eduardo zenedin - o globo - perfil - 08.04.12

5/16/2018 Eduardo Zenedin - O Globo - Perfil - 08.04.12 - slidepdf.com

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o GLOBO · A N 0 8 ·N '4 0 2 · a D E A B R IL D E 2 0 1 2

F ach ad a a no s 2 0, p isc ina

tra ns pa re nte n o te rra ce , tn

r es ta u ra n te s , 1 8 sa la sd e

re un i6 es e n en hum te atro



-Revls tao GLOBO A N O g · N ' 4 0 2 - 8 D E A B R I L O E 2 0 l 2

E ra um rn is te rio a te e nta og ua rd ad o

a 346 c h a ve s =- nume ro de q uar to s

q ue oG I6 ria P ala ce Hoteltera

quandofor inaugurado, asvesperas

da Copa de 2014 . Nas ul t i rnas

se ma na s, a e qu ipe da re vista te ve

a ce sso a s im ag en s d o p ro je to , co mo

as que ilus tram a capa desta edicao.

Ap rim eira vista , sa lta a os olh os a

p is cin a c om fu nd o tra ns pa re nte

in sta lad a n a cob ertura. O u se ja ,

quem estiverca em baixo pocera ver

quem es ta nadando 1 1 3 em c im a. 0

novoGI6r ia r e cu z ir a o nu r ne r o d e

q ua rto s (e ram 610 a nte s d es er

fechado e com prado por E ike

Batista), masamp l i a raou t r a s

areas. Conta ra , p ore xe mp lo, co m

u m sa lao de convencoes e festas de

casam ento de 550 metros

q ua dra do s. O utro s de ta lh es d o

p ro je to , q ue resgatara a f achada

d os a no s 20 e n a o p re v e a

re a b ertu ra d osa udo so tea tro , a s

c ifra s re la cio na da s a recons t rucao e

um pouco da h ist6 ria do G loria saoco nta dos po r F ab io B riso Ua a

part irda pag ina 28. Naode i xe

defazerseucheck- in la .

M a rc e lo B a lb i o , e d i t o r a s s i s t e n t e

S e i la , m il c o is a s 6

D o is c a f e s e a c o n t a 8

C id a d e 1 0

C o m p o r t a m e n t o 1 6

E n sa io 1 8

P e r f i l 2 0

C : la u d i o P a i va 2 4

G e n t e f in a 2 5

C a r t a s 2 5

M a rt h a M e d e ir o s 2 6

C a p a 2 8

C o l u n is t a c o n v id a d o 3 3

M o d a 3 4

A c h ad o s im p e r d fv e is 3 8

D e c o r a ~a o 4 0

B e l e z a 4 4

A lb e r to G o l d i n 4 7

J o s e H u g o C e l id o n io 4 8

V i n h o 4 9

J o g o s S O

A r t u r X e x e o 5 2

D o r ad io b a r ulh en to a o m o d em o

G P S , u m a n o v a e ra n os t a x i s d o R io

o r ad ie s te s is ta q u e f ic o u c o nh e c id o

p o r d e se n t e rra r c av e r as d e b u rr o

A r qu rt e to s a b re m a s p o rt as d e s e u s

n o vo s e s cr it or io s , c h ei os d e b o a s i d e i a s

4 48e 'ezaC o nh ~ A nd re a H e nr iq u e, n u t r ic io n is ta

d os ta m o s os e e s pe ca is ta e m d et o x

e r n e • E d i to r a : G a b r ie l a G o u l a r t ( g ab @ o g lo bo co m br ) • E d i to r a s s i s te n t e : M a r c e lo B a l b io ( b a /b i o@ o g l o b o .c o m . br ) • R e p o r te r e s : F a b i o B r is o l la ( f a b i o b r is o l / a @ o g l o b o c o m . b r ) , l s a b e la C a b a n

( i s a b e / a . c a b a n @ o g i o b o . c o m . b r J , J o a n a D a l e ( j o a n a . d a / e @ o g l o b o . c o m . b r ) , M a r ia n a F i lg u e i ra s ( m a r i a n a . f i /g u e i r a s @ o g / o b o . c o m b r ) , R o b e rt o K a z ( ro b e rt o Ja z @ o g l o b o. co m . b r) • C o o r d e n a ~ a o

d e m o d a : A li c e A u t r a n G a r c ia ( a l ic e og io b o @ g m a ilc o m J • D i a g ra m a ~ a o : M a r i a n a B e r n a r d e s (m a ria n a@ o g lo bo .c om . b r) • C a p a : R 8 p r o d u ~ 6 tl s



E d u a r d o

---- -



de S ao P a u l o o

i e s t e s is ta q u e a n d a

m p e a n d o ' e n e rg ia s

o a t i v a s p a r a d e s e n t e r ra r

r e ir a s d e b u r r o c a r io c a s

Quando decidiu abrir urn novo

neg6cio - Papajaya, uma 1 0 -

[a especializada em cachor-ros-quentes e sodas com mis-

turas ex6ticas - 0 empresario Al-fredo Barbosa pegou urn caderno de

espiral e escreveu 0 nome e asfuncoes das pessoas que iria pre-

cisar. Era uma Iista que ia do chef de

cozinha ao gerente, passando poraquelas atendentes com sorriso de

dentes branquinhos. No fim, ao ladodo nome de Eduardo Zenedin, es-

creveu uma profissao que, aparen-temente, nao terta muito a ver com 0ramo do neg6cio que administra:

"radiestesista." Os radiestesistassao profissionais que, munidos de

aparelhagem espedfica e sensibi-lidade incomum, tern a capacidadede localizer pontos de energia es-

condidos num determinado local. 0

trabalho de Zenedin era encontrar eretirar os pontos de energia negativaque pudessem levar 0 neg6cio de

Alfredo para 0buraco. Zenedin e urnespecialista em caveiras de burro.Caveira de burro e 0 nome po-

pular dos im6veis que, independen-

temente do neg6cio que se instala

ali, estao fadados ao insucesso. Mu-da 0nome, a razao social, 0 ramo denegocto, os donos - e 0 fracassocontinua 0mesmo. A Zona SuI do

Rio esta cheia de cavelras de burro.

No caso do restaurante visitado porZenedin, os temores se justificavam.

o im6vel esta situado na parte nobre

da Ataulfo de Paiva, no Leblon. 0metro quadrado ali nao sill por me-

nos de R$ 13mil. Ao seu lado est a 0

lobi, botequim que costuma [untar

gente esperando mesa numa filaque

vai ate a porta da nova casa deAlfredo. Ainda assim, nos ultimos

tempos, uma lojade konis e outra dekebabs ocuparam 0 espaco e foram

ao fundo do poco em pouco tempo,

com se tivessem sido tragadas paruma onda de azar. Por isso Zenedin

- que normalmente da expedienteem Sao Paulo - foi chamado.

- Sou chamado para achar ospont os de energia nociva, os su-midouros, e neutraliza-los. E umacura - explica Zenedin, que tra-

balha com urn pendulo capaz de

indicar sinais de energia no subsolo,mills ou menos como os caub6is de

bangue-bangue fazem com seus gra-

vetos para encontrar agua no de

serto. - Nao sou bruxo, fico putquando dizem que taco bruxaria.Eduardo Zenedin e urn paulistano

de 58 anos com a aparencia neutrde urn dono de arrnazem - ou d

urn professor de algebra. Talvezparafastar de vez a associacao commagos de almanaque, veste-se com

roupas c1aras. 0 cabelo grisalhomilimetricamente arrematado comuma franja. Barba feita. Como ade

reco, usa urn cordao dourado e ur

unico anel prateado na mao direitaEle agora esta sentado na varanda

da loja do Leblon - que ele recomendou que fosse elevada, cecada e crivada por grampos neu

tralizadores -, mas deu inicio aotrabalhos alguns dlas antes de faze

a primeira visita ao local.

Aanalise de Zenedin se inicia com

o recebimento da lista contendonomes e atnbuicoes dos empregados. Ele tambem exige 0 exam

previo de uma planta detalhada dlugar. E fotos. Com base na nu

merologia, sugeriu mudancas aqui

ali. Mexeu na dispostcao das mesae nas cores dos uniformes dos aten

dentes. Pouca coisa. A palavra fins6 e dada com as medicoes dpendulo e 0 exame "presenclal" d

terreno. Sua especialidade e 0 trabalho de campo. Esta ali para isso.

Olhando a parte frontal da lojZenedin glra0brace no ar e mira n

quina pontiaguda do predio situado

na diagonal. Balanca a cabeca comse percebesse uma tsunami de mau

fluidos se formando no oceano. Eentao aponta para 0predio da outr

esquina e, de la, traca urn raio dziquizira que atravessaria a rua, re

picana num poste, ricochetearia notais grampos metalicos enfiados soa varanda e - ai, caramba! - cor

taria a calcada a poucos centlmetros

da cadeira onde esta sentadoreporter. Passa raspando.- Chamei 0Zenedin depois qu

ele fez urn trabalho muito born n

Melt - diz Alfredo Barbosa, urn dofundadores da boate erguida numdaqueles pontos do Leblon em qunada dava certo. - Quando elchegou Ia , a obra nao andava, tudo

parecia emperrado. Ele fez uma limpeza completa no ambiente. Daliem

diante, foi s6 sucesso>



~ 0 sucesso de Zenedin pode ser

medido em sua agenda movimen-

tada. Ele atende diariamente emurn "consultorio" sem placa na por-

ta, numa transversal da Oscar Frei-

re, reglao de endinheirados em Sao

Paulo. Chegou ate la depois de

fazer urn minucioso estudo da area.

Foge das zonas de energla ruim. Na

sua analise do mapa da cidadeonde vive, ele risca uma linha de

urucubaca que sai da Marginal,serpenteia em meio aos engarra-

famentos e atravessa a Bandeiran-

tes. Ali, diz Zenedin, qualquer pro-

jeto, por melhor que seja, esta

condenado a ir pras cucuias.

- 0 Pao de Acucar se mudou

pra la, urn predio luxuoso, e poucotempo depois 0 Diniz foi seques-

trado. Acabaram voltando para a

antiga sede. A Daslu tam bern ia

bern ate instalar a nova loja 1.1.Deuno que deu, ate a dona faleceu. Sem

contar urn motel da area em que as

mulheres morriam com 0 cabelo

I

P a ul R e d f ern c o m P ru d en t e d e M o ra is , e m Ip a n em a c a v e ir a d e b u r r o c la s s ic s

G e n e ra l V e n a nc io F lo re s , n o L eb lo n : n e m c ra Q u e R o na ld a d e u je it o n o " fe n 6m e n o "

preso nas hidromassagens - enu-

mera. - Tive urn cliente que abriuurn consultorio dentario bern em

cima desse eixo. Vivia vazio. Fui 1.1e

falei, fecha! Hoje ele esta bern.

A dienteIa de Zenedin e formada

basicamente por gente aflita para

resolver problemas financeiros. Ha

tambern mulheres em busca de con-

selhos matrimoniais, arquitetos que-rendo obteruma "bencao" paraseus

projetos, maes a procura de urn bornnome para dar aos mhos e ate times

de futebol, como 0 Palmeiras, em

busca de dicas sobre a contratacaoou a melhor forma de motivar seus

jogadores. Sempre gente querendo

mudar a sorte. A s vezes Zenedine

psicologo, as vezes e advogado, ou-

tras tantas e urn decorador espe-

ciaHzado em feng shul. Charlatao?

- Sempre tern alguem para me

chamar de charlatao, faz parte,mas 0 exito do meu trabalho de-

monstra quem eu sou. Tenho mi-

nhas regras - se explica, apro-

veitando para informar qu

as tais regras, esta a de na

° valor de seus honorarios,atendo ladrao, politico, assnenhum tipo de pilantra.

Zenedin explica seu do

uma conjuncao de merecicomprometimento. Diz que

em Deus como uma cente

torca que rege todas as cobatizado e criado na Igreja

Cornecou a desenvolver scao quando era garoto e, ao

mae, frequentava as ciru

pirituais promovidas pelo

Ze Arigo. Desde entao, diz

sempre exercitando seu po

ta, por exemplo, que enqua

zava a cidade do aeroporLeblon, foi reparando naq

vores retorcidas que embele

parte do calcadao de Copac

da seu diagnostlco sombrio- Eu nao flcarla mais

minutos sentado embaixo

deIas ...•

nema. Bern de frente pa

fracasso das sucessivasque abriram all(do Del Ma

Z Conternporaneo, passapel a boate W, a ultima

aventurar no ponto) esta

cesso ostensivo da OsteriaAngolo. Quem explica?

Talvez os mages da CasMago, no Humaita. A cas

que oferece consultas ddencia e trabalhos envolve

esoterismo - inaugurou

dez anos, com seu proprio

vico de radiestesia. Nao

para menos. Ate entao, a

havia sido ocupado pelo

casso de uma clintca medi

antes, pel a casa de shows

tern. Dizem que a pa de cal

durante uma noite de codo Sex Pistols e 0 proprio

Vicius, zureta com a quaJidas bandas, teria vindo

quinto dos infernos para

dar 0 troco parar. Com cras nao se deve brincar.

M u ito s o s s os p a ra d es en te rra r

As caveiras de burro nao es-

colhem lugar. No Rio, elas tanto

pod em estar em lugares que

parecem feitos para 0 fiasco(ou alguern acredita que aquela

casa de espetaculos inaugura-

da onde Iuncionava 0 CinemaVeneza daria certo?) quanta

em pontos cercados de suces-so por todos as lados.

Quando decidiu se aventurar

pelo ramo de ernpresarlo da

noite, Ronaldo era conhecido

como Fenorneno. A R9, umasofisticada boate erguida no

ponto nobre da Venancio Flo-res, no Leblon, promena botar

gente pelo ladrao, Prometia.

Em menos de urn ana, fechou as

portas, mostrando que 0 fe-

nomeno ali era bern outro.

Mas a mais famosa caveira de

burro da cidade - daquelas que

todo mundo se pergunta a por-que de nao dar certo - e 0 da

esqulna da Prudente de Moraiscom a Paul Redfern, em Ipa-

eduardo zenedin - o globo - perfil - 08.04.12

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