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Programas nucleares de quatro países, principalmente Coréia doNorte e Irã, preocupam autoridades mundiais
C R I S E N U C L E A R
QUEM TEM MEDODA BOMBA?
AMEAÇA MUNDIALO PRESIDENTE DO IRÃ,MAHMOUD AHMADINEJAD(ESQUERDA), E O PRESIDENTE DACORÉIA DO NORTE, KIM JONG II,CUJOS PROGRAMAS NUCLEARESASSUSTAM O MUNDO
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Ficou célebre o discurso emque o presidente norte-ame-ricano, George W. Bush, noinício de seu primeiro man-dato, colocava a Coréia do
Norte — ao lado do Irã e do Iraque deSaddam Hussein — no “Eixo do Mal”.Para Bush, a Coréia do Norte era um“estado fora-da-lei”, com o qual acomunidade internacional não deveriase comportar como com os países nor-mais. Eram três países que, no enten-der de Bush, representavam um risconuclear para toda a humanidade.
Em 2002, a Coréia do Norte reini-ciou as operações do reator deYongbyon, expulsou dois inspetores daAgência Internacional de EnergiaAtômica (IAEA) e anunciou que iriacriar bombas. No ano seguinte, o paísrompeu com o Tratado de Não-Pro-liferação Nuclear (leia “Acordo Anti-bomba”). Em 2005, a Coréia do Nortedeclarou que possuía armas atômicase, em 2006, assumiu ter realizado umbem-sucedido teste nuclear subterrâ-neo. Alguns analistas acreditam que opaís tem capacidade para produzir umabomba por ano. Outras estimativas a-pontam que a Coréia possui atualmen-te oito ou mais artefatos desse tipo.
Em fevereiro, parecia que a Coréia doNorte começava, ao menos na aparên-cia, a sair do Eixo do Mal. Depois denegociações na China, seis países fize-ram concessões em uma tentativa deacordo para acabar com o programanuclear norte-coreano. Por 50 miltoneladas de combustível, ou o equi-valente a isso em dinheiro, e peças de
© Corbis/AP
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1 EM 1970 FOI FIRMADO O TRATADO DE
NÃO-PROLIFERAÇÃO NUCLEAR , COM
O OBJETIVO DE IMPEDIR A DISSEMINAÇÃO
DE ARMAS NUCLEARES
2 ATUALMENTE, O DOCUMENTO TEM
188 PAÍSES SIGNATÁRIOS, ENTRE
ELES RÚSSIA, ESTADOS UNIDOS, CHINA,
FRANÇA E REINO UNIDO
3 PREOCUPAM A COMUNIDADE INTER-
NACIONAL: CORÉIA DO NORTE, IRÃ,
ÍNDIA E PAQUISTÃO
4 EM FEVEREIRO, A CORÉIA DO NORTE
CONCORDOU EM FECHAR O REATOR
NUCLEAR DE YONGBYON
5 O PAÍS ABRIU MÃO DO PROGRAMA
NUCLEAR EM TROCA DE 50 MIL
TONELADAS DE COMBUSTÍVEL, OU O
EQUIVALENTE A ISSO EM DINHEIRO, E
PEÇAS DE REPOSIÇÃO PARA USINAS
TERMELÉTRICAS
6 DESDE QUE RETOMOU O ENRIQUE-
CIMENTO DE URÂNIO, EM JANEIRO
DE 2006, O IRÃ TEM SIDO O FOCO DAS
INQUIETAÇÕES INTERNACIONAIS. COMO
O GOVERNO IRANIANO INSISTE EM SEU
PROGRAMA, O CONSELHO DE
SEGURANÇA DA ONU VOTOU UM PACOTE
DE SANÇÕES FINANCEIRAS AO PAÍS
7 A ÍNDIA NUNCA PARTICIPOU DO
TRATADO DE NÃO-PROLIFERAÇÃO
NUCLEAR. UM ACORDO DE COOPERAÇÃO
NUCLEAR CIVIL FOI ASSINADO COM OS
EUA PARA TORNAR VIÁVEL A VENDA DA
TECNOLOGIA PARA A ÍNDIA
8 O PAQUISTÃO TAMBÉM NÃO É
MEMBRO DO TRATADO DE NÃO-
PROLIFERAÇÃO NUCLEAR E COMEÇOU A
DESENVOLVER SECRETAMENTE OGIVAS A
PARTIR DOS ANOS 1970
9 ISRAEL, TAMBÉM FORA DO ACORDO,
NUNCA ADMITIU NEM NEGOU
POSSUIR ARMAS NUCLEARES. ALGUNS
ANALISTAS AFIRMAM QUE O PAÍS TEM
OGIVAS ATÔMICAS
10 OS PAÍSES QUE POSSUEM BOMBA
ATÔMICA SÃO: RÚSSIA, EUA,
CHINA, FRANÇA, INGLATERRA, ISRAEL,
ÍNDIA, PAQUISTÃO E CORÉIA DO NORTE
MU
ND
O
1010 COISASQUE VOCÊ
PRECISA SABER
reposição para usinas termelétricas, oregime comunista mais fechado domundo concordou em desativar o rea-tor nuclear da usina de Yongbyon. Pormais 1 milhão de toneladas, a Coréiado Norte se comprometeu a “desabili-tar” suas operações nucleares.
Segundo o professor Cláudio Furu-kawa, do Instituto de Física da USP,mesmo que voltada para fins pacíficos,a tecnologia nuclear oferece riscos paraa humanidade. Podem acontecer aci-dentes como o de Chernobyl. Alémdisso, o material e a tecnologia usadospara a fabricação de armas nucleares epara a produção de energia nuclear sãoos mesmos. Fica difícil saber qual é averdadeira intenção de quem manipu-la a tecnologia. O risco de um governousá-la para fins militares é possível.Além da Coréia do Norte, outros paí-ses preocupam a comunidade interna-cional pelas suas capacidades de pro-duzir armas nucleares:
IRÃEm março, mais uma vez o Irã se
recusou a desistir de seu programanuclear. Desde que retomou o enri-quecimento de urânio, em janeiro de2006, o país tem sido o foco dasinquietações internacionais. Algunspaíses do Ocidente, principalmente osEUA, suspeitam que o Irã pretende, naverdade, desenvolver armas nucleares.Entretanto, o país tem afirmado queapenas deseja gerar energia.
Em dezembro, o Conselho deSegurança da ONU proibiu o Irã depromover o enriquecimento de urâ-
DISCÓRDIA: CÁPSULA COM GÁS DE URÂNIO APRESENTADA NO ANO PASSADO PELO IRÃ. GÁS ENRIQUECIDO A 3,5 GRAUS PARA USO NA PRODUÇÃO DE ENERGIA ESTÁ LONGE DO NECESSÁRIO PARA FABRICAR ARMAS NUCLEARES
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nio. Como o governo iraniano insisteem seu programa, o Conselho votouum pacote de sanções ao país que:amplia o congelamento de fundos dequem financia atividade nuclear; obri-ga os países a avisar a ONU se milita-res envolvidos no programa nucleardo Irã entrarem em seu território;embarga a venda de armas e limita aassistência financeira.
ÍNDIAA Índia nunca fez parte do Tratado
de Não-Proliferação Nuclear. Em 1974,o país realizou seu primeiro testenuclear. No ano de 1998, testou ogivase um plano de termelétrica. Em 2005,os Estados Unidos reconheceram opaís oficialmente como um estado res-
ponsável detentor de tecnologianuclear. Em 2006, um acordo de coope-ração nuclear civil foi assinado entre opresidente George W. Bush e o primei-ro ministro indiano Manmohan Singhpara tornar viável a venda dessa tecno-logia para a Índia.
PAQUISTÃOO país também não é membro do
Tratado de Não-Proliferação Nuclear ecomeçou a desenvolver secretamenteogivas a partir dos anos 1970.Acredita-se que o Paquistão tenhaautonomia em armas atômicas desde adécada de 1980. Em 1998, o país fezum teste nuclear pela primeira vez, emresposta à experiência realizada pelaÍndia no mesmo ano.
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OATUAL PRESIDENTE DA CORÉIA DO
NORTE, KIM JONG II, É FILHO DE KIM
II SUNG, FUNDADOR DA CORÉIA DO NOR-
TE COMUNISTA E EX-LÍDER GUERRILHEI-
RO QUE, NA SEGUNDA GUERRA MUN-
DIAL, LUTOU CONTRA OS INVASORES JA-
PONESES. DESDE QUE ASSUMIU O
PODER, EM 1994, TRÊS ANOS DEPOIS DA
MORTE DO PAI, ELE SE MOSTROU UM
LÍDER EFICIENTE, AINDA QUE EXCÊNTRI-
CO E ENIGMÁTICO. ELE TEM TIDO SUCES-
SO NA ÚNICA TAREFA QUE RESTA A SEU
REGIME LEVAR A CABO: A PRÓPRIA
SOBREVIVÊNCIA.
KIM GARANTE SUA PERMANÊNCIA
NO PODER GRAÇAS AO CONTROLE QUE
MANTÉM SOBRE AS FORÇAS ARMADAS
— UM CONTINGENTE DE 1,2 MILHÃO DE
HOMENS —, TRANSFERINDO A ELES O
GROSSO DOS RECURSOS OBTIDOS POR
MEIO DO COMÉRCIO ILEGAL DE ARMAS,
DROGAS E NOTAS FALSAS DE DÓLAR,
POR EXEMPLO, ALÉM DA AJUDA FINAN-
CEIRA QUE ARRANCA DA COMUNIDADE
INTERNACIONAL. KIM ESTÁ INTERESSA-
DO NO DINHEIRO. MAS ESTÁ AINDA MAIS
INTERESSADO NUMA SITUAÇÃO QUE LHE
GARANTA SOBREVIVÊNCIA DE LONGO
PRAZO. PARA ISSO, HÁ MAIS DE 20 ANOS
A CORÉIA DO NORTE VEM CHANTAGEAN-
DO A COMUNIDADE INTERNACIONAL,
ESPECIALMENTE OS EUA, PARA GARAN-
TIR SUA SOBREVIVÊNCIA. O PROJETO
NUCLEAR É A MAIS PERIGOSA DESSAS
CHANTAGENS.
UM MALUCOCOM ABOMBA?Kim Jong II: chantagem e excentricidade
ESPERANÇAREPRESENTANTES DE
JAPÃO, CORÉI A DO SUL, CORÉIA DO NORTE E RÚSSIA CELEBRAM O FECHAMENTO DO REATOR DE YONGBYON,
NA CORÉIA DO NORTE
O TAMANHO DA ENCRENCAARSENAL NUCLEAR GLOBAL
RÚSSIA..............................15.000 OGIVASEUA...................................10.000 OGIVASCHINA...............................402 OGIVASFRANÇA............................348 OGIVASINGLATERRA.....................200 OGIVASISRAEL..............................DE 75 A 200 OGIVASÍNDIA................................DE 40 A 50 OGIVASPAQUISTÃO.......................DE 50 A 60 OGIVASCORÉIA DO NORTE.............10 OGIVAS
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MU
ND
O
AMEAÇA AO LÍDER MILITAR? Pesquisador diz que, em termos tecnológi-cos, a liderança dos EUA continua inabalável
N o livro “War Made New — Technology, Warfare, and the Course of History — 1500 toToday” (Guerra Renovada -Tecnologia, Combate e o Curso da História — De 1500 até
Hoje), o historiador Max Boot examina como a guerra e a tecnologia andam juntas. E faz umalerta: os EUA podem perder a liderança bélica.
Galileu Vestibular - Em termos tecnológicos, onde a liderança militaramericana é mais ameaçada?Max Boot - A liderança americana em alta tecnologia segue inabalável. Mas existem paísestentando desenvolver maneiras de neutralizar nossas armas e nossos sistemas. O Irã e aCoréia do Norte trabalham com armas atômicas para tentar dissuadir os americanos.
GV - Quem os EUA devem temer: a China, a Coréia do Norte ou a Al Qaeda?Boot - Possivelmente uma combinação de países como o Irã com a Al Qaeda. Nãoprecisamos temer um país como o Irã quando ele atua de maneira convencional. Foi o queSaddam Hussein fez, em 1991, ao invadir o Kuwait. O perigo real é um país como o Irã apoiargrupos terroristas como o Hezbollah. Em linguagem militar, isso se chama ameaçaassimétrica, porque uma nação como os Estados Unidos encontra grandes dificuldades parainfligir retaliações a guerrilheiros que se escondem na multidão.
GV - Quais são os riscos de a proliferação nuclear chegar à América Latina?Boot - Não vejo nenhum ímpeto iminente para a nuclearização na região. O Brasil e aArgentina renunciaram ao direito de desenvolver armas nucleares. É possível que aconjuntura mude se, por exemplo, Hugo Chávez decidir adquirir armas nucleares. Nasúltimas décadas, o padrão da corrida nuclear é a competição entre vizinhos. Depois que aÍndia obteve a bomba, o Paquistão foi no mesmo caminho. Algo similar poderia ocorrer naÁsia, com a Coréia do Norte provocando a nuclearização da Coréia do Sul e do Japão. E omesmo poderia ocorrer no Oriente Médio.
(ÂNGELA PIMENTA, DA REVISTA “ÉPOCA”)
ENTREVISTA> MAX BOOT
ACORDOANTIBOMBAO Tratado de Não-Prolifera-ção Nuclear foi firmado em1970, no período da GuerraFria, quando temia-se que oimpasse entre EstadosUnidos e União Soviéticacausasse a explosão de umabomba atômica. O objetivodo acordo é impedir a dis-seminação de armas atômi-cos e promover o uso da tec-nologia nuclear para gerareletricidade. Dessa forma, ospaíses sem armas abririammão desse direito em trocado desarmamento progressi-vo das potências nucleares emembros permanentes doConselho de Segurança daONU: Rússia, EstadosUnidos, China, França eReino Unido. Atualmente, odocumento tem 188 paísessignatários, entre eles ascinco potências. Mas Índia ePaquistão se recusaram aparticipar da aliança, desen-volveram programas nuclea-res e fizeram testes com osartefatos explosivos. Israel,também fora do acordo,nunca admitiu nem negoupossuir armas nucleares. ACoréia do Norte, que não émais signatária do documen-to, declarou que realizou umteste subterrâneo em 2006.O Irã faz parte do tratado,mas se recusa a desistir deseu programa nuclear, poisalega que servirá apenas paragerar energia.
VÁ FUNDO >>>PARA LER• “O Brilho de Mil Sois: História da Bomba Atômica”,
José A. Dias Júnior e R. Roubicek, Ática • “Os Impérios Nucleares e Seus Reféns”, Antonio Celso
Alves Pereira, Graal• “Oppenheimer e a Bomba Atômica em 90 Minutos”,
Paul Strathern, Jorge Zahar
PARA NAVEGAR• www.ien.gov.br• www.thebulletin.org• www.globalsecurity.org
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