entre parteiras, afetos e museus: uma narrativa …

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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X ENTRE PARTEIRAS, AFETOS E MUSEUS: UMA NARRATIVA ACERCA DA EXPERIÊNCIA COM O MUSEU DA PARTEIRA Elaine Müller 1 Júlia Morim 2 Resumo: Neste trabalho, relatamos nossa experiência com o processo de patrimonialização/musealização do ofício de parteira tradicional no Brasil. Desde 2008, estamos envolvidas em atividades de pesquisa e de promoção da salvaguarda dos saberes e práticas das parteiras tradicionais de Pernambuco, promovendo a aproximação entre parteiras e as políticas públicas culturais, a exemplo do uso do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) e o pedido de reconhecimento do ofício como Patrimônio Cultural do Brasil. Também estão em curso ações de documentação e valorização de suas histórias, como a produção da biografia de três parteiras mestras do Estado e de um curta documentário acerca da constante construção de saberes de D. Prazeres. Destacamos as dificuldades na percepção, pelo poder público, do lugar ocupado pelas parteiras tradicionais (entre saúde e cultura); o processo criativo sugerido pelas parteiras para valorização de seu ofício, como a realização de um Museu da Parteira; a recepção dessa proposta por agentes do campo museal e as desconstruções promovidas por este projeto (tanto com relação a gênero quanto em questões técnicas de expografia); os afetos envolvidos em todas as atividades, que necessitam de uma adequada abordagem teórica. A experiência com a exposição “Museu da Parteira: acolhimento, resistência, visibilidade”, cujo conceito contempla várias destas questões, será acionada neste trabalho como o fio condutor de uma narrativa intimista de uma experiência coletiva. Palavras-chave: Parteiras Tradicionais. Museu da Parteira. Musealização e Patrimonialização. Gênero. Afetos. Introdução Na montagem da exposição Museu da Parteira: acolhimento, resistência, visibilidade, Zefinha, parteira de Caruaru (PE), escolhe e enlaça as fitas que seguram a cortina rendada. No vídeo-convite para a abertura da exposição, ela revela animada: “Nós, parteiras, não temos medo de nada”. Ao encontrar a comadre Prazeres, parteira de Jaboatão dos Guararapes (PE), elas se abraçam alegres e contam como se conheceram: nos encontros de parteiras tradicionais de Pernambuco, nos anos 1990. As duas percorrem a exposição, sugerindo mudanças ou incorporação de objetos: 1 Doutora em Antropologia. Professora Adjunta do Departamento de Antropologia e Museologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Líder do Grupo de Pesquisa Narrativas do Nascer (DAM/UFPE). Integra a equipe que vem desenvolvendo o projeto Museu da Parteira. Recife, Pernambuco, Brasil. 2 Mestre em Antropologia pela UFPE. Colaboradora do Instituto Nômades. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Narrativas do Nascer (DAM/UFPE). Integra a equipe que vem desenvolvendo o projeto Museu da Parteira.Recife, Pernambuco, Brasil.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

ENTRE PARTEIRAS, AFETOS E MUSEUS: UMA NARRATIVA ACERCA

DA EXPERIÊNCIA COM O MUSEU DA PARTEIRA

Elaine Müller1

Júlia Morim2

Resumo: Neste trabalho, relatamos nossa experiência com o processo de

patrimonialização/musealização do ofício de parteira tradicional no Brasil. Desde 2008, estamos

envolvidas em atividades de pesquisa e de promoção da salvaguarda dos saberes e práticas das

parteiras tradicionais de Pernambuco, promovendo a aproximação entre parteiras e as políticas

públicas culturais, a exemplo do uso do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) e o

pedido de reconhecimento do ofício como Patrimônio Cultural do Brasil. Também estão em curso

ações de documentação e valorização de suas histórias, como a produção da biografia de três

parteiras mestras do Estado e de um curta documentário acerca da constante construção de saberes

de D. Prazeres. Destacamos as dificuldades na percepção, pelo poder público, do lugar ocupado

pelas parteiras tradicionais (entre saúde e cultura); o processo criativo sugerido pelas parteiras para

valorização de seu ofício, como a realização de um Museu da Parteira; a recepção dessa proposta

por agentes do campo museal e as desconstruções promovidas por este projeto (tanto com relação a

gênero quanto em questões técnicas de expografia); os afetos envolvidos em todas as atividades,

que necessitam de uma adequada abordagem teórica. A experiência com a exposição “Museu da

Parteira: acolhimento, resistência, visibilidade”, cujo conceito contempla várias destas questões,

será acionada neste trabalho como o fio condutor de uma narrativa intimista de uma experiência

coletiva.

Palavras-chave: Parteiras Tradicionais. Museu da Parteira. Musealização e Patrimonialização.

Gênero. Afetos.

Introdução

Na montagem da exposição Museu da Parteira: acolhimento, resistência, visibilidade,

Zefinha, parteira de Caruaru (PE), escolhe e enlaça as fitas que seguram a cortina rendada. No

vídeo-convite para a abertura da exposição, ela revela animada: “Nós, parteiras, não temos medo de

nada”. Ao encontrar a comadre Prazeres, parteira de Jaboatão dos Guararapes (PE), elas se abraçam

alegres e contam como se conheceram: nos encontros de parteiras tradicionais de Pernambuco, nos

anos 1990. As duas percorrem a exposição, sugerindo mudanças ou incorporação de objetos:

1 Doutora em Antropologia. Professora Adjunta do Departamento de Antropologia e Museologia da Universidade

Federal de Pernambuco (UFPE). Líder do Grupo de Pesquisa Narrativas do Nascer (DAM/UFPE). Integra a equipe que

vem desenvolvendo o projeto Museu da Parteira. Recife, Pernambuco, Brasil. 2 Mestre em Antropologia pela UFPE. Colaboradora do Instituto Nômades. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa

Narrativas do Nascer (DAM/UFPE). Integra a equipe que vem desenvolvendo o projeto Museu da Parteira.Recife,

Pernambuco, Brasil.

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Prazeres diz que falta a colônia e outras ervas, as quais ela trará no dia da abertura; Zefinha

recomenda a marca de manteiga que deveríamos comprar para deixar perto do café e nos explica

como usa cada objeto, em meio a histórias de seus atendimentos, se mostrando uma excelente

mediadora de um espaço museal.

A dupla nos conta como surgiu a ideia do Museu da Parteira: “Ô Prazeres, Luiz Gonzaga é

mais novo que as parteiras e tem um museu. Por que as parteiras não têm um museu?”. “As

parteiras precisam de um museu” foi a ideia que tiveram após uma conversa no final de 2011 ou

início de 2012. A exposição nos era muito estimada por nos rememorar vários momentos

vivenciados pela equipe curatorial com as parteiras. Havia muito de cada um de nós ou de nossa

relação com as parteiras, seja em nossos acervos, seja em nossas memórias. Estávamos, e estamos,

vivenciando um processo participativo de valorização cultural a partir do ideário de políticas

públicas patrimoniais, um processo de patrimonialização e musealização, mas, também, ou

primeiramente, vivenciando processos afetivos importantes em nossas trajetórias que foram

valorizados na exposição.

Neste trabalho, iremos contar um pouco deste processo e da forma como o temos

vivenciado, enquanto antropólogas, mulheres, mães que pariram seus filhos com parteiras e

profissionais que redimensionaram seus interesses de trabalho após este contato com o universo da

parturição. Acreditamos que o projeto ao qual estamos vinculadas, o Museu da Parteira, promove

importantes desconstruções para os campos da Antropologia e da Museologia, entre ativismo e

pesquisa, (re)construindo novas narrativas etnográficas, expográficas e imagéticas. Nosso convite é

o mesmo de Zefinha, no vídeo lançado antes da abertura da exposição: “Venha conhecer o Museu

da Parteira”, pois se as parteiras precisam de um museu, acreditamos que os museus também

precisam do que temos aprendido com elas.

Acolhimento, resistência, visibilidade: nós e as parteiras

Um trabalho amplo de documentação, valorização e salvaguarda do ofício da Parteira

Tradicional teve início com a realização de dois Inventarios Nacionais de Referencias Culturais

(INRC) - metodologia de pesquisa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)

para produção de conhecimento sobre o patrimônio imaterial - sobre saberes e praticas das parteiras

tradicionais e das parteiras indigenas de Pernambuco. Os inventários foram realizados em 6 (seis)

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municípios e 3 (três) etnias indígenas do estado de Pernambuco, durante os anos 2008 e 2010,

período que em foram localizadas e entrevistadas 225 (duzentas e vinte e cinco) parteiras

(INSTITUTO NÔMADES, 2010; INSTITUTO NÔMADES, 2011). O mote para o início de um

inventário sobre o ofício de parteira partiu de um pedido de Maria Prazeres de Souza, uma “mestra”

reconhecida e renomada em seu meio, ao Instituto Nômades para que escrevesse um livro sobre a

sua vida. A ideia foi amadurecida pela organização, que optou por tentar conhecer o universo das

parteiras tradicionais do estado, ou seja, identificar quem são, onde vivem e como realizam o seu

ofício.

Durante os INRCs, como apoio e complemento ao registro escrito e oral, foi realizado o

registro fotográfico do cotidiano das parteiras: sua casa, sua vizinhança, seus caminhos, seus

animais, sua religiosidade, suas práticas. Comum na realização deste tipo de pesquisa, o registro

fotográfico realizado nestes dois inventários se constituiu como um trabalho autoral e meticuloso,

no qual o fotógrafo Eduardo Queiroga não se limitou a registrar o que as pesquisadoras

consideravam importante ser documentado. Queiroga faz uma pesquisa fotográfica, que diz muito

sobre o universo das parteiras tradicionais.

Estes elementos - os dados coletados e produzidos durante os inventários, o trabalho

fotográfico e o processo criativo trazido pelas parteiras - foram fundamentais para o início de um

processo de patrimonialização e de musealização do ofício de parteira tradicional no Brasil.

Sabemos do impacto de instrumentos de politicas culturais como o INRC. Em comparacao com

metodologias historicamente utilizadas para a preservacao do patrimonio cultural de pedra e cal,

quando trabalhamos com o patrimonio imaterial buscamos o contato direto com os chamados

“detentores” destes “bens culturais”. Uma vez realizado um INRC, o contexto deste bem cultural

nao sera mais o mesmo. Neste caso, as parteiras foram identificadas, entrevistadas, fotografadas,

iniciando-se um processo de patrimonialização do ofício. Por um lado, o simples fato de conceder

uma entrevista a pesquisadoras que se interessam sobre seus saberes e suas praticas ja levanta uma

serie de expectativas de melhoria de suas condicoes de vida e de trabalho. Por outro, faz com que

elas percebam seu lugar e sua importancia para a sociedade, fomentando, além dos seus saberes e de

suas práticas, um processo criativo a eles relacionado.

Por se mostrar um bem cultural tão vivo e relacionado a tantas práticas que estão no nosso

cotidiano, e ao mesmo tempo por ser um saber em situação de fragilidade, dada a idade da maioria

das parteiras e a parca transmissão dos saberes para as novas gerações, foi encaminhado ao Iphan o

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pedido de Registro dos Saberes e Praticas das Parteiras Tradicionais do Brasil como Patrimonio

Cultural do Brasil - principal instrumento de reconhecimento do valor patrimonial dos bens

culturais de natureza imaterial. A solicitação foi assinada pelas Associação de Parteiras Tradicionais

de Caruaru, Associação de Parteiras Tradicionais e Hospitalares de Jaboatão dos Guararapes,

Instituto Nômades e Grupo Curumim. Apesar do vasto material levantado e apresentando pelo

Instituto Nômades e o atendimento aos critérios estabelecidos para o Registro, o pedido foi

indeferido em primeira instância, ou seja, a Câmara de Patrimônio Imaterial do Conselho de

Patrimônio considerou impertinente o reconhecimento deste bem por meio do Registro. A

deliberação foi a seguinte:

“Deliberação: Tendo em vista a grande interface com a área da saúde pública e as práticas

médicas, considerou-se que o Registro não é o instrumento mais adequado para

salvaguardar essa prática e esses saberes. Contudo, devido à importância desse saber, seu

enraizamento em diversas comunidades brasileiras e continuidade histórica, recomenda-se

que sejam realizados inventários em outras regiões do país para adensar as documentações

sobre esse conhecimento e se realize articulações institucionais como forma de valorizar

esse saber. Recomenda-se ainda que sejam realizados estudos juntamente com a área

médica sobre exercício profissional das parteiras e para levantamento de dados a fim de

subsidiar propostas de políticas públicas conjuntas.” ( IPHAN. Nota Técnica no 15/2016

COREG/CGIR/DPI).

Trazemos a resposta dada pelo Iphan pois ela nos fala muito sobre o lugar da parteria

tradicional nas políticas públicas brasileiras. Embora exista já há algumas décadas, no âmbito do

Ministério da Saúde, um programa voltado para atuação junto a parteiras tradicionais, hoje

denominado de Programa Trabalhando com Parteiras Tradicionais, não conseguimos identificar

ações de valorização de seus saberes em seus próprios termos. Existem trabalhos, muito sérios e

comprometidos, certamente, que levam conhecimentos da biomedicina para as parteiras

tradicionais, principalmente no que concerne a assepsia e a identificação de possíveis riscos inerente

ao parir e nascer, muitas vezes diferentes daqueles partilhados entre as parteiras. O modelo ainda

parte da perspectiva de que as parteiras são um “mal necessário”, o qual é necessário disciplinar,

observar e capacitar para a redução de danos. Não temos conhecimento de ações consolidadas que

façam o trajeto contrário, de levar os saberes das parteiras tradicionais para equipes de assistência

obstétrica - salvo casos de sensibilização desses profissionais e raros convites pontuais para

participação em capacitações de parteria urbana, ou seja, no âmbito de uma assistência dentro do

paradigma da humanização do parto -, como foco principal.

Em outra oportunidade (MORIM, MÜLLER e GAYOSO, 2013), identificamos aqui o

caráter de resistência do ofício de parteira tradicional no Brasil. Por um lado, são percebidas de

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maneira por demais folclorizada para que possam integrar o sistema de saúde. Por outro lado, por

possuírem “grande interface com a área da saúde pública e as práticas médicas”, não acessam

plenamente as políticas culturais.

Em abril de 2016 o pedido de Registro foi novamente analisado e reconhecido como

pertinente, dando início, assim, ao processo de instrução. A revisão do requerimento se deu por

meio de pressão política, notadamente por parte da Deputada Federal Janete Capiberibe que

encaminhou ao Ministério da Cultura a Indicacao nº 1.149/2015 sugerindo o reconhecimento desses

saberes. Em nova avaliação, a Coordenação de Registro, do Departamento do Patrimônio Imaterial

(DPI), responsável por este tipo de processo, emitiu novamente uma Nota Técnica favorável (Nota

Tecnica no 15/2016 COREG/CGIR/DPI) ao Registro, desta vez reforçando que

"cabe ao Iphan avaliar os saberes e praticas das parteiras tradicionais a partir de uma

perspectiva horizontal e se ater a suas caracteristicas culturais e de eficacia simbolica (para

usar outro conceito de Levi-Strauss), pois sao nestes aspectos que residem os valores

patrimoniais. Discordamos do posicionamento que a questao das parteiras e eminentemente

de saude publica, pois se trata tambem de sistema de valores, visao de mundo e praticas

culturais dessas comunidades brasileiras tao disseminadas por todo o territorio nacional.”

A relação entre os campos da biomedicina e da tradição, na assistência ao parto, continua

sendo fator importante e frequente nas atividades realizadas com as parteiras. É evidente como a

leitura mais comum que se faz sobre os eventos do parto e do nascimento é moldada pela

perspectiva biomédica (o parto torna-se, em nossa sociedade, um ato médico, e é importante refletir

sobre as possibilidades de diversidade relacionadas a estes eventos). Quando questionadas sobre

seus saberes e suas práticas, as parteiras relatam a assistência que prestam às mulheres, muitas

vezes sendo elas as cuidadoras principais das mulheres no pré e no pós parto, complementando ou

resolvendo demandas não atendidas pelo sistema oficial de saúde. As parteiras percebem-se como

tendo importância e acreditamos que este fortalecimento de sua auto-estima e que fez com que nos

procurassem, após a realização dos INRCs, para falar em um Museu da Parteira. Afinal, quem e

digno de estar num museu, se nao quem tem alguma importancia?

Isso foi o que nos impulsionou a apresentar, no ano de 2012, uma proposta de ação no edital

do Programa de Extensao Universitaria – Proext Mec/Sesu 2012/2013. O Programa de Extensão

Museu da Parteira3 foi aprovado, porém uma série de dificuldades de ordem burocrática para as

3 A equipe principal era múltipla compreendendo integrantes universidade (Elaine Müller), organizações não

governamentais (Daniella Gayoso, Júlia Morim e Paula Viana), associações de parteiras (Maria dos Prazeres de Souza

e Josefa Alves de Carvalho) e pesquisadores (Eduardo Queiroga).

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contratações, e, por fim, a morosidade na aprovação dos processos licitatórios pela Procuradoria

Federal da UFPE, não permitiu que fosse implementado como o planejado. O Museu da Parteira se

alinha às politicas publicas culturais para salvaguarda do patrimonio imaterial e propõe ser um

centro de referencia e de convergencia de inumeros projetos para salvaguardar este bem cultural,

concebidos a partir de ideias das parteiras e gerido por elas quando implementado4. A ideia era

também articular o dialogo entre saberes tradicionais e academicos, propondo uma dinamizacao do

ensino e da pesquisa na universidade, incorporando saberes tradicionais que são significativos para

muitos processos culturais. Ou seja, assumíamos que a maneira mais adequada de salvaguardar

estes saberes e praticas precisa ser encontrada nas falas e anseios das proprias parteiras. Quando

elas nos falam da criacao de um museu, estao nos apontando para um caminho possivel.

Embora não tenhamos realizado os seminários e vivências previstos no projeto inicial do

Programa de Extensão Museu da Parteira, foi na realização parcial de suas atividades que alguns

aspectos ficaram mais nítidos para a equipe: a busca de referenciais teóricos e metodológicos a

partir das discussões sobre museus comunitários; a importância de se valorizar as trajetórias de vida

de parteiras mestras, para que repassassem seu ofício para novas gerações; a necessidade de

comunicar sobre como trabalham as parteiras e como outros países tem valorizado o trabalho de

parteiras tradicionais são alguns exemplos. Iniciávamos, assim, um processo de musealização, que

ampliava a perspectiva colocada pela patrimonialização, uma vez que se tratam de processos de

difícil separação. A entrada de uma discussão sobre museu, no entanto, refletiria mais tarde em

importantes desconstruções e abertura para uma série de atividades comunicativas e educativas

possíveis de serem realizadas junto às parteiras.

Muitos desdobramentos destes INRCs ocorreram nestes processos de patrimonialização e

musealização, incluindo o interesse, por parteiras tradicionais de Pernambuco, pelo edital de

Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco, formalizando suas inscrições em pelo menos duas

ocasiões. O material e as informações provenientes da realização dos INRCs foram retornados às

4 A proposta do Programa de Extensão Museu da Parteira envolvia várias ações de fomento ao ofício, através do

fortalecimento das redes de parteiras, a difusão dos saberes com a realização de um vídeo documentário e atividades no

âmbito da academia. Quanto ao museu propriamente dito, a proposta era a construção de um projeto participativo, com

a realização de rodas de diálogos sobre temas como patrimônio imaterial, acervos, documentação, exposições, o que

permitiria a construção de um plano museológico a partir das proposições das parteiras. Ou seja, não havia a proposição

de uma tipologia específica de museu e sua implementação seria uma etapa seguinte.

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parteiras e parcialmente difundido para a sociedade por meio de um site5. Como uma ação de

valorização, bem como de devolução, uma exposição fotográfica itinerante intitulada Parteiras, um

mundo pelas mãos6, retornou aos locais onde a pesquisa foi feita, passando por sete localidades de

Pernambuco entre os anos de 2013 e 2016. Na exposição buscou-se a valorização de elementos da

estética própria das casas das parteiras. Todo o projeto fotográfico deixa bem evidente o uso de

“panos” tanto no ofício quanto nas casas das parteiras. Assim, foi montado um varal em praça

pública com grandes fotos impressas em tecido, que se destacaram nos locais públicos de exibição,

chamando a atenção dos transeuntes, que paravam e se envolviam de maneira inesperada com as

fotografias, superando as expectativas iniciais. A exposição alcançou desde estudantes do ensino

fundamental e do ensino médio até públicos mais especializados em encontros de fotografia e

conferências universitárias.

Outro desdobramento está sendo a escrita das biografias de três parteiras bastante

referenciadas por seus pares e com trajetórias bastante inspiradoras. O projeto Mães de Umbigo é

uma pesquisa biográfica com as parteiras Maria dos Prazeres de Souza (Prazeres), Josefa Alves de

Carvalho (Zefinha) e Maria das Dores da Silva (Dora), cujo resultado será publicado em livro. Mais

uma vez, foi dos anseios das próprias parteiras que se partiu para uma proposição de valorização de

seu ofício, pois o embrião do projeto vem do desejo das parteiras de ter suas histórias registradas.

Ainda em torno de biografias de "mestras" parteiras, foi lançado o curta documentário

Simbiose sobre a parteira Maria dos Prazeres de Souza, personagem que, como pode ser percebido,

tem sido a principal interlocutora e inspiradora das ações que constituem o Museu da Parteira.

Ao longo destas ações, percebemos que o Museu da Parteira já estava acontecendo. Não

como um projeto datado, com final previsto e produtos (o plano museológico e novos projetos) a

serem entregues junto com a formalização de relatórios técnicos, mas como uma relação

compartilhada com as parteiras, que as envolve nos processos de patrimonialização e musealização,

as informa sobre os sentidos e possibilidades das políticas públicas culturais e, com elas, prepara os

passos seguintes a serem dados.

Uma marca foi criada para o Museu da Parteira, formada com a imagem de duas mãos, algo

muito significativo para estes saberes femininos: parteiras tem “olhos” nas mãos, as utilizam para

5 Disponível em www.institutonomades.org.br/parteiras 6 Disponível em www.institutonomades.org.be/expo_parteiras

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conhecer e apoiar as mulheres em seus ciclos reprodutivos. Apontamos que as parteiras tradicionais

tem uma história de resistência, que podemos perceber também nas trajetórias particulares de

mulheres fortes que são referências em suas comunidades não apenas pelo ofício de partejar, mas,

para usar a expressão trazida por Prazeres, por uma simbiose entre diversos papéis (são mães,

agentes comunitárias/de saúde, rezadeiras, mediadoras de conflitos, cuidadoras…). A lógica que

embasa o ofício destas mulheres nos parece ser a do acolhimento e da dádiva. Parteiras “ajudam”

mulheres a terem seus filhos e o fazem por eleição divina através de um dom que trazem consigo,

não por uma relação monetária. Parteiras acolhem não apenas no momento de parto, mas sempre

que podem auxiliar quem procura por ajuda. Estes aspectos nortearam a curadoria de uma

exposição que comunica sobre o trabalho das parteiras e conta um pouco sobre os processos de

musealização e patrimonialização do ofício.

O Museu da Parteira no Museu do Homem do Nordeste: os museus precisam das parteiras!

Entre novembro de 2016 e abril de 2017, o Museu do Homem do Nordeste (MuHNE)

recebeu a exposição temporária “Museu da Parteira: acolhimento, resistência, visibilidade”. Esta foi

uma oportunidade muito especial para a equipe de curadoria7 apresentar e discutir os inventários, as

exposições, o processo de Registro do ofício de parteira tradicional como Patrimônio Cultural do

Brasil, os objetos e as práticas das parteiras e suas relações com as políticas públicas. Além disso,

cada curador mantém um tipo de relação com as parteiras, são comadres, pesquisadoras, fotógrafo.

Pensamos num conceito que sintetizasse um pouco do que temos aprendido e vivenciado com as

parteiras, conforme pontuamos no texto curatorial:

Acolhimento, Resistência e Visibilidade dizem respeito ao universo do partejar como

percebido pelas parteiras tradicionais, pautado na dádiva, seja enquanto dom divino, seja

enquanto algo que se dá e se recebe. Também diz respeito ao que lhes tem sido negado, a

despeito de sua relevância, e ao que buscamos revelar sobre as parteiras tradicionais.

A expografia remetia à casa de uma parteira, com um sofá coberto por lençol, flores, santos,

certificados, fotografias, ervas (que exalavam cheiros). Os objetos de trabalho foram expostos em

uma vitrine de vidro. Nas paredes haviam as fotografias de Eduardo Queiroga, bolsas de cursos de

capacitação, frases das parteiras, a oração de Santa Margarida. No exterior da exposição, em frente

7 A curadoria foi compartilhada entre Elaine Müller, Júlia Morim, Dan Gayoso, Paula Viana e Eduardo Queiroga.

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a uma parede de vidro, foi montado um jardim da parteira, com plantas medicinais e ornamentais

comuns nos quintais de Pernambuco. O processo curatorial representou uma oportunidade de lidar

com narrativas e significados, e, tal qual em nossos trabalhos como antropólogas e fotógrafo, criar

novas narrativas e significados. Diferentemente de algumas expectativas que percebemos serem

geradas quanto a nossa atuação como antropólogas que estudam o campo do parto e do nascimento,

no entanto, nossa atuação junto ao Museu da Parteira se dá de um lugar no qual não existe

neutralidade. Estamos imersas em ações feitas em conjunto, por vezes nos sentimos como

facilitadoras, por outras como tradutoras (quando temos que sistematizar tardes inteiras de

conversas que parecem ser pouco pragmáticas).

Foi nesta perspectiva que tentamos construir, no projeto expográfico, também um pouco da

estética comum às casas das parteiras, o que não deixou de ser percebido como a “desconstrução”

de algumas “regras de ouro” da expografia, como o rebaixamento da altura das fotografias, o

desalinhamento de quadros que compunham uma sala de estar de uma casa popular.

Mas as desconstruções promovidas, as que levamos intencionalmente, eram, antes, de outra

ordem: o Museu do Homem do Nordeste é um museu tradicional, herdeiro do legado de Gilberto

Freyre no pensamento sobre a formação de uma identidade nordestina. E se trata, de fato, de um

Museu do Homem, no qual as mulheres aparecem de maneira secundária, subentendidas ou mesmo

invisibilizadas. A presença das parteiras no MuHNE, as suas narrativas, contadas tanto na exposição

como nas ações educativas e no seminário promovido ao final da mostra, por si só, representavam

uma abertura muito significativa para o universo feminino e discussões de gênero. Gostaríamos de

ressaltar ainda o potencial de um Museu da Parteira enquanto iniciativa museológica genderizada,

que dinamiza os sujeitos que se representam e são representados, no caso, um museu que revela

processos historicamente construídos como sendo do universo das mulheres e que são geralmente

deixados em segundo plano nos museus. Não se trata de pensar apenas na entrada das mulheres em

museus, mas de construir perspectivas que incorporem os processos femininos enquanto relevantes

para contar nossa história, para estimular novos olhares sobre as trajetórias individuais e processos

histórico-culturais.

A presença das parteiras no MuHNE também é significativa pelas mudanças e reflexões que

podem promover na percepção acerca do parto e do nascimento, ou seja, para além dos saberes

biomédicos. A explicação dada por Zefinha, em sua fala no Seminário, quando explica com leveza e

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descomplicação como se atende um parto pélvico8, é um exemplo disto, mas também as

recomendações sobre a alimentação saudável para a mulher gestante, feita por Edileuza, e várias

narrativas contadas quando as parteiras mediaram a exposição.

Vale ressaltar que os museus possuem um potencial para a informação e comunicação, e

consequentemente a construção de novos olhares sobre o ofício da parteira (PALHARINI, 2015). O

museu é um espaço de construção de proximidade com o público, que permite o reconhecimento de

elementos compartilhados com as parteiras tradicionais. Neste sentido, foi importante a exposição

dos objetos que compõem a bolsa da parteira, que comunicavam sobre práticas que existem e

resistem no tempo, que não são memória de um tempo passado. Boa parte do público entrava na

exposição julgando se tratar de um retrato de como as parteiras atuavam na assistência ao parto, e

saíam conhecendo um pouco de políticas públicas, de saberes, de práticas, e, não raro, pedindo o

número do telefone de alguma parteira.

Ao final do período de visitação da exposição, o MuHNE, no âmbito do Seminário

Memória, Museologia e Patrimônio, organizou o Seminário "Parteiras tradicionais em

Pernambuco: patrimônio, memória, salvaguarda e o papel dos museus", aberto ao público, com a

participação de parteiras, as autoras deste trabalho, uma representante do Iphan, que falou sobre o

processo de registro, e de uma pesquisadora com tese de doutorado sobre o potencial dos museus na

educação e comunicação sobre o parto e o nascimento. Também foi realizada uma roda de conversa

com as parteiras, na qual discutimos a criação de um Grupo de Trabalho permanente do Museu da

Parteira e a montagem seguinte da exposição, no Museu da Abolição.

A montagem da exposição no Museu da Abolição pode ser feita de maneira ainda mais

inclusiva, com a realização de uma oficina de expografia participativa, na qual se decidiu o conceito

e o projeto expográfico da mostra. A exposição “Museu da Parteira: saberes e práticas”, aberta em 4

de maio de 2017, está em curso e contou com a realização de atividades na Semana Nacional dos

Museus, que trazia como tema “Dizer o indizível nos museus”. Parteiras que não haviam sido

apresentadas adequadamente no Muhne puderam ter suas fotografias expostas e são interlocutoras

preferenciais em atividades educativas, levando, por exemplo, seus saberes e práticas relacionados

ao uso de ervas e de rezas na promoção da saúde. A metodologia foi aprovada pelas pessoas

8 Quando o bebê está sentado e nasce pelos pés ou pelas nádegas.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

envolvidas, e a ideia atual é replicá-la em Caruaru, levando o Museu da Parteira para a cidade de

Zefinha.

Considerações finais

Tentamos brevemente relatar nossa inserção num projeto que permeia os campos da

Antropologia, da Museologia, da Fotografia e do Audiovisual, no qual estamos imersas num

processo criativo que parte, em boa medida, de ideias trazidas pelas parteiras com as quais

trabalhamos.

Destacamos, neste breve trabalho, as dificuldades na percepção, pelo poder público, do lugar

ocupado pelas parteiras tradicionais (entre saúde e cultura); o processo criativo sugerido pelas

parteiras para valorização de seu ofício, como a realização de um Museu da Parteira; a recepção

dessa proposta por agentes do campo museal e as desconstruções promovidas por este projeto (tanto

com relação a gênero quanto em questões técnicas de expografia); e os afetos envolvidos em todas

as atividades que vêm sendo realizadas no âmbito do Museu da Parteira.

Gostaríamos de encerrar enfatizando a dimensão dos afetos. Ela está presente no

intercruzamento de nossas memórias com as das parteiras (com nossas experiências de partos

domiciliares, com atividades profissionais que realizamos tendo as parteiras como interlocutoras ou

parceiras). Os afetos se relacionam aos objetos pessoais que levamos para a exposição, às plantas

que cultivamos para a montagem do jardim (com plantas que já nos foram recomendadas ou doadas

pelas parteiras para que as cultivássemos em nossos quintais). Os afetos estão envolvidos no

tratamento por “comadre”, que se concretizou em algum momento deste processo.

Acreditamos que reside aqui outro potencial do processo: o de construção de um referencial

teórico que reflita sobre os afetos e suas implicações nos saberes e técnicas museológicas.

"Finalmente, chegamos a uma nova declaracao, a “Declaracao do Rio”, aprovada na XV

Conferencia Internacional do MINOM, em 2013, que defende uma nova museologia com

base nos afetos, na formacao de narrativas construidas pelos protagonistas, nos museus

como processos politicos, poeticos e pedagogicos que sejam simultaneamente protagonistas

e cenarios de construcao de memorias e de sonhos que levam a reconstrucao da realidade. "

(LEITE, 2014:205).

Referências

INSTITUTO NOMADES. Relatorio Final do Inventario dos Saberes e Praticas das Parteiras

Indigenas de Pernambuco. Recife, 2010.

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_____________________. Relatorio Final do Inventario dos Saberes e Praticas das Parteiras

Tradicionais de Pernambuco. Recife, 2011.

_____________________. Parteiras - um mundo pelas mãos. Catálogo de Exposição. Recife, 2013.

IPHAN. Patrimônio Cultural Imaterial: para saber mais. 3 ed. Brasília: Iphan, 2012.

______> Nota Técnica no 15/2016 COREG/CGIR/DPI. Assunto: Registro dos Saberes e Práticas

das Parteiras Tradicionais do Brasil. Brasília, 07 de abril de 2016.

LEITE, Pedro Pereira. A nova museologia e os movimentos sociais em Portugal. In: Cadernos do

CEOM - Ano 27, n. 41 - Museologia Social. Chapecó: Unichapecó, 2014. pgs 193-223. Disponível

em <https://bell.unochapeco.edu.br/revistas/index.php/rcc/article/viewFile/2603/1502>. Acesso em

25 mai 2017.

MORIM, J., MULLER, E. GAYOSO, Daniella. Parteira tradicionais de Pernambuco: Saberes,

Práticas e Políticas. In: Seminário Internacional Fazendo Gênero 10, 2013, Florianópolis. Fazendo

gênero 10: desafios atuais dos feminismos : anais eletrônicos [recurso eletrônico]. Florianópolis:

Universidade Federal de Santa Catarina, 2013.

PALHARINI, Luciana. A história da atenção ao parto e o nascimento: possibilidades dos museus

como espaços de comunicação e formação sobre o tema. Tese de doutorado. Faculdade de

Educação. Unicamp. Campinas, 2015.

Between midwives, affections and museums: a narrative about the experience of the Midwife

Museum

Astract: In this work, we present what we have experienced in the process of

patrimonialization/museolisation of the traditional midwife profession in Brazil. Since 2008 we

have been involved in research activities as well as in promoting the safeguard of traditional

midwives’ or midwife’s knowledge and practice in Pernambuco, establishing a dialog between

midwives and cultural public policies by adopting the methodology of the National Inventory

Cultural References (INRC) and by requesting recognition of the occupation as a Brazilian Cultural

Heritage. Also in progress projects which aim at documenting their stories as women who help

other women: a biography of three midwives from Pernambuco and a short documentary about

Prazeres, a midwife from Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco and her on going knowledge. We

highlight the difficulty public agencies have in taking notice of the position these midwives occupy

in society (between Health and Culture); further more, suggested by the midwives to promote their

trade, a creation of a “Midwife Museum"; the way this suggestion has been seen by people in

museum field and the deconstruction involved (regarding gender and technical matters of

expography); the affections involved in all activities which need an adequate theoretical approach.

The experience with the exposition “Midwife Museum: acceptance, resistance, visibility”, whose

concept embraces many of theses issues, will be used in this work to guide an intimist narrative of a

collective experience.

Keywords: Midwife Museum. Traditional Midwife. Patrimonialization e Museolisation. Gender.

Affections.