Ícones do retrato

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Docente responsável: Lia Cavaco Lamarão ÍCONES DO RETRATO

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Docente responsável: Lia Cavaco Lamarão

ÍCONES DO RETRATO

Várias foram as razões em que, ao longo da história, se

baseou a execução do retrato - alegorias religiosas ou

mitológicas, imagens de estatuto sócio - económico, crítica social

ou política, busca de identidade ou simples pesquisas formais.

Mesmo e principalmente nos dias de hoje, quando as formas de

que se reveste nem sempre o mostram, a representação do ser

humano continua a ser o conteúdo de muitas obras.

A AFIRMAÇÃO SOCIAL

Sendo uma forma de conquistar a eternidade para o retratado, ganhou importância na produção artística com a ascensão da burguesia que adquiriu poder económico e se tornou o grande mecenas da arte. O burguês procura, por um lado afirmar a sua importância no contexto em que vive e, por outro, conservá-la na posteridade. A tradição do retrato começou na antiguidade, significando a busca do conhecimento e do reconhecimento e esteve muito tempo restringido a uma parcela da sociedade, com mais poder económico, social e político.

Ser retratado, era uma forma de manifestar uma “mutabilidade social”, transformando-se num objecto quase de auxílio para a auto-afirmação.

Antes de surgir a fotografia, mandar pintar o retrato era um privilégio da aristocracia, significando dinheiro e poder.

Agnolo Bronzino , “Retrato de Eleonora de Toledo e o seu filho, 1550"

Óleo s/tela, 115x 96cm Galeria dos Uffizi , Florença, Itália

A fotografia, quando surgiu, constituiu um modo de

representação adequado às condições económicas e

ideológicas da época, ligada à afirmação social e à

necessidade de representação de si. Aparecem, dois

níveis de retrato além do fisionómico, o psicológico e o

social.

Também era um novo meio de registo, melhor equipado para representar a realidade com exactidão e para capturar disposições e momentos. O que o faz tomar um lugar de destaque na produção imagética a partir desta altura, acessível agora a todos.A fotografia foi adoptada em primeiro lugar pelas classes dominantes mas pouco a pouco foi-se estendendo às classes menos abastadas, constituindo assim um modo de figuração destas camadas sociais que nela encontram um modo de auto-representação novo.

Medeiros Margarida, “ Fotografia e Narcisismo”Ed,Assim& Alvim, p.55

O Retrato sempre foi um processo de construção de identidades, e torna-se o principal tema das primeiras fotografias, incidindo de vários modos no imaginário social. Segundo John Tagg, 1988:37 «O retrato é, antes de mais, um signo cujo propósito é simultaneamente a descrição de um indivíduo e a sua inscrição numa identidade social»Para Gisèlle Freund, o retrato «imediato» é um excelente suporte para a afirmação social.

Etiene Samain, “O Fotográfico” 2ª Edição, Ed.Hucitec ,p.266

Medeiros Margarida, “Fotografia e Narcisismo” Ed. Assim & Alvim, p.52

As pessoas tinham a necessidade de serem retratadas, procurando exibir um estatuto acima do seu. Estava-se num período de ostentação. O retrato tipifica-se, programado de antemão, procurando caracterizar-se tipos sociais. Conta mais o impacto que provoca, do que a expressão facial. Disdéri, retratista da época, vê-se obrigado a acrescentar símbolos que reflectiam prestígio e poder, e associando o retratado à sua profissão. Não se procurava a verdade da fotografia mas sim a promoção social.É de referir que, as condições fotográficas, no início, assemelhavam-se um pouco às da pintura, o sujeito ficava em pose durante muito mais tempo, realçavam-se-lhe os atributos, os acessórios, os sinais da sua função e do seu poder.

Nenhuma outra arte podia competir com a fotografia na representação fiel do rosto e do aspecto do homem, na representação da verosimilhança. A imitação mais perfeita possível do homem tornou-se um objectivo, uma qualidade estética necessária e, no início da fotografia, apenas alguns retratos, de Cameron ou Nadar, enveredam por uma pesquisa artística, mais de conteúdo e os temas passam a ser os homens ilustres da altura.

Nadar, fotografou todas as personalidades da época, mas as suas fotografias, pela pose que o corpo apresenta, apenas no rosto denotam algo que “acontece”.

Foi o criador da fotografia psicológica, tendo o seu maior destaque sido, com os retratos da actriz SarahBernhardt, fotografando-a inúmeras vezes em diversos estados de alma. Fotografou porém outros ilustres.

Nadar, Alexandre Dumas Nadar, Edouard Manet Nadar, Giacomo Rossini Nadar, Jules Verne

Nadar - Sarah Bernhardt – 1862

Nadar, Sarah Bernhardt

Cameron, Julia Jackson, 1866

Cameron, "I wait"

Cameron, Beatrice Cenci, May 1868

A partir de então o retrato vira-se para o conteúdo e para a evolução da técnica. Com Paul Strand, o homem do povo, a gente humilde, tornou-se protagonista do retrato, numa procura de realismo, de verdade, que já em Stieglitz e em Steichen, tivera os seus primeiros autores. Com Strand, dá-se uma reviravolta no conteúdo. Não se limita a substituir as pessoas de Nadar, mas também muda a sua atitude perante elas. O seu interesse não é pelo indivíduo em si, mas o homem como tipo representativo de uma determinada classe.

Paul Strand, “Blind Woman, 1916” Paul Strand, “Man in a Derby, 1917”

Outros fotógrafos porém, foram-lhe atribuindo também um conteúdo para além do retrato fisionómico verosimilhante e introduzem-lhe um factor de critica social, aos costumes, à politica, às crenças culturais, enfim.

August Sander, um pouco à semelhança de Strand,com retratos dominados por uma rigorosa pesquisa tipológica, inventaria uma população quase anónima, representando diferentes categorias de indivíduos, diferentes meios profissionais, sociais, étnicos, contribuindo de uma forma importante para o estudo da sociedade alemã. O seu modo de mostrar homens para fazer deles arquétipos universais, pode reencontrar-se noutros fotógrafos, como Irving Penn.

August Sander,” Jovens agricultores em fato de Domingo, 1913 Jungbauern”

August Sander, “Notar, Köln “1924

August Sander, Notar, Köln 1924

August Sander, Pastry Cook, 1928 August Sander, Painter, Anton Raderscheidt August Sander,” Varnisher, Cologne 1932

Irving Penn, Pablo Picasso, 1957 Irving Penn, Marlene Dietrich, 1950

Diane Arbus tinha um olho incomparável para o estranho, o feio, e tudo o que fugisse ao normal. Uma figura de culto da nova vaga sócio critica da fotografia documental do séc. XX, desenvolveu uma linguagem visual bastante imediata para retratar não só pessoas de esferas afastadas da aceitabilidade social, mas também os cidadãos semelhantes a máscaras, confortavelmente estabelecidos nas classes médias.

Diane Arbus, Jovem patriótico com bandeira, 1967

Weegee, criou quadros contorcidos, com os

trejeitos das celebridades famosas e divertia-se

com as estrelas da noite de Nova Iorque.

Weegee, Nikita Krushchev, 1959 Weegee, Samy`s in the Bowery, 1944

Ao mesmo tempo, o retrato passa a ser um meio de publicidade para carreiras artísticas, diplomáticas e políticas, desempenhando um papel decisivo no nascimento das “vedetas”.

Mas, foi a simplificação técnica do acto fotográfico,aliada a todos os progressos tecnológicos, que permitiu ao fotógrafo trabalhar e criar com maior espontaneidade, a nível plástico e a nível significante, o que centrou a fotografia no conteúdo da imagem. O fotógrafo pôde operar com mais liberdade acerca do sujeito e da sua representação.

Passa a poder trabalhar no ambiente do retratado, sem o “perturbar”. O significado da fotografia perder-se-ia, se “aquele momento” não fosse o capturado.

Cartier Bresson inventa estilos e princípios individuais. O seu interesse principal consistia em observar pessoas no seu dia-a-dia em circunstâncias de excepção, querendo ser testemunha e não actor, fotografando na periferia do acontecimento. Atingiu uma mestria imensa neste género e provou que não se trata de a máquina ver algo objectivamente, mas sim o olho do fotógrafo que subjectivamente compreende o “momento decisivo” e o capta. A sua influência é de importância fundamental para outros.

Bresson, “Shangaï 1949”

Bresson, “Rue Mouffetard, Paris” 1958

Avedon, mergulhou no mais profundo dos seus retratados, como se quisesse praticar um retrato interior, não para revelar uma sociedade, mas uma verdade humana, ir de encontro ao ser humano, sem procurar fazer uma imagem bonita. No seu trabalho de retratos, capta facetas inesperadas nas pessoas - desde a mundialmente famosa à mais desconhecida. Pratica um retrato de carácter, em oposição a um retrato social, renunciando a todo um efeito de encenação ou de estética, procurando ser fotograficamente o mais neutro possível. O branco de fundo sobre o qual se recorta o sujeito retratado é total, de tal forma que se confunde com o branco do papel. A definição da imagem é a máxima, a ponto de se poderem observar pormenores, no rosto ou até no vestuário. Apesar de mostrar uma obsessão pela objectividade da fotografia, negando qualquer aspecto estético ou plástico, os seus retratos são imediatamente reconhecíveis, precisamente por estes aspectos, que revelam. Exerce uma enorme influência na fotografia de moda.

Richard Avedon, Ezra Pound, 1958Richard Avedon, Brigite Bardot, 1959

Newman, também revela intenções semelhantes, procurando ir de

encontro ao ser humano, sem procurar fazer uma imagem bonita,

porém joga com o aspecto decorativo do ambiente do sujeito.

Fotografa sempre os modelos no seu ambiente, que para ele os

caracteriza, tanto quanto o seu rosto. Prova disso são os retratos de

Mondrian ou de Calder, entre outros que realizou.

Newman, Mondrian, 1942 Newman, Calder

Newman Marilyn Monroe

Giselle Freund, faz o retrato de Miterrand em 1981 e retratos de pequeno formato de Virgínia Woolf e outros escritores da época.

Graças a todos estes retratistas, temos hoje uma colecção de rostos das personalidades mais marcantes do nosso tempo.

A alteração, no início do século XX, de aspectos formais da representação, veio possibilitar várias leituras e várias formas de expressão no retrato do ser humano, que foi evoluindo e sofrendo transformações, fruto das novas experiências de vida e das novas experiências artísticas e tecnológicas.

Através do retrato, houve fotógrafos que demonstraram que a arte que praticavam permitia ultrapassar uma nova etapa na representação e portanto no conhecimento do ser humano. A relação íntima entre imagem e realidade, tão própria da fotografia, encorajou acima de tudo os artistas a utilizarem-na também para as suas visões imaginárias. Estavam ainda interessados em explorar o meio e os limites em si.

A fotografia torna-se um meio de ver o mundo de novo. Os fotógrafos foram estimulados pelo seu compromisso social e pela esperança de que as suas imagens pudessem iniciar algum tipo de mudança.

O retrato, ora se inscrevia no contexto de uma encomenda, ora respondia a uma iniciativa individual e livre. Uns, enveredaram pela fotografia numa perspectiva comercial, outros numa perspectiva mais artística e pessoal. Mas mesmo os fotógrafos cujo trabalho era encomendado, realizavam também retratos com um cunho pessoal e sensibilidade, evidentes. Muitos destes grandes fotógrafos passam a fazer fotografia de moda.

As vedetas ou personalidades por eles retratadas, são vítimas de uma personagem que é criada, pelo próprio fotógrafo, pela indústria associada ou pela sociedade e que, lhes oculta a maior parte das vezes, a sua verdadeira identidade. Os actores de cinema, por exemplo, são obrigados a fazer constantemente o mesmo tipo de papéis ou, os papéis a que interessa associá-los.

Philippe Halsman, Marilyn Monroe

G. Hoyningen-Huene, Lee Miller

G. Hoyningen-Huene, Greta Garbo, 1951G

Hoyningen-Huene, Marlene Dietrich

Yousuf Karsh, Audrey Hepburn

Cecil Beaton, Princesa Natalie Paley, 1930

Cecil Beaton Marilyn Monroe, 1956

Yousuf Karsh, Fidel

Jean Dieuzaide, Dali na água, 1953

Alfred Eisenstead, Marilyn Monroe,

1953

Gertrude Stern, Nabokov

Mas muitas vezes, as fotografias das personalidades que produzem maior impacto, são feitas de um modo espontâneo, chegando o fotógrafo a actuar sem o conhecimento dos sujeitos retratados. Veja-se o exemplo dos paparazzi.

As imagens da publicidade, com maior efeito sedutor sobre o consumidor, passam a ser as fotográficas, mais realistas. Alguns fotógrafos célebres, dedicam-se a ela. Mas, se no início os fotógrafos tinham liberdade de criação, como ManRay, alguns tornaram-se com o tempo meros executores das ideias de outros.

Man Ray, Lee Miller, 1929

MaNnRay, Coco Chanel, 1935/36

Man Ray, Pablo Picasso, 1932-1933

Na segunda metade do século XX, o retrato torna-se ostentoso, devido às necessidades dos jornais e das revistas, cujas capas são frequentemente o retrato de uma personalidade.Yosuf Karsh, foi um dos que fez desfilar diante da sua objectiva, todas as personalidades proeminentes do seu tempo. O retrato que fez de Churchill, em 1941, assegurou a sua fama.

Yosuf Karsh, WinstonChurchill

Philippe Halsman, foi um dos fotógrafos de retrato mais original e inventivo. Concebeu um método original e cheio de humor para “captar a essência do ser humano”. Pedia aos seus modelos para saltarem e disparava nesse momento. O jumping, permitiu fotografias espantosas. Publica uma famosa série de fotografias de personalidades proeminentes como Nixon ou Dali a dar saltos. Aplica também a fotomontagem, combinando por exemplo a cabeça de Mao Zedong com o rosto de MarylinMonroe, dois arquétipos do século XX.

As principais orientações foram assim traçadas por Strand, Bresson, Avedon, Man-Ray, ficando outros por mencionar. Os fotógrafos que se lhes seguiram, o que fizeram foi enriquecer e desenvolver o património fotográfico do retrato, podendo verificar-se que este não mudou muito, apesar da evolução das técnicas, uma vez

que, o essencial se mantém.

Vejam-se os retratos de celebridades de AnnieLeibovitz ou La Chapelle, por exemplo.

Annie Leibovitz, Angelina Jolie, 2005

Annie Leibovitz, Angelina Jolie

Annie Leibovitz, James Gandolfini as Tony Soprano and series creator David Chasewith “a friend” on the April Sopranos cover.

Annie Leibovitz, the June issue of Vanity Fair hitsnewstands on May 1st Photo: Vanity Fair

La Chapelle

La Chapelle, Angelina Jolie

La Chapelle, David Beckam

Fim

Outros fotógrafos, outras personalidades:

Serge Moreno Cohen, Richard Avedon, 1994

Serge Moreno Cohen, Jasper Johns, 1986

Mert Alas & Marcus Piggot, Natalie Portman

Mary Ellen Mark, Nicole Kidman

BIBLIOGRAFIA:

LIVROS E SITES

AMAR, Pierre-Jean, História da fotografia, edições 70, Lisboa

ARCARI, Antoni, A fotografia - as formas, os objectos, o homem, Edições 70, Lisboa

BAURET, Gabriel, A fotografia, edições 70, 2006 Lisboa

Etiene Samain, “O Fotográfico” 2ª Edição, Ed.Hucitec ,2005

Fotografia do século XX, museu Ludwig de Colónia, Taschen, 2001

Fotografia do século XX, museu Ludwig de Colónia, Taschen, 1998

KOETZE, Hans-Michael, Photo Icons, The story behind the pictures, Taschen

Medeiros Margarida, “ Fotografia e Narcisismo”Ed,Assim& Alvim, 2000

Acedido em 27 de Janeiro de 2009, em:

http--img_dailymail_co_uk-i-pix-2007-04_03-queenALMS0505_468x453_jpg no Google.mht

http--www_vanityfair_com-images-magazine-2007-12-masl11_yearinphotos0712_jpg no Google.mht

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http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://maryt.files.wordpress.com/

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