hiv/sida & desenvolvimento rural em mocambique
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Impacto do HIV/SIDA no desenvolvimento Rural
Edelmiro De Jesus Namburete & Elódia Neli Chiúre 0
Índice Geral
Conteúdo Pág.
CAPÍTULO I – APRESENTAÇÃO….......………………………………………………………………………………………..1
1.Introdução ............................................................................................................................................ 1
1.1.Objectivos ..................................................................................................................................... 1
1.1.1Geral ........................................................................................................................................ 1
1.1.2.Específicos ............................................................................................................................. 1
1.2.Metodologia .................................................................................................................................. 2
CAPÍTULO II – REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................... 3
2.1.Desenvolvimento .......................................................................................................................... 3
2.2.Desenvolvimento Rural ................................................................................................................ 4
2.3.HIV/SIDA - Vírus da Imunodeficiência Humana/Síndrome da Imunodeficiência ...................... 4
2.4.Visão Geral sobre o HIV/SIDA em Moçambique ........................................................................ 5
CAPÍTULO III- ANÁLISE DO IMPACTO DO HIV/SIDA NO DESENVOLVIMENTO RURAL .... 5
3.1.Causas de Expansão do HIV/SIDA nas Zonas rurais ................................................................... 5
3.2.O impacto do HIV/SIDA nas zonas rurais .................................................................................... 8
4.2.1.Impacto do HIV/SIDA ao nível familiar e comunitário rural ................................................ 8
4.2.2.Impacto do HIV/SIDA a nível nacional ............................................................................... 11
4.3.O Papel da Igreja ......................................................................................................................... 12
5.Conclusões ......................................................................................................................................... 14
5.3.Recomendações ........................................................................................................................... 14
6.Referencias Bibliográficas ................................................................................................................. 16
Impacto do HIV/SIDA no desenvolvimento Rural
Edelmiro De Jesus Namburete & Elódia Neli Chiúre 1
CAPÍTULO I – APRESENTAÇÃO
1.Introdução
Moçambique é um país cuja maior percentagem (80%) da população encontra-se localizada
nas zonas rurais dos quais 77% dedica-se basicamente da agricultura de subsistência para a
sua sobrevivência. De igual modo é nestas zonas onde há maiores taxas de analfabetismo,
factor este que motivou o Governo a tomá-lo como o polo de desenvolvimento (PEN, 2010).
É neste mesmo polo de desenvolvimento (zonas rurais), onde encontram-se indivíduos com
mais vulnerabilidade de contrair e expandir o HIV/SIDA devido a várias causas como a falta
de informação adequada, aspectos socioculturais, crenças, migrações, aspectos financeiros
etc. Portanto, o presente trabalho de pesquisa vem no âmbito da cadeira de PLADER1
disseminada na UEM-ESNEC2, procurar analisar o impacto do HIV/SIDA em relação ao
desenvolvimento rural e por fim propor planos de mitigação que possam ajudar directa ou
indirectamente a minimizar a contracção desta doença no seio das famílias rurais com vista
ao desenvolvimento de Moçambique, visto que, somente partindo das zonas rurais é que se
pode-se alcançar o bem-estar da sociedade.
1.1.Objectivos
1.1.1Geral
Analisar o impacto do HIV/SIDA no desenvolvimento rural em Moçambique.
1.1.2.Específicos
Conceituar desenvolvimento, desenvolvimento rural e HIV/SIDA;
Descrever a situação actual do HIV/SIDA em Moçambique;
Identificar impacto do HIV/SIDA nas zonas rurais;
Levantar propostas que visam mitigar o impacto do HIV/SIDA na comunidade rural.
1 Planeamento e Desenvolvimento Rural
2 Universidade Eduardo Mondlane – Escola Superior de Negócios e Empreendedorismo
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1.2.Metodologia
Nesta subsecção é descrita toda metodologia bem como as ferramentas que foram utilizadas
no processo de colecta de dados com vista a realização do trabalho de pesquisa em pauta.
Para realização do presente trabalho de pesquisa, tomou-se como base a pesquisa
bibliográfica que segundo Munguambe (2008), é aquela que resulta à partir de material já
elaborado tais como livros, artigos científicos, documentos etc. Portanto, neste trabalho de
pesquisa foram usados artigos científicos, manuais e assim como na consulta de documentos
oficiais, planos, programas e políticas do Governo de Moçambique em formato electrónico
disponíveis em sites credíveis na internet com matéria ligada ao assunto (HIV/SIDA e
desenvolvimento rural), dos quais os autores serão devidamente citados ao longo do mesmo.
Além disso, houve a consulta de manuais orientadores para elaboração de trabalhos de
pesquisa.
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CAPÍTULO II – REVISÃO DA LITERATURA
2.1.Desenvolvimento
Desenvolvimento é um termo que não possui uma única definição e, no âmbito das ciências
sociais, políticas e económicas causa certas controvérsias (Begnini, 2006).
Antigamente o termo desenvolvimento era equiparado com crescimento económico mas, nos
dias de hoje esse termo é concebido de outras maneiras. Por exemplo para Jorge e Moreira
(1995) citado pelo mesmo autor anteriormente destacado, embora desenvolvimento e
crescimento económico estejam interligados ambos são distintos na medida em que o
crescimento económico está mais virado a melhorias no sistema produtivo, enquanto o
desenvolvimento económico está directamente ligado à população, onde se podem perceber
melhorias no que tange à saúde, nutrição, educação, habitação e redução nos níveis de
pobreza, desigualdade e desemprego. Portanto, assim, uma região que cresce não significa
que necessariamente se desenvolve.
Desenvolvimento pode ser visto como um processo de expansão das liberdades ou
capacidades humanas que as pessoas possam desfrutar, isto é, o aumento da capacidade de os
indivíduos fazerem escolhas (Sen, 2007).
De acordo com Doner (1972) citado por Sambo (2008), desenvolvimento deve ser concebido
em sentido amplo, como a expansão de oportunidades e o aumento das capacidades humanas
necessárias para explorar estas oportunidades”. Fernandes (2007) citado por Begnini (2006),
indica três princípios que se associam ao conceito de desenvolvimento:
Acesso de toda população a certo grau de satisfação das suas necessidades básicas
(alimentação, saúde, habitação, educação);
Igualdade de oportunidades entre os indivíduos;
Respeito ao processo de desenvolvimento, visto que, segundo o autor, não haverá
desenvolvimento quando as decisões dependerem somente de instâncias exteriores ao
estado nacional.
Pode-se então notar que as concepções dos autores acima aflorados em relação ao conceito do
desenvolvimento são convergentes. Portanto, numa situação em que os indivíduos não têm a
possibilidade de escolher o que beber, comer, vestir, onde passar o final-de-semana ou o
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tempo de lazer; não são de exteriorizar outputs das suas massas cinzentas3 em relação a
tomadas de decisão do seu governo, pode-se então afirmar que se está distante da concepção
de desenvolvimento. Ir por exemplo a um centro comercial como a Shoprite e comprar em
função do seu bolso e não pelos seus desejos que vem depois das necessidades em relação ao
produto é um outro indicador da ausência de desenvolvimento.
2.2.Desenvolvimento Rural
Após a concepção do termo desenvolvimento pode-se então procurar fundamentos que
sustentam o desenvolvimento rural embora seja difícil ainda conceituar o termo rural.
Desenvolvimento rural para Ploeget al. (2000) citado por Begnini (2006), pode ser entendido
como uma combinação entre forças internas e externas de determinada região, onde actores
das áreas rurais envolvem-se na criação de novos produtos e serviços tendo em vista novos
mercados, buscando reduzir custos a partir da implementação tecnológica. É uma
reorganização da agricultura em termos regionais da economia rural como um todo. Portanto,
o desenvolvimento rural é composto por um conjunto de acções que concretiza mudanças em
determinado ambiente rural.
2.3.HIV/SIDA - Vírus da Imunodeficiência Humana/Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida
Matsinhe (2006), na sua obra sobre a dinâmica da resposta moçambicana ao HIV/SIDA
descreve que, o fenómeno HIV/SIDA veio a superfície de forma proeminente nos princípios
da década de 80, mobilizando de uma forma excepcional e sem precedentes, diversos sectores
da sociedade, entre organismos governamentais e não governamentais, redes de amizades,
comunidades cientificas, agencias e outros Ussivane (2007).
O debate em torno do HIV/SIDA como vírus causador do SIDA é controverso, dai que, as
origens do HIV, enquanto vírus, e do SIDA, enquanto condição médica, merecem
consideração separada. Portanto, é importante realçar que existe diferença entre a infecção
por HIV e pelo SIDA.
De acordo com Ussivane (2007), infecção por HIV significa que, apesar da ausência de
sintomas da doença, o vírus está presente no organismo, e uma pessoa infectada pode infectar
a outras através do contacto sexual ou através da transfusão de sangue ou ainda através do
3 Pensamentos ou pontos de vista no tangente a política dos governantes.
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leite materno, portanto, uma pessoa infectada pelo vírus pode desenvolver gradualmente o
SIDA.
Segundo mesma autora, o SIDA é a fase final da infecção por HIV. Neste estágio, o vírus
enfraquece gravemente os mecanismos de defesa do organismo contra doenças e a pessoa
infectada sofre de doenças que reduzem a sua esperança de vida, a menos que tenha acesso a
medicamentos ARV4 que combatem o vírus. De salientar que estes medicamentos ainda não
constituem uma cura visto que, somente podem prolongar a esperança de vida por alguns
anos.
2.4.Visão Geral sobre o HIV/SIDA em Moçambique
De acordo com o Banco Mundial5, Moçambique situa-se provavelmente até hoje entre os oito
países com maior taxa de prevalência estimada de HIV/SIDA em adultos idade produtiva.
Segundo os mesmos, dados de vigilância epidemiológica de 2007 mostram que a prevalência
de HIV/SIDA em Moçambique é de 16%, duas vezes superior à da média subsahariana de 7,2
por cento. As previsões projectadas na altura mostravam que as taxas de esperança de vida e
mortalidade infantil, bem como as estruturas da população no país se deteriorem rapidamente
devido a doença, descendo a esperança de vida para 37 anos em 2013.
CAPÍTULO III- ANÁLISE DO IMPACTO DO HIV/SIDA NO DESENVOLVIMENTO
RURAL
3.1.Causas de Expansão do HIV/SIDA nas Zonas rurais
O HIV /SIDA como qualquer uma outra doença é algo que se transmite a uma pessoa através
de certos vectores que o possibilitem. Portanto, para uma melhor compreensão em relação ao
tema em seguida são mencionadas e descritas algumas das causas que mais surtem efeito no
processo de expansão do HIV / SIDA em Moçambique dando mais foco concretamente nas
4 Os anti-retrovirais são medicamentos que atenuam os efeitos do vírus do HIV no organismo humano e
prolongam a vida quando acompanhados de uma boa alimentação e boas condições de higiene. Quando isso não
acontece eles próprios tornam-se prejudiciais a saúde, aumentando a degradação do organismo e causando a
morte (Ussivane, 2007).
5 World Bank, February 2008. “Mozambique Beating the Odds: Sustaining Inclusion in a Growing Economy –
A Mozambique Poverty, Gender and Social Assessment.”
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zonas rurais. Uma análise combinada de fontes indica que os principais factores
impulsionadores da epidemia estão associados aos seguintes factores:
Informação
O Levantamento Demográfico e de Saúde (LDS) realizado em Moçambique em 2003 indica
que havia altos níveis de conhecimento sobre HIV/SIDA no país (93,7% em áreas rurais e
99,1% em áreas urbanas). No entanto, apenas 38% (rurais) e 57,6 % (urbanas) das pessoas
têm consciência de práticas de sexo seguras (uso do preservativo e limitação de parceiros), e
há ainda consideráveis obstáculos à discussão do HIV/SIDA com parceiros. Apenas 45% das
pessoas em áreas rurais e 60% em áreas urbanas discutiram a questão do HIV com os seus
parceiros. (World Bank, 2008).
Artur (2007), fundamenta mais o trabalho feito pelo LDS (2003), afirmando que em muitos
países Africanos como Moçambique a informação nas zonas rurais em relação ao HIV/SIDA
é quase inexistente. A qualidade de informação onde ela chega e a maneira/ métodos não
adequados usados para transmitir é igualmente um problema que faz com que a doença
prevaleça e se expanda.
Aspectos sociais e Culturais
De acordo com (World Bank, 2008), o rápido crescimento das taxas de prevalência em
Moçambique reclama muito maiores esforços no sentido de se prevenir a infecção alterando
comportamentos sexuais de risco, particularmente dos homens mais velhos. O que leva a
estas conclusões é o facto de existir uma complexa mistura de factores socioeconómicos,
culturais, religiosos e biológicos. Apesar de não ter sido feito nenhum estudo sistemático para
avaliar determinantes da vulnerabilidade das mulheres ao HIV no país, informação disponível
indica que os níveis de escolaridade, diferenças de género no acesso a recursos, violência,
poligamia são alguns dos factores culturais e socioeconómicos que aumentam a
vulnerabilidade da mulher.
Artur (2007), sustenta ainda afirmando que questões socias e culturais existentes nas zonas
rurais fazem com que haja grande resistência por parte da população rural (sobretudo
homens) para mudar de comportamento e incorporar novos valores. O que tem-se notado é
que a maior parte dos homens rurais continuam praticando o sexo sem protecção, tendo
muitas parceiras o que de certa forma aumenta a probabilidade de contaminação. Isso
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acontece frequentemente porque a educação social e cultural de maior parte dos homens em
sociedades africanas como a de Moçambique é a de que o homem deve ser fisicamente e
emocionalmente mais forte, assumir mostrar sua virilidade, o que lhes faz enredar pelo
comportamento de risco.
Nas suas relações muitos homens africanos obrigam as mulheres a prática de sexo de
contacto directo acreditando que isto dá mais prazer. As mulheres que em Africa duma forma
geral tem pouca educação, pouco acesso a informação e são educados culturalmente a
satisfazer o seu marido são muito dependentes dos seus parceiros masculinos e, tem pouco
poder negocial para que os seus parceiros pratiquem sexo seguro e sejam fiéis.
Crenças
A crença por sexo de contacto directo é apenas uma de entre várias crenças que os homens
sobre africanos têm. Outras crenças incluem ter raparigas de menor idade como parceiras,
assumindo que elas tem menor probabilidade de estarem contaminadas pelo vírus que as mais
adultas e sexualmente mais activas assim pode-se perpetuar o hábito de fazer sem protecção.
Outros homens já contaminados acreditam que manter relações sexuais com mulheres virgens
curará a doença e assim sendo, empenham-se em procurar encontrar virgens e pagam o preço
que for necessário (Gupta, 2000) citado por Artur (2007).
Questões Financeiras
Nas zonas rurais se existirem famílias já debilitadas financeiramente elas, estarão
provavelmente mais vulneráveis a homens infectados. Segundo O`Reilly (2000) citado pelo
mesmo autor acima mencionado, fez-se uma entrevista a 1600 crianças na Zâmbia dos quais
foram encontradas nas zonas mais pobres 25% das raparigas até aos 10 anos já tinham
mantido relações sexuais e dos que tinham até 16 anos 60%, igualmente já tinham tido.
Migrações
As migrações são um outro grande motivo para a prevalência do HIV. Muitos homens em
Moçambique especificamente os da zona Sul, emigram para países vizinhos como é o caso da
Africa do Sul a procura de emprego e melhores condições de vida. Uma vez lá solitários ou
carentes, outras vezes nervosos mas, com dinheiro nos seus bolcos, acabam procurando
prostitutas e quando fazem sexo sem protecção a probabilidade de contraírem a doença em
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causa é bem existente. Portanto, caso esses emigrantes contraiam e em seguida voltam ao seu
país de origem poderão provavelmente infectar seus parceiros moçambicanos (Artur, 2007).
3.2.O impacto do HIV/SIDA nas zonas rurais
De acordo com o estudo feito pela FAO (2007), num dos seus trabalhos alusivos ao
HIV/SIDA no tangente a prevenção e mitigação do impacto do mesmo em Moçambique, foi
possível notar que a doença surte efeitos negativos em vários níveis em Moçambique
comprometendo assim o desenvolvimento do mesmo. Dentre vários níveis abrangidos pela
doença, destacam-se a baixo os mais relevantes.
Impacto no sector público
Impacto no sector de negócios privados;
Impacto do HIV/SIDA na família e na economia informal;
Impacto do HIV/SIDA na macroeconomia do País;
Impacto do HIV/SIDA nas Famílias;
Impacto Fiscal do HIV/SIDA;
Impacto do HIV/SIDA na Produtividade e;
Impacto do HIV/SIDA no PIB e no Produto Médio.
Segundo Artur (2007), apesar de este fenómeno no geral abranger varias vertentes, o impacto
do HIV/SIDA em relação a famílias rurais tem se fazendo mais sentir ao nível do agregado
familiar em relação a outros níveis, portanto, mais em frente se fará uma breve descrição em
relação ao impacto do mesmo dando mais atenção ao nível familiar.
4.2.1.Impacto do HIV/SIDA ao nível familiar e comunitário rural
O grande problema com as mortes causadas pelo HIV é o facto de ser bastante silencioso, ou
seja, é difícil conhecer as pessoas que morrem devido a doença. As esposas não admitem que
os seus maridos estão doentes de HIV /SIDA e assim os homens optam por tomar mesma
posição não admitindo que suas esposas padecem desta doença. Esta posição sempre é
tomada quando se trata de um familiar.
Por outro lado, dada a alta estigmatização e descriminação que ocorre nas cidades, muitos
que contraem a doença optam por sair das cidades para as zonas rurais alegando ir ao
encontro da cura que não conseguem achar nas zonas urbanas. A ida ou retorno as zonas
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rurais as vilas ou aldeias proporciona um problema que afecta o desenvolvimento rural, visto
que, quando um(a) filho (a)/pai/mãe chega (está) doente na aldeia, a família faz de tudo para
salva-lo. Contudo, no processo da salvação a família gasta suas poupanças tentando encontrar
a cura. Uma vez esgotadas suas poupanças sem sucessos, acabam optando pelo plano B
correspondente a venda de bens, sobretudo gado, depois outros bens como bicicletas e como
fim a família vai empobrecendo cada vez mais. Além disso, no momento em que os membros
da família estão esvaziando seus recursos em termos de bens, poupanças, etc tentando salvar
a vida do seu ente querido, os mesmos despendem bastante tempo nos cuidados com o
doente, reduzindo o seu tempo na produção. Segundo a UNAIDS/ECO (2006) citado por
Artur (2007), um estudo realizado em Zimbabwe mostrou que com a doença e morte do chefe
do agregado a produção de milho baixou em 61%. Por outro lado, famílias que cultivavam
culturas de rendimento mas, bastante exigentes em termos de mão-de-obra acabam passando
a produzir culturas de sustento e pouco exigentes em termos de força de trabalho que por sua
vez proporcionava um declínio no referente ao bem-estar.
Ao nível da família nota-se igualmente que, se é o pai que esta doente de Sida e morre
passado certo tempo, provavelmente um tempo depois será seguido pela mãe que terá
contraído o vírus do marido. Para trás ficam as crianças órfãs que normalmente passam a
viver com seus avós. Visto que os avós já terão gasto provavelmente tudo que tinham
(poupanças, bens, etc) na tentativa de salvar seus parentes filho/ filha que eram igualmente
pai / mãe das crianças órfãs, as crianças passam portanto passam a viver em condições
desagradáveis ou difíceis, o que faz com que em muitos casos passem a ser crianças da rua,
as raparigas por imperativos6 podem passar a prostituir-se na tentativa de arrecadar alguns
trocados para satisfazer suas distintas necessidades fisiológicas, e igualmente os rapazes
podem optar por cometer crimes com mesmo objectivo. O autor salienta que este é um
cenário provável de acontecer, não que necessariamente aconteça com os órfãos.
De acordo com o mesmo autor, expõe um outro cenário que acontece quando o marido morre
mas, a mulher não contrai a doença. O que tem mais se notado em Africa especificamente nas
zonas rurais como Moçambique por exemplo, é que, muitos casos em que o marido morre o
ritual que se segue é que, sua família reclama todos os bens que ele tinha! Isto é, as
poupanças, os bens, todo o património em geral. Portanto, a viúva que era esposa do falecido
juntamente com seus filhos órfãos de pai são deixados em muitos casos numa situação
6 Que tem caracter de ordem; exprime uma acção como uma ordem, etc, Costa et al, 1952:924).
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paupérrima7 e como resultado pode levar as crianças a levar uma vida que nem a do cenário
anterior.
Em outras situações a viúva deve “ser limpa do azar que matou o marido”. Ser limpa nas
zonas rurais concretamente em países em via de desenvolvimento significa que a viúva
obrigatoriamente deve manter relações sexuais normalmente com um dos irmãos do falecido,
ou alguém indicado pela família do marido para conduzir o ritual (praticar sexo com a viúva).
No acto do sexo normalmente é praticado sem protecção em muitos casos a pessoa indicada
para fazer o trabalho deverá ser pago e existe uma probabilidade do mesmo estar infectado ou
ser infectado. Em suma, o contexto socio-económico e cultural em que a mulher vive torna-se
mais vulnerável ao HIV mas também é a que mais sofre com o impacto do mesmo.
Na verdade o impacto do HIV/SIDA ao nível familiar e comunitário é tremendo e pode ser
sintetizado entre outras formas como ilustra a figura que se segue. É de frisar que é possível
que haja outras componentes que possam fazer ligação no esquema, portanto, o leitor não
deve se sentir limitado.
7 Falta de meios básicos de subsistência; miséria… (Costa et al, 1952).
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Fig.1: Impacto do HIV / SIDA a nível familiar e comunitário
Fonte: Adaptado de Gillespie et al (2001) citado por Artur (2007) e melhorado pelo Grupo.
4.2.2.Impacto do HIV/SIDA a nível nacional
O HIV/SIDA para Artur (2007:43), é um fenómeno que constitui do momento uma das
maiores ameaças no desenvolvimento das nações pobres. Todos os sectores da sociedade
estão sendo directos ou indirectamente infectados pelo vírus.
Segundo mesmo autor, muitos quadros seniores de empresas, docentes, produtores agrícolas,
gestores, camponeses são sero – positivos e enquanto não houver cura para a doença, os
países acabaram acabarão por perde-los o que representará um duro golpe para as
espectativas sejam elas socias ou económicas. Por exemplo, quando os índices de sero
prevalência de alguns países forem bastantes elevados, os investidores ficarão desestimulados
por receio de perderem seus investimentos, visto que, os seguros das empresas e individuais
poderão aumentar em termos de valores e, serão necessários novos investimentos em termos
de recursos humanos. Enquanto isso, a sociedade como um todo vai-se ressentindo dos
Venda de poupanças físicas
Trabalho comunitário
reduzido
Cuidados com machamba reduz
Adulto deixa de trabalhar
Mais tempo para cuidar do
adulto que crianças
Adultos não trabalham longas horas
Consumo alimentar reduz
Mudança para culturas que
requerem pouca mão-de-obra
Redes socias locais afectadas
Perca de conhecimento
Área de produção reduzida
Crianças deixam de estudar
Fragmentação da família
Despesas com funeral
DOENTE DE HIV / SIDA
DOENTE MORRE
Despesas com cuidados de
saúde aumentam
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efeitos colaterais da doença, tais como o aumento da pobreza (rural), prostituição,
criminalidade entre outros.
O relatório da MISAU8 (2003) fala da redução da produtividade, com implicações na redução
de exportações mas com aumento de importações que implica uma redução do PIB9, um
aumento de inflação e o aumento do custo de vida. Por outro lado, o país terá de desviar
fundos que seriam usados noutros sectores e os mesmos passam a ser focalizados nos
cuidados de saúde ligados ao HIV.
Em relação específica ao sector da agricultura e desenvolvimento rural, a perca de mão-de-
obra nos agregados, redução do tempo de trabalho para cuidar dos doentes, ir aos funerais etc,
vai com certeza significar uma redução na produção agrícola e na comercialização rural. Por
outro lado como foi dito anteriormente, os recursos poupados ao longo do tempo poderão ser
vendidos, o que vai significar no geral um empobrecimento no país, visto que para alcançar a
agricultura é necessário que se comece do meio rural de modo a criar igualdades entre o
urbano e o rural.
4.3.O Papel da Igreja
Uma questão pertinente quando se aborda sobre o HIV / SIDA é o papel da igreja. Artur
(2007), quando falava do papel da igreja em relação ao HIV / SIDA, o autor antes deu um
exemplo de uma passagem que teve quando conversava com seu amigo. A passagem dizia
que “Os Europeus vieram para Africa com as bíblias e encontraram riqueza natural, mas a
volta deixaram as bíblias para os africanos e levaram a riqueza. O pensamento do autor
juntamente com seu amigo fez com que o mesmo tirasse algumas conclusões no que concerne
ao HIV, visto que, os africanos são bastante apegados a crenças incluído as ligadas a bíblia.
Por este motivo, a igreja desempenha uma função bastante importante na educação da
sociedade em relação ao fenómeno maléfico. As pessoas podem não acreditar no que ouvem
pelas rádios, televisão, jornais, etc., mas, acreditam bastante no que padres e bispos, etc.
Portanto, a mensagem destas figuras e a igreja no seu todo tem um poder bastante elevado.
No entanto, é necessário que as igrejas comecem a se envolver activamente no combate a este
mal. Porém, grande dilema é que as igrejas apenas podem transmitir parte da informação
ligadas ao problema em causa. Podem também aconselhar as pessoas a se absterem do sexo
8 Ministério da Saúde
9 Produto Interno Bruto
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mas, nunca poderão ou pelo menos nos dias de hoje não podem, por razões de princípios
defendidos, aconselharem as pessoas a fazer sexo seguro, ou seja, fazer sexo com uso do
preservativo. Este é um problema de difícil solução mas importante, uma vez que, cada vez
mais as pessoas, sobretudo os jovens, não se abstém o que torna o valor das mensagens
menos relevante e, que é preciso começar a procurar outras mensagens.
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5.Conclusões
Após o exposto, pode-se perceber que o HIV/SIDA é considerado um obstáculo ao
crescimento e desenvolvimento económico de qualquer nação principalmente nos países do
terceiro mundo como Moçambique devido ao facto de afectar negativamente toda a estrutura
demográfica dos agregados familiares bem como afecta gravemente o bem-estar socio-
económico das respectivas comunidades.
Pode-se também entender que dentre várias ela é a ameaça mais grave ao desenvolvimento
em Moçambique é o HIV/SIDA e pandemia está a ameaçar minar todos os resultados
conseguidos pelo Governo ao longo da última década.
Os agregados familiares que praticam a agricultura de subsistência são atingidos de forma
mais violenta do que outros visto que, eles têm que suportar o desaparecimento de membros
activos na produção, a descida de rendimentos, a diminuição dos seus bens, redução das suas
economias, pois estas são viradas aos cuidados de saúde e despesas com funerais.
Uma vez considerado o distrito como polo do desenvolvimento e é neste mesmo local onde
há mais prevalência do HIV/SIDA, é necessário que o governo juntamente com parceiros
sejam eles internos ou externos tomem devidas providencias de modo a minimizar a situação
que tem vindo a surtir efeitos negativos no que tange ao desenvolvimento de Moçambique.
5.3.Recomendações
Para que os projectos e programas sejam eficazes é importante que eles sejam orientados aos
agregados familiares com maiores necessidades. De realçar que não está aqui se dizendo que
deve-se esquecer as famílias que não estão afectadas pelo vírus. Por conseguinte, é
importante que os programas se consagrem a um grupo de agregados familiares mais
alargado e definido de acordo com indicadores sobre pobreza e sobre o SIDA. A melhor
forma de consegui-lo é trabalhar por intermédio das comunidades, de modo que sejam elas
próprias a identificar os agregados familiares que estão mais necessitados.
Para redução da sua expansão do HIV/SIDA nas zonas rurais as comunidades rurais precisam
de mais e melhor informação a respeito da doença, tendo em conta que o nível de
escolaridade das famílias rurais é baixo, as mensagens a respeito da mesma devem ser pré-
testadas para assegurar que elas são apropriadas antes de serem transmitidas.
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Deve-se abordar os mitos e os factos sobre o HIV/SIDA, e a maioria dos matérias de
informação, educação e comunicação devem ser traduzidos em línguas locais. Na divulgação
dessas mensagens há que ter em atenção a linguagem (uso da língua local) e veículos de
comunicação considerados apropriados tais como a exemplificação, o teatro, programas de
radio, jornais escritos em língua local, televisão, médicos tradicionais, padres, pastores e
pessoas mais influentes na comunidade.
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6.Referencias Bibliográficas
1. Artur, L. (2007). Desenvolvimento Rural. UEM
2. Begnini (2006). Desenvolvimento Rural: Os Municípios E As Mesorregiões
Catarinenses. Paraná – UNIOESTE.
3. Costa, A. Et al. (1952). Dicionário Editora. Portugal: Porto editora
4. FAO HIV/AIDS PROGRAMME. (2007). Prevenir e mitigar o impacto do VIH/SIDA.
Moçambique
5. Munguambe, S. (2008). Métodos e Técnicas de Investigação Económica. UEM-
ESNEC
6. Sen, A (2007). Desenvolvimento Como Liberdade, Schwarcz. São Paulo
7. PEN. (2010). Plano Estratégico Nacional de Resposta ao HIV e SIDA, 2010-2014.
Maputo
8. Ussivane, A.E.I. (2007). O impacto do HIV/SIDA na Segurança Alimentar e
Nutricional das Famílias Rurais em Moçambique. Maputo- UEM. Faculdade de
economia
9. World Bank. (2008). Relatório da Situação de HIV/SIDA e Nutrição em Moçambique,
Maputo