sinônimo de identidade nacional ou programa

de desenvolvimento nacional, mas segundo Hroch (1996, p. 37)“ como um estado de

espirito (mental e coletivo), que dá prioridade aos interesses e valores da nação,

acima de todos os outros interesses e valores”. Dessa forma, na questão

contemporânea do reaparecimento do sentimento nacionalista, o autor diz que

devemos tratar esse processo como “movimento nacional”, que é compreendido como

um esforço organizado por parte de alguns setores da sociedade, que busca atingir

determinados “direitos”.

Segundo Hroch(1996, p.38) para se compreender melhor os movimentos

nacionais e o nacionalismo são necessários formular algumas premissas, que segundo

o autor, julga importante para conseguir compreender com maior profundidade o

processo histórico estudado. Em primeiro lugar, o “nacionalismo”, deve ser entendido

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como expressão de um grupo social existente em determinada nação, compreendido

como resultado de um longo processo de formação do Estado-Nação. Em segundo

lugar o principal elemento de compreensão de formação de uma nação é a identidade

nacional, não o nacionalismo. Em terceiro lugar, o processo de formação das nações

modernas não foi um erro na História, como sugerem alguns autores – pressupondo o

nacionalismo como responsável pelas duas guerras mundiais no século XX - mas

como um processo natural de transformação da sociedade europeia moderna, em

paralelo com a industrialização, do capitalismo e da burocratização das instituições

nacionais. Outro pronto importante para a análise da emergência do nacionalismo,

seria compreender também, a emergência das nações, das formações das identidades

nacionais e as disputas entre determinadas culturas que habitam o mesmo espaço

cotidiano, como um processo que ocorre majoritariamente no mundo Ocidental.

A derrota da Alemanha em 1945 para as forças aliadas, decretou-se o fim dos

principais modelos de regime fascista, pois mesmo como fim da guerra o fascismo

permaneceu políticamente ativo em alguns países europeus como a Espanha,

Romenia, Portugal. Na França o fim do governo provisório de Vichy sacramentou a

derrota do fascismo implantado pelos grupos extremistas no país. A Segunda Guerra

Mundial e o colaboracionismo deixaram marcas profundas na sociedade francesa, em

primeiro lugar a sensação de frustração diante da derrota para Alemanha, do período

de ocupação alemã e em segundo pelo terror de Estado imposto por Pétain e Laval.

Essas cicatrizes da ocupação geraram uma aversão por parte da população em

partidos conservadores e de extrema direita. Um dos principais motivos para o

enfraquecimento desses grupos políticos se deve ao fato da ainda recente e fresca

lembrança da população francesa com os atos praticados por esses grupos em prol do

nazismo e apoio do regime autoritário e colaboracionista de Vichy, que perseguiu

sistematicamente os judeus, comunistas, socialistas e membros da resistência

francesa, sendo muito deles assassinados e enviados para campos de concentração.

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Para o historiador Peter Davies (2002, p.122) no pós guerra a direita e a

extrema direita passaram por seu período político mais difícil. O Marechal Phillipe

Pétain foi sentenciado a pena de morte, mas conseguiu reverter sua pena para prisão

perpétua, onde ficou preso até sua morte em 1951. Pierre Laval primeiro ministro na

França do governo de Vichy, foi condenado por traição e executado na França em

1945. Os outros membros do governo colaboracionistas foram exilados ou presos.

Contudo apesar das complicações políticas, os adeptos do fascismo na França, não

sumiram do cenário político. Na década de 1950 o movimento Algérie

Française2reascendeu o sentimento nacionalista em alguns setores da sociedade

francesa, dentre eles alguns grupos radicais que apresentam caracteristicas fascistas,

extremistas e ultranacionalistas. Esses movimentos foram compostos por sujeitos que

participaram do governo de Vichy, ou simpatizantes do fascismo emprendido por

Pétain e Laval.

O conflito argelino aparentemente, deu à extrema direita a melhor

oportunidade de rearticulação desde o final da guerra, foi uma grande oportunidade

para recrutar simpatizantes e mobilizar seus aparelhos privados de hegemonia para

tentar influenciar os acontecimentos políticos nacionais. Esse retorno da extrema

direita fica evidente na variedade de pequenos grupos e associações que se formaram

para fazer campanha a favor do movimento Algérie Française. A discussão sobre as

colônias francesas tomou a sociedade e reascendeu os sentimentos de paixão pela

pátria e ativou o sentimento de nacionalismo que não aparecia desde a 2ª Guerra

Mundial (MARCUS 1995, p.15.). A disputa da Argélia permitiu o retorno de vários

debates dentro da sociedade francesa e a extrema direita tentava dirigir a discussão,

entre eles o movimento poujadista pautando as questões que deveriam ser discutidas.

Esse período colaborou para uma crescente hostilidade de alguns setores aos partidos

de esquerda que defendiam a independência das colônias (DAVIES, 2002, p.122). A

extrema direita proclamava sua preocupação com a diminuição do status do país

enquanto potência mundial, visto que a França se encontrava em processo de

reconstrução devido às consequentes destruições durante a guerra. O país passava por

um processo de restruturação, de desenvolvimento industrial, patrocinado pelos

2 Argélia Francesa.

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Estados Unidos através do plano Marshall(MARCUS, 1996, p.16).Para a direita, a

perda das colônias seria determinante para o rebaixamento da França como potencial

mundial, perdendo mais espaço para outras potências, como Estados Unidos, União

Soviética e Inglaterra.

Para o historiador Robert Gildea, a II Guerra Mundial trouxe diversas

consequências para a França, dentre essas implicações, podemos destacar algumas

questões importantíssimas, como questão econômica, pois atravessava um período

financeiro complicado. Existia a necessidade de reconstruir o país destruído durante o

conflito, desde a construção de casas, locais para o comércio, assim como obras de

infraestrutura, como usinas geradoras de energia, reconstrução dos portos, estradas,

escolas, universidades e investir nas indústrias para o desenvolvimento completo do

capitalismo (GILDEA, 2002, p. 21). E por último o desenrolar da crise no império

francês e suas colônias (GILDEA, 2002, p. 22).

O movimento Algérie Françaisese mostrou a melhor oportunidade para o

renascimento da extrema direita, Para Davies (2002, p.122) esse movimento foi capaz

de recriar um sentimento de paixão e nacionalismo que havia se perdido depois da 2ª

Guerra, gerando um grande debate entre os partidos, já que o partido socialista era a

favor da independência das colônias.

A GUERRA DA ARGÉLIA E ORGANIZAÇÃO ARMADA SECRETA

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14  

O conflito argelino começa a ser elaborado no ano de 1953, o crescimento dos

protestos no país, devido à enorme diferença social, econômica e política entre os

pied-noir e a população local, que durante o período colonial criou um abismo de

diferenças entre esses grupos. O domínio colonial francês privilegiava a camada

francesa da população enquanto os habitantes locais ficaram deixados de lado,

deixando as condições de vidas precárias para os argelinos e para as populações

indígenas que moravam no país. Essas injustiças cometidas contra o povo argelino se

transformaram em motivações pela independência. Logo pequenas manifestações,

protestos e greves começaram a acontecer no país, em contra partida o governo

francês elevou a repressão na tentativa de conter esses protestos.

Na academia francesa os historiadores e cientistas políticos, afirmam

categoricamente que a Guerra da Argélia, foi o principal fio condutor para a extrema

direita conseguir se mobilizar na França (WINOCK, 1994; SHIELDS, 2002; MILZA,

1987). O conflito argelino, rendeu a extrema direita vários movimentos, desde o

movimento estudantil nacionalista como o partido Poujadista, representado por

setores da pequena burguesia e de comerciantes em Paris. Segundo Montagnon,

(1984, p.127) a extrema direita teve papel importante no cenário político, o

movimento Poujadista conseguiu durante o período da Guerra, eleger 56 deputados

(entre eles o futuro fundador do Front National, Jean-Marie Le Pen), que conseguiam

emplacar suas pautas.

Para Hainsworth (1994, p.32) a guerra permitiu um aprofundamento da

ideologia da extrema direita na França, que não se pauto apenas nos chavões de

sempre - anticomunismo e antissemitismo – mas em questões sobre a soberania

nacional, sobre a posição da França em relação as outras potências mundiais, a

continuidade do Império Francês e principalmente a oposição ao governo de Charles

de Gaulle. Para Winock (1990, p.170.) a guerra promoveu uma nova cultura política

na extrema direita, a primeira foi a militância dentro de ambientes universitários, a

segunda como articulação entre setores econômicos, como os comerciantes e

pequenos empresários e por fim uma nova forma de atuação, a extrema direita na

ilegalidade. Para Anderson (1974, p. 280–81) as organizações de extrema direita

francesa entre os anos de guerra 1954-1962 eram obscuras, sem uma ideologia

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definida e de difícil acesso para novos militantes, sendo impenetrável. Para Chiroux

(1974, p.92) parte desses grupos faziam parte de um complexo movimento

subversivo, responsável pela disseminação do ódio e de teorias conspiratórias, que

tinha como intenção causa pânico e sensação de insegurança na sociedade francesa.

O aumento da repressão do Estado aos grupos nacionalistas argelinos em

primeiro momento silenciou as pequenas insurreições, mas seu efeito foi o contrário,

quanto mais aumentava o nível de repressão aos povos argelinos por parte do governo

francês, maior o nível de insatisfação da população frente a metrópole. Em 1954 foi

criada a Frente de Libertação Nacional (FLN), movimento nacionalista argelino que

buscava o processo de independência do país. A forma de agir do FLN era semelhante

as práticas das milícias, sua campanha começou com um ataque a unidades militares

francesas. Após os primeiros ataques o FLN publicou seu manifesto de busca pela

libertação da Argélia das forças opressoras francesas.

Em Paris, na capital francesa, o governo em primeiro momento se assustou

com os primeiros atentados da FLN. Logo o Estado começou a elaborar um plano de

contenção, visto que a opinião pública estava dividida, assim como os partidos

políticos apresentavam visões diferentes de como deveria ser resolvido o problema na

Argélia. Os partidos de esquerda apoiavam a independência das colônias africanas.

No meio universitário os movimentos estudantis e militantes do Partido Comunista

também apoiavam o desmonte do Império Francês. Para o presidente René Coty, do

CNIP3, partido de direita conservador, a Argélia era imprescindível para o país, pelas

questões econômicas e por sua importante localização geográfica.

No fim do ano de 1954, o governo francês toma a decisão de enviar tropas

para garantir a manutenção da Argélia, o contingente militar francês era de 70 mil

soldados na colônia antes de 1954. Após a decisão de intervir no confronto o governo

francês passou a investir pesado no exército, enviando 400 mil soldados da legião 3Centre National des Indépendants et Paysans

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francesa Segundo Wright (1981, p. 431) o novo contingente militar francês expedido

para a Argélia foi o maior desde as cruzadas. O exército francês para Algazy (1984,

p.221), estava despreparado para enfrentar os grupos de guerrilha, pois não haviam

recebido treinamento especifico para essa forma de combate, o combate em forma em

pequenas milícias e camufladas entre os cidadãos argelinos, dessa forma o exército

francês não conseguia prever os ataques de forma eficiente, até porque parte havia

colaboração da população com os soldados argelinos.

Estimasse que o governo francês entre os anos de 1954 -1960, comprometeu

parte importante de seu orçamento para investir no conflito armado da Argélia,

segundo Wright (1981, p.430), a França gastou aproximadamente 28% da sua

arrecadação na produção de armas, treinamento de soldados e gastos gerais de guerra.

Segundo Marcus (1995, p.15) o governo francês aumentava gradativamente seu

investimento para assegurar suas colônias, especificamente na Argélia. O

investimento francês no primeiro ano de conflito segundo Horne“o custo militar no

primeiro ano de guerra foi algo perto de 2.800 de francos em 1955 para 10.000

milhões em 1960, mostrando um gasto total entre 50 e 55 mil milhões durante os sete

anos e meio de guerra” (1985, p. 538).

Para o historiador Anderson, a crise de independência das colônias era algo

esperado, visto que o cenário político mundial da Guerra Fria, aumentavam as tensões

entre os diversos países, principalmente os interesses doslíderes dos blocos

econômicos – EUA e URSS - pois existiam diversas promessas de ajuda nos

processos de independências nas colônias africanas e asiáticas, como armamentos,

treinamento militar e promessas de investimento no futuropor ambas as lideranças,

visto que a independência desses países seriam novas áreas de exploração para os

americanos e soviéticos, tanto no aspecto econômico, como área de influência

estratégica para futuras bases de operações militares (ANDERSON, p.280-281). O

ponto que chama a atenção na guerra da Argélia para Anderson é a selvageria em

escala desproporcional pelo exército francês, que fazia vista grossa aos métodos

bárbaros de tortura, de fuzilamentos de civis e também de milicianos. Ao mesmo

tempo a prática de guerrilha da FLN, que atacavam alvos civis, escolas e igrejas. Os

historiadores possuem algumas discrepâncias sobre o número de mortos no conflito,

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mas segundo Chiroux (1974, p.92) existe um número aproximado que é aceitável

entre a maioria deles, que gira em torno de mais de um milhão de argelinos mortos no

conflito.Segundo dados do ministério do interior, em 1954 a população da Argélia era

aproximadamente em 9,5 milhões de habitantes, a população de colonos franceses

perto de 1 milhão e 8,5 milhões sendo argelinos e tribos nômades.

Para Montagnon a década de 1950 foi dominada por um cenário de barbárie, o

sentimento de grupos ultranacionalistas se alimentava da tensão da Guerra Fria e dos

processos de independência nas colônias, para desestabilizar a política na Europa.

Essa tensão na sociedade francesa permitiu que o discurso fascista retornasse ao

cenário político, mesmo com todas as cicatrizes da II Guerra Mundial. Segundo

Algazy os extremistas perderam o constrangimento e voltaram a agir politicamente

sem qualquer inibição, com a conivência do Estado. No período da Guerra da Argélia

Chiroux (p.92) afirma a existência de mais de 50 grupos de extrema direita, a grande

maioria formada após 1954.

Na década de 60 na França, durante os debates sobre o conflito argelino, a

extrema direita procurou formar um grupo de assalto para combater a FLN, utilizando

as mesmas táticas de milícia impostas na Argélia. Um desses grupos paramilitares que

se formou foi a Organização Armada Secreta, compostas por militares franceses que

compunham os grupos radicais. A OAS atuava em duas frentes, uma em Paris e outra

na Argélia. Esse grupo paramilitar terrorista se colocava contra as posições políticas

da maioria dos partidos franceses que militavam para a independência da Argélia. A

OAS não combatia apenas os argelinos, mas também procurava alvos da esquerda

francesa, como o atentando a vida do intelectual Jean-Paul Sartre entre outros

comunistas, socialistas e intelectuais que militavam em prol da independência das

colônias africanas. Ela iniciou suas atividades terroristas atacando políticos da

oposição, seus primeiros alvos foram figuras políticas da esquerda e mulçumanos

(SIMMONS, 1996, pg.45). O início das suas ações terroristas foi na Argélia contra

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membros da Armada de Libertação Nacional (ALN) e da Frente de Libertação

Nacional (FLN).

Enquanto a OAS lutava na França e na Argélia, havia outros grupos de

extrema direita se mobilizando na política, a Jovem Nação e a Federação dos

Estudantes Nacionalistas militavam politicamente para o desenvolvimento do

nacionalismo extremista na França. Esses grupos eram formados por estudantes, ex-

combatentes, militares e estudantes universitários. Sua principal ação era combater o

marxismo dentro das universidades.

Figura 1: Jornal da Jovem Nação Fonte: www.jeune-nation.com

A primeira aparição pública das siglas OAS da Organização Armada Secreta,

apareceram pixadas nos muros da capital da Argélia, em Argel, acompanhadas do

slogan L’Algérie est française et lerestera ("A Argélia é francesa e continuará

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sendo"). Em primeiro momento não se sabia a procedência do movimento, muito

menos saber quais seriam seus alvos e seu foco de militância, o que causou um

crescimento na hostilidade entre os argelinos e os pied-noirs, porque ambos os lados

não sabiam quais eram as motivações dos atentados e de que lado ele estaria lutando.

No cartaz abaixo a OAS convida os cidadãos a pegar nas armas para garantir a

Argélia enquanto território francês.

Figura 2: Cartaz da Organização Armada Secreta Fonte:

Oficialmente a OAS foi formada na Espanha em 1961, por oficiais do exército

francês, Pierre Lagaillarde, o General Raoul Salan e Jean Jacques Susini.

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Posteriormente a sua formação na Espanha, seria também formado a célula da OAS

em Paris, por Yves Guérin-Serac e pelo capitão Pierre Sergent. Ideologicamente a

OAS apresentava características ultranacionalistas, xenófobas, anticomunista e

antiliberal, sua posição política era de um estado forte, que respeitasse a soberania

nacional, visando a manutenção das colônias francesas, por considerar a França o

berço da civilização moderna. A motivação principal para o surgimento da OAS,

segundo Shields foi após a declaração do então eleito presidente o General Charles de

Gaulle, que foi eleito prometendo colocar um fim nos conflitos armados nas colônias

francesas e propôs um plano de emergência onde garantiria a autonomia para as

colônias que iniciassem um plano de cessar fogo. O apoio de Charles de Gaulle a

independência da Argélia, provocou reações dentro das forças militares,

principalmente por aliados políticos de De Gaulle, para as lideranças das forças

armadas francesas, o processo de descolonização representava o fim da França

Gloriosa (SHIELDS, 2007, pg.97). Abaixo um cartaz de combate ao grupo armado

OAS:

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Figura 3: Cartaz de combate a organização OAS4

Os oficiais que integraram a OAS, anteriormente faziam parte da Organização

de resistência da Argélia Francesa, quando o novo presidente começou o processo de

paz e negociações para a independência, os militares se sentiram traídos, após 7 anos

de combate a França saia derrotada, admitindo o fracasso das forças armadas. Varíos

militares revoltados com a decisão do governo, integraram as linhas da OAS. Outras

militantes que integraram a OAS, foram colonos franceses nascidos na Argélia que

4 “Independência integridade da Argélia contra o fascismo da OAS – Comitê pela paz na Argélia.

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não queriam a independência do país. Embora a OAS possuísse traços antissemita,

eles aceitaram a colaboração de alguns judeus argelinos que se sentiam ameaçados

pelo crescimento do islamismo fundamentalista na região e também após terem sidos

realizados atentados as sinagogas pela FLN.

A tática da OAS era fazer sabotagens e assassinatos para impedir que a

independência da Argélia se concretizasse (SHIELDS, 2007, pg.104). A OAS atuava

como uma organização paramilitar clandestina, composta por militares, estudantes, e

neofascistas. A base de apoio da OAS incluía sobretudo os piedsnoirs, mas também

os militares e os argelinos leais à França. Durante sua existência a organização

realizou várias ações terroristas tanto na Argélia, como na França. A sua ação mais

conhecida foi o atentado contra a vida do presidente da França o general Charles de

Gaulle e dois atentados a bomba ao intelectual marxista e membro do FLN, Jean-Paul

Sartre.

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Figura 4: Capa do jornal da Organização Armada Secreta

Fonte:http://www.dominiquevenner.fr/2012/05/cinquante-ans-apres-reflexions-sur-loas/

A OAS em sua primeira fase empreendeu séries de atentados na Argélia

destruindo centenas de casas e matando várias pessoas (MAZRUI; WOMDJI, 2010),

sua tática de ação preferida era planejar atentados a bomba. Em seguida a OAS se

voltou para França, procurando eliminar aqueles que consideravam subversivos,

segundo Simmons,

A OAS mudou suas operações para a França. Bombas

eram enviadas para bairros árabes em cidades francesas,

atentados eram feitos contra pessoas leais ao exército, a

delegacias de polícia e vários escritórios e prédios do

partido comunista foram alvejados (SIMMONS, 1996,

p.45).

A campanha dos atentados continuou durante o ano de 1961, após seguidos

atos terroristas, a OAS consegue assassinar o líder liberal Maitre Popie e a partir desse

assassinato o grupo parte para a Argélia onde conseguem massacrar mais de 500

pessoas em uma série seguida de atentados à bomba (DAVIES, 2002, pg.125).

Para James Shields (2007, pg.107), a OAS enquanto grupo político propôs

muito pouco enquanto projeto social e político, ela apresentava sérios problemas de

sectarismo e ações individuais. Outro fator que pesava contra a OAS é o hostilidade,

marginalidade e rejeição do grupo pela grande maioria da população francesa.

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A OAS continuou sua luta contra a FLN até 1962, quando De Gaulle decide

por criar o acordo Evian, que assegura a independência da Argélia e que buscava

colocar fim ao conflito entre os dois países (WINOCK, 1994, pg.236). Mesmo com o

acordo de cessar fogo e o fim da guerra da Argélia, a OAS continuou atuando na

Argélia até 1963, quando grande parte das suas lideranças são presos e

consequentemente fuzilados (WINOCK,1994, pg.236). Os militantes que

sobreviveram foram exilados para Espanha, acolhidos pelo ditador Franco. Em julho

de 1968 o governo francês decretou anistia a Raoul Salan, Edmond Jouhaud e mais

outros generais e membros da OAS, sendo os militares absolvidos de seus crimes e

reintegrados ao exército (MILZA, 1987, pg.319-320).Nesse sentido os políticos que

ainda estavam exilados, se articulavam com os movimentos de extrema direita na

França, para que esses grupos pressionassem o governo francês para a criação de um

processo de anistia.

O Front National, em sua primeira eleição enquanto partido, em seu manifesto

político DéfendrelesFrançais, C’estleprogrammedu Front National em 1973, o

partido expõe algumas das suas propostas e demonstra como os fracassos do passado

ainda têm relevância para os membros do partido. No programa de governo o FN

procura manifestar sua posição contra os Acordos de Evian, criado por de Gaulle,

principal inimigo dos políticos do FN. O partido acreditava que os Acordos de Evian

deveriam ser revistos, pois ele havia exilado militantes da OAS e seus colaboradores,

e também imposto sanções aos franceses argelinos (Pieds-noir) e os franceses

argelinos mulçumanos (conhecidos como Harkis) que haviam lutado ao lado do

exército francês na Argélia. E que o governo deveria indenizar os exilados pelos

abusos e negligências sofridos pelos mesmos durante esses anos de exílio. O FN

esperava mostrar para esses grupos que o partido jamais se esqueceu dos seus “feitos

heroicos”, então reivindicar um fim ao acordo de Evian foi uma tática para aumentar

suas bases.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os grupos de extrema direita na França, se aproveitaram do conflito franco-

argelino, para voltar ao cenário político, muitos deles escondidos por terem

colaborado com as forças nazistas em Vichy e depois muitos deles trabalhando em

milícias para evitar o fim do império francês. Dentre eles a OAS, defendia a expansão

do Império Francês e a manutenção das colônias africanas. Para muitos militantes que

haviam participado de conflitos armados, especialmente os que tinham servido o

exército durante a Guerra da Coréia e da Guerra da Argélia, nas décadas de 1950

e1960, esse período da história francesa teria reascendido a causa nacional e o

nacionalismo.

Pois foi durante essas duas décadas, que a extrema direita militou contra o

governo do Charles de Gaulle, que permitiu o desmonte do Império Francês, dando

apoio e acelerando o processo de independência das colônias. Tal processo marcou a

extrema direita francesa, que encorpou o ultranacionalismo como a principal bandeira

política, creditando aos socialistas e aos partidos de centro-direita, uma posição de

entreguista, de enfraquecimento político e como responsáveis pelo enfraquecimento

do poder da França enquanto potência mundial.

Ainda assim a OAS enquanto movimento ideológico, pouco produziu em nível

de ideologia, ele serviu muito mais como exemplo de assalto ao poder e de tática de

enfrentamento da oposição. Como grupo político pouco colaborou enquanto projeto

social e político. Como movimento a OAS era extremamente elitista e sectária, não

abrindo suas fileiras para qualquer militante, visto que o treinamento militar era

necessário. O principal fator negativo da OAS é sua repercursão na sociedade francês,

pois suas práticas terroristas nunca foram aceitas pelas pessoas comuns, dificilmente a

OAS conseguiria ter projeção nacional e também acredito que nunca foi o objetivo da

organização.

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Em contrapartida a participação da OAS e de outros movimentos de extrema

direita na França, demonstrou que teve força política suficiente para conseguir colocar

suas pautas políticas no cenário francês, tanto que através do Front National, os

militantes da OAS conseguiram lutar para conseguir anistia dos crimes de guerra e

voltaram para seus países, retornando as suas atividades políticas e se filiando no

partido de extrema direita Front National. A experiência desses militares que

participaram do grupo terrorista OAS, da JN e da FEN, foram experiências

importantes, que futuramente serviram para a formação de um partido de amplitude

nacional o Front National e esses grupos paramilitares e de pequenas milícias

formaram as células de segurança e proteção do partido.

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