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ESTUDO PARA A DOCUMENTAÇÃO DE HOSPITAIS MODERNOS BRASILEIROS (1940 A 1960). COSTEIRA, ELZA MARIA ALVES. (1); AMORA, ANA ALBANO. (2) 1. PROARQ/FAU/UFRJ Av. Epitácio Pessoa, 4476, Bl 1, apto. 902. Lagoa, Rio de Janeiro, RJ. CEP 22471-004 [email protected] 2. PROARQ/FAU/UFRJ Rua das Laranjeiras, 457, Bl A, apto 304. Laranjeiras, Rio de Janeiro, RJ, CEP: 22240-005. [email protected] RESUMO Este trabalho tem por objetivo apresentar um estudo detalhado das características e elementos constituintes de alguns hospitais modernos brasileiros, de autores consagrados pela historiografia e realizados no período em foco. Estes exemplos demonstram como os conceitos do movimento moderno brasileiro foram usados para projetos hospitalares e dão subsídios para orientar futuras intervenções, compatibilizando a memória da saúde e da arquitetura com as novas conquistas científicas e tecnológicas de assistência. Ao observar as construções de edifícios hospitalares brasileiros, no período compreendido entre as décadas de 1940 a 1960, conclui-se que, para além da adequação do projeto às premissas da saúde, os arquitetos e projetistas encontravam-se fortemente influenciados pelas características da nova arquitetura moderna. Essa arquitetura se desenvolve no Brasil a partir dos conceitos discutidos e praticados pelos arquitetos, à luz do projeto do Ministério de Educação e Saúde Pública, de 1936, e da exposição da nova arquitetura brasileira no MoMa, em Nova York no ano de 1943, que gerou a publicação do livro Brazil Builds: Architecture New and Old 1652-1942, por Philip Goodwin. A abordagem dos projetos desses hospitais procura agregar os principais aspectos que demonstram o alinhamento da arquitetura hospitalar aos novos padrões da arquitetura moderna. A partir do uso das estruturas em concreto armado e por meio de paredes de alvenaria não estrutural, desenhadas de forma modulada, atingiu-se uma liberdade na concepção de espaços mais flexíveis, que pudessem atender às atividades médicas assistenciais, Além disso, assistiu-se à busca por maior conforto nas enfermarias e quartos de internação, com um cuidadoso estudo de orientação dos blocos prediais e do emprego de elementos que pudessem proporcionar o controle da ventilação e insolação preconizadas como integrantes essenciais dos espaços de atenção à saúde. Finalmente, encontra-se o cuidado em agregar aos projetos jardins terapêuticos e obras de arte - painéis, esculturas e pinturas murais - pontuando e afirmando que a arquitetura moderna brasileira se apresentava como síntese das artes, questão longamente discutida durante o Congresso Internacional de Críticos de Arte, ocorrido em 1959 em Brasília, prestes a ser inaugurada. Dessa forma, se alcançava uma arquitetura capaz de absorver novas tecnologias ao longo do tempo, compatibilizando seus atributos tipológicos com uma abordagem pioneira de conforto ambiental e humanização, partes integrantes do projeto moderno. Palavras-chave: Hospitais Modernos; Documentação de Hospitais; Tipologia Hospitalar.

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ESTUDO PARA A DOCUMENTAÇÃO DE HOSPITAIS MODERNOS BRASILEIROS (1940 A 1960).

COSTEIRA, ELZA MARIA ALVES. (1); AMORA, ANA ALBANO. (2)

1. PROARQ/FAU/UFRJ Av. Epitácio Pessoa, 4476, Bl 1, apto. 902. Lagoa, Rio de Janeiro, RJ. CEP 22471-004

[email protected]

2. PROARQ/FAU/UFRJ Rua das Laranjeiras, 457, Bl A, apto 304. Laranjeiras, Rio de Janeiro, RJ, CEP: 22240-005.

[email protected]

RESUMO Este trabalho tem por objetivo apresentar um estudo detalhado das características e elementos constituintes de alguns hospitais modernos brasileiros, de autores consagrados pela historiografia e realizados no período em foco. Estes exemplos demonstram como os conceitos do movimento moderno brasileiro foram usados para projetos hospitalares e dão subsídios para orientar futuras intervenções, compatibilizando a memória da saúde e da arquitetura com as novas conquistas científicas e tecnológicas de assistência. Ao observar as construções de edifícios hospitalares brasileiros, no período compreendido entre as décadas de 1940 a 1960, conclui-se que, para além da adequação do projeto às premissas da saúde, os arquitetos e projetistas encontravam-se fortemente influenciados pelas características da nova arquitetura moderna. Essa arquitetura se desenvolve no Brasil a partir dos conceitos discutidos e praticados pelos arquitetos, à luz do projeto do Ministério de Educação e Saúde Pública, de 1936, e da exposição da nova arquitetura brasileira no MoMa, em Nova York no ano de 1943, que gerou a publicação do livro Brazil Builds: Architecture New and Old 1652-1942, por Philip Goodwin. A abordagem dos projetos desses hospitais procura agregar os principais aspectos que demonstram o alinhamento da arquitetura hospitalar aos novos padrões da arquitetura moderna. A partir do uso das estruturas em concreto armado e por meio de paredes de alvenaria não estrutural, desenhadas de forma modulada, atingiu-se uma liberdade na concepção de espaços mais flexíveis, que pudessem atender às atividades médicas assistenciais, Além disso, assistiu-se à busca por maior conforto nas enfermarias e quartos de internação, com um cuidadoso estudo de orientação dos blocos prediais e do emprego de elementos que pudessem proporcionar o controle da ventilação e insolação preconizadas como integrantes essenciais dos espaços de atenção à saúde. Finalmente, encontra-se o cuidado em agregar aos projetos jardins terapêuticos e obras de arte - painéis, esculturas e pinturas murais - pontuando e afirmando que a arquitetura moderna brasileira se apresentava como síntese das artes, questão longamente discutida durante o Congresso Internacional de Críticos de Arte, ocorrido em 1959 em Brasília, prestes a ser inaugurada. Dessa forma, se alcançava uma arquitetura capaz de absorver novas tecnologias ao longo do tempo, compatibilizando seus atributos tipológicos com uma abordagem pioneira de conforto ambiental e humanização, partes integrantes do projeto moderno.

Palavras-chave: Hospitais Modernos; Documentação de Hospitais; Tipologia Hospitalar.

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4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

Introdução

Ao observar os edifícios hospitalares brasileiros, no período compreendido entre década de

1940 até 1960, conclui-se que os arquitetos e projetistas encontravam-se fortemente

influenciados pelas características da arquitetura moderna. Essa arquitetura, com preceitos

que se desenvolveram no período entre guerras, na Europa, acabou por se disseminar em

todo o mundo ocidental, notadamente nos anos que sucederam a segunda guerra. A

chamada Arquitetura Moderna se desenvolve no Brasil desses tempos a partir dos conceitos

que vinham sendo discutidos pelos arquitetos, à luz do projeto do Ministério de Educação e

Saúde Pública, de 1936, e da exposição sobre arquitetura brasileira no MoMa, em Nova

York no ano de 1943, que gerou a publicação do livro Brazil Builds: Architecture New and

Old 1652-1942, por Philip Goodwin como aponta Roberto Segre (2013).

“(...) o grande momento da história dos hospitais modernos aconteceu entre

as décadas dos anos trinta e os anos cinquenta, não somente no Brasil com

a Revolução de Getúlio Vargas, mas também na maioria dos países da

América Latina. Por uma parte, se assimilou a influência dos Estados

Unidos através da Fundação Rockefeller, que desempenhou um papel

significativo na modernização da medicina brasileira com antecedência à

Segunda Guerra Mundial” (SEGRE, 2013).

Este trabalho tem por objetivo apresentar um estudo detalhado das características e

elementos constituintes de alguns hospitais modernos brasileiros, de autores consagrados

pela historiografia e realizados no período em foco. Estes exemplos demonstram como os

conceitos do movimento moderno brasileiro foram usados para projetos hospitalares e dão

subsídios para orientar futuras intervenções, compatibilizando a memória da saúde e da

arquitetura com as novas conquistas científicas e tecnológicas de assistência.

Para subsidiar o estudo dos diversos atributos presentes nos projetos destes hospitais,

optou-se pela organização de dois Quadros-Resumo que apresentam as características

arquitetônicas modernas e as características da arquitetura hospitalar, respectivamente.

As características projetuais da moderna arquitetura foram escolhidas a partir de atributos

considerados essenciais aos projetos da época. As premissas da arquitetura hospitalar

também foram elencadas ordenadamente para que se estabeleçam as diretrizes de

atendimento médico traduzidas na organização dos seus espaços, visando dotar as

instituições dos novos elementos de diagnóstico e tratamento utilizados no período

estudado.

A seleção apresentada seguiu critérios referentes à inovação e de afirmação da nova

arquitetura brasileira e são exemplos dessas concepções, tanto em relação a aspectos

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hospitalares como de linguagem arquitetônica. Edifícios projetados por arquitetos

consagrados pela historiografia como Vila Nova Artigas e o Hospital São Lucas (1945) em

Curitiba, Irineu Breitman e o Hospital Fêmina em Porto Alegre (1955), Jorge Machado

Moreira e o Hospital das Clínicas em Porto Alegre (1955), Firmino Saldanha e o Hospital dos

Marítimos (1955) no Rio de Janeiro, Rino Levi e o Hospital Pérola Byington (1958) em São

Paulo, e Oscar Niemeyer e o Hospital Sul América (1959) no Rio de Janeiro demonstram

como os conceitos do movimento moderno brasileiro foram usados para projetos

hospitalares.

Características da Moderna Arquitetura de Saúde

As premissas para os projetos demonstram o alinhamento da arquitetura hospitalar aos

novos padrões da arquitetura moderna. O uso de linhas retas, volumetria abstrata, a

ausência de ornamento e de referencias históricas, a atenção aos aspectos funcionais, a

exploração das características construtivas do concreto armado. Tais princípios difundidos

pelo arquiteto Le Corbusier em seu livro Por uma Arquitetura (1998), e em seu projeto para

uma casa- a Ville Savoie (1928)- em que empregou os chamados “os cinco pontos”:

construção sobre pilotis, planta livre da estrutura, terraço jardim, fachada livre da estrutura e

janelas em fita- são considerados pelos arquitetos brasileiros, e se relacionam ao impacto

causado pela construção do edifício para o Ministério da Educação e Saúde, que foi o

primeiro edifício público em altura a empregá-los.

Assim, a partir do uso das estruturas em concreto armado, atingiu-se uma liberdade na

concepção de espaços mais flexíveis, que pudessem atender às atividades médicas

assistenciais, por meio de paredes de alvenaria não estrutural, implantadas a partir do uso

de modulação nos projetos e adequada insolação e aeração dos ambientes. Essa nova

maneira de projetar permitiu que os prédios hospitalares, livres das imposições espaciais

que a estrutura deixou de impor aos ambientes, se voltassem para a organização dos

diversos serviços de acordo com as atividades desenvolvidas e sua adequada localização

no prédio hospitalar, como descreve o arquiteto Jarbas Karman, referencia para a

arquitetura hospitalar brasileira:

“O agrupamento das unidades dos hospitais gerais por suas afinidades e

atividades ali desempenhadas resultou na definição de cinco zonas: 1) de

pacientes externos, composta por unidades destinadas aos pacientes que

procuram o hospital para tratamento ambulatorial; 2) tratamento e

diagnóstico, que concentram instalações e equipamentos de maior

resolutividade, destinados aos pacientes hospitalizados, ambulatoriais e

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externos; 3) internação, unidades destinadas à permanência de pacientes

durante o período de tratamento; 4) serviço, composta pelas unidades

industriais do hospital, que dão retaguarda aos demais setores, e 5) área de

administração” (KARMAN, 1978).

Além disso, assistiu-se naquele momento a busca por conforto nas enfermarias e quartos de

internação, por meio de um cuidadoso estudo de orientação dos blocos prediais e do

emprego de elementos que pudessem proporcionar o controle da ventilação e insolação

preconizadas como integrantes essenciais dos espaços de atenção à saúde.

Finalmente encontra-se, ainda, ao observarmos os projetos, a preocupação em agregar aos

projetos, jardins terapêuticos e a inclusão de obras de arte- painéis, esculturas e pinturas

murais- pontuando e afirmando uma das características mais exploradas pela arquitetura

moderna brasileira que se apresentava como síntese das artes, como discorre Ana Albano

Amora em relação à arquitetura carioca:

“As parcerias de arquitetos cariocas com o paisagista Roberto Burle Marx

garantiram a qualidade estética e funcional dos jardins dos hospitais.

Diferentemente da tendência internacional de pensar o jardim a partir da

sua funcionalidade, aqui se tomou outro caminho, com o jardim concebido

como parte da arquitetura, que se constituía em um núcleo duro, marcado

pela arquitetura racional, e um núcleo mole, composto pela organicidade do

jardim. Essa unidade se completava com a inserção da escultura e do

painel mural, uma clara posição em direção ao conceito do projeto integral,

junção de todas as artes. Como exemplos devemos citar o Hospital da

Lagoa, realizado em parceria com Oscar Niemeyer (1951-1959), e o

Instituto de Puericultura, com Jorge Machado Moreira (1949-1953), que

constituem patrimônios modernos exemplares de hospitais integrados a

jardins.” (AMORA, 2014).

A questão da Arquitetura representando a “síntese das artes” foi longamente discutida

durante o Congresso Internacional de Críticos de Arte, ocorrido em 1959 em Brasília,

prestes a ser inaugurada. Para tal Celia Gonsales (2012) contribui com a seguinte

afirmação:

“Os arquitetos brasileiros sempre indicaram a dimensão plástica e artística

como fator essencial da arquitetura mesmo aquela de cunho funcionalista”.

Mas também, desde muito cedo, essa obra se caracterizou pelo trabalho

integrado de pintores, escultores, arquitetos e paisagistas que, através da

inclusão da cultura local, buscaram a satisfação humanista em uma arte

constituído como “manifestação normal da vida”. Como é sabido, a partir do

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projeto do Ministério de Educação e Saúde no Rio de Janeiro, começa um

processo intenso de colaboração entre artistas e arquitetos”. (GONSALES,

2012).

Dessa forma, se alcançava uma arquitetura capaz de absorver novas tecnologias ao longo

do tempo, compatibilizando seus atributos tipológicos com uma abordagem pioneira de

conforto ambiental e humanização, partes integrantes do projeto moderno.

Assim, no Quadro 1 encontram-se as características que indicam esses hospitais como

exemplos do projeto moderno, aplicando aos edifícios de assistência à saúde da época

estudada (1940 a 1960) os elementos marcantes da nova arquitetura.

A conformação do Quadro 2 tem como diretriz a apresentação de algumas premissas

requeridas especificamente pela função hospitalar da época estudada (1940 a 1960).

Quadro Resumo 1- Características da Arquitetura Moderna

Para cada um dos edifícios hospitalares escolhidos, após a apresentação da autoria, local e

data dos projetos estudados, optou-se por apontar a tipologia formal, sistema construtivo,

numero de pavimentos, implantação no terreno, tipo de embasamento e relação com o

espaço público, além da orientação dos blocos principais.

A primeira observação dos edifícios estudados em relação à sua tipologia formal, sinaliza a

opção pela verticalização das construções hospitalares, seguindo a tendência em curso na

América do Norte. Como fato, a opção por edifícios mais compactos e altos em detrimento

dos antigos pavilhões sanatoriais começa a predominar. Considera-se que o fato, após a

presença de convênios dos governos brasileiros com a Fundação Rockfeller, de um grande

número de médicos e administradores hospitalares brasileiros ter tido acesso a viagens de

estudos e cursos de pós-graduação em universidades americanas teve grande influencia

nessa mudança, como aponta Costa (2011):

“No começo do século XX, o sistema monobloco, criado nos EUA, atraía

cada vez mais planejadores hospitalares e parecia ser a resposta a uma

modernidade mais própria ao novo século. (...) Ernesto de Sousa Campos

(1882-1970), médico, engenheiro, autor de diversos projetos hospitalares no

Brasil e ministro da Saúde em 1946, foi um dos maiores defensores do

modelo monobloco. Chamado para supervisionar a elaboração de um novo

projeto para o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São

Paulo, Sousa Campos percorreu diversos hospitais, durante viagem de seis

meses pelos EUA e Europa em 1925, com o intuito de transformar a

proposta inicial, defendida por Ramos de Azevedo – pavilhonar e de feições

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neogóticas –, em outra que contemplasse a nova orientação formal que

chegava ao Brasil por meio da atuação da Fundação Rockefeller” (COSTA,

2011, p. 60).

Na coluna 2 do quadro 1, aponta-se o sistema construtivo destes prédios, enfatizando o

emprego das premissas da verdade estrutural preconizada entre outros por Le Corbusier e,

a partir das reflexões e discussões sobre a importância da funcionalidade, o emprego de

sistemas modulares, a construção sobre pilotis, possibilitando o descolamento das

estruturas do solo e a permeabilidade e relação com os espaços da cidade no pavimento

térreo. Isso irá permitir, ainda, a liberdade no estabelecimento da locação das alvenarias,

atendendo de maneira mais adequada aos diversos programas de saúde, liberando os

ambientes do lançamento estrutural e possibilitando a abertura livre das esquadrias,

inundando os ambientes de luz e aeração.

As observações a respeito da verticalização são enfatizadas quando se aponta o número de

pavimentos de cada hospital estudado, na coluna 3. De qualquer forma observa-se que se

tratam apenas de tentativas de otimizar a ocupação dos terrenos, já inseridos em plena

malha urbana e apresentando área relativamente limitada para o atendimento dos

programas arquitetônicos necessários para suprir a demanda por serviços hospitalares. No

entanto, as maiores alturas projetadas para estes prédios não ultrapassavam, na maioria

dos casos, dez a quinze pavimentos, o que caracterizava certo distanciamento com os

hospitais norte-americanos de grande número de andares, característica marcante da

acelerada conformação das cidades do pós-guerra nos EUA, como apontam Gisele

Sanglard e Renato Gama-Rosa Costa:

“A única indicação do surgimento de uma tipologia nos Estados Unidos é a

do bloco vertical. Foi nesse país que surgiram os hospitais em blocos acima

de cinco pavimentos. Enquanto na Europa os pavilhões hospitalares não

podiam passar de dois pavimentos, nos Estados Unidos os prédios atingiam

a impressionante altura de 20 andares, verdadeiros arranha-céus. a

estrutura pavilhonar que dominou a arquitetura hospitalar ao longo do

século XIX cuja principal característica era a preocupação com o contágio,

percebido na separação dos serviços e na aeração dos pavilhões e a

arquitetura em monobloco, que começou a predominar a partir do entre

guerras”. (SANGLARD e COSTA, 2004).

A coluna 4 aponta as diversas soluções usadas pelos arquitetos ao implantar as circulações

verticais nos projetos estudados. Sem dúvida, observa-se a adoção de torres e volumes que

organizam os fluxos entre os pavimentos e refletem uma abordagem estética característica

da arquitetura moderna brasileira. Encontra-se a ênfase nas soluções de volumetria externa,

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para escadas e elevadores, em relação aos blocos que abrigam os serviços hospitalares,

como que a explicitar a função e a racionalização dos fluxos. O uso de rampas em Artigas-

no Hospital São Lucas e a coluna vertical para escadas e elevadores em Niemeyer- no

Hospital Sul América são exemplos destas soluções.

Ressaltam-se, também, as decisões projetuais nos diversos modelos de embasamento dos

hospitais modernos. A opção de implantar um bloco vertical, com as unidades de internação

distribuídas em seus pavimentos, sobre um bloco horizontal de embasamento, de um ou

dois pavimentos, com os serviços de ambulatório, apoio técnico e logístico e a

administração, fazia parte de recomendação para a organização dos prédios de atenção à

saúde, caracterizando uma tipologia em voga na arquitetura de hospitais modernos,

chamada de “bloco e torre” ou “torre simples” ou “torre sobre pódio”, como abaixo:

“A partir da segunda metade do século XX, com o desenvolvimento

tecnológico gerado no pós-guerra, há o desdobramento do edifício para a

tipologia mista de bloco-torre. Nela o bloco vertical, com unidades de

internação e centro cirúrgico, apoia-se sobre um bloco horizontal onde se

localizam os serviços de diagnóstico e de apoio bem mais estruturados e

complexos” (ALMEIDA apud MENDES, 2007, p.61).

Finalizando os apontamentos consolidados no Quadro 1, optou-se por ressaltar as questões

relativas à orientação dos blocos prediais, especialmente os destinados a abrigar as

internações, assim como os cuidados nas escolhas para as implantações nos terrenos

apresentados, nas duas colunas finais.

Ressalta-se o apreço pela orientação ideal dos blocos de internação, que caracterizou uma

das questões mais estudadas pelos arquitetos modernos, traduzindo a preocupação com os

meios de garantir o conforto aos pacientes e usuários. Por outro lado, é comum observar-se

nestes projetos o emprego de brises, cobogós e painéis, onde se encontra a orientação

mais desfavorável, bem como a procura de vistas panorâmicas, aberturas para jardins e

presença do sol da manhã nos quartos e enfermarias. Estes cuidados fazem parte da

caracterização das formas e volumes arquitetônicos estudados, enfatizando a excelência

destes arquitetos e uma grande qualidade na arquitetura hospitalar. Como exemplo dessa

preocupação, não é por acaso que os edifícios da Cidade Universitária da atual UFRJ

fossem alvo de minuciosos estudos quanto à orientação.

“(...) os estudos de Paulo Sá para a orientação dos edifícios da Cidade

Universitária do Rio de Janeiro, marcaram o início da relevância científica

do assunto conforto ambiental nos edifícios da saúde no Brasil. O estudo

contemplava a quantidade de energia luminosa, a quantidade de energia

térmica, e a quantidade de energia ultravioleta recebidas pelo edifício além

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dos ventos predominantes no local da cidade. Depois examinou

especificamente o caso do hospital.” (SÁ, 1948, apud MASCARELLO,

2005).

Com diversas dimensões e topografias, mas já definitivamente inseridos na malha urbana,

os projetos apresentados exigem soluções as mais engenhosas para que sejam capazes de

atender a todas as exigências dos complexos programas de atendimento à saúde, com o

uso de rampas, a criação de edículas e anexos e, algumas vezes, de subsolos para abrigar

ambientes de apoio logístico destas instituições.

Encontra-se no livro da Divisão de Organização Hospitalar, do Departamento Nacional de

Saúde, Ministério da Saúde (1944), diretrizes em relação aos projetos hospitalares. Entre

outras, o Dr. Teóphilo de Almeida discorre sobre a escolha do terreno como uma questão a

ser tratada com merecido cuidado, de cujo acerto dependerá a adequação dos serviços

hospitalares.

“A escolha do terreno é de máximo valor, e uma falha neste particular ou

uma topografia inconveniente, inutilizarão ou prejudicarão totalmente a

futura instituição. Entre os requisitos aconselhados se apontam:

urbanização indicada, área suficiente para ampliações futuras, local

aprazível, saudável, de fácil acesso e de articulação favorável, sem

perturbações de ruído, de poeiras, fumaça e gases nocivos, de mosquitos e

outros insetos, enfim, que não tenha qualquer proximidade indesejável ou

inconveniente” (BRASIL, 1965. p.343).

Apresentamos, a seguir, o Quadro Resumo 1 com as características que mencionamos,

como um esboço para a documentação de hospitais modernos brasileiros. Ressalte-se que

o intervalo de tempo em foco (1940 a 1960) representa o período em que a moderna

arquitetura se consolidou e foi aplicada nas instituições de saúde, com todas as suas

peculiaridades, qualificando os prédios hospitalares.

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Quadro 1- Características da Arquitetura Moderna

HOSPITAL TIPOLOGIA FORMAL SISTEMA CONSTRUTIVO Nº DE PAVIMENTOS CIRCULAÇÃO

VERTICAL EMBASAMENTO ORIENTAÇÃO LOCALIZAÇÃO

HOSPITAL SÃO LUCAS

CURITIBA (1945),

VILANOVA ARTIGAS

Bloco vertical. sobre

embasamento

horizontal.

Estrutura livre, janelas

em fita e blocos ligados

por rampas. Bloco sobre

pilotis.

Bloco vertical com 4

pavtos e Anexo com 2

pavtos.

Rampas interligam os

Blocos, e delimitam

um pátio interno.

Bloco sobre pilotis de

seção circular. Anexo

com 2 pavtos.

Quartos voltados para

o norte, para garantir a

insolação. Empenas

laterais cegas.

Lote urbano alto, de

esquina. Blocos isolados

em meio-níveis.

Topografia irregular.

HOSPITAL FEMINA

PORTO ALEGRE (1955)

IRINEU BREITMAN

Bloco Vertical

(Monobloco).

Base, corpo principal e

ático. Estrutura

independente, janelas

em fita. Modulo 7,20 m.

10 pavimentos em

bloco vertical. Pavto.

semienterrado.

Interna. Tem escada

unindo pavto. térreo e

2º pavto.

Base sobre pilotis, e

envidraçada. Terraço

ajardinado no térreo.

Norte-Sul. As fachadas

Leste- Oeste tem

empenas cegas. Brises

na fachada norte.

Lote urbano c om

ocupação integral.

Topografia irregular.

HOSPITAL DAS CLÍNICAS

PORTO ALEGRE (1955),

JORGE MOREIRA

Bloco vertical e 2

blocos horizontais .

Anexo p/ auditório.

Estrutura livre, janelas

em fita.

Bloco vertical de 13

pavtos. e 2 blocos

horizontais paralelos.

Escadas em 2 torres

anexas, junto ao

edifício. Rampas entre

anexos.

Bloco principal e um

dos anexos sobre

pilotis.

Leste- Oeste. Empenas

laterais cegas.

Terreno urbano com

ocupação integral.

HOSPITAL DOS

MARÍTIMOS RIO DE

JANEIRO (1955)

FIRMINO SALDANHA

Bloco Vertical

(Monobloco).

Estrutura independente,

janelas em fita.

Modulação.

10 pavimentos em

bloco vertical. O anexo

de 3 pavtos. é

posterior à sua

inauguração.

Em bloco vertical

separado do bloco

principal.

Bloco principal sobre

pilotis.

Leste- Oeste. Empenas

laterais cegas. Janelas

das Enfermarias com

venezianas.

Terreno urbano, alto.

Topografia irregular.

Rampa para acessar o

pátio da entrada.

HOSPITAL PÉROLA

BYINGTON SÃO PAULO

(1958), (HOSPITAL DA

CRUZADA PRÓ-INFÂNCIA)

RINO LEVI.

Bloco Vertical (bloco e

torre) 12 pavs. e 2

pavimentos na base

horizontal. Anexo.

Estrutura independente,

em concreto, lajes

nervuradas. Janelas em

fita. Módulo de 1,20 m.

15 pavimentos sendo

2 pavtos. Subsolos.

Ambulatório no térreo

e 2º pavto da base.

Três elevadores

internos no bloco

principal. Rampas

acessam o subsolo.

Bloco vertical sobre

pilotis. Bloco inferior,

horizontal para

Ambulatório.

Leste- Oeste. Empenas

laterais cegas. Brises

em certas janelas da

fachada norte.

Terreno urbano. Declive

em direção aos fundos

do terreno.

HOSPITAL SUL AMÉRICA

RIO DE JANEIRO (1959),

OSCAR NIEMEYER.

Bloco Vertical

(Monobloco) com 10

pavtos. sobre pilotis.

Bloco sobre pilotis,

modulação, janelas em

fita, estrutura concreto.

10 pavtos e subsolo.

Anexo curvilíneo.

Externa ao corpo

principal. Rampa liga o

bloco principal ao

anexo.

Pilares em “V” e pavto.

subsolo para cozinha e

serviços gerais.

Nordeste-Noroeste.

Empenas laterais cegas.

cobogós e brises na

fachada noroeste.

Centro de terreno

urbano, com jardins e

Anexo.

Fonte- Elaborado pela autora, 2015.

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Quadro Resumo 2- Características da Arquitetura Hospitalar

O Quadro 2 indica a abordagem do atendimento médico da época estudada e de como a

arquitetura moderna foi propícia ao atendimento dos diversos programas hospitalares,

discutidos, de maneira pioneira, no primeiro curso de arquitetura hospitalar, promovido pelos

arquitetos Rino Levi e Jarbas Karman, em 1953, no IAB de São Paulo. O curso em tela

originou uma publicação- Planejamento de Hospitais- em 1954, que se trata da compilação

das palestras e aulas dadas.

Logo depois, no ano de 1954, Karman fundou o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e de

Pesquisas Hospitalares- o IPH- mantenedor da primeira faculdade de Administração

Hospitalar da América Latina, onde foi diretor e titular da cadeira de Arquitetura Hospitalar.

Rino Levi, especialista em projetos complexos, como industriais e hospitalares, desenvolveu

profundos estudos sobre fluxo e setorização. Era característico deste profissional estudar os

programas de necessidades e os condicionantes minuciosamente para lançar seus projetos

e detalhá-los convenientemente.

Inicia-se o Quadro 2 com a definição da tipologia hospitalar que abriga as especificidades de

tais estruturas como, além dos hospitais gerais, os exemplos de hospitais dedicados ao

atendimento de público mais específico. Segue esta classificação, o porte da instituição

delineando, por meio do número de leitos, das necessidades de tamanho e da complexidade

para o atendimento ao número desejado de pacientes. Demonstra, ainda, a implantação do

setor de Internação e sua localização em relação aos demais setores.

Segue-se a menção às características projetuais que localizam os diversos setores de

atendimento de maneira estratégica em relação ao todo edificado, no intuito de estabelecer

algumas facilidades e peculiaridades na implantação de serviços hospitalares e seus fluxos.

Estas questões são também assinaladas nas colunas seguintes, analisando a locação dos

apoios técnico e logístico e a eventual opção pela construção de edículas e blocos anexos

para abrigar serviços específicos de suporte ao hospital.

Finaliza-se o quadro em questão, ressaltando as características do entorno, não só como se

aponta no quadro anterior, mas sinalizando a oferta de espaços para ampliações ou para a

inclusão de jardins terapêuticos e de áreas de relaxamento e contemplação, já buscadas

nos projetos modernos e usadas até o momento atual, incorporadas aos espaços de

atenção à saúde.

Apresentamos, a seguir, o Quadro Resumo 2, com os itens mencionados acima.

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Quadro 2- Características da Arquitetura Hospitalar

HOSPITAL TIPOLOGIA INTERNAÇÃO, Nº LEITOS

CARACTERÍSTICAS HOSPITALARES

APOIO TÉCNICO APOIO LOGÍSTICO ANEXOS IMPLANTAÇÃO

HOSPITAL SÃO LUCAS

CURITIBA (1945),

VILANOVA ARTIGAS Hospital Geral

Informação não encontrada.

Bloco do C. Cirúrgico separado do bloco de Enfermarias, ligados por rampas.

Junto aos pavtos. de Internação e no bloco anexo.

No pavimento térreo. O anexo abriga o Centro Cirúrgico.

Terreno urbano, totalmente ocupado. Topografia irregular. Jardins.

HOSPITAL FEMINA

PORTO ALEGRE (1955)

IRINEU BREITMAN

Hospital especializado em doenças da mulher.

Internação nos pavtos. 4, 5 e 6, Enfermarias c/3 leitos cada. 220 leitos, 1944.

C. Cirúrgico no 8º pavto. Maternidade e Berçário.

Postos de Enfermagem na parte central dos pavtos. de Internação

Em pavimento semienterrado. Reservatórios na cobertura.

Não há. Não foi construído apesar de existir no projeto original.

Terreno totalmente ocupado. Topografia irregular. Jardim no térreo.

HOSPITAL DAS CLÍNICAS

PORTO ALEGRE (1955),

JORGE MOREIRA Hospital Universitário.

Atualmente tem 843 leitos

Ambulatório no térreo do bloco principal e sua periferia.

Em todo o hospital. Postos de Enfermagem junto à Internação.

No bloco anexo com lavanderia, oficinas, almoxarifado, alojamento, garagem.

Um sobre pilotis para estacionamento. Outro sobre o solo. Ligados por rampas. Anexo p/ auditório.

Terreno totalmente ocupado. Jardins entre os blocos prediais.

HOSPITAL DOS

MARÍTIMOS RIO DE

JANEIRO (1955)

FIRMINO SALDANHA

Hospital Geral Projeto p/450 leitos em 1955

C. Cirúrgico e Central de Material no alto.

No pavto. térreo. Postos de Enfermagem junto às Enfermarias.

Cozinha, Serviços gerais, subestação, gases e caldeiras no pavto. térreo.

Tem anexo para Ambulatório. Tem prédios vizinhos incorporados para Laboratório e Imagem

Terreno urbano totalmente ocupado. Topografia irregular.

HOSPITAL PÉROLA

BYINGTON SÃO PAULO

(1958), (HOSPITAL DA

CRUZADA PRÓ-INFÂNCIA)

RINO LEVI.

Hospital especializado em doenças da mulher e da criança

107 leitos maternidade e 159 infantis. Total- 266 leitos (220 leitos, 1944). Em sete pavtos. (4 p/ maternidade e 3 p/ pediatria).

C. Cirúrgico no alto do bloco vertical. Pavtos. de Maternidade separados dos pavtos. Pediátricos.

Junto às Enfermarias e nos subsolos.

Nos pavtos. do Subsolo e no Térreo.

Anexo para a Residência de Médicos e Enfermagem.

Terreno totalmente ocupado. Declive para os fundos do terreno. Parque infantil no pavto. térreo.

HOSPITAL SUL AMÉRICA

RIO DE JANEIRO (1959),

OSCAR NIEMEYER. Hospital Geral

Projeto p/ 200 leitos, em 1952. Voltada para sudeste com vista panorâmica.

Centro Cirúrgico no alto. Anexo p/ Biblioteca e Centro de Estudos.

Serviços voltados para noroeste em frente às Enfermarias.

Não tem reservatório superior. Demais serviços no térreo, subsolo e cobertura.

Centro de Estudos no lugar original da capela, no Anexo.

Centro de terreno, circulações externas, jardins de Burle Marx, painéis de Athos Bulcão..

Fonte- Elaborado pela autora, 2015.

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Considerações Finais

Os exemplos apresentados enfatizam os conceitos da moderna arquitetura brasileira para a

concepção dos projetos hospitalares conformando instituições capazes de abrigar os

padrões mais avançados da tecnologia médica e da assistência à saúde, no período

estudado, como convinha às demandas da época. Cabe observar que esta arquitetura foi

capaz de absorver novas tecnologias ao longo do tempo, compatibilizando seus atributos

tipológicos com uma abordagem pioneira de conforto ambiental e humanização, partes

integrantes do projeto moderno.

A par das críticas a respeito do confinamento da arquitetura dos hospitais de tipologia

monobloco, acusada de conceber estruturas fechadas e monolíticas, observa-se, na direção

inversa, a busca da flexibilidade dos edifícios, por meio das plantas desenvolvidas em

sistemas modulares e do sistema construtivo, que libera as divisões dos ambientes das

imposições estruturais da verticalização. Nesse sentido, observa-se a implantação das

estruturas sobre pilotis possibilitando novas circulações e perspectivas visuais nos lotes.

Observa-se, também, a consolidação do uso de anexos para abrigar serviços de apoio

logístico e o estudo criterioso da localização dos setores, otimizando fluxos e organizando o

atendimento à saúde.

Ao proferir sua palestra, durante o curso de Planejamento de Hospitais (1953), do IAB de

São Paulo, indagado sobre o que é um hospital moderno, o Dr. Félix Lamela, nos deixa a

seguinte observação:

“São os estudos econômicos, os inquéritos sobre a vida íntima de cada

comunidade, sua arquitetura racional, suas instalações, seus equipamentos,

seu pessoal idôneo (profissional e técnico), sua ideologia, sua marcha

ordenada, sua influência dinâmica no bem estar geral da comunidade, que

fazem o hospital moderno” (Planejamento de Hospitais, 1954, p.65).

Nada parece ser mais atual do que suas palavras. A busca por novos parâmetros estilísticos

e conceituais para embasar os futuros projetos hospitalares deve observar as qualidades e

potencialidades usadas pela arquitetura moderna brasileira e seu legado para a concepção

de estruturas complexas como as de atenção à saúde. Deve, ainda, estabelecer o uso de

elementos projetuais que, a exemplo dos hospitais modernos, possam resistir ao impacto da

atualização da tecnologia médica, conservando sua integridade projetual ao longo do tempo

de uso.

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