historia secreta do brasil 4

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    GUSTAVO BARROSO

    HISTRIA

    SECRETA

    DO BRASILVOLUME 4

    l REEDIO

    1993

    Reviso Editora Ltda.Conferindo e Divulgando a HistriaCaixa Postal 10466

    90001 Porto Alegre-RS

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    NDICE

    Volume 4

    I. A mo oculta 1

    II. A epopia dos centauros 25

    III. A repblica que nasceu morta 43

    IV. O reino encantado do diabo 53V. O imperador dos bentevis 77

    VI. A restaurao da autoridade 89

    Apndice 95

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    Captulo I

    A MO OCULTA

    Na vastido dos pampas da antiga Vacaria, que constituram aprovncia de So Pedro do Rio Grande do Sul, nascera uma raa de

    centauros, cujo "patriotismo se criara e acrisolara nas lutas contra asmisses guaranis e contra a ousadia dos invasores castelhanos deVertiz e de Zeballos. No seio das matas e serras do norte ou dosvastos pampas do sul, varridos de minuanos, ensopados de sol ou deluar, o homem, a p e a cavalo, de espingarda ou de lana, acostumara-se a esperar o inimigo espanhol. Largava o machado de lenhador,a enxada de roceiro ou o ferro ainda quente de marcar o gado paracorrer s armas e repelir o vizinho que disputava expanso brasileira

    o caminho forado at seus limites naturais" (1). "As povoaes dafronteira diz um historiador local eram simples guarnies militares, que as contnuas incurses espanholas mantinham vigilantes ealertas. Tinham mais o aspecto de acampamentos que, propriamente,de centros de populao civil (2)."

    As foras secretas, aproveitando a oportunidade magnfica que aRegncia oferecia para o esfacelamento do Brasil, lanaram suasvistas para essa gente brava, desprendida, honesta, idealista, fcil deenganar, a fim de fomentar um movimento que trouxesse nos seustorvelinhos as sementes da repblica, capazes de brotar em arbustosde separao, produzindo flores de anarquia. A posio geogrfica daregio, marca ou frontaria meridional do Imprio, como diriam osclssicos, ajudava a esse desideratum. Atacado fortemente o extremoNorte pela revolta cabana, assoprada do fundo das lojas da maonariae do iluminismo, era o plano atacar o extremo Sul ao influxo dassugestes e da ao da maonaria e do carbonarismo.

    Se fssemos ns que afirmssemos isto, era lcito duvidar; mas

    a prpria maonaria quem o afirma mais de uma vez e categoricamente, em documento pblico. A 19 de abril de 1936, na Seo Livre do"Correio do Povo" de Porto Alegre, o Oriente desta cidade fez estam-

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    par a seguinte proclamao, na qual grifamos os pontos mais impor-tantes*

    "AD UNIVERSI TERRARUM ORBIS SUMMI ARCHITECTI GLORIAM! Ao Governo, ao Povo, aos Maons de todo o Brasil e a quem

    mais a presente vier a conhecer. Ns, representantes legtimos detodos os Maons Antigos, Livres e Aceitos regulares, residentes noOriente de Porto Alegre, sob as inspiraes do mais intenso jbilo,aqui reafirmamos a mais soberana f que todos depositamos nodestino glorioso de nossa Raa (?!). E, na celebrao do primeirocentenrio de um dos trs maiores feitos manicos do Brasil(1822, 1835-45, 1889), queremos abraar fraternalmente a todos osnossos irmos de raa (?!), na firme compenetrao de todos osdeveres cvicos e humanos, subscrevendo na presente os propsitosque animam aos Maons de todo o globo terrqueo de lutar semesmorecimento em favor da Paz, da Ordem e da Prosperidade daPtria, para que ela seja forte, grande, feliz e amiga das outrasPtrias, concorrendo aureamente para o bem-estar geral da FamliaHumana.

    Quer do ponto de vista ideolgico e quer na feio prtica, jno pode caber a mnima dvida sobre o fato de haver sido aGrande Revoluo um movimento visceralmente manico, DE

    JURE ET DE FACTO.E, nesta hora em que tudo esplendente vibrao na alma do

    Rio Grande do Sul, entendemos devido e necessrio concitar osMaons e os profanos brasileiros a que tenham f nos propsitosordeiros, progressistas e fraternos de todos os Maons regularesriograndenses os defensores dos mesmos ideais pacficos e fraternais de Bento Gonalves, Onofre Pires, Garibaldi, Padre Caldas,Padre Santa Brbara e de tantos outros, que fizeram realidade o

    sonho farroupilha, j anterior a 1835 (?!).AS INSGNIAS DO ESTADO, as proclamaes da poca, tudoquanto existe de autntico sobre a Grande Revoluo serve paraatestar a estruturao GENUINAMENTE MANICA do movimento.

    E, por tudo isso, o regozijo dos Maons Antigos, Livres e Aceitosdo Oriente de Porto Alegre, no instante em que todo o Brasil, peloPoder Pblico, pelo Povo e por todas as expresses de sua cultura ede sua vida, est sagrando o feito herico dos nossos Irmos

    Maons do decnio glorioso, daqueles que souberam render, durante dez anos, um culto de sangue (?!) Liberdade, Justia e Moral.

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    Reafirmamos, nesta hora de esplendentes comemoraes, ajnquebrantvel f que tributamos liberal-democracia filha primognita da Grande Revoluo Francesa de 1789 e, conseqentemente, da BENEMRITA, HUMANA, GLORIOSA E REAL ARTE DAFRANCO-MAONARIA, conformeseria mesmo fcil constatar no prprio livro "As foras secretas daRevoluo", de Lon de Poncins.

    E, ao fazermos to soleneproclamao, concitamos todos ospatrcios e todos os Irmos ao cumprimento estrito dos deveres assumidos para com a Ptria e a Huma

    nidade, constituindo-se defensoresda Paz e do Progresso, para perfeita e produtiva colaborao dequantos se dedicam glorificaoda Raa (?!) e felicidade da Ptria.

    Deus d ao Rio Grande doSul, nesta hora que nos sagrada,

    tudo quanto pode e deve aspiraruma terra que encerra as mais altas virtudes no corao de seupovo!... Deus d ao povo gacho antida compreenso de seus deveres pelo bem comum da Ptria!Deus d a todos ns o poder denos elevarmos acima de todas as

    questinculas partidrias, pessoaisou escolsticas, permitindo-se, assim, um congraamento real e totaldos filhos do Pampa, econmica,poltica e socialmente, para juntospodermos tributar a devida reverncia aos Maiores (?!) e cumprirmos nosso dever de gachos, ADMAJOREM DEI GLORIAM.

    Que, assim, o Grande Arquiteto do Universo nos ajude, pelo bemgeral da brasilidade!...

    As duas colunas manicas, Jakin eBooz, Boaz ou Bohaz, segundo afig. 4 do t. VI da obra "Biblioteca

    Manica ou Instruo Completa doFranco-Maon", dedicada aosOrientes Lusitano e Brasileiro porum Cavalheiro Rosa-Cruz, Aillaud,Guillard &Cia., Paris, 1864. Compare-se o smbolo com o braso do RioGrande do Sul. A maonaria temtoda a razo, quando afirma oficialmente que so manicas as insgnias do Estado. E ns, apoiados nadocumentao insofismvel que

    apresentamos, temos toda a razoem dizer que o glorioso e hericopovo gacho deve substituir esseescudo, que no dele, mas de umasociedade secreta, por um seu, quesimbolize seu nobre e tradicional papel de guarda vigilante e muitas vezes sacrificado das fronteiras meri

    dionais do Brasil.

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    Oriente de Porto Alegre, aos 24 dias do ms de setembro de1935 da Era Crist, Centenrio da Revoluo Farroupilha e Oitavo dafundao de nossa Grande Loja Simblica. Conde Cagliostro, Mestre Maon; Aulon, Mestre Maon; Scrates, Mestre Maon; Wilson,Mestre Maon."

    Como se v, em 1936, reproduzia-se essa proclamao de 1935.O jornal referido a publicou com todos os carimbos e selos da GrandeLoja, a fim de autentic-la, porque est firmada por pseudnimos. Amaonaria at hoje no desmentiu esse papel. Devemos aceit-locomo prova. Por ele se verifica que os feitos do povo gacho sofeitos dos Irmos Maons e que as grandes datas de nossa histriaso simplesmente datas manicas. Se a maonaria fala a verdade, tempo de nos libertarmos desse Estado secreto que tudo manobra

    dentro do pas, segundo confessa, o que pode ser muito agradvelpara os Maons Aceitos ou no Aceitos, porm muito desagradvelpara os profanos, que so a maioria. Se a maonaria mente e sepavoneia com glrias alheias, ento acabemos com essa tropilharidcula que est lanando o desprestgio sobre os fatos da histrianacional, fazendo-os todos passarem como forjados no seu cadinhosecreto. Os documentos e a lgica infelizmente demonstram que aao manica verdadeira.

    De brao dado com a maonaria se encontram por toda a parteoutras sociedades secretas, trabalhando em prol da RAA, eufemismo com que os annimos autores do manifesto retro escondem seupreito de vassalagem vil, abjeta e infame Raa Judaica, ao povomaldito de Israel. Em So Paulo, a Burschenchaft age de concertocom as lojas; no Par, o iluminismo; no Rio Grande do Sul, ocarbonarismo, em cujos sete primeiros graus muito se fala no cristianismo para embair os papalvos; mas em cujos trs ltimos se declaraguerra a toda religio e sociedade. No grau de mestre, o ritual carbo-

    nrio acusa Nosso Senhor Jesus Cristo por ter atentado contra aigualdade original dos homens, dizendo-se Filho de Deus. No stimograu, o carbonrio jura guerrear toda religio e todo governo positivo(3).

    O carbonarismo nasceu e se desenvolveu no reino de Npoles,onde tomou grande impulso quando da ocupao austraca com aqueda de Murat. Ligou-se maonaria atravs da loja francesa Amisde Ia Verit, no dia 1 de maio de 1821. Chamamos a ateno para

    essa data simblica, sempre escolhida pelas foras secretas e pelojudasmo por ser uma data pag, anti-crist por excelncia. a datada chegada a Paris, com a mensagem comunista, como demonstra

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    Salluste, do judeu Caim Buckeburg, que se convertera e tomara onome de Henri Heine, e que, segundo o testemunho de J. Santo em"Les mfaits d'lsrael", "adotara a armadura e a bandeira do inimigopara poder feri-lo com mais segurana".

    A ligao da carbonria maonaria foi resolvida, conta Joo deWitt, o grande unificador das sociedades secretas, numa reunio deonze chefes carbonrios em Cpua (4). Dali partiram para a Frana,munidos de credenciais para agir em nome da Alta-Venda Carbonriao duque de Garatula, siciliano, e Cario Chiricone Klerckon, filho doduque de Framarino, napolitano. Os franceses dessa poca conheciam os carbonrios como Adelfos e Filadelfos, achando seus primeiros graus demasiadamente cheios de cristianismo, o que os outrosexplicavam pela necessidade de usar dessa isca numa terra profunda

    mente catlica como a Itlia. Ainda de acordo com a insuspeitssimaopinio de Joo de Witt: "O pensamento dominante da associaonada tinha de preciso, mas os consideranda se resumiram a decretara soberania nacional sem a definir... Porm, quanto mais vaga fossea frmula, melhor servia diversidade dos ressentimentos e dosdios. Ia-se, pois, conspirar em vasta escala e isso sem idia defuturo, sem estudos preparatrios, ao sabor de todas as paixes ecaprichos." Uma beleza!... O famoso Lafayette, maon de quatro

    costados, foi um dos primeiros a se fazer carbonrio, quando serealizou a unio da Alta-Venda com o Grande-Oriente, que a Vendaoficialmente denominava o Alto Firmamento.

    Alexandre Dumas conta que o carbonarismo se espalhara naItlia em 1820, sobretudo nos Estados da Igreja, unindo-se aos restosda antiga seita ou partido dos Guelfos e aos elementos bonapartistas.A GRANDE LUZ dessas sociedades era Luciano Bonaparte, irmo doImperador, o qual combatia violentamente o clero e preparava osespritos para a repblica. No reino das Duas Siclias, chegou a haver

    seiscentos e quarenta e dois mil carbonrios (5)! La Farina, apavorado, computava-os em mais de oitocentos mil (6)!

    A carbonria, embora sob formas diferentes, tem as mesmasdoutrinas do rito manico de Misraim. Sai diretamente da chamadacbala egpcia. "Devendo o carbonarismo operar sobretudo na Itlia,terra toda impregnada de catolicismo, precisava at certo ponto tomaremprestados as suas crenas, mistrios e linguagem, palavras e usosprprios, para enganar os povos, destruindo com mais segurana toda

    a f nos seus adeptos e conduzindo-os pelo mais obscuro fanatismoao ltimo limiar do pantesmo e da anarquia moral (7)." Seus membrosno se tratam por irmos, mas por bons primos. Na sua impiedade,

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    Jesus o primeiro dos bons primos. Nada mais. Nos dois primeirosgraus, falam muito da Santssima Trindade, da Santa Virgem, de SoJos e dos Apstolos, empregando termos como "batismo", "pecadooriginal e mortal", referindo-se sempre F, Esperana e Caridade, chegando a recitar Padres-Nossos e Ave-Marias, e afirmando queo fundador da Ordem foi So Teobaldo (8).

    Assim, a maonaria carbonria designa seu fundador, Teobaldo,a que alude Larmening de Alexandria, o restaurador da Ordem dosTemplrios depois de esmagada pelo Rei Filipe e Belo e abolida peloPapa Clemente, tendo sido o primeiro Gro-Mestre em seguida aJacques Molay (9).

    Todos os nomes a que aludimos so invocados sem o menorrespeito pela verdadeira f. Pouco a pouco, conforme se vo elevando

    os graus, as impiedades se tornam tambm mais visveis e grosseirasat se chegar, ritualmente, aos Deus-Fogo, ao Pantesmo, a todos osmistrios da santa religio carbonria. O ltimo grau a proclama-o do iniciado como FILHO DE DEUS E REI, isto , a ltima palavrado lluminismo, do Martinismo e do Pantesmo. Tal rito destri a basedo cristianismo, pois, se todos ns somos deuses e reis, Jesus Cristono poderia ser mais do que somos. A divindade e a realeza doiniciado completam-se na liturgia da vingana contra os tiranos. Aconstituio carbonria preceitua textualmente o seguinte: "Um concilio de todos os bispos reeleitos ou confirmados pelo povo restabelecer a religio crist na sua pureza primitiva (10)." Essa reconstituiodesse pseudo cristianismo antigo e puro equivale destruio daverdadeira Igreja. Tanto que, segundo o testemunho irrefutvel dogrande carbonrio Joo de Witt, alm dos graus de todos conhecidos,havia um inteiramente desconhecido, anlogo ao HOMO REX dosiluminados, no qual se revelava que o fim supremo da Ordem era, emverdade, a destruio de toda religio (11).

    Esta seria a seita manica escolhida para atuar na primeiralinha no Rio Grande do Sul, atravs de um enviado culto e inteligente,o conde Tito Livio Zambeccari, atravs de um condottiere de poucasletras e grande bravura, pianto uomo viosa, Giuseppe Garibaldi, eatravs de outros, como veremos com tempo e vagar. Na opinio dePietro Borelli, Garibaldi era uma nulidade intelectual (12). Revolucionrio indisciplinado e talvez um tanto inconsciente do que fazia. -Maisfora instintiva do que reflexo. Por isso, Cavour servia-se dele (13).

    Pela carbonria, estava ligado a Mazzini, que fundara em Marselha,no ano de 1831, a famosa sociedade Jovem Itlia, que se refugiara emLondres, onde, sombra da proteo das lojas e do Kahal, nada mais

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    fizera do que organizar conjuras entre 1833 e 1834. Naturalmente,Garibaldi devia ter alto posto nas Vendas carbonrias, porque fraelevado a Gro-Mestre Geral do Rito de Mnfis e de Misraim, do qualelas emanavam (14). O maon arrependido Domenico Margiotta, quefoi uma das figuras primaciais da Ordem, afirma que Garibaldi nopassava de um instrumento da poltica judaica da Inglaterra, entodirigida por lord Palmerston (15). "Na histria acrescenta sabe-se o que se v no teatro, ignora-se o que se passa nos bastidores(16)." Lord Palmerston era amigo ntimo do tirano Rosas, visitava-o noseu desterro da Inglaterra freqentemente e herdou-lhe o arquivo, portestamento...

    Notemos de passagem estas coincidncias acidentais: Garibaldi, Gro-Mestre Geral do Rito de Mnfis e de Misraim; o carbona-

    rismo originrio das Duas Siclias e saindo do Rito de Misraim e dacbala egpcia; Cagliostro, o aventureiro siciliano misterioso, enviadomanico s lojas francesas, Gro-Copta da cbala egpcia, fundadordo Rito de Misraim; a assinatura do Mestre Maon que vem emprimeiro lugar no documento anteriormente publicado neste mesmocaptulo, no qual o Oriente de Porto Alegre reivindica de pblico paraa maonaria a autoria da revoluo dos Farrapos e at a do prpriobraso do Estado, , simplesmente, este: CONDE CAGLIOSTRO! A

    identificao dos criminosos secretos exige uma ateno e uma pacincia de Sherlock Holmes; mas, quando se apanha uma pista ou seconsegue apontar o rastro marcado na areia, os maons gritam que mentira, mentira, mentira!... Deixemo-los gritando e vamos tratandode os desmascarar.

    fato inegvel que, segundo a afirmao de Canabarro Rei-chardt, "idealistas tericos da revoluo", vieram juntar-se aos Farrapos e trazer-lhes "o seu contingente de idias" (17). O principaldesses tericos foi justamente Zambeccari, "o famoso carbonrio e

    intemerato adepto da unificao italiana", grande conspirador, tcnicono assunto, cuja influncia sobre o esprito de Bento Gonalves, ochefe dos Farrapos, no se pode negar (18). Bento Gonalves foi, nossucessos do Rio Grande, o "organizador e coordenador dos nimosdescontentes" (19). Como tantos outros caudilhos daquela regiofronteiria, era um homem de pouca instruo, criado na vida rude doscampos, cheio de pundonor, veterano de todas as lutas platinas,tendo-se alistado no Exrcito Pacificador de D. Diogo de Souza, em

    1811, aos vinte e trs anos de idade. Aliava grande e natural bravuragacha, uma honestidade sem par, todo eriado de pontos de honra ede escrpulos morais (20).

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    Na seo livre do "Correio do Povo" de Porto Alegre n de 24 de setembro de 1935,

    em artigo 2ob o ttulo "Maonaria versus Integralismo", a maonaria riograndensedeclarou oficialmente o seguinte: "As insgnias do Estado, as proclamaes dapoca, tudo quanto existe de autntico sobre a grande revoluo servem para atestara estruturao genuinamente manica do movimento." Refere-se revoluo dosFarrapos, de 1835 a 1815.Estudemos essas insgnias manicas no seu painel oficial do tempo da revoluo,aqui estampado. No meio de um trofu de armas e bandeiras, um escudo oval, tendoduas colunas plantadas sobre rochedos, e, no meio delas, um losango com rosceass pontas e um quadro, em que o barrete frgio republicano repousa sobre uma haste,entre dois ramos.

    Analisemos documentadamente os smbolos a contidos. O barrete frgio se encontraentre rosceas simblicas, que, mais tarde, se transformaro em estrelas. Essasrosceas so as do Sephiroth da Cbala, como se pode facilmente verificar nagravura colorida que abre o cap. XXI da grande obra de Manly P. Hall. "Encyclopedia

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    of masonic, hermetic and rosicrucian symbolical philosophy", So Francisco, 1928,que pode ser consultada na Biblioteca Nacional, na Seo de Gravuras, sob os ns 31- 3 - 8 . Isso mostra que nenhuma mincia deve ser desprezada no estudo, interpretao e leitura de qualquer sinal manico. O losango nada mais do que a representao dos dois tringulos que formam a chamada Estrela de David. Esto unidos pelabase e significam o dualismo maniqueu, a igualdade do Bem e do Mal, em luta

    constante.Os rochedos so o que se chama em linguagem manica a Pedra Bruta: o homemtal qual o fez a natureza e a sociedade, ensina Henri Durville em "Os mistrios damaonaria e das sociedades secretas", pg. 45. O maon Dario Veloso, em "O templomanico", considera a Pedra Bruta o "estado primitivo, ignorncia, paixes, egosmo" e acrescenta: "Trabalha com ardor na Pedra Bruta e vers brilhar a EstrelaFlamejante", pg. 221.As duas colunas so as que esto em todas as lojas. "As Colunas do Templosimbolizam declara Dario Veloso, op. cit., pg. 178 dois princpios de equilbriosocial: Tolerncia e Solidariedade. Na famlia, representam o Homem e a Mulher, cujo

    antagonismo se resolve pelo Amor. Analogicamente, representam ainda: a Razo e aF; a Cincia e a Religio; o Bem e o Mal; a Luz e a Treva." pg. 220, ainda escreveque uma delas, Jakin, o Esprito, e a outra, Boaz, a Matria: o Ativo e o Passivo; aLiberdade e a Necessidade."As duas colunas, Boaz e Jakin define D. Jos M. Caro, pg. 57 de seu livro"Mistrio!", representam os dois princpios que, segundo os gnsticos e maniqueus,produziram o mundo, o Bem e o Mal, a Luz e as Trevas, Osris e Tfon, Ormuz eArimano, Satans e Jesus Cristo, a Forma e a Matria, o Fogo e a gua, o Macho e aFmea. A coluna branca o emblema do sexo feminino, a negra do masculino.Lendo-se as letras ao inverso, tem-se o segredo da natureza formulado em hebreu."Afinal, o gro-mestre do Paladismo manico, das lojas de retaguarda, d a ltima

    revelao para uso somente dos altos graus, no seu "Sepher H'debarim", pg. 46, quecitamos em ingls para evitar torpezas em vernculo: "Jakin thus while symbolizedthe state of erection of the Membrum virite, when prepared for begetting or creating inthe womb: Bohaz symbolized the potency, vigor and fierce, and even cruel desire ofthe same member"O povo gacho, sentinela de nossas fronteiras, coberto de glria, devia ter um brasoque simbolizasse sua coragem, seu denodo, seu sacrifcio, seu cavalheirismo sempar, que merecem o respeito e a gratido de todos os brasileiros. A maonaria judaicae infame, iludindo seu heroismo magnfico de 1835 a 1845, desrespeitando o sanguede tantos heris tombados por um ideal, imps-lhe subrepticiamente essas armas,

    cuja autoria ela prpria confessa e cuja indecente e satnica significao seu gro-mestre, o general Albert Pike, revela aos iniciados.Que os bravos riograndenses, compreendendo nosso amor pela sua glria e nossaestima pelas suas belas tradies, recusem a herldica manica-carbonria-judaicae adotem um novo braso, cristo, nacional, expressivo de seus altos feitos, histrico. mocidade dos pampas, que deve ser brasileira e no manica internacional, cabede pleno direito essa necessria, imprescindvel reivindicao.Como se v, nada inventamos sobre o assunto e nada mais fizemos do que esclarecer definitivamente o caso com as palavras da maonaria e dos maons, capazes de,sob o vu de seus mistrios, impor a um povo admirvel e generoso os seus smbolosimorais e bafomticos.

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    Os dois aventureiros italianos e carbonrios, vindos para a Amrica do Sul a insuflar revolues, a sugestionar os seus chefes ou aprocurar imprimir-lhes rumos, nada tinham de superior, quer em valentia, quer em cultura, aos brasileiros que se lanavam por idealismo,inconscientes de estarem servindo a desgnios ocultos, na voragemda guerra civil. Somos neste ponto da opinio de Souza Docca: "Aningum lcito negar que Jos Garibaldi pelejou com bravura ao ladodos hericos farroupilhas e que a estes prestou servios relevantes.Mas a verdade histrica no pode consentir que se coloque o heriitaliano acima dos heris rio-grandenses, usurpando o lugar destesnas comemoraes pblicas, na recomendao de seus nomes posteridade, como se tem feito e como acontece no momento a BentoGonalves na cidade do Rio Grande. No so de hoje essas idias, as

    expressamos h quatorze anos, na conferncia que proferimos ao serinaugurada a herma de Gomes Jardim, em Pedras Brancas. Garibaldifoi grande pelo herosmo e pelo arrojo, embora nesse particular nosobrepujasse os farroupilhas. Foi, entretanto, menor que estes, natenacidade em defesa do ideal que deu vida e movimento Revoluo. Combateu como aventureiro para o que tinha disposio, segundo ele mesmo confessou em suas "Memrias". Entrou para oservio da Repblica Riograndense com desaire, quando esta ascendia gloriosamente para o fastgio a que chegou, e a abandonou,

    tambm com desaire, em suas horas amargas para o declnio e foi,em seguida, legao brasileira em Montevidu, anular, renegar oseu passado de lutas, em troca de uma anistia, conforme documentoexistente no arquivo do Itamarati" (21).

    ainda o mesmo Souza Docca que assegura: "Zambeccari nofoi desterrado, no foi deportado, nem seguiu para a Europa compressa de abandonar os seus amigos, foi por seu desejo, em virtudede uma anistia que lhe foi concedida, por humanidade, no dia do

    aniversrio natalcio do Imperador, com a clusula de sair para forado Imprio e de no poder voltar jamais a ele, sob pena de ficarsem nenhum efeito a presente graa. Zambeccari aceitou issocomo um presente do cu e foi embora, sem um adeus aos seusamigos, e se manteve em mutismo absoluto, l no velho mundo (22)."

    Perdida a partida nos pampas, o Poder Oculto salvava seusagentes, necessrios noutro setor da luta anti-crist internacional. Osque iludiram que suportassem as conseqncias. Tanto Garibaldi

    como Zambeccari iriam servir na cruzada pela unificao italiana,grande e formoso ideal que escondia nas suas dobras tricolores aobra virtualmente manica da destruio do poder temporal do Papa-

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    do e de destruio, se possvel, do prprio Papado. Tanto assim queo dia 20 de setembro de 1870 marca a supresso desse poder e,concomitantemente, o estabelecimento em Roma, conforme documenta Margiotta, do rito satnico-paldico da maonaria, decorrentedo sistema de Herodom ou Rito Escocs de Perfeio, que o judeuStephen Morin, desde 1761, tivera por misso, como delegado dosSoberanos Prncipes Maons, propagar na Amrica, ajudado pelos

    judeus Francken e Moiss Hayes (23).O conde Tito Livio Zambeccari viera para o Uruguai em 1826,

    quando Lavalleja lutava contra o Imprio e apresentou-se a essegeneral em Durazno. Convidado a assumir o comando geral da artilharia, arma em que havia carncia de oficiais preparados, "no escondeu a sua inexperincia da guerra e preferiu recusar o posto a

    investir-se de funes para que se no julgava apto ainda (24)." Em1829, quando da luta entre federais e portenhos, recusou o comandode uma companhia da Legio Italiana tambm por incapacidade militar. Baseando-se nesses fatos, Souza Docca nega tivesse ele sido omentor guerreiro, o estratego dos Farrapos. De acordo. Alis, noviera Amrica do Sul para bater-se, mas para sugestionar, intrigar,inspirar e fazer os outros se baterem, retirando-se de mansinho,quando as coisas ficassem pretas. Ento, os idealistas farroupilhas,lanados atroz fogueira, derramariam seu sangue, enquanto osaventureiros carbonrios mendigavam a anistia para pregar noutrasparagens. Os Farrapos traziam n'alma um ideal, que no queremossaber se era justo ou injusto, ideal que se alicerava no amor ao choe ao povo do Rio Grande. Os carbonrios obedeciam s ordensmisteriosas da Alta-Venda ou do Supremo Conselho do Rito de Mis-raim. Todavia, como que zombando do sangue dos heris gachostombados "do vasto pampa no funreo cho", o Oriente de PortoAlegre reclama de pblico, de jure et de facto, para as foras secre

    tas, a completa autoria da Grande Revoluo e at as insgnias doEstado! Isto um verdadeiro escrnio s legtimas glrias dos rio-grandenses. O Rio Grande se apaga no seu papel histrico paradeixar brilhar unicamente a maonaria.

    Souza Docca no admite uma preponderncia marcada de Zambeccari sobre Bento Gonalves, de quem era verdadeira "sombra"(25). Nega que ele tivesse sido secretrio e chefe de estado-maior docaudilho Farrapo. Na verdade, no h nenhum documento de sua

    nomeao para o primeiro cargo e j se conhece sua incapacidadepara o segundo. Os secretrios de Bento Gonalves foram Franciscode Paula do Amaral Sarmento Mena, brao direito do chefe, morto

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    constantemente o anel de ferro dos carbonrios, smbolo de suaescravizao. Depois de ser ajudante de ordens do maon Riego, narevoluo da Espanha, fra mandado ao Prata em luta com o Imprio,onde as foras ocultas grandemente atuavam, aproveitando-se daanarquia caudilhesca e fomentando-a (31). Passou para o Rio Grande, quando se assopravam as brasas da revoluo ainda sob ascinzas dos mistrios. "La rivoluzzione bateva alla porte anche di quelleprovinde brasiliana, e Io Zambeccari lavor a tutto uomo, per afetarnelo scoppio(32)."

    Que importa, pois, no tivesse sido nomeado isto ou aquilo? Queimporta no tivesse assinado esta ou aquela proclamao? No eramesses os papis que lhe haviam sido destinados na tragdia nascente.Sua obra tinha de ser, pela prpria natureza, feita anonimamente e

    deixando o menor nmero de vestgios possvel. Os que acham queZambeccari foi o "pai espiritual da revoluo", como diz Alfredo Varela, sentem, como que inconscientemente, a verdade oculta por aqueles anarquistas que se mascaravam no movimento maquiavelicamente preparado e provocado, denominando-o "a nossa revoluo".

    As tramas carbonrias sempre se distinguiram pelo mais absoluto segredo. Quando a polcia de Sua Santidade Gregorio XVI apanhouo arquivo da Alta-Venda, cujas peas principais foram publicadas porCrtineau-Joly, houve grande pasmo diante das revelaes do queurdia e estava urdindo. Assim se fez no Rio Grande, desde as primeiras agitaes do perodo regencial. Vimos as organizaes mancasprecursoras. J em 1832, Zambeccari aparecia em Porto Alegre comonaturalista... Convidara-o a vir seu amigo, o maon Modesto Franco(33). Comeou a atuar. Os iniciados no plano fundamental da revoluo guardavam o mistrio. O centro propulsor e irradiador dos trabalhos subversivos era a loja ou sociedade Maribondina, onde o condecarbonrio pontificava. De onde vinham as ordens e diretivas, nin

    gum sabia. "Este sistema no constitui uma novidade: na organizao carbonria que floresceu em Frana (34), alm dos membros deuma Venda desconhecerem os das outras, todas elas eram manejadas pelas que tinham a categoria de Vendas-Grandes, sem lhescomunicar o segredo de suas deliberaes, simplesmente transmitidas s primeiras, para observncia geral, quando isto convinha aosinteresses da Ordem (35)."

    Agindo atravs desses compartimentos estanques, a intriga ma-

    nica naturalmente criaria no Rio Grande do Sul um ambiente defogo. Os aventureiros estrangeiros corvejavam na capital gacha,esperando a hora da exploso do movimento, cujas idias as foras

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    ocultas, sobretudo desde 1832, vinham esparzindo na sociedade rio-grandense. Luiz Rossetti fazia-se eco dessas idias, numa carta escrita em 1840: queria a passagem de um "regime funesto a outromelhor". Poder algum de boa f e em s razo crer no amor desse

    agente internacional pelo Rio Grande do Sul? Outro estrangeiro,Manuel Ruedas, pregava doutrinas manicas no "Recopilador", de-clarando-se, numa revoluo toda ela de idias gachas, "entusiastada causa da liberdade universal" (36). A consumada boa f do coronelBento Gonalves e de seus companheiros estava longe de podercompreender o que se ocultava sob esses manejos. De olhos fitos noideal da liberdade, cegos pela irradiao dessa estrela flamgera comque a maonaria hipnotiza os povos, aceitavam as decididas simpatias do governo uruguaio e esperavam at seu socorro (37), certos deque a aproximao provinha da semelhana de idias, sem a menorsuspeita, talvez, do tenebroso plano judaico-manico internacional aque eram arrastados...

    Alfredo Varela declara haver quem pense ter sido Zambeccari opai espiritual da revoluo farroupilha. Assis Brasil acredita que elepode ser considerado seu "verdadeiro e real diretor mental" (38).Souza Docca nega-lhe essa primazia nos acontecimentos, achando,porm, que "colaborou na propaganda das idias republicanas, mas

    no exerceu o predomnio que se lhe empresta". O brilhante e documentado historiador esquece a dificuldade de provar documentada-mente uma influncia sinuosa, subreptcia e insinuante, filtrada atravs de segredos carbonrios.

    Os aventureiros aliengenas vieram comanditados ao feito quevisava enfraquecer o Imprio degradado pela Regncia, arrancando-Ihe a provncia de So Pedro, depois de amputado da da Cisplatina.Uma coisa era o seguimento lgico da outra. "O conde Tito Livio

    Zambeccari era bolonhs, descendente de um dos ramos da nobrezaitaliana. Liberal extremista, era filiado ao carbonarismo, associaovastamente ramificada por todos os ngulos da pennsula", depeEduardo Duarte (39). O antigo condenado morte na Itlia, em 1821,o agitador da Espanha de Fernando VII, o intrigante da poltica internado Prata, veio, em 1831, comear seu trabalho em Porto Alegre,sempre oculto. J ali havia um jornal de tendncias republicanas, o"Continentino" (40). no qual colaborou. Em 1834, redigia "O Republi

    cano". Foi ele quem desenhou a bandeira manica da revoluo,segundo o depoimento de Manuel Lobo Ferreira Barreto, a qual frapreparada em Buenos Aires, antes de estourar o movimento, por

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    seu amigo do peito, Francisco Modesto Franco, de acordo com o quedeclarou o espanhol Carlos Maria Huerga (41).

    O agente carbonrio vinha habilmente aproveitar o demagogis-mo da poltica local, casado ao provincialismo, para o lanar no sentido de uma revoluo susceptvel de se desenvolver de etapa emetapa at a repblica e secesso. O ambiente era propcio suaatividade. Desde 1828, na retaguarda das fronteiras invadidas peloinimigo externo e das tropas imperiais desmoralizadas, troavam revoltas, como o reconhecia o visconde de So Leopoldo. Em 1829, portoda a parte, foram espalhados boletins, concitando os rio-grandensesa seguirem o exemplo dos orientais, separando-se e proclamando arepblica. A polcia no conseguiu achar seus autores. Em 1830,segundo um ofcio minucioso de Arajo Barreto ao Governo Imperial,

    esboavam-se na provncia dois movimentos antinmicos: o da rein-corporao da Cisplatina ao Imprio, reacionrio, nacionalista, impe-rialista; e o da separao do Rio Grande, passando a constituir comela um Estado Independente, manico, internacional (42). Essa idiade reincorporao da Cisplatina parece que era agitada de propsito,unicamente para provocar reao, porque os polticos do Rio Grande,embora se hostilizassem nos dois partidos provinciais, eram acordesquanto separao da antiga provncia (43). Ao prprio Bento Gonalves se acusava de aliado oculto de Lavalleja (44).

    Alm disso, "as sociedades polticas, ou secretas ou pblicas,estabelecidas na provncia do Rio Grande do Sul, so tambm acusadas de haverem concorrido para os acontecimentos de 20 de setembro de 1835. Houve na cidade de Pelotas uma Sociedade Defensora semelhana da sociedade que debaixo do mesmo ttulo se fez tonotvel, como sabido, na capital do Imprio. A Sociedade Defensorade Pelotas foi pelo menos um foco de liberalismo exagerado. Houvesociedades secretas no Rio Grande e no'Rio Pardo. Naquela, o

    faanhudo Francisco Xavier Ferreira e, nesta, o sagacssimo JosMariano de Matos procuravam fanatizar os seus adeptos com ossonorosos vocbulos liberdade, igualdade, fraternidade. Na sociedade secreta do Rio Pardo se decretavam homicdios; e um se perpetrou com circunstncias horrorosas na pessoa do digno juiz de pazAntonio Casemiro Cirne: mas de todas as sociedades estabelecidasna provncia de So Pedro nenhuma adquiriu celebridade como a quese denominava do Continentino, estabelecida na cidade de Porto

    Alegre. Esta sociedade tinha no exterior o aspecto de um Gabinete deLeitura (45) e tomava o nome de um peridico intitulado "Continentino", publicado a expensas dela, e redigido por alguns de seus mem-

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    bros, mas o Gabinete de Leitura na realidade era uma loja de pedrei-ros-livres: o que depois se fez patente. Atribua-se a esta loja otrabalho para a federao da provncia do Rio Grande com a Cisplati-na, proclamando o sistema republicano (46)."

    V-se deste documento que o trabalho pela separao com arepblica estava sendo feito pela maonaria. disso que ela seorgulha na proclamao que estampamos: de um crime contra aunidade da ptria. O nome do jornal aludido tpico: nem brasileiro,nem rio-grandense, mas continentino, do continente. Meio caminhopara internacional... O "Continentino", fundado por Joo Manuel deLima e Silva, circulou de 1831 a 1833 (47). Nessa poca, Zambeccariestava oculto em Porto Alegre e, naturalmente, trouxera para o grupoque o mantinha credenciais manico-carbonrias. Souza Docca

    acha que no colaborou nesse jornal, o que no quer dizer que noinspirasse da sombra onde se escondia aos que nele escreviam oseparatismo republicano, incentivando-os a perseverarem nesseideal. De 1835 a 1836, publicou-se em Porto Alegre o "Continentista",que Lobo Barreto declara veculo dos aturdidos republicanos. Paraambos os peridicos, o continente estava acima do Brasil e a brasili-dade abaixo da continentalidade... Etapa manica para o internacio-nalismo judaico fantasiado de humanidade...

    Um dos agentes de ligao com os orientais era um agitadormaon contumaz, excomungado pelo Direito Cannico e pelas condenaes pontifcias, o padre Jos Antnio Caldas, que os orientaischamavam El Cometa, natural de Alagoas. "Tendo sido partidista daConfederao do Equador em 1824, apareceu em Buenos Aires naocasio da insurreio da Cisplatina e, na qualidade de capelo dosexrcitos da Repblica Argentina, passou a servir no quartel generalde Lavalleja, proclamando aos rio-grandenses para que se revoltassem e promovendo a desero das tropas brasileiras, por intermdio

    de seus amigos de Montevidu. Chegou a Porto Alegre em 1832,onde teve "atuao formidvel", como "veiculador de todo o revolucio-narismo nacional". Constituinte de 1823, pertenceu ao Apostolado eparticipou da Confederao do Equador (48). Disse bem quem disseque a maonaria transforma o cristo em judeu artificial. O padre umexemplo disso. Rebelde disciplina da Igreja, apstata de seus dogmas, como brasileiro enfraquece o seu exrcito para dar a vitria aosinimigos da ptria. difcil ser mais infame.

    Em 1829, o padre pretendeu revoltar a Cisplatina, ento paravoltar ao Brasil, do que se infere que no tinha patriotismo como notinha lealdade para com aqueles a quem servia contra sua ptria.

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    Joguete das foras secretas internacionais e anti-crists, fomentavaquaisquer agitaes que lhe encomendassem.

    Somente depois de proclamada a repblica pelos farroupilhas,apareceram os outros dois enviados do carbonarismo. " velha Pirati-ni, ainda capital da Repblica, chegaram dois forasteiros, oriundos delongnquas terras, traindo no linguajar o seu pas de origem, il belpaese che l'Appennin parte, il mar circonda e l'Alpi: Garibaldi eRossetti. Agitadores na sua ptria, arautos da idia nova, membros da

    Bento Gonalves da Silva

    famosa sociedade "Giovine Itlia", apresentaram-se ao governo darevoluo. No era a sua ptria, mas o ideal era o mesmo (49)."

    Vinham dar a ltima demo obra iniciada por Zambeccari. Oideal era o mesmo, porque era o da maonaria internacional. Rossettifundou o jornal "O Povo", no qual escreveu artigos significativos,

    como, por exemplo: "Repblica" e "Agonia do Imprio". Vinha deitar oazeite carbonrio na imprensa dessa poca, que j de si "semelhavaum vulco em chamas" (50).

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    Sebastio Ferreira Soares, no seu trabalho "Breves consideraes sobre a revoluo de 1835", viu bem os interessados no incndiodo Rio Grande, os interessados sem ptria, visando o enfraquecimento do Grande Imprio. Escreve: "Aqueles que s tm por princpio e leio ouro vil, os quais, em todas as lutas que tem atravessado o Brasil,

    tm lucrado com as nossas desgraas; porquanto, no sendo seguidores de nenhuma idia poltica, s se ocupam em traficar e intrigar,com o fim de nos enfraquecerem para dominar... No Rio Grande doSul, ns e muitos brasileiros observamos que os maiores contrabandistas e os que forneciam os punhais, a plvora e as balas aosdissidentes, no eram nascidos no Brasil; assim como os que maisperseguidores se mostravam dos mseros que a sorte das armas nosentregava prisioneiros, tambm no eram brasileiros, mas sim do

    nmero daqueles que, s nossas plagas aportando, ns os acolhemos como irmos e amigos, e alguns dos quais nesta terra de prodgios hoje figuram tanto... Sabemos que, assim falando, no podemosagradar, porm somos brasileiros e jamais prostituiremos nossa conscincia. A febre urea ainda no nos contaminou, e em Deus esperamos que nunca nos infeccione (51)." Este homem viu claramente aao judaico-manica na revoluo a que assistiu: o ouro, os aventureiros, as intrigas, os negcios de contrabando e teve a coragem dedenunciar a vileza com veemncia, sentindo como bom brasileiro quetudo tendia a nos enfraquecer para nos dominar... Bem haja a suamemria pelo desassombro!

    No seu famoso discurso, pronunciado em Aylesbury, no dia 20 desetembro de 1876, dizia textualmente Iord Beaconsfield, o judeu Ben-

    jamin d'sraeli , corri absoluto conhecimento de causa, porque eraisraelita e estadista ingls, ao mesmo tempo: "Os governos destesculo no tm somente que lutar com governos, imperadores ou reise ministros, mas tambm com as sociedades secretas, que, no ltimo

    momento, podem reduzir a nada os acordos, as quais possuem agentes em toda a parte, agentes sem escrpulos, que pregam o assass-nio e podem, se for preciso, provocar uma matana." A matana entreimperiais e Farrapos no Rio Grande do Sul, promovida por essassociedades, duraria dez longos anos, de 1835 a 1845! De lado a lado,verteu-se, quase em proveito somente de contrabandistas de armas,de adoradores do ouro vil e de maons ou carbonarios, o sangue denobres brasileiros iludidos pelas palavras sonoras das lojas: Liberda

    de, Igualdade e Fraternidade ou Humanidade.Note-se a curiosa coincidncia entre as datas da exploso domovimento revolucionrio dos Farrapos, da entrada de Garibaldi na

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    Roma Papal pela brecha da Porta Pia e do discurso judaico e memorvel de Aylesbury, espcie de advertncia aos governos sobre afora do Poder Oculto de que o lord-israelita era o delegado frentedo Imprio Britnico: 20 de setembro! Os desavisados diro que mero efeito do acaso. Ns no acreditamos no acaso.

    Foi nesse dia, em 1835, que se deu o rompimento em PortoAlegre. Desde a vspera, 19 de setembro, os revolucionrios estavamreunidos, sabendo que as foras do governo eram diminutas e minadas pela desero. Na impossibilidade de resistir, o presidente daprovncia embarcou para a cidade do Rio Grande. No dia 21, BentoGonalves entrava na capital frente de seus partidrios. No dia 25,lanava um manifesto, justificando a rebelio: declarava, como todosos rebeldes da Regncia, respeito "ao nosso cdigo sagrado, ao trono

    constitucional e conservao da integridade do Imprio". A procla-mao de Marciano Pereira Ribeiro, em 1836, ainda terminava comum viva a D. Pedro II (52). Toda revoluo manica comea comessas juras hipcritas e s Deus sabe at aonde pode ir, de etapa emetapa. A Revoluo Francesa comeou querendo constituio e rei.Acabou querendo cada vez mais terror e guilhotina. A russa principiouna repblica liberal-burguesa de Kerenski e terminou no marxismo deLenine. A verdade que, dentro de pouco mais de ano, se proclamariaa Independncia e a Repblica Rio-grandense em Piratini, a 6 denovembro de 1836, tornando-se a revoluo "francamente separatista" (53). Ora, que novidade! Ela no saiu das lojas com outra finalidade. A repblica se instalou quando Bento Gonalves estava prisioneirodo Imprio. De volta ao Rio Grande, libertado pela maonaria baiana,ele aceitou os fatos consumados e diz textualmente Rio Branco "combateu contra a Unio Brasileira" (54).

    A causa aparente da exploso revolucionria era, segundo diziam, o fato do presidente Fernandes Braga se entregar no governo

    da provncia a influncias reacionrias. motivo muito mido parajustificar dez anos de sangue derramado nas coxilhas! Alis, lendo-sea Representao contra ele, publicada no volume XXIX do ArquivoNacional, no se encontra um argumento de peso. A eterna acusaode reacionarismo que se costumava fazer, durante a Regncia, sautoridades que se queria depor. Bento Gonalves era o chefe dosliberais, que desejavam conquistar a autonomia provincial, idia dofederalismo com que as foras secretas envenenavam o pas para

    dividi-lo e anemi-lo. Calgeras chama-lhe "corrente de pensamentopoltico". O Par estava em franca ebulio revolucionria, Era precisoagitar o outro extremo da Nao, o mais perigoso, o da fronteira

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    castelhana, alm da qual grulhava, como eterna ameaa da ordem, ocaudilhismo maonizado. Sem grandes recursos no Sul, o governoregencial receou, em vista do que ocorria no Norte, a generalizaodo movimento. Compactuou com o fato consumado, embora isso maiso enfraquecesse, no repondo fora, como devia, Fernandes Bragarefugiado na cidade do Rio Grande. Fez o que fazia em todas asprovncias conflagradas. Procurou um tertius gaudet. Mandou substitu-lo por Arajo Ribeiro, futuro visconde do Rio Grande, que tinha avantagem de trazer para seu lado o velho e prestigioso guerrilheirodas coxilhas, Bento Manuel Ribeiro, seu parente e amigo. Era homempatriota, humanitrio, esmoler, viajado e culto (55).

    Feij fra eleito Regente do Imprio a 7 de abril de 1835. Tomouposse a 12 de outubro. Descrente, enfermo e abatido, no tinha mais

    aquela prontido de resolues e aquela frrea energia do tempo emque, como ministro da Justia, esmagara a hidra da anarquia. MasEvaristo da Veiga, perfilava-se por trs dele, sustendo-o, apoiando-o,dando-lhe foras (56). Depois da morte de Evaristo, se tornaria o cacovelho que a maonaria e a bucha lanariam aos azares da tristerevoluo de 1842, diverso favorvel aos Farrapos, como a Sabina-da, para que acabasse no ridculo de ser preso por aquele que fraseu brao direito na manuteno da ordem pblica.

    A Assemblia Provincial, obediente aos ditames de Bento Gonalves, criou dificuldades posse de Arajo Ribeiro, que teve derealizar-se na cidade do Rio Grande, de modo pouco legal, o que teriams conseqncias futuras. Em 1836, baseando-se nisso, a assemblia votaria uma lei suspendendo-o de suas funes. Nesse ano, a10 de setembro, o coronel Silva Tavares, depois visconde de SerroAlegre, frente das tropas imperiais, foi derrotado no Seival pelocaudilho Farrapo Antonio de Souza Neto, que tinha de seu lado ossoldados orientais do cabecilha uruguaio Calengo, mandado por Ma

    nuel Oribe, o Corta-Cabeas, ajudar revoluo (57). Fizera-se aligao com o estrangeiro, realizara-se o continentismo contra averdadeira brasilidade. Por trs de Oribe estava Rosas, apoiado naArgentina Federal e Vermelha, em cujo escudo oficial se encruzamat hoje as duas mos manicas apertadas. O estrangeiro vizinho einteressado intervinha no pleito. O soldado estrangeiro ajudava aderramar sangue brasileiro. Os imperiais tambm lanaram mo desse odioso recurso ao mercenrio.

    O ouro vil a que se referia Sebastio Ferreira Soares, ourointernacional, corria nos bastidores da contenda. Alfredo Varela, umgrande historiador gacho, quem o diz nestas palavras: "A Repblica

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    Farroupilha era alimentada pela MO OCULTA de Mau (58)." preciso, em homenagem verdade, dizer que Irineu Evangelista deSouza era pessoa ligada intimamente a negcios de carter internacional, que se tornaram vultosos e se entrosaram com o Prata. Alberto

    Faria, seu panegirista, reconhece suas relaes com os farroupilhas,dando razo a Varela: "Rezam as crnicas que na ponta do Curvelo,em Santa Teresa, residncia de Mau, encontravam abrigo revoltososforagidos. Certo que nessa casa se trabalhava em favor deles; everemos pela confisso de um, que, para a fortaleza de Santa Cruz(59), o negociante Irineu fazia transportar, ocultamente e suacusta, a alimentao de trinta prisioneiros (60). A dormiu vrias noiteso emissrio que David Canabarro mandou a Minas consultar o libera-lssimo Tefilo Ottoni (61) sobre as condies da Capitalizao (1844)

    e a se tramou a evaso de Onofre Pires da Silveira, da fortaleza deSanta Cruz (62)." No preciso acrescentar mais uma linha para ficarcabalmente demonstrada a ao da MO OCULTA de Mau nosgraves acontecimentos da revoluo republicana & separatista. Quando D. Pedro II tinha pouca simpatia pelo visconde que sabia mais doque ns o que tinha feito e poderia fazer. Alberto Faria naturalmenteensaia uma explicao inocente dessa dedicao ampla causa darevoluo: "Riograndense de nascimento e filntropo de alma (sic!),

    fora de dvida que, ou tivesse o esprito de revolucionrio ou no, omorador da chcara de Santa Teresa fez jus denominao que suacasa ganhou, quilombo riograndense."

    A filantropia do negociante levou-o a gastos excessivos (63) eat a "fazer sustos ao Imperador" (64), isto j depois da maioridade,no ltimo e desesperado quartel da luta fratricida de dez anos. Seriatambm por filantropia que a MO OCULTA se estendera com ouroaos Treinta y Tres da cruzada libertadora da Cisplatina, depois de1825 (65)? Da Cisplatina, que, independente, iria ser por longos anoso feudo dos negcios da casa bancria de Mau? No pode serinvocada seriamente a desculpa do bairrismo para este caso: IrineuEvangelista de Souza no era uruguaio de nascimento. De fato, o quesempre teve foi grandes interesses na Banda Oriental. O dinheiro notem cheiro e os negcios no tm ptria...

    O enviado de Canabarro, que vinha consultar o ouro, a MOOCULTA, isto , Mau, e a fora secreta do judasmo-manicorepresentada por Tefilo Ottoni, se se devia ou no aceitar como

    ltimo e nico recurso a paz com o Imprio, conforme a propunha obaro de Caxias, foi o tenente Martins, que chegou ao Rio de Janeiro

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    sob o nome de Jos Simeo, se ocultou na residncia de Mau, partiupara o Serro a conferenciar com Tefilo Ottoni, recebeu suas "instrues secretas", voltou, de novo esteve na casa de Santa Teresa elevou a Canabarro a palavra de ordem definitiva (66).

    Mau chegara muito moo posio de gerente do negociantejudeu-ingls Carruthers, o qual gozava de tal prestgio na Corte queinfluenciava as medidas governamentais e influa no nimo deestadistas como Paran, Uruguai, Euzbio, Monte Alegre, Itabo-ra(67). Era quem mandava! Por que artes? Por que segredo, sendoum comerciante e um estrangeiro se tornara manda-chuva poltico?Pelo dinheiro, j que se lhe no conhece talento ou outra qualquervirtude. No h outra explicao, doa em quem doer. Ricardo Carruthers era scio, por sua vez, do judeu anglo-luso Jos Henrique

    Reydell de Castro. Ambos tinham estreitas e muito antigas ligaes defamlia, que datavam do tempo em que o pai de Jos Henrique,enobrecido com um Dom e usando um velho e nobre nome peninsu-lar, para maior disfarce, D. Miguel Caetano de Castro, fra fsico-mristo , mdico-chefe da casa de D. Joo VI. A firma dos descendentesentrelaados era Carruthers, de Castro & Cia., de Manchester, cujochefe, unha e carne com Mau, Ricardo Carruthers, era um socialistasansimoniano, viajado e de temperamento messinico (68)...

    Encontramos a MO OCULTA dando ouro aos farroupilhas paraa guerra. Seguramo-la. Era a mo de Mau. Este o vimos ligado a um

    judeu ingls socialista e messinico, naturalmente pessoa de importncia no Kahal. Outros historiadores nos deram as deixas. Nada maisfizemos do que estabelecer as ligaes lgicas entre os fatos que elesdocumentaram. Ser possvel que nos possam taxar de vesnicos, defantasistas ou de caluniadores?

    "Les hommes d'aujordhui sont semblables un voyageur qui a

    parcouru beaucoup de chemin, march pendant des lieues, et quis'aperoit qu'il a tourn sur lui-mme, qu'il est revenu son point dedpart. Aprs bien des circuits, nous nous retrouvons en face du juif telqu'il tait au Moyen-Age. S'il n'a plus Ia rouelle jaune, il a le mmevisage, le mme sourire, les mmes proceds, Ia mme haine de Iasociet chrtienne, et surtout le mme systme conomique (68)."

    Esse sistema econmico que nos depaupera e se exerce portodos os meios o que, no mais alto sentido da palavra, a Igrejadenomina USURA, que a Doutrina Social Catlica qualifica proventosem causa. So Boaventura chama-lhe "aambarcamento do alheiosob o vu do contrato", o que equivale a beneficiar-se ilicitamente sob

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    as frmulas legais. a ars nequissima ex ipso aurum nascitur deSanto Ambrsio. o que mereceu a imprecao de So Baslio: Tuvero fenerator... Sine terra plantas, sine statione metis. o queSo Crisstomo considera: pestiferam agriculturam... Como norecua diante dos maiores crimes, na torpe avidez do lucro, fomentan

    do revolues de irmos contra irmos, dando a mo ao estrangeirocontra a prpria ptria, So Gregorio de Nyssa equipara a usara aoparricdio. Chamamos hoje ao que os antigos denominavam singelamente USURA capitalismo.

    "Nenhum cristo pode confundir capitalismo e propriedade. Ocapitalismo parece com a propriedade como a obra de um falsificadorcom o documento autntico. Um dos pergaminhos a verdade eoutro, a mentira. No so somente diferentes, mas fundamentalmente

    opostos. So o contrrio e a negao um do outro. O capitalismoparece com a propriedade como o sofisma parece com o raciocnio,como Caim talvez parecia com Abel (70)." O cristianismo representa,na vida econmica, a defesa da propriedade atacada por Israel, pelocapitalismo e pelo comunismo. Essa luta que, assim, vemos no planomaterial, conseqncia da que se trava no plano espiritual; o Cristoe o Anti-cristo. Para chegar a seus fins, o judasmo mascara-se comtodas as mscaras e manobra todas as maonarias por meio de suaMO OCULTA. muito difcil apanh-la em flagrante como no caso

    da revoluo farroupilha.Nessa luta dos Farrapos contra o Imprio, apanhamos o judas

    mo e a maonaria: esta, preparando o terreno, criando o clima, deflagrando o movimento (71); aquele MO OCULTA de Mau ligada aobrao de Carruthers, de Castro & Cia., de Manchester, distribuindo oouro judaico que alimentava o derramamento de sangue brasileiro.Muito sangue de heri iria custar a Repblica Riograndense, "Estadoefmero diz Assis Brasil erguido na extrema meridional do

    territrio brasileiro e cuja tumultuosa existncia, constantemente hostilizada pelas armas do Imprio, no conseguiu transpor o seu perodode formao. Nunca a bravura, a constncia e as virtudes cvicas,servidas por homens de minguada educao, deram de si mais surpreendente espetculo do que nessa luta de cerca de dez anos, queao esprito do historiador evoca a tradicional tenacidade dos povosantigos (72)."

    Aplaudimos de todo corao estas palavras!

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    Captulo I!

    A EPOPIA DOS CENTAUROS

    Os centauros estavam largados nas coxilhas, de ponchos ao

    vento, espadas nuas, lanas em riste, seus bravos caudilhos frente:Bento Gonalves da Silva, Antnio de Souza Neto, Lima e Silva,Onofre Pires, Joo Antnio da Silveira, Crte Real, Gomes Jardim,Crescncio, Manuel Lucas de Oliveira, Antnio Joaquim da Silva, oMenino-Diabo. Nem todos eram filhos dos pampas e o ltimo eraportugus. Vestiam fardas vermelhas, quando tinham fardas. Sobre acabea, gorros, chapeires ou os pequeninos qupis francesa, comas argelinas de pano branco protegendo a nuca. Farrapos? Por qu?

    O nome comeou sendo farroupilha, esfarrapado, e representa

    uma tradio revolucionria manica-judaica, como o de jaques ejacobino, vindos de Jaques ou Jacob Molay, gro-mestre dos Templ-rios. Designaram-se com o apelido de esfarrapados, farrapos, farroupilhas, maltrapilhos, gueux, os confederados da Holanda, da Guel-dria, da Zelndia do Brabante, revoltados contra a tirania espanhola.No estamos aqui para fazer a histria dos Pases-Baixos e, por isso,nos limitamos a simplesmente dizer que, no fundo dessa revolta,estavam os judeus dos ricos e populosos guetos que haviam tornado,

    na poca, a Holanda a "Judia do Norte". Eram eles que incitavamcontra Filipe II, o grande Rei cristo odiado e caluniado, os calvinistasenleados em sociedades secretas. Quando os fidalgos protestantespostos frente do movimento foram a Bruxelas apresentar regenteMargarida de Parma suas reivindicaes, um dos conselheiros daprincesa no quis que ela os tomasse a srio e disse-lhe: Senhora,no passam de maltrapilhos! Da por diante, o grito de guerra dosrebeldes foi: Vivam os maltrapilhos! Vivam os farroupilhas! Vivamos farrapos! como se queira traduzir. E houve os farrapos do mar,

    armados em corsrios, e os farrapos dos bosques, guerreando emterra.

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    Talvez porque a luta riograndense tivesse de ser disputada,como o foi, no mar e em terra, haja acudido aos seus fomentadoresocultos a idia de batiz-los com o apelido j tradicional nos movimentos provocados contra a religio e a monarquia. Na verdade, o nomede farroupilha comea a aparecer nas agitaes liberais de 1830. Em1832, j existe o Partido Farroupilha. O nome vinha de fora da provncia. Traziam-no do Rio de Janeiro, onde j existia um grupo manicotramando a sublevao do Rio Grande e com essa alcunha, algunsliberais-farroupilhas, entre os quais se destacavam pela sua atividade e entusiasmo o major Joo Manuel de Matos e o tenente Jos dosReis Alpoim (1). Depois de farroupilha, com o tempo, veio a palavrafarrapo.

    O chefe supremo dos Farrapos era Bento Gonalves da Silva,

    veterano de Sarandi e Ituzaing, comandante superior da GuardaNacional e da fronteira do Jaguaro. O comandante das armas, marechal Sebastio Barreto Pereira Pinto, fez-lhe acusaes quanto anegcios na raia do Uruguai. Foi chamado ao Rio para justificar-se. Alichegou em maio de 1835 e a cada aperto de mo que trocava sentiaos toques rituais da maonaria. Quase toda a gente, os pr-homensda govemao frente, pertenciam irmandade da Accia. Evaristoda Veiga, seu amigo. Diogo Antnio Feij, seu amigo. Voltou triunfan-te, trazendo o compromisso de providncias formais contra os retr-gados, que embaraavam os planos dos liberais e da nomeao presidncia do gacho Antnio Rodrigues Fernandes Braga, homemhonesto e de carter moderado. Os retrgados eram os adversriospolticos dos farroupilhas. Estes os denominavam: galegos, caramu-rus, absolutistas, camelos, carimbotos e escravos do duque de Bragana. Eram por sua vez mimoseados com os apelidos de farrapos,anarquistas e ps de cabra.

    "Afirmam alguns contemporneos que a idia da revoluo se

    assentara definitivamente no nimo de Bento Gonalves durante suapermanncia na capital; que um plano existia ali, concebido por homens como Evaristo da Veiga, de sublevar ao mesmo tempo o pasinteiro para estabelecer-se a federao, que, pelos meios legais, j seafigurava impossvel; que, no Clube Federal, secretamente se tramaraa runa completa do partido retrgrado, como condio de vida para anacionalidade brasileira (2)."

    Antes de Fernandes Braga, veio para o governo da provncia

    aquele mesmo Jos Mariani, que vimos impedido de governar o Par.Tomou posse a 22 de outubro de 1833, numa capital agitada pelosretrgados, chefiados por Sebastio Barreto, e os liberais, alarmados

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    com o estabelecimento da Sociedade Militar, ninho de absolutistas.Fernandes Braga, nomeado a 14 de fevereiro de 1834, empossou-sea 2 de maio, no meio de "festas ruidosas". De nimo brando econciliador, o presidente no poderia agradar nessa poca de ebulio e de dios. Nem Jesus Cristo poderia servir a gente que estava

    inflamada para brigar pelo menor motivo, que no queria outra coisa.

    Bento Manuel Ribeiro

    Qualquer um ali seria, como diz o povo, preso por ter co ou por noter co. Mesmo aquele que se resolvesse a abdicar de toda personalidade, entregando-se completamente s mos dos mutinos manicos, acabaria desgostando-os pela prpria moleza. Fernandes Braga

    fra levado ao governo por influncia dos exaltados, mas estes seirritavam com a sua mansido, isto , j que conhecemos as molassecretas da histria, eram impelidos pelas mos ocultas a se irritarem.

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    Tanto fizeram que o obrigaram a se apoiar nos inimigos da vspera.Estava declarada a guerra.

    Quando se fizeram passeatas populares por causa da reformaliberal da Constituio, em outubro de 1834, o irmo do presidente,que se achava na cidade do Rio Grande, Pedro Chaves, armou tropase tomou providncias contra essas manifestaes, as quais quasedegeneraram em conflito. Braga foi avisado e apelou para BentoGonalves, a fim de impor ordem, o que este, no caso, conseguiu (3).Mas no havia providncias possveis contra uma agitao que vinhado fundo do mar. O presidente no podia conhecer, naquela poca, aao das foras ocultas como a conhecemos hoje. Via somente asondas, fervendo na superfcie. Algumas traziam vegetaes l dasprofundidades. Denunciou ao poder central a existncia de um parti

    do separatista, tramando de combinao com influentes caudilhos das repblicas do Uruguai e Argentina, s quais cogitava deanexar o Rio Grande. A Regncia negou-lhe recursos para manter aordem. No os tinha, mas, se os tivesse, negaria. No estavam seuspro-homens maons de acordo com Bento Gonalves? No partiamde seus clubes e lojas os militares farroupilhas que iam tocar fogo nosul?

    Os tumultos comearam pela vila do Rio Pardo vieram por Via-

    mo e Cachoeira; acabaram em Porto Alegre. No havia prudnciacapaz de conter os excessos. Sentia-se o roncar de um motor escondido, impelindo todos para a catstrofe. Quando se processavam osmutinos, homens mascarados, seguindo o exemplo clssico dos car-bonrios italianos, penetravam nas casas dos juizes e os assassinavam (4). Em abril, com a abertura da Assemblia Provincial, para elase transportou, na inflamada palavra dos oradores demaggicos, aagitao que andava matroca pelas ruas, tomando expresso legale to soberana como o executivo. Encontrara seu centro de polariza

    o.Fernandes Braga sentia-se tonto em face dos efeitos de uma

    obra secreta que percebia, porm mal. Mas teve, assim mesmo, acoragem de desmascar-la: "Na sua fala de abertura, denunciou Assemblia a existncia de um plano oculto, formado por grandenmero de indivduos, com o fim de revolucionar a provncia e desepar-la da comunho brasileira (5)." Isso nada adiantava, porque amaioria da assemblia, obediente voz de Bento Gonalves, partici

    pava das lojas, das Vendas e dos conluios. Os deputados, ao invs deo auxiliarem, azedaram-se com a revelao. O presidente procurouorganizar um corpo de polcia para sua defesa e garantia. Janza-

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    ros! gritaram os maons. Enquanto um berrando, nas tramas andavam de parceria os irmos da Accia: Bento Gonalves, o famigeradopadre Caldas, "El Cometa", e o caudilho Lavalleja, que pertencia loja manica de Jaguaro (6). E Rosas "afagava j a idia de aulara revoluo no Rio Grande, para impedir que a influncia do Brasil seatravessasse diante dos seus projetos de exclusivo domnio do Prata(7)." O oriental Ruedas, que agredia violentamente o governo daprovncia e do Imprio nos peridicos, no passava de um espio eagente provocador da Argentina rosista e rubra. Ao mesmo tempo, oscomandantes das fronteiras, Bento Manuel Ribeiro e Bento Gonalvesda Silva, os dois Bentos, como diziam no Prata, desavindos, ofereciam o triste exemplo da indisciplina por causa da poltica de campanrio. O maon Sebastio Barreto ajudava a embrulhar tudo. Ameaa

    do de priso, Bento Manuel ocultou-se.A publicao pela presidncia de um manifesto em que aludia aoplano secreto dos farroupilhas lavallejistas (8), determinou o rompimento definitivo de hostilidades. A revoluo estourou na curiosadata carbonria de 20 de setembro. Houve ligeiro combate na ponteda Azenha, na noite de 19. Na manh seguinte, os revolucionriosentravam como faca em manteiga na capital, "to bem combinadasestavam as coisas", declara um historiador gacho. O presidentetomou a escuna "Riograndense" e, seguido da "Dezenove de Dezembro", rumou pela lagoa dos Patos para a cidade do Rio Grande. Sobreas tropas revolucionrias ainda palpitava ao vento a bandeira auri-ver-de do Imprio... A verde, amarela e vermelha viria depois...

    Bento Gonalves, vindo de Jaguaro, entrou em Porto Alegre a21, no mesmo dia em que a Assemblia dava posse ao quarto vice-presidente Marciano Pereira Ribeiro, sob o pretexto de ausncia dosoutros trs. Fernandes Braga respondeu, mudando a sede do governopara o Rio Grande, onde se achava. Tentava a luta, porque "no

    conhecia o alcance do poder que o derrubara", escreve Assis Brasil,naturalmente conhecedor pessoal desse poder por muitos e muitosmotivos...

    O governo semi-revolucionrio, pois se aterrava ainda a umasubstituio vice-presidencial, nomeou Bento Manuel comandantedas armas, em lugar do marechal Sebastio Barreto. A derrota dosimperiais no Seival abrira aos Farrapos o caminho do Rio Grande,obrigando Fernandes Braga a retirar-se para a Corte. Bento Gonal

    ves entrou vitorioso na segunda capital, a 21 de outubro. Avisado noseu esconderijo do que se passava, Bento Manuel procurou evitar aresponsabilidade da atitude que, talvez, fosse obrigado a tomar, con-

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    seguindo da Cmara Municipal de Alegrete um ofcio em que lhe pediase pusesse frente de foras capazes de evitar o derramamento dosangue gacho. Dirigiu-se, depois, para So Gabriel, com duzentoshomens, que ali viu grandemente aumentados. O marechal Barreto

    quis se lhe opor, porm suas tropas estavam minadas pela indisciplinae se esfarinhavam em suas mos. Passou a fronteira uruguaia comalguns oficiais fiis e desistiu do intento. Somente no Rio Pardo osrebeldes encontraram alguma resistncia. A revoluo mal acabavade comear; no entanto, Bento Gonalves anunciava a sua extino,como se se tratasse unicamente da expulso de Fernandes Braga (9).Estaria iludido ou estaria iludindo? Por escrito, como Libertador daProvncia, protestava fidelidade ao Governo Imperial. Qual a revoluo manica no Brasil que no comeou com protestos de fidelidadeao trono e religio? Desde a Guerra dos Mascates. Deveriam, noRecife, correr para as ruas, gritando: VIVA EL REI!...

    Na Corte, Fernandes Braga no encontrou mais a antiga Regncia Trina e sim a Regncia Una, exercida por Feij, com Evaristo portrs. Vinha apavorado, porque sentira de perto o "alcance daquelepoder que o derrubara". Feij entendeu de reagir, ou tinha interesseoculto em reagir, ou recebera ordem secreta para reagir, a fim de quel nos pampas os nimos asserenados se esquentassem de novo e

    os acontecimentos se precipitassem.Nomeou Arajo Ribeiro, homem probo, austero, firme, autorit

    rio; mas no lhe deu foras. L se arranjasse como pudesse. Vimosque a Regncia procedia assim, indefectivelmente, com os presidentes que nomeava para o Gro-Par devorado pelos cabanos. A mesma coisa em relao ao Rio Grande dos Farrapos. Que conivnciaessa do governo regencial, disfarada, mas constante, com todos osfautores de desordem! O novo presidente demorou um ms na cidade

    do Rio Grande e foi a Pelotas conferenciar com Bento Gonalves, quelhe disse esperar somente fosse o procedimento do governo justo erazovel, e que sua demora e ligao com certos elementos do RioGrande j o estavam tornando suspeito...

    Arajo Ribeiro chegou a Porto Alegre, onde Bento Gonalves jo esperava, no dia 5 de dezembro de 1835. A anistia prometida porFeij tardava. A maonaria urdia a tessitura impondervel das suspeitas. Bento Manuel era o nico chefe militar que privava com o novo

    presidente. A Assemblia comeou a negacear para dar-lhe posse.Os juizes de paz, naturalmente industriados, fizeram uma representao em nome do povo, pedindo que a mesma posse fosse adiada.

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    Excelente e bem arranjado pretexto para a Assemblia consultarantes de mais nada a Esfinge do poder central.

    A essas manhas, Arajo Ribeiro revidou com outras. Voltou aoRio Grande, a fim de aguardar a soluo do caso, disse; porm, de

    fato, para combinar com Bento Manuel meios e modos de esmagar oscontrrios. O velho soldado reuniu as foras que pde na fronteira eproclamou Arajo Ribeiro presidente, na sua qualidade de comandante das armas. O presidente, por esse tempo, se ia apercebendo paraa luta, organizando depsitos e tropas. Quando se julgou forte, tomouposse do cargo perante a Cmara Municipal do Rio Grande, a 15 de

    janeiro de 1836 (10). A Assemblia convidou-o a ir ratificar o juramento em sua presena, "sem o que no o poderia reconhecer." Ele nocaiu na armadilha. Recusou. A Assemblia mandou que o vice-presi

    dente continuasse na administrao e ningum obedecesse ao presidente ilegal e intruso. Quase os mesmos processos se puseram emprtica na Repblica para depor oligarcas e fabricar coronis interventores e governadores. Dos coronis baixou-se para os tenentes. Como comunismo, iremos para os comissionados e sargentos. O sargentoBatista no se apoderou de Cuba? O nivelamento moderno comeapor baixo...

    Todos os fatos que sumariamos, em que se no encontra um ato

    de verdadeira opresso, uma exao odiosa, uma execuo injusta,uma tirania caracterizada, absolutamente no justificam a guerra cruelde dez anos entre irmos, com saques e crueldades de lado a lado.Agitaes estreis, aproveitando inimizades individuais, personalis-mos, regionalismos, intrigas polticas locais, pouco e pouco levaramuma provncia inteira aos campos ensangentados das batalhas civis,porque MO OCULTA se encarregou de baralhar todos os fios, deestabelecer a confuso, de criar o clima revolucionrio, de atiar e deaular a rebeldia, que s trouxe dor, sacrifcio, dio e prejuzos aos

    riograndenses dos dois lados e ao Rio Grande, aos brasileiros e aoBrasil. Os nicos a lucrar foram os elementos internacionais, destruidores das ptrias, que lucram com todas as confuses. E a confusoera a melhor atmosfera para o contrabando...

    No ms de janeiro de 1836, a guerra civil est virtualmenteateada. Os grupos se entreveram pelas coxilhas. As lminas dasespadas e as choupas das lanas se empurpuram no sangue dosbravos annimos, sangue de heris brasileiros que o vasto cho verde

    dos pampas bebe em holocausto aos agitadores sem ptria. A 17 demaro, no Rosrio, os legalistas batem os rebeldes. De um e de outrolado, os estrangeiros mercenrios, pagos a dois pataces dirios,

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    derramavam o sangue dos nossos centauros. Se os Farrapos seajudavam com um Calengo, os legalistas estipendiavam um AlbanoBueno. Havia alemes em armas. Os reides de cavalaria percorrem aprovncia, sobre Pelotas, sobre Porto Alegre, para aqui, para ali, para

    acol, rodopiando nos entreveros. Ora, um tiroteio, ora um combate,ora uma carnificina. As cargas de Onofre Pires, de Crescncio, deManuel Lucas tamboreavam no solo fronteirio a marcha pica dosherosmos riograndenses. No fundo daquele mar, revolto e encapela-do, holotria que devora lama ftida, arrastava-se lesmaticamente amaonaria. As ondulaes do seu dorso infecto e submerso transmitiam-se a toda a gua, de camada em camada; mas, quando chegavam, na pureza do ar, sob o cu azul, os cavalos netunianos dasvagas se empinavam, sacudindo no espao as crinas de espumas

    brancas. Esqueamos a miservel holotria rastejante nas trevasdiante da clara e leal cavalgada das ondas. Esqueamos o judasmo eo maonismo escondidos no lameiro para somente admirarmos aslinhas de cavaleiros audazes e bravos, que galopam ao sol, embatem,chocam as armas retumbantes e caem, cobertos de sangue, numderradeiro grito de incitamento pelo seu Ideal... Brava gente! Bravagente! que o teu esprito hoje iluminado na luz da Eterna Aurora inspireaos gachos de nossos dias evitar a intriga babosa da holotria

    manica, que continua a arrastar-se no fundo do mar social e vem tona vomitar a imodstia de tudo ter feito por nossa ptria!Logo, comeam reveses para a revoluo. A Assemblia Provin

    cial continua a manter correspondncia com a Regncia, protestandoobedincia e pedindo autoridades que sancionem com a legalidade osfatos consumados. preciso acabar com os processos que se estofazendo. Mas o governo aprova os atos de Arajo Ribeiro e transfereas reparties pblicas para o Rio Grande. A esquadrilha imperialincomoda as operaes dos rebeldes, cuja cavalaria chega bravamente a tirotear com ela (11). Os legais apoderam-se de Pelotas e,auxiliados pela conspirao de seus prisioneiros na capital, restauramsua autoridade em Porto Alegre, para onde o presidente se transportae que jamais seria retomada. Depois de muitas correrias, marchas econtra-marchas, Bento Gonalves disps-se a assaltar a cidade, masfoi obrigado a retirar para Viamo. E os imperiais, atacando e tomandoo forte de Itapu, acabaram com "o ltimo domnio que a revoluoexercia nas guas".

    Os revolucionrios sentiam-se abatidos; mas a Regncia achouque devia confiar a um general o governo da provncia, a fim deesmag-los de vez. Foi mal aconselhada... Demitiu Arajo Ribeiro e

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    nomeou o marechal Elisirio de Miranda Brito. A medida trazia ajustificativa acima mencionada. Verificando suas lastimveis conseqncias, quem, como ns, conhece a ao solerte das foras ocultas levado a crer que fosse proposital para produzir aqueles mesmosefeitos ou sugestionada com esse fito. Os legalistas cindiram-se logoem duas faces: ribeirinhas e elisiaristas. O novo presidente tomouposse a 14 de julho de 1836. O povo fez uma representao contra adesnecessria mudana e Arajo Ribeiro voltou ao poder, por ordemda Regncia, a 24 do mesmo ms. Que fora ou que prestgio poderiam ter autoridades assim malferidas no seu princpio vital a cadapasso?

    A 10 de setembro, Neto batera os imperiais de Silva Tavares noSeival; depois, foram repelidos na sua tentativa sobre Viamo. Os

    guerrilheiros Farrapos tomaram alento. A bravura de David Canabarrocomeou a brilhar nos entreveros das coxilhas (12). Renasceram asesperanas de triunfo. O fato de militarem nas fileiras do governomuitos portugueses, bem explorado e exagerado pela propagandamanica, despertara o patriotismo gacho para a epopia. "S haviadois caminhos a seguir nas atuais circunstncias: a submisso, comprejuzo da liberdade, ou a separao da provncia, com a vitria dosprincpios (?), bem como com enormes sacrifcios; que este ltimo erao nico compatvel com a honra e patriotismo; que, pela sua parte,estava ( o general Antnio Neto quem fala) disposto a sacrificartudo por este sentimento; que o Rio Grande do Sul, desligando-se doBrasil, formaria um Estado livre e independente sob a forma republicana (13)." Por fs ou por nefas, a verdade que se chegava finalidade visada da sombra pelo judasmo-manico: separao e repblica.E "esse pensamento havia j insensivelmente penetrado o partidorevolucionrio inteiro (14)." Antes de tomar a grave resoluo deproclamar a repblica, Antnio Neto mandara seu irmo Jos pedir

    auxlio a Manuel Oribe, no Uruguai (15). Assis Brasil tem razo, pois,quando diz: "Os homens so instrumentos das idias: trabalham porelas sem saberem o conjunto dos fatos a que se dirigem..." Acrescentamos por nossa conta e risco: porque o Poder Oculto o nico quesabe a verdadeira meta que deve ser atingida pelas idias que instila.

    No dia 20 de setembro, aniversrio da revoluo a tal datacoincidente , a repblica foi proclamada pela Cmara Municipal davila de Jaguaro. Muitas adeses. Bento Gonalves recebeu o ttulo,

    de estilo manico desde Cromwell, de Chefe e Protetor da Repblicae da Liberdade Riograndense (16). Na balaiada do partido Bemtevi, noMaranho, o negro Cosme se intitularia Tutor e Imperador da Liberda-

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    de. Coincidncia acidental? Liberdade, de quantos tutores e protetores tens tido necessidade na tua ensangentada histria?

    A posio de Bento Gonalves em Viamo era, contudo, crtica.Ps-se em marcha para o Jacu. A cavalaria de Bento Manuel vigiava-lhe os movimentos. O chefe imperial tomou-lhe a dianteira nos barcosda flotilha de Grenfell e surpreendeu-o na passagem do rio. A indeciso de Bento Gonalves fez com que se metesse na ilha do Fanfa,onde foi batido a 4 de outubro. Depois de mortfero combate a fogo earma branca, capitulou, sendo enviado para Porto Alegre, com OnofrePires, Zambeccari e outros chefes (17). O agente carbonrio foi metido a ferros. Mais tarde, seguiram todos para o Rio de janeiro, onde osencarceraram na fortaleza de Santa Cruz. Os civis conseguiram ha-beas-corpus e voltaram s escondidas ao Rio Grande do Sul. Zam

    beccari e Bento Gonalves estiveram tambm algum tempo na fortaleza da Lage. O segundo foi transferido posteriormente para a Bahia,onde os irmos lhe deram escpula.

    Antnio Neto no se deixou abater pelo grave revs do Fanfa ese tornou o mentor decidido do movimento, do ponto de vista militar.Diz Carlos von Koseritz que o "crebro da revoluo" era o culto enobre Domingos Jos de Almeida. Neto reuniu um congresso dePiratini, o qual oficializou a Repblica. Foram eleitos presidente Bento

    Gonalves, vice-presidentes Antnio Paulino da Fontoura, Jos Ma-riano de Matos, Domingos Jos de Almeida e Incio Jos de OliveiraGuimares. Jos Gomes de Vasconcelos Jardim foi escolhido substituto efetivo do presidente prisioneiro. A Neto coube, por aclamao, ocomando geral do pequeno e aguerrido exrcito farroupilha. Todas asautoridades prestaram juramento. Escolheram-se ministros. Copiou-se no que se pde a organizao administrativa do Imprio. Era no dia6 de novembro de 1836. Estava inaugurada a Repblica Riogranden-se que o Oriente de Porto Alegre, em documento pblico e notrio,

    declara obra exclusiva e totalmente sua, at nas insgnias, um sculodepois.

    Iniciava-se a longa epopia dos centauros e das guerrilhas. OsFarrapos "apuravam pacincia e valor de seus adversrios por suaconstante mobilidade. Possuam abundncia de cavalos, o elementoessencial para incurses e entreveros de cavalaria, quais os impunhatal gnero de campanha. Iam e vinham os soldados voluntrios a seubel prazer. Batiam-se, perseguiam ou dispersavam-se, conforme exi

    giam os acontecimentos e ordenavam os chefes. Reuniam-se, quando convidados por seus generais. Tais processos eram ideais notocante rapidez das movimentaes. Nunca foram mais de seis mil

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    homens, ao mximo. Quase no tinham artilharia, seno a que haviamconquistado s colunas imperiais, umas vinte peas, quando muito(19)."

    No comeo de 1837, Feij comete o erro grosseiro ou proposital

    de demitir Arajo Ribeiro, que quase tinha j toda a provncia sob suaautoridade. "Desesperado de dio e perdendo todo o senso da medida, Bento Manuel bandeia-se para os rebeldes. Em 23 de maro, ovelho caudilho prende no passo do Tapevi o prprio presidente daprovncia, brigadeiro Antero Jos Ferreira de Brito. Todos os porme-nores desse feito ele mesmo nos d nos seus ofcios de comunicao,publicados pelo Arquivo Nacional no seu volume XXXI. Em 8 de abril,Antnio Neto ocupa Caapava. a primeira conseqncia da defeco de Bento Manuel, que, no dia 5 de junho, destroa seu inimigo

    pessoal, o marechal Sebastio Barreto, no combate de Santa Brbara. A 12 de agosto, no Triunfo, so batidos os legais de Gabriel GomesLisboa. Em outubro, a derrota da Vacaria (19). Os republicanos reconquistam a palmo o territrio.

    No dia 10 de setembro, ajudado notoriamente pela maonaria,Bento Gonalves evade-se do forte do Mar, na Bahia, e volta ao RioGrande do Sul, que mais se inflama de entusiasmo (20).

    No panorama poltico da Regncia, alteava-se ento a figura de

    Bernardo de Vasconcelos. A de Feij diminua, sobretudo aps amorte de Evaristo da Veiga, que o sustinha com todo o seu valor. Opadre era maon, mas homem de vida limpa, pobre como Job. A vidado outro no ganharia muito em ser esmiuada. Os dois no setoleravam.

    O Regente no se podia conformar em v-lo no poder, comoministro do Imprio, o que queriam certas foras polticas e nosabemos se as foras de retaguarda daquelas... A 18 de setembroconferenciou com Arajo Lima, futuro marqus de Olinda, ficando

    resolvido que este seria nomeado ministro da Justia e, na forma daconstituio, assumiria a Regncia pela renncia de Feij, que ia ata para no chamar Bernardo de Vasconcelos ao ministrio. A 19 desetembro, o padre resignou o cargo que vinha exercendo desde 12 deoutubro de 1835. Arajo Lima o substituiu. Seria eleito definitivamenteem abril do ano seguinte. Chamado ao poder, Bernardo de Vasconcelos constituiu seu gabinete com Miguel Calmon, futuro marqus deAbrantes, na pasta da fazenda; Maciel Monteiro, futuro baro de

    Itamarac, na de Estrangeiros; Sebastio do Rego Barros, na daGuerra; Rodrigues Torres, futuro visconde de Itabora, na da Marinha(21). Foi o chamado Ministrio das Capacidades, com o qual Bernardo

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    de Vasconcelos, vendo, como ele prprio dizia, a Liberdade comprometida pelos excessos dos facciosos, que brotavam como tortulhospor todo o pas, se tornava regressista ou retrgrado para salvar essamesma Liberdade, sempre, desde que nasceu, carecida de defensores, tutores, protetores e salvadores...

    Nascia no maremagno de confuses da Regncia o PartidoConservador, da fuso dos liberais-moderados com os antigos restau-radores ou reacionrios. Criava-se um grande fator de equilbrio poltico na vida at ento tumultuosa da Nao. O grande servio dessacriao foi o estabelecimento definitivo da ordem, mais tarde.

    A proclamao do novo Regente, em outubro, concitando osbrasileiros concrdia, morreu sem repercusso prtica no entrecho-que dos motins. Riram-se naturalmente dela nos concilibulos das

    lojas, entre as duas colunas salomnicas. O sangue brasileiro continuou a ser derramado nas imolaes da guerra civil. Derrotas ereveses estreis para ambos os lados. A 25 de fevereiro de 1838, osrebeldes so derrotados no combate de So Gonalo (22). Se osFarrapos contam com o prestgio de Bento Gonalves, o valor deNeto, a consumada mestria caudilhesca de Bento Manuel, "a eminncia moral de Joo Antnio e a bravura inexcedvel de Jacinto Guedes", como diz Canabarro Reichardt, do lado do Imprio se altanam

    tambm grandes figuras e, entre elas, o famigerado Moringue, Francisco Pedro de Abreu, baro de Jacu, em quem como que se encarnara o esprito de Pinto Bandeira e de Chagas Santos. Era, ento,major. Bate os revoltosos onde os encontra: no arroio Pitim, a 1 desetembro; em Santo Amaro, a 19 de novembro. No dia 22, entrara navila do Rio Pardo e a 24 vencera o prprio Bento Gonalves no passodo Vigrio. No combate, morreu o oficial de marinha e carbonrioRossetti, amigo do peito de Garibaldi, enviado dos poderes ocultosinternacionais (23).

    As revolues que se concentram morrem devoradas no prpriofogo. Toda revoluo precisa alastrar, expandir-se para viver. Osfarroupilhas sentiram instintivamente essa necessidade em 1839. Inicia-se o ano pela transferncia da capital republicana, de Piratini paraCaapava (24). Depois, procuram avanar para o corpo do Imprio,quer tentando a unio com outras provncias, como documenta SouzaDocca em trabalho especial, quer transpondo em armas a fronteira deSanta Catarina.

    O poder central dera uma "prova de fraqueza", diz Calgeras,que muito contribuira para as tentativas de alastramento revolucionrio, oferecendo anistia a 1 de janeiro de 1839. Repetia as promessas

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    de 1835 e 1836. Em julho, os rebeldes se apresentam na velha cidadeda Laguna, por mar e por terra. J existem os farroupilhas do mar,como na revoluo holandesa do sculo XVI. A bandeira revolucionria, diferente da tricolor gacha de Zambeccari, amarela e branca, fralevantada no dia 1 de maro, na vila de Lages, onde Aranha eSerafim Muniz haviam soltado o grito de Independncia e Federao

    Manuel Lucas de Oliveira

    ao Rio Grande do Sul. Os dois chefes comunicaram-se logo comDavid Canabarro, que sitiava Porto Alegre (25).

    A esquadrilha republicana que se mostrava na Laguna sob ocomando de Garibaldi fugira por terra da Lagoa dos Patos, onde

    ficaria bloqueada pela Armada Imperial. Dois barcos de coberta, o"Farroupilha" e o "Seival", construdos s ocultas no rio Camaqu,foram arrastados mais de sete lguas por juntas de bois at flutuarem

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    no Tramanda, pelo qual desceram para o oceano na tarde de 13 dejulho de 1839 (26). No dia 22, Laguna foi conquistada. A Garibaldiconheceu e amou Anita, que haveria de ser a sua dedicada companheira de toda a vida. No dia 24, proclamou-se solenemente a Rep-

    David Canabarro

    blica Catarinense, dando-se velha povoaao bandeirante o nome deCidade Juliana (27). Repblica to efmera quanto aquelas que omaonismo da Revoluo Francesa semeou na Europa com nomes

    pomposos, do mesmo sabor clssico do que fra dado fundao dosBrito Peixoto: Btava, Partenopia, Transalpina. No correr do ano,porm, Soares de Andria, vencedor dos cabanos, limparia de rebel-

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    des o interior da provncia e, em novembro, Frederico Mariath, seucompanheiro naquela luta, restauraria a autoridade imperial na ex-Cidade Juliana. Mariath destroou completamente a esquadrilha garibal-dina com suas tripulaes italianas (28).

    Os combates no sul prosseguiram durante todo o ano. Um cruzeiro de Garibaldi, feito corsrio, nas costas de So Paulo, no qual fezalgumas presas, redundou, afinal, em lamentvel desastre. Perseguido pela corveta "Regenerao" e, depois, por outros barcos de guerra, embora pequenos, abandonou ou queimou as presas para escapar. Enquanto isso, a cavalaria do Moringue batia os revoltosos noarroio dos Ratos (29). Para compensar, a 14 de dezembro, os legaisforam vencidos em Santa Vitria.

    Sem navios, Garibaldi comanda a infantaria das tropas que, em

    1840, teimam em manter na regio fronteiria das provncias limtrofesa Repblica Catarinense. Recuam, desfeitas no combate de Curitiba-nos ou da Forquilha. O Moringue, ora ajudado pelo bravo AndradeNeves, futuro baro do Triunfo, ora sozinho, o heri do ano. Em

    janeiro, destroa os Farrapos na Sanga da Bananeira; em junho, naestncia do Salgado; em agosto, no Capivari; em setembro, na RoaVelha; em dezembro, hostiliza a retaguarda de Bento Gonalves, queretira de Viamo (30). Tudo isso, apesar da quase inrcia do governo

    provincial, dividido inbil ou propositalmente pela Regncia entre opresidente civil e o comandante das armas. Andam ambos s turras.A Regncia no queria o comando nico, mais capaz de agir.

    No dia 3 de maio, o marechal Manuel Jorge Rodrigues, quedefendera no comeo do sculo, heroicamente, a Colnia do Sacramento, que estivera na cabanada do Gro-Par, derrotou o exrcitorepublicano, comandado em pessoa por Bento Gonalves, na batalhade Taquari, o que lhe deu mais tarde o ttulo de baro desse nome. Em

    julho, So Gabriel foi tomada pelos imperiais. Em outubro, os rebeldes

    de Portinho so varridos por Taborda no rio Canoas, em Santa Catarina. Em dezembro, o presidente Alvares Machado rompe as negociaes de paz que se entabulavam, taivez envaidecido pelos triunfos,talvez em obedincia s insdias das lojas. Isto foi no dia sete. A 21,Jacintho Guedes esmagava uma fora legal na estncia de So Jos(31).

    Comea a desarticulao dos Farrapos. Estouram dissensesintimas. O vice-presidente Foutoura inimiza-se com Bento Gonalves,

    em 1841, segundo revela uma carta deste a Manuel Lucas de Oliveira(32). Apela-se, com mais anseio, oficialmente, para o auxlio estrangeiro. A 5 de julho, assina-se a Conveno de Auxlio Mtuo entre

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    Bento Gonalves e Frutuoso Rivera, ento na presidncia do Uruguai.Quando, em 28 de outubro de 1841, o Moringue surpreende a vila deSo Gabriel, ali encontra grande cpia de armamento e muniesenviada pelo governo oriental. tomada de So Gabriel, segue-se a

    derrota do Capo Bonito, a 25 de novembro. Sempre o Moringue!Novo apelo mais desesperado ao Uruguai, do qual resulta a Conveno Secreta de Bento Gonalves com Rivera, datada de 28 de dezembro (33).

    Desde julho de 1839, Bento Manuel se arredara da atividademilitar. Metera-se nas encolhas. Em 1840, escrevia ao presidente daprovncia, "propondo-se a abandonar as fileiras rebeldes a troco deanistia para si e para mais alguns amigos e parentes, ficando toda anegociao em segredo (34)." O general Soares de Andra, que

    presidia j o Rio Grande, deferiu-lhe o pedido. Os Farrapos tinhamperdido um trunfo.Cerca de quatro anos mais durar a agonia da revoluo, como

    veremos no volume seguinte desta histria. Aqui somente podemoschegar at a restaurao da autoridade imperial com a maioridade deD. Pedro II. Mas j os heris farroupilhas, famintos e perseguidos,parecem "mais Farrapos do que nunca" (35). Pouco e pouco, por istoou por aquilo, os chefes vo desaparecendo do pr