estudo de caso clínico

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Page 1: Estudo de caso clínico

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INSTITUTO CONSCIÊNCIA GO

FACULDADE DELTA

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO CLÍNICO: Hiperatividade e redução de idade cognitiva – Um Estudo do Caso de J.V.C da Silva.

CARLOS ALBERTO P. FILHO

LEIDIANE ADRIANA DE MENDONÇA

MARINA ALVES PIRES

JORDANA SANTIAGO DE OLIVEIRA

GOIÂNIA-GOIÁS

2013

Page 2: Estudo de caso clínico

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CARLOS ALBERTO P. FILHO

LEIDIANE ADRIANA DE MENDONÇA

MARINA ALVES PIRES

JORDANA SANTIAGO DE OLIVEIRA

DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO CLÍNICO: Hiperatividade e redução de idade cognitiva – Um Estudo do Caso de J.V.C da Silva.

Trabalho de conclusão de curso apresentado

ao Instituto Consciência GO como requisito

avaliativo para a obtenção do título de

Psicopedagogo Clínico e Institucional.

Orientadora: Prof.ª Andrea Macedo

GOIÂNIA-GOIÁS

2013

Page 3: Estudo de caso clínico

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CARLOS ALBERTO P. FILHO

LEIDIANE ADRIANA DE MENDONÇA

MARINA ALVES PIRES

JORDANA SANTIAGO DE OLIVEIRA

DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO CLÍNICO:

Hiperatividade e redução de idade cognitiva – Um Estudo do Caso de J.V.C da Silva.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de

Especialização em Psicopedagogia Institucional e Clínica da Faculdade Delta e

Instituto Consciência GO, como parte dos requisitos para conclusão do curso.

BANCA DE APROVAÇÃO

Prof.ª Esp. Andreia Macedo Professora Orientadora

Membro Titular da Banca de Aprovação

__________________________________________________________________ Prof.ª Ms. Sandra Isabel Chaves

Coordenadora do Curso Membro Titular da Banca de Aprovação

Data: ______/______/_______.

Resultado:________________.

Page 4: Estudo de caso clínico

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SUMÁRIO

Resumo ......................................................................................................................4

1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................................5

1.1 O Que é Psicopedagogia................................................................................5

1.2 A atuação do Psicopedagogo Clínico...........................................................5

1.3 A importância do diagnóstico Psicopedagógico Clínico............................6

1.4 Processos de investigação diagnóstica clínica...........................................8

2 CARACTERIZAÇÃO GERAL..........................................................................9

2.1 Relato e discussão do caso...............................................................................9

3 SINTESE DO DIAGNÓSTICO.........................................................................14

3.1 Recomendações e encaminhamentos.............................................................14 3..2 A criança............................................................................................................15 3.3 A família..............................................................................................................16

3.4 A escola..............................................................................................................16

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................17

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................19

Page 5: Estudo de caso clínico

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RESUMO

A preocupação com o futuro da instituição escolar, com realce para as práticas educativas relacionadas ao sujeito, constitui um tema de indiscutível relevância, no âmbito educacional global. Destarte, este trabalho apresenta um estudo de caso relacionado à dificuldade de aprendizagem com diagnósticos fundamentados a síndrome de hiperatividade e déficit de atenção com redução de idade cognitiva. O caso estudado procede da região nordeste da cidade de Goiânia, o mesmo desenvolve suas atividades acadêmicas em uma escola da mesma região, considerada de poder aquisitivo baixo. No entanto possui um apoio incondicional de sua família e indiscutivelmente de sua progenitora, que até o presente momento não mediu esforços ao tentar solucionar as dificuldades de sua filha. Nesse sentido com base em um breve resgate conceitual elucidado neste trabalho, a psicopedagogia constitui uma área que procura solucionar os problemas de aprendizagem. Ela ainda é considerada como uma área nova, que trabalha com a saúde mental do aprendente de maneira objetiva e clara, tentando ajudá-lo a encontrar a sua própria inteligência. Muitas vezes se apresenta como uma ciência pouco compreendida, e outras vezes mal dimensionada, quer seja pela complexidade dos parâmetros observados, pelo desconhecimento da dinâmica psicopedagógica e das dimensões do aprendizado e de áreas onde tal processo ocorre. Contudo, pretende-se nesse trabalho, por meio de um estudo de caso, exemplificar a função de um psicopedagogo e a importância de seus diagnósticos, incluindo suas dimensões de analises e caracterizações, e como essa ciência se faz necessária em um mundo cada vez mais globalizado. Palavras-Chave: Psicopedagogia; Educação; Aprendizagem; Escola; Educando;

ABSTRACT The concern about the future of the school, with emphasis on educational practices related to the subject, is a matter of indisputable relevance within global education. Thus, this study presents a case related to difficulty of learning diagnoses based syndrome and attention deficit hyperactivity disorder with reduced cognitive age. The case studied comes from the northeastern city of Goiânia, it develops its academic activities in a school in the same region, considered low purchasing power. However has an unconditional support of his family, who until now did not measure efforts to try to resolve the difficulties of his daughter. Accordingly based on a brief conceptual elucidated in this rescue work, educational psychology is a field that tries to solve the problems of learning. It is still considered as a new area, working with the mental health of the learner in an objective and clear way trying to help him find his own intelligence. Often presents as a poorly understood science, and sometimes poorly scaled, either by the complexity of the observed parameters, the lack of pedagogical dynamics and dimensions of learning and areas where this process occurs. However, it is intended that work through a case study to exemplify the role of a psychopedagogists and the importance of their diagnoses, including its dimensions of analysis and characterizations, and how that science is necessary in an ever more globalized world . Key-Words: Educational Psychology; Education; Learning; School; Schooling;

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FUNDAMENTAÇÃO TEORICA 1.1 O Que é Psicopedagogia

Antes mesmo de entrarmos em uma definição direta a cerca do que seria a

psicopedagogia, não poderíamos deixar de lado a questão epistemológica em

questão, ou seja, o que no caso antecede a ação.

Nesse sentido encontramos dois caminhos, sendo um pela abordagem

interventiva e o outro pela abordagem preventiva. Assim segundo Porto (2005), a

psicopedagogia se constitui como área de prestação de serviços, se constituindo

uma área de estudos nova, voltada para o atendimento de sujeitos que apresentam

problemas de aprendizagem.

Em aspectos gerais, pode-se concluir que a psicopedagogia é a área que cuida

de uma reelaboração do processo de aprendizagem propiciando a construção do

saber e devolvendo ao sujeito o prazer em aprender, resgatando sua autonomia por

meio de um trabalho individual específico e de acordo com suas dificuldades.

Assim dirige-se sempre a história do individuo visando sua recuperação, e

identificando os obstáculos no processo de desenvolvimento, ao mesmo tempo em

que não se esquece que existe uma relação de mediação entre o sujeito que

aprende e o sujeito que ensina.

Nesse sentido podemos concluir que o objeto da psicopedagogia segundo

Fernández (2001), não se resume ao conteúdo ensinado ou aprendido ou não

aprendido, mas os posicionamentos ensinantes e aprendentes, e assim a

intersecção problemática (nunca harmônica), mas necessária, entre o conhecer e o

saber.

1.2. A atuação do Psicopedagogo Clínico A atuação do psicopedagogo clínico está no campo da Saúde e da Educação,

que lidam com os problemas de aprendizagem atuando em um trabalho terapêutico

preventivo e reparador.

Segundo BOSSA (2000, p. 21), a Psicopedagogia se ocupa da aprendizagem

humana que sucedeu de uma demanda, que não era englobada por outras ciências

como a psicologia e a própria pedagogia, assim evoluindo-se devido à existência de

Page 7: Estudo de caso clínico

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recursos, ainda que elementares, para atender essa demanda, constituindo-se,

assim, em uma prática.

Nesse sentido o psicopedagogo clínico se constitui ao avaliar as condições da

aprendizagem, identificando as áreas de competência e de “insucesso” do

aprendente, pesquisando e conhecendo a etiologia ou patologia desse aprendente

com maior profundidade.

Diante desse pressuposto, para que isso ocorra com nível considerável de

excelência, é essencial o domínio de conhecimentos multidisciplinares por parte

desses profissionais, levando em consideração sua rotina de processos e avaliações

diagnósticas, sendo assim necessário estabelecer e interpretar dados em várias

áreas, como por exemplo: a auditiva, visual, motora, intelectual, cognitiva,

acadêmica e emocional.

O conhecimento dessas áreas possibilita com que o profissional compreenda o

quadro clínico do aprendente, favorecendo sua escolha em uma metodologia

adequada capaz de possibilitar o processo de uma aprendizagem eficaz.

1.3 A importância do diagnóstico Psicopedagógico Clínico

Após compreender a função do psicopedagogo, é inevitável reconhecer a sua

importância e principalmente a importância de um diagnóstico psicopedagógico

eficaz e que atenda de maneira salutar as dificuldades até então detectadas.

Sabe-se hoje que o ser humano, independente de sua idade cronológica é um

ser que aprende, e conforme Gómez e Terán (2009) desde o princípio de sua vida,

ainda como bebê em seu cérebro, trilhões de neurônios estão esperando para serem

conectados, enquanto outras conexões já se realizaram durante a fertilização e

outras com potencialidade infinita aguardam o dia que estarão conectados, seja para

realizarem um cálculo, ou até mesmo escreverem uma poesia.

Nesse contexto, conforme Erik Erikson (1976), em todas as culturas existentes

hoje, as crianças durante a fase dos seis aos doze anos, passam por algum tipo de

processo de ensino-aprendizagem, e em nossa cultura, que em resumo se afirma

como contemporânea e globalizada, a escola seria senão um fator ativo para a

criança na formação de uma imagem de si e de sua autoestima, pois segundo a

teoria do desenvolvimento psicossocial de Erikson, este é o período em que ocorre a

Page 8: Estudo de caso clínico

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crise evolutiva decorrente do desafio da produtividade, ou seja, segundo Lindahl

(1988), é o momento em que a criança quer obter reconhecimento social através de

sua capacidade de se preparar para produzir no mundo adulto. Diante desses aspectos, muitos sujeitos necessitam de um ambiente seguro,

que seja estimulante, onde os erros sejam permitidos e se sintam encorajados a se

arriscarem, por isso o papel da família e da escola é muito importante, garantindo a

construção de um ambiente seguro para a aprendizagem verdadeiramente livre em

detrimento das máscaras que diariamente encontramos nas salas de aulas como

elucida Gómez e Terán (2009), ao destacarem que tais máscaras são empregadas

por muitos para esconderem suas reais dificuldades, sendo desde o desinteresse

aparente até a um mau comportamento, sendo utilizados repetidas vezes como

forma de escapar de suas responsabilidades em quanto alunos e também

construtores.

Contudo sabemos que esse não é o caso que presenciamos no cotidiano de

muitos sujeitos, e é nesse instante que surge a necessidade da viabilização de um

diagnóstico clínico psicopedagógico que seja capaz de investigar a ponto de intervir

com eficiência na intenção de extinguir a utilização de máscaras, a fim de esconder

o verdadeiro potencial desse sujeito.

Dessa maneira, quanto mais rápido a dificuldade for detectada por meio de um

diagnóstico, menos prejuízo o sujeito terá que enfrentar durante o processo. Para

Chamat (2005), é por meio do diagnóstico, que o profissional consegue obter uma

reciclagem e uma determinada tomada de consciência do “sujeito que ensina” e do

“sujeito que aprende”

Assim, segundo Visca (1987), o psicopedagogo se constitui no papel de agente

corretor, devendo priorizar o conhecimento do sujeito, mesmo que para isso por

meio de um diagnóstico, seja necessário o encaminhamento a outro profissional na

composição e finalização da análise.

Nesse sentido, cabe salientar segundo Chamat (2008), que após o devido

diagnóstico cabe somente ao profissional efetuar o planejamento do tratamento ou

intervenção pedagógica necessária para corrigir determinadas dificuldades.

Sendo assim, somente por meio de um diagnóstico clínico preciso, seria

possível começar o tratamento, que sobre tudo deverá ser comunicado a todos

profissionais que acompanham esse sujeito, incluindo seus pais e a escola, na

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tentativa de minimizar e/ou extinguir todos os sintomas, devolvendo-lhe a autonomia

e o prazer na aprendizagem.

1.4 Processos de investigação diagnóstica clínica

Para a elaboração do presente trabalho de conclusão de curso, foi seleciona-

do: Análise do caso da paciente J.V.C. da Silva – 9 anos de idade - que até a pre-

sente data do diagnóstico cursava o terceiro ano do ensino fundamental na rede par-

ticular de ensino, turno vespertino, indicada para submeter-se à Avaliação psicope-

dagógica clínica por apresentar de acordo com os pais e a escola as seguintes quei-

xas: Dispersão, dificuldades de memorização, escrita e leitura, compreensão e inter-

pretação, dificuldades de cálculos matemáticos, falta de autonomia para a realização

de tarefas e hiperatividade.

Diante deste panorama, para realizar o Diagnóstico Psicopedagógico foram de

fundamental importância utilização de alguns instrumentos como: entrevista inicial

com os pais, anamnese, entrevista com a criança, entrevista com a professora, hora

do jogo, provas projetivas, provas operatórias, provas pedagógicas e atividades lúdi-

cas.

Assim, após a conclusão e interpretação dos instrumentos citados acima

finalizamos o Diagnóstico com a elaboração do Informe Psicopedagógico, que pos-

teriormente foi apresentado aos pais e a escola, com seus respectivos encaminha-

mentos.

Page 10: Estudo de caso clínico

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CARACTERIZAÇÃO GERAL

2.1 Relato e discussão do caso J.V.C. da Silva é uma criança, do sexo feminino de nove anos de idade que

estuda atualmente na escola da rede particular, situada na região nordeste do

município de Goiânia. Assim J.V.C. da Silva, reside no mesmo bairro onde está

situada a sua escola, juntamente com sua mãe J. M. da Silva de 34 anos, seu pai de

J.C. dos Santos 37 anos e seu irmão J.C. da Silva

de 18 anos; logo, J.V.C da Silva ocupa posição de caçula nesta família.

Iniciou a vida escolar sem maiores problemas de adaptação e sempre

estudou na mesma escola em que a mãe trabalha, apresentando boa adaptação ao

ambiente, porém ao iniciar as atividades escolares em dois mil e doze no terceiro

ano do Ensino fundamental, as dificuldades começam a se intensificar.

Aparentemente faz parte de uma família que se preocupa e está sempre

atenta às questões educacionais, com exceção do pai que não mostra-se tão

preocupado, e não apoia, incentiva e acompanha as ações da mãe, em tentar

solucionar os problemas de aprendizagem de J.V.C da Silva.

O período de avaliação ocorreu a partir do dia oito de outubro de dois mil e

doze, em dez sessões, sendo seis sessões com a criança, três sessões com os pais

(Entrevista inicial, Anamnese e Devolutiva) e uma sessão na escola (Entrevista com

a professora e Devolutiva).

O processo de diagnóstico inicia a partir do relato dos pais, ao se referirem

que a criança é dispersa, apresentando dificuldades para memorizar, escrever,

compreender o que lê, além de possuir dificuldades em matemática e laudo médico

de hiperatividade, não realizando as tarefas sem a supervisão de outra pessoa.

Em seguida, analisou-se também a queixa da escola, onde a professora informou que a aluna possui um comportamento inquieto, conversa com tom muito

alto, apresentando conversas paralelas constantes, só realizando as atividades

quando tem vontade; tem dificuldades em compreender e executar as atividades,

não conseguindo ler fluentemente, trocando letras quando escreve, e com muita difi-

culdade em matemática.

Page 11: Estudo de caso clínico

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Após a queixa, seguiram-se os procedimentos clínicos necessários na busca

de um diagnóstico eficaz, tendo em vista um problema claro e evidente na aprendi-

zagem desse sujeito, e como sabemos a aprendizagem humana acontece no cotidi-

ano, no fazer, observar, repetir o que foi visto, feito ou falado.

Somos seres sociais e aprendemos uns com os outros. À medida que uma

criança cresce em um ambiente sem estímulos, é lógico pensar em uma aprendiza-

gem deficitária, não que esse seja o caso literalmente transposto, mas nos faz refle-

tir. Segundo Vygotsky (1987), o desenvolvimento é resultado de um processo sócio-

histórico, é na troca com outros sujeitos e consigo próprio que se vão internalizando

conhecimentos, papéis e funções sociais.

Por esse motivo desenvolvemos a anamnese, com o intuito de criar um pa-

norama favorável na construção de um laudo clínico claro que favoreça o sujeito. A

anamnese é o ponto principal do diagnóstico psicopedagógico. É através dela que

conhecemos importantes informações sobre o paciente dentro de sua dinâmica fa-

mília e seu histórico de vida. Sendo assim, a entrevista tem o objetivo de servir como

base para as hipóteses geradas guiando na confirmação do diagnóstico.

Diante dessas elucidações recebemos J.M.S., a mãe da paciente, para a rea-

lização da anamnese. Em nenhum momento da entrevista ela resistiu em responder

às perguntas, mostrando-se acessível e tornando a conversa bastante agradável.

Em seus relatos, J.M.S deixa claro que sua gravidez foi planejada, sendo

J.V.C. da Silva uma criança muito bem vinda e esperada por toda a família. A gesta-

ção ocorreu sem maiores problemas, apenas com uma queda aos quatro meses,

mas não utilizou medicação específica. Foi feito o acompanhamento pré-natal ne-

cessário.

J.M.S elucida que o parto foi cesariano e aos oito meses. J.M.S conta que ao

nascer J.V.C. da Silva reagiu bem a todos os estímulos a que foi submetida. Após

seu nascimento a família passou por bom momento emocional, sem muitas

dificuldades financeiras.

Em relação à saúde, a mãe relata que J.V.C. da Silva é saudável. Apresenta

problema oftalmológico, precisando de correção visual em decorrência de sua

miopia e astigmatismo, e com certa frequência apresenta dores de cabeça. J.M.S

apresenta desmaios e convulsões, porém hoje estão bem controlados devido ao uso

de medicamentos.

Page 12: Estudo de caso clínico

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Estudando sobre o desenvolvimento de J.V.C. da Silva, descobrimos que ela

fez uso do leite materno até os dois anos de idade. Após este período, iniciou a

ingestão de papinhas e outros alimentos, e atualmente muitas vezes precisa ser

alimentada obrigatoriamente devido ao uso constante de medicamento - Ritalina.

Durante o sono, J.V.C. da Silva é tranquila devido ao uso de medicamento.

Dorme em seu próprio quarto e apresenta certa resistência quanto a isso, pois

possui o habito de acordar e se dirigir até o quarto dos pais.

Em relação ao seu desenvolvimento motor, J.V.C. da Silva engatinhou e sentou

por volta dos onze meses, iniciando seus passos com um ano e meio. Obteve o

controle total de seus esfíncteres aos três anos de idade e segundo a mãe foi devido

a constante supervisão, utilizando o pinico e indo com ela ao banheiro.

J.V.C. da Silva iniciou a vida escolar na mesma escola que está até a presente

data, e segundo a equipe pedagógica ela sempre apresentou dificuldades, desde a

alfabetização não conseguindo reconhecer letras e os números. De inicio ela sempre

se relacionou muito bem na escola, porém no ultimo ano devido ao uso de

medicação, começou a se distanciar dos colegas.

Para auxiliar as atividades de casa, a mãe contratou um acompanhamento

duas vezes por semana, porém conforme relato da professora, o reforço se tornou

algo mecânico, onde J.V.C. da Silva faz as tarefas de casa, porém sem

compreensão do que está executando.

Em relação ao temperamento e relacionamento, J.M.S a descreveu como

sendo passiva e desligada, muito amorosa e carinhosa, porém quando confrontada e

não aceita, chora, grita e retruca, assim, diante da situação a mãe explica que de

acordo com as regras que são impostas e seguidas pelo pai e irmão mais velho,

dependendo da gravidade da infração cometida uma das punições previstas seria a

agressão física leve.

Por meio dessas analises, observamos que J.V.C da Silva apresenta laudo de

hiperatividade – TDH -, tendo a mãe procurado diversos profissionais de múltiplas

áreas; hoje apresenta um acompanhamento psicológico, neurológico e

fonoaudiólogico constantes por causa de sua dificuldade de aprendizagem,

encaminhados pelo Sistema Único de Saúde - SUS.

Após a sessão e a construção de um panorama amplo de possibilidades, cons-

truímos um roteiro de instrumentos necessários na ajuda e interpretação do proble-

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ma, desta maneira utilizamos: Entrevista inicial com os professores, coordenação,

direção, histórico da Escola, provas projetivas, EOCA, analise de outros laudos, pro-

vas operatórias, provas pedagógicas e avaliação psicomotora.

Diante os instrumentos utilizados acima, percebeu-se que a criança realizou as

atividades propostas, porém se mostrou pouco interessada em se empenhar, não se

envolvia, em alguns momentos dispersava e se recusava a continuar com as ativi-

dades sistematizadas, gostava muito de desenhar, ficava mais a vontade quando

não estava medicada, mas ficava impaciente ao realizar as atividades, mostrando-se

mais agitada.

Verificamos e percebemos que J.V.C da Silva, não possui raciocínio lógico

para realizar atividades, todas as atividades proposta não eram feitas de maneira

correta, cognitivamente falando e quando perguntávamos se estava certo ela res-

pondia que sim.

Assim, verificamos que em síntese, diante do aspecto psicomotor J.V.C da

Silva, apresentou trocas em sua percepção de lateralidade direita/esquerda, mos-

trando-se ainda estar em construção do seu esquema corporal, não compreende e

não memoriza discriminações visuais e auditivas. No entanto apresenta coordena-

ção motora regular.

No aspecto sócio emocional, apresentou-se tímida nos primeiros encontros,

porém muito atenciosa conosco, sempre nos abraçava. Com o tempo percebemos

que era evidente algumas condutas de ansiedade, tendo como prática constante a

observação do ambiente. Prestava mais atenção em nossos gestos do que nas ati-

vidades, sempre ficava de cabeça baixa e não se colocava como sujeito aprendente

apresentando pouca autoestima.

Há sempre alguém/sujeito que é usado pela criança como individuo que apren-

de e sempre que relata alguma história relacionada ao que ela gosta, refere-se à

outra pessoa. Parece ter pouco vínculo com o pai, no desenho da família educativa

ela não se incluiu.

No aspecto cognitivo as provas operatórias mostraram que a criança opera com

uma estrutura de pensamento no estádio Pré Operatório, Intuitivo global, com pouco

domínio das noções de classificação, conservação e seriação, o que interfere na

compreensão e aquisição do conhecimento lógico matemático.

Page 14: Estudo de caso clínico

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Demonstrou dificuldades: na organização e sequência de ideias; na manuten-

ção da atenção, concentração e memória de curta e longa duração.

No aspecto pedagógico, e mais preciso o conhecimento lógico matemático,

J.V.C da Silva apresenta dificuldade para entender situações problemas, sempre

repete a sequência dos números, consegue somar, mas não compreende as outras

operações e os conteúdos estabelecidos pelas atividades de lógica.

Na linguagem espontânea apresenta timidez ao falar, suas respostas sempre

são fechadas sim/não, não é perceptível a troca ou emissão de fonemas.

Na linguagem oral realiza leitura de forma silábica e lenta, não expressa sentido

na leitura, troca ou acrescenta letras, pula linhas, não tem percepção dos fatos que

ocorrem na história, tem dificuldades em interpretar em recontar.

Na linguagem escrita encontra-se em nível alfabético, com falhas na relação

letra/som. Comete trocas, omissões e acréscimos de letras e sílabas; realiza

separação indevida de palavras por outras e confunde letras de formas parecidas.

Apresenta pouca habilidade na produção textual, não usa sinais de pontuação e

acentuação de palavras. Na elaboração de narrativas, apresenta dificuldade em

estabelecer ligação e coerência entre a sequência de fatos relatados.

Com relação ao material escolar, percebemos muita organização e cuidados de

higiene e conservação. Existem tarefas incompletas, na escrita há trocas nas letras,

à professora sempre auxilia com recados de motivação, apresenta dificuldades na

relação letra/som, com acréscimos de letras, não tem separação de sílabas.

J.V.C da Silva mostrou-se uma criança pouca estimulada e cobrada, por isso

tem desmotivação, e esconde-se por de trás de sua dificuldade de aprendizagem,

tendo a certeza de sua incapacidade em não aprender, assim realiza somente as

atividades que considera fácil e que lhe interessam, estando medicada ou não.

As suas dificuldades de aprendizagem podem ser decorrentes de caráter cog-

nitivo e afetivo. Há imaturidade no seu desenvolvimento trazendo defasagem na sua

aprendizagem escolar. Apresentou alterações na fala em relação à leitura, não con-

versava muito, é muito fechada. Ela apresenta estar em uma idade cognitiva de cin-

co anos, sendo que tem nove anos, devido a isso a dificuldade em aprender conteú-

dos do terceiro ano do ensino fundamental. Não apresenta sequência lógica de fa-

tos, se vê totalmente perdida em situações que exigem conhecimento abstrato, ou

interpretação.

Page 15: Estudo de caso clínico

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SINTESE DO DIAGNÓSTICO

3.1 Recomendações e encaminhamentos J.V.C da Silva apresenta laudo neurológico de TDH (Transtorno Déficit de

Hiperatividade) e com os testes realizados podemos concluir que J.V.C da Silva

possui também TDA/H (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade).

Desta maneira, J.V.C da Silva, apresenta algumas características estudadas

diante de um curso clinico das chamadas dificuldades de aprendizagem de acordo

com Arnold (1992). O autor relata que, uma vez observado o problema, a criança

começa a experimentar frustração, desencorajamento, fracasso, implicância e isola-

mento, praticamente os mesmos sintomas vivenciados por J.V.C da Silva.

Diante desse quadro, para Arnold (1992) esses comportamentos trazem pro-

blemas emocionais secundários, tais como a depressão e em alguns casos, há uma

reação de evitação - rejeição do conteúdo escolar.

Assim, crianças com TDA/H, podem apresentar dificuldades motoras e na sua

psicomotricidade, afetando também a sua lateralidade. No cognitivo, podem apre-

sentar um pensamento irreflexivo, impulsivo, desorganizado, ausência de raciocínio

lógico.

Segundo Gómez e Terán (2009), existem comportamentos observados que

podem caracterizar o transtorno de atenção por hiperatividade: Fracasso ao prestar

atenção aos detalhes, cometer erros antes explicados por descuido, evita tarefas

que exigem certo esforço mental para concluí-la, distrai facilmente durante as ativi-

dades, levanta-se muito em situações que deva permanecer sentada, fala excessi-

vamente.

Estudos revelam que a hiperatividade em meninas se expressa diferente nos

meninos. As meninas são menos rebeldes e sua hiperatividade se expressa pela

fala e ação. Apresentando em muitos casos a ansiedade, depressão e instabilidade

emocional.

Pode-se ter um TDA/H mais hiperativo como acontece mais em sexo mascu-

lino e TDAH desatento que aparece mais em sexo feminino, o que tem mais chan-

ces de estar ligado ás dificuldades da aprendizagem do que os demais.

Page 16: Estudo de caso clínico

15

Nos testes realizados com a J. V. C. da Silva obtivemos resultado positivo a

esse embasamento teórico sobre TDH/A, mostrando-se uma criança muito desaten-

ta o que ocasiona as dificuldades de aprendizagem que ela possui.

Como mencionado anteriormente, descobrimos nos testes que no aspecto

cognitivo ela se encontra no estagio pré-operatório intuitivo global, com idade cogni-

tiva de 4/5 anos sendo que tem 9 anos, devido a isso a dificuldade em aprender con-

teúdos do 3º ano.

A paciente possui laudo neurológico e por meio dos testes realizados durante

as consultas, evidenciamos certa ansiedade, baixa estima e intolerância à aprendi-

zagem.

Nesse sentido perante uma análise do diagnóstico apresentado acima,

ressaltamos que as estruturas cognitivas, seja de J.V.C da Silva ou qualquer outro

sujeito devem ser respeitadas.

Não se deve dizer que J.V.C da Silva possui alguma deficiência, já que para

Fonseca (1995), a criança com dificuldade de aprendizagem não deve ser

“classificada” como deficiente.

Trata-se de uma criança normal que aprende de uma forma diferente, a qual

não apresenta um potencial atual esperado pelo educador, mas que por meio de um

assessoramento, pode com tranquilidade superar suas dificuldades.

3.2. A criança Aconselhamos o trabalhar através do uso de material concreto, histórias,

fichas, objetos, gravuras, recortes, jogos de memória, ordenar e narrar fatos

exercitando a oralidade. Fazer acompanhamento psicopedagógico, pois por meio

desse acompanhamento poderemos dar continuidade às investigações necessárias

acerca da hipótese levantada. Realizar outra avaliação neuropsicológica para

conferir o TDAH e TDH e imaturidade cognitiva detectada no laudo anterior, além de

um acompanhamento psicológico, para trabalhar as questões emocionais, aspectos

de inferioridade apresentados no decorrer do processo.

Page 17: Estudo de caso clínico

16

3.3. A família A criança requer mais atenção por parte do pai e acompanhamento de todos os

entes próximos em seu desenvolvimento. Assim o desenvolvimento de suas

habilidades, por meio de estímulos, poderá ser mais facilmente destacadas. A família

deve ser constantemente presente para um melhor desenvolvimento da criança. É o

que Fernández (2001), nos diz, quando destaca a importância da família, e sua

responsabilidade diante do processo de aprendizagem da criança, já que os pais são

os primeiros educadores e os mesmos determinam algumas modalidades de

aprendizagem dos filhos. Orientamos também sobre o estimulo do pensamento lógico, incentivando a

família a ter uma rotina de leitura, indicamos jogos, filmes que possam desenvolver e

estimular o cognitivo da criança.

Encaminhamos a mãe para o tratamento psicológico, já que a mesma possui a

característica de acumulo de obrigações e se apresenta sobrecarregada, tanto

emocionalmente quanto por tarefas diárias no trabalho e dentro do contexto familiar.

3.4 A escola Os resultados obtidos durante cada etapa do Diagnóstico Psicopedagógico

possibilitou-nos a compreensão da escola com o meio, com as outras pessoas e

com ela mesma.

Assim, espera-se que a escola possa estimular o seu desenvolvimento

cognitivo e linguístico, o desenvolvimento psicomotor de seu esquema corporal, a

lateralidade (professor de educação física), lembrando que o exercício da autonomia

é essencial nesse processo. Adaptar os conteúdos de acordo com a sua realidade,

além de ensinar as atividades também em grupo para que ela aprenda a socializar

melhor, aumentando a sua relação com os colegas.

Page 18: Estudo de caso clínico

17

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante a realização do estágio clínico e diante das experiências vivenciadas

em sala de aula, percebemos que atualmente, um dos maiores desafios enfrentados

pela escola de um modo geral, é o processo de integração, que se consolida quando

ocorre conjuntamente com o processo de socialização dos sujeitos considerados

diferentes dos demais. Lembrando que essa socialização ocorre em duas fases:

primaria e consequentemente a secundária.

Segundo Berger e Luckmann (2001), podemos dizer que a socialização

primária possui um valor essencial na vida de um individuo, pois é nesse momento

em que nascem as primeiras marcas e ocorre o desenvolvimento do chamado

primeiro mundo do individuo. Esse processo pode ocorrer em casa e/ou na escola,

de maneira simultânea, pois é o momento em que a criança aprende e interioriza a

linguagem, as regras básicas da sociedade, a moral e os modelos comportamentais

do grupo a que se pertence.

Em seguida ocorre o processo secundário, ou seja, o processo subsequente

que introduz o indivíduo já socializado em novos setores do mundo. É quando ele

consegue se reconhecer como sujeito e a conviver em sociedade.

Dessa maneira, podemos constatar que as dificuldades de aprendizagens são

causadas por questões antagônicas relacionadas ao processo de funcionamento

cerebral, sendo assim, o individuo que possui alguma dificuldade, não pode ser

tratado de maneira diferente, simplesmente por não atender de maneira

convencional as exigências do cotidiano. Pelo contrário, é preciso compreender de

que maneira esse órgão – o cérebro - consegue processar as informações a ele

destinadas, e depois conseguir realizar um trabalho que consiga utilizar o máximo

desse sujeito, respeitando o limite de cada ser.

Nesse sentido percebemos que a psicopedagogia é uma das alternativas

encontradas para desmistificar a visão de que crianças que apresentam certos tipos

de dificuldades são incapazes e preguiçosas. O fato é que seus cérebros trabalham

de maneiras diferentes, mas em nenhum momento podem ser consideradas

incapazes por conta dessa característica.

Diante dessa realidade, podemos dizer que é inevitável uma mudança de

postura enquanto profissionais. Certamente executar esse estágio clínico foi uma

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oportunidade de refletir sobre determinadas questões de aprendizagens, dando um

novo sentido as nossas próprias aprendizagens.

A expectativa é de que as intervenções realizadas propiciem sucesso do sujeito

no processo de desenvolvimento da aprendizagem, embora não seja o único

responsável por ele. Assim evidenciamos que a intervenção psicopedagógica almeja

desenvolver o potencial do individuo, bem como ajuda-lo no processo de diminuir ou

até mesmo eliminar os obstáculos e dificuldades postas à aquisição do seu

conhecimento.

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