fichamento - vida para além da morte- leonar do boff2

25
1 CAPÍTULO 1 MORTE E JUÍZO, INFERNO, PURGATÓRIO E PARAÍSO: COMO SABEMOS? O cristianismo prenuncia o céu como a convergência realizadora de todas as pulsações humanas” (p.17). 1.1 Dando as razões de nossa esperança: A resposta à pergunta, donde se sabe a fé cristã acerca dos fins derradeiros? Não nos convence ao lermos as Sagradas Escrituras. Os livros sagrados são testemunhos exemplares de revelação mas também acontece dentro do livro da vida. A revelação se dá na história. “Portanto, é vendo e vivendo a vida que podemos descobrir o futuro da vida. Mas o futuro é aquilo que ainda não é” (p.19). Podemos falar do futuro, pois o homem no mundo não é somente ser, mas também poder ser. O homem não é só passado e presente, ele é principalmente futuro. 1.2 O homem é um nó de pulsões e relações: Realmente o homem concreto é um nó de relações voltado para todas as direções, até para o infinito.” O homem num permanente excesso. Não possui o centro em si mesmo, mas fora dele numa transcendência. Vive sua vida como existência. É um ser assinótico sempre a caminho de si mesmo. Um dinamismo permanente prevede [penetrar, impregnar] toda sua realidade, orientando-se para um futuro donde tira o sentido para o presente” (p.21). 1.3 O princípio-esperança, fonte de utopias: O princípio-esperança “[...] é uma força que penetra todas as virtudes e faz com que elas se mantenham sempre abertas a um crescimento indefinido”. Pela utopia projetam-se no futuro todos os dinamismos e anseios humanos, totalmente depurados dos elementos limitatórios e ambíguos e plenamente realizados” (p.22). O céu anunciado pela fé cristã situa-se no horizonte de compreensão utópica: é a absoluta e radical realização de tudo o que é verdadeiramente humano, dentro de Deus” (p.23).

Upload: obefiorese

Post on 24-Nov-2015

44 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 1

    CAPTULO 1

    MORTE E JUZO, INFERNO, PURGATRIO E PARASO: COMO SABEMOS?

    O cristianismo prenuncia o cu como a convergncia realizadora de todas as pulsaes

    humanas (p.17).

    1.1 Dando as razes de nossa esperana:

    A resposta pergunta, donde se sabe a f crist acerca dos fins derradeiros? No nos

    convence ao lermos as Sagradas Escrituras. Os livros sagrados so testemunhos exemplares

    de revelao mas tambm acontece dentro do livro da vida. A revelao se d na histria.

    Portanto, vendo e vivendo a vida que podemos descobrir o futuro da vida. Mas o futuro

    aquilo que ainda no (p.19).

    Podemos falar do futuro, pois o homem no mundo no somente ser, mas tambm poder ser.

    O homem no s passado e presente, ele principalmente futuro.

    1.2 O homem um n de pulses e relaes:

    Realmente o homem concreto um n de relaes voltado para todas as direes, at para o

    infinito.

    O homem num permanente excesso. No possui o centro em si mesmo, mas fora dele numa

    transcendncia. Vive sua vida como existncia. um ser assintico sempre a caminho de si

    mesmo. Um dinamismo permanente prevede [penetrar, impregnar] toda sua realidade,

    orientando-se para um futuro donde tira o sentido para o presente (p.21).

    1.3 O princpio-esperana, fonte de utopias:

    O princpio-esperana [...] uma fora que penetra todas as virtudes e faz com que elas se

    mantenham sempre abertas a um crescimento indefinido.

    Pela utopia projetam-se no futuro todos os dinamismos e anseios humanos, totalmente

    depurados dos elementos limitatrios e ambguos e plenamente realizados (p.22).

    O cu anunciado pela f crist situa-se no horizonte de compreenso utpica: a absoluta e

    radical realizao de tudo o que verdadeiramente humano, dentro de Deus (p.23).

  • 2

    1.4 F como radical para um sentido:

    Ter f decifrar um sentido dentro da vida e crer que o homem tem um futuro absoluto

    como convergncia das pulses que o movem interior e exteriormente.

    O atesmo e o ceticismo vivem em permanente tentao com a f e a explicao do sentido.

    A f tematiza o sentido encontrado na trama da existncia. Denomina-o sem medo e invoca-

    o Deus, Pai e Amor. (p.24)

    1.5 No Cristianismo a utopia se tornou topia:

    O cristianismo d um passo alm das religies e anuncia que o Sentido (Logos) no ficou

    di-fuso e pro-fuso nas coisas, apregoa que absoluto Futuro, Deus se aproximou de nossa

    existncia e morou na carne humana, quente e mortal, e se chamou Jesus Cristo (p.25).

    Por isso nele [Jesus Cristo] se revelou um viver que j era reconciliao com todos e com

    Deus. A morte no podia tragar tanta vida e to grande amor (p.26) Cristo a nossa

    esperana. [...] Por isso, pode se dizer que o paraso uma profecia, projetada no passado

    (p.27)

    1.6 A Religio da Jovialidade: Mesmo que Ele me mate, ainda assim espero nele:

    A ressureio entrou no mundo a jovialidade. Ser jovial poder comemorar, dentro da

    ambiguidade da situao presente regressiva e progressiva, violenta e pacificadora, o triunfo

    da vida sobre a morte, e a vitria do sim sobre o no. Ser jovial poder ver o Futuro

    fermentado dentro do presente e festejar sua antecipao na vida de Jesus Cristo (p.28).

    Tudo o que acontece, no acontece fora dele: vida e morte, bem e mal, violncia e

    reconciliao (p.29).

    1.7 Escatologia: falar a partir do presente em funo do futuro:

    Cu e inferno, purgatrio e juzo no so realidades que iro comear a partir da morte. Mas

    j agora podem ser vividas e experimentadas, embora de forma incompleta (p.30).

    1.8 Por que a terra, se o cu que conta?

    Deus, em muitos cristos, era experimentado como um Ser que frustrava a nsia de

    felicidade humana. Ele no era a liberdade do homem, mas o limite. A vida era esvaziada

  • 3

    porque somente a outra era plena e digna deste nome (p.31). S a Parusia inauguraria o

    Reino de Deus. Esta concepo de um Deus sem o mundo ajudou certamente a gerar nos

    tempos modernos a viso de um mundo se Deus (Y. Congar) (p.32).

    1.9 Por que o cu, se a terra que conta?

    Esta concepo que nega o cu em nome da terra deu origem certamente a um impulso

    criador e transformador da face deste mundo. Mas frustrou terrivelmente o homem. Este

    uma transcendncia viva por nada satisfeita, muito menos pelas realidades terrestres. A terra

    clama pelo cu, como sua plenitude (p.33).

    Os opostos se tocam: se antes um Deus sem o mundo ajudou a gerar um mundo sem Deus,

    agora, uma demasiada ligao Deus-mundo-Igreja deu azo a que novamente se negasse Deus.

    Ele no se presta a ser manipulado medida dos interesses humanos, eclesisticos ou

    profanos. Como Absoluto, Ele constitui a permanente crise de todos os projetos histricos

    (p.34).

    1.10 Nem tanto ao cu nem tanto terra: o cu comea na terra

    O cu comea na terra. O Reino de Deus no mundo totalmente outro, mas totalmente

    novo (p.34). Para ela [Teologia Clssica] o mundo verdadeiro era o outro mundo, o

    sobrenatural. Esse mundo daqui de baixo era o lugar da ambiguidade e da mera natureza. A

    alma ansiava se libertar finalmente da matria para, livre, poder se realizar na esfera espiritual

    de Deus (p.35).

    O cristo, pois, sabe de seus fins derradeiros porque sabe da vida, cheia de dinamismos e

    ricas possibilidades. Sabe de suma felicidade para os homens bons e para o cosmos porque

    viu a utopia realizada em Jesus Cristo. Pela f sente-se inserido nesse novo ser e milie divin

    (p.36)

    CAPTULO 2

    MORTE, O LUGAR DO VERDADEIRO NASCIMENTO DO HOMEM

    Descortina-se dentro da vida humana uma chance nica na qual o homem, pela primeira vez,

    nasce totalmente ou acaba de nascer: na morte (p.41).

    2.1 A morte como fim-plenitude da vida:

  • 4

    A morte sim o fim da vida. Mas fim entendido como meta alcanada, plenitude almejada e

    lugar do verdadeiro nascimento. [...] Ela marca uma ruptura de um processo. Cria uma ciso

    entre o tempo e a eternidade. Mas ela cobre um aspecto apenas do homem e da morte: o

    biolgico e o temporal (p.42).

    2.2 As duas curvas existenciais:

    Ela [morte] coincide com a vida. O homem vai morrendo em prestao. Cada segundo e cada

    momento representa a vida desgastada. A vida do homem a vida mortal ou morte vital

    [vida biolgica] (p.43).

    Quanto mais tem a capacidade de estar-nos-outros, tanto mais est-em-si-mesmo, se torna

    personalidade e cresce nele o homem interior (p.43)

    se nestas situaes ele conseguiu mergulhar no mistrio da vida, se logrou construir um eu e

    uma pessoa responsvel perfilada no desafio da situao. Pode at ter tido uma vida gasta e

    perdida econmica e culturalmente. Mas se dentro disso logrou a imerso no definitivamente

    importante e deixou de emergir aquilo que traa nem o caruncho podem corroer: nele nasceu a

    verdadeira vida humana, sentido da vida biolgica, que no pode sucumbir ao bafejo mortal

    da morte (p.44).

    2.3 Que afinal o homem?

    O homem [...] uma unidade tensa e dialtica das duas curvas existenciais, da biolgica e da

    pessoal. [...] O homem composto de corpo e alma. Com isso no se quer dizer que no

    homem existem duas coisas, corpo e mais a alma, que unidos do origem ao homem. Corpo

    o homem todo inteiro (corpo + alma) enquanto limitado, preso s estreitezas da situao

    terrestre. Alma o homem todo inteiro (corpo + alma) enquanto se dimensiona para o

    Infinito, enquanto um topismo insacivel para a realizao plena (p.45).

    2.4 A morte como ciso e passagem:

    O esprito sempre encarnado. O corpo sempre espiritualizado. Caso contrrio na seria

    corpo humano. [...] Morte a ciso entre o ser temporal e modo de ser eterno no qual o

    homem entra. Pela morte o homem-alma no perde a corporalidade. Esta lhe essencial. No

    deixa o mundo. Penetra-o de forma mais radical e universal (p.47).

  • 5

    2.5 A morte como o verdadeiro natal do homem:

    Se a morte significa um aperfeioamento antropolgico no sentido de redimensiona lizar o

    homem s dimenses de toda a realidade e no somente sua situao de estar-no-mundo,

    ento podemos dizer: a morte o vere dies natalis. [...] Na passagem deste tempo para a

    eternidade, na morte, pois (nem antes nem depois), nessa concentrao intensssima do

    tempo, o homem chega totalmente a si mesmo (p.48). [...] pode viver a bondade radical e o

    amor que fecunda toda a realidade. A relao com o mundo no mais sentida como obscura

    e mediatizada pelo corpo carnal. [...] No morrer para ele, como o sabia j Epicteto, o que

    para a espiga: jamais amadurecer jamais ser segada para ser o trigo de Deus (p.49).

    2.6 A ressurreio como toque final da hominizao:

    Pela ressurreio tudo se tornar ento imediato para o homem: o amor se desabrocha na

    pessoa, a cincia se torna viso, o conhecimento transforma-se em sensao, a inteligncia se

    faz audio. Desaparecem as barreiras do espao: a pessoa humana existir imediatamente

    onde estiver seu amor, seu desejo e sua felicidade. No Cristo ressuscitado tudo se tornou

    imediato, isto , de apareceram todas as barreiras terrenas. Ele penetrou na infinitude da vida,

    do espao, do tempo, da fora e da luz (L. Boros Cf Boff p.49-50).

    2.7 O homem ressuscita na morte e na consumao do mundo:

    Pela morte se entra num modo de ser que abole as coordenadas do tempo. S a partir deste

    ponto de vista se pode j dizer que no concebe afirmar qualquer tipo de espera de uma

    suposta ressurreio no final cronolgico dos tempos. [...] s o homem no seu ncleo pessoal

    participa da glorificao. O homem, porm, possui uma ligao com o cosmos (p.50).

    2.8 Como ser o corpo ressuscitado?

    Na morte cada qual ganhar o corpo que merece; ele ser a perfeita expresso da

    interioridade humana, sem estreitezas que envolvem nosso presente corpo carnal. [...] a

    ressureio manter a identidade pessoal de nosso corpo (p.51).

    2.9 A morte como fim-plenitude da vida:

  • 6

    h uma morte que no florescncia e transfigurao. [...] A morte ento desdobramento

    definitivo e pleno das tendncias ms que o homem alimentou e deixou grassar em sua vida

    (p.52).

    A morte o verdadeiro fim-meta de nossa vida. Por isso, j h anos estabeleci amizade to

    profunda com esse verdadeiro e excelente amigo que sua imagem no possui para mim nada

    que possa me amedrontar. Antes pelo contrrio: ela reconfortante e consoladora (p.53).

    CAPTULO 3

    DECISO FINAL E JUZO: NA MORTE

    A morte se apresenta como a situao por excelncia privilegiada da vida [...] (p.55).

    3.1 A morte como crise radical, de-ciso e juzo

    O homem determina para sempre seu destino [...]. Todo homem um dia se encontrar face a

    face com Deus e com o Ressuscitado mesmo que em sua existncia nem sequer lhes tenha

    ouvido os nomes (p.55-56).

    Deus no prepara emboscadas ao homem, deixando-o morrer miseravelmente, para vingar-se

    dos ultrajes a Ele perpetrados. [...] consideremos a morte, [...] a morte como atualizao plena

    dos dinamismos inscritos por Deus dentro da natureza humana, ento tudo ganha uma nova

    perspectiva: na morte (no momento de passagem do tempo para a eternidade) o homem

    colocado diante de radical deciso. De-ciso significa em grego krisis, crise, juzo, ruptura

    (p.57).

    3.2 E ento cairo todas as mscaras...

    colocado na situao privilegiada de quem acaba de nascer com a nascividade e o vigor

    matinal de todas as suas potncias.[...] Descobrir as verdadeiras dimenses do bem e do mal

    que conscientemente tiver feito (p.58).

    Enfim o homem detecta com clarividncia da luz divina sua fidelidade ou infidelidade s

    razes essenciais da vida: ao amor humanitrio ao outro, ao necessitado e marginalizado com

    quem Cristo se identificou (p.59).

  • 7

    3.3 O juzo comea j em vida

    [...] histria de pecado e de infidelidades, que se tornara j natural, sem o clamor da

    conscincia abafada culposamente, desmascarada por outros ou por uma situao crtica que

    surpreendeu e lhe destru o horizonte das evidncias existenciais. [...] o juzo final na morte

    potencializao em forma de plenitude da experincia do juzo e da crise que j nesta vida

    podemos vivenciar. Nesse juzo crtico e catrtico o homem chega sua idade adulta. [...] pela

    de-ciso que tomar, tornar-se- adulto e maduro para entrar na eternidade. Nada sabemos de

    como ser sua deciso. Cremos, contudo, que o ser para Deus (p.60-61).

    3.4 Estai de sobreaviso e vigiai

    [...] o homem alienado e pecador poderia ir protelando at morte sua vida des-encaminhada

    dirita via. [...] Afirmamos que o juzo na morte no balano matemtico sobre a vida

    passada, onde aparece diante de Deus o saldo e o dbito, o passivo e o ativo. [...] A deciso

    final a florao daquilo que o homem semeou e deixou crescer na vida. As opes parciais

    so uma preparao e educao para a deciso derradeira. [...] no se pode pensar a deciso

    final em relao s decises parciais na vida em termos de oposio, mas em termos de

    culminncia e planificao (p.61-62).

    [...] os fins derradeiros no so puro futuro. O juzo j o estamos vivendo, embora em forma

    incipiente e imperfeita, sempre que nos decidimos e passamos por situaes-de-crise. Se

    crermos, isto , se nos abrimos para o horizonte infinito de Deus, temos a promessa de que

    seremos no futuro poupados do juzo negativo e da crise frustradora (p.63).

    CAPTULO 4

    PURGATRIO; PROCESSO DE PLENO AMADURECIMENTO DIANTE DE DEUS

    A morte a passagem do homem para eternidade.[...] toda a vida humana um tender, um

    caminhar e educar-se para isso (p.65).

    4.1 O processo de amadurecimento pleno do homem diante de Deus

    H graus e graus no processo de integrao pessoal e de desenvolvimento da personalidade.

    [...] amadurecimento interior e lograram os pncaros de perfeio humano-divina. [...] O

    homem imaturo carece de madureza, o pecador da santidade divina. (p.65-66).

  • 8

    [...] O purgatrio esse processo doloroso, como todos os processos de ascenso e educao,

    no qual o homem, na morte, atualiza todas as suas possibilidades, purifica-se de todas as

    pregas que a alienao pecaminosa foi estigmatizando a vida, pela histria de pecado e suas

    consequncias (mesmo aps seu perdo) e pelos mecanismos dos maus hbitos adquiridos ao

    longo da vida (p.66).

    4.2 Para um purgatrio do purgatrio

    [...] o fogo do purgatrio corporal, mas a dor causada pelo fogo espiritual. Este fogo se

    chama verdadeiro, porquanto, algo que existe na realidade e no s na apreenso das almas

    (p.67).

    4.3 O purgatrio, uma reflexo teolgica a partir da Bblia

    [...] buscamos uma passagem bblica que fale formalmente do purgatrio. [...] os textos

    atinente sugere que Deus quer que nos lembramos e rezemos pelos mortos. [...] A teologia

    ir usar outra linguagem e dir: existe o corpo mstico de Cristo e a comunho dos santos

    (2Mc 12,39-46) (p.69).

    O texto 1Cor 3,11-15 no fala diretamente do purgatrio. [...] Contudo, tm que passar por

    uma prova, como se prova a consistncia do ouro, da prata, das pedras preciosas, da madeira,

    do feno e da palha, fazendo-os passar pelo fodo. Quem suporta o fogo e no consumido por

    ele, esse se salvar. O fogo, aqui, possui carter puramente figurativo (p.70).

    4.4 O purgatrio como crise-acrisolamento na morte

    [...] Purgatrio uma situao humana.[...] A morte situa o homem na crise mais profunda

    de sua vida. Crise significa exatamente deciso e juzo [...]. Crise {snscrito kir ou kri}, [...]

    quer dizer purificar, purgar e limpar. [...] Crise-acrisolamento sinnimo de purgatrio para o

    homem justo, que se encontra na paz com seu senhor, envolvido e penetrado por sua graa,

    mas carrega ainda nas dobras de sua existncia os resqucios do pecado e das imperfeies

    humanas (p.72).

    [...] Nessa hora o homem deve se entregar totalmente. A morte significa exatamente a total

    entrega e despojamento do homem (p.73).

    4.5 As felizes almas do purgatrio

  • 9

    [...] Chamar as almas do purgatrio de pobres alminhas pode significar nossa preocupao

    por elas, mas no exprime de forma nenhuma seu verdadeiro estado. Antes, exprime o nosso

    de peregrinos nos descaminhos da vida (p.74).

    4.6 As nossas oraes pelos homens no estado de purgatrio

    Ele {Deus} v como presente nossa orao futura ou mesmo passada. Pode por isso, por

    nossa intercesso, autocomunicar-se amorosamente ao homem na situao de crise. [...] no

    purgatrio seremos todos msticos, isto , todos seremos penetrados pelo ardente e purificador

    amor de Deus que acender nosso amor para o derradeiro encontro (p.75).

    4.7 J podemos antecipar aqui na terra o purgatrio

    O purgatrio [...] j inicia aqui na terra. [...] Tudo depende de como nos comportamos diante

    das crises, que se contam entre a normalidade da vida: podem nos acrisolar ou podem nos

    consumir. [...] Ao rezarmos pelos homens em estado de purgatrio, em vez de oferecermos

    tantas expiaes e indulgncias, deveramos [...] rezar: Senhor, concedei, aos que esto

    morrendo e se decidindo para Vs, a graa de um rpido amadurecimento humano e divino

    que, acrisolados, possam desabrochar totalmente em Vs (p.75-77).

    CAPTULO 5

    O CU: A ABSOLUTA REALIZAO HUMANA

    Diante do cu deveramos calar. Estamos diante da absoluta realizao humana.

    [...]Cu a realizao do princpio-esperana do homem, do qual falemos tantas vezes em

    nossas reflexes. Cu a convergncia final e cabal de todas os anseios de ascenso,

    realizao e plenitude do homem em Deus (p.79).

    5.1 Por que propriamente cu?

    Cu o 'lugar' onde mora Deus. 'L em cima', o cu no deve ser entendido localmente, mas

    como pura transcendncia, isto , como aquela dimenso da realidade que nos escapa

    infinitamente como nos escapam as distncias incomensurveis do cu-firma-mento. Cu no

    parte invisvel do mundo. o prprio mundo, contudo, no seu modo de completa perfeio

    e inserido no mistrio do convvio divino (p.80).

    5.2 O cu profundamente humano

  • 10

    O cu realiza o homem em todas as dimenses: a dimenso voltada para o mundo, como

    presena e intimidade fraterna com todas as coisas, a dimenso voltada para o outro, como

    comunho e perfeita irmanao e principalmente a dimenso voltada para Deus. [] O

    homem continua a sonhar ontem e hoje: com reconciliao de tudo em tudo, com a revelao

    de tudo com tudo, com a revelao do sentido latente e ltimo de todas as coisas, com paz e o

    descanso na harmonia de todas as atividades. [] S no cu seremos homens como Deus,

    desde toda a eternidade, nos quis: sua perfeita imagem e semelhana (p.81).

    Todo encontro um risco, porque se d abertura para o imprevisvel e para liberdade. Onde

    h liberdade tudo possvel: cu e inferno. O cu como encontro significa que o homem

    quanto mais se abre para novos horizontes divinos e humanos, mais se encontra consigo

    mesmo e forma com o encontrado uma comunho vital. [] O encontro nunca acabado.

    Quando porm Deus o encontro do homem, ento no conhecer mais o fim (p.82-83).

    5.3 O cu como a ptria e o lar da liberdade

    Deus no cria outra realidade. Ele faz da velha nova(p.83).

    A viso pode tornar-se to perspicaz que por ela podemos ver alma das pessoas, seus

    sentimentos e segredos. Apesar de toda essa gama de possibilidades, nossa viso ainda pode

    ser desenvolvida indefinidamente (p.84).

    Cu total realizao de possibilidades de ver, no a superfcie das coisas, mas seu corao.

    Cu a festa dos olhos, de tal forma, que a viso dom olho terrestre pode ser considerada

    como um ver por espelho e confusamente (p.84).

    Jesus Cristo Ressuscitado nos d uma ideia do que seja o cu: nele tudo transluz e reluz;

    nada do que humano deixado, mas assumido e plenificado: seu corpo, suas palavras, sua

    presena, sua capacidade de comunicao (p.85).

    5.4 As imagens bblicas do cu

    Sobre a realidade do cu no podemos falar palavras prprias. o inefvel

    a) O cu como banquete nupcial: Pelo banquete o homem eleva seu instinto do meramente

    animal de comer (matar fome), ao nvel espiritual de banquetear-se (p.86).

  • 11

    A alegre beleza do banquete no faz esquecer a mesa triste do pobre faminto. O banquete

    degenerar em orgia. As npcias no abolem o terrvel quotidiano e monotonia do dia a dia. O

    instinto pode prevalecer sobre o esprito e a vontade de poder esmagar o amor. Cu so as

    npcias sem ameaas, o banquete no ridente gozo da comunho fraterna, sem as limitaes

    que a histria terrestre nos impe (p.86).

    b) O cu como viso beatfica: Em sua condio terrestre o homem no pode ver a Deus. S

    na f v seus sinais no mundo. No cu vemos a Deus de face descoberta. [] Ele participa de

    tudo, do estar-juntos, do abrao, da intimidade, dos interesses e das preocupaes. Cu

    consiste na mxima potencializao desta experincia que aqui na terra j fazemos, embora de

    forma deficiente (p.87).

    c) O cu como vida eterna: A vida dom mais excelente que o homem experimenta. H um

    milagre permanente e o maior de todos: eu existo! [] E contudo a protegermos

    cuidadosamente e a amamos ardosamente. O sonho do homem poder ser eterno. []

    Eternidade quer exprimir, no um tempo indefinido, mas a plenitude e absoluta perfeio de

    um ser. Por isso a eternidade o prprio ser de Deus. Cu consiste em poder viver a vida de

    Deus: da perfeita, plena e totalmente realizada (p.87-88).

    d) Cu como vitria: O smbolo do cu, como vitria e mxima realizao de um homem,

    aps duros combates. [] No cu, Deus mesmo revelar o homem ao prprio homem. Ele

    nos chamar com o nome que nos faz vibrar at os ltimos recnditos do ser. Ser o nome de

    seu amor para conosco. Ouviremos a Palavra que Deus eternamente pronunciou quando nos

    chamou, eternamente, existncia (p.89).

    e) O cu como total reconciliao: Cu significa a realizao das utopias humanas. Primeiro,

    de reconciliao do homem consigo mesmo, [] a seguir dar-se- tambm a reconciliao do

    homem com o cosmos e do cosmos consigo mesmo.[...] sero como que verdadeiros espelhos

    a refletirem de ngulos diversos o mesmo rosto afvel e amoroso de Deus. Tudo ser como

    uma admirvel sinfonia, onde a diversidade dos tons e das notas se articular numa msica

    divina e indizivelmente harmoniosa (p.90-91).

    5.5 Cu como Deus: tudo em todas as coisas

  • 12

    Deus ser tudo em todas as coisas, que no cu veremos como Deus o princpio, o corao e

    o fim de cada coisa. [] amamos todas as coisas que nosso amor ama [] as estradas so

    relacionadas com o ser amado. [] na situao de cu nosso amor Deus (p.91).

    5.6 A grandeza e a essncia do mundo ser ponte

    Sua [Deus] grandeza e essncia ser ponte, ser percussor da meta que Deus. [] Cu

    consiste em amarmos Deus em cada coisa. 'Amai os animais, amai as plantas, amai cada

    coisa. Se vs amai cada coisa, cs compreendereis o mistrio de Deus nas coisas', ensinava

    Dotoievski nos Irmos Karamazovi (p.92).

    5.7 No cu veremos Deus assim como Ele

    A situao de cu, a entrada num novo mundo, onde Deus constitui a grande novidade

    (p.93).

    5.8 No cu seremos todos em Cristo?

    Deus se encarnou porque o homem podia ser assumido por Deus. [] existe a

    possibilidade de sermos assumidos por Deus. Nossa natureza espiritual assim estrutura que

    capaz do infinito. [] Deus ser em ns tudo, de forma que nos ser mais ntimo a ns

    mesmos que ns o somos a ns mesmos (p.93-94).

    5.9 Se o cu for descanso...

    Ser histria do homem com Deus, histria do amor e da indefinida divinizao da criatura.

    [] Deus um mistrio infinito e no um enigma que se dissolve ao ser conhecido. No

    mistrio de Deus o homem penetra mais e mais. [] Jamais seremos como Deus. Mas

    poderemos nos assemelhar mais e mais a Ele, na medida em que penetremos em seu mistrio

    e nos for revelada a profundidade sem limites de seu Amor (p.95).

    5.10 O cu comea na terra

    O cu [] a potencializao daquilo que j na terra experimentamos. Sempre que na terra

    fazemos a experincia do bem, da felicidade, da amizade, da paz e do amor, j estamos

    vivendo, em forma precria mas real, a realidade do cu(p.96).

    CAPTULO 6

  • 13

    O INFERNO: A ABSOLUTA FRUSTAO HUMANA

    6.1 O cristianismo como a religio do amor, do Deus que homem, do homem novo e do

    futuro absoluto

    O cristianismo apresenta o Deus que criou tudo por amor; que quis companheiros no seu

    amor. [...] Quando Cristo se levantou na Galileia comeou anunciar o Reino de Deus. Ele foi

    o homem revelado, totalmente livre, totalmente aberto a todos, que conseguem amor a todos,

    amigos e inimigos, at o fim. [...] O amor mais forte que a morte.[...] Se ele ressuscitou, ns

    seguimos. Ele apenas o primeiro dentre os mortos. Os apstolos logo viram: s Deus podia

    ser to humano assim. Esse Jesus de Nazar era Deus mesmo feito homem, andando entre

    ns (p.98-99).

    [...] o grande filsofo Celso apresenta o que o cristianismo: a religio do homem novo,

    liberto das estruturas desse velho mundo, tambm das convenes criadas pelos homens

    (p.99).

    6.2 O cristianismo como uma religio que toma o homem absolutamente a srio

    [...] o cristianismo uma religio do amor. [...] Amor sem liberdade no existe. O amor

    uma doao livre. Amor dizer sim e amm para outro tu (p.100).

    6.3 O homem possui uma dignidade absoluta: de poder concorrer com Deus e dizer-lhe

    um no

    O homem possui uma dignidade absoluta: de poder dizer um no a Deus. Ele pode fazer uma

    histria para si, centrada sobre seu eu e seu umbigo (p.101).

    6.4 O homem relativo pode criar algo absoluto

    Ele cria realmente algo novo, como Deus tambm criou o cu e a terra (p.101). H uma

    coisa que Deus no criou porque no quis, e apesar disso existe, porque o homem criou,

    quando odiou, quando explorou seu irmo,[...] que ns chamamos de inferno. O inferno no

    uma criao de Deus, mas o homem. Porque existe o homem mau, o homem egosta e o

    homem fechado em si mesmo, existe o inferno, criado pelo prprio homem.[...] O inferno no

    vem de Deus. Vem de um obstculo posto a Deus pelo pecador (p.102).

    6.5 O inferno existe, mas no aquele dos diabinhos com chifres

  • 14

    O inferno uma inveno dos padres para manter o povo sujeito a eles. [...] Mas no posso

    anunciar essa novidade. Porque ningum pode negar o mal, a malcia, a m vontade, o crime

    calculado e bem querido, e a liberdade humana (p.102). [...] Inferno um estado do homem,

    que se identificou com sua situao egosta que se petrificou com sua deciso de s pensar em

    si em suas coisas e no nos outros e em Deus. algum que disse um no to decisivo que

    no quer e no pode mais dizer sim (p.103).

    6.6 O que a Sagrada Escritura diz sobre o inferno

    [...] os textos atinentes ao inferno consiste na realidade triste do homem que pode fracassar o

    seu projeto. [...] Cristo sabe dessa possibilidade que o homem tem de construir para si um

    inferno. Por isso, elemento essencial de sua pregao reside na converso, [...] voltar-se para

    outro, revolucionar o modo de pensar e de agir, no sentido de Deus e da proposta divina

    (p.103).

    a) O inferno como fogo inextinguvel: Aqui o fogo o smbolo, para o homem antigo,

    daquilo que h de mais dolorido e destruidor. [...] Mas o fogo do inferno, de que falam

    as Escrituras no fogo fsico. Ele no poderia agir sobre esprito. to somente

    figura, talvez uma das mais expressivas para nos dar uma ideia da absoluta frustrao

    do homem, longe de Deus (p.104).

    b) O inferno como choro e ranger de dentes: Chorar e ranger os dentes so aqui figuras

    e metforas para uma situao humana de revolta impotente e sem sentido, que no

    conhece uma sada e arrancada feliz (p.105).

    c) O inferno como as trevas exteriores: No inferno, na situao que ele escolheu, no

    encontra o que busca com anelos mais profundos de seu corao. Ele vive nas trevas

    exteriores, no exlio e fora da casa paterna (p.105).

    d) O inferno como crcere: um prisioneiro de seu pequeno mundo que se criou e a

    est s: no pode mover-se e nada fazer (p.105).

    e) O inferno como um verme que no morre: Pode significar tambm o verme da m

    conscincia que corri e no lhe deixa nenhuma interior (p.105).

    f) O inferno como morte, segunda morte e condenao: O inferno a morte, ou mesmo

    como segunda morte. Se Deus vida, ento a ausncia de Deus morte (p.106).

  • 15

    g) Valor destas imagens: O inferno amputa o homem em sua qualidade de homem: foi

    chamado liberdade e vive num crcere; chamado luz e vive nas trevas; chamado a

    viver na casa paterna com Deus e deve viver fora, nas trevas exteriores; [...] O valor

    das imagens reside em ficarem imagens: de nos mostrarem a situao do condenado

    como irreversvel e sem esperana (p.106).

    6.7 O inferno como existncia absurda

    [...] o inferno uma existncia absurda que se petrificou no absurdo. [...] Sem sentido

    ningum pode viver. O inferno significa no ter mais futuro, no ver mais sada nenhuma, no

    poder realizar nada daquilo que quer e deseja. E a solido o inferno. Feitos fomos para amar.

    Amar dar e receber. (p.107).

    6.8 possvel o homem criar-se um inferno e dizer no felicidade?

    O homem sempre busca felicidade. s vezes ele se engana. [...] Deus apareceu incgnito na

    pessoa do necessitado e no foi reconhecido. Por isso o homem acostumado querer mal ao

    outro, a explor-lo, a no ter compaixo por ele, a no se lembrar dos outros[...]. Dizer cu e

    dizer inferno referir-se ao que o homem capaz. [...] (p.108-109).

    6.9 possvel o homem criar-se um inferno e dizer no felicidade?

    O inferno uma deciso de toda a vida e da totalidade de nossos atos. nossa vida como

    totalidade que marca nosso destino futuro, no este ou aquele ato. Os atos revelam nosso

    projeto fundamental. A deciso fundamental e definitiva do homem, como vimos

    anteriormente, realiza-se na morte (p.110-111).

    6.10 Concluso: realismo cristo

    Cristo um ser extremamente realista. Conhece a existncia humana em sua dialtica,

    distendida entre o bem e o mal, o pecado e a graa, a esperana e o desespero, o amor e o

    dio, a comunicao e a solido (p.111).

    CAPTULO 7

    O ANTICRISTO EST NA HISTRIA

    O anticristo possui os significados bblicos e histricos.

  • 16

    7.1 Histria bi-frons: Cristo e Anticristo

    Anticristo desmitologizado no contexto geral da histria da salvao que cobre toda

    histria. [...] histria do bem e do mal, da mentira e da verdade, da alienao e da

    realizao (p.114).

    Cristo uma dimenso, um nome para indigitar uma realidade histrica: amor-doao, se

    instaura a justia, triunfa a verdade e se estabelece comunho com Deus.[...] Esta compre do

    Cristo nos faz entender o que significa o Anticristo [...] trata de uma atmosfera oposta

    atmosfera-Cristo. a histria do dio no mundo (p.115).

    7.2 O mistrio da iniquidade: o Anticristo

    O Anticristo a articulao do mal na histria.[...] O estatuto ontolgico e criacional do

    homem constitudo pela sua permanente referncia a Deus. [...] A dimenso Anticrito resulta

    da vontade do homem de concorrer com Deus a dizer: na minha fora eu decido, vivo e

    construo. [...] Essa autosseguramento do homem esquecido de sua imbricao com Deus,

    mesmo no ato de negar a Deus pode articular-se no nvel pessoal. Ento surge o egosmo, a

    inveja, o orgulho, o fanatismo de quem cr possuir em si os critrios de julgar os outros

    (p.116-117).

    7.3 O Anticristo no Novo Testamento: veio dos nossos, mas no era dos nossos

    Se o Anticristo constitui uma atmosfera de orgulho e autosseguramento do homem contra

    Deus, que se instaurou na histria, ento ela recrudescer em intensidade quando mais se

    avizinhar o termo do mundo. Era o que pensava a comunidade primitiva. [...] Anticristo o

    querer erguer-se acima de tudo que se chama Deus ou for objeto de culto, at sentar-se no

    Templo de Deus, apresentando-se como Deus[...] (2Ts 2,3ss). Portanto, a vontade de poder e

    de autposicionamento at loucura do autoedeusamento instauram a essncia do Anticristo

    (p.119-120).

    Essa perspectiva vem terrificamente descrita por So Joo no Apocalipse. No captulo treze,

    utilizando tradies aluses histria contempornea dos imperadores romanos e a mstica

    dos nmeros do Antigo Oriente, So Joo pinta o surgimento de duas bestas, uma do mar e

    outra da terra. A besta surgida do mar (Imprio Romana) representa o poder poltico bestial e

    tirnico que se proclama a si mesmo como Deus. [...] A segunda besta, surgia da terra, est a

  • 17

    srvio do poder poltico: seu empresrio, chefe da propaganda a telogo do Anticristo. [...]

    Atmosfera do mal e da rebeldia contra Deus produz um esprito de Anticristo que se articula

    em representaes coletivas, diante das quais o indivduo dificilmente pode proteger. A

    histria no um processo impessoal. As foras coletivas, as ideologias de poder assumem

    corpo em personalidades individuais e histricas. Por isso o Anticristo poder ser ambas as

    coisas: tanto uma atmosfera como uma pessoa que a encarna ou em quem ele se encarna

    (p.120-121).

    7.4 O Anticristo est na histria: vigiai!

    O Anticristo est em ao na manipulao do poder poltico e religioso; seu esprito vive nas

    injustias universais de ordem estrutural; ele se imiscui nos projetos humanos mais bem-

    intencionados como egosmo, vontade de autopromoo e instinto de discriminao (p.121).

    Captulo 8

    O FUTURO DO MUNDO: TOTAL CRISTIFICAO E DIVINIZAO

    O que se d com a vida humana d-se tambm com o cosmos:[...] O cosmos todo, assim o

    cr a f crist, est chamando a uma total cristificao e divinizao. Ele faz parte da prpria

    histria de Deus. Por isso ele definitivamente imperecvel. [...] H uma gestao csmica

    da realidade futura do mundo e da matria. A palavra criadora de Deus ainda no foi

    pronunciada totalmente. [...] Acostumar-se a ver o mundo com os olhos de Deus iniciar-se

    na esperana e comear a viver de uma grande promessa (p.124-125).

    8.1 O fim j presente no comeo e no meio

    O sentido radical do mundo proclamado pela f crist no emerge apenas no fim. No termo

    ele se manifestar plenamente.[...] Se olharmos para o caminho percorrido pela evoluo

    percebemos, sem necessidade de grandes mediaes, que houve uma linha ascendente.[...]

    Mas o fim bom, proclama gritando a f crist, e, desde que Jesus Cristo ressuscitou dentre

    os mortos, ele est garantido para toda a realidade. O fim j est presente no comeo, quando

    o primeiro tomo criado comeou a vibrar. [...] Em vez de falarmos em fim do mundo,

    deveramos, pois, falar em futuro do mundo (p.125-127).

    8.2 Qual o futuro do cosmos?

  • 18

    O homem chamado a algo maior, isto , a ser assumido por Deus de tal forma, que

    semelhana de Jesus Cristo, Deus-Homem, Deus seja tudo em todas as coisas e forme com o

    homem uma unidade inconfundvel, imutvel, indivisvel e inseparvel. O cosmos est

    consagrado a participar desta divinizao e cristificao. Primeiramente o cosmos (a matria e

    a vida infra-humana) a expresso de Deus Criador. Enquanto expresso de Deus

    representa sua revelao. Por isso com razo dizamos que cosmos pertence histria de

    Deus (p.127).

    [...] o mundo possui um significado em si, independente do homem, como revelao e

    expresso de Deus para Deus mesmo.[...] O futuro do mundo consiste em ele poder revelar

    Deus de forma perfeita e transparente.[...] Deus por sua vez penetrar todos e cada um dos

    seres de tal forma que Ele ser,[...] na consumao e na revelao do futuro do mundo cada

    revelar seu carter crstico e filial. [...] Jesus Cristo o Filho encarnado [...] de todas as

    coisas, especialmente de cada homem (p.128-129).

    8.3 Um modelo antecipado do fim: Jesus Cristo ressuscitado

    Em Jesus Cristo ressuscitado temos um modelo que nos permite vislumbrar a realidade

    futura da matria. Seu corpo material foi pela ressureio transfigurado. (p.129).

    8.4 Quando se alcanar a meta final?

    [...] quando se der a vida de Cristo, [...] a prometida restaurao que esperamos j comeou,

    [...] pela encarnao, Deus assumiu o mundo e a matria; diretamente na realidade humana,

    espiritual e corporal de Jesus de Nazar; [...] Deus mesmo tocou e entrou no processo de

    evoluo ascendente. Com isso levou algum de ns, Jesus de Nazar, meta final,

    divinizando-o e sendo nele Deus tudo em tudo. [...] Jesus Cristo ressuscitado est acima do

    espao e do tempo. Seu corpo ressuscitado est presente a todas as coisas, penetra toda a

    realidade criada (p.130).

    A consumao e advento do futuro acabado do mundo se completar quando o Cristo, que j

    veio, aparecer em grande poder glria. [...] Ento emergir o novo cu e a nova terra. Deus

    no substitui o velho pelo novo. Faz do velho novo. [...] Quando isso se der, ento ter

    acabado tambm a funo unitiva e redentora de Cristo csmico: et tunc erit finis, o mundo

    implodira e explodir para dentro de sua verdadeira meta (p.131-132).

  • 19

    8.5 O que Cristo ensinou sobre o fim do mundo?

    Sua resposta para ns desconcertante e paradoxal: por um lado d claramente a entender

    que Ele mesmo desconhece o momento do irromper do fim; por outro, no deixa dvidas que

    ser em breve, no tempo de seus contemporneos. [...] As seguintes frases de Cristo : (Mc

    9,1; Mt 10,23) (p.132).

    Jesus, Deus-Encarnado, participou realmente de nossa condio humana: teve um

    crescimento no saber e em toda sua realidade humana; foi tentado realmente, teve f e foi

    maior testemunha da f; participou tambm da cosmoviso cultural da poca, que era a

    apocalptica. [...] Deus assumiu um homem concreto e no uma natureza abstrata; um homem

    dentro de uma cultura, com um tipo de conscincia nacional, com categorias de expresso

    culturalmente condicionadas. Foi nessa humanidade concreta e no apesar dela quer Deus se

    manifestou. [...] o importante no saber a hora e o dia (o equvoco), mas vigiar e estar

    preparados e ter certeza inarredvel (p.134).

    A protelao da parusia (vinda de Cristo e meta do mundo) trouxe sem dvida uma certa

    decepo em muitos cristos do sculo I. [...] (2Pd 3,8-10) Pedro se coloca na mesma situao

    de Jesus: ningum seno o Pai conhece o momento e a hora; contudo, o fim vir quando se

    espera (p.136).

    8.6 Concluso: o cristo um permanente paroquiano

    O tempo de agora um tempo de entre-tempo, do j e do ainda-no, entre a f no futuro

    presente, mas ainda no totalmente realizado e a esperana de que ele enfim se manifeste com

    toda a patncia. [...] o cristo deveria ser algum de extrema jovialidade, bom humor e alegria

    cordial. [...] O verdadeiro cristo tem rosto voltado para futuro, donde vir aquele que j veio.

    Ele espera na alegria de quem sabe: Ele vem e vem em breve (p.139).

    Captulo 9

    COMO SER O FIM: CATSTROFE OU PLENITUDE?

    9.1 O que escatologia e o que apocalptica?

    urge saber distingui claramente qual a mensagem intencionada e qual representao

    cultural dessa mensagem. [...] A escatologia (os fins derradeiros do homem) fala do presente

  • 20

    em funo do futuro; experimentamos aqui o bem, a graa etc., em forma imperfeita. [...] A

    apocalptica fala a partir do futuro em funo do presente. um gnero literrio como nossos

    romances futuristas. [...] No gnero apocalptico se mostra sempre como o bem triunfa, e

    como Deus senhor da histria, destruindo como apenas um sopro de sua boca todos os

    inimigos dos homens e de Deus. [...] A exegese catlica e protestante no ensina hoje que [os

    textos do ] apocalipse foram reunidos e elaborados coerentemente quando a Igreja passa pela

    terrvel perseguio de Nero (54-68) e mais tarde na perseguio de Domiciano (69-79)

    (p.140-141).

    [...] no devemos hoje cometer os erros que geraes inteiras no passado cometeram:

    tomavam os textos apocalpticos ao p da letra, como reportagem antecipada do futuro

    (p.142).

    9.2 O modelo de representao apocalptico

    As representaes do futuro do mundo e da total manifestao de Cristo e de Deus so

    inevitveis. [...] O importante darmo-nos conta de que as descries so imagens e

    representaes e no prpria realidade, mas de fato representaes, sempre condicionadas

    pela cosmoviso da poca. Por isso as imagens variam de poca em poca. [...] As nuvens

    simbolizam a proximidade de Deus, e o trono a glria a fim de julgar todas as naes. [...] O

    fogo constitui um elemento simblico de purificao e do juzo acrisolador de Deus, como

    aparece claro em textos paralelos do Antigo Testamento. [...] O mundo no ser exterminado.

    Ele permanece porque obra do amor divino e tambm humano. Segundo At 3,21 haver uma

    geral reconciliao, respeitadas as decises livres dos homens; ou, como diz o prprio Cristo,

    suceder uma palingenesia, isto , um novo nascimento de todas as coisas (Mt 19,28). O fim

    do mundo seu verdadeiro gnesis, seu real comeo e um completo acabar de nascer (p.143-

    145).

    9.3 O modelo de representao teilhardiano

    [...] modelo de representao de meta do mundo, dentro das coordenadas de uma

    compreenso evolutiva do mundo. O universo fruto de processo milhes e milhes de anos

    de evoluo,[...] Creio que o universo uma evoluo. Creio que a Evoluo de dirige ao

    Esprito. Creio que o Esprito se realiza no Pessoal. Creio que o Pessoal supremo Cristo o

    universal(p.145-146).

  • 21

    [...] Podemos, e certamente devemos, admitir que a parusia encontre no uma humanidade

    morta [...]: a humanidade e o mundo devero ter desenvolvido suas foras latentes at um

    grau altssimo de realizao. [...] O universo e a humanidade atingem seu ponto mais alto, e

    por isso sua meta, se se perderem para dentro de Deus. na fuso de amor com Deus que

    tudo ganha se sentido; caso contrrio, a evoluo um descaminho e um fatal absurdo. [...]

    Isto significa que haver um deslocamento radical do centro de gravidade da evoluo; haver

    uma excentrao em Deus. Nesse perder-se doloroso e purificado, o mundo e o homem se

    encontraro definitivamente, porque estaro para sempre em Deus, porque unir-se [...]

    emigrar e morrer parcialmente para aquilo que a gente ama (p.146-147)

    9.4 No sabemos nem como nem quando

    No modelo teilhardiano o mundo deixa emergir o que vai carregando dentro de si e nele est

    em crescimento. A histria est grvida de Cristo e a criao inteira est gemendo e sentido

    dores de parto, aguardando acabar de nascer. [...] O futuro da histria est dentro dela; ela vai

    realizando e revelando lentamente. [...] Passa certamente a figura deste mundo deformada

    pelo pecado, mas aprendemos que Deus prepara morada nova e nova terra. Nela habita a

    justia e sua felicidade ir satisfazer e superar todos os desejos de paz que sobem nos

    coraes dos homens. [...] Aqui se ensina claramente: o fim do mundo no uma catstrofe,

    mas uma plenitude (p.147-148).

    9.5 Futuro imanente do mundo tcnico e futuro transcendente do mundo

    [...] forma de um futuro tcnico do mundo, onde as velhas utopias de riqueza ilimitada, prazer

    indefinido, permanente juventude e beleza e dominao sobre os elementos ver-se-iam enfim

    realizadas.[...] O otimismo teilhardiano, alimentado em grande parte pela certeza da f acerca

    do fim bom prometido por Deus, no pode apagar as profundas ambiguidades em que est

    envolta a histria da liberdade humana. [...] O mundo como est no pode ser lugar do Reino

    de Deus. Ele deve ser profundamente transformado (p.149).

    As diverses no deixam nenhum tempo livre e nenhum momento para o homem sentar-se e

    refletir... No se pode combinar Deus com as mquinas, com medicina cientfica e com prazer

    geral. Precisamos escolher. Nossa civilizao escolheu mquinas, medicina e prazer

    Esse paraso absolutamente estril. No deixa o homem ser homem. Manipula-o como

    pode e afoga-o em sedativos que aumentam alienao e a saudade da prpria verdade. [...] O

  • 22

    homem foge da morte, sendo reduzido a formas de vida inconscientes e pr-humanas a ponto

    de os homens abenoarem a boa e velha forma de morrer. [...] A total realizao humana e

    csmica anunciada pela f crist no o resultado exclusivo do esforo humano. muito

    mais obra de Deus. [...] O futuro no se chama reino dos homens, mas Reino de Deus, onde

    Deus ser tudo em todas as coisas (p.150-151).

    9.6 A vinda de Cristo como graa e juzo j est ocorrendo

    Se o fima-meta j est presente no meio do mundo, ento nada mais normal do que

    afirmarmos que a vida de Cristo j est acontecendo, seja como graa consoladora, seja como

    juzo purificador. [...] O ressuscitado intervm no mundo. Para os olhos da f h situaes

    histricas que so verdadeiros juzos de Deus sobre o mundo. [...] O juzo de Deus comea

    pela prpria casa, isto , pela Igreja. [...] juzos por falta de fidelidade e abertura para a

    novidade do Esprito.[...] Tudo o que passou ganha um carter de eternidade que jamais

    poder ser aniquilado. Anda que seja reduzindo ao nada, sempre verdade que uma vez

    existiu por obra e graa de Deus. A f, porm, afirma mais: o universo est destinado a

    participar da prpria histria ntima de Deus. Por isso nada se perde, mas tudo ser

    transformado e transfigurado (p.151-153).

    CAPTULO 10

    ENFIM VER-SE-; DEUS ESCREVEU DIREITO POR LINHAS TORTAS: O JUZO

    FINAL

    9.1 A comunho de todos com tudo

    As Sagradas Escrituras representam a grande revelao de Deus e da verdade das criaturas

    em forma de um juzo num tribunal (Mt 5, 25-26; Lc 18, 1-8) ou de uma liquidao de contas

    (Mt 18, 22-35; 25,14-30; Lc 16, 1-9).[...] Efetivamente, trata-se de imagens humanas. A

    forma de julgamento, como dizia Toms de Aquino, ningum pode saber com certeza,[...]

    cujo juzo vai finalmente realizar o povo dos santos. As imagens que apresentam esse Juzo

    no pretendem tanto descrev-lo como levar os homens a que se convertam pela f (p.156).

    Enquanto os homens vivem, o sentido da vida, dos atos e dos encontros pode manter-se

    latente. Tudo est ainda em aberto, porque o tempo do risco, do livre-arbtio para o bem e

  • 23

    para o mal, tempo de converso. Na morte se d grande sntese da vida. Ento se esclarece o

    sentido de cada ato e entelquia de cada encontro (p.156-157).

    [...] O juzo particular, na morte, est numa direta coordenao com juzo universal, porque o

    homem, embora sntese do todo, um momento de processo universal que o transcende: a

    histria da criao toda. [...] devemos ver o juzo particular que se desenvolve depois da

    morte em relao dinmica com o juzo final (p.157).

    9.2...E aparecer o plano de Deus

    Este, no decurso da histria, no se mostra na sua potncia divina. Deus no costuma

    intervir, miraculosamente, para vingar a justia ou salvar a humanitas, manipulada e

    vilipendiada pelo prprios homens.[...] A f nos diz que h um sentido. Ns o cremos, mas

    no o vemos. Ele conhece, geralmente, a forma kentica da cruz e no o modo doxolgico da

    ressureio. A histria leva em seu corao a angstia do sem-sentido que faz sangrar e

    aumenta no homem a nsia pela total revelao do Logos que penetra todas as coisas (p.158-

    159).

    [...] Ento veremos como Deus escreveu direito por linhas tortas. Ento Deus ter ouvido a

    splica dos sculos: Senhor, deixa-me ver tua face (Ex 33,17s), Senhor, mostra-nos o Pai e

    isso nos basta! (Jo 14,8). Ento Deus, que ningum jamais viu (Jo 1,18), se mostrar assim

    como Ele , e o veremos face a face (1Cor 13,12; Ap 22,4). Ento isso nos bastar, porque

    teremos lido o pensamento e ouvido o juzo de Deus sobre cada coisa. Amm! (p.160)

    CAPTULO 11

    UMA ESPIRITUALIDADE ESCATOLGICA; SABOREAR DEUS NA

    FRAGILIDADE HUMANA E FESTEJ-LO NA CADUCIDADE DO MUNDO

    [...] escatologia [...] no a doutrina dos fins ltimos do homem, mais a meter-lhe medo do

    que consol-lo. A escatologia uma reflexo sobre a esperana crist. [...] Dizer esperana

    dizer presente, mas tambm futuro. E gozar de um j presente, na expectativa de que se revele

    plenamente porque ainda-no se comunicou em totalidade. Deus mesmo o Deus da

    esperana (Rm 15,13). [...] Porque o Deus do futuro e da esperana do amanh de nossa

    vida, Ele sempre se revela como Aquele que liberta o homem de suas ligaes com o passado,

  • 24

    para que cada um esteja livre para seu futuro.[...] O cu e a total divinizao do mundo esto

    se moldando, lentamente, dentro do horizonte de nossa existncia. Vo crescendo e

    madurando, at acabarem de nascer (p.161-162).

    11. 1 O j e ainda-no: festa e a contestao

    [...] aquilo que j e aquilo que ainda-no-, mas que possvel;[...] O j constitui o futuro

    realizado. O Ainda-no forma o futuro em aberto. Enquanto a esperana v o futuro e o Reino

    j presentes no meio de ns, no bem, na comunho, no fraternismo, na justia social, no

    crescimento verdadeiramente humano dos valores culturais. [...] Da que surge a festa no

    corao da vida. [...] Ela uma antecipatria participao da festa do homem com Deus. [...]

    Na fragilidade humana, verdade, onde h ameaa de pecado, de perda [...]. A esperana sabe

    que espera. Mas no s. Sabe tambm, embora imperfeitamente, o que espera: a total

    realizao na eternidade daquilo que de verdadeiro e de vivencia o tempo (p.162).

    O que se ope f e esperana no tanto a descrena e o atesmo. Mas o medo e a

    inquietao. A f e a esperana nos asseguram que estamos sempre aconchegados nas mos

    de Deus que circunda e penetra. [...] S a f crist nos permite saborear Deus na fragilidade

    humana e festeja-lo na caducidade da figura deste mundo que passa (1Cor 7,31). Contudo, o

    j no pode ser absolutizado. Ele est sempre aberto para o Ainda-no que vir (p.163). [...]

    O no supe um sim prvio a algo futuro e possvel.[...] O futuro, pois, levada o presente,

    fazendo que ele cresa e mais na linha da total manifestao e parusia daquilo que vai

    carregando como promessa dentro de si. A histria toda apresenta-se, assim, como um

    laboratorium salutus possibilis (E. Bloch) (p.165).

    11. 2 O Crux, ave, spes nica

    As ltimas reflexes nos advertiram que a alegria crist e escatolgica no uma alegria de

    bobos alegres. Estes se alegram pelo simples fato de se alegrarem (p.165).

    Quem se entrega, como Jesus na cruz, [...] este j experimentou as foras de ressurreio e

    pode cantar, em meio a dores, aleluia. Para esse a cruz fonte de alegria e paz que o mundo

    no pode dar, mas s a f. [...] Histria experincia de cruz, e, precisamente, no seu sentido

    desorientador de que a experincia da cruz, a angstia da morte e as trevas do abandono de

    Deus sofridas por Um s revertem sobre a histria inteira, em primeira linha, sobre os que

    pautaram sua vida pela daquele nico (p.166-167).

  • 25

    11. 3 Venha a ns o vosso Reino!

    Esse pedido o central de todo o Pai-nosso caracteriza profundamente a atitude crist.

    Vivemos, [...] na expectativa de irromper o Reino. Que ele venha! [...] Esta expectativa nos

    lembrada durante todo ano litrgico [...]. A liturgia em geral celebra o Christus praesens,

    realizando sua parusia sob sinais de f.[...] em cada um o Senhor vem e mata a saudade

    salvfica do homem, mas deixa tambm uma ausncia sentida e sofrida: no o vemos face a

    face (p.167-168).

    Quando estourar a parusia, ento cairo os vus sacramentais: veremos a graa neles contida,

    diretamente. A funo dos sacramentos ter passado para sempre (p.168).

    11. 4 A verdade no o que , mas o que ainda ser

    [...] ento a verdade no reside apenas naquilo que , mas principalmente naquilo que ainda

    no , mas ser. [...] a verdade do homem no est no homem como se encontra hoje, mas no

    homem como ser amanh e como j foi, antecipatoriamente, manifestado em Jesus

    ressuscitado (p.169).

    Misso do cristianismo ser germe de esperana no mundo, do Deus da esperana (Rm

    15,13) e de Cristo nossa esperana (Cl 1,27). manter entre os homens permanentemente a

    abertura para o futuro absoluto. [...] S Deus e Jesus Cristo ressuscitado. Conduzir os homens

    para o espao da esperana que repleta o cor inquietum significa anunciar: o futuro que

    germinalmente est em ns e cuja manifestao anelamos ansiosamente h de ser realizado

    definitivamente por meio daquele que primeiro o realizou em sua vida, morte e ressurreio e

    que nos disse ter o poder de renovar todas as coisas e de criar novos cus e nova terra (p.169-

    170).

    A f esperanosa ento suspira. Maranatha! Veni Domine, Jesu! Vem Senhor Jesus! (p. 170).