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Integração lavoura-pecuária REVISTA ANO 5 | Nº 5 | SET 2007 exploração mais sustentável da produção Programa de qualidade nelore natural O pecuarista controla sua atividade? Mercado futuro do boi Males da mistura varietal Cigarrinha da pastagem A pecuária é um bom investimento? A lei de proteção de cultivares A fazenda experimental da JC Maschietto Formação de pastagens em terras pretas Usos para a palhada de capim

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Page 1: Integração lavoura-pecuária - JC Maschietto · idéias e para a busca de caminhos e soluções para o setor. Assim, chegamos à revista que você tem em mãos, com temas de cunho

Integração lavoura-pecuária

R E V I S T A ANO 5 | Nº 5 | SET 2007

exploração mais sustentável da produção

Programa de qualidade nelore natural

O pecuarista controla sua atividade?

Mercado futuro do boi

Males da mistura varietal

Cigarrinha da pastagem

A pecuária é um bom investimento?

A lei de proteção de cultivares

A fazenda experimental da JC Maschietto

Formação de pastagens em terras pretas

Usos para a palhada de capim

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Page 2: Integração lavoura-pecuária - JC Maschietto · idéias e para a busca de caminhos e soluções para o setor. Assim, chegamos à revista que você tem em mãos, com temas de cunho

E X P E D I E N T E

REVISTA - Sementes JC MASCHIETTORua Itápolis, 140 | 16300-000 - Penápolis/SP | (55-18) [email protected] | www.jcmaschietto.com.br

DIREÇÃO E COORDENAÇÃOEng. Agrº José Carlos MaschiettoEng. Agrª Renata W. Maschietto BatistaEng. Agrª Roberta W. Maschietto Valente

PROJETO GRÁFICOHMC Comunicação | www.hmc.com.br

Imagem da capa gentilmentecedida pela Fundação MS

(Maracaju/MS)

E D I T o r I a l

Fazer uma revista à altura da qualidade de nossas sementes e – portanto – da expectativa de nossos clientes e parceiros. Foi com este fio condutor que chegamos a esta edição – a quinta da revista JC Maschietto – com uma tiragem inicial da ordem de 40 mil exemplares em português e 3 mil em espanhol.

A cada edição iniciada, partimos do princípio de que é sempre possível evoluir, nem que seja um pouco, em relação ao que fizemos no ano anterior. E nunca é demais ressaltar que este desafio só pôde ser enfrentado com a preciosa colaboração de pessoas estrategicamente posicionadas em diferentes elos da cadeia produtiva da pecuária que, com seus pontos de vista, contribuem para o debate de idéias e para a busca de caminhos e soluções para o setor.

Assim, chegamos à revista que você tem em mãos, com temas de cunho técnico, de gestão, de legislação e de mercado, com destaque para o sistema de produção conhecido como integração lavoura-pecuária, que vem se apresentando como alternativa viável para a sustentabilidade das fazendas.

Voltando ao desafio do primeiro parágrafo, ninguém melhor do que você para julgar a qualidade desta publicação. Se a revista chegou a suas mãos é porque você é, de alguma forma, ligado à cadeia produtiva da pecuária da carne ou do leite – pecuarista, pesquisador, consultor, profissional de imprensa, representante / distribuidor, dirigente de classe ou de associação, etc. E, assim sendo, tem seus pontos de vista sobre os temas abordados, que podem ou não estar alinhados com as opiniões aqui expostas.

E aqui chegamos ao ponto que nos motiva a perseverar no esforço – que não é pequeno – de lançar uma nova edição desta publicação: a divulgação de técnicas, idéias e opiniões, mesmo que polêmicas, que possam contribuir de alguma maneira para a construção de novos caminhos para a pecuária nacional, tão dinâmica e pujante quanto carente de soluções que lhe apontem um futuro com mais sustentabilidade e equilíbrio entre seus agentes econômicos.

Boa leitura.

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Í N D I C E

O valor da qualidade! ........................................................03

Integração lavoura-pecuária .............................................04

Gestão pecuária e controle ...............................................06

Mercado futuro do boi ......................................................08

Os males da mistura ........................................................09

Cigarrinhas das pastagens ...............................................10

A pecuária como investimento..........................................11

Fazenda experimental .......................................................12

Proteção de cultivares ......................................................13

Pastagens nas terras pretas .............................................14

Palhada de sementes de capim ........................................15

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�REVISTA JC MASCHIETTO S E M E N T E S PA R A PA S TA G E N S

AndRé LuIS LOCATELI 1

LuCAS FERRIAnI 2

GuILHERME GOnçALVES JúnIOR 3

Nos últimos anos muito se escutou sobre tendências e exigências de mercado dentro da cadeia produtiva da carne bovina. Pa-dronização de produto, agregação de valor e remuneração pela qualidade se tornaram termos comuns no vocabulário dos agentes do setor. Simultaneamente, talvez até am-biguamente, este foi também um período em que as margens e o retorno do produtor foram sofrendo constantes achatamentos.

O sonho da transformação das potenciali-dades e diferenciais do produto brasileiro em vantagens reais de mercado, e o pesadelo da perda de poder aquisitivo e de rentabilidade fizeram com que a pecuária brasileira desse um grande salto.

Talvez mais por força, do que por opção, muita tecnologia foi assimilada, e de forma muito rápida. O setor produtivo ganhou em eficiência, produtividade e profissionalismo.Porém, uma questão continuava povoando as mentes e as conversas dos produtores: Quando seremos enfim remunerados pela qualidade?

Esta foi a questão que despertou o inte-resse para este nosso breve estudo.

Os maiores grupos frigoríficos do país têm passado a adotar tabelas que oferecem prêmios (sobre-preço ao valor da arroba pra-ticado) aos produtores que fornecem animais dentro de padrões pré-estabelecidos.

Não pretendemos entrar aqui no deta-lhamento destas tabelas e nem no mérito da grandeza das premiações oferecidas. Via de regra, os padrões de carcaça estabelecidos como ideais, e para os quais se oferece sobre-preço, variam de acordo com o mercado acessado por cada grupo frigorífico.

Nosso objetivo é ilustrar que, com trans-parência e objetividade, é possível se buscar melhorias para toda a cadeia – do produtor ao consumidor. A partir de uma sinalização do mercado, produtor e indústria direcio-nam sua produção e ampliam a eficiência de atendimento de seus clientes diretos e indiretos, podendo assim pleitear a agregação de valor aos seus produtos.

o valor da qualidade!Esta é a proposta do Programa de Qualida-

de Nelore Natural (PQNN), desenvolvido e gerenciado pela ACNB - Associação dos Cria-dores de Nelore do Brasil - fazer a interlocução entre o consumidor final e o setor produtivo de forma a contribuir para a organização da cadeia e a otimização dos processos, agregan-do valor para todos os envolvidos.

Os números utilizados neste estudo são dados reais de produtores participantes do PQNN e mostram que o Programa tem atin-gido seus objetivos: orientar os produtores quanto ao padrão animal demandado pelo mercado, contribuir para a melhoria da ma-téria-prima que chega à indústria e fornecer ao mercado um produto diferenciado, com origem conhecida e qualidade controlada.

A Tabela 1 apresenta o número de animais e a evolução no índice de classificação Nelore Natural de um produtor participante do PQNN, escolhido aleatoriamente entre os maiores fornecedores do Programa, cujos dados são utilizados nesta simulação.

Vale lembrar aqui o padrão animal preco-nizado pelo PQNN: animais Nelore com até 6 dentes incisivos permanentes, com acaba-mento de gordura na carcaça com espessura de 3 a 9 mm e peso entre 16 e 19@.

Analisando-se as tabelas de premiações praticadas no mercado, observa-se que um padrão comum, para machos castrados, valorizado pela maioria dos frigoríficos, é composto por um animal com até 4 dentes incisivos permanentes, peso entre 17 e 19@ e com acabamento de carcaça mediano ou uniforme (3 a 9mm). Padrão este que alcança um sobre-preço de cerca de 2% sobre o valor da arroba praticado. Esta é a referência que utilizamos neste estudo.

Com base no desempenho dos animais ofertados para abate pelo produtor participan-te do PQNN e na premiação citada acima, faremos então uma simulação dos ganhos

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Tabela 1. ANiMAiS OfERTAdOS PARA AbATE POR uM PROduTOR PARTiciPANTE dO PQNN.

2003

3.510

38,41

2004

12.120

42,19

2005

8.982

55,61

2006

8.257

64,23

2007*

5.082

69,82

TOTAl DE ANIMAIS ABATIDOS

ÍNDICE DE ClASSIFICAÇÃO NN (%)

*DAD

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07

Tabela 2. bONificAçãO REcEbidA POR uM PROduTOR PARTiciPANTE dO PQNN.

2003

3.510

1.158

57,93

20,85

24.144,30

2004

12.120

4.545

60,99

21,96

99.808,20

2005

8.982

3.525

55,58

20,01

70.535,25

2006

8.257

3.592

53,64

19,31

69.361,52

2007*

5.082

2.388

56,63

20,39

48.691,32

TOTAl DE ANIMAIS ABATIDOS

TOTAl DE ANIMAIS NO PADRÃO PREMIADO

VAlOR MéDIO DA ARROBA (R$)

VAlOR DO PRêMIO POR ANIMAl (R$)

VAlOR TOTAl DO PRêMIO RECEBIDO (R$)

*DAD

OS A

Té M

AIO/

07

adicionais obtidos com a adoção de um sis-tema de remuneração pela qualidade, cujos resultados são apresentados na Tabela 2.

Para efeito de cálculo, utilizou-se como referência o peso médio por animal de 18@ e o valor médio de mercado da arroba do boi à prazo (30 dias), segundo levantamento feito pelo CEPEA/ESALQ.

O estudo apresentado simulou os resulta-dos, levando-se em conta um único padrão, para a categoria animal de machos castrados, considerando apenas as características de peso, idade e acabamento. Outras variáveis como homogeneidade do lote, raça, sistemas de alimentação, distância dos animais da indústria, contusões nas carcaças, qualidade do couro, bem estar dos animais, certifi-cações, entre outras, podem também ser consideradas nos sistemas de remuneração pela qualidade, adotados por cada grupo frigorífico. Eventualmente, penalizações também podem estar previstas.

Mas a principal mensagem é que o mercado efetivamente já remunera de forma diferen-ciada a qualidade ofertada dentro de padrões pré-estabelecidos, e que este montante é sig-nificativo; portanto, vale a pena estar atento a isso. Vale também pontuar a crescente tendên-cia pela valorização de produtos produzidos de forma natural, sustentáveis do ponto de vista ambiental e social.

O desafio do produtor daqui em diante é, cada vez mais, olhar além dos limites da porteira. Ponderar as oportunidades, planejar o futuro e agir no presente! Esta é a nova regra.

1 ZOOTEcNiSTA fORMAdO PElA fZEA/uSP, ESPEciAliSTA

EM GESTãO EMPRESARiAl EM AGRibuSiNESS PElA fGV,

GERENTE ExEcuTiVO dA AcNb. | 2 ZOOTEcNiSTA fORMAdO

PElA fcAV/uNESP, MESTRE EM MElhORAMENTO GENéTi-

cO ANiMAl PElA fcAV/uNESP, GERENTE dE PROduTO dA

AcNb. | 3 ZOOTEcNiSTA fORMAdO PElA ucG, GERENTE

dE PROduTO dA AcNb.

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REVISTA JC MASCHIETTO S E M E N T E S PA R A PA S TA G E N S�

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1| O que é? Para melhor entender o que signi-fica a Integração lavoura-Pecuária serão relacionados a seguir alguns conceitos sobre o tema:

ConCeito 1: é ter a propriedade voltada para a produção de grãos e carne simultaneamente;

ConCeito 2: é ter as atividades agrí-cola e pecuária de forma programada, onde uma atividade beneficia a outra e ambas beneficiam o proprietário, o solo e o meio ambiente;

ConCeito 3: são sistemas de pro-dução de carne, leite, grãos, fibras ou agroenergia, produzidos em consórcios, sucessão ou rotação na mesma área, buscando efeitos sinérgicos ou complementares para a sustentabilidade do agronegócio.

2| Onde surgIu? O Sistema de Integração lavoura-Pe-cuária na região Centro-Oeste iniciou-se no município de Maracaju (MS), nas propriedades dos produtores Ake B. Van der Vinne e Krijn Wielemarker, no ano de 1989. Oriundos do sul do país, os dois agricultores ficaram fãs do sistema plantio direto na palha que estava se iniciando por lá. Queriam de toda a forma introduzir o sistema em suas propriedades, mas o grande desafio era fazer rotação de culturas e obter palhada, que são dois princípios básicos para o sucesso do sistema plantio direto na palha. Eles tinham em suas propriedades parte da área com atividade pecuária, onde as pastagens de Brachiaria decumbens e Brachiaria brizantha, que foram formadas após a correção da acidez e fertilidade do solo e o cultivo de soja e milho. Ao perceberem que as pastagens poderiam ser a alternativa para fazer ao mesmo tempo rotação de culturas e a produção de palha, fizeram o 1o plantio direto de soja sobre pastagem.

3| POr que surgIu?No Centro-Oeste (Maracaju/MS), surgiu inicialmente pela necessida-de de fazer rotação de culturas com a soja, pois na região Centro-Sul do Estado de Mato Grosso do Sul, devido á alta temperatura noturna e a ocorrência de veranicos, a cultura do milho verão é de alto risco. Outra necessidade era a produção de palha para o plantio direto da soja, pois as plantas forrageiras, princi-palmente Brachiaria decumbens e B. brizantha e Panicum maximum cv. Tanzânia produzem uma maior quantidade de palha, com maior estabilidade (duração), e por um período maior de tempo, ficando o solo sempre coberto e protegido.Hoje em dia, além da cobertura do solo para o plantio direto na palha e da rotação de culturas que bene-ficiam diretamente a agricultura, a Integração lavoura-Pecuária (IlP) é utilizada para recuperar e/ou re-novar pastagens degradadas, pois através da integração, utilizando-se a cultura da soja, o retorno do capi-tal investido é mais rápido, uma vez que após 4 meses do plantio ocorre a colheita e a comercialização da soja, e o fertilizante químico resi-dual e o nitrogênio fixado pela soja produzem uma pastagem de alto vigor e valor nutritivo. Assim sendo, com a agricultura na propriedade, ela possibilita ter uma pecuária mais eficiente e lucrativa.

4| COmO está?A integração está sendo utilizada em várias regiões do país, mas numa adesão aquém do necessário e do esperado. Isto se deve ao fato de que o pecuarista possui a maior parte de suas áreas com pastagem e faz uma pecuária extensiva, extrativista e de baixo investimento – está na cultura do pecuarista fazer pouco investimento na atividade.Outros fatores que limitam a veloci-dade de adesão é o alto valor inicial necessário para a correção da aci-dez e da fertilidade do solo, compra de máquinas, falta de crédito e de seguro agrícola.

5| BenefíCIOsA primeira etapa para o sucesso da Integração lavoura-Pecuária é a conscientização do pecuarista e do agricultor para os benefícios do sistema. De forma resumida, seguem os benefícios da agricultura para a pe-cuária, da pecuária para a agricultura e da Integração lavoura-Pecuária:

BENEFÍCIOS DA AGRICulTuRA (SOJA) PARA PECuÁRIA• Retorno mais rápido do capital

investido na correção do solo;• Recuperação da produtividade da

pastagem;• Fornecimento de nutrientes para

a pastagem;• Possibilita a semeadura de pasta-

gens (aveia, milheto, Pé-de-galinha, sorgo, etc) para alimentação animal na entre-safra da soja, época crítica para a pecuária (abril a setembro);

• Facilita a troca de espécie forrageira;• Rotação de culturas.

BENEFÍCIOS DA PECuÁRIA (PASTAGEM) PARA AGRICulTuRA• Recuperação das características

físicas do solo (descompactação e estrutura);

• Aumento no teor de matéria orgânica e da atividade biológica do solo;

• Aumento na capacidade de arma-zenamento de água no solo;

• Cobertura de solo para o plantio direto;

• Rotação de culturas para a soja, diminuindo pragas e doenças.

BENEFÍCIOS DA INTEGRAÇÃO lAVOuRA-PECuÁRIA• Aumento na produção de grãos e

carne;• Melhora e conserva a fertilidade

do solo;• Maior estabilidade econômica;• Maior sustentabilidade;• Valorização pessoal, profissional e

da propriedade.

6| ImPlementaçãOAlém da conscientização dos pecua-ristas, outras etapas são fundamen-tais para o sucesso da implementa-ção da IlP:• Informações sobre o tema (fatores

de produção e tecnologias);• levantamento detalhado do solo

(características químicas e físicas);• Manejo da pastagem; • Dessecação da pastagem; • Fertilidade do solo;• Modelo de semeadora e imple-

mentos; • Clima e infra-estrutura necessários

para a atividade agrícola.

Integração lavoura-pecuárIaum sistema de produção sustentável

EnG. AGRO. MSc. dIRCEu LuIz BROCH 1

Acima: dr. dirceu l. broch, durante dia de

campo na fazenda Modelo ii (Ribas do

Rio Pardo/MS)

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No sistema de integração não há uma regra definida para estabelecer o tempo que o agropecuarista ficará com soja ou pastagem na mesma área, pois isto depende da realidade e dos objetivos de cada produtor, bem como do preço de mercado atual de grãos e da carne, além do tamanho da área com pastagens degradadas que se tem para recuperar. Contudo cabe alguma sugestão: a) em áreas de baixa a média fertilidade é interessante se cultivar soja por um período mínimo de três anos, com o objetivo de elevar os níveis de fertilidade do solo e obter o retorno mais rápido do capital investido, uma vez que a cada seis meses é possível se produzir e comercializar grãos; b) permanecer com pastagem por um período de 1,5 a 3 anos, pois o pasto se degrada muito rapidamente. Segundo dados obtidos na fazenda Cabeceira, de propriedade do Sr Ake B. van der Vinne, em uma pastagem formada após 3 anos de soja em solo fértil obteve-se no primeiro ano o ganho de 25 @ de carne/ha/ano, no segundo ano o ganho foi de 15 @ de carne/ha/ano, no terceiro ano 9 @ de carne/ha/ano e no quarto ano 4 @ de carne/ha/ano, tendo uma redução no potencial produtivo da pastagem em tono de 40%/ano. Por ser produzida em solo fértil, fica claro que o maior motivo para a redução drástica no potencial produtivo da pastagem é a falta de nitrogênio.

No Sistema Integração Lavoura-Pecuária, o retorno com pastagem definitiva que permanecerá com pecuária num período de 1,5 a 3,5 anos geralmente ocorre no final do mês de fevereiro e/ou início do mês de março após a colheita da soja de cultivar precoce. Deve-se dar preferência para a formação da espécie forrageira isolada e não em consórcio com milho safrinha, milheto ou aveia, pois isto garante uma formação melhor e mais rápida, e utilizar em torno de 600 Pontos de VC/ha. As espécies forrageiras mais indicadas são: Brachiaria brizantha cv. Xaraés (MG 5); Panicum maximum cv. Tanzânia; Panicum maximum cv. Aruana e Brachiaria ruziziensis (permanência de 1,5 anos) . Recomenda-se semeadura com semeadora no espaçamento de 17 a 21 cm e profundidade de 1,5 a 2,5 cm, a utilização de rolo compactador para melhorar o contato das sementes com o solo, possibilitando melhor absorção de umidade pelas sementes e conseqüentemente melhor germinação e formação das pastagens.

Para dar segurança aos produtores que queiram fazer o sistema em suas propriedades, a Fundação MS tem um departamento de consultoria, onde as informações técnicas e o acompanhamento nas fazendas são feitos por técnicos especializados da própria Fundação.

Mais inforMações

[email protected] | fone/fax: (67) 3454-2631 / 3454-3194 | cel.: (67) 9973-1611 / 9973-1129

1 PESQuiSAdOR dA fuNdAçãO MS

Obs.: Este material é uma sinopse do texto original de autoria do dr. dirceu l. broch. O artigo na íntegra, com mais dados técnicos sobre levantamento e fertilidade do solo, manejo e dessecação da pastagem, semeadoras e outras informações sobre ilP está disponível em www.jcmaschietto.com.br.

INTEgração agrICUlTUra PECUárIa Na FazENDa MoDElo II

Situada em Ribas do Rio Pardo (MS), a Fazenda Modelo II é pioneira em integração em sua região. Defendendo a diversificação de rendas e a redução de riscos, hoje realiza com sucesso a agricultura, pecuária intensiva e reflorestamento, como conta em depoimento o Engenheiro Agrônomo Adilson Kazuo Kozama, gerente da Fazenda.

“No inicio ouvimos falar em integração agricultura pecuária. Muito interessante, mas não para nós: região de areia quartzosa, 8 % de argila, chuvas irregulares, a 100 km do asfalto, etc.

Refletindo sobre isto, e ficando como estava, continuaríamos com uma lotação baixa (0,7 U.A./ha), pastos sujos, baixa rentabilidade e tendenciando – cada vez mais – a inviabilizar a atividade.

Então por que não tentar a integração agricultura pecuária? Sabendo que se trata de uma reforma de pasto a custo reduzido, recuperando a fertilidade do solo.

Nos primeiros anos surgiram muitas dúvidas sobre calagem, adubação, variedades, datas de plantio, etc. As dificuldades apareceram e estão sendo superadas uma a uma. Hoje não há dúvida de que podemos produzir soja em areia quartzosa. Muitos foram os ajustes necessários. Sabemos que ainda há muito a fazer. Uma coisa é certa. O capim agradece. É gratificante ver a resposta das plantas, o incremento da produção de forragem e a longevidade do pasto.

Tínhamos áreas degradadas (saturação de 15 a 20%), hoje corrigidas com saturação maior que 50% e com lotação acima de 4 U.A. (setembro a abril). A melhora da fertilidade do solo permite a implantação de forrageiras mais produtivas. Hoje a fazenda possui vários pastos rotacionados intensivos, que além do aumento da lotação, que promovem o aumento do desfrute e da rentabilidade, conseqüência da redução na idade da abate e do ganho de peso.

Também como forma de diversificação, a fazenda tem adotado o reflorestamento (eucalipto), em áreas de menor aptidão e mais susceptíveis a degradação, ficando a agricultura e a pecuária com as áreas mecanizáveis, com o intuito de promover o melhor uso do solo.

A nossa realidade é esta: areia quartzosa. Os nossos objetivos e necessidades: produtividade e viabilidade econômica.

Apostamos na integração e temos certeza dos nossos resultados”.

Integração lavoura-pecuárIa

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um sistema de produção sustentável

fundaçãO ms COmPleta 15 anOsA “Fundação MS para Pesquisa e Difusão de Tecnologias Agropecuárias”, mais conhecida como Fundação MS, completa este ano 15 anos de existência. Em comemoração, foram organizados 5 dias de campo – em Dourados, Rio Brilhante, Maracaju, Antônio João e São Gabriel do Oeste – com foco em integração lavoura-pecuária e uso de capins como cama para plantio direto, reunindo aproximadamente 1,5

mil produtores. A Sementes JC Maschietto, parceira de Fundação MS, participou destes eventos.

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REVISTA JC MASCHIETTO S E M E N T E S PA R A PA S TA G E N S�

não se admInIstra aquIlo que não se controlaA situação técnica e econômica da pecuária

brasileira pode ser resumida em duas afirma-ções feitas recentemente por um pecuarista de Bernardo Sayão, TO. Ficamos reunidos por três dias (zootecnista, agrônomo, veterinários e gerentes de fazendas) para avaliação de resulta-dos, de índices zootécnicos, de protocolos para incrementar a taxa de desmame e finalmente planejar as atividades para o semestre desse ano agrícola na Fazenda Terra Grande. Ao término do terceiro dia de reuniões encerraram-se as atividades e resumiram-se as discussões apon-tando-se a necessidade de análise dos resultados para gerenciar o empreendimento dizendo: “Não é possível administrar aquilo que você não controla” e, mais adiante, “Confiança não gera eficiência”.

Sem a capacidade de controle do empre-endimento, parte representativa da pecuária brasileira passa a administrar a atividade baseando-se na confiança. Com essa filosofia de gerenciamento os resultados técnicos e econômicos são imprevisíveis e, normalmen-te, frustrantes gerando revolta do pecuarista em relação à atividade. Certamente a maioria desses empresários rurais não tem, ou não terá, o mesmo comportamento gerenciando outra atividade econômica. Programas de computação, auditorias, relatórios freqüen-tes das entradas de matérias primas e de saídas de produtos, além de rendimentos das máquinas e equipamentos, tratam cada ope-ração como centro de custos independentes para identificar os gargalos do sistema de produção. Analisando estas informações são possíveis diagnósticos mais precisos e preco-ces, fundamentais para tomadas de decisão de gerenciamento.

Conclui-se que a pecuária é tão boa que até sua condução com amadorismo permite ser explorada por longos períodos de tempo, o que seria impossível em qualquer atividade econômica. Pelo menos duas hipóteses expli-cam essa situação: o extrativismo empregado na atividade e reduzidos investimentos na exploração.

O extrativismo normalmente está asso-ciado a produtividades decrescentes devido à redução na fertilidade do solo, aumento de plantas invasoras nas pastagens, início do processo erosivo, descaso no manejo das

pastagens e do rebanho, etc. A produtivi-dade média do gado de corte em sistemas extrativistas (sem emprego de insumos) é ao redor de 5@/ha/ano enquanto a de leite é cerca de 1000L/ha/ano. Com esses níveis de produtividade torna-se muito fácil con-vencer pecuaristas a mudar de atividade ou arrendar – o que é mais freqüente – suas terras para ampliação de outras culturas, como cana-de-açúcar, reflorestamento, etc. Poucos pecuaristas reconhecem que é possível elevar suas produtividades em, pelo

menos, 6 a 20 vezes na pecuária de corte e leite, respectivamente.

Certamente o leitor está pensando que o modelo de exploração da pecuária utilizando o extrativismo associado a reduzidos investi-mentos é possível em áreas de solo com ferti-lidade natural elevada, a exemplo das fronteiras agrícolas. Entretanto, o interessante é que os mesmos erros de manejo negativo do extrativis-mo provocam a falência do empreendimento, uma vez que a relação de causa e efeito da degradação da pastagem é confundida entre o extrativismo e a falta de investimento.

Sem o controle da atividade confia-se em “crenças antigas”, como aponta o pesquisador Prof. Sebastião T. Gomes em artigo que analisa a composição racial de vacas e lucratividade na produção de leite. Nesse trabalho os produtores que tinham rebanho com mais de 80% de grau de sangue holandês foram mais eficientes em termos técnicos e econômicos do que aqueles que tinham rebanho de vacas com menor participação de sangue holandês. Certamente esses valores, no mínimo, contrariam muitos produtores de leite que acreditam que a partir do ½ sangue holandês o aumento do grau de sangue europeu reduz a lucratividade da produção. Os produtores que exploraram animais com maior % de sangue holandês obtiveram taxa de remuneração do capital 25 vezes maior (8,9 % em relação a 0,35%) que os que exploram animais com menor grau de sangue da raça holandesa. Esse autor conclui que a tecnologia no manejo do rebanho dimi-nui o efeito restritivo do ambiente no conforto animal. Os indicadores técnicos e econômicos desse trabalho são resumidos na tabela 1.

Outro exemplo de persistência nos erros desde a “abertura da fazenda” até o arrenda-mento de suas terras está relacionado à perda de forragem durante o pastejo. A eficiência média do pastejo no Brasil está ao redor de 35%, isto é, aproveita-se somente 35% da forragem produzida e perde-se o corres-pondente a 65%. O correto, em termos de manejo, seria aproveitar entre 70 e 80% da forragem produzida. Aproveitar a forragem produzida não requer gastos ou investimen-tos econômicos, mas somente a mudança de atitude do pecuarista em relação à aplicação de conhecimentos de manejo de pastejo.

Conclui-se que a pecuária é tão boa que até sua condução com

amadorismo permite ser

explorada por longos períodos

de tempo”

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O eng. agrônomo Ricardo C. D. Goulart, em dissertação de mestrado na ESALQ, de-monstrou que o rebanho de vacas aneloradas pastejava mais intensamente até 250 m da aguada e que as mudanças no cocho de sal mineral no piquete não proporcionavam me-lhor movimentação dos animais, no sentido de aproveitar melhor a forragem produzida. Assim, conclui-se que a aguada é excelente con-dicionador de pastejo e a maior uniformidade no uso do pasto seria possível com melhor pla-nejamento na distribuição das aguadas. Nesse caso verifica-se que da “abertura da fazenda” à desistência do produtor em explorar a pecuária persiste o mesmo comportamento em relação à distribuição das aguadas. Piquetes com forma e dimensões inadequadas agravam o problema da localização das aguadas e, à medida que o pecuarista procura elevar a produção de forra-gem com a adubação, controle de invasoras, pragas, etc, o posicionamento da aguada no piquete é de fundamental importância.

Freqüentemente discussões são travadas sobre a lucratividade da pecuária de leite e/ou corte, sendo que raramente pode-se perceber nessas discussões a análise da intera-

ção de variáveis que afetam a produtividade e economicidade do sistema. Na exploração leiteira deve-se entender que a inter-relação das seguintes variáveis é imprescindível para se gerenciar o sistema: taxa de lotação, estrutura do rebanho, % vacas em lactação e produção de leite por vaca em lactação.

A produção por vaca em lactação ou por vaca no rebanho é muito discutida enquanto a taxa de lotação e estrutura do rebanho são pouco mencionadas. Assim, um rebanho com 20L/vaca em lactação/dia pode ter di-ferentes produtividades se alterarmos a taxa de lotação e estrutura do rebanho.

Veja o exemplo na tabela 2, onde a pro-dutividade aumentou 16,6% quando a estrutura do rebanho passou de 60 para 70% sem alteração da taxa de lotação, porém au-mentou 4,25 vezes quando a taxa de lotação subiu para 6 UA/ha, 75% de vacas com 85% em lactação, embora a produção de leite por vaca em lactação não tenha alterado.

Na pecuária de corte comenta-se sobre a taxa de prenhez, mas não há referência em relação ao intervalo entre partos. Assim, um rebanho com 90% de prenhez seria ótimo se o inter-

valo entre partos fosse de 12 meses, mas se for de 16 meses a taxa real de prenhez – quando convertida para 12 meses – seria 67,5% de prenhez. Nesse caso o pecuarista acredita que a propriedade tem a taxa de prenhez de 90%, mas economicamente esse valor é de 67,5%. A frustração econômica desse pecuarista só pode ser explicada se houver entendimento da inter-relação das variáveis que determinam a produtividade em bezerros (as)/ha/ano.

Também não faz sentido expressar a taxa de lotação de UA/ha em propriedades que exploram a cria, onde se deve expressar essa variável em vacas ou matrizes/ha, uma vez que essas são as unidades produtivas do siste-ma. Quando se entendem essas inter-relações é possível, em sistema de cria, passar de 0,27 bezerros/ha/ano – o que representaria a mé-dia nacional de produtividade no sistema de cria – para, pelo menos, 2 bezerros/ha/ano apresentando aumento de 7,4 vezes.

A maior mudança está na adoção de conceitos que melhorem a produtividade e não, necessariamente, de investimentos financeiros.

Quando se controla o sistema de produ-ção administrando-se os recursos humanos e naturais, obtém-se eficiência no emprego de insumos como infra-estrutura de pastejo (posicionamento de aguadas, cochos de sal, etc), na escolha de espécies forrageiras em relação ao emprego de insumos (fertilidade do solo, manejo do pastejo, controle de invasoras, etc) estabelecendo-se critérios de manejo dos animais valorizando atributos econômicos, como desempenho animal e conversão alimentar.

Como controlar um sistema de recria/engorda sem o uso freqüente da balança e análise dos resultados obtidos nas pesagens? Desse conceito simples de administração entende-se a profundidade da recomendação do pecuarista tocantinense de que “se não há controle, não se pode administrar”.

1 PROf. TiTulAR dO dEPTO. dE ZOOTEcNiA, ESAlQ/uSP. | 2 MESTRANdA EM ciêNciA ANiMAl E PASTAGENS, ESAlQ/

uSP. | 3 dOuTORANdO EM ciêNciA ANiMAl E PASTAGENS,

ESAlQ/uSP.

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Tabela 1. iNdicAdORES dE RESulTAdOS dOS PROduTORES dO PdPl – RV, EM 2006/2007, SEGuNdO O GRAu dE SANGuE hOlANdêS dE SuAS VAcAS

FONT

E: B

ANCO

DE

DADO

S DO

PDP

l

ATé 80% (GRuPO 1)

12

8,55

1.320,00

387,05

287,86

0,35

MAIS DE 80% (GRuPO 2)

14,49

10,5

3.212,61

626,34

525,14

8,9

téCniCos

eConÔMiCos

grau de sangue holandês

indiCadores

PRODuÇÃO/VACA EM lACTAÇÃO

PRODuÇÃO/TOTAl DE VACAS

PRODuÇÃO/ÁREA

MARGEM BRuTA/TOTAl DE VACAS

MARGEM BRuTA/HECTARE

TAxA DE REMuNERAÇÃO DO CAPITAl

unidade

l/DIA

l/DIA

l/HA/DIA

R$/ANO

R$/ANO

% AO ANO

Tabela 2. VARiÁVEiS QuE AfETAM A PROduTiVidAdE dE lEiTE

TAxA DE lOTAÇÃO (uA/HA)

2

6

ESTRuTuRA DO REBANHO (% DE VACAS

EM lACTAÇÃO)

60

70

75

% DE VACAS EM lACTAÇÃO

75

75

85

PRODuÇÃO/VACA EM lACTAÇÃO (l/VACA/DIA)

20

20

PRODuTIVIDADE (l/HA/ANO)

6570

7665

27922,5

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PRiNciPAiS ESPEcificAçõES dO cONTRATO dE bOi GORdO dA bM&f

uNIDADE DE NEGOCIAÇÃO MESES DE NEGOCIAÇÃO

COTAÇÃO

FORMAÇÃO DO PREÇO

ÚlTIMO DIA DE NEGOCIAÇÃO

lIQuIDAÇÃO

330 arrobas líquidas de um bovino macho, castrado, bem acabado (carcaça convexa), em pasto ou em confinamento, que apresente um peso entre o mínimo de 450 kg e o máximo de 550 kg e idade máxima de 42 meses.

Todos os meses do ano

Reais por arroba líquida

Estado de São Paulo

Último dia útil do mês

Aqueles que ficarem até o vencimento do contrato serão liquidados pela média dos últimos cinco dias úteis do Indicador Esalq/BM&F

REVISTA JC MASCHIETTO S E M E N T E S PA R A PA S TA G E N S�

FABIAnA S. PEROBELLI uRSO, econo­mista, e­mail: [email protected]

O pecuarista, como os demais produtores agropecuários, associa o processo de produção ao momento da venda da mercadoria. E o que encon-tramos no dia-a-dia é que o pecuarista produz os bois e quando os animais estão prontos para o abate, ele dá inicio ao processo de venda.

Se os preços não estiverem re-munerando adequadamente a sua produção, o pecuarista, dependendo da situação de mercado, ficará aguar-dando uma melhora dos preços, que pode não ocorrer. Se o animal estiver em confinamento, esta “espera” nor-malmente não existirá, pois significará um aumento dos custos.

A pecuária vivenciou nos últimos anos a redução das margens de ren-tabilidade, face à desvalorização real dos preços do boi e o aumento dos custos de produção, especialmente da reposição. Qualquer atividade produtiva está sujeita a alguns ris-cos, como o de produção, de crédito e o de preço.

O risco de preço interfere na ati-vidade produtiva, na medida em que pode determinar a redução da margem de rentabilidade. A pecuária moderna não pode ficar refém das variações indesejadas dos preços e requer instrumentos de gerenciamento do risco de preço. E isto requer que o pecuarista ao tomar a decisão de pro-dução deve, neste momento, garantir o seu preço de venda, através dos instrumentos dos mercados futuros e de opções, para evitar a deterioração da sua rentabilidade.

Ao antecipar o processo de venda, o pecuarista poderá garantir a rentabilidade da sua atividade, e não ficará exposto ao preço de mercado quando for entregar os bois para o frigorífico. é preciso modificar a estrutura de venda, e não mais vender os bois “olhando para o retrovisor”.

Para garantir, antecipadamente, o preço de venda, o pecuarista pode uti-lizar os mercados futuros e de opções disponíveis na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). Para operar estes mercados, é desejável que o pecuaris-ta conheça o seu custo de produção. Com esta informação, poderá avaliar se os preços remuneram ou não a sua atividade. Além disso, o pecuarista deve trabalhar com a idéia de formar um preço médio, ou seja, vender aos poucos, sempre que o preço remune-rar a sua atividade.

O produtor quando fixa seu preço de venda na BM&F, faz um hedge

(seguro, cobertura) de venda de seus animais. Portanto, se o preço do boi cair, ele recebe a diferença entre o preço fixado anteriormente e o preço desvalorizado, compensando assim a desvalorização ocorrida no mercado físico. Por outro lado, se o preço subir o pecuarista paga a diferença entre o preço fixado anteriormente e o preço valorizado. Note que se o preço cair o pecuarista estará protegido e se o pre-ço subir ele apenas deixará de ganhar. Esse é o princípio do mecanismo de hedge – garantir um determinado pre-ço que o produtor considera adequado à sustentabilidade do seu negócio ao longo do tempo.

Com o uso do mercado futuro o pecuarista pode planejar melhor sua atividade. Ao fixar seu preço de venda, ele determina o quanto irá produzir de acordo com o retorno que poderá obter. No dia-a-dia dos negócios, os pecuaristas continua-rão vendendo seus bois para os frigoríficos com os quais mantém relações comerciais, mas o preço de venda não será conhecido apenas quando entregar os bois para o abate e sim quando tiver fixado o preço

anteriormente na BM&F.Vale destacar que o pecuarista pode

liquidar o contrato a qualquer momen-to, realizando a operação inversa. Caso ele tenha vendido 40 contratos, e queira encerrar a posição, deverá comprar 40 contratos. Caso decida ficar até o vencimento, o contrato será liquidado pelo preço médio dos últimos cinco dias de acordo com o Indicador à vista Esalq/BM&F. Esse indicador de preços é calculado pela média ponderada de quatro praças no interior de São Paulo: Araçatuba, Bauru/Marília, Barretos/São José do Rio Preto e Presidente Prudente.

O mercado de opções da BM&F é outra alternativa de fixação do preço de venda ou de compra para uma data futura. As opções possibilitam negociação de contratos através da compra de uma opção de venda (put, no jargão do mercado) ou de compra (call), pagando por elas um prêmio ao vendedor (o lançador da opção). O comprador, ao pagar o prêmio ao vendedor (lançador) da operação, detém o direito de exercê-la em uma data futura. Vale destacar que a opção de boi gordo é ameri-cana, ou seja, pode ser exercida a qualquer momento.

O pecuarista, por exemplo, pagará o prêmio de R$ 0,50/@ ao vendedor (lançador) para ter o direito de vender os bois em outubro a R$ 59,00/@. Em outubro, se o preço do boi estiver a R$ 56/@, o pecuarista exercerá este direito e receberá a diferença de R$ 3,00 por arroba (R$ 59,00 - R$ 56,00) na BM&F. Na prática, o pecuarista ven-derá os bois a R$ 56,00 ao frigorífico e, com os R$ 3,00/@ obtidos no mercado de opções, terá garantido o preço de venda fixado anteriormente de R$ 59,00/@, pelo qual pagou o prêmio de R$ 0,50/@.

O mercado de opções possui risco limitado e controlável para o compra-dor da opção, no caso o pecuarista; se no vencimento o preço do boi estiver em R$ 65,00/@ o pecuarista não

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exercerá o direito de venda. O pecua-rista venderá os bois para o frigorífico a R$ 65,00/@ no físico, e terá gasto R$ 0,50/@, pelo prêmio do seguro. A opção é duplamente vantajosa: o produtor compra um seguro contra a queda de preços e não deixa de ganhar com uma possível alta nos preços.

Os pecuaristas que estiverem fora de São Paulo devem se atentar para o conceito da “base de preços”. Como o contrato da BM&F refere-se ao Estado de São Paulo, o pecuarista do Mato Grosso deverá conhecer a diferença histórica entre os preços da sua loca-lidade em Mato Grosso em relação ao mercado de São Paulo. Esta diferença é conhecida por “base”.

O acompanhamento da “base de preços” é fundamental para que os pe-cuaristas fora do Estado de São Paulo possam fixar seus preços de venda. O mesmo raciocínio é válido para os compradores de fora do Estado.

O uso dos mercados futuros e de opções pelos pecuaristas tem aumen-tado significantemente, revelando o maior interesse pela garantia anteci-pada do preço de venda por parte dos agentes da cadeia produtiva da carne bovina. Em 2006, a BM&F negociou o equivalente a 7,8 milhões de cabeças, através de 393 mil contratos de boi gordo. No primeiro semestre de 2007, foram negociados 279 mil contratos (cerca de 5,6 milhões de cabeças), com um crescimento de 151% sobre os 111 mil contratos negociados no mesmo período de 2006.

A BM&F dispõe também dos con-tratos futuros de bezerro e de milho, para os que desejarem fixar o preço de aquisição do bezerro ou utilizar o milho nos confinamentos.

A BM&F renova a sua disposição de estar ao lado do agronegócio, oferecendo soluções para o geren-ciamento de risco e o aumento de sua competitividade. Para maiores informações procure uma corretora associada através do site da BM&F (www.bmf.com.br).

É preciso modificar a estrutura de

venda, e não mais vender

os bois “olhando para o retrovisor”

“mercados futuros: instrumento

de comercialização de boi gordo

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�REVISTA JC MASCHIETTO S E M E N T E S PA R A PA S TA G E N S

REnATA W. MASCHIETTO BATISTA 1

CLOdOALdO ROCHA dE ALMEIdA 2

A questão de pureza varietal (ausência de mistura de cultivares) em sementes forrageiras para pastagens apresenta características que, combinadas, podem resultar em riscos econô-micos e operacionais para a atividade pecuária: ao mesmo tempo em que representa um poten-cial grande de prejuízo, é de difícil identificação no momento da compra. Este artigo procura abordar este problema e apresentar alternativas para contorná-lo.

Quando se fala em qualidade de sementes normalmente o que vem primeiro à cabeça do pecuarista é a questão da pureza física do produto: “... será que a semente que eu comprei realmente tem a pureza informada na etiqueta afixada em sua embalagem?”. Esta preocupação é justificável em um mercado que combina um número grande de empresas – boa parte delas com uma postura pouco séria com relação a seu produto – e carência de fiscalização por parte dos órgãos competentes. Neste cenário, é compreensível que o pecuarista fique com a sensação de estar sempre sendo enganado.

Para este problema existem remédios efi-cientes que combinam a remessa de uma amostra do produto adquirido para análise em um laboratório sério e independente até a avaliação da quantidade que a empresa recomenda de sementes por área para a formação da pastagem – quantidades acima dos limites tecnicamente justificáveis são um bom termômetro para identificar produtos com pureza inferior à informada.

Outros indicadores de qualidade do produto são a ausência de ervas daninhas e a taxa de germinação da semente, elementos também aferíveis em testes laboratoriais, com maior ou menor eficiência.

Já no caso da pureza varietal a complexida-de é maior. Sementes de diferentes cultivares de uma mesma espécie apresentam caracte-rísticas físicas muito semelhantes entre si (dimensões, peso, aparência), dificultando

os MalEs Da MIsTUra

e – em boa parte dos casos – inviabilizando tecnicamente a separação dos materiais no processo de beneficiamento e a identificação de misturas no laboratório.

Podemos citar exemplos disso dentro das espécies Brachiaria brizantha (cultivares Maran-du e Xaraés/MG-5) e Panicum maximum (Tanzânia-1 e Mombaça). Estes últimos já podem ser considerados clássicos dentro do mercado de forrageiras: por serem sementes muito pequenas e semelhantes entre si, é muito comum encontrar produtos com altas taxas de mistura, que poderiam ser ironicamente batizados de “tambaça” ou “monzânia”.

Já no caso do Xaraés/MG-5 e braquiarão verificou-se nos últimos anos um fenômeno interessante: como normalmente existe uma diferença de preços entre as duas cultivares, algumas empresas usaram o artifício de mis-turar a mais barata (em geral o braquiarão) na composição da mais cara, tornando seu preço mais competitivo no mercado. Este tipo de fraude oferece menos risco para a empresa, pois – diferentemente do caso da pureza física – os laboratórios não realizam este tipo de análise. E, portanto, o artifício somente poderá ser percebido depois de estabelecida a pastagem.

Impactos da ImpurezaNeste momento um leitor pode questio-

nar: “... afinal, qual o problema de se utilizar sementes com mistura varietal?” ou “... no final das contas não é tudo capim, que o gado come sem reclamar?”.

Vamos aos fatos: o boi é um animal muito seletivo; se houver opção, ele escolherá o capim mais palatável, deixando de lado aquele que se destacar menos neste atributo. No caso de uma área com mistura de braquiarão e Xara-és/MG-5, o gado certamente consumirá de forma prioritária o primeiro (mais palatável), deixando de lado o Xaraés, que é muito exigen-te em termos de manejo – não se deve deixá-lo crescer muito, sob o risco de torná-lo fibroso e de comprometer a qualidade de forragem, dificultando o consumo pelos animais.

As misturas de Tanzânia e Mombaça ofere-cem os mesmos riscos (foto ao lado). No capim mais baixo (Tanzânia) ocorre super-pastejo, o que pode comprometer a perenidade da área. As plantas mais altas (Mombaça, sub-pasteja-das) evitadas pelos animais, formam touceiras inviabilizadas para pastejo. Via de regra, o pecuarista manda roçar para igualar a altura do pasto, amenizando o problema, porém o manejo sempre estará comprometido. Ocorrem também misturas com outras variedades não comerciais de Panicum, como o “cana roxa”, “coloninho” e “sempre verde”, pouco produtivas como pastagem.

Adquirindo sementes com mistura varietal, o pecuarista poderá ter um prejuízo duplo: na hora de adquirir as sementes (pois pro-vavelmente pagará o preço da mais cara) e, principalmente, após a formação, pois não conseguirá manejar nenhuma das cultivares de forma adequada.

Como se prevenir?É muito difícil – se não impossível – dife-

renciar determinadas cultivares em laboratório. Porém, apesar da semelhança das sementes, as plantas apresentam características próprias que permitem diferenciar umas das outras.

A única forma de uma empresa ter con-trole sobre a ocorrência de misturas varietais em seu produto é vistoriar seus campos de produção em diferentes fases de seu desen-volvimento – no mínimo nos períodos de florescimento e pré-colheita.

Isso é o que se esperaria de qualquer em-presa séria e comprometida com a qualidade de seu produto. A preocupação apenas com resultados imediatos e com o volume de co-mercialização faz com que muitas empresas releguem esta importante iniciativa para um segundo plano. Algumas acabam por não acompanhar as áreas de seus cooperados, evitando gastos de deslocamento na fisca-lização – afinal os campos de produção são espalhados por diferentes regiões do país.

A JC Maschietto possui equipe técnica destacada para acompanhar e fiscalizar seus campos nas fases de produção. Somos rigo-rosos neste processo e, não raro, condenamos campos que, por algum motivo, apresentaram misturas varietais ou presença de plantas in-vasoras acima dos limites legais. Estes campos são classificados como inviáveis e desconside-rados para a comercialização.

Esperamos que este breve texto contribua para a conscientização dos pecuaristas, instrumentalizan-do-o para defender melhor seus interesses.

1 ENG. AGRA MSc – SEMENTES Jc MASchiETTO2 ENG. AGRO MSc – SEMENTES Jc MASchiETTO

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Abaixo: técnico da Jc Maschietto vistoriando campo de Panicum. Ao lado: área de Tanzânia com mistura de Mombaça

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OsvAldO GUiMArães netO 1

Neste momento, quando se aproxima o período chuvoso, momento de alegria para produtores rurais, também é de preocupação no que diz respeito a pragas e doenças nas mais variadas culturas.

Para os pecuaristas de praticamente todo o Brasil, vem crescendo a preocupação com as cigarrinhas das pastagens, que a cada ano infestam e provocam prejuízos.

Fato que agrava mais esta situação é o es-tado de degradação da maioria das pastagens brasileiras, causados pelo manejo inadequado, baixa fertilidade do solo e a grande quanti-dade de forrageiras susceptíveis instaladas em grandes áreas. Das principais cigarrinhas que causam prejuízos destaco a Deois flavopicta e Mahanarva fimbriolata, esta última conheci-da como cigarrinha da cana-de-açúcar.

A ação das cigarrinhas tem início já na fase de ninfa, quando está protegida por uma espuma na base da planta (foto), de onde suga a seiva. Na fase adulta, injeta toxina, seca o perfilho, provocando uma queima e gerando prejuízos que podem ser irreversíveis, dependendo do nível de infestação, da espécie forrageira, do manejo da pastagem, da fertilidade do solo e a da distribuição pluviométrica.

Cerca de 25 cigarrinhas adultas por metro quadrado, durante dez dias, são capazes de reduzir a produção de pasto em 30% e a de massa verde em 15%, fato este que coincide com o período de maior disponibilidade de forragem.

Não existe uma medida de controle que, isoladamente, consiga bons resultados. As manutenções de áreas de reserva florestais ajudam com a presença de pássaros, que são os principais predadores naturais das cigarrinhas. Plantio de forrageiras resistentes em pelo menos 30% da propriedade, ma-nutenção da fertilidade do solo e o manejo correto no período das águas favorecem o controle. O manejo na estação mais seca do ano – mantendo a forragem mais baixa – favorece a incidência de raios solares so-bre a espuma protetora das ninfas, além de proporcionar menor formação de palhada

Preocupação com as cigarrinhas das pastagens

Cerca de 25 cigarrinhas

adultas por metro quadrado, durante

dez dias, são capazes de reduzir

a produção de pasto em 30% e

a de massa verde em 15%”

“no solo (que também favorece o desenvol-

vimento de cigarrinhas), o que contribui para o controle dessas pragas.

Além de todas estas alternativas, uma muito eficiente, desde que bem utilizada,

é a aplicação do fungo entomopatogênico Metarhizium anisopliae. Dentre as vanta-gens destaco: não deixa resíduo no solo e na pastagem, não poluindo o ambiente e nem deixando resíduo no leite e na carne.

A qualidade do patógeno (origem de firma idônea) é fundamental para a eficiência do controle biológico. Para a aplicação do fungo deve-se ter umidade elevada, temperatura de 25-30ºC, e de preferência de tarde ou à noite, para evitar a radiação ultravioleta. Deve-se também monitorar a população da cigarrinha a partir do início da estação chu-vosa, quando os ovos do inseto se encontram em repouso desde o fim da estação chuvosa anterior. A primeira geração de adultos apa-rece 25 a 30 dias a partir do início das chu-vas, cujos novos ovos – que deverão surgir de 50 a 60 dias depois - darão origem à segunda geração de adultos, momento ideal para a aplicação do fungo – se necessário fazer uma segunda aplicação sobre a terceira geração. Pode ocorrer uma variação, dependendo do ciclo de chuvas – o mais importante é um bom monitoramento para que a aplicação do fungo ocorra no momento correto. Uma pastagem bem manejada também contribui com a preservação do fungo no ambiente.

Não há método que elimine totalmente as cigarrinhas, sendo que um controle eficiente é o suficiente para manter esta praga em níveis baixos os quais não geram problemas significativos nas plantas. Métodos utiliza-dos individualmente não geram resultados satisfatórios. Por isso, o manejo integrado, com utilização de vários métodos simulta-neamente é o indicado.

1 diRETOR SuPERiNTENdENTE dA cERTRiM, PROfESSOR

dE ENTOMOlOGiA APlicAdA dA fAZu (ubERAbA/MG).

e-mail: [email protected]

Ninfas da cigarrinha na pastagem

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MARCOS REInACH 1

Além de ser uma atividade eco-nômica e produtiva, a pecuária deve ser analisada como um investimento e, como tal, deve ser avaliada dentro dos mesmos critérios utilizados em qualquer tipo de investimento.

Quando pensamos em investi-mento a primeira imagem que nos aparece é a de um Banco, com apli-cações em fundos, ações e muitas outras opções que nos oferecem a cada dia.

Existe, no entanto, uma maneira simples de comparar e avaliar qual-quer investimento, tanto no mercado financeiro como em outro mercado que pensemos em participar. Para isso, devemos olhar para três aspectos - rentabilidade, liquidez e segurança – imaginando-os como um tripé. Nunca teremos esses três aspectos de forma positiva, ou seja, nunca teremos um inves-timento com alta rentabilidade, alta segurança e alta liquidez. Mesmo parecendo um pensamento simplis-ta, esta visão nos traz uma clareza na compreensão e julgamento de um investimento.

levando-se em conta este tripé, na atividade da pecuária, vemos que temos uma excelente liquidez, uma segurança alta e de acordo

a PECUárIa CoMo INvEsTIMENTocom a análise descrita acima uma rentabilidade baixa. A liquidez é impressionante, visto que estando com o seu produto em qualquer es-tágio da produção o pecuarista pode colocá-lo no mercado e receberá o valor correto, diferente do que um industrial que, com o produto no meio da produção, não consegue nem o valor da matéria prima, nem do produto acabado, ou mesmo o agricultor que, até que tenha feito a colheita da sua produção, não possui nada para comercializar. A liquidez na pecuária é tamanha, que é difícil imaginar uma atividade econômica onde não se faz neces-sário um esforço de venda, ou seja, somente com um telefonema o comprador vem a sua propriedade e retira a sua produção. A grande segurança observada na pecuária provém do fato de trabalhar com um ativo real com baixo nível de morte, doença, roubo, perda, etc.

Com todas essas características de liquidez e segurança, fica difícil acreditar em uma rentabilidade elevada, portanto alguma mudança deve estar ocorrendo para justificar esse investimento. Nos últimos dez anos, observamos na pecuária bra-sileira um nível de investimento não compatível para uma atividade com um baixo nível de rentabilidade.

A evolução tecnológica da ativi-dade pecuária está cada vez mais acessível aos pecuaristas, trazendo com isso, entre outros benefí-cios, o aumento da produtividade. Entretanto, seus benefícios não estão obrigatoriamente ligados ao aspecto investimento. Para aqueles que não dispõe de recursos para investimentos, algumas técnicas simples, como um melhor manejo de pastagem, já proporcionam um aumento de produção, sem que seja necessário investir absolutamente nada, somente aplicando uma nova tecnologia. Para aqueles que podem investir, a evolução tecnológica coloca à disposição inovações mais sofisticadas com viabilidade eco-nômica comprovada e resultados surpreendentes.

A pecuária talvez ainda não possa ser comparada a uma indústria de transformação ou a um prestador de serviços, mas também não pode, nem deve mais, ser tratada como uma atividade extrativista. Devemos enxergá-la como atividade econômi-ca onde, de acordo com o nível de investimento e o grau de utilização da tecnologia, pode-se modificar os níveis de produtividade e, eventual-mente até, de rentabilidade.

Com este cenário tecnológico, o investimento na pecuária modifica

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os fatores analisados. A partir do momento em que trabalhamos com mais tecnologia, observamos um maior risco envolvido, pois mais variáveis passam a fazer parte da atividade, e desta maneira podemos trabalhar com uma pecuária mais rentável e ainda condizente com uma liquidez elevada.

Se não forem feitos investimentos na atividade de pecuária, ela será cada vez mais deslocada para áreas onde a baixa tecnologia ainda é acei-ta, e tudo permanece como está, por mais um período. Por outro lado, fa-zendo investimentos em tecnologia, estaremos tornando a atividade mais arriscada, porém com uma maior rentabilidade. O tripé continua va-lendo, porém os três – rentabilidade, liquidez e segurança – encontram-se mais equalizados com as outras atividades da economia.

Nada melhor do que ter que investir em uma atividade onde as inovações tecnológicas existem e estão disponíveis para todos.

1 MARcOS REiNAch é EMPRESÁRiO E

PEcuARiSTA cOM PROPRiEdAdE EM

APAREcidA dO TAbOAdO (MS).

e-mail: [email protected]

REVISTA JC MASCHIETTO S E M E N T E S PA R A PA S TA G E N S

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manejo de PanicunsA fazenda experimental possui uma grande extensão de pastos para manejo de Panicum. Em uma área específica de 56 ha formada com Tobiatã (27 ha), Vencedor (12 ha) e Mombaça (17 ha) a intensificação é grande. Pastos formados com esses capins geralmente apresentam baixa persistência, muitas vezes devido à baixa fertilidade dos solos, mas também a erros de manejo.Através de um manejo bem estruturado, com adubação de manutenção (à base de nitrogênio e fósforo), divisão dos piquetes com cercas elétricas e rotação das áreas os pastos vêm se mantendo produtivos há mais de 10 anos – sendo que o Tobiatã já vai para sua 13a temporada.As taxas de lotação são altas: de novem-bro a março as áreas suportam uma mé-dia de 600 cabeças de vacas e novilhas. Em anos com índices pluviométricos favoráveis, como 2006, foram alocadas 1.100 cabeças durante o mês de janeiro. Isso em uma área de 56 ha!

Piquete de Tobiatã formado há 12 anos

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Teoria + prática. É através destes dois elementos que se constroem a experiência e a segurança técnica necessárias para uma em-presa de sementes oferecer uma orientação adequada a seus parceiros e clientes. Dentro deste espírito, a Sementes JC Maschietto utiliza sua fazenda experimental para, através de um modelo intensivo de pecuária, avaliar na prática novas tecnologias e soluções apresentadas no mercado. Esta tradição vem de várias décadas. Uma das primeiras inovações surgidas neste “laboratório” acabou por revolucionar o mercado de sementes de pastagem no país há mais de 30 anos: o consagrado “Método CATI” de formação de pastagens em 60 dias, idealizado pelo Eng. Agro José Carlos Maschietto, fundador da empresa. A seguir, apresentamos algumas iniciativas desenvolvidas recentemente na fazenda.

FazENDa EXPErIMENTal

rolo compactador de sementes

Para um melhor resultado no plantio de pastagens, é fundamental que logo após a semeadura haja a compactação das sementes no solo. Ano após ano formando pastagens, a equipe técnica da Sementes JC Maschietto foi observando que, no ras-tro do pneu traseiro do trator a quantidade de sementes germinadas era muito maior em relação ao restante da área. Isto porque os “gomos” dos pneus compactam a se-mente ao solo e ao mesmo tempo formam “buracos” onde há o acúmulo de água da chuva, o que favorece a germinação.E dessa observação fomos para a prática. Foi idealizado um rolo compactador (foto) que procura simular este princípio, inclusive com barras de metais soldadas ao imple-mento de forma que imitem os “gomos” do pneu. Devido ao maior número de sementes germinadas, o equipamento ajuda a reduzir os custos com a aquisição do insumo.O rolo foi testado – com pleno sucesso – durante 4 anos na fazenda experimental. Atualmente vários de nossos clientes já utilizam esta solução.

Rolo compactador desenvolvido pela equipe técnica da Jc Maschietto

REVISTA JC MASCHIETTO S E M E N T E S PA R A PA S TA G E N S

com o corte da cana percebe-se a braquiária estabelecida

Nos carreadores,

com mais exposição à luz, o Piatã

desenvolveu-se bem

Piatã com milho

Já estamos avaliando na prática a nova braquiária Piatã, recém lançada pela Em-brapa em parceria com a unipasto. Em uma área de 12,5 hectares da fazenda experimental a cultivar foi semeada em 21 de março de 2007 junto com milho (safrinha), com o objetivo de fornecer mais matéria seca para silagem (ver foto na parte de cima desta página).Após o corte do milho – em 30 de junho, com uma produção de 382 toneladas de silagem – foram criadas condições pro-pícias para o desenvolvimento do Piatã. Nossa expectativa é que o pasto esteja pronto para a entrada de gado a partir do final de outubro ou início de novembro.Acreditamos que os frutos desta ex-periência nos darão segurança para orientar clientes e parceiros sobre as vantagens e eventuais limitações desta nova braquiária.

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1�REVISTA JC MASCHIETTO S E M E N T E S PA R A PA S TA G E N S

FILIPE GERALdO M. TEIxEIRA 1

ROnALdO PEREIRA dE AndRAdE 2

LuIz CARLOS MIRAndA 3

Única forma de proteção legal de plantas no Brasil, a lei de Proteção de Cultivares (lei n.º 9456/97) com-pletou em abril deste ano 10 anos de promulgação. Nesta primeira década o Brasil avançou vigorosamente na pesquisa e geração de novas cultivares adaptadas às nossas con-dições edafoclimáticas, garantindo ao agricultor nacional sementes de alta tecnologia.

Originária de tratados internacio-nais do qual o Brasil faz parte, tais como GATT(1), TRIPS(2) e baseada na Ata de 1978 da uPOV(3), a lei de proteção de cultivares brasileira tem como principal objetivo assegurar a seu titular o direito à reprodução comercial no território brasileiro, ficando vedado a terceiros, durante o prazo de proteção, a produção com fins comerciais, o oferecimento à venda ou a comercialização do material de propagação da cultivar, sem sua autorização.

Desta forma, uma vez que uma nova cultivar seja protegida junto ao Serviço Nacional de Proteção de Cultivares – SNPC, órgão vinculado ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, seu titular poderá impedir que terceiros a utilizem ou, ao contrário, poderá exigir uma recompensa para autorizar o uso por terceiros. usualmente se chama esta recompensa de “royalty”, que é pago pelo usuário interessado em produzir o material de propagação de uma cultivar protegida (sementes ou mudas) e para tanto firma com o detentor da cultivar um Contrato de licenciamento.

Para que uma cultivar seja prote-gida, e permita a seu titular cobrar royalties para sua utilização por terceiros, a nova variedade deverá possuir os requisitos legais, ou seja, ser nova, distinta, homogênea e estável.

Será considerada nova a cultivar que não tenha sido oferecida à venda no Brasil há mais de doze meses em relação à data do pedido de proteção. Distinta é a cultivar que se diferencie das demais existentes à época da proteção por uma margem mínima de descritores pré-estabelecidos pelo órgão competente. A homogeneida-de de uma cultivar existirá quando utilizada em plantio, em escala comercial, apresente variabilidade

Proteção de cultivares

mínima quanto aos descritores que a identifiquem. E finalmente sua es-tabilidade será comprovada quando reproduzida em escala comercial, mantenha a sua homogeneidade através de gerações sucessivas.

Diante desta possibilidade de proteção intelectual de uma nova cultivar, e conseqüente perspectiva de ressarcimento dos valores gastos em pesquisas de melhoramento, diversas instituições nacionais e estrangeiras passaram a investir em pesquisa e desenvolvimento de variedades vegetais no Brasil, resul-tando num crescimento vertiginoso da oferta de tecnologia ao agricultor nacional.

A conseqüência prática da im-plantação da lei foi a criação de empresas nacionais de pesquisa agropecuária, a entrada no mercado brasileiro de empresas multinacionais de pesquisa e o fortalecimento das instituições públicas, como a Embra-pa, que atuam neste segmento.

Desde a promulgação da lei de Proteção de Cultivares até hoje a Embrapa já lançou e protegeu mais de 278 cultivares, sendo a maior titular de cultivares do Brasil, com mais variedades protegidas do que a soma daquelas protegidas pelos 2º ao 9º maiores obtentores juntos.

Exemplo de sucesso na pesqui-sa, desenvolvimento, produção e transferência para o mercado de novas variedades a Embrapa neste momento coloca à disposição de seus parceiros mais uma nova cultivar protegida, a Brachiaria brizantha cv BRS Piatã, desenvol-vida em parceria entre a Embrapa e a uNIPASTO(4).

A BRS Piatã foi desenvolvida a partir da coleção de forrageiras da Embrapa e passou por avaliações durante 16 anos. O nome Piatã foi escolhido como forma de homena-gear o povo Indígena tupi-guarani e significa fortaleza, valentia, co-ragem, diz a pesquisadora respon-sável pelo trabalho, Cacilda Borges do Valle.

A BRS Piatã é uma planta apro-priada para solos de média fertili-dade, tolera solos mal drenados, produz forragem de boa qualidade e acumulação de folhas, possui colmos finos o que resulta em um melhor aproveitamento pelo animal, é resistente ao ataque de cigarri-nhas-das-pastagens e destaca-se pelo elevado valor nutritivo e alta taxa de crescimento e rebrota. Os testes mostraram que em parcela sob corte a BRS Piatã produziu em média 9,5 toneladas por hectare de matéria seca com 57% de folhas, sendo 30% da produção obtida na época seca. E o teor médio de prote-ína bruta nas folhas foi de 11,3%.

Por ter sido protegida como nova cultivar, a produção de sementes da BRS Piatã está condicionada à autorização formal da Embrapa, que se dará através de Contratos de licenciamento. Assim, aquele que vender, oferecer à venda, reproduzir, importar, exportar, bem como em-balar ou armazenar para esses fins, ou ceder a qualquer título, material de propagação de cultivar protegida, com denominação correta ou com outra, sem autorização do titular, fica obrigado a indenizá-lo, em valores a serem determinados em regulamento, além de ter o material apreendido, assim como pagará multa equivalente a vinte por cento do valor comercial do material

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Por ter sido protegida como nova cultivar, a produção de sementes da

BRS Piatã está condicionada à autorização

formal da

Embrapa”

“apreendido, incorrendo, ainda, em crime de violação dos direitos do melhorista, sem prejuízo das demais sanções penais cabíveis.

Além da fiscalização feita pela Embrapa como forma de coibir a utilização não autorizada de seus materiais, o Ministério da Agricul-tura, por força da lei de Sementes, tem competência para fiscalizar todos os atos relativos à produção e comercialização de sementes, impedindo o uso ilegal de variedades protegidas que não tenham tido sua utilização autorizada pelo titular.

O respeito ao sistema de prote-ção de cultivares, como forma de reconhecimento do esforço reali-zado por instituições de pesquisa e seus pesquisadores na busca de soluções tecnológicas para o agri-cultor nacional, é fator fundamental para a continuidade da pujança do agronegócio brasileiro.

(1) O AcORdO GERAl dE TARifAS E cO-

MéRciO – GATT (EM iNGlêS, GENERAl

AGREEMENT ON TARiffS ANd TRAdE) é

A bASE dE cRiAçãO dA ORGANiZAçãO

MuNdiAl dO cOMéRciO – OMc, TENdO

SidO ESTAbElEcidO EM 1947, ViSANdO

hARMONiZAR AS POlíTicAS AduANEiRAS

dOS ESTAdOS SiGNATÁRiOS.

(2) TRiPS (TRAdE RElATEd iNTEllEcTuAl

PROPERTy RiGhTS), TAMbéM cONhEcidO

cOMO AAdPic (AcORdO SObRE ASPEc-

TOS dOS diREiTOS dE PROPRiEdAdE iNTE-

lEcTuAl RElAciONAdOS AO cOMéRciO)

é uM dOS TRATAdOS cONTidOS NO GATT,

QuE TRATA ESPEcificAMENTE dO TEMA

PROPRiEdAdE iNTElEcTuAl.

(3) A uNiãO iNTERNAciONAl PARA PROTE-

çãO dAS ObTENçõES VEGETAiS – uPOV

(EM fRANcêS uNiON iNTERNATiONAlE

POuR lA PROTEcTiON dES ObTENTiONS

VéGéTAlES) é uMA ENTidAdE iNTERNA-

ciONAl dE diREiTO PúblicO iNTERNA-

ciONAl, ENcARREGAdA dE AdMiNiSTRAR

OS TRATAdOS RElATiVOS à PROTEçãO dE

VARiEdAdES dE PlANTAS.

(4) A ASSOciAçãO PARA O fOMENTO à

PESQuiSA dE MElhORAMENTO dE fOR-

RAGEiRAS TROPicAiS – uNiPASTO é hOJE

A PRiNciPAl PARcEiRA dA EMbRAPA NA

GERAçãO dE NOVAS culTiVARES dE

fORRAGEiRAS.

1 AdVOGAdO, GERENTE dA GERêNciA dE

PROPRiEdAdE iNTElEcTuAl dA EMbRAPA

TRANSfERêNciA dE TEcNOlOGiA |2 PESQuiSAdOR, GERENTE dA GERêNciA

dE SEMENTES E MudAS dA EMbRAPA

TRANSfERêNciA dE TEcNOlOGiA |3 PESQuiSAdOR dA EMbRAPA TRANSfE-

RêNciA dE TEcNOlOGiA

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REVISTA JC MASCHIETTO S E M E N T E S PA R A PA S TA G E N S1�

O Sr. Fernando Vilela – empresário de uber-lândia (MG) e com propriedade em Rondon do Pará (PA) dedicada a recria e engorda de bovinos – formou no final de 2006 uma área com sementes da JC Maschietto com VC maior, antecipando-se a uma tendência de mercado de busca por um produto de maior qualidade. A seguir, suas impressões sobre esta experiência:

o que levou o senhor a optar por um produto de maior Valor Cultural (pureza de 95%)?Sr. Fernando Vilela: Na medida do possível eu sempre procuro planejar meus afazeres: preparar a terra, esperar o tempo certo para semear – de acordo com o serviço de me-teorologia – e então optar pelo que tiver de melhor no mercado em termos de semen-tes, no caso com 95% de pureza, inclusive pela economia no custo de operação.

Como o senhor avalia os resultadosalcançados na formação de sua pastagem?Sr. Fernando Vilela: Quando fui contactado pelo o Dr. Juliano*, não tinha nenhuma intenção de fazer negócio, mesmo porque eu já havia adquirido uma parte de semente de um outro fornecedor. Então, para não misturar, em principio a idéia era comprar da mesma empresa. Dai falamos por telefone algumas vezes e chegamos ao fim da nego-ciação com sucesso. Como eu tinha duas áreas a serem formadas, separadas uma da outra, eu pude semeá-las em separado.Posso dizer com certeza – e não desfazendo da semente do outro fornecedor, que também me forneceu um bom produto – que a área formada com as sementes JC Maschietto ficou excelente, diferente de tudo que eu já vi: não apresentou falhas, uma boa massa verde, não vai ter vez pra “juquira” (planta daninha) não! Estou muito satisfeito.Agradeço a Deus por ter abençoado o meu plantio, ao Dr.Juliano por ter me proporcionado tal oportunidade, à equipe da Pro-Nor te de Rondon do Pará pelo atendimento e a vocês da JC Maschietto, pela seriedade em seus negócios.

Formação de pastagens nas terras pretas

JOãO CARLOS MARSOn 1

Popularmente conhecidos por “terras pre-tas”, solos encontrados na região do chaco paraguaio e nas áreas de influência da Serra da Bodoquena, no Mato Grosso do Sul, ganharam notoriedade por serem freqüen-temente associados a terras de alta fertilidade química e elevados índices de saturação em bases (eutróficos).

Embora tenham a mesma cor escura, as “terras pretas” agrupam várias classes de solos, cada qual com suas características. O manejo generalizado e o uso de espécies for-rageiras não adaptadas podem ser os grandes responsáveis por freqüentes insucessos na implantação e perenização de pastagens.

Por serem argilosas, têm no relevo um importante fator na dinâmica da água no solo, pois a drenagem vertical é lenta e ine-ficiente, tornando-a dependente das cotas para escoar.

Nas áreas drenadas, onde se observa a pig-mentação bruno-avermelhada em profundi-dade no perfil (embora a camada superficial seja escura em função dos altos teores de matéria orgânica) e apresentam estrutura física e cerosidade bem desenvolvidas, en-contramos a classe dos Chernossolos. São áreas que não apresentam dificuldades na mecanização e plantio. Os desejáveis níveis de macro e micro nutrientes normalmente encontrados sugerem, no entanto, prudência em relação à disponibilidade de Molibidênio (Mo), devido ao ambiente freqüentemente neutro a alcalino. Indicadas para gramíneas de alta produção (ex: Panicum maximum, Cynodon). Esses solos podem apresentar, em subsuperfície, uma camada de calcário intemperizado – sendo então caracterizados como Rendzinas (Chernossolo Rêndzico). Estes requerem cuidados especiais em seu manejo, pois quando lavrados em profun-didade podem trazer o calcário à superfície, alcalinizando demasiadamente o solo. Se drenados, não apresentam restrições ao culti-vo de espécies forrageiras, por não possuírem raiz pivotante.

Os solos mal drenados apresentam perfis de cor preta ou acinzentada, resultado da influência de água por longos períodos. A topografia normalmente é plana, podendo ainda apresentar microdepressões, chama-das dolinas. Quando apresentam grandes concentrações de argila expansiva 2:1, que trincam e/ou fendilham quando seco - característico de Vertissolos - são de difícil

mecanização, pois os limites de umidade ótima para serem trabalhados são pequenos, o que resulta um preparo inadequado na maioria das vezes. Quando muito úmido é de difícil trafegabilidade e, quando seco, resulta na formação de torrões de difícil esboroamento. A observação das condições de umidade e a disponibilidade de máquinas são determinantes no sucesso da operação. O encharcamento temporário na época das chuvas é seguido de longo período de défi-cit hídrico, sugerindo o uso da Brachiaria humidícula, por ser razoavelmente tolerante às duas situações. Tal circunstância limita o uso de espécies adaptadas ao encharcamento, como B. mutica, Setaria anceps e P. repens, e as exigentes em aeração a exemplo da B. brizantha e P. maximum.

Estes solos constituídos de argila de alta atividade podem também apresentar o caráter sódico (grande concentração de sal). A aplicação de gesso indicada para dessalinização nem sempre é aplicável, pois normalmente faltam cotas mais baixas para viabilizar a drenagem. Aqui o micro relevo é acentuado e nas depressões ocorre um maior acúmulo de sal, disponibilizando a água do sistema de forma irregular às plantas. A sistematização do terreno, além de cara, não elimina a salinidade. Sugerimos o uso de gramíneas mais tolerantes como Paspalum plicatulum e Brachiaria humidícula, cons-cientes de que não vamos obter um stand homogêneo de imediato.

Outro agravante dos solos mal drenados é a presença do capim Santa Fé (Paspalum virgatum), invasora muito adaptada que apresenta ressurgência alta nos programas de reforma de pastagens, conseqüência principalmente da lenta formação da B. hu-midícula. Nestes casos, pode-se utilizar como parceiro o capim Tanzânia (concorrente inicial da invasora, liberando gradativamente espaço para B. humidícula), e a Alisyscarpus (leguminosa anual que mantém boa taxa de ressemeadura).

Independente das peculiaridades (al-gumas acima citadas) inerentes às “terras pretas” é imprescindível eleger práticas e espécies adequadas para o plantio, além de conscientização da importância do uso de sementes certificadas de qualidade e com pureza varietal.

1 ENGENhEiRO AGRôNOMO E diRETOR dA fAZENdA bOdO-

QuENA (MiRANdA-MS), dO GRuPO VOTORANTiM

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Palavra DE PECUarIsTa

* Juliano Campos Vale é médico veterinário, sócio da Pro-Norte e representante da JC Maschietto em Rondon do Pará (PA)

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1�REVISTA JC MASCHIETTO S E M E N T E S PA R A PA S TA G E N S

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Da

Palhada residual da

produção de sementes de capim

ton./ano de palhada (composta por restos de folhas, de talos e de inflorescências), que sobram da colheita das sementes. Nas regiões produtoras de sementes, sua dispo-nibilização ocorre no período seco do ano, em especial, entre junho e agosto. Esse volumoso material lig-no-celulósico tem sido descartado principalmente através de queimas não controladas, às vezes causando problemas ambientais nas regiões produtoras. A palhada caracteriza-se pelo grande volume, pela baixa digestibilidade (do ponto de vista de animais ruminantes) e pelo baixo teor de proteína bruta (<4%). Ape-sar disso, sabe-se que nos anos em que a estação seca é especialmente severa, a palhada é utilizada de for-ma esporádica no Brasil Central para fins de alimentação de animais rumi-nantes; para tanto, uso de aditivos, de suplementos e/ou de tratamentos são recomendados para melhoria da sua qualidade nutricional. Essa é, aparentemente, a única forma pela qual a palhada tem sido utilizada até o momento. A identificação de outras alternativas de utilização e/ou de descarte da palhada é, portanto, um desafio e seus resultados têm grande potencial de impacto eco-nômico, social e ambiental.

Esse tema foi amplamente dis-cutido por produtores de sementes de capim e pesquisadores em um Workshop realizado em novem-bro/2005 na Embrapa Pecuária, localizada em São Carlos – SP. Na ocasião, ficou claramente evidencia-do o interesse dos produtores em

encontrar alternativas econômicas de uso ou de descarte da palhada. Esse interesse aparentemente deri-va não apenas da consciência da maioria dos produtores quanto às suas responsabilidades sociais e ambientais, mas também da pos-sibilidade de obter renda adicional, como forma de reduzir custos. Pre-valece entre os produtores a noção de que, mais do que um problema, a palhada pode representar oportu-nidade de obtenção de renda.

Foi concluído que, apesar da via-bilidade técnica de utilização desse material para diferentes propósitos, a viabilidade econômica de uso

FRAnCISCO H. d. dE SOuzA 1

A produção e a comercializa-ção de sementes para pastagens tropicais são atividades de grande expressão econômica no Brasil, onde cerca de 100.000 toneladas são anualmente produzidas e co-mercializadas. Isso significa que o país é o maior produtor, consumidor e exportador mundial desse tipo de sementes. As principais regiões pro-dutoras localizam-se no Sudeste do Mato Grosso, Centro-norte do Mato Grosso do Sul, Sudoeste de Goiás, Noroeste e leste de São Paulo, Noroeste de Minas Gerais, Triângulo Mineiro e Oeste Baiano.

Entretanto, dessa atividade re-sultam também cerca de 2 milhões

ainda depende de pesquisas, de ajustes, de levantamentos e de es-timativas. Exemplos dessas formas de uso são: cama para aviários, cobertura morta para ‘sistema plan-tio direto’, produção de compostos orgânicos, produção de energia, produção de produtos químicos-plataforma. Durante as discussões, problemas relativos à coleta, ao condicionamento e ao transporte da palhada foram recorrentes. Face à intrínseca baixa densidade desse material, equipamentos especiais ou de ajustes especiais em equipamen-tos são necessários para que essas operações sejam economicamente viabilizadas.

Desde a realização do Workshop, algumas empresas ligadas ao agro-negócio manifestaram interesse na utilização da palhada para fins de produção de energia e tem realizado testes para avaliar a viabilidade eco-nômica do uso da palhada enfardada como combustível para queima direta em caldeiras. Os resultados das dis-cussões desses e de vários problemas e alternativas encontram-se publica-dos em um livro (‘Usos alternativos da palhada residual da produção de sementes para pastagens’ - ver box nesta página), à venda na Embrapa Pecuária Sudeste.

1 ENGº.AGRº., dR., PESQuiSAdOR dA EM-

bRAPA PEcuÁRiA SudESTE, cAixA POSTAl

339, cEP 13560-970 SãO cARlOS – SP.

e-mail: [email protected]

Mais do que um problema,

a palhada pode representar

oportunidade de obtenção

de renda”

Empresas ligadas ao

agronegócio manifestaram interesse na utilização da palhada para

fins de produção

de energia”

usos alternativos da palhada residual da produção de sementes para pastagenslançamento: Embrapa Sudeste (São Carlos-SP)

editores: Francisco H. Dübbern de Souza, Edison Beno Pott, Odo Primavesi, Alberto C. de Campos Bernardi e Armando de Andrade Rodrigues.

sinopse: publicação inédita no mercado brasileiro abordando – em suas 241 páginas – processos como a geração de moléculas químicas fundamentais para a geração de biodiesel e outros produtos químicos de elevado valor agregado, além de carvão vegetal, até seu uso como recuperador e conservador de solo e água, como cama para confinamentos animais, como adubo orgânico e como alimento animal. São apresentadas sugestões de manejo logístico, de compactação, carga e transporte do material.

Como adquirir: Embrapa Pecuária Sudeste: (16) 3361-5611 ou www.cppse.embrapa.br

Um problema à espera de solução ou solução à espera de um problema?

Palavra DE PECUarIsTa

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