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0 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI ELIANE CRISTINE LYRA OLIVEIRA VIANA ESTRATÉGIAS DE GESTÃO PARA A QUALIFICAÇÃO DA ATENÇÃO A SAÚDE DO SUS Itajaí (SC) Novembro/2018

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0

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI

ELIANE CRISTINE LYRA OLIVEIRA VIANA

ESTRATÉGIAS DE GESTÃO PARA A QUALIFICAÇÃO DA ATENÇÃO A SAÚDE

DO SUS

Itajaí (SC)

Novembro/2018

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAI

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO - MESTRADO PROFISSIONAL EM

SAÚDE E GESTÃO DO TRABALHO

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: CIÊNCIAS DA SAÚDE E SAÚDE COLETIVA

LINHA DE PESQUISA: EDUCAÇÃO NA SAÚDE E GESTÃO DO TRABALHO NA

PERSPECTIVA INTERDISCIPLINAR

ELIANE CRISTINE LYRA OLIVEIRA VIANA

ESTRATÉGIAS DE GESTÃO PARA A QUALIFICAÇÃO DA ATENÇÃO A SAÚDE

DO SUS

Dissertação submetida à Universidade do Vale do Itajaí como

parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em

Saúde e Gestão do Trabalho.

Orientadora: Profª. Drª. Rita de Cássia Gabrielli Souza Lima.

Itajaí (SC)

Novembro/2018

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Ficha Catalográfica

Bibliotecária Eugenia Berlim Buzzi CRB 14/963

V654e

Viana, Eliane Cristine Lyra Oliveira, 1980- Estratégias de gestão para a qualificação da atenção a saúde do SUS. [Manuscrito] / Eliane Cristine Lyra Oliveira Viana. – Itajaí. SC. 2018.

171 f. ; fig. ; quad. ; mapa Inclui referências bibliograficas: f.147-160 Cópia de computador (Printout(s)). Dissertação submetida à Universidade do Vale do Itajaí como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Saúde e Gestão do Trabalho. “ Orientadora: Profª. Drª. Rita de Cássia Gabrielli Souza Lima.”

1. Gestão em saúde. 2. Educação Permanente. 3. Gestão em Saúde. 4. SUS. I. Universidade do Vale do Itajaí. II. Título.

CDU: 614

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ESTRATÉGIAS DE GESTÃO PARA A QUALIFICAÇÃO DA ATENÇÃO A SAÚDE

DO SUS

ELIANE CRISTINE LYRA OLIVEIRA VIANA

Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Saúde e Gestão

do Trabalho, Área de Concentração Ciências da Saúde e Saúde Coletiva e aprovada em sua

forma final pelo Programa de Pós-Graduação de Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do

Trabalho da Universidade do Vale do Itajaí.

_______________________________________________

Stella Maris Brum Lopes

Doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (2005). Coordenadora do

Programa de Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho

Apresentado perante a Banca Examinadora composta pelos Professores:

______________________________________

Rita de Cássia Gabrielli Souza Lima

Doutora em Saúde Coletiva, UFSC, 2013. Professora do Centro de Ciências da Saúde da

Universidade do Vale do Itajaí, SC.

Presidente orientador

______________________________________

Marco Aurélio da Ros

Doutor em Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, 2000. Professor do Centro de

Ciências da Saúde da Universidade do Vale do Itajaí, SC.

Membro

______________________________________

Marta Verdi

Doutora em Enfermagem, Universidade Federal de Santa Catarina, 2002. Professora do

Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Santa Catarina.

Membro Externo

Itajaí (SC)

14/12//2018.

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Ao meu marido Fábio,

que orou e cuidou de mim e da nossa filha

enquanto eu estudava.

Essa dissertação não teria sido escrita sem você!

Muito obrigada, amo-te!

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, fonte inesgotável de cuidado, graça e amor!

Ao meu esposo Fábio e a Alícia, minha filha, por terem me amado enquanto estive

“distante”!

A minha mãe pela dedicação e entrega não somente por mim, mas também no

cuidado com a minha família. Você é inspiração e exemplo na luta pelos menos favorecidos!

Gratidão eterna pela sua vida!

A toda minha família, que desde a infância estiveram presentes nos melhores e piores

momentos.

Aos amigos (as) mais chegados que irmãos que me sustentaram em oração e

cuidaram da minha filha com tanto carinho! Que o Eterno de pra vocês o dobro da alegria e

alívio que me proporcionaram.

Aos amigos, alunos do Mestrado em Saúde e Gestão do Trabalho da UNIVALI, pelo

companheirismo na caminhada, principalmente a você Mariana Vilela Veiga, pela amizade,

parceria e por me ajudar em tudo! Em tudo!

Aos atuais e ex-professores do Mestrado, especialmente Cutolo, Marcão, Maria da

Glória, Antônia, Stella e Rita. Gratidão por serem apaixonados pelo que fazem - isso é o que

faz de vocês verdadeiros doutores!

A minha orientadora, Rita, que corajosamente me assumiu no meio do caminho e

construiu uma bela estrada!

À Secretaria Municipal de Saúde de Itajaí por me conceder a oportunidade de

realizar essa pesquisa.

Aos colegas e amigos de trabalho das Unidades de Saúde Rio Bonito e Cidade Nova

2, por terem “trabalhado por mim” enquanto estive fora.

A Juliana Wolf, minha gratidão por sua amizade, dedicação e carinho demostrados a

mim pelas madrugadas ao meu lado me ajudando na correção e formatação desse trabalho.

A todos vocês muita obrigada! Essa vitória é nossa!

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É URGENTE pensarmos quais são as possibilidades reais que nós

temos para efetivar o Sistema Único de Saúde hoje no Brasil. O nosso

débito é grande para os desassistidos desse país! Investir no que é

fundamental! Esse é o porquê dessa dissertação!

Não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de

desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade

consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural,

nada deve parecer impossível de mudar. Bertold Brecht

E não vós conformeis com este século, mas transformai-vos pela

renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa,

agradável e perfeita vontade de Deus. Romanos 12:02

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RESUMO

O modelo institucional do SUS é ousado e enfrenta limites federativos para concretizar,

regionalmente, o direito à saúde e fortalecer o controle social. No presente estudo, analiso

duas estratégias de gestão do município Itajaí, SC, na perspectiva de um coletivo intrassetorial

da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e do controle social. É um estudo qualitativo de

caráter exploratório-descritivo. Os dados foram coletados por meio de três técnicas: oficinas,

entrevista semiestruturada e grupo focal. As oficinas foram realizadas com diretores e/ou seus

representantes, supervisores, coordenadores da SMS e com profissionais da atenção básica. A

entrevista semiestruturada foi aplicada com o gestor municipal. O grupo focal foi

desenvolvido com conselheiros de saúde municipais. O estudo sinalizou que o planejamento,

apontado como uma estratégia de gestão, se pautado na defesa do projeto político do SUS,

tem capacidade para produzir mudanças nos processos de trabalho e consequentemente

melhorar os serviços e a qualidade da atenção. Destacou, também, que o planejamento

institucional sofre abalos a cada mudança de governo ou gestor, a chamada “descontinuidade

administrativa”, trazendo prejuízos em níveis técnicos e gerenciais na medida em que pessoas

são substituídas, independente de qualificação ou mérito. Sinalizou, ainda, a necessidade de o

planejamento ser voltado para as necessidades das pessoas. A educação permanente foi

apontada como estratégia fundamental para transformação das práticas em saúde, mas há a

necessidade de nova modelagem para a garantia de ações e serviços do SUS. A atenção básica

foi considerada, pelos participantes, o eixo estratégico principal para a estruturação de um

sistema de saúde municipal resolutivo. Os dados revelaram, ainda, que trabalhadores do SUS

precisam ser estimulados, sugerindo a criação de espaços coletivos para pensar, refletir e

problematizar as práticas cotidianas. Para tanto, sugeriu-se a criação de um espaço/setor

formador dentro da SMS. Ainda que a sustentabilidade do SUS requeira inúmeras frentes de

existência, é preciso que gestores estejam dispostos a desenvolverem estratégias consistentes

com os princípios do SUS.

Palavras–chave: Educação Permanente; Planejamento em Saúde; Gestão em Saúde; SUS.

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ABSTRACT

The institutional model of the SUS (Unified Health System - the national Brazilian healthcare

service) is a bold one, but it comes up against federal limits in its attempts to materialize the

right to health and strengthen social control at regional level. This study introduces an

analysis of two management strategies in the municipality of Itajaí, Santa Catarina, from the

perspective of an inter-sectoral collective team of the Municipal Health Secretariat (SMS) and

social control. It is a qualitative study with exploratory and descriptive approaches. The data

were collected using three techniques: workshops, a semi-structured interview, and a focus

group. The workshops were carried out with directors and/or their agents, supervisors, SMS

coordinators and professionals of the primary healthcare service. The semi-structured

interview was conducted with the municipal manager, and the focus group was developed

with municipal health counselors. The study signaled that the planning – indicated as a

managerial strategy, and when grounded in the defense of the SUS political project - has the

capacity to produce changes in labor processes and consequently, to improve the health

services and the quality of the care provided. It also showed that the institutional planning

suffers setbacks with each change of government or manager, resulting in a so-called

“administrative discontinuity” that causes harm at technical and managerial levels, as people

are replaced, regardless of qualification or merit. It also signaled that planning should be

focused on the needs of people. Continuing education was emphasized as a fundamental

strategy for the transformation of health practices, but a new modelling is needed to guarantee

the continuity of actions and services of the SUS. The study participants considered primary

health care to be the main strategic axis for the structuring of a resolutive municipal health

system. The data also showed that SUS workers need to be stimulated. For this purpose, the

creation of collective spaces was proposed, where workers can think, reflect and investigate

their daily practices. This could be in the form of a training space or sector within the SMS.

Although the sustainability of the SUS requires it to be present on numerous fronts, it is

crucial for the managers to be prepared to develop strategies that are consistent with the SUS

principles.

Key words: Permanent Education; Health Planning; Health Management; SUS.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 – Esquema Geral de Formulação de Políticas do CPPS....................................... 23

FIGURA 2 – Sequência das etapas que constitui o processo de formulação preliminar de

proposições políticas do CPPS................................................................................................. 25

FIGURA 3 – Localização de Itajaí no Estado de Santa Catarina........................................... 94

FIGURA 4 – Proposta de Maguerez..................................................................................... 112

QUADRO 1 – Formulação preliminar de proposições políticas............................................. 27

QUADRO 2 – Leis, normas e decretos na operacionalização do SUS - Evolução

Histórica................................................................................................................................... 60

QUADRO 3 – Fontes de Financiamento do SUS – Evolução Histórica................................. 88

QUADRO 4 – Aspectos demográficos e socioeconômicos da cidade de Itajaí...................... 98

QUADRO 5 – Divisão da estrutura administrativa da Secretaria Municipal de Saúde de

Itajaí....................................................................................................................................... 100

QUADRO 6 – Unidades de atendimento à população e suas localizações geográficas....... 101

QUADRO 7 – Distribuição das Equipes de ESF por área de abrangência........................... 104

QUADRO 8 - Sistematização dos dados............................................................................... 119

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AB Atenção Básica

ADCT Ato das Disposições Constitucionais Transitórias

AIH Autorização de Internação Hospitalar

AIS Ações Integradas de Saúde

APS Atenção Primária a Saúde

CAPs Caixas de Aposentarias e Pensões

CF Constituição Federal

CGRs Colegiados de Gestão Regional

CIB Comissões Intergestores Bipartite

CIMS Comissões Interinstitucionais Municipais de Saúde

CIR Colegiado de Gestão Regional

CIS Comissões Interinstitucionais de Saúde

CIT Comissão Intergestores Tripartite

CNS Conselho Nacional de Saúde

COAP Contrato Organizativo de Ação Pública

CONASEMS Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde

CONASS Conselho Nacional de Secretários de Saúde

CPPS Centro Pan-Americano de Planejamento da Saúde

CRIS Comissões Regionais Interinstitucionais de Saúde

DOU Diário Oficial da União

ESF Estratégia Saúde da Família

FEM Fator de Estímulo a Municipalização

FHC Fernando Henrique Cardoso

GASE Gestão Avançada do Sistema Estadual

GED Grupo Especial de Descentralização

GPAB Gestão Plena da Atenção Básica

GPABA Gestão Plena de Atenção Básica Ampliada

GPSE Gestão Plena do Sistema Estadual

GPSM Gestão Plena do Sistema Municipal

IAPs Institutos de Aposentarias e Pensões

INAMPS Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social

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INPS Instituto Nacional de Previdência Nacional

IO Imagem-objetivo

IVISAI Índice de Valorização do Impacto em Vigilância Sanitária

LDO Lei de Diretrizes Orçamentarias

LOS Lei Orgânica da Saúde

MRSB Movimento da Reforma Sanitária Brasileira

MS Ministério da Saúde

NOAS Norma Operacional da Assistência à Saúde

NOBs Normas Operacionais Básicas

OPAS Organização Pan-Americana de Saúde

PAB Piso da Atenção Básica

PACS Programa Agentes Comunitários de Saúde

PBVS Piso Básico de Vigilância Sanitária

PDI Plano Diretor de Investimentos

PDR Plano Diretor de Regionalização

PGASS Programação Geral das Ações e Serviços de Saúde

PMS Plano Municipal de Saúde

PNPS Política Nacional de Participação Social

PPI Programação Pactuada e Integrada

PROS Programação e Orçamento da Saúde

PS Previdência Social

PSF Programa Saúde da Família

RENASES Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde

RENAME Relação Nacional de Medicamentos Essenciais

SAI Sistema de Informação Ambulatorial

SAQS Sistema de Avaliação de Qualidade em Saúde

SIH Sistema de Informações Hospitalares

SMS Secretarias Municipais de Saúde

SUDS Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde

SUS Sistema Único de Saúde

TCG Termo de Compromisso de Gestão

TCGA Termo de Compromisso para Garantia de Acesso

UBS Unidade Básica de Saúde

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UCA Unidade de Cobertura Ambulatorial

UNA-SUS Universidade Aberta do SUS

UCR Unidades de Capacitação da Rede

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 15

2 OBJETIVOS DA PESQUISA ............................................................................................ 20

2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................... 20

2.2 Objetivos Específicos .................................................................................................... 20

3 MARCO TEÓRICO ............................................................................................................ 21

3.1 Quando a Novidade Germina na História: contribuição latinoamericana para a

formulação de políticas de saúde ....................................................................................... 21

3.2 Quando a Normalização Hegemoniza no Processo Histórico: normas, pactos e

decreto para a organização dos SUS ................................................................................. 30

3.3 Quando o Protagonista Desperta para a sua Conquista Histórica: o controle social

do SUS. ............................................................................................................................... . 66

3.4 Quando o Direito Social é Sufocado pela Economia: das fontes constitucionais de

receita à Emenda Constitucional 29 .................................................................................. 75

4 MARCO CONTEXTUAL .................................................................................................. 94

4.1 Por que Itajaí? ............................................................................................................... 94

4.2 Aspectos Históricos do Município ............................................................................... 94

4.3 Aspectos Demográficos e Socioeconômicos do Município ......................................... 96

4.4 O Sistema Municipal de Saúde de Itajaí ..................................................................... 98

4.4.1 A Secretaria Municipal de Saúde ............................................................................. 99

4.5 O Plano Municipal de Saúde de 2014-2017 .............................................................. 106

5 PERCURSO METODOLÓGICO ................................................................................... 109

5.1 Desenvolvimento da Pesquisa 2013-2015 .................................................................. 109

5.2 Desenvolvimento da Pesquisa 2016-2018 .................................................................. 115

5.2.1 A entrevista coletiva, do tipo grupo focal, com os conselheiros de saúde ............. 116

5.2.2 A entrevista semiestruturada com o(a) gestor(a) municipal................................... 117

5.3 Organização dos Dados .............................................................................................. 118

6 RESULTADOS .................................................................................................................. 121

6.1 Planejamento: uma estratégia para não se perder no meio do caminho ............... 122

6.2 Educação Permanente: uma estratégia para transformação das práticas em saúde

............................................................................................................................................ 137

7 CONSIDERAÇÕES ........................................................................................................ 1434

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 147

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APÊNDICES ......................................................................................................................... 161

ANEXOS ............................................................................................................................. 1617

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1 INTRODUÇÃO

A motivação para ingressar no Programa de Mestrado Profissional em Saúde e Gestão

do Trabalho, oferecido pela Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí, SC, foi despertada já no

início de meu processo de atuação em um serviço público de atenção básica local. No

encontro vivenciado com a realidade dos serviços, foram gerados muitos produtos

questionadores sobre os entraves e fragilidades do Sistema de Saúde brasileiro, bem como,

sobre as iniquidades postas pela realidade ao direito universal à saúde. Esses produtos

mobilizaram a minha bagagem teórica trazida da formação em enfermagem e, por acreditar

que sempre há um mundo a fazer, senti vontade de retornar à universidade para aprofundar a

minha formação.

Dentre as questões que cotidianamente acompanharam o desenvolvimento das minhas

atividades na atenção básica, destaco duas: os desafios e contrassensos da integralidade da

atenção, em âmbito das ações garantidas pelos serviços de atenção básica; e; a gestão do SUS,

em interlocução com seu planejamento. A vontade de compreender por que a integralidade,

enquanto um princípio do SUS, não se concretiza de modo responsivo, em sua totalidade e em

conformidade com as suas múltiplas dimensões; a vontade de conhecer que estratégias são

eleitas pela gestão, em direção à materialização da atenção básica e a de compreender o modo

como o município as elege, acompanhou e tem acompanhado todo meu processo de trabalho.

Há dezesseis anos realizo uma atividade profissional que tem por objeto o cuidado. Ainda na

graduação, aprendi o que está sintetizado em Oliveira (2012): a enfermagem é arte de cuidar e

não a de curar e na relação de cuidado espera-se que a atenção seja direcionada à pessoa que

dele necessite e não ao problema e/ou doença que ela apresente.

Com base nessa síntese, passei a entender que as minhas ações para o cuidado na

atenção básica deveriam levar em consideração as necessidades de saúde das pessoas, tanto

nas especificidades da enfermagem como nas de cunho coletivo. Tarefa nada fácil, uma vez

que ainda não tinha aporte teórico suficiente para refletir sobre “necessidades de saúde”.

No entanto, o reconhecimento da importância de uma dimensão de tais necessidades

sempre se fez presente: a escuta atenta e acolhedora gerada em interlocução com o meu

sistema de valores. Várias pessoas encaminhadas para mim com o mesmo diagnóstico e

fazendo uso das mesmas medicações, exigiam e continuam exigindo diferentes abordagens de

cuidado: aprendi na prática que quando as abordagens são norteadas por uma escuta atenta e

acolhedora, elas possibilitam a participação das pessoas cuidadas nas decisões concernentes a

sua própria vida.

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16

Na medida em que a minha atuação nos serviços ganhava maturidade, comecei a

experimentar diversos sentimentos: da alegria ao sofrimento; da esperança à desesperança. Ao

observar, por exemplo, profissionais realizando tratamentos com o uso de tecnologias efetivas

em defesa da vida ao mesmo tempo em que consideravam a pessoa cuidada um objeto de

investigação, vivia uma confusão de sentimentos. Não raramente, a pessoa cuidada tinha e

tem um número, uma doença ou um apelido por uma característica pessoal e/ou humoral; elas

não eram (e, ainda não são) consideradas proprietárias de sua própria história, de seu processo

saúde-doença. Esses fatos produzidos pelo desenvolvimento real dos serviços resgatavam

continuamente, de minhas memórias, as atividades realizadas no estágio da graduação em

Enfermagem, e, em meu exercício profissional anterior, em um hospital privado.

Em estágios da graduação, realizados em hospitais públicos e Unidades Básicas de

Saúde (UBS), vivenciava inúmeras dificuldades referentes a processos e fluxos, questionando

cotidianamente também as razões para as más condições de trabalho. O filme cotidiano era de

“descaso” para com o cuidado. Não demorei em questionar à falta de recursos disponíveis,

fossem eles materiais, pessoal ou estrutural, para que o trabalho (o cuidado) fosse realizado de

forma efetiva e responsiva; no entanto, não tinha consciência do porquê isso acontecia. Não

demorei a questionar também o papel estratégico do controle social na gestão do SUS e as

diferenças dos rumos tomados quando da entrada de nova gestão.

Em 2004, com a graduação concluída, iniciei minhas atividades em um hospital

privado que tinha como compromisso a qualidade da assistência e de demais serviços

prestados. Nesse período, tive a oportunidade de gerenciar os serviços de hemodinâmica,

unidades de internação clínica, cirúrgica e pediátrica, praticando o que eu havia aprendido na

universidade: o cuidado. Para garantir a qualidade, o hospital contava com infraestrutura

adequada, investia na educação dos profissionais e em processos e fluxos bem definidos. É

inegável que essas condições me permitiram cuidar de maneira diferenciada, “com

qualidade”, mas, sobretudo, com o sentimento ao final do dia de ter cumprido a minha função

de forma responsiva, naquele nível de complexidade do SUS.

Em 2012, ingressei no serviço público a fim de trabalhar como enfermeira da

Estratégia Saúde da Família (ESF). Foi praticamente impossível não fazer comparações em

relação ao serviço privado: infraestrutura precária, más condições de trabalho, falta de

insumos e medicamentos, entre outros. Vários questionamentos começaram a ser gerados, tais

como: Por que não se pode ter as mesmas condições de trabalho e qualidade na atenção à

saúde nos serviços públicos? Por que existem tantos trabalhadores desmotivados e

descomprometidos? Por que existe tanta desorganização nos processos de trabalho? Por que

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as pessoas usuárias andam de um lado para o outro sem terem respostas resolutivas aos seus

problemas? Como a gestão organiza os nossos processos? Que estratégias estão voltadas para

a qualificação dos serviços? De que modo elas são produzidas?

Esses questionamentos me levaram a ingressar na Universidade Aberta do SUS

(UNA-SUS), no curso de pós-graduação em Saúde da Família, oferecido na modalidade à

distância e, posteriormente, no Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho da

Universidade do Vale do Itajaí, Itajaí, Santa Catarina. Meu objetivo nestes projetos era muito

claro: eu queria me apropriar do SUS com profundidade, dele me alimentar. A finalidade de

meu ingresso em ambos os projetos, também, era muito clara: apreender e trocar

conhecimentos teórico-práticos para, selecionando aqueles que fazem sentido para mim e

aliando-os ao meu modo de ver o mundo, contribuir para melhorar a qualidade da atenção e

dos serviços. Enfim: trabalhar para fazer valer um direito social muito caro à nossa sociedade

– o direito a saúde –, conquistado pelo povo brasileiro na VIII Conferência Nacional de

Saúde, em 1986 (BRASIL, 1986) e reconhecido pela Constituição de 1988 (BRASIL, 1988).

A partir de então, passei a conciliar meu processo profissional com o processo de

desenvolvimento do Mestrado. Paulatinamente, fui me apropriando de um aporte teórico

novo, que acabou significando uma reabertura das portas de meu processo de formação: de

formação nos serviços.

Em leituras e discussões sobre conceitos, teorias, e métodos correlatos ao Sistema

Único de Saúde (SUS), começou a ganhar forma, por exemplo, um jeito geral de entender a

expressão necessidades de saúde: ela abarca várias dimensões. Em âmbito macro,

necessidades de saúde são necessidades sociais, historicamente determinadas e refletem as

intervenções individuais e coletivas que movimentam a prática social das pessoas (SOUZA;

BOTAZZO, 2013). Em âmbito micro, a expressão é traduzida como problema de doença. De

acordo com Stotz (1991 apud SILVA; PINHEIRO; MACHADO, 2003, p. 237), "[...]

problemas e necessidades de saúde apresentam-se como noções conexas: a necessidade é, de

algum modo, a tradução de problema em termos operacionais."

Ainda que de modo breve, começou a ganhar forma também, para mim, alguns

conceitos e teorias do campo da administração pública. Em interação com o novo universo,

pude reconhecer uma perspectiva de processo de trabalho e gestão: as práticas em saúde vêm

sendo construídas historicamente com base no modelo hegemônico de prestação de serviços

taylorista/fordista e a gestão instituída para o SUS é fortemente marcada por influências dessa

composição, a qual apresenta características de centralização administrativa no poder

executivo, com estruturas organizacionais de desenho piramidal, onde as atividades gerenciais

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18

estão voltadas mais para o controle de execução de tarefas especializadas e avaliação de

resultados.

Há algumas décadas, vem se debatendo os efeitos negativos deste modelo de

organização do trabalho ao processo de trabalho, que se caracteriza pela fragmentação com

separação entre concepção e execução que, associada ao controle gerencial do processo e à

hierarquia rígida, tem levado à desmotivação e à alienação dos trabalhadores (MATOS;

PIRES, 2006). Esta racionalidade gerencial hegemônica que Onocko (2003, p. 124) reconhece

como “ação sobre a ação dos outros”, induz a certa cultura organizacional que nega a

incerteza e a discussão coletiva e ainda estimula a uma prática clínica reduzida, especializada

e fragmentada, tornando-se insuficiente na gestão da saúde pública.

Ainda sobre a ampliação de meu referencial teórico no processo de Mestrado, li um

artigo em que o autor relatava a sua experiência de gestão, executada por dois anos e meio,

em uma secretaria de saúde de um município de grande porte. Nesta leitura (SOUZA, 2009),

encontrei aproximações sobre um tema exaustivamente abordado na disciplina Bases Teóricas

e Políticas de Atenção à Saúde – SUS conquistado e SUS garantido – e algumas linhas de

base que fazem sentido ao meu modo de pensar, da condição de enfermeira de uma ESF, as

estratégias de gestão necessárias à materialização de um SUS, no mínimo, executado de modo

responsivo. Um SUS executado com vontade de dirimir as desigualdades sociais injustas de

acesso ao direito à saúde e ao cuidado longitudinal; executado com participação social,

controle social forte, disposição, engajamento e militância.

Revivendo a sua condição de gestor, o autor refere que a reflexão sobre “estratégias de

gestão que aproximem o SUS possível do SUS necessário”, deve partir, necessariamente da

compreensão de SUS como “uma luta política” e que a organização da atenção é objeto “de

disputa nos planos ideológico, econômico e institucional”. Ele expressa que, apesar da

expansão significativa nos últimos anos de serviços de saúde, problemas de acesso e baixa

qualidade técnica persistem e sugere como estratégia de gestão, a fim de aproximar “o SUS

possível do SUS necessário”, a expansão e melhoria da qualidade dos serviços. Manifesta,

ainda, que existe uma oposição à implantação de um SUS universal e equânime por este

representar um risco ao capital financeiro (SOUZA, 2009, p. 912).

Este texto ampliou os horizontes de possibilidades para o meu projeto de pesquisa,

aproximando-o de discussões vivenciadas em disciplinas sobre formação econômico-social,

saúde e sociedade de classes, estrutura e gestão do trabalho, SUS conquistado, SUS garantido,

SUS paralelo, ética, dialética, política, comecei a fortalecer uma linha de pensamento,

sentando-me na condição de gestora: por vivermos em um país neoliberal fomos

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“formatados” para planejar e fazer gestão municipal em saúde nos adequando aos recursos

disponíveis e às tomadas de decisão centralizadas no gestor e talvez este produto histórico-

cultural seja exatamente a fronteira que não nos movimenta para executar uma gestão

municipal efetivamente participativa, dirigida para as iniquidades de acesso ao direito à saúde.

Uma questão posta: como distender esta fronteira, considerando também que o governo

central tem um papel regulatório e redistributivo a cumprir, em termos nacionais?

O caminho, dali em diante, seria percorrido em direção a outras fontes teóricas, para

responder a seguinte pergunta de pesquisa: nesta conjuntura antidemocrática, em que o

federalismo brasileiro parece estar em xeque; em que o país tem-se deparado com a

necessidade de formar pensamento estratégico para garantir a sustentabilidade do SUS; em

que os ventos de austeridade têm soprado com força em direção aos interesses de um poder

político formal que defende a inoperância de política de caráter nacional e público coordenada

pela atenção básica/atenção primária abrangente, que estratégias de gestão um município de

grande porte pode lançar mão para preservar e expandir com qualidade os serviços de atenção

à saúde?

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20

2 OBJETIVOS DA PESQUISA

2.1 Objetivo Geral

Analisar as estratégias de gestão do SUS de um município de grande porte do sul do

Brasil, na perspectiva de um coletivo intrassetorial da secretaria e de conselheiros municipais

de saúde.

2.2 Objetivos Específicos

Descrever a estrutura administrativa e o modelo de gestão da secretaria municipal de

saúde de um município do sul do Brasil, com base no Plano Municipal de Saúde

2014-2017;

Identificar as estratégias de gestão do SUS de um município de grande porte do sul

do Brasil, na perspectiva de um coletivo intrassetorial da secretaria e de conselheiros

municipais de saúde;

Discutir as estratégias de gestão do SUS de um município de grande porte do sul do

Brasil, na perspectiva de um coletivo intrassetorial da secretaria e de conselheiros

municipais de saúde.

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21

3 MARCO TEÓRICO

3.1 Quando a Novidade Germina na História: contribuição latinoamericana para a

formulação de políticas de saúde

“Alice – Poderia me dizer, por favor,

qual é o caminho para sair daqui?

Gato – Isso depende muito do lugar

para onde você quer ir.

Alice – Não me importa muito onde.

Gato – Nesse caso, não importa por

qual caminho você vá.”

Até me deparar com um documento em uma disciplina do Mestrado denominado

Formulación de Politicas de Salud, editado pelo Centro Pan-Americano de Planejamento da

Saúde (CPPS) da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), em 1975, entendia

planejamento por uma única perspectiva: como a elaboração de um plano, produzido

hegemonicamente por pessoas situadas em um nível hierárquico superior ao meu processo de

trabalho, voltado para a resolução de problemas e situações que deveriam ser mudadas pela

gestão. Uma espécie de programação editada por pessoas distantes da produção cotidiana do

SUS, dotada de um conjunto de normas a serem seguidas por todos os atores que trabalham

em uma determinada instituição e dotada, ainda, do cálculo dos recursos materiais, humanos

e, principalmente, financeiros que se tem, para que um determinado serviço funcione.

O contato com este documento levou-me a fazer o que Lima e Miranda (2018)

denominam de “exercício de reflexividade dirigida para o ponto de partida”. O primeiro

enfrentamento, experimentado no exercício sugerido, correspondeu à necessidade de

reconciliação com o ser político que sou. Imersa em um movimento interno de resistência a

este termo, política, uma vez que meu processo de trabalho expõe cotidianamente entraves do

SUS originados pela política dos partidos políticos nacionais, fez-se necessário um

movimento interno reconciliador, pois seria exatamente através da política que eu poderia

começar a pensar o tal “ponto de partida”.

Inicialmente e, com certa facilidade no percurso, pensei que o ponto de partida

(LIMA; MIRANDA, 2018) seria a história, caminho apreendido pela disciplina Bases

Teóricas e percorrido, deste então, pelo pensamento. Pensei, especificamente, em meados da

década de 1970, quando emergiu o movimento que lutou pelo SUS e o conquistou: o

Movimento de Reforma Sanitária. No entanto, percebi que não eu não tinha ferramentas para

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explorar um Movimento histórico, por meio do planejamento do Formulación em relação

com o SUS que sonho garantido. O caminho possível ao pensamento seria dialogar o

Formulación, “enquanto história”, com a gestão e planejamento do SUS que temos.

A partir de então, o Formulación levou-me a pensar a gestão e o planejamento do SUS

de modo diferente daquele que se edifica sobre uma programação com vistas à adequação dos

recursos que se tem; aquele que se desenvolve de modo desconectado de um futuro

concebível de ser alcançado. O documento ajudou-me a refletir que, provavelmente, uma das

razões pelas quais ainda não alcançamos um sistema de saúde universal e equânime, seria a

ausência de um ponto de partida do planejamento coerente com o SUS. Várias questões se

colocaram deste então, por exemplo, que ponto de partida macro poderia ser pensado por um

coletivo em defesa do SUS conquistado?

Esta questão começou a movimentar meu pensamento gerando novos conflitos e

angústia. A sensação era que meu cérebro parecia condicionado a pensar de modo

programático, no afã de encontrar rapidamente insumos e recursos para mudar uma dada

situação (cabe um parêntese para socializar que, embora eu seja enfermeira e atue na

enfermagem na atenção básica do SUS, eu tenho muita afinidade com a gestão). A visão

cristalizada no que “deveria” ser feito, historicamente posta para os trabalhadores-produtores

do SUS colidia com os fundamentos do Formulación, que me levava a pensar e repensar

sobre que estratégias de gestão poderiam efetivamente ser geradas em um planejamento

orientado por um ponto de partida: um ponto de partida militante.

Na insistência por novos caminhos ao pensamento, procurei mergulhar mais e mais no

Formulación de Politicas de Salud da OPAS. Trata-se de um texto complexo, estruturado por

uma lógica que propõe uma construção ao planejamento muito particular, por meio de uma

linguagem quase excessivamente erudita para quem atua nos serviços e está começando a

desvendar o universo da pesquisa acadêmica. No entanto, prevaleceu a vontade política de

compreender, minimamente, a sua lógica.

O modelo básico proposto (Figura 1) pelo CPPS/OPAS para a formulação de políticas

de saúde traz contribuições importantes para o planejamento do SUS, mas parece sinalizar, já

de início, que a definição do ponto de partida para um planejamento estratégico exige um

coletivo aliado estrategicamente, pois é:

[...] extremamente difícil propor um procedimento ou uma sequência que

satisfaça a todos os que têm a responsabilidade de formular políticas de

saúde ou, ainda, que satisfaça totalmente a alguns. Contudo, a experiência

mostra a necessidade de contar com políticas de saúde bem formuladas para

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que o desenvolvimento das ações adquira solidez e coerência e para que o

planejamento traduza essas decisões em planos, projetos e programas que

coordenem e conduzam sua execução (OPAS, 1975, p. 35, tradução nossa).

Figura 1 - Esquema Geral de Formulação de Políticas do CPPS

1 2 3 4 5

Fonte: Elaborado pela autora readaptado de OPAS (1975, p. 36).

Aproximando as leituras iniciais do documento da noção de ponto de partida, focando

para uma determinada política pública a ser planejada, vê-se que ponto de partida é condição

inicial necessária para a formulação de uma política. Não qualquer ponto de partida, mas um

concebido e concebível para se chegar onde se quer - uma imagem-objetivo (I.O.):

[...] a imagem-objetivo representa uma situação futura ideal ou desejada, que

não está condicionada pela disponibilidade presente de recursos nem por

prazos ou tempos determinados [é] a configuração que, a partir de um

presente determinado, situa-se na periferia do futuro concebível [...] Não é

uma construção de uma imaginação sem ataduras, mas, sim uma situação

que se julga desejável e possível de alcançar (OPAS, 1975, p. 35-37,

tradução nossa).

Corresponde a uma meta ativa, a ser buscada mediante a atuação consciente e

planejada. Refere-se tanto à situação de saúde quanto à estrutura e ao funcionamento dos

Serviços de Saúde. Os elementos que contribuem para a formulação da I.O. são ensejados

pelo diagnóstico situacional e primordialmente os valores políticos e ideológicos

Imagem-

Objetivo

Formulação de

Proposições

Análise das

Proposições

Estratégia

Formalização

das Políticas

O “desenho”

de um futuro

no qual se

quer chegar

a

n

á

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b

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c

Formulação

Preliminares

(Quadro 1 e

Figura 2)

Factibilidade: análise

das questões operacionais

(tecnologias disponíveis)

Coerência:

convergência, sinergia,

ausência de contradições

Viabilidade: análise

sociopolítica

a

n

á

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b

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l

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e

c

Característica de meio

para um fim (a

política). É o “como

fazê-lo” pertencente

ao âmbito do “que

fazer”

a

n

á

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24

correspondentes em última instância ao projeto societário da força social que a constrói

(RIVERA, 1987).

Na gênese da I.O., podem-se identificar dois elementos básicos: a ideologia e o

conhecimento da situação de saúde:

Efetivamente, enquanto os componentes da situação de saúde são os sujeitos

deste conhecimento (estado de saúde da população; estrutura e

funcionamento do sistema de serviços de saúde; produtos que o sistema de

serviços de saúde proporciona à população), as categorias que se

estabelecem para a análise de cada um desses sujeitos não são politicamente

neutras, nem é assim a forma de processar e de resumir a informação obtida.

Por outro lado, o conhecimento da situação existente é o objeto de

valorizações (ideologia) que identificam as áreas-problema que serão

tomadas em consideração. [...] O conhecimento da situação de saúde – no

qual, como se tem visto – intervém a ideologia – interage com os valores na

medida em que se precisa e se aperfeiçoa a imagem da situação desejada na

periferia do futuro concebível (OPAS, 1975, p. 38, tradução nossa).

Neste momento inicial do processo de formulação de políticas de saúde é oportuno

que ocorra uma interação da política e da técnica:

O conhecimento da situação de saúde, que possui o nível político, confronta-

se e modifica-se diante da informação diagnóstica que lhe fornece o nível

técnico, o qual, por sua vez, adequa seu diagnóstico à intenção e necessidade

do nível político num processo interativo de duração bastante variável. O

diagnóstico, resultante desse processo de interação é, não só um elemento

essencial da I.O., mas, também, um elemento básico para o processo de

planejamento (OPAS, 1975, p. 39, tradução nossa).

A explicação situacional deve ser realizada tendo em vista fornecer elementos para a

mudança da situação encontrada. Ela deve ajudar a discriminar os níveis da realidade sobre os

quais será necessário atuar para avançar na modificação sistêmica. Em síntese, “a definição da

I.O. representa o ponto de partida da formulação política, na medida em que o próprio

diagnóstico de situação é delineado em função dos interesses da I.O” (RIVERA, 1987, p.

450).

Uma vez estabelecida, no limite do futuro concebível, uma visão “sintética” de uma

nova situação do sistema de serviços de saúde, da relação entre seus produtos e do estado de

saúde que se deseja alcançar, inicia-se o processo de formulação preliminar da política que

inclui a execução de análise de viabilidade, análise de coerência e fixação de prioridades.

Ou seja, a partir da situação presente estabelece-se “[...] uma série de objetivos que se

pretende alcançar em prazos determinados e uma seleção de meios – ou caminhos - para

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alcançá-los” (OPAS, 1975, p. 40), os quais “[...] configuram para um futuro determinado, uma

situação de saúde, que se considera, deva e se possa transitar no percurso do caminho até a

I.O.” (OPAS, 1975, p. 40). Essa etapa consiste na definição de todos os projetos que a

princípio podem levar a situação inicial (presente) até o cumprimento da I.O. Os projetos

preliminares têm uma delimitação temporal mais ou menos clara, no sentido de que apontam

para o cumprimento ou para construção de situações intermediárias. Estas correspondem a

desdobramentos da I.O., em situações/momentos parciais de uma estratégia maior que os

engloba (RIVERA, 1987).

A definição do processo da formulação preliminar de proposições políticas origina-se

da comparação entre a I.O. ou a situação intermediária e a situação presente. Para Rivera

(1987, p. 451), a comparação entre a I.O. e o diagnóstico da situação inicial é a “brecha

histórica” que terá que ser superada e que corresponde ao conjunto de mudanças parciais ou

ao projeto global de mudança situacional que o planejamento pretende instituir. Para Da Ros e

Souza (2006, p. 85) a situação inicial corresponde em fazer uma análise de conjuntura, a qual

deve fazer parte do planejamento logo após a construção da I.O. e então seguir construindo

“projetos de situações intermediárias distintas”, que conduzirão à aproximação da I.O.

O documento estudado propõe uma sequência de passos para a construção do processo

da formulação preliminar de proposições políticas do seguinte modo (OPAS, 1975, p. 41-45):

Figura 2 - Sequência das etapas que constitui o processo de formulação preliminar de

proposições políticas do CPPS

1 2 3 4

Problema

Fonte: Elaborado pela autora.

A primeira e a segunda etapas se realizam pela identificação do diagnóstico (situação

presente/atual), os problemas surgem após a definição da I.O. final, a qual serve para

“problematizar” a situação atual. Nesse momento é que a autoridade política define outras

I.O. similares à I.O. final e aponta objetivos e meios para alcançá-las com a intenção de

solucionar os problemas pré-estabelecidos, porém estas se encontram num futuro mais

próximo e definido. No final dessas etapas estarão identificadas as “áreas problemas” e para

Problemas,

objetivos e meios

pré-determinados

politicamente

Preferências ou

prioridades

Preferências ou

prioridades

Identificação e

definição de

problemas

Seleção de

soluções

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cada uma delas, estados ou situações que as aproximem à situação final desejada [...] “e que

se considere possível de alcançar nos prazos das políticas às quais servirão como objetivos”

(OPAS, 1975, p. 41-42).

Posteriormente, uma vez estabelecido os problemas, objetivos e meios pré-

determinados, também denominados pelo documento como “problemas conjunturais” (OPAS,

1975, p. 45), segue-se para a terceira etapa, a qual estabelece e/ou determina as possíveis

soluções para os problemas identificados nas fases anteriores, ou seja, aqui deverá ser

questionado: quais são as prováveis soluções, meios ou alternativas necessários para o

equacionamento dos problemas, tendo “como referencial o cumprimento da situação-objetivo

e na sua priorização?” (RIVERA, 1987, p. 4)

A seleção das soluções adotam critérios políticos, técnicos e administrativos. O

primeiro leva em consideração o impacto e/ou “repercussão social previsível”, seu efeito

sobre a “sustentação política” e o “custo social” que tal solução trará. Os demais consideram a

eficácia e a eficiência da solução, isto é, prever se a mesma cumprirá seu propósito, total ou

parcialmente, em quanto tempo e com que quantidade de recursos (OPAS, 1975, p. 43).

Por último, se elege as preferências ou prioridades dos problemas, que naturalmente

não se dão ao acaso. Os conjuntos dos problemas, já com suas correspondentes soluções,

servirão de base para determinar ações concretas de acordo com sua importância ou primazia,

e este(s) problema(s) prioritário(s), por sua vez, irão privilegiar outros que são condição

prévia para solucioná-lo(s) (OPAS, 1975, p. 44). Cabe relembrar que o critério mais

importante para se eleger os meios, os objetivos, as prioridades e/ou preferências, é a

capacidade que estes terão para provocar a mudança necessária ao alcance da I.O. Esses

conjuntos de problemas e soluções ordenados, conforme ao cumprimento da I.O., deverão por

fim se transformar em proposições políticas que servirão para orientar todas as ações

subsequentes.

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27

Quadro 1 - Formulação preliminar de proposições políticas

Insumos principais Etapa Produto

Decisão Política

Problema, objetivos e meios

pré-determinados

politicamente

. Imagem objetivo

.. Situação atual

... Problemas, objetivos e

meios pré-determinados

politicamente

.... Problemas

Conjunturais

Identificação e definição

dos problemas

Problemas

▼ ▲

. Imagem objetivo

.. Problemas

... Impacto sociopolítico

.... Tecnologia e recursos

Seleção de soluções

conforme os critérios de

eficácia e eficiência

Soluções

. Valorização política dos

problemas e suas

soluções

Ordenação prioritária

conforme a

“importância”

Prioridades e preferências:

conjunto ordenado de

problemas e soluções

▼ ▲

Critérios técnicos e

administrativos

Ordenamento sequencial

conforme a procedência

funcional

Prioridades e Preferências Construção de

proporções políticas a

partir das prioridades e

preferências, definindo

objetivos e meios

para cada um dos

problemas e soluções

Formulação preliminar de

proposições políticas

Fonte: OPAS, 1975, p. 45, tradução nossa.

Definidos os projetos preliminares, é necessário submetê-los às análises de

factibilidade e coerência e posteriormente a análise de viabilidade.

A factibilidade é considerada no momento de selecionar a solução do problema

correspondente, principalmente no que diz respeito à existência de tecnologia disponível, ou

seja, a possibilidade de cumprimento de cada proposição – “com eficácia e eficiência” – irá

depender da tecnologia disponível, recursos disponíveis e organização técnica administrativa

e técnico operacional adequada. Vale ressaltar que a tecnologia, os recursos e a organização

que deverão ser considerados nesta análise, são aqueles que existirão durante o processo de

execução das ações e não aqueles existentes na situação presente. (OPAS, 1975, p. 47) Para

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Rivera (1987, p. 454-455) essa análise consiste em responder a três perguntas e caso as

respostas destas sejam positivas estará assegurada a factibilidade:

- há disponibilidade de recursos para implementar esses projetos??

- há disponibilidade de tecnologia e de insumos técnicos-científicos

(incluindo conhecimentos) para realizar tais projetos?

- a estrutura administrativa e gerencial existente apresenta condições de

implementação de tais projetos ou será necessário promover uma (macro)

adequação de tal estrutura?

Nessa etapa algumas proposições preliminares são descartadas e outras modificadas e

deverão então ser submetidas à análise de coerência, a qual consiste na “avaliação do grau de

consistência e/ou compatibilidade interna dos diferentes projetos” objetivando a eliminação

de proposições inconsistentes com o conjunto setorial. (RIVERA, 1987, p. 455) Nessa etapa

se analisam a coerência interna e também a coerência externa:

A coerência, no sentido em que é utilizada neste documento, é mais que a

relação ou conexão de umas coisas com outras. O nível mínimo de coerência

é a compatibilidade, a ausência de contradição. Porém, graus maiores de

coerência abrangem a convergência, a sinergia e, até a potenciação que uma

ação gera sobre os efeitos de outra. Quando se examina a coerência de uma

determinada proposição política, em si mesma, deve-se entender coerência

como ausência de contradições lógicas. Quando a análise indaga, na relação

entre cada uma das proposições com cada uma das outras, ou entre cada uma

das proposições e o conjunto das mesmas, coerência pode significar

compatibilidade, convergência, sinergia ou mútua potenciação de efeitos.

Até aqui, a análise tem-se limitado às políticas de saúde (coerência interna);

estende-se, então, o âmbito à sua relação com as políticas de outros setores,

ou com o conjunto total de políticas nacionais (políticas globais, políticas de

desenvolvimento), falando-se, então, de “coerência externa.” (OPAS, 1975,

p. 48).

Uma vez que os projetos consigam responder positivamente à questão da coerência,

teremos uma série ordenada de proposições viáveis e coerentes, tanto internas como externas,

e através destas, uma definição geral do “que fazer”, decidido pela vontade da autoridade

política (OPAS, 1975, p. 51). Cabe nesse momento fazer uma análise de viabilidade, que

consiste em fazer uma avaliação da possibilidade política dos projetos, e/ou uma análise

sociopolítica das proposições, ou seja, os recursos políticos disponíveis e necessários para

alcançá-las. Supõe o levantamento dos graus de apoio, rejeição ou indiferença que as políticas

provocam-nos diferentes atores sociais e políticos e na capacidade desses para atuarem no

sentido de viabilizar seus projetos (RIVERA, 1987; CORDONI JUNIOR; CARVALHO; GIL,

2017).

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29

Quando se decidiu o “que fazer” e há uma vontade de ação e uma previsão das reações

de grupos sociais envolvidos, é hora de “desenhar uma estratégia” (OPAS, 1975, p. 54).

Estratégia – “arte de dirigir as operações militares” – tem, também, um

sentido figurado, “arte ou traçado para conduzir um assunto”. De outra parte,

a extensão, a quase toda a sociedade, dos esforços exigidos pela guerra,

ampliou a concepção castrense de estratégia, ligando-a, cada vez mais, a

uma seleção de meios, intensidades e oportunidades de ação ou dissuasão,

que exige a dialética de vontades enfrentadas. [...] A estratégia tem

características de meio para um fim (a política). É o “como fazê-lo”

pertencente ao âmbito do “que fazer”. O planejamento, enquanto

instrumento, trabalhará sobre a decisão política ordenada, em sua sequência

ou intensidade, pela estratégia e preparada para enfrentar as situações

previsíveis, não só segundo as possibilidades do momento, no qual, às vezes,

“a jogada está forçada”, mas fundamentalmente segundo condutas pensadas

frente a todas as situações previstas (OPAS, 1975, p. 55-57, tradução nossa).

Em síntese, a sequência didática exposta, revela que para cada proposição, existe certa

ordem temporal e certa ordem de primazia, assim como a previsão de diversos atores sociais

frente aos objetivos da proposição e aos meios que a estabelece. Na análise de viabilidade são

determinados os recursos que existem ou existirão para o desenvolvimento das ações, as quais

também suscitarão reações de atores sociais referidos tanto às mesmas ações como suas

consequências. Na realidade, os organismos de planejamento são os que mais colaborarão

com o nível político no diagnóstico e na previsão, nas análises de factibilidade e coerência, de

viabilidade e no desenho da estratégia.

Cabe aqui ressaltar que o CPPS permaneceu quase clandestino, já que preconizava a

análise sociopolítica da situação que seria o objeto do planejamento. Tais análises requeriam

um ambiente democrático e, naquele momento histórico, quase toda a América Latina estava

sob o julgo de ditaduras militares. No final da década de setenta, com o enfraquecimento do

autoritarismo ditatorial, no Brasil, um novo contexto começa a surgir e se fortalecer por meio

do Movimento da Reforma Sanitária Brasileira (MRSB), e, posteriormente, com as eleições

diretas para os governadores, em 1982, essa conjuntura favoreceu o pensar propostas para o

planejamento estratégico na área da saúde (CORDONI JUNIOR; CARVALHO; GIL, 2017).

O surgimento e fortalecimento desse novo contexto também foi impactado pela valorização

da Atenção Primária a Saúde (APS) no contexto mundial que fortaleceu as primeiras

iniciativas de descentralização dos serviços de sistemas nacionais de saúde (LIMA, 2013;

CORDONI JUNIOR; CARVALHO; GIL, 2017).

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30

3.2 Quando a Normalização Hegemoniza no Processo Histórico: normas, pactos e

decreto para a organização dos SUS

“[...] é preciso continuar pedalando

enquanto se conserta a bicicleta [...]”

Ao analisar historicamente o arcabouço normativo-operacional do SUS, percebi que

um dos grandes desafios enfrentados ao longo do tempo tem sido a (re)definição das

atribuições e das competências dos gestores das três esferas de governo. Acredito que isto se

deva, especialmente, à escolha constituinte por um federalismo baseado em uma ordem

institucional que confere autonomia político-administrativa aos estados e municípios, defende

a execução descentralizada das políticas públicas, mas centraliza a formulação dessas

políticas (ARRETCHE, 2012) e o poder decisório fiscal na União (SOUZA, 2005) e, ainda,

pela falta de uma cultura de planejamento no setor.

Penso que não refletimos e/ou planejamos o suficiente sobre a polaridade de efeitos

existentes entre organizar um sistema e ordená-lo de modo descentralizado. Parto do

pressuposto de que, no momento em que o SUS tornou-se uma “política oficial” na

constituinte, o caminho para sua construção efetiva não estava plenamente definido,

principalmente no que se refere à distribuição federativa de recursos e capacidade técnica para

assumir as responsabilidades da “nova política”. Por força disto, foram e ainda têm sido

elaborados, muitos dispositivos normativos demarcando os limites da tomada de decisão de

cada gestor no seu âmbito de atuação. Esta configuração operacional acaba criando brechas e

possibilidades para cada um fazer ou não fazer “do seu jeito” de acordo com as suas posições

político-ideológicas e receitas dos recursos constitucionais a eles vinculados. Na visão de

Lima (2013), o produto desta configuração gerou e tem gerado dilemas federativos nas

relações entre os entes federados, em nível político, fiscal e administrativo.

Na década de 1980, o amplo movimento pela redemocratização do Brasil

comprometeu-se com a elaboração de uma nova Constituição Federal (CF). Este

compromisso foi expresso no Manifesto à Nação anunciado pelos partidos que compunham a

Aliança Democrática, constituída em prol da candidatura presencial de Tancredo Neves.

Durante vinte meses, o Congresso Nacional e Brasília impulsionaram um intenso exercício de

participação política, visando à tessitura de uma nova carta constitucional. Para delinear uma

primeira versão da Constituição, a Assembleia Nacional Constituinte concebeu vinte e quatro

subcomissões que, posteriormente, aglutinaram-se em oito comissões, seguida de uma

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comissão de ordenação. As regras para o funcionamento da Constituinte previram também a

possibilidade de recebimento de propostas externas ao Congresso, desde que contassem com a

assinatura de 30 mil eleitores, bem como o envio de propostas pelo correio (SOUZA, 2002a).

Considerada a mais circunstanciada das Constituições brasileiras, a Constituição

Federal de 1988 “regulou princípios, regras e direitos” (SOUZA, 2005, p. 109). Em seu Art.

18, define que “[...] a organização político-administrativa da República Federativa do Brasil

compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos nos

termos desta Constituição[...]” (BRASIL, 1988, grifo nosso). Na Seção II, da Saúde,

reconheceu o Sistema Único de Saúde, conquistado na VIII Conferência Nacional de Saúde,

de 1986:

Seção II

Da Saúde

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante

políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de

outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua

promoção, proteção e recuperação.

Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao

Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação,

fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou

através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito

privado.

Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede

regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de

acordo com as seguintes diretrizes:

I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;

II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem

prejuízo dos serviços assistenciais;

III - participação da comunidade (BRASIL, 1988).

Para que as determinações expressas nos Artigos acima ecoassem em ações e serviços

públicos do SUS, seria necessário positivá-las em leis ordinárias, isto é, a concretização das

ações e serviços do SUS reconhecido na CF estaria na dependência de regulamentação

(CARVALHO, 2001).

Duas leis orgânicas foram publicadas no Diário Oficial da União (DOU) dois anos

após a promulgação do texto constitucional: a Lei 8.080/90 e a Lei 8.142/90. Ambas foram

objeto de muita disputa política e só foram sancionadas no segundo semestre de 1990

(ANDRADE, 2001). A primeira “[...] dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e

recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá

outras providências [...]”. Esta teve que ser complementada, devido aos vetos que recebeu do

então presidente Fernando Collor de Mello, por meio de uma segunda lei que “[...] dispõe

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sobre a participação da comunidade na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as

transferências intergovernamentais de recursos financeiros na área de saúde [...]” (BRASIL,

1990a; 1990b).

De acordo com essa legislação, o SUS tem direção única, sendo exercida em cada

esfera de governo pelos seguintes órgãos: no âmbito da União, pelo Ministério da Saúde

(MS); no âmbito dos estados e Distrito Federal, pela respectiva secretaria de saúde ou órgão

equivalente e no âmbito dos municípios, pela respectiva secretaria de saúde ou órgão

equivalente. Compete ao SUS, entre outros, prestar assistência às pessoas por intermédio de

ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com realização integrada das ações

assistenciais e das atividades preventivas, incluindo as ações de vigilâncias sanitária e

epidemiológica, saúde do trabalhador e assistência terapêutica integral (CARVALHO et al.,

2017). O contexto de execução do Sistema é o federalismo cooperativo (ARRETCHE, 2012).

O sistema federativo brasileiro é constituído por três instâncias governamentais

autônomas: União, 26 estados, o Distrito Federal e 5.570 municípios (REIS et al., 2017).

Segundo Campos (2014), entre os países com sistemas universais de saúde, somente o Brasil

organiza seu sistema de saúde com base na autonomia de três governos federados mais

Distrito Federal. Para Sousa e Castro (2017), países unitários regionalizados executam o

planejamento e a gestão regionais de seus sistemas de saúde, por meio de desconcentração e

não de descentralização em nível municipal. Na Espanha, por exemplo, a regionalização do

sistema de saúde se dá em nível estadual, e na Itália, em âmbito regional. Na visão de

analistas da redemocratização, o federalismo brasileiro pós-1988 “tem uma natureza

particular” que compromete a efetividade do Estado na garantia de políticas públicas

(ARRETCHE, 2012, p. 173). No entanto, Arretche (2012) chama a atenção para a

importância de não se dimensionar em demasia esta natureza, uma vez que a existência de

profundas desigualdades regionais e a herança de oligarquias locais levaram à esta escolha

federativa, em que a autoridade para a formulação das políticas e as tomadas de decisão sobre

as mesmas políticas estão nas mãos do governo central e a execução das políticas públicas

está sob a alçada dos governos locais.

Em que pese a coerência desta linha compreensiva, a organização tríplice, com a

autonomia das esferas de governo, tornou complexa a construção do sistema de saúde, pois

municípios, estados e União não apresentam relação de hierarquia entre si (DOURADO;

ELIAS, 2011). Os munícipios tornaram-se os principais atores/executores do sistema, e essa

organização, tendo como esfera principal o município, dificulta a oferta, resolutiva e em

tempo oportuno, de ações e de serviços de saúde (MIRANDA; MENDES; SILVA, 2017).

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Percebe-se, em visita a artigos nacionais, que o texto constitucional fortaleceu os

atores municipais na arena política e colocou novos desafios para os processos de condução

de políticas públicas. Se, por um lado, abriu possibilidades de transformação da relação

Estado e sociedade e de maior experimentação em nível local, por outro sabe-se que a maioria

dos municípios brasileiros, de pequeno porte populacional, não possuí arrecadação própria

significativa e depende de transferências intergovernamentais de recursos, o que acaba

resultando em limitada capacidade para aumentar seu grau de autonomia política e financeira

a partir do processo de descentralização (LIMA, 2013).

Para Rodrigues (2014) a diversidade de municípios não foi considerada, ao longo do

desenvolvimento do processo de descentralização, visto que, muitas cidades não possuíam

população suficiente para implantar um sistema de saúde propriamente dito, com diferentes

níveis de complexidade de atenção. Vale ressaltar que 80% das cidades brasileiras têm menos

de 30 mil habitantes (IBGE, 2016), e, portanto, os municípios, como já dito, dependem dos

repasses do governo federal para sustentar a sua estrutura de saúde (MIRANDA; MENDES;

SILVA, 2017).

Afinal, temos um Sistema centralizado e descentralizado? Sim, com base em Arretche

(2012) temos um SUS que centraliza a arquitetura de suas políticas públicas e a esfera fiscal e

descentraliza, “para governos estaduais e locais autônomos político-administrativamente” a

execução do conteúdo arquitetado. De acordo com Scatena e Tanaka (2001, p. 55):

Em relação ao Brasil, há que se determinar quais são os níveis de

descentralização e de autonomia políticas que têm as esferas regionais

(estados) e municipais e se eles expressam, realmente, a ideia de direito

autônomo. Os níveis sub nacionais tiveram sua autonomia ampliada após

1988, mas ainda se trata de uma autonomia limitada, uma vez que,

principalmente em termos financeiros, grande parte dos estados e a maioria

dos municípios brasileiros são bastante (e às vezes totalmente) dependentes

dos repasses financeiros centrais. É óbvio que por trás dessa relativa

centralização financeira (que já foi muito mais acentuada e impermeável a

questionamentos) está a necessidade da existência, num Estado Federal

democrático, de um governo central com papel redistributivo e redutor de

desigualdades, mas também é inegável que tal situação limita a autonomia

dessas esferas de governo.

Uma vez sancionadas as Leis Orgânicas, pelo então Presidente da República Fernando

Collor de Mello, era chegada a hora de “fazer o SUS acontecer”. Sua regulamentação,

disposta pelas Leis Orgânicas, exigiu a construção de ferramentas operacionais para

materializar o novo sistema e colocar em prática seus princípios: as chamadas Normas

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Operacionais Básicas (NOBs), instituídas na década de 1990 (BRASIL, 1991; 1992; 1993b;

1996).

A regulação do processo operacional foi realizada pelo Ministério da Saúde (MS) por

meio da normatização, seguidas anualmente de portarias, em geral, associadas a mecanismos

financeiros, objetivando a implantação das políticas pelos gestores municipais (locais) e

estaduais (MACHADO, 2007). Ao longo do tempo, as normas federais foram sendo

complementadas, substituídas e marcadas por debates envolvendo as três esferas do governo e

o Conselho Nacional de Saúde (CNS) (LEVCOVITZ; LIMA; MACHADO, 2001).

As primeiras NOBs, as de 1991 e de 1992, foram editadas pelo Instituto Nacional de

Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS). Este órgão, vinculado ao MS, desde

1990, e mantenedor de um modelo de saúde médico-assistencial/hospitalar desde 1977, havia

recebido a chancela do Ministério da Saúde para editá-las (SCATENA; TANAKA, 2001).

O enfoque da NOB/91, a qual foi regulamentada por resolução nº 258, e publicada no

DOU em 07 de janeiro de 1991, foi dirigida para a normalização de mecanismos de

financiamento do SUS: repasse, acompanhamento, controle e avaliação dos recursos

financeiros do INAMPS para estados e municípios, todos estes considerados fatores de

incentivo ao processo de descentralização. Essa Norma privilegiou o financiamento

principalmente da assistência hospitalar e ambulatorial (BRASIL, 1991; SCATENA;

TANAKA, 2001). Está dividida em quatro partes: a primeira define critérios para o

financiamento da atividade ambulatorial; a segunda define instrumentos de acompanhamento,

controle e avaliação da execução que trata dos: Conselhos de Saúde; dos Fundos de Saúde

aprovados em lei e geridos pelo órgão de saúde, fiscalizados pelo Conselho; Consórcios

Administrativos Intermunicipais; Relatórios de Gestão; Programação e Orçamentação da

Saúde; Planos de Aplicação dos Fundos; Prestação de Contas dos Fundos de Saúde; a terceira

parte descreve sobre o controle e acompanhamento; e a quarta e última parte, traz as

disposições gerais a serem observadas pelos estados e municípios no processo de implantação

da nova portaria principalmente no que se refere ao financiamento (BRASIL, 1991;

CARVALHO, 2002).

O financiamento do SUS, para atividades hospitalares e ambulatoriais, a ser garantido

pelo orçamento do INAMPS, foi organizado em cinco itens:

a) financiamento da atividade ambulatorial proporcional à população;

b) recursos transferidos na forma de Autorização para Internação Hospitalar

(AIHs) a cada unidade executora, proporcional à população;

c) custeio da máquina administrativa do INAMPS/MS;

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d) custeio de Programas Especiais em saúde;

e) investimentos (despesas de capital), alocados no Plano Quinquenal de

Saúde MS/INAMPS, em lei orçamentária de iniciativa do Poder Executivo

aprovados pelo Congresso Nacional, e em caráter excepcional a critério do

Ministro de Estado da Saúde (BRASIL, 1991).

Para o financiamento das atividades hospitalares (hospitais públicos ou privados

contratados ou conveniados que integram o SUS) foi definido o Sistema de Informações

Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH-SUS) e seu formulário próprio denominado

Autorização de Internação Hospitalar (AIH) (BRASIL, 1991). Esta forma de repasse, por sua

vez, foi considerada por Scatena e Tanaka (2001, p. 58) um instrumento de distribuição

desigual de poder que “favoreceu municípios política e estrategicamente mais importantes, ou

socialmente organizados”. Foi o próprio INAMPS que definiu os critérios demográficos,

epidemiológicos e estrutura física, os quais passariam a orientar o repasse de AIH aos

municípios e estados.

Para o financiamento das atividades ambulatoriais, por sua vez, o INAMPS definiu a

Unidade de Cobertura Ambulatorial (UCA), para cada estado, de “acordo com a população,

capacidade instalada, qualidade e desempenho técnico, econômico e financeiro em períodos

anteriores”, e o pagamento através do Sistema de Informação Ambulatorial (SIA/SUS), via

fundo, aos municípios habilitados pela NOB ou via Secretaria Estadual de Saúde, para aqueles

que não se habilitaram (BRASIL, 1991). O texto da NOB/91 foi orientado pelo Art. 35 da Lei

n. 8080/90:

Art. 35. Para o estabelecimento de valores a serem transferidos a Estados,

Distrito Federal e Municípios, será utilizada a combinação dos seguintes

critérios, segundo análise técnica de programas e projetos:

I - perfil demográfico da região;

II - perfil epidemiológico da população a ser coberta;

III - características quantitativas e qualitativas da rede de saúde na área;

IV - desempenho técnico, econômico e financeiro no período anterior;

V - níveis de participação do setor saúde nos orçamentos estaduais e

municipais;

VI - previsão do plano quinquenal de investimentos da rede;

VII - ressarcimento do atendimento a serviços prestados para outras esferas

de governo (BRASIL, 1990b).

Para o financiamento de investimentos, o INAMPS estabeleceu as Unidades de

Capacitação da Rede (UCR) para fins de definição de valores e reajustes a serem repassados,

de forma automática e regular, aos Estados e Distrito Federal para reposição e modernização

tecnológica dos equipamentos da rede pública estadual e municipal (BRASIL, 1991;

SCATENA; TANAKA, 2001).

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E, por fim, para estímulo à municipalização do SUS e as ações de Saúde Coletiva foi

criado o Fator de Estímulo a Municipalização (FEM), que corresponderia a 5% do valor da

UCA aos municípios que atendessem aos critérios da Lei n° 8.142/90:

Art. 4°. Para receberem os recursos [...] os Municípios, os Estados e o

Distrito Federal deverão contar com:

I - Fundo de Saúde;

II - Conselho de Saúde, com composição paritária;

III - Plano de Saúde;

IV - Relatórios de Gestão;

V - Contrapartida de recursos para a saúde no respectivo orçamento;

VI - Comissão de elaboração do Plano de Carreira, Cargos e Salários

(PCCS), previsto o prazo de dois anos para sua implantação.

Parágrafo único. O não atendimento pelos Municípios, ou pelos Estados, ou

pelo Distrito Federal, dos requisitos estabelecidos neste artigo, implicará

em que os recursos concernentes sejam administrados, respectivamente,

pelos Estados ou pela União (BRASIL, 1990a).

Os instrumentos de acompanhamento, controle e avaliação da execução da presente

Norma, pelos estados e municípios, trazem de forma incipiente o papel dos Conselhos de

Saúde, dando mais ênfase aos processos burocráticos de prestação de contas do que às

orientações com vistas ao fortalecimento de instituições políticas viabilizadoras da

transparência e controle social (SCATENA; TANAKA, 2001). Os instrumentos enfatizam o

modo como os fundos de saúde serão geridos, fiscalizados e poderão ser aplicados; os

consórcios administrativos intermunicipais; quais aspectos o relatório de gestão precisa

abordar, sendo este um requisito básico para a transferência automática de recursos aos

municípios e da Programação e Orçamento da Saúde (PROS):

2.5.1 – A PROS dos Estados, Distrito Federal e Municípios deve

compatibilizar as necessidades da política de saúde com a disponibilidade

de recursos, buscando melhoria da eficiência e dos procedimentos a serem

seguidos para concretização das ações de saúde em benefício dos usuários.

2.5.2 – A PROS constituirá a base das atividades e ações de cada nível de

direção do SUS, devendo demonstrar as diretrizes, objetivos e metas a

serem atingidos, o diagnóstico das necessidades da população, bem como

as estratégias que levem à obtenção dos objetivos propostos.

2.5.3 – Para a consecução dos objetivos propostos, será de grande

importância a participação ativa no processo de planejamento de todos

quantos executam as ações de saúde, bem como dos que as recebam.

2.5.4 – As diretrizes a serem observadas na elaboração da PROS serão

as estabelecidas pelo Conselho Nacional de Saúde, em função das

características epidemiológicas e da organização dos serviços em cada

jurisdição administrativa (BRASIL, 1991, grifo nosso).

Scatena e Tanaka (2001, p. 60) sintetizam, de modo primoroso, uma crítica à NOB/91:

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A NOB 01/91 teve seu papel histórico no processo de construção do SUS e

destacou-se como o primeiro instrumento a regulamentar os inúmeros

"espaços abertos" deixados pelas Leis Orgânicas da Saúde. Sua grande

limitação é derivada de sua orientação pelos princípios do INAMPS e de seu

enfoque dirigido fundamentalmente ao financiamento, com valorização das

atividades hospitalares e ambulatoriais, perpetuando a lógica de

privilegiamento da assistência médica (e da concepção de saúde tendo a

doença como referência), que sempre orientou o INAMPS. Além disso, a

forma convenial que permitia a municipalização - termo aditivo entre

INAMPS e prefeituras, excluindo as Secretarias Estaduais - e o controle

exercido pelas Coordenadorias Regionais do INAMPS, representaram uma

barreira à habilitação para a grande maioria dos municípios brasileiros.

Cabe ainda ressaltar uma crítica: a contradição existente em um de seus itens, ainda na

primeira parte quando diz “[...] os Estados, Distrito Federal e Municípios administrarão os

recursos destinados à saúde, cabendo-lhes a responsabilidade na promoção das ações de

saúde diretamente voltadas aos seus cidadãos [...]” (BRASIL, 1991, grifo nosso). Aqui fica

uma pergunta: Como responder pela promoção das ações em saúde se todos os investimentos

posteriormente detalhados foram voltados para a assistência à saúde principalmente nos níveis

de média e alta complexidade? Inclusive a tabela de procedimentos e preços adotada não

previa a remuneração de ações promocionais e preventivas. Para Santos e Andrade (2007) a

NOB/91 foi alvo de muitas críticas por ignorar as disposições da Lei 8.142/90 sobre a

transferência intergovernamental regular e automática a estados e municípios, além de manter

o INAMPS no comando da implementação do SUS e ainda por empregar o pagamento por

produção e não prever uma estratégia para as ações de vigilância epidemiológica e sanitária.

Para Oliveira Júnior (1998, p. 126), “[...] continuou prevalecendo a estrutura de compra de

serviços privados de saúde do INAMPS, agora aplicado aos gestores públicos estaduais e

municipais”. A ênfase ainda permanecia nas atividades curativas do sistema de saúde.

Houve uma reedição da NOB/91, em julho de 91. A NOB/92 deu continuidade a

NOB/91, regulamentada por Portaria nº 234 e publicada no DOU em 07 de fevereiro de 1992,

e teve um ínfimo avanço. Para Carvalho (2002) as modificações nela contidas foram

periféricas, já que, para sua publicação optou-se por um consenso entre o INAMPS, a

Secretaria Nacional de Assistência à Saúde/MS, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde

(CONASS) e Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), o que

acabou inviabilizando a possibilidade de mudanças em suas questões estruturais “[...] suas

ilegalidades continuariam intocáveis [...]”. Municipalistas chamados a contribuir para sua

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formulação usaram a expressão: “estamos enfeitando a corda do enforcamento”, uma vez que,

não acreditavam em sua essência (CARVALHO, 2002, p. 74).

Seus objetivos foram “[...] normalizar a assistência à saúde no SUS e dar forma

concreta a instrumentos operacionais à efetivação dos preceitos constitucionais da saúde [...]”.

Por força disto, traz em seu texto introdutório um resgaste dos preceitos constitucionais da

saúde e as leis regulamentadoras do SUS, também a importância do planejamento para o

processo de descentralização, que na NOB/92, é denominado de planejamento integrado das

ações de saúde, além de afirmar que na área da saúde uma política de qualidade e

produtividade é fundamental. Esta NOB deixa claro que será implantado no SUS o Sistema de

Avaliação de Qualidade em Saúde (SAQS) e que este terá como compromisso fundamental o

incremento da qualidade do atendimento e da satisfação do usuário. Ainda descreve como a

municipalização deve ser entendida informando o processo desta para o repasse de recursos

financeiros (BRASIL, 1992):

A municipalização na saúde não deve ser entendida apenas pelo

cumprimento aos critérios, estabelecidos na Lei 8.142/90, para repasse, de

forma regular e automática, dos recursos financeiros federais para cobertura

de ações e serviços de saúde a serem implementados pelos municípios. Ela

deve ser entendida principalmente pela nova responsabilidade do município

de administrar as ações e serviços de saúde em sua área de abrangência,

planejando, decidindo e gerindo os recursos humanos, materiais e

financeiros. É o estabelecimento do comando único do SUS na esfera

municipal.

No que tange ao financiamento, praticamente mantém o que a NOB anterior havia

regulamentado, priorizando o financiamento da assistência médica curativa para atividades

hospitalares e ambulatoriais com repasses baseados em dados populacionais para as AIHs e

além desses, em estrutura física (capacidade instalada) e desempenho financeiro prévio para

as UCAs (BRASIL, 1992).

Vale a pena expor alguns trechos originais dessa NOB. Em relação ao planejamento

(BRASIL, 1992, grifo nosso):

[...] deve ser desenvolvido através de uma metodologia participativa, é a

projeção das ações a serem executadas e a racionalização dos procedimentos

técnico-administrativos, necessários à execução dessas ações.

[...] é de competência das três esferas de Governo e constitui a base para a

execução, o acompanhamento, a avaliação, o controle e a gerência do

sistema de saúde, e pressupõe o conhecimento da realidade existente e dos

instrumentos disponíveis e necessários para se atingir as metas propostas.

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Assim, o planejamento, além de ascendente, deve ser uma tarefa dos

municípios, estados e União.

[...] Uma das consequências do planejamento será proporcionar o

aclaramento das responsabilidades das três esferas de governo, da

definição da prestação e gestão dos serviços e do aporte dos recursos

financeiros. Dessa forma, o processo de planejamento-orçamentação deve

ser indivisível. Assim, a Programação e Orçamentação em Saúde – PROS, é

essencial enquanto parte integrante e detalhamento dos planos de saúde.

[...] O primeiro passo no processo de planejamento é a análise da realidade

através do levantamento dos problemas de saúde, suas causas e pontos

críticos e os recursos disponíveis: "do que e como as pessoas estão

adoecendo ou morrendo?", "o que deve ser feito para melhorar os

indicadores de vida/morte, saúde/doença?" A seguir são definidos os

objetivos e metas a serem alcançadas e as atividades a serem desenvolvidas

(é importante identificar, nessa fase, os possíveis entraves políticos, técnicos,

administrativos e financeiros para a consecução de cada atividade e do plano

de ação como um todo). Passa-se então à definição dos recursos necessários

e das fontes de financiamento para cada atividade e ao estabelecimento de

um cronograma de execução.

Sobre Produtividade e qualidade (BRASIL, 1992, grifo nosso):

[...] O desenvolvimento das ações de saúde, sejam elas de promoção,

proteção, recuperação ou reabilitação, devem fazer parte do planejamento

integrado das ações de saúde, pois somente através da integralidade das

ações haverá a melhoria da qualidade da assistência.

[...] Acima de tudo, o Sistema de Avaliação de Qualidade em Saúde deverá

ter um caráter pedagógico para todos os envolvidos, dentro do qual o

incremento à qualidade deve ser mais do que incentivado: provocado, e

cuja avaliação constituirá uma responsabilidade conjunta dos gestores,

prestadores e usuários.

Em síntese, essa NOB traz de forma muito clara que os municípios têm a

responsabilidade primária da execução das ações e gestão dos serviços de saúde; os estados

têm por função “controlar o controle municipal” e de assumir essa responsabilidade na

incapacidade municipal de fazê-la e; à União cabe a tarefa de fornecer coordenação técnica

aos demais entes federados. Traz definições do SIA e SIH, mantendo o controle e a

fiscalização da execução orçamentária pelo INAMPS conforme a NOB/91 e ainda reconhece

a importância do planejamento nos campos da promoção, proteção e recuperação da saúde,

levando em consideração o conceito abrangente de saúde definido na Constituição,

acreditando que somente através deste haveria melhoria da qualidade da assistência (BRASIL,

1992; BRASIL, 2011c). Aqui cabe novamente a pergunta: Como responder pela promoção

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das ações em saúde se todos os investimentos foram voltados para a assistência à saúde

principalmente nos níveis de média e alta complexidade?

Essas duas NOBs sem dúvida representaram um novo processo para a

operacionalização das ações e serviços do SUS e intencionaram a descentralização, mas

apesar disso, esta não ocorreu de modo amplo. A NOB 91/92 vigorou entre janeiro de 1991 e

novembro de 1994 e, o volume de municípios que assinaram convênios com o INAMPS foi

bastante reduzido, sendo 321 em 1991, 565 em 1992 e 188 em 1993, totalizando1.074

municípios ao final de 1993, o que correspondia a apenas 21,6% do universo local do país

(OUVERNEY, 2015).

Eram tempos difíceis, a conjuntura do setor de saúde no início da década de 1990 foi

marcada pelas dificuldades impostas pelo Governo Collor que retardou em dois anos a edição

das leis orgânicas e ainda vetou partes importantes desta para a operacionalização do SUS

conquistado pelo MRSB; adiou o debate com a sociedade civil ocorrido na 9ª Conferência

Nacional de Saúde; manteve as estruturas centralizadas do INAMPS; reduziu os recursos

federais para a saúde, tudo isso, dentre outros aspectos, para retardar a descentralização. Por

força disto, elevaram-se as pressões por parte de militantes do setor e a discussão de que os

Municípios e Estados não poderiam ficar recebendo por produção e mediante convênios. A

descentralização era uma diretriz do texto constitucional, porém, como já dito, sua efetivação

encontrava barreiras políticas, financeiras e técnicas expressivas (LIMA, 2013; OUVERNEY,

2015).

Buscando vencer esse desafio, outra norma foi criada no ano seguinte: a NOB/93 pela

Portaria nº 545, de 20 de maio de 1993 (BRASIL, 1993b). Em sua introdução ela traz

claramente qual o objetivo mais importante da descentralização:

[...] o objetivo mais importante que se pretende alcançar com a

descentralização do SUS é a completa reformulação do modelo assistência

hoje dominante, centrado na assistência médico-hospitalar individual,

assistemática, fragmentada e sem garantia de qualidade, deslocando o eixo

deste modelo para a assistência integral universalizada e equânime,

regionalizada e hierarquizada, e para a prática da responsabilidade sanitária

em cada esfera de governo, em todos os pontos do sistema (BRASIL,

1993b).

Esta norma significou, expressivamente, um avanço. Mesmo com o agravamento da

crise financeira do setor de saúde, com a interrupção dos repasses da previdência em 1993, foi

no Governo Itamar Franco que se verificaram as condições políticas propícias para o início

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efetivo da transferência de atribuições e recursos para os estados e, especialmente, municípios

(OUVERNEY, 2015).

Foi aprovada pelo CNS, em janeiro de 1993, seguida de um longo processo de

discussão e negociação com um conjunto de atores da área da saúde que se dedicaram em

analisar, questionar e oferecer sugestões para o aperfeiçoamento da proposta, as quais em sua

maioria foram incorporadas e originaram a versão final de um documento denominado

“Descentralização das ações e serviços de saúde: A ousadia de cumprir e fazer cumprir a lei”,

aprovada em 15 de abril de 1993 (BRASIL, 1993a; 1993b). A formulação da estratégia para a

descentralização descrita nesse documento foi pautada nas recomendações da 9ª Conferência

Nacional de Saúde, ocorrida em agosto de 1992 com o tema: “Municipalização da Saúde,

condição indispensável para a efetiva implantação do SUS” (CARVALHO et al., 2017).

Originária de um Grupo Especial de Descentralização (GED), o qual elaborou uma

proposta de operacionalização dos preceitos legais que fundamentam o SUS e editada pelo

próprio MS, a NOB/93, buscou não somente regulamentar o financiamento, mas também o

processo de descentralização da gestão dos serviços e ações no âmbito do SUS. Foi o primeiro

instrumento de normalização voltado para a definição do gerenciamento do processo de

descentralização nos três níveis de governo, através da Comissão Intergestores Tripartite

(CIT), Comissões Intergestores Bipartite (CIB) e dos Conselhos Municipais. Ainda que tenha

preservado o repasse por produção de serviços, ela insistiu em um tipo de repasse que ia ao

encontro da descentralização: a transferência “fundo a fundo” (BRASIL, 1993b).

Também criou as condições de gestão para os municípios: Gestão Incipiente, Gestão

Parcial e Gestão Semiplena e; para os estados: Gestão Parcial e Gestão Semiplena, a fim de

assegurar viabilidade política à execução das mudanças necessárias, criando diferentes fases

para a habilitação, respeitando as condições técnicas e operacionais dos municípios e estados.

Para que esse processo se desse, a NOB-93 coloca para cada uma das situações requisitos,

responsabilidades, que deveriam ser cumpridas e prerrogativas que passariam a usufruir.

Passada essa fase transicional, a seguir, introduzir-se-ia a gestão plena do sistema, que era a

finalidade máxima, em que se cumpriria a lei, em sua totalidade (BRASIL, 1993b;

CARVALHO, 2002; OUVERNEY, 2015).

É comum omitir-se da NOB-93 a forma de gestão, denominada gestão plena.

Todos os quadros explicativos da NOB 93 e do documento que a precedeu

fala nessa situação, cuja característica seria, principalmente, a gestão que

cumprisse os princípios legais de forma inteira. Nessa situação: o

financiamento seria de acordo com o art. 35 da 8080, todos os recursos (teto

financeiro) repassados fundo a fundo, contratando e pagando serviços

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terceirizados, quando necessários, complementarmente, gerenciamento

completo da rede, planejamento controle e avaliação próprios, com

cumprimento dos requisitos legais do plano, fundo, conselho de saúde

(aprovando plano e contas), relatório de gestão e outros (CARVALHO,

2002, p. 76).

Com a NOB/93, iniciava-se um processo de gestão municipal quase plena. Nesse tipo

de gestão o município teria que constituir e comprovar serviços de controle, avaliação,

auditoria, com médicos designados para as AIHs e de procedimentos ambulatoriais de alto

custo, capacidade técnica para operar os sistemas de informação SIA, o SIH e a central de

leitos (BRASIL, 1993a). Cada município brasileiro seguiu um curso próprio: uns já se

preparavam para instituir o novo formato de gestão, outros viviam limitações que implicavam

em um tempo maior para essa medida. Para Almeida (1995, apud SCATENA; TANAKA,

2001, p. 65), o processo de adesão dos estados e municípios, para a presente norma, com

início somente em junho de 1994, foi positivo, pois:

[...] não é e não representa uma simples regulamentação administrativa e

financeira. Significa, na realidade, a expressão de uma decisão política de

procurar realizar os princípios e diretrizes do SUS, particularmente quanto à

descentralização de gestão [...].

Vale ressaltar que em novembro de 1995, 2.750 municípios já estavam habilitados em

suas formas de gestão, sendo que 52 municípios estavam habilitados na condição de gestão

semiplena (BARROS, 1997). No início de 1996, os municípios em gestão semiplena já

somavam 92, representando 13% da população brasileira (BARROS, 1996).

Em síntese, a construção e estratégia da NOB/93 trouxeram mudanças significativas

no processo de descentralização: a extinção do INAMPS, a efetiva implantação das comissões

CIT e CIB, a transferência de recursos “fundo a fundo”, além de favorecer a realização de

mudanças organizacionais importantes na estrutura administrativa do Ministério da Saúde

(OUVERNEY, 2015). Para o autor, as transformações realizadas na trajetória do processo de

descentralização do SUS ao longo do Governo Itamar Franco, nos anos de 1993 e 1994, foram

impulsionadas pelos atores da Reforma Sanitária que souberam aproveitar uma “janela de

oportunidades no contexto federativo nacional e na correlação de forças do setor” a fim de

promoverem uma “passagem de um padrão concentrado de exercício das funções de política

de saúde de coordenação vertical e exclusiva na esfera federal para outro que pode ser

caracterizado como um federalismo integrado municipalista”, ou seja, os governos

subnacionais, em especial, os municípios, que passaram a atuar efetivamente como gestores

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do SUS a partir de uma dinâmica tripartite de compartilhamento decisório e de

responsabilidades, apesar de a União ter mantido expressiva capacidade indutiva e regulatória

(OUVERNEY, 2015, p. 225).

Três anos depois da edição da NOB/93, o Governo Federal lançou a NOB/96,

mediante a Portaria n° 2.203, publicada no DOU em 06 de novembro de 1996, com a

pretensão de dar continuidade ao processo de consolidação do SUS. Novos ventos, novos

atores, novo governo: Presidente da época, Fernando Henrique Cardoso (FHC). De forma

diferente do que ocorreu na formulação da NOB/93, em que se formou um grupo à parte, o

GED, para insular o processo das influências retrógradas da burocracia técnica federal, então

oposicionista em relação à descentralização, no processo de construção da NOB/96 as

atividades inicias de consolidação textual são realizadas diretamente no âmbito do MS

(OUVERNEY, 2015).

O processo de elaboração até o início da implantação durou 03 anos, de 1995 até 1997

e apesar de ter sido publicada no início de novembro de 1996, sua adesão ocorreu apenas no

primeiro semestre de 1998, após a publicação de uma Instrução Normativa n° 01/98 que “[...]

regulamenta os conteúdos, instrumentos e fluxos do processo de habilitação de Municípios, de

Estados e do Distrito Federal às novas condições de gestão criadas pela Norma Operacional

Básica do Sistema Único de Saúde - NOB SUS 01/96 [...]” pelo então Ministro da Saúde

Carlos César de Albuquerque, em 02 de janeiro de 1998 (BRASIL, 1998). Várias portarias

foram publicadas entre 1997 e 1998 as quais acabaram por alterar significativamente o

conteúdo original da NOB, particularmente no que se refere às formas e aos instrumentos de

financiamento específicos nela previstos. Pode-se dizer que a NOB/96 nunca foi

integralmente implementada em seu modelo inicial. Por conta disto, Carvalho (2001, p. 442)

chega a denominá-la de “NOB/98” (LEVCOVITZ; LIMA; MACHADO, 2001; BRASIL,

1998).

Nesse período houve uma “inflexão na dinâmica federativa” no Brasil em direção ao

fortalecimento expressivo de tendências centralizadoras, impulsionando a formação de um

novo regime de relações intergovernamentais entre a União e os governos subnacionais no

plano legislativo, fiscal e de coordenação de políticas públicas. As oportunidades que

favoreceram a retomada do ideal descentralizador da Reforma Sanitária e que permitiu ao

municipalismo assumir o comando nacional do SUS, na era Itamar Franco (1993-1994),

cedeu lugar a uma conjuntura marcada pela recuperação do papel da União no jogo federativo

na era FHC (1995-2002) (OUVERNEY, 2015, p. 296; BARROS, 2001).

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No período de 1995 e 1996, ao longo da Gestão do Ministro da Saúde Adib Jatene,

observou-se a predominância de preferências por menor regulação federal em virtude da

presença de uma elite no comando federal cuja formação e trajetória possuíam raízes

profundas no Movimento da Reforma Sanitária. No período seguinte de 1997 a 2000,

correspondente às gestões de Carlos Albuquerque e principalmente José Serra, prevaleceu às

preferências por um MS mais forte e com maior capacidade de regulação sobre os estados e

municípios. Essa tendência se sustentava em uma elite federal na direção do MS, em sua

maioria, com formação e trajetória externa ao movimento de formação do SUS e que

concentrou seus esforços na busca pela vinculação de recursos dos governos subnacionais e

na revisão do modelo adotado na NOB/96 em um processo decisório onde o MS teve

significativo diferencial de poder e conseguiu inserir novas regras que fortaleciam suas

capacidades indutivas (OUVERNEY, 2015; CARVALHO, 2002).

A NOB/96 colocou como finalidade primordial “[...] promover e consolidar o pleno

exercício, por parte do poder público municipal e do Distrito Federal, da função de gestor da

atenção à saúde dos seus munícipes, com consequente redefinição das responsabilidades dos

Estados, do DF e da união [...]" (BRASIL, 1996, p. 6). Conforme Andrade, Pontes e Martins

Junior (2000, p. 88) esta norma obrigou um “[...] aperfeiçoamento da gestão dos serviços de

saúde no país e na própria organização do sistema, visto que o município passou a ser, de fato,

responsável imediato pelo atendimento das necessidades e demandas de saúde de sua

população e das exigências de intervenções saneadoras em seu território [...]”. Implementou o

Piso da Atenção Básica (PAB) para o financiamento das ações de Atenção Básica (AB)

desenvolvidas pelos municípios, representando a introdução de uma lógica de financiamento

per capita pela primeira vez no SUS; criou um leque de incentivos específicos para áreas

estratégicas, como exemplo, o incentivo aos Programas de Saúde da Família (PSF) e de

Agentes Comunitários de Saúde (PACS), ações de Vigilância Sanitária: Piso Básico de

Vigilância Sanitária (PBVS) e Índice de Valorização do Impacto em Vigilância Sanitária

(IVISAI) e custeio das ações de epidemiologia e de controle de doenças. Também definiu a

remuneração por serviços prestados (internações hospitalares, ambulatório de alto custo,

vigilância sanitária e epidemiológica) e transferências por convênios para atividade de

epidemiologia e controle de doenças; institui a Programação Pactuada e Integrada (PPI) como

“[...] o instrumento essencial de reorganização do modelo de atenção e da gestão do SUS, de

alocação dos recursos e da explicitação do pacto estabelecido entre as três esferas de governo

[...]” (BRASIL, 1996, p. 18); definiu as condições de gestão para os municípios: Gestão Plena

da Atenção Básica (GPAB) e Gestão Plena do Sistema Municipal (GPSM), e para os estados:

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Gestão Avançada do Sistema Estadual (GASE) e Gestão Plena do Sistema Estadual (GPSE),

relacionando responsabilidades, requisitos e prerrogativas para cada uma delas (BRASIL,

1996; SOUZA, 2002a; PEREIRA; QUITO, 2004).

Para o modelo de atenção à saúde, a NOB/96 trouxe bases para um reordenamento: da

assistência (atividades prestadas no âmbito ambulatorial, hospitalar e domiciliar), das

intervenções ambientais (vigilâncias e saneamento) e das políticas externas ao setor (emprego,

habitação, educação, lazer e à disponibilidade e qualidade dos alimentos), pressupondo a

incorporação do modelo epidemiológico ao clínico até então vigente (BRASIL, 1996;

SOUZA, 2002a).

Esta norma ainda definiu, de forma clara e precisa, a diferença conceitual entre

gerência e gestão:

Assim, nesta NOB gerência é conceituada como sendo a administração

de uma unidade ou órgão de saúde (ambulatório, hospital, instituto,

fundação, etc.), que se caracteriza como prestador de serviços ao Sistema.

Por sua vez, gestão é a atividade e a responsabilidade de dirigir um

sistema de saúde (municipal, estadual ou nacional), mediante o exercício

de funções de coordenação, articulação, negociação, planejamento,

acompanhamento, controle, avaliação e auditoria. São, portanto, gestores

do SUS os Secretários Municipais e Estaduais de Saúde e o Ministro da

Saúde, que representam, respectivamente, os governos municipais, estaduais

e federal (BRASIL, 1996, p. 8, grifo nosso).

Em síntese, para Barros (2001) a NOB/96 introduziu duas mudanças fundamentais.

Primeiro, a criação do PAB, ampliando o repasse automático no que se refere à AB e, por

outro lado, fragmentando o financiamento em um grande número de "parcelas", seja sob a

forma de parcelas variáveis do PAB ou sob a forma de subtetos para média e alta

complexidade. Para a autora, essa fragmentação criou rigidez para a alocação dos recursos nos

níveis municipal e estadual e reduziu significativamente a capacidade decisória dos gestores

subnacionais por impor condicionalidades para acesso aos recursos em determinadas áreas,

como exemplo, a exigência de implementar programas federais, definidos de modo

centralizado, como é o caso do PSF. A fragmentação do financiamento ainda inaugurou um

processo de “recentralização seletiva”, a qual veio a se consolidar com a edição da Norma

Operacional da Assistência à Saúde (NOAS) no ano de 2001 e reeditada em 2002, as quais

redefiniram funções das esferas de governo e fragmentaram a gestão do sistema segundo

níveis de complexidade tecnológica da assistência, subtraindo ao gestor municipal poder de

decisão sobre determinadas áreas do sistema (BARROS, 2001, p. 309).

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Apesar disso, ao final do período de vigência da NOB SUS 01/96, mais de 99% dos

municípios brasileiros estavam habilitados a uma das condições de gestão da referida norma,

sendo 89% em GPAB e 10,1% em GPSM. A maior parte dessas habilitações ocorreu ainda

em 1998, no primeiro ano de implantação da NOB/96. Entretanto, o percentual de municípios

habilitados em cada uma dessas condições de gestão foi bastante variável entre os estados,

devido às desigualdades de condições e diferentes modelos de descentralização. Já o processo

de habilitação dos estados foi mais lento e irregular. Em dezembro de 2001, cinco estados

estavam habilitados na condição de GASE e sete estados na condição de GPSE (SOUZA,

2002a).

Para Scatena e Tanaka (2001) o fato de 99% dos municípios brasileiros terem se

habilitado às duas formas de gestão previstas na NOB/96, se por um lado representou um

avanço da descentralização, por outro, gerou grande preocupação, já que, na época 4.849

municípios foram colocados num mesmo patamar, em termos de condições de gestão, mesmo

que apresentassem heterogeneidade política, geográfica, social, cultural e sanitária. Cabe

ainda ressaltar que a NOB/96 se mostrou insuficiente na organização regional dos municípios,

nas palavras de Pereira e Quito (2004, p. 44) “[...] neste momento não se conseguiu uma

organização dos municípios em caráter complementar [...]”. A PPI, proposta pela NOB/96,

que tinha como princípio essa regulação, não foi implementada de maneira que superasse os

problemas burocráticos de acesso à população entre os municípios e/ou estados (ANDRADE,

2001), e foi definida claramente na Norma subsequente.

Para enfrentar essa atomização do SUS em sistemas municipais e estaduais isolados, o

Brasil avançou novamente: instituiu as NOAS editada em 2001 pela Portaria nº 95, de 26 de

janeiro de 2001 e reformulada em 2002 pela Portaria nº 373, de 27 de fevereiro de 2002

(BRASIL, 2001; 2002). Ambas tratam da organização dos sistemas de saúde e do

fortalecimento dos estados como coordenadores de um processo articulado de regionalização

do SUS, ampliando o conceito de distribuição de recursos per capita, a partir de alocação

microrregional. Ainda buscaram estabelecer mecanismos para a garantia da integralidade da

assistência através do fortalecimento da atenção básica (PEREIRA; QUITO, 2004).

A NOAS-SUS teve como objetivo “[...] promover maior equidade na alocação de

recursos e no acesso da população às ações e serviços de saúde em todos os níveis de

atenção", assumindo a regionalização como macroestratégia fundamental para o

aprimoramento do processo de descentralização (BRASIL, 2002).

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[...] o processo de regionalização deverá contemplar uma lógica de

planejamento integrado, compreendendo as noções de territorialidade na

identificação de prioridades de intervenção e de conformação de sistemas

funcionais de saúde, não necessariamente restritos à abrangência municipal,

mas respeitando seus limites como unidade indivisível, de forma a garantir o

acesso dos cidadãos a todas as ações e serviços necessários para a resolução

de seus problemas de saúde, otimizando os recursos disponíveis (BRASIL,

2001).

Está dividida em quatro capítulos: o primeiro: Regionalização; segundo:

Fortalecimento da capacidade de gestão no SUS; terceiro: Critérios de habilitação e

desabilitação de municípios e estados; e; por último: Disposições transitórias (BRASIL,

2001).

O primeiro capítulo estabelece “[...] o processo de regionalização como estratégia de

hierarquização dos serviços de saúde e de busca de maior equidade”, assim como esse

processo deveria ser compreendido pelos diferentes governos (União, DF, estados e

municípios). Está dividido em cinco alíneas: da elaboração do Plano Diretor de

Regionalização (PDR), da Ampliação do Acesso e da Qualidade da AB, da Qualificação das

Microrregiões na Assistência à Saúde, da Organização dos Serviços de Média complexidade e

o último, da Política de Atenção de Alta Complexidade/Custo no SUS (BRASIL, 2001).

Um dos pontos mais importantes a ser enfatizado é a elaboração do PDR, uma vez

que, através dele, os estados passariam a ter a competência de organizar o fluxo da assistência

intermunicipal, isto é, de organizar os fluxos de referência e contrarreferência, no âmbito dos

níveis de atenção. No que diz respeito à organização da assistência, enfatiza-se a importância

de qualificar e melhorar a resolutividade da AB em todos os municípios brasileiros, a partir da

identificação de áreas estratégicas mínimas, relacionadas a problemas de saúde de

abrangência nacional (o controle da tuberculose, a eliminação da hanseníase, o controle da

hipertensão arterial, o controle da diabetes mellitus, a saúde da criança, a saúde da mulher e a

saúde bucal). A proposta de qualificação de regiões/microrregiões na assistência à saúde tem

a intenção de garantir o acesso a ações resolutivas para além dos limites municipais,

considerando critérios de qualidade e economia de escala. A NOAS-SUS ainda estabeleceu

diretrizes gerais para a organização das demais ações de média e alta complexidade,

preconizando que o PDR compreendesse o mapeamento das redes de referência em áreas

estratégicas específicas (gestação de alto risco, urgência e emergência, hemoterapia, entre

outras) (BRASIL, 2001; 2002).

O segundo capítulo, está dividido em três alíneas: da Programação da Assistência, das

Responsabilidades de cada Nível de Governo na Garantia de Acesso a População

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Referenciada e do Processo de Controle, Avaliação e Regulação da assistência. Este capítulo

traz instrumentos que pretendem organizar e fortalecer o planejamento dos sistemas de saúde,

entre eles, a PPI, que é um instrumento de alocação de recursos entre os municípios e os

estados, iniciando um processo de negociação das referências e contrarreferências como

forma de garantia de acesso integral e os instrumentos de acompanhamento da garantia de

acesso, através do Termo de Compromisso para Garantia de Acesso (TCGA), o qual, os

gestores assinariam e consequentemente se responsabilizariam pela garantia do acesso aos

munícipes, de acordo com o fluxo definido no PDR e na PPI. Pela primeira vez se trabalhou

com os processos de controle e avaliação como instrumentos de fortalecimento da gestão, de

forma a otimizar os recursos financeiros e a organizar os fluxos definidos, através da

regulação (BRASIL, 2001; 2002; PEREIRA; QUITO, 2004).

O terceiro capítulo reorganiza os critérios e prerrogativas da habilitação de estados e

municípios, sendo diferentes das NOB’s anteriores, pois consideram, além de outros

requisitos, o perfil assistencial dos municípios, de acordo com o papel a ser desempenhado

por ele no PDR. A NOAS-SUS prevê dois tipos de habilitação, conforme a capacidade

resolutiva do município: a primeira, Gestão Plena de Atenção Básica Ampliada (GPABA)

estabelecendo cinco áreas estratégicas: saúde da mulher, saúde da criança, saúde bucal,

controle da diabetes e eliminação da hanseníase, além da obrigatoriedade de possuir

eletrocardiograma e posto de coleta de exames laboratoriais; e a segunda, GPSM

preconizando que o município ofereça um mínimo de procedimentos de média complexidade,

incluindo ultrassonografia, radiologia e odontologia especializada. Estabelece também dois

tipos de habilitação para os Estados: GASE e GPSE. A habilitação dos municípios e estados

às diferentes condições de gestão significa a declaração dos compromissos assumidos por

parte do gestor perante os outros gestores e perante a população sob sua responsabilidade

(BRASIL, 2001; 2002; PEREIRA; QUITO, 2004).

O quarto e último capítulo que trata de disposições transitórias, descreve os prazos

para adequação dos entes federados para todos os requisitos exigidos na presente norma,

permitindo ainda aos municípios que não conseguissem cumprir o prazo de que trata este

item, habilitarem-se de acordo com as regras de habilitação previstas na NOB-SUS 01/96

(BRASIL, 2001).

A partir da publicação da NOAS-SUS 01/01, as Secretarias Estaduais de Saúde (SES),

através do CONASS, e as Secretarias Municipais de Saúde (SMS), através do CONASEMS,

desencadearam diversas atividades de planejamento e de adequação de seus modelos

assistenciais e de gestão aos preceitos estabelecidos, ponderando criticamente os avanços e os

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desafios que novas diretrizes organizativas trariam para sua realidade concreta. Durante este

percurso, em algumas unidades da federação, foram identificados entraves na

operacionalização de determinados itens, decorrentes das dificuldades para estabelecer o

comando único sobre os prestadores de serviços ao SUS e assegurar a totalidade da gestão

municipal nas sedes dos módulos assistenciais, bem como da fragilidade para explicitação dos

mecanismos necessários à efetivação da gestão estadual para as referências intermunicipais.

Em decorrência da necessidade de viabilizar o debate sobre essas questões, identificadas

como causadoras da distensão ocasionada na implantação da NOAS/SUS 01/01, o processo

de negociação foi reaberto durante o segundo semestre de 2001. Neste sentido, a CIT, em

reunião realizada em 22 de novembro de 2001, firmou acordo contemplando propostas

referentes ao comando único sobre os prestadores de serviços de média e alta complexidade e

o fortalecimento da gestão dos estados sobre as referências intermunicipais. Na mesma

ocasião, deliberou-se pela constituição de um Grupo de Trabalho, com representação

tripartite, com a atribuição de detalhar o acordo e incorporar a NOAS os pontos acordados,

mantendo a coerência do texto. Em 07 de dezembro de 2001 foi feito um relato, por

representantes do MS, CONASS e CONASEMS, aos membros do CNS, acerca da negociação

realizada na CIT e das alterações que dela resultaram. Como consequência, elaborou-se a

chamada NOAS-SUS 01/02. Com o objetivo de facilitar sua utilização, o documento

incorporou definições da regulamentação complementar, relacionada aos temas que foram

objeto do acordo, que, na versão anterior, encontravam-se descritos em documentos

normativos específicos. Enfim, cabe destacar que a NOAS-SUS 01/02, assegurou a

manutenção das diretrizes organizativas definidas pela NOAS-SUS 01/01, no entanto,

procurou oferecer as alternativas necessárias à superação das dificuldades e impasses oriundos

da dinâmica concreta de sua implementação (SOUZA, 2002a). A NOAS-SUS 01/02 se

organiza a partir da proposição de três estratégias articuladas: regionalização e organização da

assistência; fortalecimento da capacidade de gestão do SUS e revisão de critérios de

habilitação; e desabilitação dos estados e municípios (BRASIL, 2002). Ela pretendia avançar

na consolidação do SUS com base no aprimoramento da regionalização do sistema, assentado

em módulos assistenciais, micro e macrorregiões; no reforço do comando único sobre os

serviços em cada território e na organização dos mecanismos de regulação do acesso

(CARVALHO et al., 2017).

Para Pereira e Quito (2004) a publicação das NOAS/SUS 01/01 e 01/02 permitiram

um grande avanço no que diz respeito ao processo de planejamento em saúde e na

regionalização das ações de saúde. Também se notou um movimento no processo de

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descentralização dos estados, já que estes, na sua maioria, se habilitaram segundo os critérios

nelas previstos. De certo modo, permitiram aos gestores buscar de forma consensuada e

pactuada, a organização dos espaços microrregionais de saúde.

No entanto, observou-se que muitas propostas constantes nos dois planos

preconizados, PDR e Plano Diretor de Investimentos (PDI), como forma de garantir o acesso

dos cidadãos às ações e aos serviços de saúde e a integralidade da atenção em saúde em uma

região, não foram concretizadas e, dessa forma o plano de regionalização da NOAS também

não se efetivou (CARVALHO et al., 2017). O insucesso dessas propostas representou um

impasse no campo da gestão descentralizada, caracterizado pela dificuldade da gestão

municipal em assegurar uma AB resolutiva e acesso à atenção especializada, e da gestão

estadual, que não conseguiu exercer a coordenação do processo e liderar a criação de

subsistemas de atenção à saúde nas regiões (VASCONCELOS; PACHE, 2006).

No período correspondente, em 2003, por iniciativa do CONASEMS, e já com um

novo Governo, de Luiz Inácio Lula da Silva, após a 12ª Conferência de Saúde, com o tema

“Saúde como direito de todos e dever do Estado – a saúde que temos, o SUS que queremos”,

entra na agenda de discussão a necessidade de mudanças na dinâmica de gestão do sistema.

Sobressai a construção de uma nova proposta a substituir a normatização excessiva, assim

como a lógica da habilitação, pela adesão e compromisso com os resultados (OUVERNEY,

2015; DOBASHI, 2005).

Cabe ressaltar que o compromisso do novo governo durante seus dois mandatos

(2003-2010) era de introduzir uma nova dinâmica de relações intergovernamentais que

pudessem resgatar o caráter cooperativo do federalismo setorial inscrito na Constituição de

1988 e compor uma estratégia de coordenação federativa (OUVERNEY, 2015; CARVALHO

et al., 2017), enquanto mecanismos que possibilitam a coordenação de políticas orientadas

para resultados expressos em metas sanitárias, por exemplo: ferramentas legais e normativas

com especificações sobre a distribuição de funções e competências gestoras; instâncias

federativas; e papel coordenador e/ou indutor do governo federal (LIMA, 2013).

Por força disto, foi formulada pelo MS uma proposta denominada Pacto pela Saúde,

em que a habilitação foi substituída pelo compromisso, por meio de instrumentos e pactos

entre os gestores da saúde (OUVERNEY, 2015; CARVALHO et al., 2017). O Pacto foi uma

tentativa de construir um modelo de gestão interfederativo, cooperativo e consensual para o

SUS (SANTOS; ANDRADE, 2009). Desde o início das discussões criou-se a expectativa que

esse pacto rompesse com as barreiras de habilitação e promovesse todos os municípios à

condição de gestor pleno no seu território (CARVALHO et al., 2017).

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O Pacto pela Saúde foi publicado pela Portaria GM/MS nº 399 de 22 de fevereiro de

2006 e publicado no DOU em 23 de fevereiro do mesmo ano. Composto pelo Pacto pela

Vida, Pacto em Defesa do SUS e Pacto de Gestão teve a missão de consolidar o SUS e

aprovar Diretrizes Operacionais (BRASIL, 2006a; 2006b).

O Pacto pela Vida compõe um conjunto de compromissos sanitários expressos em

objetivos de processos e resultados que apresentam impacto sobre a situação de saúde da

população brasileira, ou seja, revelou a importância de estabelecerem uma gestão por

resultados, a partir das metas estaduais e municipais. Os pactos estaduais deverão estar

referenciados pelas metas e objetivos nacionais, da mesma forma, os pactos municipais

deverão estar em consonância com as metas e objetivos estaduais (BRASIL, 2006a; 2011c;

CARNEIRO et al., 2014). São seis as prioridades pactuadas: saúde do idoso; controle do

câncer de colo de útero e de mama; redução da mortalidade infantil e materna; fortalecimento

da capacidade de respostas às doenças emergentes e endemias, com ênfase na dengue,

hanseníase, tuberculose, malária e influenza; promoção da saúde e fortalecimento da AB

(BRASIL, 2006a). Em 2009, o MS incluiu no Pacto pela Vida mais algumas áreas prioritárias,

são elas: a saúde do trabalhador; a saúde mental; o fortalecimento da capacidade de resposta

do sistema de saúde às pessoas com deficiência; a atenção integral às pessoas em situação ou

risco de violência; e; a saúde do homem (BRASIL, 2009).

O Pacto em Defesa do SUS tem a missão de consolidar o SUS como uma política de

estado, expressando os compromissos entre os gestores do sistema, e de repolitizar a saúde

com a consolidação da Reforma Sanitária Brasileira. Suas ações devem contemplar a

articulação e apoio à mobilização social pela promoção e desenvolvimento da cidadania,

tendo a questão da saúde como direito, além de buscarem a garantia de um financiamento de

acordo com as necessidades do Sistema (BRASIL, 2006a).

O Pacto de Gestão estabelece as responsabilidades de cada ente federado de forma a

diminuir as competências concorrentes e a tornar mais claro quem deve fazer o quê,

fortalecendo a ideia de uma gestão compartilhada e solidária. Tem as seguintes tarefas:

descentralizar os processos administrativos relativos à gestão do SUS para as CIBs; definir os

modelos organizacionais a serem implantados de acordo com as especificidades de cada

estado, a partir de normas pactuadas na CIT; a construção de um Colegiado de Gestão

Regional (CIR), acordando sua constituição, denominação e funcionamento na CIB

(BRASIL, 2006a).

Os instrumentos do Pacto de Gestão são: PDR, PDI e a PPI. Em cada região a CIB

deverá definir o desenho mais apropriado, visando à garantia do acesso universal, em

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consonância com as necessidades locais de saúde e capacidade de oferta da respectiva região

(BRASIL, 2006a).

O PDR deverá expressar o desenho final do processo de identificação e

reconhecimento das regiões de saúde, em suas diferentes formas, em cada

estado e no Distrito Federal, objetivando a garantia do acesso, a promoção

da equidade, a garantia da integralidade da atenção, a qualificação do

processo de descentralização e a racionalização de gastos e otimização de

recursos. Para auxiliar na função de coordenação do processo de

regionalização, o PDR deverá conter os desenhos das redes regionalizadas de

atenção à saúde, organizadas dentro dos territórios das regiões e

macrorregiões de saúde, em articulação com o processo da Programação

Pactuada Integrada. O PDI deve expressar os recursos de investimentos para

atender as necessidades pactuadas no processo de planejamento regional e

estadual. No âmbito regional deve refletir as necessidades para se alcançar a

suficiência na atenção básica e parte da média complexidade da assistência,

conforme desenho regional e na macrorregião no que se refere à alta

complexidade. Deve contemplar também as necessidades da área da

vigilância em saúde e ser desenvolvido de forma articulada com o processo

da PPI e do PDR (BRASIL, 2006a).

Em síntese, o Pacto pela Saúde é um conjunto de reformas institucionais do SUS

pactuado entre as três esferas de gestão (União, Estados e Municípios) com o objetivo de

promover inovações nos processos e instrumentos de gestão, visando alcançar maior

eficiência e qualidade das respostas do SUS. Ao mesmo tempo, pelo menos em tese, redefine

as responsabilidades de cada gestor em função das necessidades de saúde da população e

na busca da equidade social, por meio de sete eixos orientadores: descentralização,

regionalização, planejamento/PPI, regulação, financiamento, participação social e gestão do

trabalho. Sua implementação se dá pela adesão dos entes federados ao Termo de

Compromisso de Gestão (TCG), o qual substitui os processos de habilitação das várias formas

de gestão anteriormente vigentes e estabelecem compromissos, objetivos e metas para cada

ente da federação associados a indicadores e prioridades definidas nacionalmente, tendo que

ser renovado anualmente (BRASIL, 2006a, grifo nosso).

As formas de transferência dos recursos federais para estados e municípios também

foram modificadas pelo Pacto pela Saúde, passando a ser integradas em cinco grandes blocos

de financiamento: AB, Atenção de Média e Alta Complexidade, Vigilância em Saúde,

Assistência Farmacêutica e Gestão do SUS, substituindo, assim, as centenas de "caixinhas"

que eram utilizadas anteriormente para essa finalidade (BRASIL, 2006a). Cabe ressaltar

ainda, uma inovação trazida pelo pacto de 2006, a criação de Colegiados de Gestão Regional

(CGRs), instâncias que institucionalizaram o relacionamento horizontal entre os governos

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municipais e representantes do governo estadual, nas quais se instituíram processos decisórios

compartilhados para a definição de políticas de abrangência regional, na tentativa de construir

um modelo de gestão interfederativo (CARVALHO et al., 2017; SANTOS; ANDRADE,

2009).

O Pacto pela Saúde, em suas três dimensões, representou uma mudança na forma de

atuação do nível federal, assim como uma revisão das relações federativas no SUS, com

aumento da necessidade de cooperação intergovernamental. No entanto, apesar da ênfase na

pactuação federativa como eixo, a elaboração dos compromissos pactuados pouco se articula

com o planejamento. Isso é evidenciado pela ênfase incipiente no diagnóstico situacional

prévio à pactuação, pela dificuldade de cada realidade local realizar uma adaptação das metas

e prioridades, e pela indefinição de instrumentos para atingir as metas pactuadas, como

exemplo, investimentos, recursos, estruturas e etc (MACHADO; BAPTISTA; LIMA, 2010;

CARNEIRO et al., 2014). Aqui surge mais uma pergunta: As metas pactuadas nacionalmente

refletem de fato as reais necessidades da população dos vários brasis regionais?

Para Santos (2007, p. 434), as mudanças propostas no Pacto pela Saúde devem ser

analisadas sob o ponto de vista da macropolítica e da microgestão. A microgestão está

atrelada à micropolítica do trabalho em saúde, “onde está localizado o espaço para

acumulação de êxitos visíveis e consecução de mudanças significativas do SUS”. Nesse

sentido, as prioridades definidas nacionalmente (macropolítica) para o Pacto pela Vida

apresentam objetivos, metas e indicadores que, necessariamente, se traduzem em um conjunto

de compromissos e responsabilidades para as práticas cotidianas nos serviços de AB,

articulando-os à finalidade do trabalho. Entre estas prioridades, como já dito, está o

fortalecimento da própria política de AB, organizada e qualificada pela Estratégia Saúde da

Família (ESF) (BRASIL, 2008) para a reorientação do modelo de atenção à saúde em todo o

território nacional (BRASIL, 2017). Desde a implantação do PSF, houve grande expansão no

número de equipes no País. No entanto, para além da expansão, questões de qualidade

permanecem em aberto, ao lado de problemas ligados à própria natureza de um programa

público que almeja a equidade (CARNEIRO et al., 2014), mas é indutivo (CAMPOS;

PEREIRA JÚNIOR, 2016).

Nesse sentido, Machado et al. (2009), discutem que o Pacto pela Saúde ainda se

apresenta como normativas e portarias expedidas pelo MS ou pelas CIB ou CIT e que embora

as informações sejam divulgadas em sites oficiais, demoram para chegar aos profissionais que

atuam diretamente na assistência à saúde. Carneiro et al. (2014) comprova essa percepção em

estudo realizado com profissionais de saúde vinculados à gestão colegiada da coordenação

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das ESF e à coordenação da rede de APS no município de Marília-SP, com o objetivo de

discutir a implementação do Pacto pela Saúde a partir da prática cotidiana dos serviços de

saúde da AB. O estudo evidenciou haver pouca aproximação dos trabalhadores vinculados à

coordenação das ESF com o Pacto pela Saúde no espaço micropolítico do trabalho, revelando

um conhecimento superficial e uma percepção de distanciamento na elaboração do pacto

frente às realidades dos cotidianos dos serviços. Para os autores, isso se justifica pelo processo

de construção de metas municipais se darem em uma lógica setorizada, por programas

verticais, sem a participação dos atores que desenvolvem as ações previstas. Portanto, para

mudanças efetivas na construção do SUS, a relação entre os gestores nas comissões

interfederativas não é suficiente, é necessária a participação dos trabalhadores na construção

das pactuações, aqueles que convivem com a realidade local e que podem de fato adequar a

qualidade da resposta do sistema às necessidades da população (CARNEIRO et al., 2014).

Continuando, apesar dos avanços já alcançados na gestão do SUS, ainda era

frequentemente apontada, nos fóruns de gestores, a necessidade de se alcançar mais

transparência na gestão do Sistema, mais segurança jurídica nas relações interfederativas e

maior controle social. Além disso, a Lei n° 8.080/90, desde a sua edição, carecia de

explicitação de conceitos ali expostos, como o de regionalização, integralidade, redes de

serviços, e de explicitação de sua forma organizativa que pressupunha a gestão compartilhada

(CARVALHO et al., 2017). Por conta disso, em 2011, quase vinte e um anos após a

promulgação das Leis Orgânicas da Saúde, e cinco anos após a edição do Pacto pela Saúde, o

SUS é finalmente regulamentado por meio do Decreto n° 7.508, publicado no DOU em 29 de

junho de 2011, que dispõe sobre a regulamentação das Leis Orgânicas, sobre a organização do

SUS, o planejamento em saúde, a assistência à saúde e a articulação interfederativa, com base

em um instrumento jurídico nomeado Contrato Organizativo de Ação Pública da Saúde

(COAP) (BRASIL, 2011a).

O Decreto está dividido em seis capítulos. O primeiro “Das Disposições

Preliminares”, define alguns conceitos, como exemplo, o significado de região de saúde,

mapa de saúde, Contrato Organizativo de Ação Pública (COAP), entre outros; o segundo

capítulo “Da organização do SUS”, está subdividido em duas sessões, a primeira para efeito

da organização “Das Regiões de Saúde” e a segunda “Da Hierarquização” que trata que “[...]

o acesso universal, igualitário e ordenado às ações e serviços de saúde se inicia pelas Portas

de Entrada do SUS e se completa na rede regionalizada e hierarquizada, de acordo com a

complexidade do serviço”; o terceiro capítulo “Do Planejamento da Saúde”, no seu artigo 15º

descreve que “[...] o processo de planejamento da saúde será ascendente e integrado, do

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nível local até o federal, ouvido os respectivos Conselhos de Saúde, compatibilizando-se

as necessidades das políticas de saúde com a disponibilidade de recursos financeiros”; o

quarto capítulo “Da Assistência à Saúde”, também está subdivido em duas sessões, a primeira

trata da “Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde” (RENASES) e a segunda “Da

Relação Nacional de Medicamentos Essenciais” (RENAME); o quinto capítulo, “Da

Articulação Interfederativa”, também subdividido em duas sessões: a primeira trata “das

Comissões Intergestoras” e a segunda “do COAP” e o sexto e último capítulo trata das

Disposições Finais (BRASIL, 2011a).

A RENASES compreende todas as ações e serviços que o SUS oferece ao usuário para

atendimento da integralidade da assistência à saúde. A RENAME compreende a seleção e a

padronização de medicamentos indicados para atendimento de doenças ou de agravos no

âmbito do SUS. O Mapa da Saúde é “a descrição geográfica da distribuição de recursos

humanos e de ações e serviços de saúde ofertados pelo SUS e pela iniciativa privada,

considerando-se a capacidade instalada existente, os investimentos e o desempenho aferido a

partir dos indicadores de saúde do sistema” (BRASIL, 2011a).

O planejamento integrado das ações e serviços de saúde exige o compromisso aos

governos signatários de discutir permanentemente a política de saúde e a sua execução e

integração nos Conselhos de Saúde e nas Comissões Intergestoras, sendo obrigatória a

elaboração de cada Plano de Saúde e do Relatório de Gestão para a manutenção das

transferências de recursos financeiros previstos da União para os Estados, DF e Municípios

(BRASIL, 2011b). No planejamento também devem ser considerados os serviços e as ações

prestadas pela iniciativa privada, de forma complementar ou não ao SUS, os quais deverão

compor os Mapas da Saúde regional, estadual e nacional (BRASIL, 2011a). Ainda sobre o

planejamento:

O planejamento regional integrado será a base para a instalação de novos

serviços de saúde na Região, sejam públicos ou privados, contratados e

conveniados, observando o Mapa da Saúde e o disposto no art. 197,

combinado com o art. 174 da CF e Decreto 7.508/2011.

Os entes Signatários devem, em seu âmbito administrativo, formular,

gerenciar, implementar e avaliar o processo permanente de planejamento,

orientado pelas necessidades de saúde da população, definindo as

diretrizes, os objetivos e as metas que comporão os planos de saúde de cada

ente, os quais devem ser discutidos e aprovados pelos conselhos de saúde

respectivos (BRASIL, 2011b, p. 19, grifo nosso).

Para efeito deste Decreto, são requisitos mínimos para a instituição de Região de

Saúde possuir serviços de AB, Urgência e Emergência, Atenção Psicossocial, Atenção

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ambulatorial especializada e hospitalar e Vigilância em saúde (BRASIL, 2011a). Considera-

se:

Art. 2º I - Região de Saúde - espaço geográfico contínuo constituído por

agrupamentos de Municípios limítrofes, delimitado a partir de identidades

culturais, econômicas e sociais e de redes de comunicação e infraestrutura de

transportes compartilhados, com a finalidade de integrar a organização, o

planejamento e a execução de ações e serviços de saúde;

Art 4º As Regiões de Saúde serão instituídas pelo Estado, em articulação

com os Municípios, respeitadas as diretrizes gerais pactuadas na Comissão

Intergestores Tripartite – CIT,

§1°

Poderão ser instituídas Regiões de Saúde interestaduais, compostas por

Municípios limítrofes, por ato conjunto dos respectivos Estados em

articulação com os Municípios.

§2°

A instituição de Regiões de Saúde situadas em áreas de fronteira com

outros países deverá respeitar as normas que regem as relações

internacionais (BRASIL, 2011a).

Em relação à articulação interfederativa, as comissões intergestoras pactuarão a

organização e o funcionamento das ações e serviços de saúde integrados em redes de atenção

à saúde, sendo:

I - a CIT, no âmbito da União, vinculada ao Ministério da Saúde para efeitos

administrativos e operacionais;

II - a CIB, no âmbito do Estado, vinculada à Secretaria Estadual de Saúde

para efeitos administrativos e operacionais; e

III - a Comissão Intergestores Regional - CIR, no âmbito regional, vinculada

à Secretaria Estadual de Saúde para efeitos administrativos e operacionais,

devendo observar as diretrizes da CIB (BRASIL, 2011a).

O COAP é definido como um acordo de colaboração firmado entre os diferentes

governos com a finalidade de organizar e integrar as ações e os serviços de saúde em uma

rede regionalizada e hierarquizada, com definição de responsabilidades, indicadores e metas

de saúde, critérios de avaliação de desempenho, recursos financeiros que serão

disponibilizados, forma de controle e fiscalização de sua execução e demais elementos

necessários à implementação integrada das ações e serviços de saúde, com a intenção de

garantir a integralidade da assistência à saúde da população (CONASS, 2015). Desta forma, o

COAP se constituiu em um instrumento formal, necessário para corresponsabilizar os

governos federados, com aplicabilidade processual, tendo em vista que as condições

epidemiológicas, demográficas e socioeconômicas são dinâmicas. Nele foram incorporados os

instrumentos de compromisso e pactuação que já vinham sendo desenvolvidos pelo Pacto pela

Saúde e nele estão definidas, por meio da Programação Geral das Ações e Serviços de Saúde

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(PGASS), todas as ações de assistência à saúde, da AB à especializada, a serem realizadas na

região a partir das prioridades definidas no planejamento regional integrado (BRASIL, 2011a;

CARVALHO et al., 2017).

O COAP é composto por quatro partes: a primeira denominada “Parte I - Das

responsabilidades organizativas do SUS” explicita as responsabilidades a que os entes

signatários estão submetidos em relação à organização do SUS (BRASIL, 2011b, p. 6).

A “Parte II - Responsabilidades executivas e seus anexos I, II e III” explicitam as

responsabilidades executivas dos governos signatários (caracterização é discorrida no Anexo

1), com os seguintes conteúdos: a) as diretrizes e os objetivos do Plano Nacional de Saúde –

PNS e das políticas nacionais; b) os objetivos regionais plurianuais, sempre em consonância

com o disposto nos planos de saúde nacional, estadual e municipal. c) as metas regionais

anuais, os indicadores e as formas de avaliação; d) os prazos de execução (BRASIL, 2011b, p.

9). O Anexo II fala da PGASS na Região de Saúde:

a) a relação das ações e serviços executados na Região de Saúde, observada

a Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde (RENASES) e a Relação

Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) e as correspondentes

responsabilidades individuais e solidárias; e

b) o mapa de metas em relação às ações e serviços a serem executados na

Região de Saúde (BRASIL, 2011b, p. 9).

O Anexo III - “Quadro entre os entes Signatários das ações e serviços com direção

única em relação aos entes Signatários”, descreve, a relação dos serviços de saúde em cada

esfera de governo e as respectivas responsabilidades pelo referenciamento do usuário de outro

município, respeitada a direção única em cada esfera de governo, de acordo com o disposto na

Lei n° 8080/90 (BRASIL, 2011b, p. 32-42).

A “Parte III – Das Responsabilidades Orçamentarias e Financeiras” do COAP dispõe

sobre as responsabilidades orçamentário-financeiras: financiamento global do contrato,

custeio e investimento, formas de incentivo e cronograma de desembolso e as regras nacionais

e estaduais sobre o financiamento (BRASIL, 2011b, p. 43) e a “Parte IV: Monitoramento,

Avaliação de desempenho e Auditoria” (BRASIL, 2011b, p. 48).

Este contrato tem como compromisso dos entes Signatários garantir

atendimento integral ao cidadão, com base na RENASES e de acordo com a

hierarquização das ações e serviços que competem à Região de Saúde xxxx,

fundado na orientação de que é necessário atuar de maneira integrada e

sistêmica, tanto no âmbito do próprio setor da saúde como nas demais

áreas sociais, ambientais e econômicas que influenciam e condicionam a

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saúde das pessoas, promovendo a intersetorialidade, com o fim de

diminuir as desigualdades sociais e erradicar a pobreza, devendo haver

uma integração entre todos os níveis de assistência à saúde, sempre

orientadas para a qualidade dos resultados (BRASIL, 2011b, p. 11, grifo

nosso).

O instrumento COAP trouxe a possibilidade jurídico-legal de uma gestão cooperada

do SUS, pondo em discussão a exigência de atualização do Pacto Federativo em torno da

saúde, sob o exercício de uma gestão trina cooperada e regionalizada, em abertura às

necessidades e dinâmicas loco regionais. No entanto, no cenário nacional, após quase sete

anos de sua publicação, somente dois Estados, Ceará e Mato Grosso Sul, conseguiram

implantá-lo, o que corresponde a 6% das Regiões estruturadas no país (GOYA et al., 2017).

Em estudo qualitativo desenvolvido no período de 2013 a 2015 com o objetivo de

identificar as percepções de gestores estaduais da saúde do Ceará, sobre a produção e efeitos

do COAP na experiência do Estado, destacou-se a positividade da responsabilização

federativa trina pelo direito à saúde, o fortalecimento da regionalização no âmbito do governo,

avanços organizacionais relacionados à implantação de Ouvidorias e Sistema Nacional de

Gestão da Assistência Farmacêutica, registro da informação da força de trabalho e ainda

transparência do recurso orçamentário-financeiro por ente federado. Todavia, problemas

como baixa institucionalidade do funcionamento em rede e da capacidade do Estado de

regulação, o subfinanciamento e a educação permanente em saúde, revelaram impotência para

a consecução de seus princípios, e também, se destacaram como os grandes desafios do

Sistema e da implementação do COAP, dado o não enfrentamento de problemas estruturais

em cooperação trina (GOYA et al., 2017).

Cabe ainda ressaltar que nesse mesmo estudo, foi perceptível o distanciamento entre o

planejado e o executado, apontando a perspectiva de que o problema não é apresentado no

desenho da rede ou em sua concepção, mas no fazer depois, condicionado ao cumprimento

das pactuações intermunicipais, à regulação e ao apoio logístico, além do necessário

entendimento por parte dos profissionais que integram a rede. Foi indicado que a organização

e o funcionamento em rede requerem mais do que a planificação do desenho assistencial em si

pela gestão (GOYA et al., 2017).

Outro aspecto importante a ser ressaltado é que a adesão ao COAP, no estado do

Ceará, foi uma decisão política em ano eleitoral e nessa perspectiva houve um “atropelamento

do tempo técnico pelo tempo político”, todos os gestores tinham ciência que o COAP tinha

uma data X para ser finalizado, e essa data X era menos de um ano. Por conta da “supremacia

do momento político sobre o momento técnico” houve problemas centrais ao COAP no

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tocante a sua dimensão organizativa, principalmente em manterem o uso da PPI, mantendo a

lógica da programação de procedimentos e capacidade de oferta irreal, substituindo o

preconizado pelo Decreto n° 7.508, que era a utilização da RENASES (GOYA et al., 2017, p.

1237).

No processo de construção do SUS nesses últimos 27 anos (1990-2017) o que se vê é

um constante processo de negociação e reconstrução da proposta original. Milhares de

portarias foram editadas pelo MS e novas leis foram aprovadas pelo Congresso Nacional.

Cada contexto político e de gestão de governo permitiu avançar e/ou definir rumos mais ou

menos consistentes para a reforma (LIMA, 2013).

O Quadro 2 demostra que houve longo período de tempo entre a aprovação da Lei n°

8.080/90 e sua regulamentação por meio de decreto, além de sintetizar os principais aspectos

das regulamentações. No entanto, eu aprendi na disciplina Bases Teóricas e Políticas de

Atenção à Saúde que essa lenta trajetória histórica de regulamentação do SUS tem múltiplas

determinações que, para ser compreendidas, requerem o raciocínio dialético e a identificação

dos processos que são anteriores ao conteúdo que os instrumentos parecem mostrar. Outro

universo, portanto, outra pesquisa. Nesta, é preciso pontuar que os momentos históricos

permitiram, ao longo desses 27 (vinte e sete) anos regulamentar o SUS do modo como se

regulamentou.

As normas de regulamentação do SUS instituídas pelos governos nacionais, desde a

década de noventa foram, portanto, importantes para a implantação do SUS ao longo do

tempo. Mas, não foi assegurado o processo de operacionalização, enquanto um “projeto

virtuoso” que atenderia às finalidades da política nacional de saúde, de garantia do acesso

universal às ações e serviços de saúde e da atenção integral compatível com as necessidades

diferenciadas da população (LIMA, 2013, p. 89). O SUS foi concebido como um sistema

regionalizado e hierarquizado que, na prática, vem instituindo a municipalização autárquica

(MENDES, 2001). Para Miranda, Mendes e Silva (2017) o elemento complicador da

organização do SUS não se deve à diferenciação entre os diferentes governos federados, mas

ao fato de o Brasil ser o único país do mundo com um alto nível de descentralização.

Foram normas, pactos e decretos que hegemonizaram o processo histórico. Desde os

anos 1970, o MRSB afirma que a pobreza e a desigualdade social são obstáculos a uma boa

situação de saúde (SOUZA, 2014). Se os projetos macroeconômicos considerassem que a

construção de um país cidadão, exige, antes de tudo, que todos se reconheçam em saúde como

direito de cidadania, em dignidade, a lógica se inverteria: construiríamos um Brasil

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economicamente produtivo a partir de uma sociedade saudável (porque justa). Construiríamos

o SUS conquistado em 1986.

Na prática, o SUS que temos é o “SUS possível”, que se vê no cotidiano dos serviços

de saúde, fragmentado e frágil. Uma das razões apontada por Souza (2009) se deve ao fato de

que as organizações sofrem influência do contexto político e da limitação por autoridades

externas da capacidade de decisão de seus dirigentes, já que são obrigados a seguirem normas

definidas por outras instâncias ou organizações.

Concordo com Souza (2009, p. 912) quando diz que “o SUS possível ainda está longe

do SUS necessário”. Para Miranda, Mendes e Silva (2017) a concretização do SUS necessário

está na dependência da superação do caráter formal das normas e diretrizes instituídas desde a

sua implantação, o que exige das três esferas de governo a construção de um coletivo capaz de

consolidar as redes de saúde e de reduzir as desigualdades que marcam a sociedade brasileira.

Não posso, ou melhor, não podemos deixar o sonho possível morrer, o SUS, a garantia

da universalidade, indiscutivelmente foi a maior conquista social da população brasileira,

“[...] na verdade, o SUS é uma estratégia das mais importantes para a construção de um país

socialmente justo [...]” (SOUZA, 2009, p. 912).

Vamos continuar pedalando enquanto se conserta a bicicleta ou vamos ser criativos e

fortes para mudar de fato as instituições públicas do nosso país? Na Lei Orgânica 8080/90

está escrito que todos têm direito à saúde, independente de raça, gênero, idade ou classe

social. Na vida real, o que percebo é ainda uma grande insatisfação e descrença com relação

ao SUS. É fundamental, Estado e sociedade concordarem que hoje há uma necessidade

urgente de uma política mais justa, solidária e redistributiva no Brasil; eu também diria, de

uma política consistente, em que o “tempo técnico” não seja atropelado pelo “tempo político”

(GOYA et al., 2017, p. 1237) e suas ideologias. Vamos à luta!

Quadro 2 - Leis, normas e decretos na operacionalização do SUS - Evolução Histórica

Ano

Leis

Normas

Decretos

Contexto O que se propõe

Características

1988

Constituição

da República

do Brasil

05/10/1988

- Reabertura democrática

do Estado Brasileiro,

após duas décadas de

regime militar;

- Abertura política;

- Mobilização popular em

oposição ao sistema de

saúde vigente

(previdenciário).

- Federalismo

cooperativo: soberania

partilhada entre União,

estados e municípios.

Art. 18. A organização

político-administrativa da

República Federativa do

Brasil compreende a

União, os Estados, o

Distrito Federal e os

Municípios, todos

- Ênfase no Regime

Democrático e valorização da

cidadania.

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61

autônomos, nos termos

desta Constituição;

- Saúde como direito de

todos e dever do Estado;

- Cria o SUS como

sistema público de saúde

no Brasil.

1990

Lei 8.080

19/09/1990

A conjuntura do setor de

saúde no início da década

de 1990 foi marcada

pelas dificuldades

impostas pelo Governo

Collor:

- Retardou em dois anos

a edição das leis

orgânicas e ainda vetou

partes importantes desta

para a operacionalização

do SUS conquistado pelo

MRSB;

- Manteve as estruturas

centralizadas do

INAMPS;

- Reduziu os recursos

federais para a saúde;

- A descentralização era

uma diretriz do texto

constitucional, mas sua

efetivação encontrava

barreiras políticas,

financeiras e técnicas

expressivas.

- Dispõe sobre as

condições para a

promoção, proteção e

recuperação da saúde, a

organização e o

funcionamento dos

serviços correspondentes

e dá outras providências;

- Traz de forma clara,

como incumbência

primária do município, a

execução das ações e a

gestão dos serviços de

saúde.

- Definição de repasse de

recursos federais aos

municípios e estados de forma

regular, mediante critérios

demográficos,

epidemiológicos, de

capacidade instalada e do

desempenho, histórico

pregresso.

Art. 35°. Para o

estabelecimento de valores a

serem transferidos a Estados,

Distrito Federal e Municípios,

será utilizada a combinação

dos seguintes critérios:

I - perfil demográfico da

região;

II - perfil epidemiológico da

população a ser coberta;

III - características

quantitativas e qualitativas da

rede de saúde na área;

IV - desempenho técnico,

econômico e financeiro no

período anterior;

V - níveis de participação do

setor saúde nos orçamentos

estaduais e municipais;

VI - previsão do plano

quinquenal de investimentos

da rede;

VII - ressarcimento do

atendimento a serviços

prestados para outras esferas

de governo.

Lei 8.142

28/12/1990

- Conjuntura de

instabilidade política do

governo: retrocesso na

decisão política de

viabilizar uma maior

participação da sociedade

no controle do sistema e

na definição do

financiamento do SUS.

- Dispõe sobre a

participação da

comunidade na gestão do

Sistema Único de Saúde

(SUS) e sobre as

transferências

intergovernamentais de

recursos financeiros na

área de saúde.

Art. 4°. Para receberem os

recursos [...] os Municípios, os

Estados e o Distrito Federal

deverão contar com:

I - Fundo de Saúde;

II - Conselho de Saúde, com

composição paritária;

III - Plano de Saúde;

IV - Relatórios de Gestão;

V - Contrapartida de recursos

para a saúde no respectivo

orçamento;

VI - Comissão de elaboração

do Plano de Carreira, Cargos e

Salários (PCCS), previsto o

prazo de dois anos para sua

implantação.

1991 - Editada pelo presidente - Objetivo: fornecer - Financiamento do SUS pelo

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62

NOB 91

Resolução

nº258

07/01/1991

do INAMPS reforça a

ênfase nas atividades

curativas do sistema de

saúde;

- Descaracteriza os

principais objetivos do

SUS ao definir a lógica

de recursos a Estados e

Municípios e

consequentemente a

organização do Sistema.

instruções aos

responsáveis pela

implantação e

operacionalização do

SUS, principalmente no

que diz respeito ao

financiamento na

intenção de adoção da

Política proposta pelos

Estados e Municípios.

orçamento do INAMPS:

• Para atividades hospitalares

(custeio);

• Para atividades ambulatoriais

(custeio).

- Financiamento para

investimentos: • Para aquisição de

equipamentos de unidades

assistenciais públicas,

estaduais e municipais, já

existentes (capital).

- Estímulo à municipalização

do SUS e às ações de Saúde

Coletiva: Critérios da

8.142/90.

1992

NOB 92

Portaria nº

234

07/02/1992

- Mantém a lógica de

financiamento contida na

NOB/91;

- Insatisfação com a

política setorial, líderes

do MRSB demandavam a

realização da 9ª

Conferência de Saúde

para discutir os caminhos

para a implementação do

SUS e a descentralização.

Em agosto de 1992, foi

realizada essa

Conferência com o tema:

“Municipalização da

Saúde, condição

indispensável para a

efetiva implantação do

SUS”;

- Construção do

documento:

Descentralização das

Ações e Serviços de

Saúde - a ousadia de

cumprir e fazer cumprir a

lei.

- Normalizar a

assistência à saúde no

SUS, estimular a

implantação, o

desenvolvimento e o

funcionamento do

sistema; e dar forma

concreta e instrumentos

operacionais à efetivação

dos preceitos

constitucionais da saúde.

- Recursos alocados no Fundo

Nacional de Saúde

permanecendo ainda o

INAMPS como via de repasse

aos Estados, Distrito Federal e

Municípios.

1993

NOB 93

Portaria nº

545

20/05/1993

- Governo Itamar Franco:

condições políticas

propícias para o início

efetivo da transferência

de atribuições e recursos

para os estados e,

especialmente,

municípios, apesar da

crise no financiamento;

- Agravamento da crise

financeira do setor saúde:

interrupção dos repasses

da previdência;

- Editada pelo Ministério

da Saúde e construída por

um “Grupo Especial de

Descentralização”

(GED);

- Estabelecer normas e

procedimentos

reguladores do processo

de descentralização da

gestão das ações e

serviços de saúde;

- Disciplinar o processo

de descentralização da

gestão das ações e

serviços de saúde na

perspectiva de construção

do SUS.

• - Definiu “formas transitórias

de gestão para estados e

municípios, com ênfase na

municipalização”:

• Para os municípios três

condições de gestão: Gestão

Incipiente, Gestão Parcial e

Gestão Semiplena;

• Para os Estados duas

condições de Gestão: Gestão

Parcial e Gestão Semiplena;

• - Institucionalizou as

Comissões Intergestores

Tripartite (CIT) na esfera

federal e Bipartite (CIB) na

esfera estadual;

- Institucionalizou os

Conselhos Estaduais e

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63

• - Extinção do INAMPS

(lei 8.698 de 27/07/93).

Municipais de Saúde;

- Financiamento: manteve o

repasse por produção de

serviços, mas insistiu em um

tipo de repasse denominado

“transferência fundo a fundo”.

Dois tipos:

- Forma preponderante:

repasse direto ao prestador

segundo produção aprovada;

- Forma residual: transferências em bloco

segundo montante definido no

teto financeiro.

1994

Decreto

nº 1.232

30/08/1994

- Dispõe sobre as

condições e a forma de

repasse regular e

automático de recursos

do Fundo Nacional de

Saúde para os fundos de

saúde estaduais,

municipais e do Distrito

Federal, e dá outras

providências.

- Art.1º § 1º Enquanto não

forem estabelecidas, com base

nas características

epidemiológicas e de

organização dos serviços

assistenciais previstas no art.

35 da Lei nº 8.080, de 1990, as

diretrizes a serem observadas

na elaboração dos planos de

saúde, a distribuição dos

recursos será feita

exclusivamente segundo o

quociente de sua divisão pelo

número de habitantes, segundo estimativas

populacionais fornecidas pelo

IBGE, obedecidas as

exigências deste decreto.

1995

Decreto

nº 1.651

28/09/1995

- Governo Fernando

Henrique Cardoso (FHC

1995-2002): As

oportunidades que

favoreceram a retomada

do ideal descentralizador

da reforma sanitária e

que permitiu ao

municipalismo assumir o

comando nacional do

SUS na era Itamar

Franco (1993-1994),

cedeu lugar a uma

conjuntura marcada pela

recuperação do papel da

União no jogo federativo

na era FHC.

- Regulamenta o Sistema

Nacional de Auditoria

(SNA) no âmbito do

Sistema Único de Saúde.

- Art. 2º O SNA exercerá

sobre as ações e serviços

desenvolvidos no âmbito do

SUS as atividades de:

I - controle da execução, para

verificar a sua conformidade

com os padrões estabelecidos

ou detectar situações que

exijam maior aprofundamento;

II - avaliação da estrutura, dos

processos aplicados e dos

resultados alcançados, para

aferir sua adequação aos

critérios e parâmetros exigidos

de eficiência eficácia e

efetividade;

III - auditoria da regularidade

dos procedimentos praticados

por pessoas naturais e

jurídicas, mediante exame

analítico e pericial.

1998

“NOB 98”

Normativa

01/98

02/01/1998

- Nesse período houve

uma “inflexão na

dinâmica federativa” no

Brasil em direção ao

fortalecimento expressivo

de tendências

centralizadoras,

- Regulamenta os

conteúdos, instrumentos

e fluxos do processo de

habilitação de

Municípios, de Estados e

do Distrito Federal às

novas condições de

- Financiamento:

Transferência Regular e

automática Fundo a Fundo;

- Teto Financeiro Global do

Município (TFGM): PAB

Fixo (valor per capita para

custeio das ações básicas de

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64

impulsionando a

formação de um novo

regime de relações

intergovernamentais

entre a União e os entes

subnacionais no plano

legislativo, fiscal e de

coordenação de políticas

públicas;

- 99% dos municípios

estavam habilitados na

NOB/96, 89% deles em

Gestão Plena da AB.

gestão criadas pela

Norma Operacional

Básica do Sistema Único

de Saúde - NOB SUS

01/96.

assistência à saúde), PAB

Variável (incentivos

destinados a algumas ações e

programas), FAE (Fração

Assistencial Especializada) e

Remuneração de Internações

Hospitalares (com base na

AIH);

- Teto Financeiro Global do

Estado (TFGE): soma do Teto

Financeiro Global de todos os

municípios do Estado. O

gestor estadual era responsável

pelo gerenciamento dos

recursos (tetos financeiros) da

FAE e AIH dos municípios

habilitados em gestão plena da

Atenção Básica.

2001

NOAS 2001

Portaria nº

95

26/01/01

- Com o significativo

processo de

descentralização em nível

municipal, ocorreram

problemas na inter-

relação dos sistemas

municipais. Percebe-se

que estados e municípios

eram extremamente

heterogêneos: uns

pequenos demais para

gerirem um sistema de

saúde funcional completo

e outros eram polos de

atração regional;

- A PPI proposta pela

NOB/96 não foi

implementada de maneira

que superasse os

problemas burocráticos

de acesso da população

entre os municípios e/ou

estados.

- “Promover maior

equidade na alocação de

recursos e no acesso da

população às ações e

serviços de saúde em

todos os níveis de

atenção”, assumindo a

regionalização como

macroestratégia

fundamental para o

aprimoramento do

processo de

descentralização.

- Regionalização e

organização da Assistência:

Criou o Plano Diretor de

Regionalização (PDR) e Plano

Diretor de Investimentos

(PDI);

- Qualificação da AB através

da identificação de Estratégias

mínimas relacionadas a

problemas de saúde em nível

nacional: Tuberculose,

Hanseníase, controle da

Hipertensão, controle

Diabetes, Saúde da Criança,

Saúde da Mulher e Saúde

Bucal;

- Fortalecimento da

capacidade de gestão do

SUS:

Instituiu instrumentos para

organizar e fortalecer o

planejamento dos Sistemas de

Saúde: PPI e Termo de

Compromisso para Garantia

de Acesso (TCGA).

2002

NOAS 2002

Portaria

nº373

27/02/2002

- Identificação de

entraves em algumas

unidades da federação na

operacionalização de

determinados itens da

NOAS 01/01, decorrentes

das dificuldades para

estabelecer o comando

único sobre os

prestadores de serviços

ao SUS e assegurar a

totalidade da gestão

municipal nas sedes dos

módulos assistenciais,

bem como da fragilidade

para explicitação dos

mecanismos necessários

- Assegurar a

manutenção das

diretrizes organizativas

definidas pela NOAS

01/01 oferecendo as

alternativas necessárias à

superação das

dificuldades e impasses

oriundos da dinâmica

concreta da

implementação da NOAS

01/01.

- Revisão de critérios de

habilitação e desabilitação

dos estados e municípios

considerando critérios

assistenciais;

- Definiu duas formas de

gestão para estados e

municípios:

Para os municípios: Gestão

Plena de Atenção Básica Ampliada (GPABA) e Gestão

Plena do Sistema Municipal

(GPSM);

Para os Estados: Gestão

Avançada do Sistema

Estadual (GASE) e Gestão

Plena do Sistema Estadual

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65

à efetivação da gestão

estadual para as

referências

intermunicipais.

(GPSE).

Lei 10.424

15/04/2002

- Acrescenta capítulo e

artigo à Lei nº 8.080, de

19 de setembro de 1990,

que dispõe sobre as

condições para a

promoção, proteção e

recuperação da saúde, a

organização e o

funcionamento de

serviços correspondentes

e dá outras providências,

regulamentando a

assistência domiciliar no

Sistema Único de Saúde.

- Art. 1º A Lei nº 8.080, de 19

de setembro de 1990, passa a

vigorar acrescida do seguinte

Capítulo VI e do art. 19-I:

Art. 19-I. São estabelecidos,

no âmbito do Sistema Único

de Saúde, o atendimento

domiciliar e a internação

domiciliar.

2006

Portaria

GM/MS

nº399

PACTO

PELA

SAÚDE

22/02/2006

- Compromisso do novo

governo: Luiz Inácio

Lula da Silva durante

seus dois mandatos

(2003-2010) de

introduzir uma nova

dinâmica de relações

intergovernamentais que

pudesse resgatar o caráter

cooperativo do

federalismo setorial

inscrito na Constituição

de 1988 e compor uma

estratégia de coordenação

federativa orientada para

resultados expressos em

metas sanitárias.

- Construir um modelo de

gestão interfederativo

cooperativo e consensual

para o SUS;

- Reforçar a necessidade

de consolidação do SUS

por meio de sete eixos

orientadores:

descentralização,

regionalização,

planejamento/PPI,

regulação, financiamento,

participação social e

gestão do trabalho;

- É composto pelo Pacto

pela Vida, Pacto em

Defesa do SUS e Pacto

de Gestão.

- Criação da CIR;

- Instrumentos Pacto de

Gestão: PDR, PDI e PPI;

Termo de Compromisso de

Gestão (TCG);

- Redefinição das

responsabilidades de cada

gestor em função das

necessidades de saúde da

população e busca da equidade

social;

- Financiamento:

Substituição na forma de

repasse de recursos –

Integração em Cinco Blocos

de Financiamento:

1. AB;

2. Atenção Média e Alta

Complexidade;

3. Vigilância em Saúde;

4. Assistência Farmacêutica;

5. Gestão do SUS.

Lei 12.466

24/08/2011

- Acrescenta arts. 14-A e

14-B à Lei no 8.080, de

19 de setembro de 1990,

que “dispõe sobre as

condições para a

promoção, proteção e

recuperação da saúde, a

organização e o

funcionamento dos

serviços correspondentes

e dá outras

providências”, para

dispor sobre as comissões

intergestores do SUS, o

Conselho Nacional de

Secretários de Saúde

(CONASS), o Conselho

Nacional de Secretarias

Municipais de Saúde

(CONASEMS) e suas

- Reconhecimento das CITs e

CIBs como foros de

negociação e pactuação entre

gestores, quanto aos aspectos

operacionais do SUS;

- Reconhecimento dos

CONASS e CONASEMS

como entidades

representativas dos entes

estaduais e municipais para

tratar de matérias referentes à

saúde e declarados de utilidade

pública e de relevante função

social, na forma do

regulamento.

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66

2011

respectivas composições,

e dar outras providências.

DECRETO

7508

28/06/2011

- Necessidade de superar

a fragmentação das

políticas de saúde e de

fortalecer os vínculos

entre os entes federados

para a garantia de acesso

dos usuários à atenção

integral no SUS.

- Regulamenta alguns

aspectos da Lei Orgânica

dispondo sobre a

organização do SUS, o

planejamento em saúde, a

assistência à saúde e a

articulação

interfederativa, com base

em um instrumento

jurídico nomeado

Contrato Organizativo de

Ação Pública da Saúde

(COAP);

- Trazer a possibilidade

jurídico-legal de uma

gestão cooperada do

SUS, pondo em

discussão a exigência de

atualização do Pacto

Federativo em torno da

saúde, sob o exercício de

uma gestão trina

cooperada e

regionalizada, em

abertura às necessidades

e dinâmicas loco

regionais.

- Instituiu novos

instrumentos/documentos na

gestão compartilhada do SUS:

- RENASES;

- RENAME;

- Mapa da Saúde;

- Pactuação Integrada das

Ações e Serviços de Saúde;

- Regiões de Saúde;

- Comissões Intergestoras;

- COAP.

No COAP foram incorporados

os instrumentos de

compromisso e pactuação que

já vinham sendo

desenvolvidos pelo Pacto pela

Saúde e nele estão definidas,

por meio da Programação

Geral das Ações e Serviços

de Saúde (PGASS).

Fonte: Elaborado pela autora readaptado de Carvalho et al. (2017).

3.3 Quando o Protagonista Desperta para a sua Conquista Histórica: o controle social do

SUS

“O estado de justiça social, com bem estar coletivo,

só acontecerá quando, pelo processo democrático,

cada pessoa assumir o controle da sociedade e do

estado pela participação ativa e pela consciência e

prática plenas de deveres e direitos de socio-

proprietário de sua cidade, seu país e do mundo.”

(Gilson Carvalho)

Antes de iniciar o desenvolvimento deste tópico, é necessário esclarecer como os

termos participação e controle social serão aqui assumidos.

Do ponto de vista teórico são conceitos sociológicos sujeitos a reconfigurações

semânticas e fundamentação teórica diversa, o que, por si só, condena ao fracasso qualquer

tentativa de defini-los de modo unívoco e original (ALVAREZ, 2004). Segundo Rocha (2009)

participação social significa a democratização ou participação ampla dos cidadãos nos

processos decisórios em uma dada sociedade, independentemente de seu modelo político ou

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67

econômico, pressupondo em sua prática o envolvimento de comunidades atuantes. Já o termo

controle social

É ambíguo, podendo ser utilizado em sentidos diferentes a partir de

concepções de Estado e de sociedade civil distintas. Tanto é empregado para

designar o controle do Estado sobre a sociedade quanto para designar o

controle da sociedade (ou de setores organizados na sociedade) sobre as

ações do Estado (CORREIA, 2008, p. 104).

No Brasil, o controle social se refere à participação da comunidade no processo

decisório das políticas públicas e ao controle sobre a ação do Estado (ARANTES et al., 2007).

Cabe destacar que a ênfase ao controle social que aqui será dada, refere-se às ações que os

cidadãos exercem para monitorar, fiscalizar avaliar e/ou interferir na gestão e não o inverso.

Dessa forma, a participação social é concebida na perspectiva do controle social.

No campo da saúde, o controle social deve ser compreendido como resultado da

participação direta da população no processo de gestão pública. Essa noção deve indicar uma

nova modalidade entre a sociedade e o Estado, onde o controle social é ao mesmo tempo

resultado do processo de democratização do país e um pressuposto essencial para a

consolidação desse ideal democrata (GERSCHMAN, 2004).

Para Rolim, Cruz e Sampaio (2013), o termo controle social é reducionista, uma vez

que não traduz a amplitude do direito assegurado na Constituição Federal (CF) de 1988, que

expõe não somente o controle e a fiscalização permanente dos recursos públicos, mas

também, a manifestação em ato e propositiva. Em ato, tendo cidadãos e políticos um papel

social a desempenhar através da execução de suas funções. De modo propositivo, com os

cidadãos participando da formulação de políticas, intervindo em decisões e orientando a

Administração Pública quanto às melhores medidas a serem adotadas com objetivo de atender

aos legítimos interesses públicos.

A partir da conquista do Sistema Único de Saúde (SUS), a saúde passa a ser concebida

como uma questão de cidadania, e a participação política na gestão do sistema se torna uma

condição sine quan non para o seu exercício (COTTA et al., 2011).

O Brasil, país de grandes desigualdades sociais, tem passado por importantes avanços

em sua história, no que se refere à participação e/ou controle social da saúde. Para

compreender elementos importantes da trajetória, penso ser interessante contextualizar

resumidamente a história das reformas que ocorreram no setor da saúde em alguns períodos

no País. No entanto, registro, desde já, que o marco histórico para sua compreensão traduz-se

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68

pelo Movimento da Reforma Sanitária Brasileira (MRSB) (ROLIM; CRUZ; SAMPAIO,

2013; ILÍBIO; VIEIRA, 2017).

De 1822, período do Brasil Império até o fim do Regime Militar, em 1985, à saúde era

um “tema caro” para a maioria da população brasileira. Ilíbio e Vieira (2017, p. 80)

denominam a saúde como um “tema caro” por terem assistência à saúde somente quem

exercia trabalho formal e contribuía para adquirir tal direito. Tal modelo, denominado de

seguro social, teve seu início em 1923 com as Caixas de Aposentarias e Pensões (CAPs). O

Decreto n° 4.682/23, cria a primeira CAP, dos ferroviários, tendo-se esse modelo de seguro

social multiplicado nos anos subsequentes (COHN et al., 2015; CARVALHO et al., 2017).

A partir de 1930, são criados os Institutos de Aposentarias e Pensões (IAPs), que

institucionalizam o seguro social fragmentando as classes assalariadas urbanas por inserção

nos setores da atividade econômica: marítimos, bancários, comerciários, industriários e

outros. Ambos, CAPs e IAPs conviveram por décadas até 1966, quanto todo o sistema

previdenciário foi unificado, dando origem ao Instituto Nacional de Previdência Nacional

(INPS), e finalmente, em 1977, o Instituto Nacional de Previdência Médica e Previdência

Social (INAMPS) (COHN et al., 2015; ILÍBIO; VIEIRA, 2017; CARVALHO et al., 2017).

Do ponto de vista da relação Estado-Sociedade, os trabalhadores tinham assegurada

sua representação no Conselho de Administração das CAPs, elegendo diretamente dois

representantes dos empregados por empresa. Em 1933, com a substituição dos CAPs pelos

IAPs, organizados por categorias funcionais, a representação dos empregados e dos

empregadores passou a ser feita pelos sindicados, significando uma tendência de centralização

do poder decisório nas mãos do Estado. A diminuição da participação dos empregados e

empregadores no controle do sistema de saúde se intensificou após o golpe militar, em 1964,

com a criação do INPS, quando o Estado assumiu a direção do Instituto e consequentemente

empregados e empregadores perderam por completo o direito de gerir e definir a política

previdenciária e de saúde (ILÍBIO; VIEIRA, 2017; CARVALHO et al., 2017).

[...] é a partir desse momento, também, que tem origem uma característica

crucial da saúde em nosso país: a concepção da assistência médica, muito

mais restrita que saúde, como pertinente à esfera privada e não à pública.

Não se constitui, portanto, saúde como um direito do cidadão e muito menos

dever do Estado, mas sim a assistência médica como um serviço ao qual se

tem acesso a partir da clivagem da inserção no mercado de trabalho formal e

para a qual se tem que contribuir com um percentual do salário, sempre por

meio de um contrato compulsório (COHN et al., 2015, p. 18).

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69

Com as profundas transformações da sociedade brasileira ocorridas nesse período,

sobretudo os processos de acelerada industrialização e urbanização, progressivamente os

serviços previdenciários de saúde vão sendo pressionados pela demanda dos trabalhadores

assalariados urbanos, sem outro serviço médico alternativo, quer estatal ou privado, à exceção

de uma rede de natureza filantrópica e de uma rarefeita rede pública hospitalar, ambulatorial e

de atenção primária (COHN et al., 2015). Vale ressaltar que a rede pública de serviços de

saúde não ofertava, até 1975, assistência médica individual. Somente a partir da promulgação

da Lei nº 6.229/75, publicada no DOU em dezoito de julho de 1975, que dispôs sobre a

organização do Sistema Nacional de Saúde, que os serviços ligados ao Ministério da Saúde

(MS) passaram também a contemplar os serviços de assistência médica individual (BRASIL,

1975).

Por conta disso, já na década de 70, as ações e serviços de saúde vinculados à

previdência social não eram suficientes para dar resposta às demandas da população,

especialmente aqueles à margem da previdência, como exemplo, as empregadas domésticas,

população rural e os desempregados (CARVALHO et al., 2017; CARVALHO; SANTOS,

1995). Surgem, então, as primeiras experiências de medicina comunitária no país, com a

população deixando de ser passiva e se responsabilizando mais ativamente por seu próprio

desenvolvimento social-sanitário (CARVALHO; SANTOS, 1995). No entanto, a lógica do

favorecimento do setor privado da assistência médica através da política previdenciária

prevalecia e prevaleceu de forma explícita até os anos de 1980.

Nesse contexto de materialização de um acentuado “sucateamento” na rede pública de

serviços de saúde (ILÍBIO; VIEIRA, 2017, p. 81; COHN et al., 2015, p. 20), de um “modelo

excludente” (DA ROS et al., 2006, p. 110), no auge da ditadura militar, surge com grande

força o MRSB. Segundo Da Ros et al. (2006), o MRSB foi constituído pelas seguintes frentes:

publicistas, preventivistas, Pastoral da Saúde, Movimento Intelectual da Área da Saúde (que

criou o Centro Brasileiro de Estudos de Saúde/CEBES), Movimento de Renovação Médica

(REME), o Movimento Estudantil e o Movimento de Saúde Comunitária.

Apesar de todos possuírem raízes e características diferentes, se uniram pleiteando a

transformação política das práticas sanitárias e do conjunto do sistema de saúde até então

vigente, caracterizado pela prática curativa e privatista. Uma das grandes críticas dos

defensores do projeto reformador era o fato de a “[...] Previdência Social sustentar o setor

privado de assistência médica, fazendo este crescer com os recursos financeiros do Estado e

levando a ineficácia total da assistência à saúde pública” (GONÇALVES, 1999, p. 11).

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O MRSB defendia a organização de um sistema de saúde hierarquizado, um sistema

único de saúde. Esse movimento foi ganhando forças no final da década de 70 e início da

década de 80, mas foi a partir de 1985 que se abriram espaços maiores de poder para o

Movimento. Durante o período de transição ditadura/redemocratização, o Movimento

Sanitário conseguiu grandes avanços, colocando em pauta questões de saúde, a exemplo da

possível unificação do Sistema (ESCOREL, 2008). Nesse mesmo ano, foram implantadas as

Ações Integradas de Saúde (AIS) que, entre outros aspectos, visava universalizar o

atendimento e a institucionalizar a participação de algumas parcelas mais organizadas da

população na gestão das ações de saúde. Foram criados órgãos colegiados, denominados

Comissões Interinstitucionais de Saúde, organizados em nível estadual (CIS), regional (CRIS)

e municipal (CIMS), que contavam com participação de gestores governamentais, prestadores

de serviços públicos e privados e representantes da população, na maioria das vezes, sindicato

ou associação de moradores (LOPES, 2000). Considera-se que a AIS foram a grande matriz

para o SUS (DA ROS, 2006).

Um ano depois, em 1986, realiza-se a 8ª Conferência Nacional de Saúde, que traz em

seu ideário propostas de reforma do sistema de saúde no país, apontando para a criação de um

SUS, descentralizado, e com acesso universal, como estratégias de fortalecimento do sistema

púbico de saúde. Nesse período de abertura democrática se reconhece a necessidade de

revisão do modelo de saúde vigente na época, com propostas discutidas em ampliar a

participação popular nas decisões e descentralizar a gestão pública em saúde, com vistas a

aproximar as decisões do estado ao cotidiano dos cidadãos brasileiros, consagrando e

assegurando a ideia de democracia com a participação da sociedade civil no controle e na

gestão de políticas públicas (ROLIM; CRUZ; SAMPAIO, 2013).

O compromisso do novo governo com a redemocratização repassou para Sérgio

Arouca, um dos integrantes e líderes do MRSB e na época diretor da Fundação Osvaldo Cruz,

a responsabilidade da coordenação da 8ª Conferência Nacional de Saúde (DA ROS, 2006).

A partir de 1983, o Movimento Sanitário ampliou a proposta de

reformulação do Sistema de Saúde, com a ocupação de espaços nas

instituições estatais da saúde, com o objetivo de produzir mudanças na

política de saúde e na medida em que o próprio processo de transição à

democracia o permitia. Este crescimento da proposta e do processo de

reformulação da política de saúde adquiriu sua mais acabada expressão com

a VIII Conferência Nacional de Saúde em 1986, na qual se definiu o projeto

da “Reforma Sanitária Brasileira”; o qual introduziu mudanças no setor da

saúde, de forma a torná-lo democrático, acessível, universal e socialmente

equitativo (GERSCHMAN, 1995, p. 42).

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A 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em março de 1986, representou um

marco na história do controle social em saúde. Foi à primeira conferência aberta, com a

participação da sociedade organizada, envolvendo desde movimentos sociais à associação de

portadores de patologias e profissionais de saúde. A 8ª Conferência rompeu com o modelo

privatizante até então existente, resultando na implantação do Sistema Unificado e

Descentralizado de Saúde (SUDS), mediante um convênio realizado entre o INAMPS e os

governos estaduais. A 8ª Conferência também formou as bases para a seção “Da Saúde” da

CF de 1988, além de desempenhar um importante papel na propagação da Reforma Sanitária

(DA ROS, 2006). Ela consistiu em um amplo processo de mobilização social, que articulou

representação de diferentes segmentos e estimulou a realização de pré-conferências estaduais

e municipais, reunindo cerca de quatro mil pessoas em Brasília, dos quais mil eram delegados

com direito a voz e voto, para discutir os rumos do sistema de saúde (BRASIL, 1986). Essa

organização e mobilização popular realizada em prol de um Estado democrático e garantidor

do acesso universal aos direitos a saúde colocou em evidência a possiblidade de inversão do

controle social. Surge a perspectiva de um controle da sociedade civil sobre o Estado, que

durante muitos anos, foi exercido pelo Estado sobre a sociedade.

A CF de 05 de outubro de 1988 nasceu da base, das população e técnicos.

Denominada Constituição Cidadã, não sem razão, ela coloca como centro os direitos do povo

brasileiro. A maior das declarações é: “todo o poder emana do povo que o exerce por meio de

representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”, ou seja, conquistava-se

uma democracia representativa e participativa (BRASIL, 2018, p. 2; CARVALHO, 2007).

Paim (2009, p. 40) destaca também que “[...] tanto a Reforma Sanitária quanto o SUS

nasceram da sociedade, e não de governos e partidos”.

O Estado Democrático e de Direito está definido na CF como aquele que tem como

fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do

trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. Constituem objetivos fundamentais da

República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades

sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,

idade e quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 2018, p. 2).

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O SUS nesse contexto é “uma estratégia das mais importantes para a construção de um

país socialmente justo” (Souza, 2009, p. 912) e é a primeira política pública no Brasil a adotar

constitucionalmente a participação popular como um de seus princípios, sendo, como já dito,

um pressuposto essencial para a consolidação desse ideal democrata:

Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede

regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de

acordo com as seguintes diretrizes:

I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;

II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem

prejuízo dos serviços assistenciais;

III - participação da comunidade (BRASIL, 1988, grifo nosso).

A Lei n° 8080/90 estabelece em seu art. 12 a criação das Comissões Intersetorias

subordinadas ao Conselho Nacional de Saúde (CNS), com o objetivo de articular as políticas

públicas relevantes para a saúde:

Art. 12. Serão criadas comissões intersetoriais de âmbito nacional,

subordinadas ao Conselho Nacional de Saúde, integradas pelos Ministérios e

órgãos competentes e por entidades representativas da sociedade civil.

Parágrafo único. As comissões intersetoriais terão a finalidade de articular

políticas e programas de interesse para a saúde, cuja execução envolva áreas

não compreendidas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL,

1990b).

Entretanto, é a Lei nº 8.142/90 que dispõe sobre a participação social do SUS,

definindo que a participação popular estará incluída em todas as esferas de gestão do SUS:

Art. 1° O Sistema Único de Saúde (SUS), de que trata a Lei n° 8.080, de 19

de setembro de 1990, contará, em cada esfera de governo, sem prejuízo das

funções do Poder Legislativo, com as seguintes instâncias colegiadas:

I - a Conferência de Saúde; e

II - o Conselho de Saúde.

§ 1° A Conferência de Saúde reunir-se-á a cada quatro anos com a

representação dos vários segmentos sociais, para avaliar a situação de saúde

e propor as diretrizes para a formulação da política de saúde nos níveis

correspondentes, convocada pelo Poder Executivo ou, extraordinariamente,

por esta ou pelo Conselho de Saúde.

§ 2° O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, órgão

colegiado composto por representantes do governo, prestadores de serviço,

profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e no

controle da execução da política de saúde na instância correspondente,

inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão

homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do

governo.

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§ 3° O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho

Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) terão

representação no Conselho Nacional de Saúde.

§ 4° A representação dos usuários nos Conselhos de Saúde e Conferências

será paritária em relação ao conjunto dos demais segmentos.

§ 5° As Conferências de Saúde e os Conselhos de Saúde terão sua

organização e normas de funcionamento definidas em regimento próprio,

aprovadas pelo respectivo conselho (BRASIL, 1990a).

A concepção de controle social inscrita no texto constitucional e defendida pelo

movimento sanitarista é o da participação da sociedade na elaboração, implementação e

fiscalização das políticas de saúde, através dos Conselhos de Saúde e das Conferências nos

diferentes níveis: nacional, estadual, municipal e local (ABREU, 2014). Essa perspectiva é

considerada uma das formas mais avançadas de democracia, pois determina uma nova relação

entre Estado e a sociedade, de maneira que as decisões sobre as ações na saúde deverão ser

negociadas com os representantes da sociedade, uma vez que, estes conhecem a realidade da

saúde das comunidades (ROLIM; CRUZ; SAMPAIO, 2013).

Santos (2007) relata que a verdadeira reforma democrática do Estado foi realizada

pelo setor saúde por meio da criação e do funcionamento de Conselhos e das Comissões

Intergestoras. Há que se ressaltar que o setor da saúde foi pioneiro no processo de

implementação das práticas de participação social, justamente pela política efervescente que

caracterizou o final da década de 1970 e os anos 80, em especial, pelo MRSB (CORREIA,

2008).

Esse modelo de participação e/ou controle da população desenvolvido pelo SUS

influenciou a organização do controle social em outras áreas, tais como: assistência social,

mulher, meio ambiente, criança e adolescente, dentre outros. Também resultou em outras

políticas públicas, como política ambiental, de segurança alimentar e ainda, leis como o

Estatuto do Idoso e do Adolescente (ROCHA, 2014).

A evolução da participação social em vários setores da sociedade culminou com a

instituição de uma Política Nacional de Participação Social (PNPS) através do Decreto n°

8.243/14, publicado no DOU de 26/05/14, “com o objetivo de fortalecer e articular os

mecanismos e as instâncias democráticas de diálogo e a atuação conjunta entre a

administração pública federal e a sociedade civil” (BRASIL, 2014). Esta política:

[...] reconhece a participação social como direito do cidadão e expressão de

sua autonomia e prega a complementariedade entre mecanismos da

democracia representativa, participativa e direta. Na prática, organiza as

instâncias de participação social já existentes em nível nacional, estabelece

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diretrizes para seu funcionamento e estimula os órgãos e entidades da

administração pública federal a considerarem suas deliberações. A única

novidade é a ampliação dos espaços de diálogo por meio de plataformas

virtuais na internet, nas quais qualquer cidadão poderá se manifestar sobre

políticas públicas (DOMINGUES, 2014, p. 15).

No entanto, considerando os inúmeros avanços no tocante ao controle e/ou

participação social na gestão da política de saúde no Brasil e as transformações ocorridas nas

últimas décadas, no que se refere ao campo dos direitos conquistados por meio de

mobilizações da sociedade civil, ressurge a necessidade de fortalecimento do projeto sanitário

gestado na década de 1980. Os desafios em relação ao campo e à concretização da política de

saúde baseada nos princípios constitucionais e defesa do projeto sonhado pelo MRSB também

são colocados em questão.

Apesar de avanços significativos no exercício da democracia, a sociedade brasileira

continua a apresentar um forte “déficit democrático”, expresso na percepção generalizada de

que as elites políticas não representam os anseios da população e na persistência de graves

desigualdades sociais (SOUZA, 2014, p. 1018). A construção da Constituição Cidadã não foi

capaz de reduzir as iniquidades sociais e a cidadania tem se restringido a um caráter jurídico e

formal, não tendo alcançado o caráter transformador proposto pela Reforma Sanitária.

Isso é demostrado em estudos realizados, como exemplo, o descrito por Durán e

Gerschman (2014) com o objetivo de refletir sobre as possíveis modalidades de participação

social, e seus dilemas, encontrados nos Conselhos de Saúde, que revelam espaços altamente

institucionalizados que favorecem uma linha de atuação que hierarquiza e legitima as decisões

do gestor. Outro estudo, realizado por Guizardi e Pinheiro (2006, p. 804) demostra que

existem dificuldades culturais, que inibem a adequada participação de alguns membros dos

Conselhos e que isso caracteriza uma “relação assimétrica de poder”. Assim, o

desconhecimento e a falta de envolvimento dos conselheiros no processo de gestão em saúde

permitem aos detentores do poder político local exercer um maior controle sobre o

funcionamento do conselho como um todo.

Um aspecto apontado por Campos (2016, p. 5), ao comentar sobre as Conferências de

Saúde, é que “[...] esta performance inovadora de democracia popular não tem garantido,

automaticamente, efetividade política a essa forma de exercício de poder”, pois as resoluções

das Conferências de Saúde ao longo dos anos não têm orientado o planejamento e a gestão do

SUS. O autor descreve que o sentimento, após ter participado de uma das Conferências, era de

que nada asseguraria que os gestores acatariam as diretrizes e deliberações coletivas e, ainda,

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mais grave o fato de parecer que as resoluções firmadas não cairiam nos corações e nas

mentes da sociedade.

É preciso lembrar que o SUS é, e sempre foi, desde a sua criação, um projeto de

disputa entre aqueles que o querem como uma conquista da sociedade e aqueles que desejam

o seu sucateamento e a privatização de seus serviços. Em 100% dos Relatórios Finais das

Conferências de Saúde analisados por Abreu (2014), de 1986 a 2013, aparecem propostas

contra a privatização da saúde no Brasil. No entanto, o chamado de projeto privatista, vem, ao

longo dos anos, debilitando e enfraquecendo os espaços de participação/controle social, por

representarem um risco de menor remuneração do capital financeiro àqueles que têm negócios

no setor privado de saúde.

Saúde é um direito essencial que, na Constituição, está colocado como dever do

Estado, mas que só acontecerá se todos nós cumprirmos com os nossos maiores e menores

deveres cotidianos, o que nos fará cidadãos plenos. O direito à saúde exige que cada um de

nós cumpra com seus deveres. Entre omitir-nos e compactuar existe uma terceira via: a

participação e luta de cada um de nós para que todos sejamos cidadãos plenos, iguais em

direitos e deveres. Ou seja, assumir o direito à saúde como parte da transformação de nosso

país.

Em síntese, a participação e/ou controle social em saúde é um direito de cidadania,

fruto de amplas mobilizações sociais desencadeadas no processo de redemocratização do

Estado brasileiro. Foi concebido no processo de Reforma Sanitária e posteriormente

regulamentado na CF de 1988, e em 1990 na Lei Orgânica da Saúde, com a garantia das

instâncias de participação no texto constitucional. O controle social no campo da saúde é um

direito fundamental para a consolidação do SUS e fortalecimento do projeto do MRSB. O

direito a saúde é uma conquista do movimento social e o caminho agora é a busca para a sua

real concretização.

3.4 Quando o Direito Social é Sufocado pela Economia: das fontes constitucionais de

receita à Emenda Constitucional 29

“A saúde é direito de todos e dever do estado”. Isso

significa dizer que a saúde é um direito e não um

serviço ao qual se tem acesso por meio de uma

contribuição ou pagamento de qualquer espécie.

Conforme a constituinte todos os cidadãos brasileiros

têm direito à atenção à saúde!

(Matta, 2007)

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O direito a saúde está definido na CF de 1988 de forma clara entre os direitos

constitucionais inscritos no Art. 6º do Título II – “Dos direitos e Garantias Fundamentais”,

Capítulo II, que trata dos “Direitos Sociais”: [...] “são direitos sociais a educação, a saúde, a

alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a

proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados [...]”. Mais adiante no

Art. 196 do Título VIII – “Da ordem Social”, Capítulo II, Seção II – “Da Saúde”: [...] “A

saúde é direito de todos e dever do Estado” [...] (BRASIL, 1988, grifo nosso).

Genericamente, também podemos dizer, concordando com Carvalho (2007) que o

direito à saúde já está defendido na CF de 1988 logo no seu início, onde afirma-se que a

República Federativa do Brasil tem como fundamentos a cidadania, a dignidade da pessoa

humana e outros. Entre seus objetivos fundamentais estão à construção de uma sociedade

livre, justa e solidária com erradicação da pobreza e redução das desigualdades, além de

promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e/ou quaisquer

outras formas de discriminação. O direito à saúde nesse sentido “tem como fundamento o

direito à vida e à vida em sua plenitude e abundância. Direito ao bem-estar, ao estar bem, à

felicidade individual e coletiva” (BRASIL, 1988; CARVALHO, 2007, p. 29).

Insisto em relembrar que o MRSB foi muito importante na luta pela formatação e

conquista de um sistema de saúde universal, como direito do cidadão e dever do estado.

Insisto em relembrar, também, que a VIII Conferência consagrou esses princípios que,

encaminhados à Constituinte, transformaram-se no SUS (BAPTISTA, 2007). Esta

Conferência, tendo como tema central “Saúde como Direito” definiu em seu Relatório Final

que:

Em seu sentido mais abrangente, a saúde é a resultante das condições de

alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho,

transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a

serviços de saúde. É assim, antes de tudo, o resultado das formas de

organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades

nos níveis de vida (BRASIL, 1986, p. 4).

Direito à saúde significa a garantia, pelo Estado, de condições dignas de vida

e de acesso universal e igualitário às ações e serviços de promoção, proteção

e recuperação de saúde, em todos os seus níveis, a todos os habitantes do

território nacional, levando ao desenvolvimento pleno do ser humano em sua

individualidade (BRASIL, 1986, p. 4).

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Para que esse direito fosse garantido, foram discutidos mais dois temas e ambos

transcritos em seu relatório final: “Reformulação do Sistema Nacional de Saúde” e

“Financiamento do Setor”. O primeiro resultaria na criação de um Sistema Único de Saúde

(SUS) e geraria um “(...) novo arcabouço constitucional separando totalmente saúde de

previdência, através de uma ampla Reforma Sanitária”, além da criação, em nível federal, de

um ministério único para esse fim. Também definiu princípios para o novo sistema referente à

organização dos serviços, atinentes às condições de acesso e qualidade e relacionados às

políticas de recursos humanos e ainda apresentou quais seriam as principais contribuições dos

níveis federal, estadual e municipal nesse processo (BRASIL, 1986, p. 10).

Sobre o financiamento, a proposta era a criação de um “Fundo Único Federal de

Saúde”. Os recursos seriam determinados através da prefixação de percentual mínimo de 15%

(aprovado o percentual em plenária após a construção do texto original) sobre as receitas

públicas, além de serem desvinculados da Previdência Social (PS) e sua distribuição levaria

em consideração as condições de vida e de saúde de cada região (BRASIL, 1986):

Deverá ser constituído um orçamento social que englobe os recursos

destinados às políticas sociais dos diversos ministérios e aos distintos fundos

sociais. Este orçamento será repartido por setor, cabendo ao de saúde uma

parcela de recursos que constituirão o Fundo Único Federal de Saúde. Em

nível estadual e municipal serão formados Fundos Únicos de Saúde de

maneira análoga (BRASIL, 1986, p. 19).

Os recursos da Previdência serão gradativamente retirados do financiamento

das ações de saúde, devendo ser substituídos por fonte(s) alternativa(s),

permitindo melhorar as prestações pecuniárias (aposentadorias, pensões,

etc). Os recursos da Previdência Social devem destinar-se exclusivamente

para custear um seguro social justo aos trabalhadores da cidade e do campo.

Desta forma, o orçamento da Previdência deve ser administrado pelos

trabalhadores e utilizado somente para a concessão de benefícios e

aposentadorias igualitárias para trabalhadores rurais e urbanos (BRASIL,

1986, p. 20).

A distribuição de recursos financeiros não deve levar em consideração

apenas o contingente populacional de cada região e sua arrecadação fiscal.

Deve também considerar as condições de vida e de saúde da região,

promovendo assim uma distribuição mais justa e solidária (BRASIL, 1986,

p. 20).

O Relatório serviu como instrumento de pressão política no contexto da Nova

República e também de referência na discussão da Assembleia Nacional Constituinte nos anos

de 1987/88, sendo reconhecido como um documento de importante expressão social. O debate

constituinte foi acalorado, revelando resistências por parte dos prestadores de serviço privado

do setor da saúde e da medicina autônoma, além de conflitos de interesses entre os reformistas

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atrelados ao MS e os reformistas da Previdência Social (PS). Tais disputas não foram

suficientes para barrar a aprovação do SUS e seus princípios, mas acabaram impedindo a

definição de algumas políticas importantes para o processo de implementação da reforma,

dentre elas, o financiamento, a regulação do setor privado, a estratégia para a descentralização

e a unificação do sistema (FARIA, 1997).

Uma vez legalizado o Sistema Único de Saúde (SUS) na CF de 1988, já no mesmo

ano, buscou-se definir regras em Lei Orgânica e em portarias do MS, para garantir o

financiamento do setor e a regulação do setor privado e demais pontos da política, na tentativa

de cumprir a lei constitucional que reconheceu saúde como “direito de todos e dever do

Estado”. Iniciaram debates em torno da Lei Orgânica da Saúde (LOS) 8.080/90, aprovada

somente dois anos após a aprovação do texto constitucional, a qual visava regulamentar o

SUS, a exemplo de questões referentes ao financiamento e da regulação do setor privado.

Porém, o contexto político no momento de negociação dessa Lei, marcado pelo último ano de

governo de José Sarney e o primeiro ano do governo Collor, não possibilitaram agilidade em

sua aprovação. Foram 390 dias de tramitação no Congresso Nacional e uma aprovação parcial

da Lei que, como já referido no tópico anterior, sofreu vetos presidenciais do então presidente

Collor (BRASIL, 1988; BAPTISTA; MACHADO, 2007).

Por força disso, três meses depois da aprovação da LOS 8.080/90, aprovou-se outra

Lei, complementar, a 8.142/90, definindo algumas propostas vetadas na lei anterior,

principalmente em questões relativas ao financiamento e participação social. Muitos outros

temas não foram resgatados, especialmente aqueles que já reuniam baixo consenso entre os

reformistas, como a isonomia salarial, a integração institucional MS-INAMPS e a definição

de um percentual de recursos da seguridade para a saúde. Contudo, apesar de já se passarem

mais de 20 anos de suas aprovações, ainda existem nas Leis reguladoras do SUS lacunas

expressivas para a implementação efetiva da política (BAPTISTA; MACHADO, 2007).

Sobre o financiamento da saúde, necessidade da definição de financiamento do setor

tem sido demanda recorrente, pois até os dias atuais não se alcançou tratamento legal

adequado. Foi um tema crítico na discussão da constituinte e ficou em aberto na legislação

complementar (CARVALHO, 2008; CEBES, 2011).

O financiamento da saúde é um problema crônico. Mendes e Marques (2009) afirmam

que os problemas relacionados ao financiamento sempre existiram. Isso porque as questões

que envolvem o tema estão relacionadas diretamente aos fatos sociais, políticos e econômicos

que ocorrem no país. Por exemplo, na época do INAMPS, no final da década de 1970 e na

década de 1980, aprofundou-se a chamada crise da previdência, que passou a viver

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dificuldades financeiras por conta da ampliação dos seus beneficiários e estagnação de suas

receitas, afetada pela crise econômica iniciada em 1980 (SERRA; RODRIGUES, 2007;

COUTTOLENC, 2002).

A proposta da saúde era de que os recursos para a saúde estivessem separados e

fossem de fontes múltiplas e com quantidade e fontes definidas. Isto não foi possível. A saúde

foi englobada dentro da Seguridade Social, junto com Previdência e Assistência Social e, os

recursos, ainda que de fontes múltiplas, não puderam ficar definidos (CARVALHO, 2002).

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações

de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os

direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma

direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos

orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e

das seguintes contribuições sociais:

I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da

lei, incidentes sobre:

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados,

a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo

empregatício;

b) a receita ou o faturamento;

c) o lucro;

II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não

incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime

geral de previdência social de que trata o art. 201;

III - sobre a receita de concursos de prognósticos;

IV - do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele

equiparar.

§ 1º As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios destinadas

à seguridade social constarão dos respectivos orçamentos, não integrando o

orçamento da União.

§ 2º A proposta de orçamento da seguridade social será elaborada de forma

integrada pelos órgãos responsáveis pela saúde, previdência social e

assistência social, tendo em vista as metas e prioridades estabelecidas na lei

de diretrizes orçamentárias, assegurada a cada área a gestão de seus recursos.

(...)

§ 10 A lei definirá os critérios de transferência de recursos para o sistema

único de saúde e ações de assistência social da União para os Estados, o

Distrito Federal e os Municípios, e dos Estados para os Municípios,

observada a respectiva contrapartida de recursos.

Parágrafo acrescentado pela EC n. 20, de 15.12.1998 (BRASIL, 2018, p.

170-172).

Art. 198.

§ 1º O sistema único de saúde será financiado, nos termos do art. 195, com

recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes.

Antigo parágrafo único renumerado pela EC n. 29, de 13.09.2000 (BRASIL,

2018, p. 173).

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A legislação complementar, portanto, infraconstitucional da saúde (LOS 8.080/90),

estabelece que as transferências de recursos federais para estados, Distrito Federal e

municípios, devam ser realizadas de forma regular e automática por meio de Fundos de

Saúde.

Art. 33. Os recursos financeiros do Sistema Único de Saúde (SUS) serão

depositados em conta especial, em cada esfera de sua atuação, e

movimentados sob fiscalização dos respectivos Conselhos de Saúde.

§ 1º Na esfera federal, os recursos financeiros, originários do Orçamento da

Seguridade Social, de outros Orçamentos da União, além de outras fontes,

serão administrados pelo Ministério da Saúde, através do Fundo Nacional de

Saúde (BRASIL, 1990b).

O art. 35 da LOS 8080 define as variáveis a serem consideradas no cálculo dos

montantes a serem transferidos:

Art. 35°. Para o estabelecimento de valores a serem transferidos a Estados,

Distrito Federal e Municípios, será utilizada a combinação dos seguintes

critérios (...):

I - perfil demográfico da região;

II - perfil epidemiológico da população a ser coberta;

III - características quantitativas e qualitativas da rede de saúde na área;

IV - desempenho técnico, econômico e financeiro no período anterior;

V - níveis de participação do setor saúde nos orçamentos estaduais e

municipais;

VI - previsão do plano quinquenal de investimentos da rede;

VII - ressarcimento do atendimento a serviços prestados para outras esferas

de governo.

§ 1º Metade dos recursos destinados a Estados e Municípios será

distribuída segundo o quociente de sua divisão pelo número de

habitantes, independentemente de qualquer procedimento prévio. Revogado pela Lei Complementar nº 141, de 13/01/2012 (BRASIL, 1990b,

grifo nosso).

Até hoje tais critérios não são integralmente seguidos, por conta das dificuldades

vividas no processo de implantação do SUS. Como já dito, o ex-presidente Fernando Collor

de Mello vetou diversos dispositivos da LOS n° 8.080/90, dentre eles parágrafos do artigo 35,

que tratavam dos critérios para a transferência de recursos da União para os estados e

municípios. Foi a Lei n° 8.142/90 que tornou obrigatória a existência dos fundos de saúde nas

três esferas de governo.

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Lei n° 8.142/90 que dispõe “(...) sobre as transferências intergovernamentais

de recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências”

(...)

Art. 3

§ 1° Enquanto não for regulamentada a aplicação dos critérios previstos

no 35/8080, será utilizado, para o repasse dos recursos, exclusivamente o

critério estabelecido no parágrafo primeiro do mesmo artigo”.

Art. 4°. Para receberem os recursos (...) os Municípios, os Estados e o

Distrito Federal deverão contar com:

I - Fundo de Saúde;

II - Conselho de Saúde, com composição paritária;

III - Plano de Saúde;

IV - Relatórios de Gestão;

V - Contrapartida de recursos para a saúde no respectivo orçamento;

VI - Comissão de elaboração do Plano de Carreira, Cargos e Salários

(PCCS), previsto o prazo de dois anos para sua implantação.

Parágrafo único. O não atendimento pelos Municípios, ou pelos Estados, ou

pelo Distrito Federal, dos requisitos estabelecidos neste artigo, implicará

em que os recursos concernentes sejam administrados, respectivamente,

pelos Estados ou pela União.

(...)

Art. 5° É o Ministério da Saúde, mediante portaria do Ministro de Estado,

autorizado a estabelecer condições para aplicação desta lei (BRASIL, 1990a,

grifo nosso).

O que se percebe é que tanto a Lei n° 8.080/90, como a 8.142/90 que a complementa,

não explicitam os montantes a serem transferidos, nem traduzem operacionalmente a

composição dos critérios para as transferências federais. A cooperação financeira dos estados

aos municípios é estabelecida de modo vago, como também, não ficam claros os dispositivos

a serem utilizados no caso de estabelecimento de consórcios ou outros instrumentos para

formalização de acordos intergovernamentais envolvendo instâncias da mesma esfera do

governo. O montante a ser transferido pela União aos Estados, DF e Municípios, até a

regulamentação dos critérios que trata o art. 35 da LOS n° 8.080/90, seria baseado

exclusivamente no critério populacional (LIMA, 2013; CARVALHO, 2002).

É importante ressaltar que o art. 55 do Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias (ADCT) estabeleceu que um mínimo de 30% do orçamento da Seguridade Social,

excluído o seguro desemprego, seria destinado ao setor saúde: “(...) até que seja aprovada a lei

de diretrizes orçamentárias, trinta por cento, no mínimo, do orçamento da seguridade social,

excluído o seguro-desemprego, serão destinados ao setor de saúde” (BRASIL, 2018, p. 220).

No entanto, Carvalho (2002) descreve que esse ADCT não foi cumprido pela equipe

econômica do governo federal e não se manteve na Lei de Diretrizes Orçamentarias (LDO)

depois de 1993. O presidente Itamar Franco vetou esse dispositivo e a indefinição total sobre

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82

um montante estável para o financiamento do setor saúde resultou em crise a partir da década

de 1990 (CARVALHO, 2002; GOMES, 2014; SOARES; SANTOS, 2014).

A reforma do sistema de saúde representada pelo SUS foi dificultada também nos anos

90, quando simultaneamente outra reforma do Estado comandada pelo Ministério da Fazenda

(MF) promoveu abertura da economia, ajuste fiscal, contenção dos gastos públicos, reformas

administrativas desestruturantes, cortes de servidores públicos e rompimento precoce com a

lógica do bem-estar social, da cidadania e da seguridade social. Esse processo, conduzido com

mais habilidade a partir de 1995 pelos Ministérios da Administração e Reforma do Estado e

do Ministério do Planejamento, ampliou as barreiras e deu curso aos desvios da reforma

promovida pelo SUS (SANTOS, 2007; ABRASCO et al., 2006).

Após a regulamentação do SUS, disposta pelas LOS’s, prevaleceu a via infralegal, por

meio de numerosas portarias ministeriais, exigindo a construção de ferramentas operacionais

para materializar o novo sistema e colocar em prática seus princípios. Na década de 90, como

já dito em capítulo anterior, foram editadas as chamadas NOB’s associadas em geral, a

mecanismos financeiros. A Portaria MS/GM nº 1481, de 31 de dezembro de 1990, incumbiu

ao INAMPS de implantar a nova política de financiamento no SUS para o ano de 1991

(CARVALHO, 2002; GOMES, 2014; BRASIL, 1991). Isto significou manter a forma de

financiamento como de costume, a de valorizar a assistência médica, de caráter curativo e

especializado em detrimento às ações de prevenção e promoção à saúde. Estenderam-se ao

SUS os mecanismos usados pelo INAMPS para financiar as ações e serviços de saúde:

repasse por produção de serviços, transferências negociadas e as tabelas utilizadas pelo

INAMPS para pagar os prestadores privados de serviços.

Dessa forma, o SUS iniciou a sua atuação na área da assistência à saúde com caráter

universal, utilizando-se de uma instituição que tinha sido criada e organizada para prestar

assistência a uma parcela específica da população (SOUZA, 2002b).

Desde a criação do SUS, além das normas, pactos e decretos, houve inúmeras

mudanças nas fontes de financiamento do SUS, conforme quadro 3. Desde 1993, com o

esgotamento da principal fonte de financiamento para a saúde - a Contribuição sobre Folhas

de Salários (CFS), administrada pelo Ministério da Previdência e Assistência Social, criou-se

uma instabilidade das fontes de recursos para o SUS (SERRA; RODRIGUES, 2007).

Abrindo um parênteses, é válido dizer que o longo período que precedeu a criação do

SUS, marcado pela dicotomia entre as ações preventivas do MS e as ações assistenciais pelo

sistema de saúde previdenciário, deixou heranças para os dias atuais (apesar de já se passarem

mais de 25 anos da criação do SUS) principalmente no que se refere ao mecanismo de repasse

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de recursos. Este, baseado fundamentalmente no critério da remuneração por procedimentos,

tem dificultado o cumprimento da Lei n° 8.080/90 que enfatiza a referência populacional e

epidemiológica, mantendo a enorme disparidade existente na rede do nosso país, favorecendo

os maiores centros, como as regiões Sul e Sudeste, que tem maior capacidade de realizar mais

procedimentos de média e alta complexidade, além da existência de altos e inaceitáveis

índices de ações de saúde desnecessários, ocorridas além de outros fatores, pela

mercantilização (SERRA; RODRIGUES, 2007; SANTOS, 2007).

Para enfrentamento da crise econômica e de instabilidade de recursos instaurada na

década de 90, foram criados alguns dispositivos como o Fundo Social de Emergência (FSE), o

Fundo de Estabilização Fiscal (FEF) e foi criada pela Emenda Constitucional (EC) n° 12, de

15 de agosto de 1996, regulamentada pela Lei n° 9.311, de 24 de outubro de 1996, a da

Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), sendo oriunda das

instituições financeiras nas contas mantidas por correntistas sobre os movimentos financeiros

feitos pelos mesmos. Foi incluído o art. 74 nos ADCT:

Art. 74. A União poderá instituir contribuição provisória sobre

movimentação ou transmissão de valores e de créditos e direitos de natureza

financeira.

§ 1º A alíquota da contribuição de que trata este artigo não excederá a vinte

e cinco centésimos por cento, facultado ao Poder Executivo reduzi-la ou

restabelecê-la, total ou parcialmente, nas condições e limites fixados em lei.

§ 2º A contribuição de que trata este artigo não se aplica o disposto nos arts.

153, § 5º, e 154, I, da Constituição.

§ 3º O produto da arrecadação da contribuição de que trata este artigo será

destinado integralmente ao Fundo Nacional de Saúde, para financiamento

das ações e serviços de saúde.

§ 4º A contribuição de que trata este artigo terá sua exigibilidade

subordinada ao disposto no art. 195, § 6º, da Constituição, e não poderá ser

cobrada por prazo superior a dois anos (BRASIL, 2018, p. 228-229, grifo

nosso).

A EC n° 21, criada em 18 de março de 1999, que “prorroga, alternando a alíquota, a

contribuição provisória sobre movimentação ou transmissão de valores e de créditos e de

direitos de natureza financeira, a que se refere o art. 74 do ADCT” (Brasil, 2018, p. 291)

incluí o artigo 75 no ADCT, com a seguinte redação:

Art. 75. É prorrogada, por trinta e seis meses, a cobrança da contribuição

provisória sobre movimentação ou transmissão de valores e de créditos e

direitos de natureza financeira de que trata o art. 74, instituída pela Lei nº

9.311, de 24 de outubro de 1996, modificada pela Lei nº 9.539, de 12 de

dezembro de 1997, cuja vigência é também prorrogada por idêntico prazo.

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§ 1º Observado o disposto no § 6º do art. 195 da Constituição Federal, a

alíquota da contribuição será de trinta e oito centésimos por cento, nos

primeiros doze meses, e de trinta centésimos, nos meses subseqüentes,

facultado ao Poder Executivo reduzi-la total ou parcialmente, nos

limites aqui definidos.

§ 2º O resultado do aumento da arrecadação, decorrente da alteração da

alíquota, nos exercícios financeiros de 1999, 2000 e 2001, será destinado ao

custeio da previdência social.

§ 3º É a União autorizada a emitir títulos da dívida pública interna, cujos

recursos serão destinados ao custeio da saúde e da previdência social, em

montante equivalente ao produto da arrecadação da contribuição, prevista e

não realizada em 1999 (BRASIL, 2018, p. 229, grifo nosso).

Essa matéria foi alterada por mais oito leis, duas medidas provisórias até 2007 e ainda

por duas Emendas Constitucionais: a EC n° 37, criada em 12 de junho de 2002 e a EC n° 42,

criada em 19 de dezembro de 2003, que prorrogaram sua atuação ou modificaram sua

alíquota. Essas alterações nos ADCT demostram o caráter transitório das soluções, indicando

reduzida prioridade dos poderes instituídos (legislativo e executivo) para a solução de

medidas mais duradouras e suficientes (GOMES, 2014).

Cabe ressaltar que a CPMF utilizou-se da saúde como justificativa para a sua criação e

manutenção, no entanto, a situação de falta de recursos para o setor permaneceu inalterada.

Para Carvalho (2008, p. 44), a CPMF “já chegava à saúde mordida em 20%” pela

Desvinculação das Receitas da União, além do decréscimo de outras fontes como a

Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e a Contribuição Social

sobre o Lucro Líquido (CSSL).

Além da CPMF, outras soluções para o problema do financiamento foram

apresentadas: A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 169 (07/07/1993), que pretendia

garantir um mínimo de 30% dos recursos da Seguridade Social para à saúde, provenientes das

contribuições sociais e de 10% da receita dos impostos. Para estados e municípios, o mínimo

também seria 10% dos impostos; a PEC 82 (27/04/1995) destinava à saúde todos os recursos

das contribuições dos empregadores sobre o faturamento e o lucro, mais adiante, em

31/08/1999 foi determinada a anexação da PEC 82/1995 a PEC 169/93 e o agrupamento das

propostas deu origem a PEC 82-A (1999), sendo encaminhada ao Senado em 10 de novembro

de 1999. No Senado a PEC foi denominada PEC 86 (1999) e esta deu origem a EC n° 29

(GOMES, 2014).

A política de recursos financeiros na saúde, a despeito das definições contidas na

Constituição Federal de 1988 sobre as fontes que deveriam compor seu orçamento, avançou

somente em 2002, com a promulgação da EC n° 29, criada em 13 de setembro de 2000, que

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garantiu recursos adicionais para a saúde e responsabilizou os entes federados pelo

financiamento do SUS, definindo os percentuais mínimos dos recursos financeiros que a

União, os Estados, o DF e os Municípios devem aplicar na saúde (BRASIL, 2000). A regra

geral, no período de transição (anos 2001-2004), deveria ser aplicado o montante disposto no

artigo 77 dos ADCT:

Ato das Disposições Constitucionais Transitórias art. 77

Até o exercício financeiro de 2004, os recursos mínimos aplicados nas ações

e serviços públicos de saúde serão equivalentes:

I – no caso da União:

a) no ano 2000, o montante empenhado em ações e serviços públicos de

saúde no exercício financeiro de 1999 acrescidos de, no mínimo, cinco por

cento;

b) do ano 2001 ao ano 2004, o valor apurado no ano anterior, corrigido pela

variação nominal do Produto Interno Bruto – PIB;

II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, doze por cento do produto da

arrecadação dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de que

tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas as parcelas

que forem transferidas aos respectivos Municípios; e

III – no caso dos Municípios e do Distrito Federal, quinze por cento do

produto da arrecadação dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos

de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alínea b e § 3º.

§ 1º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que apliquem

percentuais inferiores aos fixados nos incisos II e III deverão elevá-los

gradualmente, até o exercício financeiro de 2004, reduzida a diferença à

razão de, pelo menos, um quinto por ano, sendo que, a partir de 2000, a

aplicação será de pelo menos sete por cento.

§ 2º Dos recursos da União apurados nos termos deste artigo, quinze por

cento, no mínimo, serão aplicados nos Municípios, segundo o critério

populacional, em ações e serviços básicos de saúde, na forma da lei.

§ 3º Os recursos dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios

destinados às ações e serviços públicos de saúde e os transferidos pela União

para a mesma finalidade serão aplicados por meio de Fundo de Saúde que

será acompanhado e fiscalizado por Conselho de Saúde, sem prejuízo do

disposto no art. 74 da Constituição Federal.

§ 4º Na ausência da lei complementar a que se refere o art. 198, § 3º, a

partir do exercício financeiro de 2005, aplicar-se-á à União, aos Estados, ao

Distrito Federal e aos Municípios o disposto neste artigo (BRASIL, 2018, p.

231, grifo nosso).

A lei complementar nº 141 foi promulgada somente 12 anos após a instituição da EC

n° 29, em 13 de janeiro de 2012, a qual regulamentou o parágrafo 3º do art. 198 da CF “[...]

para dispor sobre os valores mínimos a serem aplicados anualmente pela União, Estados,

Distrito Federal e Municípios em ações e serviços públicos de saúde [...]”. Finalmente

estabeleceram-se previsões mais estáveis para o financiamento da saúde. No entanto, a lei

complementar manteve a mesma regra da EC n° 29/00, não acrescentando mais recursos

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necessários ao SUS e mais uma vez, não fixou percentual a ser aplicado pela União em ações

e serviços públicos de saúde (BRASIL, 2012).

O estudo realizado por Soares e Santos (2014) demostrou que o perfil dos gastos em

saúde do período de 1995 até 2012 não deu conta de atender ao sonho do MRSB dos anos 80.

Comparando esses gastos com gastos internacionais, Produto Interno Bruto e com a Receita

Corrente Bruta do país, os autores evidenciaram uma queda acentuada da participação

proporcional do governo federal nos gastos com saúde, a qual se manteve ao longo de todos

os períodos. Em contrapartida, Estados e Municípios tiveram um aumento no percentual no

financiamento público de saúde; os municípios mais que dobraram esse percentual. Em

relação a países que possuem características do SUS, como o Canadá, Espanha, França e

Reino Unido, em comparação ao Brasil, o gasto per capita do Brasil, em 2011 foi de 476,65

dólares, contra 3.182,08 do Canadá, 2.238,18 da Espanha, 3.133,96 da França e 2.747, 29 do

Reino Unido (SOARES; SANTOS, 2014; BRASIL, 2015; GOMES, 2014).

A permanência dos baixíssimos recursos públicos para saúde, comparados

com os investimentos dos países desenvolvidos e com outros do dito

Terceiro Mundo, assim como a retração da contrapartida federal frente ao

crescimento das contrapartidas estaduais e municipais, são componentes da

mesma política econômico-social instalada no país a partir de 1990,

dificultando e distorcendo a implementação do novo modelo de atenção à

saúde. Esta política conflita com a Constituição Federal e a Lei Orgânica da

Saúde, e com as diretrizes assumidas pela tripartite, bipartites, Conselhos de

Saúde, Ministério Público, Frente Parlamentar da Saúde e pelas entidades

que integram o movimento da Reforma Sanitária Brasileira. Essa política de

diminuição do investimento em saúde, formulada pela "área econômica"

(Ministérios da Fazenda e Planejamento e Banco Central) desde 1990 é

inculcada a todos os governos e coligações partidárias como política de

Estado. A imagem-objetivo desta política, levada às últimas conseqüências,

constitui-se na consolidação do mercado de planos e seguros privados de

saúde. Estes se tornariam então no epicentro do sistema nacional de saúde,

elevando os atuais subsídios públicos ao consumo e o número de

consumidores. Isso tem como resultante a consolidação do caráter

complementar (e não central) do SUS ao mercado de planos e seguros. O

SUS vai se tornando "SUS pobre para os pobres", dentro da lógica dos

programas compensatórios, focalizados e de baixo custo (SANTOS, 2007, p.

432).

Somando a isso, na conjuntura atual, o SUS, como expressão institucional de um

direito social, encontra-se gravemente ameaçado. Um conjunto de ações conservadoras tem

buscado minar seus alicerces e fazer-nos retroceder às segmentações e hierarquizações que

conformaram historicamente a política de saúde. A aprovação da EC n° 86/15, que formalizou

o sub financiamento do sistema, a Lei n° 13.019 que abriu de modo inconstitucional, a

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assistência à saúde ao capital estrangeiro, a EC n° 95/16 que instituiu o novo Regime Fiscal e

congelou por 20 anos os recursos destinados às políticas sociais e a Portaria nº 2.436, de 21 de

setembro de 2017, “a nova PNAB”, que permite que os investimentos federais contemplem

uma nova modalidade de equipe de Atenção Básica, no modelo tradicional e com menos

profissionais, são alguns exemplos de tais ameaças, absolutamente concretas (BRASIL, 2015;

2016; 2017; GUIZARDI, 2015).

Paim (2012) concorda que a sustentabilidade institucional e econômica do SUS

encontra-se ameaçada e informa que uma das justificativas apresentadas para a rejeição do

projeto que obrigava a destinação de 10% do orçamento federal para a saúde foi à crise

internacional. Não só o Brasil, assim como vários outros governos, têm feito a opção pela

austeridade fiscal1 em meio a importante recessão econômica, até mesmo por pressão de

instituições financeiras internacionais, como o Fundo Monetário Internacional e Banco

Mundial que, para conceder empréstimos aos países nos momentos de crise econômica,

impõem condicionantes aos governos que limitam o direito à saúde por mudanças no volume

e qualidade dos serviços prestados. Tais condições impostas são reformas fiscais e

institucionais que resultam na adoção de medidas como: focalização de programas, corte de

gasto social, ajustes estruturais para a introdução de taxas e de copagamento no uso dos

serviços de saúde, desregulação do setor de saúde para aumentar a participação do setor

privado na prestação de serviços e descentralização de responsabilidades fiscais e

operacionais para os níveis subnacionais (SANTOS; VIEIRA, 2018).

Para Butierres e Mendes (2010), a mundialização financeira produz uma difusão das

relações mercantis, conduzindo a um retrocesso no campo dos direitos, especialmente os

sociais e nas políticas públicas. Dessa forma, as políticas governamentais privilegiam a esfera

financeira em detrimento dos diretos sociais e das políticas públicas correspondentes.

Enfim, embora avanços importantes tenham sido feitos a partir da CF de 1988,

referente à transferência de recursos e a aprovação da EC n° 29/2000 por LC em 2012, há um

longo caminho a ser percorrido na garantia desse direito social – o direito à saúde, não apenas

em termos de quantidade de serviços disponíveis, mas também em qualidade, eficiência e

distribuição igualitária dos serviços, com vistas à diminuição das desigualdades. Esse é o

desafio a ser enfrentado pelo SUS e por nós cidadãos plenos e corresponsáveis por essa

política.

1 A austeridade fiscal caracteriza-se por escolhas que exigem grandes sacrifícios da população, seja porque

aumentam a carga tributária, seja pela implementação de medidas que restringem a oferta de benefícios, bens e

serviços públicos, em razão de cortes de despesas e/ou realização de reformas estruturais (SANTOS; VIEIRA,

2018)

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88

Quadro 3 - Fontes de Financiamento do SUS – Evolução Histórica

Proposta Características O que se propõe/ Financiamento

8ª CNS

- Instrumento de pressão política no

contexto da Nova República e também de

referência na discussão da Assembleia

Nacional Constituinte nos anos de 1987/88,

sendo reconhecido como um documento de

importante expressão social.

- Criação de um Fundo Único Federal de

Saúde;

- Determinação dos recursos através da

prefixação de percentual mínimo (proposta

de 15%) sobre as receitas públicas;

- Recursos desvinculados da Previdência

Social (PS);

- Recursos com distribuição levando em

consideração as condições de vida e de

saúde de cada região.

CF

05/10/1988

- Saúde como direito de todos e dever do

Estado;

- Criação do SUS.

- O SUS será financiado, nos termos do art.

195, com recursos do orçamento da

seguridade social, da União, dos Estados,

do Distrito Federal e dos Municípios, além

de outras fontes;

Art.195: “A seguridade social será

financiada por toda a sociedade, de forma

direta e indireta, nos termos da lei, mediante

recursos provenientes dos orçamentos da

União, dos Estados, do Distrito Federal e

dos Municípios, e das seguintes

contribuições sociais...”;

As principais contribuições sociais são:

- Contribuição sobre a Folha de Salários;

- Fundo de Investimento Social;

- Contribuição para o Financiamento da

Seguridade Social;

- Contribuição sobre o Lucro Líquido.

Artigo 55 do

Ato das

Disposições

Constitucionais

Transitórias

(ADCT)

05/10/1988

- 30% do orçamento da Seguridade Social

para o setor saúde, excluído o seguro

desemprego.

EC 12

15/08/96

- Permite a União “instituir contribuição

provisória sobre movimentação ou

transmissão de valores e de créditos e

direitos de natureza financeira”.

- Inclui o Art. 74 nos ADCT.

Artigo 74 do

Ato das

Disposições

Constitucionais

Transitórias

(ADCT)

15/08/96

- Art. 74

§ 1º A alíquota da contribuição de que trata

este artigo não excederá a vinte e cinco

centésimos por cento, facultado ao Poder

Executivo reduzi-la ou restabelecê-la, total

ou parcialmente, nas condições e limites

fixados em lei.

§ 2º À contribuição de que trata este artigo

não se aplica o disposto nos arts. 153, § 5º, e

154, I, da Constituição.

§ 3º O produto da arrecadação da

contribuição de que trata este artigo será

destinado integralmente ao Fundo Nacional

de Saúde, para financiamento das ações e

serviços de saúde.

§ 4º A contribuição de que trata este artigo

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89

terá sua exigibilidade subordinada ao

disposto no art. 195, § 6º, da Constituição, e

não poderá ser cobrada por prazo superior a

dois anos.

Lei 9311

24/11/96

- Lei regulamentadora da EC 12 - Institui a Contribuição Provisória sobre

Movimentação ou Transmissão de Valores

e de Créditos e Direitos de Natureza

Financeira - CPMF, e dá outras

providências.

EC 20

15/12/1988

- Modifica o sistema de previdência social,

estabelece normas de transição e dá outras

providências.

- Acrescenta parágrafo no Art. 195 da CF

§ 10 A lei definirá os critérios de

transferência de recursos para o sistema

único de saúde e ações de assistência social

da União para os Estados, o Distrito Federal

e os Municípios, e dos Estados para os

Municípios, observada a respectiva

contrapartida de recursos.

EC 21

18/03/1999

- Prorroga, alterando a alíquota, a

contribuição provisória sobre

movimentação ou transmissão de valores e

de créditos e de direitos de natureza

financeira, a que se refere o art. 74 do Ato

das Disposições Constitucionais

Transitórias.

- Inclui o art. 75 no ADCT.

Artigo 75 do

Ato das

Disposições

Constitucionais

Transitórias

(ADCT)

Art. 75: É prorrogada, por trinta e seis

meses, a cobrança da contribuição

provisória sobre movimentação ou

transmissão de valores e de créditos e

direitos de natureza financeira de que trata o

art. 74, instituída pela Lei nº 9.311, de 24 de

outubro de 1996, modificada pela Lei nº

9.539, de 12 de dezembro de 1997, cuja

vigência é também prorrogada por idêntico

prazo.

§ 1º Observado o disposto no § 6º do art.

195 da Constituição Federal, a alíquota da

contribuição será de trinta e oito centésimos

por cento, nos primeiros doze meses, e de

trinta centésimos, nos meses subseqüentes,

facultado ao Poder Executivo reduzi-la total

ou parcialmente, nos limites aqui definidos.

§ 2º O resultado do aumento da arrecadação,

decorrente da alteração da alíquota, nos

exercícios financeiros de 1999, 2000 e 2001,

será destinado ao custeio da previdência

social.

§ 3º É a União autorizada a emitir títulos da

dívida pública interna, cujos recursos serão

destinados ao custeio da saúde e da

previdência social, em montante equivalente

ao produto da arrecadação da contribuição,

prevista e não realizada em 1999".

EC 29

13/09/2000

- Altera o artigo 198 da CF e acrescenta

artigo ao ADCT, para assegurar recursos

mínimos para financiamento das ações e

serviços públicos de saúde.

- Art. 6º O art. 198 passa a vigorar acrescido

dos seguintes §§ 2º e 3º, numerando-se o

atual parágrafo único como § 1º:

Art.198...........................................

§ 1º (parágrafo único original)..................

§ 2º A União, os Estados, o Distrito Federal

e os Municípios aplicarão, anualmente, em

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ações e serviços públicos de saúde recursos

mínimos derivados da aplicação de

percentuais calculados sobre:

I – no caso da União, na forma definida nos

termos da lei complementar prevista no § 3º

II – no caso dos Estados e do Distrito

Federal, o produto da arrecadação dos

impostos a que se refere o art. 155 e dos

recursos de que tratam os arts. 157 e 159,

inciso I, alínea a, e inciso II, deduzidas as

parcelas que forem transferidas aos

respectivos Municípios

III – no caso dos Municípios e do Distrito

Federal, o produto da arrecadação dos

impostos a que se refere o art. 156 e dos

recursos de que tratam os arts. 158 e 159,

inciso I, alínea b e § 3º

§ 3º Lei complementar, que será reavaliada

pelo menos a cada cinco anos, estabelecerá:

I – os percentuais de que trata o § 2º

II – os critérios de rateio dos recursos da

União vinculados à saúde destinados aos

Estados, ao Distrito Federal e aos

Municípios, e dos Estados destinados a seus

respectivos Municípios, objetivando a

progressiva redução das disparidades

regionais

III – as normas de fiscalização, avaliação e

controle das despesas com saúde nas esferas

federal, estadual, distrital e municipal

IV – as normas de cálculo do montante a ser

aplicado pela União

- Inclui o Art. 77 no ADCT.

Artigo 77 do

Ato das

Disposições

Constitucionais

Transitórias

(ADCT)

13/09/2000

- Art. 77: Até o exercício financeiro de

2004, os recursos mínimos aplicados nas

ações e serviços públicos de saúde serão

equivalentes:

I – no caso da União:

a) no ano 2000, o montante empenhado em

ações e serviços públicos de saúde no

exercício financeiro de 1999 acrescido de,

no mínimo, cinco por cento;

b) do ano 2001 ao ano 2004, o valor

apurado no ano anterior, corrigido pela

variação nominal do Produto Interno Bruto

– PIB

II – no caso dos Estados e do Distrito

Federal, doze por cento do produto da

arrecadação dos impostos a que se refere o

art. 155 e dos recursos de que tratam os arts.

157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II,

deduzidas as parcelas que forem transferidas

aos respectivos Municípios; e

III – no caso dos Municípios e do Distrito

Federal, quinze por cento do produto da

arrecadação dos impostos a que se refere o

art. 156 e dos recursos de que tratam os arts.

158 e 159, inciso I, alínea b e § 3º

§ 1º Os Estados, o Distrito Federal e os

Municípios que apliquem percentuais

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inferiores aos fixados nos incisos II e III

deverão elevá-los gradualmente, até o

exercício financeiro de 2004, reduzida a

diferença à razão de, pelo menos, um quinto

por ano, sendo que, a partir de 2000, a

aplicação será de pelo menos sete por cento

§ 2º Dos recursos da União apurados nos

termos deste artigo, quinze por cento, no

mínimo, serão aplicados nos Municípios,

segundo o critério populacional, em ações e

serviços básicos de saúde, na forma da lei

§ 3º Os recursos dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios destinados às

ações e serviços públicos de saúde e os

transferidos pela União para a mesma

finalidade serão aplicados por meio de

Fundo de Saúde que será acompanhado e

fiscalizado por Conselho de Saúde, sem

prejuízo do disposto no art. 74 da

Constituição Federal

§ 4º Na ausência da lei complementar a

que se refere o art. 198, § 3º, a partir do

exercício financeiro de 2005, aplicar-se-á

à União, aos Estados, ao Distrito Federal

e aos Municípios o disposto neste artigo.

EC 37

12/07/2002

- Altera os arts. 100 e 156 da Constituição

Federal e acrescenta os arts. 84, 85, 86, 87

e 88 ao ADCT.

- Inclui o Art. 84 no ADCT.

Artigo 84 do

Ato das

Disposições

Constitucionais

Transitórias

(ADCT)

- A contribuição provisória sobre

movimentação ou transmissão de valores e

de créditos e direitos de natureza

financeira, prevista nos arts. 74, 75 e 80, I,

deste Ato das Disposições Constitucionais

Transitórias, será cobrada até 31 de

dezembro de 2004.

- Art. 84

§ 1º Fica prorrogada, até a data referida

no caput deste artigo, a vigência da Lei nº

9.311, de 24 de outubro de 1996, e suas

alterações.

§ 2º Do produto da arrecadação da

contribuição social de que trata este artigo

será destinada a parcela correspondente à

alíquota de:

I - vinte centésimos por cento ao Fundo

Nacional de Saúde, para financiamento das

ações e serviços de saúde;

II - dez centésimos por cento ao custeio da

previdência social;

III - oito centésimos por cento ao Fundo de

Combate e Erradicação da Pobreza, de que

tratam os arts. 80 e 81 deste Ato das

Disposições Constitucionais Transitórias.

§ 3º A alíquota da contribuição de que trata

este artigo será de:

I - trinta e oito centésimos por cento, nos

exercícios financeiros de 2002 e 2003;

II - oito centésimos por cento, no exercício

financeiro de 2004, quando será

integralmente destinada ao Fundo de

Combate e Erradicação da Pobreza, de que

tratam os arts. 80 e 81 deste Ato das

Disposições Constitucionais Transitórias.

EC 42

19/12/2003

- Altera o Sistema Tributário Nacional e

dá outras providências.

- Art.90: O prazo previsto no caput do art.

84 do ADCT fica prorrogado até 31 de

dezembro de 2007.

§ 1º Fica prorrogada, até a data referida

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no caput deste artigo, a vigência da Lei nº

9.311, de 24 de outubro de 1996, e suas

alterações.

§ 2º Até a data referida no caput deste

artigo, a alíquota da contribuição de que

trata o art. 84 deste ADCT será de trinta e

oito centésimos por cento.

LC nº 141

13/01/12

- Lei Regulamentadora da EC 29

Regulamenta o parágrafo 3º do art. 198 da

Constituição Federal para dispor sobre os

valores mínimos a serem aplicados

anualmente pela União, Estados, Distrito

Federal e Municípios em ações e serviços

públicos de saúde; estabelece os critérios

de rateio dos recursos de transferências

para a saúde e as normas de fiscalização,

avaliação e controle das despesas com

saúde nas 3 (três) esferas de governo;

revoga dispositivos das Leis nº 8.080, de

19 de setembro de 1990, e n° 8.689, de 27

de julho de 1993; e dá outras providências.

- Art. 5º A União aplicará, anualmente, em

ações e serviços públicos de saúde, o

montante correspondente ao valor

empenhado no exercício financeiro anterior,

apurado nos termos desta Lei

Complementar, acrescido de, no mínimo, o

percentual correspondente à variação

nominal do Produto Interno Bruto (PIB)

ocorrida no ano anterior ao da lei

orçamentária anual.

- Art. 6o Os Estados e o Distrito Federal

aplicarão, anualmente, em ações e serviços

públicos de saúde, no mínimo, 12% (doze

por cento) da arrecadação dos impostos a

que se refere o art. 155 e dos recursos de

que tratam o art. 157, a alínea “a” do inciso

I e o inciso II do caput do art. 159, todos da

CF, deduzidas as parcelas que forem

transferidas aos respectivos Municípios.

- Art. 7o Os Municípios e o Distrito Federal

aplicarão anualmente em ações e serviços

públicos de saúde, no mínimo, 15% (quinze

por cento) da arrecadação dos impostos a

que se refere o art. 156 e dos recursos de

que tratam o art. 158 e a alínea “b” do inciso

I do caput e o parágrafo 3º do art. 159, todos

da CF.

- Art. 8o O Distrito Federal aplicará,

anualmente, em ações e serviços públicos de

saúde, no mínimo, 12% (doze por cento) do

produto da arrecadação direta dos impostos

que não possam ser segregados em base

estadual e em base municipal.

Decreto

nº 7827

16/10/12

- Regulamenta os procedimentos de

condicionamento e restabelecimento das

transferências de recursos provenientes das

receitas de que tratam o inciso II do caput

do art. 158, as alíneas "a" e "b" do inciso I

e o inciso II do caput do art. 159 da

Constituição, dispõe sobre os

procedimentos de suspensão e

restabelecimento das transferências

voluntárias da União, nos casos de

descumprimento da aplicação dos recursos

em ações e serviços públicos de saúde de

que trata a Lei Complementar nº 141, de 13

de janeiro de 2012, e dá outras

providências.

Lei nº 12.858

09/09/13

- Dispõe sobre a destinação para as áreas

de educação e saúde de parcela da

participação no resultado ou da

compensação financeira pela exploração de

petróleo e gás natural, com a finalidade de

- Art. 2º Para fins de cumprimento da meta

prevista no inciso VI do caput do art. 214 e

no art. 196 da Constituição Federal, serão

destinados exclusivamente para a educação

pública, com prioridade para a educação

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cumprimento da meta prevista no inciso VI

do caput do art. 214 e no art. 196 da

Constituição Federal; altera a Lei nº 7.990,

de 28 de dezembro de 1989; e dá outras

providências.

básica, e para a saúde, na forma do

regulamento, os seguintes recursos:

§ 3º União, Estados, Distrito Federal e

Municípios aplicarão os recursos previstos

nos incisos I e II deste artigo no montante

de 75% (setenta e cinco por cento) na área

de educação e de 25% (vinte e cinco por

cento) na área de saúde.

- Art. 4º Os recursos destinados para as

áreas de educação e saúde na forma do art.

2º serão aplicados em acréscimo ao mínimo

obrigatório previsto na Constituição

Federal.

EC 86

17/03/15

- Altera os arts. 165,166 e 198 da CF, para

tornar obrigatória a execução da

programação orçamentária que a

especifica.

- Revogou a reavaliação das normas de

cálculo do montante a ser aplicado pela

União; os recursos pela exploração de

petróleo e gás natural destinados para área

da saúde não serão acrescidos ao montante

mínimo obrigatório pela Lei 12.858

(09/09/2013);

- 0,6% da RLC destinadas às emendas

individuais será alocado para a saúde e

computados para fins do cumprimento

mínimo de execução; e o percentual

definido pela aplicação da União de 15% da

RLC evoluirá de modo gradual em cinco

anos de, no mínimo, 13,2%, 13,.7%, 14,1%,

14,5%, 15%.

EC 95

15/12/2016

- Altera o Ato das Disposições

Constitucionais Transitórias, para instituir

o Novo Regime Fiscal, e dá outras

providências.

- Inclui o Art. 106 no ADCT.

Artigo 106 do

Ato das

Disposições

Constitucionais

Transitórias

(ADCT)

- Fica instituído o Novo Regime Fiscal no

âmbito dos Orçamentos Fiscal e da

Seguridade Social da União, que vigorará

por vinte exercícios financeiros, nos termos

dos arts. 107 a 114 deste Ato das

Disposições Constitucionais Transitórias.

- Art. 110. Na vigência do Novo Regime

Fiscal, as aplicações mínimas em ações e

serviços públicos de saúde e em manutenção

e desenvolvimento do ensino equivalerão:

I - no exercício de 2017, às aplicações

mínimas calculadas nos termos do inciso I

do § 2º do art. 198 e do caput do art. 212, da

Constituição Federal; e

II – nos exercícios posteriores, aos valores

calculados para as aplicações mínimas do

exercício imediatamente anterior, corrigidos

na forma estabelecida pelo inciso II do § 1º

do art. 107 deste Ato das Disposições

Constitucionais Transitórias.

Fonte: Elaborado pela autora baseado na Constituição Federal atualizada até a EC n. 99/2017 (2018)

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4 MARCO CONTEXTUAL

“Nosso débito é grande com os

desassistidos deste país,

e eles têm pressa”!

Davi Capistrano

O marco contextual desse trabalho compreende a cidade de Itajaí. Um município do

estado de Santa Catarina, fundado em 15 de junho de 1860, localizado no litoral norte

catarinense, especificamente na foz do Rio Itajaí-Açu.

Figura 3 - Localização de Itajaí no Estado de Santa Catarina

Fonte: Wikipédia (2017).

4.1 Por que Itajaí?

Por sonhar em desenvolver a pesquisa no município em que trabalho, por vivenciar

fragilidades e limitações em experiências cotidianas na atenção básica do SUS que sugerem

uma interface com a organização do processo de trabalho, em nível de gestão. Essas

experiências recheadas de angústias, aumentaram o desejo de conhecer, compreender e

participar das lutas travadas pela gestão municipal.

Como complemento, pela própria constituição histórica do município e pela sua

posição regional na rede de atenção (ITAJAÍ, 2014).

4.2 Aspectos Históricos do Município

Itajaí é um nome tupi, oriundo da palavra Tajahy, que significa “Rio dos Taiás”, uma

planta comestível da família das aráceas. Outra tese mais aceita por estudiosos brasileiros e

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estrangeiros e até mesmo por sua população, é que Itajaí pode significar “água do senhor da

pedra”, através da junção dos termos itá (“pedra”), îara (“senhor”) e ‘y (“água”). Acredita-se

que a origem indígena do nome justificaria a história de transformações de Itajaí. A rocha (ita)

simbolizaria a solidez sobre a qual o povo fundamenta seu desenvolvimento, impassível frente

às adversidades. Ao mesmo tempo, o movimento das águas (jaí), representado pelos rios que a

recortam, simbolizaria a busca constante por novos caminhos e a vontade da cidade em se

recriar (WIKIPÉDIA, 2017; ITAJAI, 2017c).

Quando os primeiros colonizadores vieram se fixar nas terras junto à foz do rio Itajaí-

Açu, os indígenas já faziam frente à ocupação das mesmas terras que, pouco a pouco, lhe

foram tomadas. Índios Carijós ou Caigangues, que até o século XVI, habitavam em todo o

atual litoral do estado de Santa Catarina, foram sendo escravizados para servir de mão de obra

nas plantações de cana de açúcar com a chegada de navegadores espanhóis e portugueses

(ITAJAÍ, 2017c).

Inicialmente, a ocupação das terras de Itajaí pelo homem branco se deu pela iniciativa

de João Dias de Arzão, companheiro do fundador de São Francisco do Sul em 1658. Ele era

paulista e sua família, a tempo, procurava minas de ouro e outros metais preciosos pelo

interior do Brasil. Naquele ano, ele requereu uma sesmaria (lote colonial), às margens do rio

Itajaí-Açu e ali construiu moradia. Seu interesse maior era a cata de ouro e não tinha nenhuma

intenção de formar ali uma póvoa. Já a partir do século XVII, diversas recomendações foram

feitas ao governo colonial no sentido de se promover a colonização das terras do Vale do

Itajaí, consideradas férteis e estratégicas para a fundação de colônias, no entanto, não foram

levadas em consideração (ITAJAÍ, 2017c).

Durante o século XVIII, a grande atividade econômica desenvolvida nas terras do

Itajaí foi à extração de madeiras, exportada para Santos e Rio de Janeiro, o que ocasionou

uma afluência de moradores, notadamente açorianos. Com a riqueza da madeira disponível, a

abundância da pesca e a fertilidade das terras, motivaram vários especuladores (altos

funcionários públicos, militares, eclesiásticos e comerciantes) a requererem sucessivas

sesmarias, prejudicando o direito de posse de moradores antes estabelecidos. Assim, no

começo do século XIX, as terras da Foz do Itajaí estavam todas tomadas por diversos

sesmeiros (ITAJAÍ, 2017c).

Motivado pela inexistência de qualquer obra e ao mesmo tempo as vantagens

econômicas da exploração da madeira, Antônio Menezes Vasconcelos de Drummond, um

jovem de 25 anos, morador do Rio de janeiro, que estava em Santa Catarina, como

contratador dos reais cortes de madeira, solicitou apoio governamental para a fundação de

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uma colônia nas terras de Itajaí. O rei D. João VI autorizou o jovem a estabelecer uma colônia

em duas sesmarias reais junto ao rio Itajaí-Mirim, na atual região de Itaipava por aviso real de

05 de janeiro de 1820, porém, após iniciar os trabalhos de implantação da colônia, resolveu

suspender a tarefa, pois sabia que acabaria o apoio do governo (ITAJAÍ, 2017c).

Ainda no começo do século XIX, intensificou-se o comércio que os moradores de

Itajaí faziam com comerciantes de várias vilas do litoral catarinense. Numa dessas viagens

Agostinho Alves Ramos pela primeira vez chegou à Foz do Itajaí-Açu. Era português e sócio

de uma casa comercial em Desterro. Percebendo no local um bom ponto comercial, logo se

estabeleceu ali com sua esposa Ana Maria Rita. Com vistas a fundar uma póvoa, solicitou ao

Bispo do Rio de Janeiro um requerimento para a criação de um Curato, estabelecido em 31 de

março de 1824. E com a criação do Curato do Santíssimo Sacramento, estava fundada Itajaí.

O primeiro grupo de moradores da cidade foi de pessoas de São Francisco do Sul,

Florianópolis, Armação do Itapocorói e São Miguel da Terra Firme, majoritariamente luso-

açorianos. Devido a excelente posição geográfica, dispondo de bom porto, a localidade, desde

o seu povoamento, recebeu moradores de outros pontos de Santa Catarina e do Brasil, além de

estrangeiros, em sua maioria alemã, italiana e polonesa. Apesar da variedade de etnias

imigrantes que constituíram a população itajaiense, a marca cultural prevalecente da cidade

ficou sendo a luso-açoriana (ITAJAÍ, 2017c).

Em 1858, um grupo de destacados moradores encabeçou um movimento para a

criação do Município de Itajaí. Agostinho Alves Ramos, considerado seu fundador, já não

vivia mais, morrera em 1853. A emancipação política foi considerada uma luta gloriosa, pois

ocorreu uma oposição muito forte por parte da Câmara Municipal de Porto Belo, a quem Itajaí

estava subordinada. Através da resolução nº 464, de 04 de abril de 1859, criou-se o município

de Itajaí, que só foi instalado em 15 de junho de 1860, com posse de seus primeiros

vereadores (ITAJAI, 2017c).

4.3 Aspectos Demográficos e Socioeconômicos do Município

Itajaí faz parte da Região de Saúde da Foz do Rio Itajaí (Vale do Itajaí), composta

pelos municípios Camboriú, Balneário Camboriú, Itapema, Porto Belo, Ilhota, Luiz Alves,

Navegantes, Penha, Piçarras e Bombinhas. A Região foi criada em 28 de setembro de 1971,

através do Decreto Estadual nº 844/71, que criou as regiões polarizadas no Estado. Possui

área total de 1531 km² e correspondente a 1,6% da área total do estado de Santa Catarina

(ITAJAÍ, 2014).

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Sua população, segundo o último censo realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), era de 183.373 habitantes e sua população estimada atual

(2018) é de 215.895. Esse número corresponde a 2,98% da população do estado e ocupa a 7ª

colocação entre as cidades mais populosas de Santa Catarina. Possui uma área territorial de

288,286 Km e uma densidade populacional de 636,11 hab/km². Seu clima é caracterizado

como mesotérmico úmido, sem estação seca e com verões quentes. É considerada uma das

cidades mais ricas de Santa Catarina (SC), atualmente possui o terceiro maior produto interno

bruto (PIB) e renda per capita do estado. É ainda sede da maior universidade privada do

estado, a Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) (IBGE, 2018).

Colonizada por portugueses, no século XVIII e alemães no século XIX, desde os seus

primórdios, a cidade tem uma forte ligação com a navegação e atualmente abriga um dos

maiores complexos portuários do país. É o segundo porto brasileiro em movimentação de

cargas em contêineres e o maior exportador de carnes congeladas do Brasil (ITAJAI, 2017b).

Atualmente Itajaí apresenta uma economia sólida e um padrão de qualidade de vida

relativamente alto (IDH-M 0,795). Sua localização continua condicionando o

desenvolvimento da atividade pesqueira, portuária e industrial. É considerada referência

nacional em infraestrutura voltada à instalação de empresas. A produção industrial predomina

como atividade econômica, destacando-se a área têxtil. Em matéria de expansão, os setores da

economia que mais se expandem são: logística, armazenagem de contêineres e turismo. É

também conhecida como capital brasileira da pesca por abrigar cerca de 50 empresas

beneficiadoras que produzem mais de um milhão de latas de sardinha e atum por dia. A

produção pesqueira de Itajaí está concentrada na captura do atum, da sardinha e do camarão.

Historicamente Itajaí já atravessou o ciclo do extrativismo, da madeira e da pesca, figurando

atualmente como uma cidade cosmopolita de comércio internacional (ITAJAÍ, 2017a; 2017b;

2017c; IBGE, 2018; ITAJAI, 2014).

Itajaí tem belas praias cercadas por morros cobertos pela vegetação subtropical da

Mata Atlântica. Possui também um píer para navio de passageiros que serve de ponto de

apoio no litoral de Santa Catarina, com infraestrutura adequada e exclusiva para recepção de

embarcações de grande porte, voltado a cruzeiros marítimos de lazer. Na cidade acontece um

dos maiores festivais de música popular brasileira, sempre no mês de setembro reunindo

músicos e artistas do país todo. O município tem duas tradicionais festas. Em outubro,

acontece o seu maior evento popular, a Marejada, Festa Portuguesa e do Pescado com um

prato típico: a sardinha assada. Em julho, a cidade homenageia o homem do campo e ressalta

a sua importância para a sociedade através da Festa Nacional do Colono, onde se destacam as

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exposições e feiras agropecuária e agroindustrial, mostra de animais, apresentações artísticas e

culturais (ITAJAI, 2017a; 2017b; 2017c).

Quadro 4 - Aspectos demográficos e socioeconômicos da cidade de Itajaí

Aspectos demográficos e socioeconômicos

Área territorial (Km²) 288,286 (Urbana:100km² - Rural: 189 Km²)

População total estimada (2018) 215.895. A população de Itajaí corresponde a 2,98% da população

do estado, ocupando a 7ª colocação das cidades mais populosas de

Santa Catarina

Densidade demográfica (hab/Km²) 636,11 Km²/hab

Microrregião Itajaí

Macrorregião Vale do Itajaí

Distância até a capital (Km²) 94 Km²

Coordenadas Latitude: 27º35’48”S

Longitude: 48º32’57”S

Altitude média: 1,0 metro

Limites Norte: Navegantes

Sul: Camboriú, Balneário Camboriú

Leste: Oceano Atlântico

Oeste: Ilhota, Brusque e Gaspar

Clima Subtropical úmido

Hidrografia Composta unicamente pela bacia hidrográfica do rio Itajaí

Relevo Bastante diversificado, predominando o montanhoso e o forte

ondulado

Vegetação Cobertura vegetal pouco densa, caracterizada principalmente de

arbustos e restingas

IDH-M 0,795

PIB 18 855 445,00 mil

PIB Per Capita 91 856,35 mil

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2018); Plano Municipal de Saúde de Itajaí 2014-

2017.

4.4 O Sistema Municipal de Saúde de Itajaí

Os dados apresentados abaixo foram coletados do Plano Municipal de Saúde (PMS)

do município, referente aos anos 2014-2017, divulgado no site oficial da Secretaria Municipal

de Saúde (SMS) e através do diário de campo da pesquisadora.

O município de Itajaí adota a ESF como modelo de atenção integral à saúde,

incorporando os princípios básicos do SUS. Entende-se por princípios, ideias fundamentais

em torno das quais se estrutura a instituição, “[...] são valores e convicções a serem seguidos

no âmbito do Sistema Municipal de Saúde, para que sejam traçadas suas diretrizes, objetivos e

metas”. Os princípios da gestão do município de Itajaí estão ancorados nos mesmos do SUS,

que são: universalidade, integralidade, equidade, descentralização/regionalização,

hierarquização, humanização, participação social, acessibilidade, resolutividade e cidadania

(ITAJAÍ, 2014, p. 18).

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O município está dividido em cinquenta e duas (52) equipes de ESF, nove (9) delas

com equipe de Saúde Bucal, distribuídas em vinte e três (23) Unidades de Saúde (US), com

abrangência e geoprocessamento definidos (ver quadro 7). Nos últimos anos houve expansão

desse modelo assistencial (ESF) através de um alcance da cobertura superior a 70% da

população. O Plano Municipal de Saúde de 2014-2017 assumiu o compromisso com a

continuidade dessa estratégia que melhor traduz a organização da atenção básica.

4.4.1 A Secretaria Municipal de Saúde

A Secretaria Municipal de Saúde de Itajaí, conforme nota em seu site oficial e em seu

Plano Municipal de Saúde (2014-2017), tem se organizado, pelo menos em síntese, de forma

a buscar um sistema de saúde equânime, integral e resolutivo, para assim proporcionar o

atendimento efetivo dos problemas de saúde da população local, através da realização de um

conjunto de ações articuladas entre os diferentes níveis de complexidade da atenção à saúde.

Seu principal objetivo é oferecer ações integrais e qualificadas em saúde, baseadas na

promoção e prevenção em saúde, bem como, permitir o rastreamento/diagnóstico precoce das

doenças, buscando melhorar a qualidade de vida da população.

Sua missão é defender a vida satisfazendo as necessidades de saúde da população,

através de um sistema humanizado, com responsabilização, acesso, vínculo, acolhimento,

gestão participativa, trabalho em equipe multiprofissional, de forma transdisciplinar e com

autonomia dos processos de trabalho (ITAJAI, 2014; 2017d).

A rede de saúde e serviços conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS) de Itajaí

realiza mais de 300.000 atendimentos de pessoas do município e de cidades vizinhas.

Também, por ano, cerca de 20.000 pacientes são internados na cidade para tratamento

cirúrgico ou clínico. Os principais serviços prestados pela secretaria são consultas médicas e

tratamentos, atendimentos de enfermagem, visitas domiciliares de médicos, enfermeiros e

agentes comunitários de saúde, vigilância sanitária e epidemiológica, atendimentos de

médicos especialistas, testes rápidos para diagnóstico de infecções sexualmente

transmissíveis, exames de laboratório, exames especializados, cirurgias, práticas integrativas e

complementares em saúde, atividades de promoção à saúde e prevenção, entre outros

(ITAJAI, 2017d).

Estruturalmente, a SMS está dividida em: Diretoria de Atenção à Saúde; Diretoria de

Vigilância Epidemiológica; Diretoria de Vigilância Sanitária; Diretorias e Setor

Administrativo; Unidades de Pronto Atendimento 24h; Unidades de Atendimento à população

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e Unidades Farmacêuticas e Assistenciais (ver quadro 5). O organograma da estrutura

administrativa da Secretaria Municipal de Saúde implantada através da Lei Complementar nº

150/2009; Lei nº 6463/2013 encontra-se no Anexo A.

Quadro 5 - Divisão da estrutura administrativa da Secretaria Municipal de Saúde de Itajaí

Divisão da Secretaria Municipal de Saúde

Diretoria de Atenção à Saúde - Responsável por realizar o planejamento das ações de promoção,

prevenção, e recuperação da saúde dos pacientes atendidos pela rede

municipal de saúde;

- Monitora nove áreas de atendimento à saúde da população:

1. ESF:

2. Saúde da Criança;

3. Saúde da Mulher;

4. Saúde do homem;

5. Saúde do Idoso;

6. Saúde Mental;

7. Odontologia;

8. Assistência Farmacêutica;

9. Rede de Urgência e Emergência;

10. Serviço de Nutrição;

11. Serviço de Fisioterapia Domiciliar;

12. Práticas Integrativas e Complementares em Saúde e Curativos

especiais.

Diretoria de Vigilância

Epidemiológica

- Estabelece medidas de prevenção e controle de doenças e agravos. Coleta

informações epidemiológicas regularmente através dos pacientes com

doenças infectocontagiosas e planeja ações globais direcionadas;

- Está composta por seis gerências;

1. Gerência de controle de agravos de notificação crônicos;

2. Gerência de controle de agravos agudos;

3. Gerência de estatísticas vitais;

4. Gerência de vigilância alimentar e nutricional;

5. Gerência de imunização;

6. Gerência do programa DST/AIDS.

Diretoria de Vigilância

Sanitária

- Desenvolvimento de ações de controle e de fiscalização sanitária nas

áreas de alimentos, medicamentos e produtos de higiene;

- Composta por quatro gerências:

1. Gerência de ações de saúde;

2. Gerência de inspeção de produtos e serviços de saúde;

3. Gerência de vigilância ambiental;

4. Gerência do CERESTI.

Diretorias e Setor

Administrativo

- Secretário Municipal de Saúde;

- Departamento de Compras e Licitações;

- Serviço de Transporte;

- Administração de Materiais;

- Fundo Municipal da Saúde;

- Recursos Humanos (administração de pessoal);

- Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria;

- Conselho Municipal de Saúde;

- Diretoria de Gestão da Secretaria Municipal de Saúde;

- Diretoria de Manutenção da Secretaria Municipal de Saúde (Gestão de

materiais e medicamentos);

- Diretoria de Administração do Fundo Municipal da Saúde;

- Diretoria de Administração de pessoal;

- Diretoria de Regulação, Controle, Avaliação e Auditoria.

Unidades de Pronto - As unidades de Pronto Atendimento são estruturas de complexidade

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Atendimento 24h2

intermediária entre as Unidades Básicas de Saúde (UBS) e as portas de

urgência hospitalares, onde em conjunto com estas compõe uma rede

organizada de Atenção às Urgências. O município de Itajaí possui duas

unidades: PA São Vicente (somente até o final de 2017)3, atualmente UPA

Dr. José Eliomar da Silva - CIS e UPA Cordeiros.

Unidades de Atendimento à

população

- As Unidades de Saúde, conhecidas popularmente por “postinhos”, são a

porta preferencial de entrada no sistema municipal de saúde. Ao todo, são

34 postos de atendimentos básicos e especializados, distribuídos pelas

regiões administrativas da cidade (ver quadro 6). Contam com equipes

formadas por médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem e agentes de

saúde.

Unidades Farmacêuticas e

Assistenciais

- Farmácia Popular do Brasil;

- Farmácia de Ações Integradas (Central de Itajaí);

- Ambulatório do Presídio Regional;

- Ambulatório do Porto de Itajaí;

- Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU);

- Distrito Docente Assistencial;

- Centro de Observação Animal.

Fonte: Site oficial da Prefeitura Municipal de Itajaí (2017-2018).

Quadro 6 - Unidades de atendimento à população e suas localizações geográficas

Unidades de

atendimento da

População

Tipo de

Atendimento

Área

geográfica

de atuação

Serviços

Disponibilizados

1. Centro de Referência de

Doenças Infecciosas

(CEREDI)

Especializado Centro - Pediatria, ginecologia e obstetrícia,

odontologia, enfermagem, planejamento

familiar, preventivo do câncer, pneumologia,

farmacêutico, infectologia, psicologia e

fisioterapia;

- Local abriga também os Programas de

Hanseníase, Tuberculose, Hepatites e HIV.

2. Centro de Referência da

Saúde da Criança e da

Mulher (CRESCEM)

Especializado Centro - Referência para gestação de alto risco,

laqueaduras, vasectomias, mastologia,

ginecologia, imunização (vacinas especiais),

fisioterapia e psicologia, além de exames

ecocardiograma adulto e pediátrico, doppler

de carótida e ultrassonografia para pacientes

acompanhadas pelo CRESCEM.

3. Centro Especializado

em Odontologia (CEO)

Especializado Centro - Serviços: atendimento e tratamento nas

diversas áreas da odontologia, como,

endodontia, periodontia, cirurgia

bucomaxilofacial, pacientes com necessidades

especiais, radiologia, odontopediatria e

prótese dentária.

4. Centro Práticas

Integrativas e

Complementares da Saúde

Especializado Centro - Serviços: atendimentos nas áreas de

Homeopatia, Acupuntura, Práticas Corporais,

Sito, Do In, Lian Gong e Relaxamento,

2 Além das Unidades de Pronto Atendimento UPA – CIS e UPA Cordeiros, o município de Itajaí disponibiliza ao

usuário os seguintes serviços de urgência e emergência: Pronto Socorro do HMMKB, Pronto Socorro do HUPA,

SAMU – Unidade Avançada – USA e SAMU - Unidade Básica- UBS. 3 Em 12/08/2017 o município de Itajaí inaugurou o Centro Integrado de Saúde (CIS) planejado para integrar

diversos serviços de saúde do município. Possui quatro blocos de atendimento: Unidade de Pronto

Atendimento (UPA) Porte III (Desativação do PA São Vivente); Unidade de Assistência Médica

Especializada (Desativação do PAM), Secretaria de Saúde de Itajaí e Laboratório Central de Análises

Clínicas (ITAJAÍ, 2017d).

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(CEPICS) Neonatologia, Cardiopediatria, Psicologia,

Fisioterapia, Fisioterapia Domiciliar, Nutrição

e Gastropediatria.

5. Centro de Atenção

Psicossocial Infanto-

juvenil (CAPS I)

Especializado Vila

Operária

- Atende crianças e adolescentes com

transtornos mentais graves e persistentes,

inclusive os que fazem uso de crack, álcool e

outras drogas.

6. Centro de Atenção

Psicossocial Adulto

(CAPS II)

Especializado Centro - Atende pessoas com transtornos mentais

graves e persistentes. Serviço de saúde mental

aberto e de caráter comunitário.

7. Centro de Atenção

Psicossocial Álcool e

outras Drogas (CAPS AD)

Especializado Vila

Operária

- Atende adultos com necessidades

decorrentes do uso de crack, álcool e outras

drogas. Serviço de saúde mental aberto e de

caráter comunitário.

8. Unidade de Assistência

Médica Especializada Dr.

Carlos Alberto de Souza

Brito (CIS)

Especializado São Vicente - Consultas de diversas especialidades

médicas;

- Programas de tabagismo, diabetes,

ostomizados e oxigenoterapia;

- Serviços de regulação de cirurgias, exames e

Tratamento Fora do Domicílio (TFD), além

do setor de auditoria.

9. Centro Médico de

Referência Affonso Celso

Liberato (US São Judas)

Básico e

Especializado

São Judas - Atendimento médico com clínico geral,

pediatra e ginecologista;

- Atendimento odontológico, enfermagem,

imunização e dispensação de medicamentos;

- Referência em especialidades médicas que

atendem toda rede municipal: cirurgia geral,

dermatologista, geriatria, cirurgia plástica,

neuropediatria, cirurgia vascular, urologia,

ortopedia e hebiatria;

- Realização de pequenas cirurgias e curativos

especiais.

10. US Miro Sedrez (US

Cordeiros)

Básico e

Especializado

Cordeiros - ESF: médico, enfermagem, ACS;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento Especializado: pediatria e

ginecologia;

- Imunização e dispensação de medicamentos;

- Núcleo de Apoio à Saúde da Família

(NASF).

11. US Vinícius Ivan

Alves Pedreira (US CN I)

Básico e

Especializado

Cidade

Nova

- ESF: médico, enfermagem, ACS;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento Especializado: pediatria;

psicologia;

- Imunização e dispensação de medicamentos;

- Núcleo de Apoio à Saúde da Família

(NASF).

12. US Unidade de Saúde

Evilásio Victorino (US

CN II)

Básico e

Especializado

Cidade

Nova

- ESF: médico, enfermagem, ACS;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento Especializado: pediatria;

ginecologia e psicologia;

- Imunização e dispensação de medicamentos;

- Núcleo de Apoio à Saúde da Família

(NASF).

13. US Promorar II Básico e

Especializado

Cidade

Nova

- ESF: médico, enfermagem, ACS;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento Especializado: pediatria;

psicologia;

- Imunização e dispensação de medicamentos;

- Núcleo de Apoio à Saúde da Família

(NASF).

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14. US São Vicente Básico e

Especializado

São Vicente - ESF: médico, enfermagem, ACS;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento Especializado: pediatria;

ginecologia e nutrição;

- Imunização e dispensação de medicamentos.

15. US Bernardino Miguel

Peirão (US Rio Bonito)

Básico e

Especializado

São Vicente - ESF: médico, enfermagem, ACS;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento Especializado: pediatria e

ginecologia;

- Imunização e dispensação de medicamentos.

16. Unidade de Saúde

Rotariano Agenor Krobel

(US Bambuzal)

Básico e

Especializado

São Vicente - ESF: médico, enfermagem, ACS;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento Especializado: pediatria,

ginecologia; psicologia infantil;

Imunização e dispensação de medicamentos.

17. US Costa Cavalcante Básico e

Especializado

Costa

Cavalcante

- ESF: médico, enfermagem, ACS;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento Especializado: pediatria,

ginecologia; psicologia;

- Imunização e dispensação de medicamentos;

- Núcleo de Apoio à Saúde da Família

(NASF).

18. US Jardim Esperança Básico e

Especializado

Cordeiros - ESF: médico, enfermagem, ACS;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento Especializado: pediatria,

psicologia;

- Imunização e dispensação de medicamentos;

- Núcleo de Apoio à Saúde da Família

(NASF).

19. US Bento Rampelotti

(US Murta)

Básico e

Especializado

Murta - ESF: médico, enfermagem, ACS;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento Especializado: pediatria,

psicologia;

- Imunização e dispensação de medicamentos;

- Núcleo de Apoio à Saúde da Família

(NASF).

20. US Votorantim Básico e

Especializado

Cordeiros - ESF: médico, enfermagem, ACS;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento Especializado: pediatria,

psicologia;

- Imunização e dispensação de medicamentos;

- Núcleo de Apoio à Saúde da Família

(NASF).

21. US Salseiros Básico e

Especializado

Salseiros - ESF: médico, enfermagem, ACS;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento Especializado: pediatria,

psicologia;

- Imunização e dispensação de medicamentos.

22. US Rachel Dalçoquio

de Borba (US

Espinheiros)

Básico e

Especializado

Espinheiros - ESF: médico, enfermagem, ACS;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento Especializado: pediatria,

psicologia;

- Imunização e dispensação de medicamentos.

23. US Santa Regina Básico e

Especializado

Santa

Regina

- ESF: médico, enfermagem, ACS;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento Especializado: psicologia;

- Imunização e dispensação de medicamentos.

24. US Elizabet Caetano

Pacheco (US Portal II)

Básico e

Especializado

Espinheiros - ESF: médico, enfermagem, ACS;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento Especializado: psicologia;

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- Imunização e dispensação de medicamentos.

25. US Nossa Senhora das

Graças

Básico e

Especializado

Centro - ESF: médico, enfermagem, ACS;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento Especializado: psicologia;

- Imunização e dispensação de medicamentos.

26. US Manoel Amândio

Vicente (US Canhanduba)

Básico e

Especializado

Canhanduba - ESF: médico, enfermagem, ACS;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento Especializado: ginecologia e

psicologia;

- Imunização e dispensação de medicamentos.

27. US Fernando Wippel

(US Itaipava)

Básico e

Especializado

Itaipava - ESF: médico, enfermagem, ACS;

- Atendimento odontológico,

- Atendimento Especializado: pediatria,

ginecologia e psicologia;

- Imunização e dispensação de medicamentos.

28. US Leopoldo Fischer

(US Brilhante)

Básico e

Especializado

Itaipava - ESF: médico, enfermagem, ACS;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento Especializado: pediatria,

ginecologia e psicologia;

- Imunização e dispensação de medicamentos.

29. US Ignácio Theodoro

Pereira (US Limoeiro)

Básico e

Especializado

Limoeiro - ESF: médico, enfermagem, ACS;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento Especializado: psicologia;

- Imunização e dispensação de medicamentos.

30. US Enfermeira

Oswine Lorens (US

Imaruí)

Básico e

Especializado

Imaruí - ESF: médico, enfermagem, ACS;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento Especializado: pediatria;

- Imunização e dispensação de medicamentos.

31. US São João Básico e

Especializado

São João - Atendimento básico: consultas de

enfermagem e médico clínico geral;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento especializado: pediatria e

ginecologia;

- Imunização e dispensação de medicamentos.

32. US Dom Bosco Básico e

Especializado

Dom Bosco - Atendimento básico: consultas de

enfermagem e medico clinico geral;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento especializado: pediatria e

ginecologia;

- Imunização e dispensação de medicamentos.

33. US Nancy Patino

Reiser (US Fazenda)

Básico e

Especializado

Fazenda - ESF: médico, enfermagem, ACS;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento Especializado: pediatria e

psicologia;

- Imunização e dispensação de medicamentos.

34. US Vivaldo João

Linhares (US Praia Brava)

Básico e

Especializado

Praia Brava - ESF: médico, enfermagem, ACS;

- Atendimento odontológico;

- Atendimento Especializado: pediatria e

psicologia;

- Imunização e dispensação de medicamentos.

Fonte: Secretaria Municipal de Saúde (2017-2018).

Quadro 7 - Distribuição das Equipes de ESF por área de abrangência

Área geográfica de atuação Equipes ESF com Saúde Bucal e NASF vinculadas

Bairro Barra do Rio - US Imaruí: 02 ESF (01 ESF + 01 ESF com Saúde Bucal

modalidade II)

Bairro Canhanduba - US Canhanduba: 01 ESF

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Bairro Cidade Nova - US Cidade Nova I: 02 ESF (01 ESF + 01 ESF com Saúde

Bucal modalidade I)

- US Cidade Nova II: 03 ESF

- US Promorar II: 02 ESF (01 ESF + 01 ESF com Saúde

Bucal modalidade II)

- NASF I: atende as sete ESF do bairro Cidade Nova

Bairro Cordeiros - US Cordeiros: 02 ESF

- US Costa Cavalcante: 01 ESF

- US Jardim Esperança: 04 ESF (03 ESF + 01 ESF com

Saúde Bucal modalidade I)

- US Votorantim: 03 ESF

- NASF II: atende as nove ESF do bairro Cordeiros

Bairro Murta - US Murta: 02 ESF

Bairro Dom Bosco - US Nossa Senhora das Graças: 04 ESF (03 ESF + 01 ESF

com Saúde Bucal modalidade I)

Bairro Espinheiros - US Espinheiros: 02 ESF (01 ESF + 01 ESF com Saúde

Bucal modalidade I)

- US Santa Regina: 02 ESF (01 ESF + 01 ESF com Saúde

Bucal modalidade I)

- US Portal II: 01 ESF com Saúde Bucal modalidade I

Bairro Fazenda - UBS Fazenda: 04 ESF

Bairro Itaipava - UBS Itaipava: 03 ESF

Bairro Praia Brava - UBS Praia Brava: 01 ESF

Bairro Salseiros - UBS Salseiros: 01 ESF

Bairro São Vicente - UBS São Vicente: 03 ESF

- UBS Rio Bonito: 06 ESF (05 ESF+ 01 com Saúde Bucal

modalidade II)

- UBS Bambuzal: 01 ESF Bairro Limoeiro - UBS Limoeiro: 01 ESF

Bairro Brilhante - UBS Brilhante: 01 ESF

Fonte: PMS 2014-2017 e diário de campo (2017).

O município de Itajaí é habilitado em Gestão Plena do Sistema Municipal e vem

tentando construir uma política de saúde a partir das realidades regionais, utilizando-se do

Pacto pela Saúde publicado pela Portaria GM/MS nº 399/06. As ações de planejamento

constituem um papel importante para a consolidação do compromisso público com base nos

princípios do SUS, nas quais as necessidades de saúde da população devem ser adotadas

como critério para o processo de planejamento, monitoramento e avaliação, sendo o Plano

Municipal de Saúde (PMS) o instrumento referencial básico por refletir as diferentes

realidades locais. (ITAJAÍ, 2014)

O planejamento da cobertura assistencial pela atenção especializada tem sido feito

com base nas Programações Pactuadas e Integradas (PPIs) da Atenção à Saúde, de acordo

com o perfil epidemiológico do município e outras informações em saúde. A Alta

Complexidade Ambulatorial encontra-se ainda na sua maioria sob gestão estadual e este duplo

gera dificuldades na atenção integral à saúde. A fragilidade nos processos de pactuação

intergestores, o baixo financiamento, o insuficiente processo regulatório e as diversidades

operativas são problemas estritamente vinculados que ocupam a agenda dos gestores como

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desafios a serem enfrentados. O município de Itajaí vem avançando na realização de

procedimentos de alta complexidade, já realizando Ressonância Magnética, Tomografia

Computadorizada, Medicina Nuclear, Densitometria Óssea, Litotripsia, Hemodinâmica

(Cateterismo), Angiotomografia, Biopsia Guiada por Tomografia/Ultrassonografia, Oncologia

(quimioterapia), Cirurgia Vascular, Cirurgia Cardíaca, Cirurgia de Catarata e procedimentos

em Audiologia.

4.5 O Plano Municipal de Saúde de 2014-2017

O Plano Municipal de Saúde (PMS) e suas Programações Anuais são instrumentos de

planejamento e gestão do SUS previstos na CF/88, LOS 8.080/90, decreto 7508/11, LC

141/12 e Portaria nº 2.135 de 25/09/2013. Esses instrumentos constituem um processo

contínuo e interligado de planejamento, em consonância com os instrumentos de

planejamento e de orçamento do governo: o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes

Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA), tendo relação direta com o

orçamento disponível para a função saúde (UNASUS, 2016).

O PMS tem vigência de quatro anos, devendo ser elaborado no primeiro ano de

mandato e viger nos três últimos anos e no primeiro ano do próximo mandato. É definido de

acordo com a Portaria 2.135/13 como:

Art. 3º [...] “instrumento central de planejamento para definição e

implementação de todas as iniciativas no âmbito da saúde de cada esfera da

gestão do SUS para o período de quatro anos, explicita os compromissos do

governo para o setor saúde e reflete, a partir da análise situacional, as

necessidades de saúde da população e as peculiaridades próprias de cada

esfera”.

§ 1º O Plano de Saúde configura-se como base para a execução, o

acompanhamento, a avaliação da gestão do sistema de saúde e contempla

todas as áreas da atenção à saúde, de modo a garantir a integralidade dessa

atenção (BRASIL, 2013, grifo nosso).

Para a elaboração do PMS de Itajaí 2014-2017 foram realizadas reuniões preparatórias

com um grupo condutor, que optou por “dividir o poder de mando utilizando um modelo de

construção participativa” (ITAJAÍ, 2014, p. 19).

Optou-se por oficinas organizadas em segmentos: grupo de gestores, grupo de

técnicos, Conselho Municipal de Saúde (COMUSA), Atenção Básica (1), Atenção Básica (2)

e Atenção Especializada. Utilizaram o método de Planejamento Estratégico Situacional

(PES), desenvolvido por Carlos Matus que foi desenhado principalmente para o trabalho em

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administrações públicas com alta complexidade e uma pluralidade de atores envolvidos,

combinando simplicidade e potência. “Quem faz? Quem planeja? Quem é o ator desse

planejamento? É a equipe que será responsável pela implementação do plano”. Foram

realizadas 17 oficinas, como o número mínimo de 15 e máximo de 22 pessoas em cada uma

delas, divididas pelos grupos já descritos acima. Totalizaram 93 horas trabalhadas com o total

de 116 participantes. As equipes de Atenção Básica foram divididas em duas oficinas pela

quantidade expressiva de pessoas e contou com 100% de representação dos trabalhadores de

todas as Unidades Básicas de Saúde do Município (ITAJAÍ, 2014, p. 18).

Fui uma das participantes das oficinas realizadas no grupo da Atenção Básica. Foi um

processo de construção coletiva, bem planejado e elaborado, posso dizer também, reflexivo. A

metodologia foi desenvolvida por um grupo condutor que fomentou a capacidade de escutar,

utilizando a visualização (uso de tarjetas coloridas) como apoio a palavra oral e ainda contou

com um moderador que teve, entre outros papéis, o de ajudar o grupo a aprofundar o

conhecimento de uma determinada situação. Foi um processo livre, de discussão grupal onde

todos foram respeitados com direito de expor e defender as suas opiniões. Em síntese, pessoas

reunidas produzindo e problematizando em torno das questões da saúde do município, foi um

processo muito rico e de aprendizado.

Considero um avanço as reuniões coletivas realizadas para a construção do plano

2014-2017, visto que normalmente os PMS são produzidos pelos gestores como instrumento

obrigatório de planejamento, monitoramento e avaliação pelo período de quatro anos

associado geralmente à garantia de repasses financeiros ao município, sem nenhum

conhecimento prévio dos atores que irão colaborar para o cumprimento de suas metas, além

de não refletirem as reais necessidades dos trabalhadores e muito menos as necessidades de

saúde da população como preconizado pela legislação (NASCIMENTO; EGRY, 2017).

No entanto, apesar de notável participação e ampla discussão durante todo o processo

de construção do plano 2014-2017, o que favoreceu conhecimento, troca de saberes e

identificações importantes das necessidades de saúde da população, seu resultado final pouco

trouxe a beleza desse processo. A sistematização de ações, objetivo e metas, deram mais

reconhecimento às necessidades em saúde centradas na doença e em seus respectivos riscos,

com destaque para os indicadores de morbimortalidade, distanciando-se da compreensão de

saúde socialmente determinada. Os problemas de origem social foram ignorados, não

existindo relação dos aspectos sanitários e/ou epidemiológicos descritos com a condição de

saúde da população e seus grupos com menor autonomia para o cuidado. Os fatores dessa

ordem trazidos pelos participantes, inclusive com algumas hipóteses de solução, não foram

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registrados no PMS 2014-2017. Acredito que esse tipo de reconhecimento resulta da

dificuldade de se dimensionar necessidades em saúde

É fato que houve uma tentativa de elaborar um plano que pudesse identificar e se

aproximar das necessidades em saúde da população, contudo, ao traduzi-lo, a realidade social

do processo saúde-doença ficou no vazio, permanecendo apenas na mente/corações de alguns

participantes, inclusive eu, que se sentiram valorizados em poder contribuir para o

planejamento das ações em saúde no seu município. Ficou a esperança que mais encontros

coletivos pudessem acontecer, a fim de avançarmos e atravessarmos essa fronteira.

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5 PERCURSO METODOLÓGICO

“Não é no silêncio que os homens se fazem,

mas na palavra, no trabalho e na ação-reflexão”

Paulo Freire

Foi um percurso longo, dolorido e de muito crescimento.

Iniciei o Mestrado no segundo semestre de 2013 e tive a alegria de ter como orientador

o professor Dr. Luis Ágea Cutolo e como co-orientadora a professora Dra. Antônia Egídea de

Souza. Caminhamos juntos até janeiro de 2015, quando ambos os professores se desligaram

do Programa. Por esse motivo, eu tive que recomeçar meu processo com outro(a) orientador

(a), o que foi muito difícil pelo fato de restar somente mais um semestre para a conclusão do

Mestrado.

Além disso, fiquei grávida em fevereiro de 2015 e a nova condição levou-me a fazer a

escolha entre viver a nova experiência com o máximo de intensidade ou dividi-la com os

estudos de mestrado, casamento e trabalho. Decidi renunciar aos estudos e retomá-los

posteriormente.

Abro esse tópico com particularidades contextuais de meu processo, no plano privado,

para que o leitor possa compreender que as etapas constitutivas do percurso metodológico,

descritas a seguir, correspondem a duas trajetórias: a primeira, vivenciada na experiência

inicial de mestrado, de 2013 a 2015, e a segunda no período 2016-2018.

5.1 Desenvolvimento da Pesquisa 2013-2015

A pesquisa foi realizada no período 2013-2015 e adotou como cenário a cidade de

Itajaí, município polo da Região de Saúde da Foz do Rio Itajaí, Santa Catarina. Ela foi

desenvolvida com diretores, representantes de diretores, supervisores, coordenadores e

gerentes de áreas departamentais da Secretaria Municipal de Saúde do município.

O objetivo geral foi construir uma tecnologia de gestão que tivesse como princípio a

integralidade nas práticas do cuidado. A ideia era produzir um material com os sujeitos de

pesquisa que pudesse contribuir com os serviços ou que, pelo menos, pudesse apontar

caminhos para o fortalecimento da integralidade em modelos de gestão. Para alcançá-lo, vê-se

necessário conhecer o modo como os participantes concebiam gestão, integralidade e a

relação entre ambas às categorias.

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A técnica utilizada foi pesquisa-ação.

Segundo Leopardi (2011), a pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base

empírica, concebida e realizada com estreita associação com uma ação ou com a resolução de

um problema coletivo e na qual os pesquisadores e os participantes, representativos da

situação ou do problema, estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. Por meio

desta técnica, o conhecimento é produto do coletivo; pesquisadores e grupos interessados,

com iguais prerrogativas, discutem em reuniões e seminários o problema que direciona a

pesquisa. A argumentação, gerada pela discussão e diálogo, é uma de suas características.

Trata-se, portanto, de um tipo de pesquisa participante engajada, que considera a prática como

lócus de produção de conhecimento e compreensão. Um tipo de pesquisa atrativa pelo fato de

poder levar a um resultado específico imediato, no contexto do ensino aprendizagem. Pode ser

aplicada em qualquer ambiente de interação social que se caracterize por um problema, no

qual estão envolvidos pessoas, tarefas ou procedimentos (MONTEIRO et al., 2010).

Na visão de Thiollet (1996), a pesquisa ação tem como características: a) ação

conjunta entre pesquisadores e participantes; b) problemas existentes na situação social

estudada, e a própria situação social estudada são o objeto do estudo; c) resolução dos

problemas observados na situação social estudada constituem o objetivo o estudo. Quanto aos

seus objetivos, cabe citar: “propor soluções que auxiliem o grupo de pesquisa na sua atividade

transformadora da situação-problema [...] e aumentar o conhecimento de determinadas

situações” (LEOPARDI, 2011, p. 105).

Em síntese, a pesquisa-ação entende que o processo é libertador, já que, durante a

reflexão gerada pela pesquisa, espera-se que os sujeitos desenvolvam uma consciência crítica

sobre o seu cotidiano, ampliando seus horizontes de transformação e intervenção. E era

exatamente isso que buscávamos na primeira fase do processo de mestrado, já que tínhamos

como objetivo a construção de uma tecnologia social visando contribuir com o modelo de

gestão local.

Os participantes desta primeira fase do estudo foram diretores ou seus representantes,

supervisores, coordenadores e gerentes da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) das áreas

afins dos departamentos de Atenção Básica e Especializada, de Urgência e Emergência, de

Vigilância Epidemiológica e Sanitária, do Controle de Avalição, de Auditoria, Jurídico, de

Recursos Humanos, do setor de Compras, Patrimônio, Manutenção, Almoxarifado, Fundo

Municipal de Saúde e Administração, Transporte. Foram também convidados para participar

04 (quatro) profissionais da ESF (02 enfermeiras e 02 médicos), totalizando 30 (trinta)

pessoas.

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Cada um foi convidado individualmente pela pesquisadora, após um primeiro contato

para agendamentos prévios, feitos por telefone ou e-mail. Esse movimento-convite exigiu

duas semanas para ser concluído, uma vez que, além da necessidade de socializar com os

participantes, a indispensabilidade de anuência em um Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE) foi necessário gerar um consenso sobre o dia a ser agendado para a

aplicação da técnica, dado que todos são trabalhadores dos serviços e que eu queria reunir os

representantes de todos os departamentos. Feita a escolha do dia, era a hora de decidir sobre o

local.

Em um primeiro momento, escolhemos, em conjunto, a SMS do município como local

para o desenvolvimento da técnica. No entanto, por falta de estrutura física que favorecesse a

metodologia a ser aplicada, acabamos realizando a pesquisa no Instituto Fayal de Ensino

Superior (IFES), que nos cedeu gratuitamente uma sala de aula por solicitação da própria

SMS. Foram realizadas três oficinas entre novembro e dezembro de 2014.

Para que as oficinas pudessem acontecer com todos os diretores, supervisores e

gerentes da SMS, primeiramente solicitamos autorização do Secretário Municipal de Saúde da

época e o mesmo se mostrou acessível e concordou com a saída dos profissionais para que

essa pesquisa acontecesse. Também contamos com a colaboração de duas pessoas que nos

auxiliaram, desde os preparativos iniciais até a arrumação da sala de aula ao final. Após a

realização de cada oficina, os dados foram registrados em áudio e transcritos na íntegra para

posterior análise dos dados.

Realizamos a coleta de dados através de 03 (três) oficinas, com duração de

aproximadamente três horas e meia cada uma.

Oficina é uma forma de construir conhecimento, com ênfase na ação, sem

desconsiderar, porém, à base teórica. É uma oportunidade de vivenciar situações concretas e

significativas baseadas no tripé sentir-conhecer-agir; vai além do foco tradicional de

aprendizagem (cognição); é uma maneira prática da ação-reflexão (PAVIANI; FONTANA,

2009). A opção pelas oficinas se justificou, uma vez que, sua técnica gerou um produto

coletivo com o objetivo de transformação da realidade, justamente o que desejávamos

inicialmente para essa dissertação.

Aplicamos uma metodologia problematizadora proposta inicialmente por Charles

Maguerez, na década de 1970 e, posteriormente adaptada por Berbel denominada “Método do

Arco” (BERBEL, 1996). A versão de Berbel indica o seu uso como metodologia de ensino, de

estudo e de trabalho, em situações em que os temas estejam relacionados com a vida em

sociedade (BERBEL, 1998). Nela existe a participação ativa e o diálogo constante entre os

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sujeitos envolvidos no processo educativo. Aparece na perspectiva da transformação, ou seja,

“na ideia de que deseja ultrapassar a forma já existente de se tratar as questões do

conhecimento e da vida em sociedade, através de uma nova ação, subsidiada pela reflexão

metódica e informada cientificamente” (BERBEL, 1995, p. 13).

O Arco de Maguerez é composto por cinco etapas. A primeira: observação da

realidade (problema); a segunda: pontos-chave; a terceira: teorização; a quarta: hipóteses de

solução; e a quinta e última: aplicação à realidade (prática).

Figura 4 – Proposta de Maguerez

Fonte: Berbel (1996).

Primeira oficina dia 04/11/2014

A primeira oficina aconteceu no dia 04 de novembro de 2014, com início às 13h30min

e término às 17h00min, com intervalo de 30 minutos para um coffee breack. Esta oficina

contou com 18 (dezoito) participantes, dos 30 (trinta) que haviam sido convidados: 01 (um)

médico de família e comunidade, 02 (dois) enfermeiros(as) de família e comunidade, 04

(quatro) supervisores, 04 (quatro) coordenadores, 03 (três) gerentes, 01 (um) diretor e 03

(três) pessoas que representaram os diretores convidados.

Antes dos participantes chegarem, dispusemos as cadeiras em círculo e deixamos uma

folha de papel sulfite em cima de cada carteira com uma pergunta disparadora – Qual é o

principal objetivo da SMS –, a ser respondida conforme os mesmos iam chegando. Nesta

folha (ANEXO B), os participantes inseriram as iniciais de seus nomes, idade,

formação/profissão, função/cargo, forma de contratação, tempo de atuação na SMS/UBS e se

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exercem outras funções/cargos concomitantes, com o objetivo de identificar e analisar o perfil

dos sujeitos de pesquisas. Após todos terem respondido, iniciamos a oficina agradecendo a

presença de todos e resumidamente explicamos novamente o objetivo da pesquisa e a

metodologia a ser aplicada.

Primeiramente solicitamos para que individualmente cada um fosse se apresentando

de forma a se identificar e responder verbalmente, em seguida, a pergunta disparadora.

Tínhamos o objetivo de observar a realidade (problema) vivenciada por cada sujeito no seu

processo de trabalho e compreender o que cada um pensava ser o principal objetivo da SMS.

Esse momento durou em torno de uma hora.

Posteriormente ao momento de apresentações e contextualização dos sujeitos, pedimos

que fossem feitos quatro grupos aleatórios (02 grupos com 05 pessoas e 02 grupos com 4

pessoas), disponibilizamos cartolinas, 30 minutos de discussão e solicitamos que cada grupo

definisse e escrevesse numa frase o principal objetivo da SMS, com a intenção de

apresentarem num segundo momento a definição ao grande grupo. Cada grupo compartilhou

sua produção e explicou o porquê da frase escolhida. Com todas as frases expostas,

solicitamos que todos, individualmente, analisassem as definições e votassem naquela que

mais correspondia ao que eles acreditavam.

Por último buscamos identificar as concepções sobre gestão, integralidade e sobre a

relação entre as duas categorias. Entregamos uma tarjeta de cartolina azul para cada pessoa e

solicitamos que respondessem com uma palavra o que significa gestão. Após escreverem

individualmente a palavra, os participantes foram convidados a se levantar, colar a tarjeta num

painel disponibilizado na parede, dizer a palavra em voz alta e o porquê da escolha da palavra.

Seguidamente, entregamos uma tarjeta rosa a cada um e perguntamos: o que significa

integralidade para você? E por último, questionamos se, e de que modo, integralidade e gestão

se relacionam. Assim foi concluída a primeira oficina, por meio da qual a primeira etapa do

arco foi completada (observação da realidade/problema).

Segunda oficina dia 18/11/2014

A segunda oficina aconteceu no dia 18 de novembro de 2014 e estavam presentes 12

(doze) participantes dos 18 (dezoito) que haviam participado da primeira oficina e mais 01

(um) sujeito de pesquisa que não compareceu na primeira, totalizando 13 (treze) pessoas. A

propósito importa ressaltar que destes 13, 10 eram representantes da Atenção Básica.

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Antes de as pessoas chegarem, deixamos a sala preparada com a exposição dos painéis

produzidos na primeira oficina e mantivemos a disposição das cadeiras em círculo. Iniciamos

às 13h30min fazendo uma síntese da oficina anterior e solicitamos para quem não esteve

presente na primeira oficina se apresentasse da mesma maneira solicitada aos demais

anteriormente.

Essa oficina aconteceu em três momentos. Primeiramente aprofundamos a discussão

da primeira oficina, quando reconhecemos que para os participantes gestão e integralidade se

relacionam. Em seguida, selecionamos palavras descritas pelos participantes sobre o que é

gestão (apoiar, gerenciar, administrar, articular, fiscalizar) e sobre o que é integralidade

(empatia, união, cuidado, acesso), na ocasião da primeira oficina. Num terceiro momento,

relacionamos estas palavras em uma questão e a apresentamos ao grupo: de que maneira a

gestão pode apoiar, gerenciar, administrar, articular e fiscalizar na prática a empatia, a união,

o cuidado, o acesso, etc.? Para a elaboração da resposta, dividimos os participantes em 02

grupos e após 30 minutos de discussão os mesmos apresentaram sugestões, por eles definidas

como estratégias de gestão para qualificar a atenção à saúde dos serviços públicos do

município em estudo.

Nesse momento de discussão, já fomos levantando outros problemas, além de pontos

chaves, ou seja, os possíveis determinantes dos problemas identificados na primeira etapa.

Com a intenção de completar a etapa dois do arco, entregamos um caso – “O caso de Ana” –

(ANEXO C) para ambos os grupos e solicitamos que eles identificassem os problemas de

gestão apresentados no mesmo.

Após uma hora de discussão, os grupos apresentaram suas produções em cartolinas,

explicando o porquê de suas escolhas. Por último, voltamos novamente à primeira oficina,

para desenvolver uma reflexão conjunta sobre o atributo “qualidade”, porque naquela oficina

todos os participantes haviam dito que a função principal da SMS é a qualidade dos serviços

e/ou qualidade na atenção. Entregamos tarjetas a eles(as) e perguntamos: o que vocês

quiseram dizer com qualidade dos serviços e/ou qualidade da atenção, na primeira oficina,

como resposta ao objetivo principal da SMS? Os participantes responderam individualmente,

depois colocaram suas tarjetas em um painel para em seguida verbalizar as respostas.

Terminamos a oficina completando a etapa número 2 do arco, apesar de termos entrado

muitas vezes nas etapas números três e quatro.

Terceira oficina dia 25/11/2014

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A terceira oficina aconteceu no dia 25 de novembro de 2014 e estavam presentes 14

(quatorze) pessoas.

Todo o material produzido nas oficinas anteriores estava exposto na sala e as cadeiras

em círculo. A oficina aconteceu em dois momentos. Primeiramente convidamos o professor

Cutolo e a professora Antônia para fins de teorização dos conteúdos trabalhados, com o

objetivo de reforçar a sua apropriação e, com efeito, contribuir com as proposições de

hipóteses de solução para os problemas já identificados nas etapas anteriores. Esse processo

durou aproximadamente uma hora e meia.

Após o intervalo, os participantes foram divididos em 02 (dois) grupos para a

apresentação das hipóteses para a melhoria dos serviços da gestão municipal e

consequentemente da atenção à saúde. A eles disponibilizamos o mapa do município com a

identificação setorial dos serviços de saúde, a lista dos especialistas da rede, a quantidade de

equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF) e respectiva distribuição. Em seguida, pedimos

que construíssem algo que, na visão deles, fosse possível colocar em prática dentro da

realidade do município estudado. Após uma hora e meia, os grupos apresentaram a produção

coletiva em cartolinas: o primeiro grupo dividiu o município por regiões e fez um check list

das soluções para os problemas anteriormente levantados. O segundo grupo propôs um novo

organograma para a SMS, além de sugerir também hipóteses para os problemas identificados.

Terminamos assim as oficinas, contemplando as etapas três e quatro do arco.

Tendo em vista que o processo de pesquisa no mestrado carece de seu

desenvolvimento em tempo hábil pré-determinado, e que o período de coleta de dados é

relativamente reduzido em relação à complexidade da produção de conhecimento e

transformação da realidade, não completamos a etapa cinco do arco que se refere à aplicação

a realidade. No final da quarta etapa desafiamos os participantes a levar o aprendizado para

seus cotidianos de trabalho, com a intenção de, com o produto, contribuírem com a

transformação do que não está bom na realidade.

5.2 Desenvolvimento da Pesquisa 2016-2018

Retomando a pesquisa no segundo semestre de 2016, fizemos a releitura do projeto e

de todo material produzido no desenvolvimento da pesquisa 2013-2015. Com isso

percebemos que os dados coletados e analisados em 2014 mostravam várias estratégias de

gestão para qualificar a atenção à saúde. Por força disto, mudamos o objetivo geral da

pesquisa, no entanto, sem mudar o sonho de partida da pesquisadora, aquele de ver um SUS

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que funcione na prática. Assim se iniciou a segunda fase da pesquisa. Explorando todo

material da primeira fase sentimos necessidade de buscar dados de outros atores que

participam ativamente das instâncias decisórias do SUS: os gestores municipais e

conselheiros municipais de saúde.

O objetivo geral foi analisar as estratégias de gestão do SUS de Itajaí, SC, na

perspectiva de um coletivo intrassetorial da secretaria e de conselheiros municipais de saúde.

A pesquisa foi realizada no período 2016-2018 no mesmo cenário da primeira fase.

Ela foi desenvolvida com três conselheiros municipais de saúde e um gestor municipal. A

escolha se deu com a intenção de coletar dados e conseguir informações que não foram

possíveis com os sujeitos e a técnica anteriormente utilizada e por serem os sujeitos que

possuem, de certa forma, governabilidade para o desenvolvimento prático da pesquisa

posteriormente.

Cada um foi convidado individualmente pela pesquisadora, após um primeiro contato

para agendamentos prévios, feitos por telefone. Foi realizada uma entrevista coletiva, do tipo

grupo focal, com três conselheiros (as) municipais de saúde e uma entrevista semiestruturada

com um gestor (a) municipal. As entrevistas aconteceram no final de 2016 e início de 2017

com a concordância e disponibilidade de horários e datas dos sujeitos que foram

entrevistados.

5.2.1 A entrevista coletiva, do tipo grupo focal, com os conselheiros de saúde

A entrevista coletiva, do tipo grupo focal, aconteceu na sede do COMUSA. A escolha

do local foi proposta pelos próprios (as) conselheiros (as), e a escolha destes (as) se deu pela

facilidade de estarem semanalmente juntos no mesmo horário e local. O TCLE (APÊNDICE

A) foi entregue, explicado e assinado pelos participantes no mesmo dia da realização do

grupo.

Escolheu-se a técnica de entrevista coletiva, do tipo grupo focal, como forma de

coletar dados diretamente das falas de um grupo, oriundos de experiências e percepções em

torno de um tema de interesse coletivo.

Um grupo focal é um grupo de discussão informal e de tamanho reduzido,

com o propósito de obter informações de caráter qualitativo em

profundidade. É uma técnica rápida e de baixo custo para a avaliação e

obtenção de dados e informações qualitativas, fornecendo aos gerentes de

projetos ou instituições uma grande riqueza de informações qualitativas

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sobre o desempenho de atividades desenvolvidas, prestação de serviços,

novos produtos ou outras questões (GOMES; BARBOSA, 1999).

O encontro teve a duração de uma hora e meia com a presença dos três

conselheiros(as) e a pesquisadora. O material coletado foi registrado em áudio e

posteriormente, todo o conteúdo foi transcrito, analisado e validado.

Ao iniciarmos a técnica, informamos aos participantes que não existiriam respostas

certas ou erradas e que todos poderiam expressar percepções e sentimentos diferentes uns dos

outros, além de que se gostaria que as discussões ocorressem livremente, uma vez que o

objetivo era conhecer o pensamento dos participantes, sem juízos de valor, sugerindo-lhes que

falassem um de cada vez, evitando interromper a fala um do outro, o que asseguraria uma

gravação mais clara e o direito individual de expressão.

A técnica utilizada possibilitou o acolhimento do sujeito, devido à criação de um

espaço para a expressão, valorizando a escuta em ambiente coletivo. A escolha por esta

técnica de coleta de dados foi sentida como adequada, uma vez que respondeu aos objetivos

do estudo. A entrevista coletiva, do tipo grupo focal, foi conduzida através de um questionário

elaborado com 11 questões, conforme o Apêndice (B). Consultando Minayo (2013) vi que um

instrumento para entrevista coletiva deve ser elaborado não por questões prontas, mas por um

roteiro de temas. No entanto, como se tratava da minha primeira experiência com pesquisa,

decidi, com a minha orientadora, por estruturar as questões, mantendo a possibilidade de

agregar novas indagações que se fizessem necessárias, no andamento do processo de coleta.

5.2.2 A entrevista semiestruturada com o(a) gestor(a) municipal

A entrevista foi realizada no gabinete do(a) gestor(a) após convite e agendamento

prévio feito por telefone. O TCLE (APÊNDICE C) foi entregue, explicado e assinado no

mesmo dia da coleta dos dados.

O instrumento foi a entrevista semiestruturada. A escolha deu-se em função de que

esse tipo de instrumento conferir flexibilidade para a inserção de novas questões

investigativas que se façam necessárias no momento da coleta (FIUZ; BARROS, 2011;

MYNAYO, 2014). A escolha por entrevista individual com o(a) gestor(a) foi feita devido à

possibilidade dele(a) proporcionar informações que possivelmente não seriam compartilhadas

em um espaço coletivo. O roteiro da entrevista (APÊNDICE D) foi composto por 10

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perguntas, que buscava provocar no(a) gestor(a) falas que remetessem aos objetivos propostos

pela metodologia.

5.3 Organização dos Dados

Após a realização das entrevistas, transcrevemos literalmente as gravações, mantendo

a linguagem coloquial, gírias, erros gramaticais, durações de silêncios e as manifestações

enfáticas também foram registradas. Uma vez transcrito, o material foi submetido a uma

exploração inicial, com vistas à organização. Foram excluídas frases incompletas sem sentido

e vícios de expressão. Em seguida, foram feitas leituras e várias (re)leituras de todo material.

Cabe relembrar que as oficinas já tinham sido transcritas e analisadas na primeira fase (2013-

2015) da pesquisa e foram (re)analisadas na segunda fase (2016-2018).

Optamos em agrupar todos os sujeitos da pesquisa da mesma forma a fim de garantir o

anonimato de todos. Foram destacados nos resultados como Participante 1 (P1) e assim

sucessivamente. Para efeitos de análise, foram considerados 25 (vinte e cinco) sujeitos,

vinculados a SMS.

Os dados foram classificados através de uma adaptação do método temático

tradicional (Minayo, 2014), uma vez que, a nossa pesquisa não trabalhou com a contagem de

frequência de unidades de registro, bastando para nós, à presença de unidade com significado

relevante para o objeto analítico. O significado de tema, neste estudo é “uma unidade de

significação complexa de comprimento variável, a sua validade não é de ordem linguística,

mas antes de ordem psicológica. Pode constituir um tema tanto uma afirmação como uma

alusão” (UNRUG, 1974 apud MINAYO, 2014, p. 315-16).

As etapas classificatórias foram: Análise preliminar (etapa 1); Exploração do material

(etapa 2) e Categorização (etapa 3).

Na análise preliminar realizei leituras do material, leituras intensas e flutuantes, de

modo a permitir que me impregnasse do conteúdo. Nessa etapa já selecionei as unidades de

registro e de contexto. Por unidades de registro compreendem-se as unidades de significação

do material. Não houve definição prévia sobre a natureza dessas unidades; elas foram

representadas por palavras, frases, e parágrafos dos dados brutos. As unidades de contexto são

fragmentos mais amplos em que estão contidas as unidades de registro e servem de guia

contextual para delimitar o contexto de compreensão da unidade de registro.

Prosseguindo a exploração do material, correspondeu a um ato classificatório, no qual

buscamos “o núcleo de compreensão do texto” (Minayo, 2014, p. 317), a partir do encontro

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com categorias geradas pela seleção das unidades de registro. A classificação foi realizada por

analogia, segundo critérios semânticos, em um esforço de interpretação.

Para fins didáticos de classificação/sistematização, as unidades de registro e de

contexto foram organizadas conforme quadro 8.

Quadro 8 - Sistematização dos dados

Perguntas

norteadoras /

Objetivos da

questão

Unidades de Registro Unidades de Contexto Código /

Subcategoria

Pontos para

Discussão

Fonte: LISTON; HENICKA (2018)

Na primeira coluna coloquei em sequência as questões-guia utilizadas nas oficinas, no

grupo focal e na entrevista semiestruturada, juntamente com o objetivo que a pergunta deveria

responder. Na segunda coluna transcrevi as unidades de registro, isto é, para os recortes de

fragmentos, palavras-chave, falas que, por seu valor significativo foram selecionadas. As

unidades de contexto compuseram a terceira coluna da tabela, servindo de guia contextual na

delimitação do contexto de compreensão das unidades de registro. Destinei a quarta coluna

para a inserção dos códigos de sentidos das unidades de registro; para o exercício de

codificação oriundo da rede de remissões criadas pela intersecção da leitura cuidadosa do

material, com a bagagem, vivências e experiência individual da pesquisadora e com o

referencial teórico escolhido. Este exercício foi conduzido individualmente. Foi atribuído

códigos às unidades de registro, em separado, agrupando-os por analogia, com base em

critérios semânticos - e, posteriormente, pontos convergentes da codificação foram

estabelecidos, o que fortaleceu o rigor deste passo metodológico essencial, retirando-se,

assim, a armadilha de subjetivismo da codificação e valorizando a potencialidade do alicerce

epistemológico (LISTON; HENICKA, 2018).

A quinta coluna foi criada por Liston e Henicka (2018) para descrever as possíveis

relações, conexões e argumentos, estabelecidos pelas pesquisadoras no processo de

codificação, antecipando a discussão transversal e servindo como espécie de lembrete para

posterior categorização, no entanto, sistematizei e codifiquei os dados somente até a quarta

coluna.

Em sequência, realizei a fase de categorização. Para tanto, mantive-me afastada da

classificação/sistematização dos dados e busquei identificar no material transcrito eventuais

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unidades de significação a respeito de uma determinada questão em resposta a outros

questionamentos, uma vez que o tecnicismo inscrito em perguntas sequenciais (instrumento)

poderia ocultar eventuais unidades de significação. O material foi explorado, de modo

transversal, para realizar esta verificação. Feito isto, atribui significados e interpretei a

codificação.

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6 RESULTADOS

Sonhar é preciso. Mas é preciso sonhar conhecendo a história. Essa pesquisa foi

construída por muitos sonhos e encontros. Primeiramente encontros com o marco histórico

oportunizado por referenciais bibliográficos: a redemocratização do País, o controle social, a

conquista do MRSB e do povo brasileiro por um direito sanitário – o direito à saúde, o

arcabouço operacional do SUS, as fontes de seu financiamento, dentre outras fontes teóricas,

a fim de compreender o processo de organização de um sistema público de saúde.

Encontros com usuários que sofrem diariamente por não terem suas necessidades de

saúde atendidas e sonhos por melhores condições de vida – saúde, encontros com

profissionais de saúde desmotivados por suas condições de trabalho, sonhos de ver um SUS

que funcione efetivamente.

Vivemos em um país neoliberal e fomos “formatados” para planejar e fazer gestão

municipal em saúde nos adequando aos recursos disponíveis e às tomadas de decisão

centralizadas na União e talvez este produto histórico-cultural seja exatamente a fronteira que

não nos movimenta para executar uma gestão municipal efetivamente participativa, dirigida

para as iniquidades de acesso ao direito à saúde. Encontros com a gestão-administração;

sonhos de “desnaturalizar” as práticas e reinventar possíveis.

Os caminhos/encontros trilhados por esta pesquisa tiveram o propósito de buscar

indícios sobre a pergunta de pesquisa: nesta conjuntura antidemocrática, em que o federalismo

brasileiro parece estar em xeque; em que o país têm-se deparado com a necessidade de formar

pensamento estratégico para garantir a sustentabilidade do SUS; em que os ventos de

austeridade têm soprado com força em direção aos interesses de um poder político formal que

defende a inoperância de política de caráter nacional e público coordenada pela atenção

básica/atenção primária abrangente, que estratégias de gestão um município de grande porte

pode lançar mão para preservar e expandir com qualidade os serviços de atenção à saúde?

O campo de possibilidades para responder à pergunta de pesquisa foi investido pelos

encontros e sonhos, gerados no acontecer da vida da pesquisadora, com os trabalhadores da

rede pública de saúde do município estudado e com o gestor local.

Três estratégias de qualificação da atenção foram identificadas, sendo que serão

analisadas, nesse trabalho, somente as duas primeiras: a) planejamento; b) educação

permanente; e c) financiamento estável para a continuidade das ações e serviços de saúde.

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122

6.1 Planejamento: uma estratégia para não se perder no meio do caminho

“Quando se navega sem destino nenhum vento é favorável”

Sênica

“[...] nós precisamos da gestão para fazer o planejamento, porque senão,

nada vai mudar”(P3); “[...] eu acho que todas as ações elas devem ser

pensadas e organizadas pra que as coisas sejam vistas de uma forma mais

completa e eu acho que num bom planejamento a gente consegue ver

isso”(P10).

Parte dos participantes revelou que gestão é: “[...] planejar.” (P2); “[...]

planejamento.” (P3, P6, P10); “[...]organização.” (P7)

Planejar é uma atividade própria do ser humano. Pensar no futuro, estabelecer

objetivos e definir estratégias para alcançá-los orienta a atuação do homem em todos os

espaços. Planejar é arte de elaborar o plano de um processo de mudança. É um instrumento

contínuo para diagnosticar a realidade e propor as alternativas para transformá-la, os meios

para viabilizar que isso aconteça e as oportunidades para executar as ações pensadas

(LACERDA; BOTELHO; COLUSSI, 2016; CORDONI JUNIOR; CARVALHO; GIL, 2017).

Mehry (1994) define planejamento como o modo de agir sobre algo de modo eficaz. Não

planejar significa não modificar a realidade (CORDONI JUNIOR; CARVALHO; GIL, 2017),

planejar significa reduzir incertezas (BRASIL, 2016).

O processo de planejamento incorpora a ideia de definição de objetivos e a formulação

de estratégias. Neste momento, também se analisa a realidade, buscando oportunidades e

ameaças, além de alianças que aumentem a capacidade de executar o plano desenhado. Nesse

sentido, a fala de P10 revela que um bom planejamento e consequentemente uma boa gestão

preside que ações em saúde sejam primeiramente pensadas e organizadas e que não sejam

elaboradas de modo irreflexivo e de forma fragmentada. Considerando que o Brasil cultiva

uma cultura de apagar incêndios (LIMA et al., 2016), é fundamental pensarmos e

questionarmos: que tipo de planejamento é necessário para qualificação da atenção à saúde?

Que tipo de planejamento uma SMS pode lançar mão para tal propósito? O que está posto tem

sido suficiente para qualificar os serviços e a atenção a saúde?

“[...] planejar a gente tem conseguido fazer algumas coisas, mas dentro da

lógica que seria né pra efetivar, enfim, modificar, inclusive indicadores e

tal, a gente não consegue fazer né, dentro desse espaço de tempo que nos

permite, dentro da estrutura atual que a gente trabalha né.” (P21)

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No setor saúde, as práticas de planejamento estão presentes em todo o processo que é

conhecido como Gestão do SUS. É uma das principais ferramentas que permite melhorar o

desempenho, otimizar a produção e elevar a eficácia e a eficiência do sistema no

desenvolvimento das funções de promoção, proteção, recuperação e reabilitação da saúde.

Definir metas, estabelecer objetivos e planejar ou programar ações representam o dia-a-dia

dos gestores do setor público em saúde. No entanto, sua aplicação no SUS ainda é frágil

(CARDOSO, 2013; BRASIL, 2016), pois o que se vê no cotidiano dos serviços de saúde é um

SUS cheio de fragilidades: persistem problemas de acesso, baixa qualidade técnica, falta de

investimentos, dentre outros fatores.

O planejamento no SUS é de responsabilidade conjunta das três esferas da federação,

seu processo está proposto desde a sua regulamentação pelas LOS, quando se instituiu a

necessidade que municípios, estados e União realizassem periodicamente seus Planos de

Saúde para a gestão do Sistema e para o recebimento de recursos. Posteriormente em 2006

com a publicação do Pacto pela Saúde, o planejamento foi considerado um dos eixos

estruturantes para a gestão do SUS, e este deixa claro que o planejamento deve ser assumido

como instrumento de trabalho e de referência para a gestão da saúde no país e ser

desenvolvido de forma articulada e integrada entre as três esferas de governo/gestão

(BRASIL, 2006a). Mais pra frente em 2011, o Decreto 7.508 que regulamentou a Lei 8080

reforçou o papel do planejamento para qualificar a gestão do SUS definindo em seu artigo

quinze que o processo de planejamento da saúde será “[...] ascendente e integrado, do nível

local até o federal, ouvido os respectivos conselhos de saúde, compatibilizando-se as

necessidades das políticas de saúde com a disponibilidade de recursos financeiros” (BRASIL,

2011a, p. 8). Assim, as atividades de planejamento desenvolvidas de forma individual, em

cada uma das esferas, em seus respectivos territórios, devem levar em conta as atividades das

demais esferas, buscando gerar complementaridade e funcionalidade.

São considerados instrumentos formais de planejamento da gestão do SUS: o Plano de

Saúde nacional, estadual e municipal; a Programação Anual de Saúde e o Relatório Anual de

Gestão, que devem estar articulados e subsidiar o planejamento do executivo: Plano

Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e lei Orçamentária Anual (LOA)

(CORDONI JUNIOR; CARVALHO; GIL, 2017). No entanto, apesar de em termos legais

serem “claros” os instrumentos de planejamento, estes, são excessivamente burocráticos,

realizados em sua maioria, como cumprimento para repasses financeiros, acabam não sendo

construídos coletivamente com aqueles que são responsáveis em colocar em prática as metas

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assumidas e nem por aqueles que serão beneficiados ou não por elas, e muito menos pensados

estrategicamente para se alcançar uma única imagem-objetivo.

“[...] o plano anterior ele foi é na verdade escrito por uma ou duas pessoas,

no papel ele teria sido é, discutido e debatido com poucas dezenas de

pessoas, mas a gente sabe que na verdade foram duas três pessoas que

escreveram o plano.” (P15)

Mas afinal qual é o sentido maior do planejamento? Pra que serve exatamente? Não é

para determinar aonde se quer chegar, para onde queremos conduzir o sistema? Para onde

queremos conduzir a nossa S.M.S.? A nossa região de saúde? O que deve ser feito? Como?

Em qual sequência? E a partir dele tomar decisões pertinentes que nos levarão ao ponto

desejado? Nesse sentido, os instrumentos formais de planejamento trazem um

“engessamento” para gestores locais sonharem em construir novas formas de organizar o

trabalho, de construir “possíveis” para aproximação do SUS que queremos.

Desde a formulação das LOS em 1990, até os dias atuais, os instrumentos legais de

planejamento estão atrelados mais a processos burocráticos de prestação de contas do que às

orientações com vistas ao fortalecimento de instituições políticas viabilizadoras da

transparência e controle social (SCATENA; TANAKA, 2001) e também não favorecerem o

nível local pensar de outra forma, de ser criativos e/ou inovadores.

[...] em relação às políticas eu acho que é muito pouco a participação do

município na realização das políticas né, apesar de ter as câmaras de

participação intergestora tripartite, bipartite, o município tem pouca voz

[...] então isso é uma crítica grande, que as políticas vêm de cima pra baixo

e tu tens que simplesmente executar [...].” (P18)

P8 considera que é um desafio associar a gestão pública local com a do ministério da

saúde:

“[...] o nosso maior desafio é articular, com o gestor local as políticas

públicas né nacional, esse é o nosso maior desafio...eu acho que o nosso

maior desafio ainda é associar a gestão pública local com a do ministério

da saúde.” (P8)

Os planos municipais de saúde (PMS), um dos instrumentos formais do planejamento,

por exemplo, não refletem e/ou traduzem de fato as reais necessidades de saúde da população

e ainda a cada quatro anos são alterados por obrigação legal, ficando esquecidos dentro de

uma gaveta e/ou computador, “[...] virou uma peça de gaveta em muito tempo” (P17). Os

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PMS são produzidos pelos gestores como instrumento obrigatório de planejamento,

monitoramento e avaliação pelo período de quatro anos associado geralmente à garantia de

repasses financeiros ao município, sem nenhum conhecimento prévio dos atores que irão

colaborar para o cumprimento de suas metas, além de não refletirem as reais necessidades dos

trabalhadores e muito menos as necessidades de saúde da população como preconizado pela

legislação (NASCIMENTO; EGRY, 2017). Também demostraram fragilidades segundo P16:

“[...] uma das nossas fragilidades é saber definir meta, quando tu vai fazer

o plano né. Porque daí às vezes tu coloca lá, garantia de atendimento ao

idoso, que é garantia de atendimento ao idoso?”;

“[...] eu sinto que há uma grande dificuldade de você planejar sem de fato

antes colocar na mesa o diagnóstico”;

“[...] embora a gente discuta o relatório anual de gestão, a gente discuta os

relatórios quadrimestrais, né, saiba o dos indicadores, não tem um

diagnóstico na mesa escancarado (se referindo as reais necessidades de

saúde da população) pra a partir dali tu conseguir (es) fazer um

planejamento.” (P16)

Acredito que essas fragilidades/dificuldades primeiramente são porque os planos, pelo

menos em tese, deveriam refletir as necessidades de saúde da população a partir da análise

situacional (diagnóstico). (BRASIL, 2013). Como fazer tal diagnóstico? Como medir

necessidades? Como na prática da gestão/administração identificar necessidades em saúde e

pensar em formas de produção e reprodução social da realidade? O Manual de Planejamento

no SUS, publicado em 2016 pelo Ministério da Saúde subsidia a formação técnico política

dos gestores de planejamento em saúde e preconiza meios para captação e interpretação das

necessidades em saúde, utilizando-se da compreensão social do processo saúde-doença

(BRASIL, 2016). O comportamento gerencial hegemônico ao se opor ao preconizado denota

a utilização do PMS como instrumento de acesso aos recursos financeiros, sem o

compromisso de compreender a realidade do processo de saúde da população.

A identificação e satisfação das necessidades em saúde têm se mostrado um desafio

para os gestores da área, especialmente quando da pertinência de compreender as demandas

de grupos sociais vulneráveis, cujos determinantes de fortalecimento e desgaste –

relacionados às formas de produção e reprodução social da realidade, que se traduzem em

situações salutogênicas ou não de se viver, exigem profissionais, modelos e instrumentos

alinhados à determinação social do processo saúde-doença (MEYER et al., 2013).

Para Spiegel, Breilh e Yassi (2015) tanto os profissionais envolvidos na gestão como

no cuidado à população devem estar alinhados a esses referenciais metodológicos – a

compreensão social do processo saúde e doença, visto que, ao compreenderem a saúde a partir

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do seu processo de determinação social, possibilidades de atuação baseadas na emancipação

dos sujeitos envolvidos direta ou indiretamente no cuidado, mostram-se mais assertivas e,

consequentemente, o atendimento e a satisfação das necessidades em saúde desses indivíduos

e grupos sociais têm maior chance de ocorrer. Em essência, a orientação do planejamento a

partir das necessidades de saúde busca ampliar a efetividade das políticas públicas

(OUVERNEY; NORONHA, 2013).

“[...] em relação às políticas eu acho que é muito pouco a participação do

município na realização das políticas né, apesar de ter as câmaras de

participação intergestora tripartite, bipartite, o município tem pouca voz e

quando ele vai lá pra discutir uma ação específica, uma política específica,

não vai o técnico, muitas vezes vai o gestor que não tem o conhecimento de

causa daquela, daquele assunto né [...]” (P18).

“[...] vejo que a gestão é amadora, é amadora na medida em que a gente se

baseia em pessoas que são cargos comissionados, que estão lá sem ter uma

formação adequada, e o que se permitiria se ter algo longitudinal aqui,

seria um corpo técnico permanente, um corpo técnico permanente, o que se

muda é a gestão, mas eles estão lá, eles sabem o que fazer , o P19 está lá o

tempo todo, ele sabe o que fazer independente de alguém mandar [...]. Esse

corpo permanente é que deve existir[...] eu penso que não tem uma

profissionalização da gestão.” (P3)

Outro aspecto a ser considerado nesse trabalho e que é um dos grandes entraves para o

planejamento em saúde é que “[...] o que vale na execução das políticas públicas hoje é o

desejo do secretário, é o desejo do prefeito” (P15).

“[...] porque eles vêm (se referindo aos secretários municipais de saúde)

com o discurso de que o plano é o norte, o plano vai digamos dar sentido

aquela gestão, e a gente vê em questão de não chega há um mês, a gente já

percebe que aquela gestão vai seguir conforme as necessidades políticas de

quem está na pasta. E isso é ruim porque se faz um, se faz um, se dá um

documento que serve de parâmetro e este documento não serve.” (P17)

“[...] ele acaba como integrante de um governo que é uma colcha de

retalhos de interesses partidários locais, ele se vê na condição de, de, da

mais completa é, é sessão da sua capacidade decisória, isto é ele acaba

sendo cooptado, ele acaba tendo que tomar decisões que atendam os

interesses de um governo que é um governo justamente fragmentado nessa

dos interesses locais.” (P15)

A fala de P18 e P3 demostram a necessidade de se ter gestores qualificados e da

manutenção de um corpo técnico também capacitado e que estes permaneçam em suas

funções mesmo na entrada de uma nova gestão para que as políticas e planos não sejam

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completamente modificados por interesses partidários como demostrados pelas falas de P17 e

P15. Isso é confirmado por outros participantes:

“[...] Então hoje eu faço todo um planejamento financeiro pra saúde, só que

eu não atrelo isso ao que tá previsto ao que tá planejado.” (P15)

“[...] ele (se referindo ao gestor) já deu indícios de que ele não vai seguir o

plano municipal de saúde.” (P17)

“[...] Nada do que ele tá fazendo hoje tá previsto no plano, ele simplesmente

ignorou o plano, então, do plano teria que ter saído à programação anual,

então também não saiu.” (P16)

“[...] Nada impede que eu não possa fazer a alteração (se referindo ao

PMS).” (P14)

“[...] O que eu sugiro que talvez tenha que ter nesse plano, é uma maneira,

talvez uma forma legal né, de comprometimento da gestão. [...] só que o

plano ele não foi, digamos, posto integralmente, até pelo relatório que foi

apresentado [...] é menos de 50% de todas as ações que foram pactuadas

naquele momento não foram executadas.” (P17)

“[...] o orçamento que foi aprovado é a metade do que a gente tem

disponível, os recursos materiais estão lá apodrecendo, enferrujando [...] se

faz um projeto para se receber recursos para se construir uma unidade, mas

não se coloca o endereço correto, perde-se o recurso todo, então vejo que a

gestão é amadora.” (P3)

“[...] Esse plano 2014-2017, se não me falha a memória eu acho que houve

em torno de oito, nove trocas de secretário. Né, então nós tivemos aí oito,

nove secretários apesar de que teve dois períodos que não teve nem

secretário, o período agora do final do ano de 2016 nós passamos

praticamente trinta dias sem secretário e lá acho que 2015, 2016 nós

passamos um período acho que quase três mês sem secretário.” (P17)

“[...] A gente tem muita rotatividade, abaixo do gestor a gente não tem

ninguém que fique sempre ali, numa questão gerencial um problema é a alta

rotatividade – tem muita rotatividade.” (P19)

“[...] Mas veja bem, veja bem onde tá, onde eu vejo a raiz do problema.

Quando tu tem um líder, teoricamente, um gestor que é teu líder, o

secretário de saúde né, o teu prefeito por exemplo, é e na gestão anterior

quando havia-se, não podia haver reclamação, porque reclamação é igual a

voto então eu perco o voto né, o pensamento era esse, aí entra troca, troca o

prefeito, troca a gestão, entra de uma gestão teoricamente técnica e aí você

pensa nossa agora se surgirem reclamações acredito que serão apuradas, e

aí o que que acontece? Exatamente a mesma coisa [...] porque tu não pega

um reclamação e vai fazer o diagnóstico, levantamento da causa daquilo, o

que é que tá causando né? Tu só tá preocupado em amenizar a irritação de

quem reclamou.” (P17)

“[...] Hoje é a gente não fala do SUS só como condição de gestão, a gente

tem uma, uma parte gestão e uma grande parte de político partidário, é o

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SUS é uma situação política, mas a administração do SUS [...] é muito

partidária, porque tem não só na gestão, como nas unidades de saúde

pessoas que tão no comando que estão lá por um apadrinhamento político.”

(P17)

Nesse sentido podemos destacar que a “descontinuidade administrativa” que se

caracteriza a cada troca de gestão e/ou de gestor, decorrente de resultados de eleições do

poder executivo, se traduz em desperdício do dinheiro público, exonerações e perdas de

potencial intelectual, além de paralizações de programas importantes e remanejamentos de

pessoal sem critérios técnicos. Por conta de alianças políticas realizadas pelos prefeitos, vários

profissionais, em sua maioria, cargos comissionados, assumem gerências e coordenações nas

instituições públicas “[...] a gestão é amadora, é amadora na medida em que a gente se

baseia em pessoas que são cargos comissionados”. Ou seja, não necessariamente possuem

conhecimento ou interesse sobre a política ou sobre gestão pública (NOGUEIRA, 2006;

ALMEIDA, s/d).

[...] um número de cargos de direção, chefia e assessoria é trocado por serem

considerados cargos de confiança, pode-se imaginar que o resultado será, no

mínimo, uma fase de confusão, até que todos os novos ocupantes dos postos

se encontrem enraizados. Mas quando, além disso, há problemas com a

qualidade da prestação dos serviços (como há em quase todas as áreas dos

serviços públicos no Brasil), críticas às práticas da gestão anterior e falta de

clareza institucional sobre as estratégias a serem desenvolvidas, a tendência

de perda de rumo organizacional é maior ainda. Somando a esperança

inevitável sobre o novo à visão de processos históricos como páginas viradas

e à perda da memória institucional estimulada pelo rodízio de cargos, o

resultado é uma cisão, proposital ou não, em boa parte das atividades

operacionais. É essa situação que, para os servidores públicos e técnicos da

área, é conhecida como descontinuidade administrativa (FGV, 2001, p. 15).

Para Rios Neto (2009) algumas das causas para o insucesso do planejamento em

instituições públicas são: o problema crônico da descontinuidade administrativa, o qual

impossibilita que a organização crie uma identidade coerente com seu contexto e seja capaz

de integrar seus servidores em torno de sua missão institucional; ausência de

comprometimento de dirigentes e servidores para com a missão, objetivos e metas da

instituição; desconhecimento por parte da organização da natureza e das necessidades reais de

sua clientela, levando-a a atuar na base do improviso e do casuísmo; inexistência de política

de gestão de pessoas que atenda às reais necessidades dos servidores e que possibilite o seu

desenvolvimento como ser humano integral, que pensa e é capaz de criar e recriar, o

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despreparo de gestores para exercer suas funções, provocado pela ausência de programas de

formação continuada, impedindo o desenvolvimento da organização.

Para Paim e Teixeira (2007) um dos maiores problemas vivenciados no processo de

gestão do SUS é a deficiência de compreensão e uma falta de consenso sobre a imagem-

objetivo do SUS. Para Souza (2009, p. 912) isso acontece pelo fato de a gestão de

organizações públicas de saúde serem uma, relevante, “arena de disputa”, nos planos

ideológico, econômico e institucional, entre os defensores e opositores do SUS. Para o autor,

para pensarmos em estratégias de gestão a fim de nos aproximarmos de um SUS necessário,

temos que compreendê-lo como “uma luta política”. Agora como planejarmos e fazermos

uma “boa gestão” se não sabemos para onde estamos indo? Ou quando nesse processo de

planejamento enfrentamos essa luta? Uma resposta estaria em adotar justamente o

planejamento como estratégia de gestão municipal para sustentar o projeto político do SUS.

Para P13 uma boa gestão é “[...] um grupo de pessoas que tem que se organizar, tem

que todos falarem a mesma coisa, pra que né, um grupo de gestores, eles tem que se

entenderem primeiro, pra que a gente possa compreender o que eles querem.” Essa fala

evidencia que a falta de planejamento, de uma imagem-objetivo – missão institucional traz

uma incompreensão por parte dos trabalhadores de saúde – membros dessa instituição e

responsáveis em cumprir essa missão, do que fazer na prática.

“[...] hoje as pessoas entram na secretaria de saúde, elas não têm de fato

um norte do que vão, pra onde vão, o que realmente vão fazer.... Ai eu tô

aqui hoje, e eu acho que tenho que fazer isso e vou fazendo, vou tocando o

meu processo de trabalho certo ou errado eu vou tocando.” (P5)

“[...] As pessoas passam no concurso e vão para onde tem vaga. Alguns

explicam o que vai fazer, outros nem explicam. Tem os protocolos

ministeriais, alguns protocolos municipais; cada um vai se adequando ou

fazendo o que acha ou o que é mandado.” (P8)

“[...]Hoje em dia a gente vê as unidades criando métodos e maneiras de

gerenciar determinadas situações que não são as mais adequadas...” (P3).

“[...] frequentemente você vê os servidores dentro de um processo de

trabalho que eles não entendem o lugar deles, aonde eles estão, qual é a

importância daquela pequena intervenção. E se o cara não sabe a

importância da intervenção dele todo o processo fica comprometido, né?

(P15)

As organizações devem ser vistas como uma forma de seus membros viabilizarem

futuros almejados, aportando recursos materiais e humanos para atingir seus propósitos. Cada

organização tem uma finalidade que a tornou necessária e garantiu a sua estruturação. Trata-

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se da razão de ser da organização, também denominada de missão ou imagem–objetivo, que

define a sua função básica na sociedade, nos termos dos produtos e dos serviços que ela

produz. Nesse sentido, o sucesso de uma organização se dá pelo cumprimento de sua missão

que deverá agregar e orientar a ação de todos os seus membros “[...] Todos tem que saber que

a gente funciona de acordo com essa diretriz” (P3), e tem na figura do gestor o responsável

pela condução do processo administrativo, dos recursos e das pessoas em sua direção

(LACERDA; BOTELHO; COLUSSI, 2016).

Para Tancredi; Barrios; Ferreira (2002), o planejamento é um dispositivo poderoso

para apoiar o desenvolvimento e sofisticação administrativa das organizações. Promover uma

cultura institucional em que os agentes/profissionais estão habituados a refletir sobre a

finalidade das ações empreendidas é uma excelente forma de melhorar a qualidade e

efetividade no trabalho. Nas organizações onde os funcionários são introduzidos à missão

institucional, aos objetivos estratégicos e aos programas de trabalho, como exemplo, a

satisfação dos usuários e a resolução efetiva dos problemas de saúde, observa-se um maior

compromisso com os resultados concretos do trabalho, ao contrário de organizações que os

funcionários estão alienados e somente preocupados em cumprir as tarefas que lhe são

destinadas, como exemplo, realizar X consultas por turno de trabalho. Nesse sentido, o

planejamento é também uma forma de educação para a qualidade.

Será que uma gestão local pode fazer diferente? É possível criar estratégias para

melhorar os serviços? É possível pensar nos recursos e pessoal que se têm e fazer diferente? É

possível criar uma cultura organizacional que todos os seus colaboradores saibam para onde

estão indo? Será que é possível ter uma continuidade administrativa e um planejamento em

longo prazo sustentando o projeto político do SUS? P17 demostra que é possível seguir novos

caminhos:

“[...] o SUS ele é praticamente municipalizado ele é um, a área que

administra o SUS, recebe os recursos do estado, recebe os recursos do

governo federal, e coloca os serviços em prática dentro de sua abrangência

né. E, mas apesar de ter um esqueleto, uma secretaria de saúde tem a

liberdade de criar novas propostas, novos serviços, novos médicos né, de

acordo com a sua população.” (P17)

A organização de um sistema de saúde é um grande desafio. Num país, como o Brasil,

desigual e diverso, somam-se dificuldades. Para enfrentá-las é preciso ter claro o projeto

político (planejamento) e não perder de vista aonde se quer chegar (imagem-objetivo).

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Para que isso ocorra é necessária à construção coletiva de um planejamento de longo

prazo. Toda organização é um coletivo que se organiza para produzir bens e serviços, assim,

todo serviço, é um coletivo que deverá estar organizado. No campo da saúde, para produzir

saúde tendo a atenção integral, centrada na pessoa como uma “imagem-objetivo” (missão

institucional) a ser alcançada por todos os sujeitos envolvidos nesse processo.

“[...] entendo que o objetivo principal (se referindo ao objetivo principal da

SMS) é executar ações políticas no que é o seu grau de responsabilidade né,

buscando sempre ofertar serviços de qualidade, essa questão aqui que foi

levantado, todo mundo acho que falou na qualidade, muitas vezes falta né e

procurando sempre estar de acordo com os princípios do SUS

universalidade, integralidade, equidade [...] e a utopia é o momento que tu

chegue e os pilares sejam realmente executados como é pra ser, na sua, he

he he plenitude, da universalidade, integralidade e equidade, quando

conseguir executar isso dessa forma, tu vai ter realmente o serviço de

qualidade né.”(P18)

A imagem-objetivo, etapa número um do planejamento, corresponde a “futuro

concebível [...] desejável [...] possível de alcançar” (OPAS, 1975, p. 37). Se uma SMS tem a

função na sociedade de “[...] propiciar saúde né” (P4); “[...] garantir a saúde da

população” (P6); “[...] atender a comunidade no tocante obviamente a saúde e no bem estar

da comunidade” (P1); “[...] dando qualidade né” (P2); “[...] é administrar a saúde pública

para o benefício das pessoas, as pessoas, a comunidade” (P9); “[...] é fornecer serviços de

qualidade” (P16);“[...] é instrumentar e apoiar o acesso dos usuários a serviços de

qualidade” (P18); “[...] é garantir o acesso da população aos serviços de saúde” (P23); é

“[...] garantir o acesso aos serviços de saúde à população, visando à qualidade da atenção,

tendo como norteadores os princípios do SUS, articulando as políticas públicas nas três

esferas de governo, envolvendo a participação do controle social” (P4, P5, P6, P8, P13),

fica entendido que produzir saúde com qualidade é ter o compromisso social em defender a

vida satisfazendo as necessidades de saúde da população, através de um sistema humanizado,

com vínculo, responsabilização e acesso: “[...] pra prestar um serviço de excelência e de

qualidade ele tinha que ser integral, ver as necessidades dos sujeitos e ter um serviço que

responda a essa necessidade.” (P8)

“[...] atendimento de qualidade é um atendimento onde a pessoa é atendida

primeiro com humanização, segundo ser atendida como um ser humano,

terceiro ser respeitada como tal, quarto que ela tenha um atendimento das

suas necessidades condignas com as tecnologias que a medicina oferece, e

que ela tenha o seu mal curado em menor espaço de tempo pra que ela volte

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ao convívio da sua, da sociedade em condições de normalidade, volte a ter a

sua saúde, e volte a ter a sua felicidade.” (P14)

Além de não perder de vista aonde se quer chegar é preciso também saber como se

quer chegar.

“[...] como planejar em forma de ter um acesso, um cuidado integral,

biopsicossocial, entendo que dentro dos limites, devemos pensar ética, em

colocar as pessoas como fim, não como meio, não fazer que um orçamento,

ou um planejamento, por si só, mas pensando nas pessoas como fim em si

mesmas.” (P3)

“[...] é fazer a gestão dos recursos humanos, recursos financeiros, recursos

técnicos, dentro de uma perspectiva ou sob uma perspectiva humanista, que

considere a ética do cuidado como valor supremo, a incorporação de

tecnologia em saúde que resolva e que a solução não seja apenas atender os

interesses peculiares pertencentes à indústria farmacêutica e a indústria de

medicamentos, e que monitore os seus, o resultado dessas, dessas políticas.”

(P15)

“[...] então a dimensão ética, por exemplo, é a que me move no sentido de

tomar as decisões técnicas e políticas. Puxando a entender a saúde como,

saúde como direito, saúde como instrumento de valorização da vida, e saúde

como condição pra paz entre os povos, entre as pessoas, eu não vou tirar, eu

não tirar, decisões políticas ou técnico políticas pra estruturar esse

sistema.” (P15)

Para tal complexidade, a Atenção Básica (AB) que é uma Política Nacional aprovada

pela Portaria 648/GM de 28 de março de 2006 (BRASIL, 2006c) a fim de garantir os

princípios doutrinários e organizacionais do SUS, tem a ESF para operacionalizar e

(re)organizar suas ações. Essa organização pressupõe o deslocamento do processo de trabalho

centrado em procedimentos, para um centrado no usuário, no qual o cuidado desse usuário é o

imperativo ético-político que organiza a intervenção técnico-científica.

O Instituto Picker (2011 apud Mendes, 2016) estabelece oito princípios da atenção

centrada na pessoa: respeito aos valores, às preferências e às necessidades definidas pelas

pessoas; coordenação e integração da atenção; informação, comunicação e educação;

conforto físico; suporte emocional e alívio do medo e da ansiedade; envolvimento da família e

dos amigos; continuidade e transição; e acesso à atenção de qualidade.

Nesse aspecto, a APS/AB foi considerada pelos participantes o eixo estratégico

principal para a estruturação do sistema de saúde municipal, resolutivos e com melhores

níveis de equidade, efetividade e eficiência.

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“[...] não há como você fazer saúde num país, numa cidade, ou no estado

começando pelo telhado. Essa visão hospitalocêntrica é uma visão que já

deve ter, já devia ter sido extinta, né, bem como a visão centrada no médico,

né. Nós, temos que fazer saúde fundamentada no alicerce, o alicerce é a

porta de entrada da rede de atenção de saúde que é a atenção básica [...] A

unidade da saúde da família ela é responsável pelo paciente, desde a sua

entrada na UBS, até a sua saída no mais alto ponto de complexidade,

voltando pra unidade da saúde da família para fazer o seu

acompanhamento.” (P14)

“[...] então eu particularmente penso que um sistema de atenção que queira

ser resolutivo e, e que seja acessível precisa ser um sistema que dê

universalidade de acesso né, e estruture todos os demais níveis de atenção a

partir das demandas que vem dele, isto é, quem deve ordenar o andar de

cima é a base, o andar de baixo.” (P15)

“[...] o SUS vai de fato alcançar o que a gente deseja quando nós tivermos

uma cobertura de cem por cento da atenção básica ou perto disso, e que a

atenção básica também mude o seu modelo de atuação, né, porque não

adianta tu ter uma ampliação da cobertura da atenção básica e ter uma

atenção básica biologicista [...] Mas a cereja do bolo é, o SUS será de fato

concretizado com a qualidade que nós queremos, com tudo que, que nós

desejamos quando a atenção básica mudar o seu modelo, mudar a sua

forma de atuação e passar a entender que ela é, é responsável além da

saúde das pessoas, que ela passe a também produzir cidadania no seu

território, pra que as pessoas possam também entender que o SUS é delas,

né, é um bem, e aí a partir daí nós teremos o sistema de saúde que nós

sonhamos. Então esse, acho que é a principal estratégia que a atenção

básica deve adotar, muito mais do que fazer procedimentos e consultas é

investir nessa comunidade, na população, no controle social, no fomento da

cidadania.” (P16)

“[...] nós apostamos todas as nossas fichas realmente na atenção básica, e

fazer com que ela seje extremamente resolutiva, no mínimo em oitenta por

cento que é o que a literatura dos países que aplicam a atenção básica

dizem que é possível se chegar.” (P14)

De acordo com o documento Formulación de Politicas de Salud, editado pelo Centro

Pan-Americano de Planejamento da Saúde, os principais insumos que orientam o processo de

elaboração da imagem-objetivo de uma política pública de saúde são: o estado de saúde da

população, a estrutura dos serviços, a execução dos serviços e as relações entre os produtos do

sistema de serviços e a população (OPAS, 1975). Atualizando esta caracterização da OPAS

no contemporâneo, observa-se a presença de quase a totalidade de elementos de continuidade.

À exceção do primeiro insumo descrito, estado de saúde, uma vez que a razão de ser

da atenção básica/atenção primária do SUS não é atuar sobre o “estado” de saúde da

população, mas sobre as necessidades de saúde desta, os demais insumos são igualmente

exigidos pelo processo de produção da APS/AB.

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“[...] se é verdadeiro que nós queremos qualidade, em resumo, o que nós

queremos é saúde de qualidade, você precisa necessariamente dissecar o

processo que te leva a saúde de qualidade. Você tem, num primeiro

momento você tem a questão estrutural do serviço de saúde, no segundo a

questão do, dos processos de trabalho né, e num terceiro momento os

resultados que você chega. Então você precisa, efetivamente, enquanto

gestor ficar de olho em esses três pontos, principais pontos críticos da

gestão: estrutura, processos de trabalho e os resultados que você adquire.”

(P15)

No âmbito da estrutura e execução dos serviços:

“[...] quanto mais adequado estiver a nossa, a nossa população, adequado,

eu falo em números mesmo (se referindo a adscrição territorial por equipe)

[...] mais a gente vai conseguir garantir uma melhor gestão do cuidado pra

esses usuários.” (P10)

“[...] na estrutura o que que nós precisamos? Nós precisamos de unidades

básicas de saúde que sejam salubres, que sejam saudáveis, é inaceitável

você ter uma unidade em que você tem ali apinhadas as pessoas ali,

aglomeradas, em ambiente completamente insalubre, mal ventilado, com

uma possibilidade de tá transmitindo doenças do que estar evitando doença.

Então, nós precisamos uma rede que tenha unidades básicas de saúde que

sejam saudáveis do ponto de vista do ambiente físico [...] nós temos que ter

um bom ambiente e uma ambiência adequada pra se fazer, consolidar o

processo de humanização da atenção e o acolhimento especialmente. Amm,

nós temos que ter uma, uma rede é de qualidade que nos garanta os insumos

para o trabalho, então nós temos que ter medicamentos disponíveis,

medicamentos comprovadamente eficazes, que tenha eficácia clínica

comprovada, que tenha segurança, que sejam acessíveis a todos, né? Você

precisa ter uma, uma rede de, de laboratórios e clínicas que no momento

certo e no tempo certo proporcione a você como profissional, é seguindo

determinados protocolos, que você possa pedir um raio-x e tenha esse raio-x

[...] em tempo hábil essas questões estruturais são fundamentais.” (P15)

Nesse aspecto também é necessário pensar regionalmente:

“[...] se a atenção básica de um determinado município vizinho não for bem

feita ela vai estourar na média complexidade no município maior e a

universalidade me obriga a atendê-los [...] esse trabalho eu tenho que fazer,

fazer com que o meu município e os nossos municípios vizinhos também

adotem a mesma política da atenção básica, porque se não vai estourar a

atenção básica aonde ela é bem feita, não é? Ou vai estourar na, aonde

todos os municípios vizinhos nos nossos prontos socorros e nas nossas

UPA’s, quando não deveriam estar lá, não é? E vai estourar nas doenças de

alta complexidade que poderiam ser doenças de menor complexidade lá.”

(P14)

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A fala de P14 nos faz pensar que gestor local de um município polo tem que ter no seu

planejamento uma maneira de apoiar, incentivar e ajudar a estruturar uma região de saúde

com uma APS/AB efetiva.

No âmbito processos de trabalho:

“[...] se eu tenho um processo de trabalho definido, as coisas se encaixam

melhor.” (P10)

“[...] todos tem que saber que a gente funciona de acordo com essa diretriz

[...].” (P3)

“[...] eu acho que a gestão (administração) deveria criar caminhos que

presidissem disso, ou seja, eu não preciso me preocupar se a pessoa que

está lá no balcão vai ou não estar de mau humor naquele dia, se vai achar

simpática à moça com câncer de mama, se vai decidir ajudá-la porque ela

gostou dela, ou que ela seja uma boa alma, não! O cara do balcão tem que

ter os instrumentos da gestão pra saber o quê fazer, não interessa quem ele

é ou quem está diante dele, então a gestão precisa fornecer esses fluxos,

esses protocolos, deve acompanhar e avaliar os seguimentos dos protocolos

e os resultados que eles têm para modifica-los se eles não estiverem sendo

resolutivos.” (P3)

“[...] Os processos de trabalho, do ponto de vista da gestão você precisa

estrutura-los de uma forma racional, inteligente e que sobre tudo as pessoas

entendam o processo de trabalho, frequentemente você vê os servidores

dentro de um processo de trabalho que eles não entendem o lugar deles,

aonde eles estão, qual é a importância daquela pequena intervenção. E se o

cara não sabe a importância da intervenção dele todo o processo fica

comprometido, né?!.” (P15)

Werneck, Faria e Campos (2009) afirmam que a ausência de uma padronização nas

ações significa fragilidade da gestão, podendo levar a uma grande variação nos modos de

fazer. Em relação aos fluxos e protocolos de atendimento, Jacques e Gonçalo (2007, p. 111)

apontam para a importância que os protocolos têm na AB. Eles propiciam “processos ricos em

aprendizagem organizacional e, como prescrevem racionalmente os melhores recursos a

serem utilizados, são a garantia da maior probabilidade de resultados assistenciais almejados”.

É na APS/AB o espaço de organização e práticas da ESF (territorialização, atenção

domiciliar, trabalhos com grupos, acolhimento, ações integradas da saúde, planejamento local

e participação popular através dos Conselhos Locais de Saúde). Por esse motivo, e para a

garantia do cumprimento de tais atributos, tão complexos, que reconhecem a importância do

cuidado ao ser humano, são imprescindíveis profissionais que rompam com o Modelo

Biomédico, que incorporem novas formas de organizar o trabalho e compreendam a saúde

além da sua dimensão biológica. Nesse sentido, um instrumento de gestão apontado pelos

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participantes é a possibilidade do gestor escolher o perfil profissional para a instituição: “[...]

fazer uma avaliação de uma pessoa, por exemplo, tem um perfil mais adequado para tal

serviço, para estar em determinada situação, isso não é visto, é de acordo com a vaga”

(P10).

Indicaram que a gestão precisa ser profissional e utilizar os instrumentos de avaliação

existentes, por exemplo:

“[...]estágio probatório, ele não é utilizado, mas existe, o instrumento já

existe, desde que essa avaliação fosse feita de maneira criteriosa e utilizada,

a pessoa entrou e funcionou na prática, beleza fica, não funcionou, o estágio

probatório é pra isso, o instrumento já existe – é só saber utilizar.” (P3)

Por último e, não menos importante, os participantes revelaram que o planejamento

deve ser realizado com participação popular:

“[...] nós estamos elaborando nossa conferência nacional de saúde né, e

estamos fazendo as pré conferências, mas nós não estamos fazendo a

conferência pra conferência por si mesma, nós estamos fazendo as pré

conferências e conferências no sentido de fazer um processo de, fazer um

processo de ampliação e de apropriação pela comunidade da sua

responsabilidade, dos seus direitos também, mas sobre tudo das sua

responsabilidade pra cobrar, a comunidade ela tem o dever de, de tomar

pra si esse processo, de se deslocar do executivo, do secretário e tomar nas

mãos a possibilidade de interferir mais agudamente as decisões sobre tudo,

especialmente na saúde.” (P15)

“[...] nós tomamos a iniciativa de fazer a conferência porque nós

gostaríamos de um plano que representasse os anseios da sociedade e não

que fosse o plano construído por essa gestão dentro de gabinetes, então esse

é o objetivo do nosso empenho, da nossa luta, pra conseguir fazer a

conferência.” (P16)

Os resultados demostram que o planejamento é fundamental para sustentar o projeto

maior – político do SUS, e para que de fato isso seja possível, dois entrevistados apontam

que: “[...] o controle social hoje seria um dos melhores caminhos” (P16); “[...] hoje na atual

conjuntura eu vejo que é o único caminho.” (P17)

“[...] porque o nosso país é pródigo em leis, se leis resolvessem nós

estaríamos né, no céu, e não, a gente sabe que as leis não resolvem se ela

não tiver o lastro, uma, se a sociedade não se apropria do fundamento legal,

né do fundamento ético, moral, que tá por trás de uma lei, que a sociedade

não se apropria das razões pelas quais a lei foi criada. Então, se nós

tivéssemos de fato um controle social mais efetivo que tivesse um

empoderamento político fortemente sedimentado na sociedade, na

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comunidade e ela entendesse o seu papel, nós não precisaríamos de leis pra

fazer valer o Plano Municipal de Saúde, ele por si só estaria legitimado,

teria a força da representação.” (P15)

Para Souza (2009) uma estratégia importante de gestão com a finalidade de

aproximação do “SUS possível do SUS necessário” é à participação popular. Afirma que o

gestor não pode negligenciar as ações que visem ao fortalecimento da participação de

usuários, trabalhadores de saúde e prestadores de serviços na definição e no acompanhamento

das políticas de saúde. Na prática é preciso que as pessoas percebam os benefícios que o SUS

traz para se mobilizarem em sua defesa ao ponto de influenciarem decisões governamentais.

Planejar é uma tarefa complexa por ser um processo contínuo de pensar no futuro.

Num futuro possível de ser concebido, o que exige tomada de decisões permanentes, dentro

de um contexto que sofre influências constantes. Sua riqueza está no processo de análise

(diagnóstico) de uma realidade, que permite pensar em meios para se alcançar o que se deseja

(imagem-objetivo).

Nesse trabalho os resultados demostraram que o planejamento de uma SMS pode ser

pensado para além dos instrumentos formais instituídos pelo poder executivo. É fato que

muitas decisões e definições do modelo de atenção adotado ainda são normativamente

centralizadas, com papel acentuadamente indutor do nível central. Entretanto, também é fato

que muitas estruturas loco-regionais podem fazer diferença. Em todas elas, sejam municipais,

loco-regionais, o diferencial é o planejamento.

6.2 Educação Permanente: uma estratégia para transformação das práticas em saúde

“[...] educação permanente, [...] então eu acho que é uma forma de ter a

mesma linguagem permanentemente, não se faltar isso [...] então eu acho

uma questão muito importante à educação permanente [...] é necessário à

qualificação dos trabalhadores de saúde” (P5); “[...]capacitação, educação

continuada, é uma coisa muito importante [...] Essa questão de educação

permanente é uma das coisas mais importantes” (P6);”[...]acho que

investimento em educação é uma boa vertente”(P23); “[...]com a educação

permanente a gente consegue melhorar o processo de trabalho” (P20)

Parte dos entrevistados revelou que a Educação Permanente (EP) é muito importante

para produzir mudanças nas práticas de atenção à saúde e também nos processos de trabalho

no sentido de atender as necessidades de saúde da população. A EP apareceu como uma das

principais estratégias de gestão para qualificação dos serviços, mudança no modelo de atenção

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à saúde e consequentemente na melhoria da qualidade do cuidado e a humanização no

atendimento.

A Educação Permanente em Saúde (EPS) foi instituída em 2004 como uma política

pública estratégica, com o objetivo de promover mudanças nos processos de formação e

desenvolvimento dos trabalhadores do setor saúde, com base na problematização da realidade

e na construção coletiva de soluções, tendo como foco as necessidades da população e o

fortalecimento do SUS. A EP trabalha com alguns dispositivos metodológicos:

problematização (reflexão), aprendizagem significativa (promoção e produção de sentidos) e

trabalho em roda (BRASIL, 2004; GIL et al., 2017).

Segundo Ceccim (2005), para produzir mudanças de práticas de atenção em saúde, é

fundamental dialogar com as práticas e concepções vigentes, problematizá-las, não no

abstrato, mas no concreto do trabalho de cada equipe e assim construir novos pactos de

convivência e práticas, que aproximem o SUS da atenção integral à saúde. Não bastam novas

informações ou regras, mesmo que precisamente bem comunicadas, senão para a mudança,

transformação ou crescimento.

“[...] Não adianta você botar essas estratégias de goela a baixo pro

trabalhador. Algumas coisas você pode determinar e tentar no

convencimento. Eu não consigo de goela a baixo fazer convencer um

determinado profissional a fazer esse tipo de atendimento que eu gostaria,

[...] e o que a gente tem procurado fazer nas reuniões com as equipes é

exatamente isso. Sempre dar esse exemplo: como eu gostaria de ser

atendido? Você gostaria de ser atendido, de que forma eu gostaria de ser

atendido? [...] e lógico que isso não se muda num canetasso.” (P14)

A EP pressupõe organizações mais democráticas com criação de espaços que

possibilitem a reflexão (dimensão ética). Nessa perspectiva, ao adotar tais valores, busca

romper com a verticalização do sistema de saúde (CARDOSO et al., 2017). Nesse sentido, a

EP tem um potencial de induzir mudanças necessárias no perfil dos profissionais,

diferentemente dos processos de educação orientados apenas pela atualização técnico-

científico que normalmente se vê nos serviços ou ainda por situações emergentes (agravos em

saúde) que demandam capacitações, “[...] o que a gente consegue fazer é: deu algum problema?

Então vai lá e faz uma capacitação pontual, não é contínuo e isso a gente tem essa dificuldade

enorme” (P8).

Diferentes autores atribuem ao modelo de EP a capacidade de provocar mudanças nos

processos de trabalho. Para Luz (2010) a EP tem a capacidade de facilitar o envolvimento de

todos os profissionais e proporcionar uma troca de saberes, uma reflexão das práticas de

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serviço, consequentemente, uma interação maior de toda a equipe e uma melhoria no processo

de trabalho. Para Carotta, Kawamura e Salazar (2009) a EP por si só é uma prática educativa

que aplicada ao trabalho tem a possibilidade de produzir transformações nas relações, nos

processos de trabalho, nas condutas, nas atitudes, nos profissionais e até mesmo nas equipes,

por esta ter como fundamento a reflexão crítica sobre as práticas de serviço. Para Sarreta

(2009), o diferencial é a construção coletiva de novas estratégias de trabalho comprometidas

com os princípios e diretrizes do SUS e com as necessidades de cada região mediante a

problematização das práticas cotidianas, visando desenvolver autonomia e participação.

Nesse aspecto, um ponto relevante a ser destacado na fala de um entrevistado é sobre

o conteúdo a ser abordado nas EP para atingir seu propósito de produzir mudanças nas

relações e nos processos de trabalho, para garantir uma atenção integral e com qualidade:

“[...]o que a escola faz? Forma indivíduos tecnicamente eventualmente

competentes, mas do ponto de vista ético, completamente afastados da

discussão [...] então de nada adianta eu ter o melhor das educações

continuadas se o material humano do ponto de vista ético não entende a

saúde como direito, não entende o usuário como o cara que paga o seu

salário, né, não entende a saúde como a expressão suprema do processo

civilizatório né?! Então, a educação em saúde ela precisa ter de um lado a

potência de um processo de qualificação profissional, mas junto com isso a

potência de um processo de qualificação ou de um reconhecimento do que

de ético tem nas pessoas e elas tem, elas precisam ser estimuladas.” (P15)

“[...] eu acho que a gente não pode, especificamente em saúde separar

essas dimensões: a dimensão técnica, a dimensão política e a dimensão

ética. Talvez de novo, a saúde, volta aquela questão, a saúde como a

grande possibilidade de você fazer a sociedade toda avançar na aquisição

né, dos direitos à cidadania e na compreensão desses direitos. Então a

dimensão ética, por exemplo, é a que me move no sentido de tomar as

decisões técnicas e políticas.” (P15)

A fala de P15 demostra que a EPS como uma estratégia de gestão precisa ser capaz de

formular um novo modo de produzir práticas de saúde indissociado de uma perspectiva ético-

política. Também apontou que as pessoas “precisam ser estimuladas”, sugerindo a criação de

espaços coletivos para pensarem, refletirem e problematizarem suas práticas cotidianas “[...]

Por que disso? Qual é a minha função? Qual é o meu lugar? Mas por que eu estou ali? Qual

é o resultado da minha intervenção?” (P15). Nesse sentido aposta na estratégia de EPS para

induzir mudanças necessárias nos perfis dos profissionais “[...] porque no mundo inteiro é

assim. As pessoas são, são um material, uma pedra bruta que você tem que lapidar, você tem

que reconhecer as potencialidades dos indivíduos e as suas vulnerabilidades e trabalhar em

cima disso, e aí você vai traçando aquele perfil” (P15) e consequentemente melhorar a

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qualidade e efetividade no trabalho. Tal estratégia tem a finalidade de exercer forte influência

sobre o compromisso das pessoas com os objetivos institucionais, e no caso de uma SMS,

com a consolidação do SUS.

Para Pasche (2010) um dos maiores desafios do SUS é a construção de uma agenda

ética para a micropolítica, ou seja, o desenvolvimento da discussão sobre as relações entre os

diferentes sujeitos (gestores, profissionais, usuários) assentadas no cuidado e

responsabilização compartilhada. E nesse aspecto a EPS mostrou-se primordial.

Para a construção das mudanças necessárias no cotidiano das práticas

profissionais de saúde é preciso refletir sobre as implicações éticas das ações

dos trabalhadores como agentes morais. É preciso, também, compreender o

caráter dinâmico da sociedade como um espaço em permanente disputa de

interesses políticos e desejos individuais e coletivos, que envolvem forças

díspares, valores diversos e crenças divergentes (VERDI; CAPONI, 2005, p.

87).

A Política Nacional de Humanização (PNH) foi proposta pelos participantes como um

dispositivo a ser utilizado pelos gestores para “[...] criar uma visão uniforme desde o nível

central até a ponta”; “[...] trabalhar com a política de humanização desde a gestão em nível

central até com quem está lá na ponta (P6, P8, P9, P11, P12, P13, P24), com a intenção de

mudanças nas práticas de atenção em direção ao acesso, vínculo, responsabilização e ainda

potencializar a garantia de atenção integral, resolutiva e humanizada.

A PNH da Atenção e Gestão do SUS aposta na indissociabilidade entre os modos de

produzir saúde e os modos de gerir os processos de trabalho, entre atenção e gestão. Tem por

objetivo provocar inovações nas práticas gerenciais e as práticas de produção de saúde,

propondo para os diferentes sujeitos (coletivos/equipes) implicados nessa prática o desafio de

superar limites e experimentar novas formas de organização dos serviços e novos modos de

produção e circulação de poder (BRASIL, 2012b).

Para o alcance de tal objetivo expressaram que a gestão em saúde deve ofertar

métodos (modos de fazer) e apontaram que uma “[...]educação permanente forte

[...]eficiente” (P6) seria capaz de provocar inovações nas práticas gerenciais e nas práticas de

produção de saúde, de criar uma “visão uniforme”, guiados pelo pressuposto ético de

produzir saúde com o outro.

A proposta de EPS é uma das estratégias de gestão importantes para a humanização e

qualificação nos serviços, no entanto, ela é precedida de uma ação (dimensão política). Ela é

fruto de decisões políticas no sentido de estruturar uma rede de serviços com espaços para

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viabilizar práticas de formação de pessoal e adequar seus perfis às necessidades de saúde da

população “[...] uma secretaria de saúde tem a liberdade de criar novas propostas, novos serviços,

novos médicos né, de acordo com a sua população” (P17).

Considerando a complexidade do sistema de saúde brasileiro, Ceccim (2005) afirma

que a EPS é necessária para a consolidação de práticas voltadas à resolutividade dos

problemas de saúde das populações locais. No entanto, um dos grandes desafios enfrentados

pela EPS segundo Cardoso et al. (2017) é o desconhecimento e desvalorização da EPS pelos

gestores, o que é confirmado pela fala de P16:

“[...] Outro instrumento de gestão que eu penso e que não é utilizado

infelizmente, é o serviço de educação permanente, né?! E aí em todos os

sentidos, no sentido de qualificar os profissionais de saúde, no sentido de

qualificar processo, descrever os processos, né, porque, e aí começa por

dentro da secretaria de saúde, na própria secretaria, então cada setor, tu

vai hoje na regulação tu pergunta pra uma determinada pessoa, pra quem

agenda tomografia por exemplo, quais são os locais no município que fazem

ultrassonografia, eles não sabem, só quem vai saber é quem faz o

agendamento da ultrassonografia. E assim sucessivamente, então todos os

processos descritos, organizados[...].” (P16)

A maioria dos entrevistados apontou a necessidade de se ter dentro da SMS um setor

que fosse responsável pelo processo de EPS de toda a rede municipal.

“[...] o que eu sinto que falta muito, e que eu penso que um setor de

educação permanente é daria conta, é a comunicação da rede, a rede não se

comunica e a rede não se conhece. Então se eu não conheço a rede que eu

trabalho fica difícil de eu, de eu dar uma atenção de qualidade pro paciente

né?” (P16)

“[...] e...as capacitações, é... essa educação continuada, esse serviço, eu

acho que também é um nó muito grande né, porque nós gostaríamos de ter

um serviço de capacitação né, que o RH tivesse um serviço de capacitação,

de educação permanente, processo formador contínuo e programado.” (P8)

“[...] capacitação, educação continuada, é uma coisa muito importante, só

que nós temos que administrar isso no meio de outras coisas assim, e

realmente se tivesse um alguém, um departamento, ou um local pensando

nisso [...].” (P6)

As falas de P6, P8 e P16 sugerem uma (re)organização da “arquitetura” da SMS do

município estudado, ou seja, apontam para a construção de uma unidade de produção que

fosse responsável por um “processo formador contínuo e programado”(P6), educação

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permanente como “forma de ter a mesma linguagem permanentemente, não se faltar isso”

(P5).

Destacou-se ainda a importância de estruturar um serviço municipal com acolhimento

para novos funcionários, “uma formação inicial para o trabalho”, tendo como foco a EPS.

“[...] porque se todo profissional que fosse admitido tivesse um treinamento,

uma integração, um preparo, eu acho que até mais do que isso, fazer uma

avaliação de uma pessoa, por exemplo, tem um perfil mais adequado para

tal serviço, para estar em determinada situação, isso não é visto; tipo assim,

é de acordo com a vaga.” (P10)

“[...] todo o servidor da saúde que entra, ele, ele, claro assume e vai pra

rede, só que obrigatoriamente ele faz um curso na educação permanente

[...] ali era apresentado pra ele toda a rede, ele conhecia toda a rede, todos

os serviços que a rede tem e qual a lógica daquela secretaria municipal da

saúde, qual é o entendimento de saúde que aqueles gestores têm.” (P16)

As decisões da gestão interferem diretamente na atenção à saúde. Por isso,

trabalhadores e usuários devem conhecer como funciona a gestão dos serviços e da rede de

saúde, assim como participar ativamente do processo de tomada de decisão nas organizações

de saúde e nas ações de saúde coletiva. Qualquer mudança na gestão e atenção é mais

concreta se construída com a ampliação da autonomia e vontade das pessoas envolvidas, que

compartilham responsabilidades. Os usuários não são só pacientes, os trabalhadores não só

cumprem ordens: as mudanças acontecem com o reconhecimento do papel de cada um

(BRASIL, 2012b).

Outro tema identificado a partir da análise da fala dos participantes foi à importância

de se ter uma clínica de base efetiva, ou seja, uma clínica que visa compreender e resolver na

APS/AB, a maioria das necessidades/problemas de saúde da população, e nesse sentido a

qualificação profissional (dimensão técnica da E.P.S.), foi colocada pelos participantes como

estratégia fundamental para mudança no modelo de atenção à saúde.

“[...] eu na atenção básica como médico diante de alguém com cefaleia eu

posso ou fazer uma entrevista bem feita, detalhada e um exame físico

adequado ou, ou, eu lascar de cara uma ressonância magnética funcional ou

uma tomografia encefálica, né? [...] pega um exemplo, por exemplo,

transtorno de sono, você precisa antes de pensar em medicalizar o indivíduo

conversar com ele sobre a higiene do sono, que são uma série de requisitos

que o ser humano precisa pra criar as condições pra adormecer e ter um

sono reparador. Depois quem sabe vem a questão do fármaco, que que você

faz hoje? Você inverte, você já parte para o fármaco pra induzir o sono

naquele indivíduo, que é uma, uma, é um desatino completo, né.” (P15)

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Nessa questão foi indicado que a organização e o funcionamento dos serviços

requerem mais do que a planificação do desenho assistencial em si pela gestão. A

resolutividade e qualidade na atenção incluem, principalmente “[...] as questões de cunho

eminentemente ético porque isso que faz as pessoas avançar na sua responsabilidade que tem

com a sociedade e saber entender que cada intervenção ela tem essa dimensão” (P15).

A Educação Permanente se mostrou, a partir das falas no contexto estudado, uma

estratégia de gestão que tem a potência de transformar as práticas em saúde na medida em que

têm a mesma potência de transformar as relações entre sujeitos e as formas de trabalho, uma

vez que está alicerçada na reflexão crítica sobre as práticas exercidas cotidianamente.

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7 CONSIDERAÇÕES

Primeiramente, torna-se necessário destacar a importância desse trabalho para os

campos das políticas públicas, da gestão e da formação profissional. Para o campo das

políticas públicas acredito que o tema abordado traz uma reflexão sobre novas possibilidades,

principalmente a de romper com a subordinação impetrada por escolhas políticas e

econômicas assumidas pelos grupos dirigentes, para que, de fato, possamos avançar no

cumprimento dos direitos assegurados pela nossa Constituição. Avançarmos para uma política

de estado e não de governo. O documento estudado no capítulo três “Formulación de Politicas

de Salud”, editado em 1975 pelo CPPS/OPAS, traz contribuições importantes nesse sentido,

em como formular políticas públicas para o cumprimento de uma imagem objetivo – a

concretização do SUS conquistado na CF de 1988. A falta de clareza e insuficiência da

“Imagem-objetivo” do SUS, principalmente no que diz respeito ao seu desenho macro

organizacional, são dois desafios robustos a ser enfrentados no âmbito das políticas públicas e

na gestão do SUS. No campo da gestão, o trabalho chama a atenção para a histórica

necessidade de se pensar na chamada “profissionalização da gestão”, pois ainda prevalece a

prática de distribuição de cargos na estrutura administrativa em função dos interesses políticos

partidários, reproduzindo o amadorismo que caracteriza a gestão do SUS em vários de seus

subsistemas. Nesse sentido, a pesquisa destaca que a descontinuidade político-administrativa

é uma das causas do insucesso do planejamento em instituições públicas. No campo da

formação profissional, a pesquisa ilumina a importância e necessidade da formação e

construção de sujeitos/gestores dotados de capacidade técnica e comprometidos orgânico e

militantemente com o SUS, para fins de atuação efetiva, em diversos espaços e níveis de

gestão e de condução política do Sistema. Enfatiza, também, o quão importante é concretizar

a formação para o SUS, capaz de transformar as relações entre os sujeitos e as formas de

trabalho, alicerçada na reflexão crítica sobre as práticas exercidas cotidianamente. É

necessário que os gestores conheçam e dominem informações de natureza técnico-cientifica e

político institucional do SUS para que possam planejar com a intenção de intervir sobre as

necessidades de saúde da população.

Em segundo lugar, é fundamental registrar a importância dessa dissertação para o

crescimento e amadurecimento da pesquisadora. De enfermeira de um hospital privado à

enfermeira de atenção básica numa unidade pública de saúde, percebi que fiquei por muito

tempo alienada e que nunca tinha parado para refletir que mais de oitenta por cento da

população brasileira não tinham (não têm) o mesmo direito, apesar de garantido

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constitucionalmente, a uma saúde de qualidade, e àqueles que têm, precisam pagar caro por

ela. No processo, várias indagações começaram a brotar no pensamento, o que acabou

direcionando-me para o estudo do SUS com profundidade, no sentido de tentar compreender

o porquê o direito a saúde, que custou tão caro à nossa sociedade, é tão negligenciado pelos

nossos dirigentes; o porquê da morosidade em se regulamentar o SUS (foram necessários 23

anos para regulamentar o que já estava previsto na CF de 1988) e ainda o porquê de sua

operacionalização ser diferente em cada município. Apesar de já se passar vinte e oito anos da

conquista do direito universal à saúde, o filme continua sendo o descaso, prova disto é o

congelamento de investimentos para área da saúde pelos próximos 20 anos.

O estudo analisou as estratégias de gestão do município Itajaí, SC, na perspectiva de

um coletivo intrassetorial da SMS e de conselheiros de saúde na tentativa de responder a

pergunta de pesquisa: nesta conjuntura antidemocrática, em que o federalismo brasileiro

parece estar em xeque; em que os militantes do SUS têm-se deparado com a necessidade de

formar pensamento estratégico, em uma contracorrente, para garantir a sustentabilidade do

Sistema; em que os ventos de austeridade têm soprado com força em direção aos interesses de

um poder político formal que defende a inoperância de política de caráter nacional e público

coordenada pela atenção básica/atenção primária abrangente; que estratégias de gestão um

município de grande porte pode lançar mão para preservar e expandir com qualidade os

serviços de atenção à saúde?

Pergunta nada fácil, para uma servidora que está na lida diária de uma unidade básica,

envolvida com necessidades e demandas de usuários, orientadas por um modelo que há

tempos apresenta sinais de esgotamento – o da gestão de oferta e demanda. Mas, a pergunta

foi respondida:

Na relação com os dados, foi-me possível perceber que o planejamento é uma

estratégia de gestão importantíssima para sustentar o projeto político do SUS. Para tanto, é

necessário construir um consenso sobre uma “Imagem-objetivo” única e, a partir dela, definir

objetivos e metas para alcançá-la num futuro concebível. Foi-me possível compreender,

também, que a aplicação de um efetivo planejamento estratégico para o SUS depende de

muitas variáveis, dentre as quais destaco a ineficiência de coordenação federativa que, com

seus instrumentos formais de planejamento, traz um “engessamento” à gestão e, com efeito,

um aprisionamento de sonhos por novas formas de organizar o trabalho, de construir

caminhos de aproximação ao SUS sonhado e conquistado, em 1986.

Outro aspecto observado foi à necessidade de construção de um planejamento voltado

para as necessidades das pessoas e, nesse sentido, a limitação gerencial em identificar

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“necessidades em saúde”, em função da supremacia de demandas de saúde, torna-se um

desafio a ser enfrentado e tema para futuras pesquisas.

A educação permanente em saúde, outra estratégia de gestão, mostrou-se

potencializadora para a transformação das práticas em saúde, no sentido de “um novo modo

de” produção de saúde. Conclui-se que os gestores municipais são agentes importantes para

adotarem estratégias no sentido de qualificação da atenção; no entanto, precisam estar

dispostos e preparados para desenvolver estratégias conscientes e comprometidos na luta pela

efetivação do SUS.

Em terceiro lugar, ao reconhecer a complexidade do modelo de atenção preconizado

pelo SUS e as iniquidades postas pela realidade ao direito universal à saúde, cabe ressaltar

que o estudo apresentou algumas limitações, para citar três: a própria vida da pesquisadora

que, por fatores externos ao mundo da pesquisa, não conseguiu aprofundar a discussão do

tema abordado como gostaria; a impossibilidade em obter dados contextuais, de fontes

relacionadas à história viva do município estudado, em âmbito comunitário, social, cultural e

econômico; e a impossibilidade de aprofundar, na análise e interpretação dos dados, o valor

que os participantes dão à APS/AB na gestão dos serviços municipais.

Para concluir, compartilho um trecho citado por Paim e Teixeira (2007, grifo nosso),

no artigo intitulado Configuração institucional e gestão do Sistema Único de Saúde:

problemas e desafios:

É dever do SUS cuidar da vida e da saúde das pessoas que não podem ser

comprometidas pelos humores, crenças, ideologias e vaidades dos dirigentes

de plantão. Daí a necessidade de protegê-lo da descontinuidade

administrativa e de intercorrências desastrosas da gestão, posto que estão em

jogo a vida e a saúde das pessoas. Cabe destacar a pertinência de

investigar e debater novos formatos institucionais que possibilitem ao

SUS cumprir o seu dever e alcançar o devir concebido pela Reforma

Sanitária Brasileira.

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WIKIPÉDIA. Itajaí. (Topônimo). Disponível em:

<https://pt.wikipedia.org/wiki/Itaja%C3%AD>. Acesso em: 11 set. 2017.

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APÊNDICES

APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

CONSELHEIROS MUNICIPAIS DE SAÚDE (COMUSA)

ESTRATÉGIAS DE GESTÃO PARA A QUALIFICAÇÃO DA ATENÇÃO À SAÚDE

DO SUS: UM ESTUDO DE CASO

MESTRADO EM SAÚDE E GESTÃO DO TRABALHO

Rua Uruguai, 458 - Centro - Itajaí / SC - CEP 88302-202 - Bloco F6 - Sala 302

Fone/Fax: (47)3341-7932

Email: [email protected]

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

CONSELHEIROS MUNICIPAIS DE SAÚDE (COMUSA)

Prezados(as) senhores(as),

O(a) senhor(a) estão sendo convidado para participar, como voluntário, da pesquisa

Estratégias de Gestão para a Qualificação da Atenção à Saúde do SUS. Esta pesquisa está

sendo realizada no Programa de Mestrado em Saúde e Gestão do Trabalho da Universidade

do Vale do Itajaí, Itajaí, SC. O objetivo geral é analisar a dialética das estratégias de gestão da

atenção à saúde de um município do sul do Brasil, na triangulação entre o plano municipal de

saúde, a visão de um coletivo intrassetorial da secretaria municipal, e o controle social. Sua

participação consistirá em participar de um grupo focal, organizado por um guia de temas. O

grupo focal não vai registrar seu nome e os dados serão divulgados em forma conjunta,

guardando assim o mais absoluto sigilo sobre as informações fornecidas pelo senhor(a),

enquanto a pesquisa for desenvolvida. O(a) senhor(a) pode se recusar a responder qualquer

pergunta realizada no guia de temas. O(a) senhor(a) também podem desistir de participar da

pesquisa a qualquer momento. Para facilitar a coleta de dados, o grupo focal será gravado, se

os senhor(a) concordar. Após a conclusão do estudo, os resultados serão publicados, mas não

será possível identificar nenhum dos indivíduos que participaram da pesquisa. A sua

participação não lhe trará nenhum benefício individual. O senhor(a) não terá que pagar nada

para participar dessa pesquisa e nem poderá receber. No entanto, seria importante sua

participação, pois, as suas informações servirão para qualificar a atenção à saúde do SUS.

Caso concorde em participar, rubrique, por favor, esta folha e assine a folha seguinte.

Obrigada pela participação.

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CONSENTIMENTO:

Eu, _________________________________, declaro que fui devidamente informado e

esclarecido dos objetivos da pesquisa. Sei que posso não participar ou desistir a qualquer

momento. Sei que não gastarei nem receberei nada pela minha participação. Sei também que

meu nome não será mostrado em nenhum documento do estudo. Por isto concordo em

participar como voluntário.

__________________________________ de _________________ de ______.

____________________________________________________

Assinatura

Em caso de dúvidas:

Comitê de Ética em Pesquisa (UNIVALI):

Endereço: Rua Uruguai, 458. Caixa Postal 360

Bloco F6- Térreo Itajaí (SC) CEP: 88302-202 Fone: (47) 3341-7738

E-mail: [email protected]

Rita de Cássia Gabrielli Souza Lima. Orientadora.

E-mail: [email protected]

Fones: (47) 47)3341-7932 (48) 3238-8821.

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APÊNDICE B - ROTEIRO ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

CONSELHEIROS MUNICIPAIS DE SAÚDE

ROTEIRO ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

CONSELHEIROS MUNICIPAIS DE SAÚDE

1- Você participou da construção do Plano Municipal de Saúde 2014-2017, enquanto

conselheiro? Se ok, como se deu essa participação?

2- O secretário municipal de saúde iniciou suas atividades de gestão com um Plano

Municipal de Saúde em curso, ainda por um ano. Como você vê esta realidade, posta

pelo planejamento do SUS?

3- Em tempos de crise política e econômica, estados e municípios estão enfrentando

bastantes dificuldades para a garantia das ações e serviços de saúde. Diante, deste

cenário, como você vê a descentralização do SUS? Você a questiona, nesta conjuntura,

ou é otimista quanto ao nosso modelo de descentralização?

4- Vários países desenvolvidos inauguraram seus sistemas nacionais de saúde a partir da

atenção primária à saúde (APS). O Brasil, no entanto, conquistou o SUS primeiro,

para, depois, em sua década de operacionalização, criar o PACS e o PSF, políticas de

atenção primária. Enquanto conselheiro(a), você aposta na Atenção Básica/APS ou

acha que um sistema universal pode se garantir com uma cobertura razoável desta

atenção?

5- Para você, qual é o principal papel da secretaria municipal de saúde de um município

com o porte do nosso?

6- Na sua visão, que estratégias de gestão serão necessárias para garantir as ações e

serviços de saúde em nosso município?

7- Que instrumentos de gestão poderão garantir a materialidade de tais estratégias?

8- De que modo esses instrumentos poderão atuar na concretização dessas estratégias?

9- Sobre o controle social do SUS, de que modo ele poderá se fortalecer, considerando os

tempos difíceis que veem por aí, pós PEC?

10- Na sua visão, quais são as principais fronteiras do controle social?

11- E pra terminar, como está a luta do COMUSA?

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APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

GESTOR MUNICIPAL

ESTRATÉGIAS DE GESTÃO PARA A QUALIFICAÇÃO DA ATENÇÃO À SAÚDE

DO SUS: UM ESTUDO DE CASO

MESTRADO EM SAÚDE E GESTÃO DO TRABALHO

Rua Uruguai, 458 - Centro - Itajaí / SC - CEP 88302-202 - Bloco F6 - Sala 302

Fone/Fax: (47)3341-7932

Email: [email protected]

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

GESTOR MUNICIPAL

Prezado(a) senhor(a),

O(a) senhor(a) está sendo convidado para participar, como voluntário, da pesquisa

Estratégias de Gestão para a Qualificação da Atenção à Saúde do SUS. Esta pesquisa está

sendo realizada no Programa de Mestrado em Saúde e Gestão do Trabalho da Universidade

do Vale do Itajaí, Itajaí, SC. O objetivo geral é analisar a dialética das estratégias de gestão da

atenção à saúde de um município do sul do Brasil, na triangulação entre o plano municipal de

saúde, a visão de um coletivo intrassetorial da secretaria municipal, e o controle social. Sua

participação consistirá em responder a uma entrevista, organizada por um roteiro

semiestruturado. A entrevista não vai registrar seu nome e os dados serão divulgados em

forma conjunta, guardando assim o mais absoluto sigilo sobre as informações fornecidas pelo

senhor(a), enquanto a pesquisa for desenvolvida. O(a) senhor(a) pode se recusar a responder

qualquer pergunta da entrevista. O(a) senhor(a) também pode desistir de participar da

pesquisa a qualquer momento. Para facilitar a coleta de dados, a entrevista será gravada, se o

senhor concordar. Após a conclusão do estudo, os resultados serão publicados, mas não será

possível identificar nenhum dos indivíduos que participaram da pesquisa. A sua participação

não lhe trará nenhum benefício individual. O senhor(a) não terá que pagar nada para participar

dessa pesquisa e nem poderá receber. No entanto, seria importante sua participação, pois, as

suas informações servirão para qualificar a atenção à saúde do SUS. Caso concorde em

participar, rubrique, por favor, esta folha e assine a folha seguinte. Obrigada pela participação.

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CONSENTIMENTO:

Eu, _________________________________, declaro que fui devidamente informado e

esclarecido dos objetivos da pesquisa. Sei que posso não participar ou desistir a qualquer

momento. Sei que não gastarei nem receberei nada pela minha participação. Sei também que

meu nome não será mostrado em nenhum documento do estudo. Por isto concordo em

participar como voluntário.

__________________________________ de _________________ de ______.

____________________________________________________

Assinatura

Em caso de dúvidas:

Comitê de Ética em Pesquisa (UNIVALI):

Endereço: Rua Uruguai, 458. Caixa Postal 360

Bloco F6- Térreo Itajaí (SC) CEP: 88302-202 Fone: (47) 3341-7738

E-mail: [email protected]

Rita de Cássia Gabrielli Souza Lima. Orientadora.

E-mail: [email protected]

Fones: (47) 47)3341-7932 (48) 3238-8821.

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APÊNDICE D - ROTEIRO ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

GESTOR (A) MUNICIPAL

1- O senhor iniciou suas atividades de gestão com um Plano Municipal de Saúde em

curso, ainda por um ano. Como o senhor vê esta realidade, posta pelo

planejamento do SUS?

2- O senhor (a) poderia compartilhar comigo o seu conceito de saúde?

3- O senhor aposta todas as fichas na Atenção Básica (AB/Atenção Primária à Saúde

(APS)? Poderia discorrer um pouco sobre seu olhar de atenção básica/primária no

nosso município e no País (depois da resposta dele (a), dando corda, se houver

espaço: o senhor acredita em Sistema Universal de Saúde sem AB/APS?)

4- Em tempos de crise política e econômica, estados e municípios estão enfrentando

bastantes dificuldades para a garantia das ações e serviços de saúde. Diante, deste

cenário, como o senhor vê o modelo de descentralização do SUS?

5- Sobre a lei de responsabilidade fiscal, como superar a problemática desta

responsabilidade?

6- Para o senhor, qual é o principal papel da secretaria municipal de saúde de um

município com o porte do nosso?

7- Na sua visão, que estratégias de gestão serão necessárias para garantir as ações e

serviços de saúde em nosso município?

8- Que instrumentos de gestão poderão garantir a prática (materialidade) de tais

estratégias?

9- De que modo esses instrumentos poderão atuar na concretização dessas

estratégias?

10- Sobre o controle social do SUS, qual é o seu olhar?

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ANEXOS

ANEXO A – ESTRUTURA ADMINISTRATIVA DA SECRETARIA MUNICIPAL DE

SAÚDE DE ITAJAÍ

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ANEXO B - PRIMEIRA OFICINA 04/11/2014

Nome (iniciais):_______________________________________________Idade:__________

Formação/Profissão:___________________________________________________________

Função/Cargo:_______________________________________________________________

Forma de contratação:_________________________________________________________

Tempo de atuação na SMS/UBS:_________________________________________________

Exerce outa função/cargo concomitante? ( ) Não ( ) Sim Qual?________________________

Local (setor) que trabalha:______________________________________________________

O que você entende que seja o principal objetivo (a principal função) da Secretaria de Saúde

do Município?

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ANEXO C - SEGUNDA OFICINA 18/11/2018

O CASO DE ANA

Ana é uma mulher de 49 anos que certo dia acordou apresentando dor e secreção em

um mamilo. No autoexame percebeu um pequeno volume na mama. Sempre muito atenta com

sua saúde, Ana buscou o mais rápido possível entender o que ocasionava aquela situação e

resolver seu problema de saúde.

CENA 1: ANA TEM UM SINAL DE ALERTA

O bairro onde Ana reside conta com uma UBS. A unidade funciona das 07h às 19h, de

segunda a sexta, mas não funciona nos finais de semana. Ana faz parte de uma das famílias

acompanhadas pela ESF. A história de Ana começa num sábado.

Ana acorda com uma sensação de incômodo em uma das mamas e percebe uma

secreção no mamilo. No autoexame percebe que há um volume diferente e até então

inexistente em sua mama. Temerosa por já ter tido um caso de câncer de mama na família,

Ana logo procura atendimento médico e recorre a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), já

que a Unidade de Saúde da Família (USF) de seu bairro não abre nos finais de semana.

Na UPA espera por algumas horas e é atendida pelo plantonista que conclui não tratar

de uma emergência, receita um analgésico e orienta Ana a procurar o médico da sua unidade e

relatar o ocorrido. Ana sai desolada da UPA, não queria adiar uma solução para os eu caso. E

o desconforto na mama persistia. Restava-lhe tomar o analgésico.

Na manhã de segunda-feira, Ana procura a USF do seu bairro para tentar um

atendimento. Quando a unidade abre as 7h00m Ana é informada que as fichas para o médico

de sua área acabaram e ela deveria ir ao UPA. Ela tentou explicar que já havia ido ao UPA, no

entanto, a atendente disse: - sinto muito, não posso fazer nada pela senhora, se nçao melhorar,

retorne amanhã e tente vir mais cedo!

A enfermeira a vê saindo e percebe a situação, porém como está envolvida com outros

afazeres não consegue saber o que Ana precisa. Todos os profissionais da unidade estão

envolvidos com algum atendimento. Ana sai da unidade nervosa, restava-lhe tomar

novamente os analgésicos e retornar na USF na manhã seguinte.

Na manhã de terça-feira Ana vai novamente à USF, encontra uma pequena fila na

porta da unidade e pensa que logo vai ser atendida por um médico. Consegue ficha assim que

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a unidade abre e após aguardar por três horas é atendida pelo médico de família e lhe explica

o ocorrido. O médico de família a encaminha para a ginecologista.

CENA 2: Ana é mais uma brasileira com câncer de mama

Ana sai da unidade sem discutir suas dúvidas e chega em casa no final da manhã na

terça-feira e se dá conta de que havia esquecido os afazeres domésticos: o almoço dos filhos, a

hora do colégio e etc. Esquece por algum tempo de sua situação e realiza as tarefas.

Assim que seus filhos saem, Ana resolve procurar uma vizinha, amiga de infância. Ela

precisava contar para alguém o que se passava e precisava também se informar onde haveria

médicos ginecologistas no município. A amiga de Ana trabalha na prefeitura e informa que,

no Hospital Municipal, além do pronto-socorro há também alguns ambulatórios com

especialidades, dente eles, a ginecologia. Ana se despede de sua amiga e vai imediatamente

para o Hospital Municipal.

Eram 15 horas quando Ana chega ao hospital. Na recepção ela busca informações

sobre a marcação de consultas:

- Boa tarde. Preciso de uma informação. Estou com a solicitação do meu médico para um

atendimento com o ginecologista. Onde posso agendar consulta? – pergunta Ana.

- O horário para agendamento de consultas é até as 14 horas, mas já te adianto que há uma fila

de espera de mais de dois meses para a ginecologista.

Ana insiste:

- Mas estou com muita dor e preciso fazer essa consulta com urgência.

A atendente não se sensibiliza:

- Todas dizem a mesma coisa. Se for de fato uma urgência vá ao pronto-socorro. Agora, se

quiser marcar uma consulta, volte amanhã até às 14h – a atendente encerra a conversa. Ana

não entende por que tanta má vontade.

Na saída encontra um amigo da família que trabalha na Secretaria Municipal de Saúde

(SMS) que diz pra Ana procurar no dia seguinte a SMS e falar com a Sra. M.D.R. para

conseguir uma vaga a qual ele já deixaria avisada. Assim Ana consegue agendar o

ginecologista para a próxima semana.

Uma semana depois, Ana finalmente consegue a consulta com o ginecologista que

imediatamente solicita uma mamografia e encaminha para um mastologista.

Com a solicitação da mamografia e o encaminhamento para o mastologista, Ana

procura novamente a UBS onde é recebida por uma atendente que não lê a solicitação do

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exame e informa que não é mais liberado mamografia para pacientes com menos de 50 anos e

ainda se quiser conseguir agendamento rápido para o mastologista que procure a SMS.

Sabendo que a consulta com o mastologista iria demorar, procurou novamente o

médico de família que a questionou quanto à mamografia e ao tratamento iniciado pelo

ginecologista. Ao saber que nenhum tratamento foi iniciado ele examinou as mamas da

paciente e preocupou-se com o que constatou. Imediatamente ele conversa com a enfermeira

da equipe para verificar a possibilidade de agilizar o exame e a consulta. Cinco meses depois

com a mamografia em mãos, Ana chega ao Mastologista e é mais uma brasileira com câncer

de mama que precisaria ter paciência para aguardar um procedimento cirúrgico.

Ana já não é mais a mesma. Não sente mais as dores físicas da doença, mas é uma

mulher marcada por um grande sofrimento, se sente insegura e deprimida com sua condição

de saúde, o que repercute na sua via conjugal e familiar. Todo seu percurso pelo sistema de

saúde do município havia deixado nela uma marca de tristeza; ela presenciou problemas mais

graves que o seu, e se sentiu insegura em muitos momentos. Sua cirurgia havia sido um

sucesso, diziam os médicos, mas ela se questionava: - que sucesso é esse que retirou a mama?

Se eu tivesse conseguido fazer logo os exames teria sido esse o meu destino? Ana pensava em

suas opções. Conhecia pessoas que haviam cansado do sistema público e que compravam

planos de saúde particulares, mas Ana não achava isso justo, conhecia seus direitos e sabia

que os planos não davam conta dos problemas mais complexos. O que Ana queria mesmo era

que o sistema público de saúde funcionasse, mas nesse momento, depois de toda a experiência

vivida, só lhe restava rezar.

FONTE: O caso de Ana: readaptado de BAPTISTA; MACHADO; LIMA, 2009.