inovações tecnológicas na arquitetura de estádios - arenas esportivas multiuso
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INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA ARQUITETURA DE ESTÁDIOS:
ARENAS ESPORTIVAS MULTIUSO
FELIPE BRUNO LIMA DA SILVA
Universidade Federal de Viçosa Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas
Departamento de Arquitetura e Urbanismo
INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NA ARQUITETURA DE ESTÁDIOS:
ARENAS ESPORTIVAS MULTIUSO
Monografia apresentada ao curso de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal de Viçosa, em
cumprimento parcial às exigências para obtenção do
título de Arquiteto e Urbanista.
Aluno: Felipe Bruno Lima da Silva
Orientador: Prof. Dr. Túlio Márcio de Salles Tibúrcio
Viçosa, Novembro de 2010
i
Dedico este trabalho ao meu pai, à minha mãe e aos meus irmãos
Gustavo e Júnior, em gratidão a todo apoio e incentivo nesses anos
de estudo e aprendizado.
ii
AGRADECIMENTOS
À Universidade Federal de Viçosa pelo apoio institucional.
Aos professores do DAU/UFV pelas contribuições a minha
formação profissional.
Ao professor Túlio Tibúrcio pelas orientações e oportunidade de
pesquisar sobre inovações tecnológicas na arquitetura.
Ao arquiteto Eduardo Castro Mello pela grande contribuição a este
trabalho nos esclarecimentos sobre a arquitetura de estádios.
Ao professor Gustavo Veríssimo pelas aulas de Sistemas
Estruturais e aprendizado nas orientações sobre estruturas.
Ao presidente do Clube BH Rugby, Alessandro Travassos, e o
jogador Igor Michalick pelas informações sobre a prática do rugby
em Belo Horizonte – MG.
À Orandi Mura pelas informações sobre o funcionamento do Estádio
do Morumbi.
Aos amigos da República Virakopus pela convivência, amizade e
momentos de descontração.
E aos amigos do curso de Arquitetura e Urbanismo pelas conversas
e sugestões que de alguma forma contribuíram para o
desenvolvimento deste trabalho.
iii
APRESENTAÇÃO Em cumprimento às exigências da disciplina ARQ 398 – Trabalho de curso /
Fundamentação, fez-se necessário a elaboração e apresentação dessa monografia.
O presente trabalho tem como objetivo principal dar o embasamento teórico e
identificar as informações necessárias para a elaboração de um projeto
arquitetônico, a ser desenvolvido na disciplina ARQ 399 – Trabalho de curso/
Proposição.
As disciplinas são oferecidas pelo Departamento de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal de Viçosa (UFV) como requisitos necessários à obtenção do
título de Arquiteto e Urbanista.
iv
“[...] A arquitetura depende de seu tempo. É a cristalização de
sua estrutura interna, o lento desenrolar da sua forma. Esta é
a razão pela qual a tecnologia e a arquitetura estão tão
intimamente relacionadas. Nossa esperança é que cresçam
juntas, para que um dia, uma seja o reflexo da outra. Só então
teremos uma arquitetura digna de seu nome: Arquitetura
como um verdadeiro símbolo de nossos tempos.”
Arquiteto Mies van der Rohe (1886 – 1969)
"Você já entrou em um estádio vazio? Tente isso. Pare no
meio do campo e ouça. Não há nada mais vazio que um
estádio vazio. Não há nada mais silencioso do que
arquibancadas sem pessoas."
Escritor e Jornalista Eduardo Galeano (1995)
v
SSUUMMÁÁRRIIOO
Dedicatória ................................................................................................................................................. i
Agradecimentos ....................................................................................................................................... . ii
Apresentação ............................................................................................................................. .............. iii
CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO
1
■ 1.1 Formulação do problema ................................................................................................ 4
■ 1.2 Justificativa ............................................................................................................................ 5
■ 1.3 Delimitação do objeto de estudo ................................................................................. 6
■ 1.4 Objetivos ............................................................................................................................. ..... 6
1.4.1 Objetivo geral ............................................................................................................................. .. 6
1.4.2 Objetivos específicos .................................................................................................................. 6
■ 1.5 Metodologia ............................................................................................................................ 7
1.5.1 Estudos de caso ......................................................................................................................... 7
1.5.2 Visitas técnicas ............................................................................................................................ 7
1.5.3 Entrevistas ............................................................................................................................. ..... 7
CAPÍTULO 2 A EVOLUÇÃO DA TIPOLOGIA DE ESTÁDIO 8
■ 2.1 Grécia antiga ..................................................................................................................... 9
■ 2.2 Roma antiga ....................................................................................................................... 10
■ 2.3 Idade Média ....................................................................................................................... 13
■ 2.4 Renascimento .................................................................................................................. 13
■ 2.5 Século XIX ........................................................................................................................... 14
■ 2.6 Século XX ........................................................................................................................... 15
CAPÍTULO 3 AS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS NOS ESTÁDIOS CONTEMPORÂNEOS
26
■ 3.1 Soluções em sistemas estruturais .......................................................................... 27
■ 3.2 Aplicações de novos materiais .................................................................................... 33
■ 3.3 Equipamentos e dispositivos .......................................................................................... 38
vi
CAPÍTULO 4 AS ARENAS ESPORTIVAS MULTIUSO 44
■ 4.1 O conceito de arena multiuso ....................................................................................... 45
■ 4.2 Flexibilidade na arquitetura de estádios ............................................................... 50
CAPÍTULO 5 ESTUDOS DE CASO 55
■ 5.1 Estádio AVIVA ........................................................................................................................ 56
5.1.1 Dados técnicos ........................................................................................................................... 56
5.1.2 Solução arquitetônica ............................................................................................................ 56
5.1.3 Solução estrutural ..................................................................................................................... 65
5.1.4 Equipamentos e dispositivos ................................................................................................... 68
■ 5.2 Estádio Wembley ............................................................................................................... 69
5.2.1 Dados técnicos ........................................................................................................................... 69
5.2.2 Solução arquitetônica ............................................................................................................... 69
5.2.3 Solução estrutural ..................................................................................................................... 80
5.2.4 Equipamentos e dispositivos ................................................................................................... 83
■ 5.3 Considerações sobre os estudos de caso ............................................................... 84
CAPÍTULO 6 CONCLUSÃO 86
■ 6.1 Considerações finais ......................................................................................................... 87
■ 6.2 Proposta .................................................................................................................................. 88
■ 6.3 Terreno e contexto ........................................................................................................... 89
■ 6.4 Programa e pré-dimensionamento ............................................................................. 92
■ 6.5 Conceito ............................................................................................................................. ..... 94
■ 6.6 Cronograma para o projeto .......................................................................................... 95
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 96
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 1 – Introdução ■ 1
11 IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO
Herança arquitetônica das civilizações da Antiguidade Clássica, a tipologia
arquitetônica de estádio possivelmente tenha sido uma das que mais modificações
verificaram-se no decorrer da história. As transformações ocorreram tanto em
questões funcionais quanto estéticas, acompanhando as inovações tecnológicas
aplicadas à arquitetura e as novas demandas de uso da sociedade.
Um estádio é essencialmente um grande teatro para apresentação de feitos
heróicos. Da combinação de uma função dramática mais sua escala
monumental, deveria surgir uma arquitetura cívica poderosa. O primeiro
grande protótipo, o Coliseu de Roma, atingiu de fato esse ideal, mas poucos
estádios desde então têm sido bem sucedidos. Os piores são sórdidos,
lugares desconfortáveis, conjuram a depreciação de seu entorno pelo longo
período em que permanecem vazios e sem uso, com acentuado contraste
com os dias de jogos de extremo congestionamento. Os melhores são
confortáveis e seguros, e oferecem aos seus usuários tardes agradáveis ou
noites de entretenimento – mas mesmo esses podem estar aquém em
excelência arquitetônica. (JOHN; SHEARD; VICKERY, 2007, tradução
nossa)
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 1 – Introdução ■ 2
Como exemplo dessas transformações, pode-se citar o retorno das práticas
esportivas no sistema educacional das escolas inglesas no século XIX – que
possibilitou uma retomada da valorização dos espaços destinados ao esporte, com a
invenção de novas modalidades esportivas.
Em 1830, a educação física foi inserida no sistema escolar público inglês na
esperança de desenvolver corpos disciplinados e saudáveis. Com isso, o
incentivo oficial à prática de esportes populares que, submetidos à
crescente regulamentação, resultou na "invenção" de diversas modalidades
esportivas [...] Rugby, futebol e cricket foram os mais populares destes
jogos. Entre 1820 e 1870, as escolas públicas inglesas funcionavam como
laboratórios para a invenção dos esportes modernos. (AGUSTIN, 1995,
apud GAFFNEY; MASCARENHAS, 2006, tradução nossa)
Inicialmente destinados a acomodar apenas as práticas esportivas do futebol e do
atletismo, os grandes estádios construídos no séc. XX se viram obsoletos e
abandonados por falta de manutenção. Assim, no final do século XX, outros usos
faziam-se necessários para os estádios, de forma a aproveitar a sua capacidade
espacial para atender outras demandas da sociedade pós-moderna.
Os estádios de futebol não mais encerram suas funções nas práticas
esportivas. Transformam-se em arenas com grande flexibilidade e potencial
para articulação cultural, econômica e turística, garantem efetivamente a
vitalidade local. (V & M do Brasil, 2008)
Logo, o estádio para o século XXI não mais se encerra na prática do futebol e do
atletismo. Ele necessita de outros espaços que atendam as necessidades da
sociedade contemporânea, que passa a utilizar o estádio não só para assistir aos
jogos, mas como espaço de entretenimento e lazer. Para o arquiteto Eduardo Castro
Mello1, “A tendência é que os estádios venham a ser exatamente como casas de
espetáculos, onde eventualmente tenha futebol.”
Para o gerente de marketing do São Paulo Futebol Clube Orandi Mura2 “idealizar um
estádio hoje não se limita a pensar apenas no seu uso em dias de jogos, mas
também no cotidiano, nos períodos entre os jogos”.
Seria o conceito de uma Arena esportiva Multiuso que busca aproveitar o potencial
espacial de um estádio para atender a demanda por espaços de entretenimento e
1 Entrevista de Eduardo Castro Mello (Castro Mello Arquitetura Esportiva) concedida ao autor em 24 set. 2010.
2 Entrevista de Orandi Mura (Gerente de marketing do São Paulo Futebol Clube) concedida ao autor em 23 set.
2010.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 1 – Introdução ■ 3
serviços, como: restaurantes, lojas, cinema, teatro, salas de escritórios, dentre
outros. Além disso, o campo poderia destinar-se a prática de outros esportes além
do futebol. Desde que exista compatibilidade entre as modalidades, como seria o
caso do Rugby, do Futebol e do Futebol Americano.
Essa flexibilidade no uso do campo seria possível no Brasil, cuja demanda por
estádios de futebol vêm crescendo desde o início do século XX, e pode atender
também à demanda por instalações esportivas destinadas à prática do Rugby - que
começa a se popularizar no país.
Segundo Mazzoni (1950) o rugby foi introduzido no Brasil no século XIX, mas
precisamente em 1875, quando da fundação do Paissandú Cricket Clube. Porém, o
esporte só começou a ser praticado de fato quando Charles Miller, também
conhecido por introduzir o futebol no Brasil, organizou o primeiro time de rugby
(Clube Brasileiro de Futebol Rugby) em São Paulo – SP.
Atualmente o esporte ganha novos adeptos no país com a formação de novos clubes
e times universitários, em diferentes categorias. De acordo com o IRB3 o Brasil está
em 28º colocado no ranking mundial, até 09 de Agosto de 2010, de um total de 95
seleções.
Recentemente o rugby brasileiro obteve o título de pentacampeão sul-americano pela
seleção adulta feminina. Já a seleção masculina tem um pouco mais de dificuldades
com a quarta colocação na América do Sul.
Dentre os principais campeonatos de rugby no Brasil, podem-se citar os torneios
estaduais, o Campeonato Brasileiro e a Copa Brasil de Rugby. Essas competições
são importantes para a formação de atletas que podem vir a disputar jogos
internacionais, tais como: A Copa do Mundo de Rugby e o Campeonato Mundial
Júnior.
De acordo com CBRu4 o Censo 2009 identificou, até 31 de Novembro de 2009, 104
clubes de rugby registrados junto à Confederação. Desse total, 81% não possuem
sede própria e apenas 49% tem campo fixo para treinamento.
O mesmo Censo 2009 revelou que nos últimos 5 anos o rugby cresceu
expressivamente fora do eixo Rio - São Paulo. Em 1997, São Paulo representava
72% dos clubes contra apenas 39% hoje.
3 IRB - International Rugby Board. Disponível em: < http://www.irb.com/>. Acesso em: 09 ago. 2010.
4 CBRu – Confederação Brasileira de Rugby. Disponível em: <http://www.brasilrugby.com.br/>. Acesso em: 14
ago. 2010.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 1 – Introdução ■ 4
Em Minas Gerais, o rugby tem como uma de suas origens, a prática do esporte na
cidade de Viçosa – MG, em meados da década de 1970. O fato da Universidade
Federal de Viçosa receber grande número de estudantes estrangeiros fez com que o
esporte passasse também a ser conhecido entre os estudantes brasileiros.
De acordo com as informações do BHR5, os jogadores do time de Viçosa se
reencontraram em 1998 em um campeonato em São Paulo. Porém, foi somente em
2003, em Belo Horizonte, que o time ganhou impulso – culminando no surgimento
do clube.
Atualmente o BH Rugby conta com mais de 100 atletas, que se dividem entre as
categorias: adulto masculino, adulto feminino, juvenil e infantil. E apesar de ter apenas
7 anos, é um dos clubes mais conhecidos e ativos do Brasil, conquistando boas
classificações nos campeonatos regionais e revelando atletas para a seleção
brasileira de rugby.
1.1 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA
Daqui a 6 anos o Rio de Janeiro sediará os Jogos Olímpicos de 2016, sendo o rugby
novamente incluído na categoria dos esportes olímpicos. Essa será, provavelmente,
uma grande oportunidade para o esporte estreitar suas relações com o Ministério
dos Esportes, o Comitê Olímpico Brasileiro e com o público em geral.
Apesar da falta de instalações esportivas adequadas à prática do rugby no Brasil, o
esporte vem conquistando novos praticantes e boas colocações nos campeonatos
internacionais. Assim, seria importante nesse momento da história do país repensar
suas decisões quanto aos investimentos em outros esportes além do futebol, muitas
vezes esquecidos e sem a menor infra-estrutura necessária ao seu desenvolvimento.
Especificamente para o rugby, faz-se necessário a implantação de edificações
esportivas adequadas ao desenvolvimento da modalidade – isso devido ao grande
número de clubes existentes no Brasil e a ausência de estádios que atendam as
necessidades do rugby, por não terem sido pensados de forma a atender outras
modalidades além do futebol.
Em Belo Horizonte, o clube BH Rugby realiza seus treinos em campos improvisados
de futebol, dentre eles o campo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) aos
5 BHR – Belo Horizonte Rugby Clube. Disponível em: <http://www.bhrugby.com.br/>. Acesso em: 09 ago. 2010.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 1 – Introdução ■ 5
sábados, e em um campo de futebol do bairro Sagrada Família as terças e quintas-
feiras.
De acordo com BH Rugby a partida da primeira final do Campeonato Mineiro de
Rugby realizou-se no Estádio FrigoArnaldo, em Contagem - MG. Sendo que a utilização
do Estádio Magalhães Pinto (Mineirão), como local para a final do Campeonato
Mineiro de Rugby, foi vetada.
Nesse contexto, essa pesquisa buscou responder as seguintes perguntas:
De que forma pode-se conceber uma instalação esportiva que atenda as
necessidades do futebol e do rugby em Belo Horizonte - MG e torná-la viável
no panorama atual da arquitetura esportiva brasileira?
Quais são as tendências e novas tecnologias na arquitetura dos estádios
contemporâneos?
Como as inovações tecnológicas contribuem para o funcionamento adequado,
a manutenção e o conforto dos usuários de um estádio?
Quais são as contribuições da aplicação dos conceitos de arena multiuso na
arquitetura dos estádios?
1.2 JUSTIFICATIVA
Diante da escassez de estudos específicos sobre a adequação de estádios para a
prática do rugby no Brasil, e devido à demanda por um espaço que atenda as
necessidades da prática do esporte, é que buscou-se realizar este trabalho.
Segundo Alessandro Travassos6 (Presidente do BH Rugby) “o projeto de uma arena
esportiva que atendesse as necessidades da prática do rugby em Minas Gerais é
justificável e o clube tem a pretensão de pleitear junto ao Estado de Minas Gerais a
construção de uma arena.”
A opção por uma arena multiuso, assim como no futebol, agregaria valores ao
projeto quanto à sua viabilidade econômica, social e cultural. E isso seria possível por
meio de decisões tomadas nas etapas de projeto, com vista a atender as
necessidades da prática do futebol e do rugby, da realização de eventos culturais e
da demanda por serviços de apoio aos usuários.
6 Entrevista de Alessandro Travassos (Presidente do clube BH Rugby) concedida ao autor em 14 ago. 2010.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 1 – Introdução ■ 6
A investigação sobre inovações tecnológicas aplicadas aos estádios justificou-se pela
inserção da proposta de projeto dentro do contexto da Copa do Mundo de 2014 e
dos Jogos Olímpicos de 2016, no Brasil, a fim de desenvolver uma arquitetura de
estádio compatível com as edificações esportivas contemporâneas.
1.3 DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO
O foco principal deste trabalho foi o estudo para a implantação de uma Arena
esportiva multiuso que atendesse as necessidades da prática do futebol e do rugby
na região metropolitana de Belo Horizonte – MG.
Tendo em vista a demanda regional e nacional por espaços para a prática do futebol
e do rugby, pretendeu-se por meio de revisão literária – tais como as
recomendações da FIFA (Fédération Internationale de Football Association) e do IRB
(International Rugby Board) – constituir uma base de subsídios que permitisse o
projeto de um estádio.
Além disso, pretendeu-se por meio da investigação do conceito de arena multiuso e
das possibilidades funcionais e estéticas das inovações tecnológicas, produzir um
projeto condizente com nosso tempo.
1.4 OBJETIVOS
1.4.1 Objetivo Geral
O objetivo geral deste trabalho é constituir uma base de subsídios sobre arquitetura
de estádios, com foco nos estádios contemporâneos, abordando as possibilidades
das inovações tecnológicas e do conceito de arena multiuso, para o desenvolvimento
do projeto de uma Arena esportiva multiuso, que atenda as necessidades da prática
do futebol e do rugby - em Belo Horizonte, Minas Gerais.
1.4.2 Objetivos Específicos
Analisar a evolução da tipologia de estádio no decorrer da história;
investigar as tendências da arquitetura de estádios contemporâneos;
identificar quais são as inovações tecnológicas utilizadas nos estádios
recentemente construídos;
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 1 – Introdução ■ 7
analisar o conceito de arena multiuso e sua aplicabilidade no projeto de
estádios, para fins de proporcionar maior flexibilidade do espaço a ser
projetado.
1.5 METODOLOGIA
Tendo em vista os objetivos apresentados, definiu-se uma pesquisa de caráter
exploratória por meio de métodos qualitativos. E com base em uma revisão
bibliográfica sobre a evolução da arquitetura de estádios, inovações tecnológicas de
estádios contemporâneos e o conceito de arena multiuso determinaram-se os
seguintes procedimentos:
1.5.1 Estudos de Caso
Avaliação dos espaços e dos usos assim como dos sistemas construtivos, seus
materiais e dispositivos. Optou-se pelas seguintes edificações:
Estádio AVIVA
Estádio Wembley
1.5.2 Visitas Técnicas
Visita ao treino do Clube BH Rugby no campo de futebol da UFMG em Belo
Horizonte – MG;
visita ao escritório Castro Mello Arquitetura esportiva em São Paulo - SP;
visita ao estádio Cícero Pompeu de Toledo (Estádio do Morumbi) para análise
da dimensão dos espaços, dos fluxos e dos usos.
1.5.3 Entrevistas
Dentro do contexto de arquitetura de estádios, da prática do futebol e do rugby no
Brasil, e do conceito de arena esportiva multiuso buscou-se informações com os
seguintes profissionais através de entrevistas estruturadas e não estruturadas:
Alessandro Travassos (Presidente do Clube BH Rugby)
Eduardo Castro Mello (Arquiteto - Castro Mello Arquitetura Esportiva)
Igor Michalick (Jogador do time BH Rugby)
Orandi Mura (Gerente de Marketing do São Paulo Futebol Clube)
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 8
22 AA EEVVOOLLUUÇÇÃÃOO DDAA
TTIIPPOOLLOOGGIIAA DDEE EESSTTÁÁDDIIOO
A tipologia de estádio tem origem na formação da sociedade ocidental, com o
surgimento das primeiras práticas esportivas e competições oficiais da Grécia
Antiga. Segundo Cereto (2004) foi na Antiguidade Clássica que as atividades físicas
tornaram-se prática permanente da sociedade visando a um complemento do
conhecimento intelectual. Além disso, para os espartanos o esporte era primordial
na Educação, enquanto os atenienses o dignificaram, estabelecendo uma relação de
divindade com ele.
Assim, surgiram as primeiras competições esportivas disputadas entre as polis
gregas. Em função da popularidade desses eventos, das características do
programa e a dificuldade em adaptar o uso esportivo às diferentes edificações
helênicas, fez surgir à tipologia do estádio.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 9
2.1 GRÉCIA ANTIGA
Para John, Sheard e Vickery (2007) os protótipos ancestrais das edificações
esportivas modernas está no stadia e no hipodromo. A palavra grega stadia
representava uma antiga medida de distância, e passou a descrever as atividades
decorrentes da disputa de velocidade entre os participantes. Enquanto que a palavra
hipodromo vem de hippos “cavalos” e domos “corrida”.
Na Grécia Antiga um dos estádios mais representativo, foi o Panatenaico (Figuras 1
e 2) em Atenas, construído para abrigar a Panatéia, competição disputada para
homenagear a deusa da guerra: Atena.
Em 380 a.C, Licurgo iniciava a construção do estádio Panatenaico em
Atenas. Os espectadores acomodavam-se nas colinas mais próximas, e as
pessoas mais importantes sentavam em lugares especiais. No século II, em
140 d. C., o rei Heródes mandou reconstruí-lo, revestindo com mármore
branco do Pentélico, o mesmo utilizado nos monumentos. [...] Essas
reformas elevaram o estádio de Atenas ao mais suntuoso do Mundo Antigo,
superando em riquezas arquitetônicas ao Circo Máximo e ao Coliseu de
Roma. Posteriormente em 1896, ele é reformado e nesse local realizam-se
os primeiros jogos olímpicos da Era Moderna. (CERETO, 2004)
Figura 1: Planta e corte do estádio Panatenaico em Atenas, Grécia.
Fonte: CAMPANINI, 1950.
Figura 2: Vista do estádio Panatenaico em Atenas, Grécia.
Fonte: ORTNER, 1957.
Segundo John, Sheard e Vickery (2007) os estádios gregos eram erguidos em forma
de U com uma pista central delimitada por uma linha de largada e chegada e o
retorno. Estes variavam pouco de comprimento; o estádio em Delphi (Figura 3)
possui 183 metros de comprimento, enquanto que o de Olímpia possui 192 metros.
De acordo com Inglis (1996) esses espaços eram construídos em encostas,
aproveitando a declividade do terreno para escavar os assentos construídos em
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 10
bancos de pedra. Segundo Cereto (2004) o esquema de implantação do estádio em
encostas foi utilizado também em Thebes e Epidauros.
O modelo utilizado em Olímpia foi o primeiro com a conexão dos atletas a arena
através de um túnel (Figura 4), caracterizando assim um local para a espera dos
atletas; o que posteriormente haveria de ser as galerias romanas do anfiteatro e os
acessos aos vestiários dos estádios contemporâneos.
Figura 3: Ruínas das arquibancadas do estádio
em Delphi, Grécia.
Fonte: CAMPANINI, 1950.
Figura 4: Ruínas do túnel de acesso ao estádio
de Olímpia, Grécia. Fonte: CAMPANINI, 1950.
2.2 ROMA ANTIGA
No império romano a tipologia do estádio sofreu muitas transformações. Para
Cereto (2004) a figura do atleta dotado de grande sabedoria, educação e
religiosidade do período grego, daria lugar para o treinamento militar de dominação
romana com atletas sendo substituídos por gladiadores e feras.
[…] no Coliseu em Roma, os projetistas criaram uma obra-prima tecnológica;
múltiplos pavimentos, um espaço multifuncional, perfeito para visualização,
com um sofisticado sistema de circulação de público e uma cobertura em
lonas retráteis para manter a elite imperial confortável sob o sol escaldante
do mediterrâneo. (INGLIS, 1996, tradução nossa)
Para Inglis (1996) a denominação de arena tem como origem o fato de os
desportistas gregos e romanos se apresentarem em pisos de areia, que no latim se
escreve arena. O autor também faz uma comparação com os gramados dos
estádios contemporâneos:
Agora são executadas pistas sintéticas impecáveis. [...] a tecnologia dos
gramados avançou tão rapidamente que ao assistir vídeos de jogos de
futebol americano ou rugby, que ocorreram a partir da década de 1970, é de
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 11
se impressionar com a qualidade das superfícies do jogo. (INGLIS, 1996,
tradução nossa)
O anfiteatro Flávio (Coliseu) foi concluído em 80 d.C. Atualmente é considerado uma
das novas Sete Maravilhas do Mundo, eleito com participação de voto popular em
concurso internacional promovido pela New Open World Foundation em 2007.
A transformação da função de pista do stadia grego para o ringue do anfiteatro
romano modificou profundamente o programa e o uso dos espaços, e determinou a
necessidade de mudanças nas dimensões da tipologia para acomodação dos
diferentes públicos.
Importante observar que essas mudanças só foram possíveis devido aos avanços na
engenharia da construção alcançados pelos romanos, que através de arcos em
abóbadas de concreto natural7 revestidos por pedras ou tijolos (na verdade a
alvenaria já servia de forma para o concreto) conseguiram construir múltiplos
pavimentos e criar os vãos e galerias necessários as circulações internas (Figura 5).
Outra inovação seria a cobertura do Coliseu que segundo Jota e Porto (2004) era
constituída “por cento e vinte mastros dispostos radialmente complementados por
uma rede de cordas suspensas. Porém, de acordo com novos estudos e
representações pictóricas da época, a estrutura constituía-se por vigas de madeira
em balanço e cordas tensionadas” (Figura 6).
Figura 5: Ilustração do sistema construtivo do Coliseu. (1) Circulação, (2) Abóbadas de berço, (3) Ancoramento da cobertura e (4) Cobertura.
Fonte: CERETO, 2004.
Figura 6: Representação da vista da cobertura do Coliseu. Fonte: JOTA; PORTO, 2004.
7 De acordo com Kaefer (1998) o concreto natural, utilizado pelos romanos, utilizava a cal como material
cimentíceo, além de areia e pozolana, em suas devidas proporções. A grande inovação está na capacidade hidráulica do cimento pozolânico (ou mais corretamente cal pozolânica) que permitiu a estrutura resistir melhor à ação da água.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 12
Para John, Sheard e Vickery (2007) os sistemas construtivos dos romanos eram tão
apurados que o subsolo do Coliseu, onde ficavam os animais e os gladiadores,
chegou a ser totalmente inundado por água para representação de uma batalha
naval – antecipando os modernos espaços de entretenimento em massa da
atualidade.
Com o avanço das técnicas construtivas o edifício romano define a
independência da topografia, não havendo mais a necessidade de adaptar
as arquibancadas as colinas. A decisão marca o início de uma era de
edificações verticais. (CERETO, 2003)
Além de sua monumentalidade no perfil da cidade romana, a arena contava com
tribuna de honra para o imperador e, segundo Cereto (2004), o sistema de
circulação do Coliseu permitia que os 48.000 espectadores evacuassem suas
dependências em apenas três minutos.
Da mesma forma que o Teatro grego influenciou a concepção do Anfiteatro Romano,
o Hipódromo grego influenciou o Circus de Roma. Estes circos eram formados por
pistas de corrida de cavalos com a linha de chegada delimitando a entrada e
acomodando os estábulos dos cavalos e os carros.
O exemplo mais notável da tipologia do Circus é o Circo Maximus (Figura 7) em
Roma. De acordo com John, Sheard e Vickery (2007) esse foi possivelmente o maior
estádio já construído com 660 metros de comprimento por 220 metros de largura
e oferecia acomodação para todos os espectadores. Para os autores a adição das
tipologias do Teatro grego com o Hipódromo romano, na concepção do Hipódromo
Pessimus, seria o ancestral dos complexos estádios multiuso contemporâneos.
Figura 7: Planta do Circus Maximus, Roma. Fonte: CAMPANINI, 1950.
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Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 13
2.3 IDADE MÉDIA
A centralização do poder da Igreja na Idade Média, após a queda do Império Romano,
fez com que “todas as manifestações esportivas fossem consideradas práticas
pagãs, e por decreto do Imperador Ludovico, foram, no ano de 399 d.C., abolidas as
Olimpíadas.” (CHOISY, 1899).
Nesse período, as competições ficaram restritas aos torneios públicos de cavaleiros
nas praças das cidades medievais (Figura 8). Assim, não se desenvolveram
atividades expressivas que solicitassem as tipologias clássicas do Mundo Antigo,
como se pode verificar na afirmação a seguir:
Como o Cristianismo se espalhou por toda a Europa, a ênfase da sociedade
passou a ser a salvação religiosa, e todo o esforço arquitetônico voltou-se
para a construção de igrejas em vez de espaços de recreação e
entretenimento. (JOHN; SHEARD; VICKERY, 2007, tradução nossa)
Figura 8: Ilustração dos torneios realizados nas praças públicas - Idade Média. Fonte: ORTNER, 1957.
2.4 RENASCIMENTO
Segundo Cereto (2004) a busca das tradições clássicas feita na Renascença, nos
conceitos esportivos, não foi de fato consumada, haja vista que, na Grécia, os
grandes pensadores davam o exemplo participando das Olimpíadas e dignificando os
esportes, enquanto que na Renascença os grandes intelectuais buscavam apenas o
desenvolvimento do intelecto, não do corpo.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 14
2.5 SÉCULO XIX
A tipologia de estádio ressurge no século XIX após a Revolução Industrial. De acordo
com Cereto (2004), em 1892 o barão francês Pierre de Coubertin, historiador e
apaixonado por esportes, declarou que “atletas amadores de todas as partes do
mundo deverão, mais uma vez, competir de quatro em quatro anos, sem nenhuma
restrição de raça, religião, classe social e riqueza. Todo o futuro do esporte repousa
no renascimento dos jogos olímpicos.”
O barão acreditava que as atividades e educação esportivas alimentariam o espírito
de paz entre as nações, a cada quatro anos, em diferentes cidades do mundo,
fazendo a internacionalização do esporte. Em 1894 foi criado o COI – Comitê
Olímpico Internacional, restabelecendo os Jogos Olímpicos e escolhendo como
primeira sede Atenas.
A primeira Olimpíada da Era Moderna ocorreu em 1896 no antigo estádio
Panatenaico. Segundo John, Sheard e Vickery (2007) o estádio foi escavado e
estudado pelo arquiteto e arqueólogo alemão Ziller. Posteriormente foi reformado e
suas arquibancadas revestidas em mármore, para receber 50.000 espectadores.
A invenção de dois novos esportes, na Inglaterra do final do século XIX, provocaria
uma ampla difusão da tipologia de estádio, que devido à popularização dos esportes,
se tornaria necessária além dos estádios construídos para os Jogos Olímpicos.
Esses esportes seriam o Futebol e o Rugby.
Fala-se em futebol na China na antiguidade. Fala-se em futebol na Itália na
Idade Média. A verdade, porém é que foram os ingleses que começaram
tudo. Houve uma briga entre os dissidentes do Rugby, no século passado, e
os dissidentes criaram uma nova modalidade, o futebol. (DUARTE, 1998,
apud CERETO, 2004)
De acordo com Cruz (2005) os times de futebol mais populares no século XIX
estavam no norte da Inglaterra, região marcada pela forte presença da classe
trabalhadora, sendo que alguns campos ficavam perto de fábricas nos centros
urbanos industriais (Figura 9).
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 15
Figura 9: Going to the Match, 1953. Ilustração por L. S. Lowry (1887 – 1976). Fonte: JOHN; SHEARD; VICKERY, 2007.
O grande número de espectadores que se formou, fez com que os clubes ingleses
passassem a demarcar o campo de futebol com uma corda e, em seguida, a cobrar
ingressos dos torcedores como meio de arrecadar dinheiro para o clube construir
seus estádios.
Para Cruz (2005) os estádios começaram a ser setorizados com a segregação dos
torcedores, na cobrança diferenciada de ingressos. A elite inglesa, que tinha
condições de pagar ingressos mais caros, se acomodava em pavilhões providos de
assentos e cobertura. Enquanto os torcedores que não tinham condições de arcar
com o preço dos ingressos, se acomodavam em terraços elevados, geralmente
construídos com escombros e restos da construção civil.
2.6 SÉCULO XX
Segundo Inglis (1996) no início do séc. XX, o arquiteto escocês Archibald Leitch
desponta como principal projetista de estádios de futebol no Reino Unido. Dentre
seus projetos destacam-se: Ibrox, Hampden e Celtic Park (na Escócia). Assim como
os estádios dos principais clubes da Inglaterra, como: Sheffield (Figura 10),
Tottenham Hotspur, Liverpool, Fulham (Figura 11), Aston Villa e o Everton.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 16
Figura 10: Estádio Bramall Lane (1862),
Sheffield, Inglaterra. Fonte: http://en.structurae.de/
Figura 11: Cobertura das arquibancadas do
estádio do Fulham, Londres, Inglaterra. Fonte: http://footballgroundguide.ipbhost.com/
A principal contribuição de Archibald Leitch para a arquitetura de estádios está na
preocupação em cobrir a maior parte da arquibancada, protegendo os espectadores
das intempéries, e a acomodação dos torcedores em dois lances de arquibancadas.
Para Bale (1993) as grandes arquibancadas de Leitch, obviamente tornaram a vista
mais confortável, mas por adotar tal estrutura, os clubes também almejavam o
aumento de suas receitas.
Outro aspecto importante da arquitetura esportiva de Leitch está na disposição das
arquibancadas mais próximas do campo, devido ao fato desses estádios serem
projetados com a função de atender apenas à prática do futebol ou do rugby,
desvinculados da prática do atletismo. Essa disposição gerou o modelo de estádio
retangular, com fachadas lineares e pilares dispostos entre os assentos para
sustentar a cobertura.
Em 1904 foi fundada a FIFA (Fédération Internationale de Football Association) com
associação de representantes de países como: França, Holanda, Bélgica, Suíça,
Espanha, Dinamarca e Suécia. Segundo Cereto (2004) em 1928, a entidade sob
presidência de Jules Rimet, anunciou que iria organizar um Campeonato Mundial
aberto a todos os seus membros que quisessem participar.
A primeira Copa do Mundo de Futebol ocorreu no Uruguai, time que havia se
destacado nos últimos Jogos Olímpicos antes de 1930. Daí em diante, o mundial
seria disputado de 4 em 4 anos, em diferentes países do mundo, contribuindo
significativamente para a popularização do esporte e a construção de novos estádios.
No século XX, os idealizadores e construtores de estádios procuraram conceber
edifícios mistos, ou seja, que atendessem as necessidades da prática do futebol e do
Atletismo. Dessa forma, os estádios poderiam atender às necessidades dos Jogos
Olímpicos e também da Copa do Mundo.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 17
De acordo com Cereto (2004) a tipologia olímpica é a mais encontrada no século XX,
com a curvatura dos arcos plenos nas cabeceiras, definindo a forma do estádio a
partir dessa diretriz. Os modelos mais utilizados para o tipo olímpico são os modelos
semicircular (Figura 12), elíptico (Figura 13) e em ferradura (Figura 14). Porém,
deve-se ressaltar que os estádios tipo misto, apresentam sérios problemas de
visibilidade, não atendendo satisfatoriamente a todos os espectadores.
Figura 12: Modelo semicircular.
Fonte: ORTNER, 1957.
Figura 13: Modelo elíptico.
Fonte: ORTNER, 1957.
Figura 14: Modelo ferradura.
Fonte: ORTNER, 1957.
Importante destacar nos estádios construídos na primeira metade do século XX, o
uso recorrente do concreto armado, que gerou estádios de arquitetura maciça e
resistente. A plasticidade do concreto armado também permitiu a concepção de
estruturas com formas curvas e vãos maiores.
Como exemplo significativo desse período pode-se citar o Estádio Olímpico de Berlim
(Figura 15), projetado em 1934 pelo Arquiteto alemão Werner March, que se
tornou um marco do nazismo de Adolf Hitler nas Olimpíadas de 1936.
Figura 15: Estádio Olímpico de Berlim, Berlim, Alemanha. Fonte: V & M do Brasil, 2008.
Segundo Cereto (2004) a cidade de Barcelona havia sido indicada (com sede no
estádio de Montjuïc), mas a pressão política de Hitler apostava na força da raça
ariana e do império germânico forçando as olimpíadas a serem realizadas em
Berlim. Essa seria a famosa Olimpíada em que Jesse Owens, atleta negro americano,
entraria para a história como vencedor de quatro medalhas de ouro no atletismo.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 18
Destaca-se nesse estádio sua grande capacidade de público (100.000
espectadores); a abertura em seu perímetro no anel superior, que estabelece uma
continuidade espacial urbana; e os pórticos em concreto armado que permitiram os
vãos e as galerias de circulação na fachada do estádio.
De acordo com Cereto (2004) o estádio Comunale a Firenze (Figura 16), projetado
pelo Engenheiro Píer Luigi Nervi em 1929, é uma grande referência da arquitetura
esportiva da primeira metade do século XX. Sua cobertura em concreto armado,
material bastante explorado e desenvolvido pelos arquitetos modernistas, venceu um
balanço de 17 metros permitindo a proteção de um anel de arquibancada.
A ruptura com o modelo clássico é evidenciada no emprego da estrutura de
concreto armado não apenas como função estrutural. A proposta explora os
espaços gerados sob as arquibancadas, explorando a proposta do
movimento moderno da estrutura aparente. (CERETO, 2004)
Figura 16: Cobertura do estádio Comunale a Firenze, Florença, Itália. Fonte: http://www.artificeimages.com/
Em 1938, o Arquiteto Le Corbusier realizou estudos para um estádio de 100.000
espectadores (Figuras 17 e 18), dentro de um conceito de espaço não destinado
apenas à prática esportiva, mas também aos espetáculos, cinemas e atividades
cívicas (Figura 19). Destaca-se nos estudos de Le Corbusier a plasticidade da
cobertura atirantada, sustentada por um mastro de concreto armado e cabos de
aço.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 19
Figura 17: Vista da Maquete do estádio de Le Corbusier. Fonte: CORBUSIER, 1957.
Figura 18: Corte transversal do estádio de Le Corbusier. Fonte: CORBUSIER, 1957.
Figura 19: Estudos de uso do estádio de Le Corbusier. Fonte: CORBUSIER, 1957.
De acordo com Cereto (2004) a proposta de Le Corbusier apresenta estudos de
insolação na tentativa de adequar a orientação solar no sentido sudeste - noroeste
através da utilização da cobertura e da arquibancada como quebra-sol. Assim, seria
possível garantir maior conforto para o público evitando a incidência solar direta e o
ofuscamento.
Verifica-se também nos estudos de Le Corbusier, a preocupação com o abrigo de
carros e ônibus e com a implantação da edificação pensando no transporte público.
Outro aspecto importante do projeto é a relação do edifício com o terreno, que não é
muito considerada, devido à intenção clara do arquiteto de criar um modelo que
pudesse ser adaptado a diferentes contextos, fazendo uma relação com o ideal de
muitos arquitetos modernista de criar um Estilo Internacional (International Style).
Na década de 1940 destaca-se o Estádio de Rotterdam (Figura 20), projeto do
Arquiteto Van der Vlugt, que utiliza a estrutura metálica como solução estrutural e
como composição arquitetônica. A estrutura porticada, que forma a cobertura e a
arquibancada, fixa o ritmo da fachada e o contraventamento da estrutura estabelece
um fechamento virtual.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 20
Figura 20: Vista do Estádio Olímpico de Roterdã, Holanda, 1940. Fonte: CAMPANINI, 1950.
No Brasil destaca-se nesse período a construção do Estádio Municipal de São Paulo
(Estádio do Pacaembu) (Figura 21) inaugurado pelo governo municipal e estadual de
São Paulo em 27 de Abril de 1940. Segundo Cereto (2004) na época, o Estádio do
Pacaembu foi considerado o maior da América Latina.
Figura 21: Estádio do Pacaembu na década de 1940. Fonte: http://www.universotricolor.com/
Os anos cinqüenta são marcados pela grandiosidade dos estádios olímpicos e não se
pode deixar de citar o gigantesco Estádio Jornalista Mário Filho (Maracanã) (Figura
22) construído no Rio de Janeiro para a Copa do Mundo de 1950.
O Maracanã é considerado até os dias de hoje, o maior estádio da América Latina e
na época de sua inauguração, era considerado o maior do mundo com capacidade
para 200.000 espectadores, sendo projetado exclusivamente para a prática do
futebol (fato inédito na época, em se tratando de um estádio desse porte).
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 21
Figura 22: Os arquitetos Miguel Feldman e Antonio D. Carneiro diante
da maquete do Maracanã em jun. 1949. Fonte: http://acirurgiaeomilagre.blogspot.com/
O Estádio Governador Magalhães Pinto (Estádio do Mineirão) (Figura 23), projetado
pelos arquitetos Eduardo Mendes Guimarães Júnior e Gaspar Garreto, foi
inaugurado em 05 de Setembro de 1965 com capacidade para receber até
100.000 espectadores. O novo estádio, localizado no bairro da Pampulha, tornou-se
um dos ícones da arquitetura nacional e compõe, juntamente com o Mineirinho e as
obras de Oscar Niemeyer, o Complexo Arquitetônico da Pampulha (Figura 24).
Figura 23: Estádio do Mineirão concluído na década de 1960.
Fonte: http://200.198.49.28/ademg/
Figura 24: Vista do Complexo Arquitetônico da Pampulha para Copa de 2014.
Fonte: http://www.skyscraperlife.com/
Sua estrutura e arquitetura têm como principais características8:
88 pórticos de concreto armado, dispostos radialmente em torno de
uma elipse.
8 Informações obtidas no site da ADEMG (Administração de Estádios do Estado de Minas Gerais), disponível em <
http://www.ademg.mg.gov.br/> Acesso em: 09 out. 2010.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 22
O vão livre entre pórticos mede 7,5 metros (8 metros de eixo a eixo). A
estrutura é composta de 28 setores de construção, estruturalmente
independentes.
A viga principal da cobertura vence um vão em balanço de 30,5
metros.
A década de 1970 marca o fim da idealização dos grandes estádios e seus
problemas de visualização, escala e o impacto urbano do ponto de vista estético e
funcional. Os estádios passam a ter uma capacidade menor, mas em contra partida,
buscam uma valorização do espetáculo. A transmissão dos jogos internacionais pela
televisão também provocou mudanças significativas na tipologia dos estádios:
A inserção da televisão no futebol marca o fim dos estádios gigantescos. A
partir de então, o programa passaria a ser modificado valorizando o valor do
ingresso, dando mais conforto aos espectadores (surgimento dos
camarotes) [...] As necessidades específicas das cabines de imprensa
apresentam condições distintas das transmissões radiofônicas. A iluminação
deveria ser mais intensa, a posição das cabines privilegiaria a câmera de
televisão, protegendo-a do ofuscamento dos raios solares. (CERETO,
2004)
Além das transformações nos aspectos funcionais dos estádios na segunda metade
do século XX, verificam-se também as novas soluções formais devido aos avanços
nos sistemas estruturais e de fechamento, que permitiram estruturas mais leves e
teve como marco, o Estádio de Munique (Figura 25) para as Olimpíadas de 1976.
Figura 25: Vista do Complexo do Estádio Olímpico de Munique,
Munique, Alemanha. Fonte: http://www.theoffside.com/
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 23
A cobertura da Arena Olímpica de Munique, concebida em 1972 por Frei Otto e Jörg
Schlaich, demonstrou a liberdade quase ilimitada de forma que a rede de cabos com
malha quadrangular pode oferecer; além das propriedades de resistência e
plasticidade das membranas tensionadas.
[...] a cobertura é o elemento mais importante na concepção de um estádio.
A partir do projeto da malha de cabos estruturais que serviu de cobertura
para o Estádio Olímpico de Munique, usamos todo nosso conhecimento e
criatividade para fazer da cobertura de um estádio a estrela do evento.
(GÖPPERT; STOCKHUSEN, 2008)
A partir desse momento começa a haver uma preocupação maior em cobrir os
estádios, permitindo mais conforto aos espectadores e a preocupação em evitar o
forte contraste entre as áreas sombreadas e iluminadas no campo, que prejudicaria
a qualidade das transmissões televisivas.
Para Urs Linsi (Secretário Geral da FIFA) a década de 1980 também marcou o
processo de evolução da tipologia, fazendo necessário o estabelecimento de novas
regras para a construção de estádios, como nota-se na afirmação a seguir:
A segunda grande era do design de estádio provavelmente começou no final
de 1980, com a realização de muitos eventos esportivos no mundo do
futebol em que os antigos estádios estavam simplesmente impróprios para
utilização. Infelizmente, um fator-chave nesse processo foi uma série de
tragédias terríveis que resultou na morte de muitos adeptos do futebol [...]
Os investidores dos estádios, administradores e arquitetos têm respondido a
esse desafio, com a criação de estádios que vão além da necessidade de
encontro de torcedores: eles têm buscado construir estádios de tirar o
fôlego, cujo projeto fez-lhes uma fonte de orgulho para as comunidades
locais ou até mesmo para cidades inteiras.
(LINSI apud FIFA, 2007, tradução nossa)
O Stade de France (Figura 26), estádio construído para a Copa de 1998 na França,
estabeleceu a transição da tipologia de estádios do séc. XX para o séc. XXI. Essas
transformações ocorreram tanto nas soluções funcionais da tipologia, como também
em uma gama de novas soluções estruturais e de fechamento das edificações, já
que cobrir toda a arquibancada passou a ser uma forte tendência, garantindo maior
conforto ao espectador.
O volume do estádio [Stade de France] é coroado por uma cobertura que se
assemelha a uma auréola e transmite visualmente uma idéia de leveza [...] A
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 24
cobertura protege todos os 80 mil espectadores e é um dos maiores
destaques do estádio. Sua concepção segue o princípio de ponte estaiada. A
estrutura de aço é totalmente suspensa por 18 mastros, de 60 metros de
altura, que atravessam a cobertura sem tocá-la. O vidro laminado adotado
no revestimento do anel interno permite a passagem de luz natural e
contribui para a estabilidade da estrutura de cobertura devido ao peso
próprio acrescido. (V & M do Brasil, 2008)
Figura 26: Vista do Stade de France, construído para a Copa do Mundo de 1998 na França. Fonte: V & M do Brasil, 2008.
Em 2007 a FIFA (Fédération Internationale de Football Association) lança a quarta
edição do manual de recomendações técnicas e requisitos necessários para o
projeto e a construção de estádios de futebol. Um grupo de renomados especialistas
em edificações esportivas e industriais se reuniu para atualizar as edições anteriores
levando em consideração questões referentes ao conforto e à segurança de
jogadores, espectadores, imprensa e comunidade local.
As novas exigências por parte da entidade, associadas às novas necessidades
funcionais de estádios, representariam o novo paradigma dos estádios
contemporâneos, dentro do contexto da nova economia do futebol. Como se pode
verificar na declaração do então Presidente da FIFA Joseph S. Blatter:
Desde os dias sombrios da década de 1980, a FIFA tomou a questão da
segurança nos estádios a tempo de novamente tentar melhorar os padrões
para arenas modernas de futebol. Uma conclusão fundamental é mais válida
do que nunca: a segurança para os espectadores e o conforto estão
diretamente conectados (...) Conforto significa mais espaço para cada
espectador, rotas de saída mais curtas, mais portões de entrada e saída,
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 2 – A Evolução da Tipologia de Estádio ■ 25
áreas para convivência e áreas para descanso, assim como sanitários
públicos. Uma vez que todos esses fatores sejam levados em conta, quando
não há mais cercas e quando a maioria dos estádios ofereçam proteção
contra a incidência solar direta ou a chuva, quando os espectadores podem
sentar-se em paz, em vez de ficarem de pé por horas, é o que podemos
esperar para testemunhar os elementos desejáveis de um evento esportivo,
ou seja, um ambiente descontraído, eletrizante e emocionante, mas nunca
agitado e agressivo. (BLATTER apud FIFA, 2007, tradução nossa)
O livro (Football Stadiums: Technical Recommendations and Requirements - 4th
edition) é um manual prático para profissionais envolvidos no projeto, na construção
e na administração dos estádios, abordando questões como: implantação,
estratégias de sustentabilidade, segurança, acessos, estacionamentos, dimensões
do campo, qualidade do gramado, arquibancadas, vestiários, instalações sanitárias,
áreas de convívio, áreas destinada a pessoas com deficiência, áreas VIP, área
destinada à mídia, iluminação e comunicação.
Nesse contexto, arquitetos e engenheiros dedicados aos projetos de estádios para o
século XXI passaram a seguir as diretrizes e recomendações da FIFA, além de
estudar soluções estruturais de cobertura e novos materiais de fechamento, que
permitissem vencer grandes vãos além de possibilitar a ventilação e a iluminação
necessárias ao conforto dos usuários.
Apesar das recomendações e diretrizes da FIFA ter feito parte da revisão
bibliográfica deste trabalho, não serão analisadas nesta monografia, sendo o foco
principal a análise das inovações tecnológicas nos estádios contemporâneos e os
conceitos de arena esportiva multiuso. Porém, serão seguidas e levadas em
consideração na definição do programa, no pré-dimensionamento e nas etapas do
projeto a ser desenvolvido na segunda parte do Trabalho de Curso (Proposição).
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 26
33 AASS IINNOOVVAAÇÇÕÕEESS TTEECCNNOOLLÓÓGGIICCAASS NNOOSS
EESSTTÁÁDDIIOOSS CCOONNTTEEMMPPOORRÂÂNNEEOOSS
Em 2014 o Brasil sediará pela segunda vez um dos eventos mais importantes do
futebol: A Copa do Mundo. Para isso, fizeram-se necessários projetos de reforma e a
construção de novos estádios em 12 cidades diferentes. Os projetos das novas
arenas fazem uso de sistemas construtivos já consolidados, como os pré-moldados
de concreto, além de soluções inéditas de cobertura para atender a recomendação
da FIFA (Fédération Internationale de Football Association) para que todas as
arquibancadas sejam cobertas, protegendo os espectadores da chuva e do
ofuscamento causado pela luz do sol.
Dessa forma, esse capítulo busca identificar quais são as tendências e inovações
tecnológicas dos estádios contemporâneos, que serviram de parâmetros técnicos
para os projetos dos estádios no Brasil. A seguir, serão analisadas as novas soluções
estruturais, a aplicação de novos materiais e o uso de novos equipamentos que
possibilitaram melhorias para o conforto dos usuários e para a manutenção dos
estádios contemporâneos.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 27
3.1 SOLUÇÕES EM SISTEMAS ESTRUTURAIS
Bem diferente das soluções estruturais dos estádios do século XX, os estádios para
o século XXI vêm utilizando as mais avançadas técnicas de construção baseadas na
pré-fabricação. Esse novo processo construtivo permite organizar melhor o canteiro
de obras, garante rapidez nos processos de construção e reduz ao máximo o
desperdício de materiais. Sobre as novas técnicas construtivas utilizadas na
construção de estádios, o arquiteto Robert Hormes nota em sua entrevista9:
Enquanto as catedrais levaram décadas para serem construídas, a partir de
pedras, os estádios modernos são as catedrais de uma sociedade altamente
tecnológica e computadorizada, construídos muito mais rapidamente. O
projeto, nesse ambiente, permite que novos caminhos sejam trilhados, mas
também requer novos materiais para que ele se torne realidade [...] Novas
técnicas, usadas às vezes em ramos como a indústria automotiva, acabam
por ajudar no desenvolvimento de novas formas e construções que não
eram imagináveis antes.
Assim, sistemas construtivos como os pré-moldados de concreto passaram a ser
amplamente utilizados na construção da estrutura de arquibancadas (Figuras 27 e
28), enquanto as estruturas metálicas, por sua leveza e rapidez de montagem,
passaram a ser utilizadas na construção das grandes coberturas (Figura 29). Sobre
essas questões, o arquiteto Eduardo Castro Mello descreve em sua entrevista10:
Do ponto de vista estrutural os estádios do século XX foram construídos em
sua maioria em concreto armado, e aqui no Brasil isso ocorreu da década de
40 até os anos 70 [...] Naquela época, as normas construtivas para concreto,
os materiais disponíveis em termos de aço e os agregados para concreto
eram bem diferentes do que nós temos hoje. [...] Não se pensava em
trabalhar com pré-moldado, então hoje qualquer estádio desses terá que
ser pensado em escala para que se possa trabalhar com peças pré-
fabricadas em concreto, utilizando critérios de composição que garanta uma
maior resistência e uma qualidade melhor do material. A maioria das
arquibancadas seria pensada em pré-moldados, mas precisa ser um pré-
moldado bem estudado, não é simplesmente dizer que o pré-moldado é
bom [...] ele precisa ser bem planejado tanto do ponto de vista do design da
peça, quanto de resistência e capacidade de sustentação do público.
9 Entrevista de Robert Hormes concedida à Revista Arquitetura & Aço. Centro Brasileiro de Construção em Aço.
Número 22, 2010. Disponível em: < http://www.cbca-iabr.org.br/revistaarquitetura-e-aco.php?codDestaque=519 >. Acesso em: 06 set. 2010. 10
Entrevista de Eduardo Castro Mello (Castro Mello Arquitetura Esportiva) concedida ao autor em 24 set. 2010.
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Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 28
Figura 27: Pré-moldados de concreto do Estádio Green Point, Cidade do Cabo, África do Sul.
Fonte: SEPLAN – Amazonas, Brasil.
Figura 28: Montagem da Arquibancada do Estádio Green Point, Cidade do Cabo, África do
Sul. Fonte: SEPLAN – Amazonas, Brasil.
Figura 29: Montagem das seções da estrutura do
arco do Estádio de Durban, África do Sul. Fonte: SEPLAN – Amazonas, Brasil.
Em Corsini (2010) o engenheiro Marco Juliani nota que a altura dos estádios de
futebol é outro fator contrário à moldagem feita no local definitivo da peça. "Para
uma construção moldada 'in loco' são necessários escoramentos enormes para uma
estrutura muito alta. Com o sistema pré-moldado, você tem uma economia grande
nesse aspecto, sem necessidade de preparar um escoramento físico."
Em relação à estrutura das coberturas, verifica-se na maioria dos projetos dos
estádios contemporâneos o uso recorrente do aço. Isso pode ser explicado, devido
às características de resistência e leveza do material para vencer grandes vãos
sobre as arquibancadas, que atualmente estão na faixa entre 50 e 70 metros.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 29
Para Nogueira (2002) o aço consegue responder às necessidades de resistência
estrutural da cobertura de um estádio, com capacidade para vencer grandes vãos
livres, sendo simultaneamente bastante versátil, o que permite produzir coberturas
com formas variadas que vão de encontro aos requisitos estéticos exigidos. Por
outro lado tem ainda as vantagens da pré-fabricação e da rapidez de montagem o
que, quando se está perante prazos de execução relativamente apertados, são
fatores condicionantes na escolha do material.
Sobre as possibilidades do aço na estrutura de estádios, o engenheiro Knut
Stockhusen declara11: “Steel can cover thousands people and you can shape steel
whatever form” (Aço pode cobrir milhares de pessoas e você pode moldar o aço sob
qualquer forma).
Em entrevista12 à Revista Arquitetura & Aço, o arquiteto sul-africano Piet Boer, um
dos responsáveis pelo projeto do Estádio Soccer City (Figura 30) para a Copa de
2010, afirma:
[...] o aço é completamente reciclável, o que permite que o impacto da
estrutura sobre o ambiente seja reduzido substancialmente. Ele também dá
aos arquitetos a liberdade de desenhar vãos gigantescos e contornos de
formas variáveis com as estruturas de apoio e o revestimento da edificação.
Trata-se de construir com extrema eficiência, o que possibilita o
desempenho necessário em termos de design e construção.
Figura 30: Estádio Soccer City em construção, Joanesburgo, África do Sul, 2009.
Fonte: http://www.soccerphile.com/
11
Informação obtida na palestra ministrada por Knut Stockhusen, Engenheiro estrutural associado ao escritório
alemão Schlaich Bergermann & Partners, no Construmetal 2010 – Congresso Latino Americano da Construção Metálica, em 01 set. 2010, São Paulo - SP. 12 Entrevista de Piet Boer concedida à Revista Arquitetura & Aço. Centro Brasileiro de Construção em Aço.
Número 22, 2010. Disponível em: < http://www.cbca-iabr.org.br/revistaarquitetura-e-aco.php?codDestaque=519 >. Acesso em: 06 set. 2010.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 30
A partir de então, arquitetos e engenheiros passaram a buscar nas características
específicas do aço, como alta resistência à tração, alta ductilidade e plasticidade,
novas soluções estruturais que atendessem aos requisitos para a cobertura de um
estádio. Sobre decisões projetuais para estádios, o arquiteto Robert Hormes, um dos
responsáveis pelo projeto do estádio Green Point (Figuras 31 e 32), para a Copa de
2010 na África do Sul, faz o seguinte comentário13:
É obrigação do arquiteto criar projetos de forma inteligente para que
recursos sejam poupados e os materiais sejam utilizados de forma mais
eficiente possível. Cidade do Cabo e Durban, com capacidade para
aproximadamente 70 mil espectadores, têm arquibancadas de até 70 m de
profundidade. Uma estrutura em balanço da cobertura, que deve estar
sobre as arquibancadas, torna-se menos eficiente à medida que seu vão
aumenta. A equipe da GMP, juntamente com os nossos parceiros da
Schlaich, Bergermann und Partners-SBP (Stuttgart, Alemanha), buscou
soluções que fizessem uso do aço da forma mais inteligente possível,
criando uma estrutura leve. O número de elementos sob compressão foi
limitado ao máximo, e tanto na Cidade do Cabo como em Durban esses
elementos se agregam em um grande anel de compressão.
Figura 31: Estádio Green Point em construção,
Cidade do Cabo, África do Sul. Fonte: http://www.conti-online.com/
Figura 32: Estádio Green Point concluído,
Cidade do Cabo, África do Sul, 2009. Fonte: http://gmp-architekten.de/
A solução que Hormes descreveu anteriormente diz respeito ao sistema estrutural
de cobertura tipo roda raiada ou roda de bicicleta (Figura 33). Composto
basicamente por um anel de compressão exterior e por um anel de tração interior,
interligados por cabos de aço dispostos radialmente. Isso permite uma eficiente
cobertura de todo o estádio, vencendo grandes vãos com a utilização de uma
quantidade mínima de material: seria o conceito de uma estrutura mínima para
cobrir todo um estádio.
13
Entrevista de Robert Hormes concedida à Revista Arquitetura & Aço. Centro Brasileiro de construção em aço.
Número 22, 2010. Disponível em: < http://www.cbca-iabr.org.br/revista-arquitetura-e-aco.php?codDestaque=519 >. Acesso em: 06 set. 2010.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 31
Figura 33: Representação esquemática da cobertura tipo roda raiada.
Fonte: LOPES; BOGÉA; REBELLO, 2006.
Essa solução estrutural foi utilizada na cobertura do Estádio Nacional de Kuala
Lumpur (Figura 34), uma das maiores coberturas do mundo (39.500m²), concluída
em 1997; no Estádio Century Lotus (Figura 35), China, 2006; no Estádio Nacional de
Varsóvia (Figura 36), para a EUROCOPA em 2012; e a solução adotada para a nova
cobertura do Estádio do Mineirão (Figura 37) para a Copa do Mundo de 2014 no
Brasil.
Figura 34: Estádio Nacional de Kuala Lumpur, Malásia.
Fonte: GÖPPERT; STOCKHUSEN, 2008.
Figura 35: Estádio Century Lotus, Foshan, China.
Fonte: V & M do Brasil, 2008.
Figura 36: Maquete do Estádio Nacional de Varsóvia, Polônia. Fonte: http://www.conti-online.com/
Figura 37: Vista da nova cobertura para o Estádio do Mineirão, Belo Horizonte, Brasil. Fonte: http://www.sortimentos.com/
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 32
Esse tipo de cobertura vem em sentido contrário à solução desenvolvida para o
Estádio Nacional de Pequim (Ninho de pássaro) (Figura 38) para as Olimpíadas em
2008, que consumiu 44 mil toneladas de aço em sua estrutura, enquanto o Estádio
Green Point, para Copa de 2010, consumiu 7 mil toneladas de aço.
Figura 38: Maquete esquemática de uma seção da estrutura do
Estádio Nacional de Pequim, China. Fonte: http://en.beijing2008.cn
Dessa forma, pensar a estrutura do estádio desde sua concepção permitiria levar
em consideração aspectos referentes à fabricação do aço, ou seja, qual seria a
solução mais viável para atender uma região onde a disponibilidade de aço é pequena
e o transporte do material elevaria demasiadamente o custo final da obra?
A solução estrutural em roda raiada passou a ser então uma nova possibilidade para
a cobertura de estádios. Sua escolha não seria feita levando em consideração
apenas seus aspectos estéticos e funcionais, mas também questões referentes à
viabilidade do investimento e o baixo consumo de aço, que poderia atender aos
princípios de sustentabilidade na Arquitetura de estádios, defendidos pelo programa
Green Goal™14.
Para exemplificar algumas soluções estruturais é apresentado no final desse capítulo
um quadro comparativo com informações sobre a estrutura de alguns estádios
contemporâneos. Buscou-se selecionar diferentes soluções arquitetônicas e
estruturais que permitissem avaliar e identificar as possibilidades construtivas para
os estádios hoje.
14
O programa Green Goal™ é uma iniciativa da FIFA para que os estádios sejam construídos segundo princípios
de sustentabilidade ambiental. O programa recomenda o aproveitamento de recursos naturais, a redução de desperdícios, o incentivo ao uso do transporte público, dentre outros.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 33
3.2 APLICAÇÕES DE NOVOS MATERIAIS
A necessidade de se cobrir todo um estádio possibilitou novas soluções em materiais
de vedação para coberturas, que devido aos grandes vãos e a carga própria da
estrutura, seriam mais eficientes se fossem mais leves que outros materiais como,
as telhas metálicas e o concreto armado.
A partir de então, as membranas passaram a atender as necessidades funcionais,
estéticas e de manutenção das novas coberturas. Inicialmente, as membranas de
poliéster revestidas por PVC (policloreto de vinila) (Figuras 39 e 40) foram
amplamente utilizadas, principalmente nas estruturas de membrana tensionadas.
Figura 39: Cobertura em membrana de fibra de poliéster revestida com PVC - Estádio Gottilieb
Daimler. Sttutgart, Alemanha.
Fonte: V & M do Brasil.
Figura 40: Cobertura em membrana de fibra de poliéster revestida com PVC – Estádio Jaber Al
Ahmed, Kuwait.
Fonte: http://gmp-architekten.de/
Devido às questões referentes à exposição do material às intempéries e a
manutenção, outros polímeros passaram a ser estudados como o PTFE
(politetrafluoretileno), mais conhecido pelo nome comercial teflon, e o ETFE (etileno-
tetrafluoretileno), de forma a alcançar um desempenho melhor que as membranas
de PVC.
Segundo informações da Revista Finestra15 as membranas podem receber
tratamentos de resinas poliméricas que elevam sua resistência mecânica aos raios
ultravioleta, às intempéries, ao fogo e ao ataque de microorganismos, aumentando a
durabilidade para cerca de 30 anos. Também:
[...] pontualmente começa a encontrar-se a aplicação de um tecido de
revestimento constituído por uma membrana revestida com “Teflon”. Este
material consiste num tecido produzido a partir de fibra de vidro, revestido
por multicamadas de “Teflon” (composto à base de fluoropolímeros), com
15 Revista FINESTRA, Copa do Mundo de 2014 traz a tecnologia das tensoestruturas, arqpress, ano 15, nº 16,
mar/abr 2010.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 34
uma espessura final de 0,76 mm. Tem bons comportamentos em
revestimentos de coberturas, uma vez que transmite até 25 % da luz solar
que nele incide, não é degradável face à exposição aos raios ultra-violeta, ou
face à deposição de pó e outras sujidades, sendo facilmente lavável. O
aspecto visual é bastante agradável, permitindo formas mais arrojadas,
como pode ser observado nos estádios de Seul e Seogwipo que utilizam este
revestimento. (NOGUEIRA, 2002)
Para o arquiteto Eduardo Castro Mello16 as questões referentes à manutenção
dessas membranas devem ser levadas em consideração antes da especificação
desses materiais. Ele cita como exemplo o uso de painéis inflados de membrana ETFE
nos estádios Allianz Arena (Figura 41) e no Centro Aquático de Pequim (Cubo
D’àgua) (Figura 42), cujo material teve que ser trocado várias vezes devido aos danos
causados pelo ataque de pássaros, que ao verem sua imagem refletida nos painéis
inflados de ETFE, bicavam o material comprometendo a vedação.
Figura 41: Vedação externa em painéis inflados de ETFE- Allianz Arena. Munique, Alemanha.
Fonte: V & M do Brasil.
Figura 42: Vedação externa em painéis inflados de ETFE - Centro Aquático de Pequim (Cubo
D’água), China. Fonte: http://blog.2modern.com/
Além disso, para o arquiteto Eduardo Castro Mello, não se justificaria, em um país
como o Brasil, utilizar em estádios com grandes vãos uma membrana de PVC que
teria de ser trocada de 15 em 15 anos. O custo com manutenção seria muito alto
16
Entrevista de Eduardo Castro Mello (Castro Mello Arquitetura Esportiva) concedida ao autor em 24 set. 2010.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 35
em um curto intervalo de tempo. Logo, o uso da membrana de PTFE seria mais
indicado por possuir uma vida útil estimada de até 50 anos.
A fachada do Allianz Arena de painéis pneumáticos de ETFE (etileno-
tetrafluoretileno) é única no mundo com cerca de 65 mil metros quadrados
de superfície *Em 2008, o Centro Aquático Cubo D’água, construído para as
Olimpíadas de Pequim, fez uso da mesma tecnologia no fechamento da
edificação]. Esse revestimento externo possui um sistema de iluminação que
permite a mudança de cores. O estádio se transforma de acordo com o time
em campo: branco (Alemanha), vermelho (Bayern) e azul (München).
(V & M do Brasil, 2008)
O ETFE também foi utilizado na cobertura da Arena AWD (Figura 43), em Hanover na
Alemanha, na forma de placas translúcidas que permitem a passagem de até 95%
de luz natural. Dessa forma, o gramado tem sobrevida ampliada e minimizam-se
custos com manutenção.
Figura 43: Vista interna da cobertura em placas de ETFE. AWD Arena, Hanover, Alemanha.
Fonte: http://www.rankopedia.com/
A membrana de fibra de vidro pré-tensionada revestida com PTFE foi bastante
utilizada como material de cobrimento das coberturas dos estádios construídos para
a Copa de 2010 na África do Sul; como no Estádio Green Point (Figura 44) na Cidade
do Cabo, no Estádio Nelson Mandela Bay (Figura 45) em Port Elizabeth, e no Estádio
Soccer City em Joanesburgo.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 36
Figura 44: Instalação da membrana de fibra de vidro revestida com PTFE do Estádio Green
Point, Cidade do Cabo – África do Sul.
Fonte: SEPLAN – Amazonas, Brasil.
Figura 45: Instalação da membrana de fibra de vidro revestida com PTFE do Estádio Nelson
Mandela Bay, Port Elizabeth – África do Sul.
Fonte: http://www.nelsonmandelabay.gov.za/
Outra inovação tecnológica dos estádios contemporâneos, que não poderia deixar de
ser citada, seria o gramado sintético ou o gramado artificial (Figuras 46 e 47). Essa
viria a ser uma nova tecnologia como alternativa às limitações do uso do gramado
natural. Sobre essa nova tecnologia:
O gramado artificial tornou-se uma superfície de jogo aceitável para o
futebol com o seu elaborado tapete de grama desenvolvimento
especialmente para o esporte. As superfícies artificiais de jogo estão
disponíveis agora e permitem aos jogadores de futebol jogar de forma
dinâmica e segura. As vantagens de um gramado artificial são inúmeras. Ele
permite ter sempre uma superfície de jogo verde. Jogando em um gramado
artificial, os jogadores precisam se adaptar à superfície, mas sua
regularidade cria um jogo rápido e preciso no qual jogadores profissionais e
fisicamente padrão tenham chances iguais.
(FIFA, 2007, tradução nossa)
Figura 46: Instalação do gramado artificial no Estádio Commonwealth, Edmonton, Canadá.
Fonte: http://www.edmontonsun.com/
Figura 47: Instalação do gramado artificial no Estádio Commonwealth, Edmonton, Canadá.
Fonte: http://www.edmontonsun.com/
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 37
De acordo com o arquiteto Eduardo Castro Mello o gramado artificial, que se
enquadra nos padrões de qualidade da FIFA, é um gramado muito próximo do
gramado natural e aparece como forte tendência para as próximas Copas do
Mundo.
Segundo FIFA (2007) o gramado artificial pode ser mais utilizado que o gramado
natural, pois não sofre danos pelas mudanças climáticas e, além disso, seus custos
com manutenção são muito menores que os do gramado natural. Os tapetes
disponíveis no mercado são de fibras de polietileno e poliamida.
Na Copa de 2010 na África do Sul, a FIFA, após vistorias aos estádios sede da
competição, mandou remover todo o gramado que estavam em péssimas condições
de uso e substituí-los pelo gramado híbrido. Sobre o gramado híbrido (Figuras 48 e
49), Eduardo Castro Mello17 descreve:
O gramado híbrido é feito da seguinte forma: você prepara todo o terreno
com terra e os nutrientes necessários e depois coloca uma tela com parte de
grama artificial. Essa tela possui espaços vazios, onde se planta a grama
natural, e também pinos que ficam cravados no solo. A raiz da grama natural
se entrelaça naturalmente nesses pinos de ancoragem formando um tapete
contínuo. Depois você trata normalmente como se fosse um gramado
natural. A diferença é que o gramado híbrido possui uma resistência muito
maior e um aspecto visual muito bom, não parecendo estar desgastado em
um ponto ou outro, sempre tem grama verde. Essa tecnologia foi utilizada
no estádio do Arsenal na Inglaterra e em três estádios na África do Sul para
a Copa de 2010.
Figura 48: Representação esquemática do gramado híbrido.
Fonte: http://www.dessosports.com/
Figura 49: Campo com tecnologia em gramado híbrido. Estádio Emirates - Londres, Inglaterra.
Fonte: http://www.skysports.com/
17
Idem, pág. 34.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 38
Em relação ao uso do gramado para a realização de shows, o arquiteto nota que:
[...] para efeito de utilização para shows, você consegue um evento sem
danificar o gramado utilizando sistemas de tablados de polipropileno
vazados que deixam passar água e luz natural. É como um grande tapete
que possibilita o trânsito de tratores, empilhadeiras e pessoas. Esse sistema
pode ficar sobre o gramado por até 15 dias, depois você recolhe e não se
verifica danos definitivos ao gramado como ocorre com a colocação de
compensados de madeira.
Dessa forma, as inovações tecnológicas em gramado artificial permitiram aos
estádios contemporâneos maximizarem suas possibilidades de uso do campo sem
danificar o espaço destinado à prática esportiva. Além disso, é possível atingir
condições estéticas mais satisfatórias para o público que acompanha os jogos e
permitir que os jogadores façam uso de um gramado com características físicas
uniformes por todo o campo.
3.3 EQUIPAMENTOS E DISPOSITIVOS
Além das novas tecnologias em sistemas estruturais e materiais, é importante
destacar também equipamentos e dispositivos utilizados nos novos estádios como
meio de contribuir para o seu funcionamento, para o conforto dos usuários e
também para sua manutenção.
Em se tratando do funcionamento dos estádios destacam-se as soluções
automatizadas que possibilitaram a movimentação de certos componentes das
edificações, permitindo que essas sejam usadas em diferentes ocasiões. Como
exemplos, podem-se citar: as coberturas em teto retrátil com deslizamento lateral,
as coberturas em membranas retráteis, o campo sobre plataforma deslizante e as
arquibancadas móveis em estrutura metálica.
A cobertura em membrana retrátil foi utilizada pela primeira vez na Arena
Commerzbank (Figuras 50 e 51), em Frankfurt, para a Copa do Mundo de 2006.
Com projeto do escritório alemão GMP (Von Gerkan, Marg & Partner) a cobertura do
estádio segue o princípio estrutural da roda de bicicleta e seu desempenho foi
melhorado pela cobertura retrátil central, possibilitando ao estádio ser um dos
maiores conversíveis do mundo.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 39
Figura 50: Cobertura central retrátil – Arena Commerzbank, Frankfurt, Alemanha.
Fonte: http://gmp-architekten.de/
Figura 51: Membrana de PVC e o cubo central – Arena Commerzbank, Frankfurt, Alemanha.
Fonte: http://gmp-architekten.de/
Composta por um conjunto de cabos inferiores e superiores, espaçados por
enrijecedores metálicos, a cobertura em membrana fica estacionada em um cubo
central, que se abre através de um mecanismo de acionamento; em seguida desliza
pelos cabos inferiores até cobrir toda a área do campo.
Essa mesma solução será utilizada no Estádio Nacional de Brasília, projetado pelo
escritório brasileiro Castro Mello Arquitetura Esportiva para a Copa de 2014, com o
diferencial de possuir geometria circular (Figura 52) o que, segundo o arquiteto
Eduardo Castro Mello18, facilitaria o funcionamento do sistema, pois todos os cabos
possuem o mesmo tamanho. Esse dispositivo de cobertura retrátil está previsto para
ser colocado após a Copa de 2014, mas toda a estrutura já prevê sua instalação.
Figura 52: Vista interna da cobertura para o Estádio Nacional de Brasília – Copa do Mundo de 2014, Brasil.
Fonte: http://www.castromello.com.br/
18
Idem, pág. 34.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 40
Atendendo à exigência da FIFA de que todos os espectadores devem ter um lugar
para sentar, que seja individual e tenha encosto com altura mínima de 30 cm; os
assentos passaram a ser revistos por arquitetos e designers para garantir maior
conforto aos espectadores e durabilidade dos equipamentos.
Segundo Eduardo Castro Mello os assentos rebatíveis (Figuras 53 e 54) facilitam a
circulação dos espectadores e evitam que o público fique de pé em cima das
cadeiras. Ao mesmo tempo, facilita a manutenção e limpeza do estádio, pois
eliminam problemas de acúmulo de poeira e outras sujeiras.
Figura 53: Assentos rebatíveis do Estádio Green Point, Cidade do Cabo, África do Sul.
Fonte: SEPLAN – Amazonas, Brasil.
Figura 54: Assentos rebatíveis do Estádio Emirates, Londres, Inglaterra.
Fonte: http://www.sportsvenue-technology.com/
Além desses equipamentos e dispositivos, podem-se citar o sistema de
aproveitamento de águas pluviais, que recolhe a água da cobertura, além daquelas
provenientes de áreas impermeáveis ao redor do edifício. Essas águas são recolhidas
por sistemas de calhas e tubulação e são destinadas a filtros e reservatórios
inferiores.
Essa água da chuva, tratada e armazenada, pode ser destinada à irrigação do
gramado, ao uso nas bacias sanitárias do estádio e na limpeza de pisos em geral,
representando uma economia considerável no consumo de água potável.
Esse sistema está previsto nos projetos da Arena da Amazônia e do Estádio Nacional
de Brasília (Figuras 55 e 56), em conformidade com as recomendações do
programa Green Goal™, criado pelo FIFA, na intenção de obtenção da certificação
LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) pela entidade Green Building
Council (GBC).
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 3 - As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 41
Figura 55: Projeto da Arena da Amazônia prevê sistema de aproveitamento de água pluvial.
Fonte: http://arquitetandonanet.blogspot.com/
Figura 56: Projeto do Estádio Nacional de Brasília prevê sistema de aproveitamento de
água pluvial.
Fonte: http://www.revistatechne.com.br/
Segundo o arquiteto Eduardo Castro Mello19, a FIFA sugeriu que todos os estádios
projetados para a Copa de 2014 fossem certificados, o que permitiu ao Brasil a
oportunidade de possuir estádios diferentes dos já construídos até hoje. “Seriam as
‘Ecoarenas’, ‘Eco’ tanto no conceito ecológico quanto econômico”.
Outra tecnologia que aproveita recursos naturais para aumentar a eficiência
energética da edificação são os painéis fotovoltaicos, que ainda de forma pontual
começam a ser incorporados na arquitetura de estádios. Essa tecnologia foi utilizada
significativamente na cobertura do Estádio Taiwan Solar Powered (Figuras 57 e 58),
projetado pelo arquiteto japonês Toyo Ito. Sua cobertura é formada por 8.844
painéis solares e gera 1,14 gigawatt hora de eletricidade durante todo o ano20.
Figura 57: Estádio Taiwan Solar Powered em construção. Taiwan, 2009.
Fonte: http://www.archdaily.com/
Figura 58: Painéis fotovoltaicos na cobertura do Estádio Taiwan Solar Powered – Taiwan.
Fonte: http://www.archdaily.com
Dessa forma é possível verificar que muito além dos resultados estéticos
decorrentes das novas estruturas ou materiais, as inovações tecnológicas nos
estádios contemporâneos têm um papel de extrema importância na garantia do
conforto dos usuários, da possibilidade de gerar espaços mais flexíveis e na
manutenção da edificação.
19
Idem pág. 34. 20
Informações obtidas no site: <http://www.archdaily.com/22520/taiwan-solar-powered-stadium-toyo-ito/>.
Acesso em: 20 out. 2010.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: As Arenas do Século XXI
Capítulo 3 – As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 42
ESTÁDIO LOCAL PROJETO
ARQUITETÔNICO
CONCLUSÃO DA OBRA
CAPACIDADE SOLUÇÃO ESTRUTURAL OUTRAS INFORMAÇÕES IMAGENS
VELTINS ARENA Gersenkirchen,
Alemanha. HPP International 2001
61.000
espectadores
Cúpula formada por treliças estruturadas por
elementos tubulares metálicos com trecho
central móvel. Arquibancadas em estrutura
metálica.
A cobertura é vedada por membrana de fibra de
vidro e a parte central é móvel com deslizamento
lateral. O gramado sobre plataforma móvel se
desloca para o exterior da edificação e permite a
realização de diferentes atividades no interior do
estádio.
Fonte: V & M do Brasil, 2008
ESTÁDIO
RHEINENERGIE
Colônia,
Alemanha.
Von Gerkan, Marg und
Partner (GMP) 2004
46.000
espectadores
Estrutura do tipo ponte suspensa, sustentada
por 4 mastros, cabos de suspensão e os
cabos em arcos ancorados no solo.
Os quatro mastros que sustentam a cobertura
são iluminados tornando-se referência
arquitetônica de grande visibilidade.
Fonte: http://gmp-architekten.de/
AWD ARENA
Hanover,
Alemanha.
Schulitz & Partner
2004
45.000
espectadores
Estrutura do tipo roda de bicicleta estruturada
por elementos tubulares de aço. Uma segunda
estrutura forma o anel central , que é apoiado
no anel de tração e interligado ao anel de
compressão por barras de aço.
A arena de Hanover, originalmente construída
entre 1952 e 1954, foi reformada para ser uma
das sedes da Copa do Mundo de 2006.
Fonte: V & M do Brasil, 2008
ALLIANZ ARENA Munique,
Alemanha.
Herzog & De Meuron
2005
66.000 espectadores
Utilização de estruturas de aço e concreto
(Pilares de tubos de aço curvado com seção
preenchida por concreto). Cobertura
estruturada em treliças metálicas vencendo
um vão de 65 metros. As arquibancadas são
de concreto pré-moldado.
O estádio conta com lojas, escritórios, salas de
conferências e restaurantes, prevendo espaços
acessíveis para pessoas com deficiência.
Fonte: V & M do Brasil, 2008
ARENA COMMERZBANK
Frankfurt, Alemanha.
Von Gerkan, Marg und Partner (GMP)
2005 48.000
espectadores
A nova cobertura segue o formato retangular
do estádio e o princípio da cobertura em roda
raiada ou roda de bicicleta. A carga sobre a
estrutura foi reduzida ao mínimo, criando
assim uma rede de cabos e barras sujeitos
apenas à tração.
O processo de abertura da membrana requer
menos de 20 minutos, incluindo a descida do cubo
central e a abertura da caixa de proteção.
Fonte: http://gmp-architekten.de/
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: As Arenas do Século XXI
Capítulo 3 – As Inovações Tecnológicas nos Estádios Contemporâneos ■ 43
ESTÁDIO JOÃO
HAVELANGE
Rio de Janeiro,
Brasil.
Arquitetos: Carlos Porto, Geraldo Lopes,
Gilson Santos e José
Raymundo F. Gomes.
2006 45.000
espectadores
Quatro arcos que sustentam, por meio de
tirantes, uma cobertura com formato entre
um círculo e uma elipse, com área próxima a
34.000 m², e altura de 50 metros, sofrendo a
ação de ventos de região litorânea.
Para essa obra, foram necessários dois projetos,
um só para a estrutura de cobertura e outro só
para a estrutura de montagem.
Fonte: http://www.lanceactivo.com.br/
ESTÁDIO GOTTILIEB
DAIMLER
Sttutgart,
Alemanha.
Arat, Siegel & Partners. 2007 54.000
espectadores
A estrutura é sustentada por dois anéis
externos de compressão e pilares perimetrais,
em tubos metálicos. Cabos de aço interligam o
anel de tração interior aos anéis exteriores,
formando uma estrutura de cobertura tipo
roda raiada. A estrutura da cobertura foi
construída com 3 mil toneladas de tubos de
aço e 0,4 toneladas de cabos.
O estádio construído em 1933 passou por
diversas modernizações, uma delas em 1993
para o Campeonato Mundial de Atletismo e em
2004/2005 foi reformado para a Copa do
Mundo de 2006. Sua cobertura vence um vão de
58 metros sobre as arquibancadas.
Fonte: V & M do Brasil, 2008
ESTÁDIO NACIONAL DE
PEQUIM
Pequim, China.
Herzog & De Meuron
2008
91.000 espectadores
Apesar de aparentemente caótica, a estrutura
do estádio segue uma racionalidade. 24
colunas treliçadas em elementos tubulares de
aço, de diferentes alturas e em formato
piramidal, contornam todo o estádio e são
soldados a outros tubos de seção retangular.
Formando ao mesmo tempo a fachada e a
cobertura.
Mais conhecido como “Ninho de Pássaro”, hoje é
considerado um dos estádios que mais consumiu
aço em sua construção: aproximadamente 44 mil
toneladas.
Entre a estrutura externa e a estrutura da
arquibancada existe um espaço semi-aberto onde
se encontram restaurantes, bares, lojas e os
acessos às circulações verticais.
Fonte: http://www.archdaily.com/
ESTÁDIO GREEN POINT
Cidade do Cabo, África do Sul.
Von Gerkan, Marg und Partner (GMP)
2009 68.000
espectadores
Estrutura com pilares exteriores de concreto
armado, sustentando a cobertura. A estrutura
da cobertura é do tipo roda raiada, com a
combinação de treliças e cabos de aço
constituindo uma cobertura suspensa. O anel
de tração interior é formado por um conjunto
de cabos de aço. A estrutura da arquibancada
é em peças de concreto pré-moldado.
O revestimento externo é composto por
membrana de fibra de vidro pré-tensionada
revestida por PTFE (politetrafluoretileno) que filtra
a luz solar. A cobertura é revestida por placas de
vidro pintadas de branco, para refletir do calor.
Fonte: http://gmp-architekten.de/
ESTÁDIO MOSES MABHIDA
Durban, África do Sul.
Von Gerkan, Marg und Partner (GMP)
2009 70.000
espectadores
A cobertura é sustentada por um grande arco
de 100 metros de altura composto por 56
seções tubulares e retangulares de aço, que
vencem um vão de 350 metros. Uma série de
cabos de aço tipo full lock, instalados entre o
anel de compressão e o arco, permitem que a
cobertura seja atirantada.
Os arquitetos tiveram a intenção de produzir uma
arquitetura com efeitos similares ao do Museu
Guggenheim em Bilbao, ou seja, que a arquitetura
torna-se um marco turístico. Assim, aproveitaram
o arco da estrutura e criaram sobre ele um
teleférico que permite aos visitantes ter uma visão
panorâmica de Durban e do Oceano Índico.
Fonte: http://gmp-architekten.de/
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 4 – As Arenas Esportivas Multiuso ■ 44
44 AASS AARREENNAASS EESSPPOORRTTIIVVAASS MMUULLTTIIUUSSOO
Muito diferente do contexto social, cultural e econômico do período da construção
dos estádios olímpicos do século XX, os estádios hoje apresentam outras
necessidades funcionais, de atenderem melhor a lógica da atual economia do futebol
e a dinâmica da sociedade contemporânea. Segundo Cereto (2003) os antigos
estádios com pista de atletismo e uso exclusivo do futebol, devem ser substituídos
pelo palco para apresentações e atividades de comércio e serviços, integrando as
atividades esporádicas do esporte com as atividades cotidianas da sociedade.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 4 – As Arenas Esportivas Multiuso ■ 45
4.1 O CONCEITO DE ARENA MULTIUSO
O programa de necessidades de um estádio influencia não só nas distribuições
internas da edificação, mas também nos espaços externos, nos acessos, no
zoneamento e nos fluxos. Para Cereto (2003) a solução arquitetônica de um estádio
fica definida em função de dois critérios: as possibilidades estruturais e o programa.
O fato de no passado os estádios terem sido destinados, em sua maioria apenas à
prática do futebol, com eventos esportivos realizados esporadicamente, levou a um
orçamento apertado sem verbas suficiente para a manutenção da edificação. Como
resultado, tivemos a origem de um grande número de estádios obsoletos e
degradados, conhecidos popularmente como “elefantes brancos”.
Para Cereto (2003) o uso de edificações dotadas de capacidade controlada
aproxima esses ícones da arquitetura brasileira, com as qualidades dos edifícios da
primeira geração, com uma escala mais doméstica. A visibilidade das arquibancadas
é bastante apreciada nos edifícios com capacidade menor, trazendo mais conforto
ao público.
As novas administrações dos estádios projetados no século passado passaram a
readequar seus espaços para atender a essa nova demanda funcional e permanecer
em condições de uso. Como exemplo pode-se citar o Estádio Cícero Pompeu de
Toledo (Estádio do Morumbi) em São Paulo - SP, que além de acomodar a realização
de shows (Figuras 59 e 60), também readaptou alguns espaços sob as
arquibancadas para disponibilizar ao público, ambientes como: lojas (Figuras 61 e
62), restaurante, bar e lanchonete.
Figura 59: Vista da cadeira inferior do show da banda Bon Jovi, no estádio do Morumbi em 06 out. 2010. Fonte: Arquivo pessoal de Ludmila Mendes.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 4 – As Arenas Esportivas Multiuso ■ 46
Figura 60: Mapa do show da banda Bon Jovi, no estádio do Morumbi em 06 out. 2010.
Fonte: http://entretenimento.r7.com/
Figura 61: Loja de produtos alimentícios do Estádio do Morumbi. Fonte: Autor, 2010.
Figura 62: Loja do São Paulo Futebol Clube e Camarote sob arquibancada. Fonte: Autor, 2010.
Segundo Ludmila Mendes21 (Estudante de Arquitetura e Urbanismo), que assistiu ao
show da banda Bon Jovi no estádio do Morumbi em 06 out. 2010, o evento foi bem
organizado, porém algumas situações foram desconfortáveis para os espectadores
do evento, como: a falta de lugar coberto para a espera do show no exterior do
estádio (Figura 63); os sanitários químicos (Figura 64) que, apesar de necessários,
não atenderam de forma satisfatória as necessidades dos usuários, e o
congestionamento de veículos na saída do estádio.
21
Entrevista de Ludmila Mendes (espectadora do show da banda Bon Jovi, no Estádio do Morumbi em 06 out.
2010) concedida ao autor em 14 out. 2010.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 4 – As Arenas Esportivas Multiuso ■ 47
Figura 63: Espectadores do show da banda Bon
Jovi aguardando no exterior do Estádio do Morumbi.
Fonte: Arquivo pessoal de Ludmila Mendes.
Figura 64: Sanitários químicos para o show da
banda Bon Jovi no Estádio do Morumbi. Fonte: Arquivo pessoal de Ludmila Mendes.
De acordo com o gerente de marketing do São Paulo Futebol Clube Orandi Mura22, os
shows representam uma parcela considerável da arrecadação do estádio, e sua
realização é possível através de uma adequação da agenda de eventos, que
possibilita a realização dos shows entre os dias de jogos de futebol.
Outro exemplo de readequação espacial em estádios é o projeto de revitalização do
Estádio Municipal de São Paulo (Estádio do Pacaembu), de autoria do arquiteto
Mauro Munhoz, que utilizou os espaços sob as arquibancadas para instalar o Museu
do Futebol (Figura 65), além de prever um restaurante (Figura 66), uma loja e um
auditório.
Figura 65: Exposição no Museu do Futebol. Fonte: http://revistaepocasp.globo.com/
Figura 66: Área externa do restaurante no Estádio do Pacaembu. Fonte: http://www.clubepeugeot.com/
Os estádios hoje buscam usufruir de sua disponibilidade espacial para a realização de
shows e outras atividades de entretenimento, como teatro, cinema e bares. Isso
atrai a população para o estádio e dinamiza seus usos. Outro uso recorrente nos
estádios contemporâneos são os centros comerciais, com lojas, restaurante e
lanchonetes, que servem tanto como apoio para os espectadores quanto para a
população que transita pelo entorno.
22
Entrevista de Orandi Mura (Gerente de marketing do São Paulo Futebol Clube) concedida ao autor em 23 set.
2010.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 4 – As Arenas Esportivas Multiuso ■ 48
Segundo Igor Michalick23, jogador do time BH Rugby, um fator importante que
diferencia uma partida de rugby de uma partida de futebol é o terceiro tempo, que
consiste na reunião das duas equipes para comemorar o jogo e comentar lances e
expectativas dos dois times.
No Terceiro tempo é esquecida a possível rivalidade existente entre as duas equipes
e é de costume que seja bancado pelo time da casa e oferecido ao time visitante. De
acordo com o jogador essa é uma prática tradicional do esporte que deve ser levada
em consideração no projeto de um estádio para o rugby, prevendo espaços como
bares e restaurantes.
Nos Estados Unidos e Inglaterra grande parte dos estádios se transformou em
verdadeiras arenas multiuso (Figuras 67 e 68) de forma a atender a grande
demanda por entretenimento e atrair o público para os estádios. Dessa forma, a
tipologia marcou sua importância no contexto social e cultural desses países.
Frente à concorrência extra da televisão e as muitas outras atividades de
lazer que surgiram para satisfazer os anseios de um grande número de
clientes cada vez mais afastados, os estádios foram forçados a se adaptar
para sobreviver. Essa mudança começou nos EUA durante a década de 1960
com instalações pioneiras como o Houston Astrodome, em 1965, um dos
primeiros e mais sofisticados com instalações multiuso, que procurou atrair
uma gama de novos espectadores para além do núcleo dos fanáticos por
esportes que iriam participar dos eventos em quaisquer condições.
(SHEARD, 2001, tradução nossa)
Figura 67: O Astrodome Houston, uma das
primeiras arenas multiuso dos EUA em uso como espaço para rodeio.
Fonte: SHEARD, 2001.
Figura 68: O estádio Alfred MacAlpine em
Huddersfield, local do show da banda Eagles, em dia entre temporadas de futebol e rugby.
Fonte: SHEARD, 2001.
Dessa forma, o que caracteriza de fato uma arena multiuso não é apenas dispor de
lanchonetes, ou restaurantes, esses seriam serviços de apoio extremamente
23
Entrevista de Igor Machalick (Jogador do time BH Rugby) concedida ao autor em 14 ago. 2010.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 4 – As Arenas Esportivas Multiuso ■ 49
necessários aos usuários que passam um período considerável de seu tempo dentro
do estádio.
Para caracterizar-se como uma arena multiuso, é preciso que o estádio disponibilize
espaços que atendam outras funções, além da prática esportiva, como: atividades de
entretenimento, atividades corporativas, atividades comerciais, ou seja, usos que não
nos remetem diretamente à tipologia de um estádio, mas que acabam sendo
incorporados por ele.
Como exemplos significativos de arenas esportivas multiuso, podem-se citar: o
estádio Allianz Arena, que conta com lojas, escritórios, salas de conferência (Figura
69) e restaurantes (Figura 70); o Estádio Veltins Arena, que explora a
multifuncionalidade com a possibilidade do uso da arena para vários tipos de eventos
(Figuras 71 e 72); e também o Stade de France, cujos espaços sob as
arquibancadas foram projetados para abrigar instalações como escritórios, escolas,
restaurantes e lojas.
Figura 69: Auditório para conferências do Estádio Allianz Arena.
Fonte: http://www.flickr.com/
Figura 70: Restaurante do Estádio Allianz Arena.
Fonte: V & M do Brasil.
Figura 71: Veltins Arena usado em campeonato
de esqui. Fonte: http://www.skyscrapercity.com/
Figura 72: Veltins Arena usado em apresentação
musical. Fonte: http://www.skyscrapercity.com/
Para a Copa de 2014 no Brasil, a maioria dos projetos está prevendo outros usos
além da prática do futebol de forma a garantir a constante utilização do estádio após
o evento. Como exemplos podem-se citar o Estádio Nacional de Brasília (Figura 73),
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 4 – As Arenas Esportivas Multiuso ■ 50
cuja cobertura retrátil central permitirá a realização de grandes shows e
espetáculos; e a Arena Cuiabá (Figura 74) que permitirá que caminhões acessem o
campo, facilitando a realização de shows e espetáculos.
Figura 73: Vista da maquete eletrônica para o Estádio Nacional de Brasília – Copa do Mundo
2014, Brasil. Fonte: http://www.castromello.com.br/
Figura 74: Vista da maquete eletrônica para Arena Cuiabá - Copa do Mundo 2014, Brasil.
Fonte: http://www.gcp.arq.br/
Esses novos usos é o que diferencia um estádio só para o futebol, de uma arena
esportiva multiuso. Prever esses espaços significa pensar na sua permanência no
decorrer do tempo e usufruir de todo o potencial espacial que se possa alcançar em
sua arquitetura.
4.2 FLEXIBILIDADE NA ARQUITETURA DE ESTÁDIOS
Os estádios olímpicos do tipo misto (com pista de atletismo incorporada) foi um
modelo que provocou o distanciamento do público do campo, afastando o espectador
do jogo. Sobre essa questão, o arquiteto Eduardo Castro Mello24 nota:
Em um estádio com pista de atletismo, o primeiro degrau da arquibancada
fica 40 a 45 metros de distância da linha do campo, e justamente os últimos
degraus da arquibancada vão acabar ficando fora dos 190 metros de
distância a partir do core oposto, que é uma das exigências da FIFA. Acaba
sendo um estádio muito maior porque o perímetro da arquibancada
aumenta e você acaba gastando mais para fazer um estádio olímpico do que
você gastaria para fazer um estádio só para o futebol. A quantidade de
público para o atletismo é diferente da quantidade de público do futebol.
Uma competição de atletismo de alto nível, você vai ter por volta de 20 mil a
25 mil pessoas no máximo, ao passo que no futebol você chega a 70 mil,
como a FIFA exige para uma abertura de Copa. Então, esse é um ponto
clássico que tem que ser adotado, enquanto os estádios de antigamente
eram sempre estádios de atletismo e futebol, hoje já não é mais assim, é
24
Entrevista de Eduardo Castro Mello (Castro Mello Arquitetura Esportiva) concedida ao autor em 24 set. 2010.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 4 – As Arenas Esportivas Multiuso ■ 51
separado [...] Essas questões têm que ficar bem claras, não é uma briga
entre o futebol e o atletismo, é só uma adequação entre os dois esportes.
O Stade de France, para a Copa do Mundo de 1998, foi um dos estádios que buscou
na flexibilidade de suas arquibancadas (Figuras 75 e 76) uma solução arquitetônica
que resolvesse os problemas funcionais do uso de campo e pista de atletismo no
estádio:
O estádio de Saint-Dennis de 1998, na França, dos arquitetos Macary,
Zublena, Regembal e Constantini, possibilitou uma mudança nas relações de
compatibilidade não vista até então do uso do futebol x atletismo. A
estrutura das arquibancadas possibilita a ampliação da capacidade do
estádio para atividades do futebol em função do uso de arquibancadas
retráteis sobre a pista de atletismo. Assim, a forma das arquibancadas para
o uso do futebol configura o modelo com laterais arqueadas e o fundo reto,
enquanto que para a prática do atletismo a forma configurada é a do
modelo semicircular. (CERETO, 2004)
Figura 75: Stade de France com campo utilizado para as práticas do futebol e do rugby. Fonte:http://www.irishrugby.ie/
Figura 76: Estádio Stade de France com arquibancadas adaptadas para a prática do atletismo.
Fonte: http://www.ethersound.com/
Atualmente a FIFA não recomenda a pista de atletismo justamente pelos problemas
de visibilidade. Mas não restringe o uso do campo para a prática de outros esportes
como o rugby, ou a realização de eventos culturais no campo. Porém, a entidade
recomenda o uso do gramado artificial nessas circunstâncias:
Projetando estádios para que eles possam atender eventos esportivos e de
entretenimento irá aumentar a sua utilização e a sua viabilidade financeira.
O uso de grama artificial torna isso mais fácil, pois permite que o campo seja
usado e / ou coberto por um número ilimitado de dias, sem afetar
negativamente a superfície de jogo. O gramado artificial é também cada vez
mais usado para atender outros esportes, como o rugby, o cricket e o
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 4 – As Arenas Esportivas Multiuso ■ 52
futebol americano [...] Os estádios de futebol também podem receber
eventos de entretenimento, incluindo concertos, festivais, apresentações
teatrais e feiras comerciais. (FIFA, 2007, tradução nossa)
Para jogos de Copa do Mundo, A FIFA estabelece as medidas de 68m x 105 m como
padrão para o campo de futebol, além das seguintes marcações e áreas auxiliares
(Figuras 77 e 78):
Figura 77: Diagrama de dimensões do campo. Fonte: FIFA, 2007.
Figura 78: Diagrama de dimensões das áreas auxiliares. Fonte: FIFA, 2007.
Porém, outras dimensões são possíveis. Como se pode vê nas medidas máximas e
mínimas de um campo de futebol, encontradas no manual Laws of the Game,
publicado pela FIFA em 2007:
Comprimento do campo:
Mínimo: 100 m
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 4 – As Arenas Esportivas Multiuso ■ 53
Máximo: 110 m
Largura do campo:
Mínimo: 64 m
Máximo: 75 m
O IRB (International Rugby Board) estabelece as medidas de 70m x 100 m como
padrão para o campo de rugby (Figura 79), além das seguintes marcações e áreas
auxiliares:
Figura 79: Diagrama de dimensões padrões do campo de Rugby. Fonte: IRB, 2010.
Dessa forma é possível conciliar a prática do rugby e do futebol, adaptando o campo
de futebol ao campo de rugby, que é mais inflexível quanto à suas dimensões. Assim
um campo flexível para atender o futebol e o rugby teria 70 m de largura por 100 m
de comprimento. Um campo de futebol com as medidas para jogos oficiais da copa
do mundo seria possível prevendo o espaço restante somado às áreas auxiliares.
A FIFA recomenda ainda uma distância máxima de 190 metros do espectador em
relação ao extremo oposto do campo e considera 90 metros como a distância ótima
(Figuras 80 e 81). Dessa forma, o estádio de modelo retangular, que aproxima as
arquibancadas do campo, passou a ser o mais utilizado nas Arenas Esportivas
Multiuso, permitindo melhor visualização do jogo ou de eventos culturais.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 4 – As Arenas Esportivas Multiuso ■ 54
Figura 80: Máximas distâncias do espectador em relação ao campo
do Estádio Green Point, Cidade do Cabo – África do Sul. Fonte: http://gmp-architekten.de/
Figura 81: Diagrama de máxima distância do espectador em relação ao campo. Fonte: FIFA, 2007.
Essa distância máxima de visualização exigida pela FIFA contribui para o conforto
visual tanto na realização de jogos quanto na realização de shows, pois os
espectadores vão ao estádio na pretensão de conseguir visualizar o mais nítido
possível todo o evento.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 55
55 EESSTTUUDDOOSS DDEE CCAASSOO
Como estudos de caso para o presente trabalho optou-se pela análise dos estádios
AVIVA e Wembley, projetados e construídos para atender à prática do futebol, do
rugby e funcionarem como arenas esportivas multiuso. Além disso, esses estádios
contemporâneos destacam-se arquitetonicamente entre os outros por terem sido
construídos sob as mais avançadas tecnologias construtivas e terem sido projetados
segundo rígidos padrões de qualidade.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 56
5.1 ESTÁDIO AVIVA
5.1.1 Dados técnicos
Local: Dublin, Irlanda.
Projeto arquitetônico: POPULOUS™ (liderado por Ben Vickery) e Scott Talon Walker
Architects.
Projeto estrutural: Buro Happold (liderado por Geoff Werran).
Início do projeto: 2007
Conclusão da obra: 2010
Capacidade: 50.000 espectadores (Todos os assentos são cobertos).
Dimensões do estádio: 47,65 metros de altura, 189,9 metros de norte a sul, 230
metros de leste a oeste.
Área total construída: 63.802 m².
Área da cobertura: 19.000 m².
Demolição: O antigo estádio Lansdowne Road foi inteiramente demolido em dois
meses. Cerca de 25.000 toneladas de concreto e alvenaria foram reutilizados como
material para enchimento da base na construção do novo estádio. Mais de 1,5
toneladas de aço do antigo estádio foi reciclada.
Construção:
5.000 toneladas de aço estrutural.
8.000 unidades de concreto pré-moldado.
72.000 toneladas de concreto moldado in loco.
1.600 estacas de fundação.
30.000 m² de paredes de bloco de alvenaria.
5.1.2 Solução arquitetônica
Anteriormente conhecido como Estádio Lansdowne Road (Figura 82), o mais antigo
estádio de rugby do mundo que sediou jogos a partir de 1878 na Irlanda, atualmente
teve sua arquitetura totalmente renovada e passou a se chamar Estádio AVIVA
(Figura 83). A revitalização buscou remodelar o estádio de modo a atender os novos
requisitos técnicos para as arenas esportivas internacionais e atender à prática do
futebol, do rugby e a realização de eventos culturais.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 57
Figura 82: Antigo estádio Lansdowne Road
demolido para a construção do estádio AVIVA. Fonte: http://www.stadiumguide.com/
Figura 83: Vista aérea do Estádio AVIVA.
Fonte: http://www.pmg.ie/
O novo estádio está orientado no eixo norte-sul, diferentemente da antiga orientação
noroeste-sudeste do estádio Lansdowne Road (Figura 84). O estádio está situado
entre uma área residencial a norte, o rio Dodder ao leste e sul e pela linha férrea que
liga Dublin à Wexford a oeste (Figura 85). A construção de uma esplanada sobre a
linha de trem permite que os pedestres acessem o estádio por escadas e rampas.
Figura 84: Diagrama de situação mostrando em verde o estádio antigo e em azul a nova
situação.
Fonte: Architecture Ireland, 2010.
Figura 85: Perímetro da situação do estádio AVIVA.
Fonte: Architecture Ireland, 2010.
A forma curvilínea do estádio (Figura 86) foi o resultado da conciliação de uma série
de restrições definidas pelo entorno. Numerosas formas de bolha foram estudadas e
modeladas de modo a gerar o mínimo de impacto na vizinhança. Dessa forma, para
se chegar a um equilíbrio entre a implantação do edifício, a distribuição dos assentos
e a qualidade de visualização do espectador, os arquitetos chegaram à forma de uma
taça.
As arquibancadas sul, leste e oeste possuem quatro anéis de assentos; já no lado
norte, existe apenas um anel de arquibancada, pois a cobertura do estádio vai
diminuindo drasticamente de altura (Figura 87) para minimizar o impacto do estádio
sobre as edificações adjacente e permitir que elas recebam luz do sol.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 58
Figura 86: Contraste entre a arquitetura residencial do entorno e a solução arrojada do
estádio AVIVA.
Fonte: http://www.ireland.com/
Figura 87: A altura do estádio no lado norte permite que as residências vizinhas recebam luz
do sol.
Fonte: Architecture Ireland, 2010.
A vedação da cobertura (Figuras 88, 89, 90 e 91) é composta por dois tipos de
policarbonato, cuja principal diferença é o grau de opacidade – fornecendo assim
uma gradação na sombra projetada no campo e evitando fortes contrates. Além
disso, a cobertura e a fachada translúcidas refletem a luz e as cores variáveis do céu
e permitem o máximo aproveitamento da luz natural.
Figura 88: Estudo mostrando o escoamento e a torção máxima dos painéis.
Fonte: SHEPARD; HUDSON, 2007.
Figura 89: Desenho mostrando o sistema de fixação dos painéis.
Fonte: SHEPARD; HUDSON, 2007.
Figura 90: Montagem da estrutura de fixação das placas de policarbonato sobre as treliças.
Fonte: http://www.flickr.com/
Figura 91: Reflexos da luz do céu sobre as placas de policarbonato.
Fonte: http://www.stwarchitects.com/
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 59
Pelo desenho das fachadas (Figuras 92 e 93) é possível observar a escala do estádio
em relação ao entorno e a diferença de altura entre as elevações norte e sul.
O arquiteto Ben Vickery25 principal responsável pelo projeto do estádio AVIVA,
descreve o conceito do projeto:
Nós nos esforçamos para criar um estádio digno das ocasiões desportivas
que ocorrerão dentro dele, bem como criar um edifício que funcione em
harmonia com a comunidade local e o meio ambiente. O design arrojado da
cobertura do Aviva cria a imagem do céu caindo ao encontro do solo em
uma taça de cristal reflexivo.
Figura 92: Elevação leste do estádio AVIVA. Fonte: http://www.stwarchitects.com/
Figura 93: Elevação sul do estádio AVIVA. Fonte: http://www.stwarchitects.com/
Internamente os ambientes se dividem em seis níveis. O nível térreo consiste de
múltiplos acessos, com espaços de serviços e atendimento ao público - os acessos
dos jogadores e da mídia são separados.
Nos níveis 01 e 05 reúnem-se as áreas de verificação dos ingressos e estão abertas
ao exterior. As áreas VIPs localizam-se nos níveis 02, 03 (Figura 94) e 04. Sob as
arquibancadas ao sul localiza-se um restaurante com capacidade para atender até
650 pessoas.
A forma orgânica do estádio ditou a distribuição dos ambientes internos, localizados
mais internamente com as áreas de circulação mais próximas à fachada; assim
como as soluções estruturais e de vedação (ver cortes nas Figuras 95, 96, 97 e 98).
25
Informações obtidas através do site: < http://www.architecturefoundation.ie/>. Acesso em 05 de nov. 2010.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 60
Figura 94: Planta baixa do nível 03. (1) Acesso Premium, (2) Acesso geral para ingresso nas
arquibancadas, (3) Esplanada, (4) Escadaria, (5) Espaço com pé-direito duplo. Fonte: Architecture Ireland, 2010.
Figura 95: Corte transversal do estádio AVIVA mostrando os seis níveis sob as arquibancadas. Fonte: http://www.stwarchitects.com/
Figura 96: Corte longitudinal do estádio AVIVA mostrando as diferentes inclinações da cobertura. Fonte: http://www.stwarchitects.com/
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 61
Figura 97: Corte transversal do estádio AVIVA mostrando as estacas de fundação e as áreas
externas. Fonte: Architecture Ireland, 2010.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 62
Figura 98: Corte mostrando as inclinações do pilar de sustentação e os painéis de vedação de policarbonato. Fonte: SHEPARD; HUDSON, 2007.
Além dos espaços necessários à prática esportiva (Figuras 99 e 100) e a realização
de eventos culturais, o estádio acomoda lojas, escritórios administrativos, além dos
seguintes espaços26:
18 bares (Figura 101).
16 restaurantes (Figura 102).
2 confeitarias.
36 camarotes corporativos com capacidade para até 850 pessoas (Figura
103).
1 Auditório com capacidade para 190 pessoas.
250 lugares reservados para pessoas com cadeiras de rodas, distribuídos
por todo o estádio.
Área para a imprensa com capacidade para até 400 jornalistas.
Sanitários adaptados para atender dias de jogos e eventos culturais.
Instalações médicas para atender espectadores e jogadores.
26
Informações obtidas através do site do Estádio AVIVA: <http://www.avivastadium.ie/>. Acesso em 05 de nov.
2010.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 63
Figura 99: Vestiário dos jogadores. Fonte: http://www.stwarchitects.com/
Figura 100: Vestiário dos jogadores. Fonte: http://www.stwarchitects.com/
Figura 101: Bar em ilha com vista para o campo e pé-direito duplo. Fonte: http://www.stwarchitects.com/
Figura 102: Restaurantes com capacidade para atender até 650 pessoas.
Fonte: http://www.stwarchitects.com/
Figura 103: Espaço corporativo multifuncional com vista para o campo.
Fonte: http://www.stwarchitects.com/
O trabalho de especificação dos materiais e o esforço das equipes de projeto para
atingir um alto nível de qualidade no acabamento são notórios no estádio. Houve a
preocupação de especificar materiais de boa qualidade, boa resistência e de fácil
manutenção.
Nas circulações encontram-se acabamentos de piso em resinas na cor laranja e
cinza; já as vedações internas são geralmente de concreto aparente ou de paredes
em bloco de alvenaria (Figuras 104 e 105), fazendo referências aos fechamentos
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 64
em alvenaria aparente das residências do entorno. Nos ambientes VIPs, encontram-
se materiais mais sofisticados, como painéis de madeira e metal nas paredes e
carpete nos pisos.
Figura 104: Os materiais nos acessos incluem
concreto aparente, piso de resina laranja e blocos de alvenaria com texturas cinza e laranja.
Fonte: http://www.stwarchitects.com/
Figura 105: Piso da circulação em resina cinza
e parede em concreto aparente com desenhos em tinta acrílica.
Fonte: http://www.stwarchitects.com/
Além de ser amplamente utilizado para jogos de rugby na Irlanda (Figura 106), o
estádio tem o campo com dimensões previstas para receber jogos de futebol (Figura
107) e também possui estrutura para a realização de shows e espetáculos (Figura
108).
Figura 106: Primeiro jogo de rugby no estádio
AVIVA entre os times Leinster e Munster em 2010.
Fonte: http://news.bbc.co.uk/
Figura 107: Jogo amistoso entre Argentina e
Irlanda no estádio AVIVA em 2010. Fonte: http://www.irishtimes.com/
Figura 108: Gramado do estádio AVIVA protegido por tablados de material plástico para realização do show do cantor Michael Bublé
em 2010. Fonte: http://www.irishtimes.com/
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 65
5.1.3 Solução estrutural
A forma de taça do estádio, juntamente com vários requisitos de distribuição dos
ambientes internos foram os principais fatores no desenvolvimento da geometria das
estruturas dos pisos, das arquibancadas e da cobertura.
Devido à curvatura na fachada do estádio e a diferença de extensão na extremidade
exterior entre os pisos, optou-se por colunas de concreto de alta resistência –
bifurcadas no pavimento térreo (Figura 109) e inclinadas conforme sobem os
pavimentos.
A escolha pelas lajes de concreto tipo cogumelo (Figura 110) levou em consideração
os vãos e a forma orgânica do estádio, cuja solução em concreto pré-moldado seria
mais cara devido à produção de diferentes peças curvas - dificultando o processo de
pré-fabricação.
Porém, as peças de concreto pré-moldado foram utilizadas nos pisos das
arquibancadas e nos primeiros níveis do estádio. A estrutura de sustentação das
arquibancadas é constituída por pilares em perfil de aço que descarregam os
esforços nos pilares de concreto (Figura 111).
Figura 109: Colunas bifurcadas de concreto armado.
Fonte: http://www.streetsofdublin.com/
Figura 110: Lajes tipo cogumelo dos pisos e peças pré-moldadas de concreto.
Fonte: http://www.streetsofdublin.com/
Figura 111: Estrutura de sustentação das arquibancadas em perfis metálicos.
Fonte: http://www.skyscrapercity.com/
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 66
Segundo Shepard e Hudson (2007) a fim de sustentar a cobertura sem necessitar
de colunas próximas ao gramado ou entre os espectadores, um sistema estrutural
de treliças venceu os grandes vãos requeridos e transferiram as cargas para as
colunas localizadas no perímetro do estádio.
O desenvolvimento da solução estrutural envolveu uma complexa e avançada técnica
de projeto utilizando modelos paramétricos, que permitiram uma solução estrutural
mais eficiente, atendendo a forma proposta na arquitetura.
O esquema resultante (Figura 112) é constituído por um sistema hierárquico de
treliças de aço, compreendendo uma treliça primária em forma de ferradura (anel
interno vermelho), treliças secundárias alinhadas radialmente de acordo com a
profundidade da arquibancada (diagonais radiais verdes) e uma treliça externa no
perímetro do estádio (anéis externos rosas). As treliças terciárias menores (linhas
radiais azuis) vencem os vãos radialmente a partir de colunas perimetrais da taça
(círculos pretos).
Figura 112: Vista superior do plano hierárquico estrutural. Fonte: SHEPARD; HUDSON, 2007.
No dimensionamento da inovadora treliça em forma de ferradura foi necessário levar
em consideração a visualização dos espectadores sentados na última fileira das
arquibancadas (Figura 113), além das análises dos Momentos fletores na
associação das treliças (Figura 114).
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 67
Figura 113: A linha de visão do último assento está abaixo da treliça “ferradura”. Fonte: SHEPARD; HUDSON, 2007.
Figura 114: Diagrama de Momento fletor na treliça terciária. Fonte: SHEPARD; HUDSON, 2007.
Após a conclusão da estrutura das arquibancadas e da treliça perimetral, começou-
se a montar a estrutura da cobertura içando partes da treliça em ferradura a partir
das duas colunas de apoio localizadas na extremidade norte (Figura 115).
As treliças secundárias e terciárias foram montadas simultaneamente até que os
dois lados da estrutura se encontrassem na extremidade sul (Figura 116),
concluindo dessa forma a estrutura do estádio (Figura 117).
Figura 115: Imagem aérea do início da montagem da estrutura da cobertura. Fonte: http://www.flickr.com/
Figura 116: Içamento das partes das treliças e montagem simultânea da cobertura nos lados
leste e oeste do estádio.
Fonte: http://www.flickr.com/
Figura 117: Estádio concluído com vedação da cobertura e fachadas.
Fonte: http://www.stwarchitects.com/
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 68
5.1.4 Equipamentos e dispositivos
Sistema de aproveitamento de águas pluviais com reservatórios inferiores
com capacidade para armazenar até 320 mil litros de água e irrigar o
gramado natural (Figura 118).
As escadas rolantes estão equipadas com sensores para garantir que só
funcionem quando as pessoas estão sobre elas.
Mictórios com acionamentos econômicos foram usados nos sanitários para
economia de água potável.
Cada gerador do estádio é equipado com radiadores e sistema de troca de
calor que permitem utilizar a energia que seria desperdiçada, para o
aquecimento de água utilizada nos banheiros e cozinhas.
Os assentos das arquibancadas são rebatíveis, facilitando a circulação dos
espectadores e evitando o acúmulo de sujeira (Figuras 119 e 120).
Figura 118: Campo com gramado natural.
Fonte: http://www.stwarchitects.com/
Figura 119: Assentos rebatíveis do estádio AVIVA.
Fonte: http://bigredbench.blogspot.com/
Figura 120: Os assentos rebatíveis facilitam a circulação dos espectadores no estádio.
Fonte: http://www.irb.com/totalrugby/
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 69
5.2 ESTÁDIO WEMBLEY
5.2.1 Dados técnicos
Local: Londres, Inglaterra.
Projeto arquitetônico: Foster & Partners e POPULOUS™.
Projeto estrutural: Mott Stadium Consortium.
Início do projeto: 1996
Conclusão da obra: 2007
Capacidade: 90.000 espectadores (Todos os assentos são cobertos).
Dimensões do estádio: 133 metros de altura (altura do arco) e aproximadamente 1
km de circunferência.
Área total útil: 120.000 m².
Área da cobertura: 40.000 m², dos quais 13.722 m² são retráteis.
Construção:
23.000 toneladas de aço estrutural.
93.000 m³ de concreto.
4.500 estacas de fundação.
125.000 m² de paredes de bloco de alvenaria.
5.2.2 Solução arquitetônica
Originalmente construído para a Exposição Universal de 1924, o antigo estádio
Wembley (Figuras 121 e 122), com capacidade para 100.000 espectadores, foi
sede dos Jogos Olímpicos de 1948 e da final da Copa do Mundo de 1966. Muito
mais que um estádio, Wembley se tornou um símbolo para os ingleses como grande
casa da prática desportiva, sendo também palco de inúmeros concertos de rock e
outros eventos culturais.
Segundo Campanini (1950) os arquitetos Sir John Simpson e Maxwell Ayerton foram
escolhidos para projetar o estádio em 1923, devido a suas preferências pelo uso do
concreto, fato que evidencia a vanguarda modernista na Inglaterra.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 70
O desafio de reinventar o estádio de Wembley para o século XXI representaria
construir um novo edifício sobre esse patrimônio e ainda torná-lo um local que
atendesse as novas exigências para arenas esportivas multiuso, preservando a
importância do estádio para a sociedade inglesa.
Figura 121: Plano do Estádio Olímpico de Wembley, 1923.
Fonte: CAMPANINI, 1950.
Figura 122: Antigo estádio Wembley, inaugurado em 1924.
Fonte: http://www.worldleagueofamericanfootball.com
O arquiteto inglês Norman Foster, responsável pelo projeto do novo estádio, propôs
um edifício com cobertura atirantada e retrátil, parcialmente sustentada por quatro
mastros no lado norte do estádio (Figuras 123 e 124). O lado sul não teria os
mastros para maximizar o aproveitamento da luz do sol dentro do estádio e permitir
que o gramado recebesse luz solar por mais tempo.
Figura 123: Croquis da fachada para o novo estádio Wembley por Norman Foster.
Fonte: http://www.daapspace.daap.uc.edu/
Figura 124: Croquis da cobertura para o novo estádio Wembley e estudo solar.
Fonte: http://www.daapspace.daap.uc.edu/
Na evolução do partido arquitetônico, o arquiteto optou por substituir os quatro
mastros por um arco (Figuras 125 e 126), que além de representar uma ousada
solução estrutural para a cobertura, criaria um novo marco arquitetônico para a
cidade de Londres (Figuras 127 e 128).
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 71
Figura 125: Novo croquis para a fachada do
estádio Wembley por Norman Foster. Fonte: http://www.daapspace.daap.uc.edu
Figura 126: Novo croquis da cobertura para o
estádio Wembley por Norman Foster. Fonte: http://www.daapspace.daap.uc.edu/
Figura 127: Desenho do arquiteto Norman
Foster do arco do estádio Wembley iluminado a noite.
Fonte: http://www.daapspace.daap.uc.edu/
Figura 128: O arco se destaca na paisagem de
Londres, podendo ser vistos de várias partes da cidade.
Fonte: http://www.daapspace.daap.uc.edu/
Parte da cobertura é suportada estruturalmente por um arco de 133 metros de
altura (quase quatro vezes a altura do antigo estádio) (Figura 129) vencendo um vão
de 315 metros, proporcionando a substituição icônica das antigas torres gêmeas.
Figura 129: Perfis mostrando a diferença de altura entre o antigo e o novo estádio Wembley. Fonte: http://www.daapspace.daap.uc.edu/
Além disso, a nova cobertura cobre aproximadamente uma área duas vezes maior
em relação ao antigo estádio e os painéis retráteis, se fecham totalmente em 60
minutos - abrigando por completo os 90.000 espectadores. Quando abertos
garantem que o gramado receba luz e ventilação suficientes para condições ótimas
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 72
de manutenção, enquanto que em dias de chuvas, comuns em Londres, podem ser
fechados e cobrir todos os assentos.
O campo do estádio tem sua maior dimensão orientada no eixo leste-oeste (Figura
130). De acordo com FIFA (2007) a orientação ideal do campo é norte-sul, em sua
maior dimensão; que pode proteger os jogadores, os espectadores e os jornalistas
do ofuscamento causado pelo brilho do sol durante o período da tarde.
O estádio foi projetado para atender as necessidades da prática do futebol e do
rugby e sua geometria retangular arqueada e inclinação das arquibancadas
garantem que todos os espectadores tenham boas condições de visualização,
inclusive em dias de shows. Ver desenhos técnicos (Figuras 131, 132, 133, 134,
135, 136, 137, 138, 139, 140 e 141).
Figura 130: Planta de situação do Estádio Wembley. Fonte: http://www.constructalia.com/
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 73
Figura 131: Planta do nível B1 do Estádio Wembley. Fonte: http://www.constructalia.com/
Figura 132: Planta do nível B2 do Estádio Wembley. Fonte: http://www.constructalia.com/
Figura 133: Planta do nível S1 do Estádio Wembley. Fonte: http://www.constructalia.com/
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 74
Figura 134: Planta do nível S2 do Estádio Wembley. Fonte: http://www.constructalia.com/
Figura 135: Planta do nível S3 do Estádio Wembley. Fonte: http://www.constructalia.com/
Figura 136: Planta do nível S4 do Estádio Wembley. Fonte: http://www.constructalia.com/
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 75
Figura 137: Planta do nível S5 do Estádio Wembley.
Fonte: http://www.constructalia.com/
Figura 138: Panta do nível S6 do Estádio Wembley. Fonte: http://www.constructalia.com/
Figura 139: Desenho da cobertura do estádio Wembley. Fonte: http://www.fosterandpartners.com/
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 76
Figura 140: Corte longitudinal do Estádio Wembley. Fonte: http://www.constructalia.com/
Figura 141: Corte transversal do Estádio Wembley. Fonte: http://www.constructalia.com/
As instalações foram projetadas de acordo com os mais rigorosos padrões de
qualidade e com especial atenção ao conforto dos usuários. Além dos espaços
necessários à prática esportiva (Figura 142) e a realização de concertos musicais, o
estádio acomoda lojas (Figura 143), espaços flexíveis para conferências (Figura
144), além dos seguintes espaços27:
34 bares (Figura 145).
688 pontos de vendas de bebidas e comidas (Figura 146).
162 camarotes corporativos com capacidade para até 2123 pessoas (Figura
147).
8 restaurantes (Figura 148) – incluindo um salão para banquetes com
capacidade para 2000 pessoas.
2618 sanitários em todo o estádio (Figura 149).
98 cozinhas.
Auditório para coletivas de imprensa com capacidade para 200 pessoas
(Figura 150).
27
Informações obtidas através do site oficial do Estádio Wembley: <http://www.wembleystadium.com/>. Acesso
em 08 de nov. 2010.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 77
310 lugares reservados para pessoas com cadeira de rodas e
acompanhantes, distribuídos por todo o estádio (Figura 151).
150 sanitários adaptados para atender pessoas com deficiência.
Figura 142: Vestiários dos jogadores do Estádio Wembley.
Fonte: http://portfolio.populous.com/
Figura 143: Loja de vestuários do Estádio Wembley.
Fonte: http://www.wembleystadium.com/
Figura 144: Grande Hall com capacidade para acomodar até 1000 pessoas sentadas em
conferências e outros eventos.
Fonte: http://www.fosterandpartners.com/
Figura 145: Mesas e cadeiras de um dos bares do Estádio Wembley.
Fonte: http://www.wembleystadium.com/
Figura 146: Um dos pontos de vendas de comida e bebida do Estádio Wembley. Fonte: http://www.wembleystadium.com/
Figura 147: Área VIP do estádio Wembley com vista para o campo. Fonte: worldinteriordesignnetwork.com/
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 78
Figura 148: Restaurantes com capacidades
entre 500 e 2 mil pessoas. Fonte: http://portfolio.populous.com/
Figura 149: Uma das instalações sanitárias
para os espectadores. Fonte: http://www.wembleystadium.com/
Figura 150: Auditório para coletivas de imprensa.
Fonte: http://www.wembleystadium.com/
Figura 151: Espaços destinados a pessoas com cadeiras de rodas e acompanhantes.
Fonte: http://www.wembleystadium.com/
A grama natural do campo foi rigorosamente selecionada entre 250 espécies de
gramíneas (Figura 152), contendo a cada metro quadrado de gramado entre
150.000 e 200.000 lâminas foliares. O gramado foi instalado sobre 22.161
toneladas de materiais, em cinco camadas diferentes, tubulações de aquecimento e
drenagem (Figura 153).
Figura 152: Colheita do gramado do estádio Wembley no condado de Lincolnshire em 12
junho 2006. Fonte: http://www.wembleystadium.com/
Figura 153: Instalação do gramado natural no estádio Wembley em junho 2006.
Fonte: http://www.wembleystadium.com/
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 79
O novo estádio Wembley foi projetado e construído para ser multiuso e atender a
realização de eventos musicais (Figuras 154 e 155), além da prática do rugby
(Figura 156) e do futebol (Figura 157). Sob as arquibancadas, existem grandes
salões providos de ambientes de apoio, como sanitários e cozinhas, permitindo que
esses espaços sejam flexíveis e atendam a uma variedade de eventos.
Figura 154: Dave Grohl da banda Foo Fighters em apresentação no festival de música Live Earth no Estádio Wembley, 2007. Fonte: http://www.abc.net.au/
Figura 155: Apresentação da banda Foo Fighters para 86.000 espectadores, em 6 jun.
2008 no estádio Wembley. Fonte: http://www.blu-ray.com/
Figura 156: Final do campeonato de rugby Challenge Cup Final 2009 entre Huddersfield e
Warrington no estádio Wembley.
Fonte: http://www.mcopley.co.uk/
Figura 157: Jogo de futebol entre Manchester United e Chelsea no estádio Wembley em 2009.
Fonte: http://www.guardian.co.uk/
Para a realização de competições olímpicas, uma plataforma em estrutura de aço
pode ser montada sobre o campo e o anel inferior de arquibancadas, de forma a
adaptar o centro do estádio às dimensões necessárias à prática do Atletismo. Essas
características fazem do Estádio Wembley uma das maiores arenas esportivas
multiuso construídas nos últimos tempos.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 80
5.2.3 Solução estrutural
Após a demolição do antigo estádio Wembley em março de 2003 (Figura 158),
começaram as obras do novo estádio Wembley com a construção das fundações e
dos núcleos rígidos (Figura 159) que iriam contraventar a estrutura metálica do
estádio.
Figura 158: Vista aérea do antigo estádio
Wembley sendo demolido em janeiro de 2003. Fonte: http://www.wembleystadium.com/
Figura 159: Construção das fundações e dos
núcleos rígidos do novo estádio Wembley em maio de 2003.
Fonte: http://www.wembleystadium.com/
Os pisos e as arquibancadas do edifício são estruturados basicamente por vigas e
pilares em estrutura metálica (Figura 160), com exceção dos pilares do pavimento
inferior que são de concreto armado. As lajes dos pisos são de concreto armado
(Figura 161) e os pisos das arquibancadas são de peças pré-moldadas de concreto
(Figura 162).
Figura 160: Montagem da estrutura metálica dos pisos sobre os pilares de concreto armado em novembro de 2003. Fonte: http://www.constructalia.com/
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 81
Figura 161: Concretagem das lajes do lado sul do estádio em abril de 2004. Fonte: http://www.wembleystadium.com/
Figura 162: Instalação das peças pré-moldadas de concreto das arquibancadas em maio de 2004.
Fonte: http://www.wembleystadium.com/
A cobertura do estádio Wembley (Figura 163) pesa 7000 toneladas sendo que 70%
desse total são sustentados por um arco de 133 metros de altura, tão alto quanto a
London Eye (famosa roda gigante da capital britânica) que tem 135 metros de
altura28.
O arco sustenta toda a parte norte da cobertura, 60% da parte sul e os painéis
retráteis. Um modelo reduzido (Figura 164) foi ensaiado em túnel de vento, na etapa
de projeto, para análise do comportamento estrutural sobre as cargas de vento.
Figura 163: Vista aérea da cobertura do
estádio Wembley. Fonte: http://www.wembleystadium.com/
Figura 164: Modelo do estádio ensaiado em
túnel de vento. Fonte: http://www.daapspace.daap.uc.edu/
Essa solução possibilitou que a cobertura do estádio vencesse um vão de 52 metros
sobre as arquibancadas, garantindo assim a inexistência de pilares como obstáculos
para os espectadores.
O arco está inclinado 60° ao norte em relação ao plano horizontal e vence um vão de
315 metros. Os outros 40% da carga da cobertura são transferidos pelas treliças
28
Informações obtidas através do site oficial do ponto turístico londrino: < http://www.londoneye.com/>. Acesso
em: 12 de nov. 2010.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 82
que formam uma cúpula em estrutura de aço sobre o estádio (Figura 165), que
transfere as cargas para uma treliça perimetral (Figura 166) descarregando na
estrutura metálica da arquibancada e em seguida nos pilares.
Figura 165: Vista interior do estádio mostrando a cúpula de treliças e a treliça perimetral. Fonte: http://www.fosterandpartners.com/
Figura 166: Primeira seção da treliça perimetral sendo unida às vigas de aço da arquibancada em agosto de 2004.
Fonte: http://www.wembleystadium.com/
O arco pesa 1750 toneladas de aço, suas partes foram fabricadas em 10 meses e
consistem de 504 tubos e 41 anéis de aço soldados in loco formando 13 módulos
de 7 metros de diâmetro e 20,5 metros de comprimento (Figura 167).
As peças das extremidades do arco são ligadas a dois vínculos articulados de 70
toneladas cada (Figura 168), formados por perfis de aço e concreto. Por sua vez
esse apoio descarrega toda a carga em fundações de 35 metros de profundidade.
Figura 167: Módulo da estrutura metálica do arco soldado in loco.
Fonte: http://www.wembleystadium.com/
Figura 168: Um dos vínculos articulados em concreto e aço.
Fonte: http://www.wembleystadium.com/
O arco foi todo montado no solo (Figura 169) e a operação de içamento levou seis
meses até que o arco ficasse na inclinação desejada. Toda a operação foi controlada
por computador para que o arco fosse elevado uniformemente em quatro etapas e
necessitou de cinco estações operacionais para tração dos cabos de elevação
(Figura 170) além de 80 trabalhadores.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 83
Figura 169: Montagem do arco em novembro
de 2003. Fonte: http://www.wembleystadium.com/
Figura 170: Vista do oeste da estrutura de
içamento do arco em maio de 2004. Fonte: http://www.wembleystadium.com/
A estrutura em cúpula de treliças metálicas foi construída sobre 6000 toneladas de
torres provisórias de aço (Figura 171), que foram removidas quando as cargas de
suporte a tração foram aplicadas aos cabos permanentes do arco (Figura 172).
Figura 171: Estrutura provisória de sustentação das treliças da cobertura.
Fonte: http://www.daapspace.daap.uc.edu/
Figura 172: Peça de ancoragem dos cabos do arco na treliça perimetral.
Fonte: http://www.wembleystadium.com/
5.2.4 Equipamentos e dispositivos
26 elevadores e 30 escadas rolantes facilitam a circulação dos espectadores
dentro do estádio dando acesso inclusive aos segundo e terceiro anéis de
arquibancadas;
2 telões com tamanho aproximado a 600 vezes o tamanho de uma TV
comum ficam localizados nas extremidades leste e oeste do estádio (Figura
173).
Todos os assentos das arquibancadas são rebatíveis, facilitando a circulação
e a limpeza no estádio (Figura 174).
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 84
Figura 173: Telão localizado na extremidade
leste do estádio Wembley. Fonte: http://www.wembleystadium.com/
Figura 174: Assentos rebatíveis instalados no
estádio em dezembro 2005. Fonte: http://www.wembleystadium.com/
5.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS ESTUDOS DE CASO
Os estudos de caso foram de fundamental importância para este trabalho, pois
permitiram aprofundar a análise das inovações tecnológicas dos estádios
contemporâneos. A escolha pela análise dos estádios AVIVA e Wembley, construídos
sob as mais avançadas técnicas construtivas para serem arenas multiuso,
possibilitou compreender as soluções arquitetônicas e estruturais levando em conta
seus efeitos no canteiro de obras.
O levantamento de dados quantitativos relacionados às construções permitiu
compreender as dimensões e os custos que envolvem a obra de um estádio de
acordo com sua capacidade de público e usos.
Apesar de ambos os estádios possuírem usos múltiplos, com espaços para
realização de eventos culturais, restaurantes e espaços para conferências; a
diferença de 40 mil espectadores entre eles é representativa na escala final do
edifício e na demanda por espaços de apoio e de serviços para os espectadores.
Uma semelhança entre os estádios é o fato de ambos terem sido projetados para
substituir um estádio antigo com a necessidade de reconstruí-los sob as novas
exigências técnicas para a prática esportiva e a demanda por espaços de
entretenimento e serviços pela sociedade contemporânea.
Como exemplo, pode-se citar o fato de ambos terem coberturas que cobrem todos
os assentos, protegendo os usuários do ofuscamento pelo brilho do sol, do calor ou
da chuva. Ambas as soluções de cobertura atendem a atual recomendação da FIFA
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 5 – Estudos de Caso ■ 85
(Fédération Internationale de Football Association) para que todos os anéis de
arquibancadas sejam cobertos.
A reconstrução desses novos estádios, em centros urbanos consolidados, também
representou um fator determinante nas propostas arquitetônicas que tiveram suas
implantações definidas de acordo com as restrições e condicionantes do entorno, e
seus possíveis impactos na vizinhança.
Outro ponto importante identificado nos dois estádios foi a preocupação das equipes
de projeto de encontrar soluções estruturais que atendessem a arquitetura e ao
mesmo tempo facilitassem a construção do edifício através de um número
considerável de elementos pré-fabricados. Assim, são comuns nos dois estádios os
usos de estrutura metálica e pré-moldados de concreto.
Em relação aos materiais, é possível verificar que as especificações de acabamentos
nas etapas de projeto foram determinantes para atender a rígidos critérios de
qualidade e contribuir para aspectos referentes à manutenção dos estádios, o
conforto dos usuários e as intenções estéticas.
Quanto às estratégias de aproveitamento de recursos naturais, verificou-se que
foram mais utilizadas no estádio AVIVA, que possui sistema de aproveitamento de
águas pluviais, dispositivos controladores da vazão de água nas instalações sanitárias
e fachadas que permitem o aproveitamento da luz natural durante o dia.
Conclui-se que as inovações tecnológicas aplicadas aos estádios AVIVA e Wembley
contribuíram para atender aos requisitos de conforto dos usuários e para aumentar
a utilização dos edifícios. Além disso, possibilitaram a flexibilidade dos espaços, por
elementos móveis e grandes vãos; e a diminuição dos impactos ambientais da
construção pelo uso de elementos pré-fabricados, que diminuíram
consideravelmente o desperdício de materiais no canteiro de obras.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 6 – Conclusão ■ 86
66 CCOONNCCLLUUSSÃÃOO
Neste capítulo pretende-se apresentar a conclusão deste trabalho através de
considerações finais sobre as informações levantadas e analisadas nos capítulos
anteriores, desenvolvidos durante a disciplina ARQ 398 – Trabalho de Curso
(Fundamentação). Também será apresentada a proposta de projeto, incluindo as
informações sobre o terreno escolhido, a contextualização do local, o programa e o
pré-dimensionamento. Por fim, tem-se o conceito para o projeto que será
desenvolvido na próxima etapa deste trabalho na disciplina ARQ 399 – Trabalho de
Curso (Proposição).
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 6 – Conclusão ■ 87
6.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A tipologia de estádio passou por diversas transformações no decorrer da história
que, como analisado no capítulo 2, nos permite afirmar que ocorreram devido aos
avanços tecnológicos na arquitetura e às novas demandas funcionais para os
estádios.
Alguns momentos nesse processo de transformações foram significativos em
relação às inovações tecnológicas, dentre eles: os avanços na engenharia da
construção alcançados pelos romanos, que permitiram a verticalização da tipologia;
o emprego da estrutura de concreto armado na construção dos estádios do séc. XX,
que possibilitaram maiores vãos nas estruturas de cobertura e arquibancada; e o
aprimoramento das técnicas de construção no séc. XX, através do uso das
estruturas metálicas e das membranas tensionadas, que permitiram cobrir grandes
áreas com soluções mais leves e sofisticadas.
Em relação às novas necessidades funcionais da tipologia, têm-se como principais
determinantes: o surgimento do futebol e do rugby no século XIX, que intensificou o
processo de setorização e segregação espacial dos estádios; o início das
transmissões televisivas das partidas que representaram o fim de estádios
gigantesco e uma maior preocupação em atrair o público; e as novas diretrizes e
recomendações da FIFA para o projeto e a construção dos estádios
contemporâneos.
Essas novas exigências por parte da FIFA fazem parte de um processo de análise e
estudos sobre o funcionamento dos estádios já construídos e a identificação de seus
problemas. Assim, os estádios contemporâneos passam a ser projetados e
construídos de acordo com as recomendações da entidade de modo a atenderem a
rígidos critérios de segurança e conforto dos usuários.
Nesse sentido, para atender essas novas exigências funcionais, arquitetos e
engenheiros responsáveis pelo projeto de estádios contemporâneos passaram a
buscar nas inovações tecnológicas, os meios para alcançar tais objetivos. Dessa
forma, surgiram novas soluções estruturais para as coberturas; e a estrutura
metálica, por sua leveza e capacidade de vencer grandes vãos, foi eleita a solução
mais versátil até então.
Como analisado no capítulo 3, nos processos de construção dos estádios
contemporâneos foram amplamente utilizados os sistemas construtivos baseados
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 6 – Conclusão ■ 88
na pré-fabricação, utilizando os pré-moldados de concreto e os perfis de aço, que
evitam os desperdícios de materiais e reduzem o tempo de execução da obra.
Verifica-se também que as soluções em membranas de PTFE passaram a atender as
novas necessidades estruturais e de conforto dentro do estádio, pois reduzem
consideravelmente as cargas sobre a estrutura, permitem a passagem de luz
natural para o interior dos estádios e possuem um tempo de vida útil de até 50 anos,
que contribui consideravelmente para reduzir custos na manutenção do edifício.
Os avanços quanto às tecnologias em gramado artificial, as coberturas retráteis e as
arquibancadas móveis permitiram maior flexibilidade dentro dos estádios
contemporâneos na realização de shows e espetáculos, garantindo mais conforto
aos usuários, independentemente das condições climáticas e de utilização.
Dessa forma, a inserção de novos usos além da prática esportiva, como espaços de
entretenimento, espaços para conferências e serviços, possibilitam a utilização da
capacidade espacial dos estádios, como arquitetura de massas, e contribui
significativamente para sua viabilidade financeira.
Conclui-se que as inovações tecnológicas e os conceitos de arenas multiuso
possibilitaram aos estádios atenderem aos anseios da sociedade contemporânea,
por espaços para o lazer e o entretenimento, além de contribuírem para o
desenvolvimento das práticas esportivas tendo como prioridades a segurança e o
conforto de seus usuários.
6.2 PROPOSTA
A proposta consiste de uma arena esportiva destinada à prática do futebol e do
rugby na cidade de Nova Lima (Região Metropolitana de Belo Horizonte - MG), que
atenda a demanda regional por espaços para a prática esportiva e a realização de
eventos culturais.
Pretende-se também explorar no projeto o conceito de arena multiuso, prevendo
espaços flexíveis que possam ser utilizados para realização de conferências, show e
outros serviços; que possam ser utilizados tanto pelos espectadores em dias de
jogos quanto pela população em geral, como: restaurantes, cafeterias, lojas e bares.
Além disso, as recomendações e diretrizes da FIFA (Fédération Internationale de
Football association) e do IRB (International Rugby Board) serão levadas em
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 6 – Conclusão ■ 89
consideração na etapa de projeto para conceber uma edificação dentro dos padrões
de qualidade, conforto e segurança para estádios contempor
6.3 TERRENO E CONTEXTO
O terreno localiza-se na cidade de Nova Lima - MG, na região sul da grande Belo
Horizonte, escolhido por está em uma das áreas de expansão urbana da capital
mineira. Possui aproximadamente 100.000 m² de área e sua escolha também levou
em consideração a localização do Estádio Gov. Magalhães Pinto (Mineirão) (Figura
175), ao norte da capital mineira, de forma a não gerar conflitos de fluxos e usos na
cidade.
Figura 175: Localização do terreno na região sul da região metropolitana
de Belo Horizonte – Minas Gerais, Brasil. Fonte: Google Earth /modificado pelo autor.
Margeando a rodovia BR 040, o terreno está situado ao lado da antiga fábrica de
cerveja da Skol (atualmente desativada) (Figuras 176 e 177) e a implantação do
projeto poderia representar um incentivo à revitalização da edificação,
transformando-a em espaço destinado a atividades culturais.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 6 – Conclusão ■ 90
Figura 176: Terreno localizado às margens da rodovia BR040 e ao lado da antiga fábrica da Skol. Fonte: Google Earth /modificado pelo autor.
Figura 177: Perspectiva da área de implantação. Fonte: Google Earth /modificado pelo autor.
Essa região apresenta uma forte tendência de crescimento urbano, com o
surgimento de novos empreendimentos imobiliários nos últimos anos e, além disso,
caracteriza-se como uma região muito utilizada pela população para a prática de
atividades esportivas e lazer.
Nas proximidades do terreno encontram-se: o campo de futebol Mário Lima (Figura
178), de propriedade do ex-jogador do Clube Atlético Mineiro Reinaldo; a Lagoa dos
ingleses (Figura 179), onde são praticados esportes como, wakeboard e triátlon; o
Minas Tênis Clube, complexo esportivo destinado a pratica de natação (Figura 180),
voleibol, dentre outros esportes; o Aeroclube 14 BIS, na serra da moeda, onde é
praticado vôos de parapente (Figura 181); a pista de pouso da Associação Mineira
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 6 – Conclusão ■ 91
de Aeromodelismo (Figura 182); além de estradas para a realização de
campeonatos de offroad (Figura 183).
Figura 178: Campo de Futebol Mário Lima, Nova Lima – MG.
Fonte: http://www.panoramio.com/
Figura 179: Etapa brasileira do Mundial de wakeboard 2010 na Lagoa dos Ingleses em
Nova Lima – MG. Fonte: http://globoesporte.globo.com/
Figura 180: Piscina olímpica do Minas Tênis Clube, Nova Lima – MG. Fonte: http://raia-quatro-blog.zip.net/
Figura 181: Vôo de parapente na Serra da Moeda, Nova Lima – MG, Fonte: http://www.overmundo.com.br/
Figura 182: Aeromodelos nas instalações da Associação Mineira de Aeromodelismo.
Fonte: http://www.amamg.org/
Figura 183: 3ª etapa da Copa Pegeout de rally de velocidade em 2008, Nova Lima – MG.
Fonte: http://oradical.uol.com.br/
Dessa forma, o estádio seria inserido em uma região já conhecida pela população
por suas atividades destinadas ao lazer e ao esporte; representaria um incentivo ao
desenvolvimento urbano da região, e poderia atender à realização de eventos
esportivos e culturais de forma satisfatória, devido a sua proximidade em relação à
capital mineira.
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: Arenas Esportivas Multiuso
Capítulo 6 – Conclusão ■ 92
6.4 PROGRAMA E PRÉ-DIMENSIONAMENTO
Este programa e pré-dimensionamento foram organizados e calculados seguindo as
diretrizes e recomendações da FIFA (2007) e do IRB (2010).
Espectadores
Item Área (m²) Qtd. Total (m²)
Assentos 0,45 20000 9000
Sanitários femininos 50 16 800
Sanitários masculinos 50 16 800
Lanchonetes 40 16 640
Bares 50 4 200
Restaurante 300 2 600
Sala de assistência médica 40 4 160
Circulação 20% da área total 2440
Estacionamento (carros) 12,5 3333 41662,5
Estacionamento (ônibus) 50 167 8350
Total: 64552,5 m²
Campo
Item Área (m²) Qtd. Total (m²)
Campo (Futebol/Rugby + áreas auxiliares) =87 x 125m 9625 1 10875
Banco de reservas 30 2 60
Banco quarto e quinto árbitro 5 1 5
Área equipe médica 16 1 16
Total: 10956 m²
Jogadores e Árbitros
Item Área (m²) Qtd. Total (m²)
Vestiários masculinos para os times 150 2 300
Vestiários femininos para os times 150 2 300
Vestiário masculino para árbitros 30 1 30
Vestiário feminino para árbitros 30 1 30
Vestiários para gandulas 15 2 30
Área de aquecimento para os jogadores 100 2 200
Sala controle Anti-doping 36 1 36
Sala de assistência médica 50 1 50
Sala para técnico 30 2 60
Sala para delegados da partida 50 1 50
Túnel de acesso ao campo 90 1 90
Estacionamento para ônibus 50 2 100
Estacionamentos para carros 12,5 8 100
Circulação 20% da área total 275,2
Total: 1651,2 m²
Imprensa
Item Área (m²) Qtd. Total (m²)
Zona mista 200 1 200
Cabines de Transmissão 10 6 60
Central de mídia 75 1 75
Auditório para entrevistas coletivas 100 1 100
Assentos com mesa na arquibancada para imprensa 100 1 100
Sala para reparação de câmeras 30 1 30
Cafeteria 50 1 50
Circulação 20% da área total 123
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Capítulo 6 – Conclusão ■ 93
Estacionamento 12,5 150 6250
Total: 6988 m²
VIP
Item Área (m²) Qtd. Total (m²)
Assentos 0,45 2000 900
Restaurante e Bar 200 1 200
Banheiro feminino 50 2 100
Banheiro masculino 50 2 100
Sala de assistência médica 40 1 40
Circulação 20% da área total 268
Estacionamento 12,5 333 4165.5
Total: 4433,5 m²
VVIP
Item Área (m²) Qtd. Total (m²)
Assentos 0,8 500 400
Restaurante e Bar 200 1 200
Banheiro feminino 50 1 50
Banheiro masculino 50 1 50
Sala de assistência médica 40 1 40
Hall de cerimônias 100 1 100
Circulação 20% da área total 168
Estacionamento 12,5 100 1250
Total: 2258 m²
Administração
Item Área (m²) Qtd. Total (m²)
Recepção 10 1 10
Sala diretoria 20 1 20
Secretaria 25 1 25
Sala de reunião 25 1 25
Departamentos 30 6 180
Copa 1 15 15
Circulação 20% da área total 55
Estacionamento 12,5 15 187,5
Total: 517,5 m²
Apoio
Item Área (m²) Qtd. Total (m²)
Bilheterias 50 4 200
Área de verificação de Tickets e Crachás 50 8 400
Salas para lojas 50 10 500
Sala de Controle 30 2 60
Cabine controle de placar 10 1 10
Depósitos de materiais 100 2 200
Depósitos de equipamentos 100 1 100
Oficina de manutenção 100 1 100
Central elétrica 100 1 100
Vestiário masc. para funcionários 50 1 50
Vestiário fem. para funcionários 50 1 50
Circulação 20% da área total 354
Total: 2114 m²
Área total estrutural: 20449,2 m²
Área total do estádio (Estrutura e campo): 31405,2 m²
Área total de estacionamento: 62065,5 m²
Área total geral: 113919,9 m²
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Capítulo 6 – Conclusão ■ 94
6.5 CONCEITO
A arquitetura para a nova Arena Esportiva Multiuso buscará referências formais na
singular topografia da região central do estado de Minas Gerais (Figura 184),
marcada pela sequência de montanhas da paisagem mineira que passou a ser
conhecida como: o mar de morros de Minas Gerais.
Figura 184: Vista da Serra da Moeda, Nova Lima – MG; paisagem característica da região do terreno. Fonte: http://www.panoramio.com/
A intenção é que a arquitetura simbolize o “retorno” de seus recursos minerais ao
seu local natural, através da utilização do aço das estruturas metálicas em
coberturas curvas que passam a fazer referências à paisagem local e sua
importância simbólica para a cultura Mineira.
O estádio seria inserido na paisagem de forma harmoniosa, utilizando as
propriedades de leveza e plasticidade das estruturas metálicas e das inovações
tecnológicas em materiais de vedação, criando transições suaves entre espaços
externos e a edificação.
Além disso, pretende-se explorar ao máximo as possibilidades de iluminação e
ventilação naturais para gerar ambientes agradáveis e confortáveis aos usuários,
desde os acessos até o campo.
O projeto para a arena esportiva multiuso irá seguir as recomendações da FIFA e do
IRB, de forma a atender as necessidades funcionais, de segurança e conforto para
edificações esportivas contemporâneas.
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Capítulo 6 – Conclusão ■ 95
6.6 CRONOGRAMA PARA O PROJETO
Atividades Março/2011 Abril/2011 Maio/2011 Junho/2011 Julho/2011
1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4
Partido
Estudo
Preliminar
Anteprojeto
Detalhamento Memorial
descritivo
Preparação
das pranchas
Entrega e
Apresentação
Inovações Tecnológicas na Arquitetura de Estádios: As Arenas Esportivas Multiuso
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