O SOL QUE CAIU
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O SOL QUE CAIU
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O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho
1999
O SOL QUE CAIU
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O SOL QUE CAIU
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Para o meu primo-irmão
FRANCISCO FERREIRA DE MIRANDA
Que viveu entre nós
De 1955 á 1998.
Dedicação total aos meus filhos:
PÂMELA CRISTIANNE
e
PABLO NERUDA
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O SOL QUE CAIU
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Í N D I C E 001. Pai Nosso
002. Rosa Sem Espinhos
003. Meu Pai
004. O Sol Que Caiu
005. A Rosa
006. Devaneios, Um Sonho Real
007. Meus Filhos
008. Pâmela
009. Neruda
010. Sou
011. Uma Sombra No Espelho
012. Vi... Vendo
013. Maçã Apodrecida
014. Fecha-se o Círculo
015. Como Um Canário
016. Sou Apenas Números
017. Ex-Magnata
018. Sonhos e Sonos
019. Paradise
020. Eu, A Simplicidade
021. Meu Perdão
022. Ícaro Sonhador
023. Pirata Cigano
024. O Meu Carnaval
025. Alma
026. Que Alma
027. Que Calma
028. Que Exala
029. Que Fala
030. Que Cala
031. Enfim
O SOL QUE CAIU
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032. Penúrias
033. Eu Queria Que...
034. Antes Me Explique o Hoje
035. Barquinho de Papel
036. Deserto Pensante
037. Trapo Humano
038. De Volta Ao Mar
039. Os Filhos Do Meu Sapato
040. Amálgama
041. A Sombra Do Acordeom
042. Gericordel
043. Beto, O Analfa
044. Capim Novo
045. Berrante Triste, O Aboio Do Adeus
046. Vaqueiro Tem Sentimentos
047. Namoro De Vaqueiro
048. Vaqueiro Relaxado
049. Mas Doutô...
050. Pedido De Casamento Matuto
051. Resposta De Dona Ontonha
052. O Porquê Do Por Quê
053. Letargia
054. Sobrevivo
055. Tempo Desperdiçado
056. Vale Dos Répteis
057. Caos Da Vida
058. Condor Errante
059. Palavras
060. Tudo Que Tenho é Nada
061. Sem Teto, Sem Abrigo
062. Perdido No Hoje
063. Pedras Sobre Pedras
064. Tradição
O SOL QUE CAIU
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065. Paladar
066. Olfato
067. Visão
068. Audição
069. Tato
070. Saia Do Meu Caminho
071. Ocaso Crepitante
072. Triste Feliz Ano Novo
073. Meu Diário
074. Verbo Chorar
075. Contraste
076. Obrigado, Amigo.
077. O Exilado
078. Estrela Radiante
079. Holocausto
080. O Sabor Do Nada
081. Bem-Te-Vi e Mau-Te-Vejo
082. Fuga
083. Ondas
084. O Sonho Acabou
085. Pequeno Sofredor
086. O Louco
087. Primeira Dimensão
088. Segunda Dimensão
089. Terceira Dimensão
090. Vida
091. Morte
092. Verdadeira Amiga
093. E Tudo Continua
094. Fim Da Estrada
095. Pano Macabro
096. O Anjo da Trombeta
097. Eu Te Abandonei
O SOL QUE CAIU
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098. Escuridão
099. Libra
100. Lembranças Renovadas
101. Bolhas De Sabão
102. Espere e Verás
103. Sonho Na Chuva
104. Um Velho Sonho
105. Dinheiro
106. Êxtase Das Estrelas
107. Cio Da Lua
108. Tara Do Sol
109. S. O. S OVNI
110. Acalanto Atômico
111. Filha Do Deus Sol
112. Meu Presente
113. Pelas Pernas De Vênus
114. O Canto De Um Feio
115. O Grande Artista
116. Q. I. Zero
117. Oh! Mestra.
118. O Professor
119. Para Entender
120. Civilização
121. Tzão
122. Traição Inesperada
123. Amor Proibido
124. Quando Setembro Vier
125. Pássaro Imigrante
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NOTA DO AUTOR
Aqui estou tentando explicar a razão e o porquê de
escrever este livro, que para mim significa uma realização
pessoal.
Sei que não sou nenhum escritor de renome
nacional, que tenha pretensão de escrever algo digno de
fazer sucesso nos meios literários, mas sei que sou um
escritor. Medíocre ou não, sei que estou registrando algo
próprio, gerado pelos meus sentimentos e pelo meu
cotidiano.
Escrever um livro é um sonho que acalento desde o
meu tempo de criança e hoje estou realizando este sonho.
Portanto, aqui estou prefaciando o meu próprio
livro, livro esse que não sei se irá agradar ou não aos
leitores mais exigentes, mas tenho a certeza de satisfazer o
meu próprio ego.
Neste livro quero falar de temas como o amor,
falar de vida, saudades, recordações, problemas sociais e
políticos e para uma higiene mental, temos alguns poemas
matutos, para que assim possamos sorrir e esquecer os
problemas e as tristezas dos temas anteriores.
Espero que valha a pena o meu esforço e possa
chegar com as minhas mensagens de amor, até o coração
das pessoas que gostam de algo feito com o carinho
existente dentro de um ser humano sonhador, que levou
parte da vida em devaneios, mas com a consciência de que
estes devaneios, um dia se tornariam um sonho real.
Gonzaga Filho
O SOL QUE CAIU
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O SOL QUE CAIU
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Com carinho
À
Meu pai
Minha mãe
Meus irmãos e irmãs
Meus filhos e filhas
Meus netos e netas
Amo todos com devoção...
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PAI NOSSO
Pai Nosso que habita no Universo
Que criou os bons e os maus
Ponha no coração do homem
Somente a paz
Para que o mundo
Torne-se um sonho de amor
Pai Nosso, Arquiteto do Mundo
Que criou os homens de todas as raças
Ponha na mente do homem a união
Para que possa ter fim
Todos os conflitos raciais
Pai Nosso,
que do mundo fostes o criador
Rogo-te por mim
Pelos meus pais
Pelos meus filhos
Pelos meus amigos
Pelos meus inimigos, se eu os tiver.
Acabai com a violência
E dai-nos a paz
Amém
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ROSA SEM ESPINHOS
Antes era apenas um botão
Aos poucos desabrochou
Hoje é uma bela rosa sem espinhos
Antes era uma menina
Aos poucos se tornou mulher
E hoje é uma linda senhora, minha mãe
Não sei quem mais se realizou
Neste jogo de amor
Se você Rosa-Mãe
Ou as pétalas que desprendestes
Mãe, rosa sem espinhos
Ao ninar-me com tuas canções
O teu hálito perfumado
Lembrava-me um jardim primaveril
Mãe, rosa de rara beleza
Em nenhuma floricultura
Alguém conseguirá encontrá-la
Ela é encontrada somente
No coração de um bom filho
O SOL QUE CAIU
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MEU PAI
Lágrimas de cera substituem
Minhas lágrimas verdadeiras,
Já faz tanto tempo que você se foi
Que não consigo mais chorar.
Tranco-me em meus devaneios
E ponho-me a imaginar
Como seria a minha vida ao teu lado.
Deixaste-me tão pequeno
Que não recordo os teus abraços,
A tua voz, nem a cor dos teus olhos.
Não lembro tampouco as tuas mãos calosas
Em meu corpo a me embalar.
Mas hoje, meu pai,
Aquele pequeno fruto do teu amor
Cresceu e te ama.
Amo-te tanto, que para mim ainda vives.
Não, para mim você não morreu,
Está fazendo apenas uma viagem
Da qual não poderá mais retornar.
Mas, não se preocupe meu pai,
Breve estarei ao teu lado
Para juntos desfrutarmos
Das delícias da terra prometida por Deus.
Natal - RN
01-10-1999
Pelos 40 anos de sua viagem
O SOL QUE CAIU
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O SOL QUE CAIU
O ser que saiu
O sol que caiu
Na solidão do mar
Coração a naufragar
Uma onda o despiu
E só...
Como um marinheiro
Sucumbiu
O mar não vai chorar
Amar o mar não vai amar
O céu sorriu e pariu
Nuvens brancas no céu
Surgiu
E eu
O ser que saiu
O sol que caiu
Como um nada
Na vida
Sumiu
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A ROSA
Ser rosa
Garbosa
Babosa
Barbosa
É Rosa
Formosa
Talentosa
Saborosa
É Rosa
Tão prosa
Tão mimosa
Tão brilhosa
É Rosa
Glamorosa
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DEVANEIOS, UM SONHO REAL
A beleza do ocaso
Inerente a chegada da noite
Faz-me mergulhar no vale dos devaneios.
Nem mesmo a brisa gelada
Que chega como um açoite,
Para despedir-se dos brilhantes
Raios dourados do sol,
Faz-me tremer a alma.
Vivo a fantasia do momento.
Vivo a fantasia de poder amar.
Vivo um sonho difícil, eu sei.
Mas o que seria de mim
Se não pudesse ao menos sonhar?
Fico feliz em poder sonhar.
O que me importa é amar
Ao menos em devaneios,
Pois um dia, quem sabe,
Estes devaneios poderão
Tornar-se um sonho real.
O SOL QUE CAIU
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MEUS FILHOS
Alcione, a que não é sambista
E sim, a que me conquista.
Alcione, fruto em flor
Foi o meu suspiro de amor.
Alcione, linda gazela
É fruto do meu amor
Tal qual a rosa amarela
Igual a ti, fruto em flor.
Aldivan, eu sou teu fã
Diz-me como é que vai.
Gêmeo, és como a maçã
Fruto adorado por teu pai.
Desejo que o amor
Em sua vida sempre esteja
Eu fico com a minha dor
Pedindo que Deus o proteja.
Aldilene, fruto da saudade
Foi gêmea por segundo
Completando minha felicidade
Quando estava eu no mundo.
Amo a ti e aos teus irmãos
Como amo o Criador
Vamos juntar as nossas mãos
Em uma corrente de amor.
O SOL QUE CAIU
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PÂMELA
Oh! Filha amada
Belo fruto de um amor
Para mim és uma fada
És a rosa que desabrochou
Tens nome de origem greco-latino
Pam-meli és todo mel
Pâmela, nome bem feminino
És muito doce, és parte do céu
19 de julho, final da noite
Viestes ao mundo chorando
E a alegria como um açoite
Em meu peito foi brotando
Nasceste tão bela, tão nua
Que tua pedra é o Rubi
Teu astro regente é a Lua
A musa que naquela noite eu vi
És do signo de Água
E Lírio-D’água é a tua flor
És o fim da minha mágoa
És o meu infinito amor
Verde-claro tua cor da sorte
Canceriana querida
És o fim da minha morte
És o princípio de uma nova vida
Nascestes no início de uma década
De um século que termina
De um novo tempo és a escada
O SOL QUE CAIU
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Minha querida menina
E como tens nome de origem latina
Presta bem atenção
Esta frase que termina
Estes escritos de emoção
Aequam memento rebus in
Arduis servare mentem.
Lembra-te de manter o ânimo
Justo nos momentos mais difíceis
O SOL QUE CAIU
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NERUDA
Faça-me o seu pedido
Filho por mim tão querido
És também um Neruda
Portanto fale, cante, escreva
Não deixe sua voz ficar muda
Não se iluda
O chileno tinha a praia
De areias vermelhas e rochas negras
Mas tu também tens o teu lugar
Que não é o paraíso das ilhas gregas
É um lugar cheio de emoção
É o lado rubro negro
Que existe em meu coração
Pablo Neruda
Tens o nome de um poeta
Não sei qual será o teu destino
Pois não sou nenhum profeta
Eternamente serás o meu menino
Desejo que sejas feliz
Com o que a vida te oferta
Aos 69 anos, em 23 de Setembro de 1973.
12 dias depois da queda de Salvador Allende,
Morria o grande poeta chileno Pablo Neruda,
O Prêmio Nobel de Literatura de 1991.
Seu último pedido:
“Enterrem-me na Ilha Negra,
Em frente ao mar que conheço,
O SOL QUE CAIU
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A praia rugosa de pedras e ondas
Que meus olhos cansados não voltarão a ver”.
Somente em 12 de Dezembro de 1992
O seu pedido foi atendido.
E
Em 03 de Maio de 1994
Nasce o meu Pablo Neruda
Não o do Canto Geral
E sim, o do amor total
O SOL QUE CAIU
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SOU
Sou canto
Sou encanto
Sou universo
Sou desencanto
Sou a lágrima do olho que chora
Sou o adeus daquele que vai embora
Sou a mansidão
Do ponteiro que fornece a hora
Sou o sabor ácido do limão
Sou a batida de um coração
Arco do Triunfo
Sou melancolia e solidão
Sou a águia altaneira
Sou a nau bucaneira
A violência
Sou uma sombra aventureira
Sou a fera ferida
Sou a alma indevida
Sou a morte esperada
Sou o semblante da vida
Sou os acordes de uma canção
Sou povo, sou nação
Sou opúsculo, sou crepúsculo
Sou verme...
Sou tudo, sou nada
Sou da vida a podridão
O SOL QUE CAIU
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UMA SOMBRA NO ESPELHO
Ah! Se eu fosse o espelho
Ah! Se eu fosse o reflexo
Mas, eu sou eu!
Sou concreto, sou real.
Ah! Como eu gostaria
De ser uma miragem
De ser uma imagem
Mas apesar do pavor
Sou real
E sofro por amor
Ah! Vida minha,
Minha vida.
Sou apenas uma sombra,
Quando eu queria
Ser apenas um reflexo.
Sou apenas
Uma sombra no espelho
Uma imagem sem nexo
Sem reflexo e sem sexo.
O SOL QUE CAIU
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VIVENDO
Vi tua silhueta recortada
Pelas curvas, formas e cores
Do vento, do tempo e do pensamento
Estou te vendo
Tão real, tão palpável
Que você se tornou uma miragem
Uma ilusão de ótica
Mas eu vou vivendo
Mesmo te querendo
Sei que te vi...
Sei que estou vivendo
E no ar o teu perfume
Reacende o fogo em mim
Sou um jardim, sou lume
O suave aroma do jasmim
Sei que estou vivendo
Sei que te vi... E não me rendo
E não me vendo
Mesmo sem querer
Mas sempre te querendo
Sei que estou vivendo
O SOL QUE CAIU
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MAÇÃ APODRECIDA
Pelas brumas do Avalon
Ou pelo perfume
Da revendedora do Avon
Volto ao tempo
Em tormento, em lamento.
Pelos cavaleiros da Távola Redonda
Ou pelo quadro da Gioconda
Continuo a regredir
Querendo saber o que é existir
Passo pelo liquidificador
Penetro na memória do computador
Entro em luta na lida
Para saber o que é a vida
Perco-me entre o vento e o tempo
A Minh’ alma jaz no esquecimento
Não sei se voo no turbo-motor
Ou nas asas de um condor
Mas, pilotando um caminhão
Voltei ao tempo de Adão
E em suas anotações esquecidas
Descobri que sou na vida
Apenas a maçã apodrecida
O SOL QUE CAIU
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FECHA-SE O CÍRCULO
Se o círculo é um “O”
Ou mesmo um zero
Não precisa de mim ter dó
Por não ter tudo que quero
Mas se o círculo é uma roda
Ou mesmo uma circunferência
Sei que sou mesmo um calhorda
Por não saber a diferença
O círculo da vida é vicioso
É nojento, é lodoso
É horripilante, é horroroso
É imundo e asqueroso
O círculo está se fechando
O mundo inteiro aguardando
Eu sozinho aqui sorrindo
Na imundície me consumindo
Que sabes do círculo da vida
Em tua cabeça demente?
Sei que o círculo é a semente
De uma existência ferida
E quando a vida é banida
Fecha-se o círculo
Entre o corpo e a alma perdida
E sozinho na vida apodrecida
Sendo uma imagem denegrida
Então, o que sabes da vida?
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 32
COMO UM CANÁRIO
Como um canário
Eu canto para não chorar
Na vida encarcerado
Sem poder voar
Como um canário
Vivo na infelicidade
Com comida, bebida e gaiola
Mas sem direito a liberdade
Como um canário
Eu morro no dia a dia
Sendo a cruz do meu calvário
Esta falta de alegria
É como um canário
Que vivo na tristeza
Mesmo tendo tudo na minha mesa
Falta-me a esperança
De poder ser livre
De poder voar
Sabendo que ninguém me alcança
Serei feliz e voltarei a cantar
O SOL QUE CAIU
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SOU APENAS NÚMEROS
Hoje sou apenas 1
Antes de nascer era 2
Dos irmãos sou o 3º
Os meus membros são 4
Na escola fui o 5º colocado
Comecei estudar aos 6 anos
E aos 7 já pintava o sete
Aos 8 sabia ler e escrever
E aos 9 já contava
Estórias para os 10 irmãos
Cresci 1.83 metros
Aí minha vida
Tornou-se apenas números
Hoje sou
Número da Identidade
Número da Reservista
Número do P I S
Número do C P F
Número do Título de Eleitor
Número da C T P S
Número da C N H
Número do Sindicato
E quando me aposentar
Serei apenas
Um número na fila do I N S S
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 34
E
Quando eu morrer
Serei apenas um zero a esquerda
E nada mais valerei
Pois na cruz do meu túmulo
Serei somente
Novos números
*21 – 10 – 1957
+------------------
O SOL QUE CAIU
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EX-MAGNATA
Tempo passado
Tempo viver
Tempo presente
Tempo sofrer
Os dólares
Corriam entre os meus dedos
Em meu carro
Ao correr não sentia medo
Em minha casa
Nunca levantei tão cedo
Tinha carro, tinha casa
Tinha dinheiro e família
Um rei com coroa de lata
Vivendo uma vida devassa
Com Helena ou Marília
Sendo um puro magnata
O dinheiro acabou
A casa desmoronou
O carro abalroou
A família esfumaçou
Perdi a coroa de lata
De leão só tenho a pata
Quase virei psicopata
Por ser um ex-magnata
O SOL QUE CAIU
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SONHOS E SONOS
Percorri a noite nebulosa da insônia
Nas asas mortíferas da morte
Na insanidade da imaginação insana
Encontrei os meus sonhos perdidos
Mergulhados no mais profundo sono
Oh! Quanto tempo perdido.
Perdido em busca de ilusões
Em busca de fantasias
De um homem que não adolesceu
E sim, adormeceu no passado.
Hoje este homem vive atormentado
Pelos fantasmas dos remorsos
Pura vida de sonhos mortos
E sonos moribundos
Realidade putrefata
Da vida morta do alter-ego
Não sei se sou eu
Esta pessoa que carrego
Encarnada em minhas entranhas
Não sei se é minha essa voz
Que se expande ao vento
Proferida por uma boca
Que faz parte de um corpo físico
Que nem mesmo sei se é meu
Sei que são meus
Somente os sonhos
Que se transformam em pesadelos
E o sono que me abandona
Nas noites nebulosas de insônia
O SOL QUE CAIU
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PARADISE
Retornei a lugares comuns
Onde foi consumida a minha infância,
Visitei velhos companheiros
Hoje gordos e modorrentos,
A cal do tempo a tingir-lhes os cabelos.
Vaguei pela noite
Entre becos e vielas da favela
De um Vietnã esquecido.
Gritei o meu nome, o meu apelido,
Para encontrar no eco
A resposta de uma vida remota.
Procurei em cada esquina
Um instantâneo da minha mocidade,
Eu estava em busca
Do paraíso da juventude eterna
E fiquei estarrecido
Ao perceber que tudo havia mudado.
O menino barrigudo de fraldas encardidas,
Não mais existia.
Hoje ele é um policial.
É alto, forte e usa bigode.
Outros são profissionais liberais,
Outros morreram na marginalidade.
Aquela menina recém-nascida
Que tantas vezes coloquei no colo
E que me molhava com sua urina quente,
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 38
Não mais existe,
Agora ela é mãe.
Minha filha cresceu.
Ela é uma moça
E até me apresenta o namorado.
O que fazer? Nada posso fazer.
De repente descobri
Que já não sou mais o mesmo,
Que esta busca é inútil,
Que ainda não sou velho,
Mas que não sou mais tão jovem.
Descobri, porém,
Que o paraíso que procuro
Está dentro de mim,
Em meu ego,
Está dentro do meu lar
Ao lado dos meus filhos
E da mulher que amo.
O SOL QUE CAIU
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EU, A SIMPLICIDADE
Ninguém me entende
Ninguém procura entender
O meu modo de ser
Chamam-me de moleque
Somente porque gosto
De brincar com a garotada
Chamam-me de palhaço
Somente porque gosto
De provocar gargalhada
Moleque porque adoro criança
Palhaço porque adoro alegria
Por que me censuram tanto?
Olhem para mim
E sintam em meus gestos, a esperança.
Vejam em meus sorrisos, um novo dia.
Para que tristeza
Se temos a morte por certeza?
Ninguém me entende
Ninguém procura entender
O meu modo de ser
Ninguém busca meu lado positivo
Somente procuram o negativo
Para que possa servir de críticas.
Ninguém ao menos busca
Saber a maneira que vivo
E minhas qualidades artísticas
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 40
Ninguém me entende
Ninguém procura entender
O meu modo de ser
Porque vivo na simplicidade
E não desejo ver
O amor e a felicidade jamais
Neste mundo perecer.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 41
MEU PERDÃO
Não sou Deus para perdoar
Mas tu tens o meu perdão
Se sabes somente me odiar
Que Deus julgue teu coração
Me chamou de vagabundo
Safado e maconheiro
Somente porque conheço o mundo
Para ti, sou um desordeiro
Não te fiz nenhum mal
Não procurou me conhecer
Para ti sou um ser infernal
Mas nada tenho contra você
Tu tens o meu perdão
Nada tenho contra ti
Nada podes contra o meu coração
Vou continuar sempre aqui
Meu perdão é sincero
Pois de ti nada quero
O tempo passa e sua mágoa fica
Mas eu te perdoo, Dona Lica
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 42
ÍCARO SONHADOR
Sonhei que estava voando
Era um Ícaro com asas de pombo
Voava, voava, voava
E em busca da paz guerreava.
Sobrevoei o mundo da fantasia
Vi os planos da humanidade
Vi uma lágrima chorando
Vi uma língua gritando
Vi pobres vivendo felizes
Vi filhos respeitando os pais
Ah! Vi uma coisa que não esqueço jamais
Um país democrático de verdade
Sonhei que estava voando
Era um Ícaro com asas de pombo
Voava, voava, voava
Voava em busca da felicidade
E a encontrei tão feliz.
Que coisa linda é um sonhar de um Ícaro.
Mas de repente despertei...
Que cousa horrível é a realidade.
Oh! Morpheus,
Leva-me de volta ao mundo dos sonhos
Que como um Ícaro
Quero voltar a voar com asas de pombo
A procura da paz e da felicidade
Perdidas com o meu despertar.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 43
PIRATA CIGANO
Sou marinheiro
De um velho barco, o timoneiro.
Passo dia, mês e ano
Saqueando corações
Sou um pirata cigano.
Em cada porto que aportei
Um tesouro enterrei
Mas o tempo foi cruel
E deles não mais recordei.
Dois terços da minha vida
Perderam-se no mar
O pirata hoje chora
Por não ter a quem amar.
Quando clamo por amor
Me humilho e não me engano
Pois sei que é difícil alguém amar
Um velho pirata cigano.
O velho lobo do mar
Antes era um terror
Hoje vive a recordar
De tudo que no mar deixou.
O pirata se enganou
O cigano pereceu
O marinheiro chorou
O homem entristeceu
O barco naufragou
E o mar se enfureceu.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 44
O MEU CARNAVAL
Neste carnaval
Sou um Pierrô que te deseja com amor
És uma Colombina com seu jeito de menina
O mundo é o Arlequim
Com ciúmes de ti e de mim
Ciúme fatal que acabou o meu carnaval
Sou o Pierrô que chorou por seu amor
És a Colombina triste que imagina
Que o mundo é o Arlequim
Que levou nosso amor ao fim
Riu o Arlequim com o nosso fim
Chorou o Pierrô em sua dor
Sofre a Colombina tão fina
E o meu carnaval
Foi apenas um sonho
Não foi assim tão real
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 45
ALMA
Alma
Calma
Exala
Fala
Cala
Quem sou eu?
Ar que acalma - alma
Vento tempestade - calma
Manhã ensolarada - exala
Nada do nada - fala
Tarde sombria - cala
Alma
Calma
Exala
Fala
Cala
Quem sou eu?
Palavra sagrada - alma
Pensamento ilusão - calma
Carne apodrecida - exala
Grito de pavor - fala
Silêncio no túmulo - cala
Exala, sente no ar
O que fala, acalma a alma
Depois cala, cala
E tudo é silêncio na alma
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 46
QUE ALMA
Alma
Quem sou?
Como o ar que acalma
Eu sou alma
Como uma palavra amiga
Acalmando os conflitos
De outra alma
Como palavra sagrada
Eu sou alma
Deus fez o homem do pó da terra
E soprou em suas narinas dizendo:
“Do pó viestes e ao pó tornarás”
Está em Gênesis que desde então
O homem foi feito alma vivente
Então, eu sou alma.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 47
QUE CALMA
Calma
Quem sou?
Como vento e tempestade
Chegam em mim a raiva e o nervosismo
Com toda a sua fúria
E como acontece
Logo depois de todos os temporais
Chega em mim a calma
Como pensamentos e ilusões
Que afligem o meu dia a dia
E o meu ego continua calmo
Então, eu sou a calma.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 48
QUE EXALA
Exala
Quem sou?
Como a manhã ensolarada
Em que exala o suave aroma
Das flores do jardim
Como carne apodrecida
Após a vida fugir de mim
Sou todos os perfumes da vida
Como sou toda a podridão
Que se exala
Então, eu sou o que exalo.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 49
QUE FALA
Fala
Quem sou?
Como o nada do nada
Todas as palavras
Perdem-se com o tempo
Eu sou tudo que se fala
Como um grito de pavor
Que não passa de medo
Fraqueza e covardia
Eu sou tudo que se fala
Então, eu sou tudo que se fala.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 50
QUE CALA
Cala
Quem sou?
Como a tarde sombria
Em que a tristeza impera
Com a ausência do sol
Eu sou aquele que cala
Como silêncio no túmulo
Em que segredos e mistérios
Inteligências e experiências
São trancadas no cofre da eternidade
Eu sou aquele que cala
Então, eu sou aquele que cala.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 51
ENFIM...
Alma
Calma
Exala
Fala
Cala
Exala
Sente no ar o que fala
Acalma a alma
Depois cala, cala
E tudo é silêncio na alma
Enfim
Eu sou apenas um ponto
A mais na imensidão do Universo
E na Terra
Sou mais um na multidão
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 52
PENÚRIAS
Ouço vozes tenebrosas
Em uma solidão sem fim
Barulhos de correntes
Fantasmas que chegam a mim
Sinto um cheiro fétido
Do desprezo vivido assim
Oh! Noites pavorosas
De torturante solidão
Adagas afiadas
A sangrar-me o coração
Que fiz ao nobre Senhor
Para viver tal aflição
São tantas desditas
A torturar minha mente
Sinto-me uma árvore daninha
Em meu ócio de doente
Sinto-me um cão vadio
Sofrendo de forma inclemente
Todas as penúrias que vivo
Nessas noites de terror
As lágrimas correm no rosto
Coração sangrando em dor
Tenho dúvidas se vale a pena
Continuar sentindo amor
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 53
Sono perdido e sonhos desfeitos
Tento adormecer
Mas vejo a noite se esvaindo
Vejo um novo amanhecer
Eu sofrendo calado
A espera de um novo anoitecer
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 54
EU QUERIA QUE...
Eu queria que...
Ao sentir a brisa fria que sopra
Lembrar-te do meu calor.
Ao ver uma gaivota voando
Lembrar-te da minha liberdade.
Ao perceber um facho de luz
Lembrar-te da minha esperança.
Ao ver um sorriso de uma criança
Lembrar-te da minha felicidade.
Ao ver um homem na labuta
Lembrar-te do meu ideal.
Ao presenciar o crepúsculo
Lembrar-te que estarei no amanhã.
Eu queria que...
Ao parar de chorar, sorrisses,
Pois um dia também chorei.
Pudesse amar como vos amo.
Pudesse resignar-se com a sua dor.
E pudesse a vida compreender.
Enfim, eu queria que...
O teu ser transpirasse amor
Como em meu corpo transpira.
Enfim,
Eu queria que estivesses ao meu lado
Como estou sempre ao teu.
Pois eu sou EROS,
O Deus do Amor.
O teu verdadeiro Deus.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 55
ANTES ME EXPLIQUE O HOJE
Antes era uma bela criança
Hoje é uma linda mulher
Antes eu era um moço irresponsável
Hoje sou romântico e saudosista
Antes eu era feliz ao teu lado
Hoje sofro por você
Antes eu não conhecia o amor
Hoje sofro por amar
Antes, por favor, explique-me o hoje
Antes eu desconhecia a poesia
Hoje sou um poeta sofredor
Antes a vida era sonhos e fantasias
Hoje ela mostra-me os espinhos
Antes você dizia me amar
Hoje digo que te amo
Antes menos que hoje
Hoje menos que amanhã
Antes, por favor, me explique o hoje.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 56
BARQUINHO DE PAPEL
É em meus sonhos de criança
O meu iate de luxo
No qual levo o meu amor a passear.
É o navio de guerra
Mais poderoso da minha esquadra
No qual navego milhas e milhas
Por outros oceanos
Em busca da paz mundial.
É em meus sonhos de criança
O transporte mais veloz
No qual viajo ao mundo da fantasia.
É a nau em que sou o comandante
A ditar ordens a marujada.
É depois da minha imaginação
A coisa mais pura nesse momento.
Barquinho de papel
Meus sonhos futuros
A doce melodia de ser criança
Mesmo depois de adulto
Barquinho de papel, meu doce barquinho
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 57
DESERTO PENSANTE
Como um deserto
Aqui estou quase que inanimado.
Como um deserto
O que me sobra de vida é o mínimo.
Movo-me como as cobras, víboras e lagartos
A arrastar-me na aridez da terra.
A falta de verde no deserto
É a minha falta de esperança.
A falta de água no deserto
É a minha sede de sabedoria.
A falta de árvores frutíferas
É a minha fome de amor.
O vento que sopra com violência
É a minha fúria incontida
Contra as injustiças sociais.
O que se salva no deserto é o abutre,
Que voa a espreita
Da próxima vítima da escassez.
O que se salva em mim é o pensamento,
Ele é livre.
Penso em busca de soluções
Mas, sou apenas um deserto pensante.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 58
TRAPO HUMANO
Não desejo piedade.
Não desejo que de mim sintam pena.
Este trapo também já foi feliz,
Sorriu, amou e foi amado.
Hoje é infeliz, taciturno e abandonado.
A vida é uma roleta
E no jogo da vida, tudo que se foi
Voltará um dia ao ponto de origem.
Não, não desejo piedade.
Desejo somente amor e paz.
Amor ao próximo como alento
E paz para que eu possa
Mesmo como um trapo humano,
Marginalizado,
Continuar a reerguer-me após cada tombo
E poder chegar ao final
Da minha missão terrena,
Mesmo sofrendo, mas sem revolta.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 59
DE VOLTA AO MAR
Voltar ao mar
Era tudo o que eu queria
Ver as ondas embaladas
Na mesma monotonia
Mesmo sabendo que cairia
Em profunda melancolia
Ficar longe da família
Do amor e do meu lar
Me faz ficar triste
Com vontade de voltar
Mas é enorme a força
Que me mantém sempre no mar
Ouvindo papos desagradáveis
De sujeitos esclerosados
Lembro-me do mundo exterior
Fora do qual estou encarcerado
Onde todos têm a mente suja
Com o pudor enclausurado
Os navios mudaram muito
Na era da tecnologia
Só não mudou a mente
Desta velha pirataria
Que vivem de maneira retrógrada
Na mais plena baixaria
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 60
Vejo com tristeza nos olhos
Minha juventude passar
Mas fico feliz com minha vida
Pois eu tenho a quem amar
Tenho um Deus Onipotente
Lêda, a mulher que eu amo
E a infinita imensidão do mar
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 61
OS FILHOS DO MEU SAPATO
São calos da vida
Os filhos do meu sapato
Os sofrimentos constantes
De um moço em celibato
Os problemas sofridos
Por um brasileiro nato
São filhos do meu sapato
Este tormento sem dor
As agruras desmedidas
Esta lágrima incolor
A bela fêmea na paisagem
A quem olho com amor
O barulho que incomoda
Que não me deixa pensar
São filhos do meu sapato
Este doloroso penar
A musa deitada na areia
É quem me ajuda a rimar
O sol aquece-me o corpo
Com sua imensa claridade
São filhos do meu sapato
Toda intensa maldade
Dos que tentam destruir
A minha felicidade
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 62
São filhos do meu sapato
Este triste anoitecer
Os pensamentos terríveis
Que atormentam o meu viver
É o dia-a-dia fatídico
Vendo o nosso povo sofrer
Ver os políticos incapazes
Governando nossas vidas
São os filhos do meu sapato
Estas imensas feridas
Que me causam sofrimentos
De uma forma desmedida
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 63
AMÁLGAMA
O que vejo pelo mundo
É difícil de entender
É político prometendo
Que tudo pode fazer
E o povo iludido vendo
Os filhos de fome morrer
É viagem para a França
Para receber condecoração
Sendo gasto o dinheiro do povo
Em passagens de avião
Enquanto sofre o trabalhador
Para poder comprar o pão
É nomeado imortal
Por mais pura ilusão
Somente orgulho velado
De vaidade no coração
Enquanto o filho do pobre
Não tem direito a educação
É gasta enorme fortuna
Em usina nuclear
Sem utilidade nenhuma
Só para o tempo acabar
Enquanto os brasileiros
Não tem assistência hospitalar
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 64
Os jornais todos os dias
Trazem escândalos financeiros
Na TV a corrupção
É manchete o ano inteiro
Enquanto que os contribuintes
Já não sabem o que é dinheiro
É o Brasil em preto e branco
Pleiteando eleições
São políticos discursando
Disfarçando as armações
E o povo já cansado
De sofrer humilhações
Mas nesta imensa mistura
Deste país varonil
Existe uma grande esperança
Com destemor juvenil
De um dia nos orgulharmos
Do nosso imenso Brasil
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 65
A SOMBRA DO ACORDEOM
Quando eu era menino
Via sempre meu pai tocar
Em uma sanfona velha
Até o dia clarear
Animando sempre os bailes
Pra todo mundo dançar
Nisso o tempo foi passando
Eu sem pensar em trabalhar
Vivendo sempre de festa
Só me ligava em brincar
Não pensava no futuro
Que era certo chegar
Levando a vida na farra
Não procurei casamento
Vivendo sempre sozinho
No maior divertimento
Agora a velhice chegou
E junto o arrependimento
Hoje vivo lastimando
Toda hora e todo dia
Já estou velho e cansado
Na mais triste agonia
Sem poder mais trabalhar
E sem ter aposentadoria
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 66
Mas eu tenho esperança
Porque sei que Deus é bom
De perpetuar até a morte
O meu maravilhoso dom
De viver tocando bailes
Na sombra do acordeom
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 67
GERICORDEL
Eu sei que existe a tragédia
No ar, na terra e no céu
Mas quero falar de alegria
De coisas com sabor de mel
E de fatos interessantes
Eu quero ser o menestrel
Só quero falar de amor
Sem pensar na falsidade
E levar pra todo mundo
Com toda simplicidade
O que existe de mais belo
No coração da humanidade
Como é linda a primavera
Com as flores a perfumar
Como são belas as crianças
A sorrir e a brincar
Mas lindo mesmo na vida
É não saber odiar
Vamos amar o nosso próximo
Por toda a nossa existência
Praticando a caridade
Dando a nossa assistência
Foi para isso que Deus nos deu
Toda a nossa inteligência
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 68
Tanto faz ser branco e rico
Como ser preto e pobre
São cobertos pelo manto
Que ao mesmo tempo nos cobre
É sendo unidos com amor
Que na vida somos nobres
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 69
BETO, O ANALFA
Era o seu grande orgulho
Ser bastante trabalhador
Viver como besta de carga
E não ter nenhum valor
Para no ano inteiro
Só comer o que plantou
O seu nome era Beto
Nunca aprendeu a ler
Até a sua assinatura
Não sabia escrever
Porque nunca foi a escola
E nada queria aprender
Mas um dia em sua vida
Sentiu-se entristecido
Por não saber ler e escrever
Vivia com o coração ferido
Pensou logo em recuperar
Todo o seu tempo perdido
Matriculou-se em uma escola
Onde não tinha criança
Estudou com toda garra
Sempre tendo confiança
De um dia ser alguém
Jamais perdeu a esperança
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 70
Passaram-se os anos
Até a volta de Beto
Estudou tudo em línguas
Decifrou até dialeto
Mas o seu maior orgulho
É não ser mais analfabeto
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 71
CAPIM NOVO
Se alevanta o velho Pedro
Quando passa a menina
Alisa logo o cabelo
Que mais parece uma crina
E faz logo um resmungado
Com sua voz feia e fina
Saracoteia e balança
De maneira engraçada
Com toda força do peito
Ele fala pra moçada
Ainda dou duzentos contos
No rabo dessa safada
Todos ficam criticando
O velho fica danado
Bota todos pra correr
Debaixo do seu cajado
Dizendo pra todo mundo
Que é velho, mas não é capado
O velho Pedro fica zangado
Gritando puto da vida
Vai logo tirando a roupa
De forma bem atrevida
Deixando os “murchos” de fora
Bem no meio da avenida
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 72
Fica trêmulo e gargareja
Da maneira de um corvo
Balançando pra toda gente
O seu saco, tripa e ovo
E diz que pra cavalo velho
O remédio é capim novo
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 73
BERRANTE TRISTE, O ABOIO DO ADEUS
O berrante entristeceu
Nunca mais ele tocou
Sentindo falta das reses
Que a aftosa matou
A vaca preta Graúna
O grande touro Pastor
Bailarina e Franqueza
Alfinete e Coração
O bezerrinho Melaço
Água-Fria e Azulão
A mugir e a babar
Se contorcendo no chão
O berrante entristeceu
O vaqueiro se calou
O chocalho de Galega
Nunca mais se escutou
Até mesmo o passarinho
De tristeza não cantou
Vaqueiro pede as contas
Arruma a roupa e vai embora
Monta logo em seu cavalo
Se despede sem demora
Olhando para o curral
Onde a tristeza mora
Com os olhos cheios d’água
Vai embora o vaqueiro
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 74
Que tanto se acostumou
Com o belo gado faceiro
A quem ele tanto amava
E cuidava o ano inteiro
Olha o vaqueiro pro céu
Vê se dar para ver Deus
Ele quer explicação
Para os sofrimentos seus
E com um soluço abafado
Dá um aboio de adeus
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 75
VAQUEIRO TEM SENTIMENTO
Cavalo bom e mulher
É a minha perdição
Dançar e tomar cachaça
E correr gado em mourão
Namorar menina nova
Em festa de apartação
Fico alegre quando vejo
O gado gordo pastando
As vacas e os touros no pasto
Os bezerros escamuçando
E eu na minha alegria
Vou embora aboiando
Lembrando da triste seca
Que já ficou para trás
Hoje o inverno chegou
A verdura já satisfaz
O que Deus está fazendo
Homem da terra não faz
Antes das primeiras chuvas
O pasto era um deserto
O gado mago mugindo
O urubu rondando perto
A esperar que o gado morra
Pois o banquete era certo
Hoje o gado está bonito
Já tem água no barreiro
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 76
Já sumiu até as lágrimas
Dos olhos do vaqueiro
Hoje tudo é alegria
Tá feliz o fazendeiro
Quando é de manhãzinha
Muge o gado no curral
O vaqueiro se alevanta
No cantar do bacurau
Sorrindo e dando bom dia
Sem botar cara de mau
Fico contente seu moço
Com minha mão cheia de calo
Levanto de madrugada
Antes do cantar do galo
Boto o chapéu de couro
E vou selar o cavalo
Pego meu material
O parapeito e o gibão
Pego o par de esporas
E monto no alazão
Hoje é dia de ferrar
Os garrotes do patrão
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 77
NAMORO DE VAQUEIRO
Menina moça bonita
Princesinha do sertão
Toda vez que vou passando
Tu acenas com a mão
Que pareces até um anjo
Da Virgem da Conceição
Sou vaqueiro tarimbado
Nascido em São Tomé
Já vi muito rosto bonito
Neste mundo de Noé
Que o diabo é quem se engana
Com essas manhas de mulher
Menina moça bonita
Me fale por caridade
Que foi que tu viu em mim
Já com toda essa idade
Com tantos rapazes mais moços
A andar pela cidade
Vivo a tanger meu gado
Pelas terras do sertão
A poeira é meu talco
O suor é o meu loção
Meu maior divertimento
É dar queda em barbatão
Tudo que tenho na vida
Para mim é um tesouro
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 78
Um cavalo alazão
Um velho chapéu de couro
Com parapeito e gibão
Minha vida vale ouro
Nunca namorei donzela
Nem pretendo namorar
Vou voltar para o sertão
Vou voltar a campear
Vaqueiro morre solteiro
Sem ter tempo de amar
E quando casa o vaqueiro
Depois vai se arrepender
A mulher passando fome
Vê o filho adoecer
Pois o dinheiro que ganha
Não dá nem para comer
Mas menina eu vou te falar
Uma coisa sem fingimento
Se meu ordenado tiver
Mais um pouco de aumento
Volto aqui em sua casa
E te peço em casamento
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 79
VAQUEIRO RELAXADO
O vaqueiro relaxado
Anda com a cara no chão
Vive a tomar cachaça
Já perdeu o seu gibão
Nunca mais foi convidado
Pra festa de apartação
Ficou curta a sua vista
E já treme a sua mão
Perdeu toda sua coragem
Tem medo de barbatão
Já perdeu tudo que tinha
Até o seu cavalo Tufão
A filha do fazendeiro
Ele trocou pelo balcão
Já bebeu até o dinheiro
Da sela do alazão
Hoje dorme nas calçadas
Lembrando do barracão
Ele hoje nem se lembra
Do seu gado no mourão
Do bezerro de Cigana
Nem do touro Azulão
Da vaca preta Graúna
Moça Branca e Coração
Das viagens a Marcoalhado
Não tem mais recordação
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 80
Tangendo o seu gado manso
Pelas terras do sertão
Aboiando onde passava
Na maior animação
Hoje se encontra doente
Olhos fundos e inchação
Sem recursos e sem amparo
Do seu antigo patrão
Só espera agora a morte
E de Deus o seu perdão
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 81
MAS DOUTOU...
Mas doutou qui aligria
Eu sinto no intardicer
Juro pelas Ave Maria
Queu num sinto inveja de vosmicê.
Divagar eu vou tocando
Todo gado pro currá
Num cavalo bem baxêro
Eu me ponho a aboiá.
Abóio, abóio e num minfado
Purquê seio qui cabôco iguá a eu
Nasceu pra lutar cum gado.
Mas doutou se o sinhô visse
O queu vejo todo dia
Os barbatão se atracando
Os bizerrinho mamando
Ou uma vaca dando cria
Dunha coisa eu tinha certeza
Pra cidade o sinhô nunca ia.
Coisa bunita pra se oiá
Sem quarquer admiração
É o pouso do carcará
Ou o vôo do gavião.
O sinhô pricisa ver
A galinhada no terreiro
Do gavião só basta um piu
Que corre tudo ligeiro.
Isso tudo seu doutou
Queu lhe dixe, é de tardinha
Mas se o sinhô quizer eu vou
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 82
Le falar cuma é dimanhãzinha
O sinhô se alevanta
Antes do nascer do só
Toma um gole de café
Daquele qui amaiga iguá jiló.
Fai um cigarro de fumo
Desse qui nós chama brejeiro
Sai sortando a fumaça
Ca moças da cidade
Num pode nem sintir o chêro
Agora sim, seu doutou
Qui o sinhô vai pro currá
Pegá as vaca leiteira
Chamá os nome de cada uma
E butá os bizerro pra pojá.
Os nome delas eu digo
Vê si dá pra decorá.
Confeito e Bailarina
Subaúma e Fafá
Essa outa é Coração
É dunha raça valente chamada guzerá.
A cinzenta é Franqueza
Mas de franca num tem nada
Num dá mei lito de leite.
Sabe prumode o quê, doutou?
Esconde o leite, a safada!
É agora seu doutou
Qui mi dá animação
Tomá uma boa coalhada
Comer um naco de carne fritada
Na mantêga do sertão.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 83
Já falei tudo, doutou
Só num falei foi da noitinha
Mas falá tomém num vou
Mas le digo uma coisa bem baxinha
Me acredite se quizé
Mas vou deitá mais a muié
Foi conseio do veio meu avô
Que adespôs de toda luta
O matuto tem direito
A um troço chamado amor.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 84
PEDIDO DE CASAMENTO MATUTO
Dona Ontonha, aqui tou eu
Pra pidir Zefa im casamento
Num tenho nada na vida
A num ser, minha inxada
Um cachorro e um jumento.
Mas Dona Ontonha eu lha garanto
Pur Deus do céu se quizer
Queu morro de trabaiá
Mas cumida num vai fartá
Pra Zefa minha muié.
Da roça vai vim fejão
Girimum e macaxêra
Queu quero ver Zefinha
Bem gordinha e facêra.
Caça do mato nós tem tudo
Tijuaçú, preá e rolinha
Mas dinoite no deitá
Só quero mermo é Zefinha.
Agora tem uma cousa
Queu num posso aceitá
É adespôs queu a Zefa ingordá
Ela vinhé cum farsidade,
Oi Dona Ontonha,
Pur caridade, a Zefa eu posso matá.
Mas se Zefa fou dereita
Honesta e trabaiadoura
Aí sim, Deus me alivre
De trocá a minha Zefa
Pur outa mais pecadora.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 85
RESPOSTA DE DONA ONTONHA
Sivirino eu ti dou Zefa
Pra vosmicê si casá
Pra despôs do casamento
Vocês mi dá déis netinho
Prumode eu caducá.
Agora num pense vosmicê
Qué cum rôla e macaxêra
Qui tu vai dexar Zefinha
Bem gordinha e facêra.
Ela maga já é bunita
Num nega qué minha fia
O pai eu num seio quem é
Mas lha garanto
Quela foi minha úrtima cria.
Ingomadêra e lavadêra
Iguá a ela tu num vai incrontá
Só qué de mês im mês
Qui tua roupa ela vai lavá.
Mas Sivirino eu ti digo
Se Zefa fou farsa a tu
Num pricisa matá ela
Cuma se fosse rôla ou tijuaçú
Tu vorta cum ela pra eu
Queu num tenho raiva não
Tu adevove a minha fia
Queu ti dou meu coração.
Agora si tu quizé
Uma cousa mió ou mai bunita
Sabe quem vai ficá tisperando?
Eu, Toinha,
Cá muito já tá ti amando.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 86
O PORQUÊ DO POR QUÊ?
Por que temos que nascer?
Por que temos que comer?
Por que temos que beber?
Por que temos que adormecer?
Por quê?
Por que temos de acordar?
Por que temos de falar?
Por que temos de chorar?
Por que temos de andar?
Por quê?
Por que temos que amar?
Por que temos que trepar?
Por que temos que gozar?
Por que temos que calar?
Por quê?
Por que temos de mentir?
Por que temos de fingir?
Por que temos de sorrir?
Por que temos de fugir?
Por quê?
Por que temos que temer?
Por que temos que esquecer?
Por que temos que viver?
Por que temos que morrer?
Por quê?
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 87
LETARGIA
Não me movo...
Não presto atenção a nada...
O tempo passa e não percebo...
A vida passa e não vivo...
O sol é abrasador e não sinto calor...
A chuva é fria e não sinto frio...
O passante passa e eu fico...
O pombo pousa em meu ombro
E nada faço para afagá-lo...
O cão urina na minha perna
E nada faço para afastá-lo...
A comida é saborosa
Mas não sinto fome...
O suco está gelado
Mas não sinto sede...
Chega à noite e não sinto sono...
Nada sinto...
Nada sei...
Nada vejo...
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 88
SOBREVIVO
Das tempestades e trovoadas
Eu renasci e sobrevivo
Dos terremotos e calamidades
Eu renasci e sobrevivo
Sobrevivo
A vendavais e furacões
Maremotos e colisões
Só não sobrevivo
A inesperadas traições
A trágicas ilusões
A dor do amor em meu coração
Sobrevivo
A dor, ao pavor, ao calor,
Ao furor e ao terror
Só não sobrevivo
A perda de um amor
Das cinzas de um amor perdido
Eu renasço e sobrevivo
A bravura de homem do mar
Me faz viver, me faz voltar
Voltar para te amar
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 89
TEMPO DESPERDIÇADO
Tempo desperdiçado
É sonhar com a felicidade
Pensar que alguém te ama
Pensar que trabalho enobrece
Pensar que o sol escurece
Sonhar ser feliz casado
Pensar que casado é feliz
Sonhar em ter tudo
Que na vida sempre quis
É tempo desperdiçado
Como é tempo desperdiçado
Pensar que o amor é eterno
Que a amizade é infinita
Que a lua é bonita
Que o sereno é sempre terno
Nada é eterno
Nem o cantar dos pássaros
Nem a tua fortaleza
Como não é eterna
A violência dos bárbaros
Nem a linda realeza
É tempo desperdiçado
Amar para viver
Viver para sonhar
Sonhar para amar
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 90
VALE DOS RÉPTEIS
Veja você o que é a pré-história
Se na história contemporânea
Somos todos uma escória
Vivendo no vale dos répteis
Onde existem tiranossauros
O dinossauro vira bicha
É tubarão o brontossauro
E o povo é a lagartixa
O tigre dente-de-sabre
É o cofre que não se abre
Do rico miserável
Que age de forma abominável
A vida é vale
A vida é valeta
Nós somos os répteis
Atirados a sarjeta
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 91
CAOS DA VIDA
Ser vivo
Não é apenas existir
Ser vivo é viver
E compartilhar do caos da vida
É ouvir
O grito lancinante da gaivota
O choro estridente da criança
O apelo lamentoso de quem ama
É pegar em teus braços
Aquela que não te ama
Aquela que é amiga
Aquela que nada cobra
É ver
Além do teu alcance
Que não é amado
Que é um empecilho
Na vida de quem tu ama
É sentir no ar
Que é indesejável
Que não agrada a ninguém
Que já está ultrapassado
É poder falar que está vivo
Que ama a vida
E que apesar de tudo
Ama aquela que não te ama
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 92
CONDOR ERRANTE
Condor, ave altaneira
Tremula no infinito acima
Sendo ave aventureira
Igual a águia é de rapina
No alto do monte faz o ninho
Quase nunca pousa ao chão
Trata os filhotes com carinho
Tendo amor e dedicação
No mundo vive errante
Sem local onde pousar
É pássaro imigrante
Vive sempre a voar
Então...
Voa, voa como o pensamento
Vivendo apenas o momento
Vive, vive uma vida de aventura
Tratando todos com ternura
Ave altaneira
Oh! Condor
Que jamais irá cansar
De procurar o verdadeiro amor
Voa ave soberana
Pois é lindo o teu voar
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 93
PALAVRAS
Palavras
São como folhas ao vento
No outono entristecido
Sem na vida um intento
E com o tempo esquecido
Palavras
São fumaças de uma fogueira
Que queima e apaga
São raízes de uma fruteira
De fruta bem amarga
Palavras
Saem da mesma boca que me beija
São partes pequenas da vida
É algo que o amante almeja
São pedras que causam ferida
Palavras
Palavras doces como o mel
Palavras que te levam ao inferno
Palavras amargas como o fel
Palavras são caminhos eternos
Que unem a terra e o céu
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 94
TUDO QUE TENHO É NADA
De que vale
O apertamento do apartamento
De que vale
Carro tão caro
De que vale
O poder de querer
De que vale
O estudo que estudo
De que vale
O dinheiro que tudo compra
E o ouro que nada vale
Para mim nada vale
Porque sem amor
Tudo que tenho é nada
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 95
SEM TETO, SEM ABRIGO
É como a cigarra
Que no verão levou a vida a cantar
E não trabalhou como a formiga
Pensando no inverno
E de repente
Sente-se no inferno
O inferno da vida
Que eu falo
É ficar sem teto e sem abrigo
Sem teto e sem abrigo
Sem trabalho e sem dinheiro
Ouça bem o que lhe digo
És os espinhos do cardeiro
E antes
Eras bom e inteligente
Trabalhador e muito capaz
Eras de grande valor
Para todos um bom rapaz
E hoje
És preguiçoso e vagabundo
Relaxado e sem pudor
Só prestas para o mundo
Para a família és pura dor
Ouça bem o que lhe digo
Ninguém é nada
Sem trabalho e sem dinheiro
Sem um teto e sem abrigo
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 96
PERDIDO NO HOJE
Como uma dor inclemente
Penso na semente
Semente da vida
De um ser inocente
Radiante da vida
Eu sinto a ferida
De quem nasce agora
Como ave perdida
Nascer logo agora
Quando rompe a aurora
É perder-se no hoje
E jamais ir-se embora
Não nascer, meu amigo
É não sofrer o perigo
É jamais precisar
Nesta vida de um abrigo
Não necessita de nada
Como em um conto de fada
Aquele que jamais nascerá
Nesta vida esfacelada
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 97
PEDRAS SOBRE PEDRAS
Da sua riqueza
Do seu orgulho
Da sua avareza
Sei que nada irá restar
Pedras sobre pedras
Jamais irão sobrar
Pedras preciosas têm na mão
Muito luxo e muita orgia
Mas não tens um bom coração
Que te proporcione alegria
Pedras sobre pedras
Jamais irão restar
Da tua mesquinhez
Da tua altivez
Da tua honradez
Nada irá sobrar
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 98
TRADIÇÃO
Ao cair dos ponteiros do relógio
As horas
Transformam-se em sementes do tempo
E nós?
Somos a matéria adubante
Para as flores incoerentes
Da felicidade ou infelicidade
Desta vida medíocre
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 99
PALADAR
Salgada é a palavra sal
Doce é a palavra mel
Amarga é a palavra fel
Sinto na boca
A podridão da palavra vida
O sabor
Putrefato da ferida
De uma vida tão vivida
E que já foi tão querida
Mas hoje a vida
É traição
Trai e é traída
Podre é a palavra vida
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 100
OLFATO
Sinto no ar
O aroma do strogonoff
O perfume da rosa
O cheiro suave da brisa
Mas expande-se no vento
O mau cheiro
Da lama da ingratidão
Da merda da falsidade
Do sangue da violência
Em completa sonolência
Caminho pela cidade
Cidade tão sofrida
Pela podridão afligida
Podre é a palavra vida
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 101
VISÃO
Vejo em minha frente
O surrealismo de Dali
O azul infinito do infinito
A bela loucura de Van Gogh
O verde do mar azul
O jardim florido tão bonito
Vejo ao meu redor
O menor abandonado
A fome e a miséria
Os conflitos raciais
A humanidade esquecida
A paz do mundo perdida
Podre é a palavra vida
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 102
AUDIÇÃO
Ouço ao vento e no tempo
A nona sinfonia de Bethoveen
O barulho do rock roll
A cadência do samba
O romantismo da serenata ao luar
Escuto com atenção
O lamento dos brasileiros
O gemido dos cancerosos
Os resmungos dos aidéticos
Os gritos
De uma Goiânia atingida
Porque
Podre é a palavra vida
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 103
TATO
Pego tão alegremente
Em uma criança sorridente
Pois é uma vida em semente
Em um buquê de rosas perfumadas
Para ofertar à namorada
Na mão amiga e confortante
Da amiga e amante
Mas,
Toco tão tristemente
Nas páginas dos jornais
De crimes e acidentes
Na matéria viva descolorida
Nas fotos da paz esmaecida
Nas pessoas tão corrompidas
Porque
Podre é a palavra vida
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 104
SAIA DO MEU CAMINHO
Afaste-se,
Saia do meu caminho.
Deixe-me caminhar livre,
Livre com liberdade de expressão.
Saia, afaste-se da minha vida,
Deixe-me viver a vida
Já desbotada, sem brilho e sem vida.
Saia do meu caminho
Deixe-me sozinho em minha dor.
Vida sem sabor
Vida em dissabor
Vida orgânica sem sentido
Com sentimento de culpa
Com invasão de pesadelos
Com avalanches de remorsos
Afaste-se.
Saia do meu caminho
Não necessito de falsas vozes.
Deixe-me morrer solitário
Em meio ao barulho do silêncio.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 105
OCASO CREPITANTE
Com o crepitar das chamas
Vejo o ocaso que se vai
O sol reflete na lama
E toda luz se esvai
Esvaindo-se crepitante
Fica o dia sem a vida
E na saudade angustiante
Penso em você minha querida
Tudo é belo nesse momento
Tudo é lindo nessa hora
E o meu maior tormento
É não ter você agora
O dia fica mais triste
Nesta negra escuridão
Meu coração se apavora
Gritando:
Triste ocaso da minha paixão
Sentindo arder no peito
A dor gritando
Nas chamas crepitando
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 106
TRISTE FELIZ ANO NOVO
Ano velho que partiu
Ano novo que chegou
Enquanto o filho sorriu
O velho pai chorou
Do ano velho a saudade
Dos meus filhos que ficou
No ano novo felicidade
Eu desejo com amor
Triste ano que se vai
Que só me deu decepção
Por não ter sido um bom pai
Sinto dor em meu coração
Sinto a vida me fugir
Afogando-me em agonia
Sinto o meu coração ferir
Neste fatídico último dia
Penso em ti, oh! Meu filho...
Meia noite
Ouço o cantar do galo
Escuto o alarido do povo
E em lágrimas me calo
Porque para mim está sendo
Um triste feliz ano novo
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 107
MEU DIÁRIO
O meu diário está escrito
Nas vinte e quatro horas do dia
Na areia da praia em que ando
No verde mar que me banho
Nas árvores que fico a mirar
Nos pássaros que ouço a cantar
Na casa pobre onde moro
Na rapadura que com os dentes toro
Na rede que me ponho a balançar
Nos livros testemunhas do meu sonhar
Nas lágrimas que dos meus olhos descem
Nas tardes de inverno que escurecem
Nos peixes das pescarias de agosto
Nos meus gostos e desgostos
Na má língua da vizinha
Na vida que não é minha
Nas palavras lançadas contra mim
No suave aroma que sinto
Das rosas do meu jardim
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 108
VERBO CHORAR
Eu choro
Tu choras
Ele chora por nos ver chorar
Nós choramos por amor
Vós sois o filósofo que em belas
Palavras falou com ardor:
“O choro é uma maneira triste de sorrir”.
E Eles que sentem amor por ti
E com felicidade vêem a primavera florir
Simplesmente
Eles choram
Verbo chorar
É o verbo sorrir
É o verbo amar
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 109
CONTRASTE
Alguém querido
No leito de um hospital
Alguém odiado
Em um palacete real
Um pobre homem e família
Atirado à sorte nas rodoviárias
O rico senhor e família
A passear nas Ilhas Canárias
Uma criança a chorar
Um adulto a sorrir
Os espinhos a machucar
As flores a florir
Tantos em tanta dor
Tantos pensando em matar
Poucos pensam no amor
Como contraste
Penso somente em amar
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 110
OBRIGADO AMIGO
Obrigado amigo
Pelas críticas que me faz
A ferir o meu coração
A destruir a minha paz
Obrigado amigo
Pela sua maldade
Fazendo tudo que pode
Para acabar com a minha felicidade
Obrigado amigo
Quando de tua casa me corria
E eu sem leito e sem abrigo
Atirado à orfandade
De fome e frio morria
Obrigado amigo
Por tentar me derrubar
Pois é caindo muitas vezes
Que se aprende a caminhar
Obrigado amigo
E se um dia necessitar
Nesta vida de um abrigo
Não precisa relutar
Pode contar sempre comigo
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 111
O EXILADO
Pranteastes em meu pranto
Sorristes em meu sorriso
Cantastes em meu canto
Amastes em meu paraíso
E como o sol no tardio ocaso
Mergulhastes no decote horizontal
da natureza
Para proteger-se do blackout noturno
da solidão
Com o calor dos raios solares
amaste-me
Chamando-me de amor
Sofro em minha dor
Choro como o sol na noite
Exilado do próprio dia
Que para brilhar tenta a anistia
Choro em êxtase sofredor
Exilado em nossa ilha de amor
Pranteio em meu pranto
Sofro em tua dor
Canto em teu canto
Amo em teu amor
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 112
ESTRELA RADIANTE
Noite de nefasta negritude
Sem cor e sem alento
Estrela radiante na altitude
Finge não ouvir o meu lamento
Estrela radiante tão airosa
Linda como a Vênus nua
Lembra a deusa formosa
Que baila a luz da lua
Estrela radiante divina
Iluminando a minha alma
Consolando a minha sina
Controlando a minha calma
Noite negra, negra noite
Estrela bela e radiante
Sofro no peito o açoite
Da loucura inebriante
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 113
HOLOCAUSTO
Mesmo que o buraco seja raso
Mesmo que o buraco seja fundo
Sei que na vida não me arraso
Pois conheço as manhas do mundo
Mesmo que eu morra agora
Mesmo que eu morra amanhã
Estarei contigo sem demora
No doce sabor da maçã
Mesmo que tu me desprezes
Mesmo que tu me ames
Peço a Deus que tu rezes
E tire os teus pecados infames
Mesmo que sejas amigo
Mesmo que sejas cruel
Estarás sempre comigo
A caminhar pelo céu
Mesmo que digas me amar
Mesmo que digas me odiar
O holocausto acontecerá
E todos irão acabar
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 114
O SABOR DO NADA
O sabor do tudo
É o mesmo sabor do nada.
Depende de ti somente.
Vive a tua própria vida.
É totalmente independente,
De ninguém e de nada precisa.
Tem carro, casa, dinheiro,
Bom emprego e posição social.
Tem tudo, tem amigos bajuladores,
Tem nos teus braços
As mais belas mulheres da cidade.
As mentiras que fala
Para todos são grandes verdades.
É aí que sentes o sabor do tudo.
De repente...
Caístes em posição social.
Se tornaste um desempregado.
Perdestes carro, casa e o dinheiro.
Sumiu o dinheiro,
Sumiu os amigos que o bajulavam,
Sumiu também as mais belas mulheres,
E as mais feias também.
Até mesmo as verdades que fala
Não passam de grandes mentiras.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 115
É aí que sentes o gosto do nada.
Pois o sabor do nada
É o inverso do sabor do tudo.
A humanidade e a sociedade
Não dá o devido valor ao homem,
Pelo que ele é na realidade
E sim pelo dinheiro que ele tem.
Se tudo tem, o homem é alguém.
Se nada tem, o homem é ninguém.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 116
BEM-TE-VI E MAL-TE-VEJO
Bem-te-vi
Rico e altaneiro como o condor
Bem-te-vejo
Pobre e humilhado em sua dor
Bem-te-vi
Vivendo uma vida no céu
Bem-te-vejo
Sofrendo pela vida ao léu
Bem-te-vi
Pelos amigos adorado com amor
Bem-te-vejo
Pelos parentes desprezado em sua dor
Bem-te-vi
Pelos amigos sendo bajulado
Bem-te-vejo
Hoje em um velho quarto jogado
Bem-te-vi
No mundo sem parente
Mas dos amigos recebeu apoio
Mesmo quando estava doente
Bem-te-vejo
No seio da família
Sem qualquer consideração
Mas a todos perdoa em seu coração
Ontem eu bem-te-vi
Hoje eu mal-te-vejo
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 117
FUGA
Fuga...
Uns fogem da prisão,
Outros fogem da vida.
Mas se a minha vida é uma prisão,
Eu sou um eterno fugitivo.
Vivo preso, encarcerado
Em labirintos de pensamentos.
Vivo preso, torturado
Por não encontrar resposta
Para a vida que levo.
Na ânsia de liberdade, escrevo,
Escrevo poemas, escrevo poemas
De amor, de ódio, de revolta.
Sinto vontade de chorar,
Sumir no horizonte,
Fugir da vida e não mais retornar
Ao outro lado do muro dessa prisão.
Fugir da vida
Pelos caminhos que traço com o lápis
Ou afogar-me em cada lágrima
Que rola em meu rosto
Neste momento de fuga.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 118
ONDAS
Ondas sobre ondas
Remotas saudades
Espumas brancas espumas
Lembranças felicidades
Velha nau a navegar
Ondas sobre ondas
Sempre a ondular
Mar bravio
Vento calmo
Simples ondas
Na praia a desmaiar
Noite escura
Lua bela
Velha nau a navegar
Marinheiro soluçando
Sem saber se viverá
A beleza de um porto
Mesmo a paz do orixá
Vida porto
Morte mar
Ondas sobre ondas
Até quando ficará
Marinheiro, marinheiro
Sempre, sempre a soluçar
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 119
O SONHO ACABOU
O sonho acabou
O castelo caiu
A verdade chegou
A mentira sumiu
Nesta vida só vale quem tem
Milhões ou milhares
E não um vintém
O amor é matreiro
A felicidade é mentira
Deus é verdadeiro
Ele nos dá e também nos tira
Nos dá a vida
Nos dá a luz
Que vida sofrida
Como pesa minha cruz.
Vida desregrada
Amor infeliz
Isso a mim não agrada
Isso eu nunca quis
É como pintar aquarela
Com pincéis de arminho
Senhor, mate-me ou revele
Qual será o meu caminho
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 120
PEQUENO SOFREDOR
Pequeno sofredor
Fruto do sêmen perdido
Nasceu sofredor
Apesar de todo amor
Abandonado pela mãe
Meu Deus, quanto horror!
João, José, Genival,
Antonio, Francisco ou Raimundo
Qualquer que seja
O teu nome no futuro
Será a imagem do desprezo
Um bastardo a mais no mundo
Chora agora em sua inocência
Ao crescer pedirá clemência
Mas um dia chorará
O desprezo de um enjeitado
Humilhado em sua existência
Tantas juras de amor
A falsidade acabou
O sonho não realizou
Como resultado
Alguém respira aliviado
Jogando no mundo ao léu
Um pequeno fruto do céu
Enviado pelo Senhor
Hoje fruto desprezado
Um pequeno sofredor
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 121
O LOUCO
Por expressar o que sinto dentro se mim.
Por amar o meu próximo
E nem sempre dizer sim,
E sim, dizer não quando necessário.
Por dizer que amo,
Por me incompatibilizar com o regime
Todos me chamam de louco.
Quando digo está decepcionado
E descontente com a situação do país,
Com o desemprego e a miséria.
Por não aceitar como normal
Um pai com dois ou mais filhos,
Ganhar um mísero salário mínimo,
Do qual oitenta por cento é o aluguel
E os vinte por cento restantes destinam-se
A alimentação, educação,
Vestir e calçar de toda família,
Ficando proibido de adoecer,
Por falta de recursos para o medicamento.
Todos dizem que tenho ideais comunistas
Ou sou simplesmente um louco.
Por adorar a natureza.
Por o meu credo não ser comum no país,
Por não aceitar o erro e sim combatê-lo,
Por dizer a todos que riquezas, orgulho
E bens materiais nada valem.
E sim, o amor tem condições de reinar
Sobre todos os seres humanos
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 122
Nesta e na outra vida.
Sou considerado um louco.
Por não ler livros e revistas pornográficas,
Por os meus autores preferidos
Serem gênios como o imortal
Vinícius de Morais,
Que parabenizo “porque hoje é sábado”,
O poeta Carlos Drummond de Andrade,
O inesquecível Machado de Assis,
Pablo Neruda, o homem do “Canto Geral”,
Richard Bach com suas “Ilusões”,
Lobsang Rampa por sua “Terceira Visão”.
Sou apenas um louco.
Mas, se amar é loucura,
Se loucura for discordar dos erros,
Adorar literatura séria
E ter um credo diferente de todos.
Então eu grito com toda a força dos meus pulmões:
EU SOU LOUCO!
Se pensar no meu irmão de pátria,
Se pensar no futuro do meu país
E não aceitar as imposições do regime
Transformando todos em escravos,
For comunismo.
Então eu sou um partidário.
Se amar for crime,
Eu sou um criminoso.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 123
Mas nunca deixarei de ser “EU”
Para ser uma marionete,
Que manipulada somente obedece,
Para que todos os poderosos
Se satisfaçam a seu bel-prazer.
Comunista e criminoso
Assim posso ser chamado?
Por ter idéias livres
E coração cheio de amor,
Posso ser considerado um louco?
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 124
PRIMEIRA DIMENSÃO
Côncavo e convexo
Unidos
Jorro de esperma
Sentido
União de óvulos
Assim nasce
A primeira dimensão
Feto
Afeto
Recém parido
Sempre dialeto
Abre olhos, engatinha, anda, corre, salta a vida,
Fala, sente dor, tenta em vão o amor.
Adolescência, sonhos e fantasias,
Carências, sempre carências carentes.
Turbilhão na mente
Adulto somente sente
Adulto semente da dor
Ódio,
Ilusão,
Fim da primeira dimensão.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 125
SEGUNDA DIMENSÃO
Trinta, Quarenta, Cinquenta
Sexagenário em vão
Indigente ou não
Assim se inicia
A segunda dimensão
Pênis flácido, membro morto
Vagina murcha, caminho torto
Torturas, dor
Fracasso, solidão
Torna-se um cão
Cão desvalido que vai e que fica
Morto tão morto quanto à própria pica.
Suor, sangue, ódio, revolta, traição.
Sumo-Artífice da ignorância
Ultra-Mestra da incompreensão
Assim todos terminam
Na
segunda dimensão
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 126
TERCEIRA DIMENSÃO
Tiro, facada,
Suicídio, natural
Desastre,
Mestre da arte
Morte,
Parado coração.
Close-up tridimensional
Mal, mau, mão, pão
Não sabe com quem lida
Não sabe o que é a vida
Vida que vive, vive a vida
Sofrendo, chorando
Mas nunca amando.
Enfim sós...
Carne apodrecida
Tumor fétido
Corroídos pelos vermes
Putrefato nas entranhas
Cousas estranhas
Jaz no esquecimento
Escuridão ou claro
Infinita vida
Soterramento
Assim todos acabam
Na terceira dimensão
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 127
VIDA
Lua plácida
Banha semente
Vida cálida
Como alho-dente
Chega vida
Move homem
Bebê fala
Natureza treme
Pássaro cala
Nasce vida
Vida humana
Réptil nojo
Árvore lama
Bagagem bojo
Falar cantar
Sonhar dormir
S. O. S ajudar
Chorar sorrir
Sorrir ferida
Vida sempre
Sempre vida
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 128
MORTE
Sol escaldante
Queima túmulo
Morte arfante
Sob acúmulo
Bate morte
Para homem
Corre corte
Natureza geme
Pássaro canta
Lembra sêmen
Homem tampa
Ataúde sentem
Sempre cama
Eterno dormem
Calar calar
Orar parente
Pedir Supremo
Como salvar
Éter paraíso
Coração morto
Lábios sorriso
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 129
VERDADEIRA AMIGA
Eu tinha vários amigos e amigas
Mas, uma das minhas amigas era muito tímida,
Nunca me procurava para brincadeira.
Enquanto que os outros e outras,
Estavam comigo sempre a brincar.
Moravam todos em um mesmo edifício,
Por sinal muito bonito, onde se lia
Em letras douradas o nome do mesmo:
EDIFÍCIO VIDA
Todos se diziam grandes amigos.
Mas, um dia precisei do amparo,
Da ajuda de um amigo,
E saí em busca de todos.
Bati na porta de um velho amigo, o AMOR.
Ele não atendeu ao meu apelo.
Bati na porta do CONFORTO AOS AFLITOS.
Também não me atendeu.
Fui à procura do CARINHO.
E o mesmo a exemplo dos dois primeiros,
Não me abriu a porta.
Desisti e falei:
--- Vou à procura das minhas amigas, quem sabe elas me
atenderão!
Bati na porta da FELICIDADE, não me atendeu.
Bati na porta da PAZ, também não me ouviu.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 130
Oh! Que tristeza!
Somente resta-me ir à procura da minha amiga
Que mora no último andar deste edifício.
Mas, ela é tão tímida, tão reservada.
Não, acho que não devo incomodá-la; assim pensei.
Mas, mesmo assim a procurei.
Bati na porta da minha amiga do último andar
E que emocionante...
Ela abriu-me a porta com um sorriso nos lábios
E chorando emocionado, atirei-me em seus braços,
Libertando-me assim
Do cansaço dos degraus do EDIFÍCIO VIDA,
No delicioso abraço
Da minha verdadeira amiga, a MORTE.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 131
E TUDO CONTINUA...
Quando eu morrer
Tudo continuará a girar
Com a mesma intensidade do agora.
Os ponteiros dos relógios
Não irão atrasar nem um segundo
As rosas se abrirão com o mesmo perfume
Os animais entrarão no cio como antes
As árvores continuarão sempre verdes
A lua e as estrelas
Continuarão a brilhar no infinito
O sol continuará a aquecer o dia
As fábricas não irão parar a produção
Crianças continuarão a nascer
E os pássaros continuarão a cantar
Nada e nem ninguém irá parar após a minha morte
A vida é bela
A vida é vida
A vida não tem tempo para ser triste
Pois no momento da minha morte
Estarão nascendo novas vidas
E tudo continuará...
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 132
FIM DA ESTRADA
A vida é uma longa estrada
Cheia de caminhos retos
E caminhos tortuosos.
Ambos são recobertos de flores
E também de grandes espinhos,
Sonhos e desilusões.
Ao nascer
Caminhamos sobre as flores
E somos amados.
Na infância
Começam as decepções
E nem todos nos compreendem.
Somos adolescentes
E caminhamos pelos caminhos tortuosos
Da dúvida e da incompreensão.
Ao nos tornarmos adultos
São os caminhos tortuosos
E cheios de espinhos
Da responsabilidade com o lar,
Para com os filhos
E com a pessoa amada.
E, no entanto
Não existe nenhuma recompensa,
Nem mesmo a mínima consideração.
São somente os espinhos...
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 133
Bate a velhice em nossa porta e tudo piora.
Perdemos a visão em um todo
E deixamos de ser comandante
Para sermos comandados
Até mesmo pelos netos.
Perdemos a coordenação motora
E somos inválidos.
Somente conseguimos descansar
Ao atingirmos o fim da estrada.
A MORTE
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 134
PLANO MACABRO
Um plano macabro tenho na mente
Estou pensando em suicidar-me
Penso em mil maneiras
De completar o meu ato insano
Já pensei em várias maneiras
Enforcar-me?
Dar um tiro no ouvido?
Afogar-me?
Pular de um plano mais alto?
Jogar-me na frente de um carro?
Atear fogo em meu corpo?
Ou quem sabe, envenenar-me?
Tentarei me enforcar...
Amarrarei uma peça de elástico
Em um pé de abóbora
E verei o que acontecerá a minha vida
Se não der certo
Pegarei o revólver de brinquedo do meu filho
E darei um tiro no meu ouvido
Se falhar
Tentarei me afogar em um copo d’água
Quando alguém provocar uma tempestade
Se não morrer
Então pularei do 1º degrau
Da escada do edifício mais alto da cidade
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 135
Se mesmo assim eu escapar
Na primeira oportunidade
Me jogarei na frente do carro de controle remoto
Que meu filho costuma brincar
Ah! Já sei.
Jogarei água em meu corpo
E me incendiarei com o fogo da paixão
Não!
O que farei mesmo é me envenenar
Sugando a língua da mulher amada
E morrerei de amor
Só estou tentando isso
Porque amo a vida
E sou muito covarde para renunciá-la
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 136
O ANJO DA TROMBETA
O anjo da trombeta me avisou:
‘Segundo o Apocalipse de São João,
jamais o mundo será feliz”
Ah! Ah! Ah!
Eu gargalhei da miséria pouca.
O anjo da trombeta tornou a falar:
“Virá praga de gafanhotos
e todo o verde comerá”
Ah! Ah! Ah!
Eu gargalhei.
Pois não sou nenhuma árvore
e tampouco sou o Incrível Hulk.
O anjo da trombeta tornou a me avisar:
“Virão três noites de escuro
e tudo se fará trevas”
Ah! Ah! Ah!
Eu gargalhei.
Pois noite sem lua, toda ela é escura
e se acontecer de tudo se fazer trevas,
aí sim, se comprovará a eficácia
da energia elétrica e os geradores a diesel.
O anjo da trombeta me avisou pela última vez:
“Virão de mãos dadas, a fome, a peste e a guerra...”
Chuif! Chuif! Chuif!
Eu não consegui gargalhar.
Eu chorei e acreditei.
Eu vejo todo o continente africano
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 137
sofrendo as terríveis atrocidades
da fome, da peste e da guerra.
Vejo a Nigéria e Moçambique passando fome,
vejo a Iugoslávia destruindo
os seus irmãos kosovares em uma guerra imunda.
Sinto no pulsar do meu coração
todo o lutar,
todo o cantar guerreiro
de uma raça nagô,
em guerra com o mundo
que se corrompe em vão para comparar,
para libertar por inteiro
o complexo de cor de toda uma nação.
Eu acredito no anjo da trombeta.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 138
EU TE ABANDONEI
Gozei. Mas também sofri em teu poder.
Poder inebriante que me tornava viciado em você.
De manhã a noite, todos os dias da semana estavas
comigo,
tu eras para mim, a felicidade.
Nos dias frios de inverno, era você quem me aquecia.
Com você eu sentia mais apetite,
era contigo que eu criava coragem
para resolver todos os meus problemas.
Quando eu estava triste,
com desgosto, a pensar na vida,
era você quem me fazia esquecer de tudo.
Você me embalava e eu adormecia profundamente.
Nas festas tradicionais, casamentos, batizados,
aniversários, se eu era convidado
nós nos encontrávamos
e após a farra voltávamos juntos para casa.
Com você eu me tornava alegre,
não tinha tempo para tristezas, nem angústias.
Nas praias e nos clubes eu nunca ficava sozinho,
sempre estavas comigo.
Eu me recordo
que foi através de você que consegui
um grande número de amigos.
Ah! Como me diverti nesse tempo.
Mas eu te abandonei e não me arrependo.
Eu te abandonei,
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 139
Porque estavas a atrapalhar a minha vida.
Por tua culpa cheguei a perder vários empregos.
Por tua culpa tornei-me um irresponsável,
dormi na sarjeta,
passei fome e fui desconsiderado.
Foi através de você que obtive vários inimigos,
pois quando eu estava contigo tornava-me um brigão,
não respeitando homens e tampouco ambientes.
Foi por você que desprezei a minha família,
destruí o meu lar, esqueci mulher e filhos.
Foi por sua culpa
que perdi a confiança que todos me tinham,
julgando-me um homem indigno e não confiável.
Foi por sua culpa
que fui desprezado por todos.
Agora eu te abandonei.
Agora que estou sabendo que as alegrias
e o apetite que eu sentia contigo eram todos falsos.
Como eram falsos
os amigos que consegui através de você.
Hoje não preciso de você para tomar coragem
e resolver os meus problemas.
Hoje consegui respeito e confiança.
E o melhor,
consegui resgatar a minha autoestima.
Eu te abandonei.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 140
Nunca mais, você “Cachaça”
e nenhuma outra bebida da sua espécie,
mesmo com o menor teor alcoólico,
irá tornar o meu hálito fétido,
não me dará mais dores de cabeça nas ressacas,
e jamais me levará outra vez a lama,
a sarjeta,
a mais baixa categoria dos homens,
que é tornar-se um alcoólatra.
Sabe por quê?
Porque eu te abandonei.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 141
ESCURIDÃO
Sinto fugir dos meus olhos
o precioso tesouro que me resta.
Sinto que mergulharei na mais profunda escuridão.
Sinto que nunca mais poderei ver
as coisas simples que me cercam
e que se tornam as coisas belas
que enfeitam a vida,
colorindo e dando brilho aos nossos olhos.
Nunca mais verei o azul do céu.
As estrelas a brilhar no infinito.
A cara redonda da lua cheia.
Nunca mais poderei ver os pardais
alimentando os filhotes em seus ninhos.
As abelhas na colméia.
O verde do mar perdido no horizonte.
O peixinho dourado no aquário.
Não verei jamais, a cor dos shorts
que meus filhos estarão usando.
O sorriso inocente no rosto de uma criança.
As rosas vermelhas do meu jardim.
O verde das árvores.
O sorriso cínico daqueles que me odeiam.
O rosto triste daqueles que me amam.
Nunca mais verei o rosto da mulher amada.
O ocaso maravilha.
A morning star na madrugada.
Nem mesmo verei as gaivotas a voar
no azul do céu, a lembrar a liberdade.
O que me dói muito mais,
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 142
é não poder penetrar através dos livros,
em mundos maravilhosos e fascinantes,
como o mundo de José Lins do Rego,
como o mundo de Richard Bach,
o mundo fascinante de Dante Alighieri,
Miguel de Cervantes y Saavedra,
Luis de Camões e Eça de Queiroz,
o mundo sonhado de Jorge Luis Borges,
que teve os seus olhos mergulhados na escuridão,
mas teve a sorte de encontrar a Maria Kodama,
que se tornou a sua terceira visão.
Não poderei jamais voltar a ser criança
lendo as mensagens contidas nos livros
Pequeno Príncipe e o Menino do Dedo Verde
ou a me divertir a valer
com as aventuras dos personagens
do Walt Disney e Maurício de Souza.
Sim. Dói dentro do meu ser
perder o contato com as cores
e as letras do mundo que tanto amo.
Sinto fugir de mim, a minha visão,
fugindo aos poucos, mas fugindo de verdade.
O que farei para permanecer em contato
direto com as cores e as letras,
os sorrisos e caretas
e não cair jamais na mais completa escuridão?
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 143
LIBRA
És a eterna balança
Símbolo máximo da justiça
És também uma trança
Feita de chumbo e cortiça
Quando na vida se alcança
Toda lama e carniça
Não és libra esterlina
Não tens o mesmo valor
És como uma velha mina
Com cheiro fétido de bolor
Ou mesmo como a menina
Quando nega o seu amor
Não és como a libra de ar
Que rápido enche o pneu
Mas és como o esgar
De um triste rosto pigmeu
Ou mesmo o despertar
Do gigante Pirineu
Libra
És o meu signo
Minha sorte
Minha luta
Meu azar
Contigo sou fraco e sou forte
Não me permites sonhar
Mas no dia da minha morte
Com ou sem você
Sei que irei repousar
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 144
LEMBRANÇAS RENOVADAS
Quando o corpo morre
Quando a vida esmaece
Quando o amor socorre
O santo homem aparece
Quando o homem na vida labuta
Quando o sol na vida aquece
Continua o amante em sua luta
E do amor jamais esquece
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 145
BOLHAS DE SABÃO
Pensamentos em voga
Em fatos e contradição
Vida infinita perdida
Frágil tão frágil
Qual bolhas de sabão
Ocaso, crepúsculo que já finda
Fim de tarde
Última estrofe de uma canção
Em uma tarde tão linda
O amor transborda no coração
Vida frágil, amarga vida
Existe sem nenhuma condição
Folha de outono ressequida
São lembranças que explodem
Qual bolhas de sabão
Homens no seu intenso labor
Vida na qual tem valor
Uivo sonoro de um cão
Parte infeliz de uma nação
Cala-se o sol de arrebol
Esquecem-se os problemas no futebol
E a noite desperta
Em uma praia deserta
Em uma hora incerta
Tão bela
Qual bolhas de sabão
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 146
ESPERE E VERÁS
Espere e verás
O trem bala passar
O girassol desabrochar
A guerra no mundo acabar
E Cubatão poder respirar
Espere e verás
Brizola ser eleito
Um Brasil sem defeito
A Seleção tomar jeito
E minha mãe ser prefeito
Espere e verás
O menor ser amparado
Os salários equiparados
Os ditadores deportados
E os políticos regenerados
Espere e verás
A vida ser maravilha
Brasília se tornar ilha
Dinheiro ser como ervilha
A mãe ser filha da filha
Espere e verás
A paz no mundo acontecer
Um novo Cristo nascer
O amor no homem crescer
E a humanidade no Apocalipse perecer
Espere e verás
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 147
SONHO NA CHUVA
Lá vem uma velha senhora
Mas que não é uma senhora velha
Debaixo de um guarda-chuva
Mas que não guarda chuva nenhuma
Com passos rápidos
De uma impressionante
Lentidão de lesma
Como um ciclone
Gira sobre si mesma
Olha a moda da vitrine
Sem ao menos
Olhar a vitrine da moda
E como a sonhar
No seu triste despertar
Fala para alguém
Que do seu lado desaparece
Ah! Se eu pudesse.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 148
UM VELHO SONHO
Continua em minha mente
O mesmo sonho.
Um velho sonho.
Um velho sonho
Que em sua Fuga,
Leva-me pelos caminhos
Que traço com o lápis
Ou afoga-me em suas lágrimas.
Um velho sonho
Que me transforma em um Ícaro Sonhador,
Voando com asas de pombo,
A ver coisas impossíveis neste mundo.
Um velho sonho
Que me transforma em Louco,
Incompreendido por todos,
Um louco que ama e chora os seus amores.
Um velho sonho
Que me transporta a uma Tarde de Outono,
Chorando o Amor Proibido,
A recordar as lembranças
Que Nem Mesmo o Tempo Apagou.
Um velho sonho,
Que na maior velocidade
Comandando o meu Barquinho de Papel
Leva-me a Cabo Frio, Macau e Japão.
Um velho sonho
Que me levou a ter Devaneios,
Mas que se tornou Um Sonho Real.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 149
DINHEIRO
Dinheiro
Mal que assola
Mal que isola
Mal que atola
Assola o mundo
Isola a fundo
Atola o imundo
Dinheiro
Início da dor
Início do amor
Início do pavor
Dor do plebeu
Amor do ateu
Pavor do liseu
Dinheiro
Sem ele não vivo
Sem ele sou passivo
De todos os males
Dos ricos ativos
Sem ele sou pobre
Com ele sou nobre
No mundo atual
Do bem e do mal
Sofre o rico por ganância
Sofre o pobre por ignorância
E
A humanidade como criança
Sofre o tempo inteiro
Em busca do dinheiro
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 150
ÊXTASE DAS ESTRELAS
Estrela que passa cadente
Alguém diz: ”Deus te salve!”.
Sem saber que de amor está ardente
Salve estrela matutina
Senhora de rara beleza
É também a vespertina
Olhando para o céu implicam
Com a minha imaginação
As estrelas que se multiplicam
Com suas luzes de alto brilho
Embriago-me de prazer
Do Universo sendo filho
Constelação de Escorpião
Alpha, Centauro e Sírius
Tem lugar no meu coração
Talvez fosse um OVNI a Estrela de Belém
No firmamento me inspiro
Procurando escrever bem
Mas é o lindo Cruzeiro do Sul
Que entra em êxtase nas estrelas
A fornicar no imenso céu azul
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 151
CIO DA LUA
Expande-se no céu tão linda
Tão fina, tão mulher
Aparecendo na tarde que já finda
Pelo sol ela é amada
Em seu cio desmedido
Pelas estrelas admirada
Venerada pelos amantes
Musa inspiradora dos poetas
Embriaga-me em instantes
Livre a girar no infinito
Vejo-te linda quando nova
Que em êxtase lanço meu grito
Esparramada no lençol de mar
Vejo-te bela já crescente
Sinto-me louco por te amar
E quando no céu está definhando
Em sua fase minguante
Definho também me preocupando
Mas cheia no céu é a minha alegria
É no teu cio mais impetuoso
Que escrevo a minha poesia
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 152
TARA DO SOL
Tão forte, eternamente másculo
É assim no fim da tarde
Na beleza do crepúsculo
Vem de mansinho na madrugada
E para toda a natureza
É quem toca a alvorada
Imenso disco avermelhado
Levantando-se do oceano
Deixa-me totalmente extasiado
Deleito-me ao observar com alegria
Que é um grande guerreiro
Pondo em fuga a triste bruma fria
É sua tara estar a pino
Para na praia bronzear
Homem, mulher e menino
Logo cedo procura adormecer
Por não ser nenhum notívago
Não ver o triste anoitecer
Mas é no crepúsculo que fito
Que sinto o quanto é belo
E escrevo o que não foi dito
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 153
S.O.S OVNI
S.O.S OVNI
Por favor, me tire daqui
Pois já não aguento mais
Me leve para um mundo de paz
Que seja Vênus ou Plutão
Júpiter, Saturno ou Urano
Pode ser que seja de Netuno um cidadão
Ou quem sabe mesmo um marciano
Eu quero voar
Eu quero amar
Eu quero poder falar
Por favor, OVNI me tire daqui
Me leve para ver a formosura
De uma Lua nua e crua
Eu quero suportar o calor
De um Sol de arrebol
Sabe o que eu quero mesmo ET?
É ver a Terra não explodir jamais
E eu juntinho a você
Curtindo o nosso mundo de paz
S.O.S OVNI, me tire daqui
Eu já não aguento mais
Me leve para um mundo de paz
Eu quero voar
Eu quero amar
Eu quero poder falar
Ah! Eu também vou para Mercúrio
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 154
ACALANTO ATÔMICO
Dorme terráqueo
Que as grandes potências vão mandar
Os poderosos mísseis atômicos
Para a Terra devastar
AH! AH! AH!
Dorme inocente
Que é você quem vai pagar
Pelo cérebro criminoso
Que criou a bomba H
AH! AH! AH!
Dorme criança
Não deseje ver o mundo acabar
Pelas mãos russas e americanas
Com uma guerra nuclear
AH! AH! AH!
Dorme humano
É triste o despertar
É melhor estar dormindo
Quando tudo começar
AH! AH! AH!
Durmam todos
Em seus sonhos de paz
Sonhos de paz
Seus sonhos de paz
Paz, paz, paz.
AH! AH! AH!
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 155
FILHA DO DEUS SOL
És singular
Neta de Zeus.
Filha de Apolo.
O dourado do sol
Está em seus cabelos.
A pureza do Olimpo
Está em seu corpo.
Tens a sabedoria de Minerva.
A bravura de Diana.
A impetuosidade de Marte.
Tudo se assemelha a ti
Como as doces e harmoniosas músicas
Que o deus Pan compunha em sua flauta.
És singular
Neta de Zeus.
Filha de Apolo.
Tens o encanto da Grécia Antiga
Em harmonia
Com a beleza de Vênus.
Retratas a paixão,
O amor e a desilusão.
Tens como anjo da guarda
Eros, um grande arqueiro,
Que a todos que olham para ti,
Ele consegue ferir.
És singular
Neta de Zeus.
Filha de Apolo, o Deus Sol.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 156
MEU PRESENTE
Desejo que estivesses ao meu lado
Para que eu a pudesse presentear
Gostaria de poder te dar
Os anéis de Saturno
O jade e as esmeraldas de Marte
E todo o ouro de Vênus
Gostaria de te dar
Um colar de pérolas
Confeccionado com as lágrimas
Da Vênus de Milo,
O original da Ilíada de Homero,
O manto de Cristo
Ou mesmo a harpa de Nero.
Dar-te-ia também,
A pena com que foi escrita a Bíblia,
A coroa do Rei Davi,
A estrela cadente do Natal,
Dar-te-ia o Olimpo
Até mesmo o Coliseu de Roma
Ou a lança do Deus Baal
Hoje eu te ofertaria
Os Jardins Suspensos da Babilônia,
O Colosso de Rodes,
O Farol de Alexandria,
As Pirâmides do Egito,
As Muralhas da China,
O Templo de Diana,
Os Papiros de Ransés I,
Os livros de magia de Merlin,
Te daria a espada do Rei Artur
Ou todo amor que existe dentro de mim.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 157
PELAS PERNAS DE VÊNUS
Na barriga da perna de Vênus
Eu engravidei
E no peito do pé
Seu leite eu suguei
Pelas pernas de Vênus
Criei novo alento
Andarei nove meses
Nas pernas de Vênus
Ouvindo as cantadas
Sendo acariciado
Em máximo estilo
Pelas mãos delicadas
Do belo Milo do Nilo.
Começarei a viver
Começarei a sonhar
E pelas pernas de Vênus
Viverei a sonhar
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 158
O CANTO DE UM FEIO
Sim, sou feio.
Sim, tenho uma voz pavorosa,
Minha comida é nojenta,
Minha casa é horrorosa.
Tu me chutas, me agrides
Por inocência ou maldade.
Bicho feio, horroroso, tu dizes,
Mas sei que na vida eu tenho utilidade.
Inseto asqueroso, animal profano,
Símbolo da bruxaria.
Eu não ligo e continuo pulando
Feliz em minha feiúra,
Fazendo parte da saparia,
Canto alegre a sinfonia.
Coach, Coach, Coach,
Salve o sapo nosso de cada dia!
Lagos e pantanais
São as minhas habitações,
Grilos, moscas e besouros
São as minhas lautas refeições.
E como parte da natureza
Que trago impressa no couro,
Para os que me compreendem
Não sou assim tão feio,
Até que sou um tesouro.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 159
O GRANDE ARTISTA
Quem pintou tão belo quadro
Que fascina os olhos meus?
Foi Deus, criança, foi Deus.
De azul pintou o céu,
De verde e azul pintou os mares,
De branco pintou as nuvens,
E com o verde pintou as árvores.
Quem foi este escultor
Que esculpiu tão bela obra,
Com tanta dedicação e amor?
Foi Deus, criança, O Supremo Criador.
Em seis dias fez o mundo,
E no sétimo descansou,
Fez a luz em um segundo
E a vida semeou.
E estas lindas canções,
Quem foi o compositor?
Elas alegram os corações
No mais intenso labor.
Canta o lindo rouxinol,
Canta o pequeno pardal,
Juntos a saudar o sol
Com bela canção real.
Tendo na natureza a corista
Que posou para o Grande Artista.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 160
Q.I ZERO
A inteligência é minha musa
O Q.I me acusa
E não aceita a recusa
De maneira tão escusa
Escrever é tudo que quero
Falar de tudo que venero
Daquilo que tudo espero
Mas o meu Q.I é zero
Escrever sobre o amor
Falar do meu temor
Explicar a minha dor
Com tudo que é luz e cor
Escrever frases sobre a vida
De forma bem colorida
E de maneira atrevida
Cicatrizar a ferida
Quero falar tudo que quero
Com todo aquele esmero
Nas frases que mesmo gero
Mas o meu Q.I é zero
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 161
OH! MESTRA
Minha professora, minha mestra
Responsável por minha educação
És o alicerce do meu futuro
No progresso da nação
Hoje como professora primária
Por teus alunos estimada
No amanhã ao me deixares
Recordarei com ternura
Da minha mestra amada
Teu sorriso de fada
Tua paciência ao me ensinar
Tuas palavras de sabedoria
Para sempre em minha mente
Sei que irão ficar
Se eu fosse um jardineiro
Rosas vermelhas eu te daria
Mas como sou teu aluno
Transmito-lhe apenas
O que contigo aprendi
Amor, dedicação e sabedoria.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 162
O PROFESSOR
Professor
Ensinaste-me com tantos erros
Que até hoje não encontrei o rumo certo
Olha,
Ensinaste-me que Washington
É a capital dos Estados Unidos,
Mas está errado...
Washington é o nome do meu vizinho.
Ensinaste-me que o Cruzeiro
Era a moeda oficial do Brasil.
Mas está errado...
Cruzeiro é um time de futebol mineiro
E o dólar é a moeda que tem valor no país.
Ensinaste-me também
Que no Brasil não existe preconceito racial.
Mas até hoje,
Não consegui ver um só negro na história
Sendo almirante, brigadeiro ou general.
Até mesmo nas novelas de televisão
Os negros somente aparecem como escravos.
E na Santa Igreja, tem negro cardeal?
Olha professor,
Ensinaste-me
Que o Brasil é um país independente.
Mas até hoje
Não consigo entender essa independência.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 163
Ensinaste-me também
Que aqui é o país do futebol,
Que o nosso idioma é o português
E que Brasil se escreve com “S”.
Mas está tudo errado...
Somente tenho visto craques
Jogando no futebol europeu.
No país quase tudo é escrito em inglês.
Shopping Center, delivery, surf, new wave, fashion
Hambúrguer, rock, soul, jeans,
E tantas coisas mais,
Que me deixam confuso,
Ao ver nossos compatriotas
Serem exportados para o exterior
Com rótulos nos ombros:
MADE IN BRAZIL
E pior,
É que me ensinastes
Que o amor era um substantivo abstrato.
Ledo engano.
O amor é concreto, é real.
Provoca saudades,
Machuca e faz doer.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 164
PARA ENTENDER
Entenda os males da vida
O que existe de errado
Para cicatrizar a ferida
Causada pelo pecado
Nunca cometa adultério
Em nome de um falso amor
Esse é o caminho do cemitério
Lugar digno do traidor
Não mentir jamais
Seja sempre verdadeiro
Assim viverás em paz
Ao lado de um companheiro
Nunca pensar em roubar
Algo do teu semelhante
Pois a culpa irá ficar
Estampada em teu semblante
Matar? Nem em pensamento
Não cometa atrocidade
Pois o remorso é um tormento
Que te afligirá bem mais tarde
Procurar sempre lembrar disto
Se queres bem viver
Siga as palavras de Cristo
Para uma vida plena merecer
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 165
CIVILIZAÇÃO
Que civilização é esta
Que fala de paz e constrói a guerra?
Será que é festa
Falar de amor e destruir a Terra?
Ninguém tem tempo para amar
Nem ao menos a mãe natureza
Vivem a poluir o ar, o mar
Destruindo toda a sua nobreza
Nem promessa com Santo Antônio
Para arrastar a cara no chão
Fará voltar à camada de ozônio
Que se destruiu com a poluição
Que civilização é esta
Que não dá flores ao seu semelhante?
Que civilização é esta
Que constrói a bomba nuclear,
Para apenas em um instante
Ver todo o nosso mundo acabar.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 166
TZÃO
Cárcere domiciliar onde vivo
Para não chorar
Dialogo com os meus livros.
E com alívio
Ponho-me a cantar:
“Soturno bate o coturno
Noturno do homem
Do turno diurno, que urro!”
Piano romântico a tocar
Eu solitário a ouvir
E de ti a me lembrar
Para distante sorrir
Escapa-me a vida entre os dedos
Penso em ti
Procuro-te em minha volta
De te perder sinto medo
Apago a luz e acendo o fogo da paixão
Teso está aceso o desejo
Braços, abraços, pernas, coxas,
Sexo, seios, cabeça, coração.
Tudo está na minha mente
Ame este que não mente
E por ti somente sente
Todo o seu corpo dormente
E de tezão está demente
Vamos seja mais clemente
Atenda o apelo deste doente
E com um ato bem valente
Dê apenas um passo em frente
E fale tão somente:
Sim, te amarei eternamente.
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 167
TRAIÇÃO INESPERADA
Traíste-me, oh! Infiel.
Eu que sempre confiei em você
Cuidado em ti eu tinha com carinho
Nunca te deixei jogada ao léu
Mas decepção me fez sofrer
E eu envergonhado estou sozinho
Não merecestes confiança
Tanto tempo estavas comigo
E eu te amava tanto
Amei-te nova como criança
Sendo sempre o teu amigo
De ti não me apartava
E você, oh! Infiel?
Traíste-me, oh! Miserável.
Aonde ia estava eu contigo
Era forte, muito bonita,
Famosa, por todos conhecida
Eu confiei em ti e te usei
Usei você para todos os fins
Para festas, passeios e badalação
Para encontros amorosos
Era você a predileta do meu coração
E hoje neste trágico dia
Quando de tudo eu sorria
Cantava, pulava e brincava
Aconteceu o que eu não esperava
Rasgou bem na costura do fundo
E envergonhado
Fiquei com o cú no mundo
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 168
Calça jeans, oh! Miserável.
Corri louco pela estrada
Tristonho e com vergonha
Da tua traição inesperada
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 169
AMOR PROIBIDO
Tua ingenuidade te faz bela
Tuas lágrimas são pérolas
Que transformam o teu rosto
Em uma arca de tesouro
Teu sorriso te transforma em fada
Teu olhar triste te faz tão meiga
És linda como a primavera
És linda como a inocência das crianças
És linda como o crepúsculo
Em uma tarde de outono
És linda como as heroínas dos contos de fadas
És bela por teu riso e choro
És bela por tua ingenuidade
Eu te amo, te amo, te amo.
Somente não sei expressar
Todo o amor que sinto por ti
Pois nenhum lápis poderá escrevê-lo
Nenhum papel poderá dar conta do recado
Nenhuma trena poderá medi-lo
Nenhuma balança poderá pesá-lo
O meu amor por ti é imenso
Tão imenso quanto à união dos oceanos
Mas prefiro amá-la em silêncio
Pois tu és um amor proibido
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 170
QUANDO SETEMBRO VIER
Quando setembro vier
Eu quero te encontrar sorrindo
Sorrindo como as flores
Que na primavera estão se abrindo
Quando setembro vier
Eu quero sentir da tua pele a maciez
Como o veludo da rosas
Que a primavera fez
Quando setembro vier
Eu quero te ouvir cantar
Cantar como os pássaros
Para o meu coração alegrar
Quando setembro vier
Eu quero te ver linda
Tão linda como a lua
Desta noite que já finda
Quando setembro vier
Dos teus lábios quero sentir o gosto
E em teus braços e abraços
Esquecer todos os desgostos
Os nervosismos e angústias
Do triste mês de agosto
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 171
PÁSSARO IMIGRANTE
O tempo não importa
À distância menos ainda
Pois um dia recordarás que conhecestes
Em contato direto com a natureza
Um pássaro imigrante
E tu, oh! Menina?
Ouvistes o canto do pássaro desconhecido
Canto de sabedoria
Canto de quem imigrou além
Muito além-mar
Com toda dedicação e compreensão
Reinante em seu coração
E o pássaro cantou
Próximo a uma rosa desconhecida
Como se a conhecesse há anos
Um dia o pássaro voou
Voou e voltou a imigrar
E para outras rosas cantar
E tu, oh! Menina?
Na plenitude de tua adolescência
Deverás compreender
Que nem mesmo o canto é eterno
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 172
O pássaro imigrante partiu
Em sua trilha de liberdade
Em busca de outras terras
Em busca de aventuras
Talvez até fatais
Mas levando no peito a saudade
De EDILSA, a rosa desconhecida
Dos verdes canaviais
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 173
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 174
GONZAGA FILHO
Luiz Gonzaga de Oliveira Filho, nascido no município
de Guamaré - RN em 21 de Outubro de 1957. Vem de família
simples, de origem pobre, mas bastante conhecida na região.
Seus avós maternos, José Rufino de Miranda e Ana Alves de
Miranda eram de Mangue Seco, distrito de Guamaré...
Filho de Luiz Gonzaga de Oliveira (Macau-RN) e
Maria Alves de Oliveira (Guamaré - RN), perdeu o pai em um
acidente no navio "Comandante Martini", onde trabalhava
como estivador em 01 de Outubro de 1959. Logo cedo, aos
nove anos de idade mudou-se para Natal onde começou a
trabalhar para ajudar no sustento de sua mãe e das duas irmãs.
Desde pequeno exerceu várias profissões: Engraxate, vendedor
de balas, vendedor de picolé, auxiliava os pescadores no Canto
do Mangue, trabalhou como jornaleiro, Office boy e mesmo
com muitas dificuldades, continuava a estudar, até que chegasse
a maioridade e fosse servir as Forças Armadas.
Logo depois surgiu a oportunidade de ir para a Marinha
Mercante, entrou na Fronape - Petrobras em 1979, onde teve
oportunidade de conhecer vários países e toda costa brasileira.
Depois vieram outras tantas companhias marítimas, onde
trabalhava na área das plataformas de petróleo (Off-Shore) em
O SOL QUE CAIU
Gonzaga Filho Página 175
companhias estrangeiras como a Artur Levy, OSA, Smith
Lloyd, Pan Marine, Maersk. Ao afastar-se do serviço marítimo
em 1994, por motivo de saúde, foi que descobriu a arte por
mero acaso... Estando em estado depressivo, comprou telas,
pincéis e tintas e passou a rabiscar uma visão de um desenho
abstrato e daí surgiu a sua primeira tela “O Clone". Houve
elogios e desestímulos, críticas negativas e construtivas, mas
mesmo assim ele passava o tempo pintando e escrevendo
poesias...
Toda essa criação era encarada por ele como um
simples hobbie, nunca teve a pretensão de ser escritor ou artista
plástico. Ele dizia que ninguém o podia criticar, pois ele pintava
aquilo que não existia e como era ele quem criava, era
propriedade sua e que iria continuar pintando como já vinha
fazendo, com as cores dos sentimentos na tela de sua própria
alma.
Hoje afastado de suas funções marítimas, voltou a
morar em sua cidade natal Guamaré, onde desfruta de muita
paz e tranquilidade em sua casa na margem direita do Rio
Miassaba, tendo a visão deslumbrante dos manguezais. De onde
diz que nunca mais sairá. O que demonstra o amor que sente
pelas suas origens.
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Obras do Autor:
O Sol Que Caiu (Poesias) – 1999
Os Contos Que Canto (Poesias) – 2001
Luzes e Trevas (Poesias) – 2002
O Mar Me Contou (Contos) – 2004
Fragmentos (Poesias) – 2006
Nau Frágil da Vida (Romance) – 2008
Eu, Sobre a Paisagem (Poesias) – 2009
Orgias & Delírios (Contos) – 2010
Guamaré, Retalhos Poéticos (Poesias) – 2011
E-mail:
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