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FICHA PARA CATÁLOGO PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA

Título: Leitura dos Clássicos - Uma proposta de formação continuada para professores da educação básica.

Autor Neusa Marilene Achete Lino

Escola de Atuação Colégio Estadual Governador Adolpho de Oliveira Franco-Ensino Fundamental, Médio e Profissional.

Município da escola Astorga

Núcleo Regional de Educação Núcleo Regional de Maringá

Orientador Professora Doutora Terezinha Oliveira

Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual de Maringá - UEM

Disciplina/Área (entrada no PDE) Pedagogia

Produção Didático-pedagógica Unidade Didática

Relação Interdisciplinar

(indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho).

Este projeto se relaciona com todas as disciplinas da tradição curricular: Arte, Biologia, Ciências, Educação Física, Ensino Religioso, Filosofia, Física, Geografia, História, Língua Estrangeira Moderna, Língua Portuguesa, Matemática, Química e Sociologia e mesmo com as disciplinas técnicas dos cursos de Médio Integrado, pois nossa intenção é demonstrar que a leitura dos clássicos pode proporcionar o prazer de um conhecimento que pode dialogar com todos os demais sem, contudo, desmerecer nenhum deles.

Público Alvo

Professores do Colégio Estadual Adolpho de Oliveira Franco-Ensino Fundamental, Médio e Profissional.

Localização

Colégio Estadual Governador Adolpho de Oliveira Franco-Ensino Fundamental, Médio e Profissional. Município de Astorga. NRE de Maringá

Apresentação:

(descrever a justificativa, objetivos e metodologia utilizada. A informação deverá conter no máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples).

A proposta de intervenção pedagógica na escola “Leitura dos Clássicos – Uma proposta de formação continuada para professores da educação básica”, tem como justificativa o fato de ter por objetivo a reflexão sobre autores clássicos e suas obras, abrangendo fundamentalmente a questão da Ética no conhecimento. A implementação dar-se-á por meio de um Curso de Extensão presencial, totalizando 32 horas, com certificação pela IES (UEM) sob a coordenação da Professora Doutora Terezinha Oliveira. A estratégia a ser usada será a de círculos de debates a partir da leitura de textos de autores clássicos constantes no projeto.

Palavras-chave (3 a 5 palavras) Fundamentação Teórica. Leitura. Prática Pedagógica

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GOVERNO DO ESTADO

PARANÁ

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

NEUSA MARILENE ACHETE LINO

LEITURA DOS CLÁSSICOS - UMA PROPOSTA DE FORMAÇÃO CONTINUADA

PARA PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA

MARINGÁ - Pr

2011

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED

SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

Autora: Neusa Marilene Achete Lino

Leitura dos Clássicos – Uma proposta de formação continuada para

professores da educação básica

Unidade Didática apresentada ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, na Universidade Estadual de Maringá – UEM, para ser implementado no Colégio Estadual Adolpho de Oliveira Franco – Ensino Fundamental, Médio e Profissional de Astorga – NRE de Maringá.

Orientadora: Professora Doutora Terezinha Oliveira

Maringá - Pr 2011

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SUMÁRIO APRESENTAÇÃO__________________________________________________05 INTRODUÇÃO_____________________________________________________08 CAPÍTULO I ______________________________________________________ 09 ÉTICA A NICÔMACO - Aristóteles

Introdução Livro I Livro II

Síntese Geral do Texto CAPÍTULO II ______________________________________________________13 A Consolação da Filosofia - Boécio Introdução Texto Síntese Geral do Texto CAPÍTULO III______________________________________________________16 A VIDA DE LAZARILHO DE TORMES, de suas fortunas e adversidades. Introdução Texto Síntese Geral do Texto CAPÍTULO IV______________________________________________________19 DIDÁTICA MAGNA - Comênios Introdução Didática Magna Síntese Geral do Texto

CAPÍTULO V ______________________________________________________24 SOBRE A PEDAGOGIA - Kant Introdução 1ª parte: Sobre a Educação Física 2ª parte: Sobre a educação Prática Síntese Geral do Texto CONSIDERAÇÕES FINAIS____________________________________________28 ANEXO___________________________________________________________ 29 Excertos dos textos propostos nas Unidades do Material Didático REFERÊNCIAS_____________________________________________________30

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APRESENTAÇÃO

A Unidade Temática Leitura dos Clássicos - Uma proposta de formação

continuada para professores da Educação Básica se apresenta em continuidade

ao Projeto de Intervenção Pedagógica no Colégio Estadual Adolpho de Oliveira

Franco, Ensino Fundamental, Médio e Profissional.

Este material foi preparado com o fito de socializar este estudo, propondo uma

reflexão sobre a importância dos clássicos e da sua leitura na e para a

fundamentação teórica do professor do ensino básico. A nosso ver, a leitura, o

estudo de autores que fundamentam o conhecimento ocidental constitui-se em uma

das condições de melhoria do ensino básico posto que, quanto maior a

fundamentação teórica do professor melhor será sua atuação como docente.

A escolha dos autores apresentados baseou-se no fato de sua importância, de

acordo com o tempo histórico de cada um, na formação do homem do Ocidente, não

tendo sido, portanto, fortuita.

Esta Unidade Temática é composta de textos que se dividem em capítulos e

cada um contendo idéias centrais das obras escolhidas. Como parte interativa do

estudo serão sugeridas obras fílmicas que, embora baseadas em fatos reais e

fazendo alusão ao tema estudado, são ficcionais.

Em cada Capítulo será apresentado um resumo do texto sugerido para o

estudo contendo uma pequena introdução biográfica com localização espacial,

geográfica e temporal. Também serão apresentadas sugestões de leituras de textos

complementares para o aprofundamento sobre o tema.

A proposta de intervenção pedagógica na escola Leitura dos Clássicos –

Uma proposta de formação continuada para professores da educação básica,

tem como justificativa relevante o fato de ter por objetivo a discussão de autores

clássicos e suas obras, abrangendo o conhecimento das formas éticas,

estabelecidas historicamente.

As obras que fazem parte desta Unidade Temática são:

• Capítulo I: Ética a Nicômaco, livro II, Aristóteles, (384-322 a.C),

apresentando um fragmento da filosofia da Grécia Antiga.

• Capitulo II: A Consolação da Filosofia, Boécio, (480-524), abordando

um pouco da filosofia cristã, “[...] segundo os historiadores da filosofia

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medieval, este autor representou o período de transição entre o filosofar

antigo e o medieval.” (OLIVEIRA, 2005, p.81).

• Capítulo III: A Vida de Lazarilho de Tormes, de suas fortunas e

adversidades. De autor desconhecido, (1554 - séc.XVI). A narrativa

demonstra o desenvolver de uma ética em meio a um mundo perverso,

que permite a sobrevivência de um ser humano, graças às próprias

artimanhas que desenvolve por si só.

• Capítulo IV: Didática Magna, Comênios, (1562-1630), O texto mostra

que Comênios, final do século XVI, início do século XVII, morto há mais

de 400 anos, afirmava que: “A arte de ensinar não exige mais que uma

disposição tecnicamente bem feita do tempo, das coisas e do método”.

(COMÊNIOS, 1997, p.127).

• Capítulo V: SOBRE A PEDAGOGIA, Immanuel Kant, (1724- 1804),

Aborda principalmente a questão de que ‘ o ser humano não nasce

moral, mas torna-se moral por meio da educação. ’

A implementação do projeto de dará por meio de um Curso de Extensão

presencial, no formato de círculo de debates, a partir da pré-leitura do material

selecionado, totalizando 32 horas, com certificação pela IES (UEM).

O material selecionado para as pré-leituras será disponibilizado na biblioteca

do Colégio Adolpho de Oliveira Franco – Ensino Fundamental, Médio e Profissional

de Astorga, Núcleo de Maringá, local da realização do curso.

Como uma das estratégias metodológica, a cada encontro será sugerido ao

grupo, um pequeno excerto retirado do texto (em anexo), que supomos, seja

mobilizador para o debate. Recursos tecnológicos também serão usados, como por

exemplo, a TV multimídia e o Laboratório de Informática.

Os encontros serão distribuídos num primeiro de 08 horas e em mais seis

encontros de quatro horas diárias, no segundo semestre do ano de 2011 e terão

anuência junto à administração da escola. As idéias observadas nos textos serão

comparadas com questões do cotidiano dos participantes, cujo objetivo é gerar

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reflexões sobre a importância dos clássicos e da sua leitura na e para a

fundamentação teórica do professor do Ensino Básico.

Com esta Unidade Didática, a nossa intenção é de que a sua leitura possa se

constituir num estímulo aos colegas professores no sentido da compreensão de que

ao buscarmos um maior aprofundamento teórico, talvez possamos ter maior prazer

em nossa prática pedagógica, principalmente se conseguirmos manter aberto nosso

interesse pelo debate teórico em torno das problemáticas educacionais

historicamente ‘estabelecidas’.

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INTRODUÇÃO

Considerando a importância da leitura para os professores de todas as

disciplinas da tradição curricular: (Arte, Biologia, Ciências, Educação Física, Ensino

Religioso, Filosofia, Física, Geografia, História, Língua Estrangeira Moderna, Língua

Portuguesa, Matemática, Química Sociologia) e também para aqueles que ministram

aulas nas disciplinas técnicas dos cursos do Médio Integrado, propomos o projeto de

intervenção pedagógica na escola Leitura dos Clássicos – Uma proposta de

formação continuada para professores da educação básica.

À escola cabe complementar a formação advinda do meio familiar. Lá, deve

ter sido iniciada formação moral e ética do educando que, na escola terá

continuidade paralela aos conhecimentos que lhe serão ministrados com vistas à sua

formação intelectiva. Com tais referenciais, acreditamos que até mesmo atos de

indisciplina, agressividade e desrespeito, que de forma mais clara ou mais oculta

acontece no contexto escolar, poderão diminuir. “A escola deve ser o espaço de

formação de indivíduos que poderão participar do coletivo da sociedade de modo

prestante.” (OLIVEIRA,2011).

Outro item que se constitui como justificativa é que conhecendo o clássico, o

professor poderá resistir ao “modernoso” (Pedro Demo), podendo assim contribuir

para que se evite ficar só na superficialidade do trabalho educativo, quando se

subtrai o histórico do processo. Para explicitar melhor, esta idéia, recorremos à

formulação de Jaime Pinsky em seu artigo Ensinar a Ler:

O texto escrito em geral, mas o livro em particular tem sua função civilizatória fundamental, a de colocar ao alcance dos cidadãos o conhecimento acumulado por séculos, de modo organizado. Isto implica em estudar, conhecer fatos de um lado e, mais uma vez, estudar para conhecer teorias. Ter um repertório de informações e saber como lidar. (PINSKY, 2010, p.17)

Assim, com este estudo, queremos, especialmente, demonstrar que a leitura

dos clássicos pode proporcionar o prazer de um conhecimento que pode dialogar

com todos os demais sem, contudo, desmerecer nenhum deles.

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________________________________________________________CAPÍTULO I

ARISTÓTELES – ÉTICA A NICÔMACO

INTRODUÇÃO

[...] é possível errar de muitos modos, mas só há um modo de acertar. Por isso, o primeiro é fácil e o segundo difícil; fácil errar a mira, difícil atingir o alvo. Pelas mesmas razões, o excesso e a falta são características do vício, e a mediania da justiça. “(ARISTÓTELES, 1991, p.36).

Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), também conhecido como ‘o Estagirita’,

nasceu em Estagira, na Trácia, hoje dividida entre Turquia, Grécia e Bulgária,

mudando-se aos 17 anos para Atenas, onde ingressou na Academia daquele que foi

o maior pensador de seu tempo, Platão, e dele foi discípulo.

Com a morte de Platão, em 347 a.C. Aristóteles foi para Míssias, onde se

casou.

No ano 343 a.C. transferiu-se para a Macedônia, tendo sido convidado por

Felipe IIº, para assumir a educação do filho deste monarca que, mais tarde, se

tornaria o célebre Alexandre, o Grande (356 a.C. – 323 a.C.).

Após acompanhar seu discípulo à Ásia, fixou residência em Atenas, onde

fundou o seu Liceu, nome de sua escola, localizada num bosque dedicado a Apolo

Lício.

Aristóteles é comumente citado como um dos maiores teóricos do mundo

antigo, visto que abrangeu todas as ciências de seu tempo. Ao seu interesse, nada

parecia lhe escapar:

Aristóteles prodigalizou dinheiro para colecionar livros (que naqueles tempos eram feitos à mão); foi o primeiro, depois de Eurípides, a organizar uma biblioteca. [...] Essa era a razão por que, ao referir-se à residência de Aristóteles, dizia Platão: “casa do Leitor” e parece que estas palavras envolviam um louvor sincero. (DURANT, 1926, p.70)

Das obras aristotélicas, uma é vista como sendo uma síntese de seu pensamento: “A Política”, isto, segundo alguns autores é motivado pelo caráter abrangente atribuído à obra, na qual por meio da Metafísica, trás a concepção de que a natureza de algo é seu estágio final.

Ora, como a política utiliza as demais ciências e, por outro lado, legisla sobre o que devemos e o que não devemos fazer, a finalidade dessa

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ciência deve abranger as das outras, de modo que esta finalidade será o bem humano, a ponto de este fim ser o bem supremo dos homens” (ARISTÓTELES, 1991, p.2)

Da obra Ética à Nicômaco, composta por 10 livros, escrita pelo Estagirita

Aristóteles, apresentamos, abaixo o que consideramos pontos essências nos Livros

I e II:

Livro I – O objeto do agir humano

O Livro I inicia com o questionamento e uma afirmação sobre o objeto do

agir humano: todo o indivíduo, assim como toda ação e toda escolha, tem em mira

um bem e este “[...] bem é aquilo a que todas as coisas tendem [...]

(ARISTÓTELES,1991,p..5)Todas as ações, para Aristóteles, são feitas em função de

um bem, existindo vários tipos de bens. Ele evidencia a existência de um Bem

Supremo: a Felicidade e esta se objetiva de diferentes maneiras para diferentes

interlocutores. Se todo o conhecimento e todo trabalho visam a algum bem, qual será

o mais alto de todos os bens

Aristóteles deixa claro que mesmo que a riqueza, a reputação e o prazer físico

não sejam suficientes para a plena felicidade, uma dose mínima dessas coisas é

necessária para o ser feliz, de outro modo é impossível alcançar uma boa conduta:

“[...] o homem feliz parece necessitar também dessa espécie de prosperidade; e por

essa razão, alguns identificam a felicidade com a boa fortuna, embora outros a

identifiquem com a virtude”. (ARISTÓTELES,1991,p.18)

Por isso, pergunta-se se a felicidade é adquirida pela aprendizagem, pelo

hábito ou adestramento; se é conferida pela providência divina ou se é produto do

acaso. Se for a felicidade a melhor dentre as coisas humanas, seguramente é uma

dádiva divina – mesmo que venha como um resultado da virtude, pela aprendizagem

ou adestramento, ela está entre as coisas mais divinas. Logo, confiar ao acaso o que

há de melhor e mais nobre, seria um arranjo muito imperfeito. A felicidade é uma

atividade virtuosa da alma; os demais bens são as condições dela, ou são úteis como

instrumentos para sua realização “[...] a virtude que devemos estudar [...] é a virtude

humana; porque humano era o bem e humana a felicidade que buscávamos”.

(ARISTOTELES,1991, p.26))

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Livro II - Virtude

Neste livro, Aristóteles escreve sobre virtude, qualidade humana potencial que

só se realiza quando se agem com justiça. São duas suas espécies: virtude

intelectual e virtude moral.

A virtude intelectual deve ser ensinada, por isso é necessário tempo para sua

aquisição; a virtude moral será o hábito, o exercício quem a determinará, como

acontece com as artes.

Temos que aprender as virtudes, uma vez que não são definidas pela

Natureza, muito embora, esta nos capacite para sua aquisição. Virtudes apontadas

por Aristóteles como a coragem, a temperança, a justa indignação e outras são

atributos imprescindíveis, sem os quais não há possibilidade de civilizar os homens,

nem de se obter a felicidade.

O ser humano também pode destruir Virtudes adquiridas, uma vez que os

vícios também possam ser incorporados pelo ser humano.

Da virtude pode-se entender que é o meio termo entre os vícios: o excesso e a

falta, embora o meio termo seja muito relativo. A cada situação tem-se um diferente,

sendo tarefa muito difícil encontra-lo, pois se torna necessário saber agir em relação

à medida certa, a ocasião certa, motivo e maneira que é conveniente:

Fica bem claro, pois, que em todas as coisas o meio termo é digno de ser louvado, mas às vezes devemos inclinar-nos para o excesso e outras vezes para a deficiência. Efetivamente, essa é a maneira mais fácil de atingir o meio-termo e o que é certo. (ARISTÓTELES, 1991, p.37).

Conquanto, cabe frisar que a virtude é o meio-termo entre dois vícios, um por

excesso e outro por falta. Mas, nem toda ação e nem toda paixão admitem meio-

termo; há algumas ações ou paixões que implicam em maldade, como a inveja. Elas

são más em si mesmas, nelas não há retidão, mas erro. É absurdo procurar meio-

termo em atos injustos; do excesso ou da falta, não há meio-termo.

É pela prática dos atos justos que se gera o homem justo, é pela prática de

atos temperantes que se gera o homem temperante; é através da ação que existe a

possibilidade de alguém tornar-se bom: “É acertado, pois, dizer que pela prática de

atos justos se gera o homem justo, e pela prática de atos temperantes, o homem

temperante; sem essa prática, ninguém teria a possibilidade de tornar-se bom.”

(ARISTÓTELES,1991, p. 35).

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Síntese Geral do Texto

Ao ler os livros I e II de Ética à Nicômaco percebemos que Aristóteles afirma

ser o caráter, o resultado de nossos atos, fazendo com que adquiramos uma ou outra

disposição ética agindo de um modo ou de outro ou seja; realizando coisas justas,

assumiremos bons hábitos e o caráter torna-se justo; inversamente, agindo de

maneira intemperante, adquire-se o hábito de ceder aos desejos e tornamo-nos

intemperantes. O caráter não é nada mais do que o recebido pelas determinações da

natureza, da educação, da idade e da condição social; é produto da série de atos dos

quais se é o autor. O homem pode ser declarado autor de seu caráter, como de seus

atos: do mesmo modo que seus atos podem ser objetos de elogio, seu caráter pode

ser objeto de louvor.

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________________________________________________________CAPÍTULO II A Consolação da Filosofia

“O genial da questão, em Boécio é que o que realmente te pertence é a ética, o conhecimento – se não o tiver, nada importa” (OLIVEIRA curso do dia 6/11/10).

Introdução Os dados biográficos aqui registrados estão de acordo com Ezio Franceschine, relatados na obra usada para este estudo: A Consolação da Filosofia.

Boécio (Anícius Manlius Torquatus Severinus Boetius), (480-524). Homem de Estado, filósofo e poeta latino. Nasceu em Roma por volta de 480 e morreu em 524. [...]. A figura de Boécio foi escolhida como símbolo do declínio de uma civilização e do início de uma nova era, aquela da qual nasceu – após laboriosa e fecunda fusão de elemetos antigos e recentes – a civilização moderna. (FRANCESCHINI, 1998, p. XLI –XLIII)

Boécio acusado de traição a favor do Império Bizantino , foi

subsequentemente torturado, condenado à morte e executado antes do término do

quinto capítulo daquela que seria uma das obras mais lidas na Idade Média, a

“Consolatio Philosophie”, da qual, é o personagem central.

RESUMO

De A Consolação da Filosofia, escrita por Boécio constam 5 livros, relatados

em prosa e verso, onde transparecem os problemas do mundo, de Deus, da

felicidade, da Providência, do destino, do livre arbítrio e, sobretudo, a questão do

mal e da justiça divina. Os capítulos I e II se constituem no objetivo deste estudo.

Durante a escrita da Consolação, a Filosofia aparece como uma Senhora, que

no decorrer da obra parece representar a consciência de Boécio que, num diálogo

contínuo, vai fazendo com que o prisioneiro, numa análise interior, reencontre o

filósofo que realmente é. A Filosofia, com suas perguntas ou com suas respostas

demonstra à Boécio o agir da Roda da Fortuna, que ora benemerente com um,

colocando-o e mantendo-o no topo dela, logo mais poderá colocá-lo na parte mais

baixa de sua composição.

No capítulo I, em versos, Boécio lamenta sua sorte reclamando:

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Quando a malévola Fortuna me favorecia com bens perecíveis, Quase me arrastou para a queda fatal, Mas agora, tendo revelado seu vulto enganoso, Eu imploro, e a morte se nega a vir a mim. Por que proclamastes muitas vezes minha felicidade, amigos? Quem se desvia é porque não estava no caminho certo. (BOÉCIO,1998,p. 3-4)

Neste ponto, Boécio é repreendido por sua interlocutora, o que no decorrer do

diálogo fará com que seu pupilo possa, num processo de análise introspectiva, se

libertar de seus lamentos estéreis, buscando a verdadeira Sabedoria:

[...] que consiste em avaliar a finalidade de todas as coisas, e é precisamente essa faculdade de passar e um extremo ao outro que caracteriza a Fortuna que deve com que a desprezemos, sem temê-la ou deseja-la. (BOÉCIO, 1998,p. )

A Filosofia, em seu exercício socrático vai deixando claro que todo ser

humano tem atividades que buscam um único fim: a Felicidade e “a felicidade pode

entrar em toda parte se suportarmos tudo sem queixas.” (Boécio, capítulo II, p.35).

Porém a própria Filosofia explica: “Mas que homem pode haver que seja afortunado

o suficiente para não querer mais, impelido pela ambição?” (BOÉCIO, 1998, p.35).

Durante o diálogo, Boécio vai compreendendo que a Felicidade não pode

estar fora do ser humano, mas dentro: “Porque então, ó mortais, buscais fora de vós

o que se encontra dentro de vós?” (BOÉCIO, 1998, p.42).

As adversidades que se acercam de Boécio não lhe impedem de demonstrar

uma posição benévola acerca do mundo no qual o ser humano está inserido. Ele

acredita que a humanidade caminha para o Bem e aqueles que conseguem se

desligar das coisas fugazes deste mundo, poderão se apoderar da verdadeira

Felicidade se o caminho da retidão for mantido. Resta saber qual é este “caminho da

retidão”, seria o da bem-aventurança?

“Como resposta ficamos com parte do canto da própria dama Filosofia:” “Bem-

aventurado será o gênero humano, se o seu coração obedece ao Amor, o mesmo a

quem o próprio Céu estrelado obedece” (BOÉCIO, 1998, p.52).

Síntese Geral do Texto

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Os capítulos I e II de A Consolação da Filosofia, entre outros pontos,

comprovam a importância da “Felicidade” para o ser humano como sendo vital, mas

também é vital que este ser, saiba onde encontra-la de modo definitivo e real com

risco de passar seu tempo terreno sem nunca a conhecer. É transparente, no texto,

que a felicidade só será verdadeira se a ela não temermos perder. Em Boécio como

em Aristóteles, a felicidade só pode acontecer com o verdadeiro bem (Deus), que

uma vez conseguido não permite lugar a nenhum outro desejo ou falso bem. No

entanto, a abordagem dada aos valores éticos, a serem desenvolvidos no homem,

na Idade Média, onde a predominância era, como hoje, fundamentada no “poder da

riqueza e da força”, ainda demonstram características visíveis na formação da

sociedade na qual, hoje estamos inseridos, onde se faz necessário compreender

que a vontade de um coletivo prepondera em detrimento da individual.

A História, constantemente nos revela a importância da formação moral e ética

para o bem comum, mas porque este Bem Comum planetário parece se manter tão

afastado do processo educativo do qual fazemos parte?

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________________________________________________________ CAPÍTULO III

A VIDA DE LAZARILHO DE TORMES De suas fortunas e adversidades INTRODUÇÃO

O texto utilizado é o da Edición de Burgos, 1554, com as intercalações da

edição de Alcalá, 1554, com a tradução de Roberto Gomes e prefácio de Marcelo

Backes.

Marcelo Backes inicia o texto prefaciando A Vida de Lazarilho de Tornes, de

suas fortunas e adversidades, uma obra anônima do século XVI, Espanha, como

sendo esta, o primeiro romance picaresco da literatura universal.

Mas, o quem vem a ser o significado desta expressão; picaresco? Ou como

explicar: gênero literário picaresco?

Como resposta, na busca de melhor entendimento, encontramos que pícaro

está na raiz de picaresco e que é o sujeito (ele) que normalmente narra sua história,

real ou fictícia. Via de regra, se trata de um personagem advindo da pobreza e do

abandono desde a mais tenra infância, e vai sobrevivendo em meio a um mundo

perverso, que o cerca, graças às próprias artimanhas que desenvolve por si só.

TEXTO

No livro, que é escrito na primeira pessoa, em sete capítulos tratados em

forma de cartas, Lazarilho (Lázaro) o protagonista, não foge ao acima descrito. Sua

educação resulta quase totalmente de lições que a vida, vai lhe oportunizando

através de diversos amos, com quem esteve, no seu dia a dia miserável, numa

católica Espanha do século XVI que não vive seus mais promissores dias. Situado

desde cedo à margem da lei, da moral e das próprias convenções sociais, o pícaro

Lazarilho é obrigado a uma ginástica sobre humana cujo grande objetivo, senão o

único é alimentar-se. A fome o impulsiona. Atender os reclamos do estômago forma

sua escala de valores, onde leis, normas, regras de conduta humana, parecem não

existir.

Suas transgressões são cometidas ora de modo sutil, ora de modo grotesco

ou até cômico, mas com narrativa sempre envolvente, como se mostra a obra toda.

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Lazarilho trabalha para diferentes senhores, todos lhe fornecendo menos alimento do

que ele carece. Com cada amo, uma aprendizagem diferente que de forma

cumulativa, lhe molda o caráter, que muito embora não podendo ser considerado tão

politicamente correto, não o exime de perceber fatos como o expresso na máxima

filosófica apresentada na citação abaixo:

Lembro-me de que, estando o negro do meu padrasto brincando com o garoto, como este viu que minha mãe e eu éramos brancos e ele não, fugiu dele com medo, _ Mãe, é o bicho-papão! [...] Eu, ainda que bem mocinho, reparei naquela palavra de meu irmãozinho (negro) e disse para mim:”Quantos existem no mundo que fogem dos outros porque não enxergam a si próprios!” (LAZARILHO DE TORNES, 2005, p.19)

No decorrer da vida, Lázaro se vê na contingência de inventar estratégias,

disfarces, alternativas de burlar a ordem vigente para não morrer à míngua.

Verdadeira sátira social, Lazarilho ridiculariza representantes de toda a escala

social da Espanha da época, não poupando a aristocracia, visto no capítulo

III,quando a serviço de um escudeiro, Lazarilho estranha como os filhos de nobres

vivem às custa de seus pais e desenvolvem uma altivez, a seu ver, indigna.

A crítica aos poderosos membros do clero, surge no decorrer da narrativa,

porém de modo mais acentuado quando já demonstrando condições de

sobrevivência um tanto quanto mais independente de seu amo.

No capítulo final, Lazarillo chega a bom termo profissional e financeiramente,

não sem antes casar-se por arranjo, casamento que lhe rende ainda, sábia

aprendizagem, quando tentam alerta-lo sobre a conduta moral da esposa. Sua sábia

resposta é nada menos que: “Olha, se és amigo, não me digas algo que me fira, pois

não tenho como amigo a quem me faz sofrer.” (LAZARILHO, 2005, p.106).

Síntese Geral do Texto

Muitas organizações e grupos de indivíduos são criticados no livro, tendo a

igreja e a aristocracia como principais. Se hoje fosse, não se fugiria muito a esta

ordem, apenas com identidades mais contemporâneas. A crítica aos poderes

instituídos, está sempre presente na literatura, ou em outros meios de comunicação,

com heróis ou anti-heróis na denúncia dos atos julgados em dados momentos, como

sendo de má índole. No entanto, os ouvidos e olhos da humanidade parecem alheios

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num contínuo, sem que se perceba que sinais do adverso estão presentes o tempo

todo e que no ato de ignorá-los, os males persistem de maneira voraz atravessando

séculos, vitimizando o próprio ser humano, até mesmo por aparente falta de

humanidade.

A escola, enquanto instituição socialmente organizada, tendo como uma de

suas finalidades promover a aquisição de conhecimentos acumulados pela

humanidade, parece não levar muito em conta que fazemos parte de um sistema

micro inserido num macro e que a sobrevivência de ambos se interdependem.

Exceções existem, no sentido de promover o bem comum da humanidade, mas isto,

a nosso ver, deveria ser a regra.

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_______________________________________________________CAPÍTULO IV

COMÊNIOS – DIDÁTICA MAGNA INTRODUÇÃO De acordo com Daniel Walker, em seu texto Comênios: o criador da didática moderna, o educador eslovaco:

John Amos Komenský, ou João Amós Comenius (em sua forma mais

conhecida) nasceu em 28 de março de 1592, na cidade de Uherský Brod

(ou Nivnitz), na Moravia, região da Europa Central pertencente ao Reino

da Boêmia (antiga Tcheco - Eslováquia). Teve sua vida marcada por

grandes infortúnios familiares: órfão aos doze anos, em situação trágica.

Sendo igualmente trágicas as formas como, mais tarde, vem a perder

suas famílias constituídas em tempos e locais diferentes. Casado em

terceira núpcias, Comênios encerra sua vida terrena em 1670. Quase

octogenário, adoece gravemente, e morre no dia 15 de novembro,

cercado por familiares e amigos, com aura de santidade, e é sepultado

numa pequena igreja em Naarden, onde foi construído seu mausoléu.(

WALKER, 2001, cap.2.1)

Comênios, em Didática Magna, demonstrando ser um educador adepto do

método como condição para aquisição do saber, deixa entrever, ao longo da obra,

aspiração a uma ciência universal que pudesse ser alcançada por todos,

percebendo-a como um meio de aproximação com Deus, tendo a Natureza como

‘apoio técnico’: “[...] o ser humano pode ser educado, ensinado naquilo que sua

natureza humana o impele.” (COMÊNIOS, 2001, p.162).

A partir destas bases: Sagradas Escrituras e Natureza se firmavam seus

princípios educacionais, sendo alguns deles, os seguintes: “[...] Ensinar tudo a todos;

[...] Sólido conhecimento aliado à piedade; [...] Metodologia voltada para o aluno; [...]

Educação para o tempo e para a eternidade;” (COMÊNIOS, 2001, p. 127 – 168).

DIDÁTICA MAGNA

Da Didática Magna constam 33 capítulos, que pela aparente religiosidade

cristã de Comênios, surgem inspirados nas Sagradas Escrituras e na Natureza, a

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providência universal de Deus: “[...] o homem foi feito, por natureza, apto para a

inteligência das coisas [...]” (COMÊNIOS, 2001, p.80).

Neste estudo, nos deteremos nos primeiros dezessete capítulos. Cada

capítulo trata de um tema em separado, mas que se interligam, pelo próprio objetivo

central da obra: a formação do ser humano, o ‘ensinar tudo a todos’. De cada um

deles, faremos um resumo daquilo que considerarmos como sendo uma das idéias

mais centrais, sendo que de alguns, transcreveremos as respectivas conclusões

apresentadas pela edição que usamos para o estudo. Ao títulos dos capítulos, são

transcritos,aqui, em itálico.

Capítulo I. O homem é a mais alta, a mais absoluta e a mais excelente das criaturas.

Segundo, Comênios, esta “é uma verdade e é necessário colocá-la debaixo dos

olhos de todos os homens” (COMÊNIOS, 2001, p.55).

Capítulo II. O fim último do homem está fora desta vida.

Para cada um de nós [...] estão estabelecidas três espécies de morada. Na primeira

(Útero), recebemos a vida, na segunda (Terra), o movimento e os sentidos com os

primórdios da inteligência. Na terceira morada (Céu), recebemos a plenitude de todas

as coisas, sendo de sua natureza, nunca terminar, segundo (COMÊNIOS, 2001,

p.64).

Capítulo III. Esta vida não é senão uma preparação para a vida eterna.

Portanto, assim como é certo que a estadia no útero materno é uma preparação para viver no corpo, assim também é certo que a estadia no corpo é uma preparação para aquela vida que será uma continuação da vida presente e durará eternamente. Feliz aquele que sai do útero materno com os membros bem formados! Mil vezes mais feliz aquele que sair desta vida com a alma bem limpa! (COMÊNIOS, 2001, p.71)

Capítulo IV. Os graus da preparação para a eternidade são três: conhecermo-nos a

nós mesmos (e conosco todas as coisas), governarmo-nos e dirigirmo-nos para

Deus.

Segundo Comênios, são três os requisitos do homem para que ele alcance seu fim

último: “Que ele tenha conhecimento de si mesmo (Instrução); que seja capaz de

dominaras coisas e a si mesmo (Virtude); que se dirija a e todas as coisas para Deus

(Religião - Piedade)” (COMÊNIOS, 2001, p.72 – 74).

Capítulo V. As sementes destas três coisas (da instrução, da moral e da religião) são

postas dentro de nós pela natureza. “[...] é mais natural [...] mais fácil que o homem

se torne sábio, honesto e santo, do que a perversidade adventícia poder impedir o

progresso”. (COMÊNIOS, 2001, p.100)

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Capítulo VI. O homem tem necessidade de ser formado para que se torne homem.

“[...] a cultura é necessária a todos, [...] aos inteligentes muito mais [...] e esta deve

ser adquirida pela razão”. (COMÊNIOS, 2001, p. 107, 108 e 109).

Capítulo VII. A formação do homem faz-se com muita facilidade na primeira idade, e

chego a dizer que não pode fazer-se senão nessa idade..

Fazendo uso de situações comparativas, Comênios diz:

O modo de desenvolver-se do homem é semelhante ao da planta. [...] A formação do homem deve começar com a primeira idade [...] e de modo salutar para que possam alcançar eficazes progressos nos estudos, nos costumes e na piedade.” (COMÊNIOS,2001, p.112)

Capítulo VIII. É necessário, ao mesmo tempo, formar a juventude e abrir escolas.

O autor esclarece que a educação da criança deve começar desde cedo, na infância, sendo primeiramente responsabilidade dos pais, em casa. Mais tarde, com o auxílio de professores, em lugares apropriados. Daí a necessidade de se construir escolas.

Capítulo IX. Toda a juventude de ambos os sexos deve ser enviada às escolas.

Todos devem ser enviados à escola, independentemente ao sexo, a condição

social, política ou religião, para que se preparem de acordo com sua futura vocação

profissional. Os menos providos de inteligência devem ser mais auxiliados.

Capítulo X. Nas escolas, a formação deve ser universal. “Que se entende por

aquele tudo que nas escolas, se deve ensinar e aprender?”(COMÊNIOS,2001p.134)

Capítulo XI.. Até agora, não tem havido escolas que correspondam perfeitamente ao

seu fim. ?” [...] “Uma escola que corresponda a seu fim, de ser uma escola onde

absolutamente tudo seja ensinado a todos”. (COMÊNIOS, 2001, p.144 – 145)

Capítulo XII. As escolas podem ser reformadas.

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Neste capítulo, Comênios ‘promete’ uma escola através da qual todos os

jovens, exceto os desprovidos de inteligência por Deus, possam obter, com doçura,

instrução verdadeira e onde a moral e a piedade tenham morada.

Capítulo XIII. O fundamento das reformas escolares é a ordem em tudo.

“A ordem é a alma das coisas” (COMÊNIOS, 2001, p.174) Comênios ilustra esta

afirmação, com exemplos tirados do mundo, do firmamento, dos animais, do corpo

humano, de nossa mente, do relógio, sendo exatamente este último, o eleito como o

modelo para o perfeito funcionamento de uma escola.

Capítulo XIV. A ordem perfeita da escola deve ir buscar-se à natureza.

“A natureza fornece-nos modelos do que deve fazer”. (COMÊNIOS, 2001, p.182)

Tudo que precisamos fazer encontramos modelo na natureza.

Capítulo XV. Fundamentos para prolongar a vida.

É possível se estimar um tempo de vida para que se aprenda tudo o que um

indivíduo precisa para se ter uma boa vida?

O autor cita Sêneca, explicitando uma possível resposta: “Se soubermos

fazer bom uso da vida, ela é suficientemente longa, e chega para levar a bom termo

as empresas mais importantes se, se emprega toda bem.” (COMÊNIOS, 2001,

p.203)

Capítulo XV. Requisitos para ensinar e para aprender, isto é, como se deve ensinar

e aprender para que seja impossível não obter bons resultados.

Neste ponto são demonstradas regras (métodos) para bem se ensinar e bem

aprender: “O método de ensinar deve basear-se na arte de plantar nos espíritos

jovens, fundamentos tão sólidos que os conduzam sem erros, ao progresso

intelectual”. (COMÊNIOS, 2001, p.205). Esse método deve ser baseado na natureza

e isto se justifica porque, entre outras coisas, ela não perde tempo realizando ações

desnecessárias ao desenvolvimento daquilo a que se destina.

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Capítulo XVII. Fundamentos para ensinar e aprender com facilidade.

Comênios afirma que se a educação da juventude for ministrada com base na observação da natureza, ela dar-se-á com mais facilidade.

Síntese Geral do Texto

No decorrer do estudo, vimos que o ideal de educação de Comênios, no

século XVII, já era o que ainda procuramos ter: educação inclusiva, mas não

esquecendo o cognitivo do educando, podendo ele se formar de acordo com o que

lhe fosse de maior interesse em sua vocação profissional. Isso é percebido em toda a

Didática Magna, e mais especificamente no capítulo XVII, quando são relatados os

Fundamentos necessários. Segundo ele, para se ensinar e aprender com facilidade,

pois o professor se forma, também em sala de aula e isso melhor será feito quando a

imitação da natureza (processo natural, sem sofrimento) e o trabalho centrado do

relógio (organizado) fizerem parte do nosso agir pedagógico como um todo.

Novamente, como nas obras anteriores, neste Material Didático, o indivíduo se faz ou

se percebe, no coletivo.

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________________________________________________________________CAPÍTULO V

KANT - SOBRE A PEDAGOGIA INTRODUÇÃO

O filósofo Kant (1724-1804)

nasceu em Königsberg, que hoje se chama Kaliningrado e pertence a Rússia. Kant jamais foi rico [...] e para concluir seus estudos unversitários, foi trabalhar como preceptor Tornou-se, em seguida docente privado, recebia pagamento, por aluno matriculado em sua turma. Doutorou-se em filosofia e tornou-se professor catedrático na Universidade de Königsberg até quase o fim de sua vida. [...] (FIGUEIREDO, 2009, p.399)

Em sua obra Sobre a Pedagogia, Kant, já no início descreve o homem como

sendo a única criatura que precisa ser educada, necessitando de cuidados que o

eduque e o discipline desde a mais tenra infância. Kant pensa o homem enquanto

participante do mundo sensível e do inteligível, propondo que a educação deva

disciplinar para impedir que a selvageria, a animalidade, prejudique o caráter

humano:

A disciplina é o que impede ao homem de desviar-se do seu destino, de desviar-se da sua animalidade, através das suas inclinações animais. Ela deve, por exemplo, conte-lo, de modo que não se lance ao perigo como um animal feroz, ou como um estúpido. A disciplina, porém, é puramente negativa, porque é o tratamento através do qual se tira do homem a sua selvageria; a instrução pelo contrário, é a parte positiva da educação. (KANT,1999, 1999, p.12).

Os animais são dotados de instintos que comandam as suas ações por toda a

vida, mas isto não é próprio ao homem, que necessita desde o nascimento até certa

idade de cuidados oferecidos pelo adulto. Porém, esta condição de inacabado não

lhe tira a possibilidade ou mesmo, necessidade de ele se desenvolver, sendo

obrigado por natureza a determinar-se:

O homem não pode se tornar um verdadeiro homem senão pela educação. Ele é aquilo que a educação dele faz. Note-se que ele só pode receber tal educação de outros homens, os quais a receberam igualmente de outros. Portanto, a falta de disciplina e de instrução em certos homens os torna mestres muito ruins de seus educandos. (KANT, 1999, p.15)

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Kant demonstra como tarefa maior na educação, a disciplina, para que a

criança possa aprender e isso ocorre se houver a obediência às regras autônomas.

Kant ensina que os homens não respeitarão a Lei, se não souberem como fazê-lo.

Por ser livre é que o homem pode ser educado, mas a liberdade está inclinada para o

bem ou para o mal. Kant não fala em uma natureza humana exatamente má, mas o

homem não nasce isento de vícios.

Kant, enquanto pedagogo, tem o sujeito moral como elemento principal da

educação e para tanto, se fazem necessárias outras formações: primeiro, a que diz

respeito à habilidade; segundo, a que diz respeito à prudência e em terceiro, a que

diz respeito à cultura moral, tendo em vista a própria moralidade.

Para Kant a educação consiste na formação pragmática (prudência) e no

cultivo da moral (moralidade). É uma construção, um processo, no qual, cada fase,

cada peculiar característica, insere-se em sua respectiva e adequada idade, com o

passar dos anos As qualidades naturais da humanidade são pouco a pouco extraídas

da própria espécie humana; sendo, cada nova geração, educada pela anterior. Sobre

isso Kant afirma:

“A educação é uma arte, cuja prática necessita ser aperfeiçoada por várias gerações. Cada geração, de posse dos conhecimentos das gerações precedentes, está sempre melhor aparelhada para exercer uma educação que desenvolva todas as disposições naturais na justa proporção e de conformidade com a finalidade daquelas e, assim, guie toda a humana espécie e seu destino.” (KANT, 1999, p.19).

A divisão da obra Sobre a Pedagogia em duas partes distintas, esclarece o

acima citado: na primeira parte, o texto discorre sobre a Educação Física e na

segunda, fala sobre a Educação Prática.

1ª Parte: Sobre a Educação Física

A educação física diz respeito às atenções prestadas à criança pelos seus

cuidadores desde o seu nascimento. Aqui, Kant, inspirado em Rosseau, esmiúça os

cuidados prestados ao bebê. Ele discorre sobre seu entendimento de educação, os

estágios e divisões da educação, sua compreensão de infância.

Sobre a questão da formação do caráter, além de estabelecer divisão para a

educação, Kant (1999) expõe vários princípios ou conselhos práticos para a primeira

educação das crianças, entre eles: os bebês não devem ser alimentados com

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bebidas e alimentos muito quentes, a cama da criança deve ser fresca e dura, pois

isso fortifica o corpo; banhos frios também são bons para fortificar o corpo; não se

deve usar nada para despertar o apetite das crianças; não balançar as crianças para

que estas durmam; não se preocupar muito com o choro das crianças para que estas

não fiquem mimadas; deixar a criança engatinhar até que comece por conta própria

querer caminhar; determinar hora certa para dormir para não perturbar as funções

corporais; alimentar a criança em horas marcadas; correr, pular, carregar pesos,

atirar, lutar. Para Kant, a criança deve aprender a trabalhar.

Kant relata que: “A primeira perdição das crianças está em curvar-nos ante

sua vontade despótica, de modo que possam conseguir tudo com seu choro.” (KANT,

1999, p.45).

Para Kant, o lado positivo da Educação Física está na cultura, no exercício

das forças da índole (pessoa total): ”Tudo aquilo que a educação deve fazer é

impedir que as crianças cresçam muito delicadas. A fortaleza é o oposto da moleza”

(KANT, 1999, p.48).

Por meio de atividades como o jogo e a ginástica fazemos com que se

desenvolvam habilidades e sentidos do educando, principalmente, quando estes têm

objetivos e finalidades bem definidos, pois quanto mais o corpo se enrijece, tanto

mais a criança estará protegida contra conseqüências corruptoras da ociosidade.

Kant acentua o caráter disciplinador da atividade física como elemento

essencial à formação do “Homem”.

2ª Parte: Sobre a Educação Prática:

Pertencem à educação prática: a habilidade, a prudência e a moralidade.

Estas visam o agir social e a consolidação do caráter do ser humano, fazendo uso do

formalismo e da racionalidade. Direitos Humanos devem ser cultivados desde cedo.

A partir da pedagogia de Kant somos levados a pensar uma educação intelectual que

busca desenvolver as diferentes potencialidades humanas, não apenas, por

exemplo, a memorização. Kant apresenta o que é convencionado como o sentido de

educação intelectual. Ela deve ser antes de tudo um exercício da inteligência. A

educação deve ter uma finalidade interna, e o exercício de uma faculdade contribui

para o aperfeiçoamento das demais. Está aqui contida uma crítica ao ensino

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tradicional, já que este sacrifica o entendimento, o juízo e a razão mesmo em função

de privilegiar a memorização. Ele considera o cultivo da memória necessário, já que

o entendimento não acontece senão após impressões sensíveis, e cabe à memória

guardá-la. No entanto, uma cultura fundada exclusivamente na memória é superficial,

pois forma pessoas que não podem produzir por si, podendo até mesmo se afirmar

que forma pessoas sem autonomia intelectual, pessoas facilmente manipuláveis.

A formação religiosa é valorizada, sendo a Moral aplicada ao conhecimento

de Deus:

Deve-se orientar o jovem à humanidade no trato com os outros, aos sentimentos cosmopolitas. Em nossa alma há qualquer coisa que chamamos de interesse: 1. por nós próprios; 2. por aqueles que conosco cresceram; e, por fim, 3. pelo bem universal. É preciso fazer os jovens conhecerem esse interesse para que eles possam por ele se animar. (KANT, 1999, p.106)

Kant, ainda afirma sobre a educação dos jovens, que “É preciso, por fim

orientá-los sobre a necessidade de todo dia, examinar a sua conduta, para que

possam fazer uma apreciação do valor da vida, ao seu término.”.( KANT,1999, p.107)

Síntese Geral do Texto

Para Kant, a formação e a educação dos homens são baseadas na liberdade o

suficiente para que se tornem capazes de desejarem ou se tornarem capazes de

buscar dignidade e respeito igual para todos.

O estudo da obra Sobre a Pedagogia é extremamente conveniente para

aquelas pessoas interessadas na arte de educar. A leitura é prazerosa e sua

mensagem nos parece atual e relevante, principalmente pelo fato de como se

apresenta hoje o processo educativo, todo fragmentado, tendo como fim a

apresentação de dados estatísticos, nem sempre comprometido com a finalidade da

existência humana para Kant. A mídia tem veiculado com uma constância

indesejada fatos atuais envolvendo a educação escolar de modo a horrorizar àqueles

que pensam e acreditam que escola é lugar de formar o homem para o bem.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como parte da escola que aqui está posta e tendo a oportunidade temporal e

física de estudo e reflexão por meio do PDE, Programa de Desenvolvimento

Educacional, nos permitimos um olhar reflexivo para o passado no processo da

educação do ser humano, com vistas à educação escolar. No entanto, não

discorremos sobre as várias concepções pedagógicas e suas respectivas didáticas

que coexistem no interior da escola. Optamos por uma volta no tempo histórico,

embora de modo restrito e sem um período delimitado no qual a leitura de Teóricos

Clássicos, possam se constituir em uma estratégia curricular que favoreça o

processo de ensino e aprendizagem em sala de aula.

Objetivamos falar da prática escolar que deve estar pautada em princípios

filosóficos que podem tornar possível aos nossos alunos, a apropriação do saber

elaborado, tendo a finalidade de torná-los sujeitos autônomos, capazes de

compreender o seu contexto de vida, agindo eticamente em busca de uma sociedade

melhor.

Temos, porém plena convicção de que as leituras devem ser filtradas nos dando

clareza daquilo que cabe à nossa contemporaneidade.

“Idéias, práticas e valores” antigos ou tidos como modernos veiculados pelas

diversas mídias, não podem ser vistas como verdades irrefutáveis, mas sim,

necessárias de serem problematizadas, principalmente se quisermos colaborar de

modo efetivo na e com a formação de seres que possam compor uma sociedade

onde o respeito e outros valores congêneres façam parte dela.

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EXCERTOS DOS TEXTOS PROPOSTOS NO MATERIAL DIDÁTICO

Objetivamos com estes excertos contribuir com a mobilização do grupo para

os debates, a cada encontro previsto para a inserção do projeto em pauta, de

acordo com o registrado no item da apresentação deste Material Didático.

• ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco, Volume II, Nova Cultural, 1991.

Aristóteles investiga neste texto o tipo de saber que se pode obter acerca da conduta, levando em conta a situação concreta do Homem , um ser definido apenas pela pura razão. Neste meio termo se colocará o que se deve entender especificamente por virtude. ( Contra-Capa, 1991,v. II)

• BOÉCIO. A Consolação da filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

O que Boécio nos ensina, com tanta autoridade hoje como no século VI, é que a única cultura fértil, oral ou escrita, é a que trazemos intimamente em nós, são os textos clássicos inesgotáveis inseminados na memória e cujas palavras tornam-se vivas [...]. (BOÉCIO,1998, p.XXIII)

• A VIDA DE LAZARILHO DE TORMES – suas fortunas e adversidades. L&PM, Porto Alegre, 2008. Autor desconhecido.

Mais do que a “história da vida” de Lazarilho de Tormes, [...], a obra abre caminho para criticar satiricamente os conceitos de honra vigentes [...].(LAZARILHO, 2008,p.8-9)

• COMENIUS. Didactica Magna. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

Nós ousamos prometer uma Didática Magna, isto é, um método universal de ensinar tudo a todos. E de ensinar com tal certeza, que seja impossível não conseguir bons resultados. E ensinar rapidamente, ou seja, sem nenhum enfado [...]. (COMÊNIOS, 2001, p. 13)

• KANT. Sobre a Pedagogia. Piracicaba: Unimep, 1999.

O homem não pode se tornar um verdadeiro homem senão pela educação. Ele é aquilo que a educação dele faz. Note-se que ele só pode receber tal educação de outros homens, os quais receberam igualmente de outros. Portanto, a falta de disciplina e de instrução em certos homens os tornam mestres muito ruins de seus educandos. (KANT, 1999,p15)

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ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. 4ª ed., São Paulo: Nova Cultural, 1991.

A VIDA DE LAZARILHO DE TORMES. Porto Alegre L&PM, 2008.

BOÉCIO. A Consolação da filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

CALVINO, I. Porque Ler os Clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

CAVALCANTE, T. M.; Oliveira, T. Contribuições de Tomás de Aquino para a História da Educação: Interrelações entre Ética e Educação, texto apresentado no VIII Seminário Nacional de Estudos e Pesquisas, UNICAMP, www.histedbr.fae.unicamp.br/acer.../trabalhos.html. Acesso em 15 /01/2011 COMENIUS. Didactica Magna. São Paulo: Martins Fontes, 1977. CORTELLA, M. S. - A ética e a produção do conhecimento hoje. (www.scribd.com/... /A-etica-e-a-producao-do-conhecimento-hoje) Acesso em 07/01/2011. DIMENSTEIN, G. A Escola mais Global do Mundo, Folha de São Paulo, 6/3/2011.

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Figueiredo, V. Antologia de Textos Filosóficos. Marçal, Jairo (org.) Curitiba: SEED, Pr, 2009.

FISCHER, S, R. – História da Escrita. SP: Fundação Editora da UNESP. 2009. FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

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