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__________________________________________________________________________________________ Mostra de Iniciação Científica e Mostra de Criação e Inovação ISSN: 2316-1566 Getúlio Vargas RS Brasil 1 INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO ALTO URUGUAI FACULDADES IDEAU IDENTIFICAÇÃO DE BACTÉRIAS CAUSADORAS DE MASTITE E TESTE DE SENSIBILIDADE AOS PRINCIPAIS ANTIBIÓTICOS ARALDI, Jônatas Henrique¹ e-mail: [email protected] CZECHOWSKI, Leonardo Dalpiva¹ e-mail: [email protected] DELLAGOSTIN, Diego¹ e-mail: [email protected] LISE, Mateus Roman¹ e-mail: [email protected] VISENTINI, Ricardo Morgan¹ e-mail: [email protected] WINTER, Luan Junior¹ e-mail: [email protected] OLIVEIRA, Daniela dos Santos e-mail: [email protected] ALMEIDA, Mauro Antonio de² e-mail: [email protected] FACCIN, Angela² e-mail: [email protected] GOTTLIEB, Juliana² e-mail: [email protected] MAHL, Deise Luiza² e-mail: [email protected] OLIVEIRA, Franciele de² e-mail: [email protected] ROSÉS, Thiago de Souza² e-mail: [email protected] RITTER, Filipe² e-mail: veteriná[email protected] ¹ Discentes do Curso de Medicina Veterinária, Nível 7 2016/1- Faculdade IDEAU Getúlio Vargas/RS. ² Docentes do Curso de Medicina Veterinária, Nível 7 2016/1 - Faculdade IDEAU Getúlio Vargas/RS. RESUMO: A mastite bovina é uma doença de grande importância e frequência na pecuária leiteira, que leva a inúmeras perdas econômicas e aumento nos custos de produção. É uma doença de aspectos multifatoriais, decorrente da colonização do tecido secretor do úbere por agentes patogênicos. Geralmente ocorre por um manejo incorreto na propriedade, como falta de higiene e más condições locais. Com objetivo de identificar mastite clínica e subclínica em bovinos através do exame de cultura e antibiograma, apontar qual a melhor conduta terapêutica a ser utilizada no tratamento, foram coletados e analisados 107 amostras de leite de bovinos nos meses de setembro e outubro de 2015, nas cidades de Aratiba, Campinas do sul, Centenário e Getúlio Vargas no norte do Alto Uruguai RS. As amostras foram acondicionadas em tubos de ensaio estéreis e levadas sob- refrigeração ao laboratório de bioquímica da Faculdade Ideau Getúlio Vargas RS, onde realizou-se a semeadura em meio de cultura Agar nutriente para o crescimento bacteriano, após 24 horas a confecção de lâminas histológicas e posterior teste de antibiograma das bactérias encontradas. Trinta e dois casos positivos para mastite subclínica foram encontrados, sendo que as bactérias foram Staphylococcus aureus (17 casos), Streptococcus agalactiae (10 casos), Corynebacterium spp. (4 casos) e Candida spp. (1 caso). O teste de antibiograma não teve crescimento de bactérias. Desta forma, este trabalho enfatiza a importância da mastite na produção leiteira, as perdas econômicas ocasionadas e a importância do seu controle e da sua prevenção, visando ganhos de produtividade.

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IDENTIFICAÇÃO DE BACTÉRIAS CAUSADORAS DE MASTITE E

TESTE DE SENSIBILIDADE AOS PRINCIPAIS ANTIBIÓTICOS

ARALDI, Jônatas Henrique¹

e-mail: [email protected]

CZECHOWSKI, Leonardo Dalpiva¹

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DELLAGOSTIN, Diego¹

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LISE, Mateus Roman¹

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VISENTINI, Ricardo Morgan¹

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WINTER, Luan Junior¹

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OLIVEIRA, Daniela dos Santos

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ALMEIDA, Mauro Antonio de²

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FACCIN, Angela²

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GOTTLIEB, Juliana²

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MAHL, Deise Luiza²

e-mail: [email protected]

OLIVEIRA, Franciele de²

e-mail: [email protected]

ROSÉS, Thiago de Souza²

e-mail: [email protected]

RITTER, Filipe²

e-mail: veteriná[email protected]

¹ Discentes do Curso de Medicina Veterinária, Nível 7 2016/1- Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS.

² Docentes do Curso de Medicina Veterinária, Nível 7 2016/1 - Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS.

RESUMO: A mastite bovina é uma doença de grande importância e frequência na pecuária leiteira, que leva a

inúmeras perdas econômicas e aumento nos custos de produção. É uma doença de aspectos multifatoriais,

decorrente da colonização do tecido secretor do úbere por agentes patogênicos. Geralmente ocorre por um

manejo incorreto na propriedade, como falta de higiene e más condições locais. Com objetivo de identificar

mastite clínica e subclínica em bovinos através do exame de cultura e antibiograma, apontar qual a melhor

conduta terapêutica a ser utilizada no tratamento, foram coletados e analisados 107 amostras de leite de bovinos

nos meses de setembro e outubro de 2015, nas cidades de Aratiba, Campinas do sul, Centenário e Getúlio Vargas

no norte do Alto Uruguai – RS. As amostras foram acondicionadas em tubos de ensaio estéreis e levadas sob-

refrigeração ao laboratório de bioquímica da Faculdade Ideau Getúlio Vargas – RS, onde realizou-se a semeadura em meio de cultura Agar nutriente para o crescimento bacteriano, após 24 horas a confecção de

lâminas histológicas e posterior teste de antibiograma das bactérias encontradas. Trinta e dois casos positivos

para mastite subclínica foram encontrados, sendo que as bactérias foram Staphylococcus aureus (17 casos),

Streptococcus agalactiae (10 casos), Corynebacterium spp. (4 casos) e Candida spp. (1 caso). O teste de

antibiograma não teve crescimento de bactérias. Desta forma, este trabalho enfatiza a importância da mastite na

produção leiteira, as perdas econômicas ocasionadas e a importância do seu controle e da sua prevenção, visando

ganhos de produtividade.

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Palavras-chave: Bovinos, Glândula Mamária, Perdas Econômicas, Antibiograma.

ABSTRACT: The bovine mastitis is a disease of great importance and frequency in dairy farming, which leads

to many economic losses and increased production costs. It is a disease of multifactorial aspects resulting from

the colonization of the secretory tissue of the udder by pathogens. Usually occurs by a mishandling on the property, such as poor hygiene and bad local conditions. To identify clinical and subclinical mastitis in cattle by

examining the culture and sensitivity, they were collected and analyzed 107 samples of bovine milk in the

months of September and October 2015, in the cities of Aratiba, south Campinas, Centenário and Getúlio Vargas

in northern Alto Uruguai - RS. The samples were placed in sterile test tubes and taken under-cooling the

biochemistry laboratory of the Faculty Ideau Getulio Vargas - RS, which was held on inoculation in agar nutrient

culture for bacterial growth after 24 hours the production of blades and subsequent histological antibiogram test

of bacteria found. Thirty two positive cases for subclinical mastitis were found, and the bacteria were

Staphylococcus aureus (17 cases) Streptococcus agalactiae (10 cases), Corynebacterium spp. (4 cases) and

Candida spp. (1 cases). The antibiogram test was no growth of bacteria. Thus, this work emphasizes the

importance of mastitis in dairy production, caused economic losses and the importance of their control and

prevention, targeting productivity gains.

Keywords: Cattle, Mammary gland, Economic Losses, Antibiogram.

1 INTRODUÇÃO

A mastite bovina é uma doença de grande importância e frequência na pecuária

leiteira, que ocasiona a inflamação da glândula mamária, levando a perdas econômicas por

reduzir a produção e a qualidade do leite, por aumentar os custos com mão de obra e

medicamentos veterinários, pelo menor preço pago ao leite pelos laticínios, além do descarte

precoce dos animais. É uma doença de aspectos multifatoriais, decorrente da colonização do

tecido secretor do úbere por agentes patogênicos (RIBEIRO et al., 2014).

Segundo Ribeiro et al., (2014), a inflamação faz com que as células de defesa do

animal (células somáticas) migrem para o interior do úbere para combater a infecção,

ocasionando o aumento da contagem de células somáticas (CCS), alterando a composição do

leite e reduzindo a sua produção e a sua qualidade.

Os problemas relacionados com a qualidade do leite, geralmente têm origem na

propriedade, devido à precariedade das instalações, armazenamento incorreto do produto, e à

falta de higiene da ordenha, mantendo a incidência de mastite elevada. As perdas relativas à

ocorrência da mastite são duas vezes mais elevadas que as perdas com infertilidade e doenças

reprodutivas (SCHUCH et al., 2009).

Para Radostits et al., (2002), a mastite provoca alterações físicas, químicas e

microbiológicas no leite produzido, as quais servem de critérios para a classificação da

enfermidade e indicativo de diagnóstico inicial da doença, vendo as alterações visuais diretas

no leite ordenhado (formação de grumos e alterações de cor) ou indiretas, percebidas através

do teste de CMT (California Mastitis Test).

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O CMT vem sendo usado como um método para detecção de mastite subclínica em

vacas. É um teste rápido e simples que estima a CCS no leite de amostras individuais ou

compostas dos quartos do animal (SARGEANT et al., 2001). Vários métodos de diagnósticos

podem ser empregados com o intuito de acompanhar a prevalência e incidência da mastite no

rebanho. Geralmente, a mastite clínica é detectada por observações visuais dos próprios

ordenhadores sobre condições anormais do leite e /ou do úbere das vacas. California Mastitis

Test (CMT), Winsconsin Mastitis Test (WMT) e a Contagem de Células Somáticas (CCS) são

métodos empregados para o diagnóstico da mastite subclínica (SILVA, 2006).

Fonseca et al., (2007) descrevem que esta infecção da glândula mamária pode ocorrer

de duas formas. Quando o ambiente está impróprio para o animal, ou seja, com acúmulo de

poeira, lama, fezes, urina e outras sujidades, caracterizando-se a mastite ambiental. Quando

animais doentes transmitem a infecção durante a ordenha através dos equipamentos de

ordenha ou das mãos do ordenhador, caracterizando-se a mastite contagiosa. De acordo com a

forma de manifestação da infecção, as mastites podem ser classificadas como sendo clínicas

ou subclínicas, sendo a forma mais prevalente a subclínica, e que causa maiores perdas

econômicas, representando de 5% a 25% da produção leiteira.

O controle da mastite bovina inclui a desinfecção dos tetos antes e após a ordenha, a

terapia da vaca seca, o adequado funcionamento do equipamento de ordenha, o tratamento de

todos os casos clínicos, o descarte/segregação das vacas cronicamente infectadas e

proporcionar um ambiente limpo, seco e confortável aos animais (FONSECA et al., 2007).

O presente trabalho tem como objetivo identificar mastite clínica e subclínica em

bovinos, e através do exame de cultura e antibiograma, apontar qual a melhor conduta

terapêutica a ser utilizada no tratamento.

2 MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizados 107 animais de raças Jersey e Holandês proveniente de cinco

propriedades da região do Alto Uruguai gaúcho, nas cidades de Aratiba (50 animais),

Campinas do sul (29 animais), Getúlio Vargas (12 animais) e Centenário (16 animais), nos

meses de setembro e outubro de 2015, com a finalidade de detectar mastite clínica e

subclínica nas amostras de leite.

A coleta do leite foi realizada na sala de ordenha, com os tetos e úberes previamente

higienizados com água, secados com papel toalha e desinfetados com pré-dipping (a base de

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ácido láctico 10g e clorehxidina 20%). Foram desprezados os dois primeiros jatos para evitar

a contaminação de bactérias externas e após feito o teste de CMT (California Mastitis Test)

conforme Sargeant et al., (2001). Nos animais positivos ao CMT (Figura 01) coletou-se 10

mL do leite em tubos de ensaio estéreis para serem analisados no laboratório de Análises

Clínicas da Faculdade IDEAU Getúlio Vargas - RS.

Figura 01: Placa de teste e produto CMT solução.

Fonte: Visentini, 2015.

Para o isolamento e identificação fúngica, o leite contaminado foi semeada em Agar

batata dextrose. Para o isolamento e identificação bacteriana, as amostras foram semeadas em

meio de cultura Agar nutriente preparado na placa de petri (Figura 02). Em cada placa foram

semeadas oito amostras diferentes, utilizando uma alça de platina que foi colocada no tubo de

ensaio com leite, e o mesmo semeado contendo o Agar. Estas manobras foram feitas em meio

estéril ao lado do bico de bunsen para evitar contaminação. Após, estas foram fechadas e

colocadas na estufa em temperatura de 37°C por 24 horas. As amostras que não cresceram

neste tempo ficaram mais 24 horas na estufa para ver se iriam crescer outros micro-

organismos conforme citado por Trabulsi (2008).

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Figura 02: Semeadura das bactérias em ágar nutriente.

Fonte: Dellagostin, 2015.

Após o crescimento das bactérias foi feito o teste de catalase (Figura 03), que consiste

em pegar uma colônia suspeita e misturá-la com uma a duas gotas de água oxigenada 10 vol

em uma lâmina de vidro. Se houver a presença da enzima (catalase), ocorre desdobramento de

peróxido de hidrogênio (H2O2) em oxigênio livre produzindo bolhas de ar, sendo a prova

positiva (SANTOS, 2011).

Figura 03: Teste de catalase.

Fonte: Araldi, 2015.

Para a coloração de Gram foi semeado uma colônia de bactérias na lâmina e

posteriormente foi feito a fixação por corante com o reagente cristal violeta (1 min), lavagem

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com água, lugol (1 min), lavagem, álcool-acetona (30 s), lavagem, e fucsina básica (20 s),

lavagem e após deixando secar. Essa técnica permite a classificação de amostras bacterianas

em gram-positivas e gram-negativas e a determinação da morfologia e do tamanho das

amostras analisadas (TRABULSI, 2008).

As lâminas confeccionadas foram observadas no microscópio óptico em 100X

visualizadas com auxílio de óleo de imersão para fazer a identificação das bactérias.

O antibiograma consiste numa técnica destinada à determinação da sensibilidade

bacteriana in vitro frente a principais agentes antimicrobianos (Figura 04). As bactérias foram

colhidas das suas placas, e semeadas em outra placa com Agar nutriente com auxilio de uma

alça de platina em meio estéril, e com a pinça foi colocado seis discos de antibióticos a base

de tetraciclina 30 (µg), amoxicilina/ácido clavulânico 30 (µg), neomicina 30 (µg),

gentamicina (10 µg), penicilina (10 µg), oxacilina (01 µg). Prontas, foram incubadas na estufa

á 37 °C por 24 horas para esperar o resultado de sensibilidade (OLPLUSTIL, 2010).

Figura 04: Processo do antibiograma.

Fonte: Winter, 2015.

Segundo Ribeiro et al., (2014), o tratamento com antimicrobianos deve ser selecionado

com base em testes de sensibilidade, pois o medicamento não age da mesma forma contra

todos os microorganismos. Um dos principais problemas no tratamento da mastite é a

resistência dos microorganismos, como conseqüência do uso indiscriminado e inadequado dos

medicamentos. Ao se fazer o isolamento do microorganismo envolvido nos casos de mastite,

pode-se instituir tratamento específico, conhecendo a sensibilidade e prevenindo casos de

resistência, levando a cronicidade da afecção, este seria um procedimento ideal, sempre que

depois de realizado tratamento e não se obteve resposta positiva.

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3 RESULTADOS E ANÁLISE

As análises microbiológicas das amostras demonstraram três espécies diferentes de

bactérias patogênicas a glândula mamária (Tabela 01). Das 107 amostras avaliadas,

apresentou-se frequência de 32 casos positivos (34,24%) de mastite subclínica, sendo que não

se obteve amostras de mastite clínica no teste de CMT. Os principais agentes identificados

foram Staphylococcus aureus 18,19%, Streptococcus agalactiae 10,7% e Corynebacterium

spp. 4,28%. Também foi encontrada uma amostra do fungo Candida spp 1,07% nas análises

realizadas.

Segundo estudos de Souza et al, (2009), observaram que 1.139 (30,3%) amostras não

apresentaram crescimento bacteriano e em 2.614 (69,7%) foi identificada a presença de pelo

menos um patógeno da mastite. Entre as amostras de leite que apresentaram crescimento

bacteriano, foram 826 (31,6%) para Corynebacterium spp.; 790 (30,2%) para Staphylococcus

aureus; 551 (21,1%) Streptococcus agalactiae.

Tabela 01: Principais agentes patogênicos causadores de mastite subclínica em amostras de

leite na região do Alto Uruguai - RS.

TIPOS DE

BACTÉRIAS

NUMERO DE CASOS

POSITIVOS

TESTE DE

CATALASE

PERCENTUAL DE

INFECÇÃO %

Staphylococcus aureus 17 Coagulase + 18,19 %

Streptococcus

agalactiae

10 Coagulase - 10,7 %

Corynebacterium spp

Candida sp.

4

1

Coagulase + 4,28%

1,07 %

TOTAL 32 34,24%

Em um estudo descrito por Souza et al., (2009) sobre a mastite subclínica em quatro

rebanhos, compostos por 118 vacas leiteiras e 468 quartos mamários, verificaram que o S.

aureus, foi isolado em 44,7% dos casos, sendo o agente etiológico mais frequente nas mastites

subclínicas corroborando com o presente estudo.

Nagahata et al., (2007) realizaram um estudo de mastite no sul de Hokkaido, Japão,

com 57 vacas da raça Holandesa e encontraram Staphylococcus aureus (12,8%),

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Estreptococcus coagulase negativo(12,8%), Corynebacterium bovis (16,7%) e os

estreptococos ambientais (4,0%).

Em rebanhos com contagens de células somáticas elevadas (ou com grande número de

quartos mamários com reações positivas no “California Mastitis Test” (CMT) conforme a

(Tabela 02), o problema, geralmente, é a alta prevalência de infecções subclínicas. Nestes

rebanhos, a avaliação das infecções presentes pode ser feita pela cultura de uma amostragem

de quartos mamários com base nos escores do CMT. O gasto com exames microbiológicos é

reduzido, mas pode não identificar animais infectados com patógenos primários que

apresentam baixa contagem de células somáticas ou resultados negativos no CMT (BRITO et

al., 1999).

Tabela 02: Resultados do CMT de 107 amostras de leite bovino oriundos da região do Alto

Uruguai.

Graduação do CMT Numero de animais %

Negativo 75 80,25

+ 9 9,63

++ 15 16,05

+++ 8 8,56

Ribeiro et al., (2011), levantaram a possibilidade da realização do CMT para a

estimativa da CCS do leite, sendo uma forma simplificada de verificar a qualidade do leite

recebido na plataforma do laticínio, auxiliando na sua destinação dentro da indústria.

A detecção e o tratamento dos animais com mastite subclínica, através do CMT, são

essenciais para a diminuição de perdas, pois se estima que para cada mastite clínica, ocorrem

35 de MS, que acarretam um prejuízo de 2,8 bilhões de litros de leite no Brasil por ano

(RIBEIRO et al., 2011).

3.1 Staphylococcus aureus

Conforme SOMMERHÄUSER et al., (2003) a mais importante fonte de infecção são

glândulas mamárias, ducto do teto colonizado, tetos lesionados, conjunto de teteiras, pano

comum para secar animais sendo o momento da ordenha o mais importante na transmissão

entre vacas.

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O Staphylococcus aureus é importante causa de infecção intramamária no rebanho

leiteiro. A sua transmissão é de vaca a vaca, por animais dentro do rebanho. A prevalência

como causador de mastite bovina pode estar relacionada aos mecanismos de resistência, tais

como a presença do biofilme nos equipamentos de ordenha, redução da susceptibilidade a

antimicrobianos, ao baixo percentual de cura durante a lactação e a presença deles tanto no

ambiente (fômites) quanto nos animais e no homem. Está tipicamente associado à infecção

persistente e duradoura. A maioria de suas infecções são subclínicas, geralmente não

detectadas (PICCININI, 2012).

Fatores ambientais tais como procedimentos de desinfecção, reposição de camas e

estado de higiene dos estábulos foram associados com o risco de mastite por S. aureus (Figura

05) em rebanhos leiteiros (SOMMERHÄUSER et al., 2003).

Figura 05: Staphylococcus aureus identificado por semelhança conforme CHAN et al., (2009).

Fonte: Dellagostin, 2015.

Algumas características de virulência contribuem para a persistência do S. aureus

no tecido mamário, destacando-se a produção de exotoxina, que provoca regiões de necrose e

fibrose e certa facilidade para surgimento de cepas resistentes, favorecido pelo uso

indiscriminado de antibióticos (BARBERIO et al., 2002).

São bactérias mesófilos típicos, se multiplicando bem em temperatura de 35°C, e pH

entre 4,2 e 9,3. O S. aureus está presente em mais de 50% das infecções da glândula mamária,

e é o patógeno mais importante da doença, graças a sua ampla distribuição geográfica

coerentemente, também o micro-organismo mais frequentemente isolado em leite cru. É o

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principal coagulase positivo, manitol e maltose positivos, formadores de colônias

pigmentadas, e produtores de toxinas (PICCININI, 2012).

Sabour (2004) observou que o S. aureus é capaz de invadir e se replicar dentro das

células epiteliais da glândula mamária bovina, podendo ser esse mecanismo um pré-requisito

para a infecção e uma forma de resistência no úbere durante o período em que o animal não

está em lactação, além de levar a resultados falso-negativo em exames bacteriológicos e

influenciar na eficácia dos antibióticos no tratamento da doença por esse micro-organismo,

capaz também de causar infecções intramamárias de longa duração, com tendência a

tornarem-se crônicas, com baixa cura e grande perda de produção de leite pelo quarto

acometido.

Segundo Fonseca et al., (2007), a bactéria possui uma grande capacidade de

penetração na glândula mamária, formando tecidos fibrosos, formando “bolsões” de bactérias,

que limita a ação dos antibióticos, caracterizando a infecção como de longa duração, crônica,

baixa taxa de cura.

A bactéria S. aureus esteve presente em 18,02% dos casos identificados de mastite

subclínica. Resultado semelhante foi encontrado por Oliveira et al,. (2011) que, estudando

mastite subclínica em vacas provenientes de rebanhos mestiços no Pará, encontraram uma

prevalência de 17,7%. Em proporções semelhantes, Santos et al., (2011) relataram uma

frequência de 18,7% para essa espécie bacteriana em casos de mastite na bacia leiteira de

Santa Isabel do Oeste, no Estado do Paraná.

Silva et al., (2010), analisando as cepas S. aureus, obteve a produção de coagulase

positiva em 72,5% dos casos trabalhando com rebanhos leiteiros da região Sul do Rio Grande

do Sul, resultado inferior ao encontrado neste trabalho, que foi de 100%.

Costa (2008) demonstra que, das 360 amostras consideradas como estafilococos

coagulase positiva, provenientes de rebanhos identificados com mastite na região Sul de

Minas Gerais, S. aureus foi identificado em 97,7% das vezes. A espécie também foi a

principal identificada por Santos et al., (2011), em 81% dos isolamentos, em vacas leiteiras do

Oeste do Paraná.

3.2 Streptococcus agalactiae

Streptococcus agalactiae é uma bactéria Gram positiva, catalase negativa que

apresenta morfologia de cocos agrupados em cadeias. É classificada como não móvel não

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formadora de esporo, anaeróbia facultativa (Figura 06). Esta bactéria produz hemolisinas

classificadas como beta ou gama hemolítica, que causam lise completa nos eritrócitos

(RAJAGOPAL et al., 2009).

Desde a década de 1930, é uma das principais espécies do gênero caracterizada por

colonizar múltiplos hospedeiros e se adaptar em diferentes sítios do corpo, incluindo aqueles

estéreis. A capacidade de multiplicação e colonização de diferentes ambientes depende da

expressão de genes relacionados à virulência (RAJAGOPAL et al.,2009).

Para Mendonça (2007) uma das mais importantes bactérias causadoras principalmente

da mastite subclínica, aquela que não apresenta sinais visíveis da inflamação, é o

Streptococcus agalactiae. É uma bactéria quase exclusiva da glândula mamária, ou seja, seu

ambiente ideal para colonização e multiplicação é o interior do úbere da vaca.

Figura 06: Streptococcus agalactiae identificado por semelhança conforme CHAN et al., (2009).

Fonte: Czechowski, 2015.

A infecção por este agente pode resultar em infecção clínica aguda até subclínica

crônica. O curso da infecção clínica é semelhante a da infecção crônica subclínica causada por

S. aureus, com ciclos de liberação de bactérias acompanhados de altas CCS. S. agalactiae

produz altas CCS em animais individuais, o que influencia significativamente na CCS do

rebanho, e ainda aumenta gastos com medicamentos e mão-de-obra, descarte de leite e

aumento na frequência de descarte involuntário de fêmeas (ALMEIDA, 2013).

No Brasil tem sido considerado um dos principais agentes etiológico da mastite bovina

com uma prevalência de 60% nos rebanhos. As taxas de isolamento variam entre 4,6% e

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28,05%. Desde 1999 Minas Gerais é atingido pela disseminação deste agente em 60% das

propriedades das regiões da Zona da Mata e Campos das Vertente (KEEFE, 2012).

Conforme Keefe, (2012) este foi o principal patógeno no período em que havia pouca

preocupação com higiene (antes, durante e pós ordenha). Em países onde a indústria leiteira é

emergente ele ainda é um dos principais problemas para os produtores de gado de leite. Na

América do Sul, a prevalência é de 60% no Brasil, 42% na Colômbia e de 11% no Uruguai.

A presença este agente em países onde os programas de controle estratégico contra a

mastite foram bem estabelecidos é indicativa de falhas no manejo e em programas de

biosseguridade. Nos últimos anos, entretanto, essa bactéria está sendo considerado um

patógeno reemergente nos rebanhos leiteiros da Europa (ALMEIDA, 2013).

Roesch et al., (2007) observaram de 72 casos com mastite subclínica houve uma

prevalência de 4,3% para a bactéria Streptococcus agalactiae. Estes dados corroboram com

Fonseca (2007), que submeteram 227 vacas procedentes de 64 propriedades de 14 municípios

das regiões norte e noroeste do estado do Rio de Janeiro ao CMT. Verificaram que dos 907

quartos examinados, 41,8% encontravam-se acometidos pela mastite subclínica, e 21,82% foi

encontrado S. agalactiae nessas amostras.

3.3 Corynebacterium spp.

Conforme Gonçalves (2012) as espécies do gênero Corynebacterium spp são

bastonetes Gram positivos, curtos, pleomórficos, imóveis, não esporulados, aeróbicos ou

anaeróbicos facultativos, catalases positivos e fermentadores (Figura 07).

Possuem parede celular, contendo ácidos graxos de cadeia longa, estão distribuídas em

uma ampla gama de ambientes ecológicos como: solo, esgoto e superfície de plantas, sendo

que algumas delas patógenos para os animais e o homem. C. bovis é a espécie mais prevalente

dentre as demais espécies do gênero (GONÇALVES, 2012).

A Corynebacterium spp. é uma bactéria frequentemente isolada de casos de mastite e

pode ser considerada como indicador da eficiência dos procedimentos de imersão das tetas

pré- e pós-ordenha, sendo um valioso indicador dos procedimentos de desinfecção nas

ordenhas. Portanto, o isolamento deste agente pode ser justificado pela ausência de medidas

higiênico-sanitárias na ordenha dos animais com mastite (RADOSTITS et al., 2002).

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Figura 07: Corynebacterium spp. identificado por semelhança conforme CHAN et al., (2009).

Fonte: Visentini, 2015.

A bactéria é uma das causas mais frequentes de mastite (20 a 30%), devido a sua

pouco patogênico e muito contagioso. Detectado principalmente na forma sub-clínica da

doença, o que de certa forma garante proteção a glândula mamária contra outras bactérias

patogênicas. Estas características determinam a classificação do agente como um agente

secundário (FONSECA et al., 2007).

Apresenta limitada virulência, determinando um pequeno aumento da CCS e acarreta

prejuízos econômicos, visto que deprecia a qualidade do leite. Geralmente as taxas de

isolamento deste patógeno são mais elevadas em rebanhos nos quais possuem falhas na

desinfecção dos tetos pré e pós a ordenha. Levantamentos realizados em rebanhos de

diferentes bacias leiteiras brasileiras apontaram prevalência para Corynebacterium spp. entre

9,3 e 55,19% (COSTA, 2005).

Radostits et al., (2002) identificaram bactérias do gênero Corynebacterium em todos

os 48 rebanhos estudados no Estado de Minas Gerais, sendo que em 24 deles, 21 a 40% dos

quartos mamários estavam infectados. Além de causar infecção em maior número de quartos

mamários, foi o agente mais frequentemente isolado em todos os rebanhos.

Troncarelli et al., (2011), analisaram 6066 amostras de leite provenientes de 20

propriedades localizadas no centro oeste do estado de SP, onde 1364 foram identificadas com

a presença de microrganismos, e destas 32% encontravam-se com Corynebacterium spp.

Em análise de 35 rebanhos leiteiros pertencentes a bacia da região sul do estado de

MG, e obteve amostras de leite de 1645 quartos mamários, sendo 238 oriundos de casos

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clínicos e as demais de casos subclinicos. Verificou-se o isolamento de Corynebacterium spp.

em 91,42% das propriedades, e 14,11% das amostras de leite analisadas com taxas de

isolamento que variaram de 0 a 59,25% e o envolvimento predominantemente nos casos

subclinicos (91,67%) (COSTA, 2005).

3.4 Candida spp.

As leveduras do gênero Candida (Figura 08) possuem distribuição universal, podendo

ser encontradas nos homens ou nos animais, como comensais ou patogênicas, no solo, na

água, nos vegetais, nos alimentos e em diversos ambientes. Vivem frequentemente em

saprobiose, mas em circunstâncias propícias podem desenvolver seu poder patogênico

(WAWRON & SZCZUBIAL, 2001).

Segundo Raven et al., (2001), as leveduras (o termo levedura é aplicado aos fungos

que se reproduzem principalmente por brotamento, raramente formam micélio rudimentar e

nunca o micélio bem desenvolvido) podem desempenhar importante papel na indústria de

produtos lácteos como a fermentação, mas que atuam também como patógenos oportunistas.

Dentre as leveduras isoladas de leite proveniente de vacas acometidas com mastite, as mais

frequentes são as do gênero Candida spp. Elas podem estar presentes no leite provenientes de

medicamentos contaminados para mastite, diluentes de antibióticos, oriundos da água de

lavagem dos equipamentos de ordenha, silagem ou ainda, das mãos do ordenhador.

Na mastite causada por Candida spp. é provável que a infecção seja por infusões

intramamárias ou pelo contato com o revestimento de teteiras, contaminadas. O

estabelecimento de infecções é favorecido por lesões no epitélio mamário devido à ação de

alguns antibióticos (penicilina e tetraciclina), que são fontes de nitrogênio para a levedura.

Altas taxas de isolamento das leveduras e elevados percentuais de amostras com crescimento

misto sugerem falhas no momento de coleta de amostras destinadas a análises

microbiológicas. Outro fato que pode justificar a presença do microrganismo no interior da

glândula mamária são as falhas por ocasião da medicação de animais clinicamente

acometidos, o que, ocasionalmente, tem sido relacionado como fator determinante de surtos

de grandes proporções (CRAWSHAW, 2005).

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Figura 08: Candida spp. identificado por semelhança conforme CHAN et al., (2009).

Fonte: Araldi, 2015.

A Candida spp. tem sido associada à mastite de bovinos, e em alguns casos,

predominando em relação às demais leveduras como o estudo de Costa, (2008) que

evidenciaram em 25,5% das amostras de leite analisadas em um dos rebanhos.

Segundo Radostits et al., (2002), as principais infecções na glândula mamária causadas

por leveduras, são causadas por Candida spp., Cryptococcus neoformans, Sacharomyces spp.

e Toluropsis spp.

Santos et al., (2005), em seu estudo selecionaram 40 rebanhos leiteiros localizados na

região Sul de Minas Gerais, Foi estabelecido que os rebanhos utilizados no estudo deveriam

empregar a ordenha mecânica e ter, pelo menos, 30 animais em lactação. Foi amostrado um

número mínimo de 15 animais de cada uma das propriedades. Nos estabelecimentos

selecionados para o estudo, 2.560 vacas lactantes foram submetidas ao (CMT) visando o

diagnóstico da mastite clínica e subclínica, avaliando assim 98,2% das amostras, pertencentes

ao gênero Candida.

Os dados disponíveis na literatura sobre a frequência de infecções intramamárias (IIM)

provocadas por leveduras apresentam grandes variações, encontrando-se índices variáveis

entre 0,1% e 17,3%, sendo também muito variáveis as taxas de infecções mistas envolvendo

estes agentes, em alguns casos com valores superiores a 50% (SANTOS et al., 2005).

Em São Paulo, Costa et al., (1993) observaram que 10% das 2.078 amostras de leite

correspondiam a leveduras, sendo 3,2% pertencentes ao gênero Candida. No Rio Grande do

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Sul, detectaram, em 896 amostras de leite infectado, a presença de Candida spp. em 1,3% da

amostragem, das quais 0,9% eram Candida albicans.

O teste de antibiograma realizado, não teve crescimento bacteriano para ver a

sensibilidade das bactérias aos antibióticos utilizados, provavelmente pelo tempo superior á

24 horas, que contaminou as placas com bactérias do ambiente impossibilitando o teste.

4 CONCLUSÃO

Os exames microbiológicos demonstraram 34,24% de mastite subclínica, sendo um alto

nível como já relatado na literatura utilizada. As bactérias foram Staphylococcus aureus,

Streptococcus agalactiae, Corynebacterium spp., e o fungo Candida spp. Estes são os

principais microorganismos isolados nesta patologia, e que trazem inúmeras perdas aos

produtores de leite. O teste de antibiograma não teve resultado pelo tempo excessivo esperado

para sua realização, ocorrendo assim uma contaminação das placas por bactérias do ambiente.

Estes altos números de casos de mastite demostram a importância da prevenção da mastite no

rebanho leiteiro, as grandes perdas econômicas que causa, e a diminuição na produtividade

leiteira que a mastite subclínica trás, mesmo sem demonstrar sinais visíveis ao olho do

produtor, sendo assim a principal dificuldade de sua identificação.

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