eco govern a mental ida

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  • 7/25/2019 Eco Govern a Mental Ida

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    Foucault para o prximo sculo:

    ecogovernamentalidade

    Sbastien Malette

    RESUMO:

    O artigo prope uma expanso da genealogia do poder de Michel Foucault para

    incluir a anlise das racionalidades ecolgicas de governo. Parte da noo de

    governamentalidade para propor ecogovernamentalidade, como reorganizao dos

    conceitos de populao, segurana e economia poltica, nos quais a regulao dos

    vivos se expandiria para regulao de tudo o que necessrio para a vida. Localizo,

    nessa expanso, a emergncia de uma nova pistme ecolgica que levaria oproblema do governo a uma nova fase crtica.

    Palavras-chave: ecogovernamentalidade, biopoltica, segurana, ambiente, regulao.

    ABSTRACT:

    The article proposes an expansion of Michel Foucaults genealogy of power in

    order to include the analysis of ecological rationalities of government. It departs

    from the notion of governmentality to introduce the notion of eco-governmentality,

    reorganizing the concepts of populations, security and political economy, in which

    the regulation of the living would be expanded to regulate all that is needed for

    life. It identifies, in this process, the emergence of a new ecological pistme that

    would take the issue of government to a new critical phase.

    Keywords: ecogovernmentality, biopolitics, security, environment, regulation.

    ecopoltica, 1: 4-25, 2011

    Professor no Departamento dePoltica da University of Victo-ria, Canad.

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    No final da dcada de 1970, Michel Foucault empenhou-se novamente

    na relao poder/saber, previamente analisada por ele, sob a rubrica de

    microfsica do poder. Ele o fez examinando uma srie de dispositivos

    do Estado moderno e de racionalidades de governo, relacionando gesto da

    populao, economia poltica e a questo da segurana (Foucault, 2004b,

    2004c; Gordon, 1991). Descreveu esses dispositivos e racionalidades com

    um novo termo, governamentalidade, que se refere no apenas aos

    meios, mecanismos e instrumentos do governo moderno, mas tambm a

    maneiras de pens-lo sistematicamente (2001a). Muitos analistas posteriores

    a ele utilizaram o conceito de governamentalidade para dar sentido

    globalizao neoliberal (Lipschutz, 2005; Larner e Walters, 2004). Nesse

    contexto, alguns desafiaram nossas maneiras de entender a liberdade

    em relao soberania (Prozorov, 2007). Outros esboaram os efeitos

    disciplinares e normalizadores da ordem internacional emergente por meio

    de uma investigao do sistema de graduao dos pases do Terceiro

    Mundo (Anghie, 2006), ou analisando a expanso da contabilidade

    social, gesto da populao, controle de segurana, reforma democrtica,racionalidade econmica, organizao biopoltica e avaliao de risco

    (Porter, 1995; Ewald, 1991; OMalley, 1996; Dean, 1999; Rose, 2007).

    Discutirei a possibilidade de expandir a anlise genealgica de Foucault

    para incluir as racionalidades ecolgicas de governo. Baseado em seu

    pensamento, sugiro que possamos olhar por meio da ecologia como

    a ordem das coisas conecta diferentes cenrios de governamentalidade.

    Mostrarei que a ecogovernamentalidade reorganiza as relaes entre os

    conceitos foucaultianos de populao, segurana e economia poltica: trs

    movimentos constitutivos da governamentalidade moderna. Demonstrarei,

    tambm, que a emergncia da ecogovernamentalidade pode ser

    compreendida como a intensificao e transformao da lgica imanente

    que reorganiza as suposies dualsticas e derivativas incorporadas ao nosso

    entendimento do poltico. Meu principal argumento que os estudos da

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    governamentalidade deveriam reconhecer a ecopoltica como uma das

    principais racionalizaes de governo para o sculo XXI.

    O que governamentalidade?

    Governamentalidade uma noo complexa cunhada por Michel Foucault

    no fim dos anos 1970. Este conceito emergiu logo aps Foucault ter

    usado uma microfsica do poder para analisar diversas tecnologias e

    racionalidades de normalizao. Como muitos sugeriram, a anlise do

    micro feita por Foucault, disseminada e sempre mudando o lugar do

    poder/saber, chegou maturidade com a publicao de Surveiller et Punir

    [Vigiar e Punir]em 1975 (Foucault, 2004a). Ento, seu olhar genealgico

    mudou o foco para o problema do governo (Dean, 1999; Rose, 1999;

    Gordon, 1991; Burchell, 1996). Essa mudana aconteceu em resposta a

    duas crticas: que ele havia negligenciado o macro (ou seja, o Estado) a

    favor do micro, e havia retratado as relaes de poder/saber de modo a

    sugerir que qualquer projeto (ou sujeito) de emancipao estaria condenado(Gordon, 1991). Ao se dirigir para o problema do governo mais diretamente,

    Foucault foi capaz de mostrar que tais crticas eram equivocadas.

    Para Foucault, os nveis macro e micro de investigao estavam

    intimamente relacionados (Foucault, 2004c). Ele reconheceu que

    a normalizao pela disciplinarizao e individualizao dependia do

    patrocnio do Estado moderno. Seus cursos de 1975-76, focados nas

    prticas psiquitricas voltadas a regular e proteger o corpo social contra

    os perigos da anormalidade, demonstraram, claramente, o seu interesse

    nas economias de poder que tomaram populaes e no apenas indivduos

    como seus primeiros alvos de regulao (Foucault, 1999; 1999a).

    Segundo Foucault, h uma estreita ligao entre a governamentalidade

    moderna e a progressiva medicalizao das estruturas sociais (1999b; 2003b).

    As racionalidades reguladoras da normalidade e anormalidade expandem

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    tanto o escopo da investigao do que torna possvel os desviados,

    quanto o alcance das intervenes sociais e disciplinares (Foucault, 1999a).

    A estreita regulao disciplinar de corpos individualizados simplesmente

    no suficiente. Para entender as causas das anormalidades sociais,

    as recm-nomeadas corporaes mdico-sociais e os cientistas sociais

    emergentes tiveram que investigar as origens do que constitui e transmite

    a anormalidade. Para isso, tiveram que examinar, minuciosamente, a

    infncia dos desviados e, posteriormente, regular mtodos de paternidade;

    investigaram as marcas genticas e intergeracionais que pareciam transmitir

    as doenas sociais; estudaram o meio no qual o desvio era mais propenso

    a emergir e tentar mud-lo. Alm disso, os novos cientistas sociais

    tiveram que avaliar os ambientes especficos e as relaes que produziram

    novas formas de anormalidades. Assim, eles puderam produzir os dados

    calculveis necessrios para gerar racionalidades de governo; aquelas que

    administrariam ambientese relaesde modo a conduzir a conduta de

    pessoas em direo normalidade, liberdade e segurana (Osborne, 1996).

    Foucault v uma conexo entre diferentes prticas disciplinares, economiasbiopolticas de poder emergentes e diversos dispositivos de Estado. Contudo,

    para ele, o Estado no o telos da poltica, nem sua materializao final,

    assim como no simplesmente um dispositivo de poder ou de reproduo

    capitalista. Outras relaes aparecem quando o Estado analisado na

    maneira em que Foucault estudou a normalizao e a disciplinarizao

    (Foucault, 2004a; 2003a), em particular, diferentes economias de poder e

    produes de verdade. Neste sentido, possvel ver como a verdade

    da poltica de Estado internalizada para produzir modelos especficos de

    subjetividade, tipos de liberdade e padres de resistncia.

    Foucault no evita a anlise sistemtica da poltica ou o problema

    do Estado moderno. Ao contrrio, ele reposiciona o Estado moderno

    como uma figura histrica e contingente na histria mais ampla das

    tecnologias de poder e racionalidades de governo que ele chama de

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    governamentalidade (Foucault, 2004b). Do mesmo modo que ao oferecer

    uma anlise sistemtica das inter-relaes das diversas economias de

    poder, Foucault no est sacrificando a dimenso analtica necessria

    para fundamentar suas afirmaes tericas, nem est nos dizendo o que

    devemos finalmente amar, endossar ou odiar ao fim de sua anlise.

    A liberdade como outra coisa

    O suposto silncio normativo no trabalho de Foucault levanta a

    questo da liberdade, base da segunda crtica, qual ele responde. Aolongo de seu trabalho sobre a governamentalidade, Foucault examina os

    meios pelos quais as pessoas experimentam a liberdade (e, portanto,

    subjetividade) via diferentes prticas, racionalidades de governo e

    tecnologias de poder. Foucault no s expe que as maneiras pelas

    quais ns experimentamos a liberdade so contingentes, como tambm

    mostra que a liberdade pode ser deslocada de sua frequente encarnao:

    o eu como uma entidade transcendental. Ao ressaltar o fato de que aliberdade antes de qualquer coisa constituda e conceitualizada por

    prticas, Foucault se distancia da ideia de uma essncia ontolgica ou

    apriorstica do eu trans-histrico. Tal eu imaginado pode ser capaz de

    se liberar de qualquer regime (tradicional, cultural ou governamental),

    pela fora de adotar, contestar ou produzir prticas (Prozorov, 2007). No

    entanto, tal liberdade est sempre situada dentro de diversas conexes

    culturais e institucionais ainda que abertas de prticas de relaes

    e racionalidades pelas quais a ao livre no a liberdade

    posteriormente internalizada como significativa pelos agentes das

    relaes, os quais se referem a si mesmos como agentes desta ou

    daquelaliberdade.

    Isso significa que Foucault ope-se a todas as possibilidades de liberdade

    individual? Claro que no: significa que o que entendemos por liberdade

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    (ou como resistncia em sua traduo liberal) no uma quintessncia

    humana. O que entendemos por liberdade emerge de um processo histrico

    varivel de negociao muito especfico sobre diversas racionalizaes ticas

    que, por sua vez, operam por um padro cultural de racionalidades locali-

    zado e especfico. Portanto, pelo fato dessas prticas de liberdade serem

    inerentemente relacionais (e, portanto, reversveis), contingentes e altamente

    contextualizadas, elas no esto suscetveis a nenhum tipo de definio ine-

    quvoca sobre o que liberdade possa ser. Nenhuma governamentalidade

    pode congelar nossas negociaes sobre a liberdade: no pelo fato do eu

    ser o eptome ou o lugar de alguma resistncia transcendental j pressupos-

    ta por todas as formas de ao governamental, mas porque nunca nenhum

    regime de governo poder suprimir o inesperado e as relaes sempre mut-

    veis constitutivas da nossa experincia de liberdade, nem a condio de sua

    prpria contingncia como um regime particular de governo. assim que

    ns podemos entender melhor Foucault quando afirma que no h melhor

    garantia da liberdade do que ela mesma. Podemos compreender a liber-

    dade sem adotar nenhuma concepo predeterminada, transcendental oua-histrica sobre ela, amarrada nossa atual compreenso (Tully, 1999:138).

    H um foco inerente sobre a questo da emancipao nos estudos sobre

    governamentalidade que revela as condies contingentes da nossa histria

    atual. Eles o fazem ao mesmo tempo em que esboam a possibilidade de

    um futuro diferente, deixando para a prxima gerao a capacidade de

    decidir qual deve ser seu futuro comum. Assim, esses estudos acreditam,

    com uma f nunca vista, na nossa capacidade de criar melhores modelos

    de relaes e interaes quando necessrio. Eles colocam a imaginao

    antes do julgamento, e o julgamento antes de qualquer verdade dogmtica.

    nesse sentido que a noo de governamentalidade de Foucault reintroduz

    a liberdade na poltica; no necessariamente pelo lugar individualizado da

    resistncia eterna, mas por introduzir a existncia histrica, contingente e

    humanamente inventada das diversas e mltiplas formas de racionalidades

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    de governo. Deste modo, Foucault situa a liberdade humana em um

    processo inter-relacional de negociaes permanentes e abertas onde ns

    coletivamente traamos nossos diversos entendimentos sobre o que

    liberdade, o que resistir, e o que dominar ou ser dominado. Talvez a

    nica injuno normativa de Foucault seja para ns estar atento a

    qualquer padro de relaes que possa imobilizar a prpria possibilidade

    das relaes serem diferentes. Tal ateno impediria a nossa ddiva

    inerente de um futuro indeterminado ao aplicar uma verdade que no

    poderia ser diferente. Foucault sugere um projeto de emancipao aberto

    e sempre renovvel.

    Em direo a uma Ecogovernamentalidade?

    Entretanto, quais so as implicaes de uma governamentalidade verde

    que tem se tornado cada vez mais notada desde a morte de Foucault?

    Quais racionalidades e tecnologias de governo esto implcitas nela?

    Quais as implicaes em aderir a ela? Estas so as questes que eugostaria de investigar na continuidade deste texto.

    O tema da governamentalidade verde problematiza a (re) introduo

    da natureza no centro das racionalidades polticas ocidentais (Darier,

    1999; Luke, 1999; Rutherford, 1999a). Deste modo, o trabalho de

    Foucault de importncia central na anlise da produo e circulao

    de saber, tecnologias e racionalidades de governo que recorrem a

    noes de natureza. Mais precisamente, as amplamente disseminadas

    ecogovernamentalidades e as tecnologias ambientais so vistas como

    extenses das redes disciplinares, descritas por Foucault em Vigiar e

    Punir, e da biopoltica que o interessa em seus trabalhos posteriores.

    Assim, seu conceito de biopoltica ampliado para incluir tudo o que

    seja necessrio para manter a vida pela emergncia de diversas prticas

    e regulaes ambientais (Luke, 1997; Rutherford, 2007; Darier, 1999).

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    Dois pressupostos epistemolgicos so usualmente incorporados em tais

    estudos genealgicos da natureza. Primeiro, frequentemente sugerido

    que a natureza aparea como algo sem importncia ao menos ou

    at que certos seres humanos lhe deem significado ao interpretar alguns

    de seus signos ambivalentes como importantes para eles (Luke, 1999).

    Segundo, isto dito porque constantemente os humanos olham para os

    padres naturais de maneiras diferentes: o significado da natureza ser

    sempre mltiplo, mvel e em constante mudana (Luke, 1999).

    No entanto, tais suposies no geram consenso algum entre os intelectuais

    para quem a natureza se refere a processos biofsicos primordiais que

    sustentariam e at mesmo determinariam o que ns entendemos

    por cultura. Embora ainda seja possvel argumentar que esta forma de

    objetividade apenas uma maneira de entender a natureza entre muitas

    outras, eu gostaria de sugerir que o projeto de examinar a emergncia

    de racionalidades ecolgicas no necessariamente destinado a definir o

    que a natureza per se. O projeto de compreender as relaes de poder

    incorporadas nas formulaes competitivas de como a natureza deve serentendida no exige que ns saibamos o que natureza em definitivo.

    preciso apenas examinar os efeitos que tais formulaes produzem nas

    configuraes sociais e culturais que experimentamos. a que o conceito

    de Foucault de governamentalidade se encaixa: no apenas para explorar

    as dimenses das nossas experincias constitudas por todas as maneiras

    de refletir e agir que visam modelar, administrar, regular a conduta das

    pessoas, mas tambm recolocar a problemtica da normalizao conjugada

    com a natureza, tal como tem sido delineada no ocidente durante os

    trs ltimos sculos (Rose, 1996; Gordon, 1991; Foucault, 2001b). Como

    sugerem Stephanie Rutherford e Eric Darier, o trabalho de Foucault sobre

    a governamentalidade e mais particularmente seu conceito de biopoltica

    pode ser reconstrudo como o estudo da ecopoltica quando as

    condies sob as quais populaes so administradas esto subordinadas a

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    tentativas mais amplas de administrar toda a Vidacom o desdobramento

    de racionalidades ecolgicas de governo (Rutherford, S., 2007; Darier,

    1999). Deixem-me expor trs exemplos sobre tais reconstrues.

    A governamentalidade dos entres

    Primeiro, poderamos expandir a anlise de Foucault sobre

    governamentalidade para investigar como a ordem das coisas incluiu,

    progressivamente, variveis como vida, sade, sustentabilidade e

    ambiente, para gerar novas racionalidades de governo destinadas a darvisibilidade s relaes entre as coisas pela produo de racionalidades

    ecolgicas de governo. Desse modo, podemos ver que estas racionalidades

    no emergiram apenas do contexto de uma crise pelo desmatamento e

    poluio na Europa (ou seja, em um ambiente paraestatal j constitudo),

    mas tambm no contexto de uma expanso colonial que foi concebida

    como uma soluo para tais problemas (Moore, 2007). Assim, a emergncia

    dessas racionalidades aparece intimamente relacionada expanso dospoderes martimos venezianos, franceses, holandeses e ingleses, todos

    competindo por atividades comerciais em lugares estratgicos que incluem

    as colnias das ilhas ocenicas e diversas plantaes particularmente

    sensveis ao desmatamento e eroso do solo. De fato, problemas do

    ltimo tipo levaram a novas conscientizaes ambientais relacionadas

    especificidade da terra, botnica, meteorologia e produo de mapas,

    por exemplo (Grove, 1995: 475). Grove insiste que foi nas colnias

    tropicais que os cientistas perceberam pela primeira vez a velocidade

    extraordinria com que as pessoas, os europeus em particular, puderam

    transformar e destruir o seu ambiente natural (Grove, 1998). Em meio

    produo de tal saber e ao desenvolvimento de habilidades necessrias

    para explorar colnias distantes, emergiram as mltiplas relaes de

    poder/saber que progressivamente formataram a ecologizao do nosso

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    entendimento de poltica (Moore, 2007; Headrick, 1988; Crosby, 1986).

    Relaes como estas podem ser traadas no apenas nas incorporaes

    coloniais europeias e nas inovaes ambientais produzidas por elas, mas

    tambm nas crescentes preocupaes que tais atividades estimuladas

    em direo ao outro no-europeu encontrado nessas regies tropicais

    diante dos quais os europeus modernos formataram sua identidade em

    aspectos importantes. Todas essas relaes e preocupaes contriburam

    para uma percepo global da interconectividade natural e intercultural

    (Grove, 1995: 476; Goodie, 2006: 33). Ao expandir a leitura de Foucault

    sobre a governamentalidade para incluir a ecogovernamentalidade,

    podemos aprofundar nosso entendimento do problema de governo. Este

    ltimo acrescenta a essas relaes intermedirias que conectaram os

    diferentes cenrios de governamentalidade via um ambiente primordial,

    progressivamente colonizado por vrias relaes de poder/saber, em uma

    tentativa crescente de governamentalizar a natureza. Ento, contrao

    argumento de Lipschutz de que se a governamentalidade refere-se

    gesto, ento o ambiente poltico e a praxisno se referem, pois apoltica desafia o prprio fundamento constitutivo da governamentalidade

    neoliberal (Lipschutz, 2004: 242) podemos contestar que a emergncia

    das preocupaes ambientais do ocidente estavam intimamente ligadas

    expanso econmica desde o comeo. De fato, a disseminao do

    colonialismo administrativo e a formatao dos diversos dispositivos

    polticos para governar distncia estabeleceram, desde o sculo

    XV em diante, a rede global da qual as chamadas racionalidades de

    governo neoliberais avanadas iro mais tarde emergir.

    Da biopoltica ecogovernamentalidade

    Segundo, ao expandir a anlise de Foucault sobre a biopoltica de

    modo a incluir a ecogovernamentalidade, podemos investigar as diversas

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    conexes entre os dois conceitos que formatam a governamentalidade

    moderna. Podemos notar, por exemplo, que o conceito de ambiente

    tambm foi modelado pela emergncia das estatsticas e de modos

    indutivos de raciocnio, levando a cincias computacionais e modelos

    preditivos, todos operando para tornar as relaes caticas e aleatrias que

    esse conceito implica em previsveis e, portanto, controlveis (Foucault,

    2004b; Hacking, 2006; Rose, 1999). Da, acompanhando os insightsde

    Foucault sobre a significncia poltica das estatsticas, podemos explorar

    os caminhos pelos quais a progressiva matematizao da natureza

    tem possibilitado diversas racionalidades e tecnologias ecolgicas para

    produzir uma ampla gama de normas que se referem natureza,

    no apenas para complementar o poder do dispositivo da soberania-

    lei, mas tambm para dar forma a uma srie de reivindicaes de

    verdades sobre modos ecolgicos de conduta pelos quais se espera

    que indivduos racionais governem a si e aos outros (Desjardins, 1999;

    Ashford e Caldart, 2008).

    Alm disso, ao explorar os meios pelos quais o conceito de populao(como um corpo-espcie) e ambiente (como sua necessidade territorial)

    esto relacionados, podemos localizar a emergncia de diferentes

    racionalidades de governo fazendo uso de diversas metforas orgnicas,

    de crescimento e de sade, para explicar as relaes entre as duas noes

    atravs da formao de disciplinas cientficas como a ecologia.

    sabido que a ecologia e suas ticas associadas emergiram amplamente

    como uma reao contra o antinaturalismo atribudo aos modelos

    cientficos utilitaristas, ou seja, como uma reao que pretende expandir

    o foco redutivo e completamente mecnico desses modelos, ao mesmo

    tempo em que mantm os mtodos de laboratrio intactos (Goodie, 2006:

    36). Menos conhecida a brilhante observao de Jo-Ann Goodie, que

    aponta a afiliao entre a teoria da evoluo de Darwin e a emergncia

    da ecologia para explicar a resoluo desta ambiguidade, ressaltando,

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    assim, a influncia do que se tornaria uma cincia dedicada a examinar

    tudo no ambiente fsico e biolgico que afetou a sobrevivncia em seu

    entendimento mais amplo (Goodie, 2006: 37; Hawkins, 1997: 136).

    Fortemente influenciado por tais representaes ecolgicas, os sculos

    XIX e XX testemunharam a emergncia de diferentes racionalidades

    de governo trabalhando ativamente na conexo de argumentos mdicos,

    sociais, econmicos, biolgicos e ambientais para formular diferentes

    padres evolucionrios nos quais no s a vida, mas a administrao

    de tudo o que a inclua torna-se critrio primordial na orientao das

    aes polticas (Robert, 1938; Campbell, 2007; Schneider, 1990; Jones,

    1986). Tais padres evolucionrios contriburam significativamente para

    dar forma cultura moderna que se viu com o direito natural de

    dominar os inferiores de acordo com a lgica evolucionista na qual

    apenas os organismos bem adaptados, abastados e tecnologicamente

    avanados sobreviveriam (Hawkins, 1997). A traduo econmica desse

    argumento requereu progressivamente que todos os recursos naturais

    incluindo populaes humanas fossem vistos como commoditiese/ou recursos do Estado que deveriam ser monitorados, protegidos e

    ampliados por uma grande variedade de ecoespecialistas que trabalham,

    em grande parte, em coordenao com os agentes do Estado (Broberg

    e Roll-Hansen, 1996). Sociedades inteiras, consequentemente, foram

    analisadas e comparadas no mbito de sua produtividade de trabalho,

    vitalidade, bom comportamento, adaptabilidade e poderes econmicos,

    levando ao desenvolvimento de prticas raciais e eugenistas baseadas

    em classes, orientaes sexuais, localizaes geogrficas e distines

    etnolgicas e tecnolgicas para classificar a continuidade evolucionria

    da raa humana (Foucault, 1999a: 229; Rose, 2007; Bauman, 1989).

    Portanto, bvio que o conceito de populao, ou mesmo de vida,

    no poderia ter sustentado sozinho a articulao da biopoltica que, de

    acordo com Foucault, opera pela expanso de racionalidades mdicas,

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    implantao do racismo de Estado, dispositivos de segurana, inferncias

    estatsticas e pela emergncia da economia poltica (Foucault, 2004b; 2004c).

    Ao aprofundar o argumento evolucionista, podemos ento ampliar o

    estudo de um conjunto de estruturas no qual tudo o que necessrio para

    a vida e no apenas para a vida capturada pelo conceito de populao

    e raa teve que ser considerado pela integrao poltica de diversas

    cincias ecolgicas (Foucault, 1999: 52). Em outras palavras, podemos

    ampliar a problematizao da governamentalidade moderna ao sugerir que

    os problemas da vida, do ambiente e do governo coincidem agora

    com a emergncia da ecopoltica, cristalizando, assim, uma relao

    de poder/saber que reorganiza profundamente de maneira relacional os

    trs movimentos constitutivos da governamentalidade moderna: governo,

    populao e economia poltica (Rutheford, 1999a, 1999b; Luke, 1999;

    Darier, 1999; Goodie, 2006).

    Ecogovernamentalidade: intensificao e transformaes

    Finalmente, ao expandir nossa anlise de governamentalidade para

    incluir o estudo da ecogovernamentalidade, podemos ver a intensificao

    da lgica imanente que atravessa as diferentes racionalidades de

    governo analisadas por Foucault. Podemos estudar essa intensificao

    nas racionalidades ecolgicas de governo emergentes no contexto

    da globalizao que, de acordo com Law e Barnett, tornaram-

    se a grande narrativa que justifica o fim de todas as outras grandes

    narrativas de mudana social (Redcliff, 2002). Por lgica imanente

    da governamentalidade, refiro-me ideia implcita na raison dtatque

    sustenta os princpios polticos inerentes que devem ser separados de

    qualquer tutela onto-teolgica (Foucault, 2004b: 263; Mallete, 2006: 78).

    A ideia reformulada nas noes de sociedade civil, economia, e

    propriedade privada, entendidos como domnios autnomos designados

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    1Utilizo os termos derivativoe dualsticoacompanhando as excelentes definiesformuladas por John M. Meyer: De um lado, alguns argumentam que a caractersticadistintiva do pensamento ocidental que a poltica (e a cultura humana em geral)est completamente separada da natureza. Eu me refiro a isso como uma explicaodualstica... de outro lado, muitos enxergam o pensamento poltico ocidental comorepleto de teorias normativas derivadas da concepo de natureza, seja a concepo deteologia dos aristotlicos, o mecanismo preciso dos primeiros cientistas modernos, oua mo invisvel da seleo darwiniana. Eu me refiro a isso como uma interpretao

    derivativa (Meyer, 2001: 2).

    aos seus prprios direitos contra o Poltico. Seguindo uma lgica similar,

    parece que as racionalidades ecolgicas de governo contemporneas

    reproduzem tanto as implicaes derivativas quanto as dualsticas

    conectadas a qualquer racionalidade poltica que recorre a nveis de

    realidade mais profundos ou intrnsecos como titulares de suas prprias

    verdades: a natureza algo diante da qual nos deparamos e a que

    devemos escutar1. Deste modo, enquanto essas racionalidades ecolgicas

    abrem novos domnios de interveno poltica com alcance nunca visto,

    elas tambm estabelecem novos limites para a ao humana, agora,

    argumentando que o mundo natural que sustenta toda a vida temregras intrnsecas que nenhum governo ou indstria humana deve violar

    (Agar, 2001).

    No entanto, ao problematizar o planeta como um campo dinmico no

    qual aes humanas ou no-humanas esto inerentemente interconectadas,

    essas racionalidades ecolgicas esto questionando tambm alguns dos

    conceitos-chave do pensamento poltico ocidental (Lipschutz, 2004:

    36). Tais racionalidades questionam frequentemente profundas hiptesesontolgicas e epistemolgicas que sustentam, por exemplo, os meios pelos

    quais o pensamento poltico ocidental compreendeu os limites de uma

    territorialidade ao delinear as fronteiras de uma soberania que, por sua

    vez, justifica a integridade de tais limites ao fazer do territrio nacional

    uma posse. De fato, ao articular uma srie de problemas ecolgicos,

    estas racionalidades no esto apenas criticando o Estado moderno, mas

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    tambm questionando o modelo de socializao capitalista predominante

    sobre o qual ele opera (Lipschutz, 2004: 243; Kuehls, 1996: 130; 1998:

    48). Preocupaes ecolgicas, que incluem a perda da biodiversidade e

    a possibilidade de conflito por recursos naturais que acreditamos ser

    inesgotveis, demandam agora no s uma melhor administrao do

    cenrio ecolgico, mas algum tipo de cordenao que teria como alvo o

    equilbrio ambiental e econmico e a sustentabilidade de todo o planeta

    (Luke, 1999). Em termos econmicos, tais preocupaes podem ser

    reunidas ainda na questo colocada pela Comisso Mundial sobre Meio

    Ambiente e Desenvolvimento 21 anos atrs: como podemos sustentar um

    mundo no prximo sculo com o dobro da populao dependendo do

    mesmo meio ambiente (Kuehls, 1996: 75)? Para colocar isso de outra

    maneira, o futuro parece depender da existncia de um ambiente capaz

    de prover as necessidades humanas em um tempo no qual os canais

    que permitiam o deslocamento de problemas ambientais e de extrao de

    recursos para terras distantes esto se fechando em um ritmo acelerado,

    colocando novamente a chamada economia global como uma das principaispreocupaes (Kuehls, 1998). Em um mundo onde at mesmo pensar

    globalmente e agir localmente um privilgio, os problemas globais

    permanecem como um problema ocidental de vrios modos, seno como

    o pice de um empreendimento colonial que comeou sculos atrs

    (Wilmer, 1998). Uma soluo urgente para a criao de um futuro

    sustentvel, que permita s chamadas sociedades ps-industriais manterem

    um nvel de conforto e opulncia facilitada por sculos de apropriao

    colonial, integrao forada, escravido e assim por diante, ao mesmo

    tempo em que fornea uma fundamentao lgica para as sociedades

    no-ocidentais acatarem o modo de vida moderno, predominantemente

    moldado no ocidente (o livre mercado, consumo em massa, o Estado

    liberal democrtico, e assim por diante) e uma frmula de moderao que

    mantenha as condies ambientais exigidas para que esse modo de vida

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    2A expresso modelo keynesiano-westfaliano de Nancy Fraser (2007).

    continue. A ecopoltica aparece como o domnio no qual essa situao

    se apresenta.

    Desde os trabalhos desbravadores de Aldo Leopold (1966), vrios

    pensadores ecolgicos articularam diferentes solues. Eles variam da

    criao de uma nova ordem global (Ward e Dubos, 1972) ao autoritarismo

    centralizado por meio de instituies do Estado (Ophuls, 1977; Hardin e

    Baden, 1977); verses hbridas das duas, que projetam prticas liberais

    ou republicanas em grande escala (Ferry, 1992); comunalismo (Heilbroner,

    1980); anarquismo (Bookchin, 1991); e parceria entre agentes humanos

    e no-humanos baseada em uma revoluo epistemolgica no pensamento

    ocidental (Merchant, 2003; Kuehls, 1998; Serres, 1990; Latour, 2004). Essas

    solues variam da constatao de diversos problemas ecolgicos, que o

    modelo keynesiano-westfaliano no mais capaz de conter ou de dirigir

    (demandando desta forma a criao de uma forma centralizada de um

    leviat global capaz de coero planetria nessas questes2), ao argumento

    que diz que enquanto continuarmos a acreditar que os humanos no so

    suscetveis de consentir sem a coero de comportamentos ecoamigveis,criar um governo mundial muito perigoso e/ou inapropriado para tais

    situaes. Outros, embora comecem por constataes ecolgicas similares,

    condenam os modelos polticos ocidentais predominantes pelos quais ns

    temos compreendido as regulaes polticas e sociais. Com frequncia,

    estas solues exigem novas maneiras de entender a diversidade ecolgica

    em termos do valor intrnseco da vida e de possibilidades de mutualismo

    ou outras formas de redes cooperativas descentralizadas capazes de nos

    libertar de padres estabelecidos de relaes hierrquicas.

    Ao olhar para o que constitui apenas uma das fraturas que ope as

    diversas racionalidades ecolgicas de governo, fica claro que a base sobre

    a qual a nossa concepo do poltico se desenvolveu foi perturbada. A

    erupo da natureza na poltica parece demandar novas racionalidades

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    17/2220www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    de governo e ticas de relaes (Curry, 2006; Desjardins, 1999). Tais

    demandas geram tanto inseguranas quanto antecipaes ao expor, direta

    ou indiretamente, o quo contingentes e dependentes so as nossas

    maneiras de pensar a poltica em relao aos contextos especficos em

    que elas ocorrem. De um lado, essas inseguranas se traduzem tanto

    como uma aproximao neorrealista, para a qual a centralizao do

    poder e o monoplio da violncia institucionalizada aparecem como

    as nicas solues para resolver as diversas crises que a humanidade

    pode encontrar, como um argumento populista de que a emergncia da

    conscincia ecolgica um subproduto da modernidade e, como tal, uma

    evoluo desse soberbo ethosdemocrtico que as civilizaes ocidentais

    produziram para salvar o mundo de sua barbrie (Ferry, 1992). De outro

    lado, encontramos pensadores que nunca desacreditaram do nosso ethos

    revolucionrio adormecido e nunca duvidaram do retorno de uma grande

    narrativa, poderosa o bastante para varrer tanto o nosso realismo ocidental

    quanto o espartilho cartesiano e as aproximaes neopirrnicas e suas

    vises rizicas e dispersas de liberdade como constantes trocas de ladode resistncia, compatveis com o capitalismo e outras relaes hierrquicas

    de poder em suas constantes reformas. Para esses revolucionrios, a

    natureza representa o ltimo salvador, o derradeiro solo para eliminar a

    procura de qualquer outra base filosfica para aes, a saber, o nico solo

    monoteisticamente verdadeiro: a Terra (Weston, 1994 apudMeyer, 2001).

    Ao explorar os impactos dessas diversas consideraes ecolgicas,

    podemos ento explorar no apenas a intensificao como tambm a

    transformao da lgica imanente que descrevemos anteriormente.

    Podemos entender melhor uma lgica ecolgica que reorganiza de

    maneira profunda as hipteses dualsticas e derivativas incorporadas no

    nosso entendimento do Poltico. Podemos entender melhor a rearticulao

    de novos conjuntos de distines operando para tornar convincentes as

    justificativas de empreendimentos ecolgicos disciplinadores/reguladores,

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    e a produo de um conceito mais inclusivo pelo qual a regulao dos

    vivos pode, de fato, expandir-se para tudo o que necessrio para

    a vida: um ambiente interconectado e primordial, que as sociedades

    tecnologicamente avanadas e seus cientistas esto agora em posio de

    prever, policiar e regular (Osborne, 1996: 116-117).

    Por isso, do que aparece como diversos indicadores de uma episteme

    ecolgica emergente, o problema do governo aparenta ter alcanado

    uma nova fase crtica. O drago, novamente, est para trocar de pele.

    Assim como novas medidas esto substituindo as velhas, as racionalidades

    de governo contemporneas parecem estar convergindo na direo de uma

    noo mais ampla do que a de vida, populao, raa, ou economia

    para reformular sua legitimidade de ao. Essas racionalidades de governo

    esto agora se aproximando da necessidade de governar o tecido das

    relaes que ligam tudo e qualquer coisa, que apoia todos os seres vivos

    e no-vivos do mesmo modo, e que faz das fronteiras internas/externas

    uma questo secundria. Essa Me-Mnada a natureza em toda a sua

    complexidade, diversidade e unidade, isto , um ambiente planetrio quetodos ns compartilhamos, humanos ou no-humanos atores/sujeitos/objetos,

    da mesma maneira.

    Traduo do ingls por Anamaria Salles.

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