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IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DO ESPÍRITOEMPREENDEDOR DENTRO DA
UNIVERSIDADE: ESTUDO DE CASO
Autor: Nilson Carlos Duarte da SilvaUniversidade Federal de São Carlos
Via Washington Luis, km 235
Caixa Postal 676
ABSTRACT
One of the fundamental subjects in the entrepreneurship area is the support to the creation of new
companies. The teaching programs to the entrepreneur begin to appear in Brazil as form to stimulate
new enterprises. The universities have been contributing to this formation but, a lot of deficiency still
exists in this field. Being like this, new companies will appear and they will contribute so that so much
the unemployment rates and mortality of the companies decrease. The present text presents some
universities and government organs that support the dissemination of the entrepreneurship.
KEYWORDS: University ,Unemployement, Entrepreneur.
RESUMO
Uma das questões fundamentais na área de empreendedorismo é o suporte à criação de novas empresas.
Os programas de ensino ao empreendedorismo começam a surgir no Brasil como forma à estimular
novos empreendimentos. As universidades tem contribuído para esta formação mas, ainda existe muita
deficiência neste campo. Sendo assim, novas empresas surgirão e contribuirão para que tanto as taxas
de desemprego e mortalidade das empresas diminuam. O presente texto apresenta algumas
universidades e órgãos governamentais que apoiam a disseminação do empreendedorismo.
1.0 INTRODUÇÃO
Qualquer discussão sobre geração de empregos, criação de novas empresas, deve necessariamente ser
precedida por uma discussão sobre a taxa de desemprego no mercado de trabalho e a taxa de
mortalidade das empresas, e, não se pode falar nisso sem falar sobre o empreendedor, principalmente
quando se trata da formação de empreendedores dentro da universidade.
A empresa, na maioria dos países do mundo ocidental, põe em atividade os fatores de produção, cria
mercado de trabalho e abre oportunidade de investimentos para a poupança e o financiamento de infra-
estrutura básica para a ação governamental.
Neste final de século, as relações de trabalho estão mudando. O emprego dá lugar a novas formas de
participação. A tradição do nosso ensino, de formar empregados nos níveis universitários e
profissionalizante, não é mais compatível com a organização da economia mundial.
A todo momento, estão “nascendo” novas empresas, guiadas pela iniciativa empresarial de certos
indivíduos que se dispõem a assumir os riscos inerentes ao próprio empreendimento e que acabam por
desempenhar um papel fundamental no processo de desenvolvimento econômico do país.
Este texto destina-se a iniciantes quanto a especialistas (Veja também Filion 1997 e 1998 a e b).
Obviamente não tenta cobrir todos os aspectos listados acima. O objetivo é demonstrar que existe uma
necessidade muito grande de se efetuar mudanças para atender aos problemas que afetam milhões de
brasileiros, além de discorrer quanto aos papeis da universidades nacionais e as contribuições para a
disseminação do empreendedorismo.
O texto começa examinando a taxa de desemprego em alguns países. Depois demostra com exemplos,
a taxa de mortalidade das micro e pequenas empresas do Estado de São Paulo, e, demonstra a
importância delas para o PIB (Produto Interno Bruto).
Sessões posteriores examinam os objetivos e os fins das universidades, propondo mudanças na sua
forma de interagir com os problemas econômicos da sociedade. Descreve-se também, as razões do
ensino do empreendedorismo, as origens do empreendedor e ainda discorre sobre o ensino do
empreendedorismo no Brasil. Finalmente, o texto propõe algumas considerações quanto ao assunto.
2.0 SITUAÇÃO ATUAL DO DESEMPREGO NO MUNDO
O século XX está terminando com um enorme progresso econômico e um dramático agravamento do
problema do emprego. Cerca de um bilhão de seres humanos estão desempregados ou subempregados
em todo o mundo e sem muita perspectiva de voltar a se empregar na abertura do próximo século
(Pastore,1998:3).
Mas a gravidade do problema não é mundial. Certos países estão conseguindo oferecer trabalho para
quase toda a sua população, mantendo baixas taxas de desemprego. Neste final de século, os Estados
Unidos firmaram-se como uma verdadeira “usina de empregos”, gerando cerca de 300 mil novos
postos de trabalho por mês. Em 1998, a sua taxa de desemprego foi ligeiramente superior a 4%
(Pastore,1998:3).
O Japão, apesar de todas as dificuldades pelas quais passou depois da crise asiática do final de 1997,
tem uma taxa de desemprego, como os Estados Unidos, pouco acima de 4%. A Inglaterra, que passou
por fortes crises de desemprego nas décadas de 70 e 80, termina o século com menos de 5% de
desemprego. O mesmo ocorreu com a Holanda. A Nova Zelândia, que também amargou taxas de
desocupação bem acima dos 10% nos anos 80, chega ao século XXI com cerca de 6% de desemprego
(Pastore, 1998:3).
Bem diferente é o quadro da Alemanha que vem sendo afetada por uma taxa de desemprego de 12% ao
longo de quinze anos. A França convive com mais de 12% de desempregados; e a Espanha 20%.
(Pastore, 1998:3).
No Brasil a taxa de desemprego no início de 1998 (média de 7,6%) foi mais alta do que a dos Estados
Unidos, Japão e tigres asiáticos, mas, mais baixa do que a média da União Européia (12%) e de vários
países da América Latina como por exemplo, Argentina (13%), Venezuela (12%), Colômbia (11%) e
Uruguai (9%) (OIT,1997).
Como apresentado nos casos acima, os países produtores e dominadores de tecnologia possuem baixas
taxas de desemprego, pois ao mesmo tempo que a tecnologia destroi empregos, ela também os cria,
sendo então necessário pessoas para desenvolvê-las e fazê-la funcionar. Nos países consumidores
dessas novas tecnologias os quadros são bem diferentes chegando a uma taxa de desemprego altíssima.
Um quadro muito importante no Brasil a ser analisado é o número expressivo do surgimento de novas
empresas e, também a alta taxa de mortalidade das mesmas em um período muito curto. Acredita-se
que as micro e pequenas empresas são responsáveis por uma parcela representativa do PIB (Produto
Interno Bruto), e pelo nível de emprego, portanto, se essas empresas que são consideradas criadoras de
novos empregos encerram suas atividades, por um motivo ou outro, a situação continuará a mesma, isto
significa que estaremos dando volta em círculos e não saindo do mesmo lugar, ou seja, os números
apresentados no quadro abaixo ficam oscilando sem ter se quer uma perspectiva de melhoria. Os
motivos que levam essas novas empresas a fecharem estão sendo objeto de estudos de alguns órgãos
governamentais. Assim como algumas universidades que, preocupadas com a situação atual estão
elaborando programas de formação de jovens empreendedores para alunos que possuem interesse em
desenvolver suas habilidades no processo de criação de empresas.Os dados da tabela 1.0 abaixo
demonstra as taxas médias de desemprego no período de 1982 a 1997.
Tabela 1.0 Taxas Médias de Desemprego no Brasil (1980 – 1997)
Anos (%)
1982 6,27
1983 6,70
1984 7,12
1985 5,25
1986 3,59
1987 3,73
1988 3,85
1989 3,50
1990 4,28
1991 4,83
1992 5,66
1993 5,31
1994 5,06
1995 4,64
1996 5,42
1997 5,55
Fonte: PME-IBGE. – 1998 (Pastore,1998:17)
Como dito acima, outro aspecto relevante a ser observado é a taxa de mortalidade das Micro e
Pequenas e Médias Empresas do Estado de São Paulo (MPEs). Segundo pesquisas realizadas no mês de
abril deste ano, numa amostra de 40.091 domicílios pelas seis maiores regiões metropolitanas do País, a
Pesquisa Mensal de Emprego (PME) mostra, em relação ao mês anterior, estabilidade tanto no número
de pessoas economicamente ativas (voltadas para o mercado de trabalho), como no de pessoas não
economicamente ativas (fora do mercado de trabalho). A taxa média de desemprego aberto, em abril,
ficou em 8,02%, apresentando pequena variação em relação ao mês anterior, conforme tabela abaixo:
Tabela 2.0 Taxa de desemprego aberto – semana (Percentual) Total das áreas – PME
Mês Percentual
Abril/99 8,025
Março/99 8,161
Fevereiro/99 7,511
Janeiro/99 7,733
Dezembro/98 6,325
Novembro/98 7,049
Outubro/98 7,453
Setembro/98 7,655
Agosto/98 7,801
Julho/98 8,023
Junho/98 7,905
Maio/98 8,209
Fonte: IBGE – Pesquisa Mensal de Emprego - 1998
Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA 97
3.0 VISÃO GERAL DAS MPES PAULISTAS
Numa recente pesquisa realizada pelo SEBRAE-SP – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
de São Paulo e o FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, constatou-se que numa amostra
de 1362 empresas localizadas na RMSP (Região Metropolitana de São Paulo), cerca de 64% das
empresas com até 1 (um) ano de existência foram “encontradas em atividade” (em funcionamento),
19% foram “encontradas desativadas” e 17% não foram localizadas. Embora o número de empresas
“encontradas em atividade” decresça ao longo do segundo e terceiro ano de vida, ainda assim 54% das
empresas com até 2 anos continuam funcionando e 42% das empresas com até 3 anos continuam
funcionando.
Gráfico 1 – Estado em que foram encontradas as MPEs da RMSP
Fonte: SEBRAE-SP (Pesquisa de Campo) – Dezembro de 1998
Por outro lado, o percentual de empresas “desativadas” cresce de 19% no primeiro ano, para 30% no
segundo ano e para 33% no terceiro ano.
64%
54%
42%
19%
30% 33%
17% 16%
25%
0%
20%
40%
60%
80%
Empresas comaté 1 ano
Empresas comaté 2 anos
Empresas comaté 3 anos
Empresas ematividade
Empresasdesativadas
Não localizadas
Gráfico 2 – Taxas de mortalidade (mínima e máxima) das MPEs paulistas
Fonte: SEBRAE-SP (Pesquisa de Campo) – Dezembro de 1998
Nesse caso, a taxa de mortalidade máxima é de 36% no 1º ano de vida, 46% no segundo ano e 58% no
terceiro ano de existência das empresas.
4.0 ESTÍMULO AO EMPREENDEDORISMO
Como visto no quadro acima, o desemprego, a taxa de mortalidade das MPEs, são questões que tem
sido objeto de estudos de vários órgãos governamentais. Analisaremos em seguida os objetivos e os
fins das universidades e também os programas de empreendedorismo aplicado por elas para que
possamos concluir quanto ao assunto.
4.1 UNIVERSIDADE E OS SEUS FINS
A Universidade, identificada como centro de criação, transmissão e difusão do saber, da cultura, da
ciência e da tecnologia, através da articulação indissociável do ensino, da pesquisa e da extensão,
integra-se à vida da sociedade, com os seguintes fins:
a) formação humana, cultural, científica e técnica;
36%
46%
58%
19%
30% 33%
0%
20%
40%
60%
80%
Empresas comaté 1 ano
Empresas comaté 2 nos
Empresas comaté 3 anos
Taxa de MortalidadeMáxima
Taxa de MortalidadeMínima
b) oferta de oportunidades que levem à realização do ser humano, com vistas a formar cidadãos
responsáveis, capazes de atender às necessidades, em todos os aspectos da atividade humana, que
participem ativamente da sociedade e se coloquem abertos para o mundo;
c) realização de pesquisa básica e aplicada;
d) extensão de serviços à comunidade, numa perspectiva de valorização recíproca;
e) intercâmbio cultural, científico e técnico com instituições congêneres nacionais e estrangeiros;
f) contribuição para o desenvolvimento do ensino básico;
g) constituição de espaço aberto para compreender, interpretar, preservar, reforçar fomentar e
divulgar as culturas nacional e regional, num contexto de pluralismo e diversidade culturais;
h) contribuição, no seu âmbito de atividade, para a cooperação internacional e para a aproximação
entre os povos, com especial destaque para os países de expressão oficial portuguesa e os países
latino-americanos;
i) contribuição para romper com as desigualdades sociais, bem como superar a alienação individual
e coletiva, dirigindo suas atividades de ensino, pesquisa e extensão para erradicar a pobreza, a
intolerância, a violência, o analfabetismo, a fome, a degradação do meio ambiente e as
enfermidades;
4.1.1 UNIVERSIDADE E SEUS OBJETIVOS
A Universidade, balizada no art. 207 da Constituição Federal de 1988 e nos princípios que a norteiam,
tem por objetivos:
a) promover o ensino, a pesquisa e a extensão universitária, com qualidade social, e de forma
indissociável, com vistas ao desenvolvimento de todas as áreas de conhecimento e à busca da
superação dos problemas nacionais;
b) ministrar o ensino superior, visando a formação de pessoas capacitadas para o exercício crítico da
investigação e do magistério em todas as áreas do conhecimento, bem como a qualificação para as
atividades profissionais, no sentido de que possibilitem a inserção no processo de desenvolvimento
do país;
c) estender à comunidade serviços indissociáveis das atividades de ensino e de pesquisa, levando em
conta seus anseios e necessidades contextuais, estabelecendo, assim, com a sociedade uma relação
de reciprocidade;
d) formar profissionais nas diferentes áreas do conhecimento;
e) produzir e transmitir o conhecimento, em padrões elevados de qualidade e equidade;
f) valorizar o ser humano, a cultura e o saber;
g) promover a formação humanista do cidadão com capacidade crítica frente à sociedade e ao
Estado;
h) promover o desenvolvimento científico, tecnológico, econômico, social, artístico e cultural;
i) conservar e difundir os valores éticos e de liberdade, igualdade e democracia;
j) estimular a solidariedade humana na construção da sociedade e na estruturação do mundo, da vida
e do trabalho;
k) educar, para conservação e preservação da natureza;
l) propiciar condições para transformação da realidade, visando a justiça social e o desenvolvimento
auto-sustentável;
m) estimular o conhecimento e a busca de soluções de problemas do mundo contemporâneo, em
particular os regionais e nacionais;
n) ampliar o acesso da população à educação superior;
o) buscar o fim de todas as discriminações sociais relativas à raça, às opções políticas e religiosas e
à orientação sexual.
4.1.1.1 UNIVERSIDADE E A REALIDADE BRASILEIRA
De acordo com os fins e objetivos da universidade vistos acima, podemos, dizer que necessitamos de
uma universidade mais adaptativa e empreendedora.
Adaptativa: a universidade deve estar em estado de equilíbrio criativo com o ambiente, visto como um
sistema aberto e em constante mudança, ela deve estudar o ambiente sócio-econômico-político no qual
está inserida e adaptar seu comportamento para estar em linha com as mudanças ambientais, mudando
assim seus métodos operacionais, organizacionais e até mesmo sua missão enquanto universidade.
Empreendedora: a universidade deve justapor um modelo de negócios ao modelo adaptativo, que
possa enfatizar a identificação dos pontos fortes da universidade e sua exploração comercial levando a
máximas vantagens político-financeira.
Se a universidade deve atuar em estimular o conhecimento e a busca de soluções de problemas do
mundo contemporâneo, em particular os regionais e nacionais, ela então, deve ater-se para a questão
desemprego e criação de novas empresas.
Uma contribuição importante é, estimular a formação do espírito empreendedor do graduado, mas, para
isso ela precisa estar inserida e engajada para ser adaptativa e empreendedora.
Figura 1: Fatores que influenciam a Universidade.
Se as mudanças que ocorrem no ambiente externo, em potencial os fatores político-econômico-
financeiro, provoca mudanças dentro da universidade, pois, é, vista como um sistema aberto, provocar
UniversidadeAmbienteExterno Ambiente
ExternoMudanças
Mudanças
mudanças dentro dela para atender o meio ambiente será o melhor caminho no processo de interação
com a sociedade, e, essas mudanças serão consideradas como respostas para a questão da formação de
empreendedores ao invés de empregados.
Figura 2: Universidade e mudanças para combater a Taxa de Desemprego
5.0 MUDANÇAS DO AMBIENTE EXTERNO
Como analisado anteriormente, a universidade vista como um sistema aberto, deve estar sempre
disposta a efetuar mudanças no seu ambiente interno para atender as mudanças do ambiente externo. A
palavra mudança para Chiavenato corresponde a:
Mudança é a passagem de um estado para outro. É a transição de uma situação para outra situação diferente.Mudança representa transformação, perturbação, fratura.
“Nas empresas, as mudanças estão ocorrendo a todo instante. Do lado de fora, clientes mudam seus hábitos decompra e preferência, fornecedores mudam características e preços das matérias primas, prestadores deserviços impõem diferentes condições e esquemas de trabalho, concorrentes mudam suas estratégias,sindicatos iniciam novas reivindicações, o governo impõe alterações nas leis, e isto tudo nunca acaba. Do ladode dentro, os processos de trabalho precisam ser modificados, máquinas e equipamentos são substituídos pornovos, as matérias-primas são alteradas, os padrões de qualidade sofrem melhorias, as pessoas precisamaprender novos conhecimentos e habilidades, os produtos/serviços são desenvolvidos e melhorados, asestratégias são aperfeiçoadas, e isto tudo nunca acaba.” (Chiavenato:1998:24).
A definição de mudança proposta por Chiavenato, vem de encontro com esse trabalho, pois o objetivo é
demonstrar que existe uma necessidade muito grande de se efetuar mudanças para atender os
Universidade
Sala de Aula
Empreendedores
Mudanças
Resultados
problemas de milhões de brasileiros. Essa mudanças, deverão partir também das universidades, pois
nossos alunos precisam aprender a aprender e aprender a praticar aquilo que aprende.
6.0 POR QUE O ENSINO DO EMPREENDEDORISMO
Dolabela (1999:53) escreve 10 (dez) razões sobre o porque do ensino de empreendedorismo.
Razão 1 - A alta taxa de mortalidade infantil. No mundo das empresas emergentes, a regra é falir, não
ter sucesso. De cada três empresas criadas, duas fecham as portas. As pequenas empresas (menos de
100 empregados) fecham mais: 99% das falências são de empresas pequenas. Se alguns têm sucesso
sem qualquer suporte, a maioria fracassa, muitas vezes desnecessariamente. A criação de empresas é
um problema de crescimento econômico.
Razão 2 - Neste final de século, as relações de trabalho estão mudando. O emprego dá lugar a novas
formas de participação. Na verdade as empresas precisam de profissionais que tenham uma visão
global do processo, que saibam identificar e satisfazer as necessidades do cliente. A tradição do nosso
ensino, de formar empregados nos níveis universitários e profissionalizante, não é mais compatível
com a organização da economia mundial.
Razão 3 - Exige-se hoje, mesmo para aqueles que vão ser empregados, um alto grau de
“Empreendedorismo”. As empresas precisam de colaboradores que, além de dominar a tecnologia,
conheçam também o negócio, saibam auscultar e atender às necessidades do cliente, possam identificar
oportunidades, e mais: buscar e gerenciar os recursos para viabilizá-las.
Razão 4 - A metodologia de ensino tradicional não é adequada para formar empreendedores.
Razão 5 - As nossas instituições de ensino estão distanciadas dos “sistemas de suporte”, ou seja, das
empresas, dos órgãos governamentais, dos financiadores, das associações de classe, entidades das quais
os pequenos empreendedores dependem para sobreviver. As relações entre universidade e empresa
ainda são incipientes no Brasil.
Razão 6 - Cultura. Os valores do nosso ensino não sinalizam para o Empreendedorismo.
Razão 7 - A percepção da importância da PME (Pequena e Média Empresa) para o desenvolvimento
econômico ainda é insuficiente.
Razão 8 - Predomina, no ensino profissionalizante e universitário, a cultura da “grande empresa”. Não
há o habito de se falar na pequena empresa. Os cursos de Administração, com raras exceções, são
voltados quase exclusivamente para o gerenciamento de grandes empresas.
Razão 9 - Ética. Uma grande preocupação no ensino do Empreendedorismo devem ser os aspectos
éticos que envolvem essa atividade. Por sua grande influência na sociedade, na economia, é
fundamental que os empreendedores – como qualquer cidadão – sejam guiados por princípios e valores
nobres.
Razão 10 - Cidadania. O empreendedor deve ser alguém com alto comprometimento com o meio
ambiente e com a comunidade, com forte consciência social. A sala de aula é um excelente lugar para o
debate desses temas.
Visto, portanto, o porque do ensino do empreendedorismo apresentado por Dolabela, analisaremos
agora o conceito do termo na visão de vários autores, suas origens e contribuições.
7.0 O EMPREENDEDORISMO
7.1 CONCEITUAÇÃO
O termo empreendedor foi criado a partir do verbo “entreprendre” (francês, que significa começar um
negócio próprio) e há registros de que por volta de 1700, foi concebido um conceito de empreendedor
como sendo o tomador de decisões e provedor da gestão no âmbito das empresas (KILBY, 1971).
Empreendedor evidencia-se como a melhor alternativa de tradução o termo entrepreneur, de origem
francesa, na medida em que a opção pela alternativa do termo empresário deixaria a desejar; nem todo
empresário é um empreendedor (entrepreneur) e um empreendedor não é necessariamente um
empresário.
Para (RODRIGUES, 1998:16) A definição do senso comum é demasiadamente ampla. De acordo com
a mídia impressa no país, o conceito abriga desde vendedores ambulantes até o profissional que tem
visão aguçada e ao perceber uma carência no mercado, faz prospecções, calcula seu risco e com
tenacidade e determinação se lança na missão de suprir aquela lacuna. Nesse caso, “ganhar dinheiro” é
conseqüência do planejamento aplicação de conhecimentos da ciência da administração,
imprescindíveis ao empreendedor genuíno; no outro, se e quando acontece, é obra do acaso ou da
alquimia administrativa.
7.1.1 MAS O QUE É UM EMPREENDEDOR ? COMO DEFINÍ-LO?
Muito se tem escrito a respeito, os autores oferecem variadas definições para o termo. O economista
austríaco Schumpeter (1934) associa o empreendedor ao desenvolvimento econômico, à inovação e ao
aproveitamento de oportunidades em negócios.
COLLINS & MOORE (1964), o empreendedor é o homem que se arrisca. Bravo, ele abre mão de si
próprio e quase que por intuição somente, devota-se dever e propósito solitário de se lançar de alguma
forma na criação de um negócio ou uma atividade produtiva, às vezes de forma jamais feita antes.
VIRES (1985), empreendedores são, via de regra, extremamente geniosos. Às vezes, suas ações têm
conseqüências avassaladoras para a organização.
REICH (1987), citado por RODRIGUES (1998:16), também se ocupa com a descrição do mito do
empreendedor americano, que personifica liberdade e criatividade. O que caracteriza esse personagem
é a grande facilidade que tem de gerar grandes idéias, fazendo uso de inovações tanto de ordem técnica
quanto de ordem organizacional e criando novas soluções para velhos problemas. Para eles, a
imaginação é recurso suficiente para a construção de organizações vibrantes, modernas e lucrativa.
LEVITT (1987) diz que “empreendedor” é assunto para sensacionalismo e pode ser tratado como uma
espécie de LSD (Droga ilegal que leva as pessoas a “verem” coisas maravilhosas, estranhas e
espantosas, ou ainda, coisas que não existem) dos anos 80.
FILION (1991), define o empreendedor como uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões.
DRUCKER ( 1991:36), o empreendedor utiliza o seu espírito inovador para encontrar uso para coisas
até então inúteis, transformando-as em recursos, atribuindo-lhes utilidade, e ratifica o perfil do
empreendedor segundo o conceito schumpeteriano, privilegiando a questão da inovação e da
interferência contundente na dinâmica do processo de produção de bens:
“ Os empreendedores inovam. A inovação é o instrumento específico do espírito empreendedor. É o ato quecontempla os recursos com a nova capacidade de criar riqueza. Não existe algo chamado de “recurso” até queo homem encontre um uso para alguma coisa na natureza e assim o dote de valor econômico (...)”
PEREIRA (1992:9), avalia como amplo o conceito schumpeteriano de empresário. Ele afirma que a
característica essencial do empresário é:
“inovar, encontrar continuamente novas e melhores combinações para os fatores de produção”.
BHIDE (1994:152), professor que trabalha com o desenvolvimento de empreendedorismo na Harvard
Business School, é até mesmo mais radical que Drucker na definição de empreendedor:
“Trata-se simplesmente daquele que localiza e aproveita uma oportunidade de mercado, criando a partir daíum novo negócio”.
RODRIGUES (1998:18), gerentes, empreendedores, microempresários e empresários são palavras que
podem significar a mesma coisa, dependendo da abordagem que se pretende dar à determinada
discussão. A mente empreendedora se ocupa de questões substancialmente diferentes da que se ocupa a
mente do microempresário, o que não descarta a possibilidade de um empreendedor ser um
microempresário e vice-versa. O empreendedor vislumbra a construção de uma grande companhia,
reconhece o crescimento, tem o foco na oportunidade, é visionário, gosta de mudanças e riscos,
persegue o desenvolvimento contínuo de habilidades e o sucesso é situação freqüente na sua carreira.
8.0 UMA BREVE CARACTERIZAÇÃO DA EVOLUÇÃO DO
EMPREENDEDORISMO – AUTORES E CONTRIBUIÇÕES
RELEVANTES.
Caracterizando o empreendedorismo quanto aos seus aspectos de fundamentação econômica ( a
emergência da economia empreendedora) e organizacional ( a delimitação de um modelo de
organização empresarial), torna-se oportuno proceder à abordagem da produção intelectual relacionada
com os princípios e a metodologia de gestão que lhe são relevantes.
A primeira referência que obrigatoriamente há de ser feita ao empreendedorismo remonta, ao
industrial e economista clássico francês Jean-Baptiste Say (1967-1832), autor da célebre lei dos
mercados ou Lei de Say – segundo a qual a produção criaria a sua própria demanda, impossibilitando
uma crise geral da superprodução – cujo conceito de equilíbrio econômico constitui-se na base da
teoria econômica neoclássica.
Professor do Collége de France, Say elaborou uma teoria das funções do empresário, cunhando o termo
entrepreneur, ou empreendedor, conferindo-lhe um papel de especial importância na dinâmica de
crescimento da economia.
DRUCKER (1986) retrata de forma bastante precisa o conceito de empreendedor elaborado por Say, ao
atribuir-lhe o papel de transferir recursos econômicos de um setor de produtividade mais elevada e de
maior rendimento, propiciando, desse modo, uma maior eficiência e eficácia à economia.
Segundo KAPLAN(1987), citado por (RODRIGUES 1998:16), historicamente, é difícil localizar com
precisão quando começou a onda “ empreendedora”, mas que a referência mais recente foi a eleição do
presidente Ronald Regan, em 1980, nos Estados Unidos. Anterior a isso, os anos Carter foram
marcados por extremas dificuldades na área econômica para os americanos, com desemprego, inflação
e uma política externa considerada de submissão, cujo ápice foi a tomada da embaixada americana no
Irã em 1979, quando o regime teocrático liderado pelo então Aiatolá Khomeini, manteve todos os
funcionários sob cárcere por mais de 400 dias.
Já no presente século, o economista austríaco Joseph Alois Schumpeter (1883-1950)- Ministro das
Finanças em seu país após a 1º Grande Guerra, radicado nos Estados Unidos desde 1932, onde lecionou
na Universidade de Harvard – elabora uma importante contribuição teórica hoje incorporada a corrente
de pensamento denominada empreendedorismo, estabelecendo os conceitos de destruição criadora
empresário empreendedor.
Um dos mais brilhantes economistas deste século, Schumpeter foi um dos precursores da teoria do
desenvolvimento capitalista, destacando-se, em especial, no estudo dos ciclos econômicos elaborando,
nesse sentido, uma importante categorização quanto à dinâmica de crescimento do capitalismo,
enfocando-o sob um prisma de processo e evolutivo em oposição à concepção de economia clássica e
dos seus conceitos de concorrência perfeita e de equilíbrio.
Esta categorização denominada de destruição criadora fundamenta-se no princípio de que reside no
desenvolvimento de novos métodos de produção, novos bens de consumo, novos mercados, novos
setores de transporte, novas formas de organização, dentre outras alternativas que perturbam e rompem
com o equilíbrio existente, como destaca SCHUMPETER (1961):
“ Abertura de novos mercados, estrangeiros e domésticos, e a organização da produção, da oficina doartesão a firmas, como a U.S. Steel, servem de exemplo do mesmo processo de mutação industrial – se é quepodemos usar esse termo biológico – que revolucionou incessantemente o antigo e criando elementos novos.Este processo de destruição criadora é básico para entender o capitalismo.”
O agente básico deste processo de destruição criadora reside na figura que Schumpeter denominou de
empresário empreendedor, que desafia o status quo reinante no mercado, e, no limite, possibilita a
ruptura de paradigmas até então predominantes, cujo comportamento típico é ressaltado por
DRUCKER (1986):
“ O empreendedor vê a mudança como norma e como sendo sadia. Geralmente, ele não provoca a mudançapor si mesmo. Mas, e isto define o empreendedor e o empreendimento, o empreendedor sempre está buscandoa mudança, reage a ela, e a explora como sendo uma oportunidade.”
Outra importante contribuição para a nucleação do empreendedorismo foi dada por David McClelland,
psicólogo da Universidade de Harvard, que desenvolveu a concepção de um paradigma
comportamental do perfil do empreendedor, estabelecendo, nesse sentido, uma segmentação da
sociedade. em dois grandes grupos quanto a percepção e ao enfrentamento de desafios e oportunidades.
O primeiro grupo corresponde a uma parcela mínima da população que se sente disposta a enfrentar
desafios e, consequentemente, empreender um novo negócio; já a imensa maioria da população não se
dispõe a enfrentar riscos desta natureza.
A caracterização do empreendedorismo enquanto um novo modelo de gestão consentâneo com
os paradigmas (econômicos, políticos, social, tecnológicos, culturais, etc.) prevalecentes neste final de
milênio é evidenciada pela crescente produção literária sobre os seus fundamentos e metodologia,
notadamente a partir da segunda metade dos anos 80.
PEREIRA (1995) configura o empreendedorismo como um dos modelos de gestão que se
destacam neste período de transição e da emergência de novos paradigmas, categorizando-o quanto aos
seus fundamentos teóricos e as suas principais metodologias de gerenciamento, com os seus respectivos
autores mais proemimentos.
Embora o empreendedorismo não seja uma atividade recente – Kirchhoff(1994a), inclusive
destaca que a palavra francesa “entrepreneur” ainda na metade do século XIX passa a ser utilizada para
identificar o gerente-proprietário de um novo empreendimento empresarial, é a partir dos anos 80, sob
uma concepção mais moderna, que o mesmo ganha importância e parte de governos de países como
Itália, França, Inglaterra e Estados Unidos.
Tomando-se o exemplo norte americano, onde este fenômeno indubitavelmente tem seu berço,
a década de 80 é considerada como a década dos empreendedores, ou ainda, dá início a uma nova era –
a empreendedora – como demonstra a seguinte passagem extraída de um entre os diversos livros que
vêm sendo publicados acerca do tema:
“ Esta é a era emprendedora. Empreendedores estão dirigindo uma revolução que está transformando erenovando economias no mundo todo. O empreendedorismo é a essência da livre empresa pois o nascimentode novos negócios dá à economia de mercado sua vitalidade. Novos e emergentes negócios criam uma vastaproporção de produtos inovativos que transformam o modo como trabalhamos e vivemos, como por exemplo,computadores pessoais, softwares, drogas biotecnológicas e entrega de correspondência “ overnight” . Elesgeram a maioria dos novos empregos. De acordo com algumas estimativas mil novos negócios nascem acada hora trabalhada nos Estados Unidos. Durante os anos 80, firmas pequenas e em crescimento gerarammais que 20 milhões de novos trabalhos na economia americana, enquanto que as grandes firmas destruíram4 milhões” (Bygrave,1994:1).
A riqueza de uma nação é medida por sua capacidade de produzir, em quantidade suficiente, os
bens e serviços necessários ao bem-estar da população. Por este motivo, acredita-se que o melhor
recurso de que dispõe-se para solucionar os graves problemas sócio-econômicos é a liderança da
criatividade dos empreendedores, através da livre iniciativa, para produzir esses bens e serviços.
(Degen,1989:9).
9.0 Um Breve Histórico Sobre o Ensino do Empreendedorismo
no Brasil
Após as várias definições sobre o empreendedor, analisaremos como iniciaram os cursos de
empreendedorismo nas universidades brasileiras, quais entidades governamentais apoiam a
disseminação desse ensino e os resultados obtidos.
O primeiro curso na área de empreendedorismo de que se tem notícia surgiu em 1981, na Escola de
Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, São Paulo, por iniciativa do Professor
Ronald Degen e chamava-se “Novos Negócios”. Era uma disciplina do Curso de Especialização em
Administração para Graduados, (CEAG). Em 1984 o curso foi estendido para a graduação, sob o nome
de “Criação de Novos Negócios – Formação de empreendedores”, e hoje é uma das “trilhas”
obrigatórias a serem percorridas pelo alunos.
Em 1989, foi criado o CIAGE, Centro Integrado de Gestão Empreeendedora, sob a coordenação da
Professora Ofélia Lanna Sette Torres. Mais tarde o ensino de empreendedorismo foi inserido nos
cursos de mestrado, doutorado e MBA. A Fundação Getúlio Vargas produziu duas teses de doutorado
na área e tem uma em andamento.
A Universidade de São Paulo, a USP, começou a oferecer o ensino de empreendedorismo em 1984,
quando o Professor Silvio Aparecido do Santos introduziu a disciplina Criação de Empresas no curso
de graduação em administração na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da
Universidade de São Paulo, (FEA/USP).
Em 1985, também na FEA, foi oferecida a disciplina “Criação de Empresas e Empreendimentos de
Base Tecnológica, no Programa de Pós Graduação em Administração.
Em 1992, com o apoio do SEBRAE São Paulo, a FEA, através da Fundação Instituto de
Administração oferecia um Programa de Formação de Empreendedores voltado para profissionais da
comunidade interessados em abrir empresas.
Ainda em 1984 o professor de informática Newton Braga Rosa do Departamento de Ciência da
Computação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em trabalho pioneiro, instalava uma
disciplina de ensino de criação de empresas no curso de bacharelado em Ciência da Computação, pela
qual até hoje já passaram cerca de 800 alunos. O professor Newton Braga Rosa teve muita influência
na concepção do plano de geração de empresas do Programa Softex que, mais tarde, veio a se constituir
no Projeto Softstart.
Em 1992 a Universidade Federal de Santa Catarina criou a Escola de Novos Empreendedores, a ENE
que, no decorrer do tempo, veio a se constituir em um dos mais significativos projetos universitários de
ensino de empreendedorismo no Brasil, com profunda inserção acadêmica e envolvimento tanto com
projetos e órgãos internos à UFSC, bem como com outras universidades e organismos internacionais.
Em 1992, em Recife, através da iniciativa do Departamento de Informática da Universidade Federal de
Pernambuco, e com o suporte da Fundação de Apoio à Ciência do Estado de Pernambuco (FACEPE),
surgia, o CESAR – Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife, com o objetivo de ser um
núcleo de aproveitamento industrial dos resultados acadêmicos. No início de 1995, com o apoio do
Softex, o CESAR, criou uma pré-incubadora voltada para projetos de exportação de software, que mais
tarde transformou-se no Recife-Beat, inserido no programa Softex.
Em 1996, os professores Fábio Silva e Hermano de Moura iniciam o oferecimento de uma disciplina de
ensino de empreendedorismo no curso de graduação em Ciência da Computação. A experiência gerada
no CESAR foi importante na concepção do Projeto Softex-Genesis.
Em 1995 a Escola Federal de Engenharia de Itajubá, em Minas Gerais, a EFEI, criou o CEFEI – Centro
Empresarial de Formação Empreendedora de Itajubá, com o objetivo de inserir o ensino de
empreendedorismo na instituição. Com estilo peculiar, o ensino de empreendedorismo na EFEI expõe
todo o corpo discente ao conteúdo de empreededorismo já que todas as disciplinas contribuem para o
desenvolvimento do espírito empreendedor do aluno. O CEFEI tem grande inserção na vida acadêmica
e também na comunidade, mantendo fortes vínculos com o Projeto Tecnópolis de Itajubá.
No início desta década, o Sebrae-Minas, apoiou a criação do GEPE, Grupo de Estudos da Pequena
Empresa, no Departamento de Engenharia de Produção da UFMG, liderado pelo professor Gledson
Coutinho, com o objetivo de desenvolver estudos na área de empreendedorismo. Entre as atividades
realizadas pelo GEPE, destacou-se o oferecimento de Workshops nos anos de 1992 a 1994, ministrados
pelos professores canadenses Louis Jacques Fillion, André Joyal e Dina Lavoie, que se transformaram
em núcleos de propagação de seguidores na área. A figura do professor Louis Jacques Filion está
definitivamente ligada à história do ensino de empreendedorismo no Brasil. Preocupado com uma
percepção internacional do empreendedorismo, a teoria desenvolvida por Filion, baseada em pesquisas
feitas com 51 empreendedores em vários países, se constituiu no fundamento da metodologia de ensino
utilizada hoje por mais de 150 instituições de ensino no Brasil.
Em 1993 o Programa Softex do CNPq, através do seu Núcleo mineiro, a FUMSOFT, desenvolveu uma
metodologia de ensino de empreendedorismo, que seria oferecida no curso de graduação em Ciência da
Computação da UFMG já no segundo semestre daquele mesmo ano. Experiência de sucesso, gerando
em média 5 empresas a cada oferecimento, a disciplina “O empreendedor em Informática” ganhou
alcance nacional em 1996, através do Programa Softex-Softstart, sendo hoje oferecida por mais de 100
departamentos de ensino de informática em 24 estados brasileiros.
A Universidade de Brasília, UNB, cria em 1995 a Escola de Empreendedores com o apoio do
SEBRAE-DF, que passa a ter uma atividade fervilhante na área de sensibilização e ensino de
empreendedorismo. Realiza anualmente um evento de grande sucesso, a Semana do Empreendedor que
mobiliza a comunidade acadêmica e grande número de empresários.
O ano de 1996 é um marco na área de empreendedorismo no Brasil. O Programa Softex, criado pelo
CNPq em 1992, e a partir de 1997 gerido pela Sociedade Softex, com a finalidade de estimular a
exportação do software brasileiro, implanta dois projetos: o Gênesis, na área de incubação universitária,
e o Softstart, na área de ensino de empreendedorismo. Esses dois programas causaram grande impacto
em nosso ambiente universitário, extrapolando a área de informática e lançando profundas sementes em
outros campos do conheciemento. Apesar dos resultados extremamente positivos: 20 incubadoras de
software instaladas, o oferecimento da disciplina “O empreendedor de Informática” em mais de 100
instituições de ensino, e 120 empresas criadas, a principal contribuição desses programas é a
disseminação ampla de uma nova cultura educacional, que aproxima centros de pesquisa, empresas e
forças da sociedade em um único esforço de formar empreendedores. É importante dizer aqui que
vários parceiros viabilizaram o Programa Softex, além do CNPq, entre eles o Sebrae, a FINEP, o
BNDES.
Como conseqüência, a partir de 1996 surgem em todo o país importantes projetos universitários de
empreendedorismo, principalmente na área de informática, entre os quais o da PUC-RIO, que em 1997
inaugurava o Instituto Gênesis para a Inovação e Ação Empreendedora, com o objetivo de desenvolver
atividades nas áreas de ensino de formação de empreendedores, de incubação de empresas de base
tecnológica e também de pesquisas e assessoria técnica na área de empreendedorismo. A experiência
da PUC-RIO é um modelo de inserção da atividade de formação de empreendedores na própria
comunidade acadêmica e no meio ambiente econômico-empresarial. O ensino de empreendedorismo na
graduação na PUC é feito através de três disciplinas apoiadas pelo moderno Laboratório de
Criatividade Inovação e Simulação de Negócios.
Em 1998 foi criado o Capítulo Brasileiro do ICSB, International Counsil for Small Business, entidade
que congraga programas nacionais de empreendedorismo.
O quadro apresentado sobre o movimento do ensino universitário de empreendedorismo, ainda que
rústico, nos dá forte razões para sermos otimistas e acreditar que a visão e esforços do governo e da
iniciativa privada nesta área podem caminhar juntas. (Dolabela:1999:3-7).
10.0 CONCLUSÃO
Foi visto que o empreendedorismo foi identificado pelos economistas, num primeiro momento, como
um elemento útil à compreensão do desenvolvimento. Subsequentemente, os comportamentalistas
tentaram entender o empreendedor como pessoa. Entretanto, o campo está em processo de expansão,
expandindo-se para quase todas as disciplinas das ciências humanas, e a universidade terá de manter
um processo de interação com essa expansão, pois, serão afetadas pelas mudanças do ambiente externo.
Concordamos com Fillion (1997) que nenhum campo acadêmico pode prescindir de teoria. Entretanto
para criar uma teoria do empreendedor, provavelmente vai ser necessário separar pesquisa aplicada de
pesquisa teórica, estabelecendo uma nova ciência, a empreendedologia.
10.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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