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Jornal da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) | www.spoftalmologia.pt N.º 24 | Ano 9 Julho 2017 Semestral € 0,01 PROTEGER A SAÚDE VISUAL DA COMUNIDADE Uma presença ainda mais forte na comunidade, com rastreios, campanhas de sensibilização e intervenções nos meios de comunicação, é uma das prioridades da Direção da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia para o mandato 2017-2018. No que respeita à formação, os atuais corpos gerentes, em funções desde o início do ano, pretendem apostar num menor número de reuniões científicas, mas com acreditação e qualidade acrescida Pág.8 Dr.ª Elisete Brandão (vice-presidente) Prof. João Melo Beirão (vogal) Prof. Manuel Monteiro-Grillo (presidente) Prof. João Figueira (tesoureiro) Dr.ª Andreia Rosa (vogal) Dr. Mário Ornelas (secretário-geral-adjunto) Dr. João Feijão (secretário-geral) FORMAÇÃO Reuniões Conjuntas dos Grupos Portugueses de Retina e Vítreo e Inflamação Ocular (22 e 23 de setembro) e de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo, Neuroftalmologia, Patologia Oncológica e Genética Ocular e Órbita e Oculoplástica (20 e 21 de outubro) Pág.4-5 PARTICIPAÇÃO Número recorde de participantes na Reunião Conjunta do Grupo de Cirurgia Implanto-Refrativa e do Grupo Português de Superfície Ocular, Córnea e Contactologia – transplante da córnea e tratamento do queratocone foram alguns dos temas debatidos Pág.14

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Page 1: FORMAÇÃO PARTICIPAÇÃO - spoftalmologia.pt · e intervenção médica para o tratamento da «cegueira curável» em Cabo Verde, Guiné- -Bissau e Moçambique. Em São Tomé e Prín-cipe,

Jornal da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) | www.spoftalmologia.pt

N.º 24 | Ano 9Julho 2017Semestral€ 0,01

PROTEGER A SAÚDE VISUAL DA COMUNIDADE

Uma presença ainda mais forte na comunidade, com rastreios, campanhas de sensibilização

e intervenções nos meios de comunicação, é uma das prioridades da Direção da Sociedade

Portuguesa de Oftalmologia para o mandato 2017-2018. No que respeita à formação, os atuais

corpos gerentes, em funções desde o início do ano, pretendem apostar num menor número

de reuniões científicas, mas com acreditação e qualidade acrescida Pág.8

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FORMAÇÃOReuniões Conjuntas dos Grupos Portugueses de Retina e Vítreo e Inflamação Ocular (22 e 23 de setembro) e de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo, Neuroftalmologia, Patologia Oncológica e Genética Ocular e Órbita e Oculoplástica (20 e 21 de outubro) Pág.4-5

PARTICIPAÇÃONúmero recorde de participantes na Reunião Conjunta do Grupo de Cirurgia Implanto-Refrativa e do Grupo Português de Superfície Ocular, Córnea e Contactologia – transplante da córnea e tratamento do queratocone foram alguns dos temas debatidos Pág.14

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SUMÁRIOEM FOCO4 Próximas Reuniões Conjuntas das Secções da SPO decorrem a 22 e 23 de setembro e a 20 e 21 de outubro, em Évora

6 O Dr. Miguel Amaro comenta as mais recentes guidelines para o trata-mento do edema macular diabético

PONTOS DE VISTA8 Em entrevista, o Prof. Manuel Monteiro Grillo e o Dr. João Feijão, presidente e secretário-geral da SPO, anunciam as prioridades da Direção para o mandato 2017-2018

OFTALMOSCOPIA10 Reportagem no Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar Tondela-Viseu/Hospital de São Teotónio

OLHAR INDISCRETO12 Conversa com a Prof.ª Leonor Almeida a propósito do seu novo livro Homem e Cão em União de Facto

GLOBO OCULAR14 Reunião Conjunta do Grupo de Cirurgia Implanto-Refrativa e do Grupo Português de Superfície Ocular, Córnea e Contactologia

16 Novas terapêuticas e meios de diagnóstico estiveram em debate na Reunião Anual do Grupo Português de Glaucoma

18 Balanço das XXXII Jornadas Inter-nacionais de Oftalmologia, no Porto

20 Programa abrangente atraiu cerca de 400 participantes aos Colóquios de Oftalmologia

22 Patologias oftalmológicas na criança em destaque na Reunião Anual de Internos de Oftalmologia

Manuel Monteiro-GrilloPresidente da SPO

A Sociedade Portuguesa de Oftal-mologia (SPO) está em contacto frequente com os seus sócios de diversos modos, que vão desde os

contactos pessoais, passando pela página na internet até este jornal em papel, o Visão SPO. Qualquer deles tem o seu lugar, não só na divulgação da ciência como no anúncio de diferentes atividades da nossa Sociedade ou de outras que sejam de interesse para a generalidade dos oftalmologistas. Durante o Congresso Português de Oftalmologia, o jornal assume também um papel importante na divulgação de diferentes aspetos do pro-grama científico, permitindo, num relance, ter uma boa visão do desenrolar do encontro.

Por outro lado, esta Direção tem desenvol-vido a realização de reuniões mais especia-lizadas através da dinâmica dos diferentes Grupos. A primeira, organizada pelo Grupo Português de Glaucoma, com a orienta-ção do Dr. António Figueiredo, realizou-se em Peniche, a 17 e 18 de março. Realce para a Conferência Dr. João Eurico Lisboa, com intervenção do nosso colega austríaco Prof. Anton Hommer. Simultaneamente, decorreu a Semana Mundial do Glaucoma, durante a qual foram levadas a cabo ações de informação através dos meios de comu-nicação social, nomeadamente a televisão. Foram também divulgados cartazes em diver-sos locais públicos chamando a atenção para esta patologia de uma forma bem conseguida e apelativa, com o slogan «Glaucoma, o ladrão silencioso da visão».

A Reunião Conjunta do Grupo de Cirurgia Implanto-Refrativa e do Grupo Português de Superfície Ocular, Córnea e Contactologia decorreu em Albufeira, de 1 a 3 de junho, sob a orientação da Prof.ª Filomena Ribeiro e do Dr. Walter Rodrigues, coordenadores dos respetivos grupos. Durante esta reunião, que teve uma participação muito alargada, com 483 inscritos, realizaram-se várias atividades, sendo de salientar, além de diferentes comu-nicações, os muito concorridos wet-labs, os cursos de atualização, a feira da tecnologia com comparação de diferentes equipamentos

PRIMEIROS MESES DO MANDATOhands-on e a Conferência Dr. Pedro Abrantes, proferida pelo Dr. António Limão.

Nos dias 8 e 9 de julho, decorreu a Reu-nião Anual de Internos de Oftalmologia, sob a orientação da coordenadora da SPO Jovem, Dr.ª Rita Couceiro. A Dr.ª Alcina Toscano, que coordena o Grupo de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo, colaborou ativamente neste encontro focado na Consulta de Oftalmologia Pediátrica, e o Dr. William Moore, do Great Ormond Street Hospital, deu o seu contributo numa conferência sobre catarata pediátrica.

Relembramos que as próximas reuniões de Grupos se vão realizar em Évora, em locais e datas distintas: a 22 e 23 de setembro a dos Grupos de Retina e Vítreo e de Inflamação Ocular; e a 20 e 21 de outubro a dos Grupos de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo, de Neuroftalmologia, de Patologia Oncológica e Genética Ocular e de Órbita e Oculoplástica. Pensamos que todas estas reuniões foram e serão do maior interesse científico e cons-tituirão momentos de atualização e convívio para um elevado número de colegas.

Estamos também a preparar ativamente o 60.º Congresso Português de Oftalmologia, que vai decorrer em Vilamoura, de 7 a 9 de dezembro. Tentaremos organizá-lo de uma forma apelativa, mas o contributo de todos os Colegas é indispensável para o êxito desta reunião!

EditorialVis

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Propriedade: Sociedade Portuguesa

de OftalmologiaCampo Pequeno, 2-13.º, 1000-078 Lisboa

Tel.: (+351) 217 820 443 • Fax: (+351) 217 820 [email protected]

www.spoftalmologia.pt

Edição: Esfera das Ideias, Lda. Campo Grande, n.º 56, 8.º B • 1700‑093 Lisbo • Tel.: (+351) 219 172 815 [email protected] • www.esferadasideias.pt • EsferaDasIdeiasLdaDireção: Madalena Barbosa ([email protected])Marketing e Publicidade: Ricardo Pereira ([email protected]) Coordenação editorial: Luís Garcia ([email protected]) Redação: Marisa Teixeira, Rui Alexandre Coelho e Sandra DiogoFotografia: João Ferrão • Design/paginação: Susana ValeColaborações: Filipe Pombo, Jorge Correia Luís e Rui Santos Jorge

FICHA TÉCNICA

Depósito Legal n.º 338827/12

Publicação isenta de registo na ERC, ao abrigo do Decreto Regulamentar n.º8/99, de 6 de junho, artigo 12.º, 1.ª alíneaPatrocinadores desta edição:

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HOMENAGEM AO PROF. FERRAZ DE OLIVEIRA

A SPO homenageou, no dia 5 de maio, o Prof. Luís Nuno Ferraz de Oliveira, pelo

seu contributo científico e humano ao longo da carreira. Na sede da Sociedade, foram vários os amigos, colegas e discípulos que teceram comentários e elogios sobre o home-nageado. Entre outros aspetos, o Prof. Manuel Monteiro-Grillo, presidente da SPO, destacou a faceta de «explorador de África» de Ferraz de Oliveira. «A sua atividade foi da maior im-portância, levando a saúde oftalmológica a vários países “irmãos”. A partir daí, começou a

haver mais missões humanitárias, inspiradas pelo seu percurso admirável», acrescentou.

Na década de 1980, Ferraz de Oliveira di-rigiu campanhas oftalmológicas de estudo e intervenção médica para o tratamento da «cegueira curável» em Cabo Verde, Guiné- -Bissau e Moçambique. Em São Tomé e Prín-cipe, fundou o Hospital Escolar Dr. António Agostinho Neto (1988) e, na Guiné-Bissau, o Centro de Medicina Tropical de Bissau (1989).

A coordenadora da Secção Cultural da SPO, Prof.ª Leonor Almeida, relembrou o per-

curso do especialista, que dirigiu o Serviço de Oftalmologia do Hospital de Egas Moniz en-tre 1973 e 2005 e foi cofundador da Facul-dade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, da qual foi diretor entre 1981 e 1986. «Ao homenagearmos o Prof. Ferraz de Oliveira, estamos a demonstrar o apreço pela sua pessoa, o que é simulta-neamente uma prova de humildade perante uma figura que constitui, com muitas outras, o substrato do ADN intelectual e científico da nossa especialidade. Atenuando as dis-tâncias entre a ciência e a comunicação, iniciou um processo de saber dizer, tendo sido pioneiro nos primeiros cursos de intro-dução à Oftalmologia destinados a internos, dominados também por uma vertente hu-manista e ética», referiu.

Emocionado, Ferraz de Oliveira afirmou que, «quando se acredita que é possível escavacar a desorganização, fazer o que é correto e erguer no meio dos estilhaços o bem e a verdade, não há nada que nos detenha». A homenagem terminou com a declamação de um poema da sua autoria, pela voz do seu filho Vasco Ferraz Oliveira, e com um excerto da Suite n.º 4 de Johann Sebastian Bach em violoncelo, pelas mãos da sua neta, Maria Soeiro.

IN MEMORIAM

Dr. João Eurico Lisboa (24/06/1921 – 12/05/2017)

HUMANISTA E ECLÉTICO

«Se há alguém que possa personalizar o espírito e a cultura médica dos Hos-

pitais Civis de Lisboa (HCL) – o humanismo no contacto com o doente, a competência clínica e o foco no trabalho de equipa, no ensino e na diferenciação permanentes – esse alguém é o Dr. João Eurico Lisboa.

Nasceu em Lisboa, na Avenida da Liber-dade, n.º 12, morada do seu consultório até 2010, numa família de médicos, e conti-nuou a dinastia de oftalmologistas iniciada pelo seu pai, Dr. Eurico Lisboa (interno do Dr. Gama Pinto), e que se mantém com o Dr. João Lisboa e a Dr.ª Maria Lisboa. Aluno da Faculdade de Medicina da Uni-versidade de Lisboa, João Eurico Lisboa aprendeu com os maiores vultos do seu tempo (resistiu com brilho ao exame final de Neurologia com o Prof. Egas Moniz), trabalhando no Hospital Escolar de Santa Marta com Reynaldo dos Santos e Cid dos Santos e no Banco do Hospital de São

José (HSJ), onde foi chefiado pelo cirurgião Dr. Acácio Pita Negrão e descobriu a com-panheira da sua vida, Dr.ª Maria Helena, mais tarde pediatra, ao tempo a primeira e única mulher a ser admitida nessa equipa de Urgência.

João Eurico Lisboa fez o Internato de Of-talmologia no HSJ, no final da década de 1940 e dedicou o melhor da sua energia a uma longa e brilhante carreira hospitalar nos HCL, tendo contribuído com o seu saber e experiência para a formação de gerações e gerações de oftalmologistas no Hospital dos Capuchos, cujo Serviço de Oftalmologia dirigiu entre 1982 e 1991.

Teve a clarividência de desenvolver a subes-pecialização e manteve sempre no seu Serviço uma cultura de ensino/aprendizagem sem bar-reiras e de estímulo contínuo da diferenciação. Dedicou o seu interesse ao glaucoma e foi um dos pioneiros da transplantação da córnea em Portugal, após estágios nos EUA na década de

1960. Melómano e versado em História, João Eurico Lisboa era um amante do mar. Durante oito anos foi secretário-geral da SPO e seu presidente em 1987 e 1988.

Todos os que tivemos o privilégio de co-nhecer o seu sorriso franco e amigo, a sua bonomia e incansável entusiasmo, e teste-munhámos o seu total compromisso com os doentes, a Oftalmologia e a SPO, herdamos o difícil desafio de manter vivos e transmitir os valores que representou.»

Miguel Trigo, diretor do Serviço de Oftalmo-logia do Centro Hospitalar de Lisboa Central

Dr.ª Maria da Assunção Ferraz de Oliveira, Prof. José António Esperança Pina, Prof. Luís Nuno Ferraz de Oliveira, Prof.ª Leonor Almeida (coordenadora da Secção Cultural da SPO) e Prof. Manuel Monteiro Grillo (presidente da SPO)

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UPDATE EM RETINA E VÍTREO E INFLAMAÇÃO OCULAR

LISBOA PALCO DE CONGRESSOS INTERNACIONAIS

A Reunião Conjunta do Grupo Português de Retina e Vítreo (GPRV) e do Grupo

Português de Inflamação Ocular (GPIO) está marcada para os dias 22 e 23 de setembro, no Hotel Vila Galé Évora. O Prof. Carlos Marques Neves, coordenador do GPRV, destaca o Curso de Traumatologia e dois simpósios conjuntos com o Grupo de Estudos da Retina (GER): um sobre retina cirúrgica e outro sobre retina médica e inflamação. Os temas a abordar no âmbito da retina cirúrgica serão: endoftalmites, tração vitreomacular, descolamento da retina e proliferação vitreor-retiniana na retinopatia diabética proliferativa.

Outubro será um mês marcante para a Oftalmologia nacional, já que contará

com a realização de dois congressos inter-nacionais em terras lusas. A oitava edição do Congresso EuCornea (European Society of Cornea and Ocular Surface Disease Spe-cialists) terá lugar na Feira Internacional de Lisboa (FIL) nos dias 6 e 7 de outubro. Reconhecendo que «é uma honra para Por-tugal receber um evento internacional tão importante como este», o coordenador do Grupo Português de Superfície Ocular, Cór-nea e Contactologia, Dr. Walter Rodrigues, espera uma grande adesão por parte dos especialistas nacionais.

Os temas abrangerão os aspetos mais pre-mentes na atualidade nesta área, como os que estão relacionados com a transplantação,

«Saliento também a realização do simpósio conjunto GPRV/GER/GPIO, com foco na de-generescência macular da idade, nas oclusões venosas, na retinopatia diabética e na neo-vascularização coroideia», acrescenta Carlos Marques Neves. Segundo este responsável, todos os temas em debate na reunião serão apresentados sob a forma de casos clínicos interativos, com o propósito de gerar mais debate e participação da assistência.

Quanto à inflamação ocular, a Dr.ª Vanda Nogueira, coordenadora do GPIO, sublinha a realização de «um curso dirigido por um reumatologista e um oftalmologista sobre fár-

o tratamento e o desenvolvimento de novas terapêuticas a nível de processos infeciosos e do queratocone. Neste sentido, admite o especialista, as expectativas são elevadas, nomeadamente em termos de novidades no âmbito da transplantação. «A terapêutica regenerativa celular tem a vantagem de, em algumas patologias, como as do endotélio, permitir transplantar células, evitando a ci-rurgia no seu todo», avança.

Entre 7 e 11 de outubro, também na FIL, decorrerá o XXXV Congresso da ESCRS (European Society of Catarat and Refractive Surgeons), que constituirá não só «uma opor-tunidade para os oftalmologistas portugueses contactarem diretamente com cirurgiões de toda a Europa, mas também uma possibilidade de projeção do que de muito bom se tem feito no nosso país», salienta a Prof.ª Filomena Ribeiro, coordenadora do Grupo de Cirurgia Implanto-Refrativa (CIRP).

Nesse contexto, um dos momentos alto do encontro será o simpósio luso-hispânico-

macos biológicos, com os objetivos de permitir que o oftalmologista seja independente na prescrição destes medicamentos, caso ne-cessite, e fomentar a troca de informação com outras especialidades». Outro destaque será uma ação formativa sobre doenças infeciosas e inflamatórias do segmento posterior do olho. «Além da importante atualização científica, espero que esta reunião sirva para fortalecer os laços entre oftalmologistas, especialmente no seio da inflamação ocular, pois somos poucos e lidamos com casos difíceis, sendo fulcral discuti-los com colegas», ressalva Vanda Nogueira.

brasileiro sobre o tratamento da presbiopia, resultante de uma organização conjunta entre o CIRP, a Sociedad Española de Cirugia Ocular Implanto-Refractiva (SECOIR) e a Associação Brasileira de Catarata e Cirur-gia Refrativa (ABCCR/BRASCRS), que será falado em português e em espanhol, mas com tradução simultânea para o inglês. Um momento que a coordenadora espera que seja um sucesso porque acredita «poder ser a base para futuras participações conjuntas».

Este congresso, que decorrerá em si-multâneo com a Reunião Anual da ESONT (European Society of Ophthalmic Nurses and Technicians), contará ainda com uma ampla participação portuguesa, tanto nos simpósios, como nos cursos e na apresen-tação de trabalhos de investigação. Outro fator relevante a destacar nesta edição será o início dos exames EBO (European Board of Ophthalmology)/ESCRS, cuja elaboração englobou professores nacionais e que contará com candidatos portugueses.

PROF. CARLOS MARQUES NEVES DR.ª VANDA NOGUEIRA

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DISCUTIR TEMAS COMUNS DE ÂMBITO MULTIDISCIPLINAR

Os Grupos Portugueses de Oftalmologia Pediátrica e Estrabismo (GPOPE), de

Neuroftalmologia (GPN), de Patologia On-cológica e Genética Ocular (GPOGO) e de Órbita e Oculoplástica (GPOO) juntam-se nos dias 20 e 21 de outubro, no Hotel M’Ar de Ar Muralhas, em Évora, para uma reunião em que serão debatidos maioritariamente assuntos comuns às quatro subespecialidades.

A Dr.ª Alcina Toscano, coordenadora do GPOPE, revela que os grupos procura-ram construir «sessões multidisciplinares e convocar outras especialidades ou subes-pecialidades, como Oncologia pediátrica, Otorrinolaringologia ou Imunoalergologia, para darem o seu contributo e ajudarem a perceber quando devem os oftalmologistas referenciar os doentes e vice-versa». Esta reunião conjunta inicia-se na sexta-feira, com uma mesa-redonda sobre o nervo ótico na criança. Seguir-se-á uma conferência sobre rabdomiossarcoma e outra sobre celulite orbi-tária na criança. A tarde de sábado, também dedicada às quatro áreas da Oftalmologia,

vai incluir uma conferência sobre doença de Graves e a discussão de casos clínicos sobre orbitopatia tiroideia.

A manhã de sábado será o único momento da reunião em que os grupos se separam. No campo da Oftalmologia pediátrica e do estrabismo, «inicialmente, serão abordadas patologias da córnea cada vez mais frequentes na criança», avança Alcina Toscano. Poste-riormente, decorrerá uma conferência sobre cirurgia de estrabismo secundário a fratura orbitária e uma mesa-redonda dedicada à cirurgia na síndrome de Duane.

Por sua vez, a Dr.ª Fátima Campos, coor-denadora do GPN, adianta que o programa na área da neuroftalmologia passará por «te-mas menos abordados, mas importantes de discutir», como a neuropatia ótica hereditária de Leber – «uma doença relativamente rara, cujas manifestações clínicas é crucial conhe-cer para fazer um diagnóstico adequado» –, as alterações do movimento facial e a dor, as alterações da perceção e do processa-mento visual – em que se incluem ilusões,

alucinações e disfunção cortical superior – e a disfunção visual não orgânica.

O GPOGO e o GPOO encontram-se na manhã de sábado para falarem sobre re-construção palpebral, lipoestrutura e distopia palpebral. «São as mesmas pessoas que retiram os tumores e que depois realizam a reconstrução, portanto, concluímos que fazia sentido juntar os dois grupos», explica a Dr.ª Mara Ferreira, coordenadora do GPOO. «São temas que não têm sido abordados ulti-mamente e considerámos interessante discu-tir as várias abordagens e indicações clínicas existentes. Contamos com a participação ativa dos oftalmologistas, ao longo de toda a reunião, para a aquisição de maior conheci-mento científico, no sentido de conseguirmos ajudar melhor os nossos doentes», comenta a Dr.ª Ana Magriço, coordenadora do GPOGO. Uma opinião partilhada pela Dr.ª Mara Ferreira, que acrescenta: «Espero que este encontro seja um sucesso e que consigamos trazer ainda mais informação, inovação e dinamismo ao GPOO.»

Dr.ª Alcina Toscano

DR.ª ALCINA TOSCANO DR.ª MARA FERREIRA DR.ª FÁTIMA CAMPOS DR.ª ANA MAGRIÇO

PORTO VAI RECEBER PRÓXIMO CONGRESSO DA ESA

O Congresso da European Strabismological Association (ESA), que, pela primeira vez, é organizado em conjunto com a Ame-

rican Association for Pediatric Ophthalmology and Strabismus (AAPOS), vai ter lugar no Centro de Congressos da Alfândega do Porto, de 13 a 16 de setembro. «As expectativas são elevadas, pois este encontro trará a Portugal os mais reputados experts in-ternacionais nas áreas de estrabismo e ambliopia e já estão cerca de 400 congressistas inscritos», sublinha o Prof. Pedro Menéres, diretor do Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar do Porto/ /Hospital de Santo António e organizador local deste evento.

O Congresso inicia-se com o pré-curso «Learning and Teaching in Orthoptics and Ophthalmology», ao qual se seguirá o «Interactive ESA Strabismus Course». Entre as várias sessões, Pedro Menéres destaca os simpósios principais sobre ambliopia, endotropia de aparecimento precoce e exotropia intermitente. Além disso, este responsável acrescenta que «vai decorrer uma sessão na sexta- -feira, intitulada “Rapid Fire Poster Session”, e um curso dedicado

a procedimentos cirúrgicos». No sábado, um dos destaques vai para uma discussão de casos clínicos interessantes e complexos, denominada «A case I have learnt from…».

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«OS ANTI-VEGF SÃO UMA ARMA TERAPÊUTICA MUITO EFICAZ E MENOS DESTRUTIVA DO QUE O LASER»

O Dr. Miguel Amaro revela que, à luz das novas evidências, o esquema terapêutico do edema macular diabético (EMD) utilizado no Departamento de Oftalmologia do Hospital Vila Franca de Xira, que dirige, sofrerá alguns ajustes. Os anti-VEGF (fatores de crescimento endotelial vascular, na sigla em inglês), como o aflibercept, serão utilizados em primeira linha nos doentes com acuidade visual (AV) abaixo dos 20/50. Em entrevista, o especialista comenta a evidência que levou a esta decisão, bem como o estado da arte dos tratamentos para esta patologia. Marisa Teixeira

Qual o estado da arte da terapêutica do edema macular diabético (EMD)?Desde 2006, com o advento dos anti-VEGF, o estado da arte tem-se modificado. Se até há alguns anos o laser era o tratamento mais preconizado, tanto para a doença macular quanto para a doença proliferativa, com os anti-VEGF, passámos a ter uma arma te-rapêutica muito eficaz e menos destrutiva para a retina. O laser estava tão enraizado na cultura médica que só ao fim de vários anos é que o estado da arte se alterou, pen-dendo agora para a utilização dos fármacos intraoculares. O laser passou a ter um papel adjuvante.

Que tratamentos existem atualmente para esta patologia?No âmbito farmacológico, dispomos de três anti-VEGF (aflibercept, ranibizumab e beva- cizumab), corticoides em uso off-label e im-plantes de longa duração. Por outro lado, o laser tem evoluído e as tecnologias mais re-centes já não são fotodestrutivas, mas sim fotomoduladoras, nomeadamente os lasers micropulsados e o Endpoint Management (EPM®). Como última opção, o tratamento cirúrgico pode também ser benéfico para alguns doentes.

O que diz a evidência científica mais recente e credível sobre o tratamento do EMD?O estudo Protocol T – A Comparative Effec-tiveness Study of Intravitreal Aflibercept, Bevacizumab and Ranibizumab for Diabetic Macular Edema compara os três anti-VEGF disponíveis no mercado e já se conhecem os resultados a dois anos. Recentemente, saiu também um artigo do Usman’s Group que faz a revisão de todos os protocolos terapêuticos do EMD. Os anti-VEGF são considerados pe-los autores destes estudos como a primeira linha terapêutica. Nos doentes com melhor AV, mas sobretudo naqueles em que a AV está abaixo dos 20/50, o aflibercept e o rani-bizumab mostraram-se mais eficazes, sendo que o aflibercept revelou um ganho superior no primeiro ano. Nos doentes com AV acima dos 20/50, o bevacizumab não revelou diferença significativa face ao aflibercept e ao ranibizu-mab, embora não tenha um efeito anatómico tão marcado como o aflibercept. Ao fim de dois anos, todos os anti-VEGF promoveram a regressão do EMD.

Segundo estes estudos, os corticoides e os implantes de ação prolongada, que têm alguns efeitos secundários, como o aparecimento de catarata e hipertensão ocular, devem ser

o tratamento de segunda linha. No entanto, em alguns casos, como os doentes que te-nham sofrido eventos cerebrocardiovasculares recentes, pseudofáquicos ou EMD crónico, deve-se optar por estes tratamentos. Por sua vez, os lasers que atuam na região subliminar sem provocarem dano podem ser a solução para os doentes que não toleram a injeção ou que não respondem aos fármacos.

O nível de acuidade visual é determi-nante na escolha do fármaco anti-VEGF? Num doente com AV acima dos 20/50, pode--se iniciar o tratamento com qualquer um dos três anti-VEGF, pois apresentam a mesma eficácia ao fim de um ano. Nos doentes com AV abaixo de 20/50, destaca-se o aflibercept por ser mais eficaz no primeiro ano, embora o ranibizumab demonstre os mesmos resultados ao fim de dois anos. Já o bevacizumab não comprovou o mesmo nível de eficácia nos doentes com pior AV.

Que papel assumem as novas opções de laser no tratamento do EMD?O laser convencional já não é recomendado. Existem novas opções, nomeadamente os lasers micropulsados e o EPM®, cujos resulta-dos são demonstrados em diversos trabalhos com séries pequenas, de 20 a 30 doentes. Estes lasers não destroem o tecido, pois são moduladores. O micropulsado é um laser de muito curta duração, nunca chega a aquecer, podendo «varrer» a mácula toda. O EPM® é um algoritmo matemático, criado através de um laser Pascal, que calcula a potência e a per-centagem de energia utilizada no tratamento. Se usarmos 15% da energia, é provocado um efeito imunomodulador, mas sem destruição. Todavia, estas são respostas acessórias e que não têm a mesma evidência dos anti-VEGF.

Que abordagem terapêutica é seguida no Departamento de Oftalmologia do Hospital Vila Franca de Xira?Temos um protocolo bem definido para o tratamento do EMD. Até agora, em primeira linha, utilizávamos o bevacizumab em off--label. Porém, à luz da recente evidência, vamos avançar para um novo protocolo, intro- duzindo o aflibercept ou o ranibizumab em primeira linha nos casos com AV abaixo dos 20/50. Todos os doentes fazem uma dose de carga (quatro a cinco injeções) e, a partir daí, dependendo da resposta, decide-se o que fazer. Fica à consideração do médico que segue cada doente associar o laser ou introduzir um corticoide, sem nunca esquecer o controlo metabólico.

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Desde o início deste ano que a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) tem novos corpos gerentes. Em entrevista, o Prof. Manuel Monteiro-Grillo, presidente, e o Dr. João Feijão, secretário-geral, falam sobre as prioridades do mandato para 2017-2018. O contacto com a comunidade, através de rastreios, campanhas de sensibilização e esclarecimentos nos media, é um ponto-chave. Em termos de novidades, os responsáveis destacam a intenção de reduzir o número de reuniões organizadas sob a chancela da SPO, apostando antes no incremento da sua qualidade científica e consequente acreditação.Sandra Diogo

Quais são os principais objetivos da Direção da SPO para o biénio 2017-2018?Prof. Manuel Monteiro-Grillo (MMG): O principal objetivo de uma sociedade cientí-fica passa sempre pela divulgação da ciência, através das diferentes reuniões promovidas em conjunto com os grupos dedicados às subespecialidades e o Congresso Português de Oftalmologia. Por outro lado, pretendemos interagir mais com a comunidade e, para isso, estão agendados rastreios, além de manter-mos os órgãos de comunicação social infor-mados sobre os temas que consideramos de maior relevância para a «educação oftalmo-lógica» da população.

«Proteger a saúde visual da comuni-dade» é a bandeira do atual mandato. Como planeiam atingir essa meta?MMG: De facto, queremos contribuir para uma melhor saúde visual no nosso país. O

contacto com a população é muito importante, uma vez que muitas pessoas não compre-endem bem o conceito de saúde visual e associam-no à aquisição de óculos e pouco mais. Mas, frequentemente, isso não basta e é preciso esclarecer as pessoas que, se não recorrerem ao oftalmologista, podem perder a oportunidade de diagnosticar atempadamente patologias não só oftalmológicas, mas outras que é possível detetar através do sistema visual, como algumas doenças sistémicas.

Pretendem aplicar alguma novidade?Dr. João Feijão (JF): Embora este seja um mandato de continuidade, há aspetos que podem ser melhorados. Nesse sentido, gos-taríamos de uniformizar os critérios das reu-niões organizadas sob a chancela da SPO, de modo a torná-las mais interessantes do ponto de vista científico. Tal implicará, pro-vavelmente, reduzir o número de reuniões e

aumentar a sua qualidade, até porque temos por objetivo conseguir que a maioria dos eventos científicos organizados pela SPO sejam acreditados.

«PROTEGER A SAÚDE VISUAL DA COMUNIDADE» É A BANDEIRA DA SPO NO BIÉNIO 2017-2018

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Pontos de vistaentrevista

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Estão previstas iniciativas em parce-ria com outras sociedades científicas nacionais ou internacionais?MMG: Desde há alguns anos que temos uma grande cooperação com os países e comunidades de língua oficial portuguesa, nomeadamente Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Goa. Também temos uma forte relação com a European Society of Ophthalmology (SOE), o International Council of Ophthalmology (ICO), a Pan-American Association of Ophthalmology (PAAO), o Conselho e a Sociedade Brasi-leira de Oftalmologia (CBO e SBO), entre outras entidades internacionais de relevo.

Nesse sentido, ainda este ano, vamos organizar simpósios no XXXIII Congresso Pan-Americano de Oftalmologia (9 a 12 de agosto, em Lima, Peru) e no 61.º Congresso Brasileiro de Oftalmologia (6 a 9 de setem-bro, em Fortaleza, Ceará). A SPO vai tam-bém ter um simpósio no próximo Congresso Mundial de Oftalmologia, que é organizado pelo ICO e decorrerá entre 16 e 19 de junho de 2018, em Barcelona.

Que aspetos poderão ser otimizados na rede de cuidados oftalmológicos?MMG: Os Serviços de Oftalmologia estão distribuídos por todo o país. Porventura, em algumas regiões, não existe grande proximidade a esses Serviços. No entanto, nem sempre é fácil deslocar especialistas para zonas onde não existem as melhores condições. Além disso, um oftalmologista isolado tem dificuldade em dar a resposta necessária. Apesar de tudo, os estudos que foram feitos recentemente sobre a rede of-talmológica nacional revelam que as ne-cessidades estão razoavelmente cobertas, ou seja, não faltam muitos oftalmologistas em Portugal.

Oftalmologia no ADNFilho de um oftalmologista, Manuel Monteiro-Grillo ainda tentou escapar às pisadas do pai quando sentiu o fascínio pela Neurologia, mas os rápidos avanços da Oftalmologia acabaram por conquistá-lo. «O facto de conseguirmos observar em pouco tempo os frutos da nossa atuação, seja do ponto de vista médico como cirúrgico, é um aspeto ao qual é difícil resistir», admite. Esse apelo acabou por se manter ao longo de toda a carreira. Após o internato no Hospital de Santa Maria (HSM), em Lisboa, Monteiro-Grillo pro-curou aprender mais com os grandes mestres da especialidade e ingressou em diversas pós-graduações, nomeadamente no Hospital Mount Sinai Beth Israel, nos EUA, onde aprofundou a técnica da vitrectomia. Depois de 40 anos de carreira no HSM, onde dirigiu o Serviço de Oftalmologia entre 2005 e 2017, o presidente da SPO mantém-se como regente da cadeira de Oftalmologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e não pensa reformar-se. «A Oftalmologia é uma especialidade com muitas áreas de interesse e isso é fascinante», confessa.

O fascínio pela precisão cirúrgicaO percurso profissional de João Feijão também não teve como esboço a Oftalmologia. Quando decidiu ingressar no curso de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, tinha em mente seguir Medicina Interna, mas, durante o Internato Geral no Hospital de São Francisco Xavier, atualmente integrado no Centro Hospi-talar de Lisboa Ocidental, percebeu que o seu futuro teria de passar por uma área cirúrgica e optou por fazer o Internato Completar de Oftalmologia no Hospital dos Capuchos, agora integrado no Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC). «Esta especialidade exige um grau de precisão muito elevado e penso que esse terá sido o desafio que me seduziu mais na altura. Além disso, os avanços registados na Oftalmologia permitem-nos obter resultados muito bons e rápidos, nomeadamente a nível cirúrgico, o que é recompensador», explica o secretário-geral da SPO, que exerce há 15 anos no CHLC.

PERFIS

Glaucoma e ergo-oftalmologia em destaque no 60.º Congresso A edição deste ano do Congresso Português de Oftalmologia, que decorrerá em Vilamoura, entre 7 e 9 de dezembro, «abordará temas da máxima importância na atualidade», avança o Prof. Manuel Monteiro-Grillo. Para o presidente da SPO, a conferência inaugural do Prof. Daniel Sampaio, reconhecido psiquiatra, assim como a sessão em que vai participar a atual presidente do INFARMED (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde), a Prof.ª Maria do Céu Machado, serão alguns momentos altos do encontro.

No que diz respeito aos temas centrais, sendo o glaucoma uma patologia que pode comprometer seriamente a acuidade visual, o presidente da SPO frisa a pertinência da atualização de conhecimentos neste domínio. «O grande desafio associado ao glaucoma está relacionado com o diagnóstico precoce, que é essencial para minorar as consequências e a evolução da doença. Mas é igualmente fulcral que o tratamento seja o mais adequado e eficaz possível», alerta.

Nesse contexto, o 60.º Congresso da SPO contará com a participação de alguns dos maiores especialistas internacionais na área, como a Prof.ª Francesca Cordeiro (coordenadora do Grupo de Pesquisa de Glaucoma e Neurodegeneração Retiniana do Instituto de Oftalmologia da University College London) e o Prof. José Martinez de la Casa (diretor do Serviço de Oftalmologia do Hospital Clínico San Carlos, em Madrid. «Apesar de a terapêutica médica disponível ser bastante alargada e permitir resolver grande parte dos casos, é a nível cirúrgico que têm surgido os maiores avanços», lembra Monteiro-Grillo, dando como exemplo os novos dispositivos para a cirurgia minimamente invasiva do glaucoma.

A ergo-oftalmologia é o outro tema central do 60.º Congresso devido à sua particular atualidade. «O uso crescente de dispositivos tecnológicos como tablets, telemóveis e computadores obriga a um esforço visual muito prolongado e até um pouco desadequado, levando ao aparecimento de problemas oftalmológicos complicados aos quais urge estarmos atentos», enfatiza o presidente da SPO.

Quais os grandes desafios que a Oftal-mologia portuguesa enfrenta?JF: Desde logo, o avanço tecnológico, que tem sido muito grande nos últimos anos, exigindo esforço económico e científico. Antigamente, as técnicas e as tecnologias eram muito mais duradouras; agora, é tudo muito mais fugaz. Uma técnica que é considerada boa hoje,

muito rapidamente se torna ultrapassada. A Oftalmologia em Portugal está ao nível do que melhor se pratica internacionalmente, como o comprovam os recentes resultados dos nossos internos que, tanto em exames de âmbito europeu como mundial, ficaram muito bem posicionados. Em termos de formação, estamos ao mais alto nível.

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Criado há mais de 50 anos, o Serviço de Oftalmologia do agora Centro Hospitalar Tondela-Viseu/Hospital São Teotónio (CHTV/HST) orgulha-se de estar ao nível do que de melhor se pratica na especialidade em todo o país. Sem nunca se deixar retrair por supostas limitações da interioridade, a equipa de dez oftalmologistas faz questão de estar na vanguarda em termos de técnica e de diferenciação, dando a melhor resposta possível aos cerca de 500 mil habitantes da região. Sandra Diogo

A agitação de carros e pessoas à en-trada do CHTV/HST desmistifica a ideia de estarmos perante um pacato

hospital do interior do país. Ao receber-nos, o Dr. Joaquim Estrada, diretor do Serviço de Oftalmologia, não esconde o sorriso perante a nossa surpresa: «A ligação das pessoas ao nosso hospital é muito forte e, apesar de algumas já terem outros locais de referência, continuam a procurar-nos», explica o respon-sável, referindo que esta unidade hospitalar dá resposta a todo o concelho de Viseu e zonas limítrofes, abrangendo um total de cerca de 500 mil habitantes.

Reconhecendo que se trata de um número demasiado elevado para a equipa existente (dez oftalmologistas e quatro técnicos) e para a dimensão do Serviço, o especialista garante que «são prestados cuidados que honram a história da Oftalmologia em Viseu». Para esse sucesso, há um fator que tem contri-buído inequivocamente – a qualidade dos profissionais. «Temos muita sorte porque os médicos se foram diferenciando em áreas que coincidem com as nossas maiores necessi-dades, nomeadamente glaucoma, segmento anterior, estrabismo, oftalmologia pediátrica e, mais recentemente, segmento posterior.» Essa especialização atingiu até uma vertente

que, na opinião do diretor, não tem sido muito acarinhada pela Oftalmologia ao longo dos anos – a cirurgia dos anexos –, que conta com a resposta de «dois elementos extre-mamente dedicados e que são referência a nível nacional», pelo que «estão reunidas todas as condições para prestar cuidados de excelência».

Vencer os desafios em equipa Fruto de uma organização das instalações que não é a ideal, os dez oftalmologistas ultrapassam diversas dificuldades na sua prática clínica diária. Uma delas é o facto de terem de distribuir a sua atividade por sete espaços diferentes – zona dos exames es-peciais, consulta externa, bloco operatório do hospital de dia, bloco operatório central, urgência, enfermaria (ainda que pouco, uma vez que a taxa de ambulatorização é de 98%) e Hospital de Tondela, onde se deslocam três vezes por semana. Além disso, no próprio Serviço de Oftalmologia, as condições também não são as ideais, «havendo dias em que é difícil encontrar gabinetes disponíveis para os dez médicos».

Enquanto aguardam por novas instalações, os oftalmologistas têm de enfrentar outros desafios decorrentes das contingências eco-

nómicas, que se refletem na impossibilidade de equipar os serviços hospitalares da ma-neira mais adequada. «Existem alguns equi-pamentos que, hoje em dia, são considerados básicos em Oftalmologia e dos quais ainda não dispomos, como um topógrafo corneano ou um microscópio especular» exemplifica Joaquim Estrada, acrescentando que é graças à boa vontade da equipa que essas carências não se refletem na qualidade dos cuidados prestados aos doentes.

A exercer neste Serviço há 11 anos, o Dr. Ricardo Freitas nota, no entanto, que houve uma evolução em termos de diferen-ciação, acompanhando os avanços tecno-lógicos. «Tentámos trazer para cá o que de melhor se faz na área e as técnicas inova-doras. A equipa renovou-se e reforçou-se, o que permitiu a diferenciação e contribuiu para grandes melhorias. Hoje em dia, nas áreas em que atuamos, a nossa resposta é cabal.» Uma das apostas mais recentes é a cirurgia vitreorretiniana, cuja primeira intervenção ocorreu em outubro de 2016, sob a responsabilidade deste especialista. «Passámos a poder resolver de imediato os hemovítreos, uma das consequências das doenças vasculares que afetam a retina e o vítreo, entre as quais a diabetes, que é

INTERIORIDADE NÃO IMPEDE AFIRMAÇÃO NACIONAL

EQUIPA (da esq. para a dta.): Dr. Salvador Lopes, Dr. Francisco Patrão , Enf.ª Anabela Chaves, Dr.ª Catarina Almeida, Dr.ª Marta Guerra, Dr.ª Sara Marques, Dr. Miguel Ribeiro, Dr. João Luís, Dr. Mário Cruz, Dr.ª Helena Pereira, Dr. Ricardo Faria, Dr. Joaquim Estrada (diretor), Enf.ª Teresa Pinto, Dr. Rui Tavares, Ana Maria Magalhães e Lúcia Maneca (técnicas de ortóptica), Dr. Paulo Loureiro, Raquel Francisco (técnica de ortóptica), Enf.ª Margarida Lopes, Manuela Ferreira (técnica de ortóptica), Fátima Jesus e Isabel Matos (assistentes técnicas), Patrícia Silva (assistente operacional) e Enf.ª Margarida Barata

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NÚMEROS DE 201610 oftalmologistas

4 técnicos de ortóptica

4 camas para ambulatório com pernoita

6 gabinetes de consulta – 1 com laser, 1 com angiógrafo digital, 1 com OCT, 1 com exame de campos visuais manual e automático, 1 com outros exames (ecrã de S, biómetro, ecógrafo, tonó-metro de sopro e autorrefletor) e 1 gabinete no Serviço de Urgência

4 tempos semanais no bloco opera-tório central (onde também é feita a cirurgia ambulatória, geralmente com pernoita)

2 salas na Unidade de Cirurgia de Ambulatório – 1 para cirurgia de catarata e outra para cirurgia oculo-plástica e pequena cirurgia

20 000 consultas (primeiras e de seguimento)

235 procedimentos com laser

muito prevalente na nossa população», frisa Ricardo Freitas.

Apesar de o Serviço de Oftalmologia não estar dividido formalmente por subespecialida-des (um projeto que o diretor quer concretizar assim que possível), essa atuação existe na prática. «Temos três oftalmologistas dedica-dos à retina médica; dois que se ocupam das questões relacionadas com o estrabismo e a oftalmologia pediátrica, sendo que um deles garante também a cirurgia dos anexos ocu-lares; dois que se dedicam ao glaucoma, um que assegura a consulta de uveítes; e mais dois oftalmologistas responsáveis pela cirur-gia de catarata», enumera Joaquim Estrada.

Boas relações externas Sobre o clima de grande amizade que pre-valece nesta equipa, o diretor não hesita em afirmar que a explicação poderá estar no facto de todos os elementos terem feito a sua espe-cialização no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Aliás, a boa relação com essa instituição é um aspeto que se tem mantido ao longo do tempo e que se reflete em parcerias ao nível de trabalhos de investigação e da própria formação pós-graduada.

Além disso, existe uma forte ligação aos ou-tros Serviços do CHTV/HST, nomeadamente à Medicina Interna, cuja Unidade de Diabetes referencia os casos de retinopatia diabética para a Oftalmologia, e à Otorrinolaringolo-gia, porque, atualmente, a cirurgia das vias lacrimais exige a colaboração entre as duas especialidades.

Joaquim Estrada lamenta que, até agora, o Serviço de Oftalmologia não tenha um pa-pel muito ativo na formação pré-graduada, mas avança que isso poderá estar prestes a mudar. «Fomos recentemente contactados pela Universidade da Beira Interior, que nos pediu apoio para as aulas práticas do curso de Medicina, uma proposta que acolhemos com muito entusiasmo e que esperamos concretizar.»

Na corrida pelo sucessoNo início, o Serviço de Oftalmologia começou por funcionar no Hospital da Misericórdia que existia em Viseu. A equipa era constituída por três médicos quando Joaquim Estrada se juntou, há cerca de 24 anos. «Era um Serviço muito aliciante para trabalhar, pois já tinha uma atividade ao nível da praticada nos hos-pitais centrais, com exceção da cirurgia do segmento posterior, que iniciámos no ano passado», conta o atual diretor. Apesar de se ter mantido durante largos anos apenas com quatro oftalmologistas, o Serviço con-seguiu adotar algumas das práticas mais modernas que estavam a surgir. É o caso da tecnologia de facoemulsificação, à qual estes profissionais foram dos primeiros a ter acesso e a fazer formação a nível nacional, corria o ano de 1994.

Essa procura pela constante atualização foi sempre prioritária para os antecessores de Joaquim Estrada, que, tendo assumido a direção do Serviço há cerca de um ano, garante que continuará nesse caminho. «A área cirúrgica tem evoluído de forma fantástica nos últimos anos e os Serviços de Oftalmo-logia têm-se desenvolvido numa espécie de competição saudável entre si. E é claro que nós estamos nessa corrida», afiança.

Nesse sentido, há algumas iniciativas que o especialista pretende implementar e que implicarão uma reorganização, como é o caso da ligação aos cuidados de saúde primários.

Os equipamentos de diagnóstico a que mais recorrem os profissionais do Serviço de Oftalmologia são o angiógrafo, a tomografia de coerência ótica (OCT), os campímetros, o ecógrafo, o ecrã de Hess e o biómetro

A cirurgia de catarata ocupa grande parte dos quatro tempos semanais disponíveis para a Oftalmologia no bloco operatório central

«O acesso dos doentes aos cuidados oftal-mológicos não tem sido, na minha perspetiva, o mais racional, pelo que temos de melho-rar esse aspeto, para não perdermos tempo com pessoas que não necessitam dos nossos cuidados e, consequentemente, possamos dedicar mais atenção aos que precisam efe-tivamente.»

Como bom exemplo ao nível dos cuidados de saúde primários, Joaquim Estrada refere o rastreio da retinopatia diabética criado na zona centro do país, que, a seu ver, «está a funcionar muito bem». Por isso, remata: «Gostávamos de ver implementados sistemas semelhantes em doenças que suscitam mais vindas ao nosso Serviço, como é o caso do glaucoma e da catarata.»

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A Livraria Barata, em Lisboa, foi o ponto de encontro. Ali foi lançado, em 25 de maio, Homem e Cão em União de

Facto, uma obra composta por 19 contos. As narrativas foram escritas ao longo de três anos, enquanto Leonor Almeida realizava o doutoramento em Bioética na área do consentimento informado aplicado a cirur-gia oftalmológica, finalizado em 2015, que implicava «leituras “pesadas”». Como fica «desconfortável sempre a fazer o mesmo, surge a necessidade de criar», revela a oftalmologista, que deixou recentemente de exercer no Centro Hospitalar Lisboa Norte/ /Hospital de Santa Maria (CHLN/HSM), onde fez a maior parte da sua carreira médica. Inicialmente, entre 1977 e 1981, realizou o Internato Geral nos Hospitais Civis de Lis-boa, mas, em 1982, rumou ao HSM para o Internato Complementar de Oftalmologia. Em 1989, estagiou no Hôpital Cantonal, em Genebra, e, mais tarde, em 1994, no Hôpital Saint Joseph – Clinique du Glaucoma, em Paris.

Apesar de escrever sempre ficção e nunca relatar nada referente aos seus doentes, Leonor Almeida acredita que «o facto de ser médica» e se deparar com «inúmeras situa-ções da existência humana» é um «terreno rico» no qual acaba por absorver informação que, de uma forma ou de outra, contribui para

Tendo como mote o seu mais recente livro – Homem e Cão em União de Facto – a Prof.ª Leonor Almeida falou com o Visão SPO sobre as suas aventuras literárias, que resultaram na publicação de uma primeira compilação de contos, em 2002. Mas a literatura é uma paixão bem mais antiga e uma forma de evasão da monotonia e das preocupações quotidianas desta oftalmologista.

Marisa Teixeira

a sua escrita. Aliás, «escrever é até um meio de expurgar essas situações», explica. «A escrita é um pouco a transpiração do espírito», sublinha a autora, e, entre risos, adianta: «A mão antecipa, muitas vezes, o pensamento, como se começasse a escrever antes de mim; às vezes, é como se fosse autónoma.» Aliás, Leonor Almeida possui outras capacidades manuais, pois não só é ambidestra como consegue escrever em simultâneo a mesma frase com as duas mãos, como demonstrou à equipa do Visão SPO num momento divertido no meio da conversa, com risos a ecoar na livraria.

A opção por contos não é novidade; aliás, este género literário está presente em várias das suas obras. «Também já escrevi roman-ces, mas, mesmo nesses, cada capítulo pode ser lido por si só, como se de um conto se tratasse», explica a autora. Relativamente a Homem e Cão em União de Facto, Leonor Almeida explica que se trata de «uma es-pécie de metáfora invertida, porque os cães assumem características humanas e falam como as pessoas». «O objetivo foi, talvez, transmitir a ideia de que o homem é muito “espessista” em relação aos outros, no sentido de casta e assimetria. É um livro de poderes e contrapoderes, no qual há uma inversão de papéis, pois os cães não fazem distinções de classes.»

O prazer de escreverQuestionada sobre as suas referências lite-rárias, com o olhar em memórias que já lá vão, Leonor Almeida lembra que, «quando era miúda, achava muita graça a Mário Henrique Leiria e gostava de literatura surrealista». Al-bert Camus e Jean Paul-Sartre foram também autores que a entusiasmaram por volta dos 17 anos de idade, entre muitos outros. «Milan Kundera!», exclama entretanto a oftalmolo-gista, explicando que «aprecia muito a sua escrita, pela forma como descreve porme-norizadamente as personagens». E poderia ficar a listar nomes até ao dia seguinte, não fossem as letras uma das várias artes que apaixonam esta autora, que é coordenadora da Secção Cultural da SPO. O teatro, a mú-sica e a pintura são também alvo da «sede artística» desta oftalmologista.

«Sempre escrevi muito… até em guarda-napos de papel, pois, quando me lembro de algo, tenho de escrever no momento», confessa, sorridente, Leonor Almeida. E acrescenta: «Um dia, apercebi-me de que já tinha imensa coisa escrita e mostrei-a ao Dr. Fernando Chiotte Tavares, que me disse: “Tem coisas tão bonitas...” E decidi mostrar à editora Replicação, mais dedicada a livros escolares, mas que estava a lançar-se na área dos romances. Gostaram e publicaram a compilação de contos Esgares e sorrisos.»

ESCREVER FICÇÃO,UM ESCAPEÀ REALIDADE

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Um título que nasceu da reação de amigos que leram esses textos, pois, segundo a autora, «primeiro riam, depois a fisionomia alterava-se e ficavam com um ar horrorizado…». Esta obra valeu-lhe o Prémio Revelação da Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos e o Prémio de Novos Autores Portugueses do Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, em 2002.

Seguiu-se o primeiro romance, Só me falta ser viúva, «um livro de relações humanas que envolve sempre essa inquietação, esse tal esgar, e também sorrisos. O sorriso é mais a forma, o conteúdo é mais esgar», avança. Regressou aos contos, com Gaivotas em fim de verão, em que «existe uma reflexão sobre os valores», e, depois, um novo romance, O sapato preto. «Gostei muito de escrever este segundo romance. É um livro que remete para as razões de as pessoas escolherem viver de determinada maneira», comenta.

Valores e acasosMas a vida de Leonor Almeida não se fica pela ficção. «O doente glaucomatoso e a sua autonomia em meio hospitalar» foi o ensaio que escreveu como tese do Mestrado em Bioética aplicado à Oftalmologia, em 2006, publicado em 2008. «Neste âmbito, comparei o comportamento de três grupos de médicos de faixas etárias diferentes para perceber, por exemplo, como consideravam o direito de a pessoa pedir uma outra opinião. Os mais velhos não o aceitavam, tinham uma atitude paternalista; o grupo intermédio aceitava muito bem e sugeria até que o doente o fizesse; curiosamente, os mais novos mostraram-se também formais. Consideravam que o do-ente tinha esse direito, mas não gostavam e julgavam ser um dever do doente avisá-los sobre essa questão.» Para a oftalmologista, estes indicadores são mais um sinal de que «os mais jovens, atualmente, são um pouco mais competitivos e individualistas, talvez porque a dificuldade de acesso é maior, o que, naturalmente, também interfere nos comportamentos».

Para Leonor Almeida, as palavras e a proximidade são fundamentais na relação médico-doente. «A medicina narrativa tem de se reinstalar e não estar sujeita a timings»,

ressalva a oftalmologista, acrescentando que «os médicos deveriam ter formação em gestão, de modo a serem eles os gestores hospitalares, pois percebem melhor o ter-reno». Por outro lado, apelida o trabalho em equipa como «fundamental»; aliás, sempre o tentou exercer com os seus internos, a quem dizia, em tom de brincadeira, que ti-nham de a «ultrapassar», pois poderiam ter de operá-la mais tarde. «Ajudo os colegas sempre que posso, especialmente os mais jovens. É o nosso dever ensiná-los, corrigir os seus erros e não os humilhar», defende Leonor Almeida. E salienta: «Trata-se de uma questão de postura e de atitude». Há valores que são para esta especialista muito importantes: não é por acaso que os seus estudos enveredaram pelos campos da Ética e da Bioética e que o papel de docente sem-pre lhe deu satisfação.

A opção por Oftalmologia, pelo contrário, foi fortuita. Após o internato, esteve alguns anos à espera de colocação, ficando ligada, entre-tanto, ao Centro Hospitalar de Lisboa Central/ /Hospital de Dona Estefânia, em particular à Pediatria, mas apenas conseguiria vaga fora de Lisboa. «Acabei por escolher Oftalmologia, uma especialidade que não conhecia bem, mas que experimentei e gostei», relembra Leonor Almeida, destacando o facto de se tratar de «uma especialidade transversal». «Muitas ve-zes, somos nós, oftalmologistas, que diagnos-ticamos, em primeira mão, um tumor cerebral ou outra patologia não oftalmológica», explica. E exemplifica: «Há pouco tempo, observei uma mulher que estava internada com doença renal de causa desconhecida. Ao observar a sua córnea, percebemos que sofria de cistinose, uma doença genética rara, o que explicou todo o restante quadro sistémico.»

Além disso, Leonor Almeida considera a Oftalmologia «muito gratificante». «Presenciar e partilhar a alegria de um doente que conse-gue ver adequadamente após uma cirurgia de catarata, por exemplo, é espetacular», afirma. Se realidades como esta deixam a oftalmo-logista satisfeita, outras há que nem tanto; daí a ficção ser um escape para a autora, que tenta desfrutar da vida sempre com um sorriso nos lábios, embora não consiga evitar, por vezes, alguns esgares.

Homem e Cão em União de Facto (2017)«Arranjar, entre enredos tão diferentes, que descrevem a solidão, o desespero ou os desamores, mas também a companhia, a esperança, o amor e a amizade, em cenas do quotidiano, um fil rouge representado pela “personagem-cão” é uma proposta deveras interessante e uma homenagem muito bela aos nossos grandes amigos “patudos”.»

Sinopses das obras publicadas

Esgares e Sorrisos (2002)«Trata-se de uma coletânea de trinta histórias curtas com uma escrita ao serviço direto da gente de todos os dias, captada em registo fotográfico sem preparação, encenação, trabalho de casa psicológico ou cábula.»

Só me falta ser viúva (2004)«Fala da relação de uma mulher com um homem que se envolve com muitas mulheres, e a todas elas só lhes faltava serem viúvas, em sentidos diferentes. Um livro de relações humanas.»

Gaivotas em Fim de Verão (2007)«O que a autora vê e descreve, num registo muito original e peculiar, são personagens de forte recorte psicológico, são momentos fugazes mas plenos de significado, e tudo num contexto de profunda reflexão crítica sobre os valores frívolos dominantes da sociedade em que vivemos.»

O Sapato Preto (2012)«O sapato preto de verniz era a indu-mentária preferida da mãe em noites de cerimónia e de mistério. A mística que o envolvia prolongara-se-lhe na idade adulta como fonte de identidade e de juventude. Todos os fenómenos importantes da sua vida refletiam esse culto à juventude, ao estético, à procura da verdade. Não fazia parte da dicotomia bom/mau, certo/errado, permanecendo estranho aos dois lados, com difi-culdade de opção, nem enquadrado nem desen-quadrado. A homossexualidade era apenas uma preferência, envolvida em contradições e relações de poder. No quotidiano, a memória como força de esquecimento leva-o a uma permanente busca de algo maior, a um sinal de esperança. Deixando--se levar pelos territórios obscuros da alma, consegue aproximar-se de si próprio e quebrar os impasses da vida.»

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Para a Prof.ª Filomena Ribeiro, coorde-nadora da CIRP, o sucesso da edição deste ano, que contou com um número

recorde de participantes (483) deveu-se, sem dúvida, às inovações instituídas para o encontro deste ano. «Tentámos criar maior dinamismo, com uma vertente muito orientada para a for-mação e a divulgação de trabalhos portugueses com impacto a nível internacional, bem como o debate de aspetos que têm aplicação prática e imediata na clínica», explica. Exemplo disso foi o curso de atualização em córnea, catarata e cirurgia refrativa, que decorreu no primeiro dia, com 175 participantes. Esta ação de formação teve ainda a mais-valia de ter quatro créditos da Union Européenne des Médecins Spécialistes (UEMS), tornando-se, assim, a mais acreditada alguma vez realizada em Portugal.

Em destaque estiveram também as sessões dedicadas à resolução de complicações com um simulador cirúrgico e os wet-labs, que se repetiram no segundo dia e cujos temas foram escolhidos tendo em conta as dificuldades formativas que os médicos enfrentam nessas

áreas. «Normalmente, a formação em femto-córnea e na área de transplante de córnea implicam grandes deslocações; já o alinha-mento tórico é um tema do nosso dia a dia, que está em constante evolução tecnológica, pelo que esta foi uma oportunidade de ouro para quem se está a iniciar na especialidade», garantiu a coordenadora.

No que diz respeito aos temas da área de interesse do GPSOC, o Dr. Walter Rodri- gues, coordenador do Grupo, salientou o desenvolvimento bastante significativo verificado nos últimos anos em relação a determinados tipos de cirurgia de recons-trução da superfície ocular e associados à opacidade da córnea, nomeadamente ao nível da transplantação. «Atualmente, mais de 50% dos transplantes efetuados são la-melares, o que significa que podemos trans-plantar apenas a camada de córnea afetada. Com a técnica DMEK [Descemet membrane endothelial keratoplasty], só transplanta-mos a camada de células endoteliais; com a DALK [queratoplastia lamelar anterior pro-

funda], apenas transplantamos a camada do estroma», exemplificou.

Como enfatizou o oftalmologista, a técnica DALK possibilitará a manutenção do endoté-lio do recetor e da membrana de Descemet, diminuindo, deste modo, a probabilidade de rejeição. Este procedimento «tem ainda a vantagem associada de permitir uma maior estabilidade durante o processo cirúrgico e, no DMEK, uma maior rapidez na recuperação visual». Na reunião, as questões cirúrgicas refrativas foram as que suscitaram mais controvérsia, o que não surpreendeu Walter Rodrigues. «Na cirurgia ablativa, a discussão

Cerca de metade dos oftalmologistas portugueses estiveram presentes na Reunião Conjunta do Grupo de Cirurgia Implanto-Refrativa (CIRP) com o Grupo Português de Superfície Ocular, Córnea e Contactologia (GPSOC), que decorreu de 1 a 3 de junho, em Albufeira. Este ano, o destaque foi para ações formativas, cirurgia refrativa da catarata, avaliação da qualidade visual, transplantes lamelares e endoteliais, tratamento do queratocone e divulgação de trabalhos nacionais que tiveram projeção no estrangeiro.Sandra Diogo

ESTADO DA ARTE DA CIRURGIA REFRATIVA E DA SUPERFÍCIE OCULAR

ALGUNS PALESTRANTES E MODERADORES (da esq. para a dta.): Prof. José Salgado Borges, Drs. Bernardo Feijóo, Fernando Soler e Óscar Asís, Profs. Filomena Ribeiro e Joaquim Marinho, Dr. António Limão, Prof. Joaquim Murta e Dr. Walter Rodrigues

«A reunião foi muito orien-tada para a formação e a divulgação de trabalhos

portugueses»Prof.ª Filomena Ribeiro

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prende-se com a estabilidade refrativa e a ausência de queratocone para a realização do procedimento e com o recurso a uma téc-nica nova utilizando laser de femtossegundo para correção das ametropias, o SMILE [small incision lenticule extraction]».

Promover a investigação nacionalO segundo dia da reunião teve início com uma das novidades da edição deste ano: a sessão «Portugal lá fora», dedicada à divulga-ção dos projetos nacionais ao nível da cirurgia da catarata, cirurgia refrativa e córnea. Para isso, convidaram-se os autores e coautores desses trabalhos que foram publicados em revistas internacionais ou apresentados em congressos de grande impacto, como o da European Society of Cataract and Refractive Surgeons (ESCRS) e o da American Society of Cataract and Refractive Surgery (ASCRS).

A mesa sobre cirurgia refrativa da catarata, na qual a discussão se centrou sobre o pa-pel das diferentes lentes e na definição de critérios de seleção dos doentes, teve como moderador o Prof. Joaquim Murta, diretor do Serviço de Oftalmologia do Centro Hospita-lar e Universitário de Coimbra (CHUC). Para o especialista, este tema continua a ser de sumária importância «uma vez que ainda se assiste a muitas cirurgias de implantação de lentes multifocais em doentes que não são candidatos para este procedimento». Nesse sentido, alertou para aqueles que considera serem aspetos básicos de exclusão: existência de patologia na córnea ou deteção de alguma anormalidade no sistema ocular.

As preocupações com a qualidade vi-sual foram o cerne da mesa moderada pelo Prof. José Salgado Borges, diretor da Clins-borges, no Porto, e coordenador do Serviço de Oftalmologia do Hospital Trofa Saúde Matosinhos. Em debate esteve uma análise aos diferentes métodos, objetivos e subjetivos, que permitem determinar qual deverá ser o re-sultado obtido após uma intervenção cirúrgica refrativa ou de catarata. Foi, aliás, nesse âm-bito que o especialista fez uma apresentação sobre diferentes instrumentos de avaliação,

nomeadamente uma metodologia que está a desenvolver em parceria com a Universidade do Minho de maneira a perceber como é que os doentes se comportavam antes da cirurgia (principalmente os que têm cristalinos claros), com vista a identificar o procedimento ideal.

«Verificámos que existia um melhor re-sultado se os dois olhos fossem operados com intervalo curto e que os resultados eram potenciados ao longo do tempo. Isso foi cor-roborado pelos estudos desenvolvidos em parceria com a Prof.ª Filomena Ribeiro, no Hospital da Luz, em Lisboa», referiu. A conso-lidação científica final, acrescentou, «foi con-seguida pelo trabalho da Dr.ª Andreia Rosa, do CHUC, que se baseou em avaliações a nível cortical e em testes quantitativos e qua-litativos, para saber o que se vai passando ao longo do tempo ao nível do córtex, naquilo a que se poderá chamar de neuroadaptação».

Novidades e controvérsias da cirurgia refrativaComo já vem sendo habitual nesta reunião, o Dr. Fernando Soler, diretor médico da Clí-nica Oftalmológica Dr. Soler, em Elche, e o Dr. Óscar Asís, diretor do Serviço de Oftalmo-logia do Hospital Perpetuo Socorro, em Gran Canaria, exploraram, através de imagens e de forma lúdica, os avanços mais recentes na área da cirurgia refrativa em termos de técnicas, dispositivos e procedimentos.

ABC dos transplantes lamelaresO terceiro dia do encontro contou com mais uma atividade formativa, desta vez na área das queratoplastias lamelares. O objetivo, como explicou o Dr. Bernardo Feijóo, oftalmologista no Hospital da Luz, em Lisboa, e um dos formadores do curso, foi dar a conhecer, de forma didática, os diferentes passos das várias técnicas, explorando as vantagens e desvantagens de cada uma, e debater as dificuldades que quem se está a iniciar pode esperar, assim como referir alguns truques para superá-las.

«Falámos da técnica de DALK [queratoplastia lamelar anterior profunda] e, no âmbito dos transplantes endoteliais, abordámos as técnicas DMEK [Descemet membrane endo-thelial keratoplasty] e DSAEK [Descemet stripping automated endothelial keratoplasty], enfatizando os diferentes dispositivos utilizados para fazer a introdução do lentículo, com os quais ainda há pouca experiência em Portugal», exemplificou o especialista.

Retrospetiva dos transplantes endoteliaisA Conferência Pedro Abrantes, dedicada à história dos transplantes endoteliais, ficou a cargo do Dr. António Limão, oftalmologista no Instituto de Microcirurgia Ocular, em Lisboa. Um convite que o deixou «muito honrado», dado que este é um percurso que viveu intensamente desde o início. «Em Portugal, começámos o DSAEK moderno em 2006, curiosamente no ano em que o primeiro artigo sobre este procedimento foi publicado. Na altura, apresentei os primeiros casos que realizei no Congresso Português de Oftalmologia, em Évora», afirmou.

Contextualizando o procedimento, o especialista lembrou que a história dos transplantes endoteliais começou com algumas tentativas nos anos 1950, mas só em 1998 teve início a chamada era moderna. Foi graças à criatividade do Dr. Gerrit Melles que as técnicas foram progredindo a um ritmo muito rápido, até se chegar ao momento atual com o DMEK. E o futuro promete continuar a surpreender: «Espera-se a melhoria dos tratamentos médicos com colírios em casos de distrofia de Fuchs pouco avançada e, nos casos mais graves, os inibidores da rho-quinase e outros que estão em estudo possibilitarão a opção por uma simples injeção na câmara anterior de células endoteliais cultivadas.» Ou seja, concluiu António Limão, «há agora a possibilidade de estes doentes não só recuperarem a transparência da córnea, como também de ficarem com uma excelente qualidade de visão».

«Este tem sido um ano repleto de novida-des. Não só a ASCRS demonstrou publica-mente o seu apoio à cirurgia minimamente invasiva do glaucoma, como se nota um cres-cimento das expectativas relativamente às lentes fáquicas, o que significa que há um grande interesse nesta família de lentes intra-oculares», referiu Fernando Soler. Por outro lado, acrescentou Óscar Asís, «apareceram algumas técnicas inovadoras na cirurgia da catarata que são controversas, nomeada-mente o recurso ao 3D, novos dispositivos de diagnóstico e sistemas alternativos à cirurgia do femtofaco».

No que respeita às controvérsias, o Prof. António Marinho, oftalmologista no Hospital da Luz Arrábida, em Vila Nova de Gaia, e mo-derador da sessão «Controvérsias na cirurgia refrativa II – lentes fáquicas», garante que já não são assim tantas. «As lentes fáquicas têm o seu lugar bem definido atualmente, estando indicadas para casos acima das seis diop-trias», afirmou. Quanto à escolha das lentes, o moderador salientou que existem dois tipos, a lente de fixação à íris e a lente de câmara posterior, sendo que, atualmente, a tendência é para esta última. Ou seja, na sua opinião, «o aspeto mais importante para discutir é o papel das lentes fáquicas nalguns casos di-fíceis, nomeadamente no queratocone, como implante secundário sobre outra lente e para corrigir erros refrativos», reforçou.

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Tendo como lema «Glaucoma na crista da onda», numa alusão óbvia à cidade que recebeu a reunião, este encontro

visou a promoção da discussão das questões mais atuais no domínio desta patologia. Nesse sentido, o Dr. António Figueiredo, coordenador do Grupo Português de Glaucoma e oftal-mologista na Clínica ALM-Oftalmolaser, em Lisboa, lembrou, na sessão de abertura, que Portugal ainda enfrenta diversas dificuldades, não só no que diz respeito ao diagnóstico, mas também ao tratamento do glaucoma. «Es-tamos perante uma doença assintomática, para a qual ainda não dispomos de meios para reverter as lesões causadas pela sua progressão, pelo que importa partilharmos e debatermos os avanços que vamos alcan-çando, assim como alertar para a importância do diagnóstico precoce», frisou.

Seguindo essa linha, a reunião incluiu um módulo dedicado às particularidades da patologia em idade pediátrica, nos doentes míopes e nos hipermétropes, que terminou com uma análise às mais-valias que as redes

sociais e aplicações tecnológicas poderão ter na compliance dos doentes.

Salientando que a área cirúrgica foi a que mais avanços sofreu no acompanhamento destes casos, António Figueiredo, um dos moderadores da mesa-redonda na qual o tema foi discutido, realçou a importância de técnicas inovadoras, nomeadamente os microdisposi-tivos e microimplantes de drenagem que hoje se utilizam frequentemente. «A adoção de procedimentos minimamente invasivos tem contribuído para um maior sucesso deste tipo de cirurgias, que têm ainda a vantagem de proporcionar uma recuperação mais rápida e menos incómoda para o doente», afirmou o especialista.

Opções terapêuticas em análiseO segundo dia da reunião ficou marcado pela mesa-redonda sobre os avanços e recuos em termos de tratamentos farmacológicos dispo-níveis. Convidado a falar sobre «Tentativa e erro na terapêutica médica», o Prof. Luís Abegão Pinto, oftalmologista no Centro Hos-pitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria, adiantou algumas possíveis explicações para o facto de não terem surgido novidades na área dos colírios nos últimos 10 a 15 anos.

«Para uma molécula nova entrar no mer-cado tem de ser tão segura e eficaz como as que já existem, além de ter uma vantagem adicional. Há várias tentativas que acabam por nunca se concretizar porque, quando são aplicadas na prática, manifestam um efeito adverso ou não são tão eficazes como a te-rapêutica já existente e tudo volta à estaca zero», enfatizou o especialista, que abordou quatro grandes grupos farmacológicos que pareciam promissores, mas que acabaram por não ter o sucesso expectável: a memantina, os inibidores da rho-quinase, os dadores de nitratos e os corticoides angioestáticos.

«A memantina, por exemplo, um medica-mento em forma de comprimidos para travar a doença do ponto de vista da neurodege-neração, prometia ser a grande revolução há cinco/seis anos, mas a empresa que a desenvolveu parou o estudo sem explicar porquê, aliás, à semelhança do que acon-teceu com outras moléculas», referiu Luís Abegão Pinto, sublinhando as implicações éticas que essa atitude levanta. Ainda assim, o orador manifestou-se otimista quanto ao futuro, salientando que, na última década,

As particularidades do glaucoma em determinados grupos, a abordagem microcirúrgica, as novas terapêuticas médicas e o papel de meios de diagnóstico inovadores, como a OCT (tomografia de coerência ótica, na sigla em inglês) Angio, foram os temas centrais da Reunião Anual do Grupo Português de Glaucoma, que decorreu nos dias 17 e 18 de março, em Peniche.Sandra Diogo

ESPECIALISTAS DEBATEM ESTRATÉGIAS DE TRATAMENTO DO GLAUCOMA

SESSÃO DE ABERTURA (da esq. para a dta.): Dr. Augusto Magalhães, presidente do Colégio da Especialidade de Oftalmologia da Ordem dos Médicos; Dr. António Figueiredo, coordenador do Grupo Português de Glaucoma; e Prof. Manuel Monteiro-Grillo, presidente da SPO

O Prof. Anton Hommer abordou as alternativas terapêuticas para os casos em que os colírios não são suficientes, como a microincisão da cirurgia do glaucoma e as formulações de libertação prolongada

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decorreram mais de 150 ensaios clínicos com medicamentos já existentes no sentido de tentar acertar na melhor formulação. «A maior parte dos avanços tem ocorrido no âmbito de associações fixas e formulações diferentes e penso que, provavelmente, este ano haverá novidades a esse nível», afiançou.

Este ano, a Conferência Dr. João Eurico Lisboa foi proferida pelo Prof. Anton Hommer, diretor da Unidade de Glaucoma do Serviço de Oftalmologia do Hera Hospital de Viena, na Áustria, e teve como tema «For glaucoma pa-tients: options if daily drops are not possible». Alertando para o facto de o glaucoma ser uma doença crónica progressiva, o especialista recordou que nem todos os doentes conse-guem manter a patologia sob controlo com a primeira abordagem terapêutica, os colírios.

Nesses casos, concretizou, são precisas outras opções, «nomeadamente formulações de libertação lenta que estão em estudo – como os anéis que se colocam sob a córnea e as injeções que se aplicam na câmara interior – e a trabeculoplastia, uma vez que o laser atua baixando a pressão intraocular [PIO] e é um procedimento que pode ser repetido». Por fim, acrescentou o palestrante, os doentes têm ainda à sua disposição a microincisão da cirurgia do glaucoma, «uma técnica que aparenta ser mais segura e menos proble-mática na fase pós-operatória, mas não é adequada a todos os casos, até porque o efeito sobre a PIO é menor do que o obtido através da trabeculoplastia».

Mais-valias dos novos métodos de diagnósticoReforçando a importância da deteção do glaucoma o mais precocemente possível, de modo a evitar os danos irreversíveis que a progressão da patologia proporciona, o Prof. José Moura Pereira, oftalmologista no Centro Hospitalar e Universitário de Coim-bra, reafirmou a pertinência dos temas do módulo II da reunião, que lhe coube moderar. «Por enquanto, a ciência não permite tirar conclusões absolutas sobre a possibilidade de desenvolver ou não esta patologia, uma vez que ainda não há determinados fenótipos que nos possam assegurar que quem tem essa componente genética vai ter glaucoma, mas o acompanhamento de casais em que um dos elementos tem a doença é essen-cial», disse o especialista, em referência ao tema «Testes genéticos e aconselhamento genético».

Foi também nesta sessão que se aborda-ram os fatores que podem contribuir para o desenvolvimento da patologia, como a hiper-tensão arterial (HTA). Nesse contexto, e dado que o glaucoma é um problema resultante da vascularização ao nível do nervo ótico, o oftalmologista especificou como «indispen-sável a avaliação do risco vascular dos do-entes, principalmente numa população como

a portuguesa, que tem uma elevada taxa de HTA, diabetes e acidente vascular cerebral».

Outro tema de particular destaque neste encontro foi o papel da OCT no diagnóstico do glaucoma, debatido pela Dr.ª Maria da Luz Freitas, oftalmologista no Hospital da Luz Arrábida, em Vila Nova de Gaia, que não hesi-tou em classificar este exame como «estando na crista da onda». «Ao permitir novas opor-tunidades para estudar melhor os doentes relativamente à fisiopatologia, ao seguimento e ao diagnóstico da patologia, a OCT levará à descoberta de alguns fatores de risco, o que otimizará o desenvolvimento de biomarcado-res quer de diagnóstico como de progressão da patologia», esclareceu.

Segundo esta especialista, «neste mo-mento, a OCT Angio, em conjugação com a OCT de alta definição, já tem interesse na descoberta de doentes com defeitos focais da lâmina cribrosa e atrofias peripapilares ou alterações vasculares». De acordo com Maria da Luz Freitas, este exame pode também ser usado na pesquisa de defeitos vascula-res em situações de progressão da doença com pressões intraoculares baixas, defeitos perimétricos centrais e assimetrias entre os dois olhos no mesmo doente. A palestrante concluiu afirmando que «estes avanços pro-porcionarão o surgimento de novas aborda-gens terapêuticas, assim como a reformulação das já existentes».

Balanço da Semana Mundial do GlaucomaComo já vem sendo habitual, por ocasião da Semana Mundial do Glaucoma, que de-correu de 12 a 18 de março, o Grupo Português de Glaucoma, em parceria com a SPO, desenvolveu um conjunto de atividades junto da população. Além das já tradicionais intervenções nos espaços informativos dos quatro canais nacionais de televisão em sinal aberto (1) e dos rastreios um pouco por todo o país, este ano a iniciativa contou com duas novidades: cartazes e múpis alusivos ao tema divulgados nos centros comer-ciais (2), aeroporto, paragens de autocarro e ruas (3) da cidade de Lisboa, além de um pequeno vídeo difundido nas redes sociais oficiais da SPO. Satisfeito com o resultado da campanha, António Figueiredo revelou que já há projetos para o próximo ano, nomea-damente, «a realização de um rastreio com alguma possibilidade de resposta nos casos positivos».

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«Fomos um Serviço pioneiro a nível nacional ao iniciar o transplante de córnea nos anos 1950 e, mais

tarde, no desenvolvimento da cirurgia de mio-pia, daí que tenhamos um carinho especial por estas áreas», explicou o Prof. Pedro Menéres, diretor do Serviço de Oftalmologia do CHP/ /HSA e professor de Oftalmologia no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Uni-versidade do Porto, justificando a escolha da córnea como tema central para este encontro. Além disso, este é também um domínio no qual o CHP/HSA é um centro de referência para muitos outros serviços e doentes. «Uma vez que, nos últimos anos, temos assistido a mudanças revolucionárias nesta área, e não esquecendo o nosso contributo para esta evo-lução – no CHP já se realizaram mais de 4 000 transplantes de córnea –, achámos que era pertinente discutir o estado da arte da córnea», reforçou. Nos últimos anos, os transplantes de córnea são já mais frequentemente utili-zados no CHP do que os clássicos, em que se substituíam todas as camadas da córnea.

Foi nesse contexto de revisão de alguns conceitos que as jornadas tiveram início com o Curso EUPO (European University Profes-sors of Ophthalmology), no qual participaram não só internos, como especialistas. «Como apareceram novos lasers e técnicas cirúrgi-

cas de última geração, aproveitámos para fazer uma revisão da literatura, mas também para demonstrar a nossa larga experiência neste âmbito», referiu o Prof. João Nuno Melo Beirão, oftalmologista do CHP/HSA e um dos coordenadores do Curso EUPO, dedicado à cirurgia refrativa e à córnea.

Estratégias de abordagem às complicações cirúrgicasUm dos momentos altos do encontro esteve a cargo do Prof. Mohamed Hosny, docente de Oftalmologia na Universidade do Cairo, no Egito, a quem coube apresentar uma conferên-cia sobre «Tratamento das complicações da cirurgia refrativa da córnea». Reconhecendo o potencial deste tipo de cirurgia, que mudou a vida de milhões de pessoas e está a tornar-se tão frequente que é provável que se trans-forme numa das cirurgias mais prevalentes da história da Medicina, o especialista sublinhou que não está ausente de complicações, pelo que é essencial que o médico esteja preparado para resolvê-las.

«Por exemplo, o SMILE (small incision lenticule extraction) é tido como uma téc-nica sem contraindicações, mas isso não é verdade. É um excelente procedimento, mas tem limitações e os profissionais de saúde devem estudar bem os casos em que

têm ou não condições para o fazer», disse Mohamed Hosny. No mesmo contexto insere-se o laser femtosegundo, que tem como uma das complicações mais frequentes o desvio vertical. «Perante esta situação, muitos mé-dicos ficam alarmados e fazem outro flap com femtosegundo no mesmo segmento ou recorrem a uma ablação da superfície. A nossa experiência diz-nos que podemos fazer um flap com microqueratótomo mecânico imediatamente, com resultados muito bons», afirmou o palestrante.

Por último, Mohamed Hosny falou sobre a queratopatia tóxica central, afirmando que, na investigação realizada pela sua equipa, se concluiu, de forma consensual, que não se trata de um processo inflatório, pelo que o tratamento não se deve basear em esteroides. «Cada vez mais, a elevação e a irrigação estão a ser abandonadas porque a querato-patia tóxica central proporciona a secreção de metaloproteínase da matriz, derretendo o estroma da córnea. E acredita-se que, ao elevar o flap e irrigar a córnea, se está a po-tenciar o melting.»

Futuro promissor da transplantaçãoA sessão sobre o futuro da transplantação corneana foi dividida em duas conferências. À Dr.ª Ester Fernández, investigadora no Institute for Innovative Ocular Surgery, em Roterdão, na Holanda, coube falar sobre as novas técnicas que estão a ser aprimoradas no instituto onde trabalha, nomeadamente o DMEK (Descemet membrane endothelial keratoplasty) e o transplante da membrana de Bowman.

«No que diz respeito ao DMEK, está a transformar-se na técnica preferida de trans-plantes endoteliais nos últimos anos, não só pelos excelentes resultados visuais que pro-porciona, mas também pela baixa taxa de complicações», assegurou. Simultaneamente, acrescentou, «fruto dos avanços no desenvol-vimento da técnica, a curva de aprendizagem está a tornar-se mais curta, o que permitirá a sua difusão mais facilmente». Quanto ao futuro, a palestrou declarou que está em es-tudo a possibilidade de dividir o DMEK em dois ou até em quatro, de modo a aumentar o número de cirurgias com menos córneas, além

AVANÇOS NA CIRURGIA DA MIOPIA E NO TRANSPLANTE DE CÓRNEA Organizadas pelo Centro Hospitalar do Porto/Hospital de Santo António (CHP/HSA), as XXXII Jornadas Internacionais de Oftalmologia decorreram nos dias 28 e 29 de abril, na cidade Invicta, e foram dedicadas à córnea, uma área na qual o Serviço de Oftalmologia daquela instituição tem particular experiência. As estratégias cirúrgicas e o futuro da transplantação corneana foram os tópicos que mereceram mais atenção.

Sandra Diogo

Prof. Pedro Menéres (na fila da frente, ao centro), diretor do Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar do Porto/Hospital de Santo António, rodeado pelos restantes elementos da equipa

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de estar a ser investigada a possibilidade de transplante com células endoteliais cultivadas.

Esse foi, aliás, o tema explorado pelo Dr. Jesús Merayo, diretor do Instituto Universita-rio Fernández-Veja, na sua conferência, na qual começou por informar que os tecidos que existem nos tratamentos clássicos são muito escassos, pelo que é preciso encontrar alternativas para os doentes que precisam de substituir o endotélio corneano. «O tratamento atual baseia-se no uso do endotélio de um dador para substituir apenas essa parte da córnea. Estamos a cultivar os restos que não se transplantam, e a que chamamos anel pe-riférico do endotélio corneano, para fazê-los crescer em diferentes suportes, de modo a que sejam fáceis de implantar.» A esse respeito,

Esforço conjunto pela melhoria da qualidade visual da populaçãoDa sessão de abertura saiu um consenso sobre a importância da união de esforços entre profissionais médicos e entidades políticas para proporcionar melhor acompanhamento oftalmológico à comunidade. Nesse sentido, falou-se na necessidade de criar condições para assegurar a permanência dos especialistas no Serviço Nacional de Saúde (SNS). «Podemos dizer que o nosso SNS é bom porque nele trabalham pessoas com muita qualidade e esse é o motivo pelo qual muitos países tentam recru tar médicos portugueses», afirmou o bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Dr. Miguel Guimarães.

Assegurando que a saúde visual é uma prioridade para este governo, o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, Prof. Fernando Araújo, lembrou o projeto que está a decorrer no âmbito da ambliopia e que resulta de uma parceria entre o CHP/HSA, a OM e o Ministério da Saúde. «É um programa que está implementado no norte, numa primeira fase, para que seja possível detetar nas crianças de dois anos problemas visuais que mais tarde têm maior dificuldade de tratamento», explicou o governante, enfatizando que os bons resultados obtidos permitirão alargar a experiência a nível nacional.

Jesús Merayo esclareceu que «modificando os métodos de cultivo, por exemplo, usando os fatores de crescimento do doente ou os

NA SESSÃO DE ABERTURA: Profs. António Sousa Pereira (diretor do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar), Idalina Beirão (diretora do Departamento de Ensino do CHP) e Fernando Castro Poças (representante da Direção Clínica do CHP), Dr.ª Élia Costa Gomes (representante do Conselho de Administração do CHP), Profs. Fernando Araújo (secretário de Estado Adjunto e da Saúde) e e Pedro Menéres (diretor do Serviço de Oftalmologia do CHP), Drs. Miguel Guimarães (bastonário da Ordem dos Médicos – OM) e Augusto Magalhães (presidente do Colégio da Especialidade de Oftalmologia da OM), Profs. Fernando Falcão Reis (diretor do Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar de São João) e Manuel Monteiro-Grillo (presidente da SPO)

componentes das plaquetas, é possível ter um meio de cultivo que fará crescer essas células em melhores condições».

A otimização da prescrição da diáli-se peritoneal (DP) está em discussão na primeira parte do simpósio que

decorre entre as 8h30 e as 10h00, na sala 1, moderada pelo Dr. António Cabrita, diretor do Serviço de Nefrologia do Centro Hospita-lar do Porto/Hospital de Santo António (CHP/ /HSA), e pelo Dr. Teixeira e Costa, nefrologis-ta no Hospital Garcia de Orta, em Almada. Segundo a primeira oradora, Dr.ª Maria João Carvalho, nefrologista no CHP/HSA, «embora a DP apresente resultados indiscutivelmente sobreponíveis à hemodiálise na sobrevivência do doente e na eficácia do tratamento, conti-nua a manter uma baixa incidência e uma

prevalência inferior à da hemodiálise no pa-norama do tratamento substitutivo da doença renal crónica estádio 5d».

Segundo esta oradora, «a DP tem como vantagens o facto de permitir a realização de diálise domiciliária com sistemas simples, a autonomia e, segundo alguns estudos, maior qualidade de vida, quando comparada com a hemodiálise, características que a posicionam como atrativa e potencialmente benéfica após o transplante renal». Por isso, Maria João Carva-lho abordará estratégias particulares para es-tes doentes, como os esquemas de manuten-ção, redução e suspensão da imunossupressão ou a decisão sobre a nefrectomia do enxerto.

// DEsafiOs Da DiálisE pERitONEalPor seu turno, a Dr.ª Ana Marta Gomes,

nefrologista no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, vai falar sobre o pa-pel da DP no doente cardiorrenal. «Estudos recentes mostram que a utilização desta técnica se associa a uma melhoria da sinto-matologia e uma diminuição do número de hospitalizações por insuficiência cardíaca descompensada, sem que as complicações inerentes, sobretudo infeciosas, sejam parti-cularmente comuns.»

Considerando que a sobrecarga de volu-me é a principal consequência de uma te-rapêutica não eficaz, a DP poderá ter um papel importante ao promover a remoção deste excesso de água e sal do organismo. «Ao utilizarmos uma permuta longa noturna com solução de icodextrina, vamos obter uma ultrafiltração contínua e suave, que permitirá otimizar a volemia através da remoção eficaz de água e sódio», explica.

Em análise estarão também aqueles que, na opinião de Ana Marta Gomes, são os gran-des desafios nesta área: a integração, no pro-cesso da DP, de uma unidade de tratamento da insuficiência cardíaca e a seleção dos doen-tes que poderão beneficiar desta modalidade, já que estes «têm de estar aptos a efetuar as permutas de diálise, com todos os cuidados intrínsecos a esta técnica». sandra diogo

Dr.ª ana Marta Gomes, Dr. antónio Cabrita (moderador), Dr.ª Maria João Carvalho e Dr. teixeira e Costa (moderador)

16 // 15 de abril 2016

15 DE abRil

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Resultado de uma organização conjunta entre a Clínica Universitária de Oftal-mologia do Centro Hospitalar Lisboa

Norte/Hospital de Santa Maria, o Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto e o Centro de Estudos das Ciências da Visão, os Colóquios de Oftalmologia 2017 arrancaram com um ci-clo de conferências dedicado à seleção de lentes intraoculares. Convidada a falar sobre a possibilidade de melhorar a seleção destes dispositivos, de modo a que seja mais per-sonalizada a cada doente, a Prof.ª Susana

Marcos, diretora do Laboratório de Ótica Visual e Biofotónica, em Madrid, frisou os avanços que têm ocorrido nesta área.

«Para selecionar a lente que melhor se adapta à anatomia do doente, baseamo-nos em imagens tridimensionais quantitativas de todo o segmento anterior do olho, o que nos permite conhecer o volume do cristalino, a geometria anterior e posterior da córnea e criar modelos de olho personalizados», ex-plicou a especialista. Esta estratégia será particularmente importante na escolha das

lentes multifocais, que constituem um maior desafio.

A oradora apresentou também uma tecnolo-gia que tem vindo a desenvolver: um simulador das lentes intraoculares (trifocais, bifocais, de foco estendido, etc.), que permite ao doente ver o mundo através dessas lentes. Para a investigadora, esta descoberta representa uma mudança de paradigma na seleção das lentes, que «já não precisará de se basear nas suposições do médico, mas antes na resposta concreta do doente às lentes disponibilizadas».

A possibilidade de personalizar as lentes intraoculares, as complicações da cirurgia de cataratas e a mudança de paradigma na avaliação dos outcomes em saúde foram alguns dos temas que mobilizaram os cerca de 400 participantes, entre internos e especialistas, nos Colóquios de Oftalmologia 2017, que decorreram a 17 e 18 de fevereiro, em Cascais.Sandra Diogo

HOT TOPICS EM DEBATE NOS COLÓQUIOS DE OFTALMOLOGIA

MEMBROS DO COMITÉ CIENTÍFICO NA SESSÃO DE ABERTURA (da esq. para a dta.): Dr. Victor Ágoas, diretor clínico do Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto; Prof. Manuel Monteiro-Grillo, presidente da SPO; e Prof. Carlos Marques Neves, oftalmologista no Centro Hospitalar Lisboa Norte/Hospital de Santa Maria

Aposta na formaçãoOs Colóquios de Oftalmologia 2017 integraram ainda o 16.º Curso EUPO (European University Professors of Ophthalmology), que contou com a acreditação da Unión Europeénne des Médecins Spécialistes (UEMS) e foi dividido em duas sessões. Segundo o Prof. Carlos Marques Neves, docente na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e um dos organizadores, «o foco da formação recaiu sobre as patologias do segmento anterior, desde o diagnóstico até ao tratamento». No dia 17 de fevereiro, estiveram em análise o diagnóstico das ectasias e distrofias corneanas e a avaliação prévia à cirurgia de catarata e refrativa. No dia seguinte, a segunda parte do curso dedicou-se à discussão de casos clínicos de glaucoma e doenças da retina. Seguiu-se a revisão de protocolos de tratamento das ectasias, a abordagem das queratites herpéticas e o transplante endotelial. Do programa formativo destes Colóquios fizeram ainda parte dois cursos práticos, cuja participação atingiu o limite máximo: «Hands on – angio OCT», para 24 especialistas, e «Hands on – suturas na córnea» (na fotografia), para 30 internos.

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Luxações do complexo saco-lente O Prof. Ramón Lorente, diretor do Serviço de Oftalmologia do Complexo Hospitalar de Ou-rense, atual presidente da Sociedad Española de Cirugía Ocular Implanto-Refractiva e da Sociedad Gallega de Oftalmología, abordou as questões relacionadas com uma das compli-cações da cirurgia de cataratas: as luxações do complexo saco-lente. Frisando que este problema afeta mais os doentes com pseudoe-xfoliação, em consequência de uma debilidade zonular progressiva, este palestrante realçou a importância de «minimizar ao máximo a sua incidência, nomeadamente através de uma técnica cirúrgica estável, que não crie rotura das fibras da zónula que sustentam o saco capsular». Além disso, «urge evitar a contração capsular secundária, outra causa das luxações do complexo saco-lente».

No mesmo contexto, o Dr. Bernardo Feijóo, oftalmologista no Hospital da Luz Lisboa, di-vulgou os resultados de um estudo sobre a incidência desta complicação na população portuguesa, que se baseou numa análise retrospetiva (de janeiro de 2015 a setembro de 2016), em quatro centros de Lisboa. Sem esconder a surpresa pelos dados obtidos, o orador revelou que «foi detetado um número de casos de luxações do complexo saco-lente surpreendentemente acima do esperado (37), com uma prevalência de pseudoexfoliação como fator de risco também muito alta (perto dos 70%)». Tentando explicar estas conclu-sões, o especialista lembrou que, por um lado, se trata de um quadro predominantemente de base genética e, por outro, também há fatores ambientais apontados em diversos trabalhos, como a exposição solar.

Novo paradigma na avaliação dos resultadosNo segundo dia dos Colóquios de Oftalmolo-gia 2017, o Prof. Julián Garcia Feijóo, diretor do Departamento de Glaucoma do Serviço de Oftalmologia do Hospital San Carlos, em Madrid, falou sobre a cirurgia minimamente invasiva no glaucoma. «Nos últimos dez anos, surgiram pequenos dispositivos que permitem fazer intervenções menos agressivas, que não só perturbam menos a qualidade de vida do doente, como diminuem o tempo de recu-

peração», referiu o especialista, enfatizando que o nível de eficácia destas intervenções é praticamente igual ao das cirurgias clássicas de trabeculectomia não perfurante.

Como já vem sendo habitual nestas reuni-ões, foi dado particular destaque a questões relacionadas com a gestão em saúde. Nesse âmbito, o Prof. António Vaz Carneiro, diretor do Centro de Estudos de Medicina Baseada na Evidência da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, debateu a medição de resultados em saúde relevantes para os doentes, focando-se no projeto ICHOM

Investigação em Oftalmologia no bom caminhoAs Jornadas de Investigação, que já se tornaram tradição nos Colóquios de Oftalmologia, foram outro ponto alto, assente no debate de temas diversificados sobre a investigação em Oftalmologia que se desenvolve a nível nacional. «Este ano, o objetivo foi mostrar o trabalho de investigação que está a ser desenvolvido por oftalmologistas mais jovens, contribuindo para o aparecimento de novas ideias e avanços na atividade clínica», enfatizou a Prof.ª Filomena Ribeiro, uma das moderadoras da sessão e diretora do Serviço de Oftalmologia do Hospital da Luz Lisboa.

Prof. António Vaz Carneiro

Prof. Ramón Lorente

(International Consortium for Health Outcomes Measurement), cuja participação portuguesa está a seu cargo.

Lembrando que, até agora, «os sistemas não se têm debruçado com todo o cuidado necessário sobre as expectativas e sugestões dos doentes», o especialista frisou: «Esta-mos, finalmente, perante uma mudança de paradigma que coloca o doente no centro das decisões. Isso permitirá ultrapassar a dissonância frequente entre a opinião dos profissionais de saúde, que tendem a con-siderar que habitualmente tudo está a correr bem, e a dos doentes, que, muitas vezes, percecionam o oposto.» Nesse contexto, o principal objetivo do ICHOM passa pelo esta-belecimento de um conjunto de indicadores de qualidade validados mundialmente pelos doentes. «Isto poderá ter um enorme impacto, pois os hospitais começarão concetualmente a ser pagos em função dos resultados que demonstrarem», sublinhou António Vaz Car-neiro. A título de exemplo, este orador referiu que critérios como a diminuição da taxa de mortalidade perdem importância face a as-petos como a qualidade de vida, a autonomia ou a ausência de dor.

Na mesma sessão interveio também o Prof. Joaquim Murta, diretor do Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar e Univer-sitário de Coimbra, que falou sobre o Sub- -cluster de Oftalmologia do Health Cluster Portugal, um projeto que abarca a avaliação de outcomes segundo o ICHOM e a criação de uma rede nacional de investigação clínica em Oftalmologia. No âmbito desta iniciativa. que já está no terreno, «a avaliação come-çou pelos doentes que sofrem de cataratas e, até ao final de 2018, deverá avançar para a área da degenerescência macular». O palestrante terminou a sua apresentação enaltecendo esta rede que envolve hos-pitais públicos e privados, «algo pioneiro em Oftalmologia e que pode servir como base para projetos semelhantes noutras especialidades».

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«É sempre um desafio para o in-terno observar uma criança, não só porque, habitualmente,

ela não colabora no processo, mas também devido às particularidades que as patologias adquirem em idade pediátrica», referiu a Dr.ª Rita Couceiro, coordenadora da SPO Jovem e oftalmologista no Hospital Vila Franca de Xira. Foi com base nesse pressu-posto que foram convidados os palestrantes, «profissionais portugueses e estrangeiros com vasta experiência na abordagem de patologias que suscitam maiores desafios em Oftalmologia pediátrica», explicou.

Para a Dr.ª Alcina Toscano, coordenadora do Grupo Português de Oftalmologia Pediá-trica e Estrabismo e elemento fundamental na constituição do programa da reunião, a escolha deste tema é especialmente relevante, uma vez que se trata de «uma área à qual os jovens especialistas não estão tão ligados no seu dia a dia, mas que exige particular sensi-bilidade para uma atuação muito precoce, pois implica a interferência no desenvolvimento da criança». «Enquanto, no adulto, o diagnóstico de uma catarata pode demorar mais um, dois ou três meses sem que isso tenha implicações graves para o resultado do tratamento, na criança, se não atuarmos até às seis sema-nas, corremos o risco de ela perder a função visual», exemplificou a também responsável pela Consulta de Oftalmologia Pediátrica e

Estrabismo do Serviço de Oftalmologia do Centro Hospitalar de Lisboa Central.

Ao Curso «Pediatric Challenges for the Young Ophthalmologist», seguiram-se uma intervenção do Dr. Vasco Miranda, oftal-mologista no Centro Hospitalar do Porto/ /Hospital de Santo António, sobre uveítes, e a participação do Dr. William Moore, do Great Ormond Street Hospital, em Londres, que partilhou com os participantes a sua vasta experiência no tratamento cirúrgico das ca-taratas.

A Reunião Anual de Internos de Oftalmologia (RAIO) de 2017, que se realizou em Montargil, nos dias 8 e 9 de julho, foi dedicada aos desafios proporcionados pelo acompanhamento de doentes em idade pediátrica, nomeadamente em termos de diagnóstico. Uveítes, cataratas, neuro-oftalmologia, Oncologia e ergo-oftalmologia foram alguns dos temas em destaque.Sandra Diogo

Os aspetos relacionados com a neuro-oftalmologia foram debatidos pela Dr.ª Dália Meira, do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, que especificou os sintomas que devem servir de alerta e os meios de diagnóstico a adotar nestas situações. Já a discussão sobre os problemas oncológi-cos ficou a cargo do Dr. Guilherme Castela, oftalmologista no Centro Hospitalar e Uni-versitário de Coimbra. O encontro terminou com algumas explicações do Dr. Fernando Trancoso Vaz, do Serviço de Oftalmologia do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, na Amadora, sobre o impacto dos ecrãs e da postura adotada pelas crianças quando usam os telemóveis e tablets na saúde ocular.

Do programa fizeram também parte, como habitual, dois workshops nos quais foram anali-sados casos clínicos envolvendo a refração em crianças e alguns exemplos de emergências oftalmológicas pediátricas. Neste âmbito, a Dr.ª Lígia Figueiredo, oftalmologista no Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga/Hospital de São Sebastião, em Santa Maria da Feira, apresentou algumas situações clínicas comuns em ambiente de urgência, mas cujo diagnós-tico nem sempre é fácil devido às dificuldades inerentes à observação das crianças.

ESTRATÉGIAS DE ABORDAGEM ÀS PATOLOGIAS OFTALMOLÓGICAS NA CRIANÇA

Futuro da Oftalmologia em boas mãosO Dr. Augusto Magalhães, presidente do Colégio da Especialidade de Oftalmologia da Ordem dos Médicos, aproveitou a sua intervenção na sessão de abertura para tecer alguns comentários sobre o futuro da Oftalmologia portuguesa e a relevância de encontros como a RAIO. «É da máxima importância que as sociedades científicas nacionais tenham um grupo jovem, pois sabemos a dinâmica e a garra que os jovens têm e o contributo que isso pode representar como estímulo à contínua atualização dos especialistas», sublinhou. Lembrando que a RAIO contou com um curso acreditado pelo European Accreditation Council for Continuing Medical Education (EACCME), Augusto Magalhães salientou que esse aspeto «é fundamental não só para os jovens em forma-ção, mas também para os mais velhos, que vão precisar de comprovar a sua atualização e valorização profissional de forma contínua em termos legais dentro de alguns anos». O oftalmologista enalteceu o trabalho desempenhado pelos recém-especialistas. «Comparando a performance dos portugueses no âmbito europeu, estamos num pa-tamar muito elevado e isso é bastante patente nos resultados dos exames de titulação europeia e na forma como obtemos prémios internacionais ano após ano», concluiu.

ALGUNS MEMBROS DA COMISSÃO ORGANIZADORA E PALESTRANTES DA REUNIÃO (da esq. para a dta.): Drs. Paulo Freitas da Costa, Lígia Figueiredo, Augusto Magalhães, Prof. Manuel Monteiro-Grillo, Drs. William Moore, Dália Meira, Alcina Toscano, Filipa Jorge Teixeira, Fernando Trancoso Vaz, Rita Couceiro, Vasco Miranda, Guilherme Castela e André Barata «A Oftalmologia pediátrica

é uma área à qual os jovens especialistas não estão

tão ligados, mas que exige particular sensibilidade para

uma atuação precoce»Dr.ª Alcina Toscano

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