Download - 2014 - CURSO A prática psicanalítica com Lacan – Aula 1: Lacan, a Psicanálise e a Contemporaneidade
A prática psicanalítica com Lacan
Coordenação Alexandre Simões
Tema de abertura:
Lacan, a Psicanálise e a
Contemporaneidade
Jacques Lacan (1901-1981) convidou os analistas de
seu tempo bem como de nosso tempo a um desafio:
“alcançar em seu horizonte a subjetividade de
sua época”
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Isto, segundo Lacan, implica em retomar o
caminho de Freud em uma época na qual este
percurso se encontrava desnorteado quanto aos
seus fundamentos e seu poder de subverter o já-
dado
Este é o „retorno a Freud‟ pelo qual Lacan
ficou bastante conhecido
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O „retorno a Freud‟ é, ainda, um movimento que repercute,
em meio à nossa atualidade, na própria formação dos
analistas e no modo de se conduzir as análises
Não se trata, no retorno a Freud,
de repetir o que Freud falou, mas de retomar o âmago do
percurso freudiano, do qual o próprio Freud não tinha plena
noção.
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Trata-se, no seu retorno a Freud (anunciado de
maneira formal, pela primeira vez, no texto Função e
campo da fala e da linguagem em psicanálise, de
1953, mais conhecido como Discurso de Roma):
de reinstaurar a
virulência, a potência da
via aberta por Freud ao
falar em inconsciente,
desejo, fantasia, etc.
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Tese que se depreende do movimento de Lacan ao
longo de seu retorno a Freud:
o novo deve ser apreendido com instrumentos novos, a cada
momento.
Daí, o recurso que Lacan faz a certos aspectos da Linguística,
da Filosofia, do Estruturalismo, da Matemática, da Lógica, da
Literatura para expor a experiência do sujeito
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Freud vai demonstrar clinicamente que cada um de
nós não responde inteiramente por seus atos,
escolhas e posicionamentos recorrendo à consciência
(o sujeito não é quem pensa que é, ele não faz o que
pensa que faz)
Ou seja, a correspondência entre os atos e a coerente ciência dos
mesmos não é suficiente para dizer sobre cada um;
Este hiato tem voz, daí a possibilidade de ouvi-lo.
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Esse hiato fala...
isto não quer dizer que ele se articula, mas sim que ele se significa
Esse hiato é que
necessariamente
conduz o ser
falante a sempre
dizer mais do que
aquilo que está
falando, naquilo
que ele anuncia
Por que Lacan, hoje, para um analista?
Examinemos esta indagação junto à provocativa tese de
Roudinesco (Lacan, a despeito de tudo e de todos, p. 14)
O século XX era freudiano, o XXI é, desde já, lacaniano
“... Lacan soube anunciar [no início dos anos
70] o tempo que veio a ser o nosso, prever a
ascenção do racismo e do comunitarismo, a
paixão pela ignorância e o ódio ao pensamento,
a perda dos privilégios da masculinidade e os
excessos de uma feminilidade selvagem, o
advento de uma sociedade depressiva, os
impasses do Iluminismo e da Revolução, a luta
mortal entre a ciência erigida em religião, a
religião erigida em discurso da ciência e o
homem reduzido a ser biológico.” (Elizabeth Roudinesco. Lacan, a despeito de tudo e de todos, p. 13)
Lacan nos apresenta uma robusta rede conceitual da qual
se depreendem perspectivas clínicas capazes de estabelecer
interlocuções com situações agudas da contemporaneidade:
• Os dilemas e contradições do laço-social;
• As novas modalidades de subjetivação;
• Os impasses de uma racionalidade que se volta contra si
mesma;
• Concepções sobre o Real e o Gozo que, desde o primeiro
instante da condução de uma análise, implicam em
diferenças quanto a se ter ou não estas noções;
• Formas inventivas de enfrentamento dos desarranjos da
ordem simbólica (sobretudo, pela combinação de dois
discursos, o da ciência e o do capitalismo);
Lacan e suas constantes indagações:
• O que faz um analista, ao conduzir uma análise?
• A partir do que se dá a formação do psicanalista?
• Até onde uma análise há de ser conduzida?
• O que pode uma analista?
• Quais os efeitos que alguém pode esperar de uma
análise?
Atualmente, vem sendo retomada a
discussão sobre uma divisão interna ao
ensino de Jacques Lacan
a ponto de se falar (apesar de haver algumas pequenas diferenças nas designações) em uma
„Primeira Clínica‟ e em uma
„Segunda Clínica‟ de Lacan
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A primeira clínica é mais conhecida e difundida.
Tende a coincidir com o que é mais
visível nos seminários e escritos iniciais
de Jacques Lacan (dos anos 50 ao final
dos anos 60)
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A segunda clínica é mais difusa, menos discernível . . .
Ela coincide com o último decênio da
vida e do ensino de Jacques Lacan (1970
a 1981)
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Todavia, de forma alguma, esta divisão temporal é
delineada de modo cristalino pelo próprio Lacan
Os elementos que constituem aquilo que, posteriormente, foi chamado de primeira e segunda clínicas estão
onipresentes, com distintos contornos e intensidades, tal qual um interjogo barroco
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Em suma, a clínica lacaniana não tem contornos
inevitavelmente rígidos e o que se constrói a partir dela não
se mostra imutável.
Os alicerces, os conceitos (também as formas de construí-los e
formalizá-los) das duas clínicas são distintos.
Notemos que estabelecem relações complexas entre si.
Notemos que estabelecem relações complexas entre si.
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Vale ainda sublinhar que a prática clínica da psicanálise
não é linear e nem mesmo progressiva.
Por isso, não é plausível pensar que ao longo da condução de uma
análise parte-se daquilo que é vigente na Primeira Clínica e segue-se em
direção ao que é manifesto na Segunda Clínica de Lacan.
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Seminário 11: os quatro conceitos fundamentais da Psicanálise (1964)
é um seminário que começa a demarcar a
passagem na chamada Primeira para a
Segunda Clínica de Lacan, tendo como pivô
desta passagem uma reconceitualização
sobre o sujeito e o objeto
Prosseguiremos com
Psicanálise e práxis: o Seminário 11 como resposta a
uma crise? (referência Seminário 11 – A excomunhão, pp. 9- 20)
Até lá!
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www.alexandresimoes.com.br
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