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Internacionalização em Casa e Internacionalização do Currículo Ferramentas da melhoria do ensino António Marques Universidade do Porto 57º Fórum Nacional de Reitores da ABRUEM , 07 a 10 de outubro de 2015, São Paulo

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Internacionalização em Casa eInternacionalização do CurrículoFerramentas da melhoria do ensino

António MarquesUniversidade do Porto

57º Fórum Nacional de Reitores da ABRUEM , 07 a 10 de outubro de 2015, São Paulo

Sumário

• Internacionalização vs. Globalização (a perspectiva europeia)• IaH e IdC (a experiência europeia) - Antecedentes e conceitos - Importância, características, instrumentos - Exemplos de boas práticas

Internacionalização vs. Globalizaçãoa perspectiva europeia

Internacionalização vs. Globalização (1)

• A capacidade de olhar mais longe foi sempre o que levou à ascensão das civilizações. E foi a miopia cultural, o medo do estrangeiro e a endogamia o que as levou à decadência.

• No ES de hoje, a vocação cosmopolita, intercultural e internacionalista não é uma opção, é uma necessidade. (Gonçalves, 2009)

• Todavia, a Globalização, ou seja, as “alterações nos ambientes económico, social, político e cultural, introduzidas pela competição global, a integração dos mercados, as redes de comunicação, e os fluxos de informação e de mobilidade” está a promover uma competição mundial entre os sistemas de ES e as IES. (Reichert e Waechter, 2000)

Internacionalização vs. Globalização (2)

Décadas de 1960 e 1970 • A maior parte dos estudantes europeus com interesse

na internacionalização eram estudantes de línguas. Os únicos programas de formação que obrigavam a estudo no estrangeiro eram cursos de línguas.

• Por isso, ‘internacionalizar’ significava estudar ‘línguas’ e era domínio de ‘especialistas’ e de pouca relevância para todos os outros. (Crowther, 2000)

Internacionalização vs. Globalização (3)

Década de 1980 • Emergência de uma maior consciência sobre a

importância da internacionalização no Ensino Superior, estimulada por iniciativas da CE, como o Programa Erasmus de mobilidade.

• A internacionalização tornou-se assunto da maior importância, envolvendo mais estudantes e mais áreas disciplinares, e deixando de estar focada apenas no conhecimento de outras línguas e culturas. (Crowther, 2000)

Internacionalização vs. Globalização (4)

Década de 1990• No início dos anos 1990, muitas pessoas estavam conscientes dos

limites dos programas de mobilidade e da necessidade de superar as barreiras à mobilidade. Mesmo o modesto objectivo de chegar aos 10% na mobilidade Erasmus não foi atingido.

• Em 1996, a CE publicou o green paper ‘Educação, formação, investigação: obstáculos à mobilidade transnacional’, que identificava o limitado acesso à informação sobre o ES na Europa, a falta de apoio financeiro, e a não transferência de créditos académicos como as maiores barreiras.

• A adopção da internacionalização como uma questão institucional e a necessidade de proporcionar uma ‘dimensão internacional’ aos muitos estudantes que não faziam mobilidade cria o contexto no qual se começou a pensar na ‘internacionalização em casa’. (Crowther, 2000)

Internacionalização vs. Globalização (5)

Desde 2000 (últimos 15 anos) • Com a globalização, a internacionalização tornou-se central

à missão das universidades e o foco centrou-se numa abordagem mais “sistémica” e não apenas na mobilidade.

• Nos últimos 10 anos mudou muito a internacionalização do ES, e esta mudança na Europa tem vindo a evoluir de um modelo cooperativo para um modelo competitivo. (Wit, 2010)

• Quando a declaração da Sorbonne foi assinada (Maio 1998), o objectivo maior era promover a integração europeia e preparar o Ensino Superior europeu para os desafios à escala global. (Sursock & Smidt, 2010)

Internacionalização vs. Globalização (6)

• A internacionalização está a mudar o mundo do Ensino Superior e a globalização está a mudar o mundo da internacionalização. (Jane Knight, 2008)

Internacionalização vs. Globalização (7)• Mobilidade crescente de estudantes (nos últimos 20 anos)• Há realidades que estão a mudar (relação à cultura países)• A internacionalização é tb. determinada por políticas europeias• Abordagem integrada da internacionalização• Criação de redes relativamente pequenas de IES (Ligas) • Fusões e Consórcios de IES (cooperação interinstitucional)• Educação transnacional• Internacionalização em Casa • Internacionalização do Currículo• A influência dos rankings• MOOCS (Massive Open Online Courses)• Qualidade como medida do sucesso na internacionalização

Internacionalização em Casa e Internacionalização do Currículoantecedentes e conceitos

Antecedentes (1)

• No Forum da Primavera da EAIE (European Association for International Education), em 1999, Bengt Nilsson apresentou uma reflexão sobre ‘Internacionalização em Casa”.

• Depois de mais de 10 anos de mobilidade de estudantes Erasmus, apenas 10% dos estudantes iam estudar em universidades estrangeiras.

• E questionava: “Como é que proporcionamos uma dimensão internacional à educação dos restantes 90% de estudantes europeus?” (Nilsson, 1999)

Antecedentes (2)

• Se esses estudantes não podem ir estudar para fora e internacionalizar-se, como pode a internacionalização ser trazida para os seus campi de origem?

• Como é que proporcionamos à maioria de estudantes que não faz mobilidade uma melhor compreensão de pessoas de diferentes países e culturas, promovemos o respeito por outros seres humanos e seu modo de vida, e criamos a sociedade global num contexto multicultural? (Nilsson, 1999)

Antecedentes (3)

• Destas reflexões resultou a criação de um “Grupo de Interesse Especial” dentro da EAIE.

• O Internationalisation at Home (IaH) Special Interest Group foi reconhecido pelo Executive Board da EAIE em Agosto 1999, e fez a sua apresentação e dos seus planos a uma audiência mais vasta durante a 11ª Conferência Anual da EAIE em Maastricht em Dezembro de 1999. Desde a sua criação, cresceu até aos 120 membros.

Antecedentes (4)

Os principais objectivos deste Grupo de Interesse são: • Definir e descrever o conceito de ‘internationalisation at

home’ • Iniciar e encorajar um debate entre docentes

universitários sobre este tema, quer em plataformas electrónicas, quer em conferências e seminários

• Recolher ideias e exemplos de boas práticas sobre o processo de internacionalização de estudantes que não fazem mobilidade

• Produzir uma publicação descrevendo experiências e exemplos úteis deste projecto. (Crowther et al. 2000)

Conceitos (1)

Internacionalização:

• Internacionalização é o processo de integração de uma dimensão internacional na investigação, no ensino e nas funções e serviços prestados pelas IES.

(Jane Knight, 1993)

Conceitos (2)

Há basicamente 2 movimentos a marcar a internacionalização do ES (Knight, 2008):

•A “Internacionalização em Casa”, atividades que ajudam os estudantes a desenvolver a compreensão do mundo e as competências interculturais no seu próprio campus. •A “Internacionalização no Estrangeiro”, incluindo todas as formas de educação para lá das fronteiras: mobilidade de estudantes, docentes e staff, e mobilidade de projetos, programas e de fornecedores (de programas e projetos).

Conceitos (3)

Internacionalização no “estrangeiro”•Necessário viajar para fora do país para se ser internacional

Internacionalização em “casa”•Literalmente, internacionalização no próprio país, promovida com a ajuda dos estrangeiros que vivem no país e com os próprios nacionais que viveram no estrangeiro ou que de uma outra forma ganharam competências "internacionais”. (Knight, 2008) •A internacionalização em casa pressupõe tanto as atividades extracurriculares e os processos ligados ao recrutamento de estudantes e docentes, como as atividades curriculares. (Gonçalves, 2009)•A internacionalização do currículo é, assim, uma dimensão essencial da internacionalização em casa.

Conceitos (4)

Currículo internacionalizado:

• Um currículo que proporciona conhecimento e competências internacionais e interculturais, com o objectivo de preparar (profissional, social e emocionalmente) os estudantes para o seu desempenho num contexto internacional e multicultural. (Nilsson, 2000)

Internacionalização em Casa e Internacionalização do Currículoimportância, características, instrumentos...

A internacionalização em Casa (1)

Porque é considerada tão importante a ‘Internacionalização em Casa’? A resposta é que o mundo globalizado está a alterar as regras do jogo da internacionalização:

• Em primeiro lugar, porque numa economia global não faz sentido orientar as qualificações dos estudantes apenas para as necessidades dos mercados de trabalho locais.

• Por outro lado, se as universidades devem preparar os estudantes para as necessidades dos mercados internacionais, também os currículos necessitam de ser “internacionalizados”. E uma parte dessas qualificações e competências devem não apenas ser “internacionais”, mas também “interculturais”. (Waechter, 2000)

A internacionalização em Casa (2)

Consequências da “Internacionalização em Casa” sobre os estudantes

• Mentalidade aberta e generosidade em relação a outros povos.• Saberem como se comportar ante outras culturas.• Saberem comunicar com pessoas de outras religiões, valores e

costumes.• Não se assustarem ante problemas novos ou pouco familiares.• Vacina contra os nacionalismos e os racismos.

 (Nilsson, 2003)

A internacionalização em Casa (3)

Nos contextos a valorizar na criação de um ambiente intercultural devem incluir-se os seguintes grupos:

• Estudantes estrangeiros que estão num país para passar vários anos num sistema educacional diferente e outros estudantes residentes no país com um background cultural diferente decorrente de pertencerem a comunidades imigrantes.

• Estudantes locais que entram em contacto com os estudantes internacionais e que podem beneficiar pessoalmente de um encontro intercultural no seu próprio país.

• Professores, investigadores e staff da universidade que interagem com estrangeiros na sua atividade profissional (Otten, 2000)

• Professores, investigadores e staff estrangeiros nessa universidade

A internacionalização em Casa (4)

Internacionalização do curriculum

• Como definir as competências interculturais e internacionais que os estudantes devem adquirir, como incluí-las no curriculum, e como avaliá-las?

• Estas são questões em que as IES se estão se focar cada vez mais, mais do que nos objectivos da mobilidade que agora dominam as suas estratégias de internacionalização. (de Wit, 2011)

A internacionalização em Casa (5)

Em 1996, a OCDE iniciou um survey que envolvia uma avaliação dos curricula internacionalizados, propondo esta tipologia de currículos internacionalizados:

• Tipo 1 Curricula com temáticas internacionais (Rel. Internacionais, Direito Europeu) • Tipo 2 Curricula nos quais a área disciplinar tradicional é alargada através de uma

análise comparada internacional (Educação Comparada Internacional) • Tipo 3 Curricula que preparam os estudantes para profissões internacionais

(International Business Administration) • Tipo 4 Curricula em línguas estrangeiras que se orientam para a comunicação

transcultural e proporcionam formação em competências interculturais. • Tipo 5 Programas interdisciplinares, como estudos regionais (Estudos Europeus)• Tipo 6 Curricula que conduzem a qualificações profissionais internacionalmente

reconhecidas (Reconhecimento European Network for Accreditation of Engineering Education - Atribuição da Marca de Qualidade EUR-ACE)

• Tipo 7 Curricula que conduzem a programas conjuntos ou a graus duplos • Tipo 8 Curricula nos quais há partes obrigatórias a fazer em IES no estrangeiro • Tipo 9 Curricula nos quais os conteúdos são especialmente pensados para

estudantes estrangeiros.

A internacionalização em Casa (6)

• A maioria dos currículos internacionalizados foi referida nas áreas económica e qualificações profissionais – cat. 3 e 6.

• Os Negócios são por definição uma temática ‘internacional’ e a economia global já provou ser o motivo mais poderoso para a internacionalização do currículo.

• A aprendizagem intercultural não foi referida como um objectivo importante ou pelo menos como um objectivo explícito. Seria de esperar que esta constituísse um dos principais outcomes de um currículo internacionalizado.

(Survey ‘Internationalisation of Higher Education’. OCDE, 1996)

A internacionalização em Casa (7)

Para Nilsson (2000), um currículo internacionalizado deve incluir:

• Objectivos Cognitivos para aumentar a competência internacional dos estudantes (Línguas estrangeiras, Estudos Regionais, e outros assuntos como Direito Internacional e Negócios Internacionais).

• Objectivos relacionados com a atitude para aumentar a competência intercultural dos estudantes (abertura de mentalidades; compreensão e respeito por outros povos e culturas; compreensão da natureza do racismo). (Nilsson, 2000).

A internacionalização em Casa (8)

Oportunidades de mobilidade outgoing para estudantes 44%

Intercâmbio internacional de estudantes e atracção de estudantes internacionais

43%

Colaboração internacional na investigação 41%

Reforço do conteúdo internacional / intercultural do currículo (4º) 31%Programas conjuntos e de grau duplo 30%

Opções de mobilidade outgoing para docentes / staff 29%

Desenvolvimento internacional e projectos de capacitação de recursos

17%

Acolhimento de scholars internacionais 17%

Internationalization at home (9º) 15%(Listadas mais 8 actividades)

Na política/estratégia de internacionalização dessa IES, a quais dos seguintes itens é dada a mais elevada prioridade? (3º Global Survey Report IAU, 2010).

A internacionalização em Casa (9)

Resistências à mudança (nas escolas e entre os docentes)Exemplo de atitudes que Bengt Nilsson encontrou entre

professores em Lund e em Malmo e são difíceis de mudar:• “Não temos espaço para este tipo de coisas no nosso

programa. Como é que os meus estudantes serão bons engenheiros ou professores sem 60 horas da minha disciplina?” “Estes são assuntos que deveriam ser resolvidos em qualquer outro lugar, e não aqui”.

• Não obstante o facto de muitos currículos terem sido desenhados recentemente, é surpreendente ver como um currículo ainda novo se torna rígido e difícil de mudar. (Nilsson 2000)

A internacionalização em Casa (10)

Instrumentos da “Internacionalização em Casa”

• Programas de pós-graduação em inglês e alguns módulos em cooperação com universidades estrangeiras.

• Cursos em assuntos internacionais.• Participação em conferências internacionais leccionadas por

professores visitantes. • Estágios profissionais em empresas estrangeiras a actuar no

país.• Apoio tutorial a estudantes estrangeiros, orientando-os também

nos aspectos práticos e nas actividades de lazer.

Internacionalização em Casa e Internacionalização do Currículoexemplos de boas práticas

As boas práticas: Universidade de Malmö (1)

Estratégia para a internacionalização Universidade Malmo (aprovada em 1999)

•As questões multiculturais deveriam constituir um tema central em toda a universidade, e incluir novas formas de currículos internacionalizados •As perspectivas internacionais / interculturais deveriam ser tomadas em consideração em todos os programas educacionais e deveriam ter visibilidade no currículo.

As boas práticas: Universidade de Malmö (2)

Estratégias da Universidade de Malmo para atingir os objectivos da IaH: • Reconhecimento do papel central do professor• Formação e seminários em assuntos interculturais, alocando tempo e recursos

para intercâmbio de professores • Introdução de cursos interculturais em diferentes programas académicos e

inserção de elementos internacionais / interculturais no currículo • Contratação pelas Faculdades de pessoas da comunidade internacional de

Malmo (ie imigrantes da primeira ou segunda geração) • Utilização de investigadores convidados e de estudantes de intercâmbio bem

como de estudantes que são imigrantes locais como recursos na sala de aula. • Oferta de cursos na área dos estudos regionais (European Studies, Chinese

Culture, etc) para estudantes, staff e para a educação contínua• Oferta de cursos ensinados em línguas estrangeiras necessárias para a

comunicação (principalmente em Inglês), já que o Sueco é língua pouco falada. • O uso de TIC como um meio importante para criar uma sala de aulas virtual

internacional. (Nilsson, 2000)

As boas práticas: Universidade de Malmö (3)

Do plano estratégico à acção: • A Escola de Tecnologia e Sociedade oferece 5 semanas de cursos IMER

(de uma nova Faculdade ‘International Migration and Ethnic Relations) a estudantes de alguns programas de Engenharia. Os cursos incluem tópicos (opcionais) como: política de imigração; processos de integração e segregação; diferenças culturais, linguísticas e religiosas. São tão populares que a oferta foi duplicada.

• A Escola de Saúde e Sociedade reviu os seus currículos por forma a introduzir em todos os cursos elementos interculturais.

• A Escola de Educação de Professores iniciou um ambicioso programa para reorganizar todo o seu projecto educativo, com a perspectiva IMER a desempenhar uma parte importante neste processo.

As boas práticas: Universidade Aalto (1)

• A Universidade Aalto oferece-te vários modos de envolvimento em redes internacionais e de aquisição de competências linguísticas na tua universidade.

• Podes participar na IaH das seguintes maneiras:

As boas práticas: Universidade Aalto (2)

• Escolhe cursos com conteúdo e contexto internacional. A U. Aalto oferece aos seus estudantes cursos com conteúdos internacionais, onde podes estudar com estudantes internacionais, e ter como docentes professores visitantes internacionais. Escolhendo este tipo de cursos podes desenvolver a tua compreensão do mundo e alargar as tuas perspectivas.

• Investe no estudo de línguas. Vale a pena começar a estudar línguas logo no início dos teus estudos universitários, por forma a que tenhas tempo quer para aperfeiçoar as tuas competências, quer para aprender uma língua nova. Para além do estudo das línguas que a universidade oferece, a selecção inclui várias disciplinas sobre consciência cultural e competências de comunicação.

As boas práticas: Universidade Aalto (3)

• Candidata-te a estudante-tutor de estudantes internacionais. A U. Aalto tem cerca de 2000 estudantes internacionais. O nosso objectivo é proporcionar um tutor a cada um destes estudantes que o deseje ter. O tutor é responsável pela orientação do estudante internacional nos aspectos práticos relacionados com estudar e viver na Finlândia. Se estiveres interessado, contacta a tua escola.

• Participa em eventos internacionais da universidade, associações de estudantes, ou dos clubes. Desta forma, facilmente farás amigos com gente de todo o mundo e terás oportunidade de desenvolver competências linguísticas.