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Copyright © 2007 by Eric Hobsbawm Título original Globalisation, democracy and terrorism Capa Hélio deAlmeida Foto de capa A fachada sul da torre sul (World Trade Center, Nova York), de Joel Meyerowitz. Cortesia da Galeria Edwynn Houk. Preparação Cacilda Guerra Revisão Ana Maria Barbosa Valquíria Delia Pozza índice remissivo Luciano Marchiori Dados Internacionais dc Catalogação na Publicação (ctp) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Hobsbawm, Eric, 1917- Globalização, democracia e terrorismo / Eric Hobsbawm ; tradução losé Viegas.—São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Título original: Globalisation, democracy and terrorism ISBN 978-85-359-1130-5 í. Globalização - Aspectos sociais 2. Globalização - Aspectos políticos 3. Mudança social4. Terrorismo 1. Título. 07-8664 CDD-327.1 índice para catálogo sistemático: 1. Globalização: Aspectos pulíticos: Ciência política 327.1 [2008] Todos os direitos desta edição reservados à EDITORA SCHWARCZ LTDA. Rua Bandeira Paulista 702 cj. 32 04532-002 — São Pauio — SP Telefone (11) 3707-3500 Fax (11) 3707-35™ www.companhiadasletras.com.br

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Copyright © 2007 by Eric Hobsbawm

Título original

Globalisation, democracy and terrorism

Capa

Hélio deAlmeida Foto de capa

A fachada sul da torre sul (World Trade Center, Nova York), de Joel Meyerowitz. Cortesia da Galeria Edwynn Houk. Preparação Cacilda Guerra Revisão Ana Maria Barbosa Valquíria Delia Pozza

índice remissivo Luciano Marchiori

Dados Internacionais dc Catalogação na Publicação (ctp) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Hobsbawm, Eric, 1917-Globalização, democracia e terrorismo / Eric Hobsbawm ;

tradução losé Viegas.—São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

Título original: Globalisation, democracy and terrorism ISBN 978-85-359-1130-5

í. Globalização - Aspectos sociais 2. Globalização - Aspectos políticos 3. Mudança social4. Terrorismo 1. Título.

07-8664 CDD-327.1

índice para catálogo sistemático: 1. Globalização: Aspectos pulíticos: Ciência política 327.1

[2008]

Todos os direitos desta edição reservados à EDITORA SCHWARCZ LTDA.

Rua Bandeira Paulista 702 cj. 32 04532-002 — São Pauio — SP Telefone (11) 3707-3500

Fax (11) 3707-35™ www.companhiadasletras.com.br

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8 . 0 t e r r o r

A natureza do terror político mudou no final do século xx? Comecemos com o inesperado aumento da violência em uma ilha até então pacífica, Sri Lanka, compartilhada por uma maioria de cingalesés budistas (cuja religião e cuja ideologia são altamente hostis à violência) e uma minoria tâmil, cujos membros migraram a partir do Sul da índia séculos atrás e também acorreram à ilha como mão-de-obra para os cultivos de exportação no final do século xix. (O hinduísmo que eles professam tampouco é pro-penso à violência.) O movimento antiimperialista no Sri Lanka não tinha grande militância nem era particularmente efetivo e o país conquistou a liberdade mansamente—na verdade, como um subproduto da independência da índia. No seu tempo de colônia, o Sri Lanka tinha um Partido Comunista diminuto e, curiosa-mente, um Partido Trotskista muito mais forte, ambos liderados por pessoas cultas e afáveis, membros da elite ocidentalizada e ambos, como bons marxistas, avessos ao terrorismo. Não havia tentativas de insurreição. Após a independência, o país tomou um rumo moderadamente socialista, que trouxe excelentes resultados

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para o bem-estar e a expectativa de vida da população. Em síntese, para os padrões asiáticos, o Sri Lanka era, antes da década de 1970, uma rara ilha de civilidade, como a Costa Rica e (também até a década de 1970) o Uruguai na América Latina. Hoje, o país se afoga em sangue.

Os tâmeis, minoria de 25% da população, sobre-representada nas profissões mais intelectuais, desenvolveram um ressentimento compreensível contra um regime cingalês que, na década de 1950, decidiu trocar o inglês pelo cingalês como língua oficial do governo. Na década de 1970, um movimento separatista tâmil, não sem o apoio de um estado do Sul da índia, desenvolveu organiza-ções armadas, antecessoras do atual grupo de libertação Tigres Tâmeis, que vem conduzindo uma guerra civil efetiva desde mea-dos da década de 1980. Eles são mais conhecidos como os grandes pioneiros — e provavelmente os maiores operadores — dos ho-mens-bombas. Apropósito, sua ideologia é secularista, sem a usual motivação religiosa. Os tâmeis não têm força suficiente para fazer a secessão e o Exército do Sri Lanka é demasiado fraco para der-rotá-los em termos militares. A intransigência de parte a parte ensejou a continuação da guerra, apesar de várias tentativas (índia, Noruega) de promover um acordo.

Enquanto isso, duas coisas aconteceram na sociedade cinga-lesa majoritária. Tensões etnolingüísticas criaram uma forte rea-ção cingalesa, que tomou a forma de uma ideologia baseada no budismo e em um conceito de superioridade racial, uma vez que a língua cingalesa é indo-européia ("ariana"). Curiosamente, esse racismo está na tradição da índia hinduísta e, na verdade, no Sri Lanka, como no Paquistão, o velho sistema de castas ainda pode ser observado por baixo da superfície igualitária oficial. Ao mesmo tempo, no início da década de 1970, o Front de Liberação do Povo [Janatha Vimukthi Peramuna — jvp], um grupo de esquerda baseado principalmente na juventude cingalesa culta que não

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encontrava empregos convenientes e em idéias castristas com toques de maoísmo, além de um grande ressentimento contra a velha elite sociopolítica, organizou uma importante insurreição, a qual foi derrotada com certa dureza, o que levou muitos jovens à prisão por algum tempo. A partir dos vestígios dessa rebelião juve-nil, ao estilo de maio de 1968, surgiu uma organização militante e terrorista baseada sobretudo no campo e que modulava o maoís-mo original com um apaixonado chauvinismo cingalês racista e budista. Na década de 1980, o jv? organizou uma campanha de assassinatos sistemáticos contra adversários políticos, que trans-formou a política em uma atividade de alto risco. (A recém-saída presidente do Sri Lanka viu seu pai, ex-primeiro-ministro, e seu marido serem assassinados na sua frente e perdeu um olho em ten-tativas similares de assassinato contra ela própria.) O terror tam-bém foi usado sistematicamente para impor o controle sobre as aldeias e vilas do interior.

Tal como no caso do movimento maoísta Sendero Luminoso, no Peru, na década de 1980, é impossível saber até que ponto o JVP tinha apoio popular inicial, até que ponto esse apoio se esvaiu por causa do terror e até que ponto, por outro lado, o terror foi contra-balançado pêlo ressentimento contra a repressão governamental e gerou ceticismo a respeito dos revolucionários. Duas coisas são claras. O JVP tinha apoio de massa em setores da população traba-lhadora rural cingalesa, cujos membros cultos propiciavam-lhe os quadros; e o JVP praticava muitos assassinatos, na maior parte das vezes protagonizados por um conjunto de pessoas que na América Latina seriam chamados sicários, ou assassinos de encomenda. O assalto do JVP ao poder foi derrotado da mesma maneira, ou seja, em processo equivalente às "guerras sujas" latino-americanas, que visavam à eliminação dos chefes e dos quadros rebeldes. Estima-se que, até meados da década de 1990, cerca de 60 mil pessoas tenham perdido a vida nesses conflitos. Desde suas origens, no final da

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década de 1960, o JVP tem estado ora dentro, ora fora do esquema da política oficial no país.

Parece evidente que o Sri Lanka é apenas u m exemplo do notável aumento da violência política na última parte do século xx, assim como da sua mutação. Outro exemplo, ainda mais importante, é a ascensão e a justificação teórica dos assassinatos indiscriminados como uma forma de terrorismo de grupos pequenos. Com raras exceções, essa prática fora condenada pelos movimentos terroristas mais antigos e evitada por movimentos recentes, como o ETA, na Espanha, e o IRA Provisório, na Irlanda do Norte. No mundo muçulmano, as justificativas teológicas — por exemplo, a permissão de matar como "apóstata" qualquer pessoa que viva fora de uma forma de ortodoxia altamente restritiva — parecem ter sido revividas no começo da década de 1970 por um grupo extremista pré-Al-Qaeda que se separou da já tradicional Irmandade Muçulmana, no Egito. O decreto religioso daassesso-ria religiosa de Osama bin Laden que autorizou o assassinato de inocentes só foi emitido em 1992.1

A questão do "porquê" é demasiado ampla para este ensaio, além de ser difícil desemaranhá-la de um aumento generalizado, nas sociedades ocidentais, dos níveis de aceitação da violência e da ação não-institucional, tanto em imagens quanto na realidade. Isso se segue a um longo período em que, na maior parte dessas sociedades, a expectativa era de que a civilização propiciasse o declínio permanente dessas manifestações.

7 Seria tentador dizer que a violência social generalizada e a vio-lência política não têm nada a ver uma com a outra, uma vez que alguns dos piores surtos de violência política podem ocorrer em países com notável tradição de nãó-violência política e social, como Sri Lanka e Uruguai. Todavia, as duas não podem manter-se sepa-radas em países de tradição liberal, quando mais não seja porque esses são os países em que a violência política não oficial destacou-

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se no terço final do século xx, assim como, em conseqüência, a con-traviolência do Estado, usualmente maior/Países ditatoriais ou autoritários deixam pouca margem para isso enquanto permane-cem no poder, do mesmo modo que oferecem pouco campo de ação para atividades políticas não-ofiçiais e nâo-violentas/

O aumento da violência em geral faz parte do processo de bar-barização que tomou força no mundo desde a Primeira Guerra Mundial e que focalizei em outros trabalhos. Seu progresso é par-ticularmente notável nos países com Estados fortes e estáveis e ins-tituições políticas liberais (em teoria), em que o discurso público e as instituições políticas distinguem apenas dois valores absolutos e mutuamente exçludentes — a "violência" e a "não-violência". Essa foi uma outra forma de estabelecer a legitimidade do mono-pólio da força coercitiva por parte do Estado nacional, que acom-panhou o desarmamento da população civil nos países desenvol-vidos no século xix, com exceção dos Estados Unidos, que, por conseguinte, toleraram um grau maior de violência na prática, embora não em teoria. Desde o final da década de 1960, os Estados perderam em parte esse monopólio de poder e de recursos e per-deram também algo mais do sentido de legitimidade que faz com que os cidadãòs respeitem a lei. Isso basta para explicar em grande medida o aumento da violência.,/

A retórica liberal nunca foi capaz de reconhecer que nenhu-ma sociedade opera sem algu ma violência na política—ainda que na forma quase simbólica de piquetes de greve ou de demonstra-5

ções de massa—e que a violência tem graus e regras, como todos sabem em sociedades onde ela faz parte do tecido das relações sociais e como a Cruz Vermelha Internacional tenta constante-mente fazer recordar aos barbarizados beligerantes do século xxi.'

7A casuística teológica ou legal da Al-Qaeda e dos defensores da "rendição" é necessária precisamente porque as regras tradicio-nais que eles quebram—as restrições do Corão ao assassinato e a

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repulsa à tortura — têm raízes muito profundas. Mas, quando as sociedades ou grupos sociais que não estão acostumados a um grau elevado de violência social vêem-se envolvidos por ela, ou quando as regras da normalidade se rompem nas sociedades tra-dicionalmente violentas, os limites estabelecidos para o emprego ou para o grau da violência podem desaparecer. É minha impres-são, por exemplo, que as rebeliões camponesas tradicionais, se se leva em conta o caráter relativamente brutal da vida e do compor-tamento rural, normalmente não são particularmente sangrentas — e em geral são menos sangrentas do que a repressão que sofrem./

iNas ocasiões em que elas derivaram em massacres ou atrocidades, quase sempre essa atitude foi dirigida contra pessoas específicas, ou categorias de pessoas e propriedades — por exemplo, contra casas de pessoas abastadas —, enquanto qutras eram especificamente poupadas por terem boa reputação^Os atos de violência não eram arbitrários, pois quase se pode dizer que faziam parte de um ritual determinado pela ocasião f^ão foi a revolução de 1917, e sim a guerra civil na Rússia que gerou os massacres rurais naquele país/ Mas, quando os freios ao comportamento costumeiro falham, os resultados podem ser terríveis. Uma das razões pelas quais os nar-cobandidos colombianos tiveram tanto êxito nos Estados Unidos, creio eu, foi o fato de que em sua luta contra os rivais eles deixaram de seguir a velha convenção machista de não matar as mulheres e os filhos dos adversários,!

/jÉssa degeneração patológica da violência política aplica-se tanto a forças insurgentes quanto às do Estado. Ela resulta tanto da anomia crescente da vida dos centros urbanos, especialmente entre os jovens, quanto da disseminação da cultura da droga e da posse privada de armasÁo mesmo tempo, o declínio da velha ins-tituição do recrutamento militar e o surgimento de soldados pro-fissionais em tempo integral — em particular das forças especiais de elite—anulam as inibições de homens que p ermanecem essen-

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cialmente civis e não têm o espírito corporativo dos agentes do Estado dedicados apenas ao uso da força. Enquanto isso, ocorreu uma abolição virtual dos limites convencionais que se aplicavam ao que pode ser mostrado, dito e escrito em uma imprensa onipre-sente e onienvolvente/Ás imagens, os sons e as palavras que descre-

r e m a violência em suas formas extremas fazem parte da vida coti-diana, e os controles sociais que se antepunham à prática dessa violência ficaram, em conseqüência, enfraquecidos^Na Rússia soviética — ou pelo menos nas cidades que dispunham de dados criminológicos adequados —, algo entre 80% e 85% dos homicí-dios eram praticados sob influência do álcool. Hoje já não se pre-cisa desse süpressor de inibições,//

i/Êxiste, no entanto, um fator mais perigoso na geração da vio-lência sem limites. É a convicção ideológica, que desde 1914 domina tanto os conflitos internos quanto os internacionais,

de que a causa que se defende é tão justa, e a do adversário é tão terrí-vel, que todos os meios para conquistar a vitória e evitar a derrota não só são válidos como necessários. Isso significa que tanto os Estados quanto os insurgentes sentem ter uma justificativa moral 'para o barbarismo. Viu-se na década de 1980 que jovens militan-tes do Sendero Luminoso podiam perfeitamente matar dezenas e dezenas de camponeses sem nenhum problema de consciência: afinal, eles não estavam se comportando como indivíduos que agissem com base em sentimentos pessoais a respeito do que ocor-ria, mas como soldados dedicados a uma causa .^ampouco os homens do Exército ou da Marinha que treinavam recrutas na prá-tica de técnicas de tortura nos corpos de prisioneiros políticos eram necessariamente sádicos e embrutecidos em sua vida pri-vada. Tal como os ss, que eram efetivamente punidos em casos de assassinatos particulares, ao mesmo tempo que eram treinados para cometer assassinatos em massa com toda a calma,3 isso tornou suas atividades mais, e não menos, condenáveis/^ ascensão do

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megaterror no século passado não reflete "a banalidade do maT, e sim a substituição dos conceitos morais por imperativos superio-res. No entanto, pelo menos inicialmente, o caráter imoral desses procedimentos pode ser reconhecido, como nos regimes militares da América Latina, quando podia acontecer de todos os militares argentinos de uma unidade serem obrigados a tomar par te em ses-sões de tortura, para que entre eles se criasse um vínculo de cum-plicidade em torno do que já então era considerado uma infâmia coletiva. Pode-se temer que a aceitação da tortura tenha se tornado tão rotineira que essas medidas já não precisem sér tomadas no século x x i /

yA ascensão da barbárie tem sido contínua, mas não uniforme. Ela atingiu o nível máximo de desumanidade entre 1914 e o final da década de 1940, a era das duas guerras mundiais e de suas con-seqüências revolucionárias, e a de Hitler e Stálin. A Guerra Fria trouxe uma clara melhoria no Primeiro e no Segundo Mundo — os países desenvolvidos capitalistas e a área soviética —, mas não no Terceiro Mundo,ifísso não significa que a barbárie tenha na ver-dade diminuído. No Ocidente, esse foi o período (aproximada-mente 1960-85) em que se produziu o surto de torturadores trei-nados oficialmente e ocorreu uma onda sem precedentes de regimes militares na América Latina e no Mediterrâneo, que faziam a "guerra suja" contra seus próprios cidadãos. Todavia,, muitos tinham a esperança de que após a grande mudança de 1989 o nevoeiro de guerras religiosas que saturou o século XX se disper-saria, dissipando, assim, uma das fontes principais do barbarismo. Infelizmente isso não aconteceui/Por um lado, a escala dos sofri-mentos humanos aumentou terrivelmente na década de 1990 e, por outro lado, as guerras religiosas que eram alimentadas por ideologias seculares expandiram-se com o retorno a várias formas de fundamentalismo religioso que se manifestam em cruzadas e contracruzadas.

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Além do sangue derramado e da destruição causada pelas guerras entre países ou por eles apoiadas (por exemplo, a Guerra do Vietnã, as confrontações indiretas entre as superpotências na década de 1970 naÁfricae no Afeganistão, as guerras indo-paquis-tanesas e entre Irã e Iraque), houve três grandes episódios ou sur-tos de violência e contraviolência política desde a década de 1960. O primeiro foi um renascer do que se pode chamar apropriada-mente de "neoblanquismo", nas décadas de 1960 e 1970, que con-sistiu em tentativas por parte de certos grupos de elite, em geral pequenos e autoproclamados, empenhados em derrubar regimes ou em alcançar objetivos nacionalistas-separatistas por meio da ação armada. Esse tipo de violência limitou-se basicamente à Europa ocidental, onde tais grupos, compostos sobretudo por integrantes da classe média e em geral carentes de apoio popular fora das universidades (exceto na Irlanda do Norte), valiam-se muito de atos terroristas capazes de atrair a atenção da imprensa (a Fração do Exército Vermelho na Alemanha Ocidental) e também de golpes bem focalizados e capazes de desestabilizar a alta política de seus países, como o assassinato do suposto sucessor do general Franco em 1973 (pelo ETA) e o seqüestro e a morte do primeiro-minisjtro da Itália, Aldo Moro, em 1978 {pelas Brigadas Verme-lhas) |ka América Latina, esses grupos tentaram sobretudo iniciar guerrilhas e operações armadas com unidades maiores normal-mente em áreas rurais, mas, em alguns casos (Venezuela, Uruguai), também nas cidades. Algumas dessas operações foram bastante sérias — nos três anos da insurreição dos Montoneros, na Argen-tina, as forças regulares e irregulares sofreram 1642 baixas (entre mortos e feridos) .4 As limitações desses grupos ficaram particular-mente claras nas guerrilhas rurais, em que é necessário um grau substancial de apoio popular, não só para o êxito, mas para a pró-pria sobrevivência dos guerrilheiros. As tentativas, feitas por orga-nizações estranhas ao ambiente local, de implantar movimentos

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guerrilheiros segundo o modelo cubano sofreram derrotas espeta-culares em toda a América do Sul, exceto na Colômbia, onde amplas áreas do país estavam fora do controle do governo central e das Forças Armadas.(

Ò segundo, que só tomou forma já pelo final da década de 1980 e expandiu-se enormemente com as agitações civis e o colapso dos Estados na década de 1990, é principalmente étnico e religioso. A África, as áreas ocidentais do islã, o Sul e o Sudeste da Ásia e o Sul da Europa foram as regiões mais afetadas. A América Latina permaneceu imune aos conflitos étnicos e religiosos, a Ásia oriental e a Federação Russa (exceto pela Chechênia) quase não foram afetadas, a União Européia envolveu-se apenas através de uma xenofobia crescente, mas não sangrenta. Em outras áreas, a onda de violência política produziu massacres em escalas desco-nhecidas desde a Segunda Guerra Mundial e trilhou os caminhos que mais depressa levaram à volta do genocídio sistemático/Ao contrário dos neoblanquistas europeus, aos quais em geral faltava apoio popular, os grupos ativistas desse período (Al Fatah, Hamas, Jihad Islâmica da Palestina, Hezbollah, Tigres Tâmeis, Partido dos Trabalhadores do Curdistão etc.) contavam com o apoio, maciço, do público e com uma fonte permanente de recrutamento. Por essa razão, os atos de terror individuais não eram praticados por esses movimentos, exceto quando essa era a única resposta possí-vel ao poder militar esmagador do Estado ocupante (como na Palestina), ou em guerras civis, como resposta ao armamento amplamente superior dos adversários (como no Sri Lanka).//'

/Nesse período surgiu uma importante inovação que se mos-trou singularmente terrível: o homem-bomba. Ele tem origem como uma derivação da revolução iraniana de 1979, impregnado da poderosa ideologia islâmica xiita, que idealiza ó martírio, e foi empregado pela primeira vez com o objetivo de produzir efeitos decisivos em 1983, contra os americanos, pelo Hezbollah, no

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Líbano. Sua eficácia foi tão clara que a prática se estendeu aos Tigres Tâmeis em 1987, ao Hamas, na Palestina, em 1993, e à AI-Qaeda e outros extremistas islâmicos, na Caxemira e na Chechê-nia, em 1998-2000/5 outro desenvolvimento mais notável do ter-rorismo individual e de pequenos grupos desse período foi a clara retomada do assassinato político. Se a época de 1881 a 1914 foi a primeira idade do ouro do homicídio político de alto nível, entre os meados das décadas de 1970 e de 1990 deu-se a segunda: Sadat no Egito, Rabin em Israel, Rajiv Gandhi e Indira Gandhi na índia, uma série de líderes no Sri Lanka, o suposto sucessor de Franco na Espanha e os primeiros-ministros da Itália e da Suécia—embora a motivação política seja duvidosa neste último caso. Ocorreram também tentativas de assassinato contra o papa João Paulo n e o presidente Reagan em 1981 Á s conseqüências desses atos não foram revolucionárias, aindá que eles, por vezes, tenham produ-zido efeitos políticos específicos — como em Israel, na Itália e tal-vez na Espanha.

âSío entanto, o alcance universal da televisão desde então fez com que as ações politicamente mais efetivas não mais fossem as que visavam diretamente os dirigentes políticos, e sim as que bus-cavam o máximo impacto na divulgação. Afinal, atos assim puse-ram fim à presença militar formal dos Estados Unidos no Líbano na década de 1980, na Somália na década de 1990 e, com efeito, na Arábia Saudita depois de 2001/Úm dos sinais infelizes de barbari-zação está na descoberta, pelos terroristas, de que, sempre que tenha vulto suficiente para aparecer nas telas do mundo, o assassi-nato em massa de homens e mulheres em lugares públicos tem mais valor como provocador de manchetes do que todos os outros alvos das bombas., com exceção dos mais célebres e simbólicos/

/fNa. terceira fase, que parece predominar no início do século atual, a violência política tornou-se sistematicamente global, seja põr causa das políticas adotadas pelos Estados Unidos no governo

fií

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do presidente George W. Bush, seja pelo estabelecimento, talvez £ela primeira vez desde o anarquismo do fim do século xix, de um movimento terrorista que opera conscientemente de maneira transnacional. Nesse caso, o apoio popular voltou a ser irrelevante. A estrutura inicial, da Al-Qaeda parece ter sido a de uma organiza-ção de elite, mas sua operação se dá por meio de um movimento descentralizado, no qual células pequenas e isoladas são criadas para atuar sem nenhum apoio da população ou de qualquer outro tipo, e sem necessitar de base territorial. Com isso, ela, ou uma rede difusa de células islâmicas por ela inspiradas, conseguiu sobreviver à perda de uma base no Afeganistão e à marginalização da lide-rança de Osama bin Laden. É característico desse período o fato de que as guerras civis ou outros conflitos que não se inserem no con-texto global, como os conflitos que prosseguem no Sri Lanka, na Colômbia ou no Nepal, ou ainda os problemas do colapso dos Estados na África, despertam um interesse apenas intermitente no Ocidente.,^:

.#Dois aspectos caracterizavam esses novos movimentos. Eles consistiam em pequenas minorias, mesmo quando essas minorias gozavam da simpatia passiva das massas em cujo nome preten-diam atuar, e seu modus operandi típico era a ação de pequenos

i; • gruposiAs chamadas "unidades de serviço ativo" do IRÁ Provisório não contavam, segundo consta, com mais do que duzentos ou tre-zentos indivíduos em momento algum, e eu duvido que as Briga-das Vermelhas na Itália ou o ETA basco fossem maiores/O mais ter-rível dos movimentos terroristas internacionais, a Al-Qaeda, provavelmente não tinha mais do que 4 mil indivíduos nos seus dias de Afeganistão..^ segunda característica (com raras exceções, como a Irlanda do Norte) era a de que seus integrantes "eram em média mais cultos e de condição social mais alta do que outros membros da comunidade à qual pertenciam".7 Os candidatos a ^recrutas da Al-Qaeda que receberam treinamento no Afeganistão

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na década de 1990 eram, segundo a descrição, "das classes média e alta, quase todos de famílias bem estruturadas [...] com educação universitária e forte inclinação pelas ciências naturais e pela enge-nharia [...] poucos procedentes de escolas religiosas'?Mesmo na Palestina, onde eles representam os diversos segmentos da popu-lação dos territórios ocupados, inclusive uma proporção alta dos que vivem em campos de refugiados, 57% dos homens-bombas têm instrução superior à do nível secundário, em comparação com apenas 15% da população de idade similar.9/

Apesar de pequenos, esses grupos têm mostrado capacidade suficiente para que os governos mobilizem forças enormes, em ter-mos relativos ou mesmo absolutos, para combatê-los. Mas aqui ocorre uma divergência interessante entre o Primeiro e o Terceiro Mundo (enquanto durou, o Segundo Mundo, dos regimes comu-nistas, ficou totalmente imune a esses movimentos, mesmo quan-,do à beira do colapso)ÍNa Europa como um todo, pelo menos du-rante os dois primeiros períodos considerados, a nova violência

^política foi enfrentada com força limitada e sem maiores alterações nos governos constitucionais, apesar da ocorrência de momentos

' de histeria e de alguns sérios excessos no uso do poder, especial-mente por parte da polícia e das Forças Armadas formais ou infor-mais. Terá sido assim porque os movimentos europeus não apre-sentavam riscos maiores para os regimes nacionais? Isso era e continua a ser verdadeiro, embora os movimentos separatistas na Irlanda do Norte e no País Basco tenham chegado perto de conse-guir seus objetivos políticos, com a ajuda da pressão armada do IRA e do BTAjPicpvavelmente t a m b é m é verdade que as polícias e os

serviços secretos europeus tinham e têm eficiência suficiente para infiltrar-se em muitos desses movimentos, sobretudo o IRÁ e pro-vavelmente as Brigadas Vermelhas da Itália. Contudo, é significa-tivo que, apesar de certos episódios de crueldade na luta antiter-rorista por parte de "entidades oficiais desconhecidas", nem na

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Irlanda do Norte nem na Espanha ocorreram "guerras sujas" na mesma escala e com o mesmo grau sistemático de tortura e terror que vimos na América Latina, onde o combate ao terrorismo superou em muito a violência política dos revoltosos, mesmo quando estes se dedicavam a cometer atrocidades, como os sende-ristas do Peru.

JÊssas famigeradas "guerras sujas" dirigiam-se essencialmente contra esses grupos e muitas vezes eram conduzidas por pequenas forças de profissionais especializados, correspondentes às dos ter-roristas minoritários. Assim, na América Latina, o objetivo dos regimes torturadores, na medida em que não constituíam uma degeneração patológica da política, não era, normalmente, impe-dir o aumento do número de participantes nas atividades subver-sivas, mas, mais concretamente, obter informações dos ativistas a respeito dos seus grupos. O objetivo dos esquadrões da morte tam-pouco era a prevenção, e sim, acima de tudo, livrar-se de pessoas por eles consideradas culpadas sem correr os riscos dos atrasos legais e das absolvições,Ç> terror contra populações inteiras, vistas como dissidentes, como na África do Sul ao tempo do apartheid e na Palestina, é quase sempre brutal, mas mais episódico e pontual. O número de pessoas mortas na Palestina antes da segunda inti-fada foi quase certamente menor do que o dos que "desaparece-ram"no Chile de Pinochet^Pode-se dizer que o avanço dabarbari-zação foi tal que as campanhas repressivas que produzem apenas um cadáver ou dois por dia são hoje consideradas como de nível inferior ao dos massacres, que automaticamente produzem man-chetes. Mesmo assim, as autoridades de países como a Colômbia e o Peru lutaram suas guerras contra as guerrilhas rurais com fero-cidade incomum.

A globalização da "guerra contra o terror", desde setembro de 2001, e a retomada das intervenções armadas estrangeiras por parte de uma grande potência que condenou formalmente em

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2002 as regras e convenções até então aceitas para os conflitos internacionais pioraram a situação.,O perigo real das novas redes terroristas internacionais para os regimes dos países estáveis do mundo desenvolvido, assim como da Ásia, continua a ser despre-zível. As dezenas ou centenas de vítimas de bombas nos sistemas de transporte público em Londres e em Madri não são capazes de Interromper a capacidade operacional de uma cidade grande além de algumas horas. Por mais horripilante que tenha sido a carnificina de 11 de setembro de 2001 em Nova York, o poder internacional dos Estados Unidos e suas estruturas internas não foram afetados em nada/Se ocorreram efeitos negativos posterio-res, eles não se deverarri à ação dos terroristas, e sim à do governo americano. A índia, a maior democracia do mundo, é um bom exemplo da capacidade de resistência de um país estável. Apesar de ter perdido dois chefes de governo nos últimos vinte anos pela ação de assassinos, o país convive com uma situação de guerra de baixa intensidade na Caxemira, com uma ampla gama de movimentos guerrilheiros nas províncias do Nordeste e com uma insurreição marxista-leninista (naxalita) em certas áreas tribais — e ninguém sequer sonharia em dizer que ela não é um país estável e em per-feita ordem operacional.

'isso ressalta a fraqueza relativa e absoluta dos movimentos terroristas da fase atual. Eles são sintomas, e não agentes históricos significativos. E isso não deixa de ser válido nem em razão de que, graças às mudanças nos armamentos e nas táticas, pequenos gru-pos e até indivíduos agora podem causar muito mais dano per capita do que antes, nem em função dos objetivos utópicos susten-tados por alguns grupos terroristas ou a eles atribuídos/Òperando em países estáveis, com regimes estáveis e sem o apoio de setores relevantes da população, eles são um problema policial, e não mili-tar. Mesmo quando o terrorismo de pequenos grupos faz parte de um movimento geral de dissidência, como são os rebentos da Al-

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Qaeda na resistência iraquiana, eles não são a parte mais impor-tante nem a parte militarmente mais efetiva do movimento, e sim adendos marginais. Quanto às operações conduzidas fora do ambiente de uma população simpatizante, como os homens-bombas palestinos em Israel ou um punhado de jovens muçulma-nos fanáticos em Londres, pouco valor elas têm além da propa-ganda.Nada disso significa que não sejam necessárias importantes medidas policiais internacionais para combater o terrorismo de pequenos grupos, especialmente do tipo transnacional, quando mais não seja pelo perigo que existe de que no futuro esses grupos logrem adquirir um artefato nuclear e a capacidade de usá-lo. Seu potencial político, que é sobretudo destrutivo, é claramente

• muito maior em países instáveis ou em decomposição, em parti-cular no mundo muçulmano no Oeste da índia, mas não deve ser confundido com o potencial político de uma mobilização reli-giosa maciça;/'

, /É compreensível que esses movimentos criem grande nervo-sismo entre as pessoas comuns, sobretudo nas metrópoles do Oci-dente e especialmente quando os governos e a imprensa se empe-nham em gerar um clima de medo, para alcançar seus próprios propósitos, e dão publicidade máxima às ações. (É difícil lembrar que antes de 2001 a atitude-padrão, inteiramente racional, dos governos diante desses movimentos — ETA, Brigadas Vermelhas, IRA—visava "negar-lhes o oxigênio da publicidade" tanto quanto possível.) Trata-se deum clima de medo irracional. A política atual dos Estados Unidos tenta reviver os terrores apocalípticos da Guerra Fria, quando já não lhe é plausível inventar "inimigos" para legitimar a expansão e o emprego do seu poder global. Repito aqui que os perigos da"guerra contra o terror" não provêm dos homens-bombas muçulmanos.

Todas essas coisas em nada diminuem a dimensão da crise global verdadeira que se expressa nas transformações por que

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passa a violência política. Elas parecem refletir os profundos dese-quilíbrios sociais causados em todos os níveis da sociedade pelas

•.alterações mais rápidas e intensas jamais experimentadas pela humanidade, social e individualmente, dentro do período de vida de um ser humano/'Elas parecem refletir uma crise dos sistemas tradicionais de autoridade, hegemonia e legitimidade do Ocidente e sua dissolução no Oriente e no Sul, assim como uma crise dos movimentos tradicionais que pretendiam proporcionar alternati-vas a eles/Elas têm sido exacerbadas pelos fracassos da descoloni-zação em certas regiões do mundo e pelo fim de um sistema inter-nacional estável — na verdade, de qualquer sistema internacional — desde o colapso da União Soviética. E elas se revelarão estar além dos poderes utópicos dos neoconservadores e neoliberais que acreditam na exportação dos valores liberais do Ocidente por meio da expansão dos mercados e das intervenções militares.

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