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Escola: ColØgio Estadual do ParanÆ NRE: Curitiba Nome do Professor: Denilson Roberto Schena e-mail: [email protected] Nvel de Ensino: Ensino MØdio Ttulo: A PrÆtica Social do Aluno do Ensino MØdio e a Aprendizagem Histrica Disciplina: Histria Disciplina da relaªo interdisciplinar 2: Sociologia Disciplina da relaªo interdisciplinar 1: Filosofia Conteœdo Estruturante: Relaıes de poder Conteœdo BÆsico: Movimentos sociais, polticos e culturais e as guerras e revoluıes Conteœdo Especfico: Movimento estudantil ! VocŒ jÆ ouviu falar sobre a existŒncia de algum movimento estudantil em Curitiba? ! VocŒ jÆ participou de alguma atividade ligada ao movimento estudantil na sua escola? ! Atualmente os jovens estudantes sªo engajados politicamente? Na dØcada de 60 do sØculo XX, as preocupaıes polticas faziam parte do dia-a-dia dos jovens estudantes. A mœsica Pra nªo dizer que nªo falei das flores, de Geraldo VandrØ, era considerada o hino daquela geraªo, trilha sonora da juventude em sua efetiva participaªo poltica. As questıes de ordem poltica estavam presentes na vida da juventude, em todos os atos, conversas e debates, a poltica e a cultura eram os temas que empolgavam os jovens daquela Øpoca. Nªo s no Brasil, mas em outros pases como a Frana e Estados Unidos a juventude destacou-se no cenÆrio poltico e cultural atravØs dos movimentos estudantis. A atividade poltica dos jovens comeava cedo, ainda na escola, com a organizaªo dos jornaizinhos. Os alunos tambØm criavam jornais murais onde podiam expressar suas idØias. Alunos que gostavam de escrever tinham oportunidade de elaborar pequenas matØrias, muitas delas com conteœdo polŒmico, que tratavam de assuntos ligados comunidade escolar. AlØm do conteœdo poltico esses jornais destinavam espaos para as atividades esportivas e tambØm para as fofocas a respeito dos alunos da escola. Segundo Cristina Costa muitos escritores e cartunistas descobriram nesses jornais sua vocaªo e deram os primeiros passos em suas carreiras de jornalistas e ilustradores. (COSTA, 1995, p; 94)

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Page 1: Escola: ColØgio Estadual do ParanÆ NRE: Curitiba Nome do ... · Disciplina da relaçªo interdisciplinar 1: ... em parte acreditava ter solucionado para sempre os problemas da sociedade

Escola: Colégio Estadual do Paraná NRE: Curitiba Nome do Professor: Denilson Roberto Schena

e-mail: [email protected]

Nível de Ensino: Ensino Médio Título: A Prática Social do Aluno do Ensino Médio e a Aprendizagem Histórica Disciplina: História Disciplina da relação interdisciplinar 2: Sociologia

Disciplina da relação interdisciplinar 1: Filosofia

Conteúdo Estruturante: Relações de poder Conteúdo Básico: Movimentos sociais, políticos e culturais e as guerras e revoluções Conteúdo Específico: Movimento estudantil ! Você já ouviu falar sobre a existência de algum movimento estudantil em

Curitiba?

! Você já participou de alguma atividade ligada ao movimento estudantil na sua

escola?

! Atualmente os jovens estudantes são engajados politicamente?

Na década de 60 do século XX, as preocupações políticas faziam parte do

dia-a-dia dos jovens estudantes. A música �Pra não dizer que não falei das flores�,

de Geraldo Vandré, era considerada o hino daquela geração, trilha sonora da

juventude em sua efetiva participação política. As questões de ordem política

estavam presentes na vida da juventude, em todos os atos, conversas e debates, a

política e a cultura eram os temas que empolgavam os jovens daquela época. Não

só no Brasil, mas em outros países como a França e Estados Unidos a juventude

destacou-se no cenário político e cultural através dos movimentos estudantis.

A atividade política dos jovens começava cedo, ainda na escola, com a

organização dos jornaizinhos. Os alunos também criavam jornais murais onde

podiam expressar suas idéias. Alunos que gostavam de escrever tinham

oportunidade de elaborar pequenas matérias, muitas delas com conteúdo polêmico,

que tratavam de assuntos ligados à comunidade escolar. Além do conteúdo político

esses jornais destinavam espaços para as atividades esportivas e também para as

fofocas a respeito dos alunos da escola. Segundo Cristina Costa �muitos escritores e

cartunistas descobriram nesses jornais sua vocação e deram os primeiros passos

em suas carreiras de jornalistas e ilustradores�. (COSTA, 1995, p; 94)

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ATIVIDADE

! Compare os dias atuais com a década de 1960 quanto ao interesse pelas

questões de ordem política e cultural por parte da juventude dessas duas

gerações diferentes.

! Em sua escola os alunos editam algum jornal? Elabore um artigo tratando de

alguma notícia interessante sobre a sua escola.

Em 1966 já havia um clima de crescente opressão e descontentamento que

dominava o país, os estudantes saíam às ruas por não suportarem mais o rigor

imposto pelo regime militar. Contudo, a reação do governo foi ainda mais violenta, o

que gerou mais protestos e mobilizações. Em março de 1966 foi realizada uma

passeata na cidade de Belo Horizonte onde a polícia chegou inclusive a invadir uma

igreja para prender estudantes que li haviam se refugiado. Em resposta a violência

imposta pelo regime, novas ondas de passeatas de solidariedade aos estudantes

tiveram início. No Rio de Janeiro oito mil estudantes saíram às ruas durante o mês

de março. O mesmo aconteceu em São Paulo, Curitiba e Vitória. A população, do

alto dos edifícios, reagia com simpatia e aplaudia os estudantes, que com coragem

enfrentavam a polícia e gritavam palavras de ordem como: �Abaixo a ditadura�, �Viva

a soberania nacional�, �O voto é do povo�.

PESQUISA

! Consultando jornais e revistas da década de 60 pesquise sobre os

movimentos sociais que existiram em Curitiba.

! Pesquise em jornais e na internet sobre movimentos estudantis em Curitiba

nos dias atuais. O que os estudantes reivindicavam? Quais eram suas

palavras de ordem?

! Pesquise sobre a participação dos alunos de sua escola em movimentos

estudantis.

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Na noite do dia 13 de dezembro de 1968, Gama e Silva, ministro da Justiça

no governo militar de Costa e Silva, anunciou em cadeia de rádio e TV, o Ato

Institucional nº 5 (AI-5). A partir desse ato, o governo militar passaria a assumir

diretamente o controle da sociedade brasileira.

O AI-5, segundo o historiador Boris Fausto, foi possivelmente o instrumento

mais cruel e violento do regime militar. Ele durou de 1968 até 1979. Com o AI-5 o

presidente da República voltaria a ter poderes para fechar provisoriamente o

Congresso Nacional. Podia ainda intervir nos Estados da federação e municípios,

através da nomeação de interventores. Além disso, o presidente poderia cassar

mandatos de deputados e suspender direitos políticos, demitir ou aposentar

funcionários públicos. Com o AI-5 foi suspensa a garantia de habeas corpus aos

acusados de crimes e das infrações contra a ordem estabelecida pelo regime.

O núcleo militar do poder passou a concentra-se em comunidades de

informações, ou seja, nas figuras que estavam no comando dos órgãos de vigilância

e repressão. A partir daí ocorreram novas cassações de mandatos, suspensão de

direitos políticos e expurgos no funcionalismo público, incluindo centenas de

professores universitários. Além disso, foi estabelecida a prática da censura aos

meios de comunicação; a tortura passou a ser mais um dos métodos utilizados pelo

governo militar.

O AI-5 teve como reação por parte da oposição ao regime militar a tese da

necessidade da luta armada. A partir de 1969 as ações armadas se multiplicaram

pelas principais cidades do país. A luta armada assumiu a partir daí a forma de

guerra de guerrilhas inspirando-se na revolução cubana liderada por Fidel Castro e

Ernesto Che Guevara e também na Guerra do Vietnã.

PESQUISA

! Elabore uma pesquisa sobre os grupos guerrilheiros no Brasil na década de

60?

! Explique as principais propostas desses grupos guerrilheiros, suas formas de

ação e resultados obtidos em suas lutas.

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�Caminhando e cantando / e seguindo a canção / Somos todos iguais, / Braços dados ou não / Nas escolas, nas ruas / Campos, construções / Caminhando e cantando / E seguindo a canção / Vem, vamos embora / Que esperar não é saber / Quem sabe faz a hora / Não espera acontecer / Pelos campos há fome / Em grandes plantações / Pelas ruas marchando / Indecisos cordões / Ainda fazem da flor / Seu mais forte refrão / E acreditam nas flores / Vencendo o canhão / Vem, vamos embora... / Há soldados armados / Amados ou não / Quase todos perdidos / De armas na mão / Nos quartéis lhes ensinam / Uma antiga lição / De morrer pela pátria / E viver sem razão / Vem, vamos embora... / Nas escolas, nas ruas / Campos, construções / Somos todos soldados, / Armados ou não / Caminhando e cantando / E seguindo a canção / Somos todos iguais, / Braços dados ou não / Os amores na mente, / As flores no chão, / A certeza na frente, / A História na mão / Caminhando e cantando / E seguindo a canção, / Aprendendo e ensinando / Uma nova lição / Vem, vamos embora...�

(Geraldo Vandré, RGE, 1994)

ATIVIDADE

! A letra da música �Pra não dizer que não falei das flores� apresenta um

panorama do contexto social e político do Brasil. Que contexto social e político

é descrito na música de Geraldo Vandré?

PESQUISA

! Elabore um questionário com auxílio de seu/sua professor/a e entreviste

pessoas que viveram na década de 1960 para saber como era ser jovem

naquele período.

Segundo o historiador Marcos Napolitano os militares passaram a exercer o

controle do movimento estudantil, este composto em sua maioria por membros

oriundos da classe média. Pela Lei Suplicy, de novembro de 1964, todas as

entidades estudantis ficavam submetidas ao controle do Estado, assim como todas

as entidades estudantis. No âmbito do movimento secundarista, os Grêmios foram

substituídos pelos Centros Cívicos, sob o controle e a intervenção da direção dos

colégios.

Com o objetivo de mudar o sistema universitário brasileiro e ampliar o

número de vagas, que era uma antiga reivindicação do movimento estudantil, o

governo militar apresentou, em 1965, uma reforma universitária, resultado do

acordo com uma agência norte-americana, a United States Agency for Internacional

Developemente (USAID). O Acordo MEC-USAID determinava uma visão de

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educação e universidade fundamentada na tecnicização do ensino e da

aprendizagem, fragmentada, destinada às necessidades de mão-de-obra do

mercado, deixando pouco espaço para formulações intelectuais mais críticas e

progressistas. E ainda, o estímulo à privatização do ensino superior incentivou o

aumento de faculdades pelo país. NAPOLITANO chama aquele processo de

�modernização conservadora� do ensino e segundo ele isso provocou a reação do

movimento estudantil organizado, que até 1968 conseguiu articular grandes

manifestações públicas pelo país. A partir de 1966 os estudantes se tornaram o

principal foco da oposição da sociedade civil ao regime militar. (NAPOLITANO,

1998, p. 19)

O historiador Boris Fausto afirma que em 1968 as mobilizações pelo país

ganharam força. 1968, segundo ele, não foi um ano qualquer. Em vários países, os

jovens se rebelaram, embalados pelo sonho de um mundo novo.

Nas grandes manifestações buscava-se revolucionar tudo o que fosse

possível, as áreas do comportamento, os padrões sociais. Lutava-se pela liberação

sexual e pela afirmação da mulher na sociedade. As formas políticas tradicionais

eram vistas com ultrapassadas e esperava-se colocar �a imaginação no poder�,

como se falava na época. Esse clima revolucionário teve no Brasil conseqüências

evidentes no âmbito da cultura em geral e da arte, principalmente da música

popular, deu muito impulso à mobilização da sociedade.

1968, o ano em que mundo mudou

�Certas datas irradiam uma aura de revolução. É o caso de 1968, ano demobilizações e confrontos políticos e também de transformações no campo das artes, docomportamento e especialmente da sexualidade. Pois afinal, é proibido proibir � a palavra de ordem dos estudantes franceses em maio.

Até certo ponto, essa diluição das fronteiras entre o prazer e outras esferas da atividade se incorporou ao cotidiano dos jovens da sociedade ocidental. Mesmo dos que se consideram alheios à política. Mesmo daqueles que estão prontos a vaiar todas as vanguardas artísticas, como fizeram os jovens brasileiros com É Proibido Proibir, deCaetano Veloso, no IV Festival da Record, em nome da preferência por músicas deprotesto que embalassem suas passeatas contra a ditadura.

Se é verdade que as revoluções envelhecem, essa dimensão de prazerpermanece viva e alimenta a aura revolucionária de 1968, símbolo e síntese dastransformações dos anos 60�. (BRAICK, Patrícia Ramos. Aula para Veja na Sala de Aulacom base no texto �1968�, da revista VEJA, edição 1545. São Paulo, 6 de maio de 1998.)

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PESQUISA

! Pesquise alguns acontecimentos do ano de 1968 nos seguintes países: Vietnã,

Estados Unidos, Tchecoslováquia e França.

ATIVIDADE

! Na visão do historiador inglês Eric Hobsbawm, como foi o movimento estudantil

nos países desenvolvidos?

ATIVIDADE ! A partir da leitura do texto, qual era principal causa defendida pela cultura

juvenil?

�Uma vez que era diretamente relevante para o modo como a economiafuncionava, a mudança no estado de espírito dos trabalhadores teve muito mais pesoque a grande explosão de agitação estudantil em 1968 e por volta dessa data, embora o estudantes oferecessem material mais sensacional para os meios de comunicação emuito mais alimento para os comentaristas. A rebelião estudantil foi um fenômeno forada economia e da política. Mobilizou um setor minoritário da população, ainda mal reconhecido como um grupo definido na vida pública, e � como a maioria de seus membros ainda estava sendo educada � em grande parte fora da economia, a não ser como compradores de discos de rock: a juventude (classe média). Seu significado foi muito maior que o político, que foi passageiro � ao contrário de tais movimentos em países de Terceiro Mundo e ditatoriais. Contudo, serviu como aviso, uma espécie dememento mori a uma geração que em parte acreditava ter solucionado para sempre os problemas da sociedade ocidental. (HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 280)

A antinomia essencial da nova cultura jovem surgiu mais claramente nos momentos emque encontrou expressão intelectual, como nos instantaneamente famosos cartazes dosdias de maio de 1968 em Paris: �É proibido proibir�, e na máxima radical pop americanoJerry Rubin, de que não se deve confiar em ninguém que não tenha dado um tempo (nacadeia) (Wiener, 1984, p. 204). Ao contrário das primeiras aparências, estas não eramdeclarações políticas de princípios no sentido tradicional � mesmo no sentido estreito devisar à abolição de leis repressivas. Não era esse o seu objetivo. Eram anúnciospúblicos de sentimentos e desejos privados. Como dizia um slogan de maio de 1968:�Tomo meus desejos por realidade, pois acredito na realidade de meus desejos�(Katsiaficas, 1987, p. 101). Mesmo quando tais desejos eram acompanhados demanifestações, grupos e movimentos públicos; mesmo no que parecia, e às vezes tinha,o efeito de rebelião de massa, a essência era de subjetivismo. (HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 326)

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ATIVIDADE

! A partir da visão de Eric Hobsbwam, caracterize as revoltas estudantis.

Nos florescentes países do capitalismo industrial, ninguém mais levava a sério a clássica perspectiva de revolução social por insurreição e ação de massa. E,no entanto, no auge mesmo da prosperidade ocidental, no núcleo mesmo dasociedade capitalista, os governos de repente, inesperadamente e, à primeira vista, inexplicavelmente se viram diante de uma coisa que não apenas parecia a velharevolução, mas também revelava a fraqueza de regimes aparentemente firmes. Em1968-9, uma onda varreu os três mundos, ou grande parte deles, levada essencialmente pela nova força social dos estudantes, cujos números se contavam agora às centenas de milhares mesmo em países ocidentais de tamanho médio, elogo se contariam aos milhões. Além disso, seus números eram reforçados por trêscaracterísticas políticas que multiplicavam sua eficácia política. Eram facilmentemobilizados nas enormes usinas de conhecimento que os continham, deixando-os ao mesmo tempo mais livres que os operários em fábricas gigantescas. Eramencontrados em geral nas capitais, sob os olhos dos políticos e das câmeras dos meios de comunicação. E, sendo membros das classes educadas, muitas vezes filhosda classe média estabelecida, e � quase em toda parte, mas sobretudo no TerceiroMundo � base de recrutamento para a elite dominante de suas sociedades, não eram tão fáceis de metralhar quanto as classes mais baixas. Na Europa Oriental e Ocidentalnão houve baixas sérias, nem mesmo nos imensos motins e combates de rua emParis, em maio de 1968. (...)

As rebeliões de estudantes eram assim desproporcionalmente eficazes, sobretudo onde, como na França em 1968 e no �outono quente� da Itália em 1969,eles provocaram imensas ondas de greves operárias que paralisaramtemporariamente a economia de países inteiros. E, no entanto, claro, não foram verdadeiras revoluções, nem era provável que se transformassem em tais. Para osoperários, nos lugares onde elas participaram, foram apenas a oportunidade dedescobrir o poder de barganha industrial que haviam, sem notar, acumulado nosúltimos vintes anos. Não eram revolucionários. Os estudantes do Primeiro Mundoraramente se interessavam por questões banais como derrubar governos e tomar opoder, embora na verdade os franceses chegassem bastante perto de derrubar ogeneral De Gaulle em maio de 1968, e certamente encurtassem seu reinado, e o protesto estudantil americano contra a guerra tirasse o presidente L. B. Johnson nomesmo ano). (...) A rebelião dos estudantes ocidentais foi mais uma revoluçãocultural, uma rejeição de tudo o que, na sociedade, representasse os valores paternos de �classe média�, (...)

Apesar disso, essa rebelião ajudou a politizar um número substancial dageração estudantil rebelde, que naturalmente se voltou para os inspiradores aceitos darevolução radical e total transformação social � Marx, os ícones não stalinistas da Revolução de Outubro e Mao. Pela primeira vez desde a era antifascista, o marxismo,não mais restrito à ortodoxia de Moscou, atraía grande número de intelectuaisocidentais.

(...) A revolta estudantil de fins da década de 1960 foi a última arremetida da

velha revolução mundial. Foi revolucionária tanto no antigo sentido utópico de buscaruma inversão permanente de valores, uma sociedade nova e perfeita, quanto nosentido operacional de procurar realiza-la pela ação nas ruas e barricadas, pela bomba e pela emboscada na montanha. (HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 431- 433)

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Na noite de 28 de março de 1968, estudantes cariocas marcaram uma

passeata que estava programada para sair de um restaurante denominado de

Calabouço. Esse restaurante fornecia alimentação mais barata aos estudantes, mas

para as autoridades ele era encarado como um �foco de agitação�.

Estudantes protestam pelo funcionamento do restaurante universitário Calabouço, em 1967.

Um pelotão de choque da Polícia Militar postou-se à frente do restaurante e

tentou assim impedir que a manifestação ocorresse. Essa atitude da parte da polícia

provocou vaias, pedradas e tiros. O resultado disso foi a morte do estudante Edson

Luís de Lima Souto. Naquele mesmo momento o corpo do estudante foi levado por

seus colegas para o prédio da Assembléia Legislativa, apesar da tentativa das

autoridades de retirarem o cadáver para impedir o velório público. Enquanto do lado

de fora a violência continuava. Estudantes faziam discursos inflamados, atirando

pedras de um lado e a polícia atirando bombas de gás lacrimogêneo de outro.

No dia seguinte mais de 50 mil pessoas se concentraram em frente do

prédio da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro para acompanhar o enterro do

estudante, custeado pelo governador Negrão de Lima, eleito pela oposição.

Mesmo nos dias seguintes, manifestações continuaram se sucedendo no

centro do Rio de Janeiro, com repressão crescente até culminar na missa da

Candelária, realizada no dia 2 de abril, em que soldados a cavalo avançaram sobre

estudantes, padres, imprensa e populares. Grandes passeatas ocorreram nas

principais cidades do país, resultando em prisioneiros e feridos. O governo federal

analisava a hipótese de decretar estado de sítio em algumas cidades. Políticos

foram ameaçados por terem demonstrado apoio e solidariedade aos estudantes.

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Estudantes e populares participam do enterro do estudante Edson Luís de Lima Souto morto pela polícia no Rio de Janeiro

Em 1968 o movimento estudantil era o único órgão representativo que ainda

continuava forte e organizado para mobilizar outros grupos sociais em defesa de

reivindicações democráticas. Os estudantes expuseram naquele ano suas

insatisfações diante do autoritarismo. No dia 26 de junho no Rio de Janeiro foi

realizada a grande passeata formada por mais de 100 mil pessoas, a maioria de

estudantes, intelectuais, artistas, padres e grande número de mães, lideradas por

Vladimir Palmeira e Luís Travassos, presidente da UNE. A passeata dos 100 mil,

como foi denominada mais tarde, sacramentou o descontentamento geral contra o

regime militar.

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Durante a realização do 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes

(UNE) onde mais de 100 mil jovens participavam do evento, 215 policiais e agentes

do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) chegaram ao Sítio Muduru, em

Ibiúna no Estado de São Paulo.

Sem resistir, a liderança do movimento estudantil se entregou: José Dirceu,

presidente da União Estadual dos Estudantes (UEE), Luís Travassos, presidente da

UNE, Vladimir Palmeira, presidente da União Metropolitana dos Estudantes (UME), e

Antônio Guilherme Ribeiro Ribas, presidente da União Paulista de Estudantes

Secundários. Todos eles foram levados para o DOPS enquanto os demais foram

para o Presídio Tiradentes.

O local do evento era sigiloso. Mesmo alguns dirigentes da UNE

desconheciam o local que seria realizado o 30º Congresso. Os estudantes se

perguntavam por que apesar das precauções, a polícia descobriu o local onde os

estudantes estavam reunidos. Na verdade, a população local de Ibiúna estava

intrigada com a circulação de centenas de jovens pela região. A denúncia foi feita

por um caboclo que fora impedido de entrar no Sítio Muduru.

O TROPICALISMO

Tropicalismo foi o nome empregado a um movimento que originalmente não

tinha um programa definido, por outro lado teve adeptos de peso: Caetano Veloso,

Gilberto Gil, Capinam, Torquato Neto, Tomzé, Gal Costa, os maestros e

arranjadores Júlio Medaglia, Rogério Duprat, Damiano Cozella e Sandino Hohagen e

os irmãos Augusto e Haroldo de Campos.

Um dos marcos iniciais do movimento tropicalista foi no Festival de Música

Popular da TV Record, em 1967, quando Gilberto Gil e Caetano Veloso começaram

a fazer uso de diferentes padrões musicais populares: samba, bolero, beguine,

baião, bossa nova, música clássica. No início de 1968 foi lançado o LP �Tropicália�,

de Caetano, onde a música-tema, apresentou grande sincretismo, reuniu a banda, a

roça, a mata, o luar do sertão aos aviões. Outra característica do tropicalismo foi a

preocupação com os jogos verbais nos arranjos. Eles assimilam elementos da

música erudita e da música popular internacional, como o iê-iê-iê, o rock e o jazz e

ainda havia lugar para qualquer instrumento musical.

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Foto da capa do LP Tropicália, disco-manifesto, com os representantes do movimento tropicalista

OS HIPPIES

As teorias de Marshall McLuhan e as idéias de Herbert Marcuse chegaram

ao Brasil nos anos 60. O movimento hippie, porém, mostrou-se inicialmente de

maneira discreta. Rapazes e moças os cabeludos eram muito malvistos, sofrendo

inclusive agressões físicas. Os líderes estudantis brasileiros foram influenciados pelo

movimento hippie, contudo se percebia semelhanças com os universitários norte-

americanos, que faziam uso de calças jeans rasgadas e desbotadas, pés enfiados

em sandálias rústicas, colares de índio e a marca registrada, os cabelos longos. Já

os hippies brasileiros eram mais comportados e o cabelo não excedia um certo

limite. Em termos artísticos tinham como seus ídolos Geraldo Vandré e Chico

Buarque que na época revolucionavam a música popular cujas propostas eram mais

próximas do movimento jovem internacional.

�Desconfiem de todas as pessoas de fora que tentam impor a vocês suas

estruturas. Façam o que tenham que fazer. Sejam o que vocês são. Se não sabem o

que são, descubram�. Era esse o credo dos jovens hippies, inspirados por Timothy

Leary, �papa� do movimento hippie.

PESQUISA

! Elabore uma pesquisa sobre as tendências culturais na área da música, do

teatro e do cinema no Brasil da década de 60.

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Filmes:

O QUE É ISSO, COMPANHEIRO? Bruno Barreto (dir.). Brasil: Colúmbia Tristar, 1997. 1 filme (105 min.), son. col. LAMARCA. Sergio Rezende (dir.). Brasil: Sagres, 1994. 1 filme (130 min.), son., col. BATISMO DE SANGUE. Helvécio Ratton (dir.). Brasil: Downtown Filmes, 2007. 1 filme (110 min.), son., col. HÉRCULES 56. Silvio Da-Rin (dir.). Brasil: Riofilme, 2007. 1 filme (94 min.), son., col. Músicas:

VANDRÉ, Geraldo. Pra não dizer que não falei das flores. RGE, 1994.

VELOSO, Caetano et alli. Tropicália ou panis et circensis. Philips, 1968.

VELOSO, Caetano. É Proibido Proibir. Philips. 1968.

VELOSO, Caetano. Soy loco por ti América. Philips. 1968.

Sites:

www.une.org.br

www.mme.org.br

Referências:

BRAICK, Patrícia Ramos. Aula para Veja na Sala de Aula com base no texto �1968�, da revista VEJA, edição 1545. São Paulo, 6 de maio de 1998.) 100 Anos de República: Um Retrato Ilustrado da História do Brasil. Vol. VIII. 1965-1973. São Paulo: Nova Cultural,1989. COSTA, Cristina. Caminhando contra o vento: uma adolescente dos anos 60. São Paulo: Moderna, 1995. (Qual é o grilo?) FAUSTO, Boris. História do Brasil. 12 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006. (Didática, 1) HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. NAPOLITANO, Marcos. O regime militar brasileiro: 1964-1985. São Paulo: Atual, 1998. (Discutindo a História do Brasil) ____. Cultura brasileira: utopia e massificação (1950-1980). São Paulo: Contexto, 2001. (Repensando a História)