economia e métodos quantitativos 12º - manual do aluno

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Autores: Mara Madaleno, Carlos Pinho, Pedro Almeida, Clara Bola. / Conceção e elaboração: Universidade de Aveiro. Coordenação geral do Projeto: Isabel P. Martins e Ângelo Ferreira. Cooperação entre o Ministério da Educação de Timor-Leste, o Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Universidade de Aveiro. Financiamento do Fundo da Língua Portuguesa.

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Page 1: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

República Democrá ca de Timor-LesteMinistério da Educação

Manual do AlunoECONOMIA EMÉTODOSQUANTITATIVOS12. ano de escolaridade

Page 2: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno
Page 3: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Projeto - Reestruturação Curricular do Ensino Secundário Geral em Timor-Leste

Cooperação entre:Ministério da Educação de Timor-Leste | Camões - Instituto da Cooperação e da Língua | Fundação Calouste Gulbenkian | Universidade de Aveiro

Financiamento do Fundo da Língua Portuguesa

Manual do AlunoEconomia e Métodos Quantitativos12.o ano de escolaridade

Page 4: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Este manual do aluno é propriedade do Ministério da Educação da República Democrática de Timor-Leste, estando proibida a suautilização para fins comerciais.

Os sítios da Internet referidos ao longo deste livro encontram-se ativos à data de publicação. Considerando a existência de alguma volatilidade na Internet, o seu conteúdo e acessibilidade poderão sofrer eventuais alterações. Caso tenha sido inadvertidamente esquecido o pedido de autorização de uso de algum material protegido por copyright, agradece-se que seja comunicado, a fim deserem tomadas as providências adequadas.

TítuloEconomia e Métodos Quantitativos - Manual do Aluno

Ano de escolaridade12.o Ano

AutoresMara MadalenoCarlos PinhoPedro AlmeidaClara Bola

Coordenadores de disciplinaCarlos PinhoTeresa Neto

Consultores cientí�ficos Joaquim da Costa Leite João Pedro da Ponte

Colaboração das equipas técnicas timorenses da disciplina Este manual foi elaborado com a colaboração de equipas técnicas timorenses da disciplina, sob a supervisão do Ministério da Educação de Timor-Leste.

Design e PaginaçãoEsfera Crítica Unipessoal, Lda. Sofia Simões

1ª Edição

Conceção e elaboraçãoUniversidade de Aveiro

Coordenação geral do Projeto Isabel P. MartinsÂngelo Ferreira

Ministério da Educação de Timor-Leste

2014

ISBN978 - 989 - 753 - 110 - 1

Impressão e AcabamentoCreativa Design Consultant, Lda.

Tiragem5000 exemplares

Page 5: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

3

Índice

Unidade Temática

7 Modelação matemática1 Função Exponencial e Logarítmica

1.1 Função Exponencial1.2 Função Logarítmica1.3 Aplicações da função exponencial e da função logarítmica1.4 Modelo de crescimento logístico

2 Cálculo Diferencial2.1 Introdução. Um problema de modelação matemática2.2 Limite e continuidade de uma função

2.2.1 Noção de limite2.2.2 Cálculo de limites2.2.3 Regras operatórias com limites2.2.4 Limites no infinito e limites infinitos2.2.5 Limites de funções racionais

2.3 Continuidade de uma função2.4 Cálculo diferencial - introdução

2.4.1 Taxa média de variação2.4.2 Interpretação geométrica da taxa média de variação de uma função num intervalo2.4.3 Taxa de variação instantânea. Derivada de uma função.2.4.4 Interpretação geométrica da derivada2.4.5 Derivabilidade e continuidade2.4.6 Função derivada. Regras de derivação2.4.7 Estudo de funções2.4.8 Problemas de otimização

2.5 Derivadas parciais2.5.1 Definição2.5.2 Aplicações

2.6 Soluções

69

192329313131313435383940424244

46475051575859596062

Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica1 Políticas Económicas e Sociais do Estado

1.1 O papel do Estado na Economia1.1.1 A evolução do papel do Estado na Economia

1.2 Políticas Sociais e Económicas 1.3 Políticas Conjunturais e Estruturais1.4 Proteção Social

2 Crescimento e Desenvolvimento2.1 Crescimento e Desenvolvimento – Conceitos e Indicadores 2.2 O Crescimento Económico Moderno2.3 As Desigualdades Atuais de Desenvolvimento

3 O Desenvolvimento e a Utilização dos Recursos3.1 O Desenvolvimento e a Questão Demográfica3.2 O Desenvolvimento e os Recursos Ambientais

707070778387898999

109122122128

Unidade Temática

8

O Contexto Internacional da Economia

1 A Globalização e a Regionalização Económica do Mundo1.1 A Mundialização Económica1.2 A Globalização do Mundo Atual1.3 A Globalização e os Países em Desenvolvimento1.4 A Regionalização Económica Mundial

Bibliografia e Webgrafia

142142150160162167

Unidade Temática

9

Page 6: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

y =1,4x

y =3xy =20x

x

y

2

1

4

5

3

0 0.5 1 1.5 2 32.5

O b j e t i v O s

– Analisar graficamente as funções exponenciais e logarítmicas;– Resolver equações e inequações exponenciais e logarítmicas;– Resolver problemas em contexto real usando funções exponenciais ou funções logarítmicas;– Interpretar modelos de crescimento linear, exponencial, logarítmico e logístico;– Resolver problemas em contexto de economia envolvendo a noção de limite;– Calcular a taxa média de variação de uma função num intervalo e interpretar o seu valor no contexto da situação;– Interpretar geometricamente a taxa média de variação de uma função;– Resolver problemas de otimização ;– Aplicar o conceito de derivada parcial na Economia;– Desenvolver a capacidade de comunicação e raciocínio matemático.

Page 7: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Unidade Temática 7 Modelação matemática

Subtema 1 – Função exponencial e logarítmicaSubtema 2 – Cálculo diferencial

Page 8: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

6

Unidade Temática 7 | Modelação matemática

1 FUNÇÃO EXPONENCIAL E LOGARÍTMICAA modelação matemática estuda a simulação de sistemas reais com o objetivo de prever os seus comportamentos.

As funções são um instrumento fundamental na modelação de fenómenos frequentes no nosso quotidiano.

Neste subtema vamos estudar vários tipos de modelos de crescimento que se adaptam a inúmeras situações.

Por exemplo, Thomas Robert Malthus, economista britânico considerado pai da demografia, comparou o

crescimento de funções lineares e exponenciais e concluiu que o crescimento da população humana era maior

que a capacidade de produzir alimentos, o que conduziria à fome caso a natalidade não fosse controlada.

A modelação matemática permite resolver problemas da vida real identificando modelos matemáticos que

permitam a sua resolução. No processo de modelação, a fase de organização do modelo é decisiva para o

processo de modelação matemática.

A figura seguinte representa em esquema algumas das etapas no processo de modelação.

Problema da realidade

Conclusão

Validação

Modelo Problema matemático

Análise

Solução matemáticaInterpretaçãoSolução real

Adaptado de Funções. 10.º ano. Ministério de Educação Português, DES.1997

Page 9: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Função Exponencial e logarítmica | 7

No 10º ano foi feito o estudo da função linear. Vamos aplicar esse estudo à situação a seguir apresentada.

Situação 1 – Modelo de crescimento linear

Na tabela seguinte estão registados os dados relativos ao número de subscritores de serviços telefónicos da

rede fixa, a nível nacional, do 3º trimestre de 2008 ao 2º trimestre de 2010.

(Fonte: Indicadores estatísticos 2010/DNE)

TrimestresNº de subscritores de serviços telefónicos da rede fixa

3ºT 2008 25624ºT 2008 26411ºT 2009 26482ºT 2009 27263ºT 2009 28084ºT 2009 29071ºT 2010 29752ºT 2010 3019

3ºT2008

4ºT2008

1ºT2009

2ºT2009

3ºT2009

4ºT2009

1ºT2010

2ºT2010

Nº de subscritores 2562 2641 2648 2726 2808 2907 2975 3019

2500260027002800290030003100

Número de subscritores de serviços telefónicos da rede fixa

Ao observarmos o diagrama de dispersão, construído com os dados da tabela, podemos tentar traçar uma

reta que se ajuste a esta nuvem de pontos.

Além disso, com a ajuda de uma calculadora gráfica ou de um computador (introduzindo os valores da variável

independente, trimestres, e da variável dependente, número de subscritores) pode ser encontrado um

modelo que melhor se ajusta à nuvem de pontos referida. Nesta situação, o modelo procurado é o modelo

de crescimento linear que é representado por uma função do tipo y = ax + b , com a, b a, b ∈IR . Neste caso,

foram encontrados, com arredondamento às unidades, os valores a = 68 e b = 2478, obtendo-se a reta de

equação: y = 68x + 2478.

PontosValor de x (trimestres)

Valor de y (nº de subscritores)

A 1 2562B 2 2641C 3 2648D 4 2726E 5 2808F 6 2907G 7 2975H 8 3019

A

B CD

E

FG

H

y = 68x + 2478

2500

2600

2700

2800

2900

3000

3100

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Núm

ero

de

subs

crito

res

Trimestres

Page 10: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

8 | Modelação matemática

Encontrado o modelo de crescimento podemos analisar a evolução do número de subscritores de telefones

da rede fixa neste período de tempo e também podemos fazer previsões sobre o número de subscritores

da rede fixa em trimestres anteriores e posteriores a este intervalo de tempo (desde que não sejam muito

distantes).

Segundo este modelo (se esta tendência de crescimento de mantiver), uma previsão para o número de

subscritores de telefones da rede fixa para no 1º trimestre de 2014 poderá ser obtida da seguinte forma:

Considerando para x = 1 o valor relativo ao 3º trimestre de 2008 e sabendo que um ano tem 4 trimestres,

x = 23 corresponderá ao valor relativo ao 1º trimestre de 2014.

y = 68 × 23 + 2478 = 4042

Então 4042 é uma previsão do número de subscritores para o 1º trimestre de 2014.

ou

Obtemos uma estimativa para este valor através do gráfico (usando uma escala adequada):

AB C

DE F

G H y = 68x + 2478

2500

29002700

33003500

3100

3700390041004300

0 321 4 5 6 7 8 11 12 13 14 15 16 17 18 19 2021 222324259 10

Núm

ero

de

subs

crito

res

Trimestres

Resposta: 4042 é uma previsão para o número de subscritores de serviços telefónicos da rede fixa para o 1º

trimestre de 2014.

Nota: A reta y = 68x + 2478, obtida nesta situação com o auxílio da calculadora, também pode ser

determinada analiticamente considerando o estudo de dados bidimensionais (conteúdo estudado no 11º

Ano). Esta reta é a reta de regressão que relaciona as variáveis “número do trimestre” e “número de

subscritores”.

Page 11: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Função Exponencial e logarítmica | 9

1.1 Função Exponencial

Além de inúmeras aplicações matemáticas, a função exponencial é indispensável na Ciência, na Indústria, no

estudo de muitos problemas de Economia e Finanças (por exemplo, no cálculo de “juros compostos”) e em

muitas outras áreas.

Situação 2 – Taxa de juro simples e taxa de juro composto

Juro simples

A taxa de juro simples é aplicada sobre o capital inicial (principal) de forma linear. Ao longo do tempo, apenas

o capital principal rende juros. Este sistema não é utilizado na prática das operações comerciais.

A fórmula de cálculo do capital aplicado, com uma taxa de juro simples, ao fim de um determinado período

de tempo é a seguinte:

C Capital; C0 Capital inicial

i taxa de juro por período; n n períodos de tempoC = C0+ C0 × i × n

Juro composto

Na modalidade de Regime de Juro Composto de aplicação de capital, depois de cada período, os juros são

incorporados ao capital principal e passam também a render juros.

A fórmula de cálculo do capital, ao fim de um determinado período de tempo é seguinte:

C = C0(1 + i)n C Capital; C0 Capital inicial

i taxa de juro por período; n n períodos de tempo

Nota: Nesta fórmula, a unidade de tempo referente à taxa de juro i e ao período n tem de ser a mesma.

Se, por exemplo, a taxa de juro for de 3% ao ano e o período de aplicação for de 5 anos, temos:

i = 0,03 e n = 5 , ou seja, C = C0(1+ 0,03)5 .

Se, por exemplo, a taxa de juro for de 3% ao mês e o período de aplicação for de 5 anos, teremos de

considerar a unidade de tempo o “mês”:

i =0,0312

e n = 60 (5 x 12 = 60 meses) , ou seja C =C 0 1+0,0312

⎛⎝⎜

⎞⎠⎟

60

.

Page 12: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

10 | Modelação matemática

Considera um capital inicial de $ 1000 depositado a uma taxa de juro anual de 8%. Na tabela seguinte estão registados os resultados do cálculo do capital no final dos 6 primeiros anos de aplicação, segundo uma taxa de juro simples e segundo uma taxa de juro composto (supondo que não é levantada qualquer quantia neste

período de tempo).

Número de anosCapital

(Juros simples)Capital

(Juros compostos)

1 1000 +1000 × 0,08 ×1=1080 1000 × 1+ 0,08( )1 =1080

2 1000 +1000 × 0,08 × 2 =1160 1000 × 1+ 0,08( )2=1166,40

3 1000 +1000 × 0,08 × 3 =1240 1000 × 1+ 0,08( )3≈1259,71

4 1000 +1000 × 0,08 × 4 =1320 1000 × 1+ 0,08( )4≈1360,49

5 1000 +1000 × 0,08 × 5 =1400 1000 × 1+ 0,08( )5≈1469,33

6 1000 +1000 × 0,08 × 6 =1480 1000 × 1+ 0,08( )6≈1586,87

Nota: Existem taxas de juro ativas, que são cobradas pelas Instituições Financeiras às pessoas ou entidades

a quem concedem crédito e taxas de juro passivas, que são pagas pelas Instituições Financeiras aos seus

depositantes.

Graficamente podemos observar que o crescimento do capital aplicado em Regime de Juro Simples é linear (os

pontos do gráfico estão sobre uma reta) , enquanto que o crescimento do capital aplicado em Regime de Juro

Composto é exponencial (os pontos do gráfico estão sobre uma curva exponencial), tendo um crescimento

muito mais “rápido”.

C =1000(1 + 0,08)n C =1000 + 80n

1000

500

2000

2500

1500

0 2 4 6 8 12 14 16 18 2010

Capi

tal (

USD

)

Tempo (anos)

As funções que definem este último tipo de

crescimento denominam-se funções exponenciais.

Função exponencial de base a

Função definida por expressões do

tipo y = ax, com a ∈IR+ \ 1{ } .

Nota: Se a = 1, obtemos a função constante y = a.

Antes de analisarmos outras situações que envolvem a aplicação da função exponencial vamos estudar as

características deste tipo de funções.

Page 13: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Função Exponencial e logarítmica | 11

Funções do tipo y = ax , a > 1.

Função exponencial crescente

Considera três exemplos de funções deste tipo definidas pelas expressões y = 1,4x , y = 3x e y = 20x. Estuda estas

funções quanto à sua representação gráfica, domínio e contradomínio, zeros, sinal, monotonia, interseção com

os eixos e injetividade.

» Representação gráfica

Consideramos alguns pontos para fazer o esboço do gráfico das funções referidas:

x y = 1,4x (x,y) x y = 3x (x,y) x y = 20x (x,y)

-2 0,51 (-2; 0,51) -2 0,11 (-2; 0,11) -2 0,0025 (-2; 0,0025)

-1 0,71 (-1; 0,71) -1 0,33 (-1; 0,33) -1 0,05 (-1; 0,05)

0 1 (0; 1) 0 1 (0; 1) 0 1 (0; 1)

1 1,4 (1; 1,4) 1 3 (1; 3) 1 20 (1; 20)

2 1,96 (2; 1,96) 2 9 (2; 9) 2 400 (2; 400)

4 3,84 (4; 3,84) 4 81 (4; 81) 4 160000 (4; 160000)

y =1,4x

y =3xy =20x

x

y

2

1

4

5

3

0 0.5 1 1.5 2 32.5

Pela visualização gráfica observamos que à medida

que x toma valores negativos cada vez mais distantes

de zero, os valores de y aproximam-se de 0.

» Domínio e Contradomínio

Df = IR e D’f =IR

+

Nota: Se f é uma função, f (x) = y onde y é a

imagem de x pela função f.

» Zeros

Este tipo de funções não têm zeros porque

não existe nenhum elemento do seu domínio cuja

imagem seja nula.

» Sinal

Para estudar o sinal de uma função temos de determinar os intervalos do seu domínio nos quais a função

tem imagem negativa e os intervalos do seu domínio onde a função tem imagem positiva.

Page 14: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

12 | Modelação matemática

Como para todo o x pertencente ao domínio de f, a sua imagem é positiva, f é positiva em

a, b ∈IR : a x > 0,∀x ∈a, b ∈IR pois a > 0:

Nota: ∀ (quantificador universal) é o símbolo lógico usado para denotar o universo de quantificação

e lê-se “para todo”.

» Monotonia

Como , ∀x1,x2 ∈Df ,x1 < x2 ⇒ a x1 < a x2 , f é estritamente crescente em todo o seu domínio.

» Interseção com os eixos

Interseção com o eixo das abcissas (y = 0)

Este tipo de funções não intersetam o eixo das abcissas porque não têm zeros.

Interseção com o eixo das ordenadas (x = 0)

Se x = 0 então y = a0 , logo y = 1

Todas as funções da família y = ax , a > 1 intersetam o eixo das ordenadas no ponto de coordenadas (0,1)

» Injetividade

Pela visualização gráfica dos exemplos apresentados podemos observar que objetos diferentes (do domínio

das funções) correspondem a imagens diferentes, o que implica que as funções deste tipo sejam injetivas.

Um caso particular das funções exponenciais de base superior a 1 são as funções exponenciais de base e.

Por exemplo, a função cuja expressão analítica é y = 3 × e−0 ,6 x .

“e” é um número irracional (dízima infinita não periódica), designado por Número de Neper, e aparece na

resolução de equações em que as incógnitas aparecem no expoente (equações exponenciais)

e = 2,71828182845904...

Funções do tipo y = ax , 0 < a < 1

Função exponencial decrescente

Considera dois exemplos de funções deste tipo definidas pelas expressões y = 0,5x e y = 0,02x. Estuda esta família

de funções quanto à sua representação gráfica, domínio e contradomínio, zeros, sinal, monotonia, interseção

com os eixos e injetividade.

Page 15: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Função Exponencial e logarítmica | 13

» Representação gráfica

x y = 0,5x (x,y) x y = 0,02x (x,y)

-1 2 (-1; 2) -1 50 (-1; 50)

-0,5 1,4 (-0,5; 1,4) -0,5 7 (-0,5; 7)

0 1 (0; 1) 0 1 (0; 1)

0,5 0,7 (0,5; 0,7) 0,5 0,14 (0,5; 0,14)

1 0,5 (1; 0,5) 1 0,02 (1; 0,02)

1,5 0,35 (1,5; 0,35) 1,5 0,003 (1,5; 0,003)

y =0,02x

y =0,5x

x

y

1

2

0 1

Pela visualização gráfica observamos que à medida que x toma valores positivos cada vez mais distantes de zero,

os valores de y aproximam-se de 0.

» Domínio e Contradomínio: Df = IR e D’f =IR+ .

» Zeros: não tem zeros.

» Sinal: f é positiva em IR IR : a x > 0,∀x ∈ pois a > 0.

» Monotonia: como ∀ x1, x2 ∈D f , x1 < x2 ⇒ a x1 > a x2 , f é estritamente decrescente em todo o

seu domínio.

» Assíntotas: a reta y = 0 é uma assíntota horizontal ao gráfico de f.

» Interseção com o eixo das ordenadas: no ponto (0,1) .

» Injetividade: as funções deste tipo são injetivas.

Page 16: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

14 | Modelação matemática

Equações exponenciais:

Nas equações exponenciais a incógnita encontra-se no exponente de pelo menos uma potência.

Seguem-se alguns exemplos de resolução de equações exponenciais:

1)

Aplicamos técnicas para igualar as bases, e de seguida igualamos os exponentes.

7 x − 9 = 40

7 x − 9 = 40⇔ 7 x = 49

⇔ 7 x = 7 2

⇔ x = 2

S = 2{ }

2)

Produto de potências com o mesmo expoente: a x × bx = a × b( )xProduto de potências com a mesma base:  a x × a

y= ax+ y

3x + 6 x = 3x +1

3x + 6 x = 3x +1 ⇔ 3x + 3 × 2 )( x= 3x +1

⇔ 3x + 3x × 2x = 3x × 31

⇔ 3x + 3x × 2x − 3x × 3 = 0

⇔ 3x 1+ 2x − 3)( = 0

⇔ 3x = 0 ∨1+ 2x − 3 = 0⇔ 2x = 2⇔ x =1S = 1{ }

Lei do anulamento do produto:

a × b = 0 ⇔ a = 0 ∨ b = 0 , ∀ a,b ∈ IR

é uma condição impossível porque 3x > 0 , ∀ x ∈ IR 3x = 0

S = 1{ }

3)

= 1

512

⇔ 52x = 5−12 ⇔ 2x = − 1

2⇔ x = − 1

4

25x = 15

25x = 15⇔ 52( )x = 1

152

⇔ 52x = 5−12 ⇔ 2x = − 1

2⇔ x = − 1

4

S = − 14

⎧⎨⎩

⎫⎬⎭ Nota: amn = a

mn , sendo e a > 0 n,m ∈

Page 17: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Função Exponencial e logarítmica | 15

4)

S = −2; 0{ }

Reduzimos ambos os membros da equação ao mesmo

denominador, sabendo que 02 x ≠ é uma condição universal.

Resolvemos a equação, aplicando a fórmula resolvente para equações do 2º grau, com incógnita y = 2x, onde os coeficientes da equação ay2 + by + c = 0, a≠ 0 são a = 4; b = 5 e c = 1 respetivamente.

2x+2 + 2 −x = 5

2x+2 + 2 −x = 5⇔ 2x × 22 + 12x

= 5

⇔ 2x × 22 × 2x +1= 5 × 2x

⇔ 4 × 2x( )2 − 5 × 2x +1= 0⇔ 4 y 2 − 5 y +1= 0

⇔ y =5 ± −5( )2 − 4 × 4 ×1

2 × 4

⇔ y =1∨ y = 14

⇔ 2x =1∨ 2x = 14

⇔ 2x = 20 ∨ 2x = 2 −2

⇔ x = 0 ∨ x = −2

S = −2; 0{ }

y = 2x

5)

S = 12

⎧⎨⎩

⎫⎬⎭

e 4x−2 = 1e3−6 x

e 4x−2 = 1e3−6 x

⇔ e 4x−2 = e−3+6 x

⇔ 4x − 2 = −3 + 6x

⇔ x = 12

S = 12

⎧⎨⎩

⎫⎬⎭

Page 18: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

16 | Modelação matemática

Inequações envolvendo exponenciais

f(x) = 6 +3xg(x) = 9x

x

y

10

5

15

0 1-1 2 3

No seguinte referencial estão partes das representações

gráficas das funções f e g definidas por f x( ) = 6 + 3x e

g x( ) = 9x .

Df = IR

D' f = 6 ; +∞⎤⎦ ⎡⎣ porque como 3x > 0,∀x ∈ IR , então 6 + 3x > 6

y = 6 é uma assíntota horizontal ao gráfico de f

Dg = IR

D' g = 0; +∞⎤⎦ ⎡⎣ porque 9x > 0,∀x ∈ IRy = 0 é uma assíntota horizontal ao gráfico de g

Pretende-se descobrir os valores de x isto é, valores de x cujas imagens, segundo a função f, são superiores às

suas imagens, segundo a função g , ou seja, os valores de x que satisfazem a desigualdade f ( x) > g ( x).

Começamos por determinar o(s) ponto(s) de interseção dos dois gráficos:

6 + 3x = 9x ⇔ 9x − 3x − 6 = 0⇔ 3x( )2 − 3x − 6 = 0⇔ y 2 − y − 6 = 0

⇔ y =1± 12 − 4 ×1× −6( )

2 ×1⇔ y = 3 ∨ y = −2⇔ 3x = 3 ∨ 3x = −2⇔ x =1

y = 3x

3x = −2 é uma condição impossível

Substituindo numa das funções x = 1, obtemos o ponto de interseção dos dois gráficos (1,9).

Então, os valores de x que satisfazem a condição f ( x) > g ( x) pertencem ao intervalo −∞;1⎤⎦ ⎡⎣ .

Este intervalo é obtido pela observação do gráfico das funções dadas.

Page 19: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Função Exponencial e logarítmica | 17

Vamos analisar agora alguns exemplos de resolução analítica de inequações envolvendo exponenciais:

1)

S= −∞; 32

⎤⎦⎥

⎤⎦⎥

9x ≤ 27

9x ≤ 27⇔ 32( )x ≤ 33⇔ 32x ≤ 33

⇔ 2x ≤ 3

⇔ x ≤ 32

S = −∞; 32

⎤⎦⎥

⎤⎦⎥

Como a base é superior a 1,

mantém-se o sentido da desigualdade.

2)

S= −∞; −2⎤⎦ ⎤⎦

10000 ≤ 0,01x

10000 ≤ 1100⎛⎝⎜

⎞⎠⎟

x

⇔10000 ≤ 10−2( )x

⇔104 ≤10−2 x ⇔ 4 ≤ −2x⇔ 4−2

≥ x⇔−2 ≥ x⇔ x ≤ −2

S = −∞; −2⎤⎦ ⎤⎦

3)

Como a base é inferior a 1, troca-se o sentido da desigualdade.

23

⎛⎝⎜

⎞⎠⎟

x

≥ 827

23

⎛⎝⎜

⎞⎠⎟

x

≥ 827

⇔ 23

⎛⎝⎜

⎞⎠⎟

x

≥ 23

⎛⎝⎜

⎞⎠⎟

3

⇔ x ≤ 3

S = −∞; 3⎤⎦ ⎤⎦

4) x × 6 x − 36x > 0

x × 6 x − 36x > 0⇔ x 6 x − 36( ) > 0⇔ x > 0 ∧ 6 x − 36 > 0( )∨ x < 0 ∧ 6 x − 36 < 0( )⇔ x > 0 ∧ 6 x > 6 2( )∨ x < 0 ∧ 6 x < 6 2( )⇔ x > 0 ∧ x > 2( )∨ x < 0 ∧ x < 2( )⇔ x > 2 ∨ x < 0

S = −∞; 0⎤⎦ ⎡⎣∪ 2; +∞⎤⎦ ⎡⎣

O produto de dois números é superior a zero se ambos os números forem positivos ou ambos os números forem negativos.

Page 20: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

18 | Modelação matemática

5)

1 2

++-

2x + 21−x ≥ 32x + 21−x ≥ 3⇔ 2x + 21−x − 3 ≥ 0⇔ 2x + 2 × 2 −x − 3 ≥ 0

⇔ 2x + 2 × 12x

− 3 ≥ 0⇔2x( )2 + 2 − 3 × 2x

2 x≥ 02x

⇔ 2x( )2 + 2 − 3 × 2x ≥ 0⇔ 2x( )2 − 3 × 2x + 2 ≥ 0

y 2 − 3 y + 2 = 0⇔ y =3 ± −3( )2 − 4 ×1× 2

2 ×1⇔ y =1∨ y = 2

y 2 − 3 y + 2 ≥ 0⇔ y ≤1∨ y ≥ 2Então

Como x2y = , temos: ⇔ 2x ≤ 20 ∨ 2x ≥ 21

⇔ x ≤ 0 ∨ x ≥1

S = −∞; 0⎤⎦ ⎤⎦∪ 1; +∞⎡⎣ ⎡⎣

A expressão do primeiro membro da inequação a que chegámos, equivalente à inequação inicial, pode ser

definida como uma expressão do segundo grau, efetuando a mudança de variável y = 2x.

Assim, tem-se y2 - 3y + 2 = 0. Graficamente, representa uma parábola com o sentido da concavidade voltado

para cima.

Page 21: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Função Exponencial e logarítmica | 19

Tarefa 1:

1. Um indivíduo depositou um capital de $ 2300 numa conta bancária em Regime de Juro Composto. Sabendo

que a taxa de juro anual é de 3,5%, determina o valor do capital ao fim de:

1.1 3 anos; 1.2 10 anos.

2. Um indivíduo depositou um capital de $ 1500 numa conta bancária em Regime de Juro Composto. Sabendo

que a taxa de juro mensal é de 3%, determina o valor do capital ao fim de 6 anos.

3. Resolve, em IR , as seguintes equações exponenciais:

3.1 52x − 5 = 0 ; 3.2 7( )x = 149 ; 3.3 3x+8 = 1

27 ; 3.4 5x+1 =

125x

;

3.5 4x − 4x x = 0 ; 3.6 8x+1 − 64x = 0 ; 3.7 4x − 3 = −2 × 4−x ; 3.8 36x = 6x+1 .

4. Resolve, em IR, as seguintes inequações exponenciais:

4.1 5x ≥ 5 −2 ; 4.2 4-x > 2 × 2x ; 4.3 0,000001≤10x ; 4.4 e−4x−6 − e < 0 .

5. Considera a função f, real de variável real, tal que f (x) = 16 - 41-2x .

5.1 Determina os zeros, caso existam, da função f;

5.2 Determina o elemento do domínio de f cuja imagem é igual a 15;

5.3 Representa, na forma de intervalo de números reais, o conjunto A = x ∈IR: f x( ) ≥ −48{ } .

1.2 Função Logarítmica

A função logarítmica também se aplica na modelação de muitas situações.

A que número se deve “elevar” 3 para obtermos 81?

3x = 81⇔ 3x = 34 ⇔ x = 4

Então 4 é o número pedido e representa o logaritmo de 81 na base 3.

log3 81= 4

Page 22: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

20 | Modelação matemática

A que número se deve elevar 10 para obtermos 100 000?

10x =100 000⇔10x =105 ⇔ x = 5

Então 5 é o número pedido e representa o logaritmo de 100 000 na base 10.

10log 100 000 5= log100 000 5=ou Nota: log10x = log x

logex = ln x

Logaritmo decimal de x:

Logaritmo neperiano de x:

Nota: Para determinarmos o valor de, por exemplo log381 , podemos escrever este valor como quociente

entre dois logaritmos decimais (de base 10) ou como quociente entre dois logaritmos neperianos (de base e).

Este procedimento é útil quando recorremos a uma calculadora ou a tabelas logarítmicas.

log381=log 81log 3 ou log381=

ln 81ln 3

Como foi referido anteriormente, a função exponencial é injetiva. Todas as funções injetivas admitem inversa.

A função inversa da função exponencial, f ( x ) = a x, é a função logarítmica g( x ) = loga x.

Função logarítmica

Função logarítmica de base a é toda a função definida por loga x , com 0a > e 1a ≠ .

Graficamente, a função inversa da função exponencial f , ou seja, a função logarítmica g, obtém-se a partir do

gráfico de f, através de uma reflexão de eixo y = x.

Por exemplo, se a função f é definida por f x( ) = 3x , então a sua função inversa é definida por g x( ) = log3 x .

Logaritmo

Logaritmo de um número positivo x na base a, com a∈IR+ \ 1{ } é um número y tal que xa y = .

loga x = y ⇔ x = ay

Page 23: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Função Exponencial e logarítmica | 21

y = 3x

y = log3x

y = x

x

y

1

2

3

0 1-1 2 3 4

-1

A função definida por g x( ) = log3 x tem domínio IR +, contradomínio IR , é crescente e contínua em IR + e

tem um zero (x = 1).

Equações envolvendo logaritmos

Determina os valores reais de x, tal que:

1) log4 3x = 2

1º Determinar o domínio da condição log4 3x = 2

D = x ∈IR:3x > 0{ } = x ∈IR:x > 0{ } = IR +

2º Resolver a equação

24log 3 2 3 4

3 1616 3

x x x Dx x D

x

= ⇔ = ∧ ∈⇔ = ∧ ∈

⇔ =

S = 163

⎧⎨⎩

⎫⎬⎭

Page 24: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

22 | Modelação matemática

2) ln ( 6) 12x + =

1º Determinar o domínio da condição ln ( 6) 12x + =

D = x ∈IR:x + 6 > 0{ } = x ∈IR:x > -6{ } = -6,+∞⎤⎦ ⎡⎣

2º Resolver a equação

5 5ln ( 6) 5 6 6x x e x D x e+ = ⇔ + = ∧ ∈ ⇔ = −

S = e 5 − 6{ }

3) 2ln ln 4x x=

1º Determinar o domínio da condição 2ln ln 4x x=

D = x ∈IR : x2 > 0∧ 4x > 0{ } = x ∈IR : x2 > 0∧ x > 0{ } = x ∈IR : x > 0{ } = 0,+∞] [

2º Resolver a equação

ln x 2 = ln 4x⇔ x 2 = 4x ∧ x ∈D⇔ x 2 − 4x = 0 ∧ x ∈D⇔ x x − 4( ) = 0 ∧ x ∈D⇔ x = 0 ∨ x = 4( )∧ x ∈D⇔ x = 4

Como D0∉ , S = 4{ }

4) 10 × 54x−1 = 800

4 -1 4 -1 55

log 80 1 1 log80 110 5 800 5 80 4 -1 log 804 4 log5 4

x x x x x+

× = ⇔ = ⇔ = ⇔ = ⇔ = × +

1 log80 14 log5 4

S = × +

Com recurso a uma calculadora podemos obter um valor aproximado da solução da equação. Por exemplo,

0,931 é um valor aproximado às milésimas.

Page 25: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Função Exponencial e logarítmica | 23

Tarefa 2:

1. Determina o valor real de x , tal que:

1.1 5log 125 x= ; 1.2 2log 32 x= ; 1.3 7log 1 x= ; 1.4 log 0,001 x= ; 1.5 16log 4 x= ;

1.6 2log 8 6x = ; 1.7 log (7 - ) 1x = ; 1.8 5log (16 - 9) -10 -8x = ; 1.9 12 3ln 110e x+ =

.

2. Determina o valor real de x , tal que:

2.1 04 =−xe ; 2.2 3- 7 17x = − ; 2.3 219 56 10 55x+ × = .

(Apresenta o resultado aproximado às centésimas)

1.3 Aplicações da função exponencial e da função logarítmica

As funções exponenciais e logarítmicas desempenham um papel importante na Matemática e nas ciências na

qual esta se aplica, entre elas, a Física, a Química, a Engenharia, a Astronomia, a Economia, a Biologia, a Geografia

ou a Psicologia.

Por exemplo, na matemática financeira, a função exponencial aplica-se no cálculo do capital de uma aplicação,

por um determinado período de tempo, segundo uma taxa de juro composto e o logaritmo aplica-se no cálculo

do tempo que um capital deve ser aplicado, a juros compostos, de forma a gerar um determinado montante.

Situação 3 – Modelo de crescimento exponencial

Foi administrada uma determinada quantidade do medicamento X num

paciente. Com o decorrer do tempo a quantidade, em mg, de medicamento

presente na corrente sanguínea vai-se alterando, seguindo o seguinte

modelo:

Q( t ) = 5 × e−0 ,2 t , t em horas.

1. Determina a quantidade administrada inicialmente a este paciente.

A quantidade pedida corresponde ao início da administração do tratamento, ou seja, quando t = 0 horas.

Q(0) = 5 × e-0,2×0

Q(0) = 5 × 1

Q(0) = 5

Resposta: Inicialmente foi administrado ao paciente 5 mg do medicamento X.

Page 26: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

24 | Modelação matemática

2. Determina a quantidade de medicamento existente na corrente sanguínea deste paciente ao

fim de 4 h 30 min de ter sido administrado.

Substituímos, no modelo apresentado, t por 4,5.

Q( 4,5 ) = 5 × e−0 ,2×4,5

Q( 4,5 ) ≈ 2,03

Resposta: Passadas 4h 30m, existia aproximadamente 2,03 mg deste medicamento na corrente sanguínea

do paciente.

3. Ao fim de quanto tempo, a quantidade de medicamento na corrente sanguínea do paciente é

igual a 1,25 mg?

(nos teus cálculos utiliza ln0,25 ≈ −1,39 )

5 × e−0 ,2×t =1,25

⇔ e−0 ,2×t = 1,255

⇔−0,2 × t = ln0,25⇔ t ≈ 6 ,95

Resposta: A quantidade de medicamento na corrente sanguínea do paciente é igual a 1,25 mg ao fim de 7

horas, aproximadamente.

Situação 4 – Modelo de crescimento exponencial

Uma empresa que produz um determinado produto tem diminuído a sua produção

ano após ano. Num certo ano produziu 500 unidades desse produto. A partir daí,

a produção anual passou a seguir o seguinte modelo:

P(x) = 500 × 0,8( )x

Nota: Neste período recessivo, a empresa apresentou um decréscimo na

produção de 20% ao ano.

1. Determina o número de unidades produzidas no terceiro ano deste período recessivo.

P(3) = 500 × 0,8( )3 = 256

Resposta: No terceiro ano após a empresa produzir 500 unidades de um determinado produto, produziu 256

unidades.

Page 27: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Função Exponencial e logarítmica | 25

2. Se esta empresa continuar a seguir este modelo de produção, passados quantos anos

produzirá apenas 22 unidades do seu produto?

(nos teus cálculos utiliza log 0,044 1,357≈ − e log 0,8 0,097≈ − , valores obtidos com aproximação às milésimas)

500× 0,8( )x = 22⇔ 0,8x = 22500

⇔ 0,8x = 0,044⇔ x = log0,8 0,044⇔ x = log0,044log0,8

⇔ x ≈13,990

Ou por tentativa e erro:

Anos

x

Produção

P x( ) = 500 × 0,8( )x

0 5001 4002 320… …8 ≈ 84… …14 ≈ 2215 ≈ 18

Resposta: No 14º ano após o início deste período de recessão, a empresa produzirá 22 unidades.

Situação 5 – Modelo de crescimento logarítmico

Um agricultor registou anualmente a altura de uma árvore que plantou no seu quintal com um ano em

2001 (x = 1).

Anos a partir de 2000

x

Altura (metros)

A(x)1 1,42 2,73 3,65 4,06 4,37 4,48 4,89 5,1

0 1

1

2

3

4

5

6

-1 2-2 3-3 4-4 5 6 7 8 9 10 11

A(x) = 1,55 + 1,57lnx

Altu

ra d

a ár

vore

(met

ros)

Anos (após 2000)

Page 28: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

26 | Modelação matemática

Depois de representar os pontos através de um diagrama de dispersão, o agricultor, com a ajuda de uma

calculadora gráfica, encontrou um modelo que se ajusta a estes dados:

A(x) = 1,55 + 1,57 lnx , x representa o número de anos a partir de 2000.

1. Estima a altura da árvore no ano de 2004;

A(4)=1,55 + 1,57ln4 ≈ 3,7

Resposta: Em 2004 a altura da árvore era igual a 3,7 metros, aproximadamente.

2. Estima qual será a altura desta árvore em 2020, supondo que este modelo de crescimento se

mantém;

A(20)=1,55 + 1,57 ln20 ≈ 6,3

Resposta: Em 2018 a altura da árvore será igual a 6,3 metros, aproximadamente.

3. Estima em que ano a altura da árvore poderá ser igual a 6,1 metros, aproximadamente.

D = x ∈IR:x > 0{ } = 0,+∞⎤⎦ ⎡⎣

Nota: x representa o número de anos, logo a variável independente é sempre positiva.

A x( ) = 6 ,1⇔1,55 +1,57 ln x = 6 ,1⇔ ln x = 4,55

1,57⇔ x = e

4,551,57 ⇔ x ≈18,14

Resposta: Em 2018 (x = 18) a altura da árvore será igual a 6,1 metros, aproximadamente.

Page 29: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Função Exponencial e logarítmica | 27

Tarefa 3:

1. Uma população de bactérias aumenta 15% por dia. Se no início do estudo

havia 500 000 bactérias, quantas bactérias existem ao fim de:

1.1 3 dias;

1.2 1 mês;

1.3 t dias (modelo de crescimento desta população).

2. A massa de uma substância radioativa decresce de acordo com a fórmula M (t) = 10 × e−0,3t onde

M(t) é a quantidade de substância radioativa existente depois de decorrido o tempo t, em gramas;

0,3- é a característica da substância associada à taxa anual de desintegração;

t é o tempo, em anos.

2.1 Determina quantos gramas de sustância radioativa havia 8 anos depois do início do estudo. Apresenta o

resultado com aproximação às centésimas;

2.2 Quando é que a massa desta substância radioativa foi igual a 10 gramas?

3. Numa determinada fábrica, o gestor sabe que o lucro originado pela

produção de n peças é calculado, em milhares de USD, pela função: ( ) log(90 ) -1L n n= + .

3.1 Qual o lucro originado pela produção de 910 peças? E de 9910 peças?

3.2 Para que o lucro seja igual a $ 4 000, qual é o número de peças que será

necessário produzir?

Page 30: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

28 | Modelação matemática

4. O gráfico seguinte mostra a evolução da população residente num distrito entre 2005 e 2011.

y = 2213 + 3440lnx

x

y

0 2 31 4 5 7 96 8 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000

9000

10000

11000

12000

13000

O modelo matemático que representa o

crescimento da população neste distrito é

o seguinte:

( ) 2213 3440lnP x x= +

onde x é o número de anos decorridos

após o ano 2000.

4.1 Indica o número de habitantes deste

distrito em 2001;

4.2 Indica o número de habitantes em 2010;

(nos teus cálculos utiliza ln10 2,303≈ )

4.3 Utilizando este modelo estima o número de habitantes em 2020;

(nos teus cálculos utiliza ln 20 2,996≈ )

4.4 Descreve o crescimento da população neste distrito, a partir do ano 2000.

5. Um indivíduo está à procura de emprego. Duas empresas distintas

ofereceram as seguintes condições:

Empresa A: salário de $ 500 no primeiro ano e um aumento salarial de $30

em cada ano seguinte.

Empresa B: salário de $ 400 no primeiro ano e um aumento de 15% em cada

ano seguinte.

5.1 Indica a empresa que oferece melhores condições saláriais ao fim de:

5.1.1 dois anos; 5.1.2 três anos; 5.1.3 seis anos.

5.2 Elabora um breve comentário sobre o crescimento da proposta salarial em cada uma das empresas.

6. A evolução da massa salarial de um trabalhador é, por vezes, explicável através de modelos matemáticos.

Numa empresa, o trabalhador A recebia mensalmente, no ano 2008, $ 351 . Nos anos seguintes, o valor do

seu salário mensal pode ser obtido através do seguinte modelo:

1-n1,05351V(n) ×=

Nota: a variável n, representa o número de anos, onde n=1 corresponde ao ano de 2008.

6.1 Determina o salário do trabalhador A em 2012;

6.2 Determina o salário do trabalhador A em 2016;

6.3 Se o salário deste trabalhador continuar a seguir o modelo de crescimento referido, em que ano o seu

salário será igual a $ 702?

Page 31: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Função Exponencial e logarítmica | 29

1.4 Modelo de crescimento logístico

O modelo de crescimento logístico adequa-se a situações onde a taxa de crescimento de uma população não é

constante. Por exemplo, numa população de araras pode verificar-se inicialmente um crescimento exponencial mas,

num ambiente limitado, a competição entre os elementos da população pode fazer baixar este ritmo de crescimento.

Situação 6 – Modelo de crescimento logístico

A função logística pode modelar uma situação descritiva de condições que variam ao longo do tempo,

podendo prever, por exemplo, comportamentos de clientes face a novos produtos introduzidos no mercado.

Comportamentos estes com uma reação inicial lenta, passando a um rápida aceitação (comportamento

exponencial) e estagnando quando o mercado fica saturado.

Considera que foi introduzido um novo produto no mercado e que o

número de vendas foi contabilizado mensalmente (observa a tabela

com os dados recolhidos).

Com a ajuda de uma calculadora gráfica foi encontrado um modelo que

se ajusta à nuvem de pontos definida pela contabilização mensal dos

22 primeiros meses de introdução deste produto no mercado.

x

y

0 15 20105 25

100

200

300

400

Meses

Uni

dade

s ve

ndid

as

343,42y = 1 + 56,19e -0,67t

O modelo de crescimento que melhor se ajusta a estes dados reais é o modelo logístico que é dado por:

P( t ) = c1+ ae( −bt )

onde a, b e c são constantes positivas, e é o número de Nepper e t é a variável que representa

o tempo.

Meses Vendas (unidades)

1 22 163 344 505 1206 2007 2438 2499 298

10 31211 32512 32013 35414 35515 33016 35017 34218 34119 35620 34821 35222 350

Page 32: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

30 | Modelação matemática

Neste caso temos c = 343,42 , a = 56,19 e b = 0,67 , valores encontrados com aproximação às centésimas.

Pela observação do gráfico relativo a este crescimento pode-se distinguir três fases distintas na evolução de

vendas deste produto nos primeiros 22 meses em que foi comercializado:

- Crescimento inicial lento (fase de adaptação do produto ao mercado);

- Crescimento rápido (fase de propagação do produto no mercado);

- Crescimento muito lento (fase de estabilização do número de vendas do produto).

Tarefa 4:

1. A tabela seguinte dá-nos o número de alunos matriculados no ensino superior de um determinado país

de 1990 a 2010.

(Considera o ano 1990 como o ano 0, 1991 como ano 1, e assim sucessivamente)

Ano Nº de alunos matriculados Ano Nº de alunos matriculados0 53 022 11 175 5351 58 500 12 178 4913 68 100 13 187 0384 80 061 14 194 1045 93 500 15 198 4207 124 080 16 198 5438 138 513 17 196 1009 150 502 18 199 297

10 160 310 19 200 50020 197 865

O modelo que melhor se ajusta a estes dados reais é o modelo logístico definido por:

A( t ) = 209204,651+ 4e−0 ,26 t

, t em anos após 1990.

1.1 Utiliza o modelo encontrado para prever o número de alunos matriculados neste país no ensino superior:

1.1.1 no ano 1992;

1.1.2 no ano 1996.

1.2 Utiliza o modelo encontrado para prever o ano em que o número de alunos matriculados no ensino

superior foi igual a 206 495.

1.3 Alguma vez, segundo este modelo de crescimento, o número de alunos matriculados no ensino superior

atingirá os 225 000 alunos?

1.4 Caracteriza a evolução do crescimento do número de alunos inscritos no ensino superior segundo este

modelo.

Page 33: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Cálculo diferencial | 31

2 CÁLCULO DIFERENCIAL

2.1 Introdução. Um problema de modelação matemática

No desenvolvimento deste subtema, recupera-se o tipo de abordagem iniciado ao nível do 10.º ano, Estudo

de funções na análise económica, efetua-se um aprofundamento dos respetivos conteúdos e introduzem-se

assuntos novos como a noção intuitiva de limite, o cálculo diferencial e as respetivas aplicações no âmbito da

Economia, como por exemplo da análise marginal.

A tarefa seguinte consiste na formulação de um modelo na tentativa de resolver o problema proposto,

percorrendo algumas das etapas do processo de modelação.

Tarefa 1:

Um grupo de amigos, atento ao comportamento dos seus colegas

da escola no que respeita aos hábitos de leitura, pretende explorar

um negócio na área editorial, elaborando e vendendo uma revista.

Perante esta iniciativa, a escola disponibilizou-se para arranjar

material e papel para os primeiros números da revista.

A que preço deve ser vendida a revista para que o lucro seja máximo?

Elabora uma lista de todas as decisões importantes que devem ser tomadas (por exemplo, público alvo,

tamanho da revista, número de páginas, potenciais compradores, …)Adaptado de Funções. 10.º ano. Ministério de Educação Português, DES.1997

2.2 Limite e continuidade de uma função

O conceito de limite, para além de ter sido fundamental no desenvolvimento de várias teorias ao nível do Cálculo,

tem muitas aplicações no âmbito da Economia.

Neste sentido, vamos apresentar o conceito intuitivo de limite, analisando o comportamento de uma função na

vizinhança (na proximidade) de um ponto de abcissa x , que pode ou não pertencer ao domínio da função e, em

seguida, efetuar o cálculo de limites de algumas funções utilizadas na análise económica.

2.2.1 Noção de limite

Tal como estudaste ao nível do 10.º ano, as empresas, durante o processo produtivo, têm vários custos associados:

os custos fixos (não dependem das quantidades produzidas), custos variáveis (variam com as quantidades

produzidas) e os custos totais que resultam do somatório dos dois custos anteriores.

Page 34: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

32 | Modelação matemática

Considera a seguinte situação.

Situação 1

Na tabela seguinte encontra-se informação relativa aos custos, em dólares, com a produção de determinadas

quantidades de um dado produto.

Quantidades de produção (ton.)

Custos fixos Custos variáveis Custos totais Custos fixos médios

0 900 0 900

100 900 1500 2400 900 9100

=

150 900 2100200 900 3000250 900 4200… … … … …

1000 900 12250

1. Copia para o teu caderno a tabela anterior e completa-a.

2. À medida que a quantidade de produção aumenta, para que valor tende os custos fixos médios? Explica a

tua resposta.

3. A longo prazo, a empresa tenta adaptar a produção para que os custos fixos deixem de existir. Neste sentido,

para que valor tende a diferença entre os custos totais e os custos variáveis à medida que a quantidade

produzida aumenta? Explica a tua resposta.

As questões 2 e 3 da situação 1 implicam a análise do comportamento da variável dependente, fazendo aproximar

a variável independente para um determinado valor. Este é o conceito intuitivo de limite.

Consideremos um exemplo para introduzir esse conceito mais formalmente.

Exemplo 1 – noção de limite de uma função num ponto

Seja g uma função definida pela expressão 2 4 3( )

1x xg x

x− +

=−

O domínio da função g é Dg = x ∈IR : x −1≠ 0{ } = x ∈IR : x ≠1{ } = IR \{1} .

Vamos construir uma tabela de valores de x que se aproximam de 1 pela esquerda (por valores inferiores a 1) e

pela direita (por valores superiores a 1) e os respetivos valores de g(x).

Page 35: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Cálculo diferencial | 33

x < 1(próximos de 1)

g (x)

0 -30,5 -2,50,9 -2,10,99 -2,010,999 -2,0010,9999 -2,00010,99999 -2,000010,999999 -2,000001

x > 1(próximos de 1)

g (x)

2 -11,5 -1,51,1 -1,91,09 -1,911,009 -1,9911,0009 -1,99911,00009 -1,999911,000009 -1,999991

Observando as tabelas anteriores, podemos esperar que à medida que x se aproxima de 1, os valores de g(x)

vão aproximando-se de -2. Pode-se afirmar que o limite da função g no ponto de abcissa 1 depende apenas

dos valores que a função assume nas proximidades de 1, ou seja, numa vizinhança de centro em 1 com um

determinado raio.

x

y

0 1

-2

» Quando x se aproxima de 1 pela esquerda, g(x)

aproxima-se de -2.

Escreve-se: 1

lim ( ) 2x

g x−→

= −

» Quando x se aproxima de 1 pela direita, g(x)

aproxima-se de -2.

Escreve-se: 1

lim ( ) 2x

g x+→

= −

Aos limites anteriores chamamos limites laterais.

Limite de uma função num ponto

Dada uma função f real de variável real, lim ( )x a

f x b→

= quando, e apenas quando, os

limites laterais existem e são iguais a b.

lim ( ) lim ( ) lim ( )x a x a x a

f x b f x b f x b− +→ → →

= ⇔ = ∧ =

Assim, relativamente ao limite da função g em x = 1 existe e é igual a -2.

Escreve-se: 1

lim ( ) 2x

g x→

= − .

Page 36: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

34 | Modelação matemática

Tarefa 2:

1. Na figura seguinte encontram-se representados dois gráficos cartesianos das funções g e h, respetivamente.

x

y

0 1 2-2 -1 3 4 5 6

1

2

3

4

-2

-1

x

y

0 1 2-2 -1 3 4 5 6

1

2

3

4

-2

-1

1.1 Indica o domínio de cada uma das funções.

1.2 Calcula, caso exista, 1

lim ( )x

g x→

e 0

lim ( )x

h x→

.

2. Considera a função f definida por2 1

( )2 1

x se xf x

x se x ≥

= − + <

.

2.1. Representa num referencial cartesiano o gráfico de f.

2.2. Indica, caso exista, 1

lim ( )x

f x→

.

2.2.2 Cálculo de limites

Na teoria de limites existem alguns resultados que, pela sua importância, serão enunciados neste manual.

1. Se o limite de uma função existe (ou seja, é um número real), ele é único.

2. Dadas duas funções f e g, tais que f(x) = g(x), exceto num ponto de abcissa a, então lim lim ( )( )x a x a

g xf x→ →

=

Pelo resultado 2, para determinar o limite de uma função num ponto, pode-se primeiro simplificar a expressão que define a função e depois determinar o seu valor.

Recuperando o limite do Exemplo 1 da página 32 tem-se: Observação:

limx→1

x − 3( ) =1− 3 = −2

x 2 − 4x + 3x −1

=x −1( ) x − 3( )x −1

=

= x − 3, x ≠1parae

limx→1

x 2 − 4x + 3x −1

= limx→1

x −1( ) x − 3( )x −1

= limx→1

x − 3( ) = −2

Page 37: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Cálculo diferencial | 35

2.2.3 Regras operatórias com limites

Para determinar limites de algumas funções pode-se recorrer a regras operatórias com limites.

Exemplo 2 – reconhecer regras

Na figura seguinte estão representadas partes dos gráficos cartesianos das funções , , , e gf g f g f gf

+ ×.

x

y

f

0 1 2-2 -1 3 4

1

2

3

4

-2

-1

-3

x

y

0 1 2-2 -1 3 4

1

2

3

4

-2

-1

-3

x

y

g

0 1 2-2 -1 3 4

1

2

3

4

-2

-1

-3

x

y

f + g

0 1 2-2 -1 3 4

1

2

3

4

-2

-1

-3

f g

x

y

00.5 1-0.5-1-1.5 1.5 2

1

2

-1

f g

Observando as representações correspondentes, verificamos que: 0

lim ( ) 1x

f x→

= e 0

lim ( ) 1x

g x→

=

0 0

lim ( ) lim ( ) 1 1 2x x

f x g x→ →

+ = + = e limx→0

f + g( )(x) = 2 0 0

lim ( ) lim ( ) 1 1 1x x

f x g x→ →

× = × = e limx→0

f × g( )(x) = 1

0 0lim ( ) : lim ( ) 1:1 1x x

g x f x→ →

= = e limx→0

g : f( )(x) = 1O Exemplo 2 sugere algumas operações com limites de funções num dado ponto.

Sejam f e g duas funções reais de variável real. Se, para um dado número real a, lim ( )x a

f x→

e lim ( )x a

g x→

existem,

tem-se:

» Se f é uma função constante e igual a K, então, para qualquer valor a∈IR ,

lim ( ) limx a x a

f x k k→ →

= = Ex.: 3

lim 4 4x→

=

Page 38: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

36 | Modelação matemática

» Se f é a função identidade, f (x) = x, então, para qualquer valor a∈IR ,

lim ( ) limx a x a

f x x a→ →

= =

» Limite do produto

limx→a

f (x) × g(x)⎡⎣ ⎤⎦ = limx→a f (x)× limx→a g(x)

Ex.: limx→0

3x − 2( )× x2 − 3x( )⎡⎣

⎤⎦ = limx→0 3x − 2( )× lim

x→0x2 − 3x( ) = (3× 0− 2)× (02 − 3× 0) = −2× 0 = 0

Nota: No caso particular do limite do produto de uma constante por uma função f, tem-se:

limx→a

k × f (x)⎡⎣ ⎤⎦ = limx→a k × limx→a f (x) = k × limx→a f (x)

Ex.: limx→0

−2× 2x2 + 3( )⎡⎣

⎤⎦ = −2× lim

x→02x2 + 3( ) = −2× 2× 02 + 3( ) = −2× 3= −6

» Limite da soma

limx→a

α f (x) + βg(x)⎡⎣ ⎤⎦ = limx→a α f (x)⎡⎣ ⎤⎦ + limx→a βg(x)⎡⎣ ⎤⎦ = α limx→a

f (x) + β limx→ag(x) , ,α β ∈IR .

Ex.: limx→1

−2 x2 −1( )+ 2 −x +10( )⎡⎣

⎤⎦ = limx→1 −2 x2 −1( )⎡

⎣⎤⎦ + limx→1 2 −x +10( )⎡⎣ ⎤⎦ =

= −2× limx→1x2 −1( )+ 2× lim

x→1−x +10( )

= −2 × 12 −1( )+ 2× −1+10( )= −2 × 0+ 2× 9

= 0+18 = 18

limx→1

−2 x2 −1( )+ 2 −x +10( )⎡⎣

⎤⎦ = limx→1 −2 x2 −1( )⎡

⎣⎤⎦ + limx→1 2 −x +10( )⎡⎣ ⎤⎦ =

= −2× limx→1x2 −1( )+ 2× lim

x→1−x +10( )

= −2 × 12 −1( )+ 2× −1+10( )= −2 × 0+ 2× 9

= 0+18 = 18

» Limite do quociente

lim ( )lim ( ) , com lim ( ) 0

lim ( )x a

x a x ax a

f xf x g xg g x

→ →→

= ≠

Ex.: limx→0

−2x2 − 2−22x

⎛⎝⎜

⎞⎠⎟=limx→0

−2x2 − 2( )limx→0

−22x( ) = −2× 02 − 2−22×0

= −2−1

= 2

» Limite da potência de expoente natural

limx→a

f (x)⎡⎣ ⎤⎦n= lim

x→af (x)⎡

⎣⎤⎦n

, sendo n natural

limx→2

−3x2 − x( )2 = limx→2

−3x2 − x( )⎡⎣

⎤⎦2= −3× 4− 2( )2 = −14( )2 = 196

Page 39: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Cálculo diferencial | 37

» Limite da raiz

lim ( ) lim ( ), se lim ( ) 0 e um número par qualquer

(ou para qualquer número natural ímpar).

n nx a x a x a

f x f x f x n

n→ → →

= ≥

Ex.: limx→3

3x −13 = limx→3

3x −1( )3 = 3× 3−13 = 9−13 = 83 = 2

Pelos exemplos anteriores, podemos afirmar que:

Se f é uma função polinomial, então lim ( ) ( )x a

f x f a→

= .

Se f é uma função racional ( )( ) , ( ) 0( )

D xf x d xd x

= ≠ e fa D∈ , então lim ( ) ( )x a

f x f a→

= .

Exemplo 3 – cálculo de um limite de uma função polinomial

1. Considera a função real de variável real definida por 4 3( ) 4 3 1f x x x= − + − .

Determina 1

lim ( )x

f x→−

.

Resolução:

A função polinomial tem domínio IR

Assim, limx→−1

f (x) = limx→−1

−4x4 + 3x3 −1( ) = f (−1)= −4× (−1)4 + 3× (−1)3 −1 = −4− 3−1= −8

2. Dada a função real de variável real definida pela expressão 2 25( )

5xg xx−

=−

, calcula 5

lim ( )x

g x→

.

Resolução:

A função g não está definida para x = 5, pelo que não podemos usar o mesmo procedimento que na

questão anterior. Ou seja, não podemos simplesmente determinar a imagem de 5, pela função g. Assim, uma das

possibilidades é tentar simplificar a expressão que define a função, para x diferente de 5.

Ora, dado que 2 25 ( 5)( 5)x x x− = − + , então limx→5

(x −5)(x +5)x −5

= limx→5

x +5( ) = 5+5 = 10 .

Page 40: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

38 | Modelação matemática

2.2.4 Limites no infinito e limites infinitos

Considera a seguinte situação.

Situação 2Uma empresa está a produzir um produto que tem

tido muita aceitação no mercado.

O custo, em USD, para produzir x unidades desse

produto é dado pela expressão ( ) 1,5 200C x x= +

1. Determina a função custo médio, ( )Cm x .

2. Se a empresa decidir produzir em grande escala

esse mesmo produto, qual será o valor previsível do

custo médio? Interpreta o resultado obtido.

Na situação anterior, nomeadamente na questão 2, analisaste para que valores tende o custo médio quando aumentas cada vez mais o valor de x.

Ou seja, qual será o valor do limite da função Cm quando x tende para mais infinito.

Vamos estudar limites de funções no infinito com a observação do exemplo que se segue.

x

y

f

0 2 4-2-4-8-10-12 -1 6 8 10 12 14 16 18 20

1

2

3

4

-1

No referencial da figura anterior, está representado o gráfico de uma função racional f definida em IR+ e uma

reta de equação y = 3, que não faz parte do gráfico da função.

Pela observação do gráfico podemos afirmar o seguinte:

» À medida que os valores de x aumentam, as respetivas imagens tendem para 3.

Diz-se que: “o limite da função quando x tende para mais infinito é 3”

Escreve-se: lim ( ) 3x

f x→+∞

=

» À medida que os valores de x tendem para zero, por valores à direita, as respetivas imagens tendem

para valores negativos, cada vez menores.

Diz-se que: “o limite da função quando x tende para zero, mas por valores superiores a zero, é −∞ ”

Escreve-se: 0

lim ( )x

f x+→

= −∞ .

Page 41: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Cálculo diferencial | 39

No caso geral, dado um número natural n e um número real b, não nulo, tem-se: Nota: No caso das funções

exponenciais, salientamos o

limite da sucessão de termo

geral 11n

n +

que é igual ao

número e, designado de

número de Nepper.

0

1lim nx x+→= +∞

0

, se é ímpar1lim, se é parnx

nnx−→

−∞= +∞

lim 0nx

bx→+∞

= lim 0nx

bx→−∞

=

2.2.5. Limites de funções racionais

Considera as funções polinomiais f e g de grau n e m, respetivamente, definidas por:1

1 0( ) ...n nn nf x a x a x a−

−= + + + 11 0( ) ... , 0, 0, e naturaism m

m mg x b x b x b a b n m−−= + + + ≠ ≠ . Dada a função racional h

definida por ( )( )( )

f xh xg x

= é possível concluir que:

,( )lim ,( )

0 ,

n

xm

se n maf x se n m

g x bse n m

→±∞

±∞ >= = <

Tarefa 3:

1. Calcula os seguintes limites:

1.1 limx→−5

x −1( ) x2 + 4x −5( )x +5

1.2. 0

2lim1x

xx→

+ −

1.3. limx→−1

2x3 − 3x2( )1.4.

0

2 3limx

xx+→

+ 1.5. 20

5limx x−→

1.6. 4 2

4

3 2lim1x

x xx→+∞

− −− +

2. Uma empresa estima que o custo, em milhares de USD, associados à limpeza de x % de uma reserva

natural é modelado pela expressão: 300( )100

xC xx

=−

2.1. Determina o custo para limpar um quinto dos resíduos.

2.2. Se a empresa pretender investir 300000 USD nesta atividade, que percentagem da reserva consegue limpar?

2.3. Será viável do ponto de vista económico para a empresa tentar limpar a totalidade da reserva? Explica

a tua resposta.

3. Uma empresa de fabrico de peças de bicicletas estima que cada um dos seus novos funcionários, após t

horas de formação em contexto de trabalho, consegue montar p peças de bicicleta por dia, de acordo com

a expressão, 2

2

10( )4

tp tt

=+

Se a empresa investir na formação dos seus funcionários a longo prazo, qual é o número de peças de

bicicletas que se espera que cada funcionário consiga montar no final da formação?

Page 42: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

40 | Modelação matemática

2.3 Continuidade de uma função

Graficamente, o estudo da continuidade de uma função é bastante intuitivo, pois basta verificar que o gráfico da

função não apresenta “interrupções” ao longo do seu domínio. Dito de outro modo, uma função é contínua se

for possível “percorrer” o seu gráfico cartesiano com um lápis sem ser necessário levantá-lo.

Mas, dada uma função definida pela sua expressão algébrica, como poderemos verificar se esta é contínua num

ponto ou num conjunto de pontos do seu domínio?

Considera f uma função real de variável real definida em D, sendo D um intervalo aberto (ou uma união de

intervalos abertos). Diz-se que f é contínua em x = a, com a∈D se:

» lim ( )x a

f x→

existe;

» lim ( ) ( )x a

f x f a→

=

Nota: Caso a função não verifique qualquer uma destas condições, diz-se que f é descontínua

Em seguida, sintetizam-se algumas propriedades sobre operações com funções contínuas.

Propriedades

Sejam f e g duas funções reais de variável real, contínuas em a. Então:

» A função f + g é uma função contínua em a;

» A função gf × é uma função contínua em a;

» A função fg

é uma função contínua em a , se 0)( ≠xg .

Mais geralmente, diz-se que:

» Uma função f é contínua em A⊂ IR se é contínua em qualquer um dos pontos de A.

Das propriedades anteriores, conclui-se que:

» Uma função polinomial é contínua em IR , pois resulta da soma de funções e do produto de funções

contínuas.

» As funções racionais são funções contínuas em todo o seu domínio.

» As funções exponenciais são contínuas em IR .

» As funções logarítmicas são funções contínuas em IR0+

Page 43: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Cálculo diferencial | 41

Exemplo 4 – continuidade de uma função

O custo de produção que uma empresa tem com uma determinada quantidade de produto é dado por

0 20( )

2 0,5 20x se x

C xx se x

< <= + ≥

Verifica se C é uma função contínua.

Resolução

A função f está definida por ramos, sendo que para valores superiores a 0 e inferiores a 20, a função é

contínua, pois trata-se da função polinomial (função polinomial do 1º grau), que é uma função contínua.

Para valores superiores a 20, a função é contínua pois é a soma de duas funções contínuas (a função

linear e a constante).

Verifiquemos, por definição, se a função é contínua no ponto de abcissa x = 20:

20 20

lim ( ) lim 20x x

f x x− −→ →

= = e limx→20+

f (x) = limx→20+

2x + 0,5( ) = 40,5 .

Dado que os limites laterais são diferentes, então o 20

lim ( )x

f x→

não existe.

Conclui-se que a função é contínua em todo o seu domínio, exceto no ponto de abcissa 20.

Tarefa 4:

1. Considera a função f definida da seguinte forma, 0,05

0,05( 60)

20 80 2 , 0 60( )

6 2 , 60

x

x

se xf x

k se x

− −

+ × ≤ <= + × ≥

sendo k uma

constante real.

1.1. Determina o valor de k de modo que a função f seja contínua. Apresenta todos os cálculos que efetuares.

1.2. Determina o valor de x superior a 60, para o qual ( ) 18,5f x = .

Caso não tenhas resolvido a questão anterior considera k = 25.

2. Uma empresa de paginação, tem um protocolo com um fornecedor de tinteiros. O custo, em dezenas de

dólares, com a aquisição de x dezenas de tinteiros é modelado pela função g definida por:

3 0,5 0 3( ) 50 , 3

2 9

x se xg x x se x

x

+ ≤ <=

≥ +

2.1. Estuda a continuidade da função g no ponto de abcissa 3.

2.2. De acordo com o protocolo estabelecido, é possível a empresa ter um custo de 250 dólares na aquisição

dos tinteiros? Justifica a tua resposta.

Page 44: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

42 | Modelação matemática

2.4 Cálculo diferencial - introdução

Tal como referimos na introdução do presente subtema, o cálculo diferencial para além de permitir um estudo

mais completo das funções, permite no âmbito da economia encontrar respostas para questões do tipo:

» Deveremos continuar a produzir um produto já existente ou deixá-lo de produzir?

» Que impacto tem a produção de uma unidade adicional de um dado produto nos custos de uma empresa?

» Qual o número mínimo de unidades de um produto que a empresa deve vender para continuar a ser

rentável? Será mais vantajoso subcontratar?

» Quais são os efeitos da oscilação da procura de um determinado produto nos lucros da empresa? Que

decisões se devem tomar na empresa ao nível da produção?

2.4.1 Taxa média de variação

Considera a situação que se segue.

Situação 3

O custo total, C(x), em unidades monetárias, para produzir x unidades de um determinado produto é dado

pela expressão, 2( ) 0,5 1,5 100C x x x= + + , sendo 0x ≥

Num determinado dia foram produzidas 200 unidades.

1. Determina o custo médio de cada peça produzida nesse dia.

2. Qual seria a variação no custo total se a produção passasse de 200 para 400 unidades?

3. Escreve a expressão simplificada equivalente à diferença ( 1) ( )C x C x+ − e interpreta o seu significado no

contexto da situação.

Considerando a função C, definida na situação anterior, é possível determinar a sua variação entre dois valores

inteiros. Por exemplo, a variação do custo total na produção de 40 unidades para 80 unidades é dada pela

diferença, (80) (40) 2460C C− = unidades monetárias (u.m.).

Variação de uma função num intervalo

Seja f uma função contínua de domínio D e a e b dois números reais (sendo a < b), tais que o intervalo [a, b]

está contido em D. A variação da função f no intervalo [a, b] é dada pela diferença entre as imagens de b e de

a por f, ou seja, f (b) – f(a).

Page 45: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Cálculo diferencial | 43

Taxa média de variação

Uma empresa, quando pretende analisar o impacto do aumento da produção de x unidades no custo, recorre ao

estudo do custo marginal, ou seja, interpreta o acréscimo de custos a que se está sujeito quando se produz uma

unidade adicional de um bem.

Na tabela seguinte, encontram-se registados os custos associados à produção de uma determinada quantidade

de um produto.

Unidades Custo fixo Custo variável Custo total Custo total Taxa média de variação do custo

0 250 0 250

100 250 2200 2450 24,502450 − 250100 − 0

= 22

150 250 2900 3150 213150 − 2450150 −100

=14

200 250 3500 3750 18,753750 − 3150200 −150

=12

250 250 4700 4950 19,84950 − 3750250 − 200

= 24

Pela análise da tabela anterior, podemos concluir que, neste caso, um aumento na produção provoca um aumento

nos custos totais. Ao nível do custo unitário e da taxa média de variação, observa-se que há uma redução até

uma determinada quantidade. Estes dados são importantes ao nível do planeamento da produção da empresa,

uma vez que a partir de certo volume de produção possivelmente haverá um agravamento do custo médio e do

custo marginal.

De um modo geral, no quadro das funções reais de variável real, tem-se:

Dada uma função real de variável real e os números reais a e b, a taxa média de variação (t.m.v.) de uma

função contínua no intervalo [a, b] é dada por: [ , ]( ) ( ). . . a b

f b f at m vb a−

=−

.

Da definição anterior podemos estabelecer as seguintes afirmações:

» Se f é uma função é crescente em [a, b], então a t.m.v. [a, b] é maior que zero;

» Se f é uma função decrescente em [a, b], então a t.m.v. [a, b] é menor que zero;

» Se f é uma função constante em [a, b], então a t.m.v. [a, b] é igual a zero.

Page 46: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

44 | Modelação matemática

Será que as afirmações recíprocas das anteriores são verdadeiras?

x

y

2,5 3 3,51,510,50-1 2 4 4,5 5 5,5 6 6,5 7 7,5 8 8,5

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

-1

9

Consideremos o gráfico de uma

função representado no referencial

cartesiano da figura ao lado.

Relativamente à representação anterior, podemos afirmar que:

» No intervalo [4, 6] a taxa média de variação é positiva e igual 1, mas nesse intervalo a função não é

crescente.

» No intervalo [5, 8] a taxa média de variação é 0 e, no entanto, a função não é constante nesse intervalo.

» No intervalo [4,5; 6] a taxa média de variação é negativa e igual a 23

− , sendo que, nesse intervalo, a

função não é decrescente.

Conclusão: No exemplo anterior, as afirmações recíprocas não se confirmam. Portanto, o fato de a taxa média

de variação de uma função num intervalo contido no seu domínio ser positiva, negativa ou nula, não implica

que a função seja, respetivamente, crescente, decrescente ou constante nesse mesmo intervalo.

2.4.2 Interpretação geométrica da taxa média de variação de uma função num intervalo

Vamos analisar o significado geométrico da taxa média de variação de uma função f num dado intervalo [a, b],

considerando o seguinte exemplo.

0

f(b)

f(b) - f(a)

f(a)

b - a

A

B

a b x

y

Page 47: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Cálculo diferencial | 45

Considera os pontos ( , ( )) ( , ( ))A a f a e B b f b= = pertencentes ao gráfico da função f e a reta por eles definida.

Tendo em conta os dados da figura anterior, consideremos m o declive da reta AB. Assim, ( ) ( )f b f amb a−

=−

. (1)

Por outro lado, a taxa média de variação da função f no intervalo [a, b] também é dada pela expressão

[ , ]( ) ( ). . . a b

f b f at m vb a−

=−

. (2)

Portanto, pelas igualdades (1) e (2) podemos concluir que:

Graficamente, a taxa média de variação de uma função num intervalo [a, b] representa o declive da reta

secante ao gráfico da função definida pelos pontos ( , ( )) ( , ( ))A a f a e B b f b= = .

Tarefa 5:

1. Constrói um referencial cartesiano.

Faz uma representação gráfica da função f : [0, 10] IR, sabendo que:

1.1. f é monótona e t.m.v.[0, 10] = 1. 1.2. f não é monótona e t.m.v.[0, 10] = -2.

2. A receita, R (x) em u.m., que uma dada empresa obtém com a venda de x unidades é dada pela expressão

2( ) 0,05 50R x x x= − + .2.1. Qual é a taxa média de variação da receita se a produção variar de 100 para 300 unidades.

2.2. Determina a taxa média de variação da receita se a produção variar de 500 para 700 unidades. Comenta

o valor obtido no contexto do problema e apresenta uma possível razão para o sucedido.

3. No referencial cartesiano da figura ao lado,

está representado o gráfico da função f. Indica:

3.1. os intervalos de monotonia da função;

3.2. os máximos e mínimos relativos;

3.3. os máximos e mínimos absolutos, caso

existam;

3.4. o zero da função;

x

y

0 1 2-2-3 -1 3 4 5 6 7 8 9 10

1

2

3

4

-1

5

3.5. um intervalo onde a t.m.v. nesse intervalo seja -2;

3.6. um intervalo onde a t.m.v. nesse intervalo seja 0;

3.7. um intervalo onde a t.m.v. nesse intervalo seja 1.

Page 48: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

46 | Modelação matemática

2.4.3 Taxa de variação instantânea. Derivada de uma função.

Uma fábrica produz peças para bicicletas. Admite que a quantidade, f (x),

em milhares, de peças produzidas em função do número de horas de

trabalho, x, é dada pela expressão: 2( )f x x=

Vamos determinar a taxa média de variação da produção no intervalo das 3

horas às 6 horas e das 3 horas às 4 horas.Assim, tem-se:

[3,6](6) (3) 36 9 27. . . 9

6 3 3 3f ft m v − −

= = = =−

milhares de peças por hora de

trabalho.

[3,4](4) (3) 16 9. . . 7

4 3 1f ft m v − −

= = =−

milhares de peças por hora de trabalho.

Será possível determinar a taxa de variação para o instante x = 3?

Consideremos a amplitude do intervalo [a, b] como sendo h. Assim, h a b= − , pelo que b a h= + .

Portanto, a taxa média de variação de f no intervalo [a, a +h], pode ser dada por:

[ , ]( ) ( ). . . a a h

f a h f at m vh+

+ −=

Considera a tabela seguinte, onde se apresenta o cálculo da taxa média de variação da função f em intervalos

[3, 3+h], onde h tende para zero, ou seja, para intervalos com amplitude a tender para zero.

Observações:

1. Repara que considerando h = 0,1 significa que estamos a aumentar 6 minutos ao instante 3 horas. Portanto, neste contexto, 6,1 corresponde à taxa média de variação no intervalo de tempo das 3 horas às 3 horas e seis minutos.

2. Se considerássemos valores próximos de 3, mas inferiores, concluiríamos que a t.m.v. nos intervalos tenderia também para 6.

Valores

para h

Intervalo

[3, 3+h] [3,3 ](3 ) (3). . . h

f h ft m vh+

+ −=

h te

nde

para

zero 0,1 [3; 3,1] 6,1 t.m

.v. tende para 6

0,05 [3; 3,05] 6,050,01 [3; 3,01] 6,01

0,015 [3; 3,015] 6,015

0,001 [3; 3,001] 6,001

À medida que a amplitude do intervalo [3, 3+h] diminui, o valor da taxa média de variação nesse intervalo tende

para 6 milhares de peças por hora de trabalho. A esse valor dá-se o nome de taxa de variação no instante 3x =

ou derivada da função f no ponto de abcissa 3x = . Representa-se por '(3) 6f = ou 3

6x

dfdx =

=

.

Page 49: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Cálculo diferencial | 47

De um modo geral, tem-se:

Dada uma função f definida no intervalo ]a, b[ e x0 ∈ a,b⎤⎦ ⎡⎣ , a taxa de variação instantânea ou a derivada

da função em 0x x= , caso exista, é um número real para que tende o quociente 0 0( ) ( )f x h f xh

+ − , quando h

tende para zero, ou seja, f ' x0( ) = dfdx

⎛⎝⎜

⎞⎠⎟ x=x0

= limh→0

f (x0 + h)− f (x0 )h

.

Ou f ' x0( ) = dfdx

⎛⎝⎜

⎞⎠⎟ x=x0

= limx→x0

f (x)− f (x0 )x − x0

Exemplo 5 – derivada de uma função num ponto

Dada a função 2( ) 3f x x= determina f’(2).

(sendo)

f ' 2( ) = dfdx

⎛⎝⎜

⎞⎠⎟ x=2

= limx→2

f (x)− f (2)x − 2

= limx→2

3x2 − 3× 22

x − 2= lim

x→2

3x2 −12x − 2

= limx→2

3 x2 − 4( )x − 2

=

= limx→2

3 x − 2( ) x + 2( )x − 2

= limx→23 x + 2( ) = 3× (2+ 2) = 12

2.4.4 Interpretação geométrica da derivada

Tal como vimos anteriormente, do ponto de vista geométrico, a taxa média de variação no intervalo [x0, x0+h]

representa o declive da reta secante que passa pelos pontos 0 0( , ( ))A x f x= e 0 0( , ( ))B x h f x h= + + .

x

y

f(x0 + h)

f(x0)

x0 + hx0

A

B

Retas secantes

Reta tangente

Reta

s sec

ante

s

À medida que h tende para zero o ponto B tende a aproximar-se do ponto A e as retas secantes aproximam-se

da reta tangente ao gráfico no ponto de abcissa x0.

Portanto, podemos concluir que:

Graficamente, a derivada de f no ponto de abcissa x0, ou seja, f’(x0), representa o declive da reta tangente ao

gráfico de f no ponto de abcissa x0.

Page 50: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

48 | Modelação matemática

No subtema Estudo de funções na Análise Económica, abordado no 10.º ano, foi possível definir um modelo

analítico para definir uma reta através de uma equação do tipo y = m x + b, onde m designa o declive da reta e b

representa a ordenada na origem.

Equação da reta tangente ao gráfico

Admitindo que a derivada de f existe no ponto de abcissa 0x x= , podemos definir analiticamente a reta

tangente ao gráfico cartesiano de f no ponto (x0, f(x0)), através da equação:

0 0 0( ) '( )( )y f x f x x x− = −

Exemplo 6 – equação da reta tangente ao gráfico

x

y

y = -6x +5

0 1

1

2

3

4

5

2 3 4-2 -1

-4

-3

-2

-1

Considera a função real de variável real definida por2( ) 2 3f x x= − .

Determina a equação da reta tangente ao gráfico cartesiano

de f no ponto de abcissa x = 1.

Resolução

Determinemos a derivada de f em x = 1, atendendo à definição

de derivada:

f '(1) = limx→1

f (x)− f (1)x −1

= limx→1

2− 3x2 − (2− 3×12 )x −1

=

= limx→1

2− 3x2 − (−1)x −1

= limx→1

−3x2 + 3x −1

= limx→1

−3 x2 −1( )x −1

= −3× limx→1

x −1( ) x +1( )x −1

= −3× limx→1

x +1( )

= −3× (1+1) = −6

Logo, uma equação da reta tangente ao gráfico no ponto de abcissa x = 1 é dada por:

0(1) '( )( 1) ( 1) 6( 1) 1 6 6 6 5y f f x x y x y x y x− = − ⇔ − − = − − ⇔ + = − + ⇔ = − +

Será sempre possível traçar uma reta tangente ao gráfico de uma função em qualquer um dos seus

pontos? A resposta é não.

Page 51: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Cálculo diferencial | 49

Exemplo 7 – semirretas

Nos referenciais da figura seguinte estão representados os gráficos cartesianos das funções f e g, respetivamente.

x

y

0 1

1

2

3

4

5

2 3 4-2 -1

-3

-2

-1

x

y

t1

t2

0 1

1

2

3

4

5

2 3 4-2 -1

-3

-2

-1

Não existe derivada no ponto de abcissa 0, pois a função não é contínua nesse valor.

Portanto, não é possível traçar a reta tangente ao gráfico no ponto de abcissa x = 0.

Não existe derivada no ponto de abcissa 1. Repara que as semitangentes ao gráfico à esquerda e à direita, respetivamente,t1 e t2, no ponto de abcissa x=1 têm inclinações distintas.

Portanto, não existe derivada nos pontos onde a função é descontínua ou nos pontos onde não é possível traçar

retas tangentes ao gráfico, denominados “pontos angulosos”.

Como vimos no caso do gráfico da função g, a inclinação da semitangente à esquerda do ponto de abcissa 1 e a

inclinação da semitangente à direita desse mesmo ponto são diferentes.

Diz-se que as derivadas laterais são diferentes.

Podemos definir as derivadas laterais de f em x0 da seguinte forma:

» à esquerda de x0: f ' x0−( ) = lim

x→x0−

f (x)− f (x0 )x − x0

» à direita de x0: f ' x0+( ) = lim

x→x0+

f (x)− f (x0 )x − x0

Portanto, para um dado x = x0 pertencente ao domínio de uma função f, f’ (x0) existe se as derivadas laterais

existirem e forem iguais, ou seja, f ' x0( ) = f ' x0+( ) = f ' x0−( ) .

Uma função f diz-se derivável (ou diferenciável) num ponto de abcissa x = x0 do seu domínio se existe derivada

em x0.

Mais geralmente, diz-se que uma função é derivável em A⊂ IR , se é derivável ou diferenciável em qualquer

valor x A∈ .

Page 52: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

50 | Modelação matemática

Tarefa 6:

1. A receita, em USD, obtida por uma empresa pela comercialização de x litros de um certo produto químico

é dada pela expressão 2( ) 4R x x= .

1.1. Determina a taxa média de variação de R para 2 4x≤ ≤ .

1.2. Calcula R’ (2). Interpreta o valor obtido no contexto do problema.

1.3. Determina uma equação da reta tangente ao gráfico de R no ponto de abcissa x = 2.

2. Considera as funções f e g definidas, respetivamente, por 2( ) 2f x x x= − + e ( ) 2 1g x x= − + .

Determina:

2.1. '(0)f

2.2. '(0)g

2.3. uma equação da reta tangente ao gráfico da função f no ponto de abcissa zero.

3. Considera a função real de variável real definida pela expressão

2 1( )

2 3 1x se x

f xx se x

≥ −=

− + < −

3.1. Determina f ’(2);

3.2. Determina, caso exista f ’(-1).

2.4.5 Derivabilidade e continuidade

Nos temas anteriores efetuamos o estudo da continuidade e da existência da derivada de uma função

em separado. No entanto, existe uma relação entre estes dois conceitos que importa registar.

Toda a função derivável (ou diferenciável) num ponto de abcissa x = x0 do seu domínio é contínua

nesse ponto.

No entanto, o recíproco do resultado anterior é falso. Ou seja, o facto de uma função ser contínua num ponto

não implica necessariamente que a função seja derivável nesse ponto.

Page 53: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Cálculo diferencial | 51

Exemplo – contínua mas não derivável

x

y

0

0.5

1

1.5

2

2.5

2 4 6-2

-1.5

-1

-0.5

No referencial da figura ao lado está representado o gráfico de

uma função real de variável real definida pela expressão 3( )g x x= .

Repara que a função é contínua em todo o seu domínio, mas

não existe derivada de g no ponto de abcissa x = 0, dado que o

declive da reta tangente ao gráfico no ponto de abcissa x = 0,

tende para +∞ (pois a reta aproxima-se de uma reta vertical,

sendo o seu declive indeterminado).

Em resumo, tem-se:

» Se uma função é derivável em x = x 0, então é contínua nesse ponto;

» Se uma função é contínua em x = x 0, pode não ser derivável nesse ponto;

» Se uma função não é contínua em x = x 0, então não é derivável nesse ponto.

Tarefa 7:

1. Dados os números reais a e b, consideremos a função g definida por:

2

2

1( )

1ax se x

g xx b se x

>= + ≤

Determina o valor de a e b de modo que a função g seja derivável.

2. Comenta a seguinte afirmação:

A função real de variável real definida pela expressão ( )f x x= é derivável em todo o seu domínio.

2.4.6 Função derivada. Regras de derivação

Dada uma função derivável, vamos determinar a sua derivada para qualquer valor do seu domínio. Considera a

situação que se segue.

Situação 4

1. Seja f uma função real de variável real definida por 2( ) 2f x x= .

1.1. Determina '(1)f .

1.2. Seja 0x um número qualquer pertencente ao domínio de f.

Determina uma expressão que represente 0'( )f x .

Page 54: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

52 | Modelação matemática

Função derivada

Seja f uma função real de variável real e D o conjunto dos pontos do domínio de f que admitem derivada.

Chama-se função derivada de f definida em D à função que a cada valor de x de D faz corresponder o número

real f’(x).

A função derivada pode representar-se, por exemplo, por 'f ou 'df

dx

.

Exemplo 8 – a função custo marginal

O custo total de uma empresa para produzir x unidades de um determinado produto é dado pela expressão 2( ) 2 2C x x x= + + .

Determina a função custo marginal, C’. Nota: A função custo marginal pode ser representada por Cmg e corresponde à derivada da função custo total.

Resolução

Seja a um número real pertencente ao domínio de C.

Assim, pela definição de derivada, tem-se:

C ' a( ) = limx→a

C(x)−C(a)x − a

ou C ' a( ) = limh→0

C(a + h)−C(a)h

Assim,

C ' x0( ) = limx→x0

2x2 + x + 2− (2x02 + x0 + 2)

x − x0= limx→x0

2x2 + x + 2− 2x02 − x0 − 2

x − a= limx→x0

2x2 + x − 2x02 − x0

x − x0

= limx→x0

2(x2 − x02 )+ x − x0

x − x0

= limx→x0

2(x − x0 )(x + x0 )+ (x − x0 )x − x0

= limx→x0

(x − a)(2x + 2a +1)x − x0

= limx→x0

2x + 2x0 +1

= 2x0 + 2x0 +1= 4x0 +1

Portanto, a função custo marginal de C é uma função tal que ( ) '( ) 4 1Cmg x C x x= = + .

Page 55: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Cálculo diferencial | 53

A partir da definição de derivada, vamos obter a função derivada de algumas das funções polinomiais estudadas

em anos anteriores.

Função derivada de uma função afim

Consideremos a função real de variável real definida por f (x) = mx + b, m,b∈IR .

Graficamente, a função f é representada por uma reta de declive m. Dado que a reta tangente ao gráfico em qualquer ponto coincide com o próprio gráfico, conclui-se que o declive da reta tangente ao gráfico em qualquer

ponto é igual a m.

Dado um número 0 fx D∈ , qualquer, tem-se:

f ' x0( ) = limx→x0

mx + b− (mx0 + b)x − x0

= limx→x0

mx −mx0 + b− bx − x0

= limx→a

m(x − x0 )x − x0

= m , qualquer que seja fa D∈ .

Logo,

Dada a função afim, ( )f x mx b= + , a sua derivada é '( ) ( ) 'f x mx b m= + =

Nota: a derivada de uma função constante é zero.

Derivada de uma função quadrática

Consideremos a função real de variável real definida por f (x) = ax2 + bx + c, a,b,c∈IR e a ≠ 0 .

Dado um número 0 fx D∈ , qualquer, tem-se:

f ' x0( ) = limx→x0

ax2 + bx + c − (ax02 + bx0 + c)

x − x0= limx→a

ax2 + bx + c − ax02 − bx0 − c

x − x0= limx→x0

ax2 + bx − ax02 − bx0

x − x0=

= limx→x0

a(x2 − x02 )+ b(x − x0 )x − x0

= limx→x0

a(x − x0 )(x + x0 )+ b(x − x0 )x − x0

= limx→x0

(x − x0 )(ax + ax0 + b)x − x0

= limx→x0

ax + ax0 + b

= 2ax0 + b

Logo,

Dada a função quadrática, f (x) = ax2 + bx + c, a,b,c∈IR e a ≠ 0 , a sua derivada é f '(x) = ax2 + bx + c( )' = 2ax + b .

Page 56: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

54 | Modelação matemática

No geral, a determinação da função derivada é um processo trabalhoso, pois implica cálculo de limites e todos

os cálculos que lhe estão associados.

Assim, temos interesse em utilizar regras que nos permitem obter a função derivada de forma rápida e simplificada.

Embora não se deduzam as regras de derivação neste manual, estas obtêm-se pela aplicação da definição de

derivada num ponto como foi feito para o caso da função quadrática e da função afim.

Regras de derivação

Sejam u e v duas funções deriváveis num mesmo conjunto A.

» Derivada da soma

A função u + v também é derivável em A e ( ) ' ' 'u v u v+ = + .

» Derivada do produto

A função u v× também é derivável em A e ( ) ' ' 'u v u v v u× = × + ×

Em particular, dada a constante k, ( ) ' ' ' 0 ' 'k v k v v k k v k v× = × + × = + × = ×

» Derivada do quociente

A função uv

também é derivável em A e '

2

' 'u u v u vv v

× − × =

, para valores de A onde v não se anula.

» Derivada da potência

A função nu também é derivável em A e un( )' = n× un−1 × u ' , com n∈IR .

» Derivada da função exponencial de base e

A função ue também é derivável em A e eu( )1 = u1 × eu .

» Derivada da função exponencial de base a

A função ua também é derivável em A e au( )' = u ' × au lna (a∈IR+ \{1}) .

» Derivada da logarítmica de base e

A função ln u também é derivável em A e lnu( )' = u 'u .

» Derivada da logarítmica de base a

A função loga u também é derivável em A e loga u( ) ' = u 'u lna

(a∈IR+ \{1})

Page 57: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Cálculo diferencial | 55

Exemplos:

» 2 2(2 4 ) ' (2 ) ' (4 ) ' 2 8 8 2x x x x x x+ = + = + = +

» 2 2 2 2 2 2 2(2 4 ) ' (2 ) ' 4 2 (4 ) ' 2 8 2 4 2 8 8 16 24x x x x x x x x x x x x x× = × + × = + = × + × = + =

» 2x +14x2

⎛⎝⎜

⎞⎠⎟

'

= (2x +1)'× 4x2 − (2x +1)× (4x2 ) '

4x2( )2= 8x

2 − (2x +1)×8x16x4

= 8x2 −16x2 −8x16x4

= −8x2 −8x16x4

= − x +12x3 (sendo)

» 3x +1( )3⎡⎣ ⎤⎦'= 3 3x +1( )3−1 3x +1( ) ' = 3 3x +1( )2 × 3= 9 3x +1( )2

» e2x+1( )' = (2x +1)'e2x+1 = 2e2x+1

» 32x+1( )' = (2x +1)'32x+1 ln3= 2× 32x+1 ln3» ln(−2x)⎡⎣ ⎤⎦

'= (−2x)'

−2x= −2−2x

= 1x (sendo)

» 2'2

2 2 2

( ) ' 2 2log ( )ln 2ln 2 ln 2

x xxxx x

= = = (sendo)

Tarefa 8:

1. Determina a função derivada de cada uma das seguintes funções.

1.1. 2( )

1f x

x=

− 1.2. 3( ) 0,5 3g x x x= + 1.3. h x( ) = e2x + ln x −1( ) 1.4. 1( ) 3 3xi x x+= ×

2. A receita ( )R x , em u.m., obtida por uma empresa com a venda de x unidades de um produto é dada pela

função 2( ) 1000 0,001R x x x= − .

2.1. Determina a função receita marginal, R’.

2.2. Determina R’(100) e interpreta o resultado obtido.

3. O custo total ( )C x , em u.m., que uma empresa tem com a produção de x unidades de um determinado

produto é dado pela função ( ) 40ln( 2)C x x= + .

3.1. Determina a função custo marginal.

3.2. A empresa definiu o preço do produto segundo a função 0,05( ) 30 , 0xp x e x−= × > .

a) Determina a função receita marginal e a função lucro marginal.

b) Determina o lucro marginal para 5 unidades.

c) Determina a diferença L(6) - L(5) e compara com o valor obtido na alínea anterior.

2 2 2 2 2 2 2(2 4 ) ' (2 ) ' 4 2 (4 ) ' 2 8 2 4 2 8 8 16 24x x x x x x x x x x x x x× = × + × = + = × + × = + =

Page 58: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

56 | Modelação matemática

2.4.7 Estudo de funções

O estudo do sinal da função derivada permite conhecer os intervalos de monotonia e os extremos da função.

Considera a seguinte situação:

Situação 5Na figura ao lado está representado parte do

gráfico cartesiano de uma função f de domínio

IR.

As retas t1, t2 e t3 são retas horizontais e

tangentes ao gráfico da função.

1. Determina o conjunto-solução das seguintes

condições:

1.1. '( ) 0f x = 1.2. '( ) 0f x < 1.3. '( ) 0f x >

x

y

t1

t2

t3

0

2

4

6

8

2 4 6 8 9-2

-2

Vamos ver quais os procedimentos que deveremos efetuar para estudar uma função quanto aos intervalos de

monotonia e quantos aos extremos.

Intervalos de monotonia

Seja f uma função real de variável real derivável em ]a, b[ , contido no domínio de f.

» Se f’(x) > 0, para todo o x ∈ a,b⎤⎦ ⎡⎣ , então f é uma função estritamente crescente nesse intervalo.

» Se f’(x) < 0, para todo o x ∈ a,b⎤⎦ ⎡⎣ , então f é uma função estritamente decrescente nesse intervalo.

» Se f’(x) = 0, para todo o x ∈ a,b⎤⎦ ⎡⎣ , então f é uma função constante nesse intervalo.

Extremos

A análise da variação do sinal da derivada no domínio da função permite-nos tirar conclusões sobre a existência

de máximos e mínimos de uma função.

Se f é contínua e derivável no seu domínio, normalmente recorre-se a uma tabela com o estudo do sinal da

derivada.

Seja f uma função contínua em [a, b] e derivável em ]a, b[ e x0 ∈ a,b⎤⎦ ⎡⎣ .

» Se f’(x) > 0, para todo o x < x0 e f’(x) < 0, para todo o x > x0 então f(x0) é um máximo da função f.

» Se f’(x) < 0, para todo o x < x0 e f’(x) > 0, para todo o x > x0 e então f(x0) é um mínimo da função f.

Nota: Se f é descontínua em x0 é necessário fazer um estudo mais cuidado, analisando caso a caso.

Page 59: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Cálculo diferencial | 57

Observa a figura seguinte.

x0

f ’ (x0) = 0

f ’ (x) < 0f ’ (x) > 0

x0

f ’ (x0) = 0

f ’ (x) > 0f ’ (x) < 0

Exemplo 9 – intervalos de monotonia de uma função

Estuda a função 3 2( ) 2 10f x x x= − + quanto a intervalos de monotonia e a existência de extremos.

Resolução:

1. Determinar a derivada de f: ' 2( ) 6 2f x x x= −

2. Determinar os zeros de f’: ' 2( ) 6 2f x x x= −

3. Construir a tabela de sinal da derivada:

x −∞ 013

+∞

f’ + 0 - 0 +

f f(0) = 101 2693 27

f =

Pela observação da tabela conclui-se que:

Intervalos de monotonia:

f é crescente nos intervalos −∞,0⎤⎦ ⎡⎣ e 1 ,3 +∞

. f é decrescente no intervalo 10,3

.

Extremos:

10 é máximo relativo da função e 26927

− é mínimo relativo da função.

Page 60: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

58 | Modelação matemática

Tarefa 9:

1. Estuda cada uma das seguintes funções quanto aos intervalos de monotonia e extremos:

a) 2( ) 4 2f x x x= − − b) 1

)(2

−=

xxxf

2. O custo total, C(x) em u.m., para produzir x centenas de um certo produto é dado por 2( ) 5 200C x x x= + + .

A receita total, R(x) com a venda de x centenas desse produto é dada pela expressão 2( ) 65R x x x= − + .

2.1. Determina o número de unidades necessárias para que a receita seja máxima.

2.2. Determina os intervalos de crescimento de decrescimento do lucro.

2.4.8 Problemas de otimização

Um dos objetivos das empresas é a maximização do lucro e a minimização dos custos. Desta forma, utilizando os

conhecimentos adquiridos ao nível do cálculo diferencial, vamos propor alguns problemas.

Exemplo 10 – minimizar o custo por unidade

O custo total da produção de um produto é dado pela expressão

2( ) 0,02 80 200C x x x= + +

Quantas unidades deverão ser produzidas para que o custo médio, Cme, seja mínimo?

Resolução:

O custo médio é dado por 2( ) 0,02 80 200 200( ) 0,02 80C x x xCMe x x

x x x+ +

= = = + + .

Derivando a função do custo médio, tem-se: '

2

( ) 200 2000,02 80 0,02dCm x xdx x x

= + + = −

.

Determinando os zeros da função derivada, obtém-se:

x 0 100 +∞

( )dCm xdx

Não definida

_ 0 +

Cm Não definida 84

x > 00,02− 200x2

= 0⇔ 0,02x2

x2− 200x2

= 0

⇔ 0,02x2 = 200, x > 0

⇔ x = 2000,02

, x > 0

⇔ x = 10000 = 100

Observando a tabela, conclui-se que para 100 unidades o custo médio é mínimo e é igual a 84 u.m.

Page 61: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Cálculo diferencial | 59

Tarefa 10:

1. Uma empresa, que produz apenas um produto, estima que o custo total diário, em USD, da sua produção

é modelado por 3 2( ) 2 10 5C x x x x= − + − e que a receita é dada por R(x)=10x.

Determina o número de unidades que a empresa deve produzir de modo que o lucro diário da empresa seja

máximo.

2. O custo total, C (x), associado à produção de um determinado produto, em centenas, é dado pela expressão 2( ) 2 0,05 8C x x x= + + . Para que volume de produção o custo médio é mínimo?

3. A receita, R(x) em u.m. que uma empresa obtém com a venda de um x centenas de um determinado produto é dada por R(x) = 40xe

− x2 .

3.1. Determina os intervalos de monotonia da função R.

3.2. Determina o número de unidades que a empresa deve vender de modo a que a receita seja máxima.

4. O custo total associado à produção de x unidades de um dado produto é dado pela expressão C(x)= x3 - 5x2 + 30. Por outro lado, o preço de venda do produto, em função do número de unidades, é modelado por ( ) 5 105p x x= − + .

4.1. Determina a função custo marginal.

4.2. Determina a receita da empresa com a venda de x unidades desse produto.

4.3. Determina a função do lucro total.

4.4. Determina o nível de produção onde o lucro é máximo.

2.5 Derivadas parciais

No seguimento do cálculo diferencial, vamos generalizar o conceito de derivada para funções reais de duas

variáveis reais.

2.5.1. Definição

Seja (a, b) um ponto interior ao domínio da função f :D ⊆ IR2 → IR .

Suponhamos que ϕ(x) = f (x,b) (isto é, a restrição de f ao conjunto (x, y)∈D : y = b{ } .

Se a função φ (de uma variável apenas) for diferenciável em a, a sua derivada

f '(a) = limh→0

f x + h( )− f (a)h

= limh→0

f x + h,b( )− f (a,b)h

designa-se por derivada parcial de f em ordem a x (em relação a x) no ponto (a, b).

Habitualmente denota-se por ' ( , ) ou ( , )xff a b a bx∂∂

.

Page 62: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

60 | Modelação matemática

Do mesmo modo se define a derivada parcial de f em ordem a y (ou em relação a y) no ponto (a, b) como

sendo o limite (caso exista) 0

( , ) ( , )limh

f a b h f a bh→

+ − e denota-se por ' ( , ) ou ( , )yff a b a by∂∂

.

Nota: Resulta da definição que o cálculo de derivadas parciais está sujeito às regras estudadas anteriormente

para funções de uma só variável.

Exemplo 11 – derivada parcial de uma função

Dada a função 2 3 2( , ) 4 , sendo ( , )f x y y xy x x y= + + ∈(x, y)∈IR2 .

Determina:

1. ' (0,1)xf 2. ' (1,0)yf ' (0,1)xf

Resolução

1. fx' (0,1) = d

dx12 + x ×1+ 4x3( )

x=0

= 1+12x2( )x=0

= 1+12× 03 = 1

2. f y' (0,1) = d

dyy2 + 0× y + 4× 03( )

y=1

= 2y( )y=1

= 2×1= 2

Em geral, derivando a função f em ordem a uma variável e supondo a outra “constante” num ponto genérico,

obtém-se:

' 2( , ) ( , ) 0 3 4 12xff x y x y y x y xx∂

= = + + × = +∂

' ( , ) ( , ) 2yff x y x y y xy∂

= = +∂

2.5.1 Aplicações

Em 1928, Charles Cobb e Paul Douglas publicaram um estudo no qual modelavam o crescimento da economia

americana durante o período de 1899 e 1922.

Nesse estudo, foi possível exprimir a produção total P de um sistema económico em função da quantidade de

trabalho (mão-de-obra) L e do capital investido em infra-estruturas, K.

Função de produção Cobb-Douglas: 1( , ) , 0 1P L K b L Kα α α−= < < .

Page 63: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Cálculo diferencial | 61

Tarefa 11:

1. Supõe que a produção de uma empresa pode ser modelada pela função Cobb-Douglas 0,4 0,6( , ) 5P L K L K= .

Atualmente, a empresa tem investido 10000 USD nas infra-estruturas e 20000 USD em mão-de-obra. Através

da candidatura a um projeto, tem a possibilidade de investir uma única vez 5000 USD em infra-estruturas

ou em mão-de-obra, mas não em ambas. Em qual das áreas deve o investimento ser feito, na mão-de-obra

ou nas infraestruturas?

2. Considera a função de produção Cobb-Douglas.

As derivadas parciais PL∂∂

e PK∂∂

designam, respetivamente, a produtividade marginal do trabalho e do capital

2.1. Determina as derivadas parciais PL∂∂

e PK∂∂

.

2.2. Considera a função 0,5 0,5( , ) 10P L K L K=

Atualmente, a produção de uma empresa está modelada pela função anterior, sendo que tem

investido 25 000 USD e 30 000 USD em infra-estruturas e mão-de-obra, respetivamente.

Determina a produtividade marginal do trabalho e do capital desta empresa.

3. A função utilidade de um indivíduo relativamente a dois bens a e b é dada por:

2 3( , ) ( 1) ( 2)U a b a b= + +

3.1. Determina a utilidade marginal para cada um dos bens.

3.2. Calcula o valor da utilidade marginal do bem a quando o indivíduo consome 2 unidades de cada bem.

Page 64: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

62 | Soluções

2.6 Soluções

Subtema 1 | Função exponencial e logarítmica

Tarefa 1

1.

1.1 Aproximadamente $ 2550,05 ;

1.2 Aproximadamente $ 3244,38.

2. Aproximadamente $1795,42.

3.

3.1

41

; 3.2 −4{ } ; 3.3 −11{ } ; 3.4

31

;

3.5 1{ } ; 3.6 1{ } ; 3.7

210 ; ; 3.8

31

;

4.

4.1 S = −2;+∞⎡⎣ ⎡⎣ ; 4.2

∞−=

31-;S ; 4.3 S = − 6 ;+∞⎡⎣ ⎡⎣ ; 4.4 S = − 13

8;+∞

⎦⎥

⎣⎢ .

5.

5.1 21-x = ; 5.2

21x = ; 5.3 A = −1;+∞⎡⎣ ⎡⎣ .

Tarefa 2

1.

1.1 3 ; 1.2 5 ; 1.3 0 ; 1.4 3- ; 1.5 21

; 1.6 8 ; 1.7 3− ; 1.8 178

; 1.9 − 2e3

.

2.1 1,39x ≈ ; 2.2 1,54x ≈ ; 2.3 0,15x ≈ .

Tarefa 3

1.

1.1 760 438, aproximadamente;

1.2 33 105 886, aproximadamente;

1.3 500 000(1+0,15)t,t em dias.

2.

2.1 0,91 gramas, aproximadamente;

2.2 No início do estudo, quando t=0.

3.

3.1 $ 2000; $ 3000;

3.2 99 910 peças.

4.

4.1 2213 habitantes; 4.2 10135 habitantes; 4.3 12519 habitantes.

Page 65: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Soluções | 63

5.

5.1.1 Empresa A, $ 560;

5.1.2 Empresa B, $ 608,35 ;

5.1.3 Empresa B, $ 925,22, aproximadamente.

6.

6.1 $426,64, aproximadamente;

6.2 $518,59, aproximadamente;

6.3 A partir do ano 2023 (n = 16).

Tarefa 4

1.

1.1

1.1.1 61 930 alunos; 1.1.2 113 665 alunos;

1.2 Em 2012; 1.3 Não.

Subtema 2 | Cálculo Diferencial

Situação 1

1.

Quantidades de produção (ton.)

Custos fixos

Custos variáveis

Custos totais

Custos fixos médios

0 900 0 900 Não definido

100 900 1500 2400 900 9100

=

150 900 2100 3000 900 6150

=

200 900 3000 3900 900 4,5200

=

250 900 4200 5100 900 3,6250

=

… … … … …

1000 900 12250 13150 900 0,91000

=

2. Analisando a tabela, observa-se que à medida que a quantidade de produção aumenta o custo fixo médio cada vez é

menor, tendendo para zero.

3. À medida que a quantidade produzida aumenta, a diferença entre os custos totais e os custos variáveis diminui.

Efetivamente, a longo prazo, os custos fixos não têm impacto nos custos da empresa.

Page 66: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

64 | Soluções

Tarefa 2

1.1. Domínio da função g: Dg = IR ; Domínio da função h: Dh = IR \ 0{ }

1.2. Os limites não existem.

2.1.

0 1 2-2 -1 3 4

1

2

3

-2

-1

4

y

x

2.2. 1 1

lim ( ) lim ( ) 1x x

f x f x+ −→ →

= =

Situação 2

1. ( ) 1,5 200 200( ) 1,5C x xCm xx x x

+= = = +

2. Tende para 1,5 USD

Tarefa 3

1.1. 36 1.2. -2 1.3. -5 1.4. +∞ 1.5. +∞ 1.6. 3

2.1. 75 000 USD

2.2. Metade da reserva

2.3. A limpeza da totalidade da reserva envolve custos consideráveis, pelo que não é viável.

3. Perto de 10 peças.

Tarefa 4

1.1. K = 25 1.2. 80

2.1. A função não é contínua em x = 3

2.2. Aproxima-se de 250 dólares, embora não chegue a esse valor.

Situação 3

1. 102 (u.m.).

2. 700 600 (u.m.)

3. 0,5x + 2

Page 67: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Soluções | 65

Tarefa 5

1.1. Por exemplo,

0 1 2

2

4

6

8

10

3 4 5 6 7 8 9 10

y

x

1.2. Por exemplo,

0 1 2-2

2468

10121416

-4-6-8

3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

y

x

2.1. 30 (u.m.)

2.2. -10. Significa que nesse intervalo a receita desceu, pelo que a empresa tem de analisar se valerá a pena aumentar a

produção.

3.1. A função é crescente nos intervalos: [-3, 0[ , [1, 5[ e [6, 9]

A função é decrescente nos intervalos: [0, 1[ , [5, 6[

3.2. Máximos relativos: 3 (para x = 0 e x = 5) e 2 (para x = 9)

Mínimos relativos: 2 (para x = -3), 0 (para x = 1 e x = 6)

3.3. Máximo absoluto: 3 (para x = 0 e x = 5)

Mínimo absoluto: 0 (para x = 1)

3.4. Zeros da função: x = 1.

3.5. um intervalo onde a t.m.v. nesse intervalo seja -1

Por exemplo, o intervalo [5,6].

3.6. No intervalo [4,6]

Por exemplo, no intervalo [-3, 0]

Tarefa 6

1.1. 24 1.2. 16 u.m. 1.3. y = 16x - 16

2.1. 2 2.2. -2 2.3. y = 2x .

3.1. 4 3.2. não existe

Tarefa 7

a = 2 e b = 0.

Situação 4

1.1. 4

1.2. ' ( ) 4f x x=

Page 68: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

66 | Soluções

Tarefa 8

1.1. '2

2( )( 1)

f xx−

=−

1.2. 2'( ) 1,5 3g x x= +

1.3. 2 1'( ) 21

xh x ex

= +−

1.4. i '(x) = 3x+2 x ln3+1( )

2.1. '( ) 1000 0,002R x x= −

2.2. 998

3.1. 40'( )

2C x

x=

+

3.2. a) L '(x) = 30e−0,05x 1− 0,05x( )− 40x + 2

b) 11,81 (u.m.)

c) 11,19 (u.m.)

Situação 5

1.1. f '(x) = 0⇔ x ∈ −2,4,9{ }

1.2. f '(x) < 0⇔ x ∈ −2,4⎤⎦ ⎡⎣∪ 8,9⎤⎦ ⎡⎣

1.3. f '(x) > 0⇔ x ∈ 4,8⎤⎦ ⎡⎣∪ 9,+∞⎤⎦ ⎡⎣

Tarefa 9

1.

a)

A função é estritamente crescente em 1,4

−∞ − ;

A função é estritamente decrescente em − 14,+∞⎤

⎦⎥⎡⎣⎢

.

A função tem um máximo absoluto, 14

, para 14

x = − .

b)

A função é estritamente crescente em −∞,0⎤⎦ ⎤⎦ e em 2,+∞] [

A função é estritamente decrescente em 0,1⎤⎦ ⎡⎣ e em 1,2⎤⎦ ⎤⎦

Máximo relativo: 0 , para x = 0. Mínimo relativo: 4 para x = 2.

2.1. 32,5

2.2. O lucro cresce de 0 a 125 e decresce a partir deste valor.

Page 69: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Soluções | 67

Tarefa 10

1. 4 unidades

2. 200 unidades

3.1. A função é crescente em ]0, 2] e decrescente em ]2, +∞ [ 3.2. 200 unidades

4.1. 2'( ) 3 10 10C x x x= − +

4.2. 2( ) 5 105R x x x= − +

4.3. 3( ) 75L x x x= − +

4.4. x = 5

Tarefa 11

O investimento deve ser feito ao nível das infra-estruturas

2.1. 1P Lb

L K

α

α−∂ = ∂

∂P∂K

= b 1−α( ) LK

⎛⎝⎜

⎞⎠⎟

α

.

2.2. (30000,25000) 5,48PK∂

≈∂

(30000,25000) 4,56PL∂

≈∂

3.1. 32( 1)( 2)U a ba

∂= + +

∂ 2 23( 1) ( 2)U a b

b∂

= + +∂

3.2. 384

Page 70: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

O b j e t i v O s

. Definir Estado, identificar funções e formas de organização

. Relacionar as funções económicas e sociais do Estado enquanto formas de intervenção na Economia através dos instrumentos. Distinguir políticas conjunturais de estruturais e reconhecer diferentes regimes de proteção social. Distinguir crescimento de desenvolvimento económico. Identificar e distinguir indicadores simples de compostos como instrumentos de medida do desenvolvimento, interpretando-os e explicando as suas limitações. Distinguir e caracterizar economias desenvolvidas e economias subdesenvolvidas através da utilização de indicadores. Identificar e explicar as fontes de crescimento económico. Verificar historicamente a irregularidade do ritmo de cresci-mento . Avaliar as desigualdades de desenvolvimento a nível mundial. Justificar a necessidade de um desenvolvimento humano e sustentável no contexto atual. Entender a existência de estruturas demográficas diferentes de acordo com o desenvolvimento dos países. Referir causas e consequências ecológicas do crescimento económico atual

Page 71: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Unidade Temática 8 Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

Subtema 1 – Políticas Económicas e Sociais do EstadoSubtema 2 – Crescimento e DesenvolvimentoSubtema 3 – O Desenvolvimento e a Utilização dos Recursos

Page 72: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

70

Unidade Temática 8 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica1 POLÍTICAS ECONÓMICAS E SOCIAIS DO ESTADO

1.1 O papel do Estado na Economia

Desde a década de 80 que na maioria das economias ditas desenvolvidas o Estado tem vindo a perder influência

na orientação da economia nacional passando esta para o campo de intervenção das microeconomias privadas.

Verifica-se então a passagem da situação do Estado enquanto produtor e planificador de bens e serviços, para

um papel de simples regulador que cria as condições favoráveis à expansão e reestruturação interna do setor

empresarial. Também a globalização, por aproximar economias com características diferentes, aproximou

diferentes conceções de Estado, dos mais intervencionistas aos mais liberais, o que também conduziu à alteração

do papel do Estado nas economias modernas.

Entende-se por Estado a forma que a organização do poder político assume na maior parte das sociedades, cuja

principal função é manter a ordem social dentro dos limites da lei fundamental, designada por “Constituição”.

Fazem parte do Estado uma soberania, um território e um povo (o conjunto dos indivíduos sujeitos às mesmas leis).

A população consiste no conjunto de todos os habitantes do território de um Estado, quer mantenha ou não

vínculos políticos e jurídicos, e o Povo é o conjunto dos cidadãos, ou a parcela da população de determinado

Estado que com ele mantém vínculos de natureza política, além dos de natureza jurídica (participação efetiva no

Estado). O território é necessário para que exista o Estado, sendo composto pelo solo, subsolo, espaço aéreo,

embaixadas, navios e aviões de uso comercial ou civil e o mar territorial.

Por último temos a soberania ou poder político. O ordenamento jurídico é

onde o Estado cria, executa e aplica o seu ordenamento jurídico, visando

o bem comum de todos por um conjunto de normas definidas pelo Estado,

que são de natureza abrangente e variedade complexa, definidas pela

Constituição do Estado: Presidente da República, Assembleia da República,

Governo e Tribunais. O governo nada mais é do que o conjunto dos órgãos

do Estado que colocam em prática as deliberações dos órgãos legislativos

(necessários ao exercício do poder político do Estado). A soberania é a

forma suprema de poder, ou seja, o poder incontestável que o Estado tem

dentro do seu território e sobre uma população de criar, executar e aplicar o seu ordenamento jurídico visando

o bem comum.

As funções do Estado não são só de garantir a segurança dos cidadãos pois o mesmo pode intervir nos mais diversos

domínios da vida social. Assim, também consegue garantir a segurança económica e social da comunidade. Para

isso o Estado precisa de prestar serviços à comunidade, tais como, a satisfação das necessidades coletivas da

população no que diz respeito à educação, saúde, ordem pública, entre outros.

1.1.1 A evolução do papel do Estado na Economia

Com o passar dos anos percebeu-se que o Estado não conseguia regular livremente os mercados, pelo que

se repensou o modelo de gestão que existia até então e colocou-se a necessidade de entregar a instituições

privadas e independentes a função de regular esses mesmos mercados. A ideia básica partiu do ideal de deixar

Page 73: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Políticas económicas e sociais do Estado | 71

que a “mão invisível” defendida por Adam Smith atuasse livremente. É assim que a intervenção do Estado na

Economia passou a ser substituída por mecanismos de mercado que progressivamente se foram impondo desde

a segunda metade do século XX.

No período dominante do século XVIII, a ideia de Estado liberal dominava tudo. Durante anos a intervenção

do Estado na economia não era bem vista pois isso implicava uma interferência no normal funcionamento do

mecanismo de mercado, dificultando o livre funcionamento entre a oferta e a procura.

A Revolução Industrial esteve na base de importantes transformações que possibilitaram o aumento da

população, da produção e da produtividade, pois foram introduzidos novos inventos na atividade produtiva.

Mas este poder estava concentrado na mão dos capitalistas. O funcionamento da economia segundo as leis do

mercado de concorrência perfeita veio a ser gradualmente perturbado, com o aparecimento de outras formas

de mercado contrárias à livre concorrência. A concentração industrial e financeira ocorrida após a Revolução

Industrial originou situações de concentração de mercado como os monopólios e os oligopólios.

No início do século XX as regras de mercado tornaram-se incapazes de assegurar o equilíbrio nos diversos

mercados, tendo-se verificado graves situações de desarticulação entre a oferta e a procura, tendo a Grande

Depressão evidenciado as fragilidades do Estado liberal quando as economias conheceram graves crises económicas.

Perante a incapacidade das leis de mercado em regularem a economia, o Estado foi forçado a intervir no sentido

de prevenir outras crises e minimizar o efeito das mesmas. Como consequência, o Estado torna-se num agente

que irá intervir diretamente na esfera produtiva.

O papel produtivo do Estado

Existem bens coletivos puros (bens cujo consumo por um indivíduo não impede o consumo por parte de outro

indivíduo; bens não rivais e sem exclusão) que nunca poderão fazer parte de uma apropriação privada como são

exemplo a construção de estradas ou jardins ou a recolha de lixo. Este tipo de serviço deve ser pago pelo Estado,

e os consumidores beneficiados na generalidade.

A intervenção do Estado explica-se igualmente pela existência de efeitos externos ou externalidades. Estas

resultam das consequências que um agente provoca noutro, sem que tenha noção ou contabilize esse efeito.

Estas podem ser positivas (como por exemplo, o meu jardim cheio de flores alimenta as abelhas do meu vizinho

apicultor) ou negativas (como por exemplo, o barulho do meu rádio que toca no máximo impede o vizinho de se

concentrar e estudar para a disciplina de Economia e Métodos Quantitativos). Os mercados sofrem com estas

externalidades (como a poluição atmosférica de fábricas, a poluição sonora, entre outros) e é aqui que o Estado

assume um papel fundamental ao tomar medidas que minimizem os seus efeitos (como legislando sobre as

quantidades permitidas legalmente de poluição a ser emitida pelas fábricas).

A intervenção do Estado justifica-se ainda pelo peso que certos agentes económicos privados têm na Economia.

Existem atividades económicas que crescem muito ou que pela sua natureza se transformam em monopólios e

esporadicamente isso obriga à intervenção. Em determinadas atividades (como no setor elétrico, transportes,

telecomunicações e comunicação social) o montante de financiamento de infraestruturas é pesado e a longo

prazo os rendimentos destas são crescentes. Ao duplicar a produção, os preços de custo acompanham esta

duplicação, mas não acompanham proporcionalmente as taxas fixas outrora impostas pelo Estado. Para enfrentar

Page 74: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

72 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

esses mesmos custos fixos algumas empresas fundem-se ou separam-se, dependendo das necessidades, e

estes processos acabam por se transformar nos ditos monopólios naturais que operam sobre bens e serviços,

indispensáveis ao bem comum público e privado.

Só que estes monopólios detêm um poder muito grande e por vezes “abusam”

na fixação de preços contra a coletividade, pois podem alterar preços, criar

desigualdades para os concorrentes e assim provocam distorções no mercado

sendo o utilizador sempre o mais prejudicado. Por vezes o Estado somente

intervém para estabelecer relações complementares com empresas privadas,

fornecendo-lhes produtos a preços mais baixos como a energia, conceder

subsídios às empresas produtoras de bens essenciais ou através de incentivos

à promoção de novos postos de trabalho.

Deste modo, o Estado é chamado a interferir na atividade produtiva, na produção de bens e serviços não

lucrativos aos privados (policiamento, criar regras de conduta, cadeias, tribunais, construção de estradas, criação

e preservação de espaços verdes, recolha de lixo), e a intervenção em indústrias chave das nossas economias

como a energia elétrica, as águas, e outros setores económicos estratégicos que se deixados nas mãos dos

privados podem levar a consequências económicas e sociais graves.

Neste sentido, é atribuído ao Estado as funções legislativa (criar leis de acordo com opções políticas e que

regulam a sociedade), a executiva (ou administrativa, que faz com que as leis sejam colocadas na prática e assim

se satisfaçam as necessidades coletivas), a judicial (resolver conflitos; para isso usa a justiça, garante a defesa de

direitos, interesses públicos e privados e garante a punição por violação da Constituição e das leis), e atualmente

também a política (atuação com base nos interesses da coletividade).

Para conseguir satisfazer os interesses coletivos, o Estado tem duas áreas fundamentais de intervenção: a

social e a económica. Na sua função política o Estado escolhe as medidas de índole económica, social, cultural,

ambiental, entre outras, que consideram como as melhores para a garantia dos interesses coletivos, dos

interesses superiores da Nação, que garantem a paz social, e para isso gere a Administração Pública e aplica

os recursos que tem disponíveis na satisfação dessas mesmas necessidades comuns. Para garantir que os seus

objetivos sejam alcançados, o Estado dispõe da polícia, do exército e dos tribunais.

No que respeita à sua função social o Estado deve garantir as condições necessárias ao bem-estar da população

de forma a garantir as condições mínimas de sobrevivência. Deve-se por isso ter em atenção os grupos mais

desfavorecidos fornecendo serviços essenciais como a saúde, a educação e por vezes subsídios. Na sua função

económica, atua como dinamizador e regulador da atividade económica, pois promove o desenvolvimento

económico com a criação de infraestruturas básicas. São exemplos destas, a construção de estradas, o apoio à

ciência e à investigação, a promoção de cuidados básicos de saúde e educação, e sempre tendo em atenção a

preservação dos recursos naturais e do ambiente para que as necessidades presentes e futuras, das gerações

que ainda estão por vir, sejam garantidas.

Page 75: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Políticas económicas e sociais do Estado | 73

Para executar estas funções o Estado dispões de órgãos de soberania com competências definidas pela Constituição.

Setor públicopode ser separado em...

Setor Público Administrativo

(SPA ou Administração Pública)

Trata dos assuntos de interesse geral da produção, não tendo fins lucrativos (visa a maximização da satisfação das necessidades coletivas em termos de saúde, educação, defesa, segurança, entre outros). Para isso usa receitas como impostos, taxas e contribuições obrigatórias que são pagas pelos cidadãos, utilizando-as em despesas.

Engloba as empresas detidas pelo Estado, total ou maioritariamente, realizando a produção do Estado.

Aqui incluem-se as empresas públicas (com 100% de capital detido pelo Estado), as mistas (com capital maioritariamente detido pelo Estado) e as intervencionadas (que recebem temporariamente apoio do Estado em situações anómalas ou críticas, como o apoio à recuperação das mesmas).

Aqui podemos incluir a Administração Central (Ministérios, Institutos Públicos, Secretarias de Estado, Direções-Gerais), a Administração Local (autarquias locais: Municípios e Freguesias) e a Segurança Social (financiamento de prestações sociais a determinados estratos da população).

Setor Empresarial do Estado

(SEE)

Em todos os países desenvolvidos existe hoje um setor

público que inclui a atividade administrativa do Estado

(a que satisfaz as necessidades coletivas de saúde,

educação, justiça e segurança) e a sua atividade

enquanto produtor de bens e serviços, o qual se

equipara ao setor produtivo privado. Todavia, nos

países desenvolvidos há uma clara tendência para a

diminuição do poder do Estado na Economia. Neste

sentido, reduz-se ao mínimo o SEE e transfere-se a

gestão de serviços essenciais como a educação e a

saúde para entidades privadas.

Se há uns que defendem esta diminuição do peso do Estado na Economia, por defenderem que o mesmo é mau

gestor e as suas decisões demoram a ser tomadas, e que nas mãos dos privados se consegue fazer mais e melhor,

outros defendem que o Estado deve sempre ter algum papel de intervenção na Economia. Dizem que se o setor

privado ficar com setores chave da economia nas mãos, na sua lógica de lucro, conduzirá à perda da função social

do Estado e que isso aumentará as desigualdades sociais.

Tarefa 1:

1. Defina Estado.

2. Quais os elementos que normalmente fazem parte da Constituição do Estado?

3. O que é a soberania?

4. Que atividades engloba o Setor Público Administrativo (SPA)?

5. Que atividades engloba o Setor Empresarial do Estado?

6. Diferencie as diversas empresas em que o Estado participa.

7. Que tendências têm surgido acerca da intervenção do Estado e respetivas justificações?

8. Qual é a conceção do Estado Liberal e como se desenvolveu?

9. O que aconteceu com a Crise de 1929/33?

10. Como nasceu o chamado Estado Intervencionista do Séc. XX?

Page 76: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

74 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

O papel dirigista do Estado

O Estado enquanto produtor intervém na Economia através das empresas públicas, que são controladas direta

ou indiretamente por administrações públicas, cuja gerência é nomeada diretamente pelos governos e eleitas

pelo público.

Tal como vimos anteriormente o setor público agrupa o setor público produtivo (instituições públicas de caráter

industrial e comercial), a função pública (administração central e local) e os organismos públicos financeiros (que

representam a grande parte dos recursos). Todavia não devemos confundir setor público com serviço público,

pois este último é de interesse geral e onde a autoridade pública garante a execução de trabalhos sejam eles

para vender ou não.

Mas a vontade do Estado em orientar e dirigir a atividade económica não se limita à existência de empresas

públicas. Reflete-se igualmente na planificação que significa um documento, ou plano, onde se apresentam as

grandes orientações económicas e sociais previstas para o futuro, sendo realizado pelo Estado em conjunto com

os parceiros sociais.

Ao longo da história as crises sucessivas têm mostrado que a regulação económica e social deixando o mercado

atuar livremente não chega, o que mostra a necessidade de intervenção do Estado na Economia através dos

seus instrumentos de política económica e social como o orçamento, o crédito, a regulamentação, os incentivos,

a formação, a Segurança Social, entre outros. Com esta intervenção o Estado consegue garantir o equilíbrio

macroeconómico necessário à preservação da coesão social, à sobrevivência do setor privado que acaba por ser

rentabilizado ao se socializar os prejuízos, bem como consegue garantir a democracia.

O recuo do papel do Estado enquanto produtor deu-se ao longo dos anos 80 e para isso contribuíram as

crises petrolíferas. Mas isso também fez com que houvesse mudanças importantes, pois embora a abertura

à concorrência dos mercados permita obter eficácia económica, isto cria ao Estado alguns problemas. Um

desses será saber se o Estado consegue efetivamente fiscalizar a produção, pois assim a regulação dos mercados

sucede a regulação por parte do Estado, limitando-se o mesmo a estabelecer as leis que regulam esses mesmos

mercados, pois os agentes por si só não conseguem resolver todos os problemas. Deste modo, o Estado passou

a funcionar como um árbitro de um jogo de futebol já que faz com que as regras do jogo concorrencial sejam

respeitadas, tornando o jogo mais justo para ambas as equipas.

Perante a ineficácia dos mecanismos de mercado o Estado deve intervir! Logo, é ao Estado que compete o papel

de regular o funcionamento da Economia para combater os desequilíbrios e as desigualdades que aparecem

devido aos mecanismos de mercado, sempre procurando uma maior eficiência, equidade e estabilidade da

economia. Todavia, o Estado enquanto regulador pode ceder à pressão de lobbies especialmente em época de

eleições, e assim o seu papel de regulador falha no que respeita à satisfação do interesse geral.

Page 77: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Políticas económicas e sociais do Estado | 75

Desequilíbrios gerados pelo mercado:. Desemprego. Inflação. Défices e excedentes do comércio externo

objetivoEvitar ou combater as crises inflacionistas e/oude recessão económica, procurando fomentar ocrescimento económico.

Para evitar os desequilíbrios oEstado deve intervir no controle:. De preços. Da procura. Do emprego/desemprego

Como desigualdades económicas podemos enumerar vários exemplos, mas há uma que se destaca entre as

demais, ou seja, a pobreza. Esta pode-se também transformar numa desigualdade social provocada pelo mercado,

pois se não for assegurado que alguns agentes tenham rendimento suficiente para satisfazer as suas necessidades

mais elementares (o direito à subsistência), o Estado deve intervir. Pode intervir através da redistribuição de

rendimentos, por forma a promover a equidade entre os agentes, ou seja, garantir que todos tenham o mínimo

suficiente que lhes garanta a sobrevivência no presente e também para que os mesmos consigam financiar as

suas despesas de consumo e saúde quando atingirem a idade da reforma.

Mas existem desigualdades que o Estado não consegue controlar

trabalhando no campo da regulação concorrencial. Um exemplo disso

é a renovação demográfica que é essencial para o equilíbrio do país.

Há também outros fatores que o mercado não tem em conta quando

age que são a formação e a educação, e também aqui o Estado assume

um papel relevante na garantia da mesma às populações.

Como o crescimento económico pode não chegar para garantir aos

agentes rendimentos necessários para combater os riscos sociais, e

a distribuição de rendimentos é desigual, é ao Estado que compete implementar um sistema de segurança

social permitindo uma redistribuição horizontal (ou seja, dos ativos para os reformados). Todavia, a renovação

demográfica pode colocar em perigo esta mesma redistribuição.

Mas para além de garantir proteção social, o Estado deve criar leis de trabalho legislativas e contratuais impondo

regras em matéria de condições de trabalho e duração do trabalho, bem como fixar um salário mínimo nacional.

Em matéria fiscal o Estado intervém por forma a beneficiar rendimentos de trabalho (menos taxados) em relação

a rendimentos de capital (mais taxados) para reduzir desigualdades, alterando assim o comportamento dos

agentes económicos em relação à poupança, consumo e investimento.

Para a condução da sua intervenção direta e indireta na Economia, o Estado dispõe do Orçamento de Estado.

Este é um documento anual no qual se agrupam as previsões do conjunto de receitas e de despesas do Estado,

para esse mesmo ano, sendo um projeto de previsão, político, económico e jurídico. Desta forma, o orçamento

é um instrumento de política económica na medida em que influencia a atividade económica. No 11º ano

foram especificadas todas as componentes do Orçamento de Estado. Aqui vamos somente relembrar as suas

componentes principais.

Page 78: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

76 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

Orçamento de Estado

Receitas do Estado

Receitas Correntes (prevê-se que se voltem a repetir

nos anos seguintes):

- Impostos pagos pelos contribuintes

Receitas de Capital

(que se esperam não voltar a repetir):

- Privatizações

- Venda de património

Despesas do Estado

Despesas Correntes

(corresponde a encargos permanentes):

- Despesa efetuada pelo Estado no desempenho

das suas funções (remunerações ou vencimentos)

Despesas de Capital

(despesas que têm repercussões no futuro):

- Construção de aeroportos, estradas, escolas, …

Receitas – Despesas = Saldo Orçamental

Mas em algumas economias desenvolvidas também se assiste a um peso crescente do Estado na Economia,

sobretudo devido ao peso que as despesas públicas têm assumido. Para que a intervenção do Estado na Economia

(através das despesas orçamentais) seja eficaz e produza resultados, é essencial que se perceba quais as razões

do atraso do crescimento económico e que a produção aumente de forma a satisfazer o crescimento da procura.

Simultaneamente deve-se tentar evitar a inflação que se pode gerar devido ao aumento da procura, criando

novas capacidades de produção rentáveis para responder ao mercado.

Tarefa 2:

1. Qual o papel do Estado nas economias modernas?

2. Quais os objetivos máximos a que o Estado se propõe assumindo esse papel de regulador?

3. Enumere os diferentes tipos de desigualdades e desequilíbrios que os mercados geram.

4. De que forma a renovação demográfica pode colocar em causa a redistribuição horizontal?

5. Para que serve o Orçamento de Estado?

Page 79: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Políticas económicas e sociais do Estado | 77

1.2 Políticas Sociais e Económicas

Tal como vimos anteriormente, os objetivos do Estado estão inter-relacionados e são interdependentes. O

principal é a promoção do bem-estar económico e social, e para isso dispõe de um conjunto de instrumentos de

intervenção no domínio económico e social.

A Política Económica é o conjunto de intervenções do poder político na economia, caracterizadas pela hierarquia

dos objetivos assumidos e pelos instrumentos utilizados para os obter. Embora ainda se fale em política

económica e social, na realidade as duas estão interligadas, pois uma ação desenvolvida numa terá repercussões

na outra, dado que fenómenos económicos são também fenómenos sociais. Então é habitual falar-se em

política económica quando nos referimos aos instrumentos utilizados pelo Estado para intervir diretamente

na realidade económica e social, entendida assim como um todo. Deste modo, as políticas económicas são

o conjunto de decisões coerentes tomadas pelo governo que, utilizando instrumentos económicos, procuram

atingir determinados objetivos a prazo.

Assim, é função do Estado garantir os interesses e o bem-estar da comunidade em geral, e o setor público

enquanto agente económico de peso, procura atuar sobre determinadas variáveis e através destas chegar a

determinados resultados, que se consideram positivos para a população. Podemos ainda afirmar que as políticas

económicas estão no campo macroeconómico uma vez que pretendem afetar a economia como um todo.

Mas a intervenção do Estado deve ser feita de modo consciente. Primeiro deve-se determinar e descrever a

situação económica e social do país num dado momento do tempo, no qual se pensa intervir. Só depois se

devem definir objetivos relativamente à realidade que se quer alterar. De seguida, escolhem-se os instrumentos

de intervenção para chegar aos objetivos, os quais devem ser adequados. Só então passamos à fase de

implementação através da condução da política económica. Finalmente, avaliam-se os resultados medindo o

grau de realização dos objetivos fixados anteriormente. Este processo não tem um fim, pois pode ser reiniciado

a qualquer momento, dado que o anterior pode levar à definição de novas políticas económicas.

Mas ao definir estas políticas temos de ter em atenção o espaço temporal em que as mesmas vão ser aplicadas. Ao

fazê-lo podemos distinguir entre políticas conjunturais (curto prazo) e políticas estruturais (médio e longo prazo).

E mais uma vez, apesar destas estarem interrelacionadas conseguimos falar de políticas conjunturais e estruturais

essencialmente económicas e essencialmente sociais. As essencialmente económicas podem incidir sobre um

setor específico da atividade económica, como as políticas setoriais, ou sobre áreas específicas, como sejam as

políticas monetárias, as políticas orçamentais e fiscais e as políticas de emprego, etc. As políticas essencialmente

sociais visam cumprir funções sociais nomeadamente no que respeita à satisfação das necessidades coletivas

como a política da educação, a política da saúde, ou até mesmo a de redistribuição de rendimentos, etc.

No papel da organização das políticas económicas, e a par com os poderes públicos, também temos os Bancos

Centrais, que se definem por serem independentes do poder político, as coletividades locais que tentam melhorar

os seus territórios, os organismos supranacionais, os sindicatos e os empregadores. E a conduta das políticas

económicas por parte do Estado é essencial para que as mesmas funcionem, e é daí que surge o papel do Estado

enquanto árbitro para evitar que cada um jogue como quer.

Page 80: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

78 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

Objetivos do setor público relativamente às políticas económicas:

1 – Garantir a eficiência dos recursos, a equidade no acesso da população aos bens e serviços essenciais e a estabilidade

ao nível dos preços e do emprego.

2 – O funcionamento do mercado numa lógica de mercado, com escolhas racionais e eficientes por parte dos agentes

(por forma a satisfazerem-se as necessidades e a um baixo custo) por vezes falha e o Estado é chamado a intervir para

corrigir essas falhas e garantir a eficiência.

3 – O Estado deve prever e facilitar o acesso a bens e serviços essenciais tais como a educação, a saúde, a defesa, a segurança,

o transporte e a justiça, para evitar a desertificação e promover o crescimento da produção.

4 – O Estado deve ter um papel de estabilizador, promovendo o emprego completo dos fatores de produção. O Estado

deve assim estar atento à inflação, à taxa de desemprego e ao nível de produção.

5 – Correção das falhas de mercado, de entre as quais se destacam: a concorrência imperfeita, as externalidades e os

bens públicos.

6 – Deve também o Estado desempenhar o papel de regulador, no que respeita à estabilidade dos preços. Ou seja,

o Estado deve atuar de forma reguladora sobre a atividade económica para conseguir o controlo de alguns preços,

monopólios e ações que possam prejudicar o consumidor.

7 – A igualdade social deve ser uma prioridade do Estado, isto é, as políticas económicas devem atingir e beneficiar os

mais necessitados. Como a desigual distribuição de rendimentos gera desigualdades sociais, cabe ao Estado intervir para

garantir o mínimo de condições básicas na satisfação das necessidades dos grupos sociais mais carenciados.

Instrumentos tradicionais das políticas económicas

O Estado tem ao seu dispor vários instrumentos de política tais como o orçamento, o controlo da massa monetária,

a ação sobre as taxas de juro e de câmbio, assim como a regulamentação. Mas para garantir a condução eficiente

destes instrumentos é necessário ter planos de atuação bem definidos, que no setor público é imperativo,

obrigando ao cumprimento do mesmo.

Para conseguir atingir os objetivos finais de uma economia, é comum fixarem-se objetivos intermédios para

que sirvam de elementos de guia na utilização de instrumentos de política. Por exemplo, se o objetivo final for

o de reduzir a inflação, um possível objetivo intermédio seria a redução do défice orçamental. Note-se que cada

objetivo deve estar consagrado num objetivo, sendo que toda a política económica se caracteriza por uma escolha

de prioridades e dos meios que se pensam mais eficazes para os atingir. Mas os meios são interdependentes e a

política económica adotada deve ser coerente.

Dentro dos instrumentos tradicionais de política económica temos primeiro as políticas monetárias cujo objetivo principal é o de controlar a oferta de moeda na economia. Ou seja, consiste em controlar a liquidez ou a oferta de moeda para determinar a taxa de juro de referência de mercado. É o Banco Central de um país o órgão principal na condução deste tipo de políticas pois ao aumentar (diminuir) a taxa de juro diminui (aumenta) a oferta de moeda. Em segundo temos as políticas orçamentais ou fiscais que consistem na elaboração e organização do

orçamento de Estado que define as receitas e os gastos públicos num dado período de tempo.

Através das medidas de política económica que definem a política monetária (influência na evolução da massa

monetária e nas taxas de juro) o Estado consegue influenciar a inflação, o crescimento, o emprego e as taxas

de câmbio. O objetivo principal da política monetária consiste na estabilidade de preços (luta contra a inflação)

Page 81: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Políticas económicas e sociais do Estado | 79

como forma de garantir o crescimento económico e o emprego. Os principais instrumentos utilizados na política

monetária são o enquadramento do crédito (interferindo no volume de crédito que pode ser concedido aos

agentes económicos), as operações de mercado aberto (compra ou venda de títulos da dívida pública) e as

reservas obrigatórias (variando a taxa de reservas monetárias dos bancos). Ao mexer nestes instrumentos,

influencia-se a oferta de moeda e isso influencia as taxas de juro o que terá implicações no investimento, na

procura, no crescimento, no desemprego, no produto e no nível geral de preços. Numa economia aberta, ao

termos taxas de juro elevadas conseguimos atrair capitais estrangeiros o que provoca um aumento da taxa de

câmbio, logo a política monetária também vai afetar a política cambial.

Ao aplicar a política orçamental utilizam-se as receitas e as despesas do setor público para atingir os objetivos.

Logo, ao ser aplicada estamos a utilizar a política das receitas públicas que inclui a política fiscal (aplicação de

medidas com respeito a impostos diretos ou indiretos), a política das despesas públicas (aumento ou diminui-

ção das despesas e a modificação da estrutura das despesas por função ou ministério), e pela determinação do

saldo orçamental (enquanto um défice orçamental estimula o crescimento económico, este pode ter um efeito

inflacionista; um excedente orçamental permite combater a inflação mas reduz o emprego). Nas medidas rela-

tivas às receitas fiscais incluem-se a modificação das taxas de imposição, a criação ou supressão de impostos e

o desagravamento ou agravamento fiscais. As receitas públicas são os recursos que o estado dispõe para fazer

face às despesas podendo ser receitas tributárias (cobrança de impostos), receitas creditícias (provenientes de

empréstimos concedidos) e receitas patrimoniais (rendimentos provenientes do património do Estado como a

venda de edifícios, o arrendamento ou até mesmo a venda de madeira das florestas detidas pelo Estado). Note-

-se que a cobrança de impostos tem de ser ponderada de forma eficaz pois uma carga tributária excessiva pode

limitar o crescimento económico.

Outros Itens21%

Salários17%

Pagamentos de Benefícios Pessoais

15%

Ativos de Infraestruturas10%Combustível de

Geradores10%

ConcessõesPúblicas

7%

ServiçosProfissionais

5%

Mat. e Equip.Operacionais e

de Consumo4%

Outros Serviços Diversos

4%

Despesas Operacionais

4%

Aquisição deEdifícios

3%

Despesas por Itens

Fonte: Banco central de Timor Leste; “1 ano de economia internacional e nacional”, 2012. http://www.bancocentral.tl/Download/ExRate/ER-Today.pdf

“A execução orçamental para todo o orçamento do

estado [em 2011], incluindo os Fundos Especiais

até ao quarto trimestre foi de 1.093 milhões de

dólares, o que representa 84% da despesa total

bruta segundo o método de caixa. (…) Excluindo

os Fundos Especiais, as despesas foram de 598

milhões de dólares, o que representa 88% do

orçamento [comparativo] de 681,7 milhões de

dólares. As despesas no Fundo de Infra-estruturas

até ao quarto trimestre foram de 478,3 milhões

de dólares, tendo sido registadas despesas em

dinheiro no Fundo de Desenvolvimento de Capital

Humano no valor de 16,8 milhões de dólares.” [in Relatório de Execução Orçamental do 4º Trimestre

de 2011].

Uma das políticas mais importantes do Estado está dentro da política orçamental, ou seja, a política fiscal,

aquela que é mais fortemente sentida pelo cidadão. A política fiscal (cobrança de impostos; a principal fonte de

receitas públicas) consiste assim nas alterações ao nível do regime tributário (um aumento abrupto provoca uma

deterioração do poder de compra) e aquela que mais contribui para as críticas dos dirigentes do governo por

Page 82: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

80 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

parte da oposição, mas satisfaz as necessidades financeiras do Estado e corrige disparidades na redistribuição

dos rendimentos. Os principais efeitos desta política fiscal refletem-se ao nível do rendimento disponível, do

consumo privado, do crescimento económico e do investimento.

“No ano fiscal anterior (2010) as taxas de execução mais relevantes eram as seguintes:

Receitas domésticas: 102%;

Despesas recorrentes: 93%;

Despesas de Capital: 85%;

Total: 90%.

As despesas efetivamente pagas em cada trimestre, tal como resultam dos relatórios de execução orçamental

do Tesouro timorense, denotam, confirmando a evolução das despesas orçamentadas, um grande aumento de

ano para ano, muito concentradas no último trimestre, aquele em que se procura, normalmente, gastar o resto

do orçamento anual e pagar as contas aos credores do Estado para, na medida do possível, evitar a formação

de “atrasados”. O portal do governo para as finanças públicas indicava, a 9SET12, os seguintes dados:”

Despesas

2012 (consulta dos dados em 9 Set. 2012)Detalhes do orçamento (em USD)

Orçamento Compromissos Obrigações Real Saldo1.799.001.626.000 115.343.802 251.543.800 730.285.542 701.828.482

Fonte: Banco central de Timor Leste; “1 ano de economia internacional e nacional”, 2012. http://www.bancocentral.tl/Download/ExRate/ER-Today.pdf

As consequências para a economia traduzem-se na alteração provocada ao nível dos grandes agregados

macroeconómicos: produto, emprego e nível de preços. Ao aumentar a carga fiscal o Estado está não só

a diminuir o seu défice orçamental, como estará a comprometer o crescimento económico e a aumentar o

desemprego. Por outro lado, ao reduzir os impostos, o Estado agrava o défice público, mas contribui para um

maior crescimento económico e uma redução do desemprego, mas poderá estar também a contribuir para o

aumento da inflação dado que isso provocará um aumento da procura e da quantidade de moeda em circulação.

Daí que a política fiscal deva ser bem ponderada e de preferência conjugada com outras políticas do Estado na

condução da economia.

A política cambial usa a taxa de câmbio como instrumento, podendo esta ser valorizada ou desvalorizada, e faz

parte do conjunto de medidas de política económica. Num sistema de paridades fixas, a desvalorização consiste

na alteração, no sentido da diminuição, do valor da moeda (perda de valor da moeda em relação às outras ou

descida da sua cotação nos mercados cambiais) tendo como objetivo principal a melhoria do saldo comercial (ou

externo). Esta desvalorização atua sobre as quantidades, mas através dos preços. É por isso que as exportações

se tornam mais baratas e aumentam em termos de volume, tornando simultaneamente as importações mais

caras, levando os consumidores nacionais a substituir os produtos estrangeiros por outros nacionais.

Page 83: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Políticas económicas e sociais do Estado | 81

Como parte da política económica e social do Estado, a política de rendimentos e preços atua sobre a formação

e redistribuição de rendimentos, sendo a prioridade a redução de desigualdades sociais na Economia. Com

esta pretende-se lutar contra a inflação ao promover a progressão justa e equilibrada do poder de compra, mas

que seja compatível com os ganhos de produtividade, promovendo a paz social e podendo alterar a repartição

funcional. Na política de rendimentos e preços são utilizados os instrumentos das políticas fiscais e orçamentais,

como os impostos e a prestação de serviços essenciais, com o intuito de promover um melhor nível e qualidade

de vida às populações.

Comparative weekly Avg. Exchange rates: relative to U.S. Dollar

jan

2011

Indonesian RupiahAustralian DollarsEuropean Euros

fev

2011

mar

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1

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ago

2012

ago

2011

set 2

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out 2

011

nov

2011

dez 2

011

92,5

95,0

97,5

100,0

102,5

105,0

107,5

110,0

112,5IDR por USD

jan

2011

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2011

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set 2

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out 2

011

nov

2011

dez 2

011

8400

8600

8800

9000

9200

9400

9600

nota: uma descida da linha corresponde a uma desvalorização do USD face à rupia e consequente (potencial) encarecimento das importações oriundas da Indonésia, a maior parte das importações timorenses

2012

Fonte: Banco central de Timor Leste; “1 ano de economia internacional e nacional”, 2012. http://www.bancocentral.tl/Download/ExRate/ER-Today.pdf

Neste tipo de políticas usam-se como instrumentos os impostos progressivos para que rendimentos superiores

paguem mais impostos, e as receitas são posteriormente canalizadas para serviços de apoio a famílias

carenciadas. Também ao aumentar pensões de reforma, invalidez, subsídios de desemprego, entre outros, o

Estado está a garantir um mínimo de dignidade às famílias mais carenciadas, mas deve ponderar devidamente

as suas decisões para não provocar desincentivos ao trabalho. Também através destas políticas o Estado pode

influenciar os preços de alguns bens e serviços. Por exemplo, ao fornecer serviços como saúde e educação, o

Estado está a garantir um preço mais acessível para todos. A Segurança Social acaba por ser um instrumento de

política fiscal, de rendimentos e social pois através da taxa única que trabalhadores e empresas pagam à mesma,

permite ao Estado recolher receitas que depois canaliza para as famílias sobre a forma de subsídios de invalidez,

desemprego, reformas ou abonos de família.

Tarefa 3:

1. Podemos falar de políticas económicas de forma distinta de políticas sociais?

2. O que se entende por políticas económicas?

3. Qual é o principal objetivo do estado na condução das políticas económicas?

4. Que papeis podem ser atribuídos ao Estado numa Economia?

5. Que instrumento(s) de política económica conhece?

6. Define política orçamental.

7. Define Orçamento de Estado. Como é que este pode revelar a situação económica de um país?

8. Diz o que entendes por política cambial. De que forma esta pode atuar sobre a economia de um país?

Page 84: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

82 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

Já a política de emprego atua direta ou indiretamente sobre a criação de emprego por agir sobre o mercado

de trabalho (procura ou oferta). O seu objetivo principal é a redução do desemprego, mas pode procurar criar

novos postos de trabalho ou a suspensão de atividades. A atenção que os Estados dão à política de combate ao

desemprego é de facto muito grande, pois o desemprego constitui um fator de exclusão social, sendo considerado

um dos problemas mais graves das sociedades modernas. Para a promoção destas políticas de emprego o Estado

deve apostar no aumento da escolaridade (formação) e a sua adaptação às necessidades reais do país; dando

incentivos às empresas através da concessão de subsídios ou isenções fiscais em ações que estas realizem com o

intuito de promover o emprego; aposta na formação profissional contínua; bem como a diminuição da idade da

reforma, e também a criação de postos de trabalho no setor público.

Sucintamente, a política industrial de um país é composta pelas intervenções

públicas ocorridas sobre os comportamentos das empresas e as estruturas

produtivas que tenham como intuito melhorar os desempenhos globais e

setoriais da indústria, ou tão-somente reforçar os mesmos. Quanto aos setores

nacionalizados, o Estado orienta diretamente a produção. No setor privado o

Estado dispõe de meios de intervenção como o ambiente da indústria, a ação

sobre os comportamentos, as políticas setoriais e os grandes projetos industriais.

Ao gerir a política cambial, a de rendimentos, a fiscalidade, o crédito, a legislação, a comercial, e as infraestruturas,

o Estado consegue gerir o ambiente da indústria. Todavia, o Estado deve sempre criar as condições necessárias

à concorrência livre e favorecer a iniciativa privada. Relativamente à ação sobre os comportamentos, o Estado

deve tomar medidas incentivadoras relativamente ao investimento, à localização, ao emprego, à exportação,

entre outras, tais como, desagravamento de impostos em determinadas situações (como para o investimento

produtivo) ou a atribuição de prémios e subvenções.

As políticas setoriais visam manter e reestruturar as indústrias mais antigas e em dificuldades como a siderurgia

e a construção naval, ou a promoção de indústrias novas (como as de tecnologias de informação e comunicação

e a nuclear). Aqui as ajudas podem vir na forma de subvenções, encomendas públicas, apoios à investigação

e desenvolvimento, ou outras, mas não são condicionais. Já os grandes projetos ou os grandes programas

industriais obrigam a uma associação entre o setor público e o capital privado para que os projetos de grande

dimensão sejam suportados (como na aviação, por exemplo).

Dependendo do nível de desenvolvimento de um país o debate prende-se por saber se o Estado deve apostar

no fomento da agricultura ou na promoção da industrialização de um país. Com a adoção de medidas de

industrialização o crescimento e o desenvolvimento económico tendem a ser superiores, mas para isso é

necessário todo um conjunto de medidas primárias para que esta promoção da industrialização seja realmente

eficaz e produza os efeitos desejados na economia.

Desde finais da década de sessenta que se tem assistido a outro tipo de preocupações: as ambientais. Na realidade

ouve-se falar na destruição do ambiente e da poluição crescente que coloca em perigo a qualidade de vida da

população presente e condiciona as gerações vindouras. Assim, o Estado passou também a ter de promover a

preservação da natureza devido às crescentes preocupações com o possível esgotamento de recursos. Estas

preocupações crescentes fizeram com que os Estados passassem a incluir nas suas agendas as políticas ambientais,

pois o direito ao ambiente é uma necessidade coletiva e um direito fundamental das populações. Para intervir

Page 85: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Políticas económicas e sociais do Estado | 83

ao nível da política ambiental o Estado atua através do poder legislativo, usado para emitir normas de proibição

ou de imposição como a proibição de certas atividades poluentes em áreas específicas, a imposição de limites

à emissão de poluentes como o dióxido de carbono, a exigência de instalações e equipamentos antipoluentes

como filtros, ou através do controlo do uso de determinados recursos naturais pela imposição de quotas de

extração. Deste modo, o Estado dispõe de um conjunto de instrumentos económicos para intervir ao nível da

política ambiental. São exemplos destes instrumentos:

1) as taxas de poluição que devem ser calculadas segundo o grau de degradação ambiental causado pelo

poluidor (princípio do utilizador-pagador);

2) a atribuição de subsídios para incentivar os poluidores a reduzir os níveis de poluição e a adotarem

comportamentos anti poluidores;

3) criação de mercados artificiais de poluição, que permitem aos agentes comprar ou vender direitos de

poluição (quotas de poluição adquiridas para ter direito a poluir mais).

Mas uma verdadeira política ambiental num país só será completamente eficaz se todos os cidadãos adotarem

uma verdadeira atitude de defesa do ambiente. Também nós podemos contribuir para a redução da poluição

com gestos simples no nosso dia-a-dia como sejam a reciclagem e a preservação dos recursos naturais que

devem ser usufruto de todos, não só no presente como no futuro. O direito a tomar banho num rio límpido e

cristalino, o direito a respirar ar puro ou o direito a caminhar por ruas limpas deve ser um objetivo coletivo e não

individual. Pequenos gestos como a não poluição ou a reciclagem fazem-nos deter um papel ativo na condução

da política ambiental.

1.3 Políticas Conjunturais e Estruturais

As políticas públicas são as respostas organizadas pela sociedade através do seu sistema político, para atender

às necessidades sociais da população, através de: assistência social, saúde, educação, habitação, etc. Existem

alguns critérios que podem ser utilizados para definir o tipo de atuação das políticas públicas, destacando-se:

Quanto à natureza ou grau de intervenção:

Quanto à abrangência dos possíveis benefícios:

Quanto aos impactos que podem causar aos beneficiários:

a) Estruturais

b) Conjunturais ou de emergência

a) Universais

b) Segmentais

c) Fragmentadas

a) Distributivas

b) Redistributivas

c) Regulatória

Relativamente à abrangência dos possíveis benefícios podemos distinguir as políticas universais, ou seja, as que

se aplicam a todos os cidadãos (o sistema nacional de saúde, por exemplo, tem como princípio a universalidade

Page 86: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

84 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

do acesso de toda a população), as políticas segmentais, caracterizadas por um determinado fator como idade, condição física, género, etc. (como por exemplo, a educação fundamental obrigatória para toda a população em idade escolar), e as políticas fragmentadas, destinadas a grupos sociais dentro de cada segmento (por exemplo, a atribuição de bolsas de estudo ao setor mais carenciado da população para garantir o acesso à educação para todos).

Quanto aos impactos que podem causar aos beneficiários podemos classificar as políticas enquanto distributivas, que pretendem distribuir benefícios individuais (por exemplo, os fundos captados através do programa de eliminação da pobreza), as políticas redistributivas, que pretendem redistribuir recursos entre grupos sociais (na procura de uma certa equidade, retiram recursos de um grupo (que tem mais) para beneficiar outros (que necessitam mais), o que também provoca conflitos. Como exemplos de políticas redistributivas temos a reforma agrária e os impostos progressivos) ou ainda as políticas regulatórias que definem regras e procedimentos que regulam o comportamento dos agentes para atender aos interesses gerais da sociedade (um exemplo, são as

reformas tributárias).

Quanto à natureza ou grau de intervenção podemos ter políticas de curto prazo ou de longo prazo. Aqui incluem-

-se as políticas conjunturais (curto prazo) e as estruturais (médio e longo prazo).

As políticas conjunturais têm como objetivo manter ou restabelecer o equilíbrio económico-financeiro a curto

prazo, corrigindo desequilíbrios que se vão gerando na economia como o desemprego e a inflação. As políticas

estruturais têm como objetivo modificar as estruturas da economia a longo prazo. São políticas que pretendem

alterar as condições de funcionamento da economia, pois adotam, preparam, orientam e impulsionam as

modificações estruturais para seguir com a evolução económica. São exemplos deste tipo de políticas estruturais

a definição do salário mínimo, a geração de empregos e a criação de apoio governamental para aumentar a

produtividade industrial do país. Ou ainda, para acabar com a pobreza é preciso uma política estrutural

rigorosamente articulada com as demais políticas sociais e económicas de um país.

PolíticasConjunturais

Duração:curto prazo

Efeito:quantitativo

Objetivo:manutençãodos objetivos

PolíticasEstruturais

Duração:médio e longo

prazo

Efeito:qualitativo

Objetivo:adaptação das

estruturas

Na escolha das políticas conjunturais devemos

distinguir entre políticas de estabilização (visam

reduzir a velocidade da atividade económica com

vista a lutar contra a inflação) e as políticas de

aumento (têm como objetivo aumentar a atividade

económica e o crescimento da produção, para

aumentar os lucros fiscais e diminuir os custos de

produção).

Dentro das políticas conjunturais temos o Banco Central a decidir as políticas monetárias a adotar e o Estado a definir as políticas orçamentais. O Banco Central de qualquer país ou região económica tem como missão garantir a estabilidade de preços, mas há aqui um jogo que tem de ser feito de forma correta dada a relação existente entre taxa de inflação e taxa de desemprego (curva de Philips). Já uma política de depreciação da moeda interna conduz a um aumento dos preços das importações e à redução das mesmas. Mas ao diminuir o preço das exportações conseguimos aumentar o volume destas. Assim, a depreciação conduz teoricamente a um aumento da competitividade pelos preços, mas com riscos inflacionistas.

Page 87: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Políticas económicas e sociais do Estado | 85

Uma política de apreciação/desvalorização da moeda interna provoca uma diminuição de preços das importações e aumentos do volume importado, em detrimento das produções nacionais. Por outro lado, a valorização da moeda interna aumenta o preço das exportações, e isso provoca uma diminuição no volume exportado, ou seja, a valorização permite conter a inflação mas baixa a competitividade pelo preço.

Os estados devem manter um reduzido deficit orçamental, que normalmente aparece descrito como uma percentagem do produto interno bruto (PIB) de uma nação. É necessário este rigor pois o aumento da dívida pública de um país e o pedido de capitais pode provocar um aumento das taxas de juro a longo prazo dos mercados financeiros, ou ainda, uma elevação das taxas de juro de curto prazo a fim de prevenir a inflação (decidida pelos Bancos Centrais). Mas todos os países são prejudicados perante um cenário de aumento da taxa de juro pois isso trava a atividade económica.

As políticas estruturais encorajam as políticas económicas que têm como objetivo adaptar a economia nacional às mudanças do ambiente económico internacional. Tradicionalmente, a política estrutural engloba a industrial, a agrícola e a do desenvolvimento do território. Assim, a condução de uma política estrutural opera-se tanto a nível nacional, como local (autarquias locais).

O objetivo das políticas agrícolas é o de desenvolver a produtividade da agricultura e dar incremento ao progresso técnico. Com isto garante-se o desenvolvimento da produção agrícola e a utilização ótima dos fatores de produção, designadamente da mão-de-obra assegurando um nível de vida equitativo à população agrícola, nomeadamente pelo aumento do rendimento. Normalmente, também tem como objetivos estabilizar os mercados, garantir a segurança dos abastecimentos e assegurar preços razoáveis nos fornecimentos aos consumidores.

A inovação surge como uma causa determinante e essencial à competitividade das Economias. Mas, os mecanismos de mercado não permitem, de maneira eficaz, a sua emergência porque esta é caracterizada como um bem público mas que pode ser financiada por um único agente. Nesta lógica, nenhuma empresa tomaria o risco do financiamento e preferiria adotar um comportamento de “clandestino”, ou seja, tirar vantagens dos financiamentos realizados em investigação e desenvolvimento feitos por outros. Assim, as políticas estruturais devem apoiar financeiramente a investigação industrial e favorecer a sua divulgação no conjunto da Economia. As políticas estruturais atuais normalmente acabam por reabilitar o conceito protecionista de “indústria nascente”, através da noção de indústria estratégica. Sendo que uma indústria é considerada estratégica se for uma fonte de externalidades positivas, como no caso das tecnológicas (indústrias de armamento, construção aeronáutica e do espaço). Com esta ideia, a tendência é para o protecionismo face à concorrência internacional através do apoio à inovação. Todavia, num contexto de mundialização das empresas, a ajuda à inovação nem sempre beneficia as empresas implantadas em território nacional e isso causa divergências na competitividade nacional.

Assim, verificamos que os objetivos de política económica são geralmente incompatíveis e os instrumentos utilizados insuficientes, relativamente aos objetivos que são inicialmente traçados. A existência de vários constrangimentos dificulta a atuação destes, reduzindo consideravelmente a margem de manobra das políticas circunstanciais. Também, temos de levar em conta o facto de que por vezes um objetivo possa ser incompatível com os demais o que obriga a um estudo profundo sobre quais as políticas que devem ser conduzidas num determinado momento do tempo. Por exemplo, se quero aumentar o produto e assim diminuir o desemprego, mais tarde vou acabar por gerar inflação interna e no momento certo é necessário saber adotar as políticas monetárias corretas para arrefecer a economia e assim evitar tendências inflacionistas, o que nem sempre é fácil devido ao timing em que estas vão produzir resultados.

Page 88: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

86 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

Objetivos e finalidades das políticas públicas:

Procuram responder à procura, principalmente as dos setores mais marginalizados pela sociedade (os agentes mais vulneráveis da Economia). Essa procura é percebida pelo Estado, mas também influenciada pela agenda criada na sociedade civil, quer por pressão, quer por mobilização social;

Tentam ampliar e tornar efetivos os direitos de cidadania;

Propõem-se a promover o desenvolvimento, criando alternativas de emprego e rendimentos como forma de compensar os ajustamentos criados por outras políticas mais estratégicas, tais como as económicas;

São necessárias para resolver e regular conflitos entre os vários agentes sociais, mas cujos interesses se apresen-tam de forma contraditória.

Características das políticas públicas

1. Respondem a problemasconcretos (exemplo: fome, doença,desemprego, etc.)

3. Devem atender à procura (como os movimentos para garantir medicação para os portadores do vírus VIH)

4. Têm objetivos específicos

5. Existe uma componente temporal forte, ou seja, são pensadas para serem efetivas durante um certo período de tempo

6. Utilizam-se instrumentos próprios (por exemplo, o voto é um dos instrumentos de uma política de participação democrática)

7. Alteram a situação existente

2. Devem atender a necessidadessociais (exemplo: moradia, alimen-tação, educação, etc.)

As finalidades das políticas públicas ou dos processos e do sistema político que as compreende é a satisfação

das necessidades sociais e atender à procura socialmente evidente. Logo, o interesse público é pressuposto da

legitimidade de toda a política pública. Mas também podem existir políticas públicas não-governamentais. Na

realidade, esta é uma condição cada vez mais frequente nas sociedades com Estado neoliberal.

Estas são políticas que atendem ao interesse público, tendem a responder às necessidades sociais, são submetidas

ao debate e participação popular, mas que são propostas, formuladas e executadas por organizações que não

pertencem ao aparelho de Estado. São exemplos destas as várias políticas de proteção ambiental, que na sua

maioria são coordenadas por Organizações não-governamentais, ou mais conhecidas por ONGs.

Tarefa 4:

1. Que critérios podem ser utilizados para definir o tipo de atuação das políticas públicas?

2. Distingue políticas estruturais de políticas conjunturais.

3. Como serão os mecanismos de mercado enquadrados pelas políticas estruturais no futuro? Qual a ação

do Estado no futuro a este respeito?

4. Quais as principais características das políticas públicas?

5. Dá um exemplo de objetivo que possa ser incompatível com os demais traçados pelas políticas públicas.

Page 89: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Políticas económicas e sociais do Estado | 87

1.4 Proteção SocialTal como vimos, o mercado por si só não é capaz de garantir a eficiência, a equidade e a estabilidade, devido ao facto de existirem falhas no seu funcionamento (bens públicos, desigualdades na redistribuição de rendimentos, externalidades, poder de mercado, etc.). Cabe ao Estado intervir para promover o desenvolvimento económico e a justiça social promovendo a utilização eficaz dos recursos, reduzindo os custos de produção (subsídios), através da produção de bens públicos (aeroportos, estradas, iluminação pública, educação e saúde), a justiça social (repartição de rendimentos mais equilibrada), bem como a diminuição das flutuações da atividade económica (atuando contra o desemprego; aumento de preços; etc.).

Relativamente à eficiência, aqui pressupõe-se que na produção de qualquer bem sejam utilizados o mínimo de recursos e se possível ao custo mais baixo. De outro modo, o conceito de eficiência para uma empresa privada pode não corresponder ao interesse social, como será o caso da colocação de bens no mercado que são prejudiciais à saúde dos consumidores, apenas porque pretendem poupar nos recursos e obter lucro máximo (mais uma falha de mercado).

Também por si só o mercado não gera equidade, ou seja, promover uma repartição de rendimentos mais equitativa, para que haja justiça social, no sentido de ajudar as famílias de mais baixos rendimentos a satisfazer as necessidades mais básicas.

Como também a atividade económica não evolui de um modo linear, sendo normalmente acompanhada por aumentos de desemprego, é necessário acompanhar as variações acentuadas de preços. Ou seja, o Estado tem de se antecipar a esta sucessão de fases de expansão e recessão da atividade económica para reduzir as flutuações do ciclo económico e assim garantir a estabilidade económica.

As políticas sociais são políticas públicas que tentam reduzir as desigualdades existentes na sociedade. Logo, cabe ao Estado, no exercício das suas funções sociais, repor a justiça social, corrigindo o mercado. Muitas vezes as políticas sociais confundem-se com as económicas pois ambas interagem. Como um mercado a agir por si só

pode gerar instabilidade e desequilíbrios, é necessário que o Estado imponha regras para regular o mesmo.

Interferência do Estado na atividade Económica

Regulador Fiscalizador Dinamizador da atividade Económica

Produtor de bens e serviços essenciais

(através do SEE)

Planificador da atividadeeconómica

(depende do modelo político adotado pelo país)

Estas diversas formas que o Estado tem de intervir, destinam-se a prevenir e corrigir desequilíbrios derivados do

normal funcionamento económico (inflação, desemprego, deficit nas balanças, etc.), permitindo uma utilização

mais eficaz de recursos, regulando a atividade económica e redistribuindo os rendimentos.

Embora os dois tipos de políticas (económicas e sociais) se coordenarem e inter-relacionarem, podemos falar de políticas essencialmente económicas e de políticas essencialmente sociais. As políticas essencialmente económicas podem incidir sobre um setor específico da atividade económica, como as políticas setoriais, ou sobre áreas específicas, como sejam as políticas monetárias, as políticas orçamentais e fiscais e as políticas de emprego, etc. As políticas essencialmente sociais visam cumprir funções sociais nomeadamente no que respeita

Page 90: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

88 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

à satisfação das necessidades coletivas como a política da educação, a política da saúde, ou até mesmo a de redistribuição de rendimentos, etc.

Como os fenómenos económicos são também fenómenos sociais, quando o Estado atua através de políticas económicas, alcança também consequências sociais. Por exemplo, ao lançar mão da política orçamental e fiscal para efetuar uma redistribuição de rendimentos o Estado acaba por corrigir desigualdades sociais.

Mas algumas políticas sociais podem originar efeitos perversos na Economia e daí a evolução dos papeís do Estado ao longo do tempo. Uns defendem um Estado liberal, mas outros há que defendem o Estado intervencionista devido ao papel social que o mesmo deverá ter na Economia. Podemos então dizer que o papel do Estado na

Economia tem evoluído ao longo dos tempos e que o mesmo se prende em três grandes concepções:

» Estado mínimo ou liberal: em que a intervenção do mesmo deve ser mínima;

» Estado protetor: (de bem-estar) ou Estado providência, defendendo-se a intervenção do Estado na Economia de forma a corrigir as falhas de mercado;

» Estado imperfeito: defende-se a intervenção moderada do Estado na atividade económica.

Como reação ao centralismo do Estado que dominou os séculos XVI e XVII, surgiu entre o século XVIII e meados do século XIX uma corrente liberal.

A corrente liberal defendia: Para os liberais o Estado deveria apenas:

- A não intervenção do Estado na Economia;

- A propriedade privada dos meios de produção;

- A livre iniciativa e a livre concorrência;

- A liberdade das trocas entre nações.

- Garantir a segurança externa;

- Defender a ordem social e as liberdades individuais;

- Criar condições para o bom funcionamento dos mercados;

- Participar na satisfação das necessidades coletivas, de modo pontual, apenas quando a iniciativa privada o não fizesse.

A proteção social ou segurança social constitui um direito de todos os cidadãos estando normalmente consagrada na Constituição da República, sendo efetivada pelo Sistema de Segurança Social de um país, depois de ter sido aprovada através da publicação de leis específicas para o efeito, que definem as suas bases gerais, princípios, objetivos e estrutura, variando de país para país. A segurança social visa garantir aos indivíduos um conjunto de condições de vida dignas, designadamente em determinadas situações de risco social, chamadas eventualidades. Por exemplo, a promoção de políticas de emprego sociais, a concessão de reformas por idade ou invalidez, bem como subsídios ao desemprego, rendimentos de inserção social, ou como nalguns países é conhecido por

rendimento mínimo garantido, e até outro tipo de apoios como a grávidas adolescentes.

Tarefa 5:

1. Define políticas sociais.

2. Porque tem o Estado de interferir na atividade económica? Porque o faz?

3. Dá exemplos de apoios concedidos pelo Estado Timorense em termos de proteção social.

4. Discute com os teus colegas de turma o tipo de Estado (liberal, protetor ou imperfeito) que existe em

Timor-Leste e comente acerca das suas vantagens ou desvantagens.

Page 91: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Crescimento e desenvolvimento | 89

2 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO

2.1 Crescimento e Desenvolvimento – Conceitos e Indicadores

Foi a partir da Revolução Industrial que se começaram a distinguir as sociedades modernas (as que aumentam

significativamente o nível de produção), das tradicionais (quase imutáveis e sem progresso, ou seja, sem aumentos

de produção e consumo). Todavia, as preocupações sobre o desenvolvimento são relativamente recentes na

história da Humanidade. Até metade do século XVIII não se verificavam desníveis muito acentuados ao nível do

desenvolvimento dos países, pois mesmo nos países que hoje são conhecidos por desenvolvidos, a fome matava

milhares de pessoas, a mortalidade geral e infantil eram elevadas e as epidemias (doenças generalizadas e de

difícil combate como o HIV, a peste, a malária, etc…) constantes.

A partir da Revolução Industrial (inícios do século XVIII) os desníveis começaram a sentir-se e a acentuar-se, pois

iniciou-se um período de grandes alterações técnicas, com a introdução da máquina, de novas fontes de energia,

e novas formas de produzir e de trabalhar. O aumento da produção e do rendimento trouxe uma melhoria

generalizada do nível de vida das populações, o que se refletiu num rápido crescimento económico e de grandes

alterações científicas e técnicas. Em finais do século XIX, com a expansão a outros países, esta evolução provocou

uma diminuição das taxas de mortalidade infantil e de analfabetismo, especialmente nos países afetados pela

Revolução Industrial, ou seja, os dois séculos seguintes ficaram marcados pelo elevado crescimento económico

(aumento da produção mundial e do volume de trocas internacionais).

1980 1985 1990

USA

1995 2000 2005 2010 20150%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%ChinaJapãoAlemanhaFrançaReino UnidoBrasilItáliaCanadáÍndia

Este gráfico mostra a proporção de PMB (produto mundial bruto) nominal dos países entre os 10 maiores PMB em 2010, de 1980 à 2010, com projeções de até 2016 feitas pelo FMI. Os países marcados com asteriscos (como o Brasil) não pertencem ao G8. As linhas

cinzas representam os valores reais do dólar americano. http://pt.wikipedia.org/wiki/Produto_mundial_bruto

Page 92: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

90 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

Nos trinta anos após a Segunda Guerra Mundial, já no século XX, ou os «Trinta Gloriosos», tivemos anos de forte

crescimento económico, em que tudo era permitido em nome do crescimento: poluir, destruir a natureza e pilhar

os recursos sem limites. Aumentou a competitividade entre economias para disputarem o título da que “teria

a mais elevada taxa de crescimento económico”, acreditando-se que bastaria aumentar a capacidade produtiva

dos países em bens e serviços para que o desenvolvimento fosse alcançado. Até mesmo algumas economias dos

países menos desenvolvidos registaram taxas de crescimento elevadas, da ordem dos 6% ao ano.

A par deste crescimento económico, verificava-se um acentuar das desigualdades quer no interior dos países, quer ao nível mundial. Apesar do crescimento da riqueza ao nível mundial, a pobreza, a miséria e a exclusão social continuavam a alastrar, privando uma massa cada vez maior de pessoas do acesso à satisfação das suas necessidades mais básicas, ou seja, estes continuavam à margem do crescimento. Perante este paradoxo, havia que reequacionar os conceitos de crescimento e de desenvolvimento. Crescimento como e para quem? Surge então a problemática do desenvolvimento e dos caminhos para o atingir, na tentativa de conduzir as sociedades saídas da descolonização até aos níveis de vida e bem-estar já alcançados pelos povos dos países europeus, da América do Norte, da URSS e do Japão. Mas nos anos 50, muitas nações recém-independentes seguiam políticas económicas em que o desenvolvimento é apenas tido como resultante de um crescimento económico, centrado sobretudo na expansão do setor industrial. Só nos anos 70 é que os modelos que procuravam no crescimento

económico a solução para o desenvolvimento começaram a ser questionados.

Crescimento e Desenvolvimento

Timor-Leste: taxa de crescimento do PIB (%)segundo o BAD e o FMI

-5

0

5

10

15

2007

Valores reais apresentados pelo BAD (Banco Asiático de Desenvolvimento)

Valores estimados pelo BAD

Valores reais apresentados pelo FMI baseado noutras fontes

Valores estimados de PIB pelo FMI (Fundo Monetário Internacional)

2006

-5.9-5.8

9.1 9.1

12.2 12.5

9.5 10.0 10.011.0

12.9

6.17.3

8.6

2008 2009 2010 2011 2012

y

“Ouvimos frequentemente nas notícias veiculadas pelos

meios de comunicação social falar de crescimento e

desenvolvimento económico dos países, confundindo-se por

vezes esses conceitos. Embora os dois conceitos estejam

interligados, o seu significado é diferente.

O crescimento é um fenómeno quantitativo e mensurável, que

se traduz pelo aumento da produção realizada por um país

num determinado período de tempo. O desenvolvimento é

um fenómeno essencialmente qualitativo e pressupõe, para

além do aumento da produção, um conjunto de transformações

técnicas, sociais e culturais no país em questão, traduzindo-se

pela melhoria das condições de vida da população e pela

redução das desigualdades económicas e sociais.

Assim, o crescimento económico, por si só, não é condição suficiente para o desenvolvimento, devendo ser entendido apenas

como um meio (ainda que importante) para a sociedade se desenvolver. O desenvolvimento económico é um fenómeno

complexo, multidimensional e plurifacetado, de difícil mensuração, que requer o recurso a um conjunto diversificado de

indicadores, quer de carácter quantitativo, quer de carácter qualitativo, tais como indicadores económicos, demográficos,

socioculturais e políticos.”

Economia & Gestão, Espaço de reflexão sobre temas relacionados com a Economia e a gestão de empresas, Quarta-feira 11 de maio de 2011, http://eco-gest.blogspot.pt/2011/05/crescimento-e-desenvolvimento.html

Page 93: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Crescimento e desenvolvimento | 91

Enquanto o crescimento modifica estruturas e inclui o progresso técnico, o desenvolvimento é um fenómeno complexo que integra mudanças mentais e sociais e o progresso dos conhecimentos da população, para conseguir aumentar de forma sustentada o produto real global, o bem-estar e a qualidade de vida.

Assim, o crescimento económico é um fenómeno que se reveste de uma natureza quantitativa, traduzindo-se num aumento continuado da produção de bens e serviços duma economia, com referência no espaço e no tem-po. Já o conceito de desenvolvimento ultrapassa o de crescimento económico, situando-se a um nível qualita-tivo, no plano humano, e de melhoria das condições de vida das populações. O desenvolvimento é, assim, um conceito multidimensional que pressupõe melhorias quer ao nível económico, quer social e acessível a todos os membros de uma sociedade.

Desenvolvimento: um fenómeno multidimensional

DimensãoSocial

DimensãoDemográfica

DimensãoEconómica

DimensãoPolítica

Por outras palavras, não podemos falar de desenvolvimento sem que se tenham verificado melhorias nas condições de saúde, de alimentação, de habitação ou de educação da população e para isso não basta apenas que a capacidade produtiva tenha aumentado, se esse aumento da riqueza não reverter a favor dos mais pobres, continuando a verificar-se fortes desigualdades sociais.

Após o choque petrolífero de 1973-1974 também se começaram a questionar as estratégias de desenvolvimento económico dos países industrializados pois estes começaram a provocar uma degradação acentuada do meio ambiente, a destruição dos recursos naturais não renováveis (o que limitará o crescimento económico dos países industrializados) e uma grande desigualdade de situações a nível mundial.

Para que um país ou uma região se desenvolvam é necessário que aumente regularmente a produção de bens e

serviços (crescimento económico) mas também que este aumento corresponda à garantia, a toda a população,

de grau mínimo de satisfação das necessidades básicas como alimentação, saúde e educação; à igualdade de

oportunidades para toda a população independentemente do seu sexo, etnia, religião ou classe social; à garantia

das liberdades humanas; ao desenvolvimento harmónico dos diferentes ramos de atividade; à redução nas

desigualdades de repartição dos rendimentos e melhoria do poder de compra das populações; à independência

do processo de desenvolvimento, não dependendo de modelos impostos do exterior; e ao respeito pelo ambiente

e pelas gerações futuras.

Para que as pessoas vivam melhor, e necessário que se disponha de mais bens e serviços para distribuir. No

entanto, o desenvolvimento não se resume a crescimento económico, pode haver crescimento sem que se

verifique desenvolvimento. A ligação entre crescimento económico e desenvolvimento não é automática.

O crescimento é um meio, mas a grande finalidade é o desenvolvimento.

O desenvolvimento engloba o crescimento económico.

Page 94: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

92 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

Tarefa 6:

1. Distinga crescimento de desenvolvimento económico.

2. Porque se diz que o desenvolvimento é um fenómeno multidimensional?

3. Defina desenvolvimento económico após a evolução do conceito de crescimento económico.

4. Porque é que se considera a Revolução Industrial como o despoletar do crescimento económico?

Indicadores de desenvolvimento enquanto medidas de desenvolvimento: funções e limitações

Todos os países encontram-se em fases de desenvolvimento diferentes, sendo que uns se encontram mais

desenvolvidos que outros. Mas para os conseguir identificar nesta diversidade de posições precisamos de as

medir e quantificar. Os indicadores são instrumentos estatísticos usados na medição do desenvolvimento.

Como também o desenvolvimento é um fenómeno multidimensional e plurifacetado, devem-se escolher

os indicadores mais significativos, o que nem sempre é fácil. Por vezes, é necessário recorrer a um conjunto

diversificado de indicadores, quer de carácter quantitativo quer de carácter qualitativo, de forma a abarcar o

maior número possível de elementos que possam transmitir a complexidade da realidade em causa.

Por si só, nenhum indicador é suficiente para conhecer toda a realidade, sendo apenas capaz de nos mostrar uma

pequena parte do todo social. Assim, os indicadores são meios importantes que permitem conhecer a realidade,

permitem tomar medidas de forma a melhorar a situação e a conhecer a evolução da mesma ao longo dos anos.

Page 95: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Crescimento e desenvolvimento | 93

1300

300

1003051

População dos Estados, 2007(em milhões de habitantes)

África

Ásia

CEI

Europa

América do Sul,Central e Caribe

Nem todos os países estão representados; IDH e Índice de Gini disponíveis para 126 países

América do Norte

Índice de Ginidesigualdadesfortes

74,3 60 50 40 30

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

desigualdadesfracas

IDH

frac

o de

senv

olvi

men

to h

uman

ode

senv

olvi

men

to h

uman

o el

evad

o

AustráliaReuno Unido

Itália

Hong KongUruguai

VenezuelaMalásia

Costa RicaArgentina

Chile

Rep. Dom.Panamá.

ColômbiaBrasil

Equador

Bolívia

Nambia

Lesoto

Haiti MauritâniaGanaSenegal

Tanzânia

PaquistãoBangladeshIémen

MalaviGuiné

EtiópiaMaliBurkina FasoGuiné-BissauMoçambique

Benim

Honduras

Jamaica

China Irão

NicaráguaTurcomeniscão

Sri LankaGeórgia

Marrocos

NepalSuazilândia

MadagáscarPapua-N. Guiné

ZimbábuéGâmbia

UgandaRuandaZâmbia

Costa do MarfimBurundi

RepúblicaCentro Áfric.

Serra Leoa

Niger

CambojaQuénia

Índia

Camarões

GuatemalaÁfrica do SulBotsuana

ParaguaiEl Salvador

Peru

CingapuraIsrael

BélgicaEspanha Canadá

HolandaÁustria

SuéciaAlemanha Noruega

DinamarcaJapãoEslovénia

FinlândiaIrlanda

GréciaFrançaSuiçaPolóniaEscóciaLituâniaRoménia

LetóniaAlbânia

CazaquistãoArméniaAzerbaijão

ArgéliaVietnamIndonésiaMoldáviaQuirguistãoMongóliaEgitoTadjiquistãoUzbequistãoLaos

Trindad. e Tob.MacedóniaJordániaTunísia

N. ZelândiaPortugal

Filipinas

México

Coreia do Sul Rep. ChecaHungriaEslováquiaCroáciaBulgáriaBielorússiaBósniaUcrânia

TurquiaTailândia

Rússia

EUA

Na medição do desenvolvimento podem ser

utilizados indicadores simples ou os

compostos (ou sintéticos). Os simples

cobrem apenas aspetos parcelares da

realidade como os socioculturais, políticos,

económicos e demográficos. Como estes

aspetos se consideram interligados há por

vezes dificuldades em separá-los e identificá-

los como somente pertencendo a uma única

destas categorias.

Os indicadores compostos ou sintéticos,

incluem um certo número de indicadores

simples que se consideram enquanto

representativos de uma dada situação, mas

atribuindo-lhes uma ponderação.Fonte: Pnud. Human Development Report, 2008

(HYPERLINK “http://www.undp.org” www.undp.org). Nações Unidas – Divisão de População.

World Population Prospects. The 2006 Revision (www.un.prg)

Indicadores económicos:- PIB per capita ou RN per capita- Taxa de crescimento anual do PIB- Taxa de desemprego - Taxa de atividade- Repartição da população ativa por setores- Parcela de rendimento destinada a cada um dos fatores de produção- Taxa de inflação- Etc.

Indicadores socioculturais: - Taxa de alfabetização de adultos- Consumo de jornais/revistas por habitante- Número de médicos por 1000 habitantes- Número de professores por 1000 habitantes- Taxa de analfabetismo- Taxa de escolaridade feminina - Etc.

Indicadores demográficos:- Taxa de crescimento anual da população - Taxa de natalidade - Taxa de mortalidade - Esperança média de vida- Taxa de mortalidade infantil - Etc.

Indicadores políticos:- Reconhecimento dos direitos humanos - Reconhecimento dos direitos da criança - Existência de democracia - Grau de participação na vida política - Etc.

Page 96: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

94 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

O quadro anterior mostra-nos alguns indicadores simples. Nos indicadores compostos incluem-se:

» O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) que se decompõe nos indicadores esperança de vida à

nascença, taxa de alfabetização de adultos, taxa de escolaridade bruta combinada, PIB per capita em

dólares PPC (paridade de poder de compra);

» O Índice de Pobreza Humana (IPH) cuja composição difere dependendo se estamos a olhar para países

desenvolvidos ou em desenvolvimento;

» O Índice de Desenvolvimento Relativo ao Género (IDG) que mede o mesmo que o IDH, nas mesmas

dimensões e usando as mesmas variáveis, mas tendo em atenção a desigualdade entre homens e mulheres;

» A Medida de Participação Segundo o Género (MPG) que usa variáveis construídas propositadamente

para medir o poder de ação relativo a homens e mulheres em atividades políticas e económicas.

Todos os indicadores referidos, exceto o IPH (que já é obtido em percentagem), apresentam valores entre 0 (pior

a situação do país) e 1 (melhor é a situação do país). Logo, quanto mais perto de 1 melhor.

Apesar dos indicadores constituírem um instrumento de trabalho indispensável na nossa análise, é preciso ter

cuidado ao utilizar os mesmos, especialmente no que toca: à dificuldade de contabilizar os recursos; na escolha

dos agregados macroeconómicos; e na estandardização dos indicadores de consumo. Eles são por norma

imperfeitos e insuficientes, por não conseguirem traduzir na totalidade a realidade social.

Por exemplo, ao contabilizar recursos esta é sempre insuficiente e incompleta e daí que os valores que nos dão os

indicadores económicos possam não descrever a realidade global. Temos o autoconsumo (consumo de um bem

ou serviço pelo seu próprio produtor), a autoconstrução de habitação, a prestação de trabalhos recíprocos entre

vizinhos, a produção e a troca informal de bens (atividades paralelas que o estado não consegue contabilizar e

sobre as mesmas cobrar impostos), e a fuga de capitais para o estrangeiro (a colocação de capitais no exterior)

como exemplos de dificuldades nesta contabilização.

Relativamente à estandardização de indicadores somos sujeitos a algumas limitações, pois indicadores relativos

à alimentação devem ter em conta a cultura da sociedade em questão e as condições climáticas do país. Daí

também que seja melhor usar vários indicadores capazes de representar a realidade em questão.

Na escolha dos agregados macroeconómicos em termos quantitativos, é relativamente simples encontrarmos

algumas respostas, como a medição do Produto Nacional ou mesmo do Rendimento Nacional per capita.

Contudo, quando passamos à análise qualitativa, os problemas surgem. Poderemos questionar a validade do

indicador PIB per capita. Qual o seu significado? O que traduz ele? Mas as dificuldades serão acrescidas quando

desejamos medir, por exemplo, a realização dos direitos humanos.

Outro conjunto de questões que se pode levantar na utilização dos indicadores diz respeito à recolha dos

dados estatísticos. Nos países menos desenvolvidos, a informação estatística é, por vezes, deficiente, dadas as

dificuldades na recolha dos dados ou mesmo no seu tratamento.

A escolha do PIB ou do PNB também não é indiferente ao tentarmos analisar o grau de desenvolvimento de um

país. Um país pode simultaneamente apresentar um PIB de 1,8% mas um PNB de -2,2%. Porquê? Isto justifica-se

porque a proporção de fatores de produção de origem estrangeira poder ser muito elevada e a sua remuneração

ser subtraída ao PNB, dado que se verifica o seu envio para o estrangeiro. Deve-se também ter em atenção que o

Page 97: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Crescimento e desenvolvimento | 95

valor do PNB é calculado a partir da conversão de uma moeda nacional numa moeda de aceitação generalizada,

como o dólar. Há pois que calcular índices de paridade de poder de compra (PPC) para efeitos dessas comparações

não saírem falsificadas.

Resumindo, o desenvolvimento é um conceito complexo e a utilização de um único indicador pode não revelar

todas as suas dimensões. O PIB per capita, por exemplo, é um indicador habitualmente utilizado para estabelecer

comparações internacionais em termos de bem-estar das populações. No entanto, apresenta grandes limitações,

já que mede meios e não fins, ou seja, não inclui a medição da melhoria do bem-estar. Para além disso apresenta

outras limitações pois sendo uma média, nada nos diz sobre a forma como a riqueza é repartida pela população,

diminuindo as reais as desigualdades económicas e, consequentemente, as desigualdades sociais. Outros

problemas são descritos no quadro seguinte (fonte: ONU, 1996).

1) Regista apenas as trocas monetárias – conta apenas bens e serviços que podem ser trocados por moeda, não considerando o trabalho doméstico ou na comunidade. Estima-se que 2/3 do trabalho das mulheres e ¼ do dos homens nunca entra no cálculo deste indicador.

2) Iguala as atividades “boas” e “más” – dá o mesmo significado a serviços valiosos como cuidar de crianças e idosos e a atividades menos boas como a produção de cigarros ou de armas químicas.

3) Conta tanto os vícios como as curas – comer e beber por vício é contabilizado duas vezes: uma enquanto comida e álcool consumido, e outra quando largos montantes são gastos na indústria de dietas e nas curas de alcoolismo.

4) Não dá valor ao lazer – ao registar um rendimento mais baixo associado a menos horas de trabalho ou reforma antecipada, não o compensa somando o aumento de horas de lazer no outro lado da conta, nem tão pouco subtrai o lazer perdido quando alguém tem de arranjar um segundo emprego.

5) Considera os recursos naturais como livres – a degradação ambiental, poluição e esgotamento de recursos não são contabilizados.

6) Não contabiliza o peso da economia informal, tal como o trabalho doméstico, o trabalho infantil, a produção

destinada ao auto consumo ou ainda as operações que escapam ao controlo das autoridades, como o

contrabando ou o tráfico ilícito de bens, serviços e capitais.

7) Ignora a liberdade humana – não é atribuído valor à liberdade, aos direitos humanos e à participação.

O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é um indicador composto e pode ultrapassar algumas limitações

apresentadas pelos indicadores simples. Mas também este se revela imperfeito e insuficiente na medição de

situações complexas como o desenvolvimento humano, país este é muito mais vasto, rico e profundo do que é

possível transmitir através de um indicador.

Uma das críticas usualmente feitas ao IDH refere-se ao número limitado de indicadores simples que o compõe,

não conseguindo assim traduzir a complexidade do desenvolvimento humano. Outra prende-se com a taxa

de alfabetização de adultos, considerada como representativa do nível de conhecimentos de uma população.

Contudo, um país pode estar a realizar um forte investimento na escolarização das suas crianças e jovens e só

daqui a uns anos esta situação ser visível na taxa de alfabetização de adultos. Por último, como o IDH é uma

Page 98: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

96 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

média nacional, esconde as desigualdades existentes, quer entre grupos sociais, quer entre géneros, regiões ou

etnias. Para fazer face a estas limitações devemos observar o desenvolvimento humano conjugando o IDH com

o IDG, o MPG e o IPH.

Mas apesar de apresentar limitações o IDH permite revelar alguns dados interessantes: países classificados

como economias de baixo rendimento apresentam um IDH elevado (Jordânia e Vietname) pois houve uma

forte mobilização de recursos nos domínios da educação e da saúde; países classificados como economias de

rendimento baixo apresentam um IDH baixo (Guiné e Tanzânia) pois são países com economias dualistas e

acentuadas assimetrias na repartição de rendimentos.

Índice de DesenvolvimentoHumano

IDH Três Dimensões Quatro Indicadores

Saúde

Educação

Padrão de vida

Esperança média de vida

PIB/PNB per capita

Taxa de alfabetização

Taxa de escolarização

Resumindo, os países são classificados pelo IDH de 0 a 1, enquanto desenvolvidos e em desenvolvimento:

» Se o IDH for igual ou superior a 0,8 o desenvolvimento do país é elevado (Exemplo: 0,897)

» Se o IDH se estabelecer entre 0,5 e 0,8, o desenvolvimento do país é médio (Exemplo: 0,619)

» Se o IDH for inferior a 0,5, o desenvolvimento do país é baixo (Exemplo: 0,446)

Page 99: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Crescimento e desenvolvimento | 97

Tarefa 7:

1. Defina indicadores económicos.

2. Pode um indicador ser utilizado individualmente para explicar o conceito de desenvolvimento?

3. Critique a utilização do PIB como único indicador do desenvolvimento.

4. Justifique o aparecimento de um indicador como o IDH.

5. Justifique a importância da utilização do IDH.

6. Apresente algumas limitações de um indicador composto como o IDH.

7. Apresente dois indicadores económicos, dois demográficos, dois políticos e dois socioculturais.

8. Imagine que conhecia os seguintes dados para 4 países.

País Índice de Esperança média de vida

Índice de escolaridade e alfabetização PNB per capita

Índice de Desenvolvimento

Humano (IDH)

A 0,759 0,840 0,623 ?

B 0,456 0,840 0,661 ?

C 0,646 0,488 0,425 ?

D 0,465 0,475 0,428 ?

Sabendo que o IDH é calculado como a média geométrica dos três indicadores apresentados, onde

MGy = y1 × y2 × ...× ynn , preencha a coluna referente ao IDH. Comente sobre o grau de desenvolvimento destes países.

Afghanistan 172 Georgia 75 Occupied Palestinian Territory 114

Albania 70 ↑ 1 Germany 9 Oman 89

Algeria 96 Ghana 135 ↑ 1 Pakistan 145

Andorra 32 Greece 29 Palau 49

Angola 148 Grenada 67 Panama 58 ↑ 1

Antigua and Barbuda 60 ↑ 1 Guatemala 131 Papua New Guinea 153 ↓-1

Argentina 45 ↑ 1 Guinea 179 Paraguay 107

Armenia 86 Guinea-Bissau 176 Peru 80 ↑ 1

Australia 2 Guyana 117 ↑ 2 Philippines 112 ↑ 1

Austria 19 Haiti 158 ↑ 1 Poland 39

Azerbaijan 91 Honduras 121 ↓ -1 Portugal 41 ↓-1

Bahamas 53 Hong Kong, China (SAR) 13 ↑ 1 Qatar 37

Bahrain 42 Hungary 38 Romania 50

Bangladesh 146 Iceland 14 ↓ -1 Russian Federation 66

Barbados 47 India 134 Rwanda 166

Belarus 65 Indonesia 124 ↑ 1 Saint Kitts and Nevis 72

Belgium 18 Iran, Islamic Republic of 88 ↓-1 Saint Lucia 82

Belize 93 ↓ -1 Iraq 132 Saint Vincent and the Grenadines 85 ↓-1

Benin 167 Ireland 7 Samoa 99

Bhutan 141 ↓ -1 Israel 17 São Tomé and Príncipe 144 ↓-1

Page 100: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

98 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

Bolivia, Plurinational State of 108 Italy 24 Saudi Arabia 56 ↑ 2

Bosnia and Herzegovina 74 Jamaica 79 ↓-1 Senegal 155

Botswana 118 ↓ -1 Japan 12 Serbia 59 ↑ 1

Brazil 84 ↑ 1 Jordan 95 ↓-1 Seychelles 52

Brunei Darussalam 33 Kazakhstan 68 ↑ 1 Sierra Leone 180

Bulgaria 55 ↑ 1 Kenya 143 ↑ 1 Singapore 26

Burkina Faso 181 Kiribati 122 Slovakia 35

Burundi 185 Korea, Republic of 15 Slovenia 21

Cambodja 139 ↑ 2 Kuwait 63 ↓-1 Solomon Islands 142

Cameroon 150 ↑ 1 Kyrgyzstan 126 South Africa 123 ↑ 1

Canada 6 Lao People's Democratic Republic 138 ↑ 1 Spain 23

Cape Verde 133 Latvia 43 Sri Lanka 97 ↑ 1

Central African Republic 179 Lebanon 71 ↓-1 Sudan 169

Chad 183 ↓ -1 Lesotho 160 Suriname 104

Chile 44 Liberia 182 ↑ 1 Swaziland 140 ↓-2

China 101 Libya 64 ↓-10 Sweden 10

Colombia 87 ↑ 1 Liechtenstein 8 Switzerland 11

Comoros 163 Lithuania 40 ↑ 1 Syrian Arab Republic 119 ↓-1

Congo 137 Luxembourg 25 Tajikistan 127

Congo, Democratic Republic of the 187 Madagascar 151 ↓-2 Tanzania, United Republic of 152 ↑ 1

Costa Rica 69 ↓ -1 Malawi 171 Thailand 103

Côte d’Ivoire 170 Malaysia 61 ↑ 3 Timor-Leste 147

Croatia 46 ↓ -1 Maldives 109 Togo 162

Cuba 51 Mali 175 Tonga 90

Cyprus 31 Malta 36 Trinidad and Tobago 62 ↑ 1

Czech Republic 27 Mauritania 159 ↓-1 Tunisia 94 ↓-1

Denmark 16 Mauritius 77 Turkey 92 ↑ 3

Djibouti 165 ↓ -1 Mexico 57 Turkmenistan 102

Dominica 81 ↓ -1 Micronesia, Federated States of 116 Uganda 161

Dominican Republic 98 ↑ 2 Moldova, Republic of 111 Ukraine 76 ↑ 3

Ecuador 83 Mongolia 110 United Arab Emirates 30

Egypt 113 ↓ -1 Montenegro 54 ↑ 1 United Kingdom 28

El Salvador 105 Morocco 130 United States 4

Equatorial Guinea 136 ↓ -1 Mozambique 184 Uruguay 48

Eritrea 177 Myanmar 149 ↑ 1 Uzbekistan 115

Estonia 34 Namibia 120 ↑ 1 Vanuatu 125 ↓-2

Ethiopia 174 Nepal 157 ↓-1 Venezuela, Bolivarian Republic of 73

Fiji 100 ↓ -3 Netherlands 3 Viet Nam 128

Finland 22 New Zealand 5 Yemen 154

Former Yugoslav Republic of Macedonia 78 ↓ -2 Nicaragua 129 Zambia 164 ↑ 1

France 20 Niger 186 Zimbabwe 173

Gabon 106 Nigeria 156 ↑ 1

Gambia 168 Norway 1

Nota: As setas indicam movimentos de subida ou de descida no ranking para um país entre 2010-2011, sendo

que um espaço em branco identifica sem alterações de posição. Fonte: Sumário do Relatório do Desenvolvimento Humano de 2011, The UNDP Human Development Report Office, http://hdr.undp.org

Page 101: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Crescimento e desenvolvimento | 99

2.2 O Crescimento Económico Moderno

Tal como mencionado anteriormente, o crescimento económico é um meio para atingir o desenvolvimento, ou

seja, a sua base. O crescimento económico moderno é definido como o aumento sustentado a longo prazo da

produção de uma economia nacional. Mas esta tendência de crescimento da produção está relacionada com

o crescimento demográfico ou com o aumento da produtividade do trabalho, fruto da inovação, do progresso

técnico e tecnológico incorporado no investimento e do espírito empreendedor.

Mas o que determina o crescimento económico? Por que será que alguns países apresentaram taxas médias

anuais de crescimento do produto per capita próximas dos 7%, enquanto outros registaram taxas mais baixas

de 2,5% ao ano? Estes diferenciais justificam-se por via do investimento? Será que um maior investimento em

capital provoca um maior crescimento económico? Será que o crescimento económico se justifica por via do

aumento do número de trabalhadores usados no processo produtivo?

Para ser possível responder a estas e a outras questões precisamos de identificar as fontes do crescimento

económico, apesar de não existir uma receita única para que o mesmo ocorra. Desde logo, a estratégia adotada

por um determinado país pode justificar o seu rápido crescimento, mas a mesma pode noutro país conduzir ao

fracasso, pois nem sempre a mesma fonte origina os mesmos resultados. Todavia, existem fatores constantes e

os quais são identificados enquanto fontes de crescimento económico, sendo eles: o aumento da dimensão dos

mercados (interno e externo); o investimento em capital (físico e humano); e o progresso técnico.

A análise do aumento da dimensão dos mercados tanto a nível interno como externo procura estabelecer a

relação entre a capacidade de aquisição/compra dos residentes do país e dos residentes do Resto do Mundo e o

crescimento económico. Para ser possível a um país aumentar a sua capacidade de produção, deixando de lado a

necessidade de financiamento e investimento, este precisa de aumentar a procura gerada internamente, através

do aumento do número dos habitantes ou através do maior poder de compra de cada um dos seus habitantes

ou então aumentar a procura gerada no exterior, através do aumento da procura efetuada pelo Resto do Mundo.

Será que podemos identificar o crescimento populacional como um dos fatores responsáveis pelo crescimento

económico? Os dados disponíveis dizem-nos que não. Por exemplo, os países da Europa Ocidental e dos EUA têm

registado, nos últimos anos, taxas de crescimento da população de, aproximadamente, 1 % ao ano e apresentaram

taxas de crescimento do produto, entre 1990-2002, de 2% ao ano, enquanto a população africana cresceu à taxa

de 3% ao ano (em cada vinte e três anos duplicou a população), apresentando taxas de crescimento do Produto

reduzidas e em alguns casos negativas. Na realidade, é hoje consensual que a redução do ritmo de crescimento

populacional é um fator essencial para os países em desenvolvimento aumentarem e melhorarem as condições

de vida das populações.

Fonte: UN (united Nations)

A POPULAÇÃO MUNDIALOs sete países mais populososEm 2011

China 1,33Mm

1,17Mm

1,69Mm

1,31Mm306m

243,3m

191,5m

180,3m

162,3m

433m

423m

314m

309m

226m

Índia

E.U.A.

Indonésia

Brasil

Paquistão

Nigéria

Índia

China

Nigéria

E.U.A.

Paquistão

Indonésia

Bangladesh

Em 2050

12

3

7milmilhõesde pessoas

1800 1900 2000

A Evolução da População Mundial(em mil milhões)

1800

1930

1960

41974

51987

61999

2011

Esta ideia é confirmada através da evolução registada pelas economias chinesa e indiana, que registaram, entre 1990 - 2002, respetivamente, taxas de crescimento do produto per capita de 8,6% e 4% e um crescimento populacional de 1,2% e 1,9%, entre 1975 - 2002. Mas existem outras situações em que acontece o oposto. Moçambique, Etiópia e Uganda são alguns dos exemplos de países com elevado crescimento populacional e

elevado crescimento económico.

Page 102: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

100 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

Uma maior estabilidade política, com o fim dos conflitos em Moçambique e na Etiópia, uma maior e mais eficaz

ajuda internacional e uma maior abertura destas economias ao exterior são fatores explicativos desta situação.

Annual population growth rate in percent, as

listed in the CIA World Factbook (2011 estimate).

Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Population_growth

3+210-10

Outra das razões explicativas para o facto de certos países

conseguirem conciliar o crescimento económico com o

aumento populacional é a maior abertura da economia ao

exterior. Esta abertura ao exterior pode traduzir-se na

resposta a maior procura externa e/ou na resposta ao maior

afluxo de investimento externo. Na maioria das economias,

estes dois aspetos ocorrem simultaneamente: o investimento

externo permite aos países aumentarem a capacidade de

produção e aumentarem as exportações de bens,

satisfazendo, desta forma, o aumento da procura externa.

Neste sentido, o país que recebe o investimento externo pode melhorar a sua tecnologia, aumentar a produtividade do trabalhador, incentivar aumentos salariais e gerar aumentos na capacidade de aquisição das populações. Todavia, o investimento externo não apresenta só vantagens, pois contribui também para acentuar a dependência financeira, comercial e tecnológica do país perante o Resto do Mundo.

A falta de empresários empreendedores, a falta de investimento e o reduzido poder de compra dos indivíduos são aspetos que podem explicar o baixo nível de produção em resposta ao aumento populacional, ou seja, justificam porque é que nem sempre o crescimento populacional provoca um aumento na produção.

Também o investimento em capital físico e humano foi identificado atrás como uma das fontes do crescimento económico. O investimento em capital representa o aumento da quantidade de bens de produção à disposição dos processos produtivos nas empresas, englobando o investimento em capital físico e o em capital humano. O investimento em capital físico corresponde à aplicação de recursos na aquisição de equipamentos, de viaturas, de processos de fabrico e de infra-estruturas, como os armazéns utilizados na produção de bens e/ou na prestação de serviços. Mas, esta aplicação de recursos na aquisição ou na melhoria do capital físico conduz ao aumento da

capacidade de produção das empresas ou do país.

Por outro lado, ao aumentarmos sucessivamente a

quantidade utilizada de capital físico, verificamos um

aumento decrescente na produção. Isto significa que a

acumulação de capital físico só por si não garante o

crescimento sustentado do produto do país. Vamos ver um

exemplo simples para melhor percebermos o porquê.

Imagine uma empresa que contrata 5 trabalhadores e tem

duas salas onde coloca 5 secretárias, dois telefones e um

computador.

Mas só com 1 computador a empresa só conseguia atender

um cliente por mês. Assim procedeu a mais um investimento e comprou mais 2 computadores, tendo assim

conseguido satisfazer os pedidos de 5 clientes por mês. Com os resultados obtidos e na esperança de ter mais

lucro, adquiriu mais 2 computadores e passou a atender 8 clientes por mês. Posteriormente comprou mais 2

computadores, mas verificaram que o ganho obtido foi apenas de mais 1 clientes por mês.

Page 103: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Crescimento e desenvolvimento | 101

Ou seja, o aumento do capital físico correspondeu inicialmente a ganhos na capacidade produtiva, mas os

mesmos tornaram-se depois decrescentes, por ter deixado de existir equilíbrio entre os fatores trabalho e capital

utilizado. Como cada funcionário apenas pode usar um computador de cada vez a relação ótima aqui será de 1

para 1, ou seja, a produtividade marginal do capital comporta-se de acordo com a lei dos rendimentos marginais

decrescentes.

Note-se porém que de facto precisamos de investir em capital fixo para termos crescimento económico, apenas

precisamos é de ter em mente que esse investimento nem sempre gera o mesmo aumento de produto, pelo que

será necessário realizar adaptações adicionais.

Já o investimento em capital humano é a aplicação de recursos na melhoria dos conhecimentos e das qualificações

que os trabalhadores vão obtendo devido à educação e à experiência profissional, sendo um importante fator

de crescimento económico. Ou seja, um aumento repentino da população não é suficiente para aumentar o

crescimento económico só por si. É necessário que haja investimento na qualificação dos trabalhadores.

Reduções na taxa de analfabetismo, melhorias nas condições de acesso a saúde, melhoria das competências

informáticas e apostas em educação conduzem a um maior crescimento do produto se devidamente

acompanhadas por alterações no capital físico. De outro modo também teremos rendimentos decrescentes e

taxas anuais de crescimento económico cada vez menores.

Por exemplo, se eu possuo um terreno de 1000m2 no qual coloco inicialmente 3 trabalhadores para o cavar e

cultivar. Mas uma semana depois decidi tornar a produção mais rápida e contratei mais 3 trabalhadores. Uma

semana após mais 3 e assim sucessivamente, até que ao fim de 10 semanas já lá tinha 30 trabalhadores. Mas

reparei então que alguns trabalhadores estavam parados para deixar que outros conseguissem cavar e cultivar.

Outro dos fatores comuns capazes de explicar o crescimento

económico é o progresso técnico. Na realidade, se uma economia

quiser aumentar o crescimento económico quando somente investe

num dos fatores capital ou trabalho, é através do progresso técnico.

Vários são os exemplos de inovações criadas ao longo da história

como a roda, a máquina a vapor, a eletricidade, o avião, o

computador, a internet, as sementes geneticamente modificadas,

etc., que podemos usar como justificações para o crescimento

contínuo do nível de vida das sociedades (pois aumentou a qualidade e a quantidade de bens e serviços prestados

à sociedade). São também muitos os estudos na área do crescimento económico que defendem que só este

progresso tecnológico é capaz de conduzir ao crescimento económico de modo contínuo e sustentável.

Podemos então definir o progresso tecnológico como a capacidade de inovação das sociedades que ocorre

através da alteração do processo de produção e/ou através da introdução de novos bens e serviços na sociedade.

Em ambas as situações, o progresso tecnológico contribui para melhorar as condições de vida das populações

e é desencadeado pela criação de condições propícias ao aparecimento de mudanças necessárias ao nível do

espírito empresarial. Mas só ter novas ideias não basta, é preciso que os empresários estejam dispostos a correr

o risco de as colocar em prática, para que as mesmas sejam rentáveis.

Page 104: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

102 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

Mas porque é que o progresso técnico é mais significativo em algumas economias do que noutras? Quais as

condições que as mesmas apresentam que justificam os avanços favoráveis do progresso técnico? Para que haja

progresso técnico é indispensável que o Estado apoie o investimento na educação e os processos de investigação

e desenvolvimento (I&D).

Logo o Estado tem de criar condições favoráveis a este mesmo progresso técnico que passam por:

1) melhorar a qualificação dos indivíduos a partir da escola e/ou local de trabalho (formação profissional),

pois uma população com mais conhecimentos é capaz de criar e descobrir novos produtos, bem como de

incrementar novos processos de produção, aplicando simultaneamente estas descobertas a outras áreas

do conhecimento de forma mais eficaz, contribuindo dessa forma para a melhoria das condições de vida

da população;

2) fomentar processos de investigação, através da criação de institutos de investigação para obter

conhecimentos científicos básicos como por exemplo os chips, que depois têm aplicações diversas nas

várias indústrias;

3) incentivos a investigadores, tais como a criação de bolsas de investigação ou a proteção das descobertas

pela criação de patentes.

Tarefa 8:

1. Defina crescimento económico moderno.

2. Como é que se consegue justificar a tendência para o aumento da produção?

3. Existe uma estratégia única para o crescimento económico?

4. Quais os fatores identificados enquanto fontes do crescimento económico?

5. O crescimento populacional justifica o crescimento económico?

6. De que forma o investimento em capital pode contribuir para o crescimento económico?

7. Defina progresso técnico.

8. Como pode o Estado apoiar o progresso técnico?

Page 105: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Crescimento e desenvolvimento | 103

Para além da indicação das fontes comuns de crescimento económico, precisamos de estudar as características

do moderno crescimento económico, fenómeno que se iniciou com a Revolução Industrial em Inglaterra, entre

1780 e 1850.

Fonte: World Bank, World Development Indicators Online, http://devdata.worldbank.org/dataonline.

Taxa de crescimento económico anual do mundo. 1961-2006 (dólares constantes de 2000)

1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 20050,00

0,01

0,02

0,03

0,04

0,05

0,06

0,07

Desde o ano de 1870 que o Mundo assitiu ao incremento do

crescimento económico e à melhoria da generalidade das

condições de vida da população, ou seja, as economias

entraram na era do moderno crescimento económico. Neste

sentido as sociedades transformaram-se e apresentam

como características comuns: a inovação tecnológica; o

aumento da produção e da produtividade; a diversificação

da produção; a alteração da estrutura da atividade

económica; a modificação do modo de organização

económica; e a melhoria do nível de vida.

À expansão do crescimento económico aparece associada a inovação tecnológica. As inovações no pós Revolução

Industrial (máquina a vapor e caminhos de ferro) permitiram aumentar o ritmo de produção e os aumentos

na produtividade do trabalho, o que contribui para produzir bens a baixo custo e isso estimula e generaliza o

consumo a toda a população.

Todavia, o crescimento em termos de produto também alterou a estrutura da economia quer ao nível da

composição setorial da atividade económica (mudanças no contributo dos setores de atividade económica para

o produto do país e a utilização do fator trabalho), quer nos modos de utilização e repartição dos produtos. Nas

sociedades desenvolvidas assistimos à alteração do cenário em que tínhamos o setor primário como o maior

contribuinte para aquele em que este é o setor que menos gera produto e se tornou o menor empregador

de fator trabalho. Isto é, deu-se o desaparecimento da economia agrícola, tendo-se substituído a mesma pela

economia dos serviços.

O crescimento económico provocou o desaparecimento da economia agrícola, tendo-a substituído pela economia

industrial e subsequentemente pela economia dos serviços. Estas transformações resultam do incremento da

inovação e da sua aplicação, inicialmente aos setores secundário e primário e só posteriormente ao setor terciário.

Economic growth

Value added by sector

GDP at current prices (million US$), 2010Growth rate (annual average, %), 2005-10Per capita (2005 PPP $), 2010Gross domestic investmentrate (% of GDP), 2010

793,96,4832

21,9

Agriculture

1990 1995 2000 2005 20100

60

120

180

240

300

360

420

480

540

600

Industry Services

O aparecimento de novas tecnologias ou de novas matérias-primas e à

sua aplicação predominantemente aos setores industrial e dos serviços

contribuíram para a maior produtividade nestes setores e para o elevado

peso dos mesmos na atividade económica.

Também se devem ao aumento do rendimento médio do indivíduo, o que

se traduziu no aumento do poder de compra, permitindo satisfazer não

só necessidades primárias, mas também terciárias, como o lazer. Ou seja,

ocorreram transformações estruturais em que à medida que a economia

cresce, diminui a parte do emprego dedicada à agricultura e aumenta a

parte do emprego dedicada à área dos serviços, e Timor não é exceção.Fonte: Statistical Yearbook for Asia and the Pacific 2012 − ESCAP Statistics Division

Page 106: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

104 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

Temos então que o crescimento económico provoca a terciarização da economia devido ao aparecimento de

serviços auxiliares à indústria como os transportes, os bancos e os seguros. Isto deve-se à parcialização de

funções por parte das empresas industriais, que se passaram a concentrar na sua atividade principal de produção

e subcontratam serviços a outras. Assim, empresas de serviços de limpeza, de restauração, de manutenção dos

equipamentos e de auditoria jurídica, prestam serviços de apoio às empresas industriais.

Para as empresas industriais esta é uma solução menos dispendiosa (menos encargos com a segurança social),

pois assim já não precisam de ter trabalhadores afetos a este tipo de tarefas. Já as empresas de serviços

contratam trabalhadores temporariamente e aproveitam os imigrantes, de custo moderado, para satisfazer os

pedidos das industriais.

Mas estas empresas de serviços não surgem somente enquanto auxiliares do setor industrial pois por vezes

competem com ele de modo agressivo. Por exemplo, se uma indústria estiver altamente dependente das

indústrias de centrais de compra ou até mesmo da rede de distribuidores, isso faz com que as empresas industriais

se obriguem a ter de conter muito os seus custos de produção. Mas também existem formas destas empresas

crescerem e ganharem dimensão (através das fusões, ou seja, a constituição de uma só empresa a partir de duas

ou mais sociedades).

Temos uma fusão de empresas quando há transferência do património de uma para outra empresa, acompanhada

da atribuição aos sócios de parte das ações ou quotas da nova sociedade. Uma outra forma de termos um

processo de fusão é ao constituir-se uma nova empresa que reúne o património das anteriores, sendo atribuída

aos sócios parte das ações ou quotas da nova sociedade.

As fusões de empresas permitem a concentração do capital e o seu controlo, pois menos famílias têm agora mais

capital na sociedade, e permitem reduzir a concorrência no mercado, pois temos menos empresas a atuar no

mercado e assim há maior poder de mercado o que mais facilmente permite a manipulação dos preços de venda

dos bens. Também podemos associar estas fusões à redução dos custos de produção, se houver aproveitamento

de economias de escala, de gama e de experiência acumulada, pelas diversas empresas que participam nesses

mesmos processos de fusão.

O crescimento económico moderno contribui para aumentar a produtividade média dos diferentes setores,

mas também para aumentar os recursos utilizados pelos setores secundário e terciário (maiores quantidades

de recursos produzidos exigem mais máquinas e equipamentos e consequentemente o emprego de recursos

humanos), comparativamente com o sector agrícola. Logo, nas economias modernas assiste-se a um reforço da

participação do setor terciário no PIB.

Também conseguimos assistir ao aumento do peso do investimento e do consumo público em relação ao setor

privado devido ao moderno crescimento económico. Este aumento deve-se à mudança do papel do Estado na

sociedade, pois foi a seguir à Grande Depressão e à Segunda Guerra Mundial que se assistiu ao reforço e ao

alargamento das funções do Estado, tal como analisámos no capítulo anterior.

Para além de garantir as necessidades coletivas de saúde e educação, o Estado ampliou o sistema de proteção

social e procurou dinamizar a economia dando estímulos à iniciativa privada (isenção de impostos e bonificações

em linhas de crédito), ao mesmo tempo que tentou prevenir e diminuir os efeitos das recessões. Mas esta

intervenção conduziu ao aumento dos gastos em consumo e em investimentos públicos. Todavia, a tendência

nos anos mais recentes tem sido de diminuir o peso do Estado na Economia. Os sucessivos défices orçamentais

Page 107: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Crescimento e desenvolvimento | 105

e a possibilidade de rutura do Sistema de Segurança Social estão a obrigar os Estados mais intervencionistas a

recuar, reduzindo gastos e dessa forma o consumo e investimentos públicos. Por oposição temos assistido nos

últimos anos a um rápido crescimento das despesas públicas por parte do Estado Timorense, tal como descrito

no relatório do Banco Central de Timor-Leste.

Timor-Leste: PIB a preços constantes de 2010e seus componentes na óptica da despesa (milhões USD)

PIB Consumo Público

2004

537 572 554619

876

2005 2006 2007 2008 2009 2010

1000

500

0

-500-511,90

-306,15

-524,52-709,08

-912,33-1092,60 -1103,34

-1000

-1500

Consumo PrivadoConsumo Privado Saldo Externo

709800

Despesas Públicas

Anos 2008 2009 2010 2011 2012

(gasto) (gasto) (gasto) (gasto)(OGE aprovado

pelo PN)

Valor (milhões de USD)

480 605 758 1093 1674

Variação +26% +25% +44% +53%

Fonte: Banco central de Timor Leste; “1 ano de economia internacional e nacional”, 2012. http://www.bancocentral.tl/Download/ExRate/ER-Today.pdf

O crescimento económico moderno também provocou alterações ao nível da repartição do produto. No que

respeita à repartição funcional do rendimento, o crescimento económico fez aumentar a parcela dos salários no

rendimento dos países desenvolvidos. Esta alteração justifica-se pela importância crescente do fator trabalho,

quer em quantidade, quer em qualidade do mesmo.

OceanoPací�co

OceanoPací�co

OceanoAtlântico

OceanoÍndico

Países desenvolvidos (cor laranja) e países em desenvolvimento (amarelo).

Fonte: População e Povoamento; Didáctica Editora.

No que respeita à repartição pessoal do rendimento, o moderno

crescimento económico agravou as desigualdades e contribuiu

para o alastrar da pobreza. Estas desigualdades acentuaram-se

com a concentração da posse do capital e com as diferenças

salariais que se registaram nas sociedades desenvolvidas. Com as

suas políticas redistributivas em termos fiscais, de preços e social,

o Estado tem tentado corrigir as desigualdades na repartição

pessoal do rendimento, mas temos no entanto assistido ao

agravamento da pobreza no Mundo.

Temos também o moderno crescimento económico como o impulsionador das alterações que ocorreram na

organização da economia quer ao nível da dimensão das empresas como ao nível da concorrência. O crescimento

do produto tem sido acompanhado pelo surgimento de novas unidades produtivas de pequena e média dimensão,

mas também do crescimento da dimensão média das empresas. Ao procurarem reduzir custos as empresas

estão a aproveitar economias de escala que são facilitadas pela possibilidade de atuarem em mercados cada vez

mais globais, obrigando as empresas a aumentar a sua dimensão.

A integração económica permite a criação de espaços livres de comércio, mais amplos, sem obstáculos em termos

de trocas, bem como facilitam o alargamento dos mercados abastecedores e consumidores. A concorrência

mais elevada dos mercados globais obrigam a empresa a reduzir custos para conseguirem ser competitivas, ou

seja, para conseguir colocar no mercado bens e serviços a preços mais baixos. Assim, as empresas procuram

aumentar a sua capacidade de produção para conseguirem usufruir de descontos concedidos por fornecedores,

para reduzirem os custos fixos associados à utilização dos equipamentos e também para conseguirem maiores e

melhores condições no acesso ao crédito.

Page 108: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

106 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

Ao participarem em processos de concentração, as empresas beneficiam de facilidades no acesso ao financiamento

e acabam por ter um maior poder de mercado via preço de venda, dado que ficam mais próximas da posição

de monopolistas, aumentando a possibilidade de ter um lucro maior. Podemos então dizer que o aumento da

concorrência como resultado do moderno crescimento económico aparece associado à abertura dos mercados

nacionais (no âmbito dos acordos alcançados pela Organização Mundial do Comércio); à intensificação dos

fenómenos de integração económica (a livre circulação de bens leva à reafetação de recursos e à intensificação

da concorrência); ao aparecimento de economias emergentes (mas a produção a custo baixo nestes mercados

por via dos salários mais reduzidos pagos ao fator trabalho, torna inviável atualmente a sobrevivência de certas

indústrias no Mundo desenvolvido); e a deslocalização de produções para estas economias emergentes (regiões

onde o fator trabalho é mais barato e a legislação laboral mais flexível). Um exemplo atual e mundial desta forte

concorrência verificada quer a nível interno, quer externo, é a China.

Foi também o moderno crescimento económico o responsável pelo aparecimento de dois modelos de

organização económica que foram as economias de mercado e as de direção central. Nas economias de mercado

os produtores e os consumidores encontram-se nos mercados, local onde preços e quantidades a transacionar

dos diversos bens e serviços são fixados pelo confronto entre os dois agentes. Assim há a propriedade privada

dos meios de produção e é à iniciativa privada que cabe a criação e expansão da capacidade de produção das

empresas. O papel do Estado enquanto intervencionista na atividade económica é somente residual pois age

como incentivador do crescimento económico, sendo este da responsabilidade da iniciativa privada.

As economias de direção central são descritas pela propriedade exclusiva dos meios de produção por parte do

Estado, não existindo propriedade privada dos mesmos. É também ao Estado que compete criar e expandir a

capacidade de produção das empresas, estando os preços e as quantidades a produzir de cada bem definidas

pelo Plano. Neste sentido, às empresas cabe o papel de executar as ordens de decisão que são tomadas de forma

centralizada pelo Plano.

As duas formas de organizações têm vantagens e desvantagens, mas nos últimos anos verificou-se a ascensão do

mercado como a forma de organização das sociedades, enquanto aquela que mais contribuiu para a melhoria

das condições de vida das populações.

Na dinamização do crescimento económico em economias de mercado, as pequenas e médias empresas (PME)

assumem um papel muito importante, pois são-lhes subcontratadas e adjudicadas partes do processo produtivo

das empresas multinacionais e transnacionais. São estas que realizam serviços de limpeza, fornecem alimentação

a cantinas e oferecem serviços de tipografia, ou seja, é a estas que cabe um papel relevante e uma grande fração

do produto nacional de um país. Existe ainda quem defenda que são as PME’s que dominam as novas tecnologias

de informação e comunicação, e que estão mais aptas a responder às exigências do mercado por disporem de

uma maior flexibilidade e capacidade de adaptação às exigências do mercado, de uma maior capacidade de

reestruturação dos seus processos e de organização, bem como de uma maior competitividade devido a uma

organização mais flexível. Resumindo, são as PME’s as que representam um forte contributo para o crescimento

dos países ao nível da capacidade de produção e ao nível do crescimento das exportações.

Associado ao crescimento económico temos também a melhoria sustentada do nível de vida da população, pois à

medida que um país aumenta a sua capacidade de gerar riqueza através da produção, isso permite o incremento

das condições de vida da população, avaliada através do grau de satisfação das necessidades. Para conseguir

Page 109: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Crescimento e desenvolvimento | 107

medir o mesmo usam-se um conjunto de indicadores relacionados com alimentação, vestuário, educação, saúde,

cultura, lazer, etc. ou simplesmente recorre-se ao indicador do consumo per capita (indicador que representa o

consumo privado por habitante). Com este indicador conseguimos perceber dados demográficos, socioculturais

e económicos inerentes ao mesmo, mas ao comparar países em que os níveis de preços são diferentes, ou

que têm hábitos ou costumes diferentes, sobretudo no que toca à alimentação, temos de ter cuidado quando

usamos este indicador.

Para conseguir ultrapassar as diferenças de preços e de valores das diferentes unidades monetárias entre países,

é preferível utilizar o indicador consumo per capita expresso em paridades de poder de compra (PPC). Todavia,

continuamos a ter de conhecer a realidade sociocultural dos países para os quais estamos a tentar comparar o

nível de vida da população.

O próprio indicador consumo acaba por ser um indicador do desenvolvimento de um país por permitir compreender

as mudanças na estrutura de consumo das suas famílias. Normalmente, ao aumentar o rendimento médio por

habitante, há uma quebra no peso da alimentação no conjunto das despesas das famílias em favor de rubricas

como o lazer e a cultura. Tal como já vimos nos manuais dos anos anteriores, esta relação entre certos gastos e as

despesas familiares é descrita pela lei de Engel que nos diz que: “À medida que o rendimento das famílias aumenta,

o peso das despesas em alimentação diminui, aumentando o peso das despesas em cultura, lazer e distração”.

Ao observarmos a evolução da atividade económica através do tempo, verificamos que as economias não

crescem de forma contínua e regular, mas sim por fases.

Fontes: FMI, Panorama Económico Mundial, Outubro de 2010; Direção Macroeconómica, Ministério das Finanças (dados

relativos a Timor-Leste).

Atual Projeção

2007 2008 2009 2010 2011

China 14,2 9,6 9,1 10,5 9,6

Austrália 4,8 2,2 1,2 3,0 3,5

Singapura 8,5 1,8 -1,3 15,0 4,5

ASEAN-5 6,7 4,6 1,4 6,5 5,3

Indonésia 6,3 6,0 4,5 6,0 6,2

Vietname 8,5 6,2 5,3 6,5 6,8

Filipinas 7,1 3,7 1,1 6,0 4,0

Tailândia 4,9 2,5 -2,2 7,5 4,0

Malásia 6,5 4,7 -1,7 6,7 5,3

Timor-Leste 9,1 12,1 13,0 9,5 11,2

Tal como observamos na tabela, existem períodos

de rápido crescimento (para Timor entre 2007

e 2008), seguindo-se outros de crescimento

moderado (para Timor entre 2009 e 2010) e até

conseguimos verificar períodos de decréscimo do

produto (2009 e 2010).

Na realidade, todas as economias registam crescimentos irregulares ao longo dos anos, apresentando taxas de

crescimento do PIB ou do PIB per capita muito distintas. Os valores observados em termos de taxas de crescimento

e as sequências das mesmas permitem afirmar que as economias crescem através de ciclos económicos que

frequentemente se repetem.

Considera-se a existência de um ciclo económico se ocorrer uma oscilação do produto, do rendimento e do

emprego simultaneamente numa Economia, que podem ser movimentos ascendentes ou descendentes de

produto, preços, taxas de juro ou do emprego. Note-se que qualquer ciclo económico é constituído por fases de

expansão e de recessão. Como os ciclos económicos apresentam diferentes fases (aceleração do crescimento e

de desaceleração do mesmo), ao longo de um ciclo a Economia atinge valores máximos e mínimos de crescimento

de produto, respetivamente.

Page 110: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

108 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

oil sector GDP

Growth in percent, in real terms

- 20% 0% 20% 40% 60% 80% 100%

200520062007200820092010

GDP, Non-oil economy, percentage change

Non-oil DGP growth rates

2005

6.5

-3.2

11.6

14.612.8

9.5

2006 2007 2008 2009 2010- 5.0

0

5.0

10.0

15.0

20.0

GDP % GNI % GNDI %

Whole Economy 4,130 100 3,167 100 3,700 100

Oil Sector 3,255 79 2,110 67 2,135 58

Non-oil Sector 875 21 1,057 33 1,565 42

Fonte: Timor Leste National Accounts 2004-2010, Volume I: Statistics and Analysis, April 2012, National Directorate of Statistics (NDS)

É considerado período de expansão sempre que uma Economia regista taxas de crescimento do produto

elevadas e acima do que estava inicialmente previsto. Já um boom é registado se houver períodos prolongados

de crescimento do produto com taxas elevadas. Logo, vai existir prosperidade económica quando na fase de

expansão uma determinada economia atinge o valor mais alto de crescimento do produto, ou seja, o pico. Por

oposição, quando uma economia regista, em pelo menos dois trimestres consecutivos (pois o PIB é calculado

trimestralmente), taxas de crescimento cada vez menores, estamos perante uma recessão económica. Uma

Economia só entra em depressão se atingir o valor mínimo de crescimento do produto durante uma recessão.

Conseguimos através dos indicadores económicos verificar se uma Economia está num período de recessão pois é

comum verificar-se a redução do consumo das famílias, do investimento em infra-estruturas e em equipamento,

da criação de emprego, há contenção salarial e verifica-se ainda uma estagnação dos preços.

Não é possível prever os ciclos económicos pois estes são de duração variável e nem sempre se comportam da

mesma maneira. Contudo, considera-se que a duração de um ciclo económico pode ir dos 2 aos 10 anos.

Tarefa 9:

1. Descreva a evolução setorial verificada no pós Revolução Industrial.

2. Em que consiste a fusão de empresas? De que forma estas podem contribuir para o crescimento económico?

3. Como podemos caracterizar a era do moderno crescimento económico?

4. Identifique de forma resumida as consequências do crescimento económico.

5. Distinga economias de mercado de economias de direção central.

6. Porque é que a utilização do indicador consumo per capita pode levantar problemas ao nível da comparação

da melhoria das condições de vida entre famílias de diferentes países? Como se pode ultrapassar esse problema?

7. Distinga período de expansão, de boom e de prosperidade económica.

Page 111: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Crescimento e desenvolvimento | 109

2.3 As Desigualdades Atuais de Desenvolvimento

Neste mundo cada vez mais global continuamos a observar desigualdades entre países sobretudo no acesso

das mulheres à participação na vida política, ou a má qualidade do ar devido às emissões atmosféricas de CO2.

Também estes pontos devem ser incluídos aquando da medição do nível de desenvolvimento de um país pois a

sua não inclusão dá uma imagem falsa do nível de desenvolvimento dos mesmos.

Ao comparar a distribuição espacial do valor de diferentes indicadores quer ao nível da riqueza, da demografia,

do acesso à educação, da saúde e da cultura, conseguimos perceber que as desigualdades de desenvolvimento

estão bem presentes. Sempre que se fala em diferentes níveis de desenvolvimento, à escala mundial, surgem

diversas designações, tais como:

» Países Subdesenvolvidos – do ponto de vista económico, trata-se de atribuir um grau de inferioridade

a certos países, onde a comparação valoriza os países industrializados;

» Países em vias de desenvolvimento (PVD) ou em desenvolvimento – realçam que existe um processo

que tem por finalidade atingir um objetivo que é neste caso o desenvolvimento. Na verdade, todos os

países estão em desenvolvimento;

» Novos países industrializados (NPI) – designa certos países em desenvolvimento que recentemente

aumentaram muito a sua produção industrial;

» Países menos avançados ou menos desenvolvidos – designa os países considerados como os mais

pobres do planeta e por isso devem beneficiar de um tratamento preferencial por parte da comunidade

internacional;

» Norte/Sul – esta designação tem origem na repartição geográfica dos países ricos, que se encontram

sobretudo localizados no hemisfério Norte;

» Centro/Periferia – designa uma relação de dominação ou dependência. No centro da decisão económica

a nível Mundial estão os países desenvolvidos. Já na periferia encontram-se os países marginais à

economia mundial, sendo direta ou indiretamente dominados pelos primeiros;

» Países Desenvolvidos – designam os países que possuem um alto nível de desenvolvimento económico

e social, tomando como base alguns critérios.

Page 112: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

110 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

As maiores diferenças entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento são descritas na seguinte

tabela (fonte: http://alfarrabio.di.uminho.pt/teresiano/div/docum/9_geo_contrastes_de_desenvolvimento_um_mundo_de_contrastes.pdf).

Países do Norte ou Desenvolvidos

Localização: Sobretudo no Hemisfério Norte

Constituído por países ricos e desenvolvidos

Características principais:

• Elevado nível tecnológico;

• Elevado rendimento económico;

• Economia baseada nas atividades do setor terciário (comércio e serviços);

• Reduzida taxa de mortalidade infantil, elevada esperança média de vida, reduzida taxa de natalidade;

• Reduzida taxa de analfabetismo;

• Quantidade e qualidade de serviços de saúde e de educação;

• População satisfaz as suas necessidades básicas ou primárias (alimentação, habitação, saúde, vestuário, …).

Países do Sul ou em Desenvolvimento

Localização: Sobretudo no Hemisfério sul

Constituído por países pobres e menos desenvolvidos, em desenvolvimento e emergentes

(NPI)

Características principais:

• Baixo nível tecnológico;

• Baixo rendimento económico;

• Economia baseada nas atividades do setor primário (exploração dos recursos naturais e agricultura tradicional);

• Deficiente rede viária;

• Elevada taxa de mortalidade infantil, reduzida esperança média de vida, elevada taxa de natalidade;

• Elevada taxa de analfabetismo;

• Difícil acesso ou má qualidade de serviços de saúde e de educação;

• Não há satisfação das necessidades básicas da maioria da população;

• Fome e pobreza.

Todos os anos, as Nações Unidas, e o Banco Mundial, apresentam um conjunto de indicadores simples (taxas de

alfabetização, acesso a agua potável, etc.) e compostos (IPH e IDG), através dos relatórios sobre o desenvolvimento,

que nos permite conhecer as atuais desigualdades mundiais de desenvolvimento. E se tentarmos comparar os

valores de desenvolvimento com os dos anos 80/90, conseguimos perceber, que apesar de continuarem a existir

desigualdades mundiais, houve progressos significativos. Nomeadamente, a esperança média de vida aumentou

e conseguiu-se efetivamente reduzir a taxa de analfabetismo. Todavia, continua a existir pobreza e precisamos

de perceber que esta assume características diferentes para economias desenvolvidas e subdesenvolvidas,

atingindo todas as sociedades sem exceção.

Tal como referido no Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o desenvolvimento

humano continua a avançar de forma lenta. Continuamos a precisar de enfrentar os desafios das doenças

infecciosas, a baixa produtividade, a falta de energias limpas, e continuamos a combater lentamente a falta de

acesso de algumas populações a serviços básicos como água potável, saneamento, escolas e saúde. Segundo o

PNUD, o problema é colocado do lado da utilização dos recursos naturais e de o saber-fazer também beneficiar

as pessoas mais pobres.

Page 113: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Crescimento e desenvolvimento | 111

No relatório do PNUD, a Organização das Nações Unidas classifica os países de acordo com o IDH, agrupando os

países em três graus de desenvolvimento:

1) desenvolvimento humano elevado (países com IDH superior a 0,8);

2) desenvolvimento humano médio (países com IDH inferior a 0,8 e superior a 0,5);

3) desenvolvimento humano baixo (países com IDH inferior a 0,5).

Já o Banco Mundial classifica os países de acordo com o seu grande desenvolvimento, obedecendo a quatro

categorias diferentes a partir do rendimento per capita de cada um. Assim, temos:

1) economias de baixo rendimento (PNB per capita inferior a 825 dólares);

2) economias de rendimento médio inferior (PNB per capita 826 a 3255 dólares);

3) economias de rendimento médio superior (PNB per capita 3256 a 10 065 dólares);

4) economias de rendimento elevado (PNB per capita superior a 10 066 dólares).

Se formos ler os relatórios elaborados por estas duas entidades conseguimos perceber que apesar de

alguns países apresentarem evidências de crescimento económico, o mesmo não é verificado ao nível do

desenvolvimento humano. Na verdade, isto verifica-se em vários países devido sobretudo à falta de políticas

eficazes de redistribuição de rendimentos capazes de diminuir a pobreza.

E podemos enumerar vários fatores que contribuem para o crescimento económico apesar de não garantirem

desenvolvimento humano:

a) concentração de poder na mão de elites políticas e económicas dita corruptas que continuam a usufruir

dos recursos do país em proveito próprio, e por vezes também das ajudas da comunidade internacional;

b) a má gestão e uso dos recursos e das ajudas internacionais;

c) a ausência de investimentos rentáveis;

d) a baixa iliteracia e preparação da mão-de-obra que condicionam a criação de emprego nas indústrias

mais inovadoras e de elevado valor acrescentado no país;

e) más condições de vida e de saúde devido a situações de conflitos externos e de guerras civis.

35%

% de populaçãosubnutrida

20 - 34%5 - 19%2.5 - 4%<2.5%no data

Percentagem de população subnutrida em 2006 (dados do World Food Program). Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Poverty

Apesar de haver economias que até crescem num

determinado momento do tempo (rendimento nacional

aumenta), a vida dessas populações não melhora,

tendendo até a degradar-se.

Segundo as Nações Unidas, na década de 90 do século

XX, agravou-se a privação do rendimento na Indonésia,

Polónia e Sri Lanka.

O crescimento económico é essencial para reduzir a privação de rendimento, mas por si só não é suficiente!

Desenvolvimento implica Crescimento Económico mas Crescimento Económico não implica Desenvolvimento.

Page 114: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

112 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

O desenvolvimento obriga à alteração do modo como as sociedades funcionam, nomeadamente no empenho do

Estado na aplicação de políticas que geram justiça social.

0,00

Mais Desenvolvidos

1950-19

55

1955-19

60

1960-19

65

1965-19

70

1970

-1975

1975

-1980

1980-19

85

1985-19

90

1990-19

95

1995-2000

2000-2005

2005-2010

0,501,001,50

2,002,503,003,504,004,50

Menos Desenvolvidos

+100002000 - 100001000 - 2000500 - 1000200 - 500< 200

Evolução da população rural em países mais e menos desenvolvidos. Fonte: Dados da United Nations Population Division, 2010

Mapa do mundo demonstrando as nações soberanas pelo produto interno bruto (PPC) de 2010, conforme dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_pa%C3%ADses_por_PIB_(Paridade_do_Poder_de_Compra)

Continua ainda hoje a persistir um fosso entre ricos e pobres, com a produção e consumo mundiais concentrados

fundamentalmente nos países ditos desenvolvidos.

Uma em cada oito pessoas no mundo está malnutrida

Por Romana Borja-Santos ; 09/10/2012 - 13:41; Jornal “O Público” – sociedade; http://www.publico.pt/sociedade/noticia/uma-em-cada-oito-pessoas-no-mundo-esta-malnutrida-1566594; retirado

em 12/02/2013

“A crise económica que estalou em 2008, e afecta sobretudo os países desenvolvidos, está a colocar entraves na luta contra a fome. Uma em cada oito pessoas no mundo está malnutrida, segundo um relatório da agência da ONU para a alimentação e agricultura. Ainda assim poderá ser possível cumprir um dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio – o de reduzir à metade o número de pessoas com fome até 2015.

Nos últimos 20 anos, o número de pessoas com fome no mundo baixou de mil milhões (entre 1990-1992) para 868 milhões (entre 2010-2012), revela o relatório “O estado da insegurança alimentar no mundo” de 2012.

“O relatório apresenta algumas boas notícias. Conseguimos fazer progressos, mas os números da fome continuam demasiado elevados”, disse o director-geral da FAO, José Graziano da Silva, em conferência de imprensa na sede da organização, em Roma. Entre 2010 e 2012, mais de 2,5 milhões de crianças morreram malnutridas.

Estes são números “inaceitavelmente elevados”, sobretudo nos países em desenvolvimento onde 15% da população tem fome, alertam os autores do relatório de três agências das Nações Unidas: a FAO (Organização para a Alimentação e Agricultura), o PAM (Programa Alimentar Mundial) e o IFAD (Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola).

A meta foi traçada há mais de uma década. Em 2000, os 189 Estados-membros da Assembleia Geral das Nações Unidas assinaram a Declaração do Milénio e aceitaram os oito Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. Até 2015, teriam de melhorar indicadores como a pobreza extrema e a fome, alcançar a educação primária universal, promover a igualdade do género e capacitar as mulheres, reduzir a mortalidade infantil, melhorar a

saúde materna, combater o VIH/sida, a malária e outras doenças, assegurar a sustentabilidade ambiental e desenvolver uma parceira global para o desenvolvimento.

Apesar das dificuldades, o combate à fome está a ter mais sucesso em relação ao previsto. O “sinal de esperança” resulta, sobretudo, da redução da fome nos países em desenvolvimento de 23,2% para 14,9%.

Mas a crise que estalou em 2007/2008 veio colocar alguns entraves aos avanços conseguidos. “Desde essa altura, os avanços a nível mundial na redução da fome abrandaram e estabilizaram”, refere um comunicado a propósito do relatório. Mas, segundo as Nações Unidas, com “medidas apropriadas para inverter a desaceleração”, ainda será possível atingir a meta estabelecida para 2015. Segundo o relatório, nas regiões mais desenvolvidas o número de pobres tem aumentado de 13 milhões, em 2004-2006, para 16 milhões, em 2010-2012.

A região Ásia e Pacífico continua a ser a zona onde há mais fome. Mas, nos últimos 20 anos, conseguiu diminuir a taxa em quase 30%, apesar de persistirem “consideráveis disparidades” entre países e regiões. A região América Latina e Caraíbas também registou progressos, reduzindo o número de pessoas com fome de 65 para 49 milhões, entre 1990 e 2012. Já em África, o número aumentou de 175 para 239 milhões, 20 milhões dos quais surgiram nos últimos quatro anos. É o único caso em que a situação piorou.

Os autores do relatório defendem que é preciso melhorar as técnicas para registar, por exemplo, o efeito que as variações nos preços dos alimentos ou a desaceleração económica têm nos números da fome. E asseguram que o crescimento agrícola é particularmente eficaz na redução da malnutrição, pelo que os Governos deveriam investir neste sector e apostar não só na qualidade mas também na quantidade.

“A maioria das pessoas em pobreza extrema depende da agricultura e de actividades conexas. O crescimento agrícola com a participação de pequenos agricultores, especialmente as mulheres, será mais eficaz para reduzir a pobreza extrema e a fome se permitir aumentar os rendimentos dos trabalhadores e gerar emprego para os pobres”, lê-se no relatório.”

Page 115: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Crescimento e desenvolvimento | 113

Um dos principais objetivos do milénio é o de reduzir a pobreza e a fome mundial, mas a pobreza não é descrita do mesmo modo, estejamos nós a falar de países desenvolvidos ou em desenvolvimento.

Para a Organização das Nações Unidas a pobreza absoluta mede a percentagem da população que vive com menos do que uma quantia específica de rendimento por dia. Já a comunidade internacional sente dificuldade em quantificar essa quantia por dia e estabelecer a linha de separação entre pobres e não pobres.

Na verdade, torna-se difícil identificar a linha de pobreza pois culturas diferentes e diferentes níveis de vida tornam difícil fixar essa linha. O que é a pobreza? Só são pobres os que não têm qualquer tipo de rendimentos? Quem são os pobres? Os que passam fome? Os que apesar de não terem rendimento, mas vivem em situação

de auto consumo podem ser considerados pobres?

175

Mortes por 1000 nascimentos

100

50

25

101

< 10 11 - 3031 - 9091 - 120> 120sem dados

Mortes de crianças com menos de 1 ano de idade por 1000 nascimentos

Mapa Esquerda: World infant mortality rates by five years averages in 2008. http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_infant_mortality_rate. http://www.grmcwomensmaps.blogspot.pt/ Mapa Direita: Taxa de mortalidade infantil.

É comum distinguir-se três situações de pobreza a nível internacional:

» Pobreza absoluta – considera-se que uma família/pessoa vive uma situação de pobreza absoluta se viver com

menos de 1 dólar por dia (medido em termos de paridade de poder de compra - PPC);

» Pobreza extrema – considera-se que a população vive em situação de carência extrema, se viver de acordo com

alguns critérios como a falta de rendimento, acesso a alimentos, acesso a uma fonte de água melhorada, ou seja, a

ausência de condições básicas de sobrevivência.

» Pobreza relativa – considera-se que uma população vive em condições de pobreza relativa quando não se põe em

causa a sobrevivência física, mas a capacidade de viver dignamente. A pobreza relativa é mais característica dos países

desenvolvidos, sendo definida como a parte da população que vive com menos de 50% da mediana do rendimento do país.

Para os países desenvolvidos, o fenómeno da pobreza aparece geralmente associado à exclusão social (os sem abrigo, os alcoólicos, os toxicodependentes, etc.). O desemprego, problemas familiares, doenças prolongadas, desadaptação às exigências do trabalho, políticas do Estado desadaptadas da realidade, bem como a imigração, contribuem para a saída de indivíduos do seu ambiente social e, progressivamente, os conduzem para a exclusão social.

85% ou mais

População com acessoa água potável

70-85

55-70

40-55menos de 40%

sem dados

Percentagem da população com acesso a água potável.

Segundo o Relatório do PNUD de 2007/2008, em Moçambique (2004), cerca de 60% da população não tinha acesso a uma fonte de água potável e cerca de 36% vivia com 2 dólares por dia. Segundo as Nações Unidas, em 2000, cerca de 1100 milhões de pessoas no mundo viviam com menos de 1 dólar por dia, dos quais 323 milhões habitavam na África Subsariana (área também com as maiores carências alimentares).

Source| World Health Organization and United Nations Children’s Fund. 2000. Accessed through the United Nations Common Database in 2006.

Online at: http://unstats.un.org/unsd/cdb/

Page 116: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

114 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

Mesmo para os bens não essenciais como a água e a alimentação, existem desigualdades no consumo entre

países desenvolvidos e em desenvolvimento. O consumo de energia, indicador da capacidade produtiva,

especialmente industrial, dos diferentes países, também permitem verificar as grandes desigualdades entre

países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Consumo de energia fora da OCDE, 1990-2035 Consumo de energia por combustível, 1990-2035

0,001990

155

2000 2008 2015 2025 2035

Europae Ásia

África

AméricaCentral e do Sul

Médio OrienteÁsia Não OCDE

1,00

2,00

3,00

4,00

5,00

171

260

323

402

482

01990 2000 2008 2015 2025 2035

Nuclear

Renováveis

Gás Natural

Carvão

Líquidos

50

100

150

200

250 História Projeções

Consumo de energia no mundo, 1990-2035

01990 2000 2008 2015 2025 2020 2030 2035

200

400

600

800

Fonte: http://www.eia.gov/forecasts/ieo/world.cfm

Outra forma mais abrangente de definir pobreza passa pela capacidade limitada de escolha, pela participação na

economia e na sociedade, bem como no acesso aos direitos fundamentais. Por exemplo, na generalidade dos

países europeus a classificação de pobres é aplicada às mulheres, pois são afetadas pela discriminação em termos

salariais, no acesso ao emprego e também nalguns casos no acesso aos cuidados de saúde, mas também aos idosos.

Podemos assim dizer que o fenómeno da pobreza ocorre em simultâneo com o fenómeno da concentração da

riqueza e do acentuar das desigualdades nos diferentes países e/ou entre países. Será a ação do Estado através

das políticas fiscais, sociais, de rendimentos e de preços, que pode favorecer a redução das desigualdades na

repartição do rendimento.

< 25%Trabalho feminino

25-29

30-36

36-41> 41%

sem dados

Least inequality

The female/male inequalityGap in the monied workforceand in secondary education

The Gender Gap: Inequalities in Education and Employment

Less inequalityAverage inequalityMore inequalityMost inequalityNo data

Força de trabalho mundial feminina: percentagem da força de trabalho. As desigualdades de género (mulheres vs homens) na educação e no emprego a nível mundial. Fonte: http://www.grmcwomensmaps.blogspot.pt/

Um dos mais graves problemas que afeta a maioria dos países em desenvolvimento é o ritmo de crescimento

da sua população. O elevado crescimento demográfico verificado nestes países acaba por ser um obstáculo ao

desenvolvimento dos mesmos, porque provoca uma elevada taxa de população jovem, tornando-se difícil para

o Estado conseguir garantir as necessidades básicas da população.

Page 117: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Crescimento e desenvolvimento | 115

O facto de existirem muitos jovens, que por razões culturais também acabam por casar relativamente cedo, e

que por falta de informação e escolarização não utilizam métodos anticoncetivos eficazes, acaba por permitir a

manutenção de elevadas taxas de natalidade.

1-22-33-44-55-66-8sem dados

Taxa de fertilidade feminina(crianças nascidas p/mulher)

< 2 nascimentos p/ mulher2.0 - 2.93.0 - 3.94.0 - 4.95 ou mais nascimentos p/mulhersem dados

Taxas de fertilidade totais,1990-2000

Taxa de fertilidade total no Mundo (crianças nascidas por mulher). Fonte:http://www.mapsofworld.com/thematic-maps/world-total-

fertility-rate-map.html

Taxa de fertilidade total Mundial (1990-2000). Fonte: http://www.grmcwomensmaps.blogspot.pt/

Por oposição, nos países desenvolvidos o casamento acontece mais tarde, as taxas de natalidade e fertilidade são

baixas, sendo que o crescimento natural da população é lento, atingindo por vezes valores negativos.

A igualdade perante a vida e a morte também está longe de ser igual no Mundo. Na Serra Leoa, por exemplo,

devido à guerra, a esperança média de vida não ultrapassa os 40 anos, mas nos países industrializados ou

desenvolvidos, a esperança média de vida chega a valores superiores a 70 anos.

< 55 anos55 - 64 anos65 - 69 anos70 - 72 anos> 73 anossem dados

Esperança de vida,2001

Gráfico esquerda: Comparação entre a esperança média de vida à nascença entre homens e mulheres para países e territórios tal como definidos pelo 2011 CIA Factbook, com as bolas selecionadas nomeadas. A linha a verde (a cheio) corresponde à situação em que existe

igual esperança média de vida à nascença para homens e mulheres. O volume das bolas a 3D são linearmente proporcionais à sua população. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_life_expectancy.

Mapa direita: Mapa mundial de esperança média de vida à nascença em 2001. Fonte: http://www.grmcwomensmaps.blogspot.pt/

Também a taxa de mortalidade infantil evidencia bem as desigualdades, sendo em média, 3 vezes menos elevada

nos países desenvolvidos do que nos em desenvolvimento. No que diz respeito à educação, as disparidades

entre os países são também evidentes, mas no conjunto dos países em desenvolvimento podemos distinguir

comportamentos particulares resultantes de culturas diferentes. Por exemplo, nos países islâmicos ainda se

assiste a taxas muito baixas de alfabetização de mulheres adultas.

Page 118: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

116 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

Frequência naescola primária

< 70%

70 - 79%

80 - 89%

90 - 96%> 96%

sem dados

> 97%90 - 97%80 - 90%70 - 80%60 - 70%50 - 60%35 - 50%< 35%sem dados

Taxa de literaciaglobal

Esquerda: Percentagem mundial de frequência da escola primária: desigualdades de género. Fonte: http://www.grmcwomensmaps.blogspot.pt/ Direita: Mapa mundial a indicar a taxa de literacia por país. (2011, UN Human Development Report) White = no data. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_literacy_rate; http://www.grmcwomensmaps.blogspot.pt/;

RITMOS DEMOGRÁFICOS

POPULAÇÃO ENVELHECIDA - consequências:

- Redução do Índice Sintético de Fecundidade (número médio de filhos por mulher em idade fértil: 15 até 49 anos)

- Aumento da esperança média de vida

- Diminuição da população activa

- Diminuição do espírito de iniciativa e criativo

- Aumento das despesas de Segurança Social (reformas)

- Aumento das despesas com a saúde

- Necessidade de construção de lares e adaptar equipamentos e serviços de lazer às necessidades dos idosos

POPULAÇÃO JOVEM - consequências:

Quando é retratado uma população jovem é importante referir: - Incapacidade de garantir educação e formação da população

- Taxa de Analfabetismo e de Desemprego elevadas

- Incapacidade de garantir as necessidades básicas como habitação, alimentação, originando miséria e pobreza.

A população divide-se em 3 grupos etários: Jovens: 0 a 14 anos; Adultos: 15 a 64 anos; Idosos: 65 e mais anos. O estudo da estrutura etária faz-se através das Pirâmides Etárias. O formato da pirâmide representa a demografia da região representada.

Pela pirâmide é possível identificar se uma determinada população é jovem ou envelhecida. As pirâmides podem ainda apresentar classes ocas (classe etária em que o número de pessoas é inferior ao da classe seguinte e anterior).

Pirâmides de países desenvolvidos (ex. Europa 2006) representam: Taxa de Natalidade baixa; Elevada esperança média de vida; Pequena proporção de jovens; Crescimento demográfico reduzido; População Envelhecida.

Pirâmides de países em Desenvolvimento (ex. África 2006) representam: Taxa de Natalidade elevada; Esperança média de vida baixa; Grande proporção de jovens; Forte crescimento demográfico; População Jovem.

As pirâmides classificam-se ainda como:

Pirâmide jovem ou Crescente (base larga e topo estreito - típica dos PED);

Pirâmide Adulta ou de Transição (base e centro largos - típica dos PED onde se verificou uma quebra na natalidade e um aumento da EMV (Esperança Média de Vida) devido à redução da mortalidade);

Pirâmide Idosa ou Decrescente (base estreita em relação a um topo largo - típica dos PD);

Pirâmide Rejuvenescente (classes da base com um aumento - típica de países onde se aplicaram políticas natalistas - PD)

8%

Homens Mulheres

IdososAdultosJovens

África - 2006

%7 6 5 4 3 2 1 0 0

0 - 45 - 9

10 - 1415 - 1920 - 2425 - 2930 - 3435 - 3940 - 4445 - 4950 - 5455 - 5960 - 6465 - 6970 - 7475 - 79

> 80

1 2 3 4 5 6 7 8 8%

Homens Mulheres

Europa 2006

%7 6 5 4 3 2 1 0 0

0 - 45 - 9

10 - 1415 - 1920 - 2425 - 2930 - 3435 - 3940 - 4445 - 4950 - 5455 - 5960 - 6465 - 6970 - 7475 - 79

> 80

1 2 3 4 5 6 7 8

Page 119: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Crescimento e desenvolvimento | 117

POLÍTICAS DEMOGRÁFICAS

Políticas Natalistas

Nos países desenvolvidos, a preocupação com o envelhecimento da população justifica a escolha de uma política natalista. As medidas de incentivo são, nomeadamente: Aumento do abono de família; Benefício, financeira e fiscalmente, das famílias numerosas; Aumento do período de licença de maternidade/paternidade; Melhoria da assistência médico-infantil; Construção de uma rede pública de ensino pré-primário; Flexibilização de horários de trabalho; Valorização da mulher no emprego;

Políticas Antinatalistas

Nos países em desenvolvimento, o controlo do crescimento populacional originou as seguintes medidas pertencentes a uma política antinatalista: Benefícios, financeira e fiscalmente, das famílias pequenas; Divulgação do planeamento familiar; Incentivo ao casamento tardio; Valorização da mulher na sociedade; Distribuição gratuita de contraceptivos; Atribuição de bolsas de estudo a raparigas; Legalização do aborto

Fonte: http://www.google.pt/imgres?imgurl=http://files.saberesnet.webnode.pt/

CANCROS MAIS COMUNS

homem

mulher

Cancro mais prevalente em cada país

bexiga

bexiga

colo do útero

fígado cavidade oral

próstata

estômago

sem dados

pulmão

linfoma não-hodgkin

esôfagosarcoma de Kaposimama

7,6 milhões de

pessoas morreram de

câncer

Reduzir o uso de tabaco é o

principal fator de risco modificável

para câncer.

É possível também encontrar diferenças ao nível do

acesso das crianças à educação primária, sendo que o

mesmo também é diferente caso estejamos a falar de

homens ou de mulheres. Estas desigualdades também

se verificam no que respeita às doenças (cancro e HIV)

e ao direito de voto, como podemos ver nas imagens

que se seguem, algumas das quais agravam o fosso

entre géneros e entre países desenvolvidos e em

desenvolvimento pelo Mundo. Podemos enfim dizer

que no Mundo existem desigualdades ao nível do

rendimento e do bem-estar das populações que,

grosso modo, opõem um Norte mais desenvolvido a

um Sul menos desenvolvido. Mas estas diferenças

não se verificam somente entre países. Existem

também desigualdades de desenvolvimento a nível

regional e local.Fonte: http://www.grmcwomensmaps.blogspot.pt/

Percentagem de adultos com HIV / SIDA

0.0% - 0.09%0.1% - 0.49%0.5% - 0.99%

5.0% - 9.9%mais de 10%sem dados

1.0% - 4.9%

Dentro do mesmo país ou região as

desigualdades atingem sobretudo as áreas

rurais, os bairros mais pobres das cidades, os

grupos mais vulneráveis como as crianças, os

jovens, as mulheres e os mais idosos. Por

exemplo, em Timor Leste também

conseguimos perceber algumas disparidades,

tal como nos evidenciam os quadros/figuras

seguintes (Fonte: Statistical Yearbook for Asia

and the Pacific 2012 − ESCAP Statistics

Division).

Page 120: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

118 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

Statistical Yearbook for Asia and the Pacific 2012 − ESCAP Statistics Division Page 51

Unless otherwise specified, the charts below use the following color legend: world aggregate; Asia−Pacific aggregate; Timor−Leste

Timor−Leste

Demographics trends

Health Education

Poverty & inequalities

Population total (millions), 2011 1.2Population growth (annual average, %), 2005−10 2.1Urban population (% of total), 2011 28.5Population density (population per km²), 2011 77.7Foreign population (% of total), 2010 1.2Net migration rate, 2005−10 −9.4(migrants per 1 000 pop.)Fertility rate (live births per woman), 2011 6.1Adolescent fertility rate, 2005−10 65.8 (live births per 1 000 women aged 15−19 yrs)Life expectancy (years), 2005−10 60.8 Male 61.5 Female 63.5

1990 2000 2010−2

0

2

4

6Annual population growth rate, 1990−2011

% p

er a

nnum

Population age structure, 1990 and 2011

% of total population

Female

20 15 10 5 020 15 10 5 0

Male

19902011

0 5 10 15 20

0−45−9

10−1415−1920−2425−2930−3435−3940−4445−4950−5455−5960−6465−6970−7475−7980+ yrs

Mortality rate (death per 1 000 live births) Infant, 2011 45.8 Under−five, 2011 54.1Children under−five underweight (%), 2010 45.3Maternal mortality ratio, 2010 300.0 (deaths per 100 000 live births)Antenatal care, at least 1 visit, 2010 84.4 (% of women with live birth)Population living with HIV, − Total adults, − Female adults, −HIV prevalence rate, − (% of population aged 15−49)

020

4060

8010

0

Richest Poorest Urban Rural

% o

f live

birt

hs

Births attended by skilled health

personnel, 2010

020

040

060

080

010

00

1990 2010

deat

hs p

er 1

00 0

00 li

ve b

irths

Maternal mortality1990−2010

Years of life lost (YLL), (% of YLL), 2008 Communicable diseases 18.0 Non−communicable diseases 76.0 Injuries 6.0

Government health expenditure, 2010 4.7 (% of government expenditure)

Number of physicians (*), 2004 1.0Number of hospital beds (*), 2010 59.0 (*) per 10 000 population

1995 2000 2005 20100

5

10

15

20Total health expenditure, 1995−2010

% o

f GD

P

Net enrolment in primary education (*), 2010 85.3Net enrolment in secondary education (*), 2010 36.5Gross enrolment in tertiary education (*), 2009 16.7 (*) % of respective school aged population

Adult literacy rate (*), 2010 58.3 Male (*), 2010 63.6 Female (*), 2010 53.0 (*) % of population aged 15 yrs and above

0.0

0.6

1.2

2005 2010Primary

Rat

io2010 2010

Secondary2002 2009

Tertiary

Gender disparity in education Ratio of female to male enrolment rates

Public expenditure on education as % of GDP, 2010 14.0 as % of total government expenditure, 2010 11.7Gross domestic expenditureon research and development(% of GDP), −

1990 1995 2000 2005 201020

30

40

50

60Pupils to teacher ratio, 1990−2010

Pupi

ls p

er te

ache

r

in primary education

1990 1995 2000 2005 201015

20

25

30

35

40

Pupi

ls p

er te

ache

r

in secondary education

Population living in poverty below $1.25 2005 PPP a day, (% of pop.), 2007 37.4 below national poverty line (% of pop.), 2007 49.9

Gini index (income equality coefficient), 2007 31.9

Population lacking access to improved water sources (% of pop.) , 2010 31.0 Rural 40.0 Urban 9.0 improved sanitation (% of pop.) , 2010 53.0 Rural 63.0 Urban 27.0 1995 2000 2005 2010

0

188

375

562

750

Thou

sand

peo

ple

People lacking access to improved water sources and

improved sanitation, 1990−2010

Water Sanitation

Page 121: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Crescimento e desenvolvimento | 119

Statistical Yearbook for Asia and the Pacific 2012 − ESCAP Statistics DivisionPage 52

Air pollution andclimate change

Water

Energy

Biodiversity

Natural disasters

Economic growth

Fiscal balance

Monetary measures

Labour

International relations

Connectivity

Carbon dioxide emissions, 2009Total (millions tons of ) −CO2

Grams per 1 000 GDP 2005 PPP dollars −Consumption of ozone depletingsubstance (grams per capita), 2009 0.8

emissions per capita, 1990−2011CO2

No data available

Renewable water available (m³ per capita per annum), 2010 7 309Domestic water withdrawal (m³ per capita per annum), 2007 93.3

Agriculture − 91.4 %

Domestic use − 8.4 %Industry − 0.2 %

Water withdrawal by sector, 2004

Total primary energy supply (kg of oil equivalent) Per capita, − Per 1 000 GDP 2005 PPP dollar, −

0

10

20

30

40

1990 − 2009Industry

% o

f tot

al fi

nal c

onsu

mpt

ion

1990 − 2009Transport

1990 − 2009Residential

Energy consumption by sector, 1990−2009

Areas protected Marine (% of territorial water) 6.7 Terrestrial (% of surface area) 6.0Forest area (% of land area), 2010 49.9

1990 2000 201030

40

50

60

70Forest area, 1990−2011

% o

f lan

d ar

ea

Deaths (number per annum), 2011 0 People affected (1 000 per annum), 2011 0 Economic damages (% of GDP), 2011 0.0

GDP at current prices (million US $), 2010 793.9 Growth rate (annual average, %), 2005−10 6.4 Per capita (2005 PPP $), 2010 832

Gross domestic investment rate (% of GDP), 2010 21.9

1990 1995 2000 2005 20100

60120180240300360420480540600

Milli

on 2

005

US

dolla

rs

Value added by sectorAgriculture Industry Services

Government revenue (% of GDP), 2010 144.5Government expenditure (% of GDP), 2010 120.7

Inflation rate (% per annum), 2011 13.5Exchange rate against US dollar, −(% change per annum)

Employment−to−population ratio, 2011 Population aged 15 and above 54.2 Females aged 15 and above 36.4 Males aged 15 and above 71.4Unemployment rate (% of labour force), − Females − Males −Youth unemployment rate % of labour force aged 15−24, −

Employment by sector, 1990−2010

No data available

Exports of merchandise (% of GDP), 2011 2.3Imports of merchandise (% of GDP), 2011 34.2Exports of services (% of GDP), 2010 6.0Imports of services (% of GDP), 2010 62.5FDI inflows (% of GDP), 2011 2.3FDI outflows (% of GDP), −ODA received (% of GDP), 2010 36.8Workers remittances received (% of GDP), 2010 0.9Net external debt (% of GDP), −

1990 2000 20100

20

40

60

80

100

120

Intraregionalimports and exports shares, 1990−2011

Exports Imports

Perc

enta

ge

Fixed telephone mainlines (*), 2011 0.3Mobile cellular subscriptions (*), 2011 53.2Internet users (*), 2011 0.9Fixed broadband internet subscribers (*), 2011 0.0(*) per 100 population

2000 2005 20100

5

10

15

20

25

30

35Internet users, 2000−2011

Per 1

00 p

opul

atio

n

2000 2005 20100

2

4

6

8

10Fixed broadband

internet subscribers, 2000−2011

Per 1

00 p

opul

atio

n

Railway density (*), −Road density (*), − (*) Km of railway/road per 1 000 km² land areaPaved roads (% of roads), −Passenger cars (per 1 000 population), −Road traffic deaths (per 100 000 population), 2007 17.5

Transport sector emissions per capita, 1990−2009

CO2

No data available

Inbound tourism expenditure (% of GDP), 2010 2.6Outbound tourism expenditure (% of GDP), 2010 9.1

The present country profile for Timor−Leste is part of a series ofcountry profiles for each of the 58 ESCAP regional membersand published as part of the Statistical Yearbook for Asia andthe Pacific 2012.

Further information regarding data series used in this countryprofile, including indicator definitions and data sources, areavailable from the Statistical Yearbook website athttp://www.unescap.org/stat/data/syb2012.

For most indicators, times series data from 1990 to the latestyear with data available can also be accessed and downloadedfrom the online database available from the website.

ESCAP Statistics DivisionOctober 2012

Page 122: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

120 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

Conceções atuais de desenvolvimento

“Direito ao desenvolvimento é um direito humano inalienável, em virtude do qual toda a pessoa humana

e todos os povos têm o direito de participar, contribuir e usufruir do desenvolvimento económico, social,

cultural e político, de modo que possam exercer todos os direitos e liberdades fundamentais.”Artigo 1.1 da Declaração do Direito ao Desenvolvimento, aprovada na Assembleia Geral das Nações Unidas em 4/12/1986.

Só se tomou consciência de que o desenvolvimento é um direito de todos os povos e sociedades, aquando da

sua redação e aprovação na ONU, constituindo parte do que se designou por Direitos Humanos de 3ª Geração.

Na verdade, só após a 2ª Guerra Mundial é que os direitos Humanos se transformaram numa exigência universal.

Processo este que só terminou sob os auspícios da ONU, então criada, com a Declaração Universal dos Direitos

Humanos, em 1948. Posteriormente, outros acordos e convenções surgiram para alargar os direitos humanos ao

âmbito universal.

0,30 - 0,000,40 - 0,300,45 - 0,400,50 - 0,450,55 - 0,500,60 - 0,550,65 - 0,600,70 - 0,650,75 - 0,700,80 - 0,750,85 - 0,80

IDH Mundial em 2012. http://www.targetmap.com/viewer.aspx?reportId=5930

Ao fixar-se o desenvolvimento como

um direito de todos os povos e socieda-

des, a preocupação era a criação de um

Mundo mais humano e mais justo do

ponto de vista social. Com vista a en-

contrar soluções mais ajustadas à cres-

cente globalização, e o consequente

aumento das desigualdades entre po-

vos e nações, tem-se procurado apro-

fundar um novo conceito de desenvol-

vimento, que é o de desenvolvimento

humano sustentável. Ao incluir no con-

ceito de desenvolvimento humano a sustentabilidade, consagra-se a importância da conservação e preservação

do ambiente não só com vista ao presente mas também em relação às gerações futuras.

O conceito de Desenvolvimento Humano Sustentável inclui as dimensões:

Equidade inclui a procura de igualdades de oportunidades para todos relativamente à educação e a viver uma vida longa e saudável.

Sustentabilidade respeita à satisfação das necessidades da geração presente sem colocar em risco a satisfação das necessidades da geração futura (gerar equidade intergeracional).

Segurança encarar a ideia de segurança de modo mais alargado, ou seja, uma das necessidades mais básicas é a da segurança de emprego mas as pessoas também querem estar livres de ameaças crónicas como as doenças ou a repressão e de intromissões abruptas e prejudiciais na vida diária.

Cooperação necessidade que cada um tem de se sentir integrado numa estrutura social e de nela poder atuar em cooperação com os outros, pois esta pode alargar as suas escolhas individuais.

Poder criação de condições para que as pessoas possam exercer as suas capacidades e ser agentes ativos do seu próprio desenvolvimento

Page 123: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Crescimento e desenvolvimento | 121

Tarefa 10:

1. Defina desenvolvimento humano sustentável.

2. Construa um quadro comparativo com as principais características dos países desenvolvidos e em

desenvolvimento, com base na análise dos mapas e figuras inseridos neste capítulo.

3. Tendo por base a figura seguinte, identifique a que tipo de grupo de países pertence Timor-Leste.

20

Female Male

19902011

total da população

Population age structure, 1990 and 2011

%

15 10 5 0 0

0 - 45 - 9

10 - 1415 - 1920 - 2425 - 2930 - 3435 - 3940 - 4445 - 4950 - 5455 - 5960 - 6465 - 6970 - 7475 - 79

> 80

5 10 15 20

3.1. Identifique algumas das diferenças entre homens e mulheres em Timor-Leste com base nos documentos apresentados ao longo do capítulo.

3.2. Justifique a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento tanto em Timor como no resto do

Mundo.

4. Observe o quadro seguinte:

PaísesPopulação

(%)Consumo Alimentos

(%)Consumo de Aço

(%)Consumo de Energia

(%)

PVD 74 66 21 20

PD 26 34 79 80

Explique as desigualdades de consumo evidenciadas pelo quadro, face às diferenças percentuais de população.

Page 124: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

122 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

3 O DESENVOLVIMENTO E A UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS

3.1 O Desenvolvimento e a Questão Demográfica

Os países em desenvolvimento continuam e vão permanecer como os principais responsáveis pelo aumento

explosivo da população mundial. Todavia, as respetivas taxas de fecundidade estão a diminuir na maior parte

das Nações do Terceiro Mundo. As projeções para 2050 apontam para o facto de que uma população de 10 mil

milhões de pessoas povoará o nosso planeta, concentrando-se a mesma nos continentes Asiático, Africano e

Latino-americano.

O aumento de 50% da população mundial estimado para o ano 2050 (9,3 mil milhões de habitantes), de acordo

com a projeção média do relatório do Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP), verificar-se-á

sobretudo nos países em desenvolvimento, que representarão, nessa altura, 85% do total mundial. Os países

desenvolvidos irão manter o nível atual de 1,2 mil milhões de habitantes.

Já nos países desenvolvidos a população continua a ter um ritmo de crescimento baixo ou mesmo negativo. Mas

também não se sabe que resultados poderão ter as políticas natalistas implementadas em alguns países, cujas

taxas de natalidade e fecundidade têm aumentado ligeiramente nos últimos anos. De acordo com a projeção

média do relatório do Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP), os países desenvolvidos irão manter

o nível atual de 1,2 mil milhões de habitantes.

Conseguimos assim verificar que há uma forte relação

entre os níveis de desenvolvimento socioeconómicos

e os ritmos de crescimento da população. Logo, estes

diferentes níveis permitem-nos destacar dois grandes

conjuntos de países: os países desenvolvidos ou

industrializados e os países em desenvolvimento.

Fonte: População e Povoamento; Didáctica Editora

OceanoPací�co

OceanoPací�co

OceanoAtlântico

OceanoÍndico

Países desenvolvidos (cor laranja) e países em desenvolvimento (amarelo).

Em 2100 a população mundial poderá atingir os 10 mil milhões de pessoas (Jornal de Notícias, publicado a 2011-10-26 às 10:42)

A população mundial hoje fixada em sete mil milhões de pessoas, deverá ultrapassar os 10 mil milhões até 2100, ou mesmo os 15 mil milhões se a taxa de fertilidade subir, segundo um relatório das Nações Unidas. O “Estado da população mundial 2011” foi publicado, esta quarta-feira, em Londres, pouco an-tes das cerimónias que a 31 de Outubro vão marcar a passagem da barreira dos sete mil milhões de seres humanos a viver no planeta. O Fundo das Nações Unidas para a população (UNFPA) insistiu nos enormes desafios colocados pelas pressões demográficas para combater a pobreza e preservar o ambiente.

Segundo as últimas estimativas, em alta relativamente a números anteriores, em 2050 deverão existir 9,3 mil milhões de seres humanos na terra e mais de 10 mil milhões até ao fim do século, indicou a UNFPA. Mas «apenas com uma ligeira variação da fertilidade, particularmente nos países mais povoados, os números podem ser mais elevados: 10,6 mil milhões de pessoas até 2050 e mais de 15 mil milhões até 2100». O documento sublinha o crescimento demográfico iniciado durante o Baby Boom após a Segunda Guerra mundial, cujo impacto se fez sentir nos anos 1960.

A prosperidade, uma educação melhor e o acesso à contracepção reduziram drasticamente a fertilidade global, ao ponto de hoje certos países ricos enfren-tarem uma quebra significativa da sua população. Durante as seis últimas décadas, a fertilidade média mundial desceu, passando de seis crianças por mu-lher para 2,5 na actualidade. A média vai de 1,7 crianças em média nos países mais desenvolvidos para as 4,2 em países menos desenvolvidos. Actualmente o Mundo conta com 80 milhões de nascimentos por ano e as pessoas com menos de 25 anos representam 43% da população. «O nosso recorde de popu-lação pode ser considerado como um sucesso para a humanidade – as pessoas vivem mais tempo, com melhor saúde», sublinhou Babatunde Osotimehin, director executivo da UNFPA. «Quantas pessoas pode a nossa terra suportar? Essas são questões importantes, mas talvez não as que mais interessem. Se olharmos apenas para os números, arriscamo-nos a perder de vista as novas oportunidades de tornar a vida melhor para todos no futuro», concluiu.

http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=2082659

Page 125: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

O desenvolvimento e a utilização dos recursos | 123

O Progresso Tecnológico e o Crescimento Demográfico

O progresso tecnológico mundial dos últimos 100 anos tem sido estupendo. O aparecimento do rádio, da

televisão, do automóvel, do telefone, do computador, da ida à Lua, a Marte, e muitas outras formas de avanços

que a sociedade tem presenciado, permitiu um ritmo de crescimento mundial fantástico. A investigação passou

a incidir cada vez mais sobre as novas tecnologias as quais abriram novos campos de investigação (maior

cooperação entre universidades e empresas).

A tecnologia é a forma como um produto é criado, ou seja, a forma como é utilizada a relação capital-trabalho.

Mas esta relação pode ser feita utilizando mais do que um fator ou pela combinação simples conjunta de ambos

de forma igualmente proporcional. Temos progresso tecnológico quando se utilizam menos fatores de produção

para se obter a mesma quantidade de produtos gerados, ou se produzimos mais com os mesmos fatores que

determinada atividade necessita, ou seja, tornando a sua produção eficiente.

Apesar do crescimento da população se ter feito sentir ao longo dos anos, o rápido crescimento mundial

populacional é um fenómeno relativamente recente na história da Humanidade, dado que o mesmo acelerou

ao longo das últimas décadas. Este crescimento da população deveu-se sobretudo à diminuição das taxas de

mortalidade e ao aumento da esperança média de vida, à diminuição da mortalidade bem como a outros fatores

proporcionados pelos avanços tecnológicos, entre os quais se destacam:» Na medicina: o avanço da vacinação permitiu a destruição ou o controlo de várias doenças como a varíola, a raiva, a tuberculose, o tétano; e os avanços ao nível dos métodos anticoncecionais;» Nas condições de vida e de higiene: A melhoria das condições de habitação e de higiene nas habitações e a implementação de sistemas de esgotos, de canalização e tratamento das águas permitiram o controlo de várias doenças e epidemias; e a diminuição da idade média de casamento;» Na melhoria da alimentação: Com a mecanização da agricultura e a Revolução Industrial foi possível aumentar a produção de alimentos e reduzir os períodos de fome, bem como melhorar a alimentação da

população em geral, através da introdução de novas variedades de alimentos.

O acesso à tecnologia é fundamental para o desenvolvimento, mas a investigação científica e tecnológica

tornou-se difícil de atingir pelos países em desenvolvimento, dados os recursos humanos e materiais que a

mesma exige. Para ultrapassarem este obstáculo ao desenvolvimento, recorrem à importação de tecnologia,

nomeadamente através das multinacionais (empresas que operam em vários países, sendo a sua estratégia

traçada à escala mundial pois para reduzir custos de produção, realiza uma parte importante da sua atividade

em países estrangeiros).

Tarefa 11:

1. Que países são responsáveis pela explosão demográfica?

2. Comente: “Há uma forte relação entre os níveis de desenvolvimento socioeconómico e o ritmo de

crescimento da população.”

3. Defina progresso tecnológico.

4. Quais os fatores na base do crescimento populacional?

5. O acesso à tecnologia é igual para todos os países? Como se podem ultrapassar estas dificuldades?

Page 126: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

124 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

A Diversidade de Estruturas Demográficas

Dos inúmeros documentos analisados até aqui verificamos que a distribuição populacional não é uniforme em

todas as partes do Mundo. E tal como referido anteriormente, a população dos países mais desenvolvidos deverá

permanecer estável enquanto a dos países em desenvolvimento tenderá a crescer.

Em termos populacionais está previsto que a Índia ultrapasse a China, sendo estes dois países em conjunto

com os EUA, a Indonésia, o Paquistão e a Nigéria, os seis países em que em 2050 está previsto serem os mais

populosos do Mundo.

Associada à diversidade de estruturas demográficas aparece a teoria da transição demográfica que se trata

de um modelo de interpretação das grandes transformações demográficas que já ocorreram ou que estão

atualmente a ocorrer nos diferentes países. Segundo a mesma os países devem percorrer pelo menos quatro

fases de transformação demográfica.

Numa primeira fase conseguimos observar um regime democrático primitivo, que é caracterizado pelo crescimento

lento da população (elevadas taxas de natalidade, mortalidade e mortalidade infantil). Posteriormente assiste-se

ao declínio da mortalidade, devido aos progressos verificados em alimentação, saúde, higiene e saneamento,

mas como continuam a existir elevadas taxas de natalidade e de fecundidade, há uma aceleração do crescimento

natural da população. Numa terceira fase temos o declínio da fecundidade e da natalidade, continuando a

diminuição da mortalidade. Por fim, chegamos ao regime demográfico moderno, caracterizado por níveis baixos

de mortalidade, fecundidade e de natalidade.

Mais cedo ou mais tarde todos os países irão passar por estes diferentes estágios, que todavia dependem de

um conjunto de fatores e de características próprias ao país ou outros fatores que poderão ocorrer durante o

processo. Os países desenvolvidos estão neste momento na última fase, a de regime demográfico moderno,

com taxas de crescimento populacional a tender para 0, o que acaba por condicionar o futuro pois estes níveis

de natalidade já não garantem a substituição das gerações. Já os países em desenvolvimento, com maior ou

menor rigor, encontram-se na fase 2, com taxas de mortalidade decrescentes, ainda que com taxas de natalidade

elevadas. Também se encontram alguns países em desenvolvimento que já estão na sua terceira fase de ritmo

demográfico, com taxas de fecundidade decrescentes.

Estamos agora em condições de definir formalmente uma estrutura demográfica. Entende-se por estrutura

demográfica a forma de análise da população segundo as suas características demográficas, podendo a mesma

ser analisada pela perspetiva do sexo, da idade, do estado civil, do nível de escolaridade ou até mesmo pela

ocupação na vida económica.

Ao representarmos graficamente (na forma de gráfico de barras) a

estrutura demográfica de um país conseguimos obter aquilo que se

designa de pirâmide de idades. Esta permite comparar e analisar a

importância relativa dos diferentes grupos etários. Já anteriormente

tinham analisado um documento onde eram descritas as formas

básicas das estruturas etárias dos países desenvolvidos e a dos em

desenvolvimento, bem como apresentámos numa figura a atual

estrutura etária de Timor-Leste.

Page 127: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

O desenvolvimento e a utilização dos recursos | 125

Podemos ter vários tipos de pirâmides etárias (as quais foram descritas sucintamente atrás), as quais ajudam a

classificar o estágio de desenvolvimento de um determinado país. Por exemplo, podemos ter pirâmides em forma

de urna, descritas por terem um topo largo e uma base estreita, onde predomina a população adulta e idosa. Nestas

demonstra-se o envelhecimento da população e o peso relativamente baixo do grupo etário dos jovens, sendo por

isso considerada uma pirâmide típica dos países desenvolvidos. Mas também podemos ter pirâmides em forma de

acento circunflexo, cuja base é larga, mas o topo estreito, havendo assim predominância de população jovem, com

uma esperança média de vida baixa e uma percentagem de idosos também reduzida, ou seja, a pirâmide típica dos

países em desenvolvimento.

Porque se assiste a este fenómeno de envelhecimento demográfico nos países desenvolvidos? Este deve-se a um

conjunto de fatores entre os quais se destacam o aumento da esperança média de vida (prolongando-se a vida

até mais tarde), melhorias nas condições de vida, a diminuição das taxas de mortalidade (tanto a geral como a

infantil, que mais tarde também irá fazer aumentar a população em idade fértil), e o declínio da natalidade (o

que provoca diminuições da população jovem relativamente ao total da população existente) e fecundidade.

Conseguimos também a partir destas pirâmides etárias tecer algumas considerações acerca das condições socio-

económicas de um país. No caso dos países desenvolvidos podemos então retirar ilações acerca do aumento das

despesas com a saúde, pois uma população mais envelhecida tem maiores problemas de saúde devido à sua ida-

de avançada. Haverá também um aumento da carga fiscal sobre a população ativa, tal como o aumento da idade

da reforma e a redução do valor dessas mesmas reformas, para se tentar travar a entrada na reforma e garantir

a subsistência da segurança social, pois é preciso nestes casos reforçar o sistema de proteção social. Mas com

uma população mais envelhecida também irão aumentar as despesas com a assistência aos idosos já que estão

mais dependentes dos outros, sendo as despesas suportadas pela família e nos casos em que isso não é possível,

será pelo próprio Estado (por exemplo, pela criação de infra-estruturas como os lares de idosos). Tende-se ainda

a assistir a uma degradação sistemática do nível de vida dos mais idosos, pois com o risco de falência do sistema

de segurança social de um país, e com as reformas a ser tendencialmente mais baixas, isso coloca os idosos em

situações de grandes carências por falta de recursos.

Na pirâmide etária dos países em desenvolvimento verifica-se que estes

apresentam uma estrutura etária bastante jovem, com taxas de

natalidade elevadas, mas também um mais baixo valor de esperança

média de vida. Também estas características apresentam custos sociais

e económicos elevados pois dá-se uma diminuição na capacidade de

criação de emprego, uma elevada pressão sobre o ambiente, conduz à

insuficiência de infra-estruturas capazes de satisfazer a procura e

também se podem verificar algumas dificuldades ao nível da aplicação

de políticas anti natalistas.

No futuro, a tendência geral da população mundial será para o envelhecimento, mesmo nos países em

desenvolvimento onde ainda hoje a maioria da população é jovem. Mas há grandes diferenças entre o

elevado envelhecimento da população dos países desenvolvidos hoje e o dos países em desenvolvimento que

provavelmente só será fortemente sentido a partir da segunda metade deste século. Estas diferenças introduzem

tensões e desequilíbrios demográficos que favorecem as migrações do Sul para o Norte.

Page 128: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

126 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

Hoje em dia já é difícil equilibrar o crescimento populacional com a

disponibilidade de recursos mundiais, e no futuro manter este equilíbrio será

bem pior. Se se mantiverem os ritmos atuais de consumo vai começar a haver

escassez de bens essenciais para o Homem como a água, alguns metais e

outros recursos. Mas este tipo de problema já afetará os países desenvolvidos

e os em desenvolvimento do mesmo modo, pois o sobreaquecimento e a

subida do nível geral dos oceanos vão atingir todas as áreas do mesmo modo,

a não ser que os governos e a população se empenhem a sério na procura de

novas soluções para a produção de bens e haja uma alteração nos quadros de

consumo atuais, especialmente nos países desenvolvidos.

Consequências Económicas da Questão Demográfica

Quais as consequências económicas das alterações na estrutura demográfica para a generalidade dos países?

Normalmente, estas alterações resultam das taxas de natalidade, das de mortalidade, ou até mesmo das questões

relacionadas com a migração. Como das outras já falámos, vamos agora tentar responder à questão: Quais serão

as consequências económicas de fenómenos como os movimentos migratórios?

A migração é o fenómeno de movimento de uma população, definitivo ou temporário de um local físico para

outro. Dentro desta, podemos individualizar os fenómenos de imigração (movimento de entrada de pessoas

num país, onde se irão estabelecer) e os de emigração (quando as pessoas deixam o seu país de origem para se

estabelecerem noutro).

Quer sejam internos ou externos, os movimentos migratórios têm sido uma constante ao longo dos anos. A pressão

demográfica na maior parte dos países em desenvolvimento, a manutenção dos desequilíbrios económicos, a

maior facilidade de contacto com os valores e estilos de vida dos países desenvolvidos e o desenvolvimento

acentuado do setor dos transportes apontam para que haja uma continuidade das migrações internacionais.

Assim, estes movimentos verificam-se sobretudo das regiões menos prósperas para as mais prósperas, sendo

que também no interior dos países em desenvolvimento se assiste a movimentos migratórios significativos,

especialmente do interior para o litoral.

Podemos assim caracterizar os movimentos migratórios atuais como sendo gerais (quase todos os países do

mundo sofrem ondas de migrações), complexos (os movimentos migratórios abrangem distâncias cada vez mais

longas), diversos em termos de composição (se antes eram só os trabalhadores não qualificados que migravam,

hoje em dia assiste-se a uma vaga de migração de mão-de-obra qualificada) e cada vez mais estes movimentos

são mais femininos (o número de mulheres entre a população migrante está a aumentar).

As causas para a emigração são de múltipla ordem. Podem-se pren-

der com questões económicas e sociais (questões demográficas ou a

repartição desigual do rendimento), com questões político religiosas

e étnico-culturais (quando a população se vê obrigada a abandonar o

país de origem por serem vítimas de perseguições somente porque

demonstram divergências políticas, religiosas, ou outras) ou devido a

Page 129: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

O desenvolvimento e a utilização dos recursos | 127

desastres naturais e ambientais (como inundações, erupções vulcânicas, secas, que acabam por conduzir ao movi-

mento migratório das populações na tentativa de fugirem das más condições de vida. Estas populações são normal-

mente conhecidas como “refugiados ambientais”). Também as consequências das migrações são de várias ordens.

Consequências dos Fluxos Migratórios

Países de Origem (Partida):

– Estrutura demográfica altera-se (emigram principalmente jovens e adultos)

– Baixa taxa de natalidade

– Acelera o processo de envelhecimento da população

– População em idade ativa emigra

– Escassez de mão-de-obra

– Regiões mais afetadas pela emigração assistem à saída consecutiva da população

– Desertificação de certas regiões

– Melhoria do Saldo da Balança Corrente devido à entrada de divisas (remessas de emigrantes)

Países de Destino (Acolhimento):

– Rejuvenescimento da sua estrutura demográfica

– Conseguem dar resposta à necessidade de mão--de-obra

– Necessidade de reforçar os sistemas de segurança

– Exclusão social, empobrecimento, mendicidade, roubos, etc…, podem ser algumas das consequências

– Problemas relativamente à integração social e cultural desses imigrantes.

Tarefa 12:

1. De que países são típicas as pirâmides etárias em forma de urna? E as em forma de acento circunflexo?

2. O que se obtém por representação em gráfico de barras da estrutura demográfica de um país?

3. Defina estrutura demográfica.

4. O que permitem as pirâmides etárias descrever?

5. Que considerações socioeconómicas se podem retirar pela análise da pirâmide etária nos países desen-volvidos?

6. Quais são as principais causas das alterações demográficas?

7. Defina movimentos migratórios.

8. Quais as características atuais dos movimentos migratórios?

9. Enumere as consequências das migrações.

10. Qual a problemática discutida no documento seguinte? Destaque as informações mais relevantes.

Page 130: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

128 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

Entre 1985 e 1995, o crescimento demográfico de 64 dos 105 países em desenvolvimento aumentou mais rapidamente do que a sua produção de alimentos. A escassez desperta, em geral, práticas agrícolas nefastas para o meio ambiente (desflorestamento, cultivos e pecuária intensiva) o que, por sua vez, como um círculo vicioso, deteriora os solos e reduz as colheitas. Governos e doadores estrangeiros teriam todo o interesse em criar um “círculo virtuoso”, com famílias menos numerosas e melhor educadas para a boa gestão dos recursos, indica o FNUAP, citando o exemplo do México e de alguns países do sudoeste asiático onde a taxa de natalidade diminuiu durante a última geração. O relatório enumera questões preocupantes sobre a sobrevivência do planeta, como o desaparecimento provável de 60.000 espécies vegetais - um quarto do total mundial - em benefício de novas variedades de alto rendimento que exigem adubos e pesticidas especiais (que ameaçam perturbar o equilíbrio ecológico e dar origem a uma série de novos problemas), o desaparecimento das reservas mundiais de peixe, das quais 69% estão em extinção ou em vias de lenta reconstituição, ou o aquecimento do planeta, que poderá provocar uma subida de 50 centímetros das águas marinhas, acompanhada de tempestades, inundações e deslocamentos da população, caso não sejam reduzidas as emissões de dióxido de carbono. Neste contexto, o FNUAP preconiza programas de informação “integrados”, que conjuguem a sensibilização para o planeamento familiar e a educação a par com uma gestão dos recursos que respeite o meio ambiente local. Durante a conferência internacional sobre população e desenvolvimento, realizada em 1994 no Cairo, os países comprometeram-se a financiar programas nestas áreas avaliados em 17 mil milhões de dólares anuais até o ano de 2000 e em 20 mil milhões a partir daí, dando especial atenção ao crescimento demográfico. No entanto, “os países em desenvolvimento que deveriam financiar os dois terços praticamente cumpriram seu compromisso, enquanto os países industrializados apenas cumpriram a metade”, destaca Fama Hane Ba, diretora para o continente africano do FNUAP.

Relatório do Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP), intitulado “População e mudança do meio ambiente”.

http://www.apagina.pt/?aba=7&cat=108&doc=8607&mid=2

3.2 O Desenvolvimento e os Recursos Ambientais

O processo de industrialização, o consequente crescimento explosivo da população e a redução nas taxas de mortalidade fizeram aumentar de forma exponencial a poluição, o consumo dos recursos do planeta como a água, a energia e os minerais, e a produção alimentar. Só que este crescimento económico ilimitado determinou níveis de consumo que começam a ser insustentáveis, nomeadamente no que respeita ao uso dos recursos ambientais. A atividade humana está a provocar alterações atmosféricas a um ritmo sem precedentes devido ao aumento da poluição.

Nos países industrializados ou desenvolvidos o moderno crescimento económico é visto como a única forma de gerar emprego, de garantir os avanços tecnológicos e de possibilitar a melhoria do nível de vida das populações, sendo que nos países em desenvolvimento o mesmo é visto como a única forma de sair da pobreza.

Principais países emissores de CO2

EUA (37,3%) América Central e do Sul (3,8%)

Europa (27,7%)

Austrália (1,1%)

Rússia (13,7%)

China e Índia (12,2%)

Canadá (2,3%)

Japão (3,7%)

Médio Oriente (2,6%)

África (2,5%)

AL Gore, Uma Verdade Inconveniente

Mas este moderno crescimento económico também faz com que os países industrializados sejam historicamente os maiores emissores de gases com efeito de estufa. Ao praticarem uma agricultura e criação de gado intensivas, os mesmos estão a levar ao limite os recursos mundiais, provocando o esgotamento dos solos e a desflorestação.

Este crescimento económico tem levado à diminuição dos recursos hídricos, ou seja, à diminuição da água potável existente no planeta, devido ao aumento dos efluentes lançados aos mares e aos rios, bem como devido ao aumento da poluição atmosférica que contamina as águas, tornando este um bem cada vez mais escasso. Também conduz à diminuição das zonas verdes e das florestas pois houve uma consequente expansão das áreas urbanas, das áreas de cultivo e o abate de grande parte das florestas para o comércio internacional de madeira.

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O desenvolvimento e a utilização dos recursos | 129

Já os solos produtivos começam a escassear devido à construção de infra-estruturas, pela acumulação de pesticidas no solo e devido à desflorestação que torna os solos ainda mais frágeis. Com a desflorestação, a caça ilegal e a poluição da água surgem os problemas associados à diminuição da biodiversidade, dado que muitas espécies animais e vegetais já se extinguiram ou estão hoje em perigo eminente de que isso ocorra.

O aumento dos níveis de poluição traz consequências gravíssimas ao ser humano e à biodiversidade. A poluição atmosférica provoca a aceleração da transferência de partículas poluentes do ar para a água (chuvas ácidas). O aumento das substâncias tóxicas nos solos e nas águas como os pesticidas, os fertilizantes e os metais pesados apenas vêm agravar a situação. Mas este aumento da poluição também provoca uma contaminação dos lençóis freáticos (devido às águas residuais da agricultura, pecuária e à rutura dos aterros sanitários), acabando por colocar em perigo o volume de água potável existente no planeta.

Podemos assim dizer que o moderno crescimento económico levou à degradação do ambiente causando a desflorestação, a desertificação, a destruição de habitats naturais, a extinção de espécies animais e vegetais e a degradação da qualidade da água, do ar e do solo. O preço a pagar por este mesmo crescimento pode levar a crises ecológicas que se traduzem na incapacidade que a natureza tem de absorver os resíduos provocados pelas atividades humanas.

Também ao nível da poluição é esperado que o Estado intervenha na atividade económica pois sendo o ambiente um bem comum é necessário que o Estado crie leis que regulamentem o seu uso como os impostos e as taxas ecológicas na base do princípio do poluidor pagador. Para além disto, como a poluição não conhece fronteiras e as ações de alguns agentes económicos contra o ambiente têm efeitos a nível global, é necessário estabelecer acordos internacionais e obrigar os países ao cumprimento dos mesmos.

Pode-se usar a própria inovação tecnológica para tentar atenuar os problemas ambientais causados. Na agricultura, por exemplo, com o uso da biotecnologia já é possível criar cereais e vinhas resistentes à geada e assim impedir a devastação de culturas. Ao serem utilizados novos combustíveis alternativos (energia eólica, solar e das marés) aos combustíveis poluentes tradicionais também podemos combater a poluição. Ao nível da exploração mineira, podem ser utilizados fungos e algas para realizar a descontaminação dos solos e das águas

dos locais mais afetados pelo abandono e encerramento de minas.

O Crescimento Económico Moderno e as Consequências Ecológicas.

Tal como vimos, a industrialização acelerou a degradação do meio ambiente. Mas a explosão demográfica que se lhe seguiu provocou e continua a provocar graves alterações no equilíbrio ecológico do planeta, pois o aumento da população obrigou a uma consequente corrida aos alimentos. O aumento da produção através da agricultura intensiva acabou por esgotar grande parte dos solos, as florestas foram destruídas para aumentar as superfícies agrícolas e a pastorícia, bem como as atividades humanas destruíram o subsolo para se alimentarem em matérias-primas e fontes de energia.

Este crescimento económico moderno e ilimitado nos países industrializados motivou modos de comportamento e estilos de vida incompatíveis com a capacidade de renovação dos recursos e com a sua escassez, originando o que foi designado de “sociedade do desperdício”. Para combater esta situação débil precisamos do empenho das populações e das instituições no sentido da promoção de uma eco cidadania (garantia do desenvolvimento humano sustentável).

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130 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

Na verdade devemos sempre procurar ser cidadãos. A cidadania é um termo utilizado para designar o conjunto de direitos e deveres ao qual cada pessoa está sujeita relativamente à sociedade em que vive. Deste modo funciona como um ideal democrático de função integradora, pois o cidadão é reconhecido como um membro de uma sociedade, partilhando com diversos grupos uma identidade, sendo igual a todos os outros, quer no que toca a direitos, quer no que toca a deveres. É no seio familiar que se começa a aprender sobre o que é ser cidadão e é essa mesma família que nos vai moldar para sermos bons ou maus cidadãos, existindo também outras instituições com um papel relevante neste sentido, tal como a escola.

Cabe aos grupos onde nos inserimos (família, escola, amigos, clube desportivo, …) ajudarem-nos a tornarmo-nos cidadãos ativos, informados e responsáveis.

A escola tem um papel fundamental na educação para a cidadania, uma vez

que ensina a fazer uso do conhecimento e da informação promovendo assim

cidadãos mais interventivos e participativos. O objetivo é desenvolver nos

alunos atitudes de autoestima, respeito mútuo e regras de convivência em

sociedade que conduzam à formação de cidadãos solidários, autónomos,

participativos e civicamente responsáveis.

São várias as medidas que podem ser adotadas no sentido da promoção da eco cidadania, algumas delas caras, outras ao alcance de todos, tais como as energias alternativas, a reciclagem, as eco empresas e a agricultura biológica.

a) Energias alternativas – como consequência do crescimento económico e do desenvolvimento muitas fontes energéticas, nomeadamente as não renováveis vão-se esgotar a longo prazo. Para isso é necessário começar desde já a utilizar as energias alternativas que para além de serem amigas do ambiente, não poluem e

não desgastam os recursos naturais não renováveis. Existem alguns bons exemplos destes tipos de energia.

Tipos de Energia Vantagens Desvantagens

Nuclear Combustível barato e fácil de transportarFonte mais concentrada de geração de energiaFacilidade de transporte enquanto novo combustívelNão provoca o efeito de estufa ou as chuvas ácidas

Fonte mais dispendiosa devido aos sistemas de emergência, de contenção de resíduos radioativos e de armazenamentoExige soluções de longo prazo para os resíduos armazenados em alto nível na maioria dos países

Geotérmica Fonte de energia renovávelNão é poluentePossui diversas utilizações

Baixo rendimentoLimitada a zonas de atividade tectónicaLibertação de gases para a atmosfera, tais como o sulfureto de hidrogénio e o dióxido de carbono (poluentes e corrosivos)

Solar Recurso natural renovável e não poluente Limitada às áreas do globo que recebem bastante radiação solarRequer materiais especiais para que os painéis e os coletores não afetem o ambiente

Ondas Recurso natural renovável e não poluente Requer uma geometria da costa especial e com ondas de grande amplitudeInstalações de potência reduzidaCuidados especiais com as instalações: não podem interferir com os cursos de navegação; devem ser capazes de resistir a tempestades marítimas; serem sensíveis o suficiente para receberem energia das ondas

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O desenvolvimento e a utilização dos recursos | 131

Maremotriz (marés)

Renovável e não poluenteNão exige material muito sofisticado

Fornecimento de energia com interrupções e de baixo rendimentoNecessárias amplitudes de marés superiores a 5 metros para ser rentávelCuidados especiais com as instalações: devem ser capazes de resistir a tempestades marítimas; serem sensíveis o suficiente para retirarem energia das marés

Eólica A obtenção de vento é feita de forma gratuitaO vento é um recurso natural

O equipamento é de manutenção caraAltamente dependente do tempoVentos fortes podem danificar o equipamento ou não girar durante dias consoante o tempoPode afetar os pássarosNecessita 3 vezes da quantidade de geração instalada para satisfazer a necessidade humana

Biomassa Não emite dióxido de enxofreBaixo custo de obtençãoMenor risco ambientalMenor corrosão dos equipamentos (caldeiras, fornos)As cinzas são menos agressivas ao meio ambiente do que as provenientes de combustíveis fósseisRecurso renovávelEmissões não contribuem para o efeito de estufa

Dificuldades no armazenamentoMenor poder radiadorMaior possibilidade de geração de material particular para a atmosferaCustos de investimento elevado para as caldeiras e equipamentos de remoção de material particular

Biodiesel Fácil de obterMenos poluenteMenor emissão de enxofre e dióxido de carbono do que os derivados de petróleoBom sistema de distribuição para os níveis de atual usoNão requer refinação como o petróleoPode maximizar a produção de várias culturas vegetais em diversas regiões do globo, fomentando assim o setor primário

Preço elevadoNovas tecnologias podem reduzir os custos da sua produçãoDependente da produção agrícolaCapacidade de substituição do diesel limitada

Hidrogénio Combustível não poluenteSó liberta vapor de água para a atmosferaPode-se usar hidrogénio impuro como combustível, desde que a concentração de dióxido de carbono seja cerca de 1,5%Produção de eletricidade com um rendimento superior a 40%

Não existe na forma pura o que implica a sua produçãoDifícil de armazenar à temperatura ambienteNo estado gasoso a densidade energética é mais baixa

b) Princípios de reciclagem: Reciclar, reduzir e reutilizar – Reciclar, reduzir e reutilizar são três

comportamentos indispensáveis que constituem a sigla dos 3 R’s. São uma boa prática por contribuírem para um

ambiente melhor pois o objetivo é preservar a natureza e fomentar o desenvolvimento sustentável.

Reduzir – todas as empresas devem ser responsáveis por tomar medidas internas à diminuição da quantidade de

resíduos e de efluentes produzidos.

Reutilizar – todos os resíduos produzidos e enviados para empresas licenciadas para o seu devido tratamento

podem, e devem, ser de novo reutilizados pela empresa de origem. A reutilização permite reduzir a poluição, pois

estamos a valorizar o reagente que ao ser reutilizado impede a compra de um novo, ou seja, o resíduo depois de

ser tratado volta à sua forma original permitindo a sua reutilização.

Reciclar – a empresa de tratamento de resíduos pode recuperar os mesmos, convertendo-os noutra substância que

pode ser utilizada como matéria-prima noutro processo. Na realidade só para a reciclagem é que existem políticas

concretas, planos e incentivos.

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132 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

c) Eco empresas – ao criarem-se estas eco empresas estamos a estimular o crescimento de empresas

cuja função principal é o desenvolvimento de atividades ligadas à proteção ambiental. As eco empresas fazem

parte das eco indústrias que abrangem atividades como a reciclagem e respetiva comercialização, a gestão, o

tratamento de resíduos e a limpeza pública, o aproveitamento de energias renováveis, o tratamento de águas e

o controlo da poluição do ar.

d) Agricultura biológica – fomento da agricultura amiga do ambiente. Neste tipo de agricultura

preferem-se recursos renováveis e reciclados, devolvendo-se aos solos os nutrientes presentes nos resíduos.

Aqui respeitam-se os mecanismos ambientais de controlo de pragas e de doenças, na produção vegetal e na

criação de animais, onde são evitados os usos de pesticidas sintéticos, os herbicidas, os fertilizantes químicos,

as hormonas de crescimento, os antibióticos e as manipulações genéticas. Para isso os agricultores utilizam na

sua produção biológica diferentes técnicas que contribuem para o equilíbrio dos ecossistemas e para a redução

da poluição. Mas porque é tão relevante a aposta e consumo na agricultura biológica? Estudos toxicológicos

efetuados revelam que existe uma relação entre alguns pesticidas e certas patologias clínicas como o cancro, as

alergias e a asma, pelo que os produtos biológicos, apesar de mais caros, funcionam como uma garantia de saúde.

Tarefa 13:

1. Comente: “A atividade humana está a provocar alterações atmosféricas a um ritmo sem precedentes

devido ao aumento da poluição.”

2. Quais os principais problemas ambientais com que as sociedades modernas se deparam?

3. De que forma é que o moderno crescimento económico conduziu à degradação do ambiente?

4. Como é que a inovação tecnológica pode atenuar os problemas ambientais? Dê exemplos.

5. Enuncie as medidas que podem ser adotadas no sentido da promoção da eco cidadania.

O Funcionamento da Economia e os Problemas Ecológicos

Na prática, a produção alimentar aumenta todos os anos em consequência do crescimento da população mundial e para a satisfazer são praticados regimes de agricultura intensiva. Mas o aumento das áreas cultivadas tem reflexos negativos no ambiente acelerando o esgotamento dos solos e a desflorestação.

O impacto ambiental do crescimento económico tem-se refletido de modo diferente de acordo com o desenvolvimento económico do país. Os países industrializados, detentores de novas tecnologias, podem desacelerar o consumo de recursos escassos e reduzir os níveis de poluição, ou seja, atenuar os efeitos da industrialização utilizando novos materiais e energias alternativas. A aposta na investigação e uso de novos materiais e fontes de energia revelam uma atitude ecológica por parte destes países.

Os países em desenvolvimento têm indústrias que se apoiam em recursos naturais e que são altamente poluentes. Nestes, os impactos ambientais são mais violentos devido à incapacidade tecnológica dos mesmos para fazer face à adversidade.

A não contabilização dos custos da poluição no cálculo dos custos de produção reflete a irresponsabilidade de quem tem de definir políticas ambientais e económicas a seguir (governos e instituições internacionais) em cada país, com um prejuízo óbvio para as gerações futuras.

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O desenvolvimento e a utilização dos recursos | 133

Três doenças que ameaçam a saúde do planeta Terra

Poluição Esgotamento dos recursos Pobreza

Economias desenvolvidas

Gases de estufaUso de matérias tóxicasContaminação

Escassez de materiaisReutilização e reciclagem insuficientes

Desemprego urbano e de minorias

Economias emergentes

Emissões industriaisContaminação águasParco tratamento de esgotos

Sobre exploração de recursos renováveisUso excessivo de água para irrigação

Migração para as cidadesFalta de trabalhadores qualificadosDesigualdades de rendimento

Economias de sobrevivência

Combustão de estrume e madeiraFalta de infra-estruturas sanitáriasDestruição do ecossistema devido ao desenvolvimento

DesflorestaçãoSobre pastagemPerdas de solos devido à poluição

Crescimento populacionalBaixo estatuto da mulherDeslocação

De uma forma geral quase todos os países industrializados debatem-se com um conjunto de fenómenos de degradação ambiental resultantes do aumento da poluição, como a contaminação das águas e esgotamento dos lençóis freáticos, a saturação dos solos por uso excessivo de fertilizantes e pesticidas, a urbanização intensa de regiões ecologicamente frágeis como as zonas costeiras, as chuvas ácidas e a produção de resíduos nocivos e correspondente lançamento para o solo, ar e água.

Já nos países em desenvolvimento a degradação do ambiente generaliza-se atingindo dimensões consideráveis como a desertificação, a desflorestação, as práticas agrícolas que esgotam os solos, a pesca e caça excessivas que diminuem reservas e por vezes leva à extinção de espécies, a erosão e salinização dos solos, as inundações, as urbanizações selvagens das áreas periféricas das megacidades envolvidas por uma atmosfera irrespirável constituída por dióxido de enxofre, monóxido de carbono e dióxido de azoto, causadores de doenças respiratórias, cardíacas, cerebrais e depressivas.

A consciência desta globalização dos fenómenos é fundamental. O perigo da ruptura definitiva dos equilíbrios bioclimáticos é real. Os problemas globais que perturbam o planeta Terra mostram-nos a precariedade desses equilíbrios, pela complexidade e generalização dos fenómenos que hoje nos afetam (efeito de estufa, contaminação da cadeia alimentar, redução da biodiversidade, redução da camada de ozono).

Efeito de estufa

Há mais de 100 anos que os cientistas descobriram que o dióxido de carbono capta o calor e aumenta a temperatura da Terra, como um cobertor ou melhor como uma estufa que deixa a energia do sol entrar mas a impede de sair. Este é um fenómeno natural benéfico que aquece a Terra e a torna habitável.

Todavia um aquecimento excessivo, causado pela produção humana de dióxido de carbono devido à combustão dos combustíveis fósseis e à desflorestação, pode provocar uma alteração climática global. Nos últimos 30 anos descobriu-se que outros gases de estufa emitidos pela atividade humana também estão a aumentar na atmosfera, tais como o metano, o óxido nítrico e alguns clorofluorcarbonetos que ameaçam a camada de ozono.

Mas a população mundial continua a crescer, a expansão industrial só agora se verifica em muitos países, os oceanos e as plantas têm uma capacidade reduzida de absorção de toda a quantidade de CO2 lançada para a atmosfera e a contribuição crescente dos países em desenvolvimento para a poluição, são perspectivas futuras pouco animadoras. As consequências deste efeito de estufa são múltiplas: aumento do nível médio das águas do mar, a desertificação, frequência das catástrofes naturais e as alterações dos ciclos hidrológicos (aumentos e diminuições das distribuições e frequências das chuvas).

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134 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

Redução da camada de ozono

A camada de ozono corresponde a um filtro frágil, com espessura reduzida mas vital à vida no nosso planeta pois é ela que impede que as radiações ultravioletas atinjam a superfície terrestre. Os cientistas têm mostrado que existe uma relação entre a redução desta camada, o aparecimento de “buracos” e o aumento da concentração atmosférica de compostos de cloro e fluor artificiais, constituintes de um produto químico conhecido por clorofluorcarboneto (CFC’s).

Os CFC’s são habitualmente usados nos frigoríficos e nos sistemas de ar condicionado, bem como em muitos produtos com gases de propulsão (sprays). O aumento do uso deste tipo de produtos faz aumentar a possibilidade dos raios ultra violetas chegarem à superfície terrestre responsável por vários problemas: aumento do cancro de pele, aumento dos problemas oftalmológicos, a destruição do plâncton dos oceanos e a rutura das cadeias alimentares.

Aumento das chuvas ácidas

A chuva ácida é a deposição húmida de poluentes atmosféricos em especial derivados do dióxido de enxofre (SO2) e óxidos de azoto (NO2), que se dissolvem nas nuvens e gotas de chuva, formando ácido sulfúrico (H2SO4) e ácido nítrico (HNO3). Os níveis de acidez da chuva e da neve indicam que em muitas partes do mundo a precipitação atmosférica passou a uma solução diluída de ácido nítrico e sulfúrico extremamente corrosiva e poluente. O

efeito destas chuvas ácidas fazem-se sentir nas florestas, nos solos, na agricultura, nos ecossistemas aquáticos e

nos edifícios e monumentos. Também uma vez contaminados os solos perdem nutrientes, diminuindo a sua vida

biológica, conduzindo à infertilidade e à redução das áreas cultiváveis. Já os cursos de água e os lagos tornam-

se tão ácidos, devido ao escoamento das chuvas ácidas e à poluição causada por resíduos tóxicos, que muitas

populações aquáticas estão a ser dizimadas.

Desflorestação

A cobertura vegetal exerce, de acordo com cada ecossistema, uma função importante, sobretudo em florestas. Para além de representarem um recurso potencialmente renovável, as florestas exercem funções vitais no planeta: geram e protegem os solos, atenuando os efeitos corrosivos das chuvas, fixando os solos; moderam o clima; armazenam CO2 e libertam O2; reduzem os riscos e as consequências das inundações; armazenam água; abrigam a grande maioria das espécies terrestres.

Apesar dos esforços de reflorestação, a manterem-se os elevados índices de desflorestação da atualidade as grandes florestas vão desaparecer no espaço de 100 anos. Como causas da desflorestação podemos apontar a construção de eixos rodoviários, as facilidades na obtenção de direitos de posse da terra, os ganhos especulativos com a aquisição de terras, produção industrial dependente dos produtos da madeira, necessidade de terrenos para a criação de gado, produção de carvão usado como combustível e para fundição de ferro e os incentivos financeiros vindos do governo para estimular a colonização e o desenvolvimento rural (nomeadamente no Brasil – floresta amazónica).

Já os efeitos nefastos da desflorestação são diversos: reduz o reservatório de carbono armazenado na biomassa; contribui para reforçar o efeito de estufa; empobrece a biodiversidade; quebra as cadeias alimentares; os solos ficam desprotegidos; acelera a intrusão do deserto (os solos da floresta tropical húmida são frágeis tornando--se rapidamente improdutivos); altera o ciclo hidrológico e o regime de precipitações pois uma grande parte do vapor de água existente na atmosfera resulta da evapotranspiração das florestas; e ameaça a sobrevivência de povos nativos (os da floresta amazónica, por exemplo).

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O desenvolvimento e a utilização dos recursos | 135

Esgotamento dos solos

O solo é uma camada fina de terra móvel que cobre grande parte dos continentes, sendo uma película frágil da qual depende a produção alimentar que sustenta os seres vivos. Estima-se que como resultado das atividades humanas, 10% da superfície terrestre tenha sido transformada de floresta e solo fértil em deserto.

Vastas áreas do globo estão ameaçadas pela erosão à medida que a exploração agrícola, a exaustão das fontes de irrigação e a desflorestação aumentam, na proporção da explosão demográfica e dos imperativos de crescimento decorrentes.

Tipos de degradação

Erosão hídrica Terrenos estáveis

Desertos inúteisCopos d’água

Erosão eólica

Deterioração química

Deterioração física

Degradação severa

Como consequência do processo de industrialização e de exploração dos solos dá-se a acumulação nos solos de metais pesados, de pesticidas, de materiais orgânicos tóxicos e de elementos radioativos que contaminam a cadeia alimentar e reduzem a fertilidade.

A pressão da produção de alimentos através de uma agricultura de subsistência ou comercial, do tipo monocultura e extensiva e da agro-pecuária, em terras pouco férteis e semiáridas, acelera o processo de desertificação e a expansão dos desertos. A desflorestação de vastas regiões tropicais pôs a nú os solos já de si frágeis, tornando-os facilmente erodidos pelos agentes atmosféricos.

A degradação da qualidade da água

A água representa um recurso essencial à vida dos seres vivos, mas a sua degradação e escassez traz efeitos desvastadores sobre a fauna, a flora e a saúde humana. Aparentemente ilimitada, a utilização excessiva, as irregularidades na sua distribuição espacial e a poluição estão a provocar danos irreparáveis em muitos locais do planeta. A maior parte das sociedades com recursos limitados de água, ricas e pobres, cedem à tentação de gastar de forma insustentável as suas reservas de lençóis de água.

little or no water scarcity

Not a drop to drink

not estimatedphysical and enconomic ater scarcity/ approching scarcity

O desenvolvimento de um país está condicionado pela disponibilidade de recursos hídricos pois a água constitui uma importante fonte de energia, sendo essencial ao funcionamento da atividade económica (agricultura, comércio, transportes e indústria) e da atividade doméstica. Por si só a água constitui um fator de progresso e de desenvolvimento.

À medida que a indústria e a agricultura se foram desenvolvendo e a população cresceu, o consumo de água aumentou. Neste processo foram descuradas as limitações

dos recursos de água, onde se acreditou sempre na capacidade ilimitada do ciclo hidrológico de a renovar, mas a poluição tem afetado este ciclo (quer em oceanos, rios ou na própria atmosfera).

O aumento da poluição conjugado com a intensificação da pesca também está a pôr em risco os ecossistemas marinhos e como consequência a indústria das pescas e a alimentação humana.

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136 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

> 96%60% - 95%< 60%Sem dados

Desigualdade no acesso da população à água potável De facto, a interferência nos ciclos da água já chegou a níveis nunca antes atingidos, onde verificamos enormes barragens a reterem parte dos caudais dos rios. Por esse facto também se assiste a tensões regionais entre países pelo controlo e gestão das águas. Por isso podemos afirmar que a água corre o risco de se tornar o petróleo do século XXI.

A diminuição da biodiversidadeA diversidade biológica designa a variabilidade dos organismos vivos nas suas relações com o meio onde vivem, mas admite-se que esta mesma variabilidade diminua devido à destruição progressiva dos meios onde habitam esses organismos: oceanos e mares, florestas, regiões costeiras, etc.

As principais causas que têm sido apontadas para a degradação dos ecossistemas naturais são várias, representando verdadeiros atentados contra a biodiversidade. Exemplos são: a desflorestação da floresta tropical onde vivem cerca de 2/3 das espécies de fauna e flora do mundo, a pressão agrícola com a criação de ecossistemas artificiais protegidos dos seres não desejados, a caça não regulamentada que tem dizimado espécies, e a poluição da água, do ar e do solo.

É necessário termos consciência de que os ecossistemas funcionam e têm vitalidade com base numa cadeia de interações que se interrompida colocam em causa o seu equilíbrio natural. Todavia, têm-se vindo a desenvolver esforços no sentido de proteger os habitats mais significativos. Exemplos reais são os da criação de reservas biológicas, parques e áreas de proteção ambiental.

O desenvolvimento é fundamental em qualquer sociedade, mas para que a mesma se desenvolva é necessário criar algumas condições no âmbito dos serviços de saúde e educação qualificados, criar meios de subsistência suficientes, permitir o acesso a informação fiável e credível, bem como criar as condições necessárias para que se viva num ambiente saudável. Assim, podemos qualificar o desenvolvimento como um direito que homens e mulheres devem exigir não só para si no presente como para as

gerações vindouras. Falamos assim de desenvolvimento sustentável.

Logo, o desenvolvimento deve ser promovido preservando o ambiente e os recursos naturais que estão ao dispor do Homem, apesar de termos consciência de que o crescimento económico afeta a Natureza. Assim, a aposta deve passar pela criação de um modelo de crescimento mais próximo da sociedade e do meio ambiente que inclua os custos ambientais no processo de crescimento, pois são os nossos filhos, netos, bisnetos, etc., que

vão herdar esse mesmo crescimento.

A Economia caminhar a par da ecologia!

Crescer de forma sustentável

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O desenvolvimento e a utilização dos recursos | 137

Intimamente ligado ao conceito de desenvolvimento sustentável está o conceito de sustentabilidade que defende a interligação das vertentes ecológicas, económica, social e a boa governação para a prosperidade das gerações futuras. Note-se também que as ações dos agentes económicos já não terão somente impacto a nível local ou regional, pois a sua dimensão é cada vez mais globalizada (efeito de estufa, aquecimento global).

Para a promoção de um desenvolvimento sustentável, todos os agentes económicos devem desempenhar o seu papel de forma conveniente. Assim, os projetos que interagem com a natureza deverão sempre respeitar a sua integridade, pois é preferível fazer constar os mecanismos de proteção ambiental na elaboração de projetos do que ter de tratar dos mesmos quando os empreendimentos já estiverem em curso.

Em nome da nossa economia e da nossa própria vida não deveremos abrir mão da necessidade e do direito inalianável que temos aos recursos da natureza, sobretudo quando sabemos que existem meios disponíveis para a proteção ambiental, como a reciclagem. Por exemplo, os nossos rios poderiam estar na sua condição original de limpidez e habitat de espécies fluviais se não fossem depositados detritos nos mesmos das mais diversas características, lançados por certas pessoas inescrupulosas e indústrias irresponsáveis.

Assim, economia e ecologia precisam de andar de mãos dadas, sendo somente necessário aplicar uma dose de bom senso e de sabedoria de modo a utilizar os recursos de forma preservacionista, sem causar impacto nas espécies, o que dá trabalho mas compensa. Mas para que isto seja uma realidade é necessária a formação humana através da educação, para fornecer ao Homem os princípios éticos básicos das relações com os seus semelhantes e com a natureza, de forma a garantir os meios adequados ao desenvolvimento natural da vida em todas as suas manifestações.

Como há uma crescente globalização dos problemas ambientais é necessário responder aos mesmos a uma escala semelhante, o que tem ocorrido pelo crescente número de estabelecimento e cumprimento de acordos à escala internacional. Dois dos exemplos de documentos que defendem o desenvolvimento sustentável são os que te apresentamos de seguida.

Agenda XXI: é um documento que contém um plano de ação para o desenvolvimento susten-tável do século XXI. Estabelece a importância de cada país a se comprometer a refletir, global e localmente, sobre a forma pela qual governos, empresas, organizações não-governamentais e todos os setores da sociedade poderiam coo-perar no estudo de soluções para os problemas sócio - ambientais. Neste sentido, cada país de-senvolve a sua própria Agenda 21.

Protocolo de Quioto: é um importante instrumen-to na luta contra o aquecimento global ao impor metas precisas aos países (principalmente aos pa-íses desenvolvidos) para a redução da emissão de gases com efeito de estufa.

Em 1997, várias nações do Mundo estiveram reunidas em Kyoto, no Japão, para debater o aquecimento global e discutir as medidas a adoptar. Neste sentido, foi elaborado um protocolo onde se propõe um calendário pelo qual os países desenvolvidos têm a obrigação de reduzir a emissão de gases com efeito de estufa pelo menos em 5,2%, relativamente aos valores de 1990, entre 2008 e 2012. O protocolo leva os países que o ratificaram a cooperar entre si através de algumas ações básicas como a reformulação dos setores da energia e dos transportes, na promoção do uso de fontes energéticas renováveis, na eliminação de mecanismos financeiros e de mercado inconsistentes com as finalidade da Convenção, a limitação das emissões de metano na gestão de resíduos e dos sistemas energéticos, bem como na proteção das florestas. Todavia, o protocolo foi adiado durante vários anos perante o recuo dos EUA que se recusou a assinar o mesmo alegando que a economia americana sofreria danos consideráveis com a sua ratificação. Só em 2005 é que o mesmo entrou em vigor, quando a Rússia (outro

grande poluidor) decidiu aderir.

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138 | Crescimento, Desenvolvimento e Flutuações da Atividade Económica

Gerações

É de referir que o conceito de desenvolvimento sustentável assenta no diálogo geracional, intra e intergeracional, pois é necessário que dentro de cada geração se possa garantir a todos a satisfação das suas necessidades básicas e as mesmas oportunidades para que consigam alcançar uma vida melhor, hoje e no futuro. Ou seja, um desenvolvimento sustentável implica esforços para estabelecer a equidade entre gerações e dentro de cada geração.

A satisfação das necessidades básicas e secundárias são a aspiração do desenvolvimento, mas nos países em desenvolvimento, algumas das necessidades básicas de alimentação, vestuário, emprego e saúde continuam a não ser alcançadas. Num Mundo onde a pobreza e as desigualdades persistem, estaremos sempre a ser confrontados com crises ecológicas ou outras.

Para colocar em funcionamento a estratégia de solidariedade entre gerações, de forma a não esgotar o planeta e a garantir que as gerações futuras tenham o mesmo tipo de oportunidades que as atuais, foram

definidos princípios básicos de comportamento que devem de ser seguidos: prevenção, precaução, poluidor-pagador, cooperação, integridade ecológica, melhoria contínua, equidade intra e inter-gerações, integração, democracia, subsidariedade, envolvimento da comunidade e responsabilização.

O desenvolvimento sustentável apoia-se em três motores interrelacionados: sociedade, meio-ambiente e economia. E é importante ter em mente que não haverá crescimento económico no longo prazo se não existir progresso social e sem proteção ambiental, nem a sustentação conveniente de programas sociais e ambientais corporativos se não houver equilíbrio económico por parte das empresas.

Os países industrializados são responsáveis por uma grande parte da poluição do nosso planeta, pelas agressões ambientais e pelo uso intensivo dos recursos como os solos, mas também pelo uso intensivo de pesticidas, herbicidas e fertilizantes, que conduzem ao esgotamento irreparável do solo arável. Só que as populações dos países pobres também acabam por destruir o ambiente na luta pela sua sobrevivência ao derrubarem florestas, na destruição dos solos, na extinção de espécies e na poluição das águas, acabando por agravar ainda mais a situação de pobreza em que vivemos.

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O desenvolvimento e a utilização dos recursos | 139

Tarefa 14:

1. De que forma a atividade humana prejudica os ecossistemas?

2. Identifique os problemas ambientais globais que afetam a humanidade.

3. Comente: “Para crescermos de forma sustentável, a Economia tem de caminhar a par da Ecologia.”

4. Em que motores se apoia o desenvolvimento sustentável?

5. Atendendo ao documento “Responsabilidade Comum”, indique que países (desenvolvidos ou em desenvolvimento) são mais responsáveis pela degradação ambiental.

Responsabilidade ComumAssegurar a sustentabilidade ambiental – o sétimo Objectivo de Desenvolvimento do Milénio – exige que se alcancem padrões de desenvolvimento sustentável e a preservação da capacidade produtiva dos ecossistemas naturais para futuras gerações. Ambos os esforços exigem várias políticas, para inverter os danos ambientais e melhorar e gestão dos ecossistemas. O desafio tem duas dimensões: tratar a escassez de recursos naturais para as pessoas pobres do mundo e inverter os danos ambientais resultantes do elevado consumo das pessoas ricas. Muitos problemas ambientais decorrem dos padrões de produção e consumo das pessoas que não são pobres, particularmente nos países ricos. Os países ricos consomem muitos combustíveis fósseis e esgotam muito dos pesqueiros do mundo, danificando o ambiente global. Também utilizam muitas madeiras e produtos tropicais de espécies em perigo. Para assegurar a sustentabilidade da Terra e dos seus recursos, incluindo as perspectivas de desenvolvimento dos países pobres, estes padrões prejudiciais de produção e consumo têm de mudar. Os sistemas energéticos terão de gerar emissões de gás de estufa muito mais baixas. As pescas terão de ser geridas com base em limites ecológicos e não numa competição sem regras, altamente subsidiada. (…)

PNUD, 2003

Page 142: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

O b j e t i v O s

- Contextualizar a história da mundialização- Identificar as etapas históricas da mundialização- Referir os fatores de base à aceleração da mundialização- Definir e relacionar mundialização e globalização- Distinguir fluxos de capitais- Identificar os diferentes movimentos de pessoas- Distinguir países desenvolvidos de países em desenvolvimento- Explicar a necessidade de financiamento dos países em desenvolvimento- Identificar as causas do sobre endividamento dos países em desenvolvimento- Definir e caracterizar as diferentes formas de integração- Explicar o conceito de barreiras não tarifárias

Page 143: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Unidade Temática 9 O Contexto Internacional da Economia

Subtema 1 – A Globalização e a Regionalização Económica do Mundo

Page 144: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

142

Unidade Temática 9 | O Contexto Internacional da Economia

1 A GLOBALIZAÇÃO E A REGIONALIZAÇÃO ECONÓMICA DO MUNDO

1.1 A Mundialização Económica

Provavelmente já todos ouvimos falar, em algum meio de comunicação social, da expressão mundialização ou

globalização. Apesar de ser um termo muito utilizado nos dias que correm, este é um processo antigo que remonta

à idade média, com o mercado mundial de especiarias. Outros exemplos emergem na história tais como o mercado

dos metais preciosos (Descobrimentos) no século XVI, o dos tecidos da Índia no século XVIII e o mercado da

escravatura entre a Europa, a África e as Américas. Mas só entre 1880 e 1914 é que a mundialização se intensificou.

Nessa altura o Reino Unido que ao momento era o país mais avançado em termos tecnológicos começou a

“conquistar” o mundo através do povoamento das suas colónias, da extração de recursos e da garantia de

mercados consumidores para a sua produção. Com o apoio da revolução dos transportes as trocas comerciais

aumentaram, especialmente entre as metrópoles e as colónias. Já durante os anos 40 do século XX, e com a

elevação dos EUA na comunidade internacional, ocorreu uma nova vaga de mundialização, com a Europa a

perder influência a nível mundial, e os capitais e empresas americanas a dominar o comércio externo e a liderar

os investimentos diretos estrangeiros.

Com os avanços tecnológicos dos últimos 30 anos do século XX ocorreu uma maior liberalização do comércio

externo e a proliferação ocorrida ao nível dos transportes permitiu a integração de novas economias no comércio

mundial. Com o investimento direto estrangeiro a crescer, à hegemonia dos Estados Unidos juntam-se a Europa

e o Japão, grupos económicos que também começavam nessa altura a afirmar-se no mercado de criação de

empresas multinacionais.

Com a mundialização favoreceu-se também a desregulação e a ligação em rede dos mercados financeiros, que

facilitam as grandes transferências de capital entre polos económicos e países, favorecidos também pelo progresso

tecnológico como a internet. Como os fluxos de capitais são acompanhados de movimentos especulativos, acabam

por exercer pressão para alterações ao nível das taxas de câmbio e nas regras de funcionamento das bolsas financeiras.

Ou seja, a mundialização permite uma nova forma de capitalismo que foi criada pela abertura de fronteiras.

Conceito e história da Mundialização Económica

Tal como pudemos constatar, a mundialização já é um processo de longos anos e permanecerá no futuro, mas

assume hoje em dia formas diferentes das que assumiu no passado. Podemos definir a mundialização como

a representação da intensificação das relações económicas à escala mundial compreendendo o conjunto das

trocas que se realizam neste espaço. Como compreende o conjunto das trocas entre as diferentes partes do

globo, a mundialização faz do espaço mundial o lugar das trocas da humanidade.

Assim, a mundialização define-se como um processo em constante construção com a progressiva intensificação das

relações comerciais e em novas formas de organização do produto. E apesar de ter origem no passado, a mesma

tem vindo a assumir novas características com a sua reconstrução e inovação constantes, estando associada ao

capitalismo, ao mercado, ao neoliberalismo e aos sistemas tecnológicos também estes em constante mutação.

A Mundialização económica representa então a busca incessante de melhor produtividade dos fatores de produção,

de melhores condições sociais, culturais e politicas a nível mundial. É uma realidade abrangente pois representa

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A globalização e a regionalização económica do mundo | 143

uma realidade com uma forte componente de trocas, ultrapassa regimes e ideologias e traduz a busca constante de

melhores desempenhos económicos (maior produtividade, crescimento do PIB e a mobilidade de capitais).

Mas a mundialização não traz só vantagens. Procura-se com esta homogeneizar as áreas de produção e da

cultura, mas coloca também em evidência a diferença que se traduz no acentuar das desigualdades ao nível da

repartição de rendimentos. Apesar de a mundialização contribuir para o aparecimento de grupos de excluídos,

sejam países ou grupos sociais, ao mesmo tempo retirou alguns grupos e países da miséria. Será então a

mundialização benéfica?

Podemos afirmar que sim pois permite a integração de várias

partes do mundo sob efeito da aceleração das trocas, do

desenvolvimento de novas técnicas de informação e comunicação

e dos meios de transporte, mas também por traduzir várias

mudanças como as inovações, as destruições, as criações e as

aculturações despoletadas pelas trocas generalizadas e hoje em

dia mais facilitadas. Então, a mundialização provoca transformações

na realidade social relacionadas com alterações ao nível das

estruturas e dos relacionamentos sociais e da cultura, que também

causam impacto nos comportamentos, atitudes e valores.

“Toda a mudança social é uma mudança cultural.”

Tal como referimos anteriormente, a mundialização tem passado por várias etapas ao longo dos anos. A

economia de mercado tal como a conhecemos atualmente construiu-se lentamente tendo sentido o primeiro

grande impulso com a época dos descobrimentos. Como houve uma contínua penetração e por vezes abrupta

ocupação dos continentes africano, asiático e americano, acabaram por se provocar transformações na forma de

organização política e económica desses territórios.

O fenómeno da europeização corresponde à influência da Europa no Mundo que se deu logo a seguir à época

dos descobrimentos. Esta primeira Europeização do Mundo corresponde ao período da colonização europeia

dos territórios ocupados, que impuseram a cultura europeia e destruíram, por vezes, as culturas autóctones

(as que já existiam). Muitas rotas importantes de comércio como a da seda foram destruídas, tendo surgido

novas (especiarias e escravos) inicialmente dominadas por portugueses e espanhóis e depois por holandeses e

ingleses. A primeira Revolução Industrial foi extremamente importante para a crescente projeção económica e

política da Europa no Mundo: a Europa era assim a primeira potência dominante no Mundo.

A primeira Revolução Industrial (RI), cuja potência dominante foi o Reino Unido,

entre 1760 e 1875, é um exemplo do crescimento económico. Esta RI conduziu à

introdução de alterações significativas em bens, processos, e modelos organizativos

no posicionamento das empresas e dos países em termos competitivos. Nesta

fase, houve inovação tecnológica usando-se energias provenientes do carvão e do

vapor, e introduziu-se a máquina a vapor e o tear mecânico. O uso destas novas

fontes de energia permitiu criar a rede de caminhos-de-ferro, facilitando a

deslocação de pessoas, mercadorias e a comunicação (telégrafo).

Page 146: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

144 | O Contexto Internacional da Economia

Estas novas introduções permitiram ganhos em termos de produtividade e a redução de custos de produção

tornando os produtos mais baratos. Se juntarmos a isto ao maior poder de compra que ocorreu nesta altura

percebemos porque é que houve uma generalização no consumo. Também nesta fase se promoveu o espírito

empreendedor do empresário que permitiu o uso de diferentes recursos e a aplicação de novas técnicas,

que consequentemente permitiram aumentar os lucros, expandir os processos de inovação tecnológica e

proporcionaram um longo período de crescimento económico.

As políticas livre cambistas, com a abertura das economias ao exterior, proporcionaram a interdependência entre

economias e a estimulação das trocas. Nos pagamentos internacionais utilizavam-se as reservas constituídas

em ouro, que garantiu a estabilidade do sistema de pagamentos internos e externos, uma vez que, ao pagar

ao exterior, o país, reduzia as reservas e a moeda em circulação, obrigando os preços a diminuir e obrigou

as economias a melhorar a competitividade externa para manter um volume de exportações suficiente que

garantisse a continuidade em termos de obtenção de divisas em ouro. Logo, a primeira RI permitiu o crescimento

da produção e a melhoria do nível de vida das populações mesmo que de forma frágil.

A acompanhar este crescimento económico tivemos o crescimento populacional. Também se deu uma

concentração urbana, devido às transformações agrícolas ocorridas, que libertaram trabalhadores, e da

mecanização da indústria que exigiu a concentração dos trabalhadores nas metrópoles onde se instalaram.

Cresceram os bairros de trabalhadores e com eles veio a miséria.

EuropaEste processo de industrialização liderado pelo Reino Unido expandiu-se aos

restantes países Europeus, o que obedece a uma relação de proximidade (Bélgica,

França e Alemanha, por ordem) e só depois a outros continentes. Mas, só em 1900

é que a Austrália e os EUA começaram a ter produtos de rendimento per capita

superiores aos do Reino Unido.

A 2ª Revolução Industrial também teve como potência dominante a Europa,

tendo ocorrido de 1887 em diante, com o declínio do capitalismo concorrencial

e individualista e com a afirmação do capitalismo financeiro. Esta ficou marcada

pela utilização da energia proveniente da eletricidade e do petróleo e pela utilização de inovações tecnológicas

como o motor de explosão, o telefone, os corantes sintéticos ou o aço (resultado da ligação da ciência e da

técnica com o laboratório e a fábrica).

A busca empresarial incessante por lucros elevados levou a novas formas de organização empresarial como a

concentração. Mas a competitividade crescente conduziu à realização de investimentos avultados e à redução

de custos. Procedeu-se à organização do processo produtivo e à introdução de novos avanços tecnológicos para

garantir a vantagem via preço (tornou-se necessário produzir em quantidade, qualidade e variedade).

Os mercados começaram a ser dominados por empresas monopolistas e oligopolistas e ao longo dos anos 70 do

século XIX a crise agrícola da Europa (provocada pela concorrência de produtos extra-europeus mais baratos)

levou os agricultores e os industriais a solicitarem o protecionismo do Estado. Assim, na década de 80 do século

XIX, o Reino Unido começou a aplicar restrições à importação de bens alimentares para os países nos quais

sentiam dificuldades de exportação de bens manufaturados e com isso despoletou-se uma guerra comercial.

Também com ideais protecionistas houve outros países que começaram a conceder vantagens fiscais e a reduzir

as tarifas de transporte às empresas exportadoras nacionais, para incentivar a exportação.

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A globalização e a regionalização económica do mundo | 145

Ao longo do século XIX houve uma continuidade no processo de Europeização, quer em termos geopolíticos

quer em termos geoeconómicos, com a intensificação do colonialismo europeu (para garantir o escoamento das

produções e obter recursos a baixo preço, mas também porque se assistiu a uma redução do crescimento do

produto), com a intensificação da divisão internacional do trabalho (os países industrializados eram fornecedores

de capital e conhecimento, sendo as colónias fornecedoras de trabalho sem qualificação; exploração de recursos

como diamantes, açúcar, tabaco e algodão), com o reforço das vagas de emigração e com a entrada de novos

concorrentes no panorama internacional (EUA, Japão, Brasil, etc.).

Estes novos concorrentes, juntamente com o reforço das barreiras aduaneiras, o aumento do nível de preços

e a falta de capitais, acabaram por dificultar a recuperação e o crescimento da economia europeia. Associado

esteve o forte crescimento económico registado pelos EUA, o que conduziu à progressiva perda de capacidade

de liderança por parte da Europa. Em 1919, os EUA tornaram-se a potência mundial. A guerra proporcionou-lhes

a expansão da capacidade de produção, surgindo como fornecedor dos países beligerantes e, no pós-guerra,

como país fornecedor de equipamentos para a recuperação económica do velho continente. Em 1924, os EUA

reforçam o seu crescimento e em 1929 já ocupava a primeira posição na produção de carvão, eletricidade,

petróleo, aço, ferro fundido, metais não ferrosos e fibras têxteis artificiais.

Mas com a Grande Depressão de 1929, os EUA atravessaram uma profunda crise que se estendeu progressivamente

à Europa e que termina logo em meados dos anos 30. Esta depressão deveu-se à quebra das cotações na Bolsa de

Nova Iorque e pelo crescente desequilíbrio entre a produção e o consumo, provocando a redução da produção, o

decréscimo dos preços e o agravamento do desemprego e obrigou o Estado a adotar uma nova forma de conduzir

a política económica e social. Ao reforçar a sua intervenção na Economia, o Estado limitou a influência de algumas

empresas na atividade económica, nacionalizando bancos e algumas indústrias como a da defesa, passando a

fornecer serviços essenciais como a saúde e a educação de forma gratuita e a preços reduzidos à população.

A Aceleração da Mundialização Económica a partir de 1945

A mundialização económica de que temos vindo a falar foi intensificada após a

Segunda Guerra Mundial, com as novas tecnologias e a crescente interdependência

entre os países que permitiram a construção do mercado global tal como o

conhecemos hoje em dia.

No decurso da 2ª Guerra Mundial conseguimos assistir à 3ª Revolução Industrial

com a necessidade de descodificar mensagens enviadas em código pelas partes

envolvidas no conflito e pela necessidade de difundir as mesmas de forma rápida

e eficaz, que levaram ao desenvolvimento informático e à criação do computador. Mas se inicialmente usados por

questões de defesa, rapidamente se expandiram a outras áreas do conhecimento como a medicina, a produção e

os transportes. Hoje em dia já temos os computadores pessoais e portáteis compatíveis com as necessidades de

deslocalização populacional. Com o desenvolvimento informático assistimos aos avanços nas telecomunicações

e no audiovisual, em que a informação ganha uma nova velocidade e torna-se rapidamente ultrapassada.

Estas novas tecnologias da informação e da comunicação (NTIC) permitem à sociedade ter acesso a informação

em tempo real graças à constituição de redes universais e à capacidade de processamento da informação,

Page 148: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

146 | O Contexto Internacional da Economia

afetando todas as áreas do saber como a banca, as finanças, a saúde, a investigação científica e o lazer que são

alterados nos conteúdos e técnicas. Um exemplo desta facilidade são as bolsas de valores onde os investidores

podem avaliar as suas aplicações 24 horas sobre 24 horas, uma vez que as sessões das diferentes bolsas lhes

permitem passar os investimentos de umas praças financeiras para outras durante as 24 horas de um dia,

facilitadas essencialmente pela internet.

Estas NTIC também alteram as formas de gestão das empresas onde assistimos a sistemas de integração horizontal

(a informação e as decisões deixam de estar centralizadas no topo e estendem-se a níveis intermédios). Também

podemos atribuir a estas mudanças a crescente predominância do setor dos serviços na atividade económica.

Durante esta 3ª Revolução Industrial, dominada pelas NTIC, os diferentes produtos comercializados, as tecnologias,

as mercadorias, os serviços e os capitais transpõem com rapidez as fronteiras. As fronteiras físicas reduzem-se e o

espaço de comercialização alarga-se sob a influência da mundialização, da transnacionalização e da globalização.

Agora, são raros os produtos que apresentam uma só nacionalidade, pois a crescente internacionalização permite

que os bens sejam o resultado, na maior parte das vezes, da montagem de componentes fabricadas em diversos

países (dependência económica internacional).

Durante o século XX assistimos ao aparecimento e à multiplicação das multinacionais. De acordo com Nicole

Dubois, as multinacionais são empresas ou grupos de empresas privadas, juridicamente ligadas umas às outras,

exercendo as suas atividades e gerindo os seus bens em Estados diferentes, mas segundo uma estratégia global.

Já para G. Bertin, a empresa multinacional é a empresa ou grupo de empresas cujas atividades se estendem a

vários países e são concebidas, organizadas e dirigidas à escala mundial ou pelo menos plurinacional.

Todas estas vantagens representam para a empresa formas de reduzir custos, melhorar a qualidade do bem

ou lançar novos bens e são indispensáveis para se manterem competitivas nos mercados mundiais. Assim, as

multinacionais contribuem, através da implementação em vários países e da capacidade de exportação, para

a internacionalização e multinacionalização das economias. Para além das multinacionais existem ainda as

transnacionais envolvidas neste processo de mundialização.

Aspetos comuns e característicos das multinacionais: Características principais das empresas transnacionais:

- Implantação em vários países;

- Política global de empresa que permite atuar ao nível mundial independentemente da sua instalação;

- Estratégia global, apesar da dispersão geográfica das filiais, formando um todo coerente e prosseguindo objetivos comuns e globais da multinacional;

- Reproduzem o modelo de bem adotado no país de origem produzindo o mesmo bem mundialmente;

- Localizam as diversas operações (pesquisa e desenvolvimento, conceção do produto, produção, marketing e vendas) em diferentes territórios;

- Procuram localizar cada função no local onde a vantagem comparativa é maior (dispersão geográfica das empresas e fragmentação dos processos produtivos);

- Tiram partido das economias de escala (ao terem vantagens comparativas decorrentes da diferença salarial, da estrutura cada vez mais oligopolista do comércio mundial; da utilização de acesso direto às matérias-primas ou bens primários) ao produzirem para o mercado mundial.

- Dispersão geográfica;

- Capacidade de organizar atividades complexas numa escala multinacional;

- Organiza-se tendo por base a concorrência mundial e a liberdade de mover os recursos;

- Em defesa dos seus interesses (mercados abastecedores e mercados consumidores), deslocam de uns países para os outros as filiais, mesmo contra os interesses dos Estados onde, até então, estavam instaladas;

- Poder económico, financeiro e tecnológico significativo;

- Elevada capacidade de obtenção de economias de escala e de desenvolver inovações;

- Implementação em múltiplos Estados permite-lhes sobrepor-se aos Estados nacionais na otimização dos recursos e na redução dos riscos.

Page 149: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

A globalização e a regionalização económica do mundo | 147

Podemos definir empresas transnacionais como entidades jurídicas, económicas e técnicas complexas, cujas

sociedades têm um volume de negócios mínimo de 500 milhares de milhões de dólares, realizando mais de 25%

da produção e das trocas por filiais implantadas, no mínimo, em 6 países (Organização para as Nações Unidas).

Todavia, o grau de transnacionalização das firmas depende do setor determinante da atividade principal da

empresa. Enquanto as indústrias químicas e farmacêuticas desenvolvem-se em mercados fortemente dependentes

e interdependentes (oligopolistas à escala mundial), a implementação de empresas transnacionais no mercado dos

serviços públicos é menor devido às regulamentações e proteções ainda existentes em alguns países.

Podemos afirmar que a aceleração da mundialização depois de 1945 se deveu aos avanços tecnológicos, à

reconstrução europeia e japonesa no pós-2ª Guerra Mundial, às tentativas de liberalização das trocas ao nível

mundial, bem como à integração regional e mundial. Assim também surgem dois blocos de liderança: América e

União Soviética (países socialistas e capitalistas).

Estados Unidos da América

Com o término da 2ª Guerra, a Europa e o Japão foram confrontados com a

destruição maciça tanto de infra-estruturas sociais como económicas. Era

necessário começar a reconstruir tudo mas para isso precisavam de recursos,

bens, matérias-primas e capitais. No entanto, os EUA que aproveitaram para

acelerar o crescimento económico nesta altura, eram os únicos capazes de

conceder o apoio que os países destruídos pela guerra tanto precisavam. Através

do Plano Marshall, os EUA ajudaram a Europa ocidental e o Japão, tornando-se a

economia americana a principal participante no comércio mundial de mercadorias

e de capitais, onde paralelamente, reforçou a sua esfera de influência no mundo, ao garantir importantes apoios e

posições estratégicas político-militares.

Em 1945, a Europa Ocidental perde a liderança no comércio, no investimento mundial e na capacidade de

inovação. Entre 1945 e 1989, a liderança era partilhada entre os EUA e a URSS, mas, a partir de 1989, com a

queda do muro de Berlim e o desmembramento da URSS, os EUA tornam-se a primeira potência económica e

militar do mundo. Logo, foi com a 3ª RI que os EUA se afirmaram enquanto potência mundial e passamos a ter

o dólar como moeda mundial. Simultaneamente, um novo mapa político emerge na Europa, em que os novos

Estados, com maior ou menor custo, passam de economias de direção central para economias de mercado e

alguns deles passam, a partir de 2004, a ser membros da União Europeia. A Estónia, a Lituânia e a Letónia, por

exemplo, antigos territórios da URSS, são hoje membros da União Europeia.

Com o fim da 2ª Guerra Mundial foi necessário criar mecanismos de regulação dos mercados cada vez mais

globais para evitar o protecionismo e criar linhas de orientação gerais para o comércio mundial. Com este intuito,

em 1947 foi criado o Acordo Geral sobre Tarifas e Comercio (GATT) que criou um código de boa conduta para

o comércio internacional. A 14 de Abril de 1994, foi substituído pela Organização Mundial de Comércio (OMC).

A OMC era mais eficaz que o GATT, possuindo mecanismos punitivos para os países infratores dos acordos e

intervém em diversas áreas do comércio mundial (tecnologias da informação, agricultura, serviços, direitos de

propriedade intelectual, etc.). A OMC promove a liberalização do comércio essencialmente pela redução de

direitos aduaneiros, tentando simultaneamente salvaguardar os interesses comuns entre países com graus de

desenvolvimento diferentes.

Page 150: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

148 | O Contexto Internacional da Economia

Alguns dos países desenvolvidos integram atualmente o grupo dos países fornecedores de trabalho qualificado,

deixando para trás o período de meros fornecedores de mão-de-obra não qualificada e de matérias-primas e

produtos agrícolas não transformados. Países como a Coreia do Sul, Taiwan, Singapura, a China, o Brasil e a

Índia têm vindo progressivamente a aumentar a sua participação no comércio de mercadorias de elevado valor

acrescentado e incorporação tecnológica. A mundialização acelerada contribui para o rápido crescimento do

comércio de mercadorias e de serviços.

A integração económica intensificou-se nos anos 80 do século XX, processo baseado em políticas económicas

e culturais despoletados por alianças económicas e avanços tecnológicos. Mas a geografia pode ser um

obstáculo à mesma. Todavia, esta integração pode ocorrer quer a nível mundial como regional. A integração

económica regional envolve aspetos comerciais, financeiros, monetários, políticos e culturais, que corresponde

ao desenvolvimento solidário entre Estados aproximando os níveis de vida, as orientações e os interesses. A

regionalização pode ocorrer por acordos múltiplos (exemplo: GATT/OMC) ou organizações económicas baseadas

em formas diferentes de integração como zonas de comércio livre, uniões aduaneiras, mercado comum, etc.

Por todo o mundo encontramos inúmeros exemplos de regionalização criados por organizações económicas

como a EFTA (Associação Europeia do Comércio Livre; criada em 1959), a ASEAN (Associação das Nações do

Sudeste Asiático; criada em 1967), a AFTA (Associação do Comércio Livre da Ásia), a NAFTA (Associação do Livre

Comércio da América do Norte; criada em 1992) e a União Europeia (anterior Comunidade Económica Europeia,

criada em 1957). Esta última foi criada para garantir a paz na Europa, procurando continuamente criar uma

identidade comum, fundada em valores comuns, na democracia, nos direitos humanos, no Estado Providência

e na liberdade de iniciativa.

Europa dos 27

Portugal Espanha

França

Reino Unido

Irlanda

Suécia

Alemanha

Dinamarca

HolandaBelgium

Luxemburgo

ÁustriaEslovénia

Rep. ChecaEslováquia

HungriaRoménia

Bulgária

Grécia

Chipre

Itália

Finlândia

Estónia

Letónia

Lituânia

Polónia

A partir de 1957, e progressivamente, os países da União Europeia têm eliminado

os entraves ao comércio livre, inicialmente de mercadorias e depois alargado

aos serviços, capitais e pessoas, constituindo um mercado comum. A União

Europeia, desde 2007, com 27 Estados-membros, tornou-se o maior participante

no comércio mundial de mercadorias e de serviços (turismo, banca, seguros e

transportes). Grande parte do comércio externo da União Europeia realiza-se

entre países da organização. Nesta houve a eliminação dos entraves à livre

circulação de mercadorias e de serviços, e a União é capaz de atrair investimento

estrangeiro devido às boas condições que oferece ao nível das infraestruturas, da qualificação dos trabalhadores,

das condições fiscais e do amplo mercado consumidor que possui atualmente.

O Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) é outro exemplo desta regionalização. Foi criado em 1991 e procura

instituir uma união aduaneira em setores estratégicos como o agroalimentar, a indústria automóvel, os serviços

urbanos, grandes projetos de infraestruturas e produção de madeira (especialização no reflorestamento).

Para além das zonas de comércio anteriormente enunciadas também se estabelecem acordos regionais de

comércio livre juntando países com níveis de desenvolvimento diferente (PD e PVD, por exemplo) ou através

da ligação de organizações internacionais a um conjunto de países (cujos intervenientes acabam por não ter o

mesmo tipo de benefícios).

Podemos então dizer que a regionalização é um fenómeno que poderá ou não estar associado a medidas

discriminatórias, pois existem dois tipos de regionalização ou de regionalismos (os de Jure e os de Facto).O

Page 151: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

A globalização e a regionalização económica do mundo | 149

regionalismo de jure está associado à existência de um tratado de adesão, onde as relações económicas, culturais,

políticas e sociais se regem por esse tratado (U.E, NAFTA, MERCOSUL). Nos regionalismo de facto ou aberto, os

países estabelecem relações comerciais entre si, sem qualquer medida discriminatória, não havendo lugar para

entraves a países terceiros (exemplo: APEC - Fórum de Cooperação Económica da Ásia e Pacífico). Mas então a

globalização é conduzida pela regionalização de jure.

Numa escala mundial a regionalização é vista como um conceito relativo de comércio internacional por envolver

países com diferentes níveis de desenvolvimento. Podemos distinguir diferentes tipos de regionalismos:

» A formação de blocos é uma concentração relativa do comércio internacional, de países com um acordo

formal de integração económica.

» A regionalização é uma concentração relativa do comércio internacional de países através de um acordo

de coesão informal, em termos de proximidade geográfica.

» A polarização é um caso específico de regionalização, onde se verifica uma concentração relativa do

comércio internacional, isto é, países com diferentes níveis de desenvolvimento estabelecem relações

entre si, dada a sua proximidade geográfica, como os países em vias de desenvolvimento e os países

desenvolvidos, ou vice-versa.

Tarefa 1:

1. Defina mundialização.

2. “A mundialização é uma realidade abrangente.” Em que sentido?

3. Em que momento da história se apostou na produção em variedade, quantidade e qualidade?

4. Identifique o impacto das NTIC nos setores tradicionais da economia.

5. Quais são as vantagens comparativas que as empresas multinacionais procuram obter? O que é que estas

representam para as empresas?

6. Em que momento na história os EUA se afirmaram enquanto potência mundial?

7. Defina integração económica regional.

8. Defina regionalização.

Diferentes vagas do RegionalismoO fenómeno da regionalização deve ser analisado através de dois períodos distintos: Iº - vaga (anos 60) e IIº- vaga (80-90).

Na Europa

Em 1952, surge a CECA (Comunidade Económica do Carvão e do Aço). Em 1957 é criada a CEE (Comunidade Económica Europeia) através do Tratado de Roma e Euratom. Em 1960, surge a EFTA (Associação Europeia de livre troca). Em 1973, realiza-se o primeiro alargamento, o Reino Unido, Irlanda e Dinamarca. A segunda vaga, ocorre com o segundo alargamento em 1981 à Grécia, em 1986 é a vez de Portugal e Espanha. Em 1985, dá-se o Ato Único Europeu. Em 1991, estabelecem-se acordos de comércio livre com a Europa Central. O Mercado Interno surge como uma realidade em 1992. Em 1993, com o Tratado de Maastricht assistiu-se à passagem da CE (Comunidade Europeia) em U.E (União Europeia). Em 1995, realizou-se o quarto alargamento: é a vez da Áustria, Finlândia e Suécia. É na segunda vaga que a EFTA é transformada em EEE (Espaço Económico Europeu). Atualmente, a tónica recai nos Acordos de Comércio Livre com os PECO’S (Países da Europa Central e Oriental) e os Países do Mediterrâneo. O período dos finais dos anos 50 e 60 é constituído por um mercado onde se pretendeu eliminar as tarifas internas. É também nesta altura, que se estabelece a PAC (Política Agrícola Comum), onde se introduz uma política de livre comércio nos bens primários. O Programa do Mercado Interno em 31 de Dezembro de 1992, visou eliminar as restrições das importações de produtos industriais de países terceiros.

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150 | O Contexto Internacional da Economia

Por outro lado, o Mercado Interno harmonizou no mínimo as técnicas e as regras e eliminou a discriminação das restrições do comércio e serviços entre os países membros. Sem esquecer a liberalização dos movimentos de capitais, bem como a aproximação dos direitos de propriedade intelectual e de propriedade industrial.

Na América LatinaA primeira vaga ocorreu nos inícios dos anos 60, através do Tratado de Montevideo, onde os países signatários como: Argentina, Brasil, Chile, México, Peru, Uruguai, criaram uma ZCL (Zona de Comércio Livre). A incapacidade dos países da LAFTA (Latin American Free Trade Association) em cumprir a liberalização do comércio intrarregional, de acordo com as condições do Tratado de Montevideo, foi uma grande desilusão. A referir, que em 1980, muitos dos países do LAFTA se tornaram em ditaduras militares, cujos governos não mostraram qualquer entusiasmo por qualquer tipo de cooperação regional, que se pode reduzir a soberania nacional.

O novo Tratado de Montevideo (1980) fez substituir a LAFTA pela ALADI (Associação Latino Americana de Integração). Porém, as crises das dívidas externas da América latina colocaram um ponto final na ALADI. A par, da LAFTA surgiu nos anos 60 a CAMC (Mercado Comum da América Central) nos anos 60, os países signatários (Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua), apesar da sua designação nunca procurou ser um mercado comum; o seu objetivo era uma União Aduaneira. Construíram uma pauta aduaneira comum, o que permitiu o rápido crescimento das importações intrarregionais. Com efeito as crises da América Central fizeram com que impedissem o processo de integração. Face a este conjunto de frustrações, houve a necessidade dos países repensarem o processo de integração, surgindo o Pacto Andino. O objetivo do Pacto Andino era a realização de uma União Aduaneira com a criação de uma pauta externa comum. Ao contrário da LAFTA, que estimulava a atração de IDE, este provocou um momento de grande hostilidade por parte dos países da América Latina. Os países da América Latina viam o Pacto Andino como um instrumento de desenvolvimento industrial, mas também como um peso ao poder do capital estrangeiro. A década de oitenta ditou o seu desmantelamento, devido ao endividamento externo. A segunda vaga na América Latina surge em Março de 1991, com o Tratado de Assunção, onde se institui o MERCOSUL, originando uma União Aduaneira e uma pauta exterior comum.

América do Norte

O regionalismo na América do Norte pertence à segunda vaga. O NAFTA foi assinado em 17.12.92 e entrou em vigor em 01.01.94, englobando três Estados: Canadá, EUA e México. Numa primeira análise, o NAFTA poderá ser encarado como um aprofundamento e prolongamento para o México do Acordo de Comércio Livre, existente desde 1989 entre o Canada e os EUA (LUFTA).

Ásia

O processo de integração regional nunca foi uma obsessão na Ásia, não tendo havido uma estratégia de regionalização durante cerca de trinta anos. Nos finais dos anos 60 a ASEAN, surge não como um Acordo de Comércio, mas de cooperação política e económica. Na segunda fase, a AFTA (Ásia Free Trade Área), como zona de comércio livre compreendendo os seis países da ASEAN e a APEC. A filosofia da AFTA assentou nas relações de preferências de comércio em Acordos de Comércio Livre.

África

A SACU (União Aduaneira da África do Sul) foi formada em 1910 pela África do Sul. O Acordo foi renegociado em 1969. A CEDEAO (Comunidade Económica dos países da África Ocidental) surge em 1975. No continente africano, a organização com cariz mais importante foi sem dúvida a SADCC (Conferência para a Coordenação do Desenvolvimento Sul Africano) em 1979-80, que se transformara na Cooperação para o Desenvolvimento Sul-africano (SADC). A SADC teve a sua génese durante os anos de apartheid na África do Sul. Deriva da SADCC, a qual teve origem em Lusaka em 1980. A SADC teve como objetivo imediato a incorporação duma África do Sul completamente democrática na “nova”

organização regional.

Fonte: http://docentes.esgs.pt/nunoleitao/Downloads/Globalizacao%20e%20regionalismos.doc

1.2 A Globalização do Mundo Atual

Apesar de já se falar de globalização há muitos anos, esta assume hoje características diferentes das que assumia

no passado, especialmente na rapidez com que se processa. Kenich Ohmae foi o primeiro a utilizar o conceito de

Tríade (EUA, Europa e Ásia), explicando que a globalização se concentra na tríade, onde se constata que os três

blocos regionais (NAFTA, U.E e ASEAN) estabelecem relações de interdependência entre si. De facto o processo

de globalização vigora à escala mundial, provocando mudanças na organização da atividade económica. A nível

microeconómico, reflete-se nas trocas de produtos e na sua flexibilidade de produção. A nível macroeconómico,

reflete-se nas trocas dos custos e benefícios alternativos de localização de regimes supranacionais. A globalização

impôs formas estandardizadas, particularmente nos países da tríade, mudando os hábitos dos consumidores.

O prémio Nobel da Economia em 2001, Joseph Stiglitz, define globalização como “o nome dado ao estreitamento

da integração dos países do mundo, especialmente o aumento do nível de comércio e dos movimentos de capital

– resultante da redução dos custos de transportes e de comunicação.”

Page 153: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

A globalização e a regionalização económica do mundo | 151

Tal como referimos anteriormente, a investigação e o desenvolvimento tecnológico, assim como a necessidade de

satisfazer às solicitações de uma concorrência crescente levaram à globalização. A universalidade dos produtos,

as preferências comuns e gostos padronizados originaram cada vez mais procuras e ofertas globais, mas ao

olharmos para a diversidade de produtos que hoje temos ao dispor concluímos que os produtos poderão não ser

homogéneos, isto é existe diferenciação do produto.

Apesar de à primeira vista podermos dizer que a globalização só traz vantagens na realidade ela traz algumas

consequências, por vezes consideradas desvantagens. A maior evidência da globalização é o desemprego com

a implementação de novas tecnologias, pois as forças da globalização caminham para a mudança de hábitos

dos consumidores mundiais, pondo em causa o bem-estar económico e social de um país. De facto, nem todos

os países são favoráveis aos efeitos da globalização. Existe, todavia, uma universalidade de produtos como o

motor automóvel, televisão, hambúrgueres, jeans, turismo, música pop, que caminha para a convergência não

só económica, mas também cultural. Logo, a inovação e o acesso aos fluxos de informação devem ser analisados

com bastante prudência.

A Mundialização e a Globalização

Ouvimos frequentemente as expressões mundialização, globalização e regionalização, conceitos usados enquanto sinónimos mas que descrevem realidades até distintas.

» Mundialização – pode ser definida como a crescente integração das diferentes partes do mundo, sob o efeito da aceleração das trocas, do impulso das novas tecnologias da informação e da comunicação e dos meios de transporte. É assim um fenómeno predominantemente económico que se traduz nas características da economia atual. Esta assume características particulares decorrentes da inovação tecnológica e da ação das empresas multinacionais e transnacionais.

» Globalização – representa a interdependência dos espaços nacionais aos mais variados níveis, como o económico, o financeiro, o político, o social e o cultural, e não é um fenómeno exclusivo da sociedade atual, pois hoje assume características particulares. A globalização da economia mundial é um fenómeno concreto, pois cada vez mais as relações económicas internacionais se concentram na tríade (EUA - Japão - UEM). É também um fenómeno que se desenrola em simultâneo com a regionalização.

» Regionalização – enquanto a globalização será um aumento de atividade económica que ultrapassa fronteiras nacionais e regionais, ou seja, um fenómeno associado ao princípio fundamental da OMC (onde não deverá ser permitido as barreiras ao comércio), a regionalização acaba por ser um fenómeno inverso, pois basta verificar que os três pólos utilizam medidas discriminatórias face a países terceiros.

Para a existência de globalização foi necessário a construção da sociedade da informação. Estes novos meios de

comunicação e informação como os telefones, os telemóveis e a internet, permitem o acesso à informação em

tempo real, facilitando a tomada de decisão e a interdependência de espaços nacionais. Assim, contribui para a

construção do mercado global. É este o fenómeno que permite encurtar as distâncias físicas, culturais, económicas e

políticas, etc., bem como uma maior consciência ambiental, e a necessidade de construir uma verdadeira igualdade

de oportunidades, indo de encontro ao conceito de desenvolvimento económico e humano sustentável.

Page 154: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

152 | O Contexto Internacional da Economia

Gigantes no Comércio InternacionalValores em biliões de dólares das principais nações (2003)

Exportação de bensAlemanha 748

724472

438385

304

EUAJapãoChina

FrançaGrã-Bretanha

EUA 1306602

413

388383

389

AlemanhaChina

FrançaGrã-Bretanha

Japão

Importação de bens

Exportação de serviçosEUA 282

130112

987673

Grã-BretanhaAlemanha

FrançaEspanha

Itália

EUA 218167112

8274

110

AlemanhaGrã-Bretanha

JapãoFrança

Itália

Importação de serviços

As principais consequências da mundialização foram a expansão do

comércio externo de bens, serviços, capitais e pessoas. Esta

mundialização em termos de trocas acabou por integrar países em

espaços alargados (tanto a nível regional como continental), reforçou

a interdependência entre Estados, mas também facilitou a emergência

de novas lideranças (as que dinamizam o comércio mundial) e de

periferias (as que acabam excluídas do comércio mundial).

Para esta mundialização foi necessário liberalizar espaços nacionais

através da eliminação de entraves à livre circulação. Mas ao liberalizar também se contribuiu para a intensificação

do comércio de bens ilícitos (droga, de órgãos e/ou de seres humanos, produtos contrafeitos e armas).

A partir de 2007 houve um crescimento favorável para os países em desenvolvimento em termos do crescimento

dos produtos exportados, mas os países do Sul continuam a ter uma participação diminuta nas trocas de produtos,

sendo os maiores participantes a Europa Ocidental e os EUA. Para este crescimento em muito contribuíram as

empresas transnacionais e multinacionais, pelas estratégias de distribuição do processo produtivo que possuem

(a fragmentação do mesmo) e da deslocalização de algumas das suas filiais de uns Estados para outros, para a

aceleração das trocas de mercadorias e para o incremento do investimento direto no mundo. Mas não tivemos

só um incremento de trocas de mercadorias e capitais, pois tal como vemos nos documentos abaixo houve uma

emergência da economia dos serviços.

Esta emergência dos serviços na atividade económica manifesta-se através da redução do peso da indústria no

produto do país; da deterioração dos termos de troca dos bens primários e industriais em relação aos serviços,

sobretudo dos serviços intensivos em conhecimento; e do declínio dos operários na estrutura da população

ativa e do reforço do peso dos “trabalhadores do conhecimento”. E o crescimento das trocas de serviços acaba

também por ser consequência do aumento das trocas de mercadorias a nível mundial. Por exemplo, com o

aumento das trocas de produtos como o petróleo ou o aço, estamos a aumentar o volume da atividade das

seguradoras, das transportadoras, bem como dos serviços bancários.

Você sabia?

1980

África Ásia (PEDs) Resto do mundoAmérica (PEDs)

3.5 4.810.5

81.2

20102.4 3.4

23.9

70.3

Embora tenha crescido consideravelmente em números absolutos, diminuiu, em termos relativos, a fatia ocupada pelas exportações de serviços por parte dos países em desenvolvimento (PEDs) da América nos últimos 30 anos. No mesmo período, o destaque fica para a Ásia, cuja participação saltou de 10,5% para 23,9% do mercado mundial.

A crise económica global de 2008-2009 levou à maior queda do comércio internacional desde a Segunda Guerra Mundial, com uma queda simultânea dos fluxos do comércio em todas as regiões do mundo no quarto trimestre de 2008. O comércio global caiu 12% em 2009, com alguns países registando quedas ainda mais pronunciadas: as exportações japonesas, por exemplo, caíram nada menos do que 50% entre fevereiro de 2008 e fevereiro de 2009. No entanto, o facto de que quatro grandes países emergentes (Brasil, China, Índia e Indonésia) lograram apresentar taxas de crescimento positivas nos fluxos de comércio entre 2007 e 2009, pode ser identificado como o marco de uma nova ordem no comércio internacional, na qual países emergentes de rápido crescimento mostram resistência a flutuações na atividade económica.

-5

-10

-15

0

5

10

15

y

Renda baixa

Renda elevada

Jan-08 Abr-08 Jul-08 Out-08 Jan-09 Abr-09 Jul-09 Out-09 Jan-10 Abr-10 Jul-10 Out-10 Jan-11 Abr-11 Jul-11

Renda mediana

Fonte: Canuto, O. e Reis, J.G. (2012), “Comércio global e crescimento: perspectivas e desafios para as economias em desenvolvimento”, Pontes: entre o comércio e o desenvolvimento sustentável, Vol. 8, No. 1, Fevereiro/Março, pp. 1-15, ISSN: 1813-4378. www.ictsd.org/

news/pontes

Page 155: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

A globalização e a regionalização económica do mundo | 153

Se a mundialização e a globalização aumentam as trocas de mercadorias e de serviços, estas também dependem

dos movimentos internacionais de fatores produtivos (capitais e pessoas). A partir dos anos 80, a maioria dos

capitais passou a circular entre os países da tríade (EUA, União Europeia e Japão), aos quais se juntaram os

novos países industrializados. No grupo da Tríade, entre 1984 e 1988, o Japão liderou o fluxo de capitais a

nível mundial, com 26,9% do total dos fluxos. Os EUA, no mesmo período, contribuíram com 16,4% do fluxo

mundial de capitais. Nestes movimentos de capitais conseguimos identificar três tipos de fluxos: investimentos,

operações de crédito e empréstimos.

» Investimentos – definem-se como sendo aplicações de capitais de médio e longo prazo, tendo em vista

o aumento da capacidade produtiva do país, que podem ocorrer enquanto investimentos em carteira ou

investimentos diretos estrangeiros.

» Investimentos diretos – ocorrem quando há a constituição de uma nova empresa ou a compra de

uma empresa já existente por parte de capitais estrangeiros.

» Investimento em carteira – se há aplicações realizadas por intermédio das bolsas de valores e

incluem operações especulativas sobre os diversos produtos financeiros, inclusive a moeda.

» Operações de crédito – representam movimentos associados aos pagamentos do comércio externo de

mercadorias e de serviços, como a importação e a exportação de mercadorias, as despesas de turismo

e de transportes.

» Empréstimos – representam a contração ou a concessão de crédito por parte dos Estados (relacionados

com a situação financeira do país e a existência de desequilíbrios – no orçamento e/ou na balança de

mercadorias) ou a contração de empréstimos por parte das empresas.

Atualmente verifica-se que os países em desenvolvimento, ou os novos industrializados, têm vindo a aumentar

a participação em termos de mobilidade de capitais, sejam fornecedores ou recetores, apesar de a capacidade

de atração dos mesmos ter diminuído face a valores de anos anteriores segundo dados da OCDE. Mas este

desenvolvimento do sistema financeiro mundial só foi possível graças à liberalização e à desregulamentação.

Proporcionado pelas novas tecnologias de informação, o sistema financeiro transformou-se num mercado unificado

que transaciona, através dos vários mercados (monetário, cambial, de capitais, obrigacionista, de derivados, etc.),

em média, várias vezes o volume do comércio externo de bens e de serviços. Este crescimento de fluxos de

capitais deu-se devido aos movimentos especulativos sobre as moedas mas também ao aumento do volume de

transação dos títulos negociados em bolsa e ao crescimento da dívida pública dos países industrializados.

PRINCIPAIS FLUXOS COMERCIAIS

América do Norte

232390

1324

2762388

Estados doGolfo

Ásia

266

Américado Sul

Montante totaldo comércio de mercadoriasMil milhões de dólares

4000020001000500250

África4031

Parcela das trocascomerciais realizadas

no interior da zona económicaem direção a outras regiões

Fluxo comercial inter-regionalMil milhões de dólaresOs fluxos inferiores a 12 mil milhõesde dólares não estão representados

5003501005012

EuropaOcidental

Europa de Leste eex-União Soviética

Em paralelo com este movimento de capitais temos os offshores ou

paraísos fiscais (mercados onde se prestam serviços financeiros a não

residentes). Estes paraísos fiscais gerem em média 30 a 40% das fortunas

pessoais mundiais, recebem 25% dos depósitos bancários

transfronteiriços, 8% dos títulos da dívida mundial e detêm cerca de 50%

dos ativos financeiros que circulam no mundo. Estes paraísos são muito

importantes para as economias locais, através das receitas provenientes

da instalação de sociedades e dos poucos impostos que recaem sobre

estas sociedades offshore.

Page 156: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

154 | O Contexto Internacional da Economia

PARAÍSOS FISCAIS

Uruguai

Libéria

Ilhas Virgens Britânicas

Ilha de Jersey

AndorraMalta

Luxemburgo Liechtenstein

Mónaco Suiça

Hong-Kong

BermudasIlhasCaimão

PanamáAntilhasHolandesas

1 Anguilla2 Antigua & Barbuda3 Aruba4 Barbados5 Cayman Islands6 DominicaBahamas

16

Cuba

Caribbean Sea

NorthAtlanticOcean

3 11 715

1496

82

1310

11712

4

Jamaica

HaitiDominicanRepublic

Trinidad& Tobago

7 Grenada8 Guadelupe9 Martinique10 Montserrat11 Netherlands Antilles12 Puerto Rico13 St. Kitts & Nevis14 St. Lucia15 St. Vicent & Grenadines16 Turks & Caicos Islands17 Virgin Islands

Nas Bahamas por exemplo, o volume de circulação de capitais

representa cerca de 25% do PIB, seguido do turismo (30%).

Mas se as novas tecnologias de informação permitem a ligação

rápida e em rede dos diferentes mercados aumentando a

circulação de capitais, também permitem a rápida propagação

de crises financeiras. Segundo o professor Laurent Carroue, a

queda da Bolsa de Nova Iorque em 1929 demorou cerca de 3

anos a atingir os países ocidentais, mas a crise Asiática de

1997 propagou-se em 24 horas às principais praças financeiras

mundiais. Mais recentemente, 2008, assiste-se à propagação

rápida da crise financeira dos EUA à Europa. Aqui o mercado

imobiliário, a titularização dos créditos, a especulação e a

descida da taxas de juro do crédito levaram as famílias ao

sobre endividamento e ao incumprimento no pagamento dos

créditos (quando as taxas de juro começaram a aumentar,

aliadas ao desemprego crescente da população ativa), gerando

o risco de falência das instituições bancárias, tendo até

algumas sido resgatadas pelo próprio Estado do país.

Para uma empresa/economia se conseguir afirmar no mercado mundial tem de se tornar mais competitiva e isso

leva à concorrência entre empresas/países para atrair o investimento direto estrangeiro, IDE. Para o conseguir

os Estados oferecem benefícios aos investidores tais como: linhas de crédito bonificadas e benefícios fiscais; a

utilização de recursos naturais abundantes e relativamente mais baratos; a existência de boas infra-estruturas e

localização geográfica favorável; e a estabilidade política e social.

O investimento estrangeiro também permite avaliar a forma como um país está a participar na mundialização

pois obriga a mudanças ao nível dos processos de fabrico e de gestão de recursos, melhorando assim os níveis de

produtividade; permite o aparecimento de novos bens, nomeadamente os com maior incorporação tecnológica;

permite uma maior qualificação do fator trabalho, devido à formação fornecida pela empresa, contribuindo para o

aumento da produtividade laboral; e ao nível das exportações, se houver um aumento da participação no comércio

externo e a consequente maior internacionalização da economia. Mesmo com a liberalização do IDE através de

acordos ainda verificamos situações e setores onde o mesmo é reduzido pois os Estados procuram, através de

medidas protecionistas, proteger setores como a defesa, o imobiliário, os media, a aviação, a educação e a saúde.

Outra das características da mundialização atrás referenciada diz respeito aos movimentos da população que

podem assumir a forma de migrações internas (êxodo rural, deslocados), ou a forma de migrações externas

(emigração e imigração, refugiados, turismo).

Movimentos internos de populações ou migrações internas representam as deslocações de populações dentro do

próprio país com o objetivo de se fixarem temporária ou definitivamente noutro local. O êxodo rural representa a

deslocação da população de uma zona rural para uma zona urbana. O êxodo rural está associado aos fenómenos

da litoralização e da urbanização crescente dos países. As condições de vida oferecidas às populações rurais,

Page 157: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

A globalização e a regionalização económica do mundo | 155

como baixos salários comparativamente com os salários industriais e dos serviços, as dificuldades de acesso

a certos bens e a falta de infraestruturas (escolas, hospitais) conduzem à preferência pelo espaço urbano por

parte da população. Também a concentração de organismos públicos e melhores infraestruturas para atração de

indústrias e serviços no litoral, levam a esta litoralização. Os deslocados resultam da movimentação da população

de umas regiões do país para outras devido a conflitos internos ou fronteiriços (deslocados de guerra) ou devido

a catástrofes naturais.

Os movimentos externos de populações ou migrações externas representam as deslocações de populações de

um país para outro. Os refugiados são movimentos de população entre países, explicados pelo receio das pessoas

em serem perseguidos por motivos raciais ou religiosos, por motivos relacionados com a sua nacionalidade,

opinião política ou com a sua integração num determinado grupo social, e que não podem regressar ao seu país

de origem sob pena de sofrerem represálias, serem presos ou até mesmo mortos. A emigração (imigração) é a

saída (entrada) de população de um país (proveniente de outro país) com o objetivo de se fixar temporária ou

definitivamente noutro país (no nosso país).

Correntes migratórias do séc. XVI ao séc. XIXCorrentes migratórias de escravos africanos(do séc. XVIII ao séc. XIX)

Correntes migratórias de 1830-1939Correntes migratórias depois de 1945

Austrália

Ásia

África

Américado Sul

AméricaCentral

Américado Norte

Israel

Europa

10 - 11 milhões

2,1 - 5 milhões

1,1 - 2 milhõescerca de 1 milhão

1,1

Países com maiorsaída de emigrantes

As setas mostram o sentido do fluxo migratório, do país de origem ao país de destino.

O número dentro de cada círculo negrorepresenta o total de pessoas vindas dopaís de origem que viviam no país dedestino em 2005 (em milhões)

Países com maiorentrada de imigrantes

20 mil - 100 mil< 20 mil

> 100 mil20 mil - 100 mil< 20 mil

saldo próximo de zerosem dados

10,31

1

1,1

1,1

1,1

11,6

1,4 1,7

1,7

1,6

1,3

2,7

3,6 4,61,8

2,6

2,2 para os EUA3,51,2

O aumento do fluxo imigratório no século XX foi motivado essencialmente pela procura de melhores condições

de vida, ou seja, emprego, estabilidade financeira e segurança. Muitos dos imigrantes fogem hoje das precárias

e por vezes miseráveis condições de vida e dos conflitos existentes nos países de origem.

Dentro dos movimentos externos de população, temos ainda o turismo, que para muitos países é a principal

fonte de receita. Os movimentos turísticos intensificaram-se a partir dos anos 50 do século XX devido ao

desenvolvimento dos transportes (transporte progressivamente mais rápido e barato: aviões e comboios de alta

velocidade que permitem encurtar distâncias e viajar com mais segurança e conforto), ao aumento dos negócios

(crescente mobilidade de gestores entre sedes e filiais, matérias-primas e bens devido à mundialização), à

melhoria do nível de vida da população (maior poder de compra e a necessidade de quebrar com a rotina diária

de trabalho), e à crescente facilidade de difusão da informação (rapidez na transferência de informação devido

à internet, meios de comunicação social e ofertas de empresas turísticas).

Enquanto em 1950 tínhamos apenas algumas dezenas de milhões de turistas, em

2000 esse número passou para centenas de milhões. Mas o volume de turistas e

as receitas por ele geradas não são iguais em todas as partes do mundo. Atualmente

são as grandes cidades da Europa e da América do Norte que recebem cerca de

80% dos turistas mundiais, sendo os destinos turísticos preferidos os países da

zona euro mediterrânica, das Caraíbas, do Sudeste Asiático, da Europa Central e

Ocidental e dos EUA.

Page 158: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

156 | O Contexto Internacional da Economia

A ligação do mundo em rede e a capacidade de processar informação foi possível com o desenvolvimento

das novas tecnologias de informação e comunicação (telecomunicações, audiovisual e informática, ou seja,

computador, internet, videoconferência, fax, etc.). Esta informação é agora essencial ao desenrolar da atividade

económica e da vida social, por estar sempre disponível em tempo real. Com ela as pessoas passaram a conhecer

outras realidades e permite que as mesmas tenham níveis de aspiração diferentes do passado, ou seja, as

pessoas acabaram por alterar as suas expectativas quanto à melhoria das suas condições de vida. Mas estas

novas tecnologias não são só viáveis para a população pois também permitem às empresas adaptarem a sua

oferta às necessidades dos clientes, permitindo-lhes corrigir estratégias de produção e marketing.

Foi possível existir uma sociedade da informação devido ao surgimento do conjunto de meios disponíveis para

aceder e organizar a mesma (rede de circulação da informação).

Já a sociedade do conhecimento implica que haja capital intangível como a educação, formação profissional e a

investigação e desenvolvimento, tornando o capital humano mais importante que o físico. Mas ainda encontramos

pessoas nas sociedades atuais desenvolvidas e subdesenvolvidas que não dispõem de conhecimentos necessários

e recursos monetários para utilizar estas novas tecnologias.

Podemos então falar de uma melhoria geral na sociedade. Permitiu a criação de mercados mais transparentes

gerando mercados de concorrência perfeita (apareceram novos bens e novos mercados com regras particulares;

a desintermediação proporcionada pela net e personalização da oferta – novos intermediários surgiram como o

Google; desaparecimento de fronteiras). Permitiu também que os mercados de turismo e do trabalho alterassem

a sua forma de funcionamento. Surge uma Nova Economia, representada pelo conjunto das empresas que

operam na área das novas tecnologias, exigindo uma formação diferente aos trabalhadores (trabalho manual

substituído pelo intelectual) que se opõe à velha economia (empresas de indústrias tradicionais como a têxtil,

vestuário e de calçado).

Com o desenvolvimento das empresas transnacionais verifica-se a fragmentação do processo produtivo. Os bens

acabam por não ser totalmente fabricados num único país (o “made in” esconde diversas proveniências em

termos de produção). A própria balança de mercadorias acaba por não descrever na totalidade a situação de

comércio externo de um país pois as transnacionais importam matérias-primas e produtos semitransformados

em larga escala para os incorporar no processo produtivo e depois voltar a exportar os produtos acabados.

Estas empresas transnacionais acabam por transformar a sociedade

devido à gestão transnacional da produção (um centro de decisão

e um processo produtivo fragmentado), do comércio interno cativo

ou fechado (muito do comércio internacional é realizado entre

empresas da transnacional devido à fragmentação do processo

produtivo), e permitiu o aparecimento de produtos globais (uma

moda à escala do planeta contribui para uniformizar hábitos e

gostos, criando uma cultura global).

As empresas transnacionais são firmas sem nacionalidade pois

a origem do seu capital provém de vários países e está disperso

por vários acionistas, usando trabalhadores de diferentes países,

portadores de diferentes culturas. Algumas até adaptam os

Page 159: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

A globalização e a regionalização económica do mundo | 157

seus produtos para que os mesmos tenham aceitação em alguns países devido a aspetos culturais (exemplo:

McDonald’s). As empresas transnacionais oferecem para venda a nível mundial produtos padronizados que

resultam de produções e serviços geograficamente dispersos.

Todavia, as empresas transnacionais continuam a ter uma forte ligação ao país onde foram criadas ao nível

dos trabalhadores (grande maioria é do país de origem da transnacional), dos quadros dirigentes (conselho de

administração composto na maioria por nacionais) e dos capitais (provêm do país onde se localiza a sede e onde

instalam os seus centros de pesquisa). Logo, o mercado global ainda está em construção e empresas globais

acabam por não existir verdadeiramente. Só se encontram realmente globalizadas as empresas transnacionais

de pequenas economias abertas, tornando-se uma necessidade imposta pela divisão do trabalho à escala

internacional. Por exemplo, a Nestlé (Suíça), a ABB e a Electrolux (Suécia) empregavam, respetivamente, 96%,

93% e 82% dos seus assalariados fora do país de origem, em 2002.

A Transnacionalização da Produção

Tanto ao nível de produtos industriais como dos serviços, as transnacionais são as atrizes principais da

globalização. Constituídas por várias áreas funcionais (conceção, logística, gestão e vendas), disseminadas por

diferentes filiais (sede social, centro de recursos, fábrica, armazém), exigem diferentes sistemas de trabalho,

qualificações profissionais e pagando remunerações diversas (salários pagos em função dos contributos para

o processo produtivo). Mas gerir esta realidade empresarial não é fácil pois isso requer coordenar a formação

e a qualificação profissional, a coordenação ao nível de equipamentos nos territórios como os transportes

e a energia, e a coordenação ao nível dos recursos, clientes e fornecedores. Todos estes fatores acabam por

influenciar a escolha da sede e das filiais.

Sob o seu comando direto as empresas transnacionais conservam as fases produtivas geradoras de maior valor

acrescentado, por vezes, transferindo a produção das outras para empresas subcontratadas, normalmente

PME’s. Estas acabam a produzir para as transnacionais em condições vantajosas (maior capacidade de adaptação

ao mercado em termos de preços e número e qualificação de trabalhadores), permitindo-lhes sobreviver e

participar no comércio externo.

A fragmentação ou segmentação da produção das transnacionais permite-lhes reduzir custos, pois vai sempre

depender da localização geradora de menores custos e também por isso se assiste frequentemente à deslocação

de filiais ou sedes de empresas transnacionais (geralmente devido à procura do menor custo para o fator

trabalho). Isto permite o aparecimento de novos países líderes no mercado mundial de um determinado bem,

para a integração de novos países ou regiões no mercado mundial, mas também para a marginalização de

algumas zonas do globo.

Só é considerada deslocação empresarial quando uma empresa abandona na totalidade um país, não conservando

nele qualquer área de funcionamento. Este fenómeno está associado ao da produção geograficamente repartida.

Para esta deslocação contribui também o preço das matérias-primas e subsidiárias incorporadas no processo

produtivo. Por exemplo, o aumento do preço do petróleo provocou o agravamento dos custos de transporte nos

diversos bens e serviços. O aumento nos custos de produção tem obrigado algumas empresas transnacionais a

repensarem as suas políticas de deslocalização das produções (exemplo: o aumento nos custos do transporte no

continente asiático tem feito as empresas norte-americanas relocalizar a sua produção pois já não compensa o

ganho em termos de mão-de-obra).

Page 160: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

158 | O Contexto Internacional da Economia

A Globalização Financeira

Com a globalização (intensificação do comércio mundial e a crescente mobilidade dos fatores) conseguiu-se

também criar um mercado amplo e mundial de capital e/ou moeda. A globalização financeira pode ser descrita

como a criação de um mercado da moeda a nível mundial, que deve garantir a melhor colocação do capital

e proporcionar a melhor rentabilidade. Esta globalização financeira originou o financiamento desligado da

produção. Quem investe pode não participar no processo produtivo e o seu tempo de permanência enquanto

investidor mede-se pelo valor do lucro obtido. Assim, os investimentos em carteira (com fins especulativos)

acabam por ultrapassar os investimentos diretos (com finalidade industrial e comercial) nos movimentos

internacionais de capitais.

Foi exatamente o desenvolvimento das novas tecnologias da informação e

da comunicação que possibilitaram a ligação em rede das praças financeiras

uma vez que o investidor consegue movimentar o seu capital de uma bolsa

para a outra em alguns segundos. Para esta globalização financeira

contribuíram ainda a desregulamentação económica (eliminação progressiva

dos obstáculos à concorrência), a liberalização financeira (é o mercado que

fixa as taxas de juro e não a via administrativa) e a interligação dos mercados.

Atualmente verifica-se uma progressiva diminuição da influência do mercado monetário (ativos de curto prazo) e

um aumento da influência do mercado financeiro (ativos de longo prazo), nomeadamente do mercado bolsista.

Isto deve-se à diminuição das taxas de juro mas também à maior rendibilidade e lucros oferecidos por ações e

obrigações, que leva as famílias a investirem progressivamente as suas poupanças neste mercado. Também as

empresas acabaram por adotar novas formas de financiamento, reduzindo o crédito bancário e recorrendo mais

ao financiamento externo (via mercado bolsista).

A Globalização Cultural

Também às empresas transnacionais podemos associar o motor da globalização cultural, para além de serem o da mundialização e da globalização. Podemos definir a cultura como o desenvolvimento mental e organizacional das sociedades, ou seja, um todo complexo, característico da sociedade, incluindo o conhecimento, as crenças religiosas, a arte, a moral, os costumes, as capacidades e os hábitos adquiridos pelo Homem enquanto membro dessa sociedade.

Em cada sociedade a cultura apresenta os seus próprios padrões culturais (conjunto de aspetos como regras, vivências, comportamentos e atitudes característicos dessa cultura) que os indivíduos manifestam pelo conjunto de coincidências nos seus padrões individuais de conduta. Mas o contacto direto e contínuo entre várias culturas proporcionado pela globalização acabam por mudar os padrões culturais previamente estabelecidos em algumas sociedades. Assim, podemos ter uma redefinição ou integração de elementos específicos de uma cultura na outra e vice-versa (o fenómeno da aculturação). Um exemplo foi a introdução do Big Mac nas sociedades europeia e asiática.

Todavia, as diferenças culturais e as desigualdades sociais entre países limitam a existência de um padrão cultural global. Ainda assim, todos assistimos às mesmas notícias, vemos os mesmos anúncios, comemos as mesmas pizzas, vestimos as mesmas marcas e recorremos aos mesmos bancos e seguradoras. Neste sentido, a diversificação cedeu lugar à homogeneização.

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A globalização e a regionalização económica do mundo | 159

É esta aculturação que também beneficia as novas tecnologias da informação e da comunicação por permitir o incremento na circulação da informação, permitindo o seu uso em qualquer outro ponto do globo e com qualquer outra pessoa. Assim, as distâncias entre países desaparecem, onde tudo e todos têm acesso ao mesmo, transformando o planeta numa aldeia global.

Mas apesar de haver influência por parte das empresas transnacionais e multinacionais em termos de consumo, certos hábitos persistem, muitas das vezes por motivos religiosos, obrigando a adaptar localmente os produtos aos aspetos culturais. São disso exemplo a proibição de consumo de carne de porco e bebidas alcoólicas entre os muçulmanos.

A aculturação não traz então só vantagens pois também poderá haver o progressivo desaparecimento de elementos culturais locais e destruição de formas de sobrevivência autónomas. Por outro lado podem surgir novas formas de dependência com o agravamento das condições de vida locais. A ajuda prestada pelos países desenvolvidos aos países em desenvolvimento põe em evidência a mudança no estilo de vida local.

Dentro dos conceitos de globalização cultural podemos ainda falar do de estilos de vida. Este centra-se nos comportamentos, nas formas de sociabilidade e nas normas e valores que orientam as condutas. Os hábitos, os costumes, os bens e os serviços da América do Norte e da Europa acabam por ser utilizados como modelos, contribuindo para a difusão da cultura ocidental e divulgando um estilo de vida ocidental (por exemplo, os consumos culturais tais como filmes, livros, jogos e músicas). Ao estilo de vida americano associamos muitas vezes as empresas multinacionais americanas como a McDonald›s, Coca-Cola, General Electric, Exxon Mobil, entre outras, que lideram, e nos entram na vida frequentemente pelos meios de comunicação social, como a rádio e a televisão.

Contudo esta difusão do consumismo, como estilo de vida do Ocidente, pode colocar entraves ao desenvolvimento económico e humano sustentável. Conduz atualmente a graves problemas ambientais, como a utilização destravada dos recursos, tratamento dos lixos, deterioração dos solos, etc. Mas também assistimos a uma rejeição por parte de algumas culturas à cultura global ocidental. É por isso que acontecem manifestações antiglobalização (aquando das

reuniões da OMC, do FMI, do G8 ou do Fórum Económico Mundial), que ouvimos nas notícias.

Tarefa 2:

1. Defina globalização.

2. Quais os fatores que conduziram à globalização?

3. Que consequência pode ter a globalização?

4. Mundialização, globalização e regionalização. São estes fenómenos iguais ou distintos? Porquê?

5. Refira uma vantagem e uma desvantagem da mundialização.

6. Como se manifesta a emergência dos serviços na atividade económica?

7. Distinga liberalização de desregulamentação.

8. De que forma podemos usar o investimento estrangeiro para medir o grau de mundialização de um país?

9. Quais os fatores na base da intensificação dos movimentos turísticos do século XX?

10. O que nos permite a nova sociedade da informação e comunicação?

11. Qual o papel das transnacionais na globalização?

12. Em que consiste a globalização financeira?

Page 162: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

160 | O Contexto Internacional da Economia

1.3 A Globalização e os Países em Desenvolvimento

Tal como referimos anteriormente o comércio internacional de mercadorias cresceu mais do que a produção

mundial depois da Segunda Guerra Mundial. Nesta altura era a tríade EUA, União Europeia e Japão os líderes do

crescimento real do produto per capita mundial e do comércio mundial de mercadorias e de serviços. Os 3 em

conjunto produzem três quartos da riqueza mundial, mas em 2010 representavam aproximadamente 19% da

população mundial.

A tríade age como dinamizadora económica, financeira e cultural, cuja supremacia se deve à capacidade de

gerar os seus modelos de produção baseados na forma própria de organização e qualificação do trabalho, ao

urbanismo e arquitetura (dispõem das principais cidades a nível mundial), bem como aos modos de organização

do modo de vida diário, tendo as famílias disponíveis diversos equipamentos que facilitam a vida quotidiana

e hábitos de alimentação, desporto e cultura bem desenvolvidos. Ou seja, no centro da globalização temos os

países que detêm a riqueza, a capacidade de decisão e controle, e acabam por ser modelos económicos, sociais

e culturais para os outros que simplesmente se tentam adaptar, mas por vezes com realidades bem distintas.

Grande parte das trocas comerciais, financeiras, científicas e culturais são mesmo realizadas pela tríade, acabando

por se marginalizar o resto do mundo: um triângulo bem organizado no sistema económico mundial. Para além

de deterem as firmas multinacionais e transnacionais, possuem o domínio das trocas, os capitais e a investigação

e desenvolvimento tecnológico.

Estes três pólos acabam por ser competitivos entre si apesar de os EUA ainda serem os principais atores em

determinadas áreas. Assim sendo, a Europa e o Japão concorrem com os EUA em diversas áreas (aeroespacial,

de construção naval, jogos de computadores e investigação de medicamentos), permanecendo incapazes de se

afirmar nas áreas da política mundial ou da definição de uma nova ordem internacional global.

Com esta organização a 3 e consequente domínio, assistiu-se à organização do mundo entre centro (EUA, EU,

Japão) e periferia (todos os outros), sendo que estes últimos só representam um terço do comércio mundial.

Mas também temos periferias mais integradas que outras no comércio mundial (Austrália, a Nova Zelândia, a

parte europeia da Rússia, o norte e o centro do México, a faixa atlântica da América do Sul, o Magrebe, o Próximo

Oriente, o Mediterrâneo e a China). Com as suas políticas de liberalização económica, a abundância do fator

trabalho, os baixos custos salariais e o interesse do investimento estrangeiro por estas regiões, conseguimos

explicar porque têm tido elevadas taxas anuais de crescimento do produto.

Menos integrados neste processo de mundialização estão essencialmente países do Sul como o norte da América

do Sul, Golfo da Guiné, África do Sul e Índia, com grandes atrasos de desenvolvimento apesar de estarem bem

situados em relação aos do Centro e sendo ainda muito populosos.

Todos os outros países e grupos são considerados menos desenvolvidos,

como a América do Sul e o Sul de África. Dentro destes, os mais pobres

apresentam dificuldades de comunicação, praticam uma exploração

intensiva dos recursos e detêm nalguns casos parte importante das riquezas

do planeta, como a Floresta Amazónica no Brasil. As causas para o atraso

são múltiplas, entre as quais quebra de rendimentos, aumento do preço do

petróleo, eclodir de guerras civis, conflitos transfronteiriços, fomes,

epidemias e pandemias, que acabam depois por conduzir à migração.

Page 163: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

A globalização e a regionalização económica do mundo | 161

Os países em desenvolvimento acabam por só se conseguir integrar no

sistema de comércio mundial por via dos seus produtos de base, que

são os essencialmente provenientes do setor primário. Estes também

sofrem uma deterioração dos seus termos de troca pois o preço a que

adquirem os bens importados cresce mais depressa do que o preço dos

bens que exportam. Muitas vezes, só conseguem manter as quotas de

importação se recorrerem ao endividamento externo.

Na realidade, os países produtores e exportadores de produtos de base ou primários têm assistido, nas últimas

décadas à degradação dos termos de troca pois os preços dos produtos transformados sobem mais rapidamente

do que preços dos produtos provenientes do setor primário; a procura por este tipo de bens é menor por terem

já como substitutos produtos transformados (fibras sintéticas, no caso do algodão); os países do Norte concedem

subsídios aos seus próprios produtos provenientes do setor primário reduzindo a capacidade de exportação dos

países em desenvolvimento; o aparecimento de novos produtores a nível mundial faz diminuir os preços deste

tipo de produtos.

A necessidade de obter ajuda internacional para relançar o crescimento económico e promover o seu

desenvolvimento nos países em desenvolvimento deve-se a um inúmero conjunto de fatores. Primeiro pela

fraca capacidade de investimento destes países, acompanhada da reduzida qualificação do fator trabalho.

Isto faz com que os países em desenvolvimento não consigam competir na cena internacional com países que

se especializam em produções onde o uso de capital é predominante e usam mão-de-obra mais qualificada.

Segundo, a falta de capitais e de mão-de-obra qualificada limita a capacidade de produção do país e limitam a

cobrança de impostos por parte do Estado, ficando este com menos receitas não podendo depois intervir em

áreas essenciais como a saúde e a educação. Há aqui um efeito bola de neve (crescente e rotativo). Terceiro, as

condições políticas vigentes que nalguns países se prendem com sistemas corruptos e o mau uso dos recursos

justificam a fraca participação no mercados mundiais e fazem a situação durar ao longo dos tempos. Quarto,

os conflitos internos e as deslocações da população conduzem à fome e à miséria, sendo a ajuda humanitária o

único apoio à população. Mas inúmeras vezes estes países acabam por se tornar dependentes da ajuda externa,

evidenciando a fraca capacidade que os mesmos têm para resolver os seus problemas isoladamente.

Para além de estarem dependentes de ajuda externa dependem de capitais estrangeiros e da ajuda pública

ao desenvolvimento. A inferioridade na capacidade de atrair investimentos diretos estrangeiros e as elevadas

taxas de juro devido à contração do crédito nos mercados internacionais limitam o crescimento económico e

comprometem o desenvolvimento destes países. Por exemplo, na África Subsariana, a escassez de recursos

naturais, a fraca qualificação do trabalho e as escassas infra-estruturas explicam a pobreza do investimento

direto estrangeiro.

Como vimos, a globalização económica é feita por via do comércio externo (exportações e importações) ou

por via do investimento direto estrangeiro (IDE) feito através das firmas multinacionais e transnacionais.

Teoricamente a abertura das economias dos países em desenvolvimento pode tornar mais equilibrada a

distribuição do rendimento internamente, através do crescimento económico. Mas pode também provocar uma

maior desigualdade dentro de cada país.

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162 | O Contexto Internacional da Economia

Hussain, Chaudry e Hasan (2009) defendem que de acordo com a teoria do comércio internacional o aumento do comércio livre e do IDE, através do impacto dos mesmos no crescimento, reduz a pobreza e equilibra a distribuição do rendimento nos países em vias de desenvolvimento. No entanto, há, também evidência empírica que sugere que o comércio afeta adversamente os pobres e leva à deterioração na distribuição do rendimento dos países em vias de desenvolvimento. Já Mundell (1957) defendia que o aumento do IDE (os seus fluxos) nos países em desenvolvimento provocava uma redução da desigualdade na repartição do rendimento, pois os mesmos conduzem ao aumento da dotação de capital dos países de destino, com efeitos positivos na produtividade marginal do trabalho (uma vez que vai existir mais capital por trabalhador) o que conduz à subida dos salários dos trabalhadores nesses países.

As multinacionais introduzem novas tecnologias nos países menos desenvolvidos, que no longo prazo, beneficiam todos os trabalhadores, mesmo os com menos qualificação, envolvidos num processo de aprendizagem e adaptação às novas tecnologias. Resumindo, os fluxos de IDE são considerados benéficos uma vez que

teoricamente podem contribuir para a melhoria dos processos produtivos.

Tarefa 3:

1. De que forma se encontra organizado o comércio internacional?

2. Como se conseguem integrar no comércio mundial os países em desenvolvimento?

3. Que fatores podem comprometer o desenvolvimento dos países mais pobres?

4. Qual a importância do IDE para os países em desenvolvimento?

1.4 A Regionalização Económica Mundial

Quando pensamos em regionalização económica a nível mundial lembramo-nos logo das principais áreas

económicas que estão neste momento a atuar na esfera global. Esta integração económica consiste na formação

de um espaço económico único, combinando diferentes economias nacionais, no qual todos os impedimentos

ao comércio livre tenham sido eliminados, ou seja, é um espaço de liberdade de circulação.

Ao fazer parte de uma integração económica um país consegue uma melhoria nas afetação dos seus recursos,

procura o pleno emprego dos fatores de produção e o crescimento económico e social de cada país. Mas

como todos os fenómenos de integração, este também pressupõe um processo gradual e progressivamente

abrangente. De acordo com esta abrangência podemos ter várias formas de integração: zona de comércio livre;

união aduaneira; mercado comum; união económica; e a união económica total.

Ao criarmos uma zona de comércio livre eliminam-se os direitos aduaneiros e as restrições quantitativas nas transa-

ções comerciais de mercadorias entre os países membros da mesma. Todavia, cada país continua a definir direitos

aduaneiros e restrições quantitativas quando ocorrem transações comerciais com países não membros. As uniões

aduaneiras representam uma forma de integração mais abrangente que as zonas de comércio livre ao ser transfe-

rido para a comunidade dos países que a compõem a definição da pauta exterior comum. Nesta eliminam-se os

direitos aduaneiros e as restrições quantitativas que impeçam a livre circulação de mercadorias entre países, sendo

o conjunto dos países que decide quais as taxas a aplicar nas trocas comerciais com terceiros. Exemplos de uniões

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A globalização e a regionalização económica do mundo | 163

aduaneiras mundiais são o Mercado Comum da América Central e o Mercado Comum da África de Leste.

O mercado comum consiste na constituição de uma união aduaneira de pessoas, capitais, serviços e mercadorias.

Assim, o mercado comum é uma versão mais alargada de união aduaneira pois para além da livre circulação de

mercadorias, permite a livre circulação de pessoas, capitais e serviços, sendo que é a organização dos membros

que passa de forma progressiva a definir algumas políticas comuns. A união económica vai um pouco mais além

pois para além da livre circulação de mercadorias, serviços, capitais e pessoas, obedece à aplicação de políticas

económicas comuns. Podemos encontrar exemplos dessas políticas no âmbito da União Europeia: a política

industrial, de transportes, de educação e formação profissional, e de telecomunicações.

Só nos falta explicar o conceito de integração económica total, sendo a forma mais complexa de integração por

exigir a uniformização de políticas económicas e sociais entre os estados membros.

Países membros

Admissão em 2007

Países candidatos

Islândia

Rússia

Bielorússia

Sérvia e Montenegro

MacedóniaAlbânia

Bósnia e Herzegovina

Ucrânia

MoldáviaRoménia

Bulgária

TurquiaGrécia

Malta

ÁustriaSuíça

EslovéniaCroácia

Noruega

Suécia Finlândia

EstóniaLetónia

Lituânia

Polónia

Rep. Checa

Alemanha

Dinamarca

Países BaixosIrlandaBélgica

LuxemburgoFrança

Espanha

Portugal

Itália

Esta definição de políticas é da responsabilidade e competência dos

órgãos comunitários (pelo conjunto dos países membros) e compete a

cada país membro a aplicação das mesmas.

Além destes espaços de integração ainda temos os espaços de

integração informal que resultam do aumento das trocas entre países

da mesma região e países vizinhos, mais frequentemente entre países

geograficamente próximos (Exemplo: Portugal e Espanha; Japão e países

Asiáticos).

Com a globalização surge também a perda de poder do Estado, pois as empresas transnacionais e a mobilidade dos fluxos financeiros entre mercados reduziram o poder do Estado com a eliminação dos espaços delimitados e protegidos. O Estado entrou assim numa crise de eficiência e legitimidade pois desregulamentou atividades e assim permitiu uma maior mobilidade de capitais. Logo, o Estado transferiu áreas da sua governação para o setor privado, que passaram a funcionar de acordo com as regras do mercado.

Apesar da diminuição do peso do Estado, este continua a exercer as suas funções de regulação, desinflação, atração de capitais estrangeiros e de flexibilidade salarial. Logo, o papel do Estado só se alterou com a globalização, não tendo sido eliminado. A crise atual veio novamente incentivar o debate sobre a necessidade de redefinir o

papel do Estado na Economia e evidenciou a necessidade de reforçar ou alterar a regulação financeira.

Regulamentação da economia mundial: ONU, OMC e G8

Mas podemos ainda encontrar outros fatores que justificam a redução da capacidade de intervenção do Estado na

economia: a maior mobilidade dos fatores produtivos trabalho e capital, deslocalização da produção, a migração

de trabalhadores e a construção de mercados e produtos globais. Logo, precisamos agora é de definir normas

para regular o funcionamento da economia mundial, tendo em conta a importância do capital financeiro na esfera

internacional; a dominação da lógica mercantil; e o processo de globalização desigual. Conjuntamente com as

políticas fiscais devem ser a políticas sociais do Estado a apoiar as famílias e a evitar o crescimento das desigualdades.

Com a experiência do passado recente são necessárias várias medidas para impedir o aparecimento de novas

crises financeiras. Neste sentido deve-se reduzir o crédito especulativo; melhorar o controlo/fiscalização dentro

Page 166: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

164 | O Contexto Internacional da Economia

das instituições bancárias; regulamentar melhor os mercados de produtos derivados; limitar as remunerações dos quadros superiores, sobretudo os prémios de desempenho; acabar com os paraísos fiscais; reformar as entidades fiscalizadoras; regular os fundos especulativos; instituir uma nova forma de governação das finanças mundiais; instituir uma nova política de liquidez nos bancos; e alterar as normas contabilísticas.

Os mercados bolsistas são muito instáveis pois há especuladores aí a atuar o tempo todo e dão-se por vezes reações diferentes a acontecimentos de várias ordens. A crise do subprime de 2008 que tanto ouvimos falar devido à sua extensão mundial, resultou dos créditos incobráveis relacionados com o mercado imobiliário. Como havia risco de falência das instituições bancárias, esta crise obrigou os governos a introduzirem fundos nas instituições e a funcionarem como avalistas para a obtenção de crédito por parte dos bancos. Todavia, serviu para obrigar a comunidade internacional a repensar o funcionamento dos mercados financeiros e a adotar medidas para se proteger contra a instabilidade financeira (medidas de controlo cambial, taxação das transações financeiras internacionais e a eliminação dos paraísos fiscais).

Vemos que no sistema de finanças internacionais, que busca essencialmente o lucro é praticamente impossível haver financiamento ao desenvolvimento dos PVD’s. Este problema poderia ser solucionado se houvesse anulação da dívida dos países mais pobres e endividados (o que está longe de acontecer na prática), se houvesse um reforço da ajuda pública ao desenvolvimento (mas tem havido quebras de transferência de valores entre países desenvolvidos e em desenvolvimento em termos de ajuda pública ao desenvolvimento), ou pela imposição de um regime fiscal global que permitisse obter receitas para a criação de um fundo (destinado a financiar investimentos estratégicos nas áreas da saúde, da educação e da agricultura e que serviria igualmente para transferir tecnologia dos países do Norte para os países do Sul). Mas para que estas medidas fossem reais era necessário que as mesmas fossem aceites pela comunidade internacional, especialmente a tríade.

A proximidade e o conhecimento verdadeiro por parte dos dadores sobre a realidade do país recetor da ajuda iriam facilitar o entendimento e a aplicação de medidas. Só desse modo é que o crédito conseguiria chegar a áreas primordiais como os pequenos agricultores e os artesãos. Mas, concordamos que é necessário encontrar formas de tornar a aplicação da ajuda ao desenvolvimento mais rentáveis e úteis do que as atuais. Esta ajuda deveria ocorrer a taxas de juro bonificadas e bastante inferiores às dos mercados financeiros, pelas dificuldades que passam atualmente. Este apoio ajudaria também a aumentar a capacidade de produção e a dar continuidade à cultura de cada povo (e não para criar novos problemas como a alteração de hábitos).

Hoje temos a economia mundial a funcionar numa lógica de mercado. Mas este nem sempre favorece o desenvolvimento humano da sociedade acabando por acentuar as desigualdades sociais e económicas quer entre indivíduos da mesma sociedade, quer entre sociedades. Há uma ligação entre o crescimento económico e o desenvolvimento humano com a sociedade da informação e do conhecimento, mas as mesmas ainda estão concentradas nos países desenvolvidos.

Como a Organização Mundial do Comércio limita a transferência de tecnologia por reconhecer o direito de propriedade intelectual, os países da periferia acabam por não ter acesso à mesma. Mas como a informação

e o conhecimento têm múltiplos impactos sobre a sociedade, sendo bens públicos globais, acabam por gerar

externalidades positivas (rentabilidade privada é inferior à social) apesar de poder ser restringida.

Page 167: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

A globalização e a regionalização económica do mundo | 165

Assim, podemos enunciar a grande desvantagem da globalização que é a de agravamento das desigualdades

entre países e indivíduos. Outra é o aumento dos problemas ambientais. Assim urge a necessidade de encontrar

uma alternativa à globalização.

Com este intuito a Organização das Nações Unidas defendeu uma nova ordem internacional baseando-se no desenvolvimento equitativo e na preservação do ambiente. Ou seja, terminar com o capitalismo desenfreado e promover o desenvolvimento sustentável das sociedades baseado na justiça social, na prudência ecológica e na eficiência económica. A convergência desta nova globalização para o desenvolvimento sustentável provocaria a deslocação do centro das decisões mundiais de organizações

internacionais como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio para a Organização das Nações Unidas.

Mas tal como referimos anteriormente a globalização também trouxe outras consequências. Facilitou as transações ilegais e imorais, por falta de uma apertada fiscalização na circulação de mercadorias, serviços, pessoas e capitais. Também a falta de um código ético, aceite pela comunidade internacional, e a criação dos correspondentes instrumentos de fiscalização são indispensáveis para combater o tráfico de armas, a prostituição, o tráfico de drogas, o tráfico de seres humanos, a venda de órgãos, mas também os escândalos de corrupção nas empresas, como os tão badalados da Enrom e da Worldcom.

A comunidade internacional também dispõe de alguns instrumentos de regulação da economia mundial, como o GATT/OMC (Organização Mundial do Comércio), criado em 1993, sendo o seu principal objetivo definir as regras do comércio mundial. Favorece a expansão do comércio mundial, baseado na melhor utilização dos recursos, e contribuindo para a melhoria do nível de vida das populações.

Temos também o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, (BM), criados a partir dos Acordos de Bretton Woods, em 1944. O primeiro apoia os países com dificuldades em pagamentos internacionais, mediante a concessão direta de créditos de curto prazo ou fornecendo as garantias para a obtenção de financiamento junto de outros organismos internacionais (concede ajuda aos países, mediante a aplicação por parte destes de programas de ajustamento estrutural). O Banco Mundial financia projetos de longo prazo no âmbito das infraestruturas, dos sistemas de educação e de saúde. Por último temos o Sistema Monetário Internacional que procura garantir a coordenação das políticas nacionais com a necessidade de estabilidade da moeda nacional no mercado internacional, proporcionando os pagamentos internacionais. Todavia, o sistema monetário internacional sobrevive em função dos interesses da tríade. Como atuam de forma lenta e não têm assim tanto

sucesso relativamente aos benefícios obtidos a opinião pública começa a desacreditar nos mesmos.

Barreiras não tarifárias

Apesar de todos os movimentos de globalização, os países podem aplicar medidas que dificultam ou impedem o acesso aos produtos por parte de outros, ou seja, os Estados podem utilizar medidas protecionistas, sejam tarifárias ou não tarifárias. Vamos analisar as não tarifárias por serem medidas um pouco ocultas.

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166 | O Contexto Internacional da Economia

Com o objetivo de garantir a proteção do mercado, os Estados podem aplicar medidas não tarifárias como exigências em termos de qualidade do produto, condições de produção (sem recurso a trabalho infantil, por exemplo), percentagens mínimas de valor acrescentado nacional, e a complexidade dos processos de importação ou de rotulagem.

Por exemplo, na União Europeia para que os produtos vindos dos países em desenvolvimento tenham acesso a este mercado, têm de acrescentar a maior parte do valor do produto de exportação. Esta medida limita o acesso ao mercado através da imposição de percentagens mínimas de incorporação nacional nos produtos destinados dos países da UE. Já os países em desenvolvimento impõem tarifas mais elevadas aos restantes países em desenvolvimento do que a média das tarifas aplicadas sobre os países desenvolvidos. É isto que explica o reduzido comércio Sul-Sul. Segundo as Nações Unidas, os direitos elevados explicam o reduzido comércio intra-regional.

Regionalização económica e comercial

A nível mundial, verificamos a emergência de regiões económicas como a União Europeia, o Japão, os EUA ou os países emergentes. Estes mais não são do que blocos regionais onde se assiste ao reforço das trocas e ao aumento do rendimento e do nível de vida das populações. Mas também ocorreu um reforço da interdependência entre regiões e blocos comerciais e o aumento da concorrência entre essas regiões. Este fenómeno é designado de regionalização económica, representando o processo comercial, financeiro, monetário e cultural de aproximação entre Estados-Nações. O objetivo é aproximar o nível de vida das populações, as suas orientações e os seus interesses.

Podemos assistir a várias formas de regionalização, como os fenómenos de regionalização espontânea, não institucional, como o que ocorre na região da Ásia do Pacífico, juntando economias como a japonesa, a tailandesa ou a Indonésia. Também podemos encontrar fenómenos de regionalismo formal, onde os Estados, através de negociação e da decisão, definem os objetivos que pretendem atingir a médio e longo prazo. Isto é o que acontece na União Europeia, na NAFTA e no MERCOSUL.

O regionalismo comercial corresponde à defesa dos interesses comuns de um espaço. Na época das colónias, a defesa dos interesses da metrópole levou-a a proteger o mercado das colónias, altura em que as duas atuavam de forma complementar. Os mercados coloniais eram zonas privilegiadas para o investimento das metrópoles, mas eram-no, sobretudo, na difusão de valores, da língua, do conhecimento e das técnicas da metrópole. Foi na

criação de uma identidade única que a intensificação deste intercâmbio mais se sentiu.

Tarefa 4:

1. Quais as diferentes formas de integração que conhece?

2. Distinga zonas de comércio livre de uniões aduaneiras.

3. Distinga mercado comum de união económica.

4. Consegue encontrar algum exemplo concreto de uma forma de integração económica total?

5. De que forma se alterou o papel do Estado na economia com a globalização?

6. Indique três medidas que poderiam conduzir ao desenvolvimento dos países em desenvolvimento.

7. A globalização não traz só vantagens. Enuncie pelo menos duas desvantagens da mesma.

8. Porque se diz que as barreiras não tarifárias são medidas de protecionismo ocultas?

Page 169: Economia e Métodos Quantitativos 12º - Manual do Aluno

Bibliografia e Webgrafia | 167

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Créditos das Imagens

http://www.shutterstock.com/gallery-480994p1.html?cr=00&pl=edit-00”>cjmac</a> / <a href=”http://www.shutterstock.com/?cr=00&pl=edit-00”>Shutterstock.com</a> (pag.73)

Crianças em ambiente escolar - Ana Margarida Ramos (pag. 82)

Barco pesqueiro a chegar ao porto - Ângelo Ferreira (pag. 83)http://www.shutterstock.com/gallery-978674p1.html?cr=00&pl=edit-00”>spirit of america</a> / <a href=”http://www.shutterstock.com/?cr=00&pl=edit-00”>Shutterstock.com (p. 96)

Idosa timorense - Ana Margarida Ramos (pag. 124)http://www.shutterstock.com/gallery-598003p1.html?cr=00&pl=edit-00”>Wutthichai</a> / <a href=”http://www.shutterstock.com/?cr=00&pl=edit-00”>Shutterstock.com (pag. 127)http://www.shutterstock.com/gallery-1024723p1.html?cr=00&pl=edit-00”>Leonard Zhukovsky</a> / <a href=”http://www.shutterstock.com/?cr=00&pl=edit-00”>Shutterstock.com (pag. 127)http://www.shutterstock.com/gallery-130798p1.html?cr=00&pl=edit-00”>joyfull</a> / <a href=”http://www.shutterstock.com/?cr=00&pl=edit-00”>Shutterstock.com (pag. 143)

http://www.shutterstock.com/gallery-178732p1.html?cr=00&pl=edit-00”>Luciano Mortula</a> / <a href=”http://www.shutterstock.com/?cr=00&pl=edit-00”>Shutterstock.com (pag. 156)

Zona economicamente desfavorecida em Timor-Leste - Pedro Tolentino (pag. 164)

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