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FERNANDA EVERS DE RIZZO ZOONOSES DE INTERESSE EM SAÚDE PÚBLICA EM EQUÍDEOS DE ABATE LONDRINA 2011

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FERNANDA EVERS DE RIZZO

ZOONOSES DE INTERESSE EM SAÚDE PÚBLICA

EM EQUÍDEOS DE ABATE

LONDRINA 2011

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FERNANDA EVERS DE RIZZO

ZOONOSES DE INTERESSE EM SAÚDE PÚBLICA

EM EQUÍDEOS DE ABATE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciência Animal (área de concentração Sanidade Animal) do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Estadual de Londrina, como requisito para obtenção do título de Mestre.

Orientadora Profa. Dra. Roberta Lemos Freire

LONDRINA 2011

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Catalogação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca Central da

Universidade Estadual de Londrina.

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

R627z Rizzo, Fernanda Evers de. Zoonoses de interesse em saúde pública em equídeos de abate / Fernanda

Evers de Rizzo. – Londrina, 2011.

54 f. : il.

Orientador: Roberta Lemos Freire.

Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) – Universidade

Estadual de Londrina, Centro de Ciências Agrárias, Programa

de Pós-Graduação em Ciência Animal, 2011.

Inclui bibliografia.

1. Zoonoses – Teses. 2. Doenças transmissíveis em

animais – Teses. 3. Equídeo – Doenças transmissíveis –

Teses. 4. Zoonoses – Saúde pública – Teses. I. Freire, Roberta

Lemos. II. Universidade Estadual de Londrina. Centro de

Ciências Agrárias. Programa de Pós-Graduação em Ciência

Animal. III. Título.

CDU

619:616.993

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FERNANDA EVERS DE RIZZO

ZOONOSES DE INTERESSE EM SAÚDE PÚBLICA

EM EQUÍDEOS DE ABATE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciência Animal (área de concentração Sanidade Animal) do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Estadual de Londrina, como requisito para obtenção do título de Mestre.

COMISSÃO EXAMINADORA

____________________________________

Profa. Dra. Roberta Lemos Freire Universidade Estadual de Londrina (UEL)

____________________________________

Prof. Dr. Gercio Luiz Bonesi Universidade Norte do Paraná (UNOPAR)

____________________________________ Prof. Dr. João Luis Garcia

Universidade Estadual de Londrina (UEL)

Londrina, 18 de Março de 2011.

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O presente trabalho foi realizado no Laboratório de Zoonoses e Saúde

Pública do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva da Universidade

Estadual de Londrina - UEL, como requisito parcial a obtenção do título de Mestre

em Ciência Animal pelo Programa de Pós-graduação em Ciência Animal (Área de

Concentração: Sanidade Animal), sob orientação da Profª. Drª. Roberta Lemos

Freire.

Os recursos financeiros para o desenvolvimento do projeto foram obtidos juntos ás

agências e órgãos de fomento à pesquisa, abaixo relacionados:

1. CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

2. PROPPG – Pró Reitoria de Pesquisa e Pós Graduação da Universidade

Estadual de Londrina

3. CAPES – Conselho de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior/

MEC

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Agradeço a Deus pela vida,

aos meus pais por tudo,

a toda minha família pela força e

aos amigos pela amizade.

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AGRADECIMENTOS

Nada teria sido possível sem a grande ajuda que recebi de toda a minha família e

dos colegas da Universidade Estadual de Londrina.

Aos meus pais Roberto e Maria Ivone, ao meu irmão Roberto e sua esposa Danielle,

aos tios Paulo e Mercedes e a prima Paula, por estarem sempre presentes nas

minhas derrotas e vitórias, pelo constante incentivo, amor, amizade e carinho.

Aos amigos e orientadores Profª. Drª. Roberta Lemos Freire e Prof. Dr. Italmar

Teodorico Navarro por terem realmente me orientado, no sentido mais completo da

palavra.

Aos Professores Doutores João Luis Garcia e Julio Cesar de Freitas, pelo essencial

auxílio em etapas fundamentais durante o percurso.

Aos Médicos Veterinários Dr. Gercio Luiz Bonesi e Homero Arruda Junior, e aos

funcionários, pela fundamental colaboração durante as coletas de amostras nos

frigoríficos.

Ao Dr. Carlo Turilli por ter tornado possível, através de seus contatos, o estágio na

Itália.

Aos profissionais do Istituto Zooprofilattico Sperimentale delle Venezie, em especial

a Dr.ssa Gioia Capelli, por toda a ajuda prestada durante o estágio em Legnaro,

Padova, Itália.

Ao Dr. Edoardo Pozio e Dr.ssa Maria Angeles Gomez Morales, do Istituto Superiore

di Sanitá em Roma, pela grande receptividade e por não terem medido esforços para

o meu aprendizado durante o estágio.

Às técnicas de laboratório M. V. Drª. Elizabete Regina Marangoni Marana e Beatriz

de Souza Lima Nino e aos residentes Jonatas Campos Almeida e Lygia Maria

Sandeski, pelo grande empenho.

Aos amigos de jornada, Prof. M.Sc. Dauton Luiz Zulpo e às mestrandas Marilu

Constantino Max e Sthefany Pagliari, por sempre estarem ao meu lado.

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Às mestrandas Maria Paula Ewald, Aline Benitez e Alessandra Taroda pela

paciência e disposição durante o experimento.

A todos os amigos mestrandos e doutorandos, pelos momentos felizes vividos.

A todos os estagiários do Laboratório de Zoonoses e Saúde Pública, especialmente

Viviane Saporiti, Leila Saad, Ana Carolina Pereira, Fernanda Pinto Ferreira, Igor

Salles Perecin e Lucas Rodrigues Lincoln de Carvalho.

A todos os funcionários do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva, em

especial Valdecir Gomes da Silva, Maria José Rodrigues da Silva e Neusa Ribeiro

Ramos.

À secretária da Pós Graduação de Medicina Veterinária e grande amiga, Helenice

Kieski, pela grande paciência sempre.

Certamente vocês foram os grandes e verdadeiros colaboradores desse sonho!

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RIZZO, Fernanda Evers de. Zoonoses de interesse em Saúde Pública em equídeos de abate. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2011. 3.1 RESUMO Esse trabalho teve como objetivos, verificar a presença de Toxoplasma gondii em cérebro; Trichinella spp em musculatura e anticorpos anti-Toxoplasma gondii, anti-Leishmania spp e anti-Leptospira spp em soro dos equídeos abatidos em dois matadouros-frigoríficos com Serviço de Inspeção Federal. Foram coletadas 398 amostras de cérebro, masséter e sangue, de animais de ambos os sexos e idades variadas, provenientes de seis estados brasileiros. As amostras de soro foram

submetidas à reação de imunofluorescência indireta para T. gondii (IFI 64) e

Leishmania spp (IFI 40), obtendo 46 (11,6%) e 183 (46,0%) de positividade, respectivamente. Para a Leptospira spp, os soros foram testados pela

soroaglutinação microscópica (SAM 100), tendo 123 (30,9%) resultados positivos. Foi possível identificar o sorovar mais provável de infecção em 95 (77,2%) destes, sendo o Hardjo (26,3%) e Autumnalis (12,6%) os mais presentes. Ao bioensaio, 14 (3,5%) amostras foram positivas para o T. gondii, sendo 12 (3,0%) à IFI e duas com presença de taquizoítas e/ou cistos cerebrais. Dos 14 animais positivos ao bioensaio, 20 amostras biológicas foram submetidas à PCR, obtendo resultados positivos em três (14,3%). No total, pela IFI em soro de equídeos e pelo bioensaio em camundongo, 60 (15,0%) amostras foram positivas ao T. gondii. As 398 amostras de masséter analisadas não revelaram a presença da larva de Trichinella spp. Os resultados mostram que os equídeos pesquisados destinados ao abate, estiveram expostos aos agentes da toxoplasmose, leishmaniose e leptospirose, porém, não apresentaram importância epidemiológica para a triquinelose.

Palavras-Chave: Abate, Equídeos, Toxoplasma gondii, Leishmania, Leptospira, Trichinella.

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LISTA DE TABELAS, FIGURAS E FOTOS

Quadro 1. Principais características das espécies de Trichinella e genótipos ......... 13

Quadro 2. Legislação adotada por matadouros-frigoríficos exportadores para países

da Comunidade Européia .......................................................................................... 23

Tabela 1. Resultados positivos na prova sorológica IFI para Toxoplasma gondii em

398 amostras de soro de equídeos abatidos em matadouros-frigoríficos no Paraná,

2009 - 2010. .............................................................................................................. 38

Tabela 2. Resultados positivos no bioensaio para Toxoplasma gondii em 398

amostras de cérebro de equídeos abatidos em matadouros-frigoríficos no Paraná,

2009 – 2010 .............................................................................................................. 39

Tabela 3. Resultados positivos para Toxoplasma gondii, Leishmania spp, pela IFI e

Leptospira spp, pela SAM, em equídeos abatidos em matadouros-frigoríficos no

Paraná, segundo a região de procedência, 2009 - 2010. .......................................... 39

Tabela 4. Sorovares mais prováveis de Leptospira spp detectados pela SAM em 398

soros de equídeos abatidos em matadouros-frigoríficos no Paraná, 2009 –

2010............................................................................................................................40

Tabela 5. Número de animais positivos à sorologia para Leishmania spp¹,

Toxoplasma gondii¹ e Leptospira spp² em 398 equídeos abatidos em matadouros-

frigoríficos no Paraná, por estado e regiões brasileiras, 2009 -

2010............................................................................................................................40

Figura 1. Ciclo de vida da Trichinella spp ................................................................. 15

Foto 1. Larvas de Trichinella spiralis – Istituto Superiore di Sanità, Roma, Itália...... 21

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SUMÁRIO

1 CAPÍTULO 1 – TRIQUINELOSE HUMANA E ANIMAL .......................................09

1.1 RESUMO........ ...................................................................................................... 10

1.2 ABSTRACT........ .................................................................................................... 11

1.3 INTRODUÇÃO........ ................................................................................................ 12

1.4 EPIDEMIOLOGIA........ ............................................................................................ 15

1.4.1 Triquinelose em Humanos........ ........................................................................ 15

1.4.2 Triquinelose em Animais........ .......................................................................... 18

1.4.3 Trichinella spp no Brasil........ ........................................................................... 19

1.5 Legislação e Métodos de Detecção.................................................................... 19

1.6 Medidas de Controle........ .................................................................................. 21

1.6.1 Animais em Área endêmica........ ...................................................................... 21

1.6.2 Animais em Áreas de baixa Prevalência....... ................................................... 22

1.6.3 Tratamento destinado às carnes parasitadas....... ............................................ 23

1.7 Referências........ ................................................................................................ 25

2 OBJETIVOS ......................................................................................................... 30

2.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................................. 30

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS....................................................................................... 30

3.CAPÍTULO 2 - ZOONOSES DE INTERESSE EM SAÚDE PÚBLICA EM

EQUÍDEOS DE ABATE............................................................................................. 31

3.1 RESUMO........ ...................................................................................................... 32

3.2 ABSTRACT........ .................................................................................................... 33

3.3 INTRODUÇÃO........ ................................................................................................ 34

3.4 MATERIAL E MÉTODOS........ .................................................................................. 35

3.4.1 Local de Coleta e Amostragem ........................................................................ 35

3.4.2 Coleta de Sangue, Cérebro e Masséter........................ ................................... 35

3.4.3 Testes Sorológicos ........................................................................................... 36

3.4.3.1 Imunofluorescência Indireta - IFI ................................................................... 36

3.4.3.2 Soroaglutinação Microscópica - SAM ............................................................ 36

3.4.4 Bioensaio para Diagnóstico de Toxoplasma gondii .......................................... 36

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3.4.5 Reação em Cadeia pela Polimerase - PCR ..................................................... 37

3.4.6 Digestão Enzimática para Diagnóstico de Trichinella ....................................... 37

3.4.7 Análise Estatística ............................................................................................ 37

3.5 RESULTADOS ........................................................................................................ 38

3.6 DISCUSSÃO........................ .................................................................................. 41

3.7 REFERÊNCIAS........................ ............................................................................... 46

CONCLUSÃO.............. ............................................................................................. 52

ANEXO

Aprovação no Comitê de Ética em Experimentação Animal......................................53

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1 CAPÍTULO 1

TRIQUINELOSE HUMANA E ANIMAL

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RIZZO, Fernanda Evers de. Triquinelose humana e animal. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2011. 1.1 RESUMO

Os nematódeos intracelulares do gênero Trichinella acometem carnívoros e onívoros de sangue quente, enquanto os animais selvagens são os reservatórios naturais do parasita. Foram identificados 12 genótipos no gênero, são eles: T. spiralis, T. nativa, T. nelsoni, T. britovi, T. murrelli, T6, T8, T9 e T12, T. pseudospiralis, T. zimbabwensis e T. papuae. O ciclo de vida é direto, sendo que o parasita completa o estágio intestinal e muscular em um único hospedeiro. A principal fonte de infecção para o homem é o suíno doméstico, porém espécies como o javali e o equino têm grande importância epidemiológica. A triquinelose humana está distribuída em vários continentes sendo relacionada a práticas alimentares culturais, como o consumo de carne crua ou mal cozida. A incidência mundial é de 10.000 casos por ano com 0,2% de mortalidade. A infecção nos animais ocorre pela alimentação com produtos de origem animal contendo cistos do parasita, exposição a roedores, predação, canibalismo e consumo de cadáveres ou fezes de carnívoros contendo carne mal digerida. O Brasil apresenta o status de país livre de triquinelose, porém, face do prejuízo que pode causar à saúde pública, a triquinelose tem sido constante preocupação de exigentes mercados consumidores de carne. Em 2005 foram estabelecidas novas regras para o controle oficial da detecção de Trichinella, incluindo a amostragem em matadouros como parte do exame post mortem em suídeos e equídeos a serem exportados. As medidas de controle da doença para os animais incluem as boas práticas de produção, gestão agrícola, biossegurança, armazenamento de alimentos e manejo alimentar, programas de controle de roedores, higiene e vigilância da fauna silvestre por meio de triagens sorológicas contínuas. No homem, a prevenção da triquinelose é baseada na educação ao consumidor sobre o risco de aquisição de carne não inspecionada, o consumo de carne crua ou mal cozida e os animais possíveis portadores de larvas. Palavras chave: Brasil, triquinelose, diagnóstico, suídeos, equídeos.

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RIZZO, Fernanda Evers de. Human and animal Trichinellosis. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2011. 1.2 ABSTRACT The nematodes of the genus Trichinella affect warm-blooded carnivores and omnivores and wild animals are their natural reservoir. We identified 12 genotypes in the genus, as follows: T. spiralis, T. native, T. nelsoni, T. britovi, T. Murrell, T6, T8, T9 and T12, T. pseudospiralis, T. Zimbabwean and T. papuae. The life cycle is direct, the parasite completes intestinal and muscular stage in a single host. The main source of infection for humans is the domestic pig, but species such as wild boar and horse have great epidemiological importance. The human trichinellosis is spread across several continents and is related to cultural practices as consumption of raw or undercooked meat. The worldwide incidence is 10.000 cases per year with 0.2% of mortality. In animals, the infection is acquired thruogh feeding of products of animal origin containing parasite cysts, exposure to rodents, predation, cannibalism and consumption of carcasses or feces of carnivores containing undigested meat. Brazil has the status of a country free of trichinellosis, but, due to the injury that it may cause to public health, trichinellosis has been a constant concern of demanding meat markets. In 2005, new rules were established for the official control of Trichinella detection, including sampling in slaughterhouses as part of post-mortem examination of swine and horses to be exported. Measures of disease control in animals include good manufacturing practices at the farm, farm management, biosecurity, food storage and feeding management programs, rodent control, hygiene and monitoring of wildlife with frequent serological screening. In humans, the prevention is based on consumer education about the risk of acquisition of uninspected meat, the consumption of raw or undercooked meat and possible larvae hosts.

Key words: Brazil, trichinellosis, diagnosis, pigs, horses.

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1.3 INTRODUÇÃO

Os parasitas do gênero Trichinella são nematódeos intracelulares capazes de

infectar todos os carnívoros e onívoros de sangue quente, sendo um dos patógenos

zoonóticos mais difundidos no mundo. O reservatório natural do parasita são os

animais carnívoros e onívoros silvestres (POZIO, 2005). Face ao prejuízo que pode

causar à saúde pública, a triquinelose tem sido constante preocupação dos mais

exigentes mercados consumidores de carne (MAILLOT, 1998).

O gênero engloba parasitas do tecido muscular que pertencem ao Reino

Animalia, Filo Nematoda, Classe Adenophorea, Ordem Trichuridea, Família

Trichinellidae, superfamília Trichinelloidea. Os machos têm cerca de 1mm de

comprimento. O esôfago corresponde a um terço do comprimento total do corpo e a

cauda tem duas pequenas asas cloacais, mas nenhum espículo. A fêmea tem 3 mm

de comprimento tendo larvas em desenvolvimento no útero (URQUHART et al.,

1996).

Foram identificados 12 genótipos: T. spiralis, a nórdica T. nativa, a africana T.

nelsoni, a euroasiática de climas temperados T. britovi, T. murrelli e os genótipos

Trichinella T6, T8, T9 e T12 (Quadro.1). Há ainda, as espécies não císticas: T.

pseudospiralis, que infecta indistintamente as aves e mamíferos, T. zimbabwensis e

T. papuae, (POZIO et al., 2009).

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13

ESPÉCIES DE

TRICHINELLA

OU GENÓTIPO

DISTRIBUIÇÃO CICLO HOSPEDEIROS

NATURAIS

ENCAPSULADA

T. spiralis Cosmopolita Doméstico,

Selvagem

Suínos, ratos,

raramente carnívoros

T. nativa Áreas de Ártico e Sub-ártico Selvagem Carnívoros terrestres e

marinhos

Trichinella T6 Canadá e Estados Unidos Selvagem Carnívoros

T. britovi Áreas temperadas da região

do paleártico, noroeste da

África

Selvagem,

raramente

doméstico

Carnívoros, raramente

suíno

Trichinella T8 Sul da África e Namíbia Selvagem Carnívoros

T. murrelli Áreas temperadas da região

do Neártico

Selvagem Carnívoros

Trichinella T9 Japão Selvagem Carnívoros

T. nelsoni Região da Etiópia Selvagem Carnívoros, raramente

suíno

Trichinella T12 Argentina Selvagem Carnívoros

NÃO ENCAPSULADA

T. pseudospiralis Cosmopolita Selvagem,

raramente

doméstico

Mamíferos e aves

T. papuae Papua Nova Guiné,

Thailandia

Selvagem,

raramente

doméstico

Suíno, crocodilos de

água salgada

T. zimbabwensis Etiópia, Moçambique, África do Sul, Zimbabue

Selvagem,

doméstico

Crocodilos do Nilo,

lagartos, leão

Quadro 1 - Principais características das espécies de Trichinella e genótipos*

*Fonte: E. Pozio / Veterinary Parasitology 149 (2007) 3–21

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14

O gênero Trichinella pode estar associado a dois grandes ciclos biológicos, o

ciclo silvestre e o doméstico (POZIO, LA ROSA e GOMEZ MORALES, 2001). A

passagem do parasita de animais silvestres para os domésticos pode ocorrer

quando há manejo inadequado entre animais de criação e os de vida livre, com a

exposição de animais, principalmente leitões recém desmamados, à musculatura de

cadáveres de animais silvestres positivos, devido ao não cumprimento da gestão de

resíduos de animais na fazenda ou até mesmo através da caça (EFSA, 2005).

O "ciclo doméstico" refere-se ao padrão de transmissão onde o foco está em

granja de suínos alimentados com aparas de carne de porco cruas, resíduos

contendo carne putrefata ou cadáveres. A transmissão também pode ocorrer através

de animais sinantrópicos que permanecem próximos às granjas de suínos (POZIO,

2007). O "ciclo silvestre" se dá entre os animais de vida livre e a infecção ocorre pelo

predatismo ou canibalismo, com ingestão de tecido muscular infectado. Um dos

fatores biológicos mais importantes para promover a transmissão do parasita é a

capacidade fisiológica das larvas de primeiro estágio em sobreviver em carcaças em

decomposição, devido ao metabolismo anaeróbio que favorece a sobrevivência do

parasita na carne em putrefação (POZIO, 2005; POZIO e MURRELL, 2006).

Segundo Gamble (1997) o ciclo de vida do parasita é direto, completando

todos os estágios num único hospedeiro (Fig. 1). É fundamentalmente endocelular e

apresenta a fase intestinal e muscular. O ciclo inicia-se com a ingestão de cistos

contendo a larva de primeiro estágio (L1). É liberada durante a digestão, pela ação

do suco gástrico e segue ao intestino delgado onde sofre quatro mudas, tornando-se

sexualmente madura após dois dias. A fertilização ocorre entre as vilosidades do

intestino delgado, com a morte dos machos após este processo, e as fêmeas

penetrando profundamente nas vilosidades intestinais. Após três dias são formadas

novas L1, que seguem pelos vasos linfáticos em direção à musculatura. Ao penetrar

na musculatura, as L1 são encapsuladas pelo hospedeiro, crescem e adotam a

característica posição enrolada. A célula muscular parasitada é denominada “célula

protetora”. O ciclo se completa em duas semanas e as larvas infectantes podem

permanecer viáveis por vários anos (URQUHART et al., 1996).

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Figura 1 Ciclo de vida da Trichinella spp. Fonte: CDC - Centers for Disease Control and Prevention.

1.4 EPIDEMIOLOGIA

1.4.1 TRICHINELOSE EM HUMANOS

Em humanos, a principal via de transmissão é através do consumo de carne

crua ou mal cozida contendo larvas encistadas do parasita. Produtos como salames,

linguiça e bacon, elaborados com carne contendo a forma infectante do parasita,

também podem transmiti-la (POZIO e MARUCCI, 2003).

A fonte mais importante de infecção humana no mundo é o suíno doméstico.

No entanto, as carnes de javali e cavalos têm desempenhado um papel significativo

em surtos nas últimas décadas (GOTTSTEIN, POZIO e NÖCKLER, 2009). A

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16

ocorrência de triquinelose em seres humanos é estritamente relacionada às práticas

alimentares culturais, incluindo o consumo de carne crua ou mal cozida. A incidência

mundial é de 10.000 casos/ano com taxa de mortalidade de 0,2%. Porém, em muitos

países, o reduzido número de diagnósticos da infecção ocorre devido à falta de

testes sorológicos e do desconhecimento da doença por parte dos médicos (POZIO,

2007).

Os primeiros sintomas de triquinelose são gastrointestinais, ocorrem uma a

duas semanas após a infecção e incluem náusea, diarréia, vômitos e dores

abdominais. A segunda fase da infecção tem como sintomas cefaléia, febre, fadiga,

calafrios, tosse, edema peri-orbicular, dores articulares e musculares, podendo durar

até oito semanas. Os sintomas variam de muito leve a grave e dependem do número

de larvas infectantes consumidas na carne. Em infecções leves a moderadas a

maioria dos sintomas desaparecem em poucos meses e a morte, apesar de rara,

pode ocorrer em casos graves (CDC, 2011).

Na Argentina, T. spiralis é comum em animais domésticos, sinantrópicos e

silvestres e surtos em humanos ocorrem anualmente (RIBICICH et al., 2005;. ITRC;

2011). Entre 1990 e 1999, 5.217 casos foram documentados, 91% destes nas

províncias centrais de Buenos Aires, Córdoba e Santa Fé (BOLPE E BOFFI, 2001).

A incidência de triquinelose em seres humanos na Argentina é de 1.000 casos/ano

(RIBICICH et al., 2005).

A larva de Trichinella spp nunca foi verificada em animais ou seres humanos

na Bolívia. Porém, foram detectados anticorpos em soros de suínos domésticos de

diferentes regiões do país (BJORLAND et al., 1993.; BROWN et al., 1996) e no soro

de sete pessoas assintomáticas (BARTOLONI et al., 1999).

No Chile era comum as altas taxas de infecção humana, no entanto a

prevalência declinou progressivamente; entre 1991 e 2000 variou de 0,7 para 0,2

casos por 100 mil habitantes (SCHENONE et al., 2002).

A triquinelose em humanos é frequente no México devido ao consumo de

carne de suínos domésticos; 766 infecções com 14 óbitos foram registrados entre

1952 e 1997 (ORTEGA-PIERRES, ARRIAGA e YEPEZ-MULIA, 2000). O número de

infecções provavelmente é subestimado como sugerido por um inquérito sorológico

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em uma área rural em 1997, onde 1,9% dos 954 soros coletados ao acaso foram

positivos (DE LA ROSA et al., 1998).

Zimmermann (1970) encontrou 36% de positividade ao examinar cadáveres

humanos nos Estados Unidos, antes da Segunda Guerra Mundial, e a carne de

suíno doméstico foi a principal fonte de infecção. No período entre 1997 a 2001, 72

casos da doença foram relatados e em 52 casos a fonte de infecção foi identificada:

30 casos (43%) associados à ingestão de carne de caça (urso, puma ou javali), 12

(17%) associados à ingestão de produtos suínos comerciais e nove (13%)

associados à ingestão de carne de porco não comercial (ROY, LOPEZ e SCHANTZ,

2003; NELSON et al., 2003).

O primeiro surto de triquinelose humana associado à ingestão de carne de

cavalo foi descrito em 1975 na Itália (MANTOVANI, FILIPPINI e BERGOMI, 1980;

MAILLOT, 1998). Os regulamentos europeus daquela época apenas consideravam o

controle da carne de suíno (MAILLOT, 1998).

Na França, a carne de javali foi a responsável por 135 casos em 20 surtos de

infecções humanas descritas entre 1975 e 2006 (DE BRUYNE et al., 2006). No

entanto, a via de transmissão mais importante para a população francesa é a carne

de cavalo importada, com 2296 casos entre 1975 e 1999 (BOIREAU et al., 2000;

ITRC, 2011). A triquinelose também foi documentada em humanos devido ao

consumo de carne de caça importada do exterior (ANCELLE et al., 2005).

As infecções por Trichinella spp são notificadas na Itália desde 1948 e vários

casos são devido ao consumo de carne de javali (198 casos), de carne de suínos

criados livres na natureza (165 casos) e carne de raposa vermelha (11 casos)

(POZIO, LA ROSA e GOMEZ MORALES, 2001). Porém, os mais importantes

tiveram como fonte de infecção a carne de cavalo importada. Foram 1038 casos ao

longo de seis surtos que ocorreram entre 1975 e 2005 (POZIO E MURRELL, 2006).

Em 2005, um novo surto de triquinelose em seres humanos devido ao consumo de

suínos livres na natureza foi relatado na ilha da Sardenha (POZIO et al., 2006).

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1.4.2 TRIQUINELOSE EM ANIMAIS

A infecção nos animais ocorre pela alimentação com produtos de origem

animal contendo cistos do parasita, à exposição aos roedores, à predação, ao

canibalismo e o consumo de cadáveres ou fezes de carnívoros contendo carne mal

digerida (GAMBLE, 1997; LIU e BOIREAU, 2002). Portanto, quando há falhas no

manejo dos animais domésticos e silvestres, a infecção por Trichinella spp,

especialmente T. spiralis, acontece tanto do ambiente silvestre para o doméstico

quanto o caminho inverso, favorecendo a transmissão do parasita e aumentando a

biomassa desse nematódeo no ciclo silvestre (POZIO E MURRELL, 2006).

A via de transmissão aos equinos não é bem documentada, porém, algumas

infecções são decorrentes da alimentação com resíduos de carne, visando a

engorda destes animais antes da venda (MURRELL et al., 2004). A infecção por

Trichinella spp em equinos é rara na natureza, mas altas taxas de infecção são

encontradas nas regiões onde esta parasitose é comum em suínos domésticos

(BOIREAU et al., 2000).

Murrel et al. (2004) após a descoberta de um equino infectado com Trichinella

spiralis na Sérvia, realizaram estudos epidemiológicos sobre como estes herbívoros

adquirem a doença. Este enigma persiste desde os primeiros surtos humanos

relacionados à carne de equino infectada em 1970. No estudo, foi realizada a

rastreabilidade do animal infectado e, após entrevistas e investigações, concluiu-se

que o proprietário forneceu restos de alimentos visando melhorar as condições do

animal antes da venda. Na mesma pesquisa, outras investigações realizadas com

produtores de equinos da região evidenciaram que esta era uma prática comum.

Seis ensaios com alimentação à base de carne foram conduzidos para estudar o

comportamento alimentar do equino em relação à carne. Foram oferecidos carne

moída crua ou cozida a 219 equinos demosntrando que houve o consumo por 32%

dos animais.

A infecção em seres humanos foi documentada em 55 países, mas em alguns

destes a triquinelose ocorreu apenas entre minorias étnicas e em turistas. A

triquinelose foi documentada em 43 países nos animais domésticos (principalmente

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suínos) e em 66 em animais selvagens. Faltam informações sobre a ocorrência da

doença em animais domésticos e de vida livre em 92 países (POZIO, 2007).

1.4.3 Trichinella spp NO BRASIL

Provavelmente, todas as espécies de mamíferos são suscetíveis à infecção

por Trichinella spp, porém, o ciclo natural depende de condições climáticas e ocorre,

principalmente, nos países de clima frio e temperado.

No Brasil não há relatos de triquinelose em animais e seres humanos, mesmo

havendo proximidade a países endêmicos como a Argentina (BJORLAND et al.,

1993; SOBESTIANSKY et al., 1999; VENTURIELLO et al., 1998). Estudos brasileiros

desenvolvidos em suínos e ratos não evidenciaram a presença de Trichinella spp.

Catão et al. (1975) examinaram 6.452 amostras de diafragma de suínos adultos

procedentes dos estados do Paraná (75,69%), Minas Gerais (23,12%), Goiás

(0,91%) e São Paulo (0,26%), pelo método de digestão preconizado (OIE, 2004), e

não observaram larvas do parasita. Paim e Côrtes (1979) também não detectaram

larvas de Trichinella spp em triquinoscópio, ao analisar 594 diafragmas de Rattus

norvegicus, capturados na zona portuária do município de Santos, SP, mesmo

sendo um local propício ao ingresso de roedores trazidos de outras regiões. Daguer,

Geniz e Santos (2005) estudaram, entre os anos de 2002 a 2004, 3.774 suínos

adultos provenientes de 68 municípios dos três estados da região Sul do Brasil,

utilizando o método de digestão preconizado (OIE, 2004) e não detectaram a

presença de larvas de Trichinella spp.

Os achados no Brasil demonstram que não há a presença de Trichinella spp

no ciclo doméstico do parasita. Até junho de 2010, o Brasil apresentava o status de

país com ausência da triquinelose (OIE, 2011).

1.5 LEGISLAÇÃO E MÉTODOS DE DETECÇÃO

A triquinelose tem sido uma preocupação constante dos mercados

consumidores de carne mais exigentes, devido ao prejuízo que pode causar à saúde

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pública (MAILLOT, 1998). A legislação da União Européia, por meio das Diretivas

77/96/CEE; 84/319/CEE; 89/321/CEE e 94/59/CEE, determinava que todos os

suínos, abatidos para consumo nos países pertencentes à comunidade, deveriam

ser pesquisados quanto a presença de larvas de T. spiralis (COMUNIDADE

ECONÔMICA EUROPÉIA, 1977, 1984).

A legislação atual para o controle oficial da detecção de Trichinella na carne é

o Regulamento (CE) do dia 5 de dezembro de 2005 publicado no Jornal Oficial da

UE L338/60 de 22.12.2005. Nela é incluída a obrigatoriedade de submeter carcaças

de equídeos, javalis de vida livre e outras espécies domésticas e silvestres à

amostragem em matadouros, como parte do exame post mortem (COMUNIDADE

EUROPÉIA, 2005). Também estabeleceu mudanças no peso mínimo da amostra de

carne a ser utilizada nos testes, baseada na diretiva 94/59/CEE, e aumentou de 1gr

para 5gr podendo-se agrupar amostras de 20 equídeos, desde que não ultrapasse

100g por amostra analisada.

A digestão artificial de amostras coletivas de 1gr a 5 gr de tecido muscular é o

método de eleição em matadouros devido a eficiência em detectar a presença da

larva entre 17 a 21 dias pós-infecção (GAMBLE, 1998; OIE, 2004). Os testes

utilizados para a pesquisa de parasitas nos equídeos são efetuados em amostra de

músculos onde a probabilidade da larva (Foto 1) ser detectada é maior (MAILLOT,

1998). Os músculos estriados esqueléticos mais parasitados são os que possuem

maior atividade, dentre os quais o diafragma, a língua, os masseteres, os

intercostais, os bíceps, os tríceps, flexores e os extensores do carpo e tarso. As

fibras musculares lisas raramente são parasitadas (BOWMAN et al., 2009;

URQUHART et al., 1996).

A sensibilidade e especificidade da sorologia para suínos pela técnica de

ELISA é de aproximadamente 98%, com o antígeno E/S de excreção/secreção, no

entanto existe problemas com resultados falsos positivos em situações de baixa

prevalência (GAMBLE et al., 2004). A resposta sorológica em suínos pode persistir

sem redução por pelo menos seis meses após a infecção (NÖCKLER et al., 2000;

GAMBLE et al., 2004).

Pozio et al. (2002) detectaram, pela técnica de ELISA em soro equino,

anticorpos circulantes quatro a cinco meses após a infecção experimental, mesmo

havendo a presença de larvas de Trichinella infectantes nos animais. Segundo Hill et

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al. (2007b), a falta de uma resposta sorológica detectável por 26 semanas após

inoculação e a persistência de larvas infectantes na musculatura por pelo menos um

ano demonstra que o método de recuperação do parasita é o teste mais adequado

para a detecção da infecção por Trichinella no equino.

Foto 1. Larvas de Trichinella spiralis Fonte: Istituto Superiori di Sanità, Roma, Itália

1.6 MEDIDAS DE CONTROLE

1.6.1 ANIMAIS EM ÁREA ENDÊMICA

A infecção por Trichinella spp nos animais ocorre devido a ausência ou a

suspensão de medidas rotineiramente empregadas nas propriedades rurais,

especialmente em áreas sem recursos, e representa uma ameaça permanente à

segurança alimentar (GAJADHAR et al., 2009). Um exemplo é a Croácia, país que

entre os anos de 1997 e 1999 testou 600.240 suínos abatidos e obteve positividade

em 0,16%; já em 2006 a prevalência diminuiu para 0,02%, entre 950.000 suínos

avaliados. A queda foi resultado de ações de vigilância intensiva, controle de

roedores, condenação pelo serviço de inspeção de carcaças de suíno infectadas e a

compensação do valor ao proprietário. Outro passo importante foi a elaboração de

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um programa de certificação de suíno livre de Trichinella e a manutenção da

vigilância sobre a fauna silvestre e outros animais domésticos que serviriam como

sentinela, por meio de triagens sorológicas contínuas (GAJADHAR et al., 2009).

1.6.2 ANIMAIS EM ÁREAS DE BAIXA PREVALÊNCIA

O controle de infecção de Trichinella na carne suína é tradicionalmente

realizado pela Inspeção de carcaças durante o abate ou o processamento pós-abate

para inativação do parasita. A melhoria no sistema de produção, aliada à diminuição

da prevalência do parasita em suínos domésticos de países desenvolvidos,

permitem documentar o nível de segurança do suíno na fazenda. Nos EUA, foi

desenvolvido um programa de certificação de fazendas e rebanhos livres de

Trichinella spp, baseado em controle e documentação de práticas agrícolas

(PYBURN et al., 2005). Neste programa, o conhecimento de fatores de risco para a

exposição de suínos à Trichinella foi usado, instituindo critérios a serem aplicados

em locais de produção. Dentre esses fatores destacam-se a utilização de restos de

alimentos sem tratamento térmico, o canibalismo e a presença de roedores próximos

à criação. As boas práticas de produção na fazenda incluem aspectos de gestão

agrícola, biossegurança, alimentação dos animais, armazenamento de alimentos,

programas de controle de roedores e higiene em geral (PYBURN et al., 2005).

Um estudo piloto realizado em 461 locais de produção, concedeu a 450

(97,6%) deles, a entrada para esse programa de certificação. A permissão ocorreu

somente após os testes sorológicos realizados nos suínos se apresentarem

negativos. Para a permanência no programa, estes locais sofrem auditorias

regulares, através de cronograma estabelecido pelo Programa de Normas para

Certificação de propriedades livre de Trichinella (GAJADHAR et al., 2009).

Em muitos países europeus, a triquinelose é uma doença a ser monitorada,

mas para os países membros da União Européia é obrigatório o monitoramento, de

acordo com a directiva da União Européia sobre zoonoses, 2003/99/CE. A Comissão

Europeia (CE) tem o Regulamento (CE) nº. 2075/2005 que estabelece regras para

os controles oficiais para detecção de Trichinella na carne, buscando a melhoria da

segurança alimentar para os consumidores europeus. Prevê ainda a possibilidade

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da implantação de um programa de testes para os rebanhos, por categorias ou

regiões onde o risco de infecção por Trichinella suína é oficialmente reconhecida

como insignificante.

1.6.3 TRATAMENTO DESTINADO ÀS CARNES PARASITADAS

A prevenção da triquinelose em seres humanos é baseada na educação do

consumidor, sobre o risco do consumo de carne sem inspeção, de maneira crua ou

mal cozida, de animais que podem ser portadores das larvas. Três métodos tem

mostrado inativar a larva de Trichinella na carne: uso do calor, da temperatura de

congelamento e a irradiação.

O cozimento deve atingir temperatura interna superior a 71ºC por mais de 1

minuto. A irradiação pode ser um método aceitável para o processamento de carne

segura para consumo humano, porém, é recomendada apenas para os alimentos

embalados selados e somente em países onde a irradiação de alimentos é permitida

(GAMBLE et al., 2000).

O congelamento permite inativar as larvas de Trichinella spiralis na carne de

suíno. Sendo assim, os matadouros-frigoríficos que exportam para a Comunidade

Européia seguem legislação que alia tempo, temperatura de congelamento e

diâmetro ou espessura da carne (Quadro. 2).

LEGISLAÇÃO T ( ºC) HORAS OBSERVAÇÕES

Diretriz CEE nº. 77/96 -25 -25

240 480

< 25 cm Entre 25 e 50 cm

Regulamento CE nº. 2075/2005 de 5/12/2005 Método I

-25 -25

240 480

< 25 cm Entre 25 e 50 cm

Regulamento CE nº. 2075/2005 de 5/12/2005 Método II

-15 -23 -29

480 240 144

≤ 15 cm

-15 -25 -29

720 480 280

Entre 15 e 50 cm

Regulamento CE nº. 2075/2005 de 5/12/2005 Método III

-18 -21 -23 -26 -37

106 82 63 48 1/2

Combinação Tempo/Temp. (ºC)

Circular nº. 207/2008 CGPE/DIPOA 26/02/2008 -15 -25 -29

720 480 288

Carcaças positivas /suspeitas

Quadro 2 - Legislação adotada por matadouros-frigoríficos exportadores para países da Comunidade Européia.

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Na ausência de sistemas industriais de tempo e temperatura, consumidores e

manipuladores de carne devem assegurar que os cortes de carne tenham até 15 cm

de espessura e sejam submetidos a -15ºC por três semanas, já cortes de até 50 cm

de espessura deve ser congeladas por quatro semanas (GAMBLE et al., 2000).

Entretanto, larvas de T. britovi sobreviveram em carne suína por 3 semanas a -20ºC.

Larvas de T. spiralis na carne de equino congelada a -18ºC podem sobreviver por

até 4 semanas (HILL, et al., 2007a). A carne de caça, muitas vezes pode abrigar

espécies resistentes ao congelamento por vários meses ou anos, como na carne de

urso onde o parasita pode permanecer por cinco anos (DICK e POZIO, 2001).

Outros métodos não são considerados seguros e incluem a preparação de

carnes e produtos derivados através de processos de cura, secagem, ou defumação

ou em fornos de microondas (GAMBLE et al., 2000, 2007).

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1.7 REFERÊNCIAS

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2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Pesquisar as zoonoses de interesse em saúde pública em equídeos abatidos

em matadouro-frigorífico com Serviço de Inspeção Federal.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Verificar a presença de anticorpos anti-Leptospira spp, anti-Toxoplasma

gondii, anti-Leishmania spp no soro dos equídeos;

Verificar a presença de Trichinella spp pelo método direto de digestão

enzimática em musculatura esquelética estriada;

Verificar a presença de T. gondii em cérebro equino, por meio de bioensaio

em camundongos;

Submeter ao PCR, as amostras de Toxoplasma gondii isoladas em bioensaio.

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3 CAPÍTULO 2

ZOONOSES DE INTERESSE EM SAÚDE PÚBLICA EM EQUÍDEOS

DE ABATE

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RIZZO, Fernanda Evers de. Zoonoses de interesse em Saúde Pública em equídeos de abate. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) – Universidade Estadual de Londrina, 2011. 3.1 RESUMO Esse trabalho teve como objetivos, verificar a presença de Toxoplasma gondii em cérebro; Trichinella spp em musculatura e anticorpos anti-Toxoplasma gondii, anti-Leishmania spp e anti-Leptospira spp em soro dos equídeos abatidos em dois matadouros-frigoríficos com Serviço de Inspeção Federal. Foram coletadas 398 amostras de cérebro, masseter e sangue de animais de ambos os sexos e idades variadas, provenientes de seis estados brasileiros. As amostras de soro foram

submetidas à reação de imunofluorescência indireta para T. gondii (IFI 64) e

Leishmania spp (IFI 40), obtendo 46 (11,6%) e 183 (46,0%) de positividade, respectivamente. Para a Leptospira spp, os soros foram testados pela

soroaglutinação microscópica (SAM 100), tendo 123 (30,9%) resultados positivos. Foi possível identificar o sorovar mais provável de infecção em 95 (77,2%) destes, sendo o Hardjo (26,3%) e Autumnalis (12,6%) os mais presentes. Ao bioensaio, 14 (3,5%) amostras foram positivas para o T. gondii, sendo 12 (3,0%) à IFI e duas com presença de taquizoítas e/ou cistos cerebrais. Dos 14 animais positivos ao bioensaio, 20 amostras biológicas foram submetidas à PCR, obtendo resultados positivos em três (14,3%). No total, pela IFI em soro de equídeos e pelo bioensaio em camundongo, 60 (15,0%) amostras foram positivas ao T. gondii. As 398 amostras de masséter analisadas não revelaram a presença da larva de Trichinella spp. Os equídeos pesquisados destinados ao abate estiveram expostos aos agentes da toxoplasmose, leishmaniose e leptospirose, porém, não apresentaram importância epidemiológica para a triquinelose.

Palavras-Chave: Abate, Equídeos, Toxoplasma gondii, Leishmania, Leptospira, Trichinella.

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RIZZO, Fernanda Evers de. Zoonoses of public health interest in slaughterhouse equids. Paper. (Masters degree in Animal Science) – State University of Londrina, 2011. 3.2 ABSTRACT The objectives of this paper were to investigate the presence of Toxoplasma gondii in brains; Trichinella spp in musculature and antibody anti-Toxoplasma gondii, anti-Leishmania spp and anti-Leptospira spp in equine sera slaughtered in slaughterhouses provided with inspection service. For such, it was collected 398 samples of brain, masseter and blood, of both genders and different ages, from six Brazilian states. The sera samples were subjected to indirect fluorescence antibody

test (IFAT) for T. gondii (IFAT 64) and Leishmania spp (IFAT 40), resulting in 46 (11.6%) and 183 (46%) of positives, respectively. For Leptospira spp, the sera were

tested through microscopic aglutination (MAD 100), with an outcome of 123 (30.9%) of positive results. It was possible the identification of the most likely serovar of infection in 95 (77.2%) of them. The serovars Hardjo (26.3%) and Autumnalis (12.6%) were the most present. In the artificial digestion, 14 (3.5%) samples were positiive to T. gondii, being it 12 (3,0%) to IFAT and two with presence of tachyzoites and/or brain cists. Out of the 14 positive animals in the artificial digestion, 20 biological samples were subjected to PCR, obtaining positive results in three (14,3%). In total, through IFAT in equid sera and artificial digestion in mice, 60 (15%) samples were positive to T. gondii. All the 398 masseter samples analysed did not reveal the presence of Trichinella spp larva. The results reveal that the equids researched and destined to slaughtering have been exposed to the toxoplamosis, leishmaniasis and leptospirosis agents, but presented no epidemiological importance to trichinellosis. Keywords: Slaughterhouse, Equids, Toxoplasma gondii, Leishmania, Leptospira, Trichinella.

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3.3 INTRODUÇÃO

No Brasil, a criação de equídeos não é uma atividade econômica voltada ao

abate. A produção desta carne é proveniente de animais que foram afastados do

trabalho ou da reprodução e apresentam como único destino a exportação, uma vez

que o comércio interno é inexpressivo (TORRES e JARDIM, 1987; JUNQUEIRA, et

al., 2005). Em 2005, o Paraná foi responsável por 60% das exportações de carne de

equídeo, seguido pelos estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo;

em 2008 esta taxa diminuiu para 47% (ORSOLINI, 2005; MEDEIROS, 2009).

Ao contrário do Brasil, a utilização dessa carne na alimentação humana é

uma prática comum em países da Europa e Ásia, caracterizando um mercado

globalizado e gerando preocupação quando o consumo da carne de forma crua ou

mal cozida, quando vindos de animais de produção infectados, podendo ser

importante via de transmissão para agentes etiológicos como Toxoplasma gondii e

Trichinella. O caso de toxoplasmose congênita relatado na França, onde uma

gestante sororeagente se reinfectou provavelmente após consumir carne equina

importada da América do Sul (ELBEZ-RUBINSTEIN et al., 2009), bem como os

surtos de triquinelose humana em países Europeus (MAILLOT, 1998) e da América

do Sul (ECHAZARRETA et al., 2010) indicam a importância de se avaliar a

epidemiologia desses agentes nos equídeos exportados. No Brasil, a triquinelose

não foi relatada em animais e no homem, apesar de ser endêmica na Argentina, um

país vizinho (BJORLAND et al., 1993; VENTURIELLO et al., 1998).

A prevalência da toxoplasmose em equinos varia conforme a região, o

diagnóstico e o ponto de corte adotado. No Paraná, Vidotto et al. (1997) obtiveram

14,3% positivos à imunofluorescência indireta (IFI) quando estudaram equinos

vindos dos estados do PR, SP, MT e MS. Garcia et al. (1999) encontraram 12,1% de

positividade em equinos de propriedades rurais do norte do Paraná.

O estudo da presença de anticorpos contra Leishmania spp e Leptospira spp

em equídeos pode sinalizar o que ocorre no meio ambiente humano, pois dividem o

mesmo espaço e participam da lida junto aos animais de produção. A leishmaniose é

uma doença endêmica no Brasil e os equídeos podem ser reservatórios para a

forma cutânea, a Leishmaniose Tegumentar Americana - LTA (BRASIL, 2007).

A incidência de leptospirose humana é elevada em países de clima tropical

e/ou subtropical (LEVETT, 2000; SOUZA, 1988). No Brasil, de 2007 a 2010, foram

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notificados aproximadamente 12 mil casos humanos, com letalidade em torno de

10% (SINAM, 2011). Nos animais, os suínos e bovinos são mais susceptíveis que os

equinos, caprinos e ovinos. (MORIKAWA, 2011).

O presente trabalho teve como objetivo pesquisar as zoonoses de interesse

em saúde pública em equídeos abatidos em matadouro-frigorífico.

3.4 MATERIAL E MÉTODOS

3.4.1 Local de coleta e amostragem

Foram realizadas coletas de amostras de equídeos abatidos em dois

frigoríficos exportadores de carne, com o Serviço de Inspeção Federal no Estado do

Paraná, tendo a escolha aleatória dos lotes. A população alvo foi cerca de 4000

animais e a amostra foi calculada utilizando o programa EPI 6,04 (DEAN et al., 1994)

com prevalência estimada de 50%, erro de 5% e nível de significância de 5%,

totalizando 384 animais. O trabalho foi registrado e aprovado pelo Comitê de Ética

em Experimentação Animal da Universidade Estadual de Londrina – PR (Nº 59 e

60/09).

3.4.2 Coleta de Sangue, Cérebro e Masséter

Entre Julho de 2009 a Janeiro de 2010, foram estudados equídeos adultos de

idades variadas e ambos os sexos, provenientes dos seguintes estados e cidades

do Brasil: Paraná (n=153) - Apucarana (4), Araruna (4), Borrazópolis (4), Cafezal do

Sul (15), Campina Grande do Sul (27), Imbituva (13), Londrina (3), Lobato (33),

Marquinho (12), Novo Itacolomi (7), Prudentópolis (12), Ribeirão Claro (9), Rio Bom

(2), São João do Ivaí (3), Santa Fé (4); Minas Gerais (n=53) – Frutal (33), Itapagipe

(20); Rio de Janeiro (n=39) – Italva (39); Goiás (n=6) – Caiapônia (6); Mato

Grosso do Sul (n=99) – Coronel Sapucaia (10), Deodápolis (21), Paranaíba (22),

Rio Verde de Mato Grosso (46) e Mato Grosso (n=49) – Cáceres (20), Canarana

(12), Cuiabá (17).

Foram colhidas 398 amostras de 10 mL de sangue dos animais,

posteriormente ao atordoamento e sangria. Após a retração do coágulo o soro foi

acondicionado em tubos de polietileno de 1,5 mL e armazenado a –15ºC até a

realização das técnicas sorológicas. Aproximadamente 50 gr. de cérebro e masséter

foram colhidas. Os cérebros foram individualmente acondicionados e mantidos em

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caixas isotérmicas até a chegada aos laboratórios de Zoonoses e Saúde Pública,

Protozoologia e Leptospirose da Universidade Estadual de Londrina. Já as amostras

de masséter foram encaminhadas ao laboratório de análises de Trichinella dos

próprios matadouros-frigoríficos.

3.4.3 Testes Sorológicos

3.4.3.1 Imunofluorescência indireta - IFI

As análises sorológicas para a verificação da presença de anticorpos anti–T.

gondii foram realizadas pela Imunofluorescência Indireta (IFI), segundo Camargo

(1973). Foram utilizados taquizoítas da amostra LIV-5 como antígeno, conjugados

anti-IgG (Sigma Chemical) e controles positivo e negativo para os soros de equídeos

e murinos. Considerou-se positiva a diluição 1:16 para os camundongos e a

diluição 1:64 para os equídeos. A presença de anticorpos anti-Leishmania spp

também foi verificada utilizando-se a IFI (OLIVEIRA et al., 2008) e lâminas

(Imunodot, Jaboticabal - SP), contendo as formas promastigotas de Leishmania

chagasi como antígeno. Foi utilizado conjugado anti-IgG (Sigma Chemical) e

controles positivo e negativo para equídeo. Considerou-se positivo a diluição 1:40.

3.4.3.2 Soroaglutinação Microscópica - SAM

A SAM foi utilizada para detectar a presença de anticorpos anti-Leptospira

spp (MYERS, 1985). As amostras de soro foram testadas para 24 sorovares de

leptospiras: Australis, Bratislava, Autumnalis, Fortbragg, Butembo, Castellonis,

Bataviae, Canicola, Whitcombi, Cynopteri, Grippotyphosa, Hebdomadis,

Icteroaemorrhagiae, Copenhageni, Panamá, Pomona, Pyrogenes, Hardjo, Wolffi,

Shermani, Tarasovi, Sentot, Ballum, Andamana. A leitura foi realizada em

microscópio de campo escuro, aumento de 200x, e consideraram-se positivos os

títulos ≥ 100.

3.4.4 Bioensaio para diagnóstico de Toxoplasma gondii

O bioensaio foi realizado com macerado de cérebro de 398 equídeos. Para

cada amostra processada de cérebro foram inoculados dois camundongos com 1 mL

pela via intraperitoneal. Os animais foram observados durante seis semanas quanto

a presença de sinais clínicos como pêlos arrepiados e prostração. Quando um ou

mais sinais clínicos foram constatados, realizou-se a eutanásia e a busca de

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taquizoítas em líquido peritoneal, através de lâmina e lamínula, sendo feita a leitura

através de microscópio óptico. Ao final de seis semanas realizou-se a eutanásia nos

camundongos sobreviventes para a coleta de sangue e realização da IFI e cérebro

para a observação da presença de cisto tecidual utilizando microscópio de luz óptica,

com aumento de 40x (NAVARRO et al., 1992; DUBEY et al., 1995).

3.4.5 Reação em Cadeia pela Polimerase - PCR

As amostras positivas no bioensaio foram submetidas à extração de DNA

através do Kit DNeasy® Blood & Tissue (Qiagem) para posterior confirmação pela

PCR. A amplificação do DNA de T. gondii foi realizada utilizando Primers Tox4

(CGCTGCAGGGAGGAAGACGAAAGTTG) e Tox5

(CGCTGCAGACACAGTGCATCTGGATT), Taq DNA polimerase, dNTP 100 mM

(Invitrogen, life Technologies, EUA). Em cada teste foram utilizados controles

positivo (cepa LIV 5) e negativo (HOMAN, VERCAMMEN e DE BRAEKELEER,

2000).

3.4.6 Digestão enzimática para diagnóstico de Trichinellla

Foram colhidas 10g de masséter dos 398 animais selecionados e submetidas

5g ao método de digestão artificial de amostras combinadas, com pepsina suína

(1:10.000), ácido clorídrico e agitador magnético. O processo é considerado

satisfatório quando não permanecer na peneira após a digestão, mais de 5% do

peso inicial da amostra. As amostras foram examinadas em estereomicroscópio,

com ampliação de 15 a 20 vezes. Em caso de dúvida no resultado ou se este for

positivo, as 5g restantes são utilizadas para a contraprova. Se o parasita for

encontrado, deverá ser mantido em álcool etílico 90%, para conservação e

identificação da espécie (OIE, 2004).

3.4.7 Estatística

As prevalências foram calculadas para cada agente etiológico. As

associações dos resultados obtidos foram realizadas utilizando-se o teste de qui-

quadrado e o pacote estatístico Epi 6,04 (DEAN et al., 1994). Adotou-se o nível de

significância de 5%.

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3.5 RESULTADOS

As 398 (100%) amostras foram negativas para a pesquisa de larvas de

Trichinella spp. Sessenta (15,0%; IC95%=11,7-18,9) amostras foram positivas ao T.

gondii pela IFI em equídeos e pelo bioensaio em camundongos, os resultados não

foram coincidentes. Quarenta e seis (11,6%) equídeos foram positivos à IFI (Tab. 1)

para T.gondii e 14 (3,5%) ao bioensaio: 12 (3,0%) pela IFI em camundongos e dois

pela presença de taquizoítas em líquido peritoneal e/ou cisto em cérebro de

camundongo. Dos 14 equídeos positivos ao bioensaio para o T. gondii, 20 amostras

biológicas (14 provenientes de cérebro equídeo; três de líquido peritoneal, duas de

cérebro e uma de pulmão de camundongo) foram submetidas à PCR. Obteve-se

positividade em três (14,3%) amostras, duas de cérebro de equídeo e uma de líquido

peritoneal de camundongo (Tab. 2). Houve diferença significativa (p=0,0001) quanto

a região de origem dos animais amostrados, a menor prevalência foi registrada na

região Centro-Oeste (Tab. 3).

Tabela 1. Resultados positivos na prova sorológica IFI para Toxoplasma gondii em

398 amostras de soro de equídeos abatidos em matadouros-frigoríficos no Paraná,

2009 - 2010.

Região Estado Município IFI * SUL PR Araruna 1

PR Borrazópolis 1

PR Cafezal Do Sul 1

PR Campina Grande do Sul 3

PR Imbituva 5

PR Lobato 4

PR Londrina 2

PR Marquinho 4

PR Novo Itacolomi 1

PR Prudentópolis 1

PR Ribeirão Claro 2

PR Rio Bom 2

SUDESTE MG Itapagipe 2

MG Frutal 5

RJ Italva 4

MS Coronel Sapucaia 2

MS Deodápolis 1

CENTRO OESTE MT Cáceres 1

MT Cuiabá 4

TOTAL 46 (11,6%)

IFI = imunofluorescência indireta; * Resultados positivos à IFI

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Tabela 2. Resultados positivos ao bioensaio para Toxoplasma gondii em 398

amostras de cérebro de equídeos abatidos em matadouros-frigoríficos no Paraná,

2009 – 2010.

Estado Cidade IFI Isolado (Taquizoíta/Cisto)

PCR* (n=20)

PR Lobato 1 Cisto 1 C.E.

PR Marquinho 1 Taquizoíta 1 L.P.

PR Prudentópolis 3 - 1 C.E.

PR Campina Grande do Sul 2 -

PR Novo Itacolomi 1 -

RJ Italva 1 -

MS Paranaíba 3 -

TOTAL 12 (3,0%) 2 (0,5%)

IFI = imunofluorescência indireta, C.E. = cérebro equídeo, L.P = líquido peritoneal *Amostras submetidas a PCR a partir dos resultados positivos ao Bioensaio.

Dos 398 soros submetidos à pesquisa de anticorpos anti-Leishmania spp pela

IFI, 183 (46,0%; IC95%=41,0-51,0) foram positivos. Houve diferença significativa

(p=0,0001) quanto a região de origem dos equídeos amostrados, a menor

prevalência foi registrada na região Sudeste (Tab. 3).

De 398 soros testados para Leptospira spp, 123 (30,9%; IC95%= 26,4-35,7)

foram reagentes à SAM, com títulos entre 100 e 1600. Destes, 73 (59,4%) reagiram

a um único sorovar e 50 (40,7%) a mais de um sorovar: 28 (22,8%) com igual título

entre os diferentes sorovares e 22 (17,9%) com título maior para um sorovar,

indicando o sorovar mais provável. Em 95 (77,2%) reagentes foi possível identificar o

sorovar mais provável de infecção (Tab. 4). Não houve diferença significativa

(p=0,2706) quanto a positividade à sorologia e as regiões brasileiras (Tab. 3).

Tabela 3. Resultados positivos para Toxoplasma gondii, Leishmania spp pela IFI e

Leptospira spp pela SAM, em equídeos abatidos em matadouros-frigoríficos no

Paraná, segundo a região de procedência, 2009 - 2010.

Região (Estados amostrados)

T. gondii* Leishmania spp* Leptospira spp**

Positivos / Total (%) Positivos / Total (%) Positivos / Total (%)

Sul (PR) 37 / 152 (24,2) 73 / 152 (48,0) 53 / 152 (34,9)

Sudeste (MG, RJ) 12 / 92 (13,0) 36 / 92 (39,1) 23 / 92 (25)

Centro-Oeste (GO, MS, MT) 11 / 154 (7,1) 74 / 154 (48,1) 47 / 154 (30,5)

TOTAL 60 / 399 (15,0) 183 / 398 (46,0) 123 / 398 (30,9)

* p= 0,0001 ** p= 0,2706

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Tabela 4. Sorovares mais prováveis de Leptospira spp detectados pela SAM em 398

soros de equídeos abatidos em matadouros-frigoríficos no Paraná, 2009-2010.

SOROGRUPO SOROVAR POSITIVOS

Serjroe Hardjo 25

Autumnalis Autumnalis 12

Pyrogenes Pyrogenes 08

Canicola Canicola 08

Grippotyphosa Grippotyphosa 08

Shermani Shermani 08

Icterohaemorrhagie Copenhageni 05

Australis Bratislava 02

Ballum Castellonis 02

Cynopteri Cynopteri 03

Icterohaemorrhagie Icterohaemorrhagie 03

Australis Australis 02

Autumnalis Butembo 02

Pomona Pomona 02

Tarasovi Tarassovi 02

Autumnalis Fortbragg 01

Serjroe Wolffi 01

Djasiman Sentot 01

Total 95

A porcentagem de positivos a dois ou três agentes etiológicos avaliados foi de

25,6% (102/398) (Tab.5).

Tabela 5. Número de animais positivos à sorologia para Leishmania spp¹,

Toxoplasma gondii¹ e Leptospira spp² em 398 equídeos abatidos em matadouros-

frigoríficos no Paraná, por estado e regiões brasileiras, 2009 - 2010.

REGIÃO ESTADO T.g. + Lsh. T.g. + L. Lsh. + L. T.g. + Lsh. + L. TOTAL

Sul PR 13 11 25 7 56

Centro-Oeste GO 0 0 0 0 0

MG 2 1 9 1 13

MS 2 1 12 1 16

Sudeste RJ 2 0 1 0 03

MG 3 1 10 0 14

TOTAL 22 14 57 09 102

¹ IFI = imunofluorescência indireta, ² SAM = soroaglutinação microscópica, T.g. = Toxoplasma gondii, Lsh. = Leishmania spp, L. = Leptospira spp

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3.6 DISCUSSÃO

Os resultados negativos, para a busca de larvas de Trichinella spp, obtidos

nos equídeos desse estudo é compatível com os estudos desenvolvidos no Brasil,

em suínos e ratos. Catão et al. (1975) examinaram pelo método oficial de digestão,

6.452 amostras de diafragma de suínos adultos dos estados do Paraná (75,69%),

Minas Gerais (23,12%), Goiás (0,91%) e São Paulo (0,26%), não observaram larvas

do parasita. Paim e Côrtes (1979), utilizando o triquinoscópio, não detectaram larvas

do nematódeo em 594 diafragmas de Rattus norvegicus, da zona portuária do

município de Santos, SP, mesmo sendo um local propício ao ingresso de roedores

de outras regiões. Daguer, Geniz e Santos (2005), também pelo método oficial,

analisaram musculatura de 3.774 suínos adultos de 68 municípios dos três estados

da região Sul do Brasil entre os anos de 2002 e 2004, obtendo resultados negativos

para a presença de larvas de Trichinella spp. Os resultados encontrados para

Trichinella spp, tanto neste trabalho quanto nos demais desenvolvidos no Brasil,

confirmam o status de país com ausência da triquinelose divulgado em junho de

2010 (OIE, 2011).

Pozio et al. (2002) analisaram 2.502 soros de equinos pelo método de ELISA

e detectaram anticorpos circulantes somente quatro a cinco meses após a infecção

experimental com Trichinella spp, apesar da presença de larvas infectantes,

indicando que a técnica é ineficiente para o diagnóstico ou determinação da

prevalência da infecção em equinos. A digestão artificial de 5g de tecido muscular

preferencial continua sendo o método de eleição para a prevenção da triquinelose

humana em carne equina (OIE, 2004).

Murrel et al. (2004), após a detecção de um cavalo infectado com Trichinella

spiralis na Sérvia, estudaram como o equino adquiriu a doença, sendo um herbívoro.

O cavalo infectado foi rastreado e constatou-se o fornecimento ao animal de restos

de alimentos contendo carne, visando a melhoria das condições do animal antes da

venda. Investigações revelaram que esta era uma prática comum entre os criadores,

demonstrando que a exposição intencional de cavalos a resíduos de carne

representa um fator de risco para a triquinelose (MURREL et al., 2004).

Em relação à toxoplasmose, no presente estudo obteve-se 11,6% de positivos

ao Toxoplasma gondii concordando com Vidotto et al. (1997) que obtiveram 14,3%

de positividade pela IFI, ao estudarem 561 soros equinos provenientes dos estados

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do PR, SP, MT e MS, também abatidos em um dos matadouros-frigoríficos da

pesquisa. Tais resultados são semelhantes mesmo após o intervalo de 13 anos.

Garcia et al. (1999) registraram 12,1% de prevalência em 173 amostras de soro de

equinos de propriedades rurais em Jaguapitã, PR.

Resultados inferiores aos deste estudo foram demonstrados por Mendonça,

Cerqueira e Araujo (2001), que obtiveram 1,5% positivos ao testarem pela IFI, 343

amostras de equídeos procedentes de duas regiões da Bahia. Naves et al. (2005),

encontraram prevalência de 5,1% ao avaliarem 117 soros de equinos da raça

Mangalarga de três haras de Uberlândia, MG. Camossi, Silva e Langoni (2010)

testaram 253 soros de equinos da região de Botucatu, SP, e verificaram prevalência

de 0,4% ao T. gondii. No entanto, Laranjeira, Ishizuka e Hyakutake (1985),

verificaram pela IFI, 27,6% de prevalência ao analisarem 750 equinos de

propriedades do estado de Mato Grosso do Sul. Estas diferenças podem ser

atribuídas a vários fatores como: resistência da espécie equídea à infecção,

condições ambientais, ao tipo de cepa, alimentação fornecida e fonte de água,

densidade de gatos ou felideos silvestres no meio ambiente (KIJLSTRA e

JONGERT, 2009; KOUAM et al., 2010; MENDONÇA, CERQUEIRA e ARAUJO,

2001; NAVES et al., 2005; TENTER, HECKEROTH e WEISS, 2000; VIDOTTO et

al.,1997). Segundo Kouam et al. (2010), o tipo de atividade e a localização dos

equídeos tem um efeito significativo sobre a presença de infecção pelo T. gondii.

Dubey et al. (1999), consideraram que o risco de contrair a infecção pelo

consumo da carne equina é menor por esta espécie apresentar baixa prevalência ao

T. gondii. No entanto, o relato de toxoplasmose congênita na França devido a

reinfecção de uma gestante que provavelmente se alimentou de carne equina

(ELBEZ-RUBINSTEIN et al., 2009) e os poucos estudos que avaliam a

toxoplasmose em equídeos por meio do bioensaio, abrem um caminho para esta

discussão. No presente estudo, foram encontrados cistos cerebrais e taquizoítas em

camundongos após a inoculação de macerado de cérebro de equídeo, evidenciando

a possibilidade de transmissão do parasita por meio de cistos teciduais desses

animais.

No Brasil, o Serviço de Inspeção Federal segue as normas internacionais

quanto à carne de equídeo, porém, os cistos de T. gondii não são visíveis a olho nu

e a garantia da ausência do risco de infecção se dá com a utilização da temperatura

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de congelamento e cozimento adequado da carne antes do consumo. Considerado

que a obtenção de carne de equídeos ocorre a partir de tipos de criação e critérios

sanitários diversos, a gestão de qualidade na criação desses animais, influenciaria

na diminuição do risco de infecção por agentes etiológicos como Trichinella e

Toxoplasma, passíveis de transmissão pela ingestão de carne e vísceras, em

regiões onde seu consumo é habitual.

Quanto a Leishmaniose, este estudo revelou 46% equinos positivos. Os

resultados obtidos por estado variam de 35,9% no Rio de Janeiro a 48% no Paraná,

demonstrando a disseminação da leishmaniose no ambiente de origem dos animais,

a atuação do equino como sentinela e a possibilidade de participação destes

animais na cadeia de transmissão da Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA).

Falqueto, Varejão e Sessa (1987) em Mangaraí, ES, uma área considerada

endêmica para a leishmaniose mucocutânea, examinaram 14 equinos e colheram

fragmentos de lesão de três deles, sendo isolada a forma amastigota de Leishmania

em um dos animais. Follador et al. (1999) em um surto ocorrido no povoado de

Canoa-BA, analisaram 77 equídeos pelo ELISA e obtiveram 17 (22%) positivos.

Vedovello Filho et al. (2008) pesquisaram Leishmania em 55 equinos de áreas

endêmicas do PR e obtiveram 42 (76,3%) positivos, em três destes (7,1%) foi

detectado material genético de Leishmania (Viannia). Por serem surtos, os

resultados sugerem a participação dos equinos no ciclo da doença, além da

participação no processo de urbanização da LTA.

Castro et al. (2005), porém, em um estudo realizado em comunidades rurais

de quatro municípios do Vale do Ribeira, nos anos de 1993 a 2003, não encontraram

indícios de que os cavalos seriam reservatório de L. (V.) braziliensis. Dos equinos

examinados apenas quatro apresentaram lesões cutâneas compatíveis à LTA e que

foram negativas ao isolamento e ao exame anátomo-patológico.

Rangel et al. (1990) em um estudo sobre a fauna de flebotomíneos em um

foco de leishmaniose cutânea em Mesquita, RJ, observaram os hábitos alimentares

de flebotomíneos utilizando o homem e os animais como iscas. Demonstraram que

Lutzomyia (N.) intermedia buscava com mais frequência os equinos do que os cães

e o homem. Neste foco foi observado, em algumas residências e áreas vizinhas, a

presença simultânea de L. Intermedia, cães, equinos e homens infectados com L.

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brasiliensis, sugerindo que a transmissão peri-domiciliar pode ocorrer pelos animais

domésticos.

A degradação de mata nativa, alta umidade, introdução de novas culturas e

monoculturas, a densidade e oferta de matéria orgânica aos flebotomíneos no

peridomicílio e no abrigo de animais, parecem ser fatores de risco para a infecção,

além de atividades relacionadas ao cultivo do solo e o acesso dos animais nas

margens dos rios (FOLLADOR et al., 1999; VEDOVELLO FILHO et al., 2008;

YOSHIDA et al., 1990).

Em relação à Leptospirose, o estudo demonstrou que dos 398 soros testados,

30,9% foram positivos e em 77,2% foi possível identificar o sorovar mais provável,

sendo o Hardjo (26,3%) e Autumnalis (12,6%) foram os mais presentes. O sorovar

Hardjo ocorre em bovinos e a presença em equinos é devida, provavelmente, à

criação consorciada destes animais. O sorovar Autumnalis sugere o contato dos

equinos a animais silvestres. Resultados semelhantes de prevalência foram obtidos

por Favero et al. (2002) quando analisaram 2.903 equinos dos estados de RS, SC,

PR, SP, RJ, MG, MT, PB e PI, entre 1984 a 1997, através da SAM para 24

sorovares e obtiveram 29% de positividade. Os sorovares mais frequentes foram o

Icterohaemorrhagiae no PR, SP, SC, RJ e MG; Grypotiphosa no MT; Pirogenes na

PB e Patoc no RS; não sendo observados resultados positivos no PI.

Linhares et al. (2005) avaliaram 182 equinos de Goiânia e destes, 45,05%

foram reagentes a um ou mais, dos 16 sorovares testados, o sorovar mais

encontrado foi o Icterohaemorrhagie. Hashimoto et al. (2007) ao estudarem entre os

anos de 1996 a 2005, 320 equinos de tração de carroças em Londrina/PR, pela SAM

para 22 sorovares, obtendo 66,88% positivos, sendo o sorovar mais provável o

Icterohaemorrhagiae. Lilenbaum et al. (2010) testaram pela SAM para 21 sorovares

de Leptospira spp, 140 éguas Campolina com baixo desempenho reprodutivo e

obtiveram 58,6% positivos, sendo 87,8% ao sorovar Bratislava, reforçando indícios

de que este sorovar esteja adaptado ao equino e provoque sinais clínicos brandos

associados a falhas reprodutivas.

Gonçalves et al. (2006), em estudo realizado em 150 funcionários de

frigorífico, testados pela SAM para 22 sorovares, obtiveram 4% de positividade para

Leptospira spp, com o predomínio do sorovar Hardjo. No setor de graxaria três

funcionários foram positivos, indicando ser um setor com elevado risco para a

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infecção pela grande exposição à orgãos e vísceras de animais possivelmente

infectados e demonstrando que provavelmente a infecção dos funcionários tenha

ocorrido de modo ocupacional.

Os roedores parecem ser hospedeiros primários para o sorovar

Icterohaemorrhagiae, os bovinos para os sorovares Hardjo, Hebdomadis e

Castellonis, os equinos para o Bratislava, os cães para o Canícola, os suínos para o

Pomona e os animais silvestres para o Grippotyphosa (SANTA ROSA et al., 1975;

FAINE, 1982; LINS e LOPES, 1984; ELLIS, 1984; FAVERO et al., 2002;

LILENBAUM et al., 2010).

As características relacionadas com a movimentação dos equinos, os fatores

ambientais, as condições para a manutenção de roedores e o contato direto com

urina contaminada com Leptospira spp parecem ser os principais fatores de risco

para a infecção (FAINE, 1982; HASHIMOTO et al., 2007; ROBERTS, 1969).

Kouam et al. (2010) estudaram os soros de 773 equídeos de quatro regiões

da Grécia, avaliados por meio do ELISA para a presença de anti-IgG de

Toxoplasma, Leishmania, Echinococcus e Trichinella. Os autores verificaram a

presença de anticorpos anti-T. gondii em todas as regiões, com prevalência geral de

1,8%. A prevalência da infecção para Leishmania spp foi de 0,3% e para

Echinococcus e Trichinella de 0,1%, detectadas apenas nos cavalos de hípica na

região da Ática. Apenas um animal foi reagente aos três agentes etiológicos: T.

gondii, Leishmania spp e Trichinella spp. Os pesquisadores do estudo grego

sugerem que o risco de contrair tais parasitoses por meio dos equinos é baixo. Ao

contrário, no presente estudo, a porcentagem de positivos a dois ou três agentes

etiológicos foi de 25,6% (Tab.5) mostrando uma prevalência de interação superior ao

relatado na Grécia, o que pode aumentar o risco de infecção ao homem.

Os equídeos avaliados neste estudo estiveram em contato com os agentes da

toxoplasmose, leishmaniose e leptospirose, no entanto, não foram expostos ao

agente da triquinelose. A carne de equídeo, apesar de não ser consumida pelos

brasileiros, constitui uma via de transmissão para a infecção humana da

toxoplasmose. Os equídeos partilham o mesmo ambiente do homem e podem servir

de fonte de infecção para Leptospira spp e Leishmania spp.

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3.7 REFERÊNCIAS

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CONCLUSÃO

Confirmou-se a ausência de Trichinella spp em carne de equídeos abatidos

em estabelecimento com inspeção.

Demonstrou-se, por meio do bioensaio em camundongos e PCR, a presença

de Toxoplasma gondii no cérebro dos equídeos, sugerindo a presença de cistos em

outras vísceras e musculatura.

A detecção de anticorpos anti-Leptospira spp e anti-Leishmania spp em

30,9% e 46% das amostras avaliadas, demonstra a disseminação da leishmaniose e

leptospirose no ambiente de origem dos animais e a possível participação dos

equídeos na cadeia de transmissão destas enfermidades.

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ANEXO

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ANEXO