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Page 1: DO · 2017. 11. 22. · RAPHAEL DRACCON No novo romance de Raphael Draccon, Gualter Handam, an-tigo morador do vila-rejo, se vê obrigado a retornar ao local que povoaseuspesadelos

SALVADOR SÁBADO 18/11/20174 2CRÔNICA

DO

O FLIN do Henfil

JaguarCartunista

De novo me chamaram para oFlin (Festival Literário de Na-tal). Desta vez sem Célia porcausa do Fecripa (Festival deCrises que Assolam o País). To-pei porque o cachê dava paraestocar cerveja sem álcool porum bom período. Ao contráriode alguns vinhos, viajo bem.Da decolagem ao desembar-que costumo dormir como umvegetal . Deixei de ter medo devoar depois que me convencide que avião onde estou nãocai.

Em meados do século pas-sado voar era bem mais char-moso. As pessoas se arruma-vam como se fossem a umafesta de casamento. Nesta via-gem, meu vizinho de poltrona,todo tatuado, estava de cami-seta , bermuda rasgada e chi-

nelo de dedo. Quando comeceia cochilar, a aeromoça me ofe-receu um pacotinho de biscoitoe um copo d´água, brinde daGol. Impossível não lembrar daVarig,compradapelaGol.Oser-viço de bordo era consideradoum dos melhores do mundo.Perfumes franceses no lavabo,cardápio assinado pelo legen-dário Barão Von Stuckart, donoda Vogue, a casa noturna maissofisticada que o Rio já conhe-ceu. O carro chefe era o pica-dinho de sua criação, sempreimitado, nunca igualado: carnecortadanafacaovopoché,arrozmisturadocommilho,ervilhasefarofa. E outras iguarias nuncavistas em terras e ares do Brasil.Para beber, Scotch doze anos eVeuve Clicquot. Mas tergiverso:dois terços de crônica e aindanão desembarquei em Natal.

HenfilIvan Cosenza, filho de Henfil, eque participaria da mesmamesa que eu, estava no voo.Há quarenta anos ele não vol-

tava a Natal e não se lembravaondetinhamorado.Tampoucoeu, que me hospedei na casado seu pai pouco antes da fa-mília se mudar para São Paulo.Quem matou a charada foi oquadrinhista (que tambémparticipou da mesa) ClaudioOliveira (hoje radicado em SãoPaulo): “Na ocasião, estáva-mos os dois hospedados nacasa do Henfil, na Ponta do

“Fiquei impressionado com ointeresse da moçada em ouvir o quetínhamos a contar sobre Henfil”

OS DESPOSSUÍDOS / URSULA

K. LE GUIN

Alegoria da GuerraFria, este clássico da FCvolta em nova edição.A americana Le Guin, amais premiada escri-tora de ficção científicae fantasia, cria aquium conflito entre doisplanetas de perfis di-ferentes, que buscamcolonizar um terceiro,de perfil mais anar-quista. Política e filo-sofia no espaço. Ale-ph/ 384 p./ R$ 49,90

ARMÁRIO DE LETRAS

DESAPLANAR / NICK SOUSANIS

Professor da Universi-dade Estadual de SãoFrancisco, o quadrinis-ta Nick Sousanis lançanesta graphic novel(não-fictícia) um desa-fio intelectual ao pro-por que o pensamentovisual pode ser tão efi-ciente quanto a escritapara a sociedade con-temporânea. Uma sur-preendente e premia-da exploração filosó-fica em HQ. Veneta/208 p./ R$ 84,90

O CASAMENTO / VICTOR

BONINI

Aos24anos,opaulistaVictor Bonini lança seusegundo romance po-licial. Crimes aconte-cem em um sítio du-rante cerimônia de ca-samento, e serão in-vestigados por Lyra,detetive amigo do paida noiva. Muitas revi-ravoltas e sangue es-pirrando em uma tra-ma de muito suspen-se. Faro Editorial/ 368p./ R$ 49,90

NA PLATEIA DO MUNDO /

SÁBATO MAGALDI

A obra traz um conjun-to dos textos para jor-nais que o crítico tea-tral Sábato Magaldiescreveu sobre asmontagens que teve aoportunidade de verno exterior e no Brasil.Organizado por Edlavan Steen, traz um pa-norama de grandeprofundidade. Glo-bal/472 pags/R$ 59/www.globaledito-ra.com.br

O COLETOR DE ESPÍRITOS /

RAPHAEL DRACCON

No novo romance deRaphael Draccon,Gualter Handam, an-tigo morador do vila-rejo, se vê obrigado aretornar ao local quepovoa seus pesadelos.Depois de tantos anos,ele terá de encarar an-tigos fantasmas e en-frentar uma força des-conhecida e furiosaRocco/ 272págs/ R$34, 90/www.roc-co.com.br

TENSÕES E EXPERIÊNCIAS: UM

RETRATO DAS

TRABALHADORAS DOMÉSTICAS

DO BRASIL/ NATALI MORI

(ORGANIZAÇÃO)

O livro se debruça so-bre uma das profis-sões mais antigas: otrabalhador (a) do-méstico (a), com o ob-jetivo de contribuir pa-ra elaboração e apri-moramento de políti-cas públicas Centro Fe-minista de Estudo e As-sessoria/ 231 págs/www. cfemea.org.br

AMAR É UMA CONEXÃO

DISCADA /SAULO DOURADO

O escritor e professorSaulo Dourado narraum relacionamento àdistância na era da in-ternet discada, entreCaio e Vitória. Em ple-no início dos anos2000, os dois vivem asdelícias e aflições debate-papos no IQC,correntes no e-mail efotos no MSN, ao somde Los Hermanos. FBPublicações/ 80 pági-nas/R$ 35

CORTEJO O projeto acontece sempre àssextas-feiras, às 19h, até o fim do verão

Personagens deJorge Amadopasseiam pelasruas do PelôROBERTO AGUIAR

Quem passa pelas ruas e la-deiras do Pelourinho nas noi-tes de sexta-feira tem um en-contro inesperado com perso-nagens da obra do maior es-critor baiano. O espetáculomusical Circuito Jorge Amado éuma das ações do PelourinhoDia e Noite 2017, projeto daPrefeitura de Salvador, quetem como objetivo dar vida aoCentro Histórico da capitalbaiana.

A encenação percorre pon-tos importantes do centro an-tigo. São seis cenas criadas apartir dos livros Gabriela Cravoe Canela (1958), A Morte e aMorte de Quincas BerroD´Água (1959), O Compadre

de Ogum (1964), Tenda dosMilagres (1969) e Dona Flor eseus Dois Maridos (1976).

O cortejo começa com o Ve-lório de Quincas Berro D’Água,no Largo do Pelourinho, às19h, e se encerra no Cabaré daZazá, na Cantina da Lua, noTerreiro de Jesus, às 21h.

Quem viu de perto, adoroua ideia. “Gostei bastante, nãoesperava encontrar o cortejo.Acompanhei tudo. Deixou umgostinho de quero mais. Agoravou aos livros, ler Jorge Ama-do”, disse Gabriel Sodré, mo-rador de Goiânia (GO), a pas-seio por Salvador.

A universitária Adriana Cos-ta também elogiou o cortejo.“Sempre venho aqui. Gosteimuito do cortejo. A gente se vê

no espetáculo. Iniciativas co-mo essa permitem que maispessoas venham visitar o Cen-tro Histórico, valorizar a nossahistória”, afirmou.

Homenagem“Jorge Amado representa a Ba-hia. Seus personagens maispopulares foram inspirados nouniverso do Centro Histórico.

Nada mais interessante quetrazê-los para a dinâmica dodia a dia do Pelourinho. É umahomenagem ao nosso escritormaior”, ressalta Eliana Pedro-so , diretora de gestão do Cen-tro Histórico da Secretaria Mu-nicipal de Cultura e Turismo(Secult).

“O cortejo é o encontro daliteratura, teatro e música pe-

las ruas do centro antigo. Cau-sa impacto no público pelamultiplicidade linguística, queé parte da concepção de todoo projeto”, frisa Eliana.

O Circuito Jorge Amado vaiocupar as ruas do Pelô até ofinal do verão. O projeto tem adireção de Edvard Passos, tri-lha sonora de Gerônimo San-tana, direção musical de Lucia-

no Bahia, elenco de atoresbaianos e participação da Ciade Dança Tradições.

CIRCUITO JORGE AMADO - MUSICAL DE

RUA / TODAS ÀS SEXTAS-FEIRAS, ATÉ FINAL

DE DEZEMBRO, ÀS 19H, NO LARGO DO

PELOURINHO / GRATUITO

SOB A SUPERVISÃO DA EDITORA MÁRCIA

MOREIRA

Anderson Moreira / Divulgação

Gabriela, personagem de Jorge Amado que saiu dos livro para TV e o cinema, caminha e dança feliz pelas ruas do Pelourinho

Morcego. Até hoje me lembro:ele, com aquele jeito de tutor,mandava a gente dormir às 10da noite. Mas Jaguar, quandoa casa silenciava, fugia pelajanela e ia para os bares dapraia dos Artistas. Uma vez,acordeiantesdaseisdamanhãe ele estava chegando”. O pioré que Henfil nos fazia levantaràs 7 da manhã para caminharna praia e o eu mal me aguen-

tava nas pernas.Fiquei impressionado com o

interesse da moçada que lotoutotalmente o auditório – quenão era pequeno – para ouviro que tínhamos a contar sobreHenfil, falecido antes delesnascerem. Da mesa tambémparticipavam André Dahmer(da Folha e do Globo, ClaudioOliveira, quadrinhista poti-guar radicado em São Paulo, e

Woden Madruga, cronista daTribuna do Norte). E olha que,numa tenda ao lado, se apre-sentava o genial Antônio Nó-brega, homenageando o nãomenos genial Ariano Suassu-na. Bateu inveja: o prefeito,Carlos Eduardo Alves deu amaior força ao Festival, en-quanto Crivella, que odeia oRio, corta no que pode as ver-bas da Cultura.

O cartunista Henfil influenciou uma geração de cartunistas potiguares, como Claudio Oliveira, Roberto Solino e Manuel Vaz

Claudio Oliveira / reprodução Tribuna do Norte

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