fertilidade do soloapostila

Upload: henrico-puente

Post on 11-Jul-2015

7.412 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

APRESENTAO

A anlise de solo ocupa lugar de destaque como instrumento de diagnose da fertilidade, bem como base para recomendao de corretivos e fertilizantes. O uso eficiente de corretivos e fertilizantes, juntamente com outras prticas de manejo, constituem-se fatores da maior importncia para o aumento da produtividade, a modernizao e a racionalizao da agricultura. Entretanto, para que esses objetivos sejam atingidos, torna-se necessrio que o agricultor utilize, de forma racional, os vrios instrumentos de diagnose da fertilidade do solo, destacando-se a anlise do solo e a anlise foliar. Com este objetivo foi elaborado este mdulo que, alm de discutir alguns conceitos bsicos de fertilidade do solo, utiliza-os na soluo de problemas prticos do dia-a-dia daqueles que atuam nesta importante rea da cincia do solo. Nesta sistematizao de informaes esto includas: orientao bsica para coleta de amostras de solo, interpretao dos resultados e recomendao de corretivos e fertilizantes.

8

UFLA/FAEPE interpretao de anlise de solo e manejo da adubao

INTRODUO No processo de recomendao de corretivos e fertilizantes indispensvel a utilizao dos resultados das anlises de solo da maneira mais eficiente possvel. O ponto de partida para uma correta avaliao da fertilidade do solo a anlise de uma amostra representativa do solo da rea a ser cultivada. Esta prtica indispensvel quando se pensa em efetivamente aumentar a produtividade das mais diversas culturas e, como conseqncia, a produo e os lucros. Infelizmente, esta tecnologia simples, barata e de crucial importncia, no utilizada pela maioria dos agricultores brasileiros. Apenas por meio da anlise do solo possvel definir as doses mais adequadas de calcrio e de fertilizante para atingir a Produtividade Mxima Econmica (PME). De certa forma, o processo de anlise qumica do solo pode ser dividido em trs etapas: amostragem do solo, anlise em laboratrio e interpretao dos resultados, at se chegar ao uso deste mtodo de avaliao da fertilidade para recomendao de prticas corretivas e ou de adubao. Para uma correta recomendao, o tcnico tem um importante papel em todas as trs etapas, notadamente na amostragem do solo e na interpretao dos resultados.

Furtini Neto, Tokura e Resende

9

1. CONCEITOS BSICOS EM FERTILIDADE DO SOLOSolos so o meio no qual as culturas desenvolvem-se para alimentar e abrigar o mundo. Entender a fertilidade do solo compreender a necessidade bsica para a produo vegetal. A fertilidade do solo vital para a produtividade, mas um solo frtil no necessariamente um solo produtivo. A m drenagem, os insetos, a seca e outros fatores podem limitar a produo, mesmo quando a fertilidade adequada. Para compreender a produtividade do solo, preciso conhecer as relaes solo-planta existentes. Certos fatores externos controlam o crescimento das plantas: ar, calor (temperatura), luz, suporte mecnico, nutrientes e gua. A planta depende do solo, pelo menos em parte, para obteno de todos estes fatores, com exceo da luz. Para aumentar a eficincia do trabalho de diagnose de problemas de fertilidade do solo, necessrio que o tcnico esteja familiarizado com conceitos bsicos sobre o assunto e como estes podem ser utilizados de uma forma mais abrangente. Dessa forma, uma recapitulao sobre alguns conceitos bsicos em fertilidade do solo permite trabalhar melhor os resultados de anlises de solo na proposio de solues para os problemas de fertilidade.

1.1 NUTRIENTES ESSENCIAIS PARA AS PLANTASA essencialidade de certos elementos qumicos s plantas est relacionada, em resumo, ao fato de o elemento ser constituinte de um metablito essencial ou ser requerido para ao de um processo metablico, por exemplo, para ao de uma enzima (Arnon e Stout, 1939). Dezesseis elementos qumicos so chamados essenciais para o crescimento das plantas. Eles so divididos em dois grupos principais: os no minerais e os minerais. Os nutrientes no minerais so: o carbono (C), o hidrognio (H) e o oxignio (O), encontrados na atmosfera e na gua. Os treze nutrientes minerais fornecidos pelo solo so: nitrognio (N), fsforo (P), enxofre (S), potssio (K), clcio (Ca), magnsio (Mg), ferro (Fe), mangans (Mn), cobre (Cu), zinco (Zn), molibdnio (Mo), boro (B) e cloro (Cl). Os nutrientes supridos pelo solo no so exigidos em iguais quantidades pelas plantas. O principal fator que controla o teor de nutrientes nas plantas o potencial de absoro, que geneticamente fixado.

10

UFLA/FAEPE interpretao de anlise de solo e manejo da adubao

Uma diviso, de certa forma arbitrria, quanto exigncia, classifica os nutrientes que ocorrem em teores mais elevados nas plantas como macronutrientes: N, P, K, Ca, Mg e S. Estes conseqentemente, so requeridos em maiores quantidades. Por sua vez, os menos exigidos so denominados micronutrientes: Fe, Mn, Zn, Mo, B, Cl e Cu. Deve-se observar que a classificao em macro e micronutrientes no est relacionada com uma maior ou menor importncia de determinado nutriente para o desenvolvimento vegetal. Portanto, os nutrientes so indispensveis para o crescimento e desenvolvimento das plantas. Numa agricultura cada vez mais tecnificada e competitiva, o agricultor tem de estar muito atento para a capacidade do solo em suprir os nutrientes s plantas.

1.2 DISPONIBILIDADE DE NUTRIENTESDiversos fatores influenciam a dinmica dos diferentes nutrientes no solo, condicionando a sua capacidade de supri-los s plantas. A disponibilidade de nutrientes varivel espacialmente e no tempo. De forma simplificada, pode-se considerar como disponvel o somatrio da quantidade de nutrientes na soluo do solo, capaz de chegar at a superfcie da raiz, mais a quantidade que se encontra na fase slida, capaz de ressuprir prontamente a soluo do solo medida que o nutriente da fase lquida vai sendo absorvido. A disponibilidade de nutrientes influenciada tambm pelo fator planta. Cada vez mais reconhecido o papel da planta na aquisio dos nutrientes do solo, alterando e, em alguns casos, controlando a disponibilidade de nutrientes no solo.

1.3 COLIDES E ONS DO SOLOO solo pode ser considerado como um sistema disperso, pois constitudo de mais de uma fase, estando a fase slida em estado de acentuada subdiviso. H, portanto, um sistema constitudo de partculas diminutas, de tamanho coloidal, minerais ou orgnicas, ou organo-mineral. Nesse sistema ocorrem reaes qumicas, fsico-qumicas e microbiolgicas da maior importncia no estudo dos solos. Em termos prticos, o tamanho das fraes da fase slida do solo pode ser identificado de acordo com a seguinte classificao:

Furtini Neto, Tokura e Resende

11

Fraes Calhaus Areia grossa Areia fina Silte Argila

Dimenses (mm) 20 a 2 2 a 0,2 0,2 a 0,02 0,02 a 0,002 < 0,002 ou < 2 micra

Os colides argilosos so fraes menores que 0,001 mm ou 1 micra. Os colides orgnicos constituem-se no hmus, que produto de decomposio da matria orgnica, transformado biologicamente. Na maioria dos solos, os colides argilosos excedem em quantidade os colides orgnicos. Os colides so os principais responsveis pela atividade qumica dos solos. Cada colide (argiloso ou orgnico) apresenta uma carga lquida negativa (-), ou positiva (+), desenvolvida durante o processo de formao. Isto significa que ele pode atrair e reter partculas com carga positiva (+) ou negativa (-) respectivamente, do mesmo modo que plos diferentes de um m se atraem. Os colides repelem outras partculas de mesma carga, da mesma forma que plos idnticos de um m se repelem. Um elemento com uma carga eltrica chamado de on. Potssio, sdio, hidrognio, clcio e magnsio apresentam cargas positivas e so chamados ctions. Os ons com cargas negativas, tais como o nitrato e o sulfato (SO 42-), so chamados de nions (Tabelas 1.1 e 1.2). Tabela 1.1 Ctions comuns do solo, seus smbolos qumicos e formas inicas Ction Potssio Sdio Hidrognio Clcio Magnsio Smbolo qumico K Na H Ca Mg Forma inica K+ Na+ H+ Ca2+ Mg2+

Tabela 1.2 nions comuns do solo, seus smbolos qumicos e formas inicas. nion Cloreto Nitrato Sulfato Fosfato Smbolo qumico Cl N S P Forma inica ClNO3SO42H2PO4-

12

UFLA/FAEPE interpretao de anlise de solo e manejo da adubao

1.4 CAPACIDADE DE TROCA DE CTIONS (CTC) E CAPACIDADE DE TROCA DE NIONS (CTA)Uma caracterstica fundamental dos solos diz respeito capacidade dos colides em desenvolver cargas negativas ou positivas. O desenvolvimento de cargas promove a adsoro de ctions e de nions da soluo do solo, os quais tendem a ser trocveis com outros ctions e nions presentes em soluo. Este fenmeno, de extrema importncia na natureza, chamado adsoro inica. A adsoro inica pode ser catinica (Al+3, Ca+2, Mg+2, K+, Na+, NH4+, etc) ou aninica (NO3-, H2PO4-, HCO3-, SO4-2, etc.). Os ctions retidos nos colides do solo podem ser substitudos por outros ctions. Isto significa que eles so trocveis. Por exemplo, o clcio pode ser trocado por hidrognio e/ou potssio ou vice-versa. O nmero total de ctions trocveis que um solo pode reter chamado de sua capacidade de troca de ctions ou CTC. Quanto maior o valor da CTC do solo, maior o nmero de ctions que ele pode reter. Como nos solos, em geral, predominam as cargas negativas, os estudos envolvendo CTC so muito mais abundantes do que aqueles sobre CTA, que a capacidade do solo reter e trocar nions. Onde os solos so altamente intemperizados e com baixos teores de matria orgnica, os valores da CTC so baixos. Onde ocorreu menos intemperizao e os nveis de matria orgnica so normalmente mais altos, os valores da CTC podem ser bastante altos. Os solos argilosos, com alta CTC, podem reter grandes quantidades de ctions contra o potencial de perda por lixiviao. Os solos arenosos, com baixa CTC, retm somente pequenas quantidades de ctions. Nestas condies, existe predisposio para as altas taxas de lixiviao, fazendo com que o parcelamento da adubao nitrogenada e, s vezes, da adubao potssica, seja determinante para aumentar a eficincia das adubaes, por exemplo. Isto faz com que a poca e as doses de fertilizantes a serem aplicadas sejam importantes ao se planejar um programa de adubao. Por exemplo, pode no ser aconselhvel aplicar potssio em altas doses em solos muito arenosos, sob climas em que as chuvas podem ser muito intensas e abundantes. A aplicao de fertilizantes, nestas condies, deve ser parcelada para evitar a lixiviao e as perdas por eroso, especialmente nos trpicos midos. Alm disso, o parcelamento nas aplicaes de nitrognio, o uso de inibidores da nitrificao e a aplicao em pocas adequadas para atender os picos da demanda das culturas so importantes para diminuir o potencial de lixiviao de nitratos em solos arenosos.

Furtini Neto, Tokura e Resende

13

Algumas aplicaes prticas Solos com CTC entre 11 e 50 Alto teor de argila Mais calcrio necessrio para corrigir um dado valor de pH Solos com CTC entre 1 e 10 Alto teor de areia Maior predisposio para a lixiviao de nitrognio e potssio

Maior capacidade para reter nutrientes a Menos calcrio necessrio para uma certa profundidade do solo corrigir um dado valor de pH Caractersticas fsicas de um solo com alto teor de argila Alta capacidade de reteno de gua Caractersticas fsicas de um solo com alto teor de areia Baixa capacidade de reteno de gua

A capacidade de troca de ctions dos solos, conforme j discutido, de grande importncia na agricultura. Assim sendo, o conhecimento de alguns conceitos a ela relacionados so muito relevantes para o manejo da fertilidade do solo. a) CTC efetiva representada pela letra t e reflete a capacidade de troca de ctions efetiva do solo, ou melhor, a capacidade do solo em reter ctions em seu pH natural. Qualquer que seja o valor e pH do solo, as cargas negativas ocupadas pelo H+ no esto disponveis para reteno de outro ction, por troca. Supondo-se o cultivo do solo ao valor do pH natural, a correta interpretao do valor da CTC efetiva fornece uma idia das possibilidades de perdas de ctions por lixiviao, do potencial de salinidade e necessidade de parcelamento das adubaes potssicas. Um valor de t menor que 2,3 cmolc/dm3 baixo, segundo a Comisso de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais CFSEMG (CFSEMG, 1999). Ele indicativo de solo arenoso, com baixo teor de matria orgnica e, mesmo se mais argiloso, com predomnio de argilas de baixa atividade. Nesta condio, se for feita uma adubao pesada, podero ocorrer perdas de ctions por lixiviao e elevada salinidade para as sementes ou plntulas. b) Soma de bases representada pelas letras SB e, como o prprio nome indica, reflete a soma de clcio, magnsio e potssio trocveis.

14

UFLA/FAEPE interpretao de anlise de solo e manejo da adubao

A soma de bases por si s no um parmetro muito importante, por englobar trs bases e, por conseguinte, no dar uma idia dos valores absolutos de cada uma delas. c) Percentagem de saturao de alumnio representada pela letra m, expressando a frao da CTC efetiva que ocupada por alumnio trocvel: m% = (Al+3/t) x 100 Quando se faz a interpretao de resultados da anlise qumica de um dado solo, um dos pontos mais importantes avaliar o teor de alumnio trocvel. Acima de 1,0 cmolc/dm3, o teor considerado elevado pela CFSEMG e ser prejudicial ao crescimento da maioria das espcies vegetais. Todavia, considerando a variao de CTC entre os solos, o parmetro que melhor expressa o potencial fitotxico do alumnio justamente o valor m. Os conceitos at ento discutidos esto relacionados com a CTC do solo em seu pH natural ou, de outra forma, com as condies prevalecentes no solo em seu pH natural. Todavia, sabe-se que, muitas vezes, o solo no ser cultivado na sua condio natural de pH. Assim, sendo, os dois conceitos a seguir aplicamse para uma condio de solo com valor de pH ajustado para 7,0. O termo pH define a acidez ou a alcalinidade relativa de uma substncia. A escala de pH cobre uma amplitude de 0 a 14. Um valor de pH igual a 7,0 neutro. Valores abaixo de 7,0 so cidos e acima de 7,0 so bsicos. O pH da maioria dos solos produtivos varia entre os valores de 4,0 e 9,0. d) CTC potencial representada pela letra T, e reflete a capacidade do solo em reter ctions a pH 7,0. Portanto, tambm conhecida por CTC a pH 7,0. Sob o ponto de vista prtico, o valor da CTC de um solo, caso a calagem deste solo fosse feita para elevar o pH a 7,0. Partindo-se de um solo cido, a elevao do pH para 7,0 promove a neutralizao de ctions H + que se encontram em ligaes covalentes com o oxignio de colides orgnicos e de xidos de ferro e de alumnio. Finalmente, deve-se destacar que o ganho em CTC pela neutralizao de + H adsorvido ser tanto maior quanto mais baixo for o pH natural do solo e quanto maior for o teor de matria orgnica e de xidos de ferro e de alumnio do solo. Os colides orgnicos so os principais responsveis por tal ganho. e) Percentagem da saturao de bases da CTC a pH 7,0 Este parmetro, representado por V, reflete quantos porcento da CTC a pH 7,0 esto ocupados pelas bases existentes no solo.

Furtini Neto, Tokura e Resende

15

Supondo-se a elevao do pH do solo para 7,0, sem aumento no teor das bases Ca, Mg e K, a percentagem de saturao de bases no complexo de troca ser reduzida, pois h aumento da CTC; com o aumento de pH CTC passa de t para T. Portanto, visando ao manejo da fertilidade do solo, o aumento do seu pH tem de ser feito com corretivos que adicionem bases ao solo, de forma a elevar tambm a saturao por bases. Esta uma das razes do uso de calcrio, pois, alm de elevar o pH do solo, este corretivo adicionar a ele clcio e magnsio. Assim sendo, a percentagem de saturao de bases um parmetro muito usado para recomendao de calagem. Para cada uma das bases, alm dos teores absolutos, pode-se calcular a frao da CTC potencial ocupada por cada uma, da seguinte forma: % Ca = (Ca+2/T) x 100; % Mg = (Mg+2/T) x 100; % K = (K+/T) x 100. Generalizando para uma condio ideal de suprimento das bases, a percentagem de saturao de Ca, Mg e K na CTC potencial deve ser de 60% a 70%; 10% a 20% e 2% a 5%, respectivamente.

1.5 ACIDEZ DO SOLOOs conceitos bsicos de acidez e capacidade de troca de ctions (CTC) so bastante conhecidos, tanto na regio temperada como na regio tropical. Apesar disso, ainda existe muita confuso gerada pelo uso inadequado destes conceitos na soluo de problemas ligados fertilidade do solo. Deve-se salientar que nem os princpios fundamentais da acidez do solo, nem aqueles ligados CTC podem ou devem ser considerados em termos isolados. bvia a necessidade de avaliar as inter-relaes entre os mesmos. acentuada a importncia do estudo da acidez no solo, pois ela interfere nas propriedades fsicas em relao sua gnese e nas propriedades qumicas, ressaltando o aspecto de sua fertilidade. A reao do solo , talvez, uma das caractersticas que mais informa acerca do estado geral e do comportamento do solo. Ela pode ser cida, bsica ou neutra. Nos solos situados em regies sob clima tropical e subtropical predominam solos com reao cida. A acidificao dos solos ocorre, de modo especial, em regies tropicais midas e deve-se substituio das bases trocveis por ons H+ e Al+3 no complexo de troca. Esta substituio resultante da percolao da gua, absoro de ctions bsicos pelas plantas e, tambm, pelo uso de fertilizantes de carter cido. A maneira usualmente conhecida de se verificar uma reao cida ou alcalina de uma soluo por meio de seu pH.

16

UFLA/FAEPE interpretao de anlise de solo e manejo da adubao

Os valores de pH variam grandemente, numa faixa entre 3 e 10. A reao do solo o fator que, em geral, mais afeta a disponibilidade dos nutrientes s plantas. Sabe-se que a maior disponibilidade ocorre na faixa de pH entre 6 e 7. Sob acidez ou alcalinidade excessiva, entre outros problemas para as plantas, tem-se uma baixa disponibilidade de nutrientes. Portanto, antes da adubao e, na verdade, antes do preparo do solo, deve-se procurar conhecer as suas condies de acidez (Furtini Neto et al., 2001). No Brasil, o maior problema relacionado reao do solo que cerca de 70% dos solos cultivados apresentam acidez excessiva. Assim, a prtica da calagem torna-se de vital importncia no manejo da fertilidade. Dentre os vrios efeitos da calagem em solos cidos, destaca-se o aumento da disponibilidade da maioria dos nutrientes essenciais para as plantas. Com exceo do ferro, cobre, mangans e zinco, que apresentam diminuio na sua disponibilidade com a elevao do pH, todos os demais (nitrognio, fsforo, potssio, clcio, magnsio, enxofre, molibdnio e cloro) tm sua disponibilidade aumentada pelo uso racional da calagem em solos cidos. O conhecimento deste fato da maior importncia, pois indica que uma das maneiras mais adequadas para aumentar a eficincia dos fertilizantes contendo macronutrientes primrios e secundrios, em solos cidos, o uso de calcrio na dosagem correta. 1.5.1 Efeito da acidez no solo Concentrao de elementos, tais como alumnio, ferro e mangans, pode atingir nveis txicos, porque sua solubilidade aumenta nos solos cidos; a toxidez de alumnio , provavelmente, o fator limitante mais importante para as plantas em solo muito cidos; os organismos responsveis pela decomposio da matria orgnica e pela liberao de nitrognio, fsforo e enxofre podem estar em pequeno nmero e com pouca atividade; o clcio pode ser deficiente quando a CTC do solo extremamente baixa. O mesmo acontece com o magnsio; a performance dos herbicidas aplicados ao solo pode ser afetada, de modo adverso, quando o pH do solo muito baixo; a fixao simbitica de nitrognio pelas leguminosas severamente reduzida. A relao simbitica requer uma amplitude de pH mais estreita para o crescimento timo das plantas do que no caso de plantas no fixadoras de nitrognio; os solos argilosos, com alta acidez, so menos agregados. Isto causa baixa permeabilidade e aerao, um efeito indireto, motivo pelo qual os solos que receberam calagem produzem mais resduos das culturas;

-

-

Furtini Neto, Tokura e Resende

17

-

a disponibilidade de nutrientes como o fsforo e o molibdnio reduzida; h aumento na tendncia de lixiviao de potssio.

Os principais sintomas de toxidez podem ser observados no sistema radicular: - razes caracteristicamente curtas ou grossas; - inibio do crescimento das razes, que se tornam castanhas; - razes laterais engrossadas e pequena formao de plos radiculares; - se observa tambm predisposio da planta injuriada infeco por fungos. A maneira mais fcil, correta e economicamente vivel de corrigir a acidez do solo, notadamente na camada arvel, diz respeito ao uso de calcrio por meio da calagem. Essa prtica tem dois objetivos fundamentais: correo da acidez do solo para diminuir ou at anular os efeitos txicos das altas concentraes ou saturaes de alumnio e mangans, e correo das deficincias de clcio e magnsio.

2. ANLISE DE SOLO

2.1 AMOSTRAGEM DO SOLO2.1.1 rea homognea A amostragem constitui a primeira etapa de um programa racional de avaliao da quantidade de calcrio e adubos a serem aplicados em uma propriedade agrcola. Deve-se lembrar, entretanto, que, por mais cuidadosa que seja a anlise do solo, ela no corrige erros cometidos durante a retirada da amostra. A amostragem uma fase crtica e deve ser feita com todo o cuidado; quando mal feita, origina uma interpretao errada, causando prejuzos muitas vezes irreparveis aos agricultores. Apesar de a amostragem do solo ser uma tarefa relativamente simples, ela deve ser executada com bastante critrio, visto que os solos so naturalmente heterogneos e essa heterogeneidade tende a aumentar quando so cultivados. Os mtodos analticos e os laboratrios de anlises de solo esto em constante evoluo, mas nada disso adianta se a amostragem no for representativa da rea que se queira avaliar quanto s suas caractersticas qumicas, fsicas e biolgicas.

18

UFLA/FAEPE interpretao de anlise de solo e manejo da adubao

O primeiro passo para a correta amostragem de solo reside na definio do plano de amostragem e, por conseqncia, na determinao do nmero de amostras a coletar. As caractersticas locais da lavoura, como a topografia, cor e profundidade do solo, uso anterior da rea, manejo da fertilidade do solo, incluindo tipos, quantidades de adubos e de corretivos aplicados, etc., iro determinar o nmero de glebas distintas a serem amostradas e o nmero de subamostras por amostra. Para que o resultado analtico expresse a fertilidade mdia da rea amostrada, na composio de uma amostra, cada subamostra deve contribuir com igual quantidade de terra. Da mesma forma que, quanto maior a rea a ser caracterizada, maior deve ser o nmero de subamostras. Alguns dados sugerem que so necessrias cerca de dez subamostras para representar adequadamente 2,0 hectares (ha), quinze para representar 4,0 ha e vinte para representar 8,0 ha. A segunda etapa a amostragem de solo propriamente dita. O equipamento a ser utilizado depende das condies locais. Entre os equipamentos existentes, incluem-se o trado de rosca, o trado holands, o calador e a p-decorte. O trado holands apresenta, em geral, boa performace, no sendo muito influenciado pelo teor de umidade e pela textura do solo, como o caso do calador e do trado de rosca. O trado de rosca requer um nmero maior de subamostras em solo onde foi aplicado adubo em linha e que no foi revolvido. Neste caso, a p-de-corte a melhor opo. Deve-se proceder-se abertura de uma cunha no solo, com largura correspondente do espaamento entre as linhas, centralizando-a a partir da linha de localizao do fertilizante. Quanto aos demais cuidados relativos profundidade de amostragem, bem como homogeneizao, pr-secagem sombra, embalagem da amostra, ao preenchimento do formulrio e ao envio do material ao laboratrio, recomenda-se seguir as indicaes de praxe. 2.1.2 poca de amostragem A tomada de amostra do solo deve ser feita com bastante antecedncia poca do preparo e semeadura. Assim, haver tempo suficiente para o laboratrio analisar as amostras e para que as recomendaes cheguem ao produtor em poca propcia aquisio dos insumos necessrios, sem atropelos que lhe possam acarretar prejuzo, em termos de preo e entrega do produto, por exemplo. A poca ideal para a retirada de amostras do solo varia de acordo com o tempo de cultivo que a rea est submetida e com a necessidade ou no de calagem. Em reas que no necessitam de calagem, a amostragem para fins de recomendao de fertilizantes poder ser feita logo aps a maturao fisiolgica da cultura anterior quela que ser instalada. Caso haja necessidade de calagem,

Furtini Neto, Tokura e Resende

19

a retirada da amostra tem que ser feita de modo a possibilitar que o calcrio esteja incorporado pelo menos trs meses antes da semeadura. Visando implantao da lavoura, tanto de cultura anual quanto de perene, a amostragem do solo deve ser feita cerca de seis meses antes do plantio. Em pastagens j estabelecidas, sugere-se proceder amostragem cerca de trs meses antes do mximo crescimento vegetativo. No caso de culturas perenes, a amostragem pode ser feita cerca de dois meses aps a ltima adubao de produo, ou logo aps a colheita. De qualquer forma, precisa ser feita tambm com a devida antecedncia, dada possibilidade de se aplicar calcrio novamente, o que necessita ser feito com boa antecedncia das adubaes da prxima safra. No caso de cultivo intensivo, sob irrigao, a amostragem pode ser feita a qualquer poca, desde que se tome o cuidado de evitar a retirada de amostras nos sulcos de plantio, para no superestimar a fertilidade do solo. A amostragem do solo no deve ser feita em condies de solo muito mido, entre outras razes, pela dificuldade de se obter uma adequada mistura das amostras simples. 2.1.3 Local e profundidade de amostragem Na retirada de amostras do solo com vistas caracterizao da fertilidade, o interesse pela camada arvel do solo que, normalmente, a mais intensamente alterada, seja por araes e gradagens, seja pela adio de corretivos, fertilizantes e restos culturais. Entretanto, de valor muito limitado para avaliar a fertilidade do solo, tanto para instalao da lavoura quanto para culturas perenes j instaladas, pois as razes exploram o solo em profundidades muito maiores. Visando a implantao da lavoura, notadamente de culturas perenes, o solo deve ser amostrado, pelo menos, nas camadas de 0 a 20 e 20 a 40 cm. Idealmente, pode-se tambm retirar amostras na profundidade de 40 a 60 cm. Mesmo os solos j cultivados devem ser amostrados tambm abaixo da camada de 20 cm. Anlise em profundidade, abaixo da camada arvel, importante para avaliar os seguintes aspectos: a) ocorrncia de barreiras qumicas (deficincia de clcio e ou excesso de alumnio) para o normal aprofundamento do sistema radicular. Portanto, um procedimento indispensvel para a correta recomendao de calagem e de gessagem; b) acmulo de nutrientes mveis, principalmente NO3-, SO4-2, K+ e B, nos solos sob cultivo intensivo;

20

UFLA/FAEPE interpretao de anlise de solo e manejo da adubao

c) descoberta de possvel existncia de camadas compactadas ou pedregosas. No caso de culturas perenes j instaladas, ainda h diferentes recomendaes quanto ao local de amostragem. Malavolta (1989) recomenda, para pomares implantados de citros, a retirada, em cada rea homognea, de 20 subamostras no meio da faixa adubada, na profundidade de 0 a 20 cm e 20 subamostras, no mesmo local, na profundidade de 20 a 40 cm. Na cafeicultura, a aplicao localizada de fertilizantes nitrogenados na projeo da copa resulta em acidificao localizada. A arruao, que consiste em puxar os resduos para o meio da rua antes da colheita, concentra solo com resduos de fertilizantes ou solo mais frtil no meio da rua, caso no se proceda esparramao aps a colheita. Para o caf em lavouras implantadas, a CFSEMG (1999) recomenda fazer amostragem anual da rea adubada na projeo da copa e periodicamente (a cada 4 anos) da rea nas entrelinhas ou meio da rua, especialmente quando se pretende avaliar a possibilidade de amostras compostas por rea homognea. Ou, se pretende correo da rea toda, pode-se fazer apenas uma amostra composta, coletando metade das amostras simples na rea adubada e a outra metade no meio da rua. Quaggio (1994) recomenda que a amostragem somente na projeo da copa das plantas perenes seja revisada, pois, pelo menos para o citros, este local no representa o ambiente radicular. Este autor obteve maior correlao entre os resultados de anlise do solo e de folhas e maior facilidade para interpretao dos resultados quando amostrou-se na projeo da copa e no meio da rua, obtendo-se apenas uma amostra composta por rea homognea. 2.1.4 Freqncia de amostragem Segundo Raij (1985), a anlise do solo deve ser repetida em intervalos que podem variar de um a quatro anos. A variao neste intervalo depende do poder tampo do solo, da quantidade e tipo de fertilizante utilizado, do manejo da palhada, do nmero de cultivos por ano e das produtividades obtidas. Por exemplo, reas cultivadas intensivamente com duas a trs culturas por ano, sob irrigao, devem ser analisadas anualmente. Em princpio, tanto em culturas anuais quanto perenes em fase de produo, o agricultor deveria considerar seriamente a anlise do solo como prtica a ser feita anualmente. Isto porque, diante de todo o investimento a ser feito com corretivos e fertilizantes, a anlise do solo torna-se de crucial importncia e de custo irrisrio. Enfim, o tcnico tem de estar consciente dos riscos de se fazer recomendaes de prticas corretivas e ou de adubao com base em resultados de anlise do solo realizada h mais de um ano.

Furtini Neto, Tokura e Resende

21

2.1.5 Procedimentos na amostragem O local de retirada de cada amostra simples deve ser limpo, no deixando restos de plantas, sem, contudo, revirar o solo. Existem equipamentos apropriados para a coleta de solo para anlise, tais como trados, sondas e outros. Quando se utilizar a p de corte ou enxado, abrir um buraco de 20 cm de profundidade (para o caso de amostragem de 0 a 20 cm), cortar num dos lados uma fatia de cima para baixo at o fundo, eliminando as pores laterais. Prosseguir desse modo, caminhando em ziguezague at limitar a rea homognea, coletando em torno de 20 amostras simples por profundidade para se fazer uma amostra composta. Aps homogeneizao das amostras simples, retirar de 200 a 300 g de terra, que ser enviada ao laboratrio devidamente identificada (CFSEMG, 1999). A CFSMG (1999) recomenda ainda no se retirar amostras prximo a casas, brejos, voorocas, rvores, sulcos de eroso, formigueiro e caminho de pedestres. As amostras no devem ser colocadas em recipientes usados ou sujos, tanto durante o processo de coleta de amostras simples quanto para envio da amostra composta ao laboratrio. Raij (1991) indica que se a terra estiver molhada, convm sec-la ao ar antes de coloc-la na embalagem para a remessa ao laboratrio. De qualquer forma, conforme j ressaltado, a amostragem deve ser feita quando o solo estiver menos mido. Segundo Siqueira et al. (1989), quando se utilizam trados para a amostragem do solo, a amostra deve ser colocada diretamente no balde ou saco receptor. O uso do calador requer uma esptula para a retirada do cilindro de solo amostrado. Quando se usa o trado holands, deve-se retirar o material excedente com uma faca, deixando-se somente um fatia central do cilindro de solo coletado, reduzindo assim, o tamanho da amostra e facilitando a retirada do material do trado com as mos.

2.2 ANLISE EM LABORATRIOUma anlise completa para avaliao da fertilidade do solo deve incluir as seguintes determinaes: pH, fsforo, potssio, clcio, magnsio, enxofre, zinco, mangans, cobre, ferro, boro, alumnio, hidrognio mais alumnio, teor de matria orgnica e anlise granulomtrica (textura). Em pases desenvolvidos, tambm determinado o teor de nitrognio mineral residual, notadamente de nitrato, como ndice da disponibilidade de nitrognio no solo. Apesar de alguns laboratrios do Brasil terem condies de realizar tal anlise, a interpretao de resultados para nossas condies ainda no est definida. Por isso, a determinao do teor de matria orgnica, entre outros

22

UFLA/FAEPE interpretao de anlise de solo e manejo da adubao

benefcios, pode dar um idia da capacidade do solo de suprir nitrognio para as plantas, conforme proposto por Siqueira et al. (1989). A determinao de molibdnio ainda apresenta problemas analticos e de interpretao. A determinao da percentagem de areia, silte e argila (anlise granulomtrica) de grande importncia na avaliao da fertilidade do solo e, por conseqncia, no manejo da fertilidade do solo. Entretanto, essa anlise feita uma nica vez, ou seja, no h necessidade de repetio da anlise textural sempre que for feita anlise qumica da rea. Em solos sob suspeita de salinidade deve-se analisar o teor de sdio e determinar a condutividade eltrica. A participao do tcnico na anlise do solo propriamente dita, praticamente se resume na escolha de um laboratrio confivel e com capacidade de realizar todas as determinaes necessrias ou capacidade de fazer uma anlise completa.

2.3 REPRESENTAO E CONVERSO DOS RESULTADOS DA ANLISE DO SOLO PARA AVALIAO DA FERTILIDADE DO SOLOA amostra recebida no laboratrio colocada para secar ao ar, na sombra e peneirada em peneira de malha de 2mm de abertura. Feitas as respectivas anlises, os resultados so expressos com base em volume de terra. Nos laboratrios integrados ao PROFERT-MG, as seguintes anlises so executadas: pH em gua; Ca+2: clcio trocvel (cmolc/dm3); Mg+2: magnsio trocvel (cmolc/dm3); Al+3: alumnio trocvel (cmolc/dm3); H + Al: hidrognio mais alumnio ou acidez potencial, medida a pH 7,0 (cmolc/dm3); K+: potssio disponvel (mg/dm3); P: fsforo disponvel (mg/dm3); SB: soma de bases (cmolc/dm3); t: capacidade efetiva de troca de ctions (CTC efetiva) = t = SB + Al +3 ou (Ca+2 + Mg+2 + K+) + Al+3 (cmolc/dm3); m: saturao de alumnio na CTC efetiva (%) = m = 100 x Al+3/t ou 100 x Al+3/ Ca+2 + Mg+2 + K+ + Al+3 (%);

Furtini Neto, Tokura e Resende

23

T: capacidade de troca de ctions a pH 7,0 = T = SB + (H+ Al) ou (Ca +2 + Mg+2 + K+) + (H +Al+3) (cmolc/dm3); V: porcentagem de saturao por bases da CTC a pH 7,0 (%) = V = 100 x SB/T ou 100 x (Ca+2 + Mg+2 + K+)/(Ca+2 + Mg+2 + K+) + (H +Al+3).

2.3.1 Variao em mtodos de anlise Considerando-se os diferentes procedimentos analticos empregados nos diversos laboratrios do Brasil e a possibilidade de consulta a boletins de recomendao de corretivos e de fertilizantes de diferentes estados e, at mesmo, de outros pases, preciso atentar para as seguintes situaes: a) Determinao do pH A acidez ativa do solo mais comumente medida pelo ndice de pH em gua. Todavia, seu valor pode ser reduzido pela maior presena de sais, pela adio recente de fertilizantes ou pela mineralizao da matria orgnica de amostras midas mantidas por tempo mais longo em recipiente fechados, como os sacos plsticos usados para envio ao laboratrio. Alguns laboratrios, objetivando contornar possveis problemas neste sentido, determinam a acidez ativa em soluo salina, principalmente em CaCl2 0,01 M. Assim possvel manter constante a concentrao salina, comparvel a concentraes de solues de solo de alta fertilidade. Em mdia, o pH em CaCl2 0,01M cerca de 0,5 unidade menor que o pH em gua. Esta diferena na metodologia analtica do pH, que resulta em resultados nem sempre facilmente comparveis, no traz maiores problemas de interpretao dos resultados, visto que o valor de pH, normalmente, no usado para fins de recomendao de calagem. b) Determinao do fsforo disponvel No Brasil, a maioria dos laboratrios determina o teor de fsforo disponvel pelo uso do extrator cido formado pela mistura de H2SO4 0,025 N + HCl 0,05 N. o extrator ou mtodo de Mehlich ou Carolina do Norte. Na interpretao dos resultados obtidos por este extrator cido, leva-se em considerao a textura do solo. Muitas vezes isto considerado uma desvantagem no uso deste extrator, considerando que, muitas vezes, no se tem anlise textural da rea. Todavia, difcil imaginar qualquer atuao do tcnico em termos de manejo da fertilidade de um dado solo sem conhecer a sua textura. Tambm, o uso de extratores cidos criticado por promover a solubilizao de grande quantidade de fsforo ligado a clcio, superestimando a disponibilidade de fsforo em solo adubado com fosfato natural, fertilizante constitudo de fosfato de clcio de baixa solubilidade. Todavia, antes de

24

UFLA/FAEPE interpretao de anlise de solo e manejo da adubao

compartilhar tal crtica, o tcnico tem de atentar para o fato de que o uso de fosfato natural de baixa solubilidade no tem sido indicado para adubao convencional, por representar fonte no renovvel, com reduzida abundncia no Brasil e de baixa eficincia agronmica. Em todos os laboratrios do estado de So Paulo, o teor de fsforo disponvel determinado pelo uso da resina trocadora de nions, que parece extrair apenas as formas de P disponvel (Raij, 1991). Trata-se de um mtodo ainda pouco empregado no mundo, o uso da resina tem-se restringido ao estado de So Paulo. Estes dois mtodos fornecem resultados diferentes, de forma que no so comparveis, necessitando, portanto, de procedimentos distintos uso de tabelas especficas para interpretao. c) Determinao da disponibilidade de micronutrientes catinicos No Brasil, o teor disponvel de micronutrientes catinicos tem sido determinado pelo uso de HCl 0,1N (Rio Grande do Sul e Santa Catarina), do extrator Mehlich (Minas Gerais) e DTPA (So Paulo). Em todos os casos existem ainda dificuldades para interpretao da fertilidade do solo e indicao apropriada de fertilizantes com base nos resultados de anlise. Em parte, isto se deve ao fato de que os estudos envolvendo micronutrientes so de desenvolvimento relativamente recente no pas. 2.3.2 Unidades de expresso dos resultados Em conformidade com o sistema Internacional de unidades, as unidades atualmente em uso nos laboratrios de anlise do solo do Brasil so: mg/dm 3, mmolc/dm3 e g/kg. Entretanto, bibliografias importantes publicadas anteriormente dcada de 1990 apresentam as antigas unidades ppm, meq/100 cm 3 e %. Para os ons trocveis, usa-se o milimol de carga (mmolc) ou centimol de carga (cmolc) por dm3. Considerando que o mmolc a massa atmica do ction dividida pela sua carga, tem-se que mmolc tem o mesmo valor do miliequivalente (meq). Assim, sendo necessria a converso de meq/100 cm 3 (unidade antiga) para mmolc/dm3 (sistema internacional) basta multiplicar por 10, simplesmente devido ao aumento de 10 vezes no volume de solo (Quadro 2.1). No estado de Minas Gerais, a CFSEMG (1999) recomenda adotar-se a unidade cmolc/dm3, para a qual a converso direta. No caso do fsforo, enxofre e micronutrientes, em vez de ppm, passa-se a usar mg/dm3, mantendo-se o valor na transformao (Quadro 2.1). Nos casos dos teores de C, N total e matria orgnica e anlise granulomtrica, a representao em % transformada para g/kg, com fator de converso de 10. Em Minas Gerais, tem-se usado dag/kg (decagrama por kg) como unidade equivalente a % (Quadro 2.1).

Furtini Neto, Tokura e Resende

25

Tambm, considerando-se o sistema internacional, a condutividade eltrica da soluo expressa em Siemen por metro (Quadro 2.1).

Quadro 2.1 Unidades antigas e atuais usadas para representar resultados de anlises de solos e fatores de converso.

Representao antiga meq/100 cm3 meq/100 cm3 ppm % % mmho/cm

Representao atual mmolc/dm3 cmolc/dm3 (Minas Gerais) mg/dm3 g/kg (ou g/dm3) dag/kg (Minas Gerais) S/m

Fator de converso 10 1 1 10 1 0,1

Muitas vezes, os resultados das anlises de solos, expressos em mg/dm 3, mmolc/dm3 e g/kg no transmitem ao tcnico, que interpreta os mesmos, uma idia quantitativa relativa da disponibilidade de um nutriente. Um resultado de anlise de fsforo em mg/dm3 passa a ter mais sentido quando se transforma este resultado em quantos kg de P2O5 esto disponveis por hectare, por exemplo. Da mesma forma pode ser interessante saber quantos mg/dm 3 correspondem ao uso de 3 toneladas/ha de um determinado calcrio. Alguns exemplos adicionais de clculos so apresentados a seguir. 1) Uma anlise de solo apresentou o resultado de 0,54 cmol c K/dm3. Pergunta-se: a) este resultado equivale a quantos mg/dm3 de K? b) a quantos kg/ha de KCl (60% de K2O) este resultado eqivale? a) Primeiro transforma-se os cmolc de K em mg/dm3. Basta usar a frmula: mg/dm3 = cmolc x PE x 10, sendo PE = PA/valncia mg/dm3 = 0,54 x 39,1 x 10 mg/dm3 = 211,14 de K b) Para transformar mg/dm3 de K em kg/ha basta multiplicar por 2. 211,14 de mg/dm3 K x 2 = 422, 3 kg/ha (considerando-se 1 ha, na camada de 0 a 20 cm e densidade do solo = 1) Como o KCl apresenta 60% de K2O, necessrio primeiro transformar K em K2O, pelo uso do fator de multiplicao 1,205.

26

UFLA/FAEPE interpretao de anlise de solo e manejo da adubao

422,3 kg K/ha x 1,205 = 508,9 kg de K2O/ha 100 kg de KCl 60 kg de K2O X kg de KCl 508,9 kg de K2O X = 508,9 kg de K2O x 100 kg de KCl 60 kg de K2O X = 848,17 kg de KCl Portanto, uma anlise de solo que apresente 0,54 cmolc K/dm3 corresponde a uma disponibilidade de 848,17 kg de KCl/ha. 2) A aplicao de 4 toneladas de calcrio/ha (CaO = 40%; MgO = 8%) corresponderia a quantos cmolc Ca+2/dm3 e Mg+2/dm3? 100 kg de calcrio 40 kg de CaO 4.000 kg de calcrio X kg de CaO X kg de CaO = 4.000 kg de calcrio x 40 kg de CaO 100 kg de calcrio X = 1.600 kg de CaO 100 kg de calcrio 8 kg de MgO 4.000 kg de calcrio X kg de MgO X kg de MgO = 4.000 kg de calcrio x 8 kg de MgO 100 kg de calcrio X = 320 kg de MgO Transforma-se CaO e MgO em Ca e Mg, respectivamente, pelo uso dos fatores 0,7147 e 0,60311. 1.600 kg de CaO/ha x 0,7147 = 1.143,5 kg Ca/ha 320 kg de MgO/ha x 0,60311 = 193,0 kg Mg/ha Para transformar kg/ha em cmolc/dm3, basta usar a frmula: Para o Ca: Kg/ha = mg/dm3 x 2 = cmolc x PE x 10 x 2 = 1.143,5 = cmolc x 20 x 10 x 2 cmolc = 1.143,4/400 = 2,85 cmolc/dm3 Para o Mg: Kg/ha = mg/dm3 x 2 = cmolc x PE x 10 x 2 = 193 = cmolc x 12,1x 10 x 2 cmolc = 193/242 = 0,79 cmolc/dm3

2.3.3 Classes de fertilidade Para a interpretao dos resultados de anlise de solo emitidos por um dado laboratrio existem tabelas elaboradas, normalmente, por pesquisadores do

Furtini Neto, Tokura e Resende

27

estado em que est inserido o laboratrio. Logicamente, tais tabelas, especificamente os limites de classes de teores de nutrientes, refletem os mtodos em uso no estado, bem como todo o avano do conhecimento gerado pelos pesquisadores envolvidos em fertilidade do solo no referido estado. Mais adiante, no estudo das recomendaes de adubao, para o que tambm existem tabelas preparadas regionalmente, ser enfatizado que, desde que o mtodo de anlise seja o mesmo, o tcnico pode fazer a interpretao dos resultados e emitir sua recomendao com base na consulta a tabelas de diferentes estados. Em Minas Gerais, a CFSEMG (1999) estabeleceu os critrios para interpretao de resultados de anlise de solo, que so apresentados nos Quadros 2.2; 2.3; 2.4; 2.5 e 2.6. O princpio geral de separao das classes, grosso modo, baseia-se numa produo relativa de 0% a 70%, 71% a 90%, 91 a 100%, e > 100%, respectivamente, para os nveis muito baixo, baixo, mdio e alto ou muito alto. Para certas culturas, como, por exemplo, o caf, em fase de estudos mais avanados de correlao e calibrao, tm-se alteraes nestes critrios de interpretao no que diz respeito aos limites para as classes de teores dos nutrientes. Com relao aos Quadros 2.4 e 2.5, cabe destacar a introduo pela CFSEMG (1999) da determinao do fsforo remanescente P-rem como critrio auxiliar na interpretao da disponibilidade de fsforo e enxofre. Tal determinao consiste em se medir o teor de P disponvel P-remanescente aps certo tempo de contato entre uma amostra do solo com soluo de CaCl 2 contendo 60 mg de P/L (Alvarez et al., 2000), como forma de inferir sobre a capacidade tampo do solo. Dessa maneira, no Quadro 2.4, por exemplo, quanto menor o valor de P-rem, de forma anloga presena de maiores teores de argila, maior a capacidade do solo de promover a fixao de fosfato maior capacidade tampo. Portanto, o valor de P-rem depende da ocorrncia e poder de fixao de fsforo de certos constituintes do solo, os quais afetam intensamente a disponibilidade de P. Nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que apresentam metodologias analticas iguais s realizadas em Minas Gerais, extrator Mehlich para P e K e extrator KCl 1N para Ca e Mg, Comisso de Fertilidade do Solo do RS e SC (1994) estabeleceu as seguintes classes e limites de fertilidade (Quadros 2.7, 2.8 e 2.9). Em So Paulo, a partir de 1983, a interpretao da anlise de solo foi alterada visando adapt-la ao mtodo de anlise pelo uso de resina trocadora de nions e de ctions (Raij e Quaggio, 1983; Raij et al., 1996). E, para os micronutrientes catinicos, foi adotado o extrator DTPA (Quadros 2.10 e 2.11).

28

UFLA/FAEPE interpretao de anlise de solo e manejo da adubao

No so fornecidas, em So Paulo, classes de teores para matria orgnica e outros valores fornecidos pela anlise de solo, que so acidez potencial, soma de bases e capacidade de troca de ctions. Isso porque no se encontrou um critrio lgico, em termos de fertilidade do solo, que relacione essas variveis com produtividade ou necessidade de diferenciar o manejo (Raij, 1991). Finalmente, uma vez mais torna-se necessrio enfatizar que inadmissvel conceber qualquer atuao do tcnico no sentido de interpretar os resultados do laudo da anlise do solo sem se preocupar ou ter participado das etapas de amostragem do solo e escolha do laboratrio. Ou seja, discutvel qualquer recomendao de calagem e de adubao a partir de um laudo de anlise do solo, de cuja obteno o tcnico no tenha completo domnio. Os solos apresentam uma grande variedade em suas caractersticas fsicas, qumicas e mineralgicas. As espcies vegetais e, dentro delas, as cultivares, diferem entre si na capacidade de absoro e utilizao de nutrientes. Assim, ao se preconizar determinada tcnica de adubao, deve-se ter, alm do resultados da anlise de solo, informaes sobre o tipo de solo e um histrico de sua utilizao e tratamentos anteriores como calagem, adubao, culturas semeadas, rendimentos obtidos. As recomendaes de adubao devem ser orientadas pelos teores dos nutrientes determinados na anlise de solo. Quadro 2.2 Classes de interpretao para a acidez ativa do solo (pH)*.Classificao qumica Ac. muito elevada < 4,5 4,5 - 5,0 5,1 - 6,0 6,1 - 6,9 7,0**

Acidez elevada

Acidez mdia

Acidez fraca

Neutra

Alcalinidade fraca

Alcalinida de elevada

7,1 - 7,8

> 7,8

Classificao agronmica Muito baixo < 4,5 Baixo 4,5 - 5,4 Bom 5,5 - 6,0

Alto 6,1 - 7,0

Muito alto > 7,0

* pH em H2O, relao 1:2,5, TFSA:H2O. ** A qualificao utilizada indica adequado (bom) ou inadequado (muito baixo e baixo ou alto e muito alto).

Furtini Neto, Tokura e Resende

29

Quadro 2.3 Classes de interpretao de fertilidade do solo para a matria orgnica e para o complexo de troca catinica.Caracterstica Unidade Muito baixoCarbono orgnico (C.O.) Matria orgnica (M.O.) Clcio trocvel (Ca2+) Magnsio trocvel (Mg2+) Acidez trocvel (Al3+)** Soma de bases (SB) Acidez potencial (H + Al)** CTC efetiva (t) CTC pH 7 (T) Saturao por Al3+ (m)** Saturao por bases (V) dag/kg cmolc/dm3 % 0,40 0,70 0,40 0,15 0,20 0,60 1,00 0,80 1,60 15,0 20,0 0,41-1,16 0,71-2,00 0,41-1,20 0,16-0,45 0,21-0,50 0,61-1,80 1,01-2,50 0,81-2,30 1,61-4,30 15,1-30,0 20,1-40,0 1,17-2,32 2,01-4,00 1,21-2,40 0,46-0,90 0,51-1,00 1,81-3,60 2,51-5,00 2,31-4,60 4,31-8,60 30,1-50,0 40,1-60,0 2,33-4,06 4,01-7,00 2,41-4,00 0,91-1,50 1,01-2,00 3,61-6,00 5,01-9,00 4,61-8,00 8,61-15,00 50,1-75,00 60,1-80,0

Classificao Baixo Mdio* Bom Muito Bom> 4,06 > 7,00 > 4,00 > 1,50 > 2,00 > 6,00 > 9,00 > 8,00 > 15,00 > 75,0 > 80,0

O limite superior desta classe indica o nvel crtico. ** A interpretao destas caractersticas, nestas classes, deve ser alta e muito alta, em lugar de bom e muito bom.

30

UFLA/FAEPE interpretao de anlise de solo e manejo da adubao

Quadro 2.4 Classes de interpretao da disponibilidade para o fsforo, de acordo com o teor de argila do solo ou do valor de fsforo remanescente (P-rem) e para o potssioCaracterstica Muito baixo Baixo Classificao Mdio3

Bom

Muito bom

_______________________________(mg/dm )_________________________ .............................................Fsforo disponvel (P) ............................................ Argila (%) 60 100 35 60 15 35 0 15 P-rem (mg/L) 04 4 10 10 19 19 30 30 44 44 60** *

2,7 4,0 6,6 10,0

2,8-5,4 4,1-8,0 6,7-12,0 10,1-20,0

5,5-8,0 8,1-12,0 12,1-20,0 20,1-30,0

8,1-12,0 12,1-18,0 20,1-30,0 30,1-45,0

> 12,0 > 18,0 > 30,0 > 45,0

3,0 4,0 6,0 8,0 11,0 15,0

3,1-4,3 4,1-6,0 6,1-8,3 8,1-11,4 11,1-15,8 15,1-21,8

4,4-6,0 6,1-8,3 8,4-11,4 11,5-15,8 15,9-21,8 21,9-30,0

6,1-9,0 8,4-12,5 11,5-17,5 15,9-24,0 21,9-33,0 30,1-45,0

> 9,0 > 12,5 > 17 > 24,0 > 33,0 > 45,0

............................................Potssio disponvel (K)............................................ 15 16-40 41-70 71-120 > 120

* Mtodo Mehlich-1. ** P-rem = Fsforo remanescente, concentrao de fsforo da soluo de equilbrio aps agitar durante 1 h a TFSA com soluo de Ca Cl2 contendo 60 mg/L de P, na relao 1:10.

Furtini Neto, Tokura e Resende

31

Quadro 2.5 Classes de interpretao da disponibilidade para enxofre, de acordo com o valor de fsforo remanescente (P-rem).Classificao P-rem (mg/L) 04 4 10 10 19 19 30 30 44 44 60 Mtodo do Ca(H2PO4)2. Muito baixo Baixo Mdio3 *

Bom

Muito bom

_______________________________(mg/dm )_________________________ ............................................Enxofre disponvel (S) ............................................. 1,7 2,4 3,3 4,6 6,4 8,9

1,8-2,5 2,5-3,6 3,4-5,0 4,7-6,9 6,5-9,4 9,0-13,0

2,6-3,6 3,7-5,0 5,1- 6,9 7,0-9,4 9,5-13,0 13,1-18,0

3,7-5,4 5,1-7,5 7,0-10,3 9,5-14,2 13,1-19,6 18,1-27,0

> 5,4 > 7,5 > 10,3 > 14,2 > 19,6 > 27,0

Quadro 2.6 Classes de interpretao da disponibilidade para os micronutrientes.Classificao Micronutriente Muito baixo 0,4 2 8 0,3 0,15*

Baixo

Mdio

Bom3

Muito bom > 2,2 > 12 > 45 > 1,8 > 0,90

.....................................................(mg/dm ).......................................... Zinco disponvel (Zn) Mangans disponvel (Mn) Ferro disponvel (Fe) Cobre disponvel (Cu) Boro disponvel (B) 0,5-0,9 3-5 9-18 0,4-0,7 0,16-0.35 1,0-1,5 6-8 19-30 0,8-1.2 0,36-0,60 1,6-2,2 9-12 31-45 1,3-1,8 0,61-0,90

O limite superior desta classe indica o nvel crtico.

Quadro 2.7 Interpretao geral dos resultados de anlise do solo para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina.Classes Limitante Muito baixo Baixo Mdio Suficiente Alto pH em gua 5,0

Matria orgnica dag/kg 2,5

Ca3

Mg 0,5

K mg/dm 20 21-40 41-60 61-80 81-120 >1203

.........cmolc/dm ......... 2,0

5,1 -5,5 6,6-6,0 >6,0

2,6-5,0 >5,0

2,1-4,0 >4,0

0,6-1,0 >1,0

32

UFLA/FAEPE interpretao de anlise de solo e manejo da adubao

Quadro 2.8 Interpretao dos resultados de fsforo extravel do solo para as principais culturas no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.Interpretao do P no solo (Nveis) 1 Limitante Muito baixo Baixo Mdio Suficiente Alto 1,0

Classes de solos* 2 1,5

33

4 3,0

5 4,0

6 3,0

.............................................................mg/dm ..................................................2,0

1,1-2,0 2,1-4,0 4,1-6,0 >6,0 >8,0

1,6-3,0 3,1-6,0 6,1-9,0 >9,0 >12,0

2,1-4,0 4,1-9,0 9,1-14,0 >14,0 >18,0

3,1-6,0 6,1-12,0 12,1-18,0 >18,0 >24,0

4,1-8,0 8,1-16,0 16,1-24,0 >24,0 >30,0

3,1-6,0 >6,0 -

* Classe 1: >55% argila; Classe 2: 41%-55% argila; Classe 3: 26%-40% argila; Classe 4: 11%-25% de argila; Classe 5: 100 >100 0-2 3-5 6-8 9-16 >16 P-resina (mg/dm ) Perenes 0-5 6-12 13-30 31-60 >60 Anuais 0-6 7-15 16-40 41-80 >80 Hortalias 0-10 11-25 26-60 61-120 >120 0,0-0,7 0,8-1,5 1,6-3,0 3,1-6,0 >6,03

K-trocvel 3 (mmolc/dm )

Furtini Neto, Tokura e Resende

33

Quadro 2.11 Limites de interpretao adotados pelo Instituto Agronmico de Campinas para os macronutrientes secundrios e micronutrientes.Nutriente Unidade Baixo Clcio Magnsio Enxofre Boro1 2

Teor Mdio 4-7 5-8 5-10 0,21-0,60 0,3-0,8 5-12 1,3-5,0 0,6-1,2 Alto >7 >8 >10 >0,60 >0,8 >12 >5,0 >1,2

mmolc/dm mg/dm 2 3

3

501 1

Aps atingir o nvel do potssio extravel acima desse valor, recomenda-se uma adubao de Recomenda-se parcelar a aplicao

manuteno de 20 quilos de K2O para cada tonelada de gros de soja que se espera produzir.2

104 adubao

UFLA/FAEPE interpretao de anlise de solo e manejo da

Todavia, mesmo em solos arenosos, apesar da maior probabilidade de perdas de potssio por lixiviao, a adubao potssica corretiva se apresenta com grande potencial (Oliveira, 1985), conforme mostra o Quadro 7.9. Quadro 7.9 Produo de gros de soja para diferentes modos de adubao potssica, em um solo arenoso da regio de Barreiras, BA.Dose de Potssio (kg K2O/ha) 0 60 60 60 No sulco de plantio A lano antes do plantio No sulco ( plantio + cobertura) Modo de aplicao Produo de gros (kg/ha) 2252 2618 2881 2979

A aplicao do potssio em solos arenosos e mesmo em solos argilosos de cerrado com baixa CTC, preferencialmente deve ser feita a lano, na forma de potassagem corretiva ou aplicada de forma parcelada pelo menos a metade no plantio e o restante em cobertura junto com o nitrognio. Essa recomendao faz sentido, principalmente, para aplicao de potssio em quantidade acima de 60 kg K2O/ha. A aplicao de grandes quantidades de potssio, distribudo num restrito volume de solo, aumenta a probabilidade de perdas por lixiviao. Ademais, pelo elevado ndice salino do KCl, aumenta os danos s sementes pela salinidade, o que resulta em uma menor populao de plantas.

DEFINIO DA QUANTIDADE DE POTSSIO NA ADUBAOConforme foi visto, possvel decidir-se pela adubao de potssio por meio da potassagem corretiva, o que poderia dispensar a adubao de plantio por um ou mais cultivos. Entretanto, o mais comum para o potssio so as adubaes de plantio ou de manuteno, levando-se em conta a disponibilidade desse nutriente no solo e a produtividade esperada. Como exemplo para definio da dose de potssio, veja-se a indicao da CFSEMG (1999) para a cultura do milho na adubao de plantio (Quadro 7.10). Por sua vez, para os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, Siqueira et al. (1989) recomendam as seguintes quantidades de potssio para o plantio de milho (Quadro 7.11).

Furtini Neto, Tokura e Resende

105

Quadro 7.10 Quantidades de potssio para adubao do milho no estado de Minas Gerais, em funo da produtividade esperada.Interpretao da disponibilidade de K no solo*

Produtividade esperada (t/ha)

4-6

6-8

>8

..................................kg K2O/ha.................................. Baixa Mdia Boa 50 40 20 70 60 40 90 80 60

* Para interpretao da disponibilidade vide Quadro 2.4.

Quadro 7.11 Quantidades de potssio para a adubao do milho nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, para uma produtividade de 6 t/ha.Interpretao de K no solo*

Teor de K (mg/dm )3

Cultivo 1o

2

o

3

o

.............................kg K2O/ha............................ Limitante Muito Baixo Baixo Mdio Suficiente Alto 0-20 21-40 41-60 61-80 81-120 > 120 130 100 70 40 20 20 80 60 R R R R 60 R**

R R R R

* Para interpretao da disponibilidade vide Quadro 2.8. ** Valor R (Reposio): < 3 t/ha = 30 kg K2O/ha; 3-6 t/ha = 60 kg K2O/ha; > 6 t/ha = 100 kg k2O/ha.

A consulta tambm ao boletim do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (Quadro 7.11), e no apenas ao de Minas Gerais (Quadro 7.10), proporciona ao tcnico novos elementos para uma melhor definio da quantidade de potssio a aplicar, assim como j observado para o fsforo . O sistema de adubao proposto para esses dois estados (Siqueira et al., 1989) aplica-se para uma sucesso de trs cultivos, no caso de culturas anuais. Dessa forma, tanto para fsforo quanto para potssio, incorporou-se ao sistema de recomendao o aproveitamento do efeito residual dos fertilizantes bem como

106 adubao

UFLA/FAEPE interpretao de anlise de solo e manejo da

o aproveitamento de nutrientes reciclados ao solo via palhada. Essa a razo bsica da reduo na quantidade recomendada com o suceder dos cultivos. No sistema de adubao proposto para o RS e SC, est implcito que o resultado da anlise do solo poderia servir para realizar a recomendao de adubao de at trs cultivos sucessivos. A partir da, apenas uma nova anlise do solo poderia especificar qualquer alterao ocorrida na disponibilidade dos nutrientes. H estudos cujos resultados sugerem a necessidade da incluso da CTC nas interpretaes das anlises de solo para fins de recomendao de adubao potssica (Silva e Meurer, 1988). Neste sentido, Silva et al. (1995) sugerem o uso da CTC a pH 7,0 na definio da quantidade de potssio a ser aplicada para o algodoeiro (Quadro 7.12). Quadro 7.12 Quantidades de potssio na adubao de plantio do algodoeiro, para uma produtividade ao redor de 2 t/ha de algodo em caroo.K trocvel (cmolc/dm ) 0-0,07 0,08-0,16 0,16-0,30 0,31-0,60 > 0,603

CTC a pH 7,0 (cmolc/dm ) 0-4 60 60 40 20 20 4,1-8,0 60*

3

> 8,0 80 60* *

....................................kg K2O/ha................................... 60 60 40 20

60 60 40

* Complementar com cobertura de 25 kg K2O/ha, 30 a 40 dias aps a emergncia das plantas, logo aps o desbaste, isto , junto com a adubao de cobertura nitrogenada.

7.4 FERTILIZANTES CONTENDO CLCIO E MAGNSIONo caso da necessidade de clcio via adubao, as fontes mais comuns so superfosfato simples, superfosfato triplo, termofosfatos, nitroclcio, nitrato de clcio, cloreto de clcio (com 33% CaO) e o prprio gesso. Para o magnsio, alm do termofosfato magnesiano e nitroclcio, a fonte exclusiva fica quase que restrita ao sulfato de magnsio, que contm 15% de MgO e 13% de S.

DEFINIO DA QUANTIDADE DE CLCIO E MAGNSIOO clcio e magnsio normalmente no recebem um tratamento especfico em termos de adubao. Isto porque a aplicao dos mesmos, quando necessria, deve ser feita, preferencialmente, via calagem.

Furtini Neto, Tokura e Resende

107

Apenas em cultivos especficos de espcies exigentes em clcio e/ou magnsio, sob condies de baixa disponibilidade destes nutrientes e com impossibilidade de supri-los totalmente via calagem, que a adubao seria necessria. Entre algumas condies, citam-se, por exemplo, certas plantas exigentes em clcio e magnsio cultivadas propositalmente em condies mais cidas para o controle de doenas como o caso da batata , mas com o solo apresentando baixa disponibilidade nestes nutrientes. Quando necessria a adubao com clcio e/ou magnsio, a definio da quantidade a ser aplicada depender basicamente da exigncia da planta, por meio da produtividade esperada.

7.5 FERTILIZANTES CONTENDO ENXOFREO enxofre, na grande maioria das vezes, fornecido indiretamente na adubao com outros nutrientes. Dentre os fertilizantes, destacam-se: sulfato de amnio, superfosfato simples, sulfato de potssio, sulfato de clcio e sulfato de magnsio. Pela acidificao produzida, o sulfato de amnio o menos indicado.

DEFINIO DA QUANTIDADE DE ENXOFREEm solos deficientes em enxofre (Quadros 2.5, 2.9 e 2.11), a quantidade a ser aplicada pode ser definida pela produtividade esperada e pelo conhecimento da exigncia de cada espcie vegetal. Situaes previsveis de condies de menor disponibilidade, tais como solos desprovidos de quantidades razoveis de matria orgnica, uso contnuo de fertilizantes concentrados e/ou maior exportao do nutriente em lavouras de alta produtividade, pressupem a necessidade de suprimento do enxofre nas adubaes.

7.6 FERTILIZANTES CONTENDO MICRONUTRIENTES7.6.1 xidos, cidos e sais Os xidos, cidos ou sais contendo micronutrientes constituem os fertilizantes mais usados nas adubaes com micronutrientes, tanto para uso como fertilizantes simples quanto para enriquecimento de fertilizantes mistos ou formulados. O Quadro 7.13 apresenta as caractersticas dos principais xidos, cidos ou sais fertilizantes contendo micronutrientes.

108 adubao

UFLA/FAEPE interpretao de anlise de solo e manejo da

Quadro 7.13 Principais xidos, cidos e sais contendo micronutrientes usados como fertilizantes simples.Fertilizante Frmula Boro cido brico Borax Solubor H3BO3 Na2B4O7 . 5H2O Na2B4O7 . 5H2O + Na2 B10O16 . 10H2O Ca2B6O11 . 5H2O Na2O . 2CaO . 5B2O3 . 16H2O Zinco ZnSO4 . H2O ZnSO4 . 7H2O ZnCO3 ZnO Zn3(PO4)2 Ferro Sulfato ferroso Sulfato ferrico xido ferroso xido frrico Fosfato ferroso amoniacal Sulfato de cobre (monohidratado) Sulfato de cobre (pentahidratado) xido cuproso xido cprico Cloreto cprico Sulfato de mangans xido manganoso Cloreto de mangans Trixido de molibdnio Molibdato de sdio Molibdato de amnio FeSO4 . 7H2O Fe2(SO4)3 . 4H2O FeO Fe2O3 Fe(NH4)PO4 . H2O Cobre CuSO4 . H2O CuSO4 . 5H2O Cu2O CuO CuCl2 Mangans MnSO4 . 4 H2O MnO MNCl2 Molibdnio MoO3 Na2MoO4 . 2H2O (NH4)6Mo7O24 . 2H2O 26 41 17 66 39 54 S I S I S S 19 23 77 69 29 35 25 89 75 16 S S I I S S S I I S 17 11 20 S S S Teor do Micronutriente (%) Solubilidade

Colemanita Ulexita Sulfato de zinco (monohidratado) Sulfato de zinco (heptahidratado) Carbonato de zinco xido de zinco Fosfato de zinco

10 08 35 20 52 78 51

I I S S I I I

* Solubilidade em gua: S = solvel; I = insolvel

Furtini Neto, Tokura e Resende

109

A solubilidade em gua uma caracterstica importante dos fertilizantes contendo micronutrientes, relacionando-se com a possibilidade de aplicao em pulverizao foliar ou via fertirrigao, com as perdas por lixiviao no solo e com possvel fitotoxidez. Por exemplo, para o boro, tem-se que o cido brico mais solvel que o borax, o que traz vantagens para aplicaes via gua ou para ao mais rpida no solo. Todavia, o cido brico seria mais suscetvel a perdas e apresenta maior potencial fitotxico. Ainda, o solubor tambm mais solvel que o borax, mas, menos solvel que o cido brico. A colemanita, dada sua baixa solubilidade, uma fonte muito indicada para solos arenosos, pois as perdas de boro por lixiviao seriam reduzidas em comparao com cido brico e borax. O cobalto no nutriente de plantas. Todavia, essencial aos microrganismos fixadores do N2 como o rizbio no cultivo da soja. Assim, notadamente para o cultivo de leguminosas sob fixao de N 2, deve-se fazer aplicao de cobalto. Mais comumente, tal aplicao feita via tratamento da semente, juntamente com aplicao de molibdnio. Como fontes de cobalto so mais usados o cloreto de cobalto (CoCl2 . 2H2O; 34% de Co; solvel em gua) e xido de cobalto (CoO; 75% de Co; insolvel em gua). 7.6.2 Quelados ou quelatos A presena de agentes quelantes ou complexantes originados da decomposio da matria orgnica, da exsudao radicular ou produzidos por microrganismos na soluo do solo aumenta a disponibilidade de micronutrientes catinicos, por reduzir as reaes de precipitao, notadamente com oxidrilas para formar hidrxidos (Stevenson e Ardakani, 1972). Com tal descoberta, os fertilizantes com micronutrientes catinicos resultantes da mistura de xidos ou sais com compostos orgnicos ou resultantes da produo especfica de um quelato passaram a ganhar o mercado, principalmente em pases tecnologicamente mais avanados. No Quadro 7.14 so apresentados os quelatos mais indicados, principalmente considerando a estabilidade dos mesmos em funo do pH. Os quelatos so solveis em gua, podendo ser aplicados tanto no solo quanto via foliar, em ambos os casos com grande eficincia. Todavia, seu uso ainda restrito principalmente em funo do preo elevado dos fertilizantes quelatizados. 7.6.3 FTE As fritas ou F.T.E. (Fritted Trace Elements) so fertilizantes formados pela fuso da slica com xidos, cidos ou sais contendo micronutrientes ou, muitas vezes, formados pela fuso da slica com resduos industriais principalmente da

110 adubao

UFLA/FAEPE interpretao de anlise de solo e manejo da

siderurgia os quais podem conter tambm metais pesados. Trata-se de um produto vtreo, insolvel em gua, que libera lentamente os micronutrientes. O FTE somente pode ser aplicado diretamente no solo, por no ser solvel em gua. Os teores de micronutrientes e de cobalto de alguns FTE comercializados no Brasil so apresentados no Quadro 7.15. Quadro 7.14 Principais quelatos sintticos e materiais orgnicos naturais com capacidade quelante usados como fertilizantes contendo micronutrientes catinicos.Fertilizante Ferro NaFe EDTA NaFe HEDTA NaFe EDDHA NaFe DTPA Orgnicos naturais Zinco Na2Zn EDTA NaZn NTA NaZn HEDTA Orgnicos naturais Cobre Na2Cu EDTA NaCo HEDTA Poliflavonides Mangans Mn EDTA Orgnicos naturais 5-12 5-9 13 9 5-7 14 13 9 5-10 5-14 5-9 6 10 5-10 Teor do micronutriente(%)

Furtini Neto, Tokura e Resende

111

Quadro 7.15 Caractersticas de fertilizantes FTE comercializados no BrasilTeor de micronutrientes Fertilizante Zn B Cu Fe Mn Mo Co .......................................................(%)....................................................... FTE BR8 FTE BR10 FTE BR12 FIE BR24 Micronutri-121 Micronutri-301 7,0 7,0 9,0 18,0 12,0 30,0 2,5 2,5 1,8 3,6 1,0 1,0 1,0 1,0 0,8 1,6 1,0 5,0 4,0 3,0 6,0 10,0 4,0 3,0 4,0 0,1 0,1 0,1 0,2 0,6 0,1 0,15 -

DEFINIO DA QUANTIDADE DE MICRONUTRIENTES NA ADUBAOEm solos deficientes em micronutrientes (Quadros 2.6, 2.9 e 2.11), a quantidade a ser aplicada de cada um desses nutrientes pode ser definida pela produtividade esperada e pelo conhecimento da exigncia de cada espcie vegetal. Os nveis crticos de disponibilidade de micronutrientes em Minas Gerais situam-se em torno de 1,5 mg Zn/dm3; 8 mg Mn/dm3; 30 mg Fe/dm3; 1,2 mg Cu/dm3 e 0,6 mg B/dm3 (CFSEMG, 1999). Um aspecto muito relevante a ser considerado na definio da quantidade de micronutriente a aplicar, especialmente para o boro, diz respeito ao fato de que, para esses nutrientes, o limite entre a essencialidade e a toxidez muito estreito. Portanto, a anlise do solo assume uma importncia ainda maior na definio da quantidade a aplicar, principalmente de boro. 1 Adubao de segurana com micronutrientes O princpio desta filosofia no considera dados de anlise do solo ou de plantas. Sendo mais utilizada no passado, recomendava-se a aplicao a lano e incorporao de um ou mais micronutrientes, levando-se em conta provveis problemas de deficincia em uma dada regio, tipo de solo ou cultura. Embora muito menos comum, no manejo visando construo da fertilidade do solo pode-se fazer uso da adubao corretiva com micronutrientes por meio da aplicao a lano dos micronutrientes com baixa disponibilidade, mais comumente zinco e boro.

112 adubao

UFLA/FAEPE interpretao de anlise de solo e manejo da

Em Gois recomenda-se adubao corretiva com 6 kg de zinco, 1 kg de boro, 1 kg de cobre e 0,25 kg de molibdnio, por hectare, com distribuio a lano, e repetio a cada 4 ou 5 anos (CFSG, 1988). A recomendao de micronutrientes para a cultura da soja de se aplicar a lano, pelo menos 4 kg de zinco/ha (Sousa et al., 1989). A utilizao de fritas, em vez de apenas sulfato de zinco ou xido de zinco, permitiria tambm a aplicao de outros micronutrientes. Em qualquer caso, espera-se um efeito residual de cerca de 4 anos. Conforme j destacado, no caso de se realizar a fosfatagem corretiva, o uso de determinados termofosfatos implicaria na realizao, indiretamente tambm, de uma adubao corretiva com micronutrientes. No mercado encontrase, por exemplo, termofosfato com 0,1% de B; 0,55% de Zn; 0,12% de Mn; 0,05% Cu e 0,006% de Mo. Assim, para um solo com 50% de argila e com a opo de se aplicar 5 kg P2O5 /1% de argila, seriam aplicados 250 kg de P 2O5; 1,5 kg B; 8,2 kg Zn; 1,8 kg Mn; 0,75 kg Cu e 0,09 kg Mo por hectare. 2 Adubao de prescrio com micronutrientes A filosofia de prescrio vem ganhando aceitao entre agricultores e tcnicos. Envolve a obteno de dados de anlises de solo e/ou foliares e calibrao de forma a melhor estimar doses para a produtividade mxima econmica (PME). A EMBRAPA (1996) recomenda a aplicao de doses variveis de micronutrientes baseadas na anlise foliar: 4-6 kg de Zn; 0,5-1,0 kg de B; 0,5-2,0 kg de Cu; 2,5-6,0 kg de Mn, 50-250 g de Mo; e 50-250 g de Co por hectare. A aplicao pode ser feita a lano (com efeito residual de 5 anos) ou no sulco de plantio (dividindo-se a dose total em aplicaes durante 4 anos). O cobalto e molibdnio devem ser adicionados tambm no tratamento de sementes nas doses de 1-5 g e 12-25 g por hectare, respectivamente. 3 Adubao de restituio com micronutrientes Indicada para lavouras com elevados tetos de produtividade e, conseqentemente maior exportao de nutrientes. Compreende o conhecimento dos teores de nutrientes nas partes colhidas ou retiradas para fora da rea de plantio e acompanhamento das produtividades obtidas, de forma a permitir a reposio das quantidades de micronutrientes exportadas por meio das colheitas (CFSEMG, 1999). Embora exija maior refinamento no trabalho do tcnico responsvel e, apesar da carncia de dados de experimentao regionais, esta tcnica deve ter seu uso disseminado, em face do carter cada vez mais competitivo da agricultura.

Furtini Neto, Tokura e Resende

113

8 FERTILIZANTES ORGNICOS E ADUBAAO ORGNICA

8.1 PRINCIPAIS FERTILIZANTES ORGNICOS

1 Resduos VegetaisA adubao orgnica inicia-se pelo retorno de todo e qualquer resduo vegetal para o solo e pela adoo de tecnologias de uso do solo que contribuam para a sustentabilidade dos resduos e/ou da matria orgnica resultante da sua decomposio. Nesse sentido, muito importante a adoo de prticas conservacionistas, de sistemas de plantio que priorizem a criao de uma camada de palha protetora do solo, de rotao de culturas e adoo da adubao verde. O Quadro 8.1 mostra o efeito do preparo do solo e da rotao de cultura na produo de soja na Fazenda Progresso, Mato Grosso, segundo Seguy e Bouzinac (1995). Quadro 8.1 Efeito dos modos de preparo do solo e da rotao de culturas sobre a produtividade da soja (mdia de 6 anos).Preparo Monocultura de soja Grade pesada Arao + gradagem Plantio direto 1674 2118 1986 Cultura anterior Arroz 2562 3090 3042 Milho 2850 3012 3060 ..............................kg de soja/ha..............................

A rotao de culturas, entre outras vantagens, tambm pode ser muito importante para a reciclagem de nutrientes de camadas mais profundas para a camada superficial, considerando a rotao de espcies vegetais com sistemas radiculares mais profundos. Assim, para o milho, tem-se que para uma produtividade de cerca de 6.000 kg/ha, exceto para o nitrognio e fsforo, a maior quantidade de nutrientes retornaria para o solo com o retorno da palhada (Quadro 8.2). Essa a razo da importncia de se considerar a quantidade de nutrientes reciclada ao solo via palhada, quando da definio da quantidade de nutrientes a aplicar.

114 adubao

UFLA/FAEPE interpretao de anlise de solo e manejo da

Quadro 8.2 Quantidades aproximadas de nutrientes extradas pelo milho para uma produtividade de cerca de 6 t/ha, distribudas entre gros (exportao) e palhada (possvel retorno ao solo).Parte da Planta N P2O5 Nutrientes K2O CaO MgO S

....................................................kg.................................................... Gros Palhada Total 85 65 150 45 15 60 40 90 130 15 45 60 16 44 60 13 17 30

As palhadas com menos de 2% de N ou com relao C/N acima de 30 podem resultar no predomnio inicial da imobilizao sobre a mineralizao, com uma reduo temporria na disponibilidade de nitrognio mineral residual. Esse o caso, por exemplo, das palhadas de arroz e de milho. Mas, a mdio prazo, a disponibilidade volta ao valor original e, at mesmo, pode ser aumentada. De qualquer forma, no caso especfico do milho e arroz, se o plantio da cultura subseqente ocorrer num prazo inferior a trinta dias, recomenda-se aumentar a quantidade de nitrognio aplicada no plantio ou antecipar a adubao de cobertura, se a disponibilidade de nitrognio mineral residual for baixa. A adubao verde um caso muito especfico de adubao orgnica, em que leguminosas, principalmente, so cultivadas com o objetivo de incorporar toda a parte area ao solo. Como empregada uma planta de baixa relao C/N, dado o elevado teor de nitrognio advindo da fixao simbitica do N 2 do ar do solo, ocorre um acentuado aumento na disponibilidade de nutrientes, principalmente de nitrognio, alm de um aumento no teor de matria orgnica do solo. Um dos fatores que tm limitado a adoo da adubao verde relaciona-se possibilidade do agricultor no suportar economicamente todo o investimento feito no cultivo da leguminosa sem o corresponde retorno em produto colhido. Todavia, em muitas situaes, o cultivo de leguminosas para adubo verde, alm de benefcios inerentes rotao de culturas controle de nematides, doenas, pragas, ervas daninhas, eroso e reciclagem de nutrientes para a camada superficial promove um significativo acrscimo de nutrientes no solo, notadamente de nitrognio. O uso da adubao verde de crucial importncia em solos mais arenosos ou com argila de baixa atividade (Kage, 1984). O Quadro 8.3 mostra o potencial de incorporao de palhada por algumas leguminosas, bem como a possvel contribuio com nitrognio para dois cultivos subseqentes.

Furtini Neto, Tokura e Resende

115

Quadro 8.3 Produo de massa verde de algumas leguminosas e nitrognio suprido para dois cultivos subseqentes. O teor de matria seca foi tomado como sendo de 20%.Leguminosa Massa Verde (t/ha) 1 cultivo Crotalaria paulinia Lab-Lab Mucuna preta Guandu Feijo-de-porco Crotalaria juncea 40,0 30,0 30,0 25,0 20,0 15,0 120 100 100 80 70 50o

kg N/ha 2 cultivo 70 60 60 50 40 30o

2 Resduos animais De 75% a 85% dos elementos minerais e cerca de 40% do carbono orgnico ingeridos pelos animais so eliminados por meio das fezes e urina. A grande quantidade de resduos associada com a presena de todos os nutrientes, torna quase obrigatrio seu uso como fertilizante. Ademais, se escoado para cursos dgua, apresenta elevado potencial poluente. Por exemplo, o esgoto de uma criao de sunos, em relao demanda bioqumica de oxignio, cerca de 100 vezes mais poluente do que o esgoto urbano. A recuperao dos nutrientes eliminados por meio dos dejetos depende do processo de coleta e de seu armazenamento. A maior parte do nitrognio excretada via urina, enquanto que a quase totalidade dos demais nutrientes est nas fezes. Por isso, o chorume (urina + gua de limpeza) deve ser regado sobre as fezes para incorporar o nitrognio. Ou, deve-se fazer o emprego de cama palhas, capins, serragens, cascas de cereais em criao de animais confinados e/ou estabulados. A exigncia bsica a de que o material utilizado como cama seja um bom absorvente de urina. Os resduos slidos no podem ser armazenados a cu aberto, pois as perdas de nitrognio e potssio podem chegar a 60% com a lavagem pela gua da chuva. Para a manuteno de resduos lquidos chorume em lagoas, a perda de nitrognio por denitrificao pode chegar a 80%. O manejo ideal de resduos animais slidos envolve a coleta diria nos estbulos e armazenamento com baixo teor de umidade em esterqueiras protegidas da chuva, de forma a permitir o processo de cura, com revolvimento peridico, durante cerca de 60 dias. O uso de gesso agrcola ou de superfosfato simples 50% de gesso em peso permite a reduo de perdas de nitrognio por volatilizao, pela formao de sulfato de amnio.

116 adubao

UFLA/FAEPE interpretao de anlise de solo e manejo da

Ademais, h enriquecimento do fertilizante orgnico em clcio, enxofre e, com o supersimples, tambm em fsforo. 3 Resduos agroindustriais Existe um grande nmero de indstrias, notadamente agroindstrias, que produzem resduos orgnicos, com alto potencial de uso na adubao, em vez de polurem rios e lagos. As indstrias de leos vegetais, sucos, doces, farinhas e lcool so alguns dos exemplos. No caso das destilarias de lcool, cada litro de lcool produzido gera 12 litros de vinhaa ou vinhoto. Portanto, bilhes de litros de vinhaa so produzidos anualmente no Brasil. Em funo de seus elevados teores de potssio, a vinhaa usada como substituto de fertilizantes potssicos minerais. 4 Resduos urbanos O processamento de resduos urbanos, tanto do lixo quanto do esgoto, aumenta cada vez mais em face da presso exercida pelas agncias de proteo ao meio ambiente. Os resduos urbanos so de origem humana ou industrial, sendo muito heterogneos, de composio varivel de uma cidade para outra ou de um dia para o outro. O uso destes fertilizantes apresenta as vantagens normalmente atribudas ao uso de fertilizantes orgnicos. Todavia, pela natureza do material, podem trazer problemas de toxidez ao meio ambiente e sade humana e animal. Isto porque podem apresentar teores relativamente elevados de metais pesados, de compostos orgnicos com alto poder poluente, havendo ainda a possibilidade de transmisso de doenas pela presena de bactrias, vrus e parasitas. Os metais pesados Cu, Pb, Ni, Cd e Zn em excesso so fitotxicos e, se acumulados nas plantas, podem trazer problemas ao homem e aos animais. Por isso, os resduos urbanos devem ser usados, preferencialmente, em solos com pH acima de 6,5, condio essa que resulta na precipitao dos metais pesados. Preferencialmente, devem ser usados para a produo vegetal sem consumo direto pelo homem e criaes animais gramados, jardins e silvicultura. Contudo, todas as evidncias mostram que a aplicao dentro de dosagens recomendadas e em solo com pH corrigido, os metais pesados, porventura presentes, no chegam at os gros dos cereais. Em diversos pases, as agncias de controle do meio ambiente no permitem o uso desses fertilizantes na produo de tuberosas, hortalias, fumo, frutas e em pastagens e capineiras para bovino leiteiro.

Furtini Neto, Tokura e Resende

117

8.2 CLCULOS NA RECOMENDAO DE ADUBAO ORGNICASendo os fertilizantes orgnicos fonte da maioria dos nutrientes, porm em concentraes baixas e muito variveis, dependendo da natureza e origem do material, a adubao orgnica geralmente empregada independentemente da adubao mineral ou em substituio parcial a esta. De qualquer forma, o aproveitamento de resduos e outros materiais orgnicos disponveis na propriedade ou que possam ser adquiridos a um custo compensatrio deve ser priorizado, visto que os efeitos para o solo, planta e ambiente so altamente favorveis. 8.2.1 Fertilizantes slidos Conhecendo-se o teor de nutrientes no fertilizante orgnico slido, que dado com base na matria seca, o teor de matria seca ou matria orgnica e o ndice de converso da forma orgnica para a forma mineral, pode se calcular, dentro de um raciocnio lgico, a quantidade de fertilizante a ser aplicada para atender necessidade de um dado nutriente ou a quantidade de nutriente suprida por uma certa quantidade de fertilizante aplicada. A seguinte frmula pode ser til para os referidos clculos:

X=

A . B/100 . C/100 . D/100

em que, X = quantidade do fertilizante orgnico slido aplicado ou a aplicar (kg/ha; g/planta); A = quantidade do nutriente aplicado ou a aplicar (kg/ha; g/planta); B = teor de matria seca do fertilizante (%); C = teor do nutriente na matria seca (%) vide Quadro 6.7; D = ndice de converso (%), apresentado no Quadro 6.6. Tanto para a adubao com fertilizantes slidos quanto lquidos, muito provvel que as necessidades de nutrientes para uma certa adubao no sejam supridas de forma equilibrada com a adubao orgnica. Isto porque a concentrao de nutrientes nos mesmos varivel e pode diferir em muito das relaes das quantidades de nutrientes desejadas na adubao. Considerando a baixa disponibilidade normalmente verificada para os fertilizantes orgnicos e considerando que se deve evitar a aplicao de nutrientes em quantidades muito superiores s recomendadas, os clculos devem tomar por base, inicialmente, o nutriente cuja quantidade ser satisfeita com a menor dose.

118 adubao

UFLA/FAEPE interpretao de anlise de solo e manejo da

8.2.2 Fertilizantes lquidos Para o caso dos fertilizantes orgnicos lquidos (chorume, vinhaa, etc), a frmula passa a ser a seguinte:

X=em que,

A C . D/100

.

X = quantidade do fertilizante orgnico lquido aplicada ou a aplicar (m3/ha; L/planta); C = concentrao do nutriente no fertilizante (kg/m 3; g/L), Vide Quadro 6.8; D = ndice de converso (%), apresentado no Quadro 6.6.

8.3 POCA E FORMA DE APLICAO DE FERTILIZANTES ORGNICOSComo discutido, a manuteno de resduos vegetais na superfcie do solo traz uma srie de benefcios ligados conservao do solo, mas, menos eficiente, a curto prazo, do ponto de vista de adubao. O reduzido contato com o solo diminui grandemente a velocidade de decomposio ou mineralizao. Alm da possibilidade de ocorrncia de processos microbianos fermentativos, que podem aquecer excessivamente o substrato, inviabilizando a germinao de sementes ou pegamento de mudas, a decomposio de resduos vegetais no solo pode exercer um efeito colateral de significativa importncia para a produo da cultura subseqente, relacionado com o fenmeno da alelopatia. A liberao de substncias alelopticas por meio da decomposio de resduos vegetais pode ocorrer diretamente pela lavagem de substncias j presentes no resduo ou pela produo de substncias pelos microrganismos responsveis pelo processo de decomposio. Maior ateno normalmente dada s plantas daninhas, cuja incorporao pode trazer problemas de alelopatia. A decomposio de resduos de caruru apresentou efeito aleloptico inibitrio na germinao e crescimento inicial do algodoeiro, sendo o efeito mais acentuado em solos mais arenosos e sob condies mais cidas (Marques, 1992). A alelopatia tende a ser minimizada com a permanncia dos resduos na superfcie do solo, sem incorporao, ou, no caso de se efetuar a incorporao, o plantio deve ser feito, pelo menos, aps um ms de iniciada a decomposio do resduo. Como regra geral, visando ao suprimento de nutrientes, os adubos orgnicos devem ser incorporados ao solo ou misturados terra de enchimento das covas, cerca de um ms antes do plantio das mudas ou semeadura.

Furtini Neto, Tokura e Resende

119

Os resduos animais devem ser, preferencialmente, incorporados ao solo, no apenas para aumentar a eficincia do fsforo mas, principalmente, para reduzir as perdas de nitrognio por volatilizao. Os fertilizantes orgnicos de origem animal, antes de serem usados, necessitam passar por um processo aerbico de cura. Neste processo, que dura de 60 a 90 dias, h produo de grande quantidade de calor. Assim sendo, uma vez devidamente processados, os resduos animais podem ser aplicados no dia de plantio ou o mais prximo deste, sem qualquer prejuzo s sementes e plntulas. A aplicao de resduos animais na superfcie do solo, sem qualquer incorporao, em lavouras perenes j instaladas, visando principalmente o fornecimento de nitrognio e de potssio, apresenta boa eficincia dada mobilidade desses nutrientes no solo. Se for realizada a aplicao de gesso, a prvia mistura do mesmo na esterqueira, conforme j indicado, ou a sua aplicao junto com o fertilizante orgnico pode reduzir as perdas de nitrognio por volatilizao.

9 MANEJO DA FERTILIDADE EM SISTEMA PLANTIO DIRETOO sistema plantio direto (PD), embora tenha sido introduzido no Brasil na dcada de 70, somente na primeira metade da dcada de 90 teve grande expanso. Superadas as maiores dificuldades que impediam a sua adoo, como a inexistncia de semeadeiras apropriadas e de herbicidas ps-emergentes, o seu uso cresceu rapidamente e, com isso, foram surgindo novos problemas, sendo um deles o manejo da fertilidade do solo. Novos conhecimentos foram gerados nas instituies de pesquisa quanto aos aspectos de correo da acidez, fertilizao e interao desses fatores com o manejo de culturas, especialmente aquelas para cobertura do solo. Do ponto de vista da fertilidade do solo, tm sido verificados os efeitos dos resduos culturais no acmulo de nutrientes e sua influncia nas culturas em sucesso (Muzilli, 1983; Sidiras e Pavan, 1985). Nesses trabalhos atriburam-se tais efeitos mineralizao dos resduos culturais, com acmulo dos nutrientes na camada superficial.

120 adubao

UFLA/FAEPE interpretao de anlise de solo e manejo da

9.1 ALTERAES DA FERTILIDADE NO PERFIL DO SOLONo PD, a ausncia do preparo mecnico do solo pela arao e gradagem e a cobertura do solo com resduos das diversas culturas usadas em sucesso e/ou rotao ao longo dos anos acarretam modificaes marcantes em alguns atributos qumicos, especialmente no teor de matria orgnica, no pH e na saturao por alumnio, e em relao distribuio destes no perfil. Nos trabalhos de Muzilli (1983) e Sidiras e Pavan (1985), conduzidos no estado do Paran, em que se comparam o PD com o convencional, detectaram-se aumentos no teor de matria orgnica na camada superficial do solo pela adoo PD. No que se refere aos efeitos de acidificao, a distribuio dos resduos das plantas sobre a superfcie do solo tem promovido aumentos significativos no pH nas camadas superficiais dos solos sob PD (Sidiras e Pavan, 1985). possvel, contudo, em PD, haver reas com decrscimo de pH em funo da elevadas aplicao de N na forma de NH4+ e pela absoro e exportao de bases. Quanto distribuio e acumulao de Ca, Mg e K nos solos sob PD, tem-se que esses trs nutrientes mostram tendncia de diminuio gradativa da disponibilidade com a profundidade, com maior acmulo nos primeiros centmetros da camada arvel (S, 1993). Por sua vez, o movimento detectado no perfil de solo em PD, no caso do Ca e do Mg , provavelmente, decorrncia de reaes de complexao com solutos orgnicos e maior quantidade de gua infiltrada. Em relao ao K, a maior redistribuio do nutriente no perfil de solo atribuda maior infiltrao de gua (Sidiras e Vieira, 1984). Trabalhos como os de Muzilli (1983) e Sidiras e Pavan (1985) tm demonstrado que o P acumula-se na camada superficial do solo, sobretudo nos primeiros 5 ou 10 cm de profundidade. Esse acmulo do P prximo superfcie confirma a limitada mobilidade deste nutriente no solo, que decorrente das aplicaes anuais de fertilizantes fosfatados, da liberao durante a decomposio dos resduos vegetais e da reduo da fixao pelo menor contato do P com os constituintes inorgnicos do solo (Sidiras e Pavan, 1985). Assim, no PD, deixa de existir a camada arvel para surgir uma camada enriquecida de resduos orgnicos e a liberao de nutrientes no solo (S, 1993).

9.2 AMOSTRAGEM DE SOLO com base nos resultados analticos de uma amostra de solo que se obtm as recomendaes para uso dos insumos: fertilizantes e corretivos. Depreende-se, pelo exposto, que todo o sucesso dessas recomendaes fica, em ltima anlise, na dependncia da amostragem bem feita.

Furtini Neto, Tokura e Resende

121

A anlise de solo , dessa maneira, indispensvel para que se tire o maior proveito possvel do adubo aplicado e sejam usadas a frmula e a quantidade adequadas para cada cultura. No PD, o acmulo constante de restos culturais na superfcie do solo, o no revolvimento do solo e o uso de fertilizantes e corretivos resultam na formao de um gradiente de fertilidade no sentido vertical e maior variabilidade no sentido horizontal, pelas linhas de adubao, principalmente na fase de implantao do sistema (Fiorin et al., 1998). Isso determina modificaes no sistema de amostragem do solo, tanto em termos de local e profundidade de amostragem, quanto do nmero de subamostras que iro compor uma amostra composta (Schlindweine e Anghinoni, 2000). A utilizao das informaes obtidas para a amostragem de solo em reas com cultivo convencional acarreta erros, devido concentrao dos nutrientes no sulco de plantio. Por sua vez, a recomendao de fertilizantes e corretivos requer maior preciso e uma amostragem representativa de toda a rea cultivada. Em Minas Gerais, para rea manejada sob PD, recomenda-se a amostragem de uma fatia de 3 a 5 cm de solo, retirada com p de corte, transversalmente aos sulcos e no espao compreendido entre os pontos mdios entre os sulcos (Figura 9.1). Nos primeiros anos (dois a trs) de PD, recomendase amostrar as camadas de 0 a 10 cm e de 10 a 20 cm, com o objetivo principal de se avaliar a necessidade de calcrio e a variao da acidez entre as duas profundidades. Devido ao uso de altas quantidades de nitrognio, notadamente na forma de sulfato de amnio, ocorre acidificao intensa nas camadas superficiais do solo (0-10 cm). Portanto, sugere-se a coleta de duas amostras em locais adjacentes para cada amostra simples. A primeira amostra, coletada de 0-10 cm, seria usada principalmente para determinao da acidez e recomendao de calagem. A segunda amostra, coletada de 0-20 cm, seria usada para recomendao de adubao. Alm da camada de 0-20 cm, torna-se mandatria a amostragem na implantao do sistema, visando ao correto manejo da fertilidade em termos da correo de corretivos e fertilizantes. Nos anos seguintes, sugere-se amostrar as camadas de 0-5 cm, 5 a 10 cm e 10-20 cm. O nmero de trincheiras amostradas para formar as amostras compostas (nas diferentes profundidades) pode variar de 10 a 15 na gleba (Cantarutti et al., 1999). Para facilitar a operao desta coleta, devido quantidade elevada de terra a ser manuseada na amostragem, sugere-se que, ao fazer a coleta de cada amostra simples, o solo seja colocado em um balde e misturado muito bem. Desta quantidade, retirar uma poro aproximada de 300