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FACULDADES INTEGRADAS DO BRASIL - UNIBRASIL
CHIRLEY PATRINE ALVES
RICHARD BENVENUTTI
TIAGO ANDRÉ PIONTEKIEVICZ
IGUAÇU: CAMISA ALVINEGRA DA COLÔNIA FAMOSA –
VIDEODOCUMENTÁRIO SOBRE UM CLUBE AMADOR DE CURITIBA
CURITIBA
2011
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TERMO DE APROVAÇÃO
Chirley Patrine Alves
Richard Benvenutti
Tiago André Piontekievicz
IGUAÇU - CAMISA ALVINEGRA DA COLÔNIA FAMOSA: VIDEODOCUMENTÁRIO
SOBRE UM CLUBE AMADOR DE CURITIBA
Trabalho de conclusão de curso aprovado com nota 9,0 como requisito parcial para
a obtenção do grau de bacharel em Comunicação Social – Jornalismo pelas Faculdades
Integradas do Brasil – Unibrasil, mediante banca examinadora composta por:
Professor Orientador e Presidente: Julius Nunes
Prof. Membro1: Felipe Harmata Marinho
Prof. (a) Membro2: Elaine Javorski
Curitiba, 01 de Julho de 2011.
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CHIRLEY PATRINE ALVES
RICHARD BENVENUTTI
TIAGO ANDRÉ PIONTEKIEVICZ
IGUAÇU - CAMISA ALVINEGRA DA COLÔNIA FAMOSA:
VIDEODOCUMENTÁRIO SOBRE UM CLUBE AMADOR DE CURITIBA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Jornalismo. Escola de Comunicação Social das Faculdades Integradas do Brasil - UniBrasil. Orientador: Prof. Julius Nunes
CURITIBA
2011
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DEDICATÓRIA
Dedica-se este trabalho
a todas as pessoas da S.O.B.E. Iguaçu
que com toda a humildade nos receberam
e fizeram do nosso ato de fazer jornalismo
muito mais prazeroso
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AGRADECIMENTOS
Dedico este trabalho ao meu avô João Barbosa que não está mais entre nós, mas
sempre acreditou em mim, à minha mãe Marina Barbosa que sempre soube qual
seria minha profissão e ao meu esposo Luciano Oliva que esteve presente no
período de desenvolvimento deste trabalho e continua presente em minha vida.
Agradeço aos meus amigos Tiago Piontekievicz e Richard Benvenutti que me
acolheram na equipe. E a todas as pessoas intimamente ligadas às nossas vidas,
que nos ajudaram com paciência, carinho e compreensão, demonstrando que a
superação nos momentos difíceis vale à pena, principalmente por estarmos ao lado
de quem realmente se importa.
Patrine Alves
Agradecer primeiro a Deus, o guia para todas as conquistas até hoje, e sempre será.
Em especial aos meus pais, que me ensinaram a ser sempre verdadeiro e dedicado
em tudo o que se faz, e a respeitar o próximo. A minha família, presente nos
momentos de necessidade e aos amigos pelo apoio. Ao Julius, que com toda a sua
tranquilidade soube nos mostrar sempre uma saída nos questionamentos mais
difíceis. Aos amigos Patrine e Tiago, com quem aprendi muito neste período, nestes
seis meses de convivência sempre respeitaram o espaço e opinião um do outro,
fundamental para a construção deste projeto, o que fica o mesmo sentimento de
como começou o Iguaçu, a amizade sincera.
Richard Benvenutti
Aos meus pais, Seu Antônio e Dona Maria, que do alto de toda sua humildade e
simplicidade souberam me guiar por um caminho maravilhoso. Aos meus irmãos
que, por vezes, me ajudaram financeira e moralmente quando eu não tinha emprego
ou estava abatido. Às pessoas que foram verdadeiras e desejaram meu sucesso,
aos amigos eternos e também aos passageiros, pois com estes também aprendi
algo. Aos meus companheiros de trabalho, Patrine e Richard, que respeitaram
nossas diferenças, o que foi preponderante para que o resultado fosse a nossa cara
e finalmente ao Julius, que foi o nosso guia neste trabalho. Obrigado, sem vocês
todos não seria o mesmo!
Tiago Piontekievicz
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RESUMO
O jornalismo como estratégia para contar e preservar fragmentos de história dentro de uma comunidade. A relação entre jornalismo e história, identidade e proximidade, e o documentário como representação do real. Todos estes aspectos convergindo em um único tema para o desenvolvimento de um videodocumentário sobre o clube de futebol amador mais antigo de Curitiba, S.O.B.E Iguaçu. Depoimentos de personagens como base para a obtenção de um produto jornalístico desenvolvido para um pensamento crítico sobre identidade.
PALAVRA CHAVE
Jornalismo, identidade cultural, proximidade, documentário jornalístico e história
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 DELIMITAÇÃO DO TEMA ..................................................................................... 12
2.1 FUTEBOL NO PARANÁ: DO SURGIMENTO E DA SUA PRÁTICA ............................... 12
2.2 FUTEBOL AMADOR DO PARANÁ: O MELHOR DO BRASIL ......................................... 16
2.3 IMIGRAÇÃO ITALIANA E SANTA FELICIDADE ................................................................ 18
2.4 S.O.B.E. IGUAÇU – O TIME AMADOR MAIS ANTIGO DE CURITIBA .......................... 21
2.5 PROBLEMA ............................................................................................................................. 23
3 OBJETIVOS ........................................................................................................... 24
3.1 GERAL....................................................................................................................................... 24
3.2 ESPECÍFICOS ......................................................................................................................... 24
4 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................... 25
5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 30
5.1 A IDENTIDADE CULTURAL NO JORNALISMO ................................................................ 30
5.2 A QUESTÃO DA PROXIMIDADE NO JORNALISMO ....................................................... 32
5.3 O JORNALISMO COMO FORMA DE CONTAR A HISTÓRIA ......................................... 34
5.4 VIDEODOCUMENTÁRIO E UMA POSSÍVEL REPRESENTAÇÃO DA MEMÓRIA ..... 37
5.6 MODO EXPOSITIVO, ARGUMENTO E OBJETIVIDADE NO DOCUMENTÁRIO ........ 40
5.7 ENTREVISTA: ABORDAGENS REPRESENTATIVAS DO REAL .................................. 42
6 METODOLOGIA DA PESQUISA ........................................................................... 45
6.1 ABORDAGEM DO RELATÓRIO MONOGRÁFICO ........................................................... 45
6.1.1 Análise de conteúdo ......................................................................................................... 46
6.2 PRÉ-ENTREVISTAS: A COLETA DE DADOS ................................................................... 48
6.3 PERSONAGENS X IGUAÇU E A RELAÇÃO IDENTIDADE ............................................ 49
7 DELINEAMENTO DO PRODUTO ......................................................................... 51
7.1 O VIDEODOCUMENTÁRIO ................................................................................................... 51
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7.2 OS PERSONAGENS .............................................................................................................. 52
7.3 O PÚBLICO .............................................................................................................................. 53
7.4 VEICULAÇÃO .......................................................................................................................... 54
7.5 O PROCESSO DE GRAVAÇÃO ........................................................................................... 55
7.6 A IDENTIDADE ........................................................................................................................ 55
7.7 TRILHA SONORA E SONS DO DOCUMENTÁRIO .......................................................... 56
7.8 O ORÇAMENTO ...................................................................................................................... 56
TABELA 1 - ORÇAMENTO FÍSICO-FINANCEIRO DETALHADO ......................................... 57
TABELA 2 - DISCRIMINAÇÃO DOS PRESTADORES DE SERVIÇOS/FORNECEDORES
........................................................................................................................................................... 57
TABELA PRESTADORES DE SERVIÇOS/FORNECEDORES 2 - DISCRIMINAÇÃO DOS
........................................................................................................................................................... 58
TABELA 3 - RESUMO ORÇAMENTO ........................................................................................ 58
7.9 PROJETO DE VIDEODOCUMENTÁRIO ............................................................................ 58
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 65
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 66
ANEXOS ................................................................................................................... 70
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1 INTRODUÇÃO
A presente pesquisa busca a produção de um videodocumentário jornalístico
para compreender como relatos de pessoas comuns podem ser transformados em
um conjunto de entrevistas. Em comum todas têm o fato de terem vivido, durante
parte de suas vidas, o ambiente do clube de futebol amador mais antigo da cidade
de Curitiba, a Sociedade Operária Beneficente Esportiva Iguaçu, chamada apenas
de Iguaçu. A discussão da pesquisa está calcada na identidade dessas pessoas
com o clube, no sentido de como o clube mudou o andamento de suas vidas.
A perspectiva jornalística fica por conta de elementos como a própria
entrevista e de como se dá a abordagem quanto se trata de pessoas que tem muito
a contar. Afinal, no Jornalismo o ato de ouvir é tão nobre quanto o próprio ato de
contar algo de forma factual, pois mesmo em entrevistas factuais há que se ouvir
fontes, o ato de ouvir é o início de tudo.
Nessas abordagens foi evidente que seria necessário mais do que estar
limitado à identidade, pois ficou implícito nessa identificação a existência de histórias
que pedem para ser contadas. Partindo-se desse pensamento optou-se também em
acrescentar à pesquisa um tópico sobre a história, relacionada com o jornalismo,
mais especificamente utilizando-se do jornalismo como uma forma de contar a
história. E a isso se ligou o fato de que o documentário, enquanto formato
jornalístico, também é uma forma de contar histórias.
O Iguaçu está situado em Santa Felicidade, bairro da cidade de Curitiba que é
conhecido como a Colônia Italiana e também como o pólo gastronômico da capital
paranaense. A ligação de Santa Felicidade com a Itália se deve ao fato de ter sido
colonizada por imigrantes italianos no início do século passado. Dessa forma abriu-
se margem para uma pertinente discussão na delimitação do tema sobre a
imigração italiana e sobre o surgimento e crescimento do bairro. Porém inicia-se este
capítulo com tópicos sobre o futebol no Paraná e o futebol amador, já que o Iguaçu
existe basicamente pelo futebol, foi assim que surgiu, aliás, apesar dos bailes de
debutantes, casamentos e peças de teatro que foram realizados nos tempos áureos
do clube.
O Iguaçu foi fundado em 1919, sob o comando de 40 jovens, filhos de
imigrantes italianos, liderados por uma figura em especial, Egídio Ricardo Pietrobelli,
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que dá nome ao estádio do clube e que está no seleto hall de presidentes de honra
do Iguaçu.
Apesar de contar com uma rica história e com personagens relevantes, até
mesmo para a história do bairro, poucas reportagens de maior profundidade foram
feitas sobre o Iguaçu, o que pode ser comprovado a partir de uma pesquisa feita nos
arquivos do jornal Tribuna do Paraná, em um período de 12 meses. Desta forma, o
clube acaba passando despercebido aos olhos da imprensa, mesmo com uma
história relevante e passível de ser contada, muito embora a Tribuna do Paraná faça
uma cobertura diária do futebol amador de Curitiba, o que inclui o Iguaçu.
A elaboração de um videodocumentário trouxe a possibilidade de um olhar,
não somente sobre o Iguaçu, mas sobre o futebol amador em geral que, por vezes,
pode fornecer boas pautas à imprensa. Porém isso só acontece com uma imersão
mais profunda nesse ambiente, como a que foi feita no desenvolvimento desta
pesquisa. Ficou provado com este trabalho que a imersão e convivência durante
determinado período com pessoas simples pode render um conjunto de histórias. E
o videodocumentário aparece para justificar isso.
A fundamentação deste trabalho baseou-se essencialmente nos estudos da
identidade cultural, por se tratar de uma pesquisa voltada ao resgate histórico de
fatos e materiais da Sociedade Operária Beneficente Esportiva Iguaçu, a partir de
relatos e depoimentos que em comum tem a própria identidade entre os
personagens. Primeiramente por serem, em sua maioria, descendentes de italianos
e depois por terem a paixão pelo futebol, que só foi possível também por causa do
Iguaçu.
Teoricamente, este trabalho tenta alinhavar uma ligação entre os estudos da
Identidade Cultural, Jornalismo, História e Entrevista. Por se tratar da união de
várias vertentes que se fundem para formar um único produto jornalístico, pensa-se
que o seu valor está no modo como aborda cada uma delas e as relaciona com os
autores usados para justificar cada escolha. A tarefa de entender como se
estabelece a relação entre o tema do produto e temas pertinentes para seu
desenvolvimento será feito a partir de pensamentos contemporâneos, como a
Identidade Cultural que é uma corrente de estudos pós-moderna, desenvolvida
principalmente por Hall (2005), que analisa como o homem se aproxima de
determinada prática por pensar que aquilo diz respeito a si mesmo, ou seja, uma
prática que ele se identifica e na qual encontra seus pares que também se
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identificam com os mesmos propósitos. De acordo com Hall (2005) esse
pensamento não tem uma acepção definitiva e, portanto, está aberta às
interpretações e cabe a várias áreas do conhecimento, o que inclui, deste modo, o
jornalismo.
Sendo assim, esta pesquisa usou deste artifício para desenvolver um
pensamento a partir da Identidade Cultural, no qual o jornalismo apresenta uma
discussão sobre o que é fazer parte de uma comunidade, nação ou mesmo de um
clube de futebol.
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2 DELIMITAÇÃO DO TEMA
Este item apresenta como o trabalho é delimitado. Aqui serão discutidos os
assuntos que contextualizam o ambiente no qual se encontra o tema central da
pesquisa. Em uma esfera mais geral se encontra a discussão sobre como o futebol
amador conseguiu se popularizar de uma forma tão rápida e atingir a tanta gente,
em face, inclusive ao futebol profissional, que tinha desde muitos anos uma estrutura
muito maior em relação ao amador. Será destacado o âmbito do futebol paranaense,
bem como uma relação com o bairro de Santa Felicidade.
O Iguaçu está localizado no bairro de Santa Felicidade, em Curitiba. O clube
foi fundado em 1919, 13 anos depois que o futebol chegou ao Paraná, pelas mãos
do Dr. Victor Ferreira do Amaral (MACHADO, 2005, p. 9). A partir de então é
possível abordar como a relação entre a História e o Jornalismo pode dar origem a
um acervo valioso sobre o futebol, por meio de matérias jornalísticas que resgatam
relatos e arquivos que estavam, até então, esquecidos apenas na memória. Com os
questionamentos sobre esse assunto chega-se ao problema da presente pesquisa.
2.1 FUTEBOL NO PARANÁ: DO SURGIMENTO E DA SUA PRÁTICA
No Paraná, os primeiros relatos da prática do futebol datam de 1903, quando
o Dr. Victor Ferreira do Amaral, encontrava-se no Rio de Janeiro e ao observar uma
bola de futebol na vitrine de uma loja tratou logo de descobrir do que se tratava e o
esporte acabou por fasciná-lo, fazendo com que ele fosse o responsável por trazer a
primeira bola de futebol ao estado do Paraná (MACHADO, 2005, p. 9). Victor
Ferreira do Amaral não entrou para a história do Paraná apenas por trazer a primeira
bola de futebol ao estado, ele deixou um legado muito maior, foi “um dos fundadores
da Universidade do Paraná, em 1912, a primeira instituição pública de ensino do
Paraná, que em 1940 se tornou a UFPR” (PERES, 2008). Além disso, ele foi médico
e teve uma grande importância para a sociedade paranaense, pois “atendia pobres e
ricos, sem distinção. Trabalhou na Santa Casa de Misericórdia por sete anos, sem
remuneração, ajudando a criar a maternidade” (PERES, 2008).
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O futebol na dimensão sociocultural dessa época também constituiu-se em
um veículo de rápida absorção por parte dos jovens, principalmente. Não era difícil
reunir um grupo grande de garotos para a prática do esporte, tanto que Frederico
Essenfelder, praticante do futebol em 1909, vindo da cidade de Rio Grande
“conseguiu reunir muitos jovens que se interessavam pelo futebol, realizando os
primeiros ensaios num campo atrás do Quartel da Força Policial do Estado”
(MACHADO, 2005, p.11).
Damatta (1982 apud DAOLIO, 2005, p. 5) afirma que “é possível dizer que
cada sociedade tem o futebol que merece”. Partindo-se dessa idéia é que o futebol
no Paraná foi constituído às bases de uma característica inerente ao Estado na
época, ou seja, a partir de grupos de jovens provenientes de famílias que detinham
um aporte social destacado, que eram quem tinha acesso às novidades. “Apesar de
ter o seu início ligado principalmente aos círculos mais elitistas da população
nacional, o futebol não tardou a se tornar um esporte de massa” (PEREIRA, 2000
apud CAMPOS; SEITZ, 2008, p. 2).
Se à época o futebol tomou conta da sociedade paranaense e brasileira,
talvez não se imaginasse que isso fosse perdurar até os dias de hoje, afinal “o
futebol constitui-se numa das principais manifestações culturais brasileiras”
(DAOLIO, 2005, p. 6).
Dessa forma os vínculos foram se formando e cada vez mais o esporte
passou a ser praticado, sobretudo pelos jovens. A partir desse pressuposto pode-se
pensar que os vínculos também seguiram essa mesma linha e pode-se refletir
também que “quem está desvinculado precisa de vínculos, e nesse sentido o clube
torna-se uma ótima opção” (SILVA, 2001 apud DAOLIO, 2005, p. 34). Também por
isso é que a formação de clubes de futebol no Paraná teve um processo acelerado
logo no início. De 1909, quando surgiu o Coritibano Foot-Ball Club, atual Coritiba
Football Club, primeiro clube de futebol do Paraná, até 1914 surgiram pelo menos 12
clubes de futebol no Paraná (MACHADO, 2005, p.11).
Daolio afirma que o time do coração faz parte da identidade de quem torce
por algum.
Em determinados momentos é ele quem dá identidade, é ele que faz ser parte de um grupo, é ele que dá rosto. É ele que faz estar junto das pessoas que comungam da mesma visão, dos mesmos sentimentos. Ele dá sentido ao que se sente, ao que se faz. (DAOLIO, 2005, p. 50).
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Voltando às origens do esporte no Paraná, o estado seguia apenas uma
tendência que se via por todo o mundo, afinal “no início do século, o futebol mundial
começou a se organizar. As federações nacionais já existiam, mas não havia um
organismo internacional capaz de regular as relações de um país e outro no campo
futebolístico.” (DUARTE, 1987, p. 22).
É necessário dizer que o crescimento do futebol no Paraná não aconteceu
sem que a comunicação, em boa parte por meio do Jornalismo, tivesse tomado
parte do que acontecia nos primeiros campos da cidade de Curitiba. Isso se
evidencia quando acontece o primeiro jogo de futebol no estado, entre Tiro
Pontagrossense e Coritibano Foot-Ball Club, em Ponta Grossa (MACHADO, 2005, p.
11). “Tal partida, pode ter despertado o interesse dos jornais da época, mais pelo
seu caráter de disputa entre agremiações diferentes do que propriamente pelo seu
caráter inusitado.” (CAPRARO, 2002, p. 24).
Mesmo que o interesse não tenha sido por algo especificamente novo, o
futebol gerou, a partir de então, um novo rol de pautas aos jornais. Deve-se dizer
que a presente pesquisa não se ateve somente aos detalhes históricos do futebol,
por isso é que se fala em como a comunicação pode ter contribuído para que o
esporte fosse difundido no estado.
Outra afirmação que deve ser destacada é que o futebol chegou ao Paraná
algum tempo depois em relação aos grandes centros da época, no caso São Paulo e
Rio de Janeiro. No Brasil enquanto o esporte era uma novidade, na Europa já
existiam “talvez um milhão de jogadores – que eram observados e seguidos com
paixão por grandes multidões.” (CAPRARO, 2002, p. 25).
Isso pode explicar o motivo pelo qual o futebol foi visto com tanto ar de
novidade também pelos meios de comunicação da época, no caso pelos jornais
impressos, no que se pode caracterizar o uso do valor-notícia Novidade, cuja
premissa é de acontecimentos mais recentes terem maior valor-notícia. Traquina
(2005, p. 81) afirma que “devido à importância deste valor-notícia, o mundo
jornalístico interessa-se muito pela primeira vez”. Exatamente como ocorreu com o
advento do futebol no Paraná.
Quando o futebol começa a se popularizar no Paraná, nas primeiras décadas
do século XX, pode-se dizer que houve o aparecimento de uma identidade cultural
no que se refere ao esporte, pois
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o futebol, assim, estabelece-se como um meio de integração e ascensão sócio-econômica para as camadas populares – historicamente excluídas –, bem como torna-se um dos elementos que viriam a caracterizar a identidade nacional brasileira (FRANZINI, 1997 apud NASCIMENTO, 2008, p. 5).
Dessa forma os jovens filhos de imigrantes italianos, em sua grande maioria
pobres, viram no futebol uma nova forma de divertimento, exatamente como surge o
objeto desta pesquisa, o S.O.B.E. Iguaçu, conforme poderá ser visto no capítulo
dedicado a ele. Apesar de suas características segregacionistas, “a associação com
as etnias européias imigrantes e seus descendentes (sendo que a sua maioria era
pobre), além de marinheiros, educadores, operários, não pode ser negligenciada”
(CAPRARO, 2002, p. 37). Isso foi exatamente como aconteceu com o Iguaçu, no
bairro de Santa Felicidade, no começo do século, entre os anos de 1912 e 1919.
Como o surgimento do Iguaçu foi no mesmo período que a força econômica
do Paraná vinha da extração da erva-mate “alguns daqueles imigrantes - ao invés de
desbravar o inóspito interior paranaense, local destinado pelas empresas de
colonização aos recém chegados agricultores, permaneceram nos centros urbanos –
Curitiba e Paranaguá” (CAPRARO, 2002, p. 38). E essa permanência na capital
paranaense fez com que o surgimento do futebol na colônia italiana de Santa
Felicidade fosse uma consequência do que acontecia no resto do país.
Desenvolve-se o futebol, sendo então, os indivíduos destes grupos de imigrantes - os ingleses, alemães e italianos - e, posteriormente, os brasileiros pertencentes ao seu círculo de relacionamentos/influências sociais, os responsáveis pela introdução e divulgação do football no Paraná.
(CAPRARO, 2002, p. 40).
E, como já foi falado, os jornais tomaram parte do surgimento do futebol no
Paraná e isso é refletido por parte de um leitor anônimo do impresso Diário da
Tarde, que sugere uma maior cobertura do esporte por parte do veículo
Agora, mesmo, tem em v. s. um optimo ensejo de collocar em relevo a sua bondosa acquiescencia ao meu pedido dando ao noticiário do "Diario da Tarde" o complemento, cuja falta venho de sentir - uma coluna dedicada ao sport aproveitando como assumpto, para começar, a louvável tentativa de um grupo de rapazes nos nossos bancos para enraizar aqui o mais bello e mais empolgante dos jogos inglezes: o football. (CAPRARO, 2002, p. 44).
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Para concluir o raciocínio sobre o aparecimento do esporte nas terras
paranaenses, pode-se afirmar que tão logo o futebol surgiu e a população tomou
ciência de sua prática, ele ganhou notoriedade, muito embora alguns autores
afirmem que o futebol fosse limitado à elite. E como sua prática envolvia muitos
jovens ligados a grupos de comunicação e até mesmo jornalistas o interesse dos
jornais pelo esporte foi na mesma medida que o interesse popular. O envolvimento
de jornalistas com a prática futebolística é abordada
destacando-se em defesa do futebol o jovem Luis Guimarães, que jogava de goleiro no América, usando o Apelido de „Zalacain‟, fundador e redator principal da revista semanal „O Shoot‟, primeira publicação de esportes editada no Paraná, em 1915. (MACHADO, 2005, p. 20).
Portanto, conclui-se que o futebol no Paraná teve uma grande ligação com o
jornalismo e que o esporte cresceu muito em sua função.
2.2 FUTEBOL AMADOR DO PARANÁ: O MELHOR DO BRASIL
O primeiro campeonato amador oficial realizado em solo paranaense
aconteceu no ano de 1917, dois anos após a realização do primeiro campeonato
profissional. Antes disso todos os times eram considerados amadores. O primeiro
campeonato amador foi realizado pela Liga Sportiva Municipal.
Em Curitiba se construiu o mais forte campeonato de futebol amador do Brasil
(SIMON, 2010). Um dos motivos dessa alcunha carregada é a sua tradição, afinal o
campeonato é realizado desde 1917, apesar de ser organizada oficialmente pela
Federação Paranaense de Futebol (FPF) a partir de 1947. Isso fica evidenciado no
Iguaçu, o clube mais antigo a disputar o campeonato da Suburbana, como é
conhecido o campeonato amador da cidade de Curitiba. O clube foi fundado em
1919 e dos que estão em atividade atualmente é o mais antigo.
O campeonato amador da Divisão Especial, o principal de Curitiba, conta hoje
com 12 clubes no ano de 2011, incluindo o Iguaçu: Associação Clube Esportivo
Urano, Caxias Futebol Clube, Clube Atlético Bairro Alto, Combate Barreirinha
Futebol Clube, Operário Pilarzinho Esporte Clube, Trieste Futebol Clube, União
Capão Raso Futebol Clube, União Nova Orleans, União Recreativa Esportiva Santa
Quitéria, Vila Fanny Futebol Clube e Vila Hauer Esporte Clube.
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Destes, o principal rival do Iguaçu é o Trieste, que tem as origens similares às
do Iguaçu, sendo fundado por imigrantes de italianos que eram do Iguaçu e
resolveram fundar seu próprio clube. Hoje o Trieste é o maior vencedor do
campeonato amador de Curitiba e da Taça Paraná, maior competição do estado do
Paraná para os clubes amadores.
Acerca do futebol amador praticado em Curitiba, pode-se dizer que se
mesclam fragmentos do futebol profissional com o amadorismo puro. No que tange à
prática amadora do esporte Fernando Campos afirma que “o futebol amador é
aquele praticado por prazer, baseado na dimensão lúdica ou, ao menos, aquele que
não pressupõe um contrato de trabalho com uma instituição futebolística” (CAMPOS,
2009, p. 15).
E essa não deixa de ser uma característica verificada em alguns clubes de
Curitiba, porém a exigência por resultados muitas vezes faz com se pague um valor
a determinados jogadores para que estes joguem por determinado clube, muito
embora os valores sejam irrisórios se comparados ao futebol profissional. Junto
desse valor pode ser anexado um contrato que determina um período de
permanência do jogador no clube.
Muito mais do que o simples ato de praticar e assistir ao futebol, algumas das
pessoas que estão no Iguaçu o vivem de uma forma mais completa, como se o
esporte fosse uma extensão de suas vidas cotidianas. Sobre isso Campos fala que
“O futebol amador tem suas instituições – clubes, times de fim de semana, times de
empresa, etc. – fundadas e mantidas pelo sentimento tribal, ou seja, por uma lógica
do afeto, da proxemia, do convívio cotidiano” (CAMPOS, 2009, p. 123).
Pode-se afirmar, portanto, que o futebol amador não é somente uma
ramificação do futebol profissional, mas sim uma extensão do cotidiano de quem o
vive e pratica. Pode ser explicado com esse argumento o fato de o Iguaçu estar em
atividade até os dias de hoje ao passo que quase todos os clubes contemporâneos a
ele já foram extintos ou deixaram de lado o futebol mantendo apenas suas sedes
sociais.
Isso reforça o fato de que o torcedor do Iguaçu tem uma grande identidade
com o clube justamente por ser um clube tradicional, com muitas histórias por serem
contadas e que, acima de tudo, foi fundado de uma forma bastante peculiar. Pode-
se dizer que o Iguaçu tem uma história singular no futebol paranaense.
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Dentro deste ambiente de tribalização do futebol amador Campos ainda faz
uma afirmação que remete muito bem ao que representa o futebol amador em
Curitiba
No futebol amador o localismo se observa por disputas por territorialidades mais restritas, como bairros, ruas, campos, canchas, mas também podem se estender para a própria cidade, estado, região, etc. Entretanto, isto não significa que as rivalidades do futebol amador sejam menores. (CAMPOS, 2009, p. 128)
Esta é praticamente uma tradução do futebol amador na capital paranaense,
muito embora não se possa limitá-lo somente a regionalismos e rivalidades. Afinal
há um grande sentimento de identificação de pessoas com esse ambiente e, como
estão no mesmo bairro, em boa parte dos casos, a rivalidade é apenas dentro do
estádio e pelo período em que houver a repercussão do jogo.
2.3 IMIGRAÇÃO ITALIANA E SANTA FELICIDADE
O nome Santa Felicidade surgiu em 1878 quando os primeiros imigrantes
Italianos começaram a ocupar a região do Taquaral. O interesse dos italianos em vir
ao Brasil foi promovido graças ao bom relacionamento entre os dois países e pelo
incentivo brasileiro junto com uma série de crises que passava, na época, a Itália. O
Brasil precisava de mão-de-obra barata para suprir a falta de mão-de-obra escrava,
então em 1876 Brasil e Itália firmaram um acordo. Os boatos de terras férteis
motivaram os italianos e movidos pela intenção de fuga da crise que viviam,
começaram a fazer suas inscrições para embarcar no navio Sulis:
Em 11 de dezembro de 1877, partia de Gênova, na Itália, com destino ao Brasil, um navio trazendo muitos imigrantes, principalmente da região de Vêneto. Vieram famílias inteiras e outras com apenas alguns membros. Na bagagem, coragem, esperança, mentes e braços prontos para o trabalho. (FENIANOS, 1996, p. 23)
E assim, segundo informações coletadas no livro Sobre a História de Santa
Felicidade, no dia 02 de janeiro de 1878 o primeiro navio atracou no Rio de Janeiro
com destino à Paranaguá. Com a chegada do navio no Porto de Paranaguá, em 05
de janeiro do mesmo ano, os italianos já são encaminhados para as regiões de
Porto de Cima e São João da Graciosa. Mas essas regiões eram de difícil adaptação
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devido ao clima e também pela “baixa resistência física que estes imigrantes tinham
aos males tropicais, resolveram procurar outros lugares.” (FUNDAÇÃO CULTURAL
DE CURITIBA, [199-]), inspirados nas idas e vindas e orientados pelos tropeiros
seguiram rumo a Curitiba. Tal foi o sucesso da expedição, que as 15 famílias
aventureiras adquiriram um terreno aos arredores de Curitiba, que foi dividido em
lotes, e assim iniciaram “um novo tipo de colonização”. (FUNDAÇÃO CULTURAL DE
CURITIBA, [199-])
A região adquirida pertencia aos irmãos Arlindo, Antonio e Felicidade Borges e era conhecida por Taquaral, por ser rodeada de taquaras (vime). A primeira compra foi feita em conjunto, ao preço de 80 mil réis o alqueire, na região entre a Casa Comparin e o Rio Vu (afluente do Rio Cascatinha), na entrada da colônia a cerca de 8 km da cidade. A terra foi dividida em lotes e distribuída por sorteio entre as famílias Giovanni Alberti, Francesco e Luigi Boscardin junto a Luca Latini, a viúva Madalena Benato, Francesco Comparin, Calisto Cumin, Giuseppe Dalla Stella, Giovanni Lucca e sobrinho, Bortolo Muralo junto a Santo Cuman, Giácomo Breda e Giovanni Casagrande, Giovanni Menegusso, Giovanni Poleto e Basílio Bacalfi, Antonio Paolin, Giusepe Pavanello, Sebastiano Taliaro com Giuseppe Vendramin, e Bortolo Slompo com Pietro Volpe, conforme relato do Padre Giuseppe Martini. (FENIANOS, 1996, p. 25)
Com um solo rico, plantaram milho, uva entre outros tipos de agricultura e
criações de animais. A senhora Felicidade Borges teve uma participação significativa
para a estabilidade dos imigrantes, ela, irmã dos antigos proprietários das terras
adquiridas, ajudou muito com a receptividade, estadia, comida, trabalho e etc. Com
isso foi homenageada com o nome da colônia. E também, segundo o livro, a
religiosidade contou muito, por isso, em novembro de 1878, o nome da colônia ficou
Santa Felicidade.
No mesmo mês, chega ao Brasil a segunda leva de imigrantes italianos que
adquiriram terras de Paulo França, João de Freitas e do alemão Wolf, instalando-se
na outra parte da colônia, são as famílias:
Antonio e Valentino Bosa, Antonio Dallaroso, Domênico Valente, Celestino Zanotto, Andrea Bertapelle, Domênico Zonato, Dionísio Maestrelli, Bortolo Villanova, Agostinho Túlio, Francesco Travenzoli, Giovanni Decarli e Clemente Tabarim. (FENIANOS, 1996, p. 25)
20
Em 1880 os italianos elaboraram um documento solicitando ao governo “a
abertura de uma estrada que ligasse a colônia à cidade”.1
Depois da boa relação trabalho, terras férteis e clima favorável, o
desenvolvimento foi rápido. Em 1882, a obra da primeira capela da colônia foi
executada e celebrada a primeira missa. Em 1885 foi oficializada a primeira missa
em Italiano, depois da chegada do missionário Padre Cibeo. Em 1891 foi inaugurada
uma igreja maior, em alvenaria, arquitetada e decorada pelo Pe. Pitro Colbacchini.
No decorrer dessa evolução italiana, viu-se a necessidade de um cemitério e em
1886 foi construído com a ajuda da família Smaniotto que doou o terreno. E em 1986
foi aumentado e cercado com um muro de tijolos. Hoje o cemitério de Santa
Felicidade é patrimônio histórico do Paraná. Foi um período de muitos
acontecimentos.
Os italianos foram conquistando seu espaço de tempo em tempo, conforme
viam a necessidade. Faziam reuniões e erguiam uma nova construção ou tomavam
alguma decisão importante, em 1899 ergueram a primeira escola, tudo fruto de seus
esforços braçais e financeiros.
Em 1910 o número de famílias ultrapassava 200, a solidariedade e amizade
faziam com que as famílias se unissem para construir novas moradias, mutirão para
as colheitas que não podiam ser feitas por determinadas famílias que passavam
dificuldades.
Uma tradição que foi mantida pelos italianos no Brasil foi o trabalho manual,
dessa forma cresceram entre lavouras, criações e artesanato. Segundo os autores
Coelho e Gooveia (1978):
O primeiro a se estabelecer com artesanato em vime foi Natalino Túlio, que valendo-se dos conhecimentos transmitidos pelo pai e pelo aperfeiçoamento adquirido na indústria de móveis “Marquioro”, estabeleceu-se por conta própria por volta de 1926 com a „Vime Túlio‟, hoje conhecida como “Móveis Túlio”. (GOOVEIA; COELHO, 1978, p. 3)
Ainda em 1938 não existia água potável, a luz era de lampião e fogões
somente a lenha, mas houve uma novidade para a colônia o primeiro ônibus que
fazia o trajeto da Praça Tiradentes até, duas vezes ao dia, portanto não se podia
1 A estrada a que o texto se refere é a atual Avenida Manoel Ribas, que liga Santa Felicidade ao
Centro de Curitiba.
21
perder o horário para não precisar voltar a pé para casa. Nos dias de sol o ônibus
levava as pessoas até em casa, “mas quando chovia eram os passageiros que
„empurravam‟ o ônibus até Santa Felicidade”. (FENIANOS, 1996, p. 34)
Em 1940 ainda existia a cultura de ir à labuta antes dos primeiros raios do sol,
e as famílias seguiam com suas carroças carregadas rumo ao Largo da Ordem, à
estação ferroviária ou de casa em casa. Segundo informação do livro “conta-se que
as famílias seguiam juntas para a cidade como forma de se prevenir da subida do
Barigüi, onde muitas carroças encalhavam.” (FENIANOS, 1996, p.35)
A partir de 1954, os italianos perceberam o movimento dos caminhoneiros e
começaram a servir comidas, aos poucos essa atividade foi crescendo e se
transformou na rota gastronômica de Curitiba, provocando o aumento da economia
do bairro e da cidade.
Em 1959 surgiu a primeira festa da uva, mas do que uma comemoração a
festa foi a necessidade de vender uma supersafra em que os colonos não
conseguiriam em suas rotinas normais. A festa foi um sucesso e Santa Felicidade
ficou cada vez mais conhecida.
Em 1965 houve um conflito entre velha e nova geração, os filhos dos colonos
não queriam permanecer como agricultores, mas sim se deslumbravam com as
novas modas da cidade. Com os novos pensamentos, a evolução, Santa Felicidade
cresceu cada vez mais economicamente, em 1975 houve novas construções
imobiliárias com toda infraestrutura, coisa que o Estado não estava conseguindo
suprir.
Finalmente, em 1978, um período de três dias de chuva comprometeu as
vendas na festa da uva, foi quando Germano Francischini resolveu transformar seus
vários quilos de uva em vinho e promoveu uma grande festa, assim surgiu a
Primeira Festa do Vinho, que permanece até os dias de hoje.
2.4 S.O.B.E. IGUAÇU – O TIME AMADOR MAIS ANTIGO DE CURITIBA
A Sociedade Operária Beneficente Esportiva Iguaçu foi fundada no dia 06 de
Junho de 1919 por 40 imigrantes italianos, liderados por Egídio Ricardo Pietrobelli,
que hoje empresta seu nome ao estádio do clube.
22
Antes de ser oficialmente fundado o Iguaçu levava a alcunha de Ouro Verde
Esporte Clube, isso porque o bairro de Santa Felicidade era rota da erva-mate na
época, mais especificamente onde hoje é a Avenida Manoel Ribas.2
Porém o nome passou a não ser mais tão bem aceito e após um jogo que o
então Ouro Verde realizara contra o Olímpico Iguassú, do bairro Barigüi, entre os
anos de 1910 e 1912, aproximadamente, convocou-se uma assembleia e, por
unanimidade, foi aprovado o nome de Iguaçu Esporte Clube, uma homenagem ao
nome do adversário cujo nome havia tanto agradado.
No ano de 1919, foi fundada a sede do clube em terreno que fora adquirido
pelo grupo de 40 italianos, sempre liderados por Egídio Ricardo Pietrobelli e sua
esposa Deolinda Pietrobelli. A fundação do clube é considerada como parte
integrante da história do bairro italiano de Curitiba,
o terreno onde hoje está o clube foi comprado por 33 contos de réis. A contrução da primeira sede foi possível graças a Egídio Pietrobelli que teve a coragem de empenhar a própria casa para realizar o sonho daquele pequeno grupo de moradores. Os demais fundadores ajudavam a quitar a dívida com contribuições mensais (FENIANOS, 1998, p. 74)
O time amador mais antigo de Curitiba conquistou vários títulos, os principais
foram 8 da Divisão Especial, a mais importante do futebol amador de Curitiba e 1
Taça Paraná, a principal competição do Estado entre os clubes amadores.
Vários fatos marcaram a história do Iguaçu, entre eles a queda da sede do
clube, no ano de 1982, provocada por um forte vendaval. Esse acontecimento é
bastante marcante, pois a união entre sócios do clube e a comunidade ajudou a
reconstruí-la, ainda maior do que era antes do vendaval.
A atual Sociedade Operária Beneficente Esportiva Iguaçu, é um dos clubes
que mais contribuem para a história do futebol de Curitiba, mesmo sendo
classificado como amador. Nove décadas não podem ser desprezadas, afinal a
história do Iguaçu não é a simples história de um time de futebol, mas sim um
fragmento da história do bairro de Santa Felicidade e mesmo de Curitiba. Mais do
que isso é necessário afirmar que o clube faz parte do cotidiano de muita gente e é
esse cotidiano que merece ser retratado, bem como se fosse uma exemplificação do
2 Todas as bibliografias consultadas afirmam que o clube já fora fundado com o nome de Iguaçu, mas o
historiador Pedrinho Culpi, entrevistado para esta pesquisa, afirma que o primeiro nome foi Ouro Verde
(informação verbal).
23
romance europeu novecentista, do qual fala o teórico italiano Franco Moretti. Para
este autor “o romance europeu novecentista traduz-se num novo modelo de se
contar uma história a partir da valorização dos elementos do cotidiano” (MORETTI,
2003, p. 12).
Por isso o Iguaçu é tão presente na vida de muitas pessoas, justamente por
fazer parte do cotidiano delas.
2.5 PROBLEMA
De que forma um audiovisual aliado à práticas jornalísticas pode resgatar
momentos da história do SOBE Iguaçu revelando fragmentos da identidade do clube
com a comunidade?
24
3 OBJETIVOS
3.1 GERAL
Ilustrar a partir de um documentário jornalístico a história do SOBE Iguaçu,
fundamentado em relatos de personagens que conviveram dentro do clube.
3.2 ESPECÍFICOS
Verificar, baseado em estudo de mídia, como o S.O.B.E Iguaçu é tratado no
jornalismo esportivo e como sua história é evidenciada;
Fazer resgate histórico do Iguaçu por meio de documentário jornalístico
sustentado em elementos da identidade do clube;
Agregar ao audiovisual a utilização do jornalismo como uma forma de
documentar a história.
25
4 JUSTIFICATIVA
A escolha pela S.O.B.E Iguaçu ocorreu devido ao clube ser o mais antigo
entre os amadores de Curitiba, com 92 anos, e por ter uma história que não pode
ser desprezada, inclusive com um presidente de honra vivo que viu a inauguração
da sede quando ainda era criança. Outro fator que ajudou na escolha foi pelo fato de
o Iguaçu ter uma história peculiar no Paraná, ou seja, por ter sido fundado sob os
esforços de 40 jovens italianos, liderados por Egídio Ricardo Pietrobelli que, ao lado
de sua esposa, penhorou a própria casa como garantia de pagamento do terreno
aonde posteriormente viria a ser a sede do Iguaçu. Além dessa história, várias
outras que poderiam ser transformadas em matérias jornalísticas permeiam os anos
de existência do Iguaçu.
O amadorismo tem um nível de organização bastante elevado, chegando a
fazer frente ao futebol profissional, inclusive. Para se ter uma noção, um voto de um
clube amador tem o mesmo peso do que o de qualquer outro filiado nas decisões da
Federação Paranaense de Futebol, órgão que rege o desporto no estado. Apesar
disso o futebol amador não tem a mesma repercussão e muitas vezes os seus
méritos não são tão reconhecidos quanto seriam se acontecessem em um clube
profissional.
Como o futebol amador é um tanto marginalizado, estes fatos acabam sendo
conhecidos por poucos, já que, em geral, a imprensa, mesmo esportiva, não se
interessa tanto pelos assuntos ligados a essa modalidade. Isso ocorre porque o
futebol amador é compreendido à parte do profissional, como se fosse uma
ramificação menos nobre do esporte e que serve como uma válvula de escape para
quem não conseguiu chegar à profissionalização. Neste caso
o futebol amador, sobretudo na pós-modernidade, assume o lúdico como sua expressão mais acabada. Da mesma maneira a sociedade se baseia no esporte – no caso brasileiro, no futebol – para expressar seu ludismo (CAMPOS, 2009, p. 119).
Dessa ludicidade nascem os personagens que vivem e contam as histórias
que acontecem dentro de instituições amadoras. São alguns desses personagens
que, juntos, constroem uma narrativa única que resulta em produtos jornalísticos,
como o videodocumentário resultado da presente pesquisa. Essa construção
26
narrativa é basicamente o ato de dar voz a alguém que viveu a história que deve ser
contada, neste caso o modelo escolhido foi o audiovisual.
Esse tipo de produto jornalístico é cabível na medida em que se torna uma
tradução mais elaborada da realidade que se deseja mostrar, isso se justifica pelo
fato de que
Quando o documentário é constituído exclusivamente por uma sucessão de depoimentos, a narrativa proposta pelo documentarista a partir da seleção de falas e da montagem faz com que as várias vozes discursivas travem um diálogo no interior do documentário (CARLOS, 2004, p. 08).
O foco desta pesquisa é, portanto, estudar uma relação entre aspectos menos
explorados pelo jornalismo usual e transportá-los para o produto audiovisual de
forma a não deturpar, em nenhum momento, a realidade vivida pelos personagens.
E como se trata de um “registro in loco, ressalta-se que o documentário deve, o
máximo possível, apresentar todas as evidências factuais em seu contexto original”
(MELO, 2002, p. 5). Desta forma, aproxima-se mais da prática jornalística, portanto
pode-se afirmar que a realidade foi pouco alterada e que o cenário esteve bem perto
da verdade, a não ser pelo fato dela ter sido retratada por meio de câmeras de
vídeo.
A transmissão da realidade a partir de um documentário gera a oportunidade
de mostrar que toda e qualquer história é passível de ser contada, desde que uma
abordagem adequada seja desenvolvida durante esse processo e o jornalismo é o
elo para que isso ocorra. A união entre uma obra documental e o jornalismo faz com
que o produto ganhe um formato diferenciado, pois
Enquanto o jornalismo busca um efeito de objetividade ao transmitir as informações, no documentário predomina um efeito de subjetividade, evidenciado por uma maneira particular do autor/diretor contar a sua história. Este gênero é fortemente marcado pelo “olhar” do diretor sobre seu objeto. O documentarista não precisa camuflar a sua própria subjetividade ao narrar um fato (MELO, 2002, p. 07).
Tudo que se conta no produto resultado da presente pesquisa é fruto do ideal
que cada personagem constrói de si mesmo perante a imagem do Iguaçu, porém a
construção do ideal de cada um se junta ao do outro e forma um tipo de memória
coletiva. Essa memória é o resultado de uma espécie de iniciação pela qual cada um
27
dos personagens passou dentro do clube para que se sentisse parte da história.
Neste sentido pode-se citar o filme Cabra marcado para morrer (1984), de Eduardo
Coutinho, que problematiza algumas questões do modo de como utilizar o jornalismo
em determinadas situações nas quais “acontecimento, memória e tempo convertem-
se (...) nos três vértices que orientam a linguagem jornalística desde sempre e neles
se funda uma epistemologia do fazer jornalístico” (HENN, 2009, p. 3-4).
Assim, a tendência de um jornalismo mais aprofundado em relatos e na busca
de histórias e do resgate das mesmas pode ser pensada, já que esses três vértices
juntos são, muitas vezes, os principais pilares para qualquer produto jornalístico.
O norteamento deste trabalho baseia-se, além do jornalismo como forma de
contar a história, na identidade cultural, já que por se tratarem, basicamente de
descendentes de italianos os personagens têm muito mais do que uma ligação
clubística, mas sim étnica, o que favoreceu a escolha pelos estudos culturais de
Stuart Hall, principalmente. Pelo fato de a identidade ser intrínseca a cada um dos
personagens não se pode afirmar com toda certeza que todos têm um mesmo tipo
de ligação com o clube, mas pode-se afirmar que ela existe. Como explica Castells
(1999, p. 23) “identidades (...) constituem fontes de significado para os próprios
atores, por eles originadas, e construídas por meio de um processo de individuação”.
Além disso, o processo de identificação dos personagens garante a cada um
deles uma espécie de micronarrativa individual, que faz com que tudo se junte e
origine um grande e único apanhado de informações que revelam o quão é forte
essa identidade. Por isso que quando se afirma que a história do Iguaçu, prestes a
se tornar centenária, não pode, de forma alguma, ser ignorada e muito menos
esquecida na memória de cada pessoa que a viveu. Ao contrário, há que haver a
difusão dela para que as próximas gerações a conheçam e possam saber o que foi e
o que é o Iguaçu. E o jornalismo é parte integrante desse processo.
Quando se usa o termo personagens ao invés de fonte é justamente pelo fato
de que cada pessoa entrevistada não é meramente uma mina de onde brota a
informação, mas sim uma parte integrante da narrativa e mais do que isso, eles são
a história viva. Portanto não é demasiado afirmar que eles são os verdadeiros
personagens, pois relatam com a mais perfeita veracidade aquilo que presenciaram
e não apenas o que ouviram. A partir dessa afirmativa também se justifica o fato de
os personagens serem pessoas mais experientes, o que dá mais credibilidade à
pesquisa.
28
A análise de conteúdo nos periódicos ajudou no sentido de descobrir uma
visão oficial de como o Iguaçu é retratado, apesar de poucas matérias alusivas,
mostrou-se que o clube ainda leva certo destaque, poder-se-iam eleger alguns
prováveis motivos para isso, primeiro, o Iguaçu é o clube amador mais antigo de
Curitiba e consequentemente um dos mais tradicionais; segundo, sempre que
acontece o “Clássico da Polenta” o Iguaçu ganha destaque, ao lado do seu maior
adversário no bairro, o Trieste Futebol Clube, pois se trata de um jogo que
movimenta a colônia italiana de Santa Felicidade e terceiro, pelo Iguaçu estar na
principal divisão do futebol amador de Curitiba, aí o destaque do Iguaçu é
praticamente o mesmo do restante das equipes.
As 73 matérias que faziam menção ao Iguaçu no período de Setembro de
2009 a Setembro de 2011 no jornal Tribuna do Paraná, mostram que o clube é
retratado sim, mas de forma superficial, o que abre margem a um produto mais
aprofundado e exclusivo sobre o Iguaçu. Portanto, a realização de um
videodocumentário coube como uma forma apropriada para que o devido destaque
fosse dado ao clube e também como uma forma de diminuir o percurso da história
até as gerações mais novas, exatamente como os filmes sobre grandes eventos que
movem uma nação podem fazer, como por exemplo, As Torres Gêmeas (2006). Já
que segundo os estudos da identidade cultural, apresentados por Hall (2001, p. 47)
“no mundo moderno, as culturas nacionais em que nascemos se constituem em uma
das principais fontes de identidade cultural”.
Pensou-se dessa forma porque a exemplificação de que o clube é uma nação
não é de forma alguma exagerada, pois para ser uma nação não precisa
necessariamente estar dentro dos mesmos limites territoriais ou falar a mesma
língua, há que ter uma unidade, uma identidade que delimite o Ser uma nação,
conforme Renan (2001)
três coisas constituem o princípio espiritual da unidade de uma nação: „... a posse em comum de um rico legado de memórias..., o desejo de viver em conjunto e a vontade de perpetuar, de uma forma indivisiva, a herança que se recebeu (RENAN, 1990 apud HALL, 2001, p. 58)
Logo é possível pensar que o documentário também pode fazer parte dessa
fronteira entre a identidade e sentimento de nação, pode-se dizer que o papel do
audiovisual é uma solução possível para que o indivíduo se sinta parte desse
sentimento. Essa solução pode ser dada a partir da amarração entre o documentário
29
e a história, como explica Nichols (2009, p. 27) “o vínculo entre o documentário e o
mundo histórico é forte e profundo. O documentário acrescenta uma nova dimensão
à memória popular e à história social”. Portanto, pode-se afirmar que essa união
entre documentarismo, que é um subproduto jornalístico, e a história é admissível
sob qualquer ponto de vista.
30
5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
5.1 A IDENTIDADE CULTURAL NO JORNALISMO
Hall (2003) define a identidade de várias formas, a pesquisa aborda a
identidade a partir da concepção do sujeito pós-moderno, que é a que mais se
adapta à questão da representação de quem constroi a instituição SOBE Iguaçu.
Para entender os personagens que viveram a história este projeto se apoia
em diversos momentos no pensamento de Hall. Como ponto de partida utiliza-se o
fato de que o quadro de pessoas utilizadas como fontes para o videodocumentário
são todos descendentes de italianos, o que, por si só, já delimita uma identidade
entre eles, ou, no mínimo, algo em comum entre esse grupo. A atenção ao fato de
que o surgimento do primeiro time do Iguaçu, se deu em um momento em que a
cidade de Curitiba estava sendo povoada, em especial a região do bairro que veio
posteriormente a ser chamado de Santa Felicidade, também é exposta. Prestou-se
atenção a esse fato porque a fundação do clube, 1919, só aconteceu pela iniciativa
de quarenta homens que tinham em comum entre si o fato de serem descendentes
de italianos.
De lá para cá as mudanças, tanto estruturais no bairro como de
comportamento das pessoas foram muito grandes, no que Stuart Hall já descrevia
que acontecia no século XX. “Um tipo diferente de mudança estrutural está
transformando as sociedades modernas no final do século XX” (HALL, 2003, p. 09).
O autor enumera as mudanças as quais o sujeito estava sendo submetido no final
do referido século.
Isso está fragmentando as paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que, no passado, nos tinham fornecido sólidas localizações como indivíduos sociais. Estas transformações estão também mudando nossas identidades pessoais, abalando a ideia que temos de nós próprios como sujeitos integrados. Esta perda de um “sentido de si” estável é chamada, algumas vezes, de deslocamento ou descentração do sujeito. Esse duplo deslocamento - descentração dos indivíduos tanto de seu lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmos - constitui uma “crise de identidade” para o indivíduo. (HALL, 2003, p. 9)
31
Essas mudanças foram citadas como ilustração de uma espécie de
reafirmação pela qual muitos povos foram obrigados a passar quando tiveram de
migrar de suas pátrias a outras até então desconhecidas aos seus olhos. A busca
nesse caso é por um combate à fragmentação da etnia, ou seja, por uma reunião de
valores que não podiam ser perdidos pelo fato de não estarem em seus lares. A
fundação do clube, nesse caso, pode ter sido a manutenção da identidade adquirida
muito tempo atrás e que não podia se perder na vida desses 40 homens que
fundaram o Iguaçu. Isso se traduz em algo semelhante ao sentimento de nação,
cujo qual se refere Ernest Renan em seu famoso artigo “O que é uma nação”
Um passado heróico, de grandes homens e de glória – eis aí o capital social sobre o qual repousa uma idéia nacional. Possuir as glórias comuns do passado e a vontade comum do presente; ter feito grandes coisas em conjunto, querer faze-las outras vezes mais – eis aí as condições essenciais para formar um povo (RENAN, 1882, p. 173)
O objetivo desse estudo é não só tomar a identidade pelo lado da reafirmação
pessoal dos antigos fundadores do clube e dos atuais personagens do
videodocumentário ao qual se propõe, mas também analisar a identidade
intrinsecamente ao jornalismo. Não se quer reconstruir a identidade, nem dar um
conceito pronto a ela, já que o próprio Hall (2003) reconhece que as formulações da
identidade na obra da qual tomamos como base “são provisórias e abertas à
contestação” (HALL, 2003, p. 8). O autor justifica que
a opinião dentro da comunidade sociológica está ainda profundamente dividida quanto a esses assuntos. As tendências são demasiadamente recentes e ambíguas. O próprio conceito com o qual estamos lidando, “identidade”, é demasiadamente complexo, muito pouco desenvolvido e muito pouco compreendido na ciência social contemporânea para ser definitivamente posto à prova. (HALL, 2003, p. 8)
Portanto a pesquisa trabalha a identidade no campo dos conceitos provisórios
dos quais Hall (2003) se refere, sem tentar dar novos sentidos a ela, mas buscando
transportá-la à realidade que servirá como objeto de estudo. Dessa forma, a
interpretação da identidade estará condicionada à opinião do autor, porém
interpretada de acordo com um olhar imparcial e analítico, de acordo com os
princípios jornalísticos. Uma das pretensões, no entanto, deste trabalho é descobrir
elementos da verdadeira identidade de quem viveu parte da história do Iguaçu,
32
partindo da ideia de que a “identidade é formada na „interação‟ entre o eu e a
sociedade” (HALL, 2003, p. 11).
Se a identidade é formada às bases dessa interação, pode-se dizer que a
sociedade é parte fundamental para a formação da identidade do sujeito e que este
tem um princípio espiritual de unidade, que pode ser tanto dentro de um grupo de fãs
de determinado livro ou até mesmo de uma nação, como afirma a passagem de
(RENAN, 1990 apud HALL, 2003, p. 58). “a posse em comum de um rico legado de
memórias..., o desejo de viver em conjunto e a vontade de perpetuar, de uma forma
indivisiva, a herança que se recebeu”. Neste caso a herança fica por conta de
costumes e pela honestidade da qual falam alguns personagens do
videodocumentário, que seria como uma espécie de característica inerente aos
descendentes de italianos, na visão deles.
Nesse ponto deve-se permitir um pensamento ligado ao fato de que o
surgimento do Iguaçu foi algo que aconteceu muito por conta da proximidade de
seus fundadores com a região na qual moravam. Tanto que o primeiro nome do
time, antes de ser Iguaçu era Ouro Verde, pois a região era rota do Ciclo da Erva
Mate, conforme pôde ser visto anteriormente neste trabalho. A proximidade será
abordada de modo mais aprofundado no próximo tópico.
5.2 A QUESTÃO DA PROXIMIDADE NO JORNALISMO
Outra fonte de estudo para esta pesquisa é o valor-notícia Proximidade
“sobretudo em termos geográficos, mas também em termos culturais”. (TRAQUINA,
2005, p. 80). Comumente o acontecimento é avaliado por ser de mesmo interesse
cultural, regional ou geográfico, organizacional, político, entre outros. Seguindo essa
linha de raciocínio a Proximidade se torna valor-notícia para solucionar a questão de
escolha da notícia em determinada região ou cultura. Se o fato for relevante para
aquela região se torna notícia. O contrário também é avaliado, um fato pode ser
noticioso em uma cidade pequena da Europa e não ser relevante para a
comunidade Brasileira, pois cada lugar tem seus próprios interesses e não convém
misturá-los.
Segundo Traquina (2005, p. 77), foi “o acadêmico italiano Mauro Wolf” que
viu, no processo de construção da notícia, a partir da escolha dos acontecimentos.
33
Depois deste fato revelado, Wolf diferenciou valor-notícia de seleção: substantivos
que avaliam diretamente o acontecimento como notícia e fatores que fazem parte do
critério de produção da notícia. E valor-notícia de construção: “qualidades”
(TRAQUINA, 2005, p. 77) avaliadas que transformam o acontecimento em notícia, o
que deve ou não ter relevância para determinado acontecimento se tornar notícia.
Dois autores estudados por Traquina, para que sua tese tivesse importância
teórica, foram Galtung e Ruge, eles são mencionados nessa teoria por não terem
feito claramente a divisão entre valores-notícia. Isso pode implicar numa pequena
confusão na escolha dos fatores noticiosos. Para esses autores:
um acontecimento será tanto mais noticiável quanto maior número de valores possuir, embora não seja uma regra absoluta. Igualmente os autores consideram que um acontecimento poderá ter pouco de um valor e compensar isso com muito de outro valor. Em suma, a matemática é frouxa. (TRAQUINA, 2005, p. 73).
Porém os estudos se aprimoram e quando se tem a percepção de novos
caminhos, as teorias acabam por se complementar.
Galtung e Ruge citam doze valores-notícia relevantes, porém será utilizada
somente a significância, com “duas interpretações” (TRAQUINA, 2005, p. 73) -
impacto que o interlocutor tem ao se deparar com determinada notícia, a outra é a
proximidade cultural, por ser esta ultima interpretação um de nossos objetos de
pesquisa.
Traquina considerou a importância de estudar mais alguns autores antes de
formar seu ponto de vista, são eles, investigadores canadenses: Richard Ericson,
Patricia Baranek, e Janet Chan. Para esses autores é significativo mencionar os
valores-notícia, porém será útil citar somente os que estão diretamente ligados à
proximidade cultural: a) A simplificação: acontecimento significativo, isso depende do
ponto de vista de cada jornalista, como ele interpreta o fato noticioso é de acordo
com seu conhecimento histórico sobre o mundo, e sua cultura; b) A dramatização: o
fato pode ser noticioso ou meramente indício de dramatização. E está muito próxima
de outro valor-notícia, a personalização: quando existe personalidade chave
envolvido no acontecimento, que também abrange proximidade cultural.
Pode-se considerar que não é simples definir proximidade, mas segundo
Souza:
em 1962, no seu clássico Introdução ao Jornalismo, Bond apontava quatro fatores que determinam o valor da noticia e doze elementos de interesse da noticia. Ao justificar o fator proximidade, informa que é na notícia
34
„puramente local‟ que os jornais americanos, fora das grandes cidades, constroem suas tiragens. (SOUSA, 2002 apud FERNANDES, 2005, p. 5 - 6)
Com a observação do fator proximidade, quando um evento pode ser
noticioso, em uma comunidade pequena ou uma sociedade mais compacta, a
possibilidade de transformar esse evento em noticia é maior, por motivo de interesse
próprio dessa comunidade. Ao analisar o artigo foi verificado que questões de
proximidade, para que o fato se torne notícia, implicam não apenas em cultura e
geografia, mas também abrange o campo “ideológico, social e psicológico” (SOUSA,
2006, p. 6).
O caso no qual este projeto foi desenvolvido é um bom exemplo: um time de
futebol amador formado por uma colônia italiana, então o acontecimento que pode
se tornar notícia para o clube de futebol é relevante àquela determinada colônia e
até pode ser notícia para o bairro no qual está situado, pois é tanto geográfico como
cultural.
A pesquisa também se ancora no valor-notícia tempo, já que se trata de um
resgate histórico, conforme poderá ser visto no tópico “O jornalismo como forma de
contar a História”. Apesar do produto da presente pesquisa se basear em
acontecimentos passados, o tempo é quem se incumbe de imortalizar tais
acontecimentos na memória dos personagens. Para Traquina o fator tempo pode ser
usado de maneiras diferentes (TRAQUINA, 2005, p. 77), o autor explica que a
existência de um acontecimento ocorrido no passado pode voltar a ser notícia a
partir de um recurso chamado de “news peg” ou gancho.
Traquina especifica da seguinte forma o uso do fator tempo na seleção do
que é notícia:
O próprio tempo (a data especifica) pode servir como um “news peg” e justificar a noticiabilidade de um acontecimento que já teve lugar no passado, mas nesse mesmo dia. É a efeméride – o próprio tempo é utilizado como “news peg”, por exemplo os aniversários. (TRAQUINA, 2005, p. 81)
Dessa forma, o fator tempo entra na pesquisa com o papel justamente de
auxiliar no resgate histórico a partir de uma série de relatos.
5.3 O JORNALISMO COMO FORMA DE CONTAR A HISTÓRIA
35
A História pode ser construída por si só, mas se não houver algum suporte
que a propague jamais ela poderá ser contada às gerações futuras. Nesse sentido é
que o Jornalismo tem grande importância, pois é uma fonte muito forte para que a
História não se perca e ao mesmo tempo para que ela seja repassada da forma
mais legítima possível.
Sendo assim o jornalismo empresta da história uma virtude, que é justamente
a de resgatar fragmentos históricos de uma comunidade, instituição ou de um único
sujeito. “À revelia dos tecidos discursivos, o jornalista nada mais é do que uma
espécie de manobrador de recursos discursivos distintos que ganham níveis de
estruturação determinados” (FAUSTO NETO, 1989 apud MARROQUIM, 2010, p. 2).
O Jornalismo também tem o papel de registrar, resgatar e difundir esta mesma
história o quanto seja necessário e alcançável. “O campo do Jornalismo é entendido
como província de significado (in)finito, portador de afirmações que transita entre os
espaços particulares da realidade” (MARROQUIM, 2010, p. 3).
A partir do pressuposto de que o Jornalismo é uma fonte de conhecimento de
outras áreas das ciências humanas é que esta pesquisa se desenvolve. A História é
História sem ter que estar acoplada a outra área, pois ela já aconteceu e alguém que
a tenha testemunhado pode muito bem servir como base para que ela permaneça
viva. A divulgação dela, por sua vez, será mais ampla e se tornará mais conhecida
se houver a contribuição do jornalismo, que tem o papel de transportá-la a uma
linguagem mais acessível e de fácil compreensão. E mais do que isso, “o jornalismo
transforma a realidade apreensível em relato. Apresenta-se como peça fundamental
no registro de acontecimentos, o que lhe confere uma função histórica na sociedade”
(CANDIDO, 2005, p. 2).
Muito embora Jornalismo e História sejam duas formas distintas enquanto
conhecimento, não se pode afirmar que ambas não possam ser usadas somente de
forma independente uma da outra, pois “As pessoas e as coletividades lidam
simultaneamente em suas vidas com várias espécies de conhecimento”
(MEDITSCH, 1997, p. 2). Outra afirmação que ajuda nesse argumento é que
a sociedade é marcada pela necessidade de as pessoas registrarem a vida cotidiana, como forma de manter a memória viva. Assim, a memória jornalística surge como „a entrada em cena da opinião pública, nacional e internacional, que constroi também a sua própria história‟. (LE GOFF, 1994 apud CANDIDO, 2005, p. 3).
36
A relação entre o jornalismo e outras formas de conhecimento, como a
História é importante pelo conjunto de idéias que podem formar. “O Jornalismo não
apenas reproduz o conhecimento que ele próprio produz, reproduz também o
conhecimento produzido por outras instituições sociais” (MEDITSCH, 1997, p. 3).
Seguindo esta hipótese é que esta pesquisa traz à tona a oportunidade da
união entre Jornalismo e História em um produto documental. A junção do resgate
histórico com o relato jornalístico, a partir de entrevistas, é o pilar que sustenta tanto
a pesquisa quanto o produto em si. Como afirma Bill Nichols, “os documentários
mostram aspectos ou representações auditivas e visuais de uma parte do mundo
histórico”. (NICHOLS, 2009, p. 30).
A favor do resgate histórico que se pretende fazer com o projeto documental
Gaye Tuchman (1993) argumenta
que dizer que uma notícia é uma ‟estória‟ não é de modo algum rebaixar a notícia, nem acusá-la de ser fictícia. Melhor, alerta-nos para o fato de a notícia, como todos os documentos públicos, ser uma realidade construída possuidora da sua própria validade interna. (TUCHMAN, 1993 apud TRAQUINA, 2005, p. 93)
Para explicar o referido resgate, utiliza-se o valor-notícia tempo, segundo
Traquina (2005, p. 81) “o próprio fator tempo é utilizado como gancho para justificar
falar de novo sobre esse assunto”. No caso desta pesquisa o valor-notícia tempo
não servirá para falar de algo que já foi noticiado e sim de algo que aconteceu há
algum tempo e deixou de ser noticiado, mas mesmo assim não perde a sua
característica de noticiabilidade.
Portanto, como o documentário também pode ser considerado um formato
jornalístico esse argumento cabe à presente pesquisa. Dessa forma, tenta-se
organizar uma forma de contar a história do Iguaçu, a partir de relatos e
documentos, ou seja, a partir de um resgate histórico.
Para mostrar como o documentário pode ser englobado como um formato
jornalístico pesquisou-se sobre as origens de tal modalidade e sua ligação com o
jornalismo, um dos autores que fala sobre isso é Souza (2010), que explica que essa
união começou a partir da produção dos cinejornais, em 1922, ano do Centenário da
Independência. O autor destaca que “a produção dos cinejornais nos remete a
37
aproximações e diferenças entre a narrativa cinematográfica e a jornalística”
(SOUZA, 2010, p. 161).
Nesse sentido pode-se afirmar que o documentário surgiu como um formato
jornalístico, pois “se partirmos do pressuposto que „narrar é contar uma história‟,
tanto o cinema como o jornalismo estão aptos a realizar essa tarefa, tão aptos que
até já se fundiram em um mesmo produto, como demonstram os cinejornais”
(SOUZA, 2010, p. 161).
Portanto, se o jornalismo pode ser considerado um modo de contar a história,
pode-se incluir o próprio documentário como uma dessas formas, já que está
incluído como um formato jornalístico.
5.4 VIDEODOCUMENTÁRIO E UMA POSSÍVEL REPRESENTAÇÃO DA MEMÓRIA
Definir comunicação é um trabalho difícil, requer um cuidado diante de vários
aspectos que ela apresenta como suas formas, processos, funções, signos, essas
características são fundamentais entender seu papel e efeito na sociedade. O poder
da comunicação foi apresentado por Orson Welles, quando em um programa
radiofônico que apresentava, narrou a invasão da Terra pelos marcianos, e com isso
causou uma verdadeira confusão coletiva (CANTRIL, 1958 apud BORDENAVE,
2001. p. 26). Este episódio ocorreu pelo fato de que as pessoas possuem uma
relação social e “a comunicação é uma das formas pelas quais os homens se
relacionam entre si. É a forma de interação humana realizada através do uso de
signos” (BORDENAVE, 2001, p.14).
A comunicação dá ao homem seu próprio sentido de ser, por intermédio dela
encontra identidade, constrói personalidade, se expressa seja por meio da música,
poesia, dança, ritual ou até do silêncio (BORDENAVE, 2001). Ela é o guia para uma
convivência em sociedade ou em determinado grupo, a partir dela conquistamos
espaço na sociedade.
A comunicação é, pois, um processo natural, uma arte, uma tecnologia, um sistema e uma ciência. Ela pode ser um instrumento de legitimação de estruturas sociais e de governo como também a força que os contesta e os transforma. Ela pode ser veículo de auto-expressão e de relacionamento entre as pessoas, mas também pode ser sutil recursos de opressão
38
psicológica e moral. Através da comunicação a humanidade luta, sonha, cria beleza, chora e ama. (BORDENAVE, 2001, p. 119).
O trabalho apresentado recorre à comunicação e a linguagem do cinema, pois
ele possui o poder de revelar imagens de um tempo no qual se incorpora a
possibilidade de uma construção da realidade social. Esse conceito apresenta na
sua linguagem a possibilidade de reproduzir “os objectivos de nosso mundo
fotograficamente, isto é, com a maior fidelidade, através de um processo mecânico
numa superfície bidimensional; e reproduz o movimento e os acontecimentos com a
mesmo exatidão com que dá forma aos abjectos”. (ARNHEIM, 1957, p. 129).
Perante a história o homem sempre buscou um retrato dos acontecimentos,
essa tentativa de arquivar fatos de em determinado período, pode ser encontrada na
pintura a primeira forma visual de representação do real. Mais tarde com o advento
da fotografia, a imagem se torna parte da vida das pessoas, ela adquire a
possibilidade de assegurar àquela história contada por um viajante, por exemplo,
seja realmente comprovada com um simples retrato, assim tornando-se um registro
documental. O cinema também surgiu, ainda sem essa definição e intenção, como
forma de documentar.
O acto de documentar com uma câmara é algo de concreto, é o primeiro acto cinematográfico. Esse acto que pode ser premeditado ou um impulso, surge-nos como uma marca. Documentar é algo importante do ponto de vista da humanidade. Subjacente a esse acto estará, porventura, a vontade de preservação das nossas memórias, uma tomada de consciência da nossa diversidade ou uma necessidade de nos manifestarmos. (PENAFRIA, 2003, p. 11).
Sem a pretensão e a definição do gênero documentário os filmes de Louis
Lumière, além de serem as primeiras imagens cinematográficas, mostram aspectos
da vida cotidiana e social quando registra a saída dos trabalhadores das fábricas
Lumière, “A chegada do comboio à estação, O regador regado e O almoço do bebê.
A notável fidelidade de imagem fotográfica ao que ela registra dá a essa imagem a
aparência de um documento. Oferece uma comprovação visível do que a câmera
viu” (NICHOLS, 2009, p.117).
A produção cinematográfica é dividida em dois modelos: “(1) documentários
de satisfação de desejos e (2) documentários de representação social” (p. 26). Cada
qual carrega uma forma diferenciada para contar uma história, o primeiro é
39
elaborado com uma narrativa ficcional, já o segundo é o documentário com uma
abordagem de fatos reais, o que da uma abertura para o “mundo histórico” (p. 117).
Essa abertura definida como conceito de documentário ocorreu com uma
narrativa aprimorada de Roberte Flaherty na década de 1920, com a realização de
Nannok, o esquimó em (1922), e com a visão comercial que John Grierson
incorporou ao gênero facilitando seu desenvolvimento, (NICHOLS, 2009).
A proposta audiovisual aqui apresentada busca exatamente essa abordagem,
trabalhar com a representação do real, o conceito de documentário, que no
momento de selecionar e contar uma história, a narrativa também contribui para
levantar e arquivar momentos de um período que fizeram ou fazem parte da
construção de uma realidade social. Apresenta-nos uma verdade de maneira que
possamos interpretar e compreender acontecimentos passados ou presentes,
principalmente baseado em relatos de quem guarda na memória fatos de eventos
que tenha participado ou testemunhado. Nichols (2009, p. 27) coloca que o
documentário pode proporcionar essa relação pelo fato de que “o vínculo entre o
documentário e o mundo histórico é forte e profundo. O documentário acrescenta
uma nova dimensão à memória popular e à história social”.
Essa representação do real é amplamente discutida, regras, gêneros esses
processos estão em constante modificação. Diferente dos filmes de ficção, ele nos
apresenta um recorte do que acontece no mundo, e esse recorte pode sofrer diante
de questões que definem o que é ou não documentário.
Nem todos os documentários exibem um conjunto único de características comuns. A prática do documentário é uma arena onde as coisas mudam. Abordagens alternativas são constantemente tentadas e, em seguida, adotas por outros cineastas ou abandonadas. Existe contestação. Sobressaem-se obras prototípicas, que outras emulam sem jamais serem capazes de copiar ou imitar completamente. (NICHOLS, 2009, p. 48).
A questão se apresenta segundo Nichols (2009), pelo fato do documentário
não ser uma reprodução da realidade, e sim uma “representação do mundo em que
vivemos” (p. 47). Godoy (1999) apresenta essa divergência como problema na
própria produção, e coloca que é possível encontrar nas teorias cinematográficas
“uma tendência de se considerar qualquer tipo de manifestação audiovisual, como
uma forma de manipulação de linguagem exercida pelo autor (ou autores) do
discurso; que sempre mascararia uma possível ligação com a Realidade”. (p. 2).
40
Porém, ele aponta que o documentário trabalhado com coerência é uma ferramenta
na construção e no “conhecimento da Realidade, principalmente por abordar a
Realidade através da Existência Concreta das coisas no mundo”, (p. 9).
Penafria (2003) aponta que esse contrassenso existe, contudo, levanta o fato
de que os próprios profissionais têm uma visão bem definida diante desse impasse.
Na diversidade, a comunidade documentarista (que inclui os próprios cineastas, os espectadores e todos os que de algum modo se interessam/trabalham o gênero) encontra-se ligada pela ideia (mesmo que mal definida) de que é possível representar a realidade. Essa representação não obedece, obrigatoriamente, a regras de gêneros. O que é consensual é que o seu material de trabalho são as imagens ou os sons recolhidos in loco. Para a comunidade documentarista o importante é a vida das pessoas e os acontecimentos do mundo (as imagens/sons que nos apresenta dizem respeito ao que é exterior a elas). O registro do mundo e a reflexão desse mundo têm no documentário um lugar privilegiado. (PENAFRIA, 2003, p. 5)
Diante dessas colocações, o projeto de pesquisa embasa-se na ideia de uma
preservação da memória, o registro de fragmentos um período da S.O.B.E Iguaçu
para mostra suas peculiaridades, elaborar um documento que sirva como fonte de
consulta. Neste aspecto, jornalismo e documentário caminham no sentido se
estabelecer o que tem em comum entre si. “A relação entre jornalismo e
documentário se dá quando a notícia ajuda no encadeamento da narrativa
documental, sendo por isso utilizada com frequência nos documentários” (SOUZA,
2009, p.164).
Cabe ainda frisar que a produção audiovisual extrapola o campo noticioso, ele
apresenta aspectos que os valores-notícia não retratam, “as nuanças que integram a
história: os motivos que conduziram àquela situação, os personagens que “atuaram”
de forma direta ou correlata, seus históricos e seus vínculos” (p. 164). Entende-se
que assim a realidade do Iguaçu é apresentada em alguns aspectos, porém essas
nuanças ficam a margem do conhecimento da sociedade.
5.6 MODO EXPOSITIVO, ARGUMENTO E OBJETIVIDADE NO DOCUMENTÁRIO
A vontade de querer representar o mundo de maneiras distintas, fez com que
o documentário ganha-se subgêneros dentro do próprio estilo, Nichols (2009) aponta
41
seis modos que evidenciam essas diferenças: poético, expositivo, participativo,
observativo, reflexivo e performático. Essa separação determina as normas que um
filme pode utilizar, “e propiciam expectativas específicas que os espectadores
esperam ver satisfeitas” (p. 135). Contudo, cada filme pode incluir outros modos na
sua criação, dentro do gênero reflexivo é possível se utilizar de segmentos poéticos
ou performáticos.
O videodocumentário sobre o Iguaçu explora o modo expositivo como guia do
filme. Este modo segundo Nichols (2009) explora mais um encadeamento lógico
reproduzido verbalmente, em que as imagens têm um papel intermediário perante o
espectador, apenas apoiam afirmações. “O modo expositivo dirige-se ao espectador
diretamente, com legendas ou vozes que propõem uma perspectiva, expõem o
argumento ou recontam a história” (p. 142).
A comunicação do documentário com o mundo é estabelecida a partir de um
ponto de vista específico de seu criador, ele é quem define temas e abordagens.
Desta maneira há uma regulação de conteúdo, e essa intervenção para Meize
(2008) acontece conforme objetivo do documentarista.
A figura do realizador passa a ser central; afinal, o filme é entendido como resultado de um ponto de vista específico. Desta forma, não tem como objetivo meramente noticiar, descrever, explicar, registrar ou publicizar, mas sim em pensar o mundo a partir de sua própria captação. O documentarista é alguém que faz escolhas – de temas de formas de abordagem e da apresentação do que filmou – e, inclusive, não menos importante, de técnicas e de linguagem. (MEIZE, 2008, p. 05)
No modo expositivo, o objetivo do documentarista fica evidente na
combinação de montagem guiado em argumentos bem embasados, com a
possibilidade de criar um retrato do real. O comentário para Nichols (2009) é o norte
deste subgênero, é ele quem “representa a perspectiva ou o argumento do filme” (p.
144).
Entretanto, esse modelo segundo Nichols (2009), apresenta ao espectador
uma forte generalização e uma argumentação abrangente, e o uso de imagens
apenas ilustra as afirmações dos personagens. Também coloca que este modo é o
mais adequado para “transmitir informações ou mobilizar apoio dentro de uma
estrutura preexistente ao filme. Nesse caso, o filme aumenta nossa reserva de
42
conhecimento, mas não desafia ou subverte as categorias que organizam esse
conhecimento” (p. 144).
5.7 ENTREVISTA: ABORDAGENS REPRESENTATIVAS DO REAL
Dentre as funções da entrevista, está o de estabelecer um canal de
comunicação para que às pessoas possam manifestar seus testemunhos e tornar o
espaço mais democrático. Seu papel é proporcionar ao público uma maneira de
debater suas necessidades, interagir com a sociedade, ampliar sua voz, pluralizar os
anseios dos indivíduos. Porém existe a necessidade de o veículo fazer com que
esse debate aconteça, precisa estabelecer um diálogo de forma que o entrevistador
não chegue com respostas preestabelecidas limitando a ação e opinião das
pessoas.
Quando se trata de comunicação coletiva existem dois gêneros que são
abordados o da espetacularização do ser humano e aquelas que buscam
compreendê-lo. No entanto Morin (1973 apud MEDINA, 1995, p. 14-15) aponta
quatro tipos em sua classificação: a entrevista-rito; a anedótica; o diálogo e as
neoconfissões. Dentro desta divisão há ainda ramificações, subgêneros.
A entrevista, para Medina (2002), é um braço da comunicação humana, mas
somente se não for encarada como técnica ela completará seu papel de interagir e
provocar o diálogo. Ela cita uma diferença na hora de fazer uma entrevista: “se
quisermos aplacar a consciência profissional do jornalista, discuta-se a técnica da
entrevista; se quisermos trabalhar pela comunicação humana, proponha-se o
diálogo” (p. 5). Essa diferença é identificada pelo leitor, ouvinte, telespectador que
reconhece a verdadeira entrevista, daquela que apenas satisfaz o entrevistador.
Em certos casos felizes, a entrevista torna-se diálogo. Este diálogo é mais que uma conversação mundana. É uma busca em comum. O entrevistador e o entrevistado colaboram no sentido de trazer à tona uma verdade que pode dizer respeito à pessoa do entrevistado ou a um problema. O diálogo começa a aparecer no rádio, na televisão [Edgar Morin fala nos anos 60]. Foi necessário tempo para que a palavra humana se descongelasse diante do micro e da câmera. (MEDINA, 2002, p. 15).
43
Para Lage (2001) a entrevista constrói uma narração, não do entrevistador,
mas a de diversidades de vozes “é o procedimento clássico de apuração de
informação em jornalismo. É uma expressão da consulta às fontes, objetivando,
geralmente, a coleta de interpretações e a reconstituição de fatos” (p. 73). A
entrevista sofre variações conforme o veículo, e também necessita de algumas
antecipações.
A abordagem proposta trabalhou propriamente em conseguir levantar fatos e
histórias singulares condizentes com os acontecimentos para construir uma narrativa
o mais próxima do real possível. E a entrevista foi a principal estratégia para
conseguir alcançar este objetivo. E a entrevista foi a principal estratégia para
conseguir alcançar este objetivo, uma vez que ela é o principal recurso para mostrar
o real e também serve como afirmação desta.
A entrevista é um dos recursos primordiais para ilustrar, fundamentar e legitimar a narrativa jornalística. Seja na elaboração de um minucioso perfil ou na agilidade da confecção de um „povo fala‟, é raro o produto audiovisual que não lance mão da entrevista como elemento fundamental para contextualizar e garantir o status de verdade que caracteriza os gêneros telejornalístico e documental. (MUSSE; MUSSE, 2010, p. 1)
Porém, para montar uma narrativa condizente e fazer um audiovisual que
sustente a verdade, entende-se a necessidade de depoimentos que tenham ligação
com o tema proposto. Lage (2001) cita esses personagens como sendo “testemunha
e experts” (p. 66). Embora envolvido emocionalmente e modificado pela perspectiva
o testemunho é sempre a voz que guarda em si uma versão única dos fatos, o que
para Musse e Musse (2010) “talvez seja a fonte que mais se aproxima do
documentário” (p. 3). Os experts, como cita Lage (2001), são geralmente pessoas
que apresentam “versão ou interpretações de evento” (p. 67).
A entrevista no documentário contemporâneo é um dos principais métodos de
abordagem, é ela que torna possível o filme, “pois, acima de tudo, pressupõe o
encontro e o contato fundamentais para que o documentário exista” (MUSSE;
MUSSE, 2010, p. 6).
Este encontro também é citado por Nichols (2007), como uma possibilidade
de se chegar ao documentado formalmente “em vez de se dirigir-se ao público por
comentário com voz-over”. (p. 159). A entrevista é uma possibilidade de agrupar
44
diferentes relatos e criar uma história baseada em experiências e memórias que
interagem entre si socialmente.
Os cineastas usam a entrevista para juntar relatos diferentes numa única história. A voz do cineasta emerge da tecedura das vozes participantes e do material que trazem para sustentar o que dizem. Essa compilação de entrevistas e material de apoio nos tem dado numerosos filmes. (NICHOLS, 2009, p. 160).
Por ser a entrevista o guia do trabalho realizado, entende-se que suas
técnicas devem ser apresentadas como forma de obter um maior aproveitamento do
tema pesquisado e também melhor esclarecimento da narrativa. Portanto dentre as
técnicas de entrevista existentes, o projeto trabalhou com o formato entrevista-
diálogo apontado por Medina (2002). Desta maneira procurou estabelecer uma
maior conexão entre entrevistado e entrevistador, no sentido de construir uma
história que se permite a apropriação de detalhes e aprofundamento das
abordagens sugeridas, com isso buscou compreender o entrevistado dentro de sua
rotina para ampliar o desenvolvimento do assunto.
45
6 METODOLOGIA DA PESQUISA
A apresentação deste tópico esclarece quais foram os procedimentos
metodológicos para a realização da pesquisa. Referencia os principais autores
usados para embasar os tópicos Delimitação do Tema e Fundamentação Teórica na
pesquisa bibliográfica, também esclarece as técnicas de entrevista e análise de
conteúdo empregado na pesquisa de campo, bem como mensura seus resultados.
Estes campos foram detalhados e interpretados dentro de a discussão sobre
identidade e proximidade.
6.1 ABORDAGEM DO RELATÓRIO MONOGRÁFICO
Para sustentar e guiar o objetivo da pesquisa, o passo inicial foi buscar uma
bibliografia capaz de apresentar uma confrontação entre os temas propostos:
jornalismo e história, documentário, S.O.B.E Iguaçu. Autores como Machado e
Chrestenzen (2005), Daolio (2005) e Capraro (2002) foram apresentados na
Delimitação do Tema por serem autores que contribuem no âmbito de evidenciar
aspectos históricos do futebol regional, amador e sua importância para a
comunidade.
Neste sentido histórico, a Fundamentação Teórica discutiu e baseou-se na
identidade. Esse conceito possui uma forte relação social quando há interação entre
pessoas e determinados temas e como podem tornar-se relevantes dentro de um
setor da sociedade, também procurou esclarecer como a proximidade contribui e
influencia neste conceito. Para sustentar essa ideia Hall (2003), Traquina (2005),
Fernandez (2004), Sousa (2006) foram os principais autores estudados e citados
neste campo.
Dentro deste aspecto, o trabalho explorou a comunicação como fator
essencial na construção e preservação de uma memória social. E o jornalismo pode
contribuir nessa relação, pois tem uma forte característica de fomentar e ampliar
determinados assuntos, a pesquisa propõe que por intermédio de sua aplicação ele
sirva como forma de contar e preservar a história. Essa discussão não possui uma
teoria em específico, assim o trabalho usou autores que relacionaram o tema em
dado momento, entre eles estão Meditsch (1997), Souza (2009), Marroquim (2010).
46
Entrar no tema jornalismo é preciso citar também alguns de seus recursos
usados para conseguir informação. Neste sentido o trabalho abordou as técnicas da
entrevista, pois entende que esta é a melhor maneira de se apropriar de uma
história. A bibliografia de Medina (2002) e Lage (2003) foram os guia deste tópico.
O cinema também foi resultado de uma pesquisa bibliográfica uma vez que o
videodocumentário é o produto final. A argumentação neste tópico estabeleceu a
discussão de como o audiovisual pode, com a apropriação do jornalismo, criar um
filme que possa representar o real. Os principais autores a embasar esse ponto de
vista foram Nichols (2009) e Penafria (2005).
Estabeleceram-se neste projeto, dois tipos de pesquisa como forma de
garantir uma melhor apresentação do resultado final. Uma análise de conteúdo em
matérias jornalísticas foi realizada por meio de uma pesquisa de campo para
verificar que tipo de matérias sobre o Iguaçu são veiculadas na mídia. Outra
pesquisa foi a partir de pré-entrevistas, desta forma procurou-se entender melhor a
história do clube e sua importância à comunidade.
6.1.1 Análise de conteúdo
Para compreender o que é falado sobre o Iguaçu na mídia, foi elaborado uma
análise de conteúdo em um periódico que trabalha com o segmento esportivo da
cidade, o jornal Tribuna do Paraná. A escolha deste veículo se deu principalmente
pelo espaço que destina ao futebol amador da cidade e do estado. O periódico
dedica uma página, que circula diariamente, e é exclusiva para falar de futebol
amador, ou suburbana como também é conhecido, em Curitiba e Paraná, para citar
alguns times que aparecem nela e dividem espaço com o Iguaçu: Trieste, Santa
Quitéria, Vila Hauer, Vila Fanny, Combate Barreirinha, Urano, Novo Mundo entre
outros. Este espaço existe desde 1956, criado pelo historiador do futebol
paranaense Levi Mulford, que desde 1953 já começava na profissão. Ela conta
também com ajuda de colaboradores para conseguir escrever sobre os jogos que
não esteve presente.
As matérias procuradas contemplam um período entre setembro de 2009 e
setembro de 2010, o que totalizou 363 edições. A escolha deste período se deve ao
fato de no jornal não havia arquivos disponíveis de setembro de 2010 a dezembro
47
de 2010, época em que acontecia a disputa do campeonato amador de Curitiba.
Desta maneira, optou-se pela pesquisa em edições que contemplassem o principal
campeonato.
Para identificar o clube no texto, foram abordados todas as palavras citadas
que fizessem menção ao nome do time como: S.O.B.E Iguaçu, Iguaçu de Santa
Felicidade, Iguaçu, Sociedade Iguaçu, iguaçuano. A escolha destas palavras, foi
baseada no fato de que a Sociedade é reconhecida por essas nomenclaturas em
toda a cidade e todos dirigem-se a ela desta maneira.
A pesquisa preocupou-se primeiramente em encontrar as palavras-chaves no
jornal, depois verificar como e em quais circunstâncias elas aparecem no texto. O
objetivo principal foi avaliar quais fatores levam o Iguaçu a fazer parte das
publicações pela mídia, e também analisar como é apresentado o conteúdo destas
matérias. Essas e outras questões como, quem escreve, em qual página, quais
notícias são veiculadas, fizeram parte desta etapa da análise que canaliza a
pesquisa em fontes confiáveis.
A análise de conteúdo trata-se de uma técnica para estudar e analisar as variáveis de maneira objetiva, sistemática e quantitativa. Buscam-se inferências confiáveis de dados e informações com respeito a determinado contexto, a partir dos discursos escritos e orais de seus autores. A análise de conteúdo pode ser aplicada virtualmente a qualquer forma de comunicação: artigos de imprensa, livros, poemas, conversas, discursos, cartas, regulamentos, rádio, televisão etc. (LAKATOS, 1983, p. 32).
Para realizar a pesquisa, e encontrar todas as palavras-chaves, foram
necessários dois dias no arquivo do jornal para folhar 8.640 páginas distribuídas em
12 fascículos encadernados. A pesquisa aconteceu desta maneira pelo fato de a
empresa não possuir ainda um sistema de armazenamento digital.
Na aferição do material, foram encontradas 74 citações das palavras-chave
que remetessem ao nome do Iguaçu. Essas matérias em sua maioria levam o nome
do time pelo fato de sua equipe disputar o campeonato amador, divulgado pelo jornal
com matérias diárias em uma editoria específica. A ênfase maior está na divulgação
do evento em si, todos os times aparecem aleatoriamente, mas principalmente pelo
destaque que obtiveram na rodada ou quando se trata de um jogo com uma
rivalidade mais acirrada.
Em todas as 74 citações do Iguaçu no jornal, foi possível separá-las em temas
48
devido a forma que aparecem nas matérias, desta maneira a pesquisa pode
estabelecer melhor a proposta do trabalho, uma vez que identificou como e o que é
falado do clube na mídia.
A disposição das matérias foi dividida da seguinte maneira: o clube foi citado
42 vezes em tabelas com resultados de jogos e classificação da equipe; 9 aparecem
em fotos; foi citado no texto 10 vezes quando vai enfrentar um adversário; 9 também
quando acontece o clássico contra o Trieste; e por 4 vezes o texto abordou o nome
do Iguaçu para falar da Sociedade como matéria principal. Desta forma contatou-se
que o clube consegue espaço para falar de sua história apenas quando é o destaque
no campeonato ou jogos de relevância maior.
Essa aparição do Iguaçu na mídia apenas em determinadas oportunidades,
não conseguindo manter uma continuidade, e também apresentando apenas
matérias que fazem alusão ao nome dele, levou-nos a conclusão de uma possível
estratégia de trabalhar o jornalismo como forma de contar e preservar a história de
um grupo social.
6.2 PRÉ-ENTREVISTAS: A COLETA DE DADOS
Com a intenção de saber qual caminho seguir no trabalho e o que iria ser
pesquisado pré-entrevistas foram realizadas com frequentadores do Iguaçu, desta
forma foi possível saber parte importante da história do clube. Com esse
procedimento dúvidas de como seria a abordagem do videodomentário foram
esclarecidas. Ficou evidente neste processo a forte identidade das pessoas em
relação à Sociedade, principalmente pela condição de proximidade que se
encontram dela.
Cabe lembrar, como cita Gil (1991), que esta técnica fica restrita e
condicionada à versão do pesquisado diante do olhar dele sobre os fatos.
Qualquer que seja o instrumento utilizado, convém lembras que as técnicas de interrogação possibilitando a obtenção de dados a partir do ponto de vista dos pesquisados. Assim,o levantamento apresentará sempre algumas limitações no que se refere ao estudo das relações sociais mais amplas, sobretudo quando estas envolvem variáveis da natureza institucional (GIL, 1991, p. 90).
Contudo, esta técnica revela-se de extrema importância para se obter
informações a respeito do que a pessoa “sabe, crê ou espera, sente ou deseja,
49
pretende fazer, faz ou fez, bem como a respeito da suas explicações ou razões para
quaisquer das coisas precedentes” (SELLTIZ, 1967 apud GIL, 1991, p. 90).
É fácil verificar como, dentre todas as técnicas da interrogação, a entrevista é a apresenta maior flexibilidade. Tanto é que pode assumir as mais diversas formas. Pode caracterizar-se como informal, quando se distingue da simples conversação apenas por ter como objetivo básico a coleta da dados. Pode ser focalizada quando, embora, livre, enfoca um tema bem específico, cabendo ao entrevistador esforçar-se para que o entrevistado retorne ao assunto após alguma digressão (GIL, 1991, p. 92).
Ponto principal deste método foi esclarecer quem exatamente tinha condições
para falar do clube com propriedade e conhecimento dos assuntos abordados. A
pesquisa procurou dentre os entrevistados, pessoas que ainda tenham uma ligação
com a Sociedade e também histórias ainda desconhecidas aos seus frequentadores
e a comunidade. Com esse procedimento problemas que poderiam ocorrer no
momento das gravações do documentário, como quem sabe ou não determinada
história, foram basicamente resolvidos, uma vez que a equipe selecionou
previamente dentre todos os personagens consultados aqueles que demostraram
uma maior identidade e conhecimento a respeito do clube.
6.3 PERSONAGENS X IGUAÇU E A RELAÇÃO IDENTIDADE
O resultado dessas pré-entrevistas contribuíram para entender como é a
interação entre público e Iguaçu. Todos frequentam a bastante tempo, o mais antigo
é o presidente de honra José Manosso, hoje com 83 anos, há 76 acompanha o
Iguaçu, aos sete, testemunhou a inauguração da pedra fundamental da sede, em
1935. Cada personagem possui uma história particular com a S.O.B.E,
principalmente pela vontade de fazer com que ela não se acabe jamais.
Uma identificação muito forte foi constada entre Iguaçu e seus
frequentadores. Em geral, todos assistem às partidas de futebol, principal atividade
da Sociedade, e também participam dos jogos na sede. Toda segunda sócios e
torcedores se reúnem para disputar partidas dos mais variados jogos de baralho.
Essa identidade foi encontrada também na moradora do clube Isabel Estival,
que mora no Iguaçu há oito anos e há 53 acompanha o time, que conheceu por
intermédio do pai dela. Quando menina foi mascote e até jogou na equipe feminina.
50
Isabel cuida do ambiente, lava o uniforme, cuida da alimentação do time, e faz uma
comparação da realidade atual, relata que a condição de morar no clube a deixou
mais feliz.
Romeu Estival presidente na gestão 2011-2012, e irmão de Isabel, está no
clube há 55 anos, ele já passou pelo cargo de goleiro, maqueiro, roupeiro, gandula e
hoje é o atual presidente. Conquistou o prêmio Belford Duarte jogando pelo Iguaçu,
troféu concedido a atletas que não foram expulsos, ele jogou 22 anos sem nunca ter
levado um cartão. Porém, não se apega ao cargo que hoje representa e não se
incomoda em fazer outras atividades para melhorar o clube e fazer com ele funcione.
Todos os personagens frisaram essa característica nas entrevistas, uma forte
ligação com o clube, por esse motivo o trabalho compreendeu que a identidade e a
proximidade eram as questões que deveriam ser estudadas. Essa condição foi
nitidamente apresentada a cada fala das fontes e serviu como condutor na aplicação
da pesquisa. Como o jornalismo trabalha a questão da informação e formação, se
apresenta como um processo para resgatar e contar a história de parte desta
comunidade, essa abordagem apresenta uma importante relevância, pois parte da
cultura desta região será documentada.
51
7 DELINEAMENTO DO PRODUTO
O vídeodocumentário S.O.B.E. Iguaçu - Camisa Alvinegra da Colônia Famosa
teve um objetivo muito peculiar, o de apresentar sentimento além do dever
cumprido, apresentar pessoas que tem o Iguaçu como parte de suas vidas e de suas
histórias. Quando se fala em 92 anos de história aborda-se um fragmento muito
grande de uma época, quase um século, algo que é bastante representativo, seja na
vida de uma pessoa ou de uma instituição. O presente videodocumentário tem por
missão ilustrar um período que passou e que deve ser registrado para a posteridade,
mesmo que seja em 20 minutos, como é a pretensão do produto final desta pesquisa
e mesmo que sejam apenas fragmentos de tal história.
7.1 O VIDEODOCUMENTÁRIO
O formato do produto consiste em organizar e relatar o que representa um
clube de futebol a um grupo de pessoas, e dentro desta perspectiva existe uma linha
tênue entre contar história e mostrar a identidade que a comunidade tem com a
Sociedade. Para mostrar estes dois aspectos ao espectador, usou-se uma ordem
cronológica, desde como os italianos, colonos de Santa Felicidade, descobriram o
futebol até os dias de hoje em que a Sociedade não é tão valorizada pelas gerações
mais novas.
Depois de pesquisas chegou-se a conclusão que o vídeodocumentário no
formato expositivo se enquadraria melhor dentro desta narrativa, como pode ser
visto no tópico sobre Fundamentação Teórica na página 29. Porém optou-se por
uma narrativa sem voz off para dar um tom mais realístico na história. Com a mesma
intenção de estudar as formas de apresentação, percebeu-se que seria proveitoso
um tempo não muito extenso, no caso do S.O.B.E Iguaçu Camisa Alvinegra da
Colônia Famosa, foi montado como um curta-metragem utilizando-se o tempo de 20
minutos divididos em seis sequências, como pode ser visto no projeto do produto, a
seguir.
É bom salientar que as histórias são ilustradas por elas mesmas, contendo
poucas cenas de corte.
52
A maior parte dos documentários são também narrativas, e isso significa, pura e simplesmente, que eles contam histórias (...). Como eles contam aquelas histórias e que histórias eles contam – é o que separa os filmes em subcategorias de gênero ou estilo, do cinema vérité ao filme noir. (BERNARD, 2008, p. 15)
Segundo Bernard (2008) a narrativa é o “fio condutor” da história, portanto
deve-se considerar que a montagem não pode interferir no sentido da história. O
S.O.B.E Iguaçu Camisa Alvinegra da Colônia Famosa, tem como principal eixo a
trama, que guia os seus personagens.
7.2 OS PERSONAGENS
Procurou-se mostrar a visão de cada personagem a partir de suas respectivas
relações com o clube. Foi utilizada uma entrevista direcionada, porém solta, os
próprios personagens lembraram e falaram sobre seus anos de relacionamento com
o clube. Cada história com sua particularidade foi colocado em pauta no
desenvolvimento do filme. A partir da imersão no cotidiano dos personagens foi
possível mostrar como o futebol foi capaz de movimentar toda uma comunidade por
meio da amizade.
Ao abordar cada personagem procurou-se uma ambientação com sua
história, para que fosse possível conduzir a entrevista sem formalidades. A seleção
dos personagens teve um critério de hierarquia no sentido de vivência no clube.
Mais à frente, no tópico Projeto de Videodocumentário, na página 58, é possível ver
a seleção dos personagens e suas funções dentro clube.
Seguindo a linha de pensamento de Bernard (2008), na qual se buscou
entender como é dado o equilíbrio necessário à trama, foi possível encontrar um
método de trabalho a partir de determinados aspectos na escolha dos personagens
e suas histórias.
Esses critérios empregados foram iguais a todos, um roteiro de perguntas foi
pré-estabelecido, porém sua condução não ficou restrita apenas a estas questões,
uma vez que isso não possibilitaria uma diversidade maior na diferenciação dos
perfis de cada personagem.
Essas entrevistas aconteceram de maneira individual para que a fonte não
53
ficasse sujeita à interferência de outros indivíduos em seus depoimentos. Dessa
forma, entendeu-se que os materiais adquiridos teriam maior fidelidade de suas
versões, e também poderiam servir para contrapor histórias iguais, mas com versões
diferentes. Uma vez que a proposta da pesquisa é explorar acontecimentos do clube
e entender como as pessoas se identificam neste ambiente.
O primeiro contato com o clube ocorreu em agosto de 2010, a princípio como
forma de conhecer sua história. Em seguida a equipe de pesquisa passou a
frequentá-lo periodicamente, a cada duas semanas aproximadamente. Nestas
visitas, averiguou-se os personagens que mais poderiam contribuir com o
videodocumentário. No total sete foram convidados para compor as gravações, por
se entender, em comum acordo, que estes poderiam contribuir com a narrativa de
acordo com a convivência de longo período dentro do clube.
O acompanhamento durante esse período foi com o intuito de conhecer o
cotidiano e conseguir maior afinidade com o tema e com os frequentadores do
Iguaçu. Acreditou-se, com essa ideia colocada em prática, que quanto mais tempo
se relaciona com as pessoas e o tema pesquisado, maior é a naturalidade e
confiança para que estes se apresentassem diante de uma câmera.
As entrevistas para o videodocumentário foram gravadas de Março a Junho
de 2011. Apesar de já haver uma interação entre a equipe e os personagens, ainda
assim, alguns deles tiveram certo receio com a câmera de início, contudo logo que
começaram a falar retomaram a naturalidade e desenvolveram tranquilamente o
relato. No período de gravação, era disputada a Copa Barão pelo time do Iguaçu, o
campeonato se estendeu por sete semanas, fase acompanhada e filmada pela
equipe de pesquisa, com a intenção de obter imagens do comportamento da torcida
e personagens diante de sua paixão, como gostam de citar.
7.3 O PÚBLICO
O público pretendido é, principalmente, a comunidade de Santa Felicidade
“tendo em mente sucesso de âmbito maior” (Bernard, p. 40). Apesar disso, não
haverá nenhum tipo de restrição quanto ao público-alvo, que pode ser desde quem
não pertença ao ambiente futebolístico até quem não tenha a ideia exata do que
54
seja um clube amador de futebol, mas sim que tenham interesse sobre a temática
desenvolvida e discutida.
Sendo assim, entende-se que um senso crítico mais elaborado, com pessoas
que inclusive não tenham ligação com o tema, possa ajudar a fazer do trabalho um
projeto passível de maior credibilidade, mesmo com possíveis apreciações
desfavoráveis, que são o ponto de partida para que um projeto possa se
desenvolver positivamente em outras esferas que não só a acadêmica. Opiniões
divergentes contribuem, inclusive, na formação de graduados e também de quem se
interesse pelo próprio cinema e isso pode ser conseguido com a temática proposta
que une futebol, resgate histórico e identidade.
Na continuidade pretende-se que o documentário fruto da presente pesquisa
seja disponibilizado em formatos diversos, para satisfazer uma demanda maior de
público, pensando-se inclusive no aproveitamento de uma área da comunicação que
cresce bastante nos dias de hoje, ou seja, as novas mídias.
Como não haverá uma grande restrição de público o videodocumentário será
disponibilizado em sites de vídeo como Youtube (www.youtube.com) e Vimeo
(www.vimeo.com). Portanto o produto também ficará disponível a internautas que
são um tipo de público ativo, que ao invés de esperar determinado resultado, vai
atrás dele, ou seja, se ele procura por algo é sinal de que ele se interessa por isso.
7.4 VEICULAÇÃO
O vídeodocumentário será divulgado em programas esportivos televisivos,
radiofônicos, sites e periódicos, assim como terá sua exibição em salas de cinemas
que apoiam projetos independentes como o modelo da Cinemateca. Também será
inscrito em mostras de cinemas e festivais, como Sangue Novo e PUTZ.
Para viabilizar esse tipo de veiculação será produzido um release sobre o
videodocumentário, abordando aspectos como detalhes da produção do mesmo e
alguns detalhes do que foi contado pelos personagens aos produtores. Havendo o
interesse dos veículos de comunicação será possível que os autores do filme
participem de debates, entrevistas e bate-papos com jornalistas e convidados afim
de esclarecer detalhes sobre o desenvolvimento da pesquisa e do produto final.
55
O videodocumentário ainda terá uma exibição particular aos personagens,
frequentadores do Iguaçu e comunidade, como forma de mostrar quão o trabalho
pode ter sido importante nas suas vidas e também na vida profissional dos
produtores. A sede da S.O.B.E. Iguaçu compreende um espaço onde é possível
realizar uma exibição para, pelo menos, 50 pessoas sentadas, se necessário será
realizada mais de uma sessão.
Finalmente deverá ser realizado contato com a Casa da Memória Italiana,
conhecida como Casa Culpi, para que uma ou mais cópias do videodocumentário
fiquem arquivadas no acervo do local como forma de preservação da memória dos
personagens e, claro, do Iguaçu.
7.5 O PROCESSO DE GRAVAÇÃO
As gravações foram basicamente nos finais de semana entre os meses de
março e junho, sendo que a cada duas semanas, nas quartas-feiras, a equipe se
deslocava até a sede do S.O.B.E Iguaçu para capturar imagens dos jogos do
campeonato Copa Barão, que ocorreram no primeiro semestre de 2011. As
gravações foram no período da noite por ser o horário oficial dos jogos. Devido a
essa limitação a equipe tinha que dispor de equipamentos para gravação noturna.
Quando gravadas as entrevistas, procurou-se ambientes ou locais onde os
personagens se sentissem a vontade. Para obter uma entrevista racional iniciou-se
uma conversa informal com a câmera ligada e assim foi possível capturar histórias
inesperadas, e detalhes que não seriam possíveis se houvesse expectativa de
gravação. Apesar de que o ambiente era, na maioria das vezes, preparado para o
evento.
7.6 A IDENTIDADE
Conforme foi visto na página 28, a identidade tem várias vertentes, porém a
pesquisa trabalhou com o sujeito pós-moderno. Para linkar identidade nesta etapa
foi necessário somar alguns assuntos. O videodocumentário teve o intuito de
resgatar a história e foram selecionados personagens. Para que fosse possível uma
56
linha de raciocínio essas pessoas tinham que, necessariamente, fazer parte da
história do clube e ao fazer parte, com certeza, tinham uma identificação com a
S.O.B.E. Iguaçu. Ao concluir a ideia para transformá-la em um fato real percebeu-se
que não poderia haver história sem as pessoas e as pessoas seriam insignificantes
se não houvesse identidade, que é a ligação entre a sociedade e indivíduo.
7.7 TRILHA SONORA E SONS DO DOCUMENTÁRIO
A preocupação em valorizar o som ambiente fez com que não se prendesse
tanto em produzir uma trilha sonora específica. Esse ponto de vista faz com que o
videodocumentário seja de formato original. Ao selecionar a trilha, procurou-se
atentar para os direitos autorais então se buscou músicas de domínio público. Além
da trilha, utilizou-se o áudio original, captado por microfone da voz do coautor do
Hino do clube S.O.B.E. Iguaçu, Pedrinho Culpi, o que traz maior credibilidade ao
produto. A letra e música do hino ficaram a cargo do Ten. Sebastião Lima, que em
vida fez parte da banda do Corpo de Bombeiros e concebeu, ao lado de Pedrinho
Culpi, a canção dentro da sede do próprio Iguaçu.
7.8 O ORÇAMENTO
Para a viabilização do projeto pensou-se em equipe técnica, produtores,
produtores executivos e equipamentos. O projeto do videodocumentário S.O.B.E.
Iguaçu Camisa Alvinegra da Colônia Famosa, foi inserido na Lei de Incentivo
Municipal do Mecenato e pensando na possibilidade de atingir essa meta, optou-se
por orçamentos originais formatado nas normas que a Lei de Incentivo à Cultura
exige. Foram feitos orçamentos com vários profissionais free-lance como Operador
de Câmera, Operador de Áudio, Assistente de Produção, Still, Advogado para redigir
os contratos e cuidar das formalidades, Editor, Trilha Sonora Original e outras coisas
como alimentação, equipamentos de alto padrão técnico, logística e distribuição.
57
TABELA 1 - ORÇAMENTO FÍSICO-FINANCEIRO DETALHADO
FASE/ ETAPA
DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE
UNIDADE QUANTIDADE VALOR TOTAL
01 LOCAÇÃO DE EQUIPAMENTO
1 CÂMERA 5D 04 DIÁRIAS 6.000,00
01 LOCAÇÃO DE EQUIPAMENTO
1 FRESNEL 650W FILM GEAR 1 PL 04 LÂMP. DE 60CM LOC.ALL 2 SET LIGHT 1000W LOC.ALL 4 TRIPE AL. 3 EST. LOC.ALL 2 CAÇAPA PIAL 10 PROLONGA PIAL 3 GARRA LOC.ALL CURTA 3 GARRA LOC.ALL LONGA 2 JOGO DE PEDANINA 5 CM C/ 10 2 2 PEÇA 2 JOGO DE BANQUETAS PEQUENA LOC.ALL 12,5 / 10 / 7,5 3 TRES TABELAS 5 SACO DE AREIA 1 TRAVELLING 1 DIFUSOR 650W JG C/ 4 UNID.
4 DIÁRIAS 2.114,00
01 LOCAÇÃO DE EQUIPAMENTO
GRUA 4,2 M LOC.ALL C/ 30 PESOS 1 DIÁRIA 126,00
02 LOGÍSTICA TRANSPORTE 4 DIÁRIAS 1.000,00
03 ALIMENTAÇÃO CATERING 4 DIÁRIAS 1.600,00
05 EDIÇÃO HORA/ ILHA 20 HORAS 1.000,00
06 PRODUTO FINAL DVD 1000 UNID. 1.400,00
04 DISTRIBUIÇÃO GRÁFICA/ ENCARTE 1000 UNID. 100,00
Subtotal 13.695,00
Total 13.695,00
TABELA 2 - DISCRIMINAÇÃO DOS PRESTADORES DE SERVIÇOS/FORNECEDORES
ATIVIDADE IDENTIFIQUE O NOME DO PRESTADOR DE SERVIÇO
PESSOA FÍSICA/ JURÍDICA
VALOR EM REAIS
DIRETOR DE CENA COSTA REBELO FÍSICA 8.400,00
CINEGRAFISTA ANDRÉ DE PAULA FÍSICA 2.200,00
CINEGRAFISTA/ EDITOR
RICHARD FÍSICA 3.300,00
PRODUTOR EXECUTIVO
PATRINE ALVES FÍSICA 3.300,00
PRODUTOR EXECUTIVO
TIAGO FÍSICA 3.300,00
COORDENADOR DE PRODUÇÃO
ANDREA FÍSICA 2.000,00
ASSISTENTE DE CÂMERA
MARCIO FÍSICA 1.760,00
58
TABELA PRESTADORES DE SERVIÇOS/FORNECEDORES 2 - DISCRIMINAÇÃO DOS
ATIVIDADE IDENTIFIQUE O NOME DO PRESTADOR DE SERVIÇO
PESSOA FÍSICA/ JURÍDICA
VALOR EM REAIS
TÉCNICA MAICON FÍSICA 2.000,00
ASSISTENTE DE PRODUÇÃO
DAYANA BUENO FÍSICA 960,00
ASSISTENTE DE PRODUÇÃO
GRAZIELI FÍSICA 960,00
STILL KADIGGIA FÍSICA 960,00
ADVOGADO PAULO HENRIQUE FÍSICA 960,00
TABELA 3 - RESUMO ORÇAMENTO
ATIVIDADE DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE CUSTO TOTAL DA ATIVIDADE
1 PRÉ-PRODUÇÃO/PREPARAÇÃO 0,00
2 PRODUÇÃO/EXECUÇÃO 34.895,00
3 DIVULGAÇÃO/COMERCIALIZAÇÃO 2.500,00
4 CUSTOS ADMINISTRATIVOS 800,00
5 IMPOSTOS/SEGUROS 5.808,00
VALOR TOTAL DO PROJETO 44.003,00
7.9 PROJETO DE VIDEODOCUMENTÁRIO
a) Visão original
Quando se pensa em futebol, logo vem à cabeça clubes milionários,
jogadores famosos e torcedores inflamados, mas o esporte é tão surpreendente que
em um bairro da cidade de Curitiba existe um time amador quase centenário e com
histórias fascinantes contadas por personagens únicos que constroem uma narrativa
peculiar que atrai a atenção até de leigos no assunto.
Tudo pode parecer algo com pouca importância, mas esse time apresenta
não só sua importância no futebol da cidade, como também ligação com a
identidade do bairro Santa Felicidade, tradicionalmente conhecido como o bairro
59
italiano da capital paranaense. Fundado em 6 de junho de 1919 a Sociedade
Operária Beneficente Iguaçu (S.O.B.E. Iguaçu) é um dos mais famosos times
amadores de Curitiba.
A fundação do clube é considerada parte integrante da história do bairro
italiano de Curitiba, pois foi feita por imigrantes que compraram o terreno e
construíram a estrutura do Iguaçu. Dentre estes imigrantes estava Egídio Ricardo
Pietrobelli, ex-presidente que dá nome ao estádio, famoso por ter penhorado a
própria casa como forma de garantia de pagamento do terreno comprado para ser
usado como futuro campo.
A sociedade não é apenas um espaço destinado ao futebol, criou-se entre as
pessoas uma amizade que foi a própria razão de fundação do clube. Quarenta
amigos se uniram para construir o espaço, dividiram despesas e responsabilidades
na compra do terreno, em um tempo que a palavra falada era o suficiente para
honrar os compromissos. O fato de o Iguaçu ter essa origem sugere uma
abordagem voltada à construção social.
Deste modo, o processo de construção nos permitirá lançar um olhar sobre a
identidade deste clube e da gente que ajudou a moldar uma unidade composta
basicamente por pessoas que talvez não tivessem um objetivo central, mas que
conseguiram erguer uma sólida amizade em torno de um ideal.
b) Proposta de documentário
O documentário S.O.B.E Iguaçu terá como guia depoimentos de personagens
e imagens para contextualizar a narrativa, o foco é mostrar de forma cronológica
como é a “vida” de um time de futebol amador ao longo do tempo. A história será
contada por pessoas que acompanharam e ainda hoje frequentam a Sociedade, de
certa forma elas são responsáveis pelo seu funcionamento e existência quando de
alguma maneira se dedicam para manter vivo o espírito do futebol de fato amador,
no qual pessoas comuns chegam a acumular funções pelo simples amor ao clube e
ao futebol.
A proposta é apresentar a partir da visão de cada entrevistado sua relação e
identificação com o Iguaçu. Trata-se de uma breve imersão no cotidiano de um dos
mais tradicionais clubes do futebol paranaense, entre profissionais e amadores, para
mostrar como este esporte é capaz de movimentar e ligar uma comunidade em prol
de sua existência.
60
c) Eleição e descrição do (s) objeto(s)
S.O.B.E. Iguaçu
Objeto principal do documentário, clube que movimenta uma “metade” do
bairro de Santa Felicidade, em Curitiba. Em uma breve conversa sobre o Iguaçu dá
para perceber o quanto ele representa para quem o frequenta ou simpatiza com ele.
Imagens
Fotos e vídeos de arquivo relacionados a partidas e eventos na Sociedade
que contextualizem os relatos.
Cooperadores com o Iguaçu
Pessoas que colaboram de forma voluntária com o clube e são capazes de
contar com riqueza de detalhes histórias de diferentes épocas.
José Manosso (Pepe)
Acompanha o time desde os sete anos de idade quando presenciou a
inauguração da pedra fundamental para a construção da sede em 1938. Detém um
vasto conhecimento de acontecimentos em diversos períodos do clube. Hoje com 81
anos é a pessoa que mais tempo ocupou o cargo de presidente, ao todo foram 14
anos, no ano de 2011 foi homenageado como Presidente de Honra do Iguaçu,
juntando-se assim a outros quatro que já faziam parte deste grupo seleto. Nos
mandatos em que esteve à frente da Sociedade trabalhou também na parte social,
na qual realizou bailes e peças de teatro escritas por ele próprio. É um dos
personagens mais conhecidos e queridos pela comunidade e pelos frequentadores
do Iguaçu.
Pedro Culpi
Mais conhecido como Pedrinho Culpi, é torcedor do time e historiador do
futebol amador de Curitiba e também coautor do hino do Iguaçu. Passou pela
presidência e também exerceu cargo de diretor social do clube.
Isabel Estival Galeto
61
Moradora do clube, frequenta desde sua infância as dependências da
Sociedade, foi mascote e até jogou no time feminino. Ela organiza e toma conta dos
uniformes, faz comida para os jogadores e é torcedora ferrenha da equipe.
Romeu Estival
Atual presidente, foi goleiro do time por 20 anos, trabalhou de roupeiro,
maqueiro entre outras funções. Conquistou o prêmio Belford Duarte neste período,
reconhecimento dado a jogadores que nunca foram expulsos de uma partida de
futebol.
Milton Bosa
Ex-jogador ajudou do clube a conquistar vários campeonatos na década de
50 e 60 e tornou-se artilheiro em vários deles.
Braz Maestrelli
Sócio da Sociedade atuou como goleiro da equipe, também interpretou papel
de apóstolo quando eram feitas encenações da Paixão de Cristo na sede do clube.
Sidnei Toaldo
Diretor esportivo, cuida também da lanchonete nos dias de jogos, é o mais
jovem dos personagens entrevistados no videodocumentário. É filho de outro
baluarte da história do Iguaçu, José Toaldo, mais conhecido como Bepite Toaldo.
d) Eleição e Justificativa para a (s) Estratégia (s) de Abordagem
S.O.B.E Iguaçu
O Iguaçu tem um amplo espaço físico para sócios e torcedores, dentro dele
existem locais específicos onde são guardados arquivos, troféus e imagens, material
de acervo que poucos têm acesso. A intenção é filmar tudo para mostrar essa parte
da história que está arquivada em salas, e usar como imagem para contextualizar a
narrativa dos personagens.
Entrevistas Individuais
62
José Manosso será o entrevistado principal do documentário, ele é presidente
de honra do Iguaçu e também quem mais tempo ficou à frente do cargo, ele
presenciou muitas das histórias contadas na Sociedade até hoje. Outros
personagens centrais serão entrevistados, gente que possui uma história dentro do
Iguaçu e também história pessoais de muita relevância que complementam a
narrativa.
Filmagem da equipe do Iguaçu
A equipe do Iguaçu será acompanhada na disputa da Copa Barão de Futebol,
desta maneira será possível mostrar o comportamento da torcida e dos
personagens. Capturar cenas que denotem todo o apreço e sentimento deles pelo
Iguaçu. Mostrar como é a movimentação na sede e arredores do estádio.
Estrutura
Primeiramente a montagem seria formatada em blocos separados em cinco
sequências, mediante a preocupação em manter a história sem alterações decidiu-
se que a primeira sequência teria uma função maior, com mais detalhes sobre a
história do clube e somente depois, nas próximas sequências, com um tempo menor
é que seriam destacadas as histórias particulares de cada personagem com o clube.
e) Sugestão de estrutura
ABERTURA
A Abertura será realizada através de um jogo de imagens e do nome do
videodocumentário. As imagens terão uma sequência dos jogadores batendo bola,
bastidores do jogo toda a movimentação da equipe antes do jogo. A cena é cortada
tendo a impressão de que uma bola entra na câmera, aparece o nome do
documentário e o início da história.
SEQUÊNCIA 1 – Histórias do clube
A primeira etapa do filme será a introdução falada pelo personagem principal,
José Manosso, que terá auxílio de Pedrinho Culpi, historiador do clube, este começo
será completado por imagens geradas a partir dos pontos abaixo.
Fundação/ Nome do clube
63
Nome do Time
Compra do terreno
Inauguração da sede
SEQUÊNCIA 2 – Histórias Individuais
Foram selecionados personagens, ex-presidentes, atuais diretores, ex-
jogadores e pessoas que compõem uma base de histórias ricas para qualquer
projeto que venha a ser desenvolvido sobre o clube. Cada um deles irá contar o que
viveu e viu no decorrer do tempo durante o período que frequentou o Iguaçu. Os
depoimentos serão dirigidos a partir de um questionário, porém improvisações
poderão ser incorporadas, pois não faremos interrupções durante a fala dos
entrevistados.
SEQUÊNCIA 3 – Levantamento Histórico
O levantamento histórico será feito a partir de fotografias antigas, arquivos de
jornais e do próprio clube e dos personagens, além de outros documentos que
possam enriquecer o desenvolvimento do projeto. Esses arquivos serão colocados
na montagem e editados conforme se encaixem nos depoimentos para que cada
história seja relevante.
SEQUÊNCIA 4 - Histórias Pitorescas
Neste tópico serão apresentadas histórias pitorescas ou diferentes que
fizeram parte do clube e que poucos conhecem. Dentre elas a morte de um jogador
em campo, derrota por placar elástico, cobra que atiraram no banco de reserva, time
escalado com dez jogadores e o jogo que terminou na segunda e a paz entre os
adversários.
SEQUÊNCIA 5 – Identidade
Iguaçu quase único, pois fatores como amor, fidelidade e identificação estarão
todos juntos em cena. É desta forma que será apresentado está sequência como
forma de mostra a ligação que cada personagem tem com a o clube.
64
SEQUÊNCIA 6 – Montagem
A montagem do documentário será de forma que a identidade cultural do
clube tenha ênfase, pois o objetivo do projeto é mostrar como a amizade e a união é
capaz de estabelecer uma trajetória tão duradoura que resiste até a um jogo da
seleção brasileira na Copa do Mundo, ou seja, quem são as pessoas e porque elas
se envolveram com um clube amador alterando o ritmo da própria vida, ou em
alguns casos, sendo esse o ritmo da própria vida. Enfim, o que se quer é ter uma
noção do que se passou na cabeça do grupo de amigos que resolveu se unir e
fundar o S.O.B.E Iguaçu.
65
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O projeto de vídeodocumentário tem como objetivo principal mostrar o retrato
de uma Sociedade Beneficente rodeada por pessoas, que têm em seus cotidianos o
próprio clube, engajadas em manter um perfil onde em uma sociedade, considerada
moderna, é complicado por existir conflitos de gerações. O clima saudosista não
pode deixar de ser mostrado, pois esse sentimento também faz parte da identidade
das pessoas com o clube.
Por ser observado que o jornalismo foi de bom proveito neste
videodocumentário é que contemplou o resultado fiel aos relatos e histórias
contadas. Foram utilizados vários acessórios, do tipo valores-notícia, desse ofício
para que o projeto fosse concretizado.
Ao responder a questão problemática do trabalho observou que, apesar de
serem momentos históricos, as estruturas das vidas expostas são de profundo laço
sentimental com o clube. E que fragmentos de identidade se resulta em trabalho
braçal para manter a instituição a pleno vapor.
Com relação ao objetivo, realmente o videodocumentário ilustrou a história e
que dessa ilustração, percebe-se que as pessoas, pelo menos as envolvidas com a
Sociedade Iguaçu, têm bem mais pelo clube que um videodocumentário pode
mostrar, mas com as ferramentas utilizadas foi possível fazer o resgate e mostrar a
história.
Cada uma dessas histórias teve sua particularidade e somando com a
existência quase centenária do S.O.B.E. Iguaçu construiu-se o enredo. Quando se
fala de identidade pode-se identificar a estreita relação que o S.O.B.E. Iguaçu tem
com o bairro de Santa Felicidade, começando pelos fundadores. O bairro começou a
partir da vinda dos imigrantes italianos e o clube foi fundado por imigrantes italianos.
O bairro cresceu graças ao trabalho duro e a fé dos imigrantes italianos, o clube
permaneceu pelo mesmo motivo. A perseverança é o escudo desse povo.
A metodologia se apropriou da análise de conteúdo e das técnicas de
entrevista adquiridas na pesquisa de campo para saber como o Iguaçu é
apresentado na mídia e também para conseguir informações a respeito da história
da sociedade.
66
REFERÊNCIAS
ARNHEIM, Rudolf. A arte do cinema. Lisboa – Portugal: edições 70, 1957.
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Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=2OoKlfvLLvY
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ANEXOS
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ROTEIRO
Vídeodocumentário
Tema: S.O.B.E. Iguaçu - Camisa Alvinegra da Colônia Famosa Período de gravação: Março a Junho/ 2011
Produção/ Técnica/ Imagens: Patrine Alves, Richard Benvenutti e Tiago André Piontekievicz
Tempo: 20 minutos
Professor Orientador: Julius Nunes Editor: Germano Strazzi
TÉCNICA/SEQUÊNCIA/ÁUDIO IMAGENS/DESENVOLVIMENTO
ABERTURA
Trilha –
Narrando o gol –
Tela preta
Hino do S.O.B.E Iguaçu Pedrinho Culpi
Jogadores batendo bola, bastidores do jogo, jogadores
entram no campo, narrador, bola de encontro com a
câmera.
S.O.B.E. Iguaçu Camisa Alvinegra da Colônia Famosa.
Bandeira do Iguaçu, foto do primeiro time do Iguaçu,
troféus, jogo contra o Hauer, gol do Iguaçu.
SEQUÊNCIA 01 História do S.O.B.E. Iguaçu
José Manosso
Pedrinho Culpi
José Manosso
Pedrinho Culpi
José Manosso
Pedrinho Culpi
Se eu fosse falar do Iguaçu .../ ...não tinham como pagar esse terreno.
Egídio e dona Deolinda.../ ...Estádio Egídio Ricardo Pietrobelli.
Mas tenho que voltar antes.../...nesse lugar em que estamos hoje.
E aqui também existiam os jovens.../... Iguaçu com “SS”.
Iguaçu daqui, Iguaçu de lá.../...gostaram do nome.
A partir daquele dia.../...camisa alvinegra da colônia famosa.
Eu tinha 7 anos.../...primeira pedra com 7 anos de idade.
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José Manosso Aonde é hoje localizada.../...SOBE Iguaçu.
SEQUÊNCIA 02 Histórias Individuais
Sidnei Toaldo
Isabel Estival Galeto
José Manosso
Isabel Estival Galeto
Romeu Estival
Fade in 08‟54‟‟ – Fade out 09‟00‟‟
Romeu Estival
Milton Bosa
Minha identificação iniciou.../ ...prazer em estar aqui no clube.
Anda em direção à câmera e fala.
É inexplicável como.../ ...eu gosto de futebol.
E como eu te disse.../ ...o meu entusiasmo para ir lá.
Enquanto eu não viesse morar aqui.../...eu tinha que viver isso.
A semana inteira...
Romeu assistindo ao jogo
...não temo outra coisa.
O Iguaçu sempre representou.../...a gente não quer que termine.
SEQUÊNCIA 03 Identidade Cultural do Iguaçu
Pedrinho Culpi
José Manosso
Braz Maestrelli
O Iguaçu criou uma identidade.../...primeiro com as
tradições.
Passaram-se os anos.../...paixão de Cristo mais completa.
Eu era um dos apóstolos.../...conversar com ele você vai
ver.
SEQUÊNCIA 04 Histórias Pitorescas
José Manosso
Milton Bosa
Milton Bosa
Houve um domingo.../ ...surgiram com o nascimento do
Iguaçu.
Tem umas histórias.../ ...episódio que aconteceu.
Outra coisa que aconteceu.../...perdemos de oito à zero.
Num jogo pela Taça Paraná.../...banco de reserva correndo.
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Sidney Toaldo
Romeu Estival
José Manosso
Foi punido 21 jogador.../ ...cabeça quente e sempre é
punido.
Eu sugeri o seguinte.../ ...acabaram-se as brigas.
SEQUÊNCIA 05 Identidade com o Iguaçu
Milton Bosa
Pedrinho Culpi
Milton Bosa
Isabel Estival
Romeu Estival
O Iguaçu representa para mim.../eu tenho amor pelo
Iguaçu.
Primeiramente o Iguaçu.../ ...Sociedade Esportiva Iguaçu.
Eu garanto que volta a ser.../ ...vamos fazer o que é
preciso.
Que nunca deixassem.../ ...de tanto que eu gosto daqui.
Eu tenho 55 anos de Iguaçu.../ ...é porque a gente gosta
né.
FINALIZAÇÃO FINALIZAÇÃO
Mosaico - José Manosso
Hino do S.O.B.E Iguaçu – Pedrinho Culpi
É essa amizade sincera.../ ...simpatia do nome do Iguaçu.
Entrada do Iguaçu;
Evento do Presidente de Honra
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Questionário geral
a) você pode falar seu nome e quantos anos você tem?
b) você gosta de futebol?
b) como você conheceu a Sociedade e quanto tempo você acompanha o
Iguaçu?
c) com que frequência vai ao clube e aos jogos?
d) qual a sua ligação com o Iguaçu?
dd) já exerceu função dentro do clube, qual foi?
ddd) dentre elas qual preferiu exercer?
dddd) porque resolveu assumir esse compromisso?
e) como é o cotidiano no clube?
f) o que o Iguaçu representa para você?
g)
h) por que faz o que faz pelo Iguaçu, já se perguntou ou não importa?
j) no seu ponto de vista o que o Iguaçu representa para Santa Felicidade?
k) o que o traz sempre aos jogos do time?
l) o Clube Iguaçu tem muitas histórias, conte uma que você presenciou.
ll) essa foi a que mais marcou você em sua relação com o clube?
m) sofreu ou sofre pelo time?
n) se pudesse falar algo a respeito do Iguaçu o que diria?
o) qual diferença do Iguaçu, quando você começou a frequentá-lo, para os dias
atuais?
o) a que você atribui essas mudanças?
p) o traz as pessoas hoje no Iguaçu o futebol ou o clube em si
Departamento de futebol
- quais decisões são tomadas aqui e no que elas influenciam dentro do clube
- antigamente vocês tinham aqui vários jogadores que frequentavam o Iguaçu
cotidianamente, mas hoje são jogadores que estão só de passagem, como é o
trabalho hoje e como era no passado, existe uma diferença na maneira de trabalhar
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com o jogador, quais são elas?
- quanto tempo que você frequenta o clube
- quais as funções que já exerceu dentro do clube
- dentre essas tarefas qual delas o senhor mais se identifica
- como era o jogar na época que o senhor jogou e como o senhor vê hoje
- como você vê o Iguaçu hoje
- que momento mais te marcou aqui no clube,
- essa foi a melhor lembrança que você tem aqui
- como foi ganhar o prêmio Belford Duarte
- o que te faz dedicar esse tempo pelo Iguaçu
- o que te fez querer ser presidente
- como é ser presidente
- é melhor assistir o jogo como presidente, jogador ou outra função?
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Hino da S.O.B.E.Iguaçu
Camisa alvi-negra da colônia famosa
Só da alegria ao seu torcedor,
No campo da luta ela é valorosa
E o seus atletas têm raça e valor.
Iguaçu hó esquadra querida
Iguaçu tantas vezes campeão,
Iguaçu meu amor, minha vida
Serás eterno em meu coração.
Pavilhão altivo coberto de glória
Tornando mais forte a sua mocidade,
Tens na lealdade a sua vitória
Orgulho maior de Santa Felicidade.
Camisa da alvi-negra da colônia famosa
Só da alegria ao seu torcedor,
No campo da luta ela é valorosa
E os seus atletas têm raça e valor.
Iguaçu hó esquadra querida
Iguaçu tantas vezes Campeão,
Iguaçu meu amor minha vida
Serás eterno em meu coração.
Letra e música Ten. Sebastião Lima
Coautor, Pedrinho Culpi, Ano 1973.
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Capa do DVD