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Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.4 - N.1 - Jul./Ago. 2011.

ENFERMEIRO E ESCOLA: UMA PARCERIA NA PREVENÇÃO E CONTROLE DA OBESIDADE INFANTIL

NURSE AND SCHOOL: A PARTNERSHIP IN PREVENTION AND CONTROL OF

CHILDHOOD OBESITY

Amanda Moreira Nascimento Enfermeira. Graduada pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - UnilesteMG. [email protected] Marcília Concebida Magalhães Enfermeira. Graduada pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG. [email protected] Maione Silva Louzada Paes Enfermeira. Especialista em Enfermagem do Trabalho. Docente do curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - UnilesteMG. [email protected] RESUMO

As crianças têm apresentado altos índices de sobrepeso e obesidade o que está particularmente relacionado ao estilo de vida da sociedade contemporânea. O enfermeiro pode intervir neste processo estabelecendo parcerias e programas para prevenção, controle e tratamento da obesidade infantil. O objetivo do presente estudo foi analisar sob a ótica dos enfermeiros as possibilidades de um trabalho destes profissionais em escolas, visando à prevenção e controle da obesidade infantil. Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa do tipo descritivo, onde aplicou-se um questionário aos enfermeiros atuantes nas equipes de Estratégia de Saúde da Família do município de Timóteo que totalizam oito profissionais. De acordo com os relatos dos enfermeiros percebeu-se que as principais ações desenvolvidas para prevenção e controle da obesidade infantil se remete às orientações realizadas durante a puericultura e encaminhamento a outros profissionais, reconhecendo o papel fundamental da equipe multiprofissional. Dos profissionais entrevistados sete acreditam na viabilidade do trabalho do enfermeiro em parceria com escolas, porém estes profissionais apontam vários fatores dificultadores para realização deste trabalho, como a grande demanda da unidade e escassez de recursos. Ressalta-se a necessidade dos enfermeiros trabalharem em conjunto com comunidades escolares para que crianças, pais e professores compreendam as interfaces da obesidade na infância. PALAVRAS-CHAVE: Obesidade. Assistência de enfermagem. Instituições acadêmicas. ABSTRACT The children have shown high rates of overweight and obesity that is particularly related to the lifestyle of the contemporary society. The nurse can interven in this process by establishing partnerships and programs for prevention, control and treatment of childhood obesity. The purpose of this study is to analyze from the perspective of the opportunities for nurses working in these professional schools, to prevent and control obesity in children. This is a study of a descriptive qualitative approach, which was applied a interview to nurses working in teams of the Family Health Strategy for the municipality of Timothy which total eight professionals. According to the reports of the nurses noticed that the main

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actions taken to prevent and control obesity in children are referred to the guidelines made during a child care and referral to other professionals, recognizing the fundamental role of the team. Seven of the professionals interviewed believe in the viability of the work of nurses in partnership with schools, but these professionals point to several factors impeded this work, as the unit's high demand and scarcity of resources. Emphasized the need of nurses work together with school communities for children, parents and teachers understand the interfaces of obesity in childhood. KEYWORDS: Obesity. Nursing care. Schools. INTRODUÇÃO

Com o crescimento econômico brasileiro houve um aumento da urbanização o que privilegiou a migração da população rural para a cidade. Surgiram muitas alterações nos padrões nutricionais, onde a maior parte dos alimentos consumidos hoje pela sociedade são de alto valor calórico. Também tem ocorrido um grande aumento do sedentarismo, que favorece o aumento do balanço energético, conseqüentemente da obesidade (OLIVEIRA et al., 2003).

A obesidade era muito frequente no adulto, porém atualmente as demais faixas etárias também estão sendo atingidas. Não obstante as crianças têm apresentado altos índices de sobrepeso devido à dinâmica familiar que foi modificada induzindo o sedentarismo pelas mudanças que houve principalmente nas formas de lazer e brincadeiras que foram substituídas por horas diárias em frente à televisão e jogos de computadores, assim como a limitação para a prática regular de atividade física, pois oito horas do dia da criança é reservada para o sono e quatro para a escola, sobrando pouco tempo para a recreação (NAVARRO; COUTINHO; OLIVEIRA, 2008; OLIVEIRA et al., 2003).

As principais patologias e consequências decorrentes da obesidade são diabetes mellitus, hipertensão arterial, hipotireoidismo, hiperinsulinemia, hipertriglicedemia, hipercolesterolemia, depressão, sedentarismo, distúrbios no metabolismo, dificuldade para aquisição de alimentos saudáveis, aterosclerose, dislipidemia e problemas cardiovasculares não sendo estes restritos à obesidade (WONG, 1999). Mello, Luft e Meyer (2004) destacam que consequências psicossociais podem surgir na criança obesa, devido à discriminação por parte de outras crianças, podendo causar isolamento social, diminuição da auto-estima, depressão e distorção da imagem corporal, contribuindo para que a criança se torne ainda mais sedentária e obesa.

É importante a participação dos pais, educadores e profissionais da área da saúde na formação de bons hábitos alimentares e na construção de uma atitude consciente da criança em relação a uma alimentação saudável (PHILIPPI; CRUZ;

COLUCCI, 2003). Não obstante, neste cenário destaca-se o profissional enfermeiro que exerce em sua profissão um papel educativo peculiar, sendo apto para trabalhar com atividades que estimulam a alimentação saudável na infância (GAGLIANONE, 2004).

Compete ao enfermeiro envolver a comunidade na participação de ações visando à melhoria da qualidade de vida, realizando ações de prevenção de doenças e promoção da saúde, através de orientações sobre uma alimentação

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saudável, prevenindo ganho de peso e proporcionando consulta de enfermagem, monitorização dos dados antropométricos e solicitação de exames complementares para avaliar os casos de riscos e quando necessário encaminhar para um profissional especializado (BRASIL, 2006).

A pesquisa pretende contribuir sendo uma fonte de informação sobre a temática, alertando que a obesidade é uma patologia que precisa ser prevenida na infância e quando esta é apresentada, é fundamental seu controle para que suas possíveis conseqüências sejam prevenidas. A pesquisa possibilita à enfermagem ampliar sua visão sobre esta patologia que segundo Reis (2006) é passível de se prevenir com uma intervenção precoce, atuando em todo contexto familiar para uma melhor qualidade de vida e consequentemente uma redução do número de crianças obesas. A pesquisa objetivou analisar sob a ótica dos enfermeiros as possibilidades de um trabalho destes profissionais em escolas, visando à prevenção e controle da obesidade infantil. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa do tipo descritivo, realizado com enfermeiros em exercício nas Unidades de Saúde da Família na cidade de Timóteo/MG. A Estratégia Saúde da Família (ESF) foi implantada no município de Timóteo em 2002 e atualmente possui oito Unidades de Saúde da Família. Segundo Viana e Dal Poz (2007) a ESF foi criada na década de 90, baseada em experiências de países como Cuba, Canadá e Espanha, cuja saúde pública contribui para a melhoria da qualidade de vida, por meio de investimentos na promoção da saúde e prevenção de doenças.

A população do estudo foram os enfermeiros atuantes nas equipes de ESF do município de Timóteo que totalizam oito profissionais. A amostra foi composta pela totalidade do universo de pesquisa. A coleta de dados foi realizada no período de novembro de 2008 a fevereiro de 2009, após agendamento prévio de data, horário e local, conforme disponibilidade dos pesquisados.

Como instrumento de coleta de dados foi utilizado um Roteiro de entrevista, adotando-se a metodologia de auto-relato estruturado conforme Polit, Beck e Hungler (2004). A entrevista possuía duas questões objetivas e cinco dissertativas abordando como poderia ser feito o trabalho do enfermeiro em parceria com a escola na prevenção e controle da obesidade infantil.

Os resultados da pesquisa foram demonstrados primeiramente através da análise descritiva das perguntas objetivas, e posteriormente através da metodologia de análise de conteúdo. Na exposição das respostas narrativas os participantes foram nomeados simbolicamente com a letra E de enfermeiros.

Para execução da pesquisa primeiramente foi obtida autorização da Secretaria de Saúde do Município de Timóteo – MG. Já para documentação da inclusão voluntária dos participantes da pesquisa os mesmos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), podendo o pesquisado desistir de sua participação a qualquer momento tendo seus direitos garantidos. A todo instante a

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pesquisa respeitou as diretrizes da Resolução n. 196 de 1996 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) que regulamenta pesquisa com seres humanos (BRASIL, 1996). RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em relação ao tempo de experiência profissional dos participantes na ESF, os dados são apresentados na TAB. 1.

TABELA 1 Tempo de experiência profissional dos participantes na ESF. Timóteo, MG, 2009. Tempo de experiência(anos) N %

0 - 1 2 25%

2 - 3 0 0%

4 - 5 2 25%

≥6 4 50%

Total 8 100% FONTE: dados da pesquisa

Percebeu-se que predominou na amostra os enfermeiros que possuem mais de 6 anos de atuação em ESF, sendo quatro deles. Ressalta-se que quanto maior o tempo de trabalho exercido em uma Unidade, mais possível se torna o alcance de um dos objetivos da ESF que é a aproximação e criação de vínculo dos profissionais de saúde com a comunidade, uma vez que tal fato possibilita o estreitamento das relações e melhora a qualidade da assistência, pois viabiliza a realização de ações dentro da comunidade, principalmente em espaços comunitários como igrejas, creches e escolas.

Segundo Schimith e Lima (2004) o vínculo entre serviço de saúde e população amplia a eficácia das ações de saúde e favorece a participação do usuário durante a prestação do serviço. Deve-se criar uma relação humanizada voltada para a construção de sujeitos autônomos, tanto profissionais quanto pacientes, pois não há vínculo sem que o usuário seja reconhecido na condição de sujeito, que fala, julga e deseja.

Analisando as ações desenvolvidas pelos enfermeiros na assistência as crianças, os dados são apresentados na TAB. 2.

TABELA 2 Atividades desenvolvidas pelos enfermeiros da ESF. Timóteo, MG, 2009. Atividades desenvolvidas N %

Consulta de enfermagem 8 100,0

Atendimento individual conforme a demanda 8 100,0

Palestras educativas para os pais 7 87,5

Atividades educativas em creches e escolas 6 12,5

Apenas avaliação de dados antropométricos 1 37,5

Outras 3 75,0 FONTE: dados da pesquisa

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Na análise da TAB.2 percebe-se que nas atividades desenvolvidas pelos participantes da pesquisa predominaram: a consulta de enfermagem e o atendimento individual conforme a demanda, realizada por todos os participantes e as palestras educativas para os pais, sendo realizada por sete enfermeiros. Ressalta-se que seis enfermeiros afirmaram realizar atividades educativas em creches e escolas, isso é importante, pois cria um vínculo entre ESF e escola que possibilita a realização de um trabalho multidisciplinar de qualidade na prevenção e controle da obesidade infantil.

Carbone e Costa (2004) destacam que na assistência do enfermeiro a criança é importante a realização de ações como: vigilância do crescimento e desenvolvimento, orientação alimentar, trabalhar com os pais na prevenção de doenças imunopreveníveis, encaminhamento para a atenção psicossocial e pedagógica, ressaltar com os pais ou responsáveis medidas para prevenção de acidentes, bem como conquistar a confiança e colaboração da família.

Através da análise dos relatos dos participantes emergiram categorias temáticas, sendo elas: educação em saúde, trabalho multiprofissional, prevenção e controle da obesidade, fatores dificultadores e possibilidades que serão discutidas a seguir.

Educação em saúde

Percebeu-se que na opinião dos participantes principal estratégia/metodologia a ser adotada para realização do trabalho em escolas enfocando a prevenção e controle da obesidade seria a realização de palestras educativas, envolvendo pais, professores e alunos, como destacaram-se os relatos:

E7: Palestras educativas para pais, professores e alunos ajudar a escola na educação alimentar das crianças. E2: Parceria com os educadores e direção da escola, palestras voltadas para temas como: educação alimentar e sobrepeso. E3: Palestras educativas para os pais e funcionários da escola no controle da alimentação e obesidade, peças teatrais para as crianças.

Somente um participante questionou a efetividade da palestra neste contexto educacional, direcionando a atuação do enfermeiro para capacitação dos professores que são educadores diretos:

E1: Palestras talvez, mas acho que não seria muito produtivo, o enfermeiro pode treinar os professores que podem ajudar nessa prevenção.

O uso de palestras educativas é um método muito utilizado pelos profissionais

de saúde, porém outras estratégias de mobilização educativa podem ser realizadas para aperfeiçoar o processo de absorção de informações como dinâmicas interativas com alunos e professores com temas relacionados à alimentação saudável e prática

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de atividade física, capacitação das cozinheiras sobre os alimentos mais recomendados para prevenção da obesidade, exploração de meios artísticos como músicas, filmes e teatros educativos.

Brasil (2005) enfoca a escola como um espaço de produção de educação para saúde, onde é possível desenvolver diversas atividades, tais como: aulas interdisciplinares, visitas às comunidades, palestras, estudos, seminários, dentre outras. Podem ser atividades educativas abordando os temas como saúde em geral, cidadania, hábitos de alimentação saudável, criar na escola, informativos, folderes, histórias em quadrinhos, cartilhas, murais, revistas e tantos outros materiais educativos em que todos participem da sua elaboração, levando e trocando mensagens de saúde para a comunidade escolar.

A educação em saúde é um processo de ensino-aprendizagem que visa a promoção da saúde, e o enfermeiro é o principal mediador para que isso ocorra. Destaca-se que o mesmo é um educador preparado para propor estratégias, no intuito de oferecer caminhos que possibilitem transformações nas pessoas e comunidade. Em relação às estratégias de cuidado, cabe destacar que a enfermagem como arte possibilita ao enfermeiro exercer suas funções com criatividade e multiplicidade de alternativas, não generalizando suas ações para uma coletividade comum, mas mantendo as peculiaridades inerentes (SOUZA; WEGNER; GORINI, 2007). Trabalho multiprofissional

Os participantes enfatizaram a importância do acompanhamento da criança obesa em conjunto com outros profissionais, destacando a atuação do nutricionista. Os relatos a seguir demonstram esta concepção:

E3: [...] impossível trabalhar isoladamente saúde, sou a favor da equipe multiprofissional.

E2: Acompanhamento e encaminhamento a profissionais como: pediatra, nutricionista, endocrinologista e aos que fizer necessário.

E6: Encaminhamento para pediatra e para nutricionista para acompanhamento paralelo [...] são encaminhadas para o serviço de nutrição da rede.

Na puericultura, o enfermeiro tem instrumentos de trabalho que o ajudam a

identificar e acompanhar o crescimento das crianças, sendo eles: mensuração do peso e altura através das medidas antropométricas, utilização do cartão da criança preenchendo a curva de crescimento, e cálculo do ganho de peso esperado para a idade. A partir do momento que se identifica a obesidade é fundamental um acompanhamento em conjunto com outros profissionais, principalmente o nutricionista conforme citado pelos participantes.

Gouveia (1999) afirma que devemos repensar o papel do nutricionista e sua importância no resgate do aspecto da nutrição e de promoção à saúde e prevenção

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de doenças e, também a participação do profissional como membro de uma equipe multiprofissional de saúde em atividades de educação nutricional, suplementação e recuperação nutricional, ficando evidente que a educação nutricional torna-se parte essencial de educação para a saúde, visto que a saúde física e mental depende do estado de nutrição do indivíduo.

Segundo Assis et al. (2002), é importante destacar como trabalho interdisciplinar, as ações de alimentação e nutrição nas formas de intervenção, como estratégias indispensáveis a todo programa cuja finalidade seja aumentar a qualidade de vida da população a partir da integração do nutricionista à equipe multidisciplinar, interagindo de forma integrada com outros profissionais. A participação efetiva de todos os profissionais envolvidos no trabalho visando um objetivo comum é condição indispensável para que haja um trabalho em equipe verdadeiramente integrado. Colomé e Lima (2006) afirmam que tal condição por si só não é suficiente, pois é importante que os trabalhadores estejam dispostos a flexibilizar a divisão do trabalho, compartilhar conhecimentos, interagir no cotidiano, enfim, valorizar o caráter de complementaridade e interdependência dos diferentes trabalhos.

Prevenção e controle da obesidade Em relação à forma de trabalho que os enfermeiros mais priorizam para prevenção e controle da obesidade, um profissional não respondeu a questão, dois não desenvolvem nenhum trabalho específico e quatro apontaram as orientações dadas às mães durante a consulta de puericultura. Destacaram-se os relatos:

E1: [...] oriento o aleitamento materno exclusivo, e no caso de risco, são feitas orientações no intuito de evitar a obesidade. E5: [...] orientação nutricional durante as consultas de puericultura. E7: [...] as mães recebem orientações durante a puericultura.

Somente um participante mencionou o trabalho realizado em escolas e

creches, conforme o depoimento abaixo, apesar de seis enfermeiros terem respondido que realizam trabalho em creches e escolas (TAB.2)

E4: através de palestras nas creches e escolas.

Esta contradição demonstra que há uma preocupação por parte dos

enfermeiros em trabalhar em comunidades escolares, porém o enfoque não é obesidade infantil, pois nesta pergunta específica sobre este tema somente um participante afirmou enfocar a prevenção e controle da obesidade em creches e escolas.

Uma pesquisa realizada por Silva e Almeida (2009) com 112 adolescentes estudantes de escola pública e particular de Coronel Fabriciano/MG relacionado a

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prevalência de excesso de peso nesta faixa etária, demonstrou que apenas dois adolescentes procuram as Unidades de Saúde, quando necessitam de cuidados à saúde, sendo os hospitais a primeira escolha neste caso.

Este dado revela que a procura de crianças e adolescentes pela Unidade de Saúde é pequena. Portanto, a abrangência e impacto das atividades relacionadas a prevenção e combate da obesidade infantil quando realizadas somente dentro da estrutura física da Unidade é limitado. Deste modo, ressalta-se a necessidade do enfermeiro realizar estas intervenções no cenário escolar.

Conforme Sichieri e Souza (2008), a atuação de profissionais de saúde no contexto escolar é fundamental, pois os programas de prevenção e controle da obesidade desenvolvidos em escolas são mais eficazes quando feitos por pessoas destinadas somente a este fim (como os profissionais da área da saúde), do que quando exercidos por professores. Os professores não podem dedicar muito tempo às atividades de intervenção porque têm outras responsabilidades e, comumente não recebem treinamento especializado e supervisão adequada.

Segundo Gaglianone (2004), o enfermeiro é um profissional que deve trabalhar de forma preventiva, através de palestras educativas e outras atividades que venham divulgar e estimular a educação alimentar através de uma alimentação adequada e um estilo de vida saudável na infância, sendo importante à inserção familiar e também dos educadores neste processo.

Desta forma, o enfermeiro necessita desenvolver habilidades técnicas, sensibilidade, reflexão crítica, criatividade, visão interdisciplinar, cooperatividade, transformando a sua prática para uma assistência igualitária a todas as crianças (ACCIOLY; SAUNDERS; LACERDA, 2004).

Ressalta-se o papel da educação física escolar que é uma colaboradora na prevenção e controle da obesidade infantil, pois o profissional de educação física pode exercer interferências positivas sobre a formação de hábitos saudáveis na infância refletindo positivamente na vida adulta. A educação física escolar na atualidade deve ter nova tendência de trabalhar focando a educação para a saúde (COSTA, 2008). Possibilidades

Em relação à opinião dos enfermeiros sobre a viabilidade do trabalho deste profissional nas escolas estabelecendo uma parceria, sete participantes acreditam nesta possibilidade, como destacaram as respostas:

E2: Parceria com os educadores e direção da escola, palestras voltadas para temas como: educação alimentar e sobrepeso. E3: Palestras educativas para os pais e funcionários da escola no controle da alimentação e obesidade, peças teatrais para as crianças. E5: É viável. Pois há interesse pelas secretarias, digo secretarias de saúde e educação prevenirem e controlar a obesidade infantil. Ressalta-se que a obesidade infantil é um fator de risco para diabetes e HAS.

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De acordo com Vasconcelos et al. (2008), atividades educativas em escolas têm como finalidade despertar o interesse dos educadores e das crianças para o fato de que a alimentação saudável é algo relevante para a prevenção e combate aos distúrbios alimentares. Além disso, pode ser usada como forma de orientação para os educadores quanto à abordagem do tema saúde em sala de aula. As atividades educativas permitem promover dinâmicas entre as crianças, estimulando o processo interativo e incentivar o conhecimento sobre alimentação adequada como fator da obesidade e sobre as doenças decorrentes dessa condição.

Conforme Brasil (2006) compete ao enfermeiro mobilizar a comunidade para participação em ações visando melhoria da qualidade de vida da mesma, na realização de ações de promoção de saúde.

Carpenito (1999) relata que o enfermeiro está apto nas orientações fornecidas à família, cabe a ele a instrução do paciente e dos pais no planejamento das refeições anteriormente ao consumo; de como comer o que se deve ingerir e a quantidade de calorias e a escolha do lugar para fazer as refeições para assim reduzir o sentimento de privação. Fatores dificultadores Os participantes apresentaram como fatores dificultadores para realização desse trabalho em escolas a grande demanda de atendimento na unidade, a indisponibilidade de tempo para realização desse trabalho e falta de recursos materiais. Destacaram-se os depoimentos:

E1: [...] e o enfermeiro já tem muitas atividades na unidade de saúde. Sim, a grande demanda da unidade que acaba sobrecarregando os enfermeiros, sobrando pouco tempo para estas atividades. E2: Há pouca disponibilidade de tempo para desenvolver um trabalho de resultados e qualidades. Indisponibilidade de tempo devido ao cumprimento de metas dos programas do MS e devido a grande demanda do PSF. E4: Demanda em grande quantidade, cobrir metas relacionadas aos programas. E6: Deficiência de recursos materiais que abordem o assunto e alimentos saudáveis.

Um participante ressaltou:

E3: [...] falta os profissionais acreditarem nessa parceria e investir esforços conjuntos na resolubilidade desse problema.

Segundo Brasil (1998), a ESF foi planejada para oferecer os serviços de saúde à população, cumprir o princípio constitucional do Estado, garantir ao cidadão seu direito de receber atenção integral e contínua à saúde com prioridade para as

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atividades preventivas, mas sem prejuízo na assistência permitindo que os responsáveis pela oferta de serviços de saúde, os gestores do SUS, aprofundem o conhecimento sobre aqueles a quem devem servir. Assim, esses profissionais e a população acompanhada criam vínculos de co-responsabilidade, o que facilita a identificação e o atendimento aos problemas de saúde da comunidade.

Cabe ressaltar o último relato mencionado, onde o participante enfatiza a responsabilidade do enfermeiro em acreditar, desejar e criar possibilidades para que a parceria enfermeiro – escola seja efetivada. É notório que na rotina de trabalho dos enfermeiros na ESF, o serviço é muito voltado para os programas estabelecidos pelo Ministério da Saúde, assim como alcance de metas. Isto de forma indireta interfere na inserção deste profissional efetivamente na comunidade, entretanto ressalta-se que no cotidiano da assistência do enfermeiro é imprescindível uma administração eficaz do serviço, para possibilitar ações que promovam a saúde e previnam doenças que é a prioridade deste modelo de assistência à saúde.

CONCLUSÃO

Através dos depoimentos dos enfermeiros evidenciou-se que a principal ação que realizam na prevenção e controle da obesidade são as orientações dadas aos pais durante a puericultura e o encaminhamento ao nutricionista, reconhecendo assim o papel fundamental de equipe multiprofissional na assistência à criança obesa.

Apesar da maioria dos enfermeiros acreditarem na viabilidade de um trabalho em parceria com a escola, muitos não o realizam por acreditarem que existam fatores dificultadores na execução dessa parceria, como a sobrecarga de trabalho devido à grande demanda da unidade.

Ressalta-se a necessidade de mais trabalhos no contexto da comunidade, sendo uma delas a escolar que necessita de orientações e parcerias educativas enfocando diversas temáticas, entre elas a obesidade infantil que se apresenta incidente e geradora de agravos à saúde na infância e fase adulta, sendo o enfermeiro habilitado para intervir neste processo.

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