geometria em quadrinhos

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A GEOMETRIA EM QUADRINHOS Célia Barros Nunes 1 - UNEB – CAMPUS X –Teixeira de Freitas, BA [email protected] COMO TUDO C0MEÇOU. . . Ao realizar o último bimestre letivo na escola a qual eu lecionava, CDP 2 , em Itabuna, sul da Bahia, percebi que meus alunos da 1ª série do ensino médio estavam inquietos, desconcentrados e alguns até desmotivados em relação à disciplina Geometria. Isso se deve ao fato de que alguns alunos já estavam aprovados na disciplina, visto que a escola adota o sistema de nota “cumulativa”. Por outro lado, outros por estarem numa suposta recuperação final achavam tolice se concentrar nas aulas, pensavam que “aprenderiam”na recuperação e alguns outros alunos simplesmente não se sentiam motivados pelas aulas. Desses fatos mencionados pode-se imaginar que as aulas estavam se tornando catastróficas, sem dinamismo. Durante as aulas cheguei a flagrar alunos lendo revistas em quadrinhos e foi nesse momento que surgiu a idéia de realizar com eles a elaboração de uma revista em quadrinhos explorando os conteúdos trabalhados em Geometria durante o período letivo, tais como: ângulos, paralelismo, polígonos (triângulos e quadriláteros) relações trigonométricas no triângulo retângulo, dentre outros, desde que usassem a criatividade e a arte. A atividade proposta tinha como objetivos: estimular o interesse do aluno pelo conteúdo abordado, por intermédio de atividades significativas, instigando-os a pensar, raciocinar, criar, descobrir, bem como permitir ao aluno uma atitude de investigação, possibilitando-o a enxergar a Geometria em situações do dia-a-dia. 1 Mestra em Matemática Pura - UFBA/ Salvador 2 CDP - Colégio Divina Providência

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  • A GEOMETRIA EM QUADRINHOS

    Clia Barros Nunes1 -

    UNEB CAMPUS X Teixeira de Freitas, BA

    [email protected]

    COMO TUDO C0MEOU. . .

    Ao realizar o ltimo bimestre letivo na escola a qual eu lecionava, CDP2, em Itabuna,

    sul da Bahia, percebi que meus alunos da 1 srie do ensino mdio estavam inquietos,

    desconcentrados e alguns at desmotivados em relao disciplina Geometria. Isso se

    deve ao fato de que alguns alunos j estavam aprovados na disciplina, visto que a escola

    adota o sistema de nota cumulativa. Por outro lado, outros por estarem numa suposta

    recuperao final achavam tolice se concentrar nas aulas, pensavam que

    aprenderiamna recuperao e alguns outros alunos simplesmente no se sentiam

    motivados pelas aulas. Desses fatos mencionados pode-se imaginar que as aulas

    estavam se tornando catastrficas, sem dinamismo.

    Durante as aulas cheguei a flagrar alunos lendo revistas em quadrinhos e foi nesse

    momento que surgiu a idia de realizar com eles a elaborao de uma revista em

    quadrinhos explorando os contedos trabalhados em Geometria durante o perodo

    letivo, tais como: ngulos, paralelismo, polgonos (tringulos e quadrilteros) relaes

    trigonomtricas no tringulo retngulo, dentre outros, desde que usassem a criatividade

    e a arte.

    A atividade proposta tinha como objetivos: estimular o interesse do aluno pelo contedo

    abordado, por intermdio de atividades significativas, instigando-os a pensar,

    raciocinar, criar, descobrir, bem como permitir ao aluno uma atitude de investigao,

    possibilitando-o a enxergar a Geometria em situaes do dia-a-dia.

    1 Mestra em Matemtica Pura - UFBA/ Salvador 2 CDP - Colgio Divina Providncia

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    Para a execuo do trabalho foi delimitado aos alunos um perodo de aproximadamente

    30 (trinta) dias e claro que a professora estaria disposio para qualquer dvida. A

    turma foi dividida em grupos e cada grupo desenvolveria atravs da revista em

    quadrinhos um contedo de Geometria que foi estudado durante ao ano letivo. O gibi

    deveria conter, alm de uma histria, passatempo, diverses, caa-palavras, etc. Defini

    que todos os elementos do grupo deveriam intervir no trabalho, sendo claros e bastante

    criativos e, alm disso, propus que, na revista, um ou dois elementos do grupo criassem

    a sua histria.

    Posteriormente, feita a anlise e avaliao o trabalho seria exposto na feira de cultura a

    realizar-se no final do perodo letivo. Este fato motivou-os bastante a se

    desempenharem nessa atividade, pois alm dos conhecimentos geomtricos que

    deveriam ter na elaborao do gibi seria necessria muita imaginao, criatividade, arte

    e esprito crtico .

    Uma outra exigncia imposta por mim era a no utilizao de certos recursos

    tecnolgicos na criao do personagem da revista em quadrinhos, como por exemplo o

    computador, j que um dos pr-requisitos de avaliao seria a ARTE. evidente que

    nem todas as pessoas tm o dom para o desenho artstico, entretanto, alguns grupos

    fizeram colagem de personagens dos gibis da Luluzinha, Mnica, Cebolinha

    e outros.

    A partir do momento em que foi lanada a proposta da revistinha , as aulas de

    Geometria ganharam outro rumo, tornaram-se mais atraentes, prazerosas, interessantes e

    participativas. Houve uma significativa melhora na postura dos alunos em relao

    disciplina, passaram a ser alunos mais ativos, questionadores. Comearam a se

    entusiasmar e notei algumas mudanas de atitudes perante a disciplina.

    No intuito de modificar a minha prtica e uma grande disposio de conhecer e aprender

    novas descobertas significativas atravs da arte, juntamente com meus alunos,

    disponibilizei horas de atendimento para orient-los no que sentissem necessidade e o

    retorno foi gratificante. Alunos que j estavam aprovados se dedicaram com entusiasmo

    ao trabalho proposto, no porque tal fato fosse muito importante para a obteno da nota

    e sim pelo simples fato de acharem divertido e prazeroso a confeco da revistinha.

    Alm disso, meus alunos estavam criando suas histrias, e com isso, construindo seus

    prprios conhecimentos.

    Para ONAGA (2003) O fundamental em qualquer que seja a metodologia

    desenvolver uma postura que permita aos alunos explorarem, organizarem,

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    reelaborarem seus conhecimentos de acordo com suas vivncias, experincias,

    competncias cognitivas e caminhem em direo s suas reais necessidades.

    HISTRIA EM QUADRINHOS N 1 - GEOMETRIA DE UM NOVO NGULO:

    Nesta histria o grupo relata conceitos e propriedades relacionadas a ngulos de forma

    divertida. Estes detalhes podem ser percebidos atravs dos desenhos das formas

    geomtricas existentes na natureza e nas construes forjadas pela atividade humana.

    Observa-se nas figuras3 abaixo situaes cotidianas da presena de ngulo, como por

    exemplo, no "balano" quando se fala da congruncia dos ngulos, na abertura de um

    "leque" quando se classifica os ngulos quanto a abertura. (Observem na histria

    abaixo). Ficou evidente na histria a presena dos ngulos formados por duas retas

    paralelas e uma transversal, o qual est muito bem explicado na histria, pelo

    Cebolinha. notrio a a arte e a contextualizao criada pelo grupo.

    Segundo os PCNs4 deve-se proporcionar ao aluno das sries iniciais atividades de

    explorao do espao fsico em que esto inseridos, que possibilitem a representao,

    interpretao e descrio desse espao.[1]

    3 Para se ter acesso 'as histrias envie e-mail para [email protected] 4 Nos PCNs, o contedo de Geometria encontra-se dividido em dois blocos: "Espao e Forma" e "Grandezas e Medidas".

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    HISTRIA EM QUADRINHOS N 2 DEU A LOUCA NA GEOMETRIA:

    A histria tem como personagens centrais o Bidu e alguns entes da Geometria como: O

    tringulo, o quadrado, o crculo, as retas paralelas, o trapzio. Bidu inicia lendo um livro

    de Geometria e passa a vivenci-la com esses entes geomtricos citados e com isso ele

    fica todo atrapalhado. O interessante na estria que h expresses incorporadas s

    linguagens de outros campos do conhecimento ou do falar cotidiano, ou seja, h figuras

    de linguagem que podero ser encontradas no texto, representado pelas figuras abaixo

    tais como: tringulo amoroso, crculo vicioso, sair pela tangente, quadriltero

    isomtrico, quadradice, plano imaginrio.

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    Observa-se nitidamente que certas expresses da linguagem corrente: tringulo

    amoroso, crculo vicioso, etc., esto intimamente relacionadas a elementos do mundo da

    geometria. FONSECA (2001) adverte, no entanto, que tais expresses da linguagem

    corrente atua como um pretexto para introduzirmos uma reflexo sobre formas de

    insero da Geometria na nossa cultura, e portanto em nossa vida.

    Esse aspecto mostra a importncia de se ensinar Geometria nas escolas desde as sries

    iniciais.

    PASSA-TEMPO:

    Esta atividade est relacionada com ngulo quanto a sua classificao em relao a

    abertura, ngulos complementares e suplementares. Vejamos:

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    HISTRIA N 3 DEPENDE DO NGULO QUE SE V:

    A histria se passa num shopping onde trs colegas de escola se renem depois de um

    dia exaustivo de aula, segundo eles. Resolvem passear pelo shopping em direo praa

    de alimentao e durante este passeio, devido as aulas de Geometria, comeam a

    observar as formas geomtricas que ali se encontram. Ao pedirem uma pizza observam

    que com um pedao da pizza possvel perceber as regies internas e externas de um

    ngulo, ou melhor, a regio cncava e convexa, respectivamente Continuando o passeio

    pelo shoping observam atravs das formas dos objetos que ali se encontram os tipos de

    ngulo quanto a abertura. Ainda passeando pelo shopping percebem os ngulos

    complementares e suplementares, ngulos opostos pelo vrtice e ngulos congruentes.

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    Na histria, durante o passeio pelo shopping interessante observar que os alunos ficam

    surpresos ao perceberem a diversidade das formas geomtricas que ali se encontram e se

    sentem realizados por conseguirem perceber, visualizar e nomear as formas geomtricas

    relativas a ngulos.

    Na viso de Lcia Maia (2000, p 32) preciso que o ensino da Geometria salvaguarde a

    prtica de uma Geometria que garanta um movimento constante entre o desenho e a

    figura, entre o desenho e uma texto, pelo menos no ensino fundamental. Isto facilitaria a

    passagem da Geometria da realidade Geometria da abstrao.

    HISTRIA N 4 - A CIDADE TRINGULO:

    A histria desenvolvida pelo grupo inicia na casa do personagem Pelezinho o qual ao

    acordar, para seu espanto, percebe algo estranho em sua casa, isto , sua casa estava

    toda triangularizada. Depois de conversar com sua me e ainda muito assustado com o

    que estava acontecendo, resolve ir casa de sua amiguinha Luluzinha e no caminho

    observa que toda a cidade tambm est triangularizada, inclusive a casa da Luluzinha.

    Reunidos, pensam em descobrir uma forma de inverter tal situao. Ao retornar para

    casa ouve uma conversa de uma criana com sua me dizendo que se tornaria heri a

    pessoa que desvendasse o problema da cidade tringulo. Ento, Pelezinho resolve pedir

    ajuda a Luluzinha que entende Geometria, e assim comeam a estudar uma forma de

    desvendar tal mistrio. Ao se fundamentarem nas aulas anteriores de Geometria relativa

    a Relaes trigonomtricas no tringulo retngulo" , conseguem solucionar o problema

    da cidade triangular.

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    A Geometria oferece um vasto campo de idias e mtodos de muito valor quando se

    trata do desenvolvimento intelectual, do raciocnio lgico do aluno e de dados concretos

    e experimentais para os processos de abstrao e generalizao.

    HISTRIA N 5 O PROGRAMA EDUCATIVO:

    O cenrio desta histria ocorre na casa da Mnica, onde ela e seus amiguinhos assistem

    a um programa educativo pela TV. Este programa se fundamenta nas propriedades do

    tringulo retngulo, especificamente, no Teorema de Pitgoras e suas aplicaes.

    A caracterstica do trabalho realizado pelo grupo que nele se desenvolve as

    propriedades do tringulo retngulo, onde os alunos mostram de forma atrativa e

    criativa estas propriedades,deixando claro a cumplicidade entre a Geometria e a

    lgebra. OLIVEIRA(2002, p 39) ilumina este comentrio quando diz que possvel

    lermos e interpretarmos argumentos matemticos nos valendo do raciocnio geomtrico.

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    CONSIDERAES FINAIS:

    O relato aqui mencionado no um manual de regras, mas sim o resultado de uma

    vivncia prtica em prol de uma melhor formao matemtica, especificamente a

    Geometria. Em minha prtica educativa sempre abordei a Geometria Euclideana

    procurando desenvolv-la sob quatro aspectos que devem estar interligados e

    relacionados mutuamente e que so essenciais para o aprendizado: a percepo, a

    construo, a representao e a concepo. Trabalhando dessa forma com certeza

    nossos alunos tero capacidade de explorar o espao em que vivem, fazer descobertas,

    identificar as formas geomtricas, etc. Alm disso, permite ao aluno estabelecer

    conexes entre a Matemtica e outras reas do conhecimento. Sendo assim, pode-se

    perceber que nenhum desses aspectos pode ser considerado isoladamente, pois corremos

    o risco de trabalharmos em demasia um em detrimento do outro.

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    importante ressaltar que a Geometria apesar de ser considerada como um contedo

    que tem uma forte relao com a realidade, na prtica, ela , sobretudo, trabalhada na

    sua verso mais abstrata. Portanto, o presente relato quis mostrar uma alternativa de se

    estudar geometria a forma de ensinar Geometria, de forma contextualizada e

    interdisciplinar. Para isso, preciso se permitir trilhar caminhos novos e tolerar

    possveis erros e mudanas de um rumo.

    Finalmente, posso dizer que no importa a forma de se ensinar Geometria, mas sim que

    ela se torne uma atividade agradvel, visto que este fascinante ramo da Matemtica

    possui dois atrativos especiais: o prazer da beleza das formas e o ldico do construir

    figuras e objetos.

    PALAVRAS-CHAVE:

    Geometria. Arte. Criatividade.

    REFRENCIAS BIBLIOGRFICAS:

    FONSECA, Maria da Conceio et alii. O ensino da Geometria na Escola

    Fundamental: Trs questes para a formao do professor nos ciclos iniciais. Belo

    Horizonte. Autntica Editora, 2001.

    MAIA, Lcia de Souza Leo. O ensino da Geometria analisando diferentes

    representaes. In A Educao Matemtica em Revista, Sociedade Brasileira de

    Educao Matemtica, 2000, n 8, pp. 24-32.

    OLIVEIRA, Ana Teresa de C.C. Reflexes sobre a Aprendizagem da lgebra. In A

    Educao Matemtica em Revista, Sociedade Brasileira de Educao Matemtica, 2002,

    n 9, pp. 35-39.

    ONAGA, Dulce Satiko. Trabalhando com os alunos: subsdios e sugestes.

    htpp//www.udemo.org.br 08/08/2003.

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    SO PAULO (Estado). Secretaria de Educao. Coordenadoria de Estudos e Normas

    Pedaggicas. Atividades Matemticas. Ciclo Bsico (4 volumes), 4 ed.

    So Paulo: SE/CENP, 1991.

    SO PAULO (Estado). Secretaria de Educao. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedaggicas. Proposta Curricular para o ensino de Matemtica: 1 grau. 4 ed. So Paulo: SE/CENP, 1992.