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O MIRANTE | 01 Outubro 2009 FEIRA DE OUTUBRO | 25 Maestro José Júlio vai ser alvo de homenagem durante a Feira de Outubro de Vila Franca de Xira. Outro dos pontos altos é a apresentação do livro sobre 25 anos de alternativa de António Ribeiro Telles. A homenagem ao Maestro José Júlio por 50 anos de alternativa será um dos momentos altos da Feira de Outubro de Vila Franca de Xira, que decorre de 2 a 11 de Outubro. A cerimónia de homenagem ao toureiro da terra está marcada para segunda-feira, 5 de Outubro, durante um encontro de amigos nas arcadas da Praça de Toiros Palha Blanco, onde será descerrada uma placa no seu interior, alusiva à corrida em que o Maestro toureou seis touros. “José Júlio faz parte da história e é uma referência da tauromaquia não só em Portugal como no Mundo”, refere a presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. Maria da Luz Rosinha adianta que a cidade tem vindo a afirmar-se como uma marca incontornável na tauromaquia e a homenagem insere-se nesse contexto. No mesmo dia, às 17h00, tem início a corrida de home- nagem a José Júlio que, juntamente com Sanchez Vara, António João Ferreira e Augusto Moura lidarão toiros de Oliveira Irmãos. Como é tradição as corridas de toiros são grandes atrac- ções da Feira de Outubro. A Praça de toiros Palha Blanco recebe ainda domingo, 4 de Outubro, pelas 17h00, a 4ª Grandiosa Corrida da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira com a presença dos cavaleiros João Telles Jr., Francisco Palha e Tiago Carreiras, que lidarão toiros de David Ribeiro Telles. As pegas ficarão a cargo dos Grupos de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira e de Mazatlán. Terça-feira, pelas 22h00, corrida de toiros nocturna com os cavaleiros António Telles, Luís Rouxinol e Leo- nardo Hernandez, que lidarão toiros de Fernando Palha. O Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira farão as pegas. Na quarta-feira, 7 de Outubro, pelas 18h30, será apresentado o livro alusivo aos 25 anos de alternativa de António Ribeiro Telles nas arcadas da Palha Blanco. “Estamos a falar da dinastia da família Ribeiro Telles que tem uma marca indelével na tauromaquia”, realça ainda Maria da Luz Rosinha. Pelas 22h00 de quarta-feira, 7 de Outubro, irá decor- rer um Espectáculo de Variedades Taurinas com Paulo D’Azambuja, João Maria Branco, Verónica Cabaço, João Vilaverde Jr., Tânia Fortunato, Pedro Noronha e David Moreira, que lidarão exemplares de Luís Sousa Cabral. As pegas ficarão a cargo dos Grupos de Forcados Amadores Vila Franca de Xira. A Feira de Outubro de 2009 será também marcada pelas tradicionais esperas de toiros. A primeira será no sábado, 3 de Outubro, pelas 16h30. Nos dias 4, 5, 6 e 7 os toiros andarão pelas ruas de Vila Franca de Xira a partir das 10h30. Durante os nove dias de festa os milhares de visitantes que são esperados em Vila Franca de Xira podem ainda visitar o XXIX Salão do Artesanato (ver texto nesta edição), divertir-se nos carrosséis e aconchegar o estômago nas tasquinhas do recinto das festas. Depois da inauguração da feira, marcada para sexta-feira, às 18h30, o certame funcionará às sextas-feiras e sábados entre as 13h00 e as 02h00. De 4 a 8 de Outubro entre as 13h00 até à 01h00. Dia 11 de Outubro as portas abrem às 15h00 e encerram às 23h00. Homenagem a José Júlio por 50 anos de alternativa é ponto alto da Feira de Outubro Largadas e corridas de toiros vão dar vida a mais uma feira tradicional de Vila Franca de Xira

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Feira de Outubro

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O MIRANTE | 01 Outubro 2009 FEIRA DE OUTUBRO | 25

Maestro José Júlio vai ser alvo de homenagem durante a Feira de Outubro de Vila Franca de Xira. Outro dos pontos altos é a apresentação do livro sobre 25 anos de alternativa de António Ribeiro Telles.

A homenagem ao Maestro José Júlio por 50 anos de alternativa será um dos momentos altos da Feira de Outubro de Vila Franca de Xira, que decorre de 2 a 11 de Outubro. A cerimónia de homenagem ao toureiro da terra está marcada para segunda-feira, 5 de Outubro, durante um encontro de amigos nas arcadas da Praça de Toiros Palha Blanco, onde será descerrada uma placa no seu interior, alusiva à corrida em que o Maestro toureou seis touros.

“José Júlio faz parte da história e é uma referência da tauromaquia não só em Portugal como no Mundo”, refere a presidente da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. Maria da Luz Rosinha adianta que a cidade tem vindo a afirmar-se como uma marca incontornável na tauromaquia e a homenagem insere-se nesse contexto.

No mesmo dia, às 17h00, tem início a corrida de home-nagem a José Júlio que, juntamente com Sanchez Vara, António João Ferreira e Augusto Moura lidarão toiros de Oliveira Irmãos.

Como é tradição as corridas de toiros são grandes atrac-ções da Feira de Outubro. A Praça de toiros Palha Blanco recebe ainda domingo, 4 de Outubro, pelas 17h00, a 4ª Grandiosa Corrida da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira com a presença dos cavaleiros João Telles Jr., Francisco Palha e Tiago Carreiras, que lidarão toiros de David Ribeiro Telles. As pegas ficarão a cargo dos Grupos de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira e de Mazatlán.

Terça-feira, pelas 22h00, corrida de toiros nocturna com os cavaleiros António Telles, Luís Rouxinol e Leo-nardo Hernandez, que lidarão toiros de Fernando Palha. O Grupo de Forcados Amadores de Vila Franca de Xira farão as pegas.

Na quarta-feira, 7 de Outubro, pelas 18h30, será apresentado o livro alusivo aos 25 anos de alternativa de António Ribeiro Telles nas arcadas da Palha Blanco. “Estamos a falar da dinastia da família Ribeiro Telles que tem uma marca indelével na tauromaquia”, realça ainda Maria da Luz Rosinha.

Pelas 22h00 de quarta-feira, 7 de Outubro, irá decor-rer um Espectáculo de Variedades Taurinas com Paulo D’Azambuja, João Maria Branco, Verónica Cabaço, João Vilaverde Jr., Tânia Fortunato, Pedro Noronha e David Moreira, que lidarão exemplares de Luís Sousa Cabral. As pegas ficarão a cargo dos Grupos de Forcados Amadores

Vila Franca de Xira.A Feira de Outubro de 2009 será também marcada

pelas tradicionais esperas de toiros. A primeira será no sábado, 3 de Outubro, pelas 16h30. Nos dias 4, 5, 6 e 7 os toiros andarão pelas ruas de Vila Franca de Xira a partir das 10h30.

Durante os nove dias de festa os milhares de visitantes que são esperados em Vila Franca de Xira podem ainda

visitar o XXIX Salão do Artesanato (ver texto nesta edição), divertir-se nos carrosséis e aconchegar o estômago nas tasquinhas do recinto das festas. Depois da inauguração da feira, marcada para sexta-feira, às 18h30, o certame funcionará às sextas-feiras e sábados entre as 13h00 e as 02h00. De 4 a 8 de Outubro entre as 13h00 até à 01h00. Dia 11 de Outubro as portas abrem às 15h00 e encerram às 23h00.

Homenagem a José Júlio por 50 anos de alternativa é ponto alto da Feira de OutubroLargadas e corridas de toiros vão dar vida a mais uma feira tradicional de Vila Franca de Xira

01 Outubro 2009 | O MIRANTE26 | FEIRA DE OUTUBRO

É José Henriques que faz soar o cornetim nas corridas de toiros da Palha Blanco, em Vila Franca de Xira. Um profissional dos seguros que queria ser toureiro e que o coração não permitiu.

Quem nunca reparou no homem de luvas brancas que toca cornetim na praça de touros? Há dez anos que José Henriques brilha na Palha Blanco, em Vila Franca de Xira, mas no Campo Pequeno, em Lisboa, o público já o co-nhece há 38. É Cornetim. Assim ditou uma enorme paixão à festa brava desde tenra idade. O sonho inicial era ser tou-reiro, mas o coração de José Henriques não permitiu.

A ambição não era ficar no lugar reservado, junto ao director de corrida, à espera de sinal para efectuar os toques tradicionais e assinalar as mudanças de tércio, mas ir para a arena. “O meu so-nho era ser toureiro. Ainda tentei, mas reconheço que me faltava aquilo que eles têm: um grande coração, a coragem”, confessa. “O toureiro tem medo como os outros, mas consegue vencê-lo”.

Quando percebeu que ser toureiro não era o seu destino agarrou-se com garra à

possibilidade de aprender música com o pai – o seu mestre. “Era a única forma que tinha de estar na festa. Lá me mantenho e não me quero reformar”.

José Henriques é cornetim efectivo na Palha Blanco há dez anos. Em Vila Franca de Xira veio substituir Jorge Pereira, conhecido como “Cavaladas” por alcunha, acometido de uma doença grave. “Uma vez encontrou-se comigo num corredor e disse-me que estava mui-to contente por ter sido eu a substitui-lo. Foram palavras bonitas de que nunca me hei-de esquecer”.

Nos finais dos anos 60 chegou a fazer corridas esporádicas em Vila Franca de Xira como cornetim. Substituía o pai que trabalhava para a empresa Nuno Salva-ção Barreto que geria a Palha Blanco. Até que em 1971 ocupou a vaga de cornetim no Campo Pequeno.

Gosta de todas as praças por onde passa, mas confessa ter uma predilecção por três. Vila Franca de Xira é uma delas. “A Palha Blanco é uma praça pequena em capacidade, mas grande em arquitectura. E depois tem tudo o que diz respeito a toiros. Três estátuas na cidade alusivas à festa, duas feiras, as melhores lezírias de Portugal, cavalos, toiros, campinos, toureiros e forcados”, enumera.

Os tempos áureos de José Júlio, Mário Coelho e do malogrado José Falcão dão outro carisma a uma Vila Franca de Xira

com história. “Até grandes toureiros que não são de cá adoptaram Vila Franca como sua terra adoptiva. O caso do maestro Victor Mendes e do saudoso José Mestre Baptista. Até os seus restos repousam no cemitério de Vila Franca de Xira”.

José Henriques foi funcionário de uma empresa de seguros e durante 30 anos bombeiro voluntário em Lisboa, onde viveu. A reforma deixou-lhe mais tempo para participar nas corridas. Abdicou de muito pela paixão à festa. Durante anos não soube o que era ter férias, fins-de-semana e chegou a tra-balhar de dia e acompanhar corridas à noite. “A minha mulher e os meus filhos foram as pessoas que sofreram mais com a minha paixão”.

Já reformado, deixou Lisboa e foi para Vila Franca do Rosário. É remunerado pelas despesas, mas não fosse a paixão,

não conseguiria viver da festa. Conhe-ce toureiros, forcados, empresários e apoderados. Estar familiarizado com o ambiente tauromáquico também lhe alimenta a alma.

Por norma usa casaco, gravata e luvas brancas. “Não devemos tocar em man-gas de camisa por respeito ao público e ao espectáculo”. As luvas servem o cerimonial, mas são usadas também por questões práticas: “O instrumento é poupado ao suor das mãos e tira me-lhor som”.

É um homem dos sete instrumentos – tem duas trompetes, um feliscorne, três cornetins e uma trompete de bolso – mas há três que têm lugar cativo. O cornetim, mais do que a trompete de sonoridade doce, é apropriado à corrida de toiros. O maior medo é a desafinação. “Temos sempre medo de falhar o lábio”, admite.

O Cornetim que o coração não deixou ser ToureiroJosé Henriques tem lugar cativo na praça de Vila Franca de Xira há 10 anos

FIGURA. José Henriques protagoniza um dos momentos solenes de uma corrida de toiros ao fazer soar o cornetim

Ana Santiago

A mágoa de ver uma praça meio cheia

O cornetim efectivo da Palha Blanco tem pena que a praça de Vila Franca de Xira não tenha a afluência que merece. José Henriques reconhece que o público da terra é entendido em toiros e por isso lamenta a fraca afluência. “Vejo às vezes pessoas de Vila Franca em praças de outras terras e não os vejo em Vila Franca. A praça não é assim tão grande que não encha com facilidade”, espanta-se.

Os empresários que têm passado pela Palha Blanco empenham-se em realizar bons espectáculos. Caso de António Cardoso (Nené) e agora de Ricardo Le-vesinho que já deu provas daquilo que é capaz de fazer. “Um homem novo, di-nâmico, vila-franquense e que não vive dos toiros, mas do gosto de engrandecer a terra. A moldura humana dentro da praça será o melhor reconhecimento que poderá sentir”, descreve.

José Henriques deixa um apelo: “Vila Franca não se deixe ultrapassar por outras terras que são aficcionadas, mas não têm o carisma e a herança de Vila Franca”.

O MIRANTE | 01 Outubro 2009 FEIRA DE OUTUBRO | 27

foto O MIRANTE

Os toques tradicionais

O toque de cornetim que soa para o toureio à portuguesa é diferente do toque para o toureio à espanhola. “O toque à espanhola é específico para o toureio a pé. É um toque bonito, prolongado”. Depois há toques para mudanças de tércio. O matador muda de capote para bandarilhas e de bandarilhas para muleta.

Para o toureio a cavalo os toques são outros. “Quando o toiro sai para ser lidado por um cavaleiro ouve-se um toque à portuguesa. Não há mudanças de tércio, há avisos para o toureiro controlar o tempo perante a lide. Aos 10 minutos leva o primeiro aviso, dois minutos depois o segundo e um minuto depois soa o toque de fim de lide”, exemplifica.

Os toques do cornetim, indicados pelo director de corrida, servem para orientar o toureiro que perde a noção do tempo durante a lide. “Nós servi-mos de despertador”, ironiza.

Para a pega ouve-se um toque di-ferente e mais conhecido do público. Os forcados saltam a trincheira para executar a pega de caras. No fim da lide, quer a pé quer a cavalo, surge a vez do toque para os cabrestos ajudarem na recolha do toiro.

O que os olhos vêem o coração também sente

A colhida de Pitó - o forcado que morreu na praça de Arruda dos Vi-nhos a defender as cores da cidade de Vila Franca de Xira - ficará para sempre na memória do cornetim José Henriques. “Eu estava lá. Pos-sivelmente a última coisa que ele ouviu foi o meu toque. Saltou para a morte. Segundos depois o toiro deu cabo dele”, descreve.

A carreira de cornetim de José Henriques, que começou há 43 anos na Praça de Toiros de Cascais, também conhece situações felizes. “Quando um forcado se despede é um momento de alegria. Especial-mente quando a pega sai extraordi-nária. Triste é quando é colhido”.

O actual pavilhão do Parque Urbano do Cevadeiro irá receber pela última vez este ano o Salão de Artesanato inserido na tradicional Feira Anual de Outubro de Vila Franca de Xira. Para o ano artesãos terão novo espaço com todas as condições.

A XXIX edição do Salão de Ar-tesanato, inserido na tradicional Feira Anual de Outubro de Vila Franca de Xira, marcará a despedida do actual pavilhão do Parque Urbano do Cevadeiro.

O espaço necessitou de algumas obras de melhoria das condições para receber o certame deste ano e evitar a lama em dias de chuva e o pó nos dias de calor. Mas no próximo ano haverá um novo pavilhão com todas as condições de albergar os muitos artesãos que irão marcar presença na XXX edição do Salão de Artesanato.

A garantia é dada pela presidente da Câmara de Vila Franca de Xira. Maria da Luz Rosinha acrescenta que o novo espaço poderá acolher eventos musicais, culturais, mostras e outras iniciativas, oferecendo todas as condições. Terá ainda um espaço de restauração e espla-nada virada para o Rio Tejo. Será um investimento enquadrado no âmbito da candidatura ao programa POLIS.

O Salão de Artesanato vai na XXIX edição e tem sido um sucesso ao longo dos anos. “Têm sido possível introduzir artesãos de renome nacional e interna-cional o que ajuda também e cada vez mais a credibilizar a Feira de Outubro. Das constantes conversas que vou tendo com os artesãos a ideia que me trans-mitem é que a nossa feira é daquelas em que mais vendem”, confessa a O MIRANTE.

Maria da Luz Rosinha assegura que a autarquia apoia os artesãos e o movi-mento associativo da terra considerando o certame um momento muito impor-tante para a divulgação do trabalho que desenvolvem. O município tem tentado

responder aos muitos pedidos que sur-gem todos os anos para os espaço no salão, mas confessa que a autarquia não tem conseguido responder a todos. “Mas isso também é bom porque, de ano para ano, isso aguça o engenho dos trabalhos que desenvolvem e permite que o nível dos mesmos seja cada vez mais elevado”, explica a autarca que espera receber em Vila Franca de Xira milhares de visitan-tes durante os nove dias da XXIX edição do Salão de Artesanato.

No pavilhão do Parque Urbano do Cevadeiro irão estar patentes exposições de peças de madeira, couro, latão, fili-granas, doçaria de várias regiões, entre muitos outros produtos, do melhor que se faz por todo o país.

A inauguração da Feira Anual e do XXIX Salão de Artesanato decorrerá na sexta-feira, 2 de Outubro pelas 18h30. O salão estará aberto até às 00h00. Nos dias 3, 4, 5 e 10 de Outubro o púbico poderá visitar o certame entre as 15h00 e as 00h00. Nos restantes dias o horário será das 17h00 às 00h00.

Rosinha garante que artesãos terão novo pavilhão no próximo anoSalão de Artesanato vai na XXIX edição e é um sucesso de vendas e de visitas

01 Outubro 2009 | O MIRANTE28 | FEIRA DE OUTUBRO

Promovam-se os doces regionaisSílvia Litrona, desempregada

Sílvia Litrona, 56 anos, desempre-gada, é visitante assídua da feira de Outubro, em Vila Franca de Xira. “Vou sempre por causa do artesanato. Gosto da tapeçaria, de ver trabalhar nos tea-res, dos vinhos, da doçaria”, descreve a vilafranquense que confessa gosta do bulício, da combinação de cores, de sons e das memórias dos tempos de menina que o certame lhe traz. As esperas e largadas de toiros também a atraem. “Gosto muito de as ver, de

Faltam mais esperas de toiros e mais divertimentos em horário alargadoPopulares deixam sugestões para melhorar a tradicional Feira de Outubro

A tradição da Feira de Outubro de Vila Franca de Xira vai bem e recomenda-se. Mas há aspectos a melhorar, sugere o povo. Venham mais produtos regionais e divertimentos. É que o circo deixou saudades entre os vilafranqueses. E que as largadas nunca acabem, que o horário seja alargado e os toiros mais aventureiros.

Faltam mais divertimentos José António Rodrigues, Barbeiro

“Não sei se as feiras vão durar muito tempo”, vaticina José António Rodrigues, 69 anos, barbeiro de profissão e vilafran-quense desde sempre. “Foi uma grande feira agora mudou um bocadinho. Era uma feira com circo, os restaurantes ficavam encostados uns aos outros, agora colectividades têm as tasquinhas e o resto são feirantes vender peúgas, camisolas e atoalhados”, relata. “Era bom que houvesse mais divertimentos, e ao menos, um circo!”, recomenda. O barbeiro, que não falha uma edição da feira, elogia o espaço do Parque do Cevadeiro, que foi requalificado há

Preços mais baixos para dar vida à feiraClara Carvalho, Funcionária Pública

Clara Carvalho, funcionária públi-ca, 52 anos, nascida e residente em Vila Franca de Xira, não falha uma edição da Feira de Outubro. A vilafranquense considera que “a câmara está a pedir muito dinheiro às pessoas e por isso, se calhar, o ano passado não havia um restaurante coberto nem sequer um circo”. Clara Carvalho considera que o aluguer dos espaços podia ser mais acessível para os feirantes de forma a trazer mais diversões ao certame. “Isso podia atrair mais pessoas à feira e podia haver mais tasquinhas à nossa maneira, como antigamente. A feira tinha muito mais graça que quando eu

alguns anos para receber o certame. “Está muito melhor”, observa lembrando que se antigamente havia o hábito de estrear roupa por ocasião da feira.

Que as largadas nunca acabemMaria da Assunção Ferreira, Comerciante

A comerciante Maria Assunção Ferreira, 54 anos, é vilafranquense e não dispensa uma visita às feiras da sua terra: o Colete Encarnado e a Feira de Outubro. “A feira tem vindo a melhorar. Pelo menos já não vimos de lá com os pés cheios de lama”, diz referindo-se ao piso que resultou da requalificação do Parque do Cevadeiro. “Está muito diferente mas está bonita. A festa deve ficar como está e não mudava nada. As casinhas em si estão melhores, as pessoas estão mais confortáveis e até os próprios feirantes. Nunca lhe tirem as largadas as esperas”, apela. Na feira a vilafranquense sente-se em casa. “Desde que haja uma barraquinha para comer uma fartura a cada dia da feira fico feliz. E o resto vou comprando. Levo queijinhos do pavilhão do artesanato e ando no carrossel”.

era nova. Vinham muito mais coisas”, lembra. No entanto agrada-lhe o am-biente da feira e o espaço do Parque do Cevadeiro.

longe ou de perto”, conta. Sílvia Litrona “não considera que haja muitas melho-rias a operar na feira”. Deixa apenas alguns conselhos: “Não acabem com as tasquinhas. E divulguem mais os produtos regionais, na área dos doces e da gastronomia. Os doces e bolos caseiros que faziam. Façam regressar o circo, sem o qual a feira perde muita graça”, indica.

O MIRANTE | 01 Outubro 2009 FEIRA DE OUTUBRO | 29

O circo deixou saudadesPedro Carvalho, Porteiro

O que leva Pedro Carvalho, 30 anos, à Feira de Outubro, em Vila Franca de Xira, são as tradições e as largadas de toiros. “Gosto do ambiente dos touros e da emoção”, descreve. O porteiro é visitante da feira em todas as edições e se pudesse decidir o futuro do certame levava o circo de regresso à feira. “Já não vem cá há três ou quatro anos”, lembra saudoso. O vilafranquense gostaria ainda de ver em Vila Franca de Xira “mais divertimentos que são sempre os mesmos todos os anos” e se pudesse “aumentava o espaço para as tasquinhas e dava mais espaço aos feirantes”. Pedro Carvalho tem “muita pena do que está a acontecer à feira”. Os feirantes queixam-se que o aluguer do espaço é muito caro e em tempo de crise a situação agrava-se. “E se há me-nos feirantes também há menos gente a visitar-nos”, conclui.

Feira está bem assim e recomenda-seMaria Adelaide Soares, Comerciante

Maria Adelaide Soares, comercian-te, 59 anos, só não vai mais à Feira de Outubro porque o horário da loja onde trabalha, entre as 7h00 e as 21h00, não o permite. “Mas todos os anos lá tenho que ir e comprar alguma coisa”, garante. O que mais lhe agrada é o ambiente de festa e a movimentação na cidade. “Os touros contam muito, mas os divertimentos também. O tamanho da feira está bem assim, até porque se o certame crescesse a confusão também acompanharia o ritmo. “A feira está óptima e não mudava nada”. Mas deixa um aviso sobre os rumores que ouve a clientes e conhecidos. “Nada de tirar a feira de dentro de Vila Franca, nem as largadas!”. A comerciante vê com bons olhos o recinto da feira, que hoje não dificulta a vida a quem a visita em dia de chuva com a lama que noutros tempos tinha.

Procuram-se toiros com mais qualidadeCarlos Alberto Feitor, Aposentado

Carlos Feitor, aposentado, 67 anos, só mudava na Feira de Outubro a qualidade dos toiros que são largados nas esperas. “Às vezes quem brinca com os toiros nas largadas até lhes bate mas eles não correm. É da qualidade dos animais”, analisa. De resto, garante, não mudava nada. “A tradição é assim e assim deve continuar”. O vilafranquense, que há já vários anos não ia à feira de Outubro à noite, “pensa seriamente em voltar”, de-pois de se ter liberto de um trabalho que o ocupava nesta altura do ano. Durante vários anos, só foi às esperas de touros durante o dia. “À noite não é a mesma coisa. Tem outro sabor. Gosto de ver, mas sempre por detrás da tronqueira”, esclarece. Mas não são só os touros que o levam à feira. “Há sempre coisas novas que gosto de ver no salão de artesanato e tem havido uma evolução que não existia antigamente”.

Mais esperas de toiros Dulce Moreira, Empresária

A empresária Dulce Moreira, 35 anos, confessa que não liga muito à feira, mas gosta do artesanato no pavi-lhão. “Eu ligo mais às esperas de toiros”, confessa. A empresária, nascida e criada em Vila Franca de Xira, gosta da feira e só mudava uma coisa, se pudesse: aumentaria as esperas de toiros. “Todos os dias, de sábado a sábado, como é nas outras terras e não só duas vezes como é aqui”, aponta. Dulce Moreira gosta de ver os vilafranquenses brincar com os toiros, agrada-lhe a envolvência e o facto de ver gente na terra. “Durante o ano não há incentivos para que as pessoas venham a Vila Franca de Xira”,

Horário deveria ser alargado António Alexandre, Comerciante

António Alexandre, comerciante, 40 anos, considera que a Feira de Outubro deveria funcionar em horário mais alargado. “O horário é um dos pontos que tem vindo a piorar na feira. À uma da manhã tem de fechar. Antigamente era toda a noite. Era melhor para os feirantes que vendiam mais. E para as pessoas que podiam passear à vontade. Ainda há dois anos cheguei lá depois da meia noite e mal comecei a beber uma imperial já o corpo de intervenção da PSP estava a mandar embora as pessoas que ainda se encontravam no recinto”, relata o comerciante, natural de Vila Franca de Xira. Uma das sugestões para

Novo pavilhão e mais produtos regionais Francisco Lisbão, Designer de Interiores

Francisco Lisbão, 50 anos, designer de interiores, natural de Vila Franca de Xira, tem opinião formada sobre o que está mal e o que deve ser mudado na Feira de Outubro. “Nos últimos anos a feira piorou porque transformaram o evento numa feira de revendedores de produtos orientais. O pavilhão de artesanato tem sempre as mesmas pessoas a expor, o que revela que há interesses”. Francisco Lisbão considera que o pavilhão onde decorre a feira de artesanato deve ser renovado, tal como está previsto. A autarquia deve proporcionar aos visi-tantes “comida tradicional portuguesa e ribatejana, louças tradicionais, t-shirts portuguesas e não de contrafacção”, sugere. A câmara “devia entregar a orga-nização dos eventos a vereadores desta terra e não a pessoas que tiram férias nos momentos em que se realizam as nossas festas”, critica.

constata. Sobre o espaço da feira a empresária enaltece a melhoria. O piso está arranjado e desapareceu a lama e o pó.

melhorar o certame passa por estender o horário, considera António Alexandre. “Às vezes até evito ir à feira por causa da confusão”, admite.

01 Outubro 2009 | O MIRANTE30 | FEIRA DE OUTUBRO

PAIXÃO. Fernando Palha continua a ser um dos principais impulsionadores da touromaquia foto O MIRANTE

Crítico do contacto dos toiros bravos com os seres humanos, Fernando Palha guia-se no comportamento em lide para escolher os sementais. O ganadeiro desvenda alguns dos factores que tornam os toiros da lezíria especiais, ou pelo contrário, mansos.

Cada toiro que entra nas esperas e largadas da Feira de Outubro, em Vila Franca de Xira, é fruto de uma apurada selecção. É a partir do comportamento durante as touradas que é feita a escolha dos mais nobres que pelas qualidades genéticas irão singrar como sementais. Fernando Palha, ganadeiro e figura liga-da desde o início aos eventos taurinos em

Vila Franca de Xira, elege como prova a forma como o toiro combate a partir da lide que dá na praça.

Segundo o especialista, em Vila Franca de Xira, têm-se procurado, para oferecer na feira, “toiros quase puros, que não venham viciados”. E no caso dos toiros criados na Lezíria, os animais conservam características que os tornam únicos. “Os toiros que vivem no delta dos rios, perto do mar, Tejo Sado e Guadiana, até a lamber a terra engordam. O sódio do sal e a semente de mostarda, no sangue, borbulham, e fazem-nos mais agressivos”, conta. A possibilidade de uma tensão arterial mais elevada, embora não confirmada, é uma hipótese.

A pureza da raça depende muito das qualidades genéticas. “O toiro bravo tem que ser assassino. Caso contrário, estaremos a produzir um boi”, nota. Mas para além dos genes, também o contacto

A raça taurina que o sal e a paixão apuram Fernando Palha conta como se apuram toiros bravos

Ricardo Leal Lemos

com o Homem molda o comportamento dos animais. “As esperas e as largadas não têm o fulgor de antigamente. Cria-se muitas vezes um animal que já está quase domesticado. Antigamente, o toiro vivia longe do ser humano, via, quando muito, o cão ou o cavalo do pastor, e quando chegava à praça, tudo era um faiscar de coisas novas. Primeiro, as esperas, em que se aguardava que estes chegassem, a pé, das Cortes pela Ponte Marechal Carmona. E nas largadas eram toiros da corrida de véspera, virgens da multidão e ainda incitados pelo que lhe tinham feito na noite anterior, o que os fazia serem explosivos”. Hoje, três, quatro largadas dão experiência a um animal, que em alguns casos, até reage “por aprendizagem”, declara.

“O toiro já sabe que se bater em vão na capa, castiga a musculatura. Ao investir muitas vezes, sentirá um pau com pico. Por isso, nas largadas, poupa-se”. E por vezes torna-se “manhoso”, marrando pela certa, sempre com os pitons que

embolam os cornos. Em vésperas da feira, o ganadeiro, que

irá fornecer seis toiros para o certame, aprecia também o ambiente humano que rodeará as lides e as largadas. “Houve eleições, vai haver depois, e as pessoas estão electrizadas, querem ver os artistas falhar. Vejo também maus sintomas nos toureiros, que estão acomodados. É preciso lembrar que o senhor da festa é o toiro, e depois o povo. Às volta deles não pode haver mentiras”.

Segundo o especialista, em Vila Franca de Xira, têm-se procurado, para oferecer na feira, “toiros quase puros, que não venham viciados”. E no caso dos toiros criados na Lezíria, os animais conservam características que os tornam únicos.

O MIRANTE | 01 Outubro 2009 FEIRA DE OUTUBRO | 31

CUIDADO. José Inácio Volkery trata de toiros sete dias por semana foto O MIRANTE

Numa propriedade agrícola dedicada à criação de toiros há sempre muito que fazer. Que o diga José Inácio Volkery, que largou a vida de serralheiro para abraçar, com a família, a vida de maioral.

É de manhã cedo que José Inácio Volkery chega à Herdade de Pancas para tratar dos toiros. O dia do vilafranquense, de 32 anos, tem como rotina obrigatória a alimentação dos toiros, com feno e ração, de segunda a domingo. Tudo o resto, explica, depende de cada dia e das necessidades da propriedade agrícola, que pertence à família Palha. “Há sempre uma vedação para ser arranjada, é preciso lavrar a terra para ser semeada, ou outro trabalho. Numa casa agrícola tem que se ser polivalente”, conta.

Mas foi por gosto que José Inácio

Volkery entrou na vida dedicada ao cuida-do com os toiros. Aos 16 anos já aprendia a ser maioral com Nuno Casquinha, depois de no início ter sido aprendiz de serralheiro. E mesmo após nova incursão pela área da serralharia, motivada por “questões económicas”, voltou a ser maioral, desta vez trabalhando para Fer-nando Palha. “Quem me tira esta calma e este ambiente, tira-me tudo”, conta. No regresso ao trabalho com os toiros, já casado, José Inácio Volkery acabou por trazer para a herdade a sua esposa, Alexa, que com um curso de equitação passou a ajudá-lo no seu trabalho e a desempenhar funções na sua área de competência na propriedade.

Sobre o seu trabalho, o maioral tem uma atitude digna de filósofos gregos da antiguidade. “Nunca se sabe nada de toiros, aprende-se um bocadinho todos os dias. Num dia, pode-se chegar muito perto de nós e não nos fazerem nada, noutros estão brigados e arrancam para nos tentar bater”, relata.

Tratar dos toiros até o sol se pôrJosé Inácio Volkery é maioral há seis anos

No campo, ao ar livre, também a meteorologia pode trazer surpresas. “Quando se antevê trovoada, os semen-tais começam a fazer barulho, ficam mais nervosos e podem lutar entre si”. No dias de chuva, o problema é com as rações. “Azeda com a chuva e eles já não comem. Se for demais, ganha cheiro e não serve. Só cá estando todos os dias é que se aprende a ver isto”, conta.

Para além da alimentação e dos cuidados com a propriedade, uma das tarefas de um maioral passa pela gestão da circulação dos toiros pela propriedade. Há vedações, cercas e os animais devem ficar sempre separados por grupos sepa-rados – sementais longe dos cabrestos, ou quando se pretende deslocar os primei-ros, usar os segundos como “isco”. “Os animais circulam livremente, colocamos ração num ponto, o feno noutro e água noutro, para não estarem sempre no mesmo sítio. Em condições ideais, cada toiro necessitava de um hectare para se movimentar e estar sempre a mexer. Se

ficarem dois grupos em parcelas lado a lado, caso sejam sementais, quando estão mais irritados brigam entre eles. Se forem sementais e vacas eles podem desfazer a vedação com a crença nelas”.

José Inácio Volkery acompanha, ao longo de quatro anos cada toiro, desde que nasce até ser lidado na arena. E con-fessa. “O melhor é quando saem bravos e correspondem na arena à bravura dos seus antepassados”. Ao longo dos dias, das tardes e das noites, o investimento de suor e crença nas qualidades do toiro bravo. E no gosto pelo campo.

Artesãos de todo o país em Vila Franca

O 29º Salão de Artesanato de Vila Franca de Xira recebe, de 2 a 11 de Outubro, no pavilhão do parque urbano de Vila Franca de Xira, perto de uma centena de expositores vindos de diversos pontos do país. Os stands vão mostrar diversos trabalhos tra-dicionais do continente e ilhas. Dos Açores chega a mostra de bordados regionais de S. Miguel, bonecas em folha de milho do nordeste de Ponta Delgada e trabalhos com escamas de peixe, também de Ponta Delgada.

A ilha da Madeira estará repre-sentada com um expositor de artigos regionais, que apresenta desde à típica bebida “poncha”, feita com aguardente de cana, até aos bordados, mantas, bolo de mel e os tradicionais rebuçados do funcho. A doçaria é, também, uma constante no salão, onde os visitantes terão a oportuni-dade de provar os doces conventuais do Alentejo, os ovos moles de Aveiro e os Dom Rodigo do Algarve.

A Trapologia, tapeçaria, malhas, bordados, rendas de Milão, tapetes de arraiolos e tecelagem são outros dos trabalhos apresentados por artistas e empresas de Tomar, Alverca, Barcelos, Oeiras, Vila do Conde e Oliveira do Hospital. O salão vilafranquense vai contar também com a presença de várias associações como a AEDPA - Associação para o Estudo, Defesa e Promoção do Artesanato, de Freixo de Espada à Cinta, ADPA - Associação para a Defesa do Património e Arte-sanato de Vila do Conde, Associação dos Artesãos de Barcos, Bordados, Pintura e Cerâmica de Alhandra e a Associação de Artesãos de Vila Franca de Xira.

01 Outubro 2009 | O MIRANTE32 | FEIRA DE OUTUBRO

RECORDAÇÕES. Feiras de outros deixam saudades aos mais velhos foto O MIRANTE

Era no bulício da Feira de Outubro, entre petiscos e água pé, que há trinta ou quarenta anos rapazes e raparigas se divertiam, conheciam e conquistavam. Uma feira para as famílias, os casais e os solteiros, de origem centenária, contada pelas palavras de quem a viveu ao longo dos anos.

À sexta-feira, ainda a Feira de Outubro estava por inaugurar, já os vila-franquenses petiscavam no Cevadeiro. Há cerca de três décadas, em barracas de caniço, com bifanas e sardinhas na grelha, a feira começava de véspera para os residentes, num dia dedicado ao convívio. Quem o conta é António Fortes, 72 anos, frequentador habitual da feira, quando jovem, e com uma mente cheia de memórias que viveu. “O sábado era só para homens. Con-versava-se, convivia-se. Só se via uma ou outra mulher, senhoras da cidade”, relata o afinador de máquinas.

Nas barraquinhas criadas por popu-lares, mesmo à entrada do recinto, ha-via petiscos e bebida. Francisco Ruela,

Quando a Feira de Outubro marcava o calendário do povoMemórias de um evento com origens centenárias

69 anos, lembra-se da água-pé, “que às vezes saía dos tonéis ainda a ferver e do polvo assado, que cheirava mal mas tinha muito bom sabor”. Comiam-se também iscas e entremeadas, conqui-lhas, mexilhão e caldeirada. Pela feira, circulavam homens que apregoavam a “água fresquinha da mina”, saborosa, mas fruto de um embuste porque mui-tas vezes era recolhida mesmo ali, em Vila Franca de Xira, na Fonte Nova. Todos os anos o vilafranquense vinha da sua terra natal, na Vala do Carrega-do, Castanheira do Ribatejo, para ver de perto a feira, conviver e assistir às esperas e largadas de toiros.

“Vínhamos também comprar bugi-gangas e roupa - camisa, calças”. Algu-ma da roupa nova, era também estreada por aquela época. Para alguns era das poucas vezes no ano que calçavam sa-patos. “Andávamos sempre descalços, mas na vila era proibido e tínhamos de arranjar umas alpercatas”, conta.

Entre os divertimentos favoritos dos jovens estavam os carrinhos de choque, recorda Francisco Ruela. “Arrojavam pelo chão, tinham pára-choques de metal batiam a sério uns nos outros”. Uma vez, quando saía de um, magoou o pé, a ser abalroado por um carrinho que surgiu a grande velocidade. Noutros pontos da feira, homens mais velhos

faziam pontaria a latas e peças de barro. Era o chamado “Tiro ao canhão”. As largadas de touros, que tinham lugar todos os dias, eram outro do pratos

fortes da feira. O entusiasmo com as diversões era tal que os jovens tinham um mealheiro especial onde junta-vam dinheiro para a ocasião. “Uma vez gastei tudo e não tinha dinheiro para voltar a casa de comboio. Fui a pé para casa, caminhando ao lado da linha”, conta.

Olga Casquinha, 78 anos, também frequentava a feira. Trabalhadora agrícola na lezíria, vinha pela época do evento a Vila Franca de Xira. “Ví-nhamos de barco à vela. Estávamos desertas que chegasse o dia, estrear as roupas, e era divertidíssimo.

No meio do bulício, rapazes e rapari-gas trocavam olhares e gestos. António Fortes conta como. “No caso dos rapa-zes novos, os olhares cruzavam-se com os delas, íamos para o mesmo carrossel que elas, sentávamo-nos na cadeira ao lado de quem nos agradava, e depois às vezes tombava-se para o lado que covinha. Às vezes elas respondiam com uma chapada, mas tínhamos sempre espírito de conquista. Agora isso perdeu-se”, conta.

Segundo Fernando Palha, ganadeiro e conhecedor das tradições vilafran-quenses, não era apenas de petiscos e romances de que a feira era composta. Ao decorrer nos dias dedicados a São Miguel, ela era testemunho de um momento em que “morre um ano e começa outro”. Era a época em que se ajustavam os empregados, os que queriam mudar de patrão despediam-se, mudavam para outro, e como que uma vida nova começava. Nos sete dias da feira havia corrida todos os dias. E vendiam-se varas pata tocar os toiros, varas para apanhar azeitona, e canas-tras para a laranja. Festejava-se o que se acabava e o que se ia começar”.

Ricardo Leal LemosA Banda Filarmónica do Ateneu

Artístico Vilafranquense realiza, no dia 3 de Outubro, às 17h30, no Parque Urbano de Vila Franca de Xira, uma arruada, no âmbito das comemorações do dia mundial da música. O evento integra também a Feira de Outubro de Vila Franca de Xira

A banda do Ateneu tem origem na fanfarra “1º de Maio” cuja fundação data de 1 de Maio de 1891. Inicialmente com 16 executantes, a fanfarra rapi-damente cresceu para 27 músicos em 1894. A fanfarra continuou a crescer e cedo se tornou banda, ensinando diversos instrumentos, do saxofone ao piano. Em 1906 a colectividade passou a designar-se de “Grémio Popular

Vilafranquense” mas, em 1939 por imposição legal, adquire o nome de Ateneu Artístico Vilafranquense, lê-se no site oficial do ateneu.

Apesar de nos anos 50 e 60 o Ate-neu ter realizado grandes concertos e crescido em número de seguidores e músicos, o grande salto viria a ser dado pouco depois da revolução de abril. Em 1993 é reconhecido à instituição a qua-lidade de utilidade pública que ainda hoje mantém. Actualmente o Ateneu mantém 400 elementos em actividade, sobretudo jovens, não apenas na banda e escola de música como também nos coros, escola de ballet, danças de salão, sevilhanas, orientais, taekwondo e radiodifusão.

Banda Filarmónica do Ateneu Artístico Vilafranquense em arruada