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    Apresentao

    Moiss identificado como o amigo de Deus, e sabemos que ele era tartamudo.

    Por que Deus no o curou? Paulo, colaborador de grande confiana, suplicou trs vezes

    que o curasse de um aguilho na carne. Por que no respondeu a quem havia declarado:Para mim, o viver Cristo e a morte, um lucro?

    Durante Seus trs anos de ministrio, Jesus fez brilhar o sol da cura, seja no campo

    dos justos, seja no terreno dos pecadores. Curou crianas, adolescentes e uma

    hemorrossa; pessoas com males incurveis ou enfermidades terminais. Em Nazar, Sua

    cidade natal, onde habitavam Seus parentes e conhecidos, quase no realizou milagres.

    Tampouco os fez em Betnia, onde no restabeleceu um antigo amigo Seu que estava

    beira da morte.

    Prodigalizou curas em grupo e a todos quantos acorriam a Suas pregaes junto aolago ou nas sinagogas. A maior parte de Seus milagres ocorreu em favor de

    desconhecidos e, estranhamente, no respondeu splica de uma famlia muito querida

    na Judeia.

    Jesus dirigiu-se a toda a pressa casa de Jairo, cuja filha se encontrava moribunda,

    entretanto, demorou-se em chegar casa de Lzaro, e quando finalmente chegou,

    pareceu indiferente em relao a Marta e a Maria, que sofriam com a morte de seu

    irmo.

    Toma a iniciativa de curar a orelha de Malco, no Getsmani, ou a mo seca nasinagoga, mas parece no se interessar por pessoas que Lhe so to prximas.

    Atendeu filha da srio-fencia e ao filho de um centurio romano, que eram

    estrangeiros, porm no faz milagres em Sua ptria, na terra onde vivem Seus familiares.

    Endireita uma mulher que vivia encurvada h 18 anos, sempre voltada para o cho.

    Mas por que no evita o sofrimento de Suas amigas? Diz a Madalena que no chore,

    mas Sua ausncia produz abundantes lgrimas em Maria e reclamaes justificadas de

    Marta, a quem nos consta que amava.

    Seu ministrio se resumia em ensinar e curar, tanto nas sinagogas quanto nas praaspblicas. A florescente Galileia dos gentios, a perigosa Judeia e at a separatista Samaria

    foram cenrios de Seu apostolado. Por isso, So Pedro afirma que passou fazendo o

    bem e curando a todos os oprimidos pelo demnio, fazendo, porm, uma inexplicvel

    exceo: Aquele que curou tantos enfermos no o fez com aquele a quem Ele prprio

    define como nosso amigo Lzaro.

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    Faz um longo percurso de quase 30 quilmetros at Naim, para Sua passagem

    coincidir com o exato momento em que pela porta tiram um jovem morto para ser

    enterrado, filho nico de sua me viva. Sem que ningum pea, Jesus ressuscita o

    defunto. Mas por que chega quatro dias depois do sepultamento de Lzaro? Sua

    ausncia, que se fez presena, provoca os protestos daqueles dos quais a solido cobrou

    altos empenhos.

    O leproso, cuja carne caa aos pedaos, foi curado instantnea e imediatamente,

    todavia, Jesus s volta a Betnia quando o corpo do defunto Lzaro j cheira mal. Por

    que permaneceu mais dois dias na Galileia depois que recebeu a notcia da grave situao

    do irmo de Marta e de Maria?

    Cura um surdo-mudo e liberta um endemoninhado que morava no cemitrio entre os

    sepulcros. Jesus nunca os tinha visto e muito menos falado com eles. Atende

    imediatamente o pai do jovem epiltico, que recorre a Ele para que liberte seu filho,

    porm deixa o tempo correr enquanto uma enfermidade mortal devora a vida de Lzaro.

    o atende s duas irms que Lhe enviaram um mensageiro veloz com o ltimo relatrio

    mdico, esclarecendo-Lhe que se trata de algum a quem Ele ama. esta a maneira de

    tratar os amigos? Seria melhor, ento, no pedir nem orar, s esperar passivamente que

    Ele decida dar alimento s multides annimas?

    Eu no entendo o porqu. Jesus pregou que o primeiro mandamento consistia em

    amar a Deus e ao prximo, ou seja, a quem est mais perto, e Ele preferiu, ao contrrio,

    curar pessoas que viviam em lugares distantes, ou que nem conhecia, em vez de atender

    a quem estava mais prximo de Seu corao e de Sua vida. Ele teria direito a reclamar da

    ingratido de nove leprosos curados milagrosamente, se Ele no agradeceu a Lzaro, que

    O hospedou, a Marta, que O atendeu com solicitude, e a Maria, que ungiu Seus ps com

    blsamo das Glias, de fino perfume e elevado preo?

    De Can, manifestou Seu poder teraputico com o filho agonizante de um oficial do

    rei, que estava a 27 quilmetros de distncia; entretanto, incompreensvel que no

    tenha feito o mesmo com Lzaro, a quem conhecia e chamava de amigo. Nem sequer foi

    casa do centurio romano, porque curou seu filho com uma nica palavra, e no

    retribui de maneira equivalente s irms, Marta e Maria? Ser que o plano de Deus

    abenoar com a cruz da dor e do sofrimento aqueles a quem Ele ama?

    Por que Jesus no restaura a sade de Lzaro em vez de chorar sua morte?

    Responder que no o cura para depois ressuscit-lo uma atitude vulgar e superficial. No

    fundo de todas estas circunstncias, existe uma mensagem evanglica, que o genial artista

    alcunhado Boanerges elabora com trs interpretaes:

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    I. Descobriremos a cura do filho de um oficial do rei, que nada fez para ser

    restabelecido.

    II. Em contraste, nos ser apresentado o paraltico de Betesda, que quer curar-se e

    viver de maneira saudvel, assumindo as consequncias de sua cura: carrega seu

    leito em dia de sbado, ante s crticas e murmuraes dos fariseus.III. Depois destes exemplos que inflamam a luz da f e acrescem a chama da

    esperana, ficaremos assombrados ao constatar que Ele esteve ausente no

    momento em que Seus amigos mais necessitavam Dele.

    Estas pginas efetuaro incurses pelo mistrio dos insondveis caminhos da

    liberdade de Deus, que nos levam questo: por que no cuida daqueles que O amam, O

    servem e O hospedam?

    Estamos diante do mistrio de Sua vontade soberana, que exerce a misericrdia com

    quem quer e cuja balana no pesa nossos mritos e boas obras.Ns no pretendemos apresentar uma resposta, j que, no fundo, vivemos algo

    semelhante. Jesus cura a muitos, liberta da opresso a outros e, contudo, quantas vezes,

    conosco, que O hospedamos na Betnia de nosso corao, no faz o mesmo.

    Ele no deve nada a ningum, uma vez que, quando Lhe oferecemos pousada,

    servimos ou perfumamos os ps do alegre mensageiro, somos ns que lucramos e,

    portanto, no temos direito a cobrar mais nada.

    Adiantamos apenas que, se estivesse em Betnia, ou lhe houvesse dado a mo, para

    recuper-lo, ou houvesse o curado a longa distncia, no haveria tantos instrumentos naorquestra dos que intervm na sinfonia deste prodgio.

    Ao admirar este mosaico de milagres e curas, o Senhor nos dar a inteligncia

    (2Tm 2,7) para encontrarmos no uma resposta terica, mas uma que possa ser aplicada

    nossa vida.

    Guadalajara, Mxico

    15 de maio de 2014

    40o

    aniversrio de escritor

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    IDuas curas complementares

    Jesus cura de diferentes maneiras e com diversas terapias: com a imposio das

    mos, introduzindo Seus dedos nos ouvidos do surdo, com dedos untados com saliva, ou

    lodo, passados nos olhos do cego; caminhando em direo Jerusalm ou lavando-se em

    Silo; cura a longa distncia, ou dando a mo.

    Pessoalmente, eu vivi duas situaes significativas em relao a minha sade, que me

    ajudaram a me abrir, dispondo-me aos diferentes caminhos e formas pelas quais Deus

    intervm em nossa vida.

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    A. CURA DE MINHAS LCERAS SEM QUALQUER INTERVENO

    Em 1981, tive vrias lceras com sangramento. Fui hospitalizado em

    Jerusalm e necessitei , inclusive, de uma transfuso de sangue. Em 1982,

    ocorreu uma nova hemorragia e acabei, novamente, por ser internado no

    hospital por trs dias. No mesmo dia em que recebi alta, meia-noite, voltou osangramento. Nessa obscuridade, entreguei-me ao Senhor, deixando

    incondicional e confiadamente em Suas mos tanto minha sade quanto minha

    enfermidade. Nesse instante, cessou o fluxo sanguneo e no senti mais

    ardumes. Alguns meses depois, tive a oportunidade de fazer um novo exame em

    Houston, para verificar em que estado se encontravam minhas lceras. O

    resultado: totalmente curado! J se passaram mais de trinta e trs anos depois

    desta experincia que marcou minha vida.

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    B. A ALERGIA E AS LAVAGENS NASAIS

    Por muitos anos, sofri congesto nasal, resultando em um mal-estar recorrente.

    Consultei muitos mdicos, realizei grande variedade de exames e anlises para

    detectar alergias, sem apresentar, todavia, qualquer sinal de melhora.

    Encontrei um famoso otorrino, o doutor Jos Miguel Figueroa, que, apsvrios estudos, sugeriu que eu efetuasse cinco lavagens nasais por dia.

    Garantiu-me que esse tratamento era a nica e ltima porta de sada dessa

    alergia. Advertiu-me de que, se no as fizesse, nada em mim melhoraria.

    Como o mal persistiu, recorri homeopatia, mas tampouco obtive resultados

    positivos. Retornei novamente ao doutor Figueroa, confessando-lhe que no

    havia realizado as lavagens. Eu senti que ele se dava por vencido, pois afirmou

    com sinceridade: Senhor Prado, j no posso fazer nada. Minhas

    capacidades profissionais chegam at aqui; mas, se verdadeiramente quercurar-se, vou lhe recomendar o melhor mdico da cidade, e que o nico que

    tem a terapia de que voc precisa....

    Ele me deu um lpis e papel, para que escrevesse o nome do especialista em

    casos como este. Eu estava contente e esperanoso, porque finalmente havia um

    profissional capacitado para me curar de tal alergia que tanto me incomodava,

    especialmente quando estava pregando.

    O otorrino levantou os olhos como para recordar-se de algo. Depois, disse-me

    com segurana: O nico mdico que pode cur-lo chama-se... chama-se...Fez um silncio enquanto coava a cabea, ... chama-se... Jos Prado Flores!

    Se voc prprio no se cuida, no atende nem segue as indicaes, senhor

    Prado, nenhum mdico ou medicamento algum o far por voc. Ningum, nem

    nada! Entende-me? Voc gasta sua sade viajando e ajudando muitas pessoas.

    J chegada a hora de se amar e de cuidar de si mesmo.

    E assim eu aprendi que, por vezes, Deus nos cura de forma direta, sem interveno

    humana; todavia, em outras ocasies, pede nossa colaborao.

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    Antes e depois de

    Existem duas curas evanglicas que esto intimamente ligadas, como diferentes cores

    do mesmo arco-ris, e que nos mostram que Deus no tem receitas nem moldes para

    curar, pois usa um mtodo em determinado dia, e, em outro, muda Sua terapia, no se

    centrando nas enfermidades, mas sim nos enfermos. A primeira das curas aconteceu emCan, e a segunda, em Jerusalm.

    Estamos nos captulos 4 e 5 do Evangelho de Joo, o qual fcil de entender se

    usamos uma chave mestra: no h que se deter na materialidade do que dizem as

    palavras, mas sim no que significam suas mensagens; no basta a interpretao

    superficial de um barco, fazendo-se necessrio tomar um submarino para penetrar

    nas profundezas dos acontecimentos.

    Deus Deus e cura quando quiser, como quiser e a quem quiser. s vezes, o realiza

    de forma instantnea e milagrosa, como no caso do paraltico que aparece no captulodois de Marcos. Em outras, mediante uma terapia que exige a cooperao humana, como

    ocorre com o cego, que deve ir at Silo. E tambm, em certas ocasies, Ele o realiza

    por meio de um mdico (cf. Eclo 38,1.4.6-7).

    H pessoas que no creem nem se dispem a curas extraordinrias; outras, ao invs,

    no aceitam o processo de determinada terapia ou o tipo de medicamento. Tampouco

    faltam os que resistem consulta de um terapeuta que exigir deles uma mudana de

    alimentao, o abandono do cigarro ou a renncia ao lcool.

    Deus cura de diversas formas. preciso estar aberto a qualquer uma delas. Vamosconsiderar duas formas que contrastam entre si:

    Depois disso, houve uma festa dos judeus (Jo 5,1a).

    O evangelista estabelece a conexo entre dois sinais portentosos de Jesus mediante

    um elo:

    met tata: depois disso, supondo que ocorrem um aps outro, embora

    aconteam em diferentes cenrios geogrficos e, no mnimo, com uma semana deseparao. Talvez porque cada prodgio contm um ensinamento que no pode ser

    tomado de forma absoluta, complementando-se com o outro sinal milagroso.

    Se o texto inspirado assinala depois disso, preciso ver necessariamente tanto o

    que ocorre antes como o que acontece depois, para ter o quadro completo da variedade

    de mtodos e terapias com as quais o Bom Pastor cura Suas ovelhas enfermas.

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    Antes da:

    Cura do filho do oficial do rei na Galileia.

    Depois da:

    Cura do paraltico da piscina de Betesda em Jerusalm.

    Estes dois sinais esto ligados para nos mostrar que Deus no usa receitas pr-

    fabricadas, porque no se centra nas enfermidades, mas sim nos enfermos.

    Para preparar este tema, visitei primeiro o pequeno povoado de Can, muito

    conhecido por ter sido o lugar do primeiro milagre de Jesus no Evangelho de Joo, porm

    pouco lembrado, porque a partir dali teve origem o segundo sinal milagroso de Jesus: a

    cura, a longa distncia, do filho do funcionrio em Cafarnaum. Iremos nos deter neste

    povoado, para meditar sobre a forma como se realizou tal milagre e como ele oferece a

    primeira parte do ensino dos mtodos teraputicos de Deus.

    Depois, subi a Jerusalm e entrei na cidade cercada de muros pela porta dos lees,

    para chegar a uma formosa e austera igreja, sem imagens nem distraes, somente o

    sbrio altar. Ao fundo, o testemunho de algumas runas onde se descobrem grandes

    cisternas e os fundamentos de cinco prticos aos quais alude o Evangelho de Joo

    quando se refere cura de um homem prostrado em seu leito por 38 anos.

    Ambos os milagres so como as duas faces da mesma moeda e, juntos, constituem

    um indcio de que o importante no a materialidade das palavras, mas sim o significado

    do fato.

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    IIAntes da cura do filho do

    oficial do rei

    O evangelista relata uma tensa visita capital teocrtica de Israel, desafiando os

    interesses dos poderosos e denunciando o legalismo dos fariseus. Jerusalm era

    dominada pelo suntuoso templo, em cuja remodelao Herodes havia gasto 46 anos, mas

    que havia sido profanado pelos comerciantes que transformaram a casa de Deus em uma

    cova de ladres. Jesus, como profeta defensor dos direitos divinos, fabricou um chicote,

    improvisado com algumas cordas, e expulsou os que se serviam da devoo dos fiis e

    fomentavam a religiosidade para seus benefcios pessoais. Obviamente, esta ao

    proftica custou um alto preo traduzido em perseguio contra Sua pessoa e Seuministrio.

    Jesus voltou a Can da Galileia, onde tinha mudado a gua em vinho (Jo 4,46a).

    Depois de passar pelo poo de Jac e encontrar-se com uma mulher sedenta de amor

    duradouro, o Mestre refugia-se em um territrio mais amigvel, rodeado de vinhas e

    oliveiras, com variedade de frutos e um manancial que prov o lquido vital necessrio ao

    pequeno vilarejo de Can, onde um par de recm-casados tem vinho suficiente para toda

    a sua festa matrimonial.

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    A. PAI ANGUSTIADO PEDE A JESUS QUE DESA A CAFARNAUM

    Havia um funcionrio do rei, cujo filho se encontrava doente em Cafarnaum. Quando ouviu dizer que

    Jesus tinha vindo da Judeia para a Galileia, ele foi ao encontro dele e pediu-lhe que descesse at

    Cafarnaum para curar o seu filho, que estava morte. Jesus lhe disse: Se no virdes sinais e prodgios,

    nunca acreditareis. O funcionrio do rei disse: Senhor, desce, antes que meu filho morra! (Jo 4,46b-

    49).

    Um pai preocupado viaja 27 quilmetros com sua comitiva para pedir a Jesus que

    desa imediatamente a Cafarnaum e salve a vida de seu teknon: filho pequeno1,

    que est agonizando. Quando Jesus o censura, ao afirmar: Se no virdes sinais e

    prodgios, nunca acreditareis, aquele homem sofrido est com tanta pressa que nem

    discute: Sim, meu caso exatamente este pensa.Preciso ver um sinal. Por esta razo,

    ercorri um caminho to longo. Acertaste em cheio, Mestre; hoje, porm, poupa Teus

    ensinamentos ou um longo discurso. Urge que resolvas minha situao, que de vidaou morte e requer Tua ateno imediata.

    O oficial pretendia que Jesus percorresse com rapidez a mesma distncia e

    conseguisse chegar antes que seu filho morresse2. No obstante, o Mestre no aceita a

    solicitude do pai e o surpreende com uma cura imediata, a longa distncia. Era uma hora

    da tarde.

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    B. JESUS MELHORA O PLANO E CURA A LONGA DISTNCIA

    O interessante que Jesus muda a sugesto do aflito oficial, que Lhe pedia que

    descesse imediatamente at Cafarnaum. Mas no, Ele o realiza com muito maior rapidez

    do que a solicitada, porque nos atende ainda antes que Lhe apresentemos nossa

    necessidade. O filho de Davi tinha mais pressa de curar do que o pai, que pretendiaconduzir o Mestre at a orla norte do mar da Galileia. Por essa razo, assegura-lhe:

    Podes ir, teu filho vive (Jo 4,50a).

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    C. O PAI CR NA PALAVRA E VAI EMBORA

    O homem acreditou na palavra de Jesus e partiu (Jo 4,50b).

    No apenas cr em Jesus, mas na Palavra do Mestre.

    A f no se limita a aceitar verdades e dogmas que no entendemos. Consisteprincipalmente em crer em uma pessoa real. Por isso, So Paulo afirma: Sei em quem

    acreditei (2Tm 1,12b)3. Alm disso, como consequncia lgica, crer em uma pessoa

    implica em confiar em sua palavra. So atitudes inseparveis.

    O oficial sabe com certeza que conseguiu seu objetivo, embora de forma diferente de

    como o havia planejado, e empreende o caminho de volta, uma vez que sua f no tem

    qualquer parentesco com a passividade, mas constitui um recurso para seguir adiante.

    Enquanto descia para Cafarnaum, os empregados foram-lhe ao encontro para dizer

    que seu filho vivia (Jo 4,51).

    No caminho de volta, encontra alguns de seus servos, que saram para dar-lhe a boa

    notcia de que o pequeno estava vivo4.O funcionrio do rei perguntou a que horas o menino tinha melhorado. Eles responderam: Ontem,

    uma da tarde, a febre passou. O pai verificou que era exatamente nessa hora que Jesus lhe tinha dito:

    Teu filho vive. Ele, ento, passou a crer, juntamente com toda a sua famlia (Jo 4,52-53).

    O pai j o sabia, por isso no fez mais perguntas. Pretendia apenas verificar algo: aque horas Deus usou de misericrdia para com ele e toda a sua famlia? Responderam-

    lhe que uma da tarde, e ele comprovou que foi a mesma hora em que Jesus lhe

    garantiu que seu filho melhorava e viveria.

    Foram postas em ordem as peas do mosaico. Aquele pai oprimido pela dor, que

    correu com toda a pressa para interceder por seu filho agonizante, agora corre mais

    rapidamente para encontrar-se com seu filho vivo.

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    D. TODA A FAMLIA CR

    Graas a esta cura to especial naquela tarde, a famlia cr em Jesus como o sinal do

    grande amor de Deus, que no veio para condenar o mundo, mas para salv-lo. O filho

    recuperado tambm cr e, crendo, tem a vida eterna (cf. Jo 20,31b).

    Dois dias antes havia se inflamado a chama da f, quando um ansioso oficial do reiconfia em uma afirmao especfica de Jesus. Agora que se comprova a realizao dessa

    promessa do Mestre, sua f e a de toda a sua casa se fortalece.

    O Senhor conseguiu o duplo objetivo deste sinal milagroso: suscitar a f e manifestar

    a glria de Deus.

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    E. RESUMO: CURA SEM A COLABORAO DO PACIENTE

    Estamos diante de um caso atpico de cura a distncia e no qual o moribundo nem

    sequer suplica ou pede. Devido, talvez, gravidade da situao, nem sequer se deu conta

    de que seu pai foi interceder por ele. E assim, a sade recuperada mostra a gratuidade da

    graa que Deus outorga quando e como Ele quer.Temos outros casos semelhantes, nos quais o enfermo praticamente nada faz para

    conseguir ou merecer o alvio, acontecendo inclusive, por vezes, de nem sequer solicit-

    lo: o paraltico levado por seus quatro amigos curado e perdoado porque Jesus v a f

    deles,e no a do incomodado. Este no pede sua cura e nem mesmo o perdo de seus

    pecados. O Senhor, porm, se adianta: Filho, perdoados esto os teus pecados. O texto

    de Marcos nada diz sobre este homem estar arrependido, se sentia dor no corao, se

    tinha propsito de emenda ou se teve tempo para enumerar ao Mestre cada um de seus

    pecados. Foi tudo instantneo e gratuito, sem interveno alguma do enfermo (cf. Mc2,1-12), embora para Jesus seja difcil ser acusado de usurpar a autoridade divina de

    perdoar os pecados e de violar a lei de Moiss ao curar em dia de sbado (cf. Mc 2,7; Mt

    12,10b).

    Outro caso semelhante o da ressurreio do filho da viva de Naim, em que tanto o

    ovem defunto quanto sua me nada imploram (cf. Lc 7,11-15). Jesus, por iniciativa

    prpria, comove-se com a dor materna, pois tinha a experincia do sofrimento que sente

    uma me quando perde seu filho, como na ocasio em que Seus prprios pais O

    perderam em Jerusalm, quando tinha apenas doze anos (cf. Lc 2,42-52).Nestes milagres, existe um denominador comum: os enfermos nada fazem para ser

    curados e nenhum deles Seu amigo ou conhecido.

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    IIIDepois da cura do paraltico

    de Betesda

    Se o primeiro sinal acontece na Galileia, o outro ocorre a cerca de 160 quilmetros

    de distncia, o que, nos dias de hoje, no nos parece to longe, entretanto, tomados em

    considerao os meios de locomoo daqueles tempos, e que era preciso contornar

    Samaria, por ser terra de inimigos, podemos estar falando em at uma semana de

    viagem.

    Joo liga os acontecimentos, afirmando: depois disto, como se sucedesse

    imediatamente ou Jesus nada houvesse feito durante toda a semana. O que o evangelista

    quer mostrar a ntima interdependncia entre ambos os milagres, revelando umensinamento complementar, uma vez que, se os separssemos, poderamos considerar

    um mtodo teraputico como sendo absoluto, o que no seria evanglico, j que no final

    teramos mais confiana na terapia do que no amor misericordioso de Deus.

    Assim sendo, para no generalizar e pensar que a nica forma pela qual o Senhor

    cura, o evangelista Joo vai nos relatar outro milagre pleno de significado, para assim

    obter um panorama mais completo dos mtodos divinos que Deus usa para nos curar.

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    A. JESUS RETORNA A TERRENO MINADO

    No captulo dois, encontramos o famoso pregador da Galileia em Jerusalm, onde

    declarada a guerra, quando Ele tomou a iniciativa e arremessou a primeira bomba ao

    improvisar um chicote para expulsar do templo os negociantes que haviam transformado

    a casa de Seu Pai em uma cova de ladres.Jesus era provocador. Tendo outros seis dias para curar enfermos, fazia-o no sbado.

    Ademais, no observava os ritos de purificao antes de comer e era amigo de

    publicanos e pecadores. Nada mais distante do ousado pregador da Galileia do que um

    manso cordeiro. No. Ele vivia em permanente conflito com as instituies decrpitas, os

    interesses comerciais revestidos de piedade popular e o ritualismo do templo de

    Jerusalm, onde era mais importante o ouro do altar do que o sacrifcio (cf. Mt 23,16-

    17).

    O pior foi o fato de ter afirmado que o templo, sim, o nico lugar onde estavaradicada a presena divina, no devia ser remodelado, mas destrudo; e que no ficaria

    edra sobre pedra, porque Ele, em trs dias, edificaria um novo. Tais atitudes, to

    contrrias s tradies religiosas e mais pura ortodoxia, eram a melhor maneira de

    arranjar inimigos para Si, especialmente entre os hierarcas e as autoridades da

    organizao religiosa e os estudiosos da Tanaj, que asseguravam que era Jerusalm o

    lugar onde se devia adorar a Deus. Tambm criou inimizades com os fariseus, que se

    empenhavam com af em ganhar a salvao com moedas de boas obras, pelo que

    estavam centrados em observar os mais pequeninos detalhes da lei, e ningum os podiareprovar no sentido de que em algo houvessem transgredido a vontade divina.

    E Jesus subiu a Jerusalm (Jo 5,1b).

    Jesus decide deixar a pitoresca Galileia, com seu mar azul de gua doce que pinta de

    verde a regio, e sobe a Jerusalm, nos limites do rido deserto da Judeia.

    Fazemos aqui uma observao. A maneira lgica, no caso em que Jesus transita de

    norte a sul, seria dizer que desce. Todavia, no assim, sobe-se porque sempre que se

    visita Jerusalm, qualquer que seja o ponto, distncia ou continente em que nosencontremos, se sobe. Esta ascenso no se refere altura em relao ao nvel do mar,

    mas ao subir em esprito, em devoo e em espiritualidade. preciso aumentar a

    esperana e a f para chegar capital. Para Jesus, h tambm um incremento em relao

    fora do perigo e oposio contra Sua vida e ministrio.

    Humanamente falando, era muito arriscado regressar, pois pesava sobre Sua cabea a

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    espada da ortodoxia, que se torna cruel quando no vai acompanhada da misericrdia.

    Parecia mais prudente permanecer longe dos olhos inquisidores daqueles que buscavam

    faz-Lo desaparecer da cena. A cidade de Davi era terreno minado com ataques,

    inspees, ameaas e at tipos diversos de atentados contra o pregador de boas

    novidades, que desestabilizava a religiosidade de pessoas piedosas, mas, especialmente,

    os interesses dos hierarcas, os quais, sob a aparncia de servir a Deus, Dele se serviam

    para seus prprios interesses.

    Apesar de tudo, Jesus decidiu encaminhar-se capital, onde precisava andar com ps

    de chumbo, com extremo cuidado quanto ao que dizia ou fazia. Em dada ocasio, foram

    to ameaadores os ventos que anunciavam a tormenta, que preferiu esconder-se e no

    fazer muito rudo com pregaes desafiadoras ou milagres extraordinrios (cf. Jo 11,54).

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    B. PISCINA MILAGROSA DE BETESDA

    No foi ao templo seno at a porta das ovelhas. Evitou sentar-se e ensinar no

    prtico de Salomo, onde frequentemente o fazia (cf. Jo 10,23). O Bom Pastor decidiu

    encaminhar-se porta das ovelhas, onde se encontrava uma piscina milagrosa, em

    aramaico denominadaBetzat, que significa casa de misericrdia.

    Existe em Jerusalm, perto da Porta das Ovelhas, uma piscina com cinco prticos, chamada Bezata em

    hebraico. Muitos doentes, cegos, coxos e paralticos ficavam ali, deitados [esperando que a gua se

    movesse. De fato, um anjo descia de vez em quando e movimentava a gua da piscina, e o primeiro

    doente que nela entrasse, depois do movimento da gua, ficava curado de qualquer doena que tivesse]

    (Jo 5,2-4).

    De quando em quando, sem prvio aviso, a divina misericrdia visitava Seu povo por

    meio de Seu anjo

    5

    , que agitava as guas. O primeiro enfermo que submergisse nelas eracurado de qualquer mal que o acometesse.

    Se a doena fosse simples e a cincia medicinal de Hipcrates (460-370 a. C.) j

    houvesse encontrado a cura, ento as pessoas recorriam aos mdicos e hospitais.

    Entretanto, se j se houvessem esgotado todas as possibilidades e todas as portas

    estivessem fechadas, ento os desesperanados vinham cobrir-se sombra do portal da

    piscina, esperando ardentemente por um milagre.

    Debaixo daqueles cinco prticos, condensava-se a dor humana. Contrastando com os

    cantos de louvor, mas em sintonia com os balidos das ovelhas que eram sacrificadas,ouviam-se os longos ais e os lamentos dos enfermos. Em Betesda palpava-se o

    sofrimento. O clima era pesado, e uma nuvem negra de dor invadia o ambiente. Apenas

    uma pequena chama de esperana iluminava aquela neblina de sofrimento.

    Muito embora as visitas do anjo celestial fossem espordicas, ali eram curadas todas

    as doenas, de maneira especial as que ningum podia curar:

    Doenas fsicas: rgos externos e internos; fgado, corao ou pulmes, o

    sistema respiratrio, digestivo ou circulatrio; cegueira, paralisia, diabete, alergias e

    tudo o que se refere pele, at mesmo a incurvel lepra. Perturbaes psicolgicas: depresses, angstias, neuroses, medos, feridas

    afetivas, pessimismos, tristeza crnica e obsesses mentais.

    Enfermidades morais: ms relaes com os demais, principalmente na famlia;

    escravido com as drogas, o lcool ou o sexo; mentira, homossexualidade, dios,

    rancores e desejos de vingana.

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    Desajustes espiri tuais: autossuficincia e autonomia diante de Deus ou busca de

    salvao por si mesmo, ao invs de abrir-se ao dom gratuito da salvao.

    Como relmpago que surge repentinamente no cu, um anjo agitava as guas a fim

    de transmitir-lhes um poder teraputico, e aquelas guas, uma vez estancadas,

    transformavam-se em medicamento para qualquer doena. No havia nada impossvel.Tudo tinha remdio, com a nica condio de que fosse a primeira pessoa a lanar-se na

    piscina.

    Os enfermos mantinham-se espalhados pelos quatro lados do reservatrio. De dia,

    protegiam-se do calor sufocante e, noite, abrigavam-se sob aqueles cinco prticos.

    Entre a multido de pacientes, Joo destaca especialmente os cegos, os coxos e os

    paralticos.

    Os cegos personificam os que vivem nas trevas da ignorncia e no veem nenhum

    caminho em sua vida. Tudo est escuro em sua existncia. Os que no viam eram osltimos a se dar conta do que acontecera, e por isso no podiam chegar cisterna

    milagrosa.

    Os coxos so capazes de caminhar, todavia necessitam de um basto para equilibrar-

    se. Falta-lhes o controle de seus movimentos. Podem ver, porm sua lentido os deixa

    atrs e outros sempre levam vantagem sobre eles.

    Os paralticos no se movem por si mesmos, tm necessidade de um fator externo

    para seguir em frente.

    Estes trs tipos de pessoas parcialmente invlidas tinham mais dificuldades do queoutros para serem beneficiados com a cura milagrosa, motivo pelo qual, logicamente, a

    cada dia se concentravam mais cegos, coxos e paralticos em torno da maravilhosa

    piscina. Infelizmente, maior demanda de pacientes, correspondiam menos

    probabilidades de ganhar a loteria de uma cura.

    Os enfermos mantinham-se atentos gua, sem pestanejar, porque Deus costumava

    surpreend-los com visitas inesperadas. Ningum falava nem se distraa com o vizinho

    porque se arriscaria a perder a oportunidade ansiosamente desejada por tanto tempo.

    Cada um e todos concorriam para ganhar a disputa. Alguns contavam com a sorte deestar acompanhados por um familiar ou amigo que os ajudava a ser o primeiro a entrar

    na portentosa piscina.

    curioso o fato de que, em se tratando de um evento teraputico to especial, o

    mdico Lucas no nos fale a respeito dele, o que se torna motivo para que alguns

    comentaristas questionem sua historicidade6.

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    C. UM HOMEM QUE NASCEU PARA SOFRER

    Agora, tomo a liberdade, como escritor, de cerrar a lente de minha cmera para

    centrar nossa ateno. Fomos transportados velozmente de Can para a cidade de

    Jerusalm, que estava em festa. E agora, vamos nos concentrar na piscina de Betesda,

    onde havia uma grande multido de enfermos e trs tipos foram selecionados. Focalizoagora um nico homem que nos mostra o drama de sua dolorosa vida e sua solido

    existencial.

    Encontrava-se ali um homem enfermo havia trinta e oito anos (Jo 5,5).

    Este homem encarna a dor nesse limiar da esperana, a mesma que se desvanece

    cada vez que, arrastando-se, se lhe escapa a cura tantas vezes esperada. Seu sonho

    transforma-se em pesadelo, e parece estar condenado a morrer de igual maneira. Mas

    por que permanece ali, se sabe que jamais ganhar a disputa para recuperar sua sade?No sabemos seu nome; qui se chamasse como qualquer um de ns.

    Desconhecemos sua condio de ser rico ou pobre; talvez fosse como cada um de ns.

    E, o que mais importante, no temos informao a respeito de sua devoo nem de sua

    vida moral. Sendo paraltico, talvez lhe ficassem reduzidas as possibilidades de cometer

    certos pecados com seu corpo. Entretanto, provvel que existam outros mais graves do

    que os de ordem fsica.

    Tampouco sabemos sua idade exata, apenas que levava em conta seus anos de

    enfermidade, que j somavam quase quarenta. Na mentalidade bblica, esse nmerosignifica os anos de existncia de uma gerao. Assim, pois, estava para encerrar o

    crculo de sua vida, que havia transcorrido no sofrimento, e se aproximava do crepsculo

    de sua existncia, uma vez que lhe faltava muito pouco para descer s sombras do sheol(lugar dos mortos, na Bblia). O certo que nos representa de maneira admirvel. Por

    essa razo, mais adiante devemos abordar o relato no como espectadores, mas a partir

    do leito daquele que est lesado, com olhos sedentos das guas daquele reservatrio.

    Prostremo-nos, pois, debaixo de um dos cinco prticos para perceber o que Jesus

    pretende fazer em nossa vida.

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    D. PERGUNTA SEM LGICA: QUERES FICAR CURADO?

    Jesus o viu ali deitado e, sabendo que estava assim desde muito tempo, perguntou-

    lhe: Queres ficar curado? (Jo 5,6).

    O Mestre volve Seu olhar por esse mundo de dor e se detm no drama que sucedesobre um velho e desgastado leito. Em vez de aproveitar a ocasio para demonstrar Seu

    poder celestial em Jerusalm, gasta Seu tempo com um estranho dilogo: Queres ficar

    curado?.

    Esta pergunta acaba sendo dispensvel, pois para tanto, precisamente, estava ali h

    algum tempo. Como perguntar isso a um homem que sente que sua vida lhe escapa e que

    espera deixar de sofrer? Alm disso, parece imprudente distra-lo, porque, se nesse

    momento o anjo de Deus movimentasse as guas da piscina, ento seria perdida outra

    oportunidade, por culpa de uma questo sem sentido.

    Imaginemos algumas respostas, para que possamos constatar a falta de lgica da

    pergunta de Jesus:

    No, Senhor, no quero ficar curado. Eu estou aqui somente como turista,

    porque me agrada muito ver como as pessoas tiram pregos na piscina

    milagrosa. Obrigado, mas poderia ficar do meu lado, para no prejudicar

    minha visibilidade?

    No, no quero ficar curado, porque prefiro carregar com resignao esta

    pesada cruz que Deus me imps, para assim obter a salvao com meussacrifcios e penas neste mundo.

    Para que quereria ficar curado, se depois de 38 anos j me acostumei a estar

    enfermo? Assim, tenho menos responsabilidade quanto aos passos que possa

    dar em minha vida. Estou bem assim, no Te preocupes comigo, pois aqui a

    vida continua igual, tanto com minha sade quanto com minha paralisia.

    No obstante, a pergunta de Jesus tinha dupla inteno, pois no lhe sugere: Quer

    que eu o cure?, mas - thleis yguisgenesthai que, literalmente,tambm poderamos traduzir como tu queres chegar a ficar saudvel?.

    O incio da cura, caso seja verdadeiramente desejada, est radicado no fato de viver

    de maneira saudvel, sabendo que somos corpo, alma e esprito intimamente

    relacionados entre si. Muito embora parea contraditrio, h muitas pessoas que no

    querem se curar e se revestem de couraas e argumentos para justificar sua dor ou sua

    adeso.

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    E. TRS RAZES PELAS QUAIS ALGUMAS PESSOAS NO QUEREM SER

    CURADAS

    1. A ENFERMIDADECOMOUMACRUZIMPOSTAPORDEUS

    H pessoas que sustentam que o sofrimento uma bno para purificar-se neste

    mundo. Proclamam at a heresia segundo a qual Deus recompensa com o sofrimentoaqueles que ama. Seu deus se parece mais com a terrvel divindade asteca

    Huitzilopochtli, sedenta de sangrentos sacrifcios humanos, do que com o Deus Pai, bom

    e amoroso, revelado por Jesus Cristo.

    Conheo pregadores to devotos da dor que, quando um cristo lhes pede orao

    para ser curado, eles recomendam resignao face cruz que Deus lhe enviou.

    Argumentam que sofrer uma graa celestial. Todavia, antes de terminar seu sermo,

    precisam despedir-se, porque tm que ir ao dentista ou efetuar algumas anlises para

    prevenir um temvel cncer. Se a enfermidade um privilgio, por que no a assumemcomo tal?

    Quando em 2012 se desencadeou uma terrvel epidemia de gripe aviria, que

    matou mais de 800.000 frangos no Mxico, um homem muito fervoroso disse

    resignadamente a Deus: Senhor, se tu enviaste esta praga, que se faa tua

    vontade, porm, com as galinhas de meu compadre. Se queres que morram

    milhes de aves, eu aceito, contanto que comeces pelas do curral da

    oposio.

    s vezes, os que valorizam a dor aplicam-na aos outros, mas no a aceitam na

    prpria vida. Proclamam uma resignao que no crist de maneira alguma. Evanglico

    seria o abandono livre e confiante nas mos de Quem nos ama.

    2. NOPRETENDEMACURAPROFUNDA, CONTENTANDO-SESIMPLESMENTECOMNOSOFRER

    Buscam um analgsico que mitigue a dor, sem exterminar a raiz da enfermidade, que

    muitas vezes tem uma causa psicolgica, maus hbitos na alimentao ou falta de

    exerccio fsico. No esto dispostos a extirpar o tumor, mas somente as manifestaesdolorosas ou incmodas.

    Certo dia, aproximou-se do pregador Salvador Gmez uma jovem senhora,

    pedindo-lhe orao para que o Senhor a curasse de um raro padecimento,

    cujos sintomas eram saltos na cama meia-noite. Estando adormecida,

    repentinamente saltava, acordava assustada e perdia o sono no restante da

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    noite. E assim, implorava a supresso desses saltos, estranha molstia que no

    se encontrava entre as enfermidades conhecidas, e que ela havia batizado como

    a surpresa do salto. O pregador orava todas as semanas sem resultado, at

    que lhe perguntou o que acontecia quando saltava em seu leito. Ento, ela

    confessou que tinha um amante e que nas noites sonhava que estava com ele;

    porm, nesse exato momento, aparecia seu marido e ela dava um salto,

    assustada por ter sido descoberta por ele. Ela no queria curar sua relao

    adltera, mas to somente no saltar de medo durante a noite.

    H pessoas que se contentam com a supresso dos sintomas, mas no buscam sanar

    a causa. Se a terapia exigir a mutilao de um dio, a amputao de certas relaes que

    so contrrias ao Evangelho ou a extirpao de tumores de vingana para viver em paz e

    felicidade, apenas buscam um analgsico para aliviar os incmodos.

    3. NOASSUMIRATERAPIANEMACONVALESCENA

    Outros querem ser curados magicamente, sem tomar medicamentos nem passar pela

    convalescena, que requer pacincia, j que viver saudavelmente implica em disciplinar-

    se nos horrios de dormir, mudar os hbitos alimentcios e renunciar ao excesso de

    preocupao, que produz estresse e presso alta7. Decidir pela sade implica um no

    redondo a tudo o que disser respeito morte ou a favorecer, tal como o lcool e o

    excesso de sal ou acar; alm disso, faz-se necessrio cuidar do sobrepeso que abrevia

    nossa vida, sem expor a sade em gostos passageiros, que cobram altas faturas.Muitos no esto dispostos a seguir a terapia. Outros preferem que algum carismtico

    famoso lhes imponha as mos para obter uma cura milagrosa. So os que procuram a

    cura do cncer, mas no aceitam a quimioterapia.

    Esses no abandonam o adultrio, querem apenas a supresso do salto.

    Quanto a mim, Deus no me curou milagrosamente de minha alergia. Ele

    pretendia que eu me curasse com a terapia que estava me oferecendo. Eu

    preferia o caminho fcil e curto, mas que nem sempre o melhor. Inclusive,tentava fazer chantagem com Ele, usando o seguinte argumento: Senhor, se

    me amas, cura-me para que possa pregar melhor. O Bom Pastor, porm, me

    respondeu: O que quero que tu te ames a ti mesmo e te acolhas. Que

    valorizes e cuides do templo do Esprito Santo que teu corpo.

    Assim como o otorrino Figueroa me disse que eu era o nico mdico que podia fazer

    desaparecer minha alergia, assim Jesus questionou a este enfermo se estava disposto a

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    viver de maneira saudvel. E, no fundo, o Mestre no se limita a um aspecto fsico ou

    esttico, mas se a pessoa quer ser feliz de maneira integral e permanente.

    Conheci uma senhora com elevado sobrepeso que, em vez de fazer uma dieta,

    suplicava a Deus que a emagrecesse. E como Deus no lhe enviava uma fada

    com varinha mgica, ento mudou a forma de orar, e enquanto comia umvolumoso hambrguer, dizia ao Senhor com muito fervor: Deus Todo-

    poderoso, j Te pedi que me emagreas e no fazes caso. Ento, hoje vou

    solici tar-Te outra coisa. Se no emagreces a mim, peo-Te ao menos que todas

    as minhas amigas engordem.

    Ah! Como somos geniais para orar em benefcio de nossa comodidade! Querer

    emagrecer e alimentar-se com escrias uma contradio.

    Do mesmo modo, h pessoas que no esto dispostas a assumir a terapia e cuidar daconvalescena. Outras no seguem a dieta e continuam provocando a enfermidade.

    Com tais pressupostos, podemos entender por que Jesus dirigiu tal pergunta ao

    homem acostumado a viver prostrado em seu leito.

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    F. A MAIS TRISTE RESPOSTA: NO TENHO NINGUM

    O enfermo respondeu: Senhor, no tenho ningum que me leve piscina, quando a gua se

    movimenta. Quando estou chegando, outro entra na minha frente (Jo 5,7).

    O paraltico no responde diretamente pergunta sobre se quer curar-se ou no,

    todavia, vai at o fundo de sua realidade: Olha, Senhor, meu problema fundamental no a paralisia. Depois de 38 anos, acostumei-me a tudo. A monotonia e a rotina so

    minhas amigas debaixo destes prticos.

    E ento pronuncia uma frase que talvez seja a mais triste da Escritura. O texto grego

    afirma: nthropon ouk jo: no tenho homem (algum), que poderamos

    interpretar: Meu verdadeiro problema que eu vivo na mais aguda solido e meu

    sofrimento no interessa a ningum. Aqui todos buscam seu prprio benefcio. Cada

    um se apressaem ganhar a disputa depois que o anjo do Senhor movimenta as guas.

    Sofro um terrvel isolamento que lanou sua tenda no deserto do tdio. No existeningum com quem eu possa compartilhar minhas poucas alegrias e minhas muitas

    mgoas. Meu mal-estar, Senhor, no a paralisia, massim o fato de dialogar somente

    com o silncio, recebendo como resposta o eco de minha prpria voz. Infelizmente,

    minha enfermidade no importa a ningum. Meu drama no minha doena, nem o

    tempo que passo aqui, sombra destes prticos, mas o fato de que no tenho com

    quem compartilh-la. Em 38 anos, Tu s a primeira pessoa que se aproxima e se

    interessa pelo mais profundo de minha alma. Se me curasse somente da paralisia,

    anharia muito pouco em relao ao que verdadeiramente necessito.A solido a febre de nosso sculo. Grandes condomnios e conglomerados de

    cimento sem alma, nos quais cada um segue seu caminho margem dos demais. Isso

    acontece inclusive em comunidades religiosas, nas quais cada qual tem seu prprio

    aparelho de televiso, conta bancria independente e hora de desjejum.

    Em janeiro de 2014, fomos comer em um pequeno restaurante de San Giovanni

    Rotondo, na Itlia. Mais tarde, chegaram quatro religiosas e sentaram-se a

    uma mesa prxima, porm cada qual concentrada em seu telefone celular,fazendo chamadas ou brincando. Em momento algum falaram entre si, nem

    sequer para pedir o sal. E assim passaram todo o tempo da refeio.

    A falta de comunicao na vida familiar leva, principalmente os jovens, a compensar

    o vazio de sua existncia com o analgsico da droga, ou a mendigar um pouco de

    companhia transitria mediante sexo sem amor. Trata-se de uma solido muito

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    desoladora, como descreve Mario Benedetti (1920-2009). Identificam-se com este

    paraltico que no tem com quem compartilhar sua vida, com suas luzes e sombras; so

    rebanhos de lobos de estepes (Hermann Hesse, 1877-1962) que vivem cem anos de

    solido (Gabriel Garca Mrquez, 1927-2014).

    Jesus, porm, lhe d a entender: Vim-lhe precisamente porque Me interesso pelo teucaso, que conheo muito bem. Deixei a festa de Jerusalm para estar aqui. Nem sequer

    ui ao templo, porque Minha prioridade no a multido annima que hoje Me

    aplaude e amanh pedir Minha morte. Eu s sei contar at um, e este um s tu. Eu

    estou agitando uma gua que jorra para a vida eterna, porque Eu sou a nova Betesda,

    casa de misericrdia de Deus. No te adentres neste tanque de guas contaminadas.

    Deixa que Minha fonte de gua viva entre em ti. Eu Me preocupo tanto com teu

    sofrimento que quero no somente alivi-lo, mas tambm compartilhar. Sofro por ti,

    mas quero tambm faz-lo em teu lugar e estou disposto a pagar o preo de tua cura,

    ainda que Me custe a vida. Para isto vim a este mundo. Deus Me ungiu com Seu Santo

    Esprito para dar a boa notcia de que j comeou o ano de graa doSenhor. Se tu no

    te cansaste de sofrer, Deus se cansou de ver-te padecer; hoje, depois de 13.879 dias de

    rostrao, chegou a salvao e a cura em tua vida.

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    G. JESUS NO RESPONDE A SEU DIAGNSTICO

    Assim como fez com o oficial do rei, que solicitou que Jesus deixasse tudo

    imediatamente e descesse os 27 quilmetros at Cafarnaum, o Mestre no entra em seu

    esquema, com um fcil consolo:Ah, no te preocupes, olha que para isto estou aqui.

    Sou especialista em retirar pessoas da gua. Em uma noite convidei Pedro para que searremessasse em um mar enfurecido. Eu estou aqui e tenho tempo para esperar o

    rximo movimento da gua. De tua parte, deixa o problema para Mim e no te

    reocupes com nada. Calma e tranquilidade, a salvao est no sossego. Enfrenta as

    coisas com calma.

    como se fosse feita uma rplica do tango volver, de Carlos Gardel (1890-1935),

    que canta em um de seus versos: Vinte anos no nada.

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    H. TERAPIA: LEVANTA-TE, TOMA O TEU LEITO E ANDA

    Jesus oferece ao enfermo uma terapia dividida em trs passos: Levanta-te, pega a

    tua maca e anda (Jo 5,8).

    1O

    PASSO: LEVANTA-TEAinda que tenha sido o prprio Jesus quem levantou a sogra de Pedro, neste caso

    diferente. Se o paraltico quiser curar-se, ter que mudar sua atitude de abatido na vida e

    no depender dos outros nem de seus prprios limites. Os 38 anos de enfermidade no

    lhe do direito a encerrar os horizontes, nos quais a cada dia nasce um novo sol: Superar

    essa prostrao coisa tua. Tenho confiana em que irs te reincorporar por ti mesmo.

    2OPASSO: TOMAOTEULEITO

    Esse leito foi teu refgio e apoio por muitos anos, porm essa etapa j acabou.gora s tu quem o deves ter em tuas mos. O que te causou humilhao agora teu

    trofu de vencedor. Nem Eu nem ningum vai carregar teu leito. Isso compete a ti.

    3OPASSO: ANDA

    Tua vida j tem uma direo e tua existncia um sentido. No podes te deter

    assivo, nem jogado no leito da dor, hipotecando tua felicidade e empenhando teu

    uturo no que outros fizerem ou no por ti. s capaz de empreender a caminhada.

    ndando, faz-se o percurso. preciso recuperar o que perdeste. Adiante. Confio em ti!A histria escrita por homens e mulheres que caminham. Os que permanecem

    sentados e passivos assistem ao desfile dos caudilhos que ao som da marcha triunfal

    levantam seus estandartes no ritmo dos luminosos clarins (Rubn Daro, 1867-1916).

    Betesda tem algo parecido com o caso do cego Bartimeu, que se sentava debaixo de

    uma palmeira, fora das muralhas de Jeric. L, Jesus no voltou para atender o pobre

    cego que gritava do lugar em que se achava prostrado. O Mestre no volta atrs nem sai

    de Seu caminho, ordenando somente que se levante e jogue seu pesado manto na areia

    para chegar rapidamente at Ele.s vezes, Deus nos surpreende com curas milagrosas e imediatas. Assim o fez com o

    filho do oficial do rei, a quem curou instantaneamente, a longa distncia. Fez o mesmo

    com o leproso. Entretanto, em outras ocasies, como com o filho da viva de Naim,

    manda apenas que se levante.

    Nestes casos, o Mestre exige uma resposta ativa e comprometida por parte dos

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    pacientes, porque tem confiana em que o ser humano no um fantoche, pois pode

    cooperar para experimentar que, se foi parte da enfermidade, agora executor da terapia.

    O resultado evidente:

    No mesmo instante, o homem ficou curado, pegou sua maca e comeou a andar (Jo

    5,9a).

    Assim como a Palavra de Deus ficou pirogravada nas tbuas da lei, a ordem de

    Jesus-Palavra ficou impressa no paraltico para robustecer seus tornozelos e fortificar

    seus joelhos vacilantes. Seus ps firmaram-se sobre a terra. Repentinamente, os

    msculos adormecidos despertaram, e aquele homem, que h 38 anos jazia prostrado no

    leito, comeou a andar. Estava curado, no porque houvesse entrado nas guas de uma

    piscina milagrosa, mas porque a gua viva, da Palavra do Mestre da Galileia, o fazia

    saltar at a vida eterna.

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    I. PORM, ERA UM SBADO

    Aquele dia, porm, era um sbado (Jo 5,9b).

    No obstante, quando o curou e ordenou-lhe que carregasse seu leito, era dia de

    rigoroso descanso.Por que Jesus, sabendo o que Lhe poderia custar tal cura, no esperou o crepsculo,

    em que tinha incio uma nova jornada? Teria sido a mesma coisa para o enfermo e Ele

    evitaria para Si muitos problemas com a inspetoria da lei. Este homem j estava enfermo

    havia 13.879 dias. Podia esperar mais um. Por que no?

    A inteno do Mestre era muito mais que levant-lo de seu leito: queria que o

    carregasse diante de todos, qual presa de guerra, mostrando que, a partir daquele

    momento, passara a existir um novo shabbat no calendrio; sbado, que no para

    descansar, mas para ver a glria de Deus.

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    J. REPRESLIAS

    1. CONTRAOHOMEMCURADO: SUBMET-LOAOLEGALISMO

    Em vez de felicit-lo ou alegrar-se por to maravilhoso prodgio, os judeus o

    recriminavam:

    sbado. No te permitido carregar a tua maca (Jo 5,10b).

    Os ataques so focalizados primeiramente no recm-curado, para submet-lo lei de

    Moiss.

    Quando as custdias da tradio (vigilantes) o viram caminhar sorridente pela cidade,

    levando seu leito, sobrecarregaram-no com uma servido mais pesada. Os defensores da

    ortodoxia reclamaram-lhe porque carregava seu pobre leito em dia de descanso. A Lei era

    a Lei e tinha que ser respeitada; em caso contrrio, seria iniciado um caos moral em

    Israel.

    Os fariseus pretendiam que o homem curado retornasse sua passividade, disfarada

    em repouso sabtico, apesar de ter vivido um repouso de 38 anos, que o mantinha como

    simples espectador da histria. Mediante s pedras da Lei, queriam paralis-lo outra vez,

    impondo-lhe uma srie de proibies de no pegar, no provar, no tocar... etc. (cf. Cl

    2,20-22).

    Duas ordens, no apenas diferentes, mas tambm contraditrias. Ou uma ou a outra:

    carregar seu leito ou prostrar-se nele. Este homem tem que decidir se seguir o novo

    Moiss, que no lhe promulga dez mandamentos nem lhe impe 613 preceitos, mas queo habilita a caminhar. Ter que aceitar que Aquele que o cura tem autoridade para tocar

    os sinos da liberdade que o conduziro terra prometida.

    muito significativo o fato de Jesus lhe ordenar que ande, mas no indicar para

    onde se dirigir. Para o Mestre, o homem curado no uma marionete, pois a cura

    implica a responsabilidade pelos seus passos. O homem saudvel livre e cumpre o

    plano de Deus, no porque esteja estipulado

    em frias tbuas de pedra, mas porque se identifica com a vontade divina8.

    Do monte Sio, o novo Moiss proclama uma nova Lei: Eu sou o novo sbado do

    homem, o qual no para viver prostrado na dor, mas para que caminhes por ti

    mesmo, pois agora a Lei, que sou Eu, est dentro de ti.

    Os escribas, fariseus e sacerdotes do templo preveem que, neste ritmo, j no tero

    ningum a quem impor seu legalismo. Ficaro sem trabalho, desaparecero as

    peregrinaes, diminuiro as esmolas, o poder ser corrodo. No podem tolerar

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    panorama to negro. melhor continuar tendo robs programados com leis e tradies

    humanas revestidas de falsa religiosidade para manter o povo submisso. Eles so piores

    que os invasores romanos, pois estes oprimiam o povo com lanas e catapultas, porm

    aqueles controlam a mente com o terrorismo religioso.

    Encontro no templo: No peques mais, para que no te acontea algo piorO recm-curado dirigiu seus passos ao templo para dar graas a Deus por sua cura.

    Entretanto, em vez de encontrar-se com o Deus invisvel, descobriu Sua imagem visvel.

    Jesus, novo templo, lugar de encontro do homem com Deus, j que ningum vai ao Pai

    seno por meio Dele(cf. Jo 14,6b). Ali vai escutar Aquele que falou a Moiss:

    Olha, ests curado. No peques mais, para que no te acontea coisa pior (Jo

    5,14b).

    A expresso no peques mais faz supor que este homem j havia pecado,

    diferena do cego de nascena do captulo nove, caso em que nem ele nem seus pais

    haviam violado a Lei (cf. Jo 9,2-3). O importante, porm, no deter-se no passado,

    mas no cair em outro pecado que pior do que todos os que j havia cometido. Temos

    duas interpretaes desta frase:

    Primeira interpretao: Paralisado com o peso da Lei que mata

    Quando Jesus adverte que vir algo pior, possivelmente est se referindo ao fato de

    deixar-se escravizar sob o legalismo que aprisiona com imposies religiosas. Os fariseusno queriam que conseguisse andar, mas que continuasse paraltico. Porm, este homem,

    uma vez que decidiu viver com sade, tem que assumir as consequncias de sua deciso,

    inclusive a de violar o sbado, porque o sbado foi feito para o homem, e no o homem

    para o sbado (Mc 2,27).

    Os fariseus tentam prend-lo outra vez a seu leito, para que continue prostrado

    sombra dos prticos de Betesda.

    Jesus o est advertindo no sentido de que, se voltar a ficar prostrado, no ser para

    ser abrigado pela sombra dos cinco prticos, mas sim para cair nas trevas do legalismo,que o levaro morte. Jesus no lhe impe uma nova lei. Oferece-lhe simplesmente uma

    alternativa: Queres continuar curado ou preferes depender dos magnatas do templo? Se

    decidiste que desejavas curar-te e manter-te sadio, ters que aceitar os riscos de

    assumir tuas prprias decises.

    Deus se compraz mais com um homem que anda, ainda que carregue seu leito em

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    um sbado, do que com um enfermo prostrado 1976 sbados em um leito.

    Segunda interpretao: Pecar pior do que 38 anos de paralisia

    Outra interpretao da difcil frase no peques para no te acontecer coisa pior

    dada pelo padre Salvador Carrillo, quando se pergunta: Ento, se pecar, sofrer um

    castigo maior do que 38 anos de paralisia? No, responde o sbio Mestre. O queJesus quer dar a entender ao recm-curado que pecar pior do que 38 anos de

    invalidez.

    Nas aparies de Ftima, pretende-se frear a marcha insensata do pecado, mostrando

    os horrores e tormentos do inferno. Todavia, parece no dar resultado, porque isso j

    no assusta ningum. O pior que nos pode acontecer o pecado em si mesmo, e no o

    castigo eterno, pois ele desfigura a imagem e semelhana de Deus, uma vez que nos

    desloca e situa-nos fora da realidade, fazendo-nos adoecer psicologicamente at nos

    precipitar no barranco da morte. Por isso, se tivssemos conscincia do horror quesignifica o pecado, no o cometeramos jamais.

    O pecado nos leva cascata da independncia, que, por sua vez, desemboca no mar

    da idolatria, que consiste em suplantar Deus por falsas divindades. O pior ocorre quando

    O substitumos por ns mesmos, o que se converte em autolatria. Em vez de girar em

    Seu sistema, estabelecemos o nosso, no qual at o prprio Deus nosso satlite.

    Resposta: Aquele que me curou tem autoridade sobre mim

    Diante das crticas por carregar um objeto em dia de descanso, o homemrestabelecido respondeu com lgica irrefutvel: Aquele que me curou disse: Pega a tua

    maca e anda (Jo 5,11). No sabia muita teologia, mas possua um argumento que no

    era fcil contradizer: Se estou saudvel, aquele que me curou tem autoridade sobre mim .

    Isto acendeu uma perigosa luz amarela aos guardies da Lei, pois, por acaso, havia

    algum maior que Moiss, o qual instaurou o repouso sabtico? Quem tem mais

    autoridade do que o legislador do Sinai, com quem Deus falou face a face? O homem

    responde de acordo com a verdade:No, no sei quem me disse. A nica coisa que sei

    que Sua palavra eficaz. Eu sempre estive sob os prticos de Betesda e no tenho amnima ideia do que acontece no mundo nem na religio. Tampouco estudei letras ou

    teologia. S sei que estava condenado a morrer paraltico. E, mais ainda, minha

    aralisia era a antessala de meu sepulcro.

    Para os zelosos defensores da lei, seria melhor que ele continuasse amargurado, com

    olhos de frustrao, cada vez que no conseguisse a cura ansiosamente desejada por

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    muitos anos. Dentro dele se estabelece uma luta, cujo vencedor j levantou a taa da

    vitria: J vivi 38 anos sabticos em descanso absoluto, prostrado em meu leito, e

    agora que posso andar, querem me impedir? Tenho um novo legislador que ordenou

    que me levantasse de minha prostrao. Se Moiss me impede de andar no sbado,

    orm um desconhecido me habilita para caminhar, j tomei minha deciso: sigo em

    rente e obedeo a este ltimo. Ele meu Moiss, ele minha Lei, ele meu shabbat

    [sbado].

    2. CONTRAJESUS: PERSEGUIOPARAMAT-LO

    O homem saiu e contou aos judeus que tinha sido Jesus quem o havia curado. Por isso, os judeus

    comearam a perseguir Jesus, porque fazia tais coisas em dia de sbado (Jo 5,15-16).

    Quando lhe perguntaram quem o havia curado, o homem o ignorava, porm, depois

    de seu encontro pessoal com o Mestre, retornou para encontrar-se com as autoridadesque o questionavam, a fim de informar-lhes com preciso que Jesus de Nazar era quem

    o havia curado. Assim fazendo, lanou-se gasolina na fogueira e aumentaram os

    problemas contra o pregador da Galileia. Foi quando se tomou a deciso de elimin-Lo

    do ambiente, porque Suas atitudes provocavam a eroso dos alicerces do sistema

    religioso. As autoridades de Jerusalm estavam dispostas a extirpar a raiz do problema.

    De nada adiantaria atacar o recm-curado, pois seu leito levantado era o arco de triunfo

    sobre todos os mandamentos que eles pudessem defender. Resolveram, ento, matar

    Jesus, no pelo milagre em si, mas pelo que a situao significava e sua transcendncia.Depois desta cura to prodigiosa, em vez de se unirem em coro para louvar a Deus

    por essa maravilha, os judeus decidem perseguir Jesus. J dispuseram que deve morrer

    por um crime capital, pois o galileu no respeita a lei sabtica e induz as pessoas a

    carregarem leitos, violando o repouso sagrado determinado por Moiss. Alm disso,

    declara assemelhar-se a Deus, afirmando que Ele trabalha sempre e, por isso, pode

    curar em qualquer dia:

    Por isso, os judeus ainda mais procuravam mat-lo, pois, alm de violar o sbado, chamava a Deus de

    Pai, fazendo-se assim igual a Deus (Jo 5,18)

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    K. APLICAO NOSSA VIDA

    A religiosidade de Israel revestiu o Deus do Sinai com aparatos de legislador, juiz e

    at de carrasco a quem compete apedrejar os transgressores de Seus mandamentos.

    Entretanto, o Deus de Jesus um Deus que cura o enfermo e o habilita a caminhar, no

    com a letra que mata, mas com o Esprito que d a vida (cf. 2Cor 3,6b).

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    Jesus, nova Betesda

    Jesus a nova casa de misericrdia divina, onde se mostra o verdadeiro e profundo

    amor de Deus. O anjo que movimenta nossas guas o Esprito Santo. A gua a

    Palavra de Deus que cura todas as coisas (cf. Sb 16,12). Submerge-nos no mar do

    amor de Deus. No nos acusa nem nos condena por nossas rebeldias. Sendo de condiodivina, assumiu condio de servo e nos fez Seus amigos, aos quais deu a maior prova

    do amor: a vida pelos que ama.

    Este amor terno e compassivo vivido na comunidade crist, onde somos chamados

    a ser misericordiosos como Deus misericordioso(cf. Lc 6,36).

    Possui tambm cinco prticos, Suas cinco chagas, que nos permitem experimentar o

    amor de Deus para nos curar das enfermidades fsicas, psicolgicas, morais e espirituais;

    de maneira especial do pecado, do qual nos cura por meio de Suas chagas (cf. Is 53,5c).

    esta nova piscina, no se cura somente o primeiro que entra, mas todo aquele que cr ebebe da gua viva.

    Se ests enfermo h 38 anos, ou seja, se quase toda a tua vida foi marcada pela cruz

    do sofrimento, se tua nica companheira foi a solido, ento esta mensagem

    precisamente para ti.

    Lana-te no em um tanque milagroso, mas no mar da misericrdia de Deus.

    Arremessa-te Betesda do corao de Jesus. Por meio de Suas cinco chagas, entra na

    presena de Deus para ser curado de qualquer enfermidade que te aflige.

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    L. RESUMO: CURA COM COLABORAO

    Nesta cura, brilha com intensidade a pergunta de Jesus ao enfermo: Queres ser

    curado?. Pois, se no o quiser, todo esforo e poder de Jesus para realiz-lo seria vo.

    Os resultados seriam temporrios.

    Como vimos, em algumas ocasies Deus pede a colaborao direta do enfermo,tanto em sua necessidade de viver saudavelmente, quanto na terapia e na convalescena.

    Apresentamos dois milagres que so complementares. Na cura do filho do oficial do rei,

    o agonizante nada faz e nada lhe pedido para obter sua recuperao. Na cura do

    paraltico de Betesda, -lhe perguntado no apenas se quer ser curado, mas tambm se

    est disposto a no recair em algo pior.

    Deus no possui um nico mtodo teraputico. No se submete a esquemas fixos

    nem estabelece receitas pr-fabricadas. Cada caso especial e diferente. Assim sendo,

    no podemos esperar que nos cure do mesmo modo que o fez com outra pessoa. Aindaque a enfermidade seja a mesma, o enfermo diferente. Inclusive no que diz respeito a

    ns mesmos, no somos curados sempre do mesmo modo. Deus Deus, e no se limita

    a nossos moldes.

    s vezes, cura fazendo tudo, e no devemos interferir em Sua obra. No entanto, em

    outras ocasies, pede nossa colaborao, assim como a deciso de viver saudavelmente.

    o devemos considerar em carter absoluto nenhuma das duas terapias, mas sim estar

    abertos a qualquer uma delas ou, inclusive, a uma forma indita, que mostre a

    criatividade de Deus que tem misericrdia de quem quer(cf. Rm 9,18).No Evangelho de Joo, as curas milagrosas so sinais em que o elemento mais

    importante o significado: todos eles tm por fim suscitar a f, para que, uma vez

    crendo, possamos ver e experimentar a glria de Deus.

    Se Jesus curou um jovem que jamais tinha visto, e um homem que no conhecia, o

    que no far por um amigo?

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    IVSeu amigo Lzaro

    Depois da cura do filho do oficial do rei com a do homem da piscina de Betesda, em

    dia de sbado, encontramo-nos agora diante de um caso desconcertante e de muitos

    contrastes: seguindo o ritmo de Deus, que no cura Seu amigo Moiss da tartamudez,

    nem o apstolo Paulo de seu aguilho na carne, tampouco Jesus curou Seu amigo

    Lzaro, que O hospedava em sua casa, nem levou em conta a dor de Maria, que Lhe

    havia ungido os ps com um perfume das Glias, fino e de alto preo, nem respondeu a

    Marta, que O atendia to cuidadosamente em todas as Suas necessidades.

    Por que cura tantas pessoas desconhecidas e at estrangeiras, e desta vez, em se

    tratando de uma famlia muito querida, Jesus permanece distante e chega tarde, quando

    mais necessitam Dele? Mais ainda, se estava em lugar remoto, comprometido com

    assuntos que O impossibilitavam de regressar Judeia, podia muito bem agir a longa

    distncia, como o fez com o filho do oficial do rei (cf. Jo 4,46-53).

    Acontece o mesmo hoje em nossa vida. Muitos de ns, que hospedamos Jesus em

    nosso corao, no somos curados quando adoecemos.

    Ns no pretendemos dar resposta questo. Cada qual haver de encontr-la neste

    relato.

    Trata-se de uma passagem filmada por So Joo com quatro cenrios:

    Primeiro cenrio, em Betnia: registra o que acontece neste pequeno povoado,

    situado ao oriente de Jerusalm;

    Segundo cenrio, cmara oculta: porque no sabemos onde se encontrava Jesus

    nesses dias;

    Terceiro cenrio, nos arredores de Betnia: onde chora e ressuscita Lzaro;

    Quarto cenrio, em Jerusalm: onde foi definida a conspirao para matar quem

    ressuscita os mortos.

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    A. PRIMEIRO CENRIO: BETNIA

    Ora, havia um doente, Lzaro, de Betnia, do povoado de Marta e de Maria, sua irm. (Maria aquela

    que ungiu o Senhor com perfume e enxugou seus ps com os cabelos. Lzaro, seu irmo, quem

    estava doente.) (Jo 11,1-2).

    O evangelista delineia em trs pinceladas o primeiro personagem, de nome Lzaro,que vivia em Betnia, que significa a casa do pobre, o que contrasta com esta famlia,

    com capacidade para hospedar, dar assistncia e alimentar uma dezena de peregrinos.

    O nome do paciente Lzaro ou El-eazar, que significa o que ajudado por Deus.

    o entanto, parece que na hora em que mais necessitou, no chegou a ele auxlio algum.

    Lzaro era ou estava enfermo. Entretanto, no so especificadas nem a doena e

    nem a gravidade, como ocorreu no caso do filho do oficial do rei ou da filha de Jairo, que

    estavam beira do tmulo.

    Fala-se de duas irms com personalidades muito especficas e diferentes:

    Maria unge os ps do Mestre com fino perfume, beija-os com ternura e respeito e enxuga-os com

    seus cabelos (cf. Jo 11,2; 12,3). Agradava-lhe ouvi-Lo atentamente (cf. Lc 10,39), era muito

    sensvel, terna, afetuosa e sentimental. Sempre chora.

    Marta se preocupava em atend-Lo e colocava em prtica o que Ele ensinava sobre o servio aos

    demais. Tinha um carter em virtude do qual no era fcil convenc-la de alguma coisa; era preciso

    repetir-lhe a mesma coisa vrias vezes e quase sempre se opunha opinio das outras pessoas. Era

    firme em suas convices e rebatia at as afirmaes do Mestre.

    Jesus tinha muito amor a Marta, a sua irm Maria e a Lzaro (Jo 11,5).

    significativo o fato de Marta encabear a lista de preferncias de Jesus. Por que ela

    parece levar vantagem sobre sua irm, se quase sempre apresentava objees s coisas?

    Outra mulher corajosa e decidida foi Maria Madalena, que teve o privilgio de ser a

    primeira pessoa a quem Jesus apareceu depois de Sua ressurreio. Quando responde a

    uma mulher aflita que no vai tirar o po dos filhos, ela argumenta com lgica que

    tambm os cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa de seus donos; e Ele se

    admira e a reconhece (cf. Mt 15,22-28). Parece que estes casos mostram o perfil dasmulheres que chamavam a ateno do Mestre.

    As duas irms representam nossa prpria vida, pois dentro de cada um de ns existe

    uma Marta e uma Maria. Algumas vezes se sobressai a primeira, porm, em outras

    ocasies, a segunda desempenha o papel de solista no concerto da histria.

    Diante da enfermidade de seu irmo, que piorava a cada dia, de mtuo acordo,

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    mandaram dizer a Jesus:

    Senhor, aquele hon fileis: que amas est doente (Jo 11,3b).

    No pedem nem suplicam, muito menos Lhe impem o que deve fazer. Tampouco O

    importunam, nem esperam pagamento pelos servios e atenes que tiveram para comEle e Seu numeroso grupo de apstolos que se hospedavam com frequncia em sua casa.

    Poderamos interpretar sua mensagem como se fosse assim expressa: Unicamente Te

    informamos e Te deixamos em liberdade para que faas o que quiseres, como quiseres

    e quando o decidires por Ti mesmo, porque somente assim vale a pena. Nada Te

    cobramos, porque nada nos deves, j que quando Te hospedamos e Te ungimos com um

    erfume de alto preo, fomos ns que samos lucrando.

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    B. SEGUNDO CENRIO: RECINTO OCULTO

    No sabemos com certeza onde estava Jesus. Pelos quatro dias que dura Seu

    percurso, supomos que se encontrava a uns cem quilmetros de distncia. Alguns

    estudiosos supem que Jesus estivesse na Pereia. Quando o Mestre recebe os enviados,

    declara a Seus discpulos, com assombrosa serenidade, que essa enfermidade no era demorte, mas sim para a glria de Deus e para que, por meio dela, o Filho de Deus seja

    glorificado (cf. Jo 11,4).

    No sabemos se executava tarefas importantes ou insubstituveis, mas parece no

    efetuar nada relevante. No prega nem realiza milagre algum, apenas deixa o tempo

    passar, dando a impresso de que, nesta partida de pquer, Ele tem os ases na mo:

    Depois que ele soube que este estava doente, permaneceu ainda dois dias no lugar

    onde estava (Jo 11,6b).

    Passam-se alguns dias, o que para Marta e Maria so uma eternidade, pois a sade

    de seu irmo se deteriora irreversivelmente cada vez mais. Por que Jesus est ausente

    nos momentos mais difceis daqueles a quem ama e que so boas pessoas?

    Depois, convida Seus discpulos a voltar Judeia, que terreno minado, dado que l

    se encontram Seus piores inimigos. Sofre atentados, as autoridades O perseguem,

    espionado pelos legalistas, que querem aplicar-Lhe uma rasteira; existem os invejosos de

    Sua fama e no falta quem O despreze por ser galileu. Seus amigos reagem com lgica:

    Rabi, ainda h pouco os judeus queriam apedrejar-te, e agora vais outra vez para

    l? (Jo 11,8).

    Seus discpulos O chamam e reconhecem como Rabi, porm, ao mesmo tempo, O

    advertem do perigo. Jesus esclarece:

    Nosso amigo Lzaro est dormindo. Mas, eu vou acord-lo (Jo 11,11).

    O Mestre descreve o drama da morte como um ato de dormir, que necessariamenteculmina com um posterior despertar, dando a entender que o tnel pelo vale das sombras

    no o ltimo captulo da existncia, mas a passagem para um novo amanhecer.

    Jesus os envolve na cena, chamando Lzaro de nosso amigo, esclarecendo-lhes

    sem rodeios que morreu. Em seguida, acrescenta:

    E, por causa de vs, eu me alegro por no ter estado l, pois assim podereis crer

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    (Jo 11,15a).

    Porventura a morte, e a morte de um amigo, causa de alegria? Por ora

    incompreensvel, porm, no final da cena, o vu ser aberto. Estamos certamente diante

    de um prodgio que Jesus realiza com muita alegria e at com senso de humor:

    Mas vamos a ele (Jo 11,15b).

    Os discpulos queriam impedi-Lo de subir a Jerusalm. Jesus no os contradiz,

    focalizando, porm, a direo: Vamos a ele, o que diferente. No vai aonde O

    esperam perigos de morte, mas aonde um amigo j est no sepulcro.

    Por que no esteve presente para despedi-lo deste mundo? Tampouco conseguiu

    acompanhar as duas mulheres que necessitavam de Seu apoio e presena. Sua ausncia

    foi sentida nos momentos mais crticos; chega quando j passou o funeral, com seus ritos

    de unes, carpideiras e lamentaes. Seus familiares o envolveram com grossas faixas.

    Alguns cumpriram o doloroso dever de dobrar suas mos sobre seu corpo e imobilizar

    seus ps, qual mmia egpcia. Desceram tambm de Jerusalm especialistas em enterro

    de mortos, os quais esto certos de haver realizado um trabalho profissional. Uma pesada

    pedra sela a entrada da caverna que servia como tmulo. J transcorreu algum tempo,

    porm as lgrimas de Maria no deixam de rolar por sua face.

    Ambas as irms reagem de maneira diferente diante da morte de seu irmo. Maria

    dirige-se com frequncia ao tmulo para chorar. Marta reclama contra a passividade e

    ausncia de Jesus, que nem sequer respondeu se podia vir ou no. As duas so

    diferentes, porm compartilham algo: perderam um irmo. Cada qual necessita ser

    consolada sua maneira.

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    C. TERCEIRO CENRIO: NOS ARREDORES DE BETNIA

    So Joo usa outra cmera para nos apresentar, em outro cenrio, o que acontece

    antes que Jesus entre na aldeia.

    Quando a impaciente Marta soube que Jesus estava chegando, no O esperou, saiu

    do povoado para encontr-Lo e, sem sequer saud-Lo nem dar-Lhe quaisquer boas-vindas, mira Seus olhos e interpela-O com toda a razo:

    Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmo no teria morrido (Jo 11,21).

    O Mestre, respeitando seus sentimentos, responde-lhe:

    Teu irmo ressuscitar (Jo 11,23).

    Marta, como de costume, no aceita as coisas e d a entender que o Senhor no est

    lhe dizendo algo que ela no saiba. Antes que Jesus termine de falar, ela O contradiz:

    Eu sei que ele vai ressuscitar, na ressurreio do ltimo dia (Jo 11,24).

    O que o Mestre disse no mitigou em nada sua dor pela perda. Jesus o confirma,

    ento, com uma revelao pessoal:

    Eu sou a ressurreio e a vida. Quem cr em mim, ainda que tenha morrido, viver.

    E todo aquele que vive e cr em mim, no morrer jamais (Jo 11,25-26a).

    Jesus no entra no terreno de discusso de Marta. Ao contrrio, faz com que ela

    emigre para Seu campo, quando a desafia:

    Crs nisto? (Jo 11,26b).

    O centro do cenrio no o morto nem seus parentes que sofrem a perda, e sim a f,

    no o fato de que ir ressuscitar, mas Aquele que a Ressurreio. O essencial no a

    morte, mas Aquele que a vida.

    Marta d o salto quntico e professa publicamente seu credo em trs artigos,

    precedido pelo amm hebraico, que expressa a total segurana:

    , Amm, Senhor eg pepsteuka9:

    eu cri e creio que tu s o Cristo,

    o Filho de Deus, aquele que viria ao mundo.

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    Kyrios: Senhor, com todo o poder no cu e na terra.

    Xrists: Cristo. O

    Mashaj: Messias anunciado pelos profetas, pleno

    e ungido com o Esprito de Deus.

    Vis tou Theo: Filho de Deus.

    Jesus conseguiu que os sentimentos e o corao fossem centrados Nele. Isto muda ocenrio.

    Em contrapartida, Maria permanece em casa. Talvez deprimida, ensimesmada com

    sua dor nas costas. A morte f-la perder motivaes e interesses. No quer nada nem

    ningum. A dor a ultrapassa. Marta volta ento para casa e anuncia a sua irm em voz

    baixa:

    O Mestre est a e te chama (Jo 11,28b).

    As coisas importantes e transcendentes ou so ditas em voz baixa, como o fez Marta,ou se bradam, como Pedro no Pentecostes, porm nunca de forma montona ou

    rotineira, que convida incredulidade.

    Transmite a ela a melhor das notcias: O Mestre perguntou por ti. Ele necessita de ti,

    mais do que tu a Ele.

    Quando Maria ouviu isso, levantou-se depressa e foi ao encontro de Jesus. Jesus ainda estava fora do

    povoado, no mesmo lugar onde Marta o tinha encontrado. Os judeus que estavam com Maria na casa

    consolando-a viram que ela se levantou depressa e saiu; e foram atrs dela, pensando que fosse ao

    tmulo para chorar (Jo 11,29-31).

    Maria havia j estabelecido um padro de vida, indo chorar o morto diante de seu

    tmulo. Quatro dias no haviam esvaziado o poo de gua amarga de suas lgrimas. Ela

    ainda estava inconsolvel e no parava de soluar.

    Com a chegada de Jesus, muda o centro de gravitao. Em vez de dirigir-se ao

    sepulcro para alimentar seu sofrimento, vai at o Mestre para ser consolada.

    Tudo isso acontece antes que Jesus entre no povoado e longe do sepulcro. Aos ps

    do Mestre, Maria repete em voz mais doce a mesma reclamao que ela e sua irmhaviam feito vrias vezes:

    Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmo no teria morrido (Jo 11,32b).

    Sua demora incrementou os altos valores contidos no sofrimento. Ela no

    compreende essa ausncia e chora, com um pranto que corta a alma do Mestre. Segundo

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    o evangelista, que foi testemunha desse momento, Jesus, ao v-la chorar, tem uma dupla

    reao: Comoveu-se interiormente e perturbou-se (Jo 11,33b); ou seja, no sabe o que

    fazer diante do pranto de uma mulher que Lhe reclama com lgrimas. Assim sendo,

    talvez procure sair do labirinto emocional pela tangente de uma questo aparentemente

    ingnua:

    Onde o pusestes? (Jo 11,34a).

    Que resposta espera Jesus? Onde mais o teriam depositado, seno no tmulo da

    famlia? Talvez por isso, ningum responde a Sua pergunta sem lgica.

    A questo, porm, no onde est o morto, mas onde vocs o deixaram?, o que

    diferente. No se refere ao lugar fsico, mas ao emocional. Para vocs, onde est?

    Morto, adormecido ou na vspera de sua ressurreio? Vocs j puseram uma pedra

    grande e pesada para proteger de maneira permanente sua sepultura e despediram-se delepara sempre?

    Diante do silncio e das lgrimas constantes que caem ao solo, no pode nem quer

    conter Suas emoes e, diante de todos, brota um efusivo pranto:

    Jesus teve lgrimas (Jo 11,35).

    Estamos diante do mais breve versculo de toda a Bblia. Em grego, so somente trs

    palavras: edcrysen ho Iess, que podemos traduzir como Jesus chorou

    com lgrimas. O forte e decidido profeta, que desafiava os poderosos e expulsava osdemnios, era tambm sensvel e frgil, tendo na alma sentimentos que no podia conter.

    Os artistas pintam Jesus chorando diante do tmulo de Lzaro. Tambm os

    pregadores assim O descrevem, porm, no foi assim que sucedeu. O Mestre chorou

    diante das irms que sofriam e no diante do morto, que havia j quatro dias estava

    enterrado. Suas lgrimas brotam em contato direto com a dor das pessoas vivas.

    De novo, Jesus ficou interiormente comovido. Chegou ao tmulo (Jo 11,38a).

    Depois de uma pausa, o Mestre dirige-se ao sepulcro10, uma cova coberta com uma

    pedra que seus amigos e familiares haviam colocado. E ento, o Jesus que havia

    chorado, que se havia comovido e perturbado, recupera autoridade e d ordens:

    Tirai a pedra! (Jo 11,39a).

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    Marta, fiel a seu costume, no concorda e reclama. Ela tem a conta exata dos dias

    que se passaram desde que seu irmo morreu e sabe com certeza que j teve incio a

    etapa de putrefao. Censura com lgica que parece irrefutvel:

    Senhor, j cheira mal, o quarto dia (Jo 11,39c).

    Todas as suas consideraes giram em torno da morte de Lzaro, do tempo de luto e

    da decomposio do cadver. Jesus, porm, com amor, amabilidade e clareza, interpela-a

    a propsito do que muitas vezes lhe havia repetido, mas que ela no aprendera:

    No te disse que, se creres, vers a glria de Deus? (Jo 11,40).

    O Mestre pergunta, a fim de que Marta encontre a resposta. O Senhor nada impe

    nem obriga, porque no est diante de uma escrava, mas sim na frente de uma amiga a

    quem ama. Jesus no dogmatiza, porque entre os que se amam no existem imposies.Quanto aos demais, foi-lhes ordenado com autoridade soberana que retirem a pedra;

    Marta, no entanto, desafiada. No sabemos se ela se convence ou no; entretanto,

    guarda silncio, dando a entender: Sim, Tu me disseste, porm o que aconteceu est

    lor da pele. Uma coisa o que ensinas, outra o que sei, todavia, outra diferente o

    que sinto.

    Esta passagem contm vrios pleonasmos ou redundncias, que so muito

    interessantes11. Quando o evangelista sublinha: Levanta os olhos para o alto, se

    levantar os olhos, necessariamente para o cu, para o alto, o que nos faz supor queestava com a vista cravada no cho. Algumas situaes nos fazem abaixar a cabea, mas

    no convm viver sempre assim. Tudo tem um limite. Se a pessoa amada nos fizer

    chorar, as lgrimas no devero ser reprimidas, mas tambm no podemos continuar

    carregando o morto durante a vida inteira, pois o luto temporrio.

    Em seguida, Jesus faz uma orao para ser ouvida por todos, porque dentro Dele h

    um vulco que explode:

    Pai, eu te dou graas porque me ouviste! Eu sei que sempre me ouves, mas digo isto por causa damultido em torno de mim, para que creia que tu me enviaste (Jo 11,41b-42).

    Deus atende tanto a orao em voz normal como a silenciosa, porm, ao orar em voz

    alta, Jesus est comprometendo Seu Pai, declarando que sempre O atende e que,

    portanto, dar-Lhe- respaldo no que vai fazer. Se assim no o fizer, ou o Pai no fiel,

    ou Jesus mente. Est em jogo a glria de Deus.

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    Dito isso, exclamou com voz forte: Lzaro, vem para fora! (Jo 11,43).

    Temos aqui um segundo pleonasmo, pois quem exclama o faz sempre com voz forte.

    Demonstra segurana e autoridade para chamar quem atravessou o vale das sombras. Se

    um minuto antes havia revelado Sua fragilidade, agora mostra Seu poder. to sensvel

    quanto forte.Chama-o por seu nome, porque o Bom Pastor conhece cada ovelha pessoalmente.

    Lzaro, ou Eleazar, um nome hebraico composto por El, Dios, e Azar, ajudar.

    Significa Aquele a quem Deus ajuda ou o que ajudado por Deus. Neste momento,

    mais Lzaro do que nunca.

    Vem [sai, em algumas tradues] para fora!. Trata-se de uma redundncia

    intencional. O morto tem que vir [sair], porm vir [sair] para fora. Jesus o ressuscita da

    morte, mas no o desenterra. Isto responsabilidade de Lzaro. Todavia, preciso ter

    cuidado no sair para fora, porque h pessoas que, com seu comportamento e atitudes,supem estar saindo de um problema, porm nosaem para fora, mas se afundam cada

    vez mais nas profundezas. Deste modo, somente se enterram ainda mais.

    O que estivera morto saiu, com as mos e os ps amarrados com faixas e um pano

    em volta do rosto (Jo 11,44a).

    Seus ps estavam amarrados com grossas faixas que o mantinham imvel e

    paralisado. No podemos imaginar como pde sair, mas saiu, e saiu para fora. No basta

    ser ressuscitado por Jesus. Sua Palavra eficaz o traz de volta vida e o capacita a

    abandonar os abismos da morte e retornar aos verdes prados com erva fresca. De que

    teria servido que Jesus o ressuscitasse, se Lzaro continuasse dentro do sepulcro? D,

    ento, uma segunda ordem:

    Desamarrai-o e deixai-o ir! (Jo 11,44b).

    O pregador da Galileia havia ordenado que tirassem a pedra e mandou que Lzaro

    sasse. Agora ordena que o libertem. Aqueles que, com lgrimas, o amarraram para suasepultura, agora devem desat-lo para que ande.

    Antes de ressuscit-lo, necessrio remover a pedra que fecha o tmulo. Mas no

    basta que Jesus o ressuscite, Lzaro tem que sair do sepulcro. No obstante, precisa que

    o desamarrem para que possa andar.

    O mesmo caso pode ser considerado sob outra ptica: para caminhar, e assim

    peregrinar na rota da felicidade, necessitamos de quem nos tire a pedra que nos cobre.

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    Precisamos tambm da voz poderosa da Palavra que nos chame por nosso nome a fim

    de que venhamos para fora. Por outro lado e ao mesmo tempo, isso depende de ns: de

    que nos serviria ser ressuscitados, se continussemos no sepulcro? Por ltimo, existem

    ataduras que no podemos desatar por ns


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