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Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Serviço de Psiquiatria da Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Serviço de Psiquiatria da Infância e da Adolescência. Departamento de Psiquiatria e Infância e da Adolescência. Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Medicina Legal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul Coordenação Coordenação : Maria Lucrécia Zavaschi : Maria Lucrécia Zavaschi Equipe Equipe : Flávia Marisa de Camargo Costa, Carla Brunstein, Claudia : Flávia Marisa de Camargo Costa, Carla Brunstein, Claudia Helena Helena Gobbi Estrella, Cristian Patrick Zeni, Fernanda Driemeier, Gobbi Estrella, Cristian Patrick Zeni, Fernanda Driemeier, Fernanda Niendicker Fernanda Niendicker Caldas Jardim, Gabriela Ribeiro Filipouski, Caldas Jardim, Gabriela Ribeiro Filipouski, Marília Rodrigues dos Santos, Marília Rodrigues dos Santos, Maristela Wenzel, Marta Maria Maristela Wenzel, Marta Maria Osório Alves, Natália Kapczinski, Solanger Osório Alves, Natália Kapczinski, Solanger Graciana Paulão Graciana Paulão Perrone, Tatiana Valverde da Conceição, Victor Mardini Perrone, Tatiana Valverde da Conceição, Victor Mardini

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Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Serviço de Psiquiatria da Infância e da Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Serviço de Psiquiatria da Infância e da Adolescência. Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Universidade Adolescência. Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Universidade

Federal do Rio Grande do SulFederal do Rio Grande do Sul

CoordenaçãoCoordenação: Maria Lucrécia Zavaschi: Maria Lucrécia Zavaschi

EquipeEquipe: Flávia Marisa de Camargo Costa, Carla Brunstein, Claudia : Flávia Marisa de Camargo Costa, Carla Brunstein, Claudia Helena Helena Gobbi Estrella, Cristian Patrick Zeni, Fernanda Driemeier, Gobbi Estrella, Cristian Patrick Zeni, Fernanda Driemeier, Fernanda Niendicker Fernanda Niendicker Caldas Jardim, Gabriela Ribeiro Filipouski, Caldas Jardim, Gabriela Ribeiro Filipouski, Marília Rodrigues dos Santos, Marília Rodrigues dos Santos, Maristela Wenzel, Marta Maria Maristela Wenzel, Marta Maria Osório Alves, Natália Kapczinski, Solanger Osório Alves, Natália Kapczinski, Solanger Graciana Paulão Graciana Paulão Perrone, Tatiana Valverde da Conceição, Victor MardiniPerrone, Tatiana Valverde da Conceição, Victor Mardini

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Violência Contra a CriançaViolência Contra a Criança

Existe, em nível mundial, uma preocupação Existe, em nível mundial, uma preocupação crescente com a promoção e prevenção da crescente com a promoção e prevenção da saúde mental da população infantil. saúde mental da população infantil.

O conhecimento acerca do desenvolvimento O conhecimento acerca do desenvolvimento humano desde a vida intra-uterina, passando humano desde a vida intra-uterina, passando por todas as etapas subseqüentes, vem por todas as etapas subseqüentes, vem demonstrando que o período de zero a três demonstrando que o período de zero a três anos é de crucial importância com relação à anos é de crucial importância com relação à saúde ou patologia mental futura.saúde ou patologia mental futura.

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Violência Contra a CriançaViolência Contra a Criança

““BEBÊ É ENCONTRADO BEBÊ É ENCONTRADO BOIANDO DENTRO DE BOIANDO DENTRO DE SACO PLÁSTICO EM BH” SACO PLÁSTICO EM BH”

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Violência Contra a CriançaViolência Contra a Criança

Em entrevista a revista “Isto É”, Simone Em entrevista a revista “Isto É”, Simone descreve: “quando nasci, fui dada pela minha descreve: “quando nasci, fui dada pela minha mãe biológica a uma outra família”. Fui fruto de mãe biológica a uma outra família”. Fui fruto de um romance do meu pai com uma amante. um romance do meu pai com uma amante. Simone busca trilhar o mesmo caminho de seu Simone busca trilhar o mesmo caminho de seu pai quando soube que ela tinha sido entregue a pai quando soube que ela tinha sido entregue a outra família. “Ele entrou na Justiça um ano e outra família. “Ele entrou na Justiça um ano e meio depois que nasci e conseguiu me ter de meio depois que nasci e conseguiu me ter de volta”. volta”.

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Violência Contra a CriançaViolência Contra a Criança

RELATO DE CASO:RELATO DE CASO:

Andréa é a primeira filha de seus pais, ambos com 31 anos de idade, com um Andréa é a primeira filha de seus pais, ambos com 31 anos de idade, com um relacionamento de cinco anos de duração. A menina foi fruto de uma gestação relacionamento de cinco anos de duração. A menina foi fruto de uma gestação desejada e  planejada pelo casal. Nasceu a termo, em boas condições de saúde desejada e  planejada pelo casal. Nasceu a termo, em boas condições de saúde e  mamou no peito até os três meses. No entanto, apresentou refluxo gastro-e  mamou no peito até os três meses. No entanto, apresentou refluxo gastro-esofágico até os seis meses e problemas respiratórios desde os oito meses, esofágico até os seis meses e problemas respiratórios desde os oito meses, sem maior gravidade ou necessidade de hospitalização. O acompanhamento da sem maior gravidade ou necessidade de hospitalização. O acompanhamento da saúde da criança era  realizado nas instituições de saúde pública sempre que saúde da criança era  realizado nas instituições de saúde pública sempre que procuradas pela família.procuradas pela família.

O pai tinha história de uso abusivo de álcool e de substâncias psicoativas, O pai tinha história de uso abusivo de álcool e de substâncias psicoativas, tornando-se violento eventualmente. Após o nascimento de Andréa, a mãe tornando-se violento eventualmente. Após o nascimento de Andréa, a mãe passou a sofrer agressões físicas e verbais do esposo, o que, segundo ela, passou a sofrer agressões físicas e verbais do esposo, o que, segundo ela, motivou a separação do casal quando a menina tinha por volta de um ano de motivou a separação do casal quando a menina tinha por volta de um ano de idade. Andréa permaneceu aos cuidados da mãe, que logo foi residir com um idade. Andréa permaneceu aos cuidados da mãe, que logo foi residir com um novo companheiro, um homem de 35 anos, a quem Andréa passou a conhecer novo companheiro, um homem de 35 anos, a quem Andréa passou a conhecer como pai.    como pai.   

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Violência Contra a CriançaViolência Contra a Criança

Quando foi encaminhada para atendimento com a Psiquiatria Quando foi encaminhada para atendimento com a Psiquiatria Infantil, Andréa apresentava história de duas internações Infantil, Andréa apresentava história de duas internações recentes em diferentes hospitais por hematomas e nódulos recentes em diferentes hospitais por hematomas e nódulos dolorosos pelo corpo e face que apareciam e desapareciam dolorosos pelo corpo e face que apareciam e desapareciam espontaneamente, além de distensão abdominal, e alterações espontaneamente, além de distensão abdominal, e alterações do humor e comportamento. do humor e comportamento.

Na segunda destas internações, no Hospital da Clínicas de Na segunda destas internações, no Hospital da Clínicas de Porto Alegre, a menina foi extensamente investigada por Porto Alegre, a menina foi extensamente investigada por equipes clínicas pediátricas, entre elas de gastro-enterologia, equipes clínicas pediátricas, entre elas de gastro-enterologia, hematologia, oncologia, neurologia. A partir destas hematologia, oncologia, neurologia. A partir destas investigações, não foi encontrada alteração orgânica que investigações, não foi encontrada alteração orgânica que justificasse o quadro. justificasse o quadro.

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Violência Contra a CriançaViolência Contra a Criança

Embora a família negasse qualquer tipo de violência ou acidente Embora a família negasse qualquer tipo de violência ou acidente que a criança tivesse sofrido, os dados clínicos sugeriam maus que a criança tivesse sofrido, os dados clínicos sugeriam maus tratos. A menina apresentava estudo radiológico que mostrava tratos. A menina apresentava estudo radiológico que mostrava várias fraturas em costelas em ambos os lados e em várias fraturas em costelas em ambos os lados e em localizações diversas não necessariamente sofridas na mesma localizações diversas não necessariamente sofridas na mesma ocasião. ocasião.

Quando confrontada, a família negava história de qualquer Quando confrontada, a família negava história de qualquer traumatismo nas regiões afetadas, e solicitava maior traumatismo nas regiões afetadas, e solicitava maior investigação para dar outro esclarecimento às queixas da investigação para dar outro esclarecimento às queixas da menina. menina.

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Violência Contra a CriançaViolência Contra a Criança

Nesta segunda internação, a família foi esclarecida que por motivo Nesta segunda internação, a família foi esclarecida que por motivo de segurança e por não haver nenhuma conclusão do que, ou de de segurança e por não haver nenhuma conclusão do que, ou de quem, causou as lesões em Andréa, ela e sua família deveriam quem, causou as lesões em Andréa, ela e sua família deveriam realizar acompanhamento ambulatorial no ambulatório de Interação realizar acompanhamento ambulatorial no ambulatório de Interação Pais-Bebê, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Pais-Bebê, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Durante uma das situações de atendimento semanal a equipe Durante uma das situações de atendimento semanal a equipe observou que a criança mostrava-se com aparência apática e observou que a criança mostrava-se com aparência apática e lesões corporais atribuídas pelos familiares a acidentes domésticos, lesões corporais atribuídas pelos familiares a acidentes domésticos, informação que não era compatível com o que era observado. informação que não era compatível com o que era observado. Apesar do desacordo inicial da família, a equipe indicou nova Apesar do desacordo inicial da família, a equipe indicou nova internação hospitalar, visando proteção e investigação e teve o internação hospitalar, visando proteção e investigação e teve o apoio da Promotoria da Infância e do Conselho Tutelar. apoio da Promotoria da Infância e do Conselho Tutelar.

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O trabalho interdisciplinar teve seguimento, sendo novamente O trabalho interdisciplinar teve seguimento, sendo novamente mobilizada  a equipe de saúde com pediatras, psiquiatras, mobilizada  a equipe de saúde com pediatras, psiquiatras, neuropediatras, psicólogos, assistentes sociais e enfermeiras, que neuropediatras, psicólogos, assistentes sociais e enfermeiras, que acompanharam os membros da  família individualmente e em conjunto, acompanharam os membros da  família individualmente e em conjunto, por meio de entrevistas sistemáticas, avaliações psicológicas e por meio de entrevistas sistemáticas, avaliações psicológicas e psiquiátricas específicas com a menina e familiares, além das psiquiátricas específicas com a menina e familiares, além das avaliações clínicas que já vinham sendo realizadas. avaliações clínicas que já vinham sendo realizadas.

A observação da atividade lúdica espontânea da menina evidenciava A observação da atividade lúdica espontânea da menina evidenciava conteúdo agressivo e intensa mudança de comportamento na presença conteúdo agressivo e intensa mudança de comportamento na presença da mãe e do padrasto, com expressão de tristeza, medo e completa da mãe e do padrasto, com expressão de tristeza, medo e completa apatia. Desse acompanhamento resultou a impressão de que Andréa apatia. Desse acompanhamento resultou a impressão de que Andréa sofria constantes agressões físicas e psicológicas por parte destes. Os sofria constantes agressões físicas e psicológicas por parte destes. Os avós maternos que já haviam sido contatados pela equipe e avós maternos que já haviam sido contatados pela equipe e mostravam-se adequadamente preocupados e dispostos a esclarecer a mostravam-se adequadamente preocupados e dispostos a esclarecer a situação de Andréa, participaram do processo de avaliação. situação de Andréa, participaram do processo de avaliação.

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Foram, então, convocados pelo Ministério Público que determinou que ficassem Foram, então, convocados pelo Ministério Público que determinou que ficassem responsáveis judicialmente pela criança, decisão que acataram, apesar das responsáveis judicialmente pela criança, decisão que acataram, apesar das tentativas da mãe e do padrasto para impedir o cumprimento de tal tentativas da mãe e do padrasto para impedir o cumprimento de tal determinação.determinação.

Andréa continuou recebendo atendimento psicoterápico individual e o vínculo Andréa continuou recebendo atendimento psicoterápico individual e o vínculo no Ambulatório de Interação Pais-Bebê e com o Serviço Social foi mantido, bem no Ambulatório de Interação Pais-Bebê e com o Serviço Social foi mantido, bem como a supervisão do Conselho Tutelar e do Ministério Público, permanecendo como a supervisão do Conselho Tutelar e do Ministério Público, permanecendo o trabalho contínuo e integrado entre as diferentes equipes técnicas. Andréa o trabalho contínuo e integrado entre as diferentes equipes técnicas. Andréa seguiu em tratamento psicoterápico. seguiu em tratamento psicoterápico.

A mãe e o padrasto não procuraram estabelecer novo contato com a menina e A mãe e o padrasto não procuraram estabelecer novo contato com a menina e ela continuou sob os cuidados dos avós. O curso de seu desenvolvimento foi ela continuou sob os cuidados dos avós. O curso de seu desenvolvimento foi retomado e Andréa passou a apresentar características desenvolvimentais retomado e Andréa passou a apresentar características desenvolvimentais apropriadas para a sua idade. Não foram mais evidenciados sinais de maus apropriadas para a sua idade. Não foram mais evidenciados sinais de maus tratos, além das seqüelas deixadas pelos traumas anteriores.tratos, além das seqüelas deixadas pelos traumas anteriores.

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Violência Contra a CriançaViolência Contra a Criança

Alguns dados epidemiológicos:Alguns dados epidemiológicos:

A violência contra a criança é de ocorrência mais comum do que a maioria das pessoas A violência contra a criança é de ocorrência mais comum do que a maioria das pessoas acredita, bem como, também é uma das maiores responsáveis por um certo número de acredita, bem como, também é uma das maiores responsáveis por um certo número de seqüelas emocionais.seqüelas emocionais.

OMS estima que 40 milhOMS estima que 40 milhõões de crianes de criançças no mundo de zero a 14 anos são vítimas de as no mundo de zero a 14 anos são vítimas de abuso.abuso.

No Brasil, a violência contra crianças e adolescentes é a primeira causa de morte na faixa No Brasil, a violência contra crianças e adolescentes é a primeira causa de morte na faixa etária de cinco a dezenove anos e a segunda no período de um a quatro anos. (Guia de etária de cinco a dezenove anos e a segunda no período de um a quatro anos. (Guia de atuação frente a maus tratos na infância e adolescência - Sociedade Brasileira de Pediatria atuação frente a maus tratos na infância e adolescência - Sociedade Brasileira de Pediatria e Fundação Oswaldo Cruz,2001)e Fundação Oswaldo Cruz,2001)

Em 2001 morreram 2000 crianças vítimas de maus-tratos nos EUA, uma média de cinco a Em 2001 morreram 2000 crianças vítimas de maus-tratos nos EUA, uma média de cinco a seis crianças por dia. Destas 85% tinham idade inferior a seis anos, 44% com menos de um seis crianças por dia. Destas 85% tinham idade inferior a seis anos, 44% com menos de um ano. (University of Oklahoma Health Sciences Center)ano. (University of Oklahoma Health Sciences Center)

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Teóricos do apego tem argüido que Teóricos do apego tem argüido que relações de apego precoce tem um relações de apego precoce tem um

papel central para o papel central para o desenvolvimento, desenvolvimento, com as relações de com as relações de apego seguro apego seguro ligadas com ligadas com desenvolvimentos positivos desenvolvimentos positivos e as relações e as relações de apego inseguro de apego inseguro estando ligadas estando ligadas com desenvolvimentos com desenvolvimentos negativos. negativos.

Feerick, Haugaard, Hien, 2002Feerick, Haugaard, Hien, 2002

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Bowlby (1969/1982,1973,1980) Bowlby (1969/1982,1973,1980) teorizou que rupturas nas relações teorizou que rupturas nas relações de de apego precoce levariam a apego precoce levariam a dificuldades de ajustamento e dificuldades de ajustamento e problemas com auto-regulação, problemas com auto-regulação, bem bem como dificuldades em como dificuldades em relações inter-relações inter-pessoais futuras.pessoais futuras.

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Apoiando esta visão, um número de Apoiando esta visão, um número de estudos tem indicado que os estudos tem indicado que os

maus-tratos de crianças estão maus-tratos de crianças estão associados com relações de apego associados com relações de apego

inseguros em ambos crianças e inseguros em ambos crianças e adultos.adultos.

Feerick, Haugaard, Hien, 2002Feerick, Haugaard, Hien, 2002

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Violência Contra a CriançaViolência Contra a Criança

Pesquisas tem sugerido que o apego Pesquisas tem sugerido que o apego inseguro pode ser um fator de risco inseguro pode ser um fator de risco para vitimização e perpetração da para vitimização e perpetração da violência.violência.

Feerick, Haugaard, Hien, 2002Feerick, Haugaard, Hien, 2002

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APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:

O contato inicial entre o bebê e seu cuidador, quando bem O contato inicial entre o bebê e seu cuidador, quando bem sucedido, possibilita a esse último compreender e atender às sucedido, possibilita a esse último compreender e atender às necessidades específicas deste bebê a partir dos sinais verbais necessidades específicas deste bebê a partir dos sinais verbais (choro e outros sons) e não verbais (movimentos corporais, (choro e outros sons) e não verbais (movimentos corporais, regulação fisiológica, sorriso, olhar) que emite, na medida em regulação fisiológica, sorriso, olhar) que emite, na medida em que este adulto esteja emocionalmente disponível para que este adulto esteja emocionalmente disponível para estabelecer uma ligação afetiva com ele, uma interação. estabelecer uma ligação afetiva com ele, uma interação.

Tais comportamentos interativos constituem a base para o Tais comportamentos interativos constituem a base para o apegoapego propriamente dito que, por sua vez, orienta a propriamente dito que, por sua vez, orienta a estruturação psíquica do indivíduo. estruturação psíquica do indivíduo.

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APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:

Bowlby (1989) afirmou que o bebê sente segurança Bowlby (1989) afirmou que o bebê sente segurança em seus cuidadores a partir de experiências precoces em seus cuidadores a partir de experiências precoces de cuidado sensível e adequadamente responsivo. de cuidado sensível e adequadamente responsivo.

Pode assim confiar em sua própria capacidade de Pode assim confiar em sua própria capacidade de sinalizar, pois sabe que seus sinais são sinalizar, pois sabe que seus sinais são compreendidos e que deles se originarão respostas compreendidos e que deles se originarão respostas apropriadas a suas necessidades decodificadas por apropriadas a suas necessidades decodificadas por seu cuidador (Lewis, 1995). seu cuidador (Lewis, 1995).

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APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:

Para que uma ligação afetiva sólida ocorra Para que uma ligação afetiva sólida ocorra efetivamente e o apego seguro se efetivamente e o apego seguro se estabeleça, é fundamental o desenvolvimento estabeleça, é fundamental o desenvolvimento de um ciclo mútuo de atenção e afeição entre de um ciclo mútuo de atenção e afeição entre o bebê e seu cuidador principal, em geral a o bebê e seu cuidador principal, em geral a mãe, sendo que o que afeta a um deles mãe, sendo que o que afeta a um deles desencadeia reação no outro (Brazelton, desencadeia reação no outro (Brazelton, 1962, 1988, 1994). 1962, 1988, 1994).

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APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:

Freud (1938), na medida em que dava início ao Freud (1938), na medida em que dava início ao desenvolvimento da teoria e da técnica desenvolvimento da teoria e da técnica psicanalítica, preocupava-se com as relações psicanalítica, preocupava-se com as relações primitivas do ser humano como um dos principais primitivas do ser humano como um dos principais aportes de futuras relações. Discorreu sobre "a aportes de futuras relações. Discorreu sobre "a importância única, sem paralelo, de uma mãe, importância única, sem paralelo, de uma mãe, estabelecida inalteravelmente para toda a vida estabelecida inalteravelmente para toda a vida como o primeiro e mais forte objeto amoroso e como o primeiro e mais forte objeto amoroso e como protótipo de todas as relações amorosas como protótipo de todas as relações amorosas posteriores" posteriores"

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APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:

Bion (1962/1991) acrescentou o conceito de Bion (1962/1991) acrescentou o conceito de revèrie, revèrie, atentando para a capacidade da mãe de atentando para a capacidade da mãe de receber e decodificar os sinais e ansiedades de receber e decodificar os sinais e ansiedades de seu bebê, traduzindo-os para ele de maneira que seu bebê, traduzindo-os para ele de maneira que lhes fiquem mais compreensíveis e suportáveis, lhes fiquem mais compreensíveis e suportáveis, oferecendo-se, assim, como suporte ao seu oferecendo-se, assim, como suporte ao seu aparato mental em construção.aparato mental em construção.

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Violência Contra a CriançaViolência Contra a Criança APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:

O termo O termo preocupação materna primáriapreocupação materna primária criada por Winnicott criada por Winnicott (1956/2000), descreve um período de extrema sensibilidade, (1956/2000), descreve um período de extrema sensibilidade, especialmente no final da gestação e nas primeiras semanas especialmente no final da gestação e nas primeiras semanas pós-parto, é sustentado por uma pré-disposição orgânica pós-parto, é sustentado por uma pré-disposição orgânica decorrente de alterações hormonais próprias deste momento de decorrente de alterações hormonais próprias deste momento de vida da mulher. vida da mulher. Tal estado dá à mãe a capacidade de adaptar-se de forma Tal estado dá à mãe a capacidade de adaptar-se de forma sensitiva às necessidades do bebê, compreendendo seus sinais sensitiva às necessidades do bebê, compreendendo seus sinais e oferecendo-lhe uma provisão ambiental e oferecendo-lhe uma provisão ambiental suficientemente boasuficientemente boa, , com desejos atendidos, limites gradativamente estabelecidos e com desejos atendidos, limites gradativamente estabelecidos e sensação de realidade presente. sensação de realidade presente.

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APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:

Em estudos realizados com recém-nascidos e bebês Em estudos realizados com recém-nascidos e bebês muito jovens foram identificadas funções mentais e muito jovens foram identificadas funções mentais e emocionais precoces que evidenciam um aparelho emocionais precoces que evidenciam um aparelho mental em atividade e capaz de registrar e recordar mental em atividade e capaz de registrar e recordar necessidades e sentimentos gerados na interação necessidades e sentimentos gerados na interação entre esses bebês e seus cuidadores (Acquarone, entre esses bebês e seus cuidadores (Acquarone, 1987; Osofsky, 1987; Stern, 1992; Brunstein e Tiellet 1987; Osofsky, 1987; Stern, 1992; Brunstein e Tiellet Nunes, 2003). Nunes, 2003).

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Violência Contra a CriançaViolência Contra a Criança

APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:

A interação com a mãe, ou substituto, é o que dá A interação com a mãe, ou substituto, é o que dá sentido a cada gesto devido a sua atenção conjunta sentido a cada gesto devido a sua atenção conjunta com o bebê em torno de objetivos comuns, já que a com o bebê em torno de objetivos comuns, já que a aprendizagem depende do contexto afetivo em que aprendizagem depende do contexto afetivo em que ocorrem as primeiras experiências de contato com o ocorrem as primeiras experiências de contato com o ambiente externo (Golse, 1998, 2000) ambiente externo (Golse, 1998, 2000)

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Violência Contra a CriançaViolência Contra a Criança

APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:

Conforme já observado e documentado por Conforme já observado e documentado por Brazelton (1988), importante estudioso do Brazelton (1988), importante estudioso do desenvolvimento do apego, os bebês recém-nascidos desenvolvimento do apego, os bebês recém-nascidos possuem habilidades que configuram competências possuem habilidades que configuram competências inatas para buscar o seio da mãe, diferenciar o seu inatas para buscar o seio da mãe, diferenciar o seu cheiro e a sua voz da de outras mulheres, bem como cheiro e a sua voz da de outras mulheres, bem como seus batimentos cardíacos e, assim, tranqüilizar-se seus batimentos cardíacos e, assim, tranqüilizar-se no contato com ela.  no contato com ela. 

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Violência Contra a CriançaViolência Contra a Criança

APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:

As capacidades perceptivas do bebê permitem-lhe As capacidades perceptivas do bebê permitem-lhe interagir com o ambiente desde o nascimento, interagir com o ambiente desde o nascimento, captando informações. Tais capacidades são tão captando informações. Tais capacidades são tão precoces que já nas primeiras semanas de vida precoces que já nas primeiras semanas de vida extra-uterina  o bebê reage acompanhando com o extra-uterina  o bebê reage acompanhando com o olhar um objeto que se move a sua frente e, olhar um objeto que se move a sua frente e, especialmente, o rosto de seu cuidador, sendo que especialmente, o rosto de seu cuidador, sendo que aos dois meses já faz contato ocular nítido. aos dois meses já faz contato ocular nítido.

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Violência Contra a CriançaViolência Contra a Criança

APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:

O rosto humano associado ao afeto materno apresenta vários O rosto humano associado ao afeto materno apresenta vários estímulos simultaneamente, abrindo caminho para conexões estímulos simultaneamente, abrindo caminho para conexões neuronais que dão significado ao som proveniente da voz, às neuronais que dão significado ao som proveniente da voz, às percepções táteis  e aos movimentos originados no contato percepções táteis  e aos movimentos originados no contato físico, às diferentes expressões faciais e, enfim, à possibilidade físico, às diferentes expressões faciais e, enfim, à possibilidade de olhar e ser olhado e de se criar um espaço de comunicação de olhar e ser olhado e de se criar um espaço de comunicação interativa primitiva. interativa primitiva. Essa forma de comunicação, em condições normais, mais Essa forma de comunicação, em condições normais, mais adiante, desencadeará a comunicação verbal, reflexo da adiante, desencadeará a comunicação verbal, reflexo da capacidade de perceber o cuidador como alguém separado e do capacidade de perceber o cuidador como alguém separado e do desejo e necessidade de interagir com ele por meio de outros desejo e necessidade de interagir com ele por meio de outros recursos já mais amadurecidos.  recursos já mais amadurecidos. 

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APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:

Ao mesmo tempo, o Ao mesmo tempo, o comportamento de apegocomportamento de apego detectável desde o nascimento, detectável desde o nascimento, expressa a atitude manifesta pelo bebê em busca de cuidado e proteção de um expressa a atitude manifesta pelo bebê em busca de cuidado e proteção de um cuidador específicocuidador específico que o ampara. que o ampara.

Quando a interação segue um curso exitoso, com intensidade e continuidade Quando a interação segue um curso exitoso, com intensidade e continuidade suficientes, torna-se prazerosa para ambos, bebê e cuidador, também suficientes, torna-se prazerosa para ambos, bebê e cuidador, também contribuindo para um desenvolvimento mental sadio. contribuindo para um desenvolvimento mental sadio.

Ainda que o Ainda que o comportamento de apegocomportamento de apego pareça ser um movimento um tanto pareça ser um movimento um tanto quanto sofisticado para um bebê que acaba de nascer, atualmente, mais do que quanto sofisticado para um bebê que acaba de nascer, atualmente, mais do que nunca, sabe-se que esse comportamento não apenas pode ser identificado pelo nunca, sabe-se que esse comportamento não apenas pode ser identificado pelo observador atento, como também constitui o principal estímulo para que a mãe observador atento, como também constitui o principal estímulo para que a mãe (ou substituto) mantenha o investimento afetivo no seu bebê. (ou substituto) mantenha o investimento afetivo no seu bebê.

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Violência Contra a CriançaViolência Contra a Criança

APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:

Entretanto, quando uma das partes falha, a troca afetiva é dificultada. Entretanto, quando uma das partes falha, a troca afetiva é dificultada. Se o bebê não consegue sinalizar suas necessidades desde o Se o bebê não consegue sinalizar suas necessidades desde o nascimento, o que pode ocorrer por diferentes motivos clínicos nascimento, o que pode ocorrer por diferentes motivos clínicos (limitações causadas por alterações genéticas, doenças congênitas, (limitações causadas por alterações genéticas, doenças congênitas, condições clínicas impostas por complicações pré, peri e/ou pós natais, condições clínicas impostas por complicações pré, peri e/ou pós natais, nascimentos de risco em geral) e ambientais (condições de pobreza, nascimentos de risco em geral) e ambientais (condições de pobreza, doença mental dos progenitores, falta de rede de apoio adequada), doença mental dos progenitores, falta de rede de apoio adequada), levando a dificuldades de auto-regulação fisiológica e de ajuste levando a dificuldades de auto-regulação fisiológica e de ajuste psicológico, a mãe poderá sentir dificuldades para compreender o seu psicológico, a mãe poderá sentir dificuldades para compreender o seu bebê, intensificando-se um sentimento natural de dúvida sobre a sua bebê, intensificando-se um sentimento natural de dúvida sobre a sua capacidade de ser mãe-cuidadora daquela criança. capacidade de ser mãe-cuidadora daquela criança.

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APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:

Para uma mãe frágil emocionalmente, Para uma mãe frágil emocionalmente, sem uma rede de apoio suficiente, sem uma rede de apoio suficiente, especialmente um companheiro especialmente um companheiro presente, esse sentimento tende a se presente, esse sentimento tende a se tornar ainda mais intenso, podendo tornar ainda mais intenso, podendo instalar-se uma importante limitação instalar-se uma importante limitação para compreender todos os sinais do para compreender todos os sinais do bebê bebê

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Violência Contra a CriançaViolência Contra a Criança

APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:

Por outro lado, para o bebê que procura sinalizar com os Por outro lado, para o bebê que procura sinalizar com os recursos que dispõe e não obtém resposta, o sentimento de recursos que dispõe e não obtém resposta, o sentimento de abandono passa a ser o correspondente maior de suas abandono passa a ser o correspondente maior de suas investidas. investidas. Se o bebê não encontra um cuidador substituto previsível, Se o bebê não encontra um cuidador substituto previsível, estável emocionalmente e que lhe permita a continuidade das estável emocionalmente e que lhe permita a continuidade das trocas afetivas pela garantia de sua presença física e trocas afetivas pela garantia de sua presença física e psicológica, a tendência é de que perca a esperança na psicológica, a tendência é de que perca a esperança na correspondência de afeto e deixe de investir, ou seja, de emitir correspondência de afeto e deixe de investir, ou seja, de emitir sinais, comportamentos de apego para ser cuidado. sinais, comportamentos de apego para ser cuidado.

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APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:

Não há espaço mental compartilhado entre ele e a mãe para Não há espaço mental compartilhado entre ele e a mãe para que se desenvolva um apego seguro que lhe possibilite que se desenvolva um apego seguro que lhe possibilite movimentos exploratórios em direção ao crescimento, pois seu movimentos exploratórios em direção ao crescimento, pois seu olhar, seus gestos, seus sons não adquirem significado. olhar, seus gestos, seus sons não adquirem significado. O resultado dessa falta de sintonia afetiva poderá ser o O resultado dessa falta de sintonia afetiva poderá ser o estabelecimento de formas de apego instáveis, causadoras de estabelecimento de formas de apego instáveis, causadoras de grandes ansiedades para o bebê, incrementadas a cada novo grandes ansiedades para o bebê, incrementadas a cada novo desafio imposto pelo processo evolutivo e, portanto, deixando desafio imposto pelo processo evolutivo e, portanto, deixando sua marca nas relações interpessoais ao longo da vida. sua marca nas relações interpessoais ao longo da vida.

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APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:

Quando o bebê experimenta cuidados de qualidade Quando o bebê experimenta cuidados de qualidade inconsistente ou esporádica, ou se o cuidado que recebe é inconsistente ou esporádica, ou se o cuidado que recebe é regular em freqüência mas sempre insensível, a tendência é  regular em freqüência mas sempre insensível, a tendência é  que estabeleça apegos inseguros com conseqüências sobre o que estabeleça apegos inseguros com conseqüências sobre o curso do desenvolvimento das relações interpessoais curso do desenvolvimento das relações interpessoais subseqüentes  (Lewis, 1995). subseqüentes  (Lewis, 1995).

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APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:

No extremo da impossibilidade da construção de um apego No extremo da impossibilidade da construção de um apego seguro pela falta de responsividade contínua e estável da mãe, seguro pela falta de responsividade contínua e estável da mãe, ou do cuidador substituto, o bebê poderá até mesmo desistir de ou do cuidador substituto, o bebê poderá até mesmo desistir de viver (Spitz, 1954/1980), pois se a sua vida não faz sentido para viver (Spitz, 1954/1980), pois se a sua vida não faz sentido para o outro e dela não pode obter o prazer da interação, de procurar o outro e dela não pode obter o prazer da interação, de procurar e encontrar, de ser procurado e ser encontrado, da continência e encontrar, de ser procurado e ser encontrado, da continência afetiva, do desejo de conhecimento, da certeza de poder ir e vir, afetiva, do desejo de conhecimento, da certeza de poder ir e vir, a vida fica pobre, tão pobre que não há porque vivê-la. a vida fica pobre, tão pobre que não há porque vivê-la.

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APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:APEGO AFETIVO E DESENVOLVIMENTO:

As neurociências têm demonstrado que é nos três primeiros As neurociências têm demonstrado que é nos três primeiros anos de vida extra-uterina que as conexões cerebrais anos de vida extra-uterina que as conexões cerebrais acontecem com maior intensidade e rapidez, atingindo o seu acontecem com maior intensidade e rapidez, atingindo o seu ápice nos primeiros meses, quando se instalam os primórdios ápice nos primeiros meses, quando se instalam os primórdios da capacidade de desenvolvimento do  sistema de apego. da capacidade de desenvolvimento do  sistema de apego. Falhas significativas na interação afetiva com a figura de Falhas significativas na interação afetiva com a figura de apego-mãe ou outro cuidador principal-, nesse período, podem apego-mãe ou outro cuidador principal-, nesse período, podem impedir a preservação dessas conexões essenciais para o impedir a preservação dessas conexões essenciais para o processo de desenvolvimento da criança em diferentes áreas. processo de desenvolvimento da criança em diferentes áreas.

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Desenvolvimento cerebralDesenvolvimento cerebral

2° mês de gestação 250 mil neurônios imaturos são 2° mês de gestação 250 mil neurônios imaturos são produzidos por minutoproduzidos por minuto

Nascimento 100 bilhões de neurônio de um cérebro maduro Nascimento 100 bilhões de neurônio de um cérebro maduro (> aumento no número e crescimento entre a 25ª semana de (> aumento no número e crescimento entre a 25ª semana de gestação e os primeiros meses após o nascimento)gestação e os primeiros meses após o nascimento)

Um neurônio pode ter de 5 a 100 mil conexões sinápticasUm neurônio pode ter de 5 a 100 mil conexões sinápticas A multiplicação dos dendritos e conexões sinápticas ocorre A multiplicação dos dendritos e conexões sinápticas ocorre

nos últimos meses da gestação e dos 6 meses aos 2 anos de nos últimos meses da gestação e dos 6 meses aos 2 anos de vida vida

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Desenvolvimento cerebralDesenvolvimento cerebral

O cérebro no nascimento tem apenas 25% de seu futuro peso O cérebro no nascimento tem apenas 25% de seu futuro peso adulto de 1,5Kgadulto de 1,5Kg

Ele atinge quase 70% desse peso até os 3 anos.Ele atinge quase 70% desse peso até os 3 anos. Aos 6 anos ele tem quase o tamanho adulto, mas o Aos 6 anos ele tem quase o tamanho adulto, mas o

crescimento e o desenvolvimento funcional de partes crescimento e o desenvolvimento funcional de partes específicas do cérebro continuam durante a idade adulta específicas do cérebro continuam durante a idade adulta (diferenciação – cada neurônio assume uma estrutura e (diferenciação – cada neurônio assume uma estrutura e função específica) –permitindo um funcionamento cognitivo função específica) –permitindo um funcionamento cognitivo motor ´mais flexível e mais avançadomotor ´mais flexível e mais avançado

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Desenvolvimento cerebralDesenvolvimento cerebral

Inicialmente o cérebro produz mais neurônios e sinapses que Inicialmente o cérebro produz mais neurônios e sinapses que do que necessitado que necessita

Aqueles que não são utilizados ou que não funcionam bem se Aqueles que não são utilizados ou que não funcionam bem se extinguem, através de um processo de morte celular (poda) extinguem, através de um processo de morte celular (poda) com o objetivo de criar um sistema nervoso eficientecom o objetivo de criar um sistema nervoso eficiente

O número de sinapses pode atingir o máximo em torno dos 2 O número de sinapses pode atingir o máximo em torno dos 2 anos de idade, e sua eliminação continua até a adolescência.anos de idade, e sua eliminação continua até a adolescência.

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O cérebro de um embrião produz muito mais neurônios, ou células nervosas, do que necessita, e elimina os excessos.

O cérebro de um embrião produz muito mais neurônios, ou células nervosas, do que necessita, e elimina os excessos.

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Os neurônios sobreviventes prolongam os axônios. Nas terminações dos axônios são lançados vários ramos que conectam com muitos alvos.

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Pequenas explosões de atividade elétrica fortalecem estas conexões, enquanto outras (que não foram reforçadas por atividade) atrofiam.

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Após o nascimento, o cérebro experiência um segundo arranco de crescimento, quando os axônios (que enviam sinais) e os dendritos (que recebem-nos) explodem com novas conexões.Atividade elétrica,acionadas por uma inundação de sensações nervosas, afinam o circuito cerebral determinando quais conexões serão mantidas e quais serão podadas.

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